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Marina Scardovelli de Souza
Tiragem Diretor-Geral
400 exemplares Gilberto Barros Santos
Atuação do
Ministério Público Militar
na Segunda Guerra Mundial
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1944 - Chegada da FEB na Itália
- Correio da Manhã
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Introdução
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O Tribunal de Segurança Nacional,
criado verdadeiramente como órgão de ex-
ceção, era presidido por um ministro do
Supremo Tribunal Federal e composto, ini-
cialmente, por mais cinco membros, dois
militares e três civis, com competência
para processar e julgar crimes contra a
segurança externa do país e as institui-
ções militares.
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1944 - Contingente da FEB enviado à
Nápoles - Correio da Manhã
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Itália, que constitui-se por assim dizer, lismo, pois essa vitória representaria a
em uma lídima e justa homenagem aos que chave para a evolução da ofensiva aliada
cumpriram seu dever para com a Pátria, no setor da península italiana na qual se
inclusive na trincheira da Justiça Mili- encontravam.
tar em Tempo de Guerra.
Como desfecho dos eventos histó-
ricos desse período: no dia 28 de abril
de 1945, Mussolini foi capturado e exe-
As Forças Armadas cutado. No dia seguinte, a 148ª Divisão
de Infantaria alemã e a Divisão Itália
se rendem aos brasileiros. Em 1º de maio
desse ano, é anunciada a morte de Hitler.
O Brasil organizou a Força Expedi-
O Brasil enviou um total de 25.445 praças
cionária Brasileira (FEB), com a finalida-
e oficiais à Itália.
de de atuar na Europa ao lado das forças
dos países Aliados. A primeira fração da
FEB a entrar em combate na Itália foi
o 6º Regimento de Infantaria (6º RI), A Justiça Militar
que iniciou sua participação ao norte de
Pisa. Em setembro de 1944, após um mês e
meio de batalha, o 6º RI libertou algumas
cidades e vilas italianas e fez 243 pri- Em 1º de abril de 1944, entrou em
sioneiros, entre alemães e italianos. vigor o Decreto-Lei nº 6.396, destinado
a organizar e regular o funcionamento
Contudo, o mais expressivo enfren- da Justiça Militar durante a campanha
tamento para os brasileiros foi a bata- da Itália. No que diz respeito ao di-
lha no Monte Castelo, que, no entendi- reito material, porém, aplicou-se, nessa
mento dos nossos comandantes militares, ocasião, o Código Penal Militar de 1944
ganhou esse status devido ao seu simbo- (Decreto-Lei nº 6.227, de 24 de janeiro
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de 1944). Este, à semelhança do Código
Penal Militar dos tempos atuais, apre-
sentava uma parte geral e uma especial;
e disciplinava os crimes cometidos em
tempo de paz e os praticados em tempo de
guerra.
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provocou um “severo retrocesso na ins-
tituição”, ao limitar-se a tratar, su-
cintamente, da figura do procurador-geral
da República, que podia ser nomeado e
demitido livremente pelo presidente da
República2. Por sua vez, durante a parti-
cipação das Forças Armadas brasileiras na
campanha da Itália, o Ministério Público
Militar tinha a sua atuação pautada pela
Constituição de 1937, que sequer lembrou
sua existência.
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1944-1945 - FEB na Itália - Correio da Manhã
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Embora não expressamente formulada lia, para denunciar, fiscalizar e proces-
pela lei, a missão de fiscalizar o cum- sar crimes militares.
primento das normas de guerra certamente
competiria ao membro do Ministério Públi- Reafirme-se que, durante o Estado de
co Militar, designado para acompanhar as Guerra, decretado, oficialmente, no Bra-
tropas durante a campanha militar. Afinal, sil, a partir de 31 de agosto de 1942,
a fiscalização do cumprimento da lei envol- com a vigência do Decreto nº 10.358, ain-
ve bem mais do que o zelo para com a ob- da estava em funcionamento o Tribunal de
servância das normas processuais e penais Segurança Nacional (TSN), criado em 1936
vigentes; alcança as normas e convenções e extinto em 1945, que processava e jul-
internacionalmente consagradas sobre os gava os crimes militares e contra a ordem
problemas que surgem nas guerras. social e política do país, com previsão
de funcionamento apenas durante o Estado
de Guerra.
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gural na estruturação das tropas que
seriam enviadas para as operações no
continente europeu. Surgiu, assim, novo
grande desafio para o Ministério Públi-
co Militar, que compareceria ao palco
da beligerância, onde assumiria notável
papel, haja vista que foram muitas as
ações penais deduzidas e muitos os jul-
gamentos realizados, em face do número
expressivo de crimes militares perpe-
trados na Itália.
