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Tópicos em Ciências

Sociais: Questões
Contemporâneas
Dimensões da Sustentabilidade

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Márcia Ota
Dimensões da Sustentabilidade

• O Desenvolvimento Sustentável;
• O Cenário Político-econômico do Pós-guerra;
• Os Movimentos Sociais dos Anos 1960;
• As Primeiras Conferências sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Descrever os fatos políticos e econômicos que culminaram no surgimento de uma nova
forma de organização social pautada no princípio equitativo da sustentabilidade em suas
dimensões ambiental, sociocultural e econômica.
UNIDADE Dimensões da Sustentabilidade

Contextualização
Para iniciar esta Unidade, apresentamos um dos importantes documentos resul-
tante do encontro ECO-92 realizado na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1992.
Desse encontro, mais de 100 países do mundo inteiro, políticos, ONGs e civis se
comprometeram em criar uma Agenda 21. Trata-se de um documento que elenca os
principais problemas enfrentados pelas cidades e o compromisso das diversas esferas
público-privada em saná-los ou minimizá-los até o século XXI.

Então, conheça a Agenda 21 de sua cidade e reflita sobre a importância de desen-


volver um documento que represente o compromisso de todos.

Exemplo da Agenda 21 da cidade de São Paulo: https://bit.ly/3b1FTKj

Oriente sua reflexão pelas seguintes questões:


Qual a importância da Agenda 21?
Quais os principais compromissos descritos na Agenda 21 para minimizar os problemas
da sua cidade?

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O Desenvolvimento Sustentável
Nesta unidade, vamos estudar o surgimento e a conceituação do desenvolvimento
sustentável. Abordaremos os aspectos sociais, culturais, ambientais e econômicos
que estão envolvidos com a sustentabilidade. Destacaremos a questão ambiental a
partir dos movimentos sociais nos anos 60 até a inserção do termo nos produtos de
consumo nos tempos atuais.

O Cenário Político-econômico do Pós-guerra


Podemos, nos estudos históricos de qualquer época, deparar-nos com alguma
alusão à questão ambiental, sejam catástrofes naturais, sejam fenômenos pontuais,
sejam questões relacionadas à alimentação ou à sua escassez. Esse assunto está pre-
sente desde sempre e se destaca em alguns momentos da história da humanidade e
em algumas localidades.

Portanto, a natureza, como uma preocupação do ser humano, sempre fez parte
de sua história como vemos na literatura mais diversa. No entanto, abordaremos
aqui a preocupação ambiental como algo urgente e, se ignorada, comprometerá as
futuras gerações.

Veremos, então, que meio ambiente e gerações futuras estarão interligados e pro-
vocarão uma discussão sobre o futuro da humanidade, quando esta não levar em
conta, conscientemente, seu comportamento no panorama da sociedade de consumo
capitalista contemporânea.

Para entender o surgimento do movimento ambientalista, partiremos do pano de


fundo histórico proporcionado pelo final da Segunda Guerra Mundial.

Com o fim da segunda grande guerra em 1945, o mundo todo precisou se recu-
perar economicamente e tomar fôlego para seguir adiante com a construção de sua
história. A Europa foi a região mais destruída por ter sido o campo de batalhas en-
tre potências defensoras de modelos econômicos. O que esteve em jogo naquele
momento era a defesa e imposição de modelos econômicos estruturais como o
capitalismo, o fascismo e o socialismo.

O capitalismo, modelo adotado por grandes potências mundiais como a Inglaterra,


a França e os EUA, se deparou com uma gigantesca ameaça socialista que progredia
com a ascensão da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e o fascismo
que prosperou em países como Alemanha, Itália, Japão, Espanha e Portugal. A mais
forte das ideologias fascistas viria com a sua versão mais cruel – o nazismo alemão.

O embate entre os interesses econômicos e domínio de mercado entre os modelos


que nos referimos teve o centro europeu como o grande campo de batalhas. O resul-
tado foi um saldo de milhões de mortos e economias destroçadas.

