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CRIA
O MUNDO
rsiwr.MAW.MiiOEftwt

autor de A dádiva

'!■ "A segunda obra-prima de Lewis Hyde."


Margaret Atwood
"Hyde é uma das estrelas da não ficção."
David Foster Wallace

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Trickster: trapaça, mito e arte
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Tradução de
Francisco R. S, Innocêncio

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Revisão de tradução de ^
Marina Vargas

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CIVILIZAÇÃO ItUASILElHA

Rio de Janeiro
2017
PuKi- ^y^e2008
Canongatc Books Ltd, l4
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® ^'tora Civililização Brasilciríi) 2.0^

NA PUBI.ICAÇAO Para Mathew,


H992j '%dè^u7'~--~-~^^ DE LlVl^^^;^ que entrou sorrateiramente em casa ao alvorecer.
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trapaça, mitt^ e
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"E no lar de sua mãe, Hermes (...)
meteu-se obliquamente pelo buraco da fechadura,
como a névoa em uma brisa de outono."
Sumário

Introdução 11

PARTE I - A ARMADILHA DA NATUREZA

1. Esquivando-se da armadilha do apetite 33


2. "Este é o meu método,^sÇoiote, não o seu' 63
3. A primeira mentira 85

INTERLÚDIO

A terra dos mortos 125

PARTE II - ACASO DE MÃO DUPLA

4. Um ataque de acidentes 139


5. O deusJâS-encruziihadas 157
6. O golpe de sorte 185
PARTE III -TRABALHO SUJO Introdução
7. Pudor sem voz e voz sem pudor
8. Matéria fora de lugar 223
253
"Cada geração ocupa-.5e em interpretar
o-trickstèr outra vez..."
ÍARTE.V-A ARMADILHA DA cultura
9. Hermes escapa da armadilha Paul Radin'

295 "Interpretamos sempre como seres transitórios."


327
Frank Kermode^
365

CONCLUSÃO
12. Profecia
Uma vez, durante o inverno, depois de terminar a universidade,
Ofertório
estava viajando de carona pelo norte de Winslow, no Arizona.
Pouco depois do pôr do sol, três índios navajos em um velho Qieyy
409 verdejUÊjderâm-Garona. Do motorista me lembro bem, pois tinha
453 os cabelos tão longos quanto os meus e havia perdido a parte
superior da orelha direita. Ele e os amigos trabalhavam em uma
construção perto da divisa com o Novo México e voltavam para
da Í 455 casa, em Tuba City, para passar o fim de semana. Duas ou três ve
bibliografia
477 zes, na luz desvanecente, deparamo-nos^^oniroiotes atravessando
Agradecimentos
índice 491 a estra.dajDu esgueirando-se entre os arbustos próximos. Começou,
então, uma discussão, em parte reverente, em parte zombeteira,
305 sobre esses animais e sua habilidade de enxergar no esçurg, o que
523
me levou em seguida a ouvir o que apenas mais tarde compreendi
527
ser uma história muito antiga.^
Há muito tempo, disse o motorista, o Coiote andava à toa
quando, ao chegar atremne'^ uma colina, viu um homem tirar
os oílíord:i5n5fbnrs'TlIíH^r^^^^ no alto„.de Lá per-
manecram^air^róliômem^^^^ "Olhos, voltemr Então
os olhos retornavam para a sua cabeça. Õ^Coiete^ueria muito
aprender esse truque e implorou repetidamente, até que o homem
o ensinou. "Mas tenha cuidado, Coiote", disse o homem. "Não

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INTRODUÇÃO
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

fora. Isso fazia com que o Coiote tivesse de se inclinar para um


faça isso mais de quatro vezes em um mesmo dia." "É claro que dos lados. Então ele seguiu seu caminho.
não. Por que eu faria isso,^", disse o Coiote.(Os outros índios no
carro riram, mas não o motorista.) O motorista por fim me deixou em um hotelzinho barato( Quartos
Quando^o homem partiu, o Coiote arrancou os olhos e com aquecimento!") na periferia de Tuba City. A despedida foi
lançou-os no^to docTíoupo! Então ele pôde enxergar a quilô brevej eu queria ter contado uma historia minha ou ter contribuído
metros dF"dtsfancia, por sobre as colinas mais baixas, ver para para a gasolina,embora na verdade estivessgxnm a 1ingua..LE^ada
onde seguia o curso do rio, distinguir as formas das coisas. e pouco dinheiro. Não consegui ver pé nem cabeça na história do
Quando já havia feito isso quatro vezes, pensou:^As regras Coiote e me perguntava nervosamente se não teria sido de alguma
daquele homem são feitas para a terra dele. Não creio que se maneira dirigida a mim. Era estranha e onírica. Não se parecia
ap\iqugm_aqui. Esta é a minha terra." Pela quinta vez, atirou com nada que eu tivesse lido na universidade. Ninguém permuta
OS olhos na árvore e pela quinta vez gritou: "Olhos, voltem!" partes do corpo nos clássicos-tg^^^s€endentaiistas.,que_eu lera no
Mas eles não voltaram. O pobre Coiote vagou aos tropeços pelo meu últmoanõ^por exemplo. É bem verdade que em Walden
bosque, chocando-se com as árvores e chorando. Não-sabia^ Henry David Thoreau gosta de se colocar acima de tudo, mas
que fazer, então deitou-se para dormir. Não havia se passado ele nunca tem problemas com os olhos; há aque^oisa dej^hos
muito tempo quando alguns camundongos se aproximaram e, translúcidos" em Ralph ^X^aldo Emerson, mas e um momento
pensando que o Coiote estivesse morto, começaram a tosquiar culminãntTddTnSiviaúãíis^^ não um problema a
seu pelo para fazer um ninho. Sentindo os camundongos em ser resolvido por animais prestativos. Anos mais tarde, comecei
ação, o Coiote deixou a boca aberta até que conseguiu apanhar a encontrar algum sentido na história do Coiote, mas na época
um deles pela cauda. ^ senti apenas que um mundo oculto havia se revelado de maneira
"Olhe para aquela árvore, irmão Camundongo , isse fugaze queessaj^velaçãoesma de algum modo ligada à situação
Coiote, falando pela lateral da boca. "Está vendo meus ol^s em que a Ití^ia me foi co^tSda -o carro deslocando-se veloz no
anoitecer inwfhãl,Vbreve intimidade de estranhos na estrada e
lá no alto?" "Sim", respondeu o ratinho. ^'Estão.-mc-Eadas-^ coiotes que mal se podiam ver diante dos faróis do carro.
causa do sol. Estão gotejando um pouco. Ha varias moscas Não consigo me recordar da cena sem sentir uma pequena onda
eles7'-ü camundongo se ofereceu para recuperar os olhoj de prazer, uma sensação crescente de possibilidade, dehorjzon-
o Coiote não confiava nele. "Dê-me um dos seus ,f'2 'ór- tes qu^se dissolvem àjnedi^q.u.a^.pl^£SSÍona.-a^^
concordou e o Coiote colocou a bolinha preta no f-^o da^oj^ Experimento essa sensação sempre que inicio uma viagem. Uma
bita ocular. Conseguia enxergar um pouco agor ^ ou duas vezes por ano,há décadas,faço uma viagem dejrem3tre
posicionar a cabeça em um ângulo bizarro par Boston e ^ medidaqüe ãquélê monte
L lug„. Aí...ou.se c.™Ule.ndo P''» del^Tcarga ganha velocidade, minha imaginação se agita.
..con„ou o BÚÍ.IO. -O
O Bufalo "q Coiote aceitou e espremeu-o para dentro Tantas coisas parecem possíveis no início de uma jornada, tantas
coisas parecem cheias de significado. As pequenas cidades passando
rca-S^tia;eVrda.Pafe do o.ho «cou projerada par.
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12
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO introdução

rapidamente, o tempo não gasto à frente, garças meditando no outras coisas, uma descrição^ uma invocação do tipo de ima-
capim pantanoso, um pombo mumific^o debalxq^êjim^.onte, ginaçãq-quç^desperta np^ício de uma jornada. Trata da figura
os automóveis a espera clíãnté^a^cancela metálica ("cruzamento/ do ískkster^ Coioté; Hermes, Mercúrio e outros -,e todos os
cruzamento"), a pequena decoração na qual algum pedreiro do trickstersTeifP^o pé na estrada". São ossenhnre.s dointermédio.
século XIX trabalhou no topo da parede de uma fábrica, agora Um trickster não viv^jaaxkculaiaDaÜiârtJaáQ.tnj^^ nos salões
abandonada, desaparecendo no horizonte. Çada-coisâ-jp-axece de justiça, nas tendas dos soldados, nas cabanas dos xamãs»
mais assertiva por sua rápida chegada e rápida partida. De nos monastérios^Passa por todos esses lugares quando há um
um trem em movimento não vejo a tessitura opaca do real, tenho momento de silêncio e alegra cada um deles com travessuras,
a visão mais extensa da lançadeira enquanto, repetidas vezes, os mas não é seu espírito guia^le é o espírito das passagens que
fios da urdidura se levantam rapidamente. Sempre pego a caneta dão p^ra fnra e. das encruzilhadas-nasulimites da .cidade (aque
e começo a escrever, como se a paisagem estivesse em um estado las onde um pequeno mercado floresce). É o espírito da estrada
de espírito frenético e volúvel e eu fosse designado para ser seu ao anoitecer, que corre de uma cidade-A.-QutFa~&-nãQL-pej:t£nce
a nenhuma delas. Há estranhos nessa estrada, e ladrões, e sob
afortunado escriba. Convenço-me de que bem ali, diante de mim,
está o perfeito enunciado sobre como as coisas são. os arbustos uma besta furtiva, cujo estômago não ouviu falar
das cartas de salvo-conduto. Os viajantes costumavam sinalizar
Isso é uma ilusão de viajante. O que escrevo nos trens nunca
essas estradas com marcos, cada um acrescentando pedra
resulta em muita coisa. Talvez Jack Kerouac,cheirando benzedrina.
pudesse escrever um esboço primeiro e único de uma sentada só,
à pilha ao passar. O nome Hermes um dia significou faquele
mas eu não. No último livro que escreveu,ítalo Calvino reflete so
do^monte de pedras",^ o que nos informa que apilha de pedras
bre Hermes e Mercúrio,os antigos e perspicazes deuses"da~Europa é mais do que uma demarcação na trilha — é um altar às forças
(aqueles com asas nosxalçados, ciqas^státuas air^a adornam,as que governam esses espaços de grandes incertezasTê á intelf-
esíaçõesude-trem),e confessa que sempre viu a velocidade^ com gência necessária pata superá-las. Os caron^eiros que^ghêgam
o anseio invejoso de um artesão mais metódico."Soi^m Saturno em segurança ao lar prestaram, em algum lugar
homenagem a Hermes.
que sonha em ser um Mercúrio, e tudo o que escrevcTriflete esses
dois ini^lsos^\ diz."^ Saturno é oyabalhador vagaroso, aquele que
consegue^montar uma coleção de d^oedas e escrever em todos os en
* A palavra trickster tornou-se universalmente aceita^jiajiteratura antropológica, para
velopes com uma caligrafia ciãidadojaTo que reescreve um parágrafo designar um tipo de herói cultural ou civilizador que se m^ilesta^ diversas ciiTturas,
onze vezes até conseguir o^ritmo certo. Saturno consegue concluir algumas das quais veremos neste livro. Em sentido literal, o vocábulo trickster pode ser
um livro de^gcfátrocentas páginas. Mas tende a ficar deprimido se traduzido como ^fiííirbj,"impostor" ou "malandro". No entanto,nenhuma dessas
acepções expressacSrrctírnente o caráter ambíguo e transgressor do herói trickster.
isso for a únicà coisar que ele fizer; ^ecisa^.db>iizs^^í5 mercurigk Segundo o antropólogo Renato da Silva Queiroz,"o termo trickster, adotado original
mente para indicar um restrito número de 'heróis trapaceiros' presentes no repertório
regulares que..flieiH:opprcionem alg^ aprazível com que trabalhar.
mítico de grupos indígenas norte-americanos,designa hoje, na literatura antropológica,
uma pluralidade de personagens semelhantes, de que se tem notícia em diferentes cul
Pouca coisa neste livro foi escrita em um trem portanto, mas ele turas. Trata-se a rigor, de tipos ímpares,cada qual com feições próprias, animados por
narrativas que os conduzem através de sinuosos caminhos" (Renato da Silva Queiroz,
está repleto de "Saturno,sonhando eih ser Mercúrio". É, entre "O herói-trapaceiro", Tempo Social, Revista de Sociologia da USP,v. 1,n° 1).(N. do T.)

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INTRODUÇÃO
A ASTÚCIA CR/A O MUNDO

diferenças (íon^nterne^e - certo e errado, sagrado e profano,


^ ^stigda^que o trickster^ercorre é uma via espiritual tanto limpo e sujo, macEõTfêmea,jovei^e vêllTo, vivuTTnorto -, mas
quanto uma via de fato. Ele é o iniciackrqu&xonseg^ue transitar em todos os casos o trickster cruza a linha e confunde as dis
entre terra, e entre os vivos e os mortos. Como tal, é
tinções. O trickster é o idiota criativo, portanto, o tolo sábio, o
algumas vezes ó mensageiro dos deuses e outras o condutor das bebê de cabelos grisalhos^o travesti, o que profere profanidades
almas, levando os mortos para o sufemundo ou abrindo a tumba sagradas. Quandoaconcepção de compòrtamento honrado de
para libertá-los quando precisam caminharTntre nós. Em certas alguém o deixa incapaz de agir, o trickster aparecerá para sugerir
ocasiões acontece de o caminho entre^g^^céíTe^^^rra não estar uma ação amoral, algo certo/errado que porá a vida novamente
abertQ,_motivo-pelo qual o trickster viaja não como mensageiro, ern marcha. O trickster é a corporificação mítica da ambigüidade
mas como ladrão, aquele que rouba dos deuses as boas coisas de e da ambivalência, da dubiedade e da duplicidade, da contradição
que os humanos precisam se quiserem sobreviver neste mundo. e do paradoxo.
O ardiloso Prometeu roubando o fogo é o mais célebre exemplo Que n trirksfpr é nm cruzador de fronteiras é o conceito-padrârij
ocidental, mas o resgate de um bem necessário do céu é um tema mas no decorrer da elaboração deste livro me dei conta de que isso
encontrado no niuridointeito. Ao longo da costa do Pacífico Norte, precisa ser modificado em um importante aspecto, pois há também
por exemplo, o(^rickster é um ladrão de água e da luz do casos em que o trickster "cria" uma fronteira^i:tULtraz à superfície
dia; nas ilhas do Japão,foi um trickster quem resgatou as artes da uma antes oculta. Em várias mitologias, por exemploTos
agricultura do cativeiro celestial.(É nas fortalezas bem-guardadas deuses viviam na terra até que^algum feito do trickster.fczLCOm que
que essas figuras são particularmente tricksters, pois têm de ser subissem aos céusJP trickster é, assim,j)£ejSLpQnsável42ek.grande
mestres na arte de enganar se pretendem prosseguir.)* distância entre o céu e aiXerra; qua^o se tnrna o men8age.jio_dos
Em resumo,o tricksrer é iim cruzador de fronffMr^t^ Todo gru deuses^ é como se iíosse recrutado para re??o)ver um prnhipma gnp
po tem suas delimitações, seu senso de dentro e fora,e o trickster ele mesmo criou. Em um caso como esse, a criação de uma fron-
está sempre lá, nos portões da cidade e da vida,certificando-se de teíFà e o seiTcru^mento estão relacionados um com o outro, e o
que haja comércio. Também freqüenta as fronteiras internas por melhor modo de descrever o trickster é dizer simplesmente que a
meio das quais os grupos articulam sua vida social. Estabelecemos fronteira é o local onde ele será encontrado - às vezes traçando
a linha, às vezes cruzando-a, às vezes apagando-a ou deslocando-a,
» Muitos, incluindo cu mesmo,consideram as conotações de trickster muito limitadas mas sempre ali, o dpns dos limiares em todas as KnR<i
para a abrangência das atividades atribuídas a esse personagem Ala„nc ""»'fadas Venho me referindo ao trickster como "ele" porque todas as
o nome(um escritor usa trickster-transformador-hcrói cultural « aue é figuras discutidas com regularidade são masculinas. Não faltam
tanto extenso). Outros aderem a nomes locais,reclamando que olrmo "
é uma invenção da antropologia do século XIX e não se aiusta bem a ^ trickster mulheres astuciosas neste mundo,é claro, ou mulheres mitológicas
Isso é verdadeiro em parte;termos nativos sem dúvida conferem i. ob/etos nativos.^ que se tornam lendárias por suas trapaças, mas poucas tem a ela
à complexidade sagrad^titytrickster. Mas sua ttúda nTn mais pleno
Hermes é chamado Grécia homérica n ' etnografos. borada carreira de ardis dos tricksters. Há várias razões pelas quais
bem por trickster ou "trapaceiro" ® O txidutji^T u 'j í traduzido muito
.
chamado P
de Aflakete,que significa • Q^í«^l«te,=4^ba, da^ África Ocidental,
"engandwc?^ Acidental, éé também
também isso pode ocorrer. A mais óbvia é que todos os tricksters canônicos
é chamado de Wakdjunkaga, que «''""^bagos atuam em mitologias patriarcais,e ao que parece os principais atores
antes da antropologia. nador . A trapaça apareceu muito

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INTRODUÇÃO
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

história d^criaçlo dos nativos norte-americanos,o Grande Espírito


do patriarcado, mesmo os marginais,(^ão masculinos. Sendo assim, fala ao CorotcSobre a chegada dos seres humanos:"A Nova Gente
podemos nos perguntar se não acharíamos tfl^ksters femininas ao nada^aberá quando chegar, nem como se vestir, nem como cantar,
examinar situações nas quais as mulheres têm uma substancial nem como atirar i^ma flecha. Você vai lhes mostrar como fazer todas
parcela de poder. Essa busca produz frutos, mas não muitos. Uma essas coisas. Abata o búfalo para eles e mostre-lhes como pescar
das únicas tricksters femininas bem-desenvolvidas na tradição dos salmão."''^ Na tradição grega, não^£enas_obi^^
nativos americanos, um £oiote fêmea,^ode ser encontrada entre mas inventa e divulga um método, umaPíec^^, ízzqt fogo, e
dois grupos de índios pueblos(os hopi e os tewa),ambos matriline- quando rouba o gado dos deuses ao mesmotempo presenteia a raça
ares e matrilocais. Esse Coiote fêrnea, porém,opera com um Coiote humana com os animais domésticos cuja carne o fogo vai cozer.
macho,mais tradicional,e a parte principal das histórias pertence a Todo um complexo de instituições culturais em torno de matar e
ele. Além disso, há muitas outras tribos matrilineares e matrilocais comer gado deriva do ladrão e mentiroso Hermes.
na América do Norte, e em todas elas o trickster é masculino.^^ As artes da caça e do preparo da carne - tais coisas pertencem
Outra linha de investigação pode começar ao se observar o ao princípio dos tempos, quando õTrickster se envolveu pela pri
curioso fato de que os tricksters são movidos pela luxúria, mas meira vez na formação deste mundo, hidas ele nao deixou a cena.
sua sexualidade hiperativa quase nunca resulta em descendentes,o O trickster como o heroí cultural esta sempre presente, seus atos
que implica que as histórias tratam de criatividade não procriativa, aparentemente antissociais continuam a manter o nosso mundo
portanto são atribuídas ao sexo que não dá à luz. Nessa mesma cheio de vida e a mnfprir-lhe a flexibilidade necessária para per-
linha, as conseqüências da sexualidade viajante e oportunista do severar. As especificidades do que isso significa emergirão nos
trickster são claramente mais sérias para as mulheres do que para '^capítulos por vir; menciono isso aqui para expandir a noção do
os homens (e, de fato, a luxúria não é uma das características do que este livro trata. Não quero apenas descrever a imaginaçao
Coiote fêmea).* que aparece no mito do trickster, quero ^iscutir um paradoxo que
Nos capítulos que se seguem, muito mais será acrescentado a o mito_£ropõe: de que as origens, a vitalidade e a durabilidade
essa descrição inicial de figuras tricksters - sob^como o apetite da^lniras-r-equerem que haja espaço para figuras cuja função é
determina-sua&andançasrpor exemplo^ sobre sua falta de vergonha e eJ^or e desorganí^r as_próprias coisas nas quais as culturas se
sua grande atração pela si^ira.^^ Mas esses temas por si sós não me ~cd3aseiajS;^EsT7efo'fornecer algum entendimento de como isso pode
interessam tanto quanto sua combinação com a derradeira coisa que se dar,de como a vida social pode depender de tratar personagens
deve ser dita para completar um retrato inicial: apesar do compor antissociais como parte do sagrado.
tamento disruptivo, os tricksters são regularmente saudados como
os criadores da cultura.Imagma-se que nao apenasl^íKarn roubado Qualquer discussão sobre essa velha mitologia logo levanta a ques
certos bens essenciais do céu e os tenham dado aos Immanos, mas tão sobre onde os tricksters surgem no mundo moderno.* Uma
que tenham ido ãlHn^^uda^ ajo^ de modo
a torril^rõnimTugar acolhedor para a vida humana. Em uma
* Quanto aos tricksters pré-modernos ou tradicionais,as notas a esta introdução contêm
uma"us"rddM. que aparecerão mais adiante neste livro."
* Aprofundo essas breves observações em um ap^dice que trata de gênero,no fim do livro.
\ 19

18

\ !

■..-■■-a/ v-
A astücía cr,a o mundo INTRODUÇÃO

primeira resposta é que eJes aparecem onrip o antropólogo l^ul Raàin afirma sobre o trickster dos nativos
narrativas ínvernaís dos nativos norte ^ fizeram: nas norte-amencanosí
rua chinês, nos festivais hindnc ^"^^^^canos, no teatro de
O trickster é ao mesmo tempo criador e destruidor, doador e
Tncksters africanos vajaraxn África Ocidental, negador, aquele que ludibria os outros e que é sempre ludibriado
escravos e am^ podem ser encontrados n ! ° (...) Não reconhece o bem nem o mal, embora seja responsável
-americanos, bines, no vodn hait an! ■ por ambos. Não tem valores morais ou sociais (...) entretanto, por
um adtvinho i^abâ em Oakland F- a meio de suas ações, todos os valores passam a existir.^"
'°f-í5h2!«servad^^^ Exí dezessete
Pode-se argumentar que o desaparecimento de uma figura aparen
textos tão tradictonats não há^rickste '"• -n- temente tão confusa marca um avanço na consciência espiritual
tnckste^ganha vida no porque o da raça humana, uma melhor afinação do jujga^nrn moral; mas
° Politeíi^õ. Se o oposto também pode ser defendido - que o desaparecimento da
antagonizado por uma nn*
.180 .,i.k.,„I. n'"wícçào"^cus
do mHr» j figura do trickster, ou a impensada confusão dele com o Diabo,
serve apenas para colocar as ambigüidades da vida em segundo pla
no. Podemos muito bem aspirar a que nossas ações não carreguem
tenhaiaâido^^tX^ti^ lE£Msa_Eiara Orna ambigüidade moral, mas fingir que é esse o caso, quando na
verdade não é, não conduz a uma maior clareza sobre o certo e
trickster. O Diabo p ™ P^^^^^Feragranr) 'Confundem o errado; é mais provável que leve a uma crueldade inconsciente
nossa experiência na mascarada pela retidão exagerada.^^
entrelaçados. RepreJ o mal estão' ^^^^PãrtTaíF Mas, para voltar à questão de onde os tricksters podem ser
Não se^SSíjí^^doxai categoria encontrados no mundo moderno, apresentei duas respostas até
o momento: são encontrados onde sempre estiveram; não são
encontrados, se por "moderno" nos referimos a um mundo no
''°hi«priasd;7/^<'°»a„osi92o ,. qual o politeísmo desapareceu. AmBãs~sãÕTê^ostas um tanto
co?o'5^na.a^. lirnitãdãsTcõntudõr^^O que é um deus.>", pergunta Ezra Pound,e
em seguida responde:"Um_deu_gi_u_m eterno estado de espírito.'^
Se o trickster gar^a-vida.em plena estrada, se corporiíica a am
"^""TOS do' «r ° Rad,írfe!Í!£° para o °"^''^«"ígba f "^«aos bigüidade, se "^uba o fogo" para inventar novas tecnologias, se
r-S"i:»"S£^ brinca com toda^as-frontéiras, tanto interna^juanto externas, e
assim por diante,então ainda deve estar entre nós, pois nada dfsso
deiapãrêceiTd^mundo. Suas funções, como os ossos de Osíris,
podem ter se dispersado, mas não foram destruídas. O problema é
em

20

21
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO INTRODUÇÃO

descobrir onde seu corpo recomposto pode voltar à vida, ou onde estavam uma raça e um modo de vida que tratavam como centrais
isso já pode ter acontecido. muitas coisas que para os aborígines pertenciam à periferia.
Na Am^a.do Norte, urngrQmyd^andida^gaprotagonista de Certamente o trickster estava por perto. Na língua cheyenne an
um mito^o trickster renascido é o vigarista, especialmente como terior ao contato com os colonizadores, a palavra para trickster
aparece naTiteratura ou em-ShnértãTna-Idna dos vigaristas reais ou "trap^^" também signihcava/4ior^^ (creio que é
não tem o alcance dos imaginários,e encontra fins tristes) Alguns porque trickster Fas Wzèr^õmem velho", e os velhos têm cabe
até argm]25ílíi£amqt^^ los brancos), uma coincidência lingüística que parecia não ser de
Nós nos divertimds quando ele chega à cidIdTamda que forma nenhuma acidental depois que os europeus chegaram.^'^ De
algumas pessoas tenham as contas bancárias esva^lo^ fato, enquanto pesquisava para este livro, descobri uma história de
ele personifica coisas a respeito dos Estados Unidos que ^ Coiote cheyenne^ registrada em 1899, que começa com "o homem
verdadeiras, mas não podem ser declaradas ah ^ brancojjidaya-poíuaf..." e prossegue contando o caso dos olhos, a
1 ate que ponto_ocapita^o permite
por exemplo, ^^^^famente
n... fcomo
u história que eu ouvira tantos anos antes no anoitecer do Arizona,
de nossos vizinhos ou até substituindo "homem branco" por "Coiote" do começo ao fim."
valores^xigenLxun"esmoj;ipn^q7"^^^^|Q^-~-^^ ^ l^o^sa de De repente, estava mais convencido do que nunca de que a história
criminosjo5.,ne^ssitam).23 trapaceiro^s
se dirigira a mim; era eu, afinal, quem jstaya_pedindo carona a
Se o vigarista é um dos pais
Estados Unidos, então, em vez de dizer ^^^^"hecidos dos esmo pelo campo^ agindo-de^cordo com minhas próprias regras
modernos, poderíamos argumentar tricksters gastando o combustível de outros fiomens. Estava recebendo um
porjodajiarte. Viajar para um luear ^ tncksjer.está_ pequeno conselho.
antigo não era apenas incomum era ° Os navajos têm bons motivos para contar histórias do Coiote.
um sintoma de distúrbio mental A. considerado No nível mais simples, as histórias são divertidas, fazem as pessoas
"Fulano perambulav. história começava com rirem e o tempo passar. Além disso, ensinam às pessoas cnmf^cp
diatiHTêntF^íí7i;;;~ «"tintes sabiam ime- comportar. O Coiote não deve fazer as coisas mais do que quatro
vl.i.. S. "« fcoie todo „„„d„ vezesfdeve têf humildade; deve ter o devido respeito pelo próprio
corpo. Parte da diversão deriva da rejeição autoindulgente desses
comandos, é claro, pois há um prazer indireto em vê-lo quebrar
as regras e um fantasiar potencialmente proveitoso, também, pois
<■'» opoitunidades e os ouvintes são convidados, ainda que apenas na imaginação, a
explorar o território que jaz além das restrições locais (o que o
Coiote vê do^âltcuia-ápyo^^)
De acordo com o folclorista Barre Toelken, que viveu entre os

~ ,„oodo'„, ^ta:ro:re:.;:r rr::;


Esse, na verdade foi n H- navajos durante muitos anos, há muitas outras camadas de sig
nificado por baixo desses. Mais importante, as histórias de Coiote
navajo são usadas em rituais de cura. São um tipo de remédio. O
22
23
INTRODUÇÃO
A ASTÚCÍA CRIA O MUNDO

sejam respeitadas e de ao mesmo tempo reconhecer que, em


"malabarismo com os olhos" não é apenas uma crítica ao ego- longo prazo, seu vigor dep_ejide-d£Lj^e essas fronteiras ^pjam
tismo do Coiote; sua narrativa também desempenha um papel regularmente perturbadas.
em qualquer ritual de cura destinado a sanar doenças dos olhos. A mãiõria dos viafantes, mentirosos, ladrões e personalidades
(Teria eu alguma "doença dos olhos" depois de quatro anos na desavergonhadas do século XX não é em absoluto um trickster,
universidade? Talvez fosse hora de dar um tempo nos livros?) então. Suas disrupções não são sutis ou elevadas a um nível alto
Como entretenimento, a história fomenta uma fantasia de diver o suficiente. O trickster não é um mentiroso e um ladrão banal.'^
tida desordem;como remédio, une as coisas noVamente depois que a Quando mente e rouba não é exatamente para escapar de alguma
desordem deixou uma ferida. De fato, contar a história sem esses coisa ou ficar rico, mas para perturbar as categorias estabelecidas
motivos morais ou medicinais vai contra ela de alguma forma e da verdade e da propriedade e, ao fa^lo, abrir caminho para
contra a comunidade (de modo que o contador seria susoeito de possíveis novos mundos. Quando PáEloPicasso Hjy "n-rtrír
tomar parte em reitiçaria).^^ ^ é uma^mentira que conta_a,X£Ldad£^, estamos mais próximos do
Tudo isso deixa claro que há limites à ^
□ . , lOeia de que o triclc<;fpr velho espírito do trickster. Picasso pretendia reformular e reanimar
esteja por todT^rte no o mundo em que nasceu. Ele levou este mundo a sério; depois o
temTiTo òcssionalmerne-cr-diãgnóstíco^aborÍEine ^
que demonstram tanto orgulho por terem r ' V
esse desfez; depois deu-lhe nova forma.
ção móvel, individualista_£,aqtiisitiva. Neste livro, em todo caso, é principalmente para as expressões
tenha noção dos-ífiST^mplexos dos contos"dn'f""'^ da arte que me volto na esperança de descobrir onde essa imagina
perceber que a mmoria dos ladrões e v U ção disruptiva sobrevive entre nós. Um punhado de artistas desem
carece de -umj^portãntè^^er^—^^^^-Mdqsjnpdernos penha papéis centrais na minha narrativa - Picasso é um deles, m^s
também Mareei Duçhamp, Jtihn-Cage.u^Jlen5ln$ã5ZM^ine-.
Se seus companheiros - todas as ou f na^nókster. Hong Kingston e muitos outros. JTambém dedico um capítulo ao
cujos domínios fixos ele pratica espirituais em escravo americano Frederick Douglass, cuj^arte-efa-a--oratória
mais entre nós, então ele não está m ' " "ão estão e cujo campo de ação era a política.) Meu argumento não é, no
pode setdeyida^e imaginado sem^" "^o entaiítoTde que qualquer uma dessas figuras seja um trickster. O
termo trickster ésuficientemente abstrato^ejá-est^distanciadode
corporificaçÕes particulares como iiermes e o Coi^. Indivíduos
reais são sempre mais complicados do que os arquétipos, e mais
complicados do que suas versões locais, também. Ralph Ellison

* As pessoas me sugerem com freqüência que os políticos desonestos são os tricksters


modernos, mas sou cético quanto a isso. Não apenas porque seus fi ns são geralmente
mundanos e mesquinhos demais, mas porque o trickster pertence à periferia, não ao
centro. Se o trickster eia-algiim-m4Mttciim.gãn^^ deixa de ser trickster. O político
Uaiçoeiro é um escroque, não um herói cultural.

24 25
INTRODUÇÃO
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Notas
certa vez redigiu uma resposta irritada à tentativa de um amigo
de invisível no padrão^ugerido p_elQS_tri^ks- 1. Radin, p. 168.
rprp cU-Á-fnira Ocidental e seus descendentes americanos, como o 2. Kermode, p. 165.
'^i^o Quinc^^"Arquétipos,como impostos",escreveu Ellison, 3. Há mais de uma dúzia de versões da história do atirador de olhos,
destinados a estar sempre
parecem— - conosco,
- e o mesmo vale para desde o Pacífico Norte até o nordeste das Woodlands e a América
a literatura, espera-s6; ma^^entre-aTíTbos é necessário que exista o do Sul. Ver Thompson, p. 299. Usei a versão cheyenne para refrescar
ser ;£■ humano vivendo em uma urdidura especifica de tempo, lugar minha memória; ver Kroeber, p. 168 (citado em Thompson, p. 63).
e
circunstância Arquétipos são atemporais, os romances são 4. ítalo Calvino, Six Memos for the Nèxí Millennium (Cambridge:
assombrados pelo tempo."^^ Essa é a voz do específico (o éctipo)
a
Harvard University Press, 1988), p. 52. [Edição brasileira: Seis
reclamando do genérico, a evidência sarapíntada dirigindo-se ao propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das
refinamento teórico. "Não mergulhe meu romance nessa tina de Letras, 1990.]
ácido arquetípico." 5. Ver Jacqueline Chittenden, "The Master of Animais", Hesperia XVI
Minha opinião, em todo caso, não é a de que os artistas sobre os (1947): 89-114, especialmente p. 94 e seguintes.
6. Ricketts, "The Structure and Religious Significance...".
quais escrevo sejam tricksters, mas de momentos em_que o 7. O etnólogo do século XIX Daniel Brimeft-Gqmumente recebe os
exercício ^tte e essÊJmto-eeincidem. Trabalho por justaposição, créditos por ter introduzido o.tefmo trickst^ em seu livro The
apondo as historias de trickster a casos específicos da imaginação Myths ofthe New World. O livro dè^Brintofiteve três edições. Em
em atividade, na esperança de que um ilumine o outro. Se o método nenhuma delas encontrei a palavra trickster, embora sua descrição
funciona, nao e por ter descoberto a verdadeira história por trás de do Manabozho algonquin se encaixe no padrão (Brinton, 1" ed.,
de..,m.„.d. ob,. d. .„e, J 1868, p. 162). Eu acredito que a introdução de Franz Boas, escrita
em 1898, para Traditions of the Thompson River Indians, de James
E...S ob,.,.y„. e«„ d. .c„do co™ „ „,cks„ pÓi; Teit, é onde o termo aparece pela primeira vez em antropologia
ele e o arquétipo que ataca todos os arquétinos f o (Boas, Introduction, p. 4).
mítico.que_atMaça deit_a^r terra o mitn é ■■--- 8. Hino a Hermes, verso 436.
de espírito" que desconfia de todlT^roiM 9. Pelton, pp. 80, 87.
-as para fora de seu reduto arrasf^ 10. Radin, p. 132.
embaixo, neste mundo assombrado peirtlmpa'"" 11. Ver Pelton, p. 78.
12. Ver Ballinger. Para mais detalhes, ver Apêndice sobre gênero.
13. Para outros ensaios nos quais se define o trickster, ver: Douglas Hiil;
Hynes, "Mapping the Charactehstics of Mythic Tricksters"; Turner,
"Myth and Symbol", pp. 580-81; e Suliivan et ai
Wait Disney em ° de animação pelo 14. Lopez, p. 3. A história é um mito de criação okanagon.
da adaptação para o»; recebeu o título de A canrtr. w f de 15. A lista de figuras que têm sido chamadas de trickster é vasta. Este
ser conhecido comn o íOQelho^uincas. (N. do T)Editora Abril ' ° Por causaa
passou livro concentra-se em um pequeno número de casos representativos.

26 27
A ASTÚCIA CRIA O MUNO
introdução

Da Europa,o nórdico Loki e o grego Hermes(com uma reverência Minha lista não deveria se encerra;:^m a observação de que
a Prometeu, o ladrao do fogo, e vanas reverências a Odisseul- dos considero Prometeu um cnckscer, pOrém com duas ressalvasfEm
mitos dos nativos norte-americanos,o Coiote^ Cnrv. •• ,i
suuiiidiivuMiuiLc-amencanos, oCoÍQte^rnr,r^ primeiro lugar, ele e o irmão Epimeteu se diferenciaram (eles são
winnebago (Wakdjunkaga); da
;bago(Wakdjunkaga); da índia, Krishna -ou r^^'^
índia, Krishmi u' opostos: Prometeu é "previdente" e Epimeteu, "pós-vidente"). Na
na
iid não
iidu sanscrítico,
idiibcriuco, que quando criança
crianca e adole "
manteiga
,„,g.. e d.
de corações; d.
da íÁfrica ol:
Ocidental ExuTl"'!'^?"'?
™ ■!= história da religião é freqüente que um personagem precoce, am
bivalente e indiferenciado se divida, ao longo do tempo, em duas
os quais vieram para os continentes americanos ®
negreiro); e finalmente o RÍ Macaco da Ch' ° figuras, uma boa e a outra má, uma sábia e a outra tola, uma alta
-americanos incluem o Coelfe-QüinFaVVo M e a outra baixa. Mas tricksters resistem a essas distinções. Separar
Outros são mencionados de passagem - ' ^^í.i^Snificante. as meadas é afastar-se dessa mitologia.
exemplo, e Mercúrio, o descendente roma°no h°"u Poderíamos tratar Prometeu como um trickster se sempre o
tarde se tornou Mercurius, na doutrina ai - ^ que mais uníssemos ao irmão, e na história central de Prometeu é o que
Uma lista resumida dos tricksters no acontece: juntos, os dois irmãos são responsáveis pelo bem e pelo
incluiria: para os algonquins do Nord^r^r?' "««^-americanos mal que se seguem ao roubo do fogo. Mas, novamente, são dois, e
que^s, Flint e Saplmg; paca as Woodlands^ esse momento é o único em que os vemos juntos. Prometeu é mais
ou Wiskajak; nas planícies, no planalto e ^ ^""^bozho comumente imaginado agindo só; seu irmão não tem papel, por
no Pacífico Norte, a M^arta e o Gaio-Aza s"' ° ^oiote; exemplo, na tragédia Prometeu acorrentado, de Ésquilo,
Thompson, p. 294). Orrickster Coelhoéei Corvo (ver O que me leva à segundaraz-ãq^ela qual considero Prometeu um
historias se misturam com-as-dd-CoÍL suas quase trickster: ele''sofre demaisl-^eus acorrenta-o a uma rocha e
mas estes últimos Darer^m . '-oeiho Quincas afm . encarrega uma águia de comer seu fígado por toda a eternidade. A
nca (ver o ensaio de A al n 4" "" Africa Í- história termina com o herói sofrendo uma dor inexorável. O trickster,
American Indians")
American IndianÍ) no "' Tales Am
Tales Z' T
c' em contraste, é o perfeito sobrevivente, sempre escorregadio, sempre
Ananse,naAfriii
Ananse,naAfricrOciH r '«"ksters bem
bem cll J '^e North capaz de inverter uma situação e se libertar com desenvoltura, sempre
disposto a abandonar um projeto ou uma postura do ego se o perigo
se torna muito grande. O Coelho Quincas nos cativa porque nunca
é apanhado. Tricksters algumas vezes sofrem, mas esse nunca é o
mente interminável Se mund fim da história; o fi m é leveza e velocidade. Prometeu é sério demais.
16. Herskovits, Journal of American Folklore, p. 455n; Frobenius I, p.
então haverá algum re %uras que Pratica-
o que equivaZZ"'' ^"e bíT"' 229; Ogundipe í, pp- 4, 177.
'^«ejam uma lista ainda ' f°dos os lup 17. Herskovits e Herskovits, Dahomean Narrative, p. 151; Pelton, p. 87.
^ ^"«ada tnckstTn " bZ , «s que 18. Radin, p. 112.
Mblan, 1987). Ver of Relwi "Z ««meçar é 19. Radin, p. 149; ver também Radin, pp. 111-12,147-51.
20. Radin, p. xxiii.
P"-- Hynes e Doty. '' ^y^hical Tr.ckster rÍ """«"agens 21. Sobre trickster e ambigüidade moral, ver Diamond.
organizado 22. Ezra Pound, Selected Prose 1909-1965 (Nova York: New Direc-
tions, 1973), p. 47.
28

29
A astúcia cria o mundo

23 S h o vigarista como herói norte-americano dissimulado, ver


24 So^re hindberg, mas também HaJttunen e Wadiíngton.
ch ^ nativos pensando nos europeus como tricksters: os
h' ^ j amando o Coiote de "homem branco" é um exemplo;
^ Ocidental, onde um contador de histórias uma
astúc" ^ Herskovits que Exu havia compartilhado sua
7rx com os brancos do que com os negros. Ver Herskovits,
25 i^roeber,p.
T'°f'''"'"'^''"'olklore,p.455n.
165.
Sob
ver Tnpiu contar histórias, cura e magia entre os navajos, PARTE I A armadilha da natureza
27 ^llison,
EIlison Shadow^^^^"'^^e^íhmtheNavajoCoyote
and Act, pp. 46,57. Tales".

30
1. Esquivando-se da armadilha do apetite

Os peixes miúdos
Abrem seus olhos negros
Na rede da Lei.

Bashô^

O ladrão de iscas

No mito do trickster, a inteligência criativa dpriva do apetite. Ele


começa com um ser cuja maio^r preocupaç^ é conseguir comida
e termina com o mesmo ser dotado de rhaior agilidarie^^l
perito êrh"^ncêherF3esmascarar ardis,/specialista em ocultar os
próprios rastros e em não se deixar ilud^ pelos recursos usados por
outros para camuflar os deles. O tri^ster com^a faminto, mas
logo se torna mestre no tipo de logro criativo que, de acord^com
■tté
uma longal:radição, ?urh'pfè-fè^isito dã"ârtèi Aristóteles escreveu
que Homero foi o primeiro "a ensinar ao restante, de nós a arte d.e_
fabricar mentiras da maneira correta".^ Homero faz as mentiras
parecerem tão reais que elas penetram no mundo e caminham
entre nós. Odisseu anda no meio de nós até os dias atuais, e ele
parece ter sido um autorVetrato de Homero, pois também é mestre
na arte de mentir, uma arte que aprendeu com o av^Autólico^
que por sua.y.ez^.-aprendeu com o pai, Hermes.^-E Hermes, em
uma antiga história da qual logo trataremos, inventou a mentira

r quando era uma criança faminta com um desejo ardente de carne.

33
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE

A ASTUCIA CRIA O MUNDO

De leste a oeste e de norte a sul, esse é o truque mais antigo


Mas estou tornando linear uma narrativa que dá voltas e revira que se conhece. Nenhum trickster jamais recebeu crédito por ter
voltas e pondo a carroça na frente dos bois. Devemos começar pelo inventado um descascadorjde„hatatas, um medidor de gás,!!!!!
princípio, com o trickster aprendendo a manter a barriga cheia. catecismo ou um diapasão, mas é ele quem inventa a armadilha
para pesca.

Histórias de tricksters, mesmo quando têm significados culturais


O Coiote andava à toa na margem de um grande rio quando sentiu
muito mais complicados, preservam um conjunto de imagens muita fome/^nstruíu uma armadilha cqm^aretas de álamo e
de dias quando o que importava, acima de tudo, era a caça. Em rafnÕTdesáí^eiro e colocou-a na água.<íSahnã^ gritou."Entre
determinado momento dos antigos contos nórdicos, o desordeiro
nesta armadilha." Logo um grande salmão apareceu e nadou para
Loki deixou os outros deuses tão enfurecidos que teve de fugir e dentro da armadilha e em seguida deixou-se cair pesadamente na
se esconder. Nas montanhas, construiu uma casa com portas em margem, onde o Coiote o matou com um porrete. "Encontrarei
todos os Iãdó's, para que pudesse vigiar os quatro horizontes. Para um bom lugar à sombra para assá-lo na grelha", pensou o Coiote.^
se distrair durante o dia, transformava-se em salmão, nadando
nas correntes montanhosas, saltando as quedas d'água. Sentado O trickster com freqüência depende de sua presa para ajudá-lo a
diante do fogo certa manhã, tentando imaginar como os outros acionar aT^TffiãdíTHas que":ria. Ne^ fragmento de uma narrativa
poderiam captura-lo, pega um fio de linho e o entrelaça em uma da trihõTíêz percéTdõltõrdeste de Idaho, a armadilha para pescar
malha, do modo como as re^s de pesca._tênusidofeita5 desde salmão feita pelo Coiote tira vantagem de forças que os próprios
então^B^ naquele momento, os outros se aproximam. L^ki peixes proporcionam. O salmão nada corrente acima para pro-
atira a rede no fogo, transforma-se em salmão e se afasta a nado. criar; o apetite sexual.ou-o-insqnto conferem-lhe uma trajetória
Mas os deuses encontram as cinzas da sua rede e, com base no
seu formato, deduzem o feitio da ferrampnfa r particular e o C^te aproveit£^sç^fek. Mesmo quando se usa um
^ r ]■ ^r ,
Desse modo, LokLÊ,j6balmente ferramenta que precisam fazer.
capturado anzol com isca, a fbme"da vEtlma é o fator decisivo. A minhoca fica
apenas ali; o pfi'xe apanlia..a..si mesmo. De forma semelhante,em
belo shnbdísní;
do mckstj, Loia imaginando a primeira dos
redetalentos
de pescaambíguos
e em se uma história dos crow das planícies ocidentais, o Coiote encurrala
guida sendo apanhado nela: fflém disso, o arSfící^
.m..nvençao ce„,„l do tòckster. Nas história!^
questl^
- a
é dois búfalos fazendo com que fujam em debandada contra o sol,
de forma que não consigam ver para onde estão indo, e depois
conduzindo-os para um precipício. A celeri^e_das grandes her-
bívorpséparteje.masjl^^^^ contra os-predadores; o
é ™„o..rioZrpsrtrxí Coiote (ou os nativos norte-americanos que abatiam os búfalos
dessa forma) tira vantagem dessa defesa instintiva direcionando
as bestas contra o sol e rumo a um precipício, de modq^que a ce
leridade acaba se voltando contra^l^. Na invenção de armadilhas,
uso »..LidXZtr„",T'""T-" o trickster é um perito no apetite e no instinto.^^
pôr utoa tsc. „„..a„| par.
35

34
IIHH -M

ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE


A astücia cria o mundo

O matuto do campo pode se tornar um cosmop<^ se aparecerem


E no entanto,como indica a história de Loki,o trickster também vigaristâgjjjj^ientes para instruído. —
ode ser enredado no próprio ardil. O trickster é ao mesmo tempo Algumas idéias recentes sobre a teoria da evolução repercutem
herói cultural e tolo,pred^or an^oso e presa estúpida. Fam"into, essas afirmativas. Em Evolution of the Brain and Intelli^ence
o trickster'algumas vezes elabora estratagemas para apanhar sua [Evolução do cérebro e da inteligência], Harry Jerison apresenta
refeição; faminto, às vezes perde a sagacidade por completo. Uma uma surpreendente tabela comparando a_mt_eügência relativa
história apache do Texas, na qual o Coelho aplica uma série de dos comedores de carne à dos herbívoros Que suãTpresa^^^
truques no Coiote, termina da seguinte maneira* Tomando a proporção entre o cérebro e o tamanho do'^í^~"como
O Coelho chega a uma plantação
um indicador grosseiro, Jerison conclui que, se compararmos
herbívoros e carnívoros em qualquer momento determinado da
, p„.„. ° .p,.. história, os predadpre^s,OT^re„dm_o„çéxeJ2na_hgeii:^
seguida a outra e por fim a cahe' mãos, em desenvolvido ^^quejs^pregas. Mas essa relação nunca é estáveT
encontrou. o Coiote o ha um leve aumento gradual da inteligência de ambos os lados. Se
"O g^^cê está fazendo aí desse ieím J" mapearmos a proporção corpo/cérebro em uma escala de 1 a 10,na
"O fa^SfiaSlFõqlSTaBfi^^ ' ° Coiote. era arcaica os herbív.oxQSjdngem 2 e os carnívoros,4;30 milhões
porque
-1 eu não quis com i ^ ^r-r^r^
comer melòpç t de
i-i melões ficou bravo de anos mais tarde, os herbívoros chegaram a 4, mas os carnívoros
disse que logo mais ia me ohr" prendeu aqui e subiram para 6; mais 30 milh^ de anos e os hprhfvgt^^^tingem
disse a ele que não faria isso ^ galinhas com ele. Bü 6, enquanto os carnívoro^j>-..8; finalmente, quando os herbívoros
«x f -, . ^ 'ioO.
Vçce e um tóla Firaro;
O ~—- no seu lugar ** ascendem a 9, os carnívoros alcançaram 10.,.O_caçador é sempre
o Coiote entâíUb^FSü^iC-ij^^ ligeiramente mais esperto, mas a caça está sempre se apmnõrãrírln
de goma. Quand^^ p Prendeu na armadilha
Na teor^ cvolucionista, a tensão entre predador e presa é um dos
^•^^iSiLaílMchêdodèl^^ ^ v'" o Coiote, grandes mecanismos qüê"leyãfam.ao^.desenyojyj óa intelf-
0 Coiote não se deixa gência, cada lado sucessiva e incessantemente reagindo ao outro.
em outras histórias, uma variedaTe^dr de goma;
Se esse mito contém uma história sobre o incremento progressivo
mos
boboastutos,
e roubamcomo
suaacarne
Raposa oCo lg ~ Sedimente
^ ^""ha -o fazempri-
de da inteligência, para onde,el&-con.duz.^ O que acontece depois que
'^ssim, o trickster é habilid os carnívoros atingemío 10 na esçalà'?
com armadilhas, mas não a Há uma grande quantidade de manifestações folclóricas sobre
™ sobre a criação incremenST"^™®^^^^ histó- coiotes no oeste americano. Segundo uma das histórias, nos tempos
antigos os criadores de ovelhas tentaram se livrar dos lobos e coio
PorRue ele mesmo já tes desovando carcaças de animais envenenadas com estricnina.
1 do que mais astúda a mr'r™ Os lobos, dizem^morreram^em ^ número, mas os coiotes
aprenderam a evitar essas armadilhas. Outra história conta que
*""hec. t,ír::r
o luias, assim como

37
36
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

O matuto do campo pode se tornar um cosmopolita se aparecerem


E no entanto,como indica a história de Loki,o trickster também vigaristas suficientes para instru(-lo. —-
pode ser enredado no próprio ardil. O trickster é ao mesmo tempo Algumas idéias recentes sobre a teoria da evolução repercutem
herói cultural e tolo, pred^r ardiloso e píesa estúpida. Faminto, essas afirmativas. Em Evolution of the Brain and Intelligence
o trickster algumas vezes elabora estrafagOTis^para apanhar sua [Evolução do cérebro e da inteligência], Harry Jerison apresenta
refeição; faminto, às vezes perde a sagacidade por completo. Uma uma surpreendente tabela comparando aJntejig^ncia relativa
história apache do Te.xas, na qual o Coelho aplica uma série de dos comedores de carne à dos herbívoros que são suas presas.
truques no Coiote, termina da seguinte maneira: Tomando a proporção entre o cérebro e o tamanho do corpoTomo
um indicador grosseiro, Jerison conclui que, se compararmos
O Coelhoch^^ P'^"tação de melões. No meio do campo herbívoros e carnívoros em qualquer momento determinado da
havia um boneco de soma rT"p/-\ciu i
história, os predadpre^sempre_,têmj9_£éx.ej2ra.Ugeiiam.çnt^maj^
.te» p,.so. P„„defo °^ ° •P- desenvolvido do que_as_prês.as- Mas essa relação nunca é estável;
«BPid.,„„„ e po,S„. ;' ■PP» ™ hálImTeve aumento gradual da inteligência de ambos os lados. Se
encontrou. ° Coiote o
mapearmos a proporção corpo/cérebro em uma escala de 1 a 10, na
•o P"8"««" o C»».. era arcaica os herbiv.oros.anngem 2 e os carnívoros^j^ 30 milhões
porque eu não quis clmemel «nteiro de melões ficou bravo de anos mais tarde, os herbívoros chegaram a 4, mas os carnívoros
disse que logo mais ia me nh Prendeu aqui e subiram para 6; mais 30 milhõesjJe anos e os herbívoros atingem
disse a ele que não faria isso ^ galinhas com ele. Eu 6, enquanto os carníyoro^^S; finalmente, quando os herbívoros
ascendem a 9, os carnívoros alcançaram lO^^O^caçador é sempre
O Coiote então ligeiramente mais esperto, mas a caça está sempre se aprimorindo.
goma.
gO"ia- Quando
'Quand^^ HHn
I "■■-'vf Jj
noni I H,-\o 1-
^ prendeu na
Iia armadilha
; Na teoria cvolucionista, a tensão entre predador e presa é um dos
inrar-or.
apareceu e viu o Coiote
Vv—
grandes mecanismos"fflT"!êyãraTn^o^.dgjem/oÍyirn da inteli
gência, cada lado sucessiva e incessantemente reagindo ao outro.
O Coiote não se deixa
em outras histórias, umT vl^^' armadilhas de gomai Se esse mito contém uma história sobre o incremento progressivo
astutos, como a Raposa o r í f"'' da inteligência, para onde.ele-condi^? O que acontece depois que
bobo e roubam sua carne ' ° - o fazem os carnívoros atingem.o 10 na escala?
A^«m, o trmkster é hahil-pt Há uma grande quantidade de manifestações folclóricas sobre
Poniodeeyiiá-TSr?^^ com armadilhas, mas não a coiotes no oeste americano. Segundo uma das histórias, nos tempos
antigos os criadores de ovelhas tentaram se livrar dos lobos e coio
re a criação increment-ii j hi^
'P ■".Plísência iCdíItSíP- tes desovando carcaças de animais envenenadas com estricnina.
Os lobos, dizem, jnorrerM^em grande ^mero, mas os coiotes
p»ca p,ecisn.e»« aprenderam a evitar essas armadilhas. Outra história conta que
exatai," '"P """ SSia «' """" 'ikttiNãda faz fren»
37
inteligências, assim con^^
36
esquivando-se da armadilha do apetite
A astúcia cria o mundo

quando os caçadores montam armadilíric.


doninha avermelhada com a ponta da cauda preta. Um contador
de historias zulu descreve esse animal como
ratos almjsçaradoM^s,raposas egambás^ -
raramemeTo^í^i^íi^èjj^^ mas coiotes apenas mais esperto do que todos os outros, pois sua astúcia é grande
as armadilhas; como um naturalista escrelt^ íhTi"'"
a conclusão de que os coiotes (..) t' escapar / "-"^^dilha
doninha] é montadaatéparaelaapanhar
va. imediatamente um f,.,.o rato que foi
e leva embora
outra maneira expTk^T7j3r55'Sp]-^—^ de humor. De que depositado ah para o gato: ela.Q£eg^p,mierm^uando o gato
de coió575Çir^tes pya desenterr' ^ predisposição chega, o rato ja foi comido pela doninha.'^
baixa.eWiai^u^ar sobre elasP -
Com essa imag^;^:;;;^,^^^; virá-las^ara Se um_caçador consegue aprisionar essa doninha traiçoeira el»
entre tricksters e armadilhas Ou H relacionamento te« ma.soxte. Uma espécie de maldiil^;^irfofl^;^~
^^^^^)-d£J}ÍQj^edador nem defeca sobre uma permanece na armadilha que apanhou qdoninha e essa influência
fragmento de uma história interfere para sempre no poder da arapuc^reU não servirá mais"
ajudar a nomear essa coisa* tiativos do Alasca vai nos O Coiote, de fato e no folclore, o Corvo e Thlókunyana na
mitologia -em cada u^esses casos, o trmkiíSldmãcSnsciênria
[O Corvo] chegou a um Jocal ^ da^sca e torna-se, portimo, muito mais dlTIãrardipníFirro
Coiote que evita umaçareaça envenenada com estricnina é,talvez
acampadas pescando (...) Fní- ^ ^rmitas pessoas estavam o caso mais simples; não é envenenado, mas tàmbénTiiãõcònseguè
«n ^espondp*^^^^^ ^ perguntou o que nada para comer. O Corvo e Thlókunyana são mais sagazes nesse
Então ele disse:
^^ observoLTatèntanT^^^""^^-^^ para servir de aspwto;^s£otric^ters ladrões d'^Va;"queléprrl^
•da carne e se1IimeHtam""aêsTa': Cadl um desses contos contém
partiu de um determinado loc T o Corvo em SI um relacionamento predqdor/pres^- o peixe e o pescador
por exemplo mas o ladrão de iWnlo entra diretamente nesse
.M' ■'r■ "• mas nad 1:.°"®"'''°"»""
^ rapidamente, U "lordidas'íi-
e puxaram jogo alimentar de opostos. Pamjitaouepizüáxia^ sem
se envplyer iij«ainente,i3ÊL£Qnm e caça. Dessa
^ Corvo acabo posição, o ladrão de iscas se torna uma espécie de crítico das re
gras usuais do jogo alimentare, assim, suhverte-as. de modo que
as armadilhas ^e encontra são iífot^Que oí^dh^dT^dor
poderia permanecer inahaláaõ-aêpmTde ler a crítica do Coiote?
o trickster se n ilação p' P®''^"quanto o que Em todas essas histórias, o trickster...deye^fazer mais do.que
Um motivr"^'°"® ® P®«e e assu ® « pescador, apenas^ahmentandeve.fazêjp
'^«"hec.do como?hpc "a ÁfrLr ' do trickstefnasce do apetite em dois sentidos; ela ao mesmo tempo
homem ^^^^Xana. ThlnU ^ trickster zuiu procura saciar a fome e subverter toda fome que não seja a sua Este
"°mes também se ^ ^
^^*6 a umá determinada 39

38
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO ESQUIVANDO-SE DA ^MADILHA DO APETITE

de fugir da^armadilha do apetite, e uma certa limitação desse


último é um tema importante. Na narrativa de criação okanagon, desejo, confere~brdem a"^Õ Corvo se torna voraz".'^
o Grande Espírito, apos dizer ao Coiote que ele deve mostrar a
Nova Gente como pescar o salmão,prossegue afirmando- "Tenho Aparentemente o mundo inteiro foi um dia coberto pelas trevas.
um importante trabalho para você f mó rv,.
sobre a terra. Você terá de matá-las caso m ^ Nas Ilhas da Rainha Carlota (hoje Haida Gwaii), havia uma cidade
Nova Gente. Quando você o fizer a Nov;, r devorarão a onde viviam os animais. Um chefe animal e a mulher moravam lá
Eles vãQ_reyerendáj££or matar os honrá-lo (•-) com o único fi lho, a quem amavam muito. O pai tentava proteger
e poj^ensmaf4kes-fi^í^^ — comedores de gente o filho de todos os perigos. Construiu para o menino uma cama
do Norte, o trickster interveiT^^^T^^^-^-"" América acima da sua, na parte dos fundos da grande casa. Banhava-o
alimentavam de humanos. "rotar os monstros que se regularmente e o garoto cresceu e se tornou um rápaz.
Quando já estava bem grande, ficou doente e, em pouco tempo,
O mitod^então, que há eranrl c morreu. Os pais choraram e choraram. O chefe animal convidou
"iündoejgrmtgtiga^^ J "Jiggg %as ^^^^e toda a tribo para ir à sua casa. Quando estavam reunidos, ordenou
que e e se alimentasse, mas para suní "ão apenas para
T Poente,esse encontro °«ros predadores. que o corpo do jovem fosse levado até eles. "Tirem os intestinos"
disse. Os empregados dispuseram o corpo do rapaz, removeram
diferenS.Tãotp^'''^"''"'-
dor e preL
'
° ~^ superando
Aqui o tricksterT T"
os intestinos, queimaram-nos nos fundos da casa e depositaram o
corpo sobre a cama que o pai havia construído para o filho. Sob
^^gras deles,iogaTo"'''"' de em'r'"'" o cad^ra do fi lho morto, o chefe e a mulher choravam todas"as"
por trás da astL' T «gras Talv manhãs, e a tribo chorava copTelêsT" "
Certa manfía7ahlis'db nascer do sol, quando a mulher do chefe
d® todo o jogo seja o desejo d' foi chorar sob o corpo do filho, olhou para cima e viu um jovem
ir e ainda ac ■ ou pelo men ^ Manter à parte
brilhante como o fogo, deitado onde o corpo do filho estivera.
«■-«rjnstíhais• Um trickster) inteiramente Gritou pelo marido, que subiu a escada e perguntou: "É você
meu filho amado? É você?" "Sim, sou eu", respondeu o jovem
cintilante, e o coração dos pais se encheu de alegria.
""—..os, Quando a tribo chegou para consolar o chefe e a mulher, fi
caram surpresos ao ver o rapaz luminescente. Ele lhes falou. "O
"Qüe deus exiV céu ficou muito aborrecido com o seu pranto constante, então
uma oferenH j me mandou para trazer conforto às suas mentes." Todos ficaram
talher p • da de cada homem, muito felizes porque o príncipe viveria entre eles novamente; os
' vezes ao dia?*'
pais o amaram mais do que nunca.
^ão são muitas as K ■ ^ Er^igma íorubá'®
apetite n. que O chefe tinha dois escravos domésticos - um homem miserável e
sua mulher. Os escravos chamavam-se Boca de Cada Lado. Todas

41
A ASTÜCIA CRIA O MUND ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE

as manhas levavam todo tipo de comida para dentro de casa. as provisões da casa do pai se acabaram. O príncipe, então, foi
Sempre que vo tavam de uma caçada, traztam um grande pedaço de casa em casa na aldeia e devorou todos os estoques de comida,
de carne de bale.a, anravam-no ao fogo e o comiam pois havia provado as cascas de ferida de Boca de Cada Lado.
O )QYejniummoso comja mMitoqHmso O. Hi. hogo as_^ervas de comida d^oda a tribo estavam quase es-
Mastigava pouco de gordura, mas não ^ i passavam. gota^. OgmiíS"chefe sentia~7dstè5ÍTVêFgõmír^causa do
fazêdo_cqmer_,_mas de recusava tudo e vivia"^"'a^maetentava filho. Reuniu a tribo e disse: "Mandarei me^filho embora antes
mulher do chefe ficava mhd't5~aTgljld;'dr7---r'^^ quc-£Í£xom,a toda_a_ nossa comida." A tribo concordoiTco^ssa
resse novamente. Um dia, quando o jovem ° decisão; o chefe chamou o filho e,sentando-se com ele nos fundos
uma caminhada, o chefe subiu a es d saiu para da casa, disse-lhe: "Meu querido filho, devo mandá-lo cruzar o
estava o cadáver de seu filho! Tod^^'"'^ ^ ° jovem. Lá oceano até o continente." Entregou ao rapaz uma pequena pedra
Algum tempo depois, enquant^'^' aquele novo filho, redonda, um manto de corvo e uma bexiga de leão-marinho curti
fora, os dois escravos domésticos h ° ^ ^ mulher estavam da cheia de frutas silvestres."Quando vestir este manto negro você
fatia de carne de baleia. Atirara^ ®8aram trazendo uma grande se transformará no Corvo e voará", disse-lhe o chefe."Quando se
0 jovem luminoso foi até ele. ^ no fogo e comeram, cansar de voar, deixe esta pedra redonda cair no mar e encontrará
tanta fome.^» Os escravos resDo^?""'°"^ um lugar para repousar. Quando chegar ao continente, disperse
comemos cascasje ferida das no os vários tipos de fruta silvestre pela terra; e ekpalhe as ovas de
do que comem."', "Vocês gostam salmão em todos os rios e córregos, e também as ovas de truta
para que nunca lhe falte comida enquanto viver no mundo." O
'"'ttiVvT'" °
opríncipe."N^o^r^ru queSoi respondeu filho vestiu o manto de corvo e voou para o leste.

1 «crava. "Só vou provar '^omo nós!"'gritoU Essa é a histQxàa.^A.Qogem do Corvo e de sua fnmp Nas passagens
p-ipe.
pe O escravocasca
uma pequena cortií^S^SY^
de fenía a" expSou
baleia e pôso seguintes desse ciclo, o Corvo cria o mundo como o conhecemos*
põe os peixes nos rios e espalha os frutos pela terra. Quando chega
í^pem mau! Q qne está flÍnÍ' ele:"Ah, a este mundo,descobre que não há luz, mas,lembrando-se de que
. O príncipe brilhante pe^! °P^^re príncipe?" havia luz no céu de onde veio, vai até lá e a rouba para que este
provou-o e cuspiu fom 1' mundo não fique na escuridão.
Depois voltou para a Para refletir sobre a história da fome do Corvo,note-se primeiro
Quando que o príncipe radiante no conto não é exatamente o filho do chefe
a mãe: "Mã»o chefe
„, e a mniu
mulher retornaram ^ . (o cadáver, afinal, permanece onde estava); ele é uma espécie de
verdade é ve'w T" """a fome." "oL ^""'^'P® disse para emissário do céu, enviado para ocupar o lugar do jovem como um
^artaparao D''denou que os es ' querido, isso é antídoto para a dor. A ilha onde os pais do jovem moram situa-se
entre o céu e a terra; o Corvõluajrdo céu pam"crmunao'5nde fica
para comer e .1 ® ^°™<=ado. Qs escravo, .t ' ®° terminou,
^ ele devorou tudo. clTj' "'ais e mais a~fribo-tios aniffiáis e depois migra daquele mundo para este, onde
"'u durante dias. Logo todas
43
42
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

como as crostas se formam e qual é a sua função. Cascas de ferida


o apetite não tem fim e tampouco têm fim as frutas e os peixes. Em indicam algum tipo de rude contato com o mundõ^Seguem-se aos
resumo,como em mmtps^ontos de trickster, o Corvo tsimshian é ferimentos e são a cura para eles. Qu"ando nos curamos, elas caem;
um intermediário, ui^mediador. Há três esferas de existência na desse modo, são um tipo de excremento corpóreo. São também
históriâ--e-oXlorvo-.u:an4ta entre elas. ^ ^
uma espécie de frutificação, pele produzindo pele a partir de si
Do ponto de vista da morad^nal do Corvo - este mundo de própria, um estranho fruto, para dizer a verdade, mas que é real
fome e comida -, o par que ama q filho está fadado ao fracasso mente comido nesse caso. '
na tentativa de mante-lo a salvo de todo ner,; Se partirmos da idéia cje "rude contato", talvez as crostas das
pessoas morrem;os animais morrein Deseia ^
uma perfeição imutável, um paraís^un, canelas na história, como as^QSÍd.ade-s'das mãos, representem o
talvez possamos agora relacionar três ' Perceber isso, trabalho, o esforço por meio do qual os humanos devem ganhar
o pai manda queimar os intestinos história: Por que ^^-a^tento^(trata-se de escravos coletores de comida, afinalTcüjas
desse chamam Boca de Cada Lad'n ' escravos canelas têm cascas de ferida^rFmr^'ÍdpÍ^"7n^^;^'.^^^ nessa
ferida da canela? * 3<5uelas cascas de mitologia a de que houve um tempo em que nós, humanos, não
Para começar,comer e morrer tínhamos de trabalhar para obter nossa comida {toda manhã havia
__ÇMassim como a sua^pTeslão-K^^^^'" "^""ho da mudan- uma tigela de mingau de bolotas de carvalho quente do lado de
en ao digamos que os intestinos seia'^ Perfeição imutável), fora da tenda), mas então apareceu o trickster, fez alguma besteira
ntutavel e que o nome deles se a R """ nosso mundo e agorajiós^recisiínõs trabalhar. Portanto^TalveT^TóRiefCã^s^Cas
p»"",,.„ «"■ C.d. Ud„, Os ,sc,..os de ferida das ^ríelãs""sÍK5íSgffle-^nix^ mundo da esca.s.sp? p
"PO d, co„,d, p.„ 2 "' T ° -iP Porpo due 4oirâb,alhe.
Como cicatrizes^estão relacionadas a feridas, elas também
2T ''»•-« » podem indicar que o CorvúLjiasceu da vnínpr^biijd-ide Mas
2, °" ° o P«l espeí " '°'®'°°P P°n«ePÍrãi. ou que ferimento está presente nessa narrativa? Lembremos que o
». kT "m.e.m
»■ bela '""P"p.„P «'„ ad i' r ,„,„d„
" «'ogo P»' l»o
„ ordena que pai espera proteger o filho de todas as ameaças e que suas espe
ranças são duas vezes destruídas, uma quando o rapaz morre e
am ? »?""«• & pudesae outra quando as cascas de ferida rrãnsTòrmam seu ejp^íto em
dospáj; •''' morre. En, IT' " ''' uma criatura vergoníÕsrmente faminta. Suspeito que a segunda
e não come°2 ser "ideal"''"!'' ^ « sacrifício derrotá'decòf ré dá reação do pai à primeira. Ele manda que seus
''""sss dlddl IT f" ""«'•■Io" ' ° empregados removessem os intestinos do rapaz e em seguida os
escravos - que são decerto modo como os intestinos - aparecem,
feridos e cheios de crostásTDXôrvõl^^oTm^ pelo
pai que escapou deste mundo; ele é, na verdade, uma bestãTáminta
próprio, o Pa ■ patas ele n "ativos, quando e insaciável que está nesse mun^ justam^nté"porqüT^íde^
"" » ZJ2ITforma
"""«'o as prt''""
mais 5g„S;»; oomendo
"«sras. Par, a si
in.erpre- óo pai o feriu, e ele provou o fruto dessa ferida.

' pnmeiro lembrar 45

44
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO esquivando-se da armadilha do apetite
xri'
.cascas de fenda_^o uma espéce de excremento, que comem constantemente. oWkster Co^ é uma mistura V
o v>

ta vezajHStona^^ueque ga„ha vida^quand^oocorpo paz luminoso somado ao apettòí^efS^oder conslHAnÁ.Li


hvra^e sei^despSí5r(Cr^orvo,nrverdade com
se Ij ncaEazdesaciarapr^^
a mi le a luz solar, os peixes e os frutos, mas cria-o "como ele é" um
podeirologia
e ser umaé farTTSHrepisódLos escatoiôg,cos;
palavra precisa remais
demais noisCs
aqui po,s ne
ha °-i c°™in^sidade,trabalho, limitação e morte.
lue o corpo se livra se torna comida
de que comida. Ta llL o r
Talvez
quando3despají2i^e^ransformam em ^^ Como disse no inicio, não há muitas históriai como essa na ouaI
os despojos de alguém lua"''® aprendemos algo sobre a gênese do apetite, mas as histórias de tri
de ferida que os escravos comem). Há ^ ^ Próprias cascas ster, na maioria das tradições, estão cheias de exemplos da fome
comer aqui que sueere
o
qup Pm ^^^^ularidadc no ato de
cm certo senríWr» .-j sses personagens e desuas conseqüências.Para citar um caso em
rai^pu que,todos os que cornem q n -^-Hêyota^é^ autodevo- uma historia de nativos norte-americanos (colville), o Coiote fez um
momento,comidos. Neste mundr^C""'^° novo par de chifres para o Velho Búfalo e,em sinal de gratidão o
dia alimento para outras bocas- «Í ° a será um ufalo oferece ao Coiote uma búfala mágica e um pequeno conselho:
diríamos hoje-da
imaginar interdependênda
que os intestinos remnvV) PC° ~ em
correto "Nun^mateestafê^^
vos, então nessa história, no "nrinr'"^ '^aparecem como os escra- um pêdacinho da gordura dela com a sua faca de pedra. Esfregue
cinzas na ferida. O corte vai sarar. Fazendo isso, você terá carne
orvo provando o fruto das nró *^°'®as", encontramos
f.rid.3 e, ,33e
o para sempre."

qui devemos observar que há I de fome sem fim- o Coiote prometeu que era isso o que ia fazer. Levou a búfala
com ele para além das montanhas. Sempre que estava com fome
Ça a nessa narrativa. Quando ^ '^'stória natural entre- cortava um pouco de gordura depois curava a ferida com cinzas'
como o Búfalo ensinara. Mas depois de algum tempo ele se can'
para casa. Mais tarde,corvos vir5 ^ carcaça
»™ animal na
sou da gordura. Queria provar ó tutano dos ossos e um pouco
es ejobos^^^g^ te coip- de fígado fresco. Nessa altura, ele já havia cruzado as planícies e
retornado à sua própria terra.
"O que o búfalo disse só vale na terra dele", disse o Coiote
capturar veados se deixassem as conseguiriam para si mesmo."Aqui o ctóe sou eu. As palavras do BúfaloTã^^
tranhas do animal morto^osse significam nada. ^jãnTais sàBêl^" °
são dabar Vl^"~
' 'í' eles"comès5em
'ugares,'as en- O Coiote levou a jovèm BúHk até a beira do riacho. «Você
parece ter as patas um pouco doloridas", disse. "Fique aqui des
canse e alimente-se por algum tempo." '
Um" prgaos doessac,
3 coisa aproxima apetite.21
-* • ^rnagem do apetite o Coiote a matou de súbito enquanto ela pastava Quando
tirou o couro dela, corvos e pegas apareceram. O Coiote tentou
"í i-Ss'r= ™»"
anui pmk ■ ^
'"o
NoV- , ,

torna voraz" ^
espantá-los, porém mais apareceram. E mais e mais, até que co-
meram toda a carne..."
a'xo, neste mundo de esr'" comem;
""•^gos e peixes, há mortais 47

46
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

sentindo o aroma da carne, chegam para roubá-la; o ânus peida


O Coiote acaba de mãos vazias e é claro que a búfala mágica esrá nelas, mas os animais não lhe dão atenção e comem até se fartar.
e não há nada que ele possa fazer.
morta e nao na naua 4u^. id^ci. O
w enredo
cnreao é
e típico:
típico: o
< trí- Quando o trickster acorda,descobre que a carne desapareceu e grita:
ckster recebe algo valioso com uma condição relativa ao
íi1<m vaiioço rr>m nmo nr\r\A
x-winjiydu iciaciva ao seu
^
seu uso
usu,
..

o tempo passa ee loeo


r»o nassa logo aa fome
fome oo leva
leva a violar essa condição.
a vinlar 1- Como
r- "Ai de mim! Ai de mim! Eles frustraram o meu apetite, aqueles
conseqüência, a plenitude das coisas diminui inexoravelmente. A tipos cobiçosos! E você também [diz ao ânus],seu objeto desprezível,
fom^^devora^oj^^ Parece^haver apenasjuas o que dizer do seu comportamento.' Eu não lhe disse para vigiar
opções: comida limitada ou apedte~timitadoí O Coiqfe,"incapaz esta fogueira? Você vai se lembrar disto! Como punição pelo seu
de escolher a sHgnHda, faz c8m que a primeira'ITréleja imposta. desleixo, vou queimar sua boca para que não consiga mais usá-la!"
Essa é uma trama comum na mitologia dos tricksters Em seguida, pegou um pedaçoae madeira em chamas e quei-
Mas essa mitologia parece ir sempre em duas direções ao mesmo mou a boca do ânus. Estava, obviamente,queimando a si mesmo
tempo,portanto às vezes encontramos igualmente o enredo oposto, e, enquanto ateava fogo, exclamou: "Ai! Ai! Isso é demais! Fiz
minha pele arder. Não é por coisas desse tipo que me chamam
um no qual a hm.tação do apetite é imposta ao tr,ckster. Tenho em de Trickster.'..."
Então ele se foi. Enquanto caminhava pela estrada,teve certeza
T17 ^-kster contado pelos índtos w.n- de que alguém devia ter passado por ali antes, pois estava no que
espéde1S «metem a uma parecia ser uma trilha. De fato,subitamente^opcni.'"'^"i um pHn
cLTo No início do ço de gordura que devia ter vindo de algum corpo."Alguém andou
enrolado em uma^ixa ^ grande pênis carregando um animal que matou", pensou. Então, apanhou um
seu corpo uma imaT intestinos envolvendo pedaço de gordura e comeu-o. Tinha um sabor delicioso. "Ora,
apetite." No decorrer'da^h'-°^"^''^ alguém dominado pelo ora, que delícia é comer isto!"
sãomenos
ou reduzidos
a umerearraniadn'^^°"^'
ser humano'" ^ órgãos bizarros
assemelhe mais
Enquanto prosseguia, porém, para sua grande surpresa, desco
briu que era uma parte de si próprio, um pedaço dos seus intestinos.
Depois de queimar o ânus, seus intestinos haviam se contraído e
gunspatLeoscdc^apamTs^rj'
as aves cozinham ma "!?a soneca enquanto
caído, pedaço por pedaço, e esses pedaços eram as coisas que ele
estava con^do."Ora,ora! É correto,de fato, que eu seja conhecido
como Oj^lo, Trickâlteí^--" ^nzão amarrou os intestinos de volta
no lugar. Ümgrãnde pedaço, porém,fora perdido.
quanto durmo. Se notar a nr a vigiÉncia para mim en-
Tio logo o .„ck,« peg, nZfo ál,""''"'" Dessa forma, os intestinos do trickster se tornaram normais.*
'^^S^mas pequenas raposas.
Quanto ao pênis, também tem um tamanho um pouco exagerado
* Esse cido de narrativas foi impresso nela n ■
mais 'mportantes obras sobre esses perL ageTrlTT '
* O trickster come o próprio intestino. Não faz isso intencionalmente, mas ainda assim
de PauJ Rad^íí956). Radm era um antron^r trata-se de um tipo de autoimolação. Quando Carl Jung disse que o trickster "é um
ColumbjaeriAl9l^iveuecrabalhoucomnrJ,''^'''^
anos e suas analises situam o mito do ttickstrr 'l""^ doutorado peladurante
Wisconsin Universidade
muitos precursor do salvador",^' tinha em mente essa questão da agonia inconsciente.
grande elegância.\ em seu debate cultural com
V
49

48
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

O trickster transforma os pedaços do pênis em legumes, verduras


no início da história. Ele tem problemas com o órgão sexual levan e grãos - batata, alcachofra, arroz, feiião"e assim por dinnrp
tando o cobertor como se fosse o pau de uma barraca/^ mas pode Em muitas narrativas, quando o trickster perde o intestino, ele
introduzi-lo como uma cobra por baixo d'água para copular com também se torna plantas que os homens podem comer. Isto é
a filha de um chefe que se banha no no. Porém,em uma das últi quando os órgãos do apetite do trickster são diminuídos, eles se
mas passagens do ciclo, ele ouve uma voz zombando do estranho transformam em alimentos, os objetos do apetite humano. Esses
aspecto do penis. Fica constrangido pela forma esquisita do seU alimentos são uma faca de dois gumes,gerando a fome ao mesmo""
corpo e começa a se reconfigurar,colocando o pênis e os testículos temgo <^e a~"satisfazem. Para saciar nossa vor^ídadeTtemõrquê
onde se localizam no corpo humano iseostest comer os órgãos da voracidade, mas voracicla3è"torhãT^^Tgggr.
com a.ozzomtee,,.,,„e,e rZ'"' Se os alimentos que nos nutrem são dádivar3o"tnck^r;i:'0'nTê^IÕs
animal foge para dentro do oco de iJma árvore
O seu pênis em busca dele.
"«i ,esquilo. Qoando
o trickster o
envi^ é tornar-se como o trickster, como aquele Corvo que nunca se
sacia e que devoraria todas as provisões de sua aldeia natal, caso
não fosse banido para este mundo.
noenumo atingir conse-
do Pêms e sondou novamenrÍ O ponto em comum aqui é que um trickster será menos domi
nado pela libido e pela fome se os órgãos do apetite tiverem
o fim do orifício. Então fo' ' incapaz de alcanç^^
enfíando-o ainda mais fund ° órgão progressivamente ^ sido reduzidos. Nesse caso, o trickster simplesmente sofre a
ainda restava, esvaziandr. ^^^^sso. Finalmente, tirou o perda; é gnp acontece .a_ele. Pode se beneficiar disso, mas
niais, embora aTnda L "'"" ^ ^ 'Produziu cada 0 benefício é acidental, não fruto de sua astúcia ou vontade.
do buraco. Por fim,s,mou-ZT «chegar ao fundo Mas talvez o acidente conduza à astúcia. Quer dizer, assim
podia, mas ainda era incan ri ^ enfiou o mais qo^ como o trickster pode adquirir a habilidade com armadilhas
com impaciência, e subiram^^ ^ alcançar o fundo. "Ora!", disse, por ter ficado preso em uma delas, o sofrimento pelo qual passa
«stavaapenasu^peten O pênis. Para seu horrof)
<l«'i«"oe]emec,„.o„,s„°";^^'"''°°'»'»-''C.r.mbz,qoegrti»'
em conseqüência dos apetites incontidos pode levar a alguma
consciência em relação a eles. Digo isso porque, como quer
)VOU lhe dar o troco-' que se imagine a ligação, hj histórias de trickster nas quais a
esquilo e o esmagou,e para u ^ Pedaços. Lá encontrou o 1imij^^ãô~d^"afvetáí6=éá4U^iS6ÍOH-al,.ÊJia,Jacicf^Fâr.~Na^vefHade,
todo roído. "Oh, céus de que" ''"''^"briu também o pênis já vimos um momento assim: na história do Corvo, quando or
Mas por que estou dizendo isso^f" ele me privou! dena que os intestinos do filho sejam queimados, o pai procura
humanos usufruírem."-!, dos pedaços coisas para os conscientemente provocar a mudança que o trickster winnebago
sofre por estupidez.
Se nos voltarmos para a tradição homérica grega, encontra
ocasionalmente apVrTOT"^"
™g"ia com dentes como „ "tranhNes"''"''"
trickster), dentata" (q"« remos um padrão semelhante, embora elaborado de maneira um
como uma imagem da conve i^onipjlante Hp de interpretar a tanto diferente. O Hino homérica a Hermes descreve os dias que
dentes não devoram o órgãoT^ i Poderíamos tomá-la
SI

50
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO


Em seguida retirou com prazer os nacos gotejantes de carne
dos espetos, espalhou-os sobre uma pedra e dividiu-os em doze
se seguiram ao i^^imento
^ de Hermes.* Ele é ^o filho- ilegítimo
—c porções distribuídas por lotes, fazendo-com que cada
nta chamada
de y.eus com umajiinfa chamada^MaiarNo"começõ~3a""h'TstÓfi^í
Mala. No começõ^a"htstófia^ exatamente igual ao outro.*
o hebê recém-nascido perambula para fora "3Í~caverna da^Üíãe, ■"EõglÕnoso Hermes ansiava por comer aquela carne sacrificial. O
esbarr^-g-m--uma.-taxtâiuga_e^ da carapj^^^n^ a primeira doce aroma o enfraqueceu, ainda que fosse um deus; e no entanto, por
Depois de tocar uma cançao sobre si própriò^íi^nstrumenro, mais que a boca salivasse, oj£Qra.ção orgulhoso não o deixava comer.
Hermes o põe de lado. "Sua mente vagava para outros assuntos. Mais tarde pegou a gordura e toda a carnrFâTmazehbü-ãs hãquêre
amplo celeiro, pendurando-as no alto como uma lembrança de seu
Pois Hermes ansiava por para rdS^^ roubo juvenil. Feito isso, reuniu gravetos secos é'dêixouque o fogo
gad^o rebanho do meio-írmãoTÃpolo^ —^ devorasse, inteiramente, os cascos das reses e também as cabeças.
^ííp™^"as do CoioTÍl^ssão "ansiava porcpm^^ E quando terminou, o deus jogou as sandálias no Alfeu de po
carne conduz, quer queira quer não a a U. i—7^"""^ F ços profundos. Extinguíuãs^rasas e espalKoiT^Teíu sobre as cinzas
a-lHnca declaração de desejo carnLo ^ u negFftsr-ETEntão a noite transcorreu sob a brilhante luz da lua.^'^
claro que esse trLster grego e
uma declaração feita mais tard^mT^^—^^ Eis aqui, portanto, um tri^^rJadiáa--de.cam&.qiighião^
apanha o irmãojadrãn «Você se finalmente {enrtrfíTsaifnfrciô grego usúal, a propósito, aqueles que conduziam
pastores solitários nos bosauí o rituaí^^iíTíráTh; Heri^s faz algo incomum).^^ A seguir tratarei
so de^eãgíêTsê denar^rT —âíl£252iauando ficar sequio-
■~-~7.SSiiSgfJ.ar com suasvacasT^^^TJ r— r" ,.33 mais detidamente da^azões pelas quais o "coração orgulhoso"
Po"anto{o7fen>,^.7r~^^^^ carneiros lanudo^.. dele prevalece, mas por enquanto é suficiente dizer qge Hermes
reprime um desejo xm favor de_^tro. Parece que a condição de
-^°™'^-^£2Í9Ve;ísk^emnd5^r^^
nos surpreenderemos se ele n U ^^^^^-'^^sgressora, nao Hermes não está clara no'começc(^"^^^?o: Ele é um deus olímpico
rouba. Mas o enredo dessa hL^— ^ ^ ou um bastardo saído da caverna dSmna mãè solteira? Cómò cie
detalhe significativo. A ce Particular difere em nm mesmó'HTzTmãrsn^í^^^í™^^^''^^f^^^^ crime:

conduz o gado roubado n.rí depois que Hermes "Estou disposto a fazer o que for necessário para que você e eu
nunca passemos fome. Você está errada em insistir que vivamos em
para fora do celeiro e as abate duas das vacas um lugar como este. Por que deveríamos ser os únicos deuses que
jamais aproveitam os frutos dos sacrifícios e das súplicas? É melhor
EI vivermos para sempre na companhia dos outros imortais - ricos,
petos dematóra. assou ladistri^por es- deslumbrantes, desfrutando de uma fartura de grãos - do que
^ barriga de sangue escuro - T e o lombo valioso e ficarmos para sempre sozinhos em uma caverna penumbrosa."^^
^positou os espetos sobre o solo--*
* Há uma pequena brincadeira aqui. Os deuses olímpicos são doze, e Hermes é um deles,
ou antes gostaria de ser, Nessa passagem ele se incluiu no sacrifício, de modo a fazer valer
seus direitos. Age como um político nomeando a si mesmo para um alto cargo, apoiando
"da um dedicado a um deus a nomeação e contando os votos - tudo isso em segredo.
""tido seja de grandr ' por óli. â "'"du e da O&seui. O
"« hmdül.vro, ^^^" t««-3rtn®esdesse)„HO apareci 53