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atuava, pelo Ministério Público Militar,
o procurador-geral, a quem competia, pri-
vativamente, intentar ações penais contra
oficiais-generais e coronéis que prati-
cassem crimes militares, bem como emitir
pareceres nos recursos interpostos con-
tra as decisões da primeira instância.3
O Decreto-Lei nº 6.509, de 18 de
maio de 1944, criou um quadro especial
para os integrantes da Justiça castrense
perante a Força Expedicionária Brasilei-
ra. Juízes, membros do Ministério Público
e escreventes da Justiça Militar faziam
parte do quadro especial de oficiais na re-
serva de 1ª classe do Exército, passando
a usar uniforme de acordo com seus pos-
tos. Assim, o procurador-geral, que era do
Conselho Supremo de Justiça, ostentava o
posto de general de brigada; ao passo que
os promotores de 1ª e 2ª entrância tinham,
respectivamente, os postos de major e ca-
pitão. Contrastando com tais postos, o mi-
nistro do Supremo Tribunal Militar tinha
o posto de general de divisão, e os audi-
tores, de tenentes-coronéis. Aos advoga-
dos cabiam os postos de 1º e 2º tenente,
conforme a entrância em que funcionassem. Soldados do Exército Brasileiro em
Tal sistema organizava-se de acordo com a patrulha, numa aldeia italiana
15
legislação em vigor no período, como nos
recorda Assis, em seu artigo publicado
pela Revista do Direito Militar.4
b) os Conselhos de Justiça;
c) os Auditores.
16
o qual seria nomeado pelo presidente da
República.5
18
Merece registro o reconhecimento
expresso ao trabalho e ao saber jurídico
do ministro Washington Vaz de Mello e do
procurador-geral Waldemiro Gomes Ferrei-
ra por parte do general de Brigada Fran-
cisco de Paula Cidade, um dos integrantes
do CSJM na Itália. Em artigo publicado no
Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, em
29 de junho de 1947, o oficial descreveu
desta maneira a sua experiência na mais
alta corte de justiça da FEB:
19
técnica processual. Dono qualquer
deles de vasta cultura profissio-
nal, senhor qualquer deles de todas
as praxes, mestres ambos na técni-
ca dos tribunais, tive-os sempre
solícitos, mesmo quando discordá-
vamos, para que me esclarecessem
sobre os pontos doutrinários, que
me pudessem embaraçar nas questões
de direito puro. O resto, procu-
rei sempre fazer por mim mesmo. Num
exame de consciência, que me dei-
xa orgulhoso do papel que desempe-
nhei nessa quadra de minha agita-
da vida de soldado, rendo graças a
Deus pelo que me permitiu fazer de
bom. E da sua infinita misericórdia
espero o perdão dos erros que in-
voluntariamente tenha cometido, ao
apreciar os delitos ou as fraquezas
de meus semelhantes.6
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para oferecer a denúncia, a qual, na dic-
ção do Decreto-Lei nº 6.396/44, deveria
conter o nome do réu, a exposição sucin-
ta dos fatos, a classificação do delito,
a indicação das agravantes expressamente
definidas na lei penal e a indicação de
duas a quatro testemunhas. Na hipótese da
denúncia se fundar em prova documental, o
rol de testemunhas seria dispensado.
Processos e Julgamentos
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Prisioneiros de guerra alemães
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dois militares, pela prática de estupro e Procedendo com celeridade, a Jus-
homicídio a familiar da vítima estuprada. tiça Militar instaurou o inquérito po-
licial militar em janeiro de 1945. Os
O crime de deserção foi o mais co- acusados foram citados, interrogados,
metido durante a guerra, seguido pelas juntamente com as testemunhas; julgados
lesões corporais e homicídios culposos, e condenados no mesmo mês. Por interfe-
praticados geralmente na condução de veí- rência do poder civil, a sentença não
culos automotores e no manuseio impruden- veio a ser executada. Tal possibilida-
te de armamento. de encontrava-se expressamente prevista
pelo artigo 41, do Código Penal Militar
A imposição da pena de morte, por
de 1944, que estipulava que a sentença
sua vez, foi em razão dos crimes de es-
definitiva condenatória que importasse na
tupro e de assassinato ocorridos em 9 de
imposição da pena capital deveria ser
janeiro de 1945. Dois soldados do Pelotão
comunicada ao Presidente da República
de Defesa do Quartel-General do 1º DIE
logo após o seu trânsito em julgado, só
deslocaram-se armados até a residência de
podendo ser executada cinco dias depois
uma família italiana e, chegando ao local,
da referida comunicação.8 Portanto, ao
puseram todos em fuga, mediante disparos
ser comunicado do trânsito em julgado, o
seguidos de rajadas de metralhadoras, e
Presidente da República, deixando claro
ficaram em poder de uma menina de 15 anos,
que o fazia unicamente por ato de graça,
que foi por eles estuprada. Na ocasião,
comutou ambas as penas de morte, fixando
enquanto um dos militares cometia a vio-
-as na pena máxima de reclusão, ou seja,
lência sexual o outro vigiava a entrada
30 anos.
da casa, revezando-se em seu procedimento
criminoso. Em determinado momento, per- Por sua vez, o Marechal Mascarenhas
cebendo que um dos familiares da vítima de Moraes, Comandante da FEB, ao ter ci-
se aproximava do local do crime, um dos ência dos motivos da comutação da pena,
militares não hesitou em matá-lo. manifestou-se nos seguintes termos:
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Lamento que por má interpretação
das leis não tenha sabido, eu,
usar das atribuições que me com-
petiam, mandando executar, por in-
teresse da ordem e da disciplina,
logo após julgamento do Auditor,
os dois condenados, assassinos
confessos, nocivos [ao] prestígio,
disciplina, honra e dignidade [da]
tropa brasileira perante Exércitos
Aliados e população italiana.
