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CENTRO UNIVERSITÁRIO DR.

LEÃO SAMPAIO

ABA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ACUPUNTURA

LATO SENSU EM ACUPUNTURA

ANDREIA PAGANI MARANHÃO

ACUPUNTURA E FIBROMIALGIA – UMA REVISÃO


SISTEMÁTICA

JUAZEIRO DO NORTE – CE
2017
CENTRO UNIVERSITÁRIO DR. LEÃO SAMPAIO

ABA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ACUPUNTURA

LATO SENSU EM ACUPUNTURA

ANDREIA PAGANI MARANHÃO

ACUPUNTURA E FIBROMIALGIA – UMA REVISÃO


SISTEMÁTICA

Monografia apresentada à UNILEÃO – Centro


Universitário Dr. Leão Sampaio e à Associação
Brasileira de Acupuntura como requisito parcial para
obtenção do Título de Especialista Lato Sensu, sob a
orientação da profa. Evanilse Maria Leite Fernandes
Sales.

JUAZEIRO DO NORTE – CE
2017
ACUPUNTURA E FIBROMIALGIA – UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA
Monografia apresentada à UNILEÃO – Centro Universitário Dr. Leão Sampaio e
à Associação Brasileira de Acupuntura – ABA

___________________________________________
Andreia Pagani Maranhão

Aprovada em___/___/____

_______________________________________________
Professora Evanilse Maria Leite Fernandes Sales
Orientadora

_______________________________________________
1º. Examinadora: Prof. Me.

_______________________________________________
2º Examinador

________________________________________________
Professor
Coordenador do Curso de Acupuntura
À Carmela Pagani,
que me ensinou a não ter medo. Nem da dor, nem da
nuvem, nem do sonho.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus. Por todas as coisas.


À minha família. Pela retidão, encorajamento e paciência.
Aos meus caros amigos. Por se reconhecerem no meu trabalho.
Aos professores e professoras da Associação Brasileira de Acupuntura. Pelo caminho.
Aos pacientes do NAPI – INTA. Pela partilha das dores e das alegrias.
Aos meus colegas de trabalho. Pela atmosfera salubre do dia a dia.
Aos meus alunos. Pelas nossas incertezas.
“Onde o homem não se diferencia nem do sol, nem do seu animal,
nem da sua malária”.
Carlo Levi, Cristo si è fermato a Erboli.
RESUMO

Neste texto, apresenta-se uma revisão sistemática sobre as implicações da acupuntura no


tratamento de pacientes com fibromialgia. Busca-se delimitar o conceito de fibromialgia,
agregando as contribuições da Medicina Tradicional Chinesa para o diagnóstico e
compreensão da síndrome, bem como apresentar os trabalhos já publicados pelos
acupunturistas. Foram utilizadas as bases Elsevier, Pubmed e Scielo para a busca de
trabalhos empíricos entre 2007 e 2017. O referencial teórico foi construído com base em
textos clássicos da acupuntura e as diretrizes oficiais para o tratamento dos pacientes com
fibromialgia. Observa-se um crescimento das pesquisas sobre acupuntura como
terapêutica capaz de imprimir melhorias nos sintomas, relações inovadoras entre a técnica
e outras intervenções alternativas, bem como a utilização de punctura local como forma
de obtenção de resposta rápida para o alívio da dor.
Descritores: Acupuntura; Fibromialgia; Revisão sistemática.
ABSTRACT

In this text, it presents a systematic review about the acupuncture’s implications in the
treatment of patients with fibromyalgia. It seeks to delimit the concept of fibromyalgia,
adding the contributions of Traditional Chinese Medicine for the diagnosis and
understanding of the syndrome, as well as to present the works already published by
acupuncturists. The Elsevier, Pubmed and Scielo databases were used to search for
empirical studies between 2007 and 2017. The theoretical framework was based on
classical acupuncture texts and the official guidelines for the treatment of patients with
fibromyalgia. It is observed an increase in research on acupuncture as a therapy capable
of printing improvements in symptoms, innovative relationships between this technique
and other alternative interventions, as well as the use of puncture in Ashi points as a way
to obtain a rapid response to pain relief.
Keywords: Acupuncture; Fibromyalgia; Systematic review.
SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................. 10


LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... 11
LISTA DE TABELAS............................................................................................................... 12
LISTA DE ANEXOS................................................................................................................. 13
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 15
I. UM ESTUDO SOBRE A FIBROMIALGIA ....................................................................... 23
I.1. Dor difusa – melancolia e resistência ............................................................................ 23
I.2. Uma etiologia controversa ............................................................................................. 29
I.3. Fibromialgias – classificações e singularidades............................................................ 34
II. ACUPUNTURA COMO MÉTODO DE TRATAMENTO .............................................. 41
II.1. Histórico e usos da acupuntura.................................................................................... 41
II.2. Uma medicina alternativa – Conceitos, padrões e princípios para o diagnóstico ... 55
II.3. A Fibromialgia sob o prisma da acupuntura .............................................................. 64
III. ACUPUNTURA E FIBROMIALGIA NA LITERATURA ESPECIALIZADA .......... 73
III.1. Acupuntura como tratamento .................................................................................... 74
III.2. Acupuntura como método........................................................................................... 78
III.3. Inovações na terapêutica da acupuntura................................................................... 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 90
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 93
ANEXOS .................................................................................................................................... 97
10

LISTA DE ABREVIATURAS

ACR American College of Rheumatology


MTC Medicina Tradicional Chinesa
DORT Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis
WHO Organização Mundial de Saúde
DeCS Descritores das Ciências da Saúde
ABRAFIBRO Associação Brasileira dos Fibromiálgicos
SUS Sistema Único de Saúde
VAS Escala Visual Analógica
TPN Número de Pontos Dolorosos
FIQ Questionário de Impacto da Fibromialgia
IM Índice Miálgico
BDI Inventário de Depressão de Beck
BAI Inventário de Ansiedade de Beck
FSS Escala de Severidade da Fadiga
R Rim
B Bexiga
BP Baço Pâncreas
E Estômago
F Fígado
VB Vesícula Biliar
C Coração
ID Intestino Delgado
P Pulmão
IG Intestino Grosso
CS Pericárdio
TR Triplo Aquecedor
11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Tender points – pontos dolorosos 16


Figura 2. Mariana – John Everett Millais 24
Figura 3. La columna rota – Frida Kahlo 26
Figura 4. Meridianos principais 62
12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Fontes para a revisão sistemática 21


Tabela 2 – Correspondências Zang Fu 61
13

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Meridiano do Pulmão 97


Anexo 2 – Meridiano Tendinomuscular do Pulmão 98
Anexo 3 - Meridiano divergente do Pulmão 99
Anexo 4 – Meridiano do Intestino Grosso 100
Anexo 5 – Meridiano tendinomuscular do Intestino Grosso 101
Anexo 6 - Vaso Luo do Intestino Grosso 102
Anexo 7 – Meridiano divergente do Intestino Grosso 103
Anexo 8 – Meridiano do Estômago 104
Anexo 9 – Meridiano tendinomuscular do Estômago 105
Anexo 10 – Vaso Luo do Estômago 106
Anexo 11 – Grande Luo do Estômago 107
Anexo 12 – Meridiano divergente do Estômago 108
Anexo 13 – Meridiano do Baço-Pâncreas 109
Anexo 14A – Meridiano tendinomuscular do Baço-Pâncreas 110
Anexo 14B – Meridiano tendinomuscular do Baço-Pâncreas (cont). 111
Anexo 15 – Vaso Luo do Baço Pâncreas 112
Anexo 16 – Grande Luo do Baço Pâncreas 113
Anexo 17 – Meridiano divergente do Baço Pâncreas 114
Anexo 18 – Meridiano do Coração 115
Anexo 19 – Meridiano tendinomuscular do Coração 116
Anexo 20 – Vaso Luo do Coração 117
Anexo 21 – Meridiano divergente do Coração 118
Anexo 22 – Meridiano do Intestino Delgado 119
Anexo 23 – Meridiano Tendinomuscular do Intestino Delgado 120
Anexo 24 – Vaso Luo do Intestino Delgado 121
Anexo 25 - Meridiano divergente do Intestino Delgado 122
Anexo 26 - Meridiano da Bexiga 123
Anexo 27 – Meridiano tendinomuscular da Bexiga 124
Anexo 28 – Vaso Luo da Bexiga 125
Anexo 29 – Meridiano divergente da Bexiga 126
Anexo 30 – Meridiano do Rim 127
14

Anexo 31 – Meridiano tendinomuscular do Rim 128


Anexo 32 – Vaso Luo do Rim 129
Anexo 33 – Meridiano divergente do Rim 130
Anexo 34 – Meridiano do Pericárdio – CS 131
Anexo 35 – Meridiano tendinomuscular do Pericárdio 132
Anexo 36 – Vaso Luo do Pericárdio 133
Anexo 37 – Meridiano divergente do Pericárdio 134
Anexo 38 – Meridiano do Triplo Aquecedor – TR 135
Anexo 39 – Meridiano tendinomuscular do Triplo Aquecedor 136
Anexo 40 – Vaso Luo do Triplo Aquecedor 137
Anexo 41 – Meridiano divergente do Triplo Aquecedor 138
Anexo 42A - Meridiano da Vesícula Biliar 139
Anexo 42B - Meridiano da Vesícula Biliar (cont). 140
Anexo 43 – Meridiano tendinomuscular da Vesícula Biliar 141
Anexo 44 – Vaso Luo da Vesícula Biliar 142
Anexo 45 – Meridiano divergente da Vesícula Biliar 143
Anexo 46 – Meridiano do Fígado 144
Anexo 47 – Meridiano tendinomuscular do Fígado 145
Anexo 48 – Vaso Luo do Fígado 146
Anexo 49 – Meridiano divergente do Fígado 147
Anexo 50 – Vaso Governador 148
Anexo 51 – Vaso Concepção 149
Anexo 52 – Vaso cintura – Dai Mai 150
15

INTRODUÇÃO

A fibromialgia é uma síndrome de difícil conceituação. Caracterizada por uma dor


abrangente, fadiga e sensibilidade extremada em vários pontos, está relacionada à artrite,
podendo ser classificada como uma condição reumática. Apesar desta classificação, a
fibromialgia não é uma doença inflamatória que cause dano articular. O que ocorre é que, como
produza dor e fadiga, sua presença dificulta ou impossibilita a execução das atividades da vida
diária.

Além da dor crônica e da fadiga, a fibromialgia pode provocar perturbações no sono,


dor de cabeça, rigidez e parestesia axial, síndrome do cólon irritável, dores menstruais,
síndrome das pernas inquietas, sensibilidade ao frio, problemas cognitivos ou de memória (cf.
UNIFESP, 2015). Está ligada também a um conjunto de sintomas de ordem psicológica, como
traumas, stress, depressão e ansiedade (cf. GONZALEZ, 2013)

Endemicamente, a fibromialgia atinge entre 2 e 6% da população. Deste percentual, 80


a 90% são mulheres. O diagnóstico é mais frequente por volta dos 50 anos, embora os sintomas
normalmente surjam nos anos anteriores. Já foi demonstrado que determinadas doenças
reumáticas, especialmente artrite reumatoide ou espinal e lúpus aumentam a propensão para a
síndrome.

As relações genéticas e hereditárias estão sendo investigadas como causas possíveis,


mas o fato é que hoje, a fibromialgia não tem uma origem validada cientificamente. O
diagnóstico surge mais como somatória de fatores e descarte de variáveis, pois não existem
testes laboratoriais padronizados que possam confirmar a razão fisiológica da dor.

Os critérios mais comuns para avaliação clínica do paciente foram propostos no ínterim
do American College of Rheumatology – ACR, que definiu em 1990 os parâmetros para o
diagnóstico de fibromialgia, considerando um histórico de mais de três meses de dor intensa
que afeta os quatro quadrantes corporais (bilateral e supra/infra); a presença de 11 ou mais
pontos dolorosos ao toque (tender points) dos 18 indicados conforme a figura 1; problemas de
ordem cognitiva (pensamentos ou memória); outros sintomas físicos gerais (conforme descritos
anteriormente) e ausência de outra doenças que possam explicar a causa das dores e dos demais
sintomas (ACR, 2010; Cf. WOLFE et al, 2010).
16

Figura 1. Tender points – pontos de dor fibromiálgica

Fonte: UNIFESP, 2010

Como se pode perceber, o tratamento – assim como o diagnóstico – se desenha numa


linha temporal longa e exige uma intervenção multiprofissional. Envolve quase sempre a
interação de um conjunto de drogas alopáticas (especialmente analgésicos, relaxantes
musculares, anti-inflamatórios e antidepressivos) e terapêuticas alternativas ou complementares
(acupuntura, pilates, cinesioterapia, ioga, massoterapia etc).

A acupuntura é uma terapêutica originária na China há pelo menos 4 mil e 500 anos.
Além dos chineses, muitas outras civilizações milenares faziam uso de técnicas semelhantes
para o alívio da dor e melhora geral da saúde.1 De forma geral, consiste na punctura de
determinados pontos no corpo, com o objetivo de recompor a harmonia entre o paciente e o
universo (reequilíbrio energético) ou obter respostas sistêmicas anti-inflamatórias,
antidepressivas, analgésicas etc (sintomática).

Esta terapêutica já é indicada – de forma isolada ou combinada – como tratamento de


várias doenças e agravos à saúde. No que diz respeito à dor, destaca-se a indicação em diversos
pós-operatórios, pós-quimioterápicos, reabilitação após acidentes vasculares cerebrais, e em

1
O primeiro tratado de acupuntura que se tem conhecimento é denominado Nei King e foi escrito por Ki Po em
forma de diálogo. O livro tem duas partes, o So Oueen e o Ling Shu. Ele foi escrito por volta de 3000 a.C, por
ordem do imperador Hoang Ti, com o objetivo de sistematizar as práticas terapêuticas historicamente conformadas
na China. (Cf. LEITE, s/d, p. 03-05). Embora exista uma longa história de práticas e estudos em relação à esta
terapêutica, apenas durante o período da expansão colonial europeia (século XVI e início do XVII) ela se tornou
conhecida no ocidente, através dos jesuítas, que aprendendo as técnicas no oriente, difundiram-nas na Europa.
17

dores crônicas causadas por dismenorreia, cefaleia, epicondilite, dor miofascial, osteoartrite,
lombalgias, asma entre outras. No que diz respeito aos transtornos de ordem psicossomática,
destaca-se a abordagem em fibromialgias e dependências químicas (BRASIL, 2006, p. 03).

***

O interesse pelo tema surgiu muito antes do curso, quando minha mãe iniciou uma
sucessiva busca por tratamentos para dores inenarráveis. Como muitas histórias de pacientes
com fibromialgia, ela recebeu muitos diagnósticos, de muitos médicos diferentes: artrite, artrite
múltipla, discopatia degenerativa, sarcopenia, reumatismo, atroreumatismo, tendinopatia,
hérnia discal, depressão. Os remédios iam aumentando e sua qualidade de vida, diminuindo.

Em 2010, ela foi diagnosticada com fibromialgia e orientada a procurar o Grupo de


Trabalho para o convívio com a dor, no Hospital Municipal Dr. José Frota, em Fortaleza – CE.
O que parecia uma sentença perpétua, se revelou uma opção de trabalho integrado
multiprofissional, onde além do acompanhamento do ortopedista e reumatologista, ela teve
acesso à acupuntura, que muito rapidamente apresentou um resultado impactante na melhora
da dor, do sono e especialmente, na diminuição da variedade e das dosagens dos alopáticos que
já a acompanhavam há muito tempo.

Depois desta melhora inicial, ela teve condições de frequentar sessões de fisioterapia
manual – outrora impossíveis, tamanha a dor – e outros tratamentos específicos para a coluna,
no método desenvolvido pelas franquias do Instituto de Tratamento da Coluna – ITC Vertebral,
e por fim, iniciou um treino de Pilates nesta mesma clínica. Desejo ressaltar que a acupuntura
não foi a única intervenção responsável pela melhora de sua qualidade de vida, mas continua
sendo um ponto de apoio para a promoção da sua saúde, o start de uma nova fase, onde outras
intervenções se tornaram possíveis.

Prosseguirei meu argumento com outro exemplo pessoal. Peço paciência ao leitor, mas
aqui estão tanto as principais motivações para a realização deste trabalho, como as incipientes
evidências que justificam a escolha do tema. Há quase três anos, moro em Sobral – CE, uma
cidade média localizada no sertão central do estado. Trabalho como professora no Instituto
Superior de Teologia Aplicada, um centro universitário com 14 cursos da área da saúde. Em
2016, a instituição propôs um Núcleo de Atendimentos e Práticas Integrativas, com o objetivo
de prestar atendimentos comunitários e articular os diversos cursos da saúde na dinâmica do
trabalho multiprofissional. Organizei um projeto piloto de extensão, intitulado Práticas
18

integrativas em Acupuntura, onde presto atendimento gratuito em acupuntura duas vezes por
semana às pessoas da comunidade, assim como aos professores, trabalhadores e estudantes.

O trabalho começou com uma névoa de medo e preconceito por parte da comunidade.
É uma área pouquíssimo conhecida pelas pessoas e consequentemente, muito mitificada. Por
este motivo, passei a atender vários daqueles pacientes já ‘desacreditados’ da melhora clínica,
com doenças crônicas, dores múltiplas e sem diagnósticos precisos.

A despeito das minhas próprias limitações, o método da acupuntura para o diagnóstico


e intervenção se revelou muito eficiente em casos de diversos graus de complicação. Muitos
relatos de melhora, de uma ‘semana sem dor’, de ‘sono de bebê’ e de ‘retorno ao trabalho’
foram me trazendo um feedback positivo dos atendimentos. Como a cidade é pequena e o mais
comum é o subtratamento destes casos não diagnosticados, as notícias se espalharam no ‘boca
a boca’ e em menos de três meses, a agenda de atendimentos estava lotada até o fim do ano.

Para além do diagnóstico, parto da hipótese que a acupuntura pode contribuir


significativamente na melhora da qualidade de vida das pessoas com dor crônica. No Módulo
de Doenças Crônicas – Q da Pesquisa Nacional de Saúde – SUS/IBGE, realizada em 2013,
observa-se a prevalência epidêmica de doenças crônicas não transmissíveis. Para se ter uma
ideia, são 27 milhões de pessoas (18,5% da população) que se referiram à dor crônica na coluna,
639 mil pessoas (3% da população) com diagnóstico de Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho – DORT e mais de 1 milhão e 620 mil pessoas com depressão (7,6%)
(BRASIL, 2014, p. 48-52). Na mesma pesquisa, a acupuntura é apresentada como uma variável
relevante no tratamento das referidas doenças (idem, ibidem, p. 49).

A eficácia da acupuntura está sendo demonstrada desde a década de 1970. No início de


2003, a Organização Mundial da Saúde (do inglês, World Health Organization – WHO)
publicou sua posição oficial sobre a efetividade da acupuntura no documento Evidence based
acupuncture – WHO official position. Um documento extenso e interativo sobre as indicações,
pesquisas e resultados de tratamentos à base de acupuntura (e técnicas de moxabustão, ventosa,
sangria, eletro-acupuntura, laser-acupuntura, shiatsu, tuina e acupressura) com resultados
positivos em comparação às formas alopáticas de tratamento em 147 doenças, sintomas e
condições (cf. WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003).

Tais dados evidenciam a necessidade do refinamento dos mecanismos de intervenção


profissional e apontam possibilidades de crescimento dos campos de trabalho para os
19

acupunturistas. No cenário de um país cronicamente enfermado, entender os fenômenos do


adoecer e as pulsões de vida que emergem em cada melhora é mais que um desejo pessoal. É
uma obrigação histórica, um dever profissional e existencial.

***

Nesta pesquisa, busca-se identificar as implicações da acupuntura no tratamento de


pacientes com fibromialgia através de uma revisão sistemática da literatura especializada e do
estudo de referências clássicas para o diagnóstico e tratamento.

No que tange especificamente à fibromialgia, existe um hiato na literatura, uma etiologia


incompleta e disfuncional. De acordo com Araújo, a conceituação permanece imprecisa, mas a
nomenclatura cumpre o papel de assegurar aos pacientes uma resposta de reconhecimento às
suas queixas. Em suas palavras, “o rótulo fibromialgia permitiu acalmar os médicos que
passaram a dispor de um termo biomédico para se comunicarem e explicarem aos pacientes,
que se sentiram satisfeitos com a validação de seus sintomas como reais e não como simulados”
(2006, p. 56).

O escopo incipiente das pesquisas publicadas e as dificuldades apontadas para o


diagnóstico e intervenção terapêutica nesta síndrome impõem um objetivo basilar para o estudo.
Espera-se apresentar os termos para uma possível conceituação da síndrome considerando seu
histórico e a contribuição da Medicina Tradicional Chinesa – MTC para seu entendimento e
diagnóstico. Especificamente, busca-se analisar o que os acupunturistas já produziram sobre o
tema, evidenciando as possibilidades de tratamento exitosas.

Foram utilizadas as bases Elsevier e PubMed para a busca de fontes em língua inglesa,
francesa e italiana e a base Scielo para as fontes em língua portuguesa. Os descritores
selecionados foram “acupuncture and fibromyalgia” nas bases de interface inglesa e
“acupuntura and fibromialgia” na base de interface portuguesa. A padronização seguiu o
modelo encontrado nos Descritores das Ciências da Saúde – DeCS e as línguas foram escolhidas
pela familiaridade da autora.

Os artigos escolhidos foram apenas originais de acesso livre e texto completo, ordenados
por relevância. Foram excluídos textos não classificados no Brasil com Qualis mínimo B1. De
forma geral, observa-se um crescimento nas pesquisas que relacionam ambas as temáticas a
partir dos anos de 2010, mas os artigos não foram selecionados por data de publicação.
20

Encontram-se, portanto, textos entre os anos de 2007 e 2017, o que corresponde a uma
amostragem decenal.

Os textos que retornaram na busca inicial com os descritores foram lidos e analisados
minuciosamente em seus títulos e resumos, e pré-divididos em dois grupos: “potencialmente
úteis à pesquisa” e “descartados da pesquisa”. Os últimos são aqueles cujo objeto de estudo
afasta-se do tema investigado ou cuja metodologia não propõe um estudo empírico
(randomizado, coorte, caso-controle, transversal, sérico ou relato de caso). Os primeiros, foram
baixados e uma segunda etapa de seleção teve início com a leitura anotada das introduções. A
partir de então, os textos cujas categorias analíticas dialogam com a base teórica obtida pela
pesquisadora foram selecionados e compõem o universo de fontes da presente pesquisa,
conforme a Tabela 1. Os demais foram descartados ou utilizados apenas secundariamente.

Para a seleção da bibliografia de suporte, o critério de escolha perpassou o referencial


teórico indicado pela Associação Brasileira de Acupuntura durante o curso de formação, e foi
organizado inicialmente a partir de uma leitura ‘desinteressada’, com fins de mapeamento.
Artigos clássicos sobre a síndrome, diretrizes oficiais para diagnóstico e tratamento e outras
revisões sistemáticas publicadas foram fundamentais para o desenho do argumento.

Posteriormente, as categorias de análise foram sistematizadas e os referenciais


explicativos, organizados especificamente para compor as temáticas aqui tratadas. De forma
introdutória, pode-se mencionar o texto base do curso, de autoria de Ary T. Cordeiro e Ruy
Cesar Cordeiro, intitulado Acupuntura – elementos básicos, o livro didático de David J.
Sussmann, intitulado Acupuntura – teoria e prática, o livro de Junying Geng, Selecionando os
pontos certos de acupuntura: um manual de acupuntura e a abordagem de Yun-Tao Ma em
Acupuntura para Controle da Dor – um enfoque integrado.

Os achados da investigação foram organizados em três capítulos, de forma a produzir


um entendimento introdutório sobre o assunto. No primeiro, Um estudo sobre a fibromialgia,
a proposta é esclarecer aspectos relevantes da síndrome, em relação ao seu histórico,
diagnóstico, evolução e possíveis tratamentos. O segundo, Acupuntura como método de
tratamento, busca algumas premissas do diagnóstico ‘oriental’ e pontos-chave para a
intervenção do acupunturista. No terceiro, Acupuntura e fibromialgia na literatura
especializada, apresenta-se a revisão sistemática sobre o assunto, com base nos textos já
mencionados. Por fim, são apresentadas algumas considerações, a título de síntese do trabalho.
21

Tabela 1 – Fontes para a revisão sistemática

Base Periódico Autor Título Tipo de estudo Ano


PubMed Jornal of Traditional BAI, Yang et al Efficacy of acupuncture on fibromyalgia syndrome: a Comparativo 2014
Chinese Medicine Meta-analysis
Acta Reumatologia UĞURLU, F.et al The effects of acupuncture versus sham acupuncture in the Randomizado 2017
Portuguesa treatment of fibromyalgia: a randomized controlled clinical
trial
Trials VAS, Jorge et al Effects of acupuncture on patients with fibromyalgia: studyRandomizado 2011
protocol of a multicentre randomized controlled trial controlado
multicêntrico
Trials CAO, Hui-Juan et al Using a partially randomized patient preference study Teste de 2014
design to evaluate the therapeutic effect of acupuncture and protocolo e
cupping therapy for fibromyalgia: study protocol for a entrevista
partially randomized controlled trial
Arthritis Research & WU, Mei Yao et al Acupuncture decreased the risk of coronary heart disease Coorte 2017
Therapy in patients with fibromyalgia in Taiwan: a nation wide
matched cohort study
Iranian Red Crescent HADIANFARD, M.J. A randomized clinical trial offibromyalgia treatment with Randomizado 2012
Medical Journal e PARIZI, M H. acupuncture compared with fluoxetine
Elsevier Journal of Editorial Evidence on Acupuncture and Pain: Reporting on a Work 2015
Acupuncture and in Progress
Meridian Studies
Journal of BASTOS, Jessica et Effect of Acupuncture at Tender Points for the Sérico 2013
Acupuncture and al Management of Fibromyalgia Syndrome: A Case Series
Meridian Studies
Revista Brasileira de STIVAL, R. S. et al Acupuntura na fibromialgia: um estudo randomizado- Randomizado 2014
Reumatologia controlado abordando a resposta imediata da dor controlado
Revista Dor STALL, P. et al Effects of structural integration Rolfing® method and Randomizado 2015
acupuncture on fibromyalgia
22

Rivista della STANISLAO, Carlo Impiego della coppia zulinqi/waigan nella patologia Teste de 2015
Associazione Medica Di et al fibromialgica ad impronta psicossomática protocolo
per lo Studio
dell'Agopontura
Scielo Fisioterapia e TAKIGUCHI, R. S. et Efeito da acupuntura na melhora da dor, sono e qualidade Randomizado 2008
Pesquisa al de vida em pacientes fibromiálgicos: estudo preliminar
Universidade de São ARAÚJO, R. A.T. Tratamento de dor na fibromialgia com acupuntura Prospectivo 2007
Paulo – Doutorado
em Ciências
23

I. UM ESTUDO SOBRE A FIBROMIALGIA

Neste capítulo, pretende-se apresentar elementos para o conceito fibromialgia.


