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História da Filosofia

Medieval
Material Teórico
Santo Agostinho

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Américo Soares da Silva

Revisão Textual:
Prof. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Santo Agostinho

• Santo Agostinho

Durante a Idade Média, alguns pensadores se destacaram por


suas contribuições para a Filosofia, considerando-se que no
período havia um movimento de articulação do pensamento
filosófico com o Cristianismo.
Entre eles, e um dos grandes nomes do período, está Santo
Agostinho, que articulou platonismo e Cristianismo, teorizando
sobre diferentes temas pertinentes para a Filosofia e a Teologia.

Para um bom aproveitamento e desenvolvimento de seus estudos, é necessário começar


com o acesso ao Material Didático. É lá que você poderá encontrar o Texto Teórico, cujo
conteúdo corresponde à base das atividades desta Unidade. Leia-o com bastante atenção!
Você pode verificar se houve uma boa compreensão do tema ao responder as questões da
Atividade de Sistematização. São questões sobre os principais aspectos abordados no texto.
O aprofundamento da discussão será obtido pelos Materiais Complementares, da
Apresentação Narrada e da Videoaula.
Por fim, realize a Atividade de Aprofundamento da Unidade. Lá, você encontrará dicas para
aprimorar ainda mais seus conhecimentos sobre o tema

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Unidade: Santo Agostinho

Contextualização

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Santo Agostinho

Quando pensamos nos autores que se tornaram protagonistas


no campo da filosofia medieval, um nome que surge quase de
imediato é o de Agostinho de Hipona.
Agostinho, que viveu entre o ano 354 d.C e 430 d.C, foi um
personagem que, ao ser avaliado por suas condições iniciais,
não pareceria candidato a se tornar um dos grandes pensadores
da Igreja, cujo trabalho e apego à fé levariam a mesma Igreja
a considerá-lo um santo – mesmo não tendo havido processo
para sua canonização.
Nasceu em Numídia, antiga província romana, hoje pertencente
à Argélia, na cidade de Tagaste. Por influência paterna, sua
educação foi pagã e se manteve no paganismo durante sua
juventude e parte da sua vida adulta.
Mas, no caminho do sábio também havia a influência de sua mãe
– uma cristã fervorosa – e o espírito inquieto do próprio Agostinho
que, depois de “vagar” pelas escolas de pensamento grego – ele
tinha um apreço especial pela leitura de Cícero, e pelos ensinamentos
dos maniqueístas – voltou-se para o Cristianismo e se converteu em
Santo Agostinho, têmpera, Simone Martini, 386 d.C. Em 396 d.C, finalmente, tornou-se bispo de Hipona (atual
1320-25.
Annaba), onde permaneceria até a sua morte.
Agostinho assume veementemente a doutrina
cristã, mas, nem por isso, irá deixar de lado seu
aprendizado na Filosofia grega. O bispo de Hipona
utilizou muitos elementos filosóficos, principalmente
do pensamento platônico, para construir articulações
entre Filosofia e doutrina cristã.
Para o pensamento agostiniano, o problema
acerca de Deus e do homem não pode ser separado.

[...] o homem não é apreendido nas suas profundidades


ontológicas enquanto não for apreendido por Deus,
cujo problema é intrínseco ao problema que ele é a
si mesmo. Sem que Agostinho se esqueça do mundo,
concentra toda a sua vasta e profunda especulação
sobre o homem e sobre Deus, problemas distintos, mas
UN Office for the Coordination of Humanitarian Affairs não separáveis (SCIACCA, 1962, p. 180).

Para o pensamento agostiniano, a discussão sobre Deus não está fora da discussão sobre a
condição e a essência humana. Sciacca chama isso de “intrinsecismo teológico”.
Seguindo a linha de pensamento do bispo de Hipona, ao refletir sobre a condição do homem
acabaríamos refletindo sobre Deus.

