Você está na página 1de 38

Sistema Nervoso

Pedro Magalhães

Sistema Nervoso

Nervos cranianos (têm origem no encéfalo)


SNP
Nervos espinhais (têm origem na medula espinhal)

O SNC está ligado a receptores sensitivos, músculos e glândulas nas partes


periféricas do corpo por meio do SNP.

A componente de entrada do SNP consiste de células nervosas denominadas


neurónios sensitivos ou aferentes.

A componente de saída do SNP consiste de células nervosas denominadas


neurónios motores ou eferentes.

Os neurónios de associação ou interneurónios conduzem os impulsos nervosos dos


neurónios sensoriais até aos neurónios motores, e estão localizados no SNC.

A maioria dos neurónios é do tipo de associação.

Sistema Nervoso Somático (SNS)


SNP
Sistema Nervoso Autónomo (SNA) - Simpático
- Parassimpático

SNS (voluntário) – São neurónios sensitivos que enviam informação dos receptores
cutâneos e de sensibilidade especial (localizados predominantemente na cabeça, na
parede do tronco e nos membros) até ao SNC, e neurónios motores do SNC que
conduzem impulsos somente aos músculos esqueléticos.

1
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

SNA (involuntário) – São neurónios que, a partir do SNC, conduzem impulsos ao


músculo liso, músculo cardíaco e glândulas.

→ Ambas as componentes (simpática e parassimpática) enviam instruções às


vísceras.

→ Normalmente as duas porções têm acções opostas.

Ex. Os “neurónios simpáticos” dão instruções para o aumento da frequência


cardíaca, enquanto os parassimpáticos diminuem-na.

Os processos promovidos pelos neurónios simpáticos envolvem o gasto de energia,


enquanto aqueles promovidos pelos neurónios parassimpáticos restauram e
conservam a energia corporal.

Histologia

O sistema nervoso é constituído por dois tipos de células:


1 Neuróglia
2 Neurónios

1 Neuróglia

Tem como função a sustentação e protecção dos neurónios.

Existem seis tipos de neuróglia:


→ Astrócitos
→ Oligodendrócitos
→ Micróliga
→ Células ependimárias
→ Neurolemócitos (células de Schwann)
→ Células satélite

2
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Célula de Schwann.

2 Neurónio (célula nervosa)

Conduz impulsos de uma parte do corpo a outra.

É a unidade básica de processamento de informação do sistema nervoso.

Estrutura

(1) Corpo celular


Neurónio: (2) Dendritos
(3) Axónio

(1) Corpo celular

Contém um núcleo e um nucléolo, circundados por um citoplasma granular com


organelas típicas como mitocôndrias e um complexo de Golgi.

O corpo celular não contém aparelho mitótico e daí a sua incapacidade de


regeneração.

3
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

(2) Dendritos

São extensões citoplasmáticas curtas, espessas e altamente ramificadas.

Têm como função receber impulsos e conduzi-los em direcção ao corpo celular.

(3) Axónio

Consiste numa única extensão citoplasmática longa e fina que envia impulsos a
outro neurónio ou tecido.

Podem ter apenas alguns milímetros (encéfalo) ou um metro ou mais (entre a


espinhal medula e os dedos dos pés).

Ao longo do comprimento de um axónio pode haver ramificações denominadas


colaterais.

O axónio termina ramificando-se em muitos filamentos finos denominados


terminações axonais.

As extremidades das terminações axonais apresentam estruturas em forma de


bulbo – botões terminais (ou bulbos sinápticos).

Dentro dos botões sinápticos encontram-se bolsas denominadas vesículas


sinápticas, as quais armazenam no seu interior substâncias químicas –
neurotransmissores.

Os neurotransmissores determinam se o impulso passa de um neurónio a outro ou


de um neurónio a outro tecido através da fenda sináptica.

4
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Mielina

Os axónios da maioria dos neurónios são circunscritos por um revestimento de


muitas camadas de bainha de mielina (gordura e proteínas) produzida por dois
tipos de células da neuróglia: as células de Schwann e os oligodendrócitos.

A bainha isola electricamente o axónio, aumentando a velocidade de condução do


impulso nervoso.

Com bainha de mielina – mielínico


Axónio
Sem bainha de mielina – amielínico

No SNP a bainha de mielina é formada pelas células de Schwann em torno dos


axónios, durante o desenvolvimento fetal.

Estas células encontram-se de tal forma em torno dos axónios em espiral, que o
seu núcleo e o seu citoplasma terminam na camada externa.