Posteriormente, os sentenciados
foram beneficiados com nova comutação, que
redundou na redução de suas penas para 6
anos de reclusão.
O Decreto-Lei nº 8.443, de 26 de
dezembro de 1945, extinguiu a Justiça
Militar expedicionária, e a competência
desta foi transferida para as Auditorias
da 1ª Região Militar do Rio de Janeiro
(1ª instância) e para o Supremo Tribunal
Militar (2ª instância).
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Considerações Finais
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Referências Bibliográficas e Guimarães (de julho de 1944 a dezembro
de 1945).
Notas Explicativas
4
ASSIS, J. C. Comissionamento em postos
1
JATAHY, C. R. C. O Ministério Público e militares de juízes-auditores, membros do
o Estado Democrático de Direito: perspec- Ministério Público Militar e da Defenso-
tivas constitucionais de atuação consti- ria Pública da União, por ocasião do Tem-
tucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, po de Guerra. Revista do Direito Militar.
1007. p. 20. Florianópolis: Associação dos Magistra-
dos das Justiças Militares Estaduais, nº
2
MAZZILLI, H. N. Introdução ao Ministé- 38, novembro/dezembro, 2002, p. 2.
rio Público. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2007. p. 43. 5
O magistrado civil foi Washington Vaz
de Mello, Ministro do Supremo Tribunal
3
Waldemiro Gomes Ferreira, procurador- Militar. Mineiro, nascido em Viçosa em
geral de Justiça Militar de 1941 a 1952, 11 de setembro de 1895, era originá-
acompanhou a FEB durante a campanha ita- rio do Ministério Público Militar, onde
liana. Mineiro, nascido em Queluz – atu- ingressara em dezembro de 1920 ao ser
almente, Conselheiro Lafayette – em 18 nomeado promotor de Justiça Militar no
de novembro de 1891, era do Ministério Rio Grande do Sul. A partir de abril
Público Militar, desde o ano de 1926, de 1926, tornou-se procurador-geral de
quando fora nomeado subprocurador-geral Justiça Militar, cargo que ocupou até
de Justiça Militar. Foi um dos membros o ano de 1940 (a mais longa gestão à
da Comissão que elaborou o anteprojeto frente do Ministério Público Militar até
do Decreto-Lei nº 6.396/1944. No inter- hoje). Em fevereiro de 1941, foi nomea-
regno em que exerceu suas funções pe- do ministro do Superior Tribunal Militar
rante o CSJM, substituiu-lhe como pro- e, como tal, integrava o CSJM perante a
curador-geral interino Fernando Moreira FEB; participou também da Comissão que
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elaborou o anteprojeto que criou aquela lho do Nascimento (juiz-auditor); capi-
Justiça Militar especial. tão Amador Cysneiros do Amaral (promo-
tor); e 2º tenente Bento Costa Lima Leite
6 de Albuquerque (advogado). Um mês após
CIDADE, F. P. Algumas observações sobre
o funcionamento da Justiça Militar bra- seu deslocamento ao front, o promotor de
sileira no teatro de operações da Itália. Justiça Militar perante a 2ª Auditoria
Revista do Superior Tribunal Militar. retornou ao Brasil e foi substituído por
STM, v. 11/13, 1989/1991, p.197-244. Orlando Moutinho Ribeiro da Costa.
7 8
O Conselho Supremo de Justiça Militar O § 1º do mencionado artigo excepciona-
foi formado pelos seguintes membros: ge- va o interesse da ordem e da disciplina,
neral de divisão Boanerges Lopes de Souza, em zona de operações de guerra, quando a
presidente–substituído em julho de 1945, pena poderia ser imediatamente executa-
quando transferido para a reserva pelo da. Por outro lado, o Decreto nº 6.396,
general de divisão Heitor Augusto Borges; de 1º de abril de 1944 estipulava a obri-
general de Brigada Francisco de Paula Ci- gatoriedade da apelação, pelo advogado
dade; general de Brigada Washington Vaz de ofício, de todas as sentenças conde-
de Melo; e general de Brigada e procu- natórias.
rador-geral Waldemiro Gomes Ferreira. A
1ª Auditoria da 1ª Divisão de Infantaria
Expedicionária tinha os seguintes magis-
trados: tenente-coronel Adalberto Barre-
to (juiz-auditor); capitão Orlando Mou-
tinho Ribeiro da Costa (promotor); e 2º
tenente Raul da Rocha Martins (advogado
de Ofício). A 2ª Auditoria da 1ª Divisão
de Infantaria Expedicionária tinha como
membros: tenente-coronel Eugênio Carva-
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