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Acredita-se que a varíola tenha surgido há mais de três mil anos,

provavelmente na Índia ou no Egito. De lá para cá, ela se espalhou pelo


mundo, causou inúmeras epidemias, aniquilou populações inteiras
(como diversas tribos de índios brasileiros) e mudou o curso da história.
Marcas causadas pela doença foram encontradas na face da múmia do
faraó Ramsés II. A doença atingiu também personagens importantes da
história ocidental, como a rainha Maria II da Inglaterra, o rei Luis I da
Espanha, o imperador José I da Áustria e o rei Luis XV da França.

Em algumas culturas antigas, a letalidade da varíola era tamanha entre


as crianças que estas só recebiam nomes se sobrevivessem a ela. No
decorrer do século XVIII, a doença matava um recém-nascido em cada
dez na Suécia e na França, e um em cada sete na Rússia. Não bastasse
o medo da morte, os enfermos ainda tinham que enfrentar a
possibilidade de carregar cicatrizes profundas, principalmente no rosto,
ou mesmo de perder a visão – no Vietnã de 1898, 95% dos
adolescentes carregavam marcas da doença, e nove em cada dez casos
de cegueira eram atribuídos às complicações decorrentes da moléstia.

Sintomas e características

A varíola era uma doença infecto-


contagiosa, exclusiva do homem (não
sendo transmitida por outros animais,
como a dengue, por exemplo), de
surgimento e desenvolvimento
repentinos e causada pelo Orthopoxvírus
variolae, um dos maiores vírus
conhecidos e que é extremamente
resistente aos agentes físicos externos,
como, por exemplo, variações de
umidade e temperatura. O O. variolae
pertence à família Poxviridae, a mesma
dos vírus causadores de formas
O francês Louis Pasteur (1822-
variantes da doença, próprias do gado
1895) foi o primeiro cientista a
bovino (a varíola bovina), dos macacos,
adimitir que a varíola era
das galinhas e dos camelos.
causada por microorganismos
A transmissão ocorria de pessoa para
pessoa por meio do convívio e
geralmente pelas vias respiratórias. Uma
vez dentro do organismo, o vírus da
varíola permanecia incubado de sete a
17 dias. A seguir, ele se estabelecia na
garganta e nas fossas nasais e causava
febre alta, mal-estar, dor de cabeça, dor
nas costas e abatimento, esse estado
permanecia de dois a cinco dias.
Finalmente, a enfermidade assumia sua
forma mais violenta: a febre baixava e
começavam a aparecer erupções
avermelhadas, que se manifestavam na
garganta, boca, rosto e que depois
espalhavam-se pelo corpo inteiro. Isso
ocorre, porque o O. variolae parasita as
células do tecido epitelial para se
reproduzir. Com o tempo, as erupções
evoluíam e transformavam-se em
pústulas (pequenas bolhas cheias de
pus), que provocavam coceira intensa e
dor – era nesse estágio que o risco de
cegueira era maior, pois, ao tocar o
olho, o enfermo podia causar uma
inflamação grave.

Até aqui, não existe tratamento efetivo contra a varíola. Quando ela
existia, o máximo que se podia fazer era tentar amenizar ao máximo a
coceira e a dor causadas pela doença e esperar que o organismo
reagisse e vencesse o vírus. A sobrevivência do doente dependia da
forma de varíola que ele adquiria, já que a enfermidade se divide em
duas formas principais, a varíola major, com 30% de letalidade, e a
varíola minor, também conhecida como alastrim, que era mais comum e
com menos de 1% de casos fatais (também existiam manifestações
mais raras da doença, como a hemorrágica e a maligna). Com o tempo,
as pústulas secavam e transformavam-se em crostas, que desprendiam-
se ao final de três ou quatro semanas. Caso o enfermo tivesse adquirido
a forma major, essas crostas costumavam deixar cicatrizes permanentes
na pele.

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