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Marcel Gauchet
O
desencanto do mundo
Gallimard
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APRESENTAÇÃO
sofremos os efeitos sem poder controlá-los. Um paradoxo capital que contém a chave
de toda a nossa história. Porque esta escolha de possuir-se consentindo na sua
desapropriação, afastando-se do objectivo de dominar a natureza e legislar em seu
próprio nome em favor de outro objectivo, o de garantir uma identidade em toda a parte
definida e controlada, é religião na sua própria essência.
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A equivalência formal dos dois sistemas, de cada lado da cesura “catastrófica” que
os separa, não impede a incomensurabilidade das suas encarnações na realidade.
O salto é um terremoto causando a inclinação em um
possível, interpretação dos seus decretos, negociação sobre a aplicação das suas leis.
Já não estamos no quadro de uma ordem recebida total e invariavelmente, como no
início. O poder dos homens sobre os homens tomou parte do lugar do governo
exclusivo da religião. Porque vemos como, de forma semelhante, num sistema de
exterioridade do passado legislativo, não há lugar para a política, entendida como a
tomada activa da sociedade sobre si através de um poder separado, ocupado apenas
pelo reinado do original e do costume. . Ninguém tem justificativa entre as pessoas
que vivem hoje em reivindicar uma ligação privilegiada com a base invisível, que não
precisa de ninguém para se impor uniformemente. Isto não anula a função política;
isso o confina dentro de limites estreitos. É também esta organização da obediência
por desapropriação, e não por imposição, que explica o modo como as origens podem
ser concebidas e recitadas – a coisa mais difícil de penetrar no mundo, por isso vai
contra os nossos hábitos de pensamento: uma explicação que exclui passar para o
lado do que é explicado, isto é, do que chamamos de compreensão. Pensar, para nós,
é apropriar-se, identificar. No universo do mito, é receber, é colocar no ato do
pensamento a separação do princípio daquilo que se pensa. E é todo o sistema social
que, passo a passo, se ordena de acordo com esta articulação central que coloca o
presente sob o controlo do passado puro. Como criar a máxima dependência religiosa?
A religião selvagem nos fornece a resposta: ao separar o real de um original, considera-
se que fornece um relato exaustivo dele.
deve ser concebida como a primeira revolução religiosa da história, uma revolução
de facto que carrega uma segunda nos seus flancos, esta propriamente espiritual.
Corresponde a uma redistribuição prática dos termos do dispositivo inicial, cujo
ponto focal é a encarnação do separado entre os homens. O que foi originalmente
excluído se concretiza: a lei fundadora tem seus representantes, seus
administradores e seus intérpretes dentro da sociedade. A pedra angular da
organização colectiva, doravante, será este órgão, por um lado em alinhamento
com o legislador invisível e por outro em oposição aos comuns mortais a quem
cabe impor os mandamentos e a regra. O resultado é uma situação estruturalmente
subversiva para a vida religiosa: a ideia do divino está agora sujeita à reação da
ação política. Todos os grandes desenvolvimentos espirituais e intelectuais
subsequentes emergem do cadinho constituído pela contradição real entre as
representações herdadas da fundação em nome da qual a dominação é exercida
e as formas efetivas que o seu exercício assume. Há incompatibilidade entre o
conteúdo implícito da relação de subjugação, tanto interna como externa
(conquista), e a imagem de uma legitimidade ancorada no passado e transportada
pela tradição, tal como os primeiros Estados assumirão às sociedades anteriores,
enquanto remodelando-o de uma forma que já é profundamente significativa para
novas necessidades. O vínculo da dominação com a garantia religiosa exige
divindades instaladas no presente, de caráter pessoal e suficientemente poderosas
para abranger a abrangência universal que desenha em si como horizonte natural.
A partir daí, poderíamos dizer que a história das religiões se divide em dois grandes
períodos: um período em que a ordem política se adianta, pelo potencial espiritual
de que é rica, sobre os sistemas de sacralidade que supostamente a justificam; e
um segundo período onde, uma vez ocorrida a cristalização destas virtualidades,
a organização religiosa está por sua vez adiantada, através da visão potencial da
cidade terrena que transmite, sobre o estado de coisas estabelecido que deveria
ser. legitimar. Todos os surgimentos de
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primeiro milénio antes de Cristo, onde, da China à Grécia, passando pela Índia,
pelo Irão, por Israel, foram forjados os instrumentos do pensamento, as figuras
do divino e os sentimentos em relação ao destino humano que ainda vivemos,
provém, acreditamos, de este fenômeno de coagulação de novas possibilidades
introduzidas pela dinâmica estatal. Assumiu várias faces: o caminho filosófico é
algo diferente da fé monoteísta, há um longo caminho do confucionismo ao
budismo, do taoísmo ao zoroastrismo – os dados básicos cujas diferentes
combinações e explorações produziram sempre estas configurações originais
são, no entanto, essencialmente idêntico. A condução do processo, sobretudo,
assumiu graus de radicalidade muito diversos. Seguiu dois caminhos claramente
divergentes: o caminho do compromisso entre a manutenção da estrutura
religiosa original e a integração de novos conteúdos – o caminho das religiões
orientais e do pensamento do ser como vazio; e o caminho extremista, em
contraste, da subjetivação do divino e da divisão estrutural do material e do
espiritual, um caminho ultra-marginal no início, nascido, e não por acaso, num
minúsculo interstício entre altas civilizações e ainda assim destinado a virar o
mundo de cabeça para baixo – o monoteísmo judaico. É na reconstituição desta
última que nos concentramos principalmente, desde as condições do seu
primeiro aparecimento até ao desdobramento das suas últimas consequências,
desde a transmissão proporcionada pelo Cristianismo à materialização das
potencialidades de autonomia terrestre transportadas pela nova fé – até à
formação, na e graças à religião, de uma sociedade que já não tem necessidade
de religião.
*
Mais algumas palavras para explicar a ideia de história que resulta desta
reconstrução das etapas e metamorfoses da religião. Se tem alguma
originalidade, é na conjugação de duas perspectivas normalmente consideradas
inconciliáveis: a unidade do devir humano e a existência dentro dele de
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Isto não significa que estas transições sejam uma obra de pura invenção
em que nos devamos limitar a acolher o mistério, sem o mutilar. Podemos
muito bem acompanhá-los e esclarecer suas realizações. Damos dois
exemplos um tanto fundamentados de tais tentativas de elucidação, relativas
ao nascimento do monoteísmo e à bifurcação ocidental em direção à desvinculação.
daqui de baixo e de além. Veremos como parece possível reduzir ambas
estas grandes rupturas a processos históricos que são classicamente
inteligíveis no seu desenrolar – processos, simplesmente, cuja efetivação é
por essência indecidível. Reconstruí-los é necessariamente perceber que
eles não poderiam ter acontecido. Eles participam de uma liberdade
enigmática que atua no meio do devir, através da qual os homens dispõem
inconscientemente de si mesmos e, em particular, de sua autoconsciência,
uma liberdade tanto mais enigmática quanto é a administração da coerção
por excelência, aquela que nos faz ser o que somos. Se há indeterminação
nas profundezas da história, o seu lugar é definido com muita precisão e só
pode ser apreendido a partir da sua associação íntima com o determinado.
faz pressupor como evidente o que deve ser questionado. Conduzida desde dentro, a história mais erudita
do Cristianismo pode nos ensinar mil coisas essenciais sobre ele; no entanto, tenderá geralmente a
encobrir o essencial, nomeadamente a sua originalidade decisiva em relação às outras religiões. Devemos
resolver isto: sem mutilação não podemos escapar ao questionamento do horizonte mais amplo, das suas
ansiedades e das suas dores. O problema é não ter ilusões sobre os limites constitutivos do
empreendimento e sem ilusões sobre a possibilidade de escapar deles, sem compreender mal os limites
devir, e sem ingenuidade no pressuposto de um sentido global que sustenta a certeza mais bem
estabelecida da erudição mais ascética (aquela fornecida, por exemplo, pelo esquema onipresente e
ainda assim contestável, como vimos, do "desenvolvimento"), para não mencionar o tensão mais trivial
entre as necessidades e possibilidades de informação. Em outras palavras, é manter-se dentro dos limites
Mas se tivéssemos para toda a justificação apenas a experiência destes livros antigos que continuam
a iluminar-nos tão poderosamente quando quase nada resta, em termos de conhecimento estrito, da letra
das suas palavras, isso nos seria suficiente. Atesta a fecundidade irredutível desta parte viva da
inteligência das coisas, da qual o sarcasmo cético e a injunção científica se esforçaram, na sua combinação
bizarra, para nos desviar. É impensável encontrá-lo, aliado ao escrúpulo acadêmico? Somos anões que
se esqueceram de subir nos ombros de gigantes. Se a altitude de suas proezas nos é proibida, a ajuda
1 Fizemos em outro lugar duas apresentações mais desenvolvidas dos pontos de vista sobre a “religião
primária” aqui apresentados de forma particularmente esquemática: “Política e sociedade: a lição dos
ó
selvagens”, Texturas, n 10-11, 1975, pp. 57-86 e 12-13, 1975, pp. 67-105; “A dívida de sentido e as raízes
ó
do Estado. Política da religião primitiva », Libre, n 2, 1977, pp. 5-43.
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Primeira parte
METAMORFOSES
DO DIVINO
Haverá algo como uma função religiosa, uma subdivisão da função simbólica,
organizando, ao lado da fala e da ferramenta, a nossa relação com a realidade, e
constituindo o desvio pelo invisível como pivô da ação humana?
Existe um vínculo consubstancial entre a dimensão religiosa e o fato social, a
alteridade sagrada fornecendo ao grupo os meios para se fundar, ou expressando
e estabelecendo ao mesmo tempo a superioridade da essência do ser coletivo vis-
à-vis -vis seu individual componentes? Isto pode ser formulado, reduzido ao seu
essencial, a questão da relação entre religião e sociedade.
Fazer a pergunta, estas perguntas, não é de facto respondê-las? Assim, é
bastante comum admitir, de fato, que existe uma permanência, uma constância, se
não uma invariância, da religião na história que nos obriga a relacioná-la com as
próprias condições de existência de uma sociedade humana. do seu papel nesta
estruturação primordial do campo coletivo. Fenômeno original, que encontramos
tão longe quanto podemos recuar no tempo humano, fenômeno universal, do qual
não conhecemos nenhuma sociedade que tenha escapado, fenômeno recorrente,
cuja influência discernimos, muito perto de nós, até dentro de movimentos de
fundamentalmente inspiração anti-religiosa, como as empresas totalitárias: nem
tudo parece atestar que estamos na presença de um destes últimos constrangimentos
inerentes ao estar-junto, sempre igual a si mesmo em última instância, e do qual
seria uma questão de identificar a única necessidade por trás da diversidade
proliferante e metamórfica de suas manifestações?
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EU
A primeira religião ou
o reinado do passado puro
*
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escolha contra: seu aparente finalismo. De onde pode vir, de que presciência,
de que faculdade de antecipação, uma tendência tão negativa para algo que
ainda não aconteceu? É claro que o problema será colocado de forma bem
diferente. Não se baseia numa perspectiva extrínseca e numa possibilidade
hipotética de que haja determinação; é em relação a um dado interno, a uma
articulação imediatamente presente, original, que se funde com uma das
condições de existência do social. É, no quadro de uma antropologia fundamental,
às estruturas primárias que fazem a sociedade existir, que devemos voltar para
compreender a razão de ser e o ponto de aplicação de um acto sociológico
como aquele que consiste em afastar a dominação política por meio de jogando
a desapropriação religiosa contra ele. É na medida em que o espaço social é
imediatamente organizado, dotado de identidade, por uma oposição interna que
funda a potencialidade universal da separação de poderes, que existe uma
escolha possível e um significado para a sua implementação – uma escolha
que não anula a polaridade de poder na sociedade, evidenciada por uma análise
detalhada das funções atribuídas a esta chefia confinada ao discurso e ao
prestígio, mas neutraliza-a graças à divisão com o passado absoluto e próxima
ao mesmo tempo dos heróis-estabelecedores. O notável e o enigmático
permanecem mais uma vez no viés da autonegação, da recusa inconsciente e
sistemática em assumir as dimensões constitutivas do fato humano-social ao
qual o homem parece ter se dedicado originalmente. Como se o que o homem
veio a ser fosse imediatamente tão insuportável que ele tivesse que contê-lo ou
cobri-lo.
A deportação regular dos fundamentos e das causas para o lado do outro,
dos outros, das origens, não responde apenas à questão da divisão política.
Serve simultaneamente como resposta às questões estruturais colocadas pela
definição do vínculo inter-humano ou da posição face à natureza. Está fora de
questão, nos limites desta apresentação, entrar no exame de cada uma dessas
articulações, que também são constitutivas, convém mostrar, do espaço
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partida que decidiu por uma duração imensa uma organização de sociedades
em termos de recusa e conjuração de si mesmas. Ato inconsciente, cuja
execução exigiria, para ser compreendido, esclarecer o mistério da forma sujeito-
sujeito do coletivo. Ato livre, no sentido em que procuraríamos em vão relacioná-
lo com um determinismo externo – o que não significa ato arbitrário ou gratuito,
e não deixamos de vislumbrar, por um lado, o que no destino do homem é tal
como ancorar o sentimento de uma dependência irremediável do outro, como,
por outro lado, os benefícios que poderão resultar deste movimento para a
imobilidade e a desapropriação. O ato faz sentido, discernimos imediatamente
em relação aos grandes referenciais da economia psíquica. Isto, no entanto, não
decide suas razões. Mas isto muito provavelmente indica o caminho pelo qual
conseguiríamos esclarecê-los. Não há dúvida de que é na própria operação
antropogénica e em nenhum outro lugar que reside essencialmente o segredo
desta conjuração inaugural do eu. É elucidando fundamentalmente os processos
que deram o homem a si mesmo, vinculando-o aos outros, estabeleceram o
vínculo coletivo ao mesmo tempo que a divisão consciente, que tornaremos
mais inteligível a disposição universal de negação que inicialmente acolheu
essas estruturas estabelecedoras. Naquilo que causa o ser, há razões para não
deixar ser. Todo o mistério da discórdia inscrito desde o nascimento na relação
do homem consigo mesmo, aqui captado na sua maior expressão histórica.
global (do ponto de vista do sujeito divino ou do ponto de vista do sujeito humano),
mas inversamente, para estabelecer (ou pressupondo na base) a ausência no
presente, como no início e como no futuro, de uma unidade governante que presidirá
o progresso geral das coisas.
Escusado será dizer que estas visões sumárias não pretendem esgotar o assunto,
mas apenas delinear as linhas gerais do que poderia ser o seu tratamento. Duas
características, no entanto, ainda precisam ser brevemente mencionadas, dependendo
comparações que eles autorizam: a primeira relativa à forma que o comércio com o
invisível provavelmente assumirá em tal sistema, e a segunda à maneira pela qual a
regra recebida é administrada e experimentada.
Com o xamanismo, temos uma revelação notável da forma como as realidades
manifestas e as forças ocultas, os recursos visíveis e os poderes invisíveis são
articulados nas religiões primitivas. Trata-se, de facto, de especialistas iniciáticos na
comunicação com o mundo dos espíritos e na manipulação dos seus representantes
que, apesar do seu prestígio por vezes considerável e dos medos que podem
suscitar, permanecem nas suas sociedades rigorosamente alinhados com o destino
comum. Isso ocorre porque de fato o visível e o invisível formam um mundo único,
dentro do qual as duas ordens se misturam intimamente, e passar momentaneamente
além das aparências, com arranjos e treinamento apropriados, não é isolar-se de
seus semelhantes, adquirindo uma natureza diferente devido a esta participação no
outro mundo. O xamã continua sendo um manipulador dotado de uma habilidade
privilegiada de transitar entre os vivos e os mortos, as almas e os poderes mágicos;
ele não é de forma alguma, direta ou indiretamente, um encarnado através de cuja
pessoa a junção entre o universo dos homens e a esfera dos outros que o causa e
regula seria permanentemente estabelecida. O xamã testemunha, em outras
palavras, o fato de que se é possível viajar, no presente, em tal sistema, para o outro
lado da realidade sensível, não há, por outro lado, nenhuma passagem concebível
para o lado do passado. fundador e a lei que estabelece, cujo ciclo ritual existe para
garantir
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II
O
Estado, transformador sagrado
por causa do link definido de fora. O primeiro passo dado, nunca haverá mais
descansar.
e a excentricidade violenta que resulta. Sem dúvida por esta razão a guerra de
expansão deve ser considerada uma das maiores forças espirituais e intelectuais
que atuaram na história. Assim, de todos os lados, o sistema social articulado pela
divisão política revela-se incapaz de funcionar sem abalar obscuramente ou pôr
em causa os fundamentos imutáveis e
lugares sagrados que deveriam ditar suas leis para ele. O poder de alguns em
nome dos deuses é o começo, oh, tão tímido e oculto, mas irreversível, de um
poder de todos os decretos dos deuses - o começo tão indiscernível quanto certo
de uma tomada coletiva da ordem declarada subtraído da tomada. Estamos a
com entrar no Estado na era da contradição entre a estrutura social e a essência
HIERARQUIA
apenas homens com seus deuses – os dois andando indissoluvelmente de mãos dadas.
Não é difícil compreender as manifestações externas: começa então a era do culto
propriamente dito, do sacrifício na devida forma, da adoração regulamentada. Mas o
que é subterrâneomente decisivo na mudança não é revelado na experiência vivida e
no que se pensaria decifrar aí, de uma perspectiva continuista, de um sentimento mais
intenso da diferença de deuses que de outra forma seriam melhor identificados. O
importante é a desestabilização definitiva da relação entre o instituinte invisível e a
norma estabelecida que resulta estruturalmente da remodelação geral das relações
sociais de acordo, precisamente, com a materialização deste outro fundador na esfera
humana.
DOMINAÇÃO
CONQUISTA
O PERÍODO AXIAL
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Não existe, portanto, um mecanismo unilinear que permita trazer a inovação religiosa
de volta ao constrangimento regular de uma causa inexorável, mas sim um fosso enorme,
mesmo que ignorado, entre o sistema explícito de crenças e as linhas de força subjacentes
do pensável. no fosso entre o qual as circunstâncias e as pressões estruturais podem dar
origem à invenção e ao movimento. Na outra direção, porém, não podemos compreender
a prodigiosa onda cujo surgimento, ao longo de alguns séculos (entre 800 e 200 a.C.,
aproximadamente), da Pérsia à China, da Índia à Grécia, passando pela Palestina, dividiu
a história das religiões. em dois, um antes e um depois dos quais é conceitualmente
difícil, de fato, recompor - e que K. Jaspers propôs por isso nomear o “período axial” da
história universal 3 sem relacioná-lo com o imenso trabalho espiritual underground inscrito
na divisão política e seus desdobramentos expansivos. Esta reorientação revolucionária,–,
esta transmutação radical e total da religião sob o signo da transcendência e da
preocupação do mundo verdadeiro contra este mundo, esta transvalorização das questões
e regras de vida que parecem surgir do nada, tão profunda é a descontinuidade que
estabelecem , eles de fato se apegam por todas as suas fibras à secreta metamorfose
Não que, pela última vez, tivesse poder intrínseco para impô-las, e o enigma da sua
irrupção permanece completo, nem que seja pelo aspecto notavelmente sincrónico que
apresenta. Mas que, do ponto de vista do conteúdo e das regularidades não menos
notáveis que aí notamos, o seu surgimento permaneceria absolutamente ininteligível fora
da ligação a esta gestação da sombra há muito amadurecida nas entranhas do déspota.
novo do Outro neste mundo. Qualquer que seja a importância da equação pessoal entre os
inspiradores ou fundadores da religião - e certamente vale a pena notar que é com eles, de Laotseu
verdadeiramente na história, muito mais do que com os grandes soberanos, nos quais função e
pessoa se deixam mal dissociar, operaram sobretudo como reveladores de uma versão do sagrado
ao mesmo tempo inconcebivelmente enterrada–, não devemos perder de vista o facto de que eles
e tacitamente sentida. Daí a eficácia, de facto restitutiva, destas diversas modelações da estranheza
deste mundo, da cisão entre as aparências e a verdade. Daí o poder penetrante destes
ensinamentos mobilizando, pela primeira vez, também, sem dúvida, na história, individualidades
valores e formas antigas, o espaço e a disponibilidade foram esculpidos, no coração dos seres,
para uma outra compreensão da vida. Lacuna invisível e enorme que mostra como, por exemplo,
o império que se teria pensado mais seguro da sua força e da sua duração poderia ter sido minado
a partir de dentro pela desintegração/subversão moral e religiosa: é que, para além dele, os seus
cultos oficiais e a sua imagem firme do mundo, a sua longa sombra desenhavam invencivelmente
que constitui a unidade “axial” destas emergências em série. Isto não depende apenas da diferença
de contextos, da distância das tradições de apoio e da lacuna nas línguas, mas depende muito
permanece, de facto, aqui novamente, fundamentalmente a regra, com o que isto significa
variações no equilíbrio de poder e no grau de liberdade do novo face ao estabelecido. É esse jogo
de separação e
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idealmente o modelo desta transformação do Outro sentida e concebida; e seguiremos então mais de
perto a sequência privilegiada que deu a esta mesma revolução da transcendência a sua expressão mais
radical.
1 Para uma apresentação conveniente do problema clássico, cf. Robert N. BELLAH, “Evolução
Religiosa”, em Beyond Belief; Ensaios sobre Religião em um Mundo Pós-Tradicional, Nova York, Harper
and Row, 1970, pp. 20-50.
2 Não, aliás, sem estar encarnado, de forma impessoal, sob a forma de marcas iniciáticas irrefutáveis,
recordando, na carne de cada pessoa, a incontornável submissão à lei dos antepassados e do todo. Cf.
Pierre CLASTRES, “Sobre a tortura nas sociedades primitivas”, in A sociedade contra o Estado.
Pesquisa em antropologia política, Paris, Éditions de Minuit, 1974.
3 Karl JASPERS, Origem e significado da história, trad. fr., Paris, Plon, 1954. Para uma atualização
recente, cf. Shmuel N. EISENSTADT, “A Era Axial: o surgimento de visões transcendentais e a ascensão
ó
dos clérigos”, Arquivos Europeus de Sociologia, XXIII, 1982,2,npp. 294-314.
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III
Dinâmica de transcendência
revelação, a partir do coração desta diferença, a entrada em correspondência com uma ordem de
que constitui a magia como estrutura religiosa). O Deus criador, de fora da sua
criação, tem simultaneamente o controle sobre a totalidade das coisas, cujo curso
diário ele não menos controla do que possui e domina as articulações mais
profundas. As duas séries de representações são pólos opostos uma da outra. A
homologia estrutural entre estas duas grandes versões opostas da dívida de
sentido é ainda mais impressionante: disjunção/conjunção com a origem num
caso, separação no outro caso de um deus definido ao mesmo tempo pela
capacidade de fazer o mundo apresentar a si mesmo.
O fosso que os separa parece advir menos da pura irrupção criativa de uma visão
religiosa sem qualquer ligação, em última análise, com as anteriores, do que da
transformação regulada de uma organização anterior.
