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História e curiosidades das danças tradicionais

A origem da dança pode ser atribuída a um desejo universal de exprimir a emoção pela ação.
Desde as civilizações mais remotas que são conhecidas manifestações de dança
acompanhadas de sons rítmicos de tambor, paus, bater de palmas, etc. Desde sempre se
cantou e dançou simultaneamente.
As danças folclóricas constituem o fundamento das formas coreográficas mais artificiosas.
São consideradas como a expressão mais espontânea da arte, mas cada dança encarna
tradições ancestrais, amiúde desconhecidas dos próprios dançarinos. A sua coreografia
traduz-se na expressão dos sentimentos que, dentro de uma cultura, se consideram
decorosos. O trabalho é fonte de inspiração em muitas danças populares, assim como o
galanteio.

O folclore é a ciência que estuda as tradições populares nas suas várias manifestações
(música, dança, canções, provérbios, lendas, anexins, vestuário). Dá-se especial atenção à
recolha sistemática de contos e canções populares, nas suas diversas vertentes, pois trata-
-se de um material de onde se procura extrair a base história de qualquer narrativa.
A música utilizada para acompanhar as danças tradicionais é de origem popular e, como tal,
nasceu do povo e é, portanto, anónima.

O traje popular é também um elemento que está relacionado com o folclore em geral e com
as danças tradicionais em particular. As roupas são específicas de uma região e estão
associadas a profissões (pescador, lavrador), ao nível socioeconómico (lavrador rico e
lavrador pobre), ao estatuto social (casado, solteiro) ou às situações da vida diária (traje
domingueiro, traje de trabalho). Os adereços complementam o traje, como por exemplo,
cântaros, instrumentos agrícolas, cajados, foices, cestos, entre outros.
As formas e as cores do traje popular português ajustam-se à situação geográfica. Assim, o
litoral do nosso país veste cores garridas, exprimindo sentimentos positivos: de alegria, de
prazer, de sentido de festa. Mesmo quando o homem usa cor preta ou castanha nas calças
ou na capa, há sempre cor, quer na camisa quer na faixa, ou mesmo no lenço. O traje
coaduna-se com os traços da personalidade, reveladores de um espírito aberto, habituado
ao mar e a horizontes infinitos.

No interior do nosso país, a austeridade e a severidade dos costumes andam a par com a
dureza da vida e do trabalho e com o próprio clima, mais rigoroso e gélido. Assim, o castanho
abunda como base do vestuário exterior, tanto feminino como masculino. A lã é tratada sem
corantes, sendo usada na sua cor natural.
O traje muda consoante a ocasião, seja de festa ou não. As ocasiões festivas eram
determinadas pela religião. É no dia de festa, de romaria e até mesmo ao domingo (dia de ir
à missa) que tanto a mulher como o homem trocam o seu traje de trabalho pelo de festa e
enfeitam-se com o seu melhor ouro.
Atualmente, as danças tradicionais portuguesas são apenas reproduzidas como espetáculo
ou animação, numa perspetiva de demonstração e preservação de um património artístico-
cultural popular. Para tal, contribuem, e muito, os vários grupos de folclore de danças e
cantares espalhados pelo nosso país.
Douro Litoral (distrito do Porto)
A mulher desempenhava um papel de companheira, colaboradora e apoiante do homem.
Quanto ao traje este variava em função do papel desempenhado pela mulher.
Por exemplo:
• a varina usava blusa branca e colete atado com atilhos, permitindo, deste modo, que
este se ajustasse ao seu corpo. A saia era comprida e rodada, atada com uma faixa
que lhe segurava o ventre. Na cabeça envergava o lenço, chapéu e rodilha. Esta
última facilitava-lhe andar com a canasta do peixe à cabeça.
• a lavradeira que ia para o campo trabalhar usava blusa e colete, a saia era comprida
e rodada, poderia utilizar uma faixa a prendê-la e um avental sobre a mesma. Nos pés
estavam presentes os socos e na cabeça o lenço.
Ao domingo, tanto o homem como a mulher trocavam o traje de trabalho pela melhor roupa
e particularmente a mulher ornamentava-se com o seu ouro. No caso das lavradeiras ricas,
a quantidade de ouro exibido pelas mesmas era substancial. A mulher, independentemente
do seu poder económico, usava sempre brincos nas orelhas. Os cabelos, quer no trabalho
quer ao domingo, eram sempre apanhados em forma de puxo e não se usava franjas.
As mulheres não utilizavam qualquer tipo de pinturas, nem no rosto nem nas unhas.
Os homens, naturalmente, ao domingo vestiam a sua roupa de ”ir ver Deus”, ou seja, camisa,
jaqueta, calça e faixa na cintura. Na cabeça, usavam um chapéu de feltro, de aba larga.
Normalmente a cor utilizada era o preto. Os senhores com mais posses calçavam botas em
vez de chinelos de cabedal grosso.

