cérebro humanoide não conseguiria suportar. Decidi encarar minha criação, em direção ao meu quarto passei pelos antes acolhedores corredores, que agora invocam paranoia e ansiedade. Ao chegar ao quarto dei conta de que a criatura não estava mais lá, mas em seu lugar arranhões e manchas de sangue que cobriam as paredes, pegadas ensanguentadas que sujavam o chão do quarto e seguiam aos outros cômodos. Seguindo as pegadas cheguei ao laboratório e ao observar a sala vi a minha cria deitada na mesma mesa em que a havia concebido. Relutante analisei seu corpo e pulso em busca de algum sinal de vida, estava frio e sem sinal de batimentos. Suspirei com certo alivio e decepção, “Eu trouxe vida ao mundo, mas falhando em mantê-la teria eu realmente sucedido em meu objetivo?” - pensei comigo mesmo. Fechei os olhos do cadáver e o cobri com o mesmo lençol ensanguentado que havia usado para limpar meus utensílios, por fim dirigi-me ao canto da sala onde sentei no chão para refletir sobre o que fiz. Dentre reflexões, pensamentos e memórias passavam em minha mente como linhas insignificantes em um livro desinteressante, pensei sobre o tempo que perdi apenas para criar algo tão desgostoso e decepcionante. De repente, quebrando qualquer raciocínio, uma voz súbita interrompeu meus pensamentos e ecoou em minha mente: - Victor. - olhei para o cadáver com medo, ele estava imóvel e ainda deitado, comecei a pensar na possibilidade de estar enlouquecendo. - Devo agradece-lo por sua criação. - A voz disse - Eu não sou seu monstro ou sua decepção, sou além disso. - Quem está falando? - disse. - Eu sou a destruição Victor, só resta escuridão a você e morte para o seu povo, você criou o receptáculo perfeito para minha vinda, e não sou único, cedo ou tarde outros como eu virão, nós, antigos, somos apenas o começo. Você porém tem a oportunidade de alcançar a salvação, basta apenas obedecer-me. Aterrorizado levantei, dirigi-me ao corpo e puxei o lençol que o cobria. Estava em decomposição, larvas comiam sua carne e emergiam à superfície, seu rosto estava ainda mais desfigurado que antes, o corpo putrificava-se em velocidade estridente, as poucas larvas que habitavam os orifícios da besta se multiplicavam e morriam em instantes, baratas e moscas escalavam suas orelhas e escondiam-se em suas rugas. Com nojo, olhei ao lado e não consegui segurar meu vômito. Eu trouxe ao mundo coisas que meu insignificante cérebro humanoide não conseguiria suportar.
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