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— Não vou não! Sabe que eu posso fazer isso de olhos fechados!
Se ela demorasse ferraria com meu pedido. Sei que não sou o melhor
homem do mundo, mas o melhor nem sempre vale a pena. O que importa é
que sou eu quem mais a ama e isso tem que valer para alguma coisa.
— Oi.
Minha mente se fechou pro que ele falava. Consegui prestar atenção
somente na primeira frase e mais nada... — Como ele estava tão calmo assim,
falando que a irmã tinha sofrido um acidente? Eu não conseguia imaginar
minha vida sem ela, e ele que era da família não estava nem aí?!
Você acha que sua vida não pode acabar de uma hora para outra?
Você está mais do que enganado. Porque a minha não precisou nem de dois
segundos depois de saber o que havia acontecido para se despedaçar.
Tapei minha boca, tentando não fazer nem um mísero barulho que
pudesse entregar minha localização.
Era uma moça pobre e sem amigos. Henry era rico e tinha vários
“amigos” — se é que eu poderia chamá-los assim. — Eu fui atraída pela sua
aura de poder, e tinha ficado cega quanto às suas verdadeiras intenções. —
Achava mesmo que ele se interessaria pela filha de uma prostituta, Rose?
Como você é inocente!
— Achamos você, Roselyn. Seu nome é tão lindo sabe! Meus amigos
estão dizendo que não é só o nome. Não é galera?
— Ela é toda de vocês. Só tentem não fazer muita sujeira, por favor.
Porra e agora?
O jogo acabou e ganhamos por pouco. Quando digo pouco, foi pouco
mesmo! Diferença de três pontos. Três maravilhosos pontos! Nunca me senti
tão leve por tão pouco.
Deu tchau pra todos e se mandou. Ele era um idiota, mas tinha seus
momentos.
Eu podia ouvir falarem mal de todo mundo, menos dos dois. Porque
na hora que precisei, foram os únicos a me dar apoio. Mike era parceiro
também, mas só o conhecemos bem depois. Eu, Silas e Currey, entramos na
NBA na mesma época e ter alguém com quem contar em um ambiente novo,
faz toda a diferença. Por isso eu faria qualquer coisa por eles, até mesmo
dançar Y.M.C.A.
Mas é lógico que eu não era besta a ponto de dizer isso à eles.
— Mas que absurdo! Eu sou amiga dela! Você não pode me barrar!
A recepcionista ficou olhando pra minha cara, mas eu sabia que essa
batalha já estava ganha, assim que em poucos segundos sua face se iluminou
em reconhecimento.
Falou e olhou com uma cara de inveja para Rose, que a essa altura
estava se segurando para não voar no pescoço da coitada da moça. Peguei
nossa autorização de subida e a abracei, tentando evitar uma explosão de
— Convencido.
— Está lá dentro.
— Feito!
Esse cara não perdia uma! Pena que quase nenhuma dava bola pra ele.
Se essa desse, seria uma boa... Silas merecia...
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Ficamos esperando por notícia e logo Richard chegou. O trabalho dele
com certeza já havia começado. Enfrentar a imprensa. Eu tinha dó dele por
isso. Estava lascado.
Mal chegou e vimos Josh vindo meio tonto para esperar também.
Estendi a mão pro Silas passar as cem pratas e gargalhei ao ver sua
cara de nervoso. Ninguém mandou apostar! Sabia que essa seria fácil!
— Calma Josh. Até parece que não conhece esses dois! Como estão
as coisas por lá?
— Até a hora que desmaiei estava indo tudo bem... Acho que eu vou
vomitar. — Ele colocou a mão na boca e saiu correndo em direção ao
corredor, onde ficavam os banheiros.
Pensei alto, mas Silas ouviu e quase morreu de rir. Acho que eu tinha
que mudar de profissão. Palhaço me daria muito dinheiro.
— Bom, a mãe e o bebê estão bem. Quem quiser ver a criança vá até
o berçário.
— Josh, parceiro, sabe que pai é quem cria, não sabe? — Falei assim
que consegui ver a menina, envolta em uma manta rosa e mexendo as
mãozinhas como quem queria sair dali e conhecer o mundo.
— Vai se ferrar!
A enfermeira vendo que todos nós estávamos nos matando para ver a
menina. Pegou-a no colo e trouxe para perto do vidro para vermos melhor e
puta merda! Eu estava quase chorando e não era o único. Silas tinha voltado
fungando, Rose enxugava as lágrimas e Josh sorria e chorava ao mesmo
tempo.
Três homens chorando que nem condenados! Era pra acabar mesmo!
Rose não contava porque ela era mulher e mulheres sempre choravam em
situações como essas, assim como em casamentos. Eu nunca entenderia esse
ponto, era uma verdadeira incógnita.
— Ganharam?
— Sim. Tchau pra vocês, vou dormir um pouco. Mais tarde volto.
Sair nesse dia parecia tão errado que eu acabava não fazendo nada.
Sentava no meu sofá e esperava o tempo passar junto com a minha dor. Nem
ver o pessoal eu fazia questão, só o Josh e o Silas sabiam o porquê da minha
falta de vontade nessa data, ninguém mais precisava saber. Ninguém.
Fui até o quarto, abri o closet e procurei na gaveta onde eu sabia que
encontraria sua foto, peguei-a e no mesmo momento comecei a chorar. Amar
era complicado, mesmo depois de tantos anos eu continuava da mesma
forma, ela era o meu tudo.
Sabe o que é engraçado? Saber que mesmo ficando todo dia ao seu lado, eu
não me canso, você é tão especial pra mim, Jay. Sempre vai ser.
Quando tudo parecia não fazer sentido, minha mãe me colocava pra
cima e tentava me animar, só que era tão angustiante; ficar com várias
mulheres e em nenhuma me encontrar; conhecer várias pessoas e somente em
algumas ser capaz de confiar...
A vida é tão injusta e maléfica que todos os dias você tem que
confirmar sua vontade de ser alguém e não sucumbir a miséria de apenas
interpretar um papel pré-estipulado pela sociedade.
Fiquei um bom tempo ali sem fazer nada, sem me permitir pensar em
nada para não sofrer mais ainda... Criei coragem e olhei o visor do celular, a
maioria das ligações eram da Rose e isso só me fez sentir mais remorso por
usá-la na intenção de acalmar um sentimento que pelo visto, nunca se
aquietaria. O resto das chamadas eram do Josh e do Silas — esses dois não
desistiam de tentar me tirar da fossa, eram amigos de verdade e isso hoje em
dia é mais raro que diamante e muito mais valioso.
Decidi dar uma volta pra tentar esquecer um pouco tudo isso. Eu era
um covarde por não ter coragem de enfrentar meus fantasmas, minha
consciência só sabia me fazer retroceder. Mas hoje não. Eu tentaria mais uma
vez viver a vida que há sete anos eu não vivia. Hoje eu seria somente o Allan,
e não o James pelo qual todos me conheciam.
Aquela voz que nos encoraja a fazer algo que nem nós mesmos
acreditamos... Todos a temos, só que alguns não ouvem ou não dão a mínima
bola, pelo visto eu tinha mudado de lado, afinal.
Dirigi que nem um louco por todos os lugares. Rodei por mais ou
menos umas três horas sem parar e me sentia tão livre, como nunca senti
antes. — Depois que aceitamos a verdade que rodeia nossa vida, parece que
nos libertamos das amarras que nos seguram inconscientemente e nos puxam
para trás. Sempre que alguém recusa a felicidade e faz mal a outra pessoa,
essas amarras se fortalecem e tudo o que é de ruim acaba sendo atraído por
essa força invisível. Por isso, fazer o bem atraía o bem. Já experimentou fazer
o bem sem esperar nada em troca? Ajudar alguém nem que seja com comida?
Saber que você fez a diferença na dura realidade da sobrevivência de uma
pessoa, que talvez, não tivesse mais esperança? Se não, tem que
experimentar! Isso é simplesmente libertador e acalma muito mais que as
sessões idiotas de Yoga. Se todos no mundo ajudassem os outros sem
segundas intenções, quantas pessoas seriam beneficiadas com isso?
O mundo inteiro é tão hipócrita que vive pregando a paz mundial com
a conta bancária cheia, enquanto alguns não tem dinheiro nem para comprar
um grão de feijão.
Dizem que os jogadores de basquete são astros que têm muita sorte,
mas ninguém vê o passado das pessoas por debaixo do uniforme e
patrocínios, ninguém vê o que você passou para estar ali. Porque é muito
mais fácil julgar sem se importar em saber... Muito mais fácil.
Silas estava sentado nas poltronas com Rose deitada em seu colo, e
pela forma que Silas dormia com a mão descansando na cabeça dela, eu
podia até saber o que ele estava fazendo antes. Eu era um idiota mesmo!
Talvez ela nem gostasse de mim e só estivesse se aproveitando da
companhia. Queria virar as costas e ir embora, mas meu orgulho não deixaria,
nem ferrando!
Cheguei perto dos dois e não emiti som nenhum, fiquei olhando e
percebi que alguém me encarava, virei a cabeça e me deparei com um Josh
petrificado, prevendo a confusão que aconteceria. Eu o respeitava e não
brigaria no hospital no mesmo dia em que sua filha havia nascido, eu tinha
um pouco de bom senso. Muito pouco, mas tinha.
Quem tinha que estar correndo sem ver a cara dela era eu, já que ela
nem esperou vinte e quatro horas se passarem para se aninhar no colo do
Silas. Pensei em seu nome e imediatamente encarei-o, deixando transparecer
que mais cedo ou mais tarde nós iríamos conversar.
— Porra Henry, porque você não nos disse que ela era virgem?
— Agora já era!
Eu gritava e sentia meu corpo sendo investido com mais força ainda
até que parei de gritar e deixei que fizessem o que queriam... Eu não
conseguiria fazer mais nada, só fiquei esperando eles se cansarem e darem o
fim que tinham planejado para mim.
Quem saberia?
Olhei fixamente em seus olhos e menti com a cara mais deslavada que
pude aplicar no momento. Eu não queria ter que contar isso para ele, não
queria deixá-lo saber de tudo o que tinha acontecido comigo...
Eu já não era mais a mesma garota pela qual todos sentiam pena pelo
ocorrido.
Não, eu não era mais. E isso graças ao foco que consegui manter nos
estudos e nas pessoas que encontrei pelo caminho.
Sobreviver da piedade das pessoas não era uma alternativa pra mim,
todos temos que aceitar o que nos foi dado, mesmo não sendo algo do qual
queira se lembrar. Levantar a cabeça e seguir em frente era no mínimo o que
deveria ser feito, porque passado não move o futuro.
Quando conheci a Beatriz, falei como queria ser chamada, ela, em sua
paz e amabilidade nunca me perguntou o porquê dessa vontade, somente
passou a me chamar como Rose e a todos que me apresentava, era assim que
falava. Sabia que podia confiar cegamente nela, mas como já disse, não
queria ser taxada como coitada, eu só queria viver sendo eu mesma e tentar
fazer o que gostava...
— Por favor gata, não faz isso comigo não! Não imagina o quanto
fiquei em choque quando te vi gritar e chorar sem saber o que estava
acontecendo. Me conta o que houve, por favor? Eu estou implorando, e sabe
que não costumo fazer isso...
— Tudo bem.
Fiquei aliviada quando ele saiu da minha frente, mas apenas fez isso
para se sentar ao meu lado e ficar quieto, não emitindo um mísero som. Ele
era alto e sentado naqueles bancos de concreto parecia ficar ainda mais fora
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de contexto. Eu, com certeza, teria caído na gargalhada se não estivesse tão
amargurada pelo déjà vu que acabara de ter.
— Pro que der e vier, não precisa agradecer... Entra quando estiver
melhor, pra ninguém ficar te perguntando o que aconteceu, porque vai por
mim, isso seria um saco.
Deu uma risada rouca e sumiu pelos corredores brancos como papel,
deixando-me sem saber como agir dali por diante, agora que ele tinha visto
um dos meus piores momentos e entendido que isso era muito maior do que
se poderia pensar.
Eu não fazia a menor ideia do que acontecera para eles ficarem assim.
Em todo esse tempo que os conhecia, nunca os vi tão distantes um do outro,
sempre foram unidos como carne e unha, dispostos a carregar o mundo nas
costas somente para ver o outro bem. Tudo estava muito estranho e no
mesmo momento em que queria descobrir, eu também não queria, porque
suspeitava firmemente que o motivo para tudo isso fosse eu.
Meu Deus, só podia ter sido isso! Allan viu e entendeu tudo errado.
Acho que quando saí correndo, essa bomba estourou bem na mão do
Silas, que sinceramente era uma das pessoas mais ingênuas e leais que eu
conhecia. Só Allan não percebia que seu amigo nunca faria algo para magoá-
lo, assim como o Josh... Os três se amavam como irmãos, mas não se davam
muita conta disso.
Agora eu só tinha que tentar explicar para o cabeça dura, que Silas só
estava preocupado comigo, assim como todos ali ficariam...
Já estava sendo mais do que egoísta com ela, sem me dar por inteiro,
me relacionando sem ter superado outra pessoa, então como podia julgá-la?
Era uma puta de uma injustiça da minha parte por mantê-la comigo sem saber
ao certo como continuaria com tudo isso, mas eu simplesmente não
conseguia deixá-la ir embora...
Nunca achei que fosse perceber algo do tipo, mas com ela eu
acabava percebendo. Sempre que sorria não era com a alma, não sei se isso
fazia algum sentido, mas era o que eu conseguia imaginar para descrever...
Criei coragem e ignorei o seu olhar em minha direção, indo até onde
Silas estava e murmurando um pedido de desculpas baixo, mas que tinha
certeza que ele ouvira, fui até o Josh e fiz a mesma coisa, o que
automaticamente liberou um peso em minhas costas.
— O que você quer de mim? Sei lá, mas às vezes eu acho que o
sentimento não é recíproco e eu só tenho uma coisa a te dizer: se acha que
vou ficar esperando se decidir ou entender a si mesmo, você está muito
enganado... Eu tenho meus próprios demônios para enfrentar e não vou
suportar ficar com alguém que não irá entendê-los...
Não entendi muito bem o que aconteceu desde o momento em que saí
do hospital até o momento em que vi a miragem, — que era como eu preferia
chamar — só imaginei que algo muito sério acabara de se desenrolar entre
Rose e eu, e que nada consequentemente seria como antes.
Não queria comer, nem fazer nada além de treinar. Parecia que tinha
uma coisa dentro de mim que sugava toda a vontade de fazer algo para sair
dessa.
Mas mal sabia eu, que quando saísse com o carro na rua eu a veria
novamente, e finalmente descobriria que ela era real...
A filha de uma mãe — para não dizer mais — nem parece que
procriou nos últimos dias! Apareceu passeando com o mesmo corpo de
antes, nos fazendo morrer de inveja, tanto pelo seu homem, como pelo seu
visual.
Bia, eu te amo! Queria ser que nem você, mas que é uma vadia
sortuda, você sabe que é! Temos notícias ainda sobre o segundo maior astro
do Globe, James vulgo “Jamesconda”, que pelo visto se deixou abater pela
crise e não foi visto na última semana, acompanhado da cópia de Megan Fox
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bibliotecária.
— Bem também.
Ele ficou esperando um tempo ali, sem falar nada e eu percebi que
estava sendo rude sem convidá-lo a entrar.
— Quer entrar?
— Não, só vim pra ver se estava tudo bem... Qualquer coisa me ligue,
ok?
— Claro.
— Allan é meu amigo, mas ele não faz ideia do erro que está
cometendo. Se cuida, Rose.
Ele deu as costas e andou devagar até as escadas e eu não pude evitar
de acompanha-lo com o olhar. Ele era uma pessoa maravilhosa e um dia
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encontraria quem desse valor ao seu verdadeiro eu. Muitas mulheres com
quem ele saía tentavam mudar esse seu jeito único de ser, mas isso fazia dele
quem ele era e ninguém jamais poderia tentar mudá-lo, apenas aceitá-lo.
