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2. BEM JURÍDICO-PENAL...........................................................................................................6
2.1. Generalidades..............................................................................................................................6
6. CRIME MILITAR......................................................................................................................14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................54
3
Em linhas gerais o Direito Militar, tem como fundamento a sua origem nas
atividades bélicas, ainda que sem precisar com exatidão seu início, foram em
tempos remotos com aparecimento dos primeiros exércitos. Assim surgi a
necessidade da criação de um órgão julgador especializado na apreciação dos
crimes praticados em tempo de guerra, no sítio das atividades bélicas.
Ao considerar o homem, por exemplo, um ser ontologicamente belicoso, o
que permitiria afirmar que desde a formação do primeiro aglomerado humano já
seria possível distinguir o delito cometido contra os pares do cometido contra o
inimigo, em atividade de repulsa à agressão do grupo hostil.
O professor João Roth, ao estudar quanto ao estabelecimento da Justiça
Militar, assevera que “antiguidade e vem precedido, na história dos povos, da
existência do Exército constituído para defesa de seu território”.1
Entender que há períodos da evolução humana que marcam o Direito
Penal Militar, a iniciar pela antiguidade cujos fatos o surgimento das Cidades-
Estados e, como elas a criação dos Exércitos de caráter permanente.2
O Império Romano consagrou-se, conforme os dizeres de Laurand 3, por
uma coragem disciplinada, o que leva à reflexão a propósito de quatro elementos:
Cidades-Estados, Exército permanentes, expansionismo e disciplina.
Desta misturada de elementos, uma sanha expansionista-imperialista leva
a necessidade de perene prontidão dos Exércitos, transformando-os em instituições
permanentes, formados e estruturados debaixo rígida disciplina. Deste modo, todo
cidadão era um soldado. Surgi, portanto, a necessidade da idealização de delitos
próprios da atividade bélica, o que, impulsionou a relevância do Direito Penal Militar.
Nesta ótica, é inquestionável a relevância que o Direito Romano
representou, segundo Loureiro Neto que sustenta haver evidências históricas de que
outras civilizações da Antiguidade (Índia, Pérsia, Atenas, Macedônia e Cartago)
1
ROTH, Ronaldo João. Justiça militar. Cit., 2003, p. 5.
2
NEVES, Cícero Robson Coimbra. STREIFINGER, Marcello. Manual de direito penal militar. 3 ed. – São Paulo:
Saraiva, 2013.
3
Apud GIORDANI, Mario Curtis. Direito penal romano. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1997, p. 113.
4
4
LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito penal militar. São Paulo: Atlas, 1999, p. 19.
5
CHAVES JÚNIOR. Edgard de Brito, apud ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar, cit., p. 7.
5
de janeiro, trouxe o Código Penal Militar, aplicado as Forças Armadas. Este vigorou
até 31 de dezembro de1969, com entrada em vigor do atual diploma castrense.6
Após sofrer um derrame, em agosto de 1969, o General Arthur da Costa e
Silva, Presidente da República, deveria ser sucedido pelo Vice-Presidente, nos
termos da Constituição. Uma junta Militar composta por integrantes das três Forças
Armadas, convencidos de que Costa e Silva não se recuperaria e assim decretando
os cargos do Presidente e do Vice-Presidente vagos, e assim foi assumido pela
Junta até entregá-la ao General.
Durante o governo dessa Junta que, em 21 de outubro de 1969, foi
instituído pelo Decreto-Lei nº 1.001, o Código Penal Militar, que teve sua entrada em
vigor em 1º de janeiro de 1970, permanecendo vigente até os dias atuais.
2. BEM JURÍDICO-PENAL
2.1. Generalidades
6
NEVES, Cícero Robson Coimbra. STREIFINGER, Marcello. Op. Cit., p. 42.
7
TOLEDO, Francisco de Assis. Op. Cit., p. 15.
8
Idem, ibidem, p. 17.
7
9
PRADO, Luiz Regis. Op. cit., p. 17.
9
10
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. Direito penal especial. Direito penal comum. Direito processual especial.
In: Direito militar, cit., p. 38-45.
11
COIMBRA NEVES, Cicero Robson. Op. cit., p. 70.
10
Estabelece o artigo 1º, do CPM, que, "Não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal".
