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A QUESTÃO DA OBRIGATORIEDADE DA RASPAGEM DO CABELO NOS

SEMINÁRIOS E INSTITUIÇÕES DE FORMAÇÃO ESPECÍFICAS.


“Ao invés de mandarmos aos outros cortarem seus cabelos,
Devêssemos antes cortar os nossos preconceitos”

É com muito entusiasmos que me lanço para falar de um assunto, que para
uns é meio mesquinho, para outros indiferentes quanto à situação do negro é
irrelevante, mas que no fundo resulta eminente e relevante. Pois trata-se de uma
questão efeito dominó, que culmina no problema do racismo colonial, da subjugação
étnica e outros.
Perguntas como: porquê somos forçados a raspar o cabelo? De onde
partiu tal prática? O que se pretendia com tal prática? Que sentido pode
ganhar a prática de forçar as pessoas a rasparem o cabelo? que pairam entorno
desse grande problema urgem serem respondidas.
Olhando para a história, as respostas fazem-nos verter lágrimas, por exemplo,
segundo a socióloga Anita Soares, diz que “buscavam minar qualquer tipo de
pertença étnica e identificação que eles pudessem ter uns com os outros a partir do
cabelo”, e acrescenta “há relatos de que a raspagem do cabelo era parte importante
desse processo de subjugar a população negra, principalmente homens, porque o
cabelo protege o couro cabeludo num trabalho sob sol escaldante. As sinhás*, com
ciúmes de mulheres negras violentadas por homens brancos, também usavam a
raspagem como prática de tortura”. Entretanto, além da violência, a associação da
estética dos africanos a algo primitivo e distante de ideias europeias de beleza,
humanidade e civilização foi uma prática recorrente durante a colonização, em que
durante séculos passou-se a imagem do negro como grotesco.
Mas a história não parou por aí, depois foram surgindo movimentos sociais,
culturais e outros até religiosos para a emancipação do negro como o rastafári
(religioso), o black power, black is beautiful, consciência negra e ainda o negritude,
movimentos com particularidades próprias mas um ideal comum “black life
metter”. E quando se fala de vida negra importa, fala-se também de cultura, estética,
negras importam, é também um grito contra esses actos que correspondem a uma
mutilação, uma vez que o cabelo, para muitas etnias africanas era considerado uma
marca de identidade e dignidade. Por isso, que hoje, vos convido a discutirmos as
nossas razões em torno deste emergente assunto.
Eis os argumentos para fundamentar a prática da obrigação de raspar o cabelo
nos seminários:
1. Uns há que dizem, para manter o perfil do seminarista e diferencia-lo dos
jovens arruaceiros que andam por ai (essa posição é bastante preconceituosa e
marginaliza, aquilo que são as tendências estéticas da nossa sociedade). O que para
mim, resulta farisaico; nós sabemos que o Mestre via os fariseus, como os mais
hipócritas, pois procuravam passar uma imagem de pureza exterior mas que no seu
interior que é o que importa, estavam imundos, e também Jesus deplorava o jeito
como eles depreciavam outros que não eram de seu partido considerando-os como
pecadores, pessoas que não mereciam o perdão de Deus.

