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Ideias psicológicas na cultura luso-brasileira, do século XVI

ao século XVIII.

JESUÍTAS

Padres missionários, vieram ao Brasil junto à armada do Governador Geral


português Tomé de Souza em 1549, a Companhia de Jesus originara-se num
contexto cultural muito fecundo da Europa da época.
Com efeito, seus inícios aconteceram no âmbito de um pequeno grupo de
docentes e alunos da Universidade de Paris, local de convergência da
tradição medieval e dos novos fermentos do Humanismo e do Renascimento;
além disso, a identidade hispânica de seu fundador, Inácio de Loyola, e de
vários entre os primeiros adeptos, proporcionava a colocação da Companhia
no âmago de um dos mais importantes movimentos culturais da Europa da
época: a Segunda Escolástica ibérica, escola filosófica que tencionava abarcar
e discutir as novas teorias dos filósofos renascentistas e ao mesmo tempo
manter uma ligação estreita com a tradição filosófica cristã.

A educação é reconhecida pelos religiosos - imbuídos pelo espírito da


pedagogia humanista - como instrumento privilegiado para criar um homem
novo e uma nova sociedade no Novo Mundo. Por isto a educação das
crianças e a criação de escolas constituíram-se os objetivos prioritários do
plano missionário da Companhia, no Brasil. Este empreendimento acarretava
a necessidade de formular conhecimentos e práticas de caráter pedagógico
e psicológico.

A crença na possibilidade do homem "fazer-se a si mesmo", característica do


Humanismo e do Renascimento, colocando o ênfase na possibilidade do ser
humano ser plasmado através da educação, encontra nos Novos Mundos
recém descobertos o grande laboratório de sua realização. O trabalho
desenvolvido pelos missionários da Companhia de Jesus, visando a criação de
escolas para a formação de crianças indígenas e mestiças, no Brasil colonial,
enquadra-se neste contexto: no projeto missionário da Companhia, através da
educação será viável a transformação do homem, da cultura e da sociedade.
O homem em sua origem é, portanto, uma tabula rasa, e o seu desenvolvimento
é um processo em que esta tabula poderá ser preenchida, dependendo do projeto
de homem e de sociedade que será proposto, e eventualmente imposto.

A apresentação clara deste pensamento pode ser encontrada nos textos escritos
já no século XVII por um jesuíta brasileiro, padre Alexandre de Gusmão (1629-
1725), pedagogo e literato, fundador do Colégio de Belém, em Salvador da
Bahia, e autor entre outros do tratado Arte de crear bem os filhos na idade da
puerícia (1685) e da novela História de Predestinado Peregrino e de seu irmão
Precito (1685).

Construído conforme o modelo dos tratados humanistas e renascentistas, A


Arte de crear bem os filhos abarca as várias dimensões da Pedagogia. O
objetivo do livro (de 387 páginas) é colocado já no Proêmio: a formação de um
"perfeito minino, para que nos annos da Adolescencia chegue a ser hum
perfeito mancebo" (p. II). Ao definir a "puerícia" (=infância), como o período
da existência humana em que "a creança, (...) de sy nam tem acçam racional e,
para viver, necessita do alheio socorro" (1685, p. 170), Gusmão retomando
Aristóteles, Tomás e os humanistas, apresenta uma visão da criança como tábua
rasa, "disposta para se formarem nella quaesquer imagens" (idem, p. 4). Encara
assim a educação como um recurso fundamental para o desenvolvimento
infantil e para a formação do homem enquanto tal: "Conforme for a primeira
doutrina, conforme a primeira educaçam, que deres a vossos filhos, podereis
conhecer, o que ham de vir a ser. " (idem, p. 2). De modo que Gusmão exorta
os educadores a não desanimar frente à incapacidade de "lavrar" o menino: não
se deve atribuir as causas da ineficácia à personalidade deste, mas ocorre
recorrer aos "políticos previstos nesta matéria" (1689, p. 139). Com efeito:
"Nenhum minino ha de tam ruim condiçam, que nam possa ser corregivel e domesticavel. (....). Nam devem
os pays desamparar aos filhos, que sentiram de más condiçoens, desconfiando de fazer nelles frutos, porque
nenhum pode ser de tam mao natural, que doutrinado, e domado, nam possa ser de proveito, por meio da
boa creaçam". (1685, p. 138-139).

