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Copyright © 2018 Cinthia Basso

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos, são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Revisão: Vanessa Batista


Capa: Layce Design
Diagramação Digital: Layce Design

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610./98
e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital | Criado no Brasil.

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Prólogo
Allan
Roselyn
Capítulo 1
Allan
Capítulo 2
Allan
Capítulo 3
Roselyn
Capítulo 4
Allan
Capítulo 5
Roselyn
Capítulo 6
Allan
Capítulo 7
Roselyn
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Capítulo 8
Allan
Capítulo 9
Roselyn
Capítulo 10
Allan
Capítulo 11
Roselyn
Capítulo 12
Allan
Capítulo 13
Roselyn
Capítulo 14
Beatriz
Capítulo 15
Allan
Capítulo 16
Roselyn
Capítulo 17
Allan
Capítulo 18
Roselyn
Capítulo 19
Allan
Capítulo 20
Roselyn
Capítulo 21
Allan
Capítulo 22
Roselyn
Capítulo 23
Allan
Capítulo 24
Roselyn
Capítulo 25
Allan
Capítulo 26
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Roselyn
Capítulo 27
Allan
Capítulo 28
Roselyn
Capítulo 29
Allan
Capítulo 30
Roselyn
Capítulo 31
Allan
Capítulo 32
Roselyn
Capítulo 33
Allan
Capítulo 34
Roselyn
Capítulo 35
Allan
Capítulo 36
Roselyn
Capítulo 37
Allan
Bônus
Calendário
Epílogo
Alan
Josh e Bia
O que vem por aí...
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Contato
Notas

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7 anos atrás

Seu sorriso acabava comigo. Era só ela me olhar que eu esquecia de


todo o resto. Sempre foi assim. Éramos melhores amigos na escola e isso fez
com que esse amor evoluísse a tal ponto, que hoje eu já não me via mais sem
ela. Tenho vinte e um anos e isso não me impede de querer casar e ter filhos
o quanto antes. Letícia é a mulher certa para mim, nunca tive dúvidas quanto
a isso e hoje eu vou fazer o que sonho há tanto tempo: pedi-la em casamento.
Ela vai aceitar, eu tenho certeza.

Tudo o que eu alcanço é por ela. Ficará comigo na pobreza e na


riqueza. Valorizo mulheres assim, e quando eu alcançar o meu objetivo, ela
estará comigo.

Paro de divagar e olho para ela, que continua me encarando enquanto


faço nosso almoço, e não consegue evitar de sorrir. Somos dois idiotas
apaixonados.

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— Jay, para de me olhar! Você vai queimar a comida!

— Não vou não! Sabe que eu posso fazer isso de olhos fechados!

Deixo as panelas em fogo baixo e vou até ela. Caminho lentamente,


dando tempo para fuga, mas Lettie não faz isso. Sabe que quando eu a pegar,
a última coisa que vai querer fazer, será fugir.

— Para amor! Vamos comer primeiro!

— Você ganhou essa. Mas só porque estou com fome!

Dou um beijo rápido em seus lábios e volto para o fogão. Cozinho


melhor que ela, então melhor deixar essa tarefa pra mim.

— Quando será o seu teste?

— Amanhã. Vai lá comigo?

— Mas é claro! Não perderia por nada!

Comemos em um silêncio confortável e gostoso. Eu estava apreensivo


por causa do pedido, mas sabia que daria tudo certo. Várias pessoas me
disseram que eu estava me precipitando, só que quando o amor nos laça, não
tem como fugir. Eu a quero, e isso já é motivo mais do que suficiente para
torná-la minha.

— Amor, eu preciso falar com a Sarah. Logo estarei de volta! — Ela


falou assim que terminamos de comer, me deixando um pouco apreensivo,
sem nem saber direito o motivo.

— Tudo bem. Mas não demora.

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— Não irei demorar! Prometo!

Se ela demorasse ferraria com meu pedido. Sei que não sou o melhor
homem do mundo, mas o melhor nem sempre vale a pena. O que importa é
que sou eu quem mais a ama e isso tem que valer para alguma coisa.

Ela saiu e eu fiquei ali arrumando as coisas. Ansioso que nem um fã


de Star Wars por uma estreia. — Que comparação idiota! Acho que estou
mesmo nervoso e impaciente. — Fiquei olhando os ponteiros e percebi que o
tempo não estava a meu favor. Já faziam três horas que Lettie havia saído e
nada.

Sarah costumava falar pelos cotovelos, e minha vontade era de fechar


a boca dela com Silver Tape. Menina inconveniente! Pena que era a melhor
amiga da Lettie; então eu tinha que aguentar...

Comecei a cochilar no sofá e despertei com o telefone tocando


estridentemente.

— Oi.

— Allan, é o Ian. Lettie sofreu um acidente, parceiro...

Minha mente se fechou pro que ele falava. Consegui prestar atenção
somente na primeira frase e mais nada... — Como ele estava tão calmo assim,
falando que a irmã tinha sofrido um acidente? Eu não conseguia imaginar
minha vida sem ela, e ele que era da família não estava nem aí?!

Saí de casa correndo que nem um louco, torcendo para sofrer um


acidente e ir parar no hospital também. Mas minha vontade não foi feita, e
chegando lá tive a pior notícia de toda a minha vida...

Você acha que sua vida não pode acabar de uma hora para outra?
Você está mais do que enganado. Porque a minha não precisou nem de dois
segundos depois de saber o que havia acontecido para se despedaçar.

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Roselyn
7 anos atrás

— Roselyn, onde você está?

Tapei minha boca, tentando não fazer nem um mísero barulho que
pudesse entregar minha localização.

O medo fazia com que eu sentisse meu coração batendo na boca. A


adrenalina percorria todas as minhas veias, causando um efeito calmante em
minha mente já ferrada. Sabia que essa festa não era uma boa ideia. Era tudo
mentira, como minha mãe havia me dito. Mas quando foi que eu a ouvi?
Nunca, talvez. Por mais que ela não fosse uma mãe exemplar, me criava com
o fruto do seu suor. Sempre fui humilhada por causa da sua profissão. Mas
como dizia ela: Deus fez dois ouvidos, um para entrar e outro para sair,
então deixa essas pessoas idiotas para lá, Rose.

Deixei um soluço escapar sem querer e sabia que tinha sido


descoberta. Ouvi passos perto de onde estava escondida, e senti, não muito
tempo depois, um puxão em meus cabelos. Queria com todas as minhas
forças, fechar os olhos e fingir que tudo isso não estava acontecendo. Como
eu queria ter ouvido o que as pessoas me falavam...
Acabara de cavar minha própria cova.

Era uma moça pobre e sem amigos. Henry era rico e tinha vários
“amigos” — se é que eu poderia chamá-los assim. — Eu fui atraída pela sua
aura de poder, e tinha ficado cega quanto às suas verdadeiras intenções. —
Achava mesmo que ele se interessaria pela filha de uma prostituta, Rose?
Como você é inocente!

Ele me puxou de dentro do armário do quarto e arrastou-me até a sala,


descendo as escadas sem ao menos se preocupar com o meu corpo, que
estava sendo ralado e machucado por cada degrau que descia.

— Achamos você, Roselyn. Seu nome é tão lindo sabe! Meus amigos
estão dizendo que não é só o nome. Não é galera?

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— Vamos logo com isso Henry. Você sabe que estamos doidos para
foder a sua puta.

— Ela é toda de vocês. Só tentem não fazer muita sujeira, por favor.

Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. A dor que


se alastrava por todo o meu corpo só me mostrava que a realidade nunca é
doce. A vontade de morrer era maior que tudo, e torcia para que isso
acontecesse quando todos “acabassem” comigo. Eu só conseguia sentir nojo
de mim, nojo do meu corpo, nojo da minha vida.

Todos, exatamente todos, me machucaram. Afinal, para quê ser


delicado? Eu ainda era virgem e queria encontrar o homem certo para mim.
Alguém que realmente me amasse e espantasse todas as minhas inseguranças.
Ali, na sala de uma das casas mais lindas que eu já tinha visto, perdi todas as
minhas esperanças em um futuro melhor. Perdi toda a minha dignidade. E
quando acordei em um hospital, sentindo toda a dor que me corroía de dentro
para fora, eu soube que a doce Roselyn já não existia mais...

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— Pelo amor de DEUS, seus bundas moles! Vamos acabar perdendo
se continuarem assim! James e Currey, foco nas assistências, e Silas, não
deixe o time adversário marcar ponto de jeito nenhum, está entendendo? Para
quê mais de dois metros se nem pra jogar basquete você está prestando?

— Desculpe treinador... — Murmuramos um desculpe baixo,


estávamos distraídos. A Bia tinha ligado pro Josh avisando que estava
sentindo dores, e ele só não saiu correndo porque precisávamos dele e o jogo
não demoraria a acabar. Até a galera do time que não era nada deles além de
colegas, estavam preocupados. Imagina a gente que andava junto ali.

Nos concentrar era praticamente impossível.

— Não vamos misturar o pessoal com o profissional aqui.

Olhei pro Josh, que estava a ponto de bala de tão vermelho. —


Merda, deu merda aqui.

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— Não vamos misturar? Porra! Minha filha está quase nascendo e eu
estou aqui jogando! Sabe o que é mais importante pra mim do que estar aqui?
A minha família! E se for pra escolher eu não vou nem pensar duas vezes.
Tanto é que estou indo nessa. Vocês que se virem aí. Têm reservas pra quê?
Eu que não vou ficar jogando enquanto minha filha nasce. Fora que prometi
pra Bia que estaria lá. Fodam-se todos!

Puta que pariu! Ele deu as costas e saiu correndo.

Porra e agora?

— Currey, seu merda! Volta aqui!

Eu podia jurar que se ele não fosse tão bom, o treinador e os


responsáveis pelo time já o teriam mandado procurar outro contrato polpudo
faz tempo.

— James, com a saída do Currey você dobra a atenção. Silas não


preciso dizer mais nada, não é?

Eu e o Silas estávamos morrendo de vontade de ir junto com o Josh,


mas não éramos tão importantes que nem ele, fora que a filha não era nossa.
— Ainda bem! Porque filhos, por enquanto, estavam fora de questão para
mim.

O jogo acabou e ganhamos por pouco. Quando digo pouco, foi pouco
mesmo! Diferença de três pontos. Três maravilhosos pontos! Nunca me senti
tão leve por tão pouco.

— Vai lá, cara? Eu estou indo agora, quer carona?

Levei um susto que até deixei o sabonete cair.

— Merda Silas! Que habilidade é essa de X-men que você tem? Eu


olhei agora de pouco e você estava falando com o Mike!

— Eu sou foda. Sabe disso!

— E vou sim, mas estou de carro pra passar pegar a Rose.


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— Beleza. Estarei lá quando chegar então.

Deu tchau pra todos e se mandou. Ele era um idiota, mas tinha seus
momentos.

Eu podia ouvir falarem mal de todo mundo, menos dos dois. Porque
na hora que precisei, foram os únicos a me dar apoio. Mike era parceiro
também, mas só o conhecemos bem depois. Eu, Silas e Currey, entramos na
NBA na mesma época e ter alguém com quem contar em um ambiente novo,
faz toda a diferença. Por isso eu faria qualquer coisa por eles, até mesmo
dançar Y.M.C.A.

Mas é lógico que eu não era besta a ponto de dizer isso à eles.

Terminei de me arrumar e corri pro carro. Doido pra ver a pequena,


torcendo para que estivesse tudo bem. Peguei a Rose e praticamente voei para
o hospital. Estacionei bem do lado do carro do Silas, uma F-150, um carro
grande para um cara grande. Mesmo aquela sendo uma picape linda, eu ainda
babava na coleção do Currey. Aquele cara tinha cada carro que puta que
pariu, dava uma vontade doida de dirigir só olhando!

— Allan, corre. Você está muito lento hoje!

— Para de me apressar! Fiquei correndo por duas horas! Tenha


piedade de mim! A bebê não vai sair andando não!

— Mas eu quero chegar logo!

— Então vai na frente! Estou desfilando, não percebeu?

Fiz pose de modelo e olhei para seu rosto, como se estivesse me


concentrando.

— Para! Essa não é hora de ser idiota!

— Como ousa brigar comigo, plebeia? Vou te pegar e é agora!

Ela percebeu a minha intenção e saiu em disparada. Filha da mãe. Só


porque eu estava praticamente morto de cansaço!
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— Corre mesmo, sua covarde! Está na minha lista negra, se quer
saber.

Andei a passo de lesma até a entrada e vi Rose parada no balcão de


atendimento.

Correu tanto para absolutamente nada.

— Me desculpe, senhora. Mas não podemos liberar a entrada. Ainda


mais sendo uma paciente famosa. Logo estará cheio de paparazzi aqui em
frente e nada me garante que a senhora não seja uma.

— Mas que absurdo! Eu sou amiga dela! Você não pode me barrar!

Apertei os ombros da teimosa, tentando passar que com violência não


se resolvia nada. Não pude deixar de murmurar em seu ouvido um: deixa com
o papai. Rose deu risada, achando que eu não conseguiria nada, mas mal
sabia ela que eu tinha um charme nato!

Aproximei-me mais ainda do balcão e comecei a sorrir para a


recepcionista. Se ela não caísse nessa, aí sim teríamos que fazer sinal de
fumaça.

— Gata, meu amigo é o pai da criança e eu estou aqui para dar um


apoio moral, entende? Tem como nos liberar?

A recepcionista ficou olhando pra minha cara, mas eu sabia que essa
batalha já estava ganha, assim que em poucos segundos sua face se iluminou
em reconhecimento.

— Você é o James, não é? Joga no Globe também! Ai meu Deus!


Hoje é meu dia de sorte! Três astros em menos de uma hora! Eu posso jogar
na loteria que vai dar certeiro! Vou imprimir sua credencial e a da senhorita
também.

Falou e olhou com uma cara de inveja para Rose, que a essa altura
estava se segurando para não voar no pescoço da coitada da moça. Peguei
nossa autorização de subida e a abracei, tentando evitar uma explosão de

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raiva.

— Não disse que o papai resolvia.

— Convencido.

Dei uma gargalhada porque essa foi demais.

Eu, convencido? Claro que não! Confiante, apenas.

Chegamos no andar e o Silas já estava lá.

Agora entendia o que a recepcionista falou. Três astros em menos de


uma hora. Não sei que milagre a imprensa ainda não tinha chegado. Essa
galera era pior que urubu procurando carniça em se tratando de uma possível
notícia.

— Cadê o Currey, Silas?

— Está lá dentro.

— Vamos fazer uma aposta?

— Agora, cara? Isso não é brincadeira não!

— Aposto cem pratas que o Josh desmaia.

— Feito!

Silas apertou minha mão confirmando a aposta e eu sorri com a


certeza que ganharia. Essas seriam as cem pratas mais fáceis da minha vida!

— Há quanto tempo estão lá?

— Eu também não sei... Cheguei faz uns vinte minutos. A mulher da


recepção gostou de mim, então fiquei conversando um pouco com ela.

Esse cara não perdia uma! Pena que quase nenhuma dava bola pra ele.
Se essa desse, seria uma boa... Silas merecia...
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Ficamos esperando por notícia e logo Richard chegou. O trabalho dele
com certeza já havia começado. Enfrentar a imprensa. Eu tinha dó dele por
isso. Estava lascado.

Mal chegou e vimos Josh vindo meio tonto para esperar também.

— O que aconteceu, parceiro?

Não pude evitar de perguntar, mesmo já imaginando o que tinha


acontecido.

— Eu passei mal... Abriram um corte gigante na barriga dela e puta


merda! Não tinha como ficar vendo aquilo lá não e quando me dei conta
estava em uma cama em um dos quartos daqui.

Estendi a mão pro Silas passar as cem pratas e gargalhei ao ver sua
cara de nervoso. Ninguém mandou apostar! Sabia que essa seria fácil!

— Vocês apostaram sobre isso seus filhos da puta?

— Amigos, amigos, negócios a parte.

— Calma Josh. Até parece que não conhece esses dois! Como estão
as coisas por lá?

— Até a hora que desmaiei estava indo tudo bem... Acho que eu vou
vomitar. — Ele colocou a mão na boca e saiu correndo em direção ao
corredor, onde ficavam os banheiros.

Era um homem frouxo do caralho mesmo!

— Como pode um cara desse tamanho ser tão fresco?

Pensei alto, mas Silas ouviu e quase morreu de rir. Acho que eu tinha
que mudar de profissão. Palhaço me daria muito dinheiro.

Começamos a ouvir um barulho fora do hospital e fomos olhar,


descemos até a entrada para ver e caralho! Tinha um amontoado de câmeras e
repórteres! Estava demorando mesmo! Só desejava sorte para poder sair dali.
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— Quero ver como vamos sair daqui.

— Porra, Silas! Com certeza você é um mutante, cara!

Como ele conseguiu adivinhar meu pensamento tão rápido?

Fiquei olhando o tumulto e pensando se algum dia eu estaria


preparado para ser pai. Eu não conseguia abrir meu coração para ninguém.
Nem mesmo para Rose.

Eu estava tentando, mas às vezes eu simplesmente achava impossível


me envolver com alguém sem medo de perdê-la também. E eu sabia que era
isso que me travava em qualquer coisa... O medo...

Sentimento perigoso para a vontade, mas difícil de ser controlado.

Voltamos para a sala de espera para aguardar e quando o médico


finalmente apareceu para dar notícias, todos levantamos ao mesmo tempo.
Preocupação era pouco para o que sentíamos.

— Todos são familiares?

— Sim. — Respondemos em uníssono.

Falei e pude ver a incredulidade no olhar do doutor. Só porque a Bia


era branquinha? Quanto preconceito!

— Bom, a mãe e o bebê estão bem. Quem quiser ver a criança vá até
o berçário.

Todos avançamos ao mesmo tempo, não vendo a hora de ver nossa


menininha. Essa seria mimada, coitada da Bia, ficaria louca com a gente.

— Ordem, por favor.

Eu nem era o pai e estava maluco para vê-la.

Josh devia estar simplesmente eufórico.

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Mal chegamos no lugar e o vimos babando, com a testa colada no
vidro. Seria difícil tirá-lo dali.

— E aí parceiro, é a cara da Bia, não é? Diz que sim pra felicidade


geral!

— Sai da frente que eu quero ver minha sobrinha!

Rose falou e empurrou todo mundo. Grudando a testa no vidro


também.

Os olhos dela até brilhavam. E eu gargalhei alto com a cena, sentindo


que dali alguns instantes quem estaria emocionado seria eu.

— Nossa que linda! Que vontade de apertar!

— Josh, parceiro, sabe que pai é quem cria, não sabe? — Falei assim
que consegui ver a menina, envolta em uma manta rosa e mexendo as
mãozinhas como quem queria sair dali e conhecer o mundo.

— Vai se ferrar!

A enfermeira vendo que todos nós estávamos nos matando para ver a
menina. Pegou-a no colo e trouxe para perto do vidro para vermos melhor e
puta merda! Eu estava quase chorando e não era o único. Silas tinha voltado
fungando, Rose enxugava as lágrimas e Josh sorria e chorava ao mesmo
tempo.

Três homens chorando que nem condenados! Era pra acabar mesmo!
Rose não contava porque ela era mulher e mulheres sempre choravam em
situações como essas, assim como em casamentos. Eu nunca entenderia esse
ponto, era uma verdadeira incógnita.

Fiquei um tempo ali apenas admirando a garotinha, que com certeza


seria a nossa alegria dali pra frente e fui sentindo aos poucos o cansaço
invadir meu corpo... Queria muito não ir embora, mas eu precisava relaxar.

— Você vai ficar, gata?

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— Acho que sim.

— Vou indo nessa, estou morto, realmente morto!

— Ganharam?

Josh perguntou, sem desviar os olhos de sua filha.

— Sim. Tchau pra vocês, vou dormir um pouco. Mais tarde volto.

Dei um beijo na Rose e um tapa nas costas do Currey, me despedindo.

Agora eu só queria descansar. Depois eu voltaria e veria a princesinha


com mais calma...

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Cheguei em casa e não deitei na cama imediatamente, eu estava
cansado, mas com certeza hoje seria um dia que eu não dormiria. Amanhã era
o aniversário da sua morte e isso ainda mexia comigo, era um dia sem nada a
fazer na minha agenda, além de levar flores e chorar por algo que não
voltaria. Ás vezes eu me perguntava quando superaria isso... Quando eu teria
uma vida normal novamente? Na verdade, talvez nunca mais tivesse...

Sair nesse dia parecia tão errado que eu acabava não fazendo nada.
Sentava no meu sofá e esperava o tempo passar junto com a minha dor. Nem
ver o pessoal eu fazia questão, só o Josh e o Silas sabiam o porquê da minha
falta de vontade nessa data, ninguém mais precisava saber. Ninguém.

Fui até o quarto, abri o closet e procurei na gaveta onde eu sabia que
encontraria sua foto, peguei-a e no mesmo momento comecei a chorar. Amar
era complicado, mesmo depois de tantos anos eu continuava da mesma
forma, ela era o meu tudo.

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Eu gosto da Rose, gosto de ficar com ela, conversar com ela, mas eu
não sei se a amo, talvez seja pela névoa do passado que não me deixa seguir
em frente, mas eu sei que eu não a amo tanto assim, pelo menos não como
um dia amei Lettie. Pode até parecer egoísmo, mas ela foi a única mulher que
conseguiu ultrapassar a barreira que eu mantinha dos meus sentimentos, Rose
era como uma luz no fim do túnel, indicando que minha felicidade um dia
chegaria...

Me sentia como se estivesse enganando-a e iludindo a todo momento,


mas o que eu faria sem ela na minha vida? Acabaria voltando pras farras,
mulheres, beber até cair e eu não queria mais isso, estava cansado de toda a
merda que sempre caía nos meus ombros no final do dia.

Desabei no chão, sentando e me apoiando na porta do closet,


chorando como toda vez que eu me lembrava do amor que perdi. Meu celular
tocava insistentemente no meu bolso, mas eu não atenderia mais, nem hoje,
nem amanhã. Sabia que podia ser alguma coisa importante, mas se eu
atendesse agora, todo mundo saberia que o Allan que eu aparentava ser não
era real. Eu vivia um sonho que era mais da Lettie do que meu, jogar na NBA
e me tornar famoso, ser reconhecido pelo meu talento. Quantas vezes eu a
ouvi falar sobre isso? Sobre como queria ter muitos filhos e cachorros? Ai
meu Deus, eu nunca conseguiria tirar ela da minha cabeça, era meu carma.
Sabia que do lugar em que estivesse, torcia pela minha felicidade, porém
quem ficara aqui sozinho fui eu e tinha horas que me sentir perdido era pouco
para descrever o que me corroía.

Enxuguei as lágrimas que desciam desenfreadamente pelo meu rosto e


fui até a caixa onde eu guardava todas as cartas que trocávamos quando
éramos crianças e adolescentes. Isso era meu refúgio e fazia com que eu
sentisse sua presença ali me acalmando e dando-me forças para continuar.

Sabe o que é engraçado? Saber que mesmo ficando todo dia ao seu lado, eu
não me canso, você é tão especial pra mim, Jay. Sempre vai ser.

Eu conseguia imaginá-la sorrindo e escrevendo ao mesmo tempo.


Podia sentir o seu cheiro de morangos em minha mente, adocicando tudo a
minha volta e me fazendo odiar e amar essa fruta.

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Puta merda! Eu tinha que fazer alguma coisa para tentar, pelo menos,
seguir com a minha vida, mas sempre que eu dava um passo pra frente, dois
eram contrários e eu acabava ficando na mesma, sempre.

Quando tudo parecia não fazer sentido, minha mãe me colocava pra
cima e tentava me animar, só que era tão angustiante; ficar com várias
mulheres e em nenhuma me encontrar; conhecer várias pessoas e somente em
algumas ser capaz de confiar...

A vida é tão injusta e maléfica que todos os dias você tem que
confirmar sua vontade de ser alguém e não sucumbir a miséria de apenas
interpretar um papel pré-estipulado pela sociedade.

Ser um astro estava longe da minha realidade de sete anos atrás, e


hoje eu sei como isso é algo horrível. Ser taxado de “sortudo” é algo comum
no meio, mas o pior é perceber que quanto mais eu me esforço, mais sorte as
pessoas me atribuem.

Fiquei um bom tempo ali sem fazer nada, sem me permitir pensar em
nada para não sofrer mais ainda... Criei coragem e olhei o visor do celular, a
maioria das ligações eram da Rose e isso só me fez sentir mais remorso por
usá-la na intenção de acalmar um sentimento que pelo visto, nunca se
aquietaria. O resto das chamadas eram do Josh e do Silas — esses dois não
desistiam de tentar me tirar da fossa, eram amigos de verdade e isso hoje em
dia é mais raro que diamante e muito mais valioso.

Decidi dar uma volta pra tentar esquecer um pouco tudo isso. Eu era
um covarde por não ter coragem de enfrentar meus fantasmas, minha
consciência só sabia me fazer retroceder. Mas hoje não. Eu tentaria mais uma
vez viver a vida que há sete anos eu não vivia. Hoje eu seria somente o Allan,
e não o James pelo qual todos me conheciam.

Peguei as chaves do carro e saí em disparada até a garagem do prédio;


parei na frente do meu carro e fiquei um tempo ali, olhando e pensando se eu
realmente faria isso hoje, na véspera daquela data.

Merda! Começava a repensar. — Não parceiro, você não pode ficar


se martirizando a vida inteira, tem que ser feliz uma hora ou outra. — Eu
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tenho o direito não tenho? Isso não significa que eu esqueci o que aconteceu,
apenas que eu estou tentando superar... — Sim, pega as chaves e vai dar uma
caminhada, jogar basquete ou correr sem ir a lugar algum, só vai, cara!

Pela primeira vez depois que aquilo aconteceu, eu estava ouvindo


aquela voz em minha mente que sempre me dizia para seguir em frente e
derrubar todos os demônios que tentassem me parar.

Aquela voz que nos encoraja a fazer algo que nem nós mesmos
acreditamos... Todos a temos, só que alguns não ouvem ou não dão a mínima
bola, pelo visto eu tinha mudado de lado, afinal.

Dirigi que nem um louco por todos os lugares. Rodei por mais ou
menos umas três horas sem parar e me sentia tão livre, como nunca senti
antes. — Depois que aceitamos a verdade que rodeia nossa vida, parece que
nos libertamos das amarras que nos seguram inconscientemente e nos puxam
para trás. Sempre que alguém recusa a felicidade e faz mal a outra pessoa,
essas amarras se fortalecem e tudo o que é de ruim acaba sendo atraído por
essa força invisível. Por isso, fazer o bem atraía o bem. Já experimentou fazer
o bem sem esperar nada em troca? Ajudar alguém nem que seja com comida?
Saber que você fez a diferença na dura realidade da sobrevivência de uma
pessoa, que talvez, não tivesse mais esperança? Se não, tem que
experimentar! Isso é simplesmente libertador e acalma muito mais que as
sessões idiotas de Yoga. Se todos no mundo ajudassem os outros sem
segundas intenções, quantas pessoas seriam beneficiadas com isso?

O mundo inteiro é tão hipócrita que vive pregando a paz mundial com
a conta bancária cheia, enquanto alguns não tem dinheiro nem para comprar
um grão de feijão.

Onde está a paz nisso?

Eu já passei fome junto com a minha mãe e isso é a pior coisa do


mundo.
Falam por aí que dormir melhora a fome, mas quando se acorda, a dor na
barriga por falta de sustento é muito maior.

Saber que pessoas desperdiçam comida enquanto você se venderia


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somente por um pão com manteiga é tão horrível e real, que me arrepio de
raiva só de pensar nas pessoas que negam ajuda por simples capricho.

Dizem que os jogadores de basquete são astros que têm muita sorte,
mas ninguém vê o passado das pessoas por debaixo do uniforme e
patrocínios, ninguém vê o que você passou para estar ali. Porque é muito
mais fácil julgar sem se importar em saber... Muito mais fácil.

Quando estacionei o carro nem me dei conta que estava de volta ao


hospital. Dirigi tão focado nos meus pensamentos que meu corpo me levou
ali sem que eu percebesse, e por incrível que pareça, eu estacionei na mesma
vaga na qual parei de manhã. Vai entender... Coisa de louco!

Todos os paparazzi tinham ido embora. — Ainda bem! Eu não estava


com ânimo nenhum de enfrenta-los novamente. Já me bastava o que tive de
passar na hora em que fui embora; até na minha bunda passaram a mão! Só
esperava do fundo do coração que tivesse sido mulher. Não tenho
preconceito, cada um sabe o que faz da vida, mas eu curto a coisa, entende?

Já na recepção, tive que usar meu charme a todo o vapor, a


recepcionista não era a mesma, e para minha tristeza... era velha ainda por
cima. Charme ligado no nível máximo pra poder passar pela gata da terceira
idade. — Se eu não conseguisse essa, meu humilde ego despencaria de um
dos enormes arranha-céus de Dubai.

— Ok, pode subir. Mas se eu desconfiar que é alguém querendo se


aproveitar do horário, pode ter certeza que o segurança é muito maior que
você.

Pisquei pra senhora antes de subir e ria sozinho enquanto ouvia


somente os meus passos ecoando pelos andares em que eu passava. Esse
ambiente de hospital era depressivo demais! Até Chuck Norris sairia doente
de um lugar desses.

Meu humor estava melhorando enquanto chegava até a sala de espera


— estava melhorando. — Muito bem frisadas as palavras. Olhei a cena à
minha frente e minha feição se fechou de imediato.

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Que porra aqueles dois faziam?

Silas estava sentado nas poltronas com Rose deitada em seu colo, e
pela forma que Silas dormia com a mão descansando na cabeça dela, eu
podia até saber o que ele estava fazendo antes. Eu era um idiota mesmo!
Talvez ela nem gostasse de mim e só estivesse se aproveitando da
companhia. Queria virar as costas e ir embora, mas meu orgulho não deixaria,
nem ferrando!

Cheguei perto dos dois e não emiti som nenhum, fiquei olhando e
percebi que alguém me encarava, virei a cabeça e me deparei com um Josh
petrificado, prevendo a confusão que aconteceria. Eu o respeitava e não
brigaria no hospital no mesmo dia em que sua filha havia nascido, eu tinha
um pouco de bom senso. Muito pouco, mas tinha.

Continuei encarando-o e ele fez apenas um sinal de não com a cabeça,


que eu confirmei, concordando silenciosamente. Tossi descaradamente e
quando Silas se tocou de que eu estava ali, levantou assustando, acordando a
Rose abruptamente.

Eu teria rido da cara dela se eu não estivesse tão puto da vida.

Sorri ironicamente e não consegui evitar de destilar a raiva que sentia


me corroendo. Com certeza isso era somente raiva, não era? Nem de longe
era ciúmes! Claro que não!

— Achei que fosse pra casa, Roselyn.

Sua expressão se fechou na hora, e notei que alguma burrada eu tinha


feito quando ela saiu correndo pelas portas sem nem olhar pra trás.

Eu só queria saber o que havia acontecido...

Quem tinha que estar correndo sem ver a cara dela era eu, já que ela
nem esperou vinte e quatro horas se passarem para se aninhar no colo do
Silas. Pensei em seu nome e imediatamente encarei-o, deixando transparecer
que mais cedo ou mais tarde nós iríamos conversar.

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Não se faz carinho nas mulheres dos amigos, isso era um código de
honra. E mesmo eu me garantindo, não iria deixar isso acontecer.

Virei e segui na direção que a Rose havia seguido, tentando adivinhar


que merda eu tinha feito agora.

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“— Roselyn... Roselyn... Roselyn... Seu nome é tão bonito, Rose.”

Fui transportada novamente há sete anos atrás, e podia sentir tudo o


que faziam comigo novamente e novamente.

— Vai cara, aproveita! Por que tá demorando?

— Porra Henry, porque você não nos disse que ela era virgem?

— Como assim virgem? Você tá louco?

— Não estou não, sei diferenciar muito bem.

— Merda, eu devia ter ido primeiro então!

— Agora já era!

Ouvi as suas risadas e só conseguia gritar e espernear pra pararem


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de me tocar e saírem de perto de mim. A negativa saiu por incontáveis vezes,
mas isso não mudou a atitude deles, pareciam se sentir mais encorajados a
continuar com aquela violência desmedida. Eu implorei a Deus que pelo
menos fosse rápido, já que não tinha como evitar, mas, em algumas situações
parece simplesmente que tudo o que desejamos não pode acontecer, e
naqueles momentos, dizer que eu queria morrer seria um eufemismo.

— PAREM DE ME TOCAR! SAIAM DE PERTO DE MIM! POR


FAVOR! NÃO, CHEGA... EU NÃO AGUENTO MAIS...

Eu gritava e sentia meu corpo sendo investido com mais força ainda
até que parei de gritar e deixei que fizessem o que queriam... Eu não
conseguiria fazer mais nada, só fiquei esperando eles se cansarem e darem o
fim que tinham planejado para mim.

— Rose?! Rose, o que tá acontecendo? Fala comigo pelo amor de


Deus, gata! ROSE! ROSE!

A névoa que assombrava minha mente foi se dissipando aos poucos e


eu pude ir assimilando onde estava...

Sentada, ereta e com o olhar perdido, em um dos bancos do lado de


fora do hospital, só não sabia como havia chegado ali e nem o porquê. Vi
Allan parado à minha frente, olhando-me de forma assustada e temerosa, e fui
percebendo que provavelmente minha crise de pânico tinha acontecido de
novo...

Era sempre assim... Quando eu ouvia algo que me fizesse assimilar o


que tinha acontecido, regredia no tempo e revivia de forma excruciante, como
se eu estivesse presa lá novamente e não pudesse fazer nada, só esperar
acabar.

Nunca tive coragem de ir ao terapeuta, como explicaria o que estava


acontecendo comigo? No mínimo ele ou ela me achariam louca e me dariam
remédios prescritos que me fariam dormir por horas e horas seguidas.

Depois do que havia acontecido, saí da cidadezinha do interior,


tentando fugir das lembranças, que não importava para onde eu fosse, me
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seguiam como abelhas seguiam o mel e isso tornava a minha vida um
inferno, literalmente um inferno.

Me lembrava vagamente de ter lido em algum lugar, que o inferno é o


lugar onde seus pesadelos se tornam infinitos, então você fica revivendo
sempre tudo o que mais te apavorou. E após ler isso, constatei que eu estava
vivendo o meu aqui e que não merecia ser feliz nunca mais.

Talvez em uma vida passada eu tenha feito muita coisa errada e


somente me restou pagar nesta.

Quem saberia?

Eu não acreditava nessas coisas, mas algumas vezes na vida você


passa a duvidar até da sua sombra e é quando chega nesse ponto que você
sabe que tudo está perdido, não tem mais solução, não importa o quanto tente
lutar contra a verdade que te assola, nada nunca mais será bom para você.

— Rose o que aconteceu? Quem tem que te soltar? Eu estou


realmente preocupado, por favor, me diz o que aconteceu?

Olhei fixamente em seus olhos e menti com a cara mais deslavada que
pude aplicar no momento. Eu não queria ter que contar isso para ele, não
queria deixá-lo saber de tudo o que tinha acontecido comigo...

Eu já não era mais a mesma garota pela qual todos sentiam pena pelo
ocorrido.

A pobre Roselyn. A coitada Roselyn.

Não, eu não era mais. E isso graças ao foco que consegui manter nos
estudos e nas pessoas que encontrei pelo caminho.

Sobreviver da piedade das pessoas não era uma alternativa pra mim,
todos temos que aceitar o que nos foi dado, mesmo não sendo algo do qual
queira se lembrar. Levantar a cabeça e seguir em frente era no mínimo o que
deveria ser feito, porque passado não move o futuro.

Pena que a felicidade nunca se trata de uma receita de bolo. E não há


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instruções para superar um trauma. O segredo talvez esteja em algum
sentimento dentro da gente e na força que as pessoas à nossa volta
transmitem para nós.

Mas eu não saberia dizer ao certo. Talvez nunca soubesse.

Estava cansada de todo mundo sempre me perguntar como eu me


sentia; falarem para fazer um tratamento, tentar esquecer o que aconteceu e
outras coisas indiferentes à minha situação. E foi por isso que eu fui embora,
deixando todos a quem eu conhecia para trás... Tentando criar uma nova vida
onde eu não seria conhecida como a “menina estuprada”, mas sim como a
Rose, bibliotecária, que sempre foi a minha vontade...

Algumas coisas infelizmente eu não podia mudar, como o meu nome,


mas eu podia tentar acreditar que eu não me chamava mais assim, por isso
todos a quem eu conhecia, falava pra me chamarem de Rose, mas nunca meu
nome inteiro; ele me trazia memórias amargas de um passado infeliz, e isso
eu queria evitar ao máximo.

Quando conheci a Beatriz, falei como queria ser chamada, ela, em sua
paz e amabilidade nunca me perguntou o porquê dessa vontade, somente
passou a me chamar como Rose e a todos que me apresentava, era assim que
falava. Sabia que podia confiar cegamente nela, mas como já disse, não
queria ser taxada como coitada, eu só queria viver sendo eu mesma e tentar
fazer o que gostava...

— Por favor gata, não faz isso comigo não! Não imagina o quanto
fiquei em choque quando te vi gritar e chorar sem saber o que estava
acontecendo. Me conta o que houve, por favor? Eu estou implorando, e sabe
que não costumo fazer isso...

— Nada Allan, só me deixa quieta.

— Tudo bem.

Fiquei aliviada quando ele saiu da minha frente, mas apenas fez isso
para se sentar ao meu lado e ficar quieto, não emitindo um mísero som. Ele
era alto e sentado naqueles bancos de concreto parecia ficar ainda mais fora
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de contexto. Eu, com certeza, teria caído na gargalhada se não estivesse tão
amargurada pelo déjà vu que acabara de ter.

— Às vezes, precisamos conversar com alguém... São tantas coisas


guardadas que uma hora ou outra tudo acaba vindo à tona, e da pior forma
possível. Sei o que vi, mas eu queria ouvir de você... Não sou idiota, Rose.
Eu falei o seu nome lá dentro e parecia que você não era mais a mesma
mulher que conheci... Saiu que nem uma louca, chorando, e quando te
encontrei aqui, estava se debatendo, xingando e falando para ficarem longe
de você. Não sei que tipo de trauma você teve, mas sei que talvez seja por
isso que adotou “Rose” ao invés do nome inteiro. Desde que te conheci
sempre me perguntei por que todos te chamavam por apelidos e nunca pelo
nome completo, e hoje acho que descobri o porquê: chamam-na assim porque
você pediu e se sente melhor dessa forma. Sei que não importa o quanto eu
fale aqui, e não importa o quanto eu esteja disponível para te ajudar e te dar
apoio, se não quiser compartilhar sua dor, nunca o fará, e eu só quero que
saiba que quando precisar, eu vou estar aqui...

Ele se levantou do banco, finalmente fazendo o que pedi, me


deixando sozinha, mas antes que ele pudesse cruzar as portas automáticas que
davam para uma das entradas do hospital, eu disse um obrigada fraco, porém
audível, que pelo menos expressaria um pouco da minha gratidão por ele não
ter me pressionado a contar o que eu não queria relembrar.

Obrigada esse, que conotou toda a vontade que eu tinha de me livrar


dos fardos que ficavam me puxando para trás, conforme o meu passado
ameaçava me engolfar no seu manto de escuridão.

— Pro que der e vier, não precisa agradecer... Entra quando estiver
melhor, pra ninguém ficar te perguntando o que aconteceu, porque vai por
mim, isso seria um saco.

Deu uma risada rouca e sumiu pelos corredores brancos como papel,
deixando-me sem saber como agir dali por diante, agora que ele tinha visto
um dos meus piores momentos e entendido que isso era muito maior do que
se poderia pensar.

Eu só precisava respirar e esperar mais um pouco, até que todos os


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resquícios daquela lembrança já tivessem sido apaziguados pela calma que eu
queria sentir.

Me forcei a lembrar de todos os momentos felizes que tive desde


quando cheguei em Boston, das loucuras da minha amiga, das besteiras que o
pessoal do time falava e até mesmo dos vários sorrisos que saiam
involuntariamente quando eu estava na presença do Allan. Essas eram as
memórias que eu queria guardar pra mim, as memórias que realmente me
importavam e não seriam algumas coisas que me fariam regredir em tudo que
consegui até agora.

Eu era muito mais forte do que todos haviam imaginado e continuaria


sendo, não importava o que acontecesse; ser forte tinha se tornado uma
necessidade para manter as pessoas longes de um trauma que eu não queria
mencionar.

Respirei novamente, dessa vez puxando o ar com todas as minhas


forças, tentando criar uma coragem que eu estava longe de sentir.

Enxuguei as lágrimas que teimavam em permanecer em minhas


bochechas e entrei pelo mesmo lugar que ele havia entrado. Sabendo que
mais cedo ou mais tarde teria que contar isso e aliviar uma parte do peso que
carregava sozinha... Mas essa hora ainda não havia chegado e esperar já tinha
se tornado uma rotina pra mim.

Assim que entrei na mesma sala em que estávamos no começo da


noite, percebi que Silas olhava algumas revistas em um canto e Allan no
outro, estava com o olhar desfocado, como se não pensasse nada, apenas
estivesse ali; Josh por sua vez estava sentado com os braços cruzados,
encarando o chão...

Eu não fazia a menor ideia do que acontecera para eles ficarem assim.
Em todo esse tempo que os conhecia, nunca os vi tão distantes um do outro,
sempre foram unidos como carne e unha, dispostos a carregar o mundo nas
costas somente para ver o outro bem. Tudo estava muito estranho e no
mesmo momento em que queria descobrir, eu também não queria, porque
suspeitava firmemente que o motivo para tudo isso fosse eu.

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Fui até uma poltrona bem afastada dos três e me sentei, buscando nas
minhas ações anteriores algo útil que os tivesse deixado dessa forma...
Lembro de conversar com Silas e falar que estava muito cansada, só que o
Allan não atendia minhas ligações. Silas então ofereceu seu colo e me falou
que ficaria ali comigo até ele voltar.

Meu Deus, só podia ter sido isso! Allan viu e entendeu tudo errado.

Mas como explicar para um homem teimoso a frase mais clichê do


universo: “não é nada disso que você está pensando?”.

Acho que quando saí correndo, essa bomba estourou bem na mão do
Silas, que sinceramente era uma das pessoas mais ingênuas e leais que eu
conhecia. Só Allan não percebia que seu amigo nunca faria algo para magoá-
lo, assim como o Josh... Os três se amavam como irmãos, mas não se davam
muita conta disso.

Agora eu só tinha que tentar explicar para o cabeça dura, que Silas só
estava preocupado comigo, assim como todos ali ficariam...

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Eu estava mais do que irritado, mas entendia o que havia acontecido,
ela simplesmente tinha precisado de mim em um momento no qual eu estava
mais preocupado em sentir pena de mim mesmo do que olhar para o lado,
então não podia culpar o Silas por ter feito o que eu deveria ter feito...

Já estava sendo mais do que egoísta com ela, sem me dar por inteiro,
me relacionando sem ter superado outra pessoa, então como podia julgá-la?
Era uma puta de uma injustiça da minha parte por mantê-la comigo sem saber
ao certo como continuaria com tudo isso, mas eu simplesmente não
conseguia deixá-la ir embora...

Me sentia perdido, mas ela sempre me trazia de volta quando sorria, e


querendo ou não isso me deixava balançado quando decidia pôr um fim em
tudo. Ainda mais agora, que realmente tive a certeza de que algo muito grave
tinha acontecido com ela. Uma pessoa não fica daquele jeito por qualquer
coisa, o pavor e desespero que eu vi em seu olhar deixaria qualquer um
perturbado por um bom tempo, e mesmo não sendo o cara mais esperto do
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mundo, sabia identificar quando alguma coisa estava muito errada...

Desde quando a conheci, percebi que algo a travava sempre que


estávamos na cama, algumas vezes podia senti-la tensa e vulnerável e isso
acabava comigo. Não era do tipo de homem que só se preocupava com o
próprio prazer, antes de tê-lo eu preferia proporcioná-lo e muitas vezes Rose
não deixava que eu ultrapassasse as barreiras que impôs para manter todos
afastados.

Nunca achei que fosse perceber algo do tipo, mas com ela eu
acabava percebendo. Sempre que sorria não era com a alma, não sei se isso
fazia algum sentido, mas era o que eu conseguia imaginar para descrever...

Forcei-me a lembrar de todas as vezes em que ela perdia o foco e


parecia não estar mais vivendo naquele momento, e há alguns minutos foi
exatamente isso que aconteceu, ela gritava e tentava afastar um ser invisível
com as mãos, pedindo para deixarem ela em paz e chorando copiosamente.
Quando saí e vi isso, com certeza algo dentro de mim se quebrou e eu tive a
certeza que não poderia deixa-la sem entender o que estava acontecendo...
Nós estávamos juntos há quase um ano e eu nunca senti a necessidade de
passar para um estágio maior de relacionamento e ela não me cobrava
também, então tinha ficado elas por elas, eu tranquilo e ela sem expectativas
quanto a tudo o que rolava.
Algumas vezes, antes de dormir, eu me perguntava se conseguiria viver sem
ela, como o Josh dizia não conseguir viver sem a Beatriz, achava aqueles dois
tão melosos juntos, mas não podia deixar de concordar que eram perfeitos um
para o outro. Tentava comparar meu caso com a Rose, mas parecia muito
mais complexo e inalcançável.

Eu e Josh éramos amigos há alguns anos e lembrava-me muito bem


das farras em que ele se metia; das mulheres que passaram pela sua vida,
assim como das que compartilhamos, e se me falassem que ele encontraria
uma e a trataria da forma como trata sua mulher, eu chamaria a pessoa de
louco e a internaria na clínica mais próxima, porque dizer aquilo seria
simplesmente uma insanidade... No entanto, lá estava ele, sendo pai,
comprando uma casa que levasse em conta a segurança de uma criança,
cachorros e até mesmo colocando sua família acima do basquete que era sua
paixão número um...
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Ele era o exemplo máximo de que as prioridades de um homem
podiam mudar, mas será que as minhas mudariam um dia?

Levantei a cabeça e olhei para Silas e Josh, que estavam sentados e de


cabeças baixas, me culpando por ter sido idiota com os melhores amigos que
eu poderia conseguir, me culpando por não ter conseguido controlar a minha
parte egoísta...

Senti que devia me desculpar pela merda que tinha acabado de


acontecer e foi quando percebi que a Rose já tinha voltado... Olhei e vi uma
expressão que nunca imaginei encontrar em sua face... Ela estava decidida. A
fazer o quê, eu já não sabia...

Criei coragem e ignorei o seu olhar em minha direção, indo até onde
Silas estava e murmurando um pedido de desculpas baixo, mas que tinha
certeza que ele ouvira, fui até o Josh e fiz a mesma coisa, o que
automaticamente liberou um peso em minhas costas.

Decidi logo em seguida sair dali. Tentar pensar um pouco na minha


vida e no que estava fazendo dela, Rose me seguiu e eu não a impedi em
momento nenhum, apreciando a sua companhia silenciosa e acolhedora. Saí
do hospital e sentei em um banco nos jardins da entrada, sem saber ao certo o
que fazer... Rose queria falar comigo, eu conseguia sentir a tensão em seu
corpo mesmo sem sequer tocá-la, só não sabia se eu teria a mesma força de
vontade que ela, para rebater qualquer coisa que me fosse dita.

— Nós precisamos conversar, Allan.

Abaixei a cabeça e apenas concordei com um aceno mudo. Pressentia


que não gostaria dessa conversa, mas evitar seria impossível.

— O que você quer de mim? Sei lá, mas às vezes eu acho que o
sentimento não é recíproco e eu só tenho uma coisa a te dizer: se acha que
vou ficar esperando se decidir ou entender a si mesmo, você está muito
enganado... Eu tenho meus próprios demônios para enfrentar e não vou
suportar ficar com alguém que não irá entendê-los...

— Por que está dizendo isso?


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— Porque eu posso sentir, Allan!

— Sentir o que Rose? Nós não namoramos afinal, apenas saímos de


vez em quando. Estamos em um relacionamento até que estável se for levar
em conta o tempo, o que mais você quer?

— Você. Por inteiro, comigo.

Aquilo me atingiu em cheio, prendi minha respiração e fiquei sem ter


o que falar... Eu entendia aonde ela queria chegar, sabia que não estava nem
um pouco por inteiro nessa relação, mas o que ela faria no meu lugar? Sabia
que era muito mais corajosa do que eu, então se fosse para dar um ponto
final, que fosse ela; eu não tinha forças para fazer isso, não quando ainda não
sabia qual rumo seguir.

Levantei a cabeça e encarei seus olhos incrivelmente azuis, que


tornavam a sua beleza ainda mais espetacular. Ela era a mulher mais linda
que eu já havia conhecido e não tinha a menor dúvida quanto a isso. Seu
sorriso iluminaria todo o céu em um dia nublado, só que eu não conseguia
definir se o que sentia por ela era simplesmente fascinação ou algo mais e
queria ter a certeza para não magoar alguém que não merecia ser magoada.

Fiquei a admirando por alguns segundos e quando desviei o olhar,


sentindo minha pele queimar com a observação, quase não acreditei no que
estava vendo...

