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INSTITUTO BRASILEIRO DE RECURSOS AVANÇADOS

LAÍSSA SANTIAGO

USO DA DIETOTERAPIA CHINESA COMO COADJUVANTE NO


TRATAMENTO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA
RELATO DE CASO

SÃO PAULO
2021
LAÍSSA SANTIAGO

USO DA DIETOTERAPIA CHINESA COMO COADJUVANTE NO


TRATAMENTO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA
RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito para a obtenção do título de pós
graduação em Acupuntura Veterinária pelo IBRA –
Instituto Brasileiro de Recursos Avançados

Orientador: Profª. Drª. Amanda Carolina Reis

SÃO PAULO
2021

Orientador: Prof.______________________
INSTITUTO BRASILEIRO DE RECURSOS AVANÇADOS

FOLHA DE APROVAÇÃO

LAÍSSA SANTIAGO

USO DA DIETOTERAPIA CHINESA COMO COADJUVANTE NO


TRATAMENTO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como requisito para obtenção do título de Pós
graduação em Acupuntura veterinária, pelo IBRA
- Instituto Brasileiro de Recursos Avançados

Banca Examinadora

_______________________

_______________________

_______________________
Santiago, Laíssa.
Uso da dietoterapia chinesa como coadjuvante no tratamento da do-
ença renal crônica – relato de caso/ Laíssa Caroline de Abreu Santi-
ago. – São Paulo 2021. – 30 f.

Trabalho de conclusão de curso – Instituto Brasileiro de Recursos


Avançados: Profª Amanda Carolina Reis

1. Dietoterapia chinesa 2. Doença renal crônica I. Título


Aos familiares e amigos que estiveram ao meu lado e me apoiaram nesta
caminhada tão especial
AGRADECIMENTOS

Aos animais que fizeram e fazem parte da minha vida, que pude ter experi-
encias maravilhosas de aprendizado. Gratidão pelo amor genuíno e incondicio-
nal, em especial Lucky, Bud e Sol que me ensinam diariamente sobre lealdade,
respeito e compaixão aos seres vivos.

A todos que diretamente ou indiretamente fazem parte da minha trajetória.

.
RESUMO

A insuficiência renal crônica é uma síndrome de caráter prolongado, que pode aco-
meter cães e gatos durante meses ou até anos sem manifestações clínicas, pois estas
somente estarão presentes quando os néfrons tiverem um acometimento maior que
67%. O tratamento através da Medicina Chinesa é uma forma de minimizar a deterio-
ração contínua do funcionamento renal e fornecer uma maior qualidade de vida ao
paciente. A Medicina Chinesa nos traz um olhar completo e amplo sobre a nutrição e
a função dos alimentos no corpo. Devido ao fato da MTC abranger uma ampla estru-
tura de interações, ela pode ser usada como um tratamento e prevenção de doenças.
A dietoterapia chinesa constitui um dos pilares mais importantes da Medicina Tradici-
onal Chinesa, tem como objetivo: tonificar os órgãos, equilibrar o Qi, promover a sa-
úde e a nutrição através de uma alimentação saudável e natural.

Palavras-chave: Medicina Tradicional Chinesa. Doença Renal. Dietoterapia.


Nutrição. Saúde.
ABSTRACT

Chronic renal failure is a syndrome of prolonged character, which can affect dogs and
cats for months or even years without clinical manifestations, as these will only be
present when the nephrons are more than 67% affected. Treatment using Chinese
medicine is a way to minimize the continuous deterioration of kidney function and pro-
vide a better quality of life for the patient. Chinese medicine gives us a complete and
broad look at nutrition and the function of food in the body. Due to the fact that TCM
encompasses a wide structure of interactions, it can be used as a treatment and pre-
vention of diseases. Chinese diet therapy is one of the most important pillars of Tradi-
tional Chinese Medicine, it aims to: tone the organs, balance Qi, promote health and
nutrition through healthy and natural food.
Keywords: Traditional Chinese Medicine. Kidney disease. Diet therapy. Nutrition.
Health.
LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 - Símbolo Tao 09

Figura 2 - 5 elementos 10

Figura 3 - Relógio MTC 12


SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

2. CONCEITOS MTC ................................................................................................ 12

2.1 OITO PRINCIPIOS .............................................................................................. 12

2.2 CINCO MOVIMENTOS ....................................................................................... 14

2.3 SUBSTANCIAS VITAIS ....................................................................................... 15

2.3.1 QI ..................................................................................................................... 15

2.3.2 XUE .................................................................................................................. 16

2.3.3 ESSÊNCIA (JING) ............................................................................................ 17

2.3.4 JIN YE .............................................................................................................. 17

2.4 ZANG FU............................................................................................................. 18

3. DIETOTERAPIA CHINESA................................................................................. 18

3.1 NATUREZA TÉRMICA ........................................................................................ 19

3.2 DIREÇÃO ............................................................................................................ 20

3.3 SABORES ........................................................................................................... 20

4. DOENÇA RENAL PELA MTC............................................................................. 22

4.1 DEFICIÊNCIA DE YIN DO RIM ........................................................................... 23

4.2 DEFICIÊNCIA DE YANG E QI DO RIM............................................................... 23

4.3 DEFICIÊNCIA DE ESSÊNCIA (JING) ................................................................. 24

4.4 DEFICIENCIA DE XUE ....................................................................................... 25

5. DIETOTERAPIA CHINESA PARA DOENÇAS RENAIS ..................................... 25

5.1 DIETOTERAPIA NA DEFICIÊNCIA DE YIN DO RIM .......................................... 25

5.2 DIETOTERAPIA NA DEFICIÊNCIA DE YANG E QI DO RIM ............................. 26

5.3 DIETOTERAPIA NA DEFICIÊNCIA DE JING ..................................................... 26

6. RELATO DE CASO ............................................................................................ 26

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 28


1. INTRODUÇÃO

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) fala sobre equilíbrio e desequilíbrio.


