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Falar de degradação ambiental e sua relação com o homem é falar da história da humanidade.

De acordo com Albuquerque (2007), desde seu surgimento na Terra, o homem tenta
compreender e transformar o mundo à sua volta. Silva (2011) descreve que o homem desde a
pré-história interfere consciente ou inconscientemente no meio ambiente, mais especificamente
na distribuição da vegetação, seja pela dispersão de sementes durante processos migratórios,
pela proteção de espécies consideradas úteis ou sagradas, pela seleção de espécies para
domesticação, pela caça ou domesticação de animais necessários à polinização de espécies da
floresta ou através de outros processos que envolvem fatores bióticos e abióticos. Albuquerque
(2007) afirma que os problemas ambientais já ocorrem há milênios: os romanos já reclamavam da
poluição do ar antes de Cristo, mas o autor elucida que, mesmo que o homem tenha sempre
interferido na natureza, agora ele está causando um aumento dos problemas socioambientais.

A Ilha de Páscoa é um dos pontos mais isolados do planeta. Tem 163


quilômetros quadrados – metade da área de Belo Horizonte, a capital mineira. A
ilha também era chamada de Rapa Nui, ou “Rapa Grande”, por sua semelhança
com uma ilha menor chamada Rapa.

A história da ilha é controversa. Não existe nenhum registro escrito anterior à


chegada dos europeus. A data da colonização do local também não é certa.
Estudos recentes apontam que, por volta do ano 1000, ela foi alcançada por
povos polinésios. Pouco mais de 100 deles teriam encontrado uma ilha rica em
fauna e flora, com solo fértil, coberta por um tipo grande de palmeira, que
costumava alcançar 25 metros.

Entre os séculos 11 e 14, a sociedade rapanui viveu seus dias de glória. O solo
vulcânico favorecia o cultivo de diversos alimentos, especialmente a batata-doce.
A agricultura eficiente resultou em um baita crescimento populacional – estima-
se que a ilha chegou a ter 15 mil pessoas. Aí começaram os problemas. Um
número maior de habitantes exigia que mais áreas fossem devastadas. “O
plantio em grande escala necessita de um campo aberto”, afirma o arqueólogo
Christopher Stevenson, autor de Easter Island Archaeology(“Arqueologia da Ilha
de Páscoa”, inédito em português). “Outras demandas pela madeira foram para
usá-la como combustível e nas estruturas de casas e barcos.”

As palmeiras serviam para construir as canoas que os habitantes da ilha usavam


em alto-mar para pescar um importante item de sua dieta: golfinhos. Como a
vida marinha ao redor da ilha não era tão abundante, só os pescadores mais
experientes, com suas canoas duplas (semelhantes a catamarãs), conseguiam
trazer golfinhos para a mesa. A carne do bicho era muito apreciada, assim como
a de foca e de 25 tipos de pássaros selvagens. Adivinhe como isso tudo era
preparado? Com a queima da lenha retirada nas florestas.

Mas não era só a alimentação que provocava desmatamento. Ele foi


intensificado por uma disputa que tomou conta da ilha: a obsessão por construir
moais. Os diferentes vilarejos criavam estátuas cada vez maiores. Os primeiros
moais, que teriam sido feitos por volta de 1100, tinham entre 2 e 3 metros de
altura. Já o maior que chegou a ser posto sobre um altar, esculpido cerca de 300
anos depois, tem 10 metros e pesa 82 toneladas. Aos pés do vulcão Rano
Raraku, onde todos os moais eram construídos, há uma estátua com mais de 15
metros e cerca de 270 toneladas, que não chegou a ser terminada.
A obsessão por construir moais provocou ainda mais desmatamento Pixabay

Mas o que fazer moais tem a ver com derrubar árvores? Segundo os
pesquisadores, levar um moai do vulcão até um vilarejo e deixá-lo em pé era um
trabalho que exigia muita madeira. Além disso, de acordo com a arqueóloga
americana Jo Anne van Tilburg, da Universidade da Califórnia, um quarto dos
alimentos de Rapa Nui era consumido no processo de produção e transporte dos
moais – atividades que envolviam entre 50 e 500 pessoas de cada vez.