52
mm
m<i0 '"ii M'7

ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO


diz claramente que Hermes inventou a lira e a flauta doce; diz que
O trickster no ciclo do Corvo desce do céu para o mundo "é responsável pelos espetõ?è~pêtà"fógueira*YnTas guarda silencio"
pesca e do trabalho,
traoaino, aqui encontramos um trickster aparentado quamo a quém inventoü"õ'sãcnríciorNaò^bstante, se colocamos
que deseja percorrer o mesmo caminho em sentido oposto._A^
_ t-x^rrT^rrí^r o mí»çmr\ <-omí«U^ .. An o Hino no contexto de outras narrativas de tricksters, a alegação
decidir iião comer a cgame^Jd^mes está se preparando para vive^ se torna mais plausível. NaJ^frica Ocidental, como veremos no
Çojner^^rne é ficar confinad^^^TdH^ capítulo 5, o trickster iorubáí^u è ''o pai do sacrifício", tendo
Hermes
t-iernic:. tem objetivosTfíaisj^^idosjas,
xx.ax^-axuiji.uusos. jSIão
NaoquerseruThmenino convelicrdo us scics liumaoes-a ofeierercarne aos deuses em
da caverita, Pteíer£sêr;üm^ip_ej^^^
nrpff^rí» Cí=>r iirr»
fome do i troca^"d^evelaçGg5"Tgl5ré" á vbhTa'frTtoyrénT"Ourro exemplo,
alimento dos deuses^^^5?^s-a^iatiTfeTe das súplicas", ^„ i— -—r ^

aqiíÇÍFliüe nos aiudará a vWTOrffiêçenf seu contexto, aparece


não_^c^e^.. Ao se recusar a coméda, é como se est.vesse na história do outro trickster grego^rometeu. Tanto Prometeu
sacrificando seus intestinos juntamente ^ no se c quanto Hermes concebem truques engtulujsos para mudar sua
■ '■ ^ TT- ^ com a carne OU oara usar
o imagmano do Hz«o, reneeandn ,,0 1- j , ou, pa relação com a carne, mas Hermes revela-se o mais hábil dos dois,
do orgulho do coração. Coíurralleis ^ ^ salivares em fdvo pois Prometeu é um tanto lento em compreender onde os perigos
como fe,o Co„^ do apetite de fato residem.
seu lugar. Ou melhor,o que traduzi Conforme contam os antigosyJÉi^eteu entram em
A palavragrega-emqIiistãõe-/Arr'--°"° "coração" o impoC- conflito perto do fim da Era de Ouro.''^ Prometeu havia criado as
póis os gregos sighTficaT-'-^'nte', pessoas a partir da argila; a julgar pelos eventos que se seguiram,
voz que fala, não no cérebro, ^ "iteligência no peito e na parece provável que ele pretendia auinentar a sorte deles no mun-
vemos a intehgência de um ladT!f°"" PO'"""'"' do. Nãr'Eranie-Quro^--QsJtemefísjíaõenvelheciam depressa nem
ao apetite e, arflTzlH X,v ™P°r "ma limitação morriam em sofrimento, mas ainda assim eram mortais, e talvez
3^ anzol oculto Prometeu desejasse para eles a imortalidade. Em todo caso, ele e
Zeus se envolveram em uma disputa que se concentrava em quais
O sacrifício da carne partes de um boi abatido os deuses comeriam e quais alimentariam
as bocasjhumanas. Prometeu divid^-boiem duas partefe,como
Zeus seria o primeiro a escolher,(^ as canrn^u: a melhor parte
abate o gado ele está (a carne comestível) tornou pouco^traentPcQbntido-^'xof^O''es--
Hino oferéçíevidêndSsufiíie-ntes o prÓpr.o tomagp do animal (os.gregos naoTomíam a barriga, as tripas);**^
________ essa afirmação. Ele de fato a parte SeriorTòTÇ^os não comestíveis),cobriu de gordura para
Jean-Picrre Vernant cm Tfc
* J"n-Pi„reVernan, r .. fazê-la parecer carneapêntosar"'""
ritual do s°ac^Tfício"°; sacrifíciol: "Ele instíti^' Ma&ZejiSunlPje
e (-) tido como o moZtt' "estabeleceu" do jogo de aparências prometeico. Mas ainda assim não escolheu
Greek Religion [Relieiãn ° °^^tecimento de ° deuses homéricosl: a "rnêlKor^^ pa^rte^ÓpBu p^^^ Hesíodo escreve:"Zeus,cuja
o ensaio de Bur^ o Walter Burkerc, etn
trickster fundador] )Par^ li trickLV f ^°sacrifício."^'(E veja-sC sabedoria é infindável, viu (...) a astúcia e em seu coração previu
The PoliUcspasse O pas"o,3
ofO j-lTs de "f™''''
H disco, Kah
Laurent IS-rifíc.o-sacnlégio:
° "P''"'"
IA poi.t.ca do Olimpor^,'''"'^°capítulo sobre Hermes em
"
55
P^BdeJennyStrauss Clay
54
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE
d.2 claramente qiie Herme^^tou a lira e a flauta doce;diz que
Se o trickster no ciclo do Corvo desce do céu para o mundo da
pesca e do trabalho, aqu. encontramos um trickster aparentado ' P^^Ponsavcl
quanTõ a quempelos e^^^^SrepèlrfagTCira^nf^
tnvenfõtTõ^/ído. sillHciS-
NlH-obstante,se colocamos
que deseja percorrer o mesmo caminho em sentido oposto. Ao o Hmo no contexto de outras narrativas de tricksters, a alegação
decidir gao comer a carne, Hermes está qp „ , '
no Olimpo. Comer Mrne é ficar"colífinT£^^^^^^^^^" se torna mais plausível. Na^A^Ocidental, como veremos no
Hermes tem objetivos ní3is-atnhiciosos ' capitão trickster ioruteirT-õpãralsãmf^^
da caverna, pretjereserum ^cipe rT"'j <1"srTer um mentno conyéhciarrm-srres-Wmios-a-o^
alimento dos deusês7"^^õs^7^^~j^^.^í,'^^'-^ote. Tem fome do aqu^ que nos ajGdara a ver TTermêpmís^"contexto, aparecj
não..d^rnejenwi. Ao se recusar ^^^ícIÕTe das stiplicas"' na historia do outro trickster grego,(Prometei Tanto Prometeu
sacrificando seus intestinos junta ^ ^ como se estivesse
o imaginário do Hino,reneeanW a carne ou, para usaf quanto Hermes concebem truques ei^ttJsos para mudar sua
do orgulho do coração. ® em favo^ relaçao com a carne, mas Hermes revela-se o mais hábil dos dois
pois Prometeu é um tanto lento em coiiíiSHÍTiirdTSÍl^ros
-P-o,.%„c^^iote,uuas uma vaca e a matom do apetite de fato residem.
A p kv"' °qaetS, ° impõe out'ro''eOi
o impõe-
Conforme contam os antigosí.T'rometeu entram em
conflito perto do fim da Era de Ouro.« Prometeu havia criado as
pessoas a partir da argila; a julgar pelos eventos que se seguiram
í sigmfioâT-Wte"'
iSãZâtn a inr»l;„=^ • n; parece provável que ele pretendia aumentar a sorte deles nr. mun-
vemos a intèli cérebro sileíi^. w'""^®''8ência no peito e 0^
ao apetite e 'adrão de"'carne impor
^'stória, portaot"'
uma limitaçã'' morriam em sofrimento, mas ainda assim eram mortais, e talvez
Prometeu desejasse para eles a imortalidade. Em todo caso 'ele e
~ na carne. Zeus se envolveram em uma disputa que se concentrava em quais
da carne partes de um boi abatido os deuses comeriam e quais alimentariam
^cas humanas.Prometeu dividiiy).hQj^m du"^ pãrtel"éTÔ"ííS
Zeus seria o primeiro a escolher^ge as cam^ufloq: a melhor oarte
ía rOfnz» ^ ^ IC
ttg coDrindd^^orym^Pc,
«bsK o gado ele tf\ " j ^
tcunago do animal (qs gregos não comiam _ijiS4.yTa'VOrB'^AC-
a barriga,^rtó^s)-«
a p«te inferior(os^|c^ão comestíveis),cobriu de gordura para
""""'"'"..Ç-Eledef.'" razê-Ia parecer carne apefíros^r""^'^
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Mas ainda assim,5;;scdheu
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t 1"^Para dl 1
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°f°'ympus(A política do'ile disó
d,oi-lZ-^Pce
L^^ordan, fonda,'° sacrifício.'"'(E „
Kahl^^ [Sacrifíco-sacr.lég"'
^er o primeiro caP-tP^,
"''•<'^Jenl c°^'P'tvlo sobre Hermes 55
^^frauss Clay.
54
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO esquivando-se da armadilha do apetite

males contra os mortais (...) Corn^amk. o simbolismo sugere, portanto,que aqueles que comem a carne
gerd^.." Então, Hesíodo acrescenta o do ventre têm de tomar a mesma coisa como seu quinhão do mundo.
aquíPTor isso as tribos humanas sobr interessa Quando Zeus deixa para os mortais aquela "melhor" parte pro-
OSSOS aos áeuses7mõrtãislõBrri7r~~--f-~-^^—^"^^^ meteica, eles forçosamente se tornam aquilo que comeram; sacos
gem dêTrümêtèinèT^~i5--~
d<= carne, barrigas que precisam ser enchidas repetidarnenrWrm,-
Levou a muito mais carnesimplêsirieiite para adiar uma morte inexorávd."'Prometeu
vemente mencionadas. Os devem ser bre' tenta ser um astuto codificador de imagens, mas Zeus é um leitor
mort^ assumiram diversas^jTM^*?!^!^^^ '*previu contr^ mais sagaz, e o truque da carne sai pela culatra.
e, dèpois-que Prometeu o roubo,, A o'15gS"deleS A história do sacrifício prometeico,então,não é uma narrativa
presente malieno d Pandora com na qual um trickster faminto sacrifica o apetite ou o intestino, mas
sim uma na qual, como resultado de uma_trapaça tola, os seres
as doen^TI ^ Surq^ig com ela clube so bnqían2s^£abgiiLaMn-Limaiomeã^^ cEmõsèiTT^ha,,
os humano?trvera"m ^ ^ "ut^ Assim como no conto do Corvo que comelTiíí^ií^Tdiltódrdas
Ihecet ràniT^-.^ ° e a cam * ^PP^s de PrometeU;
canelas, essa é uma história de origem do apetite, e também de
-^=wssa5555^^ queda. Depois de Prometeu,osJiumanQs.«em-Hft.a.cflil r\o própria
Se „ev .■ ^®"mientõ:
^**'*uiento.''- —
— fome, uma armadilha na qual rapidamente envelhecem e morrem.
a mane-
Prometeu não sofre esse destino humano,nem se torna um devora-
dor insaciável como o Corvo, mas Zeus acorrenta-o a um rochedo
^ban1S;S?^2!!!!Wa verdade^ Prometeu divide o
onde uma águia devora eternamente seu fígado - a cada noite ò
5«.MáS??a5as^
Prometeu deixa 7r7^> a. Não diference
diferente do
do
fígado voltada crescer, a cada dia a águia devora-7rTIA"^J^T^f..
pela fom^ _ ,. A seu mócio, poffãntcTPfoinêtêülõTre^uma fome irremitente
'''spõe com tant °^®rdadeirn ■ P®ra escapar a ela, assim como os humanos - e o Corvo. '
° os2eur;r
f^êos, cot;ee:f
ossos ren""'"te vê, é sigmficado, par^ Com essa trapaça prometeica epj^nente, vamos,agora voltar à
"urí^üenfos-e-j^J^^m a im saber que, para^ questão a respeito de o tricks^inventar ou não o sacrifício,gara
.. ° os gregos r "t'Por ex "essência imorre- respondê-la, é útil saber qug; na cultura da qual vêm Prometeu e
^'«eratura grega antf"""cadáver)? Hermes, o sacrifício é urrfü partilha ritual.*^ Isso equivãíe a dizer
'^avergonhado i::r,'
"^^^rtgonhado in^v "'^tômago
«tômago ren "'^'"^"'"ente,
^'"'"'"ente, em toda
toc que ãsl^ôrções que-íí^^"fnstril5IMâFm um sacrifício grego re
-bju£?p-"°_apetu; »,re6.
..biuS^-p^ío^eti. sôfrego. presentavam ai^;^rç6^" mais abstratas das partes envolvidas,
otf5s!'.»ií;7"'®¥ásí
."torjífera" =>.7,-35;; -
"'"ontmãd-a -r^;if; '!• ^«gnndo e.rZ-^;: a ^as funções polmcSrc-espirituais. Qs ossõsrpõFex^mpiAQ'-^,. J
e^disseu exdanr'-r^^ d'"nte. Eni deter' porção concreta dos deuses, mas"fãm"bém represHFImTTfvi^
quece '""mago? pf" Canino[ou^^^^a Odisséia, espiritual,.-a-irBô£talidade. Ou -"outro exemplo ^^^"õmjí^ídõtes
cozinhavam e comiam as vísceras de um animal sacrificado; era
"• »'»«.-nos a „i„ o «-
'''^'"ossasangústtas."^^ S7
56
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE
A ASTÜCIA CRIA O MUNDO

vorazes, tomados por intestinos;'òu então são seres cheios de


ao mesmo tempo o seu quinhão de fato e um símbolo do lugar apetite que se tornam um pouco líiais divinos por meio de alguma
que ocupavam
ocupo-» na comunidade. A maneira
-- — como os gregos divi'
ui»' diminuição dos órg|osjieapeti^As histórias que vimos têm uma
diam fracíivíí iim mi^na Hr*
traçava um mapa dojmodn comõ~ãc5nmnI3ade ^ .11^ ~ ^ Áo
hierarquia: nQs..n^s mais bãi^, o trickster é dominado pelo
diviálãTQÚando se via alguém c^ndo o^uaTrcTTfâsélro de apetite (o Coiotejem^de comer a búfala inteirah nos níveis mais
um boi, podia-se presumir que se tra\ava de um alto magistrado elevados, ele está livre do apetitè (o príncipe reluzente
da cidade. .^ ou tem um apetite por alimentos.,ínais etéreos (a fumaça do sacri-
Nesse sistema, quando as pessoas imagiriam-o'^imeiro sacri fíciol. Além disso, o trickster^^percoTj^e o caminho entre o alto e"©
fício, também estão imaginando uma^partilha orig]>]al. E se oS baixo (decaindo rumo à fome no fiiíi das histórias do Corvo e de
primórdios correspondem a uma alteração ni partilha,* como Prometeu; ascendendo e contendo a fome no Hino a Hermes e
parece ser o caso tanto de Hermes quanto de Prometeu, então o na abertura da história do Corvo). Nesse percurso entre o alto
sacrjftcto tera provavelmente stdo inventado como uma trLpaça ou e o baixo também encontramos o sacrifício. Em sua forma mais
simples, parece não intencional (o pêais devorado, os inresrinnc
rdermn g^^^f^^ente imphca o menos 1 perdidos das muitas histórias do Cojo^); outras vezes, há uma
exemnio ° parcela do mais poderoso (nesse caso, por ação consciente (os intestinos queimados na história do Corvo, o
o tr^n Seja qual for otgulNS^estriti^ de Hermes). |
porta r essa trapaça, ele não inventa o sacrifíciOj Agora-vtrfTêmos à idéia de qpe^á inteligência do trickster nasce da
de prest] igitação por
criameio
a trapaça da redistribuição,
do qual algum
o quarto traseiro truque
de um boi tensão entre predadores e presas. Por trás das trapaças do trickster
3ca a no prato de um escravo. No caso de Prometeu, o tiro sai está o desejo de comer e não ser comido, de satisfazer o apetite
pela culatra (os humanos ficam com a carne, mas seu quinhão na sem ser seu objeto. Se o trickster é inicialmente dominado pelo
vida se torna mais amargo); no caso de Hermes,o truque funciona apetite, e se essa compulsão o conduz a armadilhas,então podemos
(ele recusa a carne e seu quinhão melhora). Em ambos os casos, interpretar o sacrifício intencional como uma tentativa de alterar
porem, ha uma mudança na partilha e emerge uma forma de o apetite -comer sem a compulsão ou as suas conseqüências. No
caso dos gregosT^alimentos ii los com as rcJfças divinas
sacrifício que celebra tanto o truque quanto sua conseqüência, ^ satisfazem um apetite livre da costumeira e odiosa bagagem; a
nova ordem das coisas.
velhice, a doença e a morte. Essas histórias imaginam uma liber-
Podemos agora dar uma forma geral a esse material sobre o t^ação definitiva do jogo alimentar na qual, além da fronteira das
T? ^ ligá-la à discussão anterior sobre as ar- relações predador/presa,comensais imortais se banqueteiam com
esnécie ri freqüência concebido como um^ alimentos celestiais e nunca se tornam eles mesmos uma refeição
duas ma ^ ffrcksterT^são
maneiras: aminfe . Adeuses
imagemquepode ser interpretada
se tornaram de
comedores para os.Y^me^ji.Êarao tempo.
Como venho sugerindo, nessas narrativasj^ sacrifício há um an
zol oculto na porção de carne: a prõpria mortalidale. Prometeu não
^ T o vê, e a Era de Ouro termina com os humanos fisgados pela carne,
pnmordios, mas nesse ca^o haver uma mudança se estamos falando doS
coisas não precisam vir primeiro ^ tempo mítico, e no tempo mítico as primeiras
59

<:r
ESQUIVANDO-SE DA ARMADILHA DO APETITE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
2. Aristóteles, Poética, 1460.
carnes o eviti Ele muda o inventar 3. Autólico; Odyssey, XIX: 432.
um rito. sacrihcial no qual renuncia Iram^T^ ^ 4. Young, pp. 84-85.
, ^ ^iuiiciaa_carne^ mais importante,
desejo por carne, bigurativamente nT^TTT— , —ttT
ao 5. Lopez, p. 73.
do apitltéTií^sacrifica o órgão desse 6. Ricketts,"The Structure and Religious Significance...*', p. 139.
Portanto,embora o Hino não contenha u ^ estômago- 7. Ricketts,"The Structure and Religious Significance...", p. 142.
aa esse
esse respeito,creta^ueecor «o d 8. Ver Norman O. Brown, Hermes the Thief, pp. 21-23, e Detienne,
do- saci4f-kii
' -- upiiLl i d - a arte
inventa Cunning Intelligence, pp. 27-28. "O mais antigo uso conhecido"
'
^" 'iissõTquarXseabs^^ contra"crãpêtItè~ aparece em um dos símiles sem preparação de Homero:"como um
sacrificando o apetite mas rc,v,u - ^ não apenas pescador sobre uma rocha saliente (...) lança sua isca [dólos] como
uma cilada para os pequeninos peixes, assim também..." {Odisséia
Coiotesjueewam cJrcacas fi^aado "atento à isca'> XII: 252).
a fome e não
tornar^ 9. Lopez, p. 73.
P que têm barri^al^, essa 10. Lopez, pp. 127-28.
11. Lopez, p. 113.
tUÉni^cha_qu££OÍotc^ 12. Jerison, p. 313.
r ^^^®°"^Õrâr^ado
frntos "'^"^^^tnesmo Hermes
dos sacrifícios e das sun^' go^^tdeixa
doS 13. Leydet, p. 65; ver também Leydet, pp. 95, 108 e segs., 126-27,147;
e dp<5 CM,..!- íurae gozai e Snyder, p. 68.
as comida mesmSlíI^ ! (Sao comidas mais etéreas, 14. Swanton, p. 8; ver também Thompson, p. 306.
agma aa inexistência
'®agma inevio.í ■ defome e'! Hermes
'^"^ndo "im.„- °céu,
- ele, não 15. Caliaway, p. 3.
16. Caliaway, p. 4 e 4n.
&cr
dura e "
'T'embremos
° con r ® '^"tbém um
17. Lopez, p. 3.
18. Walker, Nigerian Folk Tales, p. 4,
do sac;;""° Herme roT --er a gor- 19. Recontado de uma versão de Boas, "Tsimshian Mythology", pp.
C:;t^ conltir a fumaça 58-60.

'"Plicas» é um?"' dos 4?" fs 20. Nelson, p. 279.


ttickster que adevora a gordura
elevadae dede dize sacrifíciosoutrO
«^ontramos e daS 21. Ricketts,"The Structure and Religious Significance...", p. 163.
22. Lopez, p. 41.
23. Radin, p. 142.
Notas 24. Radin, p. 59.
25. Radin, p. 16.
26. Radin, pp. 17-18.
b Ewehaicaiégejgi^ 27. Jung in Radin, p. 203.
28. Radin, pp. 18-19.
Uu,"*f' 29. Radin, pp. 38-39.

61

60
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

30. Ver, por exemplo, Lopez, pp. 53 e segs.


31» Ver, por exemplo, Lopez, p. 89.
32. Hino a Hermes^ versos 62-64.
33. Hino a Hermes, versos 286-88.
34. Hino a Hermes, versos 120-41. 2. "Este é o meu método, Coiote, não o seu
35. Em Homo Necans, Walter Burkert oferece uma descrição de "um
sacnfico grego comum"(pp. 3-7, 12). Ele diz, entre outras coisas,
que os orgãos internos do animai sacrificado "são rap.damente as
sados no fogo do altar e cojmdosjmedmtamente. Assim, o círculo O anfitrião desajeitado

r tamb-'"rCamp,TfieAtfienm„Agoru,p.
Ver também "'''"ml' 97. comunal..." Dizer simplesmente mie O tricj^r vivfi OS CStrada não for^ce
36. Hino a Hermes, versos 166-72. todas as nuances envolvidas no350, pois a impressão que com
37. Onians, pp. 13-14.
38. Vernant in Detienne, Cuisine ofSacrifice, p. 165 frTquênõã^emTffeliní^rickster viaja por aí aleatoriamente,
e as estradas o levam de um lugar a outro. Eis como o Rei Macaco
40. O
40 Otto, The Homeric Gods,"y^"s,
p. 122 p. 268. 'Chinês é descrito em dado momento:"Um dia viajava para o leste;
41. Burkert, Greek Religion, p 157 ' ^ no dia seguinte caminhava para o oeste(—)Não tinha itmerãrio
definido."' Em momentos de transição nas historias dos ilãfivõi
nSFíê^mericanos tipicamente se lê: "Enquanto continuava as
Também a Sd^Le ^7-105, 112-15. caminhadas a esmo..."' Talvez o essencial quando se afirma que
pp. 144-45;NormanO.BrZn HeZÍlh o trickster tem o pé na estrada seja dizer que seu^JMto
acorrentado, deÉsquilm P" "Prometeu contexto?, para usar a expressão maravilhosa de George W.S.
43. Detienne, Cunrtínf^^iiig^ ^ Trow: Estar em uma determinada-vila-ou cidade e encontrar-se
44. Hesíodo, Teogonia, versosSSO e sees. ÍVer H.c- .4 rr situado; estar na estrada .e estar entre situaçSes e, portanto, nao
Hymns and Homerica, p. 19.) ' Homertc orientado das maneiras comoiFsitSãções pos orientam.
45. Detienne, Cuisine ofSacrifice, pp. 40-41 Em todo caso, o tricksteris^zil^PffélPOLOompleto, e e
46. Odisséia, Vil: 216-21. ^ntâo que percebiííí^IíSíirSiais clareza o destino aleatório do seu
47. Detienne, Cuisine ofSacrifice, pp. 60-61. ^tajar. Em uma história largamente conhecida na América do
48. Detienne, Cuisine of Sacrifice, pp. 10, 13 99
^ L AA .1 1 JM
,,
ver também ^orte, o Coiote enfia a cabeça no crânio vazio de um alce e nao
Nagy, Greek Mythology and Poetics, pp. 269-75 Consegue mais tifa-là.
u ...r nnrnue não sabia
o Coiote começou a chorar ^ o que fazer. Não^
enxergava para onde estava ■
crânio, mas foi inútil. Fmalment ,

63

62
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO "ESTE É o MEU MÉTODO, COIOTE, NÃO O SEU'

A pata do Coiote esbarrou em alguma coisa."Quem é você.^"> "Árvore, que tipo de árvore é você? Conte-me algo a seu

ele perguntou. respeito!"


"Sçu uma cerejèí^." E a árvore respondeu; "Que tipo de árvore você acha que eu
'*Ótimô".'D^o estar perto do rio." sou? Smi um carvalho. Sou o carvalho bifurcado que se erguia
o Coiote prosseguiu de modo vagaroso,tateando à frente cora no meio do^^valeT*"^""
a pata. Se pudesse encontrar o rio, saberia que direção tomar.
Esbarrou em algo novamente. "Quem é você?" Como na história anterior, o trickster e.sbarrg em nma ^fv^re
"Sou um álajnp", respondeu a árvore. a outra até achar a água e conseguir se lavar.
"Devo estar muito perto do rio agora"
Novamente sentiu alguma co.sa com a pata."Quem é você?" As árvores e os peixes nessas histórias têm o que eu gostaria
Sou um salgueiro.** ^
"Eu tinha razão! Devo^bem ao lado do rio » de chamar de "conheCirnento das^es^^s". São o oposto^o
errante sem destino. Ord?írarnnsemcr^açjQ.x^p espécie
O °'°flÍS2£i£â™I^ava com muito cuidado m...nntinu3- e o^c^ada pelas suas necessidades. Algumas espécies de peixes
va a esWar nas coislrFhíihíí?h7r"r^ o^inaicoatm nadam perto 3a praia, outras não; há árvores,como o salgueiro,
correnteza o levou para ® que crescem apenas à beira d'água e outras que podem crescer a
distâncias cada vez maiores da água. E^as histórias, portanto,
A ideiada caminhada às cegas SP parecem propositadamente opor o caminhar aleatório^dòTri-
Nele,o trickster havia cometido um
sociais, terminando nnr • ^ ferozmente antis- ckster a seres'~qué^sãò^Tu3o3ne aleatórios, que se situam no
durante um acesso de fom^ O pÍ espaço por sua natureza.
Agora vamos comparar essas narrativas a uma das mais famosas
todo /usar- e pU u * crianças caça o trickster poi^
Onde ooso/se]evanta,ofim
sn/'/ ^ escapar apenas correndo para "o lug^^
histórias dos nativos norte-americanos,"O anfítrião de^jpjradr."^
ond trickster, faminto como sempre, visita sem aviso um
^ {...; sabia onde ficava a praia, nadou por aísem destino."^ Logo, ^ amigo am^al - urso, martim-pescador, rato-almiscarado ou
com alguns-peb^. Várias espécies são mencionadas, ^ hareeja'-'que caça e prepara a comida à sua maneira especial. Eis
u tima as quais ,o bacalhapS- consegue orientá-lo, e ele vai daf nm episódio da versão okanagon (na qual, a propósito, a toupeira
P a. Então, novàmente preambula sem destino pelo mundo"-'' ^ mulher do coiote):
ogo encontra uma planta que lhe diz: "Aquele que me maS-
igar cagara!" O.Er^terjláQ.^cuKd!.ta, conle a planta e acaba Certa vez, não havia comida na tenda do Coiote. Ele foi visitar
seu irmão Martim-Pescador.
árvorp°p"^-'^
ntaoramanho
e e cai da monte
árvorede
e éfezes quepela
cegado temprópria
de subir em uma
imundície- "Martim-Pescador, o que você tem para comer?", perguntou
o Coiote. "Estou com muita fome."
Começou a correr. Nada conseguia ver. Enquanto corria,chocou- O Martim-Pescador não gostou desse modo rude de falar,
mas mandou chamar o filho e disse-lhe para apanhar três ramos
pou Hrv
pou a arvore e perguntou: Entendeu a mão,apal de salgueiro.

65

64
A ASTÚCIA CRtA O MUNDQ
"ESTE É o MEU MÉTODO, COIOTE, NÃO O SEU"

Duas coisas-as histórias que acabei de citar sobre o "conhecimen-


0_garotoMartim-Pescadorsaiu mlh»
Martim-Pescia^fi^cTu-Õ^Qj^^'^ o c "«S ramos c retornou, o das especies" eofamdeaü£áiIH^asj^^ do^rídesfer^;,
epois tirou-os, torceu-os
torceu-os para
para cima
cim e ^ ^ enrijecessem-
enrijecesscii.. .^r -lèvãrfwH^itterpretar"O
Voou para oo alto
voou para alto da
da tenda
tenda ee de
de 1'T'^ no cinto,
no cinto. Pistoria de um animal que.ji|o tem,gomo diz o Martim-Por.,d-ir
:ravés de um buraco no gelo Ou
através Qu ° rio, ^e ^ntão
então mergulhou uxiimé^'.O Martim-Pescadoi?; a Narceja, o Furão,o Urso o
preso a cada um dos espetos de ..T ^^^via um peixe Kato-Aimiscarado -cada um desses animais tem um modo de ser
OCoiotecomeuatésuabatSr
pouco de peixe para a mulher e os . guardou um no mundoiMda_i™tem^^
tem seu método para caçar e, ad menos nessas histórias, nunca
«
„Nao cre.o que'reumevá",
visitar ama
dlse"Í ' estavam
° Ccore.em casa- passa fome, porque tem esse méfodo. O Çoiote, por outro lado
Oh, voce
voce tem
tem de
de ir c,
ir P. ^"""-Pescador parecenâo terjnétod^^ conhedmento. à
oT_mI: -fóçáo, você V t''5^ não~umIhíbnídadesignifica'
EWalta tem várias conseqüências.'Por'um"lado, próork
I. Pescador n5r\ . .
como Cádjung expressou, que o trickster é "mais,estúpido do que
'í- o faria.
Quando o garotr^.''"'" buscar"!r-"'''"'°'' " -Siantmais".» Os animais pelo menos têm um conhecimento inato.
fogueira at^n^u
até a„ ^oiote voltou
voltou^ o np" ? de salgueiro-
sal^ -ií21EodQde^eíi5Sel4ÍEEHSrOsi^ que não d^v"^
cmtorD^pTr^ £ - -Í^2!2£2"
-^-S2!2£2" °s
os grave
gravetos na comer daquela planta que faz com(que defeguèm montanhas; os
animais sabem em que direção fica o no;.qs anim'ais sabem obter
alimento^específicos. O trickster nada sabe e põFissõ acaba fa-
ilher.
W» !"• i""» mmtp,çarnbaleandq a esmo e coberto pela própria,itnundície;*
Ida
Parece uma posição perigosa pára um animai,estar despido de
;^v
^^"E::-:;'S:>raorio.^ instintos. Que utilidade poderia haver em ter perdido uma aptidão
inata paja estar no niühdô?"Qüe" vãntTgFmTõnceBívd''^õd
residir em um moddcie ser"desprovido de método.'
A primeira resposta pode ser que qualquer um que não tenha
^ ][oitoupeixes
à vida0^°''°^<3uatro ° «p«°^com
apareceu Um método próprio, mas seja um imitador competente,terá, no fim
das contas, um repertório de métodos. Se podemos imitar a aranha
-j., é o meu métoa ^oiote ^
os our "2o o seu- a- c fazer uma teia,imitar o castor e fazer lima barragèm7ímiTár"õ bíco
ffa garça é7ázêr"u'ffla~ianç%.imitap'0>íatu'e-vestn'Ttin'â''áfmadura
imitar o ieopardo e usar uma camuflagem,imitar a erva venenosa

Martím' E também,é preciso dizer, terrivelmente dependente de outros,embora "dependente"


^'^üpeira cin» "Poder n; lilfez não seja a palavra correta: o trickster pode ser um anfitrião atrapalhado por ser
para nãí?
parasita tão esperto.
peixes.' """e-a é forte.
67
V i'*"

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO ESTE É O MEU MÉTODO, COIOTE, NÃO


O SEU"

e produzir a^as químicas, imitar a raposa


vento, emãçf nos torrTamos caçadores rn ' ® aP saborjao CÍodo^'' Tenquanto
método , esta ameaçado, '^'^'^coiotes
^'-^"'-gpnsionadonose,,
comem poodles com
embófsrê^"0 anfitrião desajeitado» E pedigree em Beverly Hills.
imitac^r, em outros momentos a im'r °"'^^^-L^''acasse como P°«anto, essa é uma vantagem que um ser, especialmente um
TaivezliIõTeriInrmétõdõ~própr-^^^° predador, pode ter se não estiver aprisionado a um método próprio
criatura pode se adaptar a um muT constitui sua-forçà.'
signifique que a mas tiver em vez disso a habilidade de copiar vários métodos'
Espécies adaptadas a um hábitat n 'Constante mudança- odemos inverter o conceito, tãmb-enE-èTfib3fifíiFimiiç5iili^
se esse hábitat se modificar. Uma d. em risco quais um ser que é caçado possa se beneficiar de não ter método
—queo primeiro de°fato exih
^oiote ^^r observadores
Coiote o tri- dejao ter conheciniento instintivo. Para dar infctoT^iiTikEnè
comportamento e é "ma era ' r"
pensamento, deixem-me começar-com uma pergunta: Os animais
mundo inconstante '°''revivente c mentem? . ,

huiBano^-gPfir- " ™'ado,d roCp" .'^P.Plomado em um , ^ A resposta é sim e não; Ani^is claramept^se comunicam uns
Um naturalista escrey com os outros,J^ássaros piam nas árvores, B'ãImãi"Hilitànrnõs
caract^nstica deTo^w ^■^"{'^'^'^otetiia cn '°"®° tempo- oceanos, o veado dá o seu grito rouco áé alerta ou - para citar o
^amoso exemplo - as abelhas dançai/para informar à colmeía
° tO'Pte neoFêjd^--7~f ™.¥..precisam repertório ^ ^i^.lAtânçkj^stão^^ due
Maioria dos casos esses animai^tãadizendo a "verdade" quando
teações e é, porta ®"%nta a mnd " ' " A sobreviver (—) se comunicam entre si. AWíí^ não mentem.^Sua "linguagem" é
J'^aaçoijtê^
^®®«nte novo"• "c'Uomo se para
' p tlesenvolve"^
ilustr ^Ptendendo noyas
"tij.o de vida in- pelo instinto; nínhTima-atcIha"entra'ná"co^^
outro naturalista, flores estãò-à;o£Ste"^uãn3olãa7HlTdã^e'^fIi^''a
® ^ndos, como fazem ®"'"tais muit^"^ Veado não dá O alarme quando não há motivo para se alarmar
°s lobos, Mas h ■ sociais; caçavam ^ Dito isso, pòrém, não^é difícil .pensar em complicações e exce-
gt^ndesagra hoje Çoes. Certamente há animais enganadores. Há insetos que evoluí
ram para se parecerem com grayetos-ou folhas secas; há flores que
' SÍ 'ào vistos (.. ) A perse- *^cvoram inseto^atraindo-os com falsos chamarizes. Nos pântanos
Louisiana, p/e-s^encoiSar^^TTOtável tartaruga aligator, que
taçador7 °nde u/o consegue pegaC ^^^íl£2íno^uma/.s,uas características, uma "ííngua chamariz", u
sbançjon ^ pj-g ^'"^nde Iq^q . que ele sobre- ^Pendice esbranc uiçado e curto, assemelhado a uma minhoca, que
°-dÊixa°" Pôde ab° «terminado: estende para fon da boca até que algum peixe desavisado venha
'--^a^tamente v f "''°"ar a orp estava disposto
Iispüs>t«-' a
- 'nspecionádo pai a ver se é cpmestíveJ. Q gambá acuado se finge de
?oa'''^"tiocoi
-■•' vaitdo coi„ ""'--^áve,3'°'^g^nizaçãoem
----^-"^^avel ao ■ -
«m alcateias ^e>rto, assim con|o opangolim. No caso clássico, quando a raposa
tnuito u''' ^^tçarem " ^^eaça a tetraz mãe, esta finge estar com uma das"asas quebradas
■--- ^^,,1 P^ra'ãssim afast/ a raposa do ninho. Pequenos pássaros^^e se
t-1/-
"tétodo, nãoVtJe \r
\\ i

68 69
"1

A ASTÚCIA rpiA «
*=R"A O MUNOO
'ESTE É O MEU MÉTODO. COIOTE, NÃO O SEU'
alimentam
quando há no chãopor
perigo emperto, masnl, ■ •
floresta, P'° alerta alguém tenta capturá-lo em uma armadilha com a intenção de
falso alerta para ter o solo só para si! leva-lo para casa como jantar, o trickster pode contar com uma
Portantp,,animais às vezes ^ serie de logros e escapar. A Abelha e o Urso,que não sabem contar
qual esses animaí«;'m uma mentira, são mais fíce^s de capturar do que a Tetraz, com
mentem:ambos sãoTo T^^ ^^^amente su^MÍcaJQTOtaJa^ MrsTTêgãz-g-mãísTactrde captui^ar-do
que O-^jcksrer^cujas fabulações nunca têm fim.
onãoseué reí^ôrio
capaz O
Na verdade,temos agora de acrescentar a mentira criativa à nos
nunclfiíiJêtei-Tma sa lista de invenções do trickster. Tricksters descobrem fabuJacões
Tisá reitri^lT^-® ^ ® "lorta e-OLgâmbá
quer predador que J "^^ntirosos , simuIações.e.embust^SraTátverrida-e0nsmiçSQldÊj3iun^^
^niagmários. É o trickster quem inventa a inverdade gratuita. No
parte d-este artifício norte da Califórnia, no mito de origem maidu,há vários criadores
vulnerável Qualquer an^"! ^ pn- que colaboram para construir o mundo, incluindo um benéfico
as armadilha i ' P''^ Criador da Terra e um Coiote atrapalhado. Em dado momento
!~ySí9)..ardis qng ® ° apetite, há o Coiote ri exatamente quando o Criador da Terra havia alertado
uindo aqueles com^ "métodos ' Armadilhas do P^ra não o fazer. Chamado a se explicar, o Coiote diz; "Ah,não
2 H
vant ^
'""O"S-nr,2"™'
Um an'
*211""°' ™'ÍÍB®
A-velocid /'^"S^^aria os ini-
nao fui eu quem riu." Essa foi a primeira mentira.^^

Perd am ani T '^°^Ado de umf


tific ^ se depar "ão o tem '"stintivo leva "^'"âços distintivos da mente trickster
llSS"-
-^-íefüa. 2£1:t °"p2£2"í
"^="«alado n ^ ®'^be'«fflL»
,CQmo iden-. P£ixe nada por seu vasto mundo aquoso e subitamente o
não te"n"^°L uma ' ^madilha da^ tfickster bloqueiaTplíssagatTrorn^iTdTrsmTnt^ vàsror
^enos fluido. Se"õ*^n^or ele próprio cheio de astúcia, se tiver
^ esperteza para escapar da armadilha, vai fazê-lo encontrando
brecha na trama de vime, um.rasgão na red^e, uma abertura
o inimigo não notou. De qualquer forma,temos uma primei-
f semi marca da sagacidade do trickster: ele bloqueia uma passagem
'^adilÍiÍÍendeme'ÍÍ!--^« Para capturar a presa ou encontra um buraco para se esquivar do
inimigo. Pode^aproveitar uma oportunidade ou obstruí-la^.
^i§o "oportunidade" põr^e"hà umTyêlHTrigação^tre essa
'^' ^ cio RÍ'"^ema P^Via que todos P^^avra^ passagem livre que uma armadilha de pesca bloqueia.
°^'niiscara(iÍ'^°J^artim.i"^'®' "^as pelo
'^"Ada^i^^^cador.enado
ne Origins ofEuropean Thought[As origens do pensamen-
^üropeuj, Ríchard Oniãns explica que "oportunidade" vem
Além disso, se
A ASTÚCIA cria o mundo "ESTE É O MEU MÉTODO. COIOTEi NÃO O SEU"

do latim p.or^ que é uma "entrada" nn «r^ j então o Corvo se transforma em uma folha de cedro; a garota o
algo^A palavra está associada a nn. - através^^de. engok-uqttaíidcLbe^a água. Fica grávida e daTluz uma criança*.
portão, (portal. A família fica maravilhaHãftTanham o menino regularmente e logo
abertura ou.o„que ele cresce o suficiente para engatinhar pela cabana. Mas chora
a atravessá-la. Parase-ípíesema
os romanosdiante'
um H ofe^ecejtma
abçrtura, pronto o tempq^todo. Enquanto engatinha, grita: "Hama, hama!", e o
grande chefe fica preocupado. Chama os sábios para ajudá-lo a
^tura
e^oros, especial
que é umqueconduto
permitiapara
què na ■ ®"trasse. A raiz
eragrega
uma acalmar a criança. Um deles entende que a criança quer a caixa
•V"uuiu, mciumdo aquele que atm também qualquer que está pendurada na parede da cabana do chefe^_^aixa oncíT
conduto,
são incluindo aquele que atm
-ao todas as passagens que perml"'"''
'
permir^^^^^ ^ "ias também qualquer
°Poro.
Poro- Poroi
Poroí fica^guãrdaTraTuFHo"dTa-.-Êíes a colocam no chão ao lado da fo
dentroro o,
ou para f... do corpo U^"aos fluidos circdarem^a gueira e a criança para de chorar. E^a arrasta a caixa-da-luz-do-diaL
entrada, uma brícha no tempo um'T' pela casa durante vários dias, ocasionalmente carregando-a até
-dao na trama - tudo isso^C "ma frou- a portãTÜm dia, quando as pessoas.Êsrãajiistj:mdas,.p.Õ£.
nos ombros e sai correndo para o buraco no cé^Os membros da
S^L'T'^'^°-'^-^eontrar o
hZ!?®^^^Si5«ureza.Ocamrnu ?í!l^e oportunidades
antigo. família saem em seu encalço, mas,antes que consigam apanhá-lo,
ele Veste a pele de corvo e voa para a terra. La quebra a caixa e ■
então, graças ao Corvo ladrão, temos a luz do dia neste mundo.'^
ÍSií;-
'B-e
^ campo ab » Coelho Qoiocas. Talvez todo roubo sej^Jirn^oub^de oportu^^ade, no sentido
^e que onde algo está protegido umladfâü precisa de uma brecha
pesca bloqu^^^^í^^de para o peixe ^ ° morcego, a ou de um poro na guarda, através dd^qual entrar e retirar os bens.
- deTxZ:::^-^- ~ buraco no céu que enaoldura essa\pa.rte do ciclo tsimshian do
Corvo é apenas um de vários poroá semelhantes que o Corvo
tstmshian.Lembremo 'i'' ^oraz ™ segue-se encontra ou cria. Para começar,introduz-se na família encontran
apetite o mundo era cT antes de o C do, por assim dizer, uma mulher poroW e um modo de penetrar
a este mundo para j° ° Pela escurid- "desenvolver seu nela. Como uma criança que não para\de chorar ele subverte as
encontra as plí os peixe^,' ^"ando chega defesas do grupo {assim como vigaristas às vezes usam os filhos
também fica aflij aflitas por cgy j , tntos comestíveis, para sensibilizar o alvo). Todas as boas pessoas ficam vulneráveis
Lembra do"f--o vai ^ J interminável. Ele à criança indefesa e infeliz.lTJTSfvõivüErSEThegrdõ a caBinã
mímlfl^^as e exigi^ a caixa-da-lu|-do-dia aos gritos, teria
'T -n've volí;
. Vestindo a pele de ^
bavia lu"7^-se°nde
está sempre
veio, o de travar uma luta. Mas como um bebe indefeso ele nao apenas
abertura no céu L ele voa n é bem recebido e banhado, mas também Unquista o prêmm^
« ««..,à b.i„,"""o po,.1,, »•!»,« , tnckster, portanto, é um ser à procura d^porosidad^Já.^^
""•que > tlhi,j Peeto d,casa"d'"'l''° "m oTESr^tento ajaportim^^aueo^emmatmm e as
"'"P«»çap,' do céu. Li aáhoc quando não ocorrem por contaVjopría-
72
liii II l i '""':!.

A ASTÜCA cria o mundo


"Esre É o MEU MÉTODO, COIOTE, NÃO O SEU"
Agora vamos inverter o quadro e volta
criador de armadilhas. O ODortuni fncksrer como THIokuriyana será, portanto, facilmente encurralado. Mas antes
bloqueio de da sua asrúcia,
Iblól""' eompreenda
kunyana ,a passou pela saídao secreta,
que estádeu
acontecendo,
meia-voltaoeastuto
fixo,.
oportunidade
rede é preciso
tao fina que não hácriarconto
o passa' bio^uear uma
epros-STuma
natural prove muitos exemplos de«a dela. A história desco^ST-^^^-TT^^
ncertada leopardo femea emerge, é morta. Em uma versão
non^amencana desse,"truque do tánel" muito comum,o Jot!
o inimigo para uma passagem subterrânea, depois acende
alimentam. Quando a juba"
mergulha fundo e em c ® se jantar ao mesmo tempo.'^
ar durante todo o te "®da em n , ^ de arenques,
pela 7°' 'Podo soltando ^ ^"icial em todas essas histórias é ter
com uma toca

podem a^àrrf>SBff!õ^~ pelr'^ ®1"ivocadamente


"Pia barre' ^°^bulhas sobe ^erra, uma oportunfdade cnada por ele mesmo para escapar da
^aposa. Mas ojnimal com uma toca de uma só entrada corre n
"rpolvo usadeS:^^
Uni tru ^ ^ oaberta
cal"' ^ 1""' nsco d-e^ser encimm no próprio ^uracoj portanto, o~mique
egumte é cavar uma segunda"entfida;bu uma terceira, ou uma
com'""- ^"=="^0 amea ;'"'"^i^ante,só de peixes. Quarta. Os gregos considemam..^ da afitnr,^
'"Pvo"Tm"°
ímn'-'•
Ínsfo^" P^^dadlTX"'
"^^"do a tra ' escurece a água
animal e imagina^vam que sua morada tivesse sete entradaT^^li^s
^^aj)importa quantaFeELtradàm^iSta-ínT^nd^^ terra do
d^porosídade sempre crescente. O terceiro truque
Pelas>orbuTh ^^dficia"!"®- ^ ®'="ndão ® ^^tão, e bloquear as entradas qu^do necessário, transformando'
%Ainda, pelas: eníl'? P^ípse^ barreiras. Assim comd^o poros grego é uma passagem
^jnor^icjo n^pcle,aporoséim}Iug^^^ i"^ransponíyel,^igo através'
^ ^ qual não se pode enxergar. Ò que TFlóícunyana e o Coiote
^ 2em é transformar uma rota de fuga em uma armadilha, um
em uma cilada, um poros em um aporos, um meio desobs-
^^nído em uma apori^.'
Em retórica e lógica^per-ia"-a palavra deriva de aporos-sig-
^.tna contradição ou paradoxo irreconcíliáyel. Experimentar
aporia é estar preso em um túnel com uma fogueira de cada
se deixar confundir por nuvens de tinta ou se deixar cercar
uitta rede de borbulhas. Não irn2Ç!ríâ.4Uâatas vezes você dê
^^^^.zKoita^índa estará enredado. A aporia é a armadÍlíia''Ja
^^tplexióatle, inventada por um ser cuja fome fez com que ele ou

75
V

A ASTÚCIA fPiA ^
CRIA O MUNDO
este é o me^ método, coiote. não o seu-
ela se tornasse mais astuto do que aauel
deslocar linearmente através de um " acreditam quando os cães chegam ao local onde a
undo transparente. ■rsposa deu meia-vdIíi;Tí^am aturdjdp_iÊ,âr^^
Um dos traços característir^s ^ qs outros.
é que ele explora e fniQt., ^-^^sate do trict^,.. Com os rastros do gado e as sandálias, Hermes,JejEailfira
um aspecto féIaSionado "n '~-'^°^°~- r, portanto, sernelhante, embaralha e apaga a"^ É como se, perdido
no que diz respeito a da' '''^tinto - g desr"Passarmos a oresta, você pegasse uma bússola e a agulha girasse ao acaso
«mo. » » «oÍ .? """" em vez de apontar para o norte. Você não conseguiria, nesse caso,
dilhã da perpJexidad mais r "? contrário orientar-se para encontraii^j-Gamiali^ não conseguiria ir adiante.'
reses do irmão Apoio" ° ''ebê Herm^'' esse modo, a polahdade embaralha^ torna o mundo intranspo
para ocãiltiF^royg3-|^lC9tr£^;;^- nível e é uma espécie de aporia. Êla bloqueia todas as passagens ao
caminhe para trás, de moT' estruir a orientação que o ato de passar requer. Quando Apoio
que os animais estão r ■ ° Pegadas H °
íu«udos.Em seguid° ruJo g 1®'""""pressão de ^íicontra os rastros que Hermes e o gado deixaram, ele fica para-
sado na própria trilha, incapaz de se mover;
atandr;:' P-Tsi u°
^7® eTudo S cie ramo d""" ^^"^álias en- E quando o Grande Arqueíro decifrou as pegadas dos animais,
óS:.':"""
senrí ta k'°
«»»::£ôS'í
*^^feçõeç de decifrar;
gritouf "Ora, orà! Isso é notável, o que estou vendo. Estes clara
mente sao rast-FoS"3o gado de chifres longos, mas todos apontam
que ==""i"ha fornecem uma para_^s,_na direção do campo de narcisos silvestres! E estes
atira a Passos"'^°^"'^'^®"™® Passad "^'^^^"® ^ talvez, outros não são rastros de um homem ou de uma mulher, nem
su em ut estranha íais tarde,deHermes
forma de um lobo cinzento, de um urso ou de um leão. E não creio que
o centauro de crina felpuda deixe tais pjgada^Que pés ligeiros
desln "'''^"^entos; elesj. os viajant""""?^- cinzas da deramêssãsTónps"passadas? As marcas deste lado da trilha são
estranhas, mas aquelas do outro lado são mais estranhas ainda!"i8
®"contra®7 torna toH
' '"'"^ida.lt^ "°«e para se
de um homem perplexo, apanhado em um conjunto
''svesèTãsfuciõsDsr^'""
chama'°77^8"è âpãga;" t'''^ °^tastros,
de chaCí^^^eüéi^^fàga os rastros, Cma cena como essa, com um dos personagens seguindo os
7'^®ceinapQ ^tmes não têm «u 'P°'®tidade/7°'^^""decom '^^stros do outro, aponta novamente para a discussão anterior
mTn7'^®Pu"taTn"!!' têm «l'f'^"tiade eml7",!""í^" ^bre a esperteza que nasce da tensão entre os predadores e suas
'»S?. »•ladt; ■ "'""".r-T'"'"" P^^sas. O animal capaz de decifrar rastros jeinaima ferramenta
^^^sdiTiável em seu repertório de caça, assim como o animal capaz
■ ■ "318»,^ "*.«i„.|" »'« a frente. O . ^ Camuflar seurfaWOs'tm'fea'^f^^^ de defesa. Ajéra-d^so,
^^entiflcar rasírí)iJ. um ato iWir,EÇSÍ^Y9 A
*^.^poís recua

77
A ASTÚCIA CRIA O
mundo 'ESTE É O MEU MÉTODO, COIOTE, NAO O S E U "

partir de um ramo quebrado,da profunH;.í.^ j


cheiro de urina, de um chumaço de pelo enr^ ^ Pegada, do tr^ar de pel^. Afirmo isso em dois sentidos: às vezes o trickster
nho,o caçador infere a P-ençadeu„.anin,r!.°^""!""P'' altera a aparência da própria pele; outras vezes realmente substitui
direção e velocidade,seu tamanho seus h 'h Particular, sua nma pele por outra.
potencialmente obscuros, o caçador ^ ^ O segundo recurso pode ser mais difícil de imaginar, por isso
mais amplos, histórias sobre tricks^t Vamos começar com um exemplo da história natural. Como a mi-
tologia sugere, venho cleduzindo cada um dos truques do trickster
histórias__sDhreJeimra£ei~rurA n ^^o, portanto, das relações predador/presai Para ilustrar a troca de pele,tomemos
^bilidosodecodifedo,^^^^hab
^^dificadorS?.''''""mes-e^ApõlO, nm caso no qual a presa são os humanos e o predador é um micró-
bio, o Trypanosoma brucej., o protozoário que causa a doença„_dg
sono africana. Essa criatura vermiforme mata milhares de pessoas
<!• •ignific.çio",fifj""" «m SKu.do''*'""'''''""1 todos'os anos na África. Ele penetra na corrente sangumea por
Há um ^ I ^P^Pfeendpr ^ do ou terceiro nlvèl nieio da picada da mosca tsé-tsé e em seguida começa a_semulti-
ApoioéQdeusqu*['"butido
nuvens é An i
nessaTenrpr'"''
sinais Semn ' normalmente
plicar. Uma vez que o in^sor é detectado, o sistema imunológico
da vitima contra-ataca com a única arma de que dispõe; produz
anticorpos específicos para a configuraçã^^a pele
nhece a mente de7 men ^ tnelhor,'sua cobertura proScaT^ Mas essejripanossoma
Peifos, o: ''-sProf£S5'^'°^- consegue mudar sua peíe em^ milhares de^^õnfiguraçõ
^talquer outra nar belo n '^- P''°Prio oráculo ^ o sistema imunológico nunca consegue acompanhá-lo. Cada vez
-"iuntodep:;;;f"^^,^'ecertamS^^^
a Hermes,e ele na ^ '^'^®'^°®'ras, mas o h' ^ decifrar una tjue produz um anticorpo específico para qualquer uma das peles,
n btucci se despe dessa pclc c lança mão de outra de seu enorme
os,S«5PA^Sr'
significados 2.g 'rmão
''eixa pertence
mais gnarda-roupas. O
^áscaras; ele não se prende a nenhuma máscara,face ou persona
j'inieirapjsj^ ^ ^caradosecontext
«e manCaT'^^' ■ ^^^biguidade,
signifi-
uma particular, mas altera cada uma delas de maneira fluida sempre
que aHi„rr^^ntfesta '^®biguidade, uma ^ne a situação o exige.
<i»s:f ^ ™ Ctr,"» ' Há muitos aniinai^^im,com pele cambiável ou plundermes.
O linguado,compro camaleão,dudibria os inimigos mimetizando o
^^tnuflaC
, - ^®^üear umo
rastros-.. ^^ ^Portunirl.^ ®olo marinho: quand^íada em mares com fundo de seixos,ex.be
dorso seixoso; quando nada em mares de fundo arenoso, os-
um dorso semelhante à areia. Na tradição grega, a criatura
° cot? -«eligênca ■^ais renomada por sua pele astuciosa ej;^lVÇ>rãSame
'listorcê '''^^atÇar Co^"^ '^''^arçar seu " Pt"®''' '3ntollõrm7quanro"ã cor da7ped?aTIi-quais se agarra, depois
'-"ÍH-la. codifit::--»^, certam^ente
o tricksrp^-°^"^ imagem, '^t^nde os tentáculos desse disfarce mineral a fim de capturar e
^ ^ ^-onhecido pof *lcvorar a presa.
79
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO 'ESTE É o MEU MÉTODO, COIOTE. NÃO O SEU*

Para os^egos,a versatilidade de j enviaram ordens para que ele fosse morto. Alcibíades descobriu
de.O poe^T?I5gi3cõTêo|iris1õiãvá õ T - era uma virtu- o CQmplô e escapou:
melhor mudar de posição do que " ^"ãHéxiBilidide. É
e lutar, diz Teógnis. ^ forma inflexível Recorreu a Tissafernes (...) por segurança, e logo se tornou o
primeiro e o mais importante sob a proteçãiTdãqiIéré nobrêTPois
Apresente um aspecto diferente de • sua versatilidade [polutropon]e sua inteligência insuperável eram
motivo de admiração do bárbaro, que tampouco era um homem
assumín7Sfcia'd''°'?^^^^ franco, e sim malicioso e apreciador das más companhias. E
de fato não havia temperamento capaz de resistir a Aicibíades,-
^ '"flexibilidade^ A inteligência é maiS^ nem natu'rez^.yL£^pjÍd^S£^^ de graça erTno
A palavra de Tp/^r> • ■ cotidiano e nas conversas. Até mesmo aqueles que o'temlinTe
odiavam ^trannJirrraro e cativante encanto em sua companhia
^'"flexibilidade-. ,
-ttopico" siiíifi,-3-a^ i"'"a «Pécie de PH' e presença.^"

fototrópica volta-se Para/ir ná d O sufixo Assiiné^o^ichster e as^imâo^hoíILem.^ como


'^ico não se volta i"^' ^"""'Panhar a polvo, colorindo-se para se adaptar ao seu entorno, assu-
'^mdo uma^nova face para cada homem e mulher que" encontra,
, "fl«tvel,i fixo em sua ^^cantador, irresistível e confiávej-.(Ele dá um bom político,
''^^'flgaçãoemf^^^fleTeógni- especialmente em uma democracia, na qual a existência de muitos
^'eitores exige muitas faces.)
-P^="&da. O Para os^antigos, a habilidade de nau^r de pele não era me-
'"arnente unmq^Iêstão de disfarce,jpõrque còní^frequência-se
Há tríc por« ^^^^^-greea í. / - eonsidêrãvi^^a^^irrevS^ íntimo. Em algumas tradições,
""«nadÔ""" píòr"""*"'""" 9'aando uma pessoa queria deixar claro que assumia seus atos, quan-
desejava dizer "meu verdadeiro^ eu fez [ssp''^^
Pglgjez isso".^^ Ser capaz de trocar de pele, portanto, traz à
verdadeiros quebra-cabeças quanto à identidade, o tipo de
^^^bra-cabeça que o sistema imunoiógico enfrenta quando tenta
''^entificar um tripanossoma. Se Odlsseu pode representar tantos
Papéis, se pode criar 'imj>ersoi^agem,çQjjl^disse^erta vez Atejia,
^*^rno se fosse [sua] própria pele resistente ,então quem é o ver-
dadéü-o'Õdisseu?^'^ Se o trickster escandinavo Loki pode assumir
^ fctma de um pássaro, de uma pulga, de um cavalo e do fogo,
' °'úvel)" 23 ^^'^stgnte lu '^^'tifacetado, quem é o verdadeiro Loki? Se o Corvo pode se despir de seu
^^^úrio' e outros
80
81
A ASTÚCA CRIA o MUMDo "ESTE É O MEU MÉTODO, COIOTE. NÃO O S E U "

manto negro e tornar-se uma folha de cedrn Esses são casos difíceis; iden^car o "eu" de um predador animal
CoTTO^É nosso hábito imaginar um ^^^o^oTrypanosoma brucei pode ser um pouco mais fácil porque
por trás de imagens extraordinárias"^ ^«dadeira personalidade todos os^nís~'dt5f5rcE§'s"érvem a um único propósito: ajudá-lo a
se essa personalidade está realment' ® se alimentar do hospedeiro. O verdadeiro eu está na alimentação.
da nossa imaginação. ® ^'ou se é apenas produto
O polvo real tem uma barriga sempre presente por baíxo"da pele
por-exemglo^Ao longo dess";Tv|SíÍ■
TomemosQberóidpromance0,1-
rece com uma série c]f>
Melville, cam^nte. Mas nem todos aqu3ès^üelnudãnfdFfÕ^ têm obje
tivos tão unitários e identificáveis. Se encontramos um trickster
XT niascara<; rx-, - ' viearisra apa- que conseguiu se desvincular do apetite, como podemos ter certeza
tio que realmente motiva suas reversões.^ Assim que começamos a
segurança? o h -■ T°''°''®"'°sdescrev-i "ma perso- pensar que o \^igarista de Melville é governado unicamente pela
™«o. ...il"" "'«'T™' ganância, nós o vemos distribuindo moedas de ouro.^® Com alguns
quentemente Ipp ^^"^ideram um nX^ coerentes personagens poiitrópicos é possível que não exista verdadeiro eu
S.;"t™ • »«. íúgtfco. e co„.e. por trás das máscaras cambiantes, ou que esse verdadeiro eu resida
J"" algum,, ,a'°' °"°l""° Míl,a|, ®°"| ° SeSte'.' Exatamente ali, nas superfícies mutáveis, e não sob elas. É possível
•^^finitiva. Podemos ' ° não a «sa ^ue existam seres que não têm uma identidade própria, apenas as
° «contrário _ o_ '^°m a mesm r de maneira ttiuitas identidades das peles cambiantes e dos contextos mutáveis.
'"'"''"O porque dev ^ "m salvL ''emonstrar
^«°. seelqueepodg^^^'
seu "v j
^^8|remummundode^^^^^
° Cristo a
apenas
'
parece
feito Notas
não existe. ^"'^^eiro eu" está ir' Provavelmente
E Journey to the West I, p. 134.
argume oculto, Radin, p. 21.
matr", "ía7e"en ^^-"'^ante Lopez, pp. 135-36. Essa é uma versão gros ventre da história. As
tribos gros ventre são originárias das Woodlands Orientais; desde
"^:;T^■-Sd:r7r''-' ° -dadcro o início do século XIX, seu lar tem sido o norte de Montana.
'^-lumepo ''"passado 1 seu cr^" Radin, p. 11.
7 '«íò-sír--l"distint:3 ; "" despe do sej ■ ° '
a ele» » ® "®o sèj.| , "^«rmediári, ' ^^ídadeiro' eU
I^adin,p. 13.
Radin, p. 27.
''^IPot tr . dvermof '"''"^o, fie77' quais ao mes- Lopez, pp 30-32; veja também Tbompson, p. 72. A história do
a Ptesun 77'açòes^^^
uenas de di^r
de ídem^^^P^^^oaonto
é nossj '^^P^os ao 'í,-" "m Odisseu
e ''Anfitrião atrapalhado" é discutida em detalhes por Franz Boas em
T^simshtan Mythology, pp. 694-702. A história aparece em várias
'verdadeiro eu7 ^Por si Pucci^"°^ consciência Espécies, cada uma das quais - como as árvores e os peixes - tem
^■^^P^as] sào o 7'"«nclumdo I que ■" uma área de distribuição definida. Ricketts oferece uma interpre
''■'a a ilustião de seP tação variante, que discuto no capítulo 12.
ã2
83
A ASTÚCIA CRIA O
mundo

8. Jung in Radin, p. 203.


9. Citado em Bright, p. 55.
10. Leydet, p. 71.
11. Thompson, p. 27.
12. Onians, pp. 343-48.
13. Boas, Tsimshian Mytholoav
22-24. PP- ^P-62; citado em TI, 3. A primeira mentira
14. Callaway, pp. 24-27. Thompson, pP-
15- Radin, pp. SO,-?!. T «

^rri indicio de roubo juvenil

20- Detienne cJ ' marco H Enquanto escrevo estas páginas, uma mãe cardeal que fez o ninho
pgrto da minha casg^gtá.ejilouquecendo de taruo bicar a própria
^"^agem refletida óa janela cÍo meu escritório. Está convencida de
há outro pássafo--aliríím ameaça a seu ninho,
seus^os^ seu território. Se eu puxar a cortina, ou rfiesmo encostar
livro na vidraça, o reflexo desaparece e o pássaro se acalma,
em alguns dias me esqueço' delxêcutaressé pggüenp^ favor
entre cspoc^rê^sTagõri"õTi5ro^ tie enchas gordurosas
■pp. 264-65. pontas de suas ásas^l^cõníd^üm manuscrito a duas pinceladâs,
testemunho criptográfico da obstinada persistência de seu
^^rebro limitado.
Uma história que chamaremoi^^ foi
dia"^SnfãHinpÍnodõV^ norte-americano. Eis a
^^rsào do ciclo trickster winnebago:

O trickster olhou casualmente para a água e, para sua grande


surpresa, viu muitas ameixas submersàplê íTSBservou com
muito cuidado, depois mergulhou para apanhar algumas. Mas
apenas pednnhas foi o que trouxe nas mãos. Novamente mergu
lhou. Mas dessa vez chocou-se com_uj^drinp fundo e ficou
inconsciente. Depoís^de algum" tempo, flutuou ate a superfície e
começou gradualmente a recuperar os sentidos. Boiava na água,
de costas, quando recobrou a consciência e, ao abrir os olhos.
84
A PRIMEIRA MENTIRA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

a experiência física (o trickster de fato pulando na água, batendo


viu sobre a margem muitas ameixas. O gue ele vira na água era com a cabeça). Vemos o trickster despertando para a vida simbólica
apenas um reflexo. Então se deu conta do que tinha feito. "Oh,
ou tomando consciência de sua imaginação e seus poderes.
minha nossa,que sujeito estúpIdS^evo ser! Deveria ter percebido
que era isso. Acabei causando grande dor a m,m mesmo.'" Como,na história da consciência de um indivíduo,esse desper
tar acontece? Ainda mais difícil: Como, na história da espécie, a
No ciclo winnebago,imediatamente denoic gt^ria imaginação surgiu? Como a^meTiTS^^dquitlu pela primeira
o tricjçster engana algumas mães guaxm ' a' vez a habilidade de formar imagens e como então passou a refletir
deixaT^filESí^hõ;— sobre essas imagens? No caso do trickster,como o embuste mental
com que as guaxinins deixem a orole substituiu o embuste personificado? O que aconteceu entre o tolo
as ameixas estão: "Não há r ^^^ckster conta-lhes onde homem sincero que toma ^eixasjefletidas de maneira literal e o
tantas ameixas lá... Se, no o local... pois hà dissimulado que fala em "^céu vermelh©"^ç[uando o que quer dizer
virem o céu vermelho,saberãr ^ o soITe"põe, c "cstau4H'_e^s.têS..ã comer seus^filbqs^*?^
sando isso. Não voltem noi. ameixas que estão cau- Não podemos fazer essas perguntas sem uma pausa para di
sublinha Paul Radin a brin «"'^ontrarão."^ CojTio ferenciar algumas coisas que venho embaralhando. Ao descrever
-um céu-rmelho^;^!^B^'é que para OS winnebãêP ^s características da astúcia do trickster venho misturando a
deveria significar para as(ola"'^-'^ Eraisso^U^ história natural com fenômenos mentais e culturais. Uma coisa
ajer mortqs".3 q tricTcsteTei;"-^'^^-''"' ^stão preste? é o tripanossoma mudar de pele; outra coisa é o Corvo se trans
"'"a p,sta simbólica sobre o onb ° oferecendo-lhe? formar'érff ürriã folha flutuandò" na água de uma fonte; outra
entendem a linguagem dele em acontecer; elas, ppréip' ainda é o fato de os contadores de histórias terem imaginado
o Corvo em primeiro lugat) ou um de nós o reimaginar. Antes
uencias,^assnnj:pjnp
^fl«'das q_prÓD
de maneira Jiteraíe^s ° Eteral, e sofremasasameixí?
'"terpretou conse- desatar esses nós, porém, devemos lembrar que a própria
mitologia nos pede para confundi-los. As historias do Coiote
"í«quênciaéocaso,vemosot r Como
«perto - em um minuto "í''"'"™"''3™amente cotr^
estúpido ^Gmetem a coiotes para nos ensinar sobre a mente, as próprias
Eistórias se voltam para a relação entre predador e presa para
"I.•no 5j£ «,„(l.» ,cpis» explicar o nascimento da astúcia. Esses mitos sugerem que mistu
P^« compreender uma imageL '" ° obtusos denta'® rar história natural e fenômenos mentais não é uma fusão impen
descreve qae a seT" de sentido- sável; pelo contrário, é uma descrição acurada de como as coisas
São. Aprender sobre a inteligência com o Coiote ladrão de carne
afirma ° ^Prendendo I dessa história
é certo, acredho, ^ saber que somos pensadores dotados de lim corpo. Se o cérebro
vida- nel^ O trickster extremidade da 'em astúcia, ele a tem como conseqüência do apetite; o sangue que
a qual ele sT? ® iccessidaÍT"'^^^ ° alimenta a mente obtém seu açúcar das vísceras.
qual ele expu ® ''ccompensa ^ reflexiva í?^^' Entretanto, a astúcia dos animais não é como a astúcia de
citpetiência ^^'atal
°^"'ado). Ademais
(o trickster jog "'«a consciência
narrativa em(coiO
que ^a ^Icibíades. O polvo^JtJiguad0j.,.o .tnpajos_som - cada uma
com uma imagem)subst.itU' 87

86
A PRIMEIRA MENTIRA
A ASTÚCIA CRIA O
mundo
E o glorioso Hermes ansiava por comer a camp cacrifirioi q doce
dessas criaturas tem seu
u trunnp moo nenhuma
iruque, mas « l , ^
delas reflete sobre aroma o enfraquecia, por mais que fosse imortal; e no entanto, por
seus recursos. A tartaruga alij^arr^r , reiictc mais que a boca salivasse, o coração orgulhoso não o deixou çnmp-
mas é uma tartamga de um trua ° engenhosa, -la. Mais tarde ele armazenou a gordura e a carne no amplo celeiro,
engo-dos para novos trouxas. Co conceber novg^ pendurando-as no alto como um trdféu [sêma] do seu roubo juvenil."*
criaturas mentem, seus logros caTp" quando essa»
humanos. O polvo não tem 6900!^'" P'asticidade dos ard'S Hermes, portanto, pgga parteda carne sacrificial e a pendura no
estranho motivo fosse útil tornar ^ celeij^Q^ar^exibi,r,.ç),.qUÊ. fez/OTíma chama^ssã^carné^Hê sêma^
cinzenta, ele não poderia fazê ^^^arlate sobre uma que em grego homérico significa marco, signo ou troféu. Para
reflexos, de acordo com os qu P''"" ^os próprio® refletir um pouco sobre o que está acontecendo nessa cena, temos
cinzentas. E o sistema de cinzentas evocam pel^® primeiro que definir quem ele deseja que veja esse signo. Para que
está localizado na mente do nnl P^^^^üz esses reflexos platéia Hermes o afixou? Uma resposta provável é Apjolo. AfíiíaX
ficma
^ da evolução. na icnta
lenta e obtusa cai^-
carni' uiais tarde Hermes parece provocar um confronto com esse deus,
^ talvez, agora que seu roubo foi levado a cabo, ele estivesse co-
tneçando a chamar atenção para si.
o ^ a
d mente que irna^^* Isso faz algum sentido, mas na verdade Apoio nunca nota o^
*c-0mOnoc ^ troféUj e quando deixa-o no celeiro Hermes ainda "êsTa ^volto
talvezjjl^ segredo (na mesma cena ele atira os calçados usados em sua
artimanha no rio e oculta os vestígios da fogueira).^ Parece mais
provável, então^ que Hermes esteja exibindo esse sèma para si
-Ias mT biólogos elr'"''''' dos caminh"^ mesrr^Ele é a crímíçaXãfclrq^^í^^^^^ sacrifício na mais
delZd'T' - ®Cão d cesporra- completa solidão de forma a direcionar uma parte crucial dele
«trapheza e ^ ^^^avilha da imap'
outrÍem' A
serem resolvidos^
pura si mesmo. Há um forte traço autor^flexivo nesse Hinoj o
parecem fSÍ tícusxstá-criaiidíLurp mundo p.ya-^i^^-Como o que escrevemos em
"ossos diários, alguns troféiis-si,^ direcionadçs antes de mais nada
«ainda Mam »» c acima de tudo aos geuií criadore^.. Hermes, nesse caso, pode estar
criando uma imagem pam a propíia reflexão. Voltarei a esse ponto
crn breve, mas, para conferir-lhe \odo o seu peso, vamos voltar à
"«■«» " «r™ "ie™
^enetidas- com
'«'=l%ê„^..^^^^^os, sugere p™r'°®"
^ Dar=, pcccem-"-'
^^^^^Kster parecem'
que ^ '™®8'naçâo. "As ameh pergunta sobre o que o troféu significa.
centpm^. aor canco^ i.
O próprio Hino nos jpostra^o mimeiro modo de entendê-lo: é
A isso acr
■xeS' símbolo do "rQu'bí juvenihí^dá Hermes. Tem algo a ver com
^ infância e com a apropriação astuciosa. Além do mais, se essa
sacrifício- que acont extraída do ^cna descreve a invenção do sacnfíci\), se o^crifídolo^^
^ Quando Hermes term^

89

88
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO A PRIMEIRA MENTIRA
i>
O 7|V P' 'rv>Vl\, jv,.
partilha e se a mvenÇao de Hermí:.c ^ ^ "jjão^omida. Deye^^se salientar gu^ê.s.seJ'aãQ!!jre.s.tdnvQ v^m_^
como próprioTIeFmes, e não cie uma autoridade externa. Não se trata de
a carneuma na partilha
no cele/o é um símbolo'deumatu^" '"terpretada
"""" uma narratí^'^ca^naBtica na qual a aquisição da linguagem pela
no da mudan/a na ordem das coisas ^ um sig" criança coincide com seu crescente senso da repressão dos pais.
segundo o qáal as porções devpm — no código Aqui temos a ligação entre o domínio dos símbolo"s ^e um ''ríão"
FmalmenteVnãoWosesquecerqufr''''"''"'- Proibitivò;mas ■qüãhdò b coração de Hermes diz aquele "não" para
sèma é o rnomento crucial em qu H imediato desse sua Boca salivante, a repressão é autoimposta e o estado de espírito
carne do sacrifício. Isso pareceT/ não come a c de duplicidaile ávida, em vez de perda e culpa.
fazer un,' troféu se Hermes a tive"""' "^ne da qual Essa duplicidad£.i\dda,-aJiái.J-^S£g^ sobre a mente
deve carregar consigo o sentido de codj^cadora-qüe o Hinoâssjnâl^ Afinal, roubada de Apoio e em
.lembrínja fcjpe,i„ "» .com el« seguida usada em uma espécie de llusíonislno~herTnctico
pojaa. Na„ linfc, ° em fa.oC p3ra mudar o caráter do sacrifício ritu^, essa carne-não-comida
P fecacma p„„c.. 'f" „„ gcegS homeWÍ^ aparece como conseqüência de uma série de saguzes subterfjígm^
ml.cta.dos,om Nessa história, apenas um ladrão poderia ter efetuaclo as mudan
ças em questão; é em virtude da duplicidade desse ladrão que a
carne assume seu duplo, ou melhor, seus múltiplos significados.
' Não sf ' a pnidas. n'"'"fWtotfificar Em Tratado geral de semiótica, Umbert^co^^m o seguinte a
codificar e d sp' T *^^zer sobre o que faz de alguma coisa unx^^signo_^^
^inhasugSãò mental.para^
marca o desloca ' ® lue este "sã A semiótica tem muito a ver com o que quer que possa ser assumi
come)para a vid materialV^ ^ do como signo. É s.gno_tudMuaiixa4K.ssaiermumi.da^oi^
«"^«coi/^í^^-^^bóHcaoumenS? realmente se substituto sign.ficante_de outra coisajudquer (...) Nesse sentido,
®malara passagr'^!i^^^^ ^'^ansíção e a ren^™^ simbolizar a semió";rc'a éTêmTnncípi^ a ^^"^iplina que estuda tudo qu^t^
Além disso, ao as-
possa ser usado parajnêittir. ^ . ,
Esse nóosS-'^'
a mente de um ^
mèKr'
J '^®''®t'rÓ'de
^^^èbFd lingng
j. _ .
''.'"^-Para-a-mente,.
e® sobre oS Srfel^õd^sadQ para mentir, então nao pode tam-
L'
bem ser usado, para dizer a verdade:
veraauc. de fato,? nao pode ser usado
para dizer nada.*^^
h«,i.J do dc..i„,,2""°"-ta animal qpc
"* r*"'"'».tataf»""* «»■ n. A cena é um» o ...01 com „m. isc, o,-prlm.í.o .ruíT- ,ue .imosJ^oja
com °'"""'
como essa mente ZZT'
codifi °'° d.„do,ae con.»
'"ortal.
a existir. Prini.- ''Voadora q Mostra vária ■ i „ '•<»hooo^;ZZZo«A cr.™do nd,. om. mínhoc. ... o pcxepode
d» .P"».
' nÍ'"/ "»«oZJ
"'">•'0,0, pí,'?'®»"»a,
"»o. deapc' ZT"""'""
®"'«"nte) passa *"7^" corresponde à tradução- j e A n .Anio p^j-gnectiva,
de Pádua Danesi
2004).e Gilson
(N. do César
T.)
""''""n.Vttec^ta ""'■""•"í® tlosü de Souza para a edição brasileira (Sao >
da carnè-
90 91
A ASTÚCtA CRIA O MUNDO
A PRIMEIRA MENTIRA

comer em segurança, não tem,de acordo


Eco,significação nenhuma,mas a minhoca que diT" ° o deslocamento do gado, não pode haver signific^áo a dupli
quando na verdade esconrif um anzol mofensjya->- cidade do trickster, e a mente de u^dadrão é a mais plenamente
razão dessa menura,
razao mentira, nfinYo"^s'Dass7rr,'~~""'®
minhocas nass^m e capaz de" còdifícar e decodificàr."" /
forem espertos,começarão a interpretar
interpreta antS
^ de os peixes, se Isto posto, deixem-me voítarà^deja de gue «dos tam nasce
há uma possjyej í^nhoca Mentirosa comer). Só quando doj;omedimento. Geralmente pensamos no comedimento„çomo
lima \TfrucÍe'e'quando o H;«y' menciona o "cora:ç'ãd orgulhos^"
urna-Minhç^Autêntica e Vo
Vamos voltar aZlVões reTat
quero vincular a definição de Ec
■vasl"^" "
"^R^eçaiLaialar crv
mas primeiro
de Hermes, é difícil deixar dé lado a idéia de que algo bom está
acontecendo - esse jovem estó amadurecendo, assumindo o con
envolvidas no roubo, e à d,.,,|- "^'gno" às substituições trole sobre os impulsos e aisim por diante. Esse é obviamente
-comida. Para começL, prSÍ d ^ carne-não- ^ caso em um aspecto, mas^não devemos nos esquecer de que a
o gado de Apoio sigmfica e cnsr^-—^^^^ sobre o que duplicidade envolve^íp^q^gJmpreendámefito, Ninguém imagina
Que Hçí^^s esteja prestes a tomar jeito e setofnar unTEanqueiro
O classicista
nao ceifado eraJean-Pierre
um tanto Vernanr"
incomum""' ® ° 8®^°significado-
do pasto ^P^olíneo. Esse jovem deus está reprimindo o apetite do mom^to
favor de um apetite posterior. Recordemos o que ele diz à mãe:
seJ"f
sejualmenteÊ^^^^^^^selvagens nem d Hermes
não o roubasse:
se reproduz-Iant
"Por que deveríamos ^^rn^inicas deuses nue jamais aproveitam
S:rr"- ""««2zzt'° "•» Os frutos dos sacrifícios e das súplicas.^ É melhor vivermos para
sempfe^nTcõfhpalíPná^oro^^ imortais - ricos, deslumbran
,:7'^domesticados-eo^"^' adquirem status"da tes, desfrutando de uma fartu/^ degrãos do que ficarmos para
X aím ' ^■'^''atidas
Passam a Wver '" --^o comO
reproduz-r
sempre sozinhos em uma ^verna penumbroía.

como o "^"^'^'^^ando, paTec ^ humanidÍ- resumo, estamos vendo o ap^etitc adiado ou deslocado,^em vez
existe a''®"'®=ado inicial do gado ''"®"°''lPe-V-ernant torna Uma completa restrição ou negaçâoHelETComoargumentei an
a Dn«,i,u"f^'^®'''°ativamenfp Cç ^ ^^^■'^Palidade-ejajdo mais ^ teriormente, Hermesliuõ^bfSTíí5Õ"d^cimer; ao dedicar a fumaça
«-St ' e^r ° sacrifício' a si, abstém-se da porção mortal para se banquetear
Uma porção que não lhe fará mal.
Inverso^""^® "'^ado o p.u ^"'^"anto não puder sef
momento em 0° cm que p^f significar.
significa uma c anterior ad ® ®" '^^ívez seja útil neste ponto resumir o terreno que percorremos
-smficação. A carne ^ formular algumas conclusões. Terminei o capítulo anterior
situarão
passa a ter signífi -^---"íía e,HeWes'
po>u,' ■ oT^^a""
''''ao> desloca ae carne
outra apresentando diversas maneiras por meio das quais a astúcia do
^'^^hster foi imaginada. Ele sabe como passar através de poros e
Espccialmenteem't'°''°'"a-seum s?r^ bloqueá-los; confunde as polaridades dando meia-volta e re-
algo.
ha uma regíaTontr^
'ornando pelo mesmo caminho de onde veio; encobre seus rastros e
92
93
A PRIMEIRA MENTIRA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
do próprio cheiro para confundir os cães, temos os paradoxos e as
distorce os sentidos;e é politrópico, trocando de pele ou mudando ideologias dos lógicos que camuflam as próprias contradições. Em
de forma quando a situação o exige. A história natural oferece acréscimo aos animais que dis^rçam seus rastros e aos'^edadores
maravilhosos exemplos de cada um desses rocr.c Que enxergam através do disfarce, temos a mente codificadora e
astúcia nâ^aleia jubarte produzindo sua rí a
raposa dando meia-vpita paraconfunH* ^^ borbulhas, na decodificadora e todas as artes da interpre^^çãor^lém das bestas
mescla A uma.dererminada rocha. ^ politropicas da natureza, temos a própria('imaginaçã^-aldealiza-
Ainda assim essas imagens nin c;;^ dora dos tropos - e o^mundo^lía artTTdoÃrtifíciõç^^dõTíardo que
,bor do que entendemos por astücia"' P^^"^ tece um conto cativante ao agente de contrainformação que vaza
po de mente,e a mente tem u *i balando aqui de utn ünia história de primeira página para desorientar um inimigo.
serjr encontrada
encontrada no
no mundo'^aniürfy P^^^^^^dade que
que.não
n5n costuma
rnstum^ Em resumo,a astúcia do trickster agora assume formas mentais,
politrópicos, mas Odisseu é ml r "^ ° P°'^° ^ão ambos sociais, culturais e ate espintliãTsTMásõTaz com uma determinada
vestir um manto cor de pedraÍ' Odisseu pode Emitação7AhTéfiõrménTe7sb"gérrq^^ o trickster se libertassede
como Qdisseu, vestir-se comovi °P°l^°"ão pode, todo apetite, ele não seria mais ui5ffirk^rHEnrceíTô sènFiaõ, isso
polvo não pondera sobre slH realeza- O c Uma questão de definição; a mitõlbgiá que estamos examinando
^ constantemente gustatiya^ sexual e esc^ológica.Parece exigir,en-
^^-«U-KDiesenr'''.^"^^'^"'^fequeconseguÊ tão, que associemosA âStúçÍ9,inYèhdra;ío-trick^ úecéssidadeS
Corporais. Com isso em mente,quero volfaMUlntópico do qual nos
aproximamos várias vezes, a idéia de que o trickster inventa a arte
da mentira, pois nessa mitologia essa invenção surge precisamente
Onde o artifício e a fome estão atados ura ao outro.
^ ^ pergunta de como sugeri
W-ima ^ do apetite veio a existir-
auxilia^es
pelo meno ® ™P''®ação
a escanarde^ ^
qul^ ""'^^nrentais paraJ^
®*gnificação evpluii? Iberos estômagos"
mulher ao meu lado reclinou-se para trás e fechou
os olhos, e em seguida assim fizeram todos os outros,
cultura. AgoX""^--2HH£,al como histó • os casos eX' enquanto eu cantava para eles no que certamente
era uma língua antiggLê,.sagrada."
fóda/as'f°'"^"''°-^cí^põsa;f ^ Tobias Wolff The Liad®
p4,r °Portunism de sete Buracos,
unta;r° ® ^oc.al, da mente
que jôtra «ma'; "dam as estações 'Io® batedores ^®cmes tem um dia de-V.ida-eiuOTrtoTtroba-«-«adQ.de A,polo,^^^^^ a
^-"-eníde
arretjas _ ou a^ quecoíl^-'^gora, além do
'"'tologlH®' pretensões polvo prtm5r"o muboTalse seguir espertamente sua pnmetra menttra.
I
} Aléiti da
ri P^ra preserv^f ^^''"e.ro roubo, primeira mentira: a mesma sequencia de eventos
â' ^ iTvl t' ''^posa que volta no rastro
94

/iv.t .'
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO A PRIMEIRA MENTIRA

não faz parte da infância de cada um de nós? Quando eu tinha *^3 punição e do enfurecimento,é claro, mas,além disso, a idéia de
5 OU 6 anos, morando na Inglaterra separarmo-nos de nossos pais é um risco, porque o mundo deles
e o nosso único mundo,e dependemos dele. Com ou sem essa an-
em umd.pequenino
h~p.deburaco no tronco de um k tesom ê^stia,a primeira mentira é um ato de imaginação particularmente
de peixes. A nota de cinco libras na ínal ^ Perto doMnque ponderado. É uma ficção motivada,e uma investigação sobre esse
1950, era grande como um lençò e d ''o® ^ttifício. Podemos não duvidar de fato da realidade do mundo
ricamente coloridas, pois agora P^^tada com cintas ríc nossos pais, mas, ainda assimTTima mentm é.uma Speaç^de
emergir das profundezas da ^"^njuro meu tesouro ^ ®*perimehtáçãb dâ sua solidez, um mundo artificial enviado para
ces de esmeralda e aparece com real' ^cr se consegue se integrar e sobreviver. Se,conseguir, a autõFidade
dinheiro, por que o fiz^ tao^^^^^^^ crianças rout^c^^ 'ío ^VeaP^-pode ser ligeiramente abalada,e a primeira mentira pô3ê
casa quando esse rdu^^] Houve consternação na 'razer^uinà consciência iniciai do artifícip.
recaiu sobre m^ irmão e eú P naturalmente Permitam-me ãquT refinaf uma questão anterior a respeito da
mmhahxeira,
deve ter-meneguei tudo. Resistr°
persuadido • 1"epude,mas foS"
doí,°i™T™° minía^ ™^ntira. Comecei com a idéia de Umberto Eco de que um signo
® algo que pode ser tomado como substituto parã óutrâ coisa, e
f!° «conderijo. Acho que lol' conduzido "sei as reses de Ápoio como «empio: Hermes as transfere de um
sobre o„tro gatoto' qúeT"'
e engenhoso eu tivera a sorte ^
'dentando
recentemente, cujo '"gar para outro e, por meio dessas substituições, elas começam
® significar, primeiro uma coisa depois outra. A idéia era que a
orJ"lU ® '"^probabilidade e ^ '^^®'^®™unhar. Minha máe ''"Plicidade do trickster é uma precóndição da significação, uma
not" ° ®®'^°"dcxiio_secreto n"k^ 'rique de 'l"®stãõ"^'^s'pecifiquei corri o coiriêntafio^e que nesse caso há
mem «larj^aF ^ "ma regra contra o deslocamento do ^ado. Sem essa especifica-
emerern t™'" '""'«a c^'" a narrativa da temos o caso gerai, que é mais simples: a "substituição" é
Histó ^ ^ e das fibras dT Pedras preciosas ® "Ondição prévia da significação, quer o roubo esteja envolvido
não. Um exemplo vai aclarar ess| ponto e, por contraste,
^l^^lar a mostrar por que, nessa mitoioiia, temos o caso especial
_ . comida entre nc "O inicio da meninice qual o roubo e a mentirá são de fato uma parte necessária da
°
ma ^ f . . .

mentiu sobrc
^•■'"Ção do significado. ' " ^ ^ "
•^"^^nsgressões?"'^' ^°''®ríamos°emender nossas
^"^^rpretando k Etn dado momento da Odisséia, Odisseu recebe uma tare-
Por uin primeira® ' deve pegar um remo e viajar terra adentro ^té que_algum
!""fünda,o objeto^cQffio umpá de^joeirar.'^ Uma pá de joeirar
'"ios.' Ao'rnS Possibilidade da sepa' ® "ma espécie de ferramenta usada para lançar grãos no ar, de
d^oT", do 'rÍ período, existeiP que o vento leve embora as cascas; ela se parece muito com
mmo. Há um aspecto complicado nessa tarefa da Odiss.ia,
P®"hada de algu me falha, essa tem a ver com fazer reparações a um insulto cometido contra
"angustia. Há a ameaÇ» ?:lv

96 97
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO A PRIMEIRA MENTIRA

VliyíA-Ví/>
O deus do mar, mas o que ínterpçço - de imitação mental de um roub^{quando mente sobre o gado,
por outra ou melhr d ' Hermes "faz conTáF^ará^s o que fez com as próprias vacas). O
uma só coisa possaleFJdòis signifir "a ^ 'deia de qi^ primeiro roubo e a primeira mentira de uma criança são cruciais
mesmo objeto é uéí "remò" n 1" ^ lugares distintos- O na histònã^õIncdêctõTpõrfãntõTpõ^^ eles a criança naõêstá
uma cidade nas colinas/XsSír--^^^^ ^ joeirar" em apenas no munTó dã^Ipificaçãordã^fãmâs1ã;'da fâbulãpo e da
^^^àcj^iado.a^disséu-0 ^ Odisseu-Viajante ficção; ela está nesleTnundo como uma criadora independente,
de um objeto (ou de uma paST^^^^berP°'^queapenas
Tu^W o sign.^cado
a peslST começando a produzir significado nos próprios termos, não se
sujeitando às proibições que a precederam, exatamente como, com
117 ''g^do a sua locabzaçâ^ o roubo e as mentiras, Hermes começa a criar um cosmos^ nos
vdapojm não saber disso An7 T deixaram a próprios termos. Tal é o peso mitológico da primeira mentira. Eu
uiesmoTui um fracasso como ladrão e mentiroso mítico, é claro;
^ rernocpjjig^ • ( "•
uunca transformei aquelas cinco libras em um mundo concebi
da pá de do por mim; com minha confissão debandei de volta para uma
portátil, d ^^mo se nãda"fn P°de levá-lo de um infância inventada pelos meus pais. Se bem que, pensan<íõT)êm,
-aí dfr--"PaJde eS"r ^unca coníesserconiprétamente. Nesse ponto também contei uma
Mentira, uma lorota secundária que incluía um segundo garotinho.
ta de rout oulot --nossas ainda o vejo, parado ao lado dd pinheiro-com uma espada de
gado deX""r'~-^~'"- "o caso d ^ não necess''
ladeira que o jardineiro me ajudou a fazer.
^ .1^)1 yjpf fM bj
assexualidad ° "« Pasto°nT^"'^r'^®' anteriormente, Estou à procura do significado mkoTógico da primeira^mentira que
nada pod^ ^ P°'''''ante -existe" ~ imortalidade,
'i"® as reses su até ser tirado retroativamente. ^ trickster conta. Se abordarmdi a questão por outro angulo - a
qnal seu cstado-^"" contexto al.^^- i~-^ momento em ^^íaçào do trickster com a veídade seremos capazes de relado-
uma vez ésT'''^ sua suas mentiras cozn noáo tópico inicial, o ap^TterNc>»^icio
P'P^é o da questão r'''™ ' a Teogoma, fiélíesio^as MugagdesçgnudoW
® P^Sbi^- pl^^^^do significado ^'P'® m/ío/oJÍ^ com o poeta. Ele está com amigos, pastoreatatH«t^anho
'l® ovelhas, e as Musas dirigem-se a eles com desprezo . astore^
—Ural»,o "real» M '^Ção.,.d£ preTr^^'-—® significado,
Proibição relaí^' "■TOa,."essência",,g -'l''®.meffime8xaiiifips..vis 0^)®'°® mfamia, mMO^£omasps.
Prósseg3r;ctriToT^mTslõ-dlferentes aqueles que vivem
-ra adentro,de
significados. Há u„^ ° Qualquer viaia ^ "^^rregar um remO "-^asLntaiiha^-Sabemosdizermuitasmejgtj^^^
ÍP°'°' Só ym ladrã''^°'' 'Çâo no queTe"7°''^ '""'"Plicar seuS com fatos: genumQS,.maimfflb^^^^ & .e o
PP°^'Tanto
Çâo aà mentira
naturezaq^.° ° .^^^bo
^azê-lomiífr--^
sign'?'^® ® deslocar o gado "•«sejamos, prqcl.amjxJ-XÊOlade.""
As Musas acreditam que e impr
humanos
aniados Dor seus
assim di2er Um ®'enificados em ^'gam a verdade porque são "mçros estômagos , guiados por seus
■ ^aiQUraéumaespécif^
98
99
A astúcia rpíA A PRIMEIRA MENTIRA
^^'A o MUNDO
apetites. Essa é uma antiga presuncS Odisséia são chamadas "tííentiras cre^nàes", porque ele costuma
passagens da Odisséia. Ao vis t ' ''"^trada por várias começá-las dizendo: "Minha terra natal... é Creta." Os cretenses
eram tidos como pregujcosos e mentirosos por natureza,^" portanto
eOdtsseu dizser
pede para queálimentádd."
a barriga com
EÍe nâqUeeíe"^
d^ da-sira'histona Ddisseu está lançando uma luz sobre as próprias falácias, embora
tir caso não seja alimentado ele d^ queimai men- ■" como veremos - apenas um dos ouvintes a veja.f
equLvale à ^a^cgisa,pois'a raiz de ''''' A questão geral aqui é que, no. fhiíhdo: hoaiéâcQ,jda^^ e
<xL verdade
v^xuduc I
e ser
ser £i-/eí/7^5
a-lethis "Sp o, • e cont^
eje?^- e con poetas orais itinerantes supostamente ajustavam suas najrratbías
0'^'^^^"'_àSkarem
^'^'^^^"'.àSkàrem ^ -"dade"
verdade J P^ra que se adequassem aos gostos e às crenças de uma platéia
De modo
De modo similar,
címiu^ í^5
~ --o--.^inha
aslS!barrípa ^esave^^hada. ^ocal. Às vezes, na- Odisseiai as pessoas dizem que um andanily)
dispostas • a dizer a verdade o vp ^«íodo dizem estar Sempre mentirá porque tem .£StQmagQ;,.Qut^s vezes, dizem que
o cria or de porcos da ecoa Eumej^ '^en^irá até estar alimentado. EÇ^^^^lQoerTb^na, temos nova
'^Sâosedisgõern"a contl õs-iridari7lS mente a ligação que as Musas aleganTtxistir^tre mentir e ser
vaçao aparece.noJni do ^^'^-''^^deiras.-a obser: mortal que precisa comer. De modo inverso (como vimos ao
disfarçado de mendigo. oS "'"c° retorna a ftaça f^aiar sobre sacrifício), uni ser imortal é, por definição, aquele
que está livre do estômago odioso; as Musas creem que verdades
««e criadoremdeítaca
requencia porcos! que lL'?'°
fingindo ter ele encontra
aparecem comé Imortais, não podem ser proferidas, exceto por aqueles que estão
n orme explica o porgueira-ííb
ungindo t-pr^ 'T
Perdido, OdisseU-
aparecem
^"uilarmente livras. " dA.tí
para consepiiir «L_- ^^^nienserp•ar,^«. _
nao lhe
2'mteressa-.i^ -upas limpas;
limpas; aa verdade
verdaíi& O elassicista Gregory Nagy sugep^ue a defesa das M^uma f ri yV^
^Quç Odis
. ^ClaroaneOHicr..... verda'de- liberta do estômãioj^^e-
Í utrnf ""^ÍÍoÍ wf não para^ quandoa.C.;as
^III situadacidades
na histór# SdcmãrCâicav-^ntes
g^s eram:bastanfé isoladas u^^
porcos nã - alcancín
' dado momento: °«fas; depoi s o isola^nto di m i n ui u , Ant e s di s so, cada ci d ade
-nSC: PecTS oT"""'" ° ' ■ a os próprios deu/s e as
tinh
1 aimuiuiui» zvxx.w., —

próprias tradições
V

poéticas; coHi
^ fie-
mentira. "Mi^h*"^ verdadeira" e ®®riedade e "l^ência râdicalment/ distintas umas das outras. Depois, a Grécia
desfia umalí "«al é o'l? T"''""da-o com um^ '« ®.rc.d. p„, p.n-hele„ismo - «ma c»^i» m-
'"ele havia perd?'^ dos detalh^ d'^' ^ terr^^ ■
Comunicação / as cidades
entre -J z4.c"22 -5 e com ele um abrandamento
mentirosos se v'i° ^ superior d ^ e específicos
"diversidade de tradições c crenças.
em breve retornaria h"' ^^'mando que P°'^ras se pareçam Esses dois períodos radicalmente entre si,
^me...? Nãoprec"; do que ® °"viu dÍ2er que OdisseU íado, quando as localidades d nprrório auando se
fie PJ^merírcôi^"^.ser Cm ®"tende-se
dpei
que
^
um poeta
^
viajante cvá ^variar o repertor o qua
wprHadeiro e o falso variam
e verdadeira.(As "ma tnvenção a üu^^am."'Wriad^ oca de um lugar para outro.
mcorrentes que fia História qu^ ^forme o poeta vagueia,
^sseu conta no fim
101
10o
A PRIMEIRA MENTIRA
CRU o MUNDO

outro lado,como
helêmcos O bardo^jajj^elênicoaU ■
um todrr^-5^-4i^>l§-recitar, diz Nagy,"ao^
centrais é Manabozho ou Wiskajak; os iroqueses chamam-no Flint
c Sapling; Glooscap é seu nome entre os algonquins do nordeste."
que se «unia^a^--^ J'"tes das várias Cidadés-Estado Além disso, ele não é o mesmo em cada lugar. O Coiote nunca
o que recita^,,^,„,^^ os fesq^aj^ pa„.he]ên.cos ^ rouba gordura.dÊ-baleiadD.ânzo] de urn pescador. Õ^orvo reju
errt mdade".^,, ^ ^ado enquanto ele v^aja de crdad^ venesce os sogros em uma história eyak do delta do rio Copper,
Odi7 ■ ■■ de crc no Alasca; essa história não é contada em nenhum outro lugar do
Odisseu
canção corresponde;:::^.
ao cenárb gf , anterior o p • ta ^
ajust^ continente.'" Em uma narrativa ingalik do baixo Yukon, o Corvo
di- às pessoas o que ^ oertezl h ""-" ele se torna o senhor da terra dos mortos, um detalhe que não aparece
quando a encontra nel ^ ouvir. Me posição, em nenhum outpo pontO-da.CQntinéntei-
do com que muj. ^ P^^nieira vez enf ^
loe lágrimas escorV'"''"^'"''®®- "fazeii' Qualquer teórico que se manifeste para dizer que uma figura
chamada trickster unifica todas essas é um pouco como Hesíodo,
tomar o próprio tosto dela.25 a veídàde", at^ criando uma narrativa pan-americana a partir de muitas histórias
poemas são dirigin^ ° modelo do "^""traste, podeino
°^a platéias pan-hel? ''P° de poeta;seO^ locais. Tampouco são apenas os estudiosos modernos que tra-
^nlham seletivamente com os contos, ressaltando passagens que
„ ^®sim,Nagy 7° ^^^gtegos.^é ® tentam incorpora'" ®e enquadram no padrão e omitindo as que não se enquadram.
podem ser i~lll®enta Que.
Culturas orais sempre o fizeram. Homer(jji.íez.-Nativos-iiQr.te-
"■í^Çào de mero ° P^eta Hesío]^ "-'^9 Poesia pa^' "^®^'9âíl°LÍÍ5eran^so durante sjfulos^ (grupos no alto Yukon
para se^liberrS^^ «forníularam hisToT^IIfiorâneâs' do Corvo de acordo com os
próprios propósitos, para citar apenas um exemplo)." Onde quer
°dasp.aNrfa«,.f;,;7;oastra 9ue viajantes transportem histórias de um lugar para outro haverá
r ^"^as c^^^dianteS^^^^^^ essas tradições sã'' feimaginação, traduções, apropriações e impurezas. Apenas as
Povas versões não serão descritas CQOLessas palavras; habilmente
, '"P'®Ptadas Dor locais Ha ^esíodo".r7 Messa Pontadas, serão conhecidas comç "a verdade^'.
7::::°
sividaj
- cr rr -'i :';r
^^^sahiqt-A- ^Píco".28
Nessa Imha, Nagy observa que ò estabdecitiiento de uma teogo-
Pia Pan-helênica deve ter acarretado a extinção de muitas teogonias
P°r todo''® ^técia antiga ^'obais - verdarl®^ 'pPais, e será út.l, por um momento, imaginar a condição do que
s!;®®' ^'-o. A - -o é exclP' Musas reivindicam como "a verdade" do.ponto de vista de uma
seu içou se repetÜ? '•aquelas "vetda-deS locais" contestadas ou suprimidas. Se voce
projeto i^^^títoVPaTãTf^-Saf 9ue~aíir^-'°^'"P"^^'^ ^ '^g^qucòemétera a Rainha dos Deuses,misogino
o que acharia de
n°rtc-a;:X^tsoaa,,;;^WarQÍ^^«sese„riaLí5^^^ ^-la.subordmada á^eurlespecialmentepelo Hesiodo)?
^^''^°tti«>a,Gal ; ''^^fado
é o c"tl Oíais aohT'''^
.''í--°ítUqueV?''°
Pa cosr ^^trafdá' dest" o Corvo fosse o seu herórcuftural, como voce se sen iria ao
;'-'o subordinado a um personagem chamado C-tor-Espe^
tx^iVi *^o p ], ' planalto £
Puia posição local, a afirmação de que as Musas d
°1 "as Woodlan<i®
rtn#> ">2
IE2S2™:.

