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Submitted 23 Dec 2010; received in revised form 25 Jan 2011; accepted 31 Jan 2011
Resumo
Este trabalho compara os custos de implantação, operação e manutenção dos modais rodoviário e ferroviário no transporte de
carga no Brasil a partir do custo de cada tonelada-quilômetro útil. Também são estimados os custos decorrentes dos impactos
ambientais gerados com a implantação e a operação de cada um dos modais. Os resultados obtidos mostram que o modal
ferroviário apresenta custos fixos elevados, em decorrência de grandes investimentos em trilhos, locomotivas e vagões. Já no
modal rodoviário, os custos variáveis é que são elevados. Ao final do estudo, verifica-se que a priorização de investimentos no
modal ferroviário se mostra mais eficiente em relação ao modal rodoviário, quando se considera os custos de médio e longo
prazos, principalmente os custos externos, uma vez que os custos ambientais apresentam-se expressivamente maior no segundo
modo.
Abstract
This study compares the costs of implementation, operation and maintenance of roadway and rail in freight transportation in
Brazil considering the cost of each ton-km transported. It was also estimated the costs of environmental impacts generated by
the implementation and operation of each mode. The results show that the railroad has high fixed costs, due to large investments
in tracks, locomotives and wagons. Variable cost are higher in the highway mode. At the end of the study, it appears that the
prioritization of investments in the railroad is more efficient when compared to road transportation, when considering the costs
of medium and long term, mainly external costs such as environmental costs that presented significant values in the highway.
* Email: rogeria@ita.br.
Recommended Citation
Eller, R. A. G., Sousa Junior, W. C. and Curi, M. L. C. (2011) Custos do transporte de carga no Brasil: rodoviário versus ferroviário.
Journal of Transport Literature, vol. 5, n. 1, pp. 50-64.
■ JTL|RELIT is a fully electronic, peer-reviewed, open access, international journal focused on emerging transport markets and
published by BPTS - Brazilian Transport Planning Society. Website www.transport-literature.org. ISSN 2238-1031.
This paper is downloadable at www.transport-literature.org/open-access.
Revista de Literatura dos Transportes, vol. 5, n. 1 (2011)
1. Introdução
O transporte de carga no Brasil é exclusivamente dependente do modo rodoviário. As
condições insatisfatórias do sistema têm onerado os produtos brasileiros com custos elevados
de frete e manutenção de veículos, reduzindo sua competitividade. A necessidade constante
de investimentos em conservação das rodovias faz com que os recursos públicos nunca
pareçam suficientes para manter a qualidade do sistema. De acordo com o DNIT
(Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), em 2003, apenas 18% das estradas
brasileiras encontravam-se em bom estado de conservação. (DNIT, 2009).
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Verifica-se, até o momento, que alguns aspectos dos custos de infraesturura continuam
obscuros, em razão principalmente da diversidade de metodologias utilizadas em sua
mensuração ou, ainda, das polêmicas oriundas de posicionamentos políticos antagônicos. Por
exemplo, pode-se afirmar que os impactos ambientais têm sido obstáculo para a implantação
de novas vias de transporte, muitas vezes com base em informações incompletas ou
distorcidas.
Existem alertas em escala global, como a questão do efeito estufa, que provocam uma
preocupação coletiva e uma consciência social ampliada. A gestão e a manutenção de
recursos escassos tornaram-se gradualmente pontos chave das análises sociais e políticas em
uma tentativa de, pelo menos a médio prazo, atingir um equilíbrio sustentável sem
comprometer o desenvolvimento do país. (Martins, 2009).
A análise ambiental se faz necessária, pois com o desenvolvimento e utilização intensiva dos
meios de transporte, em especial o rodoviário, há fortes indícios da existência de efeitos
colaterais negativos ainda pouco conhecidos ou estimados. A falta de alternativas viáveis e a
necessidade de medidas de ampliação do sistema como forma de garantir a continuidade do
desenvolvimento econômico, fazem com que alguns impactos sejam subestimados, apesar de
seus impactos negativos a médio e longo prazo serem cada vez mais expressivos.
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Nas seções seguintes serão apresentadas informações relativas aos modais rodoviário e
ferroviário no Brasil.
