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Universidade Federal de Pelotas

Centro de Artes
Licenciatura em Artes Visuais
História da Arte no Brasil II
Profa. Dra. Neiva Bhons

Estudo e análise da obra “O último Tamoio” de


Rodolfo Amoedo

Jerônimo Netto de Azambuja

Pelotas, 21 de setembro de 2021.


Uma síntese histórica sobre a etnia dos Tamoios.

Tamoio vem do Tupi "ta'mõi" que significa “Avós” ou os mais antigos. Nome
dado à um coletivo de indígenas que fizeram resistência aos portugueses que
tentavam coloniza-los. Logo os Tamoios não eram uma etnia homogenia, mas sim
uma “confederação” de povos tupi que viviam a mais tempo no litoral Brasileiro.

A confederação ocorreu entre 1554 e 1567. Envolveram-se em varias guerras.


Unidos aos franceses para combater os portugueses tiveram seu fim quando Mem de
Sá foi vitorioso na batalha que expulsou os francos e “matou o ultimo Tamoio”.

Um resumo do movimento artístico conhecido como Romantismo,


salientando o interesse, no campo da pintura, pelas temáticas indígenas.

O Romantismo no Brasil teve impulso pelas obras literarias que encontrou a


figura dom “bom selvagem” com a idealização e valorização do índio. Com isso deram
inicio a estudos maiores como da língua Tupi e os costumes indígenas.

E a evolução local do romantismo coincidiu praticamente com o período do


Segundo Reinado. Dom Pedro a fim de construir uma identidade do Brasil diante do
mundo orquestrou habilmente o movimento nacionalista interessado em mostrar a
imagem de um Brasil civilizado e progressista.

As expressões visuais então foram conduzidas para representações de


eventos históricos e na reabilitação do índio. O indianismo do movimento romântico
brasileiro retratava o indígena como herói. Assim como a obra discutida neste trabalho
muita pinturas foram inspiradas em obras literárias que inspiravam os artistas.

O índio nas representações daqui ocupou o lugar que na Europa era do


cavaleiro medieval. Tornando-se o símbolo do homem brasileiro sua origem e
originalidade, bravo e honrado.

Uma breve biografia do artista Rodolfo Amoedo.

Filho de artistas de teatro Rodolfo Amoedo nasce em Salvador em 1987. Viveu


parte de sua infância na Bahia e então muda-se para o Rio de Janeiro onde é admitido
no colégio Pedro II, mas devido a dificuldades financeiras da família não conclui o
curso. Passa um período trabalhando como assistente do Pintor letrista Albino
Gonçalves e só volta estudar com 16 anos quando ingressa no Liceu de Artes e
Ofícios onde tem aulas com Costa Miranda (1818 - s.d.), Victor Meirelles (1832 - 1903)
e se torna protegido de Antônio Souza Lobo (1840- 1909).

Com apoio de seu protetor se torna aluno da Academia Imperial de Belas Artes
– Aiba onde continua a estudar com Victor Meireles e se desenvolve ate em 1878
receber o prêmio de viagem ao exterior da Aiba, por sua tela Sacrifício de Abel. No
ano seguinte parte para Paris e matrivula-se na Académie Julian seguindo conselho
de Almeida Júnior (1850 - 1899). No ano de 1980 começa seus estudos na École
National des Beaux-Arts, onde freqüenta as aulas de Alexandre Cabanel (1823 -
1889), Paul Baudry (1828 - 1886) e Pierre Puvis de Chavannes (1824 - 1898).

Na França que aprende a usar cores discretas e a pintar com base em um


desenho meticuloso e objetivista, características que marcam suas obras. Neste
período Amoedo pinta temas tradicionais da academia na tentativa de retirar sua carga
idealista. E foi lá que realizou pinturas indigenistas importantes como Marabá (1882)
e Último Tamoio (1883). É um momento áureo de sua criatividade. Faz retratos, como
em Amuada (1882); nu feminino, como em Dorso de Mulher (1881) e na
polêmica Estudo de Mulher (1884); e cenas bíblicas, como A Partida de Jacó (1884)
e Jesus em Kafarnaum (1885).

No ano de 1887, volta ao Rio de Janeiro, onde é nomeado professor de pintura


da Aiba. La, devido à influencias de seu estudo na França, apresenta discordâncias
dos métodos de ensino e expressa isso fundando o Ateliê Livre junto com
irmãos Henrique Bernardelli (1858 - 1936) e Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931), Souza
Lobo e Zeferino Costa em 1988.

Este grupo, que propõe uma modernização curricular e tem como modelo a
Académie Julie, em 1989 conquista a diretoria da Escola Nacional de Belas Artes -
Enba, antiga Aiba após a proclamação da República. Em 1983 Amoedo se torna vice-
diretor da Escola e fica no cargo até 1906, quando se desentende com o diretor
Rodolfo Bernardelli, partindo então para Europa. Em 1919 reassume a cadeira de
professor ocupando-a até se aposentar.

Ficha técnica:

O Último Tamoio, 1883


Rodolfo Amoedo
Óleo sobre tela, c.i.e.
261,30 cm x 180,30 cm
Uma análise objetiva e descritiva da pintura.

As figuras principais da pintura de Rodolfo Amoedo, O Último Tamoio, são um


padre e um indígena, este de pele morena usando apenas uma tanga arrebentada
feita de penas azuis e vermelhas. Eles estão representados em uma praia sem
nenhum outro ser humano na imagem.