A ASTÚCIA CPI a «
'^«'A O mundo A PRIMEIRA MENTIRA

dizem "a verdade" pode parecer a foi vi ^ "Belas coisas inverídicas'


àe que elas são livres do jugo do - "máxima e a alegação
habilidoso, um truque retórico n 3penas um disfarce "A poesia mais verdadeira é a mais dissimulada."
mentiras pareçam coisas autênticr faz com
n..Ç.o de Hesfcdo de ™' l "«a.» ««'' Shakespeare^^
vem de seres que d«T' A falsidade assombrosa que põe a própria verdade em dúvida é a
que o poer. „s. p,„ Jome e „„„e„,„ Qüe me interessa aqui, não a simples afirmação contrafatual ("não
Alem disso, do ponto de ^ '"verdade , quando de fato fiz). Qua^uer um cujas mentiras meramente
testada, oo que
testada, que si;„ir"'°
sfonifi de um
de I!
uma "
quee alegam ter ti
alepa,^ ter
alegam fr "fat''^te
taUrn^, do
dvv es^
livre "o '
estôma.,v,3 o_ , local" coOnís
_..e. Contradigam a verdade ainda participa de um jogo cujas regras o
O estômago é^^'' ^P^nas e I P^^lced^m; apenas inverte a^ituação^erecendo não A em lugar
uma'^sso^^>-v2!fí!láW^ quando h' "aflutencados- A. O problema_é criar ur^a "n^njfr^quc cancele a oposição
fuminta. Estou fome fotta, afinai, e ^ ^ssinx^ntenha a possibilida3^e novos~mundos. Voltemos ao
e> apetite quand simpJesmenr está regularmente ^/Vzo a Hermes como exemplo^ unxxaso-de-mcniir^queiuiiva a
tumor,o autíT'""'' '''oqueTd''""" ^inha^ue sepaTa'o^erdadeiro e o^so.
Lembrenío^7Tosiiü'gne"5 SUüéssao de crimes de Hermes começa
P'°^^y^Uessf^^^^^daata2s , Segundo oiP Porque ele "ansiava por comer carne". No início, portanto, ele é
uecesstdades Dnt!^°'^P^a5.ar^to^:'^^^^2íafo^
tesunio "a controlar spas mero estômago, um aeeme da astúcia dos faminto^ e embora
^^o coma, ainda assim mais tarde mentirá, como fazem os estô-
seria qu^-^'" d«Prezo necessidade- ^3gos. Quando da primeira de suas falsidades, nós o encontramos
^^^'^deraospróu ^^ '}^ ^usas.pelos pastores
•"•■»"'".âS" "»'• o» bummuS '""»«■» " -rdíle p.«
poer., cr|.r"°""""0« um,"! d
volta à caverna da mãe, aconchegado no berço como se não
^^vesse passado a noite fora, roubando. Lá Apoio, que estivera
f° ""'««o p,„„1 "■"• P»»« «'»»■ Aí r»»'" Procurando por toda parte suas vacas desaparecidas, encontra o
^^clrão e ameaça atirá-lo no submundo a não ser que ele confesse o
'"""O »■»essasu«udS
'"""ío ,1,,. °" f"
d"'.<"« Hes,dd„,V
»«« a°,Í- '''"'W"» 1" l»®"
pelo estôn..»»" ^nme. Hermes, encolhendo-se nos cobertores, nega toda a culpa:
r-S" «■«S r" ' ««■ "iL
ae, aom^rr— atraviSc j. memc«_ ío rricksK"
. . .
Por que grita como um tirano, Apolo.^ Veio até aqui à procura
das va^cãrdõleTFit^n^"^
das. Ninguém me contou absolutamente nada. Não posso lhe
dar nenhuma informação, nem^oderia reclamar a recompensa
P2£_tal informação.
um condutor de gado? Um.io,mem gjar^e e
forte? Esse não é o meu tipo de trabalho. Estou interessado em
outras coisas: trato de dormir acima de tudo, e de sugar o leite dos

104
A astúcia cria o mundo A PRIMEIRA MENTIRA

seios da minha mãe,e de rpr iim l íorotas de Hermes às que Krishna conta em uma situação similar.
® de tomar banhos qi^r.7 os meus ombfg^ Na narrativa típica de Krishna quando criança, sua mãe, Yasoda,
Aconselho-o a não falar a tem de sair de casa e pede ao filho para que nao roube a manteiga
achariam isso realmente esr P^^blico; os deuses que têjn enquanto ela está fora.-.Tão logo a mãe sai, Krishna vai
vida Wando animais do cnm eria^ça com um dia ^
até a despensa, quebra os potes cheios de manteiga e come-a aos
q"e pisam é áspero. ' P« esti^ensíveis c o chã" bocados. Quando Yasoda retorna, encontra o filho no chão, a face
Ainda assirn se * escura lamhn7t:.^T7irKf^i^ cremoso. Às reprimendas da mãe,
grand^ Krishn,a^em muitas respostas^uotcligent-es. Éle di^^^ exemplo:
Não estava roul^ndo manteiga;..h.a.yJAjQJ[piigas nos pote5_^e eu
gue; esta^a'^naTtênlãndõlk^ diz ^ aparente desobediên
da
■"■«.«. ser, pcig „
d.,., p.; Pessoa
*».roubá-las
..,d.d.. -.p.».»
seja lá ^ cia d^ é, na \^ade7cüípW^/í2: "Estes braceletes pequeninos
que você me deu esfolam meus pulsos;^entei aliviar as feridas
O franco deus do soJe da h Paçs^o manteiga nelas." Para os nossos propósitos, porém, a
fesposta mais significativa é esta: "Não ro^ei a i^nteiga, mamãe.

^qua:so|?i2sÍg^Í3g^^^ tttome^^ Yasqda3,£QniQ-^^P^^r-^h-^^^^^^


tlesaj^rgonhadq-^'^ ^
3^£üt^e
qual """Tn Nossas concepções sobre p(opriedaáe e roubo depm^de
"ra con,^mo-^Tei«iS^ft£^^
As mentiras eõs roubos do tncksteijkSEm-diaM^^
ao ^ sugerem alternativasJlm^os
anteriorm ^ mentÍ^'"- introduz. 'dcksjer^o oeste africano, Legba, foi b^^^Td^j^Ã^I^espeito
O trtck^ urcím ^"=^3^0 do mo^''
^«l^ência depen? í' '"^"^t^ado de fato uma v^dade, um engodo que é na mahdade
'■^'"aniente o con ^ sem d,'^f°^^^SãHi7rguém. Coí^ É assim CTuaildoeok^^e
ÍS5o pode con^"®'" se'' dependênc'^ ^«raçòevpqréiSíipSÍÍ^^^
coí e ^ dos mats velho^ ^ ''^stanx.Z7e«Vseu-rora^^^^
Cotr:? desímbaíaço, 'gíÇ^' rr»^
propriedade
—.M
do ,deus.^ ^^.^ ^ mãe havia estaberecido
pnmo O ladrao da manteiga,

^'""8"'fieativa,
^ ^ «Crr
portanto"'' KnshP^
pode ' ^'"""«ía-mentira cad^ desordena as

:T 'fetornrndd~r^®%^adurarearj'"'°®'''^"f^
Parrd'°'^ ^"'«8a'°f ^'"^açada de manei^^ P jat^tidomamê-l o afastado daquelejl ^ píèclãTimi.
que suas .meatiras-suhve.rteSL„-q^ T^Tnriaac verdades
^as,
modo põe^ d?-qíí^^®de. elarTp^^s momentos antes. De repente, as antigas
""^-^^'^aatr:;;>dotrickstetdJ '"SoTdIpSS"
' ^ixe-me justapof ^
107
A PRIMEIRA MENTIRA

A astúc^cria o mundo
das mentiras do trickster, pois a própria
lusar,-afirlal?^uen^.eM^^ niente se diverte com essas inversões.'"'
di3tribuidaf Queirv-fcca/^ ■. o sacrifício deve^ O sorriso de Atena, então (como o de Apoio e o de Yasoda),
guarjdâ_çom_^to^ldad^rO^^
William PiíiíTf— ■^ Manteiga
toda ^ par»
a Pensilvânia
deve tambrá-indicar que estamos na presença daquela consciência
chamada A seqüência das mentiras crexe_nsesjponta para
Para que as mentiras do trickster n ^ssa_çondusão. Não muito tempo depois da conversa com Atena,
tido,ele deve arrastar os âdversár' dúvidas nesse sen- Odisseu lida com o néscio pretendente a quem deve derrotar para
^ ^^gar ^overnadon^íaiac território misterioso- reconquistar seu reino. Mente para esse homem, também, mas o
ipm-É umlocalização
espaço dosclara
WaianterT^"^^^ sujeito não tem a menor idéia do que está acontecendo, ^-aspec-
de qualquer Lá emTrânsito, ^0 que Homero reforça por meio do nome do homemKAntíno^.
de tras para a frente e falam umaT' os ani^ai^ ^sse indivíduo é completamente incapaz de ouvir a complexidade
das^ajavras de Odissgu, e paga pela própria surdez com a vida.
Apenas nóos fornêceal:stahilidade mental necessária para navegar
uaj_á'^r:^pA7rr^T^b1guKla^^ não passa de uin_
pequeno peixe nesses niares. OíVHl

O roubo e a mentira que dão início à viagem rumo ao interior


''esse ÍÍSóíbTm?õ írcrMrriçteSO^ a
t"ermos. Outro trecho do HmtíVfW
"ustrará como isso pode funcionar. À medida que ieio aülsfofia,
hierines, nascido em uma caverna, fruto de um relacionamento
^^«na^arece p^\5ü® Odisseu é ®®tisinterlocutores ®®creto, sai para mudar sua posição na vida;_Çoinessa finaiida-
história r' ^nge ter o, P"gunta ''e. não apenas rouba o gado£mente_e£ajodos; uma vez que
"aquela praia- "P'icar ppr gp "'entidade, inventaP'^'' ^onqwTa-itiHfã-^les, faz uma espécie de conciliação com
Apoio. No momento apropriado, apela para o encantamento.
«""P-ta óa d """Wr.»' ''«•'i» qP®""" Pegando sua lira e entoando uma linda melodia, começa a
"»« L°"'° » "■" ■i' 1 "abrandar aquele arqueiro inflexível dejniraJon|^^
sedjrerte-Osocrí P^lp^ras "Ma ^ ^ por diante- ^ sonuukd^a.q^do
______ ^^I^les-que cons^^í- « "Pce palpitar d^^Tele maravilhosc^sau^o s_e
se apoderou de sua alma
' William Penn, „ ,
província (e fnf.. 'nspiraHzN
ouvidos atentos".^' Hetpieíc^a^Apolqumw
dos deuses
passou a ter.O flUê.agOLa .lhe ' "P '°
^ "PI dos ma absoluto proprief'
-tSLPíaJetenadre/de lerças- 109

V &}•;

108
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO A PRIMEIRA MENTIRA
devemos imaginar isso como ur^teogonia criada pelo próprio ridade, talvez ("Hermes é realmenfô o Guardião dos Rebanhos"),
Hermes,
frias uma estabelecida por diferentes marcos de fronteira (o açoite
devejexmmoddMoj^dliasJriktó^^^^^ '^Q.co^utor do rebanho mudou de mãos).
essa nova teogonia herméticXclui tanto Hermes Quanto Apoio ^qui gostaria de recuar um pouco a fim de expandir esse pon-
no elenco de personagens e,iom isso,iaca ao m ma
aiitoPCPiinjyau c uiaa pafuifer^r. m
autopromoção e uma baj^ção Nç, c e relacioná-lo às questões do apetite. Todas as culturas tem
' — ~ 'Ap^Ío
-}taao, e nes^o^^ento está irremedi^
T,—tv-r. cm com
i^ocabulários particulares que são organizados de acordo wv^m
retribuição^A^lo ';-™esJhe--d4-aiirarÊ^ padrões paradigmáticos, em redes de significação localmente
mãos d£-Hexrne^_sã^ndòA7^ ^^^ ^^ compreendidas^Enrr^os em pma dessas redes quando ouvimos
momento em diante,Asse7ec'^~^"V'^° ^^^ Desse Q.„^õ^vo se torna vora^'. Os tsimshián tem todos esses termos
fileiras do gado de chifres vai «zela; (...) pel^^ ® Personagens — intestinos, ovas de salmão, o chefe dos animais,
No fim do Hino n recurvoÍf'^"
. ® 'irz do sol, as Ilhas da Rainha Carlota, escravos, bexigas de
™ «naVSS-^
Pantea-o, é e=reconhecido como fiir'1; Guardião àoS
SaiTèãdmíridtrnO 'eão-marinho e assim por diante -, que estão unidos de acordo
os costumes locais. Não há história que mencione queimar'
P°deres proféticos. recebe uma parcela ° «cérebro de um jovem morto, apenas os intestinos; o antigo
Corvo não voa rumo às ilhas, apenas para fora delas. Os termos
tivesse confessado a cnH teria aronte^i^'' ®®o costurados de determinadas maneiras, não de outras. A de-
Pnmeira vez. Pelo contrário, ^ ^^ordou pc'^ •Pocracia capitalista norte-americana tem suas redes também, é
Profef'^!"®^®°dosíaír,^j^oe'tédn?^°" verdadeira teria sud" Perda de peso, alimentos naturais, Valley Forge,'^ energia
suas ment■ ^"'°"3S^^'^è-o~aue ^ ã^em^' ®fôniica, a~Hmília, o livre mercado, paojjijiuco;_qualqu^^
M-® a mentirá' e ° ®° coisas ^ara
vi'' «■» .ed»; í.ic.rs'" ^^"^dolâra-qudqu^Tú;; dd^d^^^ AlilsTSlMta sempre
'í^^^íióFgrWaThmgron^i;;;^^
natural. , ,.
do ma' —-f^^^os. ' e a nigaS- , T.pTcIíi-;„re, essas redes de,.rignificação sao construídas em
rr"- ° de conjuntos de opostos:(^oS^,51^8^^'
"'""'lo o min """ se parece ^^^^-S^emplo, ou - de mamais categoriüã - veSSdeiro
Poderia!egX^'P®^^^áç^^^ de algo toma : real e ilusório, hmpo e su,o O qu os
"J^^f-aguardi^7'° de Krisí^jB^^ígeTãa^errfl^^ J^'<^ksters âs vezesia^eiíTé desarranjar esses pares e, assim,
nho.>" Tal é o fr^^ f ^3° carrego o £Qubei.o£â^' a própria rede.
1"^ a primeira mení''" '°'"ada rum ''° <^ondutor do reb^'
verdadeiro e o fai^^ "ticia. pia per" ' ^ à confus^^ Vai, u.urpii a base do Exército Continental
® cniergir mai ^ Polaridade entre ^Ofge, Pensüvânia, foi o local onde se ^^Ae^grtnTidO^^tNrdo T.)
com uma nova pol^'
111
110
iN^
A ASTÜCIA Cl
A PRIMEIRA MENTIRA

enotmente, mostrei com/ qualauer ar,■y- ■ . . , - ^ Ae


Anrniormt discute ^rigem /Be certas palavras, especialmente os nomes dos
uma arníãúím
uma arifíãc/Má munida
mnida de de isd
isci prospera
nrrsc ar, que e^ presa hi- dguses. Em deteríninado mdíFe'ntõ;el^^
Udade de
Udade de ver
ver al ém dada iisca.
sca. AsLstórí^'
Asdiistóríao^^ ^^^^^olver ^a a ! i^jii ucuerrnmaao iiiuuiculo, i-i,- mr..,—

além lue ^o tjome Herriies


HerrAes tem
tem aa ver
ver com
com linguagfem
linguawm ee significa
significa que
que ele
ele é
íncrementação crescente da astlcia
.
^ ^"S^rem uma espécie de
sugerem iim'í íacn/^rie
o i ntérp^^ [hermeneus], ou mènSageíTCçTfilãdFão, ou mentirõ?o,
-r— í—.

esperta o bastante para retardXa f com uma criatura ou net^^dld^^lTTl^ííTrE^^TlTírte-dexoisa/xê^


mosumaastúciasimilareintè^ ^l^£Bb££aj^sca. Agora, ve- ^^tr^Suagem...» Ele pfOs?egue^gropanda.ilu£_duaS42^^
redes de significação. No inícit do ^°'®' ' ^®des que organizani que sienifícamí^vAnf^" e hinventar"/fmm-CPmbjnadas para
Hermes está em um dos polos de" Por exempJC' formar "o nome do^deus que invento^.^^^^
olímpico, não legítimo,
'cgitimo, não
nãoH obl eto d» ^ opostos;
opostos; ée não P^rí^èTTèrffl^s-é-VTnvSnfõTHFcõ^ discursos.""
-se acomodado a ess:. —^|^^de facrifeip.
essa posição sacnficip. Ele poderia tef A idéia dp"7]Ti'p"Hpri^, inventou á fingàagém_Bâiece.He acordo
comida- por toda aa eternidadel \!\a ^«ntrariedade
eternidaWí.i Hasimplescontrariedade
(roubai
^^in-ranedade (roubai com a su^stãõ áhténõTde.aUÊ-a-dttpbiádade.é-a-^
Th; V'
coisas Ele abandona o que Tb: T' fli/íoc
"^"buma das
"^"^uma
r.
d duaS
/• . -

gamados
ganje^nça opostos» eÍ
dos oposto," . ^' Roethke chama
'^bama dede "a. fa»'
- ^'lí^caçâo. Ao di^^IidTTtroféu ^-Hérmes cria para honrar
"ime juvenil. enfatlzêrTcõmbinação de apeute e
t^omedimento que?oi usBãnê-§sarriaçâ0XÍS2^^
-f;-bor, transforma
s-uajnageira de obterapXrVa™"^^^
alim ® i^íaçãcupredador^^Eesa' ""âmcohnaã-TOTitedamma^asSi^^ simultâneo
, da mente dúplice que os cria. Platão parte de uma
Q^^ndo^deJa ' ''gnibcação no local de ''"fmção similar; sem
®tia a sagacidade paraa inventar
sagacidade para enganar,
a linguagem, em primeiro nao
ug se.
o encanto, ^
mentira que «Pturar a caçT D ^ uma a'rmacíllhai deun,
A noç o de que o tnckster inventa a linguagem apareée mais
uequcui
iTia vezncssa mitolosiâj âind^^..p
q rom considerável
. . variaçao.
.■ •
X iicbbd zniLuiu^ , substituir uma unica
tiezes ele cria múltiplas linguagens para su
linp,_ o "escrita interior aa memória
primitiva; às vezes, inventaa____^—^ àc ve2enn'^ta
Ou a "I- • » j ,.nfnconhecimento; as vezes, inventa
os confin/---— ^ ap^^critr^iJÍ5j.ica
''jtguagem interior do e e
ou hieroglífiSi; piargo, édoo
jas florestas
.1
\jí
,it

de c^rrascbr,'^'^"® com of à revisão. ^^'^dor da própria linguagem.''^ So re u ^ existido antes


^ "mAmeio''
::^tural. li ^^Postame''™^""'
"«s ajuda a enve"' «ignificantes em vc^
a linguaget^ ^ \ «transferido as palavras"
"aen^étodo" ferram ° ^^rdadeiro, o real, ^ dosan'oimais para''"" aCs^^ltoaalega^^BQÍomâLs
os seres humano . trickstersjfezem com
^^ é a mais comum
iaso sÍL "'"^^"ta que ei ^tre satisfaça su^^ regiTindàcl^criar com
- sS d^ pCe^r; ^ocio-xjtronde a^iafe-hàviâ"^^^^ ----.TTiu Derdeu o encanto.
■ rnais uma vez aà
Em Crátilo,
112 113
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
A PRIMEIRA MENTIRA

próprio intestino, queimasse parte dele, refreando conscientemente


r-prática
únlír^ H..
culíurara^rès^tSf"''"'"'® ^ linguagem
. ^stnngiu, e por ve7P«; é neces-
® fome na esperança da posterior e mais durável satisfação. Em
^^gumas das histórias, o trickster parece se distanciar do instinto
•^anto quanto da necessidade. Vagando a esmo, mais estúpido do
Mas neste ponto quero fazer um. n. os animais, é ao mesmo tempo o anfitrião desajeitado e o ágil
ta sobre a fala e sua ausência oeJ comple- parasita; não tem um método prnprin..jnas_e.-0 Grande Imitador
Organizei esta primeira parte Qae adota os muitos métodos daqueles á sua volta. Não constran-
apetite e agora que cheguei à Im ° das que^íSído P^fõlHslinto, é o autOLÓe lõ^osjnfiní^^ e
^ovos,^e anzóis ocultos a rastros impossíveis de decifrar.
-ante nt,rr--nte Sita e a suas Essa genealogia do artifício nos traz, por fim, às questões do
e do dizer a verdade, às espécies de asserções contingentes
pessoas tecTr^ ^Petite^e.asJlanB?' constituem essas redes de significação que chamamos de mi-
I^ito isso ^ ^ ^^"guagem; um^ '7§>as, culturas, ideologias - asserções comovo gado pertence
trouxe até aqu"y™' seguirão- ^ Polo» ou «há sete distúrbios principais do impulso"; asserções
^"vençâo da 1- * ^^ ^ apetite noS mnrniPrècaTaTf^rü^ norte-ame-
7^^ ^Poia as democracias emergentes", "os hispânicos podem
mitologia das fia. n°™'2áa«He
^'^ietivo de ""'"'P "P"*"
ApoJo çpíJJ- P^encer a qualquer raça", "todos^ homen_snasc£mJgüai^.
^Janeiro
^^n^Pos.4. atrás, Friedrich Níetzscf e ofereceu uma maravilhosa
'íSliiêSí ÍSTn^que. fa
. . ..x,. \ verdade, disse ele em uma
pensar essas asserções.
Para
g^^^de parte
passagem, n )(v,> WflP' I-'' 11'' ^ ^ OW'^'^
"°l££2óisdo ^^Pâta rTubar a ^ ^'"lagem do Corv" Um exército móvel de metáforas, viq ^
tickster-Espe, Parecem alter-nad '"^^ação preda' ^etoricamente intensificadas, transferjg|l^^_^^
rf°?*«.•«.om.7°;" ■««rtntc.í" « '«Io» ° J>ngo uso, Parecemam^^
&• '•"■•«»«:'• « S;7>.» T,icts.e,-T<,l" ^«dades são ilusÔMsõHreãFq^s se esqu q ,
é aquele^^^lue le^ ^^í^garnio^' níveis de if Ash
í^e resDonH ^dist^^^^a sati.f ■*« „„v
f"". de 'mb ° rrickster-Ainda-
'««tei-Aind»-
^ ^ CorvO
Parte de^i^-^to d^cT'"'' '"fic-j;g£_®Uas necessi^^^ .r» linha, sobre a forae á formalaçao de
ou dos que escaparam
''dade à invL'^''°'°g'Hla?^ '^^Eexão " P""'"
essesed^tq "'^'^"'ento da neces-
'o, Como
^'dfli.ã fv- Queacrescentarestô-
"^«eos a ideia de Nietzschepormodifique-a
completo. de ntane.; significativa,
'tickster, enredado n"
its
A PRIMEIRA MENTIRA
••• w I* U VJ

mas
■S pode lançar alguma luz aqui é não apenas derivar a inteligência do apetite, mas pensar
ele introduz nn^. Esquecer a 't- ^^~^'^^QÀQ_esQueáníefito^^ luais amplamente sobre o tipo de inventividade que figura nessa
e nessashisr^s é a ntitologia, o tipo de arte, em particular, que pode brotar do espi-
inconsciêíSTíSí^^' ^"^^aça perturbar quaíq^^J^^ tito do trickster. Nesse sentido, há pma lopgaJradÍ£ap^_s_itua
revelar a natureza fictícia d ^^cita "meros estômago^ ^ a arte naquela terradTsõmbíãil^jSplSíé^
estomacal, quando nâo tem'' il^isórias, como se o áaào falydiiItó^'b;^fêrenciadas:-A-^
a ilusão de sua amnésia Dmi""'" ° ^"6 agir, despiss® monta a AristóTelesTqfie íonsiderava os poetas épicos uma especie
de -amaeseo^ " de de mentirosos cretenses. "Homero, mais do que qufLqjíeTojato ,
?° não iniag^IÍÍ^'''^'^ escreveu, "ensinou aorestodenós^J«&Aex^ :i' iV
Janeira cerra y ^ ..f
•A . _ Âa niifi a arte c a mentira ití»'
w^^^^^Sipecom a ordem homérico: Her^ Ê uma antiga noção, portanto, a ^
que dJ das cois.-^ -"tpartilbam o mesmo teroitóno, um território
armad-|r''""° à "verdade" T^^^^^^õd^^do trickster ''^«to-desafeocha^ mjindo moderno. Os
desço meia-TOlf Pode escapar de uiP^ '"«demos ficaram conhecidos por descrever a si
(com dusão depois ^ P^P"^. í'" ^^sma linguagem, de Defoe (de quem
1 -ia-vo,ta e co„iurar ou^r^ passando por Balzac
de 3, '^^"letaVas" de Niet'' i, ^^^-fc£nia.^jfi£âda dc.rnent£a ), ,,prHade é salva por
®"'" ®anarrtridealizad a ' P^^^eiro lugar, se n^° J!"-0.™«como um roma.« »° ""
InT Talvez ca até Mário Vargas j „j„ ma-
«fâaue^zaoesqueciír^ alguma droga tiando"'^i.evemos romances, o que , , impomos
^ estação profundamentÊ_dismiÇÍ^^-^^^ aiais conWu~a
eHerm
grega para estupor ^^^íân^ncarregados
é (eth ' —— ^m um estupo*' 5J V à sociedade. A
. ---rrrr. nnmo verda^s h
^6 Virginia
&
Woolf

®"®rda da m 'pró_ ■- ■ Quando Hermes


P^ESc^m o esQ"ue~®'®"-°5, atentos
abaixo d^ a;;::--'í!ieqto. Sob seu en '
Pega os cães
"^«spertos - e os^enf'
da consciêneL to en
' qua,
P*'go tudo isso aparenta ser a verdade. Iieg
ne tato conta improvisará".^® Ate
n^3s também ^ P^rte
norte-americanos para uma Milosz pode
dos quais vou^g®'"' '=ar comoesltr ° flue cobrii"''^ íí« o poer. moderno al.amenr. «■"^«rm-ismÁ
capítulos ^bre para te^^^ áT"««' «do defendendo "o dlfintofíSirl!®^
'^^^^íitir;'.59
se seguem. Meu pf*^!

116
A ASTÚCIA r.R,A o MUNDO
A PRIMEIRA MENTIRA

Nas artes visuais, Pablo Picasso foi


descanso subitamente se torna uma encruzilhada. Esses artistas,
confundira^upostadistinsgj^^^
uma m_entira_qi^os faz
pof Poi" assim dizer, reivindicam uma parte do território do trickster
quenosé'dãdoStèHaèr. Òa^1-ic^ ao menosTverdade P3i^a si, sabendo que é um dos terrenos férteis da arte e do artifício.
^ artista deve rr»n u
convencer os outros da veracidade j pelo qual i Seja como for, no que se seguirá espero expandir minha inter-
mais extensa exposição sobre ^ ^entíras."6o Talvez a Pretação dessa mitologia, voltando-me mais plenamente para o
de Oscar Wilde "^decadência da m""' ^"'^ontrada no ensaio mundo da arte e do artifício. Não que não tenhamos estado lá esse
arte por um esteta 1891, a defesa da mmpo todo. festas páginlis; eu também estive mobilizando um
exercito de metaferasrttm-«xército que espero empregar quando
estampada no seu exérdtopaS / ^ "ccessário nas páginas que vão se seguir. Mas busquei, também,
s^nd" ert"
'° IZ '"^^áforas.ZonL belas ^■"ganizar esta seção em torno de uma leitura simples e, de certa
JâSe^) que'
homens perecivi°
"iaç4
'
(o;
'^"«veis
Wüde, peH' °''ma, literal do material em questão. As próprias histórias de
'fckster sugerem que procuremos no apetite e no mundo natural
Balzac, dizendn ^'^"^^cemos Hp f muffieres e os mízes da sua astúcia, e tentei fazer isso. Mas, conforme obtive
Wilde honra '"'esso, às vezes me converti no-Cõiote Tofo, pensando que há
deLüciencie^^7~^^^^ "^oniinam e desafiam ""«mas para comer em "As ameixas refletidas", ou que a carne
vida foi a mqrt®
"^^mórea do gado de Apoio realmente poderia fazer a boca de
«'mes Salivar.
^ue.foi|í-5j£^l|«ndo do^ meus í^onientos de 1 . é que as questões ligadas ao apetite não conduzam a uma
^sejeinos ter ^ realista
banais persep copiou."62 portantí?» ""m interessante, é só que, agora que vimos que Homero e um
«».wilde'Sr f...° 'or ®5'<I= m»,.™ •« "'^"tiroso, agora que nos deparamos .com viajantes que multiplicam
^«"tidos enquanto se deslocam, devemos ter cautela para nao nos
"s*. «-
Ele muito confortáveis com ,ua.,ucc
qualquer imb.
Ifiiba Wic.
unica de ..111.,
analise.
''C«íS"
Cow„.„-
«SítS'''"--*'■""" *"""■
'^®''com «A ç,--íao^omadas. Seus rastros apontam par
os outros™ (O qu^ pode ser também uma pa de)
sãod r'''"''^®sposÍc Como Picass^ H"e Iop;
«''mente esgota seus significados. Enterrar o cabo de u p
do o ^ '^^^sniente regist^^^ ® ® c c.;nal de aue a colheita esta
«m um montc d. «rios c um s, «1 d«
»«■ oS/ ■■■»«'..' ? *"'« á 'r™' ° "I "" "raivo
"'«adn P"''"" ''e "f" marinheiro. significados,
P°is enS'"' ará° oncluída. Mas quem iria
encerramento desses? TThn^
^"^sparência e todo lug^^ V^Ses._Ele «fitou à vtda.e .^gP!^
118
119
A ASTÚCIA roíA fK
CRIA O MUNOO A PRIMEIRA MENTIRA

Notas
24. Nagy, Gree/; Mythology, pp. 42-43. Ênfase acrescentada.
25. Odisséia, XIX;203; ver Nagy, Greek Mythology, p. 44.
1. Radin, p. 28. 26. Nagy, Greek Mythology, p. 42.
2. Radin, p. 29. 27. Nagy, Greek Mythology, p. 45.
3. Radin, p. 57.
28. Nagy, Greek Mythology, p. 46.
5
5. Nao podemos deversos
fato ter130-35 29. Thompson, p. xxi, 294.
que Apoio poderia notar ° acontece na cena eí^ ^0. Ricketts, "The Srructure and Religious Significance...", p. 90.
iqino Ricketts, "The Srructure and Religious Significance...", pp. 100-1,
falta ver AHen, Halliday. Sfc'' P-^n^her
"«se ponto.Para uma o trecho
versos do H. ^2. Ricketts, "The Srructure and Religious Significance...", p. 95.
iO
Ricketts, "The Srructure and Religious Significance...", p. 95.
í.7. Eco
N« pS' . "■
Poeti
' U"'»" O- Ê^^fienne, Cuisine of Sacrifice, p. 61.
^bakespeare, ^45 Vou Like It, IIúü, verso 18.
^1^0 a Hermes, versos 261-77.
2. Hifjo a Hermes, verso 282.
Ver Hawley, especialmente Parabola, p. 10; Krishna, the Butter
•■""'«"«'o íií »"'£•«. Tco'"' '''° f ^hief^ p. 9; e Thiefof Butter, Thief of Love, passtm.
s
^'«0 a ííg
r -"~o%
femeas que são abati^
P^lton, p. 79.
Odisséia, XlII:256-86.
42 • ^Irto ^a Hermes,
Hermes, versos
versos 416-23.
427-2S.
iva

12. hJagyp, :-^26esegs. 44 * Píino a^ Hermes, versos 497-98-


Hermes, verso 567. ^
P^nso aoui na discussão de Richard Rorty sobre a fibsofia da hn-
, 26-28 g"agem de Donald Davidson. Ver Dialo-
■ P'atão, Crátilo, 407-8 (ver, por exemplo, Jo
,15 ■ ^erKagv Vn-2l5
r 91 ^ Nagy, My'
12. °fPlato I, p. 197). Mercúrio revelou o segredo
■ a tradição medieval, que é a memória (ver
os hieróglifos e inventou a "escrita i
J"ng, Alchemtcal Studies, p. 225; ra ^
'-ory [Chicago: University of (Pelton, p.
^1- Nagy Q "m mestre da linguagem mtermr g^ericanas, atribui-se
22. Nag; ° p. 59 )• A Manabozho, tnckster das ^28). Tanto
'"venção da escrita com pinturas ^j-^ditos pela criação da
^ Coiore quanto o Corvo receberam os Qj-iginal
sy, p. 43^ J^^Riplicidade
'^«^Leydet,p. de78,idiomas que "The
e Ricketts, tomouStructure,p.l
o ug

120
121
A ASTÚCIA CRIA O
mundo

48. Norman, p. 403.


49. RobertPeltondiz.porexemnin „ .. I
Ananse tem "uma duplicidade' ° da África Ocidenta^
quando eles por algum motivo fmc Processos da fala
50. Nietzsche, p. 250. ^««ssam (Pekon, p. 50).
51. Hesiod. The Homeric
j3. Paul Zweig,Poética, 1460a
'^alt Ví^hit ^°"'<'rica, pp, 264-65.
Basic Books, 1984), p! 255' °fthe Poet(Nova Vork=
'nterlúdio
Dostoievski Then- ^PEN Newsíetter, n
"^entep 8301 of a ^riter fi ah

33 VirgíniaSn '""-PP-«35-38
Woo|t VPrPíngíonPosr 238 b5-
Brace & W/ ^°om of 0„„. rs ^ 1987, p-
'«'«ÍoSí P- 3-k/k"" Wp» Vorki HtCP'-
«>« Elliao', 'i U„ a„. S>»
f ,25 PP ,2,
PP«"-3«,ii.

^ • ^"Ide, p. u
64. Nagy c L

33.>26.143, '"«■«PCoin,,.,,, „por exemplo, LopeZ' pP_

U2
A terra dos mortos


'nipeto do Coiote

inverno de 1929-30, Archie Phinney foi até a reserva indígena


Lapwat,no nordes^deldaho,para gravar historias contadas
Pela mãe, Wayílatpu,dUo a^s,uma índia nez perce que
apenas s^aUd língua
língua Iiduvcx,
n tiv^^de inglês. Em 19NêZ4,Perce
Phinnev a Columbia
Texts
iversity Press publicou o livro ^^3^35 histórias
[ extos nez percé], que registra „adução
^a língua shahaptían nativa aco P
'^eral e seguida por uma tradução ''^'j^^-g^ga^qual o Coiote
hmney incluiu duas^^ESS^^. ^ a glha do~CoÍote-foi
'^a e elele aa segue
segue ate mundo^j
até oo mundo íritos;ekiecéKpírmissãb
00^^-
d P ;,
olk! ar
levá-la de volta para ^g^são da história, de
- ^tás
®eordo corri

0 fl pw
O
Coi
'^te e o povo das sombras
O roiote e a mulher residiam lá- A mulher ficou doente. Ela mor-
, • Nada fazia além
Emão o Coiote fico» ntui.o, »>"«»
^^*^rar pela mulher.
1 r4i.se; "Coiote, você sofre
'C ^ Hela...", res-
^ espírito da morte foi ate ele e ^ dela...",
mulher?" «Sim, meu amigo, smto s
125
A astúcia cri..
o Munqo
"^ mundo A TERRA DOS MORTOS
pondeu o Coiote. "Poss^ j
íoi,mas,_avi^vocPf.-: . Ihef Onde esta sua mulher. Chegaremos a uma porta pela qual vamos
^otrar. Você vai fazer em todos os momentos exatamente o que me
coisa." "Sim" r íazer. Vou segurar a porta, abri-la e, curvando-me bem baixo,
poderia fazer.' ° Coiote v"' e fazer outra ^^trar. Em seguida você vai segurar a porta e fazer o mesmo."
a ele: "Ótimo, a'^^' ° ^ocê d' amigo, e o que ® ^ocederam então dessa maneira para entran ™
seja, Or o espírito àis^ ^ niulher do,Coiote estava sentada bem ao lado da entrada. O
Eles foram
Eíes forani indo.»
^'^do « ^'^rescentou: "Sim,
^^^escentou; "Sini» "3"® ^spírito disse á€L.Qoiote;LA'Sente-^e-aqur-ao"'fetio^-da-"Süa-mul]^
fazer tudn „ J ele faln,. _
Amb se sentaram. O espírito arrp.scentou: "Sua mulber.agora^i
^^^Parar comida para nós." O Coiote nada conseguia ver, exceto
f " nào COJ""
conp^ . po,qu.''
'por nii.. -. "Sim,sim,
oim, ^
^.^^"^síãvrseTTmtlD-a-liTTnr uma pradaria aberta onde nada havia à
r apenas umo .. ^er n "^^ria atenr^r» a voc^'
""^a somf"'^ ° esDÍrv"^° atenção a no entanto, podia sentir a presença, da sombra. "Agora que
"Sim'» cavalo!^' «^'areza. Ele pa^^^:' _ preparou_ nossa comida,
a Drf*r\o • 1
vamos comer."" r\ O i3cr\íi»t^r»
espírito abaixou art
hám ''^®®E°ntleüoc^'E^'^^ceumreL®®^''^^® Por.uina pJ.aJlíS-'^ ^ ®o e depois levou-a à boca. O Coiote nada conseguia ver além
ncam ^^^alos.»^°'°'''^-"bora n;"'^°-"''^^clamou o espir'^"'
u . ^oranr. '^"^^-^amou o ^ ® Poeira da pradaria. Eles comerajm.O,CíHQtedniilamtadas os
«a
na rrm'"**'«.oO =l.,Ead„ "■«. .ia«.
nhegado """"f» -da vtsse, -»■J'
Jj "genros do companheixa Quando já haviam terminado e a
<r -ÓW ^' « ■4°o r:» do l o gar »"j; ^"'ber aparentemente havia recolhido a comida, o espírito disse
°aIto V
r.^1.
'^°nier A^^^Hãntas fr ■
^^^"9 Cn»^_
"^° ^on^nguia
nan i-r»nc/=f7UÍ^ Coiote: "Você fica aqui. Tenho fie sair por aí para ver algumas
Vamos apa^E^ Pessoas.»
"lnet?^Íâbaixará'"'^''' ® ^na
"■amo, e ó p^" n façT^l^^i^nos."
e '^^-der a mão P^
- curvar o ga^ '
d Ele
sam, mas logo retornou. "Aqui temos condições diferentes
que vocês têm na terra dos vivos. Quando escurece aqui
"«nhüma
"'"butna ^°'°fafezon,
,°'°''bezom ®'È^n,to er„, disse-lhe o C"'"
ere, '""" '^'"e-lhe Coio^^^^ d'a está nascendo na sua terra e quando amanhece para nós
'°'nosec' "««ono/""°-Embor! braços e dobro*^ P ficando escuro para vocês."<Eatãoçome£Ou^es^^
ntasnía ni^., , nonseeuisse ver
Então Pondo^J" pareceu ouvir pessoass^âS^^"-®"
oí^P"fitDsçiKmT0dãTsfiT^dS:^o a escuridão se instalou.
T'
f^faoco,/'®ntameo. b^^nameo ° n^ãos diante da b^^
J' ° Coiote VIU muitas fogueiras em uma cabana comunal. Viu
9üe
"Ap ^ o- o Cq- ^^'mento. QuaP ^ ®^tava em uma tenda muito, muito grande e que havm muitas
ardendo. Viu diversas pessoas. Pareciam ter a fmma de
^SifP' ®°ntbras mas
Y; „ o ^' ■ conseguiu reconnc
Coiote ríTonhecer fpessoas diferentes.
iq
^ Mulher sentada ao seu lado. í!

'"«U tomado de júbilo e c«n,p,in.e«»u alegremente todos


do™.< ^"">0, amigos ,„e h.vism morrido
^ava í 1- .
mu.to tempo antes. Como
í^rnipiras de um lado j3âCâ^u-
Caminhava eatxe-a^JagUÊlí— a
C07 isso a noite inteira. Agora
-C)wv,iii. i^iii r com as pessoas, rez ^
"Sim, me diss^
^56 127

k
-srMNSs-iifc

A astúcia
STÚCIA cria
CRIA oO MUNDO
mundo
A TERRA DOS MORTOS

podia ver aaamanhecer


começou porta pela qual o amigo
e o amigo f • e elp
- h • entrado. Por ^ espírito da morte, que os havia mandado embora, começou
noite está chegando g g^^^ « disse: "Coiote^ nossa ^ Contar os dias e calcular a distância que o Coiote e a mulher
Mas dw^ficaTh^^^I^^^^ "^empojmrê não nos verá- ^^'am percorrido. "Espero Que ele faça tudo certo e conduza a
e,à noite, verá todas essas nec.„^ ^ "®níüm.'Fique bem aqu' —er em segurança até o mundo além deste", dizia repetidamente
- onae eu ma? Passarei o «Sim, meu P®ra SI mesmo. Qhf\,V, U,V !í^r
p""A aurora chegou e o Jr.r^
C .aqu,. ^ Coiote e a mulher estavam em sua última noite, no quarto
^^^^pamento, e^^íma^ ela mais uma vez assumiria plena-
Sr ''«»oir.r ™ «"»<<»
o cóloíT"''' "'M J„„|' "orrendo por caos» ''''
^nte a personalid^e cle'uma pessoa viva. Estavam acampando
última vez e o Coiote podia vê-la com muita clareza, sentada
'®nte dele, como se fosse uma pessoa real. Podia ver seu rosto e
?orpo com nitidez,, mas apenas olhava e não ousava tocá-la.
^ ^ II - —

g, ^"Htamente, porém, um impulso jovial apoderou-se dele; a


J8na de ter a mulher novamente o dominou. Levantou-se de um
nr pana abraçá-la. WfeêÉSÍítíâJS^^
Pare!" ^
®8ora o n^p ?^^^"'''^®8üeanpnk
®8oraoQi,p ^"tregue a nenK *" inclinação P®
P'"' dg?apareceu...
' que7o73íilHr^o, ela desapareceu. Ela
retornou à terra das sombras.
«nco dia?? '''''' fazer Há
eincn u. cin"""^ '''eia ridícula. Vou espírito da morte soubedamlicedoC^
""^nunca ■ estará ®°"tanhas. Você viaja^^
deixe nãojf' não fazer nenhun>a>.c-e.-^e, Co.ote,
"""amÍ8o» ,g Montanha pòd r""''®
a Pnestes a estabelecer a prática do pegresso da n^o>te^ Daqui
Quanri ' nn Í3Zer n n . »
e e? tempo os humanos chegarão, mas voce estrag
-^
O para eles a morte como ela é. «Amanha vou voltar
cies ad morte
A^vcu para eles 111 luií^^ ^-JíM. .

Para ^''onou e chorou. E decidi


Paro . ^ Chorou e chorou, r. ç^eninte e
«t°':"••£'£■ •''CT°T """'•' nt ^ vê>ia
^9Uani-
„ « , • • ^ rpfnrno
^ novamente íniciou O retoin
^^"ícnte. inici
ele e „ ° Ptosseguia,
na manha seguinte e,
lugares por onde
^
.â"*: ' " "■a iS'
segujj ^ ^--^^í^ecia c ^
'""-s.,!£r"" -i"""»
da m Tí! "montanhas e ag
f9ptas;í?£|£3'£!t2Jlâyam£!^^ gon,eçou a fazer as
*^®snip ^ ° rebanho de cavalos e ^
^•Pbr, ' ,r, rebanho." Continuou
cada vez.? ' noite? chp!"
t^beg" ' os cavalos; pane« ^ encontrado as frutas.
^ havia
senta tenH de cada um 7h n lugar onde o espirito glgumas." Repetiu
J ^^^ntas frutinhas! Vamos colher e co
*^3 dela "m lado da ^^^ittentos de apanhar e comer frutas silvestres.
cada vez ma.snít*'^'
15o
k 129
A TERRA DOS MORTOS
A ASTÚCIA CRIA O
mundo

Seguiu em frente e por fim chegou ao local onde a longa tcnd^ hJào muito tempo depois, sonhei que resgataya uma çnaflça
havia se erguido. Disse consigo mesmo- «A„ . iraf morta do submundo. Pelo corfêabr às escuras de uma casa de
a porta e erguê-la você deve fazer o m aqü classe médiaT^tfeguei'a sombra do bebê de alguma mulher. Eu
Eu
todas as mínimas coisas m.» ■ . OCoiote reco^ estava furioso com essa mulher. Vi minhas mãos se fecharem em

Volta do seu belo pescoço antes de acordar, tenso e trêmulo.


^inha família se mudou para ajnglaterradi^^ do
a volta, procurando aqui eal' " ^°^es,e olhou por fim da-Sêg^'aa Üuerra Miángial. Em Londres, flores de cores
nos buracos expostos dos
sentado ali,no
a tenda não meio danovamenf'
apareceu pradar'' ®Pareceu.noite
O Coiote
inteira, porões dos edifícios bombardeados. Meus pais
"m Chevrolet
Chevrolet 1949
1949 com
com paralamas
paralamas verdesTgTOSSWctJffióíi^^

Uma velha história


"C» dóla-í-MnSÍÍPTTS« terreno
"O dóla^-:;r:rr__.-» «-^rr^nn da casãTqúni^os
casãT[ue^ug em uma
na periferia de Londresmcluía uma quadradgg^
A'guns anos depois n
Pnniar.de
^í^<de maçãs
uni -f:
macàs uma
uma casa
casa de
de boneçasçgrnjiitfais
bonecas^com—— losangulams^
7 -ArbriTildineiro fazia crescer a
'Obre os,«]«!«
í"-^^igo antiléreo,
r^elSbTe o qual dent?^g5^5^neiro fazia
um martelo
r."i^®aa55s;;~^®aâõas^^
eunf^«iHíSS;^^ ^nhoria, que meu irmão e eu de kranca
"p^^sara os oihrnZ::'^:^-^^^^ P®ra obter as fabulosas lascas de
cado Tnl Na ép^^/
•epígrafe um verso ça Q^ndo eu tinha 5 anos^meuspa^^
"O dito por Apoio no^ acrescen
acrescentei c Pi' ditb, nascida em dezeí^íõd^•„Wf^ra com o tripanosso-
"As
"Ac Muc,c
'^^^t"sasca„r "íP.Pqu_P
"*9, gu^conta
gu? sua hist
conta sua
conta s,^ que caus(a encefali^.ent^ç!lS^^ inVonsoün^dm^í^
Comovive^ sofrimentos do k ç -i^Oâ-£e«^ta<deráãcom^o^^ Tj^l^^^deuma semana
Cura Da-. 'Snorância e n a '^^^ens...
^-—Ij^teou dg£ °''^samparo,sem achai ^^ida entrou"em coma. hos^l,

lO^ Tr^^Pais- Aindã"P^^^- .


abios se movendo^^^I!S5^^^^^^'j^bíõspararamde
Truro xT aluga^ mulher fr-ítr-gstávaiP -
1^1 I 1 1 ^^

e ^dbSCod, sg^i^S^ÊSigajuJo. Enquanto a morrer. No velório,


''®'Pa sobre o i de escrevei' mover e pensei que talvez a estivesse j^^ygjg i^.
e parei à beira d^ , g j''nmãomaisvelho,<S;clNiom
desencadeai' mentindo D ° finalmente ter escr'i gii'P®f_dcle, mas não senti vontade^_£_^^-.--^^^;^j"|^j.Q Lge "amava
de W,0 certa tristeza e fadig^' n-,® demais para ® 'gntados no Chevrolet
feíS^Apolo e entreni^^^
^^^ndia. 131

130
k
A TERRA DOS MORTOS

ao lado do pátio da igreja en„


lanela^para falar com os m'e„. se debruçavam naS Certamente toda essa antiga dor estava presente quando fiquei
vezes Sètevantava da daquIrs^^írtírTna^^ Parado no vento naquela noite, mas agora acho que ela também
®stava misturada à sentimentalidade de um homem adulto ainda
Preso à grandiosa missão da criança, ainda que ansiasse por se li-
dire&n furúnr i ^^^^curas. Papai seg^» ^ ftar dela. O sonho, ao menos, retoma esse tema e o elabora com
mandadoTpTrÍr°" ^'gam ternno nT^íi^rrilha "nia vingan^^"si-thipHTâHiIltã^ (aquele belo pescoço),
om violão r branca. Fomos ®^Perimento uma fúria brutal contra a mulher que tentei ajudar,
b"'", eu pòdi^dld'!!^'^^ deixas'" ^°fno se Orfeu, ao caminhar em direção à luz do sol e voltar-se
Algumas vezes eu g'" " P®ra olhar para Eurídice, não fosse movido pela dúvida, mas pelo
o^^^SalaJma se^ de morte preco^^ ''^^rentimento. Quem é ela para fazê-lo enfeitiçar o velho Caronte
^ Uma canção e domar o cão dcji£g$jça.heças,qu.e-gua.tdâ,a
^'■gem distante.' Quem é ela que o faz permitir que sua arte seja
'°bre perda e red" ®"^ègá-ab-âs sü^- P™'®'" ^'■fastadi nessa êmprelmaãTe-sTspMa^S? no entanto, imaginar
"inguém alega e ^'°- queisso í "bras-detó^'' ressentirnentõ de Õrfeu e persistir na raiva do sonho, e esse
'"fância degerenr'?""'®'^°cacion """P'"^amento srmplfsta - ser o caminho errado, pois a raiva, afinal, me fez despertar,
'° ®eu p^^; ^"P^^mercado oT a de
morte mar^^ ^
automóv^^^'
li '"® '""dança de atitude parece ser necessária, um salto na narra-
"• Talvez haja ressentimento nas histórias órficas, mas os que as
r'°~^^''5laterrr'^'J^^ Mm! história, a mo£t^ ^puseram tinham um repertório de sentimentos mais amplo do
eS?"í"
::?^P?S?f^^br d '^-P° de-iín^^
Aclãi?Í!^rreu eu T °P^^^^do, uma vez
Na história paralela do Coioteàpapdo sua impulsividade
^'® ° espíritõ-dã mulher deWtlà Terra dos MortoSiO espirim da
meT°''^^d«.ela;r^^ de um bebê e D ^ repreende: "Seu inveterado fazedor desse tipo de coisa! (...)
tário ® ahviá l"d 5^^^ "'"'i' «.beleceu
""um curto ^po
p,ra elesos ,humanos chegarão,
mom com. ela é."mas
Os vocec»™
estragou
interò' tj ^or. T^r?' ^'^nçâo renovad^'
Sr
daquela
Srr -Ssr-!!!!i-4és.co vd^-
^o merí ® prazer r^^bTa'*'^ »,^Ual'""M.
conheciam a mo,,, como da «■ """"«fZZ
Sabiam que «vemos no• ma"3»4° S5'"
pidament^'®'^®^^ com, oorno m''u a esse hP*' p^ não duas. o sonhador que
atenções d so^t ^""^beteirg inconscien'^ 'leve 1)11'"°"®''''®''' -^ie disso pois tentou fazer
^-S,coS amda Apoio fo,seguida " que J''/"®'" do sonho cóm raiva nao sabe ^
« ^^-cíeir/^depoir '°"had """" ° ° " do no qual se meteu, pelo
®'n>a de "Peus tale °"ao'estão ^'"'"'ía
^^^es gn ""^^das com aqi"®' ihen ®ncontrar uma saída do enied
uâo enquanto permanecer dentro de seu sonho.
'^^^'SitólrS ®®Pültur"'°^ Pudesse T esperasse ^Osop,^ , , npífe existem minas aban-
^ ^^vow r^ ^iS!íiIU-do ergu'^^'
' ' Padas^ ^ as entradas estão fechadas
ris rafaz muito tempo; as cidades
'■ainha.
13Z
133
A ASTÚCIA CRIA O A TERRA DOS MORTOS
Mundo

próximas, há muito empobrecidas - foram queimados. EsseS ^IgJaz a nrimpiro piada imoróoaa. MjisJo_aue2SSOj^r_ab^^
mcendms sao tmpossívds de extmgum; eles arderientamente "ubuído de seu espírim é ser men_psobedjentej;aojj3^^
através dos veios de carvãn nr^r ^ • «iraem lenia
seria maravilhoso se o autor de quarenta anos. Cotn Predis^SifoTii^Tiíilíí^mh^^ Quando Hermes
tamanha longevidadei Por °^"^«"trasse um tema cota retornlrcTa" noite de roubo,a mãe o repreende; ela tem uma iniagera
mais stmples^lgo Í;" " ««Ihido um 'lata do que ele é e, por extensão, uma imagem do que preferiria
algo que aparecesse subitam^^^^ esgotar em uma temporada,"U ele fosse. Mas as preferências dela não o comovem. Como na
questão de meses, para aue^"V por completo eíO- l^'®tória do bebê Krishna, o Hiuo^HermgiXüflCe^^
completamente
SegjnrenLfrÊnte_com o quê no
um assunto que se ãíimem
e seguir em
"t^lhor estar envolvido e Pfla agrada—IsT^nca veste a máscara q-°®
melhormas
nãoconfiar
saber inteiramen?°'" '"'' 'chamas oculta®' ^affèiãram pa-ra ele. Na história sobre a ida
tiação, que cede os veios da fas'^'' Ottos, podemos ter a impressão de hicmria.não-é-Lim.
P^"sa pela atenção que lhes a''"''"'' "1°^ oomo recoq»'
assunto outra vez com e s"*'" ^ eni
C]os o dominam e segue-se o
teria sido mais triste
homens ou mulheres se
descubro que se inspiram mut''
— 4UC ic inspiram ^ «Aexões em meu^®'
• ^cuexoes em
começar,percebo que emold cm
cin vários sentidos.
sentidt ^c se contivesse, como é triste quan j ^ jovial" jamais
md^ma^o„f com a fala de Ap"'" >n,a„ b™-c„„po,..dos,«i«»taír.'íp»^^
<^assupèriore.s,"^u7m m;c^rtdü? ^°'^"'° fo. Apoio, neiu a®
0„ ■ T'^ ® trabalho, mas ui^^ Mdp ^SSO, as
isso, histórias_de__l__--^^----^^
as histórmsjgjllLl-^^ Mas
cont pelo seuT
Responf-®""do, onde os ° ° dessas vozesvoltat'®
''Unifica elevada® rnasahiSlária^®
niasaiustúria^-
°ttQs, Q ^ deixado potque
esperar uma5 i^ua com'®®e
ter
esse tomjTT^ade,
tom'.TJavêr3'a^''^taive- i ^aixo,sujo e
temas tiv então, que a r ros«qs possam vol^f esW-!.'"'"
'a^rCfó-.T~-= r:"í: pm negam o qu P i:Uprd a d p
l®torias"não afastam nem de uma liberdade
-X r? '-^do a sentrr ^e trablhar os' '""irtmnsfornwdoAjern^^
"âo e^r! r'"' ^'"da esmva '^^^«'amento, pois, P
e aléÍn'"''"^'"ha (o sofr^' a uma tarefa Para r ^ tnckster é
hatest da mmha tiia^ ^dtmar não tanto IttSjiSJ?"--•
até'?"'^M¥?d;Cosostnaterg^^ demonstra
Cria P®tito a rnarieira como os mo pjgCeqtqs,HÍA* da3<^^
jii ttiundo e depois brinca com seus ^ impulso, mas
taiu®' das cachoeiras e da luz solar, o em uma
qua Itá uma inteligência capaz .gm-apataantotte.mas
"'•"'Co' °'"'C 'Ssa"''^^de incrível de concepções. Nao ignorância .
após o funer^',
O

^^feição quer dizer que os humanos deva


134
135
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

inacessível ao hiaAla_aue2i££^
aprisionaaõém umrKTstóna homer^
da qual ele não consegue fugir- 1 serve, uma histórj^
até que algum Condutor de Almas acordar, não
para ajudá-lo a cruzar a fronte"^^^' ^ ®""^-ísic^po^o, apareÇ^
matéria de uma vida (crianc. m sonho no qual a
adulto) parece tão fortemente cn' arte do homert'
ca mais astuciosa, na qual velha!!"'' uma consc.ên-
novas p '^«'"oronam para
Acaso de mão dupla
raes,ou meu filho,ou um. talvez seja o bebe

Sr "■»■ •'■«SS S-' otsdtsísasí


as históriror óbv^na reconfigurs''^
*^ontraamm zíj
'®S'"®'ttação.em 5■ questão,^
centra, ^t^^cram-sp etn questão, P;.
<^ães de gua"
cães v„ da"^" ^® -^'
't.fragment.na^ autodefen^
autodefen3^
"tiamudanc ''"s seus n. ^ ®tises eíêvãaõs côlSSã^
'"filtrar em ' °'''^""sável por Para que haj^
""t cai3 dTam
de ®mor, ! constrangedor-
amor umj^âo sem pu^"'
constranged^
Notas

" """'"«'l" ™ E.m«,,PP'


Ver,porexempl^'
p. 339.

136
Um ataque de acidentes

"^esp.ocupaaadosde^^^^^
prWpessoa.s,
dãs iimuaçoesde sua em um estado
sua|«3nsitoriedade. Nao je beleza,longevidade
de harmonia essa ausência de
e estão livres privaaharmpnia,
sofrimento.

A. Govinda^

histórias, ttos capítulos seguintes,


dizèr roubatido comida^m^^P^^ Cq—
Vim^^^'^'^^ãaiLarSiamiãrgõ-sp^^ da
futUe ^'^^®"0"neMÍrquandu
^^juega a ge®
à invenção da linguage a narrativa
consegue da
comer
^s^^^iüaníÍBo.
^ ^®s-aré sé darExatamente
conta de quecomo o conseguem
a int^S ^g^etida nãocaptar
é a coisa
seu
i ^®tnbém os ouvintes da história n necessariamente
:on - completo até perceberem que Algumas vezes
'tn ^tneixas, ou coiotes, para dizer ^gramente. Questões
Iç estômago é apenas um estômago, m ^ „,inha
apetite necessariamente projetarão po de pesquisa deve
^''^entação pelo restante do livro, maso camp
139
-V-

A astúcia cr,a o mundo ,


UM ATAQUE DE ACIDENTES
íx pandir se quisermos obter um rPtr..
se e /
queí permita que esse ser errante fam" ° inteligenci ^^gard (os deuses são os Aesir e sua morada é Asgard).^ Segundo
lar neste
seu lar neste mundo.
mundo. ''
- —•A^-rvitt; própiioi^í^
piupj.A.w-*^
® ^®«ão de StZíflüsom ^
r\ ■ /
o fesTàTíteWTwS
temas que são ao mesmoestá organ' W
tempo ito, em torno àt No
exemplares do tipo de imaein o ^ito do trickster. rnoniento combinado,
uiomento combinado, Loki
LokÍ atraiu
atraiu^ iQQun
Iddun para
para ume
uma floresta
entre nós até os dias atuais r ^"=ontrado neles e presentes ■fe£adeAsgard, dizendo-lhe que havia encontrado algumas maçãs
'lae ela apreciaria enprmemente e pedindo-lhe que levasse as suas
Anda^ndo^estino,o iünto para comparação^-'EiTfãi>^0 gigante (...) chegou na forma de
vtdo uma inteligência voltada na °' P^^^"seteryesenvol-
depara uma águia e, capturando Iddui^.oou com ela para sua casa...
í'dajLcpm^,3jij para a contingência,^capacidade Os Aesir (...) ficararnnTOÍfoconsternados com o desapare
cimento de Iddun e logo começaram a ficar velhos e de cabelos
grisalhos.''
riinguem cok. aele uma . . .
vai j- aabe guandu gje vai a ^""rnação da incerreaV
^ ntitologia nórdica posterior, LokijssunmfQ-®^^^^^
SaZ' ""'"O «"""" "ias nesse conto ele é ÍS!»-
.dSr '"laánci.""Z"":P°» .iainlaos r«i' bom
bar>N ° ^ aeuses o confrontam poi causa do que fez; ele de
•^tíl O..- 1 . J^ nm fílICíin f
"-biagádÔ";;" <1° C. '"do Iddun
"P"adeovolta
«..líeito, „..sfo,m.„do-s=
da Terra dos Gigantes. em um f.íeuo
_ e^
útil "^^flctir sobre esse breve momento de ruptura e reparaçao^e
bren"''""*'^^^-^--dbasesji6rdicQS.tfeQküfl3â—-— 7m7;nr<=ç
.• ^^furaic;
^Qatum.- • f. •. .rr^. nornas<mas.S£Uirnaiores
, r - ^ir^o ortrn;í.sLmas.S£Uirnaiores
uma c'5I?tan^ '"'"ligò;-'
J^QSç ~
^^osgig^^® n^ARiefeeRte-s^fcos
amM£a^es.
-■iíaií €- 'áe Spi, p friTiirrtc; c;ppriHns pffir^^ •
. .tv.Knra ,,vesse
tivesse uma
discuss"õp^' '-^^^3 islanit "V"-^
passou a
"lúlliç^ . S'S"nte, em pr.meiro lug ' ' gihos.i
uma

^esse e é com uma giganta que


tradicionaisJ^A^ "leio''!? sentidos,
gigantes tocamos^J"-^^ consegue expor os
uapturrtdoq)^ ^ '^.®P'' amente ■pa'-'^®~P-l,ULOrte. O primeU""
et e rriQ^ ^ue' através dèirqi^„-Uin-
[F 21 abre uma brecha
bo '^^nipo. Quando ^
r?a
"duh com-'^^^5te (d,sfa ^-^e^Xpkrfoi cert^^^
qu; concordoP b
'^evç ^ circunda Asgard e os
'^^ento.^ Lokúá-oxóa
' ®°"'afidade erJ^SÍÍ^ÍÍfidavf até rcl#' .^5
o
e leva...,
'vasse ei Pomar
^ onde as , ^fh(A -^r ou trabalhar com
.abilidadeoec.^
^ seus frutos para fof^ ^ ^nti "^jsse, considero a habiiid^^^ trickster. Falar
■^ S^ncia uma marca da inteligenu
140

aL 141
.-jIlijaÉiÉLtóridw

A ASTÚCIA ('Ria
^ CRIA O ..IV
MUNDOmu o

UM ATAQUE DE ACIDENTES
em
'wniingênoalouj^ç^
convergência mais geralmente implica uma N,Os EstaH
"apenas" u-a^omcdência,d Foi ^^ndap^
"^naam Unidos, onde «a formação social ^^^s.xxkx'^
---j v^xxvx... depende tão pro-
lo»-/ j^iu-
e por meio dessèrredntoreriiií^!:^^"í5erC'^ de HUe
q^. n
dessas designações,' desenvolveu-se a ficção
i
bizarra
nenhum significado profundo nenh'""°'° catggQri de sangue "negro" coloca um indivíduo na
r *."^f^^c-adc^está por tr7 T está gotag ^^^gromifiã gotFHétermina a essência; cinqüenta
erLTa^ Aristót ^
Saás»,AnsiíJ"" "so da palavra
""> '^Horte "branco" são acidentais. Ou tomemos a categoria
'aiíie ■ Depois que ficou claro que cidadãos norte-
'maçãs» 7
u

'3"alquergrrD^T'^®"^°"^"e devemos 9 Um tinham sido responsáveis pelo atentado a bomba


\J595 ^ governo federal na cidade de Oklahoma em
Um Í^«eaçam.a3isir '' na5^ membro do Congresso declarou solenemente que eles
ISSO é esspn7"~ exemnU ^ ^^-categorias,e o
faz diferenc "®^^"BroMe'- um corpo animal. ^'^^i!?^^mêncinõ?Vcá^ mtia bomba fosse
^^'^^^^ente não norte-americano, apesar de uma história
grisalho A c ^7° uma d"^° ^"'"unas), mas não
Um°a
"^'<^^tai. Uma um scrT"^ é_,oastanhp,i>reto. oU
ser h'°^ '-?â«anhp,i>reto. ■^ais^^ f^^'^ido contrário.
'Uadura, Ple^ciH para a questão da inteligência criativa, a com-
...j . 'verde amas.on-® "'^fruíTr-^^®""
"'^ffutrT-77!íl°
,. . 'ssõ e-p«»=:r- ® essenciaB^®
- ' g-^á r.
Co ç ^^de • . ,
desse jogo entre acidentes lí.,.;.,. ^ l^pm iliiçfraHa
e essências é bem ilustrada
riso éacide""?'"''''''Criada'na' ° extraídos das
káukj artes. No início da_ carreira, o com-
acaso, as er
P°^ ^«so, es :• ^-^-£?£?«erís;';
4-®-í?£?oterístíca '7^ °u em uma sacola.
sacola, *COr Pi
^r nr\,..._ íhIx ^
*:—..

por de^sígnio •^
Ifg®caracrí>r.'n*-;
P^íão presentes ^'feren
' -^nciar
"^"Umericano
'
John Cage começou a guestionarcpmo
.. j:-_.-
real significai
ci*r,^_-r> j ^ ^^'^^"stantes-
uiconcf-— ^racterísticas acidef^
--ícieU' •^Oa "-tpído" de""músTÍ' e, desse momento em diante,
são estáveis. ^ 7^osta^;f^ '^^Süíesforçõs le concentrou em permitir APP _so^s
í^ode ser relat* ^ ^®®^^cias, não nos sciJ^ 7°, musicais entrassem em suas composiçoes^e
'^°®Plexidades 17""'"''''®P'es defin' -- esíç^j -^S^dc^e arte moderna comoj.aím_quêJião^
te^cuiturai. '"'Sem com quaiq7 Osç>i5 PelTfiã^rrrr—m—T—rrrigg^jejroiiteiras^rtas. Um
V pu i_,ia U LJL.X X*xv..^ •

^ "uegritude" do' —Í®™PJo, é um ®ãis nitidame"'


Nd^.."mru7í^^^^^
'■«.., s.r
''"Portantes, de n, '^"=»ri o fam '® «^e estahdlecer po' Pitih, l?.'ra
,- se assenta
5>c
tel as—•—-
assenta sooic
sobre
si^^í?: se^tqrnasse parte da
««;■»>
driimitações'natura-s^' mçasé a p»::
pode"'
cssêTci
<.«»!„„ ■ havendo
^ das
Não
-
men^s K 'O ^'^^uipiotamosoeoüciviaxv— •
' e a essênm ,""®turar. Nãi dela - ^^timuiar pocxia.v..^ ,. -.^jucnte distinta
' Tanto "cn„^,_ . ^ ^ ''''unco" ou "negro'•' C|;
^8e le. f"T.Vêrnizl, Em uma «nguage™
';;^-,hm'gdizendo, deixa que
coisas "se mr ""'ndo. As m' irisjj- ^^"eidênciá a sério
iuutas"
qoc acabei de sugeri^' ^^5 ela seja uma musa).
° «CCI,
íír e^ uaWoisas "caio
'^"eve4-Hé7.j4^ -■'.) :adilho entre o verbo amuse.
a ^"1 inglês, Hyde vaie-sc dc um troc
142 '"^íisào a muse, uma musa. (N. do T.)
A ASTÚCtA CRIA O MUNDO UM ataque de acidentes

Para a sensj^dade clássica, o cho^o durante o concerto oU a mundo,e quem quer que consiga mudHasçatggonâir^^
poeira_sobxea_teLa_sãQ acidentes; simple'iiíen"ír£^nTecemTn®'' ^"'E.isso a forma. Um determinado tigo-de percep^o criati a
sao o evento real. Eles são impurezas, desprovidos de beleza- ^ sempre disposto a leyar^aóõincrdênd^ajwio^
ruído do bebe e a música coincidem, mas não de nenhuma maneira ^ concepção das coisasT
signi cativa, e se o choro pudesse ser apagado de uma gravaçâ" história da romancista Leslie Marmon Silko:
do concerto, tanto me hor nois sem -j „fa O
«verdadeiro» evento. ° Quando era uma garot.nha e perdíamos um
A todas essas afirmacõe*: Onna j amados,com freqüência animais pai sempre
a se-
euinte anednra i- ' poderia responder coin 'ongo^dajjighway 66 ^heg^^mg n ha^os
g I^vro Silence [Silêncio]: os dizia que ewes animaislgn^"
r''"-^-te^hum|«03uu ^,3
Pra um pouco estranho como isso costuma
de íris njüitóbeJo comuns.Um diaoutroj^'" '-oincidência é como teríamos de chamá
O jardtaTí^;;!;^^ 'Ciúmes,foi investiga';
' ao Wem qu^col^se^l^^ história da ciência:
P.r..se.sibili.líf' t
^ 1978, no Observatório da • u dos Estados Unidos,
órbita de Piutão. Uma
dificuldades
uma alegaçãosurgirão
plausívelse de^ ° aberta ^tância,
^^^^'^'^'^ente P"
se vier cO Christy trabalhayajiaiescriçao ^i-^j^^dTdo^planeta;
^ suas fotografias mostrava uma imag outra foto nos
Pnmeirolugaj.
íugar. 5Se asSn^xx^
, i- r si °
o ^^^oneamente
erroneamente excluído,
excluída e estava prestes a descartá-la quando chapainade-
éxoatmgente. e.f'
éxoatmgente, não bel®/1 ^•"luivos,etiquetada:"ImagejndePlug^^ fotografias
subitamente música para osT° ™ Se o 3 Rejeitada." Christy reuniu uma se ^^^ão era
em torno da sala de conr °"^'dos,então a vedação acús» ^^^elhantes e dessa forma^de^bj-mJH.--^
Op°«oésimplesT^"°^'^^^
ou suprime a queSZ' de «mero aciden^^
jgntal: Piutão tinha urnajü^
que a chuva no telhadTd" ''unificação. Quem pode di^^ ^^nte ■ Cidência
mas_a n^nte_gue
que um^t^;f
Por que não dizer que uS
eqpçerj^abtra^
negroT^iT^o^ero^'. 'acident^-^^''^
P«^oa branca? Se o ja.^ruf^' branco torna uP; perturba a acon^^* Em sep
seu
■ rv:.:_rf ao particá^â-—"^!^"
:í:"X; nue r (tpda^s
/,.das as
B'x Bederbecke? Ou, pa^a «r —"^gra,qual era a cor f^iundo
•«rodutôrios, por qul não 2°""^ dos meus exeníP'"' SeS?
^0
e^âmnçl^
"demasiado sentido ), "pronto para fazer
que o corp0-'animal é um acide"' '""«as religi^e -
ser humano? Ao criar^Í ^ ^ alma é a essênc.a' "^üsíc ®P^Qdade,jé uma espécie aeiên'",--g.^qyaiquer forma, a
^«^gonas culturais, damos foriP^ "iteli os ruídos
que leva osdas outrasa sério e uma^ ameaça constante
acidentes
144

145
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO UM ATAQUE DE ACIDENTES

as csscncia^j-pois, na. economia das categorias,sempre cjue o valof não passou de uma travessura. Lokijapidamente reparado
do acidental muda, muda também o valor do essencial. ^^JiQ^^usado. Quando conduz Iddun de volta a Asgard, um dos
iigantes o persegue; os deuses acendem uma fogueira junto ao
Vamos voltar, então, à história de Lokí e à idéia de que eie cria de Asgard e o queimam até a morte.E lá se vai a experiência
uma contingência ameaçador^quando permite que gigantes se »niortalidade. O muro éjeiadó. novamente e os imprestáveis
apossem_dasMaçã^ona^^ Andarilhos do tempo não mais ameaçam os eternosjeiTibora_dêi^
Ta
da ouaí
qual os gigantes®estão
""""''''êoria
excluídos.elevada
O murodeem
seres, umadecategoria
torno Asgard jJJÍl^^nado que os eternos-íiç^ um pouco mais alertas depois
assegura essa distinção. Vistos de t...,—-, torno ae^B cvento; Loici os mantém ati^s).
pareSiTi-cidentaisefeiTeros Es ^^"hum dano permanente é causado, portanto, mas a história
porém não p an •j * de dividir o universo,
"da assim indica o potencial de Loki com^jincataclisnuco
indica que ha ,f"^í?__dejjiudanças,..uma capacidade que vemos plenamente rea-
exatanSí!S® •|J"da em uqia história posterior, que tem a ver com a morte d
que devem ficar aprisiona^H r® daquelas maçãs.' P<"' ^^^Ider.T" Baldar
Baldar éé O
O Puro
Puro do
do panteãonórdico . , „
panteãonórdico. Beloebondoso.
essas questões não ane tempo.' Loki não é insensível a "Rociado ao sol ("de rosto tãoforrnosoxilumuiâ^^
P-queósAeírsvez"trh"
nãofossèenrreeles Trat i tratam como se o seu lugat
o ceticismo a respeito d ^ ^ rnaneira e você fomentara ^^^das o jo fogo e
Aqui é i ® °tdem das coisas. da á..r^'^-y,do céu e da terra -de ^^jj^Laialder.
acidente sempre contém^^'^^'^.j^"^ ^ 1'tiguagem da essência e ào ' dos metais e das ^esir
acontecera o tempo tnd ''™®nsão temporal: os acidentes teüu7?p^£qit£ex^^ no companheiro
Q^andoTd^TT-^;:^^^^ na eternidade- 'avui ^ Passaram a se divertir atirando co - ^ gntes de
^^ deuses,o muro entre o"tem'"''', a terra dos gig^tite^
dec^ato,o que eqüivale'^! .e.o eterno racha nojgontS-^
inaças da imortalidade transitórios provam da® TjicJ brilhante. , mnlher e ques-
efeitos do tempo. Os deLe^ experimentam o® '•oqa p°.'®®^'Jíesagradâ_âJLQlá,-ai^^ forma ele
ataque dos acidentes. A mud ® grisalhos depois dess® ®^í5bre os detalhes do jur^^ de
-contínua ® verdade, o""'"" chamad^sco.
inteiramente transformado^
possível. no^^econfiguração
próprio céu,tudo est^
pare^^ ào gv- cia, "cres5^j^££qíí552_?——-T^jjjjgTTTõíoTme-
Mas isso não acontece Al ^'at'^r5^-'^juramento dele; achm^
Qs de "'c esculpe um dardo da iriadeira dq^
ter emergido dessa coincidênc a° '!'^^^"^"tente novo poderia «Midos dl,p,ra„dorf«
^^unidos disparando^a-^QC espo'».J" p„.„ Jo
. parado perto do
fertilizam'"'^ « tempo e a ete^
— -^-J—-uo^tro, malMÜTircóísí»
.. l *tA4 /iiiP esi<* r
de um delekji^)^*^^^ Irando Balder como
fazer nada. "Por que não esta ho
147
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
UM ATAQUE DE ACIDENTES

os outros?", pergunta Loki, e HocLe^a que é cego. "E, além


dtsso, nao tenho arma." Loki entrega a Hod o visco e^uia a sua A profecia, no entanto, não acaba nesse ponto, pois o mundo
mao O dardoatrat^ssaocorpo^ que cai morto no ch^-'^ ^^nasce, renovado, desse apocalipse. Dois humanos sobreviverão e
repovoarão a terra, a filha do sol iluminará o céu, e os deuses rea
Ra
Baldex do submundo, mas fraraccom recuperar
i n parecerão. Em um dos mais antigos poemas nórdicos, o Voluspa,
,
amârrand0"0 sob a tprra
j ?..iü^£^assam. Capturam e punem Loki,
/-»-* T"— Ouvimos a voz de uma profetisa;
^dos seus filhos.
r:,. " Posicionam nm^ feitas dos intestinos de um
u 1 uma serpente para oue eoteie veneno 'Vejo a Terra se erei^ das profundezas, ^
:?Líradí: ^
De tempos em tet^porelaT' ^ ° de loL>sm^
H """" P'"®"
então Loki se contorce de dor n esvaziar o prato, e Os campos não semeados produ^i^9íiua_saf^
As contorções periódiras^j. Poki sob '°Ía- To das j^s chagas„çi£a t rj^r ão,,/e^a Ito ■
mamos de terremotos.'3 ' ^9kajerra_sao._o_que_hpje cha
Nestp ponto,
t-, quero expandir meu rfoco^ ^a fi m de demonstrar que
<1- o que acontece
mas a seqüência de eventos Por^Loki foi amarra^
de causa e efeito está spm ^ mesma, portanto a relaÇ^^ ^ ''^"''"de^part do magí^dico, é
pelos deu^s é sempre seguidTa™'' - ™°''''izaÇão de Lol^' Pa ^ agente em unrHTãrnThiston tempos an-
eles; irmãos matarão uns^m— '®érnbs, sem verão entr® u°""í?sco, èra u^dadeum
° sol, outro, a lua As ""^^^ P^Acobiça; um lobo engolir®
e amarras se romperão incbr^Í^'^'®'®®- . °o que sua..» . Ar-í;^^
pedra. Libertado, Loki'cõ^d? Prendem Loki a
asIc^^sunliãsnlõcõrtadasH "®~°®™-rie-assaIto feito cf>^
^olh^"*^ agrjcoja: Era ou seja, no
®olstí ■ vespera da festivida ^ ^ ^.^5^0 do
^Uo ^ poríodo em que o -l'"^?^^!°'rhorLonte. No ritual,
o guardião Port ^ ^^rido cada vez mais em
^ a terra,Heimdall,e
e mortais todos e
e imorais °Loki lutará cootr®o
-"sunnrá '=•"'0= colher o vLsco "causa" o dechniodojoh^
"ais Igualmente perecerão.-'
■ He Loki- Nas lendas chi-
03'j'^^ória de trickster ecoa ^ietalhes-chave pêssegos os
iitenç_a".i?a^„^,^.^ 'Jessa palavra,_^fj Podefca^vi■anizadgt^ t kkstpr raoiscas têm um pomar "on
laoistas e pêssegos,^'
^ os pessego ^nossamfazê-lo
fazê-lo
sr'^^3senf embora na verdade na P ^
lavra passou a ser J'^erta n prende o Macaco so a . análise dessa
h- o q'^'Lilientos anos depois, para que e escrituras. loquei tanto a
Crepúsculo dos
Sia é ''^^Ihante
(da Chma para a índia) em busca d^ p,, .sso coloquei
ao que tenho a dizer a respeit
'^^tno o meu comentário em um apen lo
148

149
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO UM ATAQUE DE ACIDENTES

mito, a descebfrríi rianii£la arma vegetaljmr Loki causa a morte ^lientaram, há na verdade duas eras da mitologia nórdica, e dois
de Balder, n T.nmjongr.» ^ " Eokis, a lente cristã tendo tornado o Loki de Sturluson maissom-
No sécu^III,porém,quando Sturluson escreveu a Edda em (fí2£demoniacodo que aquele que habjtajiajMemapntenoies.
píOM,.ãímrHaõ escanamãvcrha-via mudado de m^iHilfãtãõlíra- ^"ando Sturluson "diz que Loki é o<pai das n^-iras",^' um
mática que as histórias sobre deuses envelhecendo ou morrendo não aparece na £à'tiã~^éíicCsèiiij^vjdaja|^^
haviam assumido um novo significado, _Sjuriuson.eramnjnJ^ cristãos se referem a Satã.*
fazendeiro, diplomata_e_oradaoÍQ,Parlamento islandês. Culto e 'ftiestão é simplesmente que, quando reconta o destino
cosmopolita,conhecia bern a-Biblia; conhecia a"s vidas dos santos e ou "o roubo das maçãs de Iddun", Sturluson está apre-
outras obras latinas; sabia sobre a Odisséia^(Na verdade, achava "'®ndo histórias de deuses que de fato morreram. Nao sao mais
que os deuses nórdicos eram^êsCendéntes de Príamo dejjoiâ»^ ^ ffativas que refletem uma repetição interminável do ciclo agrícola,
reis poderosos que tinham passado a ser idolatrados por pessoas '■"os agora no terreno da história, ouvindo sobre um grupo de
Ignorantes; no fim defun^li^ro^le até mesmo sugere que-Loki
Mai^Tmportante, Lrluson era tetr^ ^of^Pam os acidentes do J
,o cristianismo^ai^hegado à Islândia mais de duzen- •í"" 'p' c=paí&S-"i-®°'.^^fSre
antiQuário"'''^? Elliffl erudito e_u0^
^° acreditava nos Hpuqpc pagãos S éiclos p ^PPé"^P'menm póc-cpocalípóco
um racion.l religião pagã (...)
TeZT à verdade"- '"'"t o m
%re\- .
"«eeiarallrnSI!»^
^^íder renascido a cada an P
• .y^t-or
^ anterior,
está interes""/'"'"
' """ de transição,então. SturluSOO Cristo'^° inverno, mas sobre um mal onema
oral ma d . da antiga poesia
o. Ce.ItoT ■™P° ™ ■>"'« sécui' "aorreu para abrir caminho pa n^^oderna
que prosa era um trabalho de
-elho. '"iitia o cristianismo em sua est

enganosas" um con""^ npeesenta as histórias como "aparência^ "■"'do "J""" "°Cúãll^ parece menos o
época anterior tíe
■le creZ '"Pensável em
crença nking. Con.e,„en,e„enre, comoqualquef
outr». S^t coni é o .Lokasenna, também um certo Aegi
dc 1200). Esse poema um servo, tcror^
9 P3/^'"cada deuses. Loki, banido da festa por vitupenos (qu
• A grande resistência à mudança nn ■ convidados. O poema é
tcn^i ^niof ^ ^'gmficaTTumXantiga forma do
um a batal a de msulto^.
diaveimente malicios ■ ^
quente podem estar ligadas ao fato de re^h^r'" ' ' í^tÇsç mas não em Lokj, que parece irre j^^j^íjos consumir
realmente desaparece do céu no invernr o„'1°"! norte, onde o a fídeltdade sex^U trnhTe"rito
e um mito dos climas frios, nos quais as beneTserH'"'f' ^Ssç ^0 e j nia maldição sobre os Aesir rcu quem ^ , jf,uses de
são, regular, séria e infelizmente
uue estão lá dentro, Como Sf-^Assemble"-,
bq dç ^ n acredita nos antigos deuses nórdicos; j^^ertir a platéia-
osata, e está brincando com crença
150

151
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
UM ATAQUE DE ACIDENTES ^

Culturas^sofrem regularmente com_contingênriag; deparam-se Corvo "tentou proteger o filhodetodo^í£erigo^^^


com coisa£^que nao esperam e não podem^nrmíar Na época de ulnã^emãti^'3rcóntrS
Sturluson, a \^ha religião islandesa havia cruzado com a religião tão nTinuciosa'(^^tOíiíJ ameãça*'^ "Hodps os perigos ) que,
grega e com um evangelho vindo da costa do Mediterrâneo. Em
1220, os cidadãos islandeses vinham comparando maçãs ha
tivesse sucesso,o mundo como o conhecemos não mais existi-
via duzentos anos e passaram a apreciar frutas importadas, em ^'^^AfragtUd^de da.bondade,a classici/ta Martha Nussbaum
detrimento da produção local. A Eddqje Sturluson, portanto, dn reflexão sobre ^
representa^_drama_gu£r^^ coisa curios'a sobre olh^o é s^essivos ibvitàvelmehtT Quanto contro e
o importante papel que Loki desempenha nele. Nos poemas nór- def?'^er^^anteVqne
em qualquer a-sentido
ro-a v^^^^^^
«11LC5 que a-ooa viuci 4WV w..-— ^

convencicfnal? Podemos reduzir a


,

dicos mais antigos,Loki é uni_persoi^em menor,mas Sturluson é


atraído par^k,expandindo o seu papel põ?q^^^^
ele se identilía com o trickster: ambos traem os deuses nórdicos,
® devemos sempre eltar expostos de algu
os arrasmrn para a teSporlTidFcre, os tornam velhos. Sturluson
é Z" que não podemos conttofr? v'dajem^
Pen/ humana? Nussbaum argum^ta
e seu proprio Loki, e o livro que compõe é um visco letal porém 8«go era claramente-#^.
vital uma criaçao que sutilmente abala os fundaméHtora"e um
mundo enquanto constrói outro. ~ ^Qrtp'> j periodicamente andar sobre nalavras
4^»"
e
o,ue signific,
1^
a «;«
delicado equilíbrio enjr__^
contranu^r^ impedir a morte dos seus deuses, lesQ j "requer (...) o mais delicad^equ
qT r^^Ôfllrolê^ vulnerabiJISiáp"'-
inclinam^^
qualse denT'""'' ^ SÍurluson,>o problema com « "^'êajug do mito em questão se inc
Líder no m ° ^"f-^entado pelos entes queridos de ba^ta diziT^
eternos ser ^ pesadelos. Podem os dedicada; o problema o _ Nessa his-
«ti
as essências s ° ® mudanças? Podem
a r sTos I d ''T ^ P^P™ mito sugere ''"guagem ética mais refinada o q
que vardo^m toda a seqüência

lizaH Je trazer
possível contingêncil'com"h^^ adianta para suprimir toda %e ■doà vF^^"' ® P®"^ próprios nao ^ jg vulnerabdidade
infortúnio, adiantanL s loLj ai precisam do toque7n::ç;7,s
l.Qlçj^íSi^traz ..r:
da '^^^°L^^-^~^setso- quando
de juramentos,de modo qL naT°' ° nelo seu mv ^ ^^
Frigga, diz a história M '"®'P"ado possa ferir seu Bigo d '^fdet!^'"P'do:
■* ® aspecto que vemos pe guando
o m-findó -entra em colapso, q ele - -
de ameaça"," uma frase que evoLTSst ^ To
historia anterior, na qu^l th ^^rtn o mundo renasce. jp volta ao
en ^ descobre
depoi traz essas
s de Friss. forças
ter «niaJ»'»"'" desordem.
152

153
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
UM ATAQUE DE ACIDENTES

O visco é uma
:^Janta_£erene; no inverno
folhas verdes ainda captam aajuz
luz i^ko dos carvalhos
cIT^^Íh^cíeTfolhados. ^ t^^tiva d^Frig^ de proteger o filho se coloca no caminho
noalto dos cíeSolhados. dfsse fimnÇcfssãnS^ue por isso acaba sendo mais destrutivo do
FraziiF^iniVe~z argumeníou-íe-
>j como sir Georee Fra^í^f .««í;^í^áe' que precisaria ser. Assim rnmi^sublevações violentas aumen-
consesue soh' pequeno arbusto passou a simbolizar a alma q"® ondenenhum process5'põhtícõpermjt^^ tambeTh
A ar^^TT^^^'^ ^ ^ sncoritrar o renascimento. ® dissimulação e o impacto do feito de Loki são proporcionais a
consieo-^gggL^ -"Odo ambiguo: carrega '^agcrada tentativa de controle áe.írí|^Iém do mais os deuses
'Snorantes nada aprendem com essa violência, poismieiiiatarnení,e
mundo pode voltar a Verl- tempo que mata-
Balder Por si nró ■ W-BP-Equ^ioi um ramo perene que mato, ^"ISenmm os riscos,imobilizando Loki e, quando a lógica inexo-
se desenrola, leva todo o seu mundo a um fim apocalíptico
que sua ordem deixa de fo 'Precisam também há maneira de impedir a mudança,diz a histórm, nem mesmo
Loki. Antes que os et ^ ^^S^^^*^^^£LKaíder e os ard^L =éus; há apenas a escolha entre um modo de vida que p«m^
'dantes, ainda que graduais, alterações e
^ começa com a^comnuk '^"^ ° verdadeiro problema na narrativa
--d^contr^^^
^ aí Kmos_ofija.do,eauilíb Í"tamentos.de.frjgga,_po" Seria o "'ckster opmu^^ desenvolver
; campo'de ação de Lok' • "i*^^*^^'^'®'®~®-6««M.ingêiicia. Sf" «stilosT^°' ;i que permitam algum in-
ter.. f'"''"Lais,,.es£Íntuais,_arnsti^^^ P ^ danças que
o;?" a;;"!bio com^^acidental e algum^gçeitasaoda^^^
Pnmeira tentátivalfe resr-"^^^^ eqüivalem a sempre engendrará.
brecha em sua guarda e de para encontrar ui^» N
dificilmente é o malfeitor ^ à regra. Ao faze- ^tas
está se certificando de que n ^ ^ vezes o consideram;ape"^
seu fim.Afinal de conL «T andamento chegue aO 1. p
5 ^°vindab in N.O. Brown, Love's Body, PP- ^ Paulkes, pp.
sua morte foi profetizada ^^Ider teve aqueles sonh"®; ■ Sob^re
E^íl£a^da um de nós Além'rf presente, como es^
a
Eddas, ver Dronke, pp- xi-x'»; Young> p.
13.
d-clíni5^ Balder já esít^ ' ,. - iadelddunedasmaçãs
^ '"8> pp. 97-99. Minha fonte para a histor jn^portante do
denomina "o mais"sábro dosíf ^ 1 ® tradução de Young, mas ele omite um ^ enlutada do
das suas características que ne h ^'^rescenta que "é nif (3s palhaçadas obscenas de Loki aze ^j_32,ou Faulkes,
pu se realÍ2e".25 Dumézil Í^^^aiíientos prevale^ '®®tte morto), por isso ver também Bro eu ,
aenergia ^stlesgotad^^^^^^
irremediável mediocridade arbítrio cu)^
^ ?■ ^^-61. Out; fonte é o poema HaustlonS, ,,,bém
Thiodolf (ver Page, p. 24). O poem ,,erna"
para que haja alguma mud^nr- ser os frutos, chamando-os de
^aançaparamelhor.26 ^ollander, p. 69).
p. 98.