Inclinando-se a balança para qualquer direção, pode originar desequilíbrios. O estado
de saúde é um constante equilíbrio. Em um determinado momento se o equilíbrio é
afetado, a doença pode se desenvolver (SCHWARTZ, 1996).
A proposta de saúde na medicina tradicional chinesa envolve o uso de
plantas medicinais, além de alimentação, meditação, massagem e estimulação de
pontos específicos no corpo, conhecida como acupuntura.
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, Yin e Yang estão contidas em
Tao, o princípio básico de todo universo (REICKMANN, 2002). A MTC considera o
corpo o produto do equilíbrio entre as duas forças – ou energias – naturais opostas,
mas complementares: a força feminina Yin e a força masculina Yang. A energia Yin é
passiva, tranquila e representa a escuridão, o frio, umidade e contração. A energia
Yang é agressiva, estimulante, representa luz, o calor, secura e expansão. O
desequilíbrio entre Yin e Yang causará doenças. Para a medicina chinesa, o
desequilíbrio entre Yin e Yang pode afetar o organismo de todas as formas, através
de doenças e emocionalmente (COUTINHO, 2015).
A insuficiência renal crônica é uma síndrome de caráter prolongado, que
pode acometer cães e gatos durante meses ou até anos sem manifestações clínicas,
pois estas somente estarão presentes quando os néfrons tiverem um acometimento
maior que 67% (LUSTOSA & KOGIKA, 2003). A MTC caracteriza a insuficiência renal
crônica como uma deficiência severa de Yin, Yang ou sangue dos rins. Isto significa
que os rins já apresentam danos à sua estrutura, função e nutrição (SCHWARTZ,
2008).
A medicina ocidental lida muito bem com doenças agudas e tem técnicas
cirúrgicas avançadas. A MTC pode ser muito benéfica para doenças crônicas,
especialmente aquelas que a ocidental pode apenas controlar, mas não curar. Em
geral, os objetivos da MTC e da medicina ocidental são os mesmos: ambas pretendem
promover saúde e prevenir doenças. Portanto, através da integração dos dois
sistemas, pode-se aproveitar os pontos fortes de cada um e, ao mesmo tempo
minimizar suas fraquezas (XIE; PREAST, 2012).
Entre as modalidades de tratamento oferecidas pela medicina chinesa, está
a dietoterapia chinesa. Ela é conhecida como método de tratamento em que se
utilizam alimentos e pode ser utilizada tanto para preservação da saúde como para
tratamento. Os alimentos podem nutrir, ajudar na expulsão de fatores patogênicos e
fortalecer os órgãos internos, conforme a necessidade do indivíduo (ANTUNES,
2015).
Para os cães e gatos, os aromas, sabores e texturas são muito mais
interessantes do que os nutrientes e calorias que um alimento apresenta. Estes
parâmetros são muito semelhantes aos utilizados pela dietoterapia chinesa na
classificação dos alimentos, que os identifica de acordo com a temperatura, direção
da energia, sabor e com quais sistemas internos estes alimentos se relacionam
(SCHWARTZ, 2008).
Assim, percebendo a importância da alimentação natural como apoio
terapêutico e associando este fato aos benefícios da MTC como tratamento
alternativo, o objetivo deste trabalho é descrever os principais aspectos relacionados
a doença renal crônica sob a visão da medicina tradicional chinesa, métodos para
alcançar desde o diagnóstico até seu respectivo tratamento através da dietoterapia
chinesa.

2. CONCEITOS MTC

Dentre os conceitos mais importantes da MTC, necessários para a compreen-


são da dietoterapia, estão: oito princípios, cinco movimentos (ou cinco elementos),
substâncias vitais, e sistemas internos (Zang Fu). A teoria dos oito princípios tem sua
origem nos conceitos primordiais de Yin e Yang. Estes conceitos caracterizam a qua-
lidade, a quantidade e a localização dos problemas encontrados nos organismos. Os
oito princípios são compostos pelos conceitos de Yin e Yang, interior e exterior, frio e
calor, deficiência e excesso (SCHWARTZ, 2008).

2.1 OITO PRINCIPIOS

A teoria dos oito princípios tem sua origem nos conceitos primordiais de Yin e
Yang. Estes conceitos caracterizam a qualidade, a quantidade e a localização dos
problemas encontrados nos organismos. Os oito princípios são compostos pelos con-
ceitos de Yin e Yang, interior e exterior, frio e calor, deficiência e excesso
(SCHWARTZ, 2008).
A teoria do Yin e Yang considera que tudo o que existe no universo encerra
dois princípios opostos, como: o dia e a noite, claro e escuro, calor e frio, atividade e
repouso, feminino e masculino. São extremos opostos que não existem um sem o
outro e que se completam num processo dinâmico (AUTEROCHE, B.; NAVAILH
1992). É representado pelo símbolo do Tao (figura 1).