Tomando por base o preceito legal, verifica-se que o princípio da
legalidade se encontra previsto de forma expressa na Constituição Federal de 1988,
em seu artigo 5º, inciso XXXIX, princípio este como sendo uma garantia assegurada
aos jurisdicionados para evitar que o Estado-administração exerça o seu jus
puniendi, ou seja, o direito de punir, de forma arbitrária, ou mesmo de forma
excessiva, impondo sanções, ou estabelecendo ilícitos que não estejam previstos
em lei.
A expressão princípio da legalidade se diferencia dos preceitos reserva
legal e anterioridade. O princípio da legalidade deve ser entendido como sendo a
previsão do tipo penal em lei, ou seja, apenas e tão somente em lei proveniente do
Poder Legislativo.
Já a reserva legal deve ser entendida como sendo a competência do
Poder Legislativo para elaborar de forma exclusiva as disposições legais destinadas
à seara penal, não se admitindo a autuação do Poder Executivo na elaboração de
tipos penais mediante a edição de medidas provisórias. Essa vedação alcança o
Código Penal e o Código Penal Militar. A liberdade de uma pessoa somente pode
12
SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos fundamentais: conteúdo, restrições e eficácia. São Paulo: Malheiros, 2009,
p. 45.
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ser cerceada por meio de uma lei que seja proveniente do Poder Legislativo, no
caso brasileiro do Congresso Nacional.
A legislação penal brasileira busca uma unicidade, e em razão disto tanto
o Código Penal Brasileiro como o Código Penal Militar somente podem ser
modificados, alterados, por meio de uma lei ordinária proveniente do Congresso
Nacional.
A anterioridade deve ser entendida como sendo a existência da lei penal,
comum ou militar, antes da prática do ilícito pelo infrator. Segundo a doutrina
clássica nulo é o crime e nula é a pena sem lei anterior que o defina.
E outras palavras, os preceitos legalidade, reserva legal, e anteriormente,
no sistema jurídico brasileiro se completam para formarem aquilo que se denomina
de princípio da legalidade, que nos Estados de Direito possui uma grande
relevância.
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Disponível em http://jus.com.br/artigos/30226/a-aplicacao-do-principio-da-insignificancia-em-crimes-
militares acesso em 07SET15
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CPM, prevê que “Para fixação da pena privativa, o juiz aprecia a gravidade do crime
praticado e a personalidade do réu, devendo ter em conta a intensidade do dolo ou
grau da culpa, a maior ou menor extensão do dano ou perigo de dano, os meios
empregados, o modo de execução, os motivos determinantes, as circunstâncias de
tempo e lugar, os antecedentes do réu e sua atitude de insensibilidade, indiferença
ou arrependimento após o crime”.16
6. CRIME MILITAR
definidos em lei”), artigo 124 (“Á Justiça Militar compete processar e julgar os crimes
militares definidos em lei”) e § 4º do artigo 125 (“Compete à Justiça Militar estadual
processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei...”).
Segundo Esmeraldino Bandeira, “em nossa legislação cinco são os
critérios para a qualificação do crime militar: ratione materiae, ratione personae,
ratione loci, ratione temporis e ratione legis”.
Comentando as disposições do artigo 9º do CPM, aduz Álvaro Mayrink da
Costa que “o legislador [...] adotou o critério ‘ratione legis’, isto é, crime militar é o
que a lei obviamente considera como tal. Não define, enumera. Não quer dizer que
não haja cogitado dos critérios doutrinários ‘ratione materiae’, ‘loci’, ‘personae’ ou
‘ratione numeris’. Apenas não são expressos, pois o estudo do art. 9º revela que, na
realidade, estão todos ali presentes”.
Comungamos da mesma opinião, ou seja, de que os crimes militares são
aqueles definidos em lei, adotando-se, portanto, o critério ratione legis, conforme se
depreende da leitura do inciso LXI do artigo 5º, artigo 124 e § 4º do artigo 125, todos
da Carta Magna.
Da análise dos dispositivos constitucionais acima citados depreende-se,
ipso facto, a existência de crimes propriamente militares e, em contraposição, de
crimes impropriamente militares. Destarte, crimes propriamente militares são
aqueles cuja ação penal somente pode ser intentada contra militares, tendo em vista
a sua situação funcional, ou seja, exige uma qualidade pessoal do agente,
abarcando os crimes que não possuam igual definição na lei penal comum, tais
como a Deserção, a Embriaguez em Serviço e a Violência contra Superior. Esse
também o entendimento de Jorge Alberto Romeiro.