Fui até a cozinha beber um copo de água e enquanto estava ali, tudo o
que eu vivi passou pelos meus olhos, me deixando absorta em meus
pensamentos... Ouvi meu celular tocando na sala e fui até lá para ver quem
era, me assustando assim que o peguei na mão. Não sabia o que uma das
minhas primas queria comigo, mas ligar assim do nada, não era uma boa
notícia, nem de longe.
— Oi.
— Rose?
— É que sua mãe está muito ruim prima, e liguei para avisar que não
tem muito tempo se ainda quiser vê-la viva... Ela não queria que eu entrasse
em contato com você, mas não seria justo da minha parte, então espero que
venha e não faça me arrepender por ter te avisado.
Como assim minha mãe estava ruim? Quando saí da minha cidade
natal ela estava muito bem, com a vida a todo vapor. Sei que ela não tinha
sido a melhor mãe do mundo, mas ainda era minha mãe e merecia a minha
presença nesse momento. Sabia que caso eu não fosse, ficaria com a
consciência pesada para o resto da vida, e com razão...
Mas como eu enfrentaria todos os meus demônios, que estavam esperando
apenas meu retorno naquela cidade para me deixarem louca?
Eu não tinha fugido por puro capricho, tinha fugido por causa da
língua afiada das pessoas e por causa de todos os julgamentos que acabei
recebendo sem ter culpa do que tinha me acontecido.
Todos deveriam entender que não era uma roupa ou o lugar onde a
pessoa estava que davam o direito dela ser violentada sem a menor
compaixão. Deveriam entender que a vítima é vítima e não culpada, ponto
final. Ficar inventando desculpas para alguns fazerem o que querem era
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somente incentivo ao crime e quem pagavam éramos nós, as vítimas de
abuso.
Muitos diziam isso porque nada tinha acontecido às suas filhas, filhos,
ou qualquer pessoa próxima, mas e se fossem eles no meu lugar?
— Está aí ainda?
— Estou e pode deixar que irei, Kate. Só não diga nada a mamãe.
— Tudo bem.
“Vai dar tudo certo Rose, você não vai encontrar nenhum deles.
Fique tranquila.”
“Você não vai vê-lo Rose, nem ele, muito menos seus amigos idiotas.
Não vai. É só ficar com a sua mãe e voltar direto.”
Criei coragem, sabendo que teria que ir até Torrington, e que Deus me
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protegesse.
Saí tão vegetativa que nem pensei em avisar ninguém, não que
alguém fosse me procurar ou se preocupar por onde eu andava, na verdade,
no momento, eu não tinha ninguém a quem dar satisfações e isso era
totalmente depressivo.
— Rose, você está muito linda! Como anda a vida na cidade grande?
Sorri sabendo que ela tinha descrito tudo com exatidão e fui entrando,
olhando cada cômodo que na minha infância suportaram todas as
brincadeiras com giz, lápis de cor e até mesmo água.
— Jay.
Continuei apenas olhando-a, sem saber o que dizer. Sem saber o que
fazer.
— Está me ouvindo?
Eu tinha que questioná-la. Tinha que pelo menos cobrar uma resposta
para tudo o que estava acontecendo ali. Eu não era o trouxa que ela pensava
que eu era, e merecia muito mais do que ela estava disposta a dar.
Era. A. Única. Vez. Na. Minha. Vida. Que. A. Paciência. Me. Faltava.
— Não.
— Por favor, Jay? O assunto é sério e como você está famoso não
podemos ser vistos conversando aqui.
Parei na minha vaga e desci, sem nem olhar para o lado. Esperei ela
descer, travei o carro e fui em direção ao elevador, tudo em modo automático,
tudo sem proferir uma única palavra, ou até mesmo olhá-la.
Segui até meu apartamento e abri a porta, mantendo-a aberta para que
ela passasse e quando ela o fez, seu perfume invadiu minhas narinas, me
fazendo sentir coisas que eu não queria sentir.
Eu estava fodido.
Porra!
— As coisas melhoraram.
Eu consegui tudo isso em parte por causa dela, mas em parte, também
pela sua suposta “morte”. Só queria mostrar que era capaz, e consegui, mas
agora vejo que estive pensando em um fantasma enquanto a pessoa nem tinha
morrido.
Falei onde ficava e a esperei, sentado no sofá, puto da vida com toda
essa merda e sua saída pela tangente, supostamente indo ao banheiro.
Abri a porta com todo o arsenal sendo atirado sobre mim. E sabe o
que era pior? Eu sabia que ele tinha razão, ele tinha toda a merda da razão.
Rose não merecia isso e eu era o pior homem do mundo por tê-la feito sofrer.
— Susan?
— Vocês se conhecem?
Era.
Era.
Era.
Concluindo assim como eu que era muita merda para um dia só.
Ouvi baterem na porta e fui abrir, até porque o clima não era nem um
pouco amigável para eu ficar parado.
— Olha, eu não sei que porra você fez. Só sei que a Bia está puta da
vida contigo e pode ter certeza parceiro, que quando eu digo “com você” eu
acabo incluído, porque infelizmente fui te escolher como amigo. Então se
você não for resolver a porcaria que aprontou, eu não serei mais seu amigo,
pronto e acabou. Não sou obrigado a ficar tendo discussões de
relacionamento por sua causa.
Olhei Josh e só esperei ele ver o que estava acontecendo. Quando viu
a mulher na minha sala, o Silas perplexo e eu sem ação, só murmurou um
“fodeu” e se virou para ir embora.
O que eu não deixei, é claro. Amigos existiam para isso e já que ele
estava ali, que ficasse e entendesse o que estava acontecendo.
— Sim.
Ficamos os três parados, sem ter a menor noção do que falar. Silas por
já conhecê-la, ou achar que a conhecia, Josh por saber de quem se tratava e
eu por estar mais perdido que a bola em dia de jogo.
Silas se levantou e nem se importou em ficar ali para ouvir o que ela
falaria. Passou por mim e disse que a Bia estava tentando ligar pra Rose e só
dava caixa postal e caso eu fosse metade do homem que ele acreditava que eu
fosse, iria atrás, ver o que estava acontecendo com ela.
Mas como eu faria isso, quando Lettie estava aqui em casa, na sala,
tentando se explicar?
Deu as costas assim como Silas havia feito e me deixou com o maior
dilema da minha vida.
Alguém que me amava ou alguém que eu achava amar, mas que não
ligava para mim?
— Oi.
Por que ele estava tão preocupado assim comigo? Eu que tinha
decidido dar um ponto final na relação com o Allan e não o contrário... Além
disso, eu não ficaria sofrendo por homem, eles não mereciam nenhuma
lágrima minha.
— Está sim.
— Não.
“Rose pare com isso. Você é forte. Você é uma mulher que superou
tudo isso, erga a cabeça e enfrente seus medos.”
Saí da casa e caminhei até o mercado mais próximo, não vendo a hora
de já estar de volta, sã e salva. Parece que quanto mais você quer que o tempo
passe rápido, mais os ponteiros do relógio congelam os segundos. Eu não
conseguia evitar de andar olhando para todos os lados, verificando se nada
fora do normal estava acontecendo sem que eu percebesse. Pode até parecer
loucura, mas eu simplesmente não podia andar tranquila, sem noção nenhuma
do que acontecia ao meu redor, meu instinto estava falando mais alto e
qualquer barulho me assustava.
— Roselyn.
Na época eu achei que aquilo era por raiva, por causa da amizade
perdida, mas depois de tudo o que houve, eu descobri que ele apenas queria
me proteger, e eu, besta como era, não dei ouvidos.
— Livros?
Como escrever sobre coisas belas quando toda a sua vida foi escura
por causa da maldade no mundo?
Ele me olhou fixamente nos olhos e eu pude enxergar que ele estava
sendo sincero. Todos ali deviam saber, mas eram poucos que realmente se
importavam com algo além dos seus umbigos.
— Você quer sair hoje, para dar uma volta e ver como as coisas
estão?
Ralph era um cara legal, tinha até me esquecido das pessoas boas
nessa cidade por causa das outras que só me fizeram mal. Fui embora sem
olhar pra trás e nem me despedi das pessoas que se importavam comigo.
Voltei para casa, mas dessa vez sem prestar atenção em nada, nada
além dos meus pensamentos que fervilhavam constantes na minha cabeça.
Alguma coisa dentro de mim me avisava que algo de ruim aconteceria, um
aperto no coração parecia que esmagaria tudo no meu peito. Poderia ser
paranoia da minha cabeça, mas eu não costumava arriscar sem saber os
perigos.
Nunca foquei tanto na minha voz interior como agora. Uma vez li que
o pensamento positivo induzia as coisas a darem certo, se isso fosse
realmente verdade eu seria professora de yoga com essa idade, porque era
tanto pensamento positivo, que eu duvidava piamente que Buda ganharia de
mim.
Humor era irracional, aparecia nas horas mais inoportunas, acho que a
maioria das pessoas faz isso sem perceber, dá risada em momentos de
nervoso e chora em momentos de raiva. Vai entender. Essas coisas não fazem
muito sentido, só acontecem.
— Ainda não sei. Fui até o supermercado comprar algo, não tinha
nada aqui e eu estava morrendo de fome.
— Vai entrar?
— Eu vou sair, mas assim que chegar te mando uma mensagem. Não
posso ficar muito tempo longe dela.
Tinha ficado oco quando ela se foi, era só uma casca de um homem
andando por aí e sinceramente até que estava bem se fosse levar em conta o
quanto eu a amei.
Em quem eu confiaria?
“Isso mesmo, fique nervosa pelo menos uma vez na vida. Você tem
toda a culpa.”
Era muita palhaçada para uma pessoa só. Eu só podia ter cara de
trouxa.
Fui até a porta e abri, fazendo um sinal com a mão para que ela saísse
dali o mais rápido possível ou eu não me responsabilizaria pelos meus atos.
— Mas eu te amo!
E idiota.
— Provavelmente não.
Continuei com os olhos fechados até não sentir mais a sua presença.
Fechei a porta, batendo-a com força no batente.
Roselyn...
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Seu nome me veio à cabeça e eu percebi que não tinha ido atrás dela
como pretendia.
Lembro do Silas ter falado que iria vê-la e meu sangue ferveu.
Esperava de verdade que aquele filho de uma mãe não estivesse tentando
nada.
Saí que nem um louco pelas ruas, só para chegar no seu apartamento e
ouvir do porteiro que ela não estava ali.
— Silas, parceiro...
Esse mundo obscuro dos famosos está cada vez mais intrigante!
Tiraram fotos de uma mulher misteriosa entrando com o nosso Jamesconda
(vulgo Allan) em seu apartamento e pasmem, não se parecia em nada com a
cópia de Megan Fox!
Será que ele já superou? Se sim, poderia superar aqui em casa também, não
é?! Eu sou um amorzinho e curaria o coração dele em um piscar de olhos!
Por último, mas não menos importante, Josh e Bia Currey, (sim, sou
apaixonada por esse casal!), foram vistos com os pequenos em uma loja de
roupas infantis, provando que são gente como a gente e pagam pelas roupas!
Me desculpe Diva C, esse é seu novo apelido, mas gata, você sabe que os
patrocínios bancam, não sabe? E Josh, seu lindo, abre uma exceção e manda
um beijo aqui pra essa fanática e minhas terríveis seguidoras? Obrigada, de
nada.
— Obrigada!
Gargalhei com vontade. Era bom estar com alguém com quem eu
convivi boa parte da minha adolescência, mas que não me lembrava em nada
os momentos ruins.
Passei meus olhos pelo seu corpo, sem conseguir me conter. Ele era
um dos caras mais bonitos que eu já pude ver, tinha olhos castanhos
profundos e cabelos levemente bagunçados, dando um ar de descaso casual
ao seu estilo.
Queria poder voltar atrás e ter ficado com ele ao invés do Henry, mas
não podia voltar no tempo.
Ingênua. Eu era uma idiota; ingênua por acreditar que aquilo fosse
realmente uma coisa boa.
— Me permite?
Era tão fácil estar com ele que eu não me lembrava das coisas que
havia passado recentemente, minha separação com o Allan, a doença da
minha mãe e até mesmo o medo de encontrar o Henry; que teimava em
permanecer a todo o vapor na minha mente.
Desde o começo imaginei que não daria em nada, ele era o tipo de
homem que escondia seus muitos segredos embaixo de toda aquela felicidade
fingida e premeditada.
— Allan James?
— Sim.
Fiz uma expressão de desprezo, por saber que mesmo tentando fugir
daquele nome, ele teimava em me perseguir.
— Desculpe. Se não quer falar sobre isso, nós podemos deixar para
lá... É que eu realmente estava curioso sobre o assunto, achei que era mentira,
sabe como é... Até que você apareceu em uma das colunas de fofocas mais
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famosas do país e só confirmou o boato...
Sabia que era muito mais do que as revistas passavam. Por baixo de
todo aquele tamanho, tinha um cara com uma alma maior ainda, capaz de
mover céus e montanhas para ajudar quem precisasse. Eu poderia muito bem
ser amiga dele, mas a verdade é que eu não conseguiria fazer isso e não seria
hipócrita a ponto de dizer o contrário. Seria a mesma coisa que aplicar o
termo “amizade colorida” em sua totalidade.
Só uma cega não perceberia que ele era um verdadeiro furacão nesse
quesito.
Pelo amor de Deus, o cara era um jogador! E admitir que o cara era
bom no quesito “usar o corpo” era o mínimo.
— Rose?
— Podemos ir?
— Claro.
Não queria falar com o Allan, nem agora, nem daqui um bom tempo.
Sabia que toda a minha determinação poderia ruir assim que ele desse um
sorriso ou fizesse uma piada sem graça.
Ralph sorriu enquanto abria a porta para eu sair e foi impossível não
sorrir de volta. Pelo visto nosso clima estranho tinha sido esquecido e
superado, me deixando aliviada.
Seria alguma das pessoas que me julgaram ser a errada quando tudo
aconteceu? Ou seria uma das conquistas de Henry que se doeu com a minha
queixa dele? Essas eram perguntas que eu com certeza não faria a ela.
— Claro.
— Eu não acredito que você conhece aquele cara de perto! Meu Deus,
ele é simplesmente de outro mundo!
Não acreditava que estava perguntando justo a ele isso, mas era o
único que conseguiria me entender agora.
— Eu não faço a menor ideia. Vocês dois têm que sentar e colocar
todos os planos na mesa. Fala para ela, Allan. Fala tudo, porque depois dessa
vai ser difícil ter outra chance. Rose não é do tipo que vai correr atrás de você
porque é um astro, ela é mais do que isso.
Ele fez uma cara de espanto, fazendo-me perceber que não era nada
disso do que eu estava pensando.
— Claro que não! É só que ela é minha amiga, você também, o que
me deixa em uma situação complicada, entende? Eu não posso tomar partidos
e isso é uma merda. Eu fico sem saber o que fazer, se a apoio ou se me
preocupo com o que você pensará disso.
— Vai mesmo, tenho toda a certeza que sim. Porque estou cansando
de ficar em um jogo de ping pong, e pode apostar que o Josh também. Você
tem que se decidir Allan, decidir se vai deixá-la entrar na sua vida por
completo ou se vai mantê-la presa do lado de fora. Rose merece saber a
verdade.
— Se eu contar tudo, ela não vai mais olhar pra minha cara.
Ele foi até a sala e voltou com um Whisky nas mãos, pegando o copo
e servindo-nos logo em seguida. Bebemos na mesma hora e eu pude sentir a
bebida descer queimando pela minha garganta, a famosa coragem líquida.
Eu servia para isso na vida das pessoas, pra pagar as contas e para
terem a quem ligar nos momentos difíceis.
— Fala mãe.
— Estou indo.
— Tem fiança?
— Acho que sim, não sei... Ele não tinha muita droga, mas aqui é a
periferia e sabe como são as coisas...