Parte-se de uma abordagem histórica com documentos culturais, onde se evidencia a
existência de dores difusas e de estudos que procuram sistematizar aspectos relevantes da
síndrome. Apresenta-se a definição oficial, proposta pela Organização Mundial de Saúde
e os critérios diagnósticos mais importantes na atualidade – do Colégio Americano de
Reumatismo (ACR, 1990) e de Wolfe (2010), bem como estudos que confluem para uma
abordagem humanizada e multifatorial da doença, produzindo classificações ou hipóteses
etiológicas.

A dor e o adoecimento são experiências ímpares na vida de uma pessoa, e não


podem ser completamente traduzidas para a linguagem escrita, pois residem num ‘nó’ de
tensão entre o subjetivo e o objetivo do sentir. O conceito ampliado de saúde permite que
seja feito um inventário dessas experiências afim de dar sentido aos conceitos, e que os
sujeitos entendam melhor os processos vividos, identifiquem com mais clareza seus
problemas e necessidades para tornar mais realista – e humanizada – a intervenção
profissional.

Desde este ponto de vista, a história da doença é a história de pessoas enfermadas


num lugar e num tempo circunscrito, ou seja, é a história das condições que determinaram
o surgimento e a expansão de um tipo específico de sofrimento, que mais tarde se revelam
como elementos de um mal-estar social. Cabe aqui pensar não a doença em si, mas a
experiência do adoecimento no contexto das possibilidades individuais e coletivas de
condução da vida frente às múltiplas determinações da saúde.

I.1. Dor difusa – melancolia e resistência

Em 1851, o pintor John Everett Millais retrata a personagem shakespeariana


Mariana, uma mulher casada e dramaticamente solitária. A pintura é exemplo de precisão
técnica e detalhismo romântico. No quadro, muito da lírica épica e da narrativa
deprimente fica evidenciado quando se vê a reclusão de uma jovem pálida vestida num
longo azul. Ela olha tristíssima e um tanto perdida pelos vitrais religiosos, que filtram
toda a luminosidade do ambiente. O chão informa traços de um outono frio, e de uma
24

desavisada displicência com as tarefas domésticas, tradicionalmente imputadas à mulher.


Suas mãos, dispostas na região lombar, a colocam numa posição extremamente
angustiante, num desconforto permanente que torna toda pesada toda a atmosfera do
quadro.

Esta figura enfermada física e emocionalmente pode resumir a melancolia que


conforma o air du temps de toda uma época histórica. A personagem se tornou emblema
da condição feminina e foi incorporada à poética de outros autores, dos quais Alfred
Tennyson se destaca com o poema Mariana, no livro Chiefly Lirical, de 1930. Apesar de
sua forma satírica de tratar a educação da mulher e o matrimônio, suas palavras são
diagnósticas: “Ela apenas disse, ‘O dia é triste, Ele não vem’ ela disse; ela disse eu estou
cansada, cansada; Gostaria que estivesse morta” (TENNYSON, 1930, s/p).

Figura 2. Mariana – John Everett Millais (óleo sobre madeira, 1951).

Fonte: Google Art Project (https://www.google.com/culturalinstitute/asset-viewer/6wGvnPEiyH8RFA)

Os estudos sobre os reumatismos acompanham a história da medicina e antes dela,


dos saberes e práticas populares de cuidado de si. Etimologicamente, a palavra
25

reumatismo deriva do grego reýma, que significa fluxo, rio corrente.2 Durante a
antiguidade e idade média, de forma mítica, os distúrbios de ordem reumática eram
compreendidos como sintomas energéticos, de ordem espiritual. Apenas a partir do século
XVIII, com as condições sanitárias e o higienismo sociopolítico, a saúde passa a ser
tratada como uma questão individual, e a doença, como um mal a ser combatido, como a
melancolia de Mariana. Nesse ínterim, os estudiosos passam a buscar uma etiologia para
as doenças, e no século XIX, o experimentalismo se torna a corrente dominante nos
estudos da saúde.

De acordo com García, Cuscó e Poca (2006, p. 27-28), em 1843, o anatomista


alemão Robert R. Frioriep descreveu os pontos dolorosos em seu Tratado de patologia e
terapia dos reumatismos, passando a estudá-los em casos clínicos, afim de delimitar suas
características. Em 1904, William Gowers descreve no British Medical Journal uma
condição de dores lombares e nos braços, apresentando-a como uma inflamação do tecido
fibroso do músculo. Neste mesmo ano, Stockman descreve ‘nódulos fibrosísticos’, cuja
existência era atribuída a pequenas colônias de micróbios. O termo ‘fibrosite’ se
popularizou graças à publicação de um tratado de Llewellyn e Jones (1915), que
associaram as relações ambientais, climáticas e o sobre esforço, propondo o aquecimento
corporal com um cilindro metálico como base terapêutica.

Os tratamentos através de máquinas se tornaram novidades no início do século


XX. Embora ainda não se pudesse tomar um diagnóstico preciso, a utilização dos
alopáticos e as invenções tecnológicas trouxeram um quadro de aumento da expectativa
de vida. Uma vida contraditória, com dores, amputações e sofrimentos. Uma vida
asséptica, que passou a ser questionada em sua fluidez e sentido.

Talvez os anos da Guerra tenham sido determinantes na atmosfera desertificada


de dor, solidão e resistência que conformam a pintura de Frida Kahlo. Talvez ela tenha
sido expoente máxima da angústia medicalizada dentre as artistas do século XX. Em A
coluna partida (1944), ela se autorretrata com um colete ortopédico que lhe confere um
aspecto ciborgue – meio mulher, meio máquina – e revela, no peito aberto, uma dignidade
impassível e dolorosa, transparente e opaca. A coluna jônica aparece como parte de seu

2
Cf. Dizionario Etimologico. Reuma disponível em: http://www.etimo.it/?term=reuma&find=Cerca. Se é
possível fazer uma associação intercultural, poderia surgir uma pista na indicação do caráter energético da
doença. Uma síndrome daquilo que percorre o corpo, ou seja, da energia – Qi. Mesmo sendo uma relação
apressada, ela pode ser útil para a interpretação ‘oriental’ no diagnóstico e tratamento dos pacientes com
fibromialgia.
26

próprio corpo, metáfora e realismo de uma corporeidade cirurgicamente corrigida. Há um


aspecto de cristianismo, evidente nos cravos e na vestimenta, o que desfere uma narrativa
difícil entre ser homem ou mulher. Mas não há sangue, o que anuncia uma dimensão
endógena, como se a dor fosse estigma.

Figura 3. La columna rota – Frida Kahlo (Óleo sobre tela, 1944).

Fonte: https://karismatik86.wordpress.com/2009/06/24/frida-kahlo-la-columna-rota-1944-1944-mon-tatto/

O quadro de Kahlo anuncia um espectro que conforma a concepção de saúde


dominante no pós-guerra: a intervenção cirúrgica. Da poliomielite contraída na infância,
do acidente na adolescência, das desventuras amorosas, das tentativas de suicídio e dos
abortos espontâneos, do reconhecimento internacional, sua história de vida se desenhou
como um conjunto de dores e resistências. A imagem da mulher no século XX, longe de
parecer a melancólica Mariana, é a imagem sublimada de Frida. Que pintou a dor, expôs
o medo, questionou e viveu o que seu tempo histórico possibilitou. Foi medicalizada,
27

acamada, e se manteve lúcida diante do drama e da dor persistente, que por fim, não foi
diagnosticada (cf. HERRERA, 1983).

A interpretação inflamatória às dores múltiplas e aos pontos dolorosos foi a base


da discussão médica até a metade do século XX, quando Elliot publicou na revista Lancet
uma análise eletromiográfica que identificava os nódulos como ‘microespasmos
musculares’. Neste percurso, os trabalhos começaram testes anestésicos com diversas
substâncias. A ‘fibrosite’ passou então a ser tratada como causa do reumatismo agudo e
crônico. Em 1946, a ideia de pontos dolorosos foi retomada por Kelly, que os apontava
como o principal elemento diagnóstico da doença (GARCÍA, CUSCÓ e POCA, 2006, p.
29-30).

Em 1947, o médico militar Boland e o Coronel Corr lançaram a ideia de que a


fibrosite seria um ‘reumatismo psicogênico’. Segundo García, Cuscó e Poca, este
imaginário, embora carente de bases científicas, é evidente no pensamento médico ainda
na atualidade (idem, ibidem, p. 30). O conceito se difundia híbrido entre o cientificismo,
que o aproximava da síndrome da dor miofascial e o psiquismo, que o tratava como um
distúrbio de ordem somática.

Em 1976, Hench propôs, na revista Arthritis & Rheumatism, o termo fibromialgia


para definir um tipo de reumatismo não articular, buscando referir-se a ideia de dor (algia)
nos músculos (mio) e nos tecidos fibrosos e ligamentares (fibro). Este ensaio delimitou,
desde então, os termos técnicos de referência à síndrome (idem, ibidem, p. 30-31).

Coube ao Colégio Americano de Reumatologia a definição dos critérios para a


criação de um consenso sobre a classificação da fibromialgia, e assim, a possibilidade de
obtenção de um instrumental de trabalho para estudo e intervenção terapêutica. Foi
organizado um comitê, dirigido por Frederick Wolfe, reumatologista da Universidade do
Kansas – EUA, que analisou a produção bibliográfica anterior e construiu critérios para
o diagnóstico da síndrome, baseados especialmente na avaliação dos pontos dolorosos
(cf. ACR, 1990).

Em 1992, a Organização Mundial da Saúde reconheceu a fibromialgia na


Classificação Internacional das Doenças, sob o código M79.7 9 (Cf. WHO, 2010), no
quadro dos reumatismos não articulares e em 1994, a Associação Internacional para o
Estudo da Dor, a reconheceu sob o código x33 x8a. A partir de então, diversos estudiosos
28

passaram a se debruçar sobre o tema e a fibromialgia se tornou um objeto de pesquisa e


um campo de debates multiprofissional.

Em 2010, a Sociedade Brasileira de Reumatologia reuniu um conjunto de


especialistas da área da saúde para estudar e atualizar o Consenso brasileiro sobre o
tratamento da fibromialgia, apontando diretrizes em relação ao diagnóstico, tratamento
medicamentoso e outras modalidades de tratamento. O trabalho foi coordenado por
Heymann e envolveu 30 especialistas (cf. HEYMANN, 2010, p. 56-57).

Em relação à definição, foi acordado que a fibromialgia não é uma doença, mas
um estado de saúde complexo e heterogêneo no qual a dor é amplificada e estão presentes
outras características de gravidades variáveis, tais como fadiga, distúrbios do sono, humor
e cognição. Sublinha-se que tal estado não justifica o afastamento do trabalho.

A dor crônica foi entendida como “um estado de saúde persistente que modifica a
vida” (HEYMANN, 2010, p. 58). Por isso, o objetivo do tratamento seria o controle e não
a eliminação da dor. O texto segue com uma longuíssima relação de interações
medicamentosas e possibilidades combinatórias na terapêutica, mas em relação aos
tratamentos não medicamentosos, apenas os exercícios físicos em frequência média
figuram na lista consensual de recomendações, especialmente aos pacientes com
hipermobilidade articular. Além da terapia de reabilitação fisioterápica e a psicoterapia,
não houve outros pareceres positivos em relação às formas de tratamento. A acupuntura,
apresentada com um nível C de evidência clínica, não foi considerada um tratamento
consensual. Massagens terapêuticas e quiropráxicas foram consensualmente não
recomendadas (idem, ibidem, p. 60).

O que torna este documento especialmente interessante é a abordagem normativa


sobre a conduta da vida e o quotidiano dos pacientes. Sendo a dor e o sofrimento
experiências pessoais, o tom do texto remete ao modelo tecnocrata que, carente de
evidências fisiológicas, encaminha a pessoa com fibromialgia a uma normalização
contraditória: ela é medicada sintomaticamente, vai à academia, à psicoterapia, talvez à
fisioterapia, e deve trabalhar.

Um sintoma secundário que corrobora com a prevalência medicamentosa na


terapêutica hegemônica é que, dos vinte e cinco especialistas que assinam a autoria do
texto de consenso, oito declaram ter recebido honorários de indústrias farmacêuticas
multinacionais como Lilly, Janssen-Cilag, Boehringer, Apsen, Pfizer, Merck Sharp,
29

Genzyme, Schering-Plough, Roche, Bristol, Ache, Sanofi Aventis e da fusão Lilly-


Boehringer para participação em pesquisas, consultorias, atividades de ensino, congressos
e afins (cf. idem, ibidem, p. 56). Não que um trabalho numa empresa privada possa
descredenciar tais profissionais – absolutamente reconhecidos por seus méritos – na
efetivação do consenso de área, mas fica latente a possibilidade de um conflito de
interesses entre 1/3 dos relatores.

I.2. Uma etiologia controversa

Diversos estudos procuram mapear uma explicação etiológica para a síndrome


fibromiálgica, através da qual seja possível identificar um mecanismo de causa e
consequência do desenvolvimento dos sintomas. A questão perpassa um complexo
problema político: o reconhecimento da fibromialgia como doença implica no
financiamento público do tratamento e nas consequentes licenças e afastamentos
remunerados.

A hipótese de uma síndrome de amplificação dolorosa tem se revelado uma


explicação interessante pela possibilidade de abertura conceitual e caracterização
estrutural, sendo um importante ponto de partida para o entendimento da doença. É
mencionada também por ser a hipótese trabalhada atualmente pela Comissão da dor,
fibromialgia e outras síndromes dolorosas de partes moles da Sociedade Brasileira de
Reumatologia – SBR e difundida através do documento Fibromialgia – Cartilha para
pacientes (Cf. SBR, 2011; HEYMANN, 2010; BESSET, 2010; MARTINÉZ, 2006;
ARAÚJO, 2006; BAZZICHI, 2014).

Na busca das comorbidades mais prevalentemente associadas à fibromialgia e do


conhecimento em torno das correspondentes alterações neurológicas, Bazzichi analisou
variáveis sintomáticas e conformou um quadro que associa a fibromialgia a alguns dos
distúrbios mais comuns da vida contemporânea. De acordo com a autora, o sintoma
presente em 100% dos pacientes estudados é o cansaço e a fadiga crônica, seguido de
distúrbios do sono, que acompanham 83% dos pacientes, dificuldades de leituras de
jornais e revistas e problemas de coluna, ambos presentes em 81% dos pacientes. 73%
dos pacientes indicam ansiedade e depressão, 68% relatam sensibilidade ao frio e 67%
alergias a fármacos. Dores de cabeça frequentes fazem parte do quotidiano de 65% dos
pacientes e incontinência urinária, de 61% destes. 60% relatam parestesia e 59% têm
30

dificuldades de comunicar as sensações. Entre as mulheres, 58% apresentam


dismenorreia, vaginismos diversos e alterações bruscas da temperatura corpórea. 57% dos
pacientes informam sentir vertigens e ter dificuldades de se acomodar quando sentados
ou deitados, enquanto 50% destes relatam ter taquicardia. As cãimbras são frequentes na
vida de 47% dos pacientes e 42% destes informam sintomas de dispepsia, cólon irritável
e confusão mental. Por fim, 40% informa desordem temporomandibular (BAZZICHI,
2014, p. 13-14).

Os sintomas mais frequentes são associados à dor mais intensa, enquanto os


menos frequentes, à dor moderada e à idade menor. Entre as hipóteses explicativas, a
autora considera a partir dos estudos de Petzke (2003) e Gibson (2004), a hiperatividade
do sistema simpático nos casos de dor crônica difusa, o aumento do cortisol basal e a
consequente redução da serotonina como produtores de um ciclo de amplificação da dor.

A partir da exposição a fatores biológicos de stress, ocorreriam alterações


simpática e hipotálamo-pituitária reduzindo a resposta autonômica. Disso derivariam dois
processos fundamentais: a hipossensibilidade, que produziria uma hipofuncionalidade
das vias nocioreceptivas, reduzindo as funções da tireoide, do sistema adrenérgico e do
GH, alterando a mobilidade da musculatura lisa e gerando uma disfunção neuroimune.
Isso implicaria numa consequência clínica de angústia, distúrbios de humor,
descondicionamento físico e baixa funcionalidade. Por outro lado, as alterações do
sistema nervoso simpático também desencadeadas pela resposta modulada aos fatores
ambientais, produziriam uma hipersensibilidade do paciente, que confluiria no aumento
dos estímulos sensoriais, implicando numa condição clínica de dor, fadiga, intolerância
química e disfunções orgânicas (BAZZICHI, 2014, p. 29-30).

Para dar um exemplo da hipótese de Bazzichi, considere-se o distúrbio de sono,


um sintoma observável e presente em um número percentualmente alto de sua
amostragem (83% dos pacientes estudados). Ao ficar muito tempo sem dormir, a pessoa
tem uma sobrecarga funcional, que gera uma ampliação das contrações musculares e a
consequente fadiga da musculatura. Pode-se dizer que toda a postura é alterada em
consequência de longos períodos sem descanso, bem como é perceptível que as fibras
musculares ficam mais propensas à microtraumas, distensões e encurtamentos. A fadiga,
relacionada à ausência de sono pela diminuição do cortisol e do GH seria também
produtora de stress físico e da predisposição às infecções virais, que por sua vez,
31

reproduzem o ciclo de distúrbio de sono, sobrecarga funcional, incongruência postural,


contração muscular etc.

Como se observa, a autora apresenta pontos de contato entre o sistema nervoso


central e o periférico, motivo pelo qual a fibromialgia seria uma co-determinação – causa
e consequência – do avanço de patologias como artrite reumatoide, diabetes mellitus,
hipotireoidismo e depressão (cf. idem, ibidem, p. 40-43). Conclui que o tratamento deve
ser multimodal, com fármacos, exercícios e terapia cognitivo-comportamental, propondo
uma estratégia terapêutica na qual o paciente tenha um papel protagonista no controle e
no ajuste das dosagens, aprendendo a distinguir os sintomas da síndrome e eventuais
efeitos colaterais causados pelos fármacos, sistematizando e valorando os próprios
sintomas, como eles mudam de intensidade e tipos, afim de proporcionar um feedback
mais realista possível à equipe de tratamento (idem, ibidem, p. 56-58).

Seguindo um percurso bem menos impactante, estudos oriundos principalmente


dos serviços públicos de saúde e dos programas de pós-graduação das universidades
brasileiras e europeias têm retratado a fibromialgia a partir de seus mecanismos
patogênicos, conjugando olhares psíquicos, sociais e antropológicos, vocalizando a
experiência da dor na narrativa dos pacientes, valorizando a subjetividade, a cultura,
outros processos de adoecimento e as relações estabelecidas na terapêutica. Se em muitos
casos, tais estudos corroboram com a hipótese etiológica de uma disfunção no
processamento da dor, pautam também singularidades, processos sociopolíticos e
aspectos multiformes da experiência de viver e adoecer.

A ideia de um fator exógeno que intervém como desencadeador dos sintomas de


amplificação da dor foi desenvolvida por Mattos e Luz (2012). A hipótese é que as
relações laborais são fatores sociais de stress, desencadeadores de sofrimento coletivo e
adoecimento. Quando a organização do trabalho foi modificada para adesão global ao
sistema just in time, a atividade laboral passou a demandar dos trabalhadores uma
dinâmica de envolvimento emocional e físico que esgota as capacidades e gera
insatisfação, perda de sentidos e identidades em relação ao trabalho.

O sofrimento psíquico de muitos trabalhadores, derivado do controle, pressão,


intensidade do trabalho, medo de demissão, relações tensas e competitivas
entre seus pares é desconsiderado ou desprezado pelos empregadores. Na
melhor das hipóteses, a preocupação com as LER ou DORT estão presentes,
mas não com o regime social do trabalho que provoca mal-estar psíquico e
subjetivo (...)
32

Quando a relação homem-trabalho é bloqueada, fraturada, desintegrada, o


adoecimento se manifesta de forma não apenas individual, mas coletiva. Para
Kokoreff e Rodriguez (2005), o trabalho perdeu seu grande papel de integrador
e sua capacidade de dar sentido às identidades coletivas. Surgem, doravante,
doenças mentais ou somáticas. De uma hipertensão arterial sistêmica à
fibromialgia, o sofrimento varia com o tipo de organização do trabalho que cria
insatisfação, cujas consequências não se limitam a um desgosto particular
(MATTOS e LUZ, 2012, p. 1462).

O mal-estar social derivado das relações de trabalho seria um complexo propulsor


de dores crônicas, ansiedade e depressão. Soma-se este processo à pouca evidência de
marcadores biológicos que definam a doença num quadro sintomático, e se tem a
produção de falas, questionamentos e até identidades baseadas em categorias
psiquiátricas para o enquadramento e homogeneização dos pacientes com fibromialgia
(MATTOS e LUZ, 2012, p. 1462-1463).

É certo que determinados tipos de corporeidade são condicionados e produzidos


a partir de determinadas relações sociais. Da mesma forma, determinados tipos de doença
são fabricados a partir de suas correspondentes organizações sociais e regimes laborais.
De acordo com as entrevistadas que compuseram a população do estudo, a sobrecarga de
trabalho e o ambiente laboral estressante foram considerados como causadores ou
desencadeadores dos eventos de dor. Para os autores, não se pode falar em determinação,
mas ficou claro que existe uma “íntima conexão” entre o regime social de trabalho
contemporâneo e o adoecimento (idem, ibidem, p. 1470).

Homann e seus colaboradores chegaram a uma conclusão semelhante em 2012,


quando analisaram a percepção de stress e depressão de um conjunto de pacientes com
fibromialgia. Para os autores, a depressão está associada a 40% dos pacientes
pesquisados, e pode agravar ou desencadear os sintomas característicos da síndrome.
Entre os sujeitos estudados por Homann et al (2012), 42% atribuem ao stress crônico o
evento desencadeador dos sintomas, e à dor, a causa fundamental do stress. Ocorre um
“ciclo vicioso” de dor – stress – depressão – amplificação sintomática, que impacta
negativamente na qualidade de vida e a funcionalidade dos pacientes com fibromialgia.

Os efeitos das condições crônicas negativas parecem amplificar a associação


entre eventos diários agudos e depressão, a relação entre comprometimento da
funcionalidade e maior percepção de estresse pode tornar as pacientes com
fibromialgia mais suscetíveis ao aparecimento de sintomas depressivos
(HOMANN et al, 2012, p. 328).
33

Na tese Aspectos psicológicos da fibromialgia – personalidade e história de vida,


Gonzalez analisou experiências precedentes traumáticas e traços da personalidade como
variantes na determinação da causalidade da fibromialgia, de acordo com a narrativa das
pacientes. A autora observou que traços de perfeccionismo e adversidades na infância
foram apresentados pelas entrevistadas como possíveis causas da doença. Além disso,
evidenciou o impacto debilitante da fibromialgia, mostrando que a dor crônica negativa
a auto-percepção do estado de saúde. A existência de comorbidades psiquiátricas e
sintomas depressivos foram associados pelas entrevistadas às dificuldades nas atividades
da vida diária, má qualidade do sono, oscilação de humor e ao sentimento de incapacidade
para o exercício da vida social (cf. GONZALEZ, 2013, p. 18-25).

As funções da fibromialgia na economia psíquica dos sujeitos é o objeto de estudo


de Besset et al (2010). Os autores procuram identificar o que, para além da dor, comporta
uma enunciação, um dizer singular que os pacientes comunicam ao mundo através de
seus multiformes sintomas. A hipótese é que a fibromialgia seria uma resposta subjetiva
do paciente frente ao silenciamento do seu corpo, à impossibilidade de simbolizar uma
dor psíquica, um conflito inconsciente ou impasses sociofamiliares.

A objetivação da dor crônica se torna particularmente difícil para os clínicos, na


medida em que é algo típico da experiência existencial dos pacientes e não é um sinal de
alarme, mas uma resposta a um “emaranhado de determinações de ordem somática,
psicológica e/ou ambiental” (BESSET et al, 2010, p. 1254). Ela seria por si mesma,
contraditória. Por um lado, o paciente poderia obter um certo alívio pelo fornecimento
exógeno de sentidos às suas dores, mas por outro, pode ser o elemento desencadeador da
reinserção da pessoa no coletivo como um estatuto normativo, um modo de ser. A
conclusão é que o paciente deve enunciar, nomear uma explicação causal para a própria
doença, que o permitiria modular sua posição frente ao sofrimento (idem, ibidem, p. 1262-
1264).

