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46º Encontro Anual da ANPOCS

Campinas - 12 a 19 de outubro de 2022


UNICAMP (SP)

Seminário Temático 11: Economia Política do Desenvolvimento, Democracia e


Planejamento Governamental: desafios do Estado no século XXI

Reformas Estatais, Centros de Governo e Estilos de Coordenação Governamental


em Democracias da América Latina: o planejamento entre a centralização
presidencial e a descentralização da gestão econômica

Valdemar F. de Araújo Filho


Professor Associado da Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação em Ciência Política
Departamento de Ciência Política
1

RESUMO
O artigo procurou ressaltar o papel da Presidência e dos centros de governo na instauração de
padrões de coordenação governamental em países da América Latina, após as reformas dos anos
90. A hipótese central que orientou o trabalho, foi a de que quanto mais personalistas são os
estilos presidenciais, mais centralizados e instáveis são os modelos de coordenação
governamental e menos institucionalizados os centros de governo e a Presidência,
comprometendo a capacidade estatal de retomar o desenvolvimento. Como objeto comparação
foram selecionados governos do Uruguai, Argentina e Chile. O trabalho procurou identificar
possíveis conexões entre as características da trajetória política desses países, o estilo
presidencial e os padrões político-organizacionais do processo de coordenação governamental.
Ao final, foi possível estabelecer algumas similaridades e diferenças entre os países pesquisados,
a partir da vigência de padrões de coordenação mais institucionalizados ou mais personalizados e
centralizados diretamente em instâncias da Presidência.
Palavras-chave: Presidência, Coordenação, Capacidade Estatal, Desenvolvimento

ABSTRACT
The paper highlights the role of the Presidency and govern centers at establishing govern
coordination standards in Latin America countries after the reforms of the 1990s. The main
hypothesis that guides this paper is that the more personal are the presidential styles, more
centralized and unstable are the models of govern coordination and less institutionalized are the
centers of govern and the Presidency, compromising the State capacity to re-engage
development. Governments of Uruguay, Argentina, and Chile were selected as objects of
comparison. The paper has identified possible connections between the characteristics of political
path, the presidential style and the political-organizational patterns of govern coordination.
Finally, it was possible to establish similarities and differences between the countries, from the
perspective of the establishment of more institutionalized or more personal and centralized
through instances of the Presidency.
Keywords: Presidency, Coordination, State Capacity, Development.

1 – Introdução: Estado, Governo e Reformas Estatais nos Anos 901

As incertezas decorrentes das mudanças nos padrões de desenvolvimento e nos


modos de intervenção estatal a partir dos anos 1990, situaram os modelos de coordenação
governamental e as configurações organizacionais dos centros de governo como fatores
importantes para a manutenção da estabilidade política e o crescimento econômico nos
países latino-americanos. Com essas incertezas, o frequente recurso à montagem de
coalizões partidárias ampliadas e as recorrentes crises de governabilidade nos países da

1
Esse artigo apresenta aspectos parciais de uma pesquisa de pós-doutoramento, realizada em 2017, na
Universidade de Salamanca, mas ainda inédita em sua quase totalidade. Originalmente a pesquisa empírica
envolveu Uruguai, Argentina, Chile, Colômbia e México, além de parcialmente o Brasil. As fontes de
informações originais foram artigos acadêmicos, documentos governamentais, leis sobre a organização e
funcionamento do Executivo e partes das constituições desses países.
2

América do Sul (ANASTASIA, MELO e SANTOS, 2004), tendem a gerar configurações


político-organizacionais fragmentadas no Poder Executivo, que limitam a capacidade dos
centros de governo de manter o controle administrativo do aparato estatal, principalmente
em países federalistas ou com tradição de recorrentes conflitos oligárquicos regionais
(BARRIENTOS, 2009; SÁEZ, 2013; ARAÚJO FILHO, 2020). Esses obstáculos foram
incrementados pela histórica desigualdade social desses países e a crônica instabilidade
dos sistemas políticos após as transições para a democracia, que envolveram pactos
socialmente conservadores entre as elites, condicionando as possibilidades de arranjos
políticos democráticos (O'DONNEL e SCHMITTER, 1988; NOBRE, 2013; MUNCK et
al, 1997; ABRANCHES, 1988). Como agravante das restrições envolvidas nessas
transições, convém ressaltar a permanência de regras constitucionais que mantiveram a
tutela militar sobre o funcionamento do sistema político em países como Brasil, Chile,
Argentina e Uruguai (STEPAN, 1988; ARTURI, 2001; SIAVELIS, 2013).
As orientações minimalistas das reformas neoliberais erodiram capacidades
estatais, tendo em vista que envolveram o desmonte de burocracias e sistemas integrados
de coordenação e planejamento, com a consequente fragmentação das redes técnicas e
burocráticas que atuaram na fase de industrialização e nos grandes projetos de
desenvolvimento até os anos 80 (SCHNEIDER, 1994; EVANS 1993; ARAÚJO FILHO,
2016). Nesse processo, Estados desenvolvimentistas perderam autonomia, capilaridade
social e poder infraestrutural (EVANS, 1993; MANN, 1984), quadro agravado pela
globalização e pela financeirização das sociedades latino-americanas, que tiveram seus
suportes organizacionais e sistêmicos internos modificados, inclusive condicionando os
conteúdos das políticas públicas (IBARRA, 2011; GRUN, 2004; 2013). As próprias
ambiguidades das elites diante das possibilidades de reindustrialização e de
desprivatização dos espaços estatais, dificultaram as tentativas dos governos de
retomarem os processos de desenvolvimento sob a democracia (SINGER 2016; MAAR,
2016). Além disso, convém observar os impactos derivados do processo de esvaziamento
dos antigos sistemas corporativistas estatais, que antes eram utilizados como mecanismos
adequados ao processo de coordenação política do processo de industrialização em países
como Brasil, México e Argentina (STEPAN,1980).
Nesse contexto, as alternativas de reconstrução das capacidades estatais,
implicam em desafios administrativos e burocráticos para a manutenção da eficiência de
3

suas políticas (SKOCPOL E FINEGOLD, 1982) e a integridade política do Estado diante


de pressões externas (SKOCPOL, 1985). Na questão abordada por esse trabalho,
salientamos as formas de organização do Estado e os mecanismos que vinculam o núcleo
governamental ao aparato administrativo do Executivo. Trata-se de dimensões
importantes para reduzir as tendências de captura política e fragmentação administrativa,
gerados pelos processos de análise parcial e ajustes mútuos (LINDBLOM,1981) que
caracterizam as estruturas dos estados modernos, principalmente em sistemas políticos
democráticos. A democracia tende a incrementar conflitos, multiplicar coalizões de
interesses e arenas decisórias, e a fragmentar sistemas administrativos sob transições
políticas. Como salientam Bochi e Gaitán (2016) ao avaliarem as condições de
desenvolvimento no Brasil e na Argentina, as coalizões de governo e as instituições
estatais que articulam os setores público e privado desempenham um papel crucial na
reorientação de trajetórias estatais. Nesse sentido, a construção de um projeto de
desenvolvimento envolve a reconfiguração do papel de agências estatais, comunidades
epistêmicas e burocracias profissionais (GAITÁN, 2011). O papel das burocracias e
comunidades profissionais foi crucial na preservação da política pública de saúde no
Chile e de previdência social no Brasil, mesmo sob regimes autoritários (LANZARA,
2011).
Essas são questões que apontam para a centralidade das estruturas administrativas
de coordenação e planejamento no processo de desenvolvimento, principalmente sob as
atuais condições de financeirização de sociedades latino-americanas (GRUN, 2004;
2013). No exemplo brasileiro, Santana (2011) avalia que a reconfiguração do centro de
governo e a recomposição das comunidades epistêmicas sob o governo Lula, foram
cruciais para a reorientação das políticas de desenvolvimento e a ampliação política do
centro de governo, com a inclusão da Casa Civil, BNDES e Ministério do Planejamento,
espaço antes dominado pela Fazenda e o Banco Central.
O objetivo deste artigo é ressaltar o papel da Presidência e dos centros de governo
na instauração de padrões de coordenação governamental em países da América Latina,
após as reformas dos anos 90. O pressuposto geral que orienta o trabalho é o de que
quanto mais personalizados os estilos presidenciais de governo, mais centralizados e
instáveis são os modelos de coordenação governamental e menos institucionalizados os
centros de governo, o que dificulta eventuais estratégias de reconstrução das capacidades
4

