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PÓS-GRADUAÇÃO
contribuições para a reflexão de orientadores
2 a . Edição
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Renata Cristina Oliveira Barrichelo Cunha
Daiane Aparecida Fausto
José Eurico Possebon Cyrino
Organizadores
ORIENTAÇÃO NA
PÓS-GRADUAÇÃO
contribuições para a reflexão de orientadores
2 a . Edição
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Renata Cristina Oliveira Barrichelo Cunha
Daiane Aparecida Fausto
José Eurico Possebon Cyrino
Organizadores
Renata Cristina Oliveira Barrichelo Cunha
Daiane Aparecida Fausto
José Eurico Possebon Cyrino
ORGANIZADORES
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
contribuições para a reflexão de
orientadores
2a. Edição
Piracicaba | PECEGE | 2021
© 2021 PECEGE - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. PERMITIDA A REPRODUÇÃO DESDE QUE
CITADA A FONTE. A RESPONSABILIDADE PELOS DIREITOS AUTORAIS DE TEXTO E IMAGENS
DESTA OBRA SÃO DOS AUTORES.
2a. EDIÇÃO
ORGANIZADORES
Renata Cristina Oliveira Barrichelo Cunha
Daiane Aparecida Fausto
José Eurico Possebon Cyrino
REVISÃO
Fernanda Latanze Mendes Rodrigues
Layane Rodrigues Vieira
C972o
Cunha, Renata Cristina Oliveira Barrichelo.
ISBN: 978-65-86664-73-7
Histórico e Legislação......................................................................... 23
Educação a distância e as mudanças nos paradigmas
educacionais........................................................................................ 28
O professor e a ação docente na educação a distância................ 30
A educação a distância e o aprendiz virtual.................................... 34
Cursos a distância: aspectos fundamentais.................................... 35
Referências.......................................................................................... 40
Introdução........................................................................................... 43
Pedagogia Universitária..................................................................... 45
Comunicação Social............................................................................ 53
Educação a distância e orientação................................................... 57
Discussão............................................................................................. 59
Referências.......................................................................................... 64
O PROFESSOR-LEITOR COMO MEDIADOR NA
produção do texto do aluno 67
Tatiana Fadel e Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto
Introdução........................................................................................... 67
O processo de produção textual e o papel da mediação.............. 68
O problema das interações em EaD................................................. 74
Letramento acadêmico: o mistério.................................................. 75
A leitura em camadas: uma presença que é ausência................... 78
Uma proposta de parâmetros.......................................................... 79
A título de consideração: os comentários como gênero............... 84
Referências.......................................................................................... 86
A ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO:
apontamentos para reflexão pedagógica 89
Renata Cristina Oliveira Barrichelo Cunha e Thiago Antunes-Souza
Introdução........................................................................................... 89
A orientação na pós-graduação stricto sensu: ênfases de
discussão............................................................................................. 92
A pós-graduação lato sensu EaD: o que já se sabe a respeito?.. 101
Considerações Finais........................................................................ 106
Referências........................................................................................ 109
Introdução......................................................................................... 113
As publicações científicas: estrutura, forma e elementos de
estilo................................................................................................... 116
Elementos de estilo na redação científica..................................... 127
Texto original:.................................................................................... 131
Considerações finais........................................................................ 134
Referências........................................................................................ 135
Introdução......................................................................................... 137
Ética no levantamento de dados e na execução de
experimentos.................................................................................... 139
Ética no processamento e na análise de dados............................ 140
Ética na redação de textos técnicos-científicos............................. 143
Ética na relação entre orientados e orientadores, editores e
revisores............................................................................................. 146
Considerações finais........................................................................ 148
Referências........................................................................................ 149
Referências........................................................................................ 157
Boa leitura!
Histórico e Legislação
A Educação a Distância (EaD) surgiu no Brasil bastante
articulada com os propósitos da educação profissional e técnica,
porém nos dias atuais, essa modalidade de ensino faz parte da
educação não-formal e do sistema escolar, envolvendo as redes
públicas e privadas. A educação a distância refere-se ao início
do século passado; há notícias que apontam para o anúncio, 23
em 1904, do primeiro curso por correspondência para formação
de datilógrafos. Nessa mesma linha seguiram, entre as décadas
de 1930 e 1940, o Instituto Monitor em São Paulo e o Instituto
Universal Brasileiro. Em seguida, o surgimento das televisões e
das transmissões via satélite e a cabo impulsionaram o alcance do
ensino a distância, mas foi o advento da internet que trouxe seu
patamar mais exitoso, ou seja, foi a partir da década de 1990 que as
mais significativas realizações ocorreram no sentido de consolidar
esta prática educativa e disseminá-la pelos diferentes sistemas de
ensino, fazendo com que a educação a distância passasse a ser
vista como a forma mais acabada e exemplar da incorporação das
novas tecnologias digitais à educação, sendo quase um sinônimo
desta ocorrência (Pipitone, 2011, p.10).
Em 1996, com a promulgação da Lei 9394 (Brasil, 1996),
definindo as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a
educação a distância ganhou destaque e definições específicas
por meio do seu Artigo 80. A LDB 9394/96 foi regulamentada em
M.A.P. Pipitone
20 de dezembro de 2005 pelo Decreto n° 5.622 (Brasil, 2005), o
mesmo Decreto que, entre seus mais de trinta artigos, estabele-
ceu a obrigatoriedade de momentos presenciais para provas e
também para estágios, atividades de laboratórios e defesas de
trabalhos e monografias, além da exigência de criação de polos
no país e no exterior.
As Portarias MEC nº 2253 (MEC, 2001) e 4059 (MEC, 2004),
de 2004, estabeleceram os requisitos legais que regulamentaram
a oferta de até 20% de disciplinas não presenciais entre os cursos
presenciais prevendo, também, que as avaliações devessem
sempre ser feitas na forma presencial. Essas portarias significaram
uma possibilidade de inovação nas metodologias de ensino a partir
da possibilidade formal e legal da inserção das tecnologias digitais
no âmbito do ensino superior. Mais recentemente a Portaria no
1.428, de 28 de dezembro de 2018, alterou de 20 para 40% o limite
de disciplinas EaD para cursos de graduação presencial, desde que
24 também sejam atendidos alguns outros requisitos (Brasil, 2018b).
Silva (2003) e Pipitone (2011) destacaram que a LDB 9394/96,
de dezembro de 1996, tratou da EaD especificamente em seu artigo
80, mas faz referência à educação a distância em pelo menos outros
três artigos (32, 47 e 87). Tal fato prenunciava que esse tipo de
ensino deixaria de ser visto como programa experimental e precário
para estabelecer-se como uma modalidade educativa com amplo
potencial formativo em todos os níveis e modalidades de ensino,
com disseminação e inserção não associada aos pré-requisitos de
tempo, lugar e presença física, além do destacado potencial de
mudanças nos paradigmas tradicionais do ensino e nos papéis do
professor e do estudante.
O conceito vigente de Educação a Distância no Brasil foi
definido pelo Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005 (Brasil,
2005), que regulamentou o artigo 80 da LDB 9394/96 (Brasil, 1996),
definindo EaD como “modalidade educacional na qual a mediação
didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem
ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
comunicação com estudantes e professores desenvolvendo ativi-
dades educativas em lugares ou tempos diversos”. O mesmo
instrumento legal também definiu que “A Educação a Distância
organiza-se segundo metodologia, gestão e avaliação peculiares,
para as quais deverá estar prevista a obrigatoriedade de momentos
presenciais para: I – avaliações de estudantes; II – estágios obriga-
tórios, quando previstos na legislação pertinente; III – defesa de
trabalhos de conclusão de curso, quando previstos na legislação
pertinente; e, IV – atividades relacionadas a laboratórios de ensino,
quando for o caso” (Brasil, 2005).
Em 1996 foi criada a Secretaria de Educação a Distância (SEED).
Esta secretaria iniciou seus trabalhos orientando e supervisionando
o credenciamento de instituições com propostas de oferta de cursos
a distância e teve como atribuição o estudo e desenvolvimento
dos referenciais de qualidade para educação superior a distância.
A extinção dessa secretaria em 2011 transferiu suas funções para
outras searas administrativas do governo federal, o que resultou 25
em vários transtornos, posto que o processo de criação e avaliação
de inúmeros cursos a distância espalhados por todo o território
nacional estava efervescente, mas também incipiente.
Com o documento intitulado “Referenciais de Qualidade para
a modalidade de Educação Superior a Distância” (Brasil, 2007) que
foi apresentado em 2003 e reeditado em 2007, a extinta Secretaria
da Educação produziu um acervo considerável com importantes
elementos para avaliação da qualidade dos cursos superiores a
distância. Mais recentemente a Secretaria de Educação Superior,
por meio da portaria nº 50, de 3 de julho de 2018 (MEC, 2018a)
instituiu um novo grupo de trabalho com a finalidade de atualizar
e produzir a nova proposta de referenciais de qualidade para a
educação superior a distância.
A história da educação a distância no Brasil também deve
atribuir um importante capítulo à criação da Sistema Universidade
Aberta do Brasil (UAB) por meio do Decreto 5.800, de 8 de
junho de 2006 (Brasil, 2006). A criação da UAB, gerenciada pela
M.A.P. Pipitone
Coordenadoria de Pessoal de Nível Superior (CAPES) vinculada ao
Ministério da Educação (MEC), teve como objetivo desenvolver a
modalidade de educação a distância, além de expandir e interio-
rizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País.
O sistema UAB teve seu programa de ação baseado na articulação
de diferentes instituições, sejam as federais, estaduais, municipais
e/ou privadas, para oferta de cursos destinados à formação e
qualificação de professores, dirigentes, gestores e outros traba-
lhadores da educação, notadamente aqueles com dificuldade de
acesso aos centros de ensino superior. A ação consorciada destas
instituições tornou possível a implantação de cursos de graduação
e de pós-graduação.
De acordo com o MEC (2019), das 204 mil matrículas na
UAB, 85% são ocupadas por professores da educação básica. O
programa, que contribui na expansão e interiorização do ensino
superior a distância no País, é desenvolvido em quase 900 polos,
26 sendo que mais da metade está localizada em municípios com
menos de 100 mil habitantes.
Ainda de acordo com as informações do Censo da Educação
Superior de 2017 (Brasil, 2018), o número de ingressos em
cursos de graduação a distância tem crescido substancialmente
nos últimos anos, aumentando sua participação no total de
ingressantes de 15,4% em 2007 para 33,3% em 2017. Em 2007, a
modalidade a distância representava 7% das matrículas em cursos
de graduação, mas em 2017 a EaD passou a representar 17,6% das
matrículas em cursos de graduação atendendo mais de 1,7 milhão
de alunos, o que representa 21,2% dos alunos de graduação no
país. Em 2017 a modalidade presencial apresentava, de acordo
com o referido documento, o 2º ano consecutivo de queda no
número de matrículas.
Entre os cursos de licenciatura e/ou formação de profes-
sores a expansão dos cursos a distância é mais evidente, pois
1.589.440 alunos frequentam cursos de licenciatura no Brasil, o
que representa 19,3% do total de alunos na educação superior
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
de graduação. Em 2017, a matrícula na modalidade a distância
manteve sua tendência de crescimento, enquanto a modalidade
presencial tem praticamente o mesmo número de alunos de 10
anos atrás (Brasil, 2018).
A educação a distância não só cresceu, mas consolidou
sua posição, como é possível constatar pela observação de que
o número de cursos no país também aumentou, de 2016 para
2017, algo em torno de 26,8%. Vale destacar que, ao contrário
do que ocorreu nos cursos de EaD, o número de estudantes
nos cursos superiores presenciais caiu 0,4% de 2016 para 2017.
As instituições de ensino privadas respondem por 75,3% das
matrículas, e, quando observamos somente os cursos de EaD,
essa participação aumenta, tendo em vista que, nesse caso, as
instituições particulares de ensino superior respondem por 90,6%
dos estudantes (Brasil, 2018).
Um dado importante se refere à formação de professores.
Pela análise dos dados do referido Censo da Educação Superior 27
(Brasil, 2018) é também possível apurar que as matrículas em
cursos de licenciatura a distância em 2016 eram de 42,1% e em
2017 esse valor passou para 46,8%. Ao todo, as licenciaturas
representam 19,3% das matrículas no ensino superior.
