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ADENDOS
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DEDICATÓRIA
2
SUMÁRIO
Introdução................................................................................................................................5
II.2. Valor e utilidade das profissões. O papel da cultura no exercício profissional. ..............52
3
III.3.4. Julgamento na CE – Câmara Especializada .....................................................81
VI. CONCLUSÃO
Contato: claude@crea-sc.org.br
4
INTRODUÇÃO
“Muito se escreve sobre ética, exatamente porque ela está em falta”. (José
Renato Nalini)
5
oprimir o proletariado. As religiões eram o “ópio do povo”, nas próprias palavras
de Marx.
A ética pode ser uma ferramenta para nos auxiliar naquilo que os gregos
antigos chamavam “saber-viver” ou levar a “vida boa1”. O mundo moderno está
nos tornando cada vez mais céticos em relação aos conceitos tradicionais de
moral e ética, em especial quando ligamos a televisão, abrimos uma revista ou
pesquisamos nas redes sociais. O que sai desses meios de comunicação é
deveras assustador. Temos a impressão de que a honestidade e a honradez
são conceitos meramente ficcionais.
1
Essa “vida boa” a que os antigos gregos se referiam era uma vida virtuosa, produtiva, em
comunhão com a Polis, e não exatamente o conceito que temos hoje no mundo ocidental.
6
podem ser preenchidos com qualquer conceito que nos sirva à luz do nosso
próprio subjetivismo. Seria como se pudéssemos construir regras morais “prêt-
à-porter”, feitas no nosso alfaiate de preferência.
Agir bem, atuar com bondade e evitar fazer o mal deveria ser a
inclinação natural de todas as pessoas. Como isso normalmente não ocorre,
cabe às estruturas sociais - família, escola, igrejas – desenvolver essa
inclinação e corrigir o rumo. O ser humano se vangloria de ser o único animal
racional, mas seu comportamento está longe de fazer jus a essa afirmação. Em
muitos aspectos, somos mais selvagens, violentos e cruéis que a maioria dos
animais.
A palavra ética vem sendo usada a cada dia com sentidos que deixariam
os filósofos gregos da antiguidade perplexos. Quantas vezes já ouvimos dizer
que determinado ladrão agiu com “ética” ao não matar a pessoa por ele
roubada? Ou que determinado estelionatário poupou da sua sanha criminosa
uma pessoa idosa e pobre, porque isso não seria “ético”? É claro que esses
comportamentos não são éticos, exatamente porque não podem ser
universalizados. Crime e ética são conceitos incompatíveis.
Uma das razões para existir a ética é possibilitar que cada um de nós
supere seus interesses individuais (nem sempre, é claro, porque há interesses
pessoais legítimos e que devem ser atendidos) e procure entender os
interesses alheios. É a ideia antiquíssima conhecida como Regra de Ouro, que
aparece em diversos escritos religiosos e filosóficos antigos2.
2
Edmund Wilson, em seu livro “Os Manuscritos do Mar Morto” (2009, p. 86), apresenta uma
passagem na qual o grande rabino talmúdico Hillel [ou Hilel, que teria vivido de 60 a.C. a 7
d.C], ao ser desafiado por um gentio [não judeu] a convertê-lo ao judaísmo, ensinando-lhe toda
a Torá durante o tempo em que ele, gentio, pudesse permanecer apoiado num pé só, teria
respondido: “O que é odioso para ti, não o faças a teu semelhante; eis aí toda a lei. ”
7
Errar e acertar são fatos humanos que os filósofos vêm estudando há
séculos. Não há ciência que possa prescindir desses estudos. Basta pensar no
que significa um erro de engenharia, que pode matar dezenas ou centenas de
pessoas. Os erros de julgamento, a negligência, a imperícia, são objetos do
estudo da ética. Cada profissional tem de construir seus próprios conceitos
éticos no que diz respeito ao exercício de suas atividades, além de respeitar os
preceitos estabelecidos e normatizados no Código de Ética da sua profissão.
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PARTE I – ÉTICA GERAL
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Não se age eticamente sob alguma circunstância de constrição física ou
moral. O agir, para ser considerado ético, deve ser livre, fruto da decisão
pensada e refletida do agente. Assim também na esfera criminal. O artigo 22
do nosso Código Penal3 prevê a excludente de ilicitude quando alguém
comete um crime sob coação física ou moral, não podendo ser culpabilizado.
Os problemas éticos são normalmente de caráter geral, enquanto os
problemas morais são de natureza mais prática, como veremos adiante. Não
será de muita ajuda para alguém recorrer a profundos estudos éticos quando
deparar com um problema prático que exige ação imediata. Neste caso,
existem as regras morais ou de conduta, normalmente pré-fixadas ou
estipuladas, às quais o agente pode recorrer para decidir sobre a situação
concreta que deverá enfrentar.
O que fazer em cada situação da vida real é um problema moral (de
natureza prática) e não ético (de natureza teórica). A ética, quando estudada e
compreendida, pode servir como esteio das decisões morais. Mas isso
depende de disciplina intelectual e muitos anos de convivência com as diversas
teorias e correntes filosóficas existentes.
Um exemplo de estudo ético que pode levar à fixação de regras morais
de conduta é o estudo do bom. Definir o que é “o bom” não é um problema
moral que cada indivíduo possa resolver por si mesmo a cada vez que enfrente
uma situação prática. Definir o que é “o bom” é um problema da Ética, de
caráter teórico, tarefa geralmente empreendida por estudiosos da filosofia,
como Aristóteles, na antiguidade.
Ele se propôs a definir o que era o bom, de modo geral e abstrato, a fim
de traçar um guia moral para as pessoas se orientarem nas decisões
cotidianas. Várias teorias éticas se deram a tarefa de definir o bom segundo
suas próprias perspectivas, e as respostas variaram muito. De acordo com a
corrente filosófica adotada, o bom pode ser a felicidade ou o prazer
(hedonismo); o útil (utilitarismo); ou a virtude (virtuosismo).
A ética pretende também definir os traços essenciais da conduta
humana, diferentemente de outros tipos de comportamento (político, religioso,
científico, artístico). A ética se preocupa, em última análise, com os problemas
3
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
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teóricos acerca do comportamento humano, com a obrigatoriedade moral, isto
é, com o fundamento dos costumes e obrigações morais, bem como da
realização moral como obra individual e coletiva de uma sociedade.
Os problemas éticos são de natureza geral, o que os distingue dos
problemas morais, de natureza prática e cotidiana. Contudo, o estudo da ética
pode servir para nos orientar acerca dos nossos comportamentos morais,
justificando-os. A ética seria como um legislador do nosso comportamento
moral, explicando, orientando ou esclarecendo uma determinada realidade e
elaborando os conceitos morais a ela subjacentes.
A ética é a teoria do comportamento humano, que pode levar ao
estabelecimento de normas de conduta específicas. Ela explica os fenômenos
morais cotidianos de cada sociedade, tentando descobrir os motivos que levam
as pessoas a se comportarem desta ou daquela maneira. Como teoria pura, a
ética não se identifica com este ou aquele comportamento moral específico,
mas tenta entendê-los e explicá-los em termos de seus fundamentos teóricos,
fornecendo um arcabouço para sua compreensão racional.
Kant (2002, pág. 13), divide a filosofia em dois ramos: a filosofia formal
e a filosofia material. A primeira se ocupa da lógica; a segunda, dos objetos
da natureza. Por sua vez, a filosofia material também se divide em duas: a que
estuda as leis da natureza e a que estuda as leis da liberdade. A ciência das
primeiras é a física; a das segundas, a ética, ou teoria dos costumes. (grifo
nosso).
Segundo Adolfo Vásquez (2000, p. 23), “A ética é a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade”. Ou seja, é a ciência de uma
forma específica de comportamento humano. Para Marcolino Camargo (2014,
p. 31), “A ética é uma parte da filosofia, estudo das últimas e profundas causas
das coisas; ela transcende as ciências e procura auxiliá-la em questões que
estas não conseguem atingir.”
De modo mais abrangente, no dizer de Eduardo Garcia Máynes (apud
Nalini, 2012, p. 29), “[...] o objeto da ética é a moralidade positiva, ou seja, o
conjunto de regras de comportamento e formas de vida através das quais
tende o homem a realizar o valor do bem.”
Em síntese: a ética é a ciência ou teoria dos costumes, que se ocupa
de um objeto próprio, o comportamento moral dos homens; é a ciência da
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moral. Suas proposições devem ter rigor e fundamentação científicos. A ética
não é a moral e com ela não se confunde. Não pode ser reduzida a um simples
conjunto de regras e prescrições, sendo sua tarefa explicar o comportamento
moral efetivo.
Nesse diapasão, pode-se afirmar, com Nalini (2012, p. 30), que “[...] a
ética é uma disciplina normativa, não por criar normas, mas por descobri-las e
elucidá-las. Seu conteúdo mostra às pessoas os valores e princípios que
devem nortear seu comportamento”.
A palavra ética vem do grego ethos, que significa “modo de ser” ou
“caráter”, ou seja, um jeito de viver adquirido pelos seres humanos, fruto dos
seus costumes ou hábitos.
Sendo a ética um conjunto de conhecimentos racionais e científicos
sobre o comportamento moral humano, pode ter, além da sua natureza
eminentemente teórica (ética descritiva), uma consequência disciplinadora
(ética normativa), fazendo recomendações ou prescrições acerca de condutas
morais. Daí se originam os códigos morais, mais conhecidos como códigos
de ética, conjunto de prescrições comportamentais adequadas a determinadas
situações das vidas das pessoas, quer na família, no trabalho ou na sociedade.
A ética puramente filosófica, a seu turno, se preocupa com a busca por
princípios universais, apriorísticos, independentes de toda experiência, que
possam ser aplicados a todos os sistemas morais. Essa é uma tarefa
importante, mas até certo ponto inglória e incompreendida, como veremos
adiante.
Livre-arbítrio
Questão relevante ligada ao estudo da ética é a do livre-arbítrio.
Diversas definições existem, mas, de modo geral, entende-se por livre-arbítrio
o poder que temos de tomar uma decisão sem sermos obrigados a escolher
uma determinada opção. O livre-arbítrio é nosso poder de escolha. Por
causa dele, cada pessoa é responsável por suas ações.
Essa era, em suma, a posição de Santo Agostinho, um dos maiores
pensadores da Igreja Católica, que a expôs em sua obra “O Livre-Arbítrio”,
publicada por volta do ano 395 da era cristã. Nesse livro, Agostinho confrontou
o problema do mal, antigo dilema levantado pelos pensadores pagãos e de
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seitas agnósticas, que questionavam a existência de um Deus poderoso e bom,
em virtude de todo o mal que há na terra. Se Deus a tudo havia criado, então o
mal seria também sua criação. E se Deus não pode livrar os homens do mal,
então ele não é todo-poderoso.
Agostinho defendeu que, de fato, o mal existe no mundo, mas não é
devido à presença de Deus, e sim da Sua ausência no coração dos homens,
aos quais foram dados os dons da vida, da liberdade e do livre-arbítrio (poder
escolher entre fazer o bem ou o mal).
O sítio na internet do Instituto de Humanidades4 coloca essa explicação
de forma resumida:
4
http://www.institutodehumanidades.com.br/index.php/l/300-o-livre-arbitrio-de-santo-agostinho,
acesso em 9/8/19, 9h.
5
“Certamente, quando começamos a examinar as questões relativas à liberdade e à necessidade,
importa, em vez de começar examinando as faculdades da alma, o entendimento ou as operações da
vontade, iniciar pelo mais simples, ou seja, as ações do corpo e da matéria bruta, em suas ações de
inferência e conjunção, sem apelar a condicionamentos metafísicos. Por isso, a opinião comum, na
maioria das vezes, concorda em que a liberdade é um poder de agir segundo as determinações da
vontade. E esta não se realiza no vácuo, mas é o resultado de causas circunstanciais que nos conduzem
a imaginar relações de causa e efeito”. (https://www.filosofiaparatodos.com.br/resumos/hume-david-
da-liberdade-e-necessidade/, acesso em 19/8/19, 9h17).
13
A teoria do livre-arbítrio é o exato contrário da do determinismo, que
advoga a tese de que os atos humanos são pré-determinados por nosso
cérebro e “consciência”. Como animais, nossas atividades são baseadas nos
instintos e em reações neuronais involuntárias que comandam as relações com
o mundo exterior.
O determinismo tem origem nas teorias naturalistas dos séculos XVII e
XVIII, principalmente depois que Isaac Newton descobriu as leis da gravitação
universal e como os movimentos do universo poderiam ser previstos com base
em equações matemáticas. Segundo André Lecrerc, citado por Torres (2014, p.
86), o determinismo pode ser definido como
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Pesquisas recentes indicam que as coisas não são tão simples como
parecem. Nossas ações cotidianas são muito mais complexas do que o simples
ato de mexer um membro do corpo. Não se sabe com certeza se o
determinismo de nossas ações existe de fato, e isso nos leva de volta ao velho
e bom livre-arbítrio, abrindo espaço para a importância de nossas decisões
morais.
Sem o livre-arbítrio seríamos autômatos de carne e osso. Felizmente,
tudo indica que não somos.
