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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E CULTURA PIO DÉCIMO

FACULDADE PIO DÉCIMO


CURSO DE PSICOLOGIA

JEADI FRAZÃO BEZERRA JÚNIOR

CONTRARREFORMA PSIQUIÁTRICA E OS DESAFIOS DO MOVIMENTO


ANTIMANICOMIAL

Aracaju/SE
2022
DECLARAÇÃO DE CONFORMIDADE DO TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II PARA DEPÓSITO NA COORDENAÇÃO E DEFESA NA
BANCA

Prezada Coordenadora do curso de Psicologia

Prezado Professor da Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II

Eu, Professora Dra. Ma. Mônica Silva Silveira, orientadora do aluno Jeadi Frazão
Bezerra Júnior na pesquisa e desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso em sua
fase de projeto, intitulado: Contrarreforma Psiquiátrica e os desafios do movimento
antimanicomial, declaro que este encontra-se apto e autorizado por mim para depósito
junto à coordenação, assim como em condições de submissão à apreciação da banca
examinadora.

Aracaju, SE, 06 de junho de 2022.

_______________________________________________
ASSINATURA
TERMO DE CIÊNCIA DE PRAZO MÁXIMO PARA ENTREGA DA VERSÃO
FINAL DO PROJETO PARA ALUNOS DO 10º PERÍODO

Prezada Coordenadora do curso de Psicologia

Prezado Professor da Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II

Eu, aluno Jeadi Frazão Bezerra Júnior, orientado pela Professora Dra. Ma. Mônica
Silva Silveira na ênfase acadêmica, autor do projeto intitulado Contrarreforma
Psiquiátrica e os desafios do Movimento Antimanicomial, dou ciência que devo entregar
a versão final do meu trabalho de conclusão de curso, até dia 01 de julho de 2022,
diretamente na coordenação do curso, sob pena de ter minha nota zerada pelo não
cumprimento deste prazo. Fico ciente também, que em caso de dúvida, devo procurar esta
mesma coordenação para conhecer o dia da solenidade acima referida.

Aracaju, SE, 06 de junho de 2022.

_______________________________________________
ASSINATURA
JEADI FRAZÃO BEZERRA JÚNIOR

CONTRARREFORMA PSIQUIÁTRICA E OS DESAFIOS DO MOVIMENTO


ANTIMANICOMIAL

Projeto Acadêmico apresentado à Disciplina Trabalho


de Conclusão de Curso II como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Psicologia pela
Faculdade Pio Décimo

Orientador: Prof.ª Dra. Ma. Mônica Silva Silveira

Aracaju/SE
2022
JEADI FRAZÃO BEZERRA JÚNIOR

CONTRARREFORMA PSIQUIÁTRICA E OS DESAFIOS DO MOVIMENTO


ANTIMANICOMIAL

Trabalho de conclusão de curso apresentado como


requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Psicologia pela Faculdade Pio Décimo.

APROVADO EM 02/06/2022

__________________________________________________
AVALIADORA: Psicóloga Rita de Cássia Nascimento Luz – IJBA

__________________________________________________
AVALIADOR: Professor MsC. Marcel Maia de Oliveira Gomes – UFS

__________________________________________________
ORIENTADORA: Professora Dra. Ma. Mônica Silva Silveira – UFS
Ao meu pai (in memoriam) e minha mãe, por terem me ensinado
o valor incomensurável da educação.
“Em 1925, alguns artistas e escritores franceses que atuavam em nome da
‘revolução surrealista’ dirigiram aos diretores de hospitais psiquiátricos um
manifesto que terminava com estas palavras: ‘Amanhã, na hora da visita, quando
vocês tentarem sem a ajuda de dicionário algum comunicar-se com estes
homens, poderão recordar e reconhecer que só têm sobre eles uma
superioridade: a força” (Franco Basaglia)
“Administrar os ‘pendores críticos’ dos agentes sociais ou a ‘loucura’ é para o
Estado uma questão de sobrevivência; subverter esta administração – em que
pesem suas formas menos ou mais repressivas -, não é uma prática isolada mas
articulada e já pensada numa concepção global da história e das classes. Ou
então não é nada senão forma de fortalecer as instituições às quais se combate”
(Carlos Henrique de Escobar)
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a duas pessoas que, infelizmente, não poderão assistir a banca
de defesa ou ler este trabalho, mas estiveram presentes e foram determinantes em diversos
outros momentos da minha vida: minha avó materna (Generosa Caldas Sampaio) e meu
pai (Jeadi Frazão Bezerra). Sei que ambos estariam orgulhosos e seriam meus mais fiéis
apoiadores.
A minha mãe, Maria do Socorro Caldas Sampaio, mulher de fé, força e coragem que criou
a mim e ao meu irmão com tanto carinho e cuidado, nos ensinando a valorizar a
solidariedade e o altruísmo, sem deixar de nos direcionar para compreender as nuances
das relações humanas, dos laços de amizade e amor, do reconhecimento e da união,
aprendizados que levaremos para toda a vida.
Ao meu irmão, Victor Ryan Sampaio Frazão, por aguentar meus silêncios e respostas
breves, por saber respeitar o tempo dos outros (e por estar aprendendo a respeitar o
próprio tempo) e por continuar me surpreendendo cotidianamente com suas perguntas.
A minha amiga, amor e camarada Mariana Isla, que desde meados de 2020 compartilha
comigo a vida, as experiências, as lutas, reflexões, festas, comemorações e mesas de bar,
os anseios, angústias, desejos, vontades e prazeres do corpo e da alma. Dedico à ela as
palavras de um intelectual e poeta amplamente citado no texto e admirado por nós dois
sob várias formas: “Nenhum sistema que não é capaz de abraçar com carinho a mulher
que amo e acolher generosamente minha amada classe é digno de existir./ Está, então,
decidido: Vamos mudar o mundo, transformá-lo de pedra em espelho para que cada um,
enfim, se reconheça./ Para que o trabalho não seja um meio de vida./ Para que a morte
não seja o que mais a vida abriga./ Para que o amor não seja uma exceção, façamos agora
uma grande e apaixonada revolução” (Mauro Luís Iasi em Uma razão a mais para ser
anticapitalista).
A Professora Fernanda Hermínia Oliveira Souza, pelos riquíssimos aprendizados na
disciplina de Psicologia Social II (da qual fui monitor por um semestre) e posteriormente,
de Psicologia Jurídica, mas também pelo incentivo à pesquisa, problematização e crítica,
sinalizando para o intercâmbio de ideias sem dogmatismos, mas também sem abandonar
pressupostos éticos, sociais e políticos.
Ao professor, mestre e amigo Francisco Diemerson de Sousa Pereira, pelos bons
ensinamentos, reflexões, conselhos, conversas e partilhas sensíveis, intelectuais e
afetivas.
Aos professores Evanildo Vasco Vianna, Aline Andrade Rabelo, Marcel Maia de Oliveira
Gomes e Fernando Antônio Nascimento Silva, por me proporcionarem as bases e
caminhos para compreensão dos movimentos sociais, instituições e políticas públicas nos
campos da saúde e saúde mental, sem os quais este trabalho não existiria.
Aos amigos e amigas com os quais mantive relações duradouras, de confiança,
confidência e lealdade: Milena, André, Evelyn, Sara, Rita e Ellen. Aos recém-chegados
em termos de amizade, mas não por isso menos importantes: Maria Bomfim, Elizabeth
Rocha, Jenifa Nascimento, Maria Gabriela, João Vitor e Letícia Nascimento, além de
colegas de turma, de outros cursos e instituições que me atravessaram durante esse
processo de formação.
A minha orientadora, Dra. Mônica Silva Silveira, pelas valiosas sugestões e
contribuições.
Aos camaradas da União da Juventude Comunista (UJC), Juventude e Escola de Quadros
do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que completou, no dia 25 de março de 2022, um
século de lutas ao lado da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, sindicais,
estudantis e populares no Brasil.
Cito, com certa licença poética-temporal, as palavras de Ferreira Gullar: “Eles eram
poucos./ E nem puderam cantar muito alto a Internacional./ Naquela casa de Nitéroi em
1922./ Mas cantaram e fundaram o Partido./ Eles eram apenas nove./ O jornalista
Astrojildo, o contador Cordeiro, o Gráfico Pimenta./ O sapateiro José Elias, o vassoreiro
Luis Peres, os alfaiates Cedon e Barbosa./ O ferroviário Hermogênio e ainda o barbeiro
Nequete, que citava Lênin a três por dois./ Em todo o País./ Eles eram mais de setenta./
Sabiam pouco de marxismo./ Mas tinham sede de justiça./ E estavam dispostos a lutar
por ela./ Faz cem anos que isso aconteceu./ O PCB não se tornou o maior partido do
Ocidente nem mesmo do Brasil./ Mas quem contar a história de nosso povo e seus heróis./
Tem que falar dele./ Ou estará mentindo”.
Jeadi Frazão Bezerra Júnior
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 14
2.1 Gênese e desenvolvimento do Movimento Antimanicomial e da Reforma
Psiquiátrica Brasileira .............................................................................................. 14
2.2 Movimento Antimanicomial e Políticas Públicas de Saúde Mental ............... 20
2.3 Movimento Antimanicomial e Contrarreforma Psiquiátrica: desafios e
reflexões ..................................................................................................................... 27
3 OBJETIVOS........................................................................................................... 34
3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 34
3.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 34
4 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 37
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1 INTRODUÇÃO