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UNIDADE Dimensões da Sustentabilidade

A barbárie alemã em relação à perseguição e limpeza étnica por meio dos


campos de concentração, a sagacidade americana em entrar na guerra com arma-
mento de última geração depois que muitos países europeus já estavam destruídos,
e a URSS ganhando território na Europa à medida que vencia as batalhas com os
alemães, deixou de herança uma sociedade destruída em todos os sentidos: econô-
mico, cultural, ambiental, etc.

Barbáries da Segunda Guerra Mundial


Em cada um dos modelos econômicos em disputa pela hegemonia do poder duran-
te a segunda guerra mundial, existiram grandes atrocidades contra a vida de milhares
de civis. Vejamos abaixo alguns exemplos para ponderar que houve um equilíbrio ab-
surdo de uso de força, poder e armamentos para subjugar um povo em detrimento do
mais forte:
• Nazismo: o mais tenebroso de todos os regimes políticos por tratar-se de uma
limpeza étnica. Os nazistas perseguiram milhões de judeus, homossexuais,
ciganos, deficientes físicos e mentais, negros, imigrantes, prisioneiros russos e
oposicionistas. A maior atrocidade nazista foi criar campos de concentração e
incinerar seres humanos em câmaras de gás;

Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons

• Capitalismo: de certa forma, os EUA utilizaram uma estratégia nesta guerra,


ou seja, resistiram ao máximo entrar no conflito à medida que assistia a Europa
ser destruída. Os aliados Inglaterra e França já estavam sendo bombardeados
há anos, a França tomada pelos nazistas e a Inglaterra resistindo até o limite.
Os americanos entram na guerra neste cenário de destruição e mostra seu
poder em dois episódios emblemáticos: as bombas atômicas lançadas sobre as
cidades de Hiroshima e logo, três dias depois, Nagasaki no Japão. Milhares de
civis simplesmente evaporaram com o calor das bombas maior do que o núcleo

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do Sol. Os que sobreviveram amargaram cicatrizes eternas da radioatividade da
mais poderosa arma da guerra;

Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons

• Socialismo: Stalin foi estratégico, utilizou muito bem o clima gelado da


URSS a seu favor durante a invasão alemã e iniciou a recuada dos nazistas
de seu território, pouco a pouco, até que os americanos cooperassem com
a base aliada. O regime socialista de Stalin enviou os inimigos do estado a
campos de trabalhos forçados na Sibéria. Sob o frio insuportável, milhares
de civis não sobreviveram.

Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons

A recuperação dos países no pós-guerra viria com a aliança entre EUA e URSS,
vencedores do embate, que ficaria conhecida como ‘Guerra Fria’. Uma guerra de
desenvolvimento econômico, tecnológico e domínio de mercado e não de armas,
pelo menos teoricamente, já que na prática não foi bem assim. Porém, a paz es-
taria selada entre os países do mundo todo com a criação da ONU – Organização
das Nações Unidas em 1948 que, de certa forma, vigiaria os focos de tensão em
qualquer parte do mundo e controlaria, ainda que pelo uso de forças armadas, a
manutenção da paz mundial, evitando que outra guerra mundial se repita.

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Os EUA não sofreram a destruição que a URSS, por estar no leste do território
europeu, sofreu. Portanto, foram os americanos que injetaram dinheiro para a recons-
trução da Europa e do Japão, fazendo com que a economia desses países se recupe-
rassem por meio do Plano Marshall (Plano de empréstimo e ajuda financeira que os
americanos criaram para reerguer os países fragilizados).