A promulgação do Decreto Nº 9.057 (Brasil, 2017), de 25 de
maio de 2017, que atualizou a legislação sobre a regulamentação
do ensino a distância no Brasil, pode ter sido um dos fatores
responsáveis pela expansão recente da EaD no país e, também,
pelo crescimento vindouro. Nos termos do Decreto em questão, a
criação de polos de EaD pelas instituições de ensino superior e o
credenciamento de instituições na modalidade EaD passou a ser
possível sem o credenciamento prévio para a oferta presencial.
Com tal regulamentação, as instituições poderão oferecer,
exclusivamente, cursos a distância, sem a oferta simultânea de
cursos presenciais. Porém, o Decreto não permite a formação
100% virtual e as avaliações, estágios e atividades de laboratórios
ainda permanecem sendo feitas de forma presencial. Outro
M.A.P. Pipitone
destaque do decreto é a regulamentação da oferta de cursos a
distância para educação básica seguindo as determinações da
LDBEN e em caráter emergencial. Indubitavelmente, esta é uma
questão que ainda requer muita análise e discussão. Finalmente,
o Decreto Nº 9.057/17 também regulamentou a oferta de cursos
a distância para o ensino médio e para a educação profissional
técnica de nível médio. Nessas modalidades, as mudanças ainda
vão seguir critérios adicionais a serem estabelecidos pelo MEC, em
consonância com os demais sistemas de ensino.
A legislação referente à EaD aliada ao expressivo crescimento
no âmbito dos sistemas formais e não formais brasileiros,
confirmam que a educação a distância conseguiu deixar de ser
uma estratégia educativa paliativa e descontinuada para fazer
parte do processo regular e sistemático da educação. A EaD
definitivamente pode ser vista e aceita como uma modalidade de
ensino. Em adição, a tecnologia digital trouxe inúmeros recursos
para inovar as salas de aulas, os planejamentos de ensino e os
28
papéis, perfis e atribuições de alunos e professores. Constata-se
finalmente que a expansão da educação a distância se deu de
diferentes formas, já que atualmente é possível se matricular em
cursos desenvolvidos com atividades exclusivamente a distância,
com encontros presenciais além da oferta de disciplinas a distância
oferecidas como parte de cursos presenciais.
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
uma vez que a tecnologia faz parte das nossas atividades diárias,
da nossa cultura, das novas formas de se relacionar, produzir e
se comunicar deve, também, incorporar-se às novas formas de
aprender e ensinar exigindo muitas pesquisas, análises, reflexões
e aprimoramentos sobre as variáveis que interferem em todo
esse processo e que caracterizam o chamado modelo inteligente e
flexível de aprendizagem descrito por Luzzi (2007), como transição
para um modelo integrado pela realidade virtual e traduzido como
“automatic virtual environments”.
Todo esse desenvolvimento foi inicialmente apontado por
Levy (1999) ao definir o mundo virtual, o espaço em rede ou o
ciberespaço como o espaço não físico formado pelo conjunto
de rede de computadores que configura a geografia móvel da
informação. Na mesma linha figuram como pressupostos de todo
esse processo os estudos de Castells (1999), que definiu o conceito
de sociedade em rede, na qual a confluência de fatores sociais,
políticos e econômicos conjugados ou impulsionados pelo advento 29
das novas tecnologias da comunicação foi capaz de alterar toda
nossa forma de ser e estar no mundo.
Tapscott (2010) também discorreu sobre as mudanças e
repercussões dos novos hábitos introduzidos nas várias sociedades
pelos jovens que cresceram usando a internet como algo natural.
O autor descreve o advento de uma geração digital e global que
se formou por meio da disseminação da tecnologia a despeito das
fronteiras geográficas e dos valores locais. Serres (2013) chamou
esse jovem que não se desliga do ciberespaço e que tem seu
smartphone como companheiro e quase como uma extensão de
suas mãos por “polegarzinho” e “polegarzinha”. A tecnologia está
sempre na palma das mãos e os polegares desses jovens e crianças
estão sempre em contato com o computador, como uma cabeça ou
uma caixa cognitiva objetivada e exteriorizada à sua frente.
No lastro das iniciativas que se configuram como o evidente
processo de consolidação da educação a distância no Brasil, um
tema ganha destaque e aparece como tema recorrente em artigos
M.A.P. Pipitone
e pesquisas da área: a incorporação das tecnologias da informação
e comunicação aos processos educacionais e sua força propulsora
de mudanças nos processos de ensino e aprendizagem e nas salas
de aula tradicionais.
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
posteriormente, se transformará numa nova estrutura ou numa
estrutura reorganizada” (Schlemer, 2010, p. 106).
A verdade é que se os recursos e os meios com os quais
se interage numa sociedade permeada pelo mundo digital são
diferentes; parece razoável afirmar que a construção, uso e a
reflexão sobre o uso pedagógico destes recursos também precisam
de muita análise, testes e avaliações por parte dos professores. E
isso se dá na forma de um processo que embora tenha seu próprio
ritmo, deve ser enfrentado e iniciado com brevidade.
Pipitone (2011) reforçou ainda que a tecnologia digital,
ou mesmo a EaD, não vieram à cena educacional para reduzir a
formação dos professores a um simples treinamento para o uso
de uma nova técnica ou recurso, algo que se constituiria apenas
em mais um exemplo de uso conservador de uma tecnologia
moderna. Também é ilusório imaginar que as tecnologias possam
ser elevadas ao status de substituir o professor. O fim e o meio
estão apontados para os professores e a eles cabe esta inalienável
31
missão de ensinar por meio das tecnologias digitais, entre outras.
De fato, entre as considerações mais importantes a esse respeito,
ganha destaque o trabalho de Moore (2002) que apresentou o
conceito de distância transacional como o espaço psicológico
e comunicacional que precisa ser transposto quando aluno e
professor se separam geograficamente.
A distância transacional existe também em cursos presenciais,
ou seja, não é uma particularidade exclusiva de cursos a distância.
Todavia, este conceito é sempre lembrado em experiências de EaD
no sentido de encontrar as melhores estratégias ou ações didáticas
que promovam a diminuição da referida distância transacional.
Belloni (2001) afirmou que na EaD a interação entre professor
e aluno ocorre de modo indireto no espaço (descontíguo) e no
tempo (comunicação diferida, não simultânea), o que implica no
significativo acréscimo de complexidade ao processo de ensino e
aprendizagem, que é inerentemente complicado em sua natureza.
A mediação pedagógica destaca-se então como importante e
complexa competência exigida do professor engajado na atividade
M.A.P. Pipitone
EaD. Não é uma competência nova; novos são os recursos
disponíveis e o reconhecimento de seus limites e possibilidades
de uso por parte do professor. Outra variável interveniente na
qualidade técnica e pedagógica da mediação pedagógica em EaD
se refere à qualidade dos materiais de ensino utilizados sob a
forma de CD-ROM, videoconferência, texto para fóruns, salas de
“bate papo” etc.
A partir destas considerações parecem ganhar espaço
as práticas pedagógicas que consideram ambos, professores
e estudantes, como coparticipantes do processo de ensino e
aprendizagem em EaD. O professor, pelo seu papel e formação,
deverá intervir proporcionando as melhores relações de mediação
dos alunos com o conhecimento, com os colegas e com o mundo.
Assim, cai por terra a figura do professor detentor absoluto do
saber, cujo papel é o de transmitir os saberes acumulados para
um conjunto de alunos passivos e desprovidos de saberes. Por sua
vez, o “ciberespaço” também pressupõe o final da passividade do
32 aluno diante da possibilidade de atuar ativamente na construção
de sua formação, de seus conhecimentos, num processo alicerçado
na autonomia, na interação e na interatividade.
Pipitone (2011) também demonstrou que além da separação
de tempo e espaço existente entre estudantes e professores na
EaD, outros elementos vieram associar-se ao novo contexto da
educação com as tecnologias digitais. Um deles é a velocidade com
que as informações são produzidas, disseminadas e transformadas,
trazendo nova concepção de espaço e temporalidade, sem
horizontes ou término; outro elemento é a simultaneidade que
marca toda ocorrência e fatos da vida em sociedade. Finalmente,
é necessário entender que, atualmente, a memória social está
organizada em diferentes linguagens e diferentes repositórios.
Ramal (2003) constatou que a EaD realizada com tecnologia
digital pode trazer contribuições às estruturas curriculares
rígidas e disciplinares comuns nos sistemas de ensino formais
e presenciais. A potente inovação pode ocorrer por meio do
hipertexto, o hipertexto, tanto na forma “on-line” como “off-line”, se
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
caracteriza por um conjunto de informações textuais combinadas
com imagens, sons e organizadas de forma a promover uma
leitura não-linear, baseada em indexações e associações de ideias
e conceitos, sob a forma de links (Lemos, 2002). Esta compreensão
está positivamente alinhada com as práticas pedagógicas
orientadas por uma base curricular transversal e interdisciplinar,
bastante compatível com as relações sem fronteiras e com o
compartilhamento de conhecimentos em rede caracterizados
pelo ciberespaço ou pela sociedade do conhecimento em rede.
Para Pipitone (2011) em termos do padrão clássico da
informação e comunicação que se baseia na ligação emissor–
mensagem–receptor, a sala de aula tradicional está vinculada ao
modelo “um para todos”, separando a emissão ativa e recepção
passiva, e a sala de aula “on-line” está configurada na perspectiva
da interatividade entendida como “todos-todos”. Esta compreensão
logicamente deve ampliar as atribuições do aluno em sua trajetória
de aprendizagem.
Moore e Kearsley (2008) esclarecem que, em virtude de 33
a comunicação constituir-se em um dos aspectos básicos da
EaD, antes da sua decisão de uso pedagógico, todo professor
precisa conhecer um pouco sobre o potencial, as vantagens e
desvantagens de cada recurso de tecnologia e/ou mídia. Isso
implica numa desejável situação de uso analítico e reflexivo dos
recursos e das estratégias de ensino.
Para tanto, seria interessante que os professores estivessem
qualificados para uso pedagógico das mídias digitais e internet,
mas, conforme estudo feito por Barreto e colaboradores (2016)
com professores de escola estadual paulista de educação básica,
os docentes demonstraram que têm acesso e estão bastante
familiarizados com tais tecnologias, utilizando-as para o preparo de
aulas (ainda que pouco) e para atividades diversas, principalmente
as ligadas ao lazer, entretenimento e comunicação. Acontece que,
apesar de familiarizados, as atividades mais realizadas estão entre
as menos complexas. Além disso, os professores não parecem
demonstrar fluência tecnológica, visto que a maioria declarou
M.A.P. Pipitone
ter domínio intermediário e básico sobre os softwares em geral.
Vale ressaltar que a fluência tecnológica é um pré-requisito da
fluência pedagógica que caracteriza a inserção livre, responsável e
competente da tecnologia digital em sala de aula.
O uso combinado de diferentes mídias ou tecnologias é
sempre desejável, pois atinge diferentes estilos de aprendizagem
e, como os cursos a distância são dirigidos a grandes públicos,
esta é uma vantagem considerável. É claro que cada opção de uso
aumenta o tempo e o custo do desenvolvimento do curso. O curso
desenvolvido para EaD deve sempre oferecer ao aluno um guia
de estudos em que apareçam as descrições das diferentes mídias
utilizadas, com instruções de uso, na forma de um tutorial.
Face ao exposto parece possível concluir que professor e
aluno terão novas tarefas diante da internet como fonte de conhe-
cimento e de formação. Para tanto, ambos terão que desenvolver
fluência tecnológica, domínio da linguagem e das demais habilida-
des sociais e éticas necessárias para a aprendizagem colaborativa e
34
para a produção do conhecimento em rede.