Durante a graduação no curso de Psicologia, notei que apesar das menções e do


reconhecimento prestado à Reforma Psiquiátrica, pouco nos aprofundávamos nas
vicissitudes do Movimento Antimanicomial, que envolve profissionais, técnicos,
intelectuais, militantes e ativistas, assim como entidades da sociedade civil, movimentos
sociais, enfim, uma miríade de sujeitos (individuais e coletivos) que produziram, através
de formas distintas de mobilização, organização e manifestação, o que conhecemos por
Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB).
Essa inquietação se aprofunda através da leitura do n° 35 da Revista Tempo
Brasileiro, sobretudo os textos de Franco Basaglia, psiquiatra cuja história está
diretamente relacionada à Reforma Psiquiátrica na Itália e que influenciara o Movimento
Antimanicomial brasileiro, além do ensaio que abre a edição, intitulado “As instituições
e os discursos” do brasileiro Carlos Henrique de Escobar.
Do 6° período da graduação em diante, dois momentos desse processo de
formação proporcionaram mudanças qualitativas no modo de pensar as instituições, as
políticas públicas e o Estado. O primeiro, de caráter mais empírico, ocorre em função das
experiências de Estágio Básico I e II em um Centro de Atenção Psicossocial de Aracaju,
local em que se concentrava e se impunha a realidade da loucura e do sofrimento psíquico
na sociedade de classes, mas também a dor da miséria, da escassez de oportunidades e
direitos, da fome, do desemprego, da exclusão e da desumanização.
O segundo momento, mais recente e de caráter imediatamente teórico, ocorreu
através de dois cursos na modalidade de Ensino à Distância que ocorreram em meio à
pandemia:
a) Marxismo e Psicologia, organizado pelo grupo de pesquisa Psicologia e
Ladinidades (Instituto de Psicologia - UnB) e pela Associação Brasileira de Psicologia
Social (ABRAPSO), onde pude refletir sobre as interfaces possíveis entre o marxismo e
a ciência psicológica, reconhecendo sobretudo o papel da Psicologia no último ciclo
histórico, chamado de Democrático-Popular (1980-2016).
Para Filipe Milagres Boechat (UERJ), a Psicologia brasileira contribuiu para o
processo de conciliação de classes e para a combinação de formas sutis de dominação
burguesa sob vernizes democráticos. Ocorre que, no âmbito da Psicologia, conformou-se
determinada “ideologia do compromisso social” ou “compromisso ético-político” que
impediam tomadas de posições mais decisivas em favor das classes subalternas.
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Segundo o autor, a atuação política dos psicólogos teve como foco a democracia
participativa, a consciência cidadã, a defesa dos direitos humanos e a aliança entre o
capital e o trabalho para a conquista progressiva de direitos.
Contudo, com os desdobramentos e agravamentos da crise estrutural do
capitalismo, observou-se as tentativas de esgarçamento da democracia e do pacto social
da Nova República cuja maior expressão está na Constituição de 1988, pondo em xeque
os direitos trabalhistas, previdenciários, à saúde e à educação, além dos demais processos
de desmonte das conquistas obtidas por meio das lutas populares que, nesse momento, se
desenvolvem a solavancos e de forma reativa, com manifestações pontuais que não
possibilitam a resistência ao desmonte e tampouco a esperada contraofensiva.
b) O curso “SUS, Capitalismo e Saúde” promovido pela Fundação de Estudos
Políticos, Econômicos e Sociais Dinarco Reis, particularmente nas aulas ministradas
pelos pesquisadores André Vianna Dantas (Fiocruz), Áquilas Mendes (USP), Mauro Iasi
(UFRJ) e Daniela Albrecht (UERJ), que propuseram excelentes reflexões sobre análise,
organização e lutas pela saúde pública, universal e popular através do debate crítico da
esquerda marxista sobre a Estratégia Democrático-Popular (EDP).
Ocorre que para esses autores as Estratégias não dizem somente sobre os objetivos
e interesses de classe, mas também podem colaborar para compreender os marcos de
transformação da subjetividade e da consciência social. Nesse sentido, este trabalho
poderá oferecer contribuições fundamentais em alguns campos, que, no processo de
escrita se encontram interligados: Psicologia, Saúde Mental e Política (sobretudo no que
se refere à relação contraditória e permeada por impasses entre o Movimento
Antimanicomial e o Estado brasileiro).
O referencial teórico utilizado oferece os primeiros passos para compreender a
transformação da subjetividade (e da consciência) de classe no ciclo Democrático-
Popular (1980-2016) e suas consequências mais imediatas, como a fragmentação e
invisibilidade das classes subalternas e, conjuntamente, a intensificação e combinação de
formas de exploração e opressão sobre o conjunto dos trabalhadores.
Ao mesmo tempo, o exame histórico e a análise crítica dos processos de
desenvolvimento do Movimento Antimanicomial, da Reforma e da Contrarreforma
Psiquiátrica poderão oferecer novos olhares, horizontes de perspectivas e possibilidades
de atuação política (para a Psicologia, o Movimento Antimanicomial e o campo da saúde
mental) que deem conta de ao menos elencar os desafios do tempo presente visando a
transformação social.
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A Contrarreforma Psiquiátrica (CP) se caracteriza por um processo de


remanicomialização no âmbito das políticas públicas de saúde mental e reinvenção da
instituição psiquiátrica em um momento de desmonte da atenção psicossocial e do
Sistema Único de Saúde, principalmente por conta da Emenda Constitucional n° 95, que
congela os gastos públicos com políticas intersetoriais (saúde, educação, assistência
social) por vinte anos.
Nesse sentido, a CP dá continuidade e intensifica processos que já se faziam
presentes na RPB, como o subfinanciamento das políticas de saúde mental e a inserção
precoce das Comunidades Terapêuticas na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Em
outros aspectos, a CP representa a ruptura completa com a Reforma Psiquiátrica, que têm
na Lei 10.216/2001 sua maior, embora não única, expressão.
As questões que norteiam este projeto, são, portanto: Como um grupo social que
busca combater determinadas práticas, ideias, instituições, termina por consentir com a
normatividade que buscava subverter? Ou, ainda, como esse grupo se apercebe desse
processo e o leva à cabo, com suas contradições e antagonismos inerentes? Mais
especificamente, seria esse o caso do Movimento Antimanicomial, isto é, se o Movimento
teve íntima relação com o processo da Reforma, qual teria sido o seu papel nos caminhos
que levaram à Contrarreforma Psiquiátrica?
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Gênese e desenvolvimento do Movimento Antimanicomial e da Reforma
Psiquiátrica Brasileira