Para encerrar essas breves considerações sobre o significado da ética,
cito Fernando Savater (2014, p.26):
15
I.2 – Noções de Moral
“Moral é o conjunto de normas e regras destinadas a regular as
relações dos indivíduos numa comunidade social dada” (Vásquez, 2000, p. 37).
Sendo assim, a moral varia histórica e geograficamente. As sociedades se
sucedem e as morais também. Pode-se falar da moral da antiguidade grega, da
romana, da Idade Média, da era Vitoriana, da modernidade e assim por diante.
Sendo a moral um fato histórico, a ética – ciência que estuda a moral –
deve concebê-la como estando sempre em mutação, em evolução (ou
involução).
Onde se situa a origem da moral? Esse questionamento vem intrigando
os filósofos há mais de 2500 anos, tendo surgido três teorias:
a) Deus como fonte da moral: as normas morais derivam de um
mandamento divino, de um poder sobre-humano, cujo exemplo mais conhecido
são os Dez Mandamentos bíblicos;
b) A Natureza como fonte da moral: a conduta dos homens seria uma
derivação de sua natureza animal, biológica. As qualidades morais, tais como
preservação da vida, disciplina, empatia etc., teriam origem nos instintos e na
evolução da espécie;
c) O Homem como fonte da moral: a moral seria um conjunto de
regras criadas pelos próprios homens, visando a sua sobrevivência e
perenização no mundo.
Aceitar uma ou mais dessas teorias depende da visão cosmológica ou
filosófica de cada pessoa. Os religiosos dirão que a moral vem de Deus (ou de
um ou mais deuses); os naturalistas, que ela está insculpida em nossos
códigos genéticos; e os humanistas, que ela é uma construção social.
Como não professo qualquer tipo de fé religiosa (mas respeito
profundamente os que as professam, que são a maioria das pessoas), penso
que a fonte da moralidade é essencialmente a conjugação de fatores biológicos
(evolutivos) e humanos (construção social).
De um lado, a moral decorre de uma espécie de empatia, preocupação
com o bem-estar dos outros, em especial os que integram nosso círculo
familiar e de amizades; creio ser este um princípio humano básico, atitude que
observamos em grande parte das espécies animais. A total indiferença ao bem-
estar dos outros não é um comportamento humano normal, mas uma
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psicopatia, uma doença social, que muitas vezes torna perigosos os indivíduos
que assim agem. Segundo David Hume, o raciocínio moral depende
essencialmente de um impulso altruístico.
De outro lado, a moral – na verdade, os costumes - é uma construção
social de cunho normativo, cujos objetivos sempre foram a obtenção da paz e
da ordem social, permitindo às comunidades se desenvolverem
economicamente sem a preocupação constante de se defender de atos
violentos e atitudes desonestas provocados por seus membros.
Venha de onde vier, a moral é um conjunto de regras de convivência
social, sem as quais a humanidade não teria sobrevivido até hoje. A função
social da moral é regular as relações entre os indivíduos de uma coletividade,
visando garantir a ordem social. Não é a única forma de se atingir esse
objetivo, com certeza; o Direito é outra, assim como a força. Mas a moral é a
mais abrangente e eficiente, vez que depende apenas da boa vontade dos
indivíduos, que aceitam fazer parte de um pacto social visando a sua própria
felicidade.
Só existe moral dentro de uma coletividade humana. Os animais não
humanos são seres amorais6, assim como os objetos inanimados. Em virtude
de o homem ser uma criatura social, vivendo em comunidades, impõe-se o
estabelecimento de regras de convivência ou códigos morais. A moral surge
para suprir essa necessidade, a de assegurar a adequação do comportamento
individual aos interesses da coletividade.
Assim, não se pode afirmar que um náufrago vivendo isolado numa ilha
deserta esteja submetido a regras morais, porque seus atos não se referem a
ninguém além dele mesmo. Os atos individuais do náufrago não trazem
consequências para outras pessoas; portanto, ele vive uma vida totalmente
amoral (o que é diferente de imoral; imoralidade pressupõe atos praticados
contra terceiros).
Estabelece-se assim uma linha divisória entre o que é mau ou bom,
desejável ou indesejável, aceitável ou inaceitável. Fixam-se os deveres sociais
6
Estudos recentes indicam que algumas espécies animais possuem algo parecido a um comportamento
moral, mas com certeza tem natureza instintiva e não racional. Por isso a moral, no sentido de costumes
impostos ou adquiridos racionalmente, se circunscreve à espécie humana.
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como o trabalho, a educação dos filhos, as relações de vizinhança, a defesa da
comunidade contra invasores, a solidariedade mútua, a disciplina.
Grande parte do comportamento moral dos indivíduos se manifesta na
forma de hábitos e costumes. Essa, aliás, é a etimologia da palavra moral. Ela
deriva do latim mores, que significa exatamente costumes. Claro está que não
basta a determinada comunidade possuir um conjunto de hábitos e costumes
para manter sua coesão social; é necessário que existam mecanismos de
controle e de coerção para os recalcitrantes em seguir as normas.
Diz-se que uma das diferenças entre a ética e a moral é que aquela
integra o rol de subjetividades do indivíduo, seus valores íntimos, suas
convicções forjadas ao longo de anos de educação familiar ou escolar;
enquanto esta integra a esfera da objetividade, das normas de conduta,
codificadas ou não, de conhecimento de todos.
De fato, essa diferença existe. Mas não se pode falar de ética ou de
moral sem levar em conta uma espécie de consciência individual, que faz
com que o indivíduo interiorize as regras morais comunitárias e as aplique em
acordo com seus valores.
Como afirma Vásquez (2000, p. 80): “Os agentes dos atos morais são
somente os indivíduos concretos, quer atuem separadamente, quer em grupos
sociais, e os seus atos morais – em virtude da natureza social dos indivíduos –
sempre têm um caráter social”.
A moral ocorre em dois planos: o factual e o normativo. O factual é o
da realidade, dos atos concretos praticados pelos indivíduos, das situações que
necessitam ou que induzem necessariamente a um julgamento moral. O plano
factual inclui todos os atos humanos que serão regulamentados por normas de
comportamento moral. Por outro lado, o plano normativo determina as regras
de convivência social, os hábitos e costumes, as reações aos atos humanos,
sua aprovação ou desaprovação.
Um ato moral – por exemplo, ajudar alguém a atravessar a rua ou
defender alguém de uma agressão injusta – é sempre um ato sujeito à
aprovação ou sanção dos demais. Segundo Immanuel Kant, para que se faça
um juízo acerca dos atos humanos é preciso conhecer-lhes a motivação,
aquilo que impulsionou a prática do ato. Para o filósofo alemão, nem todos os
atos humanos aparentemente bons são necessariamente morais; alguém pode
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doar uma importância para uma instituição de caridade visando a ajudar
pessoas carentes ou simplesmente obter publicidade e reconhecimento social.
No primeiro caso teríamos um ato moralmente edificante; no segundo, não.
Outro aspecto do ato moral, além da motivação, é o fim visado, como
defendem os utilitaristas. No ato moral não apenas se antecipa um resultado,
mas também se deve desejar alcançar aquele resultado. Tanto a consciência
do fim (utilidade) quanto a decisão de alcançá-lo (boa vontade) é que dão ao
ato seu caráter voluntário, ou seja, moral. Voltamos a falar de livre-arbítrio.
Por outro lado, a moralidade dos atos também implica a escolha dos
meios adequados. Não se podem atingir os fins pelo uso de quaisquer meios.
Isso não seria moral, mesmo que fosse útil. Por isso não se justifica o uso de
meios ilícitos como tortura, calúnia, invasão de privacidade, interceptação de
comunicações sem autorização etc., mesmo que os fins desejados sejam
nobres.
Muitos “bons” resultados são alcançados por meios deploráveis. Isso
não é moral. O agente deve responder não só pelos resultados que obtém dos
seus atos, mas também pelos meios que emprega para obtê-los. Em suma, o
ato moral resulta de um conjunto de vários elementos, como motivo, fins, meios
e resultados. Para que o ato seja moral, todos os seus elementos devem sê-lo.
Retorno com uma definição mais completa de moral, também formulada
por Vásquez (2000, p. 84):
Moral e religião
Para finalizar essa análise superficial sobre moral, deve-se afirmar que
comportamentos morais independem basicamente da religião professada pelo
agente. Um equívoco comum é pensar que princípios morais estejam
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necessariamente ligados a uma crença religiosa. Essa é uma discussão que
empolga e divide os filósofos há séculos.
Uma das razões para alguém crer que alguns tipos de ação são certos
ou errados em si mesmos é porque são ordens ou mandamentos divinos. Se a
norma moral vem de Deus, então deve ser boa. Esse pensamento encontrou
muitas objeções, sendo que a mais antiga vem de Platão.
Suponhamos que moral é tudo o que Deus quer. Mas, existiriam
restrições morais aos comandos divinos? Seria possível uma ordem de Deus
não ser boa? Foi isso que Platão se perguntou, obtendo uma dúvida
interessante.
Se a bondade é independente de Deus, então é possível comparar Suas
ações ou mandamentos com um paradigma externo de bondade para saber se
são morais. Mas se a bondade for intrínseca à divindade, então se perde
totalmente esse parâmetro de comparação, porque todos os atos divinos
passam a ser bons, independentemente dos meios usados ou dos fins
atingidos.
Mas se a bondade é um atributo intrínseco de Deus, o fato de Ele
mandar massacrar crianças e mulheres deveria ser em tese um ato moral,
mesmo que repugne as consciências das pessoas de bem. Portanto, não faz
muito sentido admitir que Deus seja a fonte de toda a moral e ao mesmo tempo
acreditar em sua bondade e amor infinitos. Cria-se uma contradição insolúvel.
Jean Paul Sartre, em seu livro “O Existencialismo é um Humanismo”,
escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido. Eis o ponto de partida
do existencialismo” 7. O que importa para esta análise é o conceito de que, sem
a existência de um deus para impor normas e castigos aos seres humanos,
estes estariam abandonados à própria sorte em termos éticos; não haveria um
padrão objetivo de moralidade a ser seguido.
Sempre que se impõem normas de conduta sociais a uma coletividade
procura-se adotar paradigmas de comportamento adequados. Para os
religiosos, são os mandamentos divinos, porque sem a existência de tais
modelos de conduta absolutos e de origem divina, quaisquer outros seriam
arbitrários e sujeitos às paixões humanas.
7
https://super.abril.com.br/blog/superlistas/5-frases-de-filosofos-que-nunca-foram-ditas/
20
Karl Marx e Friedrich Engels, no seu “Manifesto Comunista”, de 1848,
pregaram o fim das religiões e a adoção de uma moral essencialmente laica e
proletária, em contraposição à moral religiosa e burguesa que eles combatiam.
Segundo Eguinaldo Hélio Souza8,
8
http://www.puggina.org/artigo/convidados/manifesto-comunista---um-manifesto-anticrista/3214,
acesso em 9/8/19, 9h28
21
errado. Para estabelecer uma fonte de moralidade precisamos
apenas subscrever à crença de que certas coisas têm um valor
e que a existência desse valor fornece motivos para que nos
comportemos de uma determinada maneira. Esse
compromisso extremamente amplo não pressupõe nenhum
posicionamento filosófico ou sequer religioso. Na verdade,
talvez não seja mais do que o compromisso básico de todas as
pessoas dotadas de sentimentos humanos.
22
I.3 – As virtudes como fundamentos da ética.
Virtude deriva do latim virtus, significando uma capacidade moral do ser
humano. Ela supõe uma predisposição permanente da pessoa para praticar o
bem. O seu oposto é o vício, enquanto disposição permanente para praticar o
mal.
Uma pessoa virtuosa é aquela que tem traços de caráter moralmente
bons. Dada uma determinada ação, como podemos saber se ela é correta ou
não? Basta analisar se tal ação seria praticada por uma pessoa virtuosa, e
teríamos a resposta. Por exemplo: dizer a verdade e praticar o bem são atos
virtuosos e, por consequência, morais.
Então todas as pessoas deveriam sentir desejo de desenvolver em si as
virtudes como traços de caráter, pois desse modo agiriam de forma moral
perante seus semelhantes, sabendo distinguir o certo do errado.
Desde a antiguidade o conceito de virtude como “hábito” de fazer o bem
não mudou muito. Para Aristóteles, as virtudes (areté) são qualidades dos
seres humanos que lhes ensinam a “viver bem”, levar uma “vida boa”. Seu
termo utilizado para o conceito de “viver bem” foi eudaimonia, traduzido entre
nós por felicidade, mas a ideia mais próxima dessa palavra na língua
portuguesa é “florescimento”.
Quando uma coisa floresce ela cresce, torna-se saudável, leva uma vida
produtiva e dá bons frutos. Podemos usar essa ideia para animais, plantas e
seres humanos. Segundo Aristóteles, viver virtuosamente é “florescer”, levar
uma vida de acordo com as regras morais, praticando o bem.
As virtudes seriam, então, aquelas qualidades humanas que nos
permitiriam florescer, no sentido aristotélico, para que tivéssemos condições de
levar vidas boas. Em Ética a Nicômaco (2015, p. 49) Aristóteles reflete: “Então,
se as virtudes não são nem paixões, nem faculdades, resta que elas sejam
disposições”. Obviamente o grande pensador se referia àquelas disposições
humanas tendentes a realizar o bem e a tornar o homem bom.
