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Aula 19

PC-DF (Delegado)
Legislação Penal e
Processual Especial

Autores
Prof.: Ivan Marques, 12 de Maio de 2023
Prof.: Vitor de Lucca
Estratégia Carreira Jurídica
PC-DF (Delegado) Legislação Penal e Processual Especial - Prof.: Ivan Marques, Prof.: Vitor de Lucca

Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 4

Violência Doméstica e Familiar contra a mulher ............................................................................................... 5

1 - Sujeito passivo da violência doméstica e familiar contra a mulher .......................................................... 8

3 - Sujeito ativo da violência doméstica e familiar contra a mulher .............................................................. 9

4 - Elemento subjetivo necessário para a autorização da Lei nº 11.340/06 ................................................ 10

5 - Contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher ................................................................. 10

5.1 - Âmbito da Unidade doméstica ............................................................................................................................... 11

5.2 - Âmbito Familiar ...................................................................................................................................................... 11

5.3 - Qualquer Relação Íntima de Afeto, Independentemente de Coabitação .............................................................. 11

6 - Formas de violência doméstica e familiar contra a mulher .................................................................... 11

6.1 - Violência Física (Art. 7º, I, da Lei 11.340/06) .......................................................................................................... 12

6.3 - Violência Sexual (Art. 7º, III, da Lei 11.340/06) ...................................................................................................... 13

6.4 - Violência Patrimonial (Art. 7º, IV, da Lei 11.340/06) .............................................................................................. 13

6.5 - Violência Moral (Art. 7º, V, da Lei 11.340/06)........................................................................................................ 13

Da assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar ......................................................... 14

1 - Das medidas integradas de prevenção ................................................................................................... 14

2 - Da Assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar ............................................... 15

3 - Do Atendimento pela autoridade policial ............................................................................................... 17

Dos procedimentos .......................................................................................................................................... 23

4 - Medidas protetivas de urgência.............................................................................................................. 26

Da atuação do Ministério Público .................................................................................................................... 36

Da assistência judiciária ................................................................................................................................... 36

Da equipe de atendimento multidisciplinar .................................................................................................... 37

Disposições transitórias ................................................................................................................................... 37

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Disposições Finais............................................................................................................................................. 37

Questões Comentadas ..................................................................................................................................... 39

Magistratura ................................................................................................................................................................... 39

Promotor ........................................................................................................................................................................ 40

Lista de Questões ............................................................................................................................................. 41

Magistratura ................................................................................................................................................................... 41

Promotor ........................................................................................................................................................................ 42

Gabarito............................................................................................................................................................ 43

Magistratura ................................................................................................................................................................... 43

Promotor ........................................................................................................................................................................ 43

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Lei nº 11.340/06 ingressou no ordenamento jurídico não apenas para reforçar o comando constitucional
de coibir a violência no âmbito familiar, previsto no art. 226, §8º, da Constituição Federal1, mas também para
atender diversos Tratados Internacionais ratificados pelo Brasil que visam combater qualquer espécie de
discriminação contra a mulher, bem como estabelecer políticas públicas com o escopo de acelerar o
tratamento de igualdade de gênero2. Nesse sentido, destaca-se o art. 1º da Lei nº 11.340/06:

Art. 1o da Lei 11340/06: Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados
internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e
proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Em que pese a regra estampada no art. 226, § 8°, da Constituição Federal e nos diversos Tratados
Internacionais firmados pelo Brasil, a Lei n° 11.340 é criada no ano de 2006 a fim de atender à recomendação
da OEA resultante da condenação imposta ao Brasil no caso que ficou conhecido como "Maria da Penha 3".
Daí o nome Lei Maria da Penha.

Deflui ainda do art. 1º Lei 11.340/06 as 3 grandes finalidades desse diploma legal:

• mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher;

• a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;

• medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar;

Art. 2o da Lei 11340/06: Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação
sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais

1
Art. 226, §8º, da CF: O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos
para coibir a violência no âmbito de suas relações.
2
I Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, adotada pela Assembleia Geral da ONU
em 18 de dezembro de 1979, que foi aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo de nº 26, de 22 de junho
de 1994, e promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 4377, de 13 de setembro de 2002. II Conferência
Mundial sobre a mulher em 1980 realizada na cidade de Copenhague (Dinamarca). III Conferência Mundial sobre a Mulher em
1985 realizada na cidade de Nairóbi (Quênia)
3
Relatório nº 54/2001 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos: “A ineficácia judicial, a impunidade, a impossibilidade
de a vítima obter uma reparação mostra a falta de cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil de reagir adequadamente
ante a violência doméstica.”

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inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem
violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3o da Lei 11340/06: Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos
direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso
à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
convivência familiar e comunitária.

§ 1o O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres
no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo
exercício dos direitos enunciados no caput.

Aliás, nesse sentido destacamos

Tanto o art. 2º como o art. 3º da Lei 11.340/06 cuidam dos direitos e garantias fundamentais às mulheres,
sendo-lhes asseguradas as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à
cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Estamos diante de
uma norma que decorre basicamente de três regras constitucionais, quais sejam, a isonomia entre homem
e mulher (art. 5º, I, da CF4) e igualdade entre homens e mulheres na sociedade conjugal (art. 226, §5º, da
CF5) e o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF6).

De fato, há doutrinadores que entendem os arts. 2º e 3º da Lei 11.340/06 como regras desnecessárias em
razão das previsões constitucionais citadas acima. Penso que esses artigos, em plano infraconstitucional,
foram importantes para reforçar os direitos e garantias fundamentais da mulher.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER


Inicialmente, devo destacar que para a incidência da Lei 11.340/06 são necessários 3 requisitos cumulativos.

1) A vítima necessariamente deve ser mulher. Estamos diante de uma violência de gênero, que deve ser
compreendida como qualquer preconceito, discriminação ou menosprezo em relação ao gênero feminino.
O agente aproveita que a vítima encontra-se em situação de vulnerabilidade presumida em lei, sob o ponto
de vista físico ou econômico, para praticar violência doméstica e familiar.

4
Art. 5º, I, da CF: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.
5
Art. 226, §5º, da CF: Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
6
Art. 1º da CF: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana.

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2) A violência deve ser praticada em 1 dos contextos do art. 5º da Lei 11.340/06. Em outras palavras, a
violência deve ser cometida no âmbito da unidade doméstica (art. 5º, I, da Lei 11340/06), na esfera familiar
(art. 5º, II, da Lei 11340/06) ou em qualquer relação íntima de afeto (art. 5º, III, da Lei 11.340/06).
3) A Prática de uma das violências do art. 7º da Lei 11.340/06. Vale dizer, basta a presença de uma das
formas de violência (violência física, violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial e violência
moral).

Chamo ainda a atenção de vocês para alertá-los que apesar da Lei 11.340/06 sempre empregar a expressões
violência doméstica e familiar contra a mulher, é importante ponderar que a violência pode ser doméstica
(cometida no âmbito do art. 5º, I, da Lei Maria da Penha) ou familiar (praticada na esfera do art. 5º, II, da Lei
Maria da Penha) ou em qualquer relação íntima de afeto (cometida nas circunstâncias do art. 5º, III, da Lei
Maria da Penha). Vale dizer, a violência contra a mulher não precisa ser necessariamente doméstica e
familiar, podendo ser uma ou outra. Essa é a lição do professor Renato Brasileiro de Lima: “É interessante
perceber que a Lei Maria da Penha utiliza a conjunção aditiva ‘e’ de maneira imprópria quando se refere à
violência doméstica e familiar contra a mulher. Explica-se: à primeira vista, diante do emprego dessa
conjunção aditiva, fica a impressão (equivocada) de que a aplicação da Lei Maria da Penha seria possível
apenas nas hipóteses em que a violência fosse praticada no âmbito doméstico, e, concomitantemente, entre
familiares. No entanto, para fins de incidência da Lei nº 11340/06, basta a configuração de qualquer uma
das situações elencadas no art. 5º, I, II, III, ou seja, uma violência perpetrada contra a mulher no ambiente
doméstico (art. 5º, I), no ambiente familiar (art. 5º, II) ou em qualquer relação íntima de afeto (art. 5º, III).
Portanto, melhor teria andado o legislador se tivesse optado pela expressão ‘violência doméstica ou familiar
contra a mulher’, sobretudo se consideramos que o próprio art. 5º, inciso I, da Lei Maria da Penha, deixa claro
que, nas hipóteses executadas no âmbito da unidade doméstica, sequer há a necessidade de vínculo familiar
entre agressor e vítima – note-se que o dispositivo faz referência ao espaço de convívio permanente de
pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas 7.

Com o ingresso do art. 40-A[1], acrescido pela Lei nº 14.550/23, restou claro que a incidência da Lei
Maria da Penha dependerá de apenas 1 (um) critério objetivo, ou seja, haverá presunção legal de
que houve a violência de gênero se tal fato se der em contexto afetivo, doméstico e familiar,
independentemente da causa ou motivação dos atos de violência, ou da condição do ofensor ou da
ofendida.

Não há dúvidas de que essa nova redação dada pelo art. 40-A da Lei Maria da Penha despertará
inúmeros debates doutrinários e jurisprudenciais acerca da natureza de tal presunção. Se for etiqueta
como absoluta não existirá a necessidade de prova em contrário. Ao revés, se relativa, admite-se
prova em sentido oposto para afastar a presunção legal.

7
BRASILEIRO DE LIMA, Renato. Legislação Criminal Especial Comentada. Volume único. 6ª edição. Salvador: Editora JusPodvm,
2018, p.1183.

