Você está na página 1de 52

A HERÁLDICA DOS BEATLES.

DE LIVERPOOL A BUCKINGHAM

Duarte Vilardebó Loureiro*

Resumo: este artigo começa por contar o início da história dos famosos Beatles, desde
a sua cidade natal, Liverpool, passando pela decadente Hamburgo, e mostrando a
sua ascenção prodigiosa até ao lançamento do primeiro single. Na segunda parte, indi-
vidualmente, descreve a origem de cada um dos membros da banda e o lugar onde
viveram. Numa terceira parte, com base na publicação inglesa Burke’s (1938), faz-se
uma pequena abordagem à Ordem do Império Britânico e aos Cavaleiros Bacharel para
enquadrar o momento em que os FAB 4 de Liverpool são agraciados como Membros do
Império Britânico. A parte final do trabalho descreve uma análise crítica sobre os brasões
de armas concedidos a Sir Paul McCartney e a Sir George Martin, produtor da banda.

Abstract: this article starts at the beginning of the story of the famous Beatles, from their
hometown, Liverpool, through decadent Hamburg, and showing their prodigious rise
until the release of their first single. In the second part it describes the origin of each of
the members of the band individually and the places they lived. In a third part, based
on the english publication Burke’s (1938), an extract from is made to the Order of the
British Empire and to the Knights Bachelor to frame the moment in which the FAB 4
of Liverpool are graced as Members of the British Empire. The final part of the work
describes a critical analysis of the coat of arms given to Sir Paul McCartney and Sir
George Martin, the band’s producer.

* Licenciado em Design de Comunicação, pós-graduado em História da Arte, na área do Patri-


mónio e Restauro, e Mestre em Ensino das Artes. Especialista em desenho heráldico. Professor
da cadeira de Desenho de Representação. Membro da Associação dos Arqueólogos Portugueses
e da Sociedade Portuguesa de Autores. Sócio Correspondente do Instituto Português de Herál-
dica. Músico e membro da banda Discovers.

169
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

“The Beatles were so big that’s it’s hard for people not alive at the time to realize
just how big they were... They were huge!”

Mick Jagger (1995) 1

1. O início

Em Março de 1957, John Lennon, com 16 anos de idade, formou uma


banda musical de estilo skiffle 2 com vários amigos da sua escola, 3 a Quarry Bank
School, 4 em Liverpool, dando-lhe o nome de “The Quarry Men”. Como qual-
1
N. do A. - Vocalista da banda The Rolling Stones.
2
A palavra skiffle - termo calão que se pode traduzir para “improvisado” - foi determinado para
descrever o jazz de improviso ouvido nas casas dos pretos americanos na década de 1920. O
género de música skiffle era principalmente espiritual, folk-blues e canções populares do séc. XIX,
tocado em qualquer suporte musical que estivesse à mão, normalmente guitarra acústica ou
banjo, com a secção rítmica mantida em instrumentos como como a tábua-de-lavar (washboard
- uma superfície de zinco ondulado geralmente tocado com dedais nos dedos) e um contrabaixo
rudimentar feito de uma só corda num cabo de vassoura. Esta foi a forma aproveitada por bandas
de jazz britânicos à procura de maneiras de fazer-se soar mais “autêntico”. O single “Rock Island
Line”, de 1955, de Lonnie Donegan, o “rei do Skiffle”, foi um enorme sucesso e criou uma euforia
à volta do estilo skiffle entre os adolescentes da pós-guerra, estimulados pela energia e acessibilidade
da música. Foi com esse espírito que qualquer um poderia pegar nesses instrumentos básicos e
aprender algumas canções. Este estilo musical moveu John Lennon a formar a sua banda “The
Quarrymen” e a actuar ao vivo em pouco tempo. [Trad. e adaptação do Autor] In INGHAM,
Chris, The Rough Guide to The Beatles, London, Rough Guides Ltd, 2003, p. 4.
3
Inicialmente, a banda dos Quarry Men era formada por John Lennon e Eric Griffiths (guitarras),
Pete Shotton (washboard), Ivan Vaughan (baixo) e Colin Hanton (bateria). Vaughan foi substituído
logo a seguir por Len Garry. In LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1,
New York, Crown Archetype - Penguin Random House Company, 2013, pp. 109-110.
4
A escola foi fundada como Quarry Bank High School em 1921, na Harthill Road, rua
perpendicular à morada de John Lennon na Menlove Ave. John entrou para a escola em
Setembro de 1952 e foi aqui que, paradoxalmente, por ser um aluno rebelde e anarquista, com
comportamentos duvidosos e faltas de aproveitamento escolar, começou a demonstrar a sua
criatividade ao preencher cadernos com histórias bastante originais, com grande sentido de
humor e hilariantes, cheias de poemas, desenhos e cartoons. Isto demonstrava bastante o seu
senso de humor. Estes trabalhos foram a base para os seus aclamados livros, In His Own Write
e A Spaniard in the Works. Lennon saiu da escola a 24 de Julho de 1957, depois de ter falhado
o exame O Level na sua matéria preferida, Arte. A partir de 1985, a escola passou a chamar-se
Calderstones School e já tinha sido incorporado em 1967 a Calder High School para raparigas. In
JONES, Ron, The Beatles’ Liverpool - The Complete Guide, Liverpool, Liverpool History Press,
2014, pp. 62-63.
5
N. do A. - A grafia do nome da banda varia entre Quarrymen e Quarry Men. Não há a certeza
se foi John Lennon ou o seu amigo Pete Shotton que criou o nome para a banda, apesar dos

170
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

quer outra banda, o objectivo principal de John é actuar ao vivo para o maior
número de pessoas. E para isso, qualquer lugar serve! Até no meio da rua, se for
preciso, ou em festas de amigos. E foi esse o
desejo de John!
O dia 6 de Julho, desse ano de 1957,
vai alterar para sempre o rumo da História da
música popular. Os Quarry Men actuaram
na festa da Igreja Paroquial de St. Peter, em
Woolton, e para assistir ao concerto, Ivan
Vaughan levou um amigo do Liverpool
Institute para ir vê-los tocar. No final, fez
questão de apresentar a John o seu amigo:
Paul McCartney! No início, John foi frio
no trato como sempre, mas passado pouco
tempo, quando Paul mostrou que sabia
tocar bem e até afinar uma guitarra, este
jovem rapaz de quinze anos foi convidado
para entrar para a banda. E tinha outra coisa
em comum com Lennon: também gostava
de compôr. E a dupla estava formada!
Pela primeira vez, no dia 7 de Agosto, 6
os Quarry Men tocaram no Cavern Club, Fig. 1 - Programa da festa da Igreja de St.
Peter. (Rep. / Col. do Autor)
em Liverpool. Paul McCartney não esteve
presente por estar num acampa-
mento de Verão dos escuteiros. O
Cavern era uma antiga adega que
tinha sido usada durante a
segunda Guerra Mundial como
abrigo. O bar, situado no número
10 da Mathew Street, abriu as
suas portas em Janeiro de 1957,
pela mão de Alan Sytner, que
tinha planeado fazer um local
semelhante ao “Le Caveau Fran-
çais”, um clube de jazz parisiense, Fig. 2 - Cartão de Visita dos Quarry Men. (Rep. / Col.
do Autor)
biógrafos darem a autoria ao primeiro. Aqui neste trabalho, decidimos adoptar a grafia usada no
cartão de visita da banda.
6
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 14-15.

171
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

mas rapidamente rendeu-se à emergência das bandas de skiffle. Nestas catacumbas


sombrias, tocaram cerca de 274 vezes, tendo sido a primeira vez como Beatles, a 9
de Fevereiro de 1961. O Cavern Club, situado no City Center de Liverpool, é consi-
derado o bar mais famoso do mundo hoje em dia. 7 O clube foi demolido em 1973
para ser construído um parque de estacionamento. Em 1984, o antigo jogador de
futebol, Tommy Smith, reconstruiu o espaço usando uma parte do local original e
a maioria dos tijolos da antiga Cavern. Em 1989 voltou a fechar para pouco tempo
depois abrir novamente as suas portas, em 1991, com novos proprietários que se
encontram a gerir o clube até aos dias de hoje. 8
Pete Shotton já tinha saído da banda dando o lugar a Paul McCartney.
Nesta altura, no Verão de 1957, a banda era constituída por John Lennon, Eric
Griffiths, Paul McCartney, Len Garry e Colin Hanton. Rod Davis, o membro da
banda que tocava banjo, não participou nestas jornadas porque estava ausente de
férias com a família. 9 Os dias de Rod nos Quarry Men tinham também chegado
ao fim.
Os Quarry Men continuaram regularmente com as suas actuações ao vivo
em vários lugares. No final das férias, John entra para o Liverpool College of Art! 10
A 6 de Fevereiro de 1958, 11 McCartney convidou um outro amigo, que
estudava também no Liverpool Institute, 12 para se juntar aos Quarry Men: George
7
JONES, Ron, The Beatles’ Liverpool - The Complete Guide, Liverpool, Liverpool History Press,
2014, pp. 42-46.
8
BURROWS, Terry, Treasures of The Beatles - Experience the swinging sixties of the Fab Four,
London, Carlton Books Limited, 2009, p. 9.
9
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 138-140.
10
O Liverpool College of Art fica situado na Hope Street e faz esquina com a Mount Street, onde
fica localizado o Liverpool Institute. É um edifício construído no final do século XIX. Foi aqui
que Lennon conheceu Stuart Sutcliffe e a sua futura mulher, Cynthia Powel. O Institute foi
integrado na Liverpool John Moores University. In JONES, Ron, “The Beatles’ Liverpool - The
Complete Guide”, Liverpool, Liverpool History Press, 2014, pp. 31-33.
Em 2012, foi adquirido pelo LIPA, The Liverpool Institute for Performing Arts, o qual tem
como fundador e mecenas principal, Paul McCartney. In LIPA - The Liverpool Institute For
Performing Arts, “The History of our Buildings”. Disponível em https://www.lipa.ac.uk/
content/AboutUs/HistoryHeritage/BuildingHistory.aspx [Consult. 30 Out. 2016].
11
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 16.
12
O Liverpool Institute, ou “Innie”, como era conhecido, escola por onde passou Paul McCartney
e George Harrison, está sediado num edifício situado na Mount Street, ao lado do College
of Art. Paul entrou em 1954 e George entrou no ano a seguir. Estiveram aqui até à sua nova
aventura em Hamburgo, em 1960. O facto das duas escolas estarem ao lado uma da outra, o
Liverpool Institute e o College of Art, tornava mais fácil John e Stu, Paul e George, ensaiarem
para a banda. Depois ter encerrado as suas portas em 1985, o Instituto teve um novo rumo
quando Paul anunciou que iria convertê-lo numa escola tipo “School of Fame”, ou seja, a

172
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Harrison. No andar de cima de um autocarro, Paul pediu a George que mostrasse a


John as suas habilidades. Lennon ficou impressionado com a interpretação perfeita
de George ao tocar a música “Raunchy”, 13 a country-western de Bill Justis. 14 Com
esta entrada a banda fez um grande progresso. O grupo era agora formado por
John, Paul e George nas guitarras, Colin na bateria e John “Duff” Lowe no piano.
Com esta formação, 15 os Quarry Men fizeram a sua primeira gravação em
Julho desse ano, no quarto dos fundos de uma casa em Kensington que pertencia
a um velho senhor chamado Percy Phillips. A gravação foi realizada em formato de
acetato com duas músicas: “That’ll Be the Day”, de Buddy Holly, e “In Spite of All
the Danger”, uma composição prematura de McCartney, mas também co-credi-
tada por Harrison, pelo seu contributo no solo de guitarra. 16 17
Pouco tempo depois, Duff e Hanton deixam os Quarry Men.
Entretanto, o grupo esteve sem grandes actividades. George começou a
tocar com outras bandas, em particular com Les Stewart Quartet. Este quarteto foi
contratado para tocar na inauguração do Casbah Coffee Club, do qual era proprie-
tária Mrs Mona Best. No dia do evento, a banda desmantelou-se e um dos seus

criação do Liverpool Institute for Performing Arts (LIPA) em 1995. Paul McCartney continua
intensamente ligado ao LIPA, comparecendo todos os anos à entrega de diplomas e também
dando aulas ao seus estudantes. In JONES, Ron, The Beatles’ Liverpool - The Complete Guide,
Liverpool, Liverpool History Press, 2014, pp. 28-31.
13
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, pp. 45-49.
14
INGHAM, Chris, The Rough Guide to The Beatles, London, Rough Guide Limited, 2003, p. 6.
15
Mark Lewisohn escreve no “The Complete Beatles Chronicle”, na página 13, que os Quarrymen
estavam todos na sessão com a excepção da participação de Colin Hanton e que este não estava
presente nesta sessão de gravação em Kensington, Liverpool, no Verão de 1958. Mas segundo
as próprias palavras de Paul McCartney numa entrevista a Lewisohn, para além de John, Paul e
George, estavam presentes Colin Hanton na bateria e Duff Lowe no piano, este último amigo
da escola de McCartney. Mas nesta mesma entrevista McCartney também se engana ao afirmar
que é ele que está na voz principal. Na verdade é Lennon e Macca está apenas nas harmonias.
Nos áudios desta sessão, pode-se ouvir perfeitamente a bateria como parte do conjunto. A
música “In Spite of All The Danger” foi baseada na música “Tryin’ to Get to You”, do primeiro
álbum editado no Reino Unido por Elvis Presley. In LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles
recording sessions - The Official Story of The Beatles Abbey Road Years, Introductory interview with
Paul McCartney, London, EMI Records Limited, 1988, pp. 6-7.
16
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 176-179.
17
ROBERTSON, John, The Art & Music of John Lennon, London-New York-Sidney, Omnibus
Press, 1990, p. 4. (Nota do Autor: John Robertson é o pseudónimo de um distinto jornalista
musical britânico. Existem fortes indícios para que Robertson seja na realidade Peter Doggett,
jornalista e colaborador das revistas Record Collector, Mojo, Q e GQ, com um extenso trabalho
escrito sobre os Beatles.)

