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Desenvolveu desta forma o Brasil a sua vocação oceâni ca, ex-

portando toda sua riqueza potencial — a riqu eza do seu solo e de sua mão-de-obra
— por preços irrisórios. E não sobrando recursos para atender as necessidades
internas do país: bens de consumo para o seu povo e equipamentos para o seu
progresso.
Orientada a princípio pelos colonizadores europeus e depois pelo capital
estrangeiro expandiu-se no país uma agricultura extensiva de produtos exportáveis
ao invés de uma agricultura intensiva de subsistência, capaz de matar a fome do
nosso povo.
Os governos se mostraram quase sempre incapazes para impedir esta voraz
interferência dos monopólios estrangeiros na marcha da nossa economia

É mesmo esta a característica essencial do desenvolviment o econômico do tipo


colonialista, bem diferente do desenvolvimento econômico autêntico de tipo
nacionalista. O colonialismo promoveu pelo mundo uma certa forma de progressos,
mas sempre a serviço dos seus lucros exclusivos, ou quando muito associado a um
pequeno número de nacionais privilegiados que se desinteressava m pelo futuro da
nacionalidade, pelas aspirações políticas, sociais e culturais da maioria. Daí o
desenvolvimento anômalo, setorial, li mitado a certos setores mais rendosos, de
maior atrativo para o capital especulativo, deixando no abandono outros setores
básicos, indispensáveis ao v erdadeiro progresso soci al. Como conseqüência desta
visão egoística do progresso econômico se constituiu em vários países de economia
dependente o que alguns sociólog os chamaram de uma “estrutura social [pg. 283]
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dualista” com a superposição de um quadro social bem desenvolvido sobre outro
quadro de total estagnação econômica. Ainda hoje, perdura em certos meios uma
atitude mental fiel às tradições colonialistas inclinada a conceber o progresso
econômico em termos de lucros a curto prazo ou de simples injeção de dólares para
exploração imediata de certos recursos mais abundantes. A dualidade estrutural da
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civilização brasileira — os dois Brasis de Jacques Lambert — constitui a nossa
herança viva, a sobrevivência deste comportamento político que nos impuseram os
colonialistas europeus desde o século XVI. E do qual só agora nos estamos
libertando.

Sob o influxo desta política antinacional cultivaram-se com métodos


vampirescos de destruição dos sol os os produtos de exportação, monopolizados por
meia dúzia de açambarcadores da riqueza do país, constr uíram-se estradas de ferro
exclusivamente para ligar os centros de produção com os portos de embarque destes
produtos e instituiu-se uma política cambial a serviço dest as manipulações
econômicas. Por t rás desta estrutura co m aparência de progresso — progresso de
fachada — permaneceram o latifúndio improdutivo, o sistema da grande plantação
escravocrata, o atraso, a ignorânci a, o pauperismo, a fome.

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