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De fato, não há dúvidas de que a maioria das violências praticadas no contexto afetivo, doméstico e
familiar são marcadas por preconceito e menoscabo em relação ao gênero feminino, mas também
vale pontuar que tais violências podem ocorrer nos aludidos ambientes sem o intuito de violar o
gênero feminino, razão pela qual comungamos que estamos diante de uma presunção relativa, que
admite a produção de prova em sentido contrário pelo(a) agressor(a). Essa também é a posição dos
professores Rogério Sanches Cunha e Valéria Diez Scarance Fernandes: “Embora a quase totalidade
dos casos de violência no contexto doméstico tenha um viés de gênero, já que o machismo e a
discriminação integram o inconsciente coletivo, é possível ocorrer uma situação excepcional em que
uma violência comum apenas “migrou” para o contexto doméstico. Como existem consequências
criminais, não se pode ignorar que, mesmo excepcionalmente, pode ocorrer uma infração penal em
contexto doméstico que não seja direcionada ou não atinja mais diretamente a mulher. Diante desse
quadro, por cautela, sugere-se reconhecer que se trata de presunção relativa (juris tantum). Ao
reconhecer a presunção relativa, o legislador estabelece que determinada situação é considerada
verdadeira e só pode ser afastada diante de provas em contrário. Em outras palavras, trata-se de uma
presunção de que a violência nesses contextos é uma violência de gênero, salvo quando ocorrer a
demonstração inequívoca de que aquele ato não atingiu ou visou a vítima mulher. O ônus da prova
cabe ao agressor (fato modificativo), que não poderá trazer aos autos elementos impertinentes e
estranhos ao processo ou que importem em violação da intimidade ou vida privada para afastar
competência (Lei Mari Ferrer, art. 400-A CPP). A autoridade judiciária, em razão do princípio da
proteção e da vulnerabilidade da mulher nesse contexto, não poderá afastar a incidência da lei com
base em entendimentos pessoais, mas somente – e excepcionalmente, repita-se – quando houver
provas aptas a afastar uma presunção legal. Inclusive, nos crimes envolvendo violência contra a mulher
no ambiente doméstico e familiar, a investigação, ab initio, deve encarar que o fato foi cometido em
situação de violência de gênero. O entendimento pela presunção absoluta (e não relativa, como
sustentamos) poderia levar a uma aplicação muito abrangente (e intransigente) da norma,
desvirtuando o espírito de proteção da mulher e causando uma indevida migração de processos
comuns aos Juizados de Violência Doméstica, que necessitam de agilidade para deferir medidas e
outras providências e desta forma prevenir os feminicídios. Para reforçar nossa posição, citamos alguns
casos – reais – antes submetidos a um Juízo Comum e que seriam encaminhados ao Juizado de
Violência Doméstica caso adotado o entendimento da presunção absoluta: a filha, mediante fraude,
simula um sequestro para que seja pago resgate por seus genitores; traficante guarda drogas em sua
residência e intimida todos os familiares (homens e mulheres) para que não o denunciem; integrante
de organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro usa o nome de empregada doméstica
para ocultar bens sem que ela saiba. Nesses casos, o gênero da genitora, das familiares mulheres e da
funcionária não foram determinantes. Essa discussão tem um aspecto prático, de caráter processual,
importante. Adotada a tese da presunção absoluta, feitos envolvendo crime contra mulher no ambiente
doméstico e familiar em que não foi detectada a violência de gênero serão imediata e
automaticamente encaminhados para a Vara da Violência Doméstica e Familiar, quando não
encerrada instrução (princípio da identidade física do juiz). Essa superlotação vai trazer prejuízos,
notadamente na celeridade processual que se espera de uma vara especializada. A duração razoável
do processo é não somente importante para os réus, como também para as vítimas. No contexto de

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violência afetiva, doméstica e familiar a agilidade do processo é fundamental. Vale destacar o que foi
decidido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso BARBOSA DE SOUZA vs. BRASIL.

“A Corte indicou que o direito de acesso à justiça em casos de violações aos direitos humanos deve
assegurar, em tempo razoável, o direito das supostas vítimas ou de seus familiares a que se faça
todo o necessário para conhecer a verdade sobre o ocorrido e investigar, julgar e, se for o caso,
sancionar os eventuais responsáveis. Outrossim, uma demora prolongada no processo pode
chegar a constituir, por si mesma, uma violação às garantias judiciais” (grifo nosso).

Por fim, alertamos que, da mesma forma que se determina o foro prevalente nos casos de conexão e
continência em razão da maior gravidade, complexidade ou especialidade, também nos crimes contra
a mulher o juízo prevalente não pode ser ignorado, independentemente da corrente que se adota
(presunção absoluta ou relativa da violência de gênero). Contudo, só haverá unificação de processos
se os crimes tiverem vínculo estreito com a infração contra a mulher. Para ficar mais claro o que
estamos afirmando, vamos nos socorrer de uma situação hipotética, mas que coincide com inúmeros
casos do dia a dia forense. Imaginemos um crime de tortura praticado por membros de uma
organização criminosa em face de um agente “desertor”. Durante a tortura, a esposa do desertor clama
por piedade e é ameaçada pelo líder da organização, seu irmão. Há, assim, vínculo família. Esses crimes
(organização criminosa, tortura e ameaça) vão ser julgados na Vara da Violência Doméstica e
Familiar? Óbvio que não. Deve ser determinado o desmembramento em relação às infrações penais
que não tiverem um vínculo estreito com a condição de mulher da vítima (art. 80, parte final do CPP)[2].

1 - SUJEITO PASSIVO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR


CONTRA A MULHER

O sujeito passivo exclusivamente será a mulher, independente da condição econômica. A hipossuficiência


econômica não é medida indispensável para a incidência da Lei Maria da Penha. Assim, essa mulher pode
ser a sogra, a nora, a mãe, avó, a namorada, a ex-namorada, a filha, a companheira, a amante, a esposa,
enfim, qualquer pessoa do sexo feminino em que exista uma relação doméstica, familiar ou íntima de afeto.

É inviável a aplicação da Lei Maria da Penha em relação ao homem, ainda que se trate de pessoa do sexo
masculino vitimizada em relação homoafetiva. Pensamento diverso configuraria a indevida analogia in
malam partem.

No tocante ao transexual a questão é extremamente polêmica na doutrina. Ainda que o transexual se


submeta à cirurgia de reversão genital e tenha alterado o registro de nascimento através de uma decisão
judicial transitada em julgado, nota-se que sob o enfoque genético não há como refutar a figura masculina.
Assim, como a lei Maria da Penha é prevista apenas para mulher, a sua adoção para transexual como sujeito
passivo configuraria analogia in malam partem. Todavia, faço questão de repetir que é um assunto polêmico,
ainda não foi analisado pelos Tribunais Superiores. Por sua vez, a corrente que admite a aplicação da Lei
Maria da Penha à vítima transexual exige 2 pressupostos: a) alteração do sexo em seu registro de nascimento
através de uma decisão judicial; b) ter sido submetido à intervenção cirúrgica de reversão genital. OBS: Não

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é assunto para ser cobrado em fase objetiva. Já em fases subsequentes (discursiva e oral), vocês terão
oportunidade de discorrer sobre as 2 correntes!

É lógico que o homem pode figurar como vítima de uma violência doméstica e familiar, porém a ele não se
aplicará a Lei 11.340/06. Assim, se o filho pratica lesão corporal em seu pai responderá pelo art. 129, §9º,
do Código Penal8: Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro,
ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade. Pena – detenção, de 3 três meses a 3 três anos. Em resumo, embora não
possa ser sujeito passivo na lei Maria da Penha, o homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar,
nas situações do art. 129, §§ 9º, 10º e 11 do Código Penal.

3 - SUJEITO ATIVO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA


A MULHER

De pronto, devo ressaltar que o sujeito ativo da violência doméstica ou familiar contra a mulher pode ser
tanto o homem como uma outra mulher, bastando que fique evidenciado o vínculo de relação doméstica,
familiar ou de afetividade, com ou sem coabitação. Repare ainda que o art. 5º, parágrafo único, da Lei nº
11.340/06 preconiza que as relações pessoais que geram a violência doméstica e familiar contra a mulher
independem de orientação sexual. Assim, podem figurar como sujeito ativo de violência doméstica ou
familiar contra a mulher: lésbicas, travestis, transexuais, mãe, vó, filha, neta, etc.

Com a inserção do art. 40-A na Lei Maria da Penha, por meio da Lei nº 14.550/23, não há que se analisar a
vulnerabilidade da mulher, sob o ponto de vista físico, econômico ou social, para aplicar as regras da Lei
Maria da Penha, pois nesse assunto vigora uma presunção legal de vulnerabilidade da vítima (mulher),
independentemente da causa ou motivação dos atos de violência, ou da condição do ofensor ou da ofendida.

É desnecessária, portanto, a demonstração específica da subjugação feminina para que seja aplicado o
sistema protetivo da Lei Maria da Penha, pois a organização social brasileira ainda é fundada em um sistema
hierárquico de poder baseado no gênero, situação que o referido diploma legal busca coibir.

Para a incidência da Lei Maria da Penha, é necessário que a violência doméstica e familiar contra a mulher
decorra: a) de ação ou omissão baseada no gênero; b) no âmbito da unidade doméstica, familiar ou relação
de afeto; tendo como consequência: c) morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, dano moral ou
patrimonial.

8
O art. 129, §9º, do CP ingressou no ordenamento jurídico pela Lei nº 11340/06.

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4 - ELEMENTO SUBJETIVO NECESSÁRIO PARA A AUTORIZAÇÃO DA


LEI Nº 11.340/06
Nesse tópico veremos que o elemento subjetivo para autorizar a autorização da Lei Maria da Penha é
exclusivamente o dolo, ou seja, o agente de modo consciente e voluntário deve aproveitar-se da situação
de vulnerabilidade da mulher para sujeitá-la a alguma forma de violência descrita no art. 7º da Lei 11.340/06
(violência física, violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial, violência moral).