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Unidade: Santo Agostinho

Considerando o platonismo, o mundo real nada mais é do que uma imitação imperfeita
do mundo das ideias, esse último, sim perfeito. Quando temos a experiência dos objetos do
mundo, por exemplo, uma cadeira, podemos distinguir diferentes atributos da cadeira (peso,
cor, acabamento etc.), porém, a essência da cadeira não muda, permanece, essa essência é a
ideia de cadeira que existe fora do objeto no mundo ideal.
Uma das marcas do pensamento de Santo Agostinho foi substituir a reminiscência do mundo
das ideias (do platonismo) pela consciência divina.
O conhecimento humano se aproveita dos dados da experiência, mas essa experiência –
quando articulada com a razão – auxilia o indivíduo na compreensão do mundo.
Contudo, essa compreensão só é possível pelo homem por meio da bondade de Deus –
conseguir participar da consciência divina. Em uma linguagem mais moderna, que evidentemente
não corresponderia à linguagem do período, podemos dizer que é por bondade de Deus que o
homem tem a capacidade de “sintonizar” a verdade sobre o funcionamento do mundo.
Para Agostinho, é por meio de sua interioridade que o homem consegue entender e dar
sentido ao mundo e é por essa mesma interioridade que ele (o homem) busca a Deus.
Esse espiritualismo em sua filosofia assinala que o homem não pode ter apenas o mesmo
destino do mundo material (SCIACCA, 1965) – mesmo porque isso seria um naturalismo que
dificultaria qualquer especulação espiritual – é justamente por buscar um destino além de si que
o homem está conectado com o sobrenatural, com o espiritual.
Isso coloca em destaque a noção de autoconsciência. A Certeza e a Verdade só são possíveis
por essa mediação interior executada pelo homem.
Ao conhecer o mundo exterior, o ser humano está postulando o seu próprio lugar nesse
mundo, o que ele é e o que ele não é. Começa a mergulhar sua consciência na finitude e
percebe que há algo acima de si, além do mundo exterior e, ao olhar mais profundamente para
si, o homem pode encontrar o caminho para Deus. Não por menos, Deus é comparado a um
“mestre interior” (SCIACCA, 1965).
Neste contexto, para Santo Agostinho, o conhecimento é obtido via iluminação; o que torna
possível o entendimento de determinadas proposições como sendo verdadeiras deriva do
conhecimento infundido na alma por Deus. Não se trata de negar as operações do intelecto
equivalendo-o a um apêndice sem função.
Para o bispo de Hipona, o intelecto percebe a verdade das coisas por meio da luz de Deus
que o habilita a conhecer o mundo. Deus é comparado ao Sol e é por essa luz que dele emana
que podemos melhor conhecer aquilo que já se encontra no mundo.
É importante ressaltar que neste caso o ser humano não contempla a Deus diretamente, mas
apenas a luz que dele emana.
Por outro lado, além dessa forma de iluminação tida como natural (ver: SCIACCA, 1965),
também há outra forma de iluminação: uma iluminação mística ou sobrenatural, que equivaleria
a dirigir o olhar para o próprio Sol.
Neste momento, o homem estaria tendo um vislumbre da Verdade – no sentido da verdade
mais essencial, divina, que vai muito além da verdade do mundo.

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Outra consideração que não pode deixar de ser feita é em relação ao status dessas ideias
inatas. Não se trata de elaborações próprias da alma, não é a interioridade do homem que
elabora por si mesma o conteúdo que moldará os conceitos com os quais passa a compreender
a realidade do mundo das sensações.
O conhecimento que é acessível pela luz divina já existia. A luz divina permite ao intelecto
decifrar corretamente o mundo criado por Deus. Vale lembrar: há um afastamento do modelo
platônico da reminiscência que postula o conhecimento como memória.
Para Agostinho, o conhecimento é a presença da luz de Deus no tempo presente. Portanto,
não ocorre na matriz agostiniana o movimento platônico de conhecer-esquecer-recordar.
Ou ainda:

A interioridade agostiniana, como se vê, não tem nada que ver com a interioridade
psicológica, menos ainda com o que em psicologia se chama introspecção. É
interioridade metafísica, isto é, não um momento da alma, mas ato essencial
do espírito na objetividade da verdade interior (...) não como um dado, uma
pedra que lhe está dentro, mas como um elemento dinâmico, ativo, do espírito
(SCIACCA, 1962, p. 186).

