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Resumo
No Brasil, a grande parte da malha rodoviária é custeada pelo setor público. No entanto, diversos
trechos de rodovias, federais e estaduais, já foram atribuídos ao cuidado do setor privado com
cobrança de pedágio dos usuários, o qual cobre, ao menos em parte, investimentos e custos de
operação e manutenção. Os gastos médios anuais com recuperação e manutenção das rodovias
são da ordem de 12 bilhões de reais. Com a falta de estrutura adequada, os usuários são os
mais prejudicados, mas nas rodovias concedidas, mesmo com a cobrança de tarifa, a sociedade
fica mais satisfeita com a utilização de vias de melhor qualidade. O Estado de Pernambuco foi
pioneiro nesse setor, tendo a primeira PPP de rodovias do Brasil. O projeto foi idealizado pelo
Comitê Gestor de Parcerias Público Privadas de Pernambuco (CGPE) no início de 2006,
delegando à iniciativa privada, mediante concessão patrocinada com cobrança de pedágio dos
usuários, complementada por contraprestação adicional à tarifa paga pelo poder concedente, a
exploração pelo prazo de trinta e três anos da Ponte de Acesso e Sistema Viário da praia do
Paiva, litoral sul do Estado. Em síntese, pode-se destacar que a motivação para esse tipo de
contrato é desonerar o Estado de investimentos em serviços de infraestrutura, transferindo a
gestão e exploração do ativo à iniciativa privada. O objetivo deste trabalho é abordar a
experiência de Pernambuco na gestão desse projeto inovador, considerando aspectos como o
compartilhamento do risco de tráfego, inserção do fluxo efetivo de veículos na composição do
reequilíbrio econômico-financeiro, bem como descrever a metodologia de cálculo aplicada nos
reequilíbrios econômico-financeiros no âmbito do exercício contratual ainda em curso,
destacando as necessidades de estudos nesse campo, a fim de aperfeiçoar os futuros contratos
de concessão a serem firmados.
A malha rodoviária, como o nome indica, é o conjunto de vias terrestres que possibilitam
a mobilidade dos transportes rodoviários no deslocamento de cargas e tráfego veicular. O Brasil
possui a 4ª maior malha rodoviária do mundo. São 1,720 milhão de quilômetros de estradas e
rodovias, responsáveis pela movimentação de mais de 60% das mercadorias entre os estados e
cerca de 90% dos passageiros (FIESP, 2021).
Por outro lado, o país ocupa a 108ª posição no ranking mundial de infraestrutura
rodoviária, possuindo apenas 105.814 quilômetros pavimentados, o que representa apenas
12,4% da malha viária. De acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional do
Transporte (CNT), em 2022, apenas 34% das rodovias nacionais pavimentadas estão
classificadas como “bom” e “ótimo”, quando analisados o pavimento, a sinalização e a geometria
das vias.
As estimativas apontam que existem cerca de 100 milhões de veículos circulando pelo
trânsito no Brasil. Nesses números destaque para Minas Gerais, dona da maior malha viária do
país. São 272.062 quilômetros de rodovias, divididos em 9.205 quilômetros de rodovias federais,
22.286 estaduais e 240.571 municipais. Tratando por região, segundo a Confederação Nacional
de Transportes (CNT) o Nordeste concentra o maior percentual de infraestrutura rodoviária com
pavimento (30,8%), seguido do Sudeste (19,3%), do Sul (18,5%), do Centro-Oeste (17,6%) e do
Norte (13,7%) (CNT, 2016).
Todas essas estradas demandam obras de manutenção e até mesmo construção de
novos trechos ou adequações de capacidade que viabilizem o tráfego e escoamento de
mercadorias. Os gastos médios anuais com recuperação e manutenção das rodovias federais
públicas são da ordem de 12 bilhões de reais. No entanto, nos últimos anos, os investimentos
efetivamente aplicados foram em média, 7 bilhões de reais (CNI, 2021).
A falta de capacidade de investimentos do Estado impacta diretamente no desempenho
da malha e eficiência da gestão rodoviária, o que se reflete no resultado constatado pela CNT
de que apenas 24,7% das rodovias sob gestão pública obtiveram classificação “bom” ou “ótimo”.
Ou seja, 75,3% da malha rodoviária sob a tutela da gestão pública apresenta algum tipo de
problema (CNT, 2022).
