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LEÃO SAMPAIO
JUAZEIRO DO NORTE – CE
2017
CENTRO UNIVERSITÁRIO DR. LEÃO SAMPAIO
JUAZEIRO DO NORTE – CE
2017
ACUPUNTURA E FIBROMIALGIA – UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA
Monografia apresentada à UNILEÃO – Centro Universitário Dr. Leão Sampaio e
à Associação Brasileira de Acupuntura – ABA
___________________________________________
Andreia Pagani Maranhão
Aprovada em___/___/____
_______________________________________________
Professora Evanilse Maria Leite Fernandes Sales
Orientadora
_______________________________________________
1º. Examinadora: Prof. Me.
_______________________________________________
2º Examinador
________________________________________________
Professor
Coordenador do Curso de Acupuntura
À Carmela Pagani,
que me ensinou a não ter medo. Nem da dor, nem da
nuvem, nem do sonho.
AGRADECIMENTOS
In this text, it presents a systematic review about the acupuncture’s implications in the
treatment of patients with fibromyalgia. It seeks to delimit the concept of fibromyalgia,
adding the contributions of Traditional Chinese Medicine for the diagnosis and
understanding of the syndrome, as well as to present the works already published by
acupuncturists. The Elsevier, Pubmed and Scielo databases were used to search for
empirical studies between 2007 and 2017. The theoretical framework was based on
classical acupuncture texts and the official guidelines for the treatment of patients with
fibromyalgia. It is observed an increase in research on acupuncture as a therapy capable
of printing improvements in symptoms, innovative relationships between this technique
and other alternative interventions, as well as the use of puncture in Ashi points as a way
to obtain a rapid response to pain relief.
Keywords: Acupuncture; Fibromyalgia; Systematic review.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ANEXOS
INTRODUÇÃO
Os critérios mais comuns para avaliação clínica do paciente foram propostos no ínterim
do American College of Rheumatology – ACR, que definiu em 1990 os parâmetros para o
diagnóstico de fibromialgia, considerando um histórico de mais de três meses de dor intensa
que afeta os quatro quadrantes corporais (bilateral e supra/infra); a presença de 11 ou mais
pontos dolorosos ao toque (tender points) dos 18 indicados conforme a figura 1; problemas de
ordem cognitiva (pensamentos ou memória); outros sintomas físicos gerais (conforme descritos
anteriormente) e ausência de outra doenças que possam explicar a causa das dores e dos demais
sintomas (ACR, 2010; Cf. WOLFE et al, 2010).
16
A acupuntura é uma terapêutica originária na China há pelo menos 4 mil e 500 anos.
Além dos chineses, muitas outras civilizações milenares faziam uso de técnicas semelhantes
para o alívio da dor e melhora geral da saúde.1 De forma geral, consiste na punctura de
determinados pontos no corpo, com o objetivo de recompor a harmonia entre o paciente e o
universo (reequilíbrio energético) ou obter respostas sistêmicas anti-inflamatórias,
antidepressivas, analgésicas etc (sintomática).
1
O primeiro tratado de acupuntura que se tem conhecimento é denominado Nei King e foi escrito por Ki Po em
forma de diálogo. O livro tem duas partes, o So Oueen e o Ling Shu. Ele foi escrito por volta de 3000 a.C, por
ordem do imperador Hoang Ti, com o objetivo de sistematizar as práticas terapêuticas historicamente conformadas
na China. (Cf. LEITE, s/d, p. 03-05). Embora exista uma longa história de práticas e estudos em relação à esta
terapêutica, apenas durante o período da expansão colonial europeia (século XVI e início do XVII) ela se tornou
conhecida no ocidente, através dos jesuítas, que aprendendo as técnicas no oriente, difundiram-nas na Europa.
17
dores crônicas causadas por dismenorreia, cefaleia, epicondilite, dor miofascial, osteoartrite,
lombalgias, asma entre outras. No que diz respeito aos transtornos de ordem psicossomática,
destaca-se a abordagem em fibromialgias e dependências químicas (BRASIL, 2006, p. 03).
***
O interesse pelo tema surgiu muito antes do curso, quando minha mãe iniciou uma
sucessiva busca por tratamentos para dores inenarráveis. Como muitas histórias de pacientes
com fibromialgia, ela recebeu muitos diagnósticos, de muitos médicos diferentes: artrite, artrite
múltipla, discopatia degenerativa, sarcopenia, reumatismo, atroreumatismo, tendinopatia,
hérnia discal, depressão. Os remédios iam aumentando e sua qualidade de vida, diminuindo.
Depois desta melhora inicial, ela teve condições de frequentar sessões de fisioterapia
manual – outrora impossíveis, tamanha a dor – e outros tratamentos específicos para a coluna,
no método desenvolvido pelas franquias do Instituto de Tratamento da Coluna – ITC Vertebral,
e por fim, iniciou um treino de Pilates nesta mesma clínica. Desejo ressaltar que a acupuntura
não foi a única intervenção responsável pela melhora de sua qualidade de vida, mas continua
sendo um ponto de apoio para a promoção da sua saúde, o start de uma nova fase, onde outras
intervenções se tornaram possíveis.
Prosseguirei meu argumento com outro exemplo pessoal. Peço paciência ao leitor, mas
aqui estão tanto as principais motivações para a realização deste trabalho, como as incipientes
evidências que justificam a escolha do tema. Há quase três anos, moro em Sobral – CE, uma
cidade média localizada no sertão central do estado. Trabalho como professora no Instituto
Superior de Teologia Aplicada, um centro universitário com 14 cursos da área da saúde. Em
2016, a instituição propôs um Núcleo de Atendimentos e Práticas Integrativas, com o objetivo
de prestar atendimentos comunitários e articular os diversos cursos da saúde na dinâmica do
trabalho multiprofissional. Organizei um projeto piloto de extensão, intitulado Práticas
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integrativas em Acupuntura, onde presto atendimento gratuito em acupuntura duas vezes por
semana às pessoas da comunidade, assim como aos professores, trabalhadores e estudantes.
O trabalho começou com uma névoa de medo e preconceito por parte da comunidade.
