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Associação de Ensino e Cultura Pio Décimo

Faculdade Pio Décimo


Curso de Psicologia

MYCHELLE DOS SANTOS CARVALHO

O MITO DO AMOR MATERNO: IDEALIZAÇÃO E O IMPACTO NA SAÚDE


MENTAL DAS MULHERES

Aracaju
2023
DECLARAÇÃO DE CONFORMIDADE DO TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II PARA DEPÓSITO NA COORDENAÇÃO E DEFESA NA
BANCA

Prezada Coordenadora do curso de Psicologia

Prezado Professor da Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II

Eu, Professor (a) Titulação e Nome, orientador(a) do(a) aluno(a) Mychelle dos
Santos Carvalho na pesquisa e desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso em
sua fase de projeto, intitulado: “O mito do amor materno: idealização e o impacto na
saúde mental das mulheres”, declaro que este encontra-se apto e autorizado por mim
para depósito junto à coordenação, assim como em condições de submissão à
apreciação da banca examinadora.

Aracaju, XX de yyyy de 20XX.

_______________________________________________
ASSINATURA
TERMO DE CIÊNCIA DE PRAZO MÁXIMO PARA ENTREGA DA VERSÃO
FINAL DO PROJETO PARA ALUNOS DO 10º PERÍODO

Prezada Coordenadora do curso de Psicologia

Prezado Professor da Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II

Eu, aluno Mychelle dos Santos Carvalho, orientado pelo Professor(a) Titulação e Nome
Completo na ênfase acadêmica autora do projeto intitulado: O mito do amor materno:
idealização e o impacto na saúde mental das mulheres, até dia XXXXX, diretamente na
coordenação do curso, sob pena de ter minha nota zerada pelo não cumprimento deste
prazo. Fico ciente também, que em caso de dúvida, devo procurar esta mesma
coordenação para conhecer o dia da solenidade acima referida.

Aracaju, XX de yyyy de 20XX.

_______________________________________________
ASSINATURA
MYCHELLE DOS SANTOS CARVALHO

O MITO DO AMOR MATERNO: IDEALIZAÇÃO E O IMPACTO NA SAÚDE


MENTAL DAS MULHERES

Projeto Acadêmico apresentado à Disciplina Trabalho


de Conclusão de Curso II como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Psicologia pela
Faculdade Pio Décimo

Orientadora: FABYANNE WILKE COSTA SANTOS

Aracaju
2023
MYCHELLE DOS SANTOS CARVALHO

O MITO DO AMOR MATERNO: IDEALIZAÇÃO E O IMPACTO NA SAÚDE


MENTAL DAS MULHERES

Trabalho de conclusão de curso apresentado como


requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Psicologia pela Faculdade Pio Décimo.

APROVADO EM XX/YY/ZZZZ

__________________________________________________
AVALIADOR: Professor Título Nome Completo – Instituição onde obteve maior título

__________________________________________________
AVALIADOR: Professor Título Nome Completo – Instituição onde obteve maior título

__________________________________________________
ORIENTADOR: Professor Título Nome Completo – Instituição onde obteve maior
título
Dedicatória (opcional)
AGRADECIMENTOS

