Você está na página 1de 6

Associação livre, sonhos,

lapsos, atos falhos e chistes


Descrever as diversas manifestações do inconsciente: sonhos, atos falhos, lapsos e
chistes; e como é possível ter acesso aos conteúdos inconscientes por meio da
associação livre

Depois que Freud abandonou o método de fazer pressão na cabeça de seus pacientes, ele resolveu
adotar uma nova técnica, conhecida por Associação livre. Nela, o psicanalista convida o paciente a expressar
tudo que está na sua mente (pensamentos, sonhos, fantasias, desejos, etc), mesmo que pareça errado ou se
sinta envergonhado, pois para Freud as ideias nunca deixam de aparecer à nossa mente, porém a resistência
dificulta sua expressão.

Neste método, portanto, pede-se ao paciente para renunciar qualquer crítica e expor, sem seleção, tudo
que vier à sua cabeça, porque ao eliminar e trabalhar as resistências, poderão surgir os conteúdos
inconscientes.

Fora da clínica, na nossa vida cotidiana, o inconsciente também pode se manifestar de outras formas,
inclusive em situações que, aparentemente, acontecem ao acaso ou parecem não ter explicações. Trocar
nomes, confundir objetos, errar caminhos, ler uma palavra quando na verdade outra está escrita em seu
lugar...

Freud demonstrou que ao decifrarmos todos esses fenômenos por meio da associação livre,
encontraremos no psiquismo uma explicação que indica a manifestação do inconsciente (seja desejos,
conflitos ou qualquer outro conteúdo recalcado).

Os atos falhos são pequenos erros, pequenos enganos que acontecem no cotidiano das pessoas. A
maioria delas não dá a devida importância quando esquecem algo que sabem (por exemplo, não se lembrar
do nome da cidade onde passou o último feriado; ou então quando o sujeito está saindo para o trabalho e este
não se lembra onde colocou a chave do carro), ou quando perdem objetos (por exemplo, o RG ou cartão do
banco). Ou ainda quando fazem um caminho rotineiramente, e certo dia, sem se darem conta, acabam
parando em outro local.

Nos atos falhos, podemos encontrar também os famosos lapsos da fala, na escrita e na leitura. Um
exemplo clássico do lapso da fala é a troca de nomes. Quem nunca teve a intenção consciente de dizer um
nome, mas ‘sem querer’ acaba dizendo outro nome?

Ato falho (troca de nomes)

Freud (1901), citando Meringuer (1900), também traz o exemplo de quando o presidente da câmara
dos deputados da Áustria abriu uma sessão com a seguinte fala: “Senhores deputados constato a presença
dos membros dessa casa em quorum suficiente e, portanto, declaro, encerrada a sessão” ( p. 42-43). Não
precisamos quebrar muito a cabeça para compreender que o presidente desejava secretamente já poder
terminar seu trabalho.

O lapso na escrita é quando a pessoa escreve uma coisa e na verdade queria, conscientemente,
escrever outra. E na leitura é quando a pessoa lê uma palavra e na realidade outra está escrita em seu lugar.
Para Freud, todos esses fenômenos são muito significativos e quase sempre a interpretação é fácil e segura,
pois do ponto de vista psicanalítico, exprimem impulsos e intenções que deveriam ficar ocultos à própria
consciência.
Para quem se interessar no assunto....

E quiser buscar outros exemplos dos famosos atos falhos, leia o livro “Sobre a Psicopatologia
da Vida Cotidiana”, escrito em 1901.

Os chistes são expressões que provocam risos e também são consideradas formações do inconsciente.
É uma forma de usar o humor para expressar desejos inconscientes. Mas fiquem atentos, pois os chistes não
são piadas previamente planejadas e repetidamente contadas.

Trata-se de frases e/ou expressões que surpreendem o falante e seus ouvintes, pois nesse momento
ocorre uma idéia repentina, inesperada e involuntária, que acaba provocando o prazer do riso. O chiste é
uma mensagem verbal tendenciosa que, ao descarregar sua energia psíquica, oferece ao ouvinte um ganho de
prazer.