Por outro lado, ainda de acordo com a mesma pesquisa, 69% das rodovias concedidas
foram classificadas como “bom” ou “ótimo”, 25,8% foram classificadas como “regular”, e apenas
5,2% dessas rodovias foram classificadas como “ruim” ou “péssimo”. Percebe-se, assim, que a
gestão privada das rodovias nacionais vem apresentando um melhor desempenho na gestão
viária do que a gestão pública.
Diversos trechos de rodovias federais e estaduais já foram objeto de concessão ao setor
privado. A lógica da concessão, entretanto, traz a nuance de que o custeio das intervenções
pretendidas é oriundo, parcialmente ou totalmente, da cobrança de tarifas de pedágio dos
veículos que trafegam nas respectivas vias, e não apenas dos cofres públicos do Estado.
No Brasil, há 376 vias pedagiadas. Dessas, 180 se encontram no estado de São Paulo.
Segundo dados da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), em 2019, as
47 concessionárias operavam 15,616 mil quilômetros de rodovias, o que corresponde a apenas
7,0% do total da malha pavimentada do país. Verifica-se que a parcela da malha rodoviária
nacional concedida ao setor privado apresenta melhor estado de conservação, quando
comparada com a parcela sob a tutela do setor público (CNT, 2022), fato que resulta num melhor
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desempenho destas quanto a outros aspectos, a exemplo da diminuição da frequência de
acidentes, redução do tempo de trânsito e menor desgaste dos veículos que trafegam nestas
vias (FIESP, 2017).
No âmbito das concessões rodoviárias, apesar de o modelo de concessão comum já ter
sido adotado pela União, a exemplo das concessões ocorridas na 1ª etapa do Programa de
Concessões Federais (PROCOFE) BR-116/RJ/SP, da BR-101/RJ (Ponte Rio-Niterói), da BR-
040/MG/RJ (Rio de Janeiro a Juiz de Fora, da BR-116/RJ (Rio de Janeiro a Terezópolis) e da
BR-290/RS (Porto Alegre a Osório), todas ocorridas no ano de 1993, (TCU, s.d.) ou das
concessões comuns realizadas pelo Estado de São Paulo no ano de 1998, contemplando as vias
Rodovia Anhanguera (SP-330), Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), Dom Gabriel Paulino Bueno
Couto (SP-300), Adalberto Panzan (SPI-102/330) (ARTESP, s.d.), não havia experiência de
concessão patrocinada de rodovias no Brasil, seja no âmbito federal ou estadual.
O Estado de Pernambuco foi pioneiro nesse setor, tendo celebrado o primeiro contrato de
Parceria Público Privada (PPP) de rodovia do Brasil, na modalidade concessão patrocinada. O
projeto, licitado pelo Comitê Gestor de Parcerias Público Privadas de Pernambuco (CGPE) no
segundo semestre de 2006 e com contrato assinado ainda no ano de 2006, delegou à iniciativa
privada a cobrança de pedágio dos usuários, complementada por contraprestação adicional à
tarifa paga pelo poder concedente, a exploração pelo prazo de trinta e três anos da Ponte de
Acesso e Sistema Viário do destino de turismo e lazer denominado “Praia do Paiva”, no litoral
sul do Estado.
Coube ao parceiro privado no referido projeto a construção de uma ponte, e de 6 km de
rodovia duplicada ligando os municípios do Cabo de Santo Agostinho e do Jaboatão dos
Guararapes, bem como a operação, a realização de manutenções e a prestação de serviços aos
usuários relacionados às infraestruturas supracitadas durante todo o período da concessão.
Projetos tais como este são denominados na literatura como greenfield, uma vez que não havia
infraestrutura construída antes da contratação.
Considerando que os custos com manutenção da infraestrutura concedida são de
responsabilidade da Concessionária, o modelo de concessão, por sua natureza, incentiva que o
parceiro privado execute obras com maior qualidade do que aquelas realizadas por contratação
direta pela Administração Pública, haja vista que com isso ele minimiza seus custos com
manutenção, provendo assim uma melhor infraestrutura para os usuários da via. Soma-se a isso
que o modelo, ao final da vigência contratual, prevê que o parceiro privado deve entregar o bem
concedido para a Administração Pública em condições ideais de conservação.
Em síntese, pode-se destacar que a motivação para esse tipo de contrato é desonerar o
Estado de investimentos em serviços de infraestrutura, transferindo a gestão e exploração do
ativo à iniciativa privada, bem como prover aos usuários uma infraestrutura com qualidade
superior àquela tradicionalmente entregue pelas rodovias geridas pela Administração Pública.