O autor ou A autora
SUMÁRIO

Introdução......................................................................................................................00
1- Referencial Teórico............................................................................................00
1.1 –...............................00
1.2 –................................00
1.3 –......................................................................................00
2- Objetivos............................................................................................................00
0.0 Geral............................................................................................................00
0.0 - Específicos.................................................................................................00
0 - Metodologia...............................................................................................................00
0.0 - Público-Alvo................................................................................................00
0.0 - Local............................................................................................................00
0.0 – Estrutura......................................................................................................00
0.0 – Procedimentos.............................................................................................00
0 – Referências................................................................................................................00
0 – Anexos.......................................................................................................................00
0 – Apêndices..................................................................................................................00
RESUMO
A pauta sobre maternidade é um assunto que todas as mulheres em algum momento da
vida serão questionadas ou obrigadas a refletir, tanto a mulher que tem o desejo de viver
a maternidade, quanto a que não quer maternar. Essa reflexão acontece prioritariamente,
em razão da maternidade ser imposta como parte da essência e identidade da mulher.
Um dos estigmas criado em cima da mulher é de que elas nasceram para o coletivo, com
valores e projetos de vida pautadas em ser mãe e dona de casa. Ou seja, à mulher é
pautado ideias de cuidado para com o outro e pouco para si mesmo. Logo, faz-se
necessário conhecer e compreender os principais conceitos relacionados ao mito do
amor materno, suas idealizações e o impacto que pode causar na saúde mental da
mulher, que foram se construindo ao longo da história para, então, argumentar sobre os
estereotípicos de gênero que atravessam o feminino e alimentam os discursos da
idealização na maternidade. Ademais, o presente trabalho procura discutir e refletir
sobre os impactos que o mito do amor materno pode causar na saúde mental da mulher.
A proposta metodológica deste trabalho é uma pesquisa qualitativa, que apresentará um
estudo do uso e coleta de material empírico. Refere-se à uma pesquisa de caráter
exploratório, onde aplicará como método para coleta de dados, entrevistas
semiestruturadas, que serão realizadas de forma presencial ou remota, a depender da
disponibilidade do entrevistador e da entrevistada, e seguirá como critério de inclusão:
mulheres na faixa etária a partir dos 20 anos, esse critério foi levando em consideração o
biológico, pois é um período considerado mais propício para a gravidez, por isso, pode
existir uma pressão social para a mulher engravidar, visto que, é quando as funções
hormonais das mulheres favorecem à gestação, mulheres mães e não mães e ser
residente no estado de Sergipe. As mulheres serão selecionadas a partir de indicação ou
conveniência em participar do estudo. Utilizará como caminho técnico-analítico a
análise de conteúdo para tratamento do material, o qual percorrerá as seguintes fases:
pré-analise, exploração do material e fase do tratamento de resultados. Além disso, cabe
destacar, que será realizada o procedimento ético de submissão do presente projeto de
pesquisa ao comitê de ética, para autorização de realização da pesquisa que pretende
trabalhar com sujeitos. A pesquisa se fundamenta na importância de promover uma
discussão e reflexão a respeito do mito do amor materno, que muitas vezes se
transforma em uma fonte de culpabilidade para as mulheres, contribuindo para a
hesitação em adotar a maternidade. Esse dilema surge quando as mulheres se deparam
com uma realidade que, com frequência, não condiz com a idealização previamente
concebida. Além disso, a pesquisa também se justifica em função do temor de não estar
à altura das expectativas sociais ligadas ao papel materno.

Palavras Chave: amor materno; idealização; mulher.


1. Introdução
Ser mulher em uma sociedade patriarcal ainda pode ser associado ao dever de
ser mãe, gerar ou criar um filho, como condição inata de toda mulher. A romantização
da maternidade, produzida através da manutenção de ideais que são construídos
socialmente, pode gerar tensões e anseios diante das construções de vida
experimentadas de formas individuais pelas mulheres. Visto que, segundo Banditer
(2011), é propenso que na trajetória de vida da mulher, em algum momento, a
maternidade será um assunto a ser considerado. Tanto para as mulheres que desejam e
sonham em ser mães, quanto para aquelas que por algum motivo não querem ter filhos
e, por isso, passam a ser alvos de críticas e julgamentos da sociedade. Neste sentido, de
uma maneira geral pensa-se no amor materno 1 como uma idealização de instinto natural
feminino (Bezerra, 2020).

Um dos estigmas criado em cima da mulher é de que elas nasceram para o


coletivo, com valores e projetos de vida pautados em ser mãe e dona de casa (Federici,
2017, p. 181). Ou seja, à mulher é pautado ideais de cuidado para com o outro e pouco
para si mesmo. Esse ideal pode ecoar em uma opressão mascarada de opinião social e,
sendo assim, pode causar a exclusão da subjetividade do indivíduo ignorando seus
desejos e vontades pessoais para se adequar aos padrões estabelecidos. E por
consequência, essa submissão pode provocar sofrimentos que são silenciados pelo
julgamento social (Silva et al. 2015). É por isso que, ser mãe tornou-se algo quase
compulsório, de modo que muitas mulheres podem se sentirem culpadas por não
desejarem ter filho ou por, mesmo desejando, terem dúvidas e medos com relação a
serem mães e às formas de ser mãe que a sociedade também impõe. Já que, como se não
bastasse, a sociedade não impõe à mulher somente a decisão de ter um filho, mas
também impõe modos de criação de maneiras de transmissão de afeto que uma mãe
precisa ter para com a sua prole.