Conforme as palmeiras eram arrancadas, uma série de problemas no solo


começou a aparecer. “A terra de cultivo ficou exposta ao sol, ao vento e à
chuva”, afirma o arqueólogo Claudio Cristino, da Universidade do Chile, um dos
maiores estudiosos de Ilha de Páscoa. O solo sofreu erosão e muitos vilarejos
ficaram inabitáveis, pois nada brotava ao seu redor. “Com a destruição dos solos
férteis, não é difícil imaginar drásticos períodos de fome em Rapa Nui. Tensões
sociais extremas causaram conflitos e a população da ilha, que teria chegado a
15 mil pessoas, começou a diminuir”, diz Cristino, autor de 1000 Años en Rapa
Nui (“1000 anos em Rapa Nui”, sem tradução para o português).

As 887 estátuas de pedra vulcânica, esculpidas durante séculos pelo povo rapa nui,
espalham-se pela ilha e transformam-na em um museu a céu aberto. Infelizmente, elas
também são o símbolo maior de uma história trágica de desrespeito ao meio ambiente
e exploração desenfreada de recursos naturais. Na verdade, seria mais apropriado
chamar o território de 163 quilômetros quadrados de cemitério a céu aberto.

O processo de formação, apogeu e declínio da civilização rapa nui é o mais pungente


exemplo de colapso ambiental já documentado. A história começa por volta do ano
400, quando polinésios muito provavelmente saídos das Ilhas Marquesas aportaram
na praia de Anakena, a única do território. Ao longo de centenas de anos, eles se
multiplicaram e desenvolveram uma sociedade complexa. Segundo as pesquisas do
etnógrafo e aventureiro norueguês Thor Heyerdahl (1914-2002), um dos maiores
estudiosos da Ilha de Páscoa, um dos traços mais marcantes do povo rapa nui era sua
intensa espiritualidade. Instalados em um verdadeiro paraíso, os clãs ali estabelecidos
passaram a cultuar seus ancestrais, representados na forma dos moais.

Até a última árvore As estátuas eram esculpidas aos pés do vulcão Rano Raraku – um
dos três da ilha – e depois transportadas a altares cerimoniais localizados à beira-mar,
a dezenas de quilômetros de distância. Para tanto, uma técnica especial foi
desenvolvida. Deitados, com as costas para baixo, os moais eram rolados sobre
troncos de uma palmeira endêmica da ilha em um processo que poderia levar vários
dias e consumir centenas de árvores. Graças ao furor religioso e à competição entre
clãs, mais de mil estátuas foram esculpidas, o que levou à extinção da planta. Esse
único fato provocou uma reação em cadeia: sem as árvores, as aves migratórias que
faziam parte da dieta dos ilhéus simplesmente sumiram. Pior: com o fim do suprimento
de matéria-prima para a construção de canoas, a pesca em águas infestadas por
tubarões também foi interrompida.

Não por acaso, o geógrafo americano Jared Diamond dedica boa parte do ótimo livro
“Colapso – Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso” (Editora
Record) ao caso. “O quadro geral da Ilha de Páscoa é um dos exemplos mais
extremos de destruição de florestas do mundo: todas as espécies de árvores foram
extintas”, diz o autor.

O explorador holandês Jacob Roggeveen foi o primeiro europeu a chegar à ilha, no


domingo de Páscoa de 1722. Segundo seus relatos, cerca de 2.500 nativos receberam
sua tripulação com alegria e tranquilidade. Ao longo de uma semana, Roggeveen
participou de rituais e mergulhou em uma cultura sofisticada, capaz até mesmo de criar
uma rudimentar forma de escrita. Segundo as estimativas de Diamond, o holandês
testemunhou o auge da civilização Rapa Nui.