Se eu não estivesse sentado, teria caído sem a menor cerimônia.


Minha boca se abriu em choque e todos os meus pensamentos coerentes se
esvaíram da minha cabeça...

Isso era completamente impossível! Não tinha como acontecer! De


jeito nenhum! Não, não e não! Eu só podia estar ficando louco!

Conseguia ouvir Rose falando comigo, mas não estava prestando


atenção em nada além da mulher que eu via atravessando a rua à minha
frente... O jeito de andar era o mesmo, a cor do cabelo era a mesma e por
incrível que pareça o comprimento era o mesmo, era muita coincidência, só
podia ser.
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Sacudi minha cabeça tentando trazer um pouco de razão ao meu
raciocínio e quando olhei novamente, ela não estava mais lá, o que só me
fazia acreditar na teoria de que estava ficando louco e que tinha acabado de
ver uma miragem, como se eu estivesse no deserto vendo um Oásis que não
existia...

— Allan, você ouviu o que eu disse?

— O quê? — Eu não tinha ouvido nada e agora também não estava


muito bem para dizer alguma coisa. Só queria sair dali e ir para o
apartamento pensar em que merda tinha acabado de acontecer comigo.
Levantei e nem me despedi da Rose, estava meio desnorteado e abalado com
aquela visão, não conseguiria fazer mais nada coerente pelo resto do dia,
além de dormir e tentar esquecer.

— Allan, você não vai terminar de conversar comigo?

— Não. Tenho que ir embora.

— Ok. Mas eu cansei de te esperar, tomara que encontre o que


procura.

Não entendi muito bem o que aconteceu desde o momento em que saí
do hospital até o momento em que vi a miragem, — que era como eu preferia
chamar — só imaginei que algo muito sério acabara de se desenrolar entre
Rose e eu, e que nada consequentemente seria como antes.

Passaram-se cinco dias desde o que tinha acontecido no hospital. Rose


não tinha mais ligado para mim e nem me mandou nenhuma mensagem...

Preocupado era pouco para descrever como eu estava. Fiquei mais


tranquilo somente quando Josh me disse que ela visitara a Bia e que estava

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bem.

Eu, pelo contrário, estava um caco.

Não queria comer, nem fazer nada além de treinar. Parecia que tinha
uma coisa dentro de mim que sugava toda a vontade de fazer algo para sair
dessa.

Eu era orgulhoso, ela também, e por mais que estivesse chateado,


compreendia seus motivos. Ninguém merecia ficar com alguém pela metade
e eu estava me doando muito menos do que a metade.

Os dias foram passando e eu não sabia mais distinguir a realidade do


sonho que eu tinha montado em minha cabeça...

Sentei no sofá na sala e liguei o som, com as batidas leves de Last


Night inundando o ambiente. E por mais irônico que parecesse, a música
falava justamente da solidão de um cara quando percebeu que o que perdeu
era tudo o que queria.

Um filme passou pela minha cabeça e todos os nossos momentos


foram relembrados na minha memória. Já estava tão acostumado com a sua
presença calma a minha volta, que todo esse tempo que eu estava sem ela
doía mesmo sem eu querer. Foi quando me toquei que ao invés de ficar ali
lamentando, podia correr atrás e provar que a queria em minha vida e que
cada segundo era só uma perda de tempo.

Peguei as chaves do carro e saí em disparada, doido para encontrá-la e


dizer para ficar comigo. Realmente ficar comigo.

Mas mal sabia eu, que quando saísse com o carro na rua eu a veria
novamente, e finalmente descobriria que ela era real...

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Minhas divaaas! Depois de tantas separações no mundo dos famosos,
inclusive um dos casais mais falados ever, colocarem um ponto final na
relação de Olimpo deles. Um dos únicos casais estrelas que parecem manter
a felicidade fechada e contra todo o mal olhado, são nossos divos Bia e Josh
Currey!

A filha de uma mãe — para não dizer mais — nem parece que
procriou nos últimos dias! Apareceu passeando com o mesmo corpo de
antes, nos fazendo morrer de inveja, tanto pelo seu homem, como pelo seu
visual.

Essa é vadia mesmo!

Bia, eu te amo! Queria ser que nem você, mas que é uma vadia
sortuda, você sabe que é! Temos notícias ainda sobre o segundo maior astro
do Globe, James vulgo “Jamesconda”, que pelo visto se deixou abater pela
crise e não foi visto na última semana, acompanhado da cópia de Megan Fox
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bibliotecária.

E eu só tenho uma coisa a dizer: gato, eu estou aqui se precisar!

Tudo sobre Astros por: Stephen Pharrell

Eu odiava essas revistas de fofocas que viviam me perseguindo, mas


tinha que admitir que Stephen Pharrell mandava bem e o mais engraçado era
que até a Bia gostava dele, mesmo ele falando essas coisas idiotas sobre o
Josh; na verdade os dois morriam de rir quando liam sua coluna e eu como
não era de ferro, ria também.

Só que hoje eu não estava no clima, ainda mais todo mundo


descobrindo que minha vida não estava tão perfeita como todos pensavam.
Era horrível ter suas atitudes descritas em um pedaço de papel para todas as
pessoas ao redor do mundo lerem... Agora eu entendia porque os famosos, às
vezes, perdiam a paciência com certas coisas. Isso era tão humilhante, que eu
nem sabia descrever ao certo.

Estava no apartamento, agora solitário sem a Beatriz, falando sozinha


pelos cantos e me sentindo extremamente chateada por isso...

Nesse momento, se ela estivesse aqui, com certeza eu estaria


chorando em seu colo, mas ela estava mais do que feliz em sua casa, com a
sua filha e o seu marido dos sonhos...

Quem era eu para ligar e atrapalhar essa felicidade?

Ouvi batidas na porta e mais uma vez amaldiçoei o porteiro


mentalmente por não ligar pedindo permissão para a pessoa subir. Sabia que
não pagava muito pelo apartamento, mas isso era uma ameaça a minha
segurança e deveria ser parte do aluguel.

Desejava profundamente que fosse o Allan, desejando que não em


contrapartida, quando pensava melhor na situação. Sabia que seria só olhar
para seu rosto e eu voltaria atrás em tudo o que falei.

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“Rose seja forte, você é determinada, gata! Não dê o braço a torcer,
estava certa e ainda está!”

“Isso mesmo, eu sou uma pessoa forte.”

Abri a porta e não foi Allan quem encontrei, e sim um Silas


totalmente preocupado. Não queria muito falar com um dos melhores amigos
do cara que tinha me deixado assim, mas Silas era uma pessoa legal e sem
dúvidas, só queria se certificar de que eu estava bem.

— Oi, tudo bem?

— Sim Silas e com você?

— Bem também.

Ele ficou esperando um tempo ali, sem falar nada e eu percebi que
estava sendo rude sem convidá-lo a entrar.

— Quer entrar?

— Não, só vim pra ver se estava tudo bem... Qualquer coisa me ligue,
ok?

— Claro.

Concordei com um aceno, mantendo um sorriso fraco no rosto.


Sabendo que não faria o que falei; não ligaria para ninguém na primeira
dificuldade.

Silas se aproximou de mim e deu um beijo casto na minha testa, que


no momento só me mostrava o quanto podiam existir pessoas legais no
mundo.

— Allan é meu amigo, mas ele não faz ideia do erro que está
cometendo. Se cuida, Rose.

Ele deu as costas e andou devagar até as escadas e eu não pude evitar
de acompanha-lo com o olhar. Ele era uma pessoa maravilhosa e um dia
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encontraria quem desse valor ao seu verdadeiro eu. Muitas mulheres com
quem ele saía tentavam mudar esse seu jeito único de ser, mas isso fazia dele
quem ele era e ninguém jamais poderia tentar mudá-lo, apenas aceitá-lo.

Fui até a cozinha beber um copo de água e enquanto estava ali, tudo o
que eu vivi passou pelos meus olhos, me deixando absorta em meus
pensamentos... Ouvi meu celular tocando na sala e fui até lá para ver quem
era, me assustando assim que o peguei na mão. Não sabia o que uma das
minhas primas queria comigo, mas ligar assim do nada, não era uma boa
notícia, nem de longe.

— Oi.

— Rose?

— Sim, pode falar Kate.

— É que sua mãe está muito ruim prima, e liguei para avisar que não
tem muito tempo se ainda quiser vê-la viva... Ela não queria que eu entrasse
em contato com você, mas não seria justo da minha parte, então espero que
venha e não faça me arrepender por ter te avisado.

Como assim minha mãe estava ruim? Quando saí da minha cidade
natal ela estava muito bem, com a vida a todo vapor. Sei que ela não tinha
sido a melhor mãe do mundo, mas ainda era minha mãe e merecia a minha
presença nesse momento. Sabia que caso eu não fosse, ficaria com a
consciência pesada para o resto da vida, e com razão...
Mas como eu enfrentaria todos os meus demônios, que estavam esperando
apenas meu retorno naquela cidade para me deixarem louca?

Eu não tinha fugido por puro capricho, tinha fugido por causa da
língua afiada das pessoas e por causa de todos os julgamentos que acabei
recebendo sem ter culpa do que tinha me acontecido.

Todos deveriam entender que não era uma roupa ou o lugar onde a
pessoa estava que davam o direito dela ser violentada sem a menor
compaixão. Deveriam entender que a vítima é vítima e não culpada, ponto
final. Ficar inventando desculpas para alguns fazerem o que querem era
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somente incentivo ao crime e quem pagavam éramos nós, as vítimas de
abuso.

Muitos diziam isso porque nada tinha acontecido às suas filhas, filhos,
ou qualquer pessoa próxima, mas e se fossem eles no meu lugar?

Inventariam alguma desculpa suja e imoral para o que tinha


acontecido também ou aceitariam a verdade de uma vez por todas que a
vítima não tem culpa?

Triste era eu não saber essa resposta...

— Está aí ainda?

— Estou e pode deixar que irei, Kate. Só não diga nada a mamãe.

— Tudo bem.

Ambas desligamos no mesmo momento, mas quem havia acabado de


tomar uma das atitudes mais corajosas da vida era eu...

Voltar para o lugar onde eu sabia que meus pesadelos se tornariam


novamente realidade era assustador, mas necessário no momento.

“Vai dar tudo certo Rose, você não vai encontrar nenhum deles.
Fique tranquila.”

Respirei fundo, tentando acalmar a minha alma que já sofria com


antecipação. Era melhor eu sofrer somente no momento e não agora. Mas
como dizer isso para a minha mente extremamente perturbada com as
memórias que ainda vinham em minha cabeça quando eu menos esperava?

Já haviam se passado sete anos, só que algumas vezes parecia que


tudo acontecia em tempo real e que nada nunca me faria superar aquilo.

“Você não vai vê-lo Rose, nem ele, muito menos seus amigos idiotas.
Não vai. É só ficar com a sua mãe e voltar direto.”

Criei coragem, sabendo que teria que ir até Torrington, e que Deus me
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protegesse.

Tomei um banho, demorando um pouco, pensando se o que eu estava


fazendo era o certo e cheguei à conclusão que meus medos não me
impediriam de ver minha mãe. Nunca se sabe quando é a última vez que
vemos alguém que amamos. Então aproveitar todas as oportunidades de
passar momentos ao seu lado é uma obrigação.

Saí do apartamento, ainda em estado de choque... Estava fazendo um


caminho que tinha jurado nunca mais fazer na minha vida. Só que algumas
coisas simplesmente não se contentam em ficar presas no passado e aqui
estava eu novamente, indo pegar um ônibus e passar duas horas viajando até
chegar àquela pequena cidade de pouco mais de trinta e cinco mil habitantes,
que guardava o pior momento da minha vida.

Peguei o ônibus e não consegui pregar o olho...

Esperava que tudo desse certo...

Saí tão vegetativa que nem pensei em avisar ninguém, não que
alguém fosse me procurar ou se preocupar por onde eu andava, na verdade,
no momento, eu não tinha ninguém a quem dar satisfações e isso era
totalmente depressivo.

Vi o ônibus estacionar e sabia que era agora ou nunca. Não teria


chance de voltar atrás e só podia erguer a cabeça e fingir que nada me
abalaria, fingir que tinha esquecido tudo e que nada daquilo me faria mal.

Desci e olhei em torno daquela cidade pequena, sem o caos de


pessoas e automóveis que era Boston e senti uma falta imensa do aconchego
de toda aquela correria. Aos poucos eu tinha me acostumado com aquilo e
Boston tinha se tornado minha verdadeira casa no mundo, ao invés daqui que

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só me trazia infelicidade quando era puxada pela lembrança.

As casas ali pareciam continuar as mesmas, sem nenhum tipo de


mudança ou reforma, cidades pequenas eram assim, tudo do mesmo jeito,
pessoas iguais que se conheciam e poucos lugares para ir durante a noite. O
sossego era aparente, mas eu sabia por experiência própria que nada era tão
tranquilo assim.

Peguei minha pequena mala, que tinha sido feita na correria, um


pouco antes de sair do apartamento e fui andando na mesma rua onde o
ônibus tinha parado, indo em direção a casa da minha mãe, que
coincidentemente ficava no último quarteirão.

As pessoas pareciam me reconhecer e não acreditar que tive a


coragem de voltar aqui depois de tanto tempo e tanta merda que ouvi. Mas ali
estava eu, firme e forte, pelo menos aparentando não me abalar com nada.

Cumprimentei algumas vizinhas fofoqueiras com a maior cara de pau.


Já que elas eram falsas comigo, por que não retribuir o favor?

Cheguei na casa depois de ter passado pelo corredor da vergonha e


mal abri a porta, recebi um abraço da minha prima, que parecia não acreditar
que eu era real e tinha vindo como havia prometido.

— Rose, você está muito linda! Como anda a vida na cidade grande?

— Muito melhor que aqui, tenho certeza.

— Nisso tenho que concordar com você. Porque as coisas


permanecem as mesmas nessa cidade parada no tempo!

Sorri sabendo que ela tinha descrito tudo com exatidão e fui entrando,
olhando cada cômodo que na minha infância suportaram todas as
brincadeiras com giz, lápis de cor e até mesmo água.

— Onde está minha mãe?

— Ela está no quarto e não quero te assustar, somente te avisar, mas


ela não está nada bem, então disfarce para ela não perceber...
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Sorri concordando e fui até o quarto, que durante as noites era meu
lugar preferido na casa.

Entrei e quase não consegui disfarçar ao sentir o cheiro de mofo e


olhar a minha mãe completamente acabada, deitada na cama. Ela estava
branca e com todas as linhas de expressão do rosto ressaltadas, porém não era
tão velha assim e tudo isso se devia apenas a doença que a tinha alcançado.

Ela dormia serenamente e sentei-me ao seu lado, alisando sua mão


frágil e me arrependendo de não ter vindo visitá-la antes, somente por ser tão
medrosa.

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Parei o carro bruscamente, rente ao meio fio, já não conseguindo
controlar a minha raiva por ter sido enganado. Como eu pude sofrer por
alguém que tinha coragem de fazer o que ela fez por tanto tempo?

Eu me senti um merda durante todos esses anos e ela provavelmente


devia estar tirando uma com a minha cara enquanto eu me afundava mais e
mais na minha fossa.

Desci sem nem me importar em fechar a porta, se alguém quisesse


roubar, que ficasse à vontade. Tinha problemas muito maiores para resolver
no momento.

— Jay.

Fiquei encarando-a, sem fazer o mínimo de esforço para dizer algo.


Os sentimentos que passavam por mim estavam tão conflitantes que eu não
saberia definir ao certo algum deles.

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— Precisamos conversar.

Continuei apenas olhando-a, sem saber o que dizer. Sem saber o que
fazer.

— Está me ouvindo?

Eu tinha que questioná-la. Tinha que pelo menos cobrar uma resposta
para tudo o que estava acontecendo ali. Eu não era o trouxa que ela pensava
que eu era, e merecia muito mais do que ela estava disposta a dar.

— Que merda está acontecendo?

Trinquei meus dentes e cerrei meus punhos.

Era. A. Única. Vez. Na. Minha. Vida. Que. A. Paciência. Me. Faltava.

— Você mora aqui, não mora? Podemos subir e conversar?

O inferno que eu a levaria para o meu apartamento. Não depois de


tudo o que ela me fez passar.

— Não.

— Por favor, Jay? O assunto é sério e como você está famoso não
podemos ser vistos conversando aqui.

Ela tinha um bom ponto e eu odiava concordar com isso.

Virei-me e fui até o carro para poder entrar novamente na garagem


com ele e infelizmente, ouvir o que quer que ela fosse dizer.

Lettie ficou me questionando somente com o olhar e eu indiquei a


porta do carona para que ela entrasse. Seria muito mais fácil entrar comigo
direto pela garagem e muito mais discreto.

Não queria confusão. Muito menos com uma mulher supostamente


morta, envolvida.

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O silêncio era constrangedor e eu simplesmente não queria dizer nada
no momento. Eu estava fodido. E literalmente ferrado com toda essa
palhaçada. Tinha feito papel de trouxa por sete anos, sete longos anos da
minha vida em que passei me lamentando pelas coisas que podia ter feito e
não fiz.

Parei na minha vaga e desci, sem nem olhar para o lado. Esperei ela
descer, travei o carro e fui em direção ao elevador, tudo em modo automático,
tudo sem proferir uma única palavra, ou até mesmo olhá-la.

Apertei o botão do penúltimo andar e fiquei naquele ambiente


constrangedor, sem saber que merda estava acontecendo. Tinha saído do
apartamento para ir atrás da Rose, resolver toda a nossa situação embaraçada
e quando menos esperava, uma bomba dessas caiu em cima de mim.

Sinceramente eu não sabia quais eram meus sentimentos, não fazia a


mínima ideia antes mesmo de sair; e dizer que nesse momento tudo estava
um caos em minha cabeça seria eufemismo.

As portas do elevador se abriram em meu andar e eu nunca tinha me


sentido tão aliviado quanto nesse instante.

Acho que estava ficando claustrofóbico, com certeza era isso.

Segui até meu apartamento e abri a porta, mantendo-a aberta para que
ela passasse e quando ela o fez, seu perfume invadiu minhas narinas, me
fazendo sentir coisas que eu não queria sentir.

Ela usava o mesmo perfume.

A mesma droga de perfume que eu sempre amei.

Eu estava fodido.

Porra!

Estava muito fodido.

Pude ver com clareza a sua avaliação sobre as minhas coisas.


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Inclusive sobre a minha foto com a Rose na temporada passada, onde ela me
abraçava e eu a encarava sorrindo como um idiota. Eu realmente era um bobo
idiota quando estava com ela e nem me esforçava para tentar provar o
contrário.

— As coisas melhoraram.

— Uma hora tinham que melhorar.

Eu consegui tudo isso em parte por causa dela, mas em parte, também
pela sua suposta “morte”. Só queria mostrar que era capaz, e consegui, mas
agora vejo que estive pensando em um fantasma enquanto a pessoa nem tinha
morrido.

— Você pode me explicar que porra tá fazendo aqui, sendo que eu


joguei flores no seu caixão, enquanto assistia as pás de terra serem jogadas
contra a madeira?

— As coisas são complicadas... Onde fica o banheiro?

Falei onde ficava e a esperei, sentado no sofá, puto da vida com toda
essa merda e sua saída pela tangente, supostamente indo ao banheiro.

O interfone tocou, me informando que o Silas estava ali e que queria


subir. Liberei a sua entrada e fiquei esperando ele bater na porta, o que eu
estava agradecendo no momento, porque com certeza ele conseguiria impedir
a Lettie de ficar muito tempo por aqui.

— Eu acho muito bom você ir até o apartamento da Rose e arrumar as


coisas, porque se não fizer isso eu vou fazer e pode ter certeza que eu não vou
me importar com as suas merdas.

Abri a porta com todo o arsenal sendo atirado sobre mim. E sabe o
que era pior? Eu sabia que ele tinha razão, ele tinha toda a merda da razão.
Rose não merecia isso e eu era o pior homem do mundo por tê-la feito sofrer.

No mesmo momento em que ele sentou no sofá e esfregou a testa em


sinal de frustração, Lettie apareceu no corredor e eu pude ver seu olhar se

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transformar de raivoso para perdido.

— Susan?

Eles se conheciam! Como isso podia ficar pior?

— Vocês se conhecem?

Silas me olhou como se isso fosse uma idiotice.

— Mas é claro que sim! Ela era a mulher do meu pai!

PUTA MERDA! As coisas podiam ficar piores, muito piores.

Era.

Era.

Era.

A palavra ficou martelando na minha mente e em meio a tanto


reconhecimento eu tinha que esclarecer a minha dúvida de alguma forma.

— Como assim era?

— A Susan morreu no mês passado.

Caralho! O que mais aconteceria dali pra frente?

A essa altura do campeonato eu já não sabia nem se me chamava


Allan James de verdade!

Quem sabe sua real identidade quando um negócio desses acontece na


sua vida?

O interfone tocou novamente, mas eu estava tão petrificado no meu


lugar que nem fui atender. Se fosse sério a pessoa voltaria ou subiria de
qualquer forma.

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A tensão no ambiente era tão alta que eu podia ouvir as engrenagens
funcionando tanto no meu cérebro como no do Silas. Isso porque ele não
tinha nem perguntado o motivo para ela estar ali ainda.

Estava de boca aberta sem saber o que fazer.

Concluindo assim como eu que era muita merda para um dia só.

Ouvi baterem na porta e fui abrir, até porque o clima não era nem um
pouco amigável para eu ficar parado.

— Olha, eu não sei que porra você fez. Só sei que a Bia está puta da
vida contigo e pode ter certeza parceiro, que quando eu digo “com você” eu
acabo incluído, porque infelizmente fui te escolher como amigo. Então se
você não for resolver a porcaria que aprontou, eu não serei mais seu amigo,
pronto e acabou. Não sou obrigado a ficar tendo discussões de
relacionamento por sua causa.

Olhei Josh e só esperei ele ver o que estava acontecendo. Quando viu
a mulher na minha sala, o Silas perplexo e eu sem ação, só murmurou um
“fodeu” e se virou para ir embora.

O que eu não deixei, é claro. Amigos existiam para isso e já que ele
estava ali, que ficasse e entendesse o que estava acontecendo.

— Ela é quem eu estou pensando que é?

— Sim.

— Merda. A pergunta foi retórica.

Ficamos os três parados, sem ter a menor noção do que falar. Silas por
já conhecê-la, ou achar que a conhecia, Josh por saber de quem se tratava e
eu por estar mais perdido que a bola em dia de jogo.

— A Bia vai me matar. A Bia vai me matar.

Josh sentou no outro sofá, murmurando sozinho e se questionando


baixo o que tinha vindo fazer ali. Eu sinceramente só queria uma explicação e
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o apoio de alguém.

— Acho melhor voltar outra hora...

Silas se levantou e nem se importou em ficar ali para ouvir o que ela
falaria. Passou por mim e disse que a Bia estava tentando ligar pra Rose e só
dava caixa postal e caso eu fosse metade do homem que ele acreditava que eu
fosse, iria atrás, ver o que estava acontecendo com ela.

Mas como eu faria isso, quando Lettie estava aqui em casa, na sala,
tentando se explicar?

Sair daqui seria impossível e inútil, então ele que se fodesse.

Percebeu que eu não me movi e balançou a cabeça em sinal de


desapontamento. Quando Josh questionou aonde ele iria, apenas murmurou
algo como: “vou fazer o que o Allan deveria estar fazendo” e desapareceu
pela porta.

Eu sei que me arrependeria disso. Mas deixaria o arrependimento para


depois.

Josh se levantou também e com uma expressão nada boa.

Ele estava me julgando e eu sabia que merecia isso.

Eu agia como a porcaria de um covarde.

— Vou pra casa, a gente se vê por aí. Só me faz um favor? Pondere


suas prioridades.

Deu as costas assim como Silas havia feito e me deixou com o maior
dilema da minha vida.

Quem seria minha prioridade?

Alguém que me amava ou alguém que eu achava amar, mas que não
ligava para mim?

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Conversei alguns minutos com a minha mãe quando ela acordou, mas
via que isso a deixava ainda mais cansada, então decidi esperar um pouco na
sala, enquanto ela dormia mais um pouco, depois de apenas trinta minutos
acordada. Senti meu celular vibrando no bolso e levei um susto, não me
lembrava de tê-lo trazido, muito menos de alguém que iria querer falar
comigo.

— Oi.

— Oi Rose, é o Silas. Tá tudo bem?

Por que ele estava tão preocupado assim comigo? Eu que tinha
decidido dar um ponto final na relação com o Allan e não o contrário... Além
disso, eu não ficaria sofrendo por homem, eles não mereciam nenhuma
lágrima minha.

— Está sim.

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— Você tá no apartamento?

— Não.

Houve uma pausa no mínimo constrangedora, mas eu sabia que ele


estava doido pra perguntar onde eu estava, Silas era curioso, mas aquele tipo
de curioso protetor, que só quer saber para poder ajudar quando precisar.

— Estou na casa da minha mãe, em Torrington.

— Mãe? Torrington? Hoje é o dia das revelações. Só espero de


coração que não seja o fim do mundo, porque ainda tenho que pedir perdão
por muitos pecados.

— Por que diz isso Silas?

— Nada. Ligue caso precisar. Se cuide.

Eu fiquei sem entender nada, mas desde quando eu entendia alguma


coisa que acontecia com o trio parada dura? Aqueles três eram as pessoas
mais idiotas que eu conhecia e faziam cada coisa sem sentido, que eu
simplesmente tinha desistido de entender. Até a Beatriz que era casada com
um deles revirava os olhos com as perguntas, imaginem eu, que nem
namorada era.

Esperei algumas horas e nada da minha mãe acordar novamente.


Àquela altura eu já estava morrendo de fome. Fui abrir a geladeira e não tinha
nada além de leite, nos armários só tinha biscoitos — a coisa era mesmo pior
do que eu pensava. — Como alguém conseguia viver assim, sem dar o braço
a torcer e pedir ajuda? Às vezes o orgulho ajuda, mas em outras ele só
atrapalha.

Respirei fundo, sabendo que eu teria que ir até o mercado. Tinham


cerca de quatro mercados ao todo na cidade, e a pior coisa era saber que
todos saberiam quem eu era em qualquer um deles.

“Rose pare com isso. Você é forte. Você é uma mulher que superou
tudo isso, erga a cabeça e enfrente seus medos.”

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Eu era uma mulher forte, não era? Claro que era! Então eu enfrentaria
qualquer um que se atrevesse a vir me falar algo ofensivo. Não era mais a
pobre menina que não falava nada, ouvia as coisas, engolia e passava mal,
chorando muitas horas depois. Não, eu não engoliria mais nenhum sapo.

Saí da casa e caminhei até o mercado mais próximo, não vendo a hora
de já estar de volta, sã e salva. Parece que quanto mais você quer que o tempo
passe rápido, mais os ponteiros do relógio congelam os segundos. Eu não
conseguia evitar de andar olhando para todos os lados, verificando se nada
fora do normal estava acontecendo sem que eu percebesse. Pode até parecer
loucura, mas eu simplesmente não podia andar tranquila, sem noção nenhuma
do que acontecia ao meu redor, meu instinto estava falando mais alto e
qualquer barulho me assustava.

“Merda Rose. Olha pra frente, você já está chegando.”

Passei pelas portas do supermercado e a primeira respiração foi de


alívio. Percebi algumas pessoas me olhando e automaticamente me
recompus, sabia que parecia uma doida do jeito que estava agindo, mas era
muito maior que eu. Esse sentimento de medo vinha do nada e eu não
conseguia evitar.

Passei pelos caixas e fui em direção ao setor de congelados. Não


queria cozinhar, minha cabeça estava a mil, era bem capaz que acontecesse
uma tragédia caso eu tentasse prestar atenção em fazer algo em um fogão.

— Roselyn.

A lasanha que eu segurava foi parar no pé do homem a minha frente,


que felizmente não era a pior pessoa do mundo. Ralph era um dos amigos dos
Henry na época do colegial, mas não sei o que aconteceu, os dois pararam de
conversar e ele tinha sido uma das únicas pessoas a me aconselhar em manter
distância do seu ex amigo.

Na época eu achei que aquilo era por raiva, por causa da amizade
perdida, mas depois de tudo o que houve, eu descobri que ele apenas queria
me proteger, e eu, besta como era, não dei ouvidos.

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Fiquei encarando seus profundos olhos castanhos, tentando distinguir
qualquer sentimento de pena ou até mesmo escárnio por parte dele.

— Está tudo bem com você?

Nesse momento eu só queria saber quantas pessoas ainda me


perguntariam se eu estava bem. Será que eu parecia doente?

— Sim e com você?

— Maravilhosamente bem. Fazia muito tempo que não a via, o que


andou aprontando?

— Trabalhando com o que mais amo.

— Livros?

— Claro, o que mais seria?

— Escrevendo. Você adorava escrever.

É mesmo, eu adorava. Mas depois de todo aquele sofrimento eu nunca


mais quis escrever, nem mesmo formular uma frase no papel. Suspeitava que
nunca mais ficaria inspirada para isso.

Como escrever sobre coisas belas quando toda a sua vida foi escura
por causa da maldade no mundo?

Definitivamente, não escreveria sobre a minha tristeza, apenas


deixaria as pessoas que lessem para baixo também.

Ralph percebeu que o silêncio ficou constrangedor e mudou de


assunto, tentando quebrar o clima pesado entre a gente. Ele sempre foi assim.
Ajudava a todos sem se preocupar com quem era, por isso eu achava estranho
ele andar com a turma de playboys do Henry; não que ele não fosse um, mas
porque ele era simplesmente bom demais para amizades como aquelas.

— Vai ficar por quanto tempo?

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— Eu ainda não sei. Vou ligar pedindo um tempo no trabalho, por
causa da minha mãe...

— Eu fiquei sabendo, sinto muito Rose.

Ele me olhou fixamente nos olhos e eu pude enxergar que ele estava
sendo sincero. Todos ali deviam saber, mas eram poucos que realmente se
importavam com algo além dos seus umbigos.

— Você quer sair hoje, para dar uma volta e ver como as coisas
estão?

— Vou mentir se disser que quero.

— Ah, sim. Entendo. Mas pode acabar gostando. Eu sou uma


companhia mais agradável do que pareço.

Se eu continuasse com todo esse medo, aonde eu iria parar? Talvez


aceitar um convite de uma pessoa legal não fizesse nenhum mal, podia até
ajudar, na verdade. Ficar parada na casa da minha mãe só esperando uma
notícia ruim seria muito mais tóxico para o meu psicológico já tão abalado.

— Claro, passe em casa tudo bem?

— Pode ser às sete?

Concordei com um sorriso bobo e o acompanhei com o olhar até a


saída do supermercado.

Ralph era um cara legal, tinha até me esquecido das pessoas boas
nessa cidade por causa das outras que só me fizeram mal. Fui embora sem
olhar pra trás e nem me despedi das pessoas que se importavam comigo.

Naquela época eu estava me sentindo um lixo, uma pessoa imunda


que não merecia a solidariedade de ninguém, então o melhor para mim era ir
embora e não voltar nunca mais. E tinha que admitir que por muitos anos isso
foi realmente o melhor que eu fiz, mas sabe aquela sensação de algo
inacabado? Eu sempre a senti, parecia que se eu não resolvesse as coisas, isso
iria me atormentar eternamente, como uma ferida que nunca cicatrizaria.
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Só temia o que teria que enfrentar para dar um ponto final nessa
história... Queria ser forte a ponto de suportar qualquer coisa, mas no fundo
eu sabia que não era.

Voltei para casa, mas dessa vez sem prestar atenção em nada, nada
além dos meus pensamentos que fervilhavam constantes na minha cabeça.
Alguma coisa dentro de mim me avisava que algo de ruim aconteceria, um
aperto no coração parecia que esmagaria tudo no meu peito. Poderia ser
paranoia da minha cabeça, mas eu não costumava arriscar sem saber os
perigos.

“Nada vai acontecer Rose. Nada vai acontecer.”

Nunca foquei tanto na minha voz interior como agora. Uma vez li que
o pensamento positivo induzia as coisas a darem certo, se isso fosse
realmente verdade eu seria professora de yoga com essa idade, porque era
tanto pensamento positivo, que eu duvidava piamente que Buda ganharia de
mim.

Humor era irracional, aparecia nas horas mais inoportunas, acho que a
maioria das pessoas faz isso sem perceber, dá risada em momentos de
nervoso e chora em momentos de raiva. Vai entender. Essas coisas não fazem
muito sentido, só acontecem.

Entrei em casa e vi minha prima vindo em minha direção. Ela morava


de frente para a casa da minha mãe. Era assim por ali, familiares geralmente
moravam pertos uns dos outros e estavam sempre se ajudando, só que a parte
ruim era que todos sabiam seus problemas, e quando digo problemas, inclua
até mesmo calcinhas rasgadas e perda de virgindade. Era literalmente uma
porcaria.

— Como ela está?

— Ainda não sei. Fui até o supermercado comprar algo, não tinha
nada aqui e eu estava morrendo de fome.

— As coisas estavam difíceis para ela.


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— Eu percebi.

Ela parou por um tempo e ficou de cabeça baixa, apenas pensando


sozinha. Algo me dizia que ela escondia alguma coisa, algo muito sério e que
eu não iria querer saber.

— Vai entrar?

Perguntei por questão de cortesia, quando o que eu mais queria era ir


pra bem longe dali.

— Não. Depois precisamos conversar, vai estar aqui?

— Eu vou sair, mas assim que chegar te mando uma mensagem. Não
posso ficar muito tempo longe dela.

Ela concordou com a cabeça, só que algo estava muito errado e


querendo ou não eu acabaria por ficar sabendo.

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— Acho melhor você começar a se explicar. Enrolou demais, não
acha?

Lettie engoliu em seco, e eu pude notar o medo em seu semblante.


Mas ela estava muito enganada se pensava que eu a deixaria passar por isso
ilesa... Eu merecia no mínimo uma explicação e não a perdoaria assim tão
fácil por algo tão sério como o que aconteceu. Nada, exatamente nada,
justificaria tudo o que ela me fez passar. Todas as noites que eu chorei que
nem criança sentindo a sua falta, nem os momentos de felicidade que eu não
aproveitei por ela não estar lá para compartilhá-los.

Tinha ficado oco quando ela se foi, era só uma casca de um homem
andando por aí e sinceramente até que estava bem se fosse levar em conta o
quanto eu a amei.

A minha única dúvida era se ainda a amava.

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Achava que não.

Fiquei balançado com a sua presença assim de repente, mas amar,


esse sentimento bonito que nós sentimos quando nos importamos
verdadeiramente com alguém, não estava mais ali. Acho que com toda essa
decepção, Lettie acabou apagando tudo o que eu tinha dentro de mim, toda a
vontade de me entregar a alguém por completo.

Em quem eu confiaria?

— Bom... para começar, eu tinha uma irmã gêmea, só que ninguém


sabia... Nem mesmo você...

— Não me diga? — Engoliu em seco de novo.

“Isso mesmo, fique nervosa pelo menos uma vez na vida. Você tem
toda a culpa.”

— Então... ela morreu, só que me fez prometer assumir seu lugar


antes de morrer e eu não podia recusar, Jay. Ela era minha irmã... Eu nunca
imaginei ter que fazer isso, te abandonar sem olhar pra trás... Inventar uma
morte te fazendo sofrer com essa situação. Mas... você tem que me entender...
Susan não me deu opção, ela estava sem esperança e amava o marido, não
queria que ele sofresse com a sua partida e me pediu muito para fazer isso.

Tentando ignorar a raiva que me percorria a cada palavra que saia da


sua boca, eu tentei formular as perguntas que tanto me fuzilavam
internamente.

— E o que ganhou com isso?

Mais uma vez engoliu em seco. Filha de uma puta!

— Estabilidade emocional e financeira. Só que eu sentia a sua falta


Jay, então fingi a minha morte também.

Era muita palhaçada para uma pessoa só. Eu só podia ter cara de
trouxa.

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— Quantas vezes você morreu? Deveria entrar para o Guiness.

Ela queria jogar, eu sabia jogar.

— Agora não é hora para isso. Estou explicando o que aconteceu


como tinha me pedido.

Fui até a porta e abri, fazendo um sinal com a mão para que ela saísse
dali o mais rápido possível ou eu não me responsabilizaria pelos meus atos.

— Mas eu não terminei de falar, Jay.

— PARA DE ME CHAMAR DE JAY, PORRA!

Explodi. Tudo o que estava entalado na minha garganta queria sair e


se eu não tomasse cuidado, faria coisas das quais me arrependeria
eternamente.

— Mas eu te amo!

— Como assim você me ama? Se ama desse jeito eu prefiro acreditar


que está morta e que essa não é você. Minhas memórias eram muito melhores
até agora. Eu te amei Lettie, te amei com todas as minhas forças e por
dinheiro você me deixou sem nem olhar para trás. Sabe quantas noites eu
chorei pensando que nunca mais seria feliz? Sabe por quantas noites eu não
dormi, lembrando do seu corpo junto a mim? Não, você não sabe. Porque
estava preocupada demais em gastar o dinheiro que a sua irmã deixou, e
preocupada demais em desempenhar um papel que não o seu! Agora que
estou bem, com dinheiro e fama, você vem dizer que me ama? Eu posso até
ser idiota, mas não besta, e você deveria ter continuado morta, porque pelo
menos a minha admiração ainda teria. Eu venerava você! Era tudo para mim!
E agora sabe qual a minha vontade? Te chutar daqui para bem longe e
esquecer essa noite.

— Mas eu queria muito voltar para sua vida.

Me olhou como se eu fosse ceder como antes fazia. Eu era um trouxa,


literalmente um trouxa. Como pude confiar tanto tempo em alguém como

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ela? Que merda eu tinha na minha cabeça?

Você era um cara apaixonado...

E idiota.

— Vai embora. É a última vez que peço.

— Eu nem terminei de contar tudo, Jay.

— Vai embora de uma vez e de preferência, não apareça mais na


minha frente. Pode ter certeza que se eu quiser, vou atrás.

— Você não vai.

— Provavelmente não.

— Entendo. Tchau então. Até logo, espero.

Fechei meus olhos em sinal de pesar, pedindo calma para suportar


toda essa confusão sem explodir.

Continuei com os olhos fechados até não sentir mais a sua presença.
Fechei a porta, batendo-a com força no batente.

Era tudo pra melhorar.

Quando eu achava que minha vida estava mais ou menos resolvida,


essas coisas surgiam. Como pode o passado voltar assim de repente? Um
passado nada bom ainda...

Sentei no chão, encostado na porta, com as mãos sobre a minha


cabeça. Eu não sabia que ela ainda me afetaria dessa forma. Na verdade, eu
não sabia que ela ainda estava viva. Fui tão enganado, não fazia a menor ideia
que tinha essa possibilidade. Estava me sentindo a pior pessoa do mundo,
alguém que não merecia ser amado e por isso era abandonado por todos. Por
que justo comigo? O que eu fiz de errado?

Roselyn...
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Seu nome me veio à cabeça e eu percebi que não tinha ido atrás dela
como pretendia.

Será que ela estava com alguém? Merda!

Lembro do Silas ter falado que iria vê-la e meu sangue ferveu.
Esperava de verdade que aquele filho de uma mãe não estivesse tentando
nada.

Peguei a chave do carro novamente e desci como um louco pelas


escadas, porque aquela merda do elevador iria demorar para chegar no andar
em que eu estava. Depois da descida eu não precisaria treinar por uma
semana inteira.

Saí que nem um louco pelas ruas, só para chegar no seu apartamento e
ouvir do porteiro que ela não estava ali.

Inferno, o que eu tinha feito? — Peguei o celular e liguei para uma


das únicas pessoas que saberia onde ela estava. Se essa primeira opção
falhasse, eu ligaria para a fera.

— Silas, parceiro...

Esse mundo obscuro dos famosos está cada vez mais intrigante!
Tiraram fotos de uma mulher misteriosa entrando com o nosso Jamesconda
(vulgo Allan) em seu apartamento e pasmem, não se parecia em nada com a
cópia de Megan Fox!
Será que ele já superou? Se sim, poderia superar aqui em casa também, não
é?! Eu sou um amorzinho e curaria o coração dele em um piscar de olhos!

Agora voltando a seriedade das notícias (mulher iludida), fiquei


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sabendo que a diva do momento (sem citar nomes) postou nudes no Insta,
pena que já excluíram, mas fontes revelam que essa foto está correndo por
todos os celulares de Boston, acredito fielmente que ela fez de propósito! É a
cara dela fazer isso!

Por último, mas não menos importante, Josh e Bia Currey, (sim, sou
apaixonada por esse casal!), foram vistos com os pequenos em uma loja de
roupas infantis, provando que são gente como a gente e pagam pelas roupas!
Me desculpe Diva C, esse é seu novo apelido, mas gata, você sabe que os
patrocínios bancam, não sabe? E Josh, seu lindo, abre uma exceção e manda
um beijo aqui pra essa fanática e minhas terríveis seguidoras? Obrigada, de
nada.

Aiiiiii, Josh me pega!

Tudo sobre astros por: Stephen Pharell

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— Uau! Simplesmente, uau! Você está maravilhosa!

— Obrigada!

Sorri encabulada com o elogio, não estava muito acostumada a eles...


Quando alguém geralmente me elogiava, eu ignorava por completo, não
queria atenções desnecessárias sobre mim, elas algumas vezes não vinham
das melhores intenções.

— E você também não está nada mal.

— Isso foi um elogio? Senhor! Esqueci de como você era incapaz de


elogiar alguém!

Gargalhei com vontade. Era bom estar com alguém com quem eu
convivi boa parte da minha adolescência, mas que não me lembrava em nada
os momentos ruins.

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Ralph era carismático ao extremo, o que concedia um charme a mais
na sua beleza digna de nota. Ele tinha aquele tipo de presença marcante e um
sorriso que contagiava as pessoas. Todos gostavam dele e as garotas se
matavam pela sua atenção, muitas vezes eu tirei sarro dele por isso, porque
ele não conseguia ir até as salas de aula sem ser parado no mínimo dezenas
de vezes. Sabia que isso o irritava, mas tinha que admitir que Ralph era um
mestre em disfarçar os pensamentos, porque ninguém sequer notava sua
indisposição.

Passei meus olhos pelo seu corpo, sem conseguir me conter. Ele era
um dos caras mais bonitos que eu já pude ver, tinha olhos castanhos
profundos e cabelos levemente bagunçados, dando um ar de descaso casual
ao seu estilo.

Queria poder voltar atrás e ter ficado com ele ao invés do Henry, mas
não podia voltar no tempo.

Se arrependimento matasse, já teria morrido diversas vezes. Ralph


teria sido sem dúvida alguma, a minha melhor opção. Só que naquela época
eu nutria uma fascinação idiota pelo seu amigo, aquela fascinação do tipo não
acreditar que eu conseguiria ficar com o cara mais descolado da escola, e
quando o fiz, me senti a mulher mais especial do mundo.

Ingênua. Eu era uma idiota; ingênua por acreditar que aquilo fosse
realmente uma coisa boa.

— Me permite?

Ralph me deu seu braço para que eu pegasse e eu o fiz sorrindo.


Como se tivesse novamente dezesseis anos.

Era tão fácil estar com ele que eu não me lembrava das coisas que
havia passado recentemente, minha separação com o Allan, a doença da
minha mãe e até mesmo o medo de encontrar o Henry; que teimava em
permanecer a todo o vapor na minha mente.

Ralph abriu a porta para mim e eu sorri agradecendo. Era cavalheiro e


poderia facilmente me apaixonar por ele, com esse jeito doce e preocupado.
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Pena que não mandamos no coração e eu sinceramente não sabia quem tinha
o meu no momento... Era uma mulher esclarecida e não queria gostar de
ninguém, para não me machucar mais ainda.

Querendo ou não, eu tinha criado um laço de afeto que beirava o amor


com o Allan, mas se não era correspondido quais as chances que eu fosse
feliz ao seu lado?

Desde o começo imaginei que não daria em nada, ele era o tipo de
homem que escondia seus muitos segredos embaixo de toda aquela felicidade
fingida e premeditada.

Allan precisava urgentemente de ajuda, mas eu não correria atrás dele


para oferecê-la, se ele nem sequer se importava o bastante comigo. Já tinha
tido a minha cota de homens idiotas na vida e não deixaria que ele fosse mais
um para me atormentar no futuro.

— Você teve um affaire com aquele jogador de basquete famoso, não


teve? Pelo menos aqui era só o que se falava, as mulheres estavam morrendo
de inveja de você.

Eu estava pensando exatamente nesse homem, como pode o destino


ser tão traiçoeiro a ponto de jogar esse assunto bem no momento em que
meus pensamentos seguiam esse caminho?

Um caminho de cor chocolate e extremamente irresistível.

— Allan James?

— Esse mesmo! Número 11 do Boston Globe, ala-armador, não é?

— Sim.

Fiz uma expressão de desprezo, por saber que mesmo tentando fugir
daquele nome, ele teimava em me perseguir.

— Desculpe. Se não quer falar sobre isso, nós podemos deixar para
lá... É que eu realmente estava curioso sobre o assunto, achei que era mentira,
sabe como é... Até que você apareceu em uma das colunas de fofocas mais
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famosas do país e só confirmou o boato...

— Você lendo colunas de fofocas?

— Claro que não! Minha irmã que leu e acabou me mostrando, só


para provar que o que todos estavam falando era mesmo verdade.

Confirmei com a cabeça e um sorriso fraco se fez presente. Eu sentia


saudade do jogador, mas não daria meu braço a torcer. Cada um escolhe o
seu caminho e ele já tinha escolhido o dele.

Sabia que era muito mais do que as revistas passavam. Por baixo de
todo aquele tamanho, tinha um cara com uma alma maior ainda, capaz de
mover céus e montanhas para ajudar quem precisasse. Eu poderia muito bem
ser amiga dele, mas a verdade é que eu não conseguiria fazer isso e não seria
hipócrita a ponto de dizer o contrário. Seria a mesma coisa que aplicar o
termo “amizade colorida” em sua totalidade.

Quem conseguiria ficar perto de Allan James e não se sentir no


mínimo atraída pela sua aura de homem másculo e bom de cama?

Só uma cega não perceberia que ele era um verdadeiro furacão nesse
quesito.

Pelo amor de Deus, o cara era um jogador! E admitir que o cara era
bom no quesito “usar o corpo” era o mínimo.

— Rose?

Voltei meu olhar para Ralph, que me encarava fixamente.

Percebi que eu devia estar perdida nos meus pensamentos há algum


tempo, porque ele me olhava de forma questionadora, mas pareceu entender
quando eu não pronunciei nada a respeito disso.

— Podemos ir?

Questionei querendo logo que o movimento do carro o impedisse de


perguntar mais algo a respeito do meu caso com o jogador famoso de
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basquete. Parecia que os homens ficavam fascinados com essas coisas de
esporte e que uma vez começado o assunto ficaria quase impossível de
acabar.

— Claro.

Ele ligou o carro e rapidamente saiu da frente de casa, deixando aos


poucos o clima mais leve entre nós. Eu só queria não pensar nas coisas que
me seguiam de Boston até aqui, estava esgotada tanto fisicamente como
emocionalmente.

Senti o celular vibrando na minha bolsa e quando olhei quem ligava


não me dei ao trabalho de atender. Silas era um amigo maravilhoso, mas ele
também era amigo de alguém que eu não queria deixar entrar na minha mente
no momento. O que aconteceu inevitavelmente, porque só em olhar o nome
na tela depois de alguns segundos da ligação do Silas eu já vacilei.

Não queria falar com o Allan, nem agora, nem daqui um bom tempo.
Sabia que toda a minha determinação poderia ruir assim que ele desse um
sorriso ou fizesse uma piada sem graça.

Só que eu estava convencida que depois de todas as coisas pelas quais


passei, não tinha a menor vocação para ser segunda opção de ninguém.
Queria ser a primeira. Não precisava passar por tudo novamente para
aprender isso.

Jurava não merecer tanto carinho, mas sofrer as mesmas coisas de


alguns anos atrás, jamais. Nunca mais deixaria alguém fazer aquilo comigo,
eu sofria os traumas até hoje e não era forte para suportar caso viesse a
acontecer novamente. Todos temos nossa cota de dor a suportar, e a minha já
estava quase que esgotada.

Ignorei sua chamada inúmeras vezes depois daquela, alternando entre


Silas e ele. Esses dois deviam estar competindo entre si, só podia. Fiquei tão
irritada com a persistência que desliguei meu telefone, jogando-o na bolsa
logo em seguida, sem a menor cerimônia.

— Está irritada mesmo, huh?


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Bufei, deixando claro que aquilo não era para ser comentado e ele
seguiu isso à risca.

Fomos em total silêncio até um dos restaurantes mais legais da


cidade. Eu sempre ia lá quando queria um momento realmente bom. Era tão
aconchegante que você se sentia em casa.

— Esse lugar sempre foi maravilhoso, não é?

Ralph sorriu enquanto abria a porta para eu sair e foi impossível não
sorrir de volta. Pelo visto nosso clima estranho tinha sido esquecido e
superado, me deixando aliviada.

Entramos e Ralph informou a sua reserva para a maître, que nos


convidou a segui-la, com um olhar no mínimo aterrorizante para mim, que
sinceramente não estava entendendo nada.