Figura 1 – Símbolo do Tao

Fonte: Queiroz, 2013.

Para o correto desempenho das atividades fisiológicas, é necessário portanto


que haja um equilíbrio entre substância e atividade, entre forças materiais e função,
entre Yin e Yang. É na desarmonia desses elementos que surgem as doenças, e por
esse motivo o conceito de Yin e Yang é tão importante para o diagnóstico na MTC
(JIA, 2004).

Os princípios de interior e exterior indicam a localização da condição. As con-


dições exteriores tendem a ser agudas, e de rápida resolução. Porém, se agravadas,
as condições exteriores podem se aprofundar no organismo e tornarem-se condições
interiores, as quais afetam normalmente órgãos internos, são crônicas e de difícil tra-
tamento e eliminação. As condições interiores também podem advir de problemas
emocionais ou hereditários. Por fim, excesso e deficiência quantificam e qualificam as
características dos indivíduos. Isso significa que podem denotar as quantidades dos
outros princípios (i.e., excesso de Yang ou deficiência de calor) e também indicar o
modo como cada animal reage e representa as suas condições. Um animal com uma
condição de deficiência, por exemplo, tende a ser mais quieto e silencioso. Já uma
condição de excesso pode levar a movimentação vigorosa e vocalizações intensas.
Assim, cada animal poderá apresentar uma ou mais combinações dos oito princípios,
e não apenas um deles, e para cada uma dessas combinações, deverá ser associada
uma dieta diferenciada, com características específicas (SCHWARTZ, 2008).

2.2 CINCO MOVIMENTOS

Tal como a teoria do YIN e do YANG, a teoria dos 5 elementos tem como base
os fatores observados na natureza. Os cinco elementos são: madeira, fogo, terra, me-
tal e água. Estes elementos estão cada um relacionado com os órgãos e vísceras,
energias, partes do corpo, direções, evoluções, secreções, sabores e odores, entre
outras características (SCHWARTZ, 1996).

Os cinco elementos estão diretamente associados a órgão e vísceras e respec-


tivas funções fisiológicas e energéticas, que se inserem num ciclo de eventos natural,
chamado Ciclo de Geração ou Ciclo Sheng onde poeticamente os chineses dizem: “O
Fogo queimou, criando a Terra. A terra deu origem às montanhas que contêm o Metal.
O Metal separou-se fazendo caminho para a Água. A Água flui e nutre a madeira das
árvores. E as árvores acendem o Fogo” (SCHWARTZ, 1996).

Figura 2: 5 elementos

Fonte: ALONSO, 2016.

No ciclo de geração, os cinco movimentos assemelham-se a um círculo, no


qual a água gera a madeira, a madeira gera o fogo, o fogo gera a terra, a terra gera o
metal e o metal gera a água. Na sequência de controle, por outro lado, cada elemento
controla e é controlado por outro, assemelhando-se ao formato de uma estrela. Assim,
a água controla o fogo, o fogo controla o metal, o metal controla a madeira, a madeira
controla a terra e a terra controla a água.

Na visão da MTC, os cinco movimentos ocorrem em todas as células e tecidos


do organismo. São a fisiologia interna do corpo, a mente e as interações com o meio
exterior. Dessa forma, quando um órgão ou sistema estiver afetado, ele determinará
o padrão da patologia instalada e as manifestações desse desequilíbrio na mente e
no corpo (JIA, 2004).

2.3 SUBSTANCIAS VITAIS

A MTC considera as funções do corpo e da mente resultados da interação das


substâncias vitais. O funcionamento de todos os órgãos e tecidos do corpo depende
diretamente da capacidade de suprimento destes elementos fundamentais. O corpo e
a mente são vistos não como um mecanismo, mas sim como um círculo de energia e
substâncias vitais interagindo umas com as outras. Qi, sangue (Xue), essência (Jing)
e fluidos corpóreos e Shen Men (ZHUFAN e JIAZHEN, 1997; MACIOCIA, 2014).

2.3.1 QI

O conceito do Qi é baseado no entendimento dos fenômenos naturais. Qi é o


elemento básico que constitui o cosmo e que produz tudo o que há no Universo, por
meio de seus movimentos e mudanças. O que pode ser observado do Qi são as ativi-
dades funcionais que ele promove. O Qi pode ser inato ou adquirido: o Qi inato está
no organismo ao nascimento, é herdado dos progenitores; o Qi adquirido é o resultado
da combinação da essência dos alimentos, obtida pela digestão, e do ar inalado pelos
pulmões. Juntos, formam o Qi genuíno, que é distribuído para órgãos e tecidos do
corpo, e é responsável por todas as atividades funcionais do organismo e pela resis-
tência aos fatores patogênicos (ZHUFAN e JIAZHEN, 1997).