A camada interna corresponde à bainha de mielina, sendo formada por até 100
camadas de membrana da célula de Schwann.

A camada externa da célula de Schwann (com o núcleo e o citoplasma da célula) é


denominada de neurolema (só existe nos neurónios do SNP).

Em determinados intervalos ao longo do axónio a bainha de mielina apresenta


espaços denominados nodos de Ranvier.

5
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Estrutura de um neurónio típico.

6
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Quando um axónio é lesado, o neurolema auxilia na regeneração promovendo o


crescimento do axónio.

No SNC a bainha de mielina é formada pelas células oligodendrócitas, de uma


forma muito semelhante à desenvolvida pelas células de Schwann. No entanto,
apenas depositam uma bainha de mielina, sem formar o neurolema.

Talvez por este motivo os neurónios do SNC exibem um fraco crescimento quando
sujeitos a lesão.

Os nodos de Ranvier estão presentes mas em menor número.

A quantidade de mielina aumenta desde o nascimento até à idade adulta.

A principal função da bainha de mielina é aumentar a velocidade de condução do


impulso nervoso.

A resposta de uma criança pequena aos estímulos não é tão rápida ou coordenada
como a de uma criança maior ou de um adulto, divido ao facto de o processo de
mielinização ainda estar em curso durante a infância.

Agrupamento do tecido nervoso

Trato → Feixe de fibras localizadas no SNC.

Tratos espinhais ascendentes → Conduzem os impulsos sensitivos para cima na


medula espinhal.

Tratos espinhais descendentes → Conduzem os impulsos motores para baixo na


medula espinhal.

7
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Substância branca → Refere-se a grupos de axónios mielínicos de muitos


neurónios, devido à cor esbranquiçada da mielina.

Substância cinzenta → Refere-se aos corpos celulares e dendritos dos neurónios ou


feixes dos axónios mielínicos.

Funções/Características:

1 Produzir e conduzir mensagens eléctricas denominadas de impulsos


nervosos.

2 Capacidade limitada de se regenerar.

O impulso nervoso resulta do movimento de iões (partículas electricamente


carregadas) para dentro e para fora, através da membrana plasmática dos
neurónios.

Canais iónicos das membranas plasmáticas

A membrana plasmática contém vários canais iónicos, formados por proteínas de


membrana.

Os canais iónicos são altamente selectivos em relação aos iões que passam através
deles.

8
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Existem canais que se encontram permanentemente abertos e outros que se abrem


e fecham à passagem de determinados iões, mediante as alterações na voltagem
da membrana plasmática ou à diferença na concentração de iões de cada lado da
membrana plasmática da célula.

Outros, ainda, abrem e fecham em resposta a substâncias químicas, como os


neurotransmissores e hormonas que se ligam aos canais.

Potenciais de membrana

Potencial de membrana de repouso → Resulta da diferença nas cargas eléctricas de


cada lado da membrana de um neurónio em repouso.

O lado externo tem uma carga positiva, enquanto que o lado interno tem uma
carga negativa.

Resulta de dois factores fundamentais:


1 Diferença entre o nº de iões K+ e iões Na+ de cada lado da
membrana (30 vezes mais K+ dentro da célula que fora, e 15 vezes
mais Na+ fora que dentro).

2 Presença de grandes iões negativamente carregados (ex.


proteínas) aprisionados dentro da célula.

9
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Bomba de sódio-potássio e desenvolvimento do potencial de membrana de


repouso:

Consiste no transporte activo e em simultâneo de Na+ para fora da célula nervosa e


K+ para dentro.

O transporte activo de Na+ para fora, dá origem a uma carga positiva no exterior
da membrana da célula.

Embora o K+ também tenha carga positiva e seja transportado activamente para


dentro da célula, não existe uma quantidade suficiente de K+ para equilibrar o nº
ainda maior de iões negativos aprisionados na célula.

A actividade da bomba de sódio-potássio cria também um gradiente de


concentração e eléctrico para o Na+ e para o K+.

O K+ tende a difundir-se para fora da célula e o Na+ tende a se difundir para


dentro.

As membranas da célula nervosa tendem a ser muito mais permeáveis ao K+ do


que ao Na+. Assim, o K+ difunde-se para fora de acordo com o seu gradiente de
concentração de forma mais fácil e rápida do que o Na+ o faz de fora para dentro.

10
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Bomba de sódio-potássio e desenvolvimento do potencial de membrana de


repouso.

11
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Como resultado da bomba de sódio-potássio em repouso, a carga eléctrica dentro


de uma célula polarizada é de –70 mV.