— Eu vou até lá, mas só daqui algumas horas. Cleavon tem que
aprender a dar valor às coisas, mãe. Se eu sempre limpar a barra dele, não vai
se importar em fazer as coisas certas. Nascer em periferia não é desculpa para
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virar bandido, ainda mais comigo bancando os estudos dele. Isso pra mim é
ser idiota.
— Não, não é mãe. E se quer saber, ele age dessa forma porque toda
vez a senhora alisa a cabeça dele e diz que tudo vai ficar bem. Por isso ele
não se importa em estudar, por isso não tem a mínima vontade de ser alguém
na vida.
— Isso não significa que ele deva fazer coisa errada, mãe.
— Tudo bem. Eu vou lá, mas avise que na próxima eu vou cortar toda
a ajuda, até mesmo de você, porque eu não sou otário, mãe! Tô cansando de
ver vocês se afundarem juntos e o pior, sendo eu a patrocinar isso. Então, só
pra avisar, arrumem essa merda que fizeram.
— O dinheiro vai estar na sua conta, vou transferir agora. Mas não
quero mais saber dessas merdas, tá me ouvindo? Se for para bancar um
bandido e uma mãe conivente eu não vou fazê-lo. Ambos têm que se ajudar
também e não depender somente de mim.
Vi que as crianças ainda jogavam e não pensei muito bem quando fui
até elas, para participar do jogo.
Olhei para ele que estava com os dentes cerrados e os pulsos firmes
em cima da mesa.
Senti a mão pousar sobre meu ombro e a vontade de vomitar veio com
tudo, meu estômago se revirou e eu já não conseguia mais suportar o asco
que sentia.
Olhei para os lados tentando achar uma rota de fuga aceitável e que
me levasse para longe dali o mais rápido possível, mas todos os caminhos
que passavam pela minha mente tinham algum tipo de atraso, como o
banheiro que estava lotado, as mesas que estavam juntas demais impedindo
que alguém passasse sem esbarrar em ninguém... Enfim, não sabia se era
coisa da minha cabeça, mas todo o ar em volta de nós estava pesado e
sufocante, eu não conseguia respirar, não conseguia me mover e muito menos
falar alguma coisa.
O medo era tão grande que eu nunca me senti tão impotente assim, na
verdade já tinha estado dessa forma, mas não queria de maneira nenhuma
lembrar disso. Eu só queria ter uma vida normal e quebrar a cara como as
mulheres normais faziam; do tipo ser traída, ou simplesmente descobrir que
os ideais não eram os mesmos.
Minha prima olhou para mim, completamente sem graça e com razão.
Pelo rumo que meus pensamentos estavam tomando eu conseguia imaginar
qual era a cara que estava fazendo. Se falsidade matasse, essa já teria caído
esturricada no chão.
Eu já não queria mais saber de nada, poderia levar minha mãe embora
daqui e nunca mais voltar, poderia ser forte e tentar superar isso, mas eu não
era assim e sinceramente me sentia mais perdida do que eu queria estar na
minha própria vida.
Odiava meu nome, odiava ser bonita, odiava chamar a atenção das
pessoas e principalmente, me odiava.
Não Ralph, a única coisa que preciso no momento é não ser eu.
— Eu juro que não sabia, Rose. Por favor me ouve, eu não sabia...
O carro parou e a porta foi aberta com força. Ouvi passos firmes no
chão. Permaneci da mesma forma, não levantei minha cabeça e não me
importei com quem fosse.
Sei que talvez fosse melhor eu não pressioná-la, mas como eu iria
saber o que estava acontecendo?
Sempre tive que cuidar da minha mãe e do meu irmão, porque logo
depois que meu pai morreu, há quinze anos, eu virei o homem da família e
quando se está com doze anos, isso é um fardo pesado a suportar. Mas eu
consegui aos poucos ir ajeitando minha vida, quando tudo parecia estar dando
certo, Lettie me deixou na mão, fazendo com que todos os meus planos
voltassem a ser nulos...
Eu odiava ouvir as pessoas dizendo que tudo ficaria bem, que era uma
questão de tempo. Essas eram justamente as palavras que não ajudavam em
nada quando uma coisa dessas acontecia...
Era uma merda tudo isso, toda a minha vida estava uma merda.
Bem-vindo a Torrington.
Aos poucos ela foi se infiltrando por entre todas as minhas armaduras
e forças para manter as coisas guardadas sobre a pele; eu comecei a me sentir
importante novamente, e sempre foi isso o que busquei, alguém que se
importasse verdadeiramente comigo.
Rose estava em outro mundo, ela não falou nada, não esboçou
nenhuma reação e eu podia ver as lágrimas descendo pela sua face.
Merda.
Eu encontraria quem fez isso a ela e faria essa pessoa pagar. Seria a
minha meta de vida daqui por diante. Uma pessoa não pode fazer o que ele
fez a ela e sair impune. Eu garantiria que sofrer fosse a menor de suas
preocupações. Não gostava de agir com violência para resolver as coisas, mas
dessa vez eu abriria uma exceção.
Seu corpo tremia suavemente e o choro que antes era uma torrente de
lágrimas, descia vagarosamente pelo seu rosto... O que eu desconfiava ser um
bom sinal.
— Tá tudo bem, Rose. Quem deve pedir desculpas sou eu, você não
tem culpa de nada.
— Não.
— Vou respeitar. Mas sabe que pode contar comigo, não sabe?
Deveria ter descido com ela, mas talvez ela não me quisesse ali, e
pelo menos isso eu respeitaria.
Podia até ser um erro meu, mas aquilo não me cheirava nada bem.
Decidi descer e entrar, já estava ali mesmo, duvidava que Rose ficaria tão
brava comigo por entrar dessa forma.
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Ficar ali fora era entediante.
Aquela foto poderia muito bem ter sido tirada há uns bons anos, mas
ela permanecia do mesmo jeito, fenomenal. O que já era de se esperar.
Puta merda...
Rose estava aqui por ela e agora eu entendia o motivo para ficar na
cidade...
Seria muito errado falar que eu já estava preparada para a sua partida?
Porque eu simplesmente sabia que não tinha mais o que fazer. Se acaso
tivesse descoberto no começo de tudo, com certeza ela teria chances de
aproveitar o restante da vida, mas como somente agora tudo veio à tona, eu
sabia que todas as oportunidades já tinham passado.
Agora que ele sabia, poderia sair correndo que eu não me importaria.
Tinha aprendido muitas coisas na vida e uma delas era que não
importava o que estivesse passando, você tem que seguir em frente e
enfrentar. Exatamente nessa ordem, até porque, seria impossível enfrentar e
depois seguir em frente com as feridas ainda abertas, pelo menos eu não era
tão forte a esse ponto.
Mamãe olhou com aquele semblante fraco entre nós dois, como se
percebesse algo que não havíamos percebido. Não fazia a menor ideia do que
se passava na sua cabeça e sinceramente estava emocionalmente abalada para
sequer cogitar perguntar.
Olhei para ele e realmente parecia que não se importava com tudo
aquilo ali.
Sozinha.
Achava que estava sozinha até agora, mas percebia que eu tinha uma
casa para voltar caso as coisas não dessem certo...
E agora?
Eu não teria mais uma casa para chamar de minha, com alguém à
minha espera.
— Eu vou ficar.
— Sim, eu tenho. Josh com certeza vai começar daqui umas três horas
a se preparar. A Bia deve estar maluca.
Claro que ela estava maluca. O All Star reunia as maiores estrelas
atuais, um verdadeiro jogo de fama. Quem não ficaria maluca com o seu
marido participando de um negócio desses? Ainda mais sendo o Currey!
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Lembro até dela exagerando quando uma torcedora arrancou o top e
jogou para ele enquanto estava no banco. A Bia quase foi atrás da mulher se
eu não a segurasse. E o pior de tudo foi a cara de desespero dele! Como se
depois do jogo fosse morrer de forma bem cruel. — O que eu suspeitava ser
verdade, porque ele não conseguiu evitar olhar para a mulher sem top,
somente com uma blusa branca transparente... Coitado.
Não conseguia nem imaginar como ele saiu por cima dessa.
Allan disse que o Josh começaria a treinar dali algumas horas e foi
quando eu percebi que já era madrugada. Quanto tempo eu tinha ficado
chorando na calçada, afinal?
— Você dá risada porque não viu a minha cara de pânico na hora que
ela disse isso. Ela falou e apontou o dedo na minha cara, fazendo com que o
rosto inteiro expressasse raiva. Foi aterrorizante!
Bia era baixa perto desses caras, mas tinha um senso de tamanho
gigante quando ficava brava. E o mais engraçado era que eles comiam na
mão dela. Parecia uma mãezona, controlando cinco crianças: Josh, Allan,
Silas e os seus dois filhos.
— Eu sei...
Eu não era nenhuma idiota, já pressentia que ele levaria meu coração
embora junto com ele, quebrando tudo e todos no processo.
Um exemplo claro de macho alfa. A única coisa que eu não sabia era
se estava preparada para continuar com um homem assim. Já estava
fragilizada com tudo o que tinha me acontecido, e não teria forças para me
consertar depois que ele me arruinasse.
Desde o dia em que fui com a Bia naquele jogo, eu estava perdida.
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Só não sabia se eu teria a mesma sorte que ela. Na verdade, só torcia
para não ter um coração despedaçado.
Cheguei até a implorar para Deus que ela dormisse no mínimo quatro
horas por noite, mas nada parecia funcionar... O homem lá de cima estava me
ignorando, agora que tinha deixado a sorte grande na minha porta. E sim, eu
estava mesmo pedindo demais, mas não me custava nada tentar.
Enquanto chegava perto não ouvi mais choro, acho que por um
milagre divino ela tinha voltado a dormir, mas fui até lá mesmo assim,
somente para conferir. Deixando de acender a luz daquele corredor, para
evitar acordá-la se tivesse voltado a dormir.
— Só que você tem que saber que ela fica com um humor infernal de
madrugada! E depois sobra pro papai aguentar! Vamos ter um pouco de
piedade com seu velho, vamos?
Ele falava como se ela fosse capaz de responder, mas uma coisa eu
tinha que admitir, toda vez que ele falava com ela, Lily ficava quieta e
prestava atenção na sua voz. Era uma mocinha muito esperta.
Criei coragem para sair da cama e ir até o andar de baixo, ver o que
estava acontecendo e quando cheguei na cozinha a única pessoa que vi foi a
Gloria, que dava o café da manhã do Collin, enquanto Lily estava no carrinho
bem ao lado, dormindo serenamente, como se o dia fosse perfeito para essa
tarefa.
— Cadê o Josh?
— No treino.
Melhor pra mim, que havia dormido como um anjo, com ele cuidando
das crianças.
— Disse que antes das quatro. Quer ir junto com você até o estádio.
Olhei para o relógio, vendo que já eram onze horas da manhã. Nunca
tinha dormido até tão tarde assim, era rejuvenescedor.
Era tudo tão tranquilo e revigorante que eu podia ficar por ali o dia
inteiro. Aquela era uma das minhas partes favoritas, poder andar sem me
preocupar com os flashes.
Fui até o cercado do Jordan e soltei ele para poder dar um passeio
também. Josh tinha usado a Lily como desculpa para ter um cachorro, mas
ela só tinha dois meses de vida e não fazia a menor ideia do que era ter um
cachorro.
Meus pensamentos voaram para minha amiga que não havia dado
notícias. Não conseguia ficar tranquila no que se tratava da Rose. Eu sabia
que ela tinha seus segredos, mas as vezes precisamos aliviar a carga deles,
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dividir com pessoas que nos amavam era uma boa opção... E mesmo ela não
sabendo, eu, Josh, Silas e o Allan a amávamos muito. Ela era parte da
família, não a de sangue, mas do coração e tinha que saber lidar com isso.
— Sério que você vai com esse vestido? — Fiz cara de inocente,
sabendo muito bem o que ele queria dizer.
— Para com isso senhor Currey, sabe muito bem que tenho um anel
que pesa no meu dedo.
Esse era um dos benefícios de ser casada com um dos astros da liga.
Ele bateu nas minhas costas e eu sabia que não perguntaria nada, mas
o grande problema era a ruiva que estava na arquibancada, só esperando um
momento para me fuzilar. Aquela mulher sim não tinha piedade. Ainda mais
quando se tratava da sua amiga.
A Bia ficaria furiosa quando percebesse o que ele tinha feito. O cara
era corajoso... pra caralho!
Alguém tinha feito algo com ela e eu descobriria, mesmo ela não
querendo.
Sabia que o jeito de mulher forte dela não tinha surgido do nada, mas
quando se gosta de alguém, você não quer pensar nas coisas ruins pelas quais
ela teve que passar. Só isso já seria capaz de deixar o cara mais calmo do
mundo revoltado e com sede de vingança. Ainda mais eu, um cara da
periferia, um cara que não levava desaforo pra casa.
Allan James não seria o James, seria apenas o Allan nesse jogo. O
cara que tinha uma vida por trás de tudo aquilo, a pessoa que errava assim
como as outras, o humano que tinha alguém especial por quem lutar, assim
como a galera ocupando cada assento daquele ginásio.
Era tão errado tentar ser feliz? Era tão ferrado ser alguém melhor para
uma pessoa melhor?
Nunca pensei que fosse me sentir assim novamente, mas tinha que
admitir que muitas das coisas que fiz para me proteger, pareciam totalmente
sem sentido agora. Tudo estava tão cinza, que enxergar um arco íris seria
praticamente um milagre.
Rose não voltaria para mim, eu vi isso nos olhos dela. Ela ainda não
queria sofrer e eu a entendia completamente. Eu também não ficaria comigo;
não nos últimos anos, pelo menos.
Mas queria saber o que tinha acontecido com ela. E não era por
egoísmo ou curiosidade... Eu queria ajudá-la, faria de tudo por isso.
Assistia os jogos quando era criança e tinha meus ídolos, homens que
eu imaginava serem inatingíveis naquela época, e qual não foi a minha
surpresa quando quebrei alguns dos recordes dos caras que eu admirava?
Era tão difícil não deixar que aquilo me afetasse em quadra, que eu
sinceramente estava me sentindo pressionado por uma coisa fora da minha
capacidade.
Por isso, quando o jogo finalmente acabou, seria errado dizer o quanto
estava aliviado? Aquele era o primeiro de muitos, conferência leste contra
conferência oeste, não era particularmente o jogo mais importante, mas ainda
assim era bom vencer. Os caras do time se esforçaram quando viram que eu
estava morto e o resultado disso é que tínhamos ganhado, por pouca
diferença, mas isso não mudava o fato da pontuação ter sido maior.
Quando abri a porta, percebi que tinha algo errado. Não precisava
nem ser muito esperto para imaginar quem era.
Olhei todos os cômodos e não demorou muito para notar que ela
estava no banheiro, com o chuveiro ligado, provavelmente achando que
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invadir o apartamento de alguém era a coisa mais normal do mundo.
Porra!
Abri a porta do banheiro, fazendo com que ela batesse com tudo na
parede, deixando claro o meu humor negro.
Ela estava tomando banho, e o pior de tudo isso era saber que eu
ainda me sentia atraído por ela... Era mesmo um idiota completo...
Meus olhos percorreram sua pele morena e se fixaram nos seus olhos
negros.
Ah, mas agora não. Eu já estava farto de todo esse maldito carma!
— Tem certeza? — Ela veio até mim e passou a mão em meu braço,
com uma voz melosa, tentando a todo custo me seduzir.
Tinha tanto homem bonito naquele jogo que eu quase tirei a roupa e
saí gritando: “— Por favor, me comam! Ai Anacondas me comam!”. Olha
eu causando os tumultos de novo!
Quem foi naquele jogo sabe do que essa reles mortal está falando, e
sabem muito bem! Aqueles shorts só nos deixam com a imaginação lá na
camada de ozônio. Senhoooor e como deixam!
Tá bom, parei com essa conversa sem sentido. Sou uma pessoa que
vive sofrendo, tenham piedade de mim!