Guerra e canibalismo A partir daí, vários europeus passaram pela ilha e


documentaram sua espiral rumo ao caos. Antes gentis anfitriões, seus habitantes
passaram a hostilizar os visitantes. Famintos e impossibilitados de continuar com o
culto aos moais, os clãs dividiram-se e passaram a disputar cada recurso natural
disponível em guerras sangrentas. Casos de canibalismo começaram a ocorrer. Em
1862, traficantes de escravos peruanos capturaram boa parte da população,
reduzindo-a à metade. Como se não bastasse, doenças introduzidas pelos europeus
completaram a receita do desastre. De acordo com registros de missionários
religiosos, apenas 111 nativos habitavam a Ilha de Páscoa em 1877.

No Brasil, assim como em grande parte do planeta, segundo Serato e Rodrigues (2010), o
processo de desenvolvimento é baseado em uma intensa exploração do meio ambiente. Estes
mesmos autores afirmam que a enorme demanda por recursos naturais ocasionou uma
exploração desmedida, uma rápida degradação desse meio e o aumento da degradação
ambiental. Mohr et al. (2012) esclarecem que o Brasil, desde seu descobrimento, sofreu um
processo de desbravamento extrativista e que conceito de progresso e desenvolvimento
significou, durante séculos, explorar ao máximo a flora e a fauna. O autor afirma igualmente que o
desmatamento e a exploração dos recursos florestais, nas áreas de colonização, foi obra das
primeiras gerações de imigrantes, mas que a poluição em maior escala, do solo e dos recursos
hídricos, ocorreu a partir das últimas gerações, com a introdução de herbicidas e agrotóxicos nas
lavouras, o que alterou profundamente as propriedades físico-químicas do solo e de fontes de
água. A ampliação dos problemas ambientais, entre eles o crescimento do número de áreas
degradadas, faz com que necessitemos de uma legislação que nos garanta, de acordo com
Abreu e Gonçalves (2013) um ambiente ecologicamente equilibrado, visto que é um direito
fundamental, uma vez que tem por finalidade a qualidade e a manutenção da vida. Silva (2011)
afirma que a política ambiental brasileira passou a estruturar-se somente a partir da década de 30
do século XX com a elaboração do Código Florestal, do Código de Caça e Pesca e o do Código
das Águas e posteriormente, através do ordenamento jurídico brasileiro, como com a Lei 6938/81.

O QUE SÃO ÁREAS DEGRADADAS?


O conceito de degradação tem sido geralmente associado aos efeitos ambientais considerados
negativos ou adversos e que decorrem principalmente de atividades ou intervenções humanas.
Raramente o termo se aplica às alterações decorrentes de fenômenos ou processos naturais.

O conceito tem variado segundo a atividade em que esses efeitos são gerados, bem como em
função do campo do conhecimento humano em que são identificados e avaliados. De acordo com
o uso atribuído ao solo, a definição de degradação pode então variar, como podemos verificar a
seguir: De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da sua
NBR 10703, a degradação do solo é apontada como sendo a “alteração adversa das
características do solo em relação aos seus diversos usos possíveis, tanto os estabelecidos em
planejamento, como os potenciais”. O conceito contempla o entendimento do solo enquanto
espaço geográfico, ou seja, extrapola o sentido de matéria ou componente predominante abiótico
do ambiente. Além disso, ao citar a expressão “alteração adversa”, sugere a aproximação com o
conceito de efeito ou impacto ambiental considerado negativo. Todavia, em outra norma, a NBR
13030 (específica para mineração), define-se áreas degradadas como “áreas com diversos graus
de alterações dos fatores bióticos e abióticos, causados pelas atividades de mineração”,
mantendo a noção de alteração, porém sem vinculação com o uso do solo. Já o Manual de
Recuperação de Áreas Degradadas pela Mineração do IBAMA, define que “a degradação de uma
área ocorre quando a vegetação nativa e a fauna forem destruídas, removidas ou expulsas; a
camada fértil do solo for perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e o regime de vazão do
sistema hídrico forem alterados. A degradação ambiental ocorre quando há perda de adaptação
às características físicas, químicas e biológicas e é inviabilizado o desenvolvimento sócio-
econômico”.

