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WBA0944_v1.

APRENDIZAGEM EM FOCO

ÉTICA E RESPONSABILIDADE
PROFISSIONAL
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Autoria: Alberto Carneiro Barbosa de Souza
Leitura crítica: Juliana dos Santos Corbett

O Sistema de Conselhos de Psicologia tem preservado e atualizado


de forma eficiente os princípios éticos da profissão, em sintonia com
as demandas de transformações da sociedade. Porém, é dever de
todo psicólogo se manter atualizado em relação ao código de ética e
suas correlações com problemas contemporâneos brasileiros.

A disciplina de Ética e responsabilidade profissional objetiva discutir


e investigar os dilemas e os desafios éticos que têm se apresentado
a categoria. Assim sendo, você terá a oportunidade de estudar o
código de ética aplicado às situações concretas e os estudos de caso
que permeiam o cotidiano dos psicólogos, seja na área clínica ou em
outros campos de atuação.

Por exemplo, discutiremos a questão de violência contra a mulher


em diferentes contextos e como o psicólogo deve agir diante desses
casos. Da mesma forma, você estudará o dilema de quebra de
sigilo, quando ele deve ser feito, em quais situações, como fazê-lo
e as consequências para o psicólogo no caso da denúncia não ser
realizada.

Não menos importante, as aulas abordarão sobre documentos


psicológicos, quais são eles, como armazená-los, como e com
quem compartilhá-los e como está sendo feita a digitalização
de documentos psicológicos sigilosos, tanto nos consultórios
particulares quanto em um ambiente organizacional. A guarda
de documentos é um tema de suma importância não só para
a arqueologia da psicologia, mas sobretudo para a pesquisa
acadêmica. Contudo, trata-se de um tema pouco abordado em
cursos de graduação e de especialização. Assim, esse curso vem
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preencher essa lacuna tão importante para o fazer mais responsável
e eficiente da Psicologia.

Estudar sobre questões éticas e guarda de documentos em um


mesmo curso é o grande diferencial deste curso. Nesse contexto,
muitos psicólogos esquecem que a ética em Psicologia não se
restringe apenas às condutas clínicas e ao sigilo clínico. A ética
também se aplica à forma que confeccionamos, guardamos e
divulgamos documentos psicológicos. A experiência em participar de
uma investigação na qual se estuda essas questões em um mesmo
programa é oportunidade rara no ensino de Psicologia no Brasil.

Bons estudos!

INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira


direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática
abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar
reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática
profissional. Vem conosco!

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 1

Entidade de classe e o Código de


Ética Profissional
______________________________________________________________
Autoria: Alberto Carneiro Barbosa de Souza
Leitura crítica: Juliana dos Santos Corbett
DIRETO AO PONTO

A Psicologia brasileira já existia muito antes de sua


regulamentação, mas foi apenas com ela, assim como a criação
do “Sistema Conselhos”, que os psicólogos se organizaram em
uma entidade de classe, com seus direitos e obrigações descritas
em um estatuto elaborado pelo Conselho Federal de Psicologia
(CFP). Além do estatuto, uma das maiores contribuições do
Sistema Conselhos foi o aprimoramento do já existente Código
de Ética dos Psicólogos. Antes disso, o primeiro código de ética
foi elaborado pela extinta Associação Brasileira de Psicologia
(ABP), ainda bastante influenciado pela ética médica, devido a
dois motivos: por um lado, a Psicologia ainda era exercida em
grande parte dentro de ambientes médicos, como em clínicas
psiquiátricas; por outro lado – e como consequência da razão
citada –, o Código de Ética da Psicologia nasceu à sombra da
classe médica, a fim de buscar maior legitimidade social em
função de ser para a época uma profissão relativamente nova no
país.

A segunda versão foi lançada em 1979 e, apesar do país estar


em plena ditadura militar, sua redação se mostrou importante
instrumento de resistência política, sendo influenciada por
movimentos sociais antiditatoriais. Já o terceiro Código de Ética
da Psicologia foi o reflexo da abertura política no Brasil nos
anos 1980 e, entrando em vigor em 1987, se preocupava com
o resgate do diálogo da Psicologia com outras áreas do saber,
como a Antropologia e a Sociologia. Finalmente, sem sua mais
recente versão, publicada em 2005, o código de ética adquiriu
total independência em relação à medicina, sendo bastante

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progressiva e com ênfase na observação dos direitos de minorias
e de populações marginalizadas.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem como uma de


suas principais atribuições acompanhar as mudanças sociais e
políticas que possam influenciar diretamente na profissão, com o
objetivo de manter a formação do psicólogo atualizada no âmbito
acadêmico e da ciência. Uma vez que seria impraticável um único
órgão centralizar toda fiscalização no país, assim, instituiu-se
o “Sistema Conselhos”, no qual cada estado possui seu próprio
conselho de classe, sempre subordinado ao CFP. As únicas
exceções são Acre e Rondônia, que possuem um único Conselho
para ambos os estados, assim como Amazonas e Roraima e
Pará e Amapá. O CRP também têm a função de receber e julgar
processos éticos e de registrar novos psicólogos formados
naquela região.

Por fim, o conselho regional também recebe o registro de


psicólogos de outras regiões que queiram se transferir para o
estado no qual aquele conselho seja responsável. A exceção é o
trabalho acadêmico e de pesquisa, para os quais o psicólogo não
necessita mudar a região de seu CRP.

O Sistema Conselhos, para exercer as atribuições descritas


anteriormente, possui uma estrutura chamada Instâncias
Deliberativas, que apresenta a mesma estrutura em todos vinte
e quatro conselhos regionais, como se pode observar na figura a
seguir.

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Figura 1 – Sistema Conselhos em Psicologia: estrutura deliberativa

Fonte: elaborada pelo autor.

Assim como o código de ética, a própria formação de Psicologia


passou por diferentes fases de amadurecimento no Brasil. Até 1962,
ela não era regulamentada, mas, a partir da sua regulamentação
naquele ano, todos os cursos de graduação foram obrigados
a adotado um currículo mínimo obrigatório e os programas
fiscalizados, depois disso, esse momento na história da formação do
psicólogo brasileiro ficou conhecido como “currículo mínimo”.

A terceira fase de formação teve início no começo do século XXI


e se estendeu até os dias de hoje, sendo chamado de Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN). A DCN é aplicada em todos os cursos
da área de saúde no Brasil em nível de graduação e, lançada em
2001, almeja um ensino mais integrado entre os diferentes campos
do saber dessa área, sendo totalmente incorporado à formação
de psicólogo em 2002. Outras características da DCN são a grande
ênfase na pesquisa acadêmica, assim como um incremento

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no diálogo do campo de mercado de trabalho com alunos em
formação. Dessa forma, os professores têm sido cada vez mais
contratados em razão de sua experiência no campo de trabalho de
sua especialização e de seu diálogo com outros setores do campo
da saúde, resultando, por exemplo, em estágios supervisionados
nos quais os alunos têm a oportunidade de conhecerem de perto a
realidade do núcleo que estudam (SANTANA, 2016).

Referências bibliográficas
SANTANA, A. L. et al. Estágio curricular em saúde e em psicologia: análise de
documentos de domínio público. Athenea digital, [s.l.], v. 16, n. 3, p. 507-28,
2016. Disponível em: https://raco.cat/index.php/Athenea/article/view/314739.
Acesso em: 17 set. 2021.