Para além das tantas outras vias de circulação, em MTC, a circulação máxima
de QI por cada órgão e víscera dá-se através de um ciclo circadiano onde se consi-
dera que, num determinado horário, a energia e função no órgão/víscera é máxima.
O QI inicia o seu ciclo às 3h no Pulmão e acaba novamente as 3h no Fígado, circu-
lando por cada órgão e víscera num período de duas horas (Figura 3).
FIGURA 3: Relógio MTC

FONTE: RAMOS, 2015

É preciso observar o prato que estamos comendo e quais alimentos real-


mente são necessários para cada corpo, procurando respeitar os horários de con-
sumo e os alimentos que nos fazem bem (ARANTES, 2015).

2.3.2 XUE

O Sangue (Xue) é uma importante substância nutritiva, vital para a atividade


humana. Se o Sangue (Xue) é deficiente isto irá afetar as funções das vísceras, teci-
dos e órgãos conduzindo para várias doenças. (Xue-sheng, 2007).

O Sangue (Xue) tem duas origens diferente e complementares segundo a Me-


dicina Chinesa:

1. Jing Qi Adquirido - A essência obtida dos alimentos e água depois da diges-


tão e a absorção por parte do estômago e do Baço (Pi) passa pelo Coração
(Xin) e Pulmão (Fei), se converte em Sangue (Xue) vermelho mediante a
ação de transformação após ação do Zong Qi (Guang-ren, Sun, 2014).
2. Jing Qi (Essência) de onde é armazenada no Rim, está relacionado à for-
mação do Sangue (Xue) por promover o processo de preenchimento da Me-
dula. O Qi do Rim (Shen) ao promover a função do Baço (Pi), do Pulmão
(Fei) e do Coração (Xin), estimula a formação de Sangue (Xue) (ALMEIDA,
2016).

2.3.3 ESSÊNCIA (JING)

A essência (Jing) pode ser diferenciada em três tipos: pré-celestial, a qual de-
termina a constituição básica inicial de cada animal e é fruto da harmonia das energias
da fêmea e do macho durante a concepção; pós-celestial, a qual é refinada e extraída
dos alimentos pelo estômago e pelo baço após o nascimento; e a essência do rim, a
qual deriva dos anteriores, ou seja, é hereditária porém reabastecida pela energia do
ar e dos alimentos. Esta última ainda determina crescimento, reprodução, desenvolvi-
mento, maturação sexual, concepção e prenhez. Diferentemente do Qi, a essência
não pode ser reabastecida com facilidade (MACIOCIA, 2014; SCHWARTZ, 2008).

2.3.4 JIN YE

O conceito de líquidos orgânicos ou JIN YE engloba a totalidade dos líquidos


secretados e excretados pelo corpo, tais como: lágrimas, urina, líquido articular, corri-
mento nasal, saliva, fluido estomacal, intestinal e suor. A via das águas, como é cha-
mada na MTC à formação e distribuição dos líquidos orgânicos, é um processo com-
plexo que envolve o baço, estomago, pulmão, rim, intestinos e bexiga e o triplo aque-
cedor que é considerado na MTC como um órgão que participa na digestão e na via
das águas. O alimento e o líquido ingerido ao serem processados pelo baço ocorre
uma separação do líquido puro do impuro. O líquido puro é aquele que é novamente
absorvido para funções orgânicas, enquanto o impuro percorre as vísceras até à be-
xiga, é filtrado e aproveitado em cada passagem, sendo eliminado pela bexiga apenas
o líquido que não pode ser reabsorvido para funções orgânicas (XIE, 2007).

Têm como funções umedecer e nutrir pele e músculos, além de compor a por-
ção líquida do sangue, impedindo a estase sanguínea. Os líquidos são mais densos
e turvos, movendo-se mais lentamente que os fluidos. Têm como funções umedecer
articulações, espinha, cérebro e medula óssea, olhos, orelhas, nariz e boca. Os fluidos
corpóreos são transformados e transportados pelo Qi, que também os mantém no
interior do organismo. Assim, deficiência de Qi pode provocar estagnação dos fluidos
corpóreos, dando origem às patologias (MACIOCIA, 2014).

2.4 ZANG FU

Os sistemas Zang são considerados Yin, enquanto os Fu são considerados


Yang. Os sistemas Fu transformam e refinam os alimentos e líquidos para extrair as
essências puras, as quais serão armazenadas pelos órgãos Zang. Assim, os sistemas
Yin ou Zang representam a estrutura, enquanto os Yang ou Fu representam sua fun-
ção (MACIOCIA, 2014).

Na visão sistêmica da MTC, cada um destes sistemas internos está relacionado


funcionalmente à determinada substância vital, tecido, emoção e órgão dos sentidos.
Assim, o Coração governa o sangue, controla os vasos sanguíneos, abriga a mente e
abre-se na língua; o Fígado armazena o sangue, controla os tendões, abriga a alma
etérea e abre-se nos olhos; o Pulmão governa o Qi, controla os meridianos, abriga a
alma corpórea e abre-se no nariz; o Baço controla o sangue e os músculos, abriga o
pensamento e abre-se na boca; o Rim armazena a essência (Jing), produz a medula,
abriga a força de vontade e controla os dois orifícios inferiores. Essas funções, con-
tudo estão inter-relacionadas pois cada sistema afeta e é afetado por outro sistemas,
e não ocorrem isoladas em compartimentos (MACIOCIA, 1996).