Seria alguma das pessoas que me julgaram ser a errada quando tudo
aconteceu? Ou seria uma das conquistas de Henry que se doeu com a minha
queixa dele? Essas eram perguntas que eu com certeza não faria a ela.

Ralph puxou a cadeira para que eu sentasse e sorriu de forma


sedutora. Querendo causar efeitos em mim que eu suspeitava nunca conseguir
causar. Velhos hábitos pelo visto não morriam e tratá-lo somente como
amigo ficaria enraizado nas minhas veias para sempre.

— Então, me conte mais sobre você e o que andou fazendo durante


esses anos?

— Claro.

Comecei a contar sobre todas as minhas loucuras, algumas boas,


outras não tão boas assim e somente parei um pouco quando fomos
interrompidos pelo garçom com o cardápio e depois com o mesmo anotando
nosso pedido.

Continuei sorrindo como boba e dizendo todas as minhas travessuras,


falei sobre a minha melhor amiga, que de forma irônica tinha acabado se

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casando com o amor platônico da vida dela e ele não escondeu sua
empolgação quando ouviu que ela era a famosa “Bia Currey” que circulava
em todas as revistas e jornais.

— Eu não acredito que você conhece aquele cara de perto! Meu Deus,
ele é simplesmente de outro mundo!

— Acredite, ele treinou demais para isso e na verdade ainda treina.


Beatriz chega a ficar louca.

— Até eu casaria com aquele cara!

Gargalhei tanto que todos no restaurante pararam o que estavam


fazendo para me olhar. Varri aquele lugar, percebendo muitas pessoas
conhecidas e quando meus olhos pararam sobre o homem que me encarava
fixamente, várias lembranças me assaltaram, deixando-me paralisada e sem
saber o que falar.

A merda do inferno tinha voltado e eu não fazia a mínima ideia de


como lidar com ele.

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Eu tentava ligar para ela com o Silas do meu lado e nada dela atender,
só escutava o bip no celular sinalizando que tinha encerrado a chamada sem
nem mesmo se dar ao trabalho de dizer alguma coisa.

— Dê um tempo a ela, cara. Quando conversamos, parecia


entorpecida, não sei descrever muito bem, mas ela não estava lá essas coisas
também...

— Acha que eu ainda tenho chance?

Não acreditava que estava perguntando justo a ele isso, mas era o
único que conseguiria me entender agora.

— Eu não faço a menor ideia. Vocês dois têm que sentar e colocar
todos os planos na mesa. Fala para ela, Allan. Fala tudo, porque depois dessa
vai ser difícil ter outra chance. Rose não é do tipo que vai correr atrás de você
porque é um astro, ela é mais do que isso.

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— Tá gostando dela, Silas?

Ele fez uma cara de espanto, fazendo-me perceber que não era nada
disso do que eu estava pensando.

— Claro que não! É só que ela é minha amiga, você também, o que
me deixa em uma situação complicada, entende? Eu não posso tomar partidos
e isso é uma merda. Eu fico sem saber o que fazer, se a apoio ou se me
preocupo com o que você pensará disso.

Achava que somente eu e ela estávamos sofrendo, mas a verdade é


que todos os envolvidos não sabiam o que fazer. Até mesmo Josh estava
dividido, a mulher dele é melhor amiga dela e ele é meu melhor amigo, dá
para entender o que o Silas estava falando.

— Eu vou resolver isso, cara.

— Vai mesmo, tenho toda a certeza que sim. Porque estou cansando
de ficar em um jogo de ping pong, e pode apostar que o Josh também. Você
tem que se decidir Allan, decidir se vai deixá-la entrar na sua vida por
completo ou se vai mantê-la presa do lado de fora. Rose merece saber a
verdade.

— Se eu contar tudo, ela não vai mais olhar pra minha cara.

— Como sabe? Sempre achei que fosse um idiota, mas covarde


jamais.

Encostei no balcão da sua cozinha e fiquei um tempo pensando no


que fazer. O apartamento do Silas era do mesmo tamanho que o meu, porém
muito mais organizado. Ele tinha um TOC tão grande que até os copos eram
arrumados por ordem de tamanho, e a limpeza então, nem se falava.

— Quer beber algo forte para dar coragem?

Ele foi até a sala e voltou com um Whisky nas mãos, pegando o copo
e servindo-nos logo em seguida. Bebemos na mesma hora e eu pude sentir a
bebida descer queimando pela minha garganta, a famosa coragem líquida.

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Meu celular começou a tocar e a esperança de que fosse ela
retornando as minhas ligações era perseverante. Mas ao pegar o aparelho, o
sorriso no meu rosto desapareceu na hora. Quando minha mãe ligava nunca
era notícia boa.

Eu servia para isso na vida das pessoas, pra pagar as contas e para
terem a quem ligar nos momentos difíceis.

— Fala mãe.

Silas me encarava, tentando descobrir o que estava acontecendo, mas


nem eu sabia ainda.

— Venha aqui, por favor?

Ela perguntou de forma fraca e eu pude perceber seu choro silencioso


através da ligação. Tinha certeza que era algo com meu irmão. Era sempre
assim, ele aprontava e quem tinha que resolver as coisas era eu.

— Estou indo.

Nunca a abandonaria, não importava o que acontecesse. Ela era a


minha mãe e mesmo tendo seus defeitos, me criou sem nenhum tipo de ajuda
e ainda me incentivou quando mais precisei, então eu sempre estaria ali para
ela.

Saí da cozinha, andando de forma apressada, verificando se a chave


do carro estava no bolso da minha calça. Silas me seguiu com o copo de
whisky na mão, mas não questionou o que eu estava fazendo. E sinceramente
eu nem teria cabeça para responder.

Acelerei o carro, querendo chegar em Dorchester o mais rápido


possível. Trinquei meus dentes já prevendo o quanto ficaria puto com o que
quer que tivesse acontecido. Cleavon perdia a noção do que era certo e
errado. Eu bancava os dois e pagava muito mais do que precisariam morando
na periferia, mas isso não adiantava quando eles mesmos não se importavam
em usá-lo de forma sábia. Tentei tirá-los de lá, tirar meu irmão das más
influências, mas nunca consegui, teimavam em querer permanecer no lugar
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onde moramos com nosso pai antes dele falecer e isso, infelizmente, acabava
fazendo com que meu irmão ficasse próximo aos traficantes mais fodidos de
Boston.

A minha única opção então, era mandar dinheiro todos os meses e


pagar a faculdade dele, que ele praticamente não frequentava, além de tudo.

Cheguei e vi as crianças da vizinhança jogando basquete na quadra


velha e malcuidada do bairro, sentindo o aperto no coração, pois eu tinha sido
uma delas, eu não via a hora de terminar de ajudar minha mãe a limpar a casa
para poder ir na rua jogar.

Algumas não tinham a menor esperança de um futuro melhor, mas eu


era o ídolo que elas admiravam, queriam ser como eu, o que me deixava
orgulhoso de mim mesmo por ter conseguido chegar até onde cheguei.

Bati na porta de casa e quando minha mãe me atendeu, os sinais de


que estava chorando antes que eu chegasse eram perceptíveis.

— O que aconteceu, mãe?

Ela me abraçou e começou a soluçar, sem conseguir sequer falar.


Passei as mãos no seu cabelo, tentando fazê-la se acalmar. Mesmo eu já
imaginando o motivo do seu desespero.

— Cleavon foi preso... O pegaram com drogas, filho, o que faremos


agora? Ele só tem vinte anos, não imagina como é a prisão. Eu não sei mais o
que faço com ele Allan, não sei mais...

— Tem fiança?

— Acho que sim, não sei... Ele não tinha muita droga, mas aqui é a
periferia e sabe como são as coisas...

Claro que eu sabia.

— Eu vou até lá, mas só daqui algumas horas. Cleavon tem que
aprender a dar valor às coisas, mãe. Se eu sempre limpar a barra dele, não vai
se importar em fazer as coisas certas. Nascer em periferia não é desculpa para
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virar bandido, ainda mais comigo bancando os estudos dele. Isso pra mim é
ser idiota.

— Mas ele é apenas uma criança.

— Não, não é mãe. E se quer saber, ele age dessa forma porque toda
vez a senhora alisa a cabeça dele e diz que tudo vai ficar bem. Por isso ele
não se importa em estudar, por isso não tem a mínima vontade de ser alguém
na vida.

— Mas você é um astro, Allan! Vai ignorar seu próprio irmão?

Sorri amargamente, deixando que a minha frustração ficasse evidente.


Só porque eu os bancava não precisavam fazer mais nada? Talvez eu que
fosse o culpado por tudo isso.

— Isso não significa que ele deva fazer coisa errada, mãe.

— Eu sei, mas ele vai mudar Allan, eu sei que vai!

— Tudo bem. Eu vou lá, mas avise que na próxima eu vou cortar toda
a ajuda, até mesmo de você, porque eu não sou otário, mãe! Tô cansando de
ver vocês se afundarem juntos e o pior, sendo eu a patrocinar isso. Então, só
pra avisar, arrumem essa merda que fizeram.

— Se você nos abandonar eu vou na TV e conto tudo, Allan!

— A senhora me chantageando, mãe? Eu esperaria isso de qualquer


um, qualquer um mesmo!

— Me desculpe, estou ficando preocupada.

— O dinheiro vai estar na sua conta, vou transferir agora. Mas não
quero mais saber dessas merdas, tá me ouvindo? Se for para bancar um
bandido e uma mãe conivente eu não vou fazê-lo. Ambos têm que se ajudar
também e não depender somente de mim.

Deixei-a chorando, com o coração na mão, mas eu não a agradaria


dessa vez. Não quando eu sabia que o que ela estava fazendo era errado.
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Alguém tinha que colocar juízo na cabeça desses dois e infelizmente esse
alguém era eu.

Vi que as crianças ainda jogavam e não pensei muito bem quando fui
até elas, para participar do jogo.

Me olharam não acreditando no que viam. Eu só queria ser eu mesmo


agora, passar longe do jogador do Boston Globe e ser apenas o Allan James.

— Você é o James! Eu sempre assisto os jogos! Queria tanto


conhecer o time, vocês são os caras!

Sorri, pegando a bola da sua mão e o convidando para um jogo. O


restante das crianças se aproximou, sem mais nenhum receio e foi uma das
noites mais divertidas da minha vida. Era tão bom estar de bem comigo
mesmo, saber que aqueles pequenos tinham, nos que venceram, um modelo a
seguir, tão contrário ao meu irmão.

Despedi-me prometendo a todos eles um dia trazer a galera para


conhecerem. Fazer com que eles pudessem vencer na vida, mesmo vindo de
uma periferia, seria a maior alegria para mim.

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Isso não podia estar acontecendo comigo...

Meus membros permaneciam travados tamanho era o meu pavor.


Maldita hora em que decidi sair e tentar esquecer as coisas. Se eu tivesse
ficado em casa, quieta, nada disso estaria acontecendo... Eu não estaria vendo
o meu pesadelo tornar-se realidade bem ali, em um restaurante aconchegante
e pacífico.

Maldita hora em que aceitei jantar com Ralph... Maldita hora...

Olhei para ele que estava com os dentes cerrados e os pulsos firmes
em cima da mesa.

Nunca me amaldiçoei tanto por tentar ser feliz e me repreendia


internamente por ter pensado em sair de casa.

Queria voltar para Boston e nunca mais sair de lá.

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— Roselyn!

Senti a mão pousar sobre meu ombro e a vontade de vomitar veio com
tudo, meu estômago se revirou e eu já não conseguia mais suportar o asco
que sentia.

— O que está fazendo aqui, Henry? — Ralph perguntou e eu pude ver


no seu olhar o arrependimento de ter me trazido justo nesse lugar.

Mas ninguém tinha culpa, não é mesmo? Quando iriamos adivinhar


que exatamente nessa hora ele estaria aqui?

Ninguém tinha culpa, na verdade, ninguém além de mim...

— Jantando, assim como vocês. Aliás estou com a minha namorada,


você já conhece não é Ralph?

Meu acompanhante nem se deu ao trabalho de responder. Estava tão


afetado como eu.

Olhei para os lados tentando achar uma rota de fuga aceitável e que
me levasse para longe dali o mais rápido possível, mas todos os caminhos
que passavam pela minha mente tinham algum tipo de atraso, como o
banheiro que estava lotado, as mesas que estavam juntas demais impedindo
que alguém passasse sem esbarrar em ninguém... Enfim, não sabia se era
coisa da minha cabeça, mas todo o ar em volta de nós estava pesado e
sufocante, eu não conseguia respirar, não conseguia me mover e muito menos
falar alguma coisa.

O medo era tão grande que eu nunca me senti tão impotente assim, na
verdade já tinha estado dessa forma, mas não queria de maneira nenhuma
lembrar disso. Eu só queria ter uma vida normal e quebrar a cara como as
mulheres normais faziam; do tipo ser traída, ou simplesmente descobrir que
os ideais não eram os mesmos.

Porque eu tinha que ser tão ferrada assim?

— Kate, não vai cumprimentar a sua prima?

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Henry falou próximo a mim, fazendo com que eu olhasse ao seu lado.
Meus pensamentos evaporaram e eu nunca me senti tão traída dessa forma.
Como minha prima ainda tinha coragem de estar com o homem que abusou
de mim e deu para os lobos comerem? Eu podia esperar qualquer coisa das
mulheres com as quais ele ficava, mas nunca imaginei que ele fosse ficar
justamente com a minha prima, que ainda sabia de toda a história com
detalhes e tinha sido a única a me apoiar... Ou não...

Agora eu já não sabia mais de nada.

Minha prima olhou para mim, completamente sem graça e com razão.
Pelo rumo que meus pensamentos estavam tomando eu conseguia imaginar
qual era a cara que estava fazendo. Se falsidade matasse, essa já teria caído
esturricada no chão.

— Rose, posso explicar?

Não respondi a ninguém, muito menos aos olhares questionadores das


duas pessoas ali, porque o terceiro era de deboche, como eu sabia que seria.
Henry sempre tinha sido autoconfiante e quando ele me viu nesse estado,
com certeza seu demônio interior tinha dado pulos de alegria.

Nunca desejei mal a ninguém, sempre fui do tipo tranquila, mas eu


queria profundamente que ele queimasse no fogo do inferno e que ficasse por
lá até se cansar.

“Respira Rose. Respira Rose. Estamos em um restaurante, nada vai


acontecer aqui.”

Esse era o grande problema, nada aconteceria aqui, mas o que


impedia de acontecer lá fora? O que estaria me esperando quando eu menos
suspeitasse?

Eu já não queria mais saber de nada, poderia levar minha mãe embora
daqui e nunca mais voltar, poderia ser forte e tentar superar isso, mas eu não
era assim e sinceramente me sentia mais perdida do que eu queria estar na
minha própria vida.

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— Podemos nos sentar com vocês?

Isso foi o estopim para o meu psicológico. Levantei da cadeira


arrastando-a ruidosamente e corri, corri como nunca imaginei que fosse
conseguir. Corri até chegar em uma das avenidas principais da cidade. Eu só
queria ter um pouco de paz, não bastava o que todos tinham me feito passar?

Às vezes parecia que tudo tinha sido um complô e que eu era o


boneco de madeira, com cordas nas mãos e pés, facilmente manipulável.

Deixei-me cair sobre os joelhos e senti as lágrimas descerem frias


pelas minhas bochechas, os flashes de sete anos atrás voltavam cada vez mais
fortes e eu só conseguia sentir pavor em pensar que aquilo poderia acontecer
de novo.

Odiava meu nome, odiava ser bonita, odiava chamar a atenção das
pessoas e principalmente, me odiava.

Soquei o asfalto, querendo descontar tudo o que se passava dentro de


mim, senti os ossos das minhas mãos protestarem, e a dor que passou deles
para meu corpo não aplacava o sentimento de derrota que tinha se apoderado
totalmente da minha mente.

Eu nunca seria feliz. Eu nunca me sentiria completa. Seria sempre


metade da mulher que qualquer homem precisava.

Ouvi passos longos e rápidos e conforme eles chegavam perto eu


queria novamente sumir, mas as forças no meu corpo estavam esgotadas. Eu
não conseguia mais fugir, estava cansada de viver com a sensação do perigo à
espreita. Seria demais pedir para que isso acabasse?

— Rose, meu Deus! Venha comigo, você precisa de um médico.

Não Ralph, a única coisa que preciso no momento é não ser eu.

— Me deixe em paz, Ralph.

— Eu juro que não sabia, Rose. Por favor me ouve, eu não sabia...

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— Sei que não.

Sim, eu sabia. Mas ainda assim precisava ficar sozinha... Precisava


remoer as coisas que teimavam em acontecer comigo. Precisava chorar sem
ter com o que me preocupar. Eu só precisava... de algo que eu ainda não fazia
a mínima ideia.

— Vai embora, Ralph.

— Não, você não vai ficar sozinha.

— Vou. Eu não quero você aqui, eu não quero ninguém comigo. Só


me deixe em paz.

Eu o tinha magoado, só que essa era a minha intenção, as pessoas


tinham que ficar longe de mim, eu não era boa para ninguém.

Acompanhei seus passos agora vagarosos enquanto ele andava


perdido no meio da rua até o seu carro estacionado a alguns metros da onde
eu estava.

Levantei, porque eu não poderia ficar ali, debaixo de um poste fraco


de luz, bem no meio da avenida.

A única coisa que me confortava era que ninguém estava


presenciando a minha vergonha, nenhum olho curioso estava fora de casa
naquele horário. Era somente eu e a massa de asfalto fria, sob a temperatura
baixa que fazia hoje. Estava sozinha e essa era a pior sensação do mundo.

Sentei na guia, pelo menos me afastando um pouco de onde os carros


passavam com pouca frequência.

Não acreditava que a minha prima estava envolvida com aquele


monstro, e ao mesmo tempo em que eu queria avisá-la, queria também nunca
mais olhar para a sua cara.

Estava ferida, profundamente magoada e sem perspectiva nenhuma do


que fazer.

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Ouvi o ronco de um motor que eu conhecia muito bem, ou talvez eu
estivesse imaginando. O que não duvidava nem um pouco que fosse o que
acontecia.

Aos poucos, o som foi diminuindo ao se aproximar de onde eu estava.


Bem, de onde meu corpo estava, porque minha cabeça estava presa no
passado que teimava em girar desenfreadamente na minha mente.

Só queria saber como eu ficaria quando ele colidisse com o meu


futuro.

O carro parou e a porta foi aberta com força. Ouvi passos firmes no
chão. Permaneci da mesma forma, não levantei minha cabeça e não me
importei com quem fosse.

Senti mãos fortes me puxarem e me deixei levar, se para um lugar


bom ou ruim eu já não conseguia saber.

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Durante todo o caminho, fiquei me perguntando o porquê dela estar
naquela cidade. Pelo pouco que Silas havia me contado estava visitando a sua
mãe, ele não sabia mais nada além disso.

Fiquei um pouco receoso, já que a Rose nunca me disse nada sobre a


sua família, na verdade, ela nunca me disse nada sobre ela ou seu passado.
Era um verdadeiro poço de mistérios... Antes eu realmente não tinha muito
interesse em desvendá-los, mas agora, essa era a maior vontade que brotava
do meu consciente. Queria saber mais sobre ela, entendê-la melhor e
descobrir o motivo dos seus medos.

Sei que talvez fosse melhor eu não pressioná-la, mas como eu iria
saber o que estava acontecendo?

Poderíamos ambos nos libertar das amarras do nosso passado,


contando todas as inseguranças e medos acerca de anos tão tortuosos. Eu só
não sabia se já estava preparado para isso... Porque eu teria que contar tudo,
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tudo o que me afligia, tudo o que me afetava e todo o resto.

Sempre tive que cuidar da minha mãe e do meu irmão, porque logo
depois que meu pai morreu, há quinze anos, eu virei o homem da família e
quando se está com doze anos, isso é um fardo pesado a suportar. Mas eu
consegui aos poucos ir ajeitando minha vida, quando tudo parecia estar dando
certo, Lettie me deixou na mão, fazendo com que todos os meus planos
voltassem a ser nulos...

Eu odiava ouvir as pessoas dizendo que tudo ficaria bem, que era uma
questão de tempo. Essas eram justamente as palavras que não ajudavam em
nada quando uma coisa dessas acontecia...

Deixei as janelas do carro abertas enquanto eu acelerava pela auto


estrada, deserta a essa hora da noite. Era o que eu precisava nesse momento,
um tempo para pensar sozinho, sem ninguém que pudesse interferir nos meus
pensamentos...

A paisagem que se desenrolava do lado de fora era espetacular.


Algumas montanhas desérticas e postos que funcionavam como lanchonete.
Fora isso, a estrada à frente era visível somente pelo feixe de luz do farol,
depois disso se tornava um caminho a ser descoberto, assim como a minha
mente estava nesse momento.

Eu era um poço de confusão ambulante. Lettie tinha voltado dos


mortos e me feito de trouxa por muito tempo.

Era uma merda tudo isso, toda a minha vida estava uma merda.

Depois de alguns minutos comecei a ver as luzes da cidade e logo a


frente, a placa que dizia:

Bem-vindo a Torrington.

População: 35.903 habitantes.

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Era surreal. Nunca me imaginei dirigindo até uma cidade como essa,
ainda mais com essa quantidade de habitantes. Era simplesmente
inacreditável para quem cresceu nas ruas movimentadas de Boston, com mais
de meio milhão de pessoas.

Logo depois da placa, já era a avenida principal da cidade, que estava


bem iluminada, dando uma boa noção das casas ao redor. Era uma cidade
pequena e por isso as casas eram todas no mesmo estilo “interiorano”,
simples e aconchegantes, sem muito enfeite ou demonstração de riqueza. Era
um lugar bom para se viver caso gostasse da calmaria. Como eu não era desse
tipo, então tinha que passar longe.

Gostava de poder ir aos lugares de madrugada e gostava mais ainda


de andar pela cidade vendo todas as coisas abertas, como se fosse horário
comercial. Parecia que tudo tinha vida, uma cidade que não dormia.

Como se fosse uma necessidade, olhei para o lado oposto da avenida e


vi uma mulher sentada no meio fio. Automaticamente minha mente já sabia
quem era, meu corpo sentia isso, era tudo em resposta a presença dela. Eu
realmente não sabia ao certo o que sentia, mas se precisar de alguém e se
importar com ela não fosse uma forma de amor, eu não sabia o que mais
seria.

Fiz o retorno na própria avenida e acelerei em direção a ela.

Tinha a cabeça sobre as mãos e eu podia apostar que estava chorando,


o que fazia meu coração se apertar com a ideia. — Eu nunca senti isso, era
tão estranho pra mim.

Parei o carro perto dela e desci correndo, com o desespero aflorando


por baixo da minha camada de homem durão. Eu nunca conseguiria vê-la
assim e não me afetar. Parecia que a minha felicidade dependia da sua, o que
eu suspeitava ser verdade.

Nós compartilhamos as coisas por quase um ano, e se eu não gostasse


dela nem um pouco, nem de longe ficaria por todo esse tempo somente com
ela.

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Depois de tudo aquilo que tinha acontecido comigo, eu passei a ficar
com muitas mulheres, no intuito de sentir a mesma coisa que eu tinha sentido
quando estava com a Lettie. Mas com o tempo fui percebendo que isso não
mudaria, não importava com quantas mulheres eu tentasse voltar a ser eu
mesmo...

E foi quando conheci Rose...

Aos poucos ela foi se infiltrando por entre todas as minhas armaduras
e forças para manter as coisas guardadas sobre a pele; eu comecei a me sentir
importante novamente, e sempre foi isso o que busquei, alguém que se
importasse verdadeiramente comigo.

Aninhei-a em meus braços e levantei-a gentilmente, levando logo em


seguida para o banco do passageiro. Eu não me importava com o que ela veio
fazer aqui, se isso a deixava assim, ela voltaria comigo agora mesmo.

Rose estava em outro mundo, ela não falou nada, não esboçou
nenhuma reação e eu podia ver as lágrimas descendo pela sua face.

Porra, ela estava me matando de preocupação, era difícil não saber o


que fazer para aplacar toda a sua tristeza.

— Rose, fala comigo?

Nada. Absolutamente nada.

Merda.

Eu estava ficando desesperado sem saber o que fazer... Nunca a tinha


visto assim, era como se uma faca fosse cravada em mim toda vez que seu
rosto era atingido por mais uma lágrima.

— Me solta! Seu desgraçado!

Ela não falava comigo, estava presa em alguma memória


perturbadora. Agora, o que eu faria para tirá-la de lá? Era a incógnita.

— Rose, sou eu, Allan... Fica calma.


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Ela continuou se debatendo como se sua vida dependesse disso e a
cada movimento que ela fazia, a dor que se formava em mim aumentava.

Eu encontraria quem fez isso a ela e faria essa pessoa pagar. Seria a
minha meta de vida daqui por diante. Uma pessoa não pode fazer o que ele
fez a ela e sair impune. Eu garantiria que sofrer fosse a menor de suas
preocupações. Não gostava de agir com violência para resolver as coisas, mas
dessa vez eu abriria uma exceção.

Rose começou a respirar mais calma, e o alívio foi me invadindo aos


poucos. Ela estava melhorando... — Pelo menos isso!

Seu corpo tremia suavemente e o choro que antes era uma torrente de
lágrimas, descia vagarosamente pelo seu rosto... O que eu desconfiava ser um
bom sinal.

— Allan... Me de-de-desculpe. Eu estava só lembrando de algumas


coisas.

Passei a mão pelo seu rosto, enxugando as lágrimas e olhei-a com


afeto. Ela não precisava se desculpar por nada. Quem deveria se desculpar ali
era somente eu, por tê-la feito sofrer. Eu era um idiota as vezes, e
infelizmente ela presenciou um desses momentos.

— Tá tudo bem, Rose. Quem deve pedir desculpas sou eu, você não
tem culpa de nada.

— Eu sempre tenho culpa.

Suspeitava que ela não estava falando da nossa relação, na verdade


era uma certeza. Rose tinha seus demônios, e alguma coisa hoje havia feito
com que eles se libertassem sorrateiramente, a deixando assim.

— Você pode me contar o que aconteceu?

— Não.

— Eu vou acabar descobrindo, Rose... Não seria melhor eu já saber


por você?
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— Eu realmente não quero falar sobre isso, Allan.

Fiquei olhando a rua, sem deixar transparecer a raiva que sentia. Eu


mataria o culpado por isso e mataria com gosto.

— Vou respeitar. Mas sabe que pode contar comigo, não sabe?

Ela balançou a cabeça em confirmação e continuou me olhando, como


se eu fosse tudo o que ela queria ver no momento.

— Me leva em um lugar, por favor?

— Claro, só me diga o caminho.

Liguei o carro e fui seguindo as suas orientações. Não fazia a menor


ideia para onde estávamos indo, mas eu confiava nela, então qualquer lugar
que ela quisesse, eu a levaria.

Paramos em frente a uma casa, não muito longe da avenida e Rose


desceu de forma automática, me deixando duvidoso e pensando se ela
realmente estava bem.

Deveria ter descido com ela, mas talvez ela não me quisesse ali, e
pelo menos isso eu respeitaria.

Esperei só alguns minutos, enquanto via as luzes se acendendo na


casa, mostrando o caminho que ela fazia. Se ela estivesse se preparando para
ir embora, melhor, eu a levaria até em casa e ficaria com ela até que sentisse
sua melhora. E se possível, nunca mais a deixaria vir até essa cidade, com
certeza aqui era a origem dos problemas.

Vi um carro passando vagarosamente pela rua, vindo diretamente na


minha direção. Não consegui ver quem dirigia, o vidro era totalmente escuro,
mas pude perceber a sua hesitação em frente à casa da Rose.

Podia até ser um erro meu, mas aquilo não me cheirava nada bem.
Decidi descer e entrar, já estava ali mesmo, duvidava que Rose ficaria tão
brava comigo por entrar dessa forma.
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Ficar ali fora era entediante.

Eu odiava esperar, esse era meu maior defeito.

Abri a porta da frente e fui em direção ao quarto no final do corredor,


onde a luz estava acesa, e eu conseguia ouvi-la conversando. Olhei os
quadros na parede, com as várias fases da Rose, bebê, criança, adolescente e
uma adulta, como estava agora.

Aquela foto poderia muito bem ter sido tirada há uns bons anos, mas
ela permanecia do mesmo jeito, fenomenal. O que já era de se esperar.

Quando empurrei um pouco a porta para poder entrar, vi que tinha


alguém na cama e que essa pessoa era a cara da mulher ao lado dela.

Puta merda...

Rose estava aqui por ela e agora eu entendia o motivo para ficar na
cidade...

Sua mãe estava morrendo...

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Vi que Allan entrou no quarto bem na hora em que eu tentava explicar
para minha mãe que eu não seria capaz de continuar com àquilo, explicar que
eu não era forte o bastante para enfrentar meus medos.

Minha mãe me fitava com um olhar cansado e dolorido, o tipo de


olhar de quem já não tinha nenhuma esperança de vida, e sinceramente, eu
também já não tinha.

Seria muito errado falar que eu já estava preparada para a sua partida?
Porque eu simplesmente sabia que não tinha mais o que fazer. Se acaso
tivesse descoberto no começo de tudo, com certeza ela teria chances de
aproveitar o restante da vida, mas como somente agora tudo veio à tona, eu
sabia que todas as oportunidades já tinham passado.

Conforme Allan entrava mais no quarto, eu conseguia sentir seu olhar


piedoso cair sobre mim. E odiava isso profundamente...

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Não queria a piedade de ninguém, ela não me servia para nada, nunca
tinha servido...

Ele ficou quieto e ouvi a sua respiração pesarosa.

Agora que ele sabia, poderia sair correndo que eu não me importaria.

Tinha aprendido muitas coisas na vida e uma delas era que não
importava o que estivesse passando, você tem que seguir em frente e
enfrentar. Exatamente nessa ordem, até porque, seria impossível enfrentar e
depois seguir em frente com as feridas ainda abertas, pelo menos eu não era
tão forte a esse ponto.

Forte ao ponto de enfrentar o amargor enquanto ele ainda rodeava


minha boca.

— Pode ir embora agora.

Os soluços vieram novamente até a minha garganta, como se tivessem


sido chamados pela dor que eu estava sentindo. Mas dessa vez eu não
chorava por nenhum homem, chorava pela minha vida, pela minha mãe e
pelos meus medos. Que pareciam ser bem maiores do que a minha vontade
de fazer alguma coisa.

Mamãe olhou com aquele semblante fraco entre nós dois, como se
percebesse algo que não havíamos percebido. Não fazia a menor ideia do que
se passava na sua cabeça e sinceramente estava emocionalmente abalada para
sequer cogitar perguntar.

O silêncio algumas vezes era uma bênção e em outras um inferno.


Pode as duas opções se encaixarem em uma só? Sim, claro que pode. Aquela
situação estava assim, me deixando feliz e preocupada consequentemente.

— Eu preciso ir. Vou participar do All Star amanhã, mas eu vou


voltar, Rose. Se quiser ir comigo, eu te trago de volta assim que sair de lá.

Olhei para ele e realmente parecia que não se importava com tudo
aquilo ali.

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Podia até pensar que seria mais fácil lidar dessa forma, quando ele apenas
queria me levar junto, mas eu tinha que ficar com a minha mãe até o último
suspiro, senão nunca me perdoaria. Eu aproveitaria ao máximo, até onde eu
conseguisse. Porque depois disso, eu não teria mais nada. Seria só eu e o
mundo, com uma carga imensa a suportar, sem ter ninguém com quem
compartilhar.

Meu corpo inteiro entrou em choque. — “Eu ficaria sozinha.”

Sozinha.

Achava que estava sozinha até agora, mas percebia que eu tinha uma
casa para voltar caso as coisas não dessem certo...

E agora?

Eu não teria mais uma casa para chamar de minha, com alguém à
minha espera.

O peso dessa verdade caiu sobre mim e o desespero ameaçou tomar


conta novamente, mas eu não deixaria, não desta vez. Seria a mesma coisa
que sofrer por antecipação.

— Eu vou ficar.

— Eu imaginei. Fico até quando der...

Ele tinha que treinar, eu sabia, mas a vontade de ficar na companhia


de alguém era tão forte que o egoísmo simplesmente veio à tona, deixando
com que ele ficasse o tempo que quisesse permanecer ali comigo.

— Se quiser ir, pode ir... Tem que treinar.

— Sim, eu tenho. Josh com certeza vai começar daqui umas três horas
a se preparar. A Bia deve estar maluca.

Claro que ela estava maluca. O All Star reunia as maiores estrelas
atuais, um verdadeiro jogo de fama. Quem não ficaria maluca com o seu
marido participando de um negócio desses? Ainda mais sendo o Currey!
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Lembro até dela exagerando quando uma torcedora arrancou o top e
jogou para ele enquanto estava no banco. A Bia quase foi atrás da mulher se
eu não a segurasse. E o pior de tudo foi a cara de desespero dele! Como se
depois do jogo fosse morrer de forma bem cruel. — O que eu suspeitava ser
verdade, porque ele não conseguiu evitar olhar para a mulher sem top,
somente com uma blusa branca transparente... Coitado.

Não conseguia nem imaginar como ele saiu por cima dessa.

Agora imagina tudo isso em um lugar com os mais famosos jogadores


de basquete da atualidade? Sim, as pessoas seriam muito mais malucas.

Allan disse que o Josh começaria a treinar dali algumas horas e foi
quando eu percebi que já era madrugada. Quanto tempo eu tinha ficado
chorando na calçada, afinal?

Havia perdido totalmente a noção de tempo.

— Ela tá muito brava comigo sabia? Ameaçou cortar minhas bolas e


jogar pro Jordan!

Jordan era o cachorro da Lily. Que coincidentemente chamava Jordan


por causa do jogador, claro. Suspeitava que esse não tinha sido um nome
dado pela Bia, muito menos pela Lily que ainda era um bebê...

Imaginei a cena do labrador mastigando e sorri, não consegui evitar,


seria uma cena engraçada.

— Você dá risada porque não viu a minha cara de pânico na hora que
ela disse isso. Ela falou e apontou o dedo na minha cara, fazendo com que o
rosto inteiro expressasse raiva. Foi aterrorizante!

Bia era baixa perto desses caras, mas tinha um senso de tamanho
gigante quando ficava brava. E o mais engraçado era que eles comiam na
mão dela. Parecia uma mãezona, controlando cinco crianças: Josh, Allan,
Silas e os seus dois filhos.

— Você diz isso, mas a ama demais.

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— Não mais que você, até porque, quem me mataria seria o Josh. Bia
é o quarto homem do grupo, sabe como é!

Sorrimos um para o outro, deixando o ambiente um pouco menos


pesado. Sabendo que logo ele teria que ir e eu ficar. Pelo menos agora ele
sabia onde eu estava e voltaria.

Voltaria para mim.

— Acho melhor eu ir...

— Eu sei...

— Eu vou voltar, gata... Em um piscar de olhos. Eu sempre acabo


voltando pra você.

Eu mal consegui raciocinar quando percebi que ele já tinha partido.


Deixando aquele perfume invadindo o ambiente, como se fosse veneno
prestes a asfixiar alguém. Qualquer um sabia quando ele passava em um
lugar, parecia que ele deixava uma parte dele para marcar território, onde
aquela aura ficava preenchendo o ambiente, não deixando espaço para
qualquer outra coisa.

Eu não era nenhuma idiota, já pressentia que ele levaria meu coração
embora junto com ele, quebrando tudo e todos no processo.

Ele era assim, tudo ou nada.

Um exemplo claro de macho alfa. A única coisa que eu não sabia era
se estava preparada para continuar com um homem assim. Já estava
fragilizada com tudo o que tinha me acontecido, e não teria forças para me
consertar depois que ele me arruinasse.

Conseguia sentir ele se infiltrando nas minhas barreiras com cada


gesto de carinho, parecendo que sabia exatamente como me controlar e me
tratar. Falava as coisas na hora certa, fazia as coisas em horas mais certas
ainda... E... sim... eu estava perdida...

Desde o dia em que fui com a Bia naquele jogo, eu estava perdida.
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Só não sabia se eu teria a mesma sorte que ela. Na verdade, só torcia
para não ter um coração despedaçado.

Eu não seria tão forte dessa vez...

Fiquei ali, vendo o tempo correr contra mim, enquanto eu torcia


silenciosamente para que ele realmente voltasse... Para que ele realmente se
importasse comigo.

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A babá eletrônica começou a soltar ruídos agonizantes na cabeceira da
cama e por um momento, apenas um momento, me permiti pensar que estava
tendo um pesadelo e que não teria que me levantar de madrugada para fazer
sabe se lá o quê que a Lily queria. Minha filha tinha hábitos noturnos,
dormindo o dia quase todo, mas a noite...

Estava considerando que realmente dormir era para os fracos.

Cheguei até a implorar para Deus que ela dormisse no mínimo quatro
horas por noite, mas nada parecia funcionar... O homem lá de cima estava me
ignorando, agora que tinha deixado a sorte grande na minha porta. E sim, eu
estava mesmo pedindo demais, mas não me custava nada tentar.

Levantei cambaleante da cama, tropeçando em todos os cantos


possíveis do quarto. Esses cantos só serviam para isso: tropeçar.

Abri a porta e fui acendendo todas as luzes pelo caminho, odiava o

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escuro. Posso até ser uma idiota por isso, mas eu realmente odiava o escuro.

Quem sabe o que habita na escuridão?

Durante a madrugada eu ficava me perguntando o porquê de o quarto


das crianças serem tão longe do meu... Ou talvez fosse somente a sonolência
que fazia tudo parecer tão infinito.

Enquanto chegava perto não ouvi mais choro, acho que por um
milagre divino ela tinha voltado a dormir, mas fui até lá mesmo assim,
somente para conferir. Deixando de acender a luz daquele corredor, para
evitar acordá-la se tivesse voltado a dormir.

A porta estava um pouco aberta e percebi o motivo dela estar tão


quieta. Josh a tinha pegado e estava trocando a sua fralda, sorrindo de forma
descontraída, como se aquela fosse sua tarefa preferida.

Collin por outro lado, dormia serenamente, como se nada no mundo


fosse capaz de abalar o seu sono.

Já haviam se passado sete meses desde o acontecido e eu não


conseguia me imaginar mais sem meu filho, ele tinha uma metade do meu
coração, assim como Lily tinha a outra.

— Você queria acordar a mamãe, não é?

Ele fazia cócegas na barriga dela e ela ria de forma desavergonhada.


Podia jurar que seria uma cópia do pai...

— Só que você tem que saber que ela fica com um humor infernal de
madrugada! E depois sobra pro papai aguentar! Vamos ter um pouco de
piedade com seu velho, vamos?

Ele falava como se ela fosse capaz de responder, mas uma coisa eu
tinha que admitir, toda vez que ele falava com ela, Lily ficava quieta e
prestava atenção na sua voz. Era uma mocinha muito esperta.

— Que tal sentarmos para tirar uma soneca?

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Ele a pegou no colo e levou até a poltrona no canto do quarto, nem se
dando conta da intrusa que observava tudo. Aconchegou-se a Lily e caiu no
sono, mantendo-a presa nos seus braços.

Eu chorava de felicidade enquanto observava a cena. Jamais imaginei


que tudo isso aconteceria na minha vida, e se alguém me perguntasse o que
eu mudaria se pudesse, com certeza, diria que nada. Era mais feliz do que
julgava ser capaz.

Voltei até nosso quarto, deixando-os sozinhos, sabendo que ambos


estavam em boas mãos.

E me permiti dormir, porque se Collin ou Lily chorassem, o pai deles


estaria lá para niná-los.

Os raios de sol invadiam o quarto, como se falassem: acordaaaa,


acordaaaa!

Josh sempre abria as cortinas antes que eu acordasse, desconfiava que


me ver irritada era a sua meta.

— Josh, fecha essa porcaria de cortina!

Silêncio... Muito silêncio...

Isso não era comum.

Criei coragem para sair da cama e ir até o andar de baixo, ver o que
estava acontecendo e quando cheguei na cozinha a única pessoa que vi foi a
Gloria, que dava o café da manhã do Collin, enquanto Lily estava no carrinho
bem ao lado, dormindo serenamente, como se o dia fosse perfeito para essa
tarefa.

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Por isso essa garota não dormia a noite como devia.

— Cadê o Josh?

— No treino.

“Minha nossa! Eu esqueci completamente do jogo de hoje. Por isso


ele estava acordado àquela hora da madrugada. Geralmente ele ficava muito
nervoso em uma noite que antecedia um jogo e acabava não dormindo muito
bem.

Melhor pra mim, que havia dormido como um anjo, com ele cuidando
das crianças.

— Ele falou que horas volta?

— Disse que antes das quatro. Quer ir junto com você até o estádio.

Olhei para o relógio, vendo que já eram onze horas da manhã. Nunca
tinha dormido até tão tarde assim, era rejuvenescedor.

Comi um pouco de ovos mexidos e peguei Collin no colo, puxando o


carrinho da Lily, levando-os ao jardim que margeava a mansão.

Caminhei um pouco com os dois, observando a natureza ao meu


redor.

Era tudo tão tranquilo e revigorante que eu podia ficar por ali o dia
inteiro. Aquela era uma das minhas partes favoritas, poder andar sem me
preocupar com os flashes.

Fui até o cercado do Jordan e soltei ele para poder dar um passeio
também. Josh tinha usado a Lily como desculpa para ter um cachorro, mas
ela só tinha dois meses de vida e não fazia a menor ideia do que era ter um
cachorro.

Meus pensamentos voaram para minha amiga que não havia dado
notícias. Não conseguia ficar tranquila no que se tratava da Rose. Eu sabia
que ela tinha seus segredos, mas as vezes precisamos aliviar a carga deles,
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dividir com pessoas que nos amavam era uma boa opção... E mesmo ela não
sabendo, eu, Josh, Silas e o Allan a amávamos muito. Ela era parte da
família, não a de sangue, mas do coração e tinha que saber lidar com isso.

Fiquei um bom tempo no jardim só pensando nas coisas, querendo


mudar algumas que realmente eram complicadas.

O dia passou voando e quando vi, Josh já estava de volta. E muito


nervoso por sinal.

— Sério que você vai com esse vestido? — Fiz cara de inocente,
sabendo muito bem o que ele queria dizer.

— O que tem ele?

— Nada, não cobre exatamente nada!

— Para com isso senhor Currey, sabe muito bem que tenho um anel
que pesa no meu dedo.

Ele deu um sorriso convencido, que mexia com todas as minhas


estruturas, me fazendo parecer uma idiota apaixonada. Todas as vezes
pareciam a primeira, como se nosso amor fosse renovado a cada manhã.

— Você me aceitou assim, não tenho culpa. Agora vamos, senão


chegaremos atrasados.

Chamei Gloria e seguimos até a garagem, com Josh carregando a Lily


e eu o Collin.

Quem um dia pensaria que um homem daquele tamanho seria um pai


tão amoroso? Eu tinha que admitir que não achava.

Prendemos as crianças nos assentos especiais para elas, com a Gloria


sentando entre os dois. Fazendo o papel de anjo da guarda dos nossos dois
amores.

Queria tanto que Collin tivesse um futuro brilhante, independente do


seu passado e por isso eu sempre o fazia sentir o amor que tínhamos por ele.
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Talvez por me sentir culpada por tudo o que aconteceu, não sabia ao certo,
mas simplesmente me preocupava demais com o psicológico dele.

Chegamos no ginásio e entramos diretamente pelo estacionamento da


equipe. Vi o Porsche do Allan parado em uma das vagas e já imaginei que
estivesse sozinho. Se Rose estivesse ali, com certeza teria ido me ver.

Melhor pensar assim pelo menos...

Sentamos na arquibancada enquanto Josh seguia pro vestiário. Dessa


vez o clima era mais descontraído, até porquê, nossos assentos eram atrás do
da equipe, deixando-nos com uma visão espetacular da quadra.

Esse era um dos benefícios de ser casada com um dos astros da liga.

As apresentações para o grande jogo começaram e como sempre, Josh


era o último.

— O maior cestinha de toda a liga! O mais temido da quadra e


grande campeão da temporada! Lhes apresento: Josh Curreeeeeeey, do
Boston Globe para o All Star Game!

O telão se abriu e ele saiu, dançando e hipnotizando todos.

Ele era o melhor. Simplesmente o melhor.

Aquela abertura do All Star era de arrepiar e encantar qualquer


apreciador de basquete. Como não amar aquilo?

Somando então com a minha paixão por ele, se tornava fascinante.

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Quando estava me preparando para subir no palco, encontrei com
Josh por ali. Não queria ficar falando muito, senão ele perceberia que eu não
estava bem. Tanta coisa fervilhava na minha mente... Tanta coisa em que
pensar.

Ele bateu nas minhas costas e eu sabia que não perguntaria nada, mas
o grande problema era a ruiva que estava na arquibancada, só esperando um
momento para me fuzilar. Aquela mulher sim não tinha piedade. Ainda mais
quando se tratava da sua amiga.

— Sai rápido. E quando digo rápido, é rápido mesmo. Porque se ela te


pegar, camarada, não poderei fazer nada para te defender.

Dei um sorriso fraco, sabendo do que ele estava falando. E realmente


grato por entender a minha situação. Josh tentaria enrolar a Bia, eu tinha
certeza, e era por isso que éramos tão parceiros.

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— Consegue cinco minutos?

— Acho que sim. — Deu de ombros e gargalhou.

A Bia ficaria furiosa quando percebesse o que ele tinha feito. O cara
era corajoso... pra caralho!

Subi as escadas para o palco de apresentação assim que ouvi meu


nome pelos autos falantes. Não conseguia sorrir, com um mar de revolta se
formando dentro de mim a cada vez que eu pensava na Rose.

Alguém tinha feito algo com ela e eu descobriria, mesmo ela não
querendo.

Sabia que o jeito de mulher forte dela não tinha surgido do nada, mas
quando se gosta de alguém, você não quer pensar nas coisas ruins pelas quais
ela teve que passar. Só isso já seria capaz de deixar o cara mais calmo do
mundo revoltado e com sede de vingança. Ainda mais eu, um cara da
periferia, um cara que não levava desaforo pra casa.

Conforme subia as escadas, conseguia ouvir as pessoas gritando.

O All Star era um evento e tanto. No ano passado eu realmente adorei


participar, mas esse ano eu só pensava em ir embora e resolver minha vida.
Sabia que meu desempenho não seria dos melhores, já que se concentrar em
uma bola quicando e voando várias vezes seria quase impossível.

As pessoas sempre têm dias ruins e bons e eu estava no meu dia


horrível.

Passei pelas animadoras que dançavam a mesma coreografia e nem


olhei para o lado, nenhum sorriso enfeitava minha expressão.

Hoje, eu simplesmente estava incapaz de demonstrar algo que eu não


era.

Desci os degraus à minha frente, que levavam diretamente para o


meio da quadra, onde os primeiros jogadores a serem chamados já se
encontravam. Toquei em algumas mãos em forma de cumprimento, mas nem
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de longe me liguei quem era.

Allan James não seria o James, seria apenas o Allan nesse jogo. O
cara que tinha uma vida por trás de tudo aquilo, a pessoa que errava assim
como as outras, o humano que tinha alguém especial por quem lutar, assim
como a galera ocupando cada assento daquele ginásio.

Era tão errado tentar ser feliz? Era tão ferrado ser alguém melhor para
uma pessoa melhor?

Nunca pensei que fosse me sentir assim novamente, mas tinha que
admitir que muitas das coisas que fiz para me proteger, pareciam totalmente
sem sentido agora. Tudo estava tão cinza, que enxergar um arco íris seria
praticamente um milagre.

Rose não voltaria para mim, eu vi isso nos olhos dela. Ela ainda não
queria sofrer e eu a entendia completamente. Eu também não ficaria comigo;
não nos últimos anos, pelo menos.

Mas queria saber o que tinha acontecido com ela. E não era por
egoísmo ou curiosidade... Eu queria ajudá-la, faria de tudo por isso.

Era perceptível o quanto sofria e isso me atormentava.

Parei do lado dos caras mais fodas do basquete, me senti orgulhoso.


Aquilo era um feito, estar entre os melhores dos melhores. Qualquer pessoa
ficaria no mínimo feliz com isso e comigo não era diferente. Porém, hoje não
era realmente o dia mais propício.

Seria um mentiroso se dissesse que nunca sonhei com isso. Mas,


acreditar de verdade que eu pudesse alcançar tanto, jamais.

Assistia os jogos quando era criança e tinha meus ídolos, homens que
eu imaginava serem inatingíveis naquela época, e qual não foi a minha
surpresa quando quebrei alguns dos recordes dos caras que eu admirava?

Depois de perceber o quanto eu podia ser melhor, só o que fiz foi me


aperfeiçoar, acreditar em mim e na minha capacidade.

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Quando o jogo começou foi realmente comprovado que eu não estava
com a mente ali. Perdi tantas bolas que não conseguia nem contar. Se os
caras pudessem me matar, com certeza o teriam feito.

Eu estava uma merda, uma verdadeira merda ambulante.

As pessoas ficavam torcendo nos assentos, como se isso fosse me


fazer melhorar.

Mal sabiam elas.

Era tão difícil não deixar que aquilo me afetasse em quadra, que eu
sinceramente estava me sentindo pressionado por uma coisa fora da minha
capacidade.

