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Estudo de um motor CC brushless aplicado no acionamento

de um carro elétrico de pequeno porte


Carlos Eduardo Presa D`Avila1
Luiz Carlos Gertz2
Marília Amaral da Silveira3
André Cervieri4

Resumo

Este trabalho apresenta o estudo de um motor elétrico, empregado no acionamento


de um carro elétrico de pequeno porte. O objetivo foi o de selecionar um motor
que possuísse características de operação adequadas para acionar o carro elétrico,
dentro de uma faixa de velocidade de 12 a 20 km/h. Testes foram realizados no
carro elétrico com o objetivo de caracterizar seu comportamento dinâmico. Os
resultados dos testes possibilitaram selecionar um motor CC (Corrente Contínua)
sem escovas de 12 V e 5,91 A com eficiência máxima de 77%. Um estudo
teórico foi desenvolvido, para determinar a melhor relação de transmissão de
movimento do motor para o carro. Assim, foi possível determinar as condições
de operação do motor nas quais o mesmo desenvolveu seu melhor rendimento,
quando era acionado o carro elétrico. O valor da relação de velocidade do motor
para o carro resultou em 64:1. O estudo demonstrou que, para operar com uma
velocidade de 20 km/h, o carro requer uma potência de 58 W do motor elétrico.

Palavras-chave: Motor CC sem escovas. Carro elétrico. Eficiência energética.

Abstract

This work presents the study of an electric motor, which was used to drive a small
electric car. The aim was to select a motor with characteristics of suited operation
to drive the electric car at a speed range from 12 to 20 km/h. Tests were carried
out on the electric car with the purpose of determining its dynamic behavior. The
test results allowed to select a DC (Direct Current) brushless electric motor of 12 V
and 5.9 A with 77% of maximum efficiency. A theoretical study was developed to
determine the best relation of the movement transmission from the motor to the
car. By doing that, it was possible to determine the characteristics of the operation
of the motor in which it developed its maximum efficiency, when the electric car
was started up. The speed ratio value resulted in 64:1. The study showed that to
operate a 20 km/h speed, the car requires a mechanical power of 58 W from its
electric motor.

Keywords: DC brushless motor. Electric car. Energy-efficiency.

1 Engenheiro Eletricista, Especialista em Tecnologia da Informação e Mestre pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas
(RS), Brasil. Professor da Fundação Liberato Salzano Vieira da Cunha, Novo Hamburgo, RS, Brasil. Email:cdavilars@gmail.com
2 Engenheiro Mecânico, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), RS, Brasil. Professor e
pesquisador do Programa de Pós-graduação em Engenharia, Ambiente e Materiais (PPGEAM) da ULBRA. E-mail: gertzx@gmail.com

3 Engenheira Eletricista, Mestre e Doutora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (UFRGS). Professora e pesquisadora
do Programa de Pós-graduação em Engenharia, Ambiente e Materiais (PPGEAM) da ULBRA. E-mail: marilia.amaral@ulbra.br

4 Engenheiro Mecânico, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor e pesquisador
do Programa de Pós-graduação em Engenharia, Ambiente e Materiais (PPGEAM) da ULBRA. E-mail: acervieri@gmail.com
Artigo recebido em 23/03/2011 e aceito em 16/09/2011.
D’AVILA, C. E. P., GERTZ, L.C., SILVEIRA, M. A. da., CERVIEIRI, A.