173
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

membros, Ken Brown, perguntou a Harrison se tinha alguma solução para resolver
o problema. George chamou John e Paul e, juntamente com Brown, actuaram no
Casbah durante seis semanas, todos os sábados, até ao dia 10 de Outubro de 1959.
Devido a confusões com pagamentos, John, Paul e George foram-se embora
e deixaram de tocar no bar e com Ken. Após estas semanas, com alguma experiência
e confiança, os Quarry Men inscreveram-se para participar, em Manchester, no
concurso de talentos de Carroll Levis, mas re-baptizam temporariamente o nome
da banda para Johnny and The Moondogs. Por causa de algumas eventualidades,
a meio da participação, tiveram que voltar para Liverpool principalmente por não
terem dinheiro onde passar a noite. 18 O ano de 1959 acaba numa dissipação nebu-
losa sem muitas expectativas para o futuro próximo da banda.
Começa agora uma nova fase... e um novo ano de 1960!
Em Janeiro do novo ano, John traz o seu amigo íntimo e colega no Art
College, para a banda. Stuart “Stu” Sutcliffe, um artista original e brilhante, de 19
anos de idade, não tinha qualquer ambição nem talento musical. Após ter ganho
algum dinheiro com os seus quadros na Bienal John Moores Exhibition, uma
exposição na célebre Walker Art Gallery, em Liverpool, John conseguiu convencê-
-lo a “investir” essa quantia num baixo eléctrico, um Höfner President.
Liverpool é uma cidade portuária onde chegava facilmente bastante merca-
doria vinda dos Estados Unidos através dos navios mercantes. Para os jovens
rapazes daquela época, o principal era obter discos de música vinda do outro
lado do Atlântico, como Elvis Presley, Eddie Cochran, Bill Haley, etc. Um desses
artistas que John Lennon admirava bastante era Buddy Holly and The Crickets.
Influenciado pela nome Crickets (grilos, em português), surgiu-lhe a ideia de
Besouros (Beetles, em inglês), e resolveu fazer um trocadilho com o termo musical
Beat. 19 Numa entrevista para o jornal Mersey Beat, 20 John Lennon afirma que o

18
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 12-13.
19
ERWING, John, The Beatles, London, Carlton Books, 1994, p. 18.
20
Mersey Beat, publicação musical que se editou entre meados de 1961 e o final 1964. Mersey
Beat é também a designação genérica para o pop/rock originário das centenas de conjuntos
musicais, provenientes da região de Merseyside, com Liverpool à cabeça, do final da década
de 50 e início de 60, do séc. XX. Saber qual surgiu primeiro, é o mistério, mas uma coisa
é certa, a ligação é umbilical. Em 1961 Liverpool era um viveiro de conjuntos de rock’n’rol,
embora não passassem de êxitos locais, tirando algumas excepções, como Billy Fury, que teve
êxito a nível nacional. Perante este cenário, Bill Harry, que era amigo de muitos dos músicos da
época, tendo sido colega de escola de John Lennon, ou de elementos dos Rory Storm and The
Hurricanes, Derry and Seniors ou dos Cass and The Cassnovas, verdadeiras estrelas da região
de Merseyside, tinha pretensões a jornalista, começou a registar tudo o que ia acompanhando.
Desde concertos a alterações nas formações ou curiosidades sobre o meio musical de Liverpool,
do qual era testemunha privilegiada. A ideia de editar um jornal sobre a musica local, surgiu

174
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

nome Beatles surgiu-lhe numa visão, em que um homem em cima de uma torta
em chamas (flaming pie) 21 lhe disse: “A partir de hoje vocês vão chamar-se Beatles,
com um A!” 22 23
Segundo Hunter Davies, não há certeza de quem foi ao certo o “autor” do
nome The Beatles. Mas pensamos que não é bem assim! Paul e George recordam
que foi John que um certo dia veio com a ideia. E Lennon ainda chegou a pensar
em Crickets, o que provocou o riso em McCartney por já existir uma banda com
esse nome. 24 John e Stu viviam no mesmo apartamento no número 9, da Gambier
Terrace, em Liverpool. 25 E sabe-se que foi no seu apartamento que numa noite o
nome surgiu. Stuart Sutcliffe ainda sugeriu que fosse Beatals, mas Paul e George prefe-
riram a versão de Lennon. Foi aqui que nasceu o nome da banda: THE BEATLES!

depois de ver goradas as tentativas de publicar os seus artigos no “Liverpool Echo” ou no “Daily
Mail”, jornais generalistas que não davam qualquer importância à emergente cultura juvenil
ligada ao rock n rol. As publicações nacionais, “Melody Maker” ou “New Musical Express”,
apenas publicavam sobre os grupos que atingiam o estrelato nacional, pelo que também não
eram alternativa para os artigos de Bill Harry. Tendo arranjado um financiador, avançou então
com a publicação quinzenal do “Mersey Beat”, dedicado ao fenómeno musical local, e tendo
beneficiado também do crescimento deste, essencialmente através de bandas como Gerry and
The Pacemakers, Searchers e, acima de todos, The Beatles, com os quais sempre teve relações
muito próximas. Através da já referida amizade com Lennon, este escreveu vários artigos para
o “Mersey Beat” nos primeiros anos. Mas também através de Brian Epstein, futuro empresário
dos Beatles e proprietário de uma das maiores lojas de Discos de Liverpool, que mantinha uma
coluna na publicação, falando sobre os novos lançamentos discográficos de então. Esta ligação
era tão forte, que alguns dos concorrentes locais dos Beatles, chegaram a apelidar, a publicação,
de “Mersey Beatles”, aludindo a alegados favorecimentos na divulgação do trabalho dos Fab
Four, em detrimento de outros conjuntos da região. (texto do meu amigo Paulo Bastos, músico
e especialista em assuntos sobre a British Invasion)
21
Por curiosidade, Flaming Pie é o nome do 10º disco a solo de Paul McCartney editado em
1997. Este álbum saiu a seguir à “Beatles Anthology” (1995), e por influência, o título foi
inspirado no célebre sonho que Lennon teve sobre o nome da banda. In ROBINSON, John, An
affectionate remembrance of Fab time past, “The Ultimate Music Guide - Paul McCartney”, Issue
#10, London, UNCUT Magazine - Time Inc., 2014, p. 86.
22
ERWING, John, “The Beatles”, London, Carlton Books, 1994, p. 11.
23
Numa entrevista em 1964, John Lennon disse: “I was looking for a name like the Crickets that
meant two things, and from Crickets I got to Beetles. And I changed it to B-E-A because it didn’t
mean two things on its own as B-double-E. So I changed the E to A and it meant two things - when
you said it people thought of crawly things, and when you read it, it was beat music.” (entrevista a
Jim Steck, KRLA-AM, Los Angeles, a 26 de Agosto de 1964)
24
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 69.
25
JONES, Ron, The Beatles’ Liverpool - The Complete Guide, Liverpool, Liverpool History Press,
2014, pp. 33-34.

175
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Mas como o nome não era apreciado pelas pessoas fora da banda e, por
sugestão de Brian Cassar (dos Cass and The Cassanovas), foram aconselhados
a alterar o nome para Long John and The Silver Beetles, porque estava na moda
bandas com nomes extensos. Como John Lennon recusou a ser apelidado de Long
John, resolveram alterar só para The Silver Beetles. Assim, partir de Abril de 1960,
os Quarry Men voltaram a actuar, mas agora como The Silver Beetles!
Durante o mês de Maio, os americanos Eddie Cochran e Gene Vincent
foram cabeças de cartaz no Liverpool Empire, promovido pelo famoso empresário
londrino da época, Larry Parnes. Nesta altura, os Silver Beetles estavam a ser agen-
ciados por Allan Willams, o qual geria o bar Jacaranda, entre outros. Allan conse-
guiu arranjar uma parceria Parnes-Williams para um espectáculo de uma só noite
no Liverpool Stadium, na Bixteth Street, onde figuravam para além de Cochran e
Vincent, Davy Jones, The Viscounts, Colin Green and The Beat Boys (incluindo
Georgie Fame), Peter Wynne, e várias bandas de Liverpool, tais como Cass and
The Cassanovas e Rory Storm and The Hurricanes, esta última tendo como bate-
rista Richard “Ritchie” Starkey.
Parnes estava impressionado com o poder dos Merseyside rock and rollers e
começou a perceber que havia muitos artistas com talento em Liverpool, mas a
maior parte com falta de banda de suporte.
Infelizmente, antes do concerto, a 17 de Abril, com destino ao aeroporto
de Londres, vindos de um concerto em Bristol, Eddie Cochran e Gene Vincent
tiveram um desastre de carro que resultou na morte do primeiro e ferimentos
graves em Vincent. Larry Parnes não quis cancelar o concerto, contratou entre
outros, mais algumas bandas de Liverpool, como Gerry and The Pacemakers.
Mas todo este movimento entre Parnes e Williams teve bons resultados
para o lado de John, Paul, George e Stu. Como a banda estava incompleta, Allan
Williams tinha assegurado como baterista, Tommy Moore, de 36 anos de idade.
Numa das viagens que fizeram, houve um pequeno acidente de viação, levando
Moore a desistir da carreira de músico e a regressar à sua antiga profissão. No dia
14 de Maio, foram actuar em Seaford, Liverpool, e num pequeno cartaz aparecem
como The Silver Beats. Logo a seguir, a 21 desse mês, aparece entre outras bandas,
Johnny Gentle and his Group. Claro que “his Group” eram os Silver Beetles, que
companharam como banda de suporte o cantor pop Johnny Gentle na sua tourné
pela Escócia. Em outras participações, aparecem designados como Johnny Gentle
and the Silver Beetles. 26
Através de Allan, os Silver Beatles, agora com um “A”, actuaram num club
ilegal de strip que lhe pertencia assim como, várias vezes, no Jacaranda, que [ainda]

26
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 18-27.

176
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

fica no número 23 da Slater Street. O grupo adquiriu um novo baterista, Norman


Chapman. Mas este não ficou muito tempo porque teve que ir cumprir o serviço
militar para o Quénia e Kuwait. 27
Allan Williams começou a fazer contactos entre outra cidade portuária:
Hamburg. Estes contactos incluíam várias bandas de Liverpool. A principal
ligação foi com Bruno Koschmider, proprietário do clube nocturno Kaiserke-
ller, que assim como outros bares (Star-Club, Top Ten e Indra), ficava na zona
mais decadente de Hamburgo, chamada Reeperbahn, rua conhecida pela sua vida
nocturna e zona da red-light. Relutante pela falta de baterista, Williams acabou
por decidir enviar os Silver Beatles para Hamburgo. Mas primeiro tinham que
encontrar um baterista para a banda. Os 4 guitarristas decidem fazer uma visita
ao Casbash Coffee Club. Há meses que não iam lá e como estavam à procura de
sítios para tocar, foram tentar a sorte. Como banda residente, encontrava-se lá os
Blackjacks, cujo o guitarrista era Ken Brown, o mesmo que haviam descartado
meses antes, ainda como formação dos Quarry Men. Na bateria estava um rapaz
de 18 anos, Randolph Peter Best, mais conhecido como Pete, o filho da dona do
bar, Mona Best. Como os Blackjacks estavam a desmoronar-se como banda, Pete
Best viu nos Silver Beatles a sua oportunidade para continuar a tocar bateria profis-
sionalmente. E no dia 12 de Agosto, Best foi admitido como membro da banda e
com Hamburgo à vista! 28
Foi em Hamburgo que, de facto, os Beatles ganharam experiência. E alguns
autores afirmam, em sentido figurado, que foi em Hamburgo que tudo começou
para os Silver Beatles, ou seja, para os Beatles. Em relação a isso, John Lennon
afirmou: “I might have been born in Liverpool, but I grew up in Hamburg”. 29
Ringo Starr disse numa entrevista para o documentário Beatles Anthology,
de 1995, que conheceu os Beatles “quando as duas bandas estavam a tocar em
Hamburgo, na Alemanha, mas já os tinha visto em Liverpool, mas eles nessa altura,
não eram mais do que uma pequena banda, a tentar formar-se. De facto, eles não eram
banda nenhuma”. 30
A 16 de Agosto de 1960 partem, do porto de Harwich, de ferry para a
Holanda para depois seguirem caminho para Hamburgo na van (carrinha) 31
que pertencia a Allan Williams. Agora, os Silver Beatles foram re-baptizados de
simplesmente “The Beatles”. Chegaram no dia 17 de Agosto a Hamburgo e, nessa
27
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 20-21.
28
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 22.
29
THE BEATLES, The Beatles Anthology, London, Apple Corps Ltd., 2000, p. 45. Tradução: “Eu
posso ter nascido em Liverpool, mas cresci em Hamburgo”.
30
THE BEATLES, The Beatles Anthology, London, Apple Corps Ltd., 2000, p. 48.
31
O modelo do furgão que pertencia a Williams era um Austin van 152.

177
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

noite, começaram logo a tocar no Indra Club. E aí, tocaram 48 noites até ao dia
3 de Outubro. No dia a seguir, a partir do dia 4, actuaram mais 58 noites no The
Kaiserkeller, na mesma rua que o anterior, até ao dia 30 de Novembro. Neste
último, costumavam tocar alternado com os Rory Storm and The Hurricanes.
As condições de alojamento não eram as melhores em Hamburgo. E às vezes
as coisas não corriam da melhor maneira e, quando os Beatles estavam deprimidos,
a pensar que o grupo não iria a lado algum, John Lennon costumava dizer: 32

- Where are we going, Fellas?


- To the Top Johnny! - responderam os outros.
- Where’s that, Fellas?
- To the toppermost of the poppermost!
- Right!

A 15 de Outubro, os Beatles fizeram mais uma gravação amadora. Enquanto


Allan Willams estava em Hamburgo, foi buscar dois elementos dos Hurricane, o
baterista Ritchie Starkey (aka Ringo Starr) e o vocalista e baixista, Walter Eymond,
para gravarem num pequeno estúdio, o Akustik, situado na rua Kirchenallee, por
detrás da Estação Central de comboios. Pete Best não estava presente e, excluindo
Eymond, esta foi a primeira vez que John, Paul, George e Ringo estavam juntos.
Gravaram num disco de 78 rpm uma versão de Summertime da autoria de George
Gershwin. 33
A nível de espectáculos, a vida para os Beatles estava a correr sobre rodas
em Hamburgo. E Koschmider queria prolongar os espectáculos e também propôs
ao grupo irem para Berlin durante um mês. Mas em Outubro, outro clube abriu
perto do Kaiserkeller, o Top Ten. O seu dono, Peter Eckhorn, queria intencional-
mente prejudicar Bruno Koschmider e para isso contratou o seu chefe da segu-
rança e Tony Sheridan and The Jets, um cantor e guitarrista inglês que tinha vários
discos editados. Os Beatles saíam durante os intervalos no Kaiserkeller, para irem
fazer jams 34 com Sheridan ao Top Ten. Quando as notícias chegaram aos ouvidos
de Koschmider, antecipou um mês o contrato que tinha com os Beatles, porque
havia uma cláusula que declarava que não podiam tocar num raio de 40 km do bar
sem a autorização do dono.
32
THE BEATLES, The Beatles Anthology, London, Apple Corps Ltd., 2000, p. 68.
33
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 23.
34
N. do A. - Jam, em termos musicais, significa juntar um grupo de músicos convidados para tocar
de forma improvisada, sem antes terem ensaiado para isso. É frequente acontecer nos clubes
ou bares onde, depois da actuação dos músicos, estes convidam amigos a subir ao palco para
tocarem juntos com a banda.

178
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Para agravar a situação, George tinha menos que 18 anos e, segundo as leis
germânicas daquela altura, não podia estar num bar nocturno depois da meia-
-noite. 35 Harrison foi deportado e em pouco mais de 24 horas estava de novo em
casa, mas sem dinheiro. Entretanto, para concluir calendário, os Beatles tocaram
o mínimo indispensável no Kaiserkeller, preferindo antes irem socializar e tocar a
sua música para o Top Ten. Peter Eckhorn ofereceu aos 4 uns beliches no sótão do
seu bar. Não era um hotel de 5 estrelas, mas comparado com os alojamentos ante-
riores, era um verdadeiro luxo. Por causa de uns incidentes, Paul e Pete foram presos
e também deportados pela polícia de Hamburgo. Antes de serem deportados, os
Beatles negociaram com Peter Eckhorn o agendamento de um mês no Top Ten
Club para Abril. Allan Williams não tinha conhecimento destes acordos...
A Paul e Pete, seguiu-se John. A polícia alemã já andava no encalço de
Lennon que voluntariamente regressou de comboio na manhã de 10 de Dezembro
com destino a Inglaterra. Apesar de Stuart estar também a ser seguido pela polícia,
este conseguiu esconder-se na casa de uma amiga por quem se tinha apaixonado,
Astrid Kirchherr. 36 Sutcliffe só regressou a Liverpool no final de Fevereiro. 37
Em Dezembro regressaram a casa. Voltaram a actuar no Casbah, o bar de
Mona Best, que os recebera com cartazes a anunciar o “Return of the Fabulous
Beatles!”, desenhados por Neil Aspinal. 38 Na ausência de Stuart, durante umas
quatro actuações, este foi substituído no baixo por Chas Newby. 39 Durante este
período, os Beatles actuaram, para além do Casbah, em vários lugares, entre eles,
Cassnova Club e Jacaranda. Allan Williams agendou para a banda na véspera de

35
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 24.
36
Astrid Kircherr (1938, Hamburgo), é uma fotógrafa e artista alemã que teve um papel de
relevo na vida e na imagem dos Beatles. As fotografias mais emblemáticas da banda da fase de
Hamburgo são de sua autoria. Foi namorada de Stuart Sutcliffe até à sua prematura morte. In
BLACK, Johnny, Scaling The Toppermost, Issue #9, London, MOJO - Special Edition - John
Lennon, Winter 2000, p. 25.
37
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 25.
38
Neil Aspinall é, para além de amigo chegado dos Beatles, considerado o seu braço-direito. Colega
de escola de Paul e George e amigo de Pete, começou por ser o motorista e road manager da
banda. Mais tarde viria a ser o executivo da Apple Corps, empresa dos Beatles. In LEWISOHN,
Mark, I’m with the band, Issue #24, London, MOJO - The Music Magazine, Special Collectors
Edition, November 1995, pp. 40-41.
39
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 24-25.
Os Beatles estavam periodicamente sem baixista porque Stuart continuava em Hamburgo e,
Pete Best, começou por sugerir Ken Brown, antigo membro dos Blackjacks, para substituir
Stuart. Como Brown estava a viver em Londres e havia alguns conflitos entre eles, declinou a
oferta e tiveram que tentar outro ex-membro da antiga banda de Pete, o guitarrista Chas Newby,
o qual aceitou ajudar a banda. Newby tem duas particularidades em comum com Paul: nasceu
a 18 de Junho e também era canhoto.