O caráter multidisciplinar das investigações científicas sobre recuperação tem sido considerado
como o ponto de partida do processo de restauração de áreas degradadas, entendido como um
conjunto de ações idealizadas e executadas por especialistas das diferentes áreas do
conhecimento, visando proporcionar o re-estabelecimento de condições de equilíbrio e
sustentabilidade, existentes nos sistemas naturais (DIAS & GRIFFITH, 1998 e BARBOSA 2003).

Na biologia, considerando os aspectos relacionados à evolução de


ecossistemas, as alterações resultantes de atividades humanas não
podem ser corrigidas rapidamente e, considerando os conceitos de
perturbação e distúrbio, essas alterações podem ser divididas em três
situações de caráter temporal. São eles:
1. Os distúrbios súbitos e inesperados decorrentes de acidentes ou
falhas em processos industriais.
2. Os distúrbios que ocorrem em período de tempo significativo, mesmo
que tenham sido detectados apenas recentemente, como derivados de
descargas de efluentes industriais.
3. E os distúrbios planejados, como os de mineração em superfície.

Na geomorfologia, esses conceitos assumem uma perspectiva espacial, de mudança significativa


da paisagem, como em atividades de mineração, urbanização, pastagem, agricultura, usos recreativos e
construção civil.

Fundamentados em observações do campo agronômico, LAL et al. (1989),


diferenciam processos e fatores de degradação do solo.
Processos de degradação do solo - correspondem às ações e interações químicas,
físicas e biológicas que afetam a capacidade de autodepuração do solo e a sua
produtividade. Entre os processos de degradação induzidos pelo homem citam a
compactação, a erosão acelerada, desertificação, salinização, lixiviação e
acidificação.
Os fatores compreendem os agentes e catalisadores naturais ou induzidos pelo
homem, que colocam em movimento os processos e causam alterações nas
propriedades do solo e nos seus atributos de sustentação da vida. Entre os fatores,
mencionam a agricultura, indústria e urbanização.
Citam que as alterações produzidas pelos processos geram, entre outros aspectos, efeitos
negativos sobre a qualidade ambiental, estabelecendo, então, a relação com o conceito de solo
enquanto espaço geográfico (“land”) e, assim, o sentido amplo de degradação do solo (“land
degradation”). Ainda no campo agronômico, a degradação de terras agrícolas deve enfocar além
dos processos de degradação citados acima, também os aspectos econômicos, uma vez que a
perda de produtividade pode estar relacionada com a degradação do solo. Desta maneira,
POWER & MYERS, citado por DIAS & GRIFFITH (1998), definem a qualidade de um solo como a
sua capacidade de manter o crescimento vegetal, o que inclui fatores como agregação, conteúdo
de matéria orgânica, profundidade, capacidade de retenção de água, taxa de infiltração,
capacidade tampão de pH, disponibilidade de nutrientes, etc.

Do ponto de vista da Engenharia Civil, certamente o conceito de solo degradado deve estar
relacionado com a alteração da capacidade em se manter coeso e como meio físico de suporte
para edificações, estradas, por exemplo. A densidade do solo é um atributo que ilustra bem
exemplo. Em termos agronômicos, solos adensados ou compactados podem caracterizar um
processo de degradação (redução de sua taxa de infiltração, limitação na circulação de oxigênio,
impedimento físico para o crescimento das raízes, menor disponibilidade de nutrientes, etc.). Por
outro lado, essa característica é desejável como meio de suporte para edificações, ferrovias,
rodovias, etc.
Os exemplos citados anteriormente evidenciam o fato de que o conceito de degradação é
relativo, embora esteja sempre associado à noção de alteração ambiental adversa gerada,
na maioria das vezes, por atividades humanas.

ÁREA PERTURBADA X ÁREA DEGRADADA


área perturbada: aquela que após o impacto ainda mantém capacidade de regeneração natural
e pode ser restaurada;
área degradada: aquela impossibilitada de retornar por uma trajetória natural a um ecossistema
que se assemelhe ao estado inicial, dificilmente sendo restaurada, apenas recuperada.

