Disciplina de Resistência dos Materiais, Artigo 2 (2021.

1)

Universidade Federal De Santa Catarina

Graduação em Engenharia de Materiais

Procedimentos e fundamentos de ensaios de rasgamento

Caio Cesar Antunes Cirino
a Departamento de Engenharia, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Blumenau, 89036-002 Blumenau, SC, Brasil

Informações Resumo

Entrega do artigo: 27 setembro de

2021
Conhecer as propriedades mecânicas dos materiais e seu comportamento sob
Disciplina ministrada pelo Prof Dr. determinadas condições de esforços são essências para determinar qual
Wanderson Santana da Silva
material corresponderá melhor a uma tal aplicação. A resistência ao
Palavras-chave: rasgamento é indicativa da integridade marginal e da durabilidade dos
Resistência ao
rasgamento; materiais. Esse tipo de ensaio avalia a resistência do material sob a ação de um
Ensaio; Rasgo;
Propiedades rasgo pré-definido. Se aplica normalmente em borrachas vulcanizadas e
Mecânicas
termoplásticas (TPE), termoplásticos flexíveis e filmes poliméricos. Muitas
vezes estes materiais falham em serviço devido à geração e propagação de um
tipo especial de ruptura chamado de rasgo [1].

1. Introdução destrutiva que submete o material de desejo ou

produto em questão a um grande esforço de
Os ensaios mecânicos de materiais são métodos
alongamento e esticamento até sua ruptura. Temos os
padronizados para determinação de propriedades
ensaios de dureza, onde o método utilizado para obter
mecânicas e do comportamento sob algumas
informações é através do resultado da profundidade
condições de trabalho de um determinado material.
de penetração, que acontece por meio da aplicação de
Geralmente são levantadas as características dos
uma carga leve e logo seguida outra de maior
materiais após algum tipo de processamento e
intensidade. Outro tipo comum são os ensaios de
também as características necessárias para aplicações
impacto, nesse ensaio, o corpo em questão é
estruturais [2].
submetido a uma flexão provocada por impacto por
Esses ensaios podem ser destrutivo ou não
um martelo pendular. E temos o método de
destrutivo, dependendo do tipo de resultado buscado.
dobramento, técnica que consiste em apoiar o
Algumas das condições de uso mais comuns
produto ou peça em dois pontos distanciados e aplicar
envolvem temperaturas, tipo de cargas e sua
no ponto médio desta distância uma carga vertical [3].
frequência de aplicação, tempo de desgaste e
O rasgamento do elastômero é um processo de
deformabilidade, entre outras [3].
ruptura mecânico, que inicia-se e propaga-se de um
Entre os principais tipos de ensaios mecânicos
lado de alta concentração de tensões no corpo de
temos o ensaio de tração, onde se utiliza uma técnica
prova, o que resulta em um corte, um defeito ou uma
deformação localizada [2].
A determinação da resistência ao rasgo é
efetuada em tensometros, utilizando provetes
adequados para o efeito; diversas normas
internacionais descrevem e especificam este tipo
de ensaio. Tipo de provete e condições de ensaio
constituem as principais diferenças entre as
diversas normas [4].
Um teste de rasgo geralmente só é realizado em
materiais flexíveis, pois são mais suscetíveis a
fraturas e perfurações acidentais, bem como a
rupturas parciais (rasgos e orifícios). Os materiais
mais comuns que se beneficiam do teste de rasgo são
têxteis, tecidos, elastômeros, borrachas, polímeros,
embalagens e produtos de papel. Cada um desses
materiais pode servir em uma ampla variedade de
setores, como vestuário, médico, biomédico e
odontológico [5].
A maioria dos testes de resistência ao rasgo é
realizada estaticamente e geralmente assume uma
de três formas. Essas formas diferem umas das
outras na configuração e preparação da amostra de
teste, no posicionamento da garra e na taxa de teste.
A primeira forma envolve uma amostra
retangular que tem um corte no meio da metade
da amostra de modo que duas pernas são
formadas e a amostra se assemelha a um par de
calças. Cada perna é então colocada em uma das
garras de teste e então separada para que o rasgo
continue no meio da amostra. A segunda forma
requer que a amostra tenha uma aba cortada no
meio. Esta aba é cortada de forma que seja
separada o resto da amostra na parte inferior e
nas laterais, mas não na parte superior. A aba é
então colocada na alça superior enquanto o resto
da amostra é colocada na alça inferior. Conforme
a alça superior é movida para cima, a aba é
puxada de modo que os cortes em ambos os lados
se estendam para cima até o topo da amostra e a
aba é eventualmente puxada para fora, deixando
uma peça retangular na empunhadura superior e
uma peça em forma de "U" em o fundo.
Finalmente, no caso do teste de ruptura do
trapézio, a amostra de teste é cortada na forma de
um trapézio isósceles com um pequeno corte feito
em um dos lados. A amostra é então carregada no
acessório de teste para que o rasgo feito pelo corte
se propague conforme as garras se separam.
Geralmente, a amostra é orientada de forma que o
rasgo se estenda horizontalmente [5].
2. Revisão Bibliográfica
O contéudo a seguir tem como finalidade
discutir os fundamentos e procedimentos de ensaios
de rasgamento, focando nos polímeros, pois é o tipo
de material onde o teste de rasgamento é mais
comum. Primeiramente, serão abordadas
informações sobre esse tipo de teste, seguindo com o
estudo de caso relatados em artigo relacionado com o
tema em discussão.
2.1 Polimeros
Polímeros são materiais que apresentam em sua
estrutura molecular unidades relativamente simples
que se repetem, ligadas entre si por ligações
covalentes do tipo sp3. Este tipo de ligação favorece
uma grande estabilidade físico-química, formando
longas cadeias e, portanto, resultando em compostos
de alta massa molecular . Essas unidades que se
repetem são conhecidas como meros ou unidades
monoméricas. No entanto, existem polímeros que
não possuem massa molecular muito elevada. Esses
polímeros são chamados oligômeros [10].
Os polímeros podem ser classificados de
diferentes formas. Cada um do critério utilizado para
essa classificação enfoca um determinado aspecto
dos polímeros. As principais classificações são as que
se baseiam: Na origem do polímero; Na fusibilidade
e/ou solubilidade do polímero; No comportamento classificação muito usual para os polímeros é a
mecânico do polímero; No número de monômeros; apresentada na figura 1.
No método de preparação dos polímeros; Na
estrutura química da cadeia polimérica; Na
configuração dos átomos da cadeia polimérica; No
encadeamento da cadeia polimérica Na taticidade da
cadeia polimérica;[10].

