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PRÉ-DIMENSIONAMENTO DA ESTRUTURA PRIMÁRIA DE PLATAFORMAS SEMI-

SUBMERSÍVEIS

Afonso André Cabrera


Oceânica Engenharia, Consultoria e Projetos Ltda.
acabrera@oceanicabr.com
Fábio Okamoto
Oceânica Engenharia, Consultoria e Projetos Ltda.
fokamoto@oceanicabr.com
Daniel Ruivo Cueva
Oceânica Engenharia, Consultoria e Projetos Ltda.
dcueva@oceanicabr.com

RESUMO

A construção de unidades flutuantes do tipo semi-submersível, tanto para produção de petróleo


como para perfuração de poços, ocupa um lugar de destaque na construção naval. A geometria do
casco de plataformas semi-submersíveis, dotada de pontoons e colunas, oferece dificuldades em se
obter um pré-dimensionamento analítico de forma prática, sendo que muitas vezes este pré-
dimensionamento é realizado adotando-se hipóteses muito conservadoras ou através de modelos de
elementos finitos. Em fases iniciais de projeto é interessante o uso de uma ferramenta rápida para a
avaliação de muitas possibilidades. Devido a tal dificuldade um estudo utilizando a equação dos três
momentos e a teoria simples de viga foi desenvolvido visando obter um método prático para o pré-
dimensionamento da estrutura primária de tais plataformas. O trabalho apresenta soluções analíticas
e práticas para o pré-dimensionamento estrutural de plataformas semi-submersíveis bem como uma
comparação de resultados com um modelo de elementos finitos.

ABSTRACT

The construction of production and drilling semi-submersible units consists of an important share of
the naval construction. The hull geometry of semi-submersibles platforms offers difficulties to an
analytical preliminary design due to the presence of columns and pontoons. Usually this
preliminary design is carried out based on conservative hypotheses, resulting in oversized hull
components, or on finite elements models. In initial phases of project the use of a fast tool for the
evaluation of many possibilities is important. Due to this difficulty, a study using the three moments
equation and the beam theory were developed in order to achieve a practical method for the
preliminary design of the primary structure of such platforms. This work presents analytical and
practical solutions for preliminary design of semi-submersible units as well as a comparison
between the analytical and finite elements models.
1. INTRODUÇÃO

Unidades do tipo semi-submersíveis são amplamente utilizadas na indústria de óleo e gás.


Originalmente desenvolvidas para a perfuração de poços de petróleo, suas excelentes características
hidrodinâmicas e de estabilidade permitiram a extensão do conceito para outras aplicações, desde
unidades de suporte (como flotéis) até unidades de produção de petróleo.

Os modelos tradicionais de unidades semi-submersíveis contam, em sua maioria, com dois


pontoons (flutuadores) independentes, cada um com duas ou mais colunas para a sustentação do
convés. As colunas, assim como os pontoons, interligavam-se entre si através de estruturas de
apoio, chamadas de bracings. Um exemplo de unidade deste tipo é apresentado na Figura 1.

A utilização de apenas dois pontoons paralelos ocorre principalmente em unidades de perfuração ou


suporte, uma vez que também se objetiva a facilidade do transporte das plataformas. Estas unidades
são rebocadas ou possuem propulsão própria e, durante um eventual translado, o calado é reduzido,
mantendo as colunas totalmente fora da água, diminuindo sua resistência ao avanço.

Já em plataformas de produção é comum que os pontoons formem um retângulo fechado, como


mostra a Figura 1, pois esta configuração aumenta a a flutuação além de tornar a estrutura do casco
mais eficiente.

Fonte: Consafe e Aker


Figura 1: Exemplos de plataformas semi-submersíveis com bracings e com frame

Em ambos os casos o pré-dimensionamento de cascos pode ser feito de maneiras diversas, desde as
interativas e utilizando métodos numéricos, como MEF (modelos de elementos finitos), até as
analíticas simplificadas, normalmente muito conservadoras e que podem levar a esforços
superestimados.
Soluções numéricas, porém, tornam-se trabalhosas em fases iniciais do projeto dada à dificuldade
de realização de análises de sensibilidade. Por se tratar de um projeto naval, é muito comum a
utilização do conceito de espiral de projetos no desenvolvimento de plataformas offshore, e a
integração entre as disciplinas torna-se essencial. No caso específico do projeto estrutural, uma
verificação analítica prática permite a obtenção de estimativas de dimensões, pesos e custos de
maneira mais precisa, aumentando a qualidade do projeto conceitual.

Este trabalho surge através de um estudo utilizando a equação dos três momentos, aplicada no pré-
dimensionamento de uma plataforma semi-submersível, sendo validado através da comparação com
resultados de um modelo numérico. O método apresentado pode ser utilizado em plataformas com
ou sem frame, desde que se observe que nas sem frame não há composição dos momentos na base
das colunas.

Neste trabalho serão obtidos e comparados os resultados de esforços solicitantes de três formas
diferentes, sendo estas:
1. Obtendo os momentos nos pontoons através da equação dos três momentos.
Neste modelo espera-se um resultado muito próximo ao numérico, pois considerando as
colunas e pontoons como elementos estruturais lineares a única simplificação considerada é
o encurtamento nulo das colunas.