Historicamente, a sociedade apresenta um panorama distorcido e ilusório sobre


a maternidade, propagando uma visão romantizada sobre o papel de ser mãe. Segundo
Scavone (2002 apud César, 2019), a sociedade compreende a maternidade como parte
da essência e da identidade da mulher. Devido a isso, muitas mulheres optam
arbitrariamente pela maternidade, sem fazerem maiores reflexões acerca deste processo,

1
Amor materno como inerente a toda e qualquer mulher, um sentimento que deve estar presente desde a
descoberta da gestação. BADINTER (1985)
uma vez que foram ensinadas desde cedo que esse seria o caminho natural de todas as
mulheres (Orsolin, 2002 apud Fidelis, 2013).

Monteiro e Andrade (2017) afirmam que quando a mulher não faz o discurso
romantizado acerca da maternidade que a sociedade espera ou impõe a ela, muitas vezes
ela é taxada como insensível, por não se comportar da maneira esperada e padronizada
pela sociedade. Rompendo com a lógica do amor materno ela pode ser vista como
egoísta e desprovida de amor.

Segundo Oliveira (2007 apud César, 2019) - inúmeros discursos sociais foram
constituindo e reforçando o papel da mulher como mãe ao longo da história feminina na
sociedade moderna. Nesse sentido, verifica-se que a maternidade ainda se mantém
aprisionada à ideologia do patriarcado, onde qualifica as mulheres como necessárias
para a perpetuação da raça humana, pois qualquer que seja suas fraquezas, as mulheres
possuiriam uma virtude que anularia todas elas: podem possuir útero e ter a
possibilidade de dar à luz.

O discurso da mídia, veículos de comunicação impressos ou não, as


famigeradas redes sociais, etc., é outro viés que concebe a maternidade como um
processo unicamente feminino e compulsório (Tomaz, 2015). A mídia e a sociedade
contribuem na difusão dessa imagem idealizada, ao retratarem expectativas que nem
todas as mulheres conseguem atingir. Essa imposição, esse imaginário social que
massifica a forma como as mulheres precisam lidar com a maternidade e com a escolha
de gerar filhos, pode desencadear em momentos de sofrimento, pois na maioria das
vezes as mães criam uma visão da maternidade dita perfeita que se torna inalcançada e
adoecedora (Sales et al., 2014).

É preciso destacar que o amor materno foi por tanto tempo concebido em
termos de instinto, pois se acreditaria que tal comportamento e desejo fossem parte da
natureza da mulher, seja qual for o tempo. Diante dessa perspectiva, havia e talvez ainda
haja a crença que toda mulher, ao se tornar mãe, encontra em si mesma, quase como
mágica, todas as respostas e objetivos da sua condição humana. No entanto, o perigo de
transtornos mentais serem ocasionados no processo da maternidade são significativos,
pois, a partir do momento que uma mulher se torna mãe, ela pode abdicar da sua vida
pessoal, social, trabalho etc., para se dedicar totalmente ao seu filho, acarretando uma
sobrecarga que a impossibilita de ter uma vida leve e tranquila. Essa abdicação é uma
das perspectivas do imaginário social: a mulher suspende os seus outros papeis sociais
para servir apenas a um só, o de mãe (Poles et al., 2018).

Tendo em vista o conteúdo exposto, a pesquisa justifica-se pela importância de


discutir e refletir sobre o conceito do amor materno como uma possível fonte de culpa
para as mulheres, ocorrendo à medida que as mulheres se confrontam com a realidade,
que frequentemente difere da idealização essa idealização pode ser um dos fatores que
fazem com que algumas mulheres hesitem diante da possibilidade da maternidade.
Além da possível culpa que podem ser imputadas naquelas mulheres que não querem
ser mãe. Espera-se que esse trabalho possa entender de maneira mais aprofundada como
as mulheres são afetadas pelo ideal do amor materno, compreendendo consequência
físicas e mentais nesse processo feminino.