Em termos internacionais, pode-se dizer que desde o final da Segunda Guerra


Mundial começam a eclodir movimentos de questionamento à instituição psiquiátrica.
Nesse contexto se dão algumas reformas do campo psiquiátrico, através da Psiquiatria
Preventiva (Estados Unidos da América), da Psiquiatria de Setor e Psicoterapia
Institucional (França), das comunidades terapêuticas ligadas à Psiquiatria Comunitária
(Inglaterra) e da Psiquiatria Democrática (Itália) (AMARANTE, 1995; ALBRECHT,
2017).
No Brasil, a conjuntura em que se desenvolvem os movimentos de contestação ao
modelo de assistência psiquiátrica é marcado pela entrada em crise do modelo político e
econômico da ditadura empresarial-militar, fazendo eclodir inúmeras outras
manifestações e lutas sociais (contra a carestia, pela anistia, por melhores condições de
vida e trabalho etc.). Nesse cenário, reorganizavam-se movimentos sociais, populares e
sindicais, com o campo da saúde despontando na luta pela redemocratização (IASI, 2012;
DANTAS, 2018).
Esse ciclo histórico de lutas dos trabalhadores têm sido chamado de Democrático-
Popular, e se inicia quando as demandas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais
organizados puseram em alerta as classes dominantes que, à essa altura, empenhavam-se
em superar o modelo político e econômico da ditadura militar (BOECHAT, 2017;
DANTAS, 2018).
Durante a ditadura empresarial-militar no Brasil, as instituições manicomiais
haviam sido substancialmente ampliadas, sobretudo pelo baixo custo das unidades
psiquiátricas. Vale lembrar que os leitos psiquiátricos privados passaram de 14 mil no
início da ditadura em 1964 para aproximadamente 70 mil na década de 1970. Nesse
processo, quem se beneficiava era o setor privado e multinacionais que atuavam
diretamente nas instâncias deliberativas do poder público (ALBRECHT, 2017;
MARTINS, ASSIS & BOLSONI, 2019; AMARANTE, 2020).
Com a transformação da loucura em mercadoria, a contrapartida do lucro
expressava-se nas condições do “cuidado” oferecido nas instituições psiquiátricas. Em
1979, após visitar o Hospital Colônia de Barbacena, o psiquiatra Franco Basaglia, um dos
importantes nomes da Psiquiatria Democrática na Itália, declarou para a imprensa
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brasileira que havia estado em um campo de concentração nazista (ARBEX, 2013;


ALBRECHT, 2017).
Em meio a essa conjuntura, o Movimento pela Reforma Psiquiátrica surge no
interior do Centro de Estudos Brasileiros de Saúde (CEBES) mas possui como estopim o
episódio que ficou conhecido por crise da Divisão Nacional de Saúde Mental do
Ministério da Saúde (DINSAM/MS) (AMARANTE, 2020).
Nele, os profissionais de quatro unidades no Rio de Janeiro desencadearam uma
greve em abril de 1978 que foi seguida pela demissão de 260 estagiários e profissionais,
de novas manifestações e matérias na imprensa, em um cenário de luta contra a ditadura
empresarial-militar (AMARANTE, 1995, 2020; AMARANTE & NUNES, 2019).
A crise da DINSAM serve como fator desencadeador da união dos trabalhadores
do campo da saúde mental, culminando na criação do Movimento dos Trabalhadores de
Saúde Mental (MTSM), que se tornará o sujeito político fundamental do projeto de
Reforma Psiquiátrica Brasileira. Em sua gênese, o MTSM denuncia a falta de recursos, a
precariedade das condições de trabalho e da assistência oferecida à população,
entendendo que essas pautas estão diretamente vinculadas à política nacional de saúde
mental (AMARANTE, 1995, 2020).
Em outubro de 1978, o MTSM – ao participar do V Congresso Brasileiro de
Psiquiatria, evento de setores conservadores organizados em torno da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP) – oferece ao evento um caráter de discussão e organização
política e ideológica, discutindo pautas no âmbito da saúde mental e do regime político
vigente (AMARANTE, 1995).
No ano seguinte, ocorre no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, o I
Congresso Nacional dos Trabalhadores de Saúde Mental, em que se entende que a
transformação no campo da saúde estaria ligada à luta de outros setores sociais em busca
da democracia e de uma organização mais justa da sociedade através do fortalecimento
de sindicatos, associações representativas e movimentos sociais, demonstrando o
crescimento político do MTSM (AMARANTE, 1995, 2020).
Em suma, a realização do I Congresso dos Trabalhadores de Saúde Mental
representa sinais de crescimento e amadurecimento da Luta Antimanicomial no Brasil,
assim como se estabelece a compreensão basagliana de que os hospitais psiquiátricos
seriam redutos dos marginalizados (ALBRECHT, 2017).
Nesse mesmo ano, são publicados dois importantes documentos. O primeiro,
intitulado “A democracia como valor universal”, de Carlos Nelson Coutinho, oferece as
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bases teóricas hegemônicas entre a esquerda brasileira nas décadas seguintes (DANTAS,
2017). O segundo, “A questão democrática na área da saúde”, elaborado por membros do
CEBES, tornar-se-á referência política para o campo da saúde no país (AMARANTE,
2020).
Em meio à conjuntura de luta contra a ditadura e, posteriormente, sob o impacto
da Queda do Muro de Berlim em 1989 e a dissolução da União Soviética em 1992, a
questão democrática teve peso decisivo nas estratégias de luta das classes trabalhadoras
(DANTAS, 2017).
Para Carlos Nelson Coutinho (1979) a ampliação de organizações de sociedade
civil e de sujeitos políticos de base que estavam lutando pelo fim da ditadura empresarial-
militar exigia a unificação destes em um bloco democrático e popular que serviria para
extirpar os elementos ditatoriais no processo de transição democrática e criar as condições
para a democratização da economia rumo ao socialismo.
Entre os organismos deste bloco democrático e popular estava também o
emergente Movimento Antimanicomial e, mais especificamente, o MTSM, que
enfrentava desde a sua criação em 1978 o debate sobre institucionalizar ou não o
movimento, isto é, ingressar ou não nas instituições e, mais especificamente, no aparelho
de Estado (AMARANTE, 1995; ALBRECHT, 2017, 2020).
No início dos anos 1980, o advento da cogestão interministerial - modalidade de
convênio entre os Ministérios da Previdência e Assistência Social (MPAS) e o da Saúde
(MS), que previa a colaboração do primeiro no custeio, planejamento e avaliação das
unidades hospitalares do segundo -, o debate sobre a institucionalização do Movimento
ganha contornos mais nítidos. A ocupação de cargos em órgãos estatais passa a ser vista
como tática de mudança por dentro ou indicação de cooptação das lideranças e do projeto
do MTSM pelo Estado (AMARANTE, 1995).
Não obstante a discussão, na segunda metade da década de 1980 o aparelho de
Estado estava ocupado por militantes do MTSM que assumiram posições de coordenação
das políticas de saúde mental. Nesse período, é realizada a 8° Conferência Nacional de
Saúde (1986) e a I Conferência Nacional de Saúde Mental (1987), ambos momentos de
ampla participação social e abertura do Estado onde debates sobre participação popular e
autonomia do Movimento foram travados (ALBRECHT, 2017).
Vale notar que, à época, o setor de saúde mental do Ministério da Saúde se opunha
as ideias reformadoras e de participação social na construção das políticas públicas. Por
isso, a I Conferência Nacional de Saúde Mental é realizada por pressão dos militantes do
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MTSM que desencadearam conferências estaduais sem a anuência do governo central


(AMARANTE & NUNES, 2019).
Durante essa Conferência, o MTSM delibera pela convocação de seu II Congresso
Nacional, que ocorre em dezembro de 1987 em Bauru e possui como resultados principais
o crescimento do Movimento, a transformação de suas estratégias e propósitos. O
Movimento Antimanicomial ultrapassa a barreira das transformações técnicas,
vislumbrando lutas de natureza social e política (AMARANTE, 2020).
Na compreensão do MTSM em seu II Congresso - o manicômio é a expressão de
uma estrutura mais ampla dos mecanismos de opressão que se reproduzem em diversos
âmbitos do tecido social, exigindo mais do que a atuação particular de trabalhadores de
um campo específico, nesse caso, o campo da saúde mental. De acordo com Paulo
Amarante (2020) o Congresso de Bauru provoca rupturas fundamentais no processo da
Reforma Psiquiátrica Brasileira:
Uma delas relacionada à composição dos participantes, antes restrita a
trabalhadores (ou profissionais) do campo da saúde mental, que a partir de
então passa a contar com os pacientes (que passarão a ser denominados de
usuários dos serviços), dos seus familiares e de outros ativistas ou militantes
de movimentos sociais diversos que também lutavam por direitos, igualdades
e liberdades e contra todas as formas de opressão e violência social. A outra
ruptura, relacionada ao objetivo maior do movimento, cujo escopo passaria a
ser a introdução de mudanças na sociedade na forma como pensar a loucura, o
transtorno mental, a diversidade e a diferença (AMARANTE, 2020, p. 49)