Excitabilidade

Consiste na capacidade da célula nervosa de responder a estímulos, convertendo-os


em impulsos nervosos.

Um estímulo consiste numa alteração do ambiente da célula, que faz alterar o


potencial de membrana de repouso.

Despolarização Caracteriza-se inicialmente pela perda e depois reversão


na polarização da célula (passa a positiva), devido à
abertura rápida dos canais de iões Na+.

Repolarização Consiste na recuperação do potencial de membrana de


repouso, devido ao fecho dos canais de iões Na+ e à
abertura mais lenta dos canais de iões K+.

A despolarização e a repolarização constituem um impulso nervoso, que ocorre num


período de tempo de 1 milissegundo (1 mseg).

Potencial de membrana de repouso = -70 mV

Limiar de excitabilidade = -55 mV

Despolarização = 30 mV

A despolarização e a repolarização resultam de alterações da permeabilidade da


membrana, estando a primeira relacionada com a abertura dos canais rápidos de
Na+ e a segunda com a abertura dos canais lentos de K+ e com o fecho dos de Na+.

Hiperpolarização Ocorre no final da repolarização, devido ao grande


fluxo de saída de K+ durante esta fase.
Com o fecho dos canais lentos de K+, o potencial de
membrana retorna ao nível de repouso.

12
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Período refratário Período de tempo durante o qual o neurónio não pode


gerar outro potencial de acção. Está, em parte,
relacionado com o processo de repolarização.

Início e propagação de um impulso nervoso.

13
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Condução contínua e saltatória

Condução contínua A despolarização ocorre passo-a-passo nas áreas


adjacentes à membrana do axónio ou dendrito, de
forma progressiva e contínua.

Condução saltatória Ocorre nas fibras mielinizadas, devido à bainha de


mielina não conduzir corrente eléctrica. Assim,
como esta é interrompida nos nodos de Ranvier, a
despolarização ocorre de nodo em nodo, sendo a
sua propagação muito mais rápida.

Velocidade dos impulsos nervosos

Factores que influenciam a velocidade do impulso nervoso:


→ Temperatura
→ Diâmetro da fibra
→ Presença ou ausência de mielina

Com a elevação da temperatura aumenta a velocidade de condução do impulso


nervoso. Por outro lado, com a diminuição da temperatura diminui a velocidade
dessa condução.

As fibras nervosas com maior diâmetro conduzem o impulso nervoso com uma
velocidade muito superior às fibras com diâmetro inferior.

As fibras com maior diâmetro são todas mielínicas e as fibras com diâmetro menor
são amielínicas.

A velocidade do impulso nervoso não depende da força do estímulo que foi


aplicada.

14
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Condução através das sinapses


Tipos de sinapses → Entre um neurónio e uma célula muscular (junção
neuromuscular).
→ Entre um neurónio e uma célula glandular (junção
neuroglandular).
→ Entre um neurónio e outro neurónio.
→ Etc.

Numa sinapse as células envolvidas aproximam-se uma da outra, mas não se


tocam.

Partes de uma sinapse química.

15
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Regeneração do tecido nervoso

Os neurónios possuem uma capacidade de regeneração muito limitada.

Por volta dos 6 meses de idade, virtualmente todas as células nervosas perdem a
sua capacidade de se reproduzir.

Quando um neurónio é lesado, ele não pode ser substituído, ficando perdido
permanentemente.

Apenas alguns tipos de lesão podem ser reparados.

No SNP a lesão de alguns tipos de axónios mielínicos e dendritos pode ser


reparada, se o corpo celular permanecer intacto e se a célula que realiza a
mielinização permanecer activa.

No SNC, os axónios que são mielinizados não têm neurolema e, desta forma, não
podem ser auxiliados na regeneração.

Por outro lado, os astrócitos parecem mesmo impedir os axónios de se regenerar,


formando tecido cicatricial que vai funcionar como uma barreira física à
regeneração.

Assim, uma lesão no encéfalo ou na medula espinhal tem efeitos permanentes.

A lesão de um nervo do SNP pode ser reparada, resultando em alguma função


nervosa que pode ser restaurada.

16
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

SNC e Somático

Medula espinhal (protecção e revestimento)

① Canal vertebral

② Meninges

③ Líquido cerebrospinal

④ Ligamentos cervicais

① Canal vertebral

A medula espinhal está localizada no canal vertebral da coluna vertebral, que por
ser um canal ósseo promove uma protecção eficaz contra grande parte das
agressões.