1 Introdução tato entre as escovas e o comutador mecânico,


além das perdas elétricas por efeito Joule na
De acordo com a National Electrical passagem da corrente elétrica pelas bobinas
Manufacturers Association (NEMA), um mo- do rotor e do estator. Aspectos relacionados
tor CC (Corrente Contínua) sem escovas/DC às características construtivas e de operação,
(Direct Current) brushless motor é uma má- tais como a distorção do campo magnético e,
quina síncrona girante com ímãs permanentes também, o deslocamento da linha neutra do
no rotor e com a posição do rotor conhecida, campo magnético, reduzem a eficiência de
para possibilitar a comutação eletrônica (EMA- máquinas CC.
DI, 2005a; 2005b). Uma das vantagens do
motor CC brushless sobre os motores de cor- 2 Evolução dos carros elétricos
rente contínua convencionais é a ausência de
um comutador eletromecânico e de escovas. No início do século vinte, nos primór-
Quando comparados com os motores CC com dios da história do automóvel, existiam três
escovas, os motores CC brushless têm maior tipos de veículos: os movidos a vapor, com
eficiência, menor ruído e menor relação entre 1684 unidades, os movidos a gasolina, com
suas dimensões e a potência que podem de- 963 unidades e os movidos a eletricidade,
senvolver. com 1575 unidades (WESTBROOK, 2001). Os
A potência elétrica é fornecida ao motor veículos a vapor de pequeno porte apresenta-
CC brushless através de uma fonte de tensão vam alguns inconvenientes; como a demora
contínua e de um sistema de controle eletrôni- para atingir as condições necessárias para se
co que realizará a comutação eletrônica. Um locomover, devido ao tempo necessário para
dispositivo de detecção de posição pode ser o aquecimento da água. Existia ainda, o incon-
empregado para determinar a posição do ro- veniente da necessidade de constantes reabas-
tor com relação às fases do enrolamento da tecimentos. Porém, uma das principais causas
armadura. O sistema de controle eletrônico do seu desaparecimento foi o perigo de explo-
deve fornecer a sequência de comutação de são das caldeiras. Isso ocorria principalmente
acordo com o sinal dos sensores de posição, pela falta de qualidade do material disponível
para ativar as fases do enrolamento da arma- e pelo processo de construção que não utili-
dura e assim, manter o motor em funciona- zava solda para união das partes, como ocorre
mento (CHAI, 1998). atualmente, mas sim rebites.
Um carro elétrico é um veículo que Entre 1900 e 1920, os veículos movidos
utiliza um ou mais motores elétricos para sua a gasolina e os elétricos (a bateria) disputa-
propulsão. As pesquisas na área têm tido um vam o mercado em condições de igualdade.
crescimento significativo, devido à necessida- Os veículos elétricos eram silenciosos e não
de de preservação e conservação das fontes produziam gases poluentes. Já os movidos a
não renováveis de energia. gasolina possuíam grandes inconvenientes e
A primeira versão do carro elétrico de- um dos principais problemas era o sistema
senvolvida pelos autores utilizava um motor de acionamento do motor. A partida era feita
de corrente contínua com escovas de 80 W de através de uma manivela, acoplada ao eixo,
potência elétrica nominal de entrada. O refe- na parte frontal do veículo, sendo que, para
rido motor apresentava um rendimento con- acioná-la, era necessário sair do veículo, exe-
siderado baixo em relação ao desejado. Com cutar a tarefa em uma posição desconfortável
o objetivo de elevar a eficiência energética do e a custa de grande esforço. Além de desagra-
carro elétrico, foram desenvolvidos estudos dável, expunha o operador ao risco de sofrer
para substituir o motor CC convencional por contusões ou até mesmo lesões graves. Para-
um motor CC brushless, acionado e controla- doxalmente, a evolução dos motores elétricos
do por um sistema eletrônico. A eficiência de permitiu que um pequeno motor alimentado
um motor CC é afetada pelas perdas no con- por bateria fosse utilizado para acionar o mo-