Área degradada O conceito de área degradada ou de paisagens degradadas pode ser


compreendido como locais onde existem (ou existiram) processos causadores de danos ao meio
ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a
qualidade produtiva dos recursos naturais (DECRETO FEDERAL 97.632/89). Botelho (2007)
refere que um ecossistema degradado é aquele que após distúrbios, teve eliminados, com a
vegetação, os seus meios de regeneração biótica. Seu retorno ao estado anterior pode não
ocorrer ou ser bastante lento. Nesse caso, a ação antrópica é necessária para a sua regeneração
em curto prazo. Nascimento (2007) inclui a degradação ambiental como consequência das
atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem
desfavoravelmente os fatores bióticos; afetem as condições estéticas ou sanitárias do Meio
Ambiente e lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
A degradação ambiental pode estar, de acordo com Neto, Angelis e Oliveira (2004) situada nas
zonas rurais, mas também em zonas urbanas. Mais de 15% dos solos do mundo encontram-se
degradados ou em processo de degradação. Na região tropical, a situação é ainda pior: mais da
metade dos solos tropicais possuem algum grau de degradação. Das áreas degradas, 98,8%
estão relacionadas às atividades de produção e extrativismo, e 1,2% a ações como mineração,
construção de estradas, represas, áreas industriais, disposição do lixo urbano de forma incorreta,
e erradicação da mata ciliar e de galeria, entre outras, resultando em impacto imediato sobre o
solo (EMBRAPA, 2004 apud NETO, ANGELIS e OLIVEIRA, 2004). Um dos principais problemas
relacionados à ocupação das áreas urbanas, segundo Nascimento (2007), são os impactos
ambientais, quase sempre notados através das inundações, deslizamentos, desmoronamentos,
produção de lixo, erosões, entre outros. Muitas vezes, o surgimento de áreas degradadas
oriundas destes impactos ambientais, geralmente está relacionado à falta de planejamento
urbano. Este autor também afirma que o impacto ambiental não é só um resultado da ação
humana sobre o ambiente, mas sim a relação entre as mudanças sociais e ecológicas em
constante movimento, portanto estudar um determinado impacto ambiental é estudar um
movimento que continua. A Resolução 01/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente –
Conama– cita algumas atividades antrópicas que são potencialmente causadoras de alterações
no meio ambiente, Neto, Angelis e Oliveira (2004) consideram que algumas dessas atividades
são de maior ocorrência em áreas urbanas, e outras em áreas rurais e até mesmo em escalas
regionais ou nacionais. Moreira (1993) apud Neto, Angelis e Oliveira (2004) apresenta uma série
destas atividades, destacando a necessidade de se agrupar e estabelecer a classificação por
porte, potencial de impacto, tipo de atividade e localização, ver Quadro 1.

Obras de saneamento 2. Urbanização 3. Transporte e transmissão 4. Extração mineral 5.


Agropecuária 6. Comércio e serviços 7. Usinas de geração de energia 9. Instalações
terminais 8. Indústrias de transformação

Quadro 1: Classificação de atividades causadoras de impactos ambientais - por porte,


potencial de impacto e tipo de atividade. Fonte: Moreira (1993) apud Neto, Angelis e
Oliveira (2004)

BASE LEGAL
Acima de tudo, a recuperação de áreas degradadas encontra respaldo na Constituição Federal de
1988, em seu art. 225:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das


espécies e ecossistemas;

§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da
lei. (grifo nosso)

Ademais, a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, menciona:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

VIII - recuperação de áreas degradadas

Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização


racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio
ecológico propício à vida;

Ainda, a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, que dispõe sobre a proteção de vegetação nativa
e substitui o Código Florestal, alterada pela Medida Provisória nº 571, de 25 de maio de 2012,
trata em diversos artigos (por exemplo, nos artigos 1º-A, 7º, 17, 41, 44, 46, 51, 54, 58, 61-A, 64,
65 e 66) de ações organizadas entre o setor público e a sociedade civil para promover a
recuperação de áreas degradadas.
Segundo o Decreto nº 3.420, de 20 de abril de 2000, que dispõe sobre a criação do Programa
Nacional de Florestas - PNF, e dá outras providências:
Art. 2º O PNF tem os seguintes objetivos:
[...]
II - fomentar as atividades de reflorestamento, notadamente em pequenas propriedades rurais;
III - recuperar florestas de preservação permanente, de reserva legal e áreas alteradas;