A virtude, para Aristóteles (2015, p. 51), era “[...] uma disposição de
caráter relacionada a uma escolha deliberada e ocupa uma posição central em
relação a nós, a qual é determinada pela razão e determinaria o homem dotado
de sabedoria prática”.
23
O sábio grego considerava a existência de dois tipos de virtudes: a moral
(prática) e a intelectual (teoria). A virtude intelectual (dianoética) está
relacionada com a aprendizagem, por isso necessita de experiência e tempo; a
virtude ética é produto do hábito, do costume (éthos). Nenhuma das formas de
virtude ética se constitui em nós por natureza, pois nada do que existe por
natureza pode ser alterado pelo hábito.
Já a virtude moral (prática) é ligada ao comportamento dos homens
perante os fatos da vida, sendo consideradas virtudes a prudência, a justiça, a
fortaleza, a temperança, a amizade, a liberdade, a paciência.
Outro conceito umbilicalmente ligado à virtude é a razão. Por ser
racional, o ser humano deve viver em conformidade com sua razão, caso
contrário não se distinguiria de qualquer outro animal. Nossas escolhas devem
ser bem orientadas, pensadas, refletidas, e não simplesmente tomadas de
impulso, movidas por paixões momentâneas. A virtude da sabedoria prática,
consequência de uma vida racional, nos ajuda a saber o que é certo ou errado
em cada situação. Trata-se do conhecimento fundamental sobre como viver
uma vida boa.
Para Aristóteles, a compreensão ética das virtudes, em especial a
intelectual, não é uma coisa que possa ser ensinada; tem de ser vivida. Sem a
práxis o homem não se torna virtuoso. A compreensão ética é algo muito
particular que não pode ser aprendida simplesmente por meio da leitura ou da
exposição oral. O conhecimento das virtudes e da moral depende da
experiência prática e da vontade de adquiri-las.
Não podemos perder de vista que algumas virtudes podem ser usadas
tanto para o bem quanto para o mal, como parece ser o caso da prudência (um
criminoso pode ser prudente ao planejar e cometer um crime).
24
pusilanimidade. O “caminho do meio” virtuoso seria você indagar da pessoa o
motivo do xingamento, analisar os argumentos e só então decidir o que fazer, o
que poderia ir de uma simples admoestação ao ofensor até a busca de
reparação usando os meios legais.
Essa doutrina não tem muita utilidade na prática, pois geralmente é difícil
se fazer uma avaliação ponderada de cada situação para saber qual a atitude
certa a ser tomada e que fique no “meio termo”. Na verdade, é difícil até saber
ou definir o que se entende por “meio termo”.
No entanto, a ideia de Aristóteles nunca foi a de fornecer um método
prático ou exato para se tomar qualquer decisão. A virtude prática não é um
conjunto de regras, ela apenas nos fornece algum tipo de orientação quando
enfrentamos situações da vida. Sugere que achemos as respostas com base
nas virtudes, não na emoção violenta ou desarrazoada.
25
I.4. Relativismo moral
A meu sentir, um dos principais problemas em qualquer sociedade é a
predominância do relativismo moral exarcebado. Segundo essa visão de
mundo, muito influenciada pela corrente filosófica, artística e cultural
denominada de pós-modernismo9, os conceitos de certo e errado são
construções sociais ultrapassadas. O relativismo moral está presente em
grande parte da cultura ocidental, influenciada principalmente por pensadores
de esquerda10.
O relativista moral é no fundo um egoísta que acredita que o mundo
está centrado nele. Ele despreza construções sociais, históricas e culturais
milenares que fundaram nossa civilização. Esse modo de pensar traz
consequências políticas desastrosas, acabando com as fundações morais que
têm sustentado nossas sociedades há séculos.
O relativismo tomou conta da discussão moral moderna. Ele leva as
pessoas a escolherem dentre um “cardápio” de opções morais as que mais
lhes agradam. Isso torna a convivência humana difícil porque nunca se sabe
quais são os valores morais do “outro”.
Todo ser humano mentalmente sadio tem uma “intuição moral” inata.
Quando se fala em moral, as pessoas automaticamente sabem a que se está
referindo. Somente um psicopata ou doente social poderia ser considerado um
ser amoral, isto é, que não tem qualquer espécie de preocupação com o
sofrimento, a dor e as atribulações dos outros. De resto, todas as demais
pessoas entendem o conceito de valores morais, mesmo que não os apliquem.
Todos nós sabemos que os preceitos éticos são imperativos. Por
exemplo, os engenheiros e agrônomos registrados nos Conselhos Regionais
9
O Pós-Modernismo é um movimento que impôs mudanças nas artes e na cultura, como
consequência das alterações mundiais oriundas da Segunda Guerra Mundial. O movimento se
divide em duas fases bem distintas. A 1ª Fase Pós-Modernista começa com o final da Segunda
Guerra Mundial (1945) e vai até os anos de 1960. Nela atuaram grandes nomes das artes em
geral, posto que foi uma fase de inquietação intelectual.Já a 2ª Fase Pós-Modernista se inicia
com grandes inventos tecnológicos, assim como modificações sociais, artísticas e até
arquitetônicas. A internet conecta pessoas e encurta distâncias, só que junto vem o
individualismo e o consumismo. São características principais desse movimento: a) abandono
de regras e valores até então consolidados; individualismo; confusão entre o real e o
imaginário; fuga dos valores estéticos em geral na música e nas artes; liberdade de expressão;
crítica aos valores burgueses. (https://conhecimentocientifico.r7.com/pos-modernismo/, acesso
em 20/8/19, 9h27).
10
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=868&ac=54122
26
de Engenharia e Agronomia estão submetidos a um Código de Ética, de
caráter impositivo, que pode levar a sanções no caso de descumprimento. Isso
se aplica às demais profissões regulamentadas.
A questão que se coloca é a seguinte: as normas de conduta moral
estabelecidas no código de ética decorrem de valores absolutos ou foram
fixadas de forma arbitrária? Existem duas posições antagônicas sobre essa
questão: uma é a posição absolutista e apriorista, a outra, a posição relativista
e empirista.
Os que defendem a posição absolutista acreditam que o homem é
guiado por uma espécie de “bússola moral” natural11, que o predispõe a
discernir entre o certo e o errado e a adotar o comportamento moral mais
adequado. Todo mundo passa por situações em que tem de decidir entre
duas opções quaisquer, sendo uma moralmente correta e a outra, errada. Não
é preciso consultar nenhum especialista em ética para saber qual o caminho
certo a seguir. Aqueles que eventualmente seguem o caminho errado sabem
exatamente o que estão fazendo e quais as consequências.
Os absolutistas se sentem bem depois de adotar o caminho correto; ou
mal, caso sigam o errado. Isso é intuitivo e natural. Nosso rosto cora de
vergonha quando somos apanhados cometendo um deslize moral. Está nos
nossos genes.
Por outro lado, os que defendem a posição empirista acreditam que as
normas éticas são puramente convencionadas e mutáveis, ao contrário dos
absolutistas, que as creem atemporais e imutáveis. Os empiristas advogam a
ideia de várias “morais”, ao passo que os absolutistas entendem que as regras
morais são universais e válidas para todos os seres humanos.
11
Edmund Burke, o grande filósofo irlandês do século XVIII, ao escrever, em 1790, uma grande
obra sobre a Revolução Francesa que havia ocorrido um ano antes, mostrou preocupação com
os rumos que os fatos estavam tomando, em especial com a perda dos valores morais de
referência do povo. Burke acusou os revolucionários de terem deformado a moral do povo
francês com seus atos violentos e radicais. Escreveu ele: “É impossível estimar a perda que
resulta da supressão dos antigos costumes e regras de vida. A partir desse momento não há
bússola que nos guie, nem temos meios de saber a qual porto nos dirigimos. A Europa,
considerada em seu conjunto, estava sem dúvida em uma situação florescente quando a
Revolução Francesa foi consumada. Quanto daquela prosperidade não se deveu ao espírito de
nossos costumes e opiniões antigas não é fácil dizer; mas, como tais causas não podem ter
sido indiferentes a seus efeitos, deve-se presumir que, no todo, tiveram uma ação benfazeja.”
(Burke, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França. Brasília: ed. UnB, 1982 p.102 –
grifos nossos)
27
O fato é que não se poderia falar do bom e do mau, do bem e do mal, do
certo ou do errado, da virtude e do vício, caso não houvesse um ou mais
critérios de avaliação objetiva, além de uma instância de julgamento moral – a
consciência humana – para intuir ou decidir o que realmente vale (o que é
certo) ou o que não vale (o que é errado).
Até agora não se descobriu uma maneira científica para saber quem
está com a razão: os absolutistas ou os relativistas. Em minha opinião, a
balança pende para os primeiros.
Toda pessoa ética deve se basear num conjunto ou núcleo comum de
valores que possam ser compartilhados com os demais. Caso contrário, a
convivência humana em sociedade seria impossível. Se toda e qualquer ação
fosse legitimada – um regime de “vale tudo” – não seria possível qualquer
normatividade ética. Nossa liberdade se esvairia, porque estaríamos sempre
ameaçados pelos outros. Seria o retorno à barbárie e ao caos.
Um mínimo de reflexão e sensatez nos mostrará que o relativismo ético
é um grande risco para a humanidade. Isso não significa que deva existir
apenas um sistema moral. Pode haver vários. Mas cada um deles deve ser
construído com base em conceitos e valores éticos universais, tais como
honestidade, sinceridade, empatia, honradez, justiça, temperança.
Isso é o que ocorre na elaboração dos diferentes códigos de ética das
profissões. Cada qual reflete as peculiaridades que são próprias àquela
atividade, mas todos têm por base princípios morais universais.
28
I.5. A ética ao longo da história – breves noções.
Em todos os momentos históricos das sociedades humanas algum tipo
de regra moral existiu; essa constatação é comprovada tanto pelos registros
arqueológicos e documentais como referendada pela lógica a partir da
observação da natureza humana.
As regras morais surgem como necessidade dos homens de criarem
condições objetivas para sua sobrevivência. Por isso existe uma profunda
relação entre moral e comportamento humano.
Os primeiros pensadores a se debruçarem sobre as questões morais e
éticas foram os gregos, cerca de 500 anos a.C.; desde então esse tema nunca
mais saiu de cena.
Sem ser filósofo ou possuir formação acadêmica nessa área do
conhecimento humano, meu intuito, nesta breve introdução ao tema, é o de
mostrar de que modo o pensamento ético evoluiu ao longo da história,
baseando-me principalmente nos autores indicados na bibliografia.
29
1.5.1. Os sofistas
Os sofistas representaram um movimento intelectual na Grécia antiga,
por volta do século V a.C., que basicamente afirmava que o mundo (a
natureza) não tinha outra finalidade aparente a não ser prover a existência
humana. Portanto, focaram sua atenção no homem, em especial nos
aspectos político e jurídico.
A expressão grega sofista, que posteriormente adquiriu um sentido
pejorativo, significava mestre ou sábio, tendo uma raiz semelhante à da palavra
sofia (sabedoria).
Os sofistas desprezavam as especulações meramente filosóficas e
desprovidas de utilidade prática; acabaram se tornando mestres na arte
pragmática de discursar para convencer (retórica), sendo pagos por isso. Daí
atraírem a ira dos filósofos especulativos e dos cidadãos mais ilustres, como
Sócrates, que os desprezavam pela mercantilização que faziam da palavra.
Nas cidades-estados gregas a política era a atividade mais importante.
Os sofistas usavam seu saber para ensinar aos homens a arte do
convencimento pelo discurso. Sua retórica se desenvolveu ao ponto de
colocarem em dúvida a tradição cultural grega e a existência de verdades ou
normas universais. Acabaram se tornando os primeiros relativistas morais da
história.
Para os sofistas não havia verdade nem erro, e as regras morais eram
sempre transitórias. Por exemplo, um dos maiores sofistas, Protágoras,
afirmava que “o homem é o parâmetro de todas as coisas; das que existem
enquanto existem, das que não existem enquanto não existem”, querendo dizer
que tudo o que existia era relativo ao homem e que não havia valores
absolutos, principalmente de origem divina. Outro grande sofista, Górgias, dizia
que era impossível saber o que existe realmente e o que não existe, colocando
em dúvida a capacidade de o homem distinguir o real do imaginário.
A ética sofista era de cunho eminentemente pragmático, centrada no
homem, que dispunha da natureza para obter os meios de prover sua
existência; esta se tornava digna na medida em que o cidadão exercia funções
na Polis.
30
I.5.2. A filosofia socrática
Sócrates nasceu em Atenas, no ano 470 a.C. Sempre foi um ferrenho
adversário dos políticos atenienses, visto que tinha o hábito de pará-los nas
ruas e interrogá-los de forma incisiva sobre os assuntos administrativos da
cidade. Acabou acusado de ateísmo e de corromper a juventude ateniense
com seus ensinamentos, que colocavam em dúvida todo o sistema cultural e
religioso da época.