É uma área pouquíssimo conhecida pelas pessoas e consequentemente, muito mitificada. Por
este motivo, passei a atender vários daqueles pacientes já ‘desacreditados’ da melhora clínica,
com doenças crônicas, dores múltiplas e sem diagnósticos precisos.
***
Foram utilizadas as bases Elsevier e PubMed para a busca de fontes em língua inglesa,
francesa e italiana e a base Scielo para as fontes em língua portuguesa. Os descritores
selecionados foram “acupuncture and fibromyalgia” nas bases de interface inglesa e
“acupuntura and fibromialgia” na base de interface portuguesa. A padronização seguiu o
modelo encontrado nos Descritores das Ciências da Saúde – DeCS e as línguas foram escolhidas
pela familiaridade da autora.
Os artigos escolhidos foram apenas originais de acesso livre e texto completo, ordenados
por relevância. Foram excluídos textos não classificados no Brasil com Qualis mínimo B1. De
forma geral, observa-se um crescimento nas pesquisas que relacionam ambas as temáticas a
partir dos anos de 2010, mas os artigos não foram selecionados por data de publicação.
20
Encontram-se, portanto, textos entre os anos de 2007 e 2017, o que corresponde a uma
amostragem decenal.
Os textos que retornaram na busca inicial com os descritores foram lidos e analisados
minuciosamente em seus títulos e resumos, e pré-divididos em dois grupos: “potencialmente
úteis à pesquisa” e “descartados da pesquisa”. Os últimos são aqueles cujo objeto de estudo
afasta-se do tema investigado ou cuja metodologia não propõe um estudo empírico
(randomizado, coorte, caso-controle, transversal, sérico ou relato de caso). Os primeiros, foram
baixados e uma segunda etapa de seleção teve início com a leitura anotada das introduções. A
partir de então, os textos cujas categorias analíticas dialogam com a base teórica obtida pela
pesquisadora foram selecionados e compõem o universo de fontes da presente pesquisa,
conforme a Tabela 1. Os demais foram descartados ou utilizados apenas secundariamente.
Rivista della STANISLAO, Carlo Impiego della coppia zulinqi/waigan nella patologia Teste de 2015
Associazione Medica Di et al fibromialgica ad impronta psicossomática protocolo
per lo Studio
dell'Agopontura
Scielo Fisioterapia e TAKIGUCHI, R. S. et Efeito da acupuntura na melhora da dor, sono e qualidade Randomizado 2008
Pesquisa al de vida em pacientes fibromiálgicos: estudo preliminar
Universidade de São ARAÚJO, R. A.T. Tratamento de dor na fibromialgia com acupuntura Prospectivo 2007
Paulo – Doutorado
em Ciências
23
reumatismo deriva do grego reýma, que significa fluxo, rio corrente.2 Durante a
antiguidade e idade média, de forma mítica, os distúrbios de ordem reumática eram
compreendidos como sintomas energéticos, de ordem espiritual. Apenas a partir do século
XVIII, com as condições sanitárias e o higienismo sociopolítico, a saúde passa a ser
tratada como uma questão individual, e a doença, como um mal a ser combatido, como a
melancolia de Mariana. Nesse ínterim, os estudiosos passam a buscar uma etiologia para
as doenças, e no século XIX, o experimentalismo se torna a corrente dominante nos
estudos da saúde.
2
Cf. Dizionario Etimologico. Reuma disponível em: http://www.etimo.it/?term=reuma&find=Cerca. Se é
possível fazer uma associação intercultural, poderia surgir uma pista na indicação do caráter energético da
doença. Uma síndrome daquilo que percorre o corpo, ou seja, da energia – Qi. Mesmo sendo uma relação
apressada, ela pode ser útil para a interpretação ‘oriental’ no diagnóstico e tratamento dos pacientes com
fibromialgia.
26
Fonte: https://karismatik86.wordpress.com/2009/06/24/frida-kahlo-la-columna-rota-1944-1944-mon-tatto/
acamada, e se manteve lúcida diante do drama e da dor persistente, que por fim, não foi
diagnosticada (cf. HERRERA, 1983).
Em relação à definição, foi acordado que a fibromialgia não é uma doença, mas
um estado de saúde complexo e heterogêneo no qual a dor é amplificada e estão presentes
outras características de gravidades variáveis, tais como fadiga, distúrbios do sono, humor
e cognição. Sublinha-se que tal estado não justifica o afastamento do trabalho.
A dor crônica foi entendida como “um estado de saúde persistente que modifica a
vida” (HEYMANN, 2010, p. 58). Por isso, o objetivo do tratamento seria o controle e não
a eliminação da dor. O texto segue com uma longuíssima relação de interações
medicamentosas e possibilidades combinatórias na terapêutica, mas em relação aos
tratamentos não medicamentosos, apenas os exercícios físicos em frequência média
figuram na lista consensual de recomendações, especialmente aos pacientes com
hipermobilidade articular. Além da terapia de reabilitação fisioterápica e a psicoterapia,
não houve outros pareceres positivos em relação às formas de tratamento. A acupuntura,
apresentada com um nível C de evidência clínica, não foi considerada um tratamento
consensual. Massagens terapêuticas e quiropráxicas foram consensualmente não
recomendadas (idem, ibidem, p. 60).
síndrome. Embora não façam menção ao uso de terapêuticas alternativas, a condução dos
estudos no sentido de estabelecer pontos de referência e evolução sintomática distintos
contribui na diagnose e na condução do tratamento, pois torna possível o estabelecimento
de projetos terapêuticos mais adequados aos sintomas de cada paciente.