Apresenta-se como objetivo geral da pesquisa investigar quais os efeitos da


idealização da maternidade na saúde mental de mulheres mães e não mães. Quanto aos
objetivos específicos, busca-se analisar os diversos elementos que permeiam a
idealização da maternidade, assim como compreender de que maneira o mito do amor
materno reforça estereótipos de gênero.

Ademais, a relevância desse estudo reside na sua capacidade de promover uma


discussão relevante sobre as expectativas e pressões que as mães enfrentam. Além de,
obter conhecimento científico baseado em evidências sólidas. Ajudando a entender de
forma mais clara como as expectativas em torno do amor materno afetam a saúde
mental das mulheres, permitindo que profissionais de saúde, pesquisadores e a
sociedade em geral desenvolvam uma compreensão mais profunda do problema.
Acrescentando conhecimento à área de psicologia, saúde mental, estudos de gênero e
outras disciplinas relacionadas.
2. Referencial teórico

2.1 Uma breve construção histórica e social da maternidade


É possível constatar através de Ariès (1986) e Poster (1979) que os conceitos
de família, infância e de maternidade, encontram-se articulados na história, afetando-se
mutuamente e variando conforme os diversos contextos culturais, sociais, econômicos e
políticos de cada época.

Durante longos séculos, a teologia cristã, na pessoa de Santo Agostinho,


elaborou uma imagem dramática da infância. Logo que nasce, a criança é símbolo da
força do mal, um ser imperfeito esmagado pelo peso do pecado original (Badinter,
1985). Ou seja, para Santo Agostinho, a infância não teria uma inocência, visto que,
nascia de um pecado.

Segundo Badinter (1985), o primeiro sinal da rejeição do filho está na recusa


materna a dar-lhe o seio. O que gerou um hábito muito antigo na França de contratar
amas-de-leite. Além disso, sabemos também que naquela época o fenômeno se limitava
quase exclusivamente às famílias aristocráticas.

Entre os argumentos citados com mais frequência predominam-se dois: a


amamentação é fisicamente má para a mãe, e pouco conveniente. Por vezes, em lugar de
se apiedar da própria saúde, as mulheres utilizam o argumento estético e juram que, se
amamentarem, perderão a beleza, isto é, o seu bem essencial 2 (Badinter, 1985).

Como as damas da nobreza há muito tempo haviam dado o exemplo, essa


negligência tornara-se rapidamente uma marca de distinção para as demais.
Amamentar o próprio filho equivalia a confessar que não se pertencia à
melhor sociedade. Logo, a partir do século XVIII o envio das crianças para a
casa de amas se estende por todas as camadas da sociedade urbana. Dos mais
pobres aos mais ricos, nas pequenas ou grandes cidades, a entrega dos filhos
aos exclusivos cuidados de uma ama é um fenômeno generalizado (Badinter,
1985).

Para Penteado (2012), existe outros fatores de relevância a serem relatados, há


o econômico contribuindo para o comportamento das mães bem como o peso das
convenções sociais. Amar em demasia aos filhos seria pouco elegante e perda de tempo

2
BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
para o ideal mundano da época do século XVIII, como relata (Ariès, 1978 apub
Penteado, 2012).

Além disto, havia uma alta taxa de mortalidade infantil e, assim, a indiferença
era tida como um comportamento de proteção que a mãe desenvolvia frente a possível
perda de seu filho. No entanto, posteriormente acabou-se concluindo que esta alta
mortalidade estava justamente relacionada a este desinteresse dos pais e, essencialmente
da mãe pela criança (Azevedo, 2017).

Para (Poster, 1979 apub Resende, 2017) foi a partir de meados do século XIX
que floresce uma abundante literatura sobre a importância da conservação das crianças
para o fortalecimento das famílias. Nele, os filhos foram reavaliados tornando seres
importantes para os pais.

Isto posto, a nova ordem econômica que passa a vigorar com ascensão da
burguesia como classe social, e impunha como imperativo a sobrevivência da criança,
vista como futura mão de obra produtiva para o Estado (Resende, 2017).

Dessa forma, Federici (2017), afirma que as mulheres eram vistas como
“necessárias para produzir o crescimento da raça humana”. Pois, possuem o aparato
biológico e eram retratadas como seres passivos, mais obedientes e morais, capazes de
exercer uma influência positiva.