179
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Natal no Grosvenor Ballroom, em Wallasey, e também para o dia 27 de Dezembro


no Town Hall Ballroom, em Litheland. Nesta altura, com toda a experiência das
centenas de horas a tocar em Hamburgo, os Beatles já tinham aquilo que se pode
chamar um poço de energia, criando uma inexplicável e sem precedente inquie-
tação entre os adolescentes encantados pela sua energia e carisma. A Beatlemania
estava a nascer! 40
O ano de 1961 começa com o mesmo problema de sempre. Com o regresso
à escola por parte de Newby, os Beatles voltavam a ficar sem baixista outra vez.
Para além de não saberem ao certo quando Stu estaria de volta, ele não era músico!
Por isso, tinham que procurar dentro da banda alguém que tomasse o lugar. John
tentou persuadir George a trocar a guitarra pelo baixo. Este recusou de imediato.
Ficou a sobrar Paul, que trocou a guitarra ritmo e o piano. Adaptou a sua guitarra
Rosetti modelo Solid 7 para baixo eléctrico com apenas três cordas roubadas a um
piano. 41
Através de Mona Best e de Bob
Wooler, a 9 de Fevereiro, os Beatles, agora
como Beatles, fizeram a sua estréia na
Cavern Club, na Mathew Street, no Centro
de Liverpool, na sessão da hora de almoço. 42
A seguir ao seu debut na Cavern, os
Beatles prepararam a sua segunda viagem a
Hamburgo. Nesta altura, George já tinha
completado os seus 18 anos em Fevereiro.
Contaram com a ajuda de Mona Best que
intercedeu junto das autoridades alemãs
através de muitas cartas prometendo um
bom comportamento por parte dos “seus
rapazes”. E desta vez, eles tinham alguns
aliados: Stuart que tinha voltado para
Hamburgo a meio de Março tendo sido
admitido na State College of Art; Astrid,
Fig. 3 - Cavern Club em 1995. (Fotogra-
que continuava com o romance com Stu; e
fia do Autor)
Peter Eckhorn, o dono do Top Ten Club. 43
40
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 25.
41
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 30.
42
Até Agosto de 1963, os Beatles tocaram cerca de 260 vezes na Cavern Club. Para eles, a Cavern
era a sua segunda casa e, em Liverpool, os dois nomes eram sinónimos. In LEWISOHN, Mark,
The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 31.
43
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 31-32.

180
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

No final de Março, os 4 rapazes apanham o comboio na Lime Street Station,


numa longa viagem de comboio e de barco a caminho de Hamburgo. Allan
Williams ficou furioso com o facto
deles terem feito este contrato no
Top Ten nas suas costas e, mais
tarde, a 20 de Abril, escreveu-lhes
uma carta a ameaçar processá-los.
Mas tudo acabou por dissipar-se...
Os Beatles estavam contentes
por estar de volta a Hamburgo e,
desta vez, já tinham um pequeno
grupo da elite artística da cidade que
os seguia sempre para ir vê-los tocar.
Stuart tinha saído do grupo definiti-
vamente, mas ele e Astrid iam quase
todas as noites ao clube, muitas vezes
acompanhados por Klaus Voor-
mann 44 e Jürgen Vollmer 45. Foi
nesta altura que, ao verem o corte
de cabelo de Stuart feito por Astrid,
apareceu o corte de cabelo estilo
Beatle. 46 Todos aderiram ao estilo, Fig. 4 - Reprodução da capa do jornal de música
excepto Pete Best. Mersey Beat em postal. (Col. do Autor)
44
Klaus Voormann (1939, Berlin) é um artista gráfico, músico e produtor musical. Foi namorado
de Astrid antes de Stu. Era membro, como baixista, da banda inglesa, Manfred Mann. Foi o
autor da capa do disco Revolver (1966) e das três capas da The Beatles Anthology (1995). Também
foi membro do grupo Plastic Ono Band, com Lennon. Em estúdio, para além das gravações
do triplo álbum de George Harrison, All Things Must Past, participou em diversos LP’s de
Lennon, Harrison e Starr. Entre outros artistas como Lou Reed, Carly Simon, James Taylor, etc.
In LEWISOHN, Mark, I’m with the band, Issue #24, London, MOJO - The Music Magazine,
Special Collectors Edition, November 1995, pp. 40-41.
45
Jürgen Vollmer (1939, Hamburgo) era mais um dos seguidores dos Beatles em Hamburgo
que pertencia, tal como Astrid e Voormann, ao grupo dos Exis (existencialistas). Foi Vollmer
que tirou a famosa fotografia de Lennon que mais tarde viria a ser capa do seu album Rock ‘n’
Roll (1975). In WINGATE, Johathan, The Beatles in Hamburg, 1961, Issue #387, London,
RECORD COLLECTOR - The Beatles in Hamburg - The Inside Story, April 2011, pp.
60-67.
46
Para comemorar os seus 21 anos, John convidou Paul a ir com ele a Paris. Numa carta, Stuart
disse a Lennon que estaria também por essa altura em Paris o seu amigo em comum, Jürgen
Vollmer. E foi nessa viagem que este conseguiu finalmente convencer John e Paul a mudar o
penteado que depois ficou mundialmente conhecido como Beatle-haircut.

181
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Paul McCartney comprou nesta segunda viagem a Hamburgo, um baixo


eléctrico. E foi na loja da Steinway & Sons que encontrou o baixo ideal. Era simé-
trico, leve e barato. O famoso baixo Höfner 500/1, com a forma de violino e de
corpo oco, tornou-se numa das imagens de marca dos Beatles. 47
O ponto alto dos Beatles em Hamburgo deu-se quando surgiu a oportu-
nidade de voltarem às sessões de gravação. Tony Sheridan tinha contrato contrato
discográfico com a Deutsche Grammophon, através da sua label Polydor. Nesse
mesmo mês de Abril, Alfred Schacht, director da Aberbach Music Publishing, foi
ao Top Ten para falar com Sheridan e ficou a conhecer os Beatles, tendo ficado
impressionado com a ligação musical que havia entre ele e a banda de Liverpool.
E assim, depois de ter falado com Berthold Kaempfert, regente de orquestra e
compositor alemão, admitiu a possibilidade de gravarem juntos para a Polydor, o
que se veio a concretizar mais tarde. 48
No final de Junho, os Beatles apoiaram Tony Sheridan e gravaram “Ain’t
She Sweet” (Milton Ager-Jack Yellen), com Lennon como voz principal, e “Cry
For A Shadow” (Harrison-Lennon) 49, um instrumental no qual Sheridan não
participa. Em Agosto, já estando em Liverpool, a Polydor edita duas outras
músicas gravadas: “My Bonnie”, com arranjos de Tony Sheridan, e “The Saints
(When The Saints go Marching In)”, creditado como Tony Sheridan and The Beat
Brothers.
Os Beatles estavam no auge... pelo menos ao nível de uma banda local. E
outro momento que marca a história dos Fab Four, é a entrada de Brian Epstein,
o seu futuro empresário, em cena. No dia 9 de Novembro, os Beatles estavam
a actuar à hora do almoço na Cavern Club. Epstein, de 27 anos, era gerente da
maior loja de música de Liverpool, a NEMS (North End Music Stores), proprie-
dade de sua família. Brian foi atraído à Cavern depois de um miúdo de 18 anos,
Raymond Jones, ter perguntado se havia uma cópia do single “My Bonnie” na sua
loja. Depois de presenciar a performance dos Beatles no palco da Cavern. A seguir
a assistir sua actuação no clube, Brian Epstein foi ao pequeno camarim onde
estavam os quatro para os conhecer. Em Dezembro, Brian e os Beatles marcaram
uma reunião nos escritórios da NEMS. E foi nessa altura que assinaram um
contrato com Brian!

47
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 444-445.
48
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 33.
49
“Cry For A Shadow” (Harrison-Lennon) foi editado como single em 1964, tendo como Lado
B, “Why” (Crompton-Sheridan). O single está em nome dos Beatles, mas “Why” está creditado
como Tony Sheridan and The Beat Brothers.

182
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Na sequência de uma conversa com Tony Barrow, representante em Liver-


pool da Decca Records, conseguiu uma audição para os Beatles em Londres com
o seu director de A&R (Artists and Repertoire), Dick Rowe, para o primeiro dia
do ano. 50
Esta data, dia 1 de Janeiro de 1962, ficou registada na História da música
como The Decca Audition. Mike Smith, o A&R da Decca que tinha ido ver os
Beatles no dia 13 de Dezembro, também iria supervisionar a audição. Nessa
sessão, os Beatles gravaram 15 músicas. 51 No final da audição, Smith despachou
os Beatles porque iria fazer outra com Brian Poole And The Tremeloes, uma
banda de Barking, Essex. Mas a audição com os 4 rapazes de Liverpool tinha
corrido bem e agora era só esperar por uma resposta. 52
No dia 5 de Janeiro, foi editado em no Reino Unido o single, agora com o
nome correcto da banda, “My Bonnie”, de Tony Sheridan And The Beatles.
No princípio do mês de Fevereiro, receberam uma resposta que não estavam
à espera por parte da Decca: foram rejeitados! O motivo da resposta negativa
prendeu-se com o facto de os Beatles terem na sua óptica um som muito apro-
ximado dos Shadows, além de que “as bandas com guitarras não teriam futuro”! 53
Esta rejeição por parte de Dick Rowe é considerada como “o maior erro na
história da indústria discográfica”, tendo sido a pior decisão alguma vez tomada
por um A&R. Dick Rowe terá como presságio sobre si gravado o seguinte epíteto:
The Man Who Turned Down The Beatles! 54

50
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 36-37.
51
As músicas gravadas foram: “Besame Mucho” (Velasquez-Shaftel), “Hello Little Girl” (Lennon-
McCartney), “The Sheik of Araby” (Smith-Snyder-Wheeler), “September In The Rain” (Dubin-
Warren), “Three Cool Cats” (Leiber-Stoller), “Love Of The Loved” (Lennon-McCartney),
“Menphis Tennessee” (Berry), “Till There Was You” (Willson), “Crying, Waiting, Hoping”
(Holly), “Like Dreamers Do” (Lennon-McCartney), “Money” (Gordy-Bradford), “Searchin’”
(Leiber-Stoller), “Sure To Fall” (Perkins-Cantrell-Claunch), “To Know Her Is To Love Her
(Spector) e “Take Good Care Of My Baby” (Goffin-King). In ROBERTSON, John, The
Complete Guide To The Music Of The Beatles, London-New York-Sidney, Omnibus Press, 1994,
p. 129.
52
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 52.
53
Numa visita que Brian Epstein fez aos escritórios da Decca, em Londres, Dick Rowe e Sidney
Arthur Beecher-Stevens insistiram que “The Beatles won’t go, Mr. Epstein. We Know this things.
You have a good record business in Liverpool, why not stick to that?” Epstein ripostou de imediato:
“You must be out of your minds, these boys are going to explode. I am completely confident that one
day they will be bigger than Elvis Presley!” In LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle,
London, Pyramid Books, 1993, p. 53.
54
BEAUMONT, Mark, The World’s Greatest Rejects, Beatles Anniversary Issue, London, NME -
The Beatles - The Inside Story of The Audition That Nearly Destroyed Them, 31 December
2011, pp. 10-41.

183
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Nessa mesma viagem a Londres e através de uma subsidiária da EMI


Records, Brian conseguiu obter o contacto do director de A&R da Parlophone 55,
George Martin. Ao encontrar-se com Martin, Brian Epstein mostrou-lhe algumas
músicas as quais não surpreenderam George Martin, mas despertaram-lhe curio-
sidade.
Entretanto, Brian Epstein arranjou um contrato para os Beatles voltarem
a Hamburgo para tocar no já conhecido Top Ten Club mas, desta vez, tiveram a
comodidade de ir de avião. Estavam agendadas entre o dia 13 e 31 de Maio. À
sua espera no aeroporto de Hamburgo, estava Astrid Kirchherr, com uma notícia
perturbadora. Stuart Sutcliffe, promissor artista, antigo baixista da banda e
melhor amigo de Lennon, morreu com apenas 21 anos de idade, de uma hemor-
ragia cerebral.
Brian Epstein voltou a encontrar-se com George Martin em Londres. Este,
ao contrário do que era o procedimento normal, ofereceu a Brian um contrato
para a sua banda sem sequer os ouvir. Brian enviou um telegrama para os rapazes
com a mensagem: “Congratulations boys. EMI request recording session. Please
rehearse new material.” No dia 6 de Junho, os Beatles foram aos estúdios da EMI,
sediados na Abbey Road, para assinar o contrato. George Martin ficou impres-
sionado com o irreverente sentido de humor de John, Paul e George, mas ficou
pouco convencido com as potencialidades de Pete Best e tornou isso bastante
claro a Epstein. 56
Após o regresso de Hamburgo, os Beatles deram 62 concertos e fizeram
mais duas sessões de gravações, uma para a EMI e outra para a BBC. Mas ainda
iria haver mais uma mudança para que o puzzle estivesse composto! Há já algum
tempo que havia um certo desagrado de John, Paul e George em relação a Pete
Best. Por exemplo, Best nunca foi informado acerca da resposta negativa da
Decca. No dia 14 de Agosto, John e Paul indagaram Richard Starkey, conhecido
entre os amigos por Ritchie e por Ringo Starr em palco, se estaria interessado em
juntar-se aos Beatles. Já havia uma grande empatia entre John, Paul, George com
Ringo. E já tinham no passado gravado uma música juntos com Walter Eymond
em que Ringo tinha substituído Best quando este esteve doente. 57

55
A Parlophone é uma label da EMI Records que naquela altura tinha um baixo orçamento,
poucos artistas de sucesso e pouco prestígio. In LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles
Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 53.
56
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 56-58.
57
Mesmo George Harrison estava com vontade de ver Best fora da banda e foi falar com os pais de
Ringo para saber se podia abordá-lo acerca da hipótese de se juntar aos Beatles. In LEWISOHN,
Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, p. 58.