Ele desprezava os sofistas e rejeitava seu relativismo e o seu
subjetivismo. Para Sócrates, o saber mais importante era o relativo ao próprio
homem, daí ter cunhado sua máxima mais conhecida, “Conhece-te a ti
mesmo”, sustentada por três elementos:
a) era um conhecimento universalmente válido, ao contrário do que
afirmavam os sofistas;
b) era um conhecimento moral; e
c) era um conhecimento prático, necessário para que os homens
agissem corretamente.
Sócrates criou um método de investigação do conhecimento através da
maiêutica, técnica pela qual, por meio de sucessivas perguntas, se chegava à
verdade12. Esse caminho usado por Sócrates induzia os seus discípulos a
praticarem mentalmente a busca da verdade última13.
A ética socrática era fundamentalmente racionalista. Ele defendia uma
concepção do bem como felicidade da alma, e do bom como útil para a
felicidade; desenvolveu a tese da virtude (areté) como capacidade do homem
para obter conhecimento, e do vício como ignorância. Para ele, quem age mal
é porque ignora o bem; por conseguinte, ninguém faz o mal voluntariamente.
Sócrates morreu em Atenas, Grécia, no ano de 399 a. C. Foi julgado e
condenado por traição e corrupção da juventude e obrigado a tomar uma taça
de cicuta14.
12
A maiêutica não se confunde com a dialética hegeliana, depois adotada pelos marxistas, pela
qual, a partir de uma tese e de sua antítese, se chega a uma síntese. A maiêutica é uma
técnica de autoaprendizado, pela qual, a partir das perguntas feitas por um mestre e das
respostas dadas pelo aluno, este chega à compreensão da verdade.
13
https://www.ebiografia.com/socrates/
14
Nome de uma planta conhecida por cicuta (Conium maculatum), nativa da Europa, do Médio
Oriente e da bacia mediterrânica, e do poderoso veneno produzido por ela. A principal causa
de sua toxicidade é a presença da substância cicutoxina.
31
I.5.3. A filosofia platônica
Platão nasceu em Atenas, no ano 427 a.C., morrendo em 347. Seu
nome verdadeiro era Arístocles, mas recebeu o apelido de “Platão”, que em
grego significa “ombros largos”. Desde cedo Platão tornou-se discípulo de
Sócrates, aprendendo e discutindo com este os problemas do conhecimento do
mundo e das virtudes humanas. Quando Sócrates foi condenado à morte sob a
acusação de “perverter a juventude”, Platão desiludiu-se da política e resolveu
voltar-se inteiramente para a filosofia15.
A ética de Platão está intimamente ligada à política, pois ele acreditava
que a Pólis era o único lugar onde o homem podia desenvolver uma vida moral.
Sua ética se dividia em duas doutrinas: a) a doutrina metafísica, que defendia
o dualismo entre o mundo real (sensível) e o das ideias permanentes, perfeitas
e imutáveis, que, para ele, constituíam a verdadeira realidade, culminando na
ideia do Bem, divindade ou demiurgo artífice do mundo; b) a doutrina da alma,
princípio que anima e move o homem, sendo formada por três partes: razão,
vontade e apetite. A razão era a parte superior da alma, e o apetite, a inferior,
ligada às necessidades corporais.
Seu objetivo era criar uma doutrina que purificasse o homem e o
libertasse da matéria para alcançar o Bem. Para tanto era necessário que o
homem praticasse as virtudes, que ele dividia em:
a) virtude da razão – prudência;
b) virtude da vontade – fortaleza; e
c) virtude do apetite – temperança.
A harmonia entre essas três virtudes resulta na quarta e mais importante
delas, a virtude da justiça.
Para Platão o homem só poderia ser bom e virtuoso enquanto bom
cidadão; a ética levava à política. Em sua obra mais importante, “A República”,
ele idealizou um Estado à semelhança das suas virtudes, dividido em três
classes: a dos governantes, filósofos guiados pela prudência, era equivalente à
virtude da razão; a dos guerreiros, que equivalia à virtude da fortaleza; e a dos
artesãos e comerciantes, encarregados dos trabalhos braçais, equivalia à
virtude da temperança16.
15
https://www.ebiografia.com/platao/
16
http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=28, acesso em 9/8/19, 10h15
32
Na ética de Platão encontramos a estreita relação entre moral e política,
pois, para ele, o homem só se realizava espiritualmente no Estado, mediante a
subordinação do individual ao coletivo. As ideias de Platão influenciaram muito
mais tarde os pensadores socialistas dos séculos XVIII e XIX, entre eles Saint-
Simon, Fourier e Marx.
33
I.5.4. A ética aristotélica
Aristóteles nasceu em Estagira, colônia de origem jônica, na Macedônia,
Grécia, no ano de 384 a. C. Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas III,
recebeu sólida formação em ciências naturais. Aos 17 anos partiu para Atenas
e foi estudar na Academia de Platão. Com sua prodigiosa inteligência logo se
tornou o discípulo predileto do mestre, que observou: "Minha Academia se
compõe de duas partes: o corpo dos alunos e o cérebro de Aristóteles".
Elaborou um sistema filosófico no qual abordou praticamente todos os
assuntos existentes, como geometria, física, metafísica, botânica, zoologia,
astronomia, medicina, psicologia, ética, drama, poesia, retórica, matemática e
principalmente lógica17.
Aristóteles divergiu do seu mestre Platão num assunto muito importante,
o dualismo ontológico18. Para Aristóteles, a ideia não existe separada do
homem real, do indivíduo, ela existe somente nos seres individuais e concretos.
Ele distinguia duas qualidades essenciais nas coisas vivas: o ato e a potência.
O ato é o que tende a ser. A planta é o ato; a semente, a potência. O
mundo mudava constantemente da potência ao ato. O homem é ato e potência
também. Só existe um ser que é ato puro: a divindade, ou Deus.
Ele se perguntava qual seria o fim último do Homem como parte da
humanidade. Sua resposta era “a felicidade” (eudaimonia). Mas no que
consiste essa felicidade? Não era no mero prazer (hedoné) ou na riqueza;
segundo o filósofo, a felicidade estava na vida espiritual contemplativa, guiada
pela razão. Porém, para se atingir a vida contemplativa que levava à felicidade,
o homem tinha de desenvolver certas virtudes, que são modos de agir
adquiridos19. Ele não acreditava em virtudes inatas ou infundidas no homem
por alguma divindade.
As virtudes se dividiam em intelectuais ou dianoéticas, que atuam na
parte racional do homem; e práticas ou éticas, que atuam no que há de
irracional do homem, suas paixões, desejos, apetites.
17
https://www.ebiografia.com/aristoteles/, acesso em 9/8/19, 10h30
18
Para Platão, a existência do homem e da própria realidade era formada por duas partes distintas; uma
ligada à parte física, natural e mutável; outra ligada à parte espiritual, eterna e imutável.
19
Sêneca também acreditava que a virtude deveria se mostrar pelo seu lado prático. Em sua obra “Da
Tranquilidade da Alma” (2009, p. 28), extrai-se o seguinte pensamento: “Ninguém pode negar que a
virtude deve provar sua eficiência em obras. ”
34
Por outro lado, a virtude consistia no termo médio entre dois extremos,
num equilíbrio entre opostos (quente e frio, coragem e covardia, justiça e
egoísmo, avareza e prodigalidade).
Aristóteles adotou a mesma concepção de Platão sobre a vida política
dos homens em sociedade, ligando a felicidade e a virtude à participação dos
cidadãos na vida da Pólis. Para ele, o “homem é um animal político”.
35
I.5.5. A ética estoica e epicurista
Segundo Vásquez (2000, p. 274),
36
I.5.6. A ética medieval - influência do cristianismo.
O cristianismo, na sua forma ortodoxa, se tornou a religião oficial do
Império Romano a partir do ano 380 d.C., quando o imperador Teodósio, por
meio do Édito de Tessalônica, a declarou única religião imperial legítima,
acabando com o apoio do Estado à religião romana tradicional e proibindo a
adoração pública dos antigos deuses.20
A Igreja monopolizou durante aproximadamente mil anos o
conhecimento e o poder, tanto temporal quanto espiritual. A moral desse
período - bem como os estudos da ética - foi influenciada pelas doutrinas dos
evangelhos e pelas bulas papais, que tinham força executiva sobre reis,
príncipes, nobres e plebeus.
A ética cristã assume que existem verdades divinas reveladas aos
homens por Deus, não existindo outro modo de agir corretamente que não seja
aquele determinado pela doutrina divina, consubstanciada nos Dez
Mandamentos. Deus exige dos homens obediência e sujeição, que se tornam
também imperativos éticos. Aquele que não crê na potência divina ou não
segue seus ditames se torna um herege.
Essa ética, baseada em comandos divinos, é denominada heterônoma,
significando sujeição de alguém a uma lei exterior ou à vontade de outrem:
ausência de autonomia. Ao homem não é dado questionar a vontade divina e
suas determinações, como apresentadas nas tábuas mosaicas.
Para a ética cristã, a essência da felicidade é a contemplação do
divino. A doutrina ética cristã assimilou as virtudes platônicas da prudência, da
fortaleza, da temperança e da justiça, acrescentando-lhes mais três, chamadas
supremas ou teologais: fé, esperança e caridade.
Para além das virtudes, a ética cristã adota a ideia moral da igualdade
entre os homens diante de Deus, mesmo que essa igualdade não se perfaça
no mundo físico em que vivem. A realidade do homem medieval é terrível:
fome, dor, doenças, servidão, miséria. O mundo dos homens é cruel. A ética
20
Sob a inspiração do lema “um Deus no Céu, um Imperador na Terra”, Constantino proclamou
em 313 o Édito de Milão, lei que garantia liberdade aos cidadãos para cultuar qualquer deus, o
que seria fundamental para a futura conversão total do império romano à religião. “Na prática, o
Édito de Milão representou a verdadeira guinada. Teodósio apenas sacramentou um processo
de algumas décadas, consolidando a tendência inaugurada por Constantino”.
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-foi-a-conversao-do-imperio-romano-ao-
cristianismo/, acesso em 11/8/19 às 19h25.
37
cristã medieval não chega a condenar essa desigualdade mundana – os papas
afirmavam que os reis e imperadores tinham mandatos divinos por delegação
deles, os papas; justiça e igualdade eram transferidas para a “cidade de Deus”,
como ensinava Santo Agostinho. A vida eterna era bela, justa e feliz.
Para os pensadores cristãos da Idade Média, a igualdade entre os
homens só poderia ser alcançada no mundo espiritual ou sobrenatural. A ética
do período medieval tinha como objetivo preparar o homem para a outra vida, a
fim de que ele recebesse a graça divina e o perdão eterno dos seus pecados.
Alcançar a felicidade nesta vida era impossível.
A filosofia da Idade Média – a Escolástica – era praticamente
subordinada aos ensinamentos cristãos; pensadores que ousaram divergir da
Igreja foram condenados ao opróbrio.
Santo Agostinho aproveitou os ensinamentos platônicos da purificação
da alma e criou a teoria do êxtase místico, na qual a felicidade não poderia ser
alcançada neste mundo. Para Tomás de Aquino, Deus era o fim supremo,
sendo que a comunhão do homem com Ele era a única fonte de felicidade.
38
I.5.7. A ética moderna ou pós-medieval
Entende-se por moderno o pensamento ético dominante a partir do
século XVI até meados do século XIX. Em que pese a enorme quantidade de
pensadores do período, a tendência filosófica que passou a dominar foi a do
antropocentrismo, o deslocamento da importância do divino para o humano,
em contraste com a ética medieval, que era teocêntrica.
Vivia-se o início do Renascimento nas artes, na literatura, na filosofia, na
ciência. Luminares do pensamento, como Galileu, Kepler, Newton, Copérnico,
Leibniz, Laplace21, Descartes, passaram a explicar o funcionamento da
natureza sem a hipótese divina. Em seguida modificaram-se drasticamente as
forças produtivas, com o advento das máquinas e do capitalismo, em
substituição ao regime feudal de produção baseado na servidão e nas glebas.
Surge uma nova classe econômica – a burguesia – formada por
pequenos produtores, artesãos, comerciantes, profissionais liberais, que aos
poucos se libertavam do jugo das guildas (que eram as corporações de ofícios,
embriões dos futuros conselhos e ordens profissionais) e do monopólio
imobiliário dos nobres.
Na esfera espiritual, a religião deixa de ser a forma de ideologia
dominante, e aos poucos a Igreja Católica vai perdendo poder. Surgem
movimentos filosóficos que pregam a separação entre o Estado e a Igreja –
vive-se o período do Iluminismo, onde se busca destruir os pilares de um
mundo já vetusto, o Antigo Regime, ou ordem feudal absolutista.
No mundo moderno, a ética começa a se libertar das amarras teológicas
e a se fundar mais no homem. Dentre as éticas modernas, a de Kant foi a que
mais representou esse período.
21
Certa vez, ao ser questionado pelo imperador Napoleão I por que não tinha usado as leis
divinas e não falava de Deus no seu sistema de mecânica celeste sobre o funcionamento do
Universo, Laplace lhe respondeu: “Sire, je n’avais pas besoin de cette hypothèse-lá.” (Senhor,
eu não precisei dessa hipótese). https://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre-Simon_Laplace, acesso em
16/8/19, às 15h22.