estatais e de coordenação de políticas. Como objeto de análise comparativa qualitativa,


foram selecionados alguns exemplos de governos no Uruguai, Argentina e Chile entre os
anos 90 e início dos anos 2000. O trabalho procurou identificar possíveis conexões entre
as características da trajetória política desses países, o estilo presidencial de governo e os
padrões político-organizacionais do processo de coordenação governamental. Além dessa
Introdução, o texto está sequenciado em mais duas partes. No próximo item
contemplamos questões sobre o papel da Presidência nos sistemas presidencialistas e
interpretamos os casos da Argentina, Uruguai e Chile. Na parte final, explicitamos
considerações e estabelecemos algumas ilações sobre as causas das diferenças
encontradas nesses países.

2. Presidência, Centros de Governo e Coordenação Governamental na América


Latina 2

A importância da Presidência e dos estilos presidenciais no funcionamento do


presidencialismo, já foi amplamente reconhecida pela ciência política americana desde o
início dos anos 60, com o seminal trabalho de Neustadt (2008) sobre estilos presidenciais
e a tipologia de Johnson (1974) sobre modelos de coordenação governamental3.
Posteriormente surgiram importantes trabalhos que passaram a abordar questões
específicas, como a influência de contextos de certeza ou incerteza sobre as alternativas
de coordenação assumidas pelos presidentes (WALCOTT e HULT,1995); a contingência
política dos modelos centralizados de coordenação (RUDALEVIGE, 2002); o problema
da herança institucional que incide na formação de novos regimes políticos sob tempos
políticos específicos (SKOWRONEK,1993); as estratégias de criação de órgãos
administrativos no Executivo subordinados à Presidência como uma forma alternativa de
centralizar o ´processo decisório (HOWELL, 2005; LEWIS, 2005; HOWELL E LEWIS,

2
Salientamos que partes referentes à Argentina e ao Chile, foram apresentadas em uma versão modificada
e com objetivos distintos, no 12º Encontro da ABCP, realizado em 2020, em João Pessoa-Paraíba.
3
Johnson (1974) definiu três tipos básicos de coordenação: no modelo hierárquico e centralizado, os
presidentes gerenciam e controlam pessoalmente os processos de tomada de decisão. No tipo competitivo,
os presidentes distribuem tarefas similares e de forma simultânea a diferentes grupos de assessores e
agências, com o objetivo de ampliar as fontes de informações e de aumentar a eficiência decisória do
núcleo de governo por meio da competição. E no tipo colegiado, os presidentes coordenam grupos e
colegiados de assessores que discutem os cursos alternativos de ação de forma descentralizada, com o
objetivo de assegurar informações mais amplas e alternativas seguras. Mas o próprio autor ressaltou que os
presidentes tendem a transitar entre os três tipos de acordo com a conjuntura e as áreas de políticas.
5

2002). Com os trabalhos de Terry Moe (1993; 2009) os estudos sobre a Presidência
transitaram de recortes focados nos estilos presidenciais para tratar a Presidência como
uma dimensão institucional. Na perspectiva deste autor, a Presidência é uma instituição
sujeita aos incentivos e condicionantes do sistema político, por isso os padrões de
comportamento dos presidentes não expressam apenas características pessoais, pois esses
condicionantes institucionais são endógenos ao próprio papel exercido pelos presidentes
no sistema político. Mas apesar das dimensões institucionais, Rockman (2009) salienta
que é impossível eliminar os fatores pessoais na dinâmica da Presidência, pois os
condicionantes institucionais não explicam porque diferentes presidentes reagem de
forma distinta sob situações semelhantes.
Na América Latina, os estudos sobre a Presidência apresentaram um
desenvolvimento tardio em relação às pesquisas sobre as relações Executivo Legislativo
(BONVECCHI e SARTASCINI, 2011; ALESSANDRO, 2013; BONVECCHI, 2012;
COUTINHO, 2013; LANZARO, 2018). Em parte, essa incipiência deriva das
dificuldades de identificar a Presidência como um objeto próprio, em contextos
caracterizados por informalidade institucional, instabilidade política e a existência de
múltiplas estratégias de relacionamento com o Legislativo. Como salienta Inácio (2006)
para o caso brasileiro, a estrutura do conflito político reconfigura a organização da
Presidência e de seu entorno. Quanto mais ampla e coesa a coalizão, mais os presidentes
tendem para formas compartilhadas e politizadas de coordenação no Executivo.
Inversamente, quanto mais restritas e frágeis as coalizões e mais competitivas as
oposições, mais se fazem presentes tendências de centralização na Presidência (INÁCIO,
2006). Esse pêndulo contingente entre politização e centralização, agrava o quadro de
instabilidade organizacional e administrativa dos governos e criam dificuldades para a
implantação de estratégias de desenvolvimento. Além de incrementar a ineficiência das
respostas estatais, transformando crises pontuais em sistêmicas, desgasta a legitimidade
do sistema partidário, que perde o monopólio da representação política para organizações
políticas, como tem acontecido na Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela (ANASTASIA;
MELO; SANTOS; 2004).
A Argentina, o Chile e o Uruguai não adotam governos de coalizão ampliada e
possuem sólidos sistemas partidários, se distinguindo da instabilidade partidária dos
países andinos (SÁEZ e FREIDEBERG, 2002). Mas a dinâmica governo versus oposição
6

predominante após o processo de redemocratização, situam os governos desses países


sob constantes tensões políticas.

2.1 Continuidades e Mudanças no Centro de Governo da Argentina

Desde a independência (1816) a Argentina tem vivenciado sucessivas rupturas


institucionais, impulsionadas por conflitos oligárquicos arbitrados frequentemente por
militares. No século XIX, a Constituição de 1853 formalizou o presidencialismo e o
federalismo, mas o federalismo de forte natureza regionalista manteve um quadro de
permanentes conflitos entre as elites regionais e a cidade de Buenos Aires, centro do
poder econômico do país. Entre 1930 e 1973, sob o processo de industrialização, o
liberalismo oligárquico e o federalismo regionalista passaram a conviver com o sistema
corporativista estatal de base peronista, que estimulou formas populistas de liderança e
redes sindicais politizadas, dinâmica que reduziu potenciais consensos em torno de um
projeto nacional que estabilizasse o país. Bonvecchi (2013) observa que dos 50
presidentes existentes entre 1854 e 2007, apenas 24% concluíram o mandato, com a
duração média dos mandatos se situando em 36,3 meses. Os conflitos oligárquicos e um
forte federalismo de natureza mais regionalista que institucional, contribuíram para essa
instabilidade política mais que o sistema partidário. Sáez (2013) demonstra que, apesar
do sistema eleitoral proporcional, após a democratização o número de partidos efetivos
no Legislativo tem se reduzido, com uma média de 3,3 partidos. Com a exceção da
experiência da FREPASO nas eleições de 1994 e 1997, o sistema variou de um
bipartidarismo efetivo a um multipartidarismo restrito, com os dois maiores partidos se
coligando com pequenos partidos auxiliares, mas com uma dinâmica parlamentar
polarizada em torno do conflito governo oposição (SÁEZ, 2013).
Uma das respostas à instabilidade do sistema político foi a reforma constitucional
de 19944, que ao aprovar a reeleição para presidente, contrapôs essa medida com o