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tor a gasolina. Dessa forma, um dos maiores cujo motor recebe energia de uma bateria de
problemas dos veículos movidos a gasolina foi 12 V/6 Ah, para operar com velocidade entre
eliminado. Além disso, outros fatores fizeram 12 e 20 km/h. Seu sistema de propulsão é com-
com que os veículos movidos a eletricidade posto de um motor elétrico, que recebe ener-
não prevalecessem (MEHRDAD et al., 2005) gia elétrica de uma bateria e de um conjunto
em função da fácil obtenção da gasolina em de engrenagens responsáveis pela redução
postos no interior da América do Norte em re- da velocidade, com uma relação de redução
lação à dificuldade de se obter a recarga das compatível com a faixa de operação do carro.
baterias no interior. Outro fator importante era As características construtivas do carro
o custo mais elevado do veículo elétrico em desenvolvido por esses autores são apresenta-
relação ao veículo a gasolina. O modelo T da das no quadro 1.
Ford, em 1925, custava 560 dólares, enquan- Quadro 1 - Características do carro elétrico - ULBRA –
to que um veículo elétrico a bateria custava Canoas
1.760 dólares. Carro Peso 220N
Além disso, foram descobertas grandes Comprimento 2382 mm
reservas de petróleo na Arábia Saudita, Rús- Largura 761 mm
sia e Pérsia, estabilizando o preço do barril de Altura 658 mm
petróleo de 1910 até 1970, devido ao acrés-
Distância entre 1685 mm
cimo significativo da oferta (LEITMAN, 2009). eixos
Esses aspectos contribuíram para o aumento Rodas Número: 3
da produção de veículos a combustão interna,
Diâmetro: 0,5 m
alimentados por gasolina e ou diesel, refletin-
Sistema de Um motor CC brushless, 80 W (potên-
do na emissão de grandes quantidades de ga-
propulsão cia elétrica), 12 V, 5,91 A, 13600 rpm
ses poluentes. Mas, a partir de 1973, com a
Conjunto de duas engrenagens planetá-
crise do petróleo, durante o embargo árabe, rias acopladas, relação de transmissão
ocorre a rápida elevação do preço do barril de de 36:1
petróleo que, somada aos problemas de po- Par de engrenagens, relação de trans-
luição atmosférica, criou condições para o re- missão de 2:1
aparecimento dos veículos elétricos e híbridos Relação total de transmissão: 64:1
(MEHRDAD et al., 2005). Bateria: 12 V, 6 Ah

3 O carro elétrico desenvolvido na Um sistema de controle eletrônico do


motor CC
ULBRA
Direção Sistema de trapézio simples, com barra
de conexão entre as pontas de eixo,
Na ULBRA- Canoas (RS), os autores geometria de Akerman
desenvolveram um carro elétrico (figura 1), Fonte: Os autores (2009).
Figura 1 – Fotografia do carro elétrico

Fonte: Os autores (2009).

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D’AVILA, C. E. P., GERTZ, L.C., SILVEIRA, M. A. da., CERVIEIRI, A.