A educação a distância
e o aprendiz virtual
Maia e Mattar (2007) comentaram que o notável desen-
volvimento tecnológico aplicado na consolidação da educação a
distância evidencia o surgimento do “aluno universal” ou “aprendiz
virtual”. A partir dessa concepção, vale dizer que este aluno tem a sua
disposição a possibilidade de participar, formal ou informalmente,
por meio de disciplinas, cursos ou atividades complementares, de
uma ou várias instituições de ensino, do país e do mundo, inclusive
ao mesmo tempo. Trata-se do aluno que aprende ao longo da vida
(“lifelong learning”) e que precisará aprender a lidar com a ausência
da presença física e com novos e diferentes trabalhos que conti-
nuarão a exigir persistência, disciplina, organização, profundidade
e afinco em suas atividades de estudo. A flexibilidade de aprender
o que quiser e quando puder tem sido bastante aproveitada pelas
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
empresas e instituições de ensino que, com o advento da EaD,
puderam organizar cursos a partir das necessidades pontuais do
mercado e das organizações.
Acerca da declarada autonomia para aprender como marca
da EaD, Pipitone e Raffo (2010) esclarecem, no entanto, que é ilusória
a crença de que todo adulto é autônomo e disciplinado o suficiente
para ser capaz de organizar o tempo e as necessidades de estudo
conforme é exigido num processo de educação a distância. Além
da autonomia e do acesso a um computador conectado à internet,
o aluno universal e aprendiz virtual precisa conhecer e respeitar as
normas de uso solidário, ético e respeitoso do espaço em rede.
No momento que o professor estimula seu aluno a se envolver
com chats, fóruns ou redes sociais, ele passa a ser consumidor e, ao
mesmo tempo, produtor de conteúdo. Esta dupla condição transforma
o estudante da EaD em membro ativo e cocriador do conhecimento,
condição que exige respeito e alteridade com as considerações alheias,
além de análise e reflexão antes de emitir comentários, opiniões e 35
considerações. O contato face a face pode não existir, mas é certo que
sempre haverá uma pessoa por trás das telas.
Cursos a distância:
aspectos fundamentais
A partir de dados coletados por Pipitone (2012) em pesquisa
realizada com professores vinculados à Diretoria Regional de
Ensino de Piracicaba, os quais participaram de edições de cursos
oficiais de formação continuada durante os anos de 2008 e 2009,
foi possível elencar alguns tópicos que, segundo os participantes
da pesquisa, caracterizam um bom curso a distância. O conhe-
cimento de tais aspectos pode ser útil para os usuários, bem
como para os organizadores da oferta de cursos no formato a
distância. São eles:
M.A.P. Pipitone
a qualquer tempo, sobre seus trabalhos e sobre seu
progresso no curso;
36
👉 promover a qualificação prévia dos professores e/ou
tutores no que se refere às questões de tecnologia e
do ambiente virtual de aprendizagem (AVA), à proposta
pedagógica do curso, ao tema do curso com suas especi-
ficidades e aos fundamentos pedagógicos característicos
do trabalho docente;
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
rativo e a solução de problemas, evitando trabalhos e
avaliações que favoreçam cópias ou plágio;
M.A.P. Pipitone
👉 estimular o letramento digital dos cursistas envolvidos
como forma de inserção dos mesmos à cultura digital e
ao uso das tecnologias como recursos pedagógicos; e,
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
👉 avisar os alunos quando da iminência da entrega de ativ-
idades e/ou relatórios individuais e em grupo, observar a
existência de dúvidas e propor soluções;
M.A.P. Pipitone
Bem-vindos a esta realidade cada vez mais presente em nosso
dia a dia, ao novo paradigma educacional da sociedade brasileira.
Referências
Barreto, L.M.C.; Pipitone, M.A.P.; Brandão, D.F.R.; Pacheco, B. 2016.
Inserção de tecnologias digitais na educação básica: estudo de caso
de uma escola brasileira. Revista Iberoamericana de Educación, 71(2):
47-66.
Brasil. 1996. Presidência da República. Lei nº 9394 de 20 de dezembro de
1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário
Oficial da União. 23 dez. 1996. Brasília, DF, Brasil. Seção 1, p. 27833-
27841.
Brasil. 2005. Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta
o art. 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <https://
www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2005/decreto-5622-19-
dezembro-2005- 539654-publicacaooriginal-39018-pe.html>. Acesso
em: 24 jun. 2019.
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M.A.P. Pipitone
2
PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA E
O CONTEXTO DE EAD:
interfaces na educação,
orientação e a problemática
na comunicação
Introdução 43
Nós humanos, animais sociais que somos, sempre sentimos a
necessidade da comunicação, com o passar das eras, a sociedade se
desenvolveu de maneira complexa, social e tecnológica. As formas
de comunicação não ficaram para trás e vêm se alterando, sobre-
tudo com a influência das novas tecnologias. Fruto deste cenário, a
discussão sobre a aprendizagem a distância já é uma realidade no
campo da Educação Universitária. Instituições públicas e privadas
cada vez mais lançam mão da tecnologia para expandir o alcance
de seus campos de atuação. É, então, na interface entre Pedagogia
Universitária e comunicação social que será analisada a Educação a
Distância (EaD).
Nessa interface é possível elencar algumas reflexões e
questionamentos acerca do tema: já que a dinâmica do olho no
olho entre professores e alunos é algo distante da realidade da
EaD como minimizar os impactos dessa distância? O tempo de
resposta (“delay”) é capaz de gerar um diálogo? Como trazer a
concepção da construção do conhecimento numa realidade onde
44
Figura 1. A Tríade
Fonte: original dos autores
1
Pesquisa “Qualidade do ensino de graduação: a relação entre ensino, pesquisa e
desenvolvimento profissional docente” desenvolvida com apoio do CNPq e FAPERGS
(2009-2011).
Comunicação Social
A Comunicação Social é uma ciência social aplicada, cujo objeto
tradicional de estudo é (os meios de) a comunicação de massa. Os
53
meios mais frequentes são o jornal, a televisão, o rádio, o cinema e
a internet. Vicente (2009, p. 41) explicou profundamente que o eixo
da construção da “comunicação social reside no reconhecimento
das nuances de cada meio de comunicação, no estudo de suas
repercussões na construção da sociabilidade e na formação e
divulgação de ideias e valores”. O campo da comunicação social
é perpassado por diversas teorias que analisam os efeitos dos
processos comunicacionais nos comportamentos dos indivíduos e
na sociedade ao longo do tempo e a atual sociedade da comunicação
consciente desses efeitos.
A importância de um processo de lucidez sobre a capaci-
dade de comunicar e influenciar o meio em que se está inserido
desperta o interesse sobre o impacto de determinada mensagem
a um receptor ou a um grupo de receptores. Podemos entender
um pouco mais sobre esta sinergia através do esquema organi-
zado por Kotler e Armstrong (1999, p. 319) (Figura 2), observando
as definições:
Discussão
A busca pela construção desta tríade leva-nos a perceber
que a articulação dessas temáticas necessita, ainda, de amplos
estudos que por um lado façam emergir a apresentação de
pontos a serem refletidos, relacionados à educação a distância,
e por outro destaquem as possíveis contribuições da Pedagogia
Universitária e o papel formativo que a comunicação social pode
vir a desencadear nesse universo. A problemática da comunicação
social dentro desse contexto educacional é o entendimento de
que a ação formativa nunca deve ficar pautada na transmissão de 59
informação. Nesse sentido, é possível verificar que muitos cursos
que se configuram nesse modelo ainda se deparam com o desafio
de realizarem um processo formativo que extrapole as barreiras
do aspecto transmissão, ou seja, que foquem no desenvolvimento
da construção real de conhecimentos específicos e profissionais
que exige muito mais articulações do que a simples transmissão
de informações. E isso ocorre durante todo o processo formativo,
desde as aulas, até as orientações de trabalhos.
Nessa direção, a Pedagogia Universitária nos convida a
olharmos a ação afirmativa dos professores universitários que, em
muitos casos, não vivem o dia a dia da formação de seus alunos
em ambientes virtuais. Ainda dentro do universo da Pedagogia
Universitária destacamos aqui o eixo que foca na organização
do trabalho pedagógico justamente por ser ele que precisa ser
mais bem compreendido nesse contexto virtual. É fundamental
que os docentes que elaboram os conteúdos, participam das
aulas virtuais e das orientações, recebam formação relativa a essa
65
Tatiana Fadel
Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto
Introdução
A discussão apresentada neste texto é parte das reflexões
do grupo de pesquisa Alfabetização, Leitura, Escrita e Trabalho
Docente na Formação de Professores (ALLE-AULA) da Faculdade
de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Nosso
grupo tem atuado de forma a colaborar na produção acadêmica 67
sobre alfabetização, leitura, escrita, literatura, história e memória
das instituições e de objetos culturais, afetividade e tecnologia,
organizadas em quatros grandes eixos: alfabetização, leitura,
escrita e formação docente - inicial e/ou continuada.
Nos limites deste texto discutiremos a mediação realizada
pelo professor orientador no texto do aluno, o autor, consideran-
do, ainda, a problemática das interações em Educação a Distância
(EaD). Para tal, tomaremos como referência teórica para a discus-
são da mediação os pressupostos da abordagem histórico-cultural
de Vigotski (1989). No que diz respeito à produção textual, buscare-
mos ancoradouro na discussão proposta por Bakhtin (2002, 2003)
acerca da linguagem. Para refletir sobre a mediação na produção
de texto pelas interações em EaD, apoiar-nos-emos em Boyd e
Apps (1980). Por fim, e não menos importante, Street (2010) e Fiad
(2011) embasaram a discussão sobre letramento acadêmico.
Entendemos que essa discussão se faz pertinente, uma vez
que o papel do professor-orientador é o de ser interlocutor do aluno
1
Nos estudos relativos às propostas e às análises de processos de produção textual, o processo
de revisão aparece designado de formas distintas segundo diferentes autores, tais como: revisão,
refeitura, refacção, reprodução, reelaboração e reestruturação. Neste texto utilizaremos todos
eles como equivalentes.
2
O olhar alteritário diz respeito ao termo alteridade. Nossa constituição como sujeitos e, consequentemente
como autores, acontece em um processo que não surge e/ou nasce em nós mesmos, mas em relações
históricas e socialmente determinadas. A alteridade tem como pressuposto a relação entre sujeitos.
3
O significado de texto vem do latim tecido. Bakhtinianamente podemos dizer que o texto vai
sendo tecido pelas inúmeras vozes/palavras que se entrelaçam no movimento da textualização.
4
A interação pode acontecer de diversos modos não sendo necessariamente presencial.
5
O termo filtragem foi utilizado por Brandão (1997) em análise da leitura a partir das teses de
Bakhtin, mediada pelas ideias de Maingueneau.
6
Entendemos que a autonomia não nega a influência do outro, sendo sempre relativa. Nessa
concepção o sujeito atua de forma autorregulada, ou autônoma, ancorando-se no conceito
de reflexividade, ou seja, da relação consigo mesmo a partir dos enunciados alheios (Cunha e
Ometto, 2016).
d) coerência textual
Ainda que seja determinante e facilmente identificada, quando
presente, a coerência é um conceito complexo que, segundo Koch
(2001, p. 21), “(...) está diretamente ligada à possibilidade de se
estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é que faz com que o
texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida 83
como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do
texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor
tem para calcular o sentido deste texto. Portanto, para haver
coerência é preciso que haja possibilidade de estabelecer no texto
alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos.”
A coerência será entendida aqui como um conjunto de
aspectos organizacionais do texto, como a articulação dos
conteúdos numa sequência lógica, progressiva e plenamente
informativa, sem repetições, contradições ou circularidades. Os
problemas de coerência podem ser locais, em geral relacionados às
escolhas linguísticas feitas pelo aluno, que afetam a inteligibilidade
do trecho (o uso de um “portanto” em lugar de um “porque”, por
exemplo, pode tornar uma frase incompreensível) ou globais, que
ocorrem quando, por exemplo, a questão de investigação proposta
pelo aluno não é respondida no decorrer do texto, ou quando há
contradição entre partes significativas da monografia/artigo (como
a conclusão do trabalho não corresponder às análises dos dados).