4
A atual Constituição argentina é de 1853, com as reformas ocorridas nos anos 1860, 1866, 1898, 1957 e
1994. Trata- se de um arranjo político formalmente liberal, originalmente adequado à uma sociedade do
século XIX, mas que não deu respostas aos sucessivos conflitos que ocorreram desde então. Acessar em:
https://observatoriolegislativocele.com/pt/Constitui%C3%A7%C3%A3o-da-Na%C3%A7%C3%A3o-Argentina/
7

fortalecimento dos poderes do Congresso e a criação da Jefatura de Gabinete de


Ministros (JGM) como instância intermediária de coordenação governamental entre a
Presidência e os ministérios. Além da Constituição, a atual estrutura do Poder Executivo
na Argentina está delimitada pela Lei de Ministérios (Lei 22.520/92 e Decreto nº 438 de
1992), posteriormente modificada em 2003 e 2007. Com a reforma constitucional de
1994, ao presidente é permitido reformar e organizar secretarias ministeriais apenas até o
primeiro nível administrativo, pois a JGM, a Presidência e os Ministérios passaram a
compor, conjuntamente, o gabinete responsável pela organização do Executivo. O Chefe
da JGM é nomeado e demitido pelo Presidente, embora ele também esteja sujeito à
moção de censura e remoção por parte do Congresso, caso esta seja aprovada por maioria
absoluta das duas Casas (Art. 100 e 101 da Constituição). Para governos minoritários,
esse arranjo “consociativo” - nos termos de Lijphart (2003) -, tem se apresentado como
um problema para implantar mudanças administrativas ou projetos estratégicos. As
competências administrativas da JGM são significativas e muitos dos atos do presidente
só têm validade com a anuência do seu titular, o que lhe garante prerrogativas de
intermediação político-administrativa entre o presidente e o conjunto do gabinete. Em
contrapartida, os secretários especiais da Presidência possuem status ministerial e
participam da JGM com prerrogativas semelhantes aos dos ministros, tornando o
colegiado uma arena de disputas no Executivo.
A Lei de Ministérios foi parcialmente reformada em 2003 e 2007 (Art. 16 da Lei
nº 26.338 de 06/12/2007), mas as reformas mantiveram as prerrogativas administrativas
da JGM, que assume três funções gerais na administração argentina: coordenação
interministerial; articulação das relações entre o Executivo e o Legislativo e coordenação
das negociações fiscais entre a União e as Províncias. O titular da JGM é o principal
intermediário entre o presidente e o gabinete, concebida como reserva de poder
administrativo do gabinete e como mecanismo de limitação dos poderes do presidente
após a aprovação da reeleição. A expectativa inicial era que o sistema político se tornasse
mais consensual e limitasse o poder dos presidentes. Contudo, o surgimento de governos
minoritários a partir de 1997 e a crise ocorrida entre 1999 e 2001, na presidência de De la
Rua (ANASTASIA, MELO e SANTOS, 2004; BONVECCHI e PALERMO, 2002),
vieram demonstrar que a reforma constitucional gerou efeitos opostos em um país de
forte tradição oligárquica e regionalista.
8

A reforma de 1994 estimulou estratégias de centralização por parte dos


presidentes, diante de um arranjo institucional que forneceu autonomia aos ministros e
limitou as possibilidades de intervenção dos presidentes nas camadas administrativas
secundárias dos ministérios. Essas estratégias de centralização reativa assumiram formas
fragmentadoras do governo, como foi o exemplo do governo de De la Rúa (UCR e
FREPASO), um governo de coalizão com débil base parlamentar, que tentou limitar os
poderes dos ministros da economia e a influência de Raúl Alfonsín e do vice-presidente
Carlos Alvarez (BONVECCHI e PALERMO, 2002). Assim como no Brasil, Bonvecchi e
Palermo (2002) já haviam considerado que quanto mais frágil a relação do presidente
com sua base partidária, maior a sua propensão a centralizar o processo decisório na
Presidência. Mas essa centralização contingente pode gerar configurações político-
organizacionais inadequadas ao processo de coordenação e envolve custos políticos nas
relações com o Congresso. Assim, uma alternativa para reforçar a centralização tem sido
a criação de agências descentralizadas, criadas por decretos presidenciais e submetidas ao
controle da Presidência. Essa foi a estratégia predominantes dos presidentes argentinos
entre 1983 e 2009, e foi justamente durante a conjuntura crítica dos governos de De la
Rúa (1999-2001) e de Eduardo Duhalde (2002-2003), que foram criados 87% dos
organismos descentralizados. Entre 1983 e 2009, foram criados mais de 60 novos órgãos
descentralizados e, por volta de 2001, 46% do orçamento da administração pública
nacional eram destinados a eles (ALESSANDRO e GILIO, 2013).
Com os presidentes dispondo dessa alternativa, Carmelo e Coutinho (2018)
avaliam que as estratégias de centralização administrativa diretamente na Presidência
entre 1983 a 2014 foram contingentes, variando de acordo com o estilo presidencial, a
conjuntura política e a agenda governamental. Inclusive porque a recomposição dos
espaços de poder presidencial em conjunturas críticas, pode surgir por meio da utilização
de recursos administrativos e financeiros do governo (BONVECCHI, 2012; 2013; 2018).
Considerando as possibilidades de recomposição do espaço dos governos sob
uma perspectiva institucional, Coutinho (2013) propôs considerar três níveis político-
organizacionais de estruturação do governo argentino: a arena presidencial,
circunscrição político-organizacional do gabinete do presidente, integrada por secretarias
especiais e órgãos de assessoria envolvidos com funções de coordenação política, tendo
referência decisória o presidente; a arena governamental, circunscrição intermediária de
9

natureza colegiada que coordena políticas intersetoriais e temas transversais, integrada


pela JGM e unidades ministeriais estratégicas, tendo como referência decisória a JGM; e
a arena ministerial, integrada por ministérios de políticas setoriais, tendo como
referência de decisão os ministros5.
A despeito do frequente recurso à descentralização administrativa por meio de
órgãos independentes e as possibilidades abertas pela ampliação de uma Presidência
institucional, por volta de 2012 a Presidência possuía 10% das secretarias, 7% das
subsecretarias e 10% das direções nacionais da administração centralizada
(ALESSANDRO, 2013). Tendência que não era nova, pois em 1996, mesmo sob as
reformas econômicas neoliberais de Menem, sob as Leis da Emergência Econômica e a
da Reforma do Estado, a Presidência já contava com 124 subunidades administrativas.
Menem associou alta centralização político-administrativa na Presidência com uma
ampla delegação da gestão da economia e do processo de privatização a nomes da elite
econômica escolhidos por ele6. Com essa mudança, o governo Menem manteve um
modelo bifronte, associando um rígido controle político sobre os ministérios, ao mesmo
tempo que delegava a gestão econômica ao Ministério da Fazenda, sem envolver
agências do antigo sistema de planejamento (CASTELANI, 2002; ROMERO, 2006)
O estilo centralizador continuou nos mandatos de Néstor e Cristina Kirchner
(2003-2015), principalmente no desta última, quando mais de 80% do orçamento da
Presidência se concentrava em gastos com apoio e assessoria direta ao presidente,
indicando um estilo presidencial centralizador e personalista, que manteve um círculo de
assessores presidenciais no seu entorno e passou a controlar diretamente a gestão
econômica sob um modelo intervencionista herdado de seu marido e antecessor
(ALESSANDRO, 2013). O processo de centralização sob Cristina Kirchner se cristalizou
principalmente na Secretaria Geral da Presidência, dotada de status ministerial, que
exercia tanto a coordenação administrativa e financeira da Presidência quanto a
coordenação política do governo, contornando a JGM e assumindo funções de