3. DIETOTERAPIA CHINESA

O embasamento teórico da nutrição ocidental tem como foco a análise da


composição dos alimentos, bem como a sua categorização quantitativa. Essa
categorização é baseada nos componentes materiais dos alimentos, como proteínas,
carboidratos, lipídeos, minerais, entre outros (KASTNER, 2004).
É importante ressaltar que, em dietoterapia chinesa, os alimentos são
sugeridos conforme suas respectivas qualidades energéticas, e não por suas
características nutricionais como zinco, ferro ou vitaminas. Obviamente não se pode
negar os estudos acerca da nutrição. Eles também são válidos; entretanto, na época
em que a medicina tradicional chinesa surgiu, não havia o conhecimento de
carboidratos, proteínas ou lipídios, e o estudo da direção do qi e das naturezas do yin
e do yang permaneceu como fator principal na escolha dos alimentos e das ervas para
tratamento, sobretudo porque esse é o olhar que permeia o pensamento oriental. Para
os chineses, muitas vezes o hábito de comer determinados alimentos contribuem
significativamente para o agravamento de uma doença, porque eles acreditam que a
característica nutricional dos alimentos não é mais importante do que sua natureza e
direção de energia (ARANTES, 2015).
Assim, os alimentos podem ser classificados conforme sua direção, seu
sabor e sua natureza térmica (KASTNER, 2004; SCHWARTZ, 2008).

3.1 NATUREZA TÉRMICA

Os alimentos Yang possuem, em geral, energias quentes ou mornas e geram


calor no corpo, enquanto os alimentos Yin, em geral, têm propriedades frias ou frescas
e resfriam o corpo. Os alimentos molhados e úmidos são classificados como Yin e os
alimentos secos e crocantes, como Yang (LORRAINE, 2008).
Alimentos frios, como o melão, geram frio no interior do organismo,
esfriando calor interno e acalmando a mente (Shen). São utilizados em animais com
enfermidades que provoquem sintomas de calor, como inflamações, ou com
personalidades agressivas ou excessivamente agitadas. Alimentos refrescantes,
como o tofu, tem a propriedade de tonificar os fluidos corpóreos (Jin Ye) e o sangue,
além de desacelerarem o Qi e atenuarem o calor. São utilizados no tratamento das
mesmas alterações tratadas pelos alimentos frios, porém de forma mais branda. Os
alimentos mornos, como o frango e a aveia, fortalecem o Yang e o Qi, esquentam o
corpo, o Triplo-aquecedor, os intestinos e as vísceras, auxiliando a circulação e a
digestão. Alimentos quentes, como o gengibre, aumentam o Yang, aceleram o Qi,
intensificam o calor, têm característica ascendente e de exteriorização, aquecem os
sistemas internos (Zang Fu), eliminam frio e mobilizam o Qi defensivo (Wei Qi). São
utilizados para tratar enfermidades que se agravam no frio, como as artrites, ou que
cursem com quaisquer sintomas de frio interior. Por fim, alimentos neutros, como os
ovos, a batata e o mel, são ideais para o equilíbrio, pois não criam nenhuma qualidade
térmica específica, porém nutrem o Qi e os fluidos corpóreos e estabilizam o corpo
(KASTNER, 2004; SCHWARTZ, 2008; ARANTES, 2015).
Quadro 1 – Natureza térmica
FRIOS E FRESCOS NEUTROS QUENTES E MORNOS

Carne bovina Frango


Cação
Ovo inteiro Carneiro
Laticínios
Polvo Cordeiro

Grão de bico Gema de ovo
Coelho
Lentilha Fígado
Peru
Ervilha Rim
Tofu
Batata Camarão
Pepino
Maçã Lagosta
Melancia
Inhame Gengibre
Pêra
Cenoura Canela
Kiwi
Couve-flor Abóbora
Cogumelos

Fonte: HADDAD, 2019

3.2 DIREÇÃO

Cada alimento direciona o movimento do Qi, do sangue e de todos os fluidos


corpóreos de sua maneira individual. Essas direções são: para cima, para baixo, para
dentro e para fora. Alimentos como o alho promovem movimento de ascensão,
enquanto a canela e a pimenta têm a propriedade de mover o Qi para fora, além de
expelirem agentes patogênicos e dissiparem frio (KASTNER, 2004).

3.3 SABORES

Os alimentos possuem uma correspondência Yin e Yang e os órgãos internos


possuem uma correspondência de sabor. Todos os alimentos naturais são divididos
em cinco sabores, conforme seus respectivos movimentos:
Ácido ou Azedo (madeira): age no Fígado (Gan) e beneficia a Vesícula Biliar (Dan),
nutre o sangue, promove absorção, controla e obstruir os movimentos (HIRSCH,
2000). Este sabor é associado à Madeira. As plantas e alimentos com sabor ácido ou
azedo têm propriedades e enzimas que vão ser úteis na digestão. Vai atuar no Fígado,
tem a ação absorvente (retêm e prende) e ação adstringente (segura o Yin). Os seus
movimentos são para o centro (TIERRA, 1998; YUAN, ET AL., 2011; WANG, 2002).
O limão é um exemplo de alimento azedo, e não deve ser utilizado em condições de
fatores patogênicos externos, pois como todo alimento azedo, movimenta-se para o
interior, o que pode agravar situações em que os patógenos ainda estão na superfície,
aprofundando-os (KASTNER, 2004).