Por isso, quando o jogo finalmente acabou, seria errado dizer o quanto
estava aliviado? Aquele era o primeiro de muitos, conferência leste contra
conferência oeste, não era particularmente o jogo mais importante, mas ainda
assim era bom vencer. Os caras do time se esforçaram quando viram que eu
estava morto e o resultado disso é que tínhamos ganhado, por pouca
diferença, mas isso não mudava o fato da pontuação ter sido maior.

Cheguei na garagem bem antes dos repórteres pensarem em dizer


alguma coisa. Passei como um furacão por eles e me movi como um
fantasma entre a equipe técnica.

Sem piadas sem graça hoje.

Passaria no apartamento, tomaria um banho e veria como a Rose


estava. Mas sabe quando os planos não dão certo? Exatamente. Algumas
coisas não devemos planejar, devemos simplesmente fazer...

Quando abri a porta, percebi que tinha algo errado. Não precisava
nem ser muito esperto para imaginar quem era.

Lettie estava lá, eu tinha certeza.

Olhei todos os cômodos e não demorou muito para notar que ela
estava no banheiro, com o chuveiro ligado, provavelmente achando que
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invadir o apartamento de alguém era a coisa mais normal do mundo.

Porra!

Era muita palhaçada!

Como infernos ela tinha conseguido subir até ali?

Me mudaria assim que conseguisse, porque aquele edifício já não era


tão seguro quanto eu imaginava e não ficaria de forma nenhuma em um lugar
onde eu não pudesse confiar minha segurança.

Abri a porta do banheiro, fazendo com que ela batesse com tudo na
parede, deixando claro o meu humor negro.

Ela estava tomando banho, e o pior de tudo isso era saber que eu
ainda me sentia atraído por ela... Era mesmo um idiota completo...

Quando ela percebeu que eu a encarava, fez questão de se virar e ficar


de frente para mim. Essa filha da mãe tinha feito de propósito. Sabia que
querendo ou não nós ainda tínhamos uma história. Mesmo ela sendo uma
criminosa, uma pessoa que não tinha escrúpulos quando o assunto era
dinheiro, ela ainda tinha feito parte da minha vida. E só de pensar que um dia
eu me casaria com ela, algo em mim se revirava em raiva. Tanto por ela
quanto por mim, por ter acreditado cegamente em alguém que não valia
míseros centavos de dólar.

Meus olhos percorreram sua pele morena e se fixaram nos seus olhos
negros.

— O que está fazendo aqui?

— Pensei em te fazer uma surpresa, não gostou?

— SAIA DAQUI, LETTIE! – Gritei, perdendo completamente o fio


de paciência que acreditava ainda ter.

— Por que está bravo?

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— PORRA! CAI FORA, VOCÊ ESTÁ SURDA? DESAPARECE!
SOME DAQUI!

Peguei suas roupas que estavam no chão, perto do box do banheiro e


joguei com tudo no vidro. Deixando claro que o plano dela não tinha dado
certo.

Até quando aquela desgraçada ficaria me perseguindo? Já não bastava


todos aqueles anos de merda em que eu vivi me sentindo culpado?

Ah, mas agora não. Eu já estava farto de todo esse maldito carma!

— Tem certeza? — Ela veio até mim e passou a mão em meu braço,
com uma voz melosa, tentando a todo custo me seduzir.

Automaticamente fechei meus olhos, evocando toda a minha força


interna para afastar aquele toque que antes me fazia tão bem.

— Vai embora Lettie. Por favor.

Minhas convicções estavam caindo e eu não sabia se seria forte o


suficiente para mantê-las erguidas.

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“Ai meu Poderoooooso! Que assassinato foi aquele com a minha
libido?

Tinha tanto homem bonito naquele jogo que eu quase tirei a roupa e
saí gritando: “— Por favor, me comam! Ai Anacondas me comam!”. Olha
eu causando os tumultos de novo!

Quem foi naquele jogo sabe do que essa reles mortal está falando, e
sabem muito bem! Aqueles shorts só nos deixam com a imaginação lá na
camada de ozônio. Senhoooor e como deixam!

Alguém me diz para eu parar de babar? Fazendo o favor?

Não consigo nem contar as notícias direito, estou abalada, morta,


completamente enterrada, com as duas horas mais quentes da minha vida! E
sabem o que é pior? Ver a Diva C. com um vestido lacrador, mostrando que
celulites são para as mortais. Isso foi demais para o meu ego. Vou pro

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Doutor Hollywood! Vocês fazem uma doação para essa pobre alma poder
conquistar o sonho dela?

Tá bom, parei com essa conversa sem sentido. Sou uma pessoa que
vive sofrendo, tenham piedade de mim!

Nas arquibancadas só se viam os artistas nível inalcançável, e na


quadra os jogadores mais “fodásticos” que eu já vi. Era muita coisa em que
pensar, eu sinceramente perdi meus parafusos. Se acharem lá no ginásio,
façam a gentileza de devolver, são exclusivos para mim!

Lily C. compareceu, no colo da mãe, claro, e fez com que várias


pessoas a sua volta ficassem eufóricas em ver a grande herdeira de tão
perto, assim como o herdeiro, inquieto, ao seu lado. A única coisa estranha
foi a Megan Fox falsa não aparecer e o Jamesconda ficar deprimido durante
o jogo. Aí tem confusão pessoas, e acreditem em mim quando digo isso! Essa
vadia louca (vulgo eu) nunca erra nas premonições!

Impressão minha ou essa fofoca ficou grande? Isso porque nem ousei
falar tudo. Receio que tenha que ficar para a próxima, senão meu editor me
mata e joga no mar sem bote salva vidas!

Nossa como estou dramática hoje, melhor ficar por aqui!”

Tudo sobre astros por: Stephen Pharrell

Será que ele ficaria feliz com a surpresa? Eu sabia que era errado
deixar minha mãe sozinha agora, mas ela me fez prometer que eu seguiria
meu caminho e tentaria ser feliz, e eu estava fazendo exatamente isso. Ela
tinha usado o pouco de forças que ainda tinha para me fazer acreditar que eu
era capaz, para não me deixar abalar por um passado que não voltaria.

Eu fiquei um bom tempo pensando se essa seria uma boa hora para
isso. Mas, poderia não ter uma chance futuramente, ninguém sabe o que pode
acontecer a sua frente e por isso é sempre bom se arriscar enquanto você sabe
que é capaz.

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Peguei o primeiro ônibus que vi em direção a Boston, pensando que
finalmente eu estava resolvendo a minha vida, tentando superar os traumas
que há tanto tempo me assombravam, e que eu não estava errada por fazer
isso.

O que as pessoas têm que enfiar na cabeça é que as coisas só te


deixarão mal se você permitir. Todos temos algo na vida que precisamos
superar, e o fazer é apenas um sinal do quanto se é forte e preza viver.

Logo depois de ter sofrido tanto, eu me sentia a pessoa mais suja do


universo. Não queria comer, não queria tomar água, não queria viver. Até que
minha mãe me disse algo que ficou martelando na minha cabeça e me deu a
única vontade de mudar aquilo.

“As coisas só te deixarão mal se deixar que elas o façam. Você está
mais forte Rose, siga em frente, vá atrás de fazer o que quer para ser feliz.
Porque quando se tem a felicidade, nenhuma coisa ou lembrança é capaz de
apagá-la”.

Eu iria seguir seu conselho. Nada na vida nos vem de mão beijada e
se eu precisasse afirmar para aquele cabeça dura que podíamos tentar
novamente, eu faria isso. Ele estava mais perdido do que eu, não fazia a
menor ideia do que tinha acontecido com ele, assim como não fazia sobre o
que tinha acontecido comigo.

Se eu começasse a desabafar, contar os meus temores, ele poderia


contar os dele. E assim poderíamos superar juntos.

Não precisava de um status de namorada para saber que ele gostava


de mim. Allan era do tipo “ações” e não falava eu te amo à toa; o que só o
deixava mais confiável quando o fizesse. Pessoas que saem falando na
primeira oportunidade eram as primeiras a te apunhalar pelas costas.

Amar é tão forte e puro, que fingir o sentimento, jogando as palavras


ao vento, deveria ser considerado crime.

Muitas palavras machucam mais do que ações e essas são assim: um


eu te amo dito sem profundidade, machucava muito mais do que um tapa...
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Porque ele atinge diretamente o coração e não é fácil recuperar um coração
quando ele se parte em mil pedaços.

Encostei minha cabeça no vidro gelado do ônibus e fiquei pensando


em quanto o destino era traiçoeiro. Bia não imaginava que aquele jogo
mudaria a vida dela totalmente, que ela poderia ter seu sonho realizado assim
de uma hora pra outra. E eu então? Nunca imaginei conhecer alguém como o
Allan justamente quando a minha amiga agarraria o homem que ela tanto
queria.

Foi um tremendo choque quando as coisas começaram a se desenrolar


entre a gente, e quando percebi, já estava dormindo no seu apartamento ou
ele no meu, e não tinha medo disso.

Quando fomos para a cama a primeira vez, eu não senti nada além de
prazer. Sempre achei que a próxima vez em que tivesse relações com alguém,
as lembranças daquela noite tenebrosa fossem voltar na minha mente. Mas o
Allan simplesmente me fez esquecer aquilo e sabia que algumas vezes ainda
ficava receosa com o ato em si, mas nada que não conseguisse superar.
Agradecia aos céus toda vez que dormia em seus braços por saber que era
raro encontrar um homem que te fizesse superar os medos e se entregar por
inteiro. Assim como Allan fazia comigo.

Aquele dia no hospital foi a pior coisa que já tinha me acontecido


desde então. Os sonhos eram vividos, mas aquilo era muito mais e parecia
uma premonição, o que me deixou mais em choque.

Fazia muito tempo que eu não pensava em tudo aquilo. Quando


dormia com ele parecia que os pesadelos passavam bem longe da minha
cabeça. Como se Allan fosse o verdadeiro apanhador de sonhos e ficasse
sempre zelando pelo meu sono.

Então como ficar longe de alguém que me fazia sentir assim?


Protegida e especial? Realmente não tinha como. Allan fazia parte do meu
processo de salvação e isso era mais do que especial.

Mesmo que demorasse a falar o quanto me amava, ele fazia melhor,


ele demonstrava cada vez que me abraçava durante a noite. Cada vez que me
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olhava e beijava quando ganhava um jogo.

Por que eu ficaria me sentindo mal se ele sentia dificuldade para dizer
as palavras, quando ele abria seu coração pra mim?

Eu tinha sido uma tola por acabar com tudo aquilo apenas porque ele
não se abria como eu queria. As pessoas são singulares, Allan não era igual
ao Josh, que consequentemente era totalmente diferente do Silas. E isso era o
diferencial entre eles, cada um com o seu jeito completava as dificuldades do
outro. No amor então, ambos eram totalmente o inverso. Josh era do tipo:
“Você é minha, eu te amo pra sempre”; Allan estava mais para: “Ela é
minha gata, foda-se o resto”, e o Silas, bom, o Silas era mais: “Casa
comigo? Eu te farei a mulher mais feliz do mundo”.

Amavam de uma forma única e nem por isso um amava menos que o
outro.

Só tinha que fixar essa ideia na minha cabeça e apostar em uma


relação que eu sabia poder dar certo, mesmo que Allan nunca falasse nada
que eu queria ouvir.

Mas talvez perdesse a graça se ele o fizesse.

O percurso de Torrington até Boston nunca me pareceu tão longo.


Talvez pela decisão que eu tinha tomado, querendo colocá-la em prática o
mais rápido possível para não esquecer o que eu queria falar. Tudo estava
entalado na minha garganta, só esperando o melhor momento para se ver
livre.

Então, quando cheguei na cidade e olhei o horário para me certificar


de onde ele estaria, imaginei que estivesse em casa.

O jogo tinha acabado há apenas meia hora, mas a Bia havia me


mandado uma mensagem perguntando se eu estava bem e se tinha visto o
Allan. Presumindo, ela não conseguiu pegá-lo a tempo antes de sair e queria
saber qual era o estrago que ele havia feito em mim. Minha amiga tinha um
coração de ouro, sempre se preocupando com os outros e colocando-os acima
até mesmo do seu bem-estar.
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Pelo menos Allan ainda estava vivo, porque se a Bia tivesse
conseguido alcançá-lo, suspeitava que não teria sobrado nada para contar a
história.

Peguei um táxi até o prédio em que ficava seu apartamento e a cada


metro que eu ficava mais próxima, o nervosismo aumentava. Nunca me senti
tão preocupada com o que ele diria; se me mandasse embora dizendo que eu
não tinha nada a ver com seus problemas, me machucaria de uma forma
quase impossível de consertar.

O carro parou em frente ao grande edifício e eu já estava ensaiando a


nossa conversa, da melhor forma possível.

Passei pelo porteiro, que me cumprimentou de forma amável, apertei


o botão solicitando o elevador e esperei que ele chegasse ao térreo, roendo as
unhas por antecipação. Cada vez que eu ensaiava as palavras na minha mente
elas pareciam se embaralhar e sumir completamente. Por isso ninguém
conseguia dizer exatamente o que imaginava, querendo ou não, as coisas
parecem sumir da nossa mente com extrema facilidade.

Enquanto os números vermelhos passavam no pequeno visor que


mostrava o andar em que estava, mais meu coração se apertava. Eu liberaria
tudo o que estava guardado dentro de mim e esperava que ele fosse capaz de
suportar isso sem ceder ou ficar maluco.

Quando o elevador chegou finalmente ao andar do seu apartamento,


quase tive um infarto. Era agora ou nunca. Todo o meu futuro poderia ser
decidido nos próximos momentos e eu pensava estar preparada para isso.

Saí de cabeça baixa, tentando fazer com que a coragem de algumas


horas atrás voltasse com força total. Porém, quando levantei o rosto e me
deparei com uma mulher saindo do apartamento dele, tudo o que eu vinha
planejando virou pó.

Eu não conseguia acreditar que ele tinha feito aquilo comigo. Justo
quando eu contaria tudo pra ele... A única pessoa que eu havia decidido
confiar para carregar a dor comigo.

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Sentia meu peito ser dilacerado aos poucos, vendo o sorriso da mulher
quando ela passou por mim até o elevador.

Fiquei petrificada no lugar, não tinha mais o que fazer. Não tinha
mais para quem voltar, eu estava novamente sozinha no mundo e isso
machucava demais.

Quando Allan olhou pela porta do apartamento e me viu ali parada,


com os olhos vermelhos, sem deixar cair uma lágrima, eu imaginei que ele
estivesse se arrependendo daquilo, mas já era tarde demais. Eu conseguia ver
o desespero estampado na sua face, só que isso não mudava o que tinha
acabado de acontecer. Ele tinha me traído da pior forma que podia imaginar,
justamente quando eu fui ali para abrir minha alma.

Quando já sofremos o bastante na vida, não queremos que tudo


aconteça novamente e foi por isso que eu não disse nada, apenas virei as
costas e esperei pelo próximo elevador.

Um coração não podia se partir duas vezes, isso eu sabia, mas, e


quando ambas as vezes eram por motivos diferentes?

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Lettie se enxugava tranquilamente com a toalha, olhando-me como se
tivesse atingido seu objetivo. Estava agindo na minha casa, como se fosse a
dela, poluindo todas as minhas coisas com aquela aura de mentirosa que
tinha.

Aquela toalha seria a primeira coisa que eu jogaria no lixo, tinha


deixado uma marca sua naquele pedaço de pano e apenas esse pensamento já
era capaz de fazer o meu ódio por aquele objeto se tornar imenso. Em
seguida, arrumaria outro lugar para morar, veria com Josh a possibilidade de
ficar por um tempo em uma das suas propriedades, pelo menos, até conseguir
algo... E, por enquanto, evitaria aquele banheiro, tomaria banho no social ao
invés dali, completamente avesso à ideia de relembrar toda aquela merda.

Minha mãe, meu irmão e agora uma mulher que eu acreditava estar
morta.

Quando as coisas tinham começado a dar tão errado pra mim?


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Lettie continuou colocando a roupa lentamente e quando dei por mim
a paciência já tinha esgotado.

Peguei-a pelo braço levando em direção à porta, machucando um


pouco, mas eu sinceramente não estava pensando em nada, só em me livrar
dela. Tê-la ali era como regredir em tudo o que conquistei, como se nada no
futuro valesse a pena.

Ela era uma criminosa da pior espécie e eu não colaboraria com isso.
Ela seria acusada de falsidade ideológica entre outras coisas e não sairia ilesa
disso, porque quando o pai do Silas descobrisse que ela o havia enganado há
tanto tempo, faria questão de vê-la apodrecer.

E eu assistiria isso de camarote, batendo palmas.

Eu o conhecia somente pelo que meu amigo falava. Era um dos caras
mais influentes do país, tão influente que eu nunca chegaria nem perto. Era
dono de um império, uma empresa de cerveja mundialmente conhecida, que
tinha dado as costas ao filho quando o mesmo quis seguir o sonho de jogar
basquete. Expulsando Silas e fazendo com que ele nunca mais quisesse
nenhuma ligação com o seu progenitor, nem mesmo uma mísera mensagem.

Eu sabia que meu amigo ainda guardava as mágoas dessa época. Ele
não dizia nada, mas era que nem eu, tentava mascarar o sofrimento por trás
de uma falsa alegria, e fracassava visivelmente. Conhecia muito bem esse
tipo de armadura e sabia que algumas vezes ela funcionava, outras não, e
tínhamos que saber lidar quando todas as verdades vazavam.

— Me solta Jay, tá me machucando!

A empurrei, fazendo com que ela tropeçasse e caísse perto da porta na


entrada do apartamento. Não senti remorso quando vi sua feição de tristeza.
A única coisa que conseguia distinguir em meio a raiva que eu sentia daquela
mulher, era nojo. Nojo de mim mesmo por ter ficado com uma pessoa tão
falsa e sem escrúpulos.

— Vá embora e não volte nunca mais. Ou eu chamo a polícia e juro


por Deus, que vou ficar para vê-la algemada, e aplaudir que nem um
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condenado.

Eu não estava brincando e ela sabia disso. Se tinha uma coisa que ela
conhecia era a minha raiva, já tinha a visto muitas vezes desde que nos
conhecíamos por gente e sabia que todo o rancor que escorria pelas minhas
palavras era o mais cru e sincero que existia.

Letícia se levantou do chão e abriu a porta.

Não aguentaria nem mais um minuto com ela no mesmo ambiente que
eu. O ar estava uma merda, não entrava nos meus pulmões e muitas vezes,
parecia que eu tinha que me lembrar de respirar, mesmo sendo um ato
involuntário.

— Você ainda vai atrás de mim, Allan.

Vai sonhando que pra isso não paga nada.

— Só na sua cabeça.

Ela abriu a porta e eu fiquei um momento olhando para o chão, me


perguntando que porra ela queria dizer com aquilo.

Fui conferir se tinha mesmo ido embora e quando olhei para o


corredor, vi alguém que eu estava maluco pra ver, mas não agora, não quando
minha ex maluca tinha acabado de sair do meu apartamento.

Rose estava tentando confiar em mim e justo agora, com toda a


porcaria das nossas vidas envolvidas, ela aparecia.

Era muita falta de sorte.

Fugi da Bia e caí em uma cilada pior ainda. Só podia ser sacanagem.

Justo no momento em que a realidade tinha se apossado de mim, me


obrigando ir até ela, já bolando um plano mental de como me explicar sem
piorar minha situação, o que seria mais do que difícil julgando pelo olhar
magoado que ela me lançava, essa merda acontecia.

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Sinceramente, ela merecia coisa muito melhor que eu. Rose era
fantástica e ela precisava de alguém que mandasse seus medos embora e a
mantivesse protegida.

E como eu faria isso? Com a vida fodida que eu tinha?

O problema era que eu era egoísta demais, a queria pra mim, como
não me lembrava de já querer alguém antes e nem em sonho eu a deixaria
escapar pelas minhas mãos. Mesmo que eu precisasse dar um tempo pra ela,
deixa-la ir pra depois perceber que seu lugar era comigo e voltar.

Poderia estar atirando no escuro com isso e sinceramente, estava me


cagando de medo dela decidir ir embora de vez.

Mas eu era persistente e agora entendia que ela era uma parte
importante da minha vida. Não precisava deixar o passado entrar, eu
precisava deixar o presente permanecer, para poder criar um futuro.

E Rose era meu futuro, mesmo que eu não tivesse percebido isso
antes. — Puta merda, eu era o cara mais otário do mundo!

Josh tinha me dito para ponderar minhas prioridades. E eu achei que


tinha entendido o que ele disse. Só que Josh não o disse se referindo a Lettie,
disse se referindo ao jogo. Eu tinha que escolher o lugar que Rose ocuparia
na minha vida, abaixo do basquete ou acima dele. E eu tinha escolhido
errado. Um jogo era um jogo e eu poderia ter desistido daquele, poderia até
mesmo inventar uma desculpa. Isso acarretaria em um corte na próxima
temporada ou até mesmo em uma perda de contrato, mas eu teria ela comigo
e ainda tinham muitos times nos quais eu poderia jogar.

Fechei a porta do apartamento e me joguei no sofá da sala. Torcendo


para que tudo aquilo não passasse de um pesadelo horrível e sem graça. Não
iria atrás dela, Rose devia estar com a cabeça quente e meu desespero só
atrapalharia tudo.

Daria um tempo e depois veria o que poderia ser feito.

As fotos dela que eu tinha não chegavam nem perto da mulher que ela
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era, mas ainda passavam um pouco de tranquilidade para mim. Seu sorriso,
evidente em todas, massacrando meu coração com a saudade.

Fui até o quarto e peguei todas as minhas coisas, pelo menos as que
eu precisava para dar o fora dali. Saí e nem olhei para trás. Era a coisa mais
certa que eu já tinha feito em tanto tempo. Tinha cansado de ficar sendo
jogado de um lado para o outro, entre o passado e o futuro, beirando a
exaustão por lutar contra minha própria felicidade.

Até que eu arrumasse um lugar melhor, não ficaria mais naquele


apartamento. Venderia ou sei lá que merda eu faria, só não ficaria mais ali.

Já estava tudo dando errado mesmo, que se fodesse o resto.

Desci até a garagem e joguei minha mala no banco de trás, saindo que
nem uma tempestade do subterrâneo. Procurei o hotel mais caro da cidade,
nunca fui de esbanjar dinheiro, mas eu não queria ser incomodado por
ninguém, e se um preço pudesse me proporcionar isso, não me importaria de
pagar.

O quarto era do tamanho do meu apartamento, mas isso não mudava o


espaço que se abria no meu peito. Parecia que eu estava em queda livre e que
dessa vez, nada seria capaz de me salvar.

As coisas na vida não deveriam ser assim, as pessoas não deveriam


ser assim... um poço de problemas, prestes a explodir com nada menos do
que uma faísca.

Por que todos esperavam que fôssemos perfeitos? E quando tentamos


mostrar que somos dignos de confiança, uma merda sempre acontecia para
atrapalhar?

Meu celular vibrou em meu bolso e não consegui evitar a esperança


de ser Rose dizendo que queria me ouvir, saber o que tinha acontecido. Só
que nada era como a gente queria.

Silas: Ela tá comigo. O que você fez dessa vez?

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Claro que ela correria até o Silas! Era o único que a ouvia e a tratava
como merecia. Conhecia Rose muito bem para saber que ela não iria até a
Bia, com medo de estragar a felicidade que ela emanava a milhas de
distância. Pensava a mesma coisa a respeito do Josh, mas homens tem aquele
código da camaradagem que não importava que merda estava acontecendo,
um sempre tiraria um tempo para beber com o outro.

Não tinha feito nada de errado, além de demorar um pouco mais pra
mandar Lettie embora, justamente quando Rose estava chegando para
conversar comigo, realmente não tinha feito nada além disso. Peguei-me
respondendo à pergunta do meu amigo mentalmente. Talvez fosse realmente
o culpado, mas o fato era que ela não ficou para descobrir. Tomou para si
qualquer que tenha sido seu pensamento sobre o que aconteceu e foi embora
sem nem olhar para trás.

Um relacionamento nunca daria certo quando um dos dois não queria


ouvir o que o outro tinha a dizer. E nesse caso, não fui eu o negligente da vez.

Não queria ser julgado, não queria ser consolado, eu não queria
nada...

Era muito estranho isso? Querer ser livre das amarras apenas uma vez
na vida? Nunca pensei que fosse um cara que merecesse tudo o que o mundo
podia oferecer, mas sabia que não era uma das piores pessoas do mundo.
Então, por que diabos eu estava ali, pensando em como tudo tinha saído dos
trilhos?

Tantas perguntas, tantas respostas idiotas.

Fui até a sacada gigantesca que gritava “luxo” para quem quisesse
ouvir e fiquei olhando o espetáculo que era Boston durante a noite. Eu amava
aquela cidade, mas não me sentia completo estando ali. Parecia que algo
sempre faltaria em minha vida.

Nenhum lugar parecia o certo para mim.

Me sentia deslocado aonde quer que fosse, porque meu lar não era um
lugar, era uma pessoa. E, infelizmente, ela ainda não sabia disso.
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Não estava pensando muito bem quando saí correndo de lá. Só segui
para o único lugar onde eu sabia que teria um amigo que não me julgaria,
apenas ouviria os meus lamentos.

Silas poderia ser chamado de qualquer coisa, mas indiferente não era
uma delas, e sempre que eu precisava, ele estava ali para me apoiar.

Então não pensei em muita coisa quando peguei o táxi e falei o


endereço do seu apartamento. Queria ter um momento para chorar no ombro
de alguém. Nunca tive isso e queria aproveitar a oportunidade que tinha para
sentir um pouco disso com um cara que era um dos meus amigos mais fiéis.

Eu o deixaria em uma situação complicada, sabia disso. Mas era


impossível evitar querer me acalmar com ele. Silas era simplesmente o cara
mais incrível que eu já conheci, e se eu pudesse voltar atrás, teria tentado me
apaixonar por ele e não por seu amigo problemático. Mas as coisas nunca são
como queremos. E meu coração batia por um dos únicos caras que tinha
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tantos medos quanto eu.

E eu tinha muitos.

Quando Silas abriu a porta, pude ver o espanto em seu olhar. Não do
tipo “entre aqui, vou te ajudar”, mas do tipo “que porra meu amigo fez
dessa vez?”. Vi quando ele pegou o celular e digitou rapidamente, já
imaginava quem era o destinatário daquela mensagem, mas não me
importaria agora. Allan sabia que me procurar logo depois daquilo seria
idiotice.

Eu não queria vê-lo nesse momento e não sabia quando estaria


preparada para enfrentá-lo.

— Você está ocupado?

— Não. Pode entrar.

Eu só tinha ido ali com o Allan uma vez, quando Silas tinha feito uma
reunião entre amigos para assistir a um dos jogos da temporada e parecia tão
diferente estar lá sozinha. O ambiente era muito arrumado, arrumado até
demais para um homem que vivia sozinho. Mas me recordava do Allan me
dizendo que seu amigo tinha um transtorno maluco por organização e
limpeza. De fato, isso era perceptível ali. Se eu encontrasse um rastro de
poeira seria milagre.

— Está tudo bem?

— Não.

Para que eu mentiria? Ele sabia muito bem que eu não iria até ali se as
coisas estivessem às mil maravilhas.

— Imaginei. Senta aí. Quer beber alguma coisa?

Silas não sabia lidar com mulheres, isso estava óbvio. Desde quando
alguém com o coração partido batia na sua porta e você a oferecia álcool? Só
se essa pessoa fosse rodeada de homens para fazê-lo, porque com certeza essa
seria a melhor solução.
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Melhor do que um idiota soluçando no seu cangote.

— O que você tem aí?

— Forte ou fraco? Se for forte tenho Whisky, fraco tenho suco. Se


quiser batizamos ele com vodca, tenho uma que nem abri ainda. Parece-me
uma boa ideia para a ocasião.

— Você não vai batizar nada, não é?

— Não. Estava brincando. Até porque um dos meus amigos me


mataria depois. Sou um cara prevenido. A Bia já me ameaçou muitas vezes e
não quero que isso se repita. Ela é melhor que James Bond no quesito pegar
alguém no pulo.

— Ela defende os seus.

— Você. Porque também sou um dos dela e não a vejo me


defendendo para ninguém.

— É que ela ainda não viu necessidade disso.

Ele concordou com um gesto de boca, mas depois deu de ombros,


como se isso não importasse no momento.

— O que o Allan fez, Rose?

Eu não sabia se queria tocar naquele assunto. Só que tinha ido até ali e
uma hora ou outra eu teria que explicar o motivo. Ninguém seria idiota para
achar que era uma simples visita. Eu só precisava de alguém que me ouvisse
e desse uma opinião sobre o assunto, a qual eu poderia pensar depois.

Nunca tive um bom julgamento de caráter, mas ele parecia ser assim e
não se negaria em me ajudar.

— Vi uma mulher saindo do apartamento do Allan quando fui atrás


dele hoje. Justo quando estávamos nos acertando. Ele foi até a cidade onde
nasci e me ajudou, achei que isso fosse um sinal para dar uma chance pra
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gente. Mesmo ele tendo tantos demônios quanto eu, mesmo ele lutando tanto
quanto eu para evitar que eles venham à tona. Então vim correndo até ele,
quando dei de cara com aquilo. Não sei se já senti algo parecido, mas te
garanto que você não quer sentir isso.

Silas ficou alguns minutos me encarando, como se não acreditasse


que o amigo tivesse feito isso. Talvez aquele olhar de descrença dele
acabasse se tivesse visto o mesmo que eu. Porque nada mudaria o que eu
tinha presenciado e muito menos a vitória estampada na feição daquela
mulher.

— Allan não faria isso. Ele é doido por você, chegou a querer brigar
comigo porque achou que eu estava sentindo algo que não devia sentir. Ele é
leal Rose, tão leal quanto todos nós. Não seria nosso amigo se não o fosse.
Ele tem os problemas dele, que não são poucos. Antes de julgar você deveria
saber o que ele passou, com certeza eu não deveria te contar isso, mas não
vejo uma maneira melhor de entender o homem por trás daquela capa. Ele
sofre e todos vemos isso... Assim como vemos o mesmo sentimento em você.
Talvez ambos consertem as falhas em si mesmos com a ajuda um do outro,
ou talvez ambos acabem de ferrar de vez. Só acho que você deveria pensar
bem no que fazer, qualquer passo em falso pode acabar com a vida dos dois.

Eu não sabia o que dizer com aquilo. Silas estava defendendo eu e


Allan como se fosse o certo a se fazer. Como se acreditasse que de um jeito
torto éramos perfeitos um para o outro.

— Eu não sei o que pensar.

— Eu não deveria estar dizendo isso. Mas vou começar a contar os


segredos de uma vida que não é a minha e espero que tenha a decência de não
dizer a ele isso. Quando ele se sentir confortável vai desabafar com você,
então faça cara de surpresa.

Concordei com um aceno e esperei que ele começasse a falar tudo o


que eu queria ouvir, não dele, mas a sabedoria era melhor que a ignorância.
Então por hora, o relato dele serviria.

— Allan tinha uma namorada de infância, ela se chamava Letícia, ele


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era completamente maluco por ela, do tipo que mata e morre por amor. No
dia em que decidiu pedi-la em casamento, recebeu a notícia de que ela estava
morta. Imagina a devastação que se infligiu em sua vida? Ele não comia,
jogava só porque era o que ela queria. Passou todos esses anos em que o
conheço, ficando com mulheres, tentando encontrar nelas, o que tinha
perdido na outra. Só vi isso mudar quando ele se relacionou com você. Ainda
era fechado, do tipo que se fecha para não se machucar novamente, mas
parecia melhor, parecia feliz quando estava com você.

Silas olhava para o chão como se lembrando de tudo o que falava.


Podia ver a dor pelo amigo ali entre nós. Sabia que ele estava quebrando
todos os códigos de amizade, me contando algo que não era dele para contar,
mas sabia também que o fazia pela felicidade do amigo.

O que era um gesto extremamente altruísta.

— Vocês brigaram e eu vi de novo aquela dor no semblante dele. As


coisas estavam tão claras para todos que o rodeavam, menos pra ele, e eu
torcia internamente para que você percebesse isso e voltasse atrás. Até que
um dia fui até a casa dele e encontrei Leticia lá, viva, muito viva aliás. E o
pior foi saber que era tudo um plano macabro, onde ela tinha uma irmã
gêmea que era casada com meu pai, e que a mesma tinha morrido. Meu pai é
muito rico Rose, do tipo bilionário, do tipo que se casa com mulheres novas
sem querer saber o motivo delas para a união. A namorada do Allan viu ali
uma oportunidade de dinheiro fácil, sem preocupação. Então, para ela foi a
melhor decisão abandonar meu amigo, falsificar sua morte e ficar no lugar da
irmã. Allan não sabia dessa irmã; ela não era quem dizia ser e com a ajuda do
irmão acabou com a vida dele como se fosse algo natural a se fazer... Agora,
imagina a confusão quando ele descobriu que ela estava viva, e que chorou
todas as noites durante anos, por alguém que não se importava com ele, por
alguém que tinha mentido a vida inteira para ele?

Silas não queria me comover com o relato, só que o fez mesmo assim.
Quando eu imaginaria que algo assim fosse capaz de acontecer? Nunca. E
para mim alguém já deveria ter entregado essa mulher para a polícia, o que
ela fez é crime e tem que ser punido.

— Como era a mulher que viu saindo do apartamento?


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— Morena, muito bonita e só um pouco menor do que eu.

— Parabéns, você conheceu a zumbi.

Deu um sorriso sarcástico, só que o fato não melhorou minha


autoestima. Se ela era quem ele dizia ser, os dois tinham uma história e quem
era eu para me colocar no meio? Perderia as batalhas e a guerra, mesmo que
lutasse com todas as minhas forças.

De repente, já não queria mais saber o que tinha acontecido lá, queria
somente esquecer... O que era impossível, infelizmente.

— Você já ouviu falar da mãe dele e do irmão?

— Acho que sim, mas ele nunca me levou para conhecê-los.

— Sorte sua, são duas pessoas que só sugam o dinheiro dele e não
ligam para o que ele sente sobre isso. Acho que são muitos problemas para
uma pessoa só, entende? Sei que você também tem os seus, todos temos, e
não estou dizendo que são menores que o dele, mas não pensa que poderiam
arrumar tudo, juntos? Às vezes, o errado é o mais certo que podemos obter.

Aquelas palavras entraram na minha mente e eu sabia que ele tinha


razão. Só que estava magoada demais para pesar as minhas escolhas, queria
fugir de tudo aquilo e me refugiar em um canto só meu. Já bastava as coisas
com as quais tinha que lutar diariamente, agora teria que suportar a carga de
outra pessoa também? Mas, principalmente, será que eu seria capaz de
suportar?

Dizem que só recebemos o que conseguimos carregar. Eu não tinha


certeza disso, nem todas as coisas eram previsíveis.

— Preciso ir embora.

— Eu te levo.

Silas foi correndo pegar as chaves do carro, mas eu já tinha saído de


lá. Pegaria um táxi ou simplesmente andaria sem rumo. Eu não queria a
companhia de ninguém agora. Talvez um pouco de paz me fizesse pensar
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com mais clareza e entender coisas que só o silêncio me faria compreender.

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Eu fiquei um bom tempo parado na suíte, sem saber como agir e
decidi que a melhor coisa a se fazer era esperar. Uma hora ou outra ela teria
que me ouvir e aí eu colocaria pra fora tudo o que estava me mantendo preso
ao passado. Tinha decidido fechar as portas para ele e Rose era a parte
fundamental dessa etapa. Eu abriria uma janela para o presente e deixaria a
saída para o passado fechada, que era o que eu deveria ter feito desde o
começo.

O medo estava me consumindo e meu “coeficiente de cagaço”


beirava a faixa de nulo.

Nunca havia me sentido assim, como se qualquer ação pudesse acabar


com todas as minhas possibilidades.

Mandei uma mensagem para o Silas, perguntando como ela estava e


ele me respondeu que bem, na medida do possível. Mas que tinha ido embora
sem nem deixar que a levasse.
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Agora eu estava ali, preocupado e fodidamente nervoso comigo
mesmo. Não sabia que merda eu estava fazendo da minha vida, mas à essa
altura, conseguia prever que não daria coisa boa se eu continuasse assim,
deixando que tudo de ruim acontecesse, sem me esforçar para provar o
contrário.

Que homem de bosta eu era. Um covarde que não fazia a mínima


ideia de que rumo seguir.

Eu estava completamente perdido, como me lembrava de ter ficado


somente uma vez e isso era literalmente difícil de assimilar.

“Amanhã tem treino, então trate de melhorar a sua cara de merda,


cara. O time precisa de você.”

Era isso que me mantinha em pé. Saber que muitas pessoas contavam
comigo e com a minha disposição. Eu não as deixaria na mão, quando sempre
pude contar com elas.

Não poderia pedir amigos melhores e colegas de time melhores, o


respeito era mútuo, algo raro de se encontrar. Por isso nos dávamos tão bem
no jogo e a sintonia era perceptível.

Quando a temporada começava, nós treinávamos todo dia, só


tínhamos um pouco de folga quando ela acabava, mas tudo estava prestes a
começar de novo. A temporada logo iniciaria e somente terminaria quase no
final do ano que vem.

Eram apenas dois meses de descanso para a próxima e assim


consecutivamente.

Quando entrei nessa correria eu nem imaginava que seria puxado


assim, mas eu estava na NBA! Quantos caras vindos da periferia poderiam
dizer o mesmo? As chances eram poucas e esse esporte era um dos únicos no
qual o preconceito ficava de fora.

Se perceber em quadra, a maioria dos jogadores é de origem humilde,


e essa é a grande riqueza do esporte.
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Deitei na cama e fiquei olhando para o teto, tentando adivinhar o que
aconteceria dali por diante. Eu estava frustrado; muito puto da vida por nem
me reconhecer em minhas ações, mas algumas coisas simplesmente
acontecem naquele momento em que o botão “foda-se” está ligado e
infelizmente isso acabava atrapalhando todo o resto.

Josh me dizia que essa era a minha “temporada”, mas eu não estava
tão confiante disso. Cansei de ser sempre o cara famoso ao invés do ser
humano por trás. Às vezes eu pensava que não compensava ter uma carreira
consagrada quando sua vida pessoal praticamente não existia. Nada era
pessoal no meio das celebridades.

Antes do Sucesso você é uma pessoa normal, que não vale um


segundo de atenção. Depois do sucesso, você se torna uma matéria a ser
vendida no dia seguinte.

Esse era o mundo sujo da fama.

Onde seus desejos se tornavam meros detalhes, e sonhos, indignos de


serem alcançados.

Acordei do mesmo jeito que tinha deitado. Com meus tênis e roupas
de ontem.

Em algum momento da minha reflexão eu devia ter dormido e agora


eu estava mais do que quebrado pela posição.

Olhei no relógio e dali uma hora teria que estar no treino. Levantei e
tomei um banho rápido, pra ver se aquela má vontade me abandonava.

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Cheguei no ginásio, cumprimentando os caras e vi quando Josh me
olhou de canto. Ele queria dizer alguma coisa, talvez que a ruiva comeu o
fígado dele por ter me ajudado.

Todos estavam conversando entre si, comentando algum lance


fantástico da temporada passada, algumas músicas novas e mulheres com as
quais haviam saído.

— O que você aprontou, Allan? Tenho certeza que a Bia não olhou
com vontade de me matar ontem à noite sem motivo algum.

Dito e feito.

— A Letícia foi em casa e a Rose viu quando ela saiu.

Josh caiu na gargalhada. Que amigo maravilhoso eu tinha.

— Você só faz merda, cara. Não sei de onde tira todo esse estoque de
coisa ruim!

— Nem eu.

— A Rose ligou ontem pra Bia, disse que precisava conversar. Acho
que já sei o assunto então. Só te digo uma coisa, saia de perto da minha
mulher, ela só tá esperando o melhor momento pra dar o bote. Por isso o
olhar assassino quando ela chegou ontem. Acha que eu tenho culpa, mal sabe
ela que estou tão surpreso quanto indignado com você.

— Por que não quer me matar também?

— Cara, você já viu a Bia brava, mas quando digo brava, quero dizer
puta da vida? Não imagina nem o que te espera, a última vez que ela ficou
nesse estado eu dormi fora de casa. Então, não, eu não vou te matar, não
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quando ela vai te esfolar vivo e assar na churrasqueira. Só vou rezar pela sua
alma e garantir que a Lily e o Collin estejam muito longe quando isso
acontecer.

Eu estava mesmo muito ferrado. Se Josh que era o cara mais calmo do
mundo no quesito lidar com a Bia, ficou longe por uma noite inteira, que
chances eu teria?

— Grande amigo você.

— Desculpa, mas sou uma pessoa sincera. Não vou entrar na linha de
tiro por você.

Dei um sorriso amargo e vi Silas vindo na minha direção. Quatro pra


me dizer o que fazer era simplesmente demais. Isso porque a quarta eu nem
tinha visto ainda.

— Maravilha. Hoje é o dia de “malhar o James”.

— Claro, é isso o que amigos fazem. Nunca vi um cara fazer tanta


merda quanto você. Não perderia a oportunidade de gargalhar às suas custas
nem por um milhão de dólares.

— Já foi atrás dela?

Claro que não, por isso estou com essa cara de poucos amigos.

— O que acha, Silas?

Ele olhou pro Josh que não se aguentava de rir e entendeu qual era o
motivo. Silas era o mais emotivo de nós três e eu queria ver como ele se
sairia quando conhecesse alguém que mudasse toda a sua rotina. Pelo menos
teria de quem gargalhar, assim como o Josh fazia comigo.

Mas ele de repente ficou sério assim que pegou o celular e respondeu
alguma mensagem rapidamente. Olhou pra mim e pro Silas e deu mais risada
ainda.

— Ele está é ferrado, porque a Bia vai levar as crianças pra dar uma
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volta e no final do dia vai vir me encontrar. Se lascou parceiro.

Aí quem riu foi Silas. Todos sabiam que de hoje eu não passaria.

— Nem vou falar nada então. Vou deixar pra “Vingadora” o fazer.

— Isso. Me abandonem. Quando precisarem de mim, esqueçam que


existo. A única pessoa que me ama é a Lilly.

— Enquanto ela não tem noção das coisas. Só por isso.

— Eu realmente não estou com um humor muito bom hoje e ajudaria


muito se saíssem de perto e me deixassem em paz.

Levantaram as mãos em sinal de rendição e ficaram quietos enquanto


o treinador dizia algumas coisas sobre o começo da temporada, sobre como
queria ser campeão novamente e todo o mesmo discurso do ano passado. Ele
não era um cara de muitas palavras.

O treino praticamente voou, estávamos meio enferrujados, mas nada


que uma semana se esforçando não recuperasse.

Meu corpo inteiro doía em protesto pelo dia exaustivo. Mas aquela
dor era mais do que bem-vinda, amortecia um pouco a outra que eu sentia. O
que era um alívio.

Fui em direção ao vestiário, completamente concentrado no meu


dilema interior: correr atrás de alguém pela primeira vez na minha vida.

Nunca fui do tipo que vai atrás das mulheres, elas sempre acabavam
vindo até mim. Não sabia nem como começar a agir. Estava sem opções.
Poderia ir até ela e explicar ou simplesmente deixar o tempo passar.

Terminei de tomar banho e me trocar no mesmo tempo que o Silas e o


Josh, e quando saímos, percebi que estava morto quando ele olhou pra frente
e sorriu. Aquele cara enorme parecia um idiota apaixonado quando via a Bia
e os filhos, nada contra, mas isso era irritante às vezes.

Senti minha pele queimar e quando vi que o olhar dela estava na


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minha direção, me arrependi de não ter dado no pé quando pude.

Se arrependimento matasse...

Bia veio até mim rapidamente. Com uma Lily mais do que feliz no
colo. Ela balançava as mãozinhas na minha direção, mas sua mãe nem se
importou com isso quando apontou o dedo na minha cara e disse com a voz
mais ameaçadora que eu já ouvi.

— É melhor você consertar a porcaria que fez! Tá me ouvindo? Ou eu


vou fazer uma coisa muito ruim, Allan. Como sequer pôde fazer isso com a
minha amiga? Acha que ela é essas vadias que vive pegando?

Começou a falar palavrões que assustaram até seu marido, que olhava
com os olhos abertos em espanto para a pequena mulher à minha frente.

Depois ela ainda implicava com ele por falar palavras feias na frente
dos filhos, mas ali, quem dava esse show era ela.

— Calma amor, ele já sabe disso.

— Cala a boca Josh que não estou falando com você. Seu traidor
mancomunado com o inimigo.

— Eu? O que eu fiz que não estou sabendo?

— Esse é o problema, não fez nada.

Josh engoliu em seco do meu lado, me amaldiçoando por tê-lo


colocado nessa situação.

Mulheres eram muito difíceis de lidar. Ainda mais uma ruiva, baixa e
sem paciência. Eu tinha dó dele, porque aquilo era pagar pecado.

— Bia, vamos pra casa? O Allan realmente sabe que a Rose não é
qualquer uma. Se você matar ele, pensa em como sua amiga vai ficar triste?
Deixa os dois se resolverem, melhor não se intrometer em assuntos que não
são nossos.

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Ela fuzilou-o com olhar e, merda, ele sim estava fodido quando
chegasse em casa.

Mas quem tinha que resolver as coisas era eu mesmo, e mais ninguém
tinha o direito de dar opinião. Às vezes a intromissão desnecessária só
atrapalhava, e mesmo Bia sendo uma amiga leal, ela extrapolava quase
sempre.

Eu iria atrás da Rose, mas no meu tempo. Se eu fosse antes as coisas


só piorariam.

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Bia era a única que conseguia entender o que eu estava sentindo. Era
minha melhor amiga e eu sabia que poderia contar com ela em qualquer
momento da minha vida.

Ela me ouviu com a maior calma do mundo e me apoiou quando eu


disse que não queria mais vê-lo por enquanto. Eu já tinha passado por coisas
demais e precisava ficar sozinha, decidindo sobre o que fazer a respeito da
minha vida.

Fui até o apartamento e fiquei um pouco por lá. Parecia tão triste e
depressivo. Agora que somente eu morava ali não parecia mais um lar, pode
parecer um pouco idiota, mas a Bia animava o lugar. Ela sempre foi
estabanada, mas era a melhor amiga que eu podia ter e fazia uma falta imensa
a sua presença para me reconfortar.

Pela primeira vez desde que parei, senti uma vontade gigantesca de
escrever. Se eu escrevesse a minha história, poderia ajudar muitas garotas a
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superar, não podia? Eu inclusive poderia me ajudar, porque colocar as coisas
para fora era uma atitude muito terapêutica.

Peguei o notebook no meu quarto e sentei em um dos sofás da sala,


quando consegui abrir o programa, digitei freneticamente algumas coisas que
teimavam em permanecer presas na minha cabeça. Comecei a contar desde o
colégio, quando aceitação era tudo o que eu almejava. Até a horrível noite em
que descobri toda a maldade no mundo.

Queria mostrar para as garotas que nem tudo é o que elas imaginam.
Às vezes uma simples ida ao cinema pode se tornar em algo terrível e que
deixará marcas pelo resto de sua vida. Aconselhar pessoas que tivessem
sofrido com a mesma situação, também era um dos meus objetivos, eu sabia
tanto quanto qualquer outra o que era se sentir violada e mostraria que elas
tinham com quem contar.

Eu era solitária e não sabia de onde havia tirado forças para seguir em
frente. Nunca tive muitos amigos, e os que eu tinha se viraram contra mim
quando a história veio à tona.

Henry não foi preso, o pai conseguiu dar “aquele jeito” e quem saiu
como mentirosa fui eu. Foi constatada a violência no hospital, eu fiz vários
exames e todos mostravam isso. Mas quando seu pai era simplesmente o
dono de quase tudo na cidade, você se tornava praticamente intocável. Dura
realidade do mundo.

Fiz a queixa, só para alguns dias depois descobrir que o oficial não
tinha de fato a registrado. Era um dos amigos do pai do miserável e devia ter
alguma coisa que o mantinha preso as suas vontades.

Um favor aqui, outro ali e assim eram as coisas naquela cidade.

Eu era só a filha de uma qualquer, e quem me ajudaria? Ninguém.


Exatamente ninguém.

Durante a semana seguinte, alguns me olhavam com pena, outros com


ódio e a maioria com nojo. Eu era a culpada daquilo, porque segundo eles,
não tinha mais o que fazer além de sair por aí, entrando na casa de homens,
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desacompanhada. Mesmo que eu não fizesse isso, era o que pensavam que eu
praticava.

“Porque ela não deveria usar aquelas roupas”; “ela não tinha
motivos para estar lá”; “acho que ela queria, só depois que todos se
propuseram percebeu o problema e decidiu dizer isso”; “culpar um inocente
é muito fácil, quando a mulher é que se deve dar ao respeito”.

Perdi as contas de quantas vezes ouvi essas palavras. Algumas


vinham de pessoas muito próximas a mim, o que mais machucava. Quando a
vítima seria a vítima? Estava cansada das pessoas sempre distorcerem as
coisas, sempre passarem as mãos na cabeça dos culpados.