184
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Esta fase foi uma mancha na história dos Beatles. Pete Best esteve com eles
durante dois anos e, no final, foi Brian Epstein que deu a infeliz notícia a Best no
dia 16 de Agosto. Não merecia esta falta de coragem por parte dos seus band-
-mates. Quando se soube desta notícia em Liverpool, os fãs de Best ficaram irri-
tados ao ponto de destruírem o carro novo
de Brian e de este precisar de andar com
seguranças durante alguns dias na Mathew
Street.
No dia 4 de Setembro, John, Paul,
George and Ringo apanharam um avião
para Londres para gravar uma segunda
sessão. Gravaram duas músicas: “Love Me
Do”, de Lennon e McCartney, e “How
Do You Do It”, de Mitch Murray. George
Martin não ficou satisfeito com o take de
“Love Me Do”. Para o dia 11 de Setembro,
Martin chamou o músico de estúdio, Andy Fig. 5 - Single Love Me Do / P. S. I Love You
White, para gravar “Love Me Do”. Nesta (Parlophone 45-R 4949). (Col. do Autor)

Fig. 6 - Os Beatles: John, Paul, George e Ringo. (Desenho do Autor)

185
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

versão, Ringo tocou apenas pandeireta. A versão de White aparece no primeiro


LP da banda, Please, Please Me. No single “Love Me Do”/”P.S. I Love You” é a
versão de Ringo na bateria. 58
O single “Love Me Do” atingiu a posição #17, no Top 50 britânico.
O resto... o resto é História!

2. As origens e raízes familiares dos Beatles

2.1 - John Lennon, MBE 59

John Winston Lennon, nasceu no dia 9 de Outubro de 1940, em Liver-


pool, durante o Blitz, na segunda Guerra Mundial. John é filho de Alfred “Fred”
Lennon e de Julia “Judy” Elizabeth Stanley. Alfred tinha sido criado num orfa-
nato. Ele foi internado em 1921, porque o seu pai, John “Jack” Lennon morreu
quando tinha apenas 9 anos. 60
Jack Lennon († 1921, Toxteth, Liverpool) passou a maior parte da sua vida
na América como cantor profissional. Fez parte do grupo Kentucky Minstrels. 61
Depois do seu segundo casamento, Jack foi viver com Mary “Polly” Maguire,
protestante, com quem alegadamente casou em 1915. Nesta época, os casa-
mentos mistos não eram bem vistos ou mesmo autorizados. Tiveram sete filhos
que morreram em criança e mais outros sete, entre eles, Alfred Lennon. 62
Jack é filho de James Lennon (n. 1829, Down - † 13.2.1907), natural do
Condado de Down, província de Ulster, oriundo de uma família católica. Este foi
o primeiro dos Lennon a emigrar para Liverpool, 63 juntamente com a sua mulher
Jane McConville (n. 1831, Down - †1869, Liverpool). Casaram em 1849, na

58
LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles Chronicle, London, Pyramid Books, 1993, pp. 58-59.
59
N. do A. - Apesar de ter devolvido as insígnias de MBE, penso que John Lennon não perdeu o
estatuto.
60
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 5.
61
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 5.
62
Jack Lennon e Mary “Polly” Maguire aparecem como casados no registo do seu primeiro filho,
John Lennon, primeiro do nome. Mas de facto não eram por ter havido impedimento devido a
ele ser católico e ela protestante. In LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years,
vol. 1, New York, Crown Archetype - Penguin Random House Company, 2013, pp. 21-22.
63
Cerca de meio milhão de irlandeses emigrou para Liverpool durante os anos de 1845 e 1854. In
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, p. 21.

186
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Scotland Road, no bairro improvisado para os imigrantes católicos, mesmo no


coração de Liverpool. Deste casamento nasceram entre seis e oitos filhos. 64
Fred Lennon deixou o orfanato com 15 anos, e tornou-se moço-de-recados.
A seguir a este curto emprego, foi trabalhar para os navios como carregador de
malas e empregado de mesa. Foi pouco tempo depois que Fred começou a sair
com Julia, na altura com 15 anos de idade. 65
A família materna de Lennon, na sua maioria protestante, passou a Liver-
pool através do seu bisavô
William Henry Stanley (n.
1848, Birmingham), por
volta do ano de 1868. 66 Ele
e a sua mulher Eliza Jane
Gildea (n. 1849, Omagh -
† 1916, Liverpool), natural
do Condado de Tyrone,
Ulster, na Irlanda, fixaram-
-se em Everton, a Norte de
Liverpool. O seu terceiro
filho, George Ernest Stanley
(n. 1874, Liverpool - †
1949, Liverpool), foi mari-
nheiro mercante e, em
1898, foi viver com Annie
Jane Millward (n. 1873,
Chester - 1941, Liverpool),
filha de John Dumbry Mill-
ward e de Mary Elizabeth
Morris, naturais do País de
Gales. Devido ao mesmo
problema que houvera
Fig. 7 - Casa onde viveu John Lennon em Menlove Avenue
com o Jack Lennon e Polly
- Mendips. (Fotografia do Autor)
Maguire, o casamento de

64
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 21-22.
65
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 6.
66
Seu pai, outro William Henry Stanley (1814-1902), era natural de Londres foi casado com
Susannah Sarah New, natural de Parramatta, New South Wales, arredores de Sidney, Austrália.

187
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

George Ernest e Annie Jane não se pôde efectuar por impedimento de serem
católicos e protestantes. 67
Desta relação nasceram duas das pessoas mais importantes na vida de John
Lennon: a sua mãe Julia Elizabeth (12.3.1914, Liverpool - 15.7.1958, Liverpool)
e a sua tia Mimi, Mary Elizabeth (24.4.1903, Liverpool - 6.12.1991, Poole).
Fred Lennon e Julia Stanley casaram a 3 de Dezembro de 1938, no
Mount Pleasant Register Office, às 10 horas da manhã. A família Stanley não
ficou muito contente com este casamento, principalmente a sua irmã Mimi. No
Verão de 1940, Julia descobre que está grávida. Ninguém sabe onde está Fred.
John Winston Lennon nasce no Maternity Hospital, na Oxford Street. Chama-se
Winston em homenagem a Winston Churchill.
Por volta dos seus quatro anos, a sua mãe foi viver com outra pessoa, 68 e
John passou a viver entre a casa da mãe e de a casa da tia Mimi e do tio George,
em Woolton. Entretanto, Fred Lennon foi buscar o seu filho a Woolton e levou-o
para Blackpool. Mas quando estava de partida para a Nova Zelândia, Julia foi
buscar John. Esta foi a última vez que Fred Lennon viu o filho até ele se tornar
famoso em meados dos anos sessenta. 69
John voltou para Liverpool, mas não foi viver com a sua mãe, Julia. Em
vez disso, foi viver definitivamente para a casa de sua tia Mimi e de seu tio George
Smith. Quando estava com sua mãe, esta ensinou-o a tocar banjo que tinha
aprendido com o seu pai, o avô de John.
O número 251 da Menlove Avenue, em Woolton, era conhecido como
Mendips. A casa geminada, com as suas janelas art nouveau, onde Lennon viveu
até à sua adolescência, ficava situada nos subúrbios de Liverpool, num sítio onde
viviam médicos e advogados, como disse Lennon, numa entrevista. 70 Comparado
com os outros Beatles, de facto Lennon era o que vivia numa situação melhor.
Julia Stanley passava cada vez mais tempo em casa de sua irmã Mimi. A
sua relação com John estava cada vez mais próxima e tinham muitas coisas em

67
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 22-23.
68
Ainda casada com Alfred Lennon, Julia teve uma relação amorosa com um soldado galês que se
chamava Taffy Williams de quem teve uma filha, em 1945, que deu para adopção. Em 1964,
quando John Lennon teve conhecimento desta irmã, tentou encontrá-la, mas sem êxito. Esta
sua imã, Victoria Elizabeth, nunca chegou a conhecer John. Um ano depois do nascimento de
Victoria, Julia começou a sair com John Dykins. Desta relação nasceram mais duas filhas: Julia
(1947) e Jacqueline (1949).
69
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, pp. 8-9.
70
“MENDIPS - Woolton, Liverpool”, The National Trust, 2014.

188
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

comum para partilhar. 71 Numa dessas visitas, e quando saía às 21h40 foi atrope-
lada ao atravessar a Menlove Avenue, por um polícia que estava fora-de-serviço. 72
Morreu no dia 15 de Julho de 1958. Foi um momento de grande perda para John
que, três anos antes, tinha visto morrer o seu tio George com quem tinha uma
enorme afinidade. 73
_______________

Entre os vários álbuns que


John Lennon lançou após o fim dos
Beatles, há um que nos desperta
mais atenção para a nossa matéria.
O interesse de John pela origem
do seu apelido e pelas suas origens.
Há sempre um momento na vida
em que esse interesse é despertado
pela curiosidade de descobrir mais
sobre nós. O álbum “Wall and
Bridges”, 74 em que a capa é uma
reprodução de três desenhos do
tempo de escola quando tinha 11
anos, tem um booklet com as letras
das canções e, na contra-capa,
aparece um extrato do texto do
livro de Edward Maclysaght, com Fig. 8 - Booklet do Álbum Wall and Bridges (Ap-
a definição do apelido “O’Lennon, ple, PCTC 253). (Col. do Autor)
Linnane, Leonard, (Linnegar;
MacAlinion).” 75
_______________

71
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 52.
72
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 53.
73
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 180-185.
74
LENNON, John, Walls And Bridges, United Kingdom, PCTC 253, EMI Records Limited -
Apple Record, 1974.
75
MACLYSAGHT, Edward, Irish Families, Their Names, Arms and Origens, Dublin, Allen Figgis
and Company Limited, 1972.

189
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

No dia 8 de Dezembro de 1980, vindos dos estúdios The Record Plant,


John e Yoko chegavam a casa por volta das 22h50m. Quando saíram do carro, à
frente do Dakota Building, um sujeito de 25 anos chama: “Mr. Lennon!” Já com
a arma de calibre .38 na mão, dispara à queima roupa quatro tiros sobre John
Lennon. Foi levado para o Hospital Roosevelt e veio a morrer devido à perda de
sangue. John deixou dois filhos, John Charles Julian Lennon (8.4.1963, Liver-
pool) e Sean Taro Ono Lennon (9.10.1975, Nova Iorque). 76

2.2 - Paul McCartney, MBE, Kt

James (IV) Paul McCartney nasceu a 18 de Junho de 1942, numa ala privada
do Hospital de Walton, em Liverpool. A sua família pertencia à classe trabalhadora
comum e nesta altura estava-se no auge da guerra, mas Paul teve esse privilégio uma
vez que a sua mãe tinha sido enfermeira encarregada da maternidade. E foi-lhe
dado um tratamento especial quando o seu primeiro filho estava para nascer. Mary
Patricia tinha largado o hospital no ano anterior e para se tornar parteira. 77
Paul é filho de James (III) “Jim” McCartney (n. 7.7.1902, Liverpool - †
18.3.1976, Liverpool), que estava ausente no seu nascimento devido ao seu trabalho
como bombeiro voluntário durante a segunda Guerra Mundial, e de Mary Patricia
Mohan (Mohin) (n. 29.9.1909, Liverpool - † 31.10.1956, Liverpool). Deste casa-
mento, houve mais um filho, Peter Michael (n. 7.1.1944, Liverpool) 78. Apesar de
ambos serem baptizados na fé Católica por causa da sua mãe, o pai passou de protes-
tante a agnóstico. 79 Mary Patricia é filha de Owen Mohin (n. 19.1.1880, Mona-
ghan, Irlanda) e de Mary Theresa Danher (n. 1.4.1877, Liverpool). Tanto o lado
paterno como materno são originais da Irlanda e ambos os ramos são católicos. 80
James (III) McCartney trabalhou no comércio do algodão. Naquela altura era
um trabalho para a vida. Com 28 anos ganhava £250 81 por ano. Não era um grande

76
MAYER, Allan J., AGREST, Susan, YOUNG, Jacob, Death of a Beatle, in “John Lennon 1940-
1980”, Number 51, New York, Newsweek Inc - The Washington Post, December 22, 1980, pp.
15-26.
77
N. do A. - Em inglês Health Visitor ou Midwives.
78
N. do A. - Michael “Mike” McCartney é fotógrafo e, nos anos sessenta, fez parte de uma banda
chamada “Scaffold”, com o pseudónimo Mike McGear, para não haver nenhum vínculo ou
influência do irmão Paul.
79
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 23.
80
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, p. 26.
81
Em 1930, o valor de £1, comparável com o valor da libra em 2013, era de £43,46. Por isso,
Jim McCartney ganhava o equivalente a £10,865 por ano. In LEWISOHN, Mark, Tune In

190
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

salário, mas ainda assim razoável. Jim era novo demais para ter lutado na primeira
Guerra Mundial e demasiado velho para a segunda. Quando o comércio do algodão
foi encerrado por causa da guerra, McCartney foi mandado para a Napiers, uma
empresa de engenharia de máquinas. James and Mary casaram em 1941. Durante o
dia continuava a trabalhar na Napiers e à noite como bombeiro voluntário. 82
James (III) é filho de Joseph “Joe” McCartney 83 (n. 23.11.1866, Liver-
pool) e de Margaret Florence “Florrie” Clegg (n. 2.6.1874, Liverpool), cuja a
família era oriunda de Onchan, na Ilha
de Man, que se estabeleceu em Everton.
O avô paterno de Florrie chama-se
Robert Clegg e era oficial de justiça 84.
Esta família vivia em plena harmonia
musical e Jim gostava de tocar piano.
Por volta de 1916, os McCartney
compraram um piano em segunda-
-mão numa loja perto deles de nome
NEMS 85. Em 1919, Jim McCartney
começou a tocar em público e formou
uma banda de jazz chamada “Jim
Mac’s Band”.
Joe é filho de James (II) McCar-
tney que veio para Liverpool na altura
da Grande Fome, na Irlanda (1845-
1849), com os seus pais, Jeremiah
“James” McCartney e Ann Tate,
natural da Escócia. Em 1864, James Fig. 9 - Famine Memorial, em Dublin, da autoria
McCartney casou em Liverpool com de Rowan Gillespie. (Fotografia do Autor)

- The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype - Penguin Random House
Company, 2013, pp. 5-6.
82
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 23.
83
Joseph “Joe” McCartney tocava a sua enorme tuba na banda de metais do seu trabalho, do estilo
de música north-country, em festas de igrejas e nos coretos dos parques. Foi o primeiro da família
a actuar em público. In LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New
York, Crown Archetype - Penguin Random House Company, 2013, p. 25.
84
Robert Clegg tinha como profissão coroner, que traduzido para o português quer dizer “oficial de
justiça que investiga os casos de morte violenta ou por acidente”, ou seja, o equivalente a médico
legista. In Dicionário Inglês - Português, Porto, Porto Editora Lda, 1992, p. 159.
85
N. do A. Nesta altura a NEMS ainda não pertencia à família Epstein.

191
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Elizabeth Williams (n. 1844, Birkrnhead, Merseyside), e foram viver para a


Scotland Road.
Não existe um consenso dos genealogistas em relação à origem da família
dos McCartney. A única certeza é que não são ingleses. Mas há a possibilidade da
origem ter começado na Escócia, pertencendo ao clã Mackintosh, seguindo de
uma migração para a Irlanda durante a época em que passaram de católicos para
protestantes. 86

A família de Jim e
de Mary foram viver em
1947 para uma parte da
cidade chamada Speke,
a Sul de Liverpool.
Em 1955, mudaram-
-se para o número 20
da Forthlin Road, casa
que hoje pertence ao
National Trust. Fica a
cerca de 22 minutos a
pé (1,1 milhas = 1770
metros) de Mendips, a
casa de Lennon. 87

_______________

Paul McCar-
tney casou a primeira
vez, a 12 de Março de
1969, 88 com Linda
Louise Eastman (n.
24.9.1941, Nova Iorque
- † 17.4.1998, Arizona),
Fig. 10 - Casa onde viveu Paul McCartney, em Forthlin Road. filha de Leopold Vail
(Fotografia do Autor) Epstein, imigrante russo

86
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 24-27.
87
“20 FORTHLIN ROAD - Allerton, Liverpool”, The National Trust, 2015.
88
COLEMAN, Ray, McCartney - Yesterday & Today, London, Boxtree Limited, 1995, p. 119.