5
Aqui, ressaltamos que se trata de uma tipologia político-organizacional que pode ser articulada com a
clássica tipologia de estilos presidenciais de Johnson (1974), gerando possibilidades de construção de uma
matriz analítica articulando as dimensões organizacionais e administrativas com a dimensão política do
estilo presidencial e sua projeção sobre a organização central de governo.
6
Estes foram os exemplos de Maria Julia Alsogaray nas privatizações e de Miguel Roig, do grupo Bunge y
Born, para o Ministério da Economia, posteriormente sucedido por Herman Gonzáles. Essa delegação da
política econômica se aprofundou com a nomeação de Domingo Cavallo para o Ministério da Economia,
em abril de 1991, após dois anos de desmonte caótico das empresas estatais, desemprego e inflação
10

coordenação ministerial e de relações com o Congresso. A Presidência absorveu funções


políticas centralizadas no próprio gabinete presidencial, por meio de secretarias e
assessorias especiais. A serviço de uma centralização abrangente, o governo de Cristina
Kirchner assumiu um estilo presidencial orientado para a ubiquidade política, associando
agências descentralizadas sob influência da Presidência, centralização no gabinete
presidencial e politização das estruturas ministeriais. Embora a estratégia de politização
da Presidência tenha sido um recurso utilizado de longa data. Coutinho (2013) demonstra
que entre 1983 e 2009, mais de 80% dos funcionários de médio e alto escalão da
Presidência apresentavam filiação partidária, indicando a tendência dos governos
democráticos da América Latina politizarem o aparato administrativo do Executivo.
Apesar da influência dos estilos presidenciais nas formas organizacionais do
Executivo, Coutinho (2013) considera que vem ocorrendo um lento e oscilante processo
de consolidação de uma Presidência institucional a partir de 1983. Como tendência geral
de longo curso, a arena presidencial apresentou uma retração de funções administrativas,
enquanto a arena governamental se estabilizou a partir de 2009, assumindo 12% dos
órgãos administrativos do Executivo. A autora conclui que a expansão administrativa da
arena governamental, estimulada pela criação da JGM, evoluiu sobre a retração
quantitativa da arena presidencial. Nessa perspectiva, o processo de institucionalização
da área governamental está condicionado a dois fenômenos distintos: mudanças sociais
mais amplas e estruturais, e fatores políticos conjunturais. Os primeiros induzem a
tendências incrementais e cumulativas de longo curso, e os segundos impulsionam
mudanças de ciclos curtos, oscilantes e descontínuos. Contudo, em estudo posterior,
Coutinho (2018) concluiu que a JGM se tornou um instrumento de poder dos presidentes,
inclusive porque ela se situou mais como um subproduto da reforma constitucional de
1994 do que como uma solução institucional para a descentralização do poder.
Na nossa perspectiva, a prática de associar centralização política com politização,
desestabiliza potenciais processos de consolidação de uma Presidência institucional, que
disponha de mecanismos sistêmicos de coordenação e planejamento e seja dotada de
capilaridade em ministérios estratégicos, como ocorreu de forma mais clara no exemplo
chileno. O modelo político-organizacional do Executivo argentino, recepcionando
diferentes estratégias de reforço dos presidentes, expressa as características de um
sistema político que, mesmo com as regras consociativas instauradas com a reforma
11

constitucional de 1994 e a criação da JGM como área governamental institucionalizada,


continuou funcionando por meio de significativa delegação de poder administrativo aos
presidentes e oferecendo múltiplas alternativas políticas aos mesmos.
È sintomático que desde o surgimento do primeiro órgão centralizado de
planejamento nacional da Argentina, em 1961, o Consejo Nacional de Desarrollo
(CONADE), que as funções de planejamento tenham se diluído entre os vários órgãos
criados e extintos por cada governo e regime político, mesmo antes dos planos
econômicos de estabilização dos anos 90 (CARDONE, 2010; LAVALLE, 2010;
VIANINI, 2012). Como no exemplo do Brasil (ARAÙJO FILHO, 2016), o contraponto
entre o plano de desenvolvimento como um instrumento político e temporal de governo,
e o sistema de planejamento como um mecanismo sistêmico integrado de Estado, indica
que a opção predominante pelo primeiro se vincula historicamente ao espaço político dos
presidentes, tendência que se mostrou predominante na Argentina desde a ditadura
militar, erodindo a capacidade burocrática e administrativa do Executivo.

2.2 Chile: estabilidade e institucionalização do centro de governo (1990-2014)

O Chile apresenta uma trajetória histórica que oscilou entre um liberalismo jurídico
de base urbana e um autoritarismo oligárquico e centralista de base agrária. Superada a
fase inicial dos violentos conflitos entre os grupos oligárquicos após a independência, o
país se configurou como um Estado politicamente centralizado, visto que os vencedores
foram os centralistas, principais responsáveis pela Constituição de 1833, situação que
gerou sucessivos conflitos entre liberais e conservadores no século XIX, até a vitória de
centralistas e militares cristalizada na Constituição de 1925. Apesar disso, entre os anos
30 e 40 surgiu um sistema multipartidário diversificado, só extinto com o golpe militar
de 1973 (SÁEZ, 2013). E como não havia um forte sistema estatal corporativista, que
dispusesse de organizações descentralizadas de poder, o centralismo político chileno não
se defrontou com resistências sistêmicas durante o século XX. Contrariamente, a tradição
de forte e centralizado presidencialismo no Chile sobreviveu ao fim da ditadura de
Pinochet, por meio de regras constitucionais que têm possibilitado aos presidentes
reconfigurarem a organização do Executivo, mas sem ultrapassar os limites estabelecidos
pelas coalizões de governo e os pactos políticos vigentes na transição democrática.
12

Sob esse quadro político e constitucional conservador, Siavelis (2004 2012; 2013)
considera que o modelo chileno funcionou de forma relativamente estável sob a
Concertación. E uma das causas dessa longeva estabilidade, foi o êxito dos presidentes
em estruturarem relações com as organizações políticas e os partidos por meio de
instituições informais adaptativas no âmbito do Executivo, como forma de contornar os
limites da herança constitucional imposta pelos militares. O perfil político-administrativo
da Presidência e do centro de governo no pós-ditadura deve ser compreendido neste
contexto, que durante um tempo associou conservadorismo institucionalizado com
governos baseados em amplas coalizões. Com isso, os presidentes puderam consolidar
um centro de governo amplo, mas dispondo de um núcleo de poder na Presidência
adaptado aos diferentes estilos presidenciais (SIAVELIS, 2004; 2012; 2013). Permeando
a dinâmica organizacional, se disseminou uma concepção gerencial de governo,
disseminada principalmente por instituições como o BIRD e o BID, este último com
influência doutrinária e organizacional na estruturação do centro de governo chileno
(BID, 2013; 2014)7.
No contexto dessa tradição centralista, desde os anos 30 o governo do Chile iniciou
sua experiência com o planejamento como atividade de Estado, e em março 1939, foi
criada a Corporación de Fomento de la Producción Nacional (Corfo), instituição
orientada para o planejamento econômico nacional e responsável, em 1961, pelo
Programa Nacional de Desarrollo Económico (1961-1970), até então o maior plano
nacional de desenvolvimento abrangente. De acordo com Lavalle (2010), sob o
presidente Eduardo Frei Montalva (1964-1970), foi criada a Oficina de Planificación na
Presidência da República, com a função e prestar assessoria ao presidente com o apoio da
CORFO. Em 1967 essa Oficina foi transformada em órgão descentralizado, mas com
vínculo institucional direto com a Presidência, a Odeplan. Sob o governo de Salvador
Allende (1970-1973), o sistema de planejamento foi ampliado e a Odeplan passou a
dispor de uma rede de unidades de planejamento regional, uma inovação no Estado
chileno. E em que pese a tradição de centralismo político, no período de 1971-1976, além
do plano nacional, foram produzidos 12 planos regionais de desenvolvimento. A