Uma transformação absolutamente revolucionária, isto é, nos seus efeitos de
expressão, pelo que introduz na acessibilidade da fundação. Sem dúvida que a
dependência humana se acentua expressamente, sem dúvida que o abismo entre
a impotência da criatura e a omnipotência do seu criador e mestre se alarga até
ao insondável. Mas esta imensa divindade que nos mantém em suas mãos está
presente em algum lugar. A ordem das coisas depende da acção de uma vontade
única que permanece hoje o que era ontem, com a qual por um lado podemos
comunicar, e que por outro lado deve ser decifrada e interpretada. Coisas que
aconteceram originalmente são continuamente repetidas de forma idêntica. Mas
a origem como tal é inacessível. Não há caminho para ela. Resta apenas uma
retomada e renovação do legado que ela nos deixou, tanto puramente externo
quanto perfeitamente incorporado em nossas ações. Considerando que a
divindade separada da qual tudo procede é antes de tudo uma divindade interior,
cujo entrincheiramento tem uma resposta estrutural na distância que
experimentamos em relação a nós mesmos e ao mundo, uma divindade com a
qual há uma relação íntima e uma comunhão possível, cuja sabedoria e intenções
devem ser apreendidas, penetradas, experimentadas dentro de si mesmo. Mas
ela é também uma divindade problemática, cuja ausência neste mundo que por um lado é
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a sua obra e que por outro lado se auto-supõe, baseia um questionamento sempre
aberto sobre o enigmático desenho global do qual participamos. Um mundo desejado
tal como é por uma inteligência suprema que garante a sua coerência; um mundo ao
mesmo tempo capaz de funcionar por si mesmo na ausência do deus de uma ordem
completamente diferente, e cujo funcionamento é
compreender por si mesmo: o sentido deixa de ser simplesmente dado ou recebido
para se tornar algo a ser perfurado e reconstruído, entendendo-se que existe e é
acessível, que os planos de Deus são insondáveis e essencialmente cognoscíveis.
com uma divindade presente no ser. Nenhum acesso intelectual a Deus, radicalmente
desarticulado de um mundo que antes o significava em toda parte, que testemunhava
sua proximidade como fonte, e que agora não se refere mais a nada além de si
mesmo, e este é o homem jogado sozinho, com o único feixe das suas faculdades de
inspecção, perante esta totalidade muda da qual a sua ambição de sentido o separa
radicalmente. Não é um caso de dois mandatos, mas um caso de três mandatos. A divisão
a excelência deve ser pensada, não provém de uma série de decretos mais ou
menos perigosos diante dos quais bastaria curvar-nos, mas de uma economia
global definida internamente em termos de correspondência plena e completa
ou de ajuste perfeito a si mesma. Deus, em uma palavra, não faz e não pode
fazer nada. Ele age segundo a necessidade, isto é, em conformidade com a
presença absoluta que o caracteriza. O que existe através dela está
necessariamente inserido no interior de uma totalidade que contém em si, em
última análise, a sua razão suficiente. Pelo menos a questão se torna o problema
inevitável, a dificuldade essencial que alimenta as diferenças entre os fiéis.
gravidez da original. Daí, desde o início, uma divisão irremediável entre duas
tendências fundamentais, reflectindo na sua oposição as tensões íntimas do
dogma: por um lado, uma tendência inesgotável para a inovação em matéria
de diferença de Deus, e por outro lado, uma inabalável tendência para a
conservação, quando se trata de salvaguardar uma ligação viva entre o céu e a terra.
O aprofundamento infinito do outro contra a restauração da identidade última
do ser. Sempre é possível, de certa forma, de facto, exclamar a verdadeira
grandeza de Deus para voltar-se contra a religião estabelecida, deixando
sistematicamente de oferecer apenas uma visão restritiva. Mas não menos
significado, em comparação, defender, com a complexidade do visível e do
invisível, o que sempre foi a pedra angular inconsciente da vida social e
mental dos homens. Toda a história religiosa e intelectual da Europa cristã
girará em torno desta única e mesma questão central: pesar a favor da
exterioridade onipotente de Deus, esforço para combatê-la ou reverter os
seus efeitos. Aí reside o coração invariável a partir do qual se ilumina a
unidade desta sucessão extraordinariamente emaranhada de disputas e batalhas.
Ainda é necessário separar cuidadosamente as aparências da realidade,
se quisermos apreciar com precisão a natureza das posições envolvidas e o
alcance do seu antagonismo. Porque é regularmente no sentido inverso que
os protagonistas se apresentam, a verdadeira inovação avançando sob o
signo do regresso restaurativo a uma autenticidade ou integridade primitiva
(como é exemplarmente o caso de toda a série de recursos no Agostinismo,
até ao Jansenismo) , ao passo que, inversamente e da mesma forma, o
objetivo estritamente conservador segue os caminhos da invenção para
satisfazer o seu desígnio retrógrado. Na verdade, concentrou-se e concentrou-
se em grande parte na defesa da Igreja mediadora e, através dela, da
solidariedade incorporada entre aqui embaixo e o além. Mas também passou,
ocasionalmente, pela produção de respostas inventivas aos grandes avanços
na separação do mundo visível do seu princípio invisível, desde a resposta mística do último
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doutrina fixa, em seu poder como um esquema a ser implantado. Existe, por
outras palavras, e esta é a originalidade essencial da fonte do futuro de onde
viemos, uma história religiosa que transborda por todos os lados a história da
religião em sentido estrito. Tem o seu princípio gerador: a expressão progressiva
da totalidade das possibilidades latentes dentro do esquema da unidade divina.
É segundo esse enfoque organizador que se evidencia a unidade do seu duplo
movimento: metamorfose do outro mundo, e remodelação, correlativamente,
do ser-neste-mundo sob todos os seus aspectos – desde o modo abstrato de
compreendê-lo até o a forma material de habitá-lo, incluindo o modo como ali
coexistimos coletivamente.
Porque os dois andam indissoluvelmente de mãos dadas, o movimento da
ideia e a reformulação da experiência real, a evolução do conteúdo religioso e a
mudança na forma da atividade humana. Uma vez esclarecida a sua questão
central, é o segundo aspecto do processo a ser claramente identificado,
nomeadamente a solidariedade íntima que une esta transformação do divino à
imensa mutação intelectual, política e material da qual emergiu a nossa
civilização secular. A materialização exaustiva da transcendência como estrutura é também e
é inseparavelmente o estabelecimento de uma nova ordem de prática terrena,
de um novo modo de pensar, de um novo tipo de relação com a natureza, de
uma nova forma de disposição de si mesmo e de conexão com os outros.
Racionalidade, individualidade/liberdade, apropriação transformadora do mundo
natural: três eixos fundamentais do nosso universo cuja implantação unida
constitui a tradução concreta desta grande tradução de um para dois que é o
coração do movimento religioso ocidental. Todos os três são imediatamente
germinais na nova articulação do visível e do invisível pressuposta pela figura
cristã do divino (esta considerada, mais uma vez, não isoladamente, mas no seu
contexto, como a expressão estruturalmente mais realizada – inclusive em
relação à ruptura grega com a ordem do mito – da grande reversão espiritual do
“período
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DO MITO À RAZÃO
DA DEPENDÊNCIA À AUTONOMIA
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Vimos também como, desde o início, a emergência do deus pessoal traz consigo
uma transformação radical do estatuto dos seres, isolando-os e voltando-os para si
mesmos. Onde a comunicação com o princípio de todas as coisas passou pela
subordinação em cascata das partes ao todo, pela dependência externa, em cada
nível, de algo superior a si mesmo, a relação com o poder supremo torna-se direta
e inteiramente interior. Deixa de ter como vetor o elo entre os seres e passa a
centrar-se em cada um deles.
Neste terreno como noutros, a fé cristã representa apenas o ponto avançado de um
movimento muito mais amplo. Assim que começarmos a desfazer a antiga aliança
que assegurava a perfeita co-presença da ordem visível e das suas fontes ou raízes
invisíveis, assim que começarmos a postular, para além dos laços sensíveis que
prendem as coisas e as pessoas, a existência de um único princípio inteligível que
comanda secretamente a vida universal, há uma secessão interior que responde à
fratura do ser. Dependendo do hiato assim aberto entre o nível das aparências e o
nível da verdadeira realidade, surge uma ética de retirada e de mobilização com
vista ao acesso, dentro de si, a esse verdadeiro bem que o comércio do mundo
deixa para trás. ausente. A ética da qual a exigência cristã de conversão, exigida
pela revelação do interesse do criador pela sua criatura, constitui simplesmente uma
versão extrema. Ao lado, ou melhor, abaixo, do ser social, preso externamente na
rede de restrições e obrigações comunitárias para com César, existe agora um
homem interior, absolutamente independente em última instância, profundamente
dentro de si mesmo, na sua relação com Deus. O ator vinculado às afiliações deste
mundo corresponde, em cada crente, à pessoa livre do compromisso com o outro
mundo.
1 É isto que nos opõe a uma defesa e ilustração do Génio do paganismo como a apresentada por Marc
Augé.
2 Esta é a oportunidade, uma vez que nos deparamos com as duas figuras religiosas que mais
especificamente colocam o problema, o dualismo e o Deus separado da gnose, de insistir na distância entre o
nível do discurso explícito e o nível de estrutura implícito na abordagem adoptada. aqui. Estamos lidando com
sistemas de crenças que aparecem massivamente sob o signo da dualidade ou da alteridade: batalha cósmica
do Bem e do Mal ou estranheza absoluta do Deus verdadeiro em nossa esfera de trevas (vamos tomá-los por
conveniência como tipos puros; estes são na realidade lógicos pólos que são mais frequentemente encontrados
em combinação). No entanto, do ponto de vista da organização última do ser que postulam, são uma ontologia
unitária.
Isto é facilmente compreendido no caso de um dualismo estrito: a guerra inexpiável entre as trevas e a luz
supõe e atesta que fazem parte do mesmo universo; a divisão em dois é uma figura do Um. É menos óbvio no
caso gnóstico, onde o Deus infinitamente distante parece muito mais outro à primeira vista do que o sujeito
absoluto do mundo da ortodoxia cristã. E, no entanto, é através deste último que passa a verdadeira dualidade,
com a autonomia do mundo dos homens, quando a gnose continua a proceder a partir de uma compreensão
hierárquica e, em última análise, continuista, metafisicamente falando, das ordens da realidade - do ponto de
vista do princípio supremo e seu absoluto suprapessoal, de modo que a ascensão de suas emanações fornece
acesso a toda a realidade, incluindo aquela da morada inferior onde definhamos, o grau mais baixo do grau
mais baixo concebível da hierarquia das realidades, torna-se um novamente. O discurso do outro, da partilha
cósmica, do além do ser, do desconhecido divino vale uma afirmação de identidade ao nível da economia
ontológica.
O interesse excepcional da abundante tradição espiritual que daí emerge é tanto o facto de criar uma ponte
com as espiritualidades orientais como de nos permitir localizar exactamente, a partir de dentro, a bifurcação
ocidental. Desde o ambiente do seu nascimento até às suas expressões modernas, acompanha-o, de facto,
como a sua sombra ou o seu duplo fiel. Do maniqueísmo ao hermetismo místico, passando pela heresia do ano
1000 ou pelo catarismo, vemos-no reactivado sob novas faces em resposta a cada avanço significativo na
desintegração do visível e do invisível. É a história desta longa hesitação entre dois caminhos, onde se
desenrolou a parte mais singular da nossa história, que precisamos reconstruir.
3 Sejamos claros, para evitar qualquer ambiguidade: um mundo metafisicamente fechado sobre si mesmo é
um mundo fisicamente infinito. O fechamento ontológico da esfera dos homens anda de mãos dadas com a sua
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abertura de materiais. O infinito é o próprio instrumento e elemento de fechamento: onde quer que formos, por
mais longe que possamos ir no pensamento, estaremos sempre dentro do universo físico. O infinito, em outras
palavras, é a nossa prisão, o que certamente atesta a impossibilidade de ultrapassar os limites daqui de baixo.
O infinito é necessário para selar o fechamento desta ordem de realidade sobre si mesma.
4 Dependendo da nossa abordagem geral do método, deixamos conscientemente de lado a questão
colocada pela forma aporética que o desenvolvimento desta problemática da acessibilidade do sujeito divino
na objetividade das coisas assumiu no âmbito da filosofia racionalista, de Descartes a Hegel. . Teremos de
explicar as razões pelas quais o processo que apresentamos linearmente como o desdobramento simultâneo
da diferença divina e da racionalidade autónoma do mundo – com razão, no nível operacional que nos interessa
principalmente – deu historicamente, entre aqueles que se esforçaram dar-lhe expressão teórica, nos termos
de uma oscilação e de uma contradição entre imanência e transcendência. Como se houvesse uma escolha
entre uma inteligibilidade integral do mundo que abole a separação divina ou uma diferença de Deus que
reintroduza um resto do ininteligível (a criação de verdades eternas em Descartes). Digamos muito brevemente
que a dificuldade nos parece dever-se à herança teológica da participação do visível e do invisível que continua
a informar a ideia clássica de conhecimento, em particular na forma de manutenção de uma capacidade
intelectual intuição (ou a reconstrução do seu equivalente: a apreensão da mente por si mesma). Esta tensão
constitui o verdadeiro pano de fundo da solução kantiana; é isso que lhe dá todo o seu significado e alcance.
Kant é o primeiro a pensar rigorosa e completamente de acordo com a dualidade ontológica, enquanto os
outros reintroduzem invencivelmente, contra o movimento seminal do seu pensamento, o ponto de vista do Um.
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4
Da imersão na natureza
à transformação da natureza
A religião do passado puro e da sua repetição pura implica como um dos seus
correlatos diretos e cruciais, como vimos, uma certa disposição dentro e em
relação ao mundo natural. O adiamento das sequências fundadoras que dão
razão às coisas como são num outro tempo, do qual o presente é apenas o
renascimento e a cópia imediata e necessariamente tem o efeito de incluir ou
mergulhar a ordem humana na ordem da natureza – para torná-las em grande
parte inseparáveis . Se as origens são radicalmente anteriores, são também do
dia e da noite, da sequência das estações, do curso dos astros, da distribuição
dos animais e das plantas ou da distribuição dos homens, dos seus modos de
fazer as coisas e da forma de seus links. O respeito absoluto que devemos aos
costumes ancestrais, devemos tanto à organização do universo circundante.
Assim como não podemos pôr as mãos nas regras que estabeleceram de uma
vez por todas o modo de vida correcto, não podemos empreender nada que
possa alterar a economia natural. A renovação escrupulosa dos costumes e a
preocupação em deixar as coisas como estão andam estritamente de mãos
dadas. É por causa deste curso que só podemos, na lógica do sistema, sentir
uma solidariedade integral e íntima. Não só não é possível que um segundo se
oponha a ele, mas o sentimento de co-pertencimento a ele é tão poderoso que
qualquer ação de predação ou remoção que possa perturbá-lo exige um retorno.
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A máquina política
É sem qualquer dificuldade que a taxa agropastoril entra nele e o cumpre, por mais subversivo
que seja o seu princípio para o antigo equilíbrio. Além disso, por si só, em geral, a
domesticação de animais e plantas não parece provocar directamente mudanças sociais
“revolucionárias”. Prova disso é o facto de a maior parte das sociedades selvagens que
pudemos conhecer serem sociedades de além do Neolítico, que digeriram a mudança no seu
modo de subsistência sem que a lógica global do seu funcionamento tenha sido
substancialmente alterada.
a técnica não poderia ter dado nada sem a restrição ao trabalho que criou um
novo ser, um novo tipo de ator social: o camponês – figura durante milênios do
sujeito produtivo. Reformulação completa, pela força, da paisagem e do carácter
humano de onde brota este processo de alargamento indefinido do universo
material que chamamos propriamente de história - constrangimento político, é
preciso acrescentar, encontrando muito rapidamente um relé interactivo
determinante na pressão demográfica do qual produz as sementes da primavera.
O advento do Estado, uma revolução no modo de agregação dos homens, é
também, na verdade, virtualmente, a revolução inexorável dos números. Mas novamente, se
profunda, por mais decisiva que tenha sido a ruptura, ela ocorreu, no entanto,
num quadro preservado contra todas as probabilidades, moldando-se na relação
outrora estabelecida com o envolvente natural, sem nada sair do fundamental.
Não que não houvesse, aqui como em outros lugares, efeitos de retroalimentação
da ação sobre a representação. O domínio prático adquirido sobre todo um
conjunto de processos materiais não poderia deixar de ter impacto na imagem
das possibilidades humanas. Ela não foi capaz de não abalar a impotência
estabelecida, de não questionar os limites atribuídos ao controle das coisas.
Tendo isto em conta, devemos ao mesmo tempo ver que este novo poder, pelos
seus métodos de exercício, não inclui intrinsecamente nada que possa subverter
a organização existente em benefício de outrem. Através dos seus resultados,
mina certamente a sua credibilidade factual; No entanto, não contém de forma
alguma o princípio de uma organização alternativa. A persistência desta relação
de associação com a natureza explica também os limites fundiários dentro dos
quais se mantêm as capacidades de crescimento das antigas economias
agrárias. Isto porque, na verdade, são desprovidos de um verdadeiro princípio
interno de progresso. A tensão produtiva é impulsionada de cima ou transportada
de baixo pelo impulso dos números, sem nunca vir realmente de dentro do
confronto com as coisas e do esforço sistemático para aumentar e aprofundar
o controlo que temos sobre elas. Para entrar na era da eficiência será necessário que o relaci
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A energia da mudança
ao profeta e à regra que ele estabelece. Em outras palavras, o que falta aqui completamente a uma
visão fixa do conteúdo do dogma é a manutenção estrita da unidade ontológica, e seu correlato, a
salvaguarda não menos rigorosa de uma economia existencial onde estar-neste-mundo de acordo
com a norma do puro e do justo retém todo o seu valor em si mesmo (seja qual for a recompensa
que possa valer para os eleitos na vida após a morte), onde a relação com a realidade continua a
este que o credo monoteísta adquire força disruptiva. Seja com o que é dado, no plano da doutrina,
rigor, e não a restringir a uma visão mais ou menos retributiva do destino da alma após a morte:
existência com vista à vida verdadeira, que é a da outra vida. Vemos imediatamente o afastamento
da realidade sensível que daí resulta para o crente, no que diz respeito à antiga assimilação ao
cosmos, e a posição privilegiada que daí resulta para o homem em geral face ao resto da criação,
como ele é a única criatura capaz de ouvir o chamado do além. Assim excluído radicalmente da
sorte comum, ele adquire uma liberdade em relação à totalidade do que o rodeia que prefigura,
pelo menos no direito, abstratamente, a do “senhor e possuidor da natureza”. Significa isto que o
distanciamento provocado pela exigência de salvação é suficiente e que com a irrupção deste
fermento estão reunidas as condições para que se estabeleça uma relação ativa e transformadora
com a realidade? Obviamente, não, não mais. Se este mundo inferior não é a nossa verdadeira
pátria, não será a resposta apropriada perder o interesse por ele, afastar-se dele, renunciar a ele,
esforçar-se por escapar dele, de acordo com o grau de desvalor que lhe é atribuído? No espectro,
a divisão do simples crente entre o que deve a Deus e o que deve a César, entre a sua orientação
uma extremidade
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rumo à salvação fora do monoteísmo, fora da preocupação com o divino, no limite. Mas em um
forma de uma disjunção (concebida) entre o criador e a sua criação, ou na forma de uma
lacuna (sentida) entre o sofrimento das aparências e serenidade da verdade – por um lado, o
reajustamento rigoroso à lei do mundo e à vontade de Deus; por outro lado, a dissolução da
dor e do erro sensíveis em nada inteligível. Num caso, é a economia prática da ligação à
divindade que neutraliza a distância que o pensamento lhe empresta, enquanto no outro é o
sistema de pensamento, e a personificação radical, em particular, do princípio supremo, que
No caso cristão, estamos lidando com uma combinação dos dois componentes.
Daí a eliminação a priori das duas soluções estabilizadoras que acabamos de descrever. Por
um lado, de facto, a ideia de um deus pessoal e criativo não parece muito compatível com a
redução do criado a uma fenomenalidade insubstancial. Se por outro lado o apelo à verdadeira
vida para além desta vida, com o que implica não só de mobilização pessoal irredutível,
independente de qualquer vínculo colectivo, mas também de dualidade nos registos de sentido,
presta-se mal ao estabelecimento da comunidade dos crentes em conjunção ideal com a lei
indiscutível e definitiva que o Altíssimo lhe destinou. Nem uma doutrina radicalmente escapista,
nem uma moral de submissão perfeita, nem uma possibilidade real de pura renúncia – mesmo
que a tentação em nenhuma das possibilidades de estar verdadeiramente satisfeito com a
ordem segundo
–,
Deus existiu poderosamente
reconhecer uma certa consistência para este mundo e um certo valor para a vida
descobrindo tudo o mais, tão diferente, tão distante, que sem a ajuda da revelação
teria permanecido desconhecido dos homens. Mas é ao mesmo tempo que a esfera
terrestre adquire consistência autónoma, tornando-se ontologicamente completa por
si mesma, à sua maneira - em qualquer caso, assumindo dignidade suficiente, por
mais inferior que a sua realidade especial deva permanecer, para que o Verbo ali exista. .
Pela sua união mística em Cristo, o humano e o divino são definitivamente separados
e diferenciados, assim como se desfaz em seu princípio o emaranhado hierárquico
da permanência terrena e do reino celeste. Qualquer que seja o poder do passado,
qualquer que seja o esforço para manter o entrelaçamento cósmico do visível e do
invisível, existe agora, no centro do sistema de crenças, o inesgotável e nutritivo
mistério da separação e da alteridade condensado na figura do Salvador. . Através
do enigma da sua presença e da junção antinatural que nele se produz, o filho do
homem redobra e vivifica a dialética inscrita no casamento da personificação
monoteísta com a recusa do mundo.