192
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

judeu e advogado de boa reputação que mais tarde alterou o nome para Lee
Eastman, e de Louise Sara Lindner, também de uma abastada família judia alemã.
Deste casamento nasceram Mary Anna (n. 28.8.1969, Londres) 89, Stella Nina,
OBE (n. 13.9.1971, Londres) 90 e James (V) Louis (n. 12.9.1977, Londres) 91.

2.3 - George Harrison, MBE

George Harrison nasceu


a 25 de Fevereiro de 1943, 92 no
número 12 da Arnold Grove,
Wavertree, Liverpool. É o mais
novo de quatro filhos de Harry e
Louise Harrison.
Harold “Harry” Hargreaves
Harrison (n. 28.5.1909, Liverpool)
era um homem magro, pensa-
tivo, preciso e resolvido. Deixou a
escola aos 14 anos de idade e foi
trabalhar para uma firma de calan-
dras. A sua vontade era alistar-se
na marinha, mas foi impedido
pela sua mãe, Jane Thompson,
porque o seu pai, Henry “Harry”
Harrison (n. 21.1.1882, Liver-
pool) tinha sido morto em Mons,
na Bélgica, durante a primeira
Guerra Mundial. Mas concordou
Fig. 11 - Casa onde viveu George Harrison, em
em deixá-lo ir para a marinha
Arnold Grove. (Hoje em dia não é fácil ir ao local
mercante, onde trabalhou entre
para tirar fotografias porque os moradores são
1926 e 1936 como criado de bordo
hostis.)
ou camareiro na companhia White
Star Line.

89
CLAYSON, Alan, Paul McCartney, London, Santuary Publishing Limited, 2003, p. 133.
90
CLAYSON, Alan, Paul McCartney, London, Santuary Publishing Limited, 2003, pp. 141-142.
91
CLAYSON, Alan, Paul McCartney, London, Santuary Publishing Limited, 2003, pp. 186-187.
92
George Harrison foi registado no dia seguinte e no certificado de baptismo como tendo nascido
a 25 de Fevereiro de 1943. Em 1990, George decidiu anunciar que afinal tinha nascido a 24
desse mês. In LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York,
Crown Archetype - Penguin Random House Company, 2013, pp. 34 e 805.

193
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Entretanto, em 1929, Harold conheceu Louise Anne French (n. 3.1911,


Liverpool - † 1970), filha de John French 93 (n. 1870, County Wexford, Irlanda),
encarregado da New Brighton Tower, e de Louise Woollam (nat. de Liverpool),
e casaram-se a 20 de Maio de 1930, não na igreja, mas no Registo Civil de
Brownlow Hill, porque ela era católica e ele não. Foram viver para a Arnold Grove
logo a seguir ao casamento e viveram nessa casa durante dezoito anos. 94 Fica a
50 minutos a pé (2,5 milhas = 4023 metros) de casa de Lennon e a 1 hora (3,3
milhas = 5310 metros) de casa de Paul.
O ramo paterno de George, os Harrison, são uma família protestante
originária de Liverpool. Henry “Harry” Harrison é filho de Edward Harrison (n.
13.1.1848, Liverpool), que foi pedreiro de cantaria de vários edifícios públicos, e
de Elizabeth Hargreaves (nat. de Manchester), e neto paterno de Robert Harrison
(n. 9.10.1816, West Derby, Liverpool) e de Jane Shepherd (nat. de Litherland,
Liverpool). Casou em 1902, com Jane Thompson, de quem o pai era escocês e a
mãe natural da Ilha de Man. 95

_______________

George Harrison casou a primeira vez a 21 de Janeiro de 1966, 96 com


Pattie Boyd (n. 1944, Somerset), de quem não teve filhos. Pattie é uma modelo
inglesa que participou no filme Help!. Divorciaram-se em 1977. Casou a segunda
vez, a 2 de Setembro de 1978, com Olivia Trinidad Arias (n. 18.5.1948, Cidade
do México), de quem teve um filho, Dhani (n. 1.8.1978, Windsor). 97 Harrison
morreu a 29 de Novembro de 2001, em Los Angeles, vítima de cancro. Foi
cremado e as suas cinzas foram deitadas nos rios Ganges e Jamuna, na Índia,
numa cerimónia privada de acordo com a tradição hindu.

93
O apelido French em irlandês, escreve-se Ffrench. In DAVIES, Hunter, The Beatles - The
authorized biography, London, William Heinemann Lda, 1968, p. 38.
94
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, pp. 37-39.
95
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 27-29.
96
SULLIVAN, Robert, All Things Must Pass, “TIME - George Harrison 1943-2001”, New York,
Time Inc., December 10, 2001, pp. 73.
97
JONES, Allan (Editor), 1943-2001 GEORGE - The full story of an extraordinary life, Take #57,
London, UNCUT Magazine - Time Inc., February 2002, pp. 38-61.

194
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

2.4 - Ringo Starr, MBE

Richard Starkey nasceu a 7 de Julho de 1940, no número 9 de Madryn


Street, em Liverpool. O apelido da família deveria ser Parkin, se o seu avô não
tivesse decidido mudá-lo. Quando a mãe desse seu avô parterno, John “Johnny”
Parkin Starkey, começou a viver ilegitimamente com mr. Starkey, e para evitar
más-línguas, alterou o nome de casado Parkin para Starkey e, o avô paterno de
Ringo, também fez o mesmo. Isto causou alguma confusão quando Ringo quis
a certa altura traçar o seu ramo familiar. O apelido Starkey é originário das Ilhas
Shetland.
A mãe Ringo, Elsie Gleave (n. 19.10.1914, Toxteth Park, Liverpool),
casou a 24 de Outubro de 1936, em St. Silas, Toxteth, com o seu pai, Richard
“Ritchie” Henry Parkin Starkey (n. 1.10.1913). 98 Conheceram-se quando traba-
lhavam ambos na mesma padaria. A seguir ao casamento, os Starkey, com os avós
paternos, foram viver para o Dingle 99. Depois de Scotland Road, o Dingle é o
sítio mais duro de Liverpool. Situa-se no centro, não muito longe das Docas. 100
Logo a seguir ao nascimento de Ringo, ainda a sua mãe estava em recobro,
começou a ouvir as sirenes de aviso de guerra. O bombardeamento a Liverpool
tinha começado! As casas do Dingle ainda não tinham abrigo e os ataques aéreos
começaram a fazer estragos na cidade. 101
Quando Ringo foi baptizado, no meio da classe operária, é tradição dar
sempre ao primeiro filho o nome do pai. Também eram ambos tratados pela sua
alcunha, “Ritchie”.
Richard Starkey é filho de John “Johnny” Parkin Starkey (n. 1890,
Toxteth Park), fabricante de caldeiras, e de Annie Bower (n. 22.4.1889, Toxteth
Park). 102 Neto paterno de John Parkin, perfurador-operário e marinheiro empre-
gado no navio-farol Formby. 103 Este era filho de outro John Parkin, marinheiro,
que nasceu por volta de 1823, em Hull, que fica na costa oposta a Liverpool, e lá
98
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, p. 30.
99
N. do A. - Dingle é uma área perto do centro da cidade e faz fronteira com o Toxteth Park e
Aigburth. O seu nome significa “Vale arborizado”. Em Tune In de Mark Lewisohn, na página
29, está bem explicado o ambiente social que se vivia no Dingle.
100
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, pp. 147-148.
101
DAVIES, Hunter, The Beatles - The authorized biography, London, William Heinemann Lda,
1968, p. 148.
102
Casaram a 31 de Julho de 1910, na Igreja de St. Matthew, em Toxteth Park.
103
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 29-30.

195
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

casou e foram os primeiros a estabelecer-se no Dingle, Liverpool. Neto materno


de Alfred Bower (nat. de Liverpool) e de Margaret Ellen Parr. 104
Aos três anos de idade, os seus pais separaram-se. Desde então, excepto em
três ocasiões a seguir, Ringo nunca mais viu o seu pai. Ringo e sua mãe conti-
nuaram durante um tempo a viver na Madryn Street, mas a renda tornou-se
demasiado dispendiosa e mudaram-se para a rua “ao virar da esquina”, para uma
pequena casa no número 10, da Admiral Grove.
Por volta de 1860, os Gleave já moravam no Dingle e são uma família de
protestantes. Elsie é filha de John Gleave (n. 11.4.1891, Toxteth Park), fabricante
de caldeiras, e de Catherine Martha Johnson (n. 25.4.1891, Toxteth Park). 105
Neta paterna de William Gleave,
também fabricante de caldeiras, e de
Mary Kate Conroy. Neta materna
de Andrew Johnson (n. 2.1.1852),
marinheiro, e de Mary Elizabeth
Cunningham, ambos naturais do
Dingle. 106 Andrew Johnson é filho
de Peter Johnson, pescador, natural
de Orkeney, Ilha de Shetland. Mary
Elizabeth é filha de James Cunnin-
gham, jardineiro, natural de Mayo,
Irlanda. 107
Quando Ringo tinha por
volta de 11 anos de idade, a sua
mãe conheceu um pintor e artesão
da Câmara Municipal, Harry
Arthur Graves (n. 1913, Romford,
Londres). A 17 de Abril de 1953,
Fig. 12 - Casa onde viveu Ringo Starr, em Admi- Harry e Elsie casaram. Ringo teve
ral Grove. (Fotografia do Autor) uma relação excepcional com o seu
padrasto. 108
_______________
104
Casaram a 10 de Novembro de 1873, na Igreja de St. Michael, Walton-on-the-Hill.
105
Casaram a 12 de Abril de 1914, na Igreja de St. Matthew, em Toxteth Park.
106
Casaram a 14 de Abril de 1875, na Igreja de St. Thomas, Liverpool.
107
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, p. 30.
108
LEWISOHN, Mark, Tune In - The Beatles : All These Years, vol. 1, New York, Crown Archetype
- Penguin Random House Company, 2013, pp. 56-57.

196
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Ringo Starr casou a primeira vez a 11 de Fevereiro de 1965, em Londres, 109


com Maureen Cox (n. 4.8.1946, Liverpool - † 30.12.1994, Seattle, Washington),
de quem teve três filhos: Zak (n. 13.9.1965, Hospital Queen Charlotte,
Londres) 110, Jason (n. 19.8.1967, Hospital Queen Charlotte, Londres) 111 e Lee
Parkin (n. 17.11.1970, Hospital Queen Charlotte, Londres) 112. Casou a segunda
vez, a 27 de Abril de 1981, em Marylebone, com a atriz Barbara Bach 113 (n.
27.8.1947, Nova Iorque). 114

3. Ordem de Cavalaria Britânica

3.1 - Ordem do Império Britânico - Order of The British Empire (OBE) 115

A “The Most Excellent Order of the British Empire” está inserida nas British
Orders of Knighthood e foi instituída, no reinado de Rei George V (1865-1936),
a 4 de Junho de 1917. Esta Ordem de Cavalaria (British Order of Knighthood)
compreende o Soberano, o Grão-Mestre e cinco classes 116 respectivamente desig-
nadas:

1) GBE - Cavaleiros da Grã-Cruz e Damas da Grã-Cruz (Knights Grand


Cross and Dames Grand Cross);
2) KBE e DBE - Cavaleiros Comandantes e Damas Comandantes (Knights
Commanders and Dames Commanders);
3) CBE - Comandantes (Commanders);
4) OBE - Oficiais (Officers);
5) MBE - Membros (Members).

Cada classe tem ainda duas sub-divisões em que a primeira é denominada


Militar e a segunda Civil, em que cada uma dessas divisões estão compostas
109
CLAYSON, Alan, Ringo Starr, London, Santuary Publishing Limited, 2003, p. 141.
110
CLAYSON, Alan, Ringo Starr, London, Santuary Publishing Limited, 2003, p. 144.
111
CLAYSON, Alan, Ringo Starr, London, Santuary Publishing Limited, 2003, p. 166.
112
CLAYSON, Alan, Ringo Starr, London, Santuary Publishing Limited, 2003, p. 196.
113
N. do A. - O apelido de Barbara Bach é originalmente Goldbach.
114
CLAYSON, Alan, Ringo Starr, London, Santuary Publishing Limited, 2003, p. 304.
115
BURKE, Sir Bernard , C.B., LL.D. (Ulster King of Arms 1852-1892), Burke’s Genealogical and
Heraldic History of the Peerage Baronetage and Knightage - Prival Council, and Order of Precedence,
Coronation Honours (96th) Edition, London, Shaw Publishing Co., Ltd. - Burke’s Peerage
Limited, 1938, pp. 3062-3070.
116
Os dois graus mais altos da OBE é que conferem o título de Sir.

197
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

parcialmente em Membros Ordinários e Membros Honorários. O Rei e os seus


sucessores serão sempre os Soberanos da Ordem e quem o Rei ou o Príncipe Real
nomear será o Grão-Mestre da Ordem. A posição da Ordem está imediatamente
depois à Ordem Real Victoriana (Royal Victorian Order).
A placa dos Cavaleiros Grã-
-Cruz e Damas Grã-Cruz são
compostos por prata lascada com
raios de oito pontas, com um meda-
lhão de ouro ao centro suportando
a efígies de Suas Majestade o Rei
George V e a Rainha Mary, com
uma bordadura de vermelho, com a
seguinte divisa: “FOR GOD AND
THE EMPIRE”, com letras em ouro.
O colar é de prata dourada,
composta por seis medalhões com
as armas reais e seis medalhões com
o monograma, de Sua Magestade o
Rei George V, postos alternadamente
e ligados por cabos. No centro, está
a coroa imperial entre dois leões o
qual têm suspenso a o distintivo da
Ordem.
O distintivo dos Cavaleiros
Militares e Civis e Damas Grã-Cruz
consistem numa cruz patonce 117
esmaltada de pérola, orlado de ouro
e com um medalhão ao centro, como
está na placa da Ordem, encimado
pela coroa imperial de ouro, tudo
suspenso numa faixa rose-pink 118 file-
tada de pearl-grey 119.
Fig. 13 - Insígnia de Membro da Ordem do Im- O manto dos Cavaleiros Grã-
pério Britânico. (Desenho do Autor) -Cruzes e das Damas Grã-Cruzes é

117
N. do A. - A cruz denominada de “patonce”, que provavelmente deriva do francês “potencé”, é
uma mistura entre a cruz floretada florida e a cruz pateada entre curvas.
118
N. do A. - Rose-pink é um cor-de-rosa tipo salmão.
119
N. do A. - Penso que “pearl grey” significará prata.

198
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

de cetim rose-pink, forrado de seda pearl-grey e preso com o cordão de seda do


mesmo, com duas borlas rose-pink e prata atadas. No lado sinistro do manto está
representado a placa de Primeira Classe da Ordem.
A medalha ou insígnia da Ordem, para homens ou mulheres, é uma
medalha circular de prata, tendo no anverso a representação de Britannia, e em
orla a seguinte divisa: “FOR GOD AND THE EMPIRE”, sobre o exergo, a
seguinte inscrição: “FOR GALLANTRY” ou “FOR MERITORIOUS
SERVICE”. E no reverso da medalha, o monograma Real e Imperial, com a
inscrição: “INSTITUTED BY KING GEORGE V”. A medalha é usada no lado
esquerdo, à sinistra, pendente
numa fita rose-pink filetada de
pearl-grey.
Cavaleiros Grã-Cruz e
Damas Grã-Cruz têm o direito
de ostentar suportes às suas
armas e, os Cavaleiros Grã-Cruz,
Damas Grã-Cruz, Cavaleiros
Comandantes, Damas Coman-
dantes e Comandantes, têm o
direito de circundar o seu brasão
de armas com uma faixa circular
(circlet) e a divisa da Ordem e
ter pendente no escudo a fita e
o distintivo ou insígnia. Oficiais
e Membros podem também ter
pendentes a representação da
fita e distintivo, ou insígnia, na
parte de baixo do seu brasão de
armas.
Os Oficiais da Ordem são
os prelados, Rei de Armas, escri-
vães, Secretários e os Gentlemen
Usher of the Purple Rod.
A Ordem é atribuída a
todos os que tiveram relevância Fig. 14 - Insígnia de Comandante da Ordem do Impé-
na vida pública britânica, de rio Britânico. (Desenho do Autor)
maneira a recompensar as suas
contribuições pessoais para as Artes e Ciências, trabalhos com organizações de
caridade e assistência social e de serviços de cariz público.