7
As informações empíricas sobre as transformações organizacionais da Presidência e do centro de Governo
no Chile foram coletas principalmente nos relatórios do projeto do BID, realizado em parceria com
governos da América Latina, “El Rol del Centro de Gobierno en América Latina y el Caribe”, publicados
em 2013 e 2014.
13

Ordeplan sobreviveu ao golpe militar de 1973, mas como integrante do Sistema Nacional
de Investimentos, dedicado ao planejamento orçamentário, com destaque para a sua
participação na mudança geral da institucionalidade do regime militar e no processo de
privatizações (LAVALLE, 2010).
Com o fim da ditadura militar, durante o governo do democrata-cristão Patrício
Aylwin (1990-1994), o centro de governo passou a ser integrado efetivamente pela
Secretaria Geral da Presidência (SEGPRES), a Secretaria Geral de Governo
(SEGEGOB), - ambas com status ministerial -, o Ministério da Fazenda, e o recém criado
Ministério de Planejamento e Cooperação (MIDEPLAN), instituição substituta da
Ordeplan, mas sem o papel do órgão anterior. De acordo com Lavalle (2010), as funções
da SEGPRES não possuíam precedentes históricos na coordenação governamental
chilena, visto que era o órgão encarregado simultaneamente de propiciar coerência
política e administrativa ao governo, incluindo as relações com os partidos e as
organizações importantes da sociedade civil. A SEGPRES passou a coordenar, em 1991,
o Sistema de Metas Ministeriais, mecanismo de coordenação e planejamento
intersetorial, que possibilitava monitorar as ações dos ministérios, por meio de sua
participação como Secretaria Técnica nos Comitês Interministeriais, criados em 1990.
Foram criados cinco Comitês agregando grandes áreas intersetoriais de políticas
públicas: Político, Econômico, Social, Infraestrutura e Desenvolvimento Produtivo.
Enfim, sem se envolver diretamente em atividades executivas, a SEGEPRES passou a
exercer funções de direção, coordenação e controle estratégico, (LAVALLE, 2010; BID,
2013; 2014).
Governando com a liberdade propiciada pelas condições políticas de formação
organizacional de um novo regime, Aylwin estabeleceu uma significativa concentração
de funções na Presidência, dispondo de um governo coeso e com uma assessoria
presidencial na SEGPRES como núcleo de coordenação governamental, em um quadro
político de baixo conflito. Os quatro titulares dos ministérios presidenciais permaneceram
em seus cargos durante todo o período (SIAVELIS, 2013; 2018; FERNÁNDEZ e
RIVERA, 2012; BID, 2013, 2014).
Sob a presidência de Eduardo Frei Ruiz (1994-2000), esse consenso conservador
assumiu formas político-administrativas fragmentadas. Inicialmente foi instaurada uma
equipe politicamente inábil e tecnicamente frágil na Presidência, com muitas funções
14

transferidas para o Ministério da Fazenda (MF), mas sem que a equipe presidencial
pudesse coordenar as decisões da Fazenda. Dispondo de significativa autonomia no
governo, a Diretoria de Orçamento (DIPRES) da Fazenda, mais sensível às demandas do
mercado, estruturou seu próprio sistema de monitoramento e avaliação, esvaziando o
papel de coordenação da Presidência (BID, 2013, 2014). Com esse impulso
descentralizador, começaram a emergir projetos próprios de ministros e burocratas
vinculados à coalizão política do governo. Era sintoma de que a coalizão começava a
apresentar uma fragmentação antes inexistente no governo de Aylwin, resultado do estilo
de liderança de Frei, baseado em uma ampla delegação administrativa aos ministérios,
mas sem ancoragem em um centro de coordenação na Presidência. Frei iniciou seu
governo com um reduzido quadro de pessoas de confiança na Presidência e com um
centro de governo fragmentado. Mas com o surgimento dos problemas de coordenação
econômica no contexto da crise asiática de 1998, e com o partidarismo incrementando a
fragmentação política dos ministérios, houve uma inflexão no estilo político e
administrativo do presidente, que nomeou para a Presidência um círculo de assessores
com forte apoio político e capacidade técnica, quanto as funções de coordenação
interministerial retornaram do MF para a Presidência. Nessa inflexão centralista,
lideranças políticas partidárias históricas se tornaram secundárias dentro do governo, e o
próprio presidente se situou menos aberto a consultas políticas, um risco no contexto da
configuração política abrangente assumida pela Concertación (SIAVELIS, 2013; 2012;
2004; FERNÁNDEZ e RIVERA, 2012).
Com a eleição de Ricardo Lagos (2000-2004), a SEGPRES continuou exercendo
seu papel estratégico na institucionalidade do governo chileno, mas não a Secretaria
Geral de Governo (SEGEGOB), visto que com a criação da Unidade de Assessoria
Presidencial (UAP), esta assumiu um papel político central e esvaziou as funções
políticas da SEGEGOB. A UAP representou o reconhecimento da importância da gestão
política do governo, espaço onde foi agregado um poderoso staff de assessores
presidenciais, estruturando o centro de governo sobre o Ministério da Fazenda, a
SEGEPRESS e a UAP, além do Ministério do Interior no desenvolvimento de projetos
estratégicos. A UAP se instituiu como um colegiado integrado por técnicos qualificados e
manteve um papel proeminente no governo até o período inicial do primeiro mandato de
Michelle Bachelet (2006-2010). O pertencimento a um think tank se apresentava como
15

um requisito importante para que algum pretendente ao cargo fosse incorporado como
assessor presidencial na UAP (BID, 2013;2014). Lagos não alijou os partidos da ampla
coalizão na formação do governo, mas para resolver problemas de controle da delegação,
nomeou círculos de assessores técnicos de sua confiança para coordenar políticas
setoriais a partir da UAP-SEGPRESS na Presidência, com prerrogativas para
supervisionar as atividades dos ministros. Além de reforçar as prerrogativas da
Presidência frente aos ministérios, Lagos nomeou pessoas de confiança para os
ministérios da Fazenda e do Interior e reduziu o poder dos demais ministérios setoriais,
concentrando as funções de coordenação estratégica na UAP-SEGEPRES, a grande
inovação em termos de coordenação centralizada após o regime militar (SIAVELIS,
2012; 2013; FERNÁNDEZ e RIVERA, 2012).
Ricardo Lagos assumiu de fato uma estratégia organizacional centralizadora de
natureza sistêmica, mas dotada de mecanismos que separavam as funções de
coordenação política estratégica, sob responsabilidade da UAP-SEGEPRES na
Presidência, das funções de coordenação e monitoramento da gestão das políticas
setoriais, sob responsabilidade dos comitês interministeriais coordenados pela Diretoria
de Orçamento da Fazenda (DIPRES). Com isso, estruturou dois sistemas interligados, um
dedicado ao controle do programa estratégico de governo, e outro orientado para a gestão
técnica e orçamentaria das políticas setoriais. O presidente concentrou funções nas
assessorias da Presidência e nos ministérios estratégicos, configurando um centro de
governo ampliado pelo reforço do papel de monitoramento administrativo financeiro do
Ministério da Fazenda. Portanto, tratava-se de um modelo de coordenação centralizado e
hierárquico, mas dispondo dos Comitês Interministeriais como mecanismo colegiado
com funções de monitoramento (SIAVELIS, 2012; 2013; 2018; FERNÁNDEZ e
RIVERA, 2012).
Distintamente do estilo de governo de Lagos e sob uma conjuntura política
distinta, Bachelet (2006-2010) se candidatou em um contexto de esgotamento parcial da
aliança da Concertación, e por isso se propôs a nomear novos quadros para compor seu
gabinete. Com isso anulou a potencial expertise do núcleo de assessores presidenciais do
governo Lagos, o que se expressou no fracasso da execução de projetos estratégicos do
governo e na redução da capacidade técnica e no grau de insulamento político da UAP.
Com a crise administrativa resultante dessa estratégia, que incidiu no estratégico projeto
16