Ou seja, se antes eram os profissionais do campo da saúde mental que se


organizavam sob o Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental, este último
transformar-se-á, nesse momento e, efetivamente, em Movimento Antimanicomial,
articulando os usuários, familiares, movimentos sociais e outros militantes na luta por
uma sociedade sem manicômios. Sobre o Manifesto de Bauru, escreve Albrecht (2017, p.
298):
O manifesto dos trabalhadores de saúde mental reunidos em Bauru não apenas
revela uma mudança de patamar no seu processo de consciência, mas parece
reconhecê-la como um salto de qualidade, um passo adiante na sua história.
Sua atitude diante de desafios radicalmente novos é de ruptura, a partir da
ampliação de sua compreensão sobre os mecanismos de exclusão e violência
do manicômio, expressão particularizada de uma opressão que é mais geral.
De uma estrutura que ali se atualiza mas que se impõe ao conjunto da
sociedade, cuja superação não se dá, portanto, através de uma ação isolada,
mas de uma luta que deve ser integrada à de todos os trabalhadores .

Compreende-se, em primeiro lugar, que não basta racionalizar ou modernizar os


serviços e instituições psiquiátricas, pois o Estado autocrático da ditadura empresarial-
militar, que gerencia esses serviços, sustentaria os próprios mecanismos de exploração e
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produção social da loucura. Nesse sentido, a transformação das relações entre a sociedade
e a loucura impunha aliar-se ao movimento popular e a classe trabalhadora organizada
(MANIFESTO DE BAURU, 1987, n.p.).
Durante o ano de 1987 começam a ser desenvolvidas experiências assistenciais
coerentes com as críticas do Movimento Antimanicomial, como o Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS), na cidade de São Paulo e o Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS)
em Santos. (AMARANTE, 2020). Em 1988, é promulgada a Constituição Federal e, nela,
inscreve-se o Sistema Único de Saúde (SUS), fruto da conjuntura de retomada da luta dos
trabalhadores e da Reforma Sanitária Brasileira (DANTAS, 2018).
No ano seguinte, com base na experiência de Santos, foi desenvolvido o Projeto
de Lei 3.657, de autoria do Deputado Paulo Delgado, que propunha a extinção progressiva
dos manicômios e sua substituição por outros serviços. Embora o texto tenha sido
apresentado pelo deputado, ele vinha sendo elaborado por um grupo de participantes do
MTSM (AMARANTE, 2020).
Desde então, a Luta Antimanicomial traduziu-se em evidentes conquistas, obtidas
por meio da institucionalidade. O Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (PT/MG),
proposto em 1989, passou 12 anos em tramitação, sendo aprovado como Lei 10.216 em
2001, contando, entretanto, com alterações significativas em relação ao projeto original.
Em meio a isto, leis e portarias estaduais foram criadas com o propósito de reorientar o
modelo de assistência psiquiátrica e atenção à saúde mental no Brasil (AMARANTE,
2020; ALBRECHT, 2017, 2019).
Previa-se, com a aprovação da Lei 10.216/2001, a extinção progressiva dos
hospitais psiquiátricos e sua substituição por uma complexa rede de serviços comunitários
em que o cuidado em liberdade constaria enquanto elemento terapêutico. O Movimento
Antimanicomial, nessa perspectiva, contribuiu para o fortalecimento e ampliação dos
serviços públicos comunitários de atenção psicossocial no Brasil (DESINSTITUTE &
WEBER, 2021).
Por isso, quando nos referirmos à Movimento Antimanicomial, nesse projeto,
estaremos abordando um conjunto amplo da luta de um campo (da saúde mental,
incluindo aí os profissionais, técnicos, etc.) que culmina nas transformações das políticas
públicas de saúde mental que foram chamadas de Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB).
De acordo com Daniela Albrecht (2017) também se pode utilizar, sem prejuízo de
compreensão, os termos Movimento pela Reforma Psiquiátrica ou Luta Antimanicomial
para designar esse mesmo conjunto de lutas.
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Apesar dos avanços no campo das políticas públicas de assistência psiquiátrica, o


Movimento Antimanicomial passa a enfrentar algumas dificuldades, pois na medida em
que se desenvolvia uma concepção de si indiferenciada do aparelho do Estado, a
consolidação da Reforma como direção da política pública de saúde mental implicaria
como consequência o enfraquecimento do Movimento que a impulsionou (ALBRECHT,
2017; VASCONCELOS, 2012).
Nesse processo, a crença dominante era a de que o próprio Estado se modernizaria,
qualificando suas políticas sociais. Como resultado, ocorre um esvaziamento da luta
política diante do número de aparelhos estatais, que não foi acompanhado pelo aumento
da participação social na conformação das políticas públicas. Nesse sentido, o Ministério
da Saúde – e mais especificamente a Coordenação Nacional de Saúde Mental –
transformaram-se nos principais atores e indutores dos rumos da Reforma Psiquiátrica
Brasileira (YASUI, 2011; ALBRECHT, 2019; AMARANTE; 2020).
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2.2 Movimento Antimanicomial e Políticas Públicas de Saúde Mental

A Reforma Psiquiátrica Brasileira é um processo social complexo, dinâmico,


plural, com dimensões que surgem simultaneamente, se comunicam e se complementam,
mantendo-se em permanente movimento (AMARANTE, 2020). Torna-se válido notar
que a RPB está articulada aos movimentos das lutas de classes e que os avanços e recuos
no campo da saúde mental correspondem à articulação do Movimento Antimanicomial
em maior ou menor grau de organização (SILVA & GOMES, 2019).
No contexto histórico em que surge o Movimento Antimanicomial e a Reforma
Psiquiátrica Brasileira, havia ao mesmo tempo a exaustão da ditadura empresarial militar
e a pujança de movimentos operários, sindicais e populares, inclusive no campo da saúde
mental. Contudo, em 1987, ano em que ocorre a 1° Conferência Nacional de Saúde
Mental e que começam a ser desenvolvidas as primeiras experiências alternativas às
instituições psiquiátricas, há o começo de um período de defensiva e recuo dos
trabalhadores nas lutas de classes (IASI, 2012).
Com a ditadura empresarial-militar aproximando-se de seus últimos momentos, e
por conta da iminência de convocação da Assembleia Nacional Constituinte, os esforços
dos trabalhadores se intensificaram para a disputa no âmbito da institucionalidade
(DANTAS, 2018).
Enquanto isso, as cúpulas militares seguiam o receituário de transição aos regimes
democrático-liberais aplicados em outros países latino-americanos, isto é, operacionalizar
uma transição lenta, gradual e segura, que regulasse o ritmo e os limites da participação
popular nos espaços de decisão (DURIGUETTO & DEMIER, 2017).
Ademais, embora a Constituição com algumas salvaguardas democráticas tenha
sido adotada no ano seguinte, o clima era de recessão econômica e tensão social. Ocorre
que, por conta dessa regulação dos limites da participação política, garantiu-se a
preservação dos interesses do capital apesar da mudança na forma política do Estado,
levando à uma democracia de cooptação ou restrita (DANTAS, 2018; ALBRECHT,
2019; IASI, 2019a; ANDERSON, 2020).
Na obra Estado e burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa, Antonio
Carlos Mazzeo (2015) argumenta que a hegemonia burguesa no Brasil sempre se
sustentou através do alijamento das massas trabalhadoras das instâncias decisórias, seja
através da coerção explícita, como em governos autocráticos, seja pela manipulação
política, nos períodos de legalidade do que o autor chama de autocracia burguesa.
21

Sobre a autocracia burguesa no processo da redemocratização, argumentam Costa


& Mendes (2021, p. 77 – grifos dos autores):
Assentada na conciliação de classes pelo alto, incorpora lenta e gradualmente
algumas das demandas dos de baixo, sem não antes passá-las pelos filtros
transformistas dos interesses da classe burguesa. As lutas populares nesse
interregno são fundamentais, numa efervescência política que apontava para
possibilidade de revolução dentro e contra a ordem. No entanto, temos uma
condução reformista, com a sofisticação da autocracia burguesa, ao invés de
sua eliminação, sob vernizes “democráticos”.