DECRETO Nº 97.632, DE 10 DE ABRIL DE 1989

Dispõe sobre a regulamentação do artigo 2°, inciso VIII, da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de
1981, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 84, inciso IV,
da Constituição,

DECRETA:

Art. 1º. Os empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais deverão,


quando da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatório do Impacto
Ambiental - RIMA, submeter à aprovação do órgão ambiental competente, plano de recuperação
de área degradada.

Art. 2º. Para efeito deste Decreto são considerados como degradação os processos
resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas
propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais.

Art. 3º. A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de
utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de
uma estabilidade do meio ambiente.

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

As novas tendências nos processos de recuperação de áreas degradadas Dias & Griffith (1998),
a recuperação de áreas degradadas pode ser conceituada como um conjunto de ações que visam
proporcionar o restabelecimento de condições de equilíbrio e sustentabilidade anteriormente
existentes em um ecossistema natural, exigindo uma abordagem sistemática de planejamento e
visão a longo prazo.

A recuperação de áreas degradadas está intimamente ligada à ciência da restauração ecológica.


Restauração ecológica é o processo de auxílio ao restabelecimento de um ecossistema que foi
degradado, danificado ou destruído. Um ecossistema é considerado recuperado – e restaurado –
quando contém recursos bióticos e abióticos suficientes para continuar seu desenvolvimento sem
auxílio ou subsídios adicionais.1

Somente na década de 80, com o desenvolvimento da ecologia da restauração como ciência, o


termo restauração ecológica passou a ser claramente definido, com objetivos mais amplos,
passando a ser o mais utilizado o mundo, nos últimos anos (Engel & Parrota, 2003). Porém, o
objetivo final da restauração ecológica, que é o retorno do ecossistema a uma situação mais
próxima possível do seu estado original ou anterior à degradação, é difícil de ser alcançado. Por
esta razão é necessário que se estabeleça uma definição prévia de qual é o produto desejado ou
ecossitema-alvo a ser atingido, o que permitirá avaliar o sucesso de um projeto de restauração
ecológica (Engel & Parrotta, 2003). Baseado no princípio de Meffe & Carroll (1994) de que, um
dos principais desafios da restauração é que se tenta atingir um alvo em movimento resulta que,
qualquer trabalho de restauração dificilmente atingirá a meta do ecossitema-alvo, se este alvo se
basear em uma referencia presente, ou na tentativa de se criar as condições passadas. Portanto,
os objetivos da restauração devem se concentrar muito mais nas características desejadas do
ecossistema no futuro, do que em como este era no passado (Hobbs & Harris, 2001). Segundo
Young (2000), as escalas abordadas com mais freqüência nos trabalhos de restauração, em
diferentes partes do mundo, têm sido a comunidade e o ecossistema, com grande ênfase em
trabalhos com plantas, e a base conceitual mais forte da restauração ecológica tem sido a
sucessão natural. Os modelos de sucessão têm sido usados para desenvolver esquemas de
plantio (Kageyama et.a.l, 1992; Reis et.al., 1999) e para prever se os projetos de restauração
atingirão seus objetivos (Parker, 1997). Assim, a tendência atual dos projetos de restauração é a
de criar, desde o começo do processo de recuperação, um bosque rico em espécies nativas, em
geral escolhidas de acordo com as suas aptidões ecológicas e seu potencial em atrair a fauna de
dispersores de sementes que, vindos de áreas vizinhas, podem trazer novas sementes e acelerar
o processo de recuperação local (Rodrigues & Gandolfi, 1996).