2. Considerando os pontoons bi-engastados nas colunas.


Esta simplificação tem como premissa o fato de que os momentos de inércia das seções
transversais das colunas são muito superiores aos dos pontoons. Espera-se resultados muito
diferentes dos numéricos pois é rara a existência desta condição.

3. Utilizando um modelo numérico de vigas.


Este modelo será tomado como o mais confiável, e balizará a comparação de resultados.

2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é apresentar o desenvolvimento de uma forma simples e rápida de pré-
dimensionamento estrutural primário de plataformas semi-submersíveis, dada a sua fundamental
importância no início de projetos. Uma vez que nestas fases analisam-se diversas possibilidades de
geometria, um método de pré-dimensionamento prático e eficaz diminui o tempo de trabalho das
atividades conceituais de projeto e aumenta as probabilidades de se obter um pré-dimensionamento
confiável.

3. MODELO ESTRUTURAL ADOTADO

O casco da plataforma foi modelado como um pórtico tridimensional auto-equilibrante, sendo que o
convés foi considerado como sendo um contraventamento rígido em seu próprio plano.

O carregamento do convés é aplicado diretamente nos capitéis das colunas, em seus baricentros,
juntamente com o peso próprio das colunas. O empuxo e o peso próprio dos pontoons são aplicados
como um carregamento distribuído uniforme.

Devido a grande diferença entre as rijezas das colunas e da estrutura do convés, considera-se que a
ligação do topo das colunas com o contraventamento transmite apenas esforços de translação.
Também existe o fato dos procedimentos atuais de instalação de convés pós-construção (chamados
de deck mating), onde ó convés é apoiado diretamente sobre suportes articulados nas colunas.

4. SOLUÇÃO ANALÍTICA

Neste trabalho a solução analítica para a determinação dos esforços solicitantes no pré-
dimensionamento será feita usando-se dois modelos.

4.1. Utilizando a Equação dos três momentos

A solução aqui apresentada é baseada na compatibilização de rotação dos nós do modelo. Para isto,
foi utilizada a Equação dos Três Momentos aplicada em uma viga contínua apresentada na Figura 2.

Figura 2: Modelo de viga contínua - Equação dos Três Momentos

Esforços nos pontoons

Aplicando a Equação dos Três Momentos no pórtico plano formado por duas colunas e pelo
pontoon que as conecta, tem-se que o momento fletor nos pontoons junto as coluna é:
Q l3
4  Ic
M p1 =− (1)
2  h 3l
+
Ic Ip
onde:
⚫ Q = q

⚫ g:coeficiente de segurança dos carregamentos, deve ser definido prevendo variações no


empuxo devido a passagem de onda, acelerações devido aos movimentos da plataforma.
⚫ Q: carregamento uniformemente distribuído nos pontoons = peso total da plataforma/(soma
dos comprimentos dos pontoons)
⚫ l: distância entre eixos das colunas
⚫ h: altura das colunas
⚫ I c : momento de inércia da seção transversal das colunas em seu baricentro (tomadas como
duplamente simétricas)
⚫ I p : momento de inércia da seção transversal dos pontoons em relação ao eixo horizontal
que passa por seu baricentro
O momento no meio dos vãos dos pontoons é obtido através de:

Ql2
M p2 = + M p1 (2)
8
onde:
⚫ Mp2: momento fletor no meio do vão do pontoon
⚫ Mpl: momento fletor no pontoon junto a coluna

Esforços nas colunas

Os esforços nas colunas são de flexo-compressão. No pré-dimensionamento, pode-se tomar o valor


da normal Nc como sendo:

N c = D + Pc (3)
onde:
⚫ D: parcela da carga do convés+planta de processos suportada por 1 coluna
⚫ P peso próprio da coluna
c:
E o valor do momento transmitido Mc pelos dois pontoons perpendiculares na base da coluna:

M c = M p1  2 (4)

Em plataformas com apenas dois pontoons paralelos:


M c = M p1 (5)

4.2. Considerando pontoons bi-engastados

No caso de grande diferença entre as rijezas dos pontoons e colunas, pode-se utilizar o modelo de
viga bi-engastada apresentada na Figura 3.

Figura 3: Modelo de viga bi-engastada

Esforços nos pontoons

Utiliza-se, com freqüência, a simplificação do engaste perfeito dos pontoons nas colunas assumindo
que estas possuem momentos de inércia muito superiores aos dos pontoons. Assim sendo, tem-se:

Ql2
M p1 = − (6)
12
Ql2
M p1 = (7)
24

Esforços nas colunas

Neste modelo, devido a simplificação adotada, as colunas trabalham em compressão simples sendo
a normal Nc:
N c = D + Pc (8)

5. SOLUÇÃO NUMÉRICA

Foi construído um modelo de vigas no software GTSTRUDL®, apresentado na Figura 2 juntamente


com os carregamentos e as condições de contorno. A utilização de um modelo de vigas no pré-
dimensionamento baseia-se na proporção entre as dimensões da seção transversal dos membros e
seus respectivos comprimentos. Sendo esta relação pequena, o uso de elementos de viga é o
indicado, análogo ao caso da viga-navio.