3.1 Ensaios do carro elétrico constituem o protótipo. O carro foi acionado


e, após atingir uma velocidade de 9,7 m/s (35
O carro elétrico foi ensaiado com o km/h), seu funcionamento foi interrompido.
objetivo de determinar-se o comportamento Nesse instante, foi iniciada a coleta de dados
da potência requerida pelo mesmo, em fun- do velocímetro até o carro ter a sua parada to-
ção da velocidade que deve desenvolver. Por tal, causada pelas forças de atrito atuantes. O
meio de medições, foi possível obter informa- teste foi efetuado, repetidamente, num total
ções que possibilitaram a definição do sistema de seis vezes para que as incertezas de leitura
de propulsão. Para a execução dos testes, foi e de medição fossem minimizadas. Com tais
empregada uma série de materiais e métodos dados, foi possível traçar uma curva de de-
para os ensaios das características dinâmicas créscimo da velocidade com o tempo.
do carro elétrico. O carro foi testado em uma
pista com superfície plana e em um dinamô- 3.3 Análise dos dados coletados
metro inercial. Os equipamentos utilizados
nos ensaios dinâmicos são descritos a seguir: Com os ensaios de redução da veloci-
- balança, escala de 0 a 2950 N, resolução de dade pelo tempo, foi construída uma curva,
0,98 N e incerteza de ± 1 %; identificando a redução da velocidade em
- dinamômetro, com escala de 0 a 1962 N, cada instante de um segundo transcorrido. Os
resolução de 9,81 N e incerteza de ± 4,90 N; valores das velocidades identificam a desace-
- velocímetro, com resolução de 0,028 m/s, leração em cada instante. A curva é mostrada
indicação entre 0 a 27,78 m/s e incerteza de na figura 2(a). Como a massa do carro, com pi-
0,28 m/s (± 1%); loto a bordo, é conhecida (86,00 ± 0,95 kg) e
- dinamômetro inercial para protótipos le- utilizando a Segunda Lei de Newton, calcula-
ves, rolos com diâmetro de 180 mm, largura ram-se as forças que identificam as perdas in-
dos rolos de 2 m e momento de inércia total cidentes sobre o veículo, para cada instante t.
J = 0,7 kgm2. Uma vez identificados os valores de força, foi
possível obter-se a potência necessária para
3.2 Ensaios dinâmicos manter o carro em movimento em diversas
faixas de velocidade. Da equação 1, obtém-se
Inicialmente, o carro teve todos os seus a figura 2(b) que mostra o gráfico da potência
dispositivos e componentes revisados e tes- mecânica requerida pelo carro elétrico em fun-
tados, a fim de minimizar riscos de que os ção da velocidade desenvolvida pelo mesmo:
dados e resultados obtidos apresentassem
discrepância com a finalidade proposta pelo
protótipo. Os procedimentos adotados foram P=FT νt (1)
os seguintes:
-os pneus tiveram a sua pressão ideal observa- onde, P é a potência mecânica requerida pelo
da, sendo de 60 lb/in2, para que a perda por carro em watt, FT é a força em newton, e νt
atrito fosse minimizada; é a velocidade tangencial das rodas do carro
- o sistema de freio foi ajustado, para evitar em m/s.
atritos indesejados entre os discos e as pasti- Através dos ensaios, foi possível obter os
lhas. valores de potência mecânica requeridos pelo
Os testes realizados para identificar as carro, em função da velocidade que desen-
perdas envolvidas nos conjuntos mecânicos volve. Para que o carro opere a 20km/h (5,56
e no arrasto aerodinâmico foram efetuados, m/s), a potência mecânica a ser fornecida a
utilizando-se uma câmera digital com cronô- ele é de aproximadamente 58,0 W. Para ope-
metro integrado, um velocímetro digital, ins- rar a 12km/h (3,33m/s), o carro requer uma
talado no veículo e os sistemas mecânicos que potência mecânica de 23,5W.

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Figura 2 – Gráficos resultantes dos testes com o carro elétrico: (a) velocidade do carro x tempo; (b) potência requerida
pelo carro elétrico x velocidade do carro
(a) (b) 200-
_________________

_________________
12- 175-

Potência mecânica (W)


10-
Velocidade (m/s)

150-
8- 125-
6- 100-
4- 75-
2- 50-
0- 25-
__________________________________ 0-__________________________________
-
-
-
-
-
-
-

-
-
-
-

-
-
-
-
-
-
-

-
-
-
-
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo (s) Velocidade (m/s)
Fonte: Os autores (2009).