Em 1989, a primeira eleição direta acirra-se entre os candidatos Fernando Collor


de Mello e o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro prometia o extermínio
geral dos controles estatais, representando a chegada do neoliberalismo no Brasil. Seu
impeachment em 1992 e as condições precárias de Itamar Franco favoreceram a força de
oposição representada pelo partido de Lula, o Partido dos Trabalhadores (PT)
(ANDERSON, 2020).
Apesar disso, nos anos seguintes estabeleceu-se – através dos governos de
Fernando Henrique Cardoso – um modelo específico de neoliberalismo em que este se
associava a concessões sociais e a uma retórica mais branda, sem, contudo, abandonar a
desregulamentação dos mercados e a privatização dos serviços públicos (ANDERSON,
2020). Esta variante ideológica do neoliberalismo, chamada de social-liberalismo,
também teve respaldo, posteriormente, por parte de Lula e das lideranças do Partido dos
Trabalhadores (CASTELO, 2013).
Até mesmo a eleição de Lula em 2002 fora uma resposta às impossibilidades
postas pelo neoliberalismo em termos de implementação efetiva das políticas pactuadas
na Constituição Federal de 1988 (VASCONCELOS, 2012; MENEZES, 2019). Nesse
processo de consolidação do neoliberalismo e de recuo das lutas sociais, “a plataforma da
esquerda transforma-se, então, quase sempre, em resistência ao retrocesso” (MASCARO,
2018, p. 64).
Desde então, o SUS têm vivido um processo de subfinanciamento “em
decorrência de ajustes fiscais adotados pelos governos” (MENDES & CARNUT, 2020,
p. 23). Apesar da mudança para um Estado democrático, manteve-se em termos gerais o
arranjo institucional e social da ditadura empresarial-militar (MASCARO, 2018). No
campo da saúde, isto se expressa no antagonismo entre os projetos de Reforma Sanitária
e Reforma Privatista, sendo válido destacar que os governos de Fernando Henrique
Cardoso, Lula e Dilma fortaleceram um ou outro em distintos aspectos (MENEZES,
2019)
22

Portanto, vale assinalar que a Reforma Psiquiátrica Brasileira foi gestada pari
passu à consolidação do neoliberalismo no Brasil (SILVA & GOMES, 2019), gerando
dificuldades particulares na medida em que nos países periféricos do capitalismo “o
suporte prévio de bem-estar social para suas populações, quando da entrada no
neoliberalismo, é muito pequeno ou mesmo nulo” (MASCARO, 2013, p. 194).
Nos governos de Lula e Dilma a conciliação entre a demanda neoliberal e as
políticas sociais foram conduzidas através da aparência de ampliação da participação
popular, transformando as consultas públicas em rituais administrativos, de modo que não
pudessem ameaçar elementos importantes de sustentação dos governos (MIGUEL, 2019;
MENDES & CARNUT, 2020).
Em 2004, no primeiro mandato de Luís Inácio Lula da Silva, no lugar de convocar
a IV Conferência Nacional de Saúde Mental, realizou-se um Congresso Nacional dos
Centros de Atenção Psicossocial. A IV Conferência Nacional de Saúde Mental –
Intersetorial só é convocada em 2010 após diversas manifestações e pressões advindas
dos movimentos sociais no campo da saúde (AMARANTE & NUNES, 2019;
AMARANTE, 2020).
No 4° Congresso Brasileiro de Saúde Mental da Associação Brasileira de Saúde
Mental, em 2014 (primeiro governo Dilma) foi lançada a campanha pela V Conferência,
que não logrou aceitação por parte do Ministério da Saúde, à época comandado pelo
sanitarista Arthur Chioro (AMARANTE, 2020).
Em meio aos governos petistas, o partido deliberadamente trabalhou na direção
de esvaziamento dos movimentos sociais, com políticas de cooptação das lideranças,
engessamento das agendas e sufocamento de demandas (MIGUEL, 2019). O Movimento
Antimanicomial não passa ileso por este processo, pois que as transformações da saúde
mental se desenvolvem em vetor contrário ao fortalecimento do Movimento, que se
fragiliza substancialmente antes mesmo dos governos petistas (ALBRECHT, 2019).
Não obstante tais dificuldades, ainda sob o último governo de FHC, conquistou-
se – através da Portaria GM/MS 1.220/00, a viabilização do Serviço Residencial
Terapêutico em Saúde Mental, programa de residências para internos que estavam há
mais de dois anos em hospitais psiquiátricos (AMARANTE, 2020).
Através da Portaria GM/MS 251/02, foram estabelecidas diretrizes e normas para
a assistência hospitalar em psiquiatria, regulamentou-se a internação psiquiátrica (algo
que diminuiu o número de internações) e criou-se o Programa Nacional de Avaliação dos
Serviços Hospitalares (PNASH) que avaliaria periodicamente hospitais psiquiátricos
23

públicos e privados conveniados ao SUS. E, por meio da Portaria GM/MS 336/02, foi
dada uma nova classificação e regulamentação para os Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS) (AMARANTE, 2020).
Em 2006, durante o primeiro governo Lula, os gastos federais com ações extra-
hospitalares no campo da saúde mental representavam 56% dos recursos da área,
tendência que permanece nos anos seguintes (DESINSTITUTE & WEBER, 2021).
Entretanto, refletindo a problemática do Sistema Único de Saúde, as políticas públicas de
saúde mental também foram subfinanciadas.
Entre os anos de 2001 e 2010, os investimentos no campo da saúde mental
variaram entre 2,3% e 2,7% do Gasto Federal com ações e serviços públicos de saúde
como um todo, sendo que nos países desenvolvidos os investimentos na saúde mental
chegam à 5% do gasto total no campo da saúde (COSTA E MENDES, 2020).
No ano de 2011, surgem – com a publicação da Portaria n° 3.088, que cria a Rede
de Atenção Psicossocial (RAPS) - inovadoras propostas de cuidado a pessoas em uso
problemático de substâncias. Entretanto, essa Portaria inclui as Comunidades
Terapêuticas (CT), que são instituições questionadas no campo político e acadêmico 1,
além de desaprovadas nas Conferências Nacionais de Saúde Mental e, mais
especificamente, na IV Conferência (AMARANTE, 2020). De acordo com Silva &
Gomes (2019) isto significa que a Reforma ainda engatinhava quando enfrentou seus
primeiros retrocessos.
Entre os anos de 2011 e 2014, os valores investidos no campo da saúde mental
variaram entre 2,6 e 1,9% dos Gastos Federais com ações e serviços públicos de saúde
(COSTA & MENDES, 2020). Não seria imprudente considerar que essa diminuição nos
gastos com a saúde mental está associada ao fato de que, desde 2010, as Comunidades
Terapêuticas vêm recebendo incentivos na2s esferas Federal, Estadual e Municipal,
dificultando o fortalecimento da RAPS (SILVA & GOMES, 2019; DESINSTITUTE &
WEBER, 2021).

1
Além disso, o Relatório de Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas do Conselho Federal de
Psicologia (CFP) em parceria com o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) e
a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) identificou nas Comunidades Terapêuticas:
isolamento ou restrição do convívio social; internação de pacientes (incluindo adolescentes) de modo
involuntário; utilização de práticas de castigo e punição, que vão desde a execução de tarefas repetitivas à
perda de refeições e violência física; privação de sono, uso irregular de contenção mecânica ou química;
práticas de tortura e tratamento cruel ou degradante (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2018).
24

