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UMA PRÁTICA SOBRE

A MEDITAÇÃO DA PALAVRA

Jesus ensinou que “o Reino de Deus é como um


homem que lança a semente à terra, e que dorme e se
levanta noite e dia, e a semente brota sem ele saber
como”.

“Porque a terra por si mesma produz,


primeiramente, a erva, depois a espiga, e por último o
trigo graúdo na espiga”.

“E quando o fruto está maduro, mete logo a foice,


porque está chegado o tempo da ceifa” (Mc 4, 26-29).

“O que o semeador semeia é a palavra” (Mc 4,


14).

Esta é a palavra com que Jesus ensinou os


apóstolos durante três anos e meio.

Desta palavra Jesus disse aos apóstolos,


durante a última ceia, que eles haviam se tornado
puros por causa da palavra que Ele lhes havia
anunciado durante aqueles anos (Jo. 15, 3).
Quando os havia conhecido, Jesus havia-lhes dito:
“Se permenecerdes em minha palavra, sereis
verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a
verdade e a verdade vos tornará livres” (Jo, 8, 31).

O apóstolo João comentou a este respeito dizendo


que “aquele que guarda a sua palavra,
verdadeiramente nele o amor de Deus se tornou
perfeito” (I Jo. 2, 5).

E, na última ceia, Jesus pediu ao Pai que


santificasse os seus discípulos na verdade, e
acrescentou: “A tua palavra é a verdade” (Jo. 17, 17).

Esta palavra é o que Jesus apresentou aos apóstolos


durante os três anos e meio em que estêve com eles, e
da qual ele diz: “Não vos chamo mais de servos, mas
de amigos, porque dei-vos a conhecer tudo o que ouvi
de meu Pai” (Jo. 15, 15).

Esta palavra está disponível para nós hoje,


porque a pedido do próprio Jesus, no-la foi
transmitida pelos seus apóstolos. Ela está no livro
que chamamos de Novo Testamento.

Esta palavra é a semente que, plantada no


coração do homem, regada por meio do Espírito
Santo, faz nele germinar o Reino de Deus. Por
isso é que Jesus ensinava que o Reino de Deus é
como um homem que lança a semente à terra, que
dorme e se levanta noite e dia, e a semente brota
sem ele saber como.

Na parábola do semeador Jesus explica


também que não basta apenas semear a palavra.
Ela somente frutifica se for plantada no terreno
fértil. A parábola do semeador está explicada no
capítulo 4 do Evangelho de São Marcos. Para
entender o que será explicado adiante será
conveniente ler três ou quatro vezes com atenção
todo o capítulo 4 do Evangelho de São Marcos.

Na parábola do semeador Jesus ensina que o


semeador semeia muitas sementes, mas poucas
são as que produzem fruto, porque a maioria cai
em terreno impróprio. Algumas caem na estrada,
outras em terrenos pedregosos, outras em terrenos
com espinheiros. Para que a semente caia no
terreno correto é preciso primeiro vencer todos
estes obstáculos. Até mesmo para entender o que
está escrito no capítulo 4 de Marcos será preciso
vencer todos estes obstáculos Podemos, então
começar por este mesmo capítulo. Leia o capítulo
4 do Evangelho de Marcos. Vamos entender, pela
prática, como, na maioria das vezes, a semente
cai em terreno impróprio e não poderá germinar.
Para isto será preciso separar três momentos
distintos no dia. Em cada um deles vamos semear
a palavra e em cada um deles vamos vencer cada
um dos três obstáculos, até encontrar o terreno
fértil onde a palavra poderá produzir fruto e fazer
germinar o Reino de Deus.

Em um primeiro momento leia, ou ouça, três


vezes, quatro vêzes, ou quantas vêzes forem
necessárias, todo o capitulo 4 do Evangelho de
Marcos, para que, usando toda a sua atenção,
memorize o enredo e os detalhes do capítulo.
Tenha certeza que, mais adiante, no mesmo dia,
em um segundo momento, poderá relembrar o
enredo do capítulo apenas usando a memória.
Deste modo, algo da palavra terá que ter sido
guardado dentro de nós. Os pássaros que voam ao
redor não poderão ter levado tudo o que foi
semeado. Uma boa parte da semente terá que ter
ficado conosco em nosso coração. Não se pode
ter deixado cair tudo na beira da estrada para os
pássaros levarem.

Em um segundo momento, procure relembrar


tudo, na sequência, sem usar o texto ou o áudio,
mas apenas a memória, refazendo o enredo como
se fosse um texto ou uma gravação interior, e
usando este depósito para meditar e tentar
entender o sentido do enredo. Depois desta
meditação, alguma verdade deve ficar guardada
conosco além do próprio texto bruto. Note que, se
Jesus ensinava em parábolas, era para que
fossemos obrigados a buscar um outro sentido
que não o sentido imediato da parábola. Jesus
procedia assim para que pudéssemos aprender
que, mesmo quando Ele não nos fala em
parábolas, a realidade é sempre mais profunda do
que as palavras. Portanto, a mesma coisa também
acontecia quando depois, em particular, Jesus
explicava as parábolas aos seus discípulos.
Quando conseguimos começar a passar das
palavras para a realidade, isto significa que a
palavra começou a dar suas raízes. Começamos a
vencer o segundo obstáculo do terreno pedregoso.