Lançadas essas premissas, é forçoso concluir que eventuais condutas culposas praticadas pelo agressor em
desfavor de mulher não autorizam a incidência da Lei Maria da Penha, pois não há que se falar em violência
doméstica e familiar contra a mulher. Exemplo: Enquanto arrumava a mesa para o almoço, a mãe, de forma
imprudente, deixa cair um prato sobre a filha, causando-lhe lesões corporais. Nessa situação, não há que se
falar em Lei Maria da Penha, devendo o caso ser apurado no âmbito do Juizado Especial Criminal.

5 - CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER

Art. 5o da Lei 11340/06: Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra
a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe causa morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de


pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III – em qualquer relação íntima de afeto, no qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas independem de orientação sexual.

Inicialmente o legislador no art. 5º, caput, da Lei 11340 deixou claro que a violência doméstica e familiar
contra a mulher pode ser decorrente de uma conduta por ação (comissiva) bem como por omissão
(omissiva) baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano
moral ou patrimonial.

Como já disse, a violência doméstica e familiar contra a mulher tem que ser praticada em um dos contextos
do art. 5ª da Lei 11.340/06: no âmbito doméstico, no âmbito familiar ou em qualquer relação íntima de afeto,
independentemente de coabitação.

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5.1 - Âmbito da Unidade doméstica

De acordo com o art. 5º, I, da Lei 11.340/06, no âmbito da unidade doméstica compreende o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive esporadicamente agregadas. Nessa
hipótese o critério adotado é o espacial.

5.2 - Âmbito Familiar

De acordo com o art. 5º, II, da Lei 11.340/06, no âmbito da família compreende a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa. Repare que nessa circunstância o critério é o laço familiar. Assim, a violência familiar independe
do local, podendo ser praticado fora do âmbito doméstico, bem como não há necessidade de coabitação
entre o agente e a vítima. Aliás, nesse sentido vale destacar a súmula 600 do STJ:

Súmula 600 – STJ: Para configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da lei
11.340/2006, lei Maria da Penha, não se exige a coabitação entre autor e vítima.

Para ficar claro, o conceito de família abrange o casamento, a união estável (heterossexual ou homossexual)
e a entidade familiar monoparental.

5.3 - Qualquer Relação Íntima de Afeto, Independentemente de Coabitação

De acordo com o art. 5º, III, da Lei 11.340/06, configura violência doméstica e familiar se praticada em
qualquer relação íntima de afeto, no qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação. Exemplos: Namorada, Amante, ex-namorada.

Ao prever a situação narrada no art. 5º, III, da Lei 11.340/06, o legislador ordinário extrapolou as hipóteses
traçadas pela Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher que
abrange somente as relações familiares, domésticas e interpessoais em que haja coabitação entre agressor
e vítima. Vale dizer, referida Convenção Internacional não dispensou a coabitação para a hipótese de
qualquer relação íntima de afeto tal como fez a Lei nº 11.340/06. Em homenagem ao princípio pro homine,
diante de um aparente conflito entre a regra estampada na Convenção Internacional e a legislação interna
de um país deve sempre prevalecer a norma mais favorável sob o ponto de vista dos direitos humanos. Em
razão disso, não há que se falar em inconvencionalidade do art. 5º, III, da Lei nº 11.340/06, pois tal inciso é
muito mais benéfico à proteção da mulher.

6 - FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER

Art. 7o da Lei 11.340/06: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal;

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II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,


subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria.

Já vimos que as formas de violência sempre são praticadas à título de dolo. Além do mais, tais modos de
violência não necessariamente precisam tipificar infração penal. Exemplo: A humilhação que é uma forma
de violência psicológica (art. 7º, II, da Lei 11340/06) não é infração penal.

Chamo atenção de você para destacar que o termo “violência” descrito no art. 7º da Lei 11340/06 foi
empregado em sentido amplo. Com isso, resta dizer que não diz respeito apenas à violência física, mas
abrange também a violência psicológica, sexual, moral, patrimonial.

O rol do art. 7º da Lei Maria da Pena é um rol exemplificativo, porquanto o legislador apesar de enumerado
as formas de violência, ele encerra o caput com a expressão “entre outras”9. Essa também é a posição dos
Professores Renato Brasileiro de Lima e Gabriel Habib.

6.1 - Violência Física (Art. 7º, I, da Lei 11.340/06)

A violência física (vis corporalis) é aquela que abrange qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal. A ofensa à integridade corporal é a lesão que atinge órgãos, tecidos ou aspectos externos do corpo.
Abrange, as diversas espécies de lesão corporal (art. 129 do CP), o homicídio (art. 121 do CP) e até mesmo a

9
Parcela minoritária da doutrina sustenta que esse rol é taxativo, aduzindo que a Lei Maria da Penha, por trazer um regime jurídico
mais gravoso, com proteção ao gênero feminino, deve ter o rol de seu art. 7º interpretado de forma restrita. Posição: Paulo
Henrique Aranda Fuller.

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contravenção penal de vias de fato (art. 21 do Decreto-Lei n° 3.688/41). Em resumo, é um conceito bem
amplo que engloba desde as vias de fato até o feminicídio.

6.2 - Violência Psicológica (Art. 7º, II, da Lei 11340/06)

A violência psicológica é qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou
que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação. Para combater a violação a intimidade, por meio da Lei 13.772/18, o legislador inserir o
crime de registro não autorizado da intimidade sexual no art. 216-B do Código Penal (Produzir, fotografar,
filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter
íntimo e privado sem autorização dos participantes: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer
outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo;”

6.3 - Violência Sexual (Art. 7º, III, da Lei 11.340/06)

A violência sexual deve ser compreendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que
a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;

6.4 - Violência Patrimonial (Art. 7º, IV, da Lei 11.340/06)

A violência patrimonial é entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

6.5 - Violência Moral (Art. 7º, V, da Lei 11.340/06)

Violência moral é qualquer conduta ofensiva à honra da vítima (calúnia, difamação e injúria).

É certo que os 3 crimes citados acima têm pena máxima cominada igual ou inferior a 2 anos, enquadrando-
se no conceito de crime de menor potencial ofensivo. Todavia, não é demais lembrar que tais crimes não
serão processados e julgados no âmbito do Juizado Especial Criminal, porquanto o art. 41 da Lei Maria da
Pena expressamente veda a aplicação da Lei nº 9099/95 aos crimes cometidos com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independente da quantidade da sanção penal prevista.

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DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA E FAMILIAR

1 - DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO

Art. 8o da Lei 11340/06: A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra
a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:

I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública


com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;

II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a


perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à
freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a
serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas;

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da
família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência
doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art.
3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas


Delegacias de Atendimento à Mulher;

V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e


familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta
Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;

VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção


de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo
por objetivo a implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar
contra a mulher;

VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de
Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto
às questões de gênero e de raça ou etnia;

VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito
à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;

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IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos
aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência
doméstica e familiar contra a mulher.

Chamo atenção de vocês para destacar o art. 8º, IV, da Lei 11340/06 que prevê a implementação de
Delegacias especialmente capacitadas para melhor atender às mulheres vítimas de violência doméstica e
familiar. Caso na localidade não exista Delegacia especializada no atendimento à mulher vítima de tal
violência, a ofendida deve ser direcionada à Delegacia comum.

A Lei nº 14.542, de 3 de abril de 2023, que alterou o art. 9º da Lei nº 13.667/18, estabeleceu prioridade no
atendimento às mulheres em situação de violência doméstica e familiar pelo Sistema Nacional de Emprego
(Sine). As mulheres em situação de violência doméstica e familiar terão prioridade no atendimento pelo Sine,
às quais serão reservadas 10% (dez por cento) das vagas ofertadas para intermediação. Na hipótese de não
preenchimento das vagas reservadas (10%) por ausência de mulheres em situação de violência doméstica e
familiar, as vagas remanescentes poderão ser preenchidas por mulheres e, se não houver, pelo público em
geral.

2 - DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA E FAMILIAR

Art. 9o da Lei 11.340/06: A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar


será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei
Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança
Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o
caso.

§ 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica
e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.

§ 2o O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua
integridade física e psicológica:

I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta


ou indireta;

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho,


por até seis meses.

III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento
da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união
estável perante o juízo competente.

§ 3o A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso


aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de
contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da

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Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e


cabíveis nos casos de violência sexual.

§4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano
moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive
ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos
serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em situação de violência
doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente
federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os serviços. (incluído pela Lei nº
13.871/2019)

§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e


disponibilizados para o monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas
por medidas protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor (incluído pela Lei nº
13.871/2019).

§6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus de
qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante
ou ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada. (incluído pela lei nº 13.871/2019)

§7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular seus
dependentes em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los para
essa instituição, mediante a apresentação de seus documentos comprobatórios do registro da
ocorrência policial ou do processo de violência doméstica e familiar em curso.

8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou transferidos


conforme o disposto no § 7º deste artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao
Ministério Público e aos órgãos competentes do poder público. (Incluído pela Lei nº 13.882, de
2019)

Por prazo determinado, o magistrado determinará: a) Inclusão de mulher em situação de violência doméstica
no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal; b) assegurará, para
preservar sua integridade, acesso prioritário a remoção, quando servidora pública; c) manutenção do vínculo
trabalhista, até 6 meses, quando necessário afastamento do local de trabalho;

A Lei nº 13.871/19 deixou expresso que o agressor (sujeito ativo) deve reparar os gastos dispendidos pelo
Sistema Único de Saúde pelos serviços prestados na área de saúde para o integral tratamento da vítima de
violência doméstica e familiar. Vale dizer, os custos com intervenções cirúrgicas, exames, sessões de
fisioterapia, dentre outros gastos médicos, devem ser ressarcido pelo agressor, ainda que a mulher (vítima)
tenha sido atendida pelo SUS. Afinal de contas, não é razoável que toda a coletividade assuma esses gastos
advindos de ato no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Questão: Qual o critério empregado para se chegar no valor devido ao Poder Público?