– Ser tratado a partir de suas demandas. Esta talvez seja uma das reivindicações
mais comoventes feitas pelos pacientes com fibromialgia, pois revela um contexto
autoritário de enquadramento e violência institucional-científica. É um tratamento à
revelia para uma dor sem doença. O vazio da ausência de explicações etiológicas relega
a presença de dores a um campo subjetivo. Representações como ‘somatização’,
‘depressão mascarada’, ‘frescura’, ‘preguiça’, ‘moleza’ produziram um imaginário de
dúvidas sobre a existência real da dor, sobre a constituição real da doença. Convivendo
com a dor e a invisibilidade, muitos pacientes encontraram na produção assistemática em
blogs, revistas e páginas de divulgação sobre a síndrome, formas de vocalizar explicações
etiológicas múltiplas, entrelaçadas às suas histórias de vida. 3
3
Alguns dos blogs pessoais e coletivos que foram lidos para este estudo e que podem ser úteis para o
entendimento dos mecanismos de produção e resistência à dor e à doença:
http://abrafibro.blogspot.com.br/
afibromialgiadepressaoeeu.blogspot.com/
https://lalocafibromialgica.wordpress.com/
https://fibromialgico.blogspot.com/
https://fibropositivas.wordpress.com/
doralice-e-os-dias-com-fibromialgia.blogspot.com/
deldoloralalibertad.com/blog/
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Uma iniciativa exemplar neste sentido foi a publicação do volume Los Cuentos de
Minabe. O livro é uma parceria entre pacientes, que narraram suas histórias de vida;
escritoras, que as traduziram para o fabuloso mundo da literatura infanto-juvenil; e
ilustradoras, que deram forma e cor aos contos. O trabalho coletivo é fruto da iniciativa
da Associacón Vasca Divulgación de Fibromialgia, entidade espanhola auto organizada
por pacientes e estudiosos da área. Teve como objetivo divulgar, de forma sensível e
empática, aspectos quotidianos das pacientes, entre limitações e potencialidades para que
as crianças pudessem ser educadas numa concepção solidária, entendendo o convívio com
a dor e a doença como parte da vida.
Mingabe é uma palavra linda, de origem basca. É formada pelo sulfixo gabe (sem)
e pelo significante min (dor). Quer dizer indolor. Os contos têm este espírito de superação
e leveza. Chamam atenção pelo exímio cuidado com que foram elaborados a muitas mãos
e pelo conteúdo – didático e relevante do ponto de vista cultural, ético e estético. Ao longo
dos contos, Mingabe se personifica na luta, na disposição de ver beleza no amanhecer,
numa borboleta mágica, numa amiga que ajuda, no filho pequeno, no cachorro querido.
É a descoberta de gatilhos indolores, portais para uma vida cheia de sentidos e feliz,
“apesar das cicatrizes”. A título de ilustração e desfrute, segue uma tradução dos trechos
mais significativos do conto Aquella casa blanca nº 42, narrado por Patrícia Urrutia,
escrito por Cecilia Peñacoba e ilustrado por Noemi Villamuza.
(...) fechei minha janela, e me sentei no sofá. Peguei meu caderno de coisas
importantes e sorri vendo as folhas que havia rabiscado em apenas alguns
meses. Minha casa parecia distinta e minha vida também. Hoje havia sido um
desses dias menos bons, havia sentido mais dor do que o habitual, mas havia
conseguido rabiscar um pouquinho em meu caderno. Quase sem me dar conta,
comecei a recordar como tudo aconteceu.
O encontro com Mingabe, seis meses atrás, havia sido decisivo em meu novo
estado, ainda que me custasse entender como, durante todos estes anos, não
tinha sido capaz de ver por mim mesma o que ela me ensinou em apenas uma
tarde.
Não sei muito bem porque decidi visitá-la. Uma companheira de trabalho,
esquisita para os demais, me recomendou ir vê-la. Destas pessoas consideradas
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sem respiro vagavam aos montes. Essa maleta que eu levava arrastando há
tanto tempo, assumindo sua carga de maneira irremediável, não pesava tanto
só pela dor, mas pela multidão de coisas que eu mesma havia colocado! Agora
já não levo essa maleta, não trato de ocultar minha dor, nem a dissimular, nem
de engrandecê-la junto aos demais para ser crível. Caminho de mãos dadas
com a dor, sabendo que será minha companheira de viagem (...)
Às vezes nos frustramos porque não encontramos o que desejamos e não nos
damos conta que nunca poderemos encontrá-lo se não vamos preparados para
isso – me disse ao longo da conversação –. Não se podem colher caranguejos
com varas de pescar. Te frustrarás por não colher nenhum caranguejo e
deixarás passar mil peixes coloridos. Vivemos tão ocupados realizando as
tarefas básicas, rotineiras, as que consideramos imprescindíveis, que nunca
refletimos o que ocorreria realmente se deixarmos de fazê-las, nem pensamos
no que perdemos por fazer estas coisas. As tarefas realmente importantes
precisam de tempo, esse tempo que raras vezes as concedemos. A verdadeira
existência se afoga com a própria rotina da vida. Tudo isso nos faz adoecer. As
coisas não são sempre como aparentam. Existem muitas pessoas que
deambulam pelo mundo sob uma etiqueta de sãs, quando na realidade estão
mais enfermos que aqueles que engrossam as listas do sistema sanitário (...)
Na manhã seguinte me dediquei a explorar a cidade. Descobri gentes, ruas,
costumes, aromas e paisagens urbanas. Aprendi a valorar os detalhes, me
impregnei daquilo que é realmente importante, o sentimento de estar viva.
Caminhei mais livre do que nunca. Em um pequeno comércio, comprei um
caderno coberto com uma capa dura florida, para anotar as coisas
verdadeiramente importantes (...)
Muitas coisas mudaram desde então, pequenas grandes coisas. Trato de refleti-
las todas em meu caderno de coisas importantes. Me dei conta que o que é
verdadeiramente importante requer esforço, e muitas outras coisas seriam
feitas igualmente com metade do que lhes dedicamos. Aprendi que o trabalho
e o desfrute pessoal podem conviver em harmonia, e intercalo flores coloridas
entre meus projetos laborais. Saboreio as coisas mais antigas, porque são as
que me proporcionam emoções mais doces. Aprendi a viver um pouco mais e
usar o tempo um pouco menos. Trato de disfrutar cada instante pensando no
que me aporta nesse momento fugaz e não pressupondo o que será amanhã.
Aprendi a correr riscos sem medo de equivocar-me para poder crescer. Já não
busco o êxito como resultado como fazia antes. Me dei conta que esse êxito
não me assegura crescimento, mas o aprendizado sim. Aprendi a não julgar
pelas aparências, a não crer em verdades absolutas, a manejar-me serena dentro
das possibilidades. Agora penso menos e sinto mais.