② Meninges

São revestimentos contínuos de tecido conjuntivo em torno da medula espinhal (a)


e do encéfalo (b).
a) Meninges espinhais
b) Meninges encefálicas.

Dura-máter É a mais externa das meninges.


O seu tecido conjuntivo resistente, denso e irregular ajuda a
proteger as delicadas estruturas do SNC.
A dura-máter espinhal continua como dura-máter do encéfalo.
Termina inferiormente ao nível da 2ª vértebra do sacro.

Aracnóide Meninge média com um arranjo em forma de teia de aranha.


É constituída por fibras colagéneas e elásticas.
Prolonga-se também envolvendo o encéfalo.

17
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Pia-máter Corresponde à meninge mais interna, com uma aparência


delicada e transparente.
É constituída por fibras colagéneas e elásticas que se aderem
à superfície da medula espinhal e do encéfalo.

Meninges espinhais.

18
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Espaço epidural
Consiste num espaço existente entre a dura-máter e o canal vertebral.
Contém gordura e tecido conjuntivo, auxiliando na protecção da medula espinhal.

Cavidade subaracnóide
Espaço compreendido entre a aracnóide e a pia-máter.
Circula nesta cavidade o líquido cerebrospinal, com responsabilidades na nutrição,
protecção, isolamento e defesa do SN.

Cavidade subdural
Espaço compreendido entre a dura-máter e a aracnóide.

Características:
A medula espinhal estende-se desde o buraco occipital (forame magno) até à parte
superior da segunda vértebra lombar.

A porção mais inferior da medula espinhal (abaixo da porção superior da L2)


denomina-se cauda equina, que significa cauda de cavalo.

A medula espinhal apresenta dois alargamentos conspícuos:

① Intumescência cervical (contém neurónios que suprem os MS).

② Intumescência lombossacral (contém neurónios que suprem os MI).

A medula espinhal contém 31 segmentos medulares, originando cada um deles um


par de nervos espinhais.

Cada nervo espinhal consiste de feixes de fibras sensoriais (raiz dorsal) e motoras
(raiz ventral) envolvidas em tecido conjuntivo e supridas com vasos sanguíneos.

Cada nervo espinhal, após sair pelo buraco intervertebral correspondente, divide-se
em vários ramos.

19
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Medula espinhal e nervos espinhais.

20
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

A medula espinhal encontra-se dividida em metades direita e esquerda pela fissura


mediana anterior e pelo sulco mediano posterior.
A massa cinzenta da medula tem a forma de um H, com uma posição central e
circundada por substância branca.
O canal central encontra-se no centro da substância cinzenta, percorrendo o
comprimento da medula espinhal e contendo no seu interior líquido cerebrospinal.
Os lados do H da substância cinzenta da medula espinhal apresentam:
1. Cornos ventrais
2. Cornos laterais
3. Cornos dorsais
A substância cinzenta consiste, principalmente, de neurónios motores e de
associação.
Regiões da substância branca:
1. Funículo ventral
2. Funículo lateral
3. Funículo dorsal
Os funículos consistem de axónios mielinizados, organizados em tratos sensitivos
(ascendentes) e motores (descendentes).

Medula espinhal em corte transversal.

21
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Funções:
Substância branca na medula espinhal Consiste em vias para a condução
de impulsos nervosos.
Substância cinzenta na medula espinhal Recebe e integra a informação que
chega e sai.

Organização das substâncias cinzenta e branca na medula espinhal.

A parte sensitiva mantém o sistema nervoso ciente das modificações dos meios
externo e interno.
À medida que a informação sensitiva é conduzida ao SNC, torna-se parte de um
grande conjunto de entradas sensitivas.
O processo de integração da diferente informação sensorial ocorre não apenas uma
vez, mas em muitas estações intermediárias ao longo das vias do SNC, com o
auxílio dos neurónios de associação.
Quando o estímulo atinge o centro mais superior, ocorre a integração
sensoriomotora. Esta envolve não somente a utilização da informação contida
naquele centro, mas também a informação que chega a ele de outros centros no
SNC.

22
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Após ocorrer a integração, o estímulo do centro é enviado para a medula espinhal


através de duas vias motoras principais: as vias piramidais (directas) e
extrapiramidais (indirectas).

Vias piramidais - Conduzem impulsos nervosos destinados a produzir movimentos


voluntários precisos dos músculos esqueléticos.

Vias extrapiramidais - Conduzem impulsos nervosos que programam os


movimentos automáticos, auxiliam a coordenar os movimentos corporais com os
estímulos visuais, mantém o tónus dos músculos esqueléticos e a postura,
desempenhando também um papel importante no equilíbrio e regulando o tónus
muscular em reposta aos movimentos da cabeça.