A título de consideração:
os comentários como gênero
84
Sabendo que o processo de produção de um texto envolve
a compreensão do lugar de autoria pelo aluno a partir do comen-
tário do representante leitor, os procedimentos de produção,
revisão e análise sobre a própria escrita, compartilhados entre
aluno-autor e professor-leitor, são constitutivos dos sujeitos,
ambos são o avesso e o direito de uma mesma tessitura. Nesse
movimento é possível que os orientadores, professores-leitores e
os alunos-autores experimentem-se na volta ao caminho percor-
rido, vivenciando, pela escrita, a construção da autonomia autoral.
No entanto, reconhecer a mediação do professor em relação ao
aluno não significa desconsiderar as mediações dos alunos sobre
os professores. Nesse sentido, entendemos que “a centralidade
da dimensão [interlocutiva] da prática [de orientação] não [é
apenas um] princípio a ser anunciado, mas vivido na formação”
(Ometto e Cristofoleti, 2016, p. 86) tanto do aluno-autor como do
orientador/professor-leitor. Afetados pelas alterações realizadas
nos textos pelos alunos-autores, os professores-leitores realizam
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Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Thiago Antunes-Souza
Introdução
Como o campo da pesquisa acadêmica vem se ocupando
da discussão acerca da orientação na pós-graduação? A partir
desta interrogação o artigo discute o processo de orientação na 89
pós-graduação stricto e lato sensu, enfatizando a relação orienta-
dor-orientando, e problematiza, de modo particular, os desafios do
acompanhamento da elaboração das monografias nos cursos de
pós-graduação lato sensu na modalidade ensino a distância (EaD).
O texto apresenta o estado do conhecimento de artigos publi-
cados no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES), artigos disponíveis no Google
Acadêmico, dissertações e teses da Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações (BDTD) e comunicações completas da seção
“Investigação Científica” publicadas nos anais dos Congressos
Internacionais de Educação a Distância (CIAED), promovidos pela
Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED). Os resul-
tados encontrados foram decorrentes da combinação de várias
palavras-chaves, considerando-se que os termos “pós-graduação”
ou “educação a distância”, quando utilizados isoladamente, ofere-
ciam um universo muito amplo de trabalhos. A esses termos foram
Anais do CIAED 00 01
Total 15 11
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
No caso da temática em questão, muito embora o volume
da produção científica não seja expressivo, o que revela que a
orientação não é um objeto de estudo abordado por um número
significativo de pesquisadores, como já referido por Corrêa (2012),
Alves, Espindola e Biachetti (2012) e Fernandes (2013), torna-se
importante sistematizar o conhecimento produzido até o momento
para situar a discussão e fomentar outras pesquisas e, sobretudo,
conferir aos resultados dos estudos publicados e discussões
teóricas já desenvolvidas, um caráter formativo para orientadores
interessados no parecer de sua atuação.
A produção mais referida nos artigos, dissertações e teses
analisados é a obra organizada por Bianchetti e Machado (2002),
um dos primeiros livros a tratar da atividade de orientação. Os
autores chamaram a atenção para o fato de que são escassas as
referências à função de orientar e que, justamente por não se
constituir como alvo de pesquisas, faltam teorizações acerca de um
objeto tão complexo como o processo da orientação. 91
Severino (2002 apud Bianchetti e Machado, 2002, p. 77-78)
definiu a função do orientador, que também é assumida neste
trabalho: “A função do orientador deveria ser aquela de um
educador, cuja experiência, mais amadurecida, ele compartilha
com o orientando, num processo conjunto de construção de
conhecimento. Duas partes interagindo, num processo de diálogo,
respeitando-se a autonomia e a personalidade de cada uma das
partes. O orientador não é nem pai, nem tutor, nem advogado de
defesa, nem analista, mas também não é feitor, coronel ou coisa
que o valha. Ele é um educador, estabelecendo com seu orientando
uma relação educativa, com tudo o que isso significa no plano da
elaboração científica”.
Neste contexto, merece também destaque a obra organi-
zada por Schnetzler e Oliveira (2010), que problematizaram e
evidenciaram os múltiplos aspectos que constituem a formação e
constituição profissional de orientadores de trabalhos científicos e
questionaram a noção de que saber pesquisar autoriza a atividade
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
ênfases: a falta de formação dos orientadores para a atividade
da orientação; as dificuldades na relação orientador-orientando;
a construção da escrita e da autoria; e o desenvolvimento da
autonomia do orientando.
A questão da formação para o desempenho da função de
orientadores, conforme já situado por Schnetzler e Oliveira (2010),
é objeto de atenção dos trabalhos de Dias, Patrus e Magalhães
(2011), Fernandes (2013), Nóbrega (2018) e Freitas e Souza (2018).
A partir da pergunta “para você, o que é ser professor orien-
tador?”, Fernandes (2013) entrevistou professores orientadores
do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte e nas análises a autora assinalou
que não existe formação para o trabalho de orientador, sendo
que tal prática educativa vai se alicerçando nas interlocuções e
na empatia. Destacou que “há uma compreensão unânime dos
entrevistados que para serem orientadores é preciso estar junto,
aprender, discutir, crescer e abrir horizontes, a saber, partilhar 93
conhecimento, dar um espaço na sua vida para uma pessoa,
embora deem legitimidade para que em certos momentos essa
relação seja sofrível, porque nem sempre acontece a boa relação
afetiva” (Fernandes, 2013, p. 129).
A autora acena para a compreensão de que não há formação
e técnicas específicas que norteiem o processo de orientação,
estando este mais ligado às singularidades das condições relacionais
que se estabelecem. Em consonância com essa perspectiva de que
os orientadores aprendem a orientar orientando, isto é, a partir da
própria prática, Dias, Patrus e Magalhães (2011) sistematizaram
uma metodologia de orientação para a escrita de trabalhos
científicos considerando as exigências de forma-conteúdo do
gênero acadêmico.
No entanto, Nóbrega (2018) questionou essa formação
baseada exclusivamente na própria experiência, considerando-a
insuficiente. Refuta, inclusive, o pressuposto de que a experi-
ência com o projeto de pesquisa, defesa da tese de doutorado e
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
processo de orientação acadêmica ocorrem de diversas maneiras,
sendo possível destacar: estimular a autonomia do orientando;
ler e devolver os comentários o mais rápido possível; manter-se
sempre atualizado com as temáticas de trabalho; tornar viável
a delimitação do objeto; contribuir com bibliografia adequada;
respeitar os encontros definidos no cronograma; dispor de tempo
para atendimentos etc. Os orientadores apontaram a dificuldade
dos orientandos com a escrita acadêmica e a resistência de alguns
para refazer os textos, quando necessário; a falta de domínio da
literatura e da metodologia para desenvolver a pesquisa; a falta
de tempo para se dedicar ao curso, e a dificuldade em cumprir os
prazos acordados como aspectos que comprometem a elaboração
e qualidade do trabalho no processo de orientação.
A análise das respostas dos questionários dos orientandos
confirmou que a maioria valoriza a boa relação com o orien-
tador como condição para o êxito do trabalho, destacando a
cordialidade, dedicação, disponibilidade e acesso ao orientador. 95
As queixas mais recorrentes referiram-se à falta de tempo do
orientador; demora com devolutivas; pouca ajuda nas correções
do texto, especialmente quando o orientando tem dificuldades
com a escrita acadêmica; leitura atenta e antecipada antes dos
encontros de orientação; necessidade de ajustar o foco do projeto
em função da linha de pesquisa do orientador; e divergências
ideológicas (Viana e Veiga, 2010).
Viana e Veiga (2010) confirmaram alguns dos resultados
já apontados por Leite Filho (2004) quando analisou o processo
de produção de teses e dissertações de um programa de pós-
graduação em contabilidade. As entrevistas com orientandos
e orientadores evidenciaram que enquanto os orientandos
valorizam mais a convergência dos interesses de pesquisa, a
afinidade pessoal e a empatia, os orientadores tendem a se
preocupar com as competências técnicas dos orientandos e seus
conhecimentos sobre a área de pesquisa de interesse e experiência
em metodologia de trabalho científico.
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
Entre as dificuldades na relação orientador-orientando,
o acompanhamento da produção escrita e a comunicação com
os orientandos apresentam-se como desafios. Vicentini (2007)
investigou o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA-AD) como
instrumento de apoio à orientação do curso de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa
Catarina. O autor entrevistou professores orientadores do pro-
grama para levantar informações sobre como utilizavam esse
ambiente durante o processo de orientação de dissertações e
teses partindo do pressuposto que este promoveria flexibilidade
com relação à organização das etapas do trabalho e gestão do
tempo. Os dados analisados evidenciaram um consenso entre os
orientadores de que a qualidade do desenvolvimento das pes-
quisas e das orientações está mais relacionada ao orientando
do que ao ambiente virtual: “é possível perceber que a opinião
é quase unânime de que não adianta a disponibilidade de ferra-
mentas se não há comprometimento e disposição por parte dos 97
orientandos” (Vicentini, 2007, p. 98).
A elaboração da dissertação/tese e a questão da autoria
foram discutidas particularmente por Bianchetti (2007) e Targino
(2012). Alguns aspectos concernentes à escrita já foram destacados
anteriormente por Viana e Veiga (2010). Bianchetti (2007) abordou
os desafios de escrever dissertações e teses e destacou que a
construção da autoria não envolve somente aspectos acadêmicos,
englobando outras instâncias da vida do pós-graduando, como os
sentimentos de insegurança, desconforto e medo da exposição.
A defesa da dissertação/tese constitui um rito de passagem que
muitos pós-graduandos entendem como um “teste” para seu
futuro profissional. Dependendo de como lidam com o estresse,
vencem essa barreira ou sucumbem. Segundo o autor, a escrita
e a exposição são os motivos que mais justificam as desistências.
Targino (2012) centrou sua atenção em outro ponto,
problematizando a participação do orientador como autor ou
coautor nos trabalhos dos alunos. O autor argumentou que a
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
otimismo e confiança na sua capacidade de produção; apontar
com respeito as dificuldades e os problemas que precisam ser
revistos. Do ponto de vista profissional pode-se ressaltar a neces-
sidade de o orientador provocar a reflexão e, ao mesmo tempo,
respeitar a condição de pesquisador iniciante do orientando,
integrando-o na pesquisa do grupo. No que se refere aos aspectos
teórico-metodológicos, Viana (2008) reforçou a importância dos
encontros sistemáticos entre orientadores e orientandos, a leitura
prévia dos textos pelos orientadores para esses encontros, e do
ponto de vista institucional, enfatizou que o respeito aos prazos,
tanto pelos orientandos como pelos orientadores, é fundamental
para que os objetivos da orientação acadêmica sejam cumpridos.
Costa, Sousa e Silva (2014) também concordaram que
muito embora a autonomia dos estudantes seja uma das compe-
tências mais valorizadas pelos professores de pós-graduação,
é preciso compreendê-la como um processo de aprendizagem
99
auto direcionada e dependente de fatores como disposição e
motivação para aprender, além de experiências prévias e auto-
conhecimento do pós-graduando. Argumentaram também que a
autonomia é construída na relação entre orientador e orientando,
no processo de acompanhamento das atividades acadêmicas,
que variam de situações mais próximas (“hands on”) e mais
distantes (“hands off”). Segundo os autores, deixar de auxiliar o
aluno não contribui com o processo de formação da autonomia;
pelo contrário, costuma reforçar os sentimentos de insegurança
e angústia e estimular a evasão.
A pesquisa de Viana e Veiga (2010) confirmou, inclusive,
que muitos orientandos percebem o incentivo à autonomia como
ausência de orientação ou abandono. Nesse sentido, os autores
ponderam sobre a construção do trabalho acadêmico se pautar
no diálogo, no olhar crítico, na troca de experiência, pois sem uma
orientação teórico-metodológica não será possível desenvolver
autonomia intelectual do aluno.
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
Filho (2004) enfatizou o incentivo de seminários para orientação
coletiva e apreciação de trabalhos de pesquisa como alternativa de
superação das dificuldades de orientação.
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
maioria dos alunos tem pouca autonomia. As autoras defendem
a importância do envolvimento pessoal dos orientadores na
orientação de modo que as relações intersubjetivas promovam
o diálogo e a escrita discente seja vista como possibilidade
de autoconhecimento e autorização da própria autoria. Esse
envolvimento também se faz necessário para mobilizar alunos
que se mostram apáticos ao longo do processo e precisam de
estímulo para dar continuidade ao trabalho, cumprir prazos,
atender as normas da escrita acadêmica etc.