É neste momento também que, segundo Tourinho (2006), surgiram analogias


entre a imagem da mãe em um sentido religioso, vista como santa, levando em
consideração que ambos os papéis exigiam certo sacrifício e reclusão. Passou-se assim a
acreditar-se na afirmação de que a maternidade seria uma característica inata feminina,
um dom, puramente biológico e instintivo, independente de cultura e condição
socioeconômica.

Segundo Azevedo (2017), foi assim imposto à mulher a obrigação de ser mãe,
agregando o mito do instinto materno, amor espontâneo e incondicional da mãe pelo
filho. A maternagem e os cuidados maternos então se tornaram considerados
fundamentais para o desenvolvimento e sobrevivência infantil.

Por tudo isto, (Poster, 1979 apub Resende, 2017) observa que nesse momento
o amor materno foi considerado natural as mulheres, que passaram a ter de não só zelar
pela sobrevivência dos filhos, mas ter que treiná-los para um lugar responsável na
sociedade, uma vez que já se iniciava o cuidado com a educação institucional. Estrutura
familiar burguesa, que se distribuiu como dominante na sociedade capitalista, e
permanece essencialmente inalterada hodiernamente.

2.2 O mito do amor materno e suas idealizações


O mito do amor materno impõe à mulher uma situação sine qua non e
inquestionável de que ser mulher significa “maternar” (Badinter, 1985). Baseado nisso,
toda mulher só se sentirá plenamente realizada quando passar pela experiência da
maternidade.
Há alguns anos, o amor materno vem sendo compreendido em diversas
civilizações como algo instintivo da natureza feminina. Este é um pensamento enraizado
de um ponto de vista naturalizado da maternidade, onde o principal foco está na
condição biológica para reproduzir (Arteiro, 2017).
Para Tourinho (2004), a maternagem era vista como algo à priori e inerente ao
universo feminino, que não dependia da cultura ou da classe socioeconômica, por se
basear em um pressuposto biológico instintivo. No entanto, Badinter (1985) diz que é
muito pelo contrário, a maternidade deve ser compreendida como uma construção
social, que designou, por muito tempo, o lugar das mulheres na família e na sociedade.
Por isso:
Entende-se que uma vez instaurado, o Mito do Amor Materno foi
inscrito na memória familiar dos indivíduos e transmitido entre as
gerações como uma crença irrefutável a partir do fim do século
XVIII. Desde esta época percebe-se que o Mito do Amor Materno
atuou como um elemento organizador das sociedades, de forma a
possibilitar, através da crença no amor materno inato, o
estabelecimento de regras de comportamento, que interessavam
aos Estados, concernentes às mulheres mães (Resende, 2017).

Sendo assim, Beauvoir (2009), salienta que em razão da contextualização


histórica pode-se perceber que as noções formadas sobre o papel da mulher na
sociedade, a figura feminina sempre esteve associada ao casamento, sendo ela submissa
ao homem, predestinada a maternidade e responsável pela perpetuação da espécie,
sendo a mulher a única capaz de gerar um filho.
Logo, para Banditer (2011), é bastante claro que na trajetória de vida da
mulher, em algum momento a maternidade seja um assunto a ser pensado. Tanto para as
mulheres que desejam e sonham em ser mães, como para aquelas que por algum motivo
pessoal não querem ter filhos e passam a ser alvos de críticas e julgamentos da
sociedade.
Para Patias e Buaes (2012), as representações sociais da maternidade
possibilitam às mulheres a entenderem aquilo que são e devem fazer enquanto mães, por
meio de diferentes discursos circulantes na sociedade.
Conforme apontam Rios e Gomes (2009), ao não optar pela maternidade, a
mulher passa a ser encarada pela sociedade com abjeção, pois compreende-se sua
decisão como expressão de uma anormalidade, uma vez que não responde às
expectativas sociais em relação ao papel social da mulher. Assim, as mulheres que
abdicam da maternidade são vistas como egoístas e estranhas. Conforme indicam Patias
e Buaes (2012):
As representações dos filhos como destino natural de toda mulher
produziram a perspectiva de que a maternidade é o caminho da
plenitude e realização da feminilidade. Trilhar esse caminho implica
ter uma vida de renúncia e sacrifícios prazerosos indispensáveis à
constituição da identidade feminina.