A etiologia e os mecanismos patogênicos que conformam a fibromialgia ainda é


motivo de controvérsias no campo das ciências da saúde. Os estudos aportam indícios de
possíveis mecanismos implicados na doença, e explicam a influência de diversos fatores
no desenvolvimento. De forma sintética, presume-se que uma predisposição genética se
associa de forma ímpar a distúrbios do sono, stress, fatores psíquicos e ambientais
produzindo ou agravando dores musculoesqueléticas.
34

I.3. Fibromialgias – classificações e singularidades

Embora pouco estudada no Brasil, existem classificações associadas aos graus ou


tipos de fibromialgia. Um estudo desenvolvido em 2008 pelos espanhois Belenguer,
Ramos-Casals, Siso e Rivera, propôs uma hipótese distintiva baseada em evidências
clínicas. De acordo com os autores, seriam quatro os tipos de comprometimento que a
doença pode produzir na vida da pessoa: Tipo I – fibromialgia pura, de leve
comprometimento vital e sem interferência laboral, Tipo II – fibromialgia associada a
enfermidades reumáticas crônicas e autoimunes, de comprometimento vital moderado e
perda parcial das atividades da vida diária e trabalho, Tipo III – fibromialgia associada a
alterações graves na esfera psíquica, de comprometimento vital severo, e impossibilidade
laboral e Tipo IV, pacientes simuladores ou fibromialgia somática, sem descrição precisa
de enfermidade primária, autoimune ou perfil psicopatológico (BELENGUER et al,
2009).

Nos casos de fibromialgia de tipo I, indicam a administração de analgésicos


puros, tratamentos em unidades de manejo da dor e eliminação das terapias psicológicas
e do uso de psicofármacos. No tratamento do tipo II da síndrome, ressaltam o cuidado na
definição da enfermidade reumática de base e do correspondente perfil psicopatológico,
afim de controlar simultaneamente a fibromialgia e a enfermidade de base. Neste caso, se
aplicam os anti-inflamatórios e corticoides e nos estágios agravados, os
imunossupressores e as terapias cognitivas. No tipo III, encontram-se os pacientes que
manifestam somatização de processos psicopatológicos graves. A avaliação dos diversos
aspectos que produzem a dor é fundamental, bem como o reconhecimento de alterações
na personalidade e do ambiente sociofamiliar. A recomendação é o tratamento prioritário
da enfermidade de base, através de métodos psicoterapêuticos. Deve ser avaliada uma
possível associação de antidepressivos e inibidores seletivos da receptação de serotonina,
mas nunca o trato exclusivo do sintoma da dor. Ao tipo IV, os autores não fazem
recomendações específicas (idem, ibidem, p. 59-60).

A classificação é relevante para o entendimento da complexidade da síndrome,


pois avança no processo de determinação etiológica, precisando as variáveis causais e
melhora o ajuste no tratamento e no manejo farmacológico. Diferentemente do que é
proposto no Consenso brasileiro para o tratamento da fibromialgia, os autores
preconizam uma abordagem múltipla, baseada na especificidade de cada manifestação da
35

síndrome. Embora não façam menção ao uso de terapêuticas alternativas, a condução dos
estudos no sentido de estabelecer pontos de referência e evolução sintomática distintos
contribui na diagnose e na condução do tratamento, pois torna possível o estabelecimento
de projetos terapêuticos mais adequados aos sintomas de cada paciente.

– Ser tratado a partir de suas demandas. Esta talvez seja uma das reivindicações
mais comoventes feitas pelos pacientes com fibromialgia, pois revela um contexto
autoritário de enquadramento e violência institucional-científica. É um tratamento à
revelia para uma dor sem doença. O vazio da ausência de explicações etiológicas relega
a presença de dores a um campo subjetivo. Representações como ‘somatização’,
‘depressão mascarada’, ‘frescura’, ‘preguiça’, ‘moleza’ produziram um imaginário de
dúvidas sobre a existência real da dor, sobre a constituição real da doença. Convivendo
com a dor e a invisibilidade, muitos pacientes encontraram na produção assistemática em
blogs, revistas e páginas de divulgação sobre a síndrome, formas de vocalizar explicações
etiológicas múltiplas, entrelaçadas às suas histórias de vida. 3

A Associação Brasileira dos Fibromiálgicos – ABRAFIBRO é uma entidade de


associação livre, que busca produzir informações, formação e orientação para melhorar a
qualidade de vida e o tratamento dos pacientes com fibromialgia. Luta pelo direito dos
pacientes, pelo reconhecimento social da doença e pelo respeito cuidadoso à pessoa com
dor. Seu blog divulga artigos científicos e de opinião que tratam da temática e de assuntos
relacionados às condições de vida, diagnósticos, psicologia e tratamentos alternativos,
compartilhando experiências, bem como ações de outras associações de pacientes, em
diversos países. Uma das ações mais interessantes é a catalogação dos pacientes, através
de um perfil com foto e história de vida. São relevantes também as atividades de
articulação em torno dos direitos previdenciários e a coordenação da campanha do dia
mundial de combate à fibromialgia, 12 de maio.

3
Alguns dos blogs pessoais e coletivos que foram lidos para este estudo e que podem ser úteis para o
entendimento dos mecanismos de produção e resistência à dor e à doença:
http://abrafibro.blogspot.com.br/
afibromialgiadepressaoeeu.blogspot.com/
https://lalocafibromialgica.wordpress.com/
https://fibromialgico.blogspot.com/
https://fibropositivas.wordpress.com/
doralice-e-os-dias-com-fibromialgia.blogspot.com/
deldoloralalibertad.com/blog/
36

Tais mecanismos são importantes para o empoderamento dos pacientes, mas


também são instrumentos de divulgação de saberes que chegam mais facilmente aos
diversos setores da sociedade, contribuindo para ampliar o nível de conhecimento sobre
a síndrome, desmistificar signos e conceitos já enraizados no senso comum, explicar a
gênese múltipla e personalizada dos sintomas e organizar as pessoas pela defesa de seus
direitos.

Uma iniciativa exemplar neste sentido foi a publicação do volume Los Cuentos de
Minabe. O livro é uma parceria entre pacientes, que narraram suas histórias de vida;
escritoras, que as traduziram para o fabuloso mundo da literatura infanto-juvenil; e
ilustradoras, que deram forma e cor aos contos. O trabalho coletivo é fruto da iniciativa
da Associacón Vasca Divulgación de Fibromialgia, entidade espanhola auto organizada
por pacientes e estudiosos da área. Teve como objetivo divulgar, de forma sensível e
empática, aspectos quotidianos das pacientes, entre limitações e potencialidades para que
as crianças pudessem ser educadas numa concepção solidária, entendendo o convívio com
a dor e a doença como parte da vida.

Mingabe é uma palavra linda, de origem basca. É formada pelo sulfixo gabe (sem)
e pelo significante min (dor). Quer dizer indolor. Os contos têm este espírito de superação
e leveza. Chamam atenção pelo exímio cuidado com que foram elaborados a muitas mãos
e pelo conteúdo – didático e relevante do ponto de vista cultural, ético e estético. Ao longo
dos contos, Mingabe se personifica na luta, na disposição de ver beleza no amanhecer,
numa borboleta mágica, numa amiga que ajuda, no filho pequeno, no cachorro querido.
É a descoberta de gatilhos indolores, portais para uma vida cheia de sentidos e feliz,
“apesar das cicatrizes”. A título de ilustração e desfrute, segue uma tradução dos trechos
mais significativos do conto Aquella casa blanca nº 42, narrado por Patrícia Urrutia,
escrito por Cecilia Peñacoba e ilustrado por Noemi Villamuza.

(...) fechei minha janela, e me sentei no sofá. Peguei meu caderno de coisas
importantes e sorri vendo as folhas que havia rabiscado em apenas alguns
meses. Minha casa parecia distinta e minha vida também. Hoje havia sido um
desses dias menos bons, havia sentido mais dor do que o habitual, mas havia
conseguido rabiscar um pouquinho em meu caderno. Quase sem me dar conta,
comecei a recordar como tudo aconteceu.
O encontro com Mingabe, seis meses atrás, havia sido decisivo em meu novo
estado, ainda que me custasse entender como, durante todos estes anos, não
tinha sido capaz de ver por mim mesma o que ela me ensinou em apenas uma
tarde.
Não sei muito bem porque decidi visitá-la. Uma companheira de trabalho,
esquisita para os demais, me recomendou ir vê-la. Destas pessoas consideradas
37

de outro mundo, pouco adaptadas às exigências da sociedade atual, ao que se


espera de nós.
Destas pessoas que pensam mais no bem-estar do que no útil, reflexivas e
filosóficas, e terminam sendo tremendamente irritantes quando irrompem sua
mesa e te impedem de levar a cabo o trabalho urgente da manhã. Assim era
Ainhoa, ou ao menos, assim eu a percebia.
Lembro que as coisas não estavam muito bem para mim. Profissionalmente,
tinha uma vida plena, mas no último ano, minha saúde estava ressentida. Me
custava pegar no sono, me cansava mais que o habitual e ultimamente, essa
dor difusa, mutante, sem causa aparente nem padrão constante, irrompia em
minha vida sem grande frequência, mas com certa intensidade. Apesar disso,
não me havia ocorrido nada especial a que pudesse atribuir meu estado. Minha
vida transcorria mais ou menos sob a mesma direção. Muita sobrecarga,
expectativas não cumpridas, desenganos com algumas pessoas, mas quem
nunca teve isso alguma vez em sua existência?
Havia assistido a diferentes especialistas falando dos meus males, mas nada de
nada. Tudo estava bem. Deveria seguir a vida com mais calma, e isso era tudo.
Ainhoa me falou de Mingabe. Era uma amiga sua de infância. Segundo me
contou, não lhe havia sido fácil. Havia vivido algumas situações ao longo de
sua vida, que outros provavelmente não teriam sobrevivido. Há dez anos
começou a sentir dor em numerosas partes do corpo e problemas de insônia
sem uma causa aparente, até que, depois de deambular vários anos por
especialistas de todo tipo e condição, diagnosticaram seu problema: tinha
fibromialgia. A isso sim, não parecia existir uma solução perfeita. Ainhoa
acreditava que falar com ela poderia me ajudar muito.
Me anotou seu nome, sobrenome e endereço em um papel, desses coloridos
que Ainhoa sempre tinha em sua mesa de trabalho. Essa mesa sempre
ordenada, que irradiava serenidade, planejamento e um cheiro de bem-estar.
Essa mesa de onde aquela planta repleta de folhas de um verde intenso
salpicada de flores vermelhas e alaranjadas coexistia em perfeita harmonia
com o trabalho organizado. Essa planta, provavelmente irmã daquela outra que
me deu de presente no mesmo dia que comprou a sua e que jazia desesperada
sobre minha mesa de trabalho em um intento de agarrar-se a um último fio de
vida, entre as centenas de papeis que deambulam em emaranhados de confusão
sem nenhuma ordem aparente. Me propôs, em numerosas ocasiões, ordenar
minha mesa, mas nunca encontrava tempo. Sempre tinha mil coisas
importantes a resolver. Mingabe me ensinou que as mesas de trabalho refletem
algo daqueles que as habitam, mas eu não era consciente daquilo. Peguei
aquele papel com aquele endereço, não muito convencida de sua utilidade e
talvez por cortesia, e o guardei em meu bolso, entre tickets de compras, lista
de tarefas e cartelas de Ibuprofeno (...)
Mas de novo, irrompia essa dor, irritante, com essa sensação de queimação que
invadia todo o meu corpo. A dor, cada vez mais intensa, tomou minha atenção
aquela manhã até minha conversa com Ainhoa. Procurei o endereço anotado
no papel. Mingabe vivia em uma localidade distante da cidade a que deveria
me dirigir para uma reunião de trabalho. Decidi vê-la. Assim, ficaria bem com
Ainhoa e, como não supunha nenhum esforço adicional, acelerei o passo. Além
disso, aproveitaria a viagem para, antes de voltar para casa, tentar a sorte em
uma nova empresa, também distante.
A viagem durou umas três horas como estava previsto. Soava um CD de um
cantor pouco conhecido de origem mexicana que Ainhoa me presenteara
especialmente para esta viagem e viajava em companhia das instruções desta
máquina sábia, que nos leva, de maneira precisa e rápida, sem tomar decisões,
a esse lugar onde queremos ir, ou ao menos, que solicitamos que nos leve.
Sempre havia valorado meu tempo acima de tudo, e evitava todas as coisas que
me faziam perdê-lo, que não eram funcionais. Reservei um hotel no centro da
38

cidade, a uma distância prudente do objetivo de meu trabalho e a pouco mais


de trinta quilômetros da casa de Mingabe (...)
Mingabe vivia em uma casa independente, em uma localidade ao noroeste da
cidade. Lembro que, ao tocar a campainha, me inundou a sensação estranha de
não saber muito bem o que estava fazendo ali.
Em poucos minutos, apareceu uma mulher de uns cinquenta anos. Tinha o
cabelo preto e os olhos grandes, de um verde intenso. O rosto era afável e
sossegado, e irradiava uma serenidade difícil de descrever (...)
Pouco podia imaginar que aquele momento marcaria um ponto de inflexão na
minha vida. Um antes e um depois. Sempre havia acreditado que para que isso
ocorra tem que haver algo de extraordinário, como uma enfermidade muito
grave, uma desgraça familiar ou a morte de alguém muito importante na sua
vida. Talvez por isso, sempre me justificava que preferia seguir minha vida,
com meus mais e meus menos, com meus defeitos e minhas virtudes,
renunciando uma felicidade que até aquele momento sem sabe-lo,
provavelmente haveria passado ao meu lado ao menos uma vez a cada dia. O
encontro com Mingabe me ajudou a entender que, afortunadamente para nós,
não é necessário que ocorra algo catastrófico em nossas vidas para
replanejarmos o que queremos fazer realmente com ela, e inclusive caso nos
ocorra, temas ao menos uma opção além da irremediavelmente derrotista que
cremos que nos marca o destino (...)
– O fato de que não tenhas nada não quer dizer que estejas bem. O que
realmente é importante é que tu sentes. Tua dor é algo inquestionável, ainda
que aparente ou medicamente teu corpo esteja bem. São os médicos que têm
de seguir investigando o porquê de termos estes sintomas que não respondem
às formas mais habituais e conhecidas de adoecer. Mas, não devemos
questionar nossa enfermidade por isso (...)
Passei muitos anos buscando uma resposta para meus sintomas, para minha
dor, buscando uma etiqueta que justificasse o que sinto, meus dias maus e meus
dias ainda piores. Seis anos, exatamente. Com suas noites e seus dias, desses
que qualquer um vai marcando no calendário talvez para ter maior consciência
da passagem do tempo ou para pensar que passou um dia mau a menos para
viver. Por fim, um bom dia, em um dos muitos hospitais que recorri, alguém
me escutou, acreditou em mim e me presenteou com uma palavra:
fibromialgia. Suas acertadas recomendações e seu conselho médico foram
decisivos. Eu acreditava que ali acabariam todos os meus males, mas isso se
tornou um novo ponto de partida. Sigo sem saber por que... a partir daí tive que
iniciar outro caminho, buscando algumas respostas em mim mesma.
– E como se pode viver melhor com a dor? Perguntei estarrecida.
– Isso se aprende com o tempo, e essa aprendizagem não é uma receita
universal, cada um tem que encontrar sua própria fórmula. No início eu havia
assumido que era inevitável viver com dor e decidi guardá-la numa maleta,
carregando-a onde ia. Quando a carga estava demasiado pesada, tinha que
deixar a maleta em casa, mas eu também ficava porque já era incapaz de viajar
sem ela. E mais, havia dias em que estava melhor, esses dias em que o sol
brilha e poderia sair às ruas sem minha maleta, mas já não podia fazê-lo, pois
ela havia se tornado parte inseparável de mim, e me atemorizava o fato de
pensar que os demais duvidariam do que me ocorria e do que era eu se me viam
pela rua feliz, sem minha pesada maleta. Todos levamos às costas uma maleta,
Teresa, tendo fibromialgia ou não (...)
Um dia decidi parar um instante. Deixei à margem minhas ambições e meus
objetivos profissionais, o urgente e o desejável socialmente e me fixei na minha
maleta. Pela primeira vez abri essa maleta que sempre me acompanhava e me
surpreendi ao ver porque pesava tanto. Junto à dor, ansiedade, tédio, emoções
reprimidas, expectativas não realistas, insegurança pessoal e auto exigências
39

sem respiro vagavam aos montes. Essa maleta que eu levava arrastando há
tanto tempo, assumindo sua carga de maneira irremediável, não pesava tanto
só pela dor, mas pela multidão de coisas que eu mesma havia colocado! Agora
já não levo essa maleta, não trato de ocultar minha dor, nem a dissimular, nem
de engrandecê-la junto aos demais para ser crível. Caminho de mãos dadas
com a dor, sabendo que será minha companheira de viagem (...)
Às vezes nos frustramos porque não encontramos o que desejamos e não nos
damos conta que nunca poderemos encontrá-lo se não vamos preparados para
isso – me disse ao longo da conversação –. Não se podem colher caranguejos
com varas de pescar. Te frustrarás por não colher nenhum caranguejo e
deixarás passar mil peixes coloridos. Vivemos tão ocupados realizando as
tarefas básicas, rotineiras, as que consideramos imprescindíveis, que nunca
refletimos o que ocorreria realmente se deixarmos de fazê-las, nem pensamos
no que perdemos por fazer estas coisas. As tarefas realmente importantes
precisam de tempo, esse tempo que raras vezes as concedemos. A verdadeira
existência se afoga com a própria rotina da vida. Tudo isso nos faz adoecer. As
coisas não são sempre como aparentam. Existem muitas pessoas que
deambulam pelo mundo sob uma etiqueta de sãs, quando na realidade estão
mais enfermos que aqueles que engrossam as listas do sistema sanitário (...)
Na manhã seguinte me dediquei a explorar a cidade. Descobri gentes, ruas,
costumes, aromas e paisagens urbanas. Aprendi a valorar os detalhes, me
impregnei daquilo que é realmente importante, o sentimento de estar viva.
Caminhei mais livre do que nunca. Em um pequeno comércio, comprei um
caderno coberto com uma capa dura florida, para anotar as coisas
verdadeiramente importantes (...)
Muitas coisas mudaram desde então, pequenas grandes coisas. Trato de refleti-
las todas em meu caderno de coisas importantes. Me dei conta que o que é
verdadeiramente importante requer esforço, e muitas outras coisas seriam
feitas igualmente com metade do que lhes dedicamos. Aprendi que o trabalho
e o desfrute pessoal podem conviver em harmonia, e intercalo flores coloridas
entre meus projetos laborais. Saboreio as coisas mais antigas, porque são as
que me proporcionam emoções mais doces. Aprendi a viver um pouco mais e
usar o tempo um pouco menos. Trato de disfrutar cada instante pensando no
que me aporta nesse momento fugaz e não pressupondo o que será amanhã.
Aprendi a correr riscos sem medo de equivocar-me para poder crescer. Já não
busco o êxito como resultado como fazia antes. Me dei conta que esse êxito
não me assegura crescimento, mas o aprendizado sim. Aprendi a não julgar
pelas aparências, a não crer em verdades absolutas, a manejar-me serena dentro
das possibilidades. Agora penso menos e sinto mais.
Desde esse dia, e quase por costume, me pego num rasgo da janela e observo
essas pessoas de um lado a outro, com seus movimentos automáticos,
arrastando suas pequenas e grandes maletas. Entre essa multidão, uniforme e
monocromática, uma mulher de cabelo preto e olhos de um verde intenso sorri.
Essa mulher sou eu (PEÑACOBA, VILLAMUZA e URRUTIA, 2010, p. 142
-158, tradução minha, AP).

O texto traz à tona a ideia de que a dor é um aspecto, não o único, de determinação
da qualidade de vida. Ensina a ver as delícias do presente, com flexibilidade nas metas e
ações diariamente construídas afim de uma vida plena. Produz um espectro de
empoderamento quando explica que a pessoa com fibromialgia não precisa do
40

reconhecimento externo, mas deve pensar e produzir para si os sentidos que lhe comporão
uma vida satisfatória, adaptando-se aos limites impostos pela dor.

A partir do entrelaçamento das histórias de Teresa, Ainhoa e Mingabe, a narrativa


de Aquella casa blanca nº 42 deixa o leitor ciente de que cada pessoa tem uma trajetória
singular de experiências e contingências que podem produzir ou desencadear a doença e
também o bem-estar, recolocando a necessidade de projetos terapêuticos ancorados num
encontro ímpar entre pacientes, famílias, sociedade e terapeutas.

De uma forma leve, o conto convida à reflexão sobre uma das pautas mais
importantes da saúde coletiva, a culpabilização da vítima. Culpabilizar é imputar culpa
pela existência da doença na pessoa que sofre com ela. É um discurso que carrega a ideia
de merecimento da dor e é reverberado em atitudes que desacreditam no sofrimento como
um ente real da vida dos pacientes e corroboram para uma atmosfera de maior pressão e
consequentemente, mais angústia, dor e sofrimento.
41

II. ACUPUNTURA COMO MÉTODO DE TRATAMENTO

Neste capítulo, a proposta é contextualizar a acupuntura como um método de


tratamento para a fibromialgia. A chave explicativa é o conceito de racionalidade médica,
da professora Madel Luz (2012). De acordo com a autora, a ideia de racionalidade médica
permite compreender a coexistência de diversos sistemas complexos de atenção à saúde,
com dimensões simbólicas e empíricas distintas, estabelecidas de acordo com
cosmologias, doutrinas médicas, morfologias, fisiologias, diagnósticos e intervenções
terapêuticas próprias. Cada medicina teria, portanto, uma estruturação interna singular e
o trato específico com os saberes e práticas de cada uma delas seria irredutível ao modelo
hegemônico.

Para conformar um entendimento sobre a acupuntura, parte-se de uma digressão


histórica, que busca indicar elementos da origem e do desenvolvimento desta terapêutica
no quadro das práticas ancestrais de saúde e cuidado. A teoria da Medicina Tradicional
Chinesa é brevemente explorada, afim de explicar os princípios do diagnóstico e da
terapêutica da acupuntura. Os conceitos chineses são apresentados na tentativa de
demonstrar que há um sistema de pensamento distinto, uma lógica que fundamenta uma
percepção de mundo diversa e autossuficiente.

Por fim, a fibromialgia é revista desde a concepção da acupuntura. Parte-se da


abordagem francesa, que apresenta os pressupostos para o tratamento e os efeitos
esperados de um ponto de vista fisiológico para a abordagem ‘tradicional’, onde a
patogenia é entendida sob o prisma dos desequilíbrios e apresenta-se as contribuições
‘clássicas’ em termos de diagnóstico e princípios para o tratamento da doença.

II.1. Histórico e usos da acupuntura

– Advertência.

Em 1978, o historiador palestino Edward Said escreveu Orientalismo – o Oriente


como invenção do Ocidente, um texto que marcou os estudos multiculturais e fundou o
que mais tarde se chamaria de perspectiva pós-colonial. Neste livro, especialmente
dedicado à análise do mundo árabe, o autor põe em relevo algumas premissas gerais ou
metodológicas para o entendimento deste ‘outro’ oriental. Em primeiro lugar, Said
42

explica que o Oriente é praticamente uma invenção europeia, uma metáfora para entender
todas as civilizações e línguas, culturas, histórias e imagens muito distantes do mundo
contemporâneo.

A designação é propriamente acadêmica, uma etiqueta criada afim de justificar


este campo emergente de estudos sobre os artefatos culturais de povos antigos e
sobreviventes, cujas tradições e modos de vida repercutem fantasias, mitos e estigmas na
sociedade ocidental. Por isso, a ideia de orientalismo é baseada numa distinção ontológica
feita entre o padrão ocidental e um ‘outro’. E por fim, é importante destacar que a
apropriação ocidental da cultura oriental é uma forma de exercício de poder, um estilo de
dominação, de reestruturação e no limite, uma construção imaginativa (cf. SAID, 1990,
p. 13-15).

É antes uma distribuição de consciência geopolítica em textos estéticos,


eruditos, econômicos, sociológicos, históricos e filológicos, é uma elaboração
não só de uma distinção geográfica básica (o mundo é feito de duas metades,
o oriente e o ocidente), como também de toda uma série de ‘interesses’ que,
através de meios como a descoberta erudita, a reconstrução filológica, a análise
psicológica e a descrição paisagística e sociológica, o orientalismo não apenas
cria como mantém. Ele é, em vez de expressar, uma certa vontade ou intenção
de entender, e em alguns casos controlar, manipular e até incorporar, aquilo
que é um mundo manifestadamente diferente (ou alternativo e novo) (SAID,
1990, p. 24, grifos e aspas no original).

O que interessa sugerir com estas premissas é que o estudo da acupuntura – como
terapêutica aplicada ao ocidente – está impregnado de uma tentativa de costurar, de
reconstruir uma diferença cultural e geográfica inescapável de tal forma que sim, é uma
forma apropriativa e artificial de produzir saberes. Para prosseguir, é preciso rigor e
disciplina metodológica, maior cuidado com as fontes e a certeza de pautar sempre,
invariavelmente, uma parcialidade, incongruente e incompleta, ainda que preocupada
com a verdade.

Dito isso, emerge o problema das fontes. A história da medicina tradicional


perpassa a leitura de inscrições tumulares, a compilação de tratados políticos, a utilização
de documentos culturais, traduções complexas, a própria religiosidade em suas diversas
expressões. É um estudo multifatorial. Este tópico objetiva apresentar elementos
necessários (embora não suficientes) para a compreensão da história da acupuntura. Parte-
se do estudo de Fróio, intitulado A expansão da Medicina Tradicional Chinesa, tendo
como interesse explicar os contextos de difusão e apropriação intercultural dos saberes
43

orientais, de forma a contextualizar a história propriamente chinesa, expressa nos manuais


clássicos de acupuntura. A vocalização dos sujeitos que conformam a acupuntura como
campo de saberes é prática é desenvolvida tomando como base os referenciais da
Associação Brasileira de Acupuntura – ABA e da Sociedade Médica Brasileira de
Acupuntura. O texto Cultura contemporânea e medicinas alternativas: novos paradigmas
em saúde no fim do século XX, de Madel Luz desenha um cenário político e outros estudos
históricos, dados oficiais e abordagens culturalistas imprimem relevo na composição do
texto.