Plano Marshall
O Programa de Recuperação Europeia ficou popularmente conhecido como Plano Marshall,
nome reconhecido em função do idealizador do plano - o Secretário de Estado dos Estados
Unidos chamado George Marshall.
O plano era parte da estratégia estadunidense durante a Guerra Fria que procurava impedir
a expansão do comunismo pelo mundo. O objetivo do plano visava o auxílio econômico e a
reconstrução dos países europeus que estavam destruídos após a Segunda Guerra Mundial.
O plano injetou cerca de 13 bilhões de dólares ao longo de quatro anos a partir do encontro
dos países que o adotaram. O dinheiro foi aplicado em assistência técnica e econômica e,
ao fim do período de investimento, os países participantes viram suas economias crescerem
muito mais do que os índices registrados antes da Segunda Guerra Mundial.
A Europa Ocidental gozou de prosperidade e crescimento nas duas décadas seguintes e viu
nascer a integração que hoje conhecemos como União Europeia, mas o principal beneficiado
do Plano Marshall foram os Estados Unidos. O país criou dependentes econômicos, disse-
minou seu padrão ideológico capitalista e impediu qualquer possibilidade de expansão do
comunismo na Europa.

Com a ascensão das economias e a rápida recuperação de alguns países durante


os anos cinquenta, surge uma promissora sociedade de consumo. O consumo viria
em massa, uma vez que as pessoas estavam se recuperando dos vestígios da década
anterior. Isso quer dizer que as pessoas poderiam olhar para o futuro, sentir uma
certa segurança, uma vez que a ONU surge como uma organização forte e poderosa
garantidora desta segurança mencionada.

Assim, com o cenário econômico de grandes novidades tecnológicas à disposição


e cada vez mais diversificadas, bem como produtos com menor custo decorrentes
da competitividade de mercado entre os países capitalistas, se expandia a era então
propagada pelo alcance da, talvez maior novidade entre todas – a Televisão.

Figura 4 – TV em família nos anos 50 e 60


Fonte: Timsterhowdarei.files.wordpress.com

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Vemos então que, nos anos cinquenta, as famílias que perderam seus parentes na
guerra agora olhavam para um futuro promissor e poderiam programá-lo. O número
de crianças nascidas no final dos anos 1940 e durante 1950 foi acima do esperado,
fenômeno que ficou conhecido como ‘baby-boom’, ou seja, nascimento de bebês
em enorme quantidade, entregando para a década seguinte – os anos 1960 – uma
sociedade jovem e ativa.

A sociedade de consumo, a que nos referimos então, está massificada pela informação
disseminada pela TV, pelas propagandas e pelo estímulo ao consumo. No entanto, a
indústria produtora que se desenvolvia com qualidade começou a sentir alguns efei-
tos inesperados que resultou em uma mudança de comportamento social e cultural.

Referem-se a esses efeitos:


• A durabilidade dos produtos consumidos: à medida que a indústria produzia
cada vez a menor custo e com melhor tecnologia, os produtos duravam por
muito tempo. O consumidor que comprasse um automóvel, por exemplo, o teria
por muitos anos, só voltando a ser consumidor desse produto, em média, vinte
anos depois. A indústria precisava que o consumo fosse constante para não
amargar produtos encalhados em estoque como estava acontecendo;
• A juventude numerosa: as crianças do fenômeno ‘baby-boom’ do final dos anos
40 e início dos anos 50 seriam os jovens sonhadores dos anos 60. Sonhavam
com uma vida profissional de sucesso igual àquelas do cinema e seriados de TV,
com oportunidades de trabalho e altos salários, o que a grande oferta de jovens
com os mesmos desejos provocou foi o contrário, ou seja, os jovens se viram num
cenário de grande competitividade, os salários caindo por causa da grande oferta
de mão de obra qualificada, enxergando um futuro inseguro e difícil;
• A alta escolaridade: o estado de bem estar social atingido pelos países que se
recuperaram da guerra, atingiu um alto padrão de qualidade de vida. As pessoas
puderam comprar sua casa própria, tiveram acesso à saúde de qualidade e prati-
camente gratuita e, principalmente, a educação foi oferecida com alta qualidade e
de amplo acesso. Muitos jovens tinham uma ou duas formações de nível superior,
falavam mais de um idioma, etc.; essa alta qualificação serviu muito bem às empre-
sas que puderam restringir suas vagas aos melhores, excluindo muitos outros que
se defrontaram com o desemprego.