155
A ASTÚCIA CRIA o MUNDO
5. Young, pp. 97-99.
6. Young, pp. 55-56

Loki é,em certo sentidn ^ Ponce Bifrost, e sabemos


O deus das encruzilhadas
I.-

.0.
II. Young, p. 51. •o acaso tem suas mágicas, a necessida^. Para que ifl
12. Young,pp.80-81;tambpmr n um amor se,a tnesquecível, é
que a história grega de He Burkerr acredita iuntgm desde o primeiro mstame, como
^~l^bí7^r»ra??ão os passar
Francisco nhos
de Assis.
ria nórdica de Loki matanTR^Iu^^"''" ^ '"'^T Milan Kundera^
13. Hollander. p. 103 ° ^er Homo Necuns, pp. 164-6Í-
"■SobreaideiadequeoRa
Loki (o que in, , sempre se segue à .mobiliza?®"
P°' «emplo, o fim de "R u ® do primeiro), ^§cu|o coqulnhos
7-nará "até que Loki se Í ' ? ^.z que Balder f v.v.;«_|uiMI lUd

d^ f"'na dos deuses" (HolI. 7'^ amarras/ e chegue o di®

í''Str?osí"' -«C"* ™ »"i"


conveu- L um das funcJoQáiios
(" |d°"ander, p. 12, ou^VigL?'"'^^ Potis '^^"ita-dlpoucosmio^-Eeh--^ ^^^553 histó-
18.• ^aulkes,
Sk'" p. xiii. ' ve' Yoü"^ P. 91. '' PP- 200-1. Sturlu^P" ■■'a, '5iialência. O que me funcionário já
S '/"'Les. p. 58. ^'^
'1'ia '^-àfylén.uLantes.
^ detalhe
Era adicio • importava
da>P«
^ a foi^
boa .foxtun^eleJoss^gpac-iado. Wh
Ldiencias. ;«f^rinrnaose
"• Young, ^^der,
21 V
p. 80 P-p on0. ver também Polomé. q r . ^
"""^'Scbroder.
'^-S^.?le^IajejuâQÍfcs£a-e^^^ orópria natureza, pode
25. DuS" ZT"'""" '^"'SSs "o fio da navalb^ íbUit^soa dada a falências, inconscimted^^
-Petnlènfir ^jj,a séw de maus
®:?lènrirjuT^^ yjna
segs. Profe, 'Pbnado
'Pado achará que o destino Ihej^Sff --:"^;^^^
Ihej^eff^^^ roajigaa
- uma bêBíaÍS.^venceráxie21ue^—^
fVk.''
1S6
\V- ■/)'■• kíi"'
A A S T Ú CJ/f^ CRIA O MUNDO O DEUS DAS ENCRUZILHADAS

a pe.£seg^com uma s0ie de acidentes automnhilfgriroQ. Nos ^^scimento determina a forma que uma vida vai assumin jFalamos
ocidegraj^odern^,j claro> essas pes^^^^Bodem aca^bar no consul- temperamento, de prêdTsposiçoes genéticas, de classe, raça e
tófio de-um tera^^ta, trabalhando para desvelar o que Jung cHani^ B^nerOj da família que nos cria com seus padrões de^grÍyilggÍQSX
£6nPfy^ J. /* >1. . J r-v«H Ia/ti fSC ^

de "bo^çâcrintkiór".
ae cormiçao ii^uor . Na África Ocidental,
jNa Atnca Ocidental, nas
nas partes
partes ioruDa»
iorubás ^aus-tratos que remontam a gerações - todasçQ^ãs^ue_esmvarn
uma pessoa pode_tenjaLÍesvelar
A WAlH^llLdlli U - "

da Nigéria^^pesjMs^l^^es^arn
gém^^s^s^^esejam descobrir
descobrir aa "cabeça
"cabeça interior"
interior")
ali rpnrar desvelar

como osjorubas a chamam, procuram um'adivinho. Os iorubál


ir\mKoo ^ . ^ intender quando seu ,çamjnho.é misteriosaraent&iílüqueadcu)
- - c>>u .vaiiijiiA^.v^v

acreditam
creaitam que antes de nascer nós encontramos o Deus SuprefflO
Suprefflíi Em todo racrv CQ
i^odpcaso^seuma .-vafcr\'5
pe.^isna nana fprra
terra dos
dos rofübás temjjerguntt
rorufejenu^erguntas
. solicitamos a vida que queremos. Embora os muito gananciosos*"
e solicitamos a vida nnp ^ íazer sobre problemas presentes ou empreendim^ntosjum
possam ter suas solicitações negadas, dentro dos limites podemos ^ esta èrTadõ^hò'^meirH^améHto?T
-•-« cnauo no meu casaun-ii»-^' tudo bem comigo
"^ante a viagem.' Devo aceitar este emprego? Por que fico doente
estante do nascirnem" °m tanta freqüência?), pode
-uuarrequència?), pode levar
levar o
o quebra-cabe^ ao adiv^
i
mulhF ° aconteceu;.por isso, quando hoiTieni « l' ®^es£^ça de. ouvir
^aesp«..^_
o que Ifá, ^h^onfi^ce ranto
oi^des^ õ^
——rr:^T;^;;o>«c desismos oculto^
uc ouvir O que ua, que _
. ri:::™ ° ° ---^0 v. à deidade que
' tem a dizen (Ifá é^olíõfnríado tanto a ^ ei a e
Vi
^ vez maS r 'r ° na.esperança de ver_um ^Eecrtirdcstihos quanto ao método de adiyinhaçao em si.)
- ucstinos quanto ao iucluu^
W. 1 am Ba?"'°' --^ados nos céuS" Emsua nráfi,-^ ^ jjuinatório iorubá ecmgra p
Oglle norte-americano, e Ayoàf semel,:' ' ° dmn^'°"° T/al No I Qhjng^
Indiana Universidade-^
deúüTe cor: ^«bre a divinação iorubá e seO^
a «s detle"" " à "clbeilerip>" ;;; a nu, 7^ possjvei$.,e ^■4'textos,^cada qual ligado
Possívei^.emJJMr^cjTLé±t^L^.'
n / r' ^j.^ .raso. Se, por
por
'^""ab.ejia
posição que ^da. tI é"det^
ocui^emos na soldai 72aXâsa^®2í-0S0?" e
nos casar
-=>ai e quandn m..
quando morreremos O rl. ."pessoa
7" com quem ^ m ' "Devojeamxiat-e^í^^^^g ^btém o
sorte Oti-a-zan seremnc ■ * determina se
a ocupação a -ma Chien ou "Dese_nvo^^
'«minat^„„ 1 ^ '^^o inclui, du Bascom, "umjí^ 'leseju, 1 pergunta começa com. , ■ ._uefêgéoleu ser, e,
mundo com "um ao '^óu".s
céu".s Entramos
Entramos en, -fL^sgJentamente, de acordgfHHl^ íifíãlzãfiãT^iz-se
^■í^""ado po. 7:7°^ P^"^teHrnado, que po^o ^Ue disso..perma_neçejfirmem£a^^ u^a
"ao dizer isso tão abertaraT"^^' """" estendido". "^ç^r^inhajão funciona melhor
Per^r~~^®-SâSão funciona melhor sese vvoce rec^^^ _ g^g
«eio que ,,„ ou descrevê-lo nos mesmos term° angustiado em rela-
sentr"'^ r "o^ mesmosimmfl .
Cfc moderno. Se vL'™ "ãc émcomuifl ^ ao SP '"7°: Ipostasj-^rapias
enigmáticas do
amoroso, pois então a projetivas
-^ianos^fica imed e mulheres mg'® , test ""cionarão como as assim t^b^ma j^^as e conhe-
e Rorschach, por exemplo), evocan

159
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO o DEUS DAS ENCRUZILHADAS

cimentos ocultos à superfície. Você pergunta: "Devo terminar?" implica deixar toda a matéria inútil para trás.Justamente por isso,
Então deve decidir o que a "lei que rege o seu ser" significa, qual no entantõ^a pureza "imnrredoura" e vulnéfaVel"gcTTeTCfho do
O sentido de fioiiernente enraiV^da" q^e foi desc£mrío,e os tricksters,.çui^^
Como disse, o método divinatório iorubá é bastante semelhante n motte_emj)nmeiroJugar,.são..QS-ageotes_desse_retorno.
ao Chmg. Começa.cqmuma operação ao acaso semdhanteAr^f^ Pesquisei tudo isso porque, na história de Exu trazendo a arte
ou coroa^^a^^a,.(em vei-de n^ells ou palitos de mi" ^matória para os humanos,fica claro que as_£HêaeÍâ5-CÊksjiais
lefolio, os adivinhos lorubás usam coquinhos). Depois o processo !novulneráveis não apenas ao retornodosjcidsatesAêrrenos,mas
fica mais complicado.Primeiro,essa operação ao acaso é realizada ® ®na ausência também.'Õs deuses precisam de di^ancia^nt^a
oito vezes em vez de seis, o que significa que bá 'ifimira^^^ não em demasia. Podem'ser feridos pelo retomo dos
256 possíveis respostas.garaj^pergunta Em segundo J''duos, mas podem também sofrer se «áp tiverem cjjpisffi^
lugar,como acontece rnm nixi &
corpo de literatura divinatória fJá^i^uehouve^^ África Ocidenta ,assim como
Os adi^iiS^sareií^SS -o está escrit^ ^^écia(na verdade,como deve ser o caso no
J^^-^SisaaxLs^iLaiimentados peios-seres humanos. -
pode conhecer até quatriTm n mestre adiv'" Wnlo,ê„C0.».0 re,l CO» a homUdc
Os iorubá atrlr ''«^^^ura oral. , S""Po. podem dítoe
gens dessa arte.'A hi«ó^° fticksfer,;Exu,,aS-?í'' 2SS?5.umeme,como
divinação para os hi contam sobre como Exu trouxo a ^ mundo dos corpos «distância
que ao conLrio,NeT"°' ^ históriaáç^ Corj-ç precisam, aparentemente, é uma e p —
-s:;
vê atacado por baixo- acabamos de ver, o ceu s^ a4^-~1Í^ contato demais nem de meno^ ^ ^
^ origens da começa com um
mente em termos de uma V u, i- ' essa história parei Proble distar^ equilibrada. Ela começa
despertado pélo^apetife>
•Vfe.

éacide,gte^essentidos
essê^ag-BõrnFà^y ases^sên '^^'^^tiaisenyeihecejTTSeBáiag*^
^"®^°tclica: atacadas P"
essas categorias são etern ^ nórdicos,'e^® ^^rta vez os
-^cmpo ou à mudan :"cTf° ^ iam o suficiente para comer de suas c Homenjj^ão
enquanto Lobi estiver nor "ão deveria morrer. ^ ^®rra, as quais pareciam ter-se esqueci JT^hnsde^
Toda purezJ tem origem nJmfi '''' """" ^avam mais oferendas,e os ^
para trás suls pilhas de ref "-^"lento, e refinos devem deix® •vibraram ca~çãr^~outros pescar. Apan ^ c-^ram descontentes
pe Vf. . - —'—:— r>c deuses ncarau^
Há uma maLilhosa histórüfr'^'/""'''' ®®dimentos, acidente^- ^ que não duraram muito. Os üeu
Uns
^om os outros e brigaram. A^riaín obter sustento^
ao ceu, deixando atrás de ci ^ escapar, ásce^l-^ 1 Começaram
-"'^varam aa se
se perguntapçpmp.E^^^-^^^
perguiu«h nasoluçao
^anidade novamente^xu se pôs a
a n;.-1 _ j T?.,., cí» nos a
disse: "Ameaçá-los
«A ^oorá-ios

i«iop,,ecet„,„,,:;t ■ ™::rbastante para«i--««"'í


evitar a
'°blertia. Confabuíou com leroanjá, que
parece funcionar. Tentamos de tudo. U
jg Doença

161
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
O DEUS DAS ENCRUZILHADAS

flagelou-os com a peste, mas ainda assim não fizeram ncnhtJjp hxu é bem conhecido por fazer com que as pessQ_asJ)riguem
sacri^o. Ameaçou matá-los a todos, mas não lhe trouxerani
comíHãr-O Deus dos Raios golpeou-os mortalmente, mas não se ""®!.52m'as oütras; que os próprios
deram ao trabalho de trazer-lhe coisas para comer. Não parecem deuies estavam" aiFcutindo entre si, podíamos ter suspeitado
temer a morte; precisamos de algum outro método.Tente dar-lb^^
que Exu tivesse agido (seria típico dele causar um problem^ue
alguma coisa boa, algo que desejarão e.que, portanto, fará com ^IS-Eudesse-fesoivejcl).' Quer Exu estivesse íTor tras"aisso quer
que queiram continuar vivendo." f^corog,ço_dessa história já tinha havido uma especie de
Exu teveajmajdeiadoiutp^tedsay^ isio foiaté Orunga"' .'^ÍSfiúscdo dos_deuíès"; as d£idad_esdorutós«B2_í2££^
que^mpdmentou:"Sei por que você está aqui. Os dezesse.s "^^0 de mor7e; porque seus filhoios«gue£eram. Estamos em
euses estão comjome-e-devemos dar alguma coisa boa ^ ""\pfeddll7i7saga do mundo que se desenrola: d's
humanidade.Sé;i>e coisa éesSa.É algo importante,feito co^' ^J";hém
d«"^estêm,
tinham
zesse,scoqu,nhos;de:EãlSeira.SevocêpuderT^^
seu significado,cairemos uma vez mais nas graças da humanidade- masum
no Racionamento
momento em quecom
ela seos passa
humanos,
eles ee tao
Jpo.em
Entao;.Exuloi até as palmeiras onde os macacos guardavam «í ^hnio, e o trickster deve ajudá-los (e é por isso que d go qu
dezesseis coquinhos. Os macacos entregaram-lhe os cocos, ma^; ;"^;do mvette as outras histórias de "crepuscub -^co
otevl n Í ^ 'dela do que fazer."Voc '^^^osse restituir os patnarças tampas ou Loki
o macaco -r'"
oereiint' • c"
Exu",
°aconselharemos.Viajepelom"íl^.,
A
farvx-
^"bntun-dd)-^^^ d^.^^esta^mmuito
dessa narrativa, os.bd—

EnS dl "da um desses luga^^'^ ardil I: o apetite ^nsatisfeito^^


Os deuses estaó"ajTTuãHõlTSE3^^
aprendeu•^ ^ humanidade o
^Sp^ÊZJiiais,_QsJiornens^.olhar-âo-coirLreverência--
1;:»•-.io« „».ve,
aossuTd" <^Oiji f 'entretanto, e por isso a a ou seja,
vStade do T
serestum ^ humanidade podeQuando^^
saber a ^focar humanidade enxergjt^fa^.—
Isso trickster que
apEr"- P--«--^dio de Exu poderi^ Sabp ^^9.^~^ermético,
^abe" P-°-^:hermético, por assim dizer; tenio
^ Cli 11-» '
^ mitigação
deoT'"® o sacrifício do apetite earna .P°
atroULXe.os
fome dosconiiinhr^ ~r^-^^^^|^U.seSi.Des^maneua^^ .
dezesseEusÍ^^^^'' homenslallsfíz'''^ «ítfE'
L ^
homes,
'•
e que também consegue
- "1^? m ^^g^ijado _é um
uciixx^-"
psse hm. v-'
(j rcDuiu"—
^^tais e imortais para atingir ess alimento, en-
Essa é a narrativa oue Hpn t re qu ant- Para ambos
ambos os
os lados:
lados: os imorta
os imor dlvinação
divinação
Exa;^eitor de significados ^cukoro^^^hr"^'' ^^belecer uma ligaÇ^^^cC
sign-ficante"(também um hermen u a)da mrubare'h-'-m^^;,rá
no? macacos,e claro, embora como eles '
e por que um macaco, e não Exu, se
se Oe^
Novo fu,
lição«^^^cacos^he^^Ç:
itradiçao
úria contém uma curiosa contra sobre a qual quero
algo extremamente difícil cie recuperarei o próprio Gates aái^ diz que
•atjv r pouco.
"^7 Por um lado, diz
«eporou^ macacos
Exu] os dezesseis cocos,"c,

163
O DEUS DAS ENCRUZILHADAS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

dizem que Exu "obteve os dezesseis coquinhos usandojle-UJ^ primeiros quatro resultados são par^ar-par-íni^^ o segundo,
artimanl^^ Se ambas as coisas são verdadeiras, então Exu deve ^'^P^r-par-par-ímpar, produzindo uma ligum^dcl^ã chamada
ter englHiaS os macacos para que lhe entregassem os cocos, e,se ^gunda-Iwori. O adivinho, então, conta uma história que cor-
fez ISSO, então e uma espécie de ladrão sorrateiro ou um sedutor. '^sponde à figura. Ela é assim:
Qualquer que seja a explicação,os macacos parecem estar dizendo
Pudo isto aconteceu antes. Muito tempo atrás, um adivinho de Ifa
trás d^ O '"aisda his^
dessas linhas nao sei dizer, mas lembremo-nos iogou os coquinhos para umJiomejndiMlâáa-^^oIele, quando
"te^i^^aT^-p-a-fãzer uma viagem a uma cidade distante.
Íi5oI":ac de um-írlíI^Í^^Tdní^ Os coquinhos indicaram que, para garantii_^^
quinhão da humlni^^^^^^' "^nta melhorar o • , ' I -- -- I 11 mo

lançando mãoneede um alCÍV"'"'-


que os deuses 'da
"7'^'°''alvez devamos entender que,ainda
"nha e uma navalha. Ele o fez.
Qnanaiíi-kchliSí.à cidade distante,Exu pegou a navalha que
lhe fora ofertada e colocou-a na mão de Ajaolele.
iTdM. " "« »™ l-"»»»»'.«""f nado, onde uma mulher chamada Oran,filha ^
mesma razão que ®"-ÈJÍ)-divmaqãe. Resiscem P'^ ^ P«....„g„„ um pe.» de miug»^^-—-g.
está para acontecer C "ma^mudança das circunstâncj^ ^"^Purroü a mulher de en,çqntra.UaxiunâiUL^ ^
daSsCoLasSS' '"«dança na ' briga horrível
estrangeiro de ser um desordeiro. Exu mter ,
^m,dizendo
deviam
não tinham antes humanos agora têm umiioderj)"" Ajaolele não havia começado a briga,e que as p
P-em a ser ahmentados, por ^eiícar a mulher ferida sob os cuidados de qneehsc
tão LltTo"r"
' "-essitam,en- ^ aconteceu que A)aolele^£HL-^—OrarTíã era casada
^^assejntretanto, acontecia concebido uma
Esse cosmos chel? P-a Exu,também" ^ Gorava com o marido, mas não havia também
P£Óprio7tMÍi^7}ri^íj^gfE3Sse.quenãq_çqnseg^ Quando ela e Ajaolele£og^£^f£^SlY-^^^^^ ela^estava
°^eçaram a dnrmjr sabendo
!!^'í^.e^£ÍráxLda..Quando o chefe a j^esmo
o segundo
disse chefe-deú
que daria a Ajaolele
Oran tomo espos uma de su filhas, e o
^•^eiro chefe fez o mesmo. origem, havia se cor-
P"«™ o sabor «««»' Qüando Ajaolele retornou à cida e ^ j^nçar e cantar:
&« opera no 1'd,z r»"' ' 'I»™"" Uma pessoa com seguidores l^Ínada aconteceu! O que
caso específico. Imagine que""ho '"'"""'"P'"'""m fo" profetizado sobre a mm
em sampara.ma «agem cÓu"",' ™ !'"°p»P«'°-'""f. profetizado aconteceu!"'^
decidir se deve ou nãoTaiar
nao viajar. O
O adivinho lança os"" 'i"'"*'
coquinhos;

165
A ASTÚCIA CRtA O MUNDO o DEUS DAS ENCRUZILHADAS

Depois de contar essa história, o adivinho pode acrescentar um na di ^^Únação, pois sempre tom^ uma porção paia-Si-Xcerca dejdez
comentário, uma breve interpretação: por
t centOj^ rnegj^o que os agentes cobram dos escritores).
Exu; portantoreVtá píSefre"lFEhrt^ exemplo
pela ciai esta fifiur^ ^ abertura: seu rosto aparece no tabuleiro divinatório; ele entrega
^ Prenda e toma a sua parte;fornece a história oraculare ajuda o
'^ q"g g^aharemos^^mulh sem precisar pa^rjg^' ^'®iante a entendê-la; por fim,aparece na própriajiistóna^omo
"^dgador dos aciHentps vantajosos. _ ,
maior parte desses papéis,Exu está ligado à consulta sobre
"ão é exatamente um serTO^deJ^a-c^^nâl^
centJm^tmTTíT^r^^ ^íí™5íãtõ:^3¥^ii5íí55ê^rca-d^ ^ ;^°^£gmplicador. iim servo,aa-mestMPoM^fi^'-
^e^™p,e ,p.,.c. »*> Í"Wo de TWSSd.Pormiro do CÍd', M
como os coqmühos cairâ'^ ^ o a^vjnho marca um regrstro •an, -Enc„noi,ei,„F;-cmi5d5?:''Comoiniermed.ario,enm
O principal e ^Heat-órT^i ^ ^ ^^-^-^"<^eçorad.a.com eiitaJheS)
face a face de Exu. ir"*««to•£KU*».-««sog^
comoumcõnsíanl-r J"!S6a!S!faw*'»«%SW9?*
S ■idSSiidSJce^UnS^c™
aos humanos ainda " ° concedeu essa art« ucscriçao concisa u.
^-rdião dos"rS ° —diário,tanto
quais as perguntas humanas deve^^
^•^nhável na divinação^áT
COnfi,::...! .. . _ p<7--7N

passar antes que If


l«» respost ZT' 5""n.„ o mensageiro fl"" Pnr meio do uso das sementes divinatórias,
1- ■ mrias Ifá transmjtiu^s
j,,
si.í»prLr':
gináríopmr.,„ mH- ■ I
«oe^dS^Sá "''
*^"ando nosso viajante
WoíífcnbÍL^^»'' °mens as intenções do deus supremo -rnnósitos do Deus
quem traz a resposta!a^T^ Porrum ouvir sua pergunta,e é e e
^^'tmo. Mas Exu empenhou-se em desviar os p um rumo n^o.
° fTmamento, de modo
P» regundoC P',!'
"
'"«i'-PuuiSButafc "PoMo-rio. ^
c„„p ^^-Jí^ndido. Ifá suavizavXreiíil.ei-°^Soi^àr^^
^'Nessa história
com o problema deva fav '^^^"P'co"impositord. ^
tanto que o hoiríéí^ fie7a^ espreitames^ via ^
termine com parte desse "f" inicial quanto que
^^'^áter de i era o deilho e o de Exu, o a«dent
z»m

Ção envolve uma troca: o nks mãos. A


os deuses recebem os frnm uma visão do destino? ^ aprpndemos que essesjojS; ;s^>ra^s.
dizem que Exu inicia brigas e n -^â ver^dade^ as pessoâ® % p apesar disso, / rertã vez
os seres %mànos tenham de p, ^'°''°''^''''®'''™dimentos„Eara_^® amigos verdadeiramente ^^^^^^j^g^jtg^ãparecera^^
e alimentar os dèusés. Mesmo fazer sacri^^^f ^ funjraL ' ■;. apenas
.-^nas Exu
Exu e5taya
e5taya
sempre interessado em fazer. o caso,Exu est^ obter uma parte Ha heranÇ v, ^ ^^ideom é afei-
'^tn que o sacrifício tèhlíã ■•u , ^'■rasado
--«v/ c
V nada
iiaw» quis. Ao
■ . destino, e a incerteza é comp^
rií-v-.- * T^rlPli^

167
A astucia cria o mundo
O DEUS DAS ENCRUZILHADAS

V^ni SlA'^'''-/h■ / u
^quilo.^e está reservado a cada um na vida^ então uma história
P^'° -L:tam simul- que começa com um homem deixando sua terra natal deixa Ifá
Dizem Que o7°, ^ inevitável e que ele pode ser alterado. P®'a trás desde o princípio, pois a "terra natal" de um homem
exe3o
exemnlo::
mac - ^ ^ -não pode ser mudado, po^ ®qui representa todas as restrições de família, ocupação e tempe-
xtsr"u"':í
eqiad^basic^^
nâoqiode
*T"'°'™
basica m" muda,

7"'"seu destino","
'"■ ""í:
exceto DaTTesfr^'
® ®^soom: "Um indj^"
'^mento que consti>üem seu quinhão na vida. Como um etnógrafo
'Apressou, "os iorúbás têm ujna.cultüJâjLngularmente pres^iva
embora outroTaigam one ^ exceto para esu 0 ^ni qualquer momento do tempojiá ui^pahfüo
"o destino (...) podeser mnH ??^' ® inakerá^d" J status e papél sodal expresso em cOTÍS)Xt,aíaentD.s.pXÊScntos.
e forças sobre-humanos • "2» De
De forma
T ° semelhante,humanos e pordizsere
Ogundipe qo® ,7^ Exu ofeyèce uma "fuga da rigidez das leis sociãi^'. Nesse caso,
° '°8o Aj^lele cai na estrada, e especialmente depois que Exu
-n;b;S|SÍ^2f^ mas livce-arbltno e acaso acaso cifí'"' '°r Jáei, hiercado,
^?P^«cnta sistema, riessa
gidezfuga- é está em curso e tudo o que
manjido^msusps^^
mudar o que "s cl '••,) "Está nas nossas íoS
^ ^aioriíj
®7^retorne à%ua,.<adãa^^ devo reconhecer qu
dedicação e da vontad • resultado do esforço. da® z4' \ •'' '— rnnservadora do (^ue o
açi^ntes.Eéaquiaup ^ '^'duais, assim tomo da sofgjj^" 'de^«mpl
r T
o , questão^^ãTTíalor
' ^«^div^partee 77° „ .onsulente
deles^i_^___-- ~~
RepresMfroTdSi"í7f"a^'^"' ^ ° oomplemento do deso""'
do fado nem do destino^h "--- são.dejiesponsâbilÜ ei."'■-igtu.ur. Xd..i.de'iSSJ°
a \[L ^ ^ígumas ele apar^ diretamen^, e
no fim do44í^Vc!r~'™ u ° Apoio e Herme® das regras.) V^l uma área de risco e
«btemos, em>e-rdisso o o'o ° °P°«Ção.trágica, portant"' Cer"°' '"suTs regras conheci -
certeza e da incerteza do "'f ^^fecminado e do aca^"' das p E^eixa a família e os amigos com coisas
«-Çdes, do método fdaT ^ h.horrj-, • o^ ,„n„ da fo„»na
fortuna "■""'f''
ambiva en , ^^^ntecer. El.
..iihnsas podcm lhe acon
Ele
foi quanto coisas maravilhosas po deixar a
cidade prestar tributo à osacrifíçía
^ eqüivaleatenção
a dizer_3uefoi5íí5^^
a Exu tem u £jíy_£2flio.ai^'Ç^
^ de Exu -.-—■ ~
%e ^ como a disposição Tricksters são

5 iher 7 Ele pode


estriir í não é unf Legba »" n f"undo onde o Dest' ^ir ^ que vende é a reversão- a ^
2 seu?
®eus estratagemas"5°(. é)?a
raaT;?"»™-
' Embora .eu d^e °
«"ha der. E^"' estfO" ^
de maneira ^*^116 77 ®li'Eer de seus filhos^ o sol
■' -adtr-se ao E-i» ^ v.da (...) ffòíTâasfor^i^íí;^
6 verno do mundo."23 lugar, transformar o certofazer com q
em errad,
169
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO O DEUS DAS ENCRUZILHADAS

o inocente pareça culpado e o feio, belo. No mundo de Ajaolele, dadcs (ou quando os adivinhos iorubás lançam os coquinhos),
certamente un^iiomem-^o conseguiria.Aimajioiva-par-a-^i-SaS ^ apenas porquè''^i''caiiKgs são muito 9ut-ts;^a cadeia dé"évintõs
homens são destinados a dar um dote; ^^ito longa, a seqüência muito ráj)ida, e assim por diante, que o
e assim que as coisas são. A não ser, é claro, que um homem possa '^sultado é aparentemente ácidentah>Iojioidaía^^
acaso de "operacional"("na rõlHa a incerrezaéj3uramen_te opeta-
IhetrlZoT"'"'^ 7'""" acontecimento fortuito que não essencialT);" chamo
C^^Mo essencial: chamo isYoaêãcãscT^e
isso ucdcds^ mão única"(o
Possa.e_toxnar_1alguénU^ 7"^°de ser co'í7íicado, mas se desenrola ao longo de um so
1"'" — , 1 ^^y-v iim cCk

temperament^fc;^^-^---^íH°^Quem sabe,se o seu /'"'nho), a melhor maneira de contrastá-lo com o segundo tipo
o seu quinhão na vida. ' casual possa mudar :l de Monod,que ele chama dCabsolutp^ e eu,de acaso de
"tão dupla».
7hn7^®''^-—S que eu saia com meu carro_Ear^tb-iraba ^
Puro acaso gjf-l^uns mlnuTolTí^^srd^Fotqu^k^^^^
S7^£huva:inq:anlír.sl5:Tmi-iatos ru^a.xo com çam^
O que está d03 "ma janela. Um vizinho atira um d ag^a^neles, u
niaior cie cr "orre para a rua,desvio repentiííámêllt^q^ .
autorrçgulad;:^;:;-":^^^''^" ca^iiaien.te. Nesse caso, dois^cMUflluosçausa^^
ras (na natureza na soei 77'1 «aíori.''us estruturas duradou
d..e홄;„;d«r»<l<>"- 7: deles se desenrola dTaitdoçom^^
a mudanças fundamenta77u '''°™ana) são resistente '"''rÍrTo^podernsin^^
osEressupastosdessac ^'^u\a mudança"^q,ufi-aJtetS--^ P°'® "m acidente de de en-
nenhum mundo en7errfd™"''^-^* ^uase^a..qtréStão de
mudanças fundamenta íq ° n^esmo pode induzir as própr^^^ nada iVjima
ele nada conhece além encerramento significa dele um verdadeirojÇid— jj:[ental, e o
acidentes são de fato úteis' ^""^^^"Postos. Nesses casos, ao gato
Algumas idéias da W i* • A estar dirigindo também não o e, i •. "Q agâSQ
plicar o que quero dizeran^'^ ^^°lucionista vão me ajudar a eX'
evolução passaram unrbòmt' ^'^^i&^-flue^orizam
'C"«l».é, sL,e e„« csos Mo.rf
EmT)afcaso g- ~g-^™^.jV^®''"í!9_sobre o podeTcfiat^ elemento essencia.1 (••■) i"® ® jj^_uQjHg.tggíl£!a
francês e-ganhador do prêm^^f cadeias caus_aisdeJgatA ^ capítulo, nossas
que há dois tipos de acaso Jucques jyionodjrgumeur P3i:>^5ÇÍc5mfe " " gjjj gssa imagem de
rolqr dos dados ou o girar da "7 ® bem ilustrado pe'" 'd ência"~e "qontingência con
são impossíveis de prever, diTM^" ''®®"'fados dessSs êÇgHtoS A ívérgindo".)■' „ de mão dupla, e obvio.
nossa informação não 't boa ®°d, principalmente porqu® ^ inventou a noçãp.j£jgA^—---'^"^cas que aconte-
o suficiente: Quando jogamos oS % «/ es dedica três capítulos de sua Ftstc fazendei-
^««te-.u^teseusexempte»»*"''
171
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO O DEUS DAS ENCRUZILHADAS

ro que, ao cavar em seu canteiro, topa com um tesouro ciiie_£}^ ainda permanece como a única fonte da verdadeira inovação*
homeg enterrou anos antes. D tazendeirn pr^rpnHia cultivar_^ mutação genética é evento fottuito de mão dupla pois nao ha
plantagãoj^ outro homem pretaaMJscqníer^^ "cnhuma ligação entre ela e o mundo ao qual suas conseqüências
essas mtóSçõêSTTãCTTekeionídii se encontram,temos um verdadei <l^vem se adequar. Quando uma mutação encontra seu contexto,
ro acidente, a coindidriicia de causas não relacionadas.""Põdein°® uma coincidência genuína, um cruzamento de eventos.
ir mais longe do que Aristóteles, também, saindo da ciência e Monod diz, "entre as ocorrências que podem provocar
indo para a mitologia. No início do Hino homérico, Permitir um erro na replicação da mensagem genética e sua^
a prme^ajira d^c3a_paça~|iWTií^íI55---Q^cro hinod" quências funcionais há (...) uma independência ^ompto .
dessa histórir^iz que Hermes "encontroü"casualmente" aque'^ ^ssa independência que determina que o acaso
tartaruga, esta começando uma história sobre um aconteclfflÊBí-" inovação absoluta. Se o oposto fosse ^^dade ro se
fornut^map^dupla e sobre o tipo particular drmudanças se manifestassem em resposta às "
e e pode trazer, E^ehgião iorubá o mesmo fenômeno é bei«
elaborado t^ figura de Exu,que habita as encruzilha^i;!âl5l£2- iá portanto,
ponto.focai,da,.verdadeira__cqincidênc]a.""
absol«amentenecessidade, o proposito) e
novas. Seriam,
revelações de
oue^MoJoÍ'' compreensão desses assuntos, depo'^ Dtvn.'^1£S£nLe, não criações de ãtgõngSõTT^a
^"'i^logiadeumcris^açucar ^
e "abs 1 O acaso de mão dupla é "essencia
bihdade d ..'.Pl^ü^-^-ü^-^^tando que com ele vem a de açúcar. Se você dissolver açuca distais
atnÍcer1 ^ada de novo sob o sol po «
toda inovac" absoluto; ele "está sozinhojia_oiiSS!S' ' rist.•■
Crista íormar, O resfriamento^^£,^— ^va" com^ão
íormar. O resímnHiiia.i:i^= como as
di bmsfera^^^^ Cr\^ a rriíirò/-^ "ão
n^n ^p "absolutarn£J^„.-~ _ No
xi,-»/--acn
caso do
papel do evolucionista-^ '''^tal de"'"' 'Jápia estayAPISSêflíê--®"'
SaÍar :°d"/ ^-^l-ncia exagera^-
Ís pelas quais a criação „üoq-"do entendemos as mu.taf
ào e ^Çücar,"a informaçãojiece— jg uma estru-
5^.^ch AQS_.ç.Qnstit^^^ [^ai] enquanto a criaçao
%Lj.. ^ ^ ^uia criação; é uma revelação , imprevisível[e]
muitas i contribuição do acaso na evoluÇ^o^^^fr '^ contraste,"surge do essencialm
com vários agentes mutagênicos) Mais Pi"exemplo(são fáceis dc i" ^ bork inovação absoluta''
coniunto de contextos em curso - do r Iodas as mutações surgem c j
f"c-e
"ntextosdevem adaptar-se
selecionam os rua cada um hT'''°
os d^r "O contexto
«"1, repetidas dos
vezesoUes^
^
"' q^^lqnerpipé^jJPíti-S^p^olütainente novo.
iDat^ms,o efeito cumulativo
'^aillarwiniana d síse e de forma rigorosa
(.. ) olnareí "P e prelisiVel.
Í Para
'
'oT^^-BSt^tl. Não há
'"'•boletl. Não há surpresa,
surpresa, metamorfoses
metamorfoses
remotos, quando a primeitn Essa pri
acaso foi bamd°:»? ™ de cVndi^LrmSdò'^:, UIIP
" 'Cita P°cém,algo absolutamente nov ^^jj^ponent^la),
bii
Co
f, ®^®iPorfose
mais na (ou melhor,
biosfera, cada peq"
nascePna afortun^^^3-encruzilhada
173
o DEUS DAS ENCRUZILHADAS
A ASTÚCIA cria o mundo

voltarmos a Exu, gostaria de acrescentar algumas palavras


ííii ^obre inovação na arte, pois os artistas também há muito sabem
filias sa que acontecimentos fortuitos geram mwMjnundo^i^ue^
rcred^tanarsê^mos o c^' «Píritomativo deve abandonar os própfÍ£ij!!g!^P°;^ °
nossas in^nçõísTíiiíítoí^í^^i^í^^^^
-deia,quernn^"'^^"'í°^ complexidade do mundo ^. '"-ava sugerir que os estudantes de arte
a criação resultou
"Todas as relíg^
Parede £p_ntilhada de várias manchas\dê;irma_^^
ciência l9.das as filosofias e até mesmo__P^£-^g "nia esponja umedecida com tintas Mas
^"fatigável e heroiçcresforço ;Poi^ç.íarnc^ms«
\no séculoTx-"M^ri;^tigado por „a arte
P^^íeitamente po^ -
ior"^^^^bebedn
parti T^ P^ndiu^ especialmente com o dada -r^.ra tentativa de
De^eacordo
crençascomquea r"'^ ais Uma estudada atenção ao acidente . ^ià muito a
e esse é o n,"^~^-Í°!Íeuses_ criadores no pr'"'^'^í's^ Sientar
diz,
a lógica, a convenção e o gosto ^
aleijados, albinos
Ve -^;^obre're esses
esses movimentos,
movimentos, mas
tttas_vo"j;j™^^
vou jè ambos e^ que
que
°"deÍvejf Usa
sobr e Mareei Duchamp, que dá;fuga"
o infortúni"^""'antenas ^ acaso para criar aquilo que f
palma a- / quanrr," ^"^^mente Exu,que se compf Sí,
'^^hamn rprt-Q vez
-aiiip certa \ff-'7 produziu
t-irrtduziu umu
uiii«» obra c Jnlados
ondulados produ-
■Cí~s?s;r, r • simplesmente registra os ^ costura de um
^ sabedoria gr^ê?- ttiet ^ ele segurou três pedaços e i ^ez.
H^^aies ^'^u^primento esticados e . «A idéia de 'aca
^ ^ ^^rão; e se tenh^umg?^-
^2!í^n5:^^ganho o^ O so^ sobre a peça, Consistiu acimaTémdo
«ÍJ^qiaEressiQllou (...) ^jniença?' interessava como uma
^ ^ ^ presença do •dane -"®^®' d mâ'ò.(...) O puro acaso m gr así.21.®i5
»a<. d,,£■'»>• q» , »<•>;. Sigiões mister»" ' ^dtra-detr -ccííít-ia a real,mofor,sign
idade lóg'5%-^e
d "*4,■""*«
í • '«« 2r •"'' . td miLas
,„e nãoo»••'" " ^deixar ■ ife^5^^ca^o
^nfestar-sedos'
- ^ f^r danifica ues^ r...or-sedos
I » caiam como
r„ "'"«í*»» ■'"' ' ^ que por
ig,J»fflB.g,d<jniri<los s»ei"n
por sua vez signihca, ^^ineira -
As d ^^^rSjnundr,^^^'^' P®^Ada cpsit?ol?E'' Si e h.bicnã». D' ® e «aP"
d;Í ®« P>q»U,Ído hãbio eS »*• (DnPh.»P -
'.C^
%4>'»>q rqpençio q»q o bibto
, ^■>•»"««.r
^t; a ,id, pintando
ele achava as mesmas
,„e a maiona dos pm""' da mao
V irez^

175
174
A A5TÚCIA CRIA O MUNDO
O DEUS DAS ENCRUZILHADAS

lêm^ada, tinham de fazer)...Esquecer a mai^ promete libertação


é um termo que Duchamp cunhou para descrever os
do própSê^ôsmZIinEo-bom-qtramB^ fuga das regras '^sns r-^^uuiiuos
produzidos em massa que ele tirava da obscundade das lojas
em massa que eie luava ua
da causalidade e um modo de evitar a rotina perceptiva'__j^
w vxxx xAiv^^av^ xav cviLcti <± iutina
6 ferragens ou de
írappno „.. pjlhas
j. 2;ti. . _ de
j sucata e» ^o^loi-pva
declarava que_êrafllj:arte:
nue erainJíarte"(o
(o
arte",jisse Duchamp certa vez, "é uma saída para regiõesjão P"meirofoi uma rod^-biciclgfiqu_^e|einstalou^^
governadas^_eJo_temBP e pelo e.spaçol'.''^ O acaso foi uma da®
ferramentas que ele usou para criar essa saída. Isso o divertia» f°J-9niiuèòrte para chVéus). Na produção de readymades
costumava dizer. Esquecer a mão e deixar que as coisas «tnpje®'
"vhamp coloca em^pràtica a posição que assumiu em relaçao ao
mente acontecessem o fazia feliz da mesma_maneira que Herni^® quebrado. Nesse caso a coina^niia.nio.a£qntecec^
ficou feliz ao topar com a tartaruga e Ajaolele fi7ou'fe7iz aoj^^®'^ ® ^®5ion^e èla aconteça. Ele sewrnajijncru^^
à sua vila. É.a felicite de liberjarase-d"^-^Eidiaa:e encontra^ ta S^Lílhábito determmou_aue_deveriamjern^
o m^ndo renovado,^icidade do.fc«uito.
i~kn 1 n íH /*N* Tí-k ^ í_ I • * 1 1 « *.
C)u encontrar.p„(„„
Tomemos seu Pofü-ganaj'^
Essa alegre
o fuga dos padrões
pciuiucs esperados
esperados é
e um
um tema
tema tão
tao consi®'
°7"»P „empl.r d."».«»
tente
Tf«a em
ôm Duchamp
r^i, que
- o encontramos sempre que penetramos_ ei"
gjXl ,2''^duena torre de hastes de metal para secar gar
sua obra. É inicialmente uma questão de atitu^,.bem-ilustrada e,7""O» ■"« do lado de fora da prelehar. de Par»^ Agom
pela resposta de Duchamp ao destino de seu-CÍgrande vidreÁ^^^ 6 °° "»-'=« de ArteJilikdâS» I»» " 7» se referir
pmmra celebremente complicada,executada sobre lâminas de vi
° original se perdeu). « g a essa peça
dro). No fini da década de 1920 essa obra foi exibida no Brookly"'
depois encaixotada
j
depois encaixotaaa idevolvlda
. —--
e. à mulher~a-qíirml^^^^
— aA obr^ wL/ia lui cAiuiua 1 '/I
" garra"« muaou_2^———— —
se,espatifou durante o trajeto. Duchamp restaurou-a o mdhor q"_
pode e, parado diante dela trinta anos mais tarde,teve isto a di^®^" Esr° de algum restaurante,
euidando da própria vida no m
' obra de
"^ou e agora ele vive a vida eleva valor
P°Íjl^!Í42£!lâduras, do modo como elas estão_disE.o®d^, ^proíx - ^o mercado de bens utilitários, u com outro
Lembra:^eçoiaoJsso_^a_conteceu em um^caminhão,
1926 'Colocaram quando Duchamp o mesmo desjie
dois painéis um em cima do outro7obm O mundo da arte^^não que
L. talmente,sem saber o que estavam transportando, e ^"^^^us jájá tiveram
^"^^^us tiveram alguiua
alguiua ^ii-^^Q^aconteceu essa
essa
Connecto,--e-eiro-r.esultado! ddchi ^Ugár i^Tz-d—r— mas CUt
quanto mais pãía-êra7m-?4ditfrdaTmcffSíI?as:^^ safQ e ao que nau
colisão com uniiíorta-garra Duchamp
LtrI „
nietna nac rarUr^A,,^^. /
-i , . -
» . . Yêm uma formarEÍá uma
icin uma rorma. x*» ^
u*i espírito quanto na pra^5a^P .r-e
acréscim^--.uma
acrésçjmp - ® ^^^js.-9-UiíS^.uma.intençaY
u curiosa intenção pela qual não sou respoU®»vei
- - . AV
"^Jírriajiersão moderna de urpie .,.- -.^-^^^ gig
uma intenção
ao^adymadé,em outras palavras, uma intençu"
respeito e amo.'*^"^
' Ptíi^^^Exu na enex"^'^-^J',; ,n7is interessante
ite, com seu® ^ jgixou atrás
o acaso por suas aberturas diver percebidos
"■"'«do.ade.cdentcsqucP»»"»"'
176

177
O DEUS DAS ENCRUZILHADAS
A ASTÜCIA CRIA O/MUNDO \

pelos guardas e mudaram todas ^exposições. Tudo isso-acpi^' p ou revertendo-o, dependendo da disposição das coisas,
° ^ ser que o destino seja determinado no céu, mas ele deve ser
teceu em uma-^uestão-de -déeaá^,.4_arte sendo mais veloz ào
que a evolução. /,- ^q^ii na terra, e entre o céu e a terra há uma lacuna
a por esse inconstante mediador,
mediador.
Da história da viagem de"'Ajaolele a um mercado distante
cheguei a essas idéias sobre evolução'e arte, a fim de explot^t a - -«ejo
tlesejo de
rip Exu
Pvii de r-rt.onr#»r
manter orr comércio
mme através desse abis-
noção de que Exjiéj)_deus,daincerte2a.£_daaçidente, e que essas J VIVO significa que há uma exceção-chave ao seu amor pelo
funções estão necessariamente ligadas à sua habilidade de mudai 3 A.ljimmnidade deve fazer ofer^dasjosjeuses; essa e
o que cabe a alguém na vida. Tudo isso é uma única e mesma coi não pode ser deixgijfl^a^o- I ,' i

sa: deixar a vila, o acidente no mercado e a mudança de destino- de p° '^^"^ii^ente com a, em outros casos, consiantejnçert^a
A situação alterada de Ajaolele, sua conversão em '^umaJBSê^ e^df^ POIS a oferenda mantém o comércio entre os mundos
conjjiiri.aéauit.o'',
^
^- •-
nunca teria aeuiucciao
«
acontecido aa ele
.
ele no
no contexto
contexto de -sun d

Porí^° a sua função.


duor a sua tunçao. ,
vila,pois a vila é governada por regras, e lá nenhum homem^ -com".!'""®
®ni> uma vez que o comércio ..ia estabele_çidoJixiLEod?
seja_esmbe!e£lá2-Êíii^^
segUt...uo^va^ aote--. Paíajimamudam
"Jhion^m dote". Para uma muda-h^rfiTndãmeiuar^ e nem deuses nem nuiuai.-o v.
t.£Oj_A,aoleIe^recisa de um acidente afortnnaúo e paraJfueJsi^
— ^ tuixdutj, c pa.i.t4—^
: „ia„ segar»,confií.e.s
mnfiáveis ee desprovidas
^ de
acnnrpra ^ rí*»
gtande ajuda que ele ponha "o—
sTjTiT™!
oé na estrada
. « _ «nO
ee>"''fe.
Certo Se.s peLo.s
pessoas!eusi2!léli«r^^
se
»

, expressoèFqüe escrevo entre asF^rpSíqürdevemO® ele m^EPíllhestrará


IlisturarTrr—
sóTrimêntosTmãs^^
^ —■ _7.,r T^pççoas as_nZ£í^^>

r->-^:rrrrA!í!tmo. Se os lorufc
nosTêmbrar de não nos confinarmos ao seu sentido literal-
esta em )ogo_aqm é uma atitude em relação à vida, e você na^
preci^ríãto deixar a cidade para assul^n^D^champ ss: • deuses, hxu certan^
^^tnbrarem, ele abrirá urnespaço p
T;:;Tsur^esa e as
isso claro Vocêjiode estar na «tra^a em casa e na sua i^í^' "-esopc j . '
, EiíU Apropriadamente
eio^ r j . "imoositordosacrifr
considera^ojáfií,——Ajrj^jJ^Tégras.
atento
as vezesa plenitude das^ixicrdèncias
obscurecem.í^á que o Mbito e-o3
umjielHoikadoilf-r^
do planejamento," eitt
^9ta ci^°'^' ®"'-0) mas além disso não é lá muito contin-
estado mental no qual os olhos notem esse resíduo pórtõdíPiíí^ o tipo de sacrifício no qual e e i jj^^ativa
o mundo fértil e pronto para usar bem à mão. Nula/^^Eutidas em si. Notem onde ele oferendas, "a
Nid. "hoje", quando as pessoas
T J - I / 1 é depositada nas história
queo esse e um d/slugareTÍfeit^^uT^L^^
J^stanid^frequentar as passagens^ 'P ulãr^?5fina]sc^^
Po
H
!ira /'^PEca que "qu^lquso£ireÍ.áâiS£2^~-^^
ao ar
imdanças acontecem.È^^o é exceçâS.-ElígSiíiTi^al'"®^.^ ^ pertence a Exin S^f^£Í-3r'^^^j.y2ÍlhatlaSj--âSÍ
da passagem entre o céueatè^por esse motívo.quÊáêlíif^
apátece no tabuleiro divinatório. A arte da divinaçâo faz coi"^ âs beiras de-estrada^; formadas por cursos
o ceu e a terra comcidám por um momento. Exu é umajif?^^ *8u inoutêi^dAix2.eÍi2a'^^--g^gs,.jn
®os moutes de lixo e às,TLe®!j^Yssãros^ JSiB®3'^
de junção instável np.ponto de contingência de amBSsTreve'®'' ' Para :
que outras criaturas vivas
viva® „-

178
179
A ASTUCIA CRIA O MUNDO
O DEUS DAS ENCRUZILHADAS

/
insetos -^possaroiiampaEXilli^ Outra afirma que ele disse Jdá às oferendas faz duvidar da sua equidadeJlEle_::íoma.di-
aosTiümanos que "enquanto fizerem oferendas nas encruzilhadas, furtivamente". É um "homem de recursos^consideráveis ,
sempre estará com eles".^^,--— "vãga peras ruTslFgTrTcI^^iHEEIíS^S^^ST^ré^^ "«
Em resumo, as ofêriéndas ligadasg^xu se concentram em se apropriar do dinheiro sacrificial"/^ Há muito mais a dizer,
lugares de contingência, locals^^ncU^s^pessaas.p.odeiiue.sbâ£J^^
com algo imprevisível^O sacriEcio aJExu n5o_gp dá com lásla-HSia idéia geral: com um deptomamaco abastado
acLâbrigo^ê um templo, mas em locais variáveis; viajantes podem Po7 da permuta,os humanos não estão em uma
à ° fuelhor do que os deuses. . , ^
comer dEilímentõ^ssas oferendas,e também os mercadores, os
cães, os pássaros silvestres. Esse sacrifício abre uip^orõ
E^í®«iga dádiva do oráculo dos coquinhos
do conhecido,de forma que um elemento do 'í.aráter do vdajahte com

ou "do selvagem", ou algo vindo do "monte de entuího", então passaram ,


entrar. É um sacrifício de mão dupla ou limiar,e invoca, portanto» ""'ent^m risco; eles
a possibilidade de uma mudança fundamental. ^°"tato que os coloca lige.ram
A incQiistância das m^diaç.Qes.de Exu-vai-alémdessas questõe ^Utto I , ^^ptura sempre que recorrem a • ^XnrÕíetícãr
de local, também. Òs imortais podem dar-lhe mensagens^sT^i'^^ adivl'Sligora têm uma iL.tu.ção_d^çonfi^^
as transmita, mas desde tempos imemoriais sabem que ele lhes dá um Sem
confiável. Lembremos que ele obteve os coquinhos "por meio mó^^ seguro de sabet
^.^?^hüm fn53o saber c Vxu posta-se
artimanhas ; lembremos que ele embebedou ^arrTliõs^deusS^^ o<!^festrinrxi/.;;.
por regras ..r.cH.i.s
celestiais nem
nem terrenas,
'hxu P ^
nue^esteíám
criação. Ceftã ve2.E.eixouj) sol_e a lua tão furiosos um com o o 'aat^j^-Si§d2undos^u entre quaisquer duas de alta
tro que eles abandonaram suas órbitas. Diversas hastonãs^o^^^^ fidl'did:
fade não como
não como um
um transmi °^,(.ável, nebulosa,
nebulosa,
como suas constames pêrtufl5ãçÕFs levaram os deuses a obrig^' dl':da
de'^ "lais como a própria atmosfera,
t>a ç «stática e da fumaça das fogueiras hu
pode
viver na terra,e não no céu, Êm uma dessas narrativas,Éxu fio^ ^ 'tec, jadospor
enciumado diante da boa fortuna de alguém que resolve faz^^ ^ 'Se 'utiH^ P''oblema quando os humanos esta - pois se a
que os deuses passem a maldizer e trair uns aos outros.' ,,52
participação nesses eventos,Exu foi banido para as encruzílh^*^^^ ^ „'.dr. mundos estive^^^^E-^g^gaverH mais
Não que a prontidão de Exu para trair os deuses signifi^^^ ^
ele é um amigo fiel dos mortais. Seu rosto no tabuleiro
posiciona-o e a terra e sugere incerteza de 1ec'''^0s. mudanças P''°
lados. Poemas de louvoTdirigem-se a ele, dizendo:"O tratam^ dl ^dad , ° que existe no umvmso^....-^:---^ ^ mundo,
Se ^ eventis casuais, o x casuaUtlatl^' on
* Na Grécia, oferendas de alimentos eram deixadas em vias públicas de
junto a estátuas de Hermes em beiras de estrada. De acordo com CarI Kerény.
prática artística g^es humanos tem
oferendas "caíam do céu para os viajantes famintos,que as roubavam do deus 'hat, .'^'"ttórias (Ia África Ocidental, o jg^a, e desse
o seu espírito, exatamente como ele teria feito"." ^^s>^deentraLo.iogO-do^estí,rme''^'"
""do cor^sjfantemente se ongin^"
180

181
A ASTÚCIA CRiA O MUNDO
o DEUS DAS ENCRUZILHADAS
Notas
^®tes, The Signifying Monkey, p. 15.
1. Kundera, p. 49. ^■^"benius 1, p. 230.
2. Jung,in Rachel V.(pseudônimo),Family Secrets(Nova York.; Har- ascom, pp. 168-71.
per and Row, 1986), p. xíü. guridipe I, p, 120.
3. Abimbola, p. 216. gundipe I, p. i3g
4. Bascom, pp. 115-16; Ogundipe I, p. 232. outlander, pp. 59.50.
5. Bascom, pp. 116,62,e pp. 115-16; Ogundipe I, pp. 232-34. 7^'^nder, pp. 60-63.
6. / Ching, p. 204. gundipe n_p ig.
7. Exu veio para o Novo Mundo com o comércio negreiro e aparece ^ascom,p. iig^
como Exu no Brasil, como Echu-Elegua em Cuba, Papa Legba nO p. 115
Ham e Papa La Bas nos Estados Unidos. Ver Frobenius I, P- ^2^' O
Siindipe
iundi pp^ 232-33.
Wescott, p. 336n; e Gares, The Signifying Monkey, p. 5. Para "i" HersU
bom levantamento de algumas das transformações de Exu, ver ppi Dahomey II, p. 222.
Cosentino.
^ V pp. 117-18.
•on

Tanto Exu quanto Ifá têm outros nomes.If4^mbém chamada P. 345^


^mila.Exjjás vezes se escreve Eshu,Esu,Edsh^ròÍEHIuTÍ^^'^ 346; Bascom, p- 1-59-
formalmente chamado Exu-Elegba e também Eiegbara (Legba, do 113-17.
p. ii3_
vizmho Benin, é uma figura relacionada, porém distinta).
a grafia e os nomes ao longo do meu relato. 114.
8. Young, p. 51. Mon Efiysícs (ILiv-vi), pP- 138-39-
9. Ogundipe II, pp. 131-32.
10. Frobenius I, p. 229-32.
O' P- "2.
Ha duas histórias na coletânea de Ogundipe que oferecem outr^ 288, 306.
versões sobre Exu e as origens do sacrifício. Em uma delas(II,PP'^ ^ bU ^ - ^18-19
1./ (ênfase
vciJiasc min uma explanaçao
rtora uma
e segs.), os seres humanos se tornam gananciosos e cruéis,e os deus_c ^ais ambos, Dawkins e Mono , evolução-
se retiram para o céu. Essa narrativa fala de uma era de ouro
havia morte»)e sua perda ("então,tudo se tornou pior"). Exu,enrf if sobre os limites do a
mutações não
torna as coisas ainda piores, até que as pessoas procuram sua a)U'^^ sào 3i completa das maneiras pelas q
^ Monod,
diante do que ele institui o sacrifício; "Para estar em harmonia Ifo por exemplo, ver Dawkins,_pP^ em uma
rnbos apontam que uma
-tüt-i
patre da cnaçao-
«puniam que un»»- -
todas as coisas vivas,[as pessoas] devem fazer sacrifícios. É por 'S® ^ evoL possa preservá-la se quiser se torn
que ho,e os homens fazem oferendas. Alimento sacrificial é dcpo^' % resulta, escreve Monod, «'4r.át.rt4 - e po-
tado nas encruzilhadas onde Exu vive; pássaros e animais selvag^
compartilham dessa comida,de acordo com a determinação de ^to / que tem a propr-edade jd '" i.mbem
Ogundipe 11, p. 106; ver também II, pp. 93 g segs. preservar os efeitos do acas
^5 S"'»U0-72.
; P-114 (ênfase retirada). Ver tafflbem
' P- 87.
182

183
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

36. Monod, p. 116.


37. Monod, p. 44.
38. Ogundipe ÍI, pp. 118-20.
39. Dawkins, p. 320.
40. Citado por McKenna, p. xi.
41. McKenna, p. xix. golpe de sorte
42. Cabanne, pp. 46-47.
43. Duchamp,Salt Seller, p. 137.
44. Duchamp,Salt Seller, p. 127; ver também Cabanne, pp. 75-76.
45. Cabanne, p. 47.
46. Ducharnp, Notes and Projects for the Large Glass, p. 90; ver tam- "O fundo da mente está cober.t2^^"^"^^"
Paul Valéry
OQTn Salt Seller, p. 32.
47. Ogundipe I, pp. 120,234-34;também Bascom, pp. 103, 105, H»'
48. Ogundipe I, p. 234. "Só o acaso pode ser intergfjtadoj^B^^
49. Ogundipe II, p. 106. Aquilo que ocorre por t^cessidade, aqm miida..
50. Ogundipe 11, p. 95. .ue se repete^todos os âiãs,
que
j--- --
dias, na
p senao
- ^^^so como as
51. Ogundipe II, p. iQô. Só acaso temj/.6z. Termos interpre
52. Pelton, p. 139; Ogundipe II, p. 174; ver também II, pp. 87,90-91- ciganisTeen^no fundo de
53. Kerenyi, Hermes, p. 24.
'^ilanKundera'
22^"30 Tg"''''' 1' PP- 138-39, e H,PP'
55. In Monod, p. v.
dád''^â de Hermes
construiU seu
do meu escritório,
gravetos e o musgojato^ > i^rdas laterais do
(\^ülá^ tiras de
;^í_f5BÍ-úttio papel
de algo
de destacados ^ brancos, mas,
algo que
que impti^^ rnentos brancos, mas,
^ não saiu em busca
busca daqueles
daqueles ^^ cádos.parâ.^nstr.^^^

Uk ^
^caso os eqcontrou,soub^-^^^ ^ famosa máxima
** -1 y— /^rTlO > •

!'"'icaV "Eulnão.Br9£üe3-^ ^ nrâtica artística. Em


V subjâz r-porçlo errante da sua
uma inteligência sente;se ^ ,^^^jg„ s
uma inteligência nao riqueza diária de
"a ponto de fechar os olhos pa
184

185
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO o GOLPE DE SORTE

casuaWades."O p^ÓErb acaso se derrama por todas_as^^; manto a perda pertencem à esfera ajnbivalente de ambos. Era
""'n anopação em seu diário, GárrKerényj>egistra como ura de
livros desapareceu em um^^ de navio: "Herra« deseja
«tavaescr filósofo C.S. Peirce no dia eir (...) comigo novamente? (...) Fique], coin a sens^a^^^
cedo
«do> eoH
e o dcU• '"
T"''°''^'' E^cagrMps(topei com aquele pássaro
passa*''"V r^^bado, algo insólito, uma vaga sensação
c™r'f^^^inhando a esmo pela"""""'S- '^=mstáncTás - verda-dértamente algo hermético."
^^"lumampç irite r-imífiLosjc,identais - ambos emanara d-sas figu- . ^ m.jl. ;

\ào 'constante o-acidente. espírito


A"^dnid Stradivan,
^^"0
ircaA^^
^^^charcados
Stradivarí, cariii
^^controu uma nilha de remos
remos
quais fez alguns de seus fioA c"ois'as'r° "'dTaTerçSS^^
o tipo correto de^nça__^—Í^TTÍHér^
^^^dedor de rua e' - cantando na ^hc^'^ dc "portador da
Sorte" .'°"l^a,,jiias-£.xegularmente encantador").' ') (í

° movimento do C ^ Talve' -P^Pf°"to ajípdar", "enfatic atenção:


Um achado de en>r ° "so da^r-a^insóhm" po' •^"^"'"^erda e o que é
^"^^■«aisfantosas esculturas: "^"clcster, quem pode dizer o que
^'llvinhecomnfi rti""'' de • É difícil manter o ponto de referencia.
entulho, encont^''"^'^ ^bé^de touro^Um dia, ci" ó só o que se sabe, P°'^ computador
^ "í2l|iddão enf ^clfio-assentd'de bicicleta
'•■•) ^ ntmha mente rmediata'^;^,,..' ^^ttag°^ 'otmos colapsam, e uma perda su i révírãvõlta
con,rTA
^"^edarcQ de ro«ro me ocorreu aUte^ «"y
"V"aeroM7omeocorr ^ Se. chaves desapa£^^bP® vou nn^
^antl;r^WgãntTõs®Í^in"°
1 , 1

P^nas soldei as peças uma à ou^^


Anpno^._ 1 1 . t r^viitra ^
^ IJUVdJ
■À>^^ Pela.Rarque). ' —" „aco indeterminado.
^So?:^4í^ottcebd tnas>' r°P"^ 'dcia de "achar" sugere esse esp podemos
maneiras de se adquirir coisas n ^^^^^g^^pg^xeceber
l^^ncia Poitela^ c™ '^oda a noss ^ f ®'8o com trabalho, jaodeqifl^gg!^^^^ P°.!Íé°
^'tt5^r~S£nteje_p^d£niQS-JXiuharí-
P^^sas" cuja descobe^s^ ^U^j^^^-Uüiâiisiâçornfl-^ fi® ^'^'racionaníêílffiiêSÊ-"'' mí
- vezes Exu faz
S Utu ^=2,"tcada no lixo à beira descrever
'•^'^^Sí^^^om^Te^êrlíníos dedira^^—f^^endeiro
aq^ ,obreque,o
í'r°'^®Cum'l^^'®êcmcig
° -Cr ..
r <f
e uma dádiva dÇ- ^^0
Na Grécia àdsf' ,^ Xh ° '^«ouro enterrado no exemplo ^ „,balhado para
'%seg'.'Pfio dupla? Ele obtém o ouro nao P ^g amigo
£''' ^'''°"aeens®"'r aí''^'^ / "em por tê-lo recebido ^0^° P^.ado. Estamos
^^ísso.r^^^^^tãor °' ®
clp ^'^^inente ligadas- ^ UsC^ '^teatampouco pore tê-lo
de sombras, uma roubado ou ^ ^g fez neces-
linguagem"
.Píornaníaçp rico; tanto ^
187

186
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO O GOLPE DE SORTE

sária. Cai^de um caminhjío"* é a-versão norte-amcricaria.—


do Os ingredientes desses momentos — surpresa, pensamento
mais antigo "encontrei na encruzilhada". •"ápido, ganho súbito - revestem-nos de humor, não de tragédia.
Falar em acidentaieiÍ2.rnãQ.-ene^ar o do acasi3- Hermes ri quando se depara com a tartaruga,e um estado de espí-
Todos sabemos que acidentes podem trazer grandes perdas ^ ligeiramente maníaco o domina quando ele compreende como
sofrimentos, que as contingências podem resultar em grandes fcer a lira: "Assim como um pensamento veloz pode atravessar
gédias. Tenho uma gravação de uma mulher-^e^: pBTcé contafl^l' doando o coração de uma pessoa assombrada por preocupaç^,
a história do Coiote que viaja para a Terra dos Mortos. No ^ssim como olhares inteligentes se projetam dos olhos,.degTfo^
ela diz:"Quan^ramos^crian^as^ çhojávamos e chorávamos-P*^^ um instante, Hermes soube o que fazer,e o fez."^^Picassocer^
causa-disso^li» SobreTmorte de Balder,Sturluson escreve; "Esi? descreveu seu divertimento aQ.j£ ouriço em
o maior^fonúnio que já ss-abateu-sobre deuses e homens."" ^"^a^ça formada pela maré:"Õ sentido da visão gosta de ser
uma historia semelhante«ejó ha qual EÍÍd"Sdí;ií um h9!P®f, que governa o humor. Apena^
rico dejuda,D..que ele ama por meio de uma série de acidentes- f^^ejojnesperado nos faz rir."'^ A mente ágil se compraz ao en-
as essas sao realmente exceções"ao tom;predominante dos"conto aquilo que não pT^cura. Alsush««a vez disse que Picasso
de tnckster, e com freqüência o ofgíího arroga)ite ou o control para fa.er uma espéctíf^esqut>. A observação o
exagerado são fatores contribuintes. e levou-o a formular seu senso d'e "descoberta .
Para um exemplo do tom mais típico, podemos tom.t o P""":
alh™r°'í V» bató
"m homem que, com os olhos fixos no
mio m h" ® Ptocurando pela caderneta que a,PpuQa
°aic*Íd"?"'° ■ » 1» . Çaminho^queie que descobre a go jg^perta nossa
ele "encontiouno ^ ° Picasso no monte de ent não fosse procurar por isso, pelo me"
ntinável
encontro("O qu^i3— '^"am importanC ^'^iosidade, se não nossa admiração (.••) encontreij30_Q^
com Hermes a tartaruga- h ^
Quando pinto, meuobj^ivo é mostrar
queoantropóiogof^íctorT>^^ ^ eles deixarãowir.
-coisa-nem-outra o estado de ser os dêíises da fortun ,
"ín^^^nosso caminho, mas se procurarmos
espontaneamente
novas metáforas,nele
sem vai
mppr Vi :vP®'^"'ativò";" a mente
estruturas, qn
novos si"^
nciohar novos instrumentos musieni-^ V;
j ^^0 p 1
dl
'noteficislrucnte
• No original em inglês,
de Pff!-dÍ!>-.du.idosa;-geríte,,^t 'iN4rí ''P^ta qualquer mundo
''^^^VelmenterLalrão,
Pm
''Vaual
os jogadores
penetre-
no q ficara satisfeitos,

188

189
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

o GOLPE DE SORTE

enquanto todos os outros esperarão para ver se realmente é diver


tida essa nova coisa. Qualquer que seja o caso, antes que possa
mos ter pleno conhecimen^da^upjjjxa.s.e_dp^ddd.t.e.S.queJ^ 'Büal^^ster chama tudo isso de '^ádjv^da^FpÍt^ina", mas poderiam
ser chamadas ááàWâs dclieTmes ou M^
^ ser Ciiamaaas üaüivas ae nei. —
no rastro dejm ^olp.e:çLe.SQrt£. precisamos de exemplos mais estamos nos domíniói'3é uma "mudança de
completos com os quais trabalhar. Em 1965, George Foster, um tanto Hermes quanto Exu governam (lembremomos
antropólogo que havia trabalhado no México e na Itália, publicou PariiiL pratica uma loteria privada com seu sacrifício,
um ensaio que trata, em parte, de como os camponeses, "o ® "rne sacrificial ao acaso). Com o tesouro enterrado
quando a^fqrnmâjlf^eus-vj2mhos-muda--d^ súbita- Em tevel soltamos à jazida de pedras preciosas que Exu pode
"Peasant Society and the ímagè of LifmíS G^"[A socjeà^ Hok . ^ ® '^srtos tipos de ganho hermético (em uma
carnponesa e a imagem do bem Jimitado], Foster argumenta
muitos detalhes de outro modo desconcertantes do comportamento
Pof d® qual falarei mais tarde, Hermes pex^eJiMlun^
■ cM-sebem
camponês podem ser entendidos se considerarmos a hipótese de
que os lavradores creern qu£há^iin;^ ' '''a desr-''-° "^dTdes camponesas,
na comunidade ■e,>.^rtanto^^(ilguém.ho grupo repentinamente ''"'s cone ®°'P® hermética à idéia
se torna mais^i£0j,_deye^s^r porquêiTuTfaj^essoa, ou o grupo cofn^.-
maneira bastante clara ® ^^,50 de cer^
um todoj^fíóou^ais p(^ A idéia se sustenta se imagmarniP^ A ^ ° realmente está em l^S^ ^ ' rx^-j-ates con-
como fez Fostefnrrnã comunidade fechada, ou - para expressá-ln ^ctsa-^^^l^úzmho^ um dos diálogos ^ imortal",
'ij ^^igos sobre a vida após a porte. ^ ...pU parte do
de outra maneira - a idéia encontra suas exceções nos casos nos nosso cuidado E de
quais a riqueza claramente provém de fora das fronteiras nomin^^^
do grupo. Camponeses não se sentem roubados- se- um^dos^^-® ^ rperigoso negligenciá-la-
enriquece como resultado da venda do esforço como traballm*^'^^ of^dnorr ngora extremament p
libertação de tudo, e
de
libertar-se-
migrante, pois fica claro que os rendimentos ganhos dessa fotnt^
vêm de fora dos limites do grupo. Mais significativos para os perversos, poi^ nrópria
meus propósitos são os outros modos de conseguir riquez^-^^f^ "C do corpo, mas ..mtó® ="* ' '
se sujeitar ao opróbrio do grupo. Em comunidades campesinas nC ri ^ ^In^a hem estar falan-
sul da Itália, por exemplo, os vizinhos nãojiostilízam alguém cnj"^ etn ^^d^iciência de que Platão como falamos
sucesso repentino advém de uma "dá-diva da Fortuíh", como, sem pensar em Hermes, j^g |-fadutores tião '!■ i !

exemplo, quando "um rico cavalheiro dá um violino a um menijí (['"^Port^ ^^?..jembrar de Marte, A
pobre", ou quando "uma dama rica adota uma criança^abandoj na melhor das líi
líadáTquando um homem "tropeça em um tesouro escondití*^ ^erwiíj/ow^EorJiSS^^^^^jjgsse a algum deus
enterrado no bosque ou quando "alguém teve sorte suficiente li>9r e,' l^a^diVa àií^rNe entanto, ® ,.,,ussão tem a vcriSS-
ganhar na loteria".^^ ^ ^"Ção^ tefia de ser Hermes: a
moralidade que Socrate ele e o
^ ^ nome Je Hermes surge
^ ^^orai.

