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Resumo
Esse texto trata a questão do gozo feminino em sua relação com o final da análise. Partindo do
obstáculo freudiano constituído pelo rochedo da castração, tentaremos verificar como Lacan foi
além de Freud ao propor o gozo feminino. O que concerne, portanto, tanto ao homem como à
mulher, abrindo, ao fim da análise, ao héteros..
Palavras-Chave
Castração Falo Gozo feminino S( A ) Final de análise Héteros.
O que resta não elaborado do conti- Não podemos falar de um saber fa-
nente negro freudiano vai ser retomado e zer com S( A ) ao final do tratamento, quer
elaborado por Lacan em termos de gozo dizer, com esse lugar do gozo que Lacan
feminino e é nesse quadro que ele elabo- nos diz que ele faz esmorecer o ser; saber
ra a noção do não-todo: ... é da elabo- fazer que consistiria em visar a inconsis-
ração do não-todo que se trata de romper tência do sistema, da falha no Outro, para
o caminho. É meu verdadeiro tema desse aí gozar.
ano, por trás desse Mais, Ainda, e é um Partirei do ponto do rochedo da cas-
dos sentidos do meu título. Talvez que as- tração de Freud para examinar como La-
sim eu chegue a fazer aparecer algo de novo can aí introduziu o gozo feminino. Visarei
sobre a sexualidade feminina1. em seguida às elaborações de Lacan no
É no lugar do gozo feminino que La- Seminário XX, notadamente na introdu-
can vai colocar seu matema S( A ). Esse ção do conceito de alíngua e de suas con-
gozo feminino está em jogo no tratamen- seqüências sobre a definição do amor.
to, sobretudo no final, no sentido de que O gozo feminino, ou seja, S( A ), e a
ele permite mesurar que o simbólico não é questão do amor nos permitirão, primeiro,
tudo. Mas está em jogo também um mais- adentrar a questão do fim do tratamento
além, quer dizer, o que não se confunde e, depois, a abertura em direção ao héte-
nem com o gozo fálico ordinário, nem com ros.
o gozo do Outro. Neste artigo, começarei voltando à
fonte, quer dizer, a Freud, para situar de
início a questão do gozo em sua relação à
fantasia e situar o impasse freudiano. Em
seguida, abordarei a questão do gozo femi-
1
LACAN, J. O seminário, livro XX, mais, ainda, p 78/79. nino propriamente dito.
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coisa de incontornável. F
alguma maneira em demasia diante da fal- que a criação não é outra coisa senão a
ta que seria a dizer. produção de um significante novo no lu-
O gozo feminino não nos esconde o gar do significante que falta, e assim ela, a
que ele comporta de inaudito, de impen- criação, pode ser considerada como uma
sável, seja a promessa inatingível de uma tentativa de resposta à inexistência do
nova relação ao saber, tal como ela se de- Outro, à inexistência de A Mulher, à ine-
cifra ou se encontra no inconsciente. Esse xistência da relação sexual.
saber, porém, mesmo com toda a literatura Mas me parece que essas criações são
sobre o gozo feminino que abunda em falhas no sentido de que o significante
nossos dias, não pode nada nos dizer sobre novo que elas colocam em jogo não re-
a verdade desse gozo. presenta A mulher, enquanto mulher, mas
Relembrem: insignificante, inexis- pedaços de verdade do real de seu gozo,
tente, não-toda são os significantes que que o sujeito do significante porta por amor
tentam dizer A Mulher, que buscam cer- ao saber, em um conjunto masculino onde
nir a questão da feminilidade na obra la- o sujeito é submetido às leis da função fáli-
caniana. Lacan extrai de sua leitura de ca.
Freud a fórmula que conhecemos: A mu- E assim há troca, há laço social, ou dito
lher não existe, fórmula que é solidária de outra maneira, há discurso em um con-
de uma outra tão provocante quanto essa: junto regulado pela função fálica, de onde
não há relação sexual. Entretanto, essa A Mulher resta excluída, em um infinito
mulher tem um gozo próprio, dela, ela que sem limite. Essa troca, podemos escrevê-
não existe, ela que não sabe nada de seu la: do significante em oposição ao gozo. E
gozo, ela que não pode falar nada disso. a referência a isso é o mais-de-gozar de
O gozo feminino representa, na obra Lacan, construído sobre o modelo da mais-
de Lacan, o obstáculo absoluto, é lá onde valia de Marx, que indica que isso com o
se detém a lógica do significante, lá onde que nós temos efetivamente a ver não é
vem se colocar o S( A ), o significante da com o gozo, mas com o que fica desse gozo,
falta. O significante Outro, esse significante seus resíduos, passados ao crivo do signifi-
da falta no Outro, tenta articular a parte cante.