Gulassa et al. (2013) chamaram a atenção para o conflito
de expectativas entre orientadores e orientandos. Enquanto
os orientadores estão mais preocupados com os projetos dos
orientandos e menos com as características pessoais destes,
os orientandos tendem a valorizar as características afetivas
dos orientadores. A mesma constatação foi feita por Leite Filho
(2004) no contexto da pós-graduação stricto sensu. O contato
periódico, a acessibilidade e a sistematização dos encontros 103
podem ajudar a diminuir eventuais sentimentos de angústia
e solidão por parte dos orientandos e facilitar o processo de
construção de vínculo. Os autores recomendam, ainda, que
os orientadores realizem, antes de aceitar a orientação, “uma
autoavaliação honesta de sua disponibilidade de tempo,
interesse, competência e (in)compatibilidade ética para a
empreitada” (Gulassa et al., 2013, p. 93).
Mello (2012) acompanhou o processo de orientação de
um grupo de alunos do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Gestão Pública, modalidade a distância, IFSC, no período de 2011
a 2012. A aplicação de um questionário aos alunos indagando
quais competências do orientador eram mais valorizadas
identificou que, além do domínio do tema da monografia,
rapidez nas respostas aos e-mails e resolutividade, bem como
cumprimento do cronograma estabelecido pela instituição,
os alunos esperavam que os orientadores fossem capazes de
demonstrar segurança e tranquilidade aos alunos. A autora
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
pedagógicos que promovam o diálogo e uma disponibilidade para
se fazer compreender mais do que em outros contextos.
Fialho e Machado (2013) argumentaram que na comunicação
assíncrona, como o intervalo de tempo entre uma mensagem e ou-
tra é maior, sempre existe a possibilidade de que a comunicação
“truncada” permita dupla interpretação, i.e., seja mal compreen-
dida. O orientador pode escrever algo e o orientando atribuir outro
significado. Nesse sentido, a linguagem deve ser bem cuidada para
que alcance o resultado esperado a partir da interação.
Giordan e Massi (2018) concordaram que a desatenção do
aluno durante a leitura da comunicação “on-line” gera, muitas
vezes, alguns mal-entendidos. No entanto, compreendem que
a comunicação, considerada como a principal desvantagem dos
cursos a distância, também imprime alterações qualitativas nas
atividades de orientação na medida em que os registros escritos
auxiliam na apropriação da linguagem acadêmica pelos alunos
105
e permitem a recuperação da memória do trabalho. Outros
aspectos relacionados à comunicação assíncrona referem-se ao
domínio das tecnologias e à disponibilidade de tempo.
A pesquisa de Mello (2012), que acompanhou a interação
orientadores-orientandos no Moodle do IFSC evidenciou, pelo
grande número de mensagens trocadas e solicitações dos alunos,
que muitos deles se sentiam inseguros pelo fato de nunca terem
tido uma experiência de formação a distância. No período obser-
vado, o número de postagens dos orientadores para os alunos
(359) foi muito superior que a dos alunos para os orientadores
(156). As mensagens dos orientadores privilegiavam feedbacks,
orientações, raciocínios, explicações e sugestões, exemplos, ali-
nhamento da teoria com a prática, opiniões, indicações de leituras
e referências bibliográficas, promoção de reflexões etc. A média
de tempo de retorno às dúvidas e mensagens dos alunos pelo
orientador foi de dois dias, sendo que esse é um dos aspectos
mais valorizados pelos alunos: rapidez nas respostas.
Considerações Finais
Este texto se propôs a sistematizar como o campo da
pesquisa acadêmica vem se ocupando da discussão acerca
da orientação na pós-graduação, dando especial atenção ao
acompanhamento da elaboração das monografias nos cursos
de pós-graduação lato sensu na modalidade a distância (EaD).
O levantamento do material – artigos, dissertações, teses e
comunicações apresentadas em evento promovido pela ABED –
evidenciou pouca atenção à temática em questão. Esse dado foi
observado por muitos dos autores já referidos e pode-se afirmar
que a lacuna na produção de conhecimento sobre a atividade de
orientação permanece.
Do conjunto de pesquisas analisadas foi possível iden-
tificar que a discussão sobre a orientação na pós-graduação
stricto sensu é maior (57,69%) do que da pós-graduação lato
sensu (42,30), embora não se possa considerar a diferença tão
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
significativa. As ênfases das discussões sobre a orientação na
pós-graduação stricto sensu recaem sobre a falta de formação
dos orientadores para a atividade da orientação; as dificuldades
na relação orientador-orientando; a construção da escrita e da
autoria; e o desenvolvimento da autonomia do orientando. Os
focos das discussões da pós-graduação lato sensu se referem
ao papel do orientador e suas competências e a comunicação
assíncrona. Analisando as problematizações elaboradas pelos
autores é possível afirmar que os desafios na relação orienta-
dor-orientando e as principais dificuldades são comuns para
ambos os cursos. A natureza da relação da orientação, que
pressupõe colaboração, confiança e parceria, independe da
organização e modalidade do curso.
A orientação das monografias nos cursos de pós-graduação
lato sensu na modalidade EaD, baseados na comunicação assín-
crona, envolvem mais cuidados na elaboração da linguagem para
troca de mensagens, correção dos textos, bem como demonstra-
107
ção de acolhimento, disponibilidade e apoio, já que os orientandos
só contam com os recursos mediados pela tecnologia para serem
compreendidos e se fazerem compreender. Essa é a especifici-
dade a ser considerada pelos orientadores comprometidos em
construir vínculos que sustentem as relações a distância.
Também é necessário destacar que os autores concor-
dam, tanto os dedicados ao stricto sensu como ao lato sensu
que, embora a atividade de orientação deva ser baseada na
colaboração assentada no diálogo e respeito, ela é permeada
por tensões e conflitos. Existem expectativas complementares e
conflitantes que se pautam na relação orientador e orientando.
A fim de organizar as contribuições das pesquisas inventaria-
das para este texto como um conjunto de referências para os
orientadores interessados na superação das dificuldades desta-
cadas e na revisão de suas práticas, é possível afirmar que os
orientandos esperam que seus orientadores: (i) disponham de
tempo para orientação; (ii) construam com eles laços afetivos e
de confiança, bem como sejam cordiais e acessíveis; (iii) escutem
ORIENTAÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO
considerando suas práticas pedagógicas, a organização dos cursos
e suas condições de trabalho.
Dos 26 trabalhos analisados, cinco dedicados à orientação no
stricto sensu e quatro voltados à orientação no lato sensu envolveram
orientadores, orientandos ou egressos, representando 34,61% do
conjunto do material. Considerando-se que dois artigos tratam
do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de Ciências do
IFSC (Machado, Dominguini e Kahl, 2014; Filaho e Machado, 2014)
e os outros dois referem-se ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade de Brasília (Viana, 2008; Viana e Veiga,
2010), têm um panorama de discussão sobre os contextos de
orientação ainda mais restrito.
Entre os inúmeros desafios da atividade de orientação des-
taca-se a produção de conhecimento que dialogue com a produção
aqui sistematizada e que venha a responder às dificuldades de
cada contexto e ao campo de conhecimento em construção.
109
Referências
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conceituais e metodológicas. Revista Diálogo Educacional, 14(41):
165-189..
Introdução
Profissionais selecionados e admitidos em programas de
mestrado e/ou doutoramento stricto sensu têm total conhecimento
e consciência que sua titulação depende do cumprimento de
créditos em disciplinas regulares, da aprovação em um exame de
113
qualificação e da redação e defesa pública de, respectivamente,
uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutoramento.
De fato, as definições lexicográficas1 de dissertações e teses são:
dissertação é a exposição escrita de assunto relevante nas áreas
científica, artística, doutrinária etc.; monografia; nas universidades
brasileiras a dissertação de mestrado é a monografia final que o
candidato ao título de mestre deve apresentar e defender; tese de
mestrado. A tese é a designação comum às proposições que se
sustentam, em público, nas escolas superiores, em fim de curso
(e.g. tese de doutorado; tese de livre-docência).
Durante a vigência dos programas, com duração média de 24
a 42 meses e independentemente da área de conhecimento (e.g.,
ciências exatas, biológicas, agrárias, humanas etc.), a “construção”
destas dissertações e teses tem por base o desenvolvimento de
1
Exceto onde especificamente notado, as definições lexicográficas utilizadas neste artigo são
adaptações dos verbetes de: Houaiss, A.; Villar, M.S.; e Franco, F.M.M. 2004. Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa. 1ª Reimpressão com alterações. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia,
Editora Objetiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
J.E.P. Cyrino
um projeto de pesquisa científica, em seus vários escopos (e.g.,
exploratório, descritivo, explicativo), delineamentos experimentais
(e.g. pesquisa documental, experimental, estudo de caso, ensaios
clínicos etc.) e métodos (e.g. qualitativos, quantitativos, mistos)
(ver Becker, 2015; Cervo, Bervian, Da Silva, 2007; Creswell, 2016;
Gil, 2017; Marconi e Lakatos, 2017; Pimentel-Gomes, 2009).
A conclusão de um projeto de pesquisa e consequente análise
dos dados e redação de uma dissertação de mestrado ou tese de
doutoramento tem por finalidade a consolidação do conhecimento
dos mestres e doutores, expondo-os ao escrutínio de uma banca
de especialistas que faz a avaliação final de seu nível de erudição
científica e novas habilidades e técnicas adquiridas. Então, uma
vez engajados no ensino e orientação de estudantes de programas
lato sensu, mestres e doutores oriundos de programas stricto sensu
trazem para o sistema a cultura acadêmica de origem.
Por definição, programas “Master of Business Administration”
114 (MBA) são cursos de treinamento em nível de pós-graduação lato
sensu, ou seja, um treinamento com fins de especialização aberto
a profissionais portadores de diploma universitário. Professores
e orientadores ligados a programas lato sensu são, via de regra,
oriundos de programas de pós-graduação stricto sensu, logica-
mente também abertos a profissionais portadores de diploma
universitário, que têm como fim precípuo a formação avançada
de profissionais para engajamento na carreira acadêmica ou de
pesquisa e desenvolvimento e inovação, tanto no setor público
quanto privado.
A exemplo dos programas stricto sensu, a conclusão dos
cursos em nível de MBA, está condicionada ao cumprimento de
um mínimo de horas de treinamento em disciplinas específicas,
presencialmente ou a distância, à aprovação em um exame
de qualificação e à redação, e defesa pública de um trabalho
de conclusão de curso, aqui identificado como monografia. De
fato, nas instruções para elaboração da monografia do Instituto
de Pesquisas e Educação Continuada em Economia e Gestão de
J.E.P. Cyrino
profissionais que buscam o treinamento avançado em pós-gra-
duação para atuar no mercado de trabalho dos mais diversos
ramos da inciativa privada e que, ao final dos seus programas, são
obrigados à redação e defesa pública de sua monografia.
De início, é necessário entender o que se define por, e
qual o “alcance” de, uma monografia. Na definição lexicográfica,
monografias são trabalhos escritos acerca de determinado ponto
da história, da arte, da ciência, ou sobre uma pessoa ou região.
Em discussão mais abrangente e atual, Marconi e Lakatos (2017,
p. 258) traduziram e emprestaram a definição de monografia da
“American Librarian Association” para considerar que monografia
é verbatim “trabalho sistemático e completo sobre um assunto
particular usualmente pormenorizado no tratamento, mas não
extenso no alcance”, obedecendo ainda a metodologia ajustada ao
alcance da profundidade a que o trabalho tem por alvo. Então, se
uma monografia é uma descrição ou tratado, uma dissertação ou
trabalho escrito, que trata especialmente de determinado ponto
116
da ciência, da arte, história etc., é necessário que orientandos e
orientadores entendam que uma monografia é também uma
publicação científica. Apenas para facilidade de redação e
entendimento, o termo “trabalho” será usado doravante neste
texto para representar teses, dissertações e monografias como
um grupo de publicações de caráter acadêmico.
J.E.P. Cyrino
estudantes a mensagem, a “noção” que seu “trabalho” vai ser
resultado da execução do projeto.
