coordenado pelo Professor Flávio Bellini de Oliveira Salles, do Departamento de Direito Público Formal e Ética Profissional da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, foi concebido a partir da constatação de que várias questões afetas ao mundo do trabalho atingem direta ou indiretamente as crianças e os adolescentes, sendo que tais questões são discutidas e enfrentadas no âmbito acadêmico, especialmente no âmbito acadêmico jurídico, mas o tratamento que lhes é dispensado pelo Direito do Trabalho é praticamente desconhecido pela maioria dos cidadãos.
A articulação do meio acadêmico universitário com a rede
de ensino, notadamente a rede pública, talvez possa minimizar o problema, disponibilizando aos estudantes do ensino médio e fundamental, assim como às suas famílias e professores, noções básicas sobre os direitos trabalhistas assegurados pelo ordenamento jurídico brasileiro, especialmente no que concerne à proteção ao trabalho das crianças e dos adolescentes (o patamar etário mínimo para o trabalho, a condição de aprendiz etc.).
Tendo em vista as várias possibilidades de interação do
meio acadêmico com os estudantes do ensino médio e fundamental, o Projeto, mediante a utilização de uma linguagem simples e acessível, tem como objetivos difundir conhecimentos e orientar os jovens já citados, suas famílias e professores, conscientizando a todos de suas responsabilidades, para que os direitos desses jovens não continuem sendo sistematicamente infringidos, condição para que possam exercer plenamente a cidadania e, em última análise, para que a sociedade brasileira, no que concerne ao trabalho infanto-juvenil, alcance um novo patamar civilizatório.
Sabe-se que a inserção precoce de crianças e adolescentes
no mercado de trabalho contribui para com o mau desempenho e a evasão escolares, a submissão de crianças e adolescentes a condições de trabalho incompatíveis com sua idade e a preterição de inúmeros direitos dos trabalhadores infanto-juvenis. O problema é recorrente no país, onde o trabalho infanto-juvenil apresenta números alarmantes. Diante desse cenário, as ações do Projeto de Extensão “O Direito vai à escola” poderão trazer grandes benefícios às crianças e aos adolescentes por ele alcançados, especialmente aos que se encontram matriculados na rede pública de ensino, muitos deles em condições de vulnerabilidade.
Segundo Paulo Freire, “o papel fundamental dos que estão
comprometidos numa ação cultural para conscientização não é propriamente falar sobre como construir a ideia libertadora, mas convidar os homens a captar com seu espírito a verdade de sua própria realidade” (Ação Cultural para a Liberdade. 16ª ed. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2001). Nessa perspectiva, o estudante de Direito, quanto mais próximo da realidade social, reúne melhores condições de aproximar o ensino jurídico da sociedade, transmitir conhecimentos, suscitar o pensamento crítico e levar a sociedade a uma reflexão acerca da realidade em que está inserida. A propósito, nunca é demais lembrar que educação emancipatória é aquela que promove conscientização. Cidadão, por sua vez, é aquele que tem consciência de seus direitos.
Pautado nos objetivos gerais aqui explicitados, o Projeto de
Extensão “O Direito vai à escola” começou a ser executado no início do primeiro período letivo de 2019 na Universidade Federal de Juiz de Fora, quando, mediante a realização de processo seletivo, foram selecionados, entre vários candidatos, sete alunos extensionistas – uma bolsista e seis voluntários – de diferentes períodos do curso de Direito.
Ao longo de vários meses, os extensionistas passaram por
uma fase de estudo da temática envolvida e de preparação das atividades a serem realizadas nas escolas, sob a condução do Coordenador do Projeto, o Professor Flávio Bellini de Oliveira Salles, e com a colaboração da Professora Karen Artur, também da Faculdade de Direito da UFJF. Gradativamente, os extensionistas foram habilitados à realização de atividades em escolas da rede pública. Tal preparação incluiu (i) leituras, (ii) pesquisas, (iii) interação com o Auditor Fiscal do Trabalho José Tadeu de Medeiros Lima, referência na área, que proferiu palestra para os extensionistas na referida unidade da UFJF, (iv) contatos pessoais com representantes de algumas das entidades que ministram aprendizagem em Juiz de Fora e até mesmo (v) a ministração, pelos próprios extensionistas, de um mini curso sobre a temática pertinente ao projeto, em evento realizado no âmbito da multicitada Faculdade (“Semana da Integração”).