Desde esse dia, e quase por costume, me pego num rasgo da janela e observo
essas pessoas de um lado a outro, com seus movimentos automáticos,
arrastando suas pequenas e grandes maletas. Entre essa multidão, uniforme e
monocromática, uma mulher de cabelo preto e olhos de um verde intenso sorri.
Essa mulher sou eu (PEÑACOBA, VILLAMUZA e URRUTIA, 2010, p. 142
-158, tradução minha, AP).
O texto traz à tona a ideia de que a dor é um aspecto, não o único, de determinação
da qualidade de vida. Ensina a ver as delícias do presente, com flexibilidade nas metas e
ações diariamente construídas afim de uma vida plena. Produz um espectro de
empoderamento quando explica que a pessoa com fibromialgia não precisa do
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reconhecimento externo, mas deve pensar e produzir para si os sentidos que lhe comporão
uma vida satisfatória, adaptando-se aos limites impostos pela dor.
De uma forma leve, o conto convida à reflexão sobre uma das pautas mais
importantes da saúde coletiva, a culpabilização da vítima. Culpabilizar é imputar culpa
pela existência da doença na pessoa que sofre com ela. É um discurso que carrega a ideia
de merecimento da dor e é reverberado em atitudes que desacreditam no sofrimento como
um ente real da vida dos pacientes e corroboram para uma atmosfera de maior pressão e
consequentemente, mais angústia, dor e sofrimento.
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– Advertência.
explica que o Oriente é praticamente uma invenção europeia, uma metáfora para entender
todas as civilizações e línguas, culturas, histórias e imagens muito distantes do mundo
contemporâneo.
O que interessa sugerir com estas premissas é que o estudo da acupuntura – como
terapêutica aplicada ao ocidente – está impregnado de uma tentativa de costurar, de
reconstruir uma diferença cultural e geográfica inescapável de tal forma que sim, é uma
forma apropriativa e artificial de produzir saberes. Para prosseguir, é preciso rigor e
disciplina metodológica, maior cuidado com as fontes e a certeza de pautar sempre,
invariavelmente, uma parcialidade, incongruente e incompleta, ainda que preocupada
com a verdade.
***
Mais de duzentos anos depois, a dinastia Han (202 a.C – 220 d.C), dá início a um
processo de expansão imperial que inaugura rotas comerciais e migrações populacionais
inéditas em toda a história precedente. Neste período, muitas práticas culturais são
expandidas, traduzidas e modificadas e a acupuntura foi desenvolvida com a agregação
de saberes oriundos de diversos territórios. Por meio da política de reforma agrária
desenvolvida no reino, houve uma expansão da qualidade de vida e sedentarização da
população. Também se desenvolveu neste período os Tratados sobre as doenças febris,
o primeiro livro específico sobre as principais causas epidêmicas de morte no oriente (cf.
FRÓIO, 2006, p. 24-25).
45
Durante a dinastia Jin (265 a 420 d.C), houve o aprofundamento dos estudos e a
popularização das técnicas de acupuntura e moxibustão, especialmente após a publicação
do compêndio de Huang Fu Mi, Clássico de Acupuntura e Moxibustão, texto escrito em
12 volumes exclusivamente sobre as técnicas, com descrição de 349 pontos de
acupuntura. Após a unificação do império, realizada pela dinastia Sui (581 – 618 d.C),
houve uma revolta popular que levou à queda de Sui e o retorno da dinastia Han, com a
família Tang. O novo governo, mantendo a diretriz comercial e expansionista, produziu
um renascimento cultural e científico, republicando clássicos e antigas traduções da
literatura chinesa, impulsionando intercâmbios culturais e miscigenação populacional.
Neste período o budismo se desenvolveu como religião predominante da população.
Apenas com a dinastia Song, que reinou entre 960 e 1279 d.C, uma nova onda de
desenvolvimento volta à China. Com os Song, novas compilações de estudos foram
realizadas e Wang Weiyi projetou estátuas de bronze em tamanho natural com os mapas
dos meridianos e a localização de 564 pontos. Neste período, cresce o interesse pela
anatomia física e os estudos de dissecação foram permitidos pelo governo.
A dinastias Jin e Yuan (1115 – 1370 d.C) foram regimes que promoveram o
surgimento de muitas escolas médicas e cada uma delas disputava a primazia sobre os
princípios gerais. Liu Wansu enfatizava a relação entre o meio ambiente e as patologias,
explicando que as doenças estavam, na maior parte das vezes, relacionadas ao calor ou
ao fogo. Propunha a utilização de alimentação fria ou gelada para o tratamento. Zhang
Congzheng pressupunha a existência de fatores externos que eram responsáveis pela
patogenia, argumentando que a prática médica deveria expulsá-los. Li Dongyuan
46
afirmava que os danos ao Baço Pâncreas e ao Estômago eram as causas fundamentais das
doenças e o reequilíbrio interno destes Zang Fu era o foco da terapêutica. Zhu Zheheng
explicava que a maioria das pessoas sofre de insuficiência e o tratamento do Yin devia ser
o foco, especialmente porque a doença era um sinônimo de excesso de Yang (cf. FROIO,
2006, p. 28).
armado pelos ideais de igualdade social, com cerca de 3 milhões de rebeldes, e 340 mil
milicianos, resultando em 456 mil mortos. Apesar de fortemente reprimidas, as forças
rebeldes construíram um poder paralelo por mais de 10 anos em diversos territórios e
desmontaram as bases do governo, causando uma instabilidade política e o
enfraquecimento da dinastia.
Entre 1899 e 1900, uma espécie de partido armado mobilizou as massas para a
luta contra os europeus. Este movimento, conhecido como Revolta dos Boxers, foi
liderado por setores médios com formação marcial e lutava contra a invasão estrangeira,
atacando a diplomacia, as estradas de ferro, os telégrafos, as escolas ocidentais e tudo que
contribuísse para a ocidentalização da China. Ao longo de 1900, uma aliança entre
militares da Rússia, EUA, Inglaterra, França, Japão, Itália e Alemanha invade o império
e rende as forças rebeldes, definindo marcos ocidentais para todos os aspectos da vida
chinesa.