propriamente feminina do gozo para-além O que podemos acrescentar é que esse
da contribuição da função fálica, da lógica mais-de-gozar não é sexuado, ele é muito
do significante e do gozo fálico. distante do gozo sexual, do gozo do Outro
É esse significante S( A ) que tem sexo, do gozo de A Mulher. De onde se
relação com A mulher não como o falo, o depreende a inexistência da relação sexu-
significante que representa o sujeito, mas al: o Outro sexo resta inatingível pelo sig-
como o Outro significante, o significante nificante e sua lógica.
Outro. Ele é o significante para quem to- Podemos então dizer que Lacan com
dos os outros significantes representam o o S( A ), quer dizer, o significante da falta
sujeito, segundo a fórmula um significan- do Outro, ou seja, o significante do femi-
te representa um sujeito para um outro sig- nino, indica que o inconsciente (estrutu-
nificante. E lá, nesse lugar do S( A ), o su- rado como uma linguagem) tem um limi-
jeito do significante vem buscar sua falta a te, ele não diz tudo. Partindo do S( A ), ou
dizer, é ali que ele encontra seu impossível seja, a inexistência do significante que
de existir e ali ele imagina, ele coloca suas poderia dizer o sexo da mulher, o proble-
criações, elaborando uma resposta frente ma da psicanálise torna-se, então, aquele
ao impossível do real, frente ao Outro real. do não-saber ou, melhor ainda, do saber
Que significa que ele põe ali suas cria- que sabe que não pode nada saber desse
ções, o que são essas criações? Parece-me gozo Outro, do gozo do Outro sexo. No
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Condução e fim do tratamento analítico: A propósito do gozo feminino
Seminário XX, Lacan diz que algumas gozar. Em postigos abertos, não aparece do
mulheres, ou alguns místicos, experimen- sujeito senão o S1. É necessário em psica-
tam esse gozo, mas que eles não sabem nálise se endereçar à bela.
nada dele, e não podem nada falar. O fato Gostaria agora de falar algumas pala-
mesmo desse gozo Outro se situar fora da vras a propósito da função de resistência
linguagem o torna impossível a ser dito pelo da transferência. Existe uma resistência que
significante, pois, afinal, esse também é fora tem relação com a fantasia, quer dizer, com
do sexo. Portanto, isso o expõe a perma- o semblante de ser e de gozo, pelo mais-
necer no registro da suposição, no registro de-gozar que o sujeito se faz para enqua-
da crença. Esse gozo não podemos, por- drar sua realidade, reduzindo o Outro ao
tanto, senão supô-lo, senão crer nele. objeto a, mais-de-gozar.
O sujeito resta então em sua realida-
S( A ) e Héteros de, mas uma realidade determinada pela
fantasia. Existe uma resistência a produzir
Para abordar esta questão do S( A ) e essa fantasia, a fazer dela um saber, que
do Héteros partirei da referência de Lacan Freud bem notou em seu texto Análise
no Seminário XI, no capítulo A presença Terminável e Interminável. Pois, produ-
do analista, na parte que se refere à bela zi-la como saber, é perdê-la como gozo e
atrás dos postigos. Os postigos são aque- como determinação. Ora, essa fantasia ser-
les do amor de transferência, que tem como ve ao sujeito, serve-lhe de defesa, de mu-
conseqüência, alternativamente, abertura ralha contra a castração. Esse saber da fan-
e fechamento do inconsciente. Mas o in- tasia pode ser produzido, para cada sujei-
consciente, comenta Lacan, não está de- to, tomado um a um, e pode parar de não
trás dos postigos, ele está fora, o que anula se escrever.
a idéia do inconsciente como um reserva- Mas existe uma outra resistência, que
tório de lembranças. Lacan continua fa- tem a estrutura do inconsciente. É que o
lando que é o inconsciente, pela boca do Outro não pode se escrever. O Outro en-
analista, que faz apelo à abertura dos pos- quanto Outro sexo restará sempre Outro.