O critério acima utilizado se deve, principalmente, em virtude da
existência de delitos militares que não possuem igual definição na lei penal comum e
que são cometidos por civis, mormente os capitulados no Capítulo I do Título III (Dos
Crimes contra o Serviço Militar e o Dever Militar), daí não se poder afirmar que
crimes propriamente militares são todos aqueles que não possuam igual definição
na legislação comum, como alguns conceituam, uma vez que os delitos acima
mencionados não encontram definição no Código Penal e são cometidos por civis,
tratando-se, por óbvio, de crimes impropriamente militares.
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Porém, não basta que ocorra a subsunção do fato à norma típica, uma
vez que os crimes militares apresentam tipicidade indireta, ou seja, há necessidade
de se complementar as normas da parte especial com algumas das situações
elencadas nos artigos 9º (em tempo de paz) ou 10 (em tempo de guerra) do CPM.
Nesse contexto, diante do caso concreto, deve-se primeiro verificar se o fato
encontra subsunção em algum dos delitos previstos no Livro I (Crimes militares em
tempo de paz) ou no Livro II (Crimes militares em tempo de guerra) para, em
sequência, apontar se as circunstâncias que envolvem o delito amoldam-se aos
critérios previstos nos incisos I, II e III do artigo 9º e 10.
sujeito ativo pode cometer o delito militar na esfera em que se aplica o CPM,
questão que excluirá o crime praticado por adolescente, malgrado a
previsão do art. 50 e 51 do referido Codex, e, somente no âmbito estadual,
o delito praticado por civis”.
próprio, os usos e costumes militares e os valores que lhes são caros difícil é a
compreensão do que seja o crime militar o qual, em última análise é a manifestação
do Estado na tutela dos bens jurídicos das instituições militares.
Dito isto passaremos, portanto, a enumerar algumas diferenças que nos
parecem marcantes, do crime militar em relação ao crime comum.
PUNIBILIDADE DA TENTATIVA.
Enquanto o Código Penal comum brasileiro adotou a teoria objetiva em
seu art.14, II, punindo a tentativa com uma pena reduzida de 1 a 2 terços, o Código
Penal Militar, no parágrafo único do seu art.30, previu a punibilidade da tentativa
pela teoria subjetiva (mesma pena do crime consumado), sendo que a excepcional
gravidade ali referida, fica a critério do arbítrio do Juiz. Encontramos decisões
mantendo a punibilidade subjetiva, em acórdãos do Superior Tribunal Militar, como
por exemplo, na Apelação nº 2003.01.049308-5-SP.
nas Forças Auxiliares não existe a presença dos oficiais generais (General,
Almirante e Brigadeiro).
No Estado de São Paulo, a Justiça Castrense possui 4 (quatro) Auditorias
todas com sede na Capital, não existindo nenhuma no interior, o que consideramos
uma falha e ao mesmo tempo um ônus para o acusado. Os policiais militares e
bombeiros militares que residem no interior são obrigados a se deslocarem de suas
sedes, chamadas de OPM (Organizações Policiais Militares), para serem
processados na Capital, sendo obrigados na maioria das vezes a contratarem
advogados que possuem os seus escritórios na cidade de São Paulo.
A nível de 2ª. instância, em relação a Justiça Militar Federal temos o
Superior Tribunal Militar (S.T.M) que julga os recursos provenientes das Auditorias
Federais, e a matéria originária disciplinada em seu Regimento Interno. No caso da
Justiça Militar Estadual, a 2.a instância é constituída em alguns Estados (São Paulo,
Minas Gerais, e Rio Grande do Sul) pelos Tribunais de Justiça Militar (T.J.M). Nos
Estados, em que não existe o T.J.M essa competência é exercida por uma Câmara
Especializada do Tribunal de Justiça.
Deve-se observar, que o Superior Tribunal Militar (STM) também julgará
os recursos provenientes da Justiça Militar Estadual, como ocorre nos casos dos
Conselhos de Justiça, que são destinados ao julgamento da permanência ou não
dos oficiais em seus respectivos quadros, que se inicia perante um Conselho
formado por três oficiais que terão patente superior a do acusado e que emitirão um
parecer pela permanência ou não do acusado. Esse parecer será remitido a
autoridade convocante que poderá acolher ou não a decisão dos membros do
Conselho. A solução da autoridade convocante será submetida ao Comandante
Geral da Corporação, que determinará o arquivamento, a aplicação de medidas
disciplinares ou a remessa dos autos para a Justiça Militar, na forma da Constituição
do Estado de São Paulo e da Constituição Federal.
