Você está na página 1de 6

MATERIAL DO CURSO

INSPEÇÃO DE ALUNOS

APOSTILA

A INSPEÇÃO E O INSPETOR DE ALUNOS


A INSPEÇÃO E O INSPETOR DE ALUNOS

O papel do inspetor escolar tem apresentado mudanças significativas no


decorrer dos anos. Este estudo tem por objetivo analisar a trajetória da inspeção
no cenário educacional brasileiro. Busca-se compreender quem é esse
profissional, qual a sua importância para a educação, como surgiu essa
profissão, quais as transformações ocorridas em relação às suas funções, bem
como mostrar a evolução do seu papel, tendo em vista a democratização do
ensino. Percebe-se que os inspetores deixaram de exercer a função
fiscalizadora e burocrática do passado, quando atendiam aos interesses de
governos autoritários, preocupados em padronizar e controlar as práticas
escolares, e passaram a ter uma atuação mais democrática e participativa no
cotidiano das escolas. No entanto, as mudanças ocorreram entre tensões e
conflitos, devido às especificidades e complexidades do cargo.

O ato de inspeção, desde o período do Brasil Colônia, nos remete à


fiscalização, observação, análise, verificação, controle e vistoria. Neste período
as escolas já estavam sujeitas à fiscalização. Em 1854, Luis Pedreira do Couto
Ferraz estabeleceu como missão do inspetor geral supervisionar todas as
escolas, colégios, casas de educação, estabelecimentos de instrução primária e
secundária públicos e particulares. Além disso, “cabia ao inspetor presidir os
exames dos professores e lhes conferir o diploma, autorizar a abertura de
escolas particulares e até mesmo rever os livros, corrigi-los ou substituí-los por
outros” (SAVIANI, 2002, p. 23).

O objetivo geral é mostrar a evolução do papel do inspetor escolar com a


democratização do ensino. Especificamente, apresentar o papel do inspetor
escolar, observando sua importância, origem, transposições e contradições no
contexto social, político e econômico brasileiro; discutir a atuação do inspetor no
passado e na atualidade e sua importância na qualidade do ensino; repensar o
perfil necessário a esse profissional sob a perspectiva de uma gestão
democrática e participativa.

De acordo com Augusto (2010), em Minas Gerais, o parecer nº 794/83, publicado


em 29/12/1983, apresenta a inspeção como uma maneira de prevenir e corrigir
desvios e disfunções no sistema. Ela pode também colaborar na revisão crítica
das normas e práticas institucionalizadas. A inspeção é uma prática educativa
que se reveste de forte cunho político e acentuado caráter pedagógico. Segundo
o parecer, a inspeção cuida da organização e funcionamento das escolas em
todos os seus aspectos. Assim, cabe à inspeção vigiar e controlar, bem como,
avaliar, orientar, corrigir, contribuindo para a melhoria da qualidade do ensino. O
parecer deu origem à resolução 305/83, definida como um processo pelo qual a
administração do sistema de ensino assegura a comunicação entre os órgãos
centrais, os regionais e as unidades de ensino, por meio da verificação,
avaliação, orientação, correção e realimentação das ações escolares. O Inspetor
exerce as suas funções no estabelecimento de ensino sem estar vinculado a ele,
atualmente, é um profissional lotado nas Superintendências regionais de ensino.

A inspeção escolar é uma profissão antiga e a sua história acompanha a


evolução da educação no país. De acordo com Saviani (2002), o inspetor era
nomeado de diferentes modos ao longo da história de acordo com sua situação
hierárquica e função. Esse profissional era denominado Inspetor Geral ou
Paroquial no período imperial; Inspetor de Distrito ou Supervisor na era
republicana. Em determinados momentos os serviços de inspetoria foram
denominados de Diretoria de Instrução.

De acordo com Senore (apud Augusto, 2010), a inspeção precisa ser vista como
um processo de mediação e suas ações devem estar fundamentadas em uma
conduta ética, diontológica, para evitar assim, as decisões arbitrárias dos
inspetores. Esta conduta contribuiria para uma nova definição das ações do
inspetor, que estaria orientado para exercer a função de acompanhador e
formador, diferente daquela de controlador e vigilante.

A atuação dos inspetores escolares sobre a educação no Brasil remonta há mais


de cento e cinquenta anos, no exercício de um papel legitimador da estrutura
burocrática do estado, preocupado em manter o controle das escolas.

Segundo Botelho apud Augusto (2010), em 1799 iniciou-se a fiscalização das


aulas régias, serviço de inspeção realizado por um professor de confiança do
vice-rei.

O trabalho do inspetor nessa época era de fiscalizar o funcionamento das


escolas, os métodos de ensino, o comportamento dos professores e o
aproveitamento dos alunos.

Segundo Finoto (2010) apud Educação, antes da Reforma Universitária de


1968, Lei de nº 5.540 de 28/11/1968, a inspeção em Minas Gerais era efetuada
por pessoas sem habilitação. Assim, professores de ensino médio e portadores
de diploma de curso superior, muitas vezes sem qualquer ligação direta com os
problemas educacionais podiam exercer o cargo de inspetor.

Segundo Ferreira (s.n.), a questão educacional tornou-se uma estratégia


importante para o governo viabilizar o seu projeto nacionalista, a partir de 1937.

Esse projeto teve grande impacto nas escolas do sul, principalmente nas
chamadas “escolas alemãs”, situadas em colônias rurais de origem alemã. A
educação escolar foi utilizada pelo governo durante o período de 1937 a 1945,
com a finalidade de eliminar focos de resistência à ideologia nacionalista de
Getúlio.

As práticas pedagógicas das escolas alemãs contrariavam os ideais


nacionalistas, pois não utilizavam a língua portuguesa e ignoravam os valores
nacionais. O inspetor tinha a incumbência de buscar uma reformulação dessas
instituições de ensino e enquadrá-las à ideologia educacional difundida pelo
governo.

O controle da qualidade do ensino era exercido com rigidez e de forma


burocrática, pela inspeção escolar que controlava questões pontuais das
escolas. Esse controle atendia os interesses do governo, que possuía moldes de
educação e formação a serem implantados e rigorosamente controlados.

O projeto de nacionalização do Estado Novo alcançou as unidades de ensino


dos colonos estrangeiros e as antigas escolas das comunidades rurais de origem
italiana e alemã, gerando conflitos e incertezas. Assim, entre 1937 e 1945, as
comunidades escolares foram marcadas pela imposição por parte do governo de
conteúdos patrióticos e atitudes nacionalistas. Foi exigido o uso de símbolos
nacionais e comemorações de datas consideradas importantes para o cultivo do
espírito patriótico.

A inspeção escolar foi utilizada pelo governo como forma de controle das
instituições de ensino. É importante lembrar que nesse período, ocorreu a
obrigatoriedade da adoção nas escolas, de livros de autores brasileiros, bem
como a obrigatoriedade do ensino de geografia e história do Brasil, com ênfase
na educação moral e cívica.

Você também pode gostar