A saúde pública em geral foi caótica neste período. Com a economia em crise, os
espaços de cuidado eram precários e restritos às cidades, além de haver poucos médicos.
A matéria prima dos fármacos ocidentais era importada e isso tornava-os inacessíveis à
48
maior parte da população. A expectativa de vida caiu para 35 anos e houve epidemias de
peste bubônica com mais de 100 mil mortes, além de cólera, tuberculose, febre tifoife,
lepra e tétano (CULTURA Fisica y Sanidad, p. 132-133 apud FRÓIO, 2006, p. 31).
uma cultura nacional e como pilar da concepção de estado no bloco comunista são
aspectos que colocaram a MTC no terreno político de uma herança em disputa.
ensinada nas universidades francesas. Países como a Inglaterra, Romênia, Japão, Hungria
Finlândia, Áustria e Rússia também passaram a ter vários acupunturistas e desenvolver
linhas de pesquisa em acupuntura. Nos países do bloco comunista, especialmente na
antiga URSS, Áustria e Romênia, especialistas de Pequim promovem intercâmbios
acadêmicos e os anos 1960 são riquíssimos em investigações em eletrofisiologia e outras
concepções modernas. O instituto Ludwig Boltzmann na Áustria, torna-se modelo
europeu desenvolvendo um programa oficial de pesquisa (idem, ibidem, p. 02-04).
No Brasil, a medicina popular tem fortes raízes indígenas e africanas, com técnicas
de escarificação, sangrias, fumigações e ventosas, além da larga utilização de ervas nas
mais diversas preparações terapêuticas. Entretanto, coube aos jesuítas o reconhecimento
das propriedades medicinais dos vegetais nativos, logo incorporados à farmácia, como a
copaíba, o jaborandi, a ipecacuanha entre outros. A ‘cura’ proporcionada pelos jesuítas
51
e druídicas, nórdicas e célticas, mas também pela valorização dos saberes ancestrais maias
e astecas. Em todos os casos, as tradições absorvem uma ideia imanentista, necessária
para o entendimento da cosmologia oriental. Um segundo movimento cultural importante
foi a Nova Era, que difundiu valores progressistas de autodesenvolvimento e auto-
satisfação, apesar da atitude mística, propunha uma psicoterapia contemporânea, com a
expansão da consciência humana. E por fim, a noção de unidade de vida no planeta ou
unidade metafísica da existência, presentes no movimento rastafári, hippie, beat e no punk
puderam ser abrasileirados na tropicália, ampliando o interesse por estes sistemas de
pensamento e imprimindo um ethos capaz de produzir ressonâncias positivas às tradições
médicas que chegavam como ‘novidades’ (cf. NOGUEIRA E CAMARGO JR, 2007, p.
852-853; LUZ, 2005, p. 165-166).
Madel Luz explica que existe uma dupla crise que produz este fenômeno.
Primeiramente, a crise da medicina, que é resultado de um conjunto de forças
socioeconômicas e culturais, expressas no plano institucional, com os programas de
atenção, especialmente às populações de baixa renda. No plano ético, emerge o problema
da mercantilização das relações, que deteriora a unicidade do encontro entre médico e
paciente e produz uma perda da eficácia médica, ou seja, da função mesma do cuidado.
No campo bioético, as pesquisas genéticas têm sido produzidas com pouco cuidado aos
sujeitos, e no plano corporativo, destaca-se o esgarçamento e a competitividade entre as
especialidades médicas, bem como uma relação negativa com as outras categorias de
atenção à saúde. Por fim, a crise é aparente no quesito da formação profissional, quando
se evidencia a perda progressiva da capacidade de escalonar, planejar e resolver
problemas de saúde para grandes populações (LUZ, 2005, p. 149-150).
Por outro lado, há uma crise da própria saúde, fruto do aumento das desigualdades,
da perda de valores humanos e da pouca convivência social, do individualismo e do
consumismo. Em suma, resultado da precarização geral da vida,
4
Os ideogramas são símbolos gráficos que representam conceitos abstratos. Eles antecedem os alfabetos e
indicam estruturas mentais e educacionais distintas, na qual o sentido é posterior à grafia. Refinados por
cerca de seis mil anos, os desenhos transmitiam ideias completas e um conjunto imenso de significados que
poderiam ser contextual ou oralmente atribuídos. Apenas no século X a.C., os gregos iniciaram estudos
para desenvolver formas de escrever mais fáceis de serem ensinadas e mais precisas em significação. A
escrita alfabética acompanha um mundo em expansão colonial e o crescimento demográfico, a demanda de
escolarização e comunicação internacional. A racionalização do alfabeto permitiu uma pronúncia única e
um estatuto semântico e gramatical claramente definíveis, unificando os processos de transmissão
linguística e tradução. Entretanto, com o passar do tempo, as distâncias culturais entre os povos que utilizam
ideogramas e os povos alfabetizados foram se ampliando, de forma que hoje, qualquer tentativa de tradução
dos textos antigos da língua chinesa são sempre reinterpretações, na medida que nossa língua não dispõe
mais de recursos para explicar uma ideia abstrata com a mesma concisão (Cf. HAVELOCK, 1996).
57
5
A concepção cosmológica da acupuntura não é objeto deste texto, mas a título de contextualização do
leitor, segue-se a premissa neoconfuncionista que origina a visão do Tao adotada pela maioria dos estudos
da área. O princípio primeiro seria o não ser, a incompletude, a impermanência. Do movimento daí
derivado, nasce o Yang. Do extremo do movimento, passa a existir o repouso, Yin. O movimento e o repouso
são origens um do outro e pela separação de ambos, os modos fundamentais dos seres aparecem. Da
evolução do Yin e do Yang se engendram os elementos (água, fogo, madeira, metal e terra) e formam
‘sopros’, que se estendem como estações e ciclos da vida, originando um único conceito, o Yin – Yang. A
natureza e o sentido de tais formações seriam objetos de busca filosófica e existencial. Do céu se origina o
caráter masculino e da terra, o feminino. A união de céu e terra teria tornado possível a existência e a
evolução dos seres. O homem teria o privilégio de construir virtudes em sua natureza, regulando seus atos
e produzindo harmonia no universo. Esta harmonia – ou virtude – seria fruto da retidão, da bondade e da
justiça. Afastando-se das paixões, o homem goza ainda de tranquilidade e realiza a perfeição suprema.