Cervo, Bervian e Da Silva (2007; p. 69) recomendaram, de
modo ainda mais abrangente, que um projeto de pesquisa deve
conter as seguintes informações: (i) título da pesquisa; (ii) de-
limitação do assunto, com o tópico ou enfoque a ser estudado;
(iii) objetivos, com a indicação do que se pretende alcançar com
a pesquisa; (iv) justificativa que envolva a delimitação do proble-
ma, a análise da situação que o projeto pretende modificar e uma
demonstração de como a modificará; (v) revisão da literatura re-
ferente ao assunto ou “problema”; (vi) formulação do problema,
indicando a questão ou dúvida a ser esclarecida; (vii) hipótese, que
é a tentativa de explicação do problema levantado; (viii) definição
operacional das variáveis da hipótese, com a indicação das variá-
veis de controle; (ix) população e amostragem, com sua descrição
e indicação dos critérios para sua constituição; (x) instrumentos da
pesquisa e como serão aplicados na coleta de dados; (xi) orçamen-
118
to, com previsão das despesas com pessoal, materiais e serviços;
(xii) cronograma de execução, com indicação do escalonamento
no tempo de todas as fases e tarefas da pesquisa; (xiii) conclusão e
observações sobre o projeto; (xiv) anexos, com as normas e os ins-
trumentos de coleta de dados, de acompanhamento, de avaliação
e de controle; e, (xv) bibliografia referente ao assunto da pesquisa.
Esta lista de subtítulos oferecida por Cervo, Bervian e Da
Silva (2007) para ser contemplada em um projeto de pesquisa
é completa, mas também complexa, e pode ter alcance além
do necessário para a estruturação de um projeto de pesquisa
de afeto a uma área de conhecimento ou linha de pesquisa
específica. Tais projetos, não raro, fundamentam solicitações de
financiamento junto às agências de fomento e, acima de tudo,
devem ser executados em prazo especificamente definido, em
geral bastante curto, por profissionais que geralmente dispõem
de tempo limitado.
Então, de modo mais simples, direto, a elaboração do
projeto de pesquisa poderia contemplar os seguintes passos:
J.E.P. Cyrino
teses e dissertações incluem uma seção Revisão de Literatura,
inserida entre a Introdução e o Material e Métodos).
A escolha do Título ou tema do projeto, e consequentemente
do trabalho ou artigo resultante, deve levar em conta a identificação
do estudante ou autor com a área de conhecimento (interesse
pessoal), as demandas profissionais (interesse corporativo,
associativo ou empresarial), e a disponibilidade de fundos e o
tempo disponível (disponibilidade ou a facilidade de) para geração
dos dados necessários para consecução do trabalho. É função
específica do orientador auxiliar os estudantes na seleção e
desenvolvimento do tema e, consequentemente, do título de seus
trabalhos e futuros artigos, atentando para a observância estrita
às normas: títulos devem ser claros, concisos e ter o máximo de
palavras definidas nas instruções aos autores, não trazer ponto
final e não utilizar expressões redundantes como “Estudo de...”,
“Efeito de...”, “Análise de...”. O título do projeto e da publicação
resultante deve ser seguido de um Resumo. A elaboração e a
120
redação de resumos são feitas, obviamente, após o término da
redação do documento. Abre-se aqui, então, parênteses para a
discussão do subtítulo Resumo.
É a leitura do resumo que vai definir a “disposição” do
avaliador do projeto ou do trabalho, bem como atrair ou não
a atenção do leitor de um artigo eventualmente resultante.
Resumos devem ter tempo verbal compatível com o do texto, i.e.,
devem ser redigidos no futuro do indicativo no caso de projetos
e no pretérito perfeito no caso de trabalhos ou artigos. Resumos
não devem mencionar referências ou incluir tabelas ou figuras;
devem ser redigidos de forma clara, objetiva e autoexplicativa e
conter todos os elementos do projeto e/ou do trabalho ou artigo,
a saber: a razão científica ou justificativa, a hipótese, os objetivos, o
material e métodos (ou metodologia) e as conclusões do trabalho
ou artigo. Corpos editoriais e instituições têm autonomia irrestrita
para definir as normas de elaboração de resumos dos periódicos
ou veículos de comunicações aos quais estão ligados. Como regra
geral, resumos devem conter de 250 a 300 palavras, ser redigidos
J.E.P. Cyrino
A “revisão bibliográfica é o processo de coletar, conhecer,
compreender, analisar, sintetizar e avaliar um conjunto de artigos
científicos com o propósito de criar um embasamento teórico-cien-
tífico (estado da arte2) sobre um determinado tópico ou assunto
pesquisado” (Levy e Ellis, 2006 apud Conforto, Amaral e Silva
2011, p. 3). Esta definição pode ser completada pela afirmação de
Webster e Watson (2002), em tradução livre, que “uma revisão da
literatura existente e relevante é parte essencial de um projeto de
pesquisa” e “estabelece uma fundamentação sólida para o avanço
do conhecimento (...) o desenvolvimento de teorias, identifica
áreas em que existe abundância de pesquisas e revela áreas em
que a pesquisa é necessária”, ou seja, a revisão de literatura é “a
análise do passado para preparar o futuro”.
Uma vez mais, a revisão bibliográfica é parte obrigatória do
projeto de pesquisa; permite aos autores fazer o levantamento
e a análise crítica comparativa de trabalhos publicados numa
determinada área, identificando “vazios” no acervo do conhe-
122
cimento (científico) que levam à formulação de uma hipótese
e a definição dos objetivos do trabalho, bem como elaborar a
justificativa. Entretanto, exceto em casos em que é estruturada
como revisão sistemática ou artigo de revisão para periódicos, a
revisão de literatura não é o trabalho per se. A revisão de litera-
tura deve (i) ser sumarizada na (forma da) Introdução, definindo
o contexto intelectual do trabalho, (ii) ser utilizada como base
para a “escolha” e adoção da metodologia, e (iii) ser explorada
em detalhes na elaboração da discussão dos resultados e da
conclusão da monografia.
Trabalhos e artigos apresentados na forma de revisões
sistemáticas ou meta-análises despertam atualmente grande
interesse na comunidade acadêmica e ganharam prominência a
partir das recomendações de Glass (1976), que postulou que uma
análise secundária, oportunamente renomeada revisão sistemá-
tica ou meta análise, que é uma reanálise de dados da pesquisa
2
Inclusão do autor
J.E.P. Cyrino
permitir que outro pesquisador que porventura leia o trabalho ou
artigo e passe a usá-los como referência, seja capaz de repetir os
mesmos procedimentos e chegue a resultados comparáveis para
as condições em que estiver fazendo seu experimento ou estudo.
Autores devem identificar claramente no subtítulo M&M
do seu texto se o método de pesquisa utilizado é baseado na
(i) observação, i.e., descrição original de um fenômeno ou situa-
ção ou análise ou síntese de conhecimentos (com a consequente
formulação de novos conceitos, ideias ou conclusões), ou (ii) na
experimentação, i.e., no teste metodológico de uma hipótese
em condições controladas, situação que exige cuidado especial
e específico na definição e descrição do delineamento (modelo)
experimental utilizado (i.e., na definição do universo amostral
– parcelas e repetições –, reconhecimento das exigências do
modelo matemático, escolha e aplicação dos testes ou provas de
significância e definição do nível de probabilidade). É o nível de
detalhamento e exatidão do texto do M&M que vai conferir credi-
124
bilidade ao trabalho ou artigo, vez que vai permitir aos leitores
eventualmente reproduzir o “experimento” e os resultados rela-
tados no documento.
A seção M&M de um projeto é concluída pela “listagem” dos
resultados esperados; na monografia; a seção M&M de um trabalho
ou artigo é seguida da seção Resultados e Discussão (R&D).
Dependendo do veículo-alvo para publicação de determinado
trabalho, o relato dos resultados (das análises das informações
ou dados registrados) e a pertinente discussão (interpretação
dos resultados e pertinente comparação com, e reconhecimento
de, pontos de vista alternativos) pode ser feito na forma combi-
nada, conjunta, ou seja, em uma seção R&D, ou em duas seções
devidamente identificadas e intituladas, i.e., a seção ou subtítulo
Resultados e a seção ou subtítulo Discussão. As normas institu-
cionais para elaboração de trabalhos e as normas editoriais de
periódicos definem a forma de apresentação de R&D, se em um
subtítulo ou seção consolidada ou em subtítulos sequenciais, e
tais normas devem ser estritamente observadas.
J.E.P. Cyrino
publicação de artigos. Autores devem cuidar para não mencionar,
citar ou reproduzir resultados de outros estudos na elaboração e
redação da(s) conclusão(ões) do seu trabalho ou artigo (o que foi
feito no R&D), não inserir tabelas ou figuras nesse subtítulo que
deve ainda, consensualmente, ser redigido em único parágrafo
(exceções devidamente contempladas nas instruções aos autores
em cada particular situação).
As seções de Agradecimentos, Apêndices e Anexos obede-
cem estritamente às particularidades de normas de cada situação:
institucional ou editorial. Desta forma, qualquer discussão ou
recomendação que não seja seguir estritamente as instruções con-
tidas nas normas para elaboração de monografias em relação às
seções em tela é absolutamente redundante. O mesmo é verdade
em relação às citações contidas no texto, e à seção Referências:
instituições, editoras, periódicos ou quaisquer outras publicações
126
têm total autonomia para adotar modelos consagrados de citação
e listagem de referências bibliográficas ou definir suas próprias
regras e modelo. Assim sendo, aos autores resta seguir estrita-
mente as normas adotadas segundo os exemplos oferecidos nas
normas pertinentes.
Independentemente do tipo de material em elaboração e
sendo publicado, os autores devem conferir – à exaustão, se for o
caso! – se todas as citações estão listadas e vice-versa. Uma referência
listada e não citada pode, e na realidade geralmente, é considerada
apenas um erro, uma distração. Uma citação não acompanhada
da respectiva entrada na lista de referências bibliográficas do
trabalho ou artigo pode ou, na realidade geralmente é considerada
fraude ou, pelo menos, uma tentativa de fraude. Cuidado estrito na
observação das instruções e na elaboração da lista de referências
bibliográficas, com a pertinente conferência de congruência entre
citações e referências correspondentes, é a condição sine qua non
J.E.P. Cyrino
dos dados. Artigos de divulgação científica objetivam a revisão
de conhecimentos, despertar interesse (de profissionais de uma
área específica ou de grupos de profissionais relacionados à área),
instruir e/ou influenciar a (ou uma) audiência com o uso de ilustra-
ções e cabeçalhos chamativos e o apoio de exemplos práticos.
Entretanto, se a metodologia selecionada não permitir a estrutu-
ração do documento neste formato, claro está que a flexibilidade
é a palavra de ordem, por exemplo, é praticamente impossível
estruturar uma pesquisa documental de caráter exploratório ou
descritivo no sistema IMRED (caráter adrede definido no projeto
de pesquisa, logicamente).
Definido o “viés” do trabalho e o que será apresentado e se
pretende que seja entendido e absorvido pelos leitores, em que se
inclui em primeira instância a banca avaliadora da tese, dissertação
ou monografia, e eventualmente, os leitores do artigo científico
oportunamente resultante, autores têm que estar preparados para
antecipar respostas a duas questões fundamentais: (i) por quê? e
128
(ii) e daí? Em uma palestra, seminário ou apresentação é possível
ao apresentador responder a questionamentos da audiência, mas
não se pode responder questionamentos a leitores de um texto.
Então, quando redigirem seus trabalhos e artigos, os autores
precisam antecipar respostas aos questionamentos que virão, ou
seja, argumentar com propriedade para evitar uma interpretação
equivocada, a má avaliação expressa a “rejeição” do trabalho por
uma banca ou corpo editorial e, em caso derradeiro, a crítica dos
leitores. Evitar estas circunstâncias só é possível e conseguido com
uma redação efetiva, convincente, agradável, inteligível, patamar
a que não se chega de modo fortuito, mas sim com aplicação,
atenção e esmero.