Os Movimentos Sociais dos Anos 1960


Os anos 1960 foram marcados por manifestações populares no mundo todo e
por diversos motivos.

Historicamente, os jovens franceses foram responsáveis por grandes transfor-


mações em seu país que, consequentemente, influenciou muitos outros. A maior de
todas as manifestações populares ficou conhecida como ‘Maio de 68’.

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Naquela ocasião, jovens estudantes se uniram à greve geral dos operários e as


ruas de Paris ficaram tomadas por uma multidão que reivindicava, ao então primeiro
ministro Charles de Gaulle, uma reforma política.

Nas ruas, estavam os proletários que lutavam contra demissões, baixos salários
e direitos, a estes se juntaram os jovens estudantes da Sorbonne e de outras tantas
universidades que protestavam contra uma França conservadora e retrograda; aos
poucos, juntaram-se as feministas indignadas, principalmente, com a desigualdade
no trabalho, os gays contra uma sociedade que ainda tratava o homossexualismo
como doença, os negros que protestavam contra o racismo, os imigrantes contra
a discriminação e os ambientalistas contra o consumo inconsciente e a extinção de
espécies animais.

Figura 5 – Manifestação popular de Maio de 68 na França


Fonte: bhumanas.wordpress.com

O movimento de 1968, marcado pela luta das minorias, foi reprimido pela
polícia e noticiado no mundo todo. Desde então, uma enorme proliferação de
ONGs a exemplo da WWF começou a surgir, de modo a dar continuidade às tais
lutas de forma organizada.

WWF: World Wide Fund for Nature – Fundo Mundial para a vida selvagem e natureza, foi
criada em 1961. No Brasil a WWF está presente desde 1996.

Não se pode deixar de citar aqui, o livro “Primavera Silenciosa’ da bióloga ameri-
cana Rachel Carson. O livro causou grande repercussão mundial e foi um best-seller
desde seu lançamento nos EUA em 1962. A autora criou uma história fictícia, cujo
tema central era o meio ambiente. A fábula discutia o fim da vida na Terra por conta
do uso exagerado do DDT (uso de aerossol e inseticidas).

Portanto, uma sociedade descontente com o apontamento para o fim da huma-


nidade, caso o mundo todo não reavaliasse o comportamento de consumo somado
à forma de produção altamente competitiva, resultou em uma preocupação geral.

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Tanto que levou um grupo de empresários a investir em uma polêmica pesquisa para
averiguar cientificamente se o meio ambiente sofria os impactos denunciados pela
mídia, o que ficou conhecido como “Grupo de Roma”.

As Primeiras Conferências sobre


Meio Ambiente e Desenvolvimento
O Grupo de Roma foi fundado em 1968 por cientistas, políticos e industriá-
rios de grandes grupos multinacionais como, por exemplo, Fiat, Volkswagen, etc.,
com o objetivo de criar um documento que demonstrasse os impactos ambientais
e a provável escassez de matérias-primas, o que os preocupava em primeiro lugar.
O documento foi desenvolvido por especialistas de diversas áreas e apresentado em
1972 na primeira grande conferência mundial de Estocolmo na Suécia.

A conferência de Estocolmo reuniu líderes mundiais para discutir o relatório que


destacava os limites para o crescimento econômico. O relatório Meadows ou como
ficou conhecido – Relatório do Clube de Roma – propunha crescimento zero, conge-
lando o crescimento populacional e industrial.

Foram destacados como problemas urgentes na publicação do relatório:


• industrialização acelerada;
• rápido crescimento demográfico;
• escassez de alimentos;
• esgotamento de recursos não renováveis a curto prazo;
• deterioração do meio ambiente.

O relatório do Clube de Roma irritou os países pobres e em desenvolvimento, pelo


fato de que viam o direito de crescer e se industrializar tal qual os países ricos, ser
vetado, criticando a retórica ecologista dos países desenvolvidos.