Comentários

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O valor descrito na tabela do SUS é o parâmetro a ser empregado para apurar o valor devido ao Poder
Público. Vale ainda destacar que tais verbas serão endereçadas ao Fundo de Saúde do ente federado
responsável pela prestação do serviço de saúde.

Da mesma forma, os custos para a manutenção e o desenvolvimento dos dispositivos de segurança (Botão
de Pânico, Tornozeleira eletrônica, etc), que visam conferir proteção preventiva à mulher (vítima), serão
custeados pelo agressor, na forma do art. 9º, §5º, da Lei nº 11.340/06.

Esse ressarcimento importa ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes,
nem configura atenuante ou enseja possibilidade de substituição da pena aplicada.

Com o advento da Lei nº 13.894/19, restou estabelecido que, se a vítima e o agressor forem casados ou viverem
em união estável, o Estado-Juiz pode encaminhar a mulher à assistência judiciária (Defensoria
Pública/defensor dativo) para que possa ter a oportunidade de, assim desejando, desvincular-se
formalmente do marido/companheiro agressor por meio da ação judicial própria. No mesmo sentido, caberá
à autoridade policial informar a ofendida de seus direitos, inclusive os de assistência judiciária para o
eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de
casamento ou de dissolução de união estável. A ofendida terá a opção de propor ação de divórcio ou de
dissolução de união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher ou na Vara da
Família. Se optar por ajuizar no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, a discussão
concernente à partilha de bens deverá ser realizada necessariamente na Vara de Família. Iniciada a situação
de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união
estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver.

3 - DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 10 da Lei 11.340/06: Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar


contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
imediato, as providências legais cabíveis.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida


protetiva de urgência deferida.

Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento


policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do
sexo feminino - previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§ 1o A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de


violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes
diretrizes: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua


condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)

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II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica e


familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas
a eles relacionadas; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos
âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida
privada. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§ 2o Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha


de delitos de que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte
procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os
equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e
familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluído pela Lei nº 13.505,
de 2017)

II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência
doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505,
de 2017)

III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e a


mídia integrar o inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

No ano de 2017, a Lei Maria da Penha sofreu importante acréscimo legislativo de forma a estabelecer
diretrizes para melhorar o atendimento da mulher na Delegacia de Polícia.

Restou estabelecido que o atendimento policial e pericial deve ser especializado, ininterrupto e,
preferencialmente, realizado por pessoa do sexo feminino. Vale dizer, o servidor encarregado desse
atendimento deve ser, preferencialmente, do sexo feminino, e ainda ter recebido capacitação adequada
para atender o objetivo da Lei Maria da Penha.

Art. 11 da Lei nº 11340/06: No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e


familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público


e ao Poder Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando
houver risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local


da ocorrência ou do domicílio familiar;

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V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive
os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de
separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável.

Desde já deve ser destacado que o rol de providências elencadas no art. 11 da Lei nº 11.340/06 é
exemplificativo, pois o legislador no caput encerrou com a expressão “entre outras”.

Repare que o encaminhamento ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal decorre da
necessidade de realização de perícia, porquanto estamos diante de crimes não transeuntes, que necessitam
de comprovação de sua materialidade delitiva por laudo pericial, conforme exigência estampada no art. 158
do Código de Processo Penal: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. OBS: A maioria dos crimes cometidos
no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher são delitos não transeuntes. Exemplo de crime
transeunte: Ameaça (art. 147 do CP).

Art. 12 da Lei nº 11340/06: Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se


apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido
da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros


exames periciais necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes
criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais
contra ele;

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.

§ 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:

I - qualificação da ofendida e do agressor;

II - nome e idade dos dependentes;

III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.

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IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência


sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente.

VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de
existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição
responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento); (Incluído pela Lei nº13.880, de 2019)

§ 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o boletim de ocorrência


e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por
hospitais e postos de saúde.

Importante acréscimo legislativo ocorreu com a edição da Lei nº 13.880/19 que determinou ao Delegado de
Polícia a procurar, em banco de dados próprio, se o agressor possui qualquer registro de porte ou posse de
arma de fogo. Em caso afirmativo, a autoridade policial deve adotar 2 importantes medidas: a) notificar a
ocorrência dessa suposta violência doméstica à instituição responsável pela concessão do registro ou da
emissão do porte; b) comunicar, no pedido de medidas protetivas que é encaminhado ao juiz, que o agressor
detém esse registro.

Art. 12-A da Lei nº 11.340/06: No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e


familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público


e ao Poder Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando
houver risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local


da ocorrência ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.

Art. 12-A da Lei nº 11340/06: Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas
políticas e planos de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão
prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à
Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas para o
atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher.

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Art. 12-B da Lei 11340/06: (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§1o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§ 2o (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§ 3o A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos necessários à defesa da mulher


em situação de violência doméstica e familiar e de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)

Art. 12-C da Lei nº 11340/06: Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus
dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência
com a ofendida:

I – pela autoridade judicial;

II – pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou

III – pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível
no momento da denúncia.

§1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo
máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a
revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.

§2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de
urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13827/19)

Repare que até o advento da Lei nº 13.827/19, diploma legal que acrescentou regras legais na Lei Maria da
Penha, a medida protetiva de afastamento do agressor do lar somente seria cabível após decisão judicial.
Contudo, essa regra foi excepcionada quando constatada a existência de risco atual ou iminente à vida ou
à integridade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de seus dependentes, podendo
o afastamento do agressor ser determinado por autoridade diversa da judicial.

Em regra, tal afastamento do agressor do lar será determinado pela autoridade judiciária. Contudo, se o
município em que ocorrer a violência doméstica não for sede de Comarca, o afastamento do agressor do lar
pode ser determinado pelo Delegado de Polícia.

Diante da urgência, a lei autoriza que qualquer agente policial (civil ou militar) determine o afastamento do
agressor do lar.

Tanto na hipótese do afastamento do lar determinado pelo Delegado de Polícia como naquele ordenado
pelo policial, o Juiz deve ser comunicado no prazo máximo de 24 horas e, em igual prazo, deliberar sobre a

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manutenção ou revogação da medida anteriormente aplicada, devendo ainda, de forma concomitante, dar
ciência ao Ministério Público. Nota-se que nessa situação haverá uma jurisdicionalidade
postergada/diferida, ou seja, a medida protetiva de urgência, que possui caráter cautelar, será apreciada
pelo Poder Judiciário em até 24 horas após a sua implantação, ou não, pelo Delegado de Polícia ou pelo
agente policial. A justificativa para tanto reside no risco de dano irreversível a vida da vítima se fosse
necessário aguardar um prévio pronunciamento judicial.

A partir do momento que a autoridade judiciária mantém a decisão do Delegado de Polícia ou do policial, o
responsável pela decisão passa a ser o juiz, razão pela eventual impugnação (HC/recurso) deve ser em face
da decisão judicial.

A Associação dos Magistrados Brasileiros ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade com pedido de
medida cautelar (ADI 6138), com o escopo de obter a inconstitucionalidade dos incisos II e III, §1º, do art.
12-C, introduzido na Lei Maria da Penha, pela Lei 13827/2019, por entender que referido ato normativo criou
hipótese legal para que Delegados de Polícia e agentes policiais pratiquem atos de competência do Poder
Judiciário, com manifesta ofensa à cláusula de reserva jurisdicional. Invoca-se que a Lei 13827/2019 malferiu
as garantias constitucionais da inviolabilidade domiciliar (art. 5º, XI, da CF) e do devido processo legal (art.
5º, LIV, da CF), pois o ingresso em domicílio pelo Delegado de Polícia ou policial somente é cabível nas
hipóteses constitucionais, não podendo a lei ordinária extrapolar os limites tracejados pela Lei Maior.

OBS: Em anterior projeto de lei em trâmite no ano de 2017, o Presidente Michel Temer vetou diploma legal
que permitia a aplicação provisória de medidas protetivas de urgência por autoridade policial até que
houvesse decisão advinda de magistrado. Essa foi a razão do Veto: “Os dispositivos, como redigidos, impedem
o veto parcial do trecho que incide em inconstitucional material, por violação aos artigos 2º e 144, §4º, da
Constituição, ao invadirem competência afeta ao Poder Judiciário e buscarem estabelecer competência não
prevista para as polícias civis”.

A redação do art. 12-C, §2º, da Lei Maria da Penha, acrescentada pela Lei nº 13.827/2019, é objeto de severas
críticas, pois impõe uma prisão provisória legal, retirando a possibilidade de o Estado-Juiz verificar no caso
concreto a necessidade da prisão provisória diante da presença dos pressupostos da medida acauteladora.
Lembre-se que o STF ao julgar a ADI 3112, que versava sobre a proibição de concessão liberdade provisória
aos crimes descritos nos arts. 16, 17 e 18 do Estatuto do Desarmamento, redação similar a imposta pela Lei
13.827/2019, declarou a inconstitucionalidade do art. 21 do Estatuto do Desarmamento para admitir a
concessão de liberdade provisória, desde que ausentes os pressupostos da prisão preventiva.

OBS 2: Com a edição da Lei nº 14.188/21, o risco à integridade psicológica da mulher foi erigido a um fator
para que a autoridade judiciária, a autoridade policial ou mesmo policiais (quando não existir delegado)
afastem imediatamente o agressor do local de convivência da ofendida. Repare que, antes da referida lei,
isso somente poderia ser feito na hipótese de risco à integridade física da vítima.