***

Muitas civilizações antigas baseavam suas práticas de cuidado nos recursos


espirituais, nos animais, nas ervas e em ritualísticas terapêuticas. No período comumente
chamado de pré-histórico, a China e outras civilizações, partilhavam os mesmos
rudimentos de medicina (cf. SOURNIA, s/d p. 57 apud FRÓIO, 2006, p. 17). De acordo
com Fróio, as tradições médicas da antiguidade estão ligadas a um maior rigor ou a um
maior apelo à religião. Nas terapêuticas naturais, métodos racionais e mágicos coexistem
e envolvem técnicas rudimentares ou sofisticadas de cuidado, que vão sendo depurados
no decorrer das gerações. Entre as medicinas naturais, a medicina chinesa é a mais
destacada no ocidente, e se preserva como uma corrente dos estudos na área da saúde.

A sistematização dos saberes médicos na China foi objeto de diversos tratados,


denominados Pen Tsao, que desde o século LI a.C. vêm sendo redigidos e enriquecidos.
O exemplar mais conhecido foi escrito por Li Che-Che Tchen, que recorreu a 360 Pen
Tsao anteriormente escritos e a 591 obras científicas, explicando os termos farmacêuticos
e os recursos terapêuticos fundamentais da época (FRÓIO, 2006, p. 19).

A moxibustão é uma técnica que antecede a acupuntura. É um procedimento de


cauterização lenta com um cone de Artemísia sobre a pele e é bastante recorrente em
pacientes mais sensibilizados, como crianças, gestantes e idosos justamente por não ser
invasivo. Entretanto, a acupuntura é sem dúvida, a técnica mais conhecida da medicina
tradicional. De acordo com Beau, as agulhas primitivas eram de pedras e só depois de
muitos estudos foram substituídas pelas de metal. Para este autor, a acupuntura foi
desenvolvida no período da revolução neolítica, mas sem o aparato conceitual e
cosmológico da medicina tradicional chinesa (apud FRÓIO, 2006, p. 20-21).
44

Evidentemente, existem muitas divergências quanto à origem da acupuntura. Para


alguns autores, a prática teria sido sistematizada por volta de 4500 a.C, durante a dinastia
Hia e outros afirmam que os primeiros tratados foram realizados pela dinastia Chang,
entre 1520 e 1030 a.C. Nos textos difundidos pela Associação Brasileira de Acupuntura,
preserva-se a versão que a prática é proto-histórica, sublinhando-se o trabalho realizado
a mando do imperador Hoang Ti (2698 a 2598 a.C).

O Imperador Amarelo, como era conhecido, teria ordenado a compilação de todos


os principais trabalhos sobre medicina disponíveis no império, o que resultou no tratado
Nei King, dividido em Su Wen (questões gerais da medicina, etiologia das doenças,
diagnóstico, terapêuticas) e o Ling Shu (acupuntura e moxibustão) (cf. CORDEIRO e
CORDEIRO, 2001, p. 14).

Dois pensadores foram muito importantes para a construção de uma base


cosmológica para a medicina chinesa. Lao Tsé viveu entre os anos 604 e 517 a.C. Fundou
uma escola cujos ensinamentos influenciaram e hoje solidificam a medicina chinesa. O
conceito de Tao, caminho, é uma percepção que a natureza é cíclica e mutável. A ação
humana deve, portanto, ser desenhada conforme o caminho que se deseja traçar, em
harmonia com os outros e com a natureza. A ideia de equilíbrio, virtude e
aperfeiçoamento moral se funde posteriormente aos princípios da MTC. Confúncio viveu
entre os anos 551 e 479 a.C, na dinastia Zhou. Em sua vida, elaborou um conjunto de
princípios morais e éticos para o equilíbrio e a harmonia dos indivíduos entre si e com a
natureza. Teria sido o primeiro autor a entender a doença como resultado do
comportamento humano. Os conceitos de Yin-Yang, equilíbrio dinâmico e harmonia
foram sistematizados a partir dos ensinamentos de ambos, e várias terapêuticas
‘alternativas’ se orientam por estes preceitos.

Mais de duzentos anos depois, a dinastia Han (202 a.C – 220 d.C), dá início a um
processo de expansão imperial que inaugura rotas comerciais e migrações populacionais
inéditas em toda a história precedente. Neste período, muitas práticas culturais são
expandidas, traduzidas e modificadas e a acupuntura foi desenvolvida com a agregação
de saberes oriundos de diversos territórios. Por meio da política de reforma agrária
desenvolvida no reino, houve uma expansão da qualidade de vida e sedentarização da
população. Também se desenvolveu neste período os Tratados sobre as doenças febris,
o primeiro livro específico sobre as principais causas epidêmicas de morte no oriente (cf.
FRÓIO, 2006, p. 24-25).
45

Durante a dinastia Jin (265 a 420 d.C), houve o aprofundamento dos estudos e a
popularização das técnicas de acupuntura e moxibustão, especialmente após a publicação
do compêndio de Huang Fu Mi, Clássico de Acupuntura e Moxibustão, texto escrito em
12 volumes exclusivamente sobre as técnicas, com descrição de 349 pontos de
acupuntura. Após a unificação do império, realizada pela dinastia Sui (581 – 618 d.C),
houve uma revolta popular que levou à queda de Sui e o retorno da dinastia Han, com a
família Tang. O novo governo, mantendo a diretriz comercial e expansionista, produziu
um renascimento cultural e científico, republicando clássicos e antigas traduções da
literatura chinesa, impulsionando intercâmbios culturais e miscigenação populacional.
Neste período o budismo se desenvolveu como religião predominante da população.

O período Tang foi o apogeu da medicina chinesa. Nesta época, foram


desenvolvidas terapêuticas para emergência com mais de 800 plantas medicinais, foi
compilado o tratado de farmacologia e oficializada a Matéria Médica Tang, coleção de
54 volumes que exerceu grande influência também fora da China. A Academia de
Medicina foi criada neste período, e a formação era realizada com especialistas de vários
países, em especial os indianos (cf. FRÓIO, 2006, p. 25-26).

O declínio deste período se desenhou com a captura do rei e o assassinato de mais


de 220 mil pessoas. Desde então, a China foi dividida em dez reinos, pertencentes a cinco
dinastias diferentes e em pouco mais de 50 anos, uma pluralidade de estados conforma o
mapa político da região.

Apenas com a dinastia Song, que reinou entre 960 e 1279 d.C, uma nova onda de
desenvolvimento volta à China. Com os Song, novas compilações de estudos foram
realizadas e Wang Weiyi projetou estátuas de bronze em tamanho natural com os mapas
dos meridianos e a localização de 564 pontos. Neste período, cresce o interesse pela
anatomia física e os estudos de dissecação foram permitidos pelo governo.

A dinastias Jin e Yuan (1115 – 1370 d.C) foram regimes que promoveram o
surgimento de muitas escolas médicas e cada uma delas disputava a primazia sobre os
princípios gerais. Liu Wansu enfatizava a relação entre o meio ambiente e as patologias,
explicando que as doenças estavam, na maior parte das vezes, relacionadas ao calor ou
ao fogo. Propunha a utilização de alimentação fria ou gelada para o tratamento. Zhang
Congzheng pressupunha a existência de fatores externos que eram responsáveis pela
patogenia, argumentando que a prática médica deveria expulsá-los. Li Dongyuan
46

afirmava que os danos ao Baço Pâncreas e ao Estômago eram as causas fundamentais das
doenças e o reequilíbrio interno destes Zang Fu era o foco da terapêutica. Zhu Zheheng
explicava que a maioria das pessoas sofre de insuficiência e o tratamento do Yin devia ser
o foco, especialmente porque a doença era um sinônimo de excesso de Yang (cf. FROIO,
2006, p. 28).

Ao longo dos séculos seguintes, estas diferentes perspectivas irão se integrar


formando a medicina chinesa atualmente praticada na China. A ideia de uma Medicina
Tradicional Chinesa é uma construção muito posterior, de Mao pós revolução. Não surgiu
de um tronco único e foram necessários muitos anos de depuração e fusão para que este
conjunto de saberes pudesse ser sistematizado no ocidente. A escola ‘tradicional’, dentro
dos princípios do comunismo chinês, teria a premissa de buscar uma integração com os
modelos ocidentais

Durante a dinastia Ming (1368-1644 d.C), a Matéria Médica elaborada pelos


Tang foi revisada e acrescida de novas ideias. Neste período houve o desenvolvimento da
farmacologia, com cerca de 10 mil fórmulas sistematizadas. A densidade demográfica
aumentou muito e a urbanização produziu novas formas de divisão do trabalho. Surgiram
pequenas indústrias neste período, e o comércio exterior começa a ser voltado para a
agricultura, diferente dos modelos comerciais dos Tang. As grandes propriedades foram
estatizadas e a escravidão foi proibida em todo o território. Pela primeira vez, o estado
chinês criou um exército regular, com forças marinhas e terrestres. A produção de ferro e
outros metais levou a China a uma prosperidade econômica e a tipografia em larga escala
favoreceu a prosperidade cultural.

Quando os Ming foram derrotados, os chineses foram obrigados a adotar o estilo


de cabelo e vestimenta oficiais, sob pena de morte. Com a dinastia Qing (1644 – 1911
d.C.), a língua oficial foi alterada para a língua manchu, e o país sofreu uma estagnação
econômica. Muitas revoltas populares e a crescente influência do ocidente especialmente
sobre o comércio de ópio produziu um cenário de guerra, invasão e colonização. A moeda
ficou muito desvalorizada, e a inflação, elevadíssima. Produtos europeus chegaram com
toda força no mercado chinês.

Entre os anos 1851 e 1864, mais de 100 insurreições e rebeliões camponesas


ocorreram em diversas partes do território chinês, lideradas por um grupo democristão
chamado Hong Xiuquan. A rebelião Taiping, como ficou conhecida, foi um conflito
47

armado pelos ideais de igualdade social, com cerca de 3 milhões de rebeldes, e 340 mil
milicianos, resultando em 456 mil mortos. Apesar de fortemente reprimidas, as forças
rebeldes construíram um poder paralelo por mais de 10 anos em diversos territórios e
desmontaram as bases do governo, causando uma instabilidade política e o
enfraquecimento da dinastia.

Entre 1899 e 1900, uma espécie de partido armado mobilizou as massas para a
luta contra os europeus. Este movimento, conhecido como Revolta dos Boxers, foi
liderado por setores médios com formação marcial e lutava contra a invasão estrangeira,
atacando a diplomacia, as estradas de ferro, os telégrafos, as escolas ocidentais e tudo que
contribuísse para a ocidentalização da China. Ao longo de 1900, uma aliança entre
militares da Rússia, EUA, Inglaterra, França, Japão, Itália e Alemanha invade o império
e rende as forças rebeldes, definindo marcos ocidentais para todos os aspectos da vida
chinesa.

A medicina ocidental espalhou-se na China, assim como as igrejas estrangeiras.


A acupuntura foi excluída do ensino oficial e foram constituídas faculdades de medicina
ocidental. O exercício dos métodos tradicionais foi proibido, embora tais técnicas
permanecessem ensinadas aos discipulados e praticadas no quotidiano devido à falta de
médicos ocidentais nos hospitais. Por outro lado, estudiosos franceses, alemães e
holandeses que ocuparam o território se interessaram muito pelas terapêuticas da
acupuntura.

Mesmo com o fim da revolta dos Boxers, as tropas europeias permaneceram


saqueando no território chinês, e isso produziu ainda mais revolta no povo. Em 1911,
grupos armados organizaram insurreições em todas as províncias derrotando
definitivamente os Qing na Revolução de Xinhai, e em 1912, Sun Yat Sen é eleito o
primeiro presidente da república. As lutas políticas entre os nacionalistas e os comunistas
tornavam o ambiente instável até a vitória do partido Guomindang de Kai Shek. Com o
governo Guomindang, a medicina tradicional foi rechaçada como crendice e desde 1929,
a política de banimento das práticas tradicionais encontrou resistência firme da população
e oposição organizada entre os médicos tradicionais.

A saúde pública em geral foi caótica neste período. Com a economia em crise, os
espaços de cuidado eram precários e restritos às cidades, além de haver poucos médicos.
A matéria prima dos fármacos ocidentais era importada e isso tornava-os inacessíveis à
48

maior parte da população. A expectativa de vida caiu para 35 anos e houve epidemias de
peste bubônica com mais de 100 mil mortes, além de cólera, tuberculose, febre tifoife,
lepra e tétano (CULTURA Fisica y Sanidad, p. 132-133 apud FRÓIO, 2006, p. 31).

Mao Tsé Tung e o Partido Comunista iniciam uma política de interiorização,


expansão e resistência que ocorre entre os anos de 1934 e 1935. Na conhecida Longa
Marcha, mais de 100 mil pessoas percorrem 12 mil quilômetros a pé, travando combates
contra o cerco inimigo. Em 1945, após o fim da II Guerra Mundial, os japoneses partem
para o ataque aos comunistas. Inicia-se uma série de operações militares. Os comunistas
cercam as cidades a partir dos campos, onde a população pobre estava insatisfeita com o
regime. A guerra civil perdura até o fim de 1948, e mais de meio milhão de nacionalistas
passam a compor as fileiras comunistas. Embora sem o apoio do Komintern, no início de
1949 as forças lideradas por Mao conquistam o poder e proclamam a República Popular
da China.

O governo de Mao alterou rápida e instavelmente o quadro social e político do


país. Com os quadros mais progressistas do partido, tem início uma grande reforma
sanitária, que controlou as epidemias e estabeleceu saneamento, equipamentos de saúde
pública e recompôs os espaços de formação profissional. Ainda no ano de 1949, o
governo reconhece as práticas de cuidado ancestrais como a Medicina Tradicional
Chinesa – MTC e convoca os profissionais com formação ocidental a ‘colaborar’ com o
regime de integração, o que reuniu cerca de 15 mil médicos ocidentais e 500 mil de
formação tradicional para fazer avançar as práticas chinesas. Neste cenário, é evidente
que o interesse pelas técnicas de acupuntura e moxabustão foram alavancados
enormemente (cf. FRÓIO, 2006, p. 29-32).

No contexto da desestalinização, as técnicas de acupuntura, moxabustão e


fitoterapia passaram a fazer parte da agenda política do Escritório Central de Higiene, e
o ensino da MTC foi desenhado com o suporte das técnicas ocidentais na Academia de
Medicina Tradicional Chinesa e no Centro de Pesquisa em Acupuntura e Moxibustão de
Pequim. Posteriormente, o ensino foi expandido para outras cidades, e os estudos em
acupuntura passaram a tratar de aspectos novos como a anestesia operatória, que
despertou interesse mundial.

O processo de difusão da MTC é, em princípio, resultado da sofisticação técnica


acumulada em uma prática clínica milenar. Contudo, sua afirmação como elemento de
49

uma cultura nacional e como pilar da concepção de estado no bloco comunista são
aspectos que colocaram a MTC no terreno político de uma herança em disputa.

Se desde o século XII, com a expansão comercial da seda, as práticas de cuidado


já eram percebidas pelos ocidentais de forma secundária, no século XVI, os contatos entre
o Ocidente e a China despertaram interesse particular por aspectos da prática clínica.
Missionários enviados por Luis XIV começaram a estudar as técnicas médicas e em 1671,
o padre Harvieu publica Les Secrets de la Médecine des Chinois. Depois dele, mais de
200 autores europeus divulgaram trabalhos sobre o tema. Durante os séculos XVII e
XVIII, vários médicos holandeses, alemães e franceses foram viver na Ásia afim de
apreender o método chinês, especialmente a acupuntura.

No século XIX, os fundamentos teóricos e técnicos da acupuntura começam a ser


sistematizados na França. Em 1810, Berlioz introduziu a acupuntura como prática
terapêutica na Escola Médica de Paris. Em 1843, Thiersant publica De la Médecine chez
les Chinois, volume de 580 páginas onde descreve os princípios e técnicas das nove
agulhas chinesas e moxas. Já no século XX, o Cônsul da França na China, Soulié de
Morant estudou com vários médicos chineses, e foi reconhecido oficialmente como
médico tradicional com o título Glóbulo de Coral Cinzelado, reservado aos mestres da
medicina. Morant traduziu uma grande quantidade de material de estudo, e publicou em
1934 o Précis de la Vraei Acupuncture Chinoise, livro sólido que permanece até hoje
como referência para o estudo (SOCIEDADE MÉDICA BRASILEIRA DE
ACUPUNTURA, s/d, p. 01-03).

A partir dos estudos de Morant, uma escola de acupuntura foi desenvolvida na


França. Além do seu colaborador, Ferreyolles, que traduziu vários trabalhos para o
francês, pesquisadores renomados se interessaram pelos temas e nomes como Chamfrault,
Roger de La Fuÿé, Groux, Niboyet trouxeram grandes contribuições para a difusão dos
saberes tradicionais no ocidente. Autores como Jarricort, Darras e Bossy iniciaram
pesquisas sobre as bases neurofuncionais e morfológicas, caracterizando a escola francesa
como uma tradição heterônoma que polarizou os rumos da acupuntura. Em 1930, Fuÿé
funda a Sociedade Francesa de Acupuntura e desde então a prática é difundida pela
Europa, com a fundação de sociedades de acupuntura na Alemanha, Itália e Espanha. Em
1946, Fuÿé organiza o Sindicato Nacional dos Médicos Acupunturistas e a acupuntura
passa a ser reconhecida pela seguridade social francesa como tratamento. Em 1950, a
Academia Francesa de Medicina reconhece-a como ato médico e em 1979, passa a ser
50

ensinada nas universidades francesas. Países como a Inglaterra, Romênia, Japão, Hungria
Finlândia, Áustria e Rússia também passaram a ter vários acupunturistas e desenvolver
linhas de pesquisa em acupuntura. Nos países do bloco comunista, especialmente na
antiga URSS, Áustria e Romênia, especialistas de Pequim promovem intercâmbios
acadêmicos e os anos 1960 são riquíssimos em investigações em eletrofisiologia e outras
concepções modernas. O instituto Ludwig Boltzmann na Áustria, torna-se modelo
europeu desenvolvendo um programa oficial de pesquisa (idem, ibidem, p. 02-04).

Em Cuba, foram fundados mais de 30 cursos introdutórios sobre acupuntura, e o


Hospital Policlínico Asclepio de La Habana promoveu uma popularização do método,
inserindo-o em seus tratamentos regulares. Graças ao trabalho de Caraballás, que
introduziu a prática na ilha, diversos médicos foram enviados à China, ao Vietnã, à Coreia
e à URSS para integrar os sistemas educacionais. Hoje, o mais avançado reconhecimento
legal da acupuntura é o modelo cubano.

Na Argentina, Rebuelto e Sussmann fundam a Sociedade Argentina de acupuntuta


em 1955. Em 1960, Carvallo funda o Instituto Médico Argentino de Acupuntura, a partir
do qual foram estabelecidos vários cursos e atividades de pesquisa e divulgação.

Apenas na década de 1970, depois de uma viagem de Nixon à China, a acupuntura


passou a ser conhecida nos Estados Unidos da América. Como jornalistas estadunidenses
haviam presenciado uma anestesia cirúrgica com acupuntura, a técnica foi rapidamente
difundida e em 1973, Kao fundou a Associação Americana de Medicina Chinesa. Desde
então o periódico American Journal of Chinese Medicine é publicado ininterruptamente.
Em 1987, foi fundada a American Academy of Medical Acupuncture, que congrega
apenas médicos e publica o jornal Medical Acupuncture (idem, ibidem, p. 05-06).

A Faculdade de Medicina da Universidade Autônoma do Estado do México e o


Instituto Mexicano de Seguridade Social instituíram, em 1974, cursos de ‘Medicinas
Paralelas’, que tratavam de práticas tradicionais e alternativas. Também em 1974, Parra
e Toro fundam a Associação Colombiana de Acupuntura (idem, ibidem, p. 06).

No Brasil, a medicina popular tem fortes raízes indígenas e africanas, com técnicas
de escarificação, sangrias, fumigações e ventosas, além da larga utilização de ervas nas
mais diversas preparações terapêuticas. Entretanto, coube aos jesuítas o reconhecimento
das propriedades medicinais dos vegetais nativos, logo incorporados à farmácia, como a
copaíba, o jaborandi, a ipecacuanha entre outros. A ‘cura’ proporcionada pelos jesuítas
51

foi de grande valia na historiografia oficial, para legitimar a colonização (cf.


RAVAGNANI, 1981, p. 67-68).

Especificamente em relação à acupuntura, a participação dos imigrantes chineses


e japoneses no processo de inserção e difusão das práticas médicas tradicionais é mais
relevante do que propriamente a ação estatal, e vem acontecendo de forma anônima desde
o fim do século XVII. Friederich Spaeth, professor luxemburguês recém-chegado da
Europa, em 1950 inaugura a clínica de acupuntura em São Paulo e em pouco tempo faz
grande clientela atraindo a atenção dos médicos, que se articulam com o mesmo e
constituem um grupo de acupuntura. Spaeth funda a Sociedade Brasileira de Acupuntura
e Medicina Oriental, iniciando o processo de ensino para profissionais da área da saúde.
Em 1961, Juntamente com Pugliesi e Cordeiro, Spaeth funda o Instituto Brasileiro de
Acupuntura, entidade profissional e clínica institucional.

A Associação Brasileira de Acupuntura é formada em 1972, com a dissolução da


Sociedade Brasileira de Acupuntura. A entidade realiza seminários, congressos e cursos
com o objetivo de difundir a acupuntura no país. Em 1981, o médico chinês Kwang,
residente no Brasil há mais de 20 anos, funda o Centro de Estudos de Acupuntura e
Terapias Alternativas, defendendo a regulamentação da acupuntura como especialidade
multiprofissional. Em 1984, os médicos acupunturistas organizam a Sociedade Médica
Brasileira de Acupuntura, entidade exclusiva para profissionais com formação médica
(idem, ibidem, p. 07).

As décadas de 1970 e 1980 são particularmente férteis para o desenvolvimento da


medicina alternativa no país. Os movimentos de democratização e contracultura, as
tendências naturistas e a crise do INAMPS ajudaram a construir uma conjuntura favorável
para a difusão de novas ideias. A homeopatia teve muita aceitação popular, até mais que
a acupuntura, ainda associada à feitiçaria. Conforme Nogueira e Camargo Jr, a adoção de
tais técnicas são “desenvolvimentos culturais e intelectuais dentro da própria civilização
ocidental” que representam um processo de “orientalização mais amplo e radical, que
consiste na mudança de um paradigma” (2007, p. 850).

Algumas correntes culturais contribuíram para facilitar a orientalização da cultura,


especialmente nos meios mais intelectualizados e abastados da sociedade brasileira, que
tiveram um papel importante na formação da opinião pública. Em primeiro lugar, as ideias
do neopaganismo e retorno pré-cristão, proporcionado pela abertura às culturas helênicas
52

e druídicas, nórdicas e célticas, mas também pela valorização dos saberes ancestrais maias
e astecas. Em todos os casos, as tradições absorvem uma ideia imanentista, necessária
para o entendimento da cosmologia oriental. Um segundo movimento cultural importante
foi a Nova Era, que difundiu valores progressistas de autodesenvolvimento e auto-
satisfação, apesar da atitude mística, propunha uma psicoterapia contemporânea, com a
expansão da consciência humana. E por fim, a noção de unidade de vida no planeta ou
unidade metafísica da existência, presentes no movimento rastafári, hippie, beat e no punk
puderam ser abrasileirados na tropicália, ampliando o interesse por estes sistemas de
pensamento e imprimindo um ethos capaz de produzir ressonâncias positivas às tradições
médicas que chegavam como ‘novidades’ (cf. NOGUEIRA E CAMARGO JR, 2007, p.
852-853; LUZ, 2005, p. 165-166).

Entretanto, a consolidação da acupuntura como campo de saberes está longe de


ser um processo linear. Os movimentos sanitaristas tiveram muitos embates na construção
do SUS e na descentralização do serviço de saúde. Neste ínterim, a inserção da acupuntura
na rede foi uma pauta assimétrica, protagonizada especialmente por acupunturistas que
trabalhavam nas universidades. Em 1981, o departamento de acupuntura da Universidade
Federal de Pernambuco foi constituído e o ensino técnico de acupuntura foi implementado
em São Paulo. Em 1983, a Universidade de Pelotas iniciou o desenvolvimento de um polo
de acupuntura e no Rio de Janeiro, três hospitais da rede passaram a oferecer atendimentos
de acupuntura. Como resultado de alguns projetos-piloto, a acupuntura passou a ser
incorporada no SUS. Em 1988 foi fundado o primeiro ambulatório de acupuntura no SUS
de Porto Alegre. Em 1990, a técnica foi regulamentada na Secretaria de Saúde de São
Paulo, a partir do Centro de Vigilância da Saúde, que dispunha à época, de 2500
profissionais atuando na acupuntura.

A partir de então, a polêmica em torno do ato médico toma proporções maiores e


os conflitos passam a se desenhar na arena dos projetos de lei, ainda em disputa. A adesão
popular à MTC vem crescendo exponencialmente no país e a medicina ocidental ainda
tenta controlar seu campo de atuação, embora a eficácia das terapêuticas tradicionais
sinalize o esgotamento do modelo hegemônico.

O boom das práticas alternativas em saúde é um fenômeno visível há quase três


décadas. De acordo com o relatório do IPEA, o mercado da saúde cresce
fundamentalmente através da assistência suplementar e dos seguros de saúde (cf.
BRASIL, 1998, p. 13; 30-32). A partir deste ponto de vista, pode-se inferir que a busca
53

pela saúde tradicional e suas práticas terapêuticas parte de um conjunto de motivações de


ordem social, científica e econômica, mas que devem ser analisadas em cada caso.

Os padrões de viver, adoecer e morrer têm sido profundamente alterados nas


últimas décadas. Não apenas no Brasil, mas em boa parte do mundo, o perfil
epidemiológico da população aponta para um grande aumento de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) tais como cardiopatias, cânceres, diabetes, obesidade, transtornos
psíquicos etc. Tais doenças estão profundamente associadas aos modos de vida e
consumo estabelecidos nas sociedades.