do sistema de transportes metropolitanos, o Transantiago, em março de 2007, envolvendo


a demissão de quatro ministros, inclusive o titular da SEGPRES, a presidente teve que
retornar ao padrão tradicional de Lagos de nomear assessores e técnicos com experiência
administrativa na Presidência (FERNÁNDEZ e RIVERA, 2012; SIAVELIS, 2012; 2013;
2018). Mas com o desmonte inicial do centro de coordenação e a crise da coalizão, o
mandato de Bachelet se caracterizou por oscilações administrativas e por recorrentes
mudanças no seu gabinete, o que contribuiu para a derrota de seu candidato frente a
Sebastián Piñera (2010-2014).
Piñera era um neoliberal eleito por uma coalizão de centro-direita e incorporou as
sugestões do projeto de reforma administrativa firmado com o BID no final do governo
Bachelet, o Consórcio para a Reforma do Estado. A proposta do BID se orientava para o
fortalecimento de um núcleo gerencial estratégico no centro de governo chileno, com o
objetivo de devolver à Presidência as suas funções de coordenação das reformas do
Estado. Essas funções vinham sendo modificadas pela tendência de presidentes anteriores
alocarem programas setoriais de impacto político no âmbito da Presidência. A proposta
tinha o objetivo de criar, na SEGEPRES, um conselho de ministros relevantes, apoiado
por uma secretária técnica, e retirar os programas setoriais da Presidência (BID, 2013;
2014; SIAVELIS, 2013; 2018). Nesse contexto de mudanças envolvendo a renovação de
quadros técnicos e burocráticos, os problemas relativos à ausência de especialização
funcional dos órgãos do centro de governo foram compensados pela montagem de um
staff presidencial profissional, mesclando quadros acadêmicos e empresários
Com exceção da oscilante Secretaria de Governo, com funções tipicamente
políticas e com três titulares de 2010 a 2012, as outras instituições que formavam o
comitê político-administrativo do governo praticamente se mantiveram com os mesmos
dirigentes. As três unidades de coordenação - SEGEPRES, SEGEGOB e MF -,
articuladas pela chefia do staff pessoal do presidente, propiciou um modelo de
coordenação centralizado, mas que manteve a capilaridade política e administrativa em
ministérios estratégicos. A partir de sua assessoria, o presidente adotou um modelo de
relações bilaterais com seus ministros, devolveu vários programas e unidades setoriais
aos ministérios e estabeleceu um eixo de coordenação da política econômica liberal,
constituído pelo Ministério da Fazenda, a SEGPRES e a SEGEGOB. Nos termos de
Johnson (1974), tratava-se de um modelo colegiado competitivo de coordenação, mas
17

com elementos de controle hierárquico centralizado na SRGPRES, que teve sua


capacidade administrativa e técnica fortalecida, transformando-se em um genuíno órgão
de planejamento e coordenação governamental (RIVERA e FERNÁNDEZ, 2012;
PLAZA, 2013; BID, 2013, 2014; SIAVELIS, 2013;2018).
Consideramos que a dinâmica político-organizacional vigente no Executivo após
o fim da ditadura, demonstrou capacidade de compatibilizar as questões administrativas e
de coordenação governamental com o processo político vigente sob a democracia, tanto
sob a Concertación quanto durante o governo de Piñera. Juntamente com as instituições
integrantes da Presidência, o Ministério da Fazenda exerceu um papel relevante na
execução da agenda presidencial, assumindo funções de monitoramento administrativo
orçamentário, o que propiciava flexibilidade política e operacional sob condições de
baixa rigidez administrativa.
Com essa flexibilidade em um contexto político conservador, o sistema de
coordenação e planejamento se estabilizou e passou relativamente incólume pelas
sucessões presidenciais. Assim, foi se consolidando um centro de governo constituído
pela SEGPRES, a Presidência e o MF, eventualmente envolvendo um ministério
responsável pela execução de programas estratégicos, como foram exemplos os
Ministérios do Interior e o da Habitação. Dotado de flexibilidade operacional propiciado
por redes técnicas e burocráticas informais no âmbito do Executivo, a existência dessas
instituições adaptativas liberou os governos da dependência de instituições rígidas e
burocratizadas. Nesse sentido, o padrão chileno de centro de governo se apresentou
simultaneamente mais estável e institucionalizado e menos personalista que o centro de
governo argentino.

2.3 Uruguai: tradição política e presidencialismo consociativo

O Uruguai possui uma trajetória política singular na América Latina. O sistema


bipartidário oligárquico que surgiu durante o século XIX, enraizado em forças
oligárquicas reunidas nos partidos blanco e colorado, bloqueou o surgimento de partidos
alternativos, e entre 1865 e 1958 o Partido Colorado esteve ininterruptamente no controle
do Executivo (SÁEZ, 2013). Nas duas primeiras décadas do século XX, sob a influência
do líder colorado e duas vezes presidente José Batlle y Ordónez, ocorreu a reforma da
18

Constituição de 1918, com uma orientação modernizante, baseada na intervenção estatal


e em uma ideologia laica, incluindo uma singularidade no desenho institucional do
Executivo: o Executivo foi transformado em um poder colegiado, a ser exercido
simultaneamente pelo Presidente da República e por um Conselho Nacional de
Administração. Sob a vigência desse modelo híbrido, as crises políticas se sucederam,
acarretando sucessivas reformas constitucionais, ocorridas em 1934, 1936, 1938, 1942 e
1952 (SÁEZ, 2013). Ancorado no reforço do reformismo modernizante estatista do
Presidente Luis Batlle Berres (1947-1951), a fórmula do Executivo colegiado retornou na
reforma constitucional de 1952, instituindo que o Executivo seria exercido por um
Conselho Nacional de Governo: um colegiado integrado por nove membros, com seis
escolhidos dentre os candidatos do partido vencedor e os demais no segundo partido mais
votado, um modelo consociativo oligárquico (SAÉZ, 2013).
A partir da vigência da Constituição de 1966 a Presidência passou a ser exercida
de modo unipessoal, pondo fim à forma colegiada vigente desde a constituição de 1952.
Presidente e vice-presidente são eleitos na mesma chapa eleitoral para um mandato de
cinco anos, vedada a reeleição imediata. O vice-presidente ocupa o cargo de presidente
de forma temporária ou definitiva em todos os casos de vacância e exerce a presidência
do Congresso (Art. 94 e 150 da Constituição). Mas distintamente da maior parte das
constituições do continente, os incisos dos Art. 147 e 147 da constituição uruguaia
incluem mecanismos de “parlamentarização” no funcionamento do sistema. Eles
estabelecem que qualquer uma das Casas do Congresso, poderá assumir a iniciativa de
formular moção de censura a ministros isolados ou à totalidade do gabinete, desde que
aprovada pela maioria absoluta dos votantes da Assembleia. O presidente pode suspender
temporariamente a demissão dos ministros censurados caso a moção de censura seja
aprovada por menos de dois terços dos membros do Congresso. Nesse caso, se as duas
Casas não se reunirem conjuntamente para manterem o voto de censura, este será
considerado revogado.
È evidente que apesar da Constituição de 1966 ter reforçado os poderes de um
Executivo que tradicionalmente era limitado pela sua forma colegiada, as mudanças
instituíram requisitos processuais complexos e contemplam mecanismos de mútua
dissuasão quanto ao voto de censura e à dissolução da Assembleia pelo presidente. Essa é
uma das razões porque essa dissolução nunca foi aplicada, com exceção do golpe civil-
19