tigos. O analista com sua presença suporta Tudo o que pôde se escrever foi onde o
o artifício do sujeito suposto saber, com seu sujeito havia reduzido o Outro ao objeto a
desejo sustenta a causa do inconsciente e em sua fantasia. Ele resta alguma coisa que
com seu ato faz apelo à bela, aquela que não pode se escrever, é portanto o Outro
está atrás dos postigos. Mas, quem é essa como tal, o Outro sexo, que resta ao final
bela? das contas, um Um a menos. É com esse
Sabemos com Freud que o belo é o saber que a psicanálise tem de lidar. Ele é
índice do sujeito em sua manifestação efê- de outra natureza que o saber científico.
mera. Nessa referência de Lacan no Semi- Ora, o amor de transferência é uma outra
nário XI o belo é posto no feminino, quer maneira de se endereçar ao parceiro, pois
dizer, é a bela. Não se trata do sujeito iden- esse amor cava a falta. A falta, quer dizer,
tificado ao falo (a beleza que se mostra) ou o Um a menos, é por que o amor é funda-
ao significante mestre, pois esse sujeito mentalmente o que se desperta no ende-
Freud o mostrou no Édipo. Esse sujeito é reço ao Outro, ao ponto onde não se pode
masculino. Aqui se trata de um sujeito fe- escrever, ao ponto onde ele não é tudo.
minino: a bela atrás dos postigos tem rela- Se endereçar à bela atrás dos postigos tem
ção com a mulher enquanto ela não pode sempre efeito de amor.
se escrever. Os postigos fechados no amor Tudo isso me reenvia ao que Lacan
de transferência podem ter relação com escreve no resumo de seu seminário sobre
uma mulher enquanto objeto a, mais de o Ato. É ali que ele introduz a expressão
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saber sem sujeito, que podemos identifi- ensino essa definição. Ela conduz a sepa-
car ao que se chama o inconsciente real. rar S2, quer dizer, o significante segundo,
Quer dizer, o laço do inconsciente com o aquele que capitonea a cadeia significan-
gozo, do inconsciente com alíngua, ou o te, quer dizer, o saber do qual o sujeito é
que ele nos diz nos capítulos sobre a escri- separado. Esse saber real separado do su-
tura no Seminário XX. Nesse resumo ele jeito ( ) é isso que conduz a referência à
vai também colocar a questão do acesso a alíngua.
esse saber, mas também a pergunta da in- Esse saber é irremediavelmente insue
cidência desse saber. É aqui que ele coloca (não sabido e em si). É necessário en-
a tarefa do analista, quer dizer, a interpre- contrar a esse saber um lugar onde pode-
tação não consiste em escutar o que se diz, mos restituir os efeitos constatados dentro
mas em ler. Lacan emprega uma expressão da experiência analítica.
muito precisa em francês, ele nos diz que o Lacan introduz alíngua em dois pon-
saber se savere (se verifica, se veri-fica). tos: a morada da linguagem, definida como
Isso significa que ao fazer passar o saber à o que se decifra; e alíngua como o que afe-
verdade, esse saber se lê por passar para o ta em primeiro o gozo.
lado do sujeito. E fazer passar esse saber A alíngua suplanta então o lugar do
para o lado do sujeito é a revelação ao su- Outro, o lugar da linguagem como cadeia
jeito de uma verdade sempre insuficiente, articulada. A partir disso, o conceito de
pois será sempre meio-dita. A referência a inconsciente está separado em dois: o in-
isso se encontra no posfácio do Seminário consciente linguagem enquanto o que se
XI. decifra3; o inconsciente que não é lingua-
Para prosseguir sobre a questão do gem, alíngua, o que se especifica por afetar
S( A ), do final da análise, é necessário pre- o gozo. Esses efeitos ultrapassam tudo o que
cisar alguns pontos que Lacan aborda no podemos saber e dizer. É esse o verdadeiro
Seminário XX, seminário chave, funda- inconsciente, irredutível.
mental para elaborar rigorosamente sobre Alíngua originária é a do Outro da
esse assunto. mãe , esse Outro que fala à criança. Na
Com a nova definição do amor nesse Conferência de Genebra sobre o Sintoma
seminário, quer dizer, o amor como rela- é introduzido o termo de moterialidade,
ção de sujeito a sujeito, de reconhecimen- para nos dizer a materialidade específica
to de dois sujeitos, de dois falasseres, uma do inconsciente como alíngua. Cada um
virada se opera. tem sua alíngua, cada um é banhado den-
Essa definição está em completa opo- tro de sua alíngua de origem. Alíngua é
sição com o que se falava até então de amor, um depósito singular. Isso tem uma impli-
que ele era cego, ilusório e mentiroso, que cação com a clínica, com a prática. É que
ignorava tudo do parceiro, que era um para cada um as palavras do dicionário não
amor covarde, pois ignorava o saber do real. têm o mesmo peso. E isso é um problema
Então agora, após o Seminário XX, o amor muito importante para a interpretação.
