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Dia 17/03, sexta-feira, os irlandeses dentro e fora da sua diáspora comemoram

uma das festas mais divertidas que existem, o Saint Patrick’s Day ou Dia de São
Patrício. Assim como São João e outras festas similares, não precisa ser católico ou de
nenhuma religião para participar da parte mundana da celebração. Essa festa se tornou
famosa aqui no Brasil nos últimos anos devido um processo lento e gradual da
incorporação de elementos de culturas presentes na sociedade dos EUA através de
filmes, séries, música e etc. Basicamente, é uma festa popular similar ao carnaval em
que você brinca e bebe com seus amigos vestido de verde. Para você ter uma ideia, esse
dia é o único dia permitido em muitas cidades da Irlanda, EUA, Canadá e Austrália que
se pode beber na rua e eles até pintam os rios de verde.
The Dubliners & The Pogues – Irish Rover https://www.youtube.com/watch?
v=yAEFKjqPtlU
Por ser um grande estudioso de História desde a adolescência, sempre nutri uma
admiração por muitas culturas. Na época, duas que admirava muito eram a celta
irlandesa e escocesa, principalmente por seu processo de opressão e revolta contra
tiranos. Por exemplo: Eduardo I da Inglaterra foi o primeiro monarca inglês a expulsar
os judeus em 1290. Como também invadiu a Escócia, Irlanda, Gales e a França,
chegando a ganhar a alcunha de “O Martelo dos Escoceses”. Então, esse processo
histórico cativou, entre os países da Europa, o meu apreço. Foi aí que eu descobri as
Irish Drinking Song e o Celtic Punk e me apaixonei perdidamente por esse universo
musical com temáticas divindades entre beber como se fosse Purim, lamentar por
alguma mulher ou combater os ingleses e ser leal aos seus amigos. Contudo, eu sempre
fiquei muito frustrado que todas as vezes que se faziam uma festa com essa temática
aqui, era só uma festa com chopp e chapéus genéricos de leprechaun (duende irlandês)
com músicas nada a ver com nada como Beatles, anos 80s, Pop e Forró. Quando muito,
é oferecido um chopp verde. Então, em 2020, eu e um grande amigo meu decidimos
fazer a nossa festa com a nossa banda tocando as músicas tradicionais (Irish Drinking
Songs) e alguns Celtic Punk dentro da nossa roupagem da proposta da melhor e mais
autentica festa de St. Patrick que já houve por essas bandas.
The Dubliners – Nancy Whiskey https://www.youtube.com/watch?v=N6Xj6LhKgIU
Cheguei a ouvir histórias de que São Patrício perseguia os judeus, porém isso
não faz muito sentido quando analisamos as datas. Supostamente ele teria nascido na
região sul de Gales no fim do controle romano da Britânia entre o fim do século IV e o
começo do século V e vendido como escravo na Irlanda. Mas os primeiros registros
sobre judeus no território irlandês são de 1079. E pesquisando na internet, vi uma teoria
que o próprio padroeiro da Irlanda poderia ser um judeu cristianizado, o que também
não acredito nem um pouco. Mas fiquei muito contente quando achei dados de que os
judeus aproveitavam que o Purim ocorre na mesma época e festejavam juntos. E mesmo
tendo uma população judaica pequena, Dublin já teve um prefeito judeu, o IRA já teve
dois notórios membros judeus e a constituição da Irlanda garante proteção aos judeus
desde 1937, lembrando que sua independência do Reino Unido veio em 1919. Então,
sempre que me perguntam porque um judeu está comemorando essa festa, eu respondo
“pela música, bebida e admiração, igual ao São João”. Bem parecido de quando meus
amigos de fora da comunidade se empolgam para beber comigo no Purim.