Em um terceiro momento, distinto dos


anteriores, vá para um lugar tranquilo, pode ser
um quarto mais reservado, uma capela ou uma
igreja, e esqueça-se de todos os seus pensamentos
e de todas as suas aflições. Não só os
pensamentos sobre mundo e os problemas que há
no mundo, mas também das suas próprias
aflições, dos seus próprios temores e das suas
próprias ansiedades, e tente recolher-se em seu
interior, em um recinto de silêncio. Durante
algum tempo estaremos mortos para o mundo e
seus problemas. Com isto estamos tentando
vencer o último obstáculo, que é o espinheiro. Em
seguida, no silêncio, fixe a sua atenção em um só
aspecto mais relevante do que havia meditado no
segundo momento. Use o foco da atenção na
palavra para aumentar o recolhimento já
alcançado e esquecer-se de tudo o mais. É neste
recolhimento que o Espirito Santo costuma nos
ensinar sobre a palavra com a sua luz. Este é o
terreno fértil de que falava Jesus. Deposite as
sementes, que haviam sido guardadas no primeiro
momento e polidas no segundo, no silêncio do
terreno fértil deste recinto interior. Este é o lugar
onde Jesus diz que a palavra frutifica trinta,
sessenta ou cem por um. É aí que começa o
Reino de Deus. Aguarde que neste silêncio a
semente da palavra possa, dia após dia, começar
a germinar. À medida em que isto venha a
acontecer, se o Espirito Santo mostrar algo mais
profundo que Ele queira lhe ensinar, não feche o
coração quando ouvir a sua voz. Ele quererá lhe
mostrar, principalmente, quem é Cristo.
Haja o que houver, não deixe de fazer esta
prática um só dia.
Jesus dizia que o Reino de Deus é “como um grão
de mostarda que, quando se semeia na terra, é a
menor de todas as sementes que há na terra; mas
depois que é semeado, cresce e torna-se maior que
todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de modo
que as aves do ceú podem vir pousar à sua sombra”
(Mc. 4, 30-32).

Em uma outra parábola, encontrada no


Evangelho de São Mateus, Jesus diz que o Reino
dos Céus é como uma rede que foi lançada ao
mar. Quando ela é puxada, os anjos escolhem e
separam os peixes (Mt 13, 47-50).

Os primeiros cristãos interpretaram esta


parábola dizendo que a rede são as Sagradas
Escrituras, o mar é o mundo e os peixes somos
nós. Só há chance de sermos escolhidos para o
Reino de Deus se formos primeiro enredados pela
palavra. É ali que começa a nossa salvação.

Sobre os três momentos de ler e ouvir, de


relembrar e meditar, e de semear no silêncio do
recinto interior, é importante enfatizar que não
devem ser momentos seguidos. O ouvir, por
exemplo, pode ser de manhã, o relembrar e
meditar ao meio dia, e o semear à tarde. Ou o
ouvir à noite, o relembrar ao acordar, e o semear
no fim da manhã. Ou o ouvir à tarde, o relembrar
à noite, e o semear logo ao acordar.

Podem-se experimentar várias alternativas


para que cada um veja qual a que melhor lhe
convém.

Mas é importante é que não sejam momentos


imediatamente consecutivos. É a memória que
deve ser a corda viva que irá interligar estes
momentos. E isto deve ser assim porque temos
que aprender a amar a Deus não apenas com a
inteligência e a vontade, mas também com toda a
memória. Os santos padres eram muito enfáticos
neste ponto.

A palavra ideal para começar é o capítulo 4 do


Evangelho de São Marcos. No dia seguinte
podemos repetir a prática com o mesmo capítulo
4 de Marcos.
Mas depois convém passar, um capítulo após o
outro, por todo o Novo Testamento. O Novo
Testamento contém aquele “tudo” que Jesus ouviu do
Pai, e que quis transmití-lo a nós, porque considerou-
nos dignos de sua amizade, e o fêz primeiro aos seus
apóstolos, e depois, através deles, a todos nós.

Os livros do Novo Testamento podem ser


utilizados na seguinte ordem.

Primeiramente o Evangelho de São Marcos,


seguido do de Lucas, de Mateus e de João.

Depois os Atos dos Apóstolos.

Depois as cartas de São Paulo na sua provável


ordem cronológica: I Tessalonicenses, II
Tessalonicences, I Coríntios, II Coríntios,
Gálatas, Romanos, Efésios, Filipenses,
Colossenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filêmon
e Hebreus.

Depois as cartas dos demais apóstolos: Tiago, I


Pedro, II Pedro, Judas, I João, II João e III João.

Finalmente, o Apocalipse.

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