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CAPÍTULO 6
Arbovírus
Robert E. Shope e James M. Meegan
1. Introdução
Os vírus transmitidos por artrópodes (Arbovírus) são um conjunto
ecologicamente definido de vírus que têm em comum a replicação
em artrópodes e hospedeiros vertebrados e a transmissão entre
animais vertebrados pela picada de mosquitos, carrapatos,
flebotomíneos e mosquitos. <184) A grande maioria dos arbovírus
pertence a uma das cinco famílias. Estes são Toga viridae,
Flaviviridae, Bunyaviridae, Reoviridae e Rhab doviridae.
Informações sobre seu isolamento, morfologia, sensibilidade à
inativação por produtos químicos, vetores artrópodes, hospedeiros
vertebrados, propagação em laboratório, reações sorológicas,
distribuição geográfica, manifestações clínicas e epidemiologia
encontram-se no Catálogo Internacional de Vírus Transmitidos
por Artrópodes , compilado pela Comitê Americano de Arbovírus.
<16,102) Esta fonte de referência exaustiva foi usada livremente
na preparação do
texto que segue.
A transmissão biológica dos arbovírus caracteriza-se pela
multiplicação do vírus no artrópode, processo que leva vários dias
(geralmente 12 dias para o vírus da febre amarela, por exemplo).
Este período desde a ingestão de uma refeição de sangue
infectada até que o vírus se replique, atinja a glândula salivar e
possa ser transmitido é o período de incubação extrínseco. Após
ser alimentado por um artrópode infectado, o hospedeiro
vertebrado é infectado e torna-se virêmico. Esta parte do ciclo
dura de 2 dias a mais de uma semana e constitui o período
intrínseco de incubação. A transmissão biológica deve ser
diferenciada da transmissão mecânica em que o vírus contami
Robert E. Shope • Departamento de Patologia, The University of
Texas Medical Branch em Galveston, Galveston, Texas 77555.James
M. Meegan • Divisão de Microbiologia e Doenças Infecciosas, Instituto
Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Institutos Nacionais de
Saúde, Bethesda, Maryland 20892.
AS Evans e cols. (eds.), Infecções virais de humanos
© Springer Science+Business Media Nova York 1997
nata as partes bucais do artrópode e pode ser transmitida
imediatamente a um novo hospedeiro vertebrado.
Os arbovírus são geralmente mantidos em um ciclo de
reservatório que consiste em hospedeiros artrópodes e vertebrados.
Ambos são necessários para manter o vírus na natureza.<137)
Um subconjunto de arbovírus, incluindo membros das famílias
Bunyaviridae,<193•194) Flaviviridae,<2-75•155•156•180) e Toga
viridae,<77) são transmitidos verticalmente através do ovo do
artrópode. Nesses casos de transmissão transovariana, o
artrópode sozinho pode ser o reservatório do vírus e pode manter
o vírus na ausência de um animal vertebrado.
No caso do vírus LaCrosse, a transmissão venérea do
mosquito macho infectado para o mosquito fêmea foi demonstrada
em condições de laboratório. 086) Este é potencialmente um
importante mecanismo na natureza para manter a transmissão
deste e de outros vírus.<168)
2. Antecedentes Históricos
A febre amarela foi a principal praga dos caucasianos que
exploravam e colonizavam os continentes africano e americano.
O vírus foi transmitido por mosquitos Aedes aegypti nas principais
cidades tropicais durante os anos 1700 e 1800. A transmissão
frequentemente ocorria em navios à vela que transportavam o
mosquito e o vírus da África para a América. Além disso, durante
os meses de verão, os navios transportavam o mosquito para os
principais portos da América do Norte, resultando em epidemias
clássicas em Nova York em 1668, Boston em 1691 e Charleston
em 1699, bem como posteriormente nas cidades do Golfo do
México . e o rio Mississipi. Por mais de 200 anos, a febre amarela
foi a principal doença infecciosa que matou as Américas. Ainda
em 1905, houve mais de 1.000 mortes nas cidades portuárias do
sul dos Estados Unidos_ < 63.172.181.196)
A Comissão de Febre Amarela do Exército dos EUA, sob a
direção de Walter Reed e com a assistência de Carlos
151
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152 Parte II • Infecções Virais Agudas
Finlay de Cuba, demonstrou em 1900-1901 que a febre amarela
era causada por um vírus encontrado no sangue; que foi transmitido
por um mosquito; e que houve uma incubação extrínseca de 12
dias. Com esta informação, o general William C. Gorgas planejou
a eliminação do mosquito inicialmente de Havana e depois dos
arredores do canteiro de obras do Canal do Panamá. A febre
amarela desapareceu. (63,73,98,II6,I62,172,176,I96) Esta foi uma
demonstração dramática de que Reed e seus colegas de trabalho
estavam corretos.
Em 1932, Soper e colegas mostraram que havia um ciclo
selvagem de febre amarela na ausência de Ae. aegypti. Essa
observação significativa significava que a febre amarela não poderia
ser detida apenas pelo controle dos mosquitos nas cidades.