não é cego, é um amor que reconhece. Cada sujeito tem sua alíngua própria e dela
Parece-me absolutamente essencial ele sabe muito pouco.
examinar o que funda essa virada. Parece- Então, para resumir a propósito da di-
me que essa mudança de definição encon- ferença das duas definições de inconscien-
tra seu fundamento na nova definição de te: O inconsciente linguagem: S1 S2
inconsciente, a saber, que o inconsciente (esse corresponde ao inconsciente-dese-
é um saber sem sujeito.
Eu sublinho aí que Lacan não mudará
a partir daí, e conservará até o final de seu 3
LACAN, J. O seminário, livro XX: mais, ainda, p. 127.
amar, pelo menos numa nova concepção lisante, graças à interpretação do analista
do amor que vai além das miragens da que faz corte na tagarelice transferencial,
identificação, do altruísmo, além das in- uma interpretação suportada pelo desejo
junções do fazer o bem sem olhar a quem particular de obter a diferença absoluta,
ou do amarás teu próximo como a ti mes- alcançaria a prescindir da esperança da
mo, além dos imperativos categóricos kan- complementaridade sexual alojada no co-
tianos e sadianos, da reciprocidade, da ração da fantasia. Ele alcançaria também
oblatividade ou da generosidade. a franquear aí o limite abaixo do qual ele
Um amor sem limite é o amor que, de se engana. E o engano do amor não é sem
entrada, renuncia a seu objeto compreen- relação com o recuo do sujeito frente à fal-
dendo, como o faz a análise, que o objeto ta que o determina. Quer dizer, com o que
é aquele que coloca limites ao amor. seu desejo é feito.
Um amor para continuar a gozar, tal é No Seminário XX Lacan transforma
a máxima do neurótico. No entanto, o esse mau encontro em mal-entendido e ele
neurótico compreende que o amor em si é faz disso o fundamento do laço do sujeito
incompatível com a realização do ser, de à linguagem e da relação sexual que não
onde a fórmula não há relação sexual. existe. Um amor digno seria um amor não
Não há relação sexual porque o amor não orientado pela demanda do Outro, ou pela
é um sentimento que encontra sua raiz demanda ao Outro, que são as duas moda-
dentro do simbólico, como o mostram os lidades da demanda de amor (silenciosa ou
poetas. É isso que o sujeito descobre quan- gritante) sempre mal-entendida, mas um
do alíngua se faz presente dentro da lin- amor orientado ao contrário, por um de-
guagem sob a forma do que não pode ser sejo de saber orientado pela causa do que
traduzido. É isso o amor. o analisante tem a saber. O saber tem a
O novo amor do qual fala Lacan se mais importante relação com o amor, nos
encontra em um para além da realização diz Lacan no Seminário XX.
narcísica. Esse para além é o produto da Ao início do meu trabalho eu dizia que
desrealização do objeto a: o objeto a como esse novo amor é também o corolário do
complemento imaginário do sujeito vai se final da análise pela identificação ao sin-
tornar simplesmente objeto causa dos de- toma, quando ela se produz. Lembremos
sejos do sujeito. que a identificação final ao sintoma é a tese
É na passagem do objeto a, enquanto de 1976, que se encontra na primeira ses-
metonímia do gozo, ao objeto enquanto são do Seminário 24 Linsu que sait....
causa do real que se situa o novo amor. O Essa identificação, quando se produz,
amor desrealiza o sujeito para realizar um é uma identificação a uma fixação de gozo
real. Se há uma novidade no amor depois modificada em relação ao sintoma de en-
da queda das identificações, podemos en- trada na análise. Quando falamos de um
tão dizer que é um amor sem esperança de final de análise por identificação ao sinto-
retorno. Quer dizer, que o anseio de ser ma, isso não significa um fim por resigna-
amado troca de lugar com um eu amo. ção. Quando Lacan fala de um fim por
Em relação ao que Lacan diz na Nota identificação ao sintoma, ele não designa
Italiana, onde ele nos fala de um amor um fim de impotência do sujeito, mas, an-
mais digno do que a profusão do palavró- tes, um final compatível com um impossí-
rio que ele constitui até hoje, isso seria vel, quer dizer, com o impossível da rela-
ainda um amor que não demanda nada, ção sexual.