Mais sentido, dependendo da diferença que indica, para um escapismo radical e a
busca pela libertação, daqui e agora, através do cruzamento das aparências: não há
fuga nesta vida deste mundo, do qual há ainda mais para reconhecer e abraçar a
conclusão de que ele, no entanto, merecia a humanidade de Cristo. Mas já não é
possível encontrar descanso na exata observância da ordem que Deus quis para as
suas criaturas aqui embaixo: difícil, a princípio, dependendo do inconcebível em que
Ele permanece entrincheirado, encontrar ali
certeza quanto à interpretação da própria vontade, para ter certeza de sua veracidade;
e sobretudo é impossível não nos sentirmos totalmente exigidos pelo próprio abismo
que nos separa dele. Paradoxo da alteridade divina reelaborada no quadro da
encarnação: ao mesmo tempo que intensifica o apelo de fora e reforça a mobilização
em vista da salvação, fecha o caminho à renúncia, sublinha a impossibilidade de
escapar. Daí a inversão da lógica religiosa que ela torna possível: dedicar-se
inteiramente, exclusivamente às tarefas da salvação, mas não afastando-se deste
mundo, não estabelecendo-se fora dele, em
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casamento do visível com o invisível com um sistema que garanta a sua partilha
e desenvolvimento mútuos. A observação valoriza e relativiza o significado do
avanço doutrinário que vemos ocorrer no âmbito da Reforma 4 . Não há dúvida
de que se revela, nesta santificação da eficácia secular, uma dimensão essencial
do tornar-se cristão, ou mais precisamente do cristianismo como devir. Mas uma
dimensão também muito mais geral e difusa do que a sua área de aplicação
explícita. E uma dimensão que vem de muito longe, antes de ser formulada
como regra de vida. Do ponto de vista da extensão social, bem como do ponto
de vista da profundidade histórica, o “protestantismo ascético” caro a Max Weber
constitui apenas a franja pioneira e a fração emergente de um imenso movimento
clandestino que, encoberto, negado, no meio de mil resistências impôs
gradualmente por toda parte a otimização ativa da esfera terrestre em lugar da
antiga submissão limitante ao intangível. É razoável admitir que a coerência
desde cedo assegurada pela ética protestante entre os valores conscientemente
reivindicados e a prática eficaz atuou como um reforço eficaz. Mas não devemos
exagerar o significado daquilo que entendemos desta forma como um objectivo
explicativo. Em todos os casos, trata-se apenas de uma tênue manifestação
superficial em comparação com a reestruturação global do ser-no-mundo que a
sustenta e à qual o “espírito do capitalismo” ele próprio expressa apenas uma
expressão muito parcial. Esta reformulação do campo da experiência funde-se,
no seu desenvolvimento, com a mudança revolucionária na estrutura religiosa
da qual a Europa moderna foi palco; continuará, como ele, muito além das
primeiras formas em que sua obra é atestada, a ponto de subvertê-las por sua
vez; e não acontecerá menos, como ele, mesmo onde a rigidez das atitudes e
dos dogmas começará por erguer uma barreira aparentemente intransponível –
que irá contornar, infiltrar, deslocar, de todas as maneiras, para, no final, em
última instância, irresistivelmente , ganhar. Portanto, o novo compromisso com
a realidade foi
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Ortodoxia e heresia
Incorporação e interpretação
algo do ilimitado incriado, mas para testar nossos limites como criaturas. Seja
pela distância do mediador daquilo que ele transmite – não é a voz de Deus que
nos chega, mas a voz do filho, de onde parte o esforço para ascender à ideia do
Pai. essência infinita - ou se é devido à diferença de natureza entre o que nos é
transmitido e o absoluto intransmissível tal como em si mesmo - o que recebemos
é o pensamento de Deus na linguagem do homem, e sabemos que ele excede
a religião da Encarnação é fundamentalmente uma religião de todos os lados –,
determinação interpretação. Isto é, uma religião que envolve tanto a
e a imposição de um dogma como a liberdade de consciência. E é esta
articulação interpretativa que desaparece quando a interposição radical do Cristo
mediador entre Deus e os homens se apaga de uma forma ou de outra, seja por
rebaixamento ao humano, seja por elevação ao divino. Porque, por outro lado,
se Cristo é Deus tendo apenas assumido a aparência de um homem, encontramo-
nos, sob a cobertura de uma doutrina oposta, num caso estritamente equivalente,
o de uma participação imediata do invisível para o visível. , de uma intervenção
direta de Deus no mundo, exigindo, portanto, nada mais do que uma recepção
de evidências e uma submissão sem reservas.
da especificidade cristã. Podemos ver claramente o que está por trás desta
acentuada e profunda dificuldade em chegar a um acordo com a união perfeita
da Palavra e da carne numa só pessoa. Esta é a preocupação de um grande
deus, que portanto não pode abraçar validamente uma condição tão inferior à
sua – qualquer falta de algum tipo deve sempre, nesta estrutura de pensamento,
sobrecarregar uma ou outra das naturezas do encarnador, de modo que o a
superioridade essencial do pai é preservada. Mas o Deus cristão não é apenas
um grande deus, e como tal impronunciável ou infigurável, pois o seu poder
excede as nossas forças. É acima de tudo outro deus - não um deus que nos
esmaga com a sua omnipotência do topo de uma hierarquia cuja indignidade
nos impede sequer de olhar para o cume, um deus cujo absoluto floresce de
acordo com a sua própria separação com o nosso mundo. Não um deus cujo
poder se afirma na medida da redução da nossa liberdade, um deus cuja própria
plenitude se desdobra na medida da ampliação da nossa autonomia. O que
sustentamos aqui, diga-se de passagem, é a condição metafísica de possibilidade
da dissolução do princípio hierárquico do qual nosso mundo tem sido palco. Foi
em Deus que ocorreu pela primeira vez a revolução da igualdade, no advento
do deus separado.
E o outro deus é e só pode ser o deus da mediação, cujo próprio ser nos foi
revelado na pessoa do filho, e cujo ao mesmo tempo nunca terminaremos de
questionar o afastamento insondável, da palavra em que ele anunciou a si
mesmo. Mediação pessoal, mediação institucional: o que surge como sentido
da interposição histórica e datada do deus-homem entre Deus e os homens, a
Igreja, na sua ordem, repete-o instalando-o no presente vivo da sua permanência
através dos séculos . Do aprofundamento exegético à busca de uma pastoral
cada vez mais eficaz, nesta preocupação incessante sobre o que é fazer
acreditar, ela testemunha, na ação, através das suas obras, a essência
problemática da compreensão de Deus – e ao fazê-lo, alimenta a procura de
recepção e
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de uma busca muito pessoal pela sabedoria divina, acima e além da transmissão que
afirma efetuar. É a ambiguidade fundamental do seu estatuto e do seu papel, que explica
tanto a sua capacidade de sobreviver a todos os desafios - porque exprime, nesta
interposição mediadora, o que há de mais específico no modo cristão de relacionamento
com Deus - como a inevitabilidade da sua vocação em questão - porque só mantém esta
posição criando as condições para a sua própria superação, na forma de um processo
de fé independente de Ela. A mediação pessoal volta-se então contra a mediação
institucional.
O que ocorreu como evento mediador não tem mais, por definição, lugar para ter
substância numa organização que repete em sua função permanente a estrutura da
revelação. Basta a meditação íntima da encarnação do Verbo, sem a tela de um
a verdade divina e a abertura interpretativa que justificam a sua existência. O que talvez
ilumine a profundidade das suas paradoxais faculdades de resistência e adaptação face
à ascensão irreprimível do espírito de liberdade. Ela carrega dentro de si, à sua maneira,
aquilo que a desafia; é inteiramente construído, em certo sentido, sobre aquilo que lhe é
oposto. Devemos ter presente este equívoco constitutivo da função eclesial se quisermos
apreciar adequadamente a inflexão decisiva que a moralidade da subjugação inerente à
crença num Deus pessoal sofreu no Cristianismo. Poderíamos acreditar, à primeira vista,
que ele a está fortalecendo ainda mais, ou mesmo levando-a aos seus limites, com a
construção de um aparato de autoridade, sua obsessão pela ortodoxia e o estabelecimento
de um controle incomparavelmente rígido do estado das almas e os segredos dos
corações. Isto seria ignorar a incomparável liberdade pessoal do crente na sua
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Oração e trabalho
tudo para a outra vida, entra em festa quanto à estrutura do ser. Figuras
extremas, o eremita, o renunciante, o asceta ou o monge, figuras articuladas,
a cavalo ou em trânsito de um registro de realidade para outro, são válidas
como emblemas ontológicos: sua conduta é exposta no ato de quais são as
relações entre e invisível, entre a aparência e a verdade. Atravessar o
insubstancial, unindo-nos à presença próxima da qual apenas um véu de
ilusão nos separa, ou tendo em conta o enclausuramento terreno, mesmo na
meditação exclusiva da verdade separada? Talvez em nenhum lugar melhor
do que neste ponto surjam no campo cristão a hesitação e a decisão entre a
ordem do Um e o caminho da dualidade.
Grande foi a tentação da renúncia radical, o primeiro exemplo do eremitismo
oriental atesta poderosamente isso e, através dela, a metafísica da
participação que é como a filosofia natural e obrigatória da libertação ascética.
No final da extrema desvalorização do sensível e da experiência de desapego
que ele exige, há logicamente de fato um pensamento do Uno inteligível
como a única realidade verdadeira - uma realidade da qual a nossa
permanência visível constitui apenas uma dependência inferior, pelo menos
ao mesmo tempo, suficientemente irreal para poder libertar-se dela, e
suficientemente penetrado pela verdade invisível, apesar de tudo, para
fornecer o suporte que permite alcançá-la. O que demonstra na prática a
instalação do virtuose espiritual na proximidade do divino, através do
rompimento metódico das miragens do humano, ao fazer explodir e dissolver
a inanidade da esfera material. Em contrapartida, o caminho percorrido em
termos do modelo monástico, no lado ocidental, mostra desde muito cedo
uma orientação profundamente diferente. Pelo agrupamento cenobítico, para
começar, que se impõe como norma dominante – primeiro limite atribuído ao
extremismo da recusa: nenhuma secessão completa da condição comum; é
na solidariedade, em concertação com os seus semelhantes, que o atleta da
salvação deve liderar a sua elevação individual em direcção a Deus. Mas sobretudo porque
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mundo interior, porém, o mundo que ela afirma realizar. É imerso inteiramente
no mundo e dedicando-se inteiramente a ele que o crente age na medida do que
uma vida deve ser doravante para o outro, o florescimento do sujeito absoluto
fora da esfera que os homens chamam à plena realização dela. e o trabalho
infinito essencial para levá-lo à suficiência7 . Ainda assim, não devemos perder
de vista, mesmo nesta inversão, a solidariedade genealógica que une a ascese
do empresário e o afastamento do contemplativo, assim como aquela que liga o
sujeito fiel à Igreja e ao homem interior, sozinho diante de Deus .
O jogo interno das causas materiais e das forças sociais é suficiente para
explicar o estabelecimento de um sistema de civilização cujas características
cruciais simplesmente coincidem, contingentemente, com os valores cristãos
essenciais. Nada permite absolutamente excluir um efeito de infiltração e difusão
da economia ontológica tacitamente inscrita na compreensão bíblica, sacramental
e eclesial da relação aqui abaixo/além dentro da economia real que governa o
mundo. . Qualquer que seja o lado que escolhamos, o que resta é que toda uma
parte deste universo sempre tão profundamente marcado pela velha lógica
religiosa da dependência parece ser a realização embrionária de uma lógica de
suficiência.
seres, pelo contrário, até ao limite do possível – que atingiu, precisamente, cerca de
1300 – gerando esta rede contínua e celular de campanários e campos, este tecido
terreno incomparavelmente denso, sem cuja base não compreenderíamos a solidez
das principais construções políticas subsequentes. E dentro deste “cercamento”
territorial, hierárquico e comunitário, a discreta e decisiva
9
margem de manobra
conquistada, no entanto, pelo campesinato complô na condução da sua exploração.
Muda tudo, modificando conjuntamente a forma dos constrangimentos do trabalho
e o espírito da relação com a natureza. Por mais subjugado que esteja, este senhor
que de alguma forma se tornou um pequeno agricultor familiar não se limita a
transmitir a pressão dos números ou da dominação. Ele se destaca para lhe
responder, forte numa primeira liberdade para organizar o seu trabalho em que se
delineia esta anterioridade da relação com as coisas no laço social que constituirá o
coração do individualismo económico dos modernos - e a ascensão dos rendimentos
( eles duplicaram entre o século IX) certamente não é sem
e e XIII
comunidade sob a capa dos corpos, que será o impulso determinante para o
desenvolvimento da nossa civilização da produção e da posse - tanto mais
que depois das cheias do final do século XIII, o planalto técnico e demográfico
irá parar o mundo rural numa “história parada” durante quatro séculos, até ao
e11
início do século XVIII considerar indiferente esta . O fato é que não podemos saber
Perpetuidade coletiva
uma vez que pode estar ligada muito directamente ao esforço dos poderes temporais
para garantir, face às pretensões imperiais do papado, uma legitimidade que seja ao
mesmo tempo independente e incontestável. Forçadas pela monarquia papal e pela
sua reivindicação à plenitude do poder a dotarem-se de um propósito religioso
equivalente e concorrente, as monarquias nacionais são levadas a explorar a
possibilidade de uma política de autonomia terrestre, fora da mediação, conteúdo de
nascimento na religião da mediação . A ambição mediadora da Igreja – unir
definitivamente o céu e a terra, unindo o poder espiritual e o poder temporal na
pessoa de um único soberano – revela e liberta este incrível potencial aberto pela
vinda de um mediador como nenhum outro, o Verbo encarnado: a independência da
ordem humana em relação à ordem divina e, portanto, a plena legitimidade cristã de
um poder que encarna a própria plenitude da esfera humana. Brecha na qual a
resistência dos reis tateia. Assim ganha forma e consistência mais um modo, político,
de investimento no aqui de baixo sob o signo da completude. Com tudo no fim do
horizonte, estes ingredientes são tão cruciais quanto o ascetismo da acumulação
capitalista para a modernidade, e rigorosamente inseparáveis dela: a religião do
Estado e o culto, oh, tão sacrificial, de
Nação.
processo que refrata e acentua, tomando pelo menos tanto o caminho de uma
tradução silenciosa em ação quanto o de um design considerado. E o que promove
em termos de ética económica é apenas um aspecto de um movimento global que
se traduz noutros lugares, por exemplo, em princípios políticos.
A mudança que expressa nas perspectivas de acção terrena é apenas um caso,
poder-se-ia dizer, de uma inversão geral das lógicas de poder da qual a dinâmica do
Estado moderno constitui a outra encarnação exemplar. O aumento do poder passou
pela extensão territorial, pela terrível afirmação do distanciamento do soberano, pelo
cerco e pelo aumento do controlo da produção e do comércio. Vislumbramos os
pródromos da mudança relativa à primeira coagulação da forma nacional: começa a
passar pela administração aprofundada de um território assumido na sua
circunscrição e, aprofundando-se ao longo do tempo, passa de tomar cada vez mais
os caminhos da correspondência do poder à vontade dos seus cidadãos, da
participação cidadã, da emancipação de interesses, da libertação da iniciativa civil.
Crescimento através da limitação: este é o segredo do fortalecimento sem
precedentes das autoridades públicas na era da liberdade. Contra a aparência, a
democracia e a cacofonia da multidão, a abertura aos humildes e aos fracos e o
choque da igualdade de direitos de todos são a verdadeira fonte do poder – algo
que o bom senso conservador também ignora. medo da incompetência anárquica
dos escravos e do bom senso progressista, tudo na esperança da moralidade
coletiva, quando se trata dos meios de força social.
Temos o equivalente a esta inversão da lógica política ao nível das práticas materiais
na reorganização da relação com o mundo da qual captamos a primeira expressão
aberta, se não as primeiras manifestações, através da Reforma. Até então, o poder
material fazia parte da órbita do poder político. Assumia o domínio dos homens. A
grande novidade é que ele irá se desprender, deslocando-se para o lado do
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A paz
Homo econômico
do trabalho. A recusa em acomodar o que lhe cabe em termos de força, sexo ou rosto, a preocupação em
dominar os seus mistérios e funções e o esforço em maximizar os seus poderes e recursos. Entenda,
domine, aumente. Beleza, performances ou prazeres, uma mobilização para abraçar de forma mais
adequada e intensa esta coisa recebida por excelência que é a própria carne. Mobilização que se alimenta
deste foco central obscuro que apela a uma reelaboração interminável da condição da Terra na sua
totalidade, através da qual o activismo contemporâneo comunica com a imobilidade do passado. Porque
o que nos faz virar cada vez mais as costas ao universo dos nossos antecessores é ao mesmo tempo o
que nos constitui mais profundamente como seus herdeiros. Da reverência universal pelo dado, pelo
recebido ou pelo herdado que os animou, à necessidade incontestável de retomar e de inovar que nos
impulsiona, que nos liga consubstancialmente, sempre, àquela que foi a inspiração milenar das suas
vidas é também aquilo que, cada vez mais irreversivelmente, nos distancia deles.
1 Para uma ilustração recente, as análises agudas de Augustin BERQUE sobre o “paradigma japonês”.
Cf. Japão, gestão do espaço e mudança social, Paris, Flammarion, 1976, e Espaço vital no Japão, Paris,
PUF, 1982.
2 Não apenas o “arquétipo” da máquina moderna, como sustenta Lewis Mumford, mas também o seu
completo oposto. A inversão de signo não importa aqui menos que a filiação. Cf. Lewis MUMFORD, O
Mito da Máquina, trad. fr., Paris, Fayard, 1973, 2 vols., em particular vol. Eu, cap. IX, “O modelo da
megamáquina”.
3 Neste ponto concordamos com as conclusões de Jean BAECHLER, “O alimento dos homens. Ensaio
sobre o Neolítico”, Arquivos Europeus de Sociologia, XXIII, 1982, pp. 241-293. Para uma análise crítica
da noção de economia de subsistência, reportaremos, para além da obra de Marshall SAHLINS, Age of
stone, age of abundância (Paris, Gallimard, 1976), ao estudo de Jacques LIZOT, “ Primitive economy and
subsistência. Ensaio sobre trabalho e alimentação entre os Yanomami”, Libre,no 4, 1978.
4 A Reforma, especifiquemos, é considerada aqui mais do ponto de vista da tendência fundamental
que a inspira e que a carrega do que do ponto de vista das cristalizações doutrinárias nas quais ela
realmente se instalou. Privilegiamos o movimento que constitui o seu coração, nomeadamente a restauração
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causa de mediação dentro de um mundo organizado pela conjunção espiritual. Na verdade, seria
necessário mostrar como este movimento, longe de chegar ao fim de si mesmo, lida com o que contesta
em todos os pontos cruciais que regem a articulação dos dois reinados, de forma desigual, aliás, segundo
os reformadores. Quer se trate da própria doutrina da Encarnação, da concepção do vínculo eclesial ou
da ideia eucarística, o equilíbrio encontrado em Lutero, em Zuínglio ou em Calvino está longe de ser
idêntico, e varia segundo o mesmo autor de um tema para outro . Uma recusa semelhante da
transubstanciação leva à consubstanciação em Lutero, à substanciação em Calvino, ao símbolo em
Zwingli – ainda há um longo caminho, até este último caso, desde a contestação da presença plena, tão
radical que seja, até a dissolução de toda presença. O mesmo acontece com a posição do homem em
relação a Deus: a afirmação dos recursos da individualidade no homem não está separada da afirmação
dos poderes de Deus sobre o homem. A rocha da fé pura e da certeza subjetiva de um lado, mas o servo-
árbitro do outro, a conquista da autonomia interior do crente, mas ao preço da escravização reforçada
pela doutrina da predestinação e da graça. Homem sozinho diante de Deus, mas mais do que nunca
dependente, nas mãos de Deus. De um modo geral, a Reforma deve ser concebida em termos de
renovação e deslocamento do compromisso que atravessa a história cristã. Marca uma inflexão decisiva,
pois explicita a lógica da alteridade que tornará o compromisso cada vez mais difícil de manter, a ponto
de se tornar insustentável. Mas ainda se enquadra na sua linha e perpetua o seu enquadramento.
5 O que certamente não significa unanimidade filosófica e uniformidade de mentes. Uma vez recebida
a mensagem corânica como deveria ser, a variedade de escolas e interpretações é abundante – e é com
razão que podemos falar do pluralismo do Islão. Simplesmente, devemos concordar sobre o que significa
interpretação e sobre o objeto da interpretação. Não diz respeito ao próprio conteúdo da revelação e ao
verdadeiro conteúdo da vontade de Deus além da carta precária em que nos é registrada. “O Alcorão é
a palavra incriada de Deus”, irrefragável; trata-se de como acomodar este bloco inquebrável de lei e
significa que há disputa e variação. O sistema é o oposto daquele do Cristianismo. Existe a incontestável
expressão direta de Deus onde a mediação de Cristo (da qual só temos com os evangelistas uma relação
que é ela mesma mediada) cria incerteza quanto à verdade última. Por outro lado, pela mesma razão,
não existe nenhuma autoridade que imponha centralmente a ortodoxia onde há necessidade no
Cristianismo de uma máquina dogmática. No quadro geral do Islão, o caso xiita
existe para atestar, a contrario, os efeitos da reintrodução de uma dimensão de mediação hermenêutica,
mesmo limitada (Henry Corbin fala de “distância igual” face “ao legalismo de da religião puramente
legalista e externa, e das implicações contidas na ideia cristã da encarnação divina", isto é, em particular
da Igreja e do seu magistério). A extensão da revelação do Profeta no sistema do Imã, a ideia de um
significado oculto do Alcorão, a exigência de uma interpretação esotérica trazem consigo, por um lado,
padrões de funcionamento e supervisão institucional significativamente diferentes da ortodoxia
sunita e, por outro lado, as condições de uma vida religiosa marcada pela efervescência e pela
diferenciação sectária – com o que queremos dizer não apenas a variação filosófica ou ritual, ou mesmo
o desvio interior do caminho místico (sufismo), mas a secessão relativa ao próprio compreensão do divino. Ela não
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não se junta, no entanto, à heterodoxia do tipo cristão: é com base no significado esotérico da palavra de
Deus que se trava a batalha hermenêutica, com o mais estrito respeito pelo seu conteúdo exotérico, e não
com base no substância final de uma sabedoria como tal oculta. Cf., por exemplo, Henry CORBIN, In Iranian
Islam, t. I, Le shî'isme duodecimain, Paris, Gallimard, 1971; Henri LAOUST, Os Cismas do Islã, Paris, Payot,
1975.
6 É a história interna do monaquismo que deve ser abordada sob este ângulo, a história em particular das
interpretações e conflitos de interpretação da regra de São Bento quanto ao modo justo de articular vida ativa
e vida contemplativa. Obviamente pensamos imediatamente neste espírito no exemplo privilegiado da reforma
cisterciense do início do século XII . Endurecendo a linha ao extremo, poderíamos dizer que na rivalidade dos
dois grandes sistemas, o antigo e o novo, Cluny e Cîteaux, temos a própria tipificação das duas opções
possíveis em termos da coexistência dos dois reinos , o aninhamento hierárquico ou dualidade igualitária.
Por um lado, a re-hierarquização cluniacana entre o céu e a terra, que leva a libertar os monges das tarefas
materiais em favor do essencial, a oração – mas sempre dentro, crucialmente, de um empreendimento
giratório, mesmo que por mãos servis, em direção ao desenvolvimento da permanência terrena. E por outro
lado, a exigência cisterciense de montagem de registos e de trabalho directamente realizado pela comunidade
– de ter em conta, de facto, através da obra de homens de Deus, o hiato entre o céu e a terra e o correlativo
constrangimento a passar pela valorização ativa daqui de baixo para chegar ao além. Isto, claro, sob o
pretexto de um regresso à pureza primitiva, quando na verdade é um avanço crucial na exploração e
expressão das potencialidades deshierarquizantes inscritas no núcleo cristão primordial (mesmo que as
conquistas não sejam respondidas apenas de forma muito imperfeita). a esta inspiração ideal). Sobre a
oposição dos dois modelos, cf. por exemplo Georges DUBY, “Monasticismo e a economia rural”, em Homens
e estruturas na Idade Média, Paris, Mouton, 1973.
7 Em termos da representação dos fins e deveres do cristão, o conteúdo desta passagem é excelentemente
condensado por Herbert LÜTHY : “O edifício da Igreja Católica permanece na separação das funções de
“aqueles que rezam” e “aqueles que rezam” e “aqueles que rezam” e “aqueles que rezam” e “aqueles que
rezam”. aqueles que lutam”. Na sua hierarquia de valores, encarnada na sua própria hierarquia, a santidade,
a meditação, a caridade são colocadas muito acima do trabalho utilitário, necessário para as necessidades
do corpo, mas não para a salvação da alma. Calvino – como todos os reformadores, mas superando-os a
todos com o seu radicalismo – destruiu esta hierarquia de funções e virtudes para reuni-las todas numa única
unidade indissolúvel, a da vida cristã exigida totalmente de cada indivíduo: o dever de cada cristão é ao
mesmo tempo, rezar, ler e meditar a palavra de Deus, ganhar o sustento, prover às necessidades da família,
viver santamente, isto é, com austeridade e laboriosidade e, se Deus o conceder, distinção, lutar e sofrer o
martírio pela sua fé, em suma, levar simultaneamente, segundo a sua força e o seu estado de graça, a vida
meditativa e a vida activa. Um nunca pode prescindir do outro, e um é colocado tão alto quanto o outro:
“Trabalhar é rezar”. Não há nada que possa recorrer a esta exigência total. » O Passado Presente, Mônaco,
Éditions du Rocher, 1965, p. 63.