Amargo (fogo): este sabor na MTC é dos mais intrigantes, pois encontra-se associado
ao Fogo. Atua no Coração, dispersando o calor pelo seu movimento descendente
(diminuído a inflamação). Tem na sua constituição alcaloides e glicosídeos que
ajudam a neutralizar e a eliminar os agentes tóxicos presentes no corpo humano, e
tem propriedades antibacterianas, antivirais e desintoxicantes. Uma função presente
neste sabor é drenar a humidade secando os agentes tóxicos (TIERRA, 1998; YUAN,
ET AL., 2011, WANG, 2002). Seguindo o ciclo de criação dos cinco elementos, os
alimentos amargos tonificam também Baço/Pâncreas e Estômago, pertencentes ao
elemento terra. Sua propriedade de secar evita o acúmulo de umidade (fleuma),
essencial ao bom funcionamento deste elemento. O consumo excessivo deste tipo de
alimento pode provocar secura e diarreia, além de prejudicar os tecidos estruturais
como os ossos (KASTNER, 2004). Exemplos de alimentos amargos incluem o chá-
verde e o aipo (SCHWARTZ, 2008).

Doce (terra): atua no Baço (Pi) e no Estômago (Wei) beneficiando a digestão e o


metabolismo, tonifica e harmoniza o Qi e acalma sensações agudas de desconforto
(HIRSCH, 2000). É o sabor que apresenta maior efeito nas necessidades corpóreas,
indivíduos tendem a apresentar preferência por alimentos doces após períodos de
estresse emocional ou físico. São utilizados no auxílio da digestão e para fortalecer o
Qi, especialmente o do Baço/Pâncreas. Por apresentarem poder de umidificação, os
alimentos doces também nutrem os fluidos corpóreos (KASTNER, 2004). São
exemplos de alimentos doces a abobrinha amarela e o arroz (SCHWARTZ, 2008).
Picante (metal): atua nos Pulmões (Fei) e no Intestino Grosso (Dachang) beneficiando
as vias respiratórias, dispersa edema, estimula o sistema imunológico, a circulação
sanguínea e a circulação de Qi, aliviando a estagnação e a dor (TIERRA, 1998; YUAN,
ET AL., 2011; WANG, 2002). São utilizados para fortalecer os Pulmões, eliminando
fatores patogênicos externos, principalmente os de características frias. Também são
importantes no tratamento de emoções relacionadas ao elemento metal, como a
tristeza e a melancolia. O consumo excessivo pode provocar excesso de calor
(KASTNER, 2004).

Salgado (água): Salgado é o sabor associado ao elemento Água, relacionando-se aos


Rins e à Bexiga. Utiliza movimento para o centro e para baixo, pois este sabor é
necessário para a manutenção, suporte e nutrição do corpo humano, regulando assim
o equilíbrio hídrico do organismo. Vai ter a ação de amolecer, humedecer e hidratar.
Dessa forma, são usados com a função de dissolver tumores ou cistos. Ainda,
suplementam as funções renais, promovem a produção de urina e a eliminação do
excesso de umidade, ou fleuma (KASTNER, 2004). São exemplos de alimentos
salgados as algas e a carne suína (SCHWARTZ, 2008).

4. DOENÇA RENAL PELA MTC

A falha renal pode ser dividida em Deficiência do Qi do Rim, Deficiência do


Yang do Rim, Deficiência do Yin do Rim ou deficiência do Jing do Rim principalmente
em pacientes idosos. As doenças crônicas, envelhecimento, fraqueza congênita
podem gradualmente danificar o Jing renal levando a deficiência do Qi, Yang ou Yin
do Rim (XIE, 2007).
A MTC caracteriza a insuficiência renal crônica como uma deficiência severa
de Yin, Yang e sangue dos rins. Isto significa que os rins já apresentam danos à sua
estrutura, função e nutrição. Nestes casos, o paciente pode apresentar uma variedade
de sinais clínicos associados à deficiência de Yin (polidipsia, constipação, hipertermia,
fraqueza, perda de peso, perambulação, e língua de coloração avermelhada e aspecto
seco), à deficiência de Yang (micção frequente, diarreia, fadiga, vômito e sensação
de frio) e à deficiência de sangue (anemia, leucopenia, palidez). Nos casos em que o
animal já não urina mais, o quadro é ainda mais grave, pois as toxinas não podem
mais ser eliminadas e se acumulam, provocando um envenenamento do organismo
(SCHWARTZ, 2008).

4.1 DEFICIÊNCIA DE YIN DO RIM

A Deficiência do Yin do Rim pode ser chamada de insuficiência da água renal.