4 Análise e características de funciona- desenho simplificado de um motor brushless


mento do motor CC sem escovas em corte transversal. O enrolamento trifásico
da armadura é representado pelas fases A, B e
No motor CC sem escovas (motor CC C. O modelo do motor CC brushless é mostra-
brushless), utilizado no carro elétrico, o enro- do na figura 5. Na figura, R é a resistência de
lamento trifásico da armadura está conectado uma fase, L é a indutância de uma fase, Ea,Eb
a um circuito de chaveamento eletrônico. O e Ec são as forças contraeletromotrizes (fcem)
rotor possui dois ímãs permanentes com for- induzidas nas fases A, B e C, respectivamente
mato cilíndrico composto de Nd2Fe14B (Neo- (CHAI, 1998).
dímio-Ferro-Boro). Um sistema de detecção Figura 4 – Desenho em corte transversal do motor
de posição do rotor é utilizado para determi- brushless CC
nar a sequência de chaveamento das fases.
Quando o motor está em operação, o sistema
de controle faz o chaveamento das bobinas
do enrolamento da armadura na sequência e
no tempo corretos. Para que isso ocorra, é ne-
cessário que o sistema de controle identifique
a posição do campo magnético do rotor em
relação às fases do enrolamento da armadu-
ra. No motor em estudo, são utilizados sen-
sores Hall para detecção da posição do rotor.
A figura 3 mostra um desenho do motor CC
brushless em estudo. A figura 4 mostra um
Fonte: Chai (1998).
Figura 3 – Desenho do motor CC brushless - Maxon
Figura 5 – Modelo do motor CC brushless

Fonte: Treffer Tecnologias (2008). Fonte: Chai (1998).

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4.1 Acionamento do motor CC brushless dia


V = Ef + 2Raia + 2La ___ (2)
dt
O motor brushless é acionado através
de um inversor de ponte completa com seis Em (2), V é a tensão contínua aplicada
chaves. A figura 6 mostra o desenho esque- entre duas fases, Ef é a força contraeletromotriz
mático do sistema de chaveamento. Quando medida entre duas fases, resultante da compo-
o rotor encontra-se na posição mostrada na sição fasorial das fcem’s induzidas nas duas fa-
figura 6, o controlador deverá chavear a fase ses que estão sendo percorridas por corrente,
A. O sentido da corrente deve ser tal, que a Ra e La são, respectivamente, a resistência e a
corrente deve percorrer a fase A com o sen- indutância de uma fase do enrolamento da ar-
tido mostrado na figura 7. As chaves 1 e 5 são madura, e ia é a corrente que percorre as duas
fechadas, e a corrente percorre as fases A e B. fases. A tensão Ef tem um comportamento tra-
O sentido da rotação do motor é anti-horário. pezoidal no motor em análise e, assim, pode
Para a produção de uma volta completa, a ser considerada aproximadamente constante
sequência de acionamento das chaves é 1-5, (SU et al., 2000). A forma de onda da força
1-6, 2-6, 2-4, 3-4, 3-5. contraeletromotriz é trapezoidal, porque a
Figura 6 - Desenho esquemático do sistema de chavea-
distribuição da densidade de fluxo magnético
mento do motor brushless produzida pelos ímãs permanentes no entre-
ferro tem um formato trapezoidal. As tensões
de fase estão defasadas entre si de 120o elé-
tricos (WANG et al., 2007). Se uma corrente
contínua Ia é fornecida pela bateria ao mó-
dulo de controle do motor, pode-se relacio-
nar essa corrente com o torque desenvolvido
internamente pelo motor pela equação (3):

T = ktIa (3)

Fonte: Chai (1998). Na equação (3), kt é a constante do


Figura 7 – Sentido da corrente nas fases do enrolamento torque, expressa em Nm/A e T é o torque in-
da armadura terno desenvolvido pelo motor CC brushless.
Esse torque é igual à soma do torque de carga,
aplicado ao eixo do motor, Tc , somado ao tor-
que interno de fricção, Tr. Esse último pode ser
obtido pelo produto da constante do torque,
pela corrente a vazio do motor, Io, de acordo
com Tr = ktIo. A tensão Ef pode ser calculada
através da constante de velocidade do motor,
kn, de acordo com a equação (4):
n (4)
Fonte: Chai (1998). Ef =
kn
Quando duas fases do enrolamen-
to da armadura são percorridas por cor- Na equação (4), kn é a constante da ve-
rente, a tensão terminal de um motor CC locidade, expressa em rpm/V, e n é a velocida-
brushless trifásico, conectado em Y, com de de rotação do motor, em rpm. Quando se
seis chaves, com um inversor de ponte considera a corrente contínua Ia, a equação da
completa, pode ser expressa pelas equa- tensão aplicada é expressa por (5):
ções apresentadas a seguir (EMADI, 2005a;
V = Ef + 2RaIa (5)
EMADI, 2005b):