39
I.5.8. A ética kantiana
De acordo com ebiografia22, Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo
alemão [na verdade, prussiano], fundador da Filosofia Crítica - sistema que
procurou determinar os limites da razão humana. Sua obra é considerada a
pedra angular da filosofia moderna. Nasceu em Königsberg, na Prússia
Oriental, então Império Alemão, no dia 22 de abril de 1724. Filho de um artesão
de descendência escocesa, ele era o quarto de nove filhos. Passou grande
parte de sua vida nos arredores de sua cidade natal. Dos pais luteranos
recebeu uma severa educação religiosa. Na escola local estudou latim e
línguas clássicas.
O sistema filosófico kantiano foi concebido como uma síntese e
superação das duas grandes correntes da filosofia da época: o racionalismo,
que enfatizava a preponderância da razão como forma de conhecer a
realidade, e o empirismo, que dava primazia à experiência.
Com Kant surge o “Racionalismo Crítico” ou “Criticismo”, sistema que
procura determinar os limites da razão humana. Sua filosofia moral foi
desenvolvida em suas obras “Crítica da Razão Pura”, “Crítica da Razão
Prática” e “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” (usada neste livro).
Kant condenava os empiristas (para os quais tudo que conhecemos vem
dos sentidos) e não concordava integralmente com os racionalistas (que
afirmavam ser a razão a única fonte do conhecimento humano): para o filósofo
alemão, o conhecimento deve vir de juízos universais, da mesma maneira
que deriva da experiência sensível.
Para sustentar essa contradição, Kant explica que o conhecimento é
constituído de matéria e forma: “A matéria dos nossos conhecimentos são as
próprias coisas e a forma somos nós mesmos”.
Segundo Vásquez (2000, p. 282),
22
https://www.ebiografia.com/immanuel_kant/
40
verifica na moral: o sujeito – a consciência moral – dá a si
mesmo a sua própria lei. O homem, como sujeito cognoscente
ou moral é ativo, criador, e está no centro tanto do
conhecimento como da moral.
41
Como consequência dos princípios acima expostos, Kant chegou à
conclusão que existe um “mandamento” ou “dever incondicionado e universal”
que o homem tem de cumprir. Kant dá a esse mandamento o nome de
“imperativo categórico”, que pode ser assim resumido: “Devo agir sempre
de modo que possa querer também que minha máxima se converta em lei
universal”. (2002, p. 29).
Em outros termos, Kant adaptou a antiga “regra de ouro”, presente em
muitas filosofias, segundo a qual só devemos fazer aos outros o que queremos
que nos façam.
O imperativo categórico, desse modo, se torna uma espécie de “lei”
criada pelo indivíduo, depois de uma análise racional, pela qual ele pauta sua
conduta moral. Para o filósofo alemão a ética é um fim em si mesmo, tendo
como objetivo maior a preservação da dignidade da pessoa humana em todas
as suas dimensões; as pessoas não podem ser tratadas como meios para a
obtenção de quaisquer fins.
Kant ensinava que as pessoas devem ser respeitadas em sua
humanidade e por suas qualidades intrínsecas, como a razão, ainda que não
plenamente desenvolvida ou ausente (p. ex., nas crianças e nos doentes
mentais). A razão nos capacita a sermos nós mesmos a fonte da lei moral, o
que Kant denominou de ética autônoma, em contraste com a ética
heterônoma – palavra criada por ele -, que nos impõe regras de cuja formação
não participamos.
42
O filósofo Michael Sandel, professor de Harvard, esclarece que “[...] de
acordo com Kant, o valor moral de uma ação não consiste em suas
consequências, mas na intenção com a qual a ação é realizada. O que importa
é o motivo, que deve ser de uma determinada natureza. O que importa é fazer
a coisa certa porque é a coisa certa, e não por algum outro motivo exterior a
ela. [...] E o motivo que confere valor moral a uma ação é o dever, que para
Kant é fazer a coisa certa pelo motivo certo” (2012, p. 143).
43
ética não se tornou autônoma da religião e em muitas sociedades a religião
continuava determinando os valores.
44
I.5.9. A ética utilitarista
Pode-se dizer que foram os estoicos que primeiro tiveram ideias
utilitaristas em relação à ética. Sêneca23, em sua obra “Da tranquilidade da
alma” (2009, p. 22), formulou o seguinte pensamento: “O que se exige do
homem é que seja útil ao maior número de semelhantes, se possível. Caso não
consiga, sirva a poucos, ou aos mais próximos, ou a si mesmo. ”
Com isso quis dizer o filósofo que o homem, ao se tornar útil para os
demais, empreende um trabalho social e comunitário, plantando uma semente
que irá produzir frutos no futuro, pois os ajudados de hoje serão os que
ajudarão amanhã.
Jeremy Bentham24, filósofo e pensador inglês do século XVIII,
contemporâneo de Kant, adotando como premissa parte do pensamento de
Sêneca, fundou a corrente ético-filosófica chamada utilitarismo. Para ele, as
ações morais deveriam estar centradas na obtenção da “utilidade”, ou seja, da
“máxima felicidade”, princípio segundo o qual uma ação é correta se conduz o
maior número de pessoas à maior felicidade possível.
23
Sêneca (4 a. C. - 65) foi um filósofo, escritor e político romano. Mestre da retórica foi o
principal representante do Estoicismo durante o Império Romano.
https://www.ebiografia.com/seneca/, acesso em 9/8/19, 10h50.
24
Jeremy Bentham (1748-1832) foi um filósofo inglês e jurista teórico que chefiou um grupo de
filósofos radicais, conhecidos como “utilitaristas” que pregavam reformas políticas e sociais,
entre elas uma nova Constituição para o país. https://www.ebiografia.com/jeremy_bentham/,
acesso em 9/8/19, 10h55.
45
em cada ação. A esse método ele denominou “Cálculo Felicífico”, uma espécie
de algoritmo para calcular a quantidade de prazer que determinado ato moral
pudesse causar aos outros. “O Felicific Calculus poderia, pelo menos em
princípio, determinar o status moral de qualquer ato considerado. O algoritmo
também é conhecido como o cálculo utilitário, cálculo hedonista ou cálculo
hedonístico” 25.
Mais tarde, John Stuart Mill26, filósofo e escritor inglês do século XIX,
aprimorou a teoria utilitarista de Bentham, afirmando que os prazeres humanos
não são todos iguais, havendo uns mais virtuosos e morais que outros. Stuart
Mill repudiava o hedonismo e a busca desenfreada dos prazeres sensuais. A
felicidade para ele dependia em grande parte da qualidade dos nossos
prazeres, ligados principalmente à cultura e ao aprimoramento intelectual,
tendo escrito no seu livro “O Utilitarismo” (2000, p. 33), esta brilhante
passagem:
25
https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1lculo_felic%C3%ADfico
26
John Stuart Mill (1806-1873) foi um filósofo inglês, um dos mais influentes pensadores do
século XIX. É reconhecido como um dos maiores propagadores do empirismo e do utilitarismo.
https://www.ebiografia.com/john_stuart_mill/, acesso em 9/8/19, 11h.
46
as regras e preceitos para a conduta humana cuja observância
permite uma existência tal como aquela descrita seja, na maior
rmedida possível, assegurada a todos os homens; e não aos
seres humanos apenas, mas, tanto quanto a natureza das
coisas permitir, a todas as criaturas ditadas de sensibilidade.
27
https://jus.com.br/artigos/62120/a-igualdade-e-suas-implicacoes-em-peter-singer-na-obra-etica-
pratica, acesso em 9/8/19, às 11h05.
47
I.5.10. A ética da responsabilidade
48
PARTE II – ÉTICA PROFISSIONAL
Uma coisa deve ficar bem clara: exercer uma profissão não é apenas
satisfazer sua própria vontade, senão as necessidades dos outros. Em resumo,
atender ao bem comum.
49
2. Através do exercício profissional, consegue o homem elevar
seu nível moral;
Uma profissão deve representar alto título de honra para seu exercente,
ainda mais se ela depende de formação acadêmica sólida e de muitos anos de
estudos. Por se tratar de um projeto de vida, deveria ocupar grande parte da
nossa existência. No Brasil e em grande parte do mundo as aposentadorias
precoces, principalmente as dos servidores públicos, representam um dos
maiores problemas à estabilidade financeira das nações. Sabemos o ônus que
isso representa para os bolsos dos pagadores de impostos.
50
As profissões liberais são caracterizadas por envolverem operações
mentais complexas acompanhadas de uma enorme responsabilidade pessoal.
Exigem um refletir constante sobre como agir com eficiência, qualidade,
segurança, efetividade. O profissional liberal não pode contar somente com os
recursos técnicos e materiais ao seu alcance; ele deve buscar sempre o
conhecimento que está no seu cérebro e que foi adquirido com muito esforço e
horas de estudos e aperfeiçoamentos.
51
II.2. Valor e utilidade das profissões
Tanto quem pratica uma profissão como quem dela recebe os serviços
desfruta de seus benefícios. Difícil afirmar para quem a utilidade é maior, isso
depende do ponto de vista das satisfações obtidas. Quem vende um serviço de
engenharia valoriza mais o dinheiro que receberá, ao passo que quem compra
um serviço de engenharia valoriza mais a utilidade que receberá em troca do
dinheiro. Esse é um princípio econômico básico que regula as relações de livre
mercado em qualquer regime capitalista.
Mais útil uma profissão será quanto maior for o conceito profissional de
que gozem seus praticantes. Antonio Lopes de Sá afirma que “o conceito
profissional é a evidência, perante terceiros, das capacidades e virtudes de um
ser no exercício de um trabalho habitual e de qualidade superior.” (2001, p.
138).
52
especialização é a solução para melhorar a qualidade do trabalho, seguindo na
linha defendida por Durkheim28.
28
Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês. É considerado o pai da Sociologia
Moderna e chefe da chamada Escola Sociológica Francesa. Deixou um dos principais
trabalhos de contribuição à sociologia, com a publicação da obra “Divisão do Trabalho Social”
(1893), onde analisa as funções sociais do trabalho e procura mostrar a excessiva
especialização e a desumanização do trabalho, que ascendeu com a Revolução Industrial.
Durkheim sublinhava, em seus estudos, os grandes riscos que tal evolução significava para o
bem e o interesse comum da sociedade. Obtido de https://www.ebiografia.com/emile_durkheim/,
acesso em 11/8/19, às 23h34.
53
Uma visão cultural ampla e diversificada ensejará ao profissional maior
qualidade no seu trabalho, com proveitos pessoais e financeiros
inquestionáveis, além de lhe abrir as portas para oportunidades de negócios e
de trabalho.
54
II.3. Função social das profissões
55
serviços falharam miseravelmente, produzindo pobreza e desabastecimento,
além de dor, sofrimento e abalo da dignidade humana.
56
II.4. Deveres profissionais
58
as demais profissões abrangidas pela fiscalização dos Creas) deve ser
conduzido de forma a reduzir os riscos dessas “experiências”.
59
Infelizmente, a massificação dos serviços de engenharia e agronomia
tem resultado em falhas grosseiras, desastres e mortes, que presenciamos
cotidianamente nos meios de comunicação. Conhecer o que se faz implica não
só ser especialista naquele ramo do saber, mas também ter o domínio da
execução dos trabalhos, de modo a obter eficácia no resultado. Não basta
saber o quê; é necessário saber como.
60
II. 5. Virtudes profissionais
O grande filósofo grego nos diz que o homem imoral, ao praticar o mal
contra os outros, acaba por se afundar na sua própria torpeza, ao passo que o
homem virtuoso não busca sua própria satisfação moral, mas a dos seus
semelhantes.
61
Aquino acreditava que as virtudes que o homem adquiria enquanto
“passageiro” deste planeta eram obra de seus próprios atos, mas ele pensava
que quando o homem passasse a morar na “cidade de Deus”, conceito criado
por Santo Agostinho, seria infundido de virtudes, por força divina.
As Virtudes
Importante ressaltar que elas não foram uma criação da Igreja Católica;
já estavam presentes nos escritos dos filósofos estoicos gregos e romanos.
63
I.6. Fundamentos dos códigos de ética profissional
64
Algum tipo de normatização deve existir em cada profissão, assim
como um condomínio não funciona sem um regimento interno ou uma entidade
de classe sem um estatuto, nos quais estejam previstas as penalidades para os
condôminos ou associados faltosos. Se uma profissão é exercida por muitos e
diversos profissionais, é preciso disciplinar suas condutas para o bem de todos.
65
condutas dos profissionais e enfatizar as responsabilidades individuais por
suas ações e respectivos efeitos.
67
Engenharia, uma profissão de confiança pública29.
29
https://www.ordemengenheiros.pt/fotos/editor2/regulamentos/codigo_ed.pdf
68
II.7. Utilitarismo x Responsabilidade – um dilema moral para os
profissionais da engenharia e agronomia.
Ética e moral não são a mesma coisa que “lei”. O fato de determinada
ação ser legal não significa que seja necessariamente moral ou ética. Por
exemplo, suponhamos que determinada empresa esteja emitindo poluentes na
atmosfera, mas as emissõs estejam dentro de limites permitidos pela legislação
ambiental. Caso o engenheiro químico da empresa venha a descobrir que
essas emissões são cancerígenas, ele não está legalmente obrigado a
interromper a produção da fábrica. Mas será que estaria moralmente obrigado
a informar às autoridades ambientais sobre o problema?
