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Resumo:
A Matemática é de fundamental importância para a sociedade, estando presente tanto
em situações de interação social quanto em grandes feitos da humanidade. Dentre os
diversos conhecimentos que a Matemática abrange, destacam-se aqueles que compõem
a aritmética, não só por estarem presentes em atividades cotidianas como também por
servirem de base para o desenvolvimento da própria Ciência Matemática. Nas crianças,
as noções aritméticas começam a ser construídas informalmente, por meio de
brincadeiras e no diálogo com os pais. Contudo, para a grande maioria das crianças
surdas a construção do conhecimento aritmético tem percurso diferente. Visto que, mais
de 90% dos surdos nascem em famílias ouvintes, as crianças surdas enfrentam
dificuldades comunicativas, deixando de adquirir muitas informações no período que
antecede a escolarização. Por isso, assim que entram na escola, é importante utilizar
estratégias que auxiliem essas crianças na apropriação da Língua de Sinais e, em
especial, na construção do conhecimento numérico. Considerando-se que o sistema de
numeração em LIBRAS possui características diferentes do sistema de numeração
verbal da Língua Portuguesa, o presente minicurso utilizará jogos e atividades práticas
como estratégia para ensino e aprendizagem do conjunto dos naturais e das operações
de adição e subtração em LIBRAS, visando a capacitação de professores que atuem ou
venham a atuar com estudantes surdos. Ao final do minicurso os participantes terão se
apropriado das regras para sinalizar números naturais de qualquer grandeza, bem como
serão capazes de realizar operações aritméticas em LIBRAS por meio de algoritmos
sinalizados.
1. Introdução
As discussões sobre surdez e ensino para alunos surdos vêm crescendo, não só
no meio acadêmico, como em toda a sociedade, tendo sido, inclusive, tema da redação
do ENEM de 2017. Pode-se notar que todo este crescimento tem forte ligação com a lei
que reconheceu a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), em 2002, como meio de
comunicação e expressão dos surdos no Brasil. A partir do reconhecimento legal e de
sua regulamentação (BRASIL, 2005), houve aumento do número de estudantes surdos
incluídos nas escolas regulares de Educação Básica e ultimamente essa população está
tendo acesso aos cursos de graduação nas mais diversas áreas.
A chegada de um número significativo de pessoas surdas a níveis escolares mais
elevados, em nosso país, evidencia a necessidade de que o professor lance mão de
estratégias especificamente voltadas para esta população. É importante salientar que,
além da Língua de Sinais não ter modalidade oral-auditiva, os estudantes surdos têm a
visão como principal canal de aprendizagem. Isto requer não só adaptação de materiais
já existentes, visando os usuários de uma Língua visuoespacial, como também criação
de metodologias e estratégias de ensino que considerem suas formas de aprendizagem.
Entretanto as escolas, assim como os cursos universitários, ainda não estão, de fato,
preparados para lidar com essa população.
Em se tratando do Campo da Matemática, deve-se considerar que o sistema de
numeração em LIBRAS tem diferenças importantes em sua construção se comparado ao
sistema de numeração verbal da Língua Portuguesa. Entretanto, tais diferenças são
desconhecidas pela maioria dos professores ouvintes. Assim, além de propor reflexão
acerca das regras de sinalização dos números naturais de qualquer grandeza, o
minicurso também irá contemplar seu ensino, bem como a aprendizagem de algoritmos
sinalizados em LIBRAS. Jogos serão utilizados como estratégia de ensino para a
construção dos conhecimentos aritméticos básicos.