199
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

3.2 - Cavaleiros Bacharel 120 - Knights Bachelor (Kt) 121

Teve lugar na Primavera de 1908, um encontro informal de Cavaleiros


Bacharel na Câmara dos Comuns, com o objectivo de analisar os procedimentos
dos Walter Trustees de Edinburgh - enquanto detentores do ofício de Usher of the
White Rod - em que exigiam o pagamento de honorários aos titulares de honras.
Foi então decidido formar uma
sociedade de Cavaleiros que rejei-
tasse aquela prática e contestasse
os seus direitos na matéria.
Os objectivos da Socie-
dade, formalmente constituída
a 27 de Abril de 1908, que
mereceu a aprovação da Chan-
celaria Central da Ordem de
Cavalaria (Central Chancery
of the Order of Knighthood),
situada no Palácio de St. James,
e contou com a colaboração do
College of Arms, são de preservar
e manter os arquivos, que datam
do século XIII, defender os esta-
tutos dos Cavaleiros, manter os
seus direitos de precedência e,
em geral, proteger os interesses
dos Cavaleiros Bacharel (Knights
Bachelor). Em 1912, Sua Majes-
tade o Rei George V, determinou
Fig. 15 - Insígnia de Knight Bachelor. (Desenho do que a sociedade fosse doravante
Autor) designada por “The Imperial
Society of Knights Bachelor.”
No ano de 1902, uma
mudança radical foi realizada no procedimento relacionado com as promoções
de Honra. A Chancelaria Central da Ordem de Cavalaria - instituída por Sua
120
Ou Cavaleiro Celibatário.
121
BURKE, Sir Bernard , C.B., LL.D. (Ulster King of Arms 1852-1892), Burke’s Genealogical and
Heraldic History of the Peerage Baronetage and Knightage - Prival Council, and Order of Precedence,
Coronation Honours (96th) Edition, London, Shaw Publishing Co., Ltd. - Burke’s Peerage
Limited, 1938, pp. 3074-3075.

200
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Majestade o Rei Edward VII nesse ano - passa a superintender a todos os proce-
dimentos relacionados com promoções e cerimonial, com algumas excepções.
Uma dessas excepções diz respeito aos Cavaleiros Bacharel e determinadas ques-
tões com si relacionadas, que permanecem sob a tutela do Ministério do Interior
(Home Office).
O Ministério do Interior, no entanto, outorgou um reconhecimento oficial
à Sociedade, e, nessa conformidade, remete à Sociedade uma notificação oficial da
nomeação de todos os Cavaleiros Bacharel.
Para muitos, constituirá sem dúvida uma surpresa saber que desde o dia 28
de dezembro de 1902 até à formação da Sociedade, não existia uma lista oficial ou
registo de Cavaleiros Bacharel, pelo que a primeira tarefa da Sociedade consistiu
em suprir essa lacuna.
Na Idade Média os Arautos faziam anotações ocasionais das honras dos cava-
leiros, mas tais documentos, embora conhecidos, são considerados incompletos. No
século XVII, o Registo de Nobreza (Register of Knighthood) foi instituído pelo Rei
James o Primeiro. Este registo está preservado no College of Arms, e estende-se até o
ano de 1902, mas não representa em si mesmo, nem se assume, como um registo
completo de todos as investiduras de cavaleiros durante esse período.
Existia a forte preocupação entre Cavaleiros Bacharel de criar e manter
actualizada uma lista devidamente autenticada e oficialmente reconhecida de
Cavaleiros (Roll of Knights); esse dever de manter um arquivo permanente, a
Sociedade assumiu como seu. Além da sua própria lista de Cavaleiros, a Sociedade
estabeleceu procedimentos com vista a registar no College of Arms cada cavaleiro
devidamente autenticado.
Por Alvará Régio, datado de 21 de Abril de 1926, Sua Majestade concedeu
autorização para uso pelos Cavaleiro Bacharel de um crachá (placa), a ser usado
no lado esquerdo do casaco ou outra roupa exterior. O emblema (insígnia), mede
aproximadamente três polegadas (76,20mm) de comprimento e 2 polegadas
(50,80mm) de largura, encontrando-se descrito no Alvará da seguinte forma:
sobre um medalhão oval de vermelho, com uma bordadura ornada de floreado,
uma espada (cross-hilted sword) com cinto e bainha com alças para cima, entre
duas esporas, com as suas rosetas para cima, o conjunto rodeado pelo cinto da
espada, tudo de ouro.
A honra de Cavaleiro Bacharel é uma dignidade concedida através de
Alvará Régio a um indivíduo, mas este não pertence a nenhuma das estruturadas
Ordens de Cavalaria e é o grau mais baixo da classificação das várias ordens britâ-
nicas.

201
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

4. Os cinco Beatles - As Mercês Honoríficas e as Ordens Britânicas

4.1 - Membros do Império Britânico - Members of The British Empire (MBE)

Os Beatles tinham acabado de conquistar a América. A Beatlemania estava


espalhada pelo mundo inteiro. Eles actuavam como embaixadores naturais do
velho Reino Unido. A 12 de Junho de 1965 era anunciado que os Beatles iriam
receber MBE pelos serviços prestados à Grã Bretanha.
O Daily Mirror
publicava nesse mesmo
dia, com grande surpresa,
que os Beatles iriam
ser homenageados pela
sua Rainha. O jornal
fez umas apreciações
negativas em relação ao
background dos Beatles,
nomeadamente no que
respeita à classe social de
origem dos quatro, da
Fig. 16 - Os Beatles no Palácio de Buckingham com as insígnias profissão dos pais e deles
de MBE. (Col. do Autor) mesmos. E insinuou que
a honra foi dada por
recomendação de Harold Wilson, primeiro ministro britânico na altura, com um
brilho nos olhos. Alguns leitores escreveram para o jornal a mostrar o seu apoio
e outros a criticar de maneira veemente com afirmações do tipo “The inclusion of
the Beatles in the Honours List is the sickest joke of the century.” ou “MBEs for the
Beatles? Jesus wept.”. 122
John Lennon estava um pouco relutante em receber a honra, mas Brian
Epstein conseguiu persuadi-lo a aceitar dizendo-lhe que seria bom para a imagem
dos Beatles. Brian estava convicto que também ele receberia uma honra, como
compensação do seu trabalho com os Beatles, mas tal não veio a suceder. Ele
considerou esta rejeição uma afronta pessoal, motivada pela circunstância de ser
judeu e homossexual. 123 Não podemos esquecer que Brian Epstein é o grande

122
ROGERS; Ken (Executive Editor), The Beatles Hello... Godbye, Daily Mirror, London, Trinity
Mirror, s/d, pp. 52-53.
123
The Story of The Beatles, Second Edition, Bournemouth, Imagine Publishing Ltd, 2016, pp.
78-81.

202
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

responsável pela fama e ascenção dos Beatles. O título de Quinto Beatle pertence-
-lhe com justa causa!
A 18 de Junho de 1965 foi anunciado no jornal de música, New Music
Express (NME), que os Fab Four receberam a dignidade outorgada por S. M. a
Rainha Elizabeth II, que achou por bem fazer-lhes Membros do Império Britâ-
nico 124 (MBE), caso sem precedentes na história do show business mundial. A
investidura irá ser realizada no Palácio de Buckingham. 125 Houve protestos em
Buckingham e chegaram a ser devolvidas medalhas na sequência do anúncio de
que os Beatles iriam receber tal distinção. 126
Paul acabara de chegar ao aeroporto de Londres, vindo de Portugal.
A 26 de Outubro, os Beatles foram receber as insígnias relativas ao MBE,
“The Most Junior of the Orders of the British Empire”. Os quatro ficaram comple-
tamente surpreendidos. 127 A cerimónia de investidura realizou-se no Palácio de
Buckingham, estando no exterior do palácio mais de 4000 fãs, seguras por um
cordão policial, a gritar: “Long Live The Queen! Long Live The Beatles!”
À volta deste acontecimento, criou-se o boato na imprensa inglesa que os
Beatles teriam fumado marijuana nas casas-de-banho do Palácio de Buckingham
antes de receber as honrarias da mão de S. M. a Rainha, na sala do Grande Trono
(Great Throne Room). Os próprios Beatles vieram desmentir este boato várias
vezes ao longo dos anos. 128

4.2 - Lennon devolveu o seu MBE como protesto

A 25 de Novembro de 1969, John Lennon pediu ao seu motorista, Les


Anthony, para ir a casa de sua Aunt Mimi buscar o estojo com a medalha de
MBE. Com a medalha de volta às suas mãos, Lennon escreveu uma carta à Sua
Majestade a Rainha, a devolver a insígnia, manifestando a sua contestação contra o
envolvimento da Grã-Bretanha no conflito do Biafra e também no apoio dado aos

124
Em inglês, Members of the British Empire.
125
NME Originals, UNCUT presents The Beatles 1962-1970, Volume 1, Issue #1, London, s/d, pp.
70-71.
126
NME Originals, Volume 1, Issue #10, London, s/d, p. 32.
127
SANDALL, Robert, Joint Honours, in “1000 Days That Shook The World - The Psychedelic
Beatles - April 1, 1965 to December 26, 1967”, London, MOJO - Special Limited Edition,
Number 29384 of a limited edition of 90,000, pp. 20 e 26-27.
128
SUTHERLAND, Steve (Editor), John Lennon, Volume 1, Issue #10, London, NME Originals,
s/d, p. 32.

203
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Estados Unidos da America na guerra do Vietnam. Foi dada uma cópia ao Primeiro
Ministro, Harold Wilson, que tinha recomendado a nomeação dos Beatles. 129
Numa entrevista, Lennon alegou que os Beatles tinham recebido o título
na qualidade de propagarem a Paz e não a Guerra. Ao contrário de McCartney,
que sempre teve orgulho de ter recebido tal honra, Lennon nunca lhe deu grande
importância. Este acto de Lennon teve ecos no parlamento britânico e, Tony
Benn, então Ministro da Tecnologia, aproveitou para se pronunciar: “The Beatles
have done more for the Royal Family by accepting MBEs than the Royal Family has
done for The Beatles by giving them.” O Primeiro Ministro considerou o compor-
tamento de Lennon ingénuo e a imprensa ridicularizou a sua atitude declarando
que a piada na carta acima referida sobre Cold Turkey era mais um sinal do seu
monstruoso ego. Posteriormente, Lennon lamentou ter incluído esta piada.
Um comunicado foi feito por parte do Palácio de Buckingham: “The
first MBEs to be returned were from people protesting that Mr. Lennon was given
the award in the first place.” Mas houve quem achasse que o devolução iria ter
impacto positivo como um protesto de Paz. Ringo Starr comentou acerca deste
assunto: “The MBE was awarded to John for peaceful efforts and it was returned as a
peaceful effort. That seems to be a full circle.”
John tinha produzido o single “Give Peace A Chance” e, em Dezembro de
1969, deu início à sua campanha de protesto a favor da paz, colocando em 11
cidades espalhadas pelo mundo gigantes cartazes com a afirmação: “War Is Over
- If You Want It”. 130

4.3 - Sir Paul McCartney, MBE, Kt

Em Março de 1997, 131 Paul McCartney volta, 32 anos depois, ao Palácio


de Buckingham para receber o título de Sir, ou seja, para lhe ser conferido o grau
de Knight Bachelor.

129
“To Her Majesty the Queen / 25th November 1969 / Your Majesty, / I am returning this MBE
in protest against / Britain’s involvement in the Nigeria - Biafra / thing, against our support of
America in / Vietnam and against Cold Turkey slipping down the / charts. / With Love / John
Lennon / John Lennon of Bag”, in DAVIES, Hunter (Edited and with an introdution by), The
John Lennon Letters, London, Orion Publishing Group Ltd, 2012, p. 168.
130
LEIGH, Spencer, Return To Sender, in “1000 Days Of Revolution - The Beatles’ Final Years- Jan
1, 1968 to Sept 27, 1970”, London, MOJO - Special Limited Edition, Number 50375 of a
limited edition of 95,000, pp. 120-121.
131
COLLINS, Andrew, Meet The New P.M., in “Meet... The Beatle!”, #129, London, Q Magazine,
June 2007, pp. 108-114.

204
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

O “Knighthood” de McCartney foi anunciado na lista de honra a 1 de


Janeiro de 1997 - a imprensa antecipou a notícia no dia anterior. A cerimónia
oficial ocorreu a 11 de Março desse ano, no Palácio de Buckingham. Paul fez-se
acompanhar pelos filhos Mary, Stella e James. A sua mulher, Linda, já estava
bastante doente e não o pôde acompanhar. Logo depois da cerimónia solene com
a Rainha Elizabeth, Stella afirmou: “It was just like the end of a wonderful film with
the Queen placing the sword on Dad’s shoulders. I will never forget that moment.” 132
Em Julho de 2001, foi-lhe concedido um brasão de armas hereditário pelo College
of Arms.

4.4 - Sir George Martin, CBE, Kt

Tal como Brian Epstein, houve outros elementos próximos dos Beatles em
que se justificaria conferir o título de “Quinto Beatle”. Sir George Henry Martin
é uma dessas pessoas! 133 A sua experiência musical veio a influenciar os arranjos e
o som dos 4 de Liverpool.
Martin tocava oboé e, com apenas 24 anos, foi-lhe oferecido um trabalho
a tempo inteiro como assistente na Parlophone Records. Hoje em dia, é conside-
rado o produtor mais famoso do mundo! 134
George Martin nasceu a 3 de Janeiro de 1926, em Highbury, Londres.
O seu pai era serralheiro e, segundo Martin, foi “quem fez todos os móveis em sua
casa e era uma pessoa bastante criativa.” Durante a depressão nos anos 30, antes da
segunda Grande Guerra, o seu pai ficou sem trabalho e acabou vendendo jornais
em Cheapside, na City of London. Nesta altura viviam com bastantes dificuldades
económicas! A mãe de George Martin era enfermeira, mas para ajudar a aumentar
os rendimentos familiares, fazia serviços extras de limpeza e trabalho-a-dias.

132
SOUNES, Howard, FAB : An Intimate Life of Paul McCartney, Cambridge (Massachusetts), Da
Capo Press, 2010, pp. 470-471.
133
BICKNELL, Arwen, Fith Beatles, in “The Beatles - Celebrating 50 Years of Beatlemania in
America”, Irvine (California), I-5 Publishing, LLC, 2014, pp. 70-77.
São também considerados 5th Beatle, as seguintes pessoas: Neil Aspinall (1941, País de Gales
- 2008, Nova Iorque) - Road manager a assistente pessoal dos Beatles e, mais tarde, director da
Apple Corps; Pete Best (1941, Madras, Índia Britânica) - Baterista dos Beatles de 1960 a 1962;
Stuart Sutcliffe (1940, Edinburgo - 1962, Hamburgo) - Artista plástico e Baixista dos Beatles
de 1960 a 1961; Brian Epstein (1934, Liverpool - 1967, Londres) - Empresário dos Beatles
desde 1961 até à sua morte.
134
IRVIN, Jim (Interview by); FALLON, Andy (Portrait by), Sir George Martin, in “Mojo Sgt.
Pepper Anniversary Edition - The Beatles”, Issue #160, London, EMAP Performance Ltd,
March 2007, pp. 36-40.