O objetivo deste trabalho é abordar a experiência de Pernambuco na gestão desse projeto
inovador, considerando aspectos como o compartilhamento do risco de tráfego, inserção do fluxo
efetivo de veículos na composição do equilíbrio econômico-financeiro contratual, bem como
descrever a metodologia de cálculo aplicada nos reequilíbrios econômico-financeiros
realizados.
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2. Metodologia
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https://www.parcerias.pe.gov.br/
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Mato Grosso do Sul – MS, os Terminais Urbanos e Estações BRT (Região Metropolitana do
Recife - PE), entre outros.
No contexto brasileiro, as PPPs diferem das concessões comuns principalmente pela
necessidade de que se preveja o pagamento de uma contraprestação pecuniária do parceiro
público ao parceiro privado no âmbito do compartilhamento de risco, tornando as PPPs
adequadas a projetos nos quais há necessidade de aporte público para o volume de
investimentos envolvido, a receita a ser auferida com a cobrança de tarifas dos usuários é
insuficiente para cobrir as despesas com a prestação de serviços, ou quando não há a
possibilidade de cobrança de tarifas dos usuários.
De acordo com Radar PPP (2023), até 2022, o Brasil possuía 206 iniciativas, sendo 18 na
fase de consulta pública e outras 32 em alguma fase de modelagem. Já em 2023, no primeiro
trimestre, o setor rodoviário capturou um volume de 4,05% na elevação das estimativas de
investimento para o setor, com a adição de R$ 101,9 trilhões ao estoque de investimentos. Logo
pode-se observar que os volumes são consideráveis. A tendência é termos para 2023 e 2024
ainda mais licitações.
Importante aspecto em relação à modelagem das concessões refere-se ao tratamento do
risco de demanda, sendo praxe nas concessões comuns a alocação integral do risco de
oscilações na demanda em relação às projeções originais ao concessionário - salvo hipóteses
extraordinárias como a implantação de rotas alternativas não-planejadas ou ocorrências de
eventos de caso fortuito e força maior, como a pandemia do COVID-19.
Mais recentemente, em especial após os efeitos da crise econômica de 2015/2016 sobre
os contratos de concessão firmados nos anos que a antecederam, vem sendo discutidos
mecanismos de mitigação de risco de demanda, sendo exemplo o novo modelo de alocação de
risco em análise pela ANTT, que incorpora, em linha com contratos mais recentes da agência,
bandas de receitas mínimas e máximas aos contratos de concessão.
Nesse sentido, as concessões patrocinadas, sendo a do Paiva a primeira entre elas,
anteciparam essa tendência com a previsão de mecanismos de compartilhamento de risco de
demanda como o exposto nesse artigo, cuja experiência pode contribuir para o tratamento do
tema em futuras concessões rodoviárias.
Parcerias Público Privadas de Pernambuco (CGPE), órgão então responsável pela avaliação e
aprovação de projetos dessa natureza.
Foi então aprovada a delegação à iniciativa privada da construção, operação e
manutenção, pelo prazo de 33 anos, da Ponte de Acesso, com 320 m de extensão e do Sistema
Viário com 6,5 km de extensão, em pista duplicada, do Destino de Turismo e Lazer Praia do
Paiva. O contrato foi estruturado na forma de concessão patrocinada, com cobrança de tarifa de
pedágio dos usuários complementada por contraprestação adicional à tarifa a ser paga pelo
poder concedente, uma vez que caso a remuneração do empreendimento se desse unicamente
pela cobrança de tarifas de pedágio, estas teriam que alcançar patamares excessivamente
elevados, face ao estudo de tráfego então realizado.
O projeto foi licitado no segundo semestre de 2006, tendo como vencedor o consórcio
formado pelas empresas Odebrecht Investimentos em Infraestrutura LTDA e Construtora
Norberto Odebrecht S.A., com contrato firmado ainda naquele ano, com a concessionária criada
pelos licitantes vencedores então denominada “Via Parque S.A”, a qual teve sua razão social em
2012 alterada para “Concessionária Rota dos Coqueiros S.A.”.
O contrato prevê a possibilidade de cobrança de tarifas de pedágio dos usuários, por meio
de duas praças de pedágio implantadas em cada uma das extremidades do trecho concedido,
nas localidades Barra de Jangada e Itapuama, situadas nos municípios do Jaboatão dos
Guararapes – PE e do Cabo de Santo Agostinho – PE, respectivamente, somada ao pagamento
de uma contraprestação pecuniária ao longo da vigência contratual.