Por motivos diversos (culturais, sociais e históricos), ser mãe tornou-se algo
compulsório, de modo que muitas mulheres se sentem culpadas por não desejarem um
filho ou por, mesmo desejando, terem dúvidas e medos com relação a serem mães
(Marques, 2022).
Pois, para Correia (2022) a idealização da maternidade 3não prepara a mulher
para as mudanças que ocorrem durante o período gravídico ou para o que de fato é criar
um filho. Logo, esse papel imposto de perfil materno perfeito, faz com que muitas
mulheres sofram um processo de culpabilização, caso não consigam alcançar as
expectativas criadas.
Vale ainda ressaltar, que essa imagem idealizada sobre a maternidade dificulta
a forma como as mulheres vão agir, pensar e perceber as prováveis ambivalências que o
momento proporciona (Carvalho et al., 2018).
Segundo a autora Halasi (2018), “a maternidade da culpa é vivida em cada
etapa da decisão, seja enquanto uma escolha, enquanto uma questão financeira,
enquanto um parto, uma amamentação, uma doação possível, enfim, enquanto espaços
que podem ou não ser abertos. ” (P. 51).

3
A idealização da maternidade não considera as experiências individuais, promovendo um discurso social
que ignora os desafios reais enfrentados no processo de tornar-se mãe (Gomes, 2022).
Nesse sentido, quando a mulher não alcança esse ideal de maternidade acaba
por ser estigmatizada, e pode padecer e sofrer psiquicamente pela tentativa de
corresponder a esse ideal (Tourinho, 2006).
Para Lopes et. al., 2014 “esse contexto ideológico pode ser o
propulsor para [...] inseguranças e receios perante a maternidade” (p.
296). Já que “ter um filho em uma sociedade em que cada um é
responsável por si próprio e na qual se almeja uma estabilidade
inatingível é um contexto propício para a produção de inseguranças,
medos e ambivalências” (p. 296).
No entanto, segundo Zanata et al. (2017), assim como a primeira menstruação
e a perda da virgindade, a maternidade é um acontecimento marcante e único na vida da
mulher, cheio de sentimentos e expectativas. Deste modo, cada mulher vivencia esses
eventos de forma única, construindo assim a sua trajetória.
Além disso, Badinter (2011) fala que o desejo de ter filhos não é nem
constante, nem universal. Algumas os querem, outras não os querem mais, outras,
enfim, nunca o quiseram. Já que existe escolha, existe diversidade de opiniões, e não é
mais possível falar de instinto, ou de desejo universal.
Primeiro, qualquer pessoa que não a mãe (o pai, a ama, etc.) pode "maternar"
uma criança. Segundo, não é só o amor que leva a mulher a cumprir seus "deveres
maternais". A moral, os valores sociais, ou religiosos, podem ser incitadores tão
poderosos quanto o desejo da mãe (Badinter, 1985, p. 17).
Além disso, com o avanço das tecnologias reprodutivas e as novas
configurações familiares, observa-se o desenvolvimento de novas possibilidades de
maternidade e maternagem questionando os vínculos biológicos e os papéis de gênero
nos cuidados ao filho. Como os casais homo afetivos que desafiam as noções
tradicionais de maternidade, demonstrando que a capacidade de criar e nutrir uma
criança não é exclusiva de pais heterossexuais (Silva, 2014).
Para Roudinesco (2003 apub Silvia, 2014) essas novas configurações do
maternar questionam as funções paternas e maternas, antes rigidamente demarcadas, e
apontam para uma forma mais flexível e afetuosa de relacionamento.
Ademais, a autora Badinter (1985) defende que o amor materno não é um
sentimento universal, igual em todas as mulheres, e sim um sentimento que se adquire,
como qualquer outro. O amor materno é apenas um sentimento humano. E como todo
sentimento, é incerto e imperfeito.
Diante disso, afirma-se que assim como a maternidade perfeita, o amor
materno é resultado de uma construção social. De modo que de acordo com o desejo
subjetivo de cada mulher vai existir diferentes maneiras de demonstrar e vivenciar o
amor materno.