Os Tribunais de Justiça Militar ou Câmaras Especializadas dos Tribunais
de Justiça nos demais Estados julgarão o acusado submetido a Conselho de
Justificação decidindo pela perda ou não do seu posto e patente. A matéria sob
análise é originária na forma da Constituição Federal, e da decisão proferida pelo
Tribunal caberá recurso para o STM que poderá manter ou reformar a decisão
proferida pelo Tribunal "a quo". A inobservância deste procedimento fere o princípio
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iguais perante a Lei, e que o aprimoramento das instituições deve ser o objetivo
daqueles que vivem sob o império do Estado de Direito.
Portanto, a Justiça Militar é um órgão jurisdicional com previsão no Texto
Constitucional e nas Constituições do Estados integrantes da Federação, possuindo
os juízes auditores as mesmas garantias asseguradas aos juízes integrantes da
Justiça Comum e da Justiça Federal, vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade
de vencimentos, para que possam com fundamento na Lei e em sua livre convicção
proferirem os seus julgamentos, na busca da Justiça que deve ser o objetivo do
Direito.
resultado (do sorteio) e requisita a apresentação dos militares em cada uma das 4
Auditorias existentes em São Paulo.
A não apresentação do militar sorteado pode ocorrer nas seguintes
hipóteses:
1) Demissão
2) Moléstia comprovada
3) Reforma
4) Condenação Criminal
5) Falecimento
6) Férias ou serviço em comissão fora do Estado e
7) em caso de imperiosa necessidade do serviço ou da disciplina
devidamente justificada, mediante solicitação do Cmt Geral à Justiça Militar.
De cada sorteio constam oficiais titulares e suplentes para eventuais
substituições em caráter definitivo e substituições em caráter temporário, tais como
nos casos de gala, luto ou licença-saúde.
órgão jurisdicional de 1º grau. Muito se diz que a Justiça dos Conselhos é mais
rigorosa. SMJ, Justiça mais ou menos rigorosa não é justiça. Distribuir justiça é dar a
resposta adequada na justa medida que o caso concreto requer, analisando-se as
circunstâncias judiciais do art. 69 do CPM (59 do CP), circunstâncias agravantes e
atenuantes, causas especiais de aumento ou diminuição da pena, excludentes de
antijuridicidade ou culpabilidade.
Ocorre que, na formação do militar, são cultivados diuturnamente valores
que infelizmente deixaram de ser observados na vida em comunidade, dentro do
contexto de maus exemplos em que vivemos.
Os conceitos de dignidade, honradez, disciplina, tratamento cordial
previsto em regulamentos, respeito à hierarquia, respeito aos mais antigos e mais
idosos, dentro dos quartéis, são diferenciados. A exteriorização disto pode ser
visualizado numa simples continência, o cumprimento do militar, impessoal, pouco
importando o relacionamento entre os homens pois, independentemente disto, ela é
devida pelo subordinado ao superior.
Dentro deste conjunto de valores, é de se esperar que, na comunidade
em que vivem, os olhos dos militares sejam mais críticos e menos tolerantes com
situações que, para civis, possam parecer menos graves.
Pelo que já pudemos testemunhar em décadas de convívio com militares,
nos quartéis é cultivado o respeito à lei e só na exceção há condescendência com
aqueles que apresentam desvio de comportamento.
A Justiça Militar – em primeiro grau representada pelos conselhos de
justiça – é, sim, corporativista. Não como se apregoa aos quatro cantos, mas o que
o ocorre é diametralmente oposto.
Os Conselhos não protegem o mau policial e, sim, protegem a
Corporação do mau policial. Os Conselhos de Justiça fazem parte de uma Justiça
Especializada e, dentro deste quadro, eles tratam de homens especiais, submetidos
a regras especiais, e que recebem treinamento especial e armas.
Os Conselhos de Justiça Militar não realizam uma justiça mais severa. Ela
é especial mas, para o civil desacostumado com o que ocorre na caserna, pode
parecer mais rigorosa.
Os integrantes da PMESP que alcançaram o oficialato através do Curso
de Formação de Oficiais têm nível de instrução superior. Aqueles que não fizeram o
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Curso de Formação de oficiais, com duração de 4 anos, em grande parte das vezes,
também tem formação escolar em nível superior. O Curso de Formação de Oficiais
da Academia da Polícia Militar do Barro Branco, por onde passam a maioria dos
oficias da Corporação, possui extensa grade curricular também voltada para a área
jurídica, perfazendo um total de 1440 horas/aula no campo do Direito e, dentre elas,
480 só na área penal.