Vias sensoriais e motoras.

23
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Centro reflexo
Os reflexos são respostas automáticas, rápidas e previsíveis às alterações no meio
ambiente.
A medula espinhal funciona, assim, como um centro integrado para os reflexos
espinhais.
Cada par de nervos espinhais está ligado à medula espinhal por duas porções:
1. Raiz dorsal (sensitiva)
2. Raiz ventral (motora)

1. Raiz dorsal (sensitiva)


Só contém nervos sensitivos.
Apresenta o gânglio da raiz dorsal, que corresponde a uma dilatação onde estão
contidos os corpos celulares dos neurónios sensitivos.

2. Raiz ventral (motora)


Contém apenas axónios dos nervos motores.
Os corpos celulares desses neurónios motores estão localizados na substância
cinzenta da medula espinhal.

Componentes gerais de um arco reflexo.

24
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Tipos de reflexos:
o Reflexos somáticos - Resultam da contracção dos músculos esqueléticos (ex.
reflexo rotuliano; reflexo de retirada; reflexo da postura; etc.).

o Reflexos automáticos - Resultam da actuação dos músculos lisos e cardíaco


e de muitas glândulas.

Encéfalo
O encéfalo é composto por aproximadamente 100 biliões de neurónios e 1000
biliões de neuróglia.
É um dos maiores órgãos do corpo, com um peso de cerca de 1,3 kg.
É constituído por 4 ventrículos: dois ventrículos laterais, um terceiro ventrículo e
um quarto ventrículo.
Tem a forma de um cogumelo, distinguindo-se nas seguintes partes:
1. Tronco do encéfalo
2. Cérebro (diencéfalo e telencéfalo)
3. Cerebelo

Encéfalo

25
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

1 Tronco do encéfalo
É constituído pelo bulbo, pela ponte e pelo mesencéfalo.
Constitui o cabo do cogumelo e dá continuidade, inferiormente, com a medula
espinhal.

2. Cérebro (diencéfalo e telencéfalo)


É constituído pelo diencéfalo e pelo telencéfalo.
O diencéfalo está acima do tronco do encéfalo, consistindo principalmente no
tálamo e no hipotálamo.
O telencéfalo estende-se sobre o diencéfalo, contendo dois hemisférios cerebrais
que ocupam a maior parte do crânio.

3. Cerebelo
Encontra-se sob o cérebro e atrás do tronco do encéfalo.

Protecção e revestimento
O encéfalo é protegido pelo crânio e pelas meninges.
As meninges encefálicas constituem extensões das meninges espinhais, possuindo
as mesmas designações: dura-máter (externa); aracnóide (média) e pia-máter
(interna).
Líquido cerebrospinal
O líquido cerebrospinal circula através da cavidade subaracnóide, em torno do
encéfalo, dos seus ventrículos e da medula espinhal.
Todo o SNC contém entre 80 e 150 ml de líquido cerebrospinal.

26
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Funções do líquido cerebrospinal


a. Protecção do SNC
b. Circulação (transporte)

a. Protecção do SNC
Serve como meio de absorção de choques, protegendo o encéfalo e a medula
espinhal dos impactos que, de outro modo, seriam traumáticos.
O líquido faz o encéfalo boiar, flutuando na cavidade craniana.

b. Circulação (transporte)
O líquido tem um aspecto claro e incolor, contendo proteínas, glicose, ureia e sais.
Distribui substâncias nutritivas filtradas do sangue e remove as impurezas e
substâncias tóxicas produzidas pelas células do encéfalo e da medula espinhal.
O líquido cerebrospinal é formado por filtração e secreção dos plexos caróides,
que constituem membranas com capilares especializados nos ventrículos.

Meninges e ventrículos do encéfalo. Fluxo do líquido cerebrospinal.

27
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

28
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

O líquido cerebrospinal circula de forma continuada.


Posteriormente ele é absorvido através das granulações aracnóides (que são
projecções digitiformes da aracnóide) para um espaço venoso denominado seio
sagital superior.
Normalmente, o líquido cerebrospinal é absorvido à mesma velocidade com que é
formado.

Hidrocefaleia - Acumulação de líquido nos ventrículos ou na cavidade


subaracnóide. Pode causar lesão cerebral.
O encéfalo é bem suprido com O2 e nutrientes, através do círculo arterial do
cérebro que se encontra na base do mesmo.
Embora o encéfalo compreenda somente cerca de 2% do peso corporal total, ele
requer cerca de 20% do suprimento de O2 do corpo.