PARA SABER MAIS

Entre as questões éticas da Psicologia contemporânea, uma


das mais sensíveis às mudanças sociopolíticas brasileiras são
relacionadas à bioética. O exercício da psicologia para além do fazer
clínico vem se inscrevendo – e, por isso, sendo bastante influenciado
– pela interdisciplinaridade entre as diversas áreas, como é o
caso da psicologia social ou, ainda, da psicologia comunitária.
Atualmente, a bioética ultrapassou os limites do campo da medicina
e está presente no cotidiano do psicólogo desde o campo social
ao organizacional, pois todos precisam lidar com questões éticas,
como respeitar e fazer respeitar a identidade social de pessoas
não-binárias ou compreender os possíveis obstáculos que uma
pessoa trans possa enfrentar em seu ambiente de trabalho ou na
comunidade onde vive, sabendo como orientá-la adequadamente.

As mudanças de paradigmas que a Psicologia passou nas últimas


décadas, talvez, sejam maiores do que em outras profissões, pois,

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tais desafios apontam para como a Psicologia (que não deixa de ser
um espelho da sociedade) se relaciona com a patologia e a saúde,
assim como ela lida com diversas transformações socioculturais
ao longo do tempo. Tais dilemas afetam diretamente o Código de
Ética da Psicologia e a relevância da bioética nesse campo do saber.
Por exemplo, até meados dos anos de 1970, a homossexualidade
infelizmente ainda era tida como patologia mental e, muitas vezes,
assim era tratada. No final do século XX o Conselho Federal de
Psicologia (CFP) formalizou por meio da Resolução nº 01/1999 o
entendimento de que para a Psicologia a sexualidade faz parte
da identidade de cada sujeito e, por isso, práticas homossexuais
não constituem doença, distúrbio ou perversão. Dessa forma,
seu tratamento passou a ser criminalizado e eticamente proibido,
levando à cassação do registro do CRP do profissional.

Desse modo, conclui-se que, com os avanços em diversos campos


de sociedade – sejam tecnológicos ou socioculturais –, o psicólogo
e os demais profissionais de saúde se encontram diante de uma
realidade cada vez mais complexa em relação ao tratamento de seus
pacientes. Assim, campos de atuação como a bioética passam a ser
matéria de estudo obrigatória por todos aqueles que exercem sua
profissão.

TEORIA EM PRÁTICA

O psicólogo que exerce sua atividade clínica no CRP 06 (São


Paulo) e que deseje se mudar para Recife, se vê obrigado a
pedir a transferência de seu registro profissional para o CRP 02
(Pernambuco), sob pena de exercer sua profissão sem autorização
legal. Porém, este mesmo psicólogo não necessita transferir seu CRP
para Pernambuco caso a única função que exercerá é a docência
universitária.

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A partir desta afirmação, reflita acerca das obrigações éticas (se
houver) e o papel social do psicólogo (se houver) perante o CRP.
Qual seria a justificativa para a obrigatoriedade da transferência
do registro para a região na qual o profissional atuará? Da mesma
forma, por que a mesma exigência não se aplica ao trabalho
docente? Até onde vai a responsabilidade ética do psicólogo em
ambos os contextos?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

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Indicação 1

O livro indicado, apesar de tratar especificamente sobre a Psicologia


e Criminologia, é uma literatura importante para que você conheça
os dilemas éticos contemporâneos que se aplicam cada vez mais
aos diversos campos da psicologia, como a bioética ou a psicologia
aplicada ao adolescente infrator e as limitações éticas do psicólogo.
Como estudado anteriormente, a Psicologia está aprimorando o
diálogo entre suas diferentes áreas de atuação, por isso, esse livro é
útil a todo estudante de ética e psicologia.

COLETTA, E. D. et al. Psicologia e criminologia. Porto Alegre: Grupo


A, 2018. [Minha Biblioteca]

Indicação 2

O livro indicado é uma importante leitura para todo psicológico na


atualidade, pois, trata-se de um excelente compendio a respeito
de questões éticas e o trabalho a distância via internet, algo que
se torna cada vez mais frequente no fazer da Psicologia Moderna.
Nesta obra, os autores abordam temas como ética versus moral no
trabalho on-line, questões éticas em relação ao atendimento virtual
e a ética no mundo digital.

CRISOSTOMO, A. L. et al. Ética. Porto Alegre: Grupo A, 2018. [Minha


Biblioteca]

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber

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Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. O Sistema Conselhos de Psicologia foi criado para facilitar a


fiscalização e a coordenação da profissão no Brasil. Sobre o
Sistema Conselhos de Psicologia, pode-se afirmar que:

a. O Sistema Conselhos de Psicologia não é obrigado a cumprir


resoluções e orientações definidas pelos Conselhos Regionais,
pois o primeiro possui ascendência sobre o segundo.
b. O Sistema Conselhos de Psicologia possui na sua vertente
política o compromisso ético de promover discussões político-
partidárias, a fim de buscar maior engajamento social de seus
membros.
c. O Sistema Conselhos de Psicologia não deve promover
eventos nos quais temas polêmicos e controversos possam
gerar polarizações e discussões entre seus membros,
tais como racismo ou homofobia em alguns ambientes
profissionais.
d. O Sistema Conselhos de Psicologia deve buscar o
aprimoramento da prática em Psicologia, buscando a saúde
mental e bem-estar do profissional e de seus clientes.
e. O Sistema Conselhos de Psicologia não tem jurisdição
nos julgamentos de falhas éticas de psicólogos, sendo
competência exclusiva do Conselho Federal de Psicologia
(CFP).

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2. Em relação à ética em Psicologia no Brasil atualmente,
pode-se afirmar que:

a. A ética em Psicologia permanece sem alteração desde o


primeiro código de ética, já que não está sujeita às mudanças
sociais e políticas.
b. O equilíbrio entre o indivíduo e o coletivo não é tema
pertinente à ética em Psicologia, uma vez que o psicólogo
trabalha essencialmente com seu cliente não com o coletivo.
c. Os campos mais tradicionais da Psicologia seguem diretrizes
éticas próprias, pois possuem cláusulas pétreas em sua
redação.
d. A Psicologia Comunitária não segue o código de ética da
categoria, pois possui questões mais pertinentes ao código e
ética da Sociologia.
e. Apesar da psicanálise não estar sujeita ao Sistema Conselhos
de Psicologia, os psicólogos que a adotam como linha clínica
devem respeitar o código de ética da categoria.

GABARITO

Questão 1 - Resposta D
Resolução: A alternativa “O Sistema Conselhos de Psicologia
não é obrigado a cumprir resoluções e orientações definidas
pelos Conselhos Regionais, pois o primeiro possui ascendência
sobre o segundo” está incorreta, pois, o Sistema Conselhos de
Psicologia é formado exatamente pelo conjunto dos Conselhos
Regionais.
A alternativa “O Sistema Conselhos de Psicologia possui na sua
vertente política o compromisso ético de promover discussões
político-partidárias, a fim de buscar maior engajamento social

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de seus membros” está incorreta, pois a vertente política do
Sistema de Conselhos se ocupa da promoção de eventos e de
diálogos, a fim de incentivas maior engajamento social de seus
membros, não tendo qualquer relação com assuntos político-
partidários.

A alternativa “O Sistema Conselhos de Psicologia não deve


promover eventos nos quais temas polêmicos e controversos
possam gerar polarizações e discussões entre seus membros,
tais como racismo ou homofobia em alguns ambientes
profissionais” está incorreta, porque uma das atribuições do
sistema é: promover discussões a respeito de temas que sejam
relevantes à realidade social atual e que possam interferir na
saúde mental do indivíduo, como o racismo e a homofobia.

A alternativa “O Sistema Conselhos de Psicologia deve buscar


o aprimoramento da prática em Psicologia, buscando a saúde
mental e bem-estar do profissional e de seus clientes” está
correta, pois, ao ser criado, o Sistema de Conselhos teve
como uma de suas primeiras diretrizes o aprimoramento do
psicólogo e promover discussões a respeito da saúde mental e
bem-estar do profissional.