191
rs

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO O GOLPE DE SORTE

A questão é que tanto Foster quanto Platão acreditají?-^^ ''^mboleante, a canção de um estorninho - encontroj3suai^s
tini golge dF^rte oferece uma safdT^ar^uma situação de qutrp não podem ser denvadosmi estrutufãs^e nos rodeiam.
mQdo restritiva. Â tessitura da vida social e espiritual contém, moí"
da e restringe nossa existência; um golpe de sorte faz um rãsgo
nesse tecido e assim podemqsji^ libertar." No mundo descrito
pelo ensaio de.EosteEy.p.oj.exemploTSgÕlpe.cidser-te-veni^dedbrâ
das_redes de reciprocidade comunal. Redes de reciprocidatle,
além do mais, trazem consigo uma tremenda persuasão
e ética, de forma que também podemos descrever esse tecido
moderador como a urdidura da moralidade. DepositamqiJJíSâ
gradejtica^q^^maiorfajas nqsgasexperiê cíassjficaiit^
os acontecimentos,rapidamente como bons ou maus. Ao diz^^
que os perversos certamente estariam recebendo umadádiva_^ ^'^'^^^ineuxfiJásaío trespasse os argumentos doa_____^^^^^
Hermes se não. houvesse vida após a morte,-Sócrates_estÍ^P^^ "^^"tação como tropas em um ca P ,.mhermaton
testandq_c_otitra.aJidÊÍa.de. que_pode.haver.aiiii-inodo-de-escap^^ comete um desTi^- Sua língua o ' ^jaca
ao díMruniüJp^s^stenm Tudo isso sugere uma maneira
definitiva de descrever a tessitura que um golpe de sorte romp^ C,"°P°"cnte, que rapida-mente se enfia pela abertur
ou evade, pois em muitas tradições as demandas da coletividatie . ^^quezas ocultas. .'-■■'"T: ^ rhamado Frei^ e
sao sentidas como uma espécie de destino, os próprios destinas
sendo imaginados como tecelões cujas urdiduras moldam a vití^ ^âass^lapsodalínguaco.^^^^
dos seres humanos.^^ - gu livro anterior, A
Contra isso tudo - contra as redes de reciprocidade, a graíl® mo„,e„tos em que a matériu do deba.edores
da etica, a tessitura do destino -temos a descoberta, que é uiA®
abertura auspiciosa, um rasgo no tecido circundante. O golpe dãH todas as coisas que eu
^0 do tr^i^^'tster quebra
muitos
esse temas,
silêncio.mas deixO" . í um agente de . j.
presentes,
sorte e uma oportunidade, portanto, um poro ou abertura pe
travei Pm
em um
nrv. desepho de
J. outro modo
. fechado^JVimos
- anterior
Iteri^^ ^ tradicional troca de presente
articuladas e solidificadas po^ çometci
''^irarouaté
mente que os^gregosVhamavam essa abertura^ nojpi; tani^ tios "OScapítulo 5 deem>1 dádwa.
mantenha um lugarTudo
ti .ss^ iríamos naoest
-■■ãaji" sentido
a chamam .^e kairo),^^ termo que vem da arte da tec"elage?J
se mfere acHiK^stante em que o tecelão po&^>2«^: camponesas queTo^cLdeSp--— conferem
deira através dp^fioida-uídiduria-quejiibem e descem. Kairàí e chances, portanto, de q que ca J
uma abertura penetrável na urdidura do tódTn^aúrdidura d" g ^ ^^Cabijí '"^'^'Ptocidade
'Cidade contínuos e as bilidade
biiidade pode as pj^^mes ou pm
um
1. "cn
de ^
- grupo,
grupo, mas
mas essa
essa -esma
mesm e^mb ^ prese"
^/rntam aprisionadas. Nesse g^prias,
gprias, que P*^^
^jgsordenar "
g gssas
os
ggsas culturas
tempo, na urdidura do destino. Através delsíT^rds, brechaS e ^dçp pr II
aberturas fugazes é que escapam o ouro enterrad5,"a tartarug» fronr ^ dádiva que confunde g^pciá-losàs ave.es
tnc deve
. 'bave
aver exceções ml:
^ tçg q. do velho sistema
tas essas são dádivas anômalas, e md
^^'Procidade.
192

193

11. >'
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO o GOLPE DE SORTE

revelando o que está sob a superfície ou por trás da máscara, o na verdade um oráculo, ao menoj^ára os que conseguem ouvir
que está oculto-^SJi^zes até mesmo para o falante. Uma amig^ ^omo Exu ouve (seus ouvidos/^ extraordinariamente abertos,
quer dizer motivo", mas diz "um marido", e então sabemos 'perfur^_[...) como mn^ndra").^^28 Hermes
"oerfnro^— / \ Hermes também
também dá
dá ou-
OU-

;sagnrsija^ente.
o que se passa ^— — Menciono isso porque falar em um
tcfcgi
apurados aos seus^^^idores;
■y
'
eles
-- o^hamam—o
—— deus ^
nrnlffl em
poro ou uma abertura no que tomamos como a ordem das coisas ,_^iro ouvido", o é capAz deescutar uma^êna^pc^^
levanta a antiga questão sobre o que há do outro lado dessa ordem- ^^SSodente^H-á-u
TH lIl TXii UMIIIH ■ divma£âaassDdada-aJtoines-que
^

Se o destino nos contém, o que existe fora do destinoPSe^E^^^ ■"-^narna


chama clUonomanâljtmààèJèSk^^
Hermes-sãQJiiensagelr,os,_£^mensagem está oculta em sua^^' s^vãção
^..'^«Çao acidtntahfím
acid^tarmas pressagiosa,
piess,âgAOsa, ^a versão_do
vci^a^^ golpe
d r
divas acidentais? O que um golpe de sorte revela ao homem oü u a linguagem. Muito tempo atrás, P43i|niãs>^escreveu
P^ra a iinr,
mulher que topa com ele? >1° d. -Hermes do. Me,cadoj,V' «o d
Para a maioria dos povos antigos ou crentes, a respc^t^^"®^ %adas estão sendo aresas, o consulente deixa uma m
pl^s: acidentes não são acidentes, eles revelam a.vontade dosdeuj^*' local- i„„„ à imagem de Hermes,
O que acontece na terra segue os desígnios do'céu, e se pat^^^ ""-i3'»l espera obrer respos», cobre os o„..dos »m a »»
ser aleatório, é apenas porque a nossa visão não tem caiiacidui-' ;'^^5EaíÃn;iSSdS;;r.idos,.. pri«e.r.e pala-rW
®'^^^-^^titÊ..para_£i]ixergar que o aparente acaso na verdade seg^
um grande desígnio. Assim,os iorubás freqüentemente dirão
5"" "»■" ■ '«P»» dP " .1.«é«
maneira corno os coquinhos caem não é realmente nhra do acaS^»
Ciar®^ente pronunciadas por uma
incapa^de calcular seu criança
efeito. ^ou um pg^as agentes
mas simjíntrpkda p^pdiá,^ Um especiab^^^^ quanto Exu, portanto, ® ocultos dos
em oráculos gregos nos conta que na Grécia antiga "a distribuiÇ^^
__r-. 1 . .1

da sorte era governada não pelo acaso, mas pela vontade dos ^Par/'^' também ajudam a extrair signi gnrjamos
ses . Esse tem sido também o entendimento cristão há
dispara,es da sorte. No mundo "dd- « pelo
Em sua Anatomia da melancolia (1621),"Robert Bürtoh leto d°dÍPnpèo semelhante entre acidente ^ cabeça e
que Colombo não descobriu a América por acaso, mas significados descobertos ^gj^gar a vontade
guiou (...) Foi coritingefíté para èle, mas héc^sariõ para 1 _ Í deuse^' '""^tlstécnicasdivinatórias (...)
Ainda hoje, nos Estados Unidos,comunidades amish elegeiT^ seu5 °técn' termos psicológicos. A
catahsar^^onu.
• nsciente de um
bispos por meio de uma loteria que eles acreditam revelar á'v5? em uma típica formu-
^Çào ^ ^ M-arie.,Lfíuise j^qn,Er-a^ ' t ng e foi ele ■nnt. em
' QIZ M^rip T.ouise von
tade^e.Deus nÍ~qüestao.
Nos casos em que um personagem como Exu^l
pr„f° ®tna.M Von Franz foi aluna de Ju gn
Pcq ^tiio ao I^ ching,
''dPntrat'^ C/img, ficou
ficou célebre
célebre por
P°t f""
-Iflr
considerado o agente do acaso, agora Sõi-N-Í^trame,^ oinctâBiCO^*"",„o.Oittro-i:
^
que causa acidentes é o mesmo quelraz mensagejis.-Nesses Significado dejspgdâS em
e
mas,em outras palavras,contingência é profecia, pelo menos P dí'^^^2li-£!dadeJisiMíe,JiS-ad^
aqueles que têm ouvidos para escutar. A face de Exu no tabti^^^ ^ estamos tendo um não estava tão
divinatório evidencia tudo isso; significa que o aparente aca^^
preocupado com a
mas sua concepção do
194
195
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
O GOLPE DE SORTE

acaso era semelhante. Todas as suas preleções sobre "a psicologia


dos erros" são dirigidas ao cético que djria_^e.^&-lapsos "não oi^iginal."- Os desvios em relação ao ideal fornecem um insight
são djgj^_dâjminEZixpIIcãçIõ^SõIpequdn^ o estilo e, portanto, diz Picasso "pelos
contrário, Freud argumenta,,o que se esconde no inconsciente
apenas "se m.ás'cara de acaso auspicioso",^^ e devernos^pxende^- então,é o sentido no qual o artista trabalha com aciden
a remoyep-essa^masQara. Lapsos-e outros erros "são atos rnenca^ y mesmo ten;pft,efa_^ cria "uma obra na qual "não há aciden-
sério^^t^seus signiScados";/rião são acidentais".^'^ Aparen^ v"Ac;4mes,
Jomem."« tentVr^-íbscomo
P^ã"Ptc-asro;bssim -é im£0^
para JungOe acidente revela o
Freud,acidentes
enganos^vaíysêt^^^ "co^o presságíos" a todos aqueIe^H£-
têm "coragem edêtèrmm para a porção oculta de quem os vivência,
Suponho que tenhamos de dizer que não é acidental o fato àe ou moderna, uma linha contínua de pensamento sust -
muitos artistas no século XX terem manifestado um entendimento os acidentes rompem a superfície da nossa vida pam^
similar na mesma época. Picasso acreditava que nenhuma pintura Positos ou desígnios ocultos. As estn£ut^^];;i^i^^
pode ser concebida de antemão e que, no entanto, nada é aciden e''tf^""-^^ensamento e da prátical^díTB^ÊSmllSro^
tal,^^ uma aparente contradição a não ser que consideremos qtie uí;;— ;;;7rr^idez,também.
Picasso acreditava no eu profundo, uma personalidade da qnal ^ bári; ffas trazem um tipo de cegueira j^cnaranos
próprio artista não tem necessariamente consciência. "Cojtsidg^?^ .£"■ um breve conhecimento
faz» P=<l«e»»de outros mundos.
^ disse certa vezT^cálcüJíi^
com freqüência desçonhecidos do próprio autor. É exatame^^
comqopombo-correio calculando o'"réFo7hoãõpomb"ãÍ70'cJl^^^
que-precèdèTm^^Tncrã;^ conduTesse artista-pombo
seus desejos, seus impulsos. Em uma obra de arte, "o que co^
é o qüei_esppntâne^^ "A ane não eTá^íí^Çã^ " P^ndo uma mensagem
um cânone de beleza, mas sim o que o instinto e o cérebro podc^ 'ta g ' revela? Quem esta ma ' gjo Hermes
conceber além de qualquer cânone. Quando amamos uma mulh^^' ^b,
não começamos medindo suas pernas e braços. Nós a ^í^k-divide as porçoesjac^ deus ao
com nossos desejos 'frer f^felam a vontade dos deuses, o
•Co,
j.gyelada?
Uma das tarefas favoritas de Picasso para um jovem artista liti delas, ^e ^a vontade
Í1 vontade dede quem
quem esta uistónas_deExu.
s
sugerir que tentasse desenhar um círculo perfeito.'"^ É impossf^^' ".e^riyF~~^'—ã^S.i.surgenLem-aigi^^^^^^
•Ss simila..: .m akum.aâÍaâJ51''®f"TrHo o criador,
cada pessoa desenha um círculo com alguma distorção particul^f' futTiiú, o acidente algumas vezes
e esse círculo distorcido é o sew círculo, um insight do seu estila- H ^'^"1 do mais, os próprios ^^^iva, o deus
«Tente fazer o círcuÍQ_.QmeJdior.qu€-puder. E uma vez que ningti^^ ^OV;
antes cfe você fez um círculo perfeito, pode estar certo de que o ■ io dos^raio.ç. YancrA pfita epi dinc_ 44prniima
círculo será completamente seu. Só então terá uma chance de •^'St,
-ttüban PiQs.diyinatomGS.e-d é acossado por
' ''''^PfoHemaseo "rei dos deuses
recorre ,
a Ifá para esclarecimento.
196

197
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
O GOLPE DE SORTE

A narrativa termina assim: "Obatalá-apFendeu-^e^em_mesmo, ^osca das frutas nascida CQüiqiernas onde deveria haver ante-
os deuses-podêm^ve^i^ a Essa conclusão produz não recebeu uma memagemi^l. O ac-idente-é_a,rc.velaçâo
o mesmo paradoxo a que Hermes nos conduziu. O que os deuses ^idental.'^ " "
aprendem quando indagam sobre a vontade dos deuses?_Se_o3Í""
ckster Exu é o mensageiro na divinação, de quem é a mensagem ^ toda justiça à natureza dos acidentes herméticos,porém,devo
que ele traz quando O-ptóprio.-Qbatj^á joga o^caquiiihos? ^ *-3r sobre os meus passos uma última vez e acrescentar que,nos
Tudo isso nos leva de volta a um ponto anterior: de ^Loki a jSQs da lira feita com a carapaça da tartaruga e da loteria das
Exu,^ há tnckstgts por perto, os próprins; Hpjigpg j^fypm.-sof-t^ ^ ^^^ndas, quando trabalha com o acaso,H^ermes faz misdo.flu£.
coiji_a-íGGeEteza. Se nem mesmo o céu é imune ao acaso, então
uma descoberta acidental deve às vezes revelar algo que não 3 a ordem das coisas. Se Hermes estiver envolvido,depois de
vontade celestial ou os propósitos ocultos. Uma observação de de caos vem"outro cosmos. Hermes é um deus da sorte,
Carl Kerényi sugere o que pode ser: "A<rasST^d3éhte", diz ele, do que isso, representa o que pode ser chama o e
"são parte intrínseca do caos primordial [e] Hermes transporta "e inteligente", em vez de "sorte estúpida". Esses dois tipos
essa peculiaridade do caos primordial - o acidente - para dentro ai ''guram na mitologia latina, na qual Mercunoieprese^
da ordem olímpica."^^ te,nJ^.t£iHércules^aest^a. "Se umjujeitoj^^
De acordo com essa idéia, o próprio cosmos é um tecido ten,„-2âi2rte,xle a deve ao ignóbil Hérc^es",escreve Kerenyi,
continente, e o que está do lado de fora é o caos, a confusão e
a desordem. "Oportunidades não-sãQ-dádivas simples e cla^as^'
S.'"»*-»'».«iilTisAarfiSd-o..«al -Me,»»
"Oiti» que Hércules o convencesse a enriqueceru
""'^ou que Hercules o convcaa^a..,..- -
escreve o psicanalista James Hillman; "elas arrastam anexos deri,:'-;úpido. Mercúrio revelou-lhe
--"Piuü. Mercúrio reveiuu-iii^

sombrios e caóticos para seus contextos desconhecidos para comprar o pedaço de terra em que trabalhava.
Deve ser porque algumas vezes nossas declarações sobre ordena
suprema e desígnio oculto são fábulas que inventamos para
ajudar a ignorar nossa própria contingência. Ac[dentes fazgS- ^ Uni-ók-
"O ® material
cnhre O trickstcr remete ao
g cstahàcçsPUiefie^
pequenos rasgos no tecido da vida para revela'r, bemrpeq^^^-^ livro aproj;cilcj^aiãeia dcjiu^ ^ ima-
portanto, têm função de coesão socia !.^Q"^ge-terfflO^YÊiP
r^^oSr-En^nrdos li-xros que escreveu sob o título genérico de Tavu" ? ela também tem um poder f^""P «^^^jalmcntc Jp?* c
Hermès, Miçhel Serres,>m filósofo da ciência francês, escreve
\ ua ciciieid rrances, ca*'-*
que descreve a imaginaçao co
com ceticismo sofare-nossas pretensões de uma unidade subjacente distintiva a habilidade "de da
^ A imaginação combina
às coisas. "O real", sugere Serres, pode ser "esporádico", 0^^ otírréadcs coerentes c vividas. ^ coesividade
de '^trapos varia^TaTvez "o estido das coisas consista et» rM - dcrtj'«atn aoiuitas asscrçôcs
imaginação sobre a imagmaÇ j^^ris.por exemplo,
se desioc^oieatidajl^^^^^'^^trabalho, ou see
ilhas espafhadas por arquipélagos em msioàjdíiscuxbm-ruidosa ^ isso se observãmosT^o os /^^rsocicdade. Histórias
e poucoxQmpx£endida^e-mar Talvez os acidentes do tri' da imaginação des^n^P^ formulações, é claro. Aqui
ckster revelem não reinos ocultos de uma olHiíSluliTrmrritiai 1 ^Çào n, . '"^<í"entcmentc
^^^"entcmentc em desacordo com com^ j fragmentação e da
'^0
desordenada, n^^'^P ";;,^amente quando paramos
um mundo de fragmentos inconstantes, ru7do'èimperfeição- A •ar
"1 tv, ""'dadere ™s
unidade,e as coisas sese tornam
tornam vividas
vivid rrickster funciona bem
'ndo riJ?"'^udeS que não existem. A de muitos dos artistas
variáveis", assim como a imagmaçao
^^tehvro.

199
T' :f

O GOLPE DE SORTE
^ ASTÚCIA cria o mundo
■ :1
^isso, Apolo^tpca a lira como parte do^ajggertóri^ Desse
tnodo Hermes revela-no?como a "soríelnteTlgeS responde às
%a é a "sol de te'rra!"'° l^enesses herméticas. t U/rtltó
gaiXs nunca ^ ^ sorte de todos os jogadores cujO
acertaria loteria ^ sorteado funcionário_.do hotel qu^ '^/vez, então, o que a descoberta desorte revele em primeiro lugar
sorte até ir à falêü^*-^ n®o seja nem o cosmos lí® o c^, mas g,mtasJaJÍsscsàmaL^
A .«»%»»■ <«» °"Ã ^°de ser ainda melhor deixar' "cosmos" e "caos" de lado e sim-
habiji^e técnica e ° ^'-'dente - em_ambos-QSJMiI!d°!:., Plesmente dizer que um evéntó casiíàté uro.pe9ueno.£iagmsi^^
^® é o habilidoso iwentoriâl' '"nndo.como-ele-é-umm^íiTdbTempremaistwMiscomplicado o
seu hermaie'^ f' as nossas cosmologias -, e que a sotfe inteligentè e uma espete
«lador dít^taj^~~-~aa-lira; não se torna simplesmen"^®
negócio arrendado qup " ^®dricante de liras com um ^ 'nteli^ência responsiva mvocada.pelo AuMuei-que-acoW
nma ^ nao traz lucro. Mais tarde, no „ * l>i«ória dr„malS»bcm ci.o.fa fo.n.c. ^~
7«°- -O .caso f..oftc= as oCes
j ''"®'55Qia^g^^^..',nstruinento, e a mHôdia ^áuz.oJLj^ '"""O de UcS Paa-at^anãíréifãilS"
diz- f^nhã-do. Depois que Hefí"®?-S^„- ° ■>* * que, dizer. O ueb.olog»» J«»» *»«»
® foi tomado por uma nostalgia/
'"a"' p - íinHo seu trabalho foi in-
vacas„ •^—°8o, creio
coisque
as pelas ^ ^ocê se interessa valem cinl ^steur pesquisava a cólera aviaria-qu ^ período de espera,
^^rrompido por várias semánas. enfraque^
etn?"""' passai "!i°'
es«nossa
»b»beaia:T"*°P"«no7„T°'«Pi
r "W. poX" desavença-'"' ,,
,ííe,d.ae orga^sr^
yuando inie^o^. esses organisníosj^g^-r^^ quando foi ma^s
«a„;rCriíSl'We
O «« » hT" «>»
encanto'l,"®" ®'®na .a «?
'f"ãUfc77r-^'2£íl^^

d-.. ^1''®
, '=« "i» lir,"""""i
divinos; 1P°I°
'"^a como
Apoio nao ""
como oatie
parte d.
^ ".I
da troíl
troÇ ' reinocidado com uma npya ^ heceu que a
®omento e"ír~^7^^dncorr Apojo cancela &,eur fez
fez uml
uma distinção
distinção

-n apenas a ^^^què^"~^°díL5£Hjoubo. Voltaremos


o arg^^
e,X__a,..jTnPl
Pdmnira inoculação não fora
mundo7e f°'P« de soSt'"^ P°"n~q-nto,
11° mundo de A ' de sort» c enquanto, o - organismos enftaq.uecidoSJiaiu'^ /
nla, Hermes
Hermes n5^°'°"^'Í^é
n-- 'Í^éum
um /^^'^doque acrescen
do que acrescenta^ sigmfi®®'
.mas
mas tambél^^^"®'
"^vroas tamhá
também de ruptura, dar"
ciar
clafO de ^/"e o acaso "{avoíécfas inente_s um co^°
i^niiadr»
do que'°dr^"'
"m lado , um t
®nfeit$f^f^^' Í^aband^";
®"a acon. ^P°lo
^^^eria ® 1 P"'
^ ^-^poloDaraaueele^ oO^
q^^"®da,
^ nada, que
que cíííyTntos"^/^^^
.^^^Possarv^
ove^entos casu^?M?^^ processdí^lutivo,
1. .;:r":TTmnTÍacoi?^-^
.^^Possam resultar emãTguma coij^
¥ qq» um ladrão. «.■■»; jjrã
^^ortunada ^rdem do Olimpo^ ^ j-ta
que w'"iin5isa,-5aiz dubq^oi» ^Pçj, 'íe/u
r - é- ^4ans lesobservaÇ » „ acaso fav^
^^Hinossa língua. Em francês, • j
S aq 2°""^ 9"^ 'es espL préparés" [^ocj^
perturbado (para semP^® preparadas]."

20o
201
■f
t

■'(
A astúcia cria o mundo O GOLPE DE SORTE

bipnfP desaparece imediatamente se não há P^rém^ma^simplesmente um tipo de intejigência que.responde..


Pastei M^ importante, nesse exemp ^ a mentrãridarllKaráiií) mutável em um mundo em
ZZl ™ de idéias sobre doença e inoculação e, "Putação, capaz de recuperação e focalizada particularmente no
Crel"' ° experin^ento malsucedido- P°nto onde as estradas, "paralelas (...) e oposfaç", convergem. A
construWa\"° ''''''' /Ugmatica afirmação de Paul Valéry, "o fundqda mente esta co-
Tem suas o dm^''---ruzilhadas", parece-me signifK.ativa.aqui,-pais^nte
se encaixam nells atenção às anomalias que u insta^^rÇQÊSjmprováyeis.
^ ®orte inteligente extrai significado de coincidênc^e
inteligente a ms ' este paradoxo: com ? , ^
estápreparada^tem""'^^ Preparada para aquilo para O ' °'"luhegamos;" e.ssa mente errante das encruzilhadas-^
'deiaísem tanta T "7 de abertura, apegando-se às su® a ej.^' ^"P°nho, mas aqueles que a levam a sério ,
^ ao involuntário ® dispondo-se a expô-las à imp^r^ quant'^^'" P°'' "^uio da atenção aos seus deuses, a go
Em carta enderecaH feí deixa ° '^""''^^uS-histórias antigas, ou tocar a imagem
"ma maravilhosa n^ ^ ® ?m-1920, James Joy^"
deus à essa mente
magi^e[g.jj^^._^P"vm Joyce refle^^
brevé^sÕbre Hermes qiierpJâSÍ?-^^
a misteriosa^.^
ctes:t:riras
tio J °
onde se penetra em terrúmio^^^^ .
da aldeia, ou tocar a herma ao
qUe ,a ._ ' ®^ses pequenos atos rituais trazem
trazcu. - -
'^®®id|ncli^5"p~— oferece a Òdisseu apâíSi-^
'uuE de fato é-(a|]íh-|r' X^lassicistas não têm certeza do d" ^ ^^'sattg_g^"^uru)
ddiod^p"®'""^sem«ig-consultar o deus"'";jTstrada!ét^
° íue ela é em espírito^^^"^^' intuição so - 'uvar a diviniladrcmxoiiur "■ ■ _„ntecer. O
Mtlli é yjJ-- l^dipeir de lidar com o que quer que ® respondeu
«Un> e°lPe de sorte (ou de azar!) revelam_se^Ü^ü!P
^°iÍ4ÍWvã^~T,-^- Essa é minha opinião mais
'nvisível (bom~Zr"^®' ° deus das vias públicas, e a
^'"vocação.
'■^'^"Peraçãor' "igMadè, prísewf de ^ u

^ apanhar a contingência
estr'T'"""'' para um~"''^^- E'aca_s, de sinalizaçj^"'' a'
é um ^^'d"''"'''as^eJn
ente dí p^^^dem, e também^''sses, õ pontoopos^a-
as estradas em 9 „ "metade da década de 1940, D.T.
ov>denèia.54 costumava John Cage
"que mais n, ixNcom ^ dessas palestras deu ao CO - parte do seu
quando H„ 8''uda an„ - - j»íta'^®'
'^•PJpto. por pg ' ^ ®^pres.são que Joyce çjjf bjH f fundamental sobre algo q^^) ^ seccionou
'uüo\comnl
\ "*«^ d, Sjiustrutn
'®" '«Cdladádivà.rgyela a
a. „„.e, „ecBS«"»>). % linhas paralelas. O ci
|j^^P'^^udè'pdssTverdálhente, ^Suzuki
pequenadizendo
par^c
Uriac __ recoT
>« representava; o ego. Cage re
202
203
V-

A ASTUCIA CRIA O MUNDO


o GOLPE DE SORTE
r

que "o ego 2pd_ejs^aç^-se-dessa grande Mente, que passa^atraw' portas do ego", de modo a convertê-lo "de uma^çonfiSffira^^^
dele, ou se abrir". ^L£róprio em ..mji.ir rnm roda a criação".'" Cage gostava
É principalmente em fungãgdjps nossos "apreços e desapreço^ de repetir a afirmação de Mestre Eckhart,segundo a qual
diz C^e, que nos is,Qlamo.s.,da- mente,raais ampla (e do mundo ^os aperfeiçoamos pelojque-aceftteee-e^^ ®
mais amplo). Âpi^ços e desapreços são os cãezinhps..dêJ^^"^^ Tifirnnr" 5y Tí ~ - rt c nprmitia Que as coisas
cães de guarda do ègo, atarefados o tempo todo, ofegando^i^^ Portanto, Cage nao apenas permi 4
tindo nosjiqrtões.da.-simpatía^e-da--aversã©-erassimy-esti:ei^aiidm mas desenvolveu uma prática que as enco
«acontecer.
acontecer v■> f y '
a pçrcepção.e a experiência. Além disso, o próprio ego não pode
escapar intencionalmente do quel^ego^ - a intenção_j£|5E£Í- ' ^' ^'ÍPSÒe s
Per populares deCag? ^
íaS-SfS áo acaso eram um. prí». t^L
opera e^termqs de desejo pu aversão e nós,'^rtanto^ precisa
mos"de uma prática ou disciplina da não intenção, uma forma de £-».,.o,„.deco,..i.r,acas.i.«^^^
driblar as Operações habituais do ego. O zen-budismo, diz^^B^^'
W ^ sugere a prática da meditação em posição de lótus:
para dentro por meio da disciplina, depois se liberta do ego".
considerava.que sua prática artí^çâ.se„ítipvia na direção contrária ass°
'elçottt
parente. Cage_e£aumhonieB^^
® ® "TLar a não intenção,
para o mesmo fim: Eu dçcidi^e voltar pa.ra..fora. Foi por ^^encia em deixar claro.^^ Ao recom
resoivur^alhar com o acaso. Eu o usei para me libertar do egp* ^ expltcou:
O que você quer para õ álmòço: hambúrguer, falafel ou tacu*
-V fito é
Tire cara ou coroa, e a decisão nadàlêraT^r com seürgós^^ estou dizendo "feça o que guÍ5^- e,noe jj^endo (-.)
habituais. Você^staría de silêncio aqui, unia flauta algumas pessòãslgora j^usicaljjiã^^
t^gjdo^ o barulho do trânsito ou um alarme deliutomòvel? iberdades que eu dei [em
pode odiar algxmGs^^ automóvel, como eu, mas com o fíiétodo para permitir t,csem deseusap£££2!-
de Cage,"vo^ê" e "eu')não temos escolha. Ele diz: que as pessoas se
sapreçQg g disciplinassem,
^€édrTÍ a operaç5^^o^^3^o (...) de algum modo envolvendo U In ndavn
MSElhplÍ£Í^.de^^ proponho em vez de escolhas sentidos a di&dpjina que
faço (...) Se tiver a oportunidade de continuar trabalhando,
aue o resultado vai se pancer cada vez mais não com a obra Utn a de qualquer monge effl ja de maneira
pessoa, mas com algol^ue poderia ter acontecido mesnío q^
uma ^

a pessoa não estivesse ali."\ • ' ^Otos ocasiP^dia


onaiqueou excêntri
a intenção fosse ^jfgoço^
ca. Elf ^^^-^^^írabaihando
'V' {U^ffV ' i^^altnente passava meses jogando moe^^^^ ,anto
"Algo que poderia ter acontecido", ao acaso, por acaso- Qu P"u construir uma par"'"^^
acreditava que seu método, como a meditação promete, tK^t, ^ moedas enquanto peça rnusica
^ vtsitar amigos." Üma composta-
204
iriiriüfos levou quatro au

205
i

O GOLPE DE SORTE
A ASTÚCiA CRIA O MUNDO

£, quando a peça acabou, não se destinava a ser uma ocasião


fiz O máximo que pude para libertar as pessoas disso"^^ Cage
para improvisações; deveria ^se.cjexecutada dentro dq^ restrições preferia os desenhos incidentais espalhados perQn:);íír/:ds, de
^ OWJ. W/UL&ud w • V11 C» ^^

que o havia determinado. "A mais alta disciplina é a da: Thoreau, "A beleza dos desenhos de Thoreau é que eles carecem
»69
operações do acaso (...) Ã pessoa é que está sendo disciplinada^Jião completamente de expressão da própria personalidade.
a obra. A pessoa é disciplinada para se distanciar das
habituais do.ego_e^guÍ£ji^direção de, umajiiüdança-fundaíílêíí" ^ objetivo da arte dc Cage,portanto,não é entreter nem encantar,
tal d.e.cqnsciência. Essa é a versão de Cage para o "esquecet^- abrir o cpriip.QsitqrJe, porventura, a plateia).^ar^
mãoILde-Diuchamp. m uma das histórias que repetia com freqüência,Cage conta que
Podemos inferir um sentido ainda mais completo das intenções ^ctta vez havia acabado de deixar uma exposição das pinturas do
da não intenção de Cage nos vários pontos em que ele contrasta Tob"ày: "Estava parado em uma esquir^aMadisp
suas praticas com o trabalho de outros artistas que poderiam pat^' esperando um ôíibus-e-romecêTTÓ^^ para a calçada.
cer,a primeira vista, engajados em um empreendimento semelhan a experiência.de olhar para a calçada.aa^iS^
te.^ Cage se^distanciava da improvisação, da arte anrnmátíca fiara os quadros de Tpbey. Exatamente a mesma^
métodos de
métodos
r ~

composição espontânea,embora
dprnmr.í^c.v;;^ . " tais
ax auLUlAic

. coisas pudessem era^iguaimentelntenso.'"" Cage está elogiando Tobey


. ..
iniPio 1 I • .
ciuuora tais coisas puu»-:»..
micialmente parecer relacionadas ao seu projeto. A partitura" O criticando, pois o trabalho do^fiintQtJlâyi^
Concerto para piano e orquestra de Cage, por exemplo,"libera pMe ,177Vpr=a.r o q«e »«. ■«»
a orquestra em dado momento, e se você ouvir a gravação dess» d. .st.l» da «idjda.
«'""lões d.
.s,i„ como . dos«.sido
mód..XX,d.-™
di. cap, 'ÍSÍ^
peça feita no Town Hall, em Nova York, vai escutaj^tmiS^
mstrumentos de soprojmprovil^^^^ de Stravinsky^GSíSâ gaV' «ta' "»• ,
pass^em^^Você poderia procurar na partitura que entreguei a
ele Cage contentou mais tarde,"e nunca encontraria algo com''
»» do, colega, de Cage, o pio», J.P» J»'"'
coisa ver algo com clareza^ ^ .iaiima autori-
aquilo nela. Ele estava simplesmente se rebelando - não tocauao I acrescentar anui que as idejas deCagemm ,^^
o que estava diante dele, mas em vez disso tocando o que lhe vC" quandojniniiíí^^as
a mente. Tentei, na minha obra, libertar-me da minha mente- E"
esperava que as pessoas aproveitassem essa oportunidade pa^^ ín„r Eela pnnieiraJyez.em
lazer o mesmo.

Pelasjnesipa^^razões,.Cage
a dejackson não erade atraído
Pollock"A premissa trabairopara uma f
de PoTloclTSra
o carater indomável de suas pinturas expressava seti^eu'FôfS^2'^'''
primitivo e sensível, e Cage argumentaria,creio, que não imP"^^'
quão profundo seí^eii,ye ai^da ép.eu:"Arte4utomáuca(-'
nunca me interessou, porque é um modo de retroteder, apoiar'^'
subconscientemente nas memórias e nos sentimLtos, não é?
I
206 207
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
O GOLPE DE SORTE ^ / . Ȓ i , /-

a o^ra as evocava. Hoje,em qualqj^r cidade do mundo, ouye-se propósitos. "Acredito que a músiêa tem a ver com uma alteração
constanten^nt^um^^pécie de colagem de sons complicados.j=- si começa com a alteração do compositor e concebivel-
fragmentos do rádio,frases saindo pelas portas das lojas, os carros "^ente se estende à alteração dos ouvintes. Não assegura isso de
passandp, as buzinas,.o.£Stalo. de um ferrolho. Vindos de toda a ^odo nenhum, mas assegura a alteração da mente do compositor,
nossa volta, os ruídos se juntam coincidentemente nos ouvidos c»
^üdando a mente de modo que elaje aj^r^não apenas em pre-
gostemos ou não, esse é o mundo^ue nos é dado escutar. ^^^Ça da música, masTâmbém^em^utrasjimagõts.
de ter ouvido.Cage, escuto isso com mais clareza.
Passei um verão, alguns anos mais tarde, em^fíerkel^» , *^Perações do acaso podem mudar a mente porque evitam a
Califórnia, escrevendo um rascunho destes capítulos e lendo ^^^ençâo. «A vida cotidiana é mais interessante,dp.qu^^
trechos em^^psa^^ntrevistas de Cage. Ao mesmolempo"medi
^^celebração", disse Cage certa vez, acrescentandpa ressalva:
tava no Beijceley Zen Cenfer e com freqüência, enquanto o fazia» Quando nos tornamos conscientes dela. Esse gM<3«dd^^e^piisa,
tornava-me consciente dos sons à minha volta - dp canto.de-^^ momento em que ndssáV intenções^^eduzeni a zero. Bnt^o
"lamente, você se dá conta de que o mundo e mágico,
pássaro,.pojituandp o zuml^o de um avião, por exemplo, com r^fessor
^ budista tibetano
ouaista Chungyam Trungpa disse uma
tibetano cnungyaiii ^ vez que
uma conversa de uma casa pr<S'ima como uma espécie de tema
intermediário. Esses momentos de audição eram divertidos^J^' ci^^Siciia apreçiaçiaiataLdoiB^o".É maisP-^ve'^
cipr>, - —
. ,. . Emaisorov
, ornnfece e
^^mos o acaso se pararmos- de
J- tentar controlar
rnnfrolar o que acontece,
' e
nho de me perguntar se o meu diveftiménto''nãp era a aíegri^de
deixarão mundo acontecer. Descobri que podja bloquear mpmg" Í^">°do de fazer isso é cuit.vando a não f
taneamente meu filtro inconsciente^ref}êxivo7equando"o^^^^' j. é perceberquãocom^^ ■
minha^apacidade auditiva tivesse aumentado vint^ ^m Cf.r^ •, . desaparece çonio.xesüJ
por cento, ou como se tivesse água em um dos ouvidos duran.t^. de^ <^-to sentido, a.«épíííâl^^
anos e.ela subimmente^desaparecesserÈm"uml '^dtica.Em anos posteriores, Cage sentiu que ^
certa vez descrevHi s;mumgmra a aversão pelo ruído de
de como açha.í?-^
.:::;.^oHa.iamodiEcado^ —
Sq^s j maior prazer acústico e
que deveríamos dentar nos livrar deles (...) Q que aconteceu > P-ür:í,:mto mais necessidade
necessidade não
não
que estou começando a gostar desses sons^ Quero dizer que agof^ M reaTiLe, não necessito
realmení^psou^oc^^ otraíego- m.,1"""• <1'"""""'ílt.
trafego_eJacd^rec^^ como algo belo,"maresses zümbiti'^® * a.,in-
sao ^ais,dificeis,..e.nunca me-STspus-realraenííiiSj^®^'^^
(...) Eles estão, por assim dizer, se revelando para mim."'' ''PÇões d"'
^ ^go.Em seu livro for
^"1 mv^siPara— «oreceu:
os pássaros],Cage
'Htn
um estado da mente que considera o est...,^^°bre uma festa a que ele uma interessante
interessante, mesmo às três da madrugada--^^ est„„. "trando na
na casa,
casa, notei
notei que
que oni ^ brinques,
^^gs,£,i®m
pergunt^à
Cage prontamente admite que a rÇdlnça de opinião que focada. Depois ouois
a essa especie de interesse é um dos propósmrd^m ausência de
sério!'">'^ Era uma de suas peças,
208

209
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
o GOLPE DE SORTE

Uma composição^assim diferejqaxcadamente das criações que


um artista como Picasse faz quando um golpe de sorte surpreende improvisando, ainda salivaria quando o sino tocasse, mas teria
seu olhar,ou pelo menos os artistas diTefêm^è maneira acentuada. ^firteza de que seria urn feito inteiramente seu: 'Estou babando',
Lembremo-nos da distinção de Jacques Monod ejitre uma criação e iria, orgulhoso de sua ousa^ífl."^"
uma revelação,entre o que ele chama de "inovação absòluta" e uma materiais do achia^ acidental de Picasso são novos, mas a
inovação que surge de maneira previsível de condições já presentes. rte que ele cria a partir deles remete-nos ao mesmo velho Picasso.
Nesses termos, a Ç^,beça_de^touTo^ de Picasso,.e uma revelação» ^ claro, ficava bastante satisfeito em trabalhar com o acidente
nãjxuinaLÇriação. Estou na verdade seguindo Picasso quando digo um instrumento de revelação("A partir dos erros se conhece
isso: "O acidente revela o homem'*, diz ele7® No caso da Cabeça ^^personalidade! mãs"^ge'nãõ("A persenafidadeó-uma^sa
de touro^ o que vemos, caso não o tenhamos visto antes, é que ^ ^ ^^ii^om_base.najqual se pode cons^juAma-aLte"),^^ pois procu-
"personalidade profunda" HeIPrcássõ é apaixonada jior touros^^ ^ inovação absoluta" do puro acaso do qual falava Monod.
touradas. Alguns dos seus primeífqs desenhos de infância são sobre ^ ^ão se propunha a descobrir um eu escondido,nem considerava
tou^d^7^ A cabeça de touro faz parte da sua paisagem mSitâU operações do acaso revelariam uma realidade divina oculta,
porTsso não é surpresa quando seu olho identifica um padrão fa como acreditavam os antigos adivinhos."Compor é
miliar no guidão e no assento da bicicleta, É um achado acidental,
de fat^j^mas um_^9!dente sintomático. Se houvesse porta-garra^®
ou uma fãcTde Cristo naqi^le monte de entulho, Picasso não os cor ° na minha cabeça, nem tenho inspiração. Tampouco e
ve^.Se Matisse tivesse olhado paranj^pcmn mdnte^e éntulH^^ do algumas pessoas disseram, que por usar operações
poderia ter achado algo muito ma^cojpr^ minha música não é composta por mim,e sim por Deus.
Benojt Mandelbrot tivesse posto os olhos sobre aq~ude'entulh^'
(j 'do que Deus, supondo que Ele exista, ia se dar ao trabalho
""'por minha musica » 83

poderia tex.mtomm-riacho..de-lama.no formato de^^na ou


E John Cage? Não podemos preveí*
o que Cage encontraria, pelo Aienos não se ele fosse até o mont^ çõe? das operações do acaso de Cage não são revela-
de entulho carregando o I Chitig debaixo do braço. Co' do eu, nem do divino, então o que sao exatamente.
Nos termos de Cage,portanto\ a atenção de Picasso ao acidei^" - ° disse, em certo sentido elas sãq.-nad^^ expenenci^
te e um modo d^ex^lonir o eu, Aão de abandoná-lo, e por iss^ eo„ '^de propósito tem como fim a criaçao de um tjo
corre o "scq djLiadioJgêagiaXdíT^e^^ <;^=i®ncia ou atenção ("nao coisas, mas mentes" era um dos
iretor e teatro Peter.,Brook aos'^tores que tentam entrar de Cage).- No entanto,embora Cage esteja claramente
contato com seu eü>^..,profundo": "tf^tor metódico (...) procrit^ Vs na consciência do que em objetos ^
dentro
dos de sj^um
signos a]fabeto
da vida que,e^^^^^^^^^^é a linVuagem não da invenção,
que conhece
como se fosse um criador desses objetos, descrevendo
\ ^omo invenções ou descobertas, e seu P/ocesso como
mas do seu condicionamento (...) O que ^le pensa ser espontâneo e para "tra er (...) coisas novas à existência . Esse
monitorado repetidas vezes. Se fa cão de Pavlov estivesse

vez o""1 inventor e ele sempre se


.V
210 Vi(>.V IV"'' I descreveu como"nãomn^2£2^

211
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
O GOLPE DE SORTE

tema menor nas suas autodescrições me interessa porque nelas peixe,


ouço ecoar a idéia de Monod de que o puro acaso pode levar à seres
seres do Sul, porém,corre ao longo da barriga. Esses
inovação absoluta, a criações que não poderiam ter sido previstas dae[
da do acaso
^tncidade necessariamente e daonecessidade;
enrijece corpo, mas aabarbatana
natureza
mesmo que conhecêssemos os conteúdos não revelados do eu ou ioc
do cosmos. Qu9.se-como uma questão de definição, essa inovação ^ situada por casualidade.^^ CõfnQiTpurõãcásG está
absoluta (na:;evolução ou na arte) só pode surgir se o próprio o, na evolução das espécies e em um happening de John
Sli
proce^sc^ão^tivej^prppósijto^ onde há propósito, as criações t>ase' ° "peixe" cuja natureza ninguém poderia prever com
o revelam e não são, portanto, absolutamente novas. p ^^^cunstáncias originais,
Cage certa vez disse, por exemplo, que um ha^pening dev^i^ que isso de outro modo,em ambos os casos o que quer
criar uma coisa completamente imprevisível. Em 1952, Cage e pto iniporta quão belo ou útil-não é fruto de nenhum
um grupo de amigos do Black Mountain Còllege produziram Cage, como Pica.sso,j}oderiaJ£r-SÍdo capaz de
'^oS-^Âr9£|ros uma performance teatral mistã^tija procuro, eu acho", mas, no caso de Cage, suas
forma foi delineada por operações do acaso (incluía Cage lendo j ^^ortunadas nunca revelam motivos inconscientes.
uma de suas conferências do alto.de uma escada e o pintor Robert o[)jçj.o P^iri^eiras inovações de Cage foi colocar toda sorte de
Rauschenberg tocando discos em uma velha vitroía)/" Muito mais Papg|)^^--í-9£das de um piano (parafusos, porcas, pedaç^ de
tarde, Cage diria:"Um happening deveria ser como uma rede para sons novos einipre.visíveis. "Coloquei objetos
apanhar um peixe cuja natureza não se comecei',"» uma,obser 9Ue j.p ^ Cordas, decidindo aa sua
"^*^5 ^JCi^luiIlUO sua posição
pusiç^u de
uu acordo com
ww... os sons
vação que ecoa bem o sentido de criação "á^soluta" de Monod, Pelg ^ ^^vam. Então^^ra^xorno se eu estivesse caminhando
pois na evolução, também, a adijao-do^ acaso à necessidade sig' bin. c encontrando conch^(...) Descobri melodias e com-
nifica que a criação sempre "pé^ um pei^" cuja naxureza^não ^ ^^os que funcionavam com a estrutura dada. Se
se pode.prever. Casos de evolução convergente (ria qual espécies
semelhantes evoluem em ecossistemas similares porém distantes) Procurando "o que funciona", poderia parecer a
demonstram muito bem esse aspecto. Tanto na África quanto na propósitos e que estava permitindo que
América do Sul, por exemplo, peixes que precisam~nivêgar ei» e e]ç ^ êoiasse. Mas se esse foi o caso, é difícil explicar por
aguas lodosas desenvolveram um método de percebeT o que está a fez uso de suas descobertas de sorte. Em outras
sua Yolta q^ ®"X9'Te,A,.emis.slo de..um campo elétrico fraco. Par® í^8ost acontecia de Cage£níi)nti.a£Jjma .^lilelilda
que essa eletrolocalização funcione,o corpo do peixe se torna nina i não prosseguia no sentido de construir algo com
especie de antena receptora e deve, portanto, se manter rígido, o c Seria '®'®borá-la até um clímax e assim por diante. Fazer
que significa que o peixe não pode ondular para nadar como a /'lov J^'"°P®gar seus "apreços e desapreços" e, assim, come-
maiona dos peixes faz. O peixe-elétrico se locomove por meio de qu ^<^980^ ^^oluçãò
® níqldaf
uma,uniça grande barbatana que percorre toda a extensão dõ'Se® liNot nãoe êsolidificar o é|o.
direcionaao Assim como
a "^nhum o jogo
fim, mesmo
corpo. Na especie africana,a barbatana correio longo do dorsÕ do C PieloH^^^.^^^^doura brota dele,quando o acaso dava a Cage
.
' 'nteressante, ele nunca atomavacomo^
"—T—^ cTZ^a npm nermiti
212
(como Picasse poderia fazer), nem permitia

213
A ASTUCIA CRIA O MUNDO O GOLPE DE SORTE

que ela despertasse a sua intenção, EÍgJa_adiaíitevíÍ£Í^"'^° vento se


—agitando do
VI»-» lado
lauc» O primelto movimento.
o acaso decidisse o que aconteceria ern seguida.* durante o segundo, gotas de chuy^ começaram_a tamborüarjio
D

AssimTê a despeiYo do"fãto"dè"que Cage às vezes falava como se ^^[hado,_gjlura nte o terceiro, as pessoas faziam todo tipo de sons
sua arte produzisse objetos, essa linha de pensamento nos leva de 'nteressantes enquanto conversavam ou se retiravam."^^
volta ao seu aforismo: "]^ãQ.co[sas, mas mentes." Cage era acima , "^^otias evolucionistas têm demonstrado que,embora seja difícil
de tudo dedicado a criar uma espécie de consciência, acreditan Ptimeira vista imaginar como um processo que depende do acaso
do que se permitirmos que o acaso indique"Õ~que'acontecerá em ser criativo, ainda assim foi por meio de um processo como
seguida, seremos conduzidos a uma apreensão mais completa do que a própria criação passou a existir. Eu segui o panorama
que o mundo é. Tomemos o. que provavelmente é a cornposiçâÔ- ° P^Pel do acaso na criação da biosfera apresentado por Monod
mais conhecida de Cage, uma peça chamada"^"^^Tmínutos e ^ pàrte po'fquè"sua linguagem é semelhante à de Cage em mui-
33 segundos de silêncio'dividídoVbm três movm^ntos (cadaj^ aspectos. Por um lado, Monod reconhece que há uinj|po_^
indicado pelo ato do p^nism ck abmxaí^e -eFg^er-a-campa-do-P^ aut£pjotetor enptoçLas^..cQÍSâSJdYas, o qu^ e^iya^
no). No mesmo ano em que essa peça foi escrita,(Í^^Cage teve a
oportunidade de visitar uma câmara anecoica na Uhiver^A^^-^^ ^ perpetua por meio da invaxiana^
Harvard, um recinto tão completamente isoTa^o e.m.texmoS-^'-''^^^
Q ^ notavelmente estável) e se protege das "tmper^eiçõey^que
COS que era considerado absolutamente silencioso. Sozinho
Por õütfokdíXiHíííiâ^iicSi^^
Cage ficou surpreso àó ouvir dois sons, um alto e outro baixo* ^
vivas, por si, não são capazes de se adaptar^quaridoxi
2Íq. volta se modiEca,nem mudar para ocupar nichos va-
técnicos lhe disseram que eram os sons do seu sistema nervoso^^da
simulação sanguínea.^^ Naquele momento ele percebeu qugjlâ^ a veJ Na natureza,como nos céus que Loki importuna,
existe silêncioj^ exktem apenas os sons intencionaj§_e os_s_ons^n^
forj. mudança requer acidentes,felizes ou não."A mesma
intencionais. Assim,4'33" não é uma peça ."silepciosa", e sim nào ' í^^rturbações fortuitas, de'ruídos^ que em um sistema( .)
oportunidade estruturada de escutar o som nâginTêncíon^^
ae conduziria pouco a pouco à desintegração de toda
a plenitude do que acontece. A platéia na pr^ière de ^ ^ progenitora da evol^ãojiaJíiosfera^e^^
compreendeu isso", Cage certa vez comentou. "D"qüé pensav^^^ tie «<T;=Í!Ü^rdade de criação",escíeve Monod,chamando o DN
ser silêncio (...) estava cheio de sons acidentais. Era possível ouvt^ ^0 conservatório sem ouvido tona
Issfv ^ ^nído é preservado junto com a música. ^
* Cage era rigoroso na devoção ao acaso, para consternação até mesmo de seus ai- -
iní'ê
oS- "otav. ® estética de Cage com bastante precisão. Ele nao g-
O compositor Earle Brown certa-vezargumentou em favor da mistura de acaso ^
"Acho que deveríamos poder jogar cara ou coroa,depois decidir usar um belo fá
id; de que culturas e personalidades protegem e replicam
caso se desejássemos-estarmos dispostos a descartar o sistema,em outras pa lavras* ^ es belezas, suas obras-primas, mas ele nao ap s a
não fará isso."" A observação espirituosa de Mark Twain sobre Wagner -
m^or - capta bem a complexidade da^íninha reação a Cage (sair no ^
duráveis,;sim na perturbação. Ele se voltava pa
da conferência e depois ser assombrado por ela). Como Earle Browh, prefiro o jog
K li,,,,, ae sua armadura protetora fei a
acaso e da intenção à pureza do método de Cage. Mas também reconheço que ele a
um caminho que ninguém antes havia trilhado, e deixou um marco ali. Mesmo ^q
^ a fim de que ela pudesse prestar mais atençao
que não o seguem nesse caminho se beneficiam da visão desse marco. íta
do ven^. ... .^mborilar da chuva no telhado. Sjia
vento ou ao tam^.^^— seu
d"^a rede para ananhar a contingêroia. E e aguça
214

215
A ASTUCIA CRIA O MUNDO
O GOLPE DE SORTE

ouvido para o barulho, nãojjara^as^velliax harmonias, intuir^ 3 sorte têm um lado cômico, até mesmo redentor - sobre o qual
que o ruído^O;^ljya^.a^igQ_tã^ quanto este mundo, e Nussbaum silencia.
acreditando que, em uma civilização tão complexa e inconstante 1^" Gilson, Nez Percé Stories (audiotape).
quanto a nossa se tornou, a presteza em deixar que a mente • ^oung. p. 81.
mude quando a contingência assim o exige pode ser um dos pré- Ogundipe II, pp. 136-42.
-requisitos de uma vida feliz. ^ Hermes, versos 23-24.
• HiVio a Hermes, verso 24.
16* ProcesSy pp. 127-28,133.
Notas
17 1^'"° ^ ^^rmes, versos 43-46.
18
1. Kundera, p. 48. 19 pp. 71-72.
2. Hacking, p. 200.
3. Nachmatovitch, p. 87. 2o; ir'!'' p-org-^0^-de Hamilton e Cairns, p. 89.
2J „
4. Agradeço a Eric Moe pela história sobre Mozart. ^ Melhor exemplo está na mitologia nórdica, na qual as Nornas
5. Picasso, p. 157. Contando a história da Cabeça de touro em outra três deidades femininas cujo fiar e tecer determina os destinos
ocasião,Picasso acrescentou uma divertida fantasia:"Finalmente, s«es humanos. Sobre a idéia de que os destinos expressam as
desse guidão e desse assento uma cabeça de touro que todo mundo 22 ^'"^"das da coletividade, ver(para o caso grego) Dodds, p. 8.
reconhecia como tal. A metamorfose se realizou, c eu gostaria
outra metamorfose ocorresse em sentido contrário. Se minha cabeÇ^
23 pi"'®"®' PP- 343-48; também Hillman, pp. 152-53.
24' org. de Hamilton e Cairns, p. 271 (Górg.as 489c).
de touro fosse atirada em um monte de ferro-velho, talvez um d»^
25, Gi/í, p. xvi.
algum menino dissesse: 'Eis aqui algo que daria um bom guidã^
para a minha bicicleta.'" (Picasso, p. 156). 26- Pi p. 30; ver também p. 36, 68.
6. Bascom, pp. 500-1,157,499, 173.
7. Kerényi, Hermes, Cuide ofSouls, pp. iv-v. D.ctionary,s.v.''conü.gent" §4. Outro exemplo de
8. Traduções do primeiro apelido descritivo que Hermes recebe n» 2- que acredita que não existem acidentes é Boecio_ Na sua
^ Rnprin. Na sua

Hino a Hermes: erioúnion. Ver verso 3; ver também verso 551- p'^°"^olat,on ofPhitosophy [A cmso\afao àa^°^°è''^Y
eeve - di, ao
go filósofo
filó ofo romano
romano que
V- ...
que ^Epr J^açaso" ele
se por,"acaso'
. -i- _ ele sese referia
refere a
í» cAm rnnexao
de produzidos jior'"um movimento confuso e sem conexão
mtiga . j
. coir então tafcoisa não existe, pois "Deus dispôs todas^as
as tragédias gregas decorrem de contingências inexoráveis, e Vh Qrd_em" (Boécio, p. 105).
^9
considera os tragediógrafos mais sábios do^ue'o Me"^ta
por reconhecerem que a c^xuángência.éinexorável. Este mundo ^0 'aeel, P'
pp- 9-10.
inunda dela;estar acima dela significa deixar este mundo,abandoU^
o humano como o conhecemos. Mas a permanência neste mu^d^ ao I Ching, p. xxiv.
^3
não nos deixa unicamente com a tragédia, pois a contingência ^
P- 69.

216

217
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
O GetPE DE SORTE

34. Freud, p. 41. 69


Kestelanetz, p. 126.
35. Freud, p. 53. 70
'■ Kestelanetz, p. 175.
36. Ver Ashton in Picasse, p. xxi. 71
■ Kestelanetz, p. 174.
37. Picasse, p. 30. 72
• Copeland, p. 48.
38. Picasse, p. 21. 73 • Kestelanetz, p. 97.
39. Picasse, p. 11. 74.
40. Picasse, p. 47. 75.
Kestelanetz, p. 99; ver também p. 43.
41. Picasse, p. 45.
Kestelanetz, p. 208.
K
42. Picasse, p. 45. 77.
Kostelanetz, pp. 99-100.
43. Picasse, p. 91; ver também p. xxi.
Cage, For the Birds, p. 22.
78. D'

44. Ogundipe II, p. 172.


'casse, p. 9]_ Ênfase acrescentada.
79
45. Thempsen,seçãe V, p. 1; ver também Cabrera, pp. 163-64. ' ^ biografia escrita por John Richardson reproduz dois desses, que
.
46. Kerényi, Primordial Child, p. 57. 80
•■'«sso desenhou quando tinha 9 anos. Ver Richardson, p. 30.
47. Hiliman,Puer Papers, p. 154. 81,
■ ^°Peland, p. 47.
48. Serres, p. xiii. 82
•^'Wsso, p. 4s.
49. Hyde, The Gift, pp. 150-51.
83. Silence, p. 90.
50. Kerényi, Hermes^ pp. 24-25. Ênfase acrescentada. 84. ^°stelanct2, p. 74.
51. Hino a Hermes, verses 436-38. 85. ^8^1 Themes and Variaíions, p. 11.
52. J.H. Austin, p. 202.
86. "stelanetz, p. 207. ,
53. J.H. Austin, p. 72. °^telanet2, pp 31 ' 237- The New York Times, 13 de agosto de
1992
54. Joyce, p. 272.
87.
55. Kestelanetz, p. 52.
88. P. 161.
56. Kestelanetz, p. 229. 89 j^°^fE;ianetz, p. 113,
57. Kestelanetz, pp. 52-53. 90. ^ ^kins, pp, 97.99
58. Kestelanetz, p. 20.
59. Cage, Silence, p. 64.
5l.
Clf
Tn '
PP- , ,
^^^-64; ver também Kostelanetz, pp.
0 228-29.
60. Kestelanetz, pp, 17, 42-43.
61. Kestelanetz, p. 102.
53. Ko ^^^'P-74.
62. Kestelanetz, p. 73.
pp- 116-17.
63. Kestelanetz, p. 67.
64. Kestelanetz, p. 108.
65. Kestelanetz, p. 219.
66. Kestelanetz, pp. 68-69.
67. Kestelanetz, p. 177; ver também Copeland.
68. Kestelanetz, p. 173.

218

219
I Ov

1 1 1

"'"''âbalho sujo
Pudor sem voz e voz sem pudor

imigrante

^alish do interior, no estado norte-americano de Id^hp, con-


®sta história: '"Serei o deus^solVeieclarou o Ct^orére o povo
tentasse. Ocupou a motada do sol, do outro lado do
• Mas assistiu a tudo o que o povo fazia. Quando via pessoas
amores secretos, gritava, causarKlodhe£grande_c^^
j gimento. Delatava os que estavam-se.escpndendo.-As pessoas
em e'"* ^^iviãcias qSãrído aquele dia acabou. Não perderam tempo
V o Coiote da morada do sol-"'
tias sabemos guando falarj„quAn^o^Ç^erj_Jng_
'tick;^í!h.Coiote, não. Éle não tem tato. São todos iguais,esses
ífS?-H™,de .riTmtje,.IInB«.
Pera>^:.^ermes
p
deveria morder a imgua
_
quaxx.^
^iççn se faz de de-
^^sembleia dos deuses, mas em vez disso se
® conta uma mentira deslavada,.vestwáo.,r.Çi)mm^
íje^ccn,>,-^conta uma mentira deslavaaa,v ., .rP7 reve
- os laoios
MKins
iÍ5^»lao,à,tea,.mentoV Lokl cerj^el^J^iS
, 1 •

"■(ilJiP» um anâoirSJao; ms «s coneos que


AcQr,.^^ c continuou falando.
^»rrrr^ ««.0.».
%Ç>. CCeompcm^o^rv, ^VAlhr

ft^'8o ° venerável monge ^^^m, pois com


5 v^Vig 4°"""'''''' P"® ° ^ Tt csim que deveria .ser;.
hl^tgOtiL emudecido dej?,udor . É as ■
"'i " PÍÍJ-r"' Wtar nossa. voa. M"» ^"^aes cetia vea

223
A ASTÚCfA CRIA O MUNDO
PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR

curvou a cabeça e caiu em completo silêncio."^ Nenhuma paralisia Ki'^gston


como essa jamais atinge a língua frouxa e simiesca do Macaco-^ iniciou com essa determinação de silêncio dizia respeito
Na verdade, sua fluência ininterrupta
nyta em
cill situações Que silencia- ^ uma tia' na China'que gerou uma criança .ilegítima e, humilhada
namai criaturas mais sensíveis
aiLUaÇUCS 4U'

sensívpíc ép uma bênção ;_2_:


irônica para fripitaka
Iripita^.' P^la vila por causa do adultério^ cpmete.u suicídio, afogando-se e
em sua jornada, pois é duro viajar neste mundo decaído se voct A
30 bebê no poço da família. A mãe de Kingston contou à filha essa
perder o dona da fala a cada vez que o mal cruza seu caminho/ 'stória de advertência por ocasião da primeira menstruação da
Tripitaka é tao bondoso que quando monstros se disfarçam de f^^ota. "'O que aconteceu a ela pode acontecei_a-i!Q£.e^-^l£rtQU.
homens
nensvirtuosos,elenuncaei^rgaatravÊSjlQ_disfarçe.
por
virtuosos,ele nunca enxerga através dn disfa rce. "Mestre, ^®2-i!2lhõm^e.~VÕS7ãõ"Íõst^aji^ se
por favor,
tavor, ponha
ponha de
de lado
lado sua compaixão apenas por ,hoje!",implo
•_.» :^nln- '^'^'■aJiijuyesse nascido.^ Os aldeões são vigilantes,, "
ra o Macaco.
, >— inontanna,
eptá^ A ligação que a maioria de nós reconhece entrejergonlm^i-
yoce-pp^era
pqd^r ser compassivo
compassivo novamente."^
»7 O Macacoi aue nunc
nunca 7-°. lornísE^qulliFer^^^^ Kingston não e
se deixa levar pelrcõmpãíBVe-certamente nunca "«mudece' P^nas levada a entender que sua sexualidade é uma potencial fonte
O esIkZZ™' conu^esteza? crv ^^'■®ooha,
e em ela tem um
seguida vislumbrea do
é orientada que falar
jamais o território
sobre odaassunto
vergonhaA
foi um doq n ° '^erta vez Maxine Hong KingstoO.
para a chineses levaram com e'®® J^fativa admonitória da mãe a respeito de uma mulher perseguida
Eec!senr" 'Kingsron não , 'Cometer suicídio advém do que é às vezes denominado de ::cuto
aqJfSonh^^a cultura que preservasuaesm^^
- h-y-^rTTTr HHu
"Quando fui para memÓRas, ela escreve
primeira vez fiquei "^^õíãTTive de falar inglês Í'""^'^í.vergonhaf slo com freqüência distinguidas d-"-|;-s ^
P-"
parte -.h»õr.: meio'"»'7r "*■ ~- -» vergonha -- m-
minha voz ao::í«"eT "í a> veVonhrí desenvolve nmi,o,dexomnmdadevm queta ^
■it 7 '^^«0 sem u "s» é uma sentença proveniente
no.iar^de_jiiíâíKÍa.) 7, ,a üh, ® culr, sobre ela. (^'Os aldeões sao vi^lli^ , g^pg^ha parte em
elegante são qualidades d^ moraj^e^*^ ^'®eeni ^«'"gonha.) Se úmjigmem ojúundDde umac^^_
do seu ^^^®^f:!t^?£?bidojdeJÇiagston, na Cai-"^'^-Em que ele possa fazer <^9'sa^® '^^^^„,nalizadas; as pessoas
aliado,guiandoLartistaMre"'"
mudez da fala. "Mestra ° do divisor que sepu^®
f ^^ravés f^or
^^3den . consciência para onde quer que
deserta seja
estrangeira. Cukura_s..4â.
aperfeiçoam (é néSes termos,
Çç) '^eiíip]j-~.ente_seiüj£xn,^ - .. Z Q^écia Homérica).'
por hoje! Quan_iojivermror.2o''"''' nçj^'^^roe4 '^finção
^odds posiciona
algumas vezesaútileoutráSjnao.
(^récia ^^^0 abandonamos
-ígcnipTas da-VjgrgQnhãi
A primeira manifestação dí. k- ° ■•-ÍA^ín^Janha,. Mtao..- íÇs. começar (todos os coléeios norte-arneric?.9 exterio-
ricana vem exatamente desse d' escritora norte-a iajifitêQnha)- ^ ^'^""íioso {mesmo nas culturas
um lar síno-americano ' ---ta sob um exame o olho de
Çam com estas palavras notáveis-^-?"' Snvl'^ do ç^^^nterbálizam o grupo; na .
^Çnglas Cairns argumenta, antropólogos
^ Kiuckhohn) que
issumi/am,
disse minha mãe 'o nn^ , il ^ deve contar a algg-w %ns Douglas Cairns argumenta, na v
disti-nçGes-TMead, Benedict,
Kluckhohn) a.ssií£»/_ÍfS.^
Para o excelente resumo
todo ^íimidadcs dc om trajeto and Ethtcs ofHonour
'ÍT'^Greek CarrKs, ver» ^
Literature. Oxford. C
1993, PP-14-47.
225
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
PUDOR SEM VOZ E VOZ S£ M PUDOR

A própria Kingston oferece uma imagem impressionante da


coisa valiosa que uma cultura da vergonha espera preservar por sagrada.* A regra QQ^iiencio separa ou isola
as lij^ónas de todas as^tr^e^s torna especiais, divinas, sa-
meio dessas táticas. UmaWlad^^fjy,,;^^^^^ apropria
damente e como a face da lua, diz ela. "O bolo lunar redondo com ^ P^íavra hebraica k-d-sh - geralmente traduzida
e as portas arredondadas, as mesas redondas de tamanhos Verd a A ^algumas~ contém essaVelho
idéiaTestamento
de separação, de modo
'/.e versões do traduzem umaquefrase
na
faltsTr- T «^cularidade dentro de outra, COlUo "Q
«j j r
"^ti^O-ScnhciL-í^-j^-sede.santos, porque sou Santo" como
lembra às ^ parte e vós vos deveis pordes à parte como Eu".^^ De
'1V :■ vilarein inti t as regras que mantêm o
rs »'"P". difíceis, de fome ou ^nid na tradição grega_um pedaço de terra dedicada a
cfiV, ■ ■^^^■fhamado temenos,^^ palavra derivada de um verbo que
-«p-dem u„s do, 00.».
é JJma história precedida pela regra do silêncio
representação pessoal P"" mostrar uma - uma fala isolada de outra fala e,
cado na *circukridad'' "15^^' ■ ^ havia provo- ^^to,-santifÍGada.' /'.fV' ' í'("Ml""
w*f][U -"lí
^"02; atáS^ rasgaram as sacas ^ssas
lêncjQ produzem dois tipos de fali e dois tipos de si-
Essa íinageni reforcâ 7- Con^ig significa pro fanu^^ diante do templo. Não_
de fala e líèás d-elílên^'' n nisso sem imaginar uma a^ga praça europGia
que vou lhe dizer" n " contar a ninguém o
^ ^-t^^jínentacla feira de rua em frente_àjg£e(a.-w-á--eate-
história, pelo menos^'^^'^^ estranha de começar uma P^tio do lado de fora da igreja, as pessoas conversam de
nas livrarias. Mas sem ^ de nós que compram ficçõe® por definição e, se tiverem sido adequadamente
"-«tivas miiS'«axomru;m determjü^^^
histórias que osliopi h norte-americano, Bi - tuantêm silêncio sobre os mistérios. Dentro do^emplo,
trangeiros; não são contl!)^™ ®do contadas a eS' ^ fâlám dos misteriòs, nías mantêm-se em silêncio
J^^sa7 esfe^^ de fala e de silêncio, e as fronteiras
Grécia antiga era prorblrT"^"^^""^^"™® outros hopi- ^'^fre as duas, estão portanto intimamente atadas a
•"Í«ld(M.l)Tma'HdM
I^eméter mostrou pessoalm P°emS órficosgrega-^^e^
parà osü^ ^ ^ PtJ
^ranod9 organizado de forma a distinguir entre o sagrado
conduzir seus ritofrenÍ'"'! de Elêusis "o mõ3"o-3'
- mistérios terríveis qup '°dos os seus misteflB^s (-'
transgredir, espreitar ou"'"^^"' nenhuma hípotes^' 'ivro como este é necessariamente feito de textos profanos
deuses reprime a voz".'^ P°-kum.profundo pavor_^ X'' que as narrativas do Coiote eram tradicionalmente c^n^,
Podemos dizer "entã Süan?i' ^"cèrtrrou-enfrtros-ímlIõrwínneTBgo
aparecem na livraria em tod^s^ço^
lí&ante P|pl^Radm^
um intormante dispôs o a.
^dêncio é o ato da IT ''^'"^ões a determinaÇã" \''C
''^Lricr '"^«"trou-cnfrtrorMõníõnneTBgo
.rvi.u^ „... L um uísp-^^u
^.mhé^1 uma oerda desagrado.
^0"be que haviu encontrado também uma perda do sagrado,
por meio do qug] ujna determin® ® h
haf^^0 nuu,^7'"'=nas,
° ^mda esteja oculto. Em um ensaio so r
Bill Hampton especu Ia que "os contos de tr.ckster de cara
226
' '°"'ado. feto °bt,dos
entre osdospróprios
negros negros
americanos, apenas aqueles
ou narrados de natureza
aos coletores . mais

227
; jf • :iTT

PUDOR SEM voz E VOZ SEM PUDOR


A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

A mãe ^Kin^stnn.então,é uma espécie dc^bardo chinês,ten do-muíido^espiritual, está em perigo,como^um animal Hestitllido
tando manter os mistérios vivos. A frase "você não deye.contar^ insti^os protetores.^,Entehdído''3essa"forma, o perigo não é
ninguém" anuncia que ela está iniciando a filha (a garota Macaco tcalrnente o de que a ausência de pudor vá destruir o cosmos, e
norte-americana)em uma área de fala especial, Além disso, a mae de que o cosmos vá destruir os que não têm pudor.
não quer dizer de verdade "ninguém": creio que se esperava
Kingston repetisse essa história um dia para a filha. É um mito £ssas ameaças de ambos os lados, à pessoa destituída de pudor
da família ou da vila — contado ritualmente na época da primcit^ ^ mundo que a cerca, são, creio, o que algumas vezes leva as
menstruação de uma jovem e proibido em qualquer outra época- l^^soas a se perguntarem trickster não é na realidade
Se dissermos que narrativas assinaladas como especiais por uma ^•^Pata. Certamente há páralelos^^sicppâtasmentenT,lrapacemrne
regra de silêncio são não apenas sagradas, mas míticas, e quc o ato um psicólogo salientou,
f.

de contar um mito é o modo pelo qual uma sociedade afirma sua "uma confusão das funções amorosa e excretora . Não
realidade, então começamos a entender pot que o ato de hontai' ^^^Penas antis~sõciai^ eles o são de maneira tola ("cometerão
o silêncio pode ser importante e por que não se deve convidat o falsificação, adultério,fraudes e outros atos por lucros es
Macaco para entrar em casa ou deixar o Coiote ocupar a pio ^"^samente pequenos e correndo ri.scos muito maior^^^^sere
rada do Sol. Se as regras do silêncio ajudam a "manter o real , f;;^^bertos do que correrá o íhüEIEQrxQmum';)-^^
como Kmgston afirma, então assume-se um risco considerável aO
quebrá-la.
espert^^
Para expre^^aie«aneira^udaciosa: arrisca-se a destru'f respondendo às situa^ões,çpnfonae^las^
lon de formuS^a!9ueri^o.co^^^
o cosmos. Es,e_é esse o_ca_sp_, entãojjsrgoSiZque refreiai:!;" mestres dos gestos vazios e tem muita a
gua e uma dadiva-dos-deuses pai^,proteger bs mortais temerat^
De fato, a noVpopuiãí de" verg5nha «, li'''"«"gem, despindo a,pator»,
a especie de desvantagem adquirida na infância) não evoca d
Z" de reconhecimento e prudência que ^J
'CiS.WPkPPcJosJaoosiPckcPPÍ''-^^
»" de
cot
sienifírnH^^^
«"80 lc.."=..cn,e™..-o*»?.^
gama instrutivamente auuP
O » P«opa,as pode ,ambém se,di.o ^ "e o
entanto, nao e vciua^v.^- ^ccaçpiauma
podo,, ,e,p.i,o próP"»! ^n5:-.nomitoe„âonomundor.^^^^^
veiòiaa e amS qITcÍoT "''Tu?"'" Vã ^"^"Oniitoenaonomunuui^-^ 5
'-portante, é claro. É mais pelo f nnp as funções
L.s
encontra-se um profeta n "o pomar,de um ^i|
devera s'e manifestar cr! esses diversos sent":^.-<o ^ são mais amplas do que as ^jckster são
de ve"rgonha inibitória ZZ ^
coi.. p,of.„a„ ~''te oio S?
esse^iíÍQs^a pessoa ei" importa 1" espécie
.£^segue"serifÍFÕsTarnp9 ^^êtad' desprovido
pertencemdeaCcralidye. Aléman do mats, a
uma.ca4egoria
228

229
A ASTUCIA CRIA O MUNDO
PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR

O roubo e a mentira que acompanham essa posição sagrada/não proxiiuQ mundo; os que o confundem com um psicopata nunca
sagrada habilitam o trickster a realizar um conjunto único de ta- nem sequer saberão que esse portão existe.
refes-neeessárias,como vimos amplamente,desde reanimar deuses
que haviam sido esquecidos por sua própria pureza até negociar a digressão na verdade não nos afasta muito da história de
de outro modo imprescindível e impermeável divisão entre o céu
e a terra. Pode ser correjojlizer.que^ trickster, como o psicopa-
^ngston^ pois ela, também, quando confrontada com a possibili-
ta, tem uma "inteligência desgovernada", mas nesse caso é uma
de quebrar a regra de silêncio da mãe, viu-se imaginando um
inteligência útil, põis-continua a-füncionar quando os sistemas de ^nadro pavoroso e ameaçador - não um psicopata, mas o semblante
orientação normal falham, como periodicamente acontece. Pe"' ^ntasmagórico da tia afogada. Aquela mulher havia se atirado no
fim,apesar de todos os seus fracassos e de todo o sofrimento que cia família: "Os chineses têm sempre muito medo dos afoga-
provoca o tricbter é tambrá umherói.cultural, o inventor das ' ^^Plica Kingston, aqueles "cujo fantasma lamunoso, com os
arm^d^s de pesca^rovedor do fogo, aquele que transforma molhados e a pele inchada, espera silenciosamente à beira
seusTn^inSs^fiiídos em yíveres para a nova gente. Está ligado para puxar um substituto para o fundo".^' Kingston diz que
escrever seu livro teve de confrontar e superar essa ternve
valele a pena recordar
^ o^uhuminsight
o clássico psicopata jamais
de Paul realizou.
Radin: Aqui
o trickster o medo dela era o de uma mulher que senK
; e o temo-r do máos, mas que se sente compelida a falar
ÍÜS*,®® cireM° e medo de uma mulher que sabe que, ao quebrar
re.po„«Uo, »"'»>>« km n.m m.l embora tU*
ou ma.s lP»» '^fidade da lua falando quando o silên^ciodeye^einar, pode
oem estar se exilando em um múndo sern^^
LS
reescntoo cÚr"'° "■"kieuid.del ,„.ndo o mel»" '
como um psicopata. tentei deixar claro, esse exTím elíHra^onseqi^^^^^^^^
assodatívo^^ue?""'''^" PO"-to, se o salto dscar,"®" impudente. Para entender por que a g
uma defesa conr Personagens não é na reaUdjde «ssç ^ conseqüências quero me concentrar ern u
can.s;ír métodos do trickste.uid^ C"' --Çdo de Kingston: o fatO-de -dU^.^
r^humêilt r"'u • 'r^ítWüumloso ,u."f '^daiiçf^" vivem era duas culturas ao mesmo ' 3^
deve também ser O ca ^ V aparecem em cena. C : uma relação incomum e instrutiva com ve^-
quo, coloque uma imlt ^ ^ preservar o stat^ % da China, digamos, ou do Mextco, ouja^
para evitar um verdad ^ P^^^^^Pata sobre a face do tricks^^ A terrajiatal é.inerente.,as.s«&. contanTeaõs
deisoporque^JlfT (''^Üci^f^^^üejênuia cozinha, às historias q ^
máscara aterradora ameaçadora, dr"^
das funções sagradas/nã ^ 'convencional de se aproxii^^ C^^tos 'T on
escola norte-americana, onde muitas coisas, dos
.urra. coir». ".ÍS? " ""'«b». O ,r ieks.er m gg", diferentes. „^bjnetidas a vários
■ ■ ^ P°"ão que abre a passagem " de V vivem em dois mundos esta observam. De
230

231
A ASTUCIA CRIA O MUNDO
PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR

maneira mais óbvia, claro, tanto os pais quanto a escola querem


que a criança saiba que o modo deles é o correto, e que todos os
To^es elegíacos, à. parte, no fim esses artistas decididamente
outros modos carecem de verdadeira Crianças imi
^^ebram a regra familiar do silêncio,e agora estamos em posição de
grantes são submetidas à vergonha, primeiramente,-p.e/os pais, intender melhor por que fazem isso, apesar das grandes e plausíveis
depois.pas^^aji a se eiwergonjiariosqsais. Em Hunger of Uernory Conseqüências que podem se seguir. No caso de Kingston,a história
[Fome de memória], livro sobre um norte-americano de orígcoi mãe carrega a lição de qu,e.^)S-aldeÕes estabelecem e impõem as
mexicana crescendo em Los Angeles, Richard Rodriguez fornece ^cgras da conduta sexuaL Para Kin^^on,aceitar a injunção de silên-
vários retratos vividos do segundo sentimento. Recorda ocasiões, ^^0 que prefacia a história é acBtar igualmente essa liçào.^Ejnuito
"como a noite em um posto de gasolina fortemente iluminado pois penetrar na sociedade de nmajúk^hinesa nos termos
(uma lembrança ofuscantemente branca)" quando ficou ouvindo ^^'^^^^fTonràrpàTfe*dê'ü"^^ na qualjnen^
envergonhado enquanto o pai,"^o,apressado,confuso'L,Í£g?^''^ "3í^i^aTor,'elão erradas ^er vendidas como
^scravas. «Sou inútil", Kingston costumava sentir,"mais uma garota
daf ocasião em que ganhou um prêmio
frentisra adnlpgrenre.^'
na escola e os paisLerntT®
fora» "ão pode ser vendida."^^ Um dos avôs costumava chama-la de
assistir a entrega. "Alguns^mmutos depois, ouvi meu jiai (3!^' iarva»
^'perguntando: "Onde estão meus ne^o^
.. „!5»37

com meu professor eienti_vergonha de suas pTfavras custosas e


carreg^^ejotaque."^2 ^ , ' Quando visito a família agora,envolvo-me no meu sucesso norte
Quanto à veí^ha o sentimento tem uma ^^^ericano como em um xale particular; so« digrmio^
complicação adicional para uma criança imigrante, pois é tão clf A distância, posso acreditar que minha família funda-
ifteme duvidosa, apenas uma versão das coisas, e niTíitínto os ""^ntalmente me ama. Apenas dizem:"Quandafowaçâr.tesoMO
oceano, cuidado para não_pescar meninas;, P°'® ®
eTum' Tf "âo podem estar vivend" 7 diz sobre as filhas. hiTs ouvi essas palavras ^
Tande ^^"^0 Kingston passar" -"inha mãe e do meu pai (...) E tive de me conservar fora do
a etssad P T ^"--o de decoro dos cunce do rancor.^®

Tca ml --'-mticaVr "DesL assuntos murt" dlí2er'»


"3er": "Você não aevc
voce nao deve baixo

que minha màp j "^^^^evendo exatamente sobre as cP-


dl
^ de gêne-
■^0, Tal silêncio há todo um sistema e r .
China as divisões que essas regras
Os livros foram es mesmo quando os «ae
Qali^fó,p '^fansformem em cicatrizes sagra as,
principalmente a
Ln^
formalmente àonel.c^
cultura dominante e dingr
"rn deles éé dedicaa^
decuc-"»ai
■c elas sangram, e a garota que for marcada p
^ -.vio oaiigiaiii, ^ ^ o"

(Kingston); «Ela se volta^"'"'Í'°''"'''™=


r\
frf ^ Sem
inibição se quiser se curar.
:r>í.r CP curar.
começa a falar
. , _

me observando( )A elaT 1^""° ° lec^ imagino, essa criança Xanto em


^ ^ para honrá-los" (Rodriguez)- 1 no caminho entre a cas ja mitologia
p„d, e»r s.ieÍB » « „ .„po
232
caminho entre uma e outra,

233
PUDOR SEM voz É VOZ SEM PUDOR
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Estados lJiiidQ5^ve&üinQS_muitas coberturas pudicj^, mas


livre para descartar e reter partes de cada mundo.Joga fora cpi^s 'lao nos envergonhamos com tanta facilidade quanto osJap_ one-
da lancheira e amassa bilhetes dos professores. No trajeto entre a
casa e"TescÒlãrin^hta uma língua ou uma história mediadora; Estados Unidos, se um homem r^cuperao chapéu de um
monta com os fragmentos da experiência a nova história que desconhecido soprado pelo vento, uqi^sunples "obrado" retribui
será a dela, a história que combina o que tem valor em cada um ^ cortesia; no Japão, onde há uma atenção altamente elaborada à
dos mundos em um mundo novo, nascido de um cruzamento dos 'erarquia e à o^rT^rão^ a mesma simples gentileza deixa aquele
outros dois. Mais do que isso, quando essa história usa partes do ^££5?beprofundamente envergonhado, pois para os japonês
Velho Mundo,a autora precisa superar a vergonha dos pais; onde déhito^p^j-^ ui^êstrantío'"e"§Snti3o intensar^me^e con-
usa partes do novo,deve superar a vergonha imposta por eles. Aos
ouvidos dos pais, o resultado, a invenção mediadora por meio da na cama,a mãe pendura os lençóis amarelados na janela para
qual uma criança imigrante desenvolve sua identidade é necessa dos amigos (enquanto nos EsfadosUrudos
riamente uma fala destituída de vergonha. No caso de Kingston^Q ^^'^^amos a criançTelípãzêpróruramos por um gene responsável
^'P'nte gyiLdJlo._3quel^qua.mantém,a linguagem viva enquanto ^azê-la molhar a cama),
atravessa campos de inibiç^o, é o servo fiebinfiel que as velhas e,, ^ d necessário Hpiv.r o lar para fazer o tipo dejnagei^e
historias chinesas chamam de Rei dos Macacos. ^^Jínagi^^ Todas as crianças, afinal, sao viajantes
j ^^Po,o que eqüivale a dizer que a n^éría da vergonl^ajia
O matador de Argos para a seguinte. A criança imigrante representa
torn """^^^"^íèTóHói^eTFs humanos destinados a crescer e se
iovL'' dos pais. Não tivemos,cada um de nos quando
•li» de coi.as ,«e e»'"' che,'® ^snsação recorrente de que nossos pais '^^rara de
Sempre se alegu 4- dev^^Slmundo",com sua estranha idéia de quan o as
^J —-^E^obres, mas o viajante que visitoti seus modos opressivos e seus o"-dos surdo
linguagem? Dependendo do grau em que diferim
'<P«^oas,e especialmente se nos magoarem, procur em
a.™ hei?T° Em .leuM M»'? Q°"tra terra para chamar de lar, na fantasia,se nao de fa^o^
itr" nio o fazem N.d»»'? P aqueles que sonharrutrmt^nca como^^^^^
um etnografo na Indonésia*
^tit3„i ^'^liamam-na de híontar^a Do^a._a—
Para o^^t^nós,
1h.l."^T^^montanha dourada,um mundo ^
pertencemos,cuiosc.^ã.^;os^^
O um insulto muito^jéti^-^
a somos. A_nguÊza_d —^^Tassim como
(Beethoven,
Qade nessoa é nroDorcionai a &

234
235
1«p

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR


A (A
"

nascido em uma família já qual adultos deprimidos e alcoóla ^ homossexual e a pessoa insana são ameaças a si próprios e à
tras bglãnTrê^ularmepile nosfilí^s, com^ceu-sc dTque"era na sociedade. O perigo e o"desastre^resideni nesse caminho!'"*^ Um
verdadedè^endent^a nobreza.'^^ JohnJ^s Audubon pensava homem deve "resignar-se aos valores pragmáticos ou cometer
ser o Delfim perdjdo da França, sequestmdo~3Í pnsao^3urante a Süicídio^ft aconselha em uma carta posterior. O pai cita esses
^nlucão e enr/pp.,p a marinheiros - preferia isso a reconhecer ^ois aspectos desconcertantes da vida do filho e diz, basicamente,
"se.vQcê inqjQtir pm pvplorar esses temas sugiro que^eanate".
e sua amanre naitiana.}^-'
Visitámos a terra da nossa grandeza secreta na fantasia, nos
í^sse, a propósito, é o conselho-padrao de uma cultura da vergo^^
hvros e nos filmes e, nd caminho entre esses mundos imaginários .^-â^Porque a vergonha é considerada uma maj^haJn^el^veLna
e a verdadeira casa onde devemos comer e dormir,até onde somos ^^íê^ade do ser, a libõta^o parece exigir o suicídio,como no
capazes, criamos uma vida com os fragmentos aproveitáveis de de Kingston. Na verdade,culturas da wrgonha^jíezes
Mda um deles. Uma verdadeira artista imigrante como Maxine j^ ética do suicídio No Japiõ^irãn^essoa tem
ong Kingston cria sua arte no local onde o vilarejo chinês re- obrigações conflitantes- uma exigência feita pelo imperador,
<S^a^e os pais coincide com a Montanha Dourada (ou com ^'êamos,em desacordo com outra feita pela família -e se a recusa
na Califórnia, pelo menos). Artistas imigrantes nO
^Jí^alquer uma delas seria vergonhosa, a sol^o honrada seria
ent^do metafórico viajantes no tempo,criam sua arte no ponto PífLlm^as^^em seguida se matar.)
homossexuais e pessoas loucas por perto, Louis
Zttl A ° ^-"bora nesse caso também haja n^ ç preferiria negar sua existência a reconhecê-los, mesmo
na '1
part '
cular de silêncio a enfrentar, e um tipo ossem da própria família e ainda que o silêncio significasse a
^e? observar também que o Ginsberg mais jovem a gumas
Ginsbere crA ^ apüca é o do poeta Allen Ginsberg- ele J'^^P^rtilhava da cautela do pai. Em uma carta posterior,
Vesti.^ ^ sobriamente que ele parou de matar aulas^pa^
de f ^lí^^almente com paletó e gravata
manipuíálirn ao d;^-^£c3ucãção,""tirandõõ máximo proveitõ^^^^^^^_^^ ^
estava na fablIldrdèroTaoiíF hospital); Quando Gi intactos à biblioteca"''^ todos os volumes de
t ^^ire.
mundo eram essa r^ãe 1 problemáticos ào
Verp^ o fim da história, teria se tratado de um
^Pen^f"ha sem voz, mas, como todos sabemos, ^
recebia eraVintiin^ -j—;— essas questoes?iL^
' li:'!' ; Ginsberg lidava com^^ Gide e Baudelaire daUniversosalterna^
a convençãõVr;r~^~--~ ^miiiar com uma rápida ret iqç ^^^"P^sou décadas '^errãn^o ^ ^rocurei Q que
) como uma vez
como uma vez de^iSH^n „3q ^
% ''"aginação acreditava verdadeiro peja
li''""''"'hos de Ginsberg estão cheios de eterni^^
ouvimos do garoto envergon

237
A ASTUCIA CRIA O MUNDO
PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR
hm-^.

viajar para fora do tempo presente em direção a uma terra mais tevela em detalhes as coisas Que "mais o copgi-rangnm" nn infância
perfeita. Ele dei^^ria-aiínun^ie da vila paterna e se transportaria dolorida, mas os registros indicam que foi necessário muito trabalho
até o pico da Montanha Dou^^a. pata trazer à luz essa revelação;^^ o poema começa com centenas de
O cume des^a- montaiílía não é a fonte da sua arte, porém»
conversas de e,squIva^ansio^ e um catálogo das estratégias (ficar
ou pelo menos não a totalidade dela. A arte está na fusão entre
acordado a noite toda, dopar-se com anfetaminas, ouvir__QS_fejMe5
tempo e eternidade, no amálgama da imundície com o ouro. ^
que confere aos primeiros poemas de Ginsberg sua presença du Charles, ler orações aos mortos emj^oz altar-cho^ar) que
rável é o modo como intercala suas visões idealistas com grandes Ginàberg usou para libertar sua língua das suas inibições.^"*
catálogos de fatos reais (Naomi, a mãe enferma, servindo-lh^ Talvez fosse melhor, eptão, dizer que aqueles que operam no
mn prato de peixe^frío -repolho cru picado encharcado de água jtnite entre o que pode e o que não pode ser dito não escapam
de torneira - tomates malcheirosos - comida dietética vejha de ^ ^^tgonha, marseT^oltanTí^^ire^ dela e com ela se compro-
sematias^5i "cicatrizíTdT^ação» Lutam com ela; tentam mudar sua face; matanwia_£n?
pancreas,feridas no ventre, abortos,apêndice,as marcas dos cortes parT^e ela ressuscite em outra. Hérínes_£unL&l3i^
/^^'^^yo^de^ergonha no Hino, mas o poema constantemente
a elelomo o MaíãHSr de Argos, como para nos lembrar
„„„ Pefr deJ«.do por essa mãe louqa, ainda assim encontr^'' ele não evita simpleslngnie ^j^er-gõnha, mas
.^["íliela^ver de fazê-lo. De fato, a história por tras desse
cor visões da eternidade, nas qua'^.
um quadr^aravilhoso de como a vergonha
uma vTd?d dizia-lhe poemas, q J^iílmeinida e aprofunda nossa perctpíao do ttaba o
■Praeittgoradt j-fV . ^ das amarras da língua. , ■
d. Ca!,"''" "=«■ ""P"" P" °*
Ginsbere ^uteiramente.o.fiP.M_t.^r.r Artistas como CiPiS mulher chamada Io™aanmae.Sn. malhe
.«ír:d'r:XT;:n°™ d ° "e„te
dela. Kineston nSf.
luta, mas a resolução ou o , < ' "-aforma, ,<.n. nn,r^dl.a par.
^ «^ii>rormar ló em uma _

para substituir a n f publicar até ter criado algo ^ exatameííelTqíífcer ao encontrar o mando
ó iCd" ' r ='° »■ u» ~"í«" *'""1; X fica desconfiada e pede
C-ffi^Zeusconcord_a.^Hera ençH££iiilíll^^ ^
patas, mas human^mís'rTaiT"- '
í'avfa^i:iOid^vjgiarjo^^^ ce^a
As citações do poema de Allen Cinck
quais sempre dois a cada guarda".^^
o«/rospoemas,PortoAIegre: LScPM extraídas de 'p-m ■ >«'"! p
' tradução de Cláudio Wiiler- (N*

238

239
^^4 I B£

Ii; I^
1 1 I

A ASTUCIA CRIA O MUNDO


PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR

Disfarçado de pastor de cabras, Hermes passa por Argos tocando Ijuporta onde uma pessoa esteia^j^o importa o horário do dia ou
flauta. O gigantesca encantado com a milgíra p rnnvida_o estra* [joite, não^ímporta quantas pessoas estejam adormecidas, pelo
nho a sentar-se com ele-SCom muitas histórias, Hermes passa O ^^nos dois olhos sempre estão observando-ou pelo menos é essa
e tocando flauta,_enqüante-fônta-sobrep.üiaX-S
olhos^ilanrènvias Argorim contra os apelos do sonoj^ero
os

m-
^sensação que a pessoa tem quando foi criada apropriadamente.
bora alguns^os oU^du^m, despertos."^" sorte, se o galanteio é o propósito, há um espírito que sabe
Finalmente, Hermes acrescenta uma história à sua canção, con
n$6
^^nio pôr a besta para dormir, Pode até matá-la e atirar o corpo
tando a Argos como as flautas foram inventadas, como Pã hayia taivey J
despenbadeiro, um fim sangrento, é verdade, mas melhor,
persegujdo uma jovem mulheLque,_xies£sp£rada í uo que o suicídio,

transfonnm^sjtinçpsjlpsq^^ ç ^^rispor essas imagens para a história de Ginsberg mostrará,


Enquanto Hermes conta essa históík:;r^5?íi^brasde ^"tO, que há — »>»<-\1ímVo cpvnal Os
rgc^sesravam^^
bastão «'ho® letárgicos com seu
sentado com a k enquanto o guardião continuava
em forma de crísceme^'"'''"'^' --v.- iv^cuisus para luautii -—o-

pesTOÍrd;;;Tr— exatamente ÕHarTcãBêp-sriüntá^aO -Uti professores e todos os outros olhos que o fazem
salpicando as rc^arescarpar"ao cair. Argos jazia morto a ís ç, ^^'^Sonha da mãe e da própria dor. Como Hermes,encontra
luz de seus mnlm lu ' íe p e histórias (ouve velhosblues,^^jmjozaltaoj£^
is
Os %sshe jjiellev sobre a mortei^JohnKe^^
escuridãoV^ ^^^^nta, todqs^s^^mortalhados^ s
as ^iJ^rmec^ril, para qüé"ele possa ^r daqui o_que
'le 2 T°'eS' "hoJ-^^Sibições^^^ m(3õaiuantes,lp£aíbem.
hn,^'-E:^VoesTtte-fflTrro modo atuanieypE^"- Nesse^, '
'iiteta,!'^ "ão está procurando ludibriar a mulher, mas sim falar
t^tLrna-Td°''T' de terra,no fund«
inteiramente de suaaa4'ero'^'"°7^T7^'^^^^~^^^ ^
suas feridas. Vrnajassois^^^màlks^'^
- "ssim chamados
vimxxx... poetasronfessionâis^^
J--] qijais_clese]_<
presente, Ovídio escreve-'"Por" ° P^de a novilha com 'st^j.^^^-ytil^le^onfessa" não são
[Zeus] a conceder, mas nom , ® vergonha persua 'fa cí^^íiiSassim Que alin.eiaJaãQxai^
Temos, portanto um A ^ ^ ° deixava relutante- l»' rííSlríneStóo.»..,fi=..do o
também .,p -iH aproETÍaj^ N consideravam profano. k„cram
oet5.7ím;£'®Í«"l'- EW^odedadedamiS»- V *'» -o cé» genético dnquel.s ,«■ b.«»
imasem pata col..[dld"S°"],""™""-"""ó»»' S , I''' d» .ergonha. Reieit.ndo . ooçào dos pais sob^
sjíêncio, eles na .
E» ama
^«s linhas demarcatórns-"' ^ p„„„|,;!„n-oilC
_P2®^^^onam-nos em nqyqs unj ,
240

M/írv
241
I ' l«l

A ASTUCIA CRIA O MUNDO PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR

senso alterado de dignidade para substituir o decoro repressivo poesia que as gerações anteriores admiravam, não poderia tomar
que a vila lhes impõe. Nofim^e "Kaddish",coisas que ant^ram outro caminho. A mobilidade criativa neste mundo requer, em
impronunciáveis e dearadantèsloErêlI^f^i sãcUxãQ fomentos cruciais, a^^issolução estratégica dasjmnteiras éticas.
apenas ditas, mas transfiguradas e até mesmo (o poeta espera) ^6rde essa mobilidade quem se agarra à beleza ou quem sofre da-
r^umdas.No fim de suas memórias,Kingston compata-se a unta que o poeta Czeslaw Milosz chama de "urna fixação ética
mulher em uma lenda chinesa cujos parentes aprendem a cantar^ çxpe^^s do sagrado". Quando o peregrino Tripitaka insiste
canção que ela havia composto enquanto viv^aconTõrbarSar^ ^Uito energicamente em atitudes virtuosas, seu guia, o Macaco,
Em ambos os casos, eslèlipo de arte situa-se na linha entré^o?^" ombora amuado e a peregrinação desanda. Quando o Macaco
grado e o profano, abre um intercàmhin entre ambos e, por n^'®
desloca seu conteúdo, ou desloca a fronteira Potsuade a deixar seu senso destemperado e abstrato de vergonha
o, atravessam uma montanha após a outra.
E,no entanto,se eu reverter minha própria reversão, dizer qu^
esses artistas não são destituídos de vergonha tampouco lhes fa^
inteiramente justiça. No difícil momento da primeira fala, é pro d anos em que escrevi este livro, houve um mtenso
vavelmente impossível para qualquer um saber se o futuro encerra Estados Unidos sobre a preocupação de que fimdos
tao nobres fins qnanto^ímadârãS^;;;:^ Se a vergonha usados para subsidiar a arte por-
reia a língua, mesmo a deve passar po^ particularidades sem dúvida se modificarão, mas o
pe|J coletividade,
^ perene. Detentando
um lado, temos aqueles
preservar que presumemi
as coberturas falar
e os silêncios
PDretL^H
e^nda°Í°:
falar novamente. Os marcos dePora traiçãonão£0^^''
fronteira e risco, cas"
Os 3 "^^^erem ao espaço social a sua ordem.Dojado opo^^ggiQg.
coesoSn foi manfdo ^ ^.■^^^'"^^^^dPudança, viajantes do tempq_que_cqnsider^^Q^
laçj^^Ülor^é mutável, que esperam - para adotar a formu-
inodi P^^íi^^eservar o sagrado encontrando meios de
muito precT »âo esteja ajustado de maneir» está i ^ estrutura das coisas como a contingência exige, ao
escrita elesanr °"i° ^^rmei no início, a sofisticação moral e claro por que essejii«fH©^^PP.^'^|^^
de Kingston ma^ características do trabalho acaba recorrer à expoííção corpórea e^l, mas o
certamente foi co de elaboração desse trabalho ^nece estou estabelecendo^^aqui sugere qnr^exposiç
valentes. O
valentes O í?T l ^^^t^^piritos r™ais desordeiros e ai«
éticas Se pe&' da7as preocupaÇ^c ^
A fi
^^Pí^^ar a razão para isso,
principalmente parrcom^"^"''^ governo,por exemplo).
al^mas
algumas drenas
dezenas de
derr^ u, W r tendo descoberto
do Velho aTestamenta.^^-^f^°
vergonha e, portanto, cob r
pamdo^o-^^^^^^
internas quanto externas de snencio, ^ tiào;' ^ttigas pinturas, cobrindo igualmente o rosto co
sperava descrever era incoerente^em term"®
que aquilo que ele esperava
No! • Com ações eles inscrevem^^®/
parte porque ele parece se
243
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR

vergonha(o sentimento nos inunda,gaguejamos e coramos contra ^ucontramos ojnesmer-paíjrão com conteúdo diferente nas me
a nossa vontade), mas também porque o conteúdo da vergonha, mórias de Klchard Rodrigu^. O "fato corpóreo" aqui é a cor da
aquilo de que nos envergonhamos,tipicamente parece indelével e P^lc, que^ adòlèícênciaTcíe considerava uma espécie de estigma
hxo, permanecendo conosco como uma espécie de fato natural, ® tentava manter coberta:
assim como o corpo está conosco como fato nnrnrnl."A vergo^fa^
é o que você é, a culpa é o que velho ditado. A A excitação normal, extraordinária, animal de sentir meu corpo
culpa pode ser desfeita com ate^e penitêncjs^mas o sentimento
■ pciiiLencja^ mas o sein-ü^v.*.— vivo- andando de bicicleta sem camisa e sentindo o vento morno
de vergonha permanece
Hp vprarknK<a como uma maíca-de nascença ou o cheiro de Criado pelo impetuoso movimento autopropelído —,as sensações
cigarro.
'íue primeiro despertaram em mim o senso de minha masculini-
Anteriormente associei o modo como aprendemos sobre a dade.^eujieguci. Tinha muita vergonha do meu corpo. Eu queria
vergonha as regras relativas à fala e ao silêncio, e fiz a afirmação esquecer que tinha um corpo, porque meu corpo era moreno.
a icional de que essas regras têm uma função ordenadora.
digamos que as regras confiram ordem a várias coisas ao mesmo N
^aso,como no de Kingston, um fato inalterável sobre^r-
Qrando"dr«"'" ao corpo e à psique- g^^^^^^-Üg^do^m lugar na ordemjocial,e em ambos os casos,
deaueaç ^""^T^^^ãiaome^tempo" refiro-me ao fato essa ligação é ser apanhado em uma espécie de armadilha.
ordenacânT"^^^ "np'icam a congruênciTaiüiníês domínios; a e„ '3"'^ qualquer um possa ser pego nessa armadilha, uma
e um sSídÍ O ser estabelecida entre o corpo e o mundo(m^
compreendem''"^ psicologicamente e de que tu», é meu lugar como hispânico; minha menstruação e
Quando Adão?F ^ organização do mundo que nos cerca- tra de uma coisa pela ou-
aestrumHFãcõ^" Pen-"''"tórica chama-se meto:^a?unia das muitas figuras de
Para
é separada da outm"n'"T ® ^ 'T "opo ou deslocamento verbal. A consmiçaada^
traçam uma linha * ^ ^ descobrem a vergon ^^Pécie íi^eoiíhiS2E££i£^^
do silêncio e da fala??,! gs '^^Prec em que variave
identificadas com elat: ■ "como" essas zonas,^
4SãEEiisiidím» "i""-r,:
consignado ao silêncio ^ cobrimos no corpo também *Ni,C°' "'"«l"
;•»top„a„, ' «""l"
i„,|,i„l, ,,M.s
P.r. começar,sempre ka hrs.or^
acomecendo-sobre m.lh.res,ou r.í'."""
um fato corpóreo - a ^ sino-americana. Ela m X um O e„ca„..men.o dessas(abolas re^^
nhoso ao situá-lo no ^ ^ classifica como X? »"ss regras d.
relaciona o conteúl^X^Tgthr'
S,?"'«Sm 'TLá
V, ^contingência de suas figuras de pensamen ■ «!
Xues .etbais são io.lsi.eis, o arrifíe» d. ordem social
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245
A ASTUCIA CRIA O MUNDO
PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR

se torna igualmente invisível e começa a parecer natural. Como Esses são os princípios dn esforço consciente, mas ainda temos de
a menstruação, a cor da pele e os genitais são fatos da natureza,
também a ordem social e psicológica se tornam fatos naturais.
^^coq^rar^j^nte do trickster - ou, se já o fizemos, ela pertence ao
^rickster que tenta comer os frutos refletidos, que queima o próprio
Em resumo, para construir a armadilha da vergonha inscre ^nus em um acesso de raiva, que não aprendeu a diferenciar a isca
vemos o corpo como um signo de mundos mais, vastos, depois ^0 anzol. Como vimos anteriormente, as pressões da experiência
apagamos o artifício dessa significação de forma que o conte^^Q produzem, a partir daquele personagem um tanto estúpido, um
Ygrgonha se torne simplesmente o modo como as coisas são,
como qualquer tolo pode ver.
trickster mais sofisticado, que separar a iscg do gua-sabe
Se é assim que a armadilha é montada, então escapar dela o signo de alpn nãn p a rnisa^em si e que. pormnroT é um escapis-
deve envolver a inversão de pelo menos um desses elementos, !!?giihabilidQso., que tem'um relacionamento muito mais lúdico
que pode ser chamado de fuga "de corpo pesado", sentimos as histórias locais. A tentativa pesada e literalizante de fugir
ha alguma coisa a ser mudada, mas acabamos tentando mudat ^rgonha carrega grande-parte da armadilha com ela — a ligação
proprio corpo, mutilando-o ou Méjnesmo cometenjip>uic''l'°' ^ ^ o CQrpo^ o silêncio e assim por diante. ínarticuladamente, toma
tf0 aJuaj^Kmgston fez. O suicídio é o caso extremo, ciarg»-^ pela coisa em si, imaginando que o racismo é inerente à cor
™™P™5ARodngusz,ofei^^ bom exemplo da maneira truques da linguagem, a fuga leve da vergonha
ifats c^ujiLpela qual as pessoas tentam escapar da armadilha ^ estrutura - recusa o deslocamento metonímico, o
ao mesmo tempo em que amda tomam seus elementos figurativo' e das histórias do grupo e as regras do silêncio - e com
como valor nominal: separa os níveis supostamente superpostos de inscrição
Ser ^ de forma que o corpo, especialmente, não precisa mais
Quando garoto, ficava na cozinha (...) escutando_enfluan^ Íssq encarnado e mudo da ordem social e psicológica.
",P que sentiam por ter , silê' ^^pecialmente o ato de falar quando a vergonha demanda
uiii ü\h ^ expressa pela mulher: o temor dej- Senf "^^Pende em grande medida de uma consciência que nao
Zltrr,' Conselhos sobre rentédJ
muita i, '^ibição, e sabe como as armadilhas são montadas e
o rosto ^ Crianças que nasciam escuras cresciam tef ^^bvertê-las.
suco de de clara W de Richard Rodriguez descre^ odese^lvi
■'haj^^gglèõnscIgHiCT orgulhõsõTgn^ez de envergo
própria pele. Certo verão, ele conseguiu um empreg
'^dingjj.Q g deixou escurecer:
«"■». ■-»«-
memosãoínvLsíveiTrr" ""as onde as figuras de Pois daquele verão a maldição da vergonha física foi que-
racisr. un JZ ü™, een um. sOC'">' pelo sol
Nãomms^nUassensaç^^
aul (...) iNia O maiainu ——^^^cnparos

Em inglês, a clara do do r.)


média nort-e-americanos começar _
consegui contemplar minha
^em Sentir vergonha.