Theiler e Smith1831 conseguiram cultivar a cepa Asibi do vírus da
febre amarela, primeiro em macacos e depois em ovos embrionados,
atenuando-a por passagem. Em 1937, eles anunciaram a descoberta
de uma vacina atenuada - a cepa 17D .<181l Esta vacina é usada
em todo o mundo hoje para prevenir a febre amarela.
Em 1930, havia apenas três doenças humanas transmitidas
por vírus artrópodes conhecidas.<9S,16?) Estas eram febre
amarela, febre do mosquito-palha (pappataci) e febre da dengue.
Durante a década de 1930, o camundongo foi adotado como
hospedeiro de laboratório para vírus. Os vírus da encefalomielite
equina oriental, equina ocidental e venezuelana foram isolados de
cavalos e humanos . (63,73)
Na década de 1950, cientistas da Fundação Rockefeller, do
Exército e da Marinha dos EUA, do Serviço de Saúde Pública dos
EUA, de várias universidades dos EUA e de muitos governos
estrangeiros reconheceram que os arbovírus poderiam ser
recuperados na natureza de artrópodes aparentemente saudáveis
e animais vertebrados selvagens. Essa busca nos ciclos naturais
dos arbovírus rendeu uma bonança. Em 1985, mais de 500
arbovírus diferentes haviam sido descobertos, cerca de 100 deles
causando doenças humanas06,3l,32,102l (ver Tabelas 1 e 2).
As síndromes clínicas incluíram febre, artrite, erupção cutânea,
febre hemorrágica, retinite e encefalite. Além disso, doenças
graves de animais domésticos transmitidas por artrópodes incluíam
febre do Vale do Rift, peste equina africana, língua azul das
ovelhas, encefalite equina, doença das ovelhas de Nairóbi,
encefalite japonesa e peste suína africana.
A dengue tem sido um problema nos trópicos desde 1600. (!
54) Era bem conhecido por suas fortes dores musculares e
articulares, erupções cutâneas e longa convalescença associada à
depressão mental. Em 1953, uma forma recém-reconhecida de
dengue foi observada em crianças nas Filipinas. O que começou
como dengue leve tornou-se mais grave no segundo ou terceiro dia
de doença, e a criança desenvolveu sinais hemorrágicos e choque.
Cerca de 10% desses jovens
irmãs morreram. A nova doença foi chamada de febre hemorrágica
da dengue e síndrome do choque da dengue (DHF/DSS).<93.127)
A dengue é causada por quatro sorotipos diferentes de vírus e
qualquer um dos quatro pode estar associado à DHF/DSS. Através
do trabalho pioneiro de Halstead,(93) agora entendemos que um
importante fator de risco para DHF/DSS é a infecção sequencial
com diferentes sorotipos do vírus da dengueJ127.154 ) Uma criança
que se recuperou da infecção com um sorotipo e posteriormente foi
infectada com um diferentes sorotipos podem ficar gravemente
doentes.
Devido a uma combinação de crescimento populacional,
urbanização e aumento da reprodução de Ae. aegypti mos quitoes
em cidades tropicais asiáticas e americanas, a dengue está
emergindo rapidamente como uma das principais causas de morte
de crianças nos trópicos. A doença está se espalhando na Ásia e
nas Américas tropicais. Ao longo da década de 1980, a Organização
Mundial da Saúde relatou 2.512.123 casos e 42.751 mortes, e os
números estão aumentando a cada ano. <54.154)
Como o número de arbovírus reconhecidos aumentou
rapidamente durante as décadas de 1950 e 1960, o desenvolvimento
de técnicas de diagnóstico manteve o ritmo. ) e o teste de inibição
da hemaglutinação (HI).(3,92,158,159,173,174)
O teste HI foi especialmente útil por ser grupo reativo, permitindo a
separação dos arbovírus em grupos sorológicos. <14·30--32·56l
Inicialmente, Casals<32l descreveu os grupos A, B e C; à medida
que novos agentes foram descobertos, surgiram tantos novos
grupos que as cartas foram abandonadas e o grupo recebeu o
nome do protótipo isolado. O Catálogo Internacional de Vírus
Transmitidos por Artrópodes lista mais de 500 vírus em pelo menos
46 sorogrupos.(l02)
As técnicas sorológicas evoluíram para incluir a técnica de
imunofluorescência e o ensaio imunossorvente ligado a enzima
(ELISA).<4,68l Hoje, o ELISA é amplamente utilizado e tem a
vantagem de ser ideal para detectar IgM de soro e líquido
cefalorraquidiano, cujo título aumenta no início da doença e é
transitório.<27·125l Assim, um diagnóstico rápido e precoce pode
ser feito em uma única amostra de soro. A reação em cadeia da
polimerase (PCR) para detectar ácido nucléico é uma adição muito
recente ao arsenal de diagnóstico e será uma ferramenta sensível
para um diagnóstico rápido e precoce. (29,48,49)
Infelizmente, o controle das infecções por arbovírus não tem
acompanhado a descoberta e disseminação da doença.
Medicamentos antivirais para arbovírus não estão disponíveis
comercialmente. Exceto para febre amarela, encefalite transmitida
por carrapatos e encefalite japonesa, não há vacinas amplamente
usadas disponíveis para humanos . no entanto, a resistência a
pesticidas é implacável e novos produtos químicos ou biológicos