A alternativa “O Sistema Conselhos de Psicologia não tem


jurisdição nos julgamentos de falhas éticas de psicólogos, sendo
competência exclusiva do Conselho Federal de Psicologia (CFP)”
está incorreta, pois, o julgamento de falhas éticas cabe ao CRP
da região ou do estado onde tal falha ocorreu

Questão 2 - Resposta E
Resolução: A alternativa “A ética em Psicologia permanece sem
alteração desde o primeiro código de ética, já que não está

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sujeita às mudanças sociais e políticas”, está incorreta, pois,
o código de ética acompanha as mudanças sociopolíticas de
nossa sociedade.
A alternativa “O equilíbrio entre o indivíduo e o coletivo não é
tema pertinente à ética em Psicologia, uma vez que o psicólogo
trabalha essencialmente com seu cliente não com o coletivo”
está incorreta, porque cada vez mais o psicólogo vê sua atuação
sendo influenciada por outros campos do saber em saúde,
incluindo a saúde coletiva e a medicina social.

A alternativa “Os campos mais tradicionais da Psicologia


seguem diretrizes éticas próprias, pois possuem cláusulas
pétreas em sua redação” está incorreta, pois ocorre exatamente
o oposto: os campos mais transicionais têm sofrido forte
influência dos novos segmentos da Psicologia, adaptando suas
práticas a uma ética mais em sintonia com as mudanças sociais.
Além disso, não existem cláusulas pétreas no código de ética.

A alternativa “A Psicologia Comunitária não segue o código de


ética da categoria, pois possui questões mais pertinentes ao
código e ética da Sociologia”, está incorreta, pois a Psicologia
Comunitária está sujeita ao mesmo código de ética comum a
toda categoria e não tem qualquer ligação com os Conselhos de
sociologia.

A alternativa “Apesar da psicanálise não estar sujeita ao Sistema


Conselhos de Psicologia, os psicólogos que a adotam como
linha clínica devem respeitar o código de ética da categoria”
está correta, pois todo psicólogo tem a obrigação de respeitar
o código de ética vigente, sob pena que pode ir desde censura
pública até a cassação do registro.

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 2

Normas para a atuação em


psicologia clínica
______________________________________________________________
Autoria: Alberto Carneiro Barbosa de Souza
Leitura crítica: Juliana dos Santos Corbett
DIRETO AO PONTO

As normas do fazer em psicologia clínica têm se traduzido em


uma prática para além da relação entre profissional e pacientes.
A demanda dos pacientes e a expertise do psicólogo, por si só, já
trazem elementos sociais, culturais e políticos que influenciam,
perpassam e ultrapassam a Psicologia. Em razão disso, as diretrizes
e as normas elaboradas pelo Conselho Federal de Psicologia
(CFP) que regem a psicologia clínica têm buscado incentivar a
interdisciplinaridade entre diferentes saberes, não só durante
a formação do psicólogo, mas, também, ao longo de toda sua
carreira, incluindo a supervisão de estágios em nível de graduação e
especialização.

As normas que regem o estágio supervisionado em psicologia


clínica acompanham as transformações sociais, embora no tocante
à ética profissional permaneçam sem grandes alterações, como a
obrigatoriedade do aluno de assinar o Termo de Compromisso de
Estágio (TCE). A Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP)
fiscalizará o programa de estágio e a responsabilidade do supervisor
em coordenar sua equipe no sentido de manter uma conduta ética
em conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo CFP.

Dessa forma, as normas que delineiam a formação do psicólogo


devem igualmente estar em sintonia com o Código de Ética da
categoria, assim como com a sociedade. A partir disso, a formação
em psicologia clínica no Brasil tem procurado inserir o olhar do
psicólogo cientista ao longo da graduação, a fim de que o aluno
exercite suas capacidades de interpretação e reflexão diante da
realidade trazida pelo paciente, não somente à luz da linha clínica
escolhida, mas também no que se tem produzido a respeito daquele
quadro na atualidade e, até mesmo, se reflete na maioria dos cursos
de especialização em psicologia clínica.

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Se em seu início a formação do psicólogo clínico brasileiro privilegiava
o ensino da psicopatologia onde o foco se centralizava no tratamento
de quadros já estabelecidos, isso tem mudado aos poucos. Atualmente,
vê-se a migração da clínica para o caráter preventivo que esta pode
oferecer, sobretudo em função das transformações que temos
observado nessa cultura, após a pandemia da covid-19, a qual exigiu
que a psicologia clínica passasse a exercer um papel importante como
instrumento de promoção de saúde mental para prevenir quadros tais
como a depressão e fobia social, entre outros, em função do isolamento
social compulsório que o mundo enfrentou durante a pandemia.

A psicologia clínica tem adotado uma postura de cada vez mais


conscientização da capacidade de o próprio paciente agir como agente
preventivo de sua própria saúde mental com a ajuda do psicólogo, mas
sendo o paciente o principal responsável pela sua saúde: o indivíduo
contemporâneo não mais se coloca como alguém passivo diante do
saber médico e psicológico, mas, antes, como colaborador e principal
ator na construção de seu equilíbrio psicoemocional (WENZEL, 2018).

Figura 1 – A Psicologia clínica buscando cada vez mais exercer


papel preventivo

Fonte: elaborada pelo autor.

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Referências bibliográficas
WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções
estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artmed, 2018.

PARA SABER MAIS

A psico-oncologia foi proposta como área de atuação da psicologia


pela APA (American Psychological Association), para que esse saber
contribuísse com a produção cientifica e clínica com a oncologia,
área da medicina que estuda o câncer. No Brasil, a psico-oncologia
trabalha a interdisciplinarmente com outros saberes e tem como
principal foco o estudo e a clínica dos processos psicológicos
presentes desde o aparecimento do câncer, sua progressão,
recuperação e resolução. Com o avanço da ciência, a possibilidade
de cura tem se tornado realidade cada mais presente na evolução
da doença, embora ela possa aparecer de novo em alguns pacientes.
Por isso, é fundamental ajudar o paciente a elaborar suas emoções
em relação à cura, mas tendo em vista a real possibilidade de uma
remissão da doença. Eis o dilema ético da psico-oncologia: como
trabalhar emoções positivas e de esperança e, ao mesmo tempo,
não perder de vista a realidade de uma doença que pode voltar a
qualquer momento?

A relação do psicólogo com o paciente, muitas vezes, extrapola os


muros do ambulatório de oncologia, pois o tratamento pode ter
continuidade em ambiente domiciliar ou no consultório do psicólogo.
Apesar disso, o cuidado com a ética profissional por parte do psicólogo
segue o mesmo código de ética que toda a categoria deve observar.
As diferenças estão em relação a algumas normas que o psicólogo
deve observar no ambiente hospitalar envolvendo suas atividades no
tocante ao pronto-atendimento em uma equipe multidisciplinar, o
psicodiagnóstico e o atendimento ambulatorial e em UTI.

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Na psico-oncologia, o psicólogo deve atentar, entre outros pontos,
para o cuidado e o foco que o psicólogo deve ter no tocante ao
vínculo do paciente com seus familiares, para que ele se mantenha
por meio de canais de comunicação adequados. A comunicação
com a família é algo muito importante, pois isso ajudará a construir
um importante fator de acolhimento durante a estadia do paciente
no hospital que, por vezes, pode se prolongar por semanas ou até
meses, fazendo com que ele mantenha sua autoestima e se sinta
seguro. Para isso, além das normas a serem seguidas como em
qualquer atendimento, o psicólogo deve buscar desconstruir tabus
e concepções errôneas a respeito da doença, caso isso permeei a
relação da família com o paciente (ANGERAMIN-CAMON, 2010).