Outro tema abordado por Santo Agostino foi o Tempo e a Criação. Apesar da inspiração
neoplatônica, Agostinho não transporta para esse tópico das suas formulações a ideia de
emanação, por exemplo. Ou seja, o mundo não emana de Deus, tampouco seria eterno no
sentido de sempre ter existido.
Para o bispo de Hipona, Deus criou o mundo do nada; nenhuma matéria existia. Para ele, o
mundo foi criado por um ato totalmente espontâneo da inteligência divina.
A questão do progresso e da evolução é analisada por Agostinho com alguma inspiração no
pensamento estoico (SCIACCA, 1965) ou até aristotélico.
Haveria na matéria (criada inicialmente do nada) os germes da sua evolução. A capacidade
de a natureza evoluir e se desenvolver, dos seres saírem de um estado de menor perfeição indo
em direção a um estado de maior perfeição (mais próximo de Deus) já se encontra incutida na
matéria pelo próprio criador.
Mas e o Tempo? A sucessão de eventos que recua até o momento da
criação cria uma indagação metafísica que nos levaria a perguntar: o quê
acontecia antes do ato divino da criação?
O próprio Agostinho reserva uma parte da sua obra Confissões para
responder a essa questão. Neste texto, que aborda reflexões agostinianas ao
logo dos anos, o autor de Hipona se dirige a seu leitor em primeira pessoa
e constrói, à sua maneira uma cumplicidade com quem lê – diferente dos
diálogos platônicos – que estão mais afeitos ao espírito do debate público.
Agostinho escreve em forma de confissões (praticamente como uma
autobiografia intelectual) mais próximo do aspecto intimista e penitente
do pensamento cristão. Quanto ao Tempo, Santo Agostinho se interroga:
“O que faria Deus antes da Criação?”: Thinkstock/Getty Images

Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos

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Unidade: Santo Agostinho

dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada
realizava”, dizem eles “por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos,
abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento,
uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara, como
pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não
existia?” “A vontade de Deus não é uma criatura. Está antes de toda criatura,
pois nada seria criado se antes não existisse a vontade do Criador. Essa vontade
pertence à própria substância de Deus. Se alguma coisa surgisse na substância
de Deus que antes lá não estivesse, não podíamos, com verdade, chamar a essa
substância eterna (SANTO AGOSTINHO, 1980, p.262).

Ao defender a ideia que o universo foi criado a partir do nada, Agostinho também inclui o
Tempo como sendo criado junto com o universo.
A pergunta sobre “o que Deus estaria fazendo antes...” não se aplica, pois o Tempo só passa
a existir no momento da criação. O Tempo não é coeterno a Deus. Apenas Deus é eterno.
Esse posicionamento leva o pensador medieval a outras considerações sobre a natureza do
Tempo. O bispo de Hipona reconhece o desafio da empreitada filosófica em uma passagem que
ficou célebre: “Se ninguém mo perguntar (o que é o Tempo), eu sei; se o quiser explicar a quem
me fizer a pergunta, já não sei” (SANTO AGOSTINHO, 1980, p. 265).
Mesmo assim, ele aceita trilhar o caminho filosófico de tentar explicar o Tempo. Em sua
reflexão, Agostinho parte da divisão do Tempo feita pelo senso comum: passado, presente e
futuro. O que é o passado? O que é o futuro? O que é o presente?
O passado, diz o autor, refere-se àquilo que já não é, o passado refere-se às coisas e fatos que
se foram e não estão aqui e agora, podem inclusive não mais existir. Por exemplo, a infância de
quem já é adulto ou a refeição desfrutada na festa do ano anterior.
Por outro lado, o futuro, também se pode dizer que não existe, pelo menos não existe ainda,
ou melhor, o futuro é aquilo que ainda não é.
Resta, então, explicar o presente, mas o presente é aquilo que é – aqui e agora.
Agostinho se interroga sobre a forma como fazemos essa divisão. Seria possível medir o
Tempo fazendo um “corte” na série de sucessão de eventos? Podemos falar em períodos longos
e períodos curtos?
Segundo, o raciocínio de Agostinho, quando dividimos o Tempo em um período “longo” –
um século, por exemplo – o futuro de um século a frente seria um futuro longo, assim como
um século no passado seria um passado longo. E poderíamos considerar o ano atual como
presente. Uma década à frente poderia ser um futuro próximo (período curto), já uma década
atrás, um passado próximo (período curto).
Todavia, isso é uma convenção arbitrária, visto que a série pode ser dividida em partes
cada vez menores infinitamente. Podemos considerar que o presente é o mês atual e passado e
futuro são os meses à frente ou passados, mas também é possível redividir a série e tornar o dia
atual como o presente e os dias à frente como futuro e os dias anteriores passado e o processo
continuaria indefinidamente. Isso cria um problema para descrever o presente, vez que o tempo
presente, se pode ser fracionado indefinidamente e sempre fluir do que está para acontecer para
aquilo que já aconteceu, é um intervalo sem duração.