Embora o modelo estabelecido em edital tenha se pautado em pagamentos de
contraprestações ao longo de toda a operação do contrato, ou seja, durante os 30 anos de
operação contratual, havia a possibilidade de que o proponente estabelecesse os prazos de
pagamento de forma diversa. A proposta vencedora, apresentada pela empresa Odebrecht
Investimentos e Infraestrutura LTDA. estabeleceu que os pagamentos dessas contraprestações
por parte do Estado se dariam nos 9 primeiros anos da fase de operação do trecho concedido.
A extinção das contraprestações em prazo inferior ao do contrato remete a interessante
hipótese de uma concessão patrocinada que passa a ter como receita exclusivamente a tarifária
(à exceção da incidência de mecanismos de compartilhamento de riscos, como o de demanda),
além de trazer a necessidade de preenchimento de lacunas, a exemplo de garantias cujo valor
de referência são a contraprestação, que se encerram ao longo do contrato, mas cobrem outras
eventuais obrigações pecuniárias do Poder Concedente, como o próprio mecanismo de
compartilhamento de risco de demanda.
De forma pioneira e antecipando-se a um debate que se fortaleceu no setor rodoviário
após a pandemia da COVID-19, conforme explicitado anteriormente, o contrato previu, ao longo
de toda a vigência contratual, o compartilhamento do risco de tráfego entre a concessionária e o
poder concedente, conforme bandas de tráfego e projeções de tráfego estabelecidas em
contrato, de forma que tanto as receitas oriundas do excedente de tráfego quanto os prejuízos
resultantes da não ocorrência de tráfego de veículos seriam compartilhados pelas partes, de
acordo com a projeção de tráfego estabelecida em edital e no contrato, conforme Tabela 1
abaixo:
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Tabela 1: Compartilhamento de risco do volume de tráfego
Risco
Tráfego realizado, em
relação ao tráfego previsto Poder Fundo
em contrato Concessionária
Concedente Socioambiental
<70% 100% 0% 0%
entre 70% e 90% 50% 50% 0%
entre 90% e 110% 0% 100% 0%
entre 110% e 130% 25% 25% 50%
>130% 45% 45% 10%
Fonte: Elaboração Própria.
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Tabela 2: Tarifa cobrada na praça de pedágio
Anos Tarifa DU Tarifa FDS
14/06/2020 a 13/06/2021 R$ 6,40 R$ 9,60
(ano 11)
14/06/2021 a 13/06/2022 R$ 6,90 R$ 10,30
(ano 12)
14/06/2022 a 13/06/2023 (ano R$ 7,90 R$ 11,80
13)
14/06/2023 a 13/06/2024 R$ 8,40 R$ 12,60
(ano 14)
Fonte: Elaboração Própria.
A alteração das tarifas mencionadas supra está ligada tanto ao reajuste inflacionário,
quanto à celebração de revisões do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, tema que será
melhor explorado mais adiante.
Além da cobrança da tarifa de pedágio, o contrato previu igualmente o pagamento de uma
contraprestação adicional à tarifa (CAT). Como mencionado previamente, o pagamento da
contraprestação constante na proposta econômica apresentada pela licitante vencedora foi pago
desde o término das obras objeto do contrato de concessão, datado de 2010, até o ano de 2019.
O cálculo da contraprestação devida se dava pela seguinte dinâmica: a proposta econômica
continha a Contraprestação Básica Adicional à Tarifa (CBAT) estabelecida para cada mês de
pagamento. O pagamento da CAT devida em cada mês era calculado utilizando o valor da CBAT,
conforme a fórmula abaixo:
Onde a TIRp representa a Taxa Interna de Retorno Real do Projeto, conforme proposta
econômica apresentada pelo licitante vencedor e NQID representa a Nota do Quadro de
Indicadores de Desempenho. No caso da PPP do Paiva, esse percentual da TIRp foi de 10,75%.
O pagamento da CAT previa, portanto, que um percentual seria relacionado ao
desempenho da concessionária, retratado pela NQID. A NQID é uma nota que varia entre 0 e 10
calculada pelo Verificador Independente (VI) por meio dos indicadores de desempenho da
concessionária estabelecidos em contrato, refletindo a qualidade da prestação do serviço
concedido.