Além disso, o psicólogo é peça chave na humanização do


ambulatório de oncologia, ajudando na desvinculação da imagem
do paciente de oncologia atrelada à doença. Em outras palavras, é
comum que amigos e familiares possam confundir o paciente com a
própria enfermidade. Dessa forma, é papel do psicólogo fazer com
que uma subjetividade que já existia muito antes do aparecimento
do câncer seja resgatada e faça parte de todo o processo,
desde a internação até a alta. O psicólogo trabalha também na
desconstrução do medo do desconhecido, além de tratar a tristeza
durante o tratamento, assim como a depressão e a ansiedade. Ao
longo de todo o tratamento, o psicólogo deve sempre consultar o
paciente sobre quais informações deve dividir com seus familiares
e vice-e-versa. Nesse caso, o sigilo vai além do observado na clínica
tradicional, pois, entre outros fatores, o contato com familiares
pode ser constante. Mais do que em qualquer outra clínica, a
comunicação é um fator decisivo e a forma com que ela acontece
pode ser determinante para o estado psicoemocional do paciente
e de seus familiares, algo não presente na clínica tradicional. O
psicólogo deve estar ciente de que, muitas vezes, pacientes e
familiares poderão ter certa dificuldade em transmitir emoções e

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sentimentos. Por isso, o profissional deve respeitar os limites de
ambos, ajudando-os a elaborar seus pensamentos e transmitindo
aquilo que lhe for autorizado e, sobretudo, construtivo para o
paciente, inclusive após a alta hospitalar, se houver continuidade do
tratamento psicológico (ANGERAMIN-CAMON, 2010).

Referências bibliográficas
ANGERAMIN-CAMON, V. (org.). O doente, a psicologia e o hospital. 3. Ed. São
Paulo: Cengage Learning, 2010.

TEORIA EM PRÁTICA

Uma paciente oncológica de 62 anos que faz tratamento com


psicólogo especializado em psico-oncologia se queixa, há uma
semana, de dores fortes associadas ao seu quadro clínico, mas
esconde da família, pois não quer preocupar os filhos. Somado a
isso, há o uso abusivo de opioides (remédios controlados para dor
que podem causar grave dependência) sem melhora do sintoma
da dor, o que faz com que a paciente acabe usando cada vez doses
mais fortes.

Além disso, a paciente contava com a “ajuda” de um “amigo” que


fornecia o medicamento com doses acima das prescritas pelo
médico, fato já relatado ao psicólogo, algo que pode levar desde a
dependência até o óbito por overdose.

Diante desse quadro, qual a postura correta a ser tomada pelo


psicólogo tendo em vista os procedimentos éticos na psico-oncologia?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

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LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

A partir de estudos de casos e apresentação da teoria pertinente,


o autor apresenta a psicologia hospitalar, com seus principais
pressupostos, questões éticas, limites e atuação do psicólogo e
discussões a cerca deste fazer em Psicologia. Trata-se de uma
excelente leitura para o psicólogo interessado em conhecer mais a
respeito deste campo fascinante da Psicologia.

RONICK, P. V. Psicologia hospitalar. Londrina: Editora e


Distribuidora Educacional S.A., 2017. [Minha Biblioteca]

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Indicação 2

O livro proposto introduz a Psicologia ligada a outros saberes da


saúde, tais como a enfermagem e a medicina. A autora faz um
competente compendio dos principais referenciais teóricos da
Psicologia aplicada à saúde, sempre contextualizando a teoria na
realidade brasileira. O livro enfatiza a relação do psicólogo com o
paciente e seus familiares e como se dá a conduta ética e as normas
a serem seguidas de acordo com o código de ética da profissão.

ROSAL, A. S. R. de. Psicologia aplicada à saúde. Londrina: Editora e


Distribuidora Educacional S.A., 2016.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Ao longo da formação do psicólogo clínico, o estágio


supervisionado constitui uma importante etapa na construção
de sua carreira. Em relação ao estágio supervisionado, pode-se
afirmar que:

a. A carga horaria a ser cumprida não depende do programa de


estágio, seja em nível de graduação ou especialização.
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b. As entrevistas de acolhimento de novos pacientes não podem
ser conduzidas pelo estagiário, mas somente pelo supervisor.
c. As normas e as diretrizes do estágio supervisionado em
psicologia clínica no Brasil sofrem transformações de acordo
com as mudanças em nossa sociedade, inclusive as normas
éticas relativas ao atendimento do estagiário.
d. Caso o supervisor identifique determinado caso clínico que
exija maior experiência, ele dará continuidade ao tratamento
no lugar do estagiário.
e. A supervisão de estágios em psicologia clínica tem seu
principal objetivo pautado em sua função pedagógica.

2. O psicólogo clínico tem sido cada vez mais valorizado em


relação ao processo de humanização hospitalar, sobretudo
no campo da oncologia, pois, esse profissional terá a função
chave de contribuir para a diminuição da estigmatizarão do
câncer, sobretudo entre os familiares do paciente. Em relação
à psico-oncologia, é correto afirmar que:

a. O psicólogo deve focar sua atenção no paciente e não


deve interferir na comunicação dele com a família, mesmo
que seja requisitado a fazê-lo, pois isso feriria suas
responsabilidades éticas.
b. O sigilo profissional na psico-oncologia difere do observado na
clínica tradicional, já que nessa especialidade a relação paciente-
família pode ser constante e fundamental para sua recuperação,
portanto é importante facilitar a comunicação entre eles.
c. A psico-oncologia é especialidade da psicologia clínica que se
ocupa de pacientes acometidos por câncer e restringe seu
tratamento ao âmbito hospitalar.
d. A psico-oncologia tem seu próprio código de ética, pois possui
questões mais pertinentes ao código de ética da medicina.

24
e. O psicólogo se ocupa no tratamento da tristeza ao longo do
tratamento contra o câncer, mas encaminha o paciente para a
psiquiatria no caso de depressão e/ou ansiedade.

GABARITO

Questão 1 - Resposta E
Resolução: A alternativa “A carga horaria a ser cumprida não
depende do programa de estágio, seja em nível de graduação
ou especialização” está incorreta, pois ocorre exatamente o
oposto: a carga horaria dependerá do programa de estágio,
pois, ele pode possuir diferentes exigências curriculares. Por
sua vez, a carga horaria mínima permanece a mesma para os
cursos de graduação.
A alternativa “As entrevistas de acolhimento de novos pacientes
não podem ser conduzidas pelo estagiário, mas somente pelo
supervisor” está incorreta, pois, uma vez que o supervisor
verifique que a qualificação do estagiário é adequada para a
função, ele poderá fazê-la.

A alternativa “As normas e as diretrizes do estágio supervisionado


em psicologia clínica no Brasil sofrem transformações de acordo
com as mudanças em nossa sociedade, inclusive as normas éticas
relativas ao atendimento do estagiário” está incorreta, pois, as
normas éticas básicas em relação ao estágio supervisionado não
se alteram ao longo do tempo.

A alternativa “Caso o supervisor identifique determinado caso


clínico que exija maior experiência, ele dará continuidade ao
tratamento no lugar do estagiário” está incorreta, porque o
supervisor não substitui o estagiário em seu atendimento, mas

25
sugere o encaminhamento para ouro serviço de atendimento
mais especializado.

A alternativa “A supervisão de estágios em psicologia clínica


tem seu principal objetivo pautado em sua função pedagógica”
está correta, pois esse é seu papel primordial na formação do
psicólogo clínico.

Questão 2 - Resposta B
Resolução: A alternativa “O psicólogo deve focar sua atenção
no paciente e não deve interferir na comunicação dele com a
família, mesmo que seja requisitado a fazê-lo, pois isso feriria
suas responsabilidades éticas”, está incorreta, pois a comunicação
paciente-família é fundamental em pacientes oncológicos e o
psicólogo pode intermediar esse diálogo caso seja requisitado.
A alternativa “A psico-oncologia é especialidade da psicologia
clínica que se ocupa de pacientes acometidos por câncer e
restringe seu tratamento ao âmbito hospitalar” está incorreta,
pois, o tratamento pode se dar no ambulatório hospitalar, no
consultório e/ou em domicílio.