Minho (distritos de Viana do Castelo e Braga)


A região do Minho é frequentemente conotada com música e folclore alegre. A indumentária
da mulher tem, normalmente, cores vivas.
Por exemplo, a lavradeira minhota usava saia comprida e rodada e sobre esta exibia um
avental decorado com motivos de jardim bordados a relevo. A algibeira reforçava a beleza da
mulher, em forma de coração, e tinha como função guardar o dinheiro e o lenço. A camisa
também era bordada, na frente, nos punhos e nos ombros. Sobre a camisa, usava um colete
que tinha a função de espartilhar o tronco da mulher, evidenciando, deste modo, as formas
do seu corpo. O colete era decorado com bordados.
Na cabeça usava lenço, normalmente vermelho e igualmente bordado com motivos de jardim
e cornucópias. Calçava meias rendadas e chinelas de pele bordadas.
Também no Minho se usava, ao domingo, a melhor roupa para ir à missa – “ver Deus”. A
camisa branca, bordada a vermelho, assim como a faixa vermelha, contrastavam com o resto
do fato, que normalmente era preto.

Açores
O traje domingueiro, no caso do homem, era constituído por calças azuis ou pretas de feitio
de marinheiro, camisas de linho ou de lã. Na cabeça, usavam chapéu ou barrete (carapuça)
de lã, em azul-escuro ou preto, em forma de pirâmide. Este barrete tinha duas saliências para
proteger as orelhas do frio. Nos pés usavam sapatos pretos e meias brancas. As camisolas
eram feitas de lã, normalmente nas cores vermelha, azul, verde e bege.
A mulher usava as saias confecionadas com lã de cor vermelha, azul, salmão, cinza e cor
natural da lã. Estas eram ornamentadas com barras singelas ou bordadas, de acordo com a
cor da saia. Também possuíam uma algibeira bordada, jaqueta de linho branco com folho na
cintura e bordada no peito/costas. Nos pés usavam meias brancas e sapatos pretos. Na
cabeça, lenço estampado e chapéu de palha de abas largas.
Estremadura e Ribatejo (distritos de Leiria, Lisboa e Santarém)
O traje de lavrador ribatejano tem as suas raízes no traje popular espanhol, que era usado
nas lides tauromáticas.
As calças tinham cós alto e cintado, ajustando-se nas costas com atilho. Eram justas para
que permitissem o uso de botas fora das mesmas. À cintura usavam uma faixa preta, que, ao
apertar até ao diafragma, dava uma postura correta e elegante no galope. Usavam chapéu
de aba larga.

O traje domingueiro da mulher era constituído por uma saia redonda, com roda farta, casaco
cintado, capa comprida até aos pés e um lenço de Bretanha.

Tanto os ricos como os pobres trajavam da mesma maneira, a grande diferença estava na
qualidade dos tecidos. As mulheres mais abastadas, para além da melhor qualidade dos
materiais, usavam as rodas das saias mais fartas, enquanto nas mais pobres, por vezes, a
roda da saia era enviesada e sobre a blusa usavam um xaile.
O traje domingueiro do homem era muito simples, ou seja, jaqueta curta, calça estreita,
camisa vulgar (às riscas), chapéu ou barrete de lã. Calçavam sapatos ou tamancos.
O ouro era pouco usado.

Na zona da lezíria, o traje da campina era constituído por uma saia rodada com pregas
laterais e atrás. Por baixo desta a mulher usava um saiote branco e culotes. Ambos tinham
um folho e um bordado que lhes dava um certo requinte. A blusa tinha uma gola redonda com
um folho e bordado. Na cabeça usavam um lenço vermelho. As cores dominantes nesta
indumentária eram o vermelho e o verde.
Nesta zona, os campinos utilizavam calças muito justas, sapatos de prateleira com esporas,
meias brancas até aos joelhos, jaqueta muito curta, faixa preta ou vermelha à cintura e colete
vermelho. Na cabeça usavam barrete ou chapéu com abas muito largas.

O farracatinho
Nos finais do século XVIII, foram introduzidas nos salões dos nobres, em Portugal, algumas
modinhas brasileiras pelo poeta Carlos Barbosa. As suas poesias tinham sabor popular e
nelas fazia-se alusão a um tal Pai João. Este Pai João era uma figura lendária da escravatura
no Brasil. Houve uma transposição dessas danças dos salões dos nobres para os terreiros e
romarias, foram popularizadas e nasceu o farracatinho.
Trata-se de uma dança de roda, usualmente cantada e dançada em festejos familiares,
quando as famílias se juntavam em casa umas das outras.

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