Do ponto de vista tecnológico, a classificação

que se baseia no comportamento mecânico do
polímero é muito importante, uma vez que elas
determinam a utilidade do material. Eles podem ser
Figura 1. Diagrama de classificação dos
divididos em três grupos: borrachas, plásticos e
polímeros.
fibras. O pneu, a garrafa descartável de PET e os
tecidos sintéticos, estão classificados,
Tal como os materiais que se obtêm
respectivamente, como borracha, plástico e fibras
diretamente da natureza são designados por
[10].
materiais naturais, os polímeros que podem ser
designados por polímeros naturais. Muitos
A princípio todos os polímeros são materiais
polímeros como a caseína, são ditos sintéticos ou
isolantes, à medida que o dopamos, façamos com
artificiais, pois, como acontece com os restantes
que este conduza impulsos elétricos. A utilidade de
materiais artificiais, são obtidos através de
alguns polímeros depende principalmente de suas
manufatura de substâncias naturais. Os polímeros
propriedades elétricas, as quais os torna adequados
semi-sinteticos são obtidos através de reações
para isolamento elétrico, em capacitores dielétricos,
químicas a partir de polímeros naturais. Os
ou radomes de microondas. Em algumas aplicações,
polímeros sintéticos são produzidos por ação do
tais como janelas ou na camada adesiva entre os
homem através de processos de transformação,
vidros de janelas de veículos (vidros de segurança),
como reações químicas. Os polímeros podem ser
as propriedades ópticas são importantes. Plásticos e
divididos em elastómeros, termoplásticos e
elastômeros usados como implantes cirúrgicos em
termoendurecíveis. Os elastômeros, que podem
tecidos humanos devem ter comportamento
ter origem natural ou sintética, possuem um
bioquímico apropriado (devem ser inertes ou
elevado grau de elasticidade, isto é, quando
possuírem decomposição controlada, além de
submetidos a uma tensão, mesmo
apresentarem ausência de reações de rejeição pelo
significativamente. Esta deformação é reversível,
corpo humano). Propriedades térmicas podem ser de
voltando o material às suas dimensões originais
importância predominante em polímeros que
quando removida a tensão. Os elastômeros
encontram aplicação em isolação térmica [10].
possuem uma estrutura macromolecular
composta por longas cadeias, enroladas e torcidas
Dada a diversidade de estruturas que as
entre si, o que lhes confere uma grande
macromoléculas podem apresentar, a divisão dos
flexibilidade. A coesão molecular é garantida por
polímeros em grupos não é fácil, no entanto, uma
reticulações, cujo número condiciona a rigidez do
material [10].
Os restantes polímeros sintéticos podem
classificar-se em termoplásticos
termoendurecíveis, consoante a sua capacidade de
serem fundidos e solidificados repetidamente com
ou sem perda significativa das suas propriedades
fundamentais. Os termoplásticos suportam vários
ciclos térmicos (fusão e subsequente solidificação)
sem perda significativa das suas propriedades. São
constituídos por macromoléculas lineares ou
ligeiramente ramificadas e a coesão intermolecular
é garantida por ligações químicas fracas. Os
termoendurecíveis assumem a sua forma
definitiva quando processados, ou seja, quando
sujeitos a um único ciclo térmico, não podendo
voltar a ser submetidos a um aquecimento sem
deterioração das suas propriedades. São formados
por estruturas poliméricas muito ramificadas e a
coesão intermolecular é garantida por ligações
químicas fortes – as reticulações.
2.1 Propriedades mecânicas
As propriedades mecânicas compreendem a
resposta dos materiais às influências mecânicas
externas, manifestadas pela capacidade
desenvolverem deformações reversíveis
irreversíveis, e resistirem à fratura.
características dos são geralmente avaliadas por meio
de ensaios, que indicam dependências tensão-
deformação, que todavia são insuficientes para
descrever os materiais poliméricos, também a nível
molecular. Assim, as características dos polímeros,
que se refletem nas suas propriedades mecânicas,
podem ser quantificadas através de métodos cujo
empirismo é contrabalançando pelo rigor das
condições, estabelecidas nas normas técnicas. As
propriedades mecânicas mais importantes decorrem
de processos onde há grandes relaxações moleculares,
como relaxação sob tensão, escoamento sob peso
constante e histerese. Essas relaxações dependem
ou muito da temperatura, da capacidade de desenvolver
deformações reversíveis pronunciadas, que são
maiores em elastômeros, bem como da íntima
correlação entre processos mecânicos e químicos, os
quais se influenciam mutuamente de modo
substancial [10].
2.2 Propriedades elásticas
As propriedades elásticas são características
importantes da resistência dos materiais. O corpo
de prova é estendido a uma velocidade padrão
constante até a sua ruptura. A resistência à tração
é avaliada pela carga aplicada por unidade de área
no momento da ruptura. O alongamento
representa aumento percentual do comprimento
da peça sob tração, no momento da ruptura. O
módulo de elasticidade ou módulo de Young é
medido pela razão entre a tensão e a deformação,
dentro do limite elástico, em que a deformação é
totalmente reversível e proporcional à tensão.
A resistência à tração e o alongamento na
ruptura podem ser correlacionados
de quantitativamente com a estrutura do polímero.
e Materiais com grande teor de ligações cruzadas,
Essas como os utilizados em espumas rígidas, são fortes e
duros, porém quebradiços, e os elastômeros e as
espumas flexíveis tem alongamento na ruptura muito
maior. A parte inicial em linha reta da curva de
tensão / deformação, onde o material exibe perfeita
elasticidade, representa o desenovelamento e
alinhamento das cadeias macromoleculares longas e
flexíveis. Extensão posterior do polímero acarreta
deslizamento das macromoléculas com o
rompimento de ligações secundárias entre cadeias
adjacentes, podendo resultar em deformações
permanentes [10].

2.2.1 Elasticidade

Sabe-se que a Lei de Hooke traduz uma

relação de proporcionalidade entre tensões e
deformações. O comportamento de muitos
materiais segue esta lei, em amplos limites de
aplicabilidade, como é o caso dos metais, madeira, Figura 3. Gráfico tensão-deformação para uma

plásticos e cerâmicos. Existe de fato uma borracha

proporcionalidade entre tensões e deformações até

um ponto (neste caso, a cerca de 1,5% de A elasticidade de um material pode ser

alongamento, denominado limite elástico [4]. caracterizada por meio de constantes elásticas, tais

No caso de um , tal comportamento, em tração, como os módulos de Young, de torção ou de

traduz-se, graficamente, como se mostra na Figura 2. cisalhamento, que relacionam forças ou torques com
as deformações correspondentes. Esses módulos,
definidos independentemente das dimensões de uma
amostra em particular, têm grande importância
prática tanto do ponto de vista científico como
técnico. Científico porque podem fornecer
informações importantes sobre as forças internas que
mantêm unidas as partículas de um corpo e técnico
porque engenheiros precisam conhecer as
propriedades elásticas dos materiais que vão utilizar
em seus projetos [7] .

