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Caracterização do agente patogénico: Existem duas versões do vírus que causa

varíola; o vírus varíola minor e o vírus varíola major.


Os dois são semelhantes: com uma forma paralelipipédica, medindo aproximadamente
302 a 350 nanómetros por 244 a 270 nanómetros.
Têm uma única cadeia linear de dupla hélice de DNA, constituída por 186 mil pares de
nucleótidos, com uma curva em forma de gancho em cada ponta.
Pertencem ao género Orthopoxvirus, à família Poxviridae, à ordem Chitovirales, à
classe Pokkesviricetes, ao filo Nucleocytoviricota, ao reino Bamfordvirae e ao
domínio Varidnaviria.
O ciclo de vida de poxvírus é complexo, pois tem várias formas infeciosas, com
mecanismos de entrada na célula diferentes. Poxvírus são únicos no que toca a vírus
que têm DNA porque se replicam no citoplasma da célula e não no núcleo. Para se
replicarem, os poxvírus produzem uma variedade de proteínas especializadas que não
são produzidas por outros vírus que têm DNA, a mais importante sendo uma RNA
polimerase dependente de DNA associada a vírus.
Poxvírus com cápsula e sem cápsula são infecciosos. A cápsula viral é constituída por
membranas de Golgi modificadas que contém polipéptidos virais, como por exemplo a
hemaglutinina.

Transmissão do vírus: O vírus permanece ativo durante vários meses no meio


ambiente, no entanto o seu efeito patogénico é mitigado, assim reduzindo a
probabilidade de infeção devido ao seu envelhecimento, à exposição à luz natural e ao
calor, sendo este o fator mais efetivo (A uma temperatura de 56ºC o vírus é
enfraquecido em 30 a 60 minutos).
A sua transmissão deve-se maioritariamente à inalação de gotículas em suspensão,
que são expelidas pela via oral e nasal dos infetados. O contágio é também possível
através do contacto físico com a área infetada e pelo manuseamento de objetos
utilizados por parte dos doentes, apesar de estas duas últimas vias de transmissão
serem muito pouco frequentes.

Doença Provocada: A doença provocada pelo vírus é a varíola, que pode ter diferentes
níveis de gravidade, a varíola menor e a maior. A menor tem lesões mais superficiais
sendo a sua duração curta e de letalidade muito baixa, enquanto a maior apresenta
impactos no corpo muito graves, em alguns casos irreversíveis, durante vários dias e é
altamente letal. O período de incubação varia entre 7 a 14 dias e inicialmente os
sintomas causados pela mesma são severos como, febre extremamente alta, cefaleias,
calafrios, dores nas costas e eventualmente surge um elevado número de máculas
(alteração na pele, devido à acumulação de melanina) na cara do infetado,
progredindo para pápulas (pequenas elevações sólidas), mais tardiamente para
vesículas que contêm líquido (bolhas) e, finalmente para pústulas (elevações infetadas
com pus e de centro escuro). Este processo ocorre em poucos dias.
Taxa de incidência: Existem várias evidências de que a varíola infeta desde a
antiguidade e permaneceu durante milhares de anos até ser extinguida em 1977, no
entanto, os primeiros casos devidamente identificados foram em 430 a.C, em Atenas.
A doença sempre se manifestou em epidemias, nunca foi nomeada de pandemia pois
esta apenas danificou fortemente certas regiões do mundo como o Brasil, Sul da Ásia,
a Europa (mais especificamente Reino Unido) e África.

Como se descobriu a vacina: A primeira vacina foi criada por Edward Jenner em 1796
apesar de já terem sido criadas versões anteriormente por diferentes indivíduos, como
por exemplo Benjamin Jesty, mas que não chegariam a ser utilizadas porque até
Jenner criar a sua versão o processo não seria conhecido por todos), a partir do vírus
da varíola bovina (um vírus parecido com o da varíola, mas muito menos perigoso e
com uma carga viral menor).
Jenner (também com a ajuda de estudos anteriores, como o de John Fewster que
notou que uma infeção prévia com varíola bovina tornava as pessoas imunes à varíola
humana), ao se aperceber que as leiteiras que tinham estado em contacto com gado
infetado com varíola bovina muitas vezes eram imunes à varíola humana, apercebeu-
se de que isso poderia ser a origem de uma solução para o problema.
A partir daí, Jenner formulou uma teoria: a teoria de que o líquido presente nas bolhas
das mãos das leiteiras infetadas com varíola bovina as tornava imunes à varíola.
Para testar a sua teoria, Jenner inoculou James Phipps, filho do seu jardineiro, com
varíola bovina, causando-lhe febre e algum mau-estar, mas nenhuma infeção maior.
Seguidamente, injetou nele uma versão moderada do vírus da varíola, quando já se
encontrava recuperado. O vírus não se manifestou. Passado algum tempo, Jenner
voltou a inoculá-lo com a versão moderada do vírus da varíola, com o mesmo
resultado.
Com isso, Jenner provou que a infeção com varíola bovina tornava as pessoas imunes à
varíola e começou todo um processo de vacinação em massa.

Como seria esperado, a vacina produzida por Jenner não é a mesma que se utiliza
atualmente: a vacina atual é constituída por um vírus semelhante à varíola bovina, o
vírus vaccinia. A origem deste vírus não é totalmente conhecida, mas pensa-se que é
um vírus derivado ou da varíola bovina ou da varíola equina.
Curiosidades: A primeira forma para combater a varíola foi descoberta na China, no
século XVI (já se praticava desde o século X). Crostas (das bolhas formadas devido à
presença de varíola) misturadas com um tipo de pó eram inaladas por pessoas
saudáveis, que desenvolveriam um caso moderado (varíola minor) da doença e que a
partir da recuperação seriam imunes. Essa técnica tinha uma taxa de mortalidade de
entre 0,5 a 2,0%, mas era consideravelmente mais baixa do que a taxa de mortalidade
da varíola em si que era de entre 20 a 30%.
Um método usado em Inglaterra no século 18 envolvia expor líquido das bolhas de
varíola a fumo de turfa, enterrá-lo no chão com cânfora por um período de tempo de
até 8 anos, para finalmente o inserir na pele de um indivíduo usando uma faca,
cobrindo o corte com uma folha de alface.
Este método nunca falhou, mesmo tendo sido criado por alguém sem qualquer
experiência em medicina.
A palavra varíola provém do latim varius que significa manchado ou varus que significa
espinha.

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