8 Pierre CHAUNU, História, ciências sociais. Duração, espaço e homem na era moderna, Paris,
SEDES, 1974, e O Tempo das Reformas. A crise do cristianismo Paris, Fayard, 1975.
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e
9 Tomei emprestado o termo de Robert FOSSIER, Enfance de l’Europe, X -XII século XIX , t. Eu, o homem e seu espaço,
Paris, PUF, 1982.
10 Cf. por exemplo Guy FOURQUIN, “O tempo do crescimento”, em História da França rural, t. Século I , Paris, Éditions du
as origens até ao século XIV FOSSIER, Infância da Europa, op. cit., t. Seuil, 1975; Robert A formação do campo francês desde
II, A revolução económica. Basicamente, os comentários sugestivos de Pierre CHAUNU em La Mémoire et le sacre, Paris,
12 Gostaria de me referir, neste ponto, à segunda parte do meu artigo “Sobre os dois corpos do rei no poder sem corpo.
13 E os seus efeitos sociais, como a historiografia recente reavaliou. Cf. sobre este ponto Georges DUBY, Le Dimanche de
Bouvines, Paris, Gallimard, 1973, “Peace”, pp. 75-99, bem como “Os Leigos e a Paz de Deus”, em Homens e Estruturas da Idade
Média, op. cit., e suas observações em Les Trois Ordres ou l'imaginaire du feudalisme, Paris, Gallimard, 1978. Para um
Segunda parte
EU
O ponto decisivo para compreender esta dupla história – aquela que nos fez e
aquela da qual nos separamos: a medida exacta da
Dito isto, o que é notável neste caso é que começa na periferia antes de
atingir o coração dos mais poderosos entre os sistemas imperiais. E nos
perguntamos se poderia ser de outra forma, olhando os dados do problema.
Não há dúvida, por um lado, de que a reinvenção do divino que começa com
Moisés pressupõe na base e se baseia neste trabalho de debilitação e de
revelação cujo vetor é a dinâmica imperial – e quem melhor colocado, em
certo sentido, sentir os efeitos, que um pequeno grupo da periferia, preso e
jogado entre dois grandes pólos de poder, às vezes submisso, às vezes
cativo, às vezes quebrando a proibição, meio bárbaro e meio aculturado,
meio fascinado por superiores a ele e meio ciumento de sua identidade? Mas
também é muito provável, por outro lado, que a formulação radical de uma fé
monoteísta exigisse a extraterritorialidade em relação ao cadinho imperial
para se tornar realidade e, além disso, a intenção desesperada de se libertar
dele 2 . O facto é que, de Moisés a São Paulo, o fio condutor que permite
acompanhar o desdobramento completo de uma religião da dualidade reside
neste reiterado movimento de apropriação e rejeição, de retomada e
distanciamento face ao princípio imperial. Toda a operação que resulta no Cristianismo, inc
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A Aliança e o teste
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Os profetas
distância, são as potencialidades gerais de uma ordem espiritual que ela torna legíveis.
Também a figura das grandes inspirações de Israel desempenhará durante dois mil
anos de memória um papel de símbolo e de exemplo desproporcional ao alcance da
sua efectiva intervenção histórica. Muito independentemente de qual fosse a verdade
do seu apelo no seu contexto, Elias, Isaías ou Jeremias encarnarão para uma
posteridade sempre renovada a referência inesgotável para os esforços de
aprofundamento da religião interior contra a religião da tradição, a legitimidade inaugural
do partido individual contra a inclinação comum.
o que os profetas trabalharam; foi com vistas à obediência que eles se levantaram.
Mas do outro lado, entendido como único e todo-poderoso, Deus se torna aquele cuja
essência e desígnios nunca terminamos de sondar, aquele que justifica principalmente,
se não o exige, que questionemos a lacuna que separa as realizações humanas das a
sua verdadeira vontade – um deus que abre a possibilidade infinita de questionamento
pessoal, dissidência interior e desafio espiritual. Precisamente o que a mobilização
profética também definiu durante muito tempo. Reforço das obrigações externas e
alargamento da margem de manobra privada; peso do dever de submissão e
emergência do direito de revolta: inicialmente, e em princípio, a unidade divina também
contém ambas as tendências.
JESUS: O DEUS-HOMEM
E então, o Judaísmo fixo, parado, vem Jesus, que o transborda ao mesmo tempo que
o cumpre – porque só podemos compreender, a nosso ver, o aparecimento do messias
na linha e apenas como uma etapa adicional do processo iniciado por Moisés. A sua
pregação enquadra-se no aprofundamento da ideia de Deus a partir da qual acabamos
de identificar os dois eixos principais, repetição e meditação da prova matricial e
exemplaridade da secessão profética. Constitui, embora apenas de certa forma, o passo
final – no implícito e não no explícito, nos factos, e não na lição a retirar deles. Porque é
levantada ou resolvida na ação, se não na doutrina, da contradição original do Yahwismo,
agravada no Judaísmo, entre a universalidade de Deus e o particularismo da Aliança.
Messianismo
O facto é que, por mais infinitamente poderosas que sejam as razões para
apoiá-lo, este compromisso defensivo entre duas eras da religião parece, pelo
menos a partir de um certo momento, ser altamente problemático num nível
lógico. Tal como estamos na fase de estabelecimento do Yahwismo contra a
ascensão dos ídolos e dos costumes locais, a questão não precisa de ser
colocada de forma aguda. O problema, então, para o espiritual, não é o status
per se da vontade de Deus; é, muito mais prosaicamente, fazê-lo ser reconhecido
e prevalecer. Por outro lado, uma vez renovada solenemente a Aliança, uma
vez refinada muito significativamente a ideia do divino pelos profetas, e obtida
uma certa adequação entre a lei de Moisés e a conduta do seu povo, surge
inexoravelmente a dificuldade: como conciliar a vocação universal deste deus
que sua onipotência e singularidade obviamente destina a todos os homens, e
sua escolha exclusiva de Israel entre todas as nações? É apenas na situação
matriz de opressão e perseguição que o problema parece relativamente
resolvido. Porque aí pelo menos o lugar e o papel das outras nações são claros:
elas são o instrumento que Deus usa para punir Israel pelos seus pecados. Mas
em qualquer outro caso, a questão apresenta-se, inevitável, e necessariamente
funciona, por mais obscura que seja. E quanto ao relacionamento do Deus de
Israel com outros povos ou outros homens?
especialmente enviado por Deus, que alcançará a união terrena, quer Israel se
torne então o centro espiritual de uma humanidade pacificada, ou pelo contrário,
até ao extremo da sonhada belicidade, quer Israel triunfe com a espada, ou
mesmo permaneça sozinho num solo definitivamente expurgado de idólatras e
inimigos. Assim, a lógica imperial, em oposição à qual se formou o monoteísmo,
nele ressurge, uma vez bem estabelecida, como seu horizonte obrigatório: ao
Deus universal, à dominação universal. Da perspectiva inicial de defesa contra
a opressão, de libertação da submersão, passamos, no final da jornada, para a
perspectiva de expansão terminal, de uma imposição sem mais limites da lei da
Aliança. – o único resultado lógico para a contradição fatalmente sentida entre a
imensidão de Deus e a estreiteza de seu atestado entre os homens. Como
podemos conceber que quase toda a criação deva ignorar para sempre a
identidade do seu verdadeiro autor e mestre, e viver na completa ignorância da
sua vontade? É necessário que haja um fim dos tempos em que este escândalo
seja resolvido. Gentis ou ferozes, apocalípticas ou bucólicas, diversas versões
dessa reconciliação entre a essência divina e sua manifestação
terrestres são possíveis. Basicamente, todos eles se resumem a uma forma de
estender ou generalizar a Aliança, colocando Israel à frente das nações e
estendendo o reinado de Yahweh a toda a humanidade. E não podemos
descartar em absoluto a ideia que aqui surge da evocação de possibilidades, de
que algo como uma expansão judaica poderia ter ocorrido, como houve uma
conquista islâmica, graças a uma competição de condições favoráveis, no
exterior (enfraquecimento das potências vizinhas). e por dentro (ascensão de
um messias adequado). Num contexto favorável, a tendência para uma retirada
isolacionista e particularista poderia ter sido revertida numa dinâmica
universalista. Com o horizonte do sonho imperial na sua forma mais clássica: a
conjunção completa de todos os seres e coisas com o seu verdadeiro princípio
de ordem e o seu justo governo. Sonho em que o fermento da inquietação
introduzido e mantido pela religião de Israel foi sepultado no reinado estabelecido do Um: a dis
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às coisas deste mundo, significadas apesar de tudo pelo isolamento do seu povo
entre outras nações. Enquanto durar esta contenção dos Escolhidos, algo
permanece essencialmente inacabado na história, que a divide entre presença e
latência e o fardo do futuro. A solidão de Israel é um sinal desta lacuna axial entre
o real e o virtual; neste sentido, constitui uma atestação do afastamento onde Deus
permanece face a um mundo tão essencialmente ainda distante do que seria – do
que poderia realmente ter sido – se correspondesse ao reconhecimento universal
e pleno da sua vontade. . Por mais que o particularismo da Aliança mantenha
minimamente aberta, à sua maneira, a diferença do transcendente, ao mesmo
tempo que a nega internamente, a expectativa de reintroduzir o que a observância
cobre, por mais que o messianismo imperial a tivesse abolido ou reabsorvido na
reunião finalmente alcançado do Todo terrestre e do Uno celestial.
O segundo Moisés
de Israel, na forma do messianismo. E exceto, por outro lado, que não se trata
mais de um rompimento de facto do abraço do opressor, mas de uma secessão
de mentes. A ruptura já não se realiza (real ou miticamente) na exterioridade
visível, mas no interior invisível das almas. Moisés teve que libertar o seu povo
das mãos do Faraó: Jesus retira os seus fiéis da influência de César – mas não
conduzindo-os para uma terra prometida, noutro lugar do mundo: no local,
tirando-os do mundo. É porque na fonte da sua inspiração se combinam duas
emergências, uma tradicional e outra nova, que o seu génio singular será
assumir em conjunto e resolver uma através da outra. A emergência “clássica”,
portanto, por assim dizer, da resposta a uma dominação fatal, para a qual está
disponível o modelo matricial comprovado, do apelo ao poder além de tudo - o
poder, na linha da invenção mosaica . E simultaneamente a emergência mais
recente, e de ordem mais espiritual, mas igualmente poderosa, a julgar pela
intensidade da preocupação messiânica, para levantar ou resolver a contradição
imanente no deus da Aliança, Deus Universal que só conhece um determinado
povo .
O fio decisivo da pregação de Jesus virá do modo como as soluções oferecidas
a estas duas questões se cruzam, sob a forma do deus que ele invoca, uma
reinvenção do deus de Moisés, um deus incomparavelmente libertador e um
deus libertado do aporias onde a Eleição o prendeu.
Jesus não se contenta, como teria feito um profeta, em exortar o
arrependimento dos pecadores e a esperança dos justos. Ele é um guia, é um
líder de homens, a salvação que promete exige que o sigamos – ele é um
segundo Moisés. Mas também não é um messias comum, que teria apelado, em
nome da missão de Israel, a uma revolta contra o ocupante e à guerra final com
vista a estabelecer o reinado da Lei. A resistência e a fuga que ele propõe são
de ordem completamente diferente. Pois o seu deus está tão livre das amarras
deste mundo que não faria sentido confrontar tronos e dominações terrenas em
seu nome. É nos segredos dos corações que ele se revela, à distância
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infinito do que César exige, e que lhe deve ser devolvido, na serena certeza de que o verdadeiro reino
está em outro lugar. A onipotência universal de Deus, não é no futuro império do mundo que ela toma
forma, é a partir de agora que se atesta, na sua radical estranheza aos assuntos deste mundo, uma
estranheza tal como ele não conhece gente mas apenas seres interiores, levados ao auge de sua
compreensão por sua própria libertação das coisas do mundo e por puro recolhimento em si mesmos.
Enquanto o profeta atestou a distância do deus único pela sua secessão da sua comunidade, o crente
em Cristo testemunha a infinidade da transcendência pela sua separação muito interior de toda a esfera
sensível. A fé não é mais apenas o que legitima possivelmente a oposição a todos os outros, torna-se
aqui o que justifica o sentimento intimamente outro em relação à totalidade do mundo. Assim o ciclo se
fecha e a identificação do deus universal encontra seu ponto de conclusão nesta repetição do ato
inaugural que deu origem à figura, o que é ao mesmo tempo uma inversão do pacto exclusivista onde
ela permaneceu presa. Isto por meio, no nível especulativo, da reduplicação da exterioridade do divino
vis-à-vis a criação pela alteridade do crente em relação a este mundo inferior, condição para certamente
desvincular Deus de qualquer envolvimento parcial nos assuntos humanos. , e fazer da relação com ele
uma relação puramente individual, puramente pessoal, aberta por lei a qualquer um dos homens. Seja
através daquilo que acima reconhecemos como o casamento especificamente cristão entre a submissão
Um messias ao contrário
Cristo, é que ela é pelo menos tanto em acção como em palavras. Há o que Jesus diz, e depois há o
que simbolicamente significa, muito além do seu conteúdo imediato, pela posição a partir
da qual é ocupado. O lugar que ocupa – que não é apenas aquele que reivindica, mas
também aquele em que de facto está instalado – fala mais, em si, no contexto, do que a
soma das suas palavras. Ou, mais precisamente, é ela quem lhes dá silenciosamente o
seu verdadeiro significado e que explica a forma como foram recebidos e compreendidos.
8
Assim Jesus se apresenta como messias . É designar, numa situação com prós e
contras bem definidos, um estatuto e um papel não menos precisos. Mas ele não é um
dois reinos estão destinados a se unir. Como Jesus, exatamente, filho do homem e filho
de Deus. Só que é simultaneamente uma posição rigorosamente oposta à que Jesus
ocupa. O que o monarca do mundo está no topo, no topo da pirâmide humana, ele está
na base, um homem comum. A concepção sublime de que se vangloria não o impede de
assumir o seu nascimento humilde, e a missão grandiosa que afirma ter de modo algum
o faz reivindicar qualquer eminência ou domínio de qualquer espécie. Ele é a réplica
perfeita do mediador imperial no extremo oposto do espectro. Mas ao mudar de
localização, desta forma, dentro do espaço humano, o encontro das duas ordens de
realidade na mesma pessoa muda radicalmente o significado. A encarnação do invisível
foi o meio por excelência de marcar a continuidade da hierarquia terrena com a ordem
celestial; aqui torna-se o próprio significante de sua exterioridade mútua. Tivemos a
oportunidade de ver, relativamente à reforma de Akhnaton e aos seus limites, como,
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é adiada por Jesus para um futuro em desacordo com o presente. Mas também
com ele o radicalmente novo compõe com o antigo – ele compõe, simplesmente,
numa forma original, por intermédio do elemento temporal. Não há necessidade
de insistir mais uma vez no papel que este factor deve ter desempenhado na
admissibilidade da sua mensagem. E não é necessário sublinhar o papel
decisivo que este equilíbrio entre presente e futuro continuou a desempenhar
ao longo da história cristã. Desdobramento da transcendência de um lado,
conclusão da história do outro: a parusia não deixou de contrabalançar a
encarnação, a distância infinita aberta pelo devir-homem do filho de Deus antes
de ser cancelada, no final, com o segundo vinda de Cristo, desta vez como rei
glorioso, e não mais para o anúncio do reino, mas para o seu advento. Aí reside
a barreira inabalável, a última toupeira de resistência através da qual a visão
cristã continua a participar no pensamento do Um. Retirado tudo o que diz
respeito a qualquer consubstancialidade análoga ou milagrosa do invisível ao
visível, de que se pode perfeitamente economizar, permanece esta perspectiva
de uma reabsorção final deste mundo no outro, com o que implica comunicação,
talvez distante, difusa, indiscernível , mas necessária, entre as duas ordens de
realidade. A imensa diferença, em relação aos modos comuns de entrelaçamento
entre natureza e sobrenatural, é a possibilidade de conceber, entretanto, uma
partilha estrita das duas ordens à luz do seu primeiro encontro em Cristo. O que
é desarticulado pela esmagadora conjunção do humano e do divino num
messias emergindo na direção oposta de onde pensávamos que ele deveria ser
esperado, um dia será fundido; até então, nunca teremos terminado de
aprofundar o excesso do absoluto de Deus sobre a inteligência dos homens e a
sua estranheza para com o mundo, como significa inesgotavelmente a lei do
amor, o destino da humilhação e a proximidade insondável do seu emissário.
Uma das vantagens mais notáveis desta forma de ver é que permite, se não
contornar, pelo menos relativizar alguns dos problemas clássicos colocados
pelas origens cristãs – problemas de constituição e explicação da doutrina. A
começar pela primeira e mais pesada delas, a da segunda e decisiva fundação
realizada por São Paulo.
Todo o resto da história repousa, na verdade, sem dúvida, no gesto pelo qual
ele decreta expressamente o deus universal, rompe o círculo da sinagoga,
desmonta a nova fé do culto judaico para abri-la aos gentios. consequências
missionárias. O fato é que ele não faz esse gesto ex nihilo
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Cristologia
união perfeita, “sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação, a
diferença de naturezas não sendo de forma alguma eliminada pela união, mas
antes as propriedades de um e de outro sendo salvaguardadas e unidas em
uma pessoa e apenas uma hipóstase” , segundo a famosa formulação do
Concílio de Calcedônia 9 . Como no outro sentido, deve-se acrescentar, a união
perfeita das duas naturezas em Cristo – “o mesmo perfeito na divindade e o
mesmo perfeito na humanidade, Deus verdadeiramente e o mesmo
verdadeiramente homem” – sinaliza irrefutavelmente, inesgotavelmente, a
completa disjunção do humano e do divino. Um debate decisivo, não o
sublinhamos suficientemente, cujo desfecho pode legitimamente ser
considerado, do ponto de vista da fixação das potencialidades inscritas no
dispositivo crístico, como o primeiro passo verdadeiramente decisivo, porque
explícito, do que será a desconstrução ocidental do princípio hierárquico. Uma
vez estabelecida a ortodoxia em matéria de união hipostática, distancia-se
irreversivelmente, num ponto central, da compreensão unitária-desigualitária do ser.
Mas o que é essencial discernir, além disso, para compreender completamente
um confronto deste tipo, é o quadro simbólico que lhe está subjacente. Por
detrás das posições presentes, devemos compreender a acção de esquemas
estruturais que apoiam e controlam o pensamento.
A extravagante hiperabstração do debate é apenas uma aparência. As teses
são determinadas de acordo com e sob a pressão de lógicas implícitas que
são tão indizíveis em princípio para os actores como são palpáveis, por assim
dizer, nos seus efeitos. Uma ideia tão bizarra e de aparência livre como a união
hipostática torna-se uma ideia óbvia e necessária quando a colocamos na sua
estrutura matricial. Corresponde a uma localização geométrica perfeitamente
precisa e a um papel definido com exatidão. Para obtê-lo, é necessário e
suficiente inverter termo por termo a figura mais usual, mas igualmente
estritamente determinada, do mediador soberano. Conceba, como a humanidade
comum de Jesus ordena conceber, um ser que, como o rei dos reis, se una em
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lhe o céu e a terra, mas que ocupa o lugar exatamente oposto ao dele, e você
não poderá pensá-lo de outra forma senão como um ser no qual existe, em vez
da simples participação do mediador clássico, toda a conjunção de o humano e
o divino numa disjunção completamente mantida. Ousemos afirmar que este
mistério da fé não é um só. Não há aí nenhum desafio à razão, mas, pelo
contrário, a lógica implacável de um sistema cultural, cujos referenciais devem
obviamente ser seguidos para compreender as sequências. Pela posição inédita
da qual ele se autodenomina ocupante no campo humano, Cristo só pode ser
entendido como realizando a união perfeita (“sem divisão ou separação”) de
duas naturezas que, tão necessariamente, permanecem perfeitamente distintas
(“sem confusão ou mudança”). É a contradição que aqui tem a lógica a seu lado,
como único resultado adequado das exigências exigidas para pensar ao mesmo
tempo o fato, o lugar e o papel que há para pensar – o encontro do aqui abaixo
e do além, num corpo, e num ponto indiferente do espaço humano, portanto no
pólo oposto do pólo do poder. É uma tradução fiel, e na sua ordem, apodítica,
de um efeito estrutural imparável. O dogma da Encarnação não foi acreditado
porque era absurdo; ele foi recebido porque era razoável à sua maneira. Não há
nada de arbitrário nestas proposições singulares, apenas determinadas,
baseadas em operações que são elas próprias claramente identificáveis nas
articulações básicas do estabelecimento humano – e é isso que explica a
possível mobilização geral de mentes em torno de tais questões esotéricas. Eles
podem subir à estratosfera, mas criam raízes na parte mais densa e mais
conectada do terreno comum, tocam a evidência infigurável do estar-junto. Para
que todos, em relação a eles, se não sabem do que se trata, pelo menos sentem,
de forma confusa, mas poderosa. Carne indistinguível, mas, oh, tão emocionante,
de pensamentos do outro mundo, de tal atração, em sua irrealidade, que os
homens serão no total sempre mais devotados, como se sempre fossem
espancados mais ferozmente por sua imagem do céu do que por seus interesses
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Para além dos dois exemplos que acabamos de examinar, o estabelecimento paulino e a
formação do dogma central da tradição cristã, a análise pode ser ampliada e sistematizada.
Parece-nos ser válido em princípio, de facto, para o fenómeno do estabelecimento do
Cristianismo como um todo. Certamente não dissipa seu denso mistério. No entanto, talvez
possa lançar alguma luz sobre isso.
Em geral, poder-se-ia dizer, a vida histórica das ideias religiosas só se torna clara neste
nível final de enraizamento, onde constituem as próprias costelas do tecido colectivo. Porque
existem condições articuladas de formulação e
é que o homem proposto pelos cristãos entra imediatamente numa obscura conivência
com o espaço virtual dos sentimentos e dos pensamentos atraídos pela marcha para o
alargamento universal da órbita política e para a desqualificação oculta, interior mas
fatal, da antiga inserção no ser que ela comporta.
Porque é sempre aí que devemos regressar, a esta experiência focal em torno da
qual as perspectivas religiosas da espécie humana se têm deslocado em quase todo o
lado: a extensão unificadora do poder e os efeitos perturbadores induzidos pela
concepção em acção de uma reunião de todos seres sob o mesmo poder. Ou, tomando
as coisas de um ângulo mais histórico, a incompatibilidade radical entre o resto da
religião primária que continuava a organizar, no início, a comunidade central do império,
ou a sua cidade central, e os horizontes abertos pelo objectivo ilimitado de expansão.