Nesta linha de pensamento e muito apropriadamente,
seria oportuno considerar os comentários e recomendações de
Abrahamsohn (2009) de que sic “redigir um texto científico não é
muito diferente de contar uma história, seja um conto de fadas
ou um caso da vida real... antes de se prender a detalhes de como
foi colocado o veneno na maçã ou de que material foi feito o
J.E.P. Cyrino
👉 dê destaque aos dados e evite detalhes supérfluos;
Texto original:
J.E.P. Cyrino
Texto revisado:
“Por outro lado, como registrado entre 2005 e 2007, a
produção paulista de mel, alternativa de renda para pequenos
produtores rurais, cresceu cerca de 40% ao ano (IEA, 2007)”.
Texto revisado:
“A presença do farelo de soja nas rações favoreceu o
desempenho dos leitões pós-desmamados, comparativamente
a outras combinações de soja integral obtidas por diferentes
processamentos (Barbosa et al., 1999a, b; Moreira et al., 1994)”.
J.E.P. Cyrino
às páginas 35-36 de Rey (1978) verbatim: em vez de escrever: “Em
nossos ensaios com a droga K, feitos com o propósito de testar
seu efeito em coelhos, ela foi administrada a esses animais por
via endovenosa. Nessas experiências, utilizamos quantidades
relativamente pequenas de K, injetando de dois a três centímetros
cúbicos da solução que continha 1% da substância ativa, em coelhos
de 2 a 3 kg de peso. Em todos os casos observados, o resultado
sempre foi fatal, morrendo os animais apenas decorrido um lapso
de tempo igual a 5 min. após a injeção”, dizer simplesmente: “A
injeção endovenosa de K mata os coelhos em 5 minutos na dose
de 10 mg por quilograma de peso.” Quem sabe para os padrões de
estilo e notação científica atuais, a melhor “interpretação” para o
exemplo de verborragia de Rey pudesse ser “A injeção endovenosa
de K na dose de 10 mg kg-1 peso vivo mata coelhos em 5 min.”,
o que não invalida de modo algum a prova de que o que pode
ser escrito com 84 palavras pode ser “reinterpretado” em 20 ou,
melhor ainda, 18 palavras.
134
Existe uma miríade de recomendações que poderiam ser
aqui consideradas e comentadas, mas o objetivo deste texto é
o simplesmente “chamar a atenção” e educar a busca imediata
de informações que tragam maior precisão, identidade e
homogeneidade à redação de trabalhos e artigos, e não o de esgotar
o assunto. Desta forma, cândida e honestamente, recomenda-se
àqueles que têm interesse em aprimorar suas habilidades de
redação científica, o estudo e uso das referências Abrahamsohn,
(2009), Cervo, Bervian e Da Silva (2007), Creswell (2016) e Gil (2017).
Considerações finais
A docência universitária é, na realidade, um aprendizado
incessante, constante. Este texto resume as experiências
acumuladas pelo autor em aulas ministradas na disciplina
LZT5730 - Técnicas de Comunicação Científica em Ciência Animal e
Pastagens I, ministrada junto ao Programa de Pós-Graduação (PPG)
em Ciência Animal e Pastagens do Departamento de Zootecnia
Referências
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Koogan, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 135
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Introdução
A pesquisa técnico-científica é uma atividade que envolve
uma série de etapas, as quais requerem diversos preceitos e
ações concatenadas que possam produzir resultados, inéditos
ou não, que possibilitem gerar conhecimentos que auxiliem na
evolução das atividades humanas, de qualquer natureza. Sendo
assim, a tarefa primária da pesquisa científica é a produção do
137
conhecimento (Spink, 2012). Entre as etapas acima mencionadas
podemos listar: a condução de experimentos ou o levantamentos
de dados; o processamento dos dados e sua análise exploratória
ou estatística; a compilação e sintetização dos resultados em forma
de gráficos e tabelas; a elaboração de texto que informe o estado
da arte do assunto abordado, a hipótese e os objetivos do estudo,
as etapas e procedimentos para sua elaboração, a apresentação
dos resultados e sua discussão e, finalmente, as conclusões e/ou
recomendações, as quais devem, de forma sucinta, responder aos
principais objetivos e provar ou não a hipótese estabelecida.
Todas as etapas descritas acima, sejam elas para a realização da
pesquisa em si ou para a elaboração de um texto para apresentar à
comunidade científica, devem seguir os códigos de ética estabelecidos
pela comunicação científica internacional. A ética é um conjunto de
princípios e valores morais que dada sociedade deve seguir. No caso
da comunidade científica, a ética é o alicerce que norteia as ações dos
pesquisadores, desde o planejamento da pesquisa até sua publicação.
Sendo assim, parte-se do princípio de que os envolvidos nesse
P.C. Sentelhas
processo sigam tais princípios e valores e que produzam resultados
que sejam isentos de qualquer tipo de manipulação ou fraude, sendo,
portanto, confiáveis. Além disso, o processo de divulgação científica
também requer postura ética dos responsáveis pela veiculação dos
textos gerados pelos pesquisadores, o que envolve os editores de
revistas e livros e os revisores, mais especificamente no caso dos
artigos publicados em revistas científicas de ampla circulação.
Enquanto as pesquisas baseadas em princípios éticos geram
resultados confiáveis e que contribuem para o progresso do
conhecimento técnico-científico, aquelas que burlam tais princí-
pios levam a consequências bastante negativas no que tange à
reputação dos pesquisadores envolvidos e aos conhecimentos
gerados. Esses atos de má conduta não só minam o progresso do
conhecimento, como também todo o conjunto de valores sobre
os quais a comunidade técnico-científica se baseia. Qualquer um
que se envolva em práticas de má conduta colocará sua carreira
138
em risco e ajuda a desqualificar o conhecimento gerado por seus
colegas que adotam postura idônea.
De acordo com Santos (2011), a ética na pesquisa inclui um
conjunto de deveres derivados de valores éticos especificamente
científicos, isto é, valores que se impõem ao cientista em virtude
de seu compromisso com a própria finalidade de sua profissão, ou
seja, a construção da ciência como um patrimônio da sociedade
que o financia, também é denominada de patrimônio coletivo.
Sendo assim, ao executar seu trabalho, o pesquisador deve sempre
abster-se de agir, intencionalmente ou por negligência, de modo a
prejudicar o trabalho coletivo de construção do conhecimento, seja
pela manipulação de resultados ou pela apropriação indevida de
ideais, informações ou textos que não lhes pertencem. Portanto, a
adoção de preceitos éticos na pesquisa leva à integridade profissional
do pesquisador, o que garante que os resultados e textos gerados
por ele sejam dignos de credibilidade pela comunidade científica e
pela sociedade em geral.
ÉTICA NA PESQUISA
Ética no levantamento de dados e na execução
de experimentos
Na pesquisa científica, a obtenção de dados, seja por
meio de levantamentos em bases já existente ou por meio da
condução de experimentos, deve obedecer, basicamente, a três
regras básicas que evitem distorções que possam resultar em
conclusões incorretas. Essas regras devem ser consideradas
desde o planejamento da pesquisa, de forma que fique claro que
todos os procedimentos adotados são corretos e idôneos. As três
regras são:
P.C. Sentelhas
Quando a pesquisa envolve seres vivos, humanos ou animais,
as questões relacionadas aos preceitos éticos são ainda mais
complexas. De acordo com Schnaider (2008), as pesquisas médicas
com seres humanos somente são aceitáveis quando elas respondem
preliminarmente às conveniências do diagnóstico e da terapêutica
do próprio experimentado, a fim de restabelecer sua saúde ou
minorar seu sofrimento. No caso de pesquisas com seres humanos
que não envolvem aspectos clínicos, mas sim de comportamento,
há a necessidade de concordância dos participantes e as três regras
mencionadas acima devem ser respeitadas. Finalmente, no caso de
experimentos com animais, sejam quais forem os propósitos, esses
devem obedecer às legislações vigentes que envolvem os direitos
dos animais, assim como as particularidades fisiológicas pertinentes
a cada espécie (Pacheco, Saad e Trevisan, 2012). O objetivo é
garantir o bem-estar dos animais ao longo de todo experimento
como forma de eliminar todo desconforto ou sofrimento que possa
140 ser ocasionado (Crissiuma e Almeida, 2006).
ÉTICA NA PESQUISA
adotado procedimentos inadequados de manipulação dos dados,
de forma a atingir resultados supostamente inovadores.
141
P.C. Sentelhas
é muito comum e tem o simples objetivo de mascarar
discrepâncias ou de alterar uma tendência. Esse tipo de
fraude é denominado “aparar os dados”;
ÉTICA NA PESQUISA
consequentemente, conclusões erradas. Isso não é propriamente
uma fraude, mas tal imperícia ou imprudência por parte dos
pesquisadores pode levar seus trabalhos à rejeição por revistas
especializadas. Neste caso, a fraude se configurará caso o
pesquisador venha a usar um teste estatístico sabidamente
inadequado apenas para induzir à obtenção de resultados que se
adequem às suas hipóteses.
P.C. Sentelhas
este é somente permitido quando for empregado na descrição de
métodos e técnicas na seção dos Materiais e Métodos, já que não
há como mudar a descrição de tais procedimentos.
A maioria das revistas técnico-científicas tolera até cerca de 5
a 10% de autoplágio nessa seção, sendo o texto sujeito à avaliação
dos editores. No caso de autoplágio em outras partes do texto, este
deverá ser evitado para que não haja risco de rejeição do trabalho.
Outra prática não tão incomum e que caracteriza má conduta é a
republicação de textos antigos como sendo atuais ou a republicação
em outra língua. Esse tipo de prática vem sendo detectada em
algumas revistas em que autores de língua não inglesa publicam
seus trabalhos na língua de origem e depois os submetem para
revistas internacionais de língua inglesa. Apesar de haver maior
dificuldade na identificação desse tipo de autoplágio, esta é uma
prática que, quando detectada, deve ser denunciada, mesmo que o
artigo já esteja publicado.
144
Outro ponto de suma importância na redação de textos
científicos é o uso excessivo de coautores. Isso muitas vezes
caracteriza má conduta, pois muitos desses coautores estão
participando do trabalho sem mesmo conhecê-lo profundamente,
sendo um tipo de troca de favores. Esse tipo de procedimento é
popularmente conhecido como “trem da alegria”, onde todos
entram sem saber ao certo para onde irão.
Atualmente existe uma série de critérios para que um indivíduo
possa ser considerado como coautor de um trabalho (Marques, 2014).
De acordo com Marques (2014), um grupo de pesquisadores europeus
propuseram 14 formas diferentes de participar na elaboração de um
artigo, como o desenho intelectual do trabalho e as diversas etapas
de realização do experimento e da redação. No entanto, entre as 14
formas, algumas são polêmicas, como aquelas que propõem crédito
para categorias não envolvidas intelectualmente na produção do
artigo, como o gestor do projeto de pesquisa, o curador dos dados e o
responsável pela obtenção de financiamento.
ÉTICA NA PESQUISA
Apesar desses critérios, há consenso no meio acadêmico de que
a participação efetiva na concepção do trabalho, na coleta, organização
e análise dos dados, na discussão dos resultados e na redação e
revisão crítica do texto justificam uma coautoria. Por outro lado, ações
periféricas, como empréstimo de equipamentos, esclarecimentos
de dúvidas, sugestões e revisão superficial do texto, merecem um
agradecimento no início ou no final do texto. Ainda dentro do contexto
da autoria, outra forma de má conduta é a inclusão de coautores
que não participaram do trabalho ou autores fictícios, de instituições
renomadas, de modo a dar credibilidade ao texto.