Figura 2. Gráfico Tensão-Deformação para um aço

O módulo de Young, que basta para descrever
[6].
problemas em que apenas uma dimensão é
importante (extensão ou compressão de uma barra,
Com a borracha, onde ensaios de rasgamento são
por exemplo), é definido como a razão entre a tensão
típicos, não existe proporcionalidade entre tensões e
aplicada (força por unidade de área) e a elongação
deformações, e uma curva típica tensão-deformação
resultante (variação relativa do comprimento de
(em tracção), tem o aspecto mostrado na Figura 3.
amostra) [7]. Nesta definição, assume-se que o
comprimento do corpo é muito maior que suas
dimensões laterais. Métodos para determinar o
módulo de Young, descritos em textos para
laboratório de física básica, podem ser agrupados em
duas categorias: métodos estáticos e métodos
dinâmicos [8].
 Num método estático, a amostra do material em
estudo é submetida a uma tensão visando provocar
uma deformação elástica mensurável. Num dos
experimentos clássicos, é determinado diretamente a
partir da definição estudando-se a variação do
comprimento de um fio longo quando submetido a
um esforço de tração. Outra possibilidade é estudar o
deslocamento vertical da extremidade livre de uma
barra, inicialmente na horizontal e com a outra
extremidade engastada num suporte fixo, em função
da carga afixada na extremidade livre [9].
Numa medida dinâmica, o módulo de Young
também pode ser determinado de várias maneiras.
Numa delas, a determinação é feita a partir da
frequência natural de oscilação de uma haste que
tem uma de suas extremidades presa e em cuja
extremidade livre é fixada uma carga suficiente para
provocar apenas uma pequena deformação. Numa
outra, pode também ser determinado a partir de
uma das frequências de ressonância de uma haste,
com uma ou ambas as extremidades presas, forçada
a vibrar lateralmente por meio de algum dispositivo
eletromecânico [9].
2.3 Resistência ao rasgamento
A resistência ao rasgo é uma medida de quão
bem um material pode suportar os efeitos
do rasgo . É uma medição de engenharia útil para
uma ampla variedade de materiais por
muitos métodos de teste diferentes [10].
Por exemplo, com borracha , a resistência
ao rasgo mede como o corpo de prova resiste ao
crescimento de quaisquer cortes quando
sob tensão , geralmente é medida em kN / m . A
resistência ao rasgo pode ser medida
pelo método ASTM D 412 (o mesmo usado para
medir a resistência à
tração , módulo e alongamento ). O ASTM D 624
pode ser usado para medir a resistência à
formação de um rasgo (iniciação do rasgo) e a
resistência à expansão de um rasgo (propagação
do rasgo). Independentemente de qual destes dois
está sendo medido, a amostra é mantida entre
dois suportes e uma força é aplicada até que
ocorra a referida deformação. A resistência ao
rasgo é então calculada dividindo a força aplicada
pela espessura do material [11].
Os materiais com baixa resistência ao rasgo
às vezes têm baixa resistência à abrasão e, quando
danificados, irão falhar rapidamente (isso
inclui materiais duros , uma vez que a dureza não
está relacionada à resistência ao rasgo) [11].
2.3.1 Normas técnicas para determinação da
resistência ao rasgamento
Diversas normas internacionais descrevem e
especificam este tipo de ensaio. O tipo de provete e
condições de ensaio constituem as principais
diferenças entre as diversas normas. Na figura 4,
podemos ver algumas para o ensaio de rasgamento.
Figura 4. Tipos de provete para ensaio de
rasgamento
Na Figura 5 é dada uma ideia de como os
provetes são submetidos ao ensaio. Nos
provetes pode ser ou não praticada uma incisão, com
um dispositivo adequado, por onde se irá iniciar o
rasgo. Em vermelho está indicada a forma, aleatória,
como progride o rasgo, sob o efeito da força aplicada.
Figura 5. Progressão do rasgo nos provetes
3.Estudo de caso
orientação das fibras. A incorporação de fibra
aramida curta causou um aumento no fator de
perda, sendo mais significativo no sentido
longitudinal ao da laminação, o que demonstra
uma diminuição da elasticidade. Observou-se a
anisotropia dos compostos tanto pela diferença nos
valores das propriedades, como pelo tipo de
morfologia observada (por microscopia eletrônica
de varredura) na superfície de fratura dos corpos
de prova, onde se verificou pull out das fibras. Por
fim, houve um ganho real nas propriedades físico-
mecânicas em relação à densidade dos compostos,
o que demonstra um potencial no uso destes na
fabricação de mangotes para a indústria de petróleo
e gás [11].