O Yin do Rim é a origem de todo o líquido Yin do corpo e tem a função de umedecer
o corpo, as vísceras e os órgãos, nutrir o cérebro, a medula e os ossos, inibir o excesso
de Yang e o movimento do Fogo e manter a normalidade do desenvolvimento e a
reprodução. Por causa da deficiência e da perda de Yin renal, o corpo e os órgãos
internos se desnutrem, de modo que a Essência, o Sangue e a Medula tornam se
insuficientes, e o Yang renal e o Fogo da Porta da Vida perdem o que os inibe, se
tornam assim excessivos e causam danos (MARSDEN, 2004; CHONGSUO, 1985).
São causadas por doenças crônicas que danificam o Rim, excesso de atividade
sexual, perda de sangue que consome os líquidos corporais ou por uma ingestão
excessiva de alimentos de natureza quente e seca, que danifica o Yin, ou por uma
lesão interna pelas emoções que consomem o Yin do Rim (CHONGHUO, 1985).
O paciente pode apresentar uma variedade de sinais clínicos associados à
deficiência de Yin (polidipsia, constipação, hipertermia, fraqueza, perda de peso,
perambulação, e língua de coloração avermelhada e aspecto seco) (SCHWARTZ,
2008).
O Yin do Rim equilibra o elemento Fogo, o Coração. Com a deficiência de Água,
falta controle e ocorre Excesso de Fogo, o Pericárdio e o Fogo do Coração inflamam
em ascendência o qual se manifesta com uma agitação ou Excesso de Yang. A Mente
(Shen) mora no Coração. Quando o Coração não pode ser resfriado e equilibrado pelo
Yin do Rim, o animal é incapaz de descansar especialmente à noite, manifestando-se
com insônia, sono agitado ou sonhos excessivos. Os animais podem andar e vocalizar
anormalmente (MARSDEN, 2007).

4.2 DEFICIÊNCIA DE YANG E QI DO RIM


O Yang do Rim é o fundamento de toda a energia Yang de todo o organismo,
e tem a função de esquentar o corpo, transformar a água, promover a reprodução e o
desenvolvimento físico. Na deficiência, o Yang do Rim não pode esquentar e falha em
transformar a água, de modo que aparece aversão ao frio, membros frios, redução da
fertilidade e transbordamento da água (Marsden, 2004).
A deficiência do yang dos Rins pode resultar dificuldade de conter urina, então
ocorre poliúria, podendo ocorrer também incontinência urinária (ROSS, 1994).
O Qi transformado da Essência Vital a partir do Rim é conhecido como o Qi do
Rim, que é a base material sobre a qual cresce o corpo, se desenvolve e reproduz. O
Yang do Rim pode também não fornecer suporte para a função Yang de todos os
outros órgãos que são necessários para a absorção e distribuição de nutrientes para
os tecidos. Se não puder fazer isso, produzirá uma deficiência de Qi geral. O animal
vai se cansar facilmente ou dormir mais. Eles podem ter mais energia na parte da
manhã, que declina lentamente durante o dia (MARSDEN, 2007).

4.3 DEFICIÊNCIA DE ESSÊNCIA (JING)

O Rim é chamado na MTC de “raiz da vida”, pois armazena o Jing pré-celestial


que vem dos pais no momento da concepção e, quando este se esgota, a vida cessa
no organismo. Envelhecer, para a MTC, é simplesmente o declínio fisiológico da
essência durante a vida (MACIOCIA, 1996).
A essência do Rim forma a matéria base do corpo animal. Essa essência
consiste de duas partes: essência congênita e essência adquirida. A essência
congênita é herdada dos pais e é a substância base das atividades vitais de um
animal. A essência adquirida, também chamada de essência de Zang-Fu, é a
substância que mantém as atividades vitais (XIE; PREAST, 2012).
A Essência é herdada dos pais, e enriquecida e fortalecida pela essência
adquirida do alimento. A Essência Vital pode ser transformada em Qi. O Qi
transformado da Essência Vital a partir do Rim é conhecido como o Qi do Rim, que é
a base material sobre a qual cresce o corpo, se desenvolve e reproduz. Assim, a
deficiência do Baço está associada com a insuficiência renal, o Baço não está
conseguindo produzir adequadamente a Essência Pós-Celestial para ser armazenada
no Rim. Pelo fato de o Qi do alimento extraído do Baço ser um material básico para a
produção do Qi e do Sangue, o Baço, juntamente com o Estômago, é frequentemente
denominado Raiz do Qi Pós-Celestial. Embora o Baço seja um órgão Yin, provê a
energia Yang para transportar e transformar os fluidos (MARSDEN, 2007).

4.4 DEFICIENCIA DE XUE

A deficiência de xue é observada quando há insuficiência de sangue em decorrên-


cia a hemorragias ou problemas na sua produção. Geralmente, é uma condição crô-
nica na qual a anemia está presente, embora nem todas as deficiências de sangue,
de acordo com a MTC, envolvam anemia. Seus sintomas característicos incluem in-
sônia, palpitações, tontura, pele e pelos secos e contratura de tendões (SCHOEN,
2006).

5. DIETOTERAPIA CHINESA PARA DOENÇAS RENAIS

O tratamento alimentar para doenças renais é uma forma eficaz de tratar e


controlar a doença em cães. Cada deficiência requer uma dieta específica para os
padrões e suas características. É de extrema importância ressaltar que, para utilizar
a dietoterapia chinesa como tratamento, é necessário examinar e diagnosticar cada
paciente sob a ótica da racionalidade na qual ela está inserida, ou seja, a MTC. Este
diagnóstico não se assemelha ao da medicina veterinária ocidental, ao envolver todos
os sistemas e desarmonias do paciente, e não somente uma doença isolada
(MACIOCIA, 2014).