A divisão entre países ricos privilegiados e países pobres restringidos ao crescimento


criou uma grande polêmica que retomou o debate sobre o crescimento econômico.
O embate atraiu para a conferência de Estocolmo organizada pela ONU, mais de 113
países e 250 ONGs.
O desenvolvimento sustentável é um desafio planetário. Ele requer estra-
tégias complementares entre o Norte e o Sul. Evidentemente, os padrões
de consumo do Norte abastado são insustentáveis. O enverdecimento do
Norte implica uma mudança no estilo de vida, lado a lado com a revitali-
zação dos sistemas tecnológicos. (SACHS, 2009, p. 58)

O resultado foi a produção da “Declaração sobre o meio ambiente humano”, em


que abordava os princípios de comportamento e responsabilidade que deveriam
governar as decisões sobre meio-ambiente, a partir de então. Foi criado um “Plano
de ação” que convocava todos os países, ONGs, etc., a cooperarem em busca de

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soluções para uma série de problemas ambientais. Também na Conferência de


Estocolmo foi criado o ‘dia do meio ambiente’ em 05 de junho.

A Conferência de Estocolmo abriu precedente para uma série de encontros


internacionais, sempre com o objetivo de envolver o maior número de países com
compromissos para amenizar os impactos ambientais negativos.

Nosso Futuro Comum


Em 1983, uma nova comissão se engaja para estudar o meio ambiente e os
impactos sofridos com o desenvolvimento inconsciente. A Comissão Mundial
sobre o meio ambiente e desenvolvimento da ONU, após quatro anos, em 1987
divulga os resultados das pesquisas, apresentando o “Relatório de Bruntland”,
cujo título foi “Our Common Future” – Nosso futuro Comum.

O relatório ficou conhecido como “Relatório de Bruntland” por ter sido apresentado
a pessoas do mundo inteiro pela primeira ministra da Noruega Gro Harlem Bruntland.

O relatório apresentou uma visão complexa das causas e dos problemas ambientais,
sociais, econômicos e as inter-relações entre a economia, tecnologia, sociedade e política.

A principal característica do relatório é destacada pelo fato de chamar a atenção


para uma postura ética relacionada à imbricada responsabilidade entre gerações.

Com a publicação do relatório de Bruntland, o conceito de ‘desenvolvimento


sustentável’ passa a ser disseminado, após ser refinado desde 1970. Descrito no re-
latório da seguinte forma: “O desenvolvimento que satisfaz as necessidades das
gerações presentes sem comprometer a capacidade de as gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades”.

O relatório apresenta mais de um conceito de desenvolvimento sustentável, mas


este é o mais difundido. Enfatiza que “Desenvolvimento sustentável é mais que cres-
cimento. Exige uma mudança no ‘teor’ do crescimento, a fim de torná-lo menos
intensivo em explorar matérias-primas e energia e mais equitativo em seu impacto.

Tais medidas precisam ocorrer em todos os países como parte de um ‘pacote de


medidas’ para manter a reserva do capital ecológico, melhorar a distribuição de renda
e reduzir o grau de vulnerabilidade às crises econômicas.

O relatório de Bruntland “Nosso futuro Comum”, entende a necessidade de cres-


cimento, mas exige políticas públicas para sua coerência.

O encontro foi diplomático, sem críticas aos industriários; por isso, o conceito de
desenvolvimento sustentável foi aceito.

Desenvolvimento Sustentável é “O desenvolvimento que satisfaz as necessidades das


gerações presentes sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as
suas próprias necessidades”.

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O Brasil nos Encontros Sobre Desenvolvimento Sustentável
Em 1988, a assembleia geral da ONU aprovou a realização, até 1992, de um
encontro mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento que pudesse avaliar
como os países haviam promovido a proteção ambiental desde a conferência de
Estocolmo de 1972. Na cerimônia, o Brasil se ofereceu para sediar o encontro.