Nesta etapa, será apresentado um estudo de 3.1.1 Materiais Compostos

caso sobre Compostos de SBR reforçados com Compostos são materiais multifásicos que

fibra aramida curta, destacando como isso apresentam fases quimicamente distintas

influenciou nos valores de resistência ao separadas por uma interface. Para que um material

rasgamento. seja considerado composto, as propriedades dele

precisam ser diferentes quando relacionadas às

3.1 Compostos de SBR reforçados com propriedades de cada fase separadamente. Os

fibra aramida curta [11]. materiais compostos são formados,

majoritariamente, por duas fases (uma matriz

A utilização de fibras como reforço em contínua que envolve uma fase dispersa). Mesmo

compostos elastoméricos aumenta o potencial de tendo propriedades diferenciadas em relação às

uso de elastômeros em diversas aplicações (pneus, suas fases constituintes, as propriedades do

mangueiras de alta pressão, correias compostos estão diretamente relacionadas às

transportadoras). Fibras curtas de alto propriedades destas fases. Assim, o reforço

desempenho, como a fibra aramida, conferem presente da matriz faz com que não só haja um

rigidez e melhor comportamento elástico aos aumento da resistência mecânica e da

elastômeros convencionais, como, por exemplo, condutividade térmica, mas também uma proteção

em borracha nitrílica e no copolímero de estireno- contra degradação, diminuição de custos e

butadieno (SBR) [11]. diminuição da fragilidade domaterial [11].