Assim, tem-se que a qualidade dos serviços prestados pela concessionária aferida pelo
VI impacta na nota a ser aplicada para a concessionária, e, consequentemente, nos valores
financeiros por ela recebidos.
Cumpre destacar que o VI é representado por uma empresa selecionada pelo poder
concedente, e é responsável pelo monitoramento permanente do processo de aferição do
desempenho da concessionária, mediante utilização do sistema de Quadro de Indicadores de
Desempenho (QID) e para certificação da aferição que resultará na Nota do QID, sendo
responsável pela análise da execução das intervenções para atendimento das condições
operacionais mínimas estabelecidas em contrato e das obras de construção da rodovia.
O QID da PPP do Paiva tem como principais quesitos o atendimento a indicadores
determinados consoante a prestação de serviço nas seguintes áreas: Operacional,
Socioambiental e Financeira. A área operacional compreende os serviços relacionados a
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requisitos operacionais da concessão, ou seja, os serviços de engenharia relacionados ao estado
do pavimento, sinalização, segurança do tráfego, atendimento ao usuário e fluxo de veículos.
A área socioambiental dos indicadores compreende as políticas e programas realizados
pela concessionária para os usuários e habitantes ao longo da rodovia e o acompanhamento do
cumprimento dos requisitos de regularidade junto ao órgão ambiental. Por último, porém não
menos importante, há indicadores relativos à área Financeira, que compreendem o
acompanhamento do gerenciamento de custos, otimização de investimentos, endividamento e
adoção de práticas contábeis transparentes.
O Fundo Socioambiental (FSA) é o fundo a ser mantido em conformidade com o contrato
destinado a empreender a gestão socioambiental da rodovia, de acordo com os Programas de
Gestão Ambiental (PGA) e Programa de Gestão Social (PGS), programas apresentados pela
concessionária e aprovados pelo poder concedente com a finalidade de estabelecer o
planejamento e os critérios para as ações relacionadas às temáticas ambiental e social. A gestão
do fundo socioambiental é empreendida por sociedade civil sem fins lucrativos, contratada pela
concessionária.
De uma forma geral, o FSA reforça o aspecto ESG do projeto, impactando o sistema viário
da Praia do Paiva e seu entorno territorial por meio da atuação com foco em sustentabilidade,
preservação ambiental e reforçando a responsabilidade social. Ao longo da vigência contratual,
foram realizadas diversas ações e campanhas de desenvolvimento socioambiental, de
empreendedorismo popular e solidário e de educação no trânsito, voltadas para as escolas do
entorno, motoristas, visitantes, funcionários e a sociedade em geral.
Nos anos iniciais da operação contratual, notadamente entre os anos de 2010 e 2015, a
curva de tráfego realizado superou a curva de tráfego estabelecida em contrato, razão pela qual
os valores efetivamente pagos relativos à CAT foram inferiores aos previstos em contrato.
Posteriormente, haja vista o aumento gradativo da curva de tráfego estabelecida contratualmente
e a estagnação do tráfego realizado, passou-se a ocorrer um cenário em que cabia ao Poder
Concedente realizar pagamentos adicionais à concessionária, dada a ocorrência de tráfego
realizado em quantitativos inferiores à 90% do previsto.
Em que pese o regramento já contratualmente previsto, houve a necessidade de ajuste
do contrato para que se pudesse estabelecer com maior clareza a forma de pagamento dessa
frustração de tráfego, o que ocorreu com a celebração do 4º termo aditivo no ano de 2019,
apenas. Foram então regularizados tais pagamentos de frustração de tráfego ocorrida entre 2016
e 2019.
Os quadros abaixo sintetizam em média o tráfego realizado e projetado no contrato para
Dias Úteis (DU) e Finais de Semana (FDS), como também a porcentagem referente a diferença
entre o ocorrido e o projetado para cada ano.
Registre-se que, ao longo dos 5 primeiros anos de operação, o tráfego real observado
para dias úteis foi superior ao volume de tráfego projetado apresentado no contrato, incorrendo
no compartilhamento de receitas entre o poder concedente e a concessionária.