Nenhum empreendimento imperial de qualquer magnitude sem deslegitimação e
desvitalização, insensível talvez na superfície, mas inexorável em profundidade, de
qualquer articulação do ser-no-mundo em termos de religião do passado, de devoção à
ordem recebida, com os correlatos que sabemos sobre eles: particularismo autocêntrico
e economia plural do divino. A morte dos deuses do paganismo está no fim do espírito
de conquista. Invencivelmente, a instalação no poder universal tende a devolver o
princípio de legitimidade do passado ancestral ao presente vivo. Pois tende à unificação
da alma do mundo. Porque conduz a uma redefinição das regras de vida, substituindo
o espírito dos costumes e a estreita observância comunitária pela exigência de
conformidade pessoal e fundamentada a uma lei ela própria entendida como a do
universo inteiramente à margem ou no meio do reino reinante cultura, cria espaço para
outra cosmologia, para outra moralidade, para outro direito – para outra 10 . Em
no mistério do seu ser do que na caridade do seu ato, fora do qual a verdade
do nosso destino nos teria permanecido oculta, porque não há outra conjunção
concebível entre a natureza e o sobrenatural do que aquela que ocorreu com
ele. Se a Igreja faz sentido estabelecer-se entre Deus e os homens, é segundo
aquilo que o filho revela do mistério do pai – um desvelamento que, ao mesmo
tempo que apela ao aparato e ao trabalho da exegese, denuncia a inanidade de
qualquer pretensão de ligar organicamente o céu e a terra. Um enxerto
problemático da exigência metafísica do Um no imperativo hermenêutico, é a
atualização do inatualizável, a perpetuação do irrepetível. O que, por outras
palavras, legitima a sua existência – a incerteza da compreensão humana
quanto à verdade revelada – é simultaneamente o que fundamenta o
questionamento da sua autoridade – porque se Deus é verdadeiramente este
outro inesgotávelmente diferente, na sua sabedoria suprema, daquilo que
conseguimos entenda, então cabe apenas ao fundo do coração acolher o enigmático, o esma
Qualquer pretensão de interpor-se entre a alteridade última e a interioridade
extrema torna-se uma impostura exorbitante, qualquer ponte comunitária
lançada em direção ao abismo do céu aparece como um mal-entendido idólatra
da transcendência, como prova o próprio fato da revelação. É decididamente
ignorar a distância do divino para querer um vínculo institucional de comunicação
com o invisível, graças ao qual o rebanho dos fiéis, guiado por pastores
inspirados, se banharia continuamente apenas na justa interpretação da Lei. A
mediação eclesial baseia-se, portanto, inteiramente naquilo que justifica pôr em
causa a possibilidade da mediação. Imitação e continuação de Cristo, é um
convite permanente a apelar do exemplo único de Cristo contra o papel e os
fins que ele atribui a si mesmo. Equação singular que resume o seu destino: se
há espaço para a mediação (entre a razão divina e a inteligência humana), é
também porque não há mediação possível, porque não há Não há mais lugar,
depois daquele que abriu o abismo de revelação para nós, para uma conjunção
viva entre Deus e os homens. O intérprete é desafiado como intermediário
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incansavelmente. No seu esforço único para fazer com que a comunidade dos
seres interiores participe em uníssono no mistério vivo de Deus, terá sido o
grande destruidor do mais forte inimigo do exame independente: o espírito do
costume e da tradição. de subjugação ao domínio inquestionável do grupo.
Pelo seu desejo de obter desta forma a plena aquiescência do espírito, além
da adesão à letra, ela terá sido a grande introdutora da exigência de
compreender para além da obrigação imemorial de crer. É nela e para ela,
mesmo contra ela, que se deu o aparecimento socialmente consistente desta
criatura bastante improvável na escala da história global: o ser que se
determina segundo as suas próprias luzes, seja na sua relação com o além
ou em seu relacionamento com seus pares aqui abaixo. Filha infiel da
mediação de Cristo pelo excesso, precisamente, da sua pretensão mediadora,
a Igreja terá, no entanto, sido um instrumento decisivo da passagem à
realidade de uma das grandes potencialidades inscritas na vinda do deus-
homem: o poder da interioridade. Da desfiliação do ato de fé à independência
do ser da razão, da subtração do mundo que a conversão ao deus do outro
mundo provoca à autonomia íntima que confere a busca da verdade da razão
divina.
realidade. Deste ponto de vista, a Igreja tem sido historicamente um segundo Cristo. É
por causa da sua existência e através da sua pesada realidade que as questões
abertas pelo messias judeu permaneceram em ação entre os homens.
Tanto na sua legítima separação como na sua exorbitante ambição de sentido, ela
emprestou-lhes a transmissão de um corpo permanente e o poder de uma segunda vida.
A própria Grécia estava livre de tensões internas, muito pelo contrário. Mas estas
tensões funcionam no âmbito de uma renovação inabalável do quadro
imediatamente inspiradoras, mas duas versões que, por trás de suas modalidades
divergentes, procedem de um movimento semelhante e duplo de unificação e
retorno na presença do princípio instituinte por um lado e, portanto, por outro
lado, de diferenciação deste princípio que faz a razão em em relação à realidade
para a qual dá razão – seja Deus em relação ao mundo, a verdade em relação
à aparência, o inteligível em relação ao sensível ou a forma em relação à
matéria. A ideia de criação, portanto, rompe, em última análise, tanto com a
organização do pensamento segundo a origem quanto com a física dos jônicos
e sua exigência de explicação imanente. Uma das rupturas pode muito bem
ocorrer no registo da crença, e a outra no registo da concepção, mas envolvem,
no entanto, deslocamentos e reformulações logicamente homólogas da economia
de representação anteriormente prevalecente.
É da mesma forma que invertem a dupla articulação da onipotência instituinte
do passado (mítico) e da multiplicidade presente de influências e forças invisíveis
(mágicas) – com o que isso implica em relação à classificação dos seres e das
coisas do mundo, quanto ao conteúdo das origens pronunciáveis e quanto à
maneira de recitá-las. Ambos invertem o eixo temporal da mesma forma: é o
presente que dá razão ao passado (uma vez que a ordem do mundo sempre foi
o que vemos que é, ou uma vez que o mundo está suspenso na vontade de um
deus onipotente, que só pode, portanto, tê-lo criado, para ser absolutamente
onipotente). Ambos unificam igualmente o princípio motor do ser e geralmente
substituem o ponto de vista da redução à unidade pelo da pluralidade inesgotável
a ser contada e classificada (o que constitui propriamente o modo mítico de
apreensão da realidade e sua dinâmica de “vôo para frente” , em oposição ao
imperativo estruturante de voltar-se para si mesmo do pensamento racional).
Tudo o que é, pode e deve ser trazido de volta ao Um – não importa como este
seja concebido. A partir do momento em que este postulado organizador for
implementado, uma nova forma de pensamento é necessária e terá que crescer.
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Porque isso significa que por trás das aparências do múltiplo está a verdade do Um a
ser buscado, que por trás da diversidade em movimento está o idêntico a si mesmo
a ser identificado, que além do simples dado sensível, há uma coerência inteligível
para ser perfurado. Todas as operações que supõem um horizonte infinito de
aprofundamento e um trabalho permanente do pensamento sobre si e contra si com
vista a uma explicação-redução mais radical – portanto um trabalho testado pelo
pensamento dos outros, neste esforço comum rumo ao mesmo fim que reconciliaria
mentes. Assim, o pensamento é chamado a todos os níveis a estruturar-se em torno
de uma diferença interna, desde os seus instrumentos elementares (concretos/
abstratos) ao seu ideal regulador (transcendência do seu objetivo em relação aos
seus resultados), passando pela sua utilização social (abertura crítica contra um pano
de fundo de objetivo comum). É isto que emerge da convulsão do quadro mítico e dos
seus constrangimentos, a matriz da reflexão racional.
É uma questão de premissas. Não é nesta base que o establishment cristão está a
ser jogado. No entanto, através das premissas que mobiliza, participa nesta
metamorfose dos conteúdos e formas da intelecção da realidade que recebeu a sua
expressão positiva na Grécia. Acontece que ela teve que se deparar imediatamente,
no ambiente onde transmite, essa compreensão de ser já constituída. Resta ver o que
nela se prestou ao encontro e predispôs à adoção. Na fé, havia uma certa medida
que, por seu próprio movimento, para sucumbir por um momento à imaginação
16
preciso de razão . retrospectiva, teria sem dúvida, mais cedo ou mais tarde, exigido
uma especulação sobre o mistério divino e uma ordenação do cosmos em uma base
racional. modo – no primeiro sentido que especificamos acima de estruturar o ato de
pensamento do ponto de vista do Um. Pelo menos teria sido possível, com base nos
princípios primordiais da sua teologia e na lógica da sua implantação virtual.
Mas também se poderia dizer, por outro lado, que a razão grega estava condenada
a encontrar o problema religioso no seu desenvolvimento. A ontologia
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Poderia ter sido de outra forma? Não poderia ter ocorrido esta projeção
da doutrina cristã da salvação nas categorias do logos grego, com a
subsequente reinterpretação, como uma tradição crítica tem procurado
manter? Se pudermos apenas deixar a questão à sua abertura indecidível,
devemos, no entanto, trazer à tona, contra a tese da estranheza nativa e
da aliança antinatural entre a revelação judaica e a sabedoria helénica, os
dois factores cruciais de afinidade que, inversamente, tornaram o seu
cruzamento bastante provável. Em primeiro lugar, como já vimos, as
potencialidades e até as necessidades “racionais” da fé. Envolvia, exigia,
uma reordenação do mundo, rompendo com a antiga visão mítico-mágica
da natureza e do sobrenatural. Ela encontra uma reflexão poderosamente
desenvolvida que não só revela a si mesma a extensão das suas exigências
especulativas, mas que, além disso, pelas suas próprias preocupações
espirituais, pela sua inclinação individualizante, ascética e contemplativa,
se presta notavelmente a uma recuperação teológica. Como poderia o
efeito espelho e o fascínio por esse outro tão próximo não ter desempenhado
um papel, estaríamos igualmente justificados em perguntar? Isto é para o
aspecto básico do fenômeno. Paralelamente, é necessário ter em conta,
em segundo lugar, um aspecto da situação ligado ao contexto e à forma
como o cristianismo, à beira da vitória e triunfante, se estabelece no século
numa base que de facto resolve as suas hesitações. interno, trazendo-o de
volta ao lado do mundo-Deus Único, atestado espiritual e carnalmente pela
dupla mediação da Igreja e do soberano. O pensamento grego aparece
neste movimento como a ferramenta ideal para operar conceitualmente e
traduzir para a teologia essa reinscrição no ser, esse reencaminhamento
geral de pertences, deveres, valores e autoridades dentro de uma escala
única que se estende até as gradações terrenas no céu e que , do cume da
hierarquia dos espíritos, o logos divino abraça e vivifica. É função das fortes
tendências, senão mesmo da maior propensão que, no momento da instalação cristã, pe
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a comunidade mundial dos fiéis e o seu chefe espiritual estão condenados a enfrentar
as reivindicações concorrentes de uma cidade de homens que confia na sacralidade
específica da sua ordem natural e provoca a absorção da Igreja como sociedade.
É certamente uma luta de ambições entre potências rivais banais; mas também,
muito mais essencialmente, de uma luta pela legitimidade do ponto de vista cristão,
cuja cumplicidade subjacente deve ser medida no conflito que os opõe. Ambos estão
ancorados na articulação básica da nova fé, aquela dita pela humanidade do Redentor,
da qual expressam as potencialidades contraditórias e unidas. Isto permite-nos
compreender, para além dos dados factuais e dos constrangimentos da realidade que
explicam a
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terrestre. E neste contexto, temos com o movimento jansenista o caso limite, talvez, da
aculturação ao século pela sua própria recusa, da promoção do moderno através do desejo de
tradição. Raramente o apelo ao modelo da Igreja primitiva esteve tão ao serviço do novo espírito
Não é certo, deste ponto de vista, que devamos favorecer particularmente a expressão
postular que estamos perante uma mesma transformação global, desigual nos seus ritmos,
fragmentada nas suas manifestações, diferenciada de acordo com os contextos, mas globalmente
idêntica em todo o lado, em última instância, a comparação de cultura com cultura, de região
para região deve permanecer guiado no longo prazo pela ideia de equivalência na diferença. O
que está a acontecer aqui através de uma explosão doutrinal está a acontecer noutros lugares,
sob a cobertura de uma lenta revisão da autoridade política e do vínculo colectivo. Não haverá
suas consequências confessionais e cúlticas para que sirva de pressuposto para a construção
da ação ilimitada com vista à plenitude terrena. E em todo o lado, em todos os registos, o
aumento irresistível do conflito entre autoridade e liberdade, tal como inscrito nas premissas
dos indivíduos. A soberania inviolável das consciências face ao carácter divino dos representantes
do poder colectivo.
Isto acontece porque estes desenvolvimentos não têm a sua sede no pensamento puro, por isso
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que só poderíamos julgar a sua implementação pelo grau de avanço da reflexão. Estão ancorados numa
infra-estrutura que os apoia – só que a infra-estrutura, neste caso, é simbólica, feita de religiosidade em
acção, de uma relação com o invisível materializado em disposições colectivas e modos pessoais de ser.
Se o movimento é geral, é porque assenta numa base que é essencialmente a mesma em todo o lado:
a revolução religiosa invisível da Idade Média Ocidental e a libertação da dinâmica original de transcendência
que ela torna possível. A ruptura moderna do século XVI é fundamentalmente uma ruptura religiosa. Tudo
e
se resume a uma operação muito precisa: uma inversão da lógica na XVII séculos a leste e
articulação das duas ordens de realidade. É desta inversão da compreensão hierárquica do vínculo entre o
humano e o divino que procedem diretamente as três grandes transformações típicas da modernidade:
Ela própria está ligada ao núcleo primordial do facto cristão, do qual continuará a ser o fenómeno
absolutamente específico da Idade Média Ocidental, por ter permitido, graças a uma conjuntura perfeitamente
termos de igualdade, em linha com a ontologia das duas naturezas de Cristo, está a modesta e imperceptível
1 Benjamin CONSTANT, Sobre a religião, considerada em sua origem, suas formas e seus
desenvolvimentos, Paris, 1824-1831, 5 vols., t. Eu, cap. I, “Sobre o sentimento religioso”. Um dos maiores
livros sobre o assunto, injustamente esquecido.
2 A partir de uma imensa bibliografia e sem entrar na enumeração de apresentações clássicas ou
recentes de A. Lods, E. Dhorme, H. Ringgren, R. de Vaux ou A. Caquot, retenhamos alguns títulos que
abordam mais particularmente o base do nosso tema, a invenção monoteísta e seu aprofundamento: Yehezkel
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KAUFMANN, Conhecendo a Bíblia, trad. frag., Paris, PUF, 1970; William F. ALBRIGHT, Da Idade da
Pedra ao Cristianismo. Monoteísmo e sua evolução histórica, Paris, Payot, 1951; Theophile J. MEEK,
Hebrew Origins, Nova York, Peter Smith, 1960. Um lugar separado merece ser dado ao estudo de Jean
BOTTÉRO, “A mensagem universal da Bíblia”, em Verdade e poesia da Bíblia, Paris, Hatier , 1969, pp.
15-73. Oferece de forma condensada a exposição mais nítida e firme, numa palavra, o que de melhor se
pode encontrar no seu tema.
3 Recentemente, por exemplo, HWF SAGGS, O Encontro com o Divino na Mesopotâmia e em Israel,
Londres, The Athlone Press, 1978.
4 Referimo-nos em particular à discussão em torno das teses defendidas no início deste século por J.
H. BREASTED (A History of Egypt, 1906, e The Dawn of Conscience, 1983), e retomado por FREUD em
Moisés e o Monoteísmo.
5 Isto no caso de um dualismo rigoroso e completo. Mas todos os tipos de figuras intermédias são
possíveis, casando um dualismo relativo com um contorno relativo de monoteísmo – o caso, ao que
parece, do próprio Zaratustra (Paul DU BREUIL, Zarathustra et la transfiguration du monde, Paris, Payot,
1978 ) . Há uma luta entre os dois princípios no espaço-tempo, mas além disso reina a superioridade
indiscutível do soberano universal. Partilha que constitui o ponto de partida de todas as gnoses. Se o
mencionamos, é porque pesquisas recentes atualizaram o problema das relações entre as concepções
espirituais persas e as formulações monoteístas do Judaísmo pós-exílico. Reiteremos, portanto, tanto a
legitimidade da reaproximação – são tantas explorações de uma mesma situação matricial – como a
necessidade de marcar rigorosamente a especificidade do Deus da Bíblia. A separação do divino de todas
as coisas criadas e, consequentemente, a sua aplicação onipotente e direta a todos os níveis da criação
é estruturalmente completamente diferente da superioridade última de Ahura Mazda no topo de uma
hierarquia de realidades e entidades unidas dentro de um único guarda-chuva pelos seus muitas
oposições. Duas abordagens de inspiração paralela, mas uma das quais (Zoroastrismo) permanece na
ordem de uma reforma interna do antigo entrelaçamento do visível e do invisível, enquanto a outra
(Yahvismo) estabelece imediatamente a extraterritorialidade em relação a ele (mesmo que seja restabelecê-
lo até certo ponto posteriormente).
6 Encontramos, sob outro ângulo, os principais traços identificados por Max WEBER para especificar a
profecia israelita (Le Judaïsme antiqu, trad. fr., Paris, Plon, 1970, pp. 358-442). Quanto ao caráter dos
profetas: são “demagogos políticos” e não oráculos nomeados; são homens independentes que se dirigem
ao povo por iniciativa própria a partir de uma experiência estritamente individual, sob o signo da solidão e
da incompreensão. Embora inspirado, o profeta continua sendo um homem comum; não realça
asceticamente a ética da vida quotidiana, não traça um caminho de subtração deste mundo e de
participação mística no divino; ele não se apresenta como um santo ou um salvador chamado a guiar uma
comunidade de seguidores agrupados ao seu redor.
Isto, agora, do lado da mensagem profética, porque esta secessão só faz sentido na perspectiva de um
discurso global ao povo e apenas segundo um objectivo preciso, de ordem puramente ética: a obediência
colectiva neste mundo aos mandamentos de Javé. “Os profetas estão entre o seu povo e estão
interessados no destino desta comunidade política” (p. 397). Eles não dão
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respostas ao enigma metafísico do universo; não pretendem trazer nenhuma ideia nova de Deus e de sua
vontade; apelam exclusivamente à fé de Israel no seu Deus e ao cumprimento em geral da lei que ele lhe
deu, cujo incumprimento lhe foi fatal. Nem sábios, nem virtuosos da salvação, nem reformadores religiosos:
dissidentes do conformismo. Traços singulares que só podem ser explicados a nosso ver pelo dispositivo
da invenção mosaica, cuja intervenção profética constitui uma exploração rigorosamente regulamentada.
7 Hélène CLASTRES, A Terra Sem Mal. Profecia Tupi-Guarani, Paris, Éditions du Seuil, 1975.
8 Contentemo-nos com esta aproximação grosseira, que basicamente basta para a nossa demonstração.
A questão da consciência messiânica e da apresentação messiânica de Jesus, nas suas notáveis
ambiguidades, na medida em que conseguirmos reconstruí-las, exigiria por si só longos desenvolvimentos.
Há todo um complexo jogo de identificações e diferenças a reconstituir, aquele criado a partir do uso
preferencial do “Filho do homem” do livro de Daniel e das correntes esotéricas e sectárias do Judaísmo,
aquele provocado pelo equívoco entre proclamação da filiação divina e reivindicação da messianidade
imediata, aquela exigida pela inscrição num contexto marcado pela luta dos zelotes (que não são reprovados,
mas dos quais se trata de se destacar). Sobre tudo isto, cf. por exemplo Oscar CULLMANN, Cristologia do
Novo Testamento (Neuchâtel-Paris, Delachaux e Niestlé, 1959). Jesus, pode-se dizer, é um messias
atrasado. Segundo as corretas observações de P. LAMARCHE na sua introdução histórica ao livro de J.
LIEBAERT, L'Incarnation (Paris, Éditions du Cerf, 1966), ele utiliza a noção, ao mesmo tempo que se separa
dela no tempo. Sua hora ainda não chegou. “Por enquanto, sem negar o título, ele não quer. » O
cumprimento da sua messianidade é adiado para depois da sua morte e ressurreição. Somente quando ele
for o completo oposto de um messias é que ele realmente se tornará o Messias. Todas estas ambiguidades
e todas estas discrepâncias só fazem sentido, em nossa opinião, dentro de uma lógica geral de inversão
que faz de Jesus um messias nos antípodas do Messias.
9 Recordemos mais completamente a declaração de Calcedônia (451): “Devemos confessar um e o
mesmo filho, NSJC, o mesmo perfeito na divindade e o mesmo perfeito na humanidade, Deus
verdadeiramente e o mesmo verdadeiramente homem, composto de uma alma e de um corpo, consubstancial
ao Pai segundo a divindade e consubstancial a nós segundo a humanidade, em todas as coisas como nós,
exceto aquilo que é pecaminoso, gerado pelo Pai antes dos tempos segundo a divindade, mas o mesmo
nestes últimos dias, gerado segundo a humanidade para nós e para nossa salvação por Maria, a Virgem, a
mãe de Deus. Um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor unigênito, que deve ser reconhecido em duas naturezas
sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação, a diferença das naturezas não sendo de forma
alguma eliminada pela união, mas as propriedades de ambas sendo salvo em uma única pessoa e em uma
única hipóstase. » Citamos, com ligeiras modificações, a tradução do Dicionário de Teologia Católica, A.
Amann, Paris, Letouzey, 1932, t. II, II e Vacant, E. Mangenot, E. part, col. 2194-2195.
10 Não que a nova e dupla exigência de interioridade e universalidade leve à rejeição dos hábitos e
costumes atuais. O respeito superficial pelos costumes da tribo é, pelo contrário, a primeira regra da
sabedoria, sendo o importante saber o que esperar da sua relatividade em relação à norma racional. Assim
concebida e defendida, a adesão ostensiva à regra recebida pela tradição arruína a mente, fazendo-a
repousar naquilo que lhe é mais contrário: a distância interior. Este conformismo é
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destrutivo dos próprios fundamentos daquilo que ele recomenda cumprir. O que devemos ter em mente para
apreciarmos exactamente o papel das sucessivas reactivações do estoicismo na tradição europeia. Há obediências
que se dissolvem de forma mais implacável do que qualquer revolta.
11 Louis DUMONT, “A Gênese Cristã do Individualismo”, Le Débat, nº 15 , 1981, reimpresso em Ensaios sobre
o Individualismo, sob o título “Do indivíduo fora do mundo ao indivíduo no mundo”, Paris, Éditions du Seuil , 1983,
pp. 33-67. Ernst TROELTSCH, Die Soziallehren der christlichen Kirchen und Gruppen, Gesammelte Schriften, t. I,
reimpressão da edição Tübingen, 1922-1925, Scientia, Aalen, 1965.
Sobre Troeltsch, cf. o trabalho recente de Jean SÉGUY, Cristianismo e sociedade, Paris, Éditions du Cerf, 1980.
12 Daí, sem dúvida, a grande importância adquirida pelo problema da vida futura no Cristianismo. A ideia e a
esperança da outra vida não são válidas apenas como exemplificação da separação das duas naturezas. Acima
de tudo, aparecem como solução para a aporia constitutiva da existência cristã: como romper com um mundo do
qual é impossível escapar.
13 Pensamos naturalmente a este respeito na versão da relação entre Igreja e Estado dada em 494 pelo Papa
Gelásio e na sua rica carreira. Normalmente coloca, na sua ambiguidade, a questão de saber até que ponto uma
visão hierarquicamente coerente e estável das relações entre a autoridade do além e a autoridade do aqui abaixo
é possível num quadro cristão. Reflete indiscutivelmente o espírito de tal tentativa. “Existem dois poderes principais
pelos quais este mundo é governado: a autoridade sagrada dos pontífices e o poder real...” O homem de Deus é
superior nas coisas superiores (espirituais), é inferior nas coisas inferiores (temporais): a fórmula é, aparentemente,
a do mais estrito compartilhamento e aninhamento hierárquico, e DUMONT não hesita em fazer a conexão com a
Índia Védica (seu comentário em Essais sur l'individualisme, op. cit., pp. 51-55). Resta que há, por outro lado, no
tipo de superioridade reivindicada por Gelásio para o pontífice, o germe de algo diferente desta complementaridade
equilibrada – “mas a autoridade dos pontífices é tanto mais pesada quanto eles próprios terão de responder pelos
Reis”. no tribunal de Deus” (PL 59, 42-43). Não é à toa que a afirmação será constantemente invocada
posteriormente pelos proponentes da teocracia. Isto talvez seja verdade, não tanto em termos do seu conteúdo
direto, mas em termos da maneira cristã de compreender fundamentalmente a articulação do espiritual e do
temporal, onde a absorção e a subordinação unívocas, com a grande contradição que abrem, tende essencialmente
a suplantar a coexistência regulada. Se existe “complementaridade hierárquica” dentro de uma ordem cristã, ela é
sempre e só pode ser contra as consequências últimas dos princípios que professamos. Supondo que Gelásio
tivesse em vista o espírito autêntico da hierarquia, a má interpretação dos seus sucessores, que dela tiraram algo
que equivale à sua derrubada, não seria menos verdadeira do que a verdade.
