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Nação, etnia e identidade:

um estudo sobre a nacionalidade do “brasileiro”

Gabriel Akira1

A nacionalidade costuma ser definida como um vínculo jurídico e político estabelecido entre
um Estado e um indivíduo, criador de uma série de direitos e deveres. Os requisitos para obter
esse vínculo identificam um determinado grupo de pessoas com uma determinada nação, o que
por sua vez enseja uma certa configuração de coerência nacional. Uma vez que cada Estado é
livre para determinar quem são seus nacionais por meio de normas próprias, a formulação
desses critérios tende a acompanhar a evolução das escolhas políticas que tangenciam a
construção da identidade nacional. Em um movimento de mútua influência, normas de
nacionalidade e o aparato ideológico do nacionalismo são substratos para a existência material
de uma série de relações que compõem a nação. Este estudo tem como objetivo compreender
como a evolução histórica da nacionalidade se relaciona com a construção da identidade
nacional no Brasil, em especial no que diz respeito à sua composição étnico-racial. Para tanto,
será dado um foco especial à maneira como o Estado brasileiro veio tratando a múltipla
nacionalidade, uma situação a ser evitada no direito internacional clássico. Por meio dessa
estratégia, buscar-se-á sondar o acesso que estrangeiros vieram tendo à nacionalidade brasileira,
sem que para isso tivessem que perder as suas nacionalidades. Será possível, dessa forma,
mostrar os limites de como a figura do nacional brasileiro foi construída e qual o nível de
investimento que foi pensado para a assimilação de imigrantes nessa construção. A pesquisa
faz um breve resgate histórico das normas de nacionalidade nas sucessivas constituições, e em
seguida busca mobilizar teorias das ciências sociais sobre a construção da identidade brasileira.
Dessa maneira, primeiramente será observado que, em diferentes períodos históricos, o Brasil
foi um país que se destacou pela facilidade do acesso à sua nacionalidade. Na sequência, ver-
se-á que a idealização da figura do imigrante como a solução para um suposto “atraso” da mão-
de-obra brasileira constituiu um importante pilar para o imaginário sobre a composição étnico-
racial no país. As diferentes nacionalidades que adentraram o Brasil a partir do final do século
XIX foram apresentadas como etnias que iriam “embranquecer” e “modernizar” o povo
brasileiro. Em conjunto com essa mobilização de narrativas eugenistas, houve ao longo do
século XX uma investida brutal da elite branca pelo esquecimento da realidade racista brasileira,
concretizada no que vem sendo chamado de mito da democracia racial. A tese deste trabalho é
de que toda a edificação ideológica que combina e contrapõe brasileiros e imigrantes –
compreendendo-se aí também os seus descendentes – foi acompanhada pela evolução da norma
jurídica da nacionalidade. Com a entrada e a assimilação de imigrantes facilitada pelas normas
de nacionalidade, tornou-se possível uma reconfiguração do tabuleiro de negociações de
identidades nacionais, que abalou uma formação étnica idealizada na fábula das três raças.
Assim, construções como o mito da democracia racial e o mito da minoria modelo se articulam
com a “invenção da brasilidade” para criar uma complexa imaginação sobre a configuração
étnico-racial brasileira.

Palavras-chave: Nacionalidade; Invenção da brasilidade; Polipatria.

Agradecimentos: a Kazumi Moriki, Yumi Garcia dos Santos, Edson Miagusko, Telma
Yamabe Boquimpani, Mariana Mitiko Nomura, Daniel Lucas Dejavite de Biagio, Gustavo
Mota Alves Assunção Nogueira, o Coletivo Dinamene e Masato Ninomiya, pelos motivos

1
Graduando na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). E-mail: akiragabriel@usp.br. Currículo
lattes: http://lattes.cnpq.br/8515026090992073.
expostos na monografia de iniciação científica que deu origem a este trabalho. Ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela bolsa no âmbito do PIBIC.

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