2.3 A contribuição do mito do amor materno para a perpetuação de


estereótipos de gênero
Para Federici (2017), ao longo dos séculos XVI e XVII, as mulheres perderam
terreno em todas as áreas da vida social.
Durante a idade média as mulheres tinham contato com muitos métodos
contraceptivos, que consistia basicamente em ervas transformadas em poções. Um saber
passado de geração em geração, proporcionando-lhes certa autonomia em relação ao
nascimento dos filhos (Federici, 2017). No entanto, aparentemente esse saber não foi
perdido, mas passou para clandestinidade em alguns casos.
Força-las a “produzir filhos e filhas para o Estado 4” seria a nova definição
parcial das funções das mulheres na nova divisão sexual do trabalho. Nessa época, as
mulheres haviam perdido espaço inclusive em empregos que haviam tradicionalmente
ocupado, como: tecelãs, empregadas domésticas, amas de leite ou bordadeiras (Federici,
2017).
Dizia-se até mesmo que qualquer trabalho feito por mulheres em sua casa era
“não trabalho” e não possuía valor, mesmo quando voltado para o mercado, era pago
um valor menor do que o trabalho masculino (Wiesner, 1993 apub Federici, 2017). O
casamento era visto como a verdadeira carreira para uma mulher.
Segundo, Sousa e Guedes (2012), a família surge como a instituição mais
importante para a procriação e para o ocultamento do trabalho das mulheres. Ou seja,
para Osman (2021) a nova ordem patriarcal, é construída na modernidade ocidental a
partir da feminilização e desvalorização da reprodução social.
Para Federici (2017), a categoria mulher não tem lastro no essencialíssimo,
mas na feminilidade enquanto função-trabalho, “oculta sob o disfarce de um destino
biológico”, como se ela tivesse vocação natural para o trabalho reprodutivo. A divisão
sexual do trabalho é, portanto, a chave para a compreensão do domínio masculino, do
controle da sexualidade feminina e da maternidade compulsória e disciplinada.

4
A referência de uma canção feminista italiana de 1971, “Aborto di Stato” [Aborto de Estado].
Assim, para Osman (2021) a redução do trabalho feminino ao trabalho
doméstico ensejou o próprio surgimento da "mulher “na medida em que o lar se tornou
o seu “lugar” onde as relações sociais cercadas se constituíram.
Para Silva (2019) na sociedade as mulheres são rotuladas por estereótipos
construídos ao longo da história, onde a mulher é definida como uma reprodutora, sem
opções de escolha e sem voz, e dessa forma quando elas optam por não ter filhos, se
desviam de um padrão cultural normatizado pela sociedade que define a maternidade
como um ciclo a ser vivenciado por todas as mulheres.

3. Objetivos

Geral: Investigar quais os efeitos da idealização da maternidade na saúde mental


de mulheres mães e não mães.

Específicos: Buscar analisar os diversos elementos que permeiam a idealização


da maternidade.

Compreender de que maneira o mito do amor materno reforça estereótipos de


gênero.

4. Metodologia
O projeto metodológico é uma pesquisa qualitativa, por apresentar de forma
subjetiva a compreensão do fenômeno que será apresentado. Ademais, refere-se à uma
pesquisa de caráter exploratório. Para Godoy (1995) segundo esta perspectiva, um
fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte,
devendo ser analisado numa perspectiva integrada. Para tal finalidade, o pesquisador vai
a campo buscando captar o fenômeno em estudo a partir da perspectiva dos próprios
sujeitos que participam da situação, para que se entenda a dinâmica do fenômeno. Sem
se preocupar com representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações
lineares de causa e efeito.