205
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

A música apareceu-lhe de forma natural e foi num piano oferecido por um


tio, que começou a tirar algumas melodias.
Aos 15 anos estava a dirigir a banda de dança da escola, the Four Tune
Tellers. Apesar de estarem a gerar proveitos monetários, George Martin teve que
interromper o projecto para ingressar na marinha com dezassete anos. Ainda
durante a segunda Guerra Mundial, serviu na Fleet Air Arm e, nessa altura, trocou
correspondência com o professor de música Sidney Harrison. Martin foi desmo-
bilizado com 21 anos e o professor ajudou-o a entrar na Guildhall School of
Music, como aluno de composição com o estatuto de antigo combatente. Através
de Sidney, foi chamado por Oscar Preuss, na EMI, para trabalhar junto dele, no
número 3 da Abbey Road, em St. John’s Wood. E atravessou pela primeira vez as
portas, daquele que viria a ser conhecida como Abbey Road Studios, em 1950.
Quando Oscar Preuss se reformou, Martin ficou a gerir a Parlophone. 135 George
Martin ocupava os cargos de director da Parlophone, A&R e chefe de produção.
E graças a George Martin ter apostado nos Beatles, a Parlophone tornou-se numa
das maiores etiquetas da história discográfica.
Em 1988, foi condecorado por Sua Majestade a Rainha com o grau de
Commander of the British Empire (CBE), pelos bons serviços prestados na indús-
tria musical. Em 1996, foi investido com o título de Knight Bachelor. E, em
Março de 2004, foi-lhe concedido um brasão de armas hereditário pelo College
of Arms.
Martin foi casado a primeira vez com Sheena Chisholm, de quem tem dois
filhos, Gregory Paul Martin, escritor, produtor e actor, e Alexis Martin. Casou a
segunda vez com Judy Lockhart Smith, de quem teve também dois filhos, Lucy
Martin e Giles Martin, produtor musical.
George Martin continuou a trabalhar, juntamente com o seu filho Giles
Martin, até ao fim da sua vida. Morreu no dia 8 de Março de 2016, na sua casa
em Wiltshire, com noventa anos de idade. A sua morte foi anunciada por Ringo
Starr através das redes sociais.

135
O propósito de convidar Martin, com apenas 29 anos, a gerir a label Parlophone, foi um
“presente envenenado”. Na realidade, a administração da EMI tinha a intenção de fechar a
Parlophone. Como o próprio George Martin referiu numa entrevista: “It was: this brash young
man, bit of a maverick, he’s cheap, he’d love to do it, he’s that kind of idiot, if he fails we were going
to shut it down anyway.” In IRVIN, Jim (Interview by); FALLON, Andy (Portrait by), Sir George
Martin, in “Mojo Sgt. Pepper Anniversary Edition - The Beatles”, Issue #160, London, EMAP
Performance Ltd, March 2007, p. 38.

206
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

5. A herádica no mundo musical 136

5.1 - Armas novas de Sir Paul McCartney, MBE, Kt

O responsável pela concessão das armas de Sir Paul McCartney foi Hubert
Chesshyre, Rei de Armas Clarenceux. As armas foram concedidas a 18 de Julho
de 2001, 137 por Peter Gwynn-Jones, Garter Principal King of Arms, e Hubert
Chesshyre, Clarenceux
Kings of Arms.

Fig. 17 - Brasão de Armas de Sir Paul McCartney. (Desenho do


Autor)

136
N. do A. - Esta informação sobre o brasão de armas de Sir George Martin e de Sir Paul McCartney
foi obtida através do College of Arms, em Londres, com o apoio de John Allen-Petrie, MSc, Arauto
Rouge Croix, e de Mark Scott, MA, Assitente de Pesquisa para o Arauto Rouge Croix.
137
A Carta de Brasão foi passada a 18 de Junho de 2001, no 59º aniversário de Paul McCartney.

207
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

“Arms: Or between two Flaunches fracted


fesswise two Roundels Sable over all six Guitar
strings palewise-throughout counterchanged.
Crest: Upon a helm with a Wreath Or and Sable
A Liver Bird calling Sable supporting with the
dexter claws a Guitar Or stringed sable.
Motto: ECCE COR MEUM (Behold My
Heart)” 138

Sir Paul McCartney não teve a insígnia de Cavaleiro pintada na Carta de


Brasão de Armas (Letters Patent).

5.1.1 - Algumas considerações sobre o brasão de armas de Sir Paul McCartney

As armas representam uma guitarra


clássica que também aparece no timbre
por cima do elmo e refere-se à sua carreira
musical. Nessa representação, no escudo,
estão também seis cordas completando a
imagem da guitarra. Na nossa opinião, em
vez das seis cordas, deveriam estar apenas
quatro e, no timbre, deveria estar represen-
tado uma guitarra baixo. Apesar de Paul
McCartney ter começado a sua carreira
como guitarrista, com os Beatles sempre
tocou como instrumento a guitarra baixo
e o Höfner Violin Bass tornou-se na sua
imagem de marca. 139
Em alguns sites, onde se discutiu as
Fig. 18 - Guitarra baixo Höfner Violin armas de Sir Paul, há quem afirme que as
Bass. (Col. do Autor) quatro partes divididas do flanqueado de

138
Tradução: Escudo: de ouro, flanqueado de negro com uma burela firmada nos flancos de ouro;
duas arruelas de negro postas em pala e sobre elas, seis cordas de guitarra em pala atravessantes,
entrecambadas. Elmo: de prata, aberto, guarnecido de ouro, forrado de vermelho. Paquife e
virol: de ouro e negro. Timbre: Um corvo-marinho de negro, segurando com a garra dextra
uma guitarra clássica de ouro encordoado de negro. Listel: branco, forrado de vermelho, com a
seguinte divisa a negro: “Ecce Cor Meum”.
139
N. do A. - O autor deste trabalho é também músico e toca guitarra regularmente numa banda
chamada Discovers.

208
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

negro representam os quatro Beatles. Por parte do College of Arms, nada foi refe-
rido a esse respeito. Aliás, nada nas armas de McCartney faz alusão aos Beatles.
No timbre está representado o liver bird, o símbolo de Liverpool, terra
natal de Sir Paul e dos restantes Beatles. Desde a idade média que aparece um
pássaro representando Liverpool. Em 1668, o Conde de Derby deu à cidade um
bastão onde estava gravado com um leaver, a primeira referência conhecida com
o nome liver bird. Em 1797, o College of Arms concedeu um brasão oficial à
cidade de Liverpool em que retrata o pássaro em destaque. Actualmente, o College
of Arms refere-se ao pássaro como sendo um cormorão (em inglês: great cormorant
ou apenas cormorant), tendo um raminho de laver, um tipo de alga, no bico,
resultando assim que a denominação do pássaro vem dessa alga.
O cormorão, ou seja, corvo-
-marinho de negro (Phalacrocorax
carbo), é um pássaro de grande
dimensão, com o pescoço comprido
e grosso. A plumagem é negra, com
reflexos azulados e verdes, asas pretas
e escamosas com matizes cor de
bronze. É uma ave que está presente
todo o ano na zona de Liverpool,
mas reproduzem principalmente no
Báltico e depois migra. 140
A divisa, “Ecce Cor Meum”,
que em inglês significa “Behold My
Heart” (Eis o meu coração), foi inspi-
rado pela inscrição numa estátua
de Jesus Cristo existente na Igreja
de Santo Inácio em Nova Iorque.
Portanto, refere-se ao Sagrado
Coração de Jesus. Após a concessão
deste brasão de armas em 2001,
Sir Paul adoptou “Ecce Cor Meum” Fig. 19 - Pilarete numa praça de Liverpool com
como sua divisa. o símbolo da cidade, o Cormorão ou Corvo Ma-
Em 2006, Paul McCartney rinho. (Fotografia do Autor)
lançou um CD com este título, “Ecce

140
SVENSSON, Lars (Texto e Mapas), MULLARNEY, Killian e ZETTERSTRÖM, Dan
(Ilustrações e Legendas), Guia das Aves - O guia de campo das aves de Portugal e da Europa, Porto,
Assírio & Alvim - Porto Editora, Lda, 2014, pp. 78-79.

209
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Cor Meum”, gravado nos estúdios da Abbey Road, através da EMI Classics. É um
oratorio em 4 movimentos, produzido por John Fraser. Foi fonte de inspiração a
sua mulher, Linda McCartney.

Fig. 20 - CD (EMI Classics / MPL Comunications Lda - Limited Edition - 0946 3704232 8 -
2006) com o título Ecce Cor Meum, de Paul McCartney. (Col. Luís Pinheiro de Almeida)

No que diz respeito ao elmo, os cavaleiros (knights) e os baronets devem


usar nas suas armas um elmo fechado de prata (ou aço liso = plain steel), com o
visor aberto. 141 No caso de Sir Paul, foi-lhe concedido o título de Knight Bachelor
em 1997.

5.2 - Armas novas de Sir George Martin, CBE, Kt

O responsável pela concessão das armas de Sir George Martin foi Henry
Paston-Bedingfeld, Arauto de York. 142 As armas foram concedidas a 15 de Março
de 2004, por Peter Gwynn-Jones, Garter Principal King of Arms, e Hubert Ches-
shyre, Clarenceux Kings of Arms.

“Arms: Azure on a Fess nebuly Argent between


three stag beetles Or five Barrulets Sable.
Crest: Upon a helm with a Wreath Argent and
Azure A House Martin proper holding under

141
SLATER, Stephen, The Illustrated Book of Heraldry, London, Hermes House - Anness Publishing
Ltd, 2005, p.63.
142
O cargo de Arauto (Herald of Arms) é um oficial de amas que está entre o Arauto Assitente ou
Passavante (Pursuivant) e o Rei de Armas (King of Arms). Henry Paston-Bedingfeld tinha nesta
altura o título de “York Herald of Arms” e, mais tarde, foi-lhe dado o título de Sir e o cargo de
Rei de Armas de Norroy e Ulster.

210
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

the sinister wing a Recorder in bend sinister


mouthepiece downward.
Badge: A Zebra statant proper supporting with
the dexter foreleg over the shoulder an Abbot’s
Crozier Or.
Motto: AMORE SOLUM OPUS EST” 143

Fig. 21 - Brasão de Armas de Sir


George Martin. (Desenho do
Autor)

143
Tradução: Escudo: de azul, faixa nublada de prata carregada de cinco filetes de negro, entre
três besouros de ouro. Sob o escudo, um listel circular de vermelho, perfilado de ouro, com a
divisa da Ordem do Império Britânico do mesmo: “FOR GOD AND THE EMPIRE”. Elmo:
de prata forrado de vermelho. Paquife e virol de prata e azul. Timbre: Uma andorinha-de-casa
(ou andorinha-dos-beirais) de sua cor, segurando sob a asa sinistra uma flauta, com o bocal para
baixo, de ouro. Listel: branco, forrado de vermelho, com a seguinte divisa a negro: “Amore
Solum Opus Est”. Pendentes: à dextra, insígnia de Cavaleiro Bacharel (Knight Bachelor) e, à
sinistra, a insígnia da Ordem do Império Britânico (Most Excellent Order of the British Empire).
Empresa: Uma zebra de sua cor segurando com a pata dianteira dextra um báculo de ouro.

211
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

5.2.1 - Algumas considerações sobre o brasão de armas de Sir George Martin

Ao contrário das armas anteriores, Sir George tem representado nas suas
armas as insígnias de Kinght Bachelor e de Commander of the British Empire (CBE)
pendentes no escudo, pintadas na carta patente. E sob o escudo, o listel circular
com a divisa da Ordem do Império Britânico: For God and the Empire.
No escudo, os escaravelhos (beetles) referem-se à famosa banda pop-rock
de qual George Martin foi produtor. Os Beatles eram quatro elementos e no
escudo estão representados apenas três escaravelhos. A opção escolhida pode ter
sido esta porque a Heráldica vive de equilíbrio e simetria e, o autor do desenho,
considerado que a representação de quatro peças teria quebrado a harmonia do
desenho. Ou os escaravelhos no chefe estão a representar, em plural, os Beatles e o
escaravelho em ponta o próprio armigerado, como o quinto beatle.
Ainda no escudo, as cinco linhas horizontais representam o pentagrama
(pauta) musical e a faixa nublada representa a criatividade.
O timbre, também ele falante, refere-se ao próprio apelido de Sir George
Martin. O pássaro representado no timbre é um House-Martin, ou seja, uma
Andorinha dos Beirais (Delichon urbicum). É um pássaro de pequenas dimensões
que se reproduz em vilas, quintas, cidades e em todo o tipo de áreas abertas, com
forte atracção por habitações. É um pássaro sociável com os humanos, contrói o
seu ninho de lama nos beirais, vigas de pontes ou mesmo em ferry-boats. Encontra-
-se por toda a Europa. É frequente ver as Andorinhas dos Beirais em grande
número, empoleiradas lado-a-lado em fios telefónicos (pauta de música). 144 No
timbre, o House-Martin, na sua asa à sinistra, segura uma flauta, em inglês recorder,
que representa a carreira de produtor musical de Martin.

Fig. 22 - O álbum Abbey


Road (Apple PCS 7088 -
1969) e a empresa de Sir
George Martin. (Col. e
desenho do Autor)

144
SVENSSON, Lars (Texto e Mapas), MULLARNEY, Killian e ZETTERSTRÖM, Dan
(Ilustrações e Legendas), Guia das Aves - O guia de campo das aves de Portugal e da Europa, Porto,
Assírio & Alvim - Porto Editora, Lda, 2014, pp. 260-261.

212
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

O emblema (empresa) refere-se a um dos mais famosos momentos dos


Beatles. A capa do álbum em que a banda apareceu atravessando a passadeira
(zebra) em frente aos estú-
dios da Abbey Road que,
fazendo a sua tradução, signi-
fica a rua da Abadia, e daí o
báculo.
A divisa usada por Sir
George Martin, Amore Solum
Opus Est, significa em inglês
“All You Need Is Love”, uma
das mais conhecidas músicas
dos Beatles realizada, em
1967, apenas em formato
single (7” 45 rpm). 145 Foi
a primeira vez que George
Martin aparece creditado
na label de um 7” single dos
Beatles. 146
Este é um bom
exemplo de armas falantes.
Ao interpretar este brasão,
desde o timbre até às peças
que estão no escudo, é fácil
perceber a quem pertence Fig. 23 - The Abbey Road Studios, em Londres. (Fotogra-
fia do Autor)
145
“All You Need Is Love / Baby You’re A Rich Man” (Lennon-McCartney), Made In Gt. Britain,
Parlophone R 5620, Nothern Songs, 7 de Julho de 1967. In MAUS, Christoph, Beatles Worldwide
II, An anthology of originals Singles & EP - releases in 58 countries 19661-1973, Hamburg, Music
Book Publishing, 2005, p. 59.
146
“All You Need Is Love” é uma música escrita e composta por John Lennon e creditada como
Lennon-McCartney. Começou a ser gravada no Estúdio 1, da Olympic Sound Studios, em
Londres, a 14 de Junho de 1967, e foi concluída nos estúdios da Abbey Road. Culminou no
programa internacional de televisão ao vivo, Our World, que foi transmitido através da BBC, no
dia 25 de Junho, para 25 países e assistido por mais de 400 milhões de pessoas. Foi a primeira
vez que um programa de televisão era transmitido via satélite. A transmissão tomou a forma de
uma festa e estavam presentes no estúdio Mick Jagger, Marianne Faithfull, Keith Richards, Keith
Moon, Eric Clapton, Pattie Harrison, Jane Asher, Mike McCartney, Graham Nash, Gary Leeds
e Hunter Davies. In LEWISOHN, Mark, The Complete Beatles recording sessions - The Official
Story of The Beatles Abbey Road Years, Introductory interview with Paul McCartney, London,
EMI Records Limited, 1988, pp. 116-121.