58
O diagnóstico chinês deve ser baseado no estudo dos elementos, dos movimentos
da natureza e nos “oito princípios” fundamentados no Yin e Yang e em três de suas
subdivisões: frio e calor, deficiência e excesso, interno e externo.
Desta forma, o homem se desenha conforme o céu e a terra pela sua virtude, conforme o sol e a lua pela
sua inteligência, conforme as estações pela regularidade de sua conduta, conforme demônios ou espíritos
pela sua influência sobre a felicidade ou desgraça daí decorrentes. Daí decorre que a energia possa ser
definida como essência, princípio e fim de tudo, que se expressa diferentemente em cada forma particular,
em cada manifestação vital. Mas apenas o homem seria instrumento e fim da transformação – evolução da
energia. A possibilidade de ordenar racionalmente a circulação de energia seria o fundamento primário da
existência da acupuntura (cf. SUSSMANN, 1967, p.32 e segs).
59
neste sistema. Todo o diagnóstico concreto do paciente e a seleção dos pontos é baseada
nas desarmonias apresentadas no Zang Fu.
O sistema Zang Fu não é organizado não pelo conjunto de órgãos e vísceras que
agem individualmente para produzir a funcionalidade do corpo, mas como campo
contínuo de energias de densidades diferentes, materiais ou não. Como a palavra
composta sugere, cada um dos Zang é acoplado a um Fu, que lhe complementa a
funcionalidade. São, portanto, seis pares de órgãos e vísceras, que acoplados, manifestam
a harmonia do homem, conforme indica a tabela 2.
(Fonte: http://www.traditionalmedicine.net.au)
Outras decorrências sobre o sistema nervoso central são apontadas como possíveis
efeitos da punctura nos acupontos, tais como a modulação do sistema límbico (cf.
66
6
De forma geral, os tender points utilizados para o diagnóstico da fibromialgia correspondem a acupontos
importantes nos sistemas energéticos. Na inserção do suboccipital se encontra o ponto VB 20, que é um
dos “pontos do vento”. Na face anterior dos espaços intervertebrais da C5 e C7, na margem posterior ao
esternocleidomastóideo se encontram respectivamente o ID16 e o IG17 (FOCKS e MÄRZ, 2008, p. 114;
224). No ponto médio da porção superior do trapézio, na altura da C7 e na largura da extremidade do
acrômio, se encontra o VB21, ponto regulador do Yang (Yang Wei Mai), que regula o Qi, o TA e o
Estômago (idem, ibidem, p. 395). Na extremidade medial da fossa supra espinhal, encontra-se o ID13,
ponto que “torna permeável o canal de energia”, sendo importante no tratamento de dores na região medial
da escápula, ombro, cervical e região superior da torácica. Este ponto é doloroso à palpação na maioria das
pessoas. No músculo supra espinhal, na porção central da fossa espinhal, encontra-se o ID12, ponto que
elimina o vento e torna os meridianos de passagem (Luo Mai) permeáveis. É também o ponto de conexão
entre os meridianos da Vesícula Biliar, Triplo Aquecedor e Intestino Grosso (idem, ibidem, p. 220-221).
No segundo espaço intercostal, na linha médio clavicular, está localizado o R25, ponto que regula o Qi do
pulmão e abre o tórax, sendo empregado frequentemente quando os rins se encontram insuficientes. Este
ponto é conhecido como Chong Mai, ou Vaso Vital (idem, ibidem, p. 327). Na depressão entre a
extremidade da prega do cotovelo e o epicôndilo lateral do úmero, na região do extensor radial longo do
carpo, situa-se o IG11. Este ponto, denominado Ponto da Terra (He), ponto do Espírito ou Estrela do céu,
é um ponto importante para o tratamento de várias questões que atingem a extremidade superior do corpo.
Normalmente é dolorido à palpação, é um ponto de permeabilidade dos canais energéticos e tem ação sobre
o vento, a umidade e o fogo (idem, ibidem, p. 108). Situado no limite entre o terço médio e o lateral, entre
o hiato sacral e a proeminência do trocânter maior, o ponto VB30 é um ponto de passagem (Luo) e tem
ação sobre as dores na região do quadril e pernas, além de intervir na umidade e no vento. É o ponto de
partida do meridiano colateral da Vesícula Biliar e interage com toda a articulação da pelve e quadril (idem,
ibidem, p. 404). No quadrante supero-externo da nádega, na altura do forame sacral IV, localiza-se o Ponto
Extra Tunzhong – Ex-B, que torna permeáveis os canais de energia e Luo, atuando na atenuação da dor
lombar, irradiante não radicular e radicular nas costas (idem, ibidem, p. 540). Por fim, numa depressão do
vasto medial, próximo à margem medial superior da patela, situa-se o BP 10. Este é um dos pontos mais
importantes na regulação do sangue e também é utilizado como ponto local para o tratamento de dores no
joelho. Diretamente proximal à extremidade medial da prega do joelho, numa depressão anterior aos
tendões dos músculos semimembranoso e semitendinoso, localiza-se o Ponto F8 ou ponto Água, já que
nutre o sangue e o Yin, elimina a umidade e o calor do TA, beneficia as genitálias e o útero, além de ser
interessante para o tratamento de problemas no joelho (idem, ibidem, p. 181; p. 429). Como se pode
observar, os pontos dolorosos relacionam-se diretamente com energias externas e proteção dos sistemas, e
frequentemente, são pontos de confluência energética.
68
Tal quadro é uma “aflição isolada dos meridianos”. Entretanto, nos quadros
crônicos e nas pessoas idosas, os fatores internos (deficiências de Qi e sangue) se tornam
determinantes no desenvolvimento da doença. Neste processo, as articulações são os loci
onde prioritariamente se estagnam energias, e nestas regiões a invasão de fatores
patogênicos é mais fácil. O espaço entre a pele e os músculos, denominado de Cou Li,
constitui-se no espaço onde o Qi de defesa se move, protegendo o corpo dos fatores
patogênicos. No caso em questão, a deficiência de Qi permite que o espaço se abra,
ficando desprotegido e propenso às agressões externas (idem, ibidem, p. 571).