OBS 3: A Lei nº 14.541, de 3 de abril de 2023, estabeleceu regras sobre a criação e o funcionamento de
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. Além das funções de atendimento policial especializado
para as mulheres e de polícia judiciária, o Poder Público prestará, por meio da Delegacia Especializada de
Atendimento à Mulher (Deam), e mediante convênio com a Defensoria Pública, os órgãos do Sistema Único
de Assistência Social e os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher ou varas criminais
competentes, a assistência psicológica e jurídica à mulher vítima de violência.

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As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam) têm como finalidade o atendimento de todas
as mulheres que tenham sido vítimas de violência doméstica e familiar, crimes contra a dignidade sexual e
feminicídios, e funcionarão ininterruptamente, inclusive em feriados e finais de semana. O atendimento às
mulheres nas delegacias será realizado em sala reservada e, preferencialmente, por policiais do sexo
feminino, que deverão receber treinamento adequado para permitir o acolhimento das vítimas de maneira
eficaz e humanitária. As Delegacias Especializadas disponibilizarão número de telefone ou outro mensageiro
eletrônico destinado ao acionamento imediato da polícia em casos de violência contra a mulher. Nos
Municípios onde não houver Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), a delegacia existente
deverá priorizar o atendimento da mulher vítima de violência por agente feminina especializada.

DOS PROCEDIMENTOS
Art. 13 da Lei 11340/06: Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas
dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao
adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.

Art. 14 da Lei 11340/06: Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no
Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução
das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme


dispuserem as normas de organização judiciária.

Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união estável
no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de
2019)

§ 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a


pretensão relacionada à partilha de bens. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

§ 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio


ou de dissolução de união estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver. (Incluído pela
Lei nº 13.894, de 2019)

De fato, a Lei Maria da Penha empregou o termo “Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher”, porém na verdade estamos diante de uma Vara Especializada para o julgamento de crimes de
violência doméstica e familiar contra a mulher. Em outras palavras, o Juizado de Violência Doméstica e
Familiar contra a mulher é um órgão fracionário do Poder Judiciário, cuja criação ocorre por lei de iniciativa

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do respectivo Tribunal de Justiça local10, tudo em conformidade com as regras de organização judiciária de
cada Estado.

Observe ainda que o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher tem competência mista, isto
é, criminal e cível. Assim, por exemplo, no Juizado em questão pode ser simultaneamente deliberada a
prática de uma infração penal e uma separação judicial (ato de natureza cível). Esse caráter misto foi
reforçado pelo Superior Tribunal de Justiça: REsp 1475006/MT.

Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais
acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 33, caput, da Lei 11340/06). Cuida-se de uma norma de
transição que permite às varas criminais cumular competências cível e criminal.

Ainda sobre o 14 da Lei 11340/06, é crucial ainda destacar que esse dispositivo legal não cria por lei federal
Varas Especializadas no âmbito da organização da Justiça dos Estados, mas tão somente sugere a
implantação dessas Varas Especializadas no âmbito do Poder Judiciário dos Estados, conforme se infere dos
termos empregados “poderão ser criados” no art.14, caput, da Lei 11340/06. Essa foi a interpretação
conforme dada pelo STF quando do julgamento da ADC 19. De tal arte, não há que se falar em
inconstitucionalidade do art. 14 da Lei 11340/06 por suposta violação à organização judiciária estadual,
matéria de iniciativa do Tribunal de Justiça Local (art. 125, §1º, da CF11), pois a Lei de Violência Doméstica
apenas recomendou a criação de Varas Especializadas.

De acordo com o art. 41 da Lei Maria da Penha, não se aplica a Lei nº 9.099/95 aos crimes praticados no
âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher. Logo, aos crimes de lesão leve e de lesão culposa
praticados na esfera da violência doméstica e familiar contra a mulher aplica-se a sistemática vigente antes
da vigência do art. 88 da Lei nº 9099/95, ou seja, estamos diante de crimes de ação penal pública
incondicionada. Essa é a posição firmada pelo STF na ADI 4424 e também constante na súmula 542 do STJ:

Súmula 542 do STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

Reparem que tanto a ADI 4244 como a súmula 542 do STJ mencionam apenas que o delito de lesão corporal
no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher é crime de ação penal pública incondicionada.
Assim, ao crime de ameaça praticado na esfera da violência doméstica e familiar contra a mulher vale a regra
geral do Código Penal, ou seja, são delitos de ação penal pública condicionada à representação.

Art. 15 da Lei 11340/06: É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos
por esta Lei, o Juizado:

10
Art. 125, §1º, da Constituição Federal: A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de
organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
11
Art. 125, §1º, da CF: A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária
de iniciativa do Tribunal de Justiça.

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I – do seu domicílio ou de sua residência;

II – do lugar do fato em que se baseou a demanda;

III – do domicílio do agressor

Com o nítido propósito de conferir maior proteção à mulher, o legislador assegurou à ofendida (vítima de
violência doméstica e familiar) a opção de eleger a competência territorial, podendo tal escolha recair em 3
escolhas: a) local de seu domicílio ou de sua residência; b) do lugar do delito (local em que se baseou a
demanda); c) local do domicílio do agressor.

Art. 16 da Lei 11340/06: Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida
de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o
Ministério Público.

O art. 16 da Lei Maria da Penha cuida da retratação da representação dos crimes cometidos no contexto da
violência doméstica e familiar contra a mulher.

Como já falamos, alguns crimes cometidos no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher, tal
como o delito de ameaça segue a sistemática do Código Penal quanto à espécie de ação penal, ou seja, é
delito de ação penal pública condicionada à representação.

Pois bem. Esse artigo 16 da Lei Maria da Penha recaem sobre os crimes de ação penal pública condicionada
à representação no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Chamo atenção de vocês para destacar que o legislador no referido dispositivo legal emprega o termo
“renúncia à representação”, porém a expressão correta seria retratação do direito de representação que já
foi exercido pela vítima.

Art. 17 da Lei 11340/06: É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra
a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição
de pena que implique o pagamento isolado de multa.

Segundo o professor Gabriel Habib, “a preocupação do legislador foi com a função preventiva geral da pena,
no sentido de dar mostras à coletividade de que o agressor não vai receber apenas uma pena de multa ou
uma prestação pecuniária. Em outras palavras, o legislador não admitiu que uma agressão à mulher pudesse
custar ao agressor somente uma doação de cesta básica, uma prestação pecuniária ou uma multa. 12”

As infrações penais praticadas na esfera da violência doméstica e familiar contra a mulher não admitem a
substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, em virtude da grave ameaça ou

12
HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais. 10ª ed. Salvador: JusPodvm, 2018, p. 1142.

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violência praticada. Esse requisito está estampado no art. 44, I, do CP (aplicada pena privativa de liberdade
não superior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,
qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo). Nesse sentido, vale destacar a súmula 588 do STJ:

Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou
grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade
por restritivas de direitos.

4 - MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA


As medidas protetivas de urgência são, em sua essência, tutelas de emergência. Logo, são instrumentos
submetidos à cláusula de reserva de jurisdição, isto é, compete exclusivamente ao Poder Judiciário autorizar
tais medidas diante de uma cognição sumária, devendo estar presentes para tanto os pressupostos do fumus
comissi delicti e periculum in libertatis. As medidas protetivas de urgência estão delineadas no art. 22 da Lei
Maria da Penha.

Art. 18 da Lei 11340/06: Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas: I – conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as
medidas protetivas de urgência; II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de
assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação
judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo
competente; III – comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis. IV -
determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor. (Incluído pela Lei
nº13.880, de 2019)

De acordo com esse dispositivo legal, o Juiz do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
tem o prazo de 48 (quarenta e oito) horas para tomar uma das seguintes providências:

• Conhecer o expediente e decidir sobre as medidas


• Determinar encaminhamento da ofendida a órgão de assistência
• Comunicar o MP para que adote as providências cabíveis
• Determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor

Art. 19 da Lei 11.340/06: As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.

§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,


independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo
este ser prontamente comunicado.

§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão


ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.

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§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder


novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à
proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.

§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumária a partir


do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de suas alegações
escritas e poderão ser indeferidas no caso de avaliação pela autoridade de inexistência de risco
à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus
dependentes. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da tipificação


penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial ou
do registro de boletim de ocorrência. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

§ 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade física,


psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes. (Incluído pela
Lei nº 14.550, de 2023)

O juiz pode conceder de ofício medida protetiva de urgência, segundo lição do professor Gabriel Habib:
“Certamente, alguns dirão que não à luz do sistema acusatório. Contudo, parece-nos que, nesse caso, não
seria o melhor caminho a ser seguido. Poderíamos basear nosso raciocínio no poder geral de cautela do Juiz,
e, se fizéssemos, estaríamos, a nosso ver corretos. Porém, a questão ultrapassa esse fundamento que é
geralmente usado. Sustentamos a possibilidade de o Juiz poder conceder as medidas protetivas de urgência
de ofício porque ele não está promovendo a persecução penal contra o acusado, buscando um elemento de
prova contra ele, nem exercendo a função de acusador. Ao contrário, o Juiz está tomando medidas de ofício
que visam a beneficiar a vítima de violência doméstica e familiar contra a mulher. Note-se que todas as
medidas protetivas de urgência visam a proteção da mulher enquanto vítima. 13”

Chamo ainda atenção de vocês para destacar as medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de
imediato, independentemente de prévia manifestação das partes, nos casos em que tal comunicação poderá
tornar tal medida totalmente ineficaz.

As medidas protetivas de urgência podem ser aplicadas de maneira isolada ou cumulativamente, a depender
da necessidade que a situação concreta exigir. Se for necessário, as medidas protetivas de urgência podem
ser substituídas.

As decisões acerca de medidas protetivas de urgência são proferidas com a cláusula rebus sic stantibus, ou
seja, alterando o panorama fático, o juiz pode conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever
aquelas já concedidas, tudo em prol da proteção da vítima, de seus familiares ou de seu patrimônio.