2. Modal Rodoviário
Em vista dos escassos recursos públicos diante das diversas alternativa de alocação, outro
ponto a se considerar é a participação da iniciativa privada no setor de infraestrutura. O
Programa de Concessão de Rodovias Federais abrange 13.780 quilômetros de rodovias, que
se dividem em concessões realizadas pelo Ministério dos Transportes, pelos governos
estaduais e pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Com as concessões, o
governo transfere a responsabilidade de manutenção das rodovias para a iniciativa privada,
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numa tentativa de melhorar a situação do setor. Cabe ressaltar que o país possui 1.711.958,4
km de rodovias, sendo que apenas 212.442,0 km são pavimentados. (DNIT, 2009).
3. Modal Ferroviário
A falta de investimentos no setor ferroviário no Brasil pode explicar o fato que a malha
ferroviária não seja muito expressiva em comparação a outros países, conforme mostrado na
Tabela 1.
Tabela 1 - Razão entre km de linha de ferrovias para cada 1.000 km2 de área
km/1.000
País
km2
Estados Unidos 21,3
China 9,3
Canadá 7,0
Rússia 5,1
Brasil 1,3
Fonte: STEFANO, 2009.
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bilhões de tku1, em 1997, para 267,7 bilhões de tku em 2008. Os investimentos na malha
ferroviária passaram de 574 milhões de reais para 4.610 milhões de reais. (ANTT, 2009)
4. Metodologia
Os custos abordados neste trabalho podem ser agrupados em custos explícitos, representados
pelos custos de implantação e manutenção da obra, de aquisição e manutenção do material
rodante, de operação do modal (combustível, lubrificante, mão-de-obra) e custos implícitos,
aqui considerados os custos ambientais.
1
Tonelada-quilômetro útil.
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cálculo dos custos de implantação, considerou-se uma carga anual de projeto de 20.000.000
de toneladas úteis, transportadas anualmente por um período de 20 anos.
Assumiu-se a hipótese de que os modais são competitivos e que as vias são utilizadas apenas
para o transporte de carga. A seguir, definiu-se, com base na literatura e em pesquisa de
campo, os veículos padrão para os dois modos: o Caminhão Mercedes Benz L 1620 para o
modo rodoviário e a locomotiva modelo Dash 9, para o modo ferroviário. Foram definidos,
também, os padrões médios de construção, incluindo materiais e métodos construtivos,
conforme os manuais de construção do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT, 2009) e o Plano Nacional de Logística de Transportes do Ministério da
Defesa do Brasil (Brasil, 2007). Os mesmos manuais indicam os custos médios unitários para
cada um dos itens considerados. Posteriormente, calculou-se os custos para cada item de
construção, manutenção e operação de 1.000 km de rodovia e de ferrovia sendo que os custos
de operação para cada modo, foram baseados na distância e no tipo de veículo.
Os valores de serviços ecossistêmicos sugeridos por Sinisgalli (2005) foram calculados por
diversos autores, baseados em métodos de cálculo e em períodos diversos, mostrando uma
grande variação entre os valores. Por esta razão, elaborou-se a Tabela 2 com os valores
mínimos, máximos e médios para cada item considerado na análise de valoração ambiental.
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Valor (US$/ha/ano)
Dano Ambiental
Mínimo Máximo Médio
Biodiversidade 20.00 30.60 25.30
CicloHidrológico 19.00 67.60 43.30
Novas drogas 30.00 30,00 30.00
Produtos extrativos madeireiros 29.25 1,000.78 515.02
Produtos extrativos não madeireiros 4.80 2,830.00 1,417.40
Seqüestro de carbono 198.00 203,00 200.50
Uso recreativo 1.55 1.55 1.55
Valor monetário de existência 6.40 339.00 172.70
Totais 309.00 4,502.53 2,405.77
Fonte: Elaborado pelos autores com base em SINISGALLI, 2005.
Com base nos estudos de Sininsgalli (2005), a área de desmatamento estimada para a
construção de 1.000 km de rodovia é de 856.000 ha. Então, a partir da afirmação de Fearnside
(2009), a área de desmatamento para a ferrovia é de 171.200 ha (20% da área de rodovia). Os
valores médios mostrados na Tabela 2 foram assumidos como representativos dos custos
relativos aos danos ambientais causados pelos dois tipos de vias e os resultados dos custos
ambientais são mostrados na Tabela 3. As Tabelas 4 e 5 apresentam os cálculos totais para
cada modo de transporte.