Finalmente, outra prática considerada como má conduta
é repartir o mesmo trabalho em vários similares (Jain, 2016), esta
prática é popularmente conhecida como “Salami Science”. Isso
gera diversos artigos para um mesmo grupo de autores, sendo
que todos os trabalhos trazem exatamente a mesma informação,
145
com pequenas variações e alto grau de autoplágio. Considerando
os aspectos apresentados anteriormente, a redação de textos
técnico-científicos deve obedecer algumas regras básicas, como: (i)
não duplicar ou reescrever textos ou ideias de outros autores sem
a devida citação; (ii) não republicar trabalhos já publicados, mesmo
que em outro idioma; (iii) considerar como coautores somente
aquelas pessoas que efetivamente contribuíram com o trabalho,
seja pela idealização do mesmo, ajuda na coleta, organização e
análise dos dados, discussão dos resultados e redação ou revisão
crítica do texto; (iv) não fraudar o sistema criando coautores inexis-
tentes ou colocando como coautores profissionais de instituições
renomadas que não participaram efetivamente do trabalho; e (v)
evitar escrever vários trabalhos superficiais, dando preferência a
textos mais completos e consistentes, que tragam efetiva contribui-
ção para a área de interesse. Mais informações sobre como evitar
plágio e autoplágio e produzir textos de alta qualidade, essas podem
P.C. Sentelhas
ser obtidas em Villaça (2017), onde o autor elenca 21 dicas para a
elaboração de textos científicos de qualidade e isentos de fraude.
ÉTICA NA PESQUISA
No caso de artigo a serem submetidos às revistas especializa-
das, o relacionamento com os editores e revisores deve, em todas as
direções, ser igualmente pautado em princípios éticos, ou seja, pela
cordialidade e respeito. Tanto os editores como os revisores atuam de
forma voluntária e devem ter suas opiniões respeitadas, mesmo que
essas sejam equivocadas. Os autores, antes de mais nada, têm que
entender que o processo editorial é bastante complexo e demanda
tempo, o qual é bastante variável já que envolve vários autores,
como mostra a Figura 2, na qual é apresentado o fluxo de editoração
desde a submissão até o aceite ou rejeição de um trabalho na revista
Scientia Agricola, editada pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP).
147
P.C. Sentelhas
Editor Associado e, posteriormente, a revisão pelos revisores ad
hoc (Figura 2). Em todas essas etapas, que levam cada uma entre
10 e 30 dias, poderá haver a rejeição do artigo ou a solicitação
de ajustes/correções. Em todos esses casos, os autores devem
ser pacientes considerando que os trâmites demandam tempo e,
ao receberem os pareceres, deverão avaliá-los, acatar o que for
pertinente e preparar contra argumentos para o que julgarem
inapropriados ou, se apropriado, não é plausível de alteração para
o estudo em questão.
Em todos os casos, a ética deve predominar, o que implica
em aceitar as críticas e sugestões e até mesmo a rejeição com
resignação. Havendo rejeição, os autores não devem se desgastar
criando polêmica com os editores, já que isso não mudará a decisão
final. Neste caso, o mais conveniente é aproveitar as críticas/
sugestões, melhorar o texto e submetê-lo a outra revista.
148
Considerações finais
A ética na pesquisa é uma questão que envolve diversos
aspectos, desde a execução dos experimentos e levantamento de
dados, passando pela organização, consistência e análise desses
dados, redação dos textos técnico-científicos, até a relação entre
os orientadores e seus alunos. Em todas essas etapas, a ética
na pesquisa, que nada mais é do que o conjunto de princípios e
valores morais que norteiam as ações dos pesquisadores, visa
trazer transparência e credibilidade aos processos de pesquisa,
de modo que os resultados gerados contribuam para o avanço
efetivo da ciência e para a geração de conhecimento, sem fraudes
ou manipulações. O pesquisador, como gerador e propagador do
conhecimento, deve, portanto, respeitar os preceitos básicos da
ética na pesquisa e exigir de seus pares, sejam eles seus orientados
ou não, igual comportamento.
ÉTICA NA PESQUISA
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149
P.C. Sentelhas
7
AS CONTRIBUIÇÕES DOS
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
LATO SENSU PARA O
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
E ORGANIZACIONAL NA REALIDADE
BRASILEIRA: uma reflexão do
ponto de vista econômico
Ricardo Harbs
R. Harbs
fatores subjacentes ao progresso tecnológico? Em resposta a essa
pergunta, autores como Mincer (1958) e Schultz (1964) desenvolve-
ram a teoria do capital humano.
A princípio, Mincer (1958) observou que as diferenças entre
as rendas auferidas pelos trabalhadores poderiam ser explicadas,
ao menos em parte, pelo investimento com a aquisição de novos
conhecimentos e informações sobre técnicas de produção. Assim,
caberia a cada indivíduo decidir sobre o investimento a ser realizado
em capital humano, tendo em vista a probabilidade de receber, no
futuro, uma remuneração relativamente maior.
De acordo com Schultz (1964), havia uma clara relação entre
a educação formal, realizada através do método de ensino e apren-
dizagem, e o aumento da produtividade do trabalho. Entretanto, o
autor estabeleceu uma distinção entre a “instrução” e a “educação”
propriamente dita. Para Schultz (1964), a instrução correspondia à
aquisição de conhecimentos de forma passiva, sendo realizada prin-
152 cipalmente nas escolas de nível primário e secundário. A educação,
em contrapartida, envolvia necessariamente um componente de
pesquisa, sendo caracterizada pela geração de novos conhecimen-
tos e pela solução de questões relevantes para a sociedade. Esse
ponto de vista é interessante, sugerindo que o processo educacio-
nal somente se concretiza quando os indivíduos têm, efetivamente,
a oportunidade de aplicação do aprendizado.
Recentemente, a educação deixou de ser vista somente como
um meio para o aumento da produtividade e, consequentemente,
dos lucros auferidos pelas organizações de determinada região
ou país. Nesse sentido, o economista e filósofo Amartya Sen
proporcionou importantes contribuições. Sob a perspectiva de Sen
(2000), o desenvolvimento econômico não pode ser mensurado
apenas de forma quantitativa e unidimensional, levando-se em
conta o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, por
exemplo. Embora essa última variável seja, sem dúvida, de grande
importância, o desenvolvimento é um processo abrangente, que
envolve a redução das privações e a expansão das liberdades
R. Harbs
lato sensu se configuram como canais para a difusão de posturas
adequadas, típicas de líderes e de profissionais de alta performance.
Com o decorrer das aulas, de forma gradual e quase imperceptível,
algo muito interessante vai acontecendo: as ideias e métodos
inovadores, anteriormente confinados nas universidades e em
poucos centros de excelência, vão sendo incorporados às rotinas
das organizações. Através do contato com os docentes e com os
colegas de turma, observa-se o fortalecimento do que Kliksberg
(1999) chamou de “capital social”, que pode ser identificado como
a propensão à associação e ao compartilhamento de recursos e de
informações.
Essa transformação não é unidirecional (somente da instituição
de ensino para a sociedade), mas a própria instituição de ensino,
representada pelo seu corpo docente e administrativo, sofre uma
metamorfose, tornando-se a cada dia mais engajada e ciente de seu
papel em relação às necessidades dos demais (famílias, empresas,
154 órgãos governamentais, entre outros). Para tanto, independentemen-
te da modalidade de ensino (presencial, semipresencial ou a distância),
a instituição de ensino deve contar com mecanismos adequados de
interação e de feedback por parte de alunos e de docentes.
Ao contrário do que se pode esperar, os cursos de especia-
lização e de MBA não se limitam ao universo de colaboradores e
gestores das organizações. Quando se considera a perspectiva de
um empreendedor, certos conhecimentos podem fazer a diferença
entre a perenidade e o fim prematuro de um negócio. Nesse
último caso, um sonho longamente acalentado, mas colocado em
prática sem o devido planejamento e reflexão, acaba se revelando
incompatível com a realidade do mercado. As consequências do
fracasso têm ampla repercussão, atingindo não somente as vidas
dos empresários e de seus familiares, como também as atividades
das demais empresas e indivíduos que integram a cadeia de valor,
como fornecedores, investidores e credores, por exemplo.
É nesse contexto que a educação a distância surge como
uma poderosa ferramenta para a difusão da educação, reduzindo
R. Harbs
Para que atenda à sua finalidade, a pesquisa acadêmica –
inclusive a de caráter aplicado – deve ser clara, objetiva e passível
de reprodução por outros autores. Isso significa que o trabalho de
conclusão deve ser realizado dentro de padrões que abrangem não
apenas características de estilo, estrutura e forma (estipuladas pela
instituição de ensino), como também questões éticas e metodológi-
cas que são imprescindíveis para a credibilidade da pesquisa.
O problema é que muitos dos alunos de pós-graduação
lato sensu, apesar de conhecerem a fundo as realidades de suas
organizações, possuem pouca ou nenhuma familiaridade com o
universo da pesquisa científica. Sem embargo, a superação desse
hiato requer que os alunos sejam capacitados por meio de aulas
e de material específico sobre o desenvolvimento de trabalhos
científicos. Mais que isso, a elaboração do trabalho (ou monografia)
deve ser acompanhada por um profissional experiente, que
seja capaz de transitar entre a realidade do aluno e o contexto
156 da pesquisa científica, guiando-o ao longo de todo o processo.
Esse profissional, também conhecido como orientador, cabe a
importante tarefa de avaliar a coerência do trabalho, observando se
os seus resultados e conclusões (ou considerações finais) atendem
aos objetivos propostos na introdução. Além disso, as atribuições do
orientador incluem atividades como: a cuidadosa revisão do texto;
a avaliação quanto à adequação do método e sua correta aplicação;
a identificação de eventuais lacunas, que possam comprometer a
reprodução da pesquisa por terceiros; a realização de ajustes na
estrutura do trabalho; e a análise de sua adequação às normas
estipuladas pela instituição de ensino, entre outras.
Longe de ser apenas um desafio ou obstáculo, a elaboração
de uma monografia consiste em uma oportunidade única e valiosa,
permitindo a agregação de valor e a transposição de técnicas
e conceitos, difundidos na universidade, para o ambiente de
negócios e demais organizações que permeiam a sociedade. Para
consecução dessa tarefa, naturalmente, as instituições de ensino
têm o dever de preparar e designar um orientador que tenha
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157
R. Harbs
Sobre os autores
CLÁUDIA BEATRIZ DE CASTRO NASCIMENTO OMETTO
Graduada em Pedagogia pela Universidade Metodista de
Piracicaba (UNIMEP), Mestre em Educação pelo Programa de
Pós-Graduação em Educação na mesma instituição e Doutora em
Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
onde atua como professora na Faculdade de Educação,
pertencendo ao Departamento de Educação, Conhecimento,
Linguagem e Arte (DELART). É vinculada ao Grupo de Pesquisa
“Alfabetização, Leitura e Escrita/Trabalho Docente na Formação
Inicial (ALLE/AULA)”. Entre suas experiências em educação e
formação de pessoas, lecionou em Programa de Pós-Graduação 159
em Educação (UNIMEP), coordenou cursos de graduação em
Pedagogia (Faculdade Salesiana Dom Bosco de Piracicaba),
atuou na escola básica (pública e particular) durante vinte anos
e, atuou na Diretoria de Ensino de Piracicaba como Assistente
Técnico Pedagógico (ATP) de Alfabetização, Língua Portuguesa
e Habilitação Específica para o Magistério (HEM). Possui
experiência nos seguintes temas: docência, alfabetização,
letramento, leitura, produção de textos, cursos de formação
inicial e continuada de professores nas áreas de linguagem,
avaliação, didática e prática de ensino e, formação de pessoas.
RICARDO HARBS
Graduado em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário
Fundação Santo André, tendo realizado mestrado e doutorado
em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo
– Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP).
Entre suas experiências na educação e formação de pessoas,
leciona em cursos de MBA da ESALQ/USP, possui experiência em
ensino a distância (EaD), realiza orientação acadêmica de alunos de
pós-graduação e auxilia na coordenação e organização de cursos
de especialização. Possui experiência nas áreas de: administração,
economia agroindustrial, economia regional, política agrícola,
métodos quantitativos e formação de pessoas.
TATIANA FADEL
Graduada em Letras – Língua Portuguesa, pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP), cursando mestrado em
Educação pela mesma instituição e vinculada ao Grupo de Pesquisa
“Alfabetização, Leitura e Escrita/Trabalho Docente na Formação
Inicial (ALLE/AULA)”. Leciona redação, literatura e gramática para
o Ensino Médio e Pré-Vestibulares, nível de ensino onde atuou
como coordenadora pedagógica. Assim, possui experiência
nas seguintes áreas: docência, produção de textos, avaliação,
português e leitura, formação de pessoas.