Impressão minha ou essa fofoca ficou grande? Isso porque nem ousei
falar tudo. Receio que tenha que ficar para a próxima, senão meu editor me
mata e joga no mar sem bote salva vidas!
Será que ele ficaria feliz com a surpresa? Eu sabia que era errado
deixar minha mãe sozinha agora, mas ela me fez prometer que eu seguiria
meu caminho e tentaria ser feliz, e eu estava fazendo exatamente isso. Ela
tinha usado o pouco de forças que ainda tinha para me fazer acreditar que eu
era capaz, para não me deixar abalar por um passado que não voltaria.
Eu fiquei um bom tempo pensando se essa seria uma boa hora para
isso. Mas, poderia não ter uma chance futuramente, ninguém sabe o que pode
acontecer a sua frente e por isso é sempre bom se arriscar enquanto você sabe
que é capaz.
“As coisas só te deixarão mal se deixar que elas o façam. Você está
mais forte Rose, siga em frente, vá atrás de fazer o que quer para ser feliz.
Porque quando se tem a felicidade, nenhuma coisa ou lembrança é capaz de
apagá-la”.
Eu iria seguir seu conselho. Nada na vida nos vem de mão beijada e
se eu precisasse afirmar para aquele cabeça dura que podíamos tentar
novamente, eu faria isso. Ele estava mais perdido do que eu, não fazia a
menor ideia do que tinha acontecido com ele, assim como não fazia sobre o
que tinha acontecido comigo.
Quando fomos para a cama a primeira vez, eu não senti nada além de
prazer. Sempre achei que a próxima vez em que tivesse relações com alguém,
as lembranças daquela noite tenebrosa fossem voltar na minha mente. Mas o
Allan simplesmente me fez esquecer aquilo e sabia que algumas vezes ainda
ficava receosa com o ato em si, mas nada que não conseguisse superar.
Agradecia aos céus toda vez que dormia em seus braços por saber que era
raro encontrar um homem que te fizesse superar os medos e se entregar por
inteiro. Assim como Allan fazia comigo.
Por que eu ficaria me sentindo mal se ele sentia dificuldade para dizer
as palavras, quando ele abria seu coração pra mim?
Eu tinha sido uma tola por acabar com tudo aquilo apenas porque ele
não se abria como eu queria. As pessoas são singulares, Allan não era igual
ao Josh, que consequentemente era totalmente diferente do Silas. E isso era o
diferencial entre eles, cada um com o seu jeito completava as dificuldades do
outro. No amor então, ambos eram totalmente o inverso. Josh era do tipo:
“Você é minha, eu te amo pra sempre”; Allan estava mais para: “Ela é
minha gata, foda-se o resto”, e o Silas, bom, o Silas era mais: “Casa
comigo? Eu te farei a mulher mais feliz do mundo”.
Amavam de uma forma única e nem por isso um amava menos que o
outro.
Eu não conseguia acreditar que ele tinha feito aquilo comigo. Justo
quando eu contaria tudo pra ele... A única pessoa que eu havia decidido
confiar para carregar a dor comigo.
Fiquei petrificada no lugar, não tinha mais o que fazer. Não tinha
mais para quem voltar, eu estava novamente sozinha no mundo e isso
machucava demais.
Minha mãe, meu irmão e agora uma mulher que eu acreditava estar
morta.
Ela era uma criminosa da pior espécie e eu não colaboraria com isso.
Ela seria acusada de falsidade ideológica entre outras coisas e não sairia ilesa
disso, porque quando o pai do Silas descobrisse que ela o havia enganado há
tanto tempo, faria questão de vê-la apodrecer.
Eu o conhecia somente pelo que meu amigo falava. Era um dos caras
mais influentes do país, tão influente que eu nunca chegaria nem perto. Era
dono de um império, uma empresa de cerveja mundialmente conhecida, que
tinha dado as costas ao filho quando o mesmo quis seguir o sonho de jogar
basquete. Expulsando Silas e fazendo com que ele nunca mais quisesse
nenhuma ligação com o seu progenitor, nem mesmo uma mísera mensagem.
Eu sabia que meu amigo ainda guardava as mágoas dessa época. Ele
não dizia nada, mas era que nem eu, tentava mascarar o sofrimento por trás
de uma falsa alegria, e fracassava visivelmente. Conhecia muito bem esse
tipo de armadura e sabia que algumas vezes ela funcionava, outras não, e
tínhamos que saber lidar quando todas as verdades vazavam.
Eu não estava brincando e ela sabia disso. Se tinha uma coisa que ela
conhecia era a minha raiva, já tinha a visto muitas vezes desde que nos
conhecíamos por gente e sabia que todo o rancor que escorria pelas minhas
palavras era o mais cru e sincero que existia.
Não aguentaria nem mais um minuto com ela no mesmo ambiente que
eu. O ar estava uma merda, não entrava nos meus pulmões e muitas vezes,
parecia que eu tinha que me lembrar de respirar, mesmo sendo um ato
involuntário.
— Só na sua cabeça.
Fugi da Bia e caí em uma cilada pior ainda. Só podia ser sacanagem.
O problema era que eu era egoísta demais, a queria pra mim, como
não me lembrava de já querer alguém antes e nem em sonho eu a deixaria
escapar pelas minhas mãos. Mesmo que eu precisasse dar um tempo pra ela,
deixa-la ir pra depois perceber que seu lugar era comigo e voltar.
Mas eu era persistente e agora entendia que ela era uma parte
importante da minha vida. Não precisava deixar o passado entrar, eu
precisava deixar o presente permanecer, para poder criar um futuro.
E Rose era meu futuro, mesmo que eu não tivesse percebido isso
antes. — Puta merda, eu era o cara mais otário do mundo!
As fotos dela que eu tinha não chegavam nem perto da mulher que ela
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era, mas ainda passavam um pouco de tranquilidade para mim. Seu sorriso,
evidente em todas, massacrando meu coração com a saudade.
Fui até o quarto e peguei todas as minhas coisas, pelo menos as que
eu precisava para dar o fora dali. Saí e nem olhei para trás. Era a coisa mais
certa que eu já tinha feito em tanto tempo. Tinha cansado de ficar sendo
jogado de um lado para o outro, entre o passado e o futuro, beirando a
exaustão por lutar contra minha própria felicidade.
Desci até a garagem e joguei minha mala no banco de trás, saindo que
nem uma tempestade do subterrâneo. Procurei o hotel mais caro da cidade,
nunca fui de esbanjar dinheiro, mas eu não queria ser incomodado por
ninguém, e se um preço pudesse me proporcionar isso, não me importaria de
pagar.
Não tinha feito nada de errado, além de demorar um pouco mais pra
mandar Lettie embora, justamente quando Rose estava chegando para
conversar comigo, realmente não tinha feito nada além disso. Peguei-me
respondendo à pergunta do meu amigo mentalmente. Talvez fosse realmente
o culpado, mas o fato era que ela não ficou para descobrir. Tomou para si
qualquer que tenha sido seu pensamento sobre o que aconteceu e foi embora
sem nem olhar para trás.
Não queria ser julgado, não queria ser consolado, eu não queria
nada...
Era muito estranho isso? Querer ser livre das amarras apenas uma vez
na vida? Nunca pensei que fosse um cara que merecesse tudo o que o mundo
podia oferecer, mas sabia que não era uma das piores pessoas do mundo.
Então, por que diabos eu estava ali, pensando em como tudo tinha saído dos
trilhos?
Fui até a sacada gigantesca que gritava “luxo” para quem quisesse
ouvir e fiquei olhando o espetáculo que era Boston durante a noite. Eu amava
aquela cidade, mas não me sentia completo estando ali. Parecia que algo
sempre faltaria em minha vida.
Me sentia deslocado aonde quer que fosse, porque meu lar não era um
lugar, era uma pessoa. E, infelizmente, ela ainda não sabia disso.
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Não estava pensando muito bem quando saí correndo de lá. Só segui
para o único lugar onde eu sabia que teria um amigo que não me julgaria,
apenas ouviria os meus lamentos.
Silas poderia ser chamado de qualquer coisa, mas indiferente não era
uma delas, e sempre que eu precisava, ele estava ali para me apoiar.
E eu tinha muitos.
Quando Silas abriu a porta, pude ver o espanto em seu olhar. Não do
tipo “entre aqui, vou te ajudar”, mas do tipo “que porra meu amigo fez
dessa vez?”. Vi quando ele pegou o celular e digitou rapidamente, já
imaginava quem era o destinatário daquela mensagem, mas não me
importaria agora. Allan sabia que me procurar logo depois daquilo seria
idiotice.
Eu só tinha ido ali com o Allan uma vez, quando Silas tinha feito uma
reunião entre amigos para assistir a um dos jogos da temporada e parecia tão
diferente estar lá sozinha. O ambiente era muito arrumado, arrumado até
demais para um homem que vivia sozinho. Mas me recordava do Allan me
dizendo que seu amigo tinha um transtorno maluco por organização e
limpeza. De fato, isso era perceptível ali. Se eu encontrasse um rastro de
poeira seria milagre.
— Não.
Para que eu mentiria? Ele sabia muito bem que eu não iria até ali se as
coisas estivessem às mil maravilhas.
Silas não sabia lidar com mulheres, isso estava óbvio. Desde quando
alguém com o coração partido batia na sua porta e você a oferecia álcool? Só
se essa pessoa fosse rodeada de homens para fazê-lo, porque com certeza essa
seria a melhor solução.
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Melhor do que um idiota soluçando no seu cangote.
Eu não sabia se queria tocar naquele assunto. Só que tinha ido até ali e
uma hora ou outra eu teria que explicar o motivo. Ninguém seria idiota para
achar que era uma simples visita. Eu só precisava de alguém que me ouvisse
e desse uma opinião sobre o assunto, a qual eu poderia pensar depois.
Nunca tive um bom julgamento de caráter, mas ele parecia ser assim e
não se negaria em me ajudar.
— Allan não faria isso. Ele é doido por você, chegou a querer brigar
comigo porque achou que eu estava sentindo algo que não devia sentir. Ele é
leal Rose, tão leal quanto todos nós. Não seria nosso amigo se não o fosse.
Ele tem os problemas dele, que não são poucos. Antes de julgar você deveria
saber o que ele passou, com certeza eu não deveria te contar isso, mas não
vejo uma maneira melhor de entender o homem por trás daquela capa. Ele
sofre e todos vemos isso... Assim como vemos o mesmo sentimento em você.
Talvez ambos consertem as falhas em si mesmos com a ajuda um do outro,
ou talvez ambos acabem de ferrar de vez. Só acho que você deveria pensar
bem no que fazer, qualquer passo em falso pode acabar com a vida dos dois.
Silas não queria me comover com o relato, só que o fez mesmo assim.
Quando eu imaginaria que algo assim fosse capaz de acontecer? Nunca. E
para mim alguém já deveria ter entregado essa mulher para a polícia, o que
ela fez é crime e tem que ser punido.
De repente, já não queria mais saber o que tinha acontecido lá, queria
somente esquecer... O que era impossível, infelizmente.
— Sorte sua, são duas pessoas que só sugam o dinheiro dele e não
ligam para o que ele sente sobre isso. Acho que são muitos problemas para
uma pessoa só, entende? Sei que você também tem os seus, todos temos, e
não estou dizendo que são menores que o dele, mas não pensa que poderiam
arrumar tudo, juntos? Às vezes, o errado é o mais certo que podemos obter.
— Preciso ir embora.
— Eu te levo.
Era isso que me mantinha em pé. Saber que muitas pessoas contavam
comigo e com a minha disposição. Eu não as deixaria na mão, quando sempre
pude contar com elas.
Josh me dizia que essa era a minha “temporada”, mas eu não estava
tão confiante disso. Cansei de ser sempre o cara famoso ao invés do ser
humano por trás. Às vezes eu pensava que não compensava ter uma carreira
consagrada quando sua vida pessoal praticamente não existia. Nada era
pessoal no meio das celebridades.
Acordei do mesmo jeito que tinha deitado. Com meus tênis e roupas
de ontem.
Olhei no relógio e dali uma hora teria que estar no treino. Levantei e
tomei um banho rápido, pra ver se aquela má vontade me abandonava.
— O que você aprontou, Allan? Tenho certeza que a Bia não olhou
com vontade de me matar ontem à noite sem motivo algum.
Dito e feito.
— Você só faz merda, cara. Não sei de onde tira todo esse estoque de
coisa ruim!
— Nem eu.
— A Rose ligou ontem pra Bia, disse que precisava conversar. Acho
que já sei o assunto então. Só te digo uma coisa, saia de perto da minha
mulher, ela só tá esperando o melhor momento pra dar o bote. Por isso o
olhar assassino quando ela chegou ontem. Acha que eu tenho culpa, mal sabe
ela que estou tão surpreso quanto indignado com você.
— Cara, você já viu a Bia brava, mas quando digo brava, quero dizer
puta da vida? Não imagina nem o que te espera, a última vez que ela ficou
nesse estado eu dormi fora de casa. Então, não, eu não vou te matar, não
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quando ela vai te esfolar vivo e assar na churrasqueira. Só vou rezar pela sua
alma e garantir que a Lily e o Collin estejam muito longe quando isso
acontecer.
Eu estava mesmo muito ferrado. Se Josh que era o cara mais calmo do
mundo no quesito lidar com a Bia, ficou longe por uma noite inteira, que
chances eu teria?
— Desculpa, mas sou uma pessoa sincera. Não vou entrar na linha de
tiro por você.
Claro que não, por isso estou com essa cara de poucos amigos.
Ele olhou pro Josh que não se aguentava de rir e entendeu qual era o
motivo. Silas era o mais emotivo de nós três e eu queria ver como ele se
sairia quando conhecesse alguém que mudasse toda a sua rotina. Pelo menos
teria de quem gargalhar, assim como o Josh fazia comigo.
Mas ele de repente ficou sério assim que pegou o celular e respondeu
alguma mensagem rapidamente. Olhou pra mim e pro Silas e deu mais risada
ainda.
— Ele está é ferrado, porque a Bia vai levar as crianças pra dar uma
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volta e no final do dia vai vir me encontrar. Se lascou parceiro.
Aí quem riu foi Silas. Todos sabiam que de hoje eu não passaria.
— Nem vou falar nada então. Vou deixar pra “Vingadora” o fazer.
Meu corpo inteiro doía em protesto pelo dia exaustivo. Mas aquela
dor era mais do que bem-vinda, amortecia um pouco a outra que eu sentia. O
que era um alívio.
Nunca fui do tipo que vai atrás das mulheres, elas sempre acabavam
vindo até mim. Não sabia nem como começar a agir. Estava sem opções.
Poderia ir até ela e explicar ou simplesmente deixar o tempo passar.
Se arrependimento matasse...
Bia veio até mim rapidamente. Com uma Lily mais do que feliz no
colo. Ela balançava as mãozinhas na minha direção, mas sua mãe nem se
importou com isso quando apontou o dedo na minha cara e disse com a voz
mais ameaçadora que eu já ouvi.
Começou a falar palavrões que assustaram até seu marido, que olhava
com os olhos abertos em espanto para a pequena mulher à minha frente.
Depois ela ainda implicava com ele por falar palavras feias na frente
dos filhos, mas ali, quem dava esse show era ela.
— Cala a boca Josh que não estou falando com você. Seu traidor
mancomunado com o inimigo.
Mulheres eram muito difíceis de lidar. Ainda mais uma ruiva, baixa e
sem paciência. Eu tinha dó dele, porque aquilo era pagar pecado.
— Bia, vamos pra casa? O Allan realmente sabe que a Rose não é
qualquer uma. Se você matar ele, pensa em como sua amiga vai ficar triste?
Deixa os dois se resolverem, melhor não se intrometer em assuntos que não
são nossos.
Mas quem tinha que resolver as coisas era eu mesmo, e mais ninguém
tinha o direito de dar opinião. Às vezes a intromissão desnecessária só
atrapalhava, e mesmo Bia sendo uma amiga leal, ela extrapolava quase
sempre.