A responsabilidade pelo processo de aprendizagem da criança depende


então dos pais e dos educadores, comparados aos agricultores que lançam
as primeiras sementes da doutrina na terra que são os ânimos infantis, ou
a pintores que pintam o painel em branco, ou a escultores que dão forma à
pedra.

Um aspecto especialmente inovador da posição de Gusmão refere-se à questão


da instrução feminina. Diante do preconceito difundido na mentalidade da
época, da inferioridade intelectual da mulher, Gusmão declara:
"Pode vir em questam, se he conveniente, que as filhas aprendam as artes liberaes desde mininas, assim
como he certo dos filhos mininos. Ao que respondo que nam só he convenviente, mas grande glória para o
sexo feminino". (1685, p. 383).

Fonte: http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Marina/marina.htm
O processo de institucionalização do saber psicológico no
Brasil do século XIX.
Marina Massimi - Ver cap 9 livro Jacó-Vilela (pg 159)

Humores – temperamentos – tratados de higiene


Corpo-máquina
No século XIX, a medicina propõe-se a si mesma como a
ciência do homem, substituindo a ética, a filosofia e a
teologia na tarefa de orientar indivíduos e sociedades
rumo à felicidade.
A analogia entre medicina do corpo e medicina do
espírito, tradicionalmente utilizada pela filosofia e pela
teologia, adquire uma significação nova – a medicina do
corpo pretendendo dar conta também da medicina da
alma. A revolucionária afirmação do autor (Mello Franco),
de que “a experiência mostra que muitos pecados
humanos têm sua origem em doenças particulares do
corpo” (idem: 23-24), suscitou vivazes reações ao livro no
âmbito católico e especialmente eclesiástico

O estudo de JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA


acerca dos índios brasileiros (Apontamentos para a
civilização dos Índios bravos do Brasil, de 1823, destinado
a ser apresentado, discutido e aprovado no âmbito da
Assembléia Geral Constituinte) propõe um plano de
colonização dos índios, a ser realizado através de um
processo de aculturação. Para alcançar este objetivo, é
necessário, segundo o autor, “conhecer primeiro o que
são e devem ser naturalmente os Índios bravos, para
depois acharmos os meios de os converter no que nos
cumpre que sejam” (ed. 1965: 9-10). Os comportamentos
dos índios são explicados na base de uma teoria acerca
do “homem no estado selvagem”, inspirada na filosofia
iluminista da época (notadamente na antropologia
mecanicista). Uma primeira característica do homem no
estado selvagem é a ausência das necessidades próprias
do homem “civilizado” que estimulam a atividade e o
trabalho. Um segundo aspecto é a ausência daquele tipo
de racionalidade característica do “espirito científico”
europeu. A possibilidade de modificar a realidade
humana e social assim retratada baseia-se, para José
Bonifácio, num postulado antropológico ambientalista
claramente explicitado: Mudadas as circunstâncias,
mudam-se os costumes. Com efeito, o homem primitivo
nem é bom, nem é mau naturalmente; é um mero
autômato cujas molas podem ser postas em ação pelo
exemplo, educação e benefícios. Se Catão nascera entre
os sátrapos da Pérsia, morreria ignorado entre a multidão
de vis escravos. Newton, se nascera entre os guaranis,
seria mais um bípede, que passara sobre a superfície da
terra. Mas um Guarani criado por Newton, talvez
ocupasse o seu lugar (idem: 12).

Ler também:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000500002

Ver:

http://www.crpsp.org/fotos/pdf-2015-10-06-12-34-36.pdf

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