14 “...antes da vinda de Cristo surgiram alguns reis que também eram sacerdotes em sentido figurado [...].
Assim foi Melquisedeque, diz-nos a história sagrada (Gênesis, XIV). Isto é o que o diabo imitou [...] de modo que
os imperadores pagãos foram ao mesmo tempo chamados de sumo pontífices. Mas quando chegamos àquele que
é verdadeiramente rei e pontífice ao mesmo tempo, o imperador não se atribuiu mais o título de pontífice, nem o
pontífice reivindicou a suprema elevação real. Com efeito, embora se diga que os membros de Cristo, isto é, do
verdadeiro rei e pontífice, receberam nobremente de ambos, segundo a participação na [sua] natureza, e isto por
santa generosidade, a fim de
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que permanecem ao mesmo tempo uma raça real e uma raça sacerdotal: porém Cristo, lembrando-se da fragilidade
humana, regulando o que convinha à salvação do seu povo por uma nobre dispensação, distinguiu os ofícios de um
e de outro poder por operações próprias e por distintas dignidades..." (PL, 59, 108-109).
Sobre estes textos, ver em particular os estudos de F. DVORNIK, Early Christian and Byzantine Political Philosophy.
Origins and Background, Washington, 1966, e “Pope Gelasius and Emperor Anastasius”, em Photian and Byzantine
Ecclesiastical Studies, Variorum Reprints, Londres, 1974.
15 O que, por exemplo, o estudo de Caspary sobre a teologia política de Orígenes e o seu método exegético, em
torno do tema das “duas espadas”, fornece uma boa ilustração. Cf. GE CASPARY, Política e Exegese. Orígenes e
as duas espadas, University of California Press, Berkeley, 1979.
16 Só temos que considerar aqui o caso do Cristianismo; mas a análise também é válida, é preciso especificar,
para o Judaísmo. Porque é uma propriedade geral da fé monoteísta da qual estamos falando. O exemplo de Fílon de
Alexandria está aí para atestar isso.
17 Graças ao fascinante livro de Jacques GERNET , China and Christianity (Paris, Gallimard, 1982), poderíamos
estender a comparação aqui delineada entre o pensamento grego e o pensamento cristão ao pensamento chinês.
Tendo em conta a tese que apoiamos, é crucial. Estaremos tratando do pensamento chinês, como diz J. Gernet, de
“um outro tipo de pensamento que tem articulações próprias e cuja originalidade é radical”, completamente estranho
ao nosso, portanto, e sem comunicação com ele, na medida em que recusa as oposições “que desempenharam um
papel fundamental no pensamento ocidental desde os gregos: ser e devir, sensível e inteligível, espiritual e
corpóreo…” (p. 282)? Não pensamos assim, e seria possível mostrar, na nossa opinião, como as características que
J. Gernet identifica como constitutivas do pensamento chinês advêm de uma outra exploração das mesmas
potencialidades básicas do pensamento grego, como esta. de uma maneira diferente as mesmas potencialidades
daquelas em que se baseia o pensamento cristão. Principalmente, a ruptura com o pensamento mítico é da mesma
ordem: o pensamento chinês, como o pensamento grego, reagrupa-se, reúne a fonte de todas as coisas num único
princípio.
Mas o pensamento grego tende (sem fazê-lo até ao fim) a separar este princípio de ordem, a reuni-lo à parte da
realidade sensível. O pensamento chinês não. Ela o coloca no meio das coisas. E como resultado, ela pensa nisso
como um vazio. No primeiro caso somos levados à representação de um cosmos finito, fechado sobre si mesmo.
No segundo caso, somos levados, por restrições lógicas da mesma natureza, à representação oposta de um “grande
vazio” central de extensão indeterminada e duração indeterminada. O que gostaríamos de tentar estabelecer é como
o “céu impessoal”, o cosmos finito com o seu céu inteligível e o deus criador são padrões de pensamento que se
agarram a uma raiz comum, cuja correspondência pode ser localizada em níveis sociais e históricos definidos.
organizações, com regras precisas de transformação que permitem passar de uma para outra.
18 A demonstração de J.-P. VERNANT permanece perfeitamente convincente neste ponto. Cf. As Origens da
Pensamento grego, Paris, PUF, 1962.
19 Mas na outra direção, temos um dogma como o da Trindade, o produto típico do casamento dos dados básicos
da fé cristã com a estrutura de pensamento grega. Contrabalança exatamente a dualidade reconhecida através da
Encarnação. Deve ser demonstrado que só faz sentido em termos do desígnio implícito de superar a lacuna entre o
Pai e o Filho. A introdução de um terceiro mandato
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é essencial reinscrevê-los em continuidade, e com eles o céu e a terra, numa única escala de ser.
20 Com o espaço que isso deixa, uma sugestão digressiva de passagem, para “crenças populares”:
milagres, influências e correspondências mágicas, culto aos intercessores, devoções a todas as supostas
concretizações do invisível no visível, quase sem limites atribuíveis à ortodoxia .
Isto não é relaxamento ou tolerância doutrinária; é propriedade do sistema. Quando no topo a doutrina é do
entrelaçamento das hierarquias do céu e da terra, não pode haver divisão segura entre boas crenças e
“superstições pagãs”. Quer os recebamos ou não, eles só podem ser percebidos em continuidade com os
mais seguros artigos do dogma.
21 Utilizamos mais particularmente Y. CONGAR, L'Ecclesiologie du haute Moyen Âge, Paris, Éditions du
Cerf, 1968, e L'Église de saint Augustin à l' époque moderne, Paris, Éditions du Cerf, 1970; A.
W. SOUTHERN, Sociedade Ocidental e a Igreja na Idade Média, Londres, Penguin, 1970; C.
ULLMANN, The Growth of Papal Government in the Middle Ages, Londres, 1955, e Principles of Government
and Politics in the Middle Ages, Londres, 1961. Fundamentalmente, a visão decisiva continua a ser aquela
fornecida por H.-X. ARQUILLIÈRE, Agostinismo Político. Ensaio sobre a formação das teorias políticas da
Idade Média (1934), Paris, Vrin, 1972, e São Gregório VII. Ensaio sobre sua concepção de poder pontifício,
Paris, Vrin, 1934.
22 Segundo a expressão proposta por H.ÿX. ARQUILLIÈRE, Agostinismo Político, op. cit. A denominação
é discutida por Yves CONGAR, L'Ecclesiologie du high Middle Ages, op. cit., pp. 273-274. Ele também
rejeita os da “teocracia” e da “hierocracia” para concluir: “Desistamos, portanto, de procurar um rótulo
expressivo e falemos simplesmente de um ideal unitário, de um propósito único e essencialmente religioso,
até mesmo soteriológico e sobrenatural. »
23 Ver acima “A economia da completude terrestre”, pp. 171-193. Não podemos deixar de ficar
impressionados, em linha com as concepções aqui defendidas, pela coincidência entre o início desta fase
de expansão, finais do século X - início do século XI, e os movimentos de consciência religiosa que
observamos ao mesmo tempo, ambos do lado da ortodoxia e do lado da sua contestação. É do lado da fé
legítima a passagem de uma espiritualidade fortemente centrada desde os carolíngios no Deus-Pai e nos
modelos políticos do Antigo Testamento para uma espiritualidade mais centrada, no quadro do impulso
monástico, no Filho e no Novo Testamento (essencial para o renascimento dos valores da paz). Não parece
haver razão para nos surpreendermos que uma ativação da religião da Encarnação acompanhe, mesmo
de modo ambíguo (fuga do mundo), a cristalização de um processo de valorização terrena. E é o oposto,
não menos compreensível se admitirmos a correlação anterior, o surgimento da heresia, sob a forma,
precisamente, de contestação formal da Encarnação, e através dela, da carne. No momento em que uma
religião da diferença terrena toma forma, é normalmente, alguém seria tentado a dizer, que uma religião
radical de salvação retorna onde a extrema desvalorização do aqui embaixo permite a perspectiva de uma
subtração de sua inanidade e de uma reunião agora com Deus. Se por um lado a realeza de Cristo chega
a abalar a adequação do céu e da terra prometida pelo modelo imperial (e bíblico) do deus vitorioso e do
sacerdote soberano, a afirmação do Um ressurge do outro lado em formas místicas e forma gnóstica. Sobre
a heresia do ano 1000, os estudos de Huguette TAVIANI, “Nascimento de uma heresia na Itália
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do Norte no século XI ", Annales ESC, no 5 , 1974, "O casamento na heresia do ano 1000", Annales o 6, 1977, "Da recusa ao desafio:
Actes du ensaio sobre psicologia herética no início do século XI século in ESC, n Estudos sobre a sensibilidade na Idade Média,
Paris, 1979,
102aOccident",
apresentação
e Congresso
de Georges
Nacional
DUBYdas
em Sociedades
As Três Ordens
Científicas
ou a Imaginação
(1977), do Feudalismo, Paris, Gallimard, 1978, e o
esclarecimento de Jean-Pierre POLY e Eric BOURNAZEL em La Mutation e siècle, Paris, PUF, 1980.
feudal, X 24 e-XII
Ernst KANTOROWICZ, Kaiser Friedrich der Zweite (Berlim, 1927-1931), trad. frag., Paris, Gallimard, 1986; Os Dois Corpos do Rei,
Um Estudo em Teologia Política Medieval, Princeton, 1957, pp. 97-143, e meu comentário: “Dos dois corpos do rei no poder sem
II
seu desenvolvimento. Existe então o fato gerador que explica o caráter excepcional
do nosso universo. Não é simplesmente que ele esteja à parte, é que ele vai contra
os outros, já que a parte essencial do seu movimento consiste em trazer de volta ao
coração do espaço humano-social aquilo que em todos os lugares antes e em todos
os lugares em outros lugares o articulou e o comandou de fora. Também o termo da
história cristã vale uma mudança de história. Precisamos fazer um desvio pela
religião, chave de todo o nosso passado, para avaliar a novidade do nosso presente.
Ali, por volta de 1700, ocorreu a fratura mais profunda que certamente já ocorreu na
história: o estabelecimento do futuro dos homens em desacordo com sua lógica
original e seu modo quase sempre. Tal terá sido, na trajetória matriz deste
acontecimento seminal, a eficácia excecional do caminho cristão: a metamorfose da
alteridade religiosa através da qual se iniciou o processo da sua redução.
a função não só já não existe, mas, o que é um sinal muito mais seguro da sua
reabsorção, transformou-se no seu oposto através de uma transformação que,
longe de abolir os seus elementos, integrou-os no funcionamento colectivo. A
sociedade moderna não é uma sociedade sem religião, é uma sociedade que se
constituiu nas suas principais articulações pela metabolização da função religiosa.
Isto não impede aqui ou ali, mesmo na vanguarda da modernidade, como nos
Estados Unidos, que a fé e as Igrejas desempenhem um papel social de
liderança. A questão não está aí. Tomemos o exemplo americano, o mais
interessante porque o mais paradoxal, pelo menos na aparência. Aqui está um
país fundado pela dissidência religiosa europeia, um país onde a exigência de
tolerância e a preocupação pela liberdade de consciência são uma necessidade e uma instituiç
primeiro, onde o dogma comummente partilhado é, desde o início, o mais
refinado, o mais avançado do ponto de vista do movimento cristão e o mais bem
adaptado ao espírito da modernidade, onde as formas de prática e organizações
religiosas, tanto individualizadas e associativas, fluem naturalmente para o
estado social democrático, sem falar deste elemento original talvez decisivo, a
adequação nativa alcançada no laboratório puritano entre a linguagem religiosa
e as aventuras quotidianas . Mas tudo isto também está imerso no movimento
de uma história entendida como o desenrolar linear de uma promessa
providencial, permanecendo ao longo do seu percurso em viva proximidade com
o seu pacto fundador, sem rupturas ou conflitos revolucionários sobre os
princípios instituintes da comunidade política. portanto, sem muita mobilização
de ideologias seculares nas lutas civis – assim, a luta de classes poderia tomar,
em momentos da história do movimento operário americano, um rumo de
extrema amargura; Contudo, não penetrou profundamente na ideia socialista,
nem introduziu com ela dissensões radicais sobre os valores e objetivos da
organização coletiva. Nestas condições podemos conceber vitalidade
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firmemente ancorado num espírito de religião que não teve que suportar
permanentemente, como na maior parte do Velho Continente, o fogo do espírito
do século, quando não se tornou um, como na França, a própria questão da
guerra social . Enquanto num caso a ordem de crença permaneceu associada ao
desenvolvimento do mundo a partir de premissas cristãs, no outro caso apoiou-se
na herança e no ideal de um passado morto, de tal forma que o espírito de
liberdade, o trabalho da razão, o desejo de transformação só se impôs através da
derrota da autoridade religiosa, no final de uma longa e dura batalha. Além disso,
os dois destinos são igualmente concebíveis do ponto de vista das reações cristãs
à civilização nascida do cristianismo: não existe nenhuma incompatibilidade
fundamental irremediável, e por boas razões, entre o essencial da mensagem
evangélica e as principais características do universo. de igualdade – e a sua
acomodação mútua é uma eventualidade perfeitamente inteligível; mas também é
verdade que a dinâmica da igualdade é a formação de uma sociedade onde a fé
se torna uma opção sem mais influência ou âmbito de definição na organização
colectiva - e compreendemos a recusa que esta dissoluçãodo vínculo encarnado
com o invisível, esta perda de proximidade participativa com o divino poderia ter
causado. Significa isto que onde as circunstâncias decidiram pela boa compreensão
da religião com o espírito da época, a sociedade está estruturada mais pela
religião do que onde a luta pelo atraso com o Iluminismo foi fatal para a sua
influência? De jeito nenhum.
Aquilo de que os Estados Unidos nos oferecem um exemplo é a influência
espiritual e cultural preservada pela pertença confessional numa sociedade que é
igualmente rigorosamente clara no seu funcionamento, nas suas orientações e
nos seus valores, da economia da dependência do outro do que do muito
sociedades mais descristianizadas ou secularizadas na superfície da velha Europa.
Os dois planos são radicalmente diferentes. Uma coisa é que a organização
completa do campo humano-social pela religião – e esta é a verdade histórica do
fenómeno religioso, e é neste nível e naquele
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O fim aqui também não é uma ruptura pura, que traria algo radicalmente
novo, um mundo em todos os sentidos incomensurável com aqueles que o
precederam. A novidade do nosso presente é imensa, mas provém do
rearranjo dos dados e das articulações do antigo. Não mudamos a história;
a ordem dos fatores básicos, sempre os mesmos, que controlam a direção
da história mudou. Nada ali também, conseqüentemente, como uma
reconquista terminal do poder consciente dos homens sobre si mesmos,
que lhes daria o livre arbítrio de sua conduta comum. Depois da ditadura de
fora e das suas trevas, a plena luz da escolha deliberada e do domínio
ponderado sobre as formas de prática e as modalidades do vínculo coletivo,
como se qualquer obstáculo, qualquer separação, qualquer opacidade entre
o homem e ele mesmo - até mesmo se encontrasse levantada com o retorno
dentro do princípio de ordem anteriormente rejeitado fora. O obstáculo, a
separação, a opacidade estão sempre presentes, mas dentro do próprio
indivíduo, mas na relação entre os indivíduos, mas no seio do seu estar-
junto – sem garantia extrínseca, simplesmente, para apoiá-los e protegê-
los do questionamento. Tendo sido trazido de volta entre os homens, ao
seu alcance, e tornado apenas humano, a base social não retornou
categoricamente à sua posse. Ele os governa, comanda as suas ações,
modela as suas relações consigo mesmos, com os outros, com as coisas,
é dramaticamente que impôs os seus constrangimentos relativamente ao
equilíbrio do regime onde os homens se governam. Só que obedecendo
aos seus imperativos e enfrentando os limites que ele nos impõe, já não é
com os deuses que lutamos, é connosco próprios – com aquela parte de
nós que nos governa inexoravelmente porque corresponde ao que permite
que devemos ser, ao que geralmente torna possível um sujeito humano e um espaço soc
Provavelmente é na medida em que o processo de reincorporação da
transcendência instituinte já foi suficientemente longe, onde a rede de
restrições organizadoras que ele estabeleceu está suficientemente estabilizada, onde o
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inúmeras ilusões sob a espessa capa com que se instalou caem e se dissipam,
que começamos a compreender a sua natureza e a medir o desafio que nos
deixa: o confronto, nem mais nem menos, com as próprias condições de
existência e possibilidade do fenômeno humano social. Assim tem sido o
afastamento da religião desde 1700, para permanecer fiel à arbitrariedade de
um referencial: o alinhamento forçado da experiência pessoal e colectiva, nos
seus vários registos, sobre aquilo que em nós obriga, nos constitui. Dessa saída,
em certo sentido, emergimos novamente. Esta grande remodelação foi realizada
sem que todos soubessem. Nós sofremos isso. Aqui, porque é essencialmente
adquirido, começamos a discernir que isso aconteceu. Passamos a compreender
quais necessidades claras a sua travessia nos fez obedecer. A história que se
segue, portanto, será a de uma pergunta: agora que os reconhecemos, o que
podemos fazer a respeito?
nunca acaba). Deixe-nos apenas indicar a perspectiva. O que nos importa acima
de tudo é realçar a lógica interna desta inversão antropológica e a continuidade
básica que liga o momento “pessimista” e o momento “otimista”. A “reabilitação
da natureza humana” está no fim da sua acusação. É a realização normal do
movimento3de reabsorção do princípio da inferioridade terrena iniciado de facto
com a sua absorção no coração do homem, sob a forma de condenação da sua
corrupção fundamental.
articular o assunto; estas são a sua despossessão consciente e a sua determinação por
parte de si mesmo que ele ignora. Quer no contexto de uma luta interior entre o apetite do
mal e a vontade de bem, quer no contexto de um acordo do indivíduo consigo mesmo -
uma convergência natural entre as inclinações que o animam e a regra a que deve submeter-
se - a verdade do fato subjetivo é vivenciado no relacionamento ou no ato de autodisposição.
Ao contrário agora, é por excelência na irreflexão ativa que se supõe que ele se entregue,
ou seja, o indivíduo se comporta espontaneamente segundo uma lei que não precisa pensar
em obedecer, pois ela a constitui (registro do normal), ou, quando a contraria, uma falha
oculta o impede de se conformar a ela, sendo a transgressão sempre uma contradição do
sujeito consigo mesmo antes mesmo de ser oposição à norma reinante (registro patológico).
5
secretamente o fato de que ele permanece um . Se ele conquistar essa distância de
sujeito senhor de si mesmo, é de fato através da dependência de Deus que ele é
mantido, e, correlativamente, através do apego que continua a prendê-lo aos seus
pares. A interioridade livre pressupõe sujeição externa. O que se pensa no modo da
presença e da identidade consigo mesmo é na realidade o produto da impressão do
ponto de vista do outro em si mesmo – efeito da diferença imposta pelo que se deve a
Deus ou aos seus semelhantes. Também a dessubjugação revolucionária, ao constituir
os homens como cidadãos de uma comunidade que tem as suas próprias razões, cria
as condições para uma renovação completa da compreensão psicológica. Tudo parte
daí, no que diz respeito à génese das representações que hoje somos capazes de
formar do funcionamento pessoal. A emancipação política dissolve o apoio à ideia
clássica de poder refletido, ao libertar o indivíduo da rede de obrigações que o fortalecia
radicalmente profundamente.
É preciso dizer mais: ele não só a perdeu; ele se colocou contra ela.
Todo o desdobramento da própria sociedade-sujeito na prática foi realizado ao
contrário dessa determinação inaugural do sujeito social ideal.
A efetuação subjetiva é a antítese da representação de um eu coletivo
imediatamente presente a si mesmo; passa muito precisamente pelo que
implicava excluir: assim poderíamos fazer um balanço de dois séculos de
desenvolvimento tateante das democracias. Não requer de forma alguma esta
co-participação fusional de actores individuais e do poder público, que parecia
ser a condição de uma sociedade em pleno domínio de si mesma; Por outro
lado, é a separação de um órgão de gestão especializado que o produz.
Também não exige o acordo expresso das consciências no quadro de um
regresso meditado às condições fundadoras da sociedade; pelo contrário,
pressupõe tanto a emancipação dos pontos de vista e dos interesses individuais,
na ignorância jurídica da forma como é assegurada a sua compossibilidade
global, como a oposição declarada das mentes, na ignorância jurídica disso, o
que, no entanto, os faz coexistir dentro de um comum. estrutura. Por fim, não
exige concentração na intensidade de um presente onde, graças à abertura
mútua das cidadanias participantes, se realiza a pura junção consciente da
comunidade consigo mesma, a sua totalização refletida; é da projeção para o
futuro e da abertura ao desconhecido do movimento que ele resulta. Este é o
paradoxo da reflexividade social tal como se constituiu na ignorância universal
e como começamos a compreendê-lo, agora que se impôs firmemente:
acomoda muito bem a inconsciência de todos quanto aos seus métodos de
funcionamento.
A democracia era o regime que conhece as suas regras e que quer
explicitamente ser o que é. Nem o conhecimento nem a vontade têm qualquer
valor: a coberto destas regras e deste projecto, é claro, é um regime
completamente diferente na sua verdadeira prática daquilo que acreditavam os
seus proponentes e promotores, que no final das contas instalou . Mas não qualquer
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A era da ideologia
com a ditadura indivisa das origens. A grande – e recente – originalidade das religiões de
transcendência terá sido, em comparação, trazer o fundamento externo de volta ao presente:
no sujeito divino, o desígnio original e o atual se unirão. Uma nota sobre isto para dissipar
uma confusão comum sobre qual seria a orientação futura já supostamente predominante no
Cristianismo. Não se trata de negar a novidade essencial que a mensagem cristã introduz na
compreensão da história. Ao acolher o desenrolar de um plano divino de salvação, confere-
lhe uma profundidade, uma dignidade e um significado global, entre a queda, a vinda do
Redentor e o fim dos tempos, dos quais nenhuma outra tradição tinha até então investido no
destino coletivo da humanidade. E é também verdade que através do lugar dado à expectativa
escatológica da ressurreição dos corpos e do Juízo Final, ela constitui pela primeira vez o
futuro numa dimensão crucial da experiência escatológica terrestre, suspensa da imprevisível
intervenção externa da divindade , não tem absolutamente nada a ver com o futuro histórico
que se tornou, durante pouco mais de dois séculos, o horizonte activo das nossas sociedades.