A alternativa “A psico-oncologia tem seu próprio código de


ética, pois possui questões mais pertinentes ao código de ética
da medicina” está incorreta, pois todas as áreas de atuação
da psicologia estão submetidos ao mesmo código de ética da
categoria e não compartilham códigos de outras profissões.

A alternativa “O psicólogo se ocupa no tratamento da tristeza ao


longo do tratamento contra o câncer, mas encaminha o paciente
para a psiquiatria no caso de depressão e/ou ansiedade” está
incorreta, pois, a psicologia possui instrumentos suficientes para
tratar quadros depressivos e/ou de ansiedade, podendo, em
alguns casos, trabalhar com parceria com a psiquiatria.

26
INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 3

Registros profissionais e a guarda de


documentos
______________________________________________________________
Autoria: Alberto Carneiro Barbosa de Souza
Leitura crítica: Juliana dos Santos Corbett
DIRETO AO PONTO

A responsabilidade do psicólogo vai muito além dos cuidados


relativos à saúde mental e bem-estar. Ele também tem
responsabilidade ética e legal na produção e guarda de documentos
relativos a todo trabalho por ele executado em qualquer área da
Psicologia. A esses documentos dá-se o nome de documentos
psicológicos, que, normalmente, contém material sigiloso e pode ser
a única fonte de consultas presentes e futuras, por parte do próprio
psicólogo e seu cliente, assim como a instituição na qual o serviço foi
prestado ou outros interessados mediante ordem judicial.

Mas não é apenas para consultar laudos ou resultados de testes que


servem os documentos psicológicos. Os pesquisadores os utilizam
para compreender como se deu a evolução da Psicologia desde
seu início, assim como investigar determinados procedimentos
psicológicos ao longo da história. Não fossem tais documentos, seria
mais difícil conhecer nossa própria profissão e, portanto, teríamos
maior dificuldade em aprimorar técnicas e procedimentos. Um
exemplo disso é a mudança de paradigma na Psicologia ao longo do
tempo em relação ao estigma social. Apesar de sempre ter adotado
uma postura de vanguarda, a Psicologia brasileira evoluiu bastante
na pesquisa e no tratamento do estigma social e isso se deve
em grande parte aos estudos sobre posturas que, muitas vezes,
necessitavam de aprimoramento, sobretudo no tocante às relações
de poder na sociedade.

Dada a sua importância, os documentos psicológicos devem


ser cuidadosamente guardados. A guarda desse material é
responsabilidade do psicólogo responsável pelos procedimentos
e resultados descritos nos documentos que podem ser físicos
ou digitalizados. No caso da digitalização, deve-se atentar para a
clara legibilidade, assim como a segurança cibernética. Portanto,

28
aconselha-se que documentos psicológicos digitalizados sob a
guarda do psicólogo devem ser criptografados e protegidos contra
alterações por terceiros. Da mesma forma, muitos psicólogos
preferem obter uma certificação digital para garantir a autenticidade
do documento. A guarda de documentos psicológicos, tanto
digitalizados quanto físicos, deve ser mantida por no mínimo cinco
anos e, no caso de documentos gerados a partir de uma equipe
multiprofissional, deve-se observar o tempo mínimo de guarda
de cada categoria envolvida no tratamento ou atendimento ao
paciente/cliente/usuário do serviço de saúde.

Segundo Resolução 06/2019, que versa sobre o tema, temos cinco:


art. 8º Constituem modalidades de documentos psicológicos: I –
Declaração; II – Atestado Psicológico; III – Relatório: a) Psicológico;
b) Multiprofissional; IV – Laudo Psicológico; V – Parecer Psicológico.
Assim, todos os resultados e laudos dos profissionais devem ser
descritos nesse documento de forma resumida e objetiva em
linguagem na qual todos os profissionais envolvidos compreendam,
ou seja, evita-se jargões específicos da categoria. Dessa forma,
apenas esse profissional e seu paciente/cliente podem ter acesso.
Além dos documentos escritos temos o registro documental, de
uso exclusivo do psicólogo, nesse registro, deve-se constar todos
os resultados advindos de práticas de avaliação, como de testes
psicológicos, descrever os procedimentos executados e sessões
clínicas.

Outro ponto importante a ser destacado é o registro profissional.


Apesar de a Psicologia só ser regulamentada como profissão no
Brasil a partir de 1962, bem antes disso, a profissão já se fazia
presente na realidade nacional, pois desde 1946 a lei brasileira já
previa a formação do psicólogo, embora para tal ele tivesse que
cursar três anos de Biologia, Antropologia ou Filosofia para então
cursar uma especialização em Psicologia. Porém, na década de 1970,
a psicologia começou a cresceu vertiginosamente com a proliferação
29
de cursos de graduação universitários. Diante desse cenário
surge a necessidade de um maior controle em relação ao registro
profissional, surgindo um novo código de ética que, em pesquisa
recente, se constata que é preocupação do Sistema Conselhos de
manter o código de ética da profissão sempre em sintonia com as
mudanças sociais e culturais no Brasil (ZAIA; OLIVEIRA; NAKANO,
2018).

A formação em Psicologia sem o devido registro no conselho


regional da categoria não autoriza o formado a exercer a função
de psicólogo, a não ser que seja o cargo de gerente de Recursos
Humanos ou função acadêmica. Da mesma forma, ao se mudar
de região ou estado, o psicólogo precisa transferir seu registro em
um processo denominado Inscrição Secundária, mas, para tanto,
deve estar em dia com seu registro principal. Exercer Psicologia
sem a transferência de registro se caracteriza exercício irregular da
profissão, ao passo que a exercer sem possuir registro no Sistema
de Conselhos se configura exercício ilegal da profissão, sendo
uma falha ética grave, situação prevista inclusive no Código Penal
Brasileiro. Além disso, é reponsabilidade do psicólogo assegurar que
seu contratante seja pessoa jurídica que tenha seu registro regular
no Sistema Conselhos.

Da mesma forma, a contratante deve exigir do psicólogo seu


registro no seu CRP, seja o registro principal ou a inscrição
secundária (é a que possibilita à(ao) psicóloga(o) o exercício da
profissão simultaneamente em outra região, além daquela onde
detém a inscrição principal). Ao nos certificarmos que os registros
profissionais, tanto a contratante quanto o contratado, estamos
valorizando a profissão e protegendo o mercado de trabalho de
Psicologia contra pessoas que exercem a profissão irregularmente,
ou pior, de forma ilegal. Tal certeza é, antes de obrigação ética e
legal, um direito de todo psicólogo.

30
Figura 1 – A guarda e a manutenção do sigilo de documentos
psicológicos é obrigação ética e legal do psicólogo

Fonte: elaborada pelo autor.

Referências bibliográficas
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.
Brasília, DF: Presidência da República, 1940.
CFP. Conselho Federal de Psicologia. Resolução CFP nº 6/2019. Comenta
orientações sobre elaboração de documentos escritos produzidos pela(o)
psicóloga(o) no exercício profissional. Brasília, DF: CFP, 2019.
ZAIA, P.; OLIVEIRA, K. S.; NAKANO, T. C. Análise dos processos éticos publicados
no jornal do Conselho Federal de Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão,
Brasília, v. 1, n. 38, p. 8-21, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/
LYw9hxkCpDKTWXbhGb3gjRH/abstract/?lang=pt. Acesso em: 7 fev. 2022.