militar liderado por Juan Maria Bordaberry (1972-1973), em 1973 (COELHO, 2011). A
existência dessas regras indica que a Constituição de 1966 tentou manter a tradição
consociativa que caracterizou as relações entre as elites desde as primeiras décadas do
século XX. Mas como observa Saéz (2013), elas afetam o presidencialismo uruguaio,
principalmente porque os presidentes devem indicar ministros que disponham de apoio
parlamentar para ser chancelado no cargo (Art. 147 da Constituição). Além disso, as
limitações dos poderes presidenciais se expressam na necessidade de aprovação do
Legislativo para a criação e a denominação dos ministérios, embora o presidente tenha a
liberdade de redistribuir funções entre ministérios existentes. Como contraponto, o
presidente pode comunicar à Assembleia que membros do Conselho de Ministros
carecem de respaldo parlamentar, e com isso substituir ministros e demitir diretores de
órgãos descentralizados vinculados aos ministérios (Art. 175). Liberdade condicionada à
anuência do Senado para a nomeação de novos diretores de órgãos e serviços
descentralizados, o que limita mudanças organizacionais pretendidas pela Presidência.
O Vice-Presidente integra o Conselho de Ministros e é o Presidente do
Congresso, uma fórmula que associa os poderes legislativo e executivo em um único
cargo. Do Conselho de Ministros também participam o Diretor da Oficina de
Planejamento e Orçamento (OPP), nexo Da Presidência com o sistema de planejamento
do Executivo. O colegiado se reúne sob convocação do presidente, a quem está
submetido, o que torna o seu papel político dependente dos objetivos de cada governo.
Esse perfil constitucional consensual torna as relações entre o Executivo e o Legislativo
extremamente complexas, pois caracteriza um presidencialismo mitigado pelo sistema de
vetos vigentes no Legislativo e pelo conservadorismo político herdado do tradicional
sistema partidário.
Entre 1990 e 2005 os governos uruguaios passaram a se constituir sob a forma de
governos de coalizão, modificando o tradicional bipartidarismo. Com essa mudança, a
Frente Ampla, agregado de forças de esquerda, também passou a administrar o país
dentro de uma dinâmica política típica de governos multipartidários. O processo de
redemocratização transformou o tradicional bipartidarismo em um multipartidarismo
moderado, e o processo governamental tem transcorrido sob a forma de constantes
negociações entre o Legislativo e o Executivo (SÁEZ, 2013; LANZARO, 2018).
20

Com as reformas dos anos 90, a organização do centro de governo sob o modelo
consociativo passou por uma significativa ampliação, integrado pela Presidência, Vice-
Presidência, Conselho de Ministros, Ministério de Economia e Finanças (MEF), a
Oficina de Planejamento e Orçamento (OPP) e a Oficina Nacional do Serviço Civil
(ONSC), ambas com status ministerial e inseridas na Presidência. O tripé formado pelo
Banco Central (BC), o MEF e a OPP, são os pilares da política econômica e financeira do
governo e apresentam proeminência sobre demais ministérios (LANZARO, 2015;2018;
MILANESI e TISCORNEA, 2016). O Banco Central, a OPP e a ONCS são instituições
consolidadas, originárias da fase cepalina do sistema de planejamento uruguaio, enquanto
o perfil do MEF seguiu os fluxos das mudanças políticas que ocorreram no Uruguai nas
últimas quatro décadas. A OPP está diretamente vinculada ao presidente e exerce funções
de coordenação orçamentária e administrativa, além de assessorar o presidente na
elaboração do orçamento e no processo anual de prestação de contas (Art. 230 da
Constituição). Por sua inserção e papel institucional, também é um órgão que assume
funções políticas e programas estratégicos de governo, visto que sua estrutura é integrada
por uma comissão interministerial. Assim como a OPP, a ONCS é um órgão com funções
administrativas vinculadas diretamente à Presidência da República, e suas prerrogativas
envolvem iniciativas referentes ao processo de reforma do Estado e à política de recursos
humanos dos Poderes Executivo e Judiciário (Art. 59 e 60 da Constituição).
Esse desenho político-administrativo revela uma significativa centralização
institucionalizada na Presidência, que se situa como mecanismos de articulação política e
coordenação governamental o conjunto do Executivo. Trata-se de um contrapeso
organizacional ao modelo político consociativo, mas trata-se de um centro decisório que
funciona sob limitações institucionais. Por isso, as mudanças de funções tendem a
ocorrer mais no interior da Presidência e nos seus mecanismos de coordenação que nas
estruturas ministeriais, expressando mais uma lógica institucional do sistema de governo
do que o estilo presidencial de cada governante. Os presidentes exercem poder e
influência, mas circunscritos à Presidência e o centro de governo e ao estilo pessoal de
administrar. Uma comparação sucinta entre dois governos com perfis políticos distintos -
Jorge Batlle (2000-2005) e Tabaré Vázquez (2005-2010) -, pode contribuir para elucidar
essas características.
21

Algumas das inovações institucionais centralistas surgiram durante o mandato do


liberal Jorge Batlle (2000-2005), e tiveram o objetivo de adequar a Presidência e o centro
de governo à nova realidade da democracia e das pressões sociais, no contexto do
crescimento da esquerda, que já detinha em torno de 40% das cadeiras no Congresso.
Com essas mudanças, Batlle teve que moderar seu liberalismo tradicional e assumir uma
estratégia de governo mais pragmática, embora o seu estilo de liderança presidencial
tenha se caracterizado por um ativismo político direto no governo. Com seu estilo
pessoal centralizador e uma ideologia liberal, incorporou o Ministério da Economia e
Finanças (MEF) na formação do tripé de poder integrado também pela Secretaria da
Presidência e a OPP, em um contexto orientado para as reformas do Estado. Com esse
viés, reduziu o poder da ONCS como órgão de controle administrativo do pessoal civil.
Seu estilo pessoal de governo envolveu um reduzido círculo de assessores pessoais de
sua confiança, tendo em vista que frequentemente assumia as próprias decisões sobre
projetos estratégicos de governo (LANZARO, 2013; 2018; MILANESI e TISCORNEA,
,2016). Tratava-se de um estilo que tentava compensar as eventuais deficiências da
Presidência no período, associando centralização política e hierarquia organizacional na
Presidência, mantendo contatos regulares com ministros, subordinados diretos e
secretários de ministérios. Enfim, manteve um estilo político e administrativo ativo em
um contexto de mudanças políticas, reafirmando sua liderança no âmbito das elites
políticas tradicionais.
Com a vitória da Frente Ampla (FA) no primeiro turno das eleições de 2004,
formando uma maioria parlamentar de mais de 50% em ambas as Casas do Legislativo,
Tabaré Vázquez (2005-2010) assumiu como um governo majoritário sob a forte liderança
política do novo presidente, em um contexto de presidencialismo de gabinete que reunia
uma ampla coalizão de partidos agregados na FA. Os dois tradicionais partidos políticos
foram relegados a uma posição secundária, e o estilo que Tabaré Vázquez assumiu foi o
de coordenador de uma coalizão majoritária, embora ampla (LANZARO, 2012; 2018;
SÁEZ, 2013). Sob esse tipo de coalizão, uma das primeiras iniciativas do novo governo
foi redistribuir as funções anteriormente alocadas por Batlle nas assessorias presidenciais,
redirecionando-as para a OPP e a ONSC, esta última esvaziada durante o mandato
anterior. Tratava-se de uma inflexão que tinha o objetivo de reduzir o espaço de poder
das assessorias pessoais da Presidência e institucionalizar funções na OPP, na ONSC e na
22