7
A espera pelo termo, por mais intensa que seja, não implica de . Simplesmente, este futuro
forma alguma emprestar à duração humana o mínimo poder produtivo – e particularmente
produtivo de algo que provavelmente precipitaria o apocalipse redentor. Não há ligação entre
o que acontece na história e o fim que lhe será atribuído de fora (toda a operação das
filosofias da história consistirá, pelo contrário, em ligar os dois). O que se experimenta através
da expectativa escatológica é que tudo vem de Deus e nada do homem, é a confirmação
paroxística da sujeição presente ao Todo-Poderoso, que a sua projeção na esperança dos
últimos dias só se fortalece aqui e agora. Em vez da tensão de toda a prática social em
direcção a um futuro a construir, é, estritamente o contrário, a atestação de que são os
homens que produzem o seu próprio mundo no tempo, é a afirmação na acção deste
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que o seu devir criativo tem o seu significado, as suas determinações e os seus fins
exclusivamente em si mesmo.
A criança e o futuro
Burocracia, democracia
a soberania como liberdade de devir e a sua dupla política como generalização do papel
do Estado: uma transformação da figura do futuro e uma transformação do dispositivo
através do qual a sua preocupação toma forma. A começar pela “infraestrutura”, é o
equilíbrio interno do sistema político-administrativo que é profundamente modificado,
por um duplo movimento de relativo rebaixamento da política e de relativa dignificação e
empoderamento do administrativo. À velha visão hierárquica de uma autoridade política
detentora de legitimidade exclusiva e como tal definindo as orientações que uma máquina
burocrática subordinada se contenta em transmitir e aplicar, para continuar a ser a
articulação teórica do funcionamento do Estado – decisão/execução – corresponde cada
vez menos, é claro , à realidade de suas operações. Em primeiro lugar porque a visão
da política em termos de voluntarismo doutrinário, onde cabe ao representante moldar a
sociedade em nome de um sistema do futuro, é cada vez mais abertamente inadequada
ao que gradualmente se descobre como a verdadeira função do Estado, com a
consequente ascensão do ponto de vista gerencial na política. Depois porque esta
dessacralização do papel governamental, a sua banalização tecnocrática, coincide por
outro lado com um reforço da legitimidade intrínseca do papel burocrático – com um
aumento do aspecto político da função administrativa, tanto no seu conteúdo como nas
suas formas . A fronteira entre questões nobres e prosaicas se confunde até virtualmente
desaparecer quando todo o campo social se torna de jure o teatro de um processo de
autoconstituição para o qual cabe ao Estado fornecer refração e unificação. O mais
humilde seguimento da actividade mais modesta tende a adquirir a eminente dignidade
da responsabilidade política quando o próprio sector anexo tende a encarregar-se, como
qualquer outro, de que
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Quanto mais o Estado se torna assim aquilo que a orientação do tempo social
exige que seja, mais dentro dele a representação e a administração tendem a unir-
se, a interpenetrar-se e, em certa medida, a tornar-se indiferenciadas. E por outro
lado, cresce a infigurabilidade do futuro. Quanto mais a sua preocupação está
presente e pesa na vida social, quanto mais a sua organização como organização
de mudança mobiliza recursos, ocupa pessoas, secreta instituições destinadas a
conhecê-lo, a prepará-lo, a supervisionar o seu curso, menos ele é aprisionado
numa representação definida. A multiplicação e concentração no presente de
instrumentos voltados para ele e dedicados exclusivamente à sua causa, a criação
de um verdadeiro poder para o futuro, longe de nos garantir um domínio cada vez
maior do seu desenho, têm o efeito de abrir cada vez mais radicalmente o horizonte. Dela
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o desejo de renovar um vínculo vivo com o passado ininterrupto, cuja explosão final
ainda teve de ser registada até este século, no íntimo da memória; falemos das versões
canónicas do discurso do futuro, da ideologia na sua versão de continuidade progressiva
e na sua versão de ruptura revolucionária, desigualmente sem dúvida na forma, mas
idêntica na substância esgotada, desqualificada e oprimida pelo movimento histórico.
adorar. Quanto mais sabemos que definitivamente só sabemos uma coisa: que
será diferente daquilo que somos capazes de imaginar, mais este confronto
com os nossos limites nos obriga a aceitar-nos como autores de “uma história
que nada nem ninguém determina”. de fora e que inclui apenas um enigma: o
nosso. Um sinal seguro de que estamos agora a caminhar na direcção oposta
à lógica religiosa das origens: aqui está o teste da alteridade, a eterna matriz
da dependência, que se tornou o referencial constrangedor da liberdade.
Isto não significa de forma alguma que ele tenda a inverter a separação da
sociedade civil; pelo contrário, amplia a lacuna enquanto esfera de autonomia
individual. A sociedade civil, muito simplesmente, manifesta-se cada vez menos
na forma de segmentos organizados que jogam precisamente com o seu peso
como blocos sociais independentes e autoconsistentes (como foi o caso durante
tanto tempo em França, por exemplo, do bloco confessional católico). O
movimento social torna-se, num sentido profundo, o movimento dos indivíduos.
Estamos provavelmente à beira de uma inversão de fase nesta matéria: o
processo de monopolização da política que tornou o
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O conflito político
Isso não passa pela consciência dos atores: passa pelas modalidades da
relação social e pela organização do campo coletivo. Toda a formação dos
sistemas democráticos contemporâneos desce deste ponto de vista, como
já foi sugerido, a uma lenta e difícil substituição do acto pela mente, da
realidade do mecanismo subjectivo pelo ideal da consciência. A passagem
da soberania reflexiva obtida pela concentração no presente para a liberdade
inconsciente proporcionada pela projeção no futuro é de eloqüência
demonstrativa insuperável. Mas tomemos outra característica central pela qual o
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possibilidade de qualquer posse unificada da comunidade política por si só. Mas pela
radicalidade da oposição que coloca no centro da vida política, inicialmente derruba toda
a organização social no debate público. Nada do que constitui o espaço comum pode
tornar-se objecto e questão de um confronto resolvido – outra forma de alcançar o
controlo soberano sobre a totalidade do facto colectivo, sem excepção. E na medida em
que a luta dos partidos e das forças sociais se institucionaliza, ou seja, ultrapassa a
fase da ilusão totalitária de uma vitória final que nos livraria do adversário, para chegar a
uma cultura de compromisso entre antagonistas que sabem que são mutuamente
inelimináveis, o conflito torna-se um esquema organizador de um espaço público fraturado
na lei que, seja qual for o assunto, promete o confronto com o outro, sem que ninguém
tenha que dar a última palavra.
Tudo o que os mantém unidos está sujeito ao controle dos atores sociais, através da
contradição que os coloca uns contra os outros, tudo acontece entre eles – mas entra,
precisamente, no meio deles, numa relação que não autoriza apropriação ou
encerramento. É por isso que o conflito não é nem mais nem menos o equivalente formal,
em termos de organização da sociedade política, de
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será que alguma vez recuperará o atraso que ficou em relação à realidade
que ocorreu historicamente?
Em qualquer caso, parece razoável, tendo em conta estas conclusões,
atribuir ao sistema de conflito uma necessidade estrutural relativamente
independente das condições que o forjaram originalmente. Nasceu da
integração da questão social surgida por volta de 1848 no mecanismo da
democracia liberal a partir da década de 1880, através da reunião do sufrágio
universal e do partido operário de “massas e classes”, para esquematizá-lo ao
extremo. Mas não devemos identificá-lo pura e simplesmente com o seu
substrato conjuntural – um substrato que os desenvolvimentos subsequentes
alteraram consideravelmente, desde as formas de divisão de classes até aos
conteúdos ideológicos nele investidos. O mecanismo integrador funcionou
suficientemente bem, poderíamos limitar-nos a dizer, para transformar e
neutralizar profundamente os termos altamente contraditórios que foi
responsável por articular. O compromisso social, o seu principal instrumento,
o Estado-Providência, e a sua tradução económica numa regulação baseada
no consumo de massa (aumento da produtividade, aumento da remuneração,
expansão dos mercados) operaram poderosamente para modificar a divisão
decidida entre proprietários e proletários. O compromisso político também se
consolidou, com a regularização progressiva da forma de conflito e a
penetração do consentimento nas suas normas implícitas. O movimento
operário, no sentido “histórico” do termo, está, portanto, em processo de
desaparecimento como actor social significativo. As ideologias são igualmente
apagadas – ideologia revolucionária, mas também uma certa ideologia
conservadora – no seu aspecto totalitário, em particular, os mitos da redução
do adversário. Tudo isto no sentido de aliviar as tensões e de uma atenuação
muito acentuada dos traços paroxísticos do confronto. Isto não implica de
forma alguma que o conflito como forma axial da relação política deva definhar
até não reter mais, como as ações e palavras de seus protagonistas de ontem, apenas o as
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Separação do Estado
socialidade da sua dimensão pública. Por um lado, o tecido civil que os indivíduos
criam entre si, de forma privada, por contrato explícito ou tácito; por outro lado, o
que diz respeito ao vínculo verdadeiramente colectivo e à dimensão política
abrangente, cuja manutenção e gestão pertencem exclusivamente ao poder soberano.
Nesta transformação, o poder aparentemente perde o seu papel simbólico, como
se as suas funções significativas e as suas prerrogativas reais estivessem em
proporção inversa entre si. O seu elemento primordial era a ostentação simbólica,
enquanto a sua influência real permaneceu limitada; quando, por outro lado, o
seu monopólio do estar-junto o torna materialmente omnipresente, a sua força de
imagem e a sua capacidade de expressão ritual continuam a ser restringidas.
Não é de todo que a sua função simbólica tende a desaparecer: ela só se torna
invisível ao se tornar coextensiva ao trabalho empírico de coordenação e controlo
realizado pelo aparelho de Estado. Um simbolismo sempre menos puro ou
explícito, exibido e manifestado como tal, em favor de um simbolismo inaparente
ou oculto, cada vez mais absorvido e escondido na própria funcionalidade de uma
máquina político-burocrática cada vez mais organizada e eficiente. Aberto ou
patente que permaneceu até certo ponto, mesmo afetado pela anemia progressiva,
o papel de garante da coesão, da identidade, da inteligibilidade global do espaço
coletivo é engolido e desaparece dentro do papel prático da administração do ser-
junto. Torna-se a face oculta e a necessidade inconsciente. A prosa dos ofícios
substitui a poesia do Príncipe. É através da sua influência invasiva e meticulosa,
da sua meticulosidade ordenada, da multiplicação dos seus meios empresariais,
que o Estado assegura aos seres a legibilidade estável do seu mundo que o seu
depositário mundo social, que outrora proporcionou a devoção ao sagrado
do desígnio intangível dos deuses . A fé no vínculo místico com o outro é
substituída pela segurança, tanto tangível quanto inconsciente, proporcionada
pelo organizador abrangente.
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Mas este primeiro factor de expansão ainda teria um peso limitado se não
funcionasse em associação e em sinergia com um segundo que completa a conferição
ao movimento de concentração do político à parte do social a sua amplitude
irreversível. A dissolução democrática da alteridade de fundamento não se limita a
investir o poder da exclusividade da garantia, aos olhos dos agentes, de que o todo
em que estão inseridos é passível de uma apreensão unificadora, com a obrigações
práticas resultantes. Transmuta-o, poder-se-ia dizer, num condensador da antiga
exterioridade definicional. Representava o Outro e referia-se, para além de si mesmo,
à sua legitimidade invisível. Ele passa a absorvê-lo inteiramente. Reduz-o, ao mesmo
tempo, se não o abole, como Outro Sagrado. Mas, ao fazê-lo também, ele se
estabelece na posição de outro na sociedade – outro “secular”, sem nada de extra-
humano que o apoie, nem mesmo substancialidade humana, outro na ordem da
igualdade, outro de função e não de essência , mas outro eficaz. Ele assume uma
diferença de ação que o papel de diretor de uma divindade externa lhe proibia
absolutamente.
uma moda, é verdade, cujo significado há muito tem sido ignorado pela humildade. No
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1 De acordo com uma observação relevante de Alain Clément. Vamos talvez adicionar mais uma característica a
esse conjunto de características. As particularidades da sua história e da sua geografia fazem com que os americanos
tenham escapado a uma das experiências que provavelmente está entre as mais desagregadoras, em profundidade,
para a consciência religiosa, experiência que o policentrismo do seu espaço tornou, por outro lado, familiar. aos
europeus, com subsequentes efeitos de descentralização. Nomeadamente a experiência de conflitos que envolvem
legitimidade religiosa, para usar a fórmula mais ampla possível, guerras religiosas num extremo, mas também
mobilizações patrióticas abençoadas pelas Igrejas no outro, e a simples obrigação de coexistir com um inimigo de
Deus não menos escolhido do que você. entre os dois. Devemos, sem dúvida, considerar o “isolacionismo” americano
como uma das condições importantes para a vitalidade do sentimento religioso – o facto de não termos tido que
assumir repetidamente o choque de uma pretensão igual e simétrica em questões de eleição divina. O isolacionismo é
ainda mais sólido porque é pluralista e contém a sua própria dose de relativismo. E o inimigo planetário, agora que
chegou o envolvimento estrutural no concerto das nações, professa o ateísmo...
2 Jean DELUMEAU, Pecado e Medo. Culpa no Ocidente (século 13) -XVIII século XIX ), Paris,
Fayard, 1983. Jean Delumeau abraça no longo prazo um fenómeno do qual retemos apenas o epicentro.
3 Para usar o título da notável obra de Roger MERCIER, The Rehabilitation of Nature
humano (1700-1750), Villemomble, Éditions “La Balance”, 1960.
4 Sobre o crime e a loucura, o crime em geral, mas também o suicídio, depois as perversões sexuais. Sobre o
ponto de partida destas discussões, cf. Gladys SWAIN, “Uma ruptura na abordagem da loucura”, Libre, n
ó
2, 1977, e “O alienado entre o médico e o filósofo”, Perspectivas Psiquiátricas,
1978, eu, nó 65.
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5 Gostaria de me referir, neste ponto, à análise proposta, em colaboração com Gladys SWAIN, em La Pratique
de l'esprit humaine (Paris, Gallimard, 1980), em particular nas pp. 384-412, “A sociedade dos indivíduos e a
instituição da fala”.
6 Para um esboço histórico particularmente sugestivo desta grande mudança na temporalidade
organizador no Ocidente moderno, Krzysztof POMIAN, “A crise do futuro”, Le Débat, n bem como ó
7, 1980,
L'Ordre du temps, Paris, Gallimard, 1984, pp. 291-308, “Orientação futura e dilatação do tempo”.
7 Sobre tudo isto, cf. a clássica demonstração de Oscar CULLMANN, Christ and Time, trad. Padre,
Neuchâtel-Paris, Delachaux e Niestlé, 1957.
8 A tendência de longo prazo pode contradizer a realidade do momento: exactamente o que estamos a
testemunhar. Daí o autêntico carácter de “crise do futuro” da actual incerteza sobre os meios e fins da Escola.
Deve-se à relativa antinomia que se descobre entre dois sistemas de exigências: a preocupação com o
desenvolvimento dos indivíduos no presente, que se tornou circunstancialmente todo-poderoso, e o imperativo
do seu armamento com vista ao futuro, que constitui o pesado vector, ao longo do tempo, do desenvolvimento
da educação nas nossas sociedades. Crise não da representação do futuro, mas da obrigação para com ele.
9 Aderimos deliberadamente a uma visão de desenvolvimento democrático que excluía o resultado totalitário
como a sua extensão lógica. A análise proposta leva, de facto, a rejeitar a ideia de uma omnipresença estrutural
da possibilidade totalitária nas sociedades contemporâneas. Por outro lado, permite clarificar o seu carácter
cíclico e reconsiderar o seu exame sob um triplo ponto de vista. 1)
Do ponto de vista do momento histórico preciso a que corresponde: esta fase intermédia entre a determinação
extrínseca (por legitimação religiosa) e a determinação intrínseca (por projeção no futuro) que a era da ideologia
representa. 2) Do ponto de vista da articulação interna dos seus componentes e da aliança contraditória que se
consegue entre o velho e o novo, entre fins arcaicos (vontade de toda consciência e de coincidência final com o
verdadeiro princípio da ordem colectiva) e modernos meios (os próprios vetores da inconsciência democrática).
3) Do ponto de vista da sua localização: o tipo de sociedades onde se estabeleceu, com base em que raízes
históricas (em relação ao que implicou o enraizamento das democracias a muito longo prazo), em função do que
situação de fundo (transição Império-Nação). Este será tema de trabalhos futuros.
10 De um modo geral, a história das relações entre Estado e sociedade desde o século XVII seria
reescrever em termos de ciclos onde uma fase de supervisão e formação do Estado é seguida por uma fase de
liberalização e empoderamento da esfera civil tornada possível de facto pelas condições de estabilidade,
homogeneidade e legibilidade do espaço social criado pela influência voluntarista do máquina política – nunca
poderemos dizer o suficiente sobre o papel determinante do pré-requisito organizador fornecido pelos aparatos
das monarquias territoriais no surgimento do mercado auto-regulado. E, por sua vez, a libertação de iniciativas
sociais dá origem ao espaço e ao apelo à intervenção e recomposição do Estado a um nível superior. A natureza
sucessiva do processo e o seu modo conflituoso de manifestação não devem ocultar a profunda solidariedade e
cooperação dos seus dois pólos. O ponto se destaca claramente, no que diz respeito à passagem do estatismo
XVII e ao liberalismo XVIII e
na Europa Ocidental, a partir do estudo comparativo de Marc
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RAEFF, O Estado Bem Ordenado. Mudança Social e Institucional através do Direito na Germânia e na
Rússia, 1600-1800, New Haven, Yale UP, 1983.
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extremamente difícil de identificar e nomear, uma vez que quase nunca é tematizado
como tal, mas utilizado de forma subjacente, em particular pelo discurso filosófico do
qual continua a ser um foco secretamente decisivo. Chamemos-lhe, simplesmente
para estabelecer uma referência, o indiferenciado.
A realidade tal como nos aparece, uma multiplicidade inesgotável de qualidades
sensíveis, uma rede infinita de objetos distintos e diferenças concretas, inclui outra
realidade: aquela que emerge para a mente quando consideramos, para além do
visível, a sua unidade e continuidade indiferenciadas. Operação elementar de divisão
da realidade, de duplicação do visível e do invisível de que
Não podemos deixar de encontrar possibilidades no mais banal dos nossos caminhos
de ideias. É neutro, notemos isso. Por si só, não implica qualquer interpretação.
Podemos então enxertar nele uma compreensão específica das ordens da realidade
que ele se contenta em dividir: aparência e verdade, sensível e inteligível, imanência
e transcendência, etc.
Mas não há obrigação de fazê-lo. Podemos permanecer com este simples sentimento
de dualidade de aspecto da realidade. Porque insistamos também que não está aqui
em causa qualquer referência a um princípio externo. O que está em jogo é uma
divisão das próprias coisas, do mundo tal como ele se dá, tirado de dentro de si. Há
aquilo que está sujeito à percepção imediata, e depois algo mais que se apresenta
quando levamos em conta a sua totalidade indiferenciada – o que só nos permite, por
exemplo, dizer validamente uma coisa: que é. Portanto, não há confusão quando
falamos em “objeto de tipo religioso”. Trata-se aqui de um modo constitutivo de
apreensão da realidade, doador de uma duplicação primordial sem cujo apoio
nenhuma crença religiosa constituída teria sido possível, mas que intrinsecamente
não produz fé, não envolve nenhuma convicção particular. exige qualquer extensão
em termos de sacralidade. O seu funcionamento é perfeitamente capaz de ser
suficiente em si mesmo no quadro do mais estrito ateísmo. Daí, em grande medida,
provavelmente, a tentação que observamos de recorrer à linguagem das espiritualidades
orientais,
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das coisas, a irrupção de um inteiramente outro, para usar a expressão de R. Otto Mas .
2
agora, quando ninguém estava me esperando? O que eles querem de mim? O que devo
fazer da minha vida quando sou o único que decide? Será que algum dia serei como os outros?
Por que isso – doença, acidente, abandono – está caindo sobre mim? De que adianta ter
vivido se você tem que desaparecer sem deixar rastros, como se, aos olhos dos outros, você
não tivesse vivido? Estamos condenados a viver doravante nus e na angústia daquilo que
fomos mais ou menos poupados desde o início da aventura humana pela graça dos deuses.
Cabe a cada um desenvolver suas próprias respostas. A fuga na psicose, por exemplo,
entre a exaltação e a depressão, entre a certeza paranóica de ser o único e o centro e o
trabalho esquizofrênico de apagar-se como si mesmo. Mas também existem respostas
coletivas, e podemos apostar que sempre haverá mais delas. Assim, na forma de técnicas
de auto-relação, das quais a prática psicanalítica, com sua notável oscilação-hesitação
interna entre a restauração subjetiva e a destituição subjetiva (Lacan), oferece a ilustração
mais típica, dificilmente concebível fora de um momento preciso da cultura. Novamente sob
a forma de modas, das quais só a sucessão é reveladora: vinte anos de ódio declarado ao
sujeito e culto ao seu desaparecimento, para testemunhar o seu regresso desenfreado e a
sua reabilitação narcísica. Entre o amor-próprio com exclusão do resto e o desejo de abolir
o eu nas suas mais variadas expressões, entre o absoluto do ser e o ser-nada, talvez não
tenhamos - nunca mais terminamos de balançar. Em todo o caso, esta é a dor incómoda e
quotidiana que nenhum ópio sacro nos permitirá esquecer: a contradição inexpiável do
desejo inerente ao próprio facto de ser sujeito.
1 Sobre esta transição crucial do conhecimento direto para o conhecimento indireto, com a transferência do
invisível que isso implica, cf. Krzysztof POMIAN, “Natura, história, conoscenza”, Enciclopédia Einaudi, t.
XV, Turim, 1982.
2 Rudolf OTTO, O Sagrado (Das Heilige, 1917), trad. frag., Paris, Payot, 1969.
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ANEXO
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ÍNDICE
Ação, interação: 16-17, 21-22, 24, 29, 30, 41, 48, 59, 67, 70, 72-73, 74,
75-77, 101, 106, 109, 113-114, 120, 123, 129, 133, 135, 138, 142-143, 144,
152, 168, 176, 180, 182-183, 189, 192, 198- 199, 205, 220, 241, 244, 248, 252,
256, 268, 277, 280, 281, 291, 297-299, 308, 309-310, 311, 315, 323, 326, 337,
339, 340 , 349, 353, 361, 370, 371, 375, 377-379, 386,
388-389, 390.
Veja Contemplação.
Ativismo: 192.
Adocionismo: 161.
África: 23, 206, 276.
Ahura Mazda: 420 n. 5.
AKHNATON: 209-210, 232-233.
ALBRIGHT, William F.: 419 n. 2.
ALEXANDRE, o Grande: 207, 253.
Alienação: 332, 391.
Veja Loucura.
Aliança: 78, 103, 119-120, 125, 126, 143, 237, 258, 268, 275, 277-278,
294, 354, 430n. 9.
Veja Judaísmo.
AMANN, Émile: 422 n. 9.
Alma: 61, 94-95, 148, 158, 159, 165, 224, 229, 251, 253, 264, 265-266, 270,
271, 273, 274, 279-280, 297. 299, 306, 310, 417 n. 7.422 n. 9.
Veja Corpo. Alma do mundo: 210, 252-253, 283-284.
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América:
veja Estados Unidos.
Veja Hora.
Anjos: 178.
Antagonismo: 52-53, 54, 213, 262, 291, 376, 380.
Antropogênese: 57, 325.
Antropologia: 42, 51, 198-199, 319, 325, 330, 332, 394-395, 400, 412 n. 2.
Antropomorfismo: 104, 198.
Membros: 14, 52, 56, 78, 79, 80-81, 93, 98, 119, 127, 130, 135, 137,
143, 149, 154, 157, 168, 205-206, 235, 257, 258, 261, 262, 281-282, 288,
290, 291, 292-293, 295, 310-311.