Madel Luz explica que existe uma dupla crise que produz este fenômeno.
Primeiramente, a crise da medicina, que é resultado de um conjunto de forças
socioeconômicas e culturais, expressas no plano institucional, com os programas de
atenção, especialmente às populações de baixa renda. No plano ético, emerge o problema
da mercantilização das relações, que deteriora a unicidade do encontro entre médico e
paciente e produz uma perda da eficácia médica, ou seja, da função mesma do cuidado.
No campo bioético, as pesquisas genéticas têm sido produzidas com pouco cuidado aos
sujeitos, e no plano corporativo, destaca-se o esgarçamento e a competitividade entre as
especialidades médicas, bem como uma relação negativa com as outras categorias de
atenção à saúde. Por fim, a crise é aparente no quesito da formação profissional, quando
se evidencia a perda progressiva da capacidade de escalonar, planejar e resolver
problemas de saúde para grandes populações (LUZ, 2005, p. 149-150).

Por outro lado, há uma crise da própria saúde, fruto do aumento das desigualdades,
da perda de valores humanos e da pouca convivência social, do individualismo e do
consumismo. Em suma, resultado da precarização geral da vida,

devido em grande parte às condições socioeconômicas que originam a crise


sanitária, desenvolve-se atualmente no mundo capitalista o que sociólogos
franceses, que tratam das relações entre saúde e cidade, entre os quais Michel
Joubert, têm denominado de “pequena epidemiologia do mal estar”, ao
analisarem uma síndrome coletiva que se poderia definir como biopsíquica,
com grande repercussão na saúde física e mental da força de trabalho,
caracterizando-se por dores difusas, depressão, ansiedade, pânico, males na
coluna vertebral etc., que atinge milhões de indivíduos das populações de
quase todos os países nas grandes cidades, ocasionando uma situação
permanente de sofrimento para os cidadãos e de perda de muitos milhões de
dólares anuais para as economias desses países, em função de dias de trabalho
perdidos (LUZ, 2005, p. 149).
54

Esta incerteza que produz precariedade no quotidiano, a urgência de status e a


égide de exclusão e violência que configura todas as esferas da vida social tendem a
homogeneizar os padrões de identidade cultural ‘pelo alto’ ou seja, desde os meios de
cultura de massa, produzindo um modelo padrão de bem-estar, saúde, beleza e sucesso.
Coexiste com esse padrão, uma fragmentação ‘por baixo’, que é demonstrada pelas
diversas formas de resistência estética, ética ou cultural ao modelo hegemônico. Estas
resistências têm, contraditoriamente, construído ou recuperado antigas formas de
expressar a cultura, inclusive nas práticas de saúde e cuidado de si.

A cultura hedonista de valorização do corpo, da beleza e da juventude produziu


contraditoriamente o desenvolvimento de novas representações do corpo, que se afastam
das representações clássicas da cultura médica. Tendem, ao contrário, a valorizar um
“neonaturismo ecológico”, formas orgânicas de cuidado com o corpo e a alimentação.
Neste contexto, as medicinas tradicionais reaparecem como formas de resistência e
consumo alternativo das populações, especialmente nos centros urbanos (idem, ibidem,
p. 152-156).

Sistemas abertos de práticas curativas domésticas e de grupos étnicos fizeram e


fazem parte do quotidiano da maior parte da população, são propriamente formas de vida,
sistemas de valores e significações culturais. A utilização de ervas com finalidades
terapêuticas é talvez a expressão mais clara de como estes saberes ancestrais permanecem
fortemente enraizados. Práticas ritualísticas de cura em diversas denominações religiosas,
como a umbanda ou o candomblé, têm um lugar importante nas terapêuticas da
população, sendo uma forma sincrética de reminiscência cultural. Finalmente, as
medicinas paralelas à ocidental, como a chinesa, auryvédica e a homeopatia são as que
têm tido o maior crescimento nos últimos anos, em camadas diversificadas da população
e são estas racionalidades que têm contribuído para a alteração do imaginário social sobre
a saúde e o cuidado de si (idem, ibidem, p. 156-160).
55

II.2. Uma medicina alternativa – Conceitos, padrões e princípios para o diagnóstico

A institucionalização das Práticas Integrativas e Complementares no contexto do


Sistema Único de Saúde – SUS, formalizada com a publicação da política nacional de
práticas integrativas e complementares visa integrar as terapêuticas tradicionais às
práticas ocidentais de promoção da saúde. A integração, ao mesmo tempo que faz ecoar
uma demanda reprimida por terapêuticas menos invasivas, localiza a Medicina
Tradicional Chinesa como uma prática complementar ao tratamento convencional,
profundamente ocidental, alopático e biomédico. O que ocorre é que não há uma
integração de fato, mas uma inserção subordinada de aspectos técnicos da acupuntura no
paradigma hegemônico.

A portaria nº GM/ MS 971/2006 sistematizou a inserção de tais práticas no âmbito


do SUS. Este documento pontuou a posição do SUS frente a dois grandes embates que
separam os profissionais da saúde. O primeiro questiona a implementação de práticas
terapêuticas oriundas da medicina tradicional no âmbito da saúde pública, argumentando
pouca cientificidade nos métodos, e o deslocamento do papel da alopatia no tratamento.
O segundo procura restringir ao profissional médico os procedimentos de “invasão da
epiderme e derme com o uso de produtos químicos ou abrasivos”, bem como “a invasão
da pele atingindo o tecido subcutâneo para injeção, sucção, punção, drenagem, instilação
ou enxertia, com ou sem o uso de agentes químicos ou físicos” (BRASIL, 2013, p. 3).

Seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde, o texto sublinha que


a MTC contribui para o cuidado, mas não substitui a atuação biomédica (alopática),
destacando ainda que quaisquer profissionais da saúde com formação própria na MTC
podem exercê-la no cuidado terapêutico. Helder Aurélio Pinto, diretor do departamento
de Atenção Básica e relator do documento, enfatiza que a MTC é uma “abordagem de
cuidado integral ao ser humano, que possui linguagem e terapêutica próprias” (idem,
ibidem, p. 2). De uma forma breve, é preciso explicar porque a acupuntura não é
necessariamente complementar à medicina ocidental, mas outra lógica de produção de
saúde.

Em primeiro lugar, a acupuntura é baseada em um sistema de pensamento que


considera o ser humano como elemento da totalidade. Isso implica em uma visão de
mundo e de projeto terapêutico radicalmente diferente do modelo hegemônico, onde o
paciente – e não a doença – é o centro da intervenção. Jeremy Ross, em seu livro Zang
56

Fu – Sistemas de Órgãos e Vísceras da Medicina Tradicional Chinesa, aponta alguns


elementos que conformam a visão de mundo oriental. A estrutura do pensamento oriental
é conformada a partir de uma linguagem mais evoluída, expressa na forma de ideograma.4
A forma alfabética de produzir simbologia explicaria, segundo o autor, a tendência do
pensamento ocidental em classificar e dividir os fenômenos, reduzi-los e analisá-los,
enquanto o pensamento oriental tende a ser “sintético e intuitivo” (ROSS, 1985, p.4).

A concepção moderna hegemônica – cartesiana – que separa os fenômenos em


traços particulares e desenvolve linearidades sobre seu desenvolvimento colide com a
visão oriental, que se estrutura em termos de simultaneidade e diferença dos fenômenos
como padrões específicos. Onde o pensamento ocidental busca precisão, o oriental
permite ambiguidade, flexibilidade e interpretações distintas. “Assim, os grandes
problemas do mundo moderno associam-se com a separação do homem do seu interior,
do seu companheiro e da natureza; com a tendência da prática médica de separar o
paciente da doença e do meio ambiente” (idem, ibidem, p. 5).

Na concepção da Medicina Tradicional Chinesa, a saúde é um padrão geral de


harmonia e as doenças, são fruto de desarmonias. Ambos os casos são intimamente
associados e inseparáveis do todo universal. Esta seria uma lógica sistêmica completa e
autossuficiente, que não necessita de conceitos de outras fontes afim de funcionar
satisfatoriamente. Ao contrário, a utilização dos termos ocidentais como suporte
explicativo geraria confusão e dificuldade no tratamento. “É essencial aderir aos
conceitos e padrões do pensamento chinês e não misturar estes com conceitos de qualquer
outro sistema” (ROSS, 1985, p. 62).

O paciente é cuidado por um outro ponto de vista, no qual as classificações


hegemônicas têm pouca serventia. Há uma outra tecnologia de cuidado, por assim dizer.
A escuta é necessária para o entendimento dos fluxos das desarmonias. A história de vida

4
Os ideogramas são símbolos gráficos que representam conceitos abstratos. Eles antecedem os alfabetos e
indicam estruturas mentais e educacionais distintas, na qual o sentido é posterior à grafia. Refinados por
cerca de seis mil anos, os desenhos transmitiam ideias completas e um conjunto imenso de significados que
poderiam ser contextual ou oralmente atribuídos. Apenas no século X a.C., os gregos iniciaram estudos
para desenvolver formas de escrever mais fáceis de serem ensinadas e mais precisas em significação. A
escrita alfabética acompanha um mundo em expansão colonial e o crescimento demográfico, a demanda de
escolarização e comunicação internacional. A racionalização do alfabeto permitiu uma pronúncia única e
um estatuto semântico e gramatical claramente definíveis, unificando os processos de transmissão
linguística e tradução. Entretanto, com o passar do tempo, as distâncias culturais entre os povos que utilizam
ideogramas e os povos alfabetizados foram se ampliando, de forma que hoje, qualquer tentativa de tradução
dos textos antigos da língua chinesa são sempre reinterpretações, na medida que nossa língua não dispõe
mais de recursos para explicar uma ideia abstrata com a mesma concisão (Cf. HAVELOCK, 1996).
57

e o quotidiano dos sujeitos emergem desde a primeira anamnese e vão ganhando


densidade no decorrer do tratamento. O toque é parte essencial da terapêutica. O ritmo
dos pulsos é que marcará a seleção dos pontos. A respiração é controlada. O silêncio
implica um momento de relaxamento e de reflexão. As orientações finais contribuem para
uma maior autonomia do paciente, para o melhor entendimento das respostas que o corpo
produz, é um convite à percepção fina dos seus sintomas e das causas, exógenas e
endógenas. Isso implica que o paciente se converta em sujeito do seu processo de
adoecimento e de tratamento, reconheça as possibilidades de melhora e os aspectos que
contribuem ou provocam dor e sofrimento.

Para facilitar o entendimento deste argumento, optou-se por seguir a terminologia


adotada na Medicina Tradicional Chinesa, e referir-se a padrões de desarmonia. A ideia
ocidental de síndrome não é cabível à percepção dos padrões de doença nem ao
diagnóstico oriental, pois implica uma causa, enquanto o padrão de desequilíbrio ou de
desarmonia associa aspectos do corpo e do ambiente à origem ou precipitação do
desequilíbrio, ou seja, o adoecimento aparece de forma ímpar, como uma combinação
recíproca de fatores patogênicos de diferentes ordens.

O estudo na medicina chinesa consiste na aquisição das bases universais de


harmonização e na experimentação clínica. Disto deriva que os componentes desta
medicina sejam distintos da ocidental. A fisiologia chinesa seria o estudo da energia
desprendida pelos órgãos e da energia que circula pelos meridianos. A patogenia,
consequentemente, o estudo das energias cósmicas, dos elementos psíquicos e da energia
alimentar e a patologia, os problemas das energias em sua produção e circulação
harmônicas (NGHI, 1981a, p. 11).

A concepção de Yin e Yang5, basilar na medicina chinesa, traz a conotação de que


os polos não são estáticos, mas relativos. Yin e Yang são formas de energia presentes em

5
A concepção cosmológica da acupuntura não é objeto deste texto, mas a título de contextualização do
leitor, segue-se a premissa neoconfuncionista que origina a visão do Tao adotada pela maioria dos estudos
da área. O princípio primeiro seria o não ser, a incompletude, a impermanência. Do movimento daí
derivado, nasce o Yang. Do extremo do movimento, passa a existir o repouso, Yin. O movimento e o repouso
são origens um do outro e pela separação de ambos, os modos fundamentais dos seres aparecem. Da
evolução do Yin e do Yang se engendram os elementos (água, fogo, madeira, metal e terra) e formam
‘sopros’, que se estendem como estações e ciclos da vida, originando um único conceito, o Yin – Yang. A
natureza e o sentido de tais formações seriam objetos de busca filosófica e existencial. Do céu se origina o
caráter masculino e da terra, o feminino. A união de céu e terra teria tornado possível a existência e a
evolução dos seres. O homem teria o privilégio de construir virtudes em sua natureza, regulando seus atos
e produzindo harmonia no universo. Esta harmonia – ou virtude – seria fruto da retidão, da bondade e da
justiça. Afastando-se das paixões, o homem goza ainda de tranquilidade e realiza a perfeição suprema.
58

tudo, do micro ao macrocosmo. São antagônicas e complementares, e cada uma delas


possui características próprias bem definidas. À energia Yang pertencem o sol, o
masculino, a expansão-dilatação, o alto, o exterior – superfície, a luz – claridade, o dia, o
redondo, o leve, a direita, a energia, o sul – leste, as doenças rápidas (abadas), o sódio
(Na), as vísceras ocas. À energia Yin pertencem a lua e a terra, o feminino, a contração –
retração, o repouso, o baixo, o interior – profundidade, a sombra – obscuridade, o frio, a
noite, o quadrado, o pesado, a esquerda, o sangue, o norte – oeste, as doenças longas
(crônicas), o potássio (K), os órgãos internos. Cada uma destas energias tem funções que
lhe são próprias pela sua natureza e sua harmonia reflete na saúde e no bem-estar da
pessoa e da natureza (cf. CORDEIRO E CORDEIRO, 2009, p. 17-18).

Daí derivam os conceitos que tornam a Medicina Tradicional Chinesa uma


terapêutica integral: a continuidade e transformação entre energia-matéria, mente-corpo,
estrutura-função. “O objetivo elementar da filosofia e da cultura chinesa é a harmonia que
deve residir dentro do indivíduo, da família, do estado e entre o homem e o mundo
natural” (NGHI, 1981a, p. 7). É partindo do reconhecimento dos padrões da natureza e
das ações que se harmonizam com o todo que o homem preserva e completa sua saúde.

O diagnóstico chinês deve ser baseado no estudo dos elementos, dos movimentos
da natureza e nos “oito princípios” fundamentados no Yin e Yang e em três de suas
subdivisões: frio e calor, deficiência e excesso, interno e externo.

Primeiramente, em relação à exterioridade ou interioridade da doença, os padrões


de diagnóstico sugerem a observância em relação à profundidade da patologia e à direção
de sua evolução. Os padrões externos são relacionados à invasão do corpo por fatores
patogênicos, que normalmente são agudos, começo repentino e duração curta. São
associados aos fatores climáticos básicos (vento, frio, calor, umidade, secura e calor do
verão), cuja exposição permanente ou desprotegida pode produzir ou potencializar
desarmonias para as quais a pessoa já estava predisposta (cf. ROSS, 1985, p. 45; 27-39).

Desta forma, o homem se desenha conforme o céu e a terra pela sua virtude, conforme o sol e a lua pela
sua inteligência, conforme as estações pela regularidade de sua conduta, conforme demônios ou espíritos
pela sua influência sobre a felicidade ou desgraça daí decorrentes. Daí decorre que a energia possa ser
definida como essência, princípio e fim de tudo, que se expressa diferentemente em cada forma particular,
em cada manifestação vital. Mas apenas o homem seria instrumento e fim da transformação – evolução da
energia. A possibilidade de ordenar racionalmente a circulação de energia seria o fundamento primário da
existência da acupuntura (cf. SUSSMANN, 1967, p.32 e segs).
59

Já os fatores internos referem-se às emoções, cujo desequilíbrio altera a harmonia


dos sistemas: alegria, raiva, preocupação, mágoa, medo, temor e aflição. Surgem de
desarmonias internas do Zang Fu, ou pela penetração dos fatores patogênicos externos
nas camadas mais profundas do corpo. São característicos das doenças crônicas, onde
mudanças em vários sistemas se observam no quadro clínico do paciente.

Os fatores mistos (de ordem contemporaneamente interna e externa) incluem


aspectos da relação da pessoa com o seu ambiente, incidindo sobre a desarmonia. São
relacionados à constituição existencial, nutrição, ocupação, trabalho em excesso,
exercício, relacionamentos, sexo, traumas e parasitas (cf. idem, ibidem, p. 39-40).

Os conceitos de excesso e deficiência associam-se geralmente à cronicidade ou


agudização dos sintomas. A ideia de deficiência sugere um estado crônico, debilitado,
caracterizando estados de fraqueza e vazio, indiferente à polaridade Yin ou Yang. Os
excessos, ao contrário, indicam que há uma luta entre os fatores patogênicos e
antipatogênicos e por isso, determinados órgãos apresentam atividades exageradas,
degradando o funcionamento harmônico. Normalmente são quadros agudos, nos quais há
queixas de desconforto, pulso forte, respiração ofegante.

Os padrões patológicos de frio e calor são derivados da agressão do corpo por


fatores externos, transformações de fatores externos em mecanismos internos ou de
padrões internos, associados às deficiências e excessos dos sistemas de órgãos e vísceras.
Os padrões Yang estão associados à fatores externos, quadros de excesso e calor, enquanto
os padrões Yin, aos fatores internos, quadros de insuficiência e frio.

A ideia de corpo, tomada na concepção oriental, transmite uma complexidade de


aspectos físico, emocional, mental e espiritual, bem como a interação progressiva entre
estes e o ambiente externo. Isso explica a ênfase nas inter-relações funcionais que
caracteriza o diagnóstico e as bases do tratamento na acupuntura. As principais categorias
que compreendem o arranjo funcional do corpo são as Substâncias, os Canais e Colaterais
(Jing Luo), os órgãos e vísceras (Zang Fu) e os tecidos.

As substâncias básicas do corpo são a energia (Qi), o sangue (Xue), a essência


(Jing), o espírito (Shen) e os líquidos orgânicos (Jin Ye). Tais substâncias são circulantes
no corpo, em canais que comumente são denominados Mai. Os Mai carregam tanto a
energia como o sangue, e a distinção entre os casos é dada de forma contextual (Cf. ROSS,
1985, p. 09-10).
60

As vias propriamente energéticas são entendidas como caminhos pelos quais a


energia circula no corpo. São denominadas Jing Mai, e traduzidas como meridianos.
Além dos meridianos, há uma rede de conexões e transporte das substâncias que são os
canais colaterais, Jing Luo. O tratamento é baseado justamente na punção de pontos em
lugares anatômicos específicos, nos quais o fluxo de substâncias dentro dos canais (Mai,
Jing Mai, Jing Luo) podem ser harmonizados a fim de recompor a saúde.

Os órgãos e vísceras do corpo são considerados em termos de um sistema de inter-


relações funcionais (Zang Fu) e não em termos de estrutura, não tendo, portanto,
correspondência direta com os órgãos definidos pela medicina ocidental, mas com os
principais meridianos que os atravessam. A própria distinção entre órgão (Zang) e víscera
(Fu) revela tratar-se de um sistema heterônomo.

Os Zang são responsáveis pela formação, transformação, armazenamento,


liberação e regulação das substâncias do corpo (Qi, Xue, Jing, Jin Ye e Shen). Têm
características mais Yin, são sólidos e mais internos. Correspondem aos Rins, Baço-
Pâncreas, Fígado, Coração, Pulmão e ao Pericárdio. Este último não corresponde a
nenhum órgão do contexto ocidental, tratando-se do envoltório energético do coração,
uma proteção especial contra a invasão deste por fatores patogênicos. Também é
considerado o ‘órgão’ responsável pela circulação e sexualidade (ROSS, 1985, p. 61; p.
152-153).

Os Fu são responsáveis pela recepção e armazenamento do alimento e da bebida,


pela passagem e absorção de seus produtos e pela sua transformação, excreção e
eliminação dos resíduos. Caracterizam-se por serem mais Yang, ocos e mais externos em
relação aos Zang. Correspondem à Bexiga, Estômago, Vesícula Biliar, Intestino Delgado,
Intestino Grosso e Triplo Aquecedor. Da mesma forma que o pericárdio, o Triplo
Aquecedor não corresponde a nenhum órgão físico, sendo considerado em termos de
relação inter-funcional: ele controla e coordena a formação, a transformação e a
circulação dos líquidos orgânicos (Jin Ye), harmonizando o ciclo circulatório em três
aquecedores (superior – relacionado à cabeça, pescoço, coração e pulmão; médio –
relacionado ao estômago e ao baço-pâncreas; e inferior – relacionado ao fígado, bexiga,
intestinos delgado e grosso) (ROSS, 1985, p. 62; p. 153-160).

Pode-se dizer que a ideia de Zang Fu é a aplicabilidade mais sofisticada dos


princípios cosmológicos, pois todas as dimensões físicas e energéticas se condensam
61

neste sistema. Todo o diagnóstico concreto do paciente e a seleção dos pontos é baseada
nas desarmonias apresentadas no Zang Fu.

Os conceitos de Zang Fu formam o âmago central da Medicina Tradicional


Chinesa; o estudo da fisiologia e da patologia são em termos dos Zang Fu que
podem ser considerados como o sistema de órgãos da Medicina Tradicional
Chinesa, embora não se refira tanto às estruturas quanto aos inter-
relacionamentos funcionais e que não há necessariamente uma
correspondência íntima entre as concepções do Zang Fu com o sistema de
órgãos da Medicina Ocidental (ROSS, 1985, p. 59).

O sistema Zang Fu não é organizado não pelo conjunto de órgãos e vísceras que
agem individualmente para produzir a funcionalidade do corpo, mas como campo
contínuo de energias de densidades diferentes, materiais ou não. Como a palavra
composta sugere, cada um dos Zang é acoplado a um Fu, que lhe complementa a
funcionalidade. São, portanto, seis pares de órgãos e vísceras, que acoplados, manifestam
a harmonia do homem, conforme indica a tabela 2.

Tabela 2 – Correspondências Zang Fu

Zang (órgão) Abreviação Fu (víscera) Abreviação


Shen (Rins) R Pang Guan (Bexiga) B
Pi (Baço-pâncreas) BP Wei (Estômago) E
Gan (Fígado) F Dan (Vesícula Biliar) VB
Xin (Coração) C Xiao Chang (Intestino delgado) ID
Fei (Pulmão) P Da Chang (Intestino grosso) IG
Xin Bao (Pericárdio) PC ou CS San Jiao (Triplo Aquecedor) TA ou TR
(Fonte: ROSS, 1985, p. 61, adaptado).

A cada um dos Zang Fu corresponde um meridiano principal ou canal de energia


regular (Jing Mai), que se estende bilateralmente sobre o corpo, num caminho próprio,
interno e externo ligado ao órgão ou víscera originário e seu acoplado energético (ver
anexos do trabalho). Existem, portanto, doze meridianos principais, sendo seis deles Yin
e os outros seis, Yang. Eles se comunicam entre si em três circulações com quatro canais
de energia em cada uma delas, dois pelo lado Yin (interno) e dois pelo lado Yang
(externo).
62

Figura 4. Meridianos principais

(Fonte: http://www.traditionalmedicine.net.au)

Além dos doze meridianos principais, existem no corpo meridianos secundários,


que são classificados em 4 tipos: meridianos ligamentares, meridianos distintos, vasos
maravilhosos, meridianos Luo ou conexão.

Os canais ligamentares, também denominados musculotendíneos ou


tendinomusculares (Jing Jin) são doze canais de energia externa aos meridianos
principais. Objetivamente, formam um sistema de defesa contra as agressões externas ao
corpo, pois é a energia defensiva (Wei Qi) que circula predominantemente pelos
meridianos tendinomusculares. Localizam-se na periferia externa do corpo e auxiliam os
63

meridianos principais na circulação do Qi para o sangue e músculos. Fortalecem as


ligações entre articulações, músculos, tendões e ligamentos, apoiando os fluxos de
movimento e mobilidade. São bilaterais, como os meridianos principais, e denominados
de acordo com eles. Iniciam-se sempre nas extremidades articulares (ângulo ungueal dos
dedos das mãos ou pés, também chamados Ting) e seguem em sentido cranial. Sob
condições patológicas, manifestam-se como pontos-gatilho (Ashi) (Cf. FOCKS e MÄRZ,
2008, p. 47-48; FONSECA, s/d, p. 3-4).

O funcionamento adequado dos tendões e músculos depende especialmente do


fígado, que aporta sangue para a contractilidade e governa os tendões; e do baço pâncreas,
que produz o tônus muscular.

Os meridianos distintos, também chamados de meridianos divergentes (Jing Bie),


são doze vias de conexão interna entre os meridianos principais e seus respectivos Zang
Fu. A palavra Bie quer dizer ‘que se separa’. Pode-se entender que os meridianos
colaterais são ramificações, capilares energéticos. Iniciam-se no joelho e cotovelo,
dirigindo-se ao interior do corpo. A função principal destes canais é levar a energia
defensiva (Wei Qi) até a profundidade do corpo, tendo, cada um à sua maneira, uma
ligação com o coração. Possuem uma sintomatologia própria e o tratamento é
normalmente realizado nos pontos Shu contralaterais e em pontos de ‘união’ Yin e Yang
(Cf. FOCKS e MÄRZ, 2008, p. 51-52).

Os meridianos de conexão ou passagem, também chamados de vasos Luo Mai,


são canais que conectam os meridianos principais, e podem ser transversais ou
longitudinais. Ligam meridianos de polaridades opostas, iniciando-se no ponto de
passagem (Luo) e terminando no ponto fonte (Yuan). Os Luo Mai transversais são
formados por 12 ligações entre os meridianos principais, duas entre os meridianos Vaso
Concepção – VC e Vaso Governador – VG, além do Grande Luo do Baço-Pâncreas. Não
têm sintomatologia própria, apenas transferem energias de excessos ou absorvem
insuficiências, bem como fortalecem o acoplamento Zang Fu. Os Luo Mai longitudinais
são paralelos aos meridianos principais, recebendo o mesmo nome destes. Manifestam
sintomatologia própria, dolorosa à palpação, e protegem internamente os meridianos
principais das energias perversas (cf. idem, ibidem, p. 52).