Por esta lógica, a proposta seria beneficiar os Rins e fortalecer o Vaso Governador,
pois o Qi de defesa é de natureza Yang e tem sua raiz Yang no Rim e no Vaso Governador.
O fígado nutre os tendões e o Rim, os ossos. Quando os fatores patogênicos atravessam
o corpo, Rins e Fígado ficam sobrecarregados e a nutrição destes elementos corporais é
esgotada, o Yang do Rim não consegue evaporar energia e formar o fluido sinovial,
70
Os pontos distais são pontos localizados nas extremidades do corpo. Também são
chamados pontos antigos, Su ou Shu. São utilizados com base na reflexologia e aplicados
aos meridianos da mesma polaridade, devendo ser utilizados contralateralmente de
acordo com a correspondência articular reflexa, por exemplo ombro e quadril, cotovelo e
joelho, pulso e tornozelo etc.
Os pontos adjacentes teriam ação de acordo com a área, pelo trajeto dos
meridianos. Para a região do pescoço – VB 21, VG14 e B11; ombro – ID9, ID10, ID11,
ID12, ID13, ID14, ID15, TR13, TR15, VB21, IG14; cotovelo – ID13, IG10, IG14; pulso
71
– TR5, P7; dedos das mãos – TR5; sacro – B23; quadril – VB41; Joelho – BP10, E34;
tornozelo – R7, VB34, E36; dedos dos pés – BP4, E41, VB34 e BP9 (cf. idem, ibidem,
p. 577).
Quando identificada a síndrome de tipo Frio, utilizar agulha e moxa para tonificar
os pontos E36, VC6, B10, VG14, VG3, B23 e VC4. No Compendium, os pontos sugeridos
são IG11, P7, VB30, VB31, B40, BP5, F4 e VB41.
A síndrome de tipo Umidade deve ser tratada a partir dos pontos BP9, BP6, VB34,
E36, em sedação nos casos agudos e neutro nos casos crônicos. O ponto B20 deve ser
tonificado com agulha ou moxa. As articulações edemasiadas podem ser sangradas e
aplicadas moxas em varredura. No Compendium, há sugestão diferencial do ponto B17
em punctura neutra para os casos de Umidade.
Nos casos de deficiência do Qi e do Sangue, os pontos E36, VC4, F8, B20 e B23
devem ser tonificados. Nos casos de mucosidade articular, os pontos E40, BP9, BP6, VC9
72
devem ser puncturados de forma neutra ou sedados e os pontos VC12 e B20 devem ser
tonificados. Nos casos de estase de sangue, os pontos BP10, B17, CS6, BP6, IG11 devem
ser sedados. Nos casos de deficiência do Fígado e dos Rins, os pontos F8, R3, BP6, VB39,
B18, B23, VC4, B11, VB34 e E36 devem ser tonificados (idem, ibidem, p. 578-579; p.
653).
7
De acordo com o site oficial, “o Método Rolfing de Integração Estrutural é um sistema de reorganização
da estrutura corporal humana, criado pela bioquímica norte-americana dra. Ida Rolf. Tem como objetivo
alinhar e equilibrar o corpo em relação a seu eixo vertical, tendo como referência sua relação com a força
de gravidade e, como fundamento, as propriedades físico-químicas do tecido conjuntivo. Propõe uma
organização corporal mais bem equilibrada do organismo como meio de lidar com conflitos físicos e
emocionais: uma pessoa com o corpo mais bem alinhado e equilibrado simplesmente vive melhor, com
menos estresse e mais energia. Dores crônicas da coluna e articulações, tendinites, artrites e artroses,
cervicalgias, lombalgias, ciatalgias, fasciítes e fibromialgias, bem como suas manifestações emocionais
associadas, compõem sintomas que encontram na reorganização da estrutura corporal a pré-condição
necessária para uma solução global e duradoura” (Cf. http://www.metodorolf.com/).
75
Usando dados oficiais dos atendimentos prestados pelo Seguro Nacional de Saúde
de Taiwan, os autores realizaram uma propensão com pontuações (modelo de regressão
de Cox) para analisar os índices de doenças cardíacas nos pacientes com fibromialgia que
receberam acupuntura em comparação ao grupo com o mesmo diagnóstico que não foi
submetido a esta modalidade terapêutica (WU et al, 2017).
8
A nomenclatura original dos pontos foi mantida por não ser correspondente às traduções disponíveis.
76
estiveram presentes em 0,97% dos casos de pacientes com fibromialgia sem o tratamento
de acupuntura e em 0,86% dos casos com acupuntura (WU et al, 2017, p. 02-03).
Além do tratamento indicado como base para atenuação das dores, os dados da
pesquisa revelam que a acupuntura tem uma eficácia estatisticamente válida na
diminuição da incidência de comorbidades relacionadas à fibromialgia.
9
O questionário de Impacto de Fibromialgia – FIQ é um instrumental de avaliação das condições dos
pacientes, organizado pela Sociedade Americana de Reumatologia. No Brasil, uma validação adaptada às
condições de vida e limiar de dor foi produzida por Marques et al (2006).
10
A Escala Visual Analógica – VAS é uma reta de 10 cm de comprimento desprovida de números com as
indicações ‘ausência de dor’ e ‘dor insuportável’ nos extremos. Os pacientes indicam onde, de 0 a 10, está
a dor que sente.
77
Os casos de estase de Sangue foram tratados com a adição dos pontos E10 e B17.
Outras queixas percebidas ou relatadas foram tratadas com pontos especificamente
sintomáticos: para ansiedade, foi adicionado o Yintang; para depressão, o VG20; para
astenia severa, o E36; para insônia, o C7; para irritabilidade, o CS6. Em casos de inibição
da libido, foi adicionado o VG4; casos de incontinência urinária, foram tratados com o
B52; casos de diarreias, com o BP9. Para os suores noturnos, foi adicionado o C6.