Uma teoria moral pode ser analisada sob três critérios ou padrões:
69
b) um princípio moral para categorizar diferentes tipos de ações como
certas ou erradas. Princípios morais possuem a seguinte forma: “as ações do
tipo Y estão certas (ou erradas)”.
O utilitarismo
Uma das soluções é deixar cada pessoa decidir o que é melhor para si
em termos de felicidade e bem-estar. Então, essa pessoa agiria conforme esse
padrão que se impôs. Mas será que esse padrão é o melhor para as outras
pessoas? Portanto, para que essa solução funcione, esse padrão deve ser bom
para a pessoa que o criou e também para as outras. Somente assim o ideal
utilitarista será realizado.
72
PARTE III – PROCESSO ÉTICO-DISCIPLINAR NOS CONSELHOS
REGIONAIS DE ENGENHARIA E AGRONOMIA.
III.1. Introdução
73
(...)
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei;
(...)
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
(...)
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
sem prévia cominação legal;
(...)
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
(...)
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória;
74
somente a autoridade competente poderá aplicar a pena prevista em lei.
No caso do Sistema Confea/Crea, as autoridades ou órgãos
competentes para a aplicação das sanções ao código de ética são as
Câmaras Especializadas, o Plenário do Crea e o Plenário do Confea;
para aplicar uma sanção ou privar alguém dos seus bens é necessário
um processo onde se garanta o amplo direito à defesa e ao contraditório
(que nada mais é que poder falar no processo sempre que a outra parte
o fizer);
75
III. 2. Norma processual dos processos ético-disciplinares.
Todo processo é conduzido de acordo com regras pré-fixadas e de
conhecimento de todos, quer sejam partes, procuradores, eventuais órgãos de
acusação, magistrados ou sociedade. Essas regras são chamadas normas
processuais, que integram o ramo do direito processual, que, por sua vez,
complementa o direito material. Este é formado pelas regras de direito que
estipulam direitos, deveres e obrigações.
Por exemplo, o código civil brasileiro é uma norma de direito material,
porquanto traz disposições sobre personalidade, direito das obrigações,
contratos, heranças, sucessões, condomínios, pessoas jurídicas, associações,
ou seja, as relações de direito material que regem a vida das pessoas em
sociedade.
Mas quando alguém busca o poder judiciário em busca da tutela de um
direito que lhe foi negado ou violado por alguém, seu processo será conduzido
por normas constantes de outro código, o de processo civil. Este traz
disposições sobre as condições da ação, as partes, seus advogados, despesas
processuais, intervenção de terceiros, competências jurisdicionais, atos
processuais, prazos, citações, recursos.
30
A esse respeito, ver nosso livro Comentários à Lei 5.194/66, disponível para acesso gratuito
em https://portal.crea-sc.org.br/divulgacao/livros-tecnicos/.
76
regulamentar o art. 75 da Lei nº 5.194/6631, que trata da possibilidade da
cassação do registro profissional pelo cometimento de má-conduta pública,
crimes e escândalos.
Até então essa norma legal (art. 75) era de difícil aplicação, em função
de conter conceitos juridicamente indeterminados. O que é escândalo? O que é
crime infamante? O que é má conduta pública? Qual norma processual utilizar
no julgamento de processos assim tipificados?
Em função disso, o Confea nomeou um Grupo de Trabalho, do qual
este autor fez parte, que sugeriu aos órgãos competentes do Conselho Federal
a minuta de uma Resolução tendente a esclarecer os pontos mais obscuros do
art. 75 da lei 5.194/66 e definir um rito processual para julgar casos como os
previstos na norma legal.
A norma de direito processual que rege os processos ético-disciplinares
no Sistema Confea/Crea, por sua vez, é a Resolução nº 1.004/2003, que traz
as regras de condução dos processos éticos no âmbito dos Creas e do Confea,
e também dos processos relativos à aplicação da Resolução 1.090/17
(cassação de registro).
31
Art. 75. O cancelamento do registro será efetuado por má conduta pública e escândalos
praticados pelo profissional ou sua condenação definitiva por crime considerado infamante.
77
III.3. O processo ético-disciplinar
78
Depois de a CE analisar a denúncia, ela a encaminha à CEP -
Comissão de Ética Profissional, cuja composição é prevista nos Regimentos
dos Conselhos Regionais, a qual intima32 o denunciado a se manifestar.
A CEP poderá tanto acatar a denúncia como rejeitá-la. No primeiro caso,
dará ciência ao denunciado da instauração do processo; no segundo,
devolverá o processo à CE para tomar as providências que entender cabíveis
(podendo ser tanto o arquivamento da denúncia como a devolução à CEP para
que instaure o processo)33.
Importante ressaltar que, para proteger a intimidade e a honra dos
denunciados, os processos de ética tramitam em caráter reservado (não é o
mesmo que sigiloso) nos Conselhos Regionais. Somente os conselheiros, as
partes envolvidas – o denunciante e o denunciado – e os procuradores
constituídos pelas partes terão acesso aos autos, podendo manifestar-se
quando intimados (art. 12 da Resolução 1.004/2003).
79
dos documentos juntados, podendo o órgão processador diligenciar em busca
da verdade, sempre respeitando o princípio do contraditório.
Por isso o art. 16 da Resolução 1.004/2003 traz a seguinte disposição:
“Cabe ao denunciado a prova dos fatos que tenha alegado em sua defesa,
sem prejuízo do dever atribuído à Comissão de Ética Profissional para a
instrução do processo”. (grifo nosso).
Neste ponto vale lembrar que o novo CPC - Código de Processo Civil
traz inúmeras possibilidades de comunicação dos atos processuais às partes.
O art. 190 do CPC autoriza o “negócio processual”, pelo qual as partes podem
convencionar diversos aspectos do processo, inclusive a forma como serão
feitas as intimações e notificações, podendo-se usar e-mail e até aplicativos de
mensagens, como alguns Juizados Especiais vêm fazendo.
80
A CEP decidirá em pleno, ou seja, o relatório produzido pelo conselheiro
relator será colocado em votação, devendo obter a maioria dos votos dos
presentes à reunião, desde que garantido o quórum mínimo regimental. Caso o
relatório aponte a culpa do denunciado, deverá indicar a autoria, efetiva
ocorrência dos fatos e a capitulação da infração no Código de Ética
Profissional. Caso o relatório seja pela improcedência da denúncia, deverá
sugerir o arquivamento do processo.
III.3.4 Julgamento na CE
82
O tempo de permanência do edital divulgando a pena de censura pública
no quadro de avisos das inspetorias e da sede do Crea será fixado na decisão
proferida pela instância julgadora, normalmente não excedendo 365 dias.
83
III.4. Processo de cassação de registro
84
instauração, de ofício, de processos pelos Creas por infração ética, má conduta
pública, escândalo ou condenação por crime considerado infamante.
85
má conduta pública, escândalo ou condenação por crime
infamante, no prazo de 30 (trinta) dias;
3. Determinar aos Regionais o gestionamento junto aos órgãos
Federais, Estaduais e Municipais da Região, visando obter
informações acerca de profissionais inseridos no Sistema
Confea/Crea que possuam processos abertos e que possam
servir de provas de indícios de má conduta pública, escândalo
ou condenação por crime infamante.
86
Estes questionamentos são-nos dirigidos com frequência por
conselheiros de Creas, procuradores, analistas técnicos e profissionais, todos
indignados com o descalabro e a miséria moral que criminosos impingiram às
profissões das engenharias.
87
1. O princípio da economia processual orienta seja evitada toda uma
instrução processual inexoravelmente fadada a um desfecho que poderia ter
sido obtido desde o início do processo administrativo penal;
Para o denunciado isso não fará diferença, porque ele vai se defender
dos fatos narrados na denúncia, tentando provar que não existiram ou que não
ocorreram do modo descrito; ele não vai se defender de antemão de
determinada classificação jurídica dada aos fatos. É nesses pontos que se
centrará a defesa do denunciado e não na eventual capitulação ou tipificação
legal.
34
Baseado em artigo publicado em https://www.conjur.com.br/2011-out-29/magistrado-corrigir-
classificacao-juridica-denuncia-ou-queixa, acesso em 07/8/19, 10h35.
88
encaminhando-a à CEP. Esta, por sua vez, após a instrução probatória, pode
concordar com a tipificação feita pela CE, sugerindo a cassação do registro; ou
propor a desclassificação da denúncia para infração ética, que é menos
gravosa.
Como a CEP não é órgão decisório, a palavra final será dada pela CE,
que, recebendo o processo já devidamente instruído da CEP, pode acatar suas
conclusões ou emitir novo relatório, com a classificação da infração que julgar
mais consentânea com os fatos narrados na denúncia, aplicando então a
penalidade cabível (cassação do registro, advertência reservada ou censura
pública).
89
90
IV – CASOS PRÁTICOS REAIS
91
relação a não execução da obra, restou comprovado na documentação
apresentada e nos depoimentos que a responsabilidade pelo embargo não
pode ser atribuída ao representado, já que o motivo relatado foi a existência de
curso de água no terreno; logo, uma questão associada à viabilidade do uso do
terreno e não questões do projeto submetido à prefeitura. Não restou
configurada nos autos modificação significativa no projeto. Houve o embargo,
este foi solucionado, entretanto, verifica-se que o profissional não concluiu o
serviço nem fez o distrato contratual, ato que, definitivamente, se encontra
dentro do desenvolvimento correto do exercício profissional para a consecução
da responsabilidade assumida. O início da construção ocorreu sem a emissão
do alvará; neste caso, tendo em vista o reconhecimento do profissional por
esse descuido de sua parte, fica configurada a falta e o descuido com a
profissão. Com relação ao não cumprimento do contrato, entendemos que o
caso é delicado e necessita de arbitramento judicial para definições das
responsabilidades sobre o ocorrido. Assim sendo, ante a apuração efetuada,
somos de parecer que o profissional infringiu as disposições constantes do
Código de Ética (Resolução nº 1.002 do Confea), mais precisamente, infração
ao art. 9º, III, “f”; e art. 10, I, “a” e III, “f”. “
92
IV.2. Negligência em serviço de engenharia – projeto e execução
93
[...] Que apenas executou um projeto aprovado pela construtora. Que, se
dependesse do declarante, teria feito os aterramentos”. Confirma-se assim que
os detalhes elétricos da obra não foram executados em obediência às
normativas existentes. [...] E de acordo com o art. 2º da Lei 6.496/77, o
profissional é o responsável técnico pelos serviços, já que anotou a ART.
Assim sendo, não cumprindo as normas de segurança, entende esta Comissão
de Ética que o profissional representado infringiu as disposições constantes da
Resolução 1002 do Confea, mais precisamente no inciso IV do art. 8º e alínea
“a” do inciso I do art. 9º, recomendando-se a aplicação de uma advertência
reservada como estabelecida no art. 71, “a”, da lei nº 5.194/66”.
94
assumiu o erro, dizendo que teria que “macaquear” a casa a fim de corrigir o
problema, porém não arcaria com os custos. Portanto, vimos a esse órgão
requerer medidas administrativas contra o denunciado”.
95
pública como estabelecido na alínea “b” do art. 71 da lei 5.194/66, considerada
a gravidade da falta”.
35
Esta denúncia se originou do órgão do Crea competente para analisar pedidos de acervo técnico, o
Departamento de Registro e Processos.
96
instaurado processo de indício de exorbitância de atribuições e encaminhado
às câmaras especializadas de engenharia agronômica e civil”.
97
o CTG Gaúcho Feliz, mas na ART foi colocado como “execução de jardinagem”
e empresa executora, a Santa Sé. [...] A diligência constatou que o serviço foi
de fato feito pela empresa Floricultura Planta Feliz, e que a Santa Sé nunca
realizou serviços no local. As câmaras especializadas CEAGRO e CEEC
decidiram pela anulação da ART XXXXXX, autuação por exorbitância e
encaminhamento ao Ministério Público. [...] O profissional anotou na ART
XXXXXX atividades que nunca foram realizadas e além de suas atribuições
profissionais. [...] Recomenda esta Comissão de Ética a aplicação da
penalidade de advertência reservada, por ter o profissional Brutus infringido o
Código de Ética (Resolução 1002 do Confea), mais precisamente as alíneas “a”
e “d” do inciso II do art. 9º, alínea “a” do inciso I e alínea “c" do inciso III do art.
10”.
98
IV.5. Cancelamento de ARTs sem pagamento e posterior
apresentação em órgãos públicos.
36
Denúncia originada do Departamento de Fiscalização do Crea e encaminhada à Câmara Especializada
de Engenharia Civil.
99
profissional quanto aos deveres estipulados no Código de Ética da Engenharia.
É clara a intenção de burlar expedientes deste Conselho que visam à proteção
da sociedade, como a anotação de responsabilidade técnica (ART). [...] O
procedimento adotado pela profissional fez com que ela se eximisse da
responsabilidade legal pela execução dos trabalhos. [...] Entende esta
comissão de ética que foram infringidos os seguintes artigos do Código de
Ética Profissional: alíneas “a”, “b”, “c” e “e” do inciso II e alínea “b”, inciso IV do
artigo 9º; alínea “a” do Inciso I, alínea “b” do inciso II e alínea “c” do inciso III do
art. 10, recomendando-se a aplicação da pena de CENSURA PÚBLICA como
estabelecido na alínea “b” do art. 71 da Lei nº 5.194/66, considerando-se a
gravidade da falta”.