O encéfalo é um dos órgãos metabolicamente mais activos do corpo,


variando a quantidade de O2 consumida com o nível de actividade
mental.

Interrupção do fluxo sanguíneo cerebral


Se o fluxo sanguíneo ao encéfalo for interrompido, mesmo por um curto período de
tempo, pode ocorrer perda de consciência.
Se as células cerebrais forem totalmente privadas de O2 por 4 minutos ou mais,
muitas ficarão permanentemente lesadas devido aos lisossomos das células do
encéfalo serem extremamente sensíveis à diminuição de O2.
Se a condição persistir, os lisossomos rompem-se e libertam enzimas que vão
originar a autodestruição das células encefálicas.
A principal fonte de energia das células encefálicas provém da glicose.
Devido ao armazenamento de hidratos de carbono no encéfalo ser limitado, o
suprimento de glicose deve ser contínuo.
Baixos níveis de glicose no sangue promovem a confusão mental, tontura,
convulsões e perda de consciência.

Barreira hematoencefálica
Permite estabelecer diferentes velocidades de passagem de certos materiais
(glicose, O2, iões, etc.) do sangue para as células encefálicas e mesmo impedir a
passagem de outras.
A maioria dos antibióticos não consegue penetrar na barreira hematoencefálica.

29
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Tronco do encéfalo
1. Medula oblonga (bulbo)
2. Ponte
3. Mesencéfalo

1 Medula oblonga (bulbo)


O bulbo é uma continuação da medula espinhal, formando a parte inferior do tronco
do encéfalo.
O bulbo contém todos os tratos sensitivos e motores que passam entre a medula
espinhal e outras partes do encéfalo.
As pirâmides do bulbo são estruturas grosseiramente triangulares e é a este nível
que alguns tratos passam para o lado oposto quando se projectam através do
bulbo.
Isto acontece com a maioria das fibras sensoriais e motoras, denominando-se este
fenómeno de decussação das pirâmides.
Dentro do bulbo também se encontra o centro cardiovascular, o qual regula o
ritmo e a força dos batimentos cardíacos e o diâmetro dos vasos sanguíneos, e o
centro respiratório bulbar de ritmicidade, o qual regula o ritmo básico da
ventilação.
Outros centros localizados no bulbo coordenam a deglutição, o vómito, a tosse, o
espirro e o soluço.
Tendo em consideração as muitas actividades vitais controladas pelo bulbo, não
surpreende que um golpe forte na base do crânio possa ser fatal.

Medula oblonga e suas pirâmides.

30
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

2 Ponte
Situa-se imediatamente por cima do bulbo e à frente do cerebelo.
A ponte conecta a medula espinhal e o bulbo ao restante do encéfalo e partes do
encéfalo umas com as outras.
A ponte também contém núcleos que auxiliam a regulação da ventilação,
constituindo as áreas pneumotáxica e apnêustica.

3 Mesencéfalo
Estende-se da ponte até à porção inferior do diencéfalo.
Ele contém um par de pedúnculos do cérebro, os quais contêm fibras motoras que
conectam o córtex cerebral à ponte e à medula espinhal, e fibras sensitivas que
conectam a medula espinhal ao tálamo.
Os pedúnculos do cérebro constituem a principal ligação para os tratos entre as
partes superiores e inferiores do encéfalo e da medula espinhal.
Ao longo do tronco do encéfalo e do diencéfalo há um grupo de neurónios
amplamente dispersos que apresentam um aspecto semelhante a uma rede
(reticular) denominada formação reticular.

Os neurónios desta formação recebem e integram estímulos que chegam


do córtex cerebral, do hipotálamo, do tálamo, do cerebelo e da medula
espinhal.

Diencéfalo
1. Tálamo
2. Hipotálamo
1. Tálamo
É uma estrutura oval que se encontra por cima do mesencéfalo.
O tálamo consiste principalmente de massas pares de substância cinzenta
organizada em núcleos, alguns dos quais servem como estações de transmissão
para os impulsos sensitivos provenientes de outras partes do SNC até ao córtex
cerebral.

31
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Diencéfalo: tálamo e hipotálamo.