Além disso, compreende-se que este tipo de pesquisa é fundamental para


contribuir com o desenvolvimento de temas relevantes para a Psicologia, podendo ser
sempre aprimorado e difundido socialmente, sem padronizações, considerando a
fluência da realidade, contraditória e influenciada pelo pesquisador (Chizzotti, 2013).
Segundo Minayo (2008), os instrumentos de trabalho de campo na pesquisa
qualitativa permitem uma mediação entre o marco teórico-metodológico e a realidade
empírica. Posto isso, a presente pesquisa objetiva trabalhar como material de coleta a
entrevista semiestruturada que é um método de coleta de dados que combina perguntas
abertas e fechadas. O roteiro pode incluir perguntas fechadas, comumente usadas para
identificação ou classificação, mas é principalmente composto por perguntas abertas.
Isso permite que o entrevistado expresse suas opiniões, pensamentos e experiências de
maneira mais ampla e livre sobre o tema proposto. Ademais, esse formato proporciona
uma abordagem mais flexível, incentivando respostas mais detalhadas e ricas em
informações por parte da entrevistada.

As entrevistas semiestruturadas, serão realizadas das com mulheres, que serão


selecionadas a partir de indicação ou conveniência em participar do estudo. Seguirá
como critério de inclusão: mulheres na faixa etária a partir dos 20 anos, esse critério foi
levando em consideração o biológico, pois é um período considerado mais propício para
a gravidez, por isso, pode existir uma pressão social para a mulher engravidar, visto que,
é quando as funções hormonais das mulheres favorecem à gestação, mulheres mães e
não mães e ser residente do estado de Sergipe. Evidencia-se que as modalidades
utilizadas para a realização das entrevistas serão presenciais ou remotas, a depender da
disponibilidade do entrevistador e entrevistada.

Além disso, a entrevista será realizada com cada participante, individualmente,


uma entrevista semidirigida, que terá duração aproximada de 50 minutos, que seguirá as
seguintes questões norteadoras: Como a sociedade descreve o papel da mãe e o amor
materno para as mulheres? Como as representações culturais do amor materno podem
influenciar as expectativas das mulheres na relação com a maternidade? Como as
representações culturais do amor materno podem influenciar as mulheres a hesitarem
em abraçar a maternidade? Quais os possíveis impactos psicológicos gerados pela
pressão social para ser uma “mãe perfeita”?

Após a coleta do material, será como técnica para condução dos dados a análise
de conteúdo de Bardin (2004). Para Guerra (2014) a análise de conteúdo é uma técnica
de tratamento de dados coletados, que visa à interpretação de material de caráter
qualitativo, assegurando uma descrição objetiva, sistemática e com a riqueza manifesta
no momento da coleta dos mesmos. Dessa forma, logo depois do processo de entrevista
será produzida uma análise dos conteúdos, descritos pelos participantes da pesquisa, de
acordo com os critérios. Essa análise tem como objetivo extrair as informações úteis a
partir do conteúdo encontrado durante o processo de entrevista.

A análise apresentará com as seguintes fases: a pré-análise, nesta fase, será


organizado o material coletado, selecionando informações pertinentes que orientarão a
análise. Essa seleção ajudará a definir quais dados serão considerados na análise
subsequente. Na exploração do material, procederemos à codificação dos dados, ou seja,
traduziremos as informações brutas em palavras, temas e contextos relevantes. Isso nos
permitirá estabelecer categorias que agrupem os dados identificados. Na fase de
tratamento de resultados, realizaremos interpretações dos dados com base nos critérios
predefinidos. Esse procedimento analítico nos possibilitará compreender os potenciais
impactos da idealização da maternidade na saúde mental das mulheres. Dessa forma,
seguindo essa abordagem técnica-analítica, está pesquisa estará apta a discernir os
efeitos que a idealização da maternidade pode ter na saúde mental das mulheres mães e
não mães.

Posto isso, esta pesquisa tem como base um enfoque qualitativo de natureza
exploratória. O método adotado para a coleta de dados consiste em entrevistas
semiestruturadas. O tratamento e análise dos dados serão conduzidos por meio da
abordagem de análise de conteúdo. Ademais, as participantes terão sua participação
condicionada à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As
identidades dos participantes serão preservadas e é assegurado o direito de desistência
do participante sem nenhum tipo de ônus para o mesmo em qualquer momento da
pesquisa. Importante ressaltar que, dado o envolvimento de seres humanos no estudo,
seguiremos procedimentos éticos rigorosos, incluindo a submissão deste projeto ao
comitê de ética e resoluções científicas necessárias, nas quais abrangem as regras e
determinações de pesquisa com seres humanos, após obter a devida autorização será
conduzida as entrevistas com as participantes.
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