5.1 DIETOTERAPIA NA DEFICIÊNCIA DE YIN DO RIM

A deficiência de Yin do Rim, como um distúrbio profundo do Rim, está


associada à deficiência de Essência (Jing), uma vez que a Essência faz parte do Yin
do Rim. A Medicina Tradicional Chinesa acredita que todos os fluidos corporais, como
sangue ou suor, são substâncias nutritivas valiosas que precisam ser preservadas. A
deficiência de Yin do Rim causa deficiência de líquidos (HORITA, 2019).
Princípio de tratamento: nutrir yin e eliminar calor. Utilizar alimentos neutros,
refrescantes que umedecem e produzem fluidos. Alimentos que resfriam e hidratam o
corpo, como: coelho e pato como fontes de proteína; frutas e verduras como:
aspargos, maçãs, peras, melão, vagens, melancia, banana, cenoura, batata doce,
blueberry e manga (HADDAD, 2019).
Com a deficiência do Yin do Rim, todos os fatores de calor que podem causar
exuberância Yang e impedir a regeneração do Yin do Rim precisam ser rigorosamente
evitados. Isso inclui calor da dieta, estresse e excesso de esforço. Alimentos
refrescantes e umedecidos que acumulam Yin do Rim e nutrem o corpo são
importantes para o tratamento. A terapia pode incluir acupuntura, nutrição e ervas
chinesas (KASTNER, 2004).

5.2 DIETOTERAPIA NA DEFICIÊNCIA DE YANG E QI DO RIM

A deficiência do Yang do Rim se desenvolve a partir da deficiência de Qi do


Rim. Princípio de tratamento: tonificar Qi e yang do rim. Evitar todos os alimentos frios
ou gelados, alimentos congelados, alimentos crus, frutas frias termicamente (por
exemplo, frutas cítricas e tropicais), laticínios, consumo excessivo de líquidos
(HORITA, 2019).

Utilizar alimentos moderadamente quentes, neutros e mornos, se possível


aquecido, com sabor salgado, como: peixes (salmão, sardinha e atum) e frutos do mar
(ostras, mexilhões e camarão); carnes como: cordeiro, frango, pato, porco; legumes e
leguminosas como: feijão azuki, cogumelos, abóbora; condimentos como: gengibre e
canela (HADDAD, 2019).

5.3 DIETOTERAPIA NA DEFICIÊNCIA DE JING

Princípio de tratamento: nutrir Jing com alimentos doces, mornos e tônicos de


Qi. Alimentos como: carne bovina, carneiro, ovos, rim de porco, alga de sushi,
beterraba, cogumelos, geleia real e pólen (HADDAD, 2019).
Grãos e sementes têm energia vital de germinação e desenvolvimento, são
excelentes tônicos de energia vital (SANTOS, 2020).

6. RELATO DE CASO

Uma gata fêmea de 9 anos de idade, SRD, castrada, foi atendida á domicilio, com
queixa de emagrecimento progressivo e dificuldade pra se alimentar. Ao exame físico,
a gata apresentava desidratação, pelagem sem brilho e estava abaixo do peso ideal.
Foram solicitados exames hematológicos, com os seguintes resultados:

Acervo pessoal

O aumento da creatinina demonstra uma possível insuficiência renal devido ao


comprometimento glomerular.

Foi indicada a fluidoterapia ozonizada por via subcutânea, uma vez por semana
associada a dietoterapia chinesa.

O padrão da paciente foi fechado como deficiência de qi e yang do rim devido


aos sinais clínicos apresentados. A dieta foi instituída a base de alimentos mornos e
quentes, além de alimentos tônicos de Qi.

O cálculo da dieta foi feito utilizando 4% do peso do animal (peso da paciente


2,5kg), totalizando 100 gramas de alimento diário. Foram feitas 3 opções de cardá-
pios, sendo eles: músculo bovino, moela de frango e abobrinha italiana cozida; coxa
de frango com pele, língua bovina e mandioquinha cozida; acém bovino, brócolis e
ovo de galinha. Suplementadas com food dog baixo fósforo.

Em dois meses os exames foram repetidos, apresentando o seguinte resultado:

Com mais um mês de tratamento, o exame foi repetido:


7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dietoterapia chinesa é uma abordagem da MTC que se baseia nas


propriedades energéticas dos alimentos para prevenção e tratamento de doenças
crônicas.
A Medicina Tradicional Chinesa considera as condições de deficiência do Rim
como distúrbios graves que requerem tratamento cuidadoso. Isso inclui corrigir o estilo
de vida prejudicial que levou às desarmonias. O fortalecimento do rim através dos
alimentos adequados, preparados com métodos de cozimento apropriados, aceleram
o sucesso do tratamento.
O primeiro passo para tratar adequadamente um paciente com DRC é fazer
uma avaliação inicial clínica convencional, bem como definir exatamente o(s)
padrão(s) envolvido(s) dentro da medicina chinesa.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) vem apresentando um papel cada vez
mais importante como terapia complementar na medicina veterinária, visto que seus
efeitos colaterais são mínimos, enquanto os efeitos terapêuticos são bastante efica-
zes. Com diagnóstico e terapia corretos, resultados bons podem ser alcançados, com
mínimos efeitos colaterais e visando a qualidade de vida do paciente renal.
Vimos então que a medicina chinesa, através do uso da dietoterapia, é mais
uma opção de tratamento que pode beneficiar os pacientes com doença renal, melho-
rando a qualidade de vida e aumentando o tempo de sobrevivência dos animais afe-
tados.
REFERÊNCIAS

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