13
HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais. 10ª ed. Salvador: JusPodvm, 2018, p. 1142.

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Com a edição da Lei nº 14.550/23, que entrou em vigor na data de 20 de abril de 2023, o art. 19 da Lei Maria
da Penha teve o acréscimo dos §§ 4º, 5º e 6º, reforçando o papel das medidas protetivas de urgência no
combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. O aludido diploma legal não ampliou as atribuições
da autoridade policial e tampouco modificou a competência material e territorial do Estado-Juiz ao analisar
as medidas protetivas de urgência, houve apenas uma alteração pontual no procedimento judicial das
medidas protetivas de urgências.

O art. 19, §4º, da Lei Maria da Penha estabelece a cognição sumária pelo depoimento da vítima para a
concessão das medidas protetivas de urgência. É dizer que basta o depoimento da vítima ou suas alegações
escritas para o deferimento de medidas protetivas de urgência, independentemente de existir testemunha,
laudos periciais ou outros elementos de informação. A palavra da vítima ganha posição de destaque para a
aferição da existência de perigo e violência (art. 5º da Lei nº 11.340/06). Afinal de contas, se o depoimento
da vítima tem especial atenção para fundamentar o recebimento da peça acusatória ou a condenação, não
faz sentido ser desprezada para a concessão de medidas protetivas, ainda que em sede de cognição sumária.
Em resumo, as medidas protetivas de urgência descritas na Lei Maria da Penha podem ser concedidas de
maneira autônoma, somente com base na palavra da vítima, quando ausentes outros elementos de prova
nos autos. A mens legis foi agilizar e motivar a concessão de medidas protetivas de urgência, que são
autônomas e independe da existência de um procedimento criminal em curso (inquérito ou processo
criminal). Anote-se ainda, por oportuno, que essa decisão concessiva de medida protetiva de urgência com
base apenas no depoimento da vítima (mulher) não possui natureza definitiva, ou seja, pode ser alterada a
qualquer momento diante de novos fatos (cláusula rebus sic stantibus).

Nos termos do art. 19, §4º, da Lei Maria da Penha, as medidas protetivas de urgência apenas podem ser
indeferidas se restar demonstrada a inexistência de risco. Cuida-se de uma presunção legal de perigo, isto
é, parte-se da premissa que existe o perigo. Somente pode ser apartada essa presunção legal se
comprovada, no plano real, a inexistência de risco à vítima. A fundamentação a ser dada pela autoridade
judiciária para afastar a concessão de medidas protetivas de urgência é única, qual seja, a inexistência de
risco (fundamentação vinculante). Em vez de motivar pela existência de perigo, a Lei Maria da Penha
preconiza que o Estado-Juiz volte os olhos para a inexistência de perigo para negar medidas protetivas de
urgências em sua decisão.

A autonomia das medidas protetivas de urgência restou consubstanciada no art. 19, §5º, da Lei nº
11.340/06, vez que as medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da tipificação
penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial ou do registro
de boletim de ocorrência. Essas medidas podem ser deferidas independentemente da existência de um ato
criminal de violência, da existência de inquérito policial, de um processo (criminal ou cível) e até mesmo de
um mero registro de boletim de ocorrência, cabível também na hipótese de a vítima ou seu representante
legal não desejar apresentar representação (condição de procedibilidade) nos crimes de ação penal pública
condicionada (ex: crime de ameaça) ou em caso de investigação arquivada por insuficiência de provas. Na
tutela de proteção de urgência de direitos fundamentais da vítima mulher, a dúvida opera em favor da
proteção da vítima, ou melhor, ausente a convicção de a vítima estar protegida, a autoridade judiciária

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deverá optar pela concessão de medidas protetivas de urgência em favor da mulher (in dubio pro tutela). As
medidas protetivas de urgência devem vigorar enquanto fundamentais para a proteção da mulher.

Art. 20 da Lei 11.340/06: Em qualquer fase do inquérito ou da instrução criminal, caberá a prisão
preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou
mediante representação da autoridade policial.

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a
falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem.

Repare que esse artigo legal está em perfeita sintonia com o art. 313, III, do CPP, in verbis: Art. 313 do CPP:
Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a prisão preventiva: III – se o crime envolver violência
doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência. O objetivo dessa custódia cautelar é exatamente
assegurar a execução das medidas protetivas de urgência. Em outras palavras, de nada adiantaria a criação
de medidas protetivas de urgência se essas medidas não tivessem caráter de coercibilidade. Em razão disso,
a própria Lei Maria da Penha estabelece que se o agente não cumprir as medidas protetivas de urgência
estará submetido à prisão preventiva14.

A prisão preventiva no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher pode ser decretada em
qualquer fase da persecução penal (extrajudicial e judicial).

Ainda que se trate de crime apenado com detenção, com prognóstico de na sentença ser aplicado o regime
aberto, em tese, a prisão preventiva seria cabível, pois o art. 20 da Lei Maria da Penha não abre qualquer
exceção.

Art. 21 da Lei 11340/06: A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da
intimação do advogado constituído ou do defensor público.

Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor.

O objetivo dessa regra é justamente dar ciência prévia à ofendida de todos os atos processuais referentes
ao agressor, principalmente a entrada e saída do agressor do estabelecimento prisional. Vale ainda destacar
que essa notificação diz respeito a qualquer ato processual e não se resume ao ingresso e à saída da prisão.
Com isso evita-se que a vítima seja pega de surpresa com o andamento processual e o paradeiro do agressor.
Apesar do silêncio da lei, conclui-se que essa notificação deve ser realizada pessoalmente por meio de oficial
de justiça.

14
OBS: Além da prisão preventiva, o descumprimento das medidas protetivas de urgência acarreta o crime descrito no art. 24-A
da Lei Maria da Penha, inovação criada pela Lei nº 13.641, de 03 de abril de 2018.

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Embora a vítima não tenha qualquer função de entregar intimação/notificação ao agressor, a Lei Maria da
Penha, em seu art. 21, § único, da Lei 11340/06, afastou qualquer possibilidade de contato pessoal entre
agressor e vítima para essa finalidade.

Há 2 espécies de medidas protetivas de urgência: a) as que obrigam o agressor (art. 22 da Lei 11340/06); b)
as que visam proteger a ofendida (arts. 23/24 da Lei 11340/06).

destinadas ao agressor (art. 22


da Lei Maria da Penha)
Medidas protetivas de urgência
destinadas à ofendida (arts. 23
e 24 da Lei Maria da Penha)

Quais são as medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor?

Art. 22 da Lei 11340/06. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente,


nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de


distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da


ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento


multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

VI - comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e (Incluído pela Lei


nº 13.984, de 2020)

VII - acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em


grupo de apoio. (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020)

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§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação
em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a
providência ser comunicada ao Ministério Público.

§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas


no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao
respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e
determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável
pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou
de desobediência, conforme o caso.

§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a
qualquer momento, auxílio da força policial.

§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§
5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Inicialmente, vale destacar que a natureza jurídica dessas medidas não é de sanção penal e visa proteger a
mulher. A depender do caso concreto, o juiz pode conceder de imediato tal medida, ou seja, sem
manifestação da vítima ou do MP. Concedida a medida protetiva de urgência de imediato, o MP deve ser
comunicado posteriormente (art. 22, §1º, da Lei 11340/06).

Chamo ainda atenção para ressaltar que as hipóteses de medidas protetivas de urgência anunciadas no art.
22 da Lei Maria da Penha são exemplificativas. Vale dizer, diante de determinada situação fática o juiz pode
aplicar medida protetiva de urgência não descrita no rol do art. 22 da Lei 11340/06. Essa constatação advém
do emprego da expressão “entre outras” prevista no art. 22, caput, da Lei 11340/06.

São medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor:

I – Suspensão da posse ou restrição do porte de armas. Afinal de contas, se o agressor tem acesso fácil a
uma arma de fogo aumenta, em demasia, o risco à integridade física e psíquica da mulher. A suspensão da
posse de arma significa que o agressor será privado de modo temporário de possuir ou manter sob sua
guarda arma de fogo, acessório ou munição, em seu local de trabalho ou no interior de sua residência.
Restrição do porte de arma significa que o agressor poderá autorizar o porte de arma apenas em situação
específica. Exemplo: O agressor, que é também policial militar, somente pode ter o porte de arma quando
em serviço. O juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de
urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor
responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação
ou de desobediência, conforme o caso.
II – Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. A mens legis é estabelecer uma
distância entre o agressor e a mulher, de forma a evitar nova agressão no curso da persecução penal.
III – Proibição de determinadas condutas: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida,
seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) frequentação de determinados
lugares, a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida. O objetivo da lei é evitar qualquer

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tipo de contato do agressor não só com a mulher ofendida, mas também com os familiares dela e com as
testemunhas.
IV – Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores. Em razão da existência de um interesse
comum na educação e criação do(s) filho(s), o agressor não terá amplo acesso aos filhos se isso implicar
em evidente risco à integridade física e psicológica da mulher.
V – Prestação de alimentos provisionais ou provisórios. A prática de violência doméstica e familiar contra
a mulher não exime o agressor de prestar alimentos (provisionais ou provisórios) necessários à
subsistência da vítima e de seu(s) dependente(s).
VI - comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação
VII - acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de
apoio.

Se for necessário para garantir a efetividade da medida protetiva de urgência, a força policial pode ser
acionada para tal finalidade.