100
V – CASOS HIPOTÉTICOS PARA ESTUDO
101
nome provisório X, ainda não regulado pela ANVISA, sobre cujo potencial
danoso ao meio ambiente a empresa B não tinha certeza. Jacó percebeu que
poderia haver alguma nocividade no tal produto, havendo duas soluções. A
primeira seria usar algumas informações técnicas que ele aprendera no antigo
emprego para manter o produto X com uma nocividade tal que nunca chegasse
ao mercado. Isso não afetaria a empresa A de nenhum modo. Ou então, ele
poderia usar as mesmas informações técnicas para alterar a composição do
produto X, que passaria a competir com produto similar da empresa A. Jacó
está em dúvida se conversa com o seu novo gerente e o coloca a par dessa
situação.
102
interromper a fabricação e causar a demissão de centenas de empregados da
indústria B, localizada numa cidade onde o nível de desemprego é bastante
elevado.
103
No caso acima, algumas sugestões podem ser dadas sobre como
analisar as questões envolvidas.
São dilemas desse tipo que você encontrará nos casos abaixo e que
terá de resolver.
104
V.1. O caso do desmoronamento
105
V.2. O caso dos efluentes
106
V.3. O caso da obra inacabada
O engenheiro João foi contratado pelo Sr. Pedro para executar a obra da
sua casa, cujo projeto fora elaborado pelo engenheiro José. Encontrando
várias deficiências no projeto estrutural, o eng. João corrigiu-as parcialmente,
embora sem comunicar seu colega e sem as mencionar no Livro de Ordem. As
modificações trouxeram aumentos de custo para o Sr. Pedro, que o eng. João
lhe apresentou um mês depois. O dono da casa recusou-se a pagar a diferença
e o eng. João abandonou a execução da obra. O Sr. Pedro contratou outro
profissional para acabar a obra. O eng. João entrou com uma ação
indenizatória contra o Sr. Pedro, cobrando-lhe a diferença relativa às correções
do projeto.
107
V.4. O caso da troca de mobiliário
108
V.5. O caso dos pareceres
109
VI. CONCLUSÃO
Mas Renan não ficou só. Em agosto de 2013, o então senador Lobão
Filho, relator da reforma do regimento Interno do Senado, retirou a palavra
ética do projeto, alegando que “a ética é relativa, o que é ético para você, pode
não ser para mim”. Pelo menos o senador demonstrou ter conhecimento do
que é relativismo ético38. Mais tarde, em virtude das reclamações dos colegas e
dos protestos de parte da sociedade, a palavra ética voltou ao Regimento do
Senado.
37
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/02/01/renan-defende-etica-em-discurso-
leia-a-integra.htm, acesso em 5/8/19, 15h27.
38
https://oglobo.globo.com/brasil/lobao-filho-retira-palavra-etica-do-novo-codigo-de-conduta-do-
senado-9372131, acesso em 5/8/19, 15h29.
110
As falas desses senhores é um paradigma não da ética, mas da
antiética, da canalhice, pensamento peculiar dos que subordinam princípios
morais às suas conveniências.
39
https://www.portalodia.com/noticias/policia/pcc-quer-eleger-10-prefeitos-e-50-vereadores-no-ceara-
276706.html, acesso em 5/8/19, 15h31.
111
além de dois motoristas e seguranças. Ela usava os veículos diariamente para
ir ao supermercado, à petshop, ao salão de beleza e à escola dos filhos.
Mas será que tudo isso nos está tornando seres humanos moralmente
melhores? Progresso nem sempre significa aperfeiçoamento moral. Nunca
essa constatação ficou tão aparente.
40
O patrimonialismo é a característica de um Estado que não possui distinções entre os limites
do público e do privado. Os políticos e agentes públicos utilizam os recursos do Estado como
se fossem seus. Foi comum em praticamente todos os absolutismos e ainda é no Brasil.
41
https://www.gapminder.org/ignorance/, acesso em 15/8/19, 11h24.
112
A virtude anda esquecida; o dever, descumprido; a utilidade, colocada a
serviço de agentes públicos e privados desonestos; e a responsabilidade,
diluída num oceano de relativismo moral e de vitimização.
113
Diante deste quadro assustador proponho humildemente, à Swift42,
como paradigma ético para os profissionais do Sistema Confea/Crea, que cada
um se paute por uma conduta profissional honesta e justa, respeitando os
seres humanos em sua dignidade (colegas, clientes), utilizando sua técnica e
engenho para satisfazer o maior número de pessoas e assumindo integral
responsabilidade por seus atos, em especial os que possam comprometer a
segurança e a integridade física dos destinatários das obras e serviços técnicos
prestados pelos integrantes deste gigantesco e importante sistema profissional.
42
Uma referência a Jonathan Swift, escritor inglês dos séculos XVII e XVIII, considerado o principal
satirista da língua inglesa, que escreveu, entre outras obras, “As viagens de Gulliver” e “Modesta
Proposta”, que deu origem ao meu comentário.
114
ADENDO I
Considerando que o disposto nos arts. 27, alínea “n”, 34, alínea “d”, 45,
46, alínea “b”, 71 e 72, obriga a todos os profissionais do Sistema Confea/Crea
a observância e cumprimento do Código de Ética Profissional da Engenharia,
da Agronomia, da Geologia, da Geografia e da Meteorologia;
RESOLVE:
115
elaborado pelas Entidades de Classe Nacionais, através do CDEN - Colégio de
Entidades Nacionais, na forma prevista na alínea "n" do art. 27 da Lei nº 5.194,
de 1966.
1. PROCLAMAÇÃO
2. PREÂMBULO.
116
Art. 3º As modalidades e especializações profissionais poderão
estabelecer, em consonância com este Código de Ética Profissional, preceitos
próprios de conduta atinentes às suas peculiaridades e especificidades.
Do objetivo da profissão:
117
IV - A profissão realiza-se pelo cumprimento responsável e competente
dos compromissos profissionais, munindo-se de técnicas adequadas,
assegurando os resultados propostos e a qualidade satisfatória nos serviços e
produtos e observando a segurança nos seus procedimentos;
Do relacionamento profissional:
5. DOS DEVERES.
II – ante a profissão:
118
d) desempenhar sua profissão ou função nos limites de suas
atribuições e de sua capacidade pessoal de realização;
V – Ante ao meio:
II – ante à profissão:
120
d) usar de artifícios ou expedientes enganosos que impeçam o legítimo
acesso dos colaboradores às devidas promoções ou ao desenvolvimento
profissional;
V – ante o meio:
7. DOS DIREITOS
c) ao reconhecimento legal;
d) à representação institucional.
121
Art. 12. São reconhecidos os direitos individuais universais inerentes
aos profissionais, facultados para o pleno exercício de sua profissão,
destacadamente:
8. DA INFRAÇÃO ÉTICA
Art. 13. Constitui-se infração ética todo ato cometido pelo profissional
que atente contra os princípios éticos, descumpra os deveres do ofício,
pratique condutas expressamente vedadas ou lese direitos reconhecidos de
outrem.
122
ADENDO 2
RESOLVE:
123
ANEXO DA RESOLUÇÃO Nº 1.004, DE 27 DE JUNHO DE 2003 -
REGULAMENTO PARA A CONDUÇÃO DO PROCESSO ÉTICO
DISCIPLINAR.
CAPÍTULO I
DA FINALIDADE
CAPÍTULO II
124
I – iniciar o processo ético ante notícia ou indício de infração;
CAPÍTULO III
DO INÍCIO DO PROCESSO
125
modalidade do profissional, desde que seja verificado indício da veracidade dos
fatos.
126
Art. 12. Os processos de apuração de infração ao Código de Ética
Profissional correrão em caráter reservado.
CAPÍTULO IV
DA INSTRUÇÃO DO PROCESSO
Art. 16. Cabe ao denunciado a prova dos fatos que tenha alegado em
sua defesa, sem prejuízo do dever atribuído à Comissão de Ética Profissional
para a instrução do processo.
127
Art. 18. No caso de tomada de depoimento ou quando for necessária a
ciência do denunciado, a prestação de informações ou a apresentação de
provas propostas pelas partes, serão expedidas intimações para esse fim,
mencionando-se data, prazo, forma e condições para atendimento do
requerido.
128
§ 2º As testemunhas serão intimadas a comparecer à audiência por
meio de correspondência encaminhada pelo correio, com aviso de
recebimento, ou por outro meio legalmente admitido, cujo recibo de entrega
será anexado ao processo.
129
I - onde estava ao tempo da infração e se teve notícias desta;
130
§ 3º No caso de haver rejeição do relatório, o coordenador designará
novo relator para apresentar relatório substitutivo, na mesma sessão.
CAPÍTULO V
Art. 30. Será concedido prazo de dez dias para que as partes, se
quiserem, manifestem-se quanto ao teor do relatório.
131
§ 2º Mediante justificativa, a juízo do coordenador da câmara
especializada, o prazo para manifestação das partes poderá ser prorrogado, no
máximo, por mais dez dias.
132
CAPÍTULO VI
Art. 39. O processo, cuja infração haja sido cometida por profissional
no exercício de emprego, função ou cargo eletivo no Crea, no Confea ou na
Mútua, será remetido para reexame do plenário do Crea qualquer que seja a
decisão da câmara especializada e independentemente de recurso interposto
por quaisquer das partes, em até trinta dias após esgotado o prazo
estabelecido no art. 37.
CAPÍTULO VII
Art. 40. O processo será apreciado pelo Plenário do Crea, que lavrará
decisão sobre o assunto, anexando-a ao processo.
133
§ 1º Da intimação encaminhada às partes constará o prazo de
sessenta dias para apresentação de recurso ao Plenário do Confea.
CAPÍTULO VIII
Art. 49. O processo, cuja infração haja sido cometida por profissional
no exercício de emprego, função ou cargo eletivo no Crea, no Confea ou na
Mútua, será remetido para reexame do plenário do Confea, qualquer que seja a
decisão do Crea de origem e independentemente de recurso interposto por
quaisquer das partes, em até trinta dias após esgotado o prazo estabelecido no
art. 44.
134
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
DO PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO
135
transitada em julgado, pelas partes interessadas, instruída com cópia da
decisão recorrida e as provas documentais comprobatórias dos fatos arguidos.
CAPITULO XII
DA EXECUÇÃO DA DECISÃO
CAPÍTULO XIII
DA REVELIA
136
Art. 61. Declarada a revelia, o denunciado será intimado a cumprir os
prazos dos atos processuais subsequentes, podendo intervir no processo em
qualquer fase.
CAPÍTULO XIV
Art. 62. Nenhum ato será declarado nulo se da nulidade não resultar
prejuízo para as partes.
Art. 64. A nulidade dos atos processuais ocorrerá nos seguintes casos:
Art. 65. Nenhuma nulidade poderá ser arguida pela parte que lhe tenha
dado causa ou para a qual tenha concorrido.
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido seu fim.
Art. 68. Os atos processuais, cuja nulidade não tiver sido sanada na
forma do artigo anterior, serão repetidos ou retificados.
137
Parágrafo único. A repetição ou retificação dos atos nulos será
efetuada em qualquer fase do processo.
Art. 70. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não
resulte prejuízo ao denunciado.
CAPÍTULO XV
DA EXTINÇÃO E PRESCRIÇÃO
Art. 74. Todo processo disciplinar que ficar paralisado por três ou mais
anos, pendente de despacho ou julgamento, será arquivado por determinação
da autoridade competente ou a requerimento da parte interessada.
138
pelo seu ato. § 1º Entende-se por autoridade o servidor ou agente público
dotado de poder de decisão. § 2º Se a autoridade for profissional vinculado ao
Sistema Confea/Crea, estará sujeito a processo disciplinar.
CAPÍTULO XVI
Art. 76. Nenhuma penalidade será aplicada ou mantida sem que tenha
sido assegurado ao denunciado pleno direito de defesa.
139
§ 1º considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte, se
o vencimento cair em dia em que não houver expediente no Crea ou este for
encerrado antes da hora normal.
140
ADENDO 3
RESOLVE:
CAPÍTULO I
DAS DEFINIÇÕES
141
I - má conduta pública: a atuação incorreta, irregular, que atenta contra as
normas legais ou que fere a moral quando do exercício profissional;
CAPÍTULO II
DO ENQUADRAMENTO
III - fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para o registro no Crea;
142
V - usar das prerrogativas de cargo, emprego ou função pública ou privada
para obter vantagens indevidas para si ou para outrem;
VI - ter sido condenado por Tribunal de Contas ou pelo Poder Judiciário por
prática de ato de improbidade administrativa enquanto no exercício de
emprego, cargo ou função pública ou privada, caso concorra para o ilícito
praticado por agente público ou, tendo conhecimento de sua origem ilícita, dele
se beneficie no exercício de atividades que exijam conhecimentos de
engenharia, de agronomia, de geologia, de geografia ou de meteorologia; e
VII - ter sido penalizado com duas censuras públicas, em processos transitados
em julgado, nos últimos cinco anos.