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Santo Agostinho direciona seu pensamento de forma a questionar justamente a maneira
como nomeamos a divisão do Tempo. Não apenas por ser uma questão de terminologia, como
também, uma questão metafísica.
Afinal, podemos tratar como ser uma coisa que ainda não é (futuro) ou uma coisa que não
é mais (passado)?
Esta linha de pensamento leva o bispo de Hipona na direção de avaliar a questão do Tempo
a partir da sensibilidade.
O passado só existiria enquanto memória dos acontecimentos; existem na alma as imagens
deixadas pelos eventos, mesmo que os eventos em si não possam mais ser reencontrados (as
lembranças da infância, por exemplo).
O futuro, por seu turno, trata-se também de expectativas articuladas pela inteligência a partir
de ações executadas no presente e, embora Agostinho não use diretamente esse termo, podemos
considerar, com base no seu pensamento, que o futuro nada mais seria do que projeção.
Neste contexto reflexivo, naquilo que se refere à terminologia, Agostinho chega mesmo a
sugerir que fossem renomeados os três momentos do tempo como: Presente das coisas presentes,
presente das coisas passadas (presença da memória) e presente das coisas futuras (antecipação).
Por outro lado, a sensação de retenção desse fluxo contínuo, que permite nomear certos
acontecimentos como passado – pois são evocados da memória – e avaliar a antecipação das
ações do presente como futuro, deriva da alma.
É aquilo que permanece em nosso ser – por concessão de Deus que é eterno presente – que
nos possibilita perceber o fluxo do Tempo. O Tempo é uma distensão das impressões presentes
na alma. Agostinho concluirá que não é o próprio tempo que medimos, mas as impressões que
temos do Tempo.
Santo Agostinho também deu sua contribuição no terreno da Ética e suas preocupações
foram externadas no livro VII das Confissões que eram sobre a origem do mal.
Como seria possível a existência do mal? Sendo Deus criador de todas as coisas, seria Ele o
criador do mal? Isso não entraria em contradição com as ideias de perfeição e amor atribuídas
ao criador pelo Cristianismo?
A pista seguida pelo pensador de Hipona inicia-se como o estado da matéria, a decadência
ou a corrupção das coisas no mundo material seria um mal? A resposta de Agostinho:
[...] a corrupção não causa dano, o que não é possível, ou, o que é certíssimo,
todas as coisas, que se corrompem, são privadas do bem. Mas, se forem privadas
de todo o bem, não existirão em absoluto (...) Portanto, todas as coisas que são,
são boas, e aquele mal, cuja origem eu procurava, não é substância, porque, se
fosse substância, seria um bem (SANTO AGOSTINHO, 2001, p. 34).

Para o entendimento agostiniano, apenas Deus é imutável e incorruptível, as coisas do mundo


não podem ser incorruptíveis, pois seria atribuir-lhes faculdades divinas.
Aquilo que sofre a ação do Tempo muda, transforma-se, e parte dessa transformação é
corrupção. Envelhecer, deteriorar, apodrecer, toda decadência do objeto é inevitável devido
à sua imperfeição.

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Unidade: Santo Agostinho

Há ecos do raciocínio platônico, o entendimento de um mundo imperfeito derivado de uma


perfeição (Mundo das Ideias) guarda algumas semelhanças com o princípio em que o Criador
perfeito (Deus) cria do nada um mundo imperfeito. Mas, como vimos, Agostinho entende que
a imperfeição do mundo não é um mal em si.
A imperfeição seria apenas ausência da perfeição, que é atributo divino. Ou melhor, o
chamado “mal” originado da imperfeição não tem verdadeira substância, trata-se de uma
incompletude do ser.
Portanto, para Santo Agostinho, não existe o mal no mundo enquanto ser, existe apenas o ser
das coisas criadas por Deus e como coisas criadas por Ele não são o seu contrário. O que Agostinho
de Hipona está defendendo é, de certa forma, uma discussão já presente na Antiguidade grega,
segundo a qual o não-ser, não é – não existe como uma “coisa”, é apenas ausência do ser.
As coisas da criação, apesar de estarem lá pela vontade do criador, não são o próprio criador.
Portanto, são imperfeitas e incompletas; o “mal” não é parte ou criação de Deus. É apenas a
ausência parcial do divino no ser. Eis a fonte da corrupção do mundo!