As propriedades físico-mecânicas Diversos fatores influenciam diretamente

apresentaram uma melhora significativa, nas propriedades mecânicas de um composto que
observando-se maiores valores de módulo no apresenta fibras dispersas em uma matriz. Dentre
sentido longitudinal ao de laminação e melhor estes fatores está aconcentração e orientação das
resistência ao rasgo no sentido transversal ao de fibras, a geometria das mesmas, a distribuição das
fases de fração volumétrica (volume ocupado por
uma fase pelo volume total do composto) e adesão
entre a fibra e a matriz. O comportamento
mecânico do composto está diretamente
relacionado à interação de suas fases constituintes.
Caso a adesão entre elas seja fraca, o processo de
fratura irá destacar as fibras da matriz (as fibras
terão um comportamento semelhante
descontinuidades presentes no material). Já se
houver uma boa adesão, ocorrerá
compartilhamento de tensão e haverá um menor
arrancamento da fibra; logo, a fibra estará agindo
como um material de reforço [11].
A fase dispersa em um composto pode se
apresentar na forma de partículas, fibras contínuas
e fibras curtas. É importante ressaltar que os
elementos de reforço que suportam
carregamento mecânico são as fibras e os
filamentos. As fibras, por sua vez, são reforços
efetivos pelo fato de apresentarem uma menor
quantidade de defeitos quando em comparação
com a sua forma mássica. Quanto mais finos são os
materiais, maior é a tendência da resistência deste
se aproximar daresistência teórica (representação
da resistência coesiva das camadas adjacentes de
átomos), já que a tendência é de apresentarem
defeitos menores que possam levar a falha do
material. Basicamente, as fibras podem ser
divididas em sintéticas e naturais. Exemplos de
fibras sintéticas são as fibras rayon, de vidro e
aramida.
3.1.2 Fibra Aramida
As fibras aramida são fibras sintéticas que,
expressas em termos de composição química, são
chamadas de poliamidas aromáticas. Elas podem
ser encontradas sob diversas formas e com
diferentes seções transversais. A "Federal Trade
Commission" (EUA) define a fibra aramida como
uma fibra manufaturada que tem como substância
componente uma longa cadeia de poliamida
sintética, sendo que pelo menos 85% de suas
ligações são amida (-CO-NH) ligadas diretamente a
doisanéis aromáticos [11].
A fibra aramida pode ser encontradas em
diversas formas físicas. Entre as principais,
encontram-se fios, segmentos curtos, polpa,
a
tecidos e não tecidos (as formas podem ser vistas
na Figura 6). É importante ressaltar que a escolha
um
por uma determinada forma física irá depender,
principalmente, da aplicação a qual ela estará
destinada. A fibra aramida na forma de polpa, por
exemplo, é usada no intuito de melhorar o
desempenho de elastômeros e resinas,
principalmente quando se tem como requisito
resistência a altas temperaturas [11].
o
Em relação a propriedades físico-
mecânicas, as fibras aramida apresentam
resistência à tração em torno de 3.150 MPa, módulo
elástico de 125.000 MPa e não apresentam
resistência à compressão. Já em relação às
propriedades estruturais, o valor médio do
comprimento da fibra fica em torno de 1 a 2 mm, o
diâmetro (centro/fibrila) tem um valor médio de
10µm/100µm e a sua área superficial específicaé de
aproximadamente 14 m2/g. Outra característica
importante é o fato dos raiosUV solares degradarem
e decomporem a aramida; logo, não é indicado que
ela seja utilizada em ambientes externos sem que
haja uma proteção contra a luz solar [11].
3.1.3 Elastômeros reforçados com
fibras
O uso ou incorporação de fibras curtas em
elastômeros, tendo como objetivo a melhora de
propriedades mecânicas em peças como
mangueiras e correias, tem sido pouco difundido na