IND LOAD carga

-622.2

-622.2

-622.2
o

-622.2
o

Z
X SUPPORT FX FY FZ

Figura 4: Carregamentos e condições de contorno

Através de uma análise estática, obtém-se os resultados apresentados na Figura 5.


MY -2.198E-11
@ 0.0

40.000
40.000

40.000
40.000

45.000
MY -7.038E+04
@ 4.000E+01 45.
000
MZ -4.977E+04
45. 45.000 @ 4.500E+01
000
X

MZ 1.077E+05
@ 2.250E+01
Z
X

Figura 5: Resultados relevantes, sistemas de coordenadas locais e comprimento dos membros

As características do modelo são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Características do modelo

Pontoons retangulares Colunas circulares Carregamentos


a 9.00 m r 6.00 m Pp 80000.00 tf
b 12.00 m t 0.04 m q 444.44 tf/m
t 0.04 m h 40.00 m gf 1.40
l 45.00 m Iy 23.54 m4 Q 622.22 tf/m
Iy 24.00 m4 Iz 23.54 m4
Iz 37.04 m4 A 1.32 m2
A 1.67 m2

6. COMPARAÇÃO DE RESULTADOS

Os resultados obtidos utilizando as expressões do item 4 bem como os resultados do modelo


numérico são apresentados na Tabela 2. Destacam-se também as diferenças percentuais dos
resultados analíticos em relação ao numérico.
Tabela 2: Resultados e diferenças percentuais entre os modelos utilizados no pré-
dimensionamento

Resultados

Analítico Analítico
Numérico
simplificado 3 momentos
Mp1 -1.05E+5 -4.69E+4 -4.97E+4 tf.m
Mp2 5.25E+4 1.11E+5 1.07E+5 tf.m
Mc 1.48E+5 6.61E+4 7.04E+4 tf.m

Diferenças percentuais em relação aos resultados do modelo numérico

Analítico Analítico
simplificado 3 momentos
Mp1 111.27% -5.71%
Mp2 -50.93% 3.40%
Mc 110.30% -6.14%

7. CONCLUSÃO

O trabalho aqui apresentado discute a utilização de uma metodologia existente no dimensionamento


estrutural primário de uma unidade semi-submersível. O modelo baseado na Equação dos Três
Momentos permite a avaliação rápida e segura dos esforços solicitantes na estrutura primária e
apresentou-se como uma ferramenta confiável, quando comparado a resultados numéricos obtidos
através de elementos de vigas.

Foram também apresentados os resultados de um modelo analítico considerando pontoons bi-


engastados nas colunas. Em teoria, a decisão de se utilizar esta simplificação deve ocorrer com base
em uma comparação entre os valores dos momentos de inércia das seções dos pontoons e colunas
em um eixo perpendicular ao eixo de ambos simultaneamente. Porém, devido a facilidade do
modelo pela equação dos três momentos, não se justifica a discussão caso a caso sobre a
metodologia a ser utilizada.

Finalmente, destaca-se a praticidade do modelo apresentado, sendo possível a sua utilização em


análises paramétricas e de sensibilidade, visando a otimização estrutural e geométrica de projetos de
unidades semi-submersíveis, em sua fase conceitual usando-se a Equação dos Três Momentos.

8. BIBLIOGRAFIA
Timoshenko, S. P.; Gere, J. E. (1984). Mecânica dos sólidos, Livros Técnicos e Científicos
Editora.

Rajabi, F., Ghosh, S., Oran, C., Shields D. R. (1985). Review of semisubmersible and tension leg
platform analisys techniques, Naval Civil Engineering Laboratory - Ocean Structures Division.

Hughes, O. F. (1983). Ship structural design, The Society of Naval Architects and Marine
Engineers.

ANEXO I – EQUAÇÃO DOS TRÊS MOMENTOS

A equação dos três momentos foi desenvolvida por Clapeyron em meados do século XIX. Sua
demonstração baseia-se na compatibilização da rotação dos apoios de uma viga contínua.

A Equação dos Três Momentos é:


L  L L  L   A x A x 
M a   a  + 2  M b   a + b  + M c   b  = −6   a a + b b  (9)
 Ia   Ia Ib   Ib   I a  La I b  Lb 
onde:
⚫ M a , M b e M c : momentos fletores nos três apoios A, B e C

⚫ I a e I b : momentos de inércia das seções transversais dos vãos “a” e “b”

⚫ L a e Lb : comprimentos dos vãos “a” e “b”

⚫ Aa e Ab : áreas dos diagramas de momento fletor causados pelos carregamentos externos


nos vãos “a” e “b”
⚫ x a e x a : distância dos centróides dos diagramas de momento fletor dos vãos “a” e “b” ao
apoio diferente do central, ver Figura 6.

Fonte: Timoshenko, S. P.; Gere, J. E. (1984). Mecânica dos sólidos, Livros Técnicos e Científicos Editora.
Figura 6: Viga contínua e variáveis utilizadas na Equação dos Três Momentos

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