2. Hipotálamo
É a pequena porção do diencéfalo que se localiza abaixo do tálamo e acima da
hipófise.
Apesar do seu tamanho pequeno, os núcleos do hipotálamo controlam muitas
actividades corporais, a maioria das quais relacionada com a hemeostase:
1. Controla e integra as actividades do SNA, que regulam fenómenos como o
ritmo cardíaco, o movimento do bolo alimentar através do trato
gastrointestinal e a contracção da bexiga urinária.
2. Controla a libertação de muitas hormonas pela hipófise. Serve, assim, uma
ligação primária entre o SN e o sistema endócrino.
3. Controla a temperatura corporal normal.
4. Está associado a sentimentos de raiva, agressão, dor e prazer.
5. Regula a ingestão de alimentos por meio de dois centros: centro da
alimentação (da fome) – responsável pelas sensações de fome; centro da
saciedade (satisfeito) – inibe o centro da alimentação.
6. Contém um centro da sede, que regula a ingestão de líquidos.
7. É uma das áreas do cérebro que mantém a consciência e os padrões de
sono.

32
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Sistema activador reticular (SAR)


O SAR está intimamente relacionado com o estado de actividade da consciência.
↑ da actividade do SAR - ↑ do despertar da consciência
↓ da actividade do SAR - ↓ do despertar da consciência
O SAR é a base física da consciência.
A maior ou menor activação do SAR, possibilita ao ser humano experimentar
diferentes níveis de consciência (estado de alerta, atenção, relaxamento,
desatenção).
A consciência pode ser alterada por diferentes factores:
- Cocaína
Estado de alerta extremo
- Anfetaminas
- Meditação Consciência relaxada e focada
- Álcool
Causam vários níveis de inconsciência (anestesia)
- Anestésicos
- Lesão ou doença Pode produzir inconsciência (coma)

A inactivação do SAR produz o sono, que consiste num estado de inconsciência


parcial do qual um indivíduo pode ser desperto.

Telencéfalo
É sustentado pelo diencéfalo e pelo tronco do encéfalo.
Consiste na estrutura mais volumosa do SNC.
É constituído por:
- Córtex cerebral Área delgada de substância cinzenta, consistindo de 6
camadas de corpos de células nervosas, abaixo das
quais está a substância branca cerebral.
- Giros - Pregas do córtex cerebral.
- Fissuras - Fendas profundas entre as pregas.
- Sulcos - Fendas rasas entre as pregas.
- Fissura longitudinal do cérebro - Separa o telencéfalo em metades direita e
esquerda (hemisférios cerebrais).
- Corpo caloso - Grande feixe de fibras transversas da substância branca, que faz a
ligação entre os dois hemisférios.

33
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Telencéfalo.

Lobos
Cada hemisfério cerebral é subdividido em quatro lobos por sulcos ou fissuras:
- Lobo frontal
- Lobo parietal
- Lobo occipital
- Lobo temporal
Substância branca
A substância branca subjacente ao córtex cerebral consiste de axónios mielinizados,
os quais transmitem impulsos entre os giros no mesmo hemisfério, dos giros de um
hemisfério cerebral aos giros correspondentes no hemisfério cerebral oposto, e do
telencéfalo a outras partes do encéfalo e da medula espinhal.
Núcleos da base
São massas pares de substância cinzenta dentro da substância branca de cada
hemisfério cerebral.

34
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

O maior núcleo da base é o corpo estriado.


Corpo estriado - Núcleo caudado
- Núcleo lentiforme - Putame
- Globo pálido

Os núcleos da base controlam grandes movimentos subconscientes (automáticos)


dos músculos esqueléticos, como balançar os braços enquanto se caminha
(também controlado conscientemente pelo córtex cerebral), e regulam o tónus
muscular requerido para movimentos corporais específicos.
A lesão dos núcleos da base resulta em tremor incontrolável ou movimentos
musculares involuntários, como na doença de Parkinson.
A destruição de uma porção substancial dos núcleos da base resulta em paralisia
total (perda ou prejuízo das funções motoras e sensitivas) do lado do corpo oposto
à lesão.

Sistema límbico
É constituído por certas partes dos hemisférios cerebrais e do encéfalo.
Assume uma função primária em emoções como a dor, o prazer, a raiva, a fúria, o
medo, a piedade, as sensações sexuais, a docilidade e o afecto.
Embora o comportamento seja uma função de todo o sistema nervoso, o sistema
límbico controla:
- A maioria dos seus aspectos involuntários;
- Aspectos relacionados com a sobrevivência;
- O padrão geral do comportamento;
- O funcionamento da memória em conjunto com porções do cérebro.