Apesar das dificuldades e retrocessos, a Reforma Psiquiátrica Brasileira, que se


sustenta na garantia dos direitos humanos e no cuidado em liberdade, encontrou até o ano
de 2015 canais de diálogo com o Governo Federal que possibilitaram construir a Política
Nacional de Saúde Mental de modo plural (DESINSTITUTE & WEBER, 2021).
Contudo, a situação muda em dezembro de 2015, quando – na tentativa de barrar
o processo de impeachment – a então Presidenta Dilma Rousseff nomeia para o Ministério
da Saúde um ex-deputado conservador que indica para a Coordenação de Saúde Mental,
Álcool e Outras Drogas um ex-diretor de um dos maiores hospitais psiquiátricos do
Brasil, fechado por ação conjunta do Ministério Público, do Ministério da Saúde e do
Estado do Rio de Janeiro (AMARANTE & NUNES, 2019; AMARANTE, 2020;
DESINSTITUTE & WEBER, 2021).
Com isso, desencadeia-se um processo de denúncias e resistência, incluindo uma
ocupação da sede da coordenação em Brasília, por parte do Movimento Antimanicomial,
que durou de 15 de dezembro de 2015 a 15 de abril de 2016 (AMARANTE, 2020). Vale
assinalar que no ano de 2015 os valores destinados à saúde mental tiveram um tímido
aumento para 2,3% do total dos Gastos Federais no campo da saúde. Contudo, em meados
de 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, esses valores despencaram
drasticamente para 1,6% (COSTA & MENDES, 2020).
Deste ano em diante, o Movimento Antimanicomial adentra um cenário oposto ao
de 1976 (AMARANTE, 2020). De acordo com Alysson Leandro Mascaro (2020, p. 6):
“Pela aceleração da acumulação burguesa, o Brasil gestou um golpe em 2016 e, em
seguida, vem desmontando seu Sistema Único de Saúde (SUS), historicamente não
consolidado, agora ainda mais fragilizado”.
A retomada neoliberal realizada pelo governo de Michel Temer após o golpe
institucional de 2016 acelerou e intensificou o processo de desmonte do Estado brasileiro,
congelando recursos orçamentários para as políticas sociais e intersetoriais (saúde,
educação e assistência social) por 20 anos através da Emenda Constitucional (EC) 95.
Nesse processo, o subfinanciamento do SUS torna-se desfinanciamento, dando início a
um período de contrarreformas (DELGADO, 2019; BRAVO, PELAEZ & MENEZES,
2020; AMARANTE, 2020; MENDES & CARNUT, 2020).
Em 2017, um quadro da Associação Brasileira de Psiquiatria, que se tornou desde
os anos 2000 opositora da Reforma Psiquiátrica Brasileira, foi indicado para a
Coordenação Nacional de Saúde Mental. Nesse mesmo ano, dos 240 milhões destinados
à expansão de serviços para álcool e outras drogas, 120 milhões foram direcionados às
25

CT’s, enquanto somente 31 milhões serviram à expansão da RAPS e criação de novos


serviços territoriais (NUNES et al., 2019; SILVA & GOMES, 2019).
Em dezembro do mesmo ano, foram aprovadas as novas diretrizes para as políticas
de saúde mental no país, reforçadas através da Nota Técnica 11/2019 (LIMA, 2019).
Nesse processo, o subfinanciamento do SUS – que, como vimos, transforma-se em
desfinanciamento – implica para o campo da saúde mental a refração e deterioração da
rede de serviços existentes, que passa a receber críticas de setores que se opunham à
Reforma (NUNES et al., 2019).
Quanto à Nota Técnica n° 11/2019, da Coordenação Geral de Saúde Mental,
Álcool e Outras Drogas, o documento teve como propósito reduzir a importância dos
CAPS e fortalecer as CT’s, liberar a compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia, incluir
o hospital psiquiátrico na RAPS, reajustar os valores das Autorizações de Internação
Hospitalar (AIHs) e fortalecer as internações compulsórias ou forçadas em Comunidades
Terapêuticas (SILVA & GOMES, 2019; BRAVO, PELAEZ & MENEZES, 2020).
Entre a gestão federal de Michel Temer e Jair Bolsonaro os recursos federais que
se voltavam aos serviços de base comunitária foram paralisados, enquanto entidades
privadas – associações psiquiátricas e empresários ligados a instituições asilares -
passaram a incidir mais sobre a agenda pública (DESINSTITUTE & WEBER, 2021).
De acordo com Nunes e colaboradores:
Satisfazem-se, de um lado, principalmente a indústria farmacêutica, com o
fortalecimento dos ambulatórios especializados em patologias (sem nenhuma
crítica à inflação nosológica das últimas décadas no seu aspecto de construção
cultural afeita a interesses econômicos e a uma leitura descontextualizada do
sofrimento humano) e, de outro, as comunidades religiosas neopentecostais,
grandes beneficiárias do financiamento público das comunidades terapêuticas
(NUNES et al., 2019, p. 4493)

Além disso, parte da estrutura e atribuições da Política Nacional de Saúde Mental


(PNSM) fora deslocada inicialmente para o Ministério do Desenvolvimento Social e
Agrário (durante o governo Temer) e depois para o Ministério da Cidadania (governo
Bolsonaro). Ambos foram comandados por Osmar Terra, deputado federal e psiquiatra
ligado à Associação Brasileira de Psiquiatria e às CT’s (COSTA & MENDES, 2020).
Se, em um determinado momento, o Ministério da Saúde tornara-se o principal
indutor do processo da Reforma Psiquiátrica, atualmente consolida-se uma Coordenação
de Saúde Mental desvinculada da saúde pública, em um cenário de intensificação das
desigualdades sociais (DESINSTITUTE & WEBER, 2021).
26

Nesse processo, a instituição psiquiátrica, que inicialmente havia sido negada, é


reinventada através da intensificação do financiamento para as Comunidades
Terapêuticas, da retirada da Redução de Danos como estratégia de atenção e da internação
compulsória, inclusive de crianças e adolescentes, em instituições psiquiátricas
(MARTINS, ASSIS & BOLSONI, 2019; DESINSTITUTE & WEBER, 2021).
27

2.3 Movimento Antimanicomial e Contrarreforma Psiquiátrica: desafios e reflexões

Na compilação de textos intitulada As instituições da violência encontram-se


trechos em que Franco Basaglia (1965/1974), um dos atores da Psiquiatria Democrática
na Itália que influenciou os militantes do MTSM no Brasil, pondera que considerar uma
lei de Reforma Psiquiátrica não significa somente pensar acerca das regras e elementos
que conformariam as novas instituições, mas também pensar os problemas de ordem
social ligados às instituições em geral.
Em 1969, ao avaliar o projeto de Psiquiatria Preventiva nos Estados Unidos da
América, Basaglia criticará os modos de ação pautados pelas tentativas de transformação
das instituições em si mesmas, de modo puramente técnico, sem considerar o conjunto
das relações sociais que as fizeram surgir (ALBRECHT, 2019).
Em uma de suas conferências no Brasil, mais especificamente aquela intitulada
As técnicas psiquiátricas como instrumentos de libertação ou de opressão, que ocorreu
em São Paulo no ano de 1979, o psiquiatra italiano é indagado se não seria possível a
reestruturação do hospital psiquiátrico no Brasil, tendo em vista que, aqui, a organização
da classe trabalhadora havia apenas começado.
Sobre isso, argumentara Basaglia (1979/2008) que os brasileiros deveriam se
encarregar de encontrar as soluções para os seus problemas. E, se por um lado havia o
inconveniente de uma classe trabalhadora que começava a organizar-se politicamente,
por outro existia a possibilidade dos “técnicos”, ou seja, dos profissionais das instituições
psiquiátricas, agirem em prol de novas formas de atenção e cuidado à saúde mental, que
se distinguissem das técnicas estadunidenses e europeias.
Contudo, existe ainda uma problemática no que se refere a esses dois pontos, isto
é, tanto a organização política da classe trabalhadora quanto a atuação técnica dos
profissionais das instituições por vir: a permanência ou não do hospital psiquiátrico na
rede de cuidados.
Para o autor, enquanto o manicômio fosse preservado como retaguarda do cuidado
(como era o caso na assistência psiquiátrica dos EUA) seria ele quem permitiria o
surgimento de unidades psiquiátricas comunitárias, aparentemente mais democráticas,
que ele chama de “instituições da tolerância” e que coexistiriam com as tradicionais
“instituições da violência” em que a contenção e a violência explícita permaneceriam as
mesmas. Basaglia destaca, portanto, o limite de ações técnicas que se conservam dentro
de estruturas políticas determinadas (ALBRECHT, 2019).
28