OBS: O descumprimento de medida protetiva de urgência pelo agressor não caracteriza o crime de
desobediência (art. 330 do CP). Todavia, com o advento da lei nº 13.641/18, o descumprimento de decisão
judicial que defere medida protetiva de urgência configura o delito do art. 24-A da Lei Maria da Penha, nos
seguintes termos:

Art. 24-A da Lei 11.340/06. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de
urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

§ 1o A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as


medidas. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

§ 2o Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder


fiança. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

§ 3o O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis. (Incluído pela Lei
nº 13.641, de 2018)

Em primeiro lugar, em virtude do princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, é dizer que
somente cometerá o delito aquele que descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de
urgência no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher após a data de 04 de abril de 2018,
ocasião em que entra em vigor a Lei nº 13.641/18.

Antes do advento dessa lei, o agente policial que deparasse com um descumprimento de medida protetiva
de urgência podia tão somente comunicar o fato ao Estado-Juiz a fim de esse deliberasse acerca da imposição
da prisão preventiva, calcada no art. 313, III, do Código de Processo Penal. Havia, portanto, uma proteção
deficiente à mulher vítima de violência doméstica e familiar. Contudo, com a edição da Lei nº 13.641/18,
diploma legal que criou o único tipo penal previsto na Lei Maria da Penha, o agente pode, desde já, dar voz
de prisão em flagrante ao agente pela prática delitiva delineada no art. 24-A da Lei nº 11.340/06.

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Trata-se de um delito que visa tutelar a Administração da Justiça, em razão do interesse estatal no
cumprimento das medidas protetivas de urgência decretadas pelo Estado-Juiz com base na Lei Maria da
Penha. É importante ainda destacar que estamos diante de um crime próprio, ou seja, o tipo penal exige uma
qualidade especial do sujeito ativo, in casu, apenas o sujeito ativo da violência doméstica e familiar contra a
mulher pode cometer tal infração penal. Por sua vez, por ser catalogado como crime contra a Administração
da Justiça, o sujeito passivo primário é o Estado e, de forma secundária, exsurge como vítima a pessoa
beneficiada com a decisão que impõe a medida protetiva de urgência.

O objeto material dessa conduta criminosa é a própria decisão que impõe medida protetiva de urgência
delineada na Lei Maria da Penha. Por oportuno, o termo “medida protetiva de urgência” abrange tanto a
medida protetiva de urgência que obriga o agressor (art. 22 da Lei nº 11.340/06), bem como aquela que
protege a ofendida (arts. 23 e 24 da Lei nº 11.340/06).

Cuida-se de um delito doloso, ou seja, é imprescindível que o agente tenha vontade e consciência de
descumprir uma medida protetiva de urgência estabelecida em decisão judicial. Se o agente não tinha
consciência que a medida protetiva de urgência ainda estava em vigor, poder-se-á aplicar o erro de tipo (art.
20, caput, do CP), que exclui o dolo e a culpa se invencível. Esse delito é formal. Assim, a consumação ocorre
no exato instante em que o agente deixa de atender a medida protetiva de urgência fixada na decisão
judicial;

No mais, em decorrência do princípio da especialidade, o art. 24, §2º, da Lei Maria da Penha afasta a
incidência do art. 322 do Código de Processo Penal. Logo, a autoridade policial não poderá conceder
liberdade provisória com fiança ao agente pelo cometimento do delito do art. 24-A da Lei Maria da Penha,
mesmo considerando que a pena privativa máxima do delito em tela não seja superior a 4 anos. O agente
será preso em flagrante delito e, em seguida, será encaminhado para a audiência de custódia, momento em
que o magistrado deve adotar uma das seguintes opções: a) determinar o relaxamento da prisão em
flagrante; b) converter a prisão em flagrante em preventiva, se presentes os requisitos dos arts. 312 e 313,
III, do CPP; c) conceder liberdade provisória, cumulada, ou não, com medidas cautelares diversas da prisão.

Questão: O crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha é uma infração penal de menor potencial
ofensivo?

Comentários

A resposta é negativa. Em que pese a pena máxima cominada ao delito não ser superior a 2 anos, insta
pontuar que o art. 41 da Lei Maria da Penha veda a aplicação da Lei nº 9.099/95 aos casos de violência
e doméstica familiar contra a mulher, atingindo, portanto, a possibilidade de ser considerado uma
infração de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei nº 9.099/95). A previsão contida no art. 24, §2º,
da Lei nº 11.340/06 reforça a ideia de estarmos diante de um crime comum. Afinal de contas, se fosse
infração penal de menor potencial ofensivo não haveria lógica em aguardar o pronunciamento de um

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juiz para conceder fiança no caso de prisão em flagrante15. É, portanto, um delito comum. Esse é
magistério do professor Renato Brasileiro de Lima: “A despeito da pena máxima cominada ao art. 24-
A não ser superior a 2 anos, não se trata de infração penal de menor potencial ofensivo. Cuida-se de
crime de competência do Juízo comum, aplicando-se o procedimento comum sumário. Ante a vedação
do art. 41 da Lei Maria da Penha, não se aplica a Lei nº 9.099/95. Logo, o crime do art. 24-A não admite
a transação penal, nem tampouco suspensão condicional do processo 16.

Como o descumprimento da medida de proteção de urgência pode autorizar a decretação da prisão


preventiva, nos exatos termos do art. 20 da Lei Maria da Penha, o Superior Tribunal de Justiça tem autorizado
a impetração de habeas corpus para essa situação. Posição do STJ: HC 298.499.

Quais são as medidas protetivas de urgência que visam proteger a vítima?

Art. 23 da Lei 11.340/06: Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou


de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após


afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens,
guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

V – determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação mais


próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da
existência de vaga.

Art. 24 da Lei 11.340/06. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as
seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

15
Lembre-se que não se imporá prisão em flagrante e nem se exigirá fiança nos casos de infração penal de menor potencial
ofensivo se o autor do fato for encaminhado imediatamente ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer (art. 69,
parágrafo único, da Lei nº 9.099/95).
16
BRASILEIRO DE LIMA, Renato. Legislação Criminal Especial Comentada. Volume único. 8ª edição. Salvador: Editora JusPodvm,
2020, p.1312

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II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de


propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II
e III deste artigo.

Primeiramente, vale destacar que o rol de medidas protetivas de urgência dos arts. 23 e 24 da Lei Maria da
Penha é exemplificativo. Tais medidas têm natureza cível.

a) Encaminhamento da vítima e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou


atendimento. O objetivo dessa medida é resguardar/restabelecer a integridade física e moral da
ofendida e de seus dependentes. Para tanto, a Lei Maria da Penha ainda estabelece que a União, o
Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite das respectivas
competências: I – centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos
dependentes em situação de violência doméstica e familiar; II – casas-abrigos para mulheres e
respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar (art. 35 da Lei
11340/06)
b) Recondução da ofendida ao respectivo domicílio após o afastamento do agressor. O auxílio policial
poderá ser empregado para garantir a efetividade dessa medida.
c) Afastamento da ofendida do lar e separação de corpos. Essa medida é aplicável não só para a mulher
casada, mas também em favor da companheira que mantenha uma relação amorosa com homem (ou
outra mulher).
d) Restituição de bens. A finalidade dessa medida é justamente conferir proteção patrimonial dos bens
da sociedade conjugal ou de propriedade particular da ofendida. Exemplo: O agressor subtrai os
instrumentos de trabalho da vítima.
e) Proibição temporária para compra, venda e locação de propriedade em comum. Essa medida evita
que o agressor dilapide o patrimônio construído pelo casal. Essa vedação deve ser comunicada ao
Cartório competente.
f) Revogação das procurações conferidas pela ofendida ao agressor. Cuida-se, na verdade, de uma
revogação do mandato anteriormente outorgado pela vítima ao agressor. Essa revogação deve ser
comunicada ao Cartório competente.
g) Caução provisória mediante depósito judicial. É uma medida que visa justamente garantir o
pagamento de futura indenização por perdas e danos materiais decorrentes de violência doméstica e
familiar contra a mulher.

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DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO


Art. 25 da Lei 11340/06: O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e
criminais decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 26 da Lei 11340/06: Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos
casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário:

I – requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de


segurança, entre outros;

II – fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação


de violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais
cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas;

III – cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Como é sabido, o Ministério Público pode atuar tanto como autor da ação penal, com o escopo de obter a
condenação do agressor pela prática de violência doméstica e familiar, assim como fiscal da correta aplicação
da lei. A atuação do Ministério Público não se restringe aos aspectos penais do Juizado da Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, ou seja, o membro do MP também tem atribuição na seara cível para
proteger a mulher.

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Art. 27 da Lei 11340/06: Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação
de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto
no art. 19 desta Lei.

Art. 28 da Lei 11340/06: É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar
o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da
lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado.

Como forma de evitar qualquer situação de inferioridade no plano jurídico, a Lei Maria da Penha obrigou a
mulher estar assistida por um advogado em todos os atos processuais, cíveis e criminais. Caso não tenha
condições de contratar um advogado, o Estado prestará assistência jurídica por um defensor público ou
advogado dativo.

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DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR


Art. 29 da Lei 11340/06. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que
vierem a ser criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser
integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.

Art. 30 da Lei 11340/06. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras


atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz,
ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e
desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados
para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes.

Art. 31 da Lei 11340/06. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o
juiz poderá determinar a manifestação de profissional especializado, mediante a indicação da
equipe de atendimento multidisciplinar.

Art. 32 da Lei 11340/06. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, poderá
prever recursos para a criação e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar, nos
termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 33 da Lei 11340/06. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para
conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual
pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e
o julgamento das causas referidas no caput.

Nos lugares em que não existir Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as Varas Criminais
acumularão as competências cíveis e criminais para processar e julgar fatos advindos da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher. Nas varas criminais, será garantido o direito de preferência para o
processo e julgamento das causas envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher.

DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 34 da Lei 11340/06. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher poderá ser acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e do serviço de
assistência judiciária.