PARA SABER MAIS

O processo de investigar e analisar faltas éticas por parte de


psicólogos regularmente registrados em seu CRP se dá a partir
de denúncias de tais faltas, que podem ser feitas tanto pela parte

31
supostamente prejudicada ou por qualquer cidadão. A partir da
condenação, é direito do psicólogo recorrer ao CFP cuja decisão será
incontestável. Nesse contexto, as denúncias ocorrem por diversas
razões, desde desacordos com os resultados de testes psicológicos
até o exercício ilegal da profissão.

É interessante observar que as denúncias variam bastante de acordo


com a região ou estado do CRP. Há vários anos, a maior parte das
denúncias estão concentradas no CRP 06, de São Paulo, o que é
esperado em função do número de profissionais registrados em
relação a outras regiões. Em uma pesquisa publicada em 2018 (ZAIA;
OLIVEIRA; NAKANO, 2018), os pesquisadores constataram que o
CRP 08, do Paraná, ocupava o segundo lugar, com 46 denúncias
concretizadas, apenas atrás de São Paulo, com 107.

Na mesma pesquisa, supreendentemente, o CRP 01, de Brasília,


com apenas 7 denúncias concretizadas, e Mato Grosso, Amazonas,
Acre, Roraima e Rondônia, Piauí, Maranhão e Sergipe sem nenhuma
denúncia.

Vale ainda acrescentar que atualmente existem mais de 320


mil psicólogos e, por isso, a ABEP tem feito grande esforço para
garantir a boa qualidade dos cursos de graduação em Psicologia,
assim como promover debates a respeito de questões éticas
contemporâneas na psicologia (ZAIA; OLIVEIRA; NAKANO, 2018).

Por fim, cabe a todos os psicólogos buscar sempre estar atualizados


em relação às resoluções éticas estabelecidas pelo Conselho Federal
de Psicologia, assim como se aperfeiçoar constantemente por meio
de formação complementar. Encontros da categoria e congressos
nacionais e, até mesmo, internacionais. É dever de todos nós zelar
pela boa prática da Psicologia e da imagem de nossa categoria
perante a sociedade.

32
Referências bibliográficas
ZAIA, P.; OLIVEIRA, K. S.; NAKANO, T. C. Análise dos processos éticos publicados
no jornal do Conselho Federal de Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão,
Brasília, v. 1, n. 38, p. 8-21, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/
LYw9hxkCpDKTWXbhGb3gjRH/abstract/?lang=pt. Acesso em: 7 fev. 2022.

TEORIA EM PRÁTICA

Um psicólogo trabalhando em uma autarquia pública como clínico


foi requisitado a digitalizar os seus documentos psicológicos e,
além disso, aconselhado a criar uma certificação digital para os
documentos.

O psicólogo agiu conforme requisitado, mas manteve apenas em


sua forma física alguns prontuários de funcionários que foram seus
clientes no passado e não mais trabalhavam naquela autarquia, pois
pediram transferência. A razão pela qual o psicólogo decidiu manter
esses prontuários apenas em sua forma física se deve ao fato de
nele conterem informações sensíveis quanto aos atendimentos,
como ideação suicida, automutilação e alienação parental.

Ao ser questionado por seu supervisor se ele havia digitalizado


todos os documentos, o psicólogo explicou que excluiu alguns
prontuários.

O procedimento do psicólogo foi correto? Havia risco real na


digitalização de prontuários com informações extremamente
sensíveis como essas?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

33
LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O livro indicado proporciona uma visão ampla a respeito


do desenvolvimento e apreçamento da Psicologia ao longo
da história. Livros como esses só são possíveis graças aos
documentos psicológicos guardados e preservados por psicólogos
e pesquisadores. Vale a pena conferir o resultado da guarda de
documentos ao longo da história. Além disso, esta obra traz relatos
interessantes a respeito do registro profissional de psicólogos no
Brasil.

TORRES, A. R. R. História da psicologia. Londrina: Editora e


Distribuidora Educacional S.A., 2016. [Minha Biblioteca]

34
Indicação 2

A obra indicada descreve as responsabilidades do psicólogo em


relação às políticas públicas no Brasil. A indicação para leitura se
justifica em razão da ampla discussão que as autoras propõem a
respeito da responsabilidade profissional do psicólogo diante da
população e de sua própria categoria.

SILVA, E. da; PICIRILLI, C. C. Psicologia e políticas públicas.


Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016. [Minha
Biblioteca]

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. A Psicologia no Brasil, desde sua regulamentação como


profissão em 1962, tem evoluído constantemente
acompanhando as mudanças socioculturais. Um exemplo
disso está na regulamentação e proliferação do atendimento
psicológico remoto ou on-line. A respeito dessa modalidade de
atendimento, pode-se afirmar que:

35
a. O registro de voz e/ou vídeo do atendimento psicológico
on-line, apesar de ser material da própria sessão, não se
configura como prontuário e, portanto, não pode ser utilizado
como tal.
b. Criptografar documentos psicológicos digitalizados é
considerado falha ética, pois impede que o paciente/usuário/
cliente tenha acesso ao mesmo ou, se o tiver, não terá como
visualizá-lo.
c. Em conformidade com a resolução do CFP nº 01/2009, é
obrigação ética do psicólogo ter a autorização expressa de
seu paciente para gravar as sessões, pois é necessário seu
consentimento.
d. A assinatura digital não é registro válido para documentos
relativos ao atendimento feito on-line.
e. No atendimento remoto ou on-line, apesar de o psicólogo ter
o dever ético de elaborar um prontuário psicológico, não há a
necessidade deste possuir inscrição no Sistema Conselhos.

2. A guarda de documentos psicológicos tem importância


crucial não só para o histórico dos atendimentos ou dos
serviços prestados pelo psicólogo, mas também por
ser fonte fidedigna para consultas por pesquisadores
e acadêmicos. Em relação à guarda de documentos
psicológicos, é correto afirmar que:

a. A avaliação psicológica tem como função o diagnóstico do


cliente e, portanto, a guarda de seus resultados é dever ético
do psicólogo, apesar de não ser necessário incluir como se
deu a aplicação do teste.
b. A guarda de documentos psicológicos digitalizados deve ser
de no mínimo cinco anos e documentos não-digitalizados de
vinte anos.

36
c. O prontuário único eletrônico é documento de uso exclusivo
do psicólogo e deve estar sob sua guarda por cinco anos e
estar à disposição do paciente/usuário/cliente.
d. A guarda de documentos psicólogos é de responsabilidade
do psicólogo e, portanto, a instituição para qual o profissional
trabalha não compartilha tal obrigação com o psicólogo.
e. A certificação digital para documentos psicológicos não está
prevista como obrigatoriedade legal ou ética, mas tem sido
fortemente recomendada aos psicólogos.

GABARITO

Questão 1 - Resposta A
Resolução: A alternativa “O registro de voz e/ou vídeo do
atendimento psicológico on-line, apesar de ser material da
própria sessão, não se configura como prontuário e, portanto,
não pode ser utilizado como tal” está correta, pois qualquer
atendimento, inclusive on-line necessita ter seu prontuário
próprio. O simples registro da sessão não caracteriza como
prontuário psicológico.
A alternativa “Criptografar documentos psicológicos
digitalizados é considerado falha ética, pois impede que
o paciente/usuário/cliente tenha acesso ao mesmo ou,
se o tiver, não terá como visualizá-lo” está incorreta, pois
ocorre exatamente o oposto: a criptografia de documentos
psicológicos digitalizados é aconselhada, pois protege o sigilo
do documento. Além disso, o paciente tem a chave pública do
documento, ou seja, pode visualizá-lo sem fazer modificações.

A alternativa “Em conformidade com a resolução do CFP nº


01/2009, é obrigação ética do psicólogo ter a autorização

37
expressa de seu paciente para gravar as sessões, pois é
necessário seu consentimento” está incorreta, pois apesar de
a afirmação ser verdadeira, a Resolução nº 01/2009 se trata da
obrigatoriedade do psicólogo em manter prontuário e registro
documental dos atendimentos on-line.