Era exatamente por isso que eles faziam o que faziam. Não tinha
ninguém para julgá-los e muito menos alguém para puni-los. A lei somente
estaria do nosso lado se ela realmente valesse alguma coisa.

Ultimamente, dinheiro valia muito mais e, infelizmente, ele mesmo


ditava as suas leis, sendo elas horríveis e tortuosas.

As palavras demonstravam tudo o que eu estava sentindo, toda a


frustração e dor por algo vivido e não superado.

Dizer para as pessoas superarem era fácil, quando o grande problema


era eu mesma superar os meus traumas. A superação era um processo
complicado, tinha muitas idas e vindas, alguns dias piores do que outros e
algumas noites em claro, com pesadelos reais demais. Mas tudo fazia parte da
cicatrização, uma hora aquilo não feriria mais, uma hora a lembrança seria
aos poucos embaçada na minha mente.

Eu conseguia perceber que a ferida já não era tão dolorida. Já fazia


anos e isso provavelmente aconteceria. Os primeiros dias eram os piores, e,
não mentiria dizendo que a vontade de morrer tinha passado longe da minha
cabeça. Ela na verdade, era a maior de todas. Sussurrando, maliciosamente,
palavras que me forçariam a tirar a minha vida.

A loucura tentou me fisgar e só não o fez porque eu decidi que era


mais forte que aquilo e que nada me faria desistir dos meus sonhos.
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Vi nos livros a minha oportunidade de deixar as coisas pra trás, de
verdadeiramente aceitar o ocorrido como parte da minha trajetória. Li muitas
histórias, muitas situações que me faziam voltar naquele dia, e do mesmo
modo que me faziam lembrar, também me faziam mais fortes.

“Aquilo que não te mata, te deixa mais forte.” — Eu não tinha a


menor ideia de quem tinha dito isso pela primeira vez, só sabia o quanto se
assemelhava com a verdade. Eu estava mais forte que naquela época, muito
mais madura também. Pena que não conseguia me desapegar do passado.

Justo àquele passado que me massacrava.

A sensação era penosa, como se algo tivesse sido tirado de mim...


talvez a minha dignidade; a minha beleza; o fato é que eu não era completa.
Depois que eu me sentisse mesmo em plenitude comigo mesma, eu poderia
investir em um relacionamento a dois. Poderia confiar nessa pessoa com tudo
de mim.

Todos em quem eu confiei acabaram me mostrando o quanto eu


estava errada. Era tudo tão infeliz que imaginar o contrário era quase
impossível.

Allan tinha começado a passar essa barreira e me provou ser apenas


mais um que não valia a pena o esforço.

Quando eu encontrasse quem valesse, tenho certeza que ele me


provaria o quanto eu poderia ser melhor. Consertaria todas as partes
quebradas que haviam em mim e eu seria a mulher mais feliz do mundo. O
amor era capaz de fazer isso, eu tinha certeza.

Ainda existia algo bonito no mundo. Só faltava descobrir quem era


esse algo para mim.

Ouvi o interfone tocando e estranhei. Não estava esperando ninguém.


A Bia deveria estar em casa e qualquer outra possibilidade parecia
improvável.

— Pode falar.
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— Posso liberar a subida do senhor Ralph, senhorita Roselyn?

O que ele estava fazendo aqui? Não tinha passado meu endereço e
também não imaginava quem poderia tê-lo feito.

— Pode.

Tinha que me animar e voltar pra ver minha mãe. Eu só estava dando
uma pausa em tudo, para saber o que era melhor para mim.

As batidas soaram fracas na porta e me deparei com um Ralph quieto


do outro lado. Ele não estava sorridente como de costume e isso era
preocupante.

— Precisa voltar comigo, Rose. Sua mãe está pior e sua prima me
pediu para vir até aqui.

Só de lembrar tudo o que tinha acontecido desde que pisei meus pés
novamente naquela cidade, o meu subconsciente se recusava a chegar sequer
algumas milhas perto de lá.

— Veio dirigindo até aqui?

Ele revirou os olhos e deu um sorriso fraco. Eu tinha errado quando


disse que não tive ninguém que me apoiou alguns anos atrás, Ralph era o
único que tinha ficado do meu lado. Ele conhecia as atitudes do ex amigo e
nenhuma vez duvidou de mim.

— Quer saber o meu número também ou vamos voltar logo?

— Vou só pegar minha bolsa, espera um segundo.

Corri para o quarto e peguei minha bolsa. Joguei algumas peças de


roupa em uma mala, já que não sabia quanto tempo ficaria lá, querendo me
prevenir pelo menos um pouco.

Tinha sido um erro deixar minha mãe lá e ter voltado aqui. Esperar
um pouco teria me poupado de ver coisas que eu não queria ver e com certeza
teria me poupado de mais uma descrença nos homens.
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Alguma hora eu ouviria Allan, ambos sabíamos disso, mas essa hora
ainda iria esperar um pouco. Ele não era a prioridade na minha vida, e talvez
nenhum dia fosse. Estava cansada de mantê-lo como minha primeira opção
quando eu era claramente a segunda para ele.

Voltei depressa para a sala, pegando a chave do apartamento pelo


caminho e quando olhei para Ralph, algo em mim se deu conta que eu
poderia sempre contar com ele. E ali, parada na porta, correndo para ver
minha mãe, eu pensei: por que não?

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“A temporada vai começaaaaar! Segurem as calcinhas, divas, porque
tenho certeza que essa prometeee!

Fiquei sabendo que uma marca aí — não posso dizer o nome — vai
lançar um calendário com os mais lendários do basquete, e, pasmem... de
cueca!!! Será que minha libido vai aguentar? Imaginem, ver o Joshlícia,
Jamesconda, GostoSilas e os demais só de C.U.E.C.A, acham ainda que eu
sobreviverei depois desse tiro? Vai ser tiro, soco e bomba! Tudo em uma
revista só!

E digo mais, para quem ainda têm dúvidas do tamanho dos


instrumentos, elas acabarão na hora! O negócio é correr para garantir a sua
antes que as impressões esgotem. Não perco a minha por nada nesse mundo,
nem que eu tenha que subir na cabeça das invejosas! Só no com licença, me
desculpe. Porque eu não sou obrigada.

Quem não gostou muito disso com certeza foi a Diva C., que não quer
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liberar a ferramenta do maridão para nós da plebe.

Fica tranquila gata, nós só vamos dar uma olhadinha básica, o de


verdade é INFELIZMENTE todo seu.”

Tudo sobre astros por: Stephen Pharrell

Perguntei pro Josh se eu podia ficar em um dos apartamentos dele.


Expliquei a situação e ele concordou que isso era o melhor a se fazer. Então,
ali estava eu, na sua antiga cobertura, com uma vista maravilhosa de toda a
cidade. Coisas que o dinheiro podia pagar. Pena que ele não pagava para
retroceder no tempo.

A solidão pela primeira vez me incomodava. Nada que eu fazia estava


bom, nada estava certo e eu não tinha vontade de fazer nenhuma outra coisa
além de dormir.

Esse sintoma era mesmo o que eu estava pensando? Porque


sinceramente, não era dos melhores.

Explorei aquele apartamento gigantesco inteiro, desde os quartos até


os cômodos na parte de baixo. Nada parecia me entreter. Nem mesmo a
academia maravilhosa. Poderia facilmente descontar minha frustração em um
treino intenso e pesado, mas sabia que isso não adiantaria, quando o
verdadeiro problema estava dentro de mim.

As emoções formavam um turbilhão com os meus pensamentos. Era


tanta coisa ao mesmo tempo, que o mundo real parecia apenas mais um
mundo alternativo aos meus olhos. Como se eu estivesse vivendo mil vidas,
mas sem poder interferir, de fato, em nenhuma delas.

Esse apartamento era o lugar ideal para quem procurava um momento

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de paz. Talvez eu não estivesse procurando isso, porque em qualquer lugar
que eu estivesse, parecia que as coisas permaneciam as mesmas. Uma
verdadeira avalanche de arrependimentos sobre mim.

Eu queria ir atrás dela, claro que queria. Mas ao mesmo tempo em que
pensava no que poderia fazer, imaginava que ela não quisesse me ver nem
pintado de ouro. Rose era orgulhosa, assim como eu, e se a fiz pensar que a
estava usando, demoraria para conseguir tirar da cabeça dela isso.

Ela não sabia de toda a história, algum dia eu provavelmente contaria,


mas ela ainda não sabia. Não sei se mudaria alguma coisa ela sair da
ignorância, só que não custava nada tentar.

Precisava focar nos treinos, jogos e tudo o mais, para não fazer merda
como sempre. Mas, pelo visto, nada seria como o esperado. Tudo estava um
caos na minha vida e eu acabaria transferindo isso para o esporte, tinha
certeza. Não havia equilíbrio quando a sua mente estava um vulcão prestes a
entrar em erupção.

A minha única certeza no momento é que eu queria a Lettie o mais


longe possível de mim, assim como da Rose.

Eu a conhecia muito bem, e sabia que quando colocava uma coisa na


cabeça ela ia até o fim. E merda, meu pressentimento não estava nada bom
quanto a isso.

Estipulei uma meta que se ela chegasse novamente perto de mim, não
hesitaria em chamar a polícia. Já tinha passado da hora de fazer isso e não
estava mais com saco de aturar as porcarias de ninguém, principalmente de
uma mulher morta que só voltou para atrapalhar minha vida.

Fiquei pensando sobre o passado da Rose, que deveria ser tão ruim
quanto o meu, e tive uma ideia que admitia, não me soara muito boa, mas eu
tinha que descobrir o que acontecera a ela. Me sentia impotente sem saber
com o que estava lidando ou como faria para transpor esse problema. Nunca
fui de abandonar as coisas pela metade, e ela era uma parte inacabada da
minha vida. Talvez fosse tudo o que eu precisava para seguir em frente e não
a deixaria partir assim tão fácil.
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Lembrei seu nome completo e tentei lutar com o meu bom senso de
não pesquisar sobre ela. Talvez eu não encontrasse nada, era reservada e nem
um pouco famosa, então não seria uma matéria tão interessante para os
tabloides. Mas, quem sabe? Eu usaria das minhas possibilidades e ir mais a
fundo na internet por informações era perfeitamente normal.

Peguei meu celular e digitei seu nome, torcendo para que nada
aparecesse. Já imaginava o que poderia estar escrito, mas sabe quando você
não quer simplesmente ter uma comprovação da verdade?

Seu nome completo era simples e rápido, então apareceram muitas


pessoas em matérias diferentes com o mesmo nome. Matérias dos mais
diversos temas e assuntos.

Precisei procurar seu nome associado com o nome da sua cidade


natal. Ela tinha poucos habitantes e qual era a probabilidade de um ou mais
terem o mesmo nome? Acho que não muita.

Li algo sobre uma garota que tinha sofrido abuso e parecia que os
meus pés tinham perdido o apoio do chão, o que estava escrito deixaria
qualquer um possesso de raiva.

Era claramente a injustiça presente no mundo. Como uma coisa


dessas podia acontecer e a vítima ainda ser questionada?

Na minha ideia, quem deveria provar que era inocente era o culpado e
não a vítima. Nunca tinha presenciado tamanha atrocidade em minha vida.
Alguém que sofreu abuso, tendo que provar ter sido vítima. Pelo amor de
Deus, onde esse mundo iria parar?

O título da matéria já era por si só horrível. Demonstrava claramente


o preconceito de uma cidade do interior para com os mais pobres.

“Filho de empresário, com boa índole e exemplo de boas ações é acusado


de estupro por jovem “inocente”.

Só alguém idiota não perceberia a merda que era essa matéria. Por
isso muitos homens ainda se achavam no direito de sair por aí fazendo o que
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bem entendiam. Justamente por causa dessa falta de apoio da sociedade que
muitas pessoas sofrem com porcarias desse tipo.

Abri a matéria e vi a foto da Rose, muito mais nova e claramente


desesperada. Meu coração se partiu em dois e a única coisa que eu tinha
certeza na minha vida, era que eu mataria alguém, e seria esse Henry filho da
puta. Não me importava que merda de sobrenome ele tivesse, pra mim, não
faria diferença nenhuma.

Sabe aquele cara da periferia que se deu bem na vida graças ao


esporte, mas que têm vários contatos nada “legais”? Eu era esse cara e estava
pouco me fodendo para as consequências do que eu faria. Esse Henry não
viveria feliz por muito mais tempo, não quando ele já tinha feito tanto mal a
ela.

Garantiria que a última coisa que ele visse antes de apagar,


implorando perdão, fosse o meu rosto. E isso seria um prazer!

Digitei seu nome onde antes eu havia digitado o dela e peguei sua
imagem, salvando no meu celular só para ter certeza. Sabia que não
esqueceria aquela feição, mas era só pra garantir.

Eu estava fervendo de raiva e precisava fazer aquilo. Caso não


fizesse, não seria o homem que eu acreditava ser.

Meu nome era vinculado a muita notícia, eu sabia, e por isso deixei
tudo engatilhado para nada vir à tona. Se esse merda achava que só ele tinha
seus esquemas, estava mais do que enganado.

Ah, filho da mãe, mal sabe você do que sou capaz.

Torrington seria pouco para manter minha fúria enclausurada. Eu o


trataria assim como ele a tratou. E o que ele fez com ela seria pouco, muito
pouco perto do que eu faria com ele.

Nem seu pai, nem o presidente seriam capazes de defendê-lo.

Henry era um covarde da pior espécie, do tipo que só sabe bater e

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abusar de mulheres porque elas não conseguiam se defender. Esse desgraçado
aprenderia a maior lição da sua vida... a de nunca, nunca, fazer com os
outros, o que ele não queria que fizessem com ele.

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Ralph não falou nada. Respeitou o meu silêncio, o que só me deixava
mais à vontade com a sua presença.

— Me desculpe por aquele dia Rose, não devia tê-la deixado sozinha.
É que eu realmente fiquei sem saber o que fazer.

Eu não estava me importando muito com aquele dia. Qualquer pessoa


ficaria perdida se me visse presa nas memórias daquele passado obscuro. Eu
não era burra ao ponto de pedir para que alguém me aceitasse assim, cada um
cuidava dos seus próprios demônios e eu não imporia os meus, sendo que
nem eu mesma os aguentava em algumas horas.

— Tudo bem Ralph, eu te entendo.

— Eu sei. Você é maravilhosa, mas não devia se contentar com


aquilo. Você merece mais Rose, muito mais. Merece no mínimo alguém que
te entenda e fique com você quando mais precisar. Eu deveria ter feito isso.

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Eu não esperava por essas palavras. Mas tinha que admitir que fiquei
feliz em ouvi-las. Quando você não pode contar com ninguém, ouvir algo
parecido soava libertador. É sempre bom saber que pode aparecer na porta de
alguém, no meio da madrugada com todos os seus problemas em ebulição,
com a certeza de que terá um bom ouvinte e alguém para te dizer que as
coisas ficarão bem.

— Pode sempre contar comigo.

Sorri de forma fraca pra ele, sabendo que aquela era a mais pura
verdade. Se tinha alguém sincero nesse mundo, esse alguém era ele. Sempre
tinha sido. Desde a época em que estudávamos juntos ele falava o que
pensava, não mascarando nem um pouco a verdade e era isso que o tornava
confiável. Essa facilidade que ele tinha de ser sincero com todos.

Era algo realmente encantador em um homem.

— Eu sei, Ralph. Você era meu melhor amigo.

— Desse jeito me magoa... era?

— Desculpe, mas tenho uma no seu lugar agora. Ela é realmente uma
das melhores pessoas que conheço. Se a conhecesse pensaria o mesmo.

— Lembro... Você me falou dela durante o jantar. A esposa do


Currey.

— Essa mesma.

Concordei sabendo que a Beatriz conquistaria qualquer um. Ela tinha


aquele jeito maluco, mas um coração gigante e cheio de amor.

— O sucesso ainda não subiu na cabeça dela? Afinal ela é casada com
o melhor jogador da liga. Logo a camiseta dele sobe pro Hall da fama,
consagrando o número como dele no Boston Globe. O cara é bom demais,
não tem nem como contrariar isso.

— Ela é tranquila, Ralph. Josh sempre foi o amor da vida dela, ele só
não sabia disso ainda. Ela meio que está feliz em ser só a mulher, entende?
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Eles se dão muito bem e formam um casal perfeito nas imperfeições um do
outro.

— Soa bonito nas suas palavras.

Ele fez um gesto com a boca, não acreditando muito no que disse.
Mas como eu sabia, Ralph não conseguia conter a sinceridade em seus lábios
e às vezes soltava algumas coisas desnecessárias.

— É verdade. Se um dia conhecer os dois, vai entender o que estou


falando.

— Os dois eu não preciso. Conhecendo ele e fazendo com que


autografe a minha camisa do time, já fico mais do que feliz.

Dei risada porque ele era dos que nos faziam rir, até mesmo nas horas
menos propícias para isso.

— Está melhor?

— Acho que sim.

Ele pareceu ponderar suas próximas palavras, o que era mais do que
estranho. Nunca tinha o visto tão receoso com algo.

— Sua prima está mesmo com o Henry e quando disse tudo o que eu
sabia, ela não se importou. Acho que isso não vai terminar bem Rose...

Eu sabia por experiência própria como as coisas provavelmente


acabariam e literalmente, não seriam nada boas. Na verdade, dizer isso seria
até mesmo um eufemismo. Mas, minha prima não poderia dizer que não tinha
sido avisada e que não imaginava do que ele era capaz. Ela tinha muita noção
de como as coisas eram na vida dele e aceitou isso por livre e espontânea
vontade.

Eu já tinha lavado as minhas mãos quanto a ela. Não chegaria perto


dele, correndo risco de vida apenas para salvá-la da catástrofe iminente.

Porque no fundo, eu tinha um pouco de ideia do que Henry faria; a


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usaria para chegar perto de mim e provar que ainda conseguia me ferir como
o tinha feito há tanto tempo.

Mas ele não esperava que agora eu fosse muito mais forte do que
sequer imaginei ser possível naquela época, e que se ele resolvesse fazer algo
realmente ruim comigo, pagaria mil vezes mais. Eu não deixaria barato.
Praticaria da minha defesa e faria tudo o que estivesse ao meu alcance para
nunca mais cruzar com ele desprevenidamente.

O tempo da Roselyn fraca estava passando, e caso ele tentasse


atrapalhar isso, seria arrastado juntamente com os meus medos.

— O pai dele ficou meio abalado com o que aconteceu, sabe? Por isso
Henry ficou tão revoltado. Suspeito que muitas regalias foram tiradas dele em
troca do abafamento do caso.

— Esse é o problema. O pai dele não deveria nem ser capaz de fazer
isso. Justiça é justiça.

— Eu concordo. Mas infelizmente nada é como queremos que seja.

Literalmente.

Ralph olhava a estrada à sua frente, preso em suas indignações assim


como eu o fazia. Ele me entendia e provavelmente sentia a mesma frustração
que eu.

Presenciou a maioria das vezes em que vi Henry depois do que tinha


acontecido e como seu sorriso sarcástico acabava com toda a minha vontade
de continuar vivendo. Eu via nas suas feições a promessa de que enquanto eu
vivesse, tudo poderia acontecer novamente e foi isso que me fez fugir com
tudo o que eu sentia dali. Foi o sorriso cada vez maior que eu via na cara de
quem sabia que não seria punido.

Henry não fazia questão de fingir que estava arrependido. Não tinha
necessidade disso. Enquanto ele e seus amigos andavam livremente pela
cidade, eu tinha que me manter em casa, presa, devido ao medo que me
consumia por completo, sugando todo o resquício de vida que eu tentava
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manter em mim.

Foi a pior semana da minha vida. E se Deus quiser nunca mais se


repetiria. Eu morreria ou mataria antes que aquilo acontecesse novamente.

— Eu vou ficar com você, fica tranquila. Não confio em ninguém


naquela cidade. São um bando de sem caráter, com nenhum tipo de senso.

— Está tudo bem. Eu sei me cuidar, Ralph.

— Claro que sabe. Está se saindo maravilhosamente bem nisso, mas


eu não vou conseguir dormir sabendo que está sozinha.

Fiquei olhando-o, tentando entender o que queria dizer com aquilo.


Fazendo esforço para ler nas entrelinhas das duas palavras.

— Não adianta dizer que não precisa. Eu vou ficar lá.

Eu já imaginava isso, tanto que nem me dei ao trabalho de negar. Se


ele quisesse me fazer companhia, não seria eu a impedi-lo. Ainda mais
morrendo de medo do jeito que eu estava. Sabendo que o que Ralph dizia era
a mais pura verdade.

Eu não estaria segura ali. Jamais estaria segura em qualquer lugar que
fosse perto dele.

Suspeitava que as coisas tinham passado de problemáticas para


questões pessoais na cabeça do Henry e temia o que ele faria para acabar com
elas. Pelo pouco que eu verdadeiramente o conhecia, não queria nem
imaginar quais seriam os seus meios. Todos eram cruéis e sem escrúpulos.

Kate que se cuidasse. Porque só ela seria capaz de perceber o quanto


ele faria mal a ela. E como ele a usaria para me atingir.

Porque Henry não gostava de ninguém, era idiotice pensar o


contrário. Ele era o cara que sempre faria mal aonde quer que fosse, e quem
nascia com uma natureza horrível como a dele, raramente mudava; na
verdade quase nunca mudava.

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Ele era influenciado por toda a maldade no seu coração e nunca via
motivos para se arrepender do que causava às pessoas. Essa era a coisa mais
perigosa em seus atos, a falta de arrependimento pelos feitos anteriores.

Isso o fazia capaz de qualquer coisa.

Só me restava rezar para que minha prima saísse de toda aquela


confusão a tempo. Porque se esperasse muito, acabaria revivendo tudo o que
vivi e se arrependeria amargamente, ao contrário do seu agressor.

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Foi muito fácil encontrá-lo e foi muito mais fácil bater a merda fora
dele. Todo mundo o conhecia e quando perguntei onde morava, disseram
com a maior boa vontade.

Sabia ser muito convincente quando queria.

Cheguei em sua casa e bati na porta, sendo recebido por um sorriso de


escárnio que com certeza, já sabia o que aconteceria a ele.

Bati tanto, mas tanto, que os nós dos meus dedos ficaram em carne
viva. Poderia até mesmo ter quebrado um dedo, tamanha a violência que
infringi em meus golpes. Mas nem essa dor era capaz de aplacar a raiva por
aquele monstro. Ele merecia muito mais pelo que tinha feito e eu queria que
ele sentisse na pele o quanto doía ser humilhado.

Eu fui sozinho até Torrington, não era covarde. Aquilo foi de homem
para moleque, porque era isso que ele era. A bosta de um moleque que não

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ligava para os outros. Um filho da puta mimado, que só sabia transmitir o mal
por onde passasse.

Bati com toda a minha força. Ele estava quase perdendo a consciência
quando eu decidi parar. Queria que ele soubesse o porquê estava apanhando e
queria que ele imaginasse o que aconteceria se chegasse perto dela
novamente.

Eu não seria tão piedoso a ponto de deixá-lo respirando na próxima. E


não teria uma próxima, eu o faria se mijar de medo, nem que para isso eu
quebrasse todos os dedos da minha mão.

— Nunca. Mais. Chega. Perto. Dela. Tá. Me. Ouvindo?

Mais um sorriso. Mais um soco. Um dente voou e eu nem sequer me


importei; não era meu. Se eu pudesse arrancaria todos no soco e o deixaria
explicar o que aconteceu, se sentindo humilhado por ter apanhado que nem
um saco de pancadas.

— Eu não ouvi uma resposta.

Continuei vendo meu próprio sangue manchar seu rosto imundo. E


não deveria me sentir bem com aquilo, mas eu me senti e não me arrependia
disso.

Ele sorriu novamente. — Realmente estava querendo partir dessa para


melhor.

Eu continuei, continuei até ele ceder à consciência. Levantei,


apertando os meus dedos, sentindo a dor abrir caminho pelo meu corpo.
Nunca me senti tão saciado.

Esperava que ele tivesse percebido o que estava em jogo caso


contrariasse minhas instruções. Na próxima, ele perderia muito mais que um
dente e ninguém seria capaz de vingá-lo. Ele era um bosta, isso sim. Servia
para abusar de mulheres, até mesmo batê-las, mas quando enfrentava um
homem, não sabia nem se defender.

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Eu tinha nojo de pessoas assim.

Elas me despertavam o pior sentimento possível e não eram dignas de


nada bom.

Nunca fiz ameaças com palavras vazias e quando dizia que se ele
chegasse perto dela eu o faria se arrepender de ter nascido, a certeza de que
eu faria isso corria em minhas veias.

Saí de lá me sentindo renovado. Não passei na frente da casa dela, no


caminho de volta porque não queria arriscar vê-la, todo sujo de sangue. Iria
me julgar e falar que eu estava errado em fazer aquilo.

Sinceramente... Errado era um ser humano desse existir — se é que


podia chamá-lo assim. Nem animais faziam o que ele era capaz de fazer.

Dirigi evitando tanto quanto eu podia, o contato da minha mão com o


volante. Não fazia a menor ideia de como treinaria no dia seguinte. A única
coisa que conseguia martelar na minha cabeça é que tudo tinha valido a pena.

Mesmo que eu levasse uma suspensão aos treinos como penalização.


Mesmo que eu tivesse que mudar de time ou de carreira, nada realmente
importava. Não quando eu pudesse garantir a segurança dela.

Ela estaria segura, claro que sim. Ou eu seria capaz de fazer qualquer
coisa para que estivesse.

Rose não precisava saber do que eu tinha feito, ou se sentiria culpada


por isso. Não diria nada a ela. Não saber era muito melhor do que apenas
imaginar. E a tranquilidade que eu sentia em mim era mil vezes melhor que
qualquer coisa que o dinheiro fosse capaz de comprar. Essa sensação era
impagável.

Sensação de algo vingado.

Vingança realmente não levava a nada, mas que dava uma sensação
maravilhosa, isso dava.

Só em ver o nariz quebrado, a boca que antes tinha todos os dentes,


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com um faltando bem na frente... aquilo foi divinamente maravilhoso. Ele
ficaria sem sorrir até que arranjasse um dentista bom para consertar o estrago
que eu tinha feito.

Eu pagaria para vê-lo amanhã. Ver a sua cara de derrota estampada


em todas as revistas. Ah, como isso seria doce pra mim.

Pena que não poderia de fato observar. Só o fato de ter feito o que
tanto queria já me deixava mais calmo. Ele estava ciente de que a Rose não
era mais sozinha, e que se tocasse em um fio de cabelo dela, seria esfolado
vivo.

Eu faria isso com o maior prazer.

Cheguei no apartamento e corri para tomar um banho. Conseguia


sentir meu sangue misturado com o dele escorrendo pela minha pele. O que
só me deixava querendo esfregar até que o último resquício fosse exorcizado.
Nem que eu precisasse arrancar a primeira camada de pele no processo.

Os nós dos meus dedos, estavam estourados. Completamente


inchados e doloridos. E quem disse que eu estava me importando com as
consequências disso. Nem um pouco.

Encostei minha cabeça nas paredes do banheiro enquanto a água


descia quente pelo meu corpo, tirando os vestígios dessa noite.

Esperava que quando ele acordasse, se lembrasse das minhas


palavras.

Enquanto via o sangue tingindo o chão e descendo pelo ralo, não


imaginava como poderia me sentir arrependido pelo que fiz. Seria mentira
dizer que estava sequer tentando.

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Apertei mais uma vez a minha mão, totalmente dolorida e senti a dor
criar espasmos pelo meu corpo. Eles eram totalmente bem-vindos e não
seriam negados.

As coisas tiveram que acontecer, ou eu não seria eu. Que tipo de


homem descobre que a sua mulher foi abusada e não tenta no mínimo vingá-
la, já que evitar foi impossível?

Eu não conhecia ninguém assim e nem queria conhecer, porque essa


pessoa com certeza não faria jus à mulher que tinha ao seu lado.

Terminei de tomar banho e senti o sono aos poucos. Precisava dormir


e acordar cedo amanhã. Nada era fácil, ao contrário do que muitos pensavam.
Chegávamos as sete no treino e só saiamos de lá à noite. Principalmente na
véspera de um grande jogo. Era totalmente insano o quanto exigíamos do
nosso corpo. Desde coordenação até força e habilidade.

O treino era insano e exigia tudo do nosso corpo, levando-o quase


sempre ao limite, e nos deixando estressados com os fracassos que por
ventura surgiam.

Era tudo precisamente calculado para transformar corpos humanos em


máquinas de jogo e dinheiro.

Deitei sobre os travesseiros e me permiti dormir um pouco, antes do


sermão que me esperava.

O treinador não deixaria o estrago que fiz a minha mão de fora das
suas palavras recriminadoras. Ainda mais com a temporada regular próxima.
No começo era fundamental sabermos como estávamos diante dos outros
times.

O bom e velho “conhecendo o terreno”.

Porque ninguém queria subestimar ou ser subestimado. Qualquer


deslize era o sinônimo de perda de dinheiro, patrocínio e respeito. Em um
meio tão competitivo, ninguém queria perder nenhuma dessas três coisas.

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Josh e Silas iriam me fuzilar de perguntas, sendo que eu não poderia
responder a nenhuma delas sem explicar o motivo pelo que fiz o que fiz. Era
uma merda. Caso eu abrisse a boca para falar qualquer coisa, eu tinha certeza
que Josh contaria para sua mulher, que automaticamente iria culpar a Rose
por nunca ter dito algo tão sério a ela.

Eu já imaginava que ela não tinha aberto o jogo com a Bia, se o


tivesse feito, ela nem teria deixado a amiga chegar perto de mim. Eu era a
mesma coisa que “problema ambulante” para alguém já machucada. E agora
não fazia a menor ideia do porquê Rose tinha se deixado envolver comigo.

Eu não valia a pena. Não tanto quanto ela valia.

Rose era especial e agora eu sabia o quanto era forte e merecedora da


felicidade.

Se não fosse eu quem a faria feliz, garantiria que a pessoa soubesse o


quanto sofreria se causasse qualquer tipo de dor nela. Eu faria questão de que
medo, fosse a menor das suas preocupações.

Ela era a mulher mais valente que eu já tive a honra de conhecer. E


para um cara como eu, que sabia das coisas que o rodeavam, isso era um puta
de um feito. Sempre vi mulheres batalhando para fazer a vida valer a pena.
Muitas delas desistiam no meio do caminho e outras continuavam mesmo que
isso fosse o maior sacrifício que tivessem que fazer.

Rose conseguiu se reerguer depois de muita merda e muitas não


tinham a mesma força de vontade. Era um exemplo a ser seguido e uma
mulher a ser respeitada. Merecia carinho e amor acima de qualquer coisa no
mundo. Dinheiro não compraria uma pessoa como ela, isso eu podia afirmar
com a maior convicção que guardava em mim.

Nada a compraria quando o que ela queria era somente ser feliz.

Ela era a Mulher, mulher com M maiúsculo e em negrito. Aquele tipo


que você pode tentar esquecer e jamais vai conseguir.

Eu não estava nem tentando. Já tinha percebido isso quando ela me


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deu as costas sem nem me deixar explicar a situação.

Ela era minha e eu provaria isso a ela.

Nem que eu tivesse que ficar a vida inteira fazendo isso.

Ela saberia.

Saberia que eu não a deixaria sentir nada além de amor e felicidade.

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Minha mãe estava realmente muito pior, isso de ontem para hoje. Era
inacreditável como a doença podia acabar tanto com uma pessoa. Era algo tão
rápido e impiedoso que nos deixava assustados com o futuro.

Ralph tinha entrado junto comigo e enquanto eu arrumava algumas


das coisas bagunçadas pela casa, o percebia me observando. Era pra me sentir
incomodada com esse fato, mas isso não acontecia.

— Você está conformada.

— Tanto quanto eu poderia estar. Não sou inocente Ralph, e no


estado em que ela está, é apenas uma questão de tempo.

— Essa sua força é invejável.

Não queria dar expectativas para ele, mas minha cabeça estava tão
confusa que eu só queria alguém com quem contar. E Ralph com certeza

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poderia ocupar esse lugar em minha vida.

— Aquele jantar foi mesmo uma bosta, não é?

Concordei dando de ombros e ouvi a sua risada gostosa. Ele se


aproximou aos poucos e encostou seus lábios nos meus, fazendo com que eu
retribuísse o beijo. O arrepio não me percorreu e eu afastei-me, tentando
evitar algo mais.

— Posso ter uma segunda chance?

Ele podia? Claro que sim. Eu não estava com ninguém mesmo, pelo
menos não mais. O que custava tentar algo novo com alguém novo e sem
tantos problemas? E o melhor: que já sabia completamente dos meus. Porém,
eu estava confusa e nada decidida nesses momentos de confusão. Poderia não
ser uma boa escolha.

— Vou pensar no seu caso.

— Pensa com carinho.

As coisas estavam mudando. Só de sentir seu olhar sobre mim, já


percebia o quanto ele queria aquilo. Não sabia até que ponto eu me sentia
confortável, poderia descobrir, mas a paciência era mesmo a melhor
conselheira.

Fiquei do lado da minha mãe durante todo o tempo, com ele como
companhia. Estava zelando pela minha proteção, o que só me deixava mais
receptiva quanto a um possível “nós”.

Allan ainda teimava em invadir meus pensamentos algumas vezes.


Mas não era tão constante como há alguns dias e depois daquele momento
que vi, quase toda vez em que dava o ar da graça na minha mente, eu não
conseguia evitar a onda de mágoa que vinha junto com ele.

Pior que isso era ele nem ter ido atrás.

Nós, mulheres, somos tão confusas! Mas valemos pelo menos a


tentativa e o esforço. Eu não queria vê-lo, só que, isso não significava que se
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ele viesse atrás eu ficaria realmente impassível.

Acreditava que quem queria, fazia por merecer, e nesse momento ele
não fazia nada, nem sequer uma ligação ou mensagem se deu ao trabalho. O
que ele merecia então, além de silêncio?

Foi só pensar no seu nome que senti meu celular vibrando em um dos
bolsos da minha calça.

Era ele. Claro que era.

Meus pensamentos estavam mesmo me passando uma perna. Porque


o nome “Jamesconda” piscava freneticamente enquanto a música que eu
tinha colocado especialmente para suas ligações, tocava de forma
ensurdecedora.

E sim, eu tinha colocado aquele nome de contato, mais para brincar


com o apelido que o Pharrell tinha dado. Tendo que admitir que ele sabia do
que estava falando, mesmo não tendo visto. O cara era mesmo um sabe tudo
dos mais espertos. Até nas fofocas prevendo o futuro ele acertava, nunca vi
um cara tão fofoqueiro acertar nos seus palpites. Geralmente fofocas eram
infundadas, as dele tinham todo o sentido.

O celular não parava de vibrar na minha mão, era a terceira chamada


que eu estava ignorando, sem a menor intenção de atender.

Fazê-lo esperar era o mínimo da minha vingança. Nunca fui muito


ligada a isso, mas dessa vez, ele tinha realmente cutucado algo ruim dentro de
mim. Sorria com aquilo, eu não ficaria esperando até ele ter a decência de se
explicar. Então, o mais rápido possível seria uma chance a mais.

— Porque está sorrindo?

Ralph perguntou e veio na minha direção, olhando sobre meu ombro e


logo em seguida para mim, com uma cara nada boa. Aquilo era tudo o que ele
não queria ter visto. Uma confirmação do ditado, que a curiosidade matou o
gato. Ou melhor, a curiosidade matou a alegria do Ralph.

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— O jogador?

Gargalhei pela primeira vez desde ontem, só em imaginar o que ele


estava pensando daquele nome de contato. Com certeza era algo parecido
com o tamanho de fato da “ferramenta”.

Enrugou as sobrancelhas e foi até a sala, nem olhando para trás.


Ninguém tinha mandado querer ver o que eu estava olhando.

Decidi atender e acabar com a aflição daquela alma. Até porque eu já


imaginava o que ele iria dizer. Coisas do tipo: “Não é isso que está
pensando”, “preciso te contar algo”, enfim, a mesma falação de sempre.

— Oi.

— Achei que não me atenderia.

— Não ia mesmo.

— Você tá bem? Como sua mãe tá? Precisam de alguma coisa?

Minha vingança começaria exatamente agora. Nada melhor do que


fazê-lo sentir no mínimo metade do que eu tinha sentido.

— Não. O Ralph está me ajudando.

Sabia que era errado enfiá-lo nessa enrascada, mas estava sendo mais
do que prazeroso ouvir a respiração pesada do Allan através do telefone.
Dava pra perceber todo seu conflito interno e eu seria ruim em achar aquilo
magnífico?

— Quem é Ralph?

— Um amigo.

— Amigo?!

A palavra saiu amarga na sua voz e estava sendo difícil esconder a


minha alegria com tudo aquilo. Provocá-lo era mesmo impagável. Se eu
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pudesse ver o seu rosto então, tenho certeza que riria mais do que se visse o
filme “As Branquelas”.

— Tô indo aí.

Merda. Esse não era o objetivo, estava tudo dando errado. Era para ele
ficar bravo, e não querer tirar a prova com os próprios olhos.

— Não. Não precisa.

Ouvi o som de chamada encerrada e nem tempo para me desesperar


por umas duas horas eu tinha. Como pode as coisas acontecerem tão rápidas
dessa forma?

A temporada da liga estava prestes a começar, e mesmo com a sua


agenda lotada de treinos ele ainda viria até aqui. Não sabia ao certo o que
pensar com isso. Na verdade, não sabia nada.

— Ele está vindo.

Minha mãe falou de forma rouca ao meu lado, adivinhando coisas que
ela mesma já tinha dito para mim. Não podia deixar minha felicidade passar.

— Eu sabia que ele viria.

Ela não conseguia falar muito e o suspiro que deu quando proferiu a
última palavra, só demonstrava que a pequena conversa havia acabado.

Fiquei sentada, tentando me preparar para o vendaval que invadiria a


casa e tudo parecia simplesmente em vão. No fundo, nada conseguiria me
preparar para o James.

Ele fazia as regras dele e passava por cima das demais. Era imbatível
tanto no jogo quanto no amor.

— Vou dar um pulo em casa, pegar algumas coisas, tudo bem?

Eu deveria falar para ele alguma hora que uma pessoa estava vindo e
era alguém que eu suspeitava não querer vê-lo na frente. Allan significava
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perigo para Ralph e pelo menos sincera eu teria que ser com ele.

— Não precisa voltar Ralph, o Allan vai vir ficar comigo.

Era o que eu esperava... Que ele estivesse vindo para finalmente me


explicar tudo e que se Deus quisesse, não passasse de uma encenação daquela
mulher sem escrúpulos.

— O jogador?

Acenei positivamente com a cabeça e vi as suas feições mudarem.

Não deveria tê-lo envolvido em problemas, mas, eu já era um


problema ambulante e ficava complicado evitar atingir a todos com isso.

— Vai estar em boas mãos pelo menos. Acho que ninguém seria
capaz de tentar fazer algo com um cara daquele tamanho com você.

Ele sorriu sem levantar os lábios. Aquele tipo de sorriso machucado


que eu costumava distribuir às pessoas.

Era difícil ver uma dor que você infligiu tão aparente em outra pessoa.

Por isso quando ele se virou e foi embora, eu apenas deixei. Sem dizer
nada. Não precisava de mais, ele sabia no que estava se metendo. Na verdade,
era a pessoa que mais sabia dos meus problemas e porque eu nunca entregaria
meu coração completamente, novamente.

Fiquei olhando em volta da pequena e aconchegante casa.


Lembrando-me dos meus anos de infância e em como, por pouco tempo, eu
havia sido realmente feliz.

Ouvi um barulho na porta da frente e achei mais do que cedo pro


Allan já ter chegado. Se ele tivesse acabado de sair de Boston no momento
em que encerrou a ligação, só estaria chegando aqui daqui mais ou menos
duas horas.

Poderia ser Ralph, que deveria ter esquecido alguma coisa. Era nisso
em que eu queria acreditar.
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Quando saí do quarto e andei pelo corredor, percebi o erro que cometi
em imaginar que estaria segura por apenas algumas horas nessa tranquila
cidade...

Eu nunca estaria segura aqui.

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Quando a ouvi dizendo o nome de um homem com a maior
naturalidade do mundo, quase tive um ataque cardíaco de tanta raiva que se
acumulou em mim.

Rose estava brincando com fogo, e uma hora ou outra iria se queimar
feio. Não era conhecido por ser calmo, era mais do tipo engraçado, mas esses
são os piores. Não podiam ser provocados nunca.

Eu dirigia o carro como um torpedo, o ponteiro de velocidade já tinha


ficado perdido há muitas milhas atrás. A viagem que provavelmente eu faria
em duas horas seria diminuída para no mínimo a metade. Acelerei, sentindo
todo o poder do motor potente ao comando dos meus pés, sem fazer a menor
cerimônia.

Ela mal sabia o que a esperava. Já tinha cansado de aguardar, aquilo


não estava ajudando em nada. Minha natureza era bem diferente daquela,
sempre fui atrás do que eu queria. E eu a queria, mais do que qualquer coisa
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no momento.

E não esperaria outro tomar o meu lugar.

Depois do que eu soube, a ideia de que eu seria perfeito para ela


estava mais do que formada na minha cabeça e nada provaria o contrário.
Estava decidido.

Pelo menos o desgraçado tinha sofrido um pouco... Se eu pudesse


voltar no tempo bateria mais ainda.

Não sei se era um mal pressentimento ou uma coisa idiota, mas algo
me dizia que ele ia querer se vingar e com a Rose por perto seria fácil. Por
isso eu estava correndo sem me importar com nada, nem mesmo com o limite
de velocidade da auto estrada. Estava a mais de cem milhas por hora, e se
aquele carro não fosse estável e seguro o suficiente, um acidente seria fatal. O
preço absurdo compensava nesse quesito.

O nome dela não parava de ficar passando como um filme na minha


cabeça, onde tudo dependia da minha rapidez em chegar lá. Aquela sensação
ruim teimava em abrir caminho pela minha mente já cismada com aquela
merda.

Maldita hora em que fui deixar Lettie se impor em minha vida. Só


sabia atrapalhar tudo o que eu tinha conquistado. Que continuasse morta de
uma vez! Não era o tipo de cara que se arrependia, mas merda, eu estava mais
do que arrependido de ter confiado nela tantos anos.

Não se importava com ninguém e só queria vantagens. Voltar depois


que eu estava entre um dos nomes mais conhecidos do basquete era fácil, mas
ficar enquanto eu subia era impossível. Odiava pessoas assim.

Quando passei pela avenida mais movimentada da cidade meu


consciente já foi se acalmando. Eu estava chegando.

Rose, eu estou chegando. Me espera.

Aquilo que eu sentia arder no peito só podia ser uma mentira, ela não

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estava em perigo, claro que não. E não por minha culpa.

Tentava acreditar com todas as minhas forças nisso, e nada parecia


colocar essa convicção sob minha pele. Aquela voz na minha mente teimava
em dizer que tinha alguma coisa extremamente errada.

Fiz o mesmo caminho que ela tinha me dito quando vim aqui pela
primeira vez e ao parar na frente da sua casa, confirmei minhas suspeitas de
que tudo estava muito errado. Caralho! Super errado.

A rua estava calma, mas a porta da frente estava no chão, sem


ninguém sequer se importar com isso. Claramente uma merda tinha
acontecido ali e os vizinhos não tinham o mínimo de decência em ajudar.

Abri a porta do carro e saí correndo sem me preocupar em fecha-la. A


preocupação estava em polvorosa na minha cabeça. Muita coisa acontecendo
ao mesmo tempo me deixava desesperado, nem em jogos de final de
temporada eu ficava com o sangue correndo a mil em minhas veias como
acontecia agora.

Pedir para que tudo estivesse bem era mesmo demais?

Rose não merecia isso de novo. Muito menos por minha culpa. Eu só
queria que aquele filho da puta pagasse por tudo o que tinha feito.

Porque eu tinha certeza que foi ele quem esteve aqui.

Quando cheguei no quarto, só encontrei a mãe dela morta na cama.


Rose nunca abandonaria a mãe assim. O que só me deixava com mais raiva.
Aquele filho da puta a tinha feito perder o momento mais importante ao lado
da mãe e isso não teria como voltar atrás.

A morte não voltava atrás.

Senti a raiva se apoderar de mim e quando voltei para o carro, o soco


que dei no volante poderia facilmente tê-lo partido em pedaços.

Senti uma mão no meu braço e quase que a pessoa leva um soco de
desmaiar, se eu não tivesse olhado antes, porque era isso que aconteceria a
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quem me pegasse desprevenido agora.

— Você está procurando ela, não é?

Não respondi. Essa merda de cidade não servia para nada. Só para
olhar uns fazendo mal aos outros sem fazer nada.

— Eu sei para onde ele a levou.

Fixei meu olhar frio sobre a mulher à minha frente e algo me dizia
que eu não queria saber como ela tinha essa informação. Se ela tivesse
ajudado seria a primeira que eu manteria desacordada por um bom tempo.

— Ele me usou, queria acabar com a vida dela e eu fui inocente em


achar que me amava. Então quando eu disse que tinha chamado porque a mãe
dela estava pior, ele se aproveitou disso. Amarrou-me em casa e só consegui
me soltar agora porque uns amigos sentiram minha falta e foram ver o que
estava acontecendo. Tem que correr... Eu vou junto, ele é perigoso, capaz de
tudo.

Entrei no carro, esperando que ela fizesse o mesmo e com rapidez.


Não podia perder tempo nenhum.

— Foi você que fez aquilo com ele, não foi? Ele falava algumas
coisas desconexas e que o jogadorzinho iria pagar também. Mesmo dolorido
foi capaz de fazer tudo isso, acho que o ódio é a única coisa que o move
agora.

Soquei mais uma vez o volante, fazendo com que o carro desse uma
guinada para o lado. A mulher se assustou e ficou calada pelo resto do
caminho. Não queria ficar ouvindo nada que fosse atiçar a minha sede de
vingança. Aquele desgraçado não fazia a menor ideia de que estava lidando
com um cara não tão bom assim.

Se ele era ruim, mal sabia o quanto eu conseguiria transformar a vida


dele em um inferno.

— Ele tem ajuda?

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— Não. Ninguém sabe.

O sorriso que se desprendeu dos meus lábios só prometia o quanto ele


iria sofrer. Depois de alguns minutos andando com as suas instruções, ouvi o
que finalmente queria ouvir, estávamos chegando...

— É ali!

Disse quando avistamos uma fazenda longe da cidade. Era enorme e


tinha vários galpões e celeiros, o que dificultaria as coisas, pois teria que
olhar em cada um e sem alertá-lo da minha presença.

— Sabe em qual deles ele está?

— Não.

— Fica aqui.

Saí do carro, fechando a porta com o maior cuidado possível.


Qualquer barulho poderia acarretar em algo muito pior.

Andei pelos celeiros, procurando as portas laterais e abrindo-as


delicadamente. Cada lugar que eu observava e percebia que não era o certo,
machucava mais a minha esperança.

Vai dar tudo certo Allan. Ela vai estar em um dos próximos.

Olhei na maioria e quando faltavam apenas dois, pude perceber


barulhos abafados dentro do penúltimo. Respirei de alívio, enquanto sentia a
coragem encher meus pulmões de ar novamente.

Procurei a pequena porta que deveria ter ali e quando descobri, pude
ver que o filho da puta estava bem de costas para mim.

Idiota imbecil.

Rose estava de frente e viu quando eu abri um pouco a porta. Ela


estava com uma fita na boca e totalmente amarrada na cadeira. Se eu não
fosse um pouco esperto já teria deixado que a minha raiva comandasse as
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coisas e partisse para cima daquele desgraçado. Mas, como um bom jogador,
eu sabia que tinha hora certa para agir, sempre tinha e eu esperaria por ela.

Ela disfarçou bem e desviou o olhar novamente para ele, como se


estivesse prestando atenção em todas as porcarias que ele falava.

Conseguia apenas ouvir os seus sussurros, ele não gritava, ao invés do


que imaginei que fosse fazer, apenas conversava tranquilamente como se
aquela cena fosse totalmente civilizada.

Fiz um sinal de silêncio para ela que apenas me olhou, sem esboçar
nenhuma reação. Menina esperta.

A dor que eu via em seu olhar era capaz de me machucar muito mais
do que qualquer dor que infligissem em mim. Ela era meu ponto fraco. Desde
o momento em que a vi quando fui buscá-la para festa de comemoração na
casa do Josh, eu me liguei que ela era especial. Nada me prepararia para o
monumento que vi quando abriu a porta. Foi algo tão surreal que eu poderia
fazer a mesma reação agora, já que me lembrava perfeitamente de como meu
queixo tinha caído e minha respiração parado.

Sua pele sedosa e clara, combinando com seu cabelo negro e olhos
extremamente azuis, tinham me acertado em cheio e eu me senti
momentaneamente sem ar.

Rose era incrível, por dentro e por fora. Era o maldito sonho
adolescente de todos os homens: uma mulher legal, linda e que tinha um
corpo arrasador.

Abri a porta aos poucos, sem fazer nenhum ruído e andei calmamente
até onde eles estavam. Controlando o meu demônio interior que só pensava
em ver sangue, conforme eu me aproximava.

Teria que tirar Rose dali antes de fazer qualquer coisa, ela não
aguentaria ver mais essa cena de violência, do mesmo modo que eu não
aguentaria sair sem tê-la.