Cobertura: 30, 59, 78, 91, 113, 114, 115, 138, 141, 154, 165, 166,
170, 172, 174, 176, 186, 201-202, 211, 214, 239, 241, 257, 258-259, 261-262, 266,
271, 281-282, 289, 290-291, 292-293, 299-300, 301-302, 307,
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Burguesia: 361.
BOURNAZEL, Eric: 427 n. 23.
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Xamã: 61.
Veja Encarnação.
294, 295-297, 299-300, 302, 303, 310, 311, 314-316, 317-322, 327, 330,
345, 363, 396, 412 n. 2, 415n. 4.416 n. 5, 417 n. 6 e 7, 418 n. 7.423 n. 11 a 13, 425 n.
16 e 17, 426 n. 19, 428 n. 24.
Cronologia: 1º
milénio a.C.: 30. meio milénio
a.C.: 64.3000 a.C.: 22.800 a.C.:
83.300 a.C.-C.: 22.200 a.C.:
83.º século : 161, 245-246.
1118:313.
XIII século XIX : 173, 174, 175, 279, 303, 429 n. 2.
1231: 307.
XIV século XIX : 180,
279. 1300: 174.
XV século XIX : 180.
XVI século XIX : 22, 121, 180, 185, 218, 316, 326-327, 340.
1517: 313.
XVII século XIX : 136, 316, 326-327, 340, 430 n.
XVIII Século X : 175, 337, 380, 429 n. 2.430 n. 10.
1700: 317, 318, 324.
1710: 329.
1714: 329.
XIX século XIX : 36, 42-43, 56, 136, 332, 337, 342, 345, 361, 380, 387-388, 391,
400.
1800: 331, 335.
1848: 378.
1880: século
XX 378: 36, 42-43, 137, 337, 342, 345, 359, 360, 361, 380, 387-388, 391, 400,
406-407, 4 20 n. 4. 1900:
335.
Cister: 417 n. 6.
Classe: 376-377, 378-379.
Luta de classes: 320.
CLASTRES, Hélène: 218, 421 n. 7.
Cluny: 417 n. 6.
Comunismo: 354-355.
Veja Hipóstase.
Conformismo: 422 n. 10.
Confucionismo: 30-31.
CONGAR, Yves: 426 n. 21, 427 n. 22.
Conselhismo: 380-381.
Consulte Autogerenciamento.
Acosmismo: 152.
Crime: 429 n. 4.
Cruzadas: 185.
Veja Guerra.
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Crescimento: 9, 18, 21, 58, 129, 136, 139, 142, 173, 177-178, 183, 188, 304-
305, 318, 353, 354, 372, 383, 385, 390, 405-406, 418 n. 10.
Veja Economia.
Crença: 13, 47-48, 53, 55, 81-82, 83, 87, 96, 97, 116, 147, 149-150, 152-153, 157,
165, 182, 198-199, 206, 211, 234, 253, 266, 320, 321, 322,
328, 348, 380, 393, 394, 395, 396, 402-403, 412 n. 2, 415n. 4.
Culpa: 328.
Veja Crença, Pecado. Isenção: 329, 332.
Carga: 328.
Veja Assunto.
Adoração: 71, 82, 86, 116, 191, 198-199, 216, 251, 266, 273, 315, 352, 361,
367, 376-377, 403, 406-407, 426 n. 20.
Cultura: 13, 26, 43, 47, 48, 55-56, 62, 64, 79, 123, 136, 198, 206-207, 208, 241, 246,
248, 253, 306, 315, 321, 322, 348, 362, 364-365, 367, 394,
406.
Aculturação: 315.
Daniel: 421 n. 8.
Democracia: 11, 12, 112, 114, 129, 183, 188, 192, 201, 282, 289, 319-320,
322, 337, 340, 342, 343, 352-355, 358, 368, 370, 375-376, 378, 380-382,
386-389, 430 n. 9.
Veja Burocracia, Estado.
Demografia: 141-142, 175, 305, 352.
Veja Economia. “Mundo completo”: 172, 173-174, 177-178, 305, 306.
DESCARTES, René: 339, 413 n. 4.
Déspota, despotismo: 78, 138.
Determinismo: 47, 49, 57, 204, 361
DHORME, Édouard: 419 n. 2.
Diabo: 192, 328, 424 n. 14.
Deus: 28, 102, 103, 105, 106-110, 115, 117-118, 119, 120-123, 127, 128,
130, 144, 148, 150, 151, 157, 159, 161-162, 168-170, 180, 185, 201, 205,
210-211, 214, 216, 236, 238, 240, 246, 275, 276, 278, 280, 283-284, 294,
296-297, 300, 301-302, 310, 314, 315, 327, 328, 329, 332-333, 335, 345, 346,
399, 405, 412 n. 2, 413 n. 4.415 n. 4, 417 n. 7, 419n. 13, 420 n. 5.423 n. 13,
427 n. 23.
Veja Cristianismo, Igreja, Henoteísmo, Hierocracia, Monoteísmo, Religião.
Ausência de Deus: 110-111, 129-130, 157.
Alteridade de Deus: 65, 68, 109-110, 111-112, 114-115, 117, 120, 152, 163-
164, 169, 185-186, 263, 269.
Deus Cristão: 215, 223, 224-225, 232, 240-243, 254, 261, 266, 268-269,
270, 271, 416 n. 5, 417 n. 6 e 7, 422 n. 9, 423 n. 13, 427 n. 23, 428 n. 1.
Deus Criador: 100-101, 120, 150, 239.
Deus étnico: 209, 243.
Deus-homem: 68, 152, 162-163, 164, 166, 224-225, 233, 234, 246, 247,
256, 259-260, 268-269, 272, 273.
Veja Jesus Cristo.
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Deus judeu: 185, 209, 210-211, 212, 213, 214, 215, 216, 217-218, 220-221, 222-223,
225, 226-227, 228, 229-230, 241, 427 n. 23.
Deus muçulmano: 185, 420 n. 6.
Deus pessoal: 109, 126, 150, 165, 207, 218, 220-221, 239, 288, 327.
Deus Solar: 209-210, 232-233.
Sujeito de Deus: 28, 60, 107, 109-110, 111, 116-117, 123-124, 128, 144, 170,
205, 288, 344-345, 412 n. 2, 413 n. 4.
Veja Politeísmo.
Lei: 112-114, 128-129, 148, 158, 180, 183-184, 223, 231, 253, 258-259,
261, 270, 274, 277, 281-282, 289, 301, 307-308, 312, 315, 318, 327, 330,
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339-340, 342-343, 355, 357, 367, 369, 371, 373, 377, 380-381. Ver
Monarquia. Lei das pessoas físicas: 315, 381.
Veja Indivíduo.
DU BREUIL, Paulo: 420 n. 5.
Dualismo: 87, 412 n. 2, 420 n. 5.
Dualidade: 88, 91, 92, 103, 114, 117, 132-133, 137, 145, 149, 150-151, 167, 171,
188, 204, 208, 212-213, 225, 237, 261, 262, 279, 283, 287, 296, 396, 412 n. 2,
413 n. 4. 417 n. 6. 429 n. 1.
Veja Trindade.
Economia: 13, 48, 56, 140-141, 142, 172, 174, 188, 197, 303-305, 317-318,
369, 372, 379, 414 n. 3, 417 n. 6, 418 n. 10.
Igreja: 9, 116, 119, 128, 156-157, 158, 159-160, 164, 165, 169, 170, 180,
184.198.260-273.277-279.295.298.299.302.303.305.307.308.310.311.315.319.322.330.371-372.394
428 n. 1.
Veja Ascetismo, Cristianismo, Clérigo, Clero, Deus, Monge, Sacerdote, Religião, Rito,
Trindade.
Igreja-Império: 298.
Veja Império.
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Império: 69-70, 79, 80-81, 86, 176-177, 206-208, 210, 212, 214, 226-230,
232, 241, 245, 251-252, 254-255, 262, 264, 278-279, 296, 298-300, 305, 307-309, 427
n. 23, 430 n. 9.
Etnografia: 279.
Etnologia: 276.
STEPHEN II: 298.
Eucaristia:
veja Rito.
Eufrates: 226.
Europa, Europeu: 11, 22, 118, 155, 173, 185, 218, 275, 308, 319, 320, 321,
322, 418 n. 9, 422 n. 10, 428 n. 1.430 n. 10.
Evangelistas: 416 n. 5.
Mensagem do Evangelho: 184, 320-321.
Hedonismo: 192.
Veja Prazer.
184-185, 188, 190, 199-200, 201-204, 206, 211-212, 222, 224, 228, 234,
237-240, 243, 250-255, 257, 262, 265, 267-268, 271-272, 275, 278, 287-288, 296,
298, 301, 305, 308, 311-312, 314, 317-
322,323-327,329-331,333-337,339,345,348-349,351-353,355,359-361,363,366,369,370-371,378-37
413 n. 4.415 n. 4, 417 n. 6, 418 n. 8, n. 10, 419 n. 2, 420 n. 4.425 n. 17, 429 n. 6.430
Ideologia: 320, 344, 348-350, 352, 359-360, 373, 378-380, 387, 430 n. 9.
Imanência: 61-62, 87, 93, 99, 110, 153-154, 158, 179, 184-185, 229-230,
285, 325, 339, 344, 347, 382, 383-384, 396, 413 n. 4.
Veja Transcendência.
Individualização: 128, 257, 294-295, 306, 319-320, 327, 328, 333, 403,
415 n. 4.
Individualização da fé: 170, 306, 327-328.
Veja Fé.
198, 199, 203, 212, 216, 229, 232, 238, 253, 256, 267, 269-270, 273,
274, 276, 277, 279, 285, 287, 294, 297-299, 303-304, 316, 317, 321, 338, 346,
347-348, 361, 364-371, 373, 375, 380, 383- 384, 385-386, 394, 395-396, 397,
399, 401, 412 n. 2, 413 n. 4.416 n. 5, 420 n. 5.426 n. 20,
431 n. 1.
Consulte Visível.
Jansenismo: 118.
Japão: 414 n. 1.
JASPERS, Karl: 65, 83, 412 n. 3.
JESUS CRISTO: 30, 152-154, 160-162, 164, 166, 223-224, 228-236, 238,
239, 240, 241, 242, 243-248, 251, 254-258, 260-265, 266-270, 272-276, 279-283,
295, 296, 301-303, 311, 312, 316, 317, 345, 416 n. 5, 421 n. 8.422 n. 9, 424 n.
14, 426 n. 19, 427 n. 23, 429 n. 7.
Cristologia: 161, 245-248, 421 n. 8.
Cristomorfismo: 276-277. Natureza
de Cristo: 161. Veja Adoptianismo, Nestorianismo.
“Segundo Cristo”: 272.
Veja Igreja.
Juventude: 352.
Trabalho: 215.
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Judaísmo: 31, 209, 214, 221, 223-225, 227-229, 237, 238-239, 240-243,
254, 272, 294, 420n. 5 e 6, 421 n. 8, 425 n. 16. Ver Lei.
Aliança: 212, 213, 220-221, 225-230, 237.
Magia: 10, 61, 75, 76, 87-88, 100, 104-105, 115, 117, 125, 206, 276, 284, 285, 287,
293, 294, 405, 426 n. 20.
MAOMÉ: 185, 416 n. 5.
Mal: 108, 327-330, 331, 412 n. 2.
Veja Bom, Moral. Terra sem mal: 218, 221, 421 n. 7.
MANDEVILLE, Bernard de: 329.
Suicídio: 429 n. 4.
Ressurreição: 236, 345, 421 n. 8.
Idade Média: 118-119, 156, 175, 180, 297, 305, 306, 313, 316, 417 n. 6,
419 n. 13, 426 n. 21, 427 n. 22 e 23.
Oriente Médio: 93, 207, 216.
MUMFORD, Lewis: 414 n. 2.
Música: 400.
Mistério: 16, 33, 44, 57, 102, 152-153, 157, 202, 224, 234, 248, 250, 269,
271, 273, 277, 286-287, 310, 312, 362, 381-382 397 -398 399
Misticismo: 117, 118-119, 152, 159-160, 178, 226-227, 232, 268, 277, 281,
307, 385, 397, 405, 412 n. 2, 416 n. 5, 420 n. 6, 427 n. 23.
Mito, mitologia: 18-19, 27, 28-29, 49, 58, 60, 63-64, 71, 74, 76, 86-87, 92-93,
100, 103-104, 106, 122-123, 124-125, 198, 229, 284-286, 293-
294, 347, 374, 379, 425 n. 17.
Saída do mito: 87, 124, 293, 317, 319, 324, 393.
Neolítico:
veja História.
Nestorianismo: 161.
Nova Guiné: 12.
Obediência: 27-28, 32-33, 34-35, 65, 78, 151, 222, 231, 235-236, 258,
323-324, 326, 327, 331-332, 335, 340, 420 n. 6.422 n. 10.
Consulte Envio.
Obscurantismo: 23.
Oeste: 9, 12, 33, 34, 65, 114, 119, 120, 122, 124, 131, 137, 146-147,
156, 158-159, 165, 166, 167-168, 174-175, 239, 247, 263, 264, 278, 279,
296, 298, 301, 308, 316, 322, 352, 363-365, 370-371, 391, 400, 412 n. 2,
425 n. 17, 427 n. 23, 429 n. 2, n. 6.430 n. 10.
Veja Cristianismo, Oriente, Religião.
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Paganismo: 56, 63, 109-110, 251-253, 268, 412 n. 1.424 n. 14, 426 n. 20.
Paz: 172, 184-186, 235, 419 n. 13, 427 n. 23.
Veja Guerra. Trégua de Deus: 184.
Palestina: 83.
Papado: 159, 176-177, 262, 263, 277, 278, 298-299, 302, 303, 305, 307-
308, 423 n. 13, 424 n. 14, 426 n. 21.
Veja Império.
PAULO (santo): 208, 243, 244, 245.
Pecado: 151-152, 216, 226, 230, 327-329, 331, 422 n. 9, 429 n. 2.
Veja Cristianismo, Culpa, Islã.
Pintura: 400-401.
PÉPIN o Breve: 298.
Pérsia: 83, 420 n. 5.
FILO de Alexandria: 425 n. 16.
Filosofia: 30, 35-36, 93, 103-104, 149-150, 167, 283, 292-293, 295, 328, 335, 340,
341, 342, 345, 378, 395, 397, 413 n. 4.416 n. 5.429 n. 4.
Filosofemas: 398.
Filosofia da história: 34-35.
Veja História.
protestante: 155.
“Protestantismo Ascético”: 155.
Veja Ascetismo.
Psicanálise: 406.
Puritanismo: 319-320.
Radicalismo: 417 n. 7.
RAEFF, Marc: 430 n. 10.
Motivo: 35, 37, 102, 103, 108, 110, 116, 121, 122-123, 124, 158, 239, 248,
266, 270, 272, 282-283, 286-288, 291, 295-296, 320, 326, 329, 347, 382.
Reformas: 158-159, 209, 219, 232-233, 271, 281, 298, 308, 313, 417 n. 6,
420 n. 5.
Relativismo: 428 n. 1.
Religião: 9-16, 18-21, 27-31, 34-36, 41-44, 49, 54-55, 62, 63-68, 70, 72, 77, 79,
81-82, 83, 84- 86, 87-88, 90-93, 96-97, 98, 100-101, 103, 109-110,
112-123, 127-128, 130-131, 132-134, 142-143, 146, 151, 153, 155, 158-
159, 162, 168-170, 171-173, 176-178, 181, 185-188, 190-191, 199-211, 213,
215, 220, 222-223, 225-229, 238-239, 250- 252, 255, 256-257, 260, 264, 271,
273, 281, 282, 287, 293, 296, 303, 306-308, 310, 312-315, 317-
318, 319-322, 325-327, 328-329, 330-331, 337-338, 343-344, 347-349, 359,
360-361, 374, 391, 393-396, 398-399, 402- 403, 405-406, 411n. 1, 412n. 2,
416 n. 5.419 n. 1.420 n. 6, 427 n. 22 e 23, 428 n. 1.430 n. 9.
Veja Budismo, Cristianismo, Deus, Deuses, Islamismo, Judaísmo, Reformas,
Revolução. História das religiões: 30, 59, 63, 83, 99, 118, 121, 314.
Religião estatal: 177.
Consulte Estado. Religião primitiva: 21-22, 29, 45-62, 63, 64, 70, 82-83, 132, 134-
136, 252, 344, 361-362, 398-399, 411 n. 1.
“Religião secular”: 348.
Religião da transcendência: 64, 120, 123, 256, 267, 278, 344-345.
Veja Transcendência. Religiões orientais: 31, 34, 87, 282, 396, 412 n. 2.
Consulte Vazio. Religiões universais (“grandes religiões”): 21-22, 63-65, 81,
203.
Saída da religião: 9-13, 15, 22, 31, 53, 65, 115, 197, 199, 202, 319, 321- 322,
324, 336, 337, 362, 374, 391, 393-396, 398 - 400, 402-403, 405-406.
Veja Cristianismo.
182, 211-212, 266, 273-274, 279, 289, 304, 305, 320, 333, 359-360, 363, 379, 418 n. 10.
religioso: 29, 74-75, 83-84, 155-156, 163-164, 165, 190, 281, 316, 340.
“Revolução Romana”: 254-255.
Romantismo: 118-119.
Roma: 251.
Veja Romanos. Segunda Roma: 283.
Sacerdócio: 261-262, 273, 276, 277, 281, 283, 297, 303, 307, 310, 424 n. 14.
Sagrado, sacralidade: 9, 41, 46-47, 50, 55, 58-60, 66, 68, 70, 72-73, 76, 85-86, 91, 96,
302, 305-306, 310, 313, 314, 325-326, 344, 383, 385-386, 396, 398-400, 403, 407, 418 n.
Sacramento: 127, 160, 170, 172, 276, 277, 279-280, 307-308, 399.
veja Diabo.
Cisma: 224, 311.
Ciência: 19, 125, 134, 137-138, 144-145, 188, 284, 350-351, 359, 388, 394-
395, 397-398.
393-394, 399, 404-406, 419 n. 13, 423 n. 11, 425 n. 17, 429 n. 5, n. 8,
430 n. 9 e 10.
Consulte Estado.
Espaço humano-social: 9, 26, 51-53, 98, 111, 136, 176, 187-188, 198, 234, 318, 321, 323-324,
325, 348-349.
Veja Assunto.
Veja Crença.
Sociedade primitiva e selvagem: 19-20, 22-23, 27, 46-48, 57-58, 63-64, 66, 77-78,
140-141, 411 n. 1, 412n. 2.
Veja História.
Sociedade sem religião: 11, 12, 31, 197, 264, 319-322, 337, 374, 391, 406.
Sociologia: 12.
Sócrates: 293.
Veja Prazer.
Envio: 19, 24, 32-33, 107, 115, 127, 129, 132-133, 149-150, 151, 153-
154, 155, 162, 166, 168, 207, 208, 223, 231, 258-259, 270, 272, 281, 298-299,
325, 412 n. 2.
Veja Obediência.
Espiritual: 10, 12, 21, 29-30, 31, 34, 55-56, 63-64, 69, 70, 74 79, 81, 84, 85, 87, 91-92,
95, 122, 128, 151 , 159, 165, 167, 177, 178, 186, 189, 204,
206, 207, 208-211, 219, 222-223, 226-230, 242, 245, 251, 257, 261-262, 263, 266,
271, 277, 278, 279, 281-284, 294-295, 298, 299-303, 313-314, 321, 394, 396, 402,
412 n. 2, 415n. 4.420 n. 5.423 n. 13, 425 n. 17,
427 n. 23.
Veja Material, Potência.
Subjetificação: 31, 84, 87, 93, 104, 122, 179, 205-206, 287, 331, 363, 365,
405.
Subjetivismo: 93.
Subjetividade: 11, 60, 75-77, 87, 92, 102, 104, 105, 109, 122, 158, 159, 170, 199,
200, 287, 315, 318, 319, 322, 325, 328, 329, 331, 332, 335-339,
341-342, 343, 346, 347, 353, 364, 376, 377, 380-382, 391, 393, 394, 396, 403-406,
415 n. 4.
Assunto: 57, 59, 60, 91, 102, 104-105, 111, 120-121, 200-201, 202, 288, 323-324,
326, 327-328, 331-336, 337-338, 340- 342, 351, 353, 378, 381, 390-
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Consulte Associação.
Transcendência: 26, 34, 64, 74, 83, 87-89, 93, 97, 99-100, 102-105, 108,
109-110, 112, 114, 116, 119, 120, 121-122, 123, 127, 130-131, 143-144, 153-154, 157,
158, 165, 178-180, 190, 212-213, 215, 217, 223, 225, 228, 230, 233, 237-238, 240, 256,
316, 318, 324, 325, 339, 344-345, 346-347, 363-365, 367, 368, 371, 377, 383-384, 389,
Trabalho: 136, 138-139, 141, 156, 166, 168, 174, 187-188, 254, 269, 306-
Universo: 10, 11, 16, 17-18, 21-23, 25, 30, 32, 43, 61, 72, 75, 76-77, 78, 92,
95-96, 99, 104-105, 108, 115, 118-119, 122, 123-124, 125, 133, 135, 139, 141, 145, 147,
Cidade-Universo: 300.
Veja Universo.
Universal, universalidade: 17, 34-35, 41-42, 47, 51, 57, 79-83, 85, 90-91, 92-
94, 116-117, 126, 133, 146, 175, 181, 185, 192-193, 207-209, 220-221, 225-229, 231-232,
235, 237, 238-239, 240, 243- 244, 245, 251, 252, 278, 298, 307-308, 309-310, 333, 343,
Veja Religião.
Urbanidade: 175, 306-307, 401.
Veja Ruralidade.
URSS: 12.
Veja Religião.
Violência: 69-70, 79, 184-185, 235. Não-violência: 185.
Visível: 43, 55, 61, 64, 66, 68, 71-75, 77, 79, 87, 88, 91, 92, 94, 111, 116-118, 122, 123, 126,
129, 133, 135, 143, 144, 152, 154, 156, 160, 162,
167, 168, 170, 172, 178, 179, 180-181, 186, 189, 191, 206, 212, 214, 229, 238, 256,
267, 273, 276, 277, 287, 294, 297, 29 9 , 303-304, 317, 338, 358, 363-364, 365, 367,
368, 370, 375, 395-396, 397, 399, 404-405, 412 n. 2, 413 n. 4.420 n. 5.426 n. 20.
Veja Invisível.
Yanomami: 414n. 3.
GALLIMARD
5, rue Gaston-Gallimard, 75328 Paris cedex 07
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Capa: Tàpies, Quatro Rios de Sangue © Fundação Antoni Tàpies, Barcelona/ADAGP, 2005.
Biblioteca Nacional da França, Paris. Foto ©BNF.
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DO MESMO AUTOR
Bayard, 2002.
A CONDIÇÃO HISTÓRICA, Estoque, 2003; “Ensaios fólio nº 465”.
A CONDIÇÃO POLÍTICA, Gallimard, 2005.
A AVENTURA DA DEMOCRACIA, Gallimard, 2007, volumes 1 e 2.
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Marcel Gauchet
O desencanto do mundo
Uma história política da religião
Esta edição eletrônica do livro O desencanto do mundo de Marcel Gauchet foi produzida em 20 de julho de
2016 pelas Éditions Gallimard.
Baseia-se na edição impressa da mesma obra (ISBN: 9782070329434 - Número da edição: 270694).
Este livro digital foi inicialmente convertido para o formato EPUB por Isako www.isako.com a partir da
edição em papel da mesma obra.