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Se Ef é substituído pela equação (4), e Ia pela equação (12):


é substituído pela equação (3), após algumas
operações, obtém-se a equação (6): Prot = Po - (2RaIo2) (12)

(2RaT
n= kn V-____
kt ) ( 2Ra(Tc+Tr)
=kn V - _______
kt ) (6) Essas perdas são consideradas cons-
tantes, independentes da condição de carga
com a qual o motor atua. Quando o motor
O comportamento teórico da potência está operando com certa carga acoplada ao
mecânica de saída do motor pode ser obtido seu eixo, subtraindo-se da potência elétrica
através do comportamento do torque no eixo de entrada, Pe, as perdas no cobre, obtém-se a
do motor, por meio da equação (7): potência elétrica convertida em potência me-
Pm = Tcwm cânica, Pconv. A potência mecânica fornecida à
(7)
carga é calculada pela diferença entre a potên-
Na equação (7), Pm é a potência me- cia convertida e as perdas rotacionais.
cânica de saída do motor CC brushless, em
watts, Tc é o torque no eixo, em Nm, e wm é a 4.2 Seleção do motor CC brushless
velocidade angular do rotor, em rad/s. A po-
tência elétrica de entrada, Pe , é calculada pela O motor CC brushless foi selecionado
equação (8): com base na tensão da bateria e nos valores de
potência mecânica, requeridos pelo carro elé-
Pe = VIa (8)
trico para operar na faixa de velocidade para
O rendimento do motor é calculado por: a qual foi projetado. O quadro 2 apresenta as
principais características do motor CC brush-
P
___ Pm
__________ less selecionado.
n= Pm = P +Perdas (9)
e m Quadro 2 - Características do motor CC brushless
em estudo
As perdas de potência do motor CC
brushless englobam as perdas por atrito e ven- Especificação do motor Maxon EC 32 Valor
tilação, as perdas no núcleo e as perdas no co- Tensão nominal [V] 12
bre do enrolamento da armadura. As perdas Velocidade a vazio [rpm] 15100
no cobre do enrolamento da armadura, PR,
Corrente a vazio [mA] 901
dependem a condição de carga do motor e
são calculadas pela equação (10): Velocidade nominal [rpm] 13600
Torque nominal [mNm] 38,3
PR = 2RaIa2 (10) Corrente nominal [A] 5,91
Resistência terminal entre fases 2Ra[Ω] 0,203
As perdas por atrito, ventilação, e as per-
Indutância terminal entre fases 2La[mH] 0,03
das no núcleo por histerese e correntes parasi-
tas compõem as perdas rotacionais. Quando o Número de imãs permanentes 2
motor está operando a vazio, sem carga mecâ- Constante do torque kt [mNm/A] 7,48
nica acoplada ao seu eixo, a potência elétrica Constante da velocidade kn [rpm/V] 1280
fornecida a ele supre as perdas no cobre e as Fonte: Treffer Tecnologias (2008).
perdas rotacionais (FITZGERALD et al., 2006).
A potência elétrica a vazio, Po, é calculada pela Através das características apresentadas
equação (11): no quadro 2, obtiveram-se os valores teóricos
das perdas e do rendimento apresentados pelo
Po = VIo (11) motor CC brushless. Quando o motor está va-
zio, as perdas de potência são iguais a 10,81 W
onde, Io é a corrente absorvida pelo motor e as perdas no cobre, iguais a 0,165 W. As
a vazio. As perdas rotacionais são calculadas perdas rotacionais são iguais a 10,64 W. Em

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D’AVILA, C. E. P., GERTZ, L.C., SILVEIRA, M. A. da., CERVIEIRI, A.