A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, em seu art. 2º, distingue, para seus fins, um ecossistema
“recuperado” de um “restaurado”, da seguinte forma:

Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a
uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original;

XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o


mais próximo possível da sua condição original;

Quando se fala em recuperação de áreas degradadas deve ser assumido o conceito de


restauração ecológica cujo o objetivo seja devolver ao meio ambiente um ecossistema
equilibrado, capaz de manter-se e desenvolver-se sem o auxílio do homem. Dentro dessa idéia
algumas definições sobre os procedimentos de recuperação devem ser esclarecidas,
gerando um melhor entendimento conceitual, favorecendo o correto planejamento e
elaboração de um PRAD. Levando isto em consideração é preciso compreender o significado
dos termos recuperação, restauração e reabilitação de áreas degradadas, que tem sido definidos
e utilizados de forma cada vez mais particular nas diversas legislações ambientais e nas
bibliográficas que tratam dos meios de correção da degradação ambiental. Esses três termos
possuem características distintas, mas um mesmo objetivo: transformar uma área
degradada em uma área não degradada.

O conceito de restauração remete ao objetivo da reprodução das condições naturais originais,


exatamente antes da alteração ou degradação. Esse procedimento possibilita que o ambiente
retorne as suas condições físicas, químicas e biológicas originais, estabelecidas antes da
intervenção antrópica. Por exemplo uma área de vegetação nativa em equilíbrio é suprimida para
lugar a uma determinada atividade; neste caso, o processo de restauração visa desenvolver
exatamente as mesmas características de solo e drenagem, o mesmo tipo de vegetação,
predominantemente as mesmas espécies e o retorno da fauna e flora nos estágios de sucessão
no mesmo padrão que se encontravam antes da supressão.

Restauração
O termo restauração refere-se à obrigatoriedade do retorno ao estado original
da área, antes da degradação. Esse termo é o mais impróprio a ser utilizado para os
processos que normalmente são executados. Por retorno ao estado original entende-se
que todos os aspectos relacionados com topografia, vegetação, fauna, solo, hidrologia,
etc., apresentem as mesmas características de antes da degradação. Logo, trata-se de
um objetivo praticamente inatingível, ou seja, fazer a restauração de um ecossistema,
para conseqüentemente recuperar sua função, é técnica e economicamente
questionável, embora alguns profissionais que atuam na área ambiental tenham
equivocadamente essa meta, torna-se necessária uma nova conscientização dos
mesmos sobre a inviabilidade deste processo.

Na recuperação busca-se para o local alterado o retorno das qualidade próximas ao que eram
antes das intervenções e com isso o retorno ao equilíbrio dos processos ambientais. Não é
necessário que as condições sejam exatamente iguais às originais mas sim o retorno ao eeuilíbrio
ecológico. Podemos citar as áreas degradadas com a atividade de agropecuária: nesse caso o
processo de recuperação visa a implementação de sistemas agrossilvipastoris consorciando
diferentes tipos de cultura, respeitando o período de pousio do solo e intercalado com fragmentos
florestais possibilitando o retorno daquele ambiente ás condições de qualidade do solo, da água e
das áreas cobertas por vegetação

Recuperação
A legislação federal brasileira menciona que o objetivo da recuperação é o “retorno do sítio do
sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano pré-estabelecido para o uso
do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meioambiente” (Decreto Federal 97.632/89).
Esse decreto vai de encontro ao estabelecido pelo IBAMA, que indica que a recuperação significa
que o sítio degradado será retornado a uma forma e utilização de acordo com o plano pré-
estabelecido para o uso do solo. Implica que uma condição estável será obtida em conformidade
com os valores ambientais, estáticos e sociais da circunvizinhança. Significa também, que o sítio
degradado terá condições mínimas de estabelecer um novo equilíbrio dinâmico, desenvolvendo
um novo solo e uma nova paisagem. Procura sintetizar a definição do processo quando utilizado
em Unidades de Conservação, GRIFFITH (1986), definiu recuperação como a reparação dos
recursos ao ponto que seja suficiente para restabelecer a composição e a freqüência das
espécies encontradas originalmente no local.

A reabilitação caracteriza um cenário em que a melhoria alternativa ou solução para a área


degradada é o desenvolvimento de uma atividade que seja adequada a demanada humana,
possibilitando o uso difernte e alternativo do solo sem necessariamente reproduzir o cenário
existente antes da degradação. Um exemplo disso pode ser caracterizado por uma área de aterro
sanitário com sua vida útil atingida. Dado que essa área jamais voltará a ser como era antes do
aterramento dos resíduos ela poderá ser destinada a outros usos como parques e jardin, espaços
vegetados ou áreas de lazer.