Secretaria Geral da Presidência. A OPP passou a ser integrada pela Área de Gestão e
Avaliação de Estado (AGEV), com o objetivo de acompanhar as mudanças
administrativas e o funcionamento do governo após as reformas realizadas durante o
governo anterior (LANZARO, 2013; 2018; MILANESI e TISCORNEA, 2016))
A Secretaria da Presidência foi reforçada significativamente sob seu governo. A
tradição anterior da Secretaria situava as funções de coordenação centrada
principalmente em seus titulares. Mas ela passou a dispor de uma base institucionalizada
e possuía um papel ativo no Conselho de Ministros, integrando a coordenação dos
Gabinetes Setoriais como instâncias de intercâmbio transversal dentro de cada área, o que
propiciou capilaridade e eficiência ao sistema de coordenação da Presidência. Além
disso, ela incorporou órgãos administrativos e de coordenação setorial, como a Direção
Geral de Serviços, a Secretaria de Comunicação Institucional, a Unidade Nacional de
Segurança Viária, a Agência para o Desenvolvimento do Governo Eletrônico, a
Sociedade da Informação (AGESIC), além da incorporação do principal plano
educacional, CEIBAL, passando por um significativo processo de institucionalização e
fortalecimento político (LANZARO, 2013; MILANESI e TISCORNEA, 2016).
De forma geral, o presidente reforçou o poder político-administrativo da
Presidência e da OPP em assuntos estratégicos e reduziu o espaço político da Fazenda,
que manteve suas funções financeiras e orçamentários. Tabaré adotou um estilo
presidencial forte e centralizador, mas deixando margem de manobra para o Conselho de
Ministros, tendo em vista que detinha maioria no Congresso e era o líder da Frente
Ampla. Com esse poder, o presidente assumiu o papel de árbitro em várias questões
políticas de Estado, como direitos humanos, forças armadas e relações internacionais
(LANZARO, 2018; COELHO, 2011). O exercício desse duplo papel de árbitro e líder do
governo, contou com o reforço da Secretaria da Presidência como instância de
coordenação e intermediação das relações com os ministérios. Nesse sentido, com um
modelo de coordenação que conjugava os papéis políticos dos Gabinetes Setoriais do
Conselho de Ministros e da Secretaria da Presidência, e dispondo da base técnica e
logística da OPP e do MEF, a tendência foi a de reforçar a Presidência sob formas mais
institucionalizadas, mas contando com o Conselho de Ministros.
Em parte, esse padrão emergiu porque o presidente e seu círculo político
possuíam uma concepção mais institucional e menos personalista de governo que Batlle,
23

mas também porque a Frente Ampla era um agregado de partidos, não havendo espaço
para um estilo presidencial excessivamente personalista. A esses fatores políticos,
agregava-se a natureza fortemente consociativa do sistema político uruguaio, que tinha
seu nexo governamental no Conselho de Ministros. Trata-se de um modelo que
conjugava centralização na Presidência com formas colegiadas no Executivo, um perfil
mais próximo do modelo chileno do que do argentino.
Mas mesmo se observarmos conjuntamente a organização do centro de governo
da Presidência nos governos de Batlle e Tabaré, podemos considerar que ambos
ocorreram sob um processo de relativa estabilização institucionalizada do centro de
governo. O estilo mais centralizado e personalista do presidente Batlle, não modifica
substantivamente essa característica, pois a diferença se situou principalmente no reforço
das assessorias pessoais na Presidência. Dessa forma, o exercício de governo se situou
entre presidentes condicionados pelas instituições e um colegiado de ministros sob um
duplo escrutínio político.

3. Considerações Finais

A dinâmica do processo de coordenação governamental nos exemplos do Chile e


do Uruguai mostrou mais afinidades político-institucionais que o caso da Argentina. Na
nossa interpretação, as similaridades e diferenças derivam de duas dimensões interligadas
e mutuamente condicionadas: os processos políticos que circunscreveram as transições
para a democracia e modelaram os arranjos institucionais do sistema político; e a
trajetória histórica e política desses países, que influenciaram as práticas de coordenação
assumidas pelos governos. Ambas as dimensões incidiram sobre os diferentes estilos
presidenciais vigentes nesses países após a redemocratização, limitando ou estimulando
formas personalistas e disruptivas de poder presidencial, e influenciando os limites dos
processos de institucionalização dos mecanismos de coordenação governamental.
Nos dois primeiros países, as condicionalidades institucionais de uma transição
conservadora, incidiram sobre os diferentes estilos presidenciais, limitando o alcance de
estratégias disruptivas. Os estilos presidenciais não deixaram de incidir sobre os modelos
político-organizacionais dos centros de governo, mas sob as condições de
institucionalização conservadora dos dois países, que tiveram transições pactuadas entre
24

antigas e novas elites, os presidentes foram limitados pelos arranjos institucionais que
surgiram desses pactos. O exemplo da Argentina foi o oposto, visto que a transição por
ruptura em um contexto de profunda crise política, não possibilitou arranjos
institucionais consociativos e estáveis. E sob uma tradição caracterizada por polarização
partidária, lideranças personalistas e forte federalismo, a reforma constitucional
consociativa de 1994 não estabilizou o sistema político e nem limitou os padrões
contingentes de exercício do poder dos presidentes, que continuaram projetando suas
oscilantes estratégias de centralização e politização sobre a organização do Executivo.
Quanto à trajetória histórica de seus sistemas políticos, Chile e Uruguai possuem
tradição de estados unitários que envolve apenas formas de descentralização
administrativa, e esse centralismo político ajudou a limitar os efeitos dos conflitos
oligárquicos na organização do Executivo. Com essa trajetória, após as transições seus
governos puderam manter sistemas de coordenação institucionalizados e centralizados,
mas que dispunham de mecanismos colegiados de articulação entre a Presidência e as
estruturas ministeriais. Por outro lado, a tradição Argentina de federalismo regionalista e
conflitos oligárquicos, impulsionou os presidentes para modos de centralização e
politização contingente no Executivo, o que impediu a institucionalização e a
estabilização de mecanismos de coordenação e planejamento governamental.
Sem desconsiderar a influência exercida por tradições técnicas e comunidades
burocráticas e profissionais, essas dimensões ajudam a compreender a existência de
padrões de coordenação que se apresentam integrados e dotados de um perfil sistêmico,
que contribuem para consolidar capacidades estatais em torno de projetos de
desenvolvimento. Ou, contrariamente, a vigência de padrões mais personalizados e
centralizados diretamente em instâncias da Presidência, mais vinculados ao gabinete
presidencial e organizacionalmente mais instáveis, desestabilizando potenciais processos
de institucionalização dos sistemas de planejamento e coordenação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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congresos en la creación de organismos descentralizados (1983-2009). In: ALESSANDRO
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