Ele tinha mexido com alguém que eu me importava, e ninguém faria


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isso uma segunda vez. Não, se tivesse noção do perigo.

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— O que faz aqui, Henry?

— Vim pegar o que é meu. Você vai comigo docinho, querendo ou


não.

Olhei espantada para os hematomas em seus olhos e braços e não


fazia a menor ideia do que poderia ter causado aquilo. Eu só conseguia sentir
medo, e muito, muito nojo.

Como Henry poderia fazer coisas tão ruins e continuar achando que
aquilo era o certo?

— Não! Cansei de sentir medo de você sempre! Não pode mais ditar
como as coisas serão na minha vida. Estou exausta de relembrar tudo como
um filme de terror na minha cabeça. Não pode fazer isso e achar que vai sair
impune!

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— Seu namoradinho me visitou ontem e fez um belo trabalho, tenho
que admitir. Mas o maior erro dele foi me deixar vivo. Porque eu realmente
não ficaria longe de você, Rose. Você é minha. Eu a marquei há muitos anos,
e aquilo deveria tê-la feito permanecer aqui, comigo! E não ter ido embora,
como se nada do que vivemos tivesse importância.

Ele estava louco, impossível alguém ter esses pensamentos em sã


consciência. Impossível. E o pior era que pessoas assim não costumavam ter
nenhum senso, porque quando chegava nesse ponto, não havia volta.

— Minha mãe está doente, Henry, deixe-me ficar com ela um pouco e
vou com você aonde quiser.

Eu precisava ganhar tempo, logo Allan estaria aqui, e como Henry


estava sozinho, não teria chance. Seria o único que conseguiria impedir os
planos malucos do meu ex-namorado. Allan era minha última esperança.
Caso ele não chegasse, eu realmente não saberia o que fazer, estaria perdida.
Completamente perdida.

— Nada disso. Vi quando Ralph saiu daqui e não vou esperá-lo


voltar.

Ele estava contando somente com Ralph, isso era uma vantagem. O
inimigo subestimar suas forças era a maior fraqueza que ele poderia ter.

— Eu mandei Ralph embora, Henry.

Use-o a seu favor, Rose. Se ele quer tanto ficar com você, use isso a
seu favor. Já viu acontecer antes e pode funcionar.

— Mandei-o embora para ficarmos juntos. Como você disse. Eu sabia


que estava vindo e precisava estar sozinha para me declarar. Nunca esqueci
nossos momentos Henry, você foi importante na minha vida.

O asco que eu sentia estava subindo pela minha garganta e era quase
impossível não demonstrar o quanto aquelas palavras eram mentirosas e
horríveis. A repulsa de ter que fingir gostar dele estava me causando mais
mal do que eu acreditava ser capaz.
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— Não quero saber, você vai comigo agora! Ou eu faço com que sua
mãe não respire por muito mais tempo.

— Não, por favor, deixe-a fora disso!

— Como quiser.

Veio até mim de forma rápida e me puxou pelo braço, com um aperto
esmagador, machucando não somente aquela área de aperto, mas também
algo em mim que há muito tempo se lembrava do seu toque com repulsa.

— Dessa vez seremos felizes Roselyn, muito felizes. Você vai


perceber que seu lugar é ao meu lado.

Deixei que ele me levasse até seu carro, não conseguindo reagir da
forma que queria. Estava em choque, morrendo de medo que o que ele falava
fosse realmente se concretizar. Não conseguia imaginar o que ele faria
comigo em tanto tempo, mas sabia que eu não queria que isso acontecesse.

— Entra.

Empurrou-me na direção do passageiro, jogando-me bruscamente


sobre a lataria, fazendo com que eu batesse a cabeça com força, ficando
totalmente zonza devido a pancada.

Aquelas coisas estavam voltando...

— Pra onde está me levando?

— Está falando demais, docinho.

Pegou uma corda aos pés do banco e rapidamente amarrou meus pés e
mãos, de uma forma que me soltar seria praticamente impossível, depois
pegou uma fita no porta luvas e passou na minha boca, impedindo que eu
gritasse ou falasse mais alguma coisa.

Tudo estava recomeçando e eu não sabia o que fazer, nem de que


forma me salvaria. Dessa vez eu tinha a impressão de que se eu saísse dali,
seria direto para o cemitério. Henry não estava com a mínima vontade de me
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manter viva e eu jurava que, talvez, ele também não quisesse ficar vivo.

Meus pensamentos estavam seguindo por um caminho que me


deixava amedrontada, mas não tinha mais o que pensar. Eu era esperta para
entender as suas intenções de acordo com as suas feições, e elas realmente
não demonstravam que existia um final feliz para nós dois. Por incrível que
pareça, para nenhum de nós.

Eu não conseguia falar com aquele plástico prendendo os meus lábios.


Era sufocante e agonizante, ver sua vida passar em um piscar de olhos na sua
mente, sabendo que a possibilidade de escapar dessa vez era quase nula.

Estávamos pegando o caminho da fazenda da sua família, eu sabia


disso porque sempre o ouvi se gabar sobre esse lugar, sobre como era
maravilhoso e a maior fazenda da redondeza. Claro que ele contaria
vantagem sobre isso, ele era um homem mimado e rico que nunca soube o
que era passar dificuldade na vida, e conforme seu pai passava a mão em sua
cabeça, todas as vezes que fazia alguma coisa errada, mais o deixava com
aquele caráter horrível que ele tinha.

Queria acreditar que algo aconteceria para impedi-lo de concretizar


tudo o que tinha planejado, mas enquanto eu estava ali, na sua companhia,
era inútil criar esperanças em cima de algo incerto.

Chegamos na fazenda, e pela primeira vez eu via como ela era mesmo
maravilhosa, pena que fosse presenciar algo “não tão bonito assim”, e que
isso a marcaria mesmo que não quisesse. Porque coisas ruins que aconteciam
nos lugares, ficavam atormentando todas as pessoas que viessem a visitá-lo.

Sempre acreditei que todo o mal presenciado influenciava o ambiente


de alguma forma, ele ficava deprimente e com uma escuridão visível somente
para quem prestasse atenção.

Henry me arrastava enquanto escolhia em qual dos galpões iria me


manter. Não pareceu ficar contente com os primeiros, talvez porque fossem
óbvios demais.
Alguém que estivesse me procurando poderia facilmente desistir após
verificar os muitos galpões antes de realmente me encontrar e um dos
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últimos.

— Já estamos chegando, Roselyn.

Toda vez que ele dizia meu nome completo e daquela forma
sarcástica, eu ficava com mais ódio de me chamarem assim. Parecia que
qualquer pessoa que me chamasse pelo nome completo saberia tudo pelo que
passei e me julgaria assim como todos o haviam feito.

Minha mente voltava para aquele lugar, para aquela casa, e nada me
faria manter a sanidade se eu sofresse tudo novamente. Tinha certeza que
dessa vez Henry deixaria marcas tão profundas em mim que seria quase
impossível me resgatarem do poço no qual cairia.

Caso ele conseguisse terminar o que queria fazer, eu tinha a mínima


noção de que querer morrer, seria pouco para definir o que eu sentiria.

Supliquei um por favor abafado pelo plástico, o que o fez olhar para
mim com o pior olhar que poderia fazer. Aquele tipo que dizia o quanto iria
me machucar e que não sentiria o menor remorso com isso.

— Por favor? — sorriu — Não precisa se preocupar, minha querida,


nós passaremos momentos ótimos juntos e você vai adorar, tenho certeza!

Comecei a chorar, abandonando a tática de jogar com o inimigo. Ele


não estava acreditando em mim de qualquer forma, porque sabia muito bem o
quanto eu queria manter distância dele e o quanto aquilo acabava comigo. Ele
poderia ser qualquer coisa; louco, imbecil e cruel, mas não era burro.

Ele fazia aquilo para me atingir, para provar o quanto ainda poderia
me afetar e acabar com a minha vida.

— Não chora, vai ficar bem. Prometo.

Suas feições me diziam totalmente o contrário e provavam o quanto


ele estava insano. Jamais pensei que o veria assim e sinceramente, não
pensava em um porquê para tanta raiva de mim, quando a única, sempre
machucada nessa história, tinha sido eu. Em nenhum momento ele provou

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que realmente me amava, apenas brincou comigo e fez coisas impetuosas
com meu corpo.

Eu estava morrendo de medo daquilo acontecer de novo. Era difícil


continuar sendo forte quando o perigo batia de frente com o seu pavor. Com a
sua lembrança...

Entendia na pele como era se sentir com medo de qualquer coisa, e


todas as vítimas que sofreram o mesmo abuso que eu ou similares, também
sabiam. Era o tipo de sentimento que só quem já passou por isso saberia
explicar. Aquele tipo que fica trancafiado na alma, só esperando algo
remotamente parecido acontecer para vir à tona e derrubar todas as nossas
proteções.

Era inútil lutar quando tal coisa acontecia, era praticamente inútil
querer sentir outra coisa, porque esse horror dominava todas as emoções e
fazia picado das lembranças felizes. Deixando-nos com somente aquela
terrível sensação de impotência e caos.

Henry abriu a porta do penúltimo galpão e me amarrou a cadeira que


já estava à minha espera.

Como eu havia pensado, ele estava esperando por isso e infelizmente


eu tinha dado esse momento a ele. Era absurdo pensar que alguém ficava feliz
com a dor do outro e ao mesmo tempo era real, havia muitas pessoas assim, e
ele era uma delas.

Assim como eu tinha cruzado com ele na minha vida, muitas pessoas
tinham cruzado com homens parecidos e essa era a grande crueldade do
mundo: uma pequena parcela da humanidade que só era feliz ferindo outro
alguém.

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Segurei firmemente em sua cabeça, preparado para fazer algo que
jamais imaginei fazer: quebrar o pescoço de um homem.

Arrepiava-me com essa ideia, mas para protegê-la eu o faria. Se sua


paz só fosse possível depois que ele não existisse mais, eu garantiria isso.

Rose me olhava, um sinal claro para não fazer aquilo...

O desespero nos seus olhos só me deixava balançado no que estava


prestes a fazer. Ela estava preocupada comigo e em como as coisas ficariam
depois, queria ser um homem melhor para ela. Por ela...

E por isso, a dúvida do que eu devia com o que eu desejava era


horrível.

Na verdade, eu não sabia se conseguiria com ela ali, vendo tudo, de


forma que jamais superaria o trauma.

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É, o demônio teria que se calar.

Mesmo a violência sendo algo horrível, por defesa própria poderia ser
perdoada, não poderia? Era ela ou ele, eu ou ele. Não tinha muito o que
decidir.

Quem poderia me julgar por querer salvar a vida de alguém que eu


amava?

Porque sim, eu a amava como nunca imaginei amar novamente um


dia. Mas era algo totalmente diferente. Era algo muito mais puro e altruísta,
onde eu a colocava em qualquer lugar na minha vida desde que ela fosse a
primeira sempre.

As coisas tinham mudado pra cacete.

— Uma palavra errada e eu acabo com você.

O aperto das minhas mãos era tão forte que eu pude sentir seu corpo
ficar completamente tenso, com a possibilidade de morrer de uma hora para
outra.

— Claro que você viria. Está apaixonado por ela, não está? Se não
estivesse, não teria ido até a minha casa, querendo vingá-la. Todo cheio de
boas ações, quando o que queria era apenas apagar o vermelho que via ao
abrir os olhos. Querendo descontar em mim as suas frustrações.

Eu não confirmaria nada ali. Rose não merecia saber dessa forma o
que eu estava sentindo. Ela merecia muito mais e eu não deixaria Henry
estragar esse momento para nós dois.

Desci minhas mãos até seu pescoço e o apaguei, deixando-o


desacordado. Por mais que eu quisesse acabar logo com tudo aquilo, não
queria sujar minhas mãos com sangue, ainda mais um que não valia a pena.

Ela me olhava com uma expressão muito machucada, e dizer que eu


corri para desamarrá-la seria um eufemismo. Só esperava que nada do que ele
tivesse feito pudesse acabar com a mulher que eu conhecia. Não achei que

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tinha dado tempo para muito, já que eu tinha falado com ela um pouco antes
de sair de casa e levando em conta o quanto eu voei com o carro, não tinha
sobrado muito para ele tentar.

Graças a Deus.

Desfiz os nós que a prendiam na cadeira e tirei com o maior cuidado


que consegui a fita que grudava seus lábios. Arrepiando-me com o
sobressalto que ela teve quando eu terminei.

Aquele desgraçado nem poderia ser chamado de ser humano. Como


conseguia fazer isso e ainda dormir à noite?

Peguei-a no colo, murmurando que estava tudo bem, que eu não


deixaria nada de mal acontecer a ela novamente, o que na verdade não
deixaria mesmo. Só se passassem por cima do meu cadáver.

Rose se apertava cada vez mais contra o meu corpo, como se fosse a
sua muralha e proteção.

Se dependesse de mim ela não ficaria mais nem um segundo longe


dos meus olhos.

Temos que saber aproveitar as oportunidades e eu faria uma


oportunidade desse momento. Nem se ela pedisse, eu me afastaria. Já tinha
tomado essa decisão e nada me faria voltar atrás.

— Vamos ver sua mãe.

Eu não diria o que tinha acontecido, até porque ela já estava mais do
que abalada com toda aquela merda. Era melhor deixar que visse por ela
mesma e então caísse a ficha de uma vez. Acho que dizer só a faria
desmoronar de vez.

E outra, como eu diria aquela notícia de forma tranquila?


Sinceramente, não fazia a menor ideia, por isso a levaria para que ela mesma
percebesse.

Mais uma coisa que aquele desgraçado a tinha feito perder. Meu ódio
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só aumentava, de uma forma que nem meu pior inimigo iria desejar.

— O que aconteceu?

Ela estava finalmente falando, o alívio que eu senti quase me fez


desabar sobre minhas pernas, o que a faria literalmente cair, e me permiti
apenas respirar de forma ruidosa. Talvez nada daquilo a afetasse
permanentemente, era a mulher mais forte que eu conhecia.

Fiz cara de paisagem, porque qualquer outra entregaria o que eu não


queria dizer agora.

— Ela não aguentou, não foi?

Eu concordava ou não concordava? Que situação difícil de lidar.

Decidi por não fugir da verdade, uma hora ou outra ela viria à tona e
poderia machucar muito mais. Fora que já estávamos ali e precisávamos lidar
com o enterro. O que já era por si só muito difícil.

— Não.

Chegamos até o carro e eu rapidamente peguei meu celular, ligando


para a polícia na mesma hora. Tinham que prender aquele desgraçado o
quanto antes e eu não sairia dali até que o visse sendo algemado e levado
embora.

Rose ficou encarando de uma forma nada boa a sua prima, e eu


percebi o quanto aquele relacionamento dela com o culpado tinha estragado a
relação das duas. Nem eu perdoaria fácil no lugar da Rose, confiança é algo
muito complicado quando se perde, e para conquistar novamente é mais
ainda, algumas vezes nem voltando totalmente.

— Eu sei que você não consegue entender isso, mas estou


arrependida, prima. Por favor, me perdoa por tê-la feito passar por tanta
coisa?

Rose virou a cara, nem esperando Kate terminar de falar. As coisas


estavam indo muito mal ali.
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— Parem de brigar, ok? Não percebem a porcaria que estão fazendo
sem necessidade? Temos um filho da puta pra prender e um funeral para
preparar. Garanto que a briga de vocês é o menor dos nossos problemas.
Precisamos esperar a polícia e contar tudo o que aconteceu. Dessa vez ele não
vai ficar solto, eu vou garantir isso. Ligarei para um dos melhores advogados
que conheço, esmagando a defesa do pai dele. Esse filho da puta não vai se
safar dessa vez. — As duas me olhavam com espanto, porque eu não
conseguia disfarçar a raiva que sentia. Era demais para mim.

Ficamos esperando as viaturas aparecerem e quando elas finalmente


deram o ar da graça, pude respirar tranquilo. Sabia que Henry estaria
desmaiado até agora, acordaria já algemado e sem poder tocar na minha
mulher, pelo menos isso tinha dado certo.

— Ele está lá dentro.

Falei para os policiais e acompanhei-os até o galpão ao longe. Nem


fodendo que eu sairia dali sem ter certeza da sua prisão. Não tinha feito todas
aquelas coisas por nada e não deixaria que Rose corresse mais riscos ainda,
porque se ele ficasse solto era isso que aconteceria. Ficaria com sede de
vingança e totalmente desesperado para nos fazer pagar por algo que
acreditava ter razão.

Esse cara era doente e não podemos contar com bom senso de pessoas
malucas.

Vi quando o levantaram do chão e prenderam as algemas nos seus


pulsos. Nunca senti tanta alegria em presenciar algo tão frio. Era maravilhoso
ver um pouco da maldade voltando para as pessoas de origem.
Absolutamente maravilhoso.

Ele foi despertando com a forma brusca a qual os policiais o tratavam


e pude ver de camarote seu olhar de pânico em estar preso. O deleite de
prazer foi tão macabro que até me assustei ao sentir mais calma do que
imaginei ser capaz para uma situação dessas.

Os policiais não falaram nada, apenas arrastaram-no o caminho todo


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até o veículo e quando as portas se fecharam o sorriso no meu rosto era
imenso, do tipo que parecia tocar as orelhas.

Eu estava feliz, mesmo depois de tudo o que havia acontecido, eu


estava muito, muito, feliz. Tão feliz que eu poderia gargalhar tão alto que
pessoas do outro lado do mundo ouviriam a minha felicidade.

Rose ficou de cabeça baixa o tempo todo e daria qualquer coisa para
saber o que ela pensava e como poderia fazê-la um pouco melhor. Porque vê-
la daquele jeito simplesmente acabava comigo.

Ela deveria estar feliz pelo filho da mãe finalmente pagar pelo que
tinha feito, mas ela estava meio que anestesiada, como se nada que
acontecesse a sua volta interferisse de fato na sua vida. Não sei como faria
para tirá-la desse estupor, mas sabia que eu lidaria com seus medos junto com
ela e agora que eu sabia quais eram, ficava mais fácil de entender. Nem que
eu precisasse ir até os mais caros terapeutas com ela, eu faria isso, faria tudo
por ela.

Eu era forte e faria da minha força a dela.

Era só me aceitar de volta que eu daria tudo que havia em mim.


Nunca tive tanta certeza do certo a seguir, mas esse era o MEU certo.

— Vamos?

Abracei-a e abri a porta do passageiro, colocando-a com todo o


carinho ali. Sua prima ficou pra trás, até porque meu carro era esporte e só
tinha dois lugares. Quem precisava de mim estava justamente onde deveria
estar e eu não iria me preocupar com nada além dela.

Sua prima poderia se virar para voltar para casa, sabia que o faria e
entenderia meus motivos.

Eu estava exatamente onde deveria estar.

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Eu estava em choque, não conseguia raciocinar.

Allan tinha acabado de me salvar quando eu jurava estar tudo perdido.


Não tinha como agradecê-lo à altura por tê-lo feito. Justamente quando não
tinha nenhuma obrigação de fazê-lo. Não estávamos mais juntos e se ele não
fosse atrás de mim, provavelmente ninguém o julgaria.

Quando Allan me olhou com pesar, eu automaticamente soube que


minha mãe não tinha suportado. Eu meio que já estava preparada para isso,
sabia que uma hora ou outra iria acontecer e não teria como impedir. Sua
doença estava em um estágio avançado, onde apenas esperar já era doloroso.

Via que ela estava sofrendo e cada dia eu desejava somente que seu
calvário acabasse. O mais rápido possível.

Eu choraria, claro que sim, mas ela estaria muito melhor do que ali,
com a doença definhando-a cada vez mais.

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Com o tumulto que eu causei em casa tentando impedir que Henry me
levasse, deve ter afetado ainda mais a sua situação, que já era delicada ao
extremo.

— Como percebeu que algo estava errado?

Eu não sabia como ele tinha arriscado me procurar. As coisas


poderiam estar bagunçadas, algumas quebradas, mas ele poderia pensar
qualquer outra coisa que não a verdade.

Veio-me à mente, Henry falando sobre a sua visita ontem à noite, e eu


queria muito estar errada, pensando que a essa altura das coisas ele já
soubesse de tudo o que tinha me acontecido. E o que mais me deixava
magoada era que ele não tinha descoberto pela pessoa que realmente
importava, eu. Talvez o que ele soubesse nem fosse a verdade e me julgaria
quando aquela noite finalmente terminasse e eu não tivesse mais o luto da
minha mãe sobre mim para me amortizar.

— O que veio fazer aqui ontem?

— Vingar alguém.

Algo me dizia que eu realmente não queria saber sobre isso, mas não
conseguiria deixar que o assunto morresse e que eu ficasse na ignorância
devido ao meu medo. Allan tinha vindo até ali, feito algo e voltado sem que
eu fizesse a mínima ideia sobre isso. Com certeza, ele não queria que eu
soubesse em primeira mão, tinha vergonha ou até mesmo estava receoso
sobre as suas ações.

— Quem?

Caso eu não perguntasse, ele não diria, se protegeria sob o meu


silêncio como sempre o tinha feito. Esse era seu jeito, mas hoje eu não
respeitaria, não quando tudo envolvia a nós dois em uma infinita teia de
amargura e arrependimentos.

— Você.

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— Descobriu tudo então...

— Sim.

Eu aguardava as suas palavras ofensivas e muita ira verbal reprimida,


porém, ambas não puderam ser ouvidas. Allan estava calmo, como há muito
tempo eu não o via, parecia que muita coisa tinha saído das suas costas e que
a sua decisão final estava tomada.

— Como?

— E importa? Por que não me contou desde o começo?

— Tive medo.

— Medo? Esse era o menor dos sentimentos que você deveria ter
quando me contasse, pelo menos por você, eu não faria nada, não com você.
— Respirou, recuperando a calma e prosseguiu – Fico revoltado com essas
coisas, Rose. O mundo não vale a pena, muitas pessoas não merecem a
porcaria do ar que respiram e te garanto que revidar qualquer coisa que
fizeram a você era o mínimo que eu faria, assim como o fiz e não me
arrependo, nem um pouco. Aquilo foi rejuvenescedor, coloquei pra fora todas
as minhas frustrações. Saí da casa dele como se tivesse ganhado como
jogador mais valioso dez vezes consecutivas. E definitivamente, foi a melhor
merda que eu já fiz em toda a minha vida.

— Não vai me julgar?

Eu temia essa pergunta e estava ansiosa para a sua resposta ao mesmo


tempo. Parecia que suas palavras poderiam definir toda a nossa relação dali
para frente. Como se eu só estivesse esperando por isso para jogar o passado
finalmente no passado.

— Te julgar? Pelo quê eu te julgaria?

— Pelo que aconteceu.

— Jamais faria isso. Nunca achei que coisas horríveis como essas
aconteciam por culpa da vítima. E sinceramente, fico receoso por você ter
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que perguntar isso para confirmar algo que já deveria saber. Jamais toquei em
uma mulher tentando causar ferimentos ou ignorei uma que estivesse em
apuros... Tenho os meus princípios e respeitar vocês é um deles. Não ache
que só porque vim de uma comunidade pobre, eu sou um monstro. Se
espantaria em saber que a maioria deles nasce do luxo e ostentação.

Como não concordar? Ele havia me defendido com unhas e dentes, se


arriscando para garantir a minha integridade.

Com certeza, a maioria dos monstros nascia da riqueza, e assim como


ele, tinham muitas pessoas maravilhosas para equilibrar a balança.

Parecia até engraçado que eu encontrei o que tanto procurava onde


nunca imaginei.

— Sei que é difícil conciliar sua vida quando uma coisa dessas
acontece, mas se tivesse me contado eu a ajudaria, e quem sabe poderíamos ir
juntos ao terapeuta. Até porque, acho que estou precisando também, ninguém
é tão perfeito que não tenha nenhum medo.

— Quais são os seus medos, Allan?

— Eu tenho muitos, perder você é um deles...

— O que esconde de mim?

— Muita coisa...

— Você já sabe o que eu mais queria esconder. Acho justo que me


conte o que mantém sob sua armadura.

Ele segurou com força o volante, pensando se contaria ou não as


coisas para mim. Suspeitava ser ótimo ele não saber que eu já tinha
descoberto tudo e muito menos quem tinha me contado.

— Há muito tempo eu tive uma namorada, éramos duas metades de


um todo. Eu a amava, mas ela provavelmente não retribuía o sentimento...

Ele me contou tudo o que Silas já havia esclarecido, e cada vez que
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ele apertava com mais força o volante, eu conseguia ver o quanto aquilo
estava sendo horrível para ele...

Reviver todo o passado nunca era bom, ainda mais quando ele era tão
horrível quanto se pudesse pensar. As coisas que aconteceram a ele não
foram nem um pouco fáceis.

Cada vez que falava algo extremamente difícil, focava o seu olhar na
estrada. Cada vez que relembrava as atitudes horríveis, travava os dentes.
Odiava vê-lo assim, mas eu era a prova viva de que para deixar as coisas
realmente para trás, tínhamos que nos libertar das memórias. Mesmo que elas
nos machucassem com isso, ao final não doeria mais, ao final, aquilo que não
te matava te tornava mais forte e propenso a superar.

Allan se corroía em dor tendo que contar todos os seus medos,


inseguranças e segredos para mim. Mas era o tipo de dor que aliviava a alma,
que não deixava que coisas piores acontecessem.

— Foi assim que eu descobri como as pessoas poderiam ser horríveis.


Minha mãe me chantageia para ganhar dinheiro, querendo contar toda a
verdade ao mundo, e meu irmão segue os passos dos piores bandidos de
Boston. Deixando-me com as mãos atadas por não ouvir os meus conselhos e
muito menos os da minha mãe. Eu dou a oportunidade que eu não tive para
ele, mas isso não importa, não quando a ânsia de agradar pessoas sem o
menor escrúpulo é maior do que me ver orgulhoso. Isso é literalmente muita
merda, mas é a merda da minha vida. Nem tudo pode ser apagado, Rose, e
nem tudo pode ser esquecido.

— Entendo.

— Sei que entende. Dentre qualquer outra pessoa, você sabe muito
bem como é temer o passado e foder com o presente e o futuro por isso. É
como eu, alguém quebrada que achava não ter conserto. Quem colaria seus
pedaços, afinal? Quem seria capaz de suportar as suas dores quando nem
você mesma consegue sequer olhar para elas sem se sentir mal?

Era exatamente esse pensamento que eu tinha. Tudo que nos


aconteceu, nos fez ter essa conexão instantânea e finalmente eu entendia o
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que era encontrar alguém com tantos problemas quanto eu, mas que só me
fazia ter a vontade de tomar conta deles, ajudando-o na tarefa de superar tudo
que o afligia sem sentir o menor arrependimento por isso.

Allan foi a melhor coisa que me aconteceu...

Ele aconteceu quando eu já tinha me acostumado a aceitar o passado


como realidade no meu presente e principalmente tinha me deixado dominar
por um medo que poderia ser enfrentado.

Quando as pessoas olhavam para ele não percebiam quantos segredos


ele guardava e quantos deles o consumiam vivo de dentro para fora. E por
incrível que pareça, isso me fazia amá-lo mais.

— Agora você sabe toda a verdade. Inclusive a viu no meu


apartamento aquele dia. Não me deixou explicar, mas eu queria que soubesse
que não fiz nada. Aquele momento em que chegou, eu tinha acabado de
mandá-la embora, sem saber como ela tinha entrado sem autorização. Eu
nunca, nunca mesmo, voltaria com alguém que fez questão de pisar nos meus
sentimentos por motivos tão fúteis. É muito fácil voltar quando eu tenho
dinheiro suficiente para fazer o que quiser, quando o meu nome estampa
muitas propagandas pela cidade e quando meu número é venerado por ser um
dos melhores. Se ela tivesse sido esperta, ficaria comigo até a minha vitória,
porque eu sou leal e seria fiel a uma mulher que cresceu comigo, me
motivando quando o mundo todo não fazia nada além de me colocar para
baixo.

Aquela mulher era mesmo muito idiota, deixou escapar um homem


maravilhoso por entre seus dedos e eu não seria hipócrita em negar que
estava feliz com isso.

Porque agora ele estava ali comigo e eu não cometeria o mesmo erro
que ela.

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Eu tinha soltado todas as rédeas do meu passado nas mãos dela e me
sentia livre com isso. Como se me prender a uma mulher a ponto de contar
toda a verdade fosse algo libertador, motivo de comemorações.

Eu só podia estar maluco, muito maluco... Pelo menos em sã


consciência eu não sairia contando meus segredos para as pessoas. Dando a
elas todas as armas para acabar com a minha vida em um piscar de olhos ou
até mesmo em um fechar de lábios.

Não havia coisa mais perigosa que o amor, com certeza. Ele nos fazia
cometer loucuras tão grandes que voltar atrás era quase impossível. Tão
doloroso que você simplesmente evitaria.

Fui com ela até sua casa, para que ela pudesse ver a mãe, antes que
tomássemos as providências para o velório o mais rápido possível.

Eu queria dar no pé e sumir daquela cidade o quanto antes. Parecia

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que tudo ali remetia a coisas ruins, a atmosfera em si era horrível e provava o
quanto os lugares poderiam ser tenebrosos. Ficar era a mesma coisa que pedir
confusão. Nosso verdadeiro lugar era em Boston, de onde ela não deveria ter
saído.

Arrumamos tudo e ficamos para o enterro que seria no próximo dia


durante a manhã. A madrugada inteira foi com pessoas passando para se
despedir, a maioria creio eu, com feições falsas de preocupação. Rose havia
me dito que ninguém ali era realmente amigo da sua mãe e que queria que
todos eles pensassem no quanto estavam sendo inconvenientes em ser
mentirosos.

As pessoas eram mesmo difíceis de lidar.

Tanta falsidade só me deixava cada vez mais revoltado. Isso ainda se


levasse em conta quantos autógrafos eu recusei por não estar em um
ambiente para isso.

Todos estavam se amontoando na pequena casa apenas para me ver.


Poder chegar perto de um dos grandes jogadores da NBA e não para dar o
adeus a uma conhecida de longa data.

Podia até mesmo jurar que se pudessem arrancariam suas próprias


peças de roupa para que eu rabiscasse e elas conseguissem vender por uma
pequena fortuna depois. Porque era só isso que queriam... Tudo o que faziam
era para benefício próprio, essa era a infeliz realidade.

Quando o dia amanheceu, seria um pecado leve dizer que me senti


feliz?

Finalmente poderia dar as costas aquele povo hostil e mal-educado,


com o interesse acima de tudo. Defeitos que me enojavam em cem por cento.

Rose estava um pouco balançada, afinal, ali tinha sido seu lar um dia.
E pensar que teria que vender a pequena casa a enchia de medo das
lembranças se perderem com o tempo.

Mas como eu havia dito, ela teria que deixar o passado no lugar dele,
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investir no futuro brilhante que ela tinha pela frente. Sem deixar de levar em
conta tudo o que havia acontecido ali.

Henry ainda estava vivo e qualquer distância que ela chegasse perto
dele era pedir para algo ruim acontecer. Claro que agora ela tinha a mim e eu
não deixaria nenhum mal assolá-la, mas não era bom brincar com a sorte. O
quanto pudesse evitar seria o ideal. Era melhor ter um ponto final, do que
deixar a vírgula para te atrapalhar depois.

— Não sei, Allan. E se eu quiser voltar?

— Você não vai voltar.

Nem ferrando que ela voltaria a morar naquela cidade, não quando eu
a queria comigo. Segura e longe dali.

— Por que não?

— Porque não vou deixar. Fim de conversa. Não tem mais nada para
você aqui. Vamos voltar daqui uns dias, testemunhar contra o desgraçado e
tchau Torrington, que se exploda tudo.

Ela sabia que eu tinha razão. Agora que a mãe dela tinha encontrado a
paz, ela não tinha mais nada a prendendo aqui. Era uma idiotice sequer
cogitar voltar.

— Para de falar assim, parece que quer mandar em mim e não suporto
isso.

— Eu sei, é exatamente por esse motivo que o faço. Até parece que
não me conhece.

Consegui tirar o primeiro sorriso sincero do seu rosto e só para vê-lo


permanecer ali, seria capaz de fazer qualquer coisa. Na verdade, eu era capaz
de muitas loucuras pela mulher que o carregava.

Que palhaçada, eu tinha começado a pensar como Josh falava. Não


deveria ter tirado tanto sarro com a cara dele, agora eu estava na mesma
merda e com os mesmos pensamentos. Que roleta russa que eu tinha na
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minha vida emocional.

— Esse novo homem eu realmente não conheço.

Olhei pra ela e sorrimos um para o outro. Sabendo que as coisas


estavam finalmente mudando e para melhor.

— Eu estou lascado.

— Por quê?

— Ainda me pergunta o porquê? Estou ficando do mesmo jeito que o


Josh! Isso é o vírus do amor. Logo o Silas cai na cilada também. Perderemos
mais um parceiro para esse mundo.

— O sujo falando do mal lavado.

— Eu sou orgulhoso.

Ela deu uma risada que seria capaz de iluminar todo o universo. Eu
estava mesmo perdido. O mundo da farra tinha dado adeus a partir do
momento que coloquei os olhos nessa mulher.

Só faltava eu me tornar um bobo, na verdade nem isso faltava mais...


Já era idiota de nascença, ela apenas tinha feito essa característica se
sobressair em mim.

Enquanto fazíamos o caminho de volta para Boston, deixando todo o


passado naquele buraco negro, conversávamos sobre diversos assuntos. A
venda da casa ficou por conta de um dos corretores na cidade e que ele
resolvesse todas as coisas. Como disse, ela não voltaria a não ser pelo
testemunho. Nem para assinar... Ele que levasse até nós os documentos.

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— E agora? Como vai ser?

— Sei lá, vamos deixar rolar. A única certeza que eu tenho é que vou
ficar com você. O resto a gente vê no que dá.

Aquilo pareceu ser bom pra ela, que apenas concordou e continuou
olhando o nosso caminho. Parecia engraçado, mas uma lembrança não vivida
surgiu em minha mente, como se esse fosse o nosso final, juntos. Seguindo os
caminhos um ao lado do outro.

Não estava acostumado com esses pensamentos melosos, só podia ser


algo na água! Sim, com certeza. Josh já tinha bebido, eu bebi e agora faltava
o Silas.

Alguém precisava avisar os parceiros sobre o perigo.

— Obrigada.

— Não precisa agradecer.

Não precisava de maneira nenhuma. Eu faria novamente por mil


vezes se fosse necessário. Qualquer palavra de agradecimento era totalmente
desnecessária.

— Você tem todo esse estilo bravo e “não mexa comigo”, mas é um
amor de pessoa que eu sei.

— Pelo amor de Deus! Não fala isso alto, vai que alguém ouve.
Minha reputação estaria arruinada!

Eu seria mais zoado do que quando dançamos YMCA no casamento


do Josh. Isso não poderia acontecer, minha masculinidade era muito
importante pra mim, diria até mesmo essencial.

— Ela já está decaindo, sinto em te dizer.

— Eu posso até cair, mas vou cair lutando. Acha que pode um
negócio desses? Eu? Não! Não posso ganhar fama de pau mandado de
mulher. Isso já é inaceitável.
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— Espere e verá.

— Você já está me ameaçando? Mas que mulher do lado obscuro! Eu


sempre arrumo essas confusões, já devia estar acostumado.

O ambiente estava extremamente mais tranquilo. Brincadeiras sempre


aliviavam a tensão. Melhor fazer sorrir do que chorar, sempre tive esse lema
na minha vida e não o mudaria por hora.

Quando chegamos em Boston, senti como se tivesse regressado com o


maior prêmio da temporada. Qualquer cara que soubesse apreciar a beleza,
saberia que eu tinha tirado a sorte grande com ela ao meu lado. Eu também
tinha plena consciência disso.

Segui até a casa do Josh, para mostrar a todos que eu tinha arrumado
as coisas. Precisava conversar com ele, sobre tudo, sobre como agir, porque
eu sinceramente não sabia lidar muito bem com o amor. Talvez ele, que já
estava casado há alguns meses me desse um conselho que fizesse sentido.

Nada fazia muito sentido no momento e eu precisava de um rumo a


seguir.

Quando avisamos na entrada do condomínio, nos liberaram na mesma


hora. Éramos praticamente uma família.

— E aí cara! O que aconteceu?

Josh abriu a porta e saiu para me cumprimentar, olhando e dando um


“e aí” para a Rose, bem atrás de mim.

— Uau, ursinho. Vejo que consertou as coisas — ele disse e deu


risada, com aquele apelido idiota.

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— É.

— Entra aí. A Bia tá lá dentro com as crianças.

O seguimos até ouvir as risadas das duas mulheres que eu mais


considerava parceiras. Bia e Gloria brincavam com os pequenos como duas
crianças. Era uma cena engraçada.

Rose se juntou as duas e eu fui até meu amigo, agora comendo no


balcão da cozinha, olhando a palhaçada que todo mundo fazia.

— Tem um tempo para bater um papo?

— Claro.

Eu precisava mesmo de um rumo e ele seria o mais coerente para me


ajudar com isso.

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— Como estão as coisas agora? Me diz que ele consertou, por favor!

Bia não sabia falar sem ir direto ao ponto. Era uma das suas
qualidades e seu maior defeito, porque quase sempre era inconveniente. Sorte
que eu já tinha acostumado com isso.

— Estão bem... Melhor do que antes, pelo menos.

Ela me olhou com uma cara de “é bom que não esteja mentindo pra
mim”. Como se alguém conseguisse mesmo enganá-la. Bia pegava as coisas
no ar e sua intuição nunca falhava.

Procurei pelo Allan e o Josh e não vi nenhum dos dois. Bia percebeu
quem eu estava procurando e mexeu os lábios dizendo que estavam
conversando.

Ela sabia das coisas antes mesmo do marido falar para ela, os dois

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eram super ligados um no outro. Algo raro de acontecer.

— Vocês dois estão diferentes... Porque o Allan está com a mão


machucada? Você sabe?

Claro que eu sabia. Ele estava assim por minha culpa. Não sei se
estava preparada para deixar mais alguém saber das coisas que haviam me
acontecido. Eu confiava na Bia, mas não suportava a ideia dela ou qualquer
outra pessoa me olhando com piedade.

Eu odiava esse olhar na feição das pessoas e com o tempo eles tinham
passado. Se eu trouxesse tudo aquilo à tona novamente, os olhares voltariam
e com eles a minha sensação de impotência.

— Se não me contar eu vou acabar ouvindo por outra pessoa, Rose...


E eu realmente queria que confiasse em mim nesse ponto, sabe o quanto eu
me preocupo com você.

Balancei a cabeça afirmativamente. Sabendo que eu sempre poderia


confiar nela. Jamais faria qualquer coisa com a intenção de prejudicar
alguém, esse era o jeito dela.

— Eu não sei se consigo, Bia... Tudo foi muito rápido sabe?

— Sei... — olhou pra mim de forma recriminadora, até perceber a


grande comoção em volta do cachorro — Collin, solta a orelha do Jordan! Ai
meu Deus, esse cachorro vai ficar sem orelha!

Bia foi até a pequena criança que estava aprendendo a engatinhar e ia


para todos os lados. O seu principal alvo era sempre o cachorro, que não
sabia o que estava acontecendo e apenas chorava.

Bia ficava louca com isso. Era engraçado. Ela salvou o coitado e o
mandou para fora, tentando evitar que aquele incidente acontecesse
novamente.

— Nossa sorte é que o Jordan é bobo e não morde o menino. Ainda


vou ficar maluca, Rose. Duas crianças acabam comigo, fico esgotada. Nem

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ler eu consigo mais! Darcy com certeza está chateado comigo!

Eu conseguia imaginar o quanto cuidar de duas crianças pequenas


devia ser exaustivo. Nem trabalhar o Josh a deixava, não que ele deixar
alguma coisa interferia nas maluquices dela, Bia era autossuficiente e quando
colocava algo na cabeça não tinha quem tirasse. Mas amava cuidar dos dois,
isso dava para ver no seu olhar. Tanto que quando sugeriram que eles
contratassem alguém, ela quase pirou dizendo que ninguém cuidaria deles tão
bem, e que a pessoa poderia perder a cabeça e a vida, porque ela não
perdoaria alguém que fizesse mal aos seus filhos.

— Allan estava mal. Acho que peguei muito pesado com ele esses
dias atrás... Falei coisas que não eram necessárias. Não posso interferir na
relação de vocês, sei que não. Mas é que eu amo e me preocupo com todos...
Vocês me deixam totalmente à deriva e eu nunca sei se estão bem. Nem meus
dois pequenos dão tanto trabalho assim.

Sorri com a sua preocupação e admissão do erro. Isso era raro de


acontecer. Minha amiga acreditava estar sempre com a razão e para ela
concordar que tinha passado dos limites, era uma novidade. Josh a estava
mudando muito, antes dele ela nem pensaria em voltar atrás. Na verdade, se
ela não estivesse com ele, nada estaria assim. Foi uma coisa levando à outra e
o destino fez sua parte, mudando completamente as nossas vidas.

Para melhor, com certeza.

— Josh quer mais um cachorro. Não sei onde vou arrumar tempo para
todos. Será que consigo me dividir em três? No mínimo? Ajudaria e muito!

Ela era totalmente estabanada. Muitas vezes não falava coisa com
coisa. Dei risada, mostrando que aquela ideia era totalmente absurda.

Vi Allan vindo juntamente com um Josh pensativo. Esses dois


pareciam prestes a aprontar alguma coisa e eu desconfiava, na verdade tinha
certeza, que estava ligado ao nosso futuro.

Josh forçou um sorriso na direção dela, que apenas o olhou,


desconfiando das mesmas coisas que eu. Aqueles dois literalmente estavam
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querendo esconder algo, mas não tinham nem a sagacidade de disfarçar.
Eram transparentes demais e isso era uma qualidade, menos quando se queria
mentir.

— Como estão os meus amores?

Josh agachou e esperou Collin ir engatinhando até onde ele estava.


Quando o menino atingiu seu objetivo, ele o pegou no colo e ficou jogando
para o alto. — Clássico pai babão. Não sei se conheceria um pai mais
dedicado que ele algum dia.

Gloria estava sentada com a Lily e olhava para tudo, com um sorriso
amoroso no rosto. Ela amava aquela família como se fosse dela, ninguém
mais a considerava uma empregada, tamanha era a sua intimidade com os
quatro.

— Vocês dois não deveriam estar treinando?

Perguntei, me lembrando dos próximos jogos e que eles eram os


principais jogadores do time. O motivo do Allan eu sabia muito bem, mas
ainda assim ele tinha deixado aquilo de lado para ir atrás de mim e arrumar
tudo. Mais uma razão para me sentir muito amada por ele.

Nem todos fariam algo parecido.

Nem todos seriam capazes de deixar seu sonho escapar para ajudar
outra pessoa.

— Sim. Só que Collin passou mal e eu decidi ficar com os dois. Não
conseguiria me concentrar no treino.

Filhos eram muito mais importantes

— Fez certo.

Allan concordou com o amigo e em seguida olhou para mim. Aquele


olhar que dizia muito mais do que mil palavras eram capazes de expressar.
Que me arrepiava apenas com a força da sua presença.

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Quando uma mulher se sentia assim, era sempre pelo homem da sua
vida.

Ele tinha seus problemas, eu tinha os meus, mas juntos nós os


faríamos menores. Assim como Silas tinha dito: poderíamos até sermos
errados um para o outro, mas faríamos dar certo. O que contava em um
relacionamento era a vontade de ambos em serem felizes e eu conseguia
perceber que nós dois só queríamos isso.

Allan veio até onde eu estava e pegou no meu braço carinhosamente,


deixando claro que queria ir embora e que já tinha feito o que queria fazer ali.

Só me restava a dúvida sobre o assunto que tratou com Josh, mas logo
eu saberia. Esses dois não conseguiriam manter o segredo por muito tempo.

— O que conversaram?

Perguntei, sabendo que ele não falaria. Tentar não custava nada,
afinal.

— Falamos sobre o time e o quanto o treinador estava bravo por nós


dois não termos ido ao treino. Silas segurou a bomba sozinho, e aposto que
está furioso por isso.

Sorriu do mesmo jeito que Josh tinha sorrido para a esposa, só


reforçando a minha ideia de que estavam escondendo algo.

Concordei, mesmo pensando o inverso. Não seria agora que eu


descobriria a verdade, mas ela uma hora iria aparecer. Só esperava que esses
dois não fizessem nada que pudesse ser ilícito e acabar com as suas carreiras.
Eu contava com a inteligência deles quanto a isso. Não eram ingênuos, muito
menos idiotas, ainda mais Josh tendo que levar em conta seus dois filhos.

Não, eles não fariam nada de errado.

— O que quer fazer?

Essa pergunta me pegou desprevenida, não fazia a menor ideia do que


fazer agora. O único pensamento que eu tinha era que queria resolver minha
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vida, apenas isso.

— Ir pra casa. Preciso descansar.

— Vou com você.

Olhei para ele, com uma expressão que mostrava a alegria que eu
sentia. Finalmente tudo estava se encaixando. Talvez não fosse mesmo
impossível voltar a ser feliz... Só uma questão de tempo e companhia.

— Vai ficar entediado, sem ter o que fazer.

— Eu já estou sem o que fazer. Lá na cobertura do Josh tem muita


coisa legal, menos a que eu mais queria.

Quando ele falava essas coisas, meu coração realmente batia mais
forte.

— Por que está lá?

— Estou sem teto desde que a morta apareceu e acabou com a minha
segurança.

Se lá ele já não estava totalmente seguro contra ela, imagina no meu


apartamento, que era barato e mal tinha um porteiro.

— No meu é pior.

— Mas eu estou com você. Isso que importa.

Claro que sim, isso fazia toda a diferença.

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— Se você acha que é o certo, apoio totalmente. Não vou te criticar
quando eu fiz praticamente o mesmo.

Olhei pro meu amigo, sentindo a mesma certeza que ele havia sentido
um tempo atrás. Josh era o cara mais certo para me dar conselhos nesse
momento, além do Mike... Mas eu não costumava conversar muito com ele e
ficaria estranho pedir opinião.

Eu tinha certeza do que faria. Isso já estava claro na minha mente,


tanto quanto a água que eu bebia todo dia.

— Você está feliz? — perguntei pra ele, só pra confirmar o que eu já


imaginava.

— Que pergunta, parceiro! Não consegue ver isso?

— Consigo.

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— Nunca pensei que fosse ser feliz em aceitar ser de uma única
mulher. Tudo foi mudando, minha aceitação e minha vontade. É como se eu
não fosse mais o mesmo homem... é como se eu tivesse me tornado mais
forte e melhor. Como se várias pessoas dependendo de mim só aumentassem
a minha capacidade. É maravilhoso, de verdade, parceiro... Eu amo a minha
mulher, ela me ama, amo meus filhos, eles me amam. Eu simplesmente não
tenho mais o que pedir ao Cara lá de cima, eu estou completo e pleno. Sorrio
sozinho e adoro saber que tenho pessoas maravilhosas me esperando voltar
para casa. Essa sensação é foda demais, não consigo nem descrever ao certo.
Só sei que desejo o mesmo a você e ao Silas, ambos merecem um sentimento
que transborde vocês, assim como acontece comigo.

Eu não tinha palavras para descrever o quanto a sua fala tinha me


chocado com a profundidade dos sentimentos. Ele sabia o que estava
dizendo, vivia essa realidade todos os dias e mentir não estava no seu
cardápio. Nunca imaginei que o veria tão feliz assim, vivendo com alguém
que ama e mimando filhos que nunca tinha pensado ter.

Os tempos estavam mesmo mudando.

— Então... Seja o que for, só não a iluda, nem se engane. Tenha


certeza do que quer, para não machucá-la mais ainda.

— Sei.

— Estou falando sério, Allan. Temos que ter certeza antes de tomar
uma decisão dessas. Ela envolve vocês dois e qualquer receio pode acabar
com toda uma relação. Faça da sua felicidade a sua meta, e a certeza vai vir
como opção. Sei muito bem disso.

— Quando foi que você ficou tão sábio assim?

— Boa pergunta. Acho que sempre fui... Você que não sabia
aproveitar meus conselhos com sabedoria. Eu sou um homem que sabe das
coisas, sou realmente muito bom.

Ele era um idiota, isso sim. Jamais eu admitiria que ele sabia do que
falava. Daria mais combustível para o seu orgulho.
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— Não precisa concordar, sei que está pensando isso. Eu sei que sou
bom.

Gargalhamos, nos sentindo as pessoas mais bobas do universo.

Nós, homens, éramos verdadeiras crianças crescidas... Todos sabiam


disso, principalmente as nossas mulheres. Por isso as coisas davam certo.
Mulheres eram mulheres, e como sempre, elas iam à frente e a gente atrás.
Não perderíamos a oportunidade de dar “aquela conferida”.

— Viramos duas flores.

— Eu sou o girassol, nem vem! Girassol é a flor mais masculina que


existe. Você fica com a margarida. Tô fora de ser uma margarida. Ou uma
rosa. Imagina que palhaçada ser uma rosa? — Josh comentou, só para não
perder a piada.

Ambos demos de ombros, sabendo que aquela conversa não fazia o


menor sentido.