Fui até o apartamento e fiquei um pouco por lá. Parecia tão triste e
depressivo. Agora que somente eu morava ali não parecia mais um lar, pode
parecer um pouco idiota, mas a Bia animava o lugar. Ela sempre foi
estabanada, mas era a melhor amiga que eu podia ter e fazia uma falta imensa
a sua presença para me reconfortar.
Pela primeira vez desde que parei, senti uma vontade gigantesca de
escrever. Se eu escrevesse a minha história, poderia ajudar muitas garotas a
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superar, não podia? Eu inclusive poderia me ajudar, porque colocar as coisas
para fora era uma atitude muito terapêutica.
Queria mostrar para as garotas que nem tudo é o que elas imaginam.
Às vezes uma simples ida ao cinema pode se tornar em algo terrível e que
deixará marcas pelo resto de sua vida. Aconselhar pessoas que tivessem
sofrido com a mesma situação, também era um dos meus objetivos, eu sabia
tanto quanto qualquer outra o que era se sentir violada e mostraria que elas
tinham com quem contar.
Eu era solitária e não sabia de onde havia tirado forças para seguir em
frente. Nunca tive muitos amigos, e os que eu tinha se viraram contra mim
quando a história veio à tona.
Henry não foi preso, o pai conseguiu dar “aquele jeito” e quem saiu
como mentirosa fui eu. Foi constatada a violência no hospital, eu fiz vários
exames e todos mostravam isso. Mas quando seu pai era simplesmente o
dono de quase tudo na cidade, você se tornava praticamente intocável. Dura
realidade do mundo.
Fiz a queixa, só para alguns dias depois descobrir que o oficial não
tinha de fato a registrado. Era um dos amigos do pai do miserável e devia ter
alguma coisa que o mantinha preso as suas vontades.
“Porque ela não deveria usar aquelas roupas”; “ela não tinha
motivos para estar lá”; “acho que ela queria, só depois que todos se
propuseram percebeu o problema e decidiu dizer isso”; “culpar um inocente
é muito fácil, quando a mulher é que se deve dar ao respeito”.
Era exatamente por isso que eles faziam o que faziam. Não tinha
ninguém para julgá-los e muito menos alguém para puni-los. A lei somente
estaria do nosso lado se ela realmente valesse alguma coisa.
— Pode falar.
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— Posso liberar a subida do senhor Ralph, senhorita Roselyn?
O que ele estava fazendo aqui? Não tinha passado meu endereço e
também não imaginava quem poderia tê-lo feito.
— Pode.
Tinha que me animar e voltar pra ver minha mãe. Eu só estava dando
uma pausa em tudo, para saber o que era melhor para mim.
— Precisa voltar comigo, Rose. Sua mãe está pior e sua prima me
pediu para vir até aqui.
Só de lembrar tudo o que tinha acontecido desde que pisei meus pés
novamente naquela cidade, o meu subconsciente se recusava a chegar sequer
algumas milhas perto de lá.
Tinha sido um erro deixar minha mãe lá e ter voltado aqui. Esperar
um pouco teria me poupado de ver coisas que eu não queria ver e com certeza
teria me poupado de mais uma descrença nos homens.
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Alguma hora eu ouviria Allan, ambos sabíamos disso, mas essa hora
ainda iria esperar um pouco. Ele não era a prioridade na minha vida, e talvez
nenhum dia fosse. Estava cansada de mantê-lo como minha primeira opção
quando eu era claramente a segunda para ele.
Fiquei sabendo que uma marca aí — não posso dizer o nome — vai
lançar um calendário com os mais lendários do basquete, e, pasmem... de
cueca!!! Será que minha libido vai aguentar? Imaginem, ver o Joshlícia,
Jamesconda, GostoSilas e os demais só de C.U.E.C.A, acham ainda que eu
sobreviverei depois desse tiro? Vai ser tiro, soco e bomba! Tudo em uma
revista só!
Quem não gostou muito disso com certeza foi a Diva C., que não quer
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liberar a ferramenta do maridão para nós da plebe.
Eu queria ir atrás dela, claro que queria. Mas ao mesmo tempo em que
pensava no que poderia fazer, imaginava que ela não quisesse me ver nem
pintado de ouro. Rose era orgulhosa, assim como eu, e se a fiz pensar que a
estava usando, demoraria para conseguir tirar da cabeça dela isso.
Precisava focar nos treinos, jogos e tudo o mais, para não fazer merda
como sempre. Mas, pelo visto, nada seria como o esperado. Tudo estava um
caos na minha vida e eu acabaria transferindo isso para o esporte, tinha
certeza. Não havia equilíbrio quando a sua mente estava um vulcão prestes a
entrar em erupção.
Estipulei uma meta que se ela chegasse novamente perto de mim, não
hesitaria em chamar a polícia. Já tinha passado da hora de fazer isso e não
estava mais com saco de aturar as porcarias de ninguém, principalmente de
uma mulher morta que só voltou para atrapalhar minha vida.
Fiquei pensando sobre o passado da Rose, que deveria ser tão ruim
quanto o meu, e tive uma ideia que admitia, não me soara muito boa, mas eu
tinha que descobrir o que acontecera a ela. Me sentia impotente sem saber
com o que estava lidando ou como faria para transpor esse problema. Nunca
fui de abandonar as coisas pela metade, e ela era uma parte inacabada da
minha vida. Talvez fosse tudo o que eu precisava para seguir em frente e não
a deixaria partir assim tão fácil.
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Lembrei seu nome completo e tentei lutar com o meu bom senso de
não pesquisar sobre ela. Talvez eu não encontrasse nada, era reservada e nem
um pouco famosa, então não seria uma matéria tão interessante para os
tabloides. Mas, quem sabe? Eu usaria das minhas possibilidades e ir mais a
fundo na internet por informações era perfeitamente normal.
Peguei meu celular e digitei seu nome, torcendo para que nada
aparecesse. Já imaginava o que poderia estar escrito, mas sabe quando você
não quer simplesmente ter uma comprovação da verdade?
Li algo sobre uma garota que tinha sofrido abuso e parecia que os
meus pés tinham perdido o apoio do chão, o que estava escrito deixaria
qualquer um possesso de raiva.
Na minha ideia, quem deveria provar que era inocente era o culpado e
não a vítima. Nunca tinha presenciado tamanha atrocidade em minha vida.
Alguém que sofreu abuso, tendo que provar ter sido vítima. Pelo amor de
Deus, onde esse mundo iria parar?
Só alguém idiota não perceberia a merda que era essa matéria. Por
isso muitos homens ainda se achavam no direito de sair por aí fazendo o que
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bem entendiam. Justamente por causa dessa falta de apoio da sociedade que
muitas pessoas sofrem com porcarias desse tipo.
Digitei seu nome onde antes eu havia digitado o dela e peguei sua
imagem, salvando no meu celular só para ter certeza. Sabia que não
esqueceria aquela feição, mas era só pra garantir.
Meu nome era vinculado a muita notícia, eu sabia, e por isso deixei
tudo engatilhado para nada vir à tona. Se esse merda achava que só ele tinha
seus esquemas, estava mais do que enganado.
— Me desculpe por aquele dia Rose, não devia tê-la deixado sozinha.
É que eu realmente fiquei sem saber o que fazer.
Sorri de forma fraca pra ele, sabendo que aquela era a mais pura
verdade. Se tinha alguém sincero nesse mundo, esse alguém era ele. Sempre
tinha sido. Desde a época em que estudávamos juntos ele falava o que
pensava, não mascarando nem um pouco a verdade e era isso que o tornava
confiável. Essa facilidade que ele tinha de ser sincero com todos.
— Desculpe, mas tenho uma no seu lugar agora. Ela é realmente uma
das melhores pessoas que conheço. Se a conhecesse pensaria o mesmo.
— Essa mesma.
— O sucesso ainda não subiu na cabeça dela? Afinal ela é casada com
o melhor jogador da liga. Logo a camiseta dele sobe pro Hall da fama,
consagrando o número como dele no Boston Globe. O cara é bom demais,
não tem nem como contrariar isso.
— Ela é tranquila, Ralph. Josh sempre foi o amor da vida dela, ele só
não sabia disso ainda. Ela meio que está feliz em ser só a mulher, entende?
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Eles se dão muito bem e formam um casal perfeito nas imperfeições um do
outro.
Ele fez um gesto com a boca, não acreditando muito no que disse.
Mas como eu sabia, Ralph não conseguia conter a sinceridade em seus lábios
e às vezes soltava algumas coisas desnecessárias.
Dei risada porque ele era dos que nos faziam rir, até mesmo nas horas
menos propícias para isso.
— Está melhor?
Ele pareceu ponderar suas próximas palavras, o que era mais do que
estranho. Nunca tinha o visto tão receoso com algo.
— Sua prima está mesmo com o Henry e quando disse tudo o que eu
sabia, ela não se importou. Acho que isso não vai terminar bem Rose...
Mas ele não esperava que agora eu fosse muito mais forte do que
sequer imaginei ser possível naquela época, e que se ele resolvesse fazer algo
realmente ruim comigo, pagaria mil vezes mais. Eu não deixaria barato.
Praticaria da minha defesa e faria tudo o que estivesse ao meu alcance para
nunca mais cruzar com ele desprevenidamente.
— O pai dele ficou meio abalado com o que aconteceu, sabe? Por isso
Henry ficou tão revoltado. Suspeito que muitas regalias foram tiradas dele em
troca do abafamento do caso.
— Esse é o problema. O pai dele não deveria nem ser capaz de fazer
isso. Justiça é justiça.
Literalmente.
Henry não fazia questão de fingir que estava arrependido. Não tinha
necessidade disso. Enquanto ele e seus amigos andavam livremente pela
cidade, eu tinha que me manter em casa, presa, devido ao medo que me
consumia por completo, sugando todo o resquício de vida que eu tentava
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manter em mim.
Eu não estaria segura ali. Jamais estaria segura em qualquer lugar que
fosse perto dele.
Bati tanto, mas tanto, que os nós dos meus dedos ficaram em carne
viva. Poderia até mesmo ter quebrado um dedo, tamanha a violência que
infringi em meus golpes. Mas nem essa dor era capaz de aplacar a raiva por
aquele monstro. Ele merecia muito mais pelo que tinha feito e eu queria que
ele sentisse na pele o quanto doía ser humilhado.
Eu fui sozinho até Torrington, não era covarde. Aquilo foi de homem
para moleque, porque era isso que ele era. A bosta de um moleque que não
Bati com toda a minha força. Ele estava quase perdendo a consciência
quando eu decidi parar. Queria que ele soubesse o porquê estava apanhando e
queria que ele imaginasse o que aconteceria se chegasse perto dela
novamente.
Nunca fiz ameaças com palavras vazias e quando dizia que se ele
chegasse perto dela eu o faria se arrepender de ter nascido, a certeza de que
eu faria isso corria em minhas veias.
Ela estaria segura, claro que sim. Ou eu seria capaz de fazer qualquer
coisa para que estivesse.
Vingança realmente não levava a nada, mas que dava uma sensação
maravilhosa, isso dava.
Pena que não poderia de fato observar. Só o fato de ter feito o que
tanto queria já me deixava mais calmo. Ele estava ciente de que a Rose não
era mais sozinha, e que se tocasse em um fio de cabelo dela, seria esfolado
vivo.
O treinador não deixaria o estrago que fiz a minha mão de fora das
suas palavras recriminadoras. Ainda mais com a temporada regular próxima.
No começo era fundamental sabermos como estávamos diante dos outros
times.
Nada a compraria quando o que ela queria era somente ser feliz.
Ela saberia.
Não queria dar expectativas para ele, mas minha cabeça estava tão
confusa que eu só queria alguém com quem contar. E Ralph com certeza
Ele podia? Claro que sim. Eu não estava com ninguém mesmo, pelo
menos não mais. O que custava tentar algo novo com alguém novo e sem
tantos problemas? E o melhor: que já sabia completamente dos meus. Porém,
eu estava confusa e nada decidida nesses momentos de confusão. Poderia não
ser uma boa escolha.
Fiquei do lado da minha mãe durante todo o tempo, com ele como
companhia. Estava zelando pela minha proteção, o que só me deixava mais
receptiva quanto a um possível “nós”.
Acreditava que quem queria, fazia por merecer, e nesse momento ele
não fazia nada, nem sequer uma ligação ou mensagem se deu ao trabalho. O
que ele merecia então, além de silêncio?
Foi só pensar no seu nome que senti meu celular vibrando em um dos
bolsos da minha calça.
— Oi.
— Não ia mesmo.
Sabia que era errado enfiá-lo nessa enrascada, mas estava sendo mais
do que prazeroso ouvir a respiração pesada do Allan através do telefone.
Dava pra perceber todo seu conflito interno e eu seria ruim em achar aquilo
magnífico?
— Quem é Ralph?
— Um amigo.
— Amigo?!
— Tô indo aí.
Merda. Esse não era o objetivo, estava tudo dando errado. Era para ele
ficar bravo, e não querer tirar a prova com os próprios olhos.
Minha mãe falou de forma rouca ao meu lado, adivinhando coisas que
ela mesma já tinha dito para mim. Não podia deixar minha felicidade passar.
Ela não conseguia falar muito e o suspiro que deu quando proferiu a
última palavra, só demonstrava que a pequena conversa havia acabado.
Ele fazia as regras dele e passava por cima das demais. Era imbatível
tanto no jogo quanto no amor.
Eu deveria falar para ele alguma hora que uma pessoa estava vindo e
era alguém que eu suspeitava não querer vê-lo na frente. Allan significava
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perigo para Ralph e pelo menos sincera eu teria que ser com ele.
— O jogador?
— Vai estar em boas mãos pelo menos. Acho que ninguém seria
capaz de tentar fazer algo com um cara daquele tamanho com você.
Era difícil ver uma dor que você infligiu tão aparente em outra pessoa.
Por isso quando ele se virou e foi embora, eu apenas deixei. Sem dizer
nada. Não precisava de mais, ele sabia no que estava se metendo. Na verdade,
era a pessoa que mais sabia dos meus problemas e porque eu nunca entregaria
meu coração completamente, novamente.
Poderia ser Ralph, que deveria ter esquecido alguma coisa. Era nisso
em que eu queria acreditar.
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Quando saí do quarto e andei pelo corredor, percebi o erro que cometi
em imaginar que estaria segura por apenas algumas horas nessa tranquila
cidade...
Rose estava brincando com fogo, e uma hora ou outra iria se queimar
feio. Não era conhecido por ser calmo, era mais do tipo engraçado, mas esses
são os piores. Não podiam ser provocados nunca.
Não sei se era um mal pressentimento ou uma coisa idiota, mas algo
me dizia que ele ia querer se vingar e com a Rose por perto seria fácil. Por
isso eu estava correndo sem me importar com nada, nem mesmo com o limite
de velocidade da auto estrada. Estava a mais de cem milhas por hora, e se
aquele carro não fosse estável e seguro o suficiente, um acidente seria fatal. O
preço absurdo compensava nesse quesito.
Aquilo que eu sentia arder no peito só podia ser uma mentira, ela não
Fiz o mesmo caminho que ela tinha me dito quando vim aqui pela
primeira vez e ao parar na frente da sua casa, confirmei minhas suspeitas de
que tudo estava muito errado. Caralho! Super errado.
Rose não merecia isso de novo. Muito menos por minha culpa. Eu só
queria que aquele filho da puta pagasse por tudo o que tinha feito.
Senti uma mão no meu braço e quase que a pessoa leva um soco de
desmaiar, se eu não tivesse olhado antes, porque era isso que aconteceria a
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quem me pegasse desprevenido agora.
Não respondi. Essa merda de cidade não servia para nada. Só para
olhar uns fazendo mal aos outros sem fazer nada.