literatura. Alguns aspectos importantes quando se
utiliza fibras curtas são: relação de aspecto
estrutural e orientação das fibras; dispersão
adequada; forte interação interfacial entre as fibras
e a matriz polimérica; e equilíbrio entre a rigidez,
flexibilidade e capacidade de processamento. É
importanteressaltar que o reforço mecânico obtido
em escala laboratorial, nem sempre é obtido em
sistemas de produção convencionais [11].
3.1.4 Melhoria nas propriedades nos
elastômeros
Visando uma aplicação em pneus (que
necessita um aumento de resiliência e diminuição
da perda em energia), estudou-se a possibilidade
de usar fibras de vidro, fibras de carbono e areia
como reforços em bandas de rodagem de borracha
natural e sintética. Em todos os casos, o módulo e
a dureza dos compostos aumentaram, sendo que a
areia se mostrou uma promotora de resiliência
eficaz (principalmente em bandas de rodagem de
borracha natural). Além disso, para as três fases
dispersas, houve uma melhora no coeficiente de
atrito em pavimento seco e na resistência ao
desgaste [11].
Investigou-se, também, as propriedades
mecânicas e dinâmico-mecânicas de um composto
típico de banda de rodagem de pneu reforçado com
fibra aramida curta.
Em relação ao ensaio de tração, houve um aumento
no módulo, mas uma leve queda na tensão de
ruptura e no alongamento (quando feita a
comparação com o mesmo composto sem reforço).
Este fenômeno foi observado tanto nos compostos
alongados na direção longitudinal quanto nos
alongados na direção transversal à orientação das
fibras. Além disso, evidenciou-se que os valores
relativos do módulo de perdadependem do estado
do polímero no estado vítreo ou borrachoso. Assim,
um alto fato de perda em baixas temperaturas,
aliado a um baixo fator de perda em altas
temperaturas, apresenta uma melhoria equilibrada
na resistência ao rolamento e na tração em bandas
de rodagem com a adição das fibras. Por fim,
observou-se um mecanismo de falha por
arrancamento da fibra na superfície da fratura, o
que pode ser atribuído a maior resistência da fibra
aramida frente à força de ligação entre a borracha e
as mesmas [11].
Na literatura, empregou-se fibras curtas de
Nylon em diferentes matrizes elastoméricas
(borracha natural, NBR e SBR). Houve um
aumento no módulo e nas resistências à abrasão e
ao rasgo com a adição da fibra, sendo que houve
uma diminuição no desenvolvimento de calor. Em
todos os casos, o alongamento na ruptura
apresentou uma diminuição, o que serve de
indicativo que a fibra está aderida na matriz
elastomérica. Outro indicativo desta adesão é o fato
do grau de inchamento do extrudado ter diminuído
significativamente ao se ter fibras
incorporadas[11]. Além disso, evidenciou-se uma
dependência da matriz elastomérica e da
quantidade de fibra adicionada no aumento de
resistência à tração. No caso da borracha natural,
verificou-se um aumento na resistência à tração
com o aumento do teor de fibras de Nylon. Já no
caso dos compostos de SBR com baixas
concentrações de fibra aramida (aproximadamente
5% em peso), houve uma diminuição da resistência
à tração, que foi atribuída à diluição das partículas
de cargade reforço utilizadas nos compostos [11].
Fez-se um estudo comparativo,
adicionando-se três tipos diferentes de fibras curtas
(vidro, aramida e celulose) em três bases
elastoméricas (borracha natural, SBR e EPDM).
Altas concentrações de fibra aramida (10 e 20%)
apresentaram os melhores resultados em questões
de propriedades mecânicas (módulo, dureza e
resistência à tração, ao rasgo e à abrasão).
Entretanto, os compostos carregados com fibra
aramidatambém foram aqueles que apresentaram a
maior queda de elasticidade. Isto fez com que
houvesse uma diminuição na resiliência destes
compostos e que a deformação