condições nominais de operação, a potência que o motor está sem carga mecânica acopla-
elétrica fornecida ao motor é igual a 70,92 W. da ao seu eixo. O ponto, onde a rotação é
As perdas no cobre, nessa condição, são iguais igual a zero, corresponde à condição de rotor
a 7,09 W. A diferença entre essas duas potên- bloqueado.
cias corresponde à potência elétrica convertida O comportamento teórico da po-
em potência mecânica, sendo igual a 63,83 W. tência mecânica de saída do motor CC
A potência mecânica fornecida à carga é igual brushless em função da rotação foi obtido
a 53,19 W. O rendimento teórico do motor, através da equação (7) e da característica ro-
quando em condições nominais de operação, tação x torque de carga mostrada no gráfico
é igual a 75 %, que é ligeiramente inferior ao da figura 8. A velocidade do motor em rpm foi
rendimento máximo de 77 %, que esse motor convertida em rd/s e, a seguir, na velocidade
pode apresentar. Os valores de potência foram angular das rodas do carro, wc , aplicando-se
calculados para uma tensão aplicada de 12 V. a relação de transmissão, gr , de acordo com
O comportamento teórico do motor CC a equação (13):
brushless foi analisado com o objetivo de se
determinar a relação de velocidades do siste- wc = grwm (13)
ma de transmissão. Primeiramente, foram ob-
tidos os valores da rotação, desenvolvida pelo
motor em função do torque de carga aplicado onde, wc é a velocidade angular das ro-
ao seu eixo, considerando que a tensão da ba- das do carro, quando acionadas pelo motor
teria era de 12 V. Os valores teóricos da rota- brushless. Quando wc é multiplicada pelo
ção foram calculados através da equação (6) raio das rodas do carro, R, a velocidade an-
e das especificações do quadro 2. O gráfico gular é convertida em m/s, de acordo com a
resultante é mostrado na figura 8. Para o cál- equação (14):
culo da rotação, foram definidos valores para
o torque de carga, aplicado ao eixo do motor, νc = Rwc (14)
desde zero até o valor que produzisse rotação
nula. O resultado é uma reta que expressa o
onde, νc é a velocidade tangencial das ro-
comportamento da rotação em função do tor-
das do carro em m/s, denominada de νt na
que de carga, aplicado no eixo, para uma ten-
equação (1). A figura 9 mostra um conjunto
são de 12 V, aplicada ao motor. Outras duas
de curvas que representa o comportamento
retas foram obtidas, uma para a tensão de 8
da potência mecânica de saída do motor em
V, e outra, para 10 V. Em cada reta, o ponto
função da velocidade do carro. Cada curva foi
de maior rotação corresponde à condição em
obtida para uma relação de transmissão. As
Figura 8 – Gráfico da característica teórica rotação x curvas teóricas da potência de saída do motor
torque de carga do motor CC brushless brushless foram comparadas com a curva da
18000- potência mecânica, requerida pelo carro, ob-
______________________

16000- ___ tida através de testes. Os pontos de intersec-


14000-_ ____ ção representam os pontos de operação do
_
Rotação (rpm)

12000- ___ __12V carro, quando acionado pelo motor brushless.


__ ___ ____
10000- __ 10V _ São apresentadas curvas produzidas para cin-
__ ____ ___
8000- __ _ _ co diferentes valores de relação de transmis-
6000-
8V __ ___ ____
__ _
4000- __ ___ ____ são, para 12 V de tensão aplicada ao motor. A
__ _
2000- __ ___ ____ condição de operação considerada mais ade-
__ _ _
__ ___ ___
0-_________________________________
quada resultou da aplicação de uma relação
de transmissão de 65:1. Em função das carac-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 terísticas do sistema de transmissão utilizado,
Torque (mNm)
Fonte: Os Autores (2009).
foi escolhida uma relação de 64:1.

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Estudo de um motor CC brushless aplicado no acionamento de ...