Fixei meu olhar frio sobre a mulher à minha frente e algo me dizia
que eu não queria saber como ela tinha essa informação. Se ela tivesse
ajudado seria a primeira que eu manteria desacordada por um bom tempo.
— Foi você que fez aquilo com ele, não foi? Ele falava algumas
coisas desconexas e que o jogadorzinho iria pagar também. Mesmo dolorido
foi capaz de fazer tudo isso, acho que o ódio é a única coisa que o move
agora.
Soquei mais uma vez o volante, fazendo com que o carro desse uma
guinada para o lado. A mulher se assustou e ficou calada pelo resto do
caminho. Não queria ficar ouvindo nada que fosse atiçar a minha sede de
vingança. Aquele desgraçado não fazia a menor ideia de que estava lidando
com um cara não tão bom assim.
— É ali!
— Não.
— Fica aqui.
Vai dar tudo certo Allan. Ela vai estar em um dos próximos.
Procurei a pequena porta que deveria ter ali e quando descobri, pude
ver que o filho da puta estava bem de costas para mim.
Idiota imbecil.
Fiz um sinal de silêncio para ela que apenas me olhou, sem esboçar
nenhuma reação. Menina esperta.
A dor que eu via em seu olhar era capaz de me machucar muito mais
do que qualquer dor que infligissem em mim. Ela era meu ponto fraco. Desde
o momento em que a vi quando fui buscá-la para festa de comemoração na
casa do Josh, eu me liguei que ela era especial. Nada me prepararia para o
monumento que vi quando abriu a porta. Foi algo tão surreal que eu poderia
fazer a mesma reação agora, já que me lembrava perfeitamente de como meu
queixo tinha caído e minha respiração parado.
Sua pele sedosa e clara, combinando com seu cabelo negro e olhos
extremamente azuis, tinham me acertado em cheio e eu me senti
momentaneamente sem ar.
Rose era incrível, por dentro e por fora. Era o maldito sonho
adolescente de todos os homens: uma mulher legal, linda e que tinha um
corpo arrasador.
Abri a porta aos poucos, sem fazer nenhum ruído e andei calmamente
até onde eles estavam. Controlando o meu demônio interior que só pensava
em ver sangue, conforme eu me aproximava.
Teria que tirar Rose dali antes de fazer qualquer coisa, ela não
aguentaria ver mais essa cena de violência, do mesmo modo que eu não
aguentaria sair sem tê-la.
Como Henry poderia fazer coisas tão ruins e continuar achando que
aquilo era o certo?
— Não! Cansei de sentir medo de você sempre! Não pode mais ditar
como as coisas serão na minha vida. Estou exausta de relembrar tudo como
um filme de terror na minha cabeça. Não pode fazer isso e achar que vai sair
impune!
— Minha mãe está doente, Henry, deixe-me ficar com ela um pouco e
vou com você aonde quiser.
Ele estava contando somente com Ralph, isso era uma vantagem. O
inimigo subestimar suas forças era a maior fraqueza que ele poderia ter.
Use-o a seu favor, Rose. Se ele quer tanto ficar com você, use isso a
seu favor. Já viu acontecer antes e pode funcionar.
O asco que eu sentia estava subindo pela minha garganta e era quase
impossível não demonstrar o quanto aquelas palavras eram mentirosas e
horríveis. A repulsa de ter que fingir gostar dele estava me causando mais
mal do que eu acreditava ser capaz.
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— Não quero saber, você vai comigo agora! Ou eu faço com que sua
mãe não respire por muito mais tempo.
— Como quiser.
Veio até mim de forma rápida e me puxou pelo braço, com um aperto
esmagador, machucando não somente aquela área de aperto, mas também
algo em mim que há muito tempo se lembrava do seu toque com repulsa.
Deixei que ele me levasse até seu carro, não conseguindo reagir da
forma que queria. Estava em choque, morrendo de medo que o que ele falava
fosse realmente se concretizar. Não conseguia imaginar o que ele faria
comigo em tanto tempo, mas sabia que eu não queria que isso acontecesse.
— Entra.
Pegou uma corda aos pés do banco e rapidamente amarrou meus pés e
mãos, de uma forma que me soltar seria praticamente impossível, depois
pegou uma fita no porta luvas e passou na minha boca, impedindo que eu
gritasse ou falasse mais alguma coisa.
Chegamos na fazenda, e pela primeira vez eu via como ela era mesmo
maravilhosa, pena que fosse presenciar algo “não tão bonito assim”, e que
isso a marcaria mesmo que não quisesse. Porque coisas ruins que aconteciam
nos lugares, ficavam atormentando todas as pessoas que viessem a visitá-lo.
Toda vez que ele dizia meu nome completo e daquela forma
sarcástica, eu ficava com mais ódio de me chamarem assim. Parecia que
qualquer pessoa que me chamasse pelo nome completo saberia tudo pelo que
passei e me julgaria assim como todos o haviam feito.
Minha mente voltava para aquele lugar, para aquela casa, e nada me
faria manter a sanidade se eu sofresse tudo novamente. Tinha certeza que
dessa vez Henry deixaria marcas tão profundas em mim que seria quase
impossível me resgatarem do poço no qual cairia.
Supliquei um por favor abafado pelo plástico, o que o fez olhar para
mim com o pior olhar que poderia fazer. Aquele tipo que dizia o quanto iria
me machucar e que não sentiria o menor remorso com isso.
Ele fazia aquilo para me atingir, para provar o quanto ainda poderia
me afetar e acabar com a minha vida.
Era inútil lutar quando tal coisa acontecia, era praticamente inútil
querer sentir outra coisa, porque esse horror dominava todas as emoções e
fazia picado das lembranças felizes. Deixando-nos com somente aquela
terrível sensação de impotência e caos.
Assim como eu tinha cruzado com ele na minha vida, muitas pessoas
tinham cruzado com homens parecidos e essa era a grande crueldade do
mundo: uma pequena parcela da humanidade que só era feliz ferindo outro
alguém.
Mesmo a violência sendo algo horrível, por defesa própria poderia ser
perdoada, não poderia? Era ela ou ele, eu ou ele. Não tinha muito o que
decidir.
O aperto das minhas mãos era tão forte que eu pude sentir seu corpo
ficar completamente tenso, com a possibilidade de morrer de uma hora para
outra.
— Claro que você viria. Está apaixonado por ela, não está? Se não
estivesse, não teria ido até a minha casa, querendo vingá-la. Todo cheio de
boas ações, quando o que queria era apenas apagar o vermelho que via ao
abrir os olhos. Querendo descontar em mim as suas frustrações.
Eu não confirmaria nada ali. Rose não merecia saber dessa forma o
que eu estava sentindo. Ela merecia muito mais e eu não deixaria Henry
estragar esse momento para nós dois.
Graças a Deus.
Rose se apertava cada vez mais contra o meu corpo, como se fosse a
sua muralha e proteção.
Eu não diria o que tinha acontecido, até porque ela já estava mais do
que abalada com toda aquela merda. Era melhor deixar que visse por ela
mesma e então caísse a ficha de uma vez. Acho que dizer só a faria
desmoronar de vez.
Mais uma coisa que aquele desgraçado a tinha feito perder. Meu ódio
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só aumentava, de uma forma que nem meu pior inimigo iria desejar.
— O que aconteceu?
Decidi por não fugir da verdade, uma hora ou outra ela viria à tona e
poderia machucar muito mais. Fora que já estávamos ali e precisávamos lidar
com o enterro. O que já era por si só muito difícil.
— Não.
Esse cara era doente e não podemos contar com bom senso de pessoas
malucas.
Rose ficou de cabeça baixa o tempo todo e daria qualquer coisa para
saber o que ela pensava e como poderia fazê-la um pouco melhor. Porque vê-
la daquele jeito simplesmente acabava comigo.
Ela deveria estar feliz pelo filho da mãe finalmente pagar pelo que
tinha feito, mas ela estava meio que anestesiada, como se nada que
acontecesse a sua volta interferisse de fato na sua vida. Não sei como faria
para tirá-la desse estupor, mas sabia que eu lidaria com seus medos junto com
ela e agora que eu sabia quais eram, ficava mais fácil de entender. Nem que
eu precisasse ir até os mais caros terapeutas com ela, eu faria isso, faria tudo
por ela.
— Vamos?
Sua prima poderia se virar para voltar para casa, sabia que o faria e
entenderia meus motivos.
Via que ela estava sofrendo e cada dia eu desejava somente que seu
calvário acabasse. O mais rápido possível.
Eu choraria, claro que sim, mas ela estaria muito melhor do que ali,
com a doença definhando-a cada vez mais.
— Vingar alguém.
Algo me dizia que eu realmente não queria saber sobre isso, mas não
conseguiria deixar que o assunto morresse e que eu ficasse na ignorância
devido ao meu medo. Allan tinha vindo até ali, feito algo e voltado sem que
eu fizesse a mínima ideia sobre isso. Com certeza, ele não queria que eu
soubesse em primeira mão, tinha vergonha ou até mesmo estava receoso
sobre as suas ações.
— Quem?
— Você.
— Sim.
— Como?
— Tive medo.
— Medo? Esse era o menor dos sentimentos que você deveria ter
quando me contasse, pelo menos por você, eu não faria nada, não com você.
— Respirou, recuperando a calma e prosseguiu – Fico revoltado com essas
coisas, Rose. O mundo não vale a pena, muitas pessoas não merecem a
porcaria do ar que respiram e te garanto que revidar qualquer coisa que
fizeram a você era o mínimo que eu faria, assim como o fiz e não me
arrependo, nem um pouco. Aquilo foi rejuvenescedor, coloquei pra fora todas
as minhas frustrações. Saí da casa dele como se tivesse ganhado como
jogador mais valioso dez vezes consecutivas. E definitivamente, foi a melhor
merda que eu já fiz em toda a minha vida.
— Jamais faria isso. Nunca achei que coisas horríveis como essas
aconteciam por culpa da vítima. E sinceramente, fico receoso por você ter
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que perguntar isso para confirmar algo que já deveria saber. Jamais toquei em
uma mulher tentando causar ferimentos ou ignorei uma que estivesse em
apuros... Tenho os meus princípios e respeitar vocês é um deles. Não ache
que só porque vim de uma comunidade pobre, eu sou um monstro. Se
espantaria em saber que a maioria deles nasce do luxo e ostentação.
— Sei que é difícil conciliar sua vida quando uma coisa dessas
acontece, mas se tivesse me contado eu a ajudaria, e quem sabe poderíamos ir
juntos ao terapeuta. Até porque, acho que estou precisando também, ninguém
é tão perfeito que não tenha nenhum medo.
— Muita coisa...
Ele me contou tudo o que Silas já havia esclarecido, e cada vez que
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ele apertava com mais força o volante, eu conseguia ver o quanto aquilo
estava sendo horrível para ele...
Reviver todo o passado nunca era bom, ainda mais quando ele era tão
horrível quanto se pudesse pensar. As coisas que aconteceram a ele não
foram nem um pouco fáceis.
Cada vez que falava algo extremamente difícil, focava o seu olhar na
estrada. Cada vez que relembrava as atitudes horríveis, travava os dentes.
Odiava vê-lo assim, mas eu era a prova viva de que para deixar as coisas
realmente para trás, tínhamos que nos libertar das memórias. Mesmo que elas
nos machucassem com isso, ao final não doeria mais, ao final, aquilo que não
te matava te tornava mais forte e propenso a superar.
— Entendo.
— Sei que entende. Dentre qualquer outra pessoa, você sabe muito
bem como é temer o passado e foder com o presente e o futuro por isso. É
como eu, alguém quebrada que achava não ter conserto. Quem colaria seus
pedaços, afinal? Quem seria capaz de suportar as suas dores quando nem
você mesma consegue sequer olhar para elas sem se sentir mal?
Porque agora ele estava ali comigo e eu não cometeria o mesmo erro
que ela.
Não havia coisa mais perigosa que o amor, com certeza. Ele nos fazia
cometer loucuras tão grandes que voltar atrás era quase impossível. Tão
doloroso que você simplesmente evitaria.
Fui com ela até sua casa, para que ela pudesse ver a mãe, antes que
tomássemos as providências para o velório o mais rápido possível.
Rose estava um pouco balançada, afinal, ali tinha sido seu lar um dia.
E pensar que teria que vender a pequena casa a enchia de medo das
lembranças se perderem com o tempo.
Mas como eu havia dito, ela teria que deixar o passado no lugar dele,
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investir no futuro brilhante que ela tinha pela frente. Sem deixar de levar em
conta tudo o que havia acontecido ali.
Henry ainda estava vivo e qualquer distância que ela chegasse perto
dele era pedir para algo ruim acontecer. Claro que agora ela tinha a mim e eu
não deixaria nenhum mal assolá-la, mas não era bom brincar com a sorte. O
quanto pudesse evitar seria o ideal. Era melhor ter um ponto final, do que
deixar a vírgula para te atrapalhar depois.
Nem ferrando que ela voltaria a morar naquela cidade, não quando eu
a queria comigo. Segura e longe dali.
— Porque não vou deixar. Fim de conversa. Não tem mais nada para
você aqui. Vamos voltar daqui uns dias, testemunhar contra o desgraçado e
tchau Torrington, que se exploda tudo.
Ela sabia que eu tinha razão. Agora que a mãe dela tinha encontrado a
paz, ela não tinha mais nada a prendendo aqui. Era uma idiotice sequer
cogitar voltar.
— Para de falar assim, parece que quer mandar em mim e não suporto
isso.
— Eu sei, é exatamente por esse motivo que o faço. Até parece que
não me conhece.
— Eu estou lascado.
— Por quê?
— Eu sou orgulhoso.
Ela deu uma risada que seria capaz de iluminar todo o universo. Eu
estava mesmo perdido. O mundo da farra tinha dado adeus a partir do
momento que coloquei os olhos nessa mulher.
— Sei lá, vamos deixar rolar. A única certeza que eu tenho é que vou
ficar com você. O resto a gente vê no que dá.
Aquilo pareceu ser bom pra ela, que apenas concordou e continuou
olhando o nosso caminho. Parecia engraçado, mas uma lembrança não vivida
surgiu em minha mente, como se esse fosse o nosso final, juntos. Seguindo os
caminhos um ao lado do outro.
— Obrigada.
— Você tem todo esse estilo bravo e “não mexa comigo”, mas é um
amor de pessoa que eu sei.
— Pelo amor de Deus! Não fala isso alto, vai que alguém ouve.
Minha reputação estaria arruinada!
— Eu posso até cair, mas vou cair lutando. Acha que pode um
negócio desses? Eu? Não! Não posso ganhar fama de pau mandado de
mulher. Isso já é inaceitável.
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— Espere e verá.
Segui até a casa do Josh, para mostrar a todos que eu tinha arrumado
as coisas. Precisava conversar com ele, sobre tudo, sobre como agir, porque
eu sinceramente não sabia lidar muito bem com o amor. Talvez ele, que já
estava casado há alguns meses me desse um conselho que fizesse sentido.
— Claro.
Bia não sabia falar sem ir direto ao ponto. Era uma das suas
qualidades e seu maior defeito, porque quase sempre era inconveniente. Sorte
que eu já tinha acostumado com isso.
Ela me olhou com uma cara de “é bom que não esteja mentindo pra
mim”. Como se alguém conseguisse mesmo enganá-la. Bia pegava as coisas
no ar e sua intuição nunca falhava.
Procurei pelo Allan e o Josh e não vi nenhum dos dois. Bia percebeu
quem eu estava procurando e mexeu os lábios dizendo que estavam
conversando.
Ela sabia das coisas antes mesmo do marido falar para ela, os dois
Claro que eu sabia. Ele estava assim por minha culpa. Não sei se
estava preparada para deixar mais alguém saber das coisas que haviam me
acontecido. Eu confiava na Bia, mas não suportava a ideia dela ou qualquer
outra pessoa me olhando com piedade.
Eu odiava esse olhar na feição das pessoas e com o tempo eles tinham
passado. Se eu trouxesse tudo aquilo à tona novamente, os olhares voltariam
e com eles a minha sensação de impotência.