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2. Outros dizem, que nos seminários não podemos permitir manifestações
culturais que contrariam ao cristianismo (essa posição carece de bases
antropológicas e teológicas, e sugere que o cristianismo é uma cultura da cabeça
rapada, porém não é verdade, como sabemos Padres, Bispos e ate mesmo Papas (ex:
Pio VII) com cabelos longos e inclusive há congregações e seminários em outros
lugares que encaram essa questão com mais tolerância).
O que para mim resulta, preconceituoso, racista e neocolonialista; na verdade
apesar de que os colonos já se foram embora, a colonização não acabará se não
mudarmos o aparato, os colonos se foram mas as estruturas são as mesma e
infelizmente estão, nalgumas questões, dentro da igreja.
Quando se fala de renascimento africano, não é mesma coisa retrocesso, devemos
admitir que o contacto com a Europa trouxe consigo coisas boas como por exemplo o
evangelho, mas também coisas nada boas como a alienação e a subjugação do negro
para melhor exploração (que sentimos até hoje), é contra essas estruturas que devemos
lutar, porque aniquilam o negro, pois devemos admitir o dedo (estético) de Deus em
todas as expressões culturais ao longo da história, e o que pode querer Deus só tem que
ser a existência unida na diversidade sem uns subjugarem outros.
Por outro lado, devemos admitir que existem ordens religiosas e aqueles que se
submetem, não deveria sobressair ou apresentar peculiaridades no grupo; mas isso não
abrange os da ordens seculares, até porque também não podemos nos descurar da
estética que é um dos pilares como o justo, o verdadeiro, o edificante, o belo, que são
característico para os Católicos, e que norteiam as pessoas, instituições, e sociedades;
inclusive não existe na Igreja uma regra que proíbe padres ou bispos de deixarem
crescer a barba ou o cabelo, por isso, que práticas do género podem ter repercussões do
tipo preconceituosas e neocolonialista como já mencionei à cima.
3. E ainda aqueles mais radicais que diabolizam e marginalizam o cabelo. À mim, é
claro que, é uma simples posição de quem cuja mentalidade colonialista ou esclavagista
e ainda racista, precisa de ajuda. Porque tal posicionamento não tem fundamento
bíblico, além do mais em Lev 19, 27 é bem claro “não cortarás o cabelo…”, mas não é
com isso, que quero aqui me fundamentar porque, mais adiante a mesma bíblia em 1
Cor 11, 14 vai dizer “…é desonra para o varão ter cabelo crescido”, portanto, isso é uma
questão de contextos por serem povos diferentes, e não de contradição, e é mesmo assim
porque Deus é um só tanto para os circuncisos como para os incircuncisos (Rom 3,30).
Contudo, para melhor convivência comunitária, urge pensarmos nesta questão, nós
temos um Santo Africano, não é coincidência, é um sinal, é possível falar de
renascimento africano dentro do cristianismo, até porque muito antes do contacto com a
Europa, nós já vivíamos como os cristãos primitivos, então é possível ser africano
renascido e cristão ao mesmo tempo, à exemplo de Carlos Lwanga, Pe. Shicufinde e
tantos outros.
Admito que a discussão acerca do renascimento africano em outros fóruns já teve
saídas mais radicais, quando se fala de africanistas que chegaram de negar a revelação a
certo ponto, a entrarem em apostasia com a Igreja e outras situações como Kimpa Vita,
Simon kimbangu e outros, respeito tanto essas personalidades e considero que foram
vítimas de suas circunstâncias, mas devemos admitir que o Evangelho é Deus a vir ter
connosco depois de ficarmos anos à procura.

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A pulga na orelha, é o facto de que na sociedade aos de cabelos grisalhos (os
brancos) não lhes é obrigado a rapar o cabelo, ao passo que aos de cabelo crespos ou
lanosos (negros) o são, fruto de uma cultura da subjugação que levou anos a se
solidificar ao ponto de ser praticada pelos próprios negros. A pergunta que não se quer
calar é: do ponto de vista da moral católica há algum problema em ter cabelos altos?
Não, não há problemas, desde que isso não tome uma proporção desmedida. Como diz
um catequista “a Igreja não define que cortes de cabelo são lícitos, mas nos dá os
critérios para que possamos exceder”.
A doutrina ensina que é com modéstia que devemos nos apresentar, sem exageros, a
modéstia tem muito a ver com a virtude da temperança. Mas é bem verdade que
devemos ter distância daquelas referências visuais que abarcam valores anticristãos,
niilistas, sadomasoquistas e que promovam a subversão da moral, mas isso não tem que
ver com cabelo alto bem tratado, mas sim com estilos bizarros, andróginos ou
efeminados ou que dão aos jovens um ar pessimista e agressivo.

“Século XXI, é o século do renascimento africano”


Nelson Mandela (Madiba), o terrorista que virou herói…

Kavindja Kaveto. 10 de maio de 2023

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