Quanto à estas observações, nota-se que elas também se fizeram presentes no


ensaio As instituições e o Poder, de Carlos Henrique de Escobar (1973/1974), publicado
no já citado n° 35 da Revista Tempo Brasileiro. Para o filósofo, as instituições não podem
ser movidas isoladamente do conjunto social, pois a existência das instituições implica
como pressuposto a sua legitimidade – gerada através de processos sociais, culturais,
econômicos e políticos - na formação social como um todo.
Nesse sentido, as tentativas de transformação das instituições psiquiátricas que se
recusam a serem nomeadas como políticas e aspiram a ser meramente técnico-científicas
seriam caracterizadas por um reformismo institucional que finda por prestar serviços às
instituições repressivas que buscavam combater (ESCOBAR 1973/1974). Sob tais
considerações, a segunda citação da epígrafe desse trabalho toma significação,
oferecendo algumas coordenadas para pensar a relação entre movimentos de
transformação social, políticas públicas e instituições:
Administrar os ‘pendores críticos’ dos agentes sociais ou a ‘loucura’ é para o
Estado uma questão de sobrevivência; subverter esta administração – em que
pesem suas formas menos ou mais repressivas -, não é uma prática isolada mas
articulada e já pensada numa concepção global da história e das classes. Ou
então não é nada senão forma de fortalecer as instituições às quais se combate
(ESCOBAR, 1973/1974, p. 8)

Dessa reflexão de cunho teórico derivam, ainda, outras problemáticas mais


específicas e particulares sobre o Movimento Antimanicomial e suas relações com os
processos sociais complexos e históricos de Reforma e Contrarreforma Psiquiátrica. A
questão mais geral seria: como um grupo social que busca combater determinadas
práticas, ideias, instituições, termina por consentir com a normatividade que buscava
subverter?
Ou, ainda, como esse grupo se apercebe desse processo e o leva à cabo, com suas
contradições e antagonismos inerentes? Mais especificamente, seria esse o caso do
Movimento Antimanicomial, isto é, se o Movimento teve íntima relação com o processo
da Reforma, qual teria sido o seu papel nos caminhos que levaram à Contrarreforma
Psiquiátrica?
Embora não possa ser respondida definitivamente, a reflexão baseada em Basaglia
(1965/1974; 1979/2008), Escobar (1973/1974) e Albrecht (2019) oferece algumas
coordenadas para refletir sobre as transformações do Movimento Antimanicomial e a
Contrarreforma Psiquiátrica.
Em primeiro lugar, deve-se assinalar que o Projeto de Lei 3.657 apresentado em
1989 pelo Deputado Paulo Delgado (PT/MG) continha as propostas do Movimento
29

Antimanicomial. Entretanto, ele só será aprovado como Lei 10.216 em 2001. Os doze
anos de tramitação pelos quais passou foram permeados por disputas políticas em âmbito
parlamentar, implicando em transformações significativas em relação ao projeto original
(ALBRECHT, 2019; PRADO, SEVERO & GUERRERO, 2020).
De acordo com Amarante (2020) o debate em torno da aprovação do projeto
favoreceu a intensificação das manifestações favoráveis e contrárias. Houve também o
surgimento de associações de familiares contrárias ao projeto, como a Associação dos
Familiares dos Doentes Mentais (AFDM), apoiada e financiada pela Federação Brasileira
de Hospitais (FBH).
Para Prado, Severo e Guerrero (2020) o artigo mais fundamental do projeto
original, que proibia a construção e expansão de novos hospitais e leitos psiquiátricos
transformou-se em outro que se limitava à determinação do funcionamento terapêutico
dos hospitais e leitos e à normatização da assistência oferecida, subvertendo a ideia
original e o propósito da lei. De acordo com Luzio & Yasui (2010) a lei aprovada mantém
a estrutura hospitalar existente, regulando as internações e acenando timidamente para
uma proposta de mudança do modelo de assistência.
Como argumentamos no primeiro capítulo, é em meio ao surgimento de uma
modalidade de convênio entre os Ministérios da Previdência e Assistência Social (MPAS)
e o da Saúde (MS) chamada de cogestão interministerial em 1980 que os debates sobre a
institucionalização do Movimento Antimanicomial ganham contornos nítidos. Por um
lado, a entrada no aparelho do Estado significaria uma tática de mudança por dentro. Por
outro, era vista como indicativo de “cooptação” das lideranças e do projeto do Movimento
Antimanicomial, à época MTSM, pelo Estado.
Ainda em 1980, ao falar sobre a privatização da assistência psiquiátrica no Brasil
e debater as tentativas de modernização ou de aperfeiçoamento técnico do modelo em
vigência, Lima (1980) argumenta que o mal da assistência psiquiátrica no Brasil é
estrutural. Por isso, as propostas do Movimento não poderiam se limitar à racionalização
da assistência psiquiátrica, como se propunha em ambos os Ministérios, mas sim basear-
se numa mudança estrutural em que a saúde não fosse objeto de lucro.
Vale lembrar que o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental em seu II
Congresso Nacional ocorrido em Bauru, em 1987, demonstrava compreensão similar. À
época, entendia-se que o Estado que gerenciava os serviços de assistência psiquiátrica era
responsável pelos próprios mecanismos de exploração e produção social da loucura.
30

Nesse sentido, além de argumentar que o compromisso da Luta Antimanicomial


implicaria numa aliança com os movimentos populares e a classe trabalhadora
organizada, o Movimento denunciava a mercantilização da doença e defendia uma
Reforma Sanitária Democrática e Popular.
Nesse sentido é que Daniela Albrecht (2017, 2019) argumenta que o
desenvolvimento do Movimento Antimanicomial se dá em íntima relação com o ciclo
histórico que tinha como base de atuação para as classes trabalhadoras a Estratégia
Democrático-Popular. Vale assinalar que Estratégia remete aos embates no campo
político como meio para atingir objetivos finais. Enquanto tática significa a formação e a
condução dos embates particulares em si mesmos, tomados momentaneamente enquanto
objetivo final (IASI, 2019).
A Estratégia Democrático-Popular baseava-se na proposição de um acúmulo de
força dos trabalhadores que realizasse simultaneamente a ocupação tática de espaços no
aparelho de Estado e a pressão dos movimentos sociais, visando, como argumentou
Carlos Nelson Coutinho, democratizar a economia rumo ao socialismo (COUTINHO,
1979; ALBRECHT, 2019).
As estratégias da classe trabalhadora expressam uma síntese de sua época
histórica, incluindo aí as formas das lutas de classes, as correlações de forças, as formas
políticas do Estado, as formas de consciência social de determinado ciclo histórico e a
síntese do comportamento de classe neste mesmo período (ALBRECHT, 2017; IASI
2019a).
A tensão entre acúmulo de forças e ruptura da Estratégia Democrático-Popular
tendeu a constrangê-la aos limites políticos-jurídicos dados, sem proporcionar a ruptura
que se almejava. Nesse sentido, a Estratégia Democrático-Popular se desenvolveu nos
três governos petistas, esgotando-se nas manifestações de junho de 2013 (MARTINS et
al., 2019).
Nesse processo de gênese, desenvolvimento e realização da Estratégia
Democrático-Popular, consolidou-se a compreensão segundo a qual, em contraste com a
autocracia burguesa no período ditatorial, se desenvolveria um senso comum
democrático, cidadão, em que se aceitaria a diversidade e haveria tolerância aos padrões
religiosos, sexuais, políticos e culturais, isto é, seria formada uma consciência
democrática-cidadã (IASI, 2019b).
As conquistas constitucionais e legais apareciam, portanto, como um ponto que
impossibilitava os retrocessos. Nesse sentido, a aposta da luta dos trabalhadores se
31