Não obstante, qualquer dúvida que surja para o Juiz Militar no julgamento
do feito, de viva-voz poderá ser elucidada com o questionamento endereçado ao
Juiz-Auditor, perante as partes. Somente após os esclarecimentos necessários, será
o Juiz Militar instado a dar seu voto, justificando-o, principalmente se proferi-lo
diferentemente da tese das partes ou dos juízes que o precederam na votação.
O Juiz Auditor sempre é o primeiro a votar, sendo seguido pelos membros
dos Conselhos. Os juízes militares votam na ordem inversa da hierarquia militar, a
fim de que o militar de menor posto ou patente não se deixe influenciar pelo voto do
seu superior hierárquico ou oficial mais antigo. Caso a motivação de seu voto seja
singular, pode o juiz militar declará-lo, formalmente e por escrito, constando isto da
sentença, em separado.
A intenção do legislador, portanto, ao estabelecer uma organização
especial para a Justiça Militar, visou aliar o conhecimento jurídico com o sentimento
e conhecimento prático. Disso resulta um amálgama importante para a realização da
Justiça Militar.
Exceção feita ao interrogatório, acareação, inquirição de testemunhas e
julgamento na sede da Auditoria, os demais atos são procedidos pelo Juiz Auditor,
singularmente, com o acompanhamento das partes.
Os Conselhos de Justiça – Permanente e Especial – são formados por 5
membros, repetimos, e na decisão de um processo todos votam em condições de
igualdade para decidir a sorte dos réus.
A decisão do Conselho consubstancia-se numa sentença subjetivamente
complexa, já que resultante de mais de uma manifestação subjetiva, conforme
ensinamento de Calamandrei.
Destarte, pessoas com diferentes formações e história de vida
compreendem um fato, interpretam-no, bem como à lei, aplicando-os ao caso
concreto.
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segundo grau de jurisdição. Podemos citar aqui o Habeas Corpus (sobre o qual
discorreremos brevemente no item seguinte) e o Mandado de Segurança.
Quanto a este último, segue os pressupostos gerais constitucionais e
procedimento dos aplicados em toda a esfera jurídica. Mesmo assim, é figura
prevista inclusive no Regimento Interno do Tribunal de Justiça Militar do Estado de
São Paulo (arts. 103 a 107). Somente o Tribunal de Justiça Militar tem competência
para apreciar os Mandados de Segurança, que terão prioridade sobre todos os
feitos, à exceção dos Habeas Corpus.
Não é por demais lembrar que, com relação aos recursos contra decisões
proferidas pelo Tribunal de Justiça Militar, a competência para julgamento é do
Superior Tribunal de Justiça (bem como será do Supremo Tribunal Federal, quando
envolver reexame de questões de direito constitucional federal).
Por muitas vezes, o endereçamento do recurso é feito erroneamente ao
Superior Tribunal Militar. Porém, não há relação de superioridade entre o TJM e o
STM, este último órgão de segunda instância recursal da Justiça Militar Federal. A
matéria apreciada pelo Superior Tribunal Militar é de cunho federal, e não estadual.
puniendi, que será representando por uma ação penal a ser proposta perante a
autoridade judiciária competente, juiz ou Tribunal, o que se denomina de juiz natural.
A Justiça Militar possui previsão expressa na Constituição Federal e
competência para processar e julgar os crimes militares, próprios ou impróprios,
previstos no Código Penal Militar e nas Leis Militares Especiais. Segundo a doutrina
com fundamento na Constituição Federal, a Justiça Militar divide-se em Justiça
Militar Federal e Justiça Militar Estadual. A primeira possui competência para
processar e julgar os integrantes das Forças Armadas e os civis, enquanto que a
segunda possui competência exclusiva para processar e julgar os policiais militares
e bombeiros militares.
Segundo alguns estudiosos, o funcionamento da Justiça Militar pode ser
justificado em tempo de guerra, na exata medida que o exija a necessidade, mas de
maneira alguma deve ser admitido em tempo de paz, quando não existe
necessidade de subtrair ao Poder Judiciário comum o julgamento de fatos que, hoje,
estão afetos a tribunais militares. Esse entendimento encontra-se divorciado das
disposições constitucionais e processuais que se aplicam à espécie. A
especialização da Justiça Militar se faz necessária em decorrência das missões
realizadas pelas Forças Armadas e Forças Auxiliares, que têm por objetivo a
preservação da segurança pública e nacional.