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Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
11/06/2010 14/06/2011 14/06/2012 14/06/2013 14/06/2014 14/06/2015
Ano
a a a a a a
13/06/2011 13/06/2012 13/06/2013 13/06/2014 13/06/2015 13/06/2016
Tráfego
1.352.555 2.253.420 2.294.834 2.424.892 1.814.816 1.466.333
real DU
Tráfego
projetado em 546.361 695.177 989.932 1.243.410 1.455.811 1.583.605
contrato DU
% 247,56 324,15 231,82 195,02 124,66 92,59
Tráfego
572.996 730.550 727.811 796.627 744.857 660.725
real FDS
Tráfego
projetado em 109.272 139.036 197.987 248.682 291.162 316.720
contrato FDS
% 524,38 525,44 367,61 320,34 255,82 208,61
Já para os finais de semana, o tráfego real sempre ficou acima do projetado até o Ano 9,
tendo seu maior valor nos primeiros dois anos. Do Ano 10 ao 12, o tráfego real nos finais de
semana foi menor que o projetado, mesmo com essa diminuição, não incumbiu ao poder
concedente toda responsabilidade do risco, já que entre 70% e 90%, os riscos são
compartilhados.
Num primeiro momento, preliminarmente, atribui-se o superávit de tráfego ocorrido à
pujança econômica da primeira metade da década de 2010, oportunidade em que se
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encontravam em construção diversos empreendimentos de grande porte no Complexo Industrial
de Suape e áreas adjacentes, a exemplo da Refinaria Abreu e Lima, da Petrobrás, e do Estaleiro
Atlântico Sul.
Posteriormente, com a crise econômica de 2015, os quantitativos de tráfego diminuíram
significativamente, passando a um patamar de relativa estagnação, o que se reflete igualmente
na não conclusão dos empreendimentos previstos para serem construídos no bairro do Paiva,
impactando assim diretamente no tráfego realizado.
A seção a seguir demonstra como se dá o cálculo para o reequilíbrio das perdas de
tráfego, quando o tráfego realizado é inferior a 70% do tráfego previsto em contrato para o
determinado ano.
4. Reequilíbrio Econômico-Financeiro
Assim, considerando que o tráfego realizado no período em análise foi inferior a 70%,
surge o direito de a concessionária propor o pedido de recomposição. Para o período entre
14/06/2021 e 13/06/2022 (Ano 12), os relatórios apresentados pela concessionária indicaram
que o quantitativo de Veículos Equivalentes Pagantes (VEP) do período foi de 1.458.034 nos
dias úteis e de 658.780 nos fins de semana, também demostrados nos quadros anteriores.
Conforme o Anexo X do Edital de Concorrência nº 001/2006 – CGPE, que corresponde
ao Anexo I do Contrato CGPE nº 001/2006, o quantitativo de tráfego previsto em contrato para o
ano 12 relativo ao período mencionado previamente foi de 3.785.775 para os dias úteis e de
757.155 para os fins de semana.
Assim, considerando os dados divulgados, o quantitativo de tráfego ocorrido abaixo de
70% do previsto em contrato e assim passível de recomposição do equilíbrio econômico-
financeiro ocorreu apenas nos dias úteis (DU) e totalizou 1.192.009 VEP, representando a
diferença entre o valor efetivamente ocorrido (1.458.034 VEP) e o valor correspondente a 70%
dos veículos previstos para o período de 14/06/2021 a 13/06/2022 (2.650.043 VEP).
Adotando os valores de pedágio vigentes no período em questão, R$ 6,90 para os dias
úteis, verifica-se que o valor total a ser reequilibrado representa o montante de R$ 8.224.858,65
em valores de 2022, os quais representam R$ 3.641.540,79 em valores de novembro de 2005
(data-base do plano de negócios).
Dessa forma, foi devida a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro em favor da
Concessionária no valor de R$ 3.641.540,79 em valores de novembro de 2005, com base na
previsão da cláusula 28.2.6 do Contrato CGPE nº 001/2006, haja vista a constatação da
ocorrência de tráfego em patamares inferiores à previsão de 70% do tráfego previsto em edital.
As partes optaram por realizar a revisão do equilíbrio econômico-financeiro por meio da
majoração da tarifa de pedágio no prazo remanescente da concessão, razão pela qual foi
posteriormente realizado o cálculo de quanto seria o impacto tarifário deste reequilíbrio.
Conforme cálculos realizados, a tarifa de pedágio deveria ser majorada em 2,84% com base no
efeito isolado do déficit de tráfego ocorrido, resultando num aumento da tarifa de pedágio teórico
do período de R$ 7,90 para R$ 8,10, desconsiderando o reajuste tarifário.
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5. Considerações Finais
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Referências
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