A representação do índio, quase dentro da agua, esta em maior destaque. Este


deitado de olhos fechados com o braço direto meio mergulhado, sua cabeça e seu
outro braço estão pouco mais erguidos sustentados pelo padre que o acode o corpo.
Acima de sua cabeça veem-se ondas e mais ao fundo montanhas. Três pássaros
sobrevoam a área montanhosa.

O Padre, na parte esquerda do quadro esta agachado na areia. Uma de suas


mãos segurando a cabeça e a outra o braço da figura do indígena desacordado. O
religioso usa trajes franciscanos escuros ficando em menor destaque. Acima de seu
corpo curvado tem alguns arbustos mais nítidos e logo sombras que dão a impressão
de que continuam pela encosta!

A paleta de cores é variada. Em cima nas montanhas e encosta as cores são bem
escuras que seguem nas vestes do padre. Com uma linha de luminosidade diagonal
descendo da direita para esquerda acompanhando o corpo em destaque e ampliando
a luz para areia.

Uma análise interpretativa da obra

Ao interpretar a obra de Rodolfo Amoedo “O Ultimo Tamoio” eu vi um índio


gordinho de tanga rasgada. Este sendo acudido por um padre franciscano em uma
praia deserta. Com pássaros brancos em um céu escuro, que me remete a
tempestade no mar. Isso fazendo eu cruamente imaginar que o índio seria vitima de
naufrágio. O religioso em um pintado em tom bem mais escuro carrega minha visão
dele ser sombrio. Com minha bagagem analítica sem saber do conteúdo histórico da
tela diria isso; O indígena, já que não navegava, poderia ter sido vitima do naufrágio
de um navio onde era transportado como escravo. Por infelicidade foi parar em uma
praia e acudido por um cristão que lhe daria falsa sensação de liberdade mas
aprisionaria sua mente.

Sigo agora analise interpretativa da obra através da visão acadêmica.

Como se sabe a tela foi inspirada na parte final do livro intitulado “A confederação
dos Tamoyos” escrito por domingos José Gonçalves de Magalhaes. O trecho que
segue:
[...] "De Aimbire e de Iguassú os corpos eram! / Vio-os Anchieta com chorosos olhos; /
Para a terra os tirou; e n’essa praia / Que inda depois de mortos abraçavam, / Sepultura
lhes deo, p’ra sempre unidos!"

Na história que tem como personagem o Índio Aimberê e também o padre


Anchieta foca na luta que os índios traçaram pela sobrevivência e pela liberdade
contra os portugueses da época.

“O padre Anchieta encontra em deserta praia o cadáver de Aimberê, o chefe dos


Tamoios, e o contempla comovido antes de prestar-lhe os últimos deveres de
sacerdote cristão” (CAVALCANTI, 2007).

O Trecho citado a cima é a descrição da obra quando exibida pela primeira vez ao
publico brasileiro em 1884, na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro.

Tendo estudado para conseguir realizar a primeira parte deste trabalho li em uma
analise descritiva que o corpo do indígena estaria inchado, mostrando assim que
estaria morto há alguns dias. O que explica eu ter achado a figura mais gorda que
deveria e agora sabendo da dedicação do pintor ao realismo faz bastante sentido.

O quadro também tem uma linha diagonal de divisão de cores como fala Scrich,
Eduardo em 2009 no V Encontro de História da Arte - IFCH / UNICAMP. Em 2007

"Embora seja a região mais iluminada, os tons pastéis e a presença do índio


vividamente morto não permitem conferir vida à obra"

Na interpretação de Ana Maria Cavalcanti: a morte de Aimberê, chefe dos tamoios,


é pintada como um sacrifício cristão, e o padre Anchieta ocupa o lugar de Maria, que
acolhe em seus braços o Cristo.

É interessante também comentar sobre a descrição que Theóphile Véron conferiu


à pintura de Amoêdo: “Anchietta, missionnaire portugais au Brésil, trouve le cadavre
d’Aynabire, chef de la tribu des Tamoyos, sur une plage où il l’ensevelit”2 (COLI, 1994:
322).

Com esta legenda sem induzir o publico francês a enxergar nos gestos e no olhar
do clérigo o sentimento de compaixão a obra foi apresentada pela primeira vez na
França em 1883 um ano antes de ser exposta no Rio.
Bibliografia

 RODOLFO Amoedo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura


Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível
em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21342/rodolfo-amoedo.
Acesso em: 22 de setembro de 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

 CAVALCANTI, Ana Maria Tavares. “O último tamoio e o último romântico”. In:


Revista de História da Biblioteca Nacional. Nov.2007. Disponível em:
http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1241

 Scrich, Eduardo (2009). «O Último Tamoio, de Rodolfo Amoedo» (PDF). V


Encontro de História da Arte - IFCH / UNICAMP. Consultado em 22 de
novembro de 2017. Arquivado do original (PDF) em 1 de dezembro de 2017

 O Último Tamoio. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.


São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível
em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1230/o-ultimo-tamoio. Acesso
em: 23 de setembro de 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

 Magalhães, Domingos José Gonçalves de (1856). A confederação dos


Tamoyos. [S.l.]: Empreza typog. de Paula Brito. 339 páginas

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