Reabilitação
Segundo MAJER (1989) a reabilitação é o retorno da área degradada a um
estado biológico apropriado. Esse retorno pode não significar o uso produtivo da área a
longo prazo, como a implantação de uma atividade que renderá lucro, ou atividades
menos tangíveis em termos monetários, visando, por exemplo, a recreação ou a
valorização estético-ecológica. Exemplos de reabilitação para fins recreativos é a raia
olímpica da Cidade Universitária da USP, instalada em uma antiga área de extração de
areia em planície aluvionar do Rio Pinheiros; construção do parque esportivo Cidade de
Toronto, instalado em área de antiga extração de areia; Centro Educacional e
Recreativo do Butantã, instalado em área de antiga pedreira e o lago do parque
Ibirapuera, instalado em antiga cava de extração de areia, todos esses exemplos foram
realizados na cidade de São Paulo-SP.

Reabilitação – Novo Uso

Restauração –

Recuperação – de volta ao equilíbrio ecológico.

O desenvolvimento de modelos de recuperação de áreas degradadas também têm sido um


importante tema de estudo, notadamente assentado sobre três princípios básicos: a fitogeografia,
a fitossociologia e a sucessão secundária, desde as bases desenvolvidas por KAGEYAMA
coord.(1986), mais detalhadas desde então, tanto no estado de São Paulo (KAGEYAMA &
CASTRO, 1989; BARBOSA, 1989; BARBOSA, 2000, 2003, CARPANEZZI et al., 1990;
RODRIGUES & GANDOLFI, 1996) como em outros estados da federação (ALVARENGA et al.,
1995; REIS et al., 2003; entre outros). Muitos avanços têm sido verificados nos últimos anos, no
que diz respeito à “restauração florestal” que, embora sendo uma área recente, tem-se
desenvolvido muito e agregado conhecimentos, envolvendo principalmente a dinâmica de
formações florestais nativas. Isto não elimina a necessidade de muitos outros estudos que
preencham lacunas do conhecimento e promovam um maior sucesso dos projetos de
recuperação e conservação da biodiversidade. Com o incremento de trabalhos nesta área,
existem hoje diversos modelos possíveis de serem utilizados no repovoamento vegetal, pelo
plantio de espécies arbóreas de ocorrência em ecossistemas naturais, procurando recuperar
algumas funções ecológicas das florestas, bem como a recuperação dos solos (PINAY et al.,
1990; JOLY et al., 1995; RODRIGUES & GANDOLFI, 1996; BARBOSA, 2000; coord, 2002). Em
geral estes modelos envolvem levantamentos florísticos e fitossociológicos prévios, bem como
estudos da biologia reprodutiva e da ecofisiologia das espécies e de seu comportamento em
bancos de sementes, em viveiros e em campo, o que, em conjunto com um melhor conhecimento
de solos, microclimas, sucessão secundária e fitogeografia, deve favorecer a auto-renovação da
floresta implantada (BARBOSA, 1999).

Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, os modelos de recuperação gerados ainda estão
limitados ao âmbito da ciência e da situação a ser recuperada, com aplicabilidade restringida,
muitas vezes, pelos altos custos de implantação e manutenção, sendo necessário maior
envolvimento da pesquisa científica no desenvolvimento de tecnologias cada vez mais baratas e
acessíveis (KAGEYAMA & GANDARA., 1994; KAGEYAMA, 2003; BARBOSA et al., 2003).

Assim, após o estabelecimento adequado das espécies utilizadas em plantios de recuperação, a


garantia de sucesso depende da capacidade da vegetação implantada de se auto-regenerar,
justificando-seestudos sobre a produção de serrapilheira, chuva de sementes, banco de
sementes e características ecológicas e genéticas das populações implantadas (SIQUEIRA,
2002; SORREANO, 2002; LUCA, 2002).

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