Os crimes capitulados no Código Penal Militar estão em sua maioria
relacionados com os princípios de hierarquia e disciplina, que são próprios da vida
em caserna, que exigem conhecimento da estrutura e funcionamento das
Organizações Militares. Na sua grande maioria, as Faculdades de Direito nem
mesmo possuem uma Cadeira de Direito Militar e Processual Militar, o que
demonstra a falta de interesse e conhecimento deste ramo especializado do Direito.
Atualmente, com fundamento no art. 125, § 4 º, da Constituição Federal, a
Justiça Militar Estadual não possui competência para processar e julgar os civis que
tenham praticado em tese um crime militar capitulado no CPM ou nas Leis Militares.
Com relação a Justiça Militar Federal não existe nenhum dispositivo constitucional
impedindo o julgamento de civis acusados da pratica em tese de um crime militar, o
que afasta qualquer alegação de inconstitucionalidade por falta de expressa
vedação neste sentido.
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prática de crime militar, como no caso do livramento condicional, em que a lei penal
militar exige pelo menos o cumprimento de mais da metade da pena para o
sentenciado primário e de mais de dois terços ao reincidente (Art. 89 CPM) – no CP
é um terço e metade, respectivamente (Art. 83); e outras vezes mais brandos para
eles, como nos crimes militares que correspondem às hipóteses definidas na Lei
número 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, com
direito à progressão de regime e livramento condicional após o cumprimento de
metade da pena, enquanto a pena do crime hediondo é cumprida integralmente em
regime fechado (Art. 2º, § 1º) e o livramento condicional somente é obtido após o
cumprimento de dois terços da pena (Art. 83, V, do CP).
Sabe-se que a lei dos crimes hediondos ignora os crimes militares. Aliás,
a aplicação desta lei cria dificuldades na execução da pena, principalmente quando
o sentenciado tem de cumprir pena de crime hediondo mais pena de crime não
hediondo. A lei de execução penal manda unificar ou somar as penas (Art. 63, III, “a”
e Art. 111, Pará- grafo único), mas nem sempre isto é possível. A dificuldade
aumenta quando é necessário verificar a data em que o condenado passa a ter
direito ao livramento condicional. O preso tem de cumprir mais de dois terços da
pena do crime hediondo e mais de um terço da pena do outro crime, entretanto, em
tese, esta última pena só pode ser executada após o término da mais grave
(Inteligência dos artigos 75, § 2º e 76 do CP). A observância rigorosa desta regra
anularia o benefício para o crime hediondo, o que não é justo e nem é a melhor
solução.
Das decisões proferidas pelo Juiz das Execuções Criminais da Justiça
Militar cabe recurso de agravo, sem efeito suspensivo, ao Egrégio Tribunal de
Justiça Militar do Estado (Art. 197, da Lei de Execução Penal). Os Artigos 147 a 154
do Regimento Interno do Tribunal disciplinam como deve ser instruído, processado e
julgado o recurso. Em síntese, o recurso segue o rito do recurso em sentido estrito.
Concluindo, a execução da pena na Justiça Militar do Estado de São
Paulo é feita pelas mesmas regras que disciplinam a execução da pena na Justiça
comum, que é a Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2002.
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. Direito penal especial. Direito penal comum.
Direito processual especial. In: Direito militar: história e doutrina – artigos inéditos.
Florianópolis: AMAJME, 2002.
GIORDANI, Mario Curtis. Direito penal romano. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1997.
LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito penal militar. São Paulo: Atlas, 1999, p. 19.
NEVES, Cícero Robson Coimbra. STREIFINGER, Marcello. Manual de direito penal
militar. 3 ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar e as peculiaridades do juiz militar na atuação
jurisdicional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003.
_____. Tema de direito militar. São Paulo: Suprema Cultura, 2004.
SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos fundamentais: conteúdo, restrições e eficácia.
São Paulo: Malheiros, 2009.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. São Paulo:
Saraiva, 2000.
http://jus.com.br/artigos/30226/a-aplicacao-do-principio-da-insignificancia-em-crimes-
militares
http://jus.com.br/artigos/22380/crimes-militares-praticados-por-civil-contra-as-
instituicoes-militares-estaduais/2
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/
Cadernos_Tematicos/direito_penal_militar_e_processual_militar_penal.pdf