2. Referencial Teórico
2.1. Inserção social da população surda no Brasil
No Brasil, estima-se que 10 milhões de pessoas apresentem algum tipo de deficit
auditivo (IBGE, 2010), incluindo-se neste grupo a população surda. Considerando-se tal
população como minoria linguística, tornam-se necessárias políticas públicas que
garantam de fato sua inclusão na sociedade. Nesse contexto, a Lei nº 10.436 representa
grande conquista para esse grupo de pessoas, pois reconhece a Língua Brasileira de
VII Encontro de Educação Matemática do Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, de 16 a 18 de maio de 2018
Figura 4: Configurações de mão para sinalização numérica. Fonte: Pimenta & Quadros, 2013
Figura 5: Numerais 1(um) e 2 (dois), em LIBRAS. Fonte: Pimenta & Quadros, 2013
Figura 6: Numerais 3 (três) e 4 (quatro), em LIBRAS. Fonte: Pimenta & Quadros, 2013
Em ambos os casos, a palma da mão encontra-se voltada para quem sinaliza. O
uso das diferentes configurações manuais para os numerais de um a quatro dependerá
do contexto, nos demais sinais há apenas uma configuração de mão para cada um deles.
Contudo, é importante observar algumas particularidades: os numerais seis e nove
possuem a mesma configuração manual, mudando apenas a posição no espaço (Figura
7).
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Figura 7: Numerais 6 (seis) e 9 (nove), em LIBRAS. Fonte: Pimenta & Quadros, 2013
Vale a pena ressaltar que na LIBRAS ocorrem regionalismos em alguns sinais
numéricos. Assim, nesse trabalho foi utilizada como referência a sinalização empregada
na cidade do Rio de Janeiro (INES, 2017).
3. Metodologia
O minicurso em questão pretende discutir algumas das especificidades do ensino
de Matemática em LIBRAS. Inicialmente, o campo da surdez será contextualizado,
apontando as principais questões que interferem no processo de ensino e aprendizagem
da população surda. A seguir, serão apresentadas as configurações de mão dos numerais
e suas regras para a sinalização de números multidígitos. Os participantes serão levados
a refletir sobre semelhanças e diferenças entre os sistemas de numeração em Língua
Portuguesa e em LIBRAS. Dando seguimento às atividades, serão realizados jogos para
a sinalização da sequência numérica, como “Número Secreto” e outros envolvendo as
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3.1 Objetivos
O minicurso tem como objetivo geral proporcionar reflexão acerca do ensino de
Matemática numa perspectiva bilíngue, sensibilizando os participantes quanto às
especificidades do processo de ensino-aprendizagem da população surda. Como
objetivos específicos pretende-se que os cursistas identifiquem as configurações de mão
dos numerais em LIBRAS, juntamente com suas regras, para a formação de números
naturais; tracem relações de semelhança e diferença entre o sistema de numeração em
Língua Portuguesa e em LIBRAS; sinalizem números em LIBRAS de 1 (um) a 1.000
(mil) na realização da atividade “Número Secreto”; identifiquem algoritmos sinalizados
em LIBRAS e formem um pequeno acervo de atividades práticas para realizar
operações de adição e de subtração, com o uso dos sinais.
3.2.2.Três em Linha
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4. Considerações Finais
A população surda requer não só um ensino que lhe seja oferecido em sua
primeira Língua como também o uso de estratégias e metodologias que sejam pensadas
para quem tem a visão como principal canal de aprendizagem. Assim, o ensino a partir
da perspectiva bilíngue apresenta-se como sendo o mais adequado para esses
aprendizes.
Ao mostrar algumas das especificidades do processo de ensino-aprendizagem de
estudantes surdos, pretende-se que o minicurso “Estratégias de Ensino do Conjunto dos
Naturais e das Operações de Adição e Subtração em LIBRAS” sensibilize os
participantes quanto às dificuldades que os surdos têm encontrado ao longo da sua
escolarização, apresentando atividades numéricas com o uso de Sinais. Nesse contexto,
os jogos em LIBRAS proporcionam momento para que construção do conhecimento
aritmético ocorra de maneira eficaz e prazerosa.
5. Referências
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utilização de recursos visuais. 2013. 65f. Dissertação. (Mestrado em Matemática) -
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