permanente à compressão aumentasse. Outro fator

importante observado neste estudo foi o aumento
da taxa de cura dos compostos na presença de
fibras, que fez com que o tempo de segurança e que
o tempo de cura diminuíssem (especialmente para
compostos carregados com fibra aramida). O grau
de orientação das fibras mostrou ter um efeito
importante nas propriedades finais dos compostos.
No caso deuma ligação interfacial satisfatória entre
a fibra e a matriz elastomérica, houve uma melhora
maior nas propriedades no sentido de orientação
Figura 7 – Equipamentos tilizados no
das fibras [11].
experimento.
3.1.5 Método experimental
As matérias-primas utilizadas na preparação 3.1.6 Preparação dos compostos
dos compostos elastoméricos com fibra aramida Todos os compostos elastoméricos foram
curta se encontram descritos na figura 6. preparados na câmara de mistura do reômetro de
torque Haake Polylab com um fator de enchimento
de 75%. O rotor utilizado foi do tipo tangencial
(Bambury) a uma rotação de 60 rpm. As
formulações dos compostos encontram-se na
Figura 8 [11]

Figura 6. Materiais utilizados no experimento.

Os equipamentos utilizados na preparação,

vulcanização, e na caracterização dos compostos
elastoméricos encontram-se descritos na figura 7.

Figura 8. Compostos do experimento

A única alteração nas formulações foi a

quantidade de fibra aramida, que já se apresenta
ajustada na Tabela 4 para representar apenas a
quantidade real de polpa de fibra adicionada..
Escolheu-se uma formulação comum de SBR para
o desenvolvimento deste trabalho, visando uma
dureza em torno de 60 Shore A, e foi utilizado um
negro de fumo de uso geral e com característica
semi-reforçante (N550) para que o efeito da fibra
fosse melhor observado. Tomando-se como base o
composto referência, variou- se o percentual em
peso de fibra aramida curta no composto. Os
percentuais de fibraaramida utilizados foram 1%,
2%, 3% e 5%, e os compostos foram denominados,
respectivamente, Composto 1%FA, Composto
2%FA, Composto 3%FA e Composto 5%FA [11]
Caracterização dos compostos

3.1.7 Resistência ao rasgamento Figura 9 - Fases do ensaio

O rasgamento do elastômero é um processo
de ruptura mecânico, que inicia- se e propaga-se de
um lado de alta concentração de tensões no corpo
de prova, o que resulta em um corte, um defeito ou
uma deformação localizada. O ensaio de resistência
ao rasgamento foi realizado conforme a norma
ASTM D624 em uma máquina universal de
ensaios, com corpos de prova do tipo C (usa-se um
ângulo retocomo concentrador de tensões e não há
entalhe), utilizando-se uma célula de carga de 1 kN
e a uma velocidade de 500 mm/min. Realizou-se o
ensaio no sentido longitudinal e transversal ao de
laminação (que também representa o sentido de
orientação das fibra aramida curta) [11].
Na Figura 9 mostram-se duas fases do ensaio
do rasgo de um provete tipo ângulo reto. Na figura
da esquerda, o início do ensaio e na figura da
direita uma fase avançada do mesmo, ainda antes
do rasgo se ter iniciado. A força de rasgo, em
Newton, é dividida pela espessura do provete em
milímetros (ou outras unidades adequadas, como
por exemplo kgf por milímetro ou libras-força por
polegada) [11].
de resistência ao rasgo,
com provetes tipo ângulo reto.
Para esta propriedade, valores da ordem dos
50 N/mm devem ser considerados altos para a
generalidade das borrachas (NR, CR, EPDM,
TMQ); valores da ordem dos 15 N/mm devem ser
considerados correntes. Para borracha de
poliuretano, valores de cerca 140 N/mm devem ser
considerados altos e valores de 80 N/mm devem
ser considerados valores correntes [11].
3.1.8 Resultados do ensaio de
rasgamento
A figura 10 contém os dados de resistência
ao rasgamento dos compostos SBR/FA no sentido
longitudinal e transversal ao de orientação da fibra
aramida. Em ambos os sentidos houve um
aumento significativo da resistência ao rasgamento
devido à presença de fibra. O Composto 5%FA
apresentou quase o dobro deresistência no sentido
transversal em relação ao Composto Referência. A
partir dos resultados, verifica-se que a fibra tem
efeito reforçante mesmo em baixas concentrações
[11].
 ocorrência de ruptura da fibra [11].

Figura 10 - Resultados da resistência ao

rasgamento após adição da fibra

Realizando-se a comparação entre os

sentidos de realização do ensaio, percebe-se uma
inversão de fenômeno em relação ao Composto Figura 11 - Micrografia de MEV da superfície de
Referência. Enquanto ele apresentou uma fratura do CP de ensaio de rasgo (TD) doComposto
5%FA (esquerda 100x; direita 300x).
diminuição na sua resistência ao rasgamento no
sentido transversal, os compostos que possuem A
fibra apresentaram resultados melhores do (a) (b)

sentido transversal em relação ao longitudinal.