Thinkstock/Getty Images

O desdobramento dessa discussão em torno do mal levaria, segundo Sciacca (ver SCIACCA,
1962), a uma dupla abordagem sobre o problema. Uma coisa é a corrupção das coisas no
mundo, “mal físico”; outra, o bem ou o mal derivado das ações humanas, “mal moral”.
Foi estabelecendo um paralelo com a corrupção do mundo (enquanto corrupção física) que
Agostinho articulou sua explicação para o mal cuja origem é a ação humana (como a guerra ou
o homicídio, por exemplo).
A má ação humana, para Agostinho, tem como fonte o próprio homem. Assim também
como a conduta virtuosa.
Quando pesamos a ideia de virtude aplicada às coisas, ela é despida de moralidade. Um
objeto é tido como bom ou ruim se está de acordo com sua função, por exemplo, uma mesa é
boa ou ruim se tiver o tamanho apropriado, for resistente, etc. A mesa não será má no sentido
da moralidade. Esse sentido recai apenas no comportamento do homem. O homem só é um ser
moral porque o livre-arbítrio lhe foi concedido pelo criador.

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O homem foi dotado da capacidade de
escolher a direção de suas ações e pode se
aproximar de Deus se escolher o caminho que
leva até Ele, mas também pode – livremente – se
manter afastado desse caminho (pecado).
Mas afinal, qual o motivo do homem escolher
o mal ao invés do Bem? Como lembram Reale
e Antiseri, o pecado, na abordagem agostiniana,
teria origem em uma “má vontade”, a vontade
humana dirigida para o mundo das coisas ao invés Thinkstock/Getty Images
de se dirigir a Deus ou, nas palavras dos autores:
[...] a má vontade depende de quê? A resposta de Agostinho é bastante
engenhosa. A má vontade não tem uma “causa eficiente”, mas, muito mais,
uma “causa deficiente”. Por sua natureza, a vontade deveria tender ao Bem
supremo. Mas, como existem muitos bens criados e finitos, a vontade pode
tender a eles e, subvertendo a ordem hierárquica, pode preferir a criatura a Deus,
preferindo os inferiores aos bens superiores. Sendo assim, o mal deriva do fato
de que não há um único Bem, mas sim muitos bens, consistindo, precisamente,
em uma escolha incorreta entre esses bens (REALE; ANTISERI, 2002, p. 455).

Em suma: Deus não é a origem do mal.


Essa concepção do livre-arbítrio, pela qual o pecado está nas escolhas ruins do homem no
mundo, escolhas que se direcionariam para longe dos ensinamentos cristãos, tornar-se-ia uma
poderosa influência no pensamento cristão nos séculos seguintes.
Agostinho operou essa abordagem capaz de articular especulação metafísica e ensinamentos
cristãos, sempre considerando que os fundamentos da Verdade cristã deveriam prevalecer, isso
o levou a se debruçar sobre a citação de Isaías: Isaías 7,9: “Nisi crediretis non intellegetis” (“Se
não crerdes, não entendereis”).

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Unidade: Santo Agostinho

Material Complementar

A bibliografia complementar irá ajudá-lo(a) no aprofundamento dos seus estudos.


Sugerimos iniciar sua pesquisa de aprofundamento a partir dos “manuais mais gerias” e
depois dedicar sua leitura aos textos específicos dos autores estudados na Unidade.
Neste contexto, indicamos como leitura introdutória o livro O que é Filosofia Medieval,
do professor Carlos Arthur Nascimento, que faz um apanhado geral bem apropriado para a
introdução ao tema.
Já para leituras mais aprofundadas, o livro Confissões, de Santo Agostinho, é mais apropriado.
Importante também, estudante, é recorrer a um vocabulário filosófico.
Essa abordagem facilita o movimento de investigação partindo dos textos mais introdutórios
em direção aos mais complexos, o que permitirá ampliar a discussão principal da unidade que
envolve o pensamento de Santo Agostinho.
• Filme: Santo Agostinho – O Declínio do Império Romano: https://www.youtube.
com/watch?v=ZEe7YV5yJ0o

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Referências

AGOSTINHO, Santo. Confissões, De magistro. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio


de Pina. De magistro. Tradução de Ângelo Ricci. 2ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

_______________. Confissões, Livros VII, X e XI. Tradução de Arnaldo do Espírito Santo,


João Beato, Maria Cristina Castro-Maia de Sousa Pimentel. Covilhã: Universidade da Beira
Interior, 2008. Disponível em: www.lusofia.net.

GILSON, Etienne. A filosofia na Idade Média. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo:
Martins Fontes, 1995.

REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média.


7.ed. São Paulo: Paulus, 2002.

SCIACCA, Michele Federico. História da Filosofia. Tradução de Luís Washington Vita. São
Paulo: Mestre Jou, 1962.

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Unidade: Santo Agostinho

Anotações

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