213
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

estas armas, a sua profissão, mercês e título. Peças como o House-Martin com o
recorder, a zebra com o báculo ou os besouros, conduzem-nos para múltiplos
significados e símbolos que
nos transportam directa-
mente para o estúdio 2 da
Abbey Road na companhia
de Sir George Martin e dos
quatro fabulosos de Liver-
pool.

6. Conclusão

Quando eu tinha cerca


de 8 ou 9 anos, o meu irmão
mais velho veio mostrar-me
um LP e disse-me: “Esta é
a melhor banda de todos os
tempos!” Agarrei o disco e
fiquei vidrado nele. Creio Fig. 24 - Single 45 rpm All You Need Is Love / Baby, You’re
que era a colectânea “The A Rich Man (Parlophone R 5620 - 1967). (Col. do Autor)
Beatles 1967-1970 (Blue
Album)”, editado em 1973.
Este momento marcou-me para sempre e desde então acho de facto os Beatles a
melhor banda de todos os tempos! Se houve alguém que deve estar no podium,
esse alguém são os Beatles. Eles não só mudaram o ruma da história da música,
como influenciaram todas as áreas da cultura popular. 147
Para além do grande sucesso e da quantidade de #1 no top musical, os
Beatles não foram apenas um bom produto, mas sim quatro fabulosos génios que
trabalhavam juntos. Como os próprios diziam, os quatro formam o quadrado
perfeito. É interessante ouvir as “lições” do maestro Leonard Bernstein nos seus
programas de televisão, na CBS, em que refere várias vezes a criatividade e a
genialidade de John, Paul, George e Ringo.

147
“The Beatles were in a different stratosphere, a different planet to rest of us. All I know is when I heard
‘Love Me Do’ on the radio, I remember walking down the street and knowing my life was going to be
completely different now the Beatles were in it.” (Justin Hayward, membro dos Moody Blues)

214
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

O disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band 148 é considerado o melhor
álbum de todos os tempos pela New Musical Express em 1974, Rock and Roll Hall
of Fame 149 e pela revista Rolling Stone 150. Esteve quinze semanas em primeiro
lugar nos Tops. 151 Com a realização de Sgt. Peppers, houve uma segunda viragem
no rumo da História da Música. 152 153
Na revista Q, John Lennon (#1) e Paul McCartney (#2) foram consi-
derados os maiores artistas do século XX. Ringo Starr (#26), foi considerado
“provavelmente” o melhor baterista do mundo, e George Harrison (#36) também
figurou naquela classificação. 154 A nível vocal, John Lennon (#4) e Paul McCar-
tney (#13) ficaram entre os quinze primeiros lugares na revista Mojo. 155
Existe alguma relação com Portugal e pelo menos três dos Beatles passaram
por Terras Lusas. A primeira vez foi em 1964, quando Paul McCartney e Ringo
Starr ficaram uma noite em Lisboa, a caminho das Ilhas Virgens. Em 1965 e
1968, Paul esteve por duas vezes de férias no Algarve, onde escreveu parte da
música Yesterday. E nessa segunda vez, em Dezembro de 1968, Paul encontrava-se
num bar de hotel e onde foi convidado para fazer uma jam com a banda de serviço
nessa noite. Na brincadeira, Paul escreveu a música Penina, em homenagem a esse
Hotel, que depois “ofereceu” à banda Jotta Herre, que mais tarde gravou num EP.
George Harrison também esteve de férias no Algarve no princípio dos anos
70. Como apaixonado por F1 que era, veio ao autódromo do Estoril, em 1996,
assistir ao Grande Prémio de Portugal.
Em Outubro de 1995, Sir George Martin dirigiu a Orquestra Clássica do
Porto, no Coliseu dos Recreios, onde foram interpretadas canções dos Beatles.

148
THE BEATLES, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Made in Gt. Britain, Parlophone, PMC
7027, 1967.
149
pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_200_álbuns_definitivos_no_Rock_and_Roll_Hall_of_Fame
[Consult. 13 Nov. 2016].
150
pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_500_melhores_álbuns_de_sempre_da_revista_Rolling_Stone
[Consult. 13 Nov. 2016].
151
pt.wikipedia.org/wiki/Álbuns_número_um_na_Billboard_200_em_1967 [Consult. 13 Nov.
2016].
152
HARRIS, John, The Day the World turned Day-Glo, Issue #160, London, MOJO - Sgt. Pepper
Anniversary Edition, March 2007, pp. 72-77.
153
IRVIN, Jim, The Big bang!, Issue #160, London, MOJO - Sgt. Pepper Anniversary Edition,
March 2007, pp. 78-80.
154
PEMBERTON, Andy (Editor), 100 Greatest Stars Of The 20th Century, #155, London, Q
Magazine, EMAP Metro Ltd, August, 1999, pp. 43-71.
155
SNOW, Mat (Editor), 100 Greatest Singers Of All Time, Issue #59, London, MOJO - Collectors
Edition, October 1998, pp. 46-89.

215
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Ringo Starr foi o primeiro beatle a dar um concerto em Lisboa, na altura


da Expo 98. Em 2004, Paul McCartney actuou pela primeira vez em Portugal, no
Parque da Bela Vista, um dia antes da abertura oficial do “Rock In Rio Lisboa”. 156
Em relação a brasões de armas concedidos a personalidades da área da
música, outras duas estrelas do rock obtiveram armas pelo College of Arms: Sir
Elton John, em que aparecem os esmaltes com as cores do clube de futebol do
qual é patrono e, no chefe, um teclado representando o instrumento musical
pelo qual é conhecido; e Sir Cliff Richard que tem representado no chefe umas
sombras, que fazem referência à sua banda de suporte os Shadows.
Mais duas curiosidades sobre John Lennon. O monumento em home-
nagem a Lennon, que está no jardim Strawberry Fields, no Central Park, em
Nova Iorque, é feito com calçada portuguesa, de formato circular e com a palavra
IMAGINE no centro. E na música Sun King, do álbum Abbey Road, 157 John
Lennon diz: Obrigado!
Quem agradece somos nós. Muito obrigado aos fab 4 de Liverpool! 158

156
ALMEIDA, Luís Pinheiro de; LAGE, Teresa, Beatles em Portugal, Lisboa, Documenta,
Novembro de 2012, pp. 35, 39, 63-80, 141.
157
THE BEATLES, Abbey Road, Mfd. in U.K., Apple Records, PCS 7088, 1969, side 2, Sun King
(Lennon-McCartney), Northern Songs.
158
Quero agradecer a preciosa colaboração dos meus Amigos Paulo Bastos, pelo seu vasto
conhecimento acerca da British Invasion, Pedro de Freitas Branco, da qual posso sempre contar
com a sua vasta “enciclopédia” musical, Luís Pinheiro de Almeida, pela ajuda e disponibilidade
de material, Teresa Lage e Paulo Marques, pela inspiração e partilha por este gosto comum.
E também quero agradecer ao meu primo e Amigo Lourenço Botelho de Sousa pelo apoio e
revisão do texto e ao meu filho Joe pela ajuda na tradução em inglês. À Sofia, Luísa, Joe e Quico.

216
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Árvore de Costados de John Lennon

Patrick Lennon, James McCo- William Henry Susannah Thomas Mill- Jane Williams,
n. 1800, Down, nville. C.c. Stanley, n. Sarah New, ward, n. 1788, n. 1806, Nant-
Ulster, Irlanda. Bridget. 1814, Londres. n. 6.1.1828, Flintshire, País glyn, País de
Agricultor. C.c. † 10.9.1902, Austrália. de Gales. † Gales. † 1887,
Elizabeth. Austrália. 1882, Denbigh- Denbighshire,
shire, País de País de Gales.
Gales.

James Lennon, Jane McCon- William Eliza Jane John Dumbry Mary Elizabeth
n. 1829, Down. ville, n. 1831, Henry Stanley, Gildea, n. Millward, n. Morris, n.
† 13.2.1907, Down, Ulster. n. 1848, 1849, Omagh, 26.5.1838, 14.3.1851,
Toxteth Park, † 1869, Liver- Birmingham, Tyrone, Irlanda. Bridgend, País Bridgend, País
Liverpool. pool. West Midlands. † 1916. Filha de Gales. de Gales. Filha
Armazenista † 21.9.1904. de Charles de William
de Tóneis. C. Gildea. Morris e de
29.4.1849, Ann Roberts.
Capela de St.
António, Liver-
pool.

John “Jack” Lennon. Mary “Polly” George Ernest Annie Jane Millward,
† 3.8.1921, Toxteth Maguire. † Stanley, n. n. 1873, Chester. †
Park, Liverpool. 30.1.1949, Liverpool. 22.8.1874, Liver- 1941, Liverpool.
Irmão do Padre pool. Marinheiro
William Lennon. Mercante. Proprie-
Escriturário. Casou a tário de uma quinta
1915, em Everton. em Woolton. † 1949,
Liverpool.

Alfred “Fred” Julia “Judy” Elis-


Lennon, n. abeth Stanley, n.
14.12.1912, Liver- 12.3.1914, Liver-
pool. † 1.4.1976, pool. † 15.7.1958,
Brighton. Marinheiro Liverpool.
Mercante. Casou a
3.12.1938, Mount
Pleasant, Liverpool.

John Winston Ono Lennon,


MBE, n. 9.10.1940, Liverpool
Maternity Hospital. † 8.12.1980,
Roosevelt Hospital, Nova Iorque.

217
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Árvore de Costados de Paul McCartney

Jeremiah George Robert Thomas Michael Michael John Danher. John Baines,
“James” Williams. Clegg. Claque, n. Mohan. McGough. nat. de
McCartney, C.c. Eliza Oficial 1790, Ilha Worcester.
n. 1816. † Whitfield. de Justiça de Man. (McGeogh - C.c. Eliza-
1846. C.c. (Coroner). C.c. Esther - McGeough) beth Cook,
Ann Tate, Kneen, n. nat. de
nat. da 10.5.1792, Dudley.
Escócia. Ilha de Man.

James Elizabeth Paul Clegg, Jane Claque, Owen Mary John Danher, Jane Baines,
McCartney, Williams, n. 1817, Ilha n. 1834, St. Mohan, nat. McGough, nat. da n. 13.5.1848,
n. 1843, n. 1844, de Man. Ann, Ilha de Monaghan, nat. Irlanda. Dudley, West
Irlanda. Birkenhead, Man. Irlanda. † Monaghan. Midlands.
Merseyside, 18.1.1903,
Liverpool. Monaghan.

Joseph “Joe” McCartney, n. Margaret “Florrie” Florence Owen Mohin (Mohan), Mary Theresa Danher, n.
23.11.1866, Liverpool. Casou Clegg, n. 2.6.1874, Liverpool. n. 19.1.1880, Ballybay, 1.4.1877, Toxteth Park,
a 17.5.1896, Kensington, † 1944, Liverpool. Monaghan, Irlanda. Carvoeiro. Liverpool.
Liverpool. C. 24.4.1905, na Igreja Cató-
lica de St. Charles.

James “Jim” McCartney, n. Mary Patricia Mohan, n.


7.7.1902, Everton, Liverpool. 29.9.1909, Liverpool. †
† 18.3.1976, Liverpool. 31.10.1956, Liverpool.
Bombeiro Voluntário durante Parteira.
a II Grande Guerra. Músico.
Trabalhou no Comércio de
Algodão. Casou a 15.4.1941,
Gillmoss, Liverpool.

Sir James Paul McCartney,


MBE, Kt, n. 18.6.1942,
Walton Hospital, Liverpool.

218
A heráldicA dos BeAtles. de liverpool A BuckinghAm

Árvore de Costados de George Harrison

Robert Jane Shep- Roger Ann


Harrison, n. herd. nat. Woollam. Swallow, n.
9.10.1816, Litherland, 13.3.1811,
Liverpool. Merseyside, Denbigh-
Filho de Liverpool. shire, País de
Anthony Gales.
Harrison e
de Elizabeth
Orrett.

Edward Elizabeth James N…, nat. James Darby Ellen John Jane Daniels.
Harrison, n. Hargreaves. Thompson, da Ilha de Ffrench, Whelan, Woollam,
31.1.1848, Filha de John nat. da Man. n. 1825, n. 1831. † nat. de
Liverpool. Hargreaves. Escócia. Irlanda. † 1906. Shropshire,
Casou em 1906. West
1868. Midlands.
Jardineiro e
agricultor.

Henry Harrison, n. 21.1.1882, Jane Thompson. John French, n. 1870, County Louise Woollam, nat. de
Liverpool. Wexford, Irlanda. Liverpool.
Casou em 1902.

Harold Hargreaves Harrison, Louise Anne French, n.


n. 28.5.1909, Merseyside, 3.1910, Liverpool. † 1970,
Liverpool. Comissário de Liverpool. Assistente de loja.
Bordo da White Star Line e,
depois, Condutor de Auto-
carros. Casou em 1930.

George Harrison, MBE,


n. 25.2.1943, Wavertree,
Liverpool. † 29.11.2001, Los
Angeles.

219
DUARTE VILARDEBÓ LOUREIRO

Árvore de Costados de Ringo Starr

John Parkin, N…, nat. de David Bower. Joseph Catherine Peter James
n. 1823, Hull, East Parr, nat. Rodenhurst, Johnson, n. Cunningham,
Hull. Yorkshire. de Neston, n. 1813, 20.5.1824, nat. de Mayo,
Foram viver Cheshire. Oswesty, Orkney & Irlanda. Jardi-
para o Dingle Shropshire. Shetland, neiro.
em 1862. Ilhas do
Norte,
Escócia.
Pescador. C.c.
Phiilias Tait.

John Parkin, N… Alfred Bower, Margaret William Mary Kate Andrew Mary
n. 1865, nat. de Ellen Parr. Gleave. Conroy. Johnson, n. Elizabeth
Liverpool. (teve uma Liverpool. 2.1.1852, Cunningham,
Perfurador- segunda Latoeiro. Caldeireiro. Dingle. Mari- nat. de
-Operário e relação Casou a nheiro. Casou Liverpool ou
marinheiro com Henry 10.11.1873, a 14.4.1875, Irlanda.
empregado Starkey, St. Michael’s St. Thomas,
no navio-farol de quem Walton-on- Liverpool.
“Formby”. adoptou o -the-Hill.
apelido)

John Alfred Parkin Starkey, n. Annie Bower, n. 22.4.1889, John Gleave, n. 11.4.1891, Catherine Martha Johnson,
1890, Toxteth Park, Liverpool. Toxteth Park, Liverpool. Casou Toxteth Park, Liverpool. n. 21.4.1891, Toxteth Park,
Caldeireiro e pintor da Câmara a 31.7.1910, na Igreja de St. Caldeireiro. Casou a 12.4.1914, Liverpool.
de Liverpool. Matthews, Liverpool. St. Matthews, Toxteth Park,
Liverpool.

Richard Henry Parkin Starkey, Elsie Gleave, n. 19.10.1914,


n. 1.10.1913, Liverpool. Toxteth Park, Liverpool.
Pasteleiro-Padeiro. Casou a Pasteleira-Padeira.
24.10.1936, St. Silas, Toxteth,
Liverpool.

Richard Starkey, MBE, n.


7.7.1940, Dingle, Liverpool.

220

Você também pode gostar