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PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

ne-
tornar-se senhora da própria sexualidade) e o outro a cor da
Isso é apenas metade do caminho, no entanto. A expressão pele(que associa ao ato de tomar posse de sua "masculinidade ).
gro é lindo" ainda iiteraiiza.
iinuo amua literaliza. O
u negro é
e às
as vezes belo^_às_yez^S'
neiOr
« " .. . - terno medida em que outras ordens são vinculadas ao modo
feio; às vezes "negro" refere-se ao petróleo,às vezes a um terno ^Onio o corpo é inscrito, e na medida em que o vínculo é selado
de executivo. Libertar o "negro" da "vergonha" associando-o ao por regras de silêncio, o primeiro questionamento tartamudeante
"orgulho" não^é^anço-suficiente,como Kodriguez eventualrnetite dessas ordens Hpwp cpmprp mmeçar pelQ.^EQiIlPJtBg"to do_sêÍQ e
passa-a-enteoder. Hoje, quando se hospeda em hotéis de luxo, os
funcionários presumem que ele é rico e ocioso e interpretam a P^^^/ala^obre o corpo. Quando a fala obscena tem essas raízes,
a pena defendê-la, e aqueles que a suprimem incorrem em um
pele escura como um sinal de que esteve esquiando na Suíça ou
navegando no Caribe."Minha compleição",diz,"assume seu sig mas sério, perigo. São rnnm£S de^es que imobilízamj^
nificado com base no contexto da minha vida. Minha pele, em si, essa supressão entrava a imaginaç^q^^nf^íH-^-^âtureza
nada significa."" Essa cé ad percepção
percepção que
que tem
têm todos
todos os
os que
que cruzam
ci >
^^"tingente e mutável das7oisTs e, aSm,atraem mudanças apo-
as fronteiras — imigrantes de fato ou imigrantes no tempo ^'pticas quando algo mais dúdico teria sido suficiente.
que o significado é conrinfjpnt>.-g'i7Tiirnt^H^Hp p fiiiTrlai mesmo o o tnckster roube a cobertura dasj^ergonl^^
significado e a identidade do próprio corpo.
Agora deveria ser mais fácil entender por que sempre haver» deixar que o Macaco o acompanhe em sua jornada
arte que desvela o corpo e artistas que falam de maneira despo" o oeste
a de vergonha,até mesmo obscena. Todas as estruturas sociai»
azern bem em ancorar suas regras de conduta na aparentemente M
simples inscrição do corpo, de forma que só depois de ter co otas
berto minhas mtimidades sou autorizado a mostrar minha fa^e
ao mundo e ter uma vida pública. As regras do decoro corpot» ^°tirning Dove, p. 181. , „ma vez na
"Hermes, verso 156. Esse epíteto é depois que
sen 1 'T'"" ° da vergonha q" homérica;é como Aquiles chama Agamemnon depo
ur^a Te t""" ^'g^imas vezes a liçã» ^ 3, ° insulta, no livro I da lUada. Ver Cairns, p. 15^-
verdade
M pois quesüoná:^impiica autoexnnsirãn
astuciosamente p humilhaSa"'
autoprotetora, 1.
5. "'y in, p. 57.
aqueles que descobrem que não podem cavar um lugar pat^ 6.
>.
8.
Moj, P- 235.
a autoexposição -em Allen GiLL^rg^oo\tnlÍ"eran^^ 9

lo' ^in ^^^trevista em videoteipe).


pouco mais sutil em Kinestnn » d j ■ j c doi^ ^oman Warrior, pp-
^ Rodrieuez
um escritor sujo" como Ginsberit Nenhum dos
- ^^Halat' WarTtor, p- 3.
umrdpvp tg, mas, para começar a ^oman WarrioTy p- 5.
rdeve abordar a menstruúçrcrTala que associa ao fat" cap. I.

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A ASTÚCIA CRIA O MUNDO PUDOR SEM VOZ E VOZ SEM PUDOR

26. Cleckley, p. 209.


13. Cairns, pp. 32-33.
14. Kingston,"Woman Warrior, p. 13.
27. A.expressão vem de um artigo de jornal a respeito de pesquisas sobre
15. Kingston, Woman Warrior, pp. 12-13. psicopatas, The New York Times,7 de julho de 1987.
28. Radin, p. xxiii.
16. Hino a Deméter, versos 475-79; ver, por exemplo, Hesiod,
29.
Homeric Hymns> and Homerica, p. 323. Ringston, Woman Warrior, p. 16.
17. Douglas, p. 8,referindo-se a Levítico 11:46. 30. Pelo tema das crianças imigrantes e a vergonha, estou em divida
18. Lidell; Scott, p. 799. para com Helen Merrell Lynd (p. 55).
31.
19. A respeito das esferas de fala e esferas de silêncio, vale notar que a Rodriguez, p. 15.
idéia grega de "mistério" cria distinções similares. A raiz grega para 32.
Rodriguez, p. 53.
"mistério"(muo) significa "tenho a boca fechada" quando usada 33.
Rodriguez, p. 183.
em situações do cotidiano, mas quer dizer "falo de um modo espe 34.
Rodriguez, p. 185.
ciai" quando é usada em um ritual. Nossa palavra "mito" proveiu 35.
Rodriguez, p. 175.
igualmente dessa raiz, e mito é também, portanto, "especial eiU 36.
oposição à fala "cotidiana". Ver a discussão que Nagy faz ^esse^ 37.
^'^gston, Woman Warrior, p. 52.
'ngston, Woman Warrior, p. 191.
termos em Greek Mythology and Poetics, p. viii. Ele conclui: 38.
39
'"gston, Woman Warrior, p. 52. « j f
um ponto de vista antropológico,'mito'é de fato uma 'fala espera . ^""'Pedes diz que o aidos se aprende "sem necessidade de ^
no sentido de que é um meio pelo qual a sociedade afirma a própf^^ Quando Dodds descreve o a,dos,a linguagem que usa °
realidade" (p. viii).
20. Radin, pp. 11M2. contra a convenção, algumas vezes temos uma
21. Hampton, p. 61, profunda", uma "integridade espiritual'', ^
22. A combinação de vergonha,reverência e assombro não se restfin®® 'uteriorizada", um "instinto[para]o verdadeiro md ,
a tra ição grega. Exatamente essa complexidade de sentinieu^ diante (p. 10^ Aidos é uma espécie de vergon a
recaiu sobre Adão c Eva quando Deus os encontrou no jard"«' '°"anto, um sentimento verdadeiro não ape"- P --enç
por exemplo. O antropólogo Andrew Strathern relata que." ^0. Verdadeiro em todas as épocas e em todos os ug
montanhas ocidentais da Papua Nova Guiné,a palavra para verg Be ^"'P-68.
nha, pip,/, tem o mesmo significado abrangente:"Em presenÇ» ,jj,"®dict, pp. 47_4g^ 104-6.
espmtos e outros poderes sobrenaturais, elpera-se que as 13
sintam [uma] espécie de 'vergonha', que podemos talvez trad"^'' Voí G°Pni V'A Critic at Large: Audubon's Passion", The New
por assombro'" {p. IQO). 14
Vef de fevereiro de 1991, pp- 96-97.
23. Ver a descrição da relação de Hipólito com o pomar sagrado de 15
f^Vde Breslin in Hyde, On the Poetry, P-
Artemis na peça Hipólito, de Eurípedes é 16
Poetry, p. 410.
47
nrnif ^ ass.m como o aido' O
48 Y ^OlCt
^ocíry,
.
p. 411.
pp- 116,
'193-207.
25. rip
25 Cleckley,
H ^p 22|Sobre o psicopata em gera'ver
e mulheres adquiramespec.alru'^''''
carma- 49 vd
/Qç p.

^Vde' Poetry, pp. 414-5.


capitulo 6 de Cleckley. k
^Vde Poetry, p. 7.
^ Poetry, p. 81.
250

251
A ASTÚCIA CRIA O MUNOO

51. Ginsberg, Collected Poems, p. 219.


52. Ginsberg, p. 219.
53. A expressão parafraseia as próprias descrições de Ginsberg sobre
como escreveu os primeiros poemas. Ver, por exemplo, Mlen Gins
berg, Composed on the Tongue (Bolinas, Califórnia: Grey FoX
Press, 1980), pp. 111-12. Matéria fora de lugar
54. Algumas não estão listadas no poema em si, mas as conhecemos
de outros lugares. Sobre anfetaminas, por exemplo, ver Tytell ítt
Hyde, p. 179.
55. Ovídio, p. 49.
"Mareei Duchamp me falou, durante o transcorrer
56. Ovídio, p. 51.
57. Ovídio, pp. 51-52. da Segunda Guerra Mundial... de umjiOYom^se
58. Ovídio, p. 49. na orenaração da merda, da qwl as pequenaie^eçoes
são ãsjdiçoes delüxe.
59. Milosz, p. 111.
60. Rodriguez, p. 126.
61. Rodriguez, p. 116.
62. Rodriguez, p. 136.
T 63. Rodriguez, p. I37. '®tnna celestial

íi.r-"??' |'Vl|

vrvia n^íerra, Legba ^


■ ■i': ■-

> como se° Mawu nada tivesse a ver com aquilo.governo


Legba

c^ melhor
iiicmor que
que o
o mestre
mesLic seja
owjv._-._„.-
'.'.'^«sponsabilizado
aitrxLl ^
pelas
.
coisas ruins.
. . , pLeebadisse-lheque
O «»maa uma plantaçao
Pi-r ^ M». .e„.
planejando roübarj_c—
252

253
A ASTÚCIA CRIA O MUNOO

51. Ginsberg, Collected Poems, p. 219.


52. Ginsberg, p. 219.
A expressão parafraseia as próprias descrições de Ginsberg
como escreveu os primeiros poemas. Ver, por exemplo, Gin
berg, Composed on the Tongue (Bolinas, Califórnia: Grey
Press, 1980), pp. 111-12. Matéria fora de lugar
Igumas não estão listadas no poema em si, mas as
utros ugares. Sobre anfetaminas, por exemplo, ver Tyte
"yde, p. 179.
■55. Ovídio, p. 49.
56. Ovídio, p. 51. "Mareei Duchamp me falou,
57. Ovídio, pp.5i_52^ da Segunda Guerra Mun m
58. Ovídio, p. 49. na preparaçao da merda, daO ^
59. Milosz, p. 111. do cordãõlHnEíbcal sao )
sSvãdõTüalP
r> . A/SV

60- Rodriguez.p, 126.


Rodriguez,p. 116.
•R
7' ^°''"g"«,p.i36.
"■ '^°''"guez,p, 137 celestial

porção

vivia na terra,

feta ■ quando coin aquilo. Leg a


oomp^se Mawu nada tivesse 1,,., aaque'^°S°7Te
;<;^es.efeaiqodedbisa.^^^,,^
^^rvQ ^ Melhor que o mestre
%,;/^^Ponsabilizado pelas coisas rum •
1 O^W.dBsiLeBta. ' , Wto ■•»''' r
S'" '«t. um. plantação do ' ião, M»-" «"
planoiand.

252
253
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUG^
pn] ['i/ifn)-"
jvõfi) ('<Ahi-- , nir
H.ir'''''
niu todo O povQ^-ntiTrriou-íju^ualquer um que roubasse de sua P^tte, porém; quer^esconder sua dualidade de forma que as pes^
plantação seria^condÊnado-àTífór^ Naquela noite^J-egba_P-^S*^^ Pmsem que ela é boa e nunca má, elevada e nunca baixa.
de Mawu calçando-as, roubou todos os ínha^^^ Jifg^briga a se mostrar dee cara
cara li^ou
nn^ sujahel^^

Quando^ roubo"toi descoberto, Ma^ reuniu o povo e fez
busca para encontrar o pé que correspondia às pegada^nq_c^^^ J^mbos„Ela deTld^sHif^^r.
^r. Completa a separaçao do
o. Como t^inguém fQyiescõberto^T^gha perguntou se P^^P f-'0, a p;;ird;^u:L;;í;;lsa a não ser mais tão vi^ad^
'«bento, . ^ , _ L J1Z„ o n3n ser mais tao vigiado
não.poderia..ter ido até lá à noite e depois se esquecido ^e tornar o ambivalente autor do que os humanos tomam
Quem, eu? É por isso que não gosto de você, Legba-^ mesmo tempo por "Eem" e "m^'- „ Hp mãe
omparar meus pés com aquelas pegadas." Quando MaWU
o re as pegadas, ele^corresponderam exatamente. ^ que e'^ afastar aocnas
qu-..!^^se rètirãlmediatamente. E .
dois ou trêsjnetro ^
lad ^1» ^oiTieçaram a rir e a gritar. "A própria
era seu""^^' apenas uns três metros. E Legba a
dasas afv ades do d.a e recebia instruçõesela,
paraprestava-lhe
o dia segu.ncont
-
asp;::::::T'
Provação. Irri"
Legba'az. alguma coisa erjad^.
^ E£Ópria Mawu junta^^^a^^^-j^ite, >0
depoi^de lav áha-eeiispir&ii.com-uma-velha. To gpi " ^ ^uio. o ima .-r-otic^-B-

Agorao ͻT"
vive nas? «™v.a âg«.
^ V^^'^^"''aivecida, sui.logo P
Mawu <>5 n;^^^íânde confusão entre limpezae!HlSÍ--r-^^
filho, aqu. na^ *>5 sui;3?-2jenipruxKlo^^ oureza intacta.
°'^«alhe que n,. oraf"' ^ lá em cima, e Mawu pode manter sua p
fim,"'asTãntpfH^'^'^^^ a água suja da lavagi.^L-^^cis"
-isO

í""" " „-,ae rneTe» « Poí latamente ^ssa "sujek^', e^se


^0 micio da histór interpreto seu ^^tepr^üU.e£ba ma?Tgc?mâ-ÍD
^'a, não nos seus '■ ® diferenciado da mãe no ^ Pra ®^8uma coisa fértil .em expediente./
^õLiiria coisa rertii eui
sentamoi
e noi»

obediente, executand '^/'^^"tàrSe ele é realmente s SssisrJlmomtdaLni^ qtiall.""


aoelamenos reconL dra'^"'
. Nsçequeno ° ^^-.''o^«udes:dele,
made semialhar,
boas ouentão
más,® açõ^J ^«Viai^ colocando-a em nossa ^ gntre a sujeif^® a
P°iico pelo mundo sabe, a 1'' " ^jgo
pouco jjjjgõ que morava
morav
/®conhecin,eííõ-d;!p-^'^^^gta-.arquiteta, isse-po^Ê-^a la'^' ^."b ü>flâaideterm.iWa.nela natureza. "S-vos
U se .^uviam
aliviam n
P°de parecer' r ' ^os inhames realmen^ glh^
"'"^«entira que ®' "as, se a mãe man^f^ ^^Ih'' ^■^di • ^ ^^nha da maré alta, ,
a verdade). Mawu quer sempí^' "Vâcredit^^
254 255
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

dentro das próprias casas (^epulsivo!^. Séculos atrás, os nativos *^uas. Sobre a terra animais de quatro patas trotam, saltam ou
norte-americanos se revoltaram áo descobrir que os europ^ ^^minham."^ A^s dietéticas do Velho Testamento decretam que
guardavam no bolso lenços cheios de muco nasal. as criaturas anômalas, todas aquelas que não se enquadram
tan^o-da-iiuuiidície'*', disse um nativo de maneira sarcástica, sujas, "abominaçõli^jogiiiHli^
-me seu_l^o e logo o encherei para você."^ Seguindo a u salmão com escamaT-"-" ^ ■''uia, mas o saponã
hnha, fiquei sabendo que pessoas originárias de climas ^XUEo
divertindo-se com o excesso de roupas dosEuropeus,aJgnmasj^^^
concluejn^ue os provenientes de terras mais tempera<^s^£f25|^^
consetvgrospeidos pró^hio^clírpaE^^ na India^
tâmane que foi seriamente conspurcado pode_piAíjfi^^^~^^^^»'^
esterc-o.d,e.vaca e água,.."Vacas são às vezes consideradas^^fÜ^-g^
teve-um viajante.."Estrurne de vaca,.,como os
q a q^outro^nimal,é intrinsecamente impuro e . go
jmento-na vèrdade;_avilrará um deus; mas é o
' '®dvos ' ® quecomunidade,
a esauturam. Aisi distinção
bacf mais impuras dejima^-vaca são P aprdpnidSFdo
de re"'^ "^^'ação a um entre apropriados do pudor,
d,do, ao"° limrffTTT^ív pudor,rfoaa ousei v» - ^
observa ordena-
fj in^^era^purezas deste.'"* íioS ajuda a fazer do mun um lugar o local
mundo
são suficientes para começana^ ^'radn desonrar essa distinção - desígnio,
^ qne é estabelecer uma regra ê!^cuj^
livro antropóloga
sugere
de Legba ilustra ambos os lados d partida^^
gar."
-l^gar"OOv^ „ ns a um velho dito; "Sujeira
^ é-
"^í^pãtos nTar^^-— X Legba o ameaça com uma ap ^^osmos surge,
Sâo-hag^unea- rx ^"""■"-^íí-^íí^^^rumados, mas^ern^EnS- .goSí H Cq i^tna vez que Mawu parte, um exà}^"
forma é definida '
dos pratosj:)ouglas
dos pratos. Douglas afirm ^ é mais o^ caso
^nomalo^l^ ' °"8las acrescenta uma segundii^-jglé^ quç
Cl.._ {■••)\ nrrlpnampnfo
do i.. ordenamento SÍStCmatlCO
sistemátic ,' . pois■ jnessa
lugar qtódo lug^^lJííSl^-í^rr" e ordem são mutuamente dcpen
^ ^^0 Testa ^ sentido ao nosso
por eiemplo, aiVidFo mun^l i^s, ,ue Douglas
^ "da elemento, expü^^ Z,
«"s asas N ^gua, pe.xes Armamento, aves biP« ,,arb^
escamosos nadam

256 257
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATfHIA FORA DO LUGAR

situação O conceito pode ser facilmente invertido: e no sagrado salão da tecelagem ela e suas criadas tecerão
criaçacwla oídeai é um subprodutcrda-Süjeira.^A sujeira é uma das ^ovas vestes para os deuses. __
ferramentas disponíveis para o trickster quando cria este mun o» Cada_uma dpçcíic íifiviHíJi
o mundo do qual os céus estão muito distantes. gens e uma granuc uiu^^x. - ^ n
Optei pot abrir este capítulo cojm^a históxia-de.Lêgba_p5í^ '^■tto no ato de tecer as vestes quanto no de cultivar os grãos 2
ela trata da^Primeiras Coisas,Tas primeiras coisas devem vi I r do drroz.
arroz, em
em particular.^_eMfeC-^^^^^-^
narticulat.^XÍg^aiIQ2aisçui^d^^
r ^
primeiro. Mas se forem feitas corretamente, as primeiras ^dos,
líl£adoSj_ee os . vários modos de alterarjeusJta^g-P
alterar_seuiJíâíâ-2
nunca mais precisam ser repetidas e em muitos aspectos a entra , —7 - /^oirn.

a é uma exceção à regra. Depois daqueles primeiros


P m o que Legba gosta de fazer, o que tricksters em geral go® teri r i Susa-nõ-o
isa-nõ-o pBviamentejÒôlâ-^-^^
• •■
obViameiucjíiiiiv*-'
An irSTMesmo
—^de^lâsatividaHpç rimais da iririã. Mesr antes.de
r heear
cnegar
^^-dâs_atiyidad
atividades
es rituais da
rituais da irM.
—-—T—
irma. -ivi
-iv^ ^„nra
!' ;.,ctíinrou O çayi-w^-'
tecelagem,
Via A ^ violar essa fronteira entre o sujo e o .
avilta ^^"^l^ster toma deuses que vivem nas jion„r^^.d9,0 ffaíscas
a lsãs estacas
estqueacas dedeb^^
a concp^"-^ sujeira terrena, ou parece aviltá-los, pois liitr>--^^^^^^~T'^ixando aue os pop^L-- ns pri-
onde os ori-
E^êpoTridíssorentra no P jr^^gg ^ortoda
deuses sujeira é a eventual renova£,aOJ^^^ ^1'ütos
Qp,U<l. i^cpuis UXJJ^,

i"utos são
sâ^prc5á2os-e-defS^^^^

tnrrívíirloç_í»--<4ef^a^espal]ia^^^
^^■^^' tó , . V cnlilime
ecasoro sublime
Em ^'gtmas-verso-cWtrlíistória
algumas"vèrsÔESThrmstória istoria,, deteca
sujeira versões desse tema da revivificação
o Lrson Na.ínitoleg.a xintoísta.eflSi^sa^Í de ^ ^"^uterasu, de modo que logo q
grande
tecelagem,
5a-no^ grande repulsa."
repulsa." Quanto
Quanto a ^. ^cAtfáSâiÊ-"®
c^j£aie.um
comQ.Q cosmn^^"!f-° o céu e a terra e desarranja£.2^-g^ Pôripi ^^Bre i^m
Pôripi um buraco no telhado£_„^
telhadoe__„^--- »„ cnbre as mulheres
t-^easmulhere:
tia tempestadêf^^-^derenciou. Susa-nô-o é uma'espécie qUe. trás da cauda
acrozais, a tempestades de primavera Para '
Pata Tálá dentro* (dTtíás para a frent 6ê
do Sol
do Sol, Amaterasu^ p Susa-nõ-o).'
• - • "'*"A irmã de Susa-nô-oJ^^,i '"'tüsâ' -- uma
uma violação
violação tabu
tabu ee outro
outro _pe
pe sol^que
^cabVaêldentTp ^P^^^dio queome Cai ^ aterroriza tanto sua
%.^eoteateabncadeiraperfuügZ^g vagii^^» ferindo a
Novo Palácio p1 ^^ituais que encerram anoix-- n-
prestes a provar os primeiros Etj. ^'°fdo com algumas versões, mata" sóbria viáa-
dl âmbito, tudo isso é
^"'dvo sol, contada por um
° ■nomenrn i: detém "ecoroso do que a maioria ^ira.' o" lliíír^2^££oí;EÍrconsequêíia^^ nóíài^^^
-'"XÍ& .C"i=
""egá-t A ^"Soconfessart , e ameaí^„„,e« T-O (exatamente como2i2!^^nianeita, Susa
"'um1=^rudemaosl
araumf o P°<i=rosoS°a
escapar ^ ^^^^^§<5S-tiiíííaum "'%êP"'''6^<
^P°'° ' Ao \o
encantado e ai ° f'"' Ine estava n P"^®ngio, um exausto escn AP"
brr" para criar o eixo sobre o qua
qual ^^atetasu na
nao
''""'edescat®'^' '°'^ndo uma
^ "«ena de Mafa e
encerramento do co^' eS- %1« ano novo. Nas versões segundo ^.ontece em
maculado por umnntes,
bebêmas
que isso
soltaP^°
g"' e °'do resultado das ações de Susa-n

258 259
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
MATÉRIA FORA DO LUGAR

seguida é quase igualmente ruim: ela se esconde em uma caverna» ^'gnificam que ela^ão pode faM^sso,e as novas sementes que
o céu e a terra escurecem,e "toda sorte de calamidades"^^ ocorre seguem revclam-riòs^pDTnjíãéT^ por que o sucesso dela seria
Os deuses,então,devem trabalhar com muito afinco para traze ^ •"n desastre pior. Neste mundo, no mundo do trickster^^ajd_aj
luz de volta ao mundo,e embora haja muitos detalhes interessan ^ ^"^te são uma só coisl; nI^Ji,.í»ePflí^3JmJlinÊi!Ça^se
no modo como eles a atraem para fora da caverna (o qrie ínc ^ ''"raccLa morre senrsT lTvrar também da,vida. Nao se obtém
rincadeiras obscenas e muitos risos), o gne nos interessg^^ ^^■nente nenhuma se a luz do sol for sempre pura demais para se
enquanto^é^ue a sujeira e a dpQordem que Susa-nõ-o ao esterco dos arrozais. Não se^obtém
nos rituais da colheita iniciaram uma espécie de eclipse»-^
uma especjie de-eci^
se seguem, por sua vez, rituais destinados a reparar r àdlímca«trarjlo Novo Ealácio.Ê
procura dessas se«s, comoTia
toda vez que ^^mpre
humanos um
ou deuses
sol dísanarecq^is retorna, .gr
_
-o, 7 para purificar a vida com a exclusão da -orte
1 ^ promovem a vára^^
^^§0 à cerimônia de ano-novo de Amateras
^ I «mpletamente a ordem da sujeira quee
£o^^nün^ um tügàr mais fértil para^sê viver, como ^ tsteí seusumplanos.
p>''dade. ele abre buracoQuando
no recianpureza s P
to -S-doJ^at^ ^
2 seguida.
seus malfeucs. os deuses banemEmSusa-nõ-o
primeirodolugar,
céu,por
e ek P ^ fton ' as virgens tecelas^ou^spa____.^_-^-g^
Pod7i'^--_SoLb^^
da aerirT (conforme uma interpretação, esse é o
vadas aoVn'^ da colheita ante®
Har,tão logTchra descida).'^
alimmos^e cuio ^ mata Igo
feijões azuki ■ morto saem sementes: arro »
colheita celeL^f^' -^ssim, a história que se inicia c ' história japoM^de
PlantadasÍ?V^^^
plantadas oara ' sementes tep^nas^qj^^
com sementes " - "^ariçi '^'srnente, interpreta£ido^5££2--^^
^iUinçonto H ^J^açahumana.(Énireuma^^^t^^ Par7^CtanJ£]iFeral. Embora seja^u ^g^entes e o
rTTr r^-Semyerno qoal a sujeiraWsT^'^ '
cas^ ra ^a agrária (as sementes chamado de
clausura, a ordem^^^''^ fecunda o impulso de fim ' fezes deveria ser mais aptop" níveis- Se
«Ujei as imagens repercutem igualmen quando
levará a outro porque a tendência sol^f ''kth ' ""«Stírr-ir-fora de iugif^ «e e o q ^ ^^^re tricksters
'fessa narrativa - ^ caso não seja contida. ^ ^ dgP^^
~®ol e, assim, levanH ''^''aPseieir'^ ®^evem
°'^'femreritão-«5re outras h'S
também falar da esten i
^g oculta em
modelos qu
sistemas e projetos h""^^"°"tmas que e"anros
O mverno ^ -^tamente esse ^p Ho'^°' f efur conta do mundo e fmquênca m
Mq»i>ar-s,d„ '"PTOtaa,,,1. gostaria de nele são
casa
"'""»q"fncias.Asperturbaçõ«*'" ^ ^ complexidade das coisas, e

260 261
MATÉRIA FORA DO LUGAR
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

^esmo quando garoto, Jung mnsideroujssa imagejn,£ScatQlogi-


próprias exclusões. Essa é a conclusão da história de Susa-nõ-o, ca redentora;;«Senu^^^^ alívio. Em vez da
e e essa também a conclusão de uma das narrativas fundadoras ^sperada danação, a graça havia desclHosoBremim (...)chorejjlfi
da psicoterapia do século XX.
^ic^dadee gratidão."'^
Em um dia de verão, quando Carl Jung era um estudant^de^^^® ^esde o'inicio,
o inicio, Jung
Tung entendejLessaxonfi^^âo^^
enrendeu essA.£Qll£-^an.xgv—^
^^eTdadecomo
® déTdadeconí^lgoalgo de um
umgênero_dherentedetudo_o^^e
p^nero diferente de tudo oq^e
^"Ljgs^ia, na SufçaTele parou"oara admirari«í!^je hatM^ : -ti— 2 ——~
■''"^-SidtuS^d; por sua igreja. O pai de Jung era um ministro
minicrro

ideTas^^^^^'" sua ailí^grafia, recorda a seqüência quem, sabemos por mtermedm


3 J""g' a Igreja havia se tornado sem vida. Quando cr.an a e
que o pai era confil^eiri^réiír^stituído de autondaj^
telh S'oriosamente azul, o dia era de %ha^°"
lustr ° ^ '^^"^dral reluzia, o sol cintilando nas telhas n ^eu I'j:£^ndido tornaram-se^laras p^^ experimentar
e pensd™"o'^'tnficadas. Fiquei arrebatado pela a vo en"tSíaiu, pensei; havia fracassado
issoep^P ^J^e^._e_a^igre^^ e de Deus, hlvl resistido a ela P^'-
doÜrldo?'"
meus pensam nÍs
dourado mompntr»
"lomento abriu-se limo
^ d'Tacu"i^
arandc
uma g££j}de-';,nti-a'^ ■^'atorí ""f ^ fivf?,oÍ ^
■ Jüngn^""
"nagin„ --■-—-'".HÍlâiÊK
Xfi Ha^t£.se-to««^'''® ^
-ndo que mê ocorr.a era: "Nao
AlgQ.ternvelestápor>»3..'"u
■Algq.tgrnvelestá^r>ir Petis- . daquele menino dé doze anos /«q telhado^
da ^riicial ou instrução fertilizante. sujeira é de
lutou para ijij J?^"^ ®'guma imagem perigosa se '"^'""^5 dia'' S S»i ítaa-l d„i ,.
"a Verdade comK entrasse em sua mente. Po^" gobf^ clarò": é um
;í •
E)e_us, que contror~-^^l!^® confu_sões3etafi£S|^que \^ ^.oieto
nrojeto redentor
deíi, excrêmpnfo Posto
'^Semento. Pn<;fn de
de outro
outro mo
mo o,
o, , ^ .quaU^
P®usassrãlõn"— podia permitir
de que "®o deveria pensar. Por fim, en retornar a uma ambigui a jiciados _- e come-
i-i

"^nndescendeu: tivesse o pensamento P nio_e^ ^ ^material oriniordial.


o alto e o baixo nãoes^
li^^^^mente a ordenar a piij^^^íerorno" assumiu uma
iNpa posteriores de Jung, •„ suajaníâáâ^^^
salto para 815?!^ ^^^^agem, como se estivesse ao Quai^o gato^S.5Í3-^^^^rrmãê^^de umafiguta°
da igreja dqpatrmafr^^^B^
«entado que "^osta sob o "ono
\it Sóiilentado trono ^^j^rsuá^"
_i^rsillil^°
J^SaL''qntmistas
Pngâ, o aqtigoSlPJSííí^^í^nrí^g-
^rono üm mo^e . acima do mundo r ^ lis

"■«MtaLdt ?" ,.i „b,e oSB^f. e.gíí íâs


medievais que fascinava quase
^-Pedacnc 16 *'^-?í.^ruindo.o. oc naredes '"'"des tutelares do íung majuro-

263

262
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

setenta anos,ele publicou um longo ensaio sobre como Mercur^® ''o Cristo simbólico", escreve Jung, os alquimistas imaginaram
operajiajma^inação alquímicaTligãnf^f^ ao maÍs"ãntigo pedra filosofai, ou "Mercurius-Iapis", que e "an^gua,
e oferecendo em dado momento a'seguinte descrição concisa- sombria^^ paradoxal e com^ietajnenje_EaSd^"-" JungJessa
Mercimus consiste j^toldos Os opostos concebíveis (—) P^dra-MÍrcuriuTrepresenta^-^m aspecto do eu que se mantém
processo P-elo,qijai^ofeixo_e matérijd-é transformado no ligadoj natureza e em de^QldoxonUi^spíaiaçn^o-
c ^^ÍEÍÍMaij_ejdce^rsaTlÊ'x^ psicopompo redent®'^'^ 7'esent^odas aquelas coisas que forH>.Ê!Í!!lÍ!!!là^^
tricksteteAíasivo,.e-Oxeflexo_dÊÍ|eus,na_natureza física,"" ristão»,» oraiqurmls-tiTcWpiiiram a imagem de Mercun
PQp^o_principal do argunàento de Jung é fr do matertai encontrado nas privadasd^çong^^
ua43£^ã3iento Conforme
um ensto^cessivamme^dcado. europ£ii_para
sua imagei" t ;ÇÍii^"Os textos nos recordam repetidas vezes que Mercunus
"rontrado nos montes de estrume'."" .vrrementos,
dos séculos lio e pelos dog^ ^ ''«vo ° .'papéis narepresenta
história
quauL2"f^-°"°
q ° o "Sol
NãoNovus
como resulta que Tp ^®5-3_rre-Metc,urius na verdade tem o
a suje "®-5?íl'm^naíido: ® ® «oi e é o agente ou o
Ir -bretudo ■^''0 ' q^^i
qual essa purificação
essa sujeira
sujeira encontradooo cami.
Novo ^ graça que cai
cami.n
Mas crista- "pxxKza ^^Çdas cicl^j
s%re Mercuri,,. .é 1..
encontra
. hosra engendradoradagraçaq
rr 1-- chantas pro^ utanto a^tota
n'^lBêm£^tnHcã3ã^qÍ^
rSl?'"" ^--tidade de impurezas,
sombras.Umarnçr™^^' ^'^"'rmla em algum ^íiienf produz essa imagem, o excluiu.
"naturalmente envolve Punfícado,"'Íj^^^dícir- So-^-Hk^igmente
-P-fazendo__çSgl
- --q^^^''^' ^^'^^^^ apenas
"«díciedev^ 'f°P"' ^"^®^~nO'-Q.europeu, uma figurn e 1 r g_io, trazem as
X? sob o trono de deus, mas, ao ^^^,3
I""e aquitS-sf ,„i,.» ^0
ll
figurativas da graça vivi c Nesse sen-
queordem.
em fazer com"ds
A reeríisubnr^Vi Problema
Procisso de da
porsujeira
a casa esp
[tu^ a "^^sponsabilidade impotente e cr ^griòr.^££Í^'^
fecal da infância ®
e riegradação sempre existe erro, -ÇS icai_
redentor
coisas e^fdmr^— da o '"'"'"vãmente por meio de
igreja. Sempre st q^^ndo o que estão lirriP^'^.^ sonhos, intett ^ p^p^iema
í^ôes
V,f ' °através dos símbolos
do reconhecimenm
e traduz
P^^^^^p.donasabs-
jpgis tar ,
Próprias da consciência desperta- ^jfica o
'Nip velAohovoltar-se
compõepara
um aensai o que ^ j^ica.Jungestava
literatura

264
265
A A5TÚCIA CRIA O MUNDO
MATÉRIA FORA DO LUGAR

tentando discernir o conteúdo daquele excremento divino. O


são aquelas coisas eliminadas do modelo cristão ? ^ ciência, os alquimistas se valeram do paganismo politeísta e
que uma incursão ao monte de estrume cristão vai revelar?
^ui senso suprimido de como o divino opera na escuridão e
""^^éria. Com base nessas fontes, "hesitantemente, como em um
Diferentes trabalhadores da sujeira retornarão com diferentes a linhagem introspectivadosjéçulQ5-6radualm,^fe I
ouros,é claro. Para Jung o monte de lixo contém^aJ^^^-^^^^
P^^^ura dF^ÍEilFííirr^n^^ ^
^f^^^^^^PâgaQsj:Qino_q_2róprio Mercurius, permanece,em uma relaça^
1 :1

se isso, com Cristo^.


^^aminei essas idéias não tanto para avaliar seus me , M I

ticula Pngãos acarreta¥supressão de um P dar uma noção do que pode stgmficar a ^firmaç- d PU^
imagiLJ espiritual..,PQyps aborígines nao ape ° «torno da suje.ta vem a redenção ou a jantai
nias os im"^ ^ com<ííguras ambivalentes como tnopu'^^'^ o pai de Jung era ministro e,uma
deuses estreito relacionamento com os on Peta ® 'i"® "^^do Jnng teve uma no qye se
amizade n
imaEÍn^r'^^^^P°^o_Qux.ntrfiEx_u e Ifá;elas pronta de,.. --.?:f2;^abzar o cristianlsmoiíií^'^^- „ santuário.
e su/SrSr,!!;;"'"""to Pa.^*Ü-P*Sãos e matém sornbría.dojnseB-^P'^-^^ fazer uma
fôSSê^'» J"8 «oiSaSíSj,» '^"^rmisegue, nas palavras
""»»« iiSSr^íi;'™ que os filhos de Deus se
■ dqun °°"de houve uma ^eparaçao, qne^ ^.p^ra (...)
doij Construir uma ponte através
Vr^^^dos psicológicos".^^ . - Q que acontece
retratQ.de uma reujlinO-^^. torp^P°nto,>, porém,
porém, pode
pode ser
ser melhor
melhor , ^^ recriação,
recriação. O
J^ng não~ecègd"r~^^^^--^--"$^i^Ç^— '^etoj ^'"^^Çào propriamente dita, em vez . ^ ^ jjgsse caso a
diferenciação de espirituais que resultarn dess^^^^ da sujeira é uma ameaça à antiga o ^ g^t)stitui por
seu argumenteiíe to^í^ ^•gon ^do apenas dá alento à o uma opção ao
^^sse caso Tu
j'"mtelacionam^^>"!!"«"niões familiares" pagã^ ieí^t^l '^dstian^°'^"^"^^dição alquímica se
''Pi t„p ortodoxo. Mais relevante^o^,^--^^ sua vi a
'®nt04inteii„Oj^^ quandoMer.atxhisél^^p'' 'Pc1;í|5 dq s£u.ppój2m?5i5I^^ formas de psi^
''^lise «onte de estrume criou as conscienc
p tntermediárir,"""'^^
que pode, por exemnl '"^ ®o inconsciente quantocomérC
oJ'5Í--^ta r ■ '"Paginando
aginando a exploração e o desau
desa defin
jetin
de sé.,.u„ T.._í. m.„nn.srica aIgreJ^f
de «foraniM
soího ou converter.g^; "'Pen
li,"d' ^®®dculos, Jung diagnostica a § que "fo£52i se

'i"®'¥ercuriu\é .. § ®^Pande a idéia, citada antenor^ pof fr


'■hei, ! ''^oqtieada pela própria pureza acharam-
o ponto centra" d:
lia uaLUicz.a

^ ao compor essa imag^tn '^Pscp^"^" ® P°' em


'®neia novamente ° E'marcha
'®^®^^justapon'
. l° ^
266
267
\ A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

infânci^e Jung e esse ensaio posterior,não parece estranho


que,aocriar uma ponte entre a Igreja e seu excrementOj-O-Espí^^^
^ârnaval democrát ICO

de M^curius criou uma terceira coisa: a^icologia anjjhic^- ^ il^do esse material, das narrativas antigas a essas modernas bata-
á ^vas sementes" no fim dessa história de^trabalhadores—^ Psicoespirituais, levanta a questão de como qualquer ordem
?P'ritual, secular, psicológica - de\^ia se relacionar c—
Mas a história não deveria terminar aqui."De acordo cgSlgág^ fSEfla^ra. Por um
-íi-::i.^eira. Por um lado,
lado, sese aa pSiSTcom
pureza cum freqüência
—i resUT
as ^12™^.EÍ£2!ógiÇas'', a psicologia.analítica terá^ventuaj^ê^ •'«Ba,,
esteriliza"' * „d,„
' ' d..=ri. .it»«. s°» ™" "'te
montes de
^^'^^-Hoyemasjçom^ji^ O Espírito cÍe"Mercurius nao "mt muito longe d. cidade. Por outro lado, «• >"1=
Dur ficando
fi'^^ as idéias do mestre,
Temosumjá algumas
JfWuto d.etiaçlo d. ordem, nentem. otdetn de..,. »»
pur processo décadas
que devede aco' >'»«..me„te o te.otno d.s.idt.,. ní».«,«"l"
antisser!""^"^^ ^ ®®<=ória. Se Jung flertou p autodestrutivo.
^^todestrutivo. não deveria-
em nome dos arquétipos.,seJt ■Pos
se fi"®'^"®"do
surpresosa segunda
com o fatometade
de quedesse i e ^ ^ J^„ci&g
a ordem
Sr. tem,pate nie> violenta quando ameaçada pelas pro^'^, ^^i^or
e.;;'„»..at todo o ,oe „»!. no
Hjt granH^c p acabarJSS^——
-i '^iãT^nas momento em que estou escr ^arv incinerador^§,£-â£âb ^íiriíTao^^
alegando aiip'T noticiam que um pesquisador c ^'carue observa, "a existêr^cia d^jno cantam à
sentou pela prim"^ detalhes essenciais qua" %^^^^^nti:olada (...) Consideremos
relevante em rp teoria do inconsciente ^ ^^Bl.&gscocos
®£9HÍvos^Ju^^^^^^P^r.ami>
^Sfeiung-proibiujiaçesOT ^otp a defini^^
d_efiniçãp^o„gdP.^-^^ da
jg antropologia
•í"® Não ficaria surpreso Mas"pTatiramente
^as praticamente não contra^'
contrao^anô-
_""ia fantasia proibir^ ' a ^alo
^lo ^jodar
^i^dar a encontrar a violência^JíL--^
violência^JíL-^^
fantasia prJbV;;
aparecido debaixo H ^ ^ ^^guma coisa escura e fedore*^ '>i"í^-f;íat^Iugar..^^
tÇh. de® "Ur An
as perpétuas
para descobrir~irE^--.í^^«lt^adeira na qual seupaj.s® 5' "íimpeza racial" do século-A-A,
sécu o- ' -
[ugaf", „.ra nos
^ da «níma nos sonhos dos paçientes- 'SJ^^ttomo
^Pibta "tanter os homossexuais^
a ordem pode se tornaremcruel . de sua
. bi '"Paginada. era difusa e um tanto
aspectos'de ' acostumar ^"nios similares. ^
%vi3 /^'ono a exclusão violenta, essa respo ^^^^^^dade e a for-
divinaçãn rr» ^ 1 ^ Bartir do monte de entuih pra
let^i porque é em contraste com especia^"^^|^^^ ^
'"lha, e os oT , tanto Freud quanto ^ Pod"""' °«tas respostas parecem atrae ^ _ qualquer
** Assim foi ^'^'^''^'^cntos ° o Coiote sempre j^ff
%ée> ^er chamado de contato ritual com ^ contido com
Masson. de Freud . r ffreyf^^' \u ^ 'formalmente
envolvimento estão
sancionado,
além dosestru u
hntttes- ^erto sentido,
'assediados pelo desobedientc Jel"'

268 269
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

grande parte deste livro trata desse contato,já que do terreno sagrado Temos uma clara noção do que acontecia a
de trickster é uma espécie de ritual narrativo suiOjJjP escuto, partir de uma í^ta do século XV na qual um clérigo parisiense
auge do ínvernoT^umidtT arcobras estão debaixo da terra", ^
/4y-\ •^^ t _ ■ 'I. • a . " oS
aparentemente mais decoroso reclama sobre uma Festa dos Bobos
vira nas províncias:
■ :•{ .1 nativos norte-americanos contavam essas histórias, acolhendo
fantasia todas as coisas(incesto, violações de tabu,egotismo íns ^
I. ! etc.) que nãog^am^ parte do centro das coisas, bem no meio do serviço divino, mascarados com faces g
a ^Oura^d^ddotó uma vezjjrna^^^ fantasiados de mulheres, leões e mímicos,executavam
Ças, cantavam canções indecentes no coro, corniam ,
Como logo~dScõbrinios, e cmnõtodo ouvinte wí gn^durosa em um canto do altar, próximo do padre que ce^brava
ago teria sabido imediatamente, esse,".çjiefelli- ^ missa, pegavam_seusjpgos de ^^dos, queimavam^ saltitavam
está fazendo reside absolutamente fora da ordem . ^0 fedorento feittT de couro^ sapato velho, cor
™ Radin observa, "o chefe tribal wínnebagojliQ-^^^pirO por toda a '

No fim do pt^ é
- 'V >*

2?''r estes a dormido


irj,ara a com uma
pu.rra), mulher^^é
dadjLüffl^^^^é
Ç^e'°
gos queimados em vez de incenso e q
'uÍm pXdoscheios
cléri-
q- ele %.o^rJjseira£I^^ da festa se^P de eJ^®®'°"almente passeavam pela cidade em c j-jj_4i
Nn 'Contendo salsichas e
e ptrH" seus apetrechos de guerra aO ^ 5^'
atua) ^ acadêmicos, essas termo
crílePa"F°"°^'° ("uma ação inconcebivelme ^ais "discutidas sob o título geral de .'^^^^^ca^tóJi^Stie
Não P"--diante.
oiante. ^ o ^"^^^^^"damente reservado para as ^
P®drão4í^í^r4^^S!ÍJ^"ck^er ^er_tm o Mardi Gras, a l52EÍ^d2-p-
•ii! :ii
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bem ser {star^ - sualíistóriu P
.!<- '1
narrativa de °utras tribos é algum indício) j-js. <^On,^®r^P-Sârne").« O entendl^SÍ23222£^^
nma important" ^®rdade representados em cerim ^hscç . ® liguedep7a;;^ãt'sdo,KofunJa^g^^^^
as.celebra^ões^arnayalep-^i^^^gvJ^^
erum ^opi, por exemEla>4'.âihâ^ta
eS
dvessem no centrT^^^
descem esSis de cab^^^i fíi.
humanos, e não os
tas, Q '"lente emTociedades altamente o ^ada,
05 lefot-ça o statu quo porq"^' podemos nr
^^lebrantes bebem'' '"'"'LuraP ho^' as exceções que comprovam "-• ■ j'j
c^ninos.^^ nrina e comem excrementos
:íí^ • «...do. de mulher,o»
Es
id^
tnesmoàsassim^pk"^^"^
M^rJ"
"^ão estão restritos
^tríadas sopía^ a
aos
■ •• c
^íí^r^^ ^ «P mais sohdea, O carn-al é..6»»^ j.rí» « P»
^®dia européia ,,„,^^^^^^'=ÍÊdadesprimitivas. Dti Si, "ImanK.daram.me oP»"*''»-.pi- d".M»"""
£â.ti%aanrofa'íh, Bobos anual '""dojoeoiofarecemJh.a.p.í"»""'
271
270
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

nunca chega de fato ao palácio, ao Vaticano etc.) e controlam sua dtuais são sempre conservadores. Rituais sujos podem estabilizar
duração. A Terça^-Feira Gord£j;ujji£a_£2^av^ coisas por anos a fio, mas quando a ordem enfrenta uma crise
Quando a Quaresma começa,a hierarquí£il2í2-r' 'andamental esses rituais podem se tornar os pontos focais da
ressnmo
ressürge-ttsplandecente, pois a ferrugem das tensõesJnterni? ^ "mudança, momentos caraiíticos para a reavaliação da sujeira e as
polid^ela sua exposição. !f^dadeiras transformações estruturais. De tempos em tempos, a
ZomBetèírÕ^mas sem mudar a ordem das coisas, o traba "Ça-Feira Gordaúíí;^^ para a Quarta-Feira de Cinzas e para
sujo ritual opera como uma espécie de válvula testo do ano também."^uais.SüÍos-t«gu'®tc''
permkmdo que conflitos internos e anomalias írnportuimj_5?^ -tmW^rtmnbu, apar'í;;^no após ano para fortalece
P -®^*^ssem conséqüêriciãs sérias. Se todos sabem secretam ^;'^Jcimento da baste, mas então, quando as condições o exige ,
fl o papa «flo é perfeito,o segredo pode perdurar ""em para proporcionar um novo crescimento.
fijp 3penas por um período limitado, sos historiadores têm-nos fornecido ® J, grece
JPecificos que demonstram esse modelo momava-
vos —-PBPa- Se todos sabem secretamente que os e ie,; P-^
da
que a
aindl ^«"hores carecem, a escravidloj^^^^
li"td apenas por um pe-"' Alerv. .-^P.^il.Qa.uiiupapel-rhave na K -:"'""7i^Tpxtra\Sou
"Í;? ■» ~,.™ à me.. (cpO»-"2r c ® ritual se quebrou, a p^jece claro
, / «.i£5' O «..vai é.por..n.o.j!»;íi^
social „o q..l «
^•^hém"^
Pulou
alterada em seus fun f^^^g.jigumaivezes
brincar com os papéis dos j g génSaiSl^
quando os estandartes São recolhidos.'"'
""leamence para serem rem 'tgum^^ cercas do ritual. A historiadoraJ^._
""eforça ,,4/ Modernidade serviram para - carnavalesca
° ® função
^as j^;4r-----Bl.^^^^"turas sociais vjge^^^- | piadas e brin-
desregradas, normalmente o ^ desobe-
°ferece uma espécie de vacina e g vi"' ^'êrici ' revela-se "uma sançao sociedade que
Afinal dscoJ'^^ ^ ^ j,taiP S para homens e mulheres
*"^asses baixas poUcos meios torm^
, ^ ^^asses forma , carnavalesca
"oite que acabam m apenas os gaios 1"®, ,ci^^ Consciência de qüe deixar qn^
Dncriar.^;., dpixar que ^a geralmente
apralmente
nnfem dominant liando a violência é a única
lae não consegue ^"®.£9Sefuidadoosis^ . p'^0 ■^Vç í^^der de ficar por ciba durante a acabam,
conhecenT^p^jq^ ^ que responde
ííi, Manter as mulherel\embaixo controlá-la e as ■ o'-,'

Onde 4? rrol ç] ^ que essa imagern existe, e «^lanteve abert


ritual oferece r''^®®"®°^'í"^mdõdirportanto, tLs >Ufo ' '^ntbém "promoveu famiHat"'« f''"
® mudança está na ®"abilidade não violenta- piP No .y alternativa de concebL «ttut'!'^ capacidades
P^P^l a desempenha" ° Nm^^^^utso para a reflexão
P^"har, porque simplesmente não é verdade d nercs» 50 \

272 273
jÜf.^
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
MATÉRIA FORA DO LUGAR

Considero que as narrativas de trickster servem a um


duplo análogo; geralmente trazem uma libertação inofensiva, nias profundas. Se é correto compor urna história de criação justapondo
^ Gpifania fecal dè Oárí Jun^, sua po^terÍor_^tra^oj)Qr Mercur
ocasionalmente autorizam momentos de mudança radical. Essas ^ a noçaõ~dè que ele é um guia para o inconsciente, então já te-
narrativas, ao menos, declaram o segundo aspecto: o personage^^ ^os um caso moderno no qual o trabalho com a sujeira via^za
que pode brincar livremente com a sujeira, dizem, é também o
herói cultural que traz a mudança fundamental. Em_uma "roubo dS^fo^", uma história cujo protagonista desafia um
historj^o Corvo contada nos arredores de Sitka. no Alasca, po^ sistem^^piritüaí enfraquecido com as próprias exclusoes e, a
P^ftir daí, adquire'um,métod&~psicdógÍC.Q»mnaj^k^
exemplo, eléroSba aguVdo"Petrel sovina, que tem um suprimento pacata raça humana.
interminável, mas não o compartilha com o mundo sedento. O
etrel guarda vigilante a fonte de onde sua água brota (ele a man "^alvez este seja um bom momento para fazer uma pausa e resu
tém coberta; dorme ao lado dela). O Corvo tenta fazer com qn^ "
^ terreno que cobrimos até aqui. NaJlÍ£í2IÍâ-áii^êr^
oontando-lhe histórias de todas as coisas trickster usando suieirajaaçriâtn^^
Xa '"""do, mas ele é desconfiado PrtmoKliais, a distânciaentrtãSi^éljem Duas outra
'■
3 maTh 'a " ^orvo dorme na cabana do Petrel- -^TulHõ-TÍIobre o Corvo -
m pSX ; ° dormindo profundamenj-
^"^'^^^eireiüormindoprorunua-
' P ga um pouco dp Knoi-^ j , ^ ' ^' '^ionado e mais freqüente: a liberdade do trickster com J
I ■; P.

'e Ouand
ave cachorro e esfrega-a na cauda ^8"ifica que ele pode operar onde os altos deuses m s dd. °
m;', 1,1
podem e, coL resultado, a fertilidade e as
cabana para ° ^"fnte ^^"«ram neste mundo. Ambos^JT^fOS^^^
e começa a beb^c^*^' ° Corvo tira a cobertura da o Douglas estabelece entre

oosmos como a conhecemos emerge; "°® a su


■tiistorias rnrv»,-.
je; emergem depois que o trickster atac ^ necessidade
mas s
Todo esse material contém uma g apresenta o
dc um trabalho suX^' interpretada como o reg'^ ^ solução tradicional
te ®"tà7?ÍSíí[õTêsÕIver essa tensão. ^
liberdadfrde
<l"c eirpodemovimento d f 'nvenção da agricultura)--^
à sujeirâüg^a. ^^stituir um contato ntua que parecem
novos truques, novas t» (adquirir nova eU jg aco^^^^^^n^^porum lado, a violência e a i^ia, por outro
locomoção), então suas nT pat® lati a ordem purificada, enqu a ordem e
mudanças fundamentais. N '""P"® ^'^""muit®' siig ' apenas a vivacidade de um c i fundamental
vezes libera a energia criar' ^ de, imaginar tricksters
mas vezes essas imaginacòp^^-^ ^ ordem existente, m»® js > a velha ordem.-Ê&t4 morrendo contos de
8'"^Çoessaoocomeço de alterações muit'^'^ ltie7 ' história d/Carl Jun^ junto Çom um
porém, apreã-eWoutro problema,
274
275
1,1-^

E'« MATÉRIA FORA DO LUGAR


A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
Que não tem um modo adequado de reagir quando confrontada
problema sobre o qual quero me concentrar ao final. A romancista a própria sujeira.
Flannery O Connor costumava dizer que escrevia sobre ig£^® O primeiro deles foi o proteRtn contra o National Endowment
do interior, e não sobre sua Igreja Católica, pois achava que "S '■à^Ans-^Eundo-Nacieiial para as Artes] (NEA) por dar apoio
problemas da fé moderna'e"ram mais plenamente revelados pelas ^0 fotógrafo Aadres Serpáno, ^ue_^xoduziuamiaãmagei3L4ue
religiões caseiras". O trabalho de Jung com sua fantasia de in chamou de Piss Chrisi[Cnsio em urina]. Trata-se de uma_ grande
fância e um ritual caseiro. Sua psique de doze anos proporcionou ^uipressao em Cibachrome de um cruçifi,xp,,(çruz,de_mâ-dÊÍra,
espontaneamente o material inicial, material que teria, em uma Jesus em plástico brani:c;>).mexgulb.adi^^^ Na
cu tura desenvolvida de maneira diferente, encontrado seu reflex" ^dua há algumas bolhas, de forma que o observador tem plena
em rituais já ativos da comunidade. Mas pouca coisa desse enten C'^^ia do filtro. Em outras imagens da mesma série o hltro..e agúa
dimento coletivo permanece no mundo moderno, e uma crianÇa ^^gida"de vermelho ou de branco por sangue e leite humanos,
coino Jung^que^e-ria^içmebido imediatamente que sua fantas-^ amigos dizerem que, ao realizar essas obras, ^nojes^a
P r enciafestados-BobeTse tivesse vivido no século XII,tem q"® ""ameaBe^pesi©-a-chocax,^rnar^e famoso como um
duradouro daquele momento precoce de graça ^l^vez estivesse. Certamente conseguiu isso. Piss Chnst
"''tou-se uma das principais imagens usadas pelos conservadores
estão porL7 ""ha ritual - rituais simpl^' direita cristã para acabar com o apoio federal às artes nos
coletivo
CO etivo com'
a sujeira7°'" -,mas
de comum certamente
acordo. não temos trabalha
Os palhaçmdorituaU^^ . ^dos Unidos, no início dos anos 1990. Maj o mtuim blasfeino
g!;ggyMa^de ponta-c^bZ^^^TI^; a 7 —? " Serrano não condiz com,n;mlia teação.aoRa guando
Ca ' Ptimelra v7z rm;ima.galeria,.d& Nova York, Para expli-
carnaval, mas forf '""P" ambivalente em relaçao a asso'' ® às^'^eação, devo falar um pouco sobre algumas coisas que
(depois de terem vi^ I"^°testantes que de fato se livraram ® imagens.
permanece? Quaic - P°''® desestabilizador).^^ aq,7=>"do estava na casa dos vinte anos^traMieidurgn^os
ordem lida com as modernas por meio das qua'® ala H ^^auxiliaf -^m^hospimLí!^
trickster? P"''^ exclusões? Onde reside o espínt" homens e mulheres
Mínhaj^ia de
obsemiumg muita JTi ~~^-^^SE£,essas^g^guntas
lessas^guntas cotneç^
corneÇ^ K^
K
düf tão íl5ifK-ados que precisavam de supervisão me íca
são contendas
fo contend^s^sobref""^"^^
sobreraTtetr contendaslobre
— —;a ,,ada o período de abstinência. Achava o trabalho instrutivo
de ser obscena ou blasfp "^Stessora, a arte que é ac
«hvolffante, especialmente quando era daquele tipo m^nor que
hora apôs hora de contato direto com corpos enfermos
fotografias obsçpn,.s e ''^"obscenos, livrosobscen ^ Esse trabalho tem
CQntestacão7iÜXr^~~-Sil®g'
CQntestação pública pçhp
eles o privilégio do éspaco"! ^
alguérfí recl3l«^ '•laq,J «"as ao mesmo'temiõmmt^da..nQSsa,s "^'^adosa boas
quanto eu escrevia este V ^>0(3 casos vieram à tona ^aem necessariamente i^r terra nesses recibos, p_^
acm necessariamente
kelT^Os
se não deveriam ser considerados rir'''' cS""^' l^^!«aa£ d, vid. „ld,a.afc<»pS.Tl .1.
rituais caseiros de urna ^ '"»?iS5;rSíriií5ífflí.=»« ■ "■»«=" ™'
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A ASTÜCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

dos insones trêmulos. Eu trabalhava principalmente no turno cegamos e para o qual damos as costas,o sangue e os excrementos
da noite, e ocasionalmente me encontrava durante a madrugada dos quais normalmente desviamos o olhar, a imagem de Serrano
limpando um homem que havia se empnrrgjhgdo- enquanto esta P3recia-niê perguntar o que ps soldados romanos perguntaram a
va perdido em algum delirio. Naqueles dias, eu passava a mm^ ^edro: "Você conhece este ho^joi?"
parte dojempo restant£ absorto em livros e idéias, e o traba^ A anti^'saBe3õrIã*dTria que esse reba^amento d^_deus_é
no hospjta^e^jli^rava tudo isso com uma gravidade redenm^- paHe^cessáríâlfe sua renova£ãpj)eripdÍÇaí ^ ^ue Serrano
Diante da obra dê^SeíTano, essas memórias acabaram por '"'^ervém,^comó 0'fei Sfisa-nõ-^^^^^ salvar o divino da própria
juntar a coisas que as pessoas criadas em um ambiente cristão P^teza excessivamente elevada. Mas atualmente não temos nenhu-
sempre caaegaram -específiçai^te,a idéia dg_g.ue ajrncarnaç.ãg forma coletiva, nenhuma narrativa consentida, para nos guiar
^^igiojachave para os evajigelhoQ^ de que o crucifixo deveria tal operação, e portanto - uma vez que a necessidade desse
nos lembr^que seu corpo solmri^r^^^rT^ndo ele chorava, 'P° de renovação não se acaba -somos periodicamente forçados
avia agrimas, os espmEÕs": as lançaTfaziam verter sangue- '"fentar algo. Sob essa luz, todo o clamor público em torno da
historia joda desmo™^ se nada disso importa, se um Cj^ -"etafia de Serrano começa a parecer um ritual caseiro para
purificad^_^^-^^^ - terra sem carnaval. PrimekQ,J<uilQ^í^^a--t.p25^'^
e corZfi pareceu um experimento com cor c ando simbolicamente o deus,depois o sena or Jess£^_^^
amigos rraçaniqumjjinha^dema^^^^^
Zwos da r"t —'-92?-^rovenientes das misturas -«us® os rã~dóS para encenar
encenar esse^ram
essí^raiu^,,- -- -
'Crr lãdor para j„naloia
'"»» «® Heta,
de Helms encontra„
o deu,
deus moribuudo
moribunüo ^
do -o crucifixo lov„ '"t^tdharias, o expõe.À.iniEaíí^^---tite®t-> epo
vítreoLdhoír'"""''''' Cristo nloTpenas attavés do huPrO^ 1.
limpo, novamente r^/^Hpfnso.
vãmente poderóso.
pouciu^v^-
dos nossos ouZót^irO C' ^ -ZP--ntp,.p,a.estrutur.^am.u^^
""na, uma4Sha de s^uè""" Isso se deve em parte ao
da fé cristão e vê sua arte como um trabalho ^^"1
«uciW,dZáL^co d^"^"°'i ™"8^®"nssim.amoi£âlÍlâáâ-ê-"^
baratodefe^qugj;™
«to" •

nos passar
e não resolvidos
do,^eTOnhecimento r JUgando com o velho
fPor que não consegu^r^J-gJ!!!^"
oT^°^-Vrealmente-está dia^^ ''t mmha
lha relação
relação com
com Deus. ^'m ^aa arte
Para mim,
Deus. Pata mim, «te éygieidade
uma obrigação
e fala
P^ia, mas nao o'^°^e ^^rale. .cc toda foi
o real sígnificadd dd que 5r alTTCõítwTmêrre-Tec direTa' atravessa
nm Qisto abstrato e ô-cofon "^"e-diHríH-a-? Combm»- ^ do"
""'ttt"-
ciLme.xonsidero cristão e pt
minha,féjpor mciQ,
corpo q
"t"" trabalho.^ 52

278

279
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

Mas com isso em mente será útil expandir um pouco o nosso temos um católico negligente tropeçando em uma prática medieval
leque de referências, pois suspeito que a controvérsia em torno de para reavivar sua fé, e o ataque bem-sucedido contra ele por reli-
Píss
Piss Christ não foi a "^gfissãolife
.pronssao ü§ fé"
íe" que Serrano
berrano esperava.
espciii>«' -Seu Siosos protestantes e seus legisladores, cujo poder se renova até o
experimento pode ter funcionado na privacidade do seu estúdio, ponto de eles conseguirem expulsar o artista católico da cidade.
mas,quando chegou_àsjaias, algo Hiferente-aGonteceu.-Os políticas Em termos de trickster, o que temos é uma igreja e seus aliados
que atacaram o National Endowment for the Arts,usando Serrano políticos coasoMaado sua identidade ao demonizar com sucesso
como um de seus fulcros, não estavarju^ealnjente interessados no ® itr^naÇão mercu^l (que é como interpreto a destruição do
seu relacionamento com Deus. €(síía^M ao men^s,tem tio fim do século).
um apurado instinto sobre comn^r7\ng^^q-r-^mQ base dej?2-^^
e arrecad^dmheiro. Como qualquer demagogo, ele sabe como Antes de seguir adiante no desenvolvimento dessa linha de racio-
transformar"um^problema complicado em um medo ^^mio, qugfQ voltar-me para uma segunda batalha pu íca em
como provocar a animo^^de iaéiáT"e corno fazer com que da arte obscena, porque ela difere, de várias e instrumas
eleitore.TOg-ãIfiHfremTSe era"isso o qu^realmente estava acon
tecendo, erilãõ o-trabalho com a sujeira desse artista fracasso^ "■^""ras, do caso de Serrano. Em 1989, uma exposi^o5£^«
ele ema reviver um deus moribundo, mâs-fevive em vez disso utu fotografias de RnbertM^pplethTrpe - '"^'"'"dõIrniiTns «p
j um tipo particular de político, para ser exato. s de sadoinasoquliiíi^TÍSSS^al (por exempb, o prop ^
"'^ta forografadícom- õ^todeda^^
vezes^^n ^ especulação histórica- ^ ^;2;-ntada na Saleri^d^-ãi^|||^
-odo cororLoZrj"^
. P^otest^mo pode se renovar Dor meio^^ das fotografias em vídeo,
depois^^°
dp L
tegtftraram se e ^
a um júri para indici
acusação
menrelte ° -o estava stmP
a Renascençaloi f""=i°2â^staY.£utrgumentando <1^
estilo do carnavãT-^"-^^- ^ "e^tnavalização dãlüerat^Jí^ ^
praça e invadiu_,a arte (n 'nversões fibidinosas-4? ãó^era^per-mítkla-a-^ffã-d'^ íil" separadamente, em
cariiavarnão'ãnr"~ nQ„lomanCÊ)-
«. e„co».ro« «w; .g Se . ' 1 ^o^Pecial, com-avísos
obscenas eramP°"'^
exi .-^„iVo7tin^^
apena^jiíiba.
protestantismoT^""'"^™!"' contemporâneo à pessoa adülra com:dmd]£Hg--|-^^
tica^gúW^usteza^deS^^^-^íííi^^ à parte, em ElliJj^-fe^afias. Todç q evento
^tibiri ^'ítiole santuário interno onde a o
B3khtin escreve: "Du 'I.El7"'«ls»q".«.ãocomplicaai2^^^^^^^^ , jjar os miltérips„
'
culto leledo,^0êül^ ^ galeria aos
ttibq ^ assim, os promotores locais e curadores
^ a ISSO se seguiu um julgamento
280
281
A ASTÚCIA CRtA O MUNDO
MATÉRIA FORA DO LUGAR

e críticos de todo o país defenderam a obra de Mappiethorpe Seja como for, a questão da "ajr^" era fundamental para o jul-
perante^^i^júri composto de produtores rurais, secretárias e B^niento, pois a lei suprema do país atualmente sustenta que uma
baQ^xiosjo^s. As acusaçõTTgrfava^m emTdmo^dã'^!!^^ ra não é obscena se, tomada como um todo, tem algum valor
se s iniagens eram ou não arte, e os peritos disseram que eram* ^fcrário, artístico, político ou científico sério. "Arte" e "obsceni-
Se estao__einu^ de arte, pretende-se que sejam arte, e é
^ categorias distintas, diz ajei^— e com base nisso o júri
umcipal de Los Angeles. Jacquelynn Baas, do Museu de Arte ^ submeteu à opinião dos críticor'íé*^tou pela absolvição. Um
^Jurados, gerente de um armazém, explicou a decisão: Todos
fotír fi °""ter artístico de uina [os peritos], unanimemente, estavam certos de que aquilo
Írem% o braso dentro do reto de outro^ Tivemos de acatar o que nos foi dito. É como Pic^so.
^^asso^^jQ q^g mundo me diz, era um artista. Não é do
bruíídr ^ fotografia e a nature^
-o- •i"is3r enr^0 tenho de aceitar."^®
entendo disso. Mas se as pessoas dizem que é arte,
t''" iornal de Cincinna»
cL.to,rs«?®' *■— "" tíigj"*' om
a mim, dina que Mappiethorpe e^ceiAaSPAe-Ug
nm artista
artista meno^^^oijaj
meno^^^lyaJg^2Q^ta^^■la-iJJ^-sup€g^i
^ada^'
lev. ntomêntoTiT^^
foi-su&efesti
deâaSêdôs!"''" '■■■'" '""Wi" Ido líol, «iH5» defe"' de Mappléthóí7l.cqiacidm.£.ün^
M-PpÍotT"
nação foi empregada ^
"• deiae (...Iquadro,
em »n.o. d. <
como a dug. de ^^^l^la pandemia de-^aidsTo'próprio .Mappjetto
'inhás, como^cl^"^?®"™ enquadramento, o uso !las f.;..- - - r-:. ^ contextoconfen^-^^^-^^^
. mnfprin avento
P°diam também? daquelas fotografia' Süje: Ü^Jodo um peso diferenteçomojrabalhojjtuâLcom
Mappiethorpe. nas mais famosas fotos de Pi> .....— uiii ucôU ——" _ , , —
_c^„
Pela--®!, pois a presença^ do vírus da.-aids..de£afiqu^LinHLet£u
,^c mdnpiras

Eiii 5o JPuis imaginamos o comportamento s,exualexuntegramps


"ma galeria de arte e porque foi exibid" 'l- nossas vidas. É comp^aj;^ÚC3£'^do^>
gando linguagem artkri Peritos podem descrevê-la ei"?! precisqméntemo fato de
'ola quanto.pareceXnfi "ondusão que pode não
uhando uma espécie deT^"^ ®®'^' ' ^rmos de fato teste'" , ''PW^^SâSjlugais^ntrãvenosjs.,. Ou
com freq2"'° ^ ^ «--"i-ntos que rit"";
° ^^-£22^krednto sasraH """ Antológico: demarca^ ^®^SSSa^'í^paras:ifa e um
l"/' se queira queT^ff 1!?-""° que nele entra torita'^
® ormamos curadores para^^' ^os espaços para a a ^ N e não ÍTemos trabalhar -fn
queira quer não, o que entra neEré^t— ;V> na sujeira, ou melhor, sem alterar
Cig] Com seriedade, somos forçados a reimagi
de fazer coisas como distribuir agulha,deseartave«-
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A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

para usuários de drogas e permitir que um erotismo anterior ^tundberg apresentou uma conjectura plausível sobre onde a real
mente enrustido passasse, a ter umá presença pública diferente inovação de Mapplethorpe reside:
e mais plena.
Pode ter havido um tempo em que a democracia norte-a^i^ o tema polêmicj),í:.carnal das fotografias apresentadas no jul
ricana podia se permitir tratar o sexo homossexuaj^comojiííiâ-' gamento dç-Cmcinn^i coexiste com conteúdos tão
anomalia excluída, mas, uma vez q^Vvírus ãa aids surgiu entre quanto os rostos de celebrjdadesj:jKBPJ.-deJeid-
nós; essèniodo de rotular o espaço social/sexual não servia mais- todas em um só
Se temos de viver com esse vírus, todos precisam ser capazes de
imaginar a sexualidade gay. Os jurados no tribunal, pelo menos> tantes do que o ideal platônicodajbel^a.Jssa
aparentemente não haviam imaginado o que Mapplethorpe tm » para a sua arte
a lhes mostrar. Como.,.qm deles disse, "certamente eu nãojat"®
quegssHçoisa^^n^ mim ^ão tenho o 'qdfearpíãtôni^, mas alguma
teçam esse tipo de coisa. Então,aquilo em si foi um aprendizado - nessa linha parece correta. ConttOfl ^ míisculino e
utra jurada,uma secretária, disse aos repórteres: "Aprendi ma' ^bidas entrenorm-át
'^temo,ç6 o belo..erõãft®,
o feio, o limMapplethorpe
po e o sujo, o m ^
"sr dif°' P'^Qdu2^a-sèrie de-.im^ens_basea_,£^
ntofelfí'■'"''"tírta.l ..jo de,,, üni(,|^^ílál£ÇS£as. Se é bem-sucedido ao cr^ linhagem
hich ' um trabalhador da sujeira jjosa a fot-
q°.T^ f" '» "»■ íom..^dr.«balh.r a "la d?'' ''"l.qti.e
«'tcrem'^?-— ° ''
deCineinjiaú Paaaaascotnpaiececaiilà Seu?-— medida do seu su conclusão
"i- »xr: • - -cta- ajudaram a conduzir o ra^^
apeuâi pessoas da •j — aquelas pessoas. inscc ' ^^^^nte, na verdade, como q MapptetoP?'
ColumbusTiírT"^-—^ artísticaP EraE fressoas vind como parte do co''^®Í°.^^^^^lde, levando-as
triET^â^^gravaçõesemj^..^^
'««a ha,la mudado em O c ap?e7enta'hdÍ^^o''' ° seu
acomunidadeÍÍnantÍn2p"? queimaginar
comunidade domin
dele vi^"^
vida" mas
— depois
1 . dei! 'T""'
antes daquela eXp
"esse tipo_r
podia imaginar «pcçp tino àc
""«ô^ ^ ''' ^ c'Ri«tris°s.2te'""
estrições,
Nestel3oT~ de suprema impunha ccr^
Mapplethorpe, v deixada ^e ficar claro por que,
na
do julgamento, e lEre ° novamente em Serrano, P Mapplcth'^'^?^
sete ' fotografias tiradas do sp constrangimento de jy
contexto mais amplo, o crífC® ^ ^ s,m ° trabalho com a a sorte de
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285
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO MATÉRIA FORA DO LUGAR

ser levado ao tribunal, onde o jogo rinha de serj^ado_de.açor: Quando existe valor artístico, científico ou político. Finalmente,
do com regras preestabelecidas. Em seguniolugar, quando se ^utão, precisamos desse valor; mais especificamente, precisamos
toma o conteúaraÜlíil^ns, a obra de Mappiethorpejeiâfia do artista (cientista, político) capaz de criá-lo. Precisamos tolerar,
seu contextodejj^modo que a de Serrano não faz. Cornou não acolher, a imaginação mercurial.
disse, SerrMp_ya^l^ dentro do cristianismo,"nâo"contr^5 fe,iro.nia»da54?anth^ãyiJÚblica^obre a sujeirajíos
encantada com o amor romântico heteros- Estados Unidos no início dos anos 1990, foi queíqíncl3Irá^xôfn
sexual, Mappkthorp£_é^verdadeiram

transgressor,
romancicu uv.uw^

^®fâ;ps&^os regimes comuríi^^s de estiío soviético, regimes


um íi^safio a ordet^g^^^p^--^-^..-.^^^^ desafio'fala sobre e se tornaram frágeis precisamente porque nunca desenvol-
com
om eessa^ su.eira".
^^P^^l^niiadeaids^oqugsignifica queéprecisolidat
Por todas essas razões e outras mais, nesse um modo de trabalhar coíS..asjnuit^coisas que havi^
^ ^}}MQJZo\ocâáo de outra forma, o real periiò;^^
•J. i ''-.

e suas fmo 7 se agruparam para pôr o-artista juiocráticas vem não das disputas a respeito.da.obscenidade,
L iSoTd p' devido lunar, não foram longe, « d£_a^ues às regras que perrTme.aL9ue^sas-dkpiUas^^^^^
^^Vem daqueles que, quando encontrani profi^sjm]^^
•T^
■A
X.»™ p™"'' '^^ordam ucies,
deles, atacam
atãciTh"ãsT5i^fissõeí;rdaquek
as pruiiaa»-'»-', — que, x - quan
- o
g. qíI5"I CÍÍstruíçãS píSíEi-ítotal
^^Qbrenr;T;7r"r7='Tr;.~7::";;
d V_<LU1IjLÍL UlVo^ a total supressão da sujeira,
»• ^

mih
™;'"* ° uma luta em torno'da"»4' : a própria Constituição; e daqueles que, nnandoseveem
. . - . . - 1
quando se veem
• ■m
■'■1 ■ :'
é sempre-uina luta suj^ saif®í^'tios pelo "valor artístico", atacam os artistas. A antiga
(Uma luta em . do^ menos, sugere que esses ataques são mais peng
que asj^es latinas d ^'^^^^ciade.é uma luta séria, a sujeira que pretendem purgar. A longevidade de u
«o,co.c,„M," »o fim do milênio no, Z''' em um percurso mais tolerante.^^pef^^^
>riP' o Corvo, Legba ou SusamfcP naxentro-xks^
cipalmente feminitjm "^"^P^cos bastante específicos ^ :aÇâ^
1 bor3° es~se7 atía7essadores de
-■» fi»
- Muc nessas áreas n t^o-
reahnhamentos. Mac
í^ealinhamentos il
— -■' ■
^ ■"-"Sí
alguns
debatendo algun®
- ter parte dõTêmpõrMãTa nao história
í^atalhas n,.
batalhas que me
uic int
int eres^^ ^ c- não é^ tanto o
eressa ^ora ^ onnteúdo
conteúdoi inif cti '^'"^ente se pensarmos assim), não podemos nos i vrar do
umacom^^^^
uma comunidade deveri'—- ^a Questão
questão mais
mais ampla
ampla de
d^
t-pc — ^"^ria sè - -- • • ■Sn^®'
^®® 'iHlP^i75~CFa7 . . - -Ao
menos. muítarcoísãs
menos, muítanSTsIs nr" I"!! grande nação democráticã, P1 S3^^''P''r/!:ATrirdesígnios
vez de repressora, qu f
rir dos
e, aci. ma de
regular-
tenhamos a possíbiüdadeT'^™ seus lugares anteS
casos represenfam P Periódico com a sujeira h às contingências que
pressão, é claro, mas, com^t?""?.''" ^ apresentar.
tam em precisamos ter clarez"'!)^ ^ respeito da obscen' p,
^ que essas leis não se ap

287
írt '

. : .4^1!
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
MATÉRIA FORA DO LUGAR

Notas
>1*'
'tr
yi
M. Herb ert, p. 298.
Jung, Memories, p. 36.
1. Dali in Cabanne, pp. 13-14.
2. Herskovits, Dahomean Narrative, pp. 149-50; ver também Pelton, Jung, Memories, p. 39.
Jung, MemorteSy
j^ug, Memories. p.
p. 40.
40.
pp. 77-80. Há outras histórias nas quais um trickster usa sujeira ]S T....
J^u .. ^
g,o, Memories, pp.
pp. 8, 40.
para fazer a separação entre o céu e a terra. Ananse, por exemplo, - o,tu
• Jung, Alchemical Studies^ p. 237.
leva o supremo deus Nyame a envergonhar-se a ponto de deixar a 20.
terra fazendo parecer que ele defecou dentro de casa (Pelton,P- 47n)- ■ J^ug, Alchemical Studies^ p. 242.
3. Thwaues 44,p. 297; Greenblatt, p. 3. A passagem completa merece • •'-"5)
Jung, mctoemical
Alchemical òtuáies^
Studies, pp.
pp. 242-43.
^2.• Jung,
ínnr. Alchemical
Al i Studies, p. 241.
ser citada Um padre católico escreve do Canadá,em 1658;"A P"'
idez e o decoro nos ensinaram a carregar lenços. Em razão desse • Jung, Alchemical Studies^ p. 241.
habito os selvagens nos acusam de imundície - porque, dizem eles, 2^' Alchemical Studies, p. 232.
depositamos o que é impuro em um belo pedaço de l.nho branco e 26 ^^^^^^ical Studies, p. 241.
27 j Alchemical Studies^ p. 198.
eles Ín m 28 Alchemical Studies, p. 242.
r o rr" l-ndo um selvage^ 29 Alchemical Studies, p. 245.
30 Y Alchemical Studies, p. 245.
teu lei : " 'Se gostas dessa imundície, da""^ 3] Alchemical Studies, p. 244,
4- Douglatp 9 ° ^4, p. 297). ' ° ensaio de Jung sobre o Espírito de Mercurius é uma exploração
5. Douglas, p. S5. qne poderíamos chamar de "a Sombra Cristã". Jung apresentou o
'"^nio pela primeira vez em duas conferências em Ascona, na Suíça,
7/. ^°"S'^^'PP-Mesegs.
Douglas^ p. 35, 1942. Embora conclua com uma referência oblíqua a Hitler e
8. Douglas, p. 35, "«epúsculo dos deuses" que vem com a tentativa de suprimir
porção da psique, é estranho - especialmente on^^lerando a
são o Ko/iJe
Kojiki e o '^^1' fontes da mitologia xif jg e o local - que, ao falar das coisas que a pureza crista
I>onald riypidõt;
Philippi doxlv/^n''
í■ ^ í^^adução para °o mg
" ^2.
^ a •si mesmos
,• nomoi•e há
U ■ """ "se «mitadizem
contradizem u»
om f ^eS' p.Ver Meu, York Times, 3 °fde '"''T'de
)unho de 1995
1995. O acadêmico é
Púrias. Comoresult!H"'^° passagens consider^ti^ ,lve Noll, d, Theí.-S C.II IPrta»" """"" ;
considerável especula interpretação da história en^ í'-l. Nol, ,i„ -Todo o .1..." "«•
P'tilippi,HerberteEllwo°'H tf' áW'
402-6; Herbert nn PhiÜppi'PP' Íuyy ^ssificou OSmentiu
escritosintencionalment
de
J Noll
XT^II oe P. i ^^dA n^ra ele.
n "erbert,
Ti' p. 299 293 9^/ ' rio r dp "ouro 5

10 de junho de 1995.
^3 "^eud se seguiram ,
^•^•^(Phihppi^p

^'^avera, 1980), p. 10.