Concluída a fase de preparação dos extensionistas, o
Coordenador do Projeto encaminhou ofício à Sra. Secretária Municipal de Educação, Denise Vieira Franco, mediante o qual solicitou autorização para a realização de atividades em uma ou mais escolas da rede pública municipal, sendo que a Sra. Secretária prontamente sensibilizou-se com os objetivos do projeto, o que resultou na realização de uma reunião, aos 20/09/2019, na Secretaria Municipal de Educação, da qual participaram o Coordenador do Projeto, os extensionistas, a Sra. Tânia Franklin Pedroso, Gerente do Departamento de Inclusão e Atenção ao Educando e Coordenadora do Projeto Rede em Ação, e a Sra. Isabella de Carvalho Aragão Villar Horsths, Supervisora de Mediação e Acompanhamento ao Educando e representante no Projeto Rede em Ação.
Importante ressaltar que as representantes da Secretaria
Municipal de Educação foram extremamente solícitas desde aquele contato inicial e se empenharam ao máximo para viabilizar a consecução dos objetivos do Projeto.
Já no final de outubro de 2019, o Coordenador do Projeto
recebeu ofício da Secretaria Municipal de Educação, com Carta de Anuência da referida Secretaria para realização das atividades junto ao Projeto Rede em Ação, coordenado pelo Departamento de Inclusão e Atenção ao Educando – DIAE.
Ato contínuo, o Coordenador do Projeto estabeleceu
contato com as Direções de quatro escolas indicadas pela Sra. Tânia Franklin Pedroso, quais sejam, as Escolas Antônio Carlos Fagundes, Áurea Nardelli, Olinda de Paula Magalhães e Dilermando Cruz Filho, com vistas ao agendamento das atividades a serem ali realizadas.
Aos 06/11/2019, a partir das 8h, o Coordenador do Projeto
e alguns extensionistas estiveram na Escola Antônio Carlos Fagundes, no Bairro Francisco Bernardino, onde visitaram todas as turmas do 8º e 9º anos. Em cada sala de aula, o Coordenador do Projeto e os extensionistas interagiram com os educandos e também com os respectivos professores, transmitindo noções básicas quanto à disciplina do trabalho infanto-juvenil pelo ordenamento jurídico brasileiro e sobretudo sobre as perspectivas de inserção no mercado formal de trabalho, por aqueles que precisam trabalhar, na condição de aprendizes, a partir dos quatorze anos.
Aos 13/11/2019, a partir das 8h, teve lugar a realização de
atividades na Escola Dilermando Cruz Filho, no Bairro Vila Ideal, onde o Coordenador do Projeto, a Professora Colaboradora e os extensionistas interagiram com os educandos e os professores respectivos, mediante visitas a todas as turmas do 8º e 9º anos. Nas duas outras escolas, cujas Diretoras já foram contatadas, as atividades acima mencionadas serão realizadas no início de fevereiro de 2020, já que, em razão do encerramento do período letivo na UFJF, não foi possível viabilizá-las ainda em 2019.
Importante ressaltar que, após a realização das atividades
na Escola Dilermando Cruz Filho, o Coordenador do Projeto, a Professora Colaboradora e os extensionistas reuniram-se na própria escola com a Sra. Isabella de Carvalho Aragão Villar Horsths, Supervisora de Mediação e Acompanhamento ao Educando e representante no Projeto Rede em Ação, que gentilmente os recebeu na referida escola, tendo acompanhado as atividades ali realizadas, assim como com a Sra. Maria Luiza de Moraes Sales, Vice-Diretora da mencionada escola.
Ao longo da reunião, que se revelou extremamente
produtiva, todos os presentes tiveram a oportunidade de externar suas impressões e de contribuir com sugestões visando ao aperfeiçoamento e à ampliação do Projeto “O Direito vai à escola”, notadamente no que concerne às estratégias metodológicas adotadas (oficinas com alunos, oficinas com professores, identificação de lideranças entre os alunos, interação com as lideranças, rodas de conversas etc.) e ao material a ser disponibilizado (cartilhas, textos informativos etc.) aos estudantes, seus professores e familiares.
Posto isto, a expectativa do Coordenador, da Professora
Colaboradora e dos extensionistas do Projeto de Extensão “O Direito vai à escola” é a de que este alcançará plenamente seus objetivos, já tendo sido novamente submetido à Pró-Reitoria de Extensão da UFJF, com vistas à sua execução também em 2020. A propósito, o desejo de todos os envolvidos é o de que o Projeto seja duradouro, vindo a ser executado ano após ano, e que rompa os limites da Faculdade de Direito e o escopo que inicialmente lhe foi atribuído, para se tornar uma atividade de extensão duradoura, multidisciplinar e profícua da UFJF, hábil de fato a propiciar a integração do ensino e da pesquisa com a sociedade e a viabilizar uma relação transformadora entre ambas.