que não demanda o amor do pai. Pode- Não perdemos de vista que em 1975 o
mos também dizer que esse amor seria cor- sintoma é o que faz suplência à relação se-
relato a uma mudança de discurso. O ana- xual. Quer dizer que por não poder escre-
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ver a relação de um gozo homem com um análise? Para Lacan, a condição do térmi-
gozo que seria feminino, de não poder es- no é S( A ) e o objeto a como real e é essa a
crever esse casal que traduz a relação se- condição do processo do tratamento. E,
xual, escrevemos o casal do sujeito e do precisão importante, se o tratamento visa
objeto ou do sintoma. ao enigma do gozo feminino, ou seja, o
A identificação ao sintoma implica que Outro gozo, no Seminário XX é S( A ).
o sujeito parou de questionar, de contes- Mas no Seminário XXIII, J( A ) (o gozo do
tar, de justificar seu gozo, e que, então, ele Outro barrado) não é S( A ).
aceita de reconhecer seu ser dentro desse Abrir-se ao héteros seria tirar o foco
sintoma. O sintoma do final da análise é o do objeto a e passar a falar sobre o héteros,
sintoma reduzido do gozo. como diz Lacan no Seminário XX na li-
É essa extração do ser de gozo, do que ção Letra de uma Carta de Almor. Seria se
o sujeito é como sintoma, que ordena para confrontar com o fato de que de A mu-
ele a possibilidade de um novo amor. lher nada se pode dizer, seria isso o héte-
Se para um homem uma mulher é o ros, ou seja, o buraco da estrutura.
Outro, ou seja, seu sintoma respondendo Toda a clínica da relação amorosa nos
ao buraco dentro do saber do sexo, e se mostra como as coisas se jogam a partir do
como Lacan nos diz, o Outro é o Outro falo entre os dois parceiros, como se arran-
sexo, então se torna crucial que ele não se jam ou não os três termos homem, mulher
coloque nesse lugar do sintoma, mas que, e falo. E como nos lembra Lacan, se pode
ao contrário, em se apoiando no não há ter entre os sexos uma relação um pouco
Outro do Outro, ele lembre a essa mu- temperada, não é senão por intermédio do
lher que o gozo Outro está fechado para falo, como falta.
ele e que ele tem que saber fazer com a Sabemos que fazer demais o homem,
privação. Ver o Seminário IV. quer dizer, se identificar ao falo como con-
Mas, se essa mulher quer fazer encar- sistente, ou para uma mulher, encarnar
nar a ele o complemento que remediaria o demais A mulher, faz estragos.
não- todo fálico, se ela quer fazer dele seu Um laço social que se estabelece não
Outro, então é sobre um dizer que não sobre a fantasia, mas além da identificação
que ele tem que se orientar. Um homem e do amor do pai sobre o jogo com o sem-
pode impedir a tentação para uma mulher blante e com a falta, isso coloca as coisas
de se tornar um homem, de se perder em em outro lugar. Ao lugar do falo dentro de
um fazer o homem. sua verdadeira função. Isso seria um laço
social que leva em conta além da castra-
Para concluir e à guisa de abertura: em ção, à privação naquilo que ela é privação
direção ao héteros real de um objeto simbólico, real enquan-
Para retornar ao S( A ), ao gozo femi- to ela representa um buraco dentro do ser.
nino e ao héteros, sintetizarei as coisas as- Um laço social para além do ideal, que
sim: 1. S( A ) é o significante da falta no se orienta do não-todo, que faz perder a
Outro, ele é fora do sentido, mas ele faz consistência do Outro do amor, e que cul-
parte do registro do significante. Podemos tiva essa falta por estrutura. j
acrescentar que S( A ) é um significante ao
limite do Real, impronunciável. 2. O Ou-
tro gozo: ele escapa ao significante.
Colocarei agora uma questão: qual está
em jogo no tratamento para um sujeito,
do lado todo ou do lado não-todo? E, so-
bretudo, qual é a condição do término da
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Condução e fim do tratamento analítico: A propósito do gozo feminino
Keywords
Castration Phallus Feminine joy/pleasure
S( A ) End of analysis Héteros
Bibliografia
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FREUD, S. (1919) Bate-se em uma criança . ESB,
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