288

289
MATÉRIA FORA DO LUGAR
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

52. Serrano, citado por Fox, p. 22.


34. Douglas, p. 39. 53, Bakhtin, p. 130.54. Bakhtin, p. 130.
35. Radin, p. 54. 55. The New York Times, 18 de outubro de 1990.
36. Radin, pp. 4-7. 56. The New York Times, 18 de outubro de 1990; Cincinnatt Enquirer,
37. Radin, p. 54. 2 de outubro de 1990.
r £
38. Masayevsa (videoteipe). 57. Qincinnati Enqtúrer, 2 de outubro de 1990.
39. Greenblatt, p. 1. 58. The New York Times, 10 de outubro de 1990.
40. Citado de Jung m Radin, p. 197. 59. The New York Times, 10 de outubro de 1990.
41. Greenblatt, p. 5;Jung in Radin, p. 198. r
42. Para uma discussão-chave sobre o carnaval, Bakhtin, Probler» of Cincinnati Enquirer, 7 de outubro de 1990.
^1- The Columbus Dispatch, 6 de outubro de 1990.
Dostoevsky's Poetics^ pp, 122-32. The New York Times, 18 de outubro de 1990.
i VJ
43. Ver especialmente a introdução a StaUjte^Tè^hite. Em dado mo
j1
mento,escrevem:"Na verdade,não faz muito^entido discutir sob
I :5: a questão de se os carnavais são ou não intrinsecamente radir^
''li
'r
ou conservadores (...) O máximo que pode ser dito em abstrato
Q longos períodos o carnaval pode ser um ritual estável ®
m^r T*"""
mas que,dada politicamente
a presença de transformador
um antagon.smo observáv®^
pohnco aguçado. ®
cot:: e local de
44. 15esegs
sobre o CoelhrjuTnwr-u"iT ^T^rRab^d"'
'•« Con,^e„taryS 1949)"
pp. 524-40 31-41; citado em Dundes,
"Reformldorc
H/síory in:3
^^ Alemanha, ver Robert
world turned upsidedown ,
46. Davis, p, 131 ' ^^3-29, citado por Stallybrass, p-
47. Davis, p. 131^
48. Davis p. 143
«■ o.vi.,p 14,:
■50. Davis, p. 151_
51. Swanton, p. 4. p.., .\o ^
as origens das coisas ^nckster sobre o trabalho s
° fogo, em Lopet pp. de como o Cotote roP

290 291
' IN

'"S

'■•di'!í.'!
-, -P i'!
''^rteiv a armadilha da cultura
■>í'


Hermes escapa da armadilha

derrries da luz, Hermes das trevas

^ ® e a mãe, Maia. têm a arcaiça_discussao._--- j^í^lírmes


^""^R^amento deje^Em resposta à vivendo
^'^Plica-lhe que ngo-aerediTa-que^s àtssmra
«'a^neirakc-urnm uma cajàa. Merecem algo mel
r necessário parajH£-i^2£L£/"
Estou disposto a fazer o que ^ -—--j vivamos
riunca passemo^fome. Voce esta err ^ {^nicos deuses
um lugar como este. Por que ev ^g súplicas?^
que jamais aproveitam os frutos os QuijQsamQ^^'^
luelhor vivermos para
-ricos,'dèstüfnBrantês^^
que ficarmos para sempre.soziuhq poder de Apoio.
Quanto à honra, meu plano é ter ,e falo sério - o
Se meu pai não a entregar a mim,
^r-^aíir a miin, P

E^cipe dos Ladrões.


jg estarsereferindo
fa]^o'^'poder de
não é obscu-

' ^eu Dai não lhe der honJí£SB4-^;;f^^ coisas que


i ^sa oposição entre dádiva e V trickster, e para essa
l,j'"^''nente
sobremeHermes
atraíram para SeY
em particular. l e houve comunidades
.-p-r

■frirt;
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA
|l '

nas quais alguma riqueza circula por meio da troca de presentes, êrupo ou sobre como membros marginalizados de um grupo po
' ' ' unir-'' .
mi mais do que por meio da compra e venda. Grupos tribais são o dem alterar a hierarquia que os restringe. Hermes tem um método
caso típico; em muitas tribos é consi_derado impróprio compr^^ que permite que um estranho ou subalterno possa participar do
veiic^£qmida^Q£^exetIiplo. Em vez de um mercado, um elaborado jngo, mu.dar--as regras e tomar-partejMwação. Sabe como escapar
>'E sistema de trocas de presentes assegura que todas as bocas tenham da armadilha da cultura.
alimento para comer. Essa drculaçào de dádivas é um agente^ O roubo é apenas nrnR partp dn seu méto^doré claro, assim
coesão social; pode-se até argurnèntar qhe um grupo não se torna como a exclusão das trocas de presentes é apenas um dos meios
um grupo àté que seus membros tenham um senso avançado de Pelos quais um grupo pode manter alguém em seu lugar. Há mui-
debito, gratidão e obrigação mútuos - todos sentimentos sociais mais. Iniciei este livro com uma^disgussão sobre armadilhas
4 .11 que mamem os seres humanos juntos e que seguem automaticamen atribuídas à inteligência do trickste^mas logo ficou cl
te na este;r^e^uni sistema de troca de presentes.^ Esses fenôm.enos o trickster opera com ardis mais etéreos do que os usados
ambem nao estão limitados a situações tíibais ou "priminyàs; caçadores. As redes de significação por meio das quais as
'"'furas são tecidas são os campos mais complexos e duradouros
'r';
Dor eír 1 em uma "comunidade científica , 7 frabalho do■ trickster. Ver para.-=x.i:r:Tiq;^í:írraDenas
Hermes discutin£so^adiv
e idéias com' ° momento em que tratam seus da « roubo X
UU iricKSier. vci paia
■ — um nq_do
a comumdTH P-a o grupo (enquanto, ao contraio,
.' ' V.

p-stdaspoV:.:rr:r^^^^^^^ quase ilimitado de «««!


(otiat. sua forma com b... .» d.s.i.çb» como *
Mas eÍe v dos membros do gruP^ L*°" ou, para
^
recorda, ou.r.s que ü vimosp-q".
acidente. •
as relações com se estiver dentro do grupo, s;í —^ recatadoeo vergonhoso , ^essênciae_^^
"superiores"' Tod''^" ° mantiverem abaixo do Hí?.nciais espaços de ^tuaçãojcaã^^ é claro, e pretendo
A de ^ de presentes na^
associação de micro^^ ^°ce perdeu a safra e pertèncrâTríEo ' ^ ■^^cor ^^^^^s artlrrianhãs quanto ha arma i ' j.j.ida,acres-
programa para obt da füilãrvêzTénHa uin " roubo de Hermes apenas como pon astuciosos
'"'os qu°'^ 'í"' avançamos,
determinadoos e tece umeu
^^jdadosamente,
dados, mas você nnr cientistas homens tro
colégio sempre cònsem^"^'°'u ^ se os alunos do ^ ^^gar. Desse modo, descreven ^j^ão ou modelo
abstrair do método de Hermes u desfazendo
pode Pcecisar recmSaSnT Êm -oportio esses, examinar outros casos de margmalizad
frente; se n, de subterf(igio parà^segnii" Oi, os aprisionam. , ^pnrâo no capítulo
trás dos roubos de Hermerp' r" "'í!SSr3rA-ssrifi^"f°
líí l"'""
homérico «««.=.* P»
como a histórU l e»"" í razões
^ outras leio o Hi'" ^in^y- èscfãvistâ na qualjia__^ t:exto a
nistona sobre como n- ; em uíit
um intruso penetra ^'^ênco, vou, do mesmo modo, jtis
296
297
/ l HfV Ifi
A ASTÚCtA CRIA O MUNDO HERMES ESCAPA^rOA ARMADILHA
/
■FrJrri
linguagem do clássico
ciass:co Narrative of Uou^td
of the Life ofFrederick Dou_gl£^ durante o último desses^pjénoábg, ar^mentando que ele foi
,(fi an rt-Trõt-A».!^
ÍHÍstòrig^a
American Slave^niscona^a ..:j_ j . . j . • _ i _ r\^..^locc
Dnnglass, UlH
uffl escrito em Atenas por volta-' deylÕTic^próximo do fim de uma
vida de hredericlcUougi.ai^2^"
ravo norfp-omí3ri/~orsrtl n J_ •. t-v i
escravo pQrff-am"fiJ^icano] . Pretendo citar Douglass sem muitos mnll ^cnga tehsãõ~effffe~ã"real^^ agra^ií^^^^emocracía mercantil.^
P comentários, pois as conexões não são obscuras, embota possa então, propõe esçê paralelo: assim coxnoJJeJ^nies-CQUQUi^^^
':w'il '-ir • , ser útil de início saber fatos simples da sua vida. Dougla_ssnascÊU um lugar ao lado de ApkQ nQjkconex do_Hmo_,áo^^
de Talbot, em Marvland. na ^ta^íiêOl^ uo decorrer do sécuJo..Vl,^as "classes industrial
da^ía Chesap^akc. Seu senhor (e provavelmente seu pai) ota ant alc4n£aram a\][guarda3£^co^^arisjocr^cia.V^Ess^
pequeno proprietário de terra, A^^íTÃiííKòny, que trabalhava CQnquistaS^fácIImente; exigíu^.rê5pJu£ãftTid£d^QÚ^-«ü^u
como capataz na fazenda de um cert^^nel E^rdJJí^' de diferenças. Na era aristocrática, a riqueza
Douglass foi por vezes escravo de plantação no condado de Talbot. cultivo do solo-na democracia atenier^^^^^^
P tem roais-fiçcmentemente escravo doméstico na residência ^'queza ainda existiam, mas eram progressivament^^^^^^^^
e Sophia Au!çl.-Btg^ uma econor^ manufaturará e pelo.interçâmbiq.çpmexçiâl
Joravt_ap_êmj^_e_^jg^ Hugh em New BedfordjJ ^^-Êâtr^ngeiros. A aristoírs.çj4agfÁíÍâ^§5iHí£^-^x^^^^^
^ ^uços hierárquicor*de paíentescoí a dernocr^iiat^em^^
uma conve~^^°^° experiênci® J^holizada m'.^crdseenfou uma
smu" pèló-Hfõ^TqúTJÍI^tos nova étic^iguajdade
cargo^pol^^m ^
Tendo isso ^m Nantucket,
i em mente, retornemos'a Hermes eem 1841.
o H.no. J'" PjeencEdSsTôT-lTróripmrinií^^
Hermes, qu,£í^ ■^Por^-a íemocracia cofmoioTífa emergente «ouxe com ek
oSw em vlL^' '"terpretação guiacomo
a criatividade q K
da poruma história.3-^^ i; "ova ética do individ|aHsmo^aili^
•^"tória S\Vom a moral tradÍâUliÊ.2S.ÊÍÊ^^
tncksters desorpq ' última, a questão e- conjunto de costdmes e leis neruau.o
>^~:o-cóKruiítode-"c;iá^^ ;
.
;^»o r .. ..1 ^..olidadeconsiderava
. A. .n4 ™r.li " qualquer
e. se existir, que mi ° Próprio Hino q, O "« -fom. .rcica de r'" rií^SSs-io
Brownjropôs uma históricas ele registra? í4 '«Pbo ii;;',.] imesmejo d»
"lapear as maneiras m ° ^^^''tão]. Brc)^Yn ^tic ^ ^^ganizado por meio de relaço P
uma era ® mitologia de Hermes' áe-fflí®^^il da troca de bensV lugar a um
ancis^^OO aJoS ^ õ Rêládico para o elús®*''. gga
iedadeê
ser periodica|nente individualista
sam do tribalismo" atr^, ' os quais a sociedad ql !"'""otemente art.culadaàpor meio da etica
agrária," piraTerminar deTcít^So
h pM," tlf wP "!
^ Q Pquivale a dizer que roubai) do merca o ,^
Herriies, comT demòcíaaii~°'-^^
a ateniense interesse
comdóoséculo de
V. BroW" " '"'" ■Tad&ral os vires dominantes
que, em uma sociedadô na q
298
K^ll V
299
A ASTÚCIA CRtA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

em
são OS laços de parentesco e aííguezaa^ária, aqueles cuja identi Ele
t-le não
nap ficou deitado em
hcou deitado em seu
seu perço^sa^uy.»^^»——
b^çojagradpjJxãOrJiou®-!-^^ --
" ', "I
dade é ligada ao comércio são tipicamente destinados a um lugar que deslizou para fora dos braços imortais da rnflP.
mãe,deu um S«
eu um
subordinado na ordem das coisas. São, por assim dizer, de "baixa e partiu para encontrar os rebanhos de Apoio. Ao atravessa
casta (uonio têm sido historicamente-na-lndia,-onde mercadores e limiar da ampla caverna, encontmu.çâSualmente^^^ ^ ®
artesãosjjntegr^ aj^as mais baixas das quatro varnas). Se, no e obteve para si uma inl^rmínável fonte de riqueza^^ ^
caso grego, essas pessoas esperam se colocar em pé de igualdade ,47
com os guerreiros e as famílias agricultoras dos tempos antigos, í^vessar o limiar": e.Í3?Í I :

terão de subverter essa ordem e reconfigurá-la em seus própr^^^ '''^'^^árS^^^teira. Está deixando a mae, o erço, ^
termos. Isso, defende Brown, foi exatamente o que a^ojnteçeu: o ° »"bmrngõ,TOrro7ã-Bcuridão; está adentrando a luz so a
regime^a^^racia proprlétaria de terras foi derrota^Q,-^^ fbco, o descoberto, o mundo exterior e os mundos sup ^
economia agrária cedendo lugar a uma nova economia baseada deuses celestes (Zeus,Apoio, Héliq)>Pos>cmnado
no cometi10 enajndú^ oligarquia pol^^ no se« mundo, o espaço ctepuscular, r'
;' !■

poatica da antiga democracia".^ O Hino ren- o. ambíguo, andrógino e intermédio das °P®' j go estão ' fi ;
eír
essa mudançar^-O j'iaj-antiga
, , democracia".» O A^^lntradu^
discórdia
Hino refl^
entre Hermes e Apoio traduí ^"«la fina camada de solo arável onde todas essas co
I i

'" a difetenciadas. De sua posição, Hermes P deJ-


^--~~llgHg!.djde^om ^ direção ou, mais precisamente, direção.
do qual outros são conduzidos em
esse duplo movimento que faz e freqüentemente
^^tador e desencantador. Na fase enca
gtegareal rnnoi- -• ' o situemos na h fem Procurando os guardas de yj^ios como ele
pode ope».
de A ^^^^"dolente aüieanieiiio-sobr^ vimos como ele
P--adeixSt o P^^í^, ^dor ^rgos mm máskP'Hermes cNoca
e que Hermes espera mudá"la'^° "alteridade"-está em q"®
um método comojifirmeimitedPJ?^®
mudar^sua estrutura t ®^ó õseinício
Xl!® tornamdiopprpsas.
seu poder enca «^^Hor/desencantador,
^ —«libertará
gama de truques astucioso'^"'^^'^™-'"-^^^-— ^ ò início do seu poder ene j^gj-j^gs libertará
básica é bastan^s^^^V^^^T?'^^"^^"
bastante simoierT'''' '""uU'
'"nerlJl?'' fitq^ Pois, uma vez que o limite ® ^tado-mentai-que-se
e ura^antador ou umT^ \'-^^EPJta o que ^q^ont ® seja lá qual for ^rnu^d" _ ^ ^^^mun-
inííííl^nèssèTi;^^,^^
mente, no início da
O® retratá-lo
modo maisnaqu«
simpl^^^,
® gg;
do do limite. Transporta s
■ ' , para dentro o
^
pgjses
> em que ^gfgg caverna ^ itologias ou pa

301
\l\4l
h; (' f, ! I

A ASTUCIA CRIA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

estrangeiros ou de volta para casa. Quando Odisseu..chac;inE,®® na lliada. Algumas vezes me.perguntOLuSe,l;Oílâ.S-as^gmndes mentes
t.| pretendentes, é Hermes quem conduz suas almas para o Ha.4s^ criativas não participam deste moYÍmcn.to.dupio.,.sussurrãn3o uma
em outra história, é Hermes quem guia Perséfone para fora nova e cativante teogonia mesmo quando desmistificam os deuses
Hades e para a luz do dia.^^ Em certa narrativa, é HermesjE^^ sobre os quais seus ancestrais cantavam. Pablo Picasso tinha esse
adormece^as-^gèm-Lpelas em torno do^cãnTp^memo^d^ ^nplo movimento, perturbando^ perspectiva clássica_enquanto
em outrffTFTerm^^e^ desper7rOdi^i^u~^o„,eie,camÍ^ Apresentava um estranho no.vomiodcude_ver, tão hipnótico que
pam^_cáBa-£^Í^^ra~^è^^jfí-£ã7^ dela nao Aparece décadas depois de sua morte em outdoors e estampas de
será capaz de afetá-lo.^*^ pij3nias infantis. Sigmund_^Erei^d tinha esse
® plf» -irs o1-r<»VPÇSaT O ^^A^íido afnt_f^lhnQ ã fnrt;a para a luz do dia, ou rexpjLcanj^^^
;• ílli-ifí?#;
eu Via i-acuuujiü OU nermes (

da Escuridão é o^cantai^"r"ouhipnagogo 5^' enquanto ao mesmo tempo reconta a velfi-a^^^Je


wivaiiuauui ou nipnagogo que '"Po de uma maneira tão instigante que, décadas ^pos ^ ^
é . g', )• '1''A •
que nos
submun^ do^rm,do sohhô,das histórias e dos mitos.
cnnmiin/^^/^/-x J_ .
^°"e, os críticos literários da IvjJrea&MJià&^HMegnOTria
men^^de^obscu^men^^ prêcõndição da crença; ^ °®"Cabeça. E há Viadimir Nabokov; se você acha que a destreza

influencia dele® entregãraTum dós deuses
ou dela. Dissolve o tempoounodeusas
rio doe oesquecirnef»
coloca so f jinguagem.mjjicai_séria,_e£áeng^^
^uma vez que o tempo desaparece, os eternos se manifest^^^ Petias uin-jGgo-,-está-eHga-nado.
ermes a Escuridão é o tecelão dos sonhos, crencantador fl entender c-bmo esse duplo movimento serve aos
desfia um conto cat.vante, o orador que fala^úa língua no éróprio Hmo, comecemos observando-o encant^^
com fluida convicção.
a í"J eni que nisceq, Ele tem algum modo,
conduz ^csencantador ou o anjadespertadoLS^^ ejp necessariamente —A j^hram nara
eternos nn ■ a c assa as reses sagradas. Diss*^
..r r ° '■ =M«.parec.n.. o ^ pj-f,. ^^S^^Antes ao redor do seu -- , . , —- .;^líirnafâ

Si ^uas essências. Se Hermes espera


•■í que p,,"?™ "" » euuiWo-Jas velhas hH» „ gle «Ss- ^9!}íraposição ao velho, fó poj —-jt-j^eio.Xassim
toJ^â^le-r^aiizando umltaque
O pS í S r° ■" W" ""k" " W'" " » dia ' ° Sado, desioca-o até Piéria, abate dua ■ ^„^eie
ambosaomesmníi^""''"^ x' °" ?^sses dois ■soludameMJ
«i^uiesmotemnn XT;?..' isoiadame
. • fodbo, por si só, é um ^ morte ao que
t»~JeL"r-íT
ineia-luz, p amnlEu °
'eluhradiças.
° <1™ <!• poeerde Si» »'?'
É a figura
^omo^oki e o Macaco, leva o ten f
hra, cujo bastão ao il! ®"""'^uueamente assombra a pieb' P ^^^rnporal e irnortàl. (No contexto ^ realeza,
^ ^^terpreta o Hino, as ' clássico,
^ e outras coisas do gênero, g^am-nospara
^dorniecidos'V^ como di^ Hermes "roubam" esses eternos earrast
302
303
HERMES ESCAPA DA ARMADILHA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Essa imoralidade espontânea nos traz de volta a questão da ver


a temporalidade, onde se tornam história.) O roubo de gonha. Como vimos,as comumdades com freqüência e^ab^em
prova que a fronteira entre o seu mundo.e o de Apoio é limiares de vergonha para demarcarjuasjtam^ P"®
implica qúe as regras pelas quais Apoio opera são contingentes "s que estão contidos nelas, uma rede dessas fronteiras é for
e arbitrárias. Realizado de maneira habilidosa, o roubq_4.^ cedera ou restritiva, dependendo da situação. Para Hermes,a re e
trickster põe em questão os direitos de propriedade Iqcais. Qnem confina -ou melhor,confinaria, não fosse a ausência de vergon a
deu aquele gado a Apoio em primeiro lugar? Quem decidiu qne com a qual cortatjs-nós de sua autoridade. E onde estão os
ele podia pôr cães de guarda em volta daquele campo? da vergonha no.Hino) Q.ual,i..o.conteúdo da vergqn a nogue
. ^
IDa narrativadeíFrederick - ha
Douglass:] O coronel Lloyd mantmn
fcspeitqa HermesPJata começar com a leitura histórica, po
um pdmar ai^o e cuidadosamente cultivado (...) Era abundant^ encontrar uma resposta em Hesíodo,a qi^em Brown^^^
em frutos de^íquase todos os tipos, da robusta maçã do
nostálgico porta-voz da época_mai^tiga
'''Ua.grr^e^duTdT^ej.píira. do cpetironi^
Hesíodo, morreu eo
delicadajaránja do sul. Esse pomar era uma das principãif^^®_ por uma e^aFTéTro.'Broívn resume sua queixa:
de encreacasmaqjlantação. Seus excelentes frutos eram urna tenW
Çao considerável para os enxames de garotos famintos,assim "Hiscórdia" são as rudes rea-
para os escravos mais velhos pertencentes ao coronel, poueos do "Roubo", "indecência", ' I 'i'll I

quais tinham a virtude ou o vício de resistir-lhes. Dificilmen» ® hdades da vidama-geraçapjj,-..^-.-^^^^ humano, v:i ) ;',!i

passava um^,.durante o verão,sem que algum escravo recebes® 6ld„ d.Jl.™.,« p.d«..^ ,
O açoite por roubar existem apenas no paraíso. - máxima autossu-
como o melhor modo de vidajorq pi.'nnnmia"seu calendário
Toda a e£u_ca^o que tenho, posso dizer, roubei enquai^'f ficiência,o máxitto isoíamentp^^^ ^ fazendeiro tão
cravfcConsegujrtmbarM
em Os trabalhos e os dias^ -^dependente quaato.pqssível
mas sou^agora aos olhos da leT^.a^ autossuficiente quanto P°"'- economicamente irracio-
'^drào, uma vez que roübd nâoapenas um ped" eíio do artesão, mesmo quando ta p permanecer em casa,
conhecimento de literatura, mas,tambínT^^^o." umavezqueomundoeimnorépermcic»o,ele
^al. Hesíodo é um isolacionism.^^ele volta as costas

Para pôr em dúvida OS dlrpii-^o j cg firmemente para a nova cultura comercia .


s nunciãraos prazeres"dTõBeT—
°'W.r d.vergonha de Heeíodo,P»"""'
laarao e„
1.1,âo em termos locais aind..
acordo co„^ Bor.Lád. dS""
'
l nU de
em sen pcnor-n í^mOCal 0^„M- «comércio
-aonh^dorep—P*
parentesco, q
^-
Hermes, é claro, o
ti'-
Quando o código Wnr?' , ° termo nao se ap
-À" (rouba —c '"suficiente
l™ubardocoroSSlli^é„ . para "escrevei
descrever a» situ faz" p apropriada não "'"apassarao^^a^^
ümí ^rown salienta,o poeta .^rmanecer em casa"^
paródia do conselho de
dp_uma_atitude^i_^ i,;"' ^ssa insuficiência e, ®rregar a tartaruga consigo para den ^
^«^ai..,.cpmporá um^íovo conjunto de regí^^'
305
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

mais seguro lá dentro, aqui fora você pode se meter em encrencas. escrava negra e de um senhor de escravos branco;ficaráigpnfinado
Então ele a mata^J^ar-se-^ja^ sabedorIã~pastofãl. Hérínes Bicidi"^^' para sempre ao lugar que o s^rcmaJtesignQU.para ele, a não ser que
mente dá as costas a HesÍQckre-artífice da lira, pauanQâasmè^° consiga arquitetar algTTm modo de entrar na propriedade do pai.
~ g_nova cultura£omercCT' senj,sentir o çoiwtrMgto^ÜÍ"
recomendado. como os mercadores nostempos [Dougíass:] Os rumores de que meu senhor era meu pai podem
arcaicos_de^te^feko^assume uma "ímoralidade-^espontânea e Ou não ser autênticos; mas,verdadeiros ou falsos,issq^traz.p.o_u.ças
segue adiante,sem o impedímemodo énqiiarirarrienrn ético recebido- conseqüências em meu proveito, pois permanece o
Na circunstância do nascimento de Hermes encontramos o a s^r7ful^nte.pdi^jSde^"^ qu^^^^ decidi
segundo limiar de vergonha da narrativa. Não é apenas o"r^" ram,T por meio da lei estabeleceram, que os filhos de mulheres
que esta além dos limites aqui;supõe-se quê Hermes siiíta"vergonha escravas devem em todos os casos seguir a condição da mae; e
de suas origens. A pripteira parte do Hino estabelece isso: Zeus e isso é feito muito obviamente para que deem vazao à sua luxuria
Maia conduzem seu caso aíí^SíSSSenTprdfunda e mÚRia vergonha; e tornem a compensação por seus desejos perversos tao lucrativa
cada um dos seus movimentos é secreto, reservado, praticado na Quanto prazerosa..
escuridão. Hermes é, portanto, um filho do amor roubado; seuS
laços de parentesco não são claros. Seu nascimento apresenta uma a possível "vergonha das origens" de Hermes logo encon-
''^''«osVgaStdxSmXllSffiSn^^
n^e Í ® "^ghimidade;a que família essa crianÇa f famosa concepção". Famosai^ow,na verdade^ois que
Zí '': finalmente se dirige a Zeus,continf '
® fabricou um instrumento e enco^ntrouj^voz. Com frequen-
um assunto de domínio público.)^ Hermes é como indeterminada
o filho de uma pliae-577(27rde25;7õsrcaçoam dos indefesos (ou dos
^"dentes) e os insultam, invocando o Legítin^o e^jlegm?o
ele esteja certo quer nâ^Mafa Maia é uma cortesãU^^ jÕ i^7l_fossem categorias da natufezãrd-epüfe-arándo
Jld-^as^TT^^p-íiTTSía-r^i própria condição.as Apoio
hnguase
mito a uma situação social, podeFíi^m- "^-^li^ulher de Zeus. Para levar a ^
nascida de um cidadão e de^ía conr k- P^^^Enfrars-obTe o status dc urna cria
A indagaçao não conduz a
ser c.dadaos para
para que
que oo filho
filho fosse
ilegítimos em geral.^"
fosse nmk- P • ^ ericies, ^"^^os
ambos osOS pais
pais rinha^
u»». jg
,^Se tivesse um senso hesiódico apropriado de «rto e errado
manetra tuuito rígida. No final do sécZ V™i
maneira
com urrramuito rígida.
mulher c__ No final
forasteira dopoderia
sécZ v"!""
não^"^^CüloV.
h ÁnçrAfo
a ^ .... .
era
oSt» SP^«cem dizet,He permaneceria na caverna onde e seu luga -
com uma mitlk-.-
sugere que algumas dessas criais2L h ':P^priedades, mas a própria proP»'
Os.mplesfarodequeasreEras„2 ,0
sV;'"^nino dd hairro pobrè - para reformular
fosse tão ptesun^~d,1a se contentar em Ia ficar e se calar.
sSS
sentado'
porT'''
Jenny""""
Srrauss Clay de oêe umajjosição potencialm^
Ka.
.los
Í^-Slass:, A verdade era que «
®'deia_dej^^r:com£e^^
Por fi::"p2: alguns momentos,quando senti u Daquela época
Zeus ''o Zeus se
o cue deseiava com --'df irmãos (...P
faaeiçSS:^2z.S:ÍÍ77''-'"''' deK^ ouseS""' agora, engajei-me na defesa da causa
^i.%nte dos outros deuses reun

307
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

Uma espécie de mágica coletiva ativa um limiar de vergonha? O


grupo demarca uma frõnteiràTT^^TTHles^^ué tentam atravessá-laj fazer com que isso aconteça, o trickster penetra na velha historia
caso sintam os ol|^s comunais de Argos sobre eles, sofrerão o
de um modo que faz com que sua antiga clareza desabe em uma
embargo físico da vergonha, a peirc^Síãd^ra-fíngua presa. Talvez contradição desorientadora, como o polvo preenchendo o mar
quando Maía diz que Hermes "veste.amanto do descaramento" transparente com sua tinta obscurecedora.
devamos imaginar uma vestimenta que o protege desse feitiço co
letivo. Qualquer que seja o caso,ele tem a liberdade de movimento [Douglass:] É (...) evidente que uma classe de pessoas de aspecto
e a liberdade de fala que deixam a mágica coletiva impotente. Os muito diferente venQlorescendo no suheatualmente e mantida
ganchos da.vergonimnãp_conseguem encontrar nenhum ponto em escravidão,a partir daqueles originalmente trazidos da África
para este país; e se o aumento deles nenhum outro bem trouxer,
nesse_íapaz.çom.,os,.calçados ardilosos. Ele recusa de trará o de desfazer a força do argumento de que Deus amaldi-
maneira absoluta o retrato do mundo sugerido pela moralidade çoou Cam P 'a escravidão na Américaggr
e correta, be os
escravizados
dos seus ancestrais e recusa também a hierarquia que vem com ele- descendentes de Cam sao os u q cnl vai
Quando outros poderiam ficar sentados em silêncio, ele improvisa de acordo com as Escrituras, é certo que a escravidão no sul vai
em breve se tornar contrária a elas...
prsTas"
pelas feiras . '"í ^ cantam ultrajes
^ não é o únicojieetirso-fisr meiÇ Quase exatameiMm^^
do qual-elE apaga os limiareTd?^
e enlameia as divisõpç rio JTTT .. -
criaçã^dnSTI^^tT^W fS grSos
, Apoio.
A T • 1 dia oreanizlram-trixi-;^-.^ Pria desqnenmçãSIa
de Tncksters '"funâe Arcaicos consideravam que se a r q ,mflmieoentão
niocio
as diãmç^.s.^ntre-mentira g verdade oulpara que confun^
preservar as dteis
palavras "verdadeiro" e "fak;?T:i- ■ .preservar a
o suor no rosto ou recebida como uma dadiva ^^-^2furto
devia ter sido roubada.- Ganhada ou roubada,
meio das quais a realidade ém 1^ n vigentes P por mem dessas oposições ^ a
não roubou o^ado eterno" ^ aquisição de riquezas, m g Hefmes-Sencóntrou
Hino, quando o mundo de A"T contexto inicial ludibria essas categorias. O ine^eotável fonte
_- quando o gado não Apoio ainda está intacto, mas depo'®
casualmente uma tartaruga e obteve para s.
o açoite do-4iS^-—
boiadeiro - parece urfiTSmo isífanho chamaFisTof de de riqueza"-"
riqueza , essa
essa iriqueza
h não é um presente
^ familiarmomento
nem uin
uma mentira D/^

ni" ».baC
estranhi
que "os escravo^ joubo imoral, mas uma -«^JJ^^ental.Como qualquer
no mundo fictício de um - ntira frenético a partir do acaso e po„,uro,
-"ndo que considera a nrÍr mas verdadeira em "ma dessas combinações de^_^
Antes que essa mudança^pog^^^^"^^^ forma de rquh^ do nada e, a pnncipi , romo as fortunas repentinas
««sas.
deve perder o encanto^ vèlha b,,,ã=«!.„ píKók»"giierSíTíS».»».
..ji seus desígnios
)S e para ^^Perrtifl-a&jjos desenvolvedores --
5 não eternos.

309
308
:â:n
A ASTÚCIA CRiA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

Aplicar a sorte as^ciosa à tartaruga é^m certo sentido, a Considerar Hermes um deus da redistribuição condiz muito bem
primeira de^uas operações do acaso desencantadoras que Hermes com a maneira como,Brow^Gla^^^oHmo,.â,yida-SôGia:i"'gT^ga.
executa no traçado do mundo com o qual se defronta ao nascer. A "Hermes£_) era loter^Z)", escreve Brownj__ea
segunda é a loteria particular que realiza quando sacrifica o gado,o loteria eíTííííríIãsTnstííí^ícaTae^
momento em que corta a carne em doze porções^distribuídas po£ ga; o extensivo uso da íotáÍã'na seíeç^ dos funcionários^
lotes,fazendo c.ogLQue.câdajim fosse exatamente igual ao outro atenienses erralrprêss-ãò"afrOTrdo^n^^
!'M-' Para esboçar o efeito desestabilizador desse ato, provavelmente igualdade absoluta de tojos os cidadãos."" Não que todos fossem
preciso apenas reafirmar conclusões anteriores. Com ele, temos o cidadãos,'é'cÍãrormas para aqueles que eram, a loteria cancelava
truque da redistribuição e do cancelamento (ou da reformulação) Potenciais hierarquias de riqueza e família.
da hierarquia. Hermes simbolicamente faz de si um participante^ Quanto aos que não eram (escravos, estrangeiros, mu e
(aspira a ser um dos doze deuses, por isso separar doze porções e tinham esperança de reconfigurar o mundo e redividir os bens,
incluir a si mesmo na distribuição); ele submete a ordem existente_ 'stiam de esperar pelas próprias des£0^a£dejorLe,_contingen-
a uma^uedead^ coisas caiam como ?lSdCT^SlíÍ^'í^aver truque de prestidigitador
- .ti'
e se a ordem existente tfflia um ar de necessidade em torno de si, não se tem mãos para jogar. H"™"'
ele dissipa esse ar, deixando claro que qualquer ordem é em ® descobertas, conseguiu para si a niãorto—j
uma questão de acaso. Não adir^ue o trickster por vezes seja ÇíópriojS— um ritual se-
o deusjiaqueles^que^o comoIanrTpropriü-^
mas-tênLêsperança dèlizFIõ "
^^^fância, n<; qual algo é encenado
" *
P^^^ondição para uma ação posterior, mais ^
[Douglass:] Meu antigo senhor, o capitão Anthony, morreu (.-) de sua privacidade, então, a cena -i"!
«•». ™-Bo,çõ=. «... * —
que r> ... I-1' 'T^-i^n^rãssístindo a uma mudançame
Mediar '•••'
r Nesirr ■^ com as outras po^' c» b... »b.d», ,u. »g» u..
em abZ nT sentimentos se revoltara-P posterior e verdadeira da armadilha da cultur .
V.'
Tnsenl-^^r'^ ^
exprr;7g7:f
nós. pobres escrÍ Não^"^'^^ade
tenho palavras
sentidas poj
_ nao 1 ju o d--- podeHfmoaacia-
sobre sej>e«elt5ter se alinhar Não
com é,qual-
éa
^Uer Hermes, como o livro de ^ ladrão de carne no período da
o testo da vida e 7 ^osso destino p^f p político (é o servo de Zeus so a > ftgura deste mundo, vernácula,
n-aisvoz LoueiaT" ^ecidtdo. Não tínha^o o por diante). Dito isso, se o tnckster e ^
^ o comum, talvez se desloque o poder. Além do mais, nesse
classificados( )Fur^' ° animais entre os quais fom" p , pode periodicamente se rebelar e rec jg pds a loteria das eleições
■-»«. iA.ir; * "T?
"latamente para Baltimore (••*'
:
? Etn ^^^nas,
A
há uma ligação entre Hermes e a democrac
quebrar a aristocracia.
as mulheres algumas vezes eram ridadãs no sentido de que os filhos her-
^ ^'dadania; além disso, não tinham direitos políticos
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HERMES ESCAPA DA ARMADILHA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

garantem a Hermes a honra que ele diz à mãe que ambos merecem.
[Douglass:] Eu-iaãaXÍnha^comp!etado doze anos de TravessiiraSj^ppr si sós, provavelm^e um^acotfí.p£.oscritQ e fora
de ser um escravo por toda aUtda começou a pesar no meu^cpxâ- da lei, ainda mais exclu73Õ"do'que era esse motivo,
ção-Bjem nessa época consegui um livro intiruíado The Colutnbiafi encontramos Hermes seTrivméndb para atuar também como
Orator[O orador de Columbia].Toda.ye2,quelinha umaf
nidad^i^ssejãvro. Entre muitos outros assuntos interessantes, o encantador lisonjeiro. Ou talvez eu deva dizer que ele banca o
encontrei nele um diálogo entre um senhor e seu escravo (-) encantador dúplice, pois consegue mover a mente consciente em
Nesse diálogo, toda argumentação em favor da_e_scrayldão^^ uma direção e a inconsciente em outra. Quando Apoio o acusa
apresen^a^_pd^se^or,_e pda ela era descartada pelo escravo- de roubo, por exemplo, sua resposta combina uma mensagem
O escravo diz umas coisas muito inteligentes e impressionant superficial com outra subliminar. Mesmo quando nega o roubo,
em resposta ao senhor - coisas que surtiam o efeito deseja^®' sugere alguma coisa mais. "Eu o aconselhaxia a não faj.ax_ass^m
ainda que inesperado, pois a cMversa resultava na emancip3.Ç^^ em público", diz em dado momento, ^s deuses imorredourps
voluatár^_^jescmvo por parte do senhof.^^ ' achãrãoIssõTéalmente estranho." Duas vezes se declara disposto
^ jurar inocência perante Zeus; em dado momento dá um salto,
perguntando a Apoio "para onde está me levando?", epo^rJm_
Mude a canção e fuja do alçapão^^ começa rapidamente pela ajeia^conduzindo-Apob
fumo aô-MQate^JDlimpo:
Para uma comunidadeJiumajm^to.na, seu mundo algo E>estacado dessa forma, vemos que, mesmo quando Hermes
denado é umaxoisa; preservar suaTorma ê outra inteiramente protesta abertamente contra as acusações, veladamente espera
distinta, especialmente se, como é sempre o caso, a forma é ^evar a disputa até o Monte Olimpo, de forma que possa ser
algum grau arbitrária, e se o ato de moldá-la requer exclusão, e apresentada perante os outros deuses. Segundo minha interpre-
excluídos estão famintos. Assim,com o equilíbrl das formas '^^Ção, ele quer esse deslocamento por dois motivos, um dos quais
um co,^unto .d,^ regras destinadas a preLvar o formato.
rou . ao minta;;Nao blasfeme. Não aposte Não apanhe cd Í3 mencionei (fazer com que Zeus reconheça sua paternidade). O
n. r„. Co„p„„e.., Vo,;j .. J, uef
é que Hermes quer uma mudança de jurisdição. Ele-^camO-
quetenhaasaeacidí)Hp.í«^ l' -no'
.0'
criminoso menor que procura levar seu ca^àj:orie^federal-
nha os guardas para do negras, quem quer q ■xo^
forn^a elevar seu scatus, Se vai ser um Iã3rao, que seja pe o
•wH'- sagrados com a contin °'™iar e inunde os P acusado em nível olímpico. E leva Apoio a ajudá-lo mad-
fronteira de distinção que roube os ''^rtidamente a encenar o roteiro que conduzirá a esse hm Se
^^Pendesse dos seus planos, o irmão mais velho teria atirado o
mundo em ao fazê-lo, desanca na escuridão do Tártaro, mas, sob o encanto daquela Imgua
j^^Vena e eloqüente. Apoio o acompanha até o céu, on ®
K --stado o modem P 0^ de uma espécie de nobreza (o
volta-se sobr^^^^ '"^acei^^aídcudeuim^verna) e reivindica publicamente
mundo no lugar do antigo Afind
Afinal,suas rupturastecendo " pi
de modo nePf
linhagem.

313
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A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

Mas esses são apenas frutos menores dos poderes encantató- '^íêito rias iavanderias e nos-postQS.-d£^así)lína»-un^ zuml^o
rios de Hermes; sua aquisição do açoite do boiadeiro e de outros íundcxcqm baladas fárpi';jn3ra manter umajgalidadexQDsensual
ofícios é muito mais substancial, pois com esses ganhos vêm as ^0 devido lugar e aparentejnenEe..y.iva.
mudanças da própria ordem social. Aqui, mais uma vez, a lím é Depois'Ye a canção é entoada.Apoio fica como que hipnotizado:
seu instrumento. Quando Hermes está pronto para parar de brigar
e estabelecer uma ligação com Apoio,saca o instrumento e canta E Apoio ^i tomàdo por uma nostalgia contra a qual nada podia
uma teogonia, uma
fazer; abrYÍÍóía e as palavras fluíram; "Açuugufiiiu^UJieu
gado, trapaceiro, menino laborioso^ aniigo dqsjalho ci o ,
história dos deuses (...) e da terra em trevas, e de como cada um coisas pelas quais você se interessa valem cinq^uenta vacas, g »
deles veio a existir no princípio dos tempos^exorno çadaJLto creio que devemos pacificar nossa desavença.
passou^ter o que agora lhe pertencia (...)[Hermes]louvou os (•••)
imortais, todos ordenadas de icordo com a idade; contou como
cada um tinha nascido, citando-os um a um enquanto tangia a *P®lo nio apenas responde à lira e anseia por ela, ele eambto
lira aninhada sob o braço ■"«a claro ,ne esrá dispôs» a chegar a aignn. npo de acordo
o gado Logo .«gere n„a .roca de didi.as rPel. meu ea-
A -"Çãoenfa^ho„_a,^ hierárquica, c" de abrnnheiro juro ,ue6reUç™Íoí!!^^
marcante contraste com todos os momentos de desordem anterio í-ee .morredonros |...| dprrteN.»»"»' T"' "..a
res (e especialmente o oposto da desavergonhada canção inici^ dosP.L
então, oferece a Hra .a
. .
Ap.lo> e..e o recebe
Udí-miiirn mais: Hermes receoe
dc Hermes). Esse trickster rníoo «. .-riíi''
ciahdade^d^u^dTdeXpõloS'^^ astão mágico e a arte da profcci ' , . desienado
artifícÍQ;_ele-põXcãnlãf um-cní ^ iavalis e dos cães, assim como dos rebanhos; e designado
A performance de Herme
acaba por conduzir o recém ch"""If
ordenado, se quise ■
daS
-^Selro do. dense. e gn»
. ^ resumo, o estrangeirQ,pâIêÊê—— Z-Aade ooiTdes-
coisas. No momento em que a í -
ap_aixonadoneía lia —^Çao se conclui. Apoio locl^^ "«'"bro com uma niais simples, o
ca, Hermes cativou fem ^ 'hteri m ele eP essa é uma mudança
História e canção: sentido) o grande ^'8uifi' ®
Quan^dojíern^^ _ 'tálogodedjuse-seçomo
a si
a ordenvsocial mantém' -í^l^ipnóticos por meio doS^0^ tne5j^-^Í5!,5u a^sjuir^.^^^ que fez de si objeto
"^^ncantan^ "
* Na tradição indo-ei
fletir uma a outra .. a ordem do sarrift • /.rti taw
irranativa melódica que_eli£!í!í^'
^ão é um^ydhajtw
diz-nos Bruce Lincnl sacrifício e teoPn ^^ do cosmos y
'teogonia' (...)
a separação dos dois
r' ^ persas em
üml
juntos. "Isso fica cia""
cantara Ut^^^aYojJçapão:). .A'®*" ° dignifica uma mudança. Um
-
desordenando um m .j exisle„ie e. a idéia animal."^" No "rnov"- Poq ° 'nstrumento, e proporcionaram a Hermes
ê nia, ordenando um mundo de sorte e Vm truque de artificio p P
314
315
íTT»! ..a;;

A ASTUCIA CRIA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

um objeto de negociação que não fazia parte da velha economia- como variações dei^oucos elementos subjacentes ao enredo. De
Como a pessoa que encontrou um tesouro enterrado ou o artesao maneira geral, uma situaçao^prelíminar e"segulda de Infortúnio
que inventou uma nova técnica, Hermes aparece com um tipo de ou Perda^^ e Hepnis por^ima seqüência de eventoT^^ê^Espajam
riqueza que escapa ao enquadramento morai herdado e, padroeiro da o que jn nii..a-Eerda-deseouilibiaram. De acordo com
sorte astuciosa, tira boa vantagem dela e troca dádivas com Apoío* esse modelo, o desordeiro e ladrão é um dos principais motores
Com todo esse encantamento e desencantamento, portanto? da narrativa. Maquinador original dos enredos, põe a história em
Hermes consegue resolver o dilema que propõe ao falar com a mãe movimento, e ela só chega ao fim quando ele e suas malfeitorias
("Ou me concedem a honra ou a roubo"). Ele resolve isso com tiverem sido controlados.
um furto que confunde a definição de furto, com mentiras Há apenas algumas formas de lidar com ele, também, apenas
turvam a verdade,com uma fala que desloca o limiar da vergonha» um número limitado de enredos. Da periferia de um grupo ou do
com operações de acaso que dissolvem a hierarquia - e com nma limiar de uma casa há poucas maneiras pelas quiLs"^m^tIckstê^
língua musical que lança novos sortilégíos precisamente quando oS pode se mover: podFiS^pode se retirarpor completo ou pode
velhos são desfeitos. Quando conclui, a redistribuição com a qtial ficar exatamente onde começou,resistindo a todas as tentativas de
ele havia sonhado é real, não apenas mental. Os desígnios fictím^^^ civilizá-lo ou exilá-lo. Do ponto de vista do tnckster, esta ultima
com que se depara ao nascer são alterados de forma a incluMo c opção, permanecer no limiar, deve ser a ideal; ela nos dá o enre
a suas criações. O íadrãojngre^íiujia--GGmunidade-das--dádivaS- do que nunca se resolve,-a meada interminável de narrativas do
O intmaQ^setomou^^ ^ Coiote, cada uma ligada à outra pela frase "o-CfiiPi^anda^^
aí-A-eu (na Europa) as narrativas picarescas nas quais o pícaro,
Uma qu^tao final surge nesse ponto. Depois de ter reescrito o o cavaleiro das estradas, erra de cidade em cidade, os episodios
roteiro
individuais se encerrando, mas não a narrativa propriamente
de^ETQhWiVai entrar na casa doslSíSsõirvãrpímanec«^ dita, pois o pícaro nunca muda, nunca^jsfâbeke^dejatii-tm
om^írito. Q Pinóguio de Cario CollSdi é um desses picarescos
rurirr^id h' ™ '°8°i^-que Hermes e AP"'" intermináveis até que a marionete ganha uma consciência, mo
dade cue
que HHermes
"T: Apõl^,tam"ente
lhe4exa_o aceno hesita. Éf
de cãbe-çã; sinârtradictonali^ mento a partir do qual a história se apressa até o encerramento
(assim como a narrativa do Macaco termina quando ele se torna
"m bom budista). A consciência despertada é o potencial fim da
gestos valios'^0™'"'"° ^"« '"ventou o sinal evasivo, mestre^ narrativa; sem ela, o conto pode continuar indefinidamente, por
uma noite, por mais uma estação. .r i
Em um segundo tipo de história, o trickster e finalmente d^
^esticado.
iogar de acoxdacom«âs,Paul BadinAz
t"ekster,ianel^o-coH«uidado..pfidemas..'^^^^^^
-ISÍemdÍ" certa vez
'^°aos os contos populares russos procurou
podLm ser a-
nasí;;is.,omarradorparececcmtrariar,se,c2m

317
316
I I

HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

A ASTUCIA CRIA O MUNDO

histórias de trickster têm pelo menos um momento de um impulso


do seu herói e por isso insere momentos de acomodação_àjóda como esse (Apoio ameaçando atirar Hermesjjg^^esgjj^ãQ^do
doméstica. Assim, depois de um 3õs~êpi5ÓdtosTííãirestranhos Tártaro, todas as vezes que o Coiote é "morto"). Em uma história
(um casamento travesti no qual o trickster usa uma falsa vulva do AláscãrcrSaHIõ"srcãn^ dos roubos incessantes do Corvo e
feita de fígado de alce!), a narrativa volta-se bruscamente rum" queima-o até a morte.*"^ Infelizmente,todos os seres humanos ime
ao decoro. "Nosso contador de histórias expressou [seu] choqu® diatamente desaparecem,e O Sábio precisa ressuscitar o^CgiiMQ.^
levando a narrativa a uma interrupção completa (...) De repente,e fim de recuperá-los^^ais frequ^tementeTo^nrêdb para de repente
pela primeira vez nesse ciclo,[o trickster] é reprecentado como u"* pouco antes da mo^ do trickster e se conforma com tentativas de
hor^m normal,com uma mulher com quem é legalmente casad ^ atá-lo ou detê-lo, como vimos com Loki, preso debaixo da terra.
e um^Iho para o qual é ainda necessário prover. Em resumo,ele ®
subitamente representado como um bom cidadão,como um indiv Com determinadas reservas das quais tratarei em breve,defenderia
duo completamente socializado."^' Aparentemente as comunida'^®® a tese de que o Hermes do Hmo é domesticado^Sua p£omessa^_seu^
humanas consideram difícil viver com o caos que os trickster® aceno de cabeça para Apolo,_são verdadejros. Para começar^jle
pressagiam, ou com a ambigüidade e a anomalia que trazerUj P parece domestícar-se em alguns mon^^,_Sg.se inclui na nova
isso há sempre esse esforço de empurrar-0-tr-icksterdo4inalar-pa~- teogonia que canta, então faz de si parte de um cosmos, não do
dentjt^_a_casa,mão apenas fazendo com que Wakdjunkagu se oa®' caos. Ou tem seu momento de contenção, não comendo a carne
mas afastando Exu das encruzilhadas e introduzindo-o na casa do sacrifício, por mais faminto que esteja. Aqui Hermes não se
deJM^rando o Macaco do ^^"dSiPéi^eiiíSíSi^^eTi^éndo limita a apagar uma antiga delimitação; ele desenha uma nova.
com que se curve a Buda,tornando Loki um convidado decoro®"' Pelas regras antigas, não é um dos deuses do Olimpo, não é um !"TÍ'
I I. "

quando há uma festa na casa deis Aegir, arranjando uma mulher Hembro do grupo,não é um objeto de sacrifício. Hermes cancela
para o Cmotea fim de^r^elej^o^^^ o tabaco apenas esse "não" e, em segredo e sorrateiramente, se inclui no círculo.
SI, maspermute-o com os outros,como fazem as^póssó-ãs-decent®^- Uma vez que'está dentro do círculo, porém, precisa desenhar um
O terceiro enredo possível termina coS^o exílio, a dès novo, precisa refazer a fronteira em seus próprios termos, o que
on 'pbikMção do trickster. Se ao menos o Coiote pudèsse sef_ faz ao não comer. Com esse "não" produz a carne-não-comida
• ííí conduzido mais para o oeste, para a vastidão selvagem,longe das
da-
aldeias estabelecidas! Ou,então, para resoluções mais v.oler^^®;
simbólica e rearticula o cosmos consigo no panteão.
De maneira mais ampla,se sairmos dessa história em particular
pensem^.no fim do fijme d^„o,.no,qual os ® olharmos para tótmes erti outros textos homéricos,encontrare
e famintos sãpsimplesmente elimina^: mos uma tendênc^-deníe-stica. Cora muita freqüência ele e o üel
servidor de Zeus. No fim da llíada, por exemplo.Pnamo dew ir
-o^rrTaP ra onge de suas motocicletas.^JH^o
um caminhão e faacna^,
Sl)ne. «é Aquiles para resgatar o7oTpo?êTfai5r;TZÍ^^ '7-4
Para guTlr^TTiEãõS^r P^io® guardas. E eSsõqfiTe^
Itade^
«âo e permanLdrno Hmirr - t^do "m servi^ou-m^nsageiraanfíéUni atravessador de dro^£por
contidos mas interminavelmente r7n7"' """"lizados de desordem anuais-
recorrentes de picaresco.
319
'■ ■'■ 'íf, flVir
A ASTUCIA CRIA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

exemplo,que ludibria a alfândega, mas depois trapaceia iguajlHÊíl' que o velho havia previsto e autorizado tudo. A concepção e o
te seus contratantes. Mas não é assim que"Hermes é retratado. nascimento de Hermes são descritos como o "propósito"'^^ de
Zeus péde^Eé'^ue faça algo, e ele o faz fidedignamente; nujica Zeus sendo alcançado; quando retorna para casa depois da noite
há ansiedade a respeito de como agirá. Todos os anos ele tr^ de furtos, Maia diz: "Seu pài pretendia que você fosse um grande
Persetee^do submundo; na Odisséia, cõ^z^fTélrriehte as almas transtorno, tanto para 'os deus^ (::^.l_quanto para os homens."'*^
dos pretendentes até o Hades. Ele é-0'^iã de confiança. Apoio, m^Fs mrde^ diz: "Zeus concedeu-lhe a honrajie iniciar as
Dito isso, devo refinar um pouco esse ponto, pois há certas atividades mercantis entre os homens de todo o prolífico mundo."'^^
áreas nas quais Hermes não merece confiança de maneira nenhu Mais revelador ainda, quando Zeus dá fim à discórdia entre os
ma. Antes de mais nada, quando os deuses estão em desavenças» dois filhos, lemos: "Então [Zeus] fez um aceno de cabeça e o bom
Hermes ainda é o trickster, favorecendo o amor roubado,o furt® Hermes obedeceu, pois a vontade de Zeus (...) persuade sem esfor
e o comportamento indecente. Nesse patriarcado, matará.A?^® ço.""^ Como um pai que toíera certo nível de mau comportamento,
Paia_aiu^r^ Hera (ou, em um momento menos conhecendo os resultados melhor do que os filhos que acreditam
patriarcal, para ajudar a enlutada Deméter, usará sua fala doce ser livres, ou como um político que permite determinadas rupturas,
para convencer Hades a libertar a cativa Perséfone). Em segundí' sabendo que na verdadeTervirão aos seus propósitos, começa a
lugar, considerando que ele está domesticado, seu do?nos, se^ parecer que Zeus havia imaginado todo o enredo desde o início.
lar, é entre os deuses, mas ele nunca toma jeito no que concerni Em certo sentido, ele "contém" todas as mudanças que Hermes
aos mortais: as linhas finais do Hino dizem que "na maior ^^az, e elas não implicam, portanto, uma ruptura profunda.
do tempo,quando a noite cai, engana a raça^daqueles que deve^ Aqui será útil lembnír mais uma vez que a hjs^ia de Hermes
morrer
pode refletiTa história r^.3rown"supõrque o Hino foi escrito
Alem de tudo isso, mesmo que Hermes em certo sentido por voltãde 520 a.C.'^^ e, se estiver certo, então essa narrativa surge
torne um servo fiel no mundo dos deuses, é importante lentbr»^ ^o fim dejyx^eííed0--d£Tçus^ c rnudanças. Sendo esse o caso,
um aspecto visto anteriormente: ainda que se comporte, faZ ^ào suí^eende que o modo de articular a mudança - admitindo
em um mundo que alterou. AartedoSacrif^...,;nova man/i^^ ^ oovo mas preservando o antigo - é dizer: ^^Bem^^erajs^o^
de fazer fogo,a flauta de Pã pTuTI ^
ue 1 a e a lira, um mensaee ro para oTíade^' ^^ofiamos em rnent&Q.têmpo.mdo." Quer pm^^snoH^
novas formas deTiãüezã-Krvrr-.^- • ^ ^ ^ forjadas por um herói cjih^ralmitiçaou
mudam Sf 'S uma classe real de mercadores e artesãos na Grécia do fim^da
ele está "domestim,H„" f arc-aica, dizer que toda a história de ru2tura teve Jugar-lna
Melhor dteTquèTuSq^'^'!P""'" 7' CO^ ^^Píliê^us^ede-ser um modo, depois do ocorrido, de en-
o grupo,e que os termos d^SS^"-
uesse acordo sao em parte seus. ^^aclrar a mudança de forma a contê-la. Fazer£omq^^
^^ntirpso e ladrão brote da semenxedej^
o autor uMmo'aasj.ny^5Õe^^ Hermes
salientrZ°77!'°"P""'^
salientar que o Hino uma última vez, ^^nca tivesse realmente sido um intruso, como se nao houvesse
Hermesacontecem "na mente de Zeus"72 uejoda^s travessUi^â^
;C^ período na história da Grécia quando o limiar de vergonha
Ji^er; P
321
320

■4
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

i
mantinha os negociantes distantes dos aristocratas. Fazer com que O Hino não é tão apocalíptico, e esse pode ser o caso mais
Zeus conceba Hermes é alegar qíeTsmudanças que ele traz fazem comum. É o que se pode esperar quando um intruso penetra no
parte do eterno e não são contingentes, relativas ou dependentes grupo: em dado momento devejiaver um entendimento,.uma série
e situações históricas. Isso leva a história de volta ao mito. de concessões pUTÍormalizar a mudança, uma convivência nego
■fil tsse pode ser o destino freqüente dos agentes de mudanças ra ciada. Nesse caso, os termos são em grande parte estabelecidos por
dicais, serern cooptados, cercados e englobados pela cultura maior, Hermes, mas não perturbam toda a ordem das coisas; a ordem se
^rem conti os antes de uma completa redistribuição apocalíptica- âdapta para conter o íntfoietado^ objeto esrranhojtue-exiSQÜu.. rll

c nesse ponto devemos^dívrdiTo enredo da "domesticação" em


sqiiais.M^atü«wnt^s^pçèesUJma observação de_C!Byf^ duasJaunas^Uma coisa é se submeter"a um antigo,coniunto de \\ ! i
da2~^^^ de imagm^7íspõssívds'
d2-!^i9i»e^Çim_demrminado destinos,
grupo com uma mudan^ negras domésticas^outra inteiramente^dífei:&nte.£.entrac.em.uma
Casa que você mesmo ajudou.,a .çQnstt.uir.---

.b,o°Í„ r """T ° '"«j.tslimó - i.,„ é, ,ue ™sidar.ffl '


ü. c"r.,o d"'" "» 'í™ Motas
dele ° PPil™ e "■e'mo •« ben.fc»
põd7r„.bZ!d.reir; '."r '■■■' " "'"t-í Hino a Hermes, versos 166-75.
Ver Hyde, The Gift, cap. 5, especialmente pp. 77-84.
ouconstíówadeiasj;ínecia^f^°^''^"^°"^'°'^ N.O. Brown, Hermes the Thief p. 126. Sobre a datação do Hino:
isolados. Em resumo 8'""^° ® Richard Janko, em Homer, Hesiod, and the Hymns, fornece um
"*ros. Os mais'bem-suadhi°''"" 'ívira»" resumo conciso das tentativas de datar o Hino; ele conclui que a
ambas os destinl;rp-,.-^„-;r~-Í!j.gÍ,^gg"tes de mud^as obra provavelmente data de algum momento entre 535 e 515 a.C.
fora, mas, além desseTrTT^u ''miar, nem dentro (pp. 140-43).
pode ser acabar devorad"'' ^^^^^Próximo melhor desn N.O. Brown, Hermes the Thief, p. 110.
N.O. Brown, Hermes the Thief, p. 60.
Digamos, então, que o'hZ '"^''P°'^ado ao mito local. N.O. Brown, Hermes the Thief, p. 61n.
incojporaçã^réTI?frr.p;prp-~^^ a Hermes registra N.O. Brown, Hermes the Thief, pp. 45, 47, 60, 61n, 85,110.
e reapreseSfãdh como =i " de uma ruptura con
N.O. Brown, Hermes the Thief, p. 47.
todo", não um apocalipsfVh• ° "^^"são N.O. Brown, Hermes the Thief, p.85. Há pelo menos outra leitura
potencialmente apocalL'" do trickster semP^ sociopoh-tica do H,no, além da de Brown. Um estudioso alemao
travessuras gerenciáveis p""'' caso7âõ contertidSS^ sugeriu que a reconciliação de Hermes e Apoio no fim do Hmo
voltar a atenção para o ^Pocalíptica, é "ccc®®® ^
o Loki medieval r° os imortais representa "as relações políticas entre o democrático Temistocles e
o partido aristocrático de Címon, por volta de 475 a.C. (ver Clay,
nordicos
pelo não renasceram ^^^^ndinávia, mas
cristianismo. disrupções os dcd^
foram suplad":® 10
P- lOOn).
Hino a Hermes, versos 21-24.

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A ASTÚCIA CRIA O MUNDO HERMES ESCAPA DA ARMADILHA

11.
.. Odisséia, XXIV:1-18. 41 Hino a Hermes, versos 577-78.
!. Hino a Deméter,in Hesiod. The Homerk Hymns and HomeriC,
12. HinoaDemét ^2. Mmhas observações sobre as rupturas de Hermes ter^^
pp. 334 e segs. "na mente de Zeus" foram baseadas na argumentação
13. lUada, XXIV:334 e segs. literário Sacvan Bercovitch sobre aspectos semelhantes na htsto_^^
14. Odisséia, X;274 e segs. norte-americana. Bercovitch começa com a uma
15. Uíada, XXIV;353-44. protesto fundamental" sempre envolve P ^e essas
16. Douglass, Narrativa, p. 59, cultura em relação a verdades supremas históricas,
verdades são relativas, que elas dependem historicização?
Como uma cultura OU ideologia respon e _ -j-Q^esto
9t
In LT'
T' PP-28-29.Thief, pp. éO-él. se apressa em sair da história para a eterm ^ atemporais.
20. M.M. Austin d 9^. ç i presente e o recompõe em termos dos ^-Q^centrar sua
21- Clay. p. I36n. ''' ^ara fazer isso, diz Bercovitch, "a ideologia ^
22. ^"'^Skss, Narrativa, p. 49. ^renção na distância entre visão e fato, teor ^ contidas
23. Douglass, Narrativa, p. 153 selecionar falhas em fatos ou em práticas um rei por
^la linguagem sagrada da visão ou do i ca exemplo,
^cio de preceitos derivados do direito divi^ ^ssim como con-
24 V ' p. 50 ^ definir o próprio governo como mon ^ sagrado exemplo de
■ N'ó°.r.'í "—»■ • ». enar cristãos imorais contrastando-os injustiça por meio
risto é sacralizar a moralidade crista. elementos
^ violações particulares da livre inicia -^j-tunidades abertas
constituintes, tais como mobilidade ' ^ como ^ sociedade
c ^^alizaçào pessoal) é consagrar a livre m
pca&Uíii; t.
l^Sta» (Rprr^„U,U
(Bercovitch , „p. A44h
644).
43
32. p, 83. ..IP H,
a Hermes, verso 10.
sPP. "Changethe 1 "tulo de um ensaio de 45), 45 Hermes, versos 160-61'
a Herwes,
reclamacãn (5Ãí?íoí^ and ief 46 "a ^iermes,
Herm versos 516-17 MyihoIogV ""
^°rnem invisívdT^^^ tentativa de Stanley Edgar Hyi"® • ^'"o a Hermes, versos 395-96; ver Nagy,
33. Hino a Hermes v arquétipo trickster. > V p. 59. 3 32
^'^•Lincoln,p.r69^"^°^ ^26-33. ^2.mT"'P-39. 113-32.
> 'P' ^rown, Hermes the Thief, PP-
35. fiinoaHerm c^l-Strauss, citado por Berstein, ?•
««o a«HeCr°'
37. Hmo Hettt, ''^0-62.
Pr«PP,pp. ír-"""""».
39. Radin, 139.
"^0. Ricketts, "Th'eT'^'"''^'"PP- 333-54.
Structure», p.
325

324
10. Frederick Douglass e o chapéu de Exu

^ réplica

"A todas essas acusações (...) o escravo nunca deve


responder com uma só palavra. O coronel Lloyd
não toleraria ser contradito por um escravo.
Frederick Douglass^

"Quando Q^d^^ontradito morreu. Ananse cortou


1carne em^inhos^lhou por toda a parte.
Foi assim, dizem 4ax^t^que a contradição
surgiu entre os povos.
Robert Pelton^

encja trickster em uma pessoa -t"'", .^"-T^rfr


í^federick DouglasrHT certamente casos mais oFvios
-'nericanos cheíol de astúcia. Poderíamos ^
^contemporâneo de Douglass,caso
;o.Sosae criativa. Ou, se quisessemosinira / ,.

•"«..ohr p.,.k.™..«íSaMiSWgM^gJ
nem R^rniim nermMdyÍn£esiavam situfdos t^õ clarammte
. ^u.nd.imuu ... ^„_;ânria limiat semelhante a

de^ermes ®é em
nascimento
parte umae qi^s temperapíento
^ e em par-
te questão de contexto. No ' ^
Vt- ».?■'

327 IT
FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

despertar em quase qualquer um. Aqudes que são inclinados aos Douglass rou^ndo a si mesmo da escravid^. Mas nada disso é
prazergg da liminaridade jjodem procurar ativamente esses con o objeto central do ataque de Douglass à cultura escravista. Seu
tex^s (como fizeram artistas como Duchamp ou Ginsberg), mas principal roubo é a alfabetizaçãq.>
esses contextos também deixam suas marcas em pessoas de outra Ler e escrever foram oferecidos pela primeira vez a Douglass
forma não predispostas. aos oito anos, como presentes: sua-sea-bera-eta-Baltunore, S.npiúa
Frederick Douglass, em todo caso, pode ter sido um moralista Auli^ ensinou-lhe "o ABC" e como soletrar palavras simples.
por wmp^a^ento, m¥r5i5Fi^ onde dõís sis
temas morais dliíintos estavam em conflito e viu-se forçado a Exatamente nesse ponto do meu progresso, o gr. Auld descobriu
servir de mediador entre eles. Ele era filho de um homem branco o que estava acontecendo e imediatament_e_pi-QÍhllLa.ira. Auld de
e de uma mulher negra em um mundo no qual as raças eram continuar me ensinando, dizendo-lhe, entre outras coisas, que era
radicalmente separadas. Depois^d^fuga, tornou-se um "escrav" ilegal, assim como arriscado, ensinar um escravo a ler. Para usar
suas próprias palavras, além disso, declarou: (...) Um crioulo_
ivre", uma notável contradição em termos. Também tinha uma não deveria saber nada_al_ém de obedecer s^senhor - fazer o
forte vontade de testar o proibido, e isso o mantinha no Umit«' que IhTordenamTÊstüdãr;stragaria o melhor crioulo do mun
quando outros poderiam ter aceitado as porções que lhes eram
1
•'í ;-( ■
do. "Assim", ele disse, "se você ensinar aquele crioulo (falando
oferecidas. Quando^ekes«eve-que^,,amarga oposição" d^^f" de mim) a ler, não haverá o que o segure (...) Imediatamente se
senhor incitoitoa^ejenfe testemunhamos sua obstina?^ tornaria ingovernável e sem valor nenhum para o seu senhor (...)
'1' e ao mesmo tempo vemos seus frutos, pois foi por interméd'^ Isso o deixaria descontente e infeliz.
1^ da leitura que Douglass produziu uma segunda miscigenação: po' Essas palavras penetraram fundo no meu coração (...) Era uma
•j

fri meio do acesso aos livros pIp a . ^5» revelação nova e especial, explicando coisas sombrias e misteriosas
■' ;V,, ■ 1
nlo .p„.. d, ™ lilko de duas (...) Hoje entendo o que havia sido para mim de uma dificuldade
das mais desconcertantes - o saher,.02oder_doJ;^^
I- I e ne» »■' ''«""ras da cato,. para escravizar o negro. Foi uma grande conquista, e eu a valo-
rizélmTé-nsámífifirDiíuele momento em diante, compreendi o
Um ar,i„. como Mel, tÔu Ú"'"" ° 'íS"' caminho que leva da escravidão à liberdade.
precisaram efetuar uma j ^ Vigarista como Barnurn .
Douglass precisou '^cssa magnitude, mas Fre ^ douglass sabe que está à beira de um pasto sagrado porque o
alarme soa, os cães de guarda começam a latir,..Agora-ent©Bde
° que^ue/e^or^uêi^m segredo e clandestinamente ao longo
tempo encantaestá o ea/"''' ° mundo a súá volta.
Hermes ao nome^^ "•os anos seguintes, "rouba" a alfabetização do mundo à sua
de Douglass, Onde, ^ (Consegue que garotos brancos, na rua, o ensinem a ler e,
desencantamento> Gra '^"1° roubo pode dar iním ura golpe de sorte essencial, depara-se comohvro de^ajeb
dir^s ^'ugham T/ze Orator, uma coletânea de falas elo-
ladrao, dede escravos
propriedade".
rouh - ^'"^ria
quem étem a vet.f
e quem m . 'í"?Jitéá,'mcluindô'Tinr^^ que Bingíãm "havta escrito, ii no

roubando friotoTdd pomar da casa-gra"'^^


329

328
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'• í"v: ^ ^ ^ ASTÚCIACRIA o mundo FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU

quaíjurn^scravo demole com argúcia cada um dos argtu^'^'''^® da mera natureza (...)"'^ Para Hegel, os negros africanos eram parte
pró-^esgmv^ão de seu senhor.) da natureza e diferentes em gênero dos brancos póls~rião tmHãm
. Ao roubar a aífabetizaçãq, é COIIIO
^^i.ipa.yay, c como SCse IVOUg
Douglass furtasse todos história escrita. "A ausência e a presença da escrita", diz Gates,
■f Os livros
livros da
da casa-grande
casa-eranHp ep os levasse para as dependências
j—^n^lpncias dos "de uma voz negra coletiva que pudesse ser ouvida em algum
escravos. A pr.oibição^de,eiisinar um e-.a^vfy-^-U^T-^s& desÚS^"- sentido, foram impostas ^elos ^ósofos europeus para jrivar_o_s
aa vviiai_exarjmeji]B,£SSEs,mcadmentüs.
evitar_exatj^eji]B,£SSEs,mcadmentüs. Lembremos
Lembremos que
que qua""
quan " escravos africanos de.,su^^humãjiidade."' Nào admira^que Hugh
Odisseu transporta seu remo terra
rerra adentro eventualmente
p,.p„p„clmente objeta
objeto Auld entrasse em pânico ao ver a mulher ensinando Douglass a
aca,ba sendo confundido com uma pá de joeirar; o próprio nio- ler. De acordo com essas premissas, o sucesso dela teria tornado
vimqnto, a mudança d^cojimxLo^rk.O^ signifif^'" a criança negra tão humana quanto seus próprios filhos brancos,
^°"yígi'-'aÊSÍ£ÍlSteriprmente, uma ãsregra queé,classificIlSí' confundindo distinções essenciais a todo o empreendimento da
mm^âdas^^aç^^^^ "roubo"'e proíbe portanto, u^a escravidão.
proibição do ato de criar novos"signifÍcados. Douglass viola «s®
Protbiçao e,^^trfeê>k,^ia um mundo de sentido onde o sen"" Como o furtivo^jLermeSjjg^ inicialmente opera
do estava pr.yia^„,em>ente. A Bíblia^por.exemElQ.iJ-^,7 sua aliada, /noite/pouglass tar^ém^^
maneira diferente nõTlTão de mrra da caíana e nATasa-gra^;; em ambos^õ^asos, uma vez que o roubo é consumado, o enredo
não pode prossègSÍÍsem a sua revelação. Se Douglass espera ser o
DOUCOo sentido
Pou A da maldição de Cam. mas um
senzala pode-signific^"^"
modelo encontr desencantador ativo do mundo de seu senhor, deve falar e escrever
fenca exposição da embriaguez de Noé por Cam- , em público, ainda que para um bom escravo um senso adequado
^e decoro, de vergonha, paralisasse a língua e a mão.
mesmo
m mo r^°
t mpo^ mais simples e mais
° complexoDouglass
do que faz alg"
desloca^ Não é iateiramcnte correto chamar a cultura escravista de
"ma "cúítura da veígonha"; foi, antes de tudo, uma cultura do
S^ca D "A ^ e escrevi e de escuj ; terror, do dçrramamehto de sangue e do medo. Mas, ainda assim,
atoslAf a escrever e falar, e " açoite prodüíiã um sistema de barreiras de vergonha como seu
produto ancilar. A punição física estava sempre de prontidão, mas
riMí "tuitas vezes apenas as inibições adquiridas eram suficientes para
aos negros. Èm^um~dle' seus e"™'' ^ 9"® ausência® era i
ciam mifên-tèmenie dos bra-
"lanter as coisas na linha. O uso repetido da palavra impude ^
um bom sumário dos luaa T' nd^l^ P°r Douglass evidencia esse limiar internalizado (impudencia
na alta mosofia eu:ÍS.?:r 'e f"lta de vergonha; a taiziatin^rkr£>^irvejSoahakAlguns
nos Estados Unidos a enr ^^^^g£g-£na Hume, Kant ^^emplos bastará;, começando com a exceção que cotnprova^
f ■!■. ■ ' :
citar exemplo Afiomas Jefferso^ '®8ra: foi a ingênua Sophia Auld que, sem saber como tratar
da história do mundo ®
a^exilnr (...) Q que ent"A WOTÍBjentosjDu des^nvollb"?. ^
epto
>vo, deu a Douglass'ua primeira noção da natureza ar i rar.
decoro escravista: "Ela não considerava ^
-histórico, O espírito
' to n5n!ídesenvolvido,
P^^opriamente por nas copd.Ç"
ainda envolto a olhasse no olho.- Em outras passagens, e dato, que
331
330
l i 1

FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU


A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

gista em Nantucketi em 11 de agosto de 1841,senti-me fortemente


Douglass recebia era a própria regra, uma aprendizagem constante compelido a falar e fui ao mesmo tempo instigado a isso pelo sr.
do silêncio apropriado ao seu lugar. Assim, narra que os escravos William C. Coffin, um cavalheiro que havia me ouvido falar em
eram proibidos de fazer "perguntas referentes à sua idade , um encontro de pessoas de cor em New Bedford. Er^uma^p.êsa-dâ
pois "tais perguntas eram consideradas pelqs_ senhores-coíno cruz e eu a carreguei com relutância. A verdade era que eu me
evidências de uma curiosídáde^impudente".^ Ele nos conta qne sentia como um escravo, e a idéia de falar com pessoas brancas
escravo qüe tentasse justificar sua conduta ao ser censurado poí me oprimia. Falei apenas em alguns momentos,quando senti um
certo grau de liberdade, e disse o que desejava com considerável
ela seria considerado "culpado de impudencia, um dos maiores
facilidade. Daquela época até agora,engajei-me na defesa da causa
crimes de que um escravo poderia ser culpado".^® Um certo capa- dos meus irmãos — com que sucesso e com quanta devoção deixo
taz cruel até se divertia com essas regras: "Era um daqueles qt^^ que aqueles que estão inteirados dos meus esforços decidam.^^
podiam deturpar o mais leve olhar, palavra ou gesto por par«
escravo,tomando-os como impudencia,e tratando-os da tnaneir» É a menção ao "encontro de pessoas de cor" que me surpreende
apropriada. Não podia haver réplica a ele "" Devo acrescentar, nesse relato. Enfraquecer essa frase é pôr em primeiro plano o
também, que essas regras de silêncio eram também uma questão que Uouglass menciona rapidamente: ele não esta descrevendo a
egal na cultura escravista. A palavra de um escravo (e de um,2!?í primeira vez que falou contra a escravidão em público;está descre
l.vreiaãQ.tinh,aja!odega!i escravos nãoser
poexpedido com " vendo a primeira vez que falou com brancos. O limiar de vergonha
um tribunal; nenhum mandado poderia que proibia essa fala não sumiu com o desaparecimento do açoite.
palavra deles e assim por diante. Na lei,como na prática,escraV" I^ouglass, no Norte há quase três anos, ainda sente a proibição
deveriam permanecer calados e a cultura escravista-como internalizada e tem de se esforçar para rompê-la.(Don^s^^vigou
sua autobiografia várias vezes; a ve^ão de 1855 da mesma cena é
drsilê!^°^ _°'S^"'zava-se, assim, por meio de esferas
imóvel ^indamãisl^uciosa:"Foi com a maior dificuldade que consegui
permanecer ereto ou que pude ordenar e articular duas palavras
Sem hesitação ou gagueira. rada um dos meus membros^regua. )
como uma ppssp^raraqiJ
ele surge dWd^—omo um i^Oüglass conseguia falar livremente nos "encontros de pessoas
cor", mas essa fala não fazia com que se sentisse livre (nunca
se olharmos corcuidTdr"^? uc proibida). É apenas quando consegue falar através dajinha
teve de lutar até '^ também demonstra q cor, Quando consegue romperTregra do silencio e cgr^tar
da pr^S"TmTr, ficgões do mundo.branco_sobre a escravidão, que ele se sente
Nantucket merece
merece uma
um"^lleitura atenta:
era-um..coroÍGÍe-arbeI-ic-t0fi'®' Verdadeiramente livre.

certo sentido, é apenas recusando as regras de silencio da


E" tamm'emrtbh' '"'^°""o antiesctavaS^''^^ *^ultura escravista e falando das suas fronteiras internas e atra-
gostadrárdireT^™.'^®^^^ encontros, pois o oy delas que Douglass desfaz o encantamento. Sua principal
por outros. Mas ann h ^«'"P^teci
^ a umamuito mais proP"
convenção anuesc^^
333

332
"íH I DC

I I • r:

FREDER1CK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU


A ASTÚC!A CRIA O MUNDO

ferramenta nesse empreendimento é uma modalidade de discurso


são regulados pela natureza, os brancos pela^id^ra^s^^gtos
expressamente proibida a escravos, a "contradição" .Du-^-íéí^" pertence i noite e à terra, os brancos à luz db dia e aos céus. Oi_
A contradição é o análogo verbal ao ato de Hermes conduzir o negros, resúrhindo,
humanOsJí são como
A configuração as bestas, è òs brancos
da cultura-escravisfa são s«es
parte dessa rede
gado de trás para a frente ou do Coiote encurralando seu jantar
em um túnel com uma fogueira de cada lado. Confunde a poh' de ôposlções. Quando os brancos negam aos negros^o acess^o
■Í.I ridade; desconcerta aqueles que se movem em uma linha reta ç tempo roarcado pelobalendáTroçCriam umadrféfebça entre negros
pura; desvela a duplicidade oculta. Ouvimos o traço contradu" e brancos e um sistema interligado de "barreiras de diferença ,
: ím: ■ >
no da voz de Douglass em parteem sua constante irq^niaJJ'®' como Gares as chama, produz o mundo articulado, o cosmos, o
tecido cultural dessa socipdaderuma ficção que começara a pa
$ ííi regulare^n^uções antitéticas,* porém de maneira mais suti recer real tão logo todo^squeçan^^ue foram os seres humanos
e significativa nas descrições aparentemente simples da vidii que a criaram. ^ ^
escravidão. Observemos estas poucas sentenças da primeira pág'" Douglass, porém, contradiz esse cosmos simplesmente por
/ da Narrativa',
) ,
descrevê-lo: vinda da suposta esfera do sUênc3JU3l^er_^
De longe a major.par-te-dos_escravos tem tão pouco Ção é contradição. Vindí^TêsfêfãíõsíIêfiHb, a própria tala e
a Piopr^ idade qua nto ps cavalos têm~dâ-dêlêsr5^^n"'^® -s impudiiíbTiãirrmporta o conteúdo, e ameaça a conformação
maioria dos senhores dos quais tenho conhecimento deste mundo. A prova dessa afirmação reside na resposta ime
escravos nessa ignorância.
CSCrâVn.^ npoc<i • Não
V me recordo de ter conh-
i , . .. diata dos fazendeiros do sul à voz de Douglass: alegaram que
scrayo que soubesse dizer a data do" seu-nas-crméntormra'"^" ela não existia. LogodepoiiaHLâNâlXíM^Eljfc
m uma id«a mais aproximadrdessa datando ifue do a exempl o, um homem de MarylajH
DouglS^íS^cravo que^firmav^ier
escreveti^ts ,ornais para conj^c^o
•i^o era uma farsa:" "Não nutro animosidade "«ra os fom-
dorerdTN^iMíípãTnem mesmo os conheço, mas P°®"
declaro ser a totalidade dela um sortimento de falstd ^
"lício ao fim."»' Douglass e seus amigos sabiam qu
teceria, dabó-paratexto-pecuUar às narrativas de escravo o
ri. ™ d. C.1.L subtítulo %crito por ele mesmo, e as serias introduções n
rio; os negroVdlo
- 8E9> nao Th—
..bem estações, os brancos pelo o®
ta.aénisJHMn» «ai. h„;.t tlsTed.V.« .... o 1.V" -í 7°"f7,
verdadeiro em todas as suas declarações (...); nada foi (...)
8enK°n\rqurcòXe'
antítese produz a prosadTpa' rt« opLÍ""-
drconLaSicãn'^ recomenda, "a antdeíteDou^
a"favorica se, o" f^i-O õ'L.
mais
maU odiava.
^ O que para eleoeraqueumeu eTa
m H T"" ^ mirado da P'"' * latohlando, en.ào, .orno dl.se, a te
acalorJd ^ buscado híIíp^ ^ ^"'dadosamente evitado,
«Mradiçào. A .oa lent.Sênre-õMpá ÇJWte •
e a determ'"naçao
^"'^- de aprender.""6
minha alfabetizacã^"^^'"^"^^'
^ ""m apenas ^ ° argumento
para insuflarqueemelemU"
fr' ^^^^0
335

334
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU

tura escravista como auío^^^ditór^s. A simples dicção_£assa interminável, por exemplo, ou q-s festivais da desordem quejêm
a um regi«ttojjjais.g]enOj_acrèsaaõlfos^p ^ recorrências regalares mas sãoj:MÚdos-por"U@i-caJ£adâ£lfí.dílí^l'
iroma e o escárnio. Ja consiHèrãmõS esses tons, nas observações de Para classificar o traço de inteligência trickster de Douglass em
Douglass sobre como a escravidão seria "contra as Escrituras" se um desses enredos, quero começar com sua análise do desgoverno
os homens brancos continuassem a ter filhos negros, por exemplo- periódico. Era costur^emaxultiKa escravista conceder férias aos
ou na descrição dos "ladrões" furtando os frutos do coronel. Há escravos entre o Natal e o ano-no^o.
muito mais, é claro, como uma explicação sobre por que é mais
conveniente para as mulheres brancas vender os filhos mulatos dos Nessa época éramos tratados como sej^sem^s^ono^d^imssas
mandos, mas o ponto principal é que não demora para os leitores vidas;Jeirgmçrarndssos senTores; e porlso" usávamos e abu-
descobrirem que estão em um mundo onde os homens civilmados sívlmos do fato quase ao nosso bel-prazer (...l-OsTOais-sénos,
sao selvagens. Cristãos são pagãqs,^|^|j^a_4^ sóbrios, pensativos e indusKÍpsAS,.ie.pQS_se dedic^am .a,fo
lheres gentias sao bestas, ilesaliflaH#! ~ lãàtõ^^ vassouras de^p^lha de milho, esteiras, coalheiras e cestas; e outro
, '
sao ffiãbres^omens honestos sao previstas em lei,
são ladrões grupo entre os nossos passava o tempo caçando gambás, lebres
e guaxinins.

insenííS'Com Mas a pranHe maioria se dedicava a esportes e diver^mo


opciçaí S; ».od.. jogar bola, lutar, apostar corridas, tocar rabeca, dançar e.be jj..
re»» .. ,e,.çL;r iT ' "««' "^0^« ní.sdü;r;7re úlrimo modo de passar o tempo era de longe^mais
agrada-^jnõs^HmiSnrõ^^ escroque
cada vez maiç - Suas reversões tornam o trabalhí^IÃiíS^ííriIlériiríiíõ^
é essencial para pre^rlT^pu"'' "fi' merecedoTdeiiTÊÍTt-mrdõ como alguém qtiejejeita o favor
tradição, desse modo, revela o escravista, d"íí^e. Julgav^ffiOÍÍ«n^
primeira vez a ordem p c Material cuja exclusão crio P Natal, e era visto como^OTmajMn^^ ü.qPPLeAH-
■> ..
sua sujeira, o código da c T ' pureza. Uma yez.íXP se ^0 ano, para adquirir
deixa de fazerjent uísque.&uficiente para terminádo-f.")
nobres verdades cois^ãs^ue pareciai" ^
revelam-se ficções a piedade dos j. Cl— cnrrq.ponde
Quanto mais ouvimos
Iam acidentais, unidadpc
se não completas ment'
^°uglass, mais os eternos se rÇ
SaturnlM^ma antiga. ' c ^^0 dutT
Para-ãs o femdoiêdtcada.^Sat^<iÍu-
obscenidades. Não adm'' =°"fusões e purezas se revel va uma semana niüiiiLd^zem^^ri,9...5 '"
-Plica de um escravo"^"' Lloyd não tolera^' generosidade incomura deveria preva ecer, as
®fam relaxadas e os escravos ficavam ^
Anteriormente esb fazer e dizer o que lhes aprouvesse. Este ultimo «
contrastando a^que de histórias de tri^^ Saturnália romana incluía a permissão, por um penedo limitado,
'í-'-tricksterperi,::^t::rí™^
"a borda ou no limiar - o pic^^®
retrucar, de contradizer.