Os ataques de dores também foram especificados. Nos casos onde havia queixa
de dores severas e generalizadas, foi utilizado o BP21. Quando a queixa se referia à dor
de cabeça occipital, foi puncturado o VB20. Nos casos de dor de cabeça temporoparietal,
foi utilizado o Taiyang (bilateral); quando foi relatada a presença de dor no pescoço,
foram utilizados os pontos VB20 e VB21. Quando a queixa era referente à dor nas costas,
o ponto ID12 foi puncturado. Nos casos de braquialgia, foi utilizado o IG10, e as
lombalgias foram tratadas com os pontos B23 e B25. A dor nos quadris ou trocânteres foi
tratada com a adição dos pontos VB 29 e VB 30.
78
Foi demonstrado que o protocolo tem uma força clínica básica e flexibilidade
suficiente para responder a sintomatizações diversas. Apesar disso, considera-se que a
acupuntura tradicional deva ser uma prática clínica individualizada. O padrão deve ser
um modelo para teste, e não necessariamente pode ser replicado em quaisquer
circunstâncias. Os efeitos obtidos foram inferiores aos esperados no padrão de prática
clínica individual, embora os algoritmos possam auxiliar nas manifestações clínicas mais
comuns (idem, ibidem, p. 8-9).
Para o primeiro grupo, foram utilizadas as agulhas 0,25 x 40mm por 30 minutos,
puncturadas subcutaneamente entre 10 e 30 mm. nos pontos IG4, E36, F3, VB41, VB34,
VB20, ID3, ID4, B62, B10, BP6, C7, VG20, VG14, R27, VC7, CS6. Para o segundo
grupo, foram utilizados dispositivos não penetrantes (agulha retrátil e uma cânula pré-
cortada e fixada por uma almofada). Quando pressionada, ela se desloca e induz uma
sensação de picada (UĞURLU et al, 2017, p. 32-33).
Na região lombar, as dores no Ílio costal, desde a parte costal das escápulas até a
fossa ilíaca foram tratadas pelo B49. Do Latissimo do dorso com irradiação para o glúteo,
foi utilizado o ponto B22. Dores lombares e sacrococcígeas com irradiação superior foram
tratadas com os pontos B30, B23 e B27.
11
A nomenclatura original deste ponto foi mantida, pois não foi encontrada tradução adequada para o
português.
82
A intervenção com ventosa foi realizada com varredura nos meridianos da Bexiga
e Vaso Governador, e fixação nos pontos dolorosos (Ashi) por 10 minutos. O vácuo foi
estabelecido por fogo, e variou de acordo com o diâmetro dos copos (de 5,3 a 9 cm). A
intervenção com acupuntura foi realizada com inserção de agulha 25 x 0,40 mm nos
pontos Ashi e manipulação por 15 segundos, em tonificação, sedação ou Qi. Após a
manipulação, as agulhas foram mantidas por 30 minutos (CAO et al, 2014, p. 3).
A tese de Rosa Araújo buscou analisar a acupuntura como tratamento de dor nos
casos de fibromialgia. Foram selecionadas 58 mulheres com diagnóstico de fibromialgia
e divididas aleatoriamente em dois grupos. Ambos foram medicados com antidepressivos
tricíclicos, fizeram caminhada e relaxamento duas vezes por semana. Apenas no primeiro
grupo as mulheres foram tratadas com acupuntura. Para as pacientes deste grupo, foram
realizadas duas sessões de 20 minutos por semana, com agulhas de 0,25 x 40 mm. Foram
escolhidos pontos sintomáticos para alívio da dor, ansiedade e depressão: Yin Tang, F3,
IG4, CS6, VB 34, BP6 com angulação perpendicular (exceto para o Yin Tang, 45º) até a
sensação do Qi (ARAÚJO, 2007, p. 37-41).
De forma geral, os autores concluem que a acupuntura foi mais efetiva, mais bem
tolerada, mais barata e trouxe menos reações adversas ao tratamento das pacientes com
fibromialgia, sendo benéfica tanto no sintoma principal (dor) como nos demais sintomas
relacionados (idem, ibidem, p. 638).
12
O Inventário do Sono é um instrumental de autoria de Bonnet e Webb (1976), onde se desenvolve um
mecanismo objetivo e subjetivo de análise da qualidade do sono. O paciente gradua cada item do
questionário em escala visual, somando-se os escores para definição da pontuação final.
88
trabalho dos autores informa que efeitos imediatos sobre a dor são preponderantes para a
expansão da qualidade de vida, e neste caso, o agulhamento local teve mais impacto na
sintomatologia das pacientes.
autores inferem que os meridianos tratados com os pontos Ashi promoveram uma
remoção da umidade e dispersão do frio, possibilitando uma restauração do fluxo do Qi
e Xue (idem, ibidem, p. 166-167).
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
13
No Consenso brasileiro do tratamento da fibromialgia, a acupuntura obteve um grau de recomendação
C, sem nível de evidência explícito, e conforme já dito neste texto, não foi uma alternativa consensuada. A
base empírica para tal pode ser encontrada no guia da Sociedade Americana da Dor – American Pain
Society, onde se encontra o estudo de Buckhardt et al (2005). Ver: Heymann, 2010.
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O problema das terapêuticas naturais num mundo medicalizado parece ser uma
questão cujas respostas ainda estão bem distantes, e exige novos estudos que analisem o
emprego da acupuntura como parte de um tratamento integrado à alopatia, e
especialmente, a construção de projetos terapêuticos tomando como base as medicinas
naturais.
A defesa de uma tradição inventada também foi uma questão que ficou latente. É
possível que a imprecisão dos mapas, as milhares de traduções de traduções, a distância
civilizacional e todos os aspectos que fazem a acupuntura ser uma prática tão distante de
nós, nos torne incapazes de desenvolvê-la da forma ‘tradicional’. Os franceses e seus
pontos fisiologicamente demonstrados têm uma parcela de razão, e as técnicas de
punctura ashi demonstram isso com certo grau de evidência. Além disso, tais estudos
enfatizam uma demanda real na prática clínica, que é a resposta rápida para o controle da
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REFERÊNCIAS
ANEXOS