A alternativa “A assinatura digital não é registro válido para


documentos relativos ao atendimento feito on-line” está
incorreta, pois a assinatura digital é registro valido em
documentos psicológicos digitais.

A alternativa “No atendimento remoto ou on-line, apesar


de o psicólogo ter o dever ético de elaborar um prontuário
psicológico, não há a necessidade deste possuir inscrição no
Sistema Conselhos” está incorreta, pois qualquer atendimento
clínico (presencial ou remoto) só pode ser feito por um
psicólogo com seu registro profissional em dia junto ao Sistema
Conselhos.

Questão 2 - Resposta E
Resolução: A alternativa “A avaliação psicológica tem como
função o diagnóstico do cliente e, portanto, a guarda de seus
prontuários é dever ético do psicólogo, apesar de não ser
necessário incluir como se deu a aplicação do teste” está
incorreta, pois os prontuários de avaliações psicológicas devem
incluir também como se deu a aplicação dos testes
A alternativa “A guarda de documentos psicológicos
digitalizados deve ser de no mínimo cinco anos e documentos
não-digitalizados de vinte anos” está incorreta, pois qualquer
documento psicológico deve ser guardado no mínimo por cinco
anos.

38
A alternativa “O prontuário único eletrônico é documento de
uso exclusivo do psicólogo e deve estar sob sua guarda por
cinco anos e estar à disposição do paciente/usuário/cliente”
está incorreta, pois o prontuário único eletrônico é utilizado por
equipes multiprofissionais.

A alternativa “A guarda de documentos psicólogos é de


responsabilidade do psicólogo e, portanto, a instituição para
qual o profissional trabalha não compartilha tal obrigação
com o psicólogo” está incorreta, pois a instituição divide com o
psicólogo a responsabilidade pela guarda de documentos.

A alternativa “A certificação digital para documentos


psicológicos não está prevista como obrigatoriedade legal ou
ética, mas tem sido fortemente recomendada aos psicólogos”
está correta, pois, não há resolução do CFP relativa a essa
obrigatoriedade, apesar de muitas instituições aconselharem
o psicólogo a possuir uma certificação digital para seus
documentos digitalizados a fim de garantir sua segurança, sigilo
e autenticidade.

39
INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 4

Reflexões acerca da atuação


profissional – Sigilo
______________________________________________________________
Autoria: Alberto Carneiro Barbosa de Souza
Leitura crítica: Juliana dos Santos Corbett
DIRETO AO PONTO

O sigilo na prática da Psicologia, qualquer que seja a área de


atuação, deve ter absoluta prioridade. O laço de confiança entre o
profissional e seu cliente/usuário/paciente é o pilar de sustentação
dessa relação e a quebra deste contrato, que pode ser verbal ou
escrito, comprometerá o resultado esperado. Naturalmente, há
situações nas quais esse sigilo será quebrado mais, mesmo assim,
com a anuência do cliente.

As principais causas para essa quebra são requisições judiciais,


ameaças que possam se concretizar contra terceiros ou contra si
próprio ou, ainda, quando o paciente não pode responder por si,
como no caso de crianças e adolescentes, e o psicólogo entende
que determinada situação deve ser levada ao conhecimento dos
responsáveis.

As novas áreas de atuação da Psicologia também têm mantido o


compromisso com o sigilo. Entre os novos campos de atuação temos
a psicologia ambiental que, apesar de ainda pouco desenvolvida
no Brasil (apesar de termos profissionais nessa área), cresce
rapidamente na Europa e América do Norte. Essa especialidade
estuda como as mudanças ambientais afetam o bem-estar e a
saúde mental do indivíduo, desde a poluição das grandes cidades
até as secas e o aquecimento global. Por trabalhar em uma
equipe multiprofissional, o sigilo profissional da Psicologia deve
ser mantido e dado sensíveis de determinado cliente só podem
ser compartilhados com sua anuência. Além disso, em razão do
psicólogo compartilhar documentos com profissionais de áreas
muito diferentes da Psicologia, o sigilo deve ser redobrado.

41
Da mesma forma, a psicologia do trânsito, outra área relativamente
recente, deve observar o sigilo profissional quando, por exemplo,
o cliente que se submete ao teste psicotécnico para tirar sua
habilitação se revela sofrer de determinada psicopatologia. Esse
diagnóstico não poderá sob nenhuma hipótese ser compartilhado
com terceiros sem a concordância expressa do cliente.

Os psicólogos atuando em diversas especialidades atuam no


Sistema Único de Saúde (SUS) atualmente. O sigilo exigido
do psicólogo locado em uma unidade do SUS traz consigo o
engajamento político de uma categoria que sempre lutou pelas
liberdades individuais e pela valorização da vida. O psicólogo
do SUS, de maneira geral, possui a consciência de que o direito
fundamental ao sigilo clínico do usuário do sistema, talvez, seja
umas das principais características do fazer da Psicologia voltada às
populações em situações de vulnerabilidade.

Por fim, é importante compreender as especificidades da clínica do


adolescente e a importância do sigilo clínico e o elo de confiança
para essa população. O adolescente necessita se sentir aceito e
aprovado pelo outro, pois, isso o ajuda a elaborar as diversas crises
de identidade por que ele passa. Essa necessidade se faz muito
maior na relação com seu psicólogo, pois ele será a confirmação de
que o paciente é aceito na sociedade em que vive e que suas crises
de identidade são absolutamente normais.

Portanto, a questão do sigilo clínico passa a ser a base do


tratamento e da relação psicólogo-paciente. Contudo, isso não
significa que adolescentes possuem uma subjetividade homogenia.
Ao contrário, suas particularidades são inúmeras e cada grupo deve
ser tratado de forma diferente e, cada adolescente, de maneira
única (OUTEIRAL, 2008).
42
Figura 1 – A clínica psicológica com adolescentes possui
características muito específicas

Fonte: elaborada pelo autor.

Referências bibliográficas
OUTEIRAL, J. Adolescer. 3. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2008.

PARA SABER MAIS

A clínica psicológica do adolescente, em conflito com a lei, passou


por uma das maiores transformações de que se tem notícia após a
entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no
Brasil (SOUZA; VENÂNCIO, 2011). Crianças e adolescentes passaram
a gozar de total prioridade jurídica e psicossocial, assim, a clínica
psicológica entende que esse paciente/usuário do sistema público
de saúde mental está em pleno processo de desenvolvimento
psicoemocional, físico e intelectual. Portanto, a inimputabilidade
jurídica do adolescente outorga ao psicólogo o direito de manter
sigilo sobre toda informação que ele achar sensível ou que possa
prejudicar o desenvolvimento do usuário.

43
Os adolescentes em conflito com a lei são indivíduos que cometeram
contravenção penal ou ato infracional e deram entrada no sistema
DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) no Rio de
Janeiro, Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo
ao Adolescente) em São Paulo e demais instituições similares nos
demais estados da união. Nessas autarquias, o psicólogo tem o
poder de determinar juntamente com uma equipe multiprofissional
a capacidade de o adolescente se reinserir na sociedade e/ou o nível
de comprometimento psicoemocional do paciente, por meio de
laudo que é enviado ao juiz responsável pelo caso de seu paciente.

Portanto, o psicólogo possui normalmente um grande leque de


informações extremamente sensíveis sobre o adolescente que
devem ser compartilhados com muito cuidado com a equipe,
a fim de garantir o direito do adolescente a sua integridade
psicoemocional. O psicólogo é, por essa razão, bastante respeitado
e valorizado, assim como o psiquiatra, embora esse último passe
em geral menos tempo em contato com o adolescente e, portanto,
detém menos informações confidenciais a respeito do paciente do
que o psicólogo.