Por fim, existem os oito Vasos Maravilhosos, também denominados Vasos


Curiosos ou Meridianos Extraordinários (Qi Jing Ba Mai). São estruturas energéticas
64

fundamentais. Eles se desenvolvem ainda na fase embrionária, e guardam as energias


ancestrais (Zhong Qi). Interligam as vísceras extraordinárias (Vesícula Biliar, Cérebro,
Medula, Ossos, Útero e o trajeto das energias, Mai) e podem ser considerados
reservatórios de energia, que recolhem excedentes e restituem o corpo em caso de
necessidade. Possuem funções específicas de produção, regulação, captação e
distribuição energética. São ativados por punção em seus pontos de abertura e
acoplamento e estão presentes na terapêutica regular, como pontos de abertura e
fechamento dos tratamentos (cf. idem, ibidem, p. 53-56).

Com base nestas premissas, é necessário sublinhar que o diagnóstico na Medicina


Tradicional Chinesa – assim como nas demais terapêuticas naturistas – é individualizado.
Não existe a doença em si, mas uma pessoa com a doença, ou seja, uma manifestação
concreta e singular das patogêneses sob determinadas condições internas que produz um
conjunto específico de sintomas, e uma forma única de senti-los. Apesar disso, há
elementos comuns que permitem identificar ‘tipos’ ou ‘padrões’ de adoecimento a partir
do conjunto genérico dos sintomas.

II.3. A Fibromialgia sob o prisma da acupuntura

O mecanismo fundamental da acupuntura no tratamento da fibromialgia deve ser


uma “transdução”, ou seja, uma transformação de um sinal físico externo em um sinal
neurológico, imunológico ou humoral integral. De acordo com Yverdon, o projeto
terapêutico deve possibilitar uma ação multifocal, que atue simultânea e
coordenadamente em diferentes esferas, produzindo efeitos antiálgicos; emocionais,
neurovegetativos e endócrinos; de ação sobre as vísceras; anti-inflamatórios e específicos
(identificados em cada caso) (cf. YVERDON, 2014, p. 23-25).

A partir de uma diferenciação dos tipos de fibras e do nível de enervação


autônoma destas, o autor explica que a punção dos pontos adequados ao reequilíbrio
contribui para a liberação de endo-opioides, capazes de aplacar a dor, ativando os
controles serotoninérgicos e noradrenérgicos, inibindo ainda os difusores nocioceptivos.
Os efeitos devem ser sentidos em relação aos pontos dolorosos e à mobilidade dos
segmentos corporais (via opióides endógenos e controles de gatilhos), ao esqueleto axial
e à organização postural como um todo, especialmente na região supra espinhal e na
65

regulação central do corpo – visceral, emocional, imunológica e hormonal (via ativação


do sistema nervoso vegetativo e cortical) (cf. idem, ibidem, p. 31-41).

Através da estimulação nociceptiva, a acupuntura pode elevar os níveis basais de


serotonina, noradrenalina e encefalina da medula espinhal. Tais estímulos geram
analgesia por liberação de neurotransmissores com atividade antinociceptiva. Por um
lado, a inibição dos neurônios transmissores da dor e por outro, a ativação dos sistemas
supressores da dor pode ser realizada a partir do estímulo dos acupontos. As fibras
grandes e mielinizadas (tipo II) devem ser estimuladas pois têm interferência direta nos
sistemas supressores da dor, por meio de suas terminações livres e encapsuladas (idem,
ibidem, p. 25).

Localmente, a estimulação até a sensação do Qi produz efeitos positivos nos


potenciais de ação e estimula as fibras delta de ondas típicas (WANG et al, 1985 apud
YVERDON, 2014, p. 27), o que teria um efeito benéfico nas sensações de dormência,
distensão muscular, plenitude, peso, fadiga e irradiação quente – frio ou formigamentos.
Por ação reflexa, a liberação de neuropeptídios decorrente do agulhamento, pode
promover a vasodilatação e formação e/ou reparação dos tecidos lesionados. De forma
segmentar, a estimulação dos pontos gatilho diminuiria a atividade simpática das fibras
Delta A.

Determinadas regiões vertebrais são enervadas autonomamente por determinadas


vísceras, o que facilita a hipótese do tratamento condicionado aos meridianos, bem como
o trato psicossomático integrado no projeto terapêutico. Por exemplo, ao coração
corresponde a enervação simpática das vértebras T1 a T5, ao pulmão, a enervação
simpática das vértebras T2 a T4, ao esôfago, T5 e T6, ao estômago, T6 a T10. Ao intestino
delgado, corresponde a enervação simpática das vertebras T9 e T10, ao intestino grosso,
T11 a L1 (até o ângulo esplênico) e L1 e L2 (do ângulo esplênico ao reto). Ao fígado e à
vesícula biliar, correspondem a enervação simpática das vértebras T7 a T9. Aos genitais
(testículos e ovários), as vértebras T10 a T12, à vesícula biliar correspondem a enervação
simpática das vértebras T11 a L2 e parassimpática das vértebras S2 a S4 e ao útero, as
vértebras simpáticas T12 a L1 e parassimpáticas S2 a S4 (cf. YVERDON, 2014, p. 31).

Outras decorrências sobre o sistema nervoso central são apontadas como possíveis
efeitos da punctura nos acupontos, tais como a modulação do sistema límbico (cf.
66

PARIENTE, 2005 apud YVERDON, 2014, p. 37), ativação do sistema imunológico e


modulação hormonal (Cf. LUNDENBERG, 1999 apud YVERDON, 2014, p. 39).

Os efeitos fisiológicos do tratamento com acupuntura nos pacientes com


fibromialgia se conectam intimamente ao entendimento oriental da patogenia, mas na
literatura tradicional são considerados em outros termos, especialmente referentes à teoria
dos elementos, conforme explicado anteriormente. Não é a proposta fazer uma
equiparação dos processos, mas apresentá-los como possibilidades plurais de
entendimento, como aberturas conceituais. Se é possível que ambas sejam
complementares, ainda são necessários muitos estudos para confirmar. O trabalho de
Yverdon acima apresentado tem a função de ser um indício, uma pista explicativa que
permita conjugar – ainda que contraditoriamente – ambas as interpretações. Busca a um
só tempo, esclarecer o leitor sobre os mecanismos biológicos palpáveis da acupuntura e
introduzir os elementos de uma fisiopatologia heterônoma a partir de termos mais
conhecidos.

Os reumatismos em geral são considerados na literatura tradicional como


síndromes Biao, ou seja, que avançam pelo interior do corpo (Li), normalmente
ocasionados pela penetração de três das energias ambientais (frio, vento e umidade) no
organismo como consequência de um estado de debilidade da energia defensiva (Wei Qi).
Estas energias perversas podem se manifestar de formas diferentes, com predomínios de
diferentes tipos de agressões. Esquematicamente, os reumatismos predomínio de vento
manifestam dores erráticas nas articulações e acompanham inflamações ou edemas. Sob
o predomínio do frio, as dores são generalizadas e violentas, acompanhadas de contraturas
musculares sem inflamações. Por fim, sob o predomínio da umidade, as dores são fixas,
com sensação de peso e fadiga especialmente nas pernas, e podem acompanhar
parestesias ou entumecimentos cutâneos, e alterações digestivas (AAVV, 2013, p. 04).

A partir de uma debilidade primária ou de um fator patogênico residual que


enfraquece os sistemas de defesa do corpo, as energias penetram progressivamente no
organismo alcançando os meridianos tendinomusculares, onde se estabilizam e produzem
as dores de tipo crônica. Neste sentido, os tender points (indicados na página 14) podem
ser entendidos como “cicatrizes energéticas” onde se manifesta a luta entre a energia
67

defensiva e a agressão externa. Uma observação superficial é suficiente para perceber


correspondências entre os pontos dolorosos e acupontos6 (idem, ibidem, p. 04-05).

Diversos estudos das patogenias apontam similaridades em relação ao


entendimento do processo de gênese e desenvolvimento da fibromialgia. Um consenso
entre os autores é que se deve investigar a pertinência do conceito de deficiência,
referindo-se a um padrão crônico no qual o paciente convive com a dor e a doença há
tempos. A deficiência do Qi tem essa característica de cronicidade, e o paciente apresenta
sintomas de cansaço e enfraquecimento geral da voz e dos movimentos (cf. ROSS, 1985,
p. 46-47; MACIOCIA, 1996, p. 570; YVERDON, 2014, p. 47).

Em relação ao conjunto de sintomas mais comuns nos pacientes com diagnóstico


de fibromialgia, além de uma deficiência geral de Qi, pode-se identificar o predomínio de
frio, vento e umidade nos territórios tendinomusculares. Energeticamente, tais alterações

6
De forma geral, os tender points utilizados para o diagnóstico da fibromialgia correspondem a acupontos
importantes nos sistemas energéticos. Na inserção do suboccipital se encontra o ponto VB 20, que é um
dos “pontos do vento”. Na face anterior dos espaços intervertebrais da C5 e C7, na margem posterior ao
esternocleidomastóideo se encontram respectivamente o ID16 e o IG17 (FOCKS e MÄRZ, 2008, p. 114;
224). No ponto médio da porção superior do trapézio, na altura da C7 e na largura da extremidade do
acrômio, se encontra o VB21, ponto regulador do Yang (Yang Wei Mai), que regula o Qi, o TA e o
Estômago (idem, ibidem, p. 395). Na extremidade medial da fossa supra espinhal, encontra-se o ID13,
ponto que “torna permeável o canal de energia”, sendo importante no tratamento de dores na região medial
da escápula, ombro, cervical e região superior da torácica. Este ponto é doloroso à palpação na maioria das
pessoas. No músculo supra espinhal, na porção central da fossa espinhal, encontra-se o ID12, ponto que
elimina o vento e torna os meridianos de passagem (Luo Mai) permeáveis. É também o ponto de conexão
entre os meridianos da Vesícula Biliar, Triplo Aquecedor e Intestino Grosso (idem, ibidem, p. 220-221).
No segundo espaço intercostal, na linha médio clavicular, está localizado o R25, ponto que regula o Qi do
pulmão e abre o tórax, sendo empregado frequentemente quando os rins se encontram insuficientes. Este
ponto é conhecido como Chong Mai, ou Vaso Vital (idem, ibidem, p. 327). Na depressão entre a
extremidade da prega do cotovelo e o epicôndilo lateral do úmero, na região do extensor radial longo do
carpo, situa-se o IG11. Este ponto, denominado Ponto da Terra (He), ponto do Espírito ou Estrela do céu,
é um ponto importante para o tratamento de várias questões que atingem a extremidade superior do corpo.
Normalmente é dolorido à palpação, é um ponto de permeabilidade dos canais energéticos e tem ação sobre
o vento, a umidade e o fogo (idem, ibidem, p. 108). Situado no limite entre o terço médio e o lateral, entre
o hiato sacral e a proeminência do trocânter maior, o ponto VB30 é um ponto de passagem (Luo) e tem
ação sobre as dores na região do quadril e pernas, além de intervir na umidade e no vento. É o ponto de
partida do meridiano colateral da Vesícula Biliar e interage com toda a articulação da pelve e quadril (idem,
ibidem, p. 404). No quadrante supero-externo da nádega, na altura do forame sacral IV, localiza-se o Ponto
Extra Tunzhong – Ex-B, que torna permeáveis os canais de energia e Luo, atuando na atenuação da dor
lombar, irradiante não radicular e radicular nas costas (idem, ibidem, p. 540). Por fim, numa depressão do
vasto medial, próximo à margem medial superior da patela, situa-se o BP 10. Este é um dos pontos mais
importantes na regulação do sangue e também é utilizado como ponto local para o tratamento de dores no
joelho. Diretamente proximal à extremidade medial da prega do joelho, numa depressão anterior aos
tendões dos músculos semimembranoso e semitendinoso, localiza-se o Ponto F8 ou ponto Água, já que
nutre o sangue e o Yin, elimina a umidade e o calor do TA, beneficia as genitálias e o útero, além de ser
interessante para o tratamento de problemas no joelho (idem, ibidem, p. 181; p. 429). Como se pode
observar, os pontos dolorosos relacionam-se diretamente com energias externas e proteção dos sistemas, e
frequentemente, são pontos de confluência energética.
68

precipitam uma insuficiência na energia do fígado, provocando um déficit geral de


energia e sangue no organismo, que facilita o avanço de outras energias externas e a
sintomatologia de dores crônicas e esgotamento (enfermidades de vazio e frio),
preponderando o Yin (cf. AAVV, 2013, p. 01-02; MACIOCIA, 1996, p. 569; YVERDON,
2014, p. 43).

A hipótese de Maciocia é que o avanço das energias perversas gera uma


estagnação do Qi e do sangue, produzindo uma síndrome de obstrução dolorosa (Bi Tong).
Em sua análise, esta é “provavelmente a mais universal de todas as doenças, afetando
praticamente todos os indivíduos em algum momento da vida, em todas as partes do
mundo” (1996, p. 569). Para construir este argumento, o autor se apoia em referências
clássicas de manifestações sintomáticas similares, destacando-se os estudos de Lin Pei
Qin, que em 1839 escreveu o volume “Estratégias de tratamento para síndromes diversas”
(Lei Zheng Zhi Cai), definindo a síndrome da obstrução dolorosa:

A síndrome da obstrução dolorosa é proveniente da deficiência do Qi de


Nutrição e de defesa e devido ao espaço entre a pele e os músculos estar aberto
permitindo, portanto, que o vento-frio-umidade penetrem na deficiência. O Qi
se torna obstruído pelos fatores patogênicos, não podendo circular, se estagna,
o Qi e o sangue se congelam (Apud MACIOCIA, 1996, p. 570).

Tal quadro é uma “aflição isolada dos meridianos”. Entretanto, nos quadros
crônicos e nas pessoas idosas, os fatores internos (deficiências de Qi e sangue) se tornam
determinantes no desenvolvimento da doença. Neste processo, as articulações são os loci
onde prioritariamente se estagnam energias, e nestas regiões a invasão de fatores
patogênicos é mais fácil. O espaço entre a pele e os músculos, denominado de Cou Li,
constitui-se no espaço onde o Qi de defesa se move, protegendo o corpo dos fatores
patogênicos. No caso em questão, a deficiência de Qi permite que o espaço se abra,
ficando desprotegido e propenso às agressões externas (idem, ibidem, p. 571).

Além das agressões provocadas pela exposição desprotegida às adversidades do


clima, acidentes pessoais ou doenças pré-existentes também podem precipitar a obstrução
dolorosa dos meridianos, ainda que o indivíduo pareça recuperado. Tal fenômeno é
denominado “fator patogênico residual”, significativamente presente no desenvolvimento
da síndrome. Questões de ordem emocional são fatores que produzem a contingência das
energias, pois sentimentos como tristeza, pesar e trauma geram má nutrição aos
meridianos. Certos tipos de atividades repetitivas, trabalhos ou esforço físico e psíquico
69

também podem predispor os indivíduos ao desenvolvimento da síndrome da obstrução


dolorosa, na medida em que causam estagnação do sangue e do Qi, e propiciam o avanço
de agentes patogênicos externos (idem, ibidem, 571-572).

A classificação é apresentada segundo o agente etiológico dominante e tipo de


desenvolvimento da patologia. Na síndrome de obstrução dolorosa tipo vento ou móvel,
há a limitação do movimento e das articulações, o pulso é flutuante e rápido quando os
casos estão agudos. Quando provocada por umidade, também chamada tipo fixa, há
manifestação de dor, sensibilidade e inchaço nos músculos e nas articulações. A dor é
fixa e agravada por clima úmido. Quando causada pelo frio, a síndrome se caracteriza por
dor severa em determinados músculos ou articulações, geralmente unilaterais. Nestes
casos, são denominadas de tipo contínuo e localizado. Quando o fator patogênico se
transforma em calor interno, ocorre vermelhidão, inchaço articular, limitação do
movimento e dor severa. Nos casos agudos há febre e sede. Os casos crônicos persistentes
geram retenção dos fluidos corpóreos, que se transformam em mucosidade e obstruem os
meridianos e as articulações. A síndrome se torna interna, afetando também os órgãos e
vísceras. A síndrome torna-se óssea, e gera estase de sangue, e consequentemente,
rigidez, deficiência do fígado e dos rins (idem, ibidem, p. 573- 574).

O tratamento consiste em expelir os fatores patogênicos e eliminar a estagnação


resultante de Qi e sangue nos meridianos. Nos quadros crônicos, há necessidade de tratar
também os órgãos internos. Todo o texto é explicado de acordo com os elementos. Como
princípio geral, deve-se “expelir o Vento, dispersar o Frio, eliminar a Umidade e ainda
nutrir o sangue” (idem, ibidem, p. 574). Nas síndromes de obstrução dolorosa de tipo
Vento, tratar o sangue [Fígado]. Naquelas com predominância de frio, “dispersar o Frio,
expelir o Vento e secar a Umidade, e ainda tonificar o Fogo [Yang do Rim]. Se o calor se
move, o Frio vai, a circulação correta remove a dor” (idem, ibidem, p. 575). Para os casos
de obstrução dolorosa do tipo umidade, deve-se “secar a Umidade e secundariamente
expelir o Vento e dispersar o Frio, e ainda tonificar o Baço/Pâncreas. Se a Terra é forte,
a Umidade vai, se o Qi é forte, não há formigamento” (idem, ibidem, p. 575).

Por esta lógica, a proposta seria beneficiar os Rins e fortalecer o Vaso Governador,
pois o Qi de defesa é de natureza Yang e tem sua raiz Yang no Rim e no Vaso Governador.
O fígado nutre os tendões e o Rim, os ossos. Quando os fatores patogênicos atravessam
o corpo, Rins e Fígado ficam sobrecarregados e a nutrição destes elementos corporais é
esgotada, o Yang do Rim não consegue evaporar energia e formar o fluido sinovial,
70

enfraquecendo o Qi de defesa. O “benefício do Rim”, neste caso, é a nutrição do sangue


do fígado e da essência do Rim, o fortalecimento do Yang do Rim e do Vaso Governador.
O fortalecimento do Vaso Governador é baseado na abertura com o Vaso Maravilhoso
ID3- B62 e na tonificação com agulha ou moxa ao longo do VG, especialmente no VG4,
VG12 e VG14. A combinação específica de VC4 e VG14 com moxa promove o
aquecimento do Yang do VG (idem, ibidem, p 574-575).

Como princípio geral para o tratamento da síndrome, Maciocia sugere que a


escolha seja feita com base em cinco grupos de pontos (distais, locais ou Ashi, adjacentes,
de acordo com o padrão e pontos gerais).

Os pontos distais são pontos localizados nas extremidades do corpo. Também são
chamados pontos antigos, Su ou Shu. São utilizados com base na reflexologia e aplicados
aos meridianos da mesma polaridade, devendo ser utilizados contralateralmente de
acordo com a correspondência articular reflexa, por exemplo ombro e quadril, cotovelo e
joelho, pulso e tornozelo etc.

Segundo o autor, os principais pontos distais para o tratamento da síndrome são


P7, IG4, E40, BP5, C5, ID3, B60, R4, CS6, TR5, VB41 e F5. De acordo com a área
envolvida, os pontos são divididos em: pescoço (VB39, TA5, TA8, B60 e
secundariamente, E40 e R4); ombro (TA5, IG4, P7, TR1, IG1, E38, B58); cotovelo (IG4,
TR5, IG1); pulso (E36, BP5 e VB40); parte inferior das costas (pontos gerais – B40, B60,
B59 e B62) sacro B40 e B58; quadril VB41 e B62; joelho BP5 e ID5; dedos dos pés IG4
(cf. MACIOCIA, 1996, p. 575-577).

Os pontos locais são localizados a partir da pressão dolorosa e devem ser


puncturados preferencialmente nos meridianos. São os pontos Ashi, com efeito de
sedação tópica. Na região do pescoço – B10 e VB20; ombro – IG15, TR14 e Jianneiling
(ponto extra); pulso – TA4, IG5, ID5, ID4 e CS7; dedos das mãos TA3, ID3 e Baixie
(pontos extras); parte inferior das costas – B23, B26, B25, B24, VG3 e Shiqihuixia (ponto
extra); sacro – B32, B27 e B28; quadril – VB30, VB29; joelho – Xiyan (ponto extra), E
36, BP9, F7, F8, R10, VB34, B40, BP10; tornozelo – BP5, VB40, E41, B60; dedos dos
pés – BP3 e Bafeng (ponto extra).

Os pontos adjacentes teriam ação de acordo com a área, pelo trajeto dos
meridianos. Para a região do pescoço – VB 21, VG14 e B11; ombro – ID9, ID10, ID11,
ID12, ID13, ID14, ID15, TR13, TR15, VB21, IG14; cotovelo – ID13, IG10, IG14; pulso
71

– TR5, P7; dedos das mãos – TR5; sacro – B23; quadril – VB41; Joelho – BP10, E34;
tornozelo – R7, VB34, E36; dedos dos pés – BP4, E41, VB34 e BP9 (cf. idem, ibidem,
p. 577).

Os pontos de acordo com o padrão variam em função do diagnóstico, da


sintomatologia e do pulso. Quando identificada síndrome de obstrução dolorosa de tipo
vento, os pontos são B12, VB31, VB39, VG14 e TR6 para expelir o vento. Em acréscimo,
os pontos B17 e B18 têm ação de nutrir o sangue. Nos casos agudos, deve-se utilizar a
sedação e nos crônicos, apenas a agulha inserida na direção do fluxo do meridiano (idem,
ibidem, p. 577-578). No livro Compendium of Acupuncture, há a sugestão dos pontos P5
e VB38 para estes casos (AAVV, s/d, p. 1601).

Quando identificada a síndrome de tipo Frio, utilizar agulha e moxa para tonificar
os pontos E36, VC6, B10, VG14, VG3, B23 e VC4. No Compendium, os pontos sugeridos
são IG11, P7, VB30, VB31, B40, BP5, F4 e VB41.

A síndrome de tipo Umidade deve ser tratada a partir dos pontos BP9, BP6, VB34,
E36, em sedação nos casos agudos e neutro nos casos crônicos. O ponto B20 deve ser
tonificado com agulha ou moxa. As articulações edemasiadas podem ser sangradas e
aplicadas moxas em varredura. No Compendium, há sugestão diferencial do ponto B17
em punctura neutra para os casos de Umidade.

Quando identificada a síndrome de obstrução dolorosa de tipo Calor, devem ser


puncturados os pontos E43, IG4, IG11, VG14, em sedação nos casos agudos e neutro nos
casos crônicos. Não é recomendado utilizar moxa, especialmente no ponto VG14, que
clareia o calor (MACIOCIA, 1996, p. 578).

Na síndrome de tipo óssea, os pontos devem ser selecionados pelos aspectos


dominantes e acrescentados B11 e VB39 em punctura neutra. Os quadros crônicos devem
ser classificados por deficiências padrão e então tratados especificamente. O ponto geral
de tratamento para o vento é o B17, para o frio, o VG14 com moxa e B23 em tonificação,
e para umidade, BP20 em tonificação. Além destes, há a indicação de pontos que
impedem o desenvolvimento da síndrome ou sua generalização e cronicidade: IG11, E36,
B43 e B23, tratados com cones de moxa direta, especialmente durante o verão.

Nos casos de deficiência do Qi e do Sangue, os pontos E36, VC4, F8, B20 e B23
devem ser tonificados. Nos casos de mucosidade articular, os pontos E40, BP9, BP6, VC9
72

devem ser puncturados de forma neutra ou sedados e os pontos VC12 e B20 devem ser
tonificados. Nos casos de estase de sangue, os pontos BP10, B17, CS6, BP6, IG11 devem
ser sedados. Nos casos de deficiência do Fígado e dos Rins, os pontos F8, R3, BP6, VB39,
B18, B23, VC4, B11, VB34 e E36 devem ser tonificados (idem, ibidem, p. 578-579; p.
653).

Há um imperativo lógico que pressupõe a adoção de uma dieta adequada para


recuperação hepática e melhora da saúde em geral. Maciocia recomenda ainda o uso de
ervas medicinais, prescritas e preparadas individualmente (1996, p. 860 e segs). O
tratamento oriental compreende uma abordagem etiológica da enfermidade, o tratamento
sintomático e o profilático. Sinteticamente, o tratamento etiológico deve dispersar o frio,
a umidade e o vento, tratar os territórios tendinomusculares envolvidos nas dores,
tonificar a energia do fígado e tonificar o Qi do organismo.

O tratamento sintomático deve se dirigir especificamente aos sintomas de maior


intensidade, afim de promover alívio para as dores. Este tem como finalidade eliminar a
dor, a fadiga e melhorar o anima da pessoa, regular o sono e a ansiedade, devendo ser
realizado a partir dos pontos tendinomusculares ou Ashi, onde se recomenda a utilização
de moxa. Também existem aqui ‘combinados de pontos’ com efeitos particularmente
relevantes. De forma geral, as síndromes de esgotamento respondem bem à combinação
de VG20, VC14, CS6, BP4, E36 e R3 em tonificação, mas os pontos devem ser
selecionados para satisfazer as necessidades específicas de cada indivíduo,
fundamentando-se “na compreensão detalhada do tipo de personalidade e problemas de
vida, abrangendo um equilíbrio entre empirismo, análise e intuição” (ROSS, 2003, p. 479;
p. 04).

O tratamento profilático evita o ressurgimento dos sintomas e permite o equilíbrio


energético. É a ideia fundamental do tratamento com acupuntura, não adoecer. No caso
da fibromialgia, a prevenção é feita com o reforço da energia defensiva e a tonificação
geral do organismo especialmente na interestação, e a adoção de uma alimentação
equilibrada no quotidiano.
73

III. ACUPUNTURA E FIBROMIALGIA NA LITERATURA ESPECIALIZADA

Neste capítulo, pretende-se apresentar os achados da revisão sistemática, a partir


dos trabalhos realizados pelos acupunturistas. Como as temáticas são diversas, optou-se
por ordená-las não temporalmente, mas segundo as discussões que os textos travam em
torno da afirmação da acupuntura como campo de saberes e práticas eficaz para o
tratamento de pacientes com fibromialgia.