voltava para a ascensão das lideranças de classes aos postos estratégicos no Estado,
gerando, ao contrário do que se esperava - isto é, uma democracia de massas com espaços
próprios de organização -, um mercado consumidor de massas relacionado à uma
participação democrática que se revelou cogestora do capital (DANTAS, 2018).
Quanto a isto, o autor supracitado argumenta na obra Do Socialismo à
Democracia: tática e estratégia na Reforma Sanitária Brasileira e no artigo A Questão
Democrática e a Reforma Sanitária Brasileira: um debate tático e estratégico como a
Reforma Sanitária Brasileira e o Movimento Sanitário operaram como microcosmo das
lutas de classes, isto é, como uma luta setorial que se insere no conjunto mais amplo das
lutas mais gerais da sociabilidade capitalista (DANTAS, 2017, 2018).
Sobre estratégia e tática, o autor argumenta que a estratégia do Movimento
Sanitário se baseava no Estado, as conquistas viriam pela via democrática, e a tática
visava a ocupação dos espaços institucionais e a promoção das lutas nas bases. Entretanto,
a recusa a combater à ordem burguesa levará o Movimento a um forte apelo pela via
institucional como tática fundamental, tendo em vista a predominância do aspecto
institucional e da questão democrática na Estratégia vocalizada (DANTAS, 2017, 2018).
O campo da saúde mental e, mais especificamente, o Movimento Antimanicomial,
foi um dos campos onde os elementos da Estratégia Democrático-Popular ganharam
maior densidade, visto que antes mesmo dos governos petistas os militantes do
Movimento Antimanicomial ocupavam trincheiras no aparelho do Estado, desenvolvendo
o “programa” da Reforma Psiquiátrica (ALBRECHT, 2019).
Ainda de acordo com Dantas (2018) a ocupação dos espaços institucionais por
parte do movimento sanitário pôs em segundo plano a construção e elaboração da unidade
teórica e política do Movimento. Nesse sentido, poder-se-ia supor que a fragmentação, o
imobilismo e a dispersão política do Movimento Antimanicomial, de que falava
Vasconcelos (2012, 2012b) tenha sido um fator determinante para a reinvenção da
instituição psiquiátrica, isto é, para o processo de remanicomialização da assistência à
saúde mental no Brasil (ALBRECHT, 2019; COSTA & MENDES, 2020).
Ora, em meio ao desenvolvimento da Estratégia Democrático-Popular e da
Reforma Psiquiátrica, o próprio ambiente de trabalho passou a significar espaço de
militância política, levando a perspectivas voluntaristas de profissionais que buscavam
transformar as relações com a loucura no âmbito dos saberes e da cultura, mas que não
desenvolveram instrumentos de avaliação das políticas sociais e suas relações com as
32

estruturas mais amplas da economia e do poder político (VASCONCELOS, 2012b;


ALBRECHT, 2019).
Nesse processo, uma das principais dificuldades enfrentadas pelo Movimento foi
o esvaziamento da luta política, assim como a dependência das “trincheiras” ocupadas no
seio do Estado, sobretudo na Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde:
Um movimento social que sai desse lugar e passa a estar completamente fora
desse espaço privilegiado, e sem qualquer forma de financiamento, articulação
e coordenação política própria no nível nacional, corre sérios riscos de
fragmentação, dispersão e imobilismo político em muito pouco tempo
(VASCONCELOS, 2012, p. 63)

Soma-se a isto o fato de que ao menos desde 1993 (data do I Encontro Nacional
do Movimento de Luta Antimanicomial) compreende-se que a construção de um novo
lugar para social na cultura se daria no âmbito da cultura, das práticas culturais
(AMARANTE & OLIVEIRA, 2019). Aparentemente, tal concepção espraia-se entre o
campo da Luta Antimanicomial. Em artigo publicado um ano antes na Revista Saúde em
Debate, Campos (1992) argumentava que a Luta Antimanicomial não significava pôr
abaixo o manicômio, mas modificar as práticas e a cultura psiquiátrica dominante.
De acordo com Iasi (2013) a forma de consciência social predominante no século
XXI tende a dissociar as esferas de exploração e opressão, ocultando a dimensão geral do
modo de produção que as articula e, consequentemente, permitindo que alterações de
forma rearticulem as instituições e práticas opressivas em outros patamares, de modo a
garantir a mesma ordem social contra a qual os grupos e movimentos se confrontavam.
Isto parece correto na medida em que, para Albrecht (2019), a dimensão cultural,
valorizada enquanto parte de um projeto de transformação da sociedade, ganha autonomia
em relação aos mecanismos que a produzem. Nesse sentido, o debate Estratégico do
Movimento, que se colocava no âmbito da Estratégia Democrático-Popular, parece ter
desaparecido por completo, gerando um recuo da consciência de classe que coincide com
o recuo do conjunto da classe trabalhadora no desenvolvimento e realização da Estratégia
Democrático-Popular.
O ciclo histórico-político que se encerra, isto é, o Democrático-Popular, têm sido
marcado por uma forte ofensiva da burguesia sobre os trabalhadores, que se encontram
fragilizados e fragmentados por conta da crise de sua consciência de classe, que os leva à
invisibilidade e fragmentação, de modo que amplos setores da população se veem presos
às ideologias conservadoras, neofascistas, fundamentalistas, etc. (BOECHAT, 2017;
IASI, 2019b).
33

Por isso que, embora a forma do Estado tenha se alterado no período da


redemocratização, a manutenção do arranjo social e institucional da ditadura empresarial-
militar (MASCARO, 2018) implicou na combinação, aprimoramento e fortalecimento
dos elementos de formação de consenso e dos instrumentos de coerção utilizados pela
autocracia burguesa (MAZZEO, 2015; IASI, 2019a; COSTA & MENDES, 2021). Dentre
eles, a própria instituição psiquiátrica, sob a forma das Comunidades Terapêuticas.
Nesse sentido, ambos os momentos, isto é, aquele em que surge o Movimento
Antimanicomial (em 1976) e aquele em que se inicia a Contrarreforma Psiquiátrica
(2016) manifestam os movimentos das lutas de classes. O primeiro, no momento da luta
contra a autocracia burguesa e a ditadura empresarial-militar. O segundo, no momento da
crise desse processo e em sua negação pela política da conciliação de classes (IASI,
2019a). Neste momento de crise, o Movimento Antimanicomial se encontra fragilizado,
dispondo de condições bem piores para enfrentar os retrocessos em curso (ALBRECHT,
2019).
34

3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral

Analisar os principais desafios para o Movimento Antimanicomial diante da


Contrarreforma Psiquiátrica no Brasil.

3.2 Objetivos Específicos

Contextualizar o período histórico em que surge e se desenvolve o Movimento


Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica Brasileira.

Comparar os processos sociais e históricos de Reforma e Contrarreforma


Psiquiátrica no Brasil.

Refletir sobre as transformações do Movimento Antimanicomial e a


Contrarreforma Psiquiátrica.
35

4 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho basear-se-á numa abordagem qualitativa e bibliográfica,


através do método de revisão integrativa de literatura.
De acordo com Richardson (2012) a abordagem qualitativa de um problema de
pesquisa justifica-se fundamentalmente por ser uma forma adequada de compreensão de
fenômenos sociais, possibilitando a descrição da complexidade de determinados
problemas, a compreensão de processos dinâmicos vividos por grupos sociais, etc.
Sobre o caráter de pesquisa bibliográfica, Nunes (2021) argumenta que esta possui
como objetivo investigar e entender a natureza dos fenômenos sociais, assim como
aproximar o pesquisador do material já produzido e publicado sobre o tema de pesquisa
(livros, revistas, jornais, artigos científicos, dissertações e teses etc.).
Embora seja possível utilizar-se de uma ampla gama de materiais para abordar os
problemas de pesquisa, serão utilizados nesse trabalho principalmente artigos científicos,
na medida em que através destes torna-se possível entrar em contato com o conhecimento
científico atualizado (LAKATOS & MARCONI, 2017).
De acordo com Souza, Silva e Carvalho (2010) a revisão integrativa de literatura
permite a melhor utilização das evidências disponibilizadas nos estudos através da síntese
do conhecimento e da aplicabilidade dos resultados desses estudos na prática. Além disso,
constitui-se enquanto uma abordagem metodológica ampla que combina dados de
literatura teórica e empírica e possibilita a construção de um panorama consistente de
conceitos, teorias e problemas.
No que concerne o método do trabalho, ele se dividirá em quatro etapas: 1 –
Estabelecimento do tema; 2 – Determinação dos critérios de inclusão e exclusão; 3 –
Análise dos conteúdos a serem abstraídos dos estudos selecionados para interpretação dos
resultados; 4 – Exposição da revisão e síntese do conhecimento.
Coletar-se-ão artigos publicados entre os anos de 2016 e 2021 que abordem a
contrarreforma psiquiátrica, retrocessos na saúde mental, desafios da reforma psiquiátrica
brasileira, movimento antimanicomial e desafios da luta antimanicomial.
A coleta de dados será realizada através de pesquisa nas plataformas: Sistema
Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS); Scientific
Electronic Library Online (SCIELO); Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC); -
Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
36

(CAPES). Serão excluídos os artigos duplicados, que não se aproximem da temática


estudada ou que fujam do recorte temporal delimitado.
Figura 1: Fluxograma
37

REFERÊNCIAS
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40

ANEXOS

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