The Dubliners é sem duvida a banda mais importante da música tradicional irlandesa
com clássicos de domínio público e músicas autorais também. Capitaneada pelo grande
Ronnie Drew, a banda começou em 1962 e contava com Luke Kelly, Ciarán Bourke e
Barney McKenna e se apresentavam regularmente no O’Donoghue’s Pub em Dublin,
capital da Irlanda. Mas foi no Festival de Edimburgo, Escócia, em 1963 que a banda
conseguiu notoriedade ao aparecer em um programa da BBC e ganhar seu primeiro
contrato. Nessa mesma época, gravaram seus primeiros dois Singles de versões de
músicas tradicionais “Rocky Road to Dublin” e “The Wild Rover”, dois sucessos que
colocariam esse estilo na popularidade e, futuramente, ajudaria a forjar o Celtic Punk. E
aqui, uma bela música sobre ficar bêbado sete noites da semana e não saber se sua
esposa está te enganando ou não.
The Dubliners (Ronnie Drew) – Seven Drunken Nights
https://www.youtube.com/watch?v=rfwJgcwE5PY
Ronnie Drew aprendeu a tocar violão através do flamenco quando morou na
Espanha ainda jovem. Ele deixou a banda em 1974 para passar mais tempo com sua
família e foi substituído por Jim McCann. Ele voltou ao The Dubliners cinco anos
depois, mas deixou o grupo novamente em 1995. Após sua morte, Paddy Reilly assumiu
o lugar de Drew em 1995. Algumas das contribuições mais significativas de Drew para
a banda são o single de sucesso "Seven Drunken Nights", sua versão de "Finnegan's
Wake" e "McAlpine's Fusiliers".
Luke Kelly era mais melódico do que Drew e preferia tocar banjo de cinco
cordas. Kelly cantou muitas versões definitivas de canções tradicionais como "The
Black Velvet Band", "Whiskey in the Jar", "Home Boys Home"; mas também "The
Town I Loved So Well" de Phil Coulter, "Dirty Old Town" de Ewan MacColl, "The
Wild Rover" e "Raglan Road", escrita pelo famoso poeta irlandês Patrick Kavanagh.
Em 1980, Luke Kelly foi diagnosticado com um tumor cerebral. Ocasionalmente, Kelly
ficava muito doente para cantar, embora às vezes pudesse se juntar à banda para
algumas músicas. Durante uma turnê na Alemanha, ele desmaiou no palco. Quando
Kelly estava muito doente para tocar, ele foi substituído por Seán Cannon. Ele
continuou a fazer turnês com a banda até dois meses antes de sua morte. Kelly morreu
em 30 de janeiro de 1984. Um dos últimos shows em que participou foi gravado e
lançado: Live in Carré, gravado em Amsterdã, Holanda, lançado em 1983. Em
novembro de 2004, o conselho da cidade de Dublin votou por unanimidade para erguer
um bronze estátua de Luke Kelly.
Ciarán Bourke era cantor, mas também tocava violão e flauta. Ele cantou muitas
canções em irlandês como "Peggy Lettermore" e "Preab san Ól". Em 1974, ele
desmaiou no palco após sofrer um AVC. Uma segunda hemorragia o deixou paralisado
do lado esquerdo. Bourke morreu em 1988. A banda não o substituiu oficialmente até
sua morte.
John Sheahan e Bobby Lynch se juntaram à banda em 1964. Eles tocavam
durante o intervalo nos shows e geralmente permaneciam na segunda metade do show.
Quando Luke Kelly se mudou para a Inglaterra em 1964, Lynch foi contratado como
seu substituto temporário. Quando Kelly voltou em 1965, Lynch deixou a banda e
Sheahan ficou. De acordo com Sheahan, ele nunca foi (e ainda não foi) oficialmente
convidado a se juntar à banda. Sheahan é o único membro que teve uma educação
musical.
The Dubliners (Luke Kelly) – Dirty Old Town https://www.youtube.com/watch?
v=woNorW6bIuo
Paddy Reilly nunca será um Ronnie Drew e acho que nunca nem se propôs para
isso, de fato. Mas, sem sombra de dúvidas, é um grande cantor que sabe usar sua voz
com emoção. E uma das mais belas canções irlandesas, inclusive que canto no show.