— Queria te perguntar uma coisa faz tempo... Cadê o Richard?

Não tinha nada a ver com nosso antigo assunto, mas era uma pulga
que estava há tempos atrás da minha orelha.

— Ele ainda é meu agente, mas está mais tranquilo. Ele se apaixonou
e prefere ficar com a mulher “que ninguém sabe quem é”. Não posso culpá-
lo por isso... Só o vejo quando é extremamente necessário.

Richard tinha ganhado na loteria assim como nós, e eu também


entendia essa sua necessidade de ficar ao lado dela.

Sempre estive em um dilema interno comigo, eu mesmo, e eu; onde


nada me faria bem. Nada, além dela. As pessoas deveriam parar de querer
agradar todo mundo, se dividir em muitas pessoas, sem nenhuma realmente
fazer jus às suas vontades. Nesses momentos nós tínhamos que unir todas as
partes e correr atrás do que realmente era importante e deixar de querer tornar
outros felizes, quando os únicos capazes disso eram eles mesmos. Richard

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estava no seu tempo e eu só podia sentir felicidade por ele.

Muitas vezes eu lutei com a possibilidade de ser feliz e venci, sendo


que nessa batalha eu deveria sair perdedor. Permitir que a felicidade entrasse
na minha vida nunca havia sido algo ruim. Mas eu não sabia se seria fácil
também, no mesmo momento que eu tinha vontade, eu ficava com medo.

Com medo de sofrer novamente.

Quando você dava uma chance ao amor, ele teria nas mãos todas as
suas vulnerabilidades e conseguiria acabar com tudo em um simples estalar
de dedos. Era como dar toda a liberdade de ditar as regras da sua vida ao
destino. Virando uma simples marionete, seguindo conforme as vontades de
algo maior.

— Era só isso? Achei que você queria enterrar algum corpo.

O plano de tudo veio a minha mente e eu precisaria da ajuda dele...


Queria fazer as coisas certas dessa vez e torná-las inesquecíveis. Roselyn
merecia no mínimo tudo que eu pudesse oferecer e eu daria com toda a boa
vontade. Estava deixando-me nas suas mãos e esperava que ela aceitasse sem
fazer objeções.

— Quero sua ajuda.

— Manda.

Contei o que pretendia fazer e conforme narrava tudo, Josh sorria


cada vez mais. Provavelmente pensando em como era engraçado ver a mesma
coisa que havia acontecido com ele, acontecer com o amigo que ficou
perturbando-o praticamente o tempo todo.

Eu estava recebendo meu troco e não conseguia abrir a boca para


reclamar dos acontecimentos. Finalmente eu o entendia e só pensava em agir
da mesma forma.

— Perdemos mais um soldado.

— Ainda não.
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Mas era o ponto de “quase”. Dali a pouco tempo o time dos solteiros
ficaria sendo segurado pelo Silas, que mal sabia disso ainda. Talvez nem por
ele por muito tempo. Os tempos eram de amor e ele encontraria o dele. Ainda
mais sendo o mais “romântico” de nós três. O único que sempre sonhou em
se casar e ser exclusivo.

E foi justamente o que ficou por último. Não dá mesmo para discutir
com o tempo.

— Parabéns! Você está na fase “aceitação”. Logo depois vem a fase:


“virando capacho da mulher” e para concluir: “paizão”. Exatamente nessa
ordem!

— Para de ser idiota.

— Vai ver que tenho toda a razão.

Eu já sabia disso. Só não queria admitir. Era difícil abandonar velhos


hábitos e mais difícil ainda era admitir a derrota.

Saímos do seu escritório e andamos lado a lado, sabendo que tudo


mudaria. Ele me ajudaria e enfim, estaríamos em pé de igualdade.

Eu estava tenso em ter que omitir a verdade dela, Josh estava tenso
em ter que omitir a verdade da Bia e assim demos na cara que algo realmente
não estava certo. Ou seja, duas mulheres com olhos extremamente treinados
poderiam ver de longe que escondíamos coisas.

Vi o olhar da Bia direto no meu amigo, que até engoliu em seco. Esse
seria metralhado. Sua esposa não era nada sútil, até mesmo uma manada de
elefantes seria mais sutil que ela.

Fui até a Rose, um sinal mudo de que estava na nossa hora.

Não voltaria para a cobertura, pelo menos não se ela deixasse que
fizesse companhia a ela. Não me sentia bem naquele lugar gigante, sozinho.
Era a pior sensação que tinha.

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Perguntei se poderia ficar no seu apartamento, explicando a situação.
Deixando claro, é lógico, que eu não estava esperando um não como resposta.
Rose pareceu ficar feliz com isso, o que também me deixava feliz. Era a
primeira vez que o sorriso de uma mulher me deixava simplesmente
extasiado.

Não sabia em qual loteria da vida eu tinha jogado, mas eu ganhei o


prêmio principal e aquilo era sorte demais. Nunca fui um cara sortudo, mas
dessa vez, eu me considerava o melhor do mundo! Me sentia muito mais
homem perto dela e sabia que esse sentimento não se findaria.

Chegamos no seu apartamento e eu só conseguia pensar que estava no


meu lugar. Ela era meu lugar e logo teria certeza disso, assim como eu tinha
agora. Josh achava que eu ainda estava em dúvida e não podia estar mais
errado. Não havia nenhum resquício de dúvida no meu corpo. Elas acabaram
a partir do momento que ficamos eu e ela no carro, sozinhos, com o silêncio
envolvendo-nos aos poucos. Aquele silêncio confortável que você só
conseguia ter com alguém que entendia todos os seus pensamentos.

Pensei que nunca fosse encontrar outra pessoa que entendesse minha
quietude. Pensei que era feliz há sete anos, pensei que tinha encontrado o
meu amor para a vida toda e assim como Josh, eu não poderia estar mais
errado.

Algumas vezes a dor acaba sendo o maior combustível para a


felicidade e a melhor prova de que deixar algo ir embora pode trazer coisas
boas no lugar era realmente o certo. No meu caso, eu tinha conhecido Lettie,
que foi uma parte crucial da minha vida e agora entendia que havia sido para
me provar que o certo para mim ainda não tinha aparecido. E que sofrer por
sua perda foi o melhor que pode me acontecer, até que tudo corresse para o
lado certo.

Eu nunca imaginei ficar feliz por sofrer, assim como o fazia agora.

A vida era tão sacana.

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— O que você tá escrevendo?

Allan pegou o notebook na minha cama, percebendo que o programa


estava aberto, já com algumas palavras descrevendo a minha labuta de uma
vida. Vi seu semblante se transformar, conforme ele lia as linhas à sua frente.
E aquilo não deveria me deixar apreensiva, mas deixou.

— Autobiografia?

— Não, apenas uma história verdadeira para mostrar as pessoas que


sofreram qualquer tipo de abuso, que isso pode ser superado. Não que eu o
tenha feito por completo, mas aos poucos, tudo vai ficando para trás, no seu
devido lugar.

Ele balançou a cabeça concordando, com o pensamento distante,


deixando-me com medo das suas palavras. Sabia que tinha o que temer e era
complicado aceitar que ele era diferente. Mas Allan merecia um voto de

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confiança e quem sabe isso não nos levasse para um patamar mais elevado.

— É bom... Acho que ajudar essas pessoas já é um passo terapêutico


para sua própria superação.

Ele entendia. Claro que entendia. Parecia ler minha mente na maioria
das vezes. Era como se fôssemos interligados e ele soubesse cada passo
seguinte e apenas me acompanhasse para não me deixar sozinha.

— Será que consigo publicar?

— Pelo amor de Deus! Se continuar escrevendo dessa forma, claro


que vai! Qualquer editor seria um tolo se não publicasse.

Allan depositava uma fé em mim que eu estava longe de ter. Não


confiava no meu sucesso tanto quanto ele.

Quem sabe, pensar positivo nessa situação realmente fizesse as coisas


darem certo?! Muita gente acreditava no poder da mente e do positivismo,
essas crenças poderiam ter alguma explicação, não é?

— Queria ter essa mesma confiança que você.

— É só acreditar.

Ele literalmente confiava no taco. Sabia o que queria e ia atrás, sem


nenhuma dúvida de erro, sem pensar duas vezes antes de seguir por caminhos
tortuosos que poderiam não ter volta. Era algo bom, mas um pouco de cautela
não faria mal a ninguém e Allan era definitivamente um homem sem cautela
e sem receios sobre o que fazer.

Investia sua determinação no que amava e não se arrependia do tempo


perdido e muito menos de oportunidades desperdiçadas, até porque, ele não
as deixava seguirem sem serem tentadas. Agarrava-as e mantinha ali,
consigo, enquanto pudessem ser aproveitadas. Atitude que a própria vida o
ensinou a ter: saber aproveitar as chances e aprender com elas.

Levantou-se, deixando meu computador sobre a cama, no mesmo


lugar onde se encontrava antes dos seus olhares perspicazes e foi até a
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cozinha. Ouvi o barulho da porta da geladeira sendo aberta e seu resmungo,
porque com certeza não deveria ter nada interessante para comer lá. Eu não
ficava muito preocupada em abastecê-la, algumas vezes saía para comer em
algum lugar, ou apenas comprava comida congelada. Não tinha paciência
para ficar cozinhando, ainda mais com os últimos acontecimentos...

Eu não tinha cabeça para nada além de tentar resolver minha vida.

— Rose, o que você anda comendo ultimamente? Não tem nada nessa
geladeira! Eu sou um cara grande, preciso comer! Como vou me manter em
pé?

Allan veio até a porta do quarto, reclamando que nem uma matraca,
porque não tinha encontrado nada. Como se eu fosse obrigada a adivinhar
que ele ficaria aqui e que teria que saciar essa sua fome de “Tiranossauro
Rex”.

— Tem um mercado na esquina e alguns cafés seguindo a avenida.

— Eu vou, mas você vem comigo. Vamos comprar porcarias! Sim,


estou a fim de comer porcaria hoje, a data merece!

Eu não sabia do que ele estava falando, não me lembrava de hoje ser
nenhuma data especial.

— Hoje é dia de quê?

— Nosso início de namoro.

Como assim? Agora ele tinha pirado de vez... Esse homem à minha
frente não era o mesmo Allan que eu conhecia. Ou o mundo estava acabando,
ou quem estava ficando louca era eu. Talvez as duas hipóteses estivessem
corretas.

— Você só pode estar ficando louco! Nós nem começamos a namorar


ainda!

— Começamos agora, nesse momento. Você é minha namorada Rose,


não se fala mais nisso. Somos um casal, seremos felizes e isso é tudo que tem
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que saber!

Abri a boca para protestar e recebi um olhar feio em resposta. Já devia


imaginar que ele não aceitaria um não como resposta. Jamais. A confiança
tinha chegado ali e parado.

— Sem a palavra não por hoje. Vamos seguir o lema do sim. Rose,
namora comigo? Sim! Rose, vamos comprar besteira? Sim! Rose, vamos sair
pra comemorar? Sim! Entendeu?

— SIM.

— Sabia que você era demais! — Me abraçou e levou até a porta,


dando espaço para que eu saísse na sua frente.

— Aonde vamos primeiro?

— Hoje é o dia do sim, gata. Nada de perguntas. Só respostas


positivas.

Aquilo não fazia muito sentido, mas desde quando alguma coisa fez
sentido para ele? Era literalmente o cara mais surpreendente que eu poderia
ter conhecido. Ninguém conseguia prever o que ele faria, uma verdadeira
incógnita da natureza.

— O que você vê em mim, Rose? O que consegue perceber por trás


dessa capa?

— Hoje não era o dia do sim?

— Vou liberar por alguns minutos... Precisamos esclarecer alguns


pontos...

Fiquei pensando no que responder. O que eu realmente enxergava


nele, o que mais me encantava na sua personalidade? Seria fácil dizer que eu
amava tudo nele, mas tinham algumas coisas que eu não conseguia gostar,
Allan tinha umas manias estranhas, mas o engraçado é que eu tinha me
acostumado com elas.

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O tempo passava e eu não imaginava ao certo o que dizer. Ele era
indescritível, não seriam algumas palavras que fariam jus ao seu jeito.

— Um cara legal.

— Ah, vamos lá! Você consegue se esforçar. Essa resposta foi muito
merda!

O que ele queria que eu dissesse? O que eu realmente queria dizer?


Boa pergunta, se eu fosse falar, poderia ficar descrevendo-o durante mais ou
menos uma hora.

Allan segurou-me, olhando diretamente nos meus olhos, obrigando-


me a fazer o mesmo, como se tivesse um poder hipnotizante em seu olhar,
que me mantinha presa a sua inevitável atração.

Fiquei olhando-o, deixando-me passar pela primeira camada e


tentando desvendar os seus segredos mais profundos, seus sentimentos mais
verdadeiros e o que eu vi mexeu comigo. Eu não fazia a menor ideia do que
significava um olhar dizer mais do que mil palavras, mas ali, perdida na
fortaleza dos seus olhos castanhos, eu vi refletido o mesmo sentimento que
brilhava em mim.

— O que você vê, Rose? O que sente quando olha no fundo dos meus
olhos? O que consegue enxergar transbordando de mim, toda vez que está
perto? Anda, Rose! Diga o que a faz permanecer quando poderia ir embora?

O ar entre nós era rarefeito, como se até mesmo ele soubesse que a
eletricidade que sentíamos poderia acabar com tudo a nossa volta. O lugar no
meu braço onde sua mão tocava suavemente estava quente e ansiando por
mais dele, desejando tudo o que pudesse oferecer.

— Amor?

Allan abriu um sorriso fraco e eu soube que tinha acertado.

— Isso. Eu te amo, Rose... E pode ter certeza que eu digo isso com a
maior certeza que alguém poderia ter. Eu corri demais desse sentimento, mas

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a cada dia que passávamos juntos, você ia derrubando e passando por cima
das minhas barreiras... E agora eu sou seu! Não quero ser de mais ninguém...

As lágrimas que desciam pela minha face eram puramente de alegria.


Tudo porque eu finalmente tinha encontrado o que sempre procurei. Alguém
em quem confiar.

Ele passou a mão no meu rosto, enxugando a umidade que teimava


em permanecer. Sorrindo de forma carinhosa enquanto me olhava
intensamente.

Eu não queria ter o que a Bia tinha com o Josh, eu queria ter algo com
o homem a minha frente, algo especial, só nosso e que todos nos olhassem e
vissem o quanto éramos um do outro. Porque seria simplesmente impossível
negar.

— Eu não queria dizer na frente daquele bosta. Estragaria o


sentimento.

— Você é perfeito!

— Claro que não! Passo bem longe disso. Estou mais para um cara
cheio de erros...

Sorrimos um para o outro.

— Mas é meu cara cheio de erros.

— Completamente seu.

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Daquela vez seria diferente. Eu não deixaria que ela tentasse se
afastar, faria com que se entregasse totalmente, sentindo o sentimento
passando entre nós.

Era a primeira vez que eu estava realmente fazendo amor. Os anos


passados não contavam, eles não importavam, quando comparados àquele
momento. Outras eram apenas outras e eu tinha a certeza que não iria querer
nada além daquilo. Ela era finalmente minha e nem de longe eu arriscaria
perdê-la.

Carreguei-a no colo, de volta ao apartamento. Porque as compras


poderiam ficar para depois, agora nós só queríamos deixar transbordar o
amor. Deixar que nossas promessas fossem feitas através de ações.

Tiramos a roupa um do outro com uma tranquilidade invejável. E o


prazer que eu sentia, apenas pela dolorosa necessidade de tê-la era
indescritível. Até mesmo a calma fazia as coisas melhores.
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— Você é linda! — Disse, venerando tudo dela, venerando tanto seu
corpo como o seu enorme coração.

Recebi um sorriso e o que se abriu no meu rosto foi irracional.


Apenas uma retribuição do carinho.

Cuidado.

Contato.

Amor.

Paixão.

Prazer.

Estava tudo ali, apenas esperando para surgir em ebulição. Nada tinha
sido tão profundo. Nenhuma outra ligação tinha sido tão forte.

Eu beijei seu corpo inteiro, sentindo-a tremer embaixo de mim,


percebendo sua entrega total, que era tudo o que eu queria.

Sem mais pessoas se intrometendo na nossa vida. Somente nós dois,


perdidos no nosso próprio mundo. Permitindo que o passado ficasse no seu
devido lugar. Deixando que os medos se perdessem em névoas com o
amanhecer.

— Você é tudo pra mim. — Eu precisava falar o que estava sentindo,


expressar o quanto precisava dela.

Foi quente, puro, forte, e principalmente, maravilhoso. Eu a preenchi


completamente em estocadas cada vez mais intensas e prazerosas. Nossas
peles se fundindo enquanto tudo a nossa volta se tornava meramente detalhe.
Os movimentos ritmados dos nossos corpos arrancando gemidos das nossas
bocas e nos transportando para um lugar entre o céu e o inferno que jamais
tínhamos experimentado.

Prazer carnal. Em sua mais primitiva necessidade.

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Rose pedindo mais não ajudava o monstro em mim e nenhuma força e
ligação parecia ser o bastante. Eu queria mais, ela queria mais.

Amor tornava tudo melhor e aquela sensação era inigualável.

Assim que ela mordeu meu ombro, contendo um grito, eu urrei e me


liberei nela, sentindo tudo de mim passando pra ela, em um frenesi puro e
insano.

Rose era a minha ressurreição e a responsável pela felicidade que


sentia sair do meu corpo cada vez mais em êxtase. E eu simplesmente não
tinha mais palavras.

Estava mudo e totalmente maluco de amor. Sem saber em que ponto


as coisas tinham ficado tão boas e sem fazer a menor ideia de quando eu tinha
perdido a batalha contra meu coração.

Eu estava feliz, como jamais imaginei ser novamente e era isso o que
realmente importava.

— Como assim você não gosta de manteiga de amendoim?

Ela só podia ser de outro planeta. Quem não gostaria do creme dos
deuses? Era perfeito, esplêndido, a melhor invenção culinária de todos os
tempos!

— Não gostando.

— Pelo menos ninguém vai comer minha manteiga de amendoim, vai


ser só minha.

Ela concordou e ficou lendo o rótulo de um produto. Essa mania das


mulheres lerem tudo era irritante. E daí se aquilo entupiria sua veia? O
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importante era comer as coisas gostosas da vida.

— Por que fica olhando isso?

— Para saber as informações nutricionais.

— Isso eu sei! Mas para quê? Elas são relevantes?

— Tudo. Uma vida saudável é essencial.

— Claro! Mas viver também é bom, sabia? Ter o dia da besteira é


crucial e não quero saber de você interferindo nisso na minha rotina. Eu
quero manter esse dia, é tradição! Já me basta ter que me preocupar com tudo
nos outros dias, pelo menos um, eu posso ser feliz!

Rose bufou, eu sorri. Sabendo que ela deveria estar me chamando de


criança enquanto ia até as próximas prateleiras.

— Sem muitos lanches, só para avisar! Já comi muitas coisas ruins


nos últimos dias, e um pouco de saúde é essencial.

— Como assim? Você não tem esse direito! Vou viver sumindo para
comer fora então. Sai fora. Focar em verdura! Não vou aguentar um mês de
treino!

A nossa alimentação era controlada, mas podíamos extrapolar de vez


em quando... De vez em quando, claro.

Quanto mais calorias eram queimadas, mais precisavam ser


consumidas. Era a mesma coisa que tentar manter um saco de pancadas com
água. Qualquer um sabia que isso não funcionaria.

Não disse mais nada, apenas evitando uma conversa muito maior.
Parei no corredor de massas e peguei todos os molhos que eu adorava.
Precisava manter meus quilos.

Chegamos no apartamento, cheios de sacolas. A maioria por minha


culpa.

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Arrumamos as coisas nos seus devidos lugares, agindo como se
fizéssemos aquilo a vida inteira. A nossa parceria doméstica com certeza
seria invejada por muitos casais que dividiam o mesmo lugar por muito mais
tempo.

Quando sua intimidade com a pessoa era tão grande, o tempo já não
se fazia mais necessário. Apenas a convivência.

— Tenho que pegar minhas coisas no apartamento do Josh. Preciso


trazer tudo para cá, ou quer ir para outro lugar?

Perguntei sabendo que ela negaria. Rose gostava dali, era o seu
refúgio e seria difícil convencê-la de ir para um lugar mais seguro. Agora eu
entendia a necessidade do meu amigo de manter a sua mulher sempre a salvo.
Esse mundo em que vivíamos não respeitava nada além do dinheiro e era
extremamente perigoso.

Julguei até ser exagero por parte dele, manter a Bia sempre cercada de
seguranças, mas percebia o mesmo sentimento crescendo em mim com
relação a Rose, não querendo que minha carreira acabasse de alguma forma,
fazendo mal a ela. Se eu precisava lidar com o perigo constante, não queria
que ela fosse obrigada a fazê-lo também.

— Podemos ficar aqui... Eu não vejo problema.

Sabia que não veria. Mas eu queria algo nosso. Só nosso. Que não
tivesse nenhuma outra lembrança além de nós dois juntos.

— Vamos ter que mudar alguma hora. Aqui não vai aguentar nem um
mês contra os paparazzi. Algo parecido com a casa do Josh é no mínimo o
mais aceitável.

Percebi a careta se formando em seu rosto, ela não tinha a menor


noção do que era ter um relacionamento assumido com um astro. Nem um
pingo de noção do que era ter flashes em todos os lugares que ia pela cidade.
Bia estava passando pelo processo de adaptação e poderia afirmar o quanto
era complicado.

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— Não queria me mudar.

— Rose, as coisas vão ficar meio frenéticas. Sabe disso!

Ela continuou guardando o restante das coisas, sem se importar em


me responder. Pensando que ignorar faria a verdade se tornar diferente.

— Fica aí pensando, eu vou buscar minhas coisas.

Concordou, mantendo seu olhar focado na tarefa que estava


desempenhando.

Saí de lá, torcendo para que ela percebesse o quanto tudo mudaria dali
pra frente e o quanto era importante ela ir se acostumando desde já. Eu faria o
mesmo que meu amigo: contrataria seguranças, o que jamais imaginei fazer,
e os contrataria pra mim também. Sabia que não poderia continuar ignorando
a segurança. Mas era realmente humilhante andar com armários do lado, se
sentindo impotente em se defender.

Entrei no carro estacionado em frente ao edifício, mais um motivo por


não querer morar ali, não tinha vagas de garagem, era um lugar remotamente
tranquilo, não precisava disso. Mas eu precisava. Não conseguiria deixar meu
bebê desprotegido.

A situação estava mesmo séria e teria que resolvê-la o quanto antes.


Esperar apenas atrapalharia os planos e dificultaria as coisas. Não gostava de
ficar jogando para o próximo dia o que precisava ser feito e mesmo que ela
não quisesse, teria que aprender que a segurança vinha antes de qualquer
vontade.

Acelerei, querendo arrumar tudo logo e voltar para os seus braços,


meu verdadeiro lar. O rádio do carro tocava as batidas de Trophies e eu batia
no volante, deixando a canção fazer seu caminho em mim. Sorrindo apenas
por estar feliz comigo mesmo. Aumentei um pouco o volume, hoje podia. Era
uma música digna da temporada, ganharíamos troféus, muitos troféus.

Cheguei na rua do prédio, mas não vi necessidade de entrar na


garagem. Eu iria pegar poucas coisas e conseguiria carregá-las
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tranquilamente até o carro. Quanto mais tempo eu ficasse por lá, mais tempo
eu ficaria longe dela.

Entrei no apartamento e corri, subindo as escadas como um


condenado e pegando todas as minhas roupas no closet. Pela primeira vez
estava fazendo o que sentia ser o certo: indo em direção a uma vida que eu
sempre quis.

Apaguei as luzes pelo caminho e passei, deixando que a porta


trancasse automaticamente. Desci de volta ao térreo, com as minhas poucas
coisas que estavam ali em minhas mãos, esquentando de uma forma
acolhedora os meus braços.

Não pensava em nada além de finalmente chegar no seu apartamento,


mas quando pisei na calçada, em frente ao meu carro, percebi que algo estava
errado pra caralho. O mau pressentimento não era sem sentido. Não
costumava errar e justo hoje, quando eu queria voltar o mais rápido possível,
alguma coisa atrapalharia.

Olhei para os lados, tentando identificar o motivo do meu receio e foi


quando eu a vi, parada logo na esquina, apontando uma arma em minha
direção. As coisas não seriam tão fáceis, e justo hoje, quando eu admiti a
mim mesmo que precisava de seguranças, uma merda daquela acontecia.

Sabia que precisava fazer alguma coisa, mas quando ouvi o barulho,
não tive a menor vergonha de ficar paralisado. Era surreal demais e
imprevisível demais.

Merda.

Justo quando tudo estava dando certo.

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Allan estava demorando demais. Será que ele tinha desistido? Eu não
queria ignorá-lo quando disse que precisávamos mudar, eu apenas estava
tentando me acostumar a ideia de que as coisas não seriam mais como antes.
Tentando evitar que o desespero tomasse conta de mim, assim como tinha
tomado conta da minha amiga, que só agora tinha se acostumado aos
holofotes sempre sobre si. Nada no começo tinha sido fácil para ela, sofreu e
muito com o assédio dos paparazzi, e só de saber que o mesmo aconteceria
comigo, já sentia as minhas vontades diminuírem.

Jamais ambicionei ser conhecida e famosa, eu queria apenas seguir o


meu sonho e conseguir ser feliz quando o conquistasse. Muito dinheiro nunca
tinha sido uma prioridade. Viver bem, claro que sim, mas nada em excesso,
apenas o suficiente para ter uma vida confortável.

Os minutos estavam passando e a cada barulho do relógio a certeza de


que ele tinha desistido parecia ganhar forças em minha cabeça.

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Peguei o celular e fiquei com ele em minhas mãos, esperando que
caso ele tivesse mesmo feito isso, fosse ter a decência de ligar me avisando.
Allan era sincero e faria isso.

Senti o celular vibrar e olhei esperançosamente, esperando que fosse


ele dando sinal de vida e estranhei quando vi o nome do Josh piscando
freneticamente na tela. Ele quase nunca me ligava, afinal, eu era melhor
amiga da sua mulher e não costumava conversar muito com ele.

Atendi, ouvindo a respiração pesada dele do outro lado da linha.


Aquilo não era uma coisa boa, definitivamente, não era.

— Rose, corre pra casa! A Bia tá te esperando.

— O que aconteceu?

— Eu não posso dizer agora, preciso resolver umas coisas. Corre pra
lá que a Bia te explica!

Desligou, deixando-me mais apreensiva do que já estava. Nada estava


bem, se estivesse ele teria falado. Peguei as minhas coisas correndo e desci as
escadas afoita, chegando na calçada e dando com a mão depressa para um
táxi. Desejando com todas as minhas forças que ele fosse o mais rápido
possível até o meu destino.

— Moço, você pode ir mais rápido?

— Eu já estou no limite.

Ele não era dado a simpatias e parece que para desafiar o meu humor,
diminuiu ainda mais a velocidade. Aumentando toda a tensão que percorria o
meu corpo.

Depois do que pareceu uma eternidade, cheguei ao condomínio em


que Bia morava, rodeada de mansões e de celebridades. Falei meu nome e
liberaram minha entrada imediatamente. Corri até a sua casa, sentindo meu
corpo protestar ao esforço submetido. Avistei-a na porta, já me esperando,
aumentando a certeza de que as coisas estavam mesmo muito erradas.

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— Vem, Rose! Entra rápido! Antes que vejam a movimentação e
chamem os paparazzi!

Minha amiga puxou a minha mão, fazendo com que eu entrasse


rapidamente na mansão.

— O Josh e o Silas correram, assim que receberam uma ligação do


assessor de imprensa do time, dizendo que Allan estava na maioria dos
telejornais. Nem tiveram muito tempo para explicar, mas pelo que percebi,
ele foi baleado e eles não sabem o porquê ainda.

Baleado? Ela só podia estar falando de outra pessoa, não era dele, não
podia ser... Allan estava bem há algumas horas atrás, ele só tinha ido buscar
suas coisas para ficar comigo no apartamento. Como tudo havia acontecido
assim tão rápido? Impossível!

— Só pode estar brincando comigo!

— Eu não brinco com coisas importantes.

— E onde ele está agora?

— Eu não sei. Josh ainda não me ligou para avisar e acabei de te


contar tudo o que eu sabia.

Quando a verdade foi me invadindo, senti o desespero se apoderar de


mim. Aquilo estava mesmo sendo real e eu não estava preparada para acabar
de ganhá-lo e perder assim, de uma hora para outra.

Ouvimos o celular da Bia tocando e ela atendeu rapidamente, para


não perder nenhum mísero segundo. Ficou olhando pra mim, transparecendo
todos os seus sentimentos enquanto ouvia o que Josh dizia do outro lado. E
pelo seu rosto, as coisas não pareciam estar bem.

— Entendi. Estamos indo então. As crianças estão com a Gloria. Sim,


está tudo bem com eles. — Respondeu às perguntas do Josh rapidamente,
querendo tanto quanto eu sair dali logo e ir ver o que estava acontecendo.

Desligou o telefone e pegou as chaves do carro na mesinha de centro


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à sua frente, puxando-me novamente pela mão, mas dessa vez até a garagem.

Entrei no carro e mesmo sabendo que Bia não dirigia bem, não me
importei com a minha saúde, não quando Allan devia estar em estado grave e
que dependia da habilidade na direção da minha amiga para chegar até onde
ele estava.

— Onde ele está?

— No mesmo hospital onde tive a Lily.

Bia não queria falar muito, estava concentrada em fazer com que
chegássemos rápido e com vida. Nem ela estava para sorrisos hoje e
suspeitava que quando víssemos seu marido e o Silas, eles estivessem da
mesma forma.

Vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo.

Ficava repetindo isso na minha mente, acreditando que o positivismo


poderia de fato dar certo. Toda e qualquer esperança era válida.

Quando chegamos ao hospital, a quantidade de paparazzi só


confirmava o que estávamos temendo ser a verdade. Todos já sabiam...

Passamos pela multidão, vendo os flashes das câmeras clareando


nosso caminho. Bia tentava inutilmente tampar seu rosto enquanto era
cercada por várias pessoas com microfones, perguntando os detalhes do que
estava acontecendo. Mal sabiam que tínhamos menos informações que eles
no momento.

Só conseguimos sair da multidão de pessoas alguns minutos depois,


entrando rapidamente na recepção do hospital, onde eles não poderiam nos
seguir, nem fazer mais perguntas.

— Em que quarto Allan James está?

Bia perguntou para a funcionária e no mesmo momento ela nos disse.


Reconhecendo-nos de alguma coluna de fofoca e sabendo que negar nossa
entrada somente acarretaria na perda do seu emprego.
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Subimos que nem duas malucas até o andar que ela tinha falado,
trombando com todos que vinham na direção contrária. Pedindo licença e nos
desculpando pelo incomodo. Nervosismo era pouco para descrever como
estávamos... Meu coração poderia literalmente sair pela boca de tanto
nervoso e preocupação.

Quando chegamos no corredor certo, vimos Josh e Silas, um


encostado na parede olhando para o teto, com uma expressão nada boa e o
outro sentado em uma das cadeiras, com a cabeça abaixada e as mãos sob os
joelhos em sinal de derrota.

Aquilo não estava acontecendo... Qualquer um merecia morrer,


menos ele. Tantas pessoas ruins no mundo e justamente ele que acabava
tendo que lutar pela vida.

Bia foi até o marido, perguntando como o Allan estava e ouvi Josh
murmurar que ele estava em cirurgia e que ninguém dava notícias do seu
estado. O que significava que as coisas estavam difíceis ao ponto de ninguém
ter tempo para fornecer notícias.

Sentei ao lado do Silas e minha expressão, mesmo que eu não pudesse


vê-la era com certeza igual à deles. Todos nós estávamos preocupados.
Éramos a verdadeira família dele...

Lembrei-me da sua mãe e mesmo ela sendo péssima, alguém tinha


que avisá-la...

— Ligaram para a mãe dele?

Silas olhou pra mim e sacudiu a cabeça em sinal de negação. Mas não
se movendo nem um pouco para fazê-lo. Acabaria sobrando para mim... Eles
não gostavam da forma como a mãe e o irmão tratavam o Allan, então seria
um milagre conseguir que eles tentassem entrar em contato.

— Tem o número dela, Silas?

— Acho que sim.

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Ele pegou o celular com a maior má vontade que já vi estampada na
sua face, até mesmo ele, que costumava ser o mais piedoso dos três, sabia
como guardar rancor... E desconfiava que para justamente ele ficar dessa
forma é porque de fato, a família não valia nada.

— Aqui.

Ele passou-me seu celular, em uma clara ordem para que eu ligasse
dele.

Apertei o botão de iniciar chamada e quando ouvi a voz de quem eu


achava ser a mãe do Allan através do telefone, conseguia entender toda a
antipatia dos meninos para com ela. Somente pela forma como tinha atendido
a ligação, deixava claro que não queria conversa.

— Quem é?

— Oi, eu sou a namorada do seu filho, Allan, e queria avisá-la que ele
está no hospital... Assim que vier eu explico o que aconteceu, mas peço um
pouco de calma, tudo bem?

— O que ele aprontou?

Agora quem não estava entendendo nada era eu. Eu soltei aquela
bomba e ela me perguntou apenas “o que ele aprontou”? Desde quando
Allan aprontava algo para ir parar no hospital? Era um dos homens mais
tranquilos que eu conhecia, não arrumava confusão à toa. Ele apenas era
brincalhão demais, mas isso todos sabiam e não davam bola.

Percebi que tinha sido um erro nutrir esperanças sobre ela e que no
final, Josh e Silas estavam certos em não querer fazer essa ligação... Sabiam
desde o começo que seria inútil, assim como tentar ajudar um drogado que
não queria ser ajudado.

Desliguei a chamada, deixando o celular cair no chão e ficando no


mesmo estado catatônico que todos ali...

Eu não sabia o que aconteceria, mas uma coisa eu tinha certeza: eu

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não permitiria que ele me deixasse assim.

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Senti algo queimando em mim e quando olhei na direção da minha
barriga, vi a grande mancha de sangue que se alastrava rapidamente por toda
a minha roupa. Automaticamente levei minha mão ao ferimento e senti a dor
me cortar aos poucos, agora que eu tinha visto o tamanho do estrago, podia
sentir também o tamanho da dor.

Minhas pernas foram cedendo, assim como os espasmos que


teimavam em atravessar a minha carne. Vi um vulto correr na minha direção
e amortecer a minha queda iminente. Senti suas lágrimas quentes caindo
desenfreadamente pelo meu rosto, como se ela se arrependesse de ter feito
aquilo, o que eu sabia que no fundo jamais aconteceria.

— Me desculpa Jay... Eu não queria, juro que não queria. Foi mais
forte que eu... Não quero te perder. Fica comigo, fica... Respira, por favor,
respira!

As suas mãos passavam pelo meu rosto tentando me confortar por


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algo que ela mesma havia causado. Esse mundo sempre surpreendia a gente e
um grande sinal era o seu desespero, totalmente sem fundamento.

Ouvi o barulho a minha volta e rapidamente seus braços me


abandonaram. Pelo menos isso. Ela poderia me deixar morrer em paz agora.
E cara, no paraíso devia haver alguma coisa divertida a se fazer, tinha que ter.
Como eu iria passar a eternidade com pessoas emburradas ao meu lado? Seria
praticamente impossível.

— Alguém já chamou a ambulância?

Todos falavam ao mesmo tempo e enquanto tentavam discutir sobre o


que fazer, fui cedendo a inconsciência. Pensando no rosto bonito da Rose e
como eu tinha sido sortudo em ter falado hoje como eu me sentia, se eu
tivesse esperado mais um pouco poderia nunca ter falado, e morrido com esse
arrependimento.

Tudo foi ficando escuro e era como se eu sentisse a vida se esvaindo


do meu corpo, juntamente com meu sangue que eu até conseguia imaginar
estar sujando completamente a calçada.

Se minha vida fosse um filme, poderia ser um drama, digno de um


Oscar. Até porque todos sabiam que comédia dificilmente ganharia um e se
fosse para ser um roteiro, eu queria ser o melhor. Nem Titanic me superaria...

Meus olhos estavam pesados e quando eu tentava abri-los via tudo


embaçado, o que não me deixava muita ideia do que estava acontecendo.

Meus membros estavam amortecidos e quando eu tentava levantar a


mão, ela simplesmente não me obedecia. Ouvi vozes dizendo que eu estava
acordando novamente e algum tempo depois eu já não conseguia ouvir nem
sentir nada.

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— Quando ele vai acordar?

— O médico disse que ele ainda estaria sob os efeitos dos sedativos
por um bom tempo. Não sei ao certo quanto.

— Estou preocupada.

— O pior já passou, amor. O pior realmente já passou.

Fiz um esforço para abrir os lábios e disse fracamente, para que todo
mundo parasse de palhaçada e visse que eu estava bem.

— Já pararam de discutir quem vai jogar o xadrez esse fim de


semana? Seus velhos!

Vi Josh levantar da poltrona no canto do quarto e vir rapidamente em


minha direção. Com o alívio explícito em seu rosto. Silas que olhava pela
janela ouviu também e ficou do lado dele, ambos me olhando embasbacados.
Como se eu ter sobrevivido fosse algum tipo de milagre. Idiotas!

— Não foi dessa vez.

— Caralho, cara! Mas que bosta! Como faz isso com a gente? Na
moral, não quero mais sentir essa merda não. Tô com o coração palpitando
até agora! E se eu morro também por causa do susto? E aí, como ficariam
meus filhos?

Josh estava bravo, puto da vida. Mas eu não tinha pedido aquilo.
Dessa vez era mesmo inocente. E ele se esqueceu que passamos pelo mesmo
no seu caso, uma verdadeira trapaça do destino.

— Eu nem vou comentar, Josh disse tudo.

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Silas também não estava rindo e eu conseguia perceber o quanto as
coisas tinham sido sérias...

Rose me olhava de onde estava, perto da Bia, e amor era tudo o que
eu via refletido. Eu não estava tão bem assim, mas eu tinha a ela e uma
família que eu mesmo escolhi. Quem ficaria ruim tendo com quem contar
sempre que precisasse?

Duas semanas depois

Quando saí do hospital, ainda não estava completamente curado. O


ferimento na minha barriga teimava em doer quando eu menos esperava,
fazendo com que eu me curvasse devido a dor excruciante. O médico disse
que demoraria mais ou menos um mês para que eu parasse de sentir algumas
pontadas ocasionais e a única coisa em que eu pensava era que não poderia
treinar, muito menos jogar.

Essa temporada era mesmo a minha; a minha vez de ficar de molho


assim como o Josh tinha ficado na passada. Agora só faltaria o último do trio
na próxima temporada. Que isso não acontecesse, mas a sorte não estava
mesmo a nosso favor. Esperava que ambos conseguissem manter o time
competindo, assim como fizemos sem um parceiro. Os dois eram bons e com
certeza conseguiriam.

Era ridículo ter que sair de cadeira de rodas de lá, ainda mais com a
multidão de fotógrafos que me aguardavam.

— Porque eu tenho que sair assim?

— São especificações médicas.

— Mas que merda! Parece que estou inválido!

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Se até meus amigos estavam rindo de mim, imagine o resto do
mundo.
1
— Fica tranquilo. Você é o novo 50 cent ! Sobreviveu a um tiro na
barriga, não tantos quanto ele, mas também está aí para contar a história!

— O que os assessores do time fizeram?

— Publicaram um comunicado oficial, informando que estaria fora


dos próximos jogos até que se recuperasse. Nada fora do normal. E não se
pronunciaram a respeito do ocorrido.

Menos mal. Já era ruim o suficiente ter que ver fotos minhas em uma
cadeira de rodas no dia seguinte, e seria muito pior ter que ficar dando
explicações para todos.

— Desculpe te dizer, mas vai ter que ficar na cobertura com a Rose...
No prédio onde ela mora não tem elevador... E cara, tá cheio de repórteres
por lá, só esperando a sua volta.

— Mas e a Letícia?

— Foi presa em flagrante.

Josh falou e olhou pro Silas que parecia saber de algo mais. Na
verdade, eu tinha certeza que ele sabia, até porque, conhecia uma das muitas
faces da mulher que um dia eu pensei amar. Graças a Deus as coisas não
tinham dado certo entre a gente. Tinha o pressentimento de que elas não
acabariam bem.

Encarei Silas esperando que ele me contasse o que estava escondendo.


Já tinha passado da hora dela ser punida pelos seus crimes e eu não sentiria a
menor pena com isso. Tinha finalmente superado e seu nome não causava
nada além de repulsa nos meus sentimentos.

— Meu pai descobriu tudo e está fazendo o possível e impossível para


que ela fique para sempre na cadeia. Eu literalmente não queria estar no lugar
dela...

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Ele estava escondendo mais alguma coisa... E me falaria, porque eu
realmente estava pronto para dar um ponto final nessa história maluca.

— Bom... Ele estava pensando que você era um dos parceiros dela,
mas o convenci de que não. Também não sabia do que estava acontecendo e
eu sou testemunha disso. Ela cometeu muitos crimes além dos que tinha nos
falado e assim como o irmão, foi presa e indiciada por todos eles.

Mais um motivo para considerar Silas como um irmão. Ele não


conversava com o pai dele, graças a uma briga gigantesca no passado. Os
dois não faziam a menor questão de ver como o outro estava e assim por
diante... Viviam suas vidas sem fazer a menor referência ao seu parentesco.

Tudo porque um queria seguir seu sonho, enquanto o outro queria que
ele seguisse comandando seu império. Um impasse que poderia muito bem
ser resolvido sem tanta dor e mágoas envolvidas. Pena que todas as pessoas
complicavam os problemas quando deveriam tentar simplifica-los. E quem
seria eu para julgá-los por isso, quando só consegui resolver meus dilemas
depois de muitos anos e com ajuda das pessoas que realmente se importavam
comigo?

Os flashes brilhavam de uma forma que me deixava


momentaneamente sem poder enxergar nada, e o burburinho que se formava
era perceptível. Todos queriam saber o que tinha de fato acontecido com uma
das grandes estrelas do basquete. É claro que as versões que contaríamos não
chegariam nem perto da realidade. Como por exemplo, de que Letícia não
passava de uma fã maluca por atenção, muito melhor do que a verdade que
tinha nos assolado e evitaria o envolvimento de muita gente na confusão.

Como a Rose, pai do Silas, minha mãe e meu irmão, que conheciam a
criminosa tanto quanto eu. Ou seja, quase nada.

“Geeeeeeeente! Quem foi que tentou matar o meu homem? Eu vou


atrás! Juro que arranco cabelo e unha por unha dessa pessoa sem coração!

Até meus amados tiveram que sair correndo depois de saberem o

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estado em que estava o Jesmaiado!

A imprensa ficou em polvorosa com o bafo e nem se importou que era


uma vida que estava correndo risco! Meu lindo estava muito mal na hora e
graças a Deus, recebemos notícias dos intrusos na frente do hospital, de que
ele está bem agora.

Só consigo sentir alívio em descobrir isso. Brincadeiras à parte, mas


esse homem precisa estar vivo para casar comigo, e me tornar Diva que nem
a Diva C., que aliás, foi vista dirigindo desgovernadamente pelas ruas de
Boston, com uma cópia totalmente branca do seu lado. Seria cômico se não
fosse mesmo super trágico.

Reza as más línguas que seu romance com o meu astro está mesmo a
todo vapor. Fontes próximas dizem ainda, que os dois se olham de forma
apaixonada e estão sempre a se preocupar um com o outro.

Ai, como eu queria um astro pra chamar de meu! Um que pudesse me


jogar na parede e mostrar com quantos tijolos se constrói uma mansão!
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Nada de casa simples, eu quero é uma ao estilo Bel Air em Los Angeles,
porque não sou besta!”

Tudo sobre Astros por: Stephen Pharrell

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“Eu não acredito que aquela cópia está morando junto com o meu
homem! Isso não era para acontecer, eu sou o amor da vida dele, ele sabe!
Jamesconda sem chances de você ficar em paz com essa vadia safada, eu não
vou te perdoar!

Primeiro foi a Diva C. roubando meu crush, agora a cópia de Megan


Fox bibliotecária! Quem vai ser a próxima a roubar meu amante SILAS? Por
favor, diga agora ou morra e fique morta para sempre!

Essas ladras de homens não perdoam ninguém, quem poderá nos


salvar delas?

Até o homem mais lindo da América tá namorando de novo! Como


pode gente? Quem consegue superar a safada July? Eu sinceramente não
tenho a menor ideia de como fica o psicológico dessa rapariga! Só lamento
por você querida, eu não ia ter cacique pra competir com a “lábios
rechonchudos, MEGA bafônicos.”
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Tudo sobre Astros por: Stephen Pharrell

Aproximadamente 1 mês depois

Eu tinha acabado de sair do julgamento, onde Henry era o culpado por


tudo o que havia cometido. Meu sequestro e tentativa de assassinato. Os
crimes anteriores não poderiam ser reabertos sem testemunhas, mas esse,
contando comigo, Allan e Kate, sim. Não tinha o que contestar.

Dessa vez seu pai não quis assegurar sua liberdade e demonstrou estar
pouco ligando para o que ele tinha feito, deixando que pela primeira vez na
vida, assumisse a culpa por seus erros e ações.

Foi a primeira vez que não o vi sorrindo quando seu olhar era dirigido
a mim, ele estava com medo, e com razão! Não sabia como era a realidade na
cadeia, a qual eu achava que não era muito boa e ele também. No mínimo
sabia que com essa cara de playboy que tinha, seria um prato cheio para os
criminosos mais barra pesada que existiam.

Allan e Kate tinham contado tudo, exatamente como aconteceu e


ninguém tinha dúvidas de que ele seria julgado culpado. Eu conseguiria viver
tranquila novamente e em paz comigo mesma, porque Henry pagaria por tudo
o que me fez passar. O temor que antes eu sentia constantemente já não me
assolava mais. Agora eu estava livre, livre para focar no meu futuro, que era
o que realmente importava.

Ver Henry não me trouxe nenhuma dor, eu tinha superado, superado


tudo... Poucas pessoas tem a sorte de dizer que de alguma forma passaram
por cima dos seus medos, e eu era uma delas. Tudo foi pela ajuda que tive e
pelo amor das pessoas que me rodeavam. Quem tinha amigos, tinha tudo.

Saí daquela cidade, com a casa vendida, com o culpado por tantos

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medos, preso, e com a minha alma liberta. Dessa vez eu não estava fugindo,
estava mostrando o quanto era forte e provando a todas as pessoas que as
coisas ruins poderiam ficar para trás, no seu devido lugar.

Descobri até mesmo que Ralph tinha engatado um romance com a


minha prima. Acho que um iria consolar o outro, que por si só já os deixava
no mesmo patamar. Desejava toda a felicidade do mundo aos dois.

Enquanto Allan acelerava o carro, encostei a cabeça no vidro e


agradeci tudo de bom que tinha acontecido comigo, agradeci por ter
encontrado pessoas maravilhosas nas quais eu podia confiar e agradeci
principalmente, por ter me tornado uma nova mulher. Melhor e mais forte,
que sabia viver a sua vida e que tentaria ajudar outras tantas a fazerem a
mesma coisa.

— Tudo resolvido. Até que enfim. Parece que foi tirado um peso das
minhas costas. Nem acredito que estamos finalmente vingados.

— Nem eu.

Agora eu poderia investir com segurança nas minhas próprias coisas,


com a certeza que se eu errasse teria alguém para me segurar antes de cair.

— Minha mãe internou meu irmão.

— Sinceramente, essa foi a melhor coisa que ela fez.

Allan batucava os dedos no volante conforme a música que ouvíamos


era reproduzida.

— Também acho. Ninguém conseguia mais controlá-lo. Pelo menos


agora, me sinto mais tranquilo. Depois que sair eu vou dar uma força, tirar ele
e ela daquele lugar e dar um jeito na vida deles. Querendo ou não, são minha
família... Acredita que ela me pediu perdão por tudo? Um verdadeiro milagre.
Não sei o que pode tê-la feito admitir isso.

Eu sabia muito bem!

Tinha ido até o bairro onde ela morava e falado tudo o que estava
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entalado na minha garganta. A forma como ela tratava os filhos e como não
se importava com um deles, o qual ela devia amar incondicionalmente. Não
saí de lá até que tudo estivesse em pratos limpos, cansei da palhaçada que era
aquela relação deles, onde somente ele cedia dinheiro e eles aproveitavam,
sem se importarem em como ele estava, como passava seu tempo livre e
afins. No começo ela ainda teve a cara de pau de me xingar por coisas
totalmente idiotas, o que só tinha me feito falar mais.

Allan havia feito tanto por mim e eu ficava feliz por ter conseguido
pelo menos essa mudança na sua vida.

— Você tem alguma coisa a ver com isso?

Fiz cara de paisagem e fingi que não sabia do que ele estava falando,
e ainda bem que ele acreditou na minha farsa. Não queria que soubesse que
sua mãe precisou de um empurrão meu para fazer o que deveria ter feito
desde o começo.

— Não.

Chegamos em Boston duas horas depois, sendo brindados pela cidade


completamente tumultuada. Era de tarde e as pessoas voltavam dos seus
trabalhos, completamente entretidas em seus celulares, algumas lendo e
outras apenas correndo para chegarem logo ao seu destino. Algumas paravam
para olhar o carro que chamava a atenção, e acenavam para o jogador que o
dirigia, recebendo um cumprimento em resposta. E assim eram as coisas por
ali.