Na terceira lição de psicanálise, Freud (1910) cita um exemplo de chiste, em uma anedota da língua
inglesa:

Diz a anedota: Por uma série de empresas duvidosas, dois comerciantes tinham
conseguido reunir grandes cabedais e esforçavam-se para penetrar na boa
sociedade. Entre outros, pareceu-lhes um meio conveniente fazerem-se retratar
pelo pintor mais notável e mais careiro da cidade, cujo quadro fosse um
acontecimento. Numa grande reunião foram inaugurados os custosíssimos
quadros, um ao lado do outro, e os dois proprietários conduziram até a parede o
mais influente crítico de arte a fim de obterem o valioso julgamento. O crítico
examinou longamente o quadro, sacudiu a cabeça como se achasse falta de alguma
coisa e perguntou apenas, indicando o espaço entre os dois quadros: `But where’s
the Saviour? (`Mas onde está o Redentor?’) Vejo que todos se riem da boa
pilhéria; penetramos-lhes agora a significação. Os presentes compreendem que o
crítico queria dizer: vocês são dois patifes como aqueles que ladearam o Cristo
crucificado. Mas não o disse; em lugar disso exprimiu coisa que à primeira vista
parece extraordinariamente abstrusa e fora de propósito, mas que logo depois
reconhecemos como uma alusão à injúria que lhe estava no íntimo, e que vale
perfeitamente como substituto dela.

FREUD (1910, p. 20)


E finalmente, os sonhos. Freud dedicou-se a compreender a relação dos sonhos com o Inconsciente.
Em “A Interpretação dos sonhos” (FREUD, 1900), um de seus livros mais famosos, Freud descreve o
método da interpretação dos sonhos, que ele foi aprimorando ao longo de sua autoanálise.

Neste livro, o pai da psicanálise afirma que os sonhos possuem significado e são passíveis de
interpretação. Esta só pode ser feita pelo próprio sonhador (ou junto ao analista que acompanha o caso), por
meio da técnica da associação livre. Deste modo, é importante que o sonhador entre em contato com as
ideias que aparecem em sua mente, em relação a cada parte do sonho.

Para Freud, os sonhos constituem-se em mais uma forma de manifestação do Inconsciente. Em outras
palavras, são realizações de desejos inconscientes. Assim, cabe à pessoa, por meio da associação livre,
compreender quais são esses desejos.

Quiz

1
No livro "A interpretação dos sonhos" (FREUD, 1900), Freud descreve o método
da interpretação dos sonhos, que ele foi aprimorando ao longo de sua autoanálise.
Para ele, os sonhos:

Não possuem significado e não são passíveis de interpretação

Possuem significado, mas não são passíveis de interpretação por meio da técnica da
associação livre

Não possuem significado, embora sejam passíveis de interpretação, por meio da técnica da
associação livre

Possuem significado e são passíveis de interpretação, por meio da técnica da associação livre
2
Na técnica da Associação Livre, o paciente:

Deve ser hipnotizado pelo psicanalista

Deve permanecer calado, principalmente se as resistências estiverem atuando

Deve renunciar qualquer crítica e expor, sem seleção, tudo que vier à sua cabeça

Deve expor com cuidado os pensamentos que estão em sua cabeça, pois estes serão analisados
pelo psicanalista

Quiz

1
Freud percebe que o conteúdo Inconsciente apresenta diversas formas de
expressar-se. Uma de suas manifestações pode ser um esquecimento, ato repetitivo
ou um erro de linguagem (oral ou escrita). Todas essas ações podem ser
consideradas:

Chistes

Atos Falhos

Sonhos
Associação Livre

Referências

FREUD, S (1900). A interpretação dos sonhos. ESB das obras completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago, 1988, vol. IV.

FREUD, S (1901). A psicopatologia da vida cotidiana. ESB das obras completas de Sigmund Freud. Rio
de Janeiro: Imago, 1988, vol. VI.

FREUD, S (1910). Cinco lições de psicanálise. ESB das obras completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago, 1988, vol. XI.

Você também pode gostar