Num primeiro momento, busca-se evidenciar textos que apresentam a acupuntura


como forma de tratamento válida para os pacientes com fibromialgia. São estudos clínicos
organizados em diferentes países, que desenvolvem testes em torno de protocolos-padrão
para a diminuição dos sintomas. Em geral, os trabalhos apresentam resultados positivos
na melhora da dor, do sono, da capacidade funcional, de aspectos emocionais e psíquicos,
além de reduzir o índice de incidências de comorbidades frequentemente associadas à
emergência da doença (WU et al, 2017; VAS et al, 2011).

No segundo tópico, objetiva-se a discussão da acupuntura como um método


tradicional, cujas premissas de diagnóstico já foram apresentadas anteriormente. A
questão fundamental é se a punctura placebo (Sham) poderia desencadear respostas
biológicas similares às da acupuntura, provocando a neuromodulação do sistema nervoso
sensitivo e produzindo alterações fisiológicas indistinguíveis dos pontos clássicos. Em
outras palavras, se acupuntura e punção aleatória seriam a mesma coisa. Nos anos
anteriores, estudiosos não teriam encontrado diferenças significativas entre a acupuntura
clássica e a versão placebo (cf. SANCHES et al, 2004; ASSEFI et al, 2005).

Os autores estudados analisaram a validade do método com técnicas diferentes de


procedimento placebo, testando a punção superficial (replicação da técnica realizada por
Assefi) à esquerda dos pontos ou a sensação de punção, e em ambos os casos, a tese de
que a acupuntura clássica produz efeitos controlados e superiores em relação ao placebo
é retomada no debate (cf. STIVAL et al, 2014; UĞURLU et al, 2017). Ainda neste item,
dois estudos que contribuem para a discussão do método terapêutico tradicional são
apresentados, Stanislao et al (2015) discutem a premência da utilização do Vaso
Maravilhoso como abertura e fechamento dos tratamentos e o Cao et al (2014) apresentam
similitudes na resposta fisiológica e subjetiva a partir utilização de técnicas diferentes
(agulha ou ventosa) do método terapêutico dos acupontos.
74

Por fim, apresenta-se as inovações promovidas pelos estudiosos em relação aos


usos da acupuntura no tratamento de pacientes com fibromialgia. Na tese Tratamento da
dor na fibromialgia com acupuntura, Araújo faz um estudo longitudinal, analisando os
impactos da acupuntura num arco temporal de dois anos. Enfatiza os benefícios e as
limitações dos efeitos da acupuntura, bem como do tratamento padrão nestes processos
(ARAÚJO, 2007). Articulações entre a acupuntura e outras terapêuticas alternativas vêm
à tona com o trabalho de Stall et al (2015) que analisam a eficácia da combinação da
técnica com o método Rolfing7 de integração estrutural. A oposição entre a terapêutica
tradicional e a alopatia é experimentada por Handifard e Parizi (2012), que avaliam
pacientes submetidos à acupuntura em comparação aqueles submetidos ao tratamento
com fluoxetina, demonstrando uma superioridade do primeiro em relação ao segundo
método de tratamento. Takigushi et al (2008) e Bastos et al (2013) apresentam efeitos do
agulhamento nos pontos Ashi, evidenciando os benefícios da punctura destes para o alívio
imediato da dor.

III.1. Acupuntura como tratamento

A validade da acupuntura como tratamento da fibromialgia é uma questão em


aberto. Conforme explicado anteriormente, a Sociedade Brasileira de Reumatologia
apresenta, no Consenso brasileiro sobre o tratamento da fibromialgia, diretrizes em
relação ao diagnóstico e tratamento que não recomendam a acupuntura, apesar do nível
C de evidência clínica de sua eficácia (cf. HEYMANN, 2010). Em relação a este tema,
um conjunto de trabalhos experimentais amplia as evidências da eficácia da acupuntura
no alívio da dor e na redução de sintomas tais como depressão, fadiga, rigidez matinal,
entre outros.

7
De acordo com o site oficial, “o Método Rolfing de Integração Estrutural é um sistema de reorganização
da estrutura corporal humana, criado pela bioquímica norte-americana dra. Ida Rolf. Tem como objetivo
alinhar e equilibrar o corpo em relação a seu eixo vertical, tendo como referência sua relação com a força
de gravidade e, como fundamento, as propriedades físico-químicas do tecido conjuntivo. Propõe uma
organização corporal mais bem equilibrada do organismo como meio de lidar com conflitos físicos e
emocionais: uma pessoa com o corpo mais bem alinhado e equilibrado simplesmente vive melhor, com
menos estresse e mais energia. Dores crônicas da coluna e articulações, tendinites, artrites e artroses,
cervicalgias, lombalgias, ciatalgias, fasciítes e fibromialgias, bem como suas manifestações emocionais
associadas, compõem sintomas que encontram na reorganização da estrutura corporal a pré-condição
necessária para uma solução global e duradoura” (Cf. http://www.metodorolf.com/).
75

O trabalho de Wu e seus colaboradores utiliza um conjunto de dados empíricos


seguro e controlado, referentes ao Banco de Dados de Pesquisa de Seguro Nacional de
Saúde de Taiwan (WU et al, 2017). Analisa um conjunto extenso de dados (referentes a
58.899 pacientes) e apresenta estatisticamente a relação entre a acupuntura e o percentual
de diversas comorbidades, explorando especialmente a relação entre a acupuntura e as
doenças cardíacas.

Usando dados oficiais dos atendimentos prestados pelo Seguro Nacional de Saúde
de Taiwan, os autores realizaram uma propensão com pontuações (modelo de regressão
de Cox) para analisar os índices de doenças cardíacas nos pacientes com fibromialgia que
receberam acupuntura em comparação ao grupo com o mesmo diagnóstico que não foi
submetido a esta modalidade terapêutica (WU et al, 2017).

Os pacientes do coorte com acupuntura foram submetidos a um tratamento


combinado com punctura manual dos pontos B41, B42, B45, B46, B80-84, B90-B94,
P27041, P31103, P32103 e P330318 e eletroacupuntura, nos pontos B43, B44, B86-89 e
P33032. A combinação de punctura manual e moxabustão foi especialmente indicada
para alguns casos.

As características foram semelhantes em ambas as coortes, em relação ao número


de pacientes, idade, sexo, medicação e comorbidades relacionadas. A incidência
cumulativa de doenças cardíacas foi significativamente menor na coorte de acupuntura.
No período de seguimento, 4389 pacientes na coorte de acupuntura (1,744%) e 8133
pacientes na coorte sem acupuntura (3,836%) desenvolveram cardiopatias. Considerou-
se que a acupuntura tem efeito benéfico na diminuição da incidência de doenças cardíacas
independentemente da idade, sexo, comorbidades e medicamentos utilizados.

Além das doenças cardíacas, os autores apresentam um quadro com as principais


comorbidades associadas à fibromialgia, revelando seu comportamento no decorrer do
tratamento com acupuntura. Primeiramente, em relação às cardiopatias, observa-se uma
redução na incidência das mesmas sobre os pacientes que receberam acupuntura. A
hipertensão foi apresentada em 21,15% dos pacientes sem acupuntura e em 20,43% dos
pacientes submetidos às sessões. A hiperlipidemia esteve presente nos exames de 17,14%
dos pacientes do grupo sem acupuntura e em 17,04% dos pacientes que fizeram
tratamento com acupuntura. Da mesma forma, as falências congestivas do coração,

8
A nomenclatura original dos pontos foi mantida por não ser correspondente às traduções disponíveis.
76

estiveram presentes em 0,97% dos casos de pacientes com fibromialgia sem o tratamento
de acupuntura e em 0,86% dos casos com acupuntura (WU et al, 2017, p. 02-03).

Em relação a outras doenças relacionadas, o perfil de diminuição da incidência é


semelhante: com diabetes mellitus, os pacientes do grupo submetido às sessões de
acupuntura somavam 6098, ou seja, 10,35% enquanto os pacientes sem acupuntura, 6252,
que corresponde à 10,61%. A depressão e a obesidade também parecem decrescer a partir
do tratamento com acupuntura, somando 4,86% e 0,75% nos pacientes sem o tratamento
e 4,82% e 0,72% nos pacientes submetidos às sessões (WU et al, 2017, p. 04).

Além do tratamento indicado como base para atenuação das dores, os dados da
pesquisa revelam que a acupuntura tem uma eficácia estatisticamente válida na
diminuição da incidência de comorbidades relacionadas à fibromialgia.

Na perspectiva de avaliar a efetividade do tratamento individualizado com


acupuntura em pacientes com fibromialgia, Vas e seus colaboradores desenharam um
estudo randomizado com 156 voluntários, para testar um protocolo e analisar as
condições clínicas e subjetivas dos efeitos no que diz respeito à intensidade da dor,
relações familiares, aspectos psicológicos, qualidade de vida, duração da inaptidão para
o trabalho, diminuição do consumo de antidepressivos, analgésicos e anti-inflamatórios,
efeitos potenciais em outros aspectos da prognose (VAS et al, 2011, p. 01).

Foi utilizado um protocolo padrão de reequilíbrio energético e pontos sintomáticos


específicos utilizando um algoritmo estabelecido com base nas características pessoais de
cada paciente, conforme identificadas na anamnese terapêutica. Os grupos foram
avaliados 10 semanas e 6 meses depois do tratamento pelo questionário de impacto da
fibromialgia (FIQ),9 pela escala visual analógica de dor (VAS)10, pela reabilitação ao
trabalho, pela adoção de outras técnicas terapêuticas a posteriori, informação do consumo
de antidepressivos, analgésicos e anti-inflamatórios, descrição das relações sócio
familiares, escala SF -12 de qualidade de vida e custo-benefício do tratamento com
acupuntura (idem, ibidem, p. 3-4).

9
O questionário de Impacto de Fibromialgia – FIQ é um instrumental de avaliação das condições dos
pacientes, organizado pela Sociedade Americana de Reumatologia. No Brasil, uma validação adaptada às
condições de vida e limiar de dor foi produzida por Marques et al (2006).
10
A Escala Visual Analógica – VAS é uma reta de 10 cm de comprimento desprovida de números com as
indicações ‘ausência de dor’ e ‘dor insuportável’ nos extremos. Os pacientes indicam onde, de 0 a 10, está
a dor que sente.
77

Foram utilizados os pontos de reequilíbrio energético IG4 (sedação), CS6


(sedação) BP6 (tonificação), F3 (sedação), B18 (sedação), B20 (tonificação), VB 34
(punctura). As agulhas foram mantidas por 20 minutos e rotacionadas para a direita ou
esquerda (de acordo com o protocolo específico de tonificação ou sedação) a cada 5
minutos, totalizando quatro rotações por sessão. Além deste protocolo básico, foram
adicionados pontos sintomáticos em cada caso.

Para casos de deficiência Yin e plenitude de coração, foi adicionado o R6 e B23.


Para os casos de deficiência Yang dos Rins e do Baço-Pâncreas, foram adicionados os
pontos E36 e B 23. Para casos de polaridade Yang e deficiência de Fígado, foi adicionado
o ponto VC 6 e B52. Para casos cujo diagnóstico apontava deficiência ou fogo interno
estagnado, os pontos F3 e B18 do protocolo de base foram substituídos pelo F2. Com
percepção de fleuma, foram adicionados os pontos E40, VC12 e B21.

Quando o diagnóstico apontava para ataque de calor e umidade, foram


adicionados os pontos E9 e IG11. Nestes casos, os órgãos foram diferenciados e quando
o excesso de calor/umidade estava na região do Estômago ou dos intestinos, foram
adicionados os pontos E25 e B25 ou B21; estando na Bexiga, foram incluídos os pontos
VC 3 e B28. Sendo na região genital, os pontos foram VC 2 e B31. Para um caso de
sintoma de prurido, foi adicionado o ponto F5.

Os casos de estase de Sangue foram tratados com a adição dos pontos E10 e B17.
Outras queixas percebidas ou relatadas foram tratadas com pontos especificamente
sintomáticos: para ansiedade, foi adicionado o Yintang; para depressão, o VG20; para
astenia severa, o E36; para insônia, o C7; para irritabilidade, o CS6. Em casos de inibição
da libido, foi adicionado o VG4; casos de incontinência urinária, foram tratados com o
B52; casos de diarreias, com o BP9. Para os suores noturnos, foi adicionado o C6.

Os ataques de dores também foram especificados. Nos casos onde havia queixa
de dores severas e generalizadas, foi utilizado o BP21. Quando a queixa se referia à dor
de cabeça occipital, foi puncturado o VB20. Nos casos de dor de cabeça temporoparietal,
foi utilizado o Taiyang (bilateral); quando foi relatada a presença de dor no pescoço,
foram utilizados os pontos VB20 e VB21. Quando a queixa era referente à dor nas costas,
o ponto ID12 foi puncturado. Nos casos de braquialgia, foi utilizado o IG10, e as
lombalgias foram tratadas com os pontos B23 e B25. A dor nos quadris ou trocânteres foi
tratada com a adição dos pontos VB 29 e VB 30.
78

Foi demonstrado que o protocolo tem uma força clínica básica e flexibilidade
suficiente para responder a sintomatizações diversas. Apesar disso, considera-se que a
acupuntura tradicional deva ser uma prática clínica individualizada. O padrão deve ser
um modelo para teste, e não necessariamente pode ser replicado em quaisquer
circunstâncias. Os efeitos obtidos foram inferiores aos esperados no padrão de prática
clínica individual, embora os algoritmos possam auxiliar nas manifestações clínicas mais
comuns (idem, ibidem, p. 8-9).

III.2. Acupuntura como método

Conforme se observa, a polêmica em torno da eficácia da acupuntura ainda é uma


discussão controversa. Sanchez et al (2004), baseando-se em seis textos indexados e
Assefi et al (2005), baseando-se em testes randomizados chegaram à conclusão que a
acupuntura não seria superior ao tratamento simulado no que diz respeito ao alívio da dor.
Os trabalhos de Stival et al (2014), Uğurlu et al (2017) agora recolocam questões sobre a
validade da terapêutica tradicional em relação à punctura aleatória (cf. STIVAL, 2014, p.
433-434).

Stival e seus colaboradores buscaram avaliar a eficácia da acupuntura


especialmente no que diz respeito à resposta imediata de melhoria da dor. Foram
selecionados 36 pacientes, randomizados em dois grupos: o primeiro, recebeu acupuntura
tradicional, e o segundo, um procedimento placebo (acupuntura sham). Os indivíduos
responderam à Escala Visual Analógica (VAS) antes e depois do procedimento. O grupo
de tratamento respondeu positivamente à diminuição da dor, com efeito considerável
(94,8%) (cf. STIVAL et al, 2014).

Os pacientes do grupo de teste foram submetidos à punctura bilateral dos pontos


PC6, C7, BP6, IG4, F2, E36. Foram utilizadas as agulhas de 0,20 x 40 mm, com inserção
perpendicular. No grupo placebo, foram utilizadas agulhas de 0,18 x 8 mm para estimular
superficialmente pontos 15mm à esquerda dos pontos verdadeiros. Em ambos os grupos,
a sessão teve duração de 20 minutos (STIVAL et al, 2014, p. 433).

Ambos os grupos apresentaram melhoras da dor na escala visual analógica após a


intervenção. Ocorre que no grupo teste, a variação entre a dor inicial e final foi bastante
significativa (1,13 pontos) e no grupo controle a variação não atinge o limiar de
79

significância estatística (0,25 pontos, p=0,06). A intervenção simulada teve um efeito


médio, e a acupuntura tradicional resultou num efeito grande, o que corrobora para a ideia
de que esta é superior no que diz respeito ao tratamento efetivo da dor.

Uğurlu e seus colaboradores também compararam a eficácia da acupuntura real


em relação à falsa acupuntura (acupuntura simulada ou sham) no tratamento de pacientes
com fibromialgia. Para isso, foram selecionadas 50 mulheres com este diagnóstico,
randomizadas em dois grupos. Ambos os grupos foram submetidos a 12 sessões, sendo
que o primeiro, recebeu a acupuntura verdadeira e o segundo, a simulada.

Para o primeiro grupo, foram utilizadas as agulhas 0,25 x 40mm por 30 minutos,
puncturadas subcutaneamente entre 10 e 30 mm. nos pontos IG4, E36, F3, VB41, VB34,
VB20, ID3, ID4, B62, B10, BP6, C7, VG20, VG14, R27, VC7, CS6. Para o segundo
grupo, foram utilizados dispositivos não penetrantes (agulha retrátil e uma cânula pré-
cortada e fixada por uma almofada). Quando pressionada, ela se desloca e induz uma
sensação de picada (UĞURLU et al, 2017, p. 32-33).

Foram avaliados os resultados sobre a dor ao longo do dia, durante as atividades


da vida diária e à noite (em escala visual analógica - VAS), em relação ao impacto da
doença sobre as condições de vida (através do questionário de impacto da fibromialgia -
FIQ), o nível de depressão (através da escala de depressão - BDI), o nível de fadiga
(através da escala de severidade da fadiga - FSS) um mês e dois meses após a primeira
sessão. Nenhuma das sessões produziu eventos adversos e a acupuntura verdadeira trouxe
efeitos adicionais de 1,08 pontos no primeiro mês e em 2,52 pontos em comparação com
a simulada em relação à melhora na dor, e resultados similares em relação à fadiga,
depressão e qualidade de vida. Os efeitos da acupuntura foram longitudinalmente mais
significativos e puderam ser percebidos por mais tempo (idem, ibidem, p. 34-37).

Em uma linha de pensamento paralela a esta apresentada acima, estudos recentes


procuram indicar não apenas a acupuntura em si, mas o método da Medicina Tradicional
Chinesa como eficaz para o tratamento de pessoas com fibromialgia. Aqui toma-se dois
estudos, de Stanislao et al (2015), que recuperam a premissa terapêutica dos Vasos
Maravilhosos para abertura e fechamento do tratamento e Cao et al (2014), que testam o
método chinês para a terapêutica, analisando os resultados com a aplicação de agulhas
(acupuntura) ou vácuos (ventosaterapia) nos acupontos.
80

O trabalho de Stanislao et al é um estudo de protocolo que pretende conjugar o


condicionamento corporal e o movimento às questões físico-energéticas que sustentam o
estado mental dos pacientes com fibromialgia. A proposta é recuperar uma “relação
ontogenética” entre as estruturas musculares e os meridianos extraordinários (Qi Mai)
(CF. STANISLAO et al, 2015, p. 02).

O essencial aqui é a escolha do Vaso Maravilhoso, que é uma combinação de


início e finalização do tratamento com pontos determinados, que produzem “efeitos
análogos e poderosos sobre a própria energia e suas manifestações nervosas e motrizes”
(CORDEIRO e CORDEIRO, 2001, p. 25). O VB41 – TR5 é um vaso distribuidor nervoso
e motor, que tem ação Yang em toda a região do core. Acredita-se que esta combinação
para abrir e fechar a acupuntura pode mobilizar a energia ancestral do rim para diferentes
partes do corpo, recebendo as energias nutridoras (Iong) e defensivas (Oe). O ponto VB41
tem ação sobre os vazios e insuficiências, sendo indicado para reumatismos agudos,
artrite nos calcanhares, edemas nos pulsos, joelhos ou maléolos, paralisia flácida,
tremores ou contraturas nos pés ou nas mãos, dores nas costas, ombros, braços ou
membros inferiores lateralmente. Já o ponto TR5 tem ação sobre os esgotamentos,
expectoração de sangue, dores de cabeça, olhos e ouvidos, edemas no pescoço, nuca,
gânglios, abcessos na boca, dores nos molares inferiores, artrites nos dedos ou artelhos
(cf. CORDEIRO e CORDEIRO, 2001, p. 26-32).

Para o estudo clínico, foram selecionados 16 pacientes diagnosticados com


fibromialgia que apresentavam sintomas de tensão muscular e rancor profundo em
relação a fatos ou pessoas. Foram realizadas duas sessões semanais de 30 minutos durante
6 semanas, utilizando o Vaso Maravilhoso VB41 (Zulingi) e TR5 (Waigan) e no mínimo
5 e no máximo 8 pontos dolorosos (Ashi), bilateralmente (STANISLAO et al, 2015, p.
02).

Os pontos Ashi foram selecionados de acordo com o exame de toque e a resposta


de dor ou hiperssensibilidade. Na região do esternocleidomastoideo, com dor cervical
irradiando, foi puncturado o IG18; com dor occipital irradiando desde o centro da cabeça,
o B9; na face superior do trapézio, dores na nuca ou temporais, os pontos TR15 e VB21;
na região escapular, o ponto extra ao lado da apófise espinhal da VII vértebra cervical.

Na região dos ombros, as dores no elevador da escápula foram tratadas com o


IG15 e B41, quando a dor era na região cervical até a escápula, foi utilizado o ponto extra
81

PN67 (ponto de Roustan)11. No dorso, foram observadas dores infraescapulares, que


foram tratadas com o TR15 (fáscia superior), IG 16 (fáscia média) ou ID11, B43 e 44
(fáscias inferiores). Dores na região do semiespinhoso foram tratadas também com o
ponto PN67. Na região do Latissimo do dorso (grande dorsal), as dores angulares foram
tratadas com o ponto extra GB25 (Jingmen) e na região das costelas, com o ponto B48.

Na região torácica, as dores no peitoral maior ou dores anteriores com irradiação


subclavicular até o braço foram tratadas com o ponto P1 e o ponto extra PN159. Na região
do esterno, foram utilizados os pontos E 15 e 16 e C1. No peitoral menor, as dores na
região do deltoide ou da fossa subclavicular até a borda ântero-medial do braço foram
tratadas pelo ponto gatilho correspondente (trigger point) e P1. Do manúbio esternal até
a face anterior dos ombros, foi utilizado o ponto R24.

Na região lombar, as dores no Ílio costal, desde a parte costal das escápulas até a
fossa ilíaca foram tratadas pelo B49. Do Latissimo do dorso com irradiação para o glúteo,
foi utilizado o ponto B22. Dores lombares e sacrococcígeas com irradiação superior foram
tratadas com os pontos B30, B23 e B27.

Na região glúteo-trocantérica, dores transversais foram tratadas com o ponto extra


PC101 (ZhongKong); dores no ligamento íleo-femural, irradiando até o ânus, face interna
das coxas ou genitália, foram tratadas com o B26 (STANISLAO et al, 2015, p. 3-4).

Foram realizados sete questionários sobre a intensidade da dor, utilizando a escala


visual analógica: um inicialmente, cuja média de dor era de 8,07 pontos e um a cada
semana de tratamento, cujos percentuais médios foram diminuindo respectivamente para
7,05; 7; 6,02; 5,01; 4,01 e 3. Ao longo das seis semanas, observa-se uma diminuição
média de 6,97 mg de consumo diário de Bromazepam e a redução de sintomas de cefaleia,
taquicardia, doenças neurovegetativas, podendo-se concluir que a utilização deste vaso
maravilhoso em combinação com os pontos Ashi ativa o tônus muscular e reduz a
intensidade das crises de fibromialgia, auxiliando nos sintomas psicogênicos associados
(idem, ibidem, p. 06).

O estudo de Cao e seus colaboradores busca aplicar uma modalidade terapêutica


que conjugue acupuntura e ventosaterapia nos casos de fibromialgia. Foi um estudo
parcialmente randomizado, com cem pacientes diagnosticados com fibromialgia. Os

11
A nomenclatura original deste ponto foi mantida, pois não foi encontrada tradução adequada para o
português.
82

participantes foram previamente entrevistados sobre suas preferências no tratamento e


tratados de acordo com estas. Os pacientes sem predileção por nenhuma das modalidades
foram encaminhados aleatoriamente à uma ou outra terapêutica. Foram utilizados os
pontos dolorosos (Ashi) em três sessões semanais por 5 semanas consecutivas e em 12
semanas, os pacientes foram entrevistados sobre sua expectativa e satisfação com o
tratamento e sobre aspectos quantitativos, como intensidade da dor, qualidade de vida e
depressão (Cf. CAO et al, 2014, p. 1).

Diferentes fatores influenciam o sucesso do tratamento, tais como as preferências


dos pacientes, as referências concretas de tratamentos exitosos e as partilhas de
experiências entre os pacientes. O foco do estudo foi a comparação entre os efeitos das
modalidades de ventosaterapia e acupuntura, sob o mesmo método de tratamento baseado
nas premissas da medicina tradicional chinesa.

O estudo foi realizado no Hospital Dongfang, da Faculdade de Medicina Chinesa


da Universidade de Beijing. Como as terapêuticas tradicionais são utilizadas nos hospitais
chineses, os pacientes têm certa familiaridade com o método e de forma geral, conhecem
os efeitos no que diz respeito à melhora da dor.

A intervenção com ventosa foi realizada com varredura nos meridianos da Bexiga
e Vaso Governador, e fixação nos pontos dolorosos (Ashi) por 10 minutos. O vácuo foi
estabelecido por fogo, e variou de acordo com o diâmetro dos copos (de 5,3 a 9 cm). A
intervenção com acupuntura foi realizada com inserção de agulha 25 x 0,40 mm nos
pontos Ashi e manipulação por 15 segundos, em tonificação, sedação ou Qi. Após a
manipulação, as agulhas foram mantidas por 30 minutos (CAO et al, 2014, p. 3).