Referências bibliográficas
SOUZA, V. L. T. de; VENÂNCIO, M. M. R. Os sentidos atribuídos à medida
socioeducativa de liberdade assistida por jovens em conflito com a lei
e seus socioeducadores. Psicol. educ., São Paulo, n. 32, p. 163-185,
2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414-69752011000100010. Acesso em: 8 fev. 2022.

TEORIA EM PRÁTICA

O adolescente J. Q. V., 16 anos, morador de uma comunidade


de baixa renda na zona norte da Grande São Paulo frequenta o

44
segundo ano do ensino médio e trabalha como vendedor na barraca
de peixe de seu tio na feira todas as terças e quintas.

J. Q. V. tem planos de entrar na faculdade e cursar engenharia, já


que gosta de matemática e física. O adolescente está namorando
M. Z. U., de 17 anos, dependente química, que não estuda e não
trabalha. M. Z. U. foi apreendida com grande de entorpecentes
juntamente com J. Q. V. que, durante a abordagem, afirmou ser o
único responsável pelo material encontrado pela polícia.

Contudo, ao conversar com a psicóloga da Fundação CASA, para


onde foram conduzidos, J. Q. V. admite que sequer sabia que a
namorada estava com substâncias ilegais, mas que não se importa
em ser apreendido no lugar dela. Ao final da conversa, o adolescente
faz um pedido: que a psicóloga mantenha sigilo sobre o que foi dito
e não reporte ao juiz de plantão. Tendo em vista o Código de Ética
da Psicologia e a legislação vigente, qual deve ser sua conduta nesse
caso?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.
45
Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de
autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

A psicologia jurídica possui particularidades em relação ao sigilo


profissional que, apesar de seguir Código de Ética da Profissão,
dialoga com a ética do campo jurídico. Assim sendo, essa é uma
obra excelente para a iniciação à psicologia jurídica.

GOULART, E. Psicologia jurídica. Londrina: Editora e Distribuidora


Educacional S.A., 2018. [Minha Biblioteca]

Indicação 2

A psicologia ambiental é uma das especialidades que mais cresce em


todo o mundo. Em um momento histórico no qual a preocupação
com nosso ecossistema e os riscos de mudanças climáticas podem
causar em todos nós, os danos psicológicos têm sido igualmente
graves e, por isso, este livro dará ao leitor um bom panorama de
como trabalhar a saúde mental em colaboração com outros campos
do saber ligados aos estudos ambientais.

THOMAZ, M. C. A. Planejamento e saúde ambiental. Londrina:


Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. [Minha Biblioteca]

46
QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Os adolescentes em conflito com a lei podem ser empurrados


para o delito em função de fatores como a precarização das
relações de trabalho, alta evasão escolar e/ou renda familiar
inferior para a garantia de necessidades fundamentais de
alimentação e/ou habitação. Além disso, soma-se a ausência
de políticas sociais eficientes. Vindo de famílias vulneráveis
e, muitas vezes, habitando localidades nas quais a violência
social e o uso e/ou venda de entorpecentes fazem parte de
seu cotidiano, esses cidadãos brasileiros enfrentam uma dura
realidade. A respeito dos adolescentes em conflito com a lei e
a questão de sigilo profissional do psicólogo, pode-se afirmar
que:

a. O psicólogo tem acesso às informações sensíveis sobre o


adolescente que devem ser compartilhadas com sua equipe
em sua integralidade.
b. São pessoas que cometeram contravenção penal ou ato
infracional e deram entrada no sistema prisional brasileiro.

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c. A imputabilidade jurídica do adolescente não autoriza
o psicólogo a decidir quais informações devem ser
compartilhadas com outros membros da equipe.
d. Por meio de ordem judicial, o psicólogo tem obrigação ética e
legal de compartilhar informações sobre o adolescente que de
outra forma permaneceriam confidenciais.
e. O adolescente em conflito com a lei deve ter prioridade
absoluta e não pode ser apreendido sem a anuência do
psicólogo.

2. O Sistema Único de saúde (SUS) brasileiro tem como sua


filosofia básica o atendimento universal e o oferecimento
de atendimento multidisciplinar, fazendo com que seja
reconhecidamente um dos melhores sistemas de saúde
pública do mundo. Em relação ao SUS e o sigilo do psicólogo, é
correto afirmar que:

a. O sigilo profissional do psicólogo do SUS não difere daquele


de qualquer outra especialidade, tal como a organizacional e
recursos humanos, por exemplo.
b. O psicólogo clínico do SUS não precisa manter um prontuário
em separado, pois trabalha em equipe multiprofissional.
c. As chamadas Redes Intersetoriais são estruturas do SUS que
objetivam horizontalizar as relações de poder, incluindo o
sigilo profissional, pois informação é, antes de tudo, garantia
sociopolítica de poder.
d. A principal característica da psicologia clínica aplicada ao SUS
é, sem dúvida, a inovação em relação ao sigilo do psicólogo e
seu atendimento ao usuário do sistema.
e. O psicólogo do SUS deve determinar quais informações
podem e/ou devem ser reveladas a outro colega em eventuais
reuniões com outras equipes de atendimento.

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GABARITO

Questão 1 - Resposta D
Resolução: A alternativa “O psicólogo tem acesso às
informações sensíveis sobre o adolescente que devem ser
compartilhadas com sua equipe em sua integralidade” está
incorreta, pois a confiabilidade e o sigilo devem ser observados
entre o usuário e o psicólogo, sendo esse último autorizado a
divulgar apenas o que determinar ser pertinente para tal.
A alternativa “São pessoas que cometeram contravenção
penal ou ato infracional e deram entrada no sistema prisional
brasileiro” está incorreta, pois o menor infrator, de acordo com
o ECA, não pode ser preso. Ao contrário, ele é apreendido e
levado às instituições para cumprir medidas socioeducativas.

A alternativa “A imputabilidade jurídica do adolescente não


autoriza o psicólogo a decidir quais informações devem ser
compartilhadas com outros membros da equipe” está incorreta,
pois esse profissional tem direito legal em decidir quais
informações de seu cliente podem ser ou não compartilhadas.

A alternativa “O adolescente em conflito com a lei deve ter


prioridade absoluta e não pode ser apreendido sem a anuência
do psicólogo” está incorreta, pois o psicólogo não possui
poderes legais para impedir a apreensão de um menor.

Questão 2 - Resposta E
Resolução: A alternativa “O sigilo profissional do psicólogo do
SUS não difere daquele de qualquer outra especialidade, tal
como a organizacional e recursos humanos, por exemplo” está
incorreta, pois uma de suas maiores características é, além dos
cuidados da saúde física e mental da população, a restituição

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de direitos de populações particularmente vulneráveis, tais
como pacientes oriundos de longas internações psiquiátricas,
que são hoje em dia proibidas por lei.
A alternativa “O psicólogo clínico do SUS não precisa
manter um prontuário em separado, pois trabalha em
equipe multiprofissional” está incorreta, pois os prontuários
psicológicos possuem informações confidenciais que não poder
ser compartilhadas com terceiros.

A alternativa “As chamadas Redes Intersetoriais são estruturas


do SUS que objetivam horizontalizar as relações de poder,
incluindo o sigilo profissional, pois informação é, antes de tudo,
garantia sociopolítica de poder” está incorreta, pois o que essas
redes propõem são uma ação conjunta de serviços oferecidos à
população no sentido de proporcionar prevenção e tratamento
holísticos ao usuário.

A alternativa “A principal característica da psicologia clínica


aplicada ao SUS é, sem dúvida, a inovação em relação ao sigilo
do psicólogo e seu atendimento ao usuário do sistema” está
incorreta, pois, apesar de o SUS realmente ter proposto grande
inovações nos serviços de psicologia, o sigilo profissional segue
em conformidade com o código de ética da profissão.

50
BONS ESTUDOS!

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