CAPÍTULO III
DA INSTAURAÇÃO E CONDUÇÃO DO PROCESSO
CAPITULO IV
DA REABILITAÇÃO PROFISSIONAL
Art. 6º O profissional que tiver o seu registro cancelado por má conduta pública,
escândalo ou crime infamante poderá requerer sua reabilitação, mediante novo
registro, decorridos no mínimo cinco anos da data do trânsito em julgado da
decisão administrativa que ensejou seu cancelamento.
143
instruído com os seguintes documentos comprobatórios da reabilitação do
profissional relativos à infração cometida:
144
ADENDO 4 – CÓDIGOS DE ÉTICA NA LEGISLAÇÃO COMPARADA
NACIONAL E INTERNACIONAL
PREÂMBULO
145
às leis e aos preceitos éticos e morais que delas emanam³. Doravante, os
profissionais, assim como as sociedades de prestação de serviços com
atuação no campo da Arquitetura e Urbanismo, devem orientar sua conduta
no exercício da profissão pelas normas definidas neste Código de Ética e
Disciplina.
Estrutura do Código
1. OBRIGAÇÕES GERAIS
1.1. Princípios:
146
esse profissional deve deter, por formação, um conjunto sistematizado de
conhecimentos das artes, das ciências e das técnicas, assim como das
teorias e práticas específicas da Arquitetura e Urbanismo
1.2. Regras:
147
1.2.6. O arquiteto e urbanista responsável por atividade docente das
disciplinas de Arquitetura e Urbanismo deve, além de deter conhecimento
específico sobre o conteúdo a ser ministrado, ter executado atividades
profissionais referentes às respectivas disciplinas.
1.3. Recomendações:
2.1. Princípios:
2.2. Regras:
148
2.2.2. O arquiteto e urbanista deve respeitar os valores e a herança natural e
cultural da comunidade na qual esteja prestando seus serviços profissionais.
2.3. Recomendações:
149
2.3.6. O arquiteto e urbanista deve respeitar a legislação urbanística e
ambiental e colaborar para o seu aperfeiçoamento.
3.1. Princípios:
3.2. Regras:
150
3.2.7. O arquiteto e urbanista deve prestar seus serviços profissionais levando
em consideração sua capacidade de atendimento em função da
complexidade dos serviços.
151
3.2.18. O arquiteto e urbanista deve recusar-se a receber honorários,
pagamentos, ou vantagens de duas partes de um mesmo contrato vigente.
3.3. Recomendação:
4.1. Princípios:
4.2. Regras:
152
fiscalização, controle ou gerenciamento técnico de contratos de serviços de
Arquitetura e Urbanismo, deve abster-se de qualquer atitude motivada por
interesses privados que comprometam seus deveres profissionais, devendo
sempre fundamentar claramente suas decisões e pareceres em critérios
estritamente técnicos e funcionais.
4.3. Recomendações:
153
4.3.8. O arquiteto e urbanista deve contribuir para ações de interesse geral no
domínio da Arquitetura e Urbanismo, participando na discussão pública de
problemas relevantes nesse âmbito.
5.1.2. O arquiteto e urbanista deve construir sua reputação tão somente com
base na qualidade dos serviços profissionais que prestar.
5.2. Regras:
154
5.2.8. O arquiteto e urbanista, quando convidado a emitir parecer ou
reformular os serviços profissionais de colegas, deve informá-los previamente
sobre o fato.
5.3. Recomendações:
155
ao Direito Autoral em suas atividades profissionais e setores de atuação.
6.1. Princípio:
6.3. Recomendações:
156
Notas do Texto:
157
II – Código Deontológico da Ordem dos Engenheiros em Portugal43 -
Decreto-Lei nº 119, de 30 de junho de 1992.
ARTIGO 81º
Direitos e deveres
ARTIGO 82º
ARTIGO 83º
43
http://www.esac.pt/noronha/etica/PDF/OE_deontologia.pdf
158
a) cumprir as obrigações do Estatuto, do código deontológico e dos
regulamentos da Ordem;
ARTIGO 84º
ARTIGO 85º
159
c) prestar a comissões e a grupos de trabalho a colaboração especializada que
lhes for solicitada;
CAPÍTULO III
ARTIGO 86º
ARTIGO 87°
ARTIGO 88°
161
7 - O engenheiro deve, no exercício de funções públicas, na empresa e nos
trabalhos ou serviços em que desempenhar a sua actividade, actuar com a
maior correção, de forma a obstar a discriminações ou desconsiderações.
ARTIGO 89°
162
III - Code of Professional Conduct of the European Council of Civil
Engineers44
Preamble
An Engineer:
will act with integrity and have full regard to the public interest;
will have due regard for the Health and Safety of the public and other
colleagues and employees;
will endeavour to improve public knowledge of the benefits of Civil
Engineering;
will express professional opinion only when founded on adequate knowledge;
will reject bribery in all forms;
will seek opportunities to be of constructive service in civic affairs.
2. The environment
An Engineer:
will understand the effect of his/her work on society and the natural
environment;
will further the aims of sustainable development and change;
will be committed to improving the environment and enhancing the quality of
life wherever possible;
will recognise the interdependence of the planet’s ecosystems and their
capacity to assimilate change due to Civil Engineering activity;
will ensure the minimal adverse effects on the environment;
will promote the use of renewable and recycled materials;
will strive to accomplish his/her work with the lowest possible use of natural
resources.
3. The profession
44
http://www.ecceengineers.eu/about/code_of_conduct.php
163
An Engineer:
will uphold the standard of his profession and will co-operate in extending the
effectiveness of the profession;
will avoid all conduct likely to discredit or injure the dignity and honour of the
profession;
will endeavour to protect the profession from misrepresentation.
An Engineer:
will act as a faithful agent of his/her client/employer and with fairness and
justice to all parties;
will make clear to his/her client/employer upon appointment any interest or
potential conflict of interest;
will ensure the practices are not dangerous to life or property or if a risk exists
ensure the client/employer and other parties are fully aware of the risks
involved;
will present clearly the consequences to his/her client/employer if his/her
engineering judgement is overruled;
will not disclose confidential information and business matters without the
consent of his/her client/employer;
will not accept commissions from third parties in connection with work he/she
is undertaking for a client/employer;
will disclose to his/her client/employer any interest in a business which may
be in competition;
will not accept commissions in areas where he/she is not competent to
practice;
will advise his/her client/employer when, as a result of study, he/she believes
a project will be unsuccessful;
will not accept professional work outside his/her regular employment without
the knowledge of his/her employer.
An Engineer:
will ensure credit for work is given to those to whom credit is due;
will afford assistance to further the education, training and professional
development of himself and other engineers and prospective members of the
profession;
will not injure the professional reputation, prospects or practice of another
Engineer;
will report the facts to the appropriate authority if he/she believes another
Engineer is guilty or unethical or illegal practice.
164
IV – Code of Ethics – American Society of Mechanical Engineers45
Engineers uphold and advance the integrity, honor and dignity of the
engineering profession by:
I. using their knowledge and skill for the enhancement of human welfare;
II. being honest and impartial, and serving with fidelity their clients (including
their employers) and the public; and
1. Engineers shall hold paramount the safety, health and welfare of the public in
the performance of their professional duties.
2. Engineers shall perform services only in the areas of their competence; they
shall build their professional reputation on the merit of their services and shall
not compete unfairly with others.
45
https://www.asme.org/wwwasmeorg/media/resourcefiles/aboutasme/get%20involved/advocacy/
policy-publications/p-15-7-ethics.pdf
165
8. Engineers shall consider environmental impact and sustainable development
in the performance of their professional duties.
9. Engineers shall not seek ethical sanction against another engineer unless
there is good reason to do so under the relevant codes, policies and procedures
governing that engineer’s ethical conduct.
10. Engineers who are members of the Society shall endeavor to abide by the
Constitution, By-Laws and Policies of the Society, and they shall disclose
knowledge of any matter involving another member’s alleged violation of this
Code of Ethics or the Society’s Conflicts of Interest Policy in a prompt, complete
and truthful manner to the chair of the Ethics Committee.
166
V – Code of Ethics – American Society of Civil Engineers46
Code of Ethics
Fundamental Principles
Engineers uphold and advance the integrity, honor and dignity of the
engineering profession by:
1. using their knowledge and skill for the enhancement of human welfare and
the environment;
2. being honest and impartial and serving with fidelity the public, their employers
and clients;
Fundamental Canons
1. Engineers shall hold paramount the safety, health and welfare of the public
and shall strive to comply with the principles of sustainable development in the
performance of their professional duties.
6. Engineers shall act in such a manner as to uphold and enhance the honor,
integrity, and dignity of the engineering profession and shall act with zero-
tolerance for bribery, fraud, and corruption.
46
https://www.asce.org/uploadedFiles/About_ASCE/Ethics/Content_Pieces/Code-of-Ethics-July-
2017.pdf
167
7. Engineers shall continue their professional development throughout their
careers, and shall provide opportunities for the professional development of
those engineers under their supervision.
8. Engineers shall, in all matters related to their profession, treat all persons
fairly and encourage equitable participation without regard to gender or gender
identity, race, national origin, ethnicity, religion, age, sexual orientation,
disability, political affiliation, or family, marital, or economic status.
Canon 1. Engineers shall hold paramount the safety, health and welfare of the
public and shall strive to comply with the principles of sustainable development
in the performance of their professional duties.
a. Engineers shall recognize that the lives, safety, health and welfare of the
general public are dependent upon engineering judgments, decisions and
practices incorporated into structures, machines, products, processes and
devices.
168
a. Engineers shall undertake to perform engineering assignments only when
qualified by education or experience in the technical field of engineering
involved.
c. Engineers shall not affix their signatures or seals to any engineering plan or
document dealing with subject matter in which they lack competence by virtue
of education or experience or to any such plan or document not reviewed or
prepared under their supervisory control.
e. Engineers shall be dignified and modest in explaining their work and merit,
and will avoid any act tending to promote their own interests at the expense of
the integrity, honor and dignity of the profession.
a. Engineers shall avoid all known or potential conflicts of interest with their
employers or clients and shall promptly inform their employers or clients of any
business association, interests, or circumstances which could influence their
judgment or the quality of their services.
169
b. Engineers shall not accept compensation from more than one party for
services on the same project, or for services pertaining to the same project,
unless the circumstances are fully disclosed to and agreed to, by all interested
parties.
f. Engineers shall not use confidential information coming to them in the course
of their assignments as a means of making personal profit if such action is
adverse to the interests of their clients, employers or the public.
Canon 5. Engineers shall build their professional reputation on the merit of their
services and shall not compete unfairly with others.
a. Engineers shall not give, solicit or receive either directly or indirectly, any
political contribution, gratuity, or unlawful consideration in order to secure work,
exclusive of securing salaried positions through employment agencies.
e. Engineers shall give proper credit for engineering work to those to whom
credit is due, and shall recognize the proprietary interests of others. Whenever
170
possible, they shall name the person or persons who may be responsible for
designs, inventions, writings or other accomplishments.
• A statement of the engineers' names or the name of the firm and statement of
the type of service posted on projects for which they render services.
Canon 6. Engineers shall act in such a manner as to uphold and enhance the
honor, integrity, and dignity of the engineering profession and shall act with
zero-tolerance for bribery, fraud, and corruption.
171
a. Engineers shall not knowingly engage in business or professional practices
of a fraudulent, dishonest or unethical nature.
c. Engineers shall act with zero-tolerance for bribery, fraud, and corruption in all
engineering or construction activities in which they are engaged.
Canon 8. Engineers shall, in all matters related to their profession, treat all
persons fairly and encourage equitable participation without regard to gender or
gender identity, race, national origin, ethnicity, religion, age, sexual orientation,
disability, political affiliation, or family, marital, or economic status.
172
b. Engineers shall not engage in discrimination or harassment in connection
with their professional activities.
c. Engineers shall consider the diversity of the community, and shall endeavor
in good faith to include diverse perspectives, in the planning and performance of
173
VI – Code of Ethics – Institute of Electrical and Electronic Engineers47
1. to hold paramount the safety, health, and welfare of the public, to strive
to comply with ethical design and sustainable development practices,
and to disclose promptly factors that might endanger the public or the
environment;
2. to avoid real or perceived conflicts of interest whenever possible, and to
disclose them to affected parties when they do exist;
3. to be honest and realistic in stating claims or estimates based on
available data;
4. to reject bribery in all its forms;
5. to improve the understanding by individuals and society of the
capabilities and societal implications of conventional and emerging
technologies, including intelligent systems;
6. to maintain and improve our technical competence and to undertake
technological tasks for others only if qualified by training or experience,
or after full disclosure of pertinent limitations;
7. to seek, accept, and offer honest criticism of technical work, to
acknowledge and correct errors, and to credit properly the contributions
of others;
8. to treat fairly all persons and to not engage in acts of discrimination
based on race, religion, gender, disability, age, national origin, sexual
orientation, gender identity, or gender expression;
9. to avoid injuring others, their property, reputation, or employment by false
or malicious action;
10. to assist colleagues and co-workers in their professional development
and to support them in following this code of ethics.
Changes to the IEEE Code of Ethics will be made only after the following
conditions are met:
47
https://www.ieee.org/about/corporate/governance/p7-8.html
174
BIBLIOGRAFIA
175