Em linhas gerais, o estudo ressaltou a importância da adesão e do consentimento


do paciente em relação ao tratamento. Esta disposição preliminar para as condutas do
terapeuta e abertura para as orientações, melhoram a autoestima e a expectativa no
tratamento. Especificamente, o trabalho valida o método terapêutico chinês, apresentando
resultados similares em ambas as modalidades: redução da dor na escala visual analógica,
redução no sintoma de severidade da dor (Diagnóstico da ACR), diminuição dos sintomas
de depressão segundo a escala de depressão Hamilton, aumento da qualidade de vida
segundo a SF-36 (em tradução e adaptação chinesa), índices menores do impacto da
fibromialgia (FIQ, em tradução e adaptação chinesa) (idem, ibidem, p. 4-6).
83

III.3. Inovações na terapêutica da acupuntura

Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, a medicina tradicional não é


um bloco inerte de premissas sem validação científica. Novas pesquisas têm apresentado
limitações da técnica no decurso do tempo, combinações criativas da acupuntura com
outras terapêuticas não medicamentosas, comparações desta com o uso de alopáticos e
até mesmo a amplificação de técnicas ‘modernas’ através do agulhamento dos pontos
Ashi. Em cada caso, fica claro que os acupunturistas estão em busca de responder às
demandas reais dos pacientes, fazendo avançar a teoria – e a prática – da punção de
agulhas num projeto integrado de saúde.

A tese de Rosa Araújo buscou analisar a acupuntura como tratamento de dor nos
casos de fibromialgia. Foram selecionadas 58 mulheres com diagnóstico de fibromialgia
e divididas aleatoriamente em dois grupos. Ambos foram medicados com antidepressivos
tricíclicos, fizeram caminhada e relaxamento duas vezes por semana. Apenas no primeiro
grupo as mulheres foram tratadas com acupuntura. Para as pacientes deste grupo, foram
realizadas duas sessões de 20 minutos por semana, com agulhas de 0,25 x 40 mm. Foram
escolhidos pontos sintomáticos para alívio da dor, ansiedade e depressão: Yin Tang, F3,
IG4, CS6, VB 34, BP6 com angulação perpendicular (exceto para o Yin Tang, 45º) até a
sensação do Qi (ARAÚJO, 2007, p. 37-41).

A dor foi mensurada através da escala visual analógica (VAS), do número de


pontos dolorosos (TPN), Índice Miálgico (IM) e o Questionário SF-36 para análise da
qualidade de vida, considerando capacidade funcional, aspecto físico, dor, estado geral
de saúde, vitalidade, aspecto social, aspecto emocional e saúde mental (ARAÚJO, 2007,
p. 12; p. 35-36).

De acordo com a segunda avaliação, realizada ao final das sessões, a acupuntura


foi mais eficaz que o tratamento padrão (antidepressivos, caminhadas e relaxamento).
Após três meses, o grupo que recebeu acupuntura teve níveis de dor de 5,35 enquanto o
grupo controle teve 7,85, que é estatisticamente bem significante. Ressalta-se que apenas
no grupo tratado com acupuntura houve melhora clínica no Índice Miálgico (IM) e nos
pontos dolorosos (TPN), enquanto no grupo controle não houve alteração significativa do
limiar de dor (idem, ibidem, p. 50; p. 63).
84

Além da dor, houve significativa melhora nos parâmetros do índice miálgico, na


capacidade funcional, vitalidade, aspecto emocional e saúde mental (idem, ibidem, p. 46-
50). Após seis meses de tratamento foi realizada a quarta avaliação, e os benefícios da
acupuntura se mantiveram apenas para os pontos dolorosos (TPN), para o índice miálgico
(IM) e para o estado geral de Saúde (EGS). Após um ano do tratamento, o aspecto físico
do SF-36 foi o único item que mostrou diferença significativa da acupuntura em relação
ao grupo controle. Após dois anos de seguimento, não houve diferença estatística entre
os pacientes da acupuntura e aqueles do grupo de controle (idem, ibidem, p. 50-51).

A autora conclui que é possível que a acupuntura, empregada como parte de um


tratamento integrado, tenha efeitos potencializados em relação ao seu emprego como
único método. A associação da técnica com o tratamento convencional é benéfica por um
período de três meses após o término do tratamento. A acupuntura reduz a intensidade da
dor, o número de pontos dolorosos e o índice miálgico dos pacientes com fibromialgia,
além de melhorar a qualidade de vida no domínio da capacidade funcional, vitalidade,
aspectos social e emocional e na saúde mental (idem, ibidem, p. 71).

Stall e seus colaboradores buscaram verificar a eficácia da combinação entre a


acupuntura e o método Rolfing de integração estrutural, no alívio da dor, dos estados de
ansiedade e depressão e na melhora da qualidade de vida de pacientes com fibromialgia.
Para isso, foram selecionadas 60 pessoas que fazem tratamento no Centro
Multidisciplinar de Dor da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo, e randomizados em três grupos: o primeiro,
submetido a 10 sessões de acupuntura; o segundo realizou 10 sessões de Rolfing e o
terceiro realizou 10 sessões de Rolfing e 10 de acupuntura. Os pacientes mantiveram os
atendimentos ambulatoriais e a medicação de rotina e foram avaliados com o
Questionário de Impacto da Fibromialgia (FIQ), a Escala Verbal Numérica de Dor (VAS)
e os Inventários de Ansiedade (BAI) e de Depressão Beck (BDI) em três momentos
distintos: na primeira, na última sessão e após três meses do término do tratamento
(STALL et al, 2015).

Ambos os tratamentos foram realizados em sessões semanais de 30 minutos. A


acupuntura, os pontos sintomáticos da fibromialgia (B10, IG17, VB21, ID13, R25, IG11,
B53, B36 e BP10) foram associados aos pontos tradicionais do reequilíbrio energético
(individualizados). Foram utilizadas agulhas de 0,25 x 40mm e 0,30 x 40mm até a
sensação do Qi sem estimulação extra. O Rolfing consistiu na liberação miofascial de
85

áreas dolorosas e na reeducação do movimento, com ênfase na liberdade respiratória, na


verticalização do eixo do corpo, marcha contralateral, leveza e fluidez do movimento
(idem, ibidem, p. 97).

A intensidade da dor foi reduzida do fim do tratamento para o questionário


realizado três meses após o término. O grupo tratado apenas com acupuntura apresentou
valores mais elevados nas escalas de ansiedade em relação aos demais grupos, mas os
quesitos da qualidade de vida apresentaram escores estatisticamente maiores, o que
significa menos melhora nos pacientes tratados com acupuntura em relação aos pacientes
tratados com acupuntura e Rolfing.

Nos três grupos houve melhora na intensidade da dor, ansiedade, depressão e


qualidade de vida. Após o término do tratamento, verificou-se certo retorno da
intensidade da dor decorrente das atividades da vida diária, mas os resultados
demonstraram que a acupuntura melhora a intensidade da dor e qualidade de vida pelo
menos três meses após o tratamento. O método Rolfing proporcionou resultados positivos
por enfatizar o toque terapêutico como sensação agradável que contribui para o
relaxamento por pressão reativa, contribuindo para a recuperação do tônus muscular dos
pacientes (idem, ibidem, p. 100). A associação de ambas as terapêuticas se mostrou mais
efetiva que a acupuntura isoladamente nos quesitos de ansiedade e qualidade de vida, e
sem diferenças significativas quando comparadas ao método Rolfing isolado.

A comparação entre os benefícios da acupuntura e da fluoxetina foi o foco do


estudo de Hadianfard e Parizi (2012). Quinze pacientes diagnosticadas com fibromialgia
compuseram cada um dos grupos, randomizados para o tratamento com acupuntura ou
fluoxetina. A escala visual analógica de dor (VAS), o número de tender points sensíveis
ao toque (TPN) e o questionário de impacto da fibromialgia (FIQ) foram utilizados como
parâmetros para análise dos autores.

As pacientes submetidas ao tratamento com acupuntura foram puncturadas em


sessões de 30 minutos, realizadas duas a três vezes por semana. Os pontos selecionados
foram VB36, VB34, R6, BP6, IG4, E44, B40, C7 e VG20. A profundidade de perfuração
foi delimitada pela sensação do Qi sem rotação extra ou estimulação manual após a
inserção das agulhas. O grupo de controle recebeu 20mg de fluoxetina todas as manhãs
por 8 semanas. Ambos os grupos foram submetidos exames físicos no decorrer do estudo
(HANDIAFARD e PARIZI, 2012, p. 632).
86

Foram realizados 5 testes, ao longo de 12 meses de estudo. Inicialmente, o grupo


de teste relatava 8 pontos de dor na escala VAS e 17 tender points sensíveis ao toque
(TPN), enquanto o grupo de controle relatava respectivamente 8 e 16,5 pontos. Com duas
semanas, o grupo de teste relatou 5 pontos de dor na escala VAS e 12,5 pontos dolorosos
(TPN), enquanto o grupo de controle permanece com 8 pontos de dor (VAS) e 17 pontos
dolorosos (TPN). Após 4 semanas, o nível analógico de dor se nivela em ambos os grupos
(7 pontos na escala VAS), mas o grupo que recebe fluoxetina parece reagir melhor no que
diz respeito aos pontos dolorosos, diminuindo para 16 pontos de dor. O grupo que recebe
acupuntura apresenta 14 pontos de dor, que embora seja um número absolutamente menor
que o primeiro grupo, revela um aumento de pontos comparativamente ao teste realizado
na segunda semana de tratamento.

Depois de 8 semanas, os resultados se equiparam. Tanto o grupo submetido às


sessões de acupuntura como o grupo submetido ao tratamento com fluoxetina, informam
7 pontos de dor (VAS) e 15 pontos dolorosos (TPN). Ao fim de 12 meses, apenas as
pacientes que receberam acupuntura têm resultados satisfatórios. Estas, que compuseram
o grupo teste, informam sentir 7 pontos de dor na escala visual analógica, enquanto as
pacientes do grupo controle informam sentir 8 pontos de dor. As pacientes que receberam
acupuntura sentem sensibilidade em 15 pontos (TPN) enquanto as pacientes que foram
tratadas com fluoxetina, sentem 16 pontos dolorosos.

Em relação ao impacto da fibromialgia (FIQ), os resultados foram similares. As


pacientes tratadas com acupuntura revelaram melhoras na funcionalidade física, dor,
fadiga, sono, rigidez muscular, ansiedade, depressão entre 0,3 e 1,1 pontos superiores às
pacientes que receberam fluoxetina. Estas, revelam melhora no bem-estar 0,4 pontos
superiores que as primeiras (idem, ibidem, p. 634-636).

De forma geral, os autores concluem que a acupuntura foi mais efetiva, mais bem
tolerada, mais barata e trouxe menos reações adversas ao tratamento das pacientes com
fibromialgia, sendo benéfica tanto no sintoma principal (dor) como nos demais sintomas
relacionados (idem, ibidem, p. 638).

Num estudo introdutório sobre os efeitos da acupuntura na melhora da dor, sono


e qualidade de vida em pacientes com fibromialgia, Takigushi et al propuseram a
comparação entre a acupuntura tradicional e o agulhamento nos tender points. Vinte
pacientes diagnosticadas com fibromialgia foram randomizadas em dois grupos: o
87

primeiro deles foi submetido à técnica tradicional de reequilíbrio energético (baseado no


exame de pulso e punctura individualizada) e o segundo foi tratado com agulhamento nos
pontos dolorosos na base do occipital, trapézio, supraespinhoso e epicôndilo lateral.
Ambos os grupos foram avaliados pelo questionário de impacto da fibromialgia (FIQ),
por escala visual analógica de dor (VAS) e pelo Inventário do Sono.12 Ambos foram
tratados semanalmente, durante oito semanas, em sessões de 25 minutos (cf.
TAKIGUSHI et al, 2008, p. 280-281).

Os autores partem de uma curiosa constatação: 98% dos pacientes com


fibromialgia nos países desenvolvidos procuram terapias alternativas para o tratamento
dos sintomas (WAHNER-ROEDLER et al, 2005 apud TAKIGUSHI et al, 2008, p. 281).
A hipótese é que a acupuntura tradicional tem um efeito mais integral, assegurando
melhorias aos pacientes no quadro geral dos sintomas, enquanto a acupuntura nos tender
points respeitando a localização dos pontos e dos meridianos permite uma resposta local
de melhora da dor e analgesia.

Ambos os grupos obtiveram resultados positivos. O que se observou foi que o


primeiro grupo (que recebeu acupuntura tradicional) apresentou significativa melhora no
sono antes de dormir, durante a noite e ao acordar, melhorou ligeiramente a capacidade
funcional, o cansaço, a rigidez e diminuiu os sintomas de ansiedade e depressão em
valores maiores que o segundo grupo (que recebeu agulhamento nos pontos dolorosos).
Este último, porém, apresentou resultados mais significativos na diminuição da dor em
todos os tender points testados por pressão (base do occipital, cervical baixa, trapézio,
supraespinhoso, segunda costocondral, epicôndilo lateral, glúteos, trocânter maior e
borda medial do joelho), bem como na escala visual analógica (TAKIGUSHI, 2008, p.
282-283).

A melhora da dor nos pontos distantes daqueles puncturados relata o efeito


sistêmico do agulhamento Ashi e a melhora do sono foi associada à liberação dos fluidos
corporais, cuja atuação é similar aos opioides. Como a dor e os distúrbios de sono
interferem diretamente no impacto da qualidade de vida, a melhora nestes aspectos
promovida pelo agulhamento nos pontos dolorosos produziu maiores valores no
questionário FIQ em relação ao primeiro grupo. Ao contrário da hipótese preconizada, o

12
O Inventário do Sono é um instrumental de autoria de Bonnet e Webb (1976), onde se desenvolve um
mecanismo objetivo e subjetivo de análise da qualidade do sono. O paciente gradua cada item do
questionário em escala visual, somando-se os escores para definição da pontuação final.
88

trabalho dos autores informa que efeitos imediatos sobre a dor são preponderantes para a
expansão da qualidade de vida, e neste caso, o agulhamento local teve mais impacto na
sintomatologia das pacientes.

Bastos et al (2013) propuseram uma abordagem sintomática da acupuntura para o


tratamento com a fibromialgia. Apesar de ser uma forma ‘herege’ de tratar o método
tradicional, o mesmo lida diretamente com os pontos dolorosos (tender points) e ao
mesmo tempo, o agulhamento é realizado em acupontos (pontos Ashi). Enfatizando a
facilidade de localização e acesso aos pontos, foram selecionados 5 pontos dolorosos
bilaterais (occipital – VB20, trapézio – TR5, romboide – B13, tórax – P2 e epicôndilo
medial – IG11) para testar os efeitos do agulhamento no limiar de dor das pacientes.

De acordo com os autores, embora a acupuntura tradicional seja eficaz para o


reequilíbrio geral, é a desativação dos pontos gatilho que impõe uma melhora instantânea
da condição de dor, pois esta técnica pode “impedir o desenvolvimento de pontos de
gatilho ativos, reduzir ou remover sua entrada nociceptiva, normalizar a eficácia sináptica
e reduzir a sensibilização periférica e central” (idem, ibidem, p. 166, tradução minha,
AP). Os pontos selecionados têm ainda, a vantagem de promover um efeito nas matrizes
emocionais responsáveis pela condição de tristeza, depressão, medo e melancolia,
características típicas da manifestação da doença.

Foram selecionadas oito mulheres, entre 20 e 80 anos, diagnosticadas com


fibromialgia. Cada paciente respondeu a quatro questionários de avaliação sintomática: o
Questionário de Impacto de Fibromialgia (FIQ), Questionário de Avaliação de Saúde
(HAQ), Inventário de Depressão (BDI) e de Ansiedade de Beck (BAI). Além destes
questionários, foram realizados testes de pressão nos tender points no início e no fim do
tratamento. Todas foram submetidas a sessões semanais de acupuntura com duração de
20 minutos, durante um período de 2 meses. Foram utilizadas as agulhas de 0,25 x 30mm
em posição perpendicular com manipulação de tonificação e sedação (BASTOS et al,
2013, p. 163-165).

Os resultados apresentados demonstraram que houve redução em relação ao limiar


de dor, e melhora no estado geral de ansiedade, depressão e qualidade de vida,
identificados através do BDI, BAI e FIQ, o que não impactou as respostas do questionário
de avaliação de saúde (HAQ). De forma geral, houve um avanço no que diz respeito à
utilização sintomática da acupuntura e uma melhora relatada com efeitos rápidos. Os
89

autores inferem que os meridianos tratados com os pontos Ashi promoveram uma
remoção da umidade e dispersão do frio, possibilitando uma restauração do fluxo do Qi
e Xue (idem, ibidem, p. 166-167).
90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fibromialgia é uma questão política ainda em formulação, especialmente no que


diz respeito ao papel de Estado e da previdência social. Há um número muito grande de
interesses conflitantes envolvidos na discussão, que perpassam especialmente a
configuração social, o trabalho e as formas de adoecimento coletivo.

A dinâmica oficial de tratamento da fibromialgia tem se revelado insuficiente,


senão ineficaz. O uso permanente de fármacos causa efeitos colaterais agressivos no
longo prazo e, num quadro onde a dor não é demonstrável através de um substrato
anatomofisiológico, ela se torna o foco do problema. A dor deixa de ser evidência de uma
lesão tecidual e passa a ser compreendida como a doença em si. Também por estas razões,
cresce o interesse por parte dos pacientes – e dos profissionais da saúde – pelas
terapêuticas alternativas e complementares.

Os estudos baseados nas terapias alternativas ou complementares são escassos e


incipientes. A crescente busca por tratamentos como acupuntura, mas também a prática
do vegetarianismo, reiki, massagens, grupos de autoajuda, meditação, homeopatia, ervas
fitoterápicas, uso de suplementos alimentares etc, parece não corresponder ao avanço dos
estudos metodologicamente rigorosos. Há um desencontro entre os saberes ‘práticos’ de
tais campos, desenvolvidos especialmente a partir da oralidade, do ensino discipulado e
de um ponto de vista cosmológico e o tratamento teórico-analítico destas informações,
desenvolvido a partir de estudos legitimados pelas instituições universitárias e órgãos
públicos. Desta forma, os níveis de evidência de muitas dessas terapêuticas são, do ponto
de vista da literatura especializada, muito abaixo daquilo que poderia ser considerado útil
ou válido para o tratamento da fibromialgia e dos reumatismos em geral.

Por ser um campo mais intelectualizado e pelos resultados práticos demonstrados


há milênios, a acupuntura apresenta um nível de recomendação razoável, e mesmo sem
evidências clínicas convincentes, tem um dos melhores indicadores entre as terapias
alternativas.13 Existem diversos estudos sobre os impactos da acupuntura no tratamento
da fibromialgia, especialmente nos países desenvolvidos, mas em sua maioria, não são

13
No Consenso brasileiro do tratamento da fibromialgia, a acupuntura obteve um grau de recomendação
C, sem nível de evidência explícito, e conforme já dito neste texto, não foi uma alternativa consensuada. A
base empírica para tal pode ser encontrada no guia da Sociedade Americana da Dor – American Pain
Society, onde se encontra o estudo de Buckhardt et al (2005). Ver: Heymann, 2010.
91

metodologicamente controlados, o que compromete severamente a validação


instrumental e teórica, bem como sua divulgação nos meios científicos mais
conceituados. Embora a prática clínica revele resultados surpreendentes, é importante
sedimentar o uso da acupuntura no meio científico e isso deve perpassar o
desenvolvimento de produções científicas controladas, como estudos clínicos e técnicos,
relatos de casos e testes de protocolos, enfocando as técnicas de punctura, o tempo, a
frequência, tolerância e eficácia do tratamento.

O controle clínico dos estudos de acupuntura é uma questão de difícil solução. Os


diagnósticos devem ser feitos individualmente e o tratamento é uma resposta singular a
um caso concreto. Isso torna difícil a comparação num estudo com grupos; no limite, são
intervenções diferenciadas. Ao mesmo tempo, a saída encontrada pelos autores é a
intervenção protocolar, que embora perca um pouco da dimensão unitária de cada
tratamento, auxilia na construção de regularidades.

Aspectos de avaliação da dor se baseiam em escalas subjetivas, onde o caráter do


paciente é pressuposto como segurança de veracidade das intervenções, e tal dificuldade
ainda é uma problemática sobre a qual novos estudos devem ser realizados. Entretanto, a
perspectiva de vocalizar os sujeitos do tratamento e suas respostas individuais emerge
como uma linha de centralização do paciente no tratamento e merece maior
aprofundamento.

O problema das terapêuticas naturais num mundo medicalizado parece ser uma
questão cujas respostas ainda estão bem distantes, e exige novos estudos que analisem o
emprego da acupuntura como parte de um tratamento integrado à alopatia, e
especialmente, a construção de projetos terapêuticos tomando como base as medicinas
naturais.

A defesa de uma tradição inventada também foi uma questão que ficou latente. É
possível que a imprecisão dos mapas, as milhares de traduções de traduções, a distância
civilizacional e todos os aspectos que fazem a acupuntura ser uma prática tão distante de
nós, nos torne incapazes de desenvolvê-la da forma ‘tradicional’. Os franceses e seus
pontos fisiologicamente demonstrados têm uma parcela de razão, e as técnicas de
punctura ashi demonstram isso com certo grau de evidência. Além disso, tais estudos
enfatizam uma demanda real na prática clínica, que é a resposta rápida para o controle da
92

dor. Mesmo com um n pequeno, a aplicabilidade dos pontos ashi no tratamento é


relevante.

Em relação à seleção de pontos, observa-se de forma geral a validade dos termos


tradicionais, oriundos dos estudos antigos e a importância especial dos pontos Shu e de
conexão. Ficou claro que os Vasos Maravilhosos principais para a condução terapêutica
são o ID3-B62 e o TR5-VB41, e alguns pontos foram celebrados em muitos testes, tais
como IG4, VG12 e VG14, TR5, BP5 e BP6, CS6 e C7.

O tratamento para a fibromialgia é complexo e requer uma abordagem múltipla,


concebida para tratar não apenas a sintomatologia aparente, mas a natureza da síndrome
e as suas diversas causas. As sessões devem ser flexibilizadas e coordenadas com
períodos de descanso, e os sintomas mais intensos de dores devem ser priorizados, pois
implicam diretamente na melhora da qualidade de vida. A participação do paciente na
construção de seu projeto terapêutico é essencial, pois é preciso constância e
acompanhamento longitudinais, além do feedback preciso sobre a evolução dos sintomas.
93

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97

ANEXOS

Anexo 1 – Meridiano do Pulmão

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 72.


98

Anexo 2 – Meridiano tendinomuscular do Pulmão

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 75.


99

Anexo 3 – Meridiano divergente do Pulmão

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 79.


100

Anexo 4 – Meridiano do Intestino Grosso

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 83.


101

Anexo 5 – Meridiano tendinomuscular do Intestino Grosso

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 87.


102

Anexo 6 - Vaso Luo do Intestino Grosso

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 89.


103

Anexo 7 – Meridiano divergente do Intestino Grosso

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 91.


104

Anexo 8 – Meridiano do Estômago

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 95.


105

Anexo 9 – Meridiano tendinomuscular do Estômago

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 99.


106

Anexo 10 – Vaso Luo do Estômago

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 103.


107

Anexo 11 – Grande Luo do Estômago

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 105.


108

Anexo 12 – Meridiano divergente do Estômago

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 107.


109

Anexo 13 – Meridiano do Baço-Pâncreas

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 111.


110

Anexo 14A – Meridiano tendinomuscular do Baço-Pâncreas

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 115.


111

Anexo 14B – Meridiano tendinomuscular do Baço-Pâncreas (cont).

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 116-117.


112

Anexo 15 – Vaso Luo do Baço Pâncreas

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 119.


113

Anexo 16 – Grande Luo do Baço Pâncreas

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 121.


114

Anexo 17 – Meridiano divergente do Baço Pâncreas

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 123.


115

Anexo 18 – Meridiano do Coração

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 127.


116

Anexo 19 – Meridiano tendinomuscular do Coração

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 131.


117

Anexo 20 – Vaso Luo do Coração

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 133.


118

Anexo 21 – Meridiano divergente do Coração

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 135.


119

Anexo 22 – Meridiano do Intestino Delgado

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 139.


120

Anexo 23 – Meridiano Tendinomuscular do Intestino Delgado

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 143.


121

Anexo 24 – Vaso Luo do Intestino Delgado

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 145.


122

Anexo 25 - Meridiano divergente do Intestino Delgado

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 148.


123

Anexo 26 - Meridiano da Bexiga

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 151.


124

Anexo 27 – Meridiano tendinomuscular da Bexiga

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 156.


125

Anexo 28 – Vaso Luo da Bexiga

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 159.


126

Anexo 29 – Meridiano divergente da Bexiga

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 161.


127

Anexo 30 – Meridiano do Rim

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 165.


128

Anexo 31 – Meridiano tendinomuscular do Rim

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 169.


129

Anexo 32 – Vaso Luo do Rim

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 171.


130

Anexo 33 – Meridiano divergente do Rim

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 173.


131

Anexo 34 – Meridiano do Pericárdio – CS

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 177.


132

Anexo 35 – Meridiano tendinomuscular do Pericárdio

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 181.


133

Anexo 36 – Vaso Luo do Pericárdio

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 183.


134

Anexo 37 – Meridiano divergente do Pericárdio

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 185.


135

Anexo 38 – Meridiano do Triplo Aquecedor – TR

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 189.


136

Anexo 39 – Meridiano tendinomuscular do Triplo Aquecedor

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 193.


137

Anexo 40 – Vaso Luo do Triplo Aquecedor

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 195.


138

Anexo 41 – Meridiano divergente do Triplo Aquecedor

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 197.


139

Anexo 42A - Meridiano da Vesícula Biliar

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 201.


140

Anexo 42B - Meridiano da Vesícula Biliar (cont).

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 203.


141

Anexo 43 – Meridiano tendinomuscular da Vesícula Biliar

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 207.


142

Anexo 44 – Vaso Luo da Vesícula Biliar

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 209.


143

Anexo 45 – Meridiano divergente da Vesícula Biliar

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 211.


144

Anexo 46 – Meridiano do Fígado

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 215.


145

Anexo 47 – Meridiano tendinomuscular do Fígado

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 219.


146

Anexo 48 – Vaso Luo do Fígado

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 221.


147

Anexo 49 – Meridiano divergente do Fígado

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 223.


148

Anexo 50 – Vaso Governador

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 235.


149

Anexo 51 – Vaso Concepção

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 241.


150

Anexo 52 – Vaso cintura – Dai Mai

Fonte: SOLINAS, MAINVILLE e AUTERCHE, 2000, p. 245.

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