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Art. 35 da Lei 11340/06. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e
promover, no limite das respectivas competências:

I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos dependentes


em situação de violência doméstica e familiar;

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência


doméstica e familiar;

III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de perícia médico-legal
especializados no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar;

IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar;

V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.

Art. 36 da Lei 11340/06. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão a


adaptação de seus órgãos e de seus programas às diretrizes e aos princípios desta Lei.

Art. 37 da Lei 11340/06. A defesa dos interesses e direitos transindividuais previstos nesta Lei
poderá ser exercida, concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação de atuação na
área, regularmente constituída há pelo menos um ano, nos termos da legislação civil.

Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando
entender que não há outra entidade com representatividade adequada para o ajuizamento da
demanda coletiva.

Art. 38 da Lei 11340/06. As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher
serão incluídas nas bases de dados dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de
subsidiar o sistema nacional de dados e informações relativo às mulheres.

Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal poderão
remeter suas informações criminais para a base de dados do Ministério da Justiça.

Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência.


(Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão, após a sua concessão, imediatamente
registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça,
garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança
pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas
(redação dada pela Lei nº 14.310/22).

Art. 39 da Lei 11340/06. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no limite de suas
competências e nos termos das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer
dotações orçamentárias específicas, em cada exercício financeiro, para a implementação das
medidas estabelecidas nesta Lei.

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Art. 40 da Lei 11340/06. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras decorrentes dos
princípios por ela adotados.

Art. 40-A da Lei 11340/06. Esta Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu art. 5º,
independentemente da causa ou da motivação dos atos de violência e da condição do ofensor
ou da ofendida.”

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Chamo atenção para destacar o teor do art. 41 da Lei Maria da Penha, que veda a aplicação da Lei nº 9099/95
aos crimes praticados no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher.

De acordo com o Supremo Tribunal Federal, o termo “crime” constante no art. 41 da Lei Maria da Penha
deve ser empregado em sentido lato para abrigar também a contravenção penal, ou seja, o termo crime
deve ser interpretado como infração penal. Assim, por exemplo, a contravenção penal de vias de fato no
contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher também não autoriza a aplicação da Lei 9099/95.

QUESTÕES COMENTADAS
Magistratura

1. (VUNESP/Juiz de Direito de Rondônia/2019) Tício foi preso em flagrante por ter praticado o crime
de descumprimento de medida protetiva de urgência (apenado com detenção de 3 meses a 2 anos), em
razão de ter ido à casa da ex-mulher, violando a medida protetiva anteriormente imposta por Juízo Cível.
A Autoridade Policial arbitrou fiança e, uma vez paga, Tício foi posto em liberdade. Intimado
posteriormente para prestar depoimento, Tício não comparece, razão pela qual a Autoridade Policial
considerou quebrada a fiança, determinando a imediata prisão. Tendo em conta a situação hipotética,
assinale a alternativa correta.
a) É correta a concessão de fiança pela Autoridade Policial. Contudo, somente a Autoridade Judicial poderia
decidir pela prisão, em vista do quebramento da fiança.
b) É errada a concessão de fiança a Tício, pois somente a Autoridade Judicial pode conceder fiança em crime
de descumprimento de medida protetiva.
c) É errada a concessão de fiança a Tício, pois o crime de descumprimento de medida protetiva é inafiançável.
d) É correta a concessão de fiança pela Autoridade Policial, já que se trata de crime apenado com privativa
de liberdade máxima inferior a 4 anos.
e) São corretas tanto a concessão de fiança quanto a posterior decretação de prisão pela Autoridade Policial,
em decorrência do quebramento da fiança.

Comentários

A alternativa correta é a letra B. De acordo com o art. 24-A, §2º, da Lei nº 11.340/06, na hipótese de prisão
em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.

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A alternativa A está errada. Como vimos, na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial
poderá conceder fiança, segundo aponta o art. 24-A, §2º, da Lei nº 11.340/06.

A alternativa C está errada. A fiança pode ser concedida ao delito em comento, porém apenas a autoridade
judicial tem competência para tanto.

A alternativa D está errada. O art. 24-A, §2º, da Lei nº 11.340/06 exclui a possibilidade de a fiança ser
concedida pelo Delegado de Polícia. Vale dizer, em decorrência do princípio da especialidade, o art. 24, §2º,
da Lei Maria da Penha afasta a incidência do art. 322 do Código de Processo Penal.

A alternativa E está errada. Nos moldes do art. 24-A, §2º, da Lei nº 11.340/06, na hipótese de prisão em
flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.

Promotor

2. (CESPE/Promotor de Justiça do Ceará/2020) Aos crimes praticados com violência doméstica e


familiar contra a mulher, admite-se
a) transação penal.
b) pena de prestação pecuniária.
c) suspensão condicional da pena.
d) suspensão condicional do processo.
e) pagamento isolado de pena de multa.

Comentários

A alternativa correta é a letra C. Ante a ausência de proibição legal, aos crimes praticados com violência
doméstica e familiar contra a mulher, admite-se a suspensão condicional da pena.

A alternativa A está errada. Na forma da súmula 536 do Superior Tribunal de Justiça, a suspensão condicional
do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

A alternativa B está errada. De acordo com o art. 17 da Lei nº 11.340/06, é vedada a aplicação, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária,
bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.

A alternativa D está errada. Na forma da súmula 536 do Superior Tribunal de Justiça, a suspensão condicional
do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

A alternativa E está errada. De acordo com o art. 17 da Lei nº 11.340/06, é vedada a aplicação, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária,
bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.

3. (CESPE/Promotor de Justiça do Ceará/2020) Com base nas disposições da Lei Maria da Penha, é
correto afirmar que

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a) os juizados de violência doméstica e familiar não têm competência para julgar ação de dissolução de união
estável.
b) os juizados de violência doméstica e familiar não têm competência para processar pretensão relacionada
à partilha de bens.
c) o juizado do domicílio ou da residência da ofendida tem competência absoluta para os processos cíveis
regidos pela lei em questão.
d) a ofendida, havendo concordância, poderá entregar intimação ao agressor, no intuito de promover maior
celeridade ao ato.
e) a competência da ação de divórcio deve ser declinada para o juízo competente em caso de violência
doméstica e familiar ocorrida após o ajuizamento dessa ação.

Comentários

A alternativa correta é a letra B. De acordo com o art. 14-A, §1º, da Lei nº 11.340/06, exclui-se da
competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à
partilha de bens.

A alternativa A está errada. Na forma do art. 14-A da Lei nº 11.340/06, a ofendida tem a opção de propor
ação de divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher.

A alternativa C está errada. Segundo se observa do art. 15 da Lei nº 11.340/06, o juizado do domicílio ou da
residência da ofendida não tem competência absoluta para os processos cíveis regidos pela lei em questão.
É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: I - do seu
domicílio ou de sua residência; II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; III - do domicílio do
agressor.

A alternativa D está errada. Nos termos do art. 21, parágrafo único, da Lei nº 11.340/06, é expressamente
vedado pela Lei Maria da Penha que a ofendida entregue a intimação ou notificação ao agressor.

A alternativa E está errada. De acordo com o art. 14, §2º, da Lei nº 11.340/06, iniciada a situação de violência
doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável, a ação terá
preferência no juízo onde estiver.

LISTA DE QUESTÕES
Magistratura

1. (VUNESP/Juiz de Direito de Rondônia/2019) Tício foi preso em flagrante por ter praticado o crime
de descumprimento de medida protetiva de urgência (apenado com detenção de 3 meses a 2 anos), em
razão de ter ido à casa da ex-mulher, violando a medida protetiva anteriormente imposta por Juízo Cível.
A Autoridade Policial arbitrou fiança e, uma vez paga, Tício foi posto em liberdade. Intimado
posteriormente para prestar depoimento, Tício não comparece, razão pela qual a Autoridade Policial

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considerou quebrada a fiança, determinando a imediata prisão. Tendo em conta a situação hipotética,
assinale a alternativa correta.
a) É correta a concessão de fiança pela Autoridade Policial. Contudo, somente a Autoridade Judicial poderia
decidir pela prisão, em vista do quebramento da fiança.
b) É errada a concessão de fiança a Tício, pois somente a Autoridade Judicial pode conceder fiança em crime
de descumprimento de medida protetiva.
c) É errada a concessão de fiança a Tício, pois o crime de descumprimento de medida protetiva é inafiançável.
d) É correta a concessão de fiança pela Autoridade Policial, já que se trata de crime apenado com privativa
de liberdade máxima inferior a 4 anos.
e) São corretas tanto a concessão de fiança quanto a posterior decretação de prisão pela Autoridade Policial,
em decorrência do quebramento da fiança.

Promotor

2. (CESPE/Promotor de Justiça do Ceará/2020) Aos crimes praticados com violência doméstica e


familiar contra a mulher, admite-se
a) transação penal.
b) pena de prestação pecuniária.
c) suspensão condicional da pena.
d) suspensão condicional do processo.
e) pagamento isolado de pena de multa.
3. (CESPE/Promotor de Justiça do Ceará/2020) Com base nas disposições da Lei Maria da Penha, é
correto afirmar que
a) os juizados de violência doméstica e familiar não têm competência para julgar ação de dissolução de união
estável.
b) os juizados de violência doméstica e familiar não têm competência para processar pretensão relacionada
à partilha de bens.
c) o juizado do domicílio ou da residência da ofendida tem competência absoluta para os processos cíveis
regidos pela lei em questão.
d) a ofendida, havendo concordância, poderá entregar intimação ao agressor, no intuito de promover maior
celeridade ao ato.
e) a competência da ação de divórcio deve ser declinada para o juízo competente em caso de violência
doméstica e familiar ocorrida após o ajuizamento dessa ação.

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GABARITO
Magistratura

1. B

Promotor

2. C
3. B

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