Tabela 3 – Custos ambientais para os modos rodoviário e ferroviário, em reais* por ano
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Tabela 4 – Custos totais do modo rodoviário, para uma via de 1.000 km de extensão, em tonelada-quilômetro útil em 2009
Valor
Descrição Quantidade Unidade Total (R$)
Unitário
TOTAL GERAL 5.478.766.589,24
Total 1.861.523.896,20
1. Superestrutura 855.280.148,00
Revestimento CBUQ Faixa C - 5,0 cm espessura 864.000 ton 181,41 156.738.240,00
Revestimento CBUQ Faixa B - 5,0 cm espessura 1.756.800 ton 160,81 282.511.008,00
Base Brita graduada - 15,0 cm espessura 1.830.000 m3 132,19 241.907.700,00
Sub-base solo estabilizado sem mistura - 20,0 cm espessura 2.440.000 m3 33,2 81.008.000,00
Reforço do subleito - 20,0 cm de espessura 2.440.000 m3 17,33 42.285.200,00
Regularização do subleito 12.200.000 m2 0,48 5.856.000,00
Imprimação 12.200.000 m2 2,78 33.916.000,00
Pintura de ligação 19.400.000 m2 0,57 11.058.000,00
6. Operação do veículo em 1.000 tku (caminhão L 1620 com capac 25.460 kg) 36,36
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Tabela 5 – Custos totais do modo ferroviário, para uma via de 1.000 km de extensão, em tonelada-quilômetro útil em 2009
Valor
Quantidade Unidade Total (R$)
Unitário
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Tabela 5 – Custos totais do modo ferroviário, para uma via de 1.000 km de extensão, em tonelada-quilômetro útil em 2009
Continuação
2. Infra-estrutura 850.000.000,00
3
Terraplanagem 36.000.000 m 11,11 400.000.000,00
Drenagem 120.000.000,00
Obras de arte especiais 2.800 m 50.000,00 140.000.000,00
Interferências (pontes, viadutos) 100.000.000,00
Obras complementares 90.000.000,00
5. Projeto 35.000.000,00
8. Manutenção 5.618.480,92
Infraestrutura 5.480,96 5.480.960,00
Material rodante (vagoes e locomotivas) 137.520,92
9. Operação 13,46
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5. Resultados
É possível observar nos resultados que os custos explícitos do modo de transporte rodoviário
são menos expressivos do que no modo ferroviário. Isso significa que sem considerar os
custos ambientais, o modo de transporte rodoviário é mais eficiente em relação aos custos de
implantação, operação e manutenção, quando comparado ao modo ferroviário. Essa
constatação poderia explicar o aporte de recursos públicos direcionados para o modo
rodoviário historicamente no Brasil.
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Considerações finais
O Brasil vem passando por dificuldades para escoar sua produção durante os últimos anos. O
crescimento do país enfrenta a falta de investimentos em obras de infra-estrutura de
transportes. Esta realidade está presente em todos os modais, não se limitando aos aqui
estudados.
Os resultados obtidos mostram que o modal ferroviário apresenta custos fixos elevados, em
decorrência de grandes investimentos em trilhos, locomotivas e vagões. Tais componentes do
custo fixo são, em geral, de responsabilidade do governo ou de empresas concessionárias, o
que pode explicar uma possível preterição do modo ferroviário. Já no modal rodoviário, os
custos variáveis é que são elevados, especialmente quando se considera os custos ambientais.
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Além de disso, faz-se necessário uma análise de benefícios sociais decorrentes da construção
de uma rodovia e de uma ferrovia para avaliar o modal de transporte mais eficiente quando se
considera também os benefícios marginais de sua implantação. A rodovia, ao contrário da
ferrovia, permite uma maior migração populacional, atraindo indústrias e trazendo empregos
e melhoria de vida para os imigrantes para a região onde é implantada.
Finalmente, este trabalho propõe uma mudança na análise que embasa as decisões públicas,
as quais até o momento parecem ser mais calcadas em horizontes de curto prazo. A
necessidade de redução de gastos de curto prazo tem levado o país a investir de forma
ineficiente, transferindo para o futuro a maior parte dos custos do sistema de transporte, o que
torna o problema de mais difícil solução.
Referências
ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres. Consulta a página institucional. Disponível em
http://www.antt.gov.br. Acesso em 20 ago. 2009.
BRANDÃO JÚNIOR, A.O.; SOUSA JÚNIOR, C.M.; FERREIRA RIBEIRO, J.G.; RIBEIRO
SALES, M.H. (2007) Desmatamento e estradas não-oficiais da Amazônia. In: Simpósio
Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, SC. Anais... São José dos Campos: INPE,
2007, p. 2357-2364.
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STEFANO, F. De volta aos trilhos. Revista Exame, São Paulo, n. 938 p. 52-54, 11 de Março de
2009.
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