Ela é tida como o hino não oficial de Dublin e fala sobre uma linda e doce vendedora de
peixes e mexilhões chamada Molly Malone. Pobre com seu carrinho sendo empurrado
pelas ruas e becos assim como seus pais faziam antes dela, morre de febre e se torna um
fantasma pelas ruas de Dublin. Em 1988 até ergueram uma estátua para ela.
The Dubliners (Paggy Reilly) – Molly Malone https://www.youtube.com/watch?
v=wjjh5EmkKCA
Clancy Brothers é outro grupo tão importante quanto The Dubliners e que
também ajudou a recriar a música tradicional irlandesa assim como dar base para o novo
Folk. Inclusive, muito antes de me apaixonar por essas músicas, conheci essa banda
através do show de comemoração dos trinta anos de carreira de Bob Dylan que contava,
entre muitas outras, com a participação dos Clancy Brothers. Oficialmente a banda foi
fundada em 1956 e contava os irmãos Patrick, Tom e Liam Clancy juntos ao grande
Tommy Makem, mas que saiu em 1969 e substituído pelo outro irmão Clancy, Bobby.
A música escolhida é uma música tradicional feita por fenianos (um patriota pró
independência do século XIX e começo do XX) que se encontravam na Austrália, muito
possivelmente presos políticos. Essa é uma das minhas favoritas.
Clancy Brothers (Tommy Makem) – Wild Rover https://www.youtube.com/watch?
v=qdl-yB0MapI
The Irish Rovers é uma banda da mesma linha, porém formada por irlandeses no
Canadá em 1963. Na verdade a banda tem gente da Irlanda do Norte, como George
Millar, da Irlanda, como Gerry O’Connor e canadense de origem irlandesa como
Geoffrey. E a música que eu escolho representa bem a união, a quebra de barreiras e a
luta pela independência. “The Orange and the Green” fala sobre a união entre católicos
(verde/República da Irlanda) e protestantes (laranja/Irlanda do Norte). A própria música,
em ritmo de “The Rising of the Moon” (assim como “The Wearing of the Green”), fala
sobre ser filho de pai protestante do norte e de mãe católica do interior. Essa divisão
começa no século XIII com a aliança entre irlandeses e escoceses contra a Inglaterra de
Eduardo I, então o irmão do rei escocês Robert Bruce, Richard, envia muitos escoceses
para sitiar o castelo de Ulster. Tempos depois, o clã McDonald envia mercenários para
ajudar os irlandeses em trocas de terras no norte. Então, no século XVII a Inglaterra
envia vários colonos protestantes para as cidades do norte e restringem o poder político
e social dos católicos, assim como os persegue. Tantos que além de não poderem
participar da vida política, não podiam ir para cidades protestantes. A cor verde
representa os católicos por ser a cor da Irlanda e do trevo, que foi usado por São Patrício
para evangelizar e, segundo a lenda, tinha um manto verde. A cor laranja vem de
William de Orange III, o nobre holandês que “defendeu” os protestantes britânicos do
rei James II, que havia voltado a ser católico e começou uma guerra civil religiosa.
The Irish Rovers – The Orange and the Green https://www.youtube.com/watch?
v=cTouKoOV80g
The Wolfe Tones é uma banda de música tradicional irlandesa, porém eles falam
menos de bebida (Irish Drinking Song) e focam mais no Irish Rebel Music. A banda
começou em 1963 e contava com Derek Warfield, grande historiador e cantor. O nome
vem de Theobald Wolfe Tone, um dos líderes da rebelião irlandesa de 1798.
The Wolfe Tones – God Save Ireland https://www.youtube.com/watch?
v=BWmAwVE2hVg
E para quem acha que não vai ter um cantor judeu, saiba que Lark Knopfler, ex-
cantor e guitarrista de Dire Straits, que é judeu e escocês, filho de mãe escocesa e pai
judeu húngaro. Ele deixou um pouco de lado o Rock com Country e decidiu fazer um
Celtic Folk.
Mark Knopfler – Father and Son https://www.youtube.com/watch?v=akU1Lxi5VUc

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