Bia ficava louca com isso. Era engraçado. Ela salvou o coitado e o
mandou para fora, tentando evitar que aquele incidente acontecesse
novamente.
— Allan estava mal. Acho que peguei muito pesado com ele esses
dias atrás... Falei coisas que não eram necessárias. Não posso interferir na
relação de vocês, sei que não. Mas é que eu amo e me preocupo com todos...
Vocês me deixam totalmente à deriva e eu nunca sei se estão bem. Nem meus
dois pequenos dão tanto trabalho assim.
— Josh quer mais um cachorro. Não sei onde vou arrumar tempo para
todos. Será que consigo me dividir em três? No mínimo? Ajudaria e muito!
Ela era totalmente estabanada. Muitas vezes não falava coisa com
coisa. Dei risada, mostrando que aquela ideia era totalmente absurda.
Gloria estava sentada com a Lily e olhava para tudo, com um sorriso
amoroso no rosto. Ela amava aquela família como se fosse dela, ninguém
mais a considerava uma empregada, tamanha era a sua intimidade com os
quatro.
Nem todos seriam capazes de deixar seu sonho escapar para ajudar
outra pessoa.
— Sim. Só que Collin passou mal e eu decidi ficar com os dois. Não
conseguiria me concentrar no treino.
— Fez certo.
Só me restava a dúvida sobre o assunto que tratou com Josh, mas logo
eu saberia. Esses dois não conseguiriam manter o segredo por muito tempo.
— O que conversaram?
Perguntei, sabendo que ele não falaria. Tentar não custava nada,
afinal.
Olhei para ele, com uma expressão que mostrava a alegria que eu
sentia. Finalmente tudo estava se encaixando. Talvez não fosse mesmo
impossível voltar a ser feliz... Só uma questão de tempo e companhia.
Quando ele falava essas coisas, meu coração realmente batia mais
forte.
— Estou sem teto desde que a morta apareceu e acabou com a minha
segurança.
— No meu é pior.
Olhei pro meu amigo, sentindo a mesma certeza que ele havia sentido
um tempo atrás. Josh era o cara mais certo para me dar conselhos nesse
momento, além do Mike... Mas eu não costumava conversar muito com ele e
ficaria estranho pedir opinião.
— Consigo.
— Sei.
— Estou falando sério, Allan. Temos que ter certeza antes de tomar
uma decisão dessas. Ela envolve vocês dois e qualquer receio pode acabar
com toda uma relação. Faça da sua felicidade a sua meta, e a certeza vai vir
como opção. Sei muito bem disso.
— Boa pergunta. Acho que sempre fui... Você que não sabia
aproveitar meus conselhos com sabedoria. Eu sou um homem que sabe das
coisas, sou realmente muito bom.
Ele era um idiota, isso sim. Jamais eu admitiria que ele sabia do que
falava. Daria mais combustível para o seu orgulho.
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— Não precisa concordar, sei que está pensando isso. Eu sei que sou
bom.
Não tinha nada a ver com nosso antigo assunto, mas era uma pulga
que estava há tempos atrás da minha orelha.
— Ele ainda é meu agente, mas está mais tranquilo. Ele se apaixonou
e prefere ficar com a mulher “que ninguém sabe quem é”. Não posso culpá-
lo por isso... Só o vejo quando é extremamente necessário.
Quando você dava uma chance ao amor, ele teria nas mãos todas as
suas vulnerabilidades e conseguiria acabar com tudo em um simples estalar
de dedos. Era como dar toda a liberdade de ditar as regras da sua vida ao
destino. Virando uma simples marionete, seguindo conforme as vontades de
algo maior.
— Manda.
— Ainda não.
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Mas era o ponto de “quase”. Dali a pouco tempo o time dos solteiros
ficaria sendo segurado pelo Silas, que mal sabia disso ainda. Talvez nem por
ele por muito tempo. Os tempos eram de amor e ele encontraria o dele. Ainda
mais sendo o mais “romântico” de nós três. O único que sempre sonhou em
se casar e ser exclusivo.
E foi justamente o que ficou por último. Não dá mesmo para discutir
com o tempo.
Eu estava tenso em ter que omitir a verdade dela, Josh estava tenso
em ter que omitir a verdade da Bia e assim demos na cara que algo realmente
não estava certo. Ou seja, duas mulheres com olhos extremamente treinados
poderiam ver de longe que escondíamos coisas.
Vi o olhar da Bia direto no meu amigo, que até engoliu em seco. Esse
seria metralhado. Sua esposa não era nada sútil, até mesmo uma manada de
elefantes seria mais sutil que ela.
Não voltaria para a cobertura, pelo menos não se ela deixasse que
fizesse companhia a ela. Não me sentia bem naquele lugar gigante, sozinho.
Era a pior sensação que tinha.
Pensei que nunca fosse encontrar outra pessoa que entendesse minha
quietude. Pensei que era feliz há sete anos, pensei que tinha encontrado o
meu amor para a vida toda e assim como Josh, eu não poderia estar mais
errado.
Eu nunca imaginei ficar feliz por sofrer, assim como o fazia agora.
— Autobiografia?
Ele entendia. Claro que entendia. Parecia ler minha mente na maioria
das vezes. Era como se fôssemos interligados e ele soubesse cada passo
seguinte e apenas me acompanhasse para não me deixar sozinha.
— É só acreditar.
Eu não tinha cabeça para nada além de tentar resolver minha vida.
— Rose, o que você anda comendo ultimamente? Não tem nada nessa
geladeira! Eu sou um cara grande, preciso comer! Como vou me manter em
pé?
Allan veio até a porta do quarto, reclamando que nem uma matraca,
porque não tinha encontrado nada. Como se eu fosse obrigada a adivinhar
que ele ficaria aqui e que teria que saciar essa sua fome de “Tiranossauro
Rex”.
Eu não sabia do que ele estava falando, não me lembrava de hoje ser
nenhuma data especial.
Como assim? Agora ele tinha pirado de vez... Esse homem à minha
frente não era o mesmo Allan que eu conhecia. Ou o mundo estava acabando,
ou quem estava ficando louca era eu. Talvez as duas hipóteses estivessem
corretas.
— Sem a palavra não por hoje. Vamos seguir o lema do sim. Rose,
namora comigo? Sim! Rose, vamos comprar besteira? Sim! Rose, vamos sair
pra comemorar? Sim! Entendeu?
— SIM.
Aquilo não fazia muito sentido, mas desde quando alguma coisa fez
sentido para ele? Era literalmente o cara mais surpreendente que eu poderia
ter conhecido. Ninguém conseguia prever o que ele faria, uma verdadeira
incógnita da natureza.
— Um cara legal.
— Ah, vamos lá! Você consegue se esforçar. Essa resposta foi muito
merda!
— O que você vê, Rose? O que sente quando olha no fundo dos meus
olhos? O que consegue enxergar transbordando de mim, toda vez que está
perto? Anda, Rose! Diga o que a faz permanecer quando poderia ir embora?
O ar entre nós era rarefeito, como se até mesmo ele soubesse que a
eletricidade que sentíamos poderia acabar com tudo a nossa volta. O lugar no
meu braço onde sua mão tocava suavemente estava quente e ansiando por
mais dele, desejando tudo o que pudesse oferecer.
— Amor?
— Isso. Eu te amo, Rose... E pode ter certeza que eu digo isso com a
maior certeza que alguém poderia ter. Eu corri demais desse sentimento, mas
Eu não queria ter o que a Bia tinha com o Josh, eu queria ter algo com
o homem a minha frente, algo especial, só nosso e que todos nos olhassem e
vissem o quanto éramos um do outro. Porque seria simplesmente impossível
negar.
— Você é perfeito!
— Claro que não! Passo bem longe disso. Estou mais para um cara
cheio de erros...
— Completamente seu.
Cuidado.
Contato.
Amor.
Paixão.
Prazer.
Estava tudo ali, apenas esperando para surgir em ebulição. Nada tinha
sido tão profundo. Nenhuma outra ligação tinha sido tão forte.
Eu estava feliz, como jamais imaginei ser novamente e era isso o que
realmente importava.
Ela só podia ser de outro planeta. Quem não gostaria do creme dos
deuses? Era perfeito, esplêndido, a melhor invenção culinária de todos os
tempos!
— Não gostando.
— Como assim? Você não tem esse direito! Vou viver sumindo para
comer fora então. Sai fora. Focar em verdura! Não vou aguentar um mês de
treino!
Não disse mais nada, apenas evitando uma conversa muito maior.
Parei no corredor de massas e peguei todos os molhos que eu adorava.
Precisava manter meus quilos.
Quando sua intimidade com a pessoa era tão grande, o tempo já não
se fazia mais necessário. Apenas a convivência.
Perguntei sabendo que ela negaria. Rose gostava dali, era o seu
refúgio e seria difícil convencê-la de ir para um lugar mais seguro. Agora eu
entendia a necessidade do meu amigo de manter a sua mulher sempre a salvo.
Esse mundo em que vivíamos não respeitava nada além do dinheiro e era
extremamente perigoso.
Julguei até ser exagero por parte dele, manter a Bia sempre cercada de
seguranças, mas percebia o mesmo sentimento crescendo em mim com
relação a Rose, não querendo que minha carreira acabasse de alguma forma,
fazendo mal a ela. Se eu precisava lidar com o perigo constante, não queria
que ela fosse obrigada a fazê-lo também.
Sabia que não veria. Mas eu queria algo nosso. Só nosso. Que não
tivesse nenhuma outra lembrança além de nós dois juntos.
— Vamos ter que mudar alguma hora. Aqui não vai aguentar nem um
mês contra os paparazzi. Algo parecido com a casa do Josh é no mínimo o
mais aceitável.
Saí de lá, torcendo para que ela percebesse o quanto tudo mudaria dali
pra frente e o quanto era importante ela ir se acostumando desde já. Eu faria o
mesmo que meu amigo: contrataria seguranças, o que jamais imaginei fazer,
e os contrataria pra mim também. Sabia que não poderia continuar ignorando
a segurança. Mas era realmente humilhante andar com armários do lado, se
sentindo impotente em se defender.
Sabia que precisava fazer alguma coisa, mas quando ouvi o barulho,
não tive a menor vergonha de ficar paralisado. Era surreal demais e
imprevisível demais.
Merda.
— O que aconteceu?
— Eu não posso dizer agora, preciso resolver umas coisas. Corre pra
lá que a Bia te explica!
— Eu já estou no limite.
Ele não era dado a simpatias e parece que para desafiar o meu humor,
diminuiu ainda mais a velocidade. Aumentando toda a tensão que percorria o
meu corpo.
Baleado? Ela só podia estar falando de outra pessoa, não era dele, não
podia ser... Allan estava bem há algumas horas atrás, ele só tinha ido buscar
suas coisas para ficar comigo no apartamento. Como tudo havia acontecido
assim tão rápido? Impossível!
Entrei no carro e mesmo sabendo que Bia não dirigia bem, não me
importei com a minha saúde, não quando Allan devia estar em estado grave e
que dependia da habilidade na direção da minha amiga para chegar até onde
ele estava.
Bia não queria falar muito, estava concentrada em fazer com que
chegássemos rápido e com vida. Nem ela estava para sorrisos hoje e
suspeitava que quando víssemos seu marido e o Silas, eles estivessem da
mesma forma.
Bia foi até o marido, perguntando como o Allan estava e ouvi Josh
murmurar que ele estava em cirurgia e que ninguém dava notícias do seu
estado. O que significava que as coisas estavam difíceis ao ponto de ninguém
ter tempo para fornecer notícias.
Silas olhou pra mim e sacudiu a cabeça em sinal de negação. Mas não
se movendo nem um pouco para fazê-lo. Acabaria sobrando para mim... Eles
não gostavam da forma como a mãe e o irmão tratavam o Allan, então seria
um milagre conseguir que eles tentassem entrar em contato.
— Aqui.
Ele passou-me seu celular, em uma clara ordem para que eu ligasse
dele.
— Quem é?
— Oi, eu sou a namorada do seu filho, Allan, e queria avisá-la que ele
está no hospital... Assim que vier eu explico o que aconteceu, mas peço um
pouco de calma, tudo bem?
Agora quem não estava entendendo nada era eu. Eu soltei aquela
bomba e ela me perguntou apenas “o que ele aprontou”? Desde quando
Allan aprontava algo para ir parar no hospital? Era um dos homens mais
tranquilos que eu conhecia, não arrumava confusão à toa. Ele apenas era
brincalhão demais, mas isso todos sabiam e não davam bola.
Percebi que tinha sido um erro nutrir esperanças sobre ela e que no
final, Josh e Silas estavam certos em não querer fazer essa ligação... Sabiam
desde o começo que seria inútil, assim como tentar ajudar um drogado que
não queria ser ajudado.
— Me desculpa Jay... Eu não queria, juro que não queria. Foi mais
forte que eu... Não quero te perder. Fica comigo, fica... Respira, por favor,
respira!
— O médico disse que ele ainda estaria sob os efeitos dos sedativos
por um bom tempo. Não sei ao certo quanto.
— Estou preocupada.
Fiz um esforço para abrir os lábios e disse fracamente, para que todo
mundo parasse de palhaçada e visse que eu estava bem.
— Caralho, cara! Mas que bosta! Como faz isso com a gente? Na
moral, não quero mais sentir essa merda não. Tô com o coração palpitando
até agora! E se eu morro também por causa do susto? E aí, como ficariam
meus filhos?
Josh estava bravo, puto da vida. Mas eu não tinha pedido aquilo.
Dessa vez era mesmo inocente. E ele se esqueceu que passamos pelo mesmo
no seu caso, uma verdadeira trapaça do destino.
Rose me olhava de onde estava, perto da Bia, e amor era tudo o que
eu via refletido. Eu não estava tão bem assim, mas eu tinha a ela e uma
família que eu mesmo escolhi. Quem ficaria ruim tendo com quem contar
sempre que precisasse?
Era ridículo ter que sair de cadeira de rodas de lá, ainda mais com a
multidão de fotógrafos que me aguardavam.
Menos mal. Já era ruim o suficiente ter que ver fotos minhas em uma
cadeira de rodas no dia seguinte, e seria muito pior ter que ficar dando
explicações para todos.
— Desculpe te dizer, mas vai ter que ficar na cobertura com a Rose...
No prédio onde ela mora não tem elevador... E cara, tá cheio de repórteres
por lá, só esperando a sua volta.
— Mas e a Letícia?
Josh falou e olhou pro Silas que parecia saber de algo mais. Na
verdade, eu tinha certeza que ele sabia, até porque, conhecia uma das muitas
faces da mulher que um dia eu pensei amar. Graças a Deus as coisas não
tinham dado certo entre a gente. Tinha o pressentimento de que elas não
acabariam bem.
— Bom... Ele estava pensando que você era um dos parceiros dela,
mas o convenci de que não. Também não sabia do que estava acontecendo e
eu sou testemunha disso. Ela cometeu muitos crimes além dos que tinha nos
falado e assim como o irmão, foi presa e indiciada por todos eles.
Tudo porque um queria seguir seu sonho, enquanto o outro queria que
ele seguisse comandando seu império. Um impasse que poderia muito bem
ser resolvido sem tanta dor e mágoas envolvidas. Pena que todas as pessoas
complicavam os problemas quando deveriam tentar simplifica-los. E quem
seria eu para julgá-los por isso, quando só consegui resolver meus dilemas
depois de muitos anos e com ajuda das pessoas que realmente se importavam
comigo?
Como a Rose, pai do Silas, minha mãe e meu irmão, que conheciam a
criminosa tanto quanto eu. Ou seja, quase nada.
Reza as más línguas que seu romance com o meu astro está mesmo a
todo vapor. Fontes próximas dizem ainda, que os dois se olham de forma
apaixonada e estão sempre a se preocupar um com o outro.