Esse fenômeno que ocorreu nos compostos com
fibra foi inverso ao ocorrido no ensaio de tração
provavelmente pelo processo de ruptura ser
diferente. No ensaio de resistência ao rasgo, há a
formação de uma trinca ou entalhe na região de
maior concentração de tensões e a partir dela há
Figura 12 - Micrografia de MEV da superfície de
uma propagação até a ruptura [11]. fratura do CP de ensaio de rasgo (MD) doComposto
5%FA, aumento de 100x (a), 300x (b)
As Figuras 11 e 12 mostram micrografias de
MEV da superfície de fratura dosCP’s de ensaio de A resistência ao rasgamento no sentido
rasgo no sentido longitudinal e transversal ao de transversal provavelmente apresentou valores
orientação da fibra. A partir da morfologia da maiores pelo fato de ter ocorrido menos
superfície de fratura, podem-se compreender os escorregamento e menos arrancamento das fibras
resultados obtidos no ensaio de resistência ao nesse sentido. Além disso, as extremidades das
rasgamento [11]. fibras são os pontos que não possuem adesão com
Observa-se que há uma maior ocorrência do efeito a matriz, enquanto que ao longo da fibra existe essa
pull out no sentido longitudinal de laminação. No adesão. Logo, é necessário que haja um
entanto, não houve nenhum ponto de ruptura da descolamento da fibra na regiãoda interface fibra-
fibra neste sentido (como ocorreu na superfície de matriz, o que necessita de uma força maior. Por
fratura dos CP’s de tração MD), o que evidencia fim, as fibras não estão perfeitamente alinhadas,
que ocorreu apenas o escorregamento e o havendo entrelaçamentos entre elas que
arrancamento das mesmas da matriz elastomérica. contribuem para este aumento da resistência ao
Isso pode ser visto com mais clareza na Figura 12, rasgo no sentido transversal [11].
que mostra apresença de cavidades sem nenhuma
4. Considerações finais
O ensaio de rasgamento nos permite conhecer a
[8] S. Tyagi and A.E. Lord Jr, Am. J. Phys. 48, 205
resistência dos materiais ao rasgamento e com isso, (1980).
saber como tal material se comporta a partir de um
[9] F. Tyler, A Laboratory Manual of Physics
defeito pré existente. Essa característica é
(Edward Arnold Publishers Ltd, London, 1974), 4 ed.
importante pois nos diz a respeito da anisotropia
do material, evidenciando que as propriedades
[10]http://educa.fc.up.pt/ficheiros/noticias/69/doc
elásticas deste tipo de material dependem da umentos/108/Manual%20Pol%A1meros%20e%20M
direção, tal como ocorre em materiais com uma ateriais%20polimericos%20NV.pdf. Acesso em:
25/09/2021
estrutura interna definida.
A partir disso, é possível buscar por opções que [11] DE SÁ, Stéphanie Cardoso. Compostos de
SBR reforçados com fibra aramida curta. Porto
tragam melhores resultados em respeito ao
Alegre, 2015.
rasgamento, como foi feito no caso dos compostos
reforçados com fibra aramida [11].

Referências

[1] Resistência ao rasgamento. Disponível em:

http://www.ccdm.ufscar.br/polimeros-ensaios-
tecnologicos/ensaios-mecanico/resistencia-ao-
rasgamento/. Acesso em: 22/09/2021

[2] https://teslaconcursos.com.br/wp-
content/uploads/2016/03/Ensaios.pdf. Acesso
em: 22/09/2021.

[3] https://www.itensp.com.br/ensaios-
mecanicos. Acesso em: 22/09/2021

[4] https://www.ctborracha.com/borracha-
sintese-historica/propriedades-das-borrachas-
vulcanizadas/propriedades-fisicas/propriedades-
mecanicas/resistencia-ao-rasgo. Acesso em:
22/09/2021

[5] https://www.testresources.net/applications/tes
t-types/tear-test/. Acesso em: 22/09/2021

[6] https://www.researchgate.net/figure/Figura-
15-Curva-tensao-deformacao-de-um-aco-de-alta-
resistencia-17_fig7_276288572. Acesso em:
23/09/2021

[7] J. Goldemberg, Física Geral e Experimental

(Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1970), 2ª
ed., v. 1, p. 275-278 e p. 315-318.
Disciplina de Resistência de Materiais, Artigo 2
(2018.2)