Figura 9 – Gráfico da potência mecânica x velocidade do carro elétrico, para cinco diferentes valores de relação de
transmissão

pontos de motor brushless - 12 V


intersecção
Potência Mecânica (W)

Carro
elétrico

Velocidade do carro (km/h)


Fonte: Os autores (2009).

Após definida a relação de transmissão, motor, a partir da condição sem carga (potên-
foi analisado o comportamento do carro elé- cia mecânica igual a zero, mínima corrente da
trico, quando acionado pelo motor brushless, armadura) até a condição de corrente nominal.
para as tensões de 8 V e 10 V. As curvas carac- A porção mais clara de cada curva representa
terísticas de potência estão representadas no os pontos de sobrecarga até a condição de ro-
gráfico da figura 10. tor bloqueado. O sistema de controle do mo-
tor deve incluir uma unidade de proteção que
Figura 10 – Gráfico potência mecânica x
velocidade em km/h limita a corrente do motor em um valor seguro.

5 Conclusões

A comparação do comportamento da
potência mecânica de saída do motor CC
brushless com o comportamento da potência
mecânica, requerida pelo carro elétrico, permi-
tiu definir o sistema de redução de velocidade.
O carro elétrico foi projetado para operar den-
tro de uma faixa de uma velocidade de 3,33
a 5,56 m/s (12 a 20 km/h). Para operar com
velocidade de 20 km/h, o carro elétrico requer
uma potência de aproximadamente 58 W.
Fonte: Os autores (2009).
O motor elétrico poderá atender essa condi-
Nesse gráfico, três pontos de operação ção, quando a tensão entre seus terminais for
estão representados, sendo que cada um refere- igual a 12 V. O carro desenvolverá uma velo-
se a um valor de tensão da bateria (8V, 10V e cidade de 12,81 km/h, quando a tensão en-
12V). Todas as curvas foram obtidas para uma tre os terminais do motor for igual a 8 V. Esses
relação de velocidade de 64:1. A porção útil valores foram calculados para uma relação de
de cada curva (destacada em preto) represen- velocidade de 64:1. Valores menores de redu-
ta o comportamento da potência mecânica do ção produzem maiores velocidades do carro,

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D’AVILA, C. E. P., GERTZ, L.C., SILVEIRA, M. A. da., CERVIEIRI, A.

porém, o motor operará em sobrecarga. Valo- S. D. Máquinas elétricas, 6. ed., São Paulo:
res maiores de redução produzem velocidades Bookman, 2006.
mais baixas.
O comportamento do carro elétrico foi LEITMAN, S.; BRANT, B. Build your own
analisado para trajetórias em superfícies pla- electric vehicle. 2.ed. New York: McGraw-
nas, sem aclives ou declives. A próxima etapa Hill, 2009.
do trabalho envolverá a determinação da po-
tência requerida pelo carro, em função da sua MEHRDAD, E. et al. Modern electric, hybrid
velocidade, em superfícies com aclives. O de-
electric, and fuel cell vehicles. 1. ed. New
senvolvimento dessa nova etapa terá por obje-
York: CRC Press, 2005.
tivo especificar um segundo motor elétrico CC
brushless, a ser acionado, quando houver ne-
cessidade de produção de potência mecânica SU, G. J.; MCKEEVER, J. W.; SAMONS,
acima de 90 % da potência nominal do primei- K. S. Design of a PM brushless motor
ro motor. Uma vez concluída a especificação drive for hybrid electric vehicle application.
dos motores, o carro será testado para avaliar In: PCIM 2000 Conference, 2000, Boston.
seu consumo de energia elétrica em diferentes Proceedings…
tipos de trajetórias e velocidades.
TREFFER TECNOLOGIAS. Maxon Motores.
Referências Belo Horizonte, 2008. Disponível em: <http://
www.treffer.com.br/produtos/maxon/motores/
CHAI, H. Electromechanical motion devices. pdf/164.pdf/201>. Acesso em: 10 set. 2008.
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3. ed. New York: Marcel Dekker, 2005a. net brushless DC motor drive system for high
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