Seguimos direto para a nossa nova casa, que coincidentemente era do


lado da casa da minha amiga, o que facilitava e muito nossa comunicação.

Allan decidiu comprá-la assim que viu a pequena placa no quintal,

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com o VENDE- SE se destacando. Não pensou duas vezes e ligou para o
responsável pelo imóvel, fazendo uma oferta que ninguém em sã consciência
conseguiria recusar. Mudamo-nos cerca de uma semana depois e já
estávamos vivendo ali há alguns dias.

Quando a mídia descobriu onde era, quase ficamos loucos, porque


moravam dois astros no mesmo bairro, o que era raro de acontecer e
magnífico para as matérias, já que matava dois coelhos com uma cajadada só.
Quando Pharrell descobriu que morávamos juntos, quase teve um infarto, me
chamando de tudo quanto é nome porque eu estava roubando “o seu
homem”. Aquele era mesmo mais do que doido!

— Semana que vem já posso voltar a treinar, segundo o médico.

Allan estava ficando angustiado de ficar em casa, se recuperando,


enquanto o time passava pela temporada, com jogos atrás de jogos e ele só
vendo pela televisão. Todos estavam comentando como o “James” fazia falta
no grupo de titulares do Globe e ele só se sentia pior ouvindo aquilo.

Angustiado, era pouco para descrevê-lo.

— Uma semana passa rápido.

— Tem que passar mesmo, estou ficando louco por aqui! Fora que
vou ter que treinar pra caralho pra poder alcançar os caras. Só de pensar nisso
já me sinto horrível.

— Fica tranquilo, isso é para o seu próprio bem.

— Eu sei.

Estacionamos na frente de casa, e qualquer um que entrasse ali veria o


quanto aquele lugar tinha um pouco de nós dois. Desde a decoração que
incluía basquete até cantos recheados com livros. Uma combinação perfeita e
harmoniosa, onde nossos gostos se fundiam, tornando a decoração totalmente
única.

Allan seguiu até a cozinha, tirando a camisa, agindo como todo dia. A

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cicatriz em sua barriga era perceptível e só me mostrava o quanto eu estive
perto de perdê-lo de vez, fazendo-me apenas dar mais valor ao que eu tinha.

Abriu a geladeira e pegou uma maçã, olhando diretamente para mim


de uma forma que me deixava ansiosa pelas coisas que aquele olhar prometia.

— Terminou. Finalmente, terminou.

Eu sabia do que ele estava falando. Tudo havia acabado. E muito bem
eu diria. Tudo estava no seu devido lugar e a felicidade reinava em carga total
na nossa vida.

Eu não precisava de nada além daquilo. Só estar ao seu lado,


testemunhando todas as coisas boas e não tão boas, já me deixava completa.

Quem era o meu passado quando o meu futuro estava bem ali na
minha frente, com uma cara mais do que safada?

Ninguém, com certeza, ninguém...

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— Merda! Tô nervoso pra caralho, cara!

Eu e Josh havíamos combinado um tempo atrás essa surpresa e ele


tinha me ajudado conforme o prometido. Falou pro treinador que eu estava
ocupado, muito ocupado e que não poderia ser o primeiro a dar entrevista
antes do jogo. E não poderia mesmo, eu tinha uma fantasia para vestir... Uma
muito quente por sinal. Na verdade, nem entrevista acho que eu daria. Aquela
roupa estava me cozinhando vivo, coitados dos caras que tinham que fazer
aquilo durante o jogo todo. Misericórdia, ninguém merecia ser cozido que
nem batata.

As líderes de torcida me olhavam com um sinal claro de inveja pela


minha mulher. Eu não sentia a menor hesitação, não quando a certeza era
absoluta e comandava todas as minhas vontades.

Hoje o time perderia mais um soldado solteiro. Isso já estava certo,


até porque, ninguém diria não para mim. Eu era o James, quem seria capaz de
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recusar se casar comigo?

Pedi ajuda para uma das meninas fecharem o zíper atrás da fantasia e
ouvi o anúncio da entrada dos jogadores em quadra. Coloquei aquela cabeça
gigante e verifiquei se conseguia ver pelos pequenos buracos dos olhos.

Tudo conferido.

Tudo certo.

E minha entrada foi feita calma.

Dei tchau para as pessoas que acreditavam que eu fosse mesmo o


mascote, embaixo de toda aquela montanha de roupas.

Vi Rose conversando com a Bia, logo nas primeiras fileiras. Os


assentos privilegiados eram garantidos para elas agora e ninguém sequer
refutava isso.

Fiz um sinal com a mão para o narrador do jogo e vi quando ele


confirmou com a cabeça; mais uma cortesia do meu amigo, que ajudava as
pessoas sem pedir nada em troca.

Começou a tocar uma música romântica e ninguém entendia nada...


As animadoras entraram dançando de forma lenta e a maioria achou que fosse
apenas uma performance diferente. Ouvi as palavras do narrador e o nervoso
que sentia invadir minhas veias não era apenas um reflexo do que eu estava
prestes a fazer. Era mais uma reação inevitável de se amar alguém ao ponto
de ter a certeza que sua vida era ao lado dela.

— Parece que nosso mascote quer dizer algo!

Fiquei parado com a fantasia, enquanto as garotas dançavam ao meu


redor, todas apontando para Rose, que a essa altura já tinha percebido tudo e
estava com as mãos no rosto, claramente emocionada.

Comecei a tirar a cabeça da fantasia e notei quando todos levantaram


das suas cadeiras enquanto eu me ajoelhava, preparando-me para o maior
passo da minha vida. Sem vergonha, sem sentir nada além de felicidade por
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estar fazendo aquilo. Era agora ou nunca.

— Você foi a redenção quando todo o resto era escuridão. Protegê-la


sempre foi a melhor coisa que me aconteceu... Até mesmo quando você
brigava comigo e eu sorria, ou quando decidiu pôr um fim em tudo porque eu
era idiota. Você me fez acordar e agora eu só quero acordar ao seu lado. —
Respirei fundo — Roselyn Stewart, eu te amo! E ficaria feliz pra caralho se
pudesse se casar comigo.

Tirei a caixinha com o anel do bolso da fantasia e estendi à minha


frente, vendo-a descer correndo até a quadra, vertendo lágrimas que eu
enxugaria depois.

Senti suas mãos segurarem a minha e ela fechou a caixinha, enquanto


pedia silenciosamente para me levantar. Abraçou-me e disse sim em meio aos
soluços, dando a mão para que eu colocasse o anel nem um pouco chamativo
em seu dedo anelar.

Todos aplaudiam enquanto eu só pensava em beijar a minha futura


esposa.

Sentia suas lágrimas molhando meu pescoço, sabendo que elas eram
de alegria, o que me deixava o homem mais orgulhoso de todo o planeta. Ela
seria James e porra, eu estava mais do que ansioso para isso acontecer logo.
Já não aguentaria mais muito tempo sem torná-la oficialmente minha.

Ela soltou-me do abraço e voltou para o seu lugar ao lado da amiga,


que também chorava como uma manteiga derretida. Disse-me para fazer o
melhor jogo de comemoração, porque todos mereciam isso. Tudo tinha sido
perfeito e eu fiquei me sentindo um cara muito sortudo, até mesmo mais
sortudo que meu melhor amigo.

Corri para o vestiário, trocando-me com uma velocidade que não


achei que tivesse.

Todos zombariam de mim depois, por causa da palhaçada e tudo o


mais, mas eu não estava nem aí. O objetivo tinha sido atingido e o resto que
se lascasse. Só Rose de fato importava, o resto poderia facilmente ser
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ignorado.

Todos os jogadores já estavam em quadra, esperando o início do jogo.


Josh com certeza estaria rindo, assim como Silas, aqueles dois perdiam o
amigo, mas não perdiam a piada.

Voltei para quadra, só que com o uniforme dessa vez, passando muito
menos calor também. Não aguentaria usar aquela fantasia durante o jogo
inteiro, nem fodendo, que negócio quente! Ninguém merece não!

Alguns repórteres estavam somente esperando o meu retorno para me


fuzilarem de perguntas. Claro que sim. Eu tinha acabado de dar o maior
vexame da temporada e nem ligava. Eu era um homem apaixonado, qualquer
um que sentisse o mesmo poderia confirmar como perdemos a cabeça quando
o amor nos laça.

— Bem, ninguém achava que algo assim aconteceria. Poderia nos


dizer como se sente? – Uma das repórteres me questionou.

— Feliz.

Disse apenas isso e fui até os demais que estavam aguardando no


banco, não precisava ficar enchendo de palavras difíceis algo que era fácil de
ser explicado. Felicidade era o sentimento que me preenchia naquele
momento e eu não menti quando o disse.

— Cara, você arrasou! Nem eu diria não!

Josh era mesmo um idiota. Já esperava isso dele, estranho seria se não
dissesse algo do tipo.

— Desculpa aí, mas você já é casado! Vou ficar com o Silas que
ainda é solteiro!

— Nem vem, bonitão! Eu gosto de mulher!

Os dois sabiam entrar na brincadeira e por isso éramos tão ligados,


eles eram os irmãos que eu escolhi para mim. Aqueles que eu realmente
podia chamar quando precisasse.
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— Passou o momento frescura! Agora é hora de ganhar esse jogo e
fazer bonito para a galera que viu essa sua declaração aí.

Dei risada sabendo que ele estava certo e mais ainda porque me sentia
eufórico.

Eu faria um excelente jogo, principalmente porque queria


impressionar ainda mais uma certa mulher que me observava atentamente no
assento. Assim como o restante presente ali, que queria ter a mesma sorte que
ela.

O jogo começou e estava muito tranquilo. Talvez pela animação com


a qual eu jogava, marcando um ponto atrás do outro, auxiliado por um Silas e
um Josh totalmente atentos na marcação. Estávamos liderando com cerca de
vinte pontos de diferença apenas no primeiro quarto. Se continuasse assim, o
time adversário seria brutalmente massacrado.

Durante as pequenas pausas, nós só nos hidratávamos e mantínhamos


a calma no semblante. Mudar a pontuação seria praticamente impossível para
o outro time.

O treinador já nem gritava mais, até ele estava tranquilo, um tremendo


de um feito, eu diria. Se tinha um homem preocupado e nervoso, esse homem
era ele. Às vezes até passava do aceitável, principalmente com o Josh, mas
acabava levando uns coices que o faziam se arrepender de proferir palavras
idiotas.

Voltamos a jogar e no último quarto já não restava dúvidas de que


ganharíamos... Uma diferença de quarenta pontos era mesmo fenomenal.

Quando o apito finalmente soou, declarando fim de jogo na arena, o


pessoal apenas comemorou, era um jogo de temporada, mas ainda estávamos
longe dos playoffs, as finais tão esperadas pela galera.

Os repórteres mal esperaram começarmos a sair e vieram como um


bando de moscas querendo saber sobre os mais diversos assuntos, inclusive
os pessoais, que evitávamos comentar. Eles não aprendiam nunca, era um
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inferno.

Enquanto ia para o vestiário, olhei para a fileira onde ela estava e


respirei fundo, contente em como aquela noite tinha terminado e muito, mas
muito feliz em como o restante da minha vida ia começar.

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— Ai que merda! Mais uma vergonha para o nosso tão abalado
orgulho masculino.

Como Josh estava tão calmo com uma merda dessas? Aquela cueca
estava apertando e fazendo minhas bolas suarem mais que um bando de
homens em uma sauna.

— Relaxa que vai ser rápido! – Silas disse e recebeu uma olhada nada
boa minha e do Josh.

Ele era louco se estava vendo algo de positivo naquilo. Na verdade, o


dinheiro que seria arrecadado para as instituições de caridade era fenomenal,
mas a nossa humilhação não me parecia nada espetacular.

— Que mês você vai ser? — Perguntei ao Josh, torcendo para que ele
falasse janeiro.

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Eu não queria ser janeiro. Seria o primeiro a passar vergonha e eu
preferia não ser o primeiro nem o último, o intermediário seria melhor.

— Janeiro.

— Ah, que maravilha! Me safei dessa!

— Não te falaram ainda qual vai ser?

— Não. Já falaram para vocês? — Perguntei olhando pra ele e pro


Silas, sentindo que o que viria a seguir não me animaria nem um pouco.

— Já. Eu vou ser junho.

Merda. Silas estava bem.

Tomara que eu estivesse também.

A moça que nos coordenava veio em nossa direção e eu a barrei


quando ia passar pela gente. Queria saber também qual mês eu seria, ao invés
de ficar no escuro tentando adivinhar.

— Qual mês eu vou ser?

— Allan James? — Ela perguntou e eu confirmei com um aceno,


vendo-a logo em seguida procurar meu nome na prancheta.

— Dezembro.

Ah, puta merda! Como assim eu seria o último? Era muita


palhaçada!

— Sem chances! Não é o último que vai figurar a contracapa?

— Isso mesmo! E estamos com uma ideia para ser a última foto sem
roupas. Um nu traseiro, venhamos a dizer! Se importaria de mostrar o
bumbum para a mulherada?

Ah, nem ferrando! Ela só podia estar de brincadeira comigo!


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— NEM FERRANDO!

— Mas estava no contrato e para sermos justos, foi feito um sorteio


para o mês de dezembro. Os demais caíram nos meses dos seus aniversários.

Ah, que palhaçada! Eu nasci em agosto, qual a dificuldade em ser


agosto?

Era muita falta de sorte eu ter sido sorteado para o pior. Uma falta de
sorte do caralho!

Que raios de contrato? Como eu tinha assinado aquela porcaria sem


ler antes?

— Eu não li esse contrato.

— Leu sim. Junto com a gente. Nós ainda comentamos sobre


dezembro e como quem saísse nesse se ferraria legal.

É, com Josh falando, eu me lembrava. Mas ainda assim me recusava.


Não, sem chances. Não mostraria meu traseiro nem ferrando! Era meu
traseiro! Que masculinidade eu teria depois disso? Seria massacrado pela
galera!

— Cara, você tá muito fodido!

Até o Silas se divertindo às minhas custas? Era mesmo pra acabar!

— E se eu não aceitar?

— Se eu fosse você aceitaria! Pense que ninguém vai deixar


pendurado na parede a contracapa, só os meses conforme os dias forem
passando, então não será de todo ruim! E sua fama vai aumentar e as marcas
com produtos seus, terão um aumento considerável das vendas! Fora a
quantidade de dinheiro que vamos poder enviar para as instituições com a
bela propaganda do seu traseiro! Todo mundo ganha!

— O Josh é mais amado que eu!

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— Mas todo mundo sabe que a mulher dele não aceitaria tão bem
tudo isso. Seria pior.

— A minha também não aceita!

— Ah, fala sério Allan! A Roselyn é a mulher mais tranquila que eu


conheço! — Silas falou e Josh concordou. Doidos para me verem queimando
na fogueira.

— O Silas é solteiro! Coloca o Silas! — olhei pra ele — Parceiro, tem


como você trocar de mês comigo?

— Ficou louco? Nem pagando!

— Qual é? Cobre essa pra mim?

— Não! Não mesmo! Esse pedido já é forçar a amizade!

Para mim não era. Se fosse eu no lugar dele também não trocaria, mas
só porque todos sabiam como eu não era adepto das humilhações.

— Mas você é o cara, Silas!

— Não nesses casos. Sou idiota, mas não sou trouxa, Allan! Boa sorte
para você! Daqui a pouco é a minha sessão e a sua, como DEZEMBRO, é a
última.

Ele e Josh saíram de perto, sabendo que eu daria uma crise em breve e
não queriam ficar para presenciar isso.

— VOCÊS QUE VENHAM ME PEDIR AJUDA PRA VEREM SÓ!


NÃO VOU FAZER MAIS NADA POR NENHUM DOS DOIS! BANDO
DE COBRAS COM AS QUAIS CONVIVO! SEUS PUTOS DE MERDA!
— Gritei, revoltado com a falta de parceria dos meus amigos!

Me forcei a ir até a sala onde estavam fazendo tudo, e o time todo


estava caçoando da minha cara, isso porque eu nem tinha tirado as fotos
ainda. Quando tirasse seria muito pior, muito mesmo. Acho que pediria para
tirarem todos de lá, eu não precisava de um bando de homens olhando para o
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meu traseiro enquanto eu teria que fazer poses idiotas.

No chuveiro do vestiário era diferente. Agora era minha moral que


estava sendo posta à prova.

— Parem de dar risada! Eu não tô vendo graça nenhuma nessa


porcaria!

— A gente devia filmar isso! Pra você parar de ficar cheio de piadas!

Resmunguei, irritado com a minha sina.

Entre doze, justo o meu nome que saíra?

Acho que eu nunca me conformaria.

Meu mau humor só foi embora quando as fotos começaram e eu não


parei de gargalhar nem por um minuto. Com Josh sendo o primeiro a se
ferrar, ficando em posições estranhas demais para quem estava com uma
cueca branca.

NÃO ÉRAMOS MODELOS, PELO AMOR DE DEUS!

Estava praticamente impossível não gargalhar.

Nem Josh que tentava inutilmente ficar sério, aguentava. A sessão


teve que ser interrompida incontáveis vezes só para que a gente ficasse quieto
e para que ele parasse de dar risada e atrapalhasse a campanha.

Janeiro acabara, depois fevereiro, e assim por diante. Todos atrasando


aquilo mais do que deveria e postergando o tempo de sessão para muito mais
do que era esperado.

— Dezembro!

Gritaram e eu me recusei a levantar enquanto todos não saíssem da


sala e me deixassem passar aquela vergonha sozinho. Era o mínimo de
decência que eu poderia esperar da produção por ter me atirado aos leões
assim, em cima da hora. E o pior, sabiam que eu não gostaria nada da ideia e
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por isso, só me contaram prestes a fazer o feito.

Uma maravilha.

Nem tinha dado tempo de chorar com a minha mulher o meu carma.

Sabia que pra Rose tanto fazia, ela sabia que meu coração era
totalmente dela e não importava que todas as mulheres do planeta vissem
meu traseiro. Claro, não importava.

Porque a ferrada não seria ela.

Ela provavelmente daria risada junto com os meus amigos e faria


parte das que caçoariam de mim pela vergonha.

Uma esposa do lado negro da força.

Sorte dela que eu realmente a amava muito.

— Preparado?

Jamais. Mas não poderia fazer nada, isso era certo. Então que
passasse logo.

— Não.

— Vamos fazer com a cueca primeiro para poder se acostumar com


tudo. Fica tranquilo, relaxa o corpo e faz o que eu falar pra fazer. — A
fotografa disse e eu não gostava nada daquele tom.

Parecia que eu me preparava pra perder a virgindade.

Essas coisas de: relaxa, vai dar certo, não deixa o corpo duro que
atrapalha, não era comigo!

Realmente não era comigo!

Nada contra, claro que não, mas é que eu não estava me sentindo bem
em ficar exposto daquela forma e com meu traseiro circulando por todas as
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bancas do país e quem sabe, mundo. Não, isso não me deixava muito bem.

— Faz cara de durão!

Que mulher dos infernos! Além de ter que fazer toda aquela merda,
ainda precisava ficar fazendo essas coisas estranhas.

Odiava de verdade essa campanha. E ficava feliz por poder participar


de um projeto beneficente como esse, mas tinha a certeza que não participaria
de nenhum outro desse tipo nunca mais na minha vida.

— Quer que coloque uma música para relaxar? Mandar essa tensão
embora?

Que porcaria de música! Eu queria era me ver livre dessa vergonha!

— Vamos logo com isso?

— Então melhora essa cara, James! Temos que te deixar sexy nas
imagens.

— Mas eu sou sexy!

— Então haja como um!

— Se eu conseguir, terminamos mais rápido?

— Pelo amor de Deus, até parecesse que estou lidando com uma
criança ao invés do astro que você é!

Ela falava isso porque não era o traseiro dela!

— Vamos terminar logo com essa merda, então.

— Assim que se fala!

A sessão toda se passou comigo reclamando, e o pior foi quando


precisei tirar a cueca para a foto da vergonha.

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Eu não faria aquela merda nunca mais!

NUNCA MAIS!

Que fossem atrás daqueles monstros de futebol americano, mas de


basquete, nunca mais!

Só em imaginar minha foto circulando, meus pelos até se arrepiavam.

Se eu pudesse trocar isso pela dança, dançaria I Will Survive e


Y.M.C.A quantas vezes fossem necessárias. Sorrindo!

Eu faria o meu papel sorrindo de felicidade!

Agora mostrar o meu traseiro novamente? Nem em um milhão de


anos, por milhares de dólares.

— Terminamos!

Soltei um suspiro aliviado, mesmo sabendo que quando o calendário


estivesse pronto suspiraria resignado.

— Estou liberado?

— Coloca a cueca que agora vamos tirar uma foto de todos juntos
para a capa. Depois disso é só felicidade!

— Diz isso porque não é você na frente da câmera. — Falei baixo,


resmungando.

Momentaneamente mau humorado, novamente. Só em imaginar o


resultado, já era suficiente para me deixar irritado até o fim da minha vida.

Tiramos a última foto com todos juntos e a felicidade era geral. Mas a
minha nem sinal.

Pressentia a minha humilhação.

— Allan, vamos embora. Agora já era. Reza para não ser tão ruim
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quanto imagina.

Josh se divertia às minhas custas, Silas agora respeitava um pouco


mais, mas quando todos vissem aí seria geral tirando uma com a minha cara.

— Sem uma palavra vocês dois.

Ambos ergueram as mãos em derrota e pude respirar um pouco e


deixar para praguejar só depois.

Apenas depois.

E eu praguejei muito.

Tanto que eu tive a certeza que não sairia mais na rua sem uma
máscara que escondesse a minha identidade.

“Que palhaçada de noite foi aquela? Não quero nem saber, eu vou
sequestrar esse homem e fazer com que se case comigo. Nada de Cópia de
Megan Fox, nem de qualquer outra rapariga. Ele tem que aceitar de uma vez
por todas que eu sou a mulher da sua vida e que não pode ficar me traindo!
#CanseiDeSerEnganada!

Twitter que se segure, porque hoje eu vou xingar muito! Onde já se


viu um absurdo desses! Estou aqui E.S.T.A.R.R.E.C.I.D.A! Pronto!

Agora entrando no assunto “jogo” e não naquela declaração de


amor super fofa e maravilhosa que o Allanrasador deu, não, claro que não,
digo que chorei demais. ADMITO QUE VOLTAMOS A ESSE ASSUNTO,
MAS É QUE EU ESTOU MESMO INDIGNADA!

Vou ter que mudar minha tática para o último dos soldados do trio,
vai que tenho chance com ele. Sempre foquei nos outros e nem pra manter
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meus olhos abertos com o único que pode aceitar meu coração!

E, minhas divassss, a respeito do calendário: vocês viram aquele


tiiiiiiiiiro? Pra quem ainda não viu... Ó senhor, abanai-me. Porque aquelas
cuecas brancas só provaram o quanto estou certa nas minhas suposições,
que aliás, são muitas, temo dizer. Aquilo foi demais para o meu coração de
tiete. Simplesmente demais. E aquelas olhadas sexys? Uma verdadeira
metralhadora!

Jamesconda de traseiro livre? Um traseiro chocolate pra gente


mordeeeeeeeeer! QUE BUMBUM DOS DEUSES VOCÊ TEM,
JAMESCONDA! Se a anaconda for igual, não me importo de ser devorada!

Rasguei a contracapa e deixei só ela pendurada na parede, vocês vão


entender o motivo quando comprarem também! EU GARANTO!

Cópia (futura Cópia J.) vai lançar um livro também, ainda não
sabemos quando, mas vai, e nooooooosssa, eu estou doida para saber como
esses dois deram vasão a abrasadora paixão que os consome como fogo...
Tá. Parei! Mas eu realmente estou curiosa! E quem de vocês não quer saber
como é a real vida de uma celeb.? Eu admito que quero, não vou mentir!”

Tudo sobre Astros por: Stephen Pharrell

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1 ano depois

“Há muito tempo, quando eu achava que tudo estava perdido,


consegui forças para continuar vivendo. Segui meus sonhos e me esforcei
para esquecer um passado que eu acreditava que me maltrataria pelo resto dos
meus dias.

Conheci várias pessoas, algumas me marcaram, outras nem sequer


deixaram rastro da sua antiga presença e com isso, eu fui percebendo quem
realmente valia a pena manter do meu lado. Amigos sinceros eram raros,
muitos usavam essa definição tão falsamente que me despertava raiva, raiva
por suas intenções serem ruins desde o princípio.

Conforme o tempo passava, fui crescendo como pessoa, aprendendo


com meus erros e tentando superar meus traumas. Queria que pudessem ler
nas entrelinhas e perceber o quanto da minha força estou tentando passar para
vocês. Porque, caros leitores, cada um tem seu tipo de força e passar a minha
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confiança a vocês, é somente uma forma de seguir em frente.

Quem quiser e estiver preparado para fazer parte da ONG Há


Esperança, é só entrar em contato pelo e-mail no final do livro. Eu a criei
para ajudar e com a melhor das intenções.

Aguente firme! Você não está sozinha (o).”

Trecho do livro: Um novo amanhã

Roselyn James.

— Quando você imaginaria que estaria casado, ursinho? Tirou tanto


sarro da minha cara que isso voltou justamente pra você!

Josh ria da minha cara, enquanto eu bebia no bar do evento. O


lançamento do livro da minha mulher estava sendo um completo sucesso,
nada menos do que eu imaginava que seria. Rose arrasava em qualquer coisa
que se empenhasse em realizar, o que por si só, já era um dom fenomenal.

O lançamento dela tinha sido abalado com a morte do Patrick, nosso


fã número 1, e apenas porque sabíamos que ele não gostaria que adiássemos
por ele, decidimos manter a data.

Josh ainda estava pra baixo, mas disfarçava da forma que podia, na
verdade, todos estávamos, mas como ele teve uma ligação mais forte com o
garoto, quando recebeu a carta, sentia muito mais. Era como se aquilo o
tivesse feito se sentir impotente.

Pagou os tratamentos mais caros que existia pro garoto e no final, a


doença ainda o levou da mesma forma. Não que tivesse muito o que ser feito
pela fase em que ele estava, mas pelo menos, dor não era mais a sua
companheira dia e noite.
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Ele não sofria mais e como dizia a sua mãe, tinha partido feliz por ter
nos conhecido e por ter confirmado o que sempre pensou: que éramos seus
heróis.

Nem de perto.

Ele era nosso herói.

E com certeza nos lembraríamos dele para sempre, com carinho.

— Que inferno!

Olhei pro meu amigo, que estava praticamente soltando fogo pela
boca. Encarava fixamente um ponto em sua frente, e quando eu segui seu
olhar percebi o que tinha acontecido... Josh era um homem extremamente
ciumento e ver sua mulher conversando com outro cara só despertava o leão
nele, pronto para matar qualquer um que ousasse chegar perto.

— Relaxa. A Bia não vai fazer nada!

Ele me fuzilou, me mandando ao inferno mentalmente. Nem disfarçar


ele fazia questão.

— Eu confio nela. O grande problema é que eu não confio neles!

Falou e apontou novamente para o mesmo lugar. Só que dessa vez,


Bia não estava mais sozinha, agora tinha outro homem conversando com ela
e com a Rose, que estava rindo à toa com a atenção.

Fui contaminado pela mesma raiva que Josh e cerrei meus punhos, me
concentrando em não matar ninguém na festa dela. O que seria um desafio,
diga-se de passagem.

Levantei do banco, fazendo um barulho audível quando o arrastei.


Meu amigo olhou pra mim e deu uma risada sarcástica, sabendo exatamente o
que eu estava pensando em fazer.

— Relaxa. A Bia não vai fazer nada! — Imitou a minha voz,


deixando-me mais irritado ainda em ver as minhas palavras sendo usadas
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contra mim. Muita palhaçada. — Acho que a Rose também não!

— O caralho que eu vou ficar olhando esse homem conversando com


ela!

— Bem-vindo ao clube, parceiro!

— Você vem ou não?

— Já estou indo!

Disse e avançou à minha frente, com o único intuito de atrapalhar a


tão prazerosa conversa das nossas esposas. Agíamos como dois homens das
cavernas, mas qualquer outro em nosso lugar faria o mesmo. Muita
sacanagem. Os gatos saiam e os ratos faziam a festa.

— Eles não respeitam nem mulheres grávidas! Está cada vez mais
difícil ser casado com uma mulher maravilhosa. A quantidade de homens
dando em cima é um saco!

— Verdade. Uma barriga redonda e uma aliança que ela nem


consegue dobrar o dedo deveriam ser sinais suficientes de “cuidado, perigo”.

Roselyn e Bia tinham nos contado sobre a gravidez no mesmo dia.


Deixando dois caras sorrindo à toa durante várias semanas.

O homem colocou a mão no ombro dela, e conter meu demônio


interior estava impossível. Era uma baita de uma falta de respeito! Onde já se
viu, conversar com uma mulher casada e grávida? Realmente, o mundo
estava perdido!

Dessa vez, foi o outro homem que colocou a mão no ombro da Bia e
ouvi Josh praguejar alto enquanto tentávamos passar pela multidão que nos
engolfava. Tudo só para atrapalhar nosso real objetivo: acabar com a graça
daqueles homens.

Chegamos ao lado das duas e senti Rose ficar automaticamente rígida,


com a respiração pesada devido ao tremor que transpassava seu corpo.

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Era bom mesmo ela temer, porque aquilo seria descontado. Ah, se
seria!

— Posso ajudá-los?

Josh disse e encarou de forma mortal o homem que estava


anteriormente conversando com a Bia. Conseguia jurar que um dos dois
mijaria nas calças só por causa do susto que demos neles. Engoliram em seco
e pediram licença, saindo rapidamente, batendo nas pessoas que vinham da
direção oposta.

Eu riria disso se não estivesse tão puto da vida com a minha mulher.

— O que vocês pensam que estão fazendo?

Bia nos olhava como se nós estivéssemos errados. Quanta falsidade


em uma só pessoa! Josh também pensava isso, porque olhava de forma
incrédula para a sua mulher.

— Nós? O que NÓS estamos fazendo, não é mesmo? — Josh me


cutucou — Allan, vamos voltar para o bar. Juro ter visto umas gostosas que
estão doidas para jogar papo fora!

Percebi a sua tática e automaticamente entrei em alerta por ele.


Provocando a Bia com ela grávida, era a mesma coisa que pedir a erupção de
um vulcão. Eu sabia muito bem que mulheres grávidas ficavam com os
sentimentos à flor da pele. Tinha uma em casa que estava me dando um baita
de um trabalho! Nem de longe eu brincaria em provocá-la, mesmo sabendo
que eu tinha razão para isso.

Morrer não era meu objetivo nos próximos quarenta anos, no mínimo.

Eu tinha bebês pra criar, pelo amor de Deus! Ainda mais que seriam
dois de uma única vez. Uma verdadeira provação, mas nos sairíamos bem...

Nosso apoio era estarmos juntos, e esse pilar de sustentação


aguentaria até o fim dos tempos.

Até o fim dos tempos...


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Josh e Bia
— Você tem que parar de implicar com todo mundo, Josh!

Olhei pra ela e bufei, agora eu era o culpado por essa breve discussão!
Eu?! Ela só podia estar de brincadeira comigo!

— Ajudaria se você não fosse simpática com qualquer par de calças!

— É muito ciúme para um homem só! Pelo amor de Deus!

Ela reclamava, mas adorava a atenção que eu dava. Já tinha sacado


isso. Mulheres eram mesmo os seres mais confusos do universo.

— Para de drama! Adora saber que eu sou maluco por você!

Era sempre assim, a gente brigava e quando percebia, as coisas


estavam normais de novo. O que mais um cara como eu poderia pedir?

A música Lean On começou a tocar e eu fui transportado para outro


lugar, em outro dia, em outra realidade.

— Lembro daquele dia como se fosse hoje — Bia disse e eu sabia do


que ela estava falando, lembrava assim como eu...

— Muito obrigado, amor.

— Pelo quê?

— Por ter ido àquele jogo. Por ter entrado na minha vida e
principalmente por ter virado meu mundo de cabeça para baixo. Eu não sou
nada sem você.

Admiti a derrota fácil, porque quando eu era um bom garoto, sempre


tinha recompensa quando a gente chegava em casa!

Algumas coisas nunca mudariam e a minha vontade dela só


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aumentava. Se continuasse assim, suspeitava que um time de basquete seria
mesmo muito pouco.

Peguei minha mulher no colo, mesmo com os olhares recriminadores.


Querendo levá-la para casa o mais rápido possível... Fazer o quê? Eu era um
homem maluco por ela e estava pouco me ferrando para a opinião dos outros!
Eu era Josh Currey e ela minha Beatriz, só isso já bastava.

Até mesmo Dante ficaria com inveja de mim. Azar o dele e sorte a
minha.

Desculpe cara, mas nessa vida eu caí no colo dela e não a deixaria me
soltar nunca mais!

FIM!

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Na marcação do Amor – Boston Globe, III

Capítulo 1

Silas

Mais um casamento... Eu era mesmo o último. Quando pensei que


seria essa a ordem?

Nem em um milhão de anos teria imaginado, o destino é mesmo uma


merda.

Josh estava feliz, Allan estava feliz e agora todo mundo me olhava
com cara de “e o Silas, como tá?”. Uma porcaria, isso que eu tava. Às vezes
eu acreditava que nunca encontraria alguém como Beatriz e Rose, elas eram
perfeitas pra eles e eu queria alguém perfeita pra mim também...
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O complicado é que quando se tem dinheiro, a maioria das pessoas
que se aproximam de você é por puro interesse e eu acabava desistindo das
coisas na metade do caminho exatamente por esse motivo.

Eu queria alguém que me amasse e não ao meu dinheiro.

Pena que querer não é poder. E se eu pudesse converter a maioria das


minhas finanças em maiores possibilidades de encontrar a pessoa certa para
mim, eu o faria sem o menor arrependimento.... Viver sozinho cansava, ainda
mais quando seus amigos vomitavam felicidade por todos os cantos da
cidade.

As coisas pra mim já eram suficientemente difíceis sem ter que lidar
com mais isso.

Não era nem de longe inveja, era apenas a vontade de ser feliz...

Nunca fiz questão de esconder meu verdadeiro eu das pessoas, via


quem queria e muitas vezes quem acabava se arrependendo da honestidade
era eu.

— Tudo certo aí, Silas?

Allan evitou comentar sobre seu casamento, só para não ferir o meu
ego de romântico. O que ele não sabia é que isso já tinha acontecido há muito
tempo, eu apenas tentava continuar disfarçando como o tinha feito até agora.

Meu amigo estava impaciente ao extremo... Olhava para todos os


lados e parecia que mesmo assim não conseguia aplacar o medo da mulher
dele não aparecer para dizer sim no altar. Eu não via muitos motivos para ele
estar assim, Rose era maluca por ele, mas desde quando eu entendia a cabeça
de um cara que estava prestes a se amarrar?

É. Eu não fazia a menor ideia do que ele imaginava.

Quando Rose me convidou para ser seu padrinho, eu não tinha


ninguém para levar comigo, ninguém mesmo. E como Gloria precisaria de
um par, acabou que ficamos nós dois ali no lado da noiva. Formando uma

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combinação muito estranha para quem olhava.

Achei que até esse momento eu já teria me apaixonado, estaria bem e


arranjaria uma ótima companhia para ficar ao meu lado, não que a atual fosse
ruim, eu só queria alguém pra mim. Apenas isso.

— Allan, parceiro, ela vai aparecer. Fica calmo!

— E se ela desistiu? Deus sabe que eu tenho muitos problemas e se


ela desistiu? Puta que pariu! E se ela desistiu?

O padre olhou feio pro meu amigo e ele apenas deu de ombros, nem
percebendo que tinha acabado de dizer um palavrão no próprio casamento.
Puro nervosismo agindo nele... Se eu dissesse que estava com dó era a mais
absoluta mentira, um desejo de passar pelo mesmo seria muito mais exato.
Allan nem imaginava que aquele era o melhor passo da vida dele, já que seria
difícil encontrar uma garota que nem ela, que não se importasse com as suas
merdas.

A marcha nupcial começou a tocar e Gloria desatou a chorar no


mesmo momento. Mulheres sempre choravam nessas ocasiões e eu queria
muito saber o porquê, era algo que eu realmente não entendia.

— Ai, ela está tão linda! — Disse copiosamente ao meu lado e eu me


permiti fixar meu olhar na minha amiga.

Ela estava mesmo maravilhosa, deslumbrante, e seria a mulher do


meu amigo. Um verdadeiro ogro que tinha descoberto o que era amar e como
superar seus traumas ao lado de uma pessoa completamente quebrada, assim
como ele.

Se eu soubesse que tudo terminaria como estamos agora, eu os teria


ajudado muito antes e feito perceberem na marra o quanto amar era digno de
honra.

Amor era um sentimento tão puro e intenso que quando a gente o


sentia, valia qualquer esforço por nossa parte. Qualquer esforço para amar e
ser amado...
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Porque toda a redenção que buscávamos, vinha de um sentimento
como esse e isso era o mais importante na vida.

Allan mudou a postura no mesmo momento em que viu sua futura


noiva, não conseguindo se conter e esperar que ela chegasse ao altar, sendo
escoltada por um Richard extremamente sério, como sempre. Foi até os dois
e a pegou pela mão, sem se importar com todos os olhares em cima dos dois.
O cara estava literalmente babando na sua mulher e ninguém seria louco ao
ponto de atrapalhar a cerimônia e dizer que ele não podia fazer aquilo

Olhei para Josh e o vi conversando e dando risada com a Bia. Eram as


duas pessoas mais ligadas uma na outra que eu conhecia e se Allan tivesse no
mínimo o que eles tinham, eu o consideraria um dos caras mais sortudos do
universo.

Meus amigos estavam se amarrando e eu ainda continuava pra titia.


Essa vida era mesmo uma piada filha da mãe.

Falaram os proclamas e a felicidade estava estampada nas feições dos


dois. Essa tinha sido a melhor coisa que fizeram e daqui pra frente era só
aproveitar a vida matrimonial.

Eles nem participaram da festa, com certeza ansiosos pela lua de mel.
Aqueles dois não ficariam mais longe um do outro, jamais.

Eu conhecia meu amigo e conhecia a Rose e querer fugir da própria


festa de casamento para os dois era normal.

— Allan nem disfarçou a pressa! — Josh comentou e deu risada,


enquanto observava sua mulher conversando com Gloria em uma mesa à
parte.

— Eu também não sei se ficaria no meu. Festas são muito chatas,


ainda mais quando é a sua e as pessoas ficam querendo te dar os parabéns.

— É horrível, vai por mim! Só fiquei na minha porque era um sonho


da Beatriz e eu não diria não pra ela justo nesse dia.

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— Nem nesse, nem nunca!

— Na mosca! É complicado dizer não às mulheres, ainda mais


quando elas usam isso contra você a noite. Vai por mim, um verdadeiro saco!

— Isso eu sei. Não tenho mulher, mas já saí com muitas.

— Eu sabia antes também... Mas agora é totalmente diferente. Eu não


me importava muito com a opinião delas, mas a da minha mulher é sempre
minha prioridade e posso até ser um homem das cavernas, porque quando
leio Beatriz Currey nos seus documentos a minha única vontade é prendê-la
no quarto e não deixar ninguém chegar perto! Uma coisa de louco, sério
mesmo!

Eu não sabia se me sentiria dessa forma quando o mesmo me


acontecesse, mas eu não estava na capacidade de dar minha opinião nesse
caso. As coisas poderiam mudar com uma velocidade impressionante.

— Vai chegar sua hora, Silas. Você, diferente da gente, é o que mais
merece ser feliz!

— Às vezes acho que não conseguirei confiar em ninguém nesse


ponto. As pessoas só chegam perto de mim de olho na grana e isso me irrita
de uma tal forma que eu não sou capaz de olhar para outros com confiança.

— Ah, mas na hora que acontecer, você vai saber. Não é o único com
conta recheada aqui... E se eu e o Allan, que somos os mais ferrados e
desconfiados, conseguimos, você também consegue. Se bobear, muito mais
rápido!

— Como você mesmo disse uma vez: eu tenho que desistir de tentar
conquistar as mulheres.

— E ainda concordo com esse ponto de vista. O amor vai te


encontrar, não precisa procurar.

Meu amigo tinha virado o “homem dos conselhos” sendo que esse
posto sempre tinha sido meu. Quando foi que essa merda tinha acontecido?

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Josh percebeu meu olhar de descrença e emendou para confirmar seu
argumento — O casamento têm as suas vantagens! Estou dando tanto
conselho para as pessoas que em pouco tempo estarei sábio o bastante para
escrever um livro de auto ajuda!

— Esse não era seu forte.

— Disse certo, cara. Não era.

Abandonou nossa conversa casual e foi até a sua mulher, apoiando as


mãos nos seus ombros, enquanto ela o olhava carinhosamente.

Fiquei observando o ambiente e me sentindo completamente perdido


ali. Eu não tinha o que fazer, não tinha par e muito menos tinha um motivo
para ficar se nem os próprios noivos estavam presentes.

Fui até meu carro e dei o fora. Aproveitando para passar no mercado e
pegar umas cervejas dignas de perca de memória, torcendo para ninguém me
pedir autógrafo, porque meu ânimo não era dos melhores...

Quem sabe eu não encontraria uma mulher lá, ou quem sabe pelo
caminho? Era idiotice pensar isso, mas depois do conselho do meu amigo, eu
ficaria sempre com essa possibilidade na cabeça, um verdadeiro retardado em
busca de amor. Muitos fugiam e eu vivia indo de encontro com o sentimento.

Era uma verdadeira aberração. Com certeza, uma aberração.

Parei o carro no supermercado vazio àquela hora da noite e enquanto


passava pelo caixa, vi uma mulher ir até a seção de frios. Ela era
deslumbrante e eu fiquei hipnotizado, seguindo-a com o olhar até que já não
pudesse mais o fazer.

Nem cogitei a hipótese de ir até ela.

Depois desse dia eu só queria ficar um pouco sozinho e dormir até me


sentir descansado o bastante para continuar.

Para curar aquele pessimismo, só mesmo uma grande quantidade de


álcool e uma boa noite de sono.
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Depois, eu poderia voltar a ser o Silas trouxa de sempre e fingir que
não me importava com isso.

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Primeiramente queria agradecer a todas as leitoras que me
apoiaram na plataforma Wattpad onde essa história começou, e pedir
desculpas pelos meus erros de iniciante que tiveram que suportar! Espero que
com a releitura da obra e com as várias revisões, ela tenha ficado à altura do
que vocês merecem!

Agradeço de coração às várias pessoas que se apaixonaram por


Allan, nosso Jamesconda logo no primeiro livro da série e que ficaram
eufóricas assim como eu quando disse que nosso homem teria um livro seu
também. Afinal, o trio inseparável merecia ter a história de cada um, certo?

Obrigada também meninas do blog Chá das seis, do qual eu


também participo! Vocês sabem que somos uma pequena família e as amo do
fundo do meu coração!

Meu imenso carinho à todas que se envolveram com esse livro e


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foram responsáveis por agora ele estar tão perfeito quanto eu imaginava! Sei
que cada uma que colocou seu esforço, seja em diagramação, capa, revisão e
afins foi fundamental para toda essa conquista! Meu mais sincero obrigada!

Por último, mas não menos importante, queria dizer o quão


motivador foi o apoio dos meus pais, Sandra e Edimarques, assim como do
meu namorado Anderson; que mesmo após todas as horas perdidas ao meu
lado enquanto eu escrevia, manteve-se ali, acreditando em mim como só um
homem apaixonado poderia fazer.

Muito obrigada por tudo!

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Uma moça do interior que viu nos livros a oportunidade de viajar
sem sair do lugar. Engenheira civil, recém-graduada, que sonha pelas linhas
de livros sem ter a menor vergonha de admitir isso.
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Adora Einstein, Tesla e todos os cientistas capazes de criar teorias
consideradas absurdas de ideias adversas.

Pensa que todos nós somos capazes de conquistar nossos sonhos, e


que o nosso maior inimigo somos nós mesmos. Afinal, nada cai do céu e não
podemos ficar parados esperando que as coisas aconteçam sem qualquer
esforço para isso!

Cria diversas estórias através das mais diferentes inspirações, não


escreve sem estar ouvindo uma boa música e costuma colocar sempre um
pouco de si nos personagens.

Enfim, essa é Cinthia Basso, uma mulher de vinte e três anos com o
romantismo à flor da pele, que não busca nada além da sua própria felicidade.

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Te prometo ser a única
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Trilogia Tudo de Mim I
AMAZON

Sinopse
Bonito, rico e agradável. Thom nunca ficava sozinho. Mas o que ele
mais desejava estava fora de seu alcance: Lara. Sua prima adotada que o
tratava como um irmão. Para ele não tinha coisa pior do que amar e não ser
amado.
Lara. Inteligente, meiga e querida por toda a família, tinha somente
um segredo, que escondia de tudo e todos. Inclusive de seu primo.
Quando a verdade vier á tona, será que Thom continuará a amá-la?
Pode um amor ser tão forte a ponto de sobreviver a barreiras e crenças? São
perguntas que serão respondidas por si mesmo, em meio a tantos conflitos e
verdades não ditas, emocionando-nos a cada passo dado em busca da
felicidade.
Um império onde riqueza e poder não podem comprar o que há de
mais importante no mundo: o amor.

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Te darei o mundo
Trilogia Tudo de Mim II
AMAZON

Sinopse
Stephen Cooper é um dos homens mais sedutores de Nova Iorque, e
pode ter certeza que ele se aproveitou disso. Ficando com quem ele quisesse
e desejando quem ele pudesse. O grande problema, é que ele amava uma
mulher que não lhe pertencia, e por isso, incentivou-a a viver um amor que
não era o dele. Ficou sozinho e com o coração partido, sem expectativas de
nada melhor para o futuro.
Eva Barnes é uma mulher batalhadora que nunca conheceu coisas
fáceis na vida. Sofreu e sofre nas mãos de um pai bêbado, que se mantêm às
suas custas, enquanto ela ainda cuida da pequena filha de quatro anos. Ela
não se considera uma mulher de futilidades, mas ao conhecer Stephen, pensa
duas vezes na possibilidade de se deixar levar por um homem tão charmoso.
Afinal, ela já caiu nesse truque e saiu despedaçada ao final.
Ambos guardam segredos entre si, mas durante a noite, eles não
precisam ser revelados, precisam?
Dois corações quebrados, duas almas em busca do amor. Podem estes
dois encontrar o que tanto procuram um no outro?
Jamais duvide do destino e jamais subestime o amor.

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Te farei minha
Trilogia Tudo de Mim III
AMAZON

Sinopse
Andy é a típica garota texana, que usa botas e chapéus, tem uma
Silverado onde toca somente músicas cowntry, e, claro, como na maioria das
histórias de mulheres sulistas, tem um cowboy!
Hardy é seu sonho adolescente. Uns bons anos mais velho, e muita
experiência na arte de seduzir, ele nem mesmo presta atenção na mulher que
vive a salivar litros por sua causa. E como se já não bastasse isso, após sair
com sua irmã mais velha, Andy pareceu realmente sumir do mapa para ele.
Mas ela cansou de ser ignorada, e esse verdadeiro homem de Dallas mal sabe
o que o espera.
Muitas brigas, ciúmes e umas boas pancadas da vida, vão provar que
o Texas se tornará pequeno para conter o desastre iminente de Hardy e Andy,
prestes a descobrirem o amor.

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Sadie e Max
Conto
AMAZON

Sinopse
Sadie e Max são duas pessoas que não acreditam no amor. Por
motivos diferentes e realidades opostas. Mas, e se em um olhar tudo
mudasse? Eles estão prestes a se surpreenderem e descobrirem um dos
caminhos que levam ao amor.

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Meu astro do basquete
Série Boston Globe, livro 1
AMAZON

Sinopse
Beatriz é uma bibliotecária simples e maluca, que sonha em ficar
frente a frente com o lendário astro do basquete, Josh Currey. Quando uma
reviravolta acontece e tudo se encaminha para um final desanimador, ela se
surpreende em como o destino pode pregar peças e virar toda a nossa vida de
cabeça para baixo.
Josh por outro lado, está aproveitando seu momento, tanto para se
consagrar, como para ajudar as pessoas as quais tem a oportunidade de
ajudar. É um homem decidido e que sabe a responsabilidade que carrega nas
costas, adorando um bom jogo e aceitando todos os desafios à ele impostos.
Mas, será que ambos se encontrarão em meio a tantos empecilhos,
dentre eles, a fama mundial do jogador?
E se o passado conter tudo o que procura para o futuro?
Nesse jogo da vida ambos descobrirão que um vencendo, os dois se

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tornam campeões!

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Notas
[←1]
50 cent é um Rapper, dentre outras coisas, que foi baleado diversas vezes e mesmo assim conseguiu sobreviver.

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[←2]
Bel Air é um bairro de alto padrão em Los Angeles, Califórnia, lar de muitas estrelas e famosos. Quem já assistiu: “Um maluco no Pedaço”, deve se lembrar que o tio do Will
morava nesse bairro.

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