Em 1989, a assembleia geral da ONU convocou a Conferência das Nações Unidas


sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – a CNUMAD, que ficou conhecida como
“Cúpula da Terra” e, marcou a realização em junho para coincidir com o dia do meio
ambiente – 05 de junho.

Objetivos principais da conferência “Cúpula da Terra”:


• Examinar a situação ambiental desde 1972;
• Estabelecer mecanismos de transferências de tecnologias não poluentes aos
países subdesenvolvidos;
• Examinar estratégias nacionais e internacionais para incorporação de critérios
ambientais ao processo de desenvolvimento;
• Estabelecer em sistema de cooperação internacional para prever ameaças
ambientais e prestar socorro em casos emergenciais;
• Reavaliar os organismos da ONU para criar novas instituições para implementar
as decisões da conferência.

Entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, 172 países, 100.000 participantes,


116 chefes de Estado, 1.400 ONGs e 9.000 jornalistas se envolveram na maior
conferência mundial sobre meio ambiente até então – a Rio 92, ou ECO-92 como
ficou conhecida.

Os resultados da conferência realizada no Brasil foram cinco documentos assina-


dos pela maior parte dos países do mundo. São eles:
• Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento;
• Agenda 21 – diretrizes: desmatamento, lixo, clima, solo, desertos, água, bio-
tecnologia, etc.;
• Princípios para a administração sustentável das florestas;
• Convenção da biodiversidade;
• Convenção sobre mudança do clima.

Vinte anos depois, uma nova conferência volta ao Rio para debater os resultados
da ECO-92, a Rio-2012.

O encontro foi realizado também no mês de junho e reuniu diversos países, ONGs,
jornalistas, etc.; porém, frustrou pela falta de comprometimento dos envolvidos em
levar adiante novos compromissos que reduzam o crescimento econômico.

Desde então, as reuniões mundiais promovidas pela ONU vêm perdendo o folego.

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UNIDADE Dimensões da Sustentabilidade

Na conferência Rio-2012, foi proposta a criação de um fundo para financiar as metas de


redução aos impactos ambientais.
Foi definido o conceito de antropoceno, ou seja, certeza de que o homem influencia no
comportamento do ambiente terrestre.

Dimensões da Sustentabilidade
Desde os anos 1960, com o movimento ambientalista, uma nova forma de inter-
pretar o mundo vem sendo debatida. Trata-se de uma sociedade que vem sendo dire-
cionada pelas necessidades naturais a se preocupar seriamente com o meio ambien-
te e com o futuro do Planeta. Ao crescimento econômico consciente, responsável e
inclusivo chamamos de desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade.

Figura 6 – Movimento ambientalista dos anos 60


Fonte: eumarxista.blogspot.com

Cronologicamente, podemos dizer que nos anos 1960 o meio ambiente é uma
pauta social. Nasce das manifestações populares e da criação de uma organização
sem fins lucrativos que ficarão conhecidas como ONGs.

Já nos anos 1970, a questão se torna política. Surgem dos primeiros partidos
ambientalistas, como o partido verde na Alemanha e em outros países da Europa.

Em 1980, a ideologia do Desenvolvimento Sustentável é incorporada pela econo-


mia, ou seja, surgem as discussões sobre consumo consciente, lançamento de produtos
de diversas áreas com preocupação ambiental e menos impactante ao meio ambiente.

Em 1990, a natureza passa a servir à saúde e a sustentabilidade se volta para o


bem estar, qualidade de vida e vida saudável.

Já nas duas primeiras décadas do século XXI, sustentabilidade é um termo pre-


sente e incorporado na vida cotidiana das pessoas. É amplamente disseminado no
espaço acadêmico, porém encaminhou a utilização do termo para a banalidade do
mesmo. Muitos especialistas dizem que tudo o que se consome hoje, praticamente

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vem com selo verde, aprovação de órgãos de controle e com a sustentabilidade do
produto como característica da marca.