Lateralização Cerebral
Existem diferenças anatómicas entre os dois hemisférios cerebrais (ex. Em pessoas
canhotas, os lobos parietal e occipital do hemisfério direito e o lobo frontal do
hemisfério esquerdo são mais estreitos).
Existem igualmente diferenças funcionais entre os dois hemisférios cerebrais (ex. O
hemisfério esquerdo assume maior importância para o controle da mão direita,
para a linguagem, para as habilidades numéricas e científicas e para o raciocínio. O
hemisfério direito assume maior importância no controle da mão esquerda, a
sensibilidade artística e a imaginação).

35
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Áreas funcionais do córtex cerebral


1. Áreas sensitivas
2. Áreas motoras
3. Áreas de associação
1. Áreas sensitivas
Recebem e interpretam impulsos sensitivos.
Os estímulos sensitivos são enviados para as regiões posteriores dos sulcos centrais
dos hemisférios cerebrais.

Áreas sensitivas primárias:


I – Área somatossensitiva primária (ou geral) Localiza-se no giro pós-central
do lobo parietal de cada hemisfério cerebral.
Recebe sensações de receptores cutâneos e musculares de várias partes do corpo
(ex. lábios, face, polegar – áreas grandes; tronco, membro inferior – áreas
pequenas).
A principal função desta área é localizar exactamente os pontos do corpo em que as
sensações têm origem.
II – Área visual primária - Localiza-se no lobo occipital.
Recebe impulsos sensitivos dos olhos e interpreta a forma, a cor e o movimento.
III – Área auditiva primária - Localiza-se no lobo temporal.
Interpreta as características básicas do som, como o tom e o ritmo.
IV – Área gustativa primária - Localiza-se na base do giro pós-central.
Interpreta as sensações relacionadas com o paladar.
V – Área olfatória primária - Localiza-se no lobo temporal.
Interpreta as sensações relacionadas com o olfacto.

2. Áreas motoras
O córtex motor indica que áreas específicas controlam grupos musculares
particulares.
I – Área motora primária - Localiza-se no giro pré-central do lobo frontal.
Controla músculos específicos ou grupos de músculos.
A estimulação de um ponto específico da área motora primária resulta numa
contracção muscular, normalmente no lado oposto do corpo.
II – Área motora da fala - Localiza-se no lobo frontal, imediatamente por cima do
sulco lateral (usualmente no hemisfério esquerdo).
É onde ocorre a produção da fala.

36
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

3. Áreas de associação
Consistem de tratos de associação que ligam as áreas motoras, sensitivas e partes
grandes do córtex cerebral dos lobos occipital, parietal e temporal, e os lobos
frontais (anteriores às áreas motoras).
Memória
É a capacidade de lembrar os pensamentos.
Para que uma experiência se torne parte da memória, ela deve produzir alterações
no sistema nervoso central que representam a experiência.
Curto prazo (têm uma duração de somente segundos ou horas)
Memória
Longo prazo (têm uma duração de dias a anos)
Porções do encéfalo associadas à memória:
- Córtex de associação dos lobos frontal, parietal, occipital e temporal
- Partes do sistema límbico
- Diencéfalo
Cerebelo
É a segunda maior porção do cérebro.
É formada por dois hemisférios cerebelares.

- Córtex cerebelar (encontra-se na superfície do cerebelo, sendo


formado por substância cinzenta).
Cerebelo - Tratos de substância branca (encontram-se sob o córtex cerebelar).
- Núcleos do cerebelo (encontram-se profundamente dentro da
substância branca, sendo formados por
substância cinzenta).

O cerebelo está ligado ao tronco do encéfalo por três pares de feixes de fibras
denominados pedúnculos cerebelares.
Funções:
O cerebelo compara o movimento pretendido, programado pelas áreas motoras do
telencéfalo com o movimento que realmente está a ser produzido – função de
comparador.
O cerebelo recolhe constantemente informação sensorial, auxiliando a uniformizar e
coordenar as sequências complexas de contracções dos músculos esqueléticos.
Regula a postura, o equilíbrio e torna possíveis as habilidades motoras.
A lesão do cerebelo, por trauma ou doença, cria sintomas envolvendo os músculos
esqueléticos do mesmo lado lesado do cerebelo, devido a um cruzamento duplo de
tratos dentro deste órgão.

37
Sistema Nervoso
Pedro Magalhães

Ataxia – Falta de coordenação muscular (ex. incapacidade de tocar com o dedo no


nariz com os olhos vendados; descoordenação dos músculos da fala;
descoordenação na marcha; tonturas; etc.).
O álcool promove a inibição do cerebelo. A sua ingestão desmesurada promove
sintomas de ataxia.

38

Você também pode gostar