Dessa vez seu pai não quis assegurar sua liberdade e demonstrou estar
pouco ligando para o que ele tinha feito, deixando que pela primeira vez na
vida, assumisse a culpa por seus erros e ações.
Foi a primeira vez que não o vi sorrindo quando seu olhar era dirigido
a mim, ele estava com medo, e com razão! Não sabia como era a realidade na
cadeia, a qual eu achava que não era muito boa e ele também. No mínimo
sabia que com essa cara de playboy que tinha, seria um prato cheio para os
criminosos mais barra pesada que existiam.
Saí daquela cidade, com a casa vendida, com o culpado por tantos
— Tudo resolvido. Até que enfim. Parece que foi tirado um peso das
minhas costas. Nem acredito que estamos finalmente vingados.
— Nem eu.
Tinha ido até o bairro onde ela morava e falado tudo o que estava
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entalado na minha garganta. A forma como ela tratava os filhos e como não
se importava com um deles, o qual ela devia amar incondicionalmente. Não
saí de lá até que tudo estivesse em pratos limpos, cansei da palhaçada que era
aquela relação deles, onde somente ele cedia dinheiro e eles aproveitavam,
sem se importarem em como ele estava, como passava seu tempo livre e
afins. No começo ela ainda teve a cara de pau de me xingar por coisas
totalmente idiotas, o que só tinha me feito falar mais.
Allan havia feito tanto por mim e eu ficava feliz por ter conseguido
pelo menos essa mudança na sua vida.
Fiz cara de paisagem e fingi que não sabia do que ele estava falando,
e ainda bem que ele acreditou na minha farsa. Não queria que soubesse que
sua mãe precisou de um empurrão meu para fazer o que deveria ter feito
desde o começo.
— Não.
— Tem que passar mesmo, estou ficando louco por aqui! Fora que
vou ter que treinar pra caralho pra poder alcançar os caras. Só de pensar nisso
já me sinto horrível.
— Eu sei.
Allan seguiu até a cozinha, tirando a camisa, agindo como todo dia. A
Eu sabia do que ele estava falando. Tudo havia acabado. E muito bem
eu diria. Tudo estava no seu devido lugar e a felicidade reinava em carga total
na nossa vida.
Quem era o meu passado quando o meu futuro estava bem ali na
minha frente, com uma cara mais do que safada?
Pedi ajuda para uma das meninas fecharem o zíper atrás da fantasia e
ouvi o anúncio da entrada dos jogadores em quadra. Coloquei aquela cabeça
gigante e verifiquei se conseguia ver pelos pequenos buracos dos olhos.
Tudo conferido.
Tudo certo.
Sentia suas lágrimas molhando meu pescoço, sabendo que elas eram
de alegria, o que me deixava o homem mais orgulhoso de todo o planeta. Ela
seria James e porra, eu estava mais do que ansioso para isso acontecer logo.
Já não aguentaria mais muito tempo sem torná-la oficialmente minha.
Voltei para quadra, só que com o uniforme dessa vez, passando muito
menos calor também. Não aguentaria usar aquela fantasia durante o jogo
inteiro, nem fodendo, que negócio quente! Ninguém merece não!
— Feliz.
Josh era mesmo um idiota. Já esperava isso dele, estranho seria se não
dissesse algo do tipo.
— Desculpa aí, mas você já é casado! Vou ficar com o Silas que
ainda é solteiro!
Dei risada sabendo que ele estava certo e mais ainda porque me sentia
eufórico.
Como Josh estava tão calmo com uma merda dessas? Aquela cueca
estava apertando e fazendo minhas bolas suarem mais que um bando de
homens em uma sauna.
— Relaxa que vai ser rápido! – Silas disse e recebeu uma olhada nada
boa minha e do Josh.
— Que mês você vai ser? — Perguntei ao Josh, torcendo para que ele
falasse janeiro.
— Janeiro.
— Dezembro.
— Isso mesmo! E estamos com uma ideia para ser a última foto sem
roupas. Um nu traseiro, venhamos a dizer! Se importaria de mostrar o
bumbum para a mulherada?
Era muita falta de sorte eu ter sido sorteado para o pior. Uma falta de
sorte do caralho!
— E se eu não aceitar?
Para mim não era. Se fosse eu no lugar dele também não trocaria, mas
só porque todos sabiam como eu não era adepto das humilhações.
— Não nesses casos. Sou idiota, mas não sou trouxa, Allan! Boa sorte
para você! Daqui a pouco é a minha sessão e a sua, como DEZEMBRO, é a
última.
Ele e Josh saíram de perto, sabendo que eu daria uma crise em breve e
não queriam ficar para presenciar isso.
— A gente devia filmar isso! Pra você parar de ficar cheio de piadas!
— Dezembro!
Uma maravilha.
Nem tinha dado tempo de chorar com a minha mulher o meu carma.
Sabia que pra Rose tanto fazia, ela sabia que meu coração era
totalmente dela e não importava que todas as mulheres do planeta vissem
meu traseiro. Claro, não importava.
— Preparado?
Jamais. Mas não poderia fazer nada, isso era certo. Então que
passasse logo.
— Não.
Essas coisas de: relaxa, vai dar certo, não deixa o corpo duro que
atrapalha, não era comigo!
Nada contra, claro que não, mas é que eu não estava me sentindo bem
em ficar exposto daquela forma e com meu traseiro circulando por todas as
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bancas do país e quem sabe, mundo. Não, isso não me deixava muito bem.
Que mulher dos infernos! Além de ter que fazer toda aquela merda,
ainda precisava ficar fazendo essas coisas estranhas.
— Quer que coloque uma música para relaxar? Mandar essa tensão
embora?
— Então melhora essa cara, James! Temos que te deixar sexy nas
imagens.
— Pelo amor de Deus, até parecesse que estou lidando com uma
criança ao invés do astro que você é!
NUNCA MAIS!
— Terminamos!
— Estou liberado?
— Coloca a cueca que agora vamos tirar uma foto de todos juntos
para a capa. Depois disso é só felicidade!
Tiramos a última foto com todos juntos e a felicidade era geral. Mas a
minha nem sinal.
— Allan, vamos embora. Agora já era. Reza para não ser tão ruim
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quanto imagina.
Apenas depois.
E eu praguejei muito.
Tanto que eu tive a certeza que não sairia mais na rua sem uma
máscara que escondesse a minha identidade.
“Que palhaçada de noite foi aquela? Não quero nem saber, eu vou
sequestrar esse homem e fazer com que se case comigo. Nada de Cópia de
Megan Fox, nem de qualquer outra rapariga. Ele tem que aceitar de uma vez
por todas que eu sou a mulher da sua vida e que não pode ficar me traindo!
#CanseiDeSerEnganada!
Vou ter que mudar minha tática para o último dos soldados do trio,
vai que tenho chance com ele. Sempre foquei nos outros e nem pra manter
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meus olhos abertos com o único que pode aceitar meu coração!
Cópia (futura Cópia J.) vai lançar um livro também, ainda não
sabemos quando, mas vai, e nooooooosssa, eu estou doida para saber como
esses dois deram vasão a abrasadora paixão que os consome como fogo...
Tá. Parei! Mas eu realmente estou curiosa! E quem de vocês não quer saber
como é a real vida de uma celeb.? Eu admito que quero, não vou mentir!”
Roselyn James.
Josh ainda estava pra baixo, mas disfarçava da forma que podia, na
verdade, todos estávamos, mas como ele teve uma ligação mais forte com o
garoto, quando recebeu a carta, sentia muito mais. Era como se aquilo o
tivesse feito se sentir impotente.
Nem de perto.
— Que inferno!
Olhei pro meu amigo, que estava praticamente soltando fogo pela
boca. Encarava fixamente um ponto em sua frente, e quando eu segui seu
olhar percebi o que tinha acontecido... Josh era um homem extremamente
ciumento e ver sua mulher conversando com outro cara só despertava o leão
nele, pronto para matar qualquer um que ousasse chegar perto.
Fui contaminado pela mesma raiva que Josh e cerrei meus punhos, me
concentrando em não matar ninguém na festa dela. O que seria um desafio,
diga-se de passagem.
— Já estou indo!
— Eles não respeitam nem mulheres grávidas! Está cada vez mais
difícil ser casado com uma mulher maravilhosa. A quantidade de homens
dando em cima é um saco!
Dessa vez, foi o outro homem que colocou a mão no ombro da Bia e
ouvi Josh praguejar alto enquanto tentávamos passar pela multidão que nos
engolfava. Tudo só para atrapalhar nosso real objetivo: acabar com a graça
daqueles homens.
— Posso ajudá-los?
Eu riria disso se não estivesse tão puto da vida com a minha mulher.
Morrer não era meu objetivo nos próximos quarenta anos, no mínimo.
Eu tinha bebês pra criar, pelo amor de Deus! Ainda mais que seriam
dois de uma única vez. Uma verdadeira provação, mas nos sairíamos bem...
Olhei pra ela e bufei, agora eu era o culpado por essa breve discussão!
Eu?! Ela só podia estar de brincadeira comigo!
— Pelo quê?
— Por ter ido àquele jogo. Por ter entrado na minha vida e
principalmente por ter virado meu mundo de cabeça para baixo. Eu não sou
nada sem você.
Até mesmo Dante ficaria com inveja de mim. Azar o dele e sorte a
minha.
Desculpe cara, mas nessa vida eu caí no colo dela e não a deixaria me
soltar nunca mais!
FIM!
Capítulo 1
Silas
Josh estava feliz, Allan estava feliz e agora todo mundo me olhava
com cara de “e o Silas, como tá?”. Uma porcaria, isso que eu tava. Às vezes
eu acreditava que nunca encontraria alguém como Beatriz e Rose, elas eram
perfeitas pra eles e eu queria alguém perfeita pra mim também...
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O complicado é que quando se tem dinheiro, a maioria das pessoas
que se aproximam de você é por puro interesse e eu acabava desistindo das
coisas na metade do caminho exatamente por esse motivo.
As coisas pra mim já eram suficientemente difíceis sem ter que lidar
com mais isso.
Não era nem de longe inveja, era apenas a vontade de ser feliz...
Allan evitou comentar sobre seu casamento, só para não ferir o meu
ego de romântico. O que ele não sabia é que isso já tinha acontecido há muito
tempo, eu apenas tentava continuar disfarçando como o tinha feito até agora.
O padre olhou feio pro meu amigo e ele apenas deu de ombros, nem
percebendo que tinha acabado de dizer um palavrão no próprio casamento.
Puro nervosismo agindo nele... Se eu dissesse que estava com dó era a mais
absoluta mentira, um desejo de passar pelo mesmo seria muito mais exato.
Allan nem imaginava que aquele era o melhor passo da vida dele, já que seria
difícil encontrar uma garota que nem ela, que não se importasse com as suas
merdas.
Eles nem participaram da festa, com certeza ansiosos pela lua de mel.
Aqueles dois não ficariam mais longe um do outro, jamais.
— Vai chegar sua hora, Silas. Você, diferente da gente, é o que mais
merece ser feliz!
— Ah, mas na hora que acontecer, você vai saber. Não é o único com
conta recheada aqui... E se eu e o Allan, que somos os mais ferrados e
desconfiados, conseguimos, você também consegue. Se bobear, muito mais
rápido!
— Como você mesmo disse uma vez: eu tenho que desistir de tentar
conquistar as mulheres.
Meu amigo tinha virado o “homem dos conselhos” sendo que esse
posto sempre tinha sido meu. Quando foi que essa merda tinha acontecido?
Fui até meu carro e dei o fora. Aproveitando para passar no mercado e
pegar umas cervejas dignas de perca de memória, torcendo para ninguém me
pedir autógrafo, porque meu ânimo não era dos melhores...
Quem sabe eu não encontraria uma mulher lá, ou quem sabe pelo
caminho? Era idiotice pensar isso, mas depois do conselho do meu amigo, eu
ficaria sempre com essa possibilidade na cabeça, um verdadeiro retardado em
busca de amor. Muitos fugiam e eu vivia indo de encontro com o sentimento.
Enfim, essa é Cinthia Basso, uma mulher de vinte e três anos com o
romantismo à flor da pele, que não busca nada além da sua própria felicidade.
Sinopse
Bonito, rico e agradável. Thom nunca ficava sozinho. Mas o que ele
mais desejava estava fora de seu alcance: Lara. Sua prima adotada que o
tratava como um irmão. Para ele não tinha coisa pior do que amar e não ser
amado.
Lara. Inteligente, meiga e querida por toda a família, tinha somente
um segredo, que escondia de tudo e todos. Inclusive de seu primo.
Quando a verdade vier á tona, será que Thom continuará a amá-la?
Pode um amor ser tão forte a ponto de sobreviver a barreiras e crenças? São
perguntas que serão respondidas por si mesmo, em meio a tantos conflitos e
verdades não ditas, emocionando-nos a cada passo dado em busca da
felicidade.
Um império onde riqueza e poder não podem comprar o que há de
mais importante no mundo: o amor.
Sinopse
Stephen Cooper é um dos homens mais sedutores de Nova Iorque, e
pode ter certeza que ele se aproveitou disso. Ficando com quem ele quisesse
e desejando quem ele pudesse. O grande problema, é que ele amava uma
mulher que não lhe pertencia, e por isso, incentivou-a a viver um amor que
não era o dele. Ficou sozinho e com o coração partido, sem expectativas de
nada melhor para o futuro.
Eva Barnes é uma mulher batalhadora que nunca conheceu coisas
fáceis na vida. Sofreu e sofre nas mãos de um pai bêbado, que se mantêm às
suas custas, enquanto ela ainda cuida da pequena filha de quatro anos. Ela
não se considera uma mulher de futilidades, mas ao conhecer Stephen, pensa
duas vezes na possibilidade de se deixar levar por um homem tão charmoso.
Afinal, ela já caiu nesse truque e saiu despedaçada ao final.
Ambos guardam segredos entre si, mas durante a noite, eles não
precisam ser revelados, precisam?
Dois corações quebrados, duas almas em busca do amor. Podem estes
dois encontrar o que tanto procuram um no outro?
Jamais duvide do destino e jamais subestime o amor.
Sinopse
Andy é a típica garota texana, que usa botas e chapéus, tem uma
Silverado onde toca somente músicas cowntry, e, claro, como na maioria das
histórias de mulheres sulistas, tem um cowboy!
Hardy é seu sonho adolescente. Uns bons anos mais velho, e muita
experiência na arte de seduzir, ele nem mesmo presta atenção na mulher que
vive a salivar litros por sua causa. E como se já não bastasse isso, após sair
com sua irmã mais velha, Andy pareceu realmente sumir do mapa para ele.
Mas ela cansou de ser ignorada, e esse verdadeiro homem de Dallas mal sabe
o que o espera.
Muitas brigas, ciúmes e umas boas pancadas da vida, vão provar que
o Texas se tornará pequeno para conter o desastre iminente de Hardy e Andy,
prestes a descobrirem o amor.
Sinopse
Sadie e Max são duas pessoas que não acreditam no amor. Por
motivos diferentes e realidades opostas. Mas, e se em um olhar tudo
mudasse? Eles estão prestes a se surpreenderem e descobrirem um dos
caminhos que levam ao amor.
Sinopse
Beatriz é uma bibliotecária simples e maluca, que sonha em ficar
frente a frente com o lendário astro do basquete, Josh Currey. Quando uma
reviravolta acontece e tudo se encaminha para um final desanimador, ela se
surpreende em como o destino pode pregar peças e virar toda a nossa vida de
cabeça para baixo.
Josh por outro lado, está aproveitando seu momento, tanto para se
consagrar, como para ajudar as pessoas as quais tem a oportunidade de
ajudar. É um homem decidido e que sabe a responsabilidade que carrega nas
costas, adorando um bom jogo e aceitando todos os desafios à ele impostos.
Mas, será que ambos se encontrarão em meio a tantos empecilhos,
dentre eles, a fama mundial do jogador?
E se o passado conter tudo o que procura para o futuro?
Nesse jogo da vida ambos descobrirão que um vencendo, os dois se