Logo, o consumo passou a ser remodelado. Os produtos foram pouco a pouco


se adaptando e, muitas vezes, não há nada de sustentável no que se consome ou se
produz. As empresas se utilizam do termo para um marketing próprio o que acar-
reta na banalização do que antes surge como uma grande preocupação com o meio
ambiente e matérias-primas.

As dimensões da sustentabilidade estão fundamentadas em três pilares principais


como vemos na figura a seguir:

Dimensão
Ambiental

Vivível Viável

SUSTENTABILIDADE

Dimensão Dimensão
Social Econômico-
Justo -financeira

Figura 7 – Dimensões da Sustentabilidade


Fonte: Adaptado de turismosemfronteiras.files.wordpress.com

• Dimensão ambiental: corresponde à preservação do meio ambiente, seja ele


natural, urbano ou rural. Ainda que o consumo de matérias-primas seja neces-
sário, a natureza deve ser compensada pelos danos causados em detrimento
das necessidades humanas. Desde então, surgem leis e políticas voltadas para a
recuperação do meio ambiente, compensação de áreas degradadas e, principal-
mente, para a preservação do patrimônio natural;
• Dimensão econômica: ainda que a economia dos países do mundo todo con-
tinue a crescer, os impactos ambientais e sociais devem ser levados em conside-
ração. Portanto, o crescimento econômico passa a se moldar ao novo conceito
de desenvolvimento sustentável. As empresas e indústrias precisaram se adaptar
às novas legislações, criando produtos e serviços que visem o menor impacto
negativo ao meio ambiente e social, criando uma gestão compatível e setores de
responsabilidade socioambiental;
• Dimensão sociocultural: o desenvolvimento econômico só pode ser positivo
se todos puderem fazer parte de seus benefícios. Portanto, a dimensão social
enfatiza a importância da inclusão, reconhecimento e valorização da diversidade
cultural, baseada na tolerância, na preservação do patrimônio cultural material
e imaterial e nos direitos humanos.

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Para que a humanidade continue o seu processo de desenvolvimento, os países


do mundo inteiro, assim como cada cidadão, devem estar articulados em suas ações
em busca de um equilíbrio entre consumo, inclusão social, desenvolvimento e pre-
servação do meio ambiente.

EM SÍNTESE
Aqui você aprendeu o conceito de desenvolvimento sustentável e a relevância desta
temática para as ciências sociais.
Nesta unidade, apresentamos a gênese da sustentabilidade a partir da segunda guerra
mundial e como o termo veio se adaptando no contexto político e econômico mundial
a partir dos grandes encontros e conferências internacionais.
Vimos que os três pilares da sustentabilidade estão fundamentados nas principais
dimensões: sociocultural, ambiental e econômica. Todas elas devem estar articuladas
sinergicamente para que o desenvolvimento da humanidade prossiga da forma mais
equilibrada possível.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura
Agenda 21 Local da cidade de São Paulo
https://bit.ly/2KYKSAP
Desenvolvimento e sustentabilidade
https://bit.ly/3c8nDjO
Direito, economia e meio ambiente
https://bit.ly/2xzfhTf
Educação ambiental e sustentabilidade
https://bit.ly/3c8nYmA

Referências

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UNIDADE Dimensões da Sustentabilidade

Referências
CANCLINI, N. A globalização imaginada. São Paulo: ILUMINURAS, 2003.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

FERREIRA, L. da C. Ideias para uma sociologia da questão ambiental no Brasil.


São Paulo: Annablume, 2006.

GIDDENS, A. O mundo na era da globalização. Lisboa: Editorial Presença, 2000.

HARVEY, D. A Justiça social e a cidade. São Paulo: HUCITEC, 1980.

SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável organização: Paula


Yone Stroh. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.

TAVOLARO, S. B. de F. Movimento ambientalista e modernidade: sociabilidade,


risco e moral. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2001.

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