336
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU

Douglass é perspicaz em relação à função social dessa soltura de se surpreender, a sensação estava em desacordo com os efeitos
teais. Aparentemente, em uma ocasião Douglass açordoi^epois
#íl contida:
de um di^deSebedeiras e descobriu que havia passado a noite com
Pelo que sei dos efeitos dessas férias sobre o escravo, creio que os porcos na pocilga." Mais tarde, escreveu sobre esses feriados:
estão entre os meios mais eficazes nas mãos dos proprietários
sufocar o espírito da insurreição. Caso os senhores de escravo [O] objetivo narece ser despertar av_e^ãoj,3ies^^^^
abandonassem de todo essa práuc3jiãpAenhp a rneno_r dúvida de dade, süEkSiTndo-os na mais profunda dissipaça U)
^^.^£_j£yaria a uma imediata rebelião dos escravos. któTachavam que
Essasj^ias servem como condutores ou válvulas de sega ran0
£jC_! escravidão.
escmyos de um ;homem,o^^ . quando
j^rnm Porisso, na qual havíamos
as terias aca
para esvaziar o espmtõ"rebelde da humanidade eséraviZ^t^ (■ bavam, cambaleávamos para fora camoo "
Al do senhor de escravõi que üm diã se aventurar à o"
obstruir o funcionamento desses condutores! Eu o advirto de q^' chafurdado, respixávamns fundo e marchávammEari^ça_j^
(i n,;,; '
• Or"' em tal eventualidade, um espírito se manifestará no meio dele ,
ais temível de que o apavorante terremoto.^' Apesar do "nós"v4ist_ai^dDn, essa é
'^ ''.'X ouglass havia nao apenas chafur ao, autêntico
Essa passagem oferece uma mandrldíCensar o ^®ndera que para escapar à armadilha e prova^um^^
do Hmo homérico em que Hermes não come a carne em ^ do liberdade^cisaria.ref«a«-od^gueoi^^
posterior acesso ao alimento dos deuses. Poderia a cena tra^e ^^«avosTstavam
, Suas escolhas podem trazer à mente os trtckst rj § ^
^-.hascontraoapetite.Lembtemos^q—^
■|
;r t 1- Tcarn na gual o ritual carnavalesc.a La
fuies tentam mudar a maneira
V ! • ('• i saturnália dos escravos e' s^T °°"Slass repre com diferentes resultados. O truque
com os aDetitpç ^ a i^elaçao com ela: ser indulg^^ ^ depo. p
cortejar a rebelião. ° '^'«senso; removqr _essa jndujgSI^^ ^ . por isso, "miros estomag
operava. Durante as^fe'^^ Própria como a satutA ^
lia
Seu ® esfera^mais>JXá. celestial. No
zenda de um sul dos Estados® Unidos, se os° se lores conseguissem
o própriorealizar seu
Douglass
a bekda dp senhor. A K , nd,ioi u-ni.dcis.qtiemC--6---^^ ^en«;,°' 'STÍelvagemem^^mingau de
Douglass de dezeÍir ~ aguardente deJ^SÍ<J
Bebeu sua cota depois
ou obter
ou obter àà cüst,
custa de comn'"u"-
..
''^^oobriu que gostava.
descobriu
«^ndo o° que
gostava muitO-
'l"® conseeuiu
m
conseguiu — ■ ujcia ^m-5n5rT5í?idfS^^
em um cocho de porcos ,
havi a conheci d o
confinados às esferas
a
"fazia comLquejne,sent °® interessados, ^.''..j-^is ISd T P^^^^tr^eme
7®dade dos que comem -g" ; conLados
eTão' às esferas
, ^^ntinha-os
Pensar que era um j^esidente.:'Como haixas: Freeland alimentava bem os

339

338
FREDERICK DOUGLASS 6 O CHAPÉU DE EXU
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

bêbados ou negros sóbrios), mas-xom freqüência é necessário


supridos de álcool, q que eqüivale a dizer que em sua fazenda penetrar no mito e mudar seus termos a partiFdFdentm. Hermes
Douglass correu o risco de cair no enredo prometeico, trocando esca{5gTÍ'a armadilha refreando o apetite, depois do que as associa
o desejado destino ipais'elevado por umá barriga cheia e uni3 ções culturais entre carne e fome, quaisquer que sejam, não mais
bebedeira anual de aguardente de,jnaçã. se aplicam. Douglass faz Recusando o próprio
Mas não seguiu esse caminho. A r de janeiro de 1836, precisa desejo,corta a Tigação entre o artifício social e o corpo.Para dizê-
mente após um segundo feriado de bebedeiras, Dougl^sj^so^^*^ -lo de outro modo, como o mundo e o corpo devem ter padrões
as _costas_ao^prazeres transit<^rios e arriscar as sat^fajÇpc recíprocos, quando ele reimagina seu corpo, reimagina também
rnais.,duradoura5^e ilma~fíiga'p^eria trazer.^® Recusou,2-££^ seu mundo.
interminável da soltura restrita em favor de algo um pc)*^^£jlí^ Assim,ouvir Douglass contar a hjs^ria ^edeira escravista
ap^^çalípíjcoTAEmidonou o tempo cíclico do ritual por um temP c sua relação pessoal com ela é ouv^ur^^xm^
linear em que os indivíduos conhecem a data de nascimento^ verdades etern^s^paraJSutstií!^LMP.?i?Aíl'^^ destruim^Para^entes::
.que,,erajleiato.ui/.'apayprante terrenroto"^^- uma <ler como esses eternos emergem,lem^emo^quej^d^onten^^^
civil - em breve marcaria
ciii uicve marcaria o
o calendário
calendário com
com datas como.-1^3Í6-l^
datas comO-J— da fomTqn.Hprr^^fazde sTOn^eus.Sua roteTfa parncular apaga
le 18ê3.{Lincoln assina a Prodamação de EmancipaÇ®'
J- . . .^ãoh
3- linha que o separa dos outros deuses; sua abstenção traça uma
1° de novembro de 1864 (a escravidão é abolida em Marylan"^ nova linha que o une a eles. Dessa forma, os marco^d^e Weira
e 17 de novembro de 1864 (Douglass.retorna a Baltimor«'-3í- são deslnraH^a<;<;im ele se torháümqtenm. AcreditarjiessaJ^
homem livre em um estado livre).^' tória
AnlS?I5rmenre,-nesté
f vergonha livro, propus gue uma armadilh^J
surge quando padrões culturais são ligados à
NocãsíTde Douglass, aquelFqi^r^^^a aguardente de maça
V
também recusa a rontradicãocontida na saturnalia e por^^
-Ci
como o corpo é imaginado, especialmente quando as , disso cri..pn-iiiihilidade da cont"^dÍ£ãoiEcõntL(k. de
I tornam invisíveis. Dadas essas ligações, a experiência que silêncio da cultura escravista possibilitara a "verdade eterna de que
s
pessoa tem do próprio corpo "prova" os padrões cultural^' as raças são essencialmente diferentes. Recusando a saturnalia,
liv'
o a terar os padrões parece tão impossível quanto alterar o corP Douglass rompe tanto o elo entre o apetite e a subordinação quan
No caso em questão, pensemos em Douglass dizendo que a to aquele entre a subordinação e o silêncio. EmiugarJ,iss9Uiiq,
oferece uma voz que prom^t^uçMJ-au^^.Lquei
fhberXd ^ aversão.do^^^^jl qualq';^i^í:7iiiwwa um novo mundo
-2
fim-,de
fim de ffaze-los
'I "chafurdar" na"na
imundície Ele estádissipaÇ»";;^,,
mais pí^funda descteve^P pela diferença de raças, mas pela "verdade eterna" da igualdade
uma autoaversão derivada dn or. aicie.-i:.le esta . .5^^ tactal. Caso terminássemos a história de Douglass ness^
Poderíamos classificá-la naquele enredo no qual o ■It
■lesfaz com sucesso a armadilha cultural que o contem
*^ntra em seu lugar.

■ p.„ b»»'
341

340
w

FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXÜ


A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

A linha de cor Os dois amigos .se encontravanuiiQ^ampO) lavrando sua


terra. Um estava capinando o lado direito, o outro ceifava os
arbustos do lado esquerdo. Exu chegou montado, cavalgando
"Um Douglass mulriforme não era desejado entre os dois homens. O que estava à direita viu o lado preto
por nenhum dos seus biógrafos • do chapéu. O gnp estava à^sauerdajmtou abrancaja_abaQluta
Peter F. Walker^' do chapéu de Exu.
Òs dois amigos fizeram um intervalo para o almoço sob a
Enquanto vocês pensarem que são branco^» sombra fresca das árvores. Disse um deles: "Você viu o homem
,
eu tenho de pensar que sou negro. de chapéu branco que no^mprim^ou enquanto estávamos IC.I '

-r James Baldwin
trabalhando? Era mtíilb gentil, não^^ í llfr

"Sim,era simpático, mas é de.um.bomenxde.cíiapéu preto que


Na epo3^m_gueJDo^s morreu, em 1895, grande part/J® me lembro, não branco.'* ( C) /M/IÍVV
"Era üm chapéu branco. O homem estava cavalgando um
cultura esii^lsta-Wruídae^ua^distinç5e7orgânicas'h^ cavalo magnificamente ajaezado. , - .i
S^Syeu das ruínajia "Então deve ser o mesmo homem.Eu lhe digo,o chapéu dele y .1 ^

notavelmente indeléveis
^'Visões,orgânicas,
P^ncr. • i
algumasj od'iosas
^r^mo era retinto.** , ,
Estados Unidos dividem. "Pf"cimente no modo co "Você deve estar fatigado ou cego pelos raios quentes do sol
niipqrãn A 1 j' P^Puíação entre brancos e negros ^ para confundir um chapéu branco com um preto.
decor aÍ' ü P"»»™ míelaíai d ess» "Eu lhe digo que o chapéu^ra preto^j^e^to^nganado.
Lembro-me dele distiQtámènw^
Osllm?amigo7começatam a brigar. Os vizinhos vieram cor
óbvio isso se tòwa^ atentamente se observa, nt®" rendo. mas a luta era tão intensa qu_e não consep.rarn conCj^ .
No meio """"
erSstrdo"''"'' "*"SS
j. .1 ■

p p»'®. CO,oosEstrd^st":"" disposfoíTmatar um ão Mtro e ; ^^jes que


' 1

contar a razão da peleja. Por favor,faça algum


se matem." . «p^j. vocês^is,
anas-nenhum dos
percebeu süas^^áçôes e rT -èi' ^ ™ consideração.
Exu prontamente int_errompeu a b
amigos_clerodaaj;id^^ ^ „os cumprimen-
Quando cheíou o f m "Um homem atravessou a fazen
seustecido,.O
de p_e_quenpslado
testes
H' decidiu faz^,
^ amizade deles. Preparou um c -T tou enquanto passava", disse o primeiro amigo.
'O «a preto, o esquerdo era bran,cp.-.A
343

342
■ify I) _• j

-i ■■ ts
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU

- ,n , ,,,
um chapéu preto, mas meu amigo me diz que era um chapéu completamente diferente para cada amigo."^^ Quando os amigos
■•í . " branco e que devo estar cansado, cego ou as duas coisas."
, -1: : discutem, um diz ter visto um hgmem negrn„ o outro, um branco,
O segundo amigo insistiu que o homem estava usando um
chapéu branco. U^dos dois devia estar enganado, mas não c'^- Frederick Douglass acreditava .q.ue_S£iLgrinieiro senhor, Aaron
''Anrbgs«íã5;;£enJg AnthonjÇera seu pai; sua mãe, Harriet Bailey, era escrava de Anthony.
"Como pode ser isso?" ' Os Bailey eram um grupo familiar coeso, antigos habitantes da
"Sou o,ho.meni„que fez a visita por causa da qual costa oriental de Maryland. A mãe de Douglass, pelo que se£oma,
agora esmo _brig_ando, e eis o chapéu que causou.a.dIiSHns°-. sabia ler, e a mãe emt^nia^eseraYa, erà rêTátivamehte indepen
Exu pôs a mão no bolso e tirou o chapéu de duas cores, di dente (casada com um negro livre, tinha uma cabana para chamar
zendo: "Como pod^ver. um lado é hranm e n nutro é p£g!°' de sua). O tetmvô de Douglass nasceu na Marylajidcoloniak-em--'
j -r ,
Cada umde_vo£ê^u_um dos lados e. porranro. está correW 1701^^ais deKpõr vez, provavelmente foramjeyadôs para
sobre i^gue jtiu^Nãq são voçês.o.s, dois .companheir£S.JÍ a América não da África, mas da colônia britâmc-a,déJ^r^dos, o
e£!iPJ^otos^e_amiza^ Quando prometeram um ao outr" que significa, entre outras coisas, que a família Bailey
ser amigos para sempre, fiéis e verdadeiros, levaram ExÜ.i'" da língua inglesa havia pelo, menogjdx^ Em resumo,
consideração? Sabem que aquele q^ue" não põe Exu em por meiSir^TDSÍÍgS^a herdeiro de uma tradição afro-
I .-i Jl'.

lugar em todos os seus feitos só pode culpar a si mesmo se as


■americana incomumente estável e duradoura.
coisas não dão certo?"
E é por isso que se diz: Aaron Anthony nasceu de paisjotes e
trais tinhanTmdognn^err Anthony aprendeu a ler e escrever
de maneira sofrível; trabalhava em escunas de carga primeiro !i;l'
Exu, não me arruine;
como marujo e por fim como capitão - até que um homem rico do
Naojpriie falsas as palavras de minha boca, local, o coronel Lloyd, tornou-o capataz-chefe das suas fazendas.
aoM^da os tliovrnígnttBTh- meus pés.
Anthony casou-se com uma mulher de família proernmente, por
V^Vque traduz as palavras de ontem meio da qual adquiriu seus escravos. Sua conjderávd^^
Eni-opvas afirmações. perturbada regulannente„£elai^
Não me arruine,
Eu lhe trago^oferendas." cm sua pi^uíiiaíibliotecajiayi^um 1^^^^^
An 0/
umalíTl
ud DiDiia lólares.
Qe nove uuiaivis. 37 . .

E onde devenros nos posicionar


'"li' tos

onde necêssaxiamente ° "^6reiro, viajou para as Ame para dizer qual era a cor de Douglass? Onde
!' •: !Í
i!í' ■ '
=om aspectos. De cionar? Tendo herdado o sangue " branco do pai, p
raspado.5:pa^' Tf •»«bém .ls„m. po.(ío de ."do o ,"e ese. "branco 2°""™
O", par. dela., de lado »
mou em mrrhomTOmico do ladoTomlVeLt"pre'ii tradição Douglass poderia habitar. Quan
345

344
A
FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Não legalmente, mas, como diz Hermes, "se meu-pai-não a


Hong Kingston, imaginei uma criança imigrante que crjâ-W® conceder ajnim (...) vou roubá-la". Nesse contexto, isto é, por
história de vida original no caminho enrre a casaXa-escoia. Se meio da alfabetlzaçã"õ^fouBãda, Douglass não apenas adquire
essa criação é uma luta, o que Douglass tem de fazer é ainda mais, uma voz, mas adquire umaA^Çíz^^ãnc^Tomando o livro de Caleb
pois nesse caso a própria família é dividida, e nenhuma via pública Bingham como cartilha, desfere um ataque ao RatriraMklJilgiQ--
conecta as duas partes (elas se unem apenas no estupro e no filho -saxão^^s modelos de Bingham s^^eridan^ Washmgtgn, Filo,
do estupro). Pode a criança ainda assim forjar uma identidade Frankjin, Catão, .MiltomJSóçrates, Cícero, ^ -^ddíson^
que tenha algo da mãe e do pai.> Pode servir-se de porções da O próprio Bingham escreveu a discussão entre senhor e escravo e
casa-grande anglo-saxã, com sua sabedoria de almanaque, seus cia provém diretamente do Iluminismo europeu. Clássi£QS.gregos,.
laços de casamento, sua Bíblia familiar e sua avidez por dinheiro, romanos e europeus^ara Douglass, aprender os discursos do livro
'^®^5i®iSâa£ercon%^ de Harriet de~Blngham"erã'sendr-se em casa no lar do pai, mesmo antes de
Bailej:,j:om seu chão de terrTb^íid^^uas raízeslSágTcas e suas deixar Baltimore.
batatas-doces? No caso de Hermes, o roubo foi eventualmente seguido pelo
Deve se confinar, seria a resposta seca da cultura escravista' riso olímpico, pela divertida aceitado de "seu filho" por parte
Onde a paternidade bmnça,não^é nada mais do que um sU^' de ZeíITara saber se Douglass foi algum dia agraciado com tal
su^o^onde a lei e os costumes d-ecIat^íiTuTrcmnçí^^! relaxamento da tensão, devemos segui-lo para o norte até New
acompanhar a mãe, qualquer identidade mista como essa c Bedford e Nantucket, onde foi pela primeira vez acolhido por ho
absurda, impensável e irreal. Atormentando os leitores com ^ mens e mulheres brancos. O historia.dqr Peter^Walker escreveu um
própria cegueira deles para o novo e o original, Melviüe um® belo livro sobre os
vez escrevem ' Quando o castor com bico de pato da Austrál'® [Escolhas morais], cujos capítulos sobre Douglass concentram-se
seu envolvirnejito^GOfH-o-grupo que se formou em torno do
11»'
XrSf - -Palhaío e levado put®; jornal de JJ^illTam Lloyd Garrison, o Liberator. Walker argumenta
que, por suaTrèlãçõércõi^ garrisonianos, e pelo modo como
Countv Marvlon^ se adaptava ao círculo deles, vemos um impulso nada surpreen
■ 1 ■' <f.)/
barões da^atata-dòce.° ingleses ne5r.QS-P.S dente por parte de Douglass de abandonar o mundo que lhe era
disponível por meio da sua mãe e intensificar sua reivindicação
«8- uma determi n ação
algum lugar fora da c^r' " u™ Poti^mos encontrar inscrito c
^ Por tudo que não fosse negro.

gundo a , qual negro ++ oranco = npcT^^^ ^c inventiva matemátic® Tomemos, por exemplo, a história da auto Ao nascer,
r^. . ®ra FredèHcklÇupsfirs"Wãshington BaileyTqúãhdõ se mudou para
se Douglass, ~ ^ questa
° norte, trocou de nome, primeiro para Dailey, depois Stanley, em
disruptiva, seria ou n3 e tomado por uma f seguidadohnsoh e, por fim, Dqugla^s,-adotanda-o.BQme.rk um
drogar os guardas e e deslocar a linha de cor. ^erói, Doúglasi^do poema A darM doJugOj,de sir.Walter Scott.
»•" . C.Í po, .ss.» ""'"'j "A caracrSnstmTffir^Douglas de Scott", escreve Walker,
<> ««l-i d. «iSr a taxononii^ ^
347

346
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU

"é sua resistência inabalável nas adversidades, provocadas pela Jcn^emrardeme-e-esperajaspso? entrei nessa nova vida com todo
perda injusta de seu patrimônio", e o enredo do poema conduz a o arrebatamento do entusiasmo insuspeitado. A causa era o ,
restauração desse patrimônio os homens engajados nela eram bons, os meios para ati g
A identjficaçãí^de D com o herói de Scott foi além da
com o neroí ae ocoit lui —-
triunfo, bons (...) Por algum tempo, fm levado a esquecer que
nples adoção do npme..e^da.r£ÍA'íadica'cão
simples npmç,e_da.reiyinjJicaçâo imaeináría.
imaginária. EnTlS^
ErnT®'' > niinha pele era escura e meus cabelos cncarapin
quando viajava pelas Ilhas Britânicas ("para visitar o lar dos msus O
ancestrais paternos", disse),«passou seis meses na Escócia. chama a atenção aqui é que
sozmJ^Por algum tempo, deixou de lado o trabalho antiescra- ^ta não
escura não mais
mais me
me definia",
definia", mas
mas'esqueci q tinha a pe u? n nue
"esqueci que ^
da DtÓDria pele? ü que
vagista. Aprendeu canções e baladas escocesas, cantando-as e ^ que cor é o homem que se esqueceu da
D
°
tocando-as ao violino pelo resto da vida. "Se eu o encontras^ ;=>'ker argumenta é que, sob a influencia
agom", escreveu ele a Garrison, "entre as livres colinas da velh® de?"ter parecido a ^Douglass que' '?r!le!ra
"pela P'™ vez na'psvidfilhos
a foi
Escócia, ond£o antjgofc/ucé Douglass [sic] um dia enfrentou seU ^Paz de revogar O código escravocrata e , j^ães'.Ele
mimigos (...) você vènãumTgrande rnudTnça em mim! ^ulh^escravas deviam
Alem dis^miker toerpreta a migração de Douglass pa'® °
P^le escura e do cabelo encarapinhado. ^■^Jò;Tnesmcrpara
do amf,,, ^^ígrdamegritude,
raça. Os garrisonianos oupareciam
{0S men^
P^ Se e esse o caso, revelou-se um "quec^®"® j^uitoce^quc
m e u^ apagamento da própria linha de cor. No barco d" Ontem rodeado de abolicionistas. "^^^éníoriaírí^'^^"
d^r.^aaconvençãodeNantucket,por exemplo,"houve uma alj n ^ ^n^asmo havia sido extravagante ' ^ jgclamçjoií^'
I acrescentam.''^ Mesmo a se
nlo sete
concorZ "
separadas para os negros> ^
abolicionistas, negros e bran^
a esquecer")''^ parece'^Ífi£3H^Í^^—
o convés descoberto".- ^ ^nos qfie se seguiram a Nantucl^t)^o|£^^ ^ brutais, o
j;® liíuíí-dècõFsFSiSS^^:^^ CalafatesjtavH?
hr u^uilióIFa-iSéfiniu-o trabalhar em
'^anc,
"^de New Bedford recusaram-se a g^dfotdfizera?-
Seu
Emresnrnr. .^ negritude. fefr '•".o dèatl^ídSe; igrejas
ceram-lhe uma'eTp«r"'°'r°' ^^otarem um banco separado; »> ° gipjamentos
®^8re
uma comunidade queTar "\^''®q"epoderiahaverag qua
®8ados nos trens nortistãÍêT3orm atacado por u
Douglass respondeu a ess ''do foi para a Grã-Bretanha; em Mms
•• liv 1, como ele mais tarde re P~™essa, Walker deduz do ^hrb;
que fraturou sua mão direita; e ^;^"®|jnistasArancos Em
'■'i •• M
autobiografia de 185S ° relatório da visita a era o r.jsrnojo^^;;^ comj-
espg°^ aspectos, os gafrísõnianos
'^'^"Peparaasuacausaefaziamcomquc^ pubesse como ac

349
348
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU

que um'^Í£écirn^devena agir; "Dê-nos os fatos", disseram,"nos O que Dou^lass-£ea-£oi-abimdnmr n limiar-ne-gual pieto» e
cuidaremos da filosofia."**^ brancos se místuramj no qual havia nascido, no qual culturas se
tocavam mutuamente-e-submetji^m-se ao artifício da linguagem
Era impossível para mim repetir a mesma velha história, mês ap'^ racial. Fixou ^sidência na casa m^^rna. Tornqu-sejm negc^
mês,e manter meu interesse (...)"Conte a sua história, jg Um local para se^rrssrmovimento com clareza e na historia
sussurrava meu respeitável amigo,o sr. Garrison,quando eu su cambiante da sua infância. Douglass escreveu a autobiogra a tres
no palanque. Não podia seguir sempre a iniunçãq,_po^ora i vezes e permitiu-se rever sua vida, e especialmente suas origens,
—■
epensava.'^®
a cada edição.^^ Najmmeira (1845hcítao^^
"O melhor é que você não pareça muito educado","'
t^ranco; na segund^ (1855),> pai e envo to
Um garrisoniano escreveu para outro descrevendo Douglass co
"ou^estranhmhe^S^scÇFi?.'^^^^
OMll, en;;„rr.„«apen.r .«•.,í.ornirlade
to Sera assim apagada,
apropriadamente recatado.,"para um crioulo"/" Outro escre
que gostaria que ele fosse um "preto puro-sangue [sem o]
Enquantc^ajiorçjobmnc^iipa^^
t —

a porção negra preenchia o espaço^ P


branco que corre em suas veias"/' Alertaram-no sobre su_ai^^ ® mãe^era-lhe uma «tranha; nunca
des corn^mulhems brancas." Não estavam felizes nem ^nseguia visuálizã-la e não sentiu pc consegue
com sua eloqüência duramente conquistada: o jornal uma . a terceira autobiografia, trinta ® , "indelevelmente
n -ou que a linguagem de Douglal "(...) não tinha nenhu'" ^^aginá-la vividamente. A ^'g'reco^^^^^
dn.
das r. L. de Douglass "(...)' não tinha
caiacterístirííc ^^taj^ada em minhajUfilttoráa , J crueldade. Acima
dSST'"'- r L os garris<,, que ela lhe levava comida e o descoberto na mãe a
fazendas"^em'"^^ cririam que mantivesse "um pouco da ® de "^ddo, na época dessa versão finai, a
um/lbranc_orJcmame
com bicn Hp
° ""'f
anomalia afro-saxa, ...
fo dos seus talentos.

No ní n.ett'
das as pessoas de cor de
Pescobri (...) que ela era a fato, estou feliz em
midessa
tolómitologia
gico; nã^rát^-"^!' ° ®
humanos. Seres humanos pa
f°i"cip^ ®^ tqçkahoe que sabia ler que eu possa ter não a minha
atribuir qualquer amor ao gênio nativo da minha
história A hltó simultaneamente de -aad® presumível paternidade ang o ^ jss
-tlc^-^-- Douglass com uma opP^ u mãe preta, desprotegida c
" ^ ptogenitor branco e
favoreceu tanto n /da cultura escravista,..
«o,. uà",T.|!" li"h. de cor no, E, .„ # ■"quanto em 1845 Douglass
""Utia a progenitora negra, effl 1
o branco e proclamava
yj^a é ve-lo ^
romper essa barreirr Poderia encontrar ^^^r,
nm homem cuias m~' honaem -bistórico P »=8r.. Ví-lo r.de»nh,r o .<•»' »uda o ,u.
manifestam má vonmde conTrf '' »«. .0.0 m,„ de orie.m: »° ""SP. E»
ausente? seu sangue mestiço c que tomemos por seu "eu ver

351

350
A ASTUCIA CRIA O MUNDO
FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU

de um homem branco, ma^o filho de Harriet Bailey, a escrava^, ter sido uma mais óbvia indisposição psícossomática (...) quando
Esse eu é negro,
a plena força da<;[traiç^de Garrison caiu sobre ele, Douglass
Alem"diSsò, vemos Douglass afastando-se da porção anglo- perdeu a voz. Fic^ literalmente emudecido (...)
-saxã do seu ser se olharmos para a "cor", por assim dizer, de
sua voz pública. Como já vimos, em 1855, Douglass revisou a Podemos retornar agora ao momento crucial da história das trans
história do pronunciamento em Nantucket, acrescentando uixia gressões de.:feiêrrnes, o momento em que Zeus n e as oposiçoes a
noção retrospectiva de seu entusiasmo ingênuo. Quando descrevi história se dissolvem. De repente, Agolo^
pela primeira vez esse discurso, sublinhei o fato de que a tensão amigos;^ velho mundo se foi, q novo inun^^^^ Nenhum
do momento teve a ver com o fato de ele falar para aboliciomstas _ tnomento como esse ilumina a vida de Douglass, nenhum pai reco
brancos: "no encontro das pessõaTdFcor" Douglass não teve nhece sua paternidade às gargalhadas, nem o pai biológico nem um
problemãFpãfã encontrar sua~vozrDê^cordo com seu posterior pai espiritual/político como Garrison. Semjsso,Dpnsl^^^
senso de entusiasmo mal dirigido, agora ressaltaria um segundo igualmente de uma forma.„deJ'herança" paterna, uma estrutura
r 1^1
detalhe em sua narrativa: Douglass falou porque foi "instigado na quiílua"particularidade pudesse deixar de parecer anômala e
a isso pelo sr. William C. Coffin". O fato é que nos primeiros se tornar parte do "real".
anos de sua liberdade um círculo de homens e mulheres brancos Na viagem com Garrison, Dougla des _
% incitou, sancionou, apresentou e autorizou a voz de Douglass- ^ platéia que pensava ter (e perder P
I' Tambjm foram sua platéia simpática, seus ouvintes. Sendo esse
o caso, podemos perguntar até^"^ííp5Hi5Trpróprio Douglass
Nenhum garrisoniano estava interessado
litrópico
F Na
iNd Nova Inglaterra, najécada_de_1840, umse fosse
aeia como om_ o
Vi!.' quem está falando. E caso conseguíssemos encontrar o ponto de pele csLurd
f escura cecâBêlõ~ênC3Tãpínn q ' escocesas
baladas
observação ideal para nos posicionarmos, poderíamos atribuir iierdeiro
^
de tTinãrní^ãírbmígS^ dinleto das fazendas da .orato-
uma cor a essa voz? P^ios charcos
narcos, que extirpava o ^
diaieto ud a dar-lhe ouvidos.
disposto
Que o próprio Douglass teve de lutar com essas questões poderia não encontrar a^u_— ' i r
■ r,''
i'íí!\ claro a partir de um curioso evento que ocorreu no outono f Pelo comrário po^iraSSb"'' que queriam aquela fala de
1847. Douglass^.^Ga«isoi.-estavaffl-então..yu^ Pretos e com essa revelação, despertar e ver-se em uma terra
norte,de,Ohio,.fnlando-coriaâiUscj^^^^ mas ealgum Ex^de^t °nde a ünhTãe cor persistia. Imaginei Douglass parado sobre
S''
•''íií
•'4:
ter passado a cavalo entre eles, pois discutiram,
levaram-nos a um rompimento irreconciliável (O tema
suas diferença^ essa I- ■ Ir^ncas de cruzá-la ou apaga-la, quando

r'''ie ^
LXVe
Douglass de publicar o própriooposi ção .de.Walker
jornal.) Garrison-ao-deseio-de
escreve:
4'
'■'pi'
■""loCnZe do «Ml»» '"'"T, T "
^-bos. Ficaram fisicamenr^ ser um mundo organizado para mclui-lo. Então, era
rebroTerri——iMÊSEnmido^ouglass
ve semanas, com.seu- descobriu que esse mundo nao o incluía e, por isso, foi
sofreu com o que Sado a retornar ao limiar onde, afetado ate a mudez, com
352 353
'' í
FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU
A A5TÚCIA CRIA O MUNDO

a um lar, e a uma iden^de, a partir de dois mundos que não


"uma bandagem umedecida em volta da garganta"," teve de têm um lugar comum'ipara se situar. Embora a escravidão tenha
reencontrar suã^vÕzT ' chegado ao fim, a s^aração entre esses mundos não chegmuAqui
Parece revelador nisso tudo que o assunto em questão fosse o pareceria gnejo pspírito-Exu n3QJOu*efiuiu4'nrnnrraLümrasgo no
sejo de Douglass de publicar o próprio jornal. Que tenha feito isso tecida,dodêItinõ..A contingência histórica serve a ambos os lados
no ano seguinte, e que o tenha chamado de Fred^zLck.-DO-US^^ - algumas vezes abrindo novos mundos, outras vezes traçando um
Vaper [Jornal de Frederick Douglass], deixa claro que não apenas horizonte impenetrável. Onde a comunidade livre pode mante
descobriu essa voz, mas intencionalmente reclamou-a como sua. ficção de sua linha de cor, um homem esquece a tonalidade da pele
Quanto a como o jornal foi recebido, Walker encontrou uma carta para o próprio risco. Se pensa que é amigo íntimo ® ^ '
notável, de 1847, na qual um colega negro de Douglass descreve o espírito-Exu cavalgará entre eles e ^brará de sua desafor
para outro: "Você ficará surpreso ao me ouvir dizer que só dep ^ tunada dualidade. Depois disso, depoi^7, Douglass nao
í ■'
que sua carreira editorial começou ele parece ter se tornado fase esquece mais; e se torna negro, reimaginando a historia familiar
homem de cor! Li seu jornal com muito cuidado e descobri-O; e redirecionando a voz para uma platéia mais rec p
após fase, como alguém novamente nascido entre nós."" ^ onto H1 d. ,u. .»e «ascim». oc««u com
de vista desse leitor, Douglass tem uma "voz de cor". c.™ i Gu„. c,,.i,
1
além HfFrprlunnnplass. o escravo fugitivo auto i >—
Sej^u é o deus da incerteza, o^^s_que-pQ^^ um
vid^
teci3ò3aldestiR©^axa_quFumã^essoa possa escapar de um^—^ na porta qual é o melhor destino, cani^smo ou amrogeiíi a, ser
para outra, então estava presente quando Douglass
cultura daTscravidToTMas nenhuma oportunidade como e
a
CoS 'pí «osi. 00
surgiu quando se tratou da linha que os norte-americanos
rd"r""'°'"'«te^ógodepoód.mmp.rcomG.m»n.
dera. Como escreve Walker, 1 g ^ P
ram entre pretos e brancos. Não é com freqüência que g I^oüglass "acomodou-se ao luga q ^ pensamento e os
tnckster insistindo em uma fronteira, traçando uma Unha. norte-americana (...) Ele se educou , , , rapidez e
na história do chapéu de Exu temos essa narrativa^ modos da comunidade negra ^avia assimilado Caleb
dois armgos cometeram_foi_pensa^^ os ju fncihdade (...)",« assim em
eram, c^o dizem^oTbSaiSS^^ ' s rngham. Daquela epoGa.em. ^ ^3,.
dois homerthntorná^-mrefr^^^ (seus catnF^ avor de apresentar um nov jina® sem voz ou uma
eram separados por uma estrada). São não-um e não-dois- ^ ^ Çao pam,a^a.ra,a^Não mms
recorda-lhes que são não-um; cavalga pela linha que os seP^^ anomalia tartamudeante, ele fez
mostra como a proclamação de amizade tornou-os mconsC'®" ^^presentante dos Homens de
as adesões a pontos de vista particulares.
c ' He aual é o enredo trickster
® queremos agora retornar a qu , devemos primeiro
melhor se adapta à historia de Douglass,
355

354
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU
. 'f

nos perguntar sobre o ponto de vista de quem o julgamento deve -escravidão, no início da década^ de 1850 estava convencido je
ser feito. O homem pode muito bem ser uma coisa se você for o que a Coiistituíção era uma ferramenta utirpã^Témancípação
proprietário de umrfã2êna'ã"ántés~da'Guerra Civil e inteiramente dos negros.^® Douglass jamais concordou com
outra se você for.um iàriquê^do pós-guerra. Para o primeiro, diria ziam que os negros deveriam se recusar a votar ou emig£ar para
que Douglass foi um verdadeiro Lokí, um intermediário traiçoeiro a África: negros nascidos na América eram norte-americanos;
que, acrescentando estratégicas amarras próprias aos já apertados haviam ajudado a construir o país e deviam, portanto, viver nele,
grilhões, desejou.mudanças apnca I fprjí^<Lpa ra a terra natal- MaSj compartilhar do poder político e da riqueza. Nesse^assuntos^
em termos da cultura norte-americana mais ampla que sobreviveu era um ^oc^tico agen^ejnudanças. Mencionei no capitu o
à Guerra Civil, Douglass é um pouco mais semelhante ao Heriíl^s anterior que é destino freqüente daqueles que procuram mu anças
do Hino, um desencantador espontâneo de artificiosidade restri fundamentais acabarem contidos pela cultura maior, tendo suas
tiva; mas famEenTse parece com o Hermes das Trevas, que pode demandas reformuladas como coisas que "Zeus havia imaginado
cantar uma nova teogonia quando quer, convertendo os acidentes (••■) desde o início". Douglass permitiu que algo semelhante a
de sua vida em essências quando necessário e misturando-as às isso lhe acontecesse. Rompendo com os outros ®
porções imutáveis do mundo à sua volta. apoiando a Constituição,
Não que simplesmente esteja pretendendo fingir uma negritude fundadores" - ou antes, com o ideal daquel
mítica e essencial, embora isso faça parte da questão. Quando se quase ouvi-lo dizen "Amo a pura J
trata de credo e país, também deixa o limiar e desloca-se para um «A odeio a democracia c-WÍtà'®s Pundadores^«g^
centro estabelecido. Douglass havia-se convertido ao cristianism" ^ As paTavras Vr-à-e "ideal" tetro"
quando jovem e, embora pudesse ser desmoralizantemente sarcás "ão estamos mais assistindo_ajfgum--q®uut
tico em relação à hipocrisia cristã, geralmente deixava claro q^^ -iidad,.,,,^
nao falava de fora da Igreja, mas do ponto privilegiado de uma ^'^dudes supremas obrigatórias^ rénlicas não vê
:í cristandade "pura;^f^-QuaHdo, criança, certa vez encontrou alge
mas páginas da B>^Ua^na_sarjetítlevou-.as para-casa-, lavou-as e PKWema em promalB.i '"'"''eetoti.l e demoni.co, setogem t
E-í
xS secou-as e depois guardou-as em sua coleção secreta de material '^,'^adoras.'' ^rado e profano, dermos
áf ^pmssã- Isso revela sintomaticanlínte seu anseio'de mêlhd^f ®'^'l>2adorjusto e ifijus», decente e
de nao abandonar sua igreja, assim como uma típica observação f
.'1 1
■l.v*!
®'«ais, o- Velho Eloqüente aos deuses em
■^■ ih ■ ■
nm dâ Narratim: "Amo a cnçtr,r.^ j «terica verdadeira e real. o pertence, assim
,n:'; •■ :
c™„ poran» ÍjU « canção, como cada um veio ^ recordar
desta terra.'- escravizadora (...) cristanda . «uglass pede que os ^ ^ democracia não eram
M.. i^:v
■:■ bi; ' natal sob o Ponto^dfviTtaÍe'^™" ^ hipocrisia da tetj^ « terra original, onde a
tenha seguido por um te América purificada. Em
a Constituição dos
Cos Estad'"''?!^ abolicionistas
Estados Unidos como ao r®'®P^"
um documento '. ^àe preta"/^

357
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FRE DERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU
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Trato tudo isso como uma espécie de domesticaçâo porque nao de Cinqüenta anos antes, quando o irmão de Thomas Auld proibiu
ií apenas oferece um novo encantamento, mas participa espontanea
mente de algumas velhas "veracidades" norte-americanas. Vistas^
a mulher de ensinar o jovem Doug]assajêr,^mtM-q.ue"!PTi£r^
do limiar.dQ,.trickstgr, nenhuma dessas purezas existe; são ficções
alfabetizado "imediatamente se torMda^mgo3naieie,^® a
úteis, talvez, mas ainda assim ficções. Sobre o limiar, tudo é mais
havia acontecido naquele meio siculo. O escravo
ambíguo e o puro se casa com o impuro (na igreja de Jung há um
r.
monte de bosta caindo sobre o telhado reluzente, a saBedoria dos
Fundadores é mesclada de estupidez, a.Ç^stitui^ão é_aQiiiÊsmo
1%m nenhum valor" para o sen or ^
rar a tál ponto a noção de seu pai do mestteialer
tempo~racÍ5.ta.e náo-raoista, homens brancos falam em dialeto e
representada que viveu para —
negros cantam baladas escocesas).
à sua porta
^ i*'' E,no entanto,como acontece com Hermes,não parece inteira
'•il: mente correto dizer que Douglass é "domesticado". Por mais que
possa ter se acomodado à ideologia e à religião norte-americanas,
A história do^Bap^trde EiJfu-tef ^rnm
^ este declarando aos dois
fez isso em um mundo que ajudou a mudar. Se Douglass se ve amigos;"%ês_£tãoam^cert s. perspectivas no
devorado em vez de exilado, devemos reconhecer que a ideologia Pareceria, então, que o con i dirimido por um ponto
norte-americana se alterou por tê-lo absorvido. Um PQUglass qual os dois amigos entraram po ^ Q|iiar.jz,eaital,-G»me
verdadeiramente domesticado teria permanecido como escravo em vista mais elevado, a Udo e branco dp, oiitXQ"-
Maryland; vérdadêrrimente domesticadoTnâo teria visto ern seu "o chapéii-.de,Exai.T^eto li':
ternpoBe vida a abolição da escravidão e a Constituição emendada duvido que o espírito de Exu possa yersões da história nas
com tanta regularidade. simples, Há,em primeiro ^Mas mesmo que tenhaj-^beça
apenas í'/

A questão é simplesmemegí^^ entra em uma casa que mais o chapéu tem quatro core . de
ajudoua_çonstruir. Como^rmes,quandíle^dSbErdTpenfe^^^ ''nas, qual é.a cor do lado^5----—-' jgj2 escuro lá dentro,mas,
P^ra o ccntro,mxádMj:tmo^ Para demonstrar o^saboVdessa mudan Exu sabem comletteza(a não ser qu Ou então,
ça,para proporcionar a sensação do que significa ser um ex-escravo nesse caso, que cor continua ^ tom azul-páhdo ao
residindo no coração alterado de sua nação, vou concluir com u® não é verdade que a neve não é negro como o car-
pequeno e representativo incidente do fim d^ vida de Douglass- 'uar e que o mais escuro dos
Um doAÍêSÊeji^.^ejos.,^^ dele, Thomas Os temjoisãoçontex^^ metades
Auld, era um medico chamado<^onias Sears. Por volta de 1883> "lesmo que houvesse, a ideia e ^^^jjjtat a narrativa. De que
esse dr. Sears Ptecisou pejir_emprestados quinhentos dólares£?_£? « uma espécie de simplificação par
' largura^f^^,',
garan i^m^upoceca^A guem TO5rreÜ?T^rãõrecõFriíi''ao banco, é a fronteira entre o preto e °
■f ^'onteir.aai^^£2íU.ÇOiSO^^ depois a dobra
SsÍto rcr'T"''" do Registro de Títulos do ^'^meçasse.a-e-sticar.Q.chaFU.'JP° ^ g.ticando, espremendo
proprietário dde™
um '
terreno de quinzeP«^'dente James Garfield, «
acres em Anacostia..." ■!'> - esticando, espremendo, do^br^dj^ ,„tao
^"brando - uma centena ou
359
FREDERÍCK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU
A ASTÚCIA CRJA O MUNDO

17. Gatas, Figures in Black, pp. 88-92.


traçar a divisão entre preto e branco? Às vezes uma simples divisa 18. Gatas, Figures in Black, p. 89.
torna-se inimaginavelmente complexa. 19. Citado por Houston Bakar em sua introdução à Narrativa de
Para deixar nossa história com um toque de complexidade Douglass, p. 21.
norte-americana, um ^Itimo sinal c^^^bulência^nesse. 20. Da introdução de William Lloyd Garrison à Narrativa de Douglass,
máscaras histórico, vouobsêjiyar-^e-hár evidências- considerá p. 38.
veis sugermdo^que Üouglass era descendente de.natiyq_s norte- 21. Douglass, Narrative, pp.49-50.
-americanos_pojLpartej!i^ayó_rnatema..Afinal,.par£Cí^-um-p®^ 22. Gãtes, Figures in Black, p. 92.
Índi€h-Havia um primo Tom que dizia que isso era-verdade. Aaron 23. Douglass, Narrative, p. 61.
■ " -
Anthony costumava ^'hamá-ló'de'"meu pequeno indiozi •• E 24. Douglass, Narrative, pp. 114-15.
25. Douglass, Narrative, p. 115.
além disso houve uma vez,durante um discurso no Caríisle Indian 26. Praston, p. 132.
Institute,em que Douglass olhou para a multidão e disse; "Fiquei 27. Douglass, Narrative, pp. 115-16.
conhecido como_jiegro,--mas.gostana de.ser reconhecido aqui e 28. Douglass, Ni3rrí2í/Ve, p. 72.
agora comolndio."^^ De que cor era esse chapéu? 29. Douglass, Narrative, pp- 119,121.
50. Prestou, p. 133.
51. Prestou, p. 160-61.
Notas 52. Walker, Moral Choices, p. 214.

1. Douglass, Narrative^ pp. 60-61.


2. Pelton, p. 27.
3. Douglass, Narrativa, p. 79.
4. Douglass, Narrativa, p. 78. 455; Bascom, p.
5. Gatas, Figures in Black, pp. 5-6,17-21, 104-5. (p. 132). Gatas comeu probenius, pp. 141-43.
6. Gatas, Figures in Black, p. 20. pp. 32-35. Peitou —ta^ p,,ta IV, p. 4.
7. Gatas, Figures in Black, p. 104. Cabrera, pp. 93-94; versão inglesa em
8. Douglass p. 77. Prestou, cap. 1-
9. Douglass, Life and Times, p. 2. Prestou, cap. 2(sobre seus livros, p- 27).
10. Douglass, Narraí/Ve, p. 118. 58. Melville, p. 59.
11. Douglass, Narrativa, p. 65. Walker, Moral Choices, p- 256.
12. Douglass, Narrative, p. 62. 40. In Prestou, p. 201.
13. Douglass, Narrative, p. 151, Walker, Moral Choices, p- 256.
14. Douglass, Narrative, p. 47. Walker, Moral Choices, p- 241- 244;Douglass, Life
15. Bingham, p. 28.
r:;í 16. Douglass, Narrative n 79 Çr»u vt. D- 24; Douglass,ctado em Walker, Moral Cho.ces,p.
Times, p. 184.
Gatas, pp. 286-87. ' antítese, ver V. Smith, P
361

360
.y
A ASTUCIA CRIA O MUNDO FREDERICK DOUGLASS E O CHAPÉU DE EXU

44. Walker, Moral Choices, p. 244. ^0. Douglass, My Bondage and My Freedom, pp. 242-43.
45. Walker, Moral Choices, p. 244; Douglass, Life and Times, p. 185. 71- Para exemplos, ver Douglass, Narrative, pp. 53,67, 79,82, 129.
46. Walker, Moral Choices, p. 244. 72. Douglass, Life and Times, p. 101.
47. Douglass, Life and Times, p. 185. 73. Walker, Moral Choices, p. 231; Preston, p. 203.
lüi 48. Douglass, Life and Times, p. 185. 74. Douglass, Narrative, p. 78.
# 49. Douglass, Life and Times, p. 186. 75. Gleick, p. 51,em que o topágrafo é Stephen Smale.
50. Citado em Walker, Moral Choices, p. 245. 76. Preston, p. 9.
51. Walker, Moral Choices, p. 258.
52. Walker, Moral Choices, p. 366.
53. Citado em Prestou, p.l91.
54. Douglass,Life and Times, p. 186. A narrativa do próprio Dougl^®®
3i'i • sobre alguns desses incidentes está em Douglass, My Bondage and
My Freedom, pp. 243-47.
55. Ver Douglass, Narrative, p. 48; My Bondage and My Freedom,
p. 38; Life and Times, p. 3; e Walker, Moral Choices, pp. 249-50-
56. Douglass, Narrative, p. 48-49.
57. Douglass, Life and Times, p. 10.
58. Douglass, Life and Times, p, 10.
59. Douglass, My Bondage and My Freedom, pp. 240-42.
60. Walker, Moral Choices, p. 258. Para a narrativa de Garrison sobre
a doença de ambos, ver Merrill, pp. 516-27; para a história àe
Douglass sobre essa briga, ver My Bondage and My Freedom,
pp. 240-42. Walker acrescenta em uma nota que não encontro^
'nenhuma menção a Douglass 'perdendo a voz' antes do rompi
mento com Garrison" (p. 366).
61. Douglass, Life and Times, n. ifi^i
62. Merrill, p. 519.
63. Walker, Moral Choices, p. 246.
ím 64. Citado em Walker, Moral Chokes n 261
65. Walker, Moral Choices, p 259 '
66. iTie

67. Prestou, pp. 96-98.


68. Prestou, p. 97.
69. Douglass, Narrative, p. 153^

363
362
T

11. Arte trickster e as obras de artus

"Os humanos (...) não podiam se mover porque tmham


membros palmados^jemaniculaçoes, por issoo heroí
importunas e criou as ,untas arnculadas.
Laura Makarius^

"A essa crência da partdha,^^A. Hivisão, da descontinuidade,


^ Roland Barthes^

1 "íirte" me interessa-nrnjGu^Se^^^
do sânscnto,co^^^^ ^„„V^a^.rifuma coisa."
Mareei Duchamp^

/ ^ 5 e Fr^ejickB?£Sl§ss na
situar essas
^^^rutura mais abrangente do meu p imagem unificadora * '■

^ento recear um passo e esboçar


^trabalhdnoeo trlçtetérfazen^rels^^^^^^^^ ^,bre tncksters
^'■aha.úttençãQ.■ei'a..íSSí^^SL imaginação disruptiva e a arte
«mitológicos, mas também sobre grande terntorto; que
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTÜCIA CRIA O MUNDO

uma época do ano em que essa planta é especialmente importante^


porção desse terreno se cruza com o que o trickster faz? E nos países do norte da Europa,o visco era colhido ritualmente na
que lugar dele Hermes ou Douglass deveriam ser posicionados, festividade da metade do verão,o que eqüivale a dizer no solstício
agora que vimos como operam? Se Douglass é um trickster em de verão.^ Em um ano solar, ou em um ciclo vegetal, o solstkio
alguns sentidos, mas não em outros, quais são esses sentidos e para é uma das chanfraduiras np tempo pelas quais o ciclo se
quais outros artistas podemos nos voltar para descrever o espíÇ^ articula; marc^o-pontcTdé crise ou virada na vida do solfquando
trick^^a^indo-em-casos reais de^fa^er artístico? esse parece parar de subir e começa a morrer^
Em 1948,o francês Geoj^ Dumézil,folclorista e hiswriador^^ O ponto entre o céu e a terra^e o momento em que o sol deve
•> ní
inverter seu sentido: o yisco^presenm an^ps e ambos,_£2rs^J^,
religiões, sugeriu^ie istória nórdica deXÕkí matando;,-;no
Balder representam a vulnerabilidade de Bald^Eode ser ataca o
de
Oj^isco esta ligada por uma rai? rnmnm a um , çâo emre o céu e a^te^rra'(é'quaí& iomos os ideais em
lendg^ contadas p^íos o^et^ das montanhas caucásicas do^- revelam suas imperfeições)e é vulnerável no so stici^en
da Rúsjiaj.Entreis ossetas, o trickster semelhante a Loki cham^ o.loci.o«d= o »1 d... ouda.d.dteçio
-se Syrdon e o ^erói semelhante a Bald^-- puro, bom,
assQçxado::ao-sQl - é Soslan. De acordo com essa história, o .oe» p„„,o <,u.l,u« poltópi».o»k=o»do »
Sogj^ é^vuhier^el,^excg.to por unrponto fraco oculto no O próprio tempo tem articulações, po os
uma fra^ezar^ue o dissimuladò Syrdon, disfarçado de mul
consegue descobrir. Os outros heróis~õssetas se divertem ^ loeihos de BalderiaílSe^interpre^^ ; :i. ;'
com a invulnerabilidade de Soslan e, por esporte, deixam b:
uma roda dentada colina abaixo apenas para vê-la ricochetear a inteirado áas junções ocultas on e ^
Ocorrè--me que se as historias LaitiçulKãq.do
atingir o corpo dele. Syrdon, é claro,..incita-os a apontar a rod das para o l^inqpoderí^i^^^^ pois uma
para os joelhos de Soslan e^s^'^o puro'é ceifado." )Oelho;^e_:;solsna^^ sigpifiçax.iahtOc.umÍuní.a
A partir dessa breve históna~gõifraTtãrdé1:e^^^ a generahz^^^ nnica palavra latina, —7 sol^iPoLIu®
s^g^inte: os eteriio^^ãí^,adi^^ articulações. Para mat^' coqKiiiuantoji®.põntó rna-sè díro5e::Ç^
um deus ou um ideal, miren^s juntl^^ ^ente essa P^svra tem tal alca^ ^rticullh pertence
A história de Loki não contém joelho, mas articulações ai" ® P^uco nahistória das Íínguasjn^_ o uma
assim e sao instrumentos para a morte de Balder. Para
reflita sobre o visco fatal. Quando a mãe de Balder tentou protegJ„ -« .m
nm gSnT. ™po d.
grande grupo de «rmos
terniu= ^"unir",':adaprar~
-Io de todo perigo, pediu que "todas^s ccdias no céu e na terr^ ®ntiga raiz, -lOc-originalmente g. ^ „asTtaguas moder-
^ "fazer".' Muitas palavras em jun^eniurnsenti^
muÍrÒer"" visco poTque"esse P^f[ vêm dessa raiz, todas
nu-ôuttcL_Descrever os usos
esboçar
que o trickster
2,ÓT.ST? •*"*.«Sh,o .Isco «•" ;flte '^nliza em unificadora
® 'inagem relação às armadilhas
que da cultu
do trickster Ali.., d nenhum dos dois, nao o"- há
• ^omo mencionei no capítulo 4,
367
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

urtus^ assim como a junção que se forma quando um braço que


Há du^S-Rglavras gregas que podem significar "junta"- A brado se cura. De tais juntas fixas vem tudo o que é bem ajustado,
meira é(^hron.^"A íír//7ro«.-que-Jiga^ nxão-ao.braço.é bem ligado, bem fixado;em ambas'as línguas clássicas,o vocábulo
diz Anstòteltsí^Árthron pode também ser um vocábulo conect^ pará^jun^^" conota estabilidade e ordem.A harmonia grega vem
em linguagem, um_V;_^ujim^"^ ° de harmós e, assim como acontece com a palavra moderna, ela
fluxô~da7ila exigisse pequenos pulsos e cotovelos para se torna implica predominantemente um traçado firme e P^azemso. Com
inteligível. A segunda palavra, /7i3rwós, também significa nin a harfnnníji vem..Q-navÍQ~b£m...QQnstruído, a lira íem afinada, a
,>:• *1
junta do corpo (especialmente a articulação do ombro), po^^ casa d^Vedra sólida, com "cada bloco tendo um corte plano e
mais comumente denota as juntas feitas-pelos-axtesãQS.c.O-pcrlí'^^ bem ajustado", os planetas convenientemente dispostos nas orbitas
construindo uma parede, o construtor naval ajustando prancha j c a estrutura estável do corpo,da mente,do governo, do cosmos
o metalúrgico soldando uma fresta, o carpinteiro Quando essas palávras descrevem junções na linguapm, co-
porta - todog^ses
M trabalhadores
^^_ciua^it^UVlC.3 estão
C-dLdU fazendo haTrnoh.
^ notam novamente clareza e precisão. A
Os dois substantivos relacionados em latim sao Parações claras, assim comojimaboaj£arê£i^âi
Embora o primeiro derive da raiz -ar^ não ser refere tanto a )
tas ,mas a tudo a que nos referimos hoje como "arte": dTS c que quHíier animalpodeto^^^^^^
lidade,artifício, profissão e ação astuciosa; é uma arte libera > AnstofêléTcscreve:
negócio, uma performance e uma obra de arte. O termo latin
significa mais propriamente^ma articulação do corpo ^
rticulus, é um diminutivo de
4olfinh^(...) emite um,suinçho^H'^--S_^^
d'água e expost.Q..aa.ar (...) pode
;g|^H-

Um i
bom -
número de ■
. palavras inà^
atuais ém nossa língua ain a® pnjnjões e traqueia^mas como su na suj^ypz,'»,
esses protótipos clássicos. Temoa,.45.Qi.exemplo, "art^^^Lira) vremente,è como não temlabio , -
marceneito..QiLalguém.q„e^oiga3)^ "artificio"(uma coisa
e termos que têm a ver com articulações do corpo,como s
Articular, uQS,dias.debpje_, geralmente tem a ver com a fala.,
tambern significa a junção dos ossos,' como nesta descr'?^ ]
um velho livro de anatomia: "As juntas mais móveis [do ^ ■^npto de letras em palavras,\frase , p ^ vírgulas, pontos
sao aquelas em que os ossos adjacentes se articulam confof ^nis primitivos "artigos"), onde
finais e interrupções, é articuía-los,
Na maioria d^s ca;;;:r^-1 csasp^ O
pensamento tem junções pUos de demarcaçao.
as descrevem ^ ® ® '^^'"0^,as juntas que e \0i
A Partir dessa etimologia,
, ■ eAcoa histórias de Loki e Syrdon,
tricksters eu
como
pedreúfl^qnjtrói
juntas em questão sãn "l ' referência ao
®°staria de sugerir que penseis n . g^voividos
entre os ossos chatos d^cr^nTo'^ ^'"^''''' "^^'^dores d^rtó, conectores. que estejam m
^anio, por exèffíplõ, é uma
369 s »js. ■
■\v A
i .A

368
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

em fazer as junções firmes e bem-assentadas que conduzem à^^ar- Todos esses ppHnrns são então disiijhujdns entre humangs e
monia clássica, é claro. Do que os tricksrers gostam são juntur^ deuses." Ó sacerdote que preside o ritual pode receber um
flexiveis_gujnóveis. Se uma junção se desfaz ou se desloca de rins; pedaços preferenciais de carne - coxa, quartos traseiros e
um ponto para outro, ou se simplesmente afrouxa quando havia dianteiros - podem ir para o rei e os altos magistrados da cidade,
começado a se fixar e enrijecer, algum trickster provavelmen^te as entranhas podem ser usadas para fazer
estava envolvido. De várias maneiras.diferentes, tricksters àqueles que estão n^enferia do banquete sacnficial. Os d use
perturbadores das junções. Uma dessas maneiras acabamos
ver; trkksters às vezes matam um imortal atacando a articulação específicos (a língua la para Hermes, p ^^nfiauracão dos
-i.-T.,!

que é a fraqueza oculta.


a confíp^.rSn Ho animal passa a representaraconfigu ^
Um segundo tipo de distúrbio que já vimos: tricksters freqti?GÍ£-- mundos sociajjesEititual. nível,temos
mentedazem o trabalho de rearticulação. As histórias sobre
Há-iTuas ordens ^^^'"^roTupo, o mundo espiritual; em
ofertada proporcionaifi-osjTieJliorés exemplos aqui,porque o contorno do corpo do ' ^ criado pela distri-
cio na verdade envolve trinchar um animal nas juntas. Na Parte » outro nível, temos-oconrorno d g j^^^eçorre^ndein
referi-mé a Prometeu e Hermes como tricksters que tentam ma buiçao e que entrelaça esses mun • r--"- ■ [ cada um sendo
a maneira como o mundo está partilhado. Prometeu teve espe0
de maneira signi^va, é o que ,„iculado
de mudar a Porção^umana, m^s Hlhgu,.Hermes teve esperança signo e prova dos outros. O demonstrar
alterar ã própria porç'aã e teve^sucej^so-. Em cada um desses
a articula^ãojioj^undos^^ existência partici-
Pela congruência harmonw, Uma harmonia estável,
há um esforço para rearticular o cosmos e cada um deles
trinchando o corpo^-deuirQ^tóáí. Prometeu é considera ^
Pam em uma só gra^^estáv^^^^^ ^ porções
aliás, desde que algum mcfcsterna ^ segunda ordem e
primeiro açougueiro
primeiro acoueiieim ep o antigo.termo para açougueiro,
.,.,oírn. -
refere-se a "aquele que corta nas juntas"." Quando
'
ao <i.»ib.íd.„ po"''»'';'• o—idod. . =
^ssim mudando a maneira pe Q ^
dividiu aquele boi aborígine, articulou (juntou) um animal e
lale
Espírito articulam-se uns aos outro
cosmos simultaneamente,como fez Hermes quando trinchou s
vacas imoladas.
As implicações mais amplas dessas histórias, então, j j-orpo freqüentemente estendem-se
m tanto em como um animal é desmembrado, mas na 3'® retensões de congruênda com as desmembrafldflUmL^
nent ente ao pensamento e à fala-
'Sualnii ir^erva Jean^Louis Durand,
gaçao de que um desmembramento reflete outros_^dejB?5^; é eáforçar-se para nao quebra
^ entrelaçam
ciiireiaçam simBSIki" -''""
simbolicamem-c^ '
- -g.
fH°!«fac;s memáis vâd sempre concordrf a melhor manWa de tr.nchar oPor
mundo.
sso,
"T'
' ■""" «"«"laçoe, ,oci.ls e "ra momento nos Segu,.dos '
às formas platônicas. É memiíS de Platao revela urn
Aristóteles, naquele momento
''""Bueiro desajeitado. A fd-LajteJílf \
2-po?d „rr; -rr " 'ti-
' "^"'dadosamente separados uns dos out
muito adiante do B0ÍLnJaaue.lJffl52- \
371

370
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS

Como o sacrifício grego envolve animais reais trinchad^ No entanto, algo essencial para seu fnncionamento ajnçkxstâ
longp_^dasJ,urLtai7éle oferece um exemplo particularmente faltando. A natureza do elemento ausente emerge tão logo obser-
para se falar dos rricksters como trinchadores, mas não vaníTs-qiIé o plenamente articulado sistema olimpjçodedmsoes^
limitar essa imagem a algo tão literal. Em muitas culturas, delimitações pemaniiiHümS menosquydgmiâ
a possibilidade de rriovimentação «\nej,uaS-Ês£et.a,l^_JlIL_
vimos, grande parxe-da-ação dos tricksters corresponde a Introduzido apenaTdTpÔis que a
reconfiguração (desarticulação, rearticulaçãoj do ç cosmos havia sido àlcançad^e_seus limites definidos, Hermes
cerca.:Exu, por exemplo, posicionando-se entre a humani^ ^ personifica esse princípio de mo^mítito. Hermes
os deuses,representa a possibilidade de redistribuição, que o cosmos retenha sua estrutura ordenada
que os elos entre as coisas sobre a terra e as coisas do ceu p ^
Lente ,tist,t».t«o.it«ct.m.«tr»e«scot«po«e«t«urnc«Wos.
se afrouxar. Uma vez que Exu tenha sido invocado, o pr ^ ^
destino deixa de ser tão fortemente atado aos eventos terren >
j ~
>i.i«
padrão moldado no céu não precisa determinar como íií cot^ .0 d.„'djT5r'fwdo,».çã., ° ^
acontecem aqui embaixo. damente separado dos outros, mem cérebro contra o
Em todos os casos como esse, a arte do.trickster .en-vo' q os ossos, barreiras impenetráveis ,,^fgsfossem
com Qique venho chamando de articulação de segunda ^r. j^eio Sangue desgarrado e assim por dian e. .
trickster desloca os,padTÕes,^m relação uns aos outros e, ^ais que neiihum órgâo^dxSSêJ^ ^^^a deli-
disso,redefiné os pSr^e^m sL Onde uma grande harrnorií^ Antes que um corpo possa ganhar vi , órgão deve ter
a naturezaí^ a sociedade e o céu,o trickster interfere com ^ ^haçêo, deve ser.,permeada de algum , sangue, bile,
Nisso ele não é"" o assassino que vimos com Loki e q ^^us e passagens através dos qu fluir. A menos que
é um criador de artus ainda assim, desfazendo velhas harm ^nna,feErctíe,neurotransmissoresj p
algumas vezes,especialmente-se^tiver própria lira,cantan possam incorporar forças própria articul^^?*
para preencher o^^lêncio que se segue. Orgânicas estão em
No cíí5^j5IiVp5-Í^"®^ essa perfeição,soljdi&ar
I íi Atacar as juntas para realmente destruir algo ou peloS umaWdência a se aperfeiçoar e,co pcenciosidade,
mudar o perfil das coisas: esses são os primeiros dois senti^i^ ^^^ososhmites: Adéusádàcasti a . (^pj^rnâo-perni^
quais triclçâl;ei:s^>sãe--e«flílQrPc
y „
r\^ artus e suas
ouoo
rcalizaÇÕ^^'
^ j,)
^5, ° deus-drrazão não permite confusão. ^ Ate
de artus. Ha mais um. Em um ensaio sobre o Hino a ^
Jenny Strauss Cláy pergunta por que, entre todos os ®^tranhos na cozinha,o deus dajuer mera
historias os Hinos homéricos narram,Hermes é o últirno^^os ° Poríto-eS-q-iTe cida esfera e ? j ^derá a vitalidade.
e seu''qu^hão das coisas^ suas honras.'' , da^outras e a estrutura ;btuundaH>e«l^«";
ícam^qüe ria época ein que ttermes aparecb todos oS çl^ -rl®'^tureza de Hades.selar gua natureza sig
a-
®^S«rapa. Mas quando a plena exp
que Perséfone não pode retornar P ^ ^ pn^aver

373
372
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

em domínios que não falam mais as línguas_,mis^ dos outros - ou


nunca chega e o inundo começa a morfér.Então os deuses mandam melhor, teria se fragmentado não fosse pní T.egba. que exerce a
Hermes para trazê-ja jiexoita. tradução entre árisfefãsTÉ ©"Tmgüiata^cósíníSG^ cada
O sistema olímpico não é de forrna nenhuma o único,exei uma"JásTTniú7s que osTrmãos falam e sabej&uâlmenteAJúigua
um tricks^^cone.ctaiido..um-Cosmos articulado. O mesmo padrão da mãe.'^ Se Qualquer um destes desejar falar com outro, deve
aparece na África Ocidental — com algumas variações interessan procii rãrféfrha. Os seres humanos estão eiTiposiçãosimilaa£fflo
tes. Tome-se como exemplo a história iorubá de como Exu trouxe Exu, Legba é um~deüs da divinaf^o_Bortão pelo qual devemos
o oráculo dos coquinhos para a humanidade (o que foi discutido passar sê^mõ^môTentrar em^-ontato com,os deuses. No vo u
no capítulo 5). Os 16 ^deuses estavam famintos porque seus^SJ^®^ haitiano, os requerentes pedenu "Papj^^gj^fsdte as arrei^
errantes sohre^^erra haviam se esquecido deles e não faziam mais Pâranum:',^» pois apenas com a>ieWeiegba as outras deidades
oferen^s.,Com iomcj-eles-ficaram enraivecidos e briguentos.
dominar a fragmentação crescente,Exapresenteou os seres huni?-^®^ ta:ir;faTex;ndem nossa noção do que pode acomecer
com_^gq^qu^faria com que eles quisessem fazer oferendas, ^ ««10 h„„„, fia»,«.«
da^ivinação. Essa arte envolve 16 coquinhos^ um para cada deus? Articulados de um cosmos. Em p m «a inicial da
e, para aprendê-1^,o propaoExu teve de-viã]a7aoTêHòrdò'fnuí^
indo para^^dTum dos_^16 lugares" para "ouvir 16 ensinamentos • 18
c,piri,„.í rí" .t
Um detalhe latente nesse conto iorubá -que os deúsesírjgP/"'
h«,ia io,«birSr,=sundo, ,u..d« « S.
tos tinham um problema_,^comunicação entre eles - é tratado «...Cão, o, d,«.c. «âo fLi»™
lingoa, ao distinccs d"»
com mais nitideí em uma narrativa pãíííela originária dos «sses dois detalhes juntam-se e riííménmatow dos deu-
vizinhos dos iorubás a oeste, os fon. Na cosmologia íbn, a deusa ®l«ÍÍÍÇÍOh.í!£>is aqui esse nao aP®"® ^ tradutor,

í^-
suprema teve sete filhos no inkio dos tempos. Os primeií^Tsii® 3es, mas o trickster que é seu Tanto a
deles reinam sobre domínios específicos: a terra, o céu, o mar,?^ ° intermediário que ^^^30 situados, ou passam
Cada filho
um idioma único de seu território. fala uma língua
Nãoj:Gíi5.eguem diferente,
falar.uüS^'''^ tradução quanto o "icuiação e mantêm esses
os outros,nem,^o^^ recordar-se de comó se comunic^^ ® existir, exatamente nos po fj.;(;i<;ster criadorJe_flrteSi o
com. ,„e é a o .é.imo e mao jo.«» pontos abertos; são õridiomarou entre o
filho,e Há c„.iodia.;ã„ j. Legtajff■" ^"ista da fome que habita as fendas entr
^ indicação de que Lego^^ léu e a terra.
— ^LPutr^^ fiihosTGfímfS^T^iT.TlV^^^
-r . ' ■ de obra de artus interior talvez
"tSIS- " "««'"íífoTq.emí^oi'» ° ' i^icksters que fazem essa especie ameaçá-io..Iiera£S,.
m JcuMlSiScôllãs-™"''' ™ ■P""''"""' Pareçam reanimar o cosmos s ^ olímpico mais
menos de acordo^cjS^.^^-"- . . g^us cruzamentos de
flexfvepyeníTO da ordem esta e e > superam a
mos tão berrfci?'" ^ fronteiras não desfazem a hierarquia, diz
375

374
.STtrSKKSTtRt AS OBRAS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

h||í i
/ "
"insi^ncia de Apoio em limit*es ordenados".^'
que conseguem ttanspot essa ftonteita. 9.4talhe revelador que (i^i)r m! I

lhante,^ps fon jamais imaginam a "explosividade demoníaca^ sustenta a noção que Clay tem de Herm^és como,finalmente um
Legba.chegando ao.cent.ro do lar ou do reino. Como diz Robert cruzador de fronteiras não disruptivo é^ua amizade com Apo
Pelton,"o poder [de Legba] de abrir e fechar passagens servira a fim do Hino. Clay vê Apoio como o ^onente natural de Hermes
vida humana e não a corromperá,desde que ele não seja autoriza
no poema porque "em Apoio os gçégos recorto
a assumir o controle sobre seu centro"."
mantéma.ordem e
Ambos esses retratos me parecem apropriados se os matizarrnos mente as que separam déuses e mortais . Para que ^
imaginando que as histórias de.vida.d.os trick.sters..dividem-se ^ Apoio se desloquem
portanto uma espéciedodeequilibrioouestabihdadeentteess^^^^^^^^^
antagonismo pata a amizade isso ijl^a
duas partes: há um período passado de "primeiras proezas c
pois há ações em andamento no presente. As primeiras proezas funções.» No caL da África Ocidental,Legba -tato
maioria dos tricksters rtalmenté anulam a hierarquia, uitrapass^ precipitar as rixas que colocam o a tetra e
retorna e )"nta o que estejam
limites, assumem ooontrole do centro, desordenam o cosmos,
caso de Hermes, para das apenas um exemplo, se é correto O Ceu, mas depois indfiFã^va j ^
que o gado, uma vez roubado, transforma-se em bestas ^ conectados mesmo estando desconec ■ ^
cas, e depois disso passa a se reproduzir de maneira sexua'dá f ^ suprema se retire deste mundo, mas ep
abatido e devorado pelos seres humanos, ou se é certo anrm^ djvinação,Para,q.ue baja algum mte^^^^^
' iVi
que quando Apoio entrega o látego do ^iadeiro para o
desse gado tó uma significafi^Te^Sístribuição de poderes,o"/.®--; ele possa abarcar (...) os outros
sacrifício hermeficõIrãrKfèFé-Seu autbr ao panteão, então
dos "movimentos de passagern e penetração" do deus rece ^ De mícrí;enmõ^ir^^
-nascido alteram a estrutura
rmt-Mr-i do cosmos. XT
No exemplo
^1/-» àa
Ha disQÓT^ia ou de artus não domes-
Ocidental,Legba claramente chega ao centro das coisas quau ^ do O Inicíaímente, são os cn uma vez que
mundo está sendo feito, separando a terra e o ar, este mundo e ^^cados que fazem ou refazem o mu criado um lugar
celestial. Quer ttagam a morte ao mundo,roubem o ^ trabalho se realiza, e uma vez ^ j^ais domésticas
sem constrat^ento^^ proe^ si, podem assentar-se para se t compor-
os tncksters perturbam o velho cosmos e criam (ou revela^) mantêm o vigor das co^sa^^poim Hermes avança
^^mento que chamamos :r[o há rupturas profundas
Depois disso, porém, se são do gênero de criadores, ^ Primeira fase para a segun a. no 1 Apoio fazem as
interiores que estou descrev;nH' "' "- u.m dei^^^ ^ "rudanças cósmicas, nias, uma vez que
essas veTKárHiri-— ^^^do aqui, podem muito bem
^ ,Tfá Se o segundo é ordem c
mundo,m„afi„u|, r'!!"! ",ivo>
' E^^en.o,,n,ão um equilíbrio semelhante l'
OS mortos,assumirá seu n t ^ ° '''stinções entre o ^
ra seu posto como um dos poucos personag ■^orno seu "melhor amtgo".

376
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS

pazes, torna-se um agente interno de mudancas cuias-açõffsmão reencena a trapaça ptQmetei^(separando a carne dos ossos), ,no-

mais alteram a conformação^o cosmos(nunca mata Zeus; nunca vãmente os divide. Prometeu é,asskn,um s^arador-conector e uu eno

traz o apocalipse). Õ mesmo é verdade para Legba: no princípio sacrifício, como expressa MufééTDetienM^o consumo da carne
das coisas desorganiza profundamente o mundo,mas depois disso efetua um distanciamento enfrè deuseS^énomens no momento
joga conforme a estrutura que ajudou a criar. mesmo em que obtém a comunicação entre este mundo terreno e
Tal jogo não assegura exatamente estabilidade, porém. Tra- aquele dos poderes divinos".^®
vessuras sempre encerram as sementes de rupturas mais perigosas. Um tipo similar de conexão/não conexão pode ser encontra o
Assim corno qualquer..animaLestá,em risco por conter42J:itoS-P^ na maioria dos outros lugares onde vimos a imaginaçao trickstet
corpo e juntas entre qs ossos, também qualquer cosmos corre em ação. Onde ele é o primeiro ladrão, por exemplo,seu roubo e
risco simplesmente por ter um criador de artus domesticado geralmente o.qu^gnifea^clejestad™
por perto. Se há momentos históricos durante os quais,j£âlí^®® para outra sStréáíment^er a delimitação
mudanças são immFhtSsrpõdém ser exatamente os (em outras furta ãTuracTianíTo elimina a ^í
ocasiões benignos) criadores de artus que as trazem. O trmlSâES'^ encontra um buraco nessa ^cmarcaç^^^, f,,hadura).'
domesticado é como o fogo domKt_icado. O fogo contido por um» porta da caverna da ma_e^de£__P^^
chaminé bem construída não porá a cásTem^riscò^ más abdongo o" trickster é o ifjqtnar
dos anos a argamassa entre os tijol67polle rachar e desabar e de comércio que permite ,mjs.n^^^
então, naquele dia mais frio do ano, quando alguém empilha os P^rentesTgss^^Trã^^ nas histórias da África
gravetos para avivar as labaredas, as chamas se estendem-cn"® conectadas com q_resultado.dl^o- 'j jes e adivinha para
ti)olos,^cendem as ripas e a estrutura de madeira e incendeiant a Ocidental, onde o trickster -duz pa« ^
casa. Urn inuseuj/^ n^nani^caTem uma pedra de forja e® os seres humanos,antb^s
que algum ferreiro nórdico entafhõulface de Loki com os láb'Oj oectam sem conectar. Cada g^^olve umao, o
costurados, uma imagem vivida dologo selvagem bem contido- fazer isso revela a distancia. humanos lançam um
Mas,na arquitetura mais anipla do mito nórdico,chega um teiOP^ P^ro triunfo da separaçao. Na ^ ge^ipre enigmática,
em que Loki se liberta das amarras de couro e reúne as forças qa^ ^Ihar aos propósitos divinos, mas ^ assim como faz
levarao o cosmos ao fim.
^ divinação simultaneamente
^ma de suas formas modernas, a admiração
Essa ideiajej^^ie^^ força ^^^üWssas são artes traiçoeiras enao
ambivalente.„embutida que node
um novo modo dudescrev! ..'"'^arpilã^aTaçao sug esclarece algo que me in-

Para citar a i4nção ^"!o como uma


■ ™„ções entre
coisa que chama á atenção T -é . Co' ^ rum
<^oisas longo
de que P ■ para viverliesta
precisamos
terra? Por °
j^divas poderia apaga
os
permite
que o ritual simultanearn ® ° ™enos..na tradição greS ° «0= A eesposta é que um o roubo ^"^^'^'al^ode.n
,"'s teinos e os deuses
o comércio deixariam
quanto de se t-ora trickster em açao,o ceu
a delimitação,
———^qses,^as ao mesmo tempo? ^•^car sem se tocar.

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378

h
A ASTUCIA CRIA O MUNDO ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS

que os sábios íorubás entoem a face de Exu nas bordas^osja- e, tendo feito isso, mantém vivida sua forma articulada. Para
buleiros div^^^^ips (ço^mo deveria estar^èntalhadõ^a inesinha a primeira dessas tarefas traz a bolsa de truques com^^ji^is
de centro do analista, ao lado da caixa de lenços de papei). pode
r
desarranjar
''"
a configuração dcTmünHTHê^p^õÕum^^
rio' ülL'nr>ln fllflnffi C
De formajemelhante, a trad^ão de uma língua para ^ refazer suas |untas se_
obra de Exu,obra de Legba, Hermes-nêutica,e embora pareça co mentiráídescaradas de Hermes marca o momento em que se torna
nectar dois falantes ou comunidades,não pode realmente fazer isso claro que o recém-chegado será capaz de se deslocar da obra de
enquanto o tradutor ganhar a vida no espaço entre eles. Se "rtus externa para a interna. O riso de Apoio contém a proinessa
de Legba e seus seis irmãos fossem realmente-uma família unjd^^ da amizade deles, depois da qual Hermes, com a mesma bolsa
não precisariam dojétimo irmão para conseguir conversar enít^ de truques, certificar-se-á de que nenhuma fromeiraobspi^a
si. Podemos por vezes presumir que uma tradução proporciona se transformará emmõrlããrrélT^^
uma^ãnela para o originalv-mas^çom a mesma freqüência, como
diz Derek Walcott, 'í^raduzir é trair". Um velho trocadilho-^' o Proprio Apoio concretiza essa p conector/não
Mâno-traduttore, traditore; tradutor,traidor- lembra-nos de q"^ Particulares nos quais Hermes op rr^o- é o mensá-
o tradutor que conecta duas pessoas sempre permanece entre ejas. conector interngqem a honra de própria
Tradução,divinação,sacrifício, roubo e mais; essas são as artes geiro dos deuses e o ^°"^"7S^„^e'£Abeih$,)que às vezes
conectoras/não conectoras e cada uma delas é, portanto, bem sim ^orma de divinação,o orgculotiã^T^
bolizada como a artus, que é uma junção flexível ou a limitação mentiam e às vezes diziam a ver a operações do
que é uma membrana permeável. Afirmar isso é em certo senti Além do mais, agora que es outra obra de
do, meramente reafirmar a velha idéia de que os tncksters e suas mickster em termos
ações corporificam a ambivalência,mas isso é reafirmado em uma e outro dizer, porque a
linguagem que torna claro por que motivo podemos considerar ^omo^a^artaroutedâifi-E^^^ boaquanti-
os trictoer^p^n^^, emmm-antig^ bra e o próprio Hmo e o cria go^nciusão por chamar
sentido e suas criações como SEms de arte ' ade de versos do poema inc ma L. , No início do
^ menção para o próprio ^"^'^^njgs.oxpetimentandaa Ura
mo,por exemplo,o poeta desjsy 7guc( 1 £.Maia (...); difundiu
"Aquele que chamaíí de sétimo filho" mcem,,r^^g_^^;çantoiL^ 30 uma descrição exata do
^ história de sua famosa concepção ), um
Esses vários modos de . . i^rõeS
oferecem-nos uma oporti ^ refazer articu ^ nessa nova terminologia,diria
Hino homérico a Hermes ■""a reapresentar apenas nm exemplo ..„oféu de seu roubo juvenil" não
esclarecer suas diferenças O ^ouglass,inas tarn ^ = oarne que Hermes pendura no . «p. uma nova arius ou ponto
artus em dois dos trêc -a do..H/koJ_uni^La-d df «sinala o fato de que ele não a corneu,^ g „ovo sinal
d, ^'marcação em relação ao qual jeste abundante mundo, cuja colocação
jando~ás"juntâs pafa i,: Não é Syrdon, a ih,,5'^"'^uação, uma nova junta na ^
'•""" «MOÍ na.,e.rtic„la o c»»»"" ^ 3 maneira como o terreno e i o-

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380

•1
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS

que qualquer platéia assisliado aq hinpjiô.jexeçutar_e^a_caaçââ. o que acontece com a pl^ia enquajito^-scuta^de ser algo
acabar^de ver_e ouvir. Em segundo lugar, se entendemos 9u_l 0_ semelhante ao que acontecia Apcdd^o fim do Chama a
HinoJjomérico era cantado em celebrações gregas como.prgld^^ lira de "cura para as inaui/tações desesperança^'; diz que ela
de apresentações mais longas, então ouviremos outra fusão entre combina "deleite, eros e doce sonolência"Tclaramente ela e o :ii!.
Hermes-e^O-jiinodp..quando chegarmos ao verso que diz que o prrri|if;n ° l?Hd5n-não da Hiferenoaçagenaolarada
deus canta a teogonia a Apoio "à guisa de prelúdio".^' O hinodo e da ^ua mágica arrasta q"®'"
está cantando um prelúdio em que descreve Hermes cantando ouvindT^long^dji^^P"'^ ^'""""rlZã
um prelúdio. Por fim, essa.canção.sobre como Hermes nasc^^ expandido de nossibilidades
^ herméticas.
33 pSob sua
issomflue , ue
SOU lemoraco
veio a ter seus pqderes contém uma-descríção dele cantando como Apglo^hafSr^^n^^^ _ ^ ladrão:
os deuses nasceram e passaram a ter seus poderes. Em cada uma
dessas passagens o Hino é autorreflexivo, como um desenho^^^ alguém cuidadoso e respeitave pvrelente! - agora
contém um desenho de si mesmo, ou como a exagerada historia sombra entrando furtivamente ^agoraaquelascoh
dos nativos norte-americanos que contém o Coiote contando existíl possibilidade do adiante.^" Na mesma
uma história exagerada, ou ainda como o músico negro ^io^^^' sas a qug_q ego havia se '^;giil^^^;;;;p;;;7-qSrquando tem
-americano de blues que.canta "sou o cara, aquele que chamam bnha.TunTãmiga como a vida pode
de^étimo-ÍTlh-o",32 forma que os ouvintes podem saber que sua pacientes que parecem incapazes loteria: é muito
arte brota de Legba, o trickster cujos labores mantêm as juntas ser diferente sugere que comprem 3 espffmiçã
u da criação flexíveis. difícil manter as asas^ja^titasia ^7;-T^tso7^cantando com
Se aceitarmos essas dicas internas e virmos o trickster nO a*" de um ganho de sorte^á_guara jogador) e outros
tista, então onde está o antagonista? Se Hermes é o hinod^iHÍ?^ sua cariçlíõrbTímdbbmvoca particular é uma fantasia
ondejremqsenco^ Apoio? Apoio é a platéia que escuta o tttovimentadores psíquicos. Essa c ^^jg^ivas, uma fantasia de
e a performaníTdòliinodo é uma espécie de ataque de Hermes de liberdade originária das eman jeuses tornados
ao lado apolíneo dela. I^gine essa platéia por um Roubar dos parentes e conseguir q , ^ serviço da barriga, de
Chegaram a algum eventb festiyqyindb^b~h^d5 ordenad^ ^^lizes por casualidade, de amor ^ ^ brilhante
todos os dias^coi^^ ^ ataques"de vergonhí^í"^'' falar do verdadeiro desejo perante compacto
aque_l^e_^m da linha. Como aco;i^coin" q-ualquer um d ^ bem-sucedido irmão mais ^do o mundo coloca
nos, uma p-^^-sua psique é apolínea; parte dela segue a reg co„„ p„».»e«r »
do jogo, nada faz em excesso, espera receber os pesos e med^^a^ arreiras no caminho. Voe j—
filli exatos no mercado mam-^rr» j- a l rnanu» ^ andar para trás? ^
„l,e.,.nh.„„ ' í"'~' >'
mãos e assim nA ° que lava insistentement P°dera ser quebradas sem equilíbrio ènp3ffl!ías.
cantor que tange a cidadãos
% encantador e inofensivo " melódicosobre-^
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encena um ritual de inversão, uma espécie de festival psíquico do vezes em que T.évi-.'^rranss camentoii Hiretafnente sobre tricksters
desregramento, seguido, como tais festivais costumam ser, pelo fala desse aspecto. "Por que", uma vez/perguntou, "porjoda a
retorno do propósito, ou melhor, pelo propósito revitalizado América do~Nõrtê"Õ^ãpel[do trickste^ designado praticamente
pelo contato com tudo o que normalmente exclui. Idealmente, a cm todo lugar ao coiote ou ao corvo?" Sua resposta começa cora
experiência de tal história deixa o ouvinte não tão liberto de todas a hipótese dé que "o pensamentÕm^ítico sempre progride da cons
as restrições quanto de sua tirania e, portanto, mais flexível e aber- ciência das oposições para a resolução delas ,uma resolução que
to à mudança. O contador da história oferece "Apoio e Hermes requer a descoberta de um terceiro termo, um termo_dehga£ao.^^
(ou "o Filho do Chefe e o Coiote", ou ^-'Yasoda e Krishnà") como Comc)''^mnlo T.Hvi-SLiausrg^iéce^im conjuntode
Comó^^xemplo, Lévi-Guausrgteiece^im conjunto ue oposições
símbolos abertos no interior dos quais qualquer ouvinte pode verter paralelas-vida^ímor^gto e gi^a,herbíyoro^carmyp-
seu drama de transgressão e comedimento e explorar as possíveis ro^ e depois sugere algumas resoluções: a caça é_a_ponte ejre
resoluções. A platéia que oj^vetjtral^u^ narrativa de trickster passa "agricultura e guerra"; os que se alin^tam de
por uma espécie de obra interior, um relaxamento e uma medíàção-enttí^frbívo^ comedor e ca
pausa para respirar em reiaçã&tsülm^ões psíquicas. Exatamente
A ^J _ _ S 1 • >. ^ pasta cciififriTfirfiéfbivo^^
asta comõHHTherbívoro,
.
mas come
.. o nara o enigma
como Hermes e Apoio acabam ligados um ao outro e o panteão E o "comedor de c^diveres»
articulado por meio disso se revigora, assim a psique do ouvinte do trick^ster^Tévi^uss, pois Corvo_^Çoim^^^-
pode ter suas funções relacionadas a um outro (conectado/nao ambos de annnaisjlKíJm^ "pensamento ®" '^
conectado, articulado sem ser dividido) e, portanto, revigoradas- descobre-neles o espaço entre os designa-lhes o papel
Isso não significa que o trickster unifica a alma, mas que seu co a partir disso, no caso norte-am 5
mercio pohtrópico põe seus poderes em contato uns com os outros genérico de mediador cultural. funcione tão bem
por meio de seus divisores necessários.»
Em resumo nao é apenas em Hermes que encontramos vários ^^anto Lévi-Strausspode ter
tipos de obra de urr«s; as próprias narrativas trickster fa^em ^ 'rieia de qiJe^ãsliarrativ^de^^^^^^P^^^^^ Corvo comendo
dupla tarefa de demarcar e violar as fronteiras entre as cultura' ^iticQj^rocura inedíaro£pii^^-^^^ (ou, na versão
em que são contadas. O trick;;fpr r,o
/"iiio

PI .
, ..
J

na
• -
^

narrativa
narrativa e
e a
a propna
narf^
prupi*" I
Cadáveres se posiciona entre he ^^ Corvo roubando a isca
iva. Ela cria e habita um espaço ambivalente. Uma das po"':®
T-i . "«1
apresentei anteriormente,assim c categ^íâ-áêJ^to^'
posiciona entre predador e presa q intervalo entre
Essa linha de pensamento converte em e
é o necessário criador de artu^ i-- :kster
dotric-
psicológicos a imagem do
quí
ser
uma categoria de arte, "^ . j^^amente marcando
traduzida em termos políticos casn Poüteístas. A imagem poderia Pol^ades
diferençaseecom isso as articula,
estabelecendo umas.ponte ^^nto
policult^ais, aquelas em que nc SC torna um
q^al nem se n de comércio enU
.dent.dades d.stintas sem jamais se to ""^ade, de-S^aiTque A notnínhào,t,pOTOUtro,
maiona dos debates sobre "mu ticub r'' '""g"'"«=nte separados uns dos ouU
argumentam
(devemos por unidade
preservar nossa(rei de "
ident dade, <•"'™argumentam
dois campos:poraqu^l^jo
s^PfJlira .rlorcs de cadáveres, por ^ modo
o não são exclusivamente '^'''"^.^"i^norte-americano, a
posição(e pluribus unum) fracassam para encontrar uma terc
om comedor de cadáveres.^

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A ASTUCIA CRIA O MUNDO
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS

em que cfíoiot^enta resgatar a mulher da terra dos mortos, mas sentidos porque Douglass não é, de fatc^^qmoJHer^s. Douglass
falha e cria-aÍTiorte como a conhecemos,ele vai para o submundo é antes de tudo um S^^r^n ou Loki, umtrickstêr-deiim so-truquc
e assim^pera a barreira entre a vida e a morte, mas ao mesn^ atacando a cultura escravista nas luntas. A Narrativa é uma roda
tempo^eus impulsos o superam e a barreira permanece. A própria dentada atirada nos joelhos das verdades eternas da escravidão.
narrativa é uma espécie de junção flexível, mostrando que os dois Douglass não almeja o projeto da cultura escravista para reconci
pelos que são seu tema podem e não podem ser ligados. A historia liar seus opostos; em vez disso, pretende penetrar o código daquela
de Krishn_a roubando a manteiga ultrapassa, maS-Jambérn cultura e torná-lo sem sentido. Faz a mediação entre seu lar escra
va, a separação entrejD_menLao.-e_ajiiãe^ história oculta aquele vista e seus leitores do norte e entre acompreensãod^
terreno intermediário em que a ambivalência da.dependência e escravo sobre suas vidas em comúinrnãõF°^'^g'^"'^
independência familiar pode se^representada. conecíTdíüi-dSSIISd^s enquanto deixa suas diferenças intac
No caso do homérico^ tanto Hermes quanto o hinodo qi^^ tas, mas como tradufST/íí^,aquelejujasme^iapi^ o
canta sua história móStTám que sempre haverá passagens ocultas mundo em que tiascFi2Sm)iuiiladQ.Íi^
através de qualquer barreira apolínea, mas não suprimem Apo^^' Acim-a-it-;ã;:Ítão, Douglass nuncaé o criador é.artus,u^
jogam conx-annente^Qpositiva de forma que quando a narrat^
acaba, como ao fim de uma boa sessão com o quiroprático, as
mantém vivo o cosmos articulado. Jamais nutre a tt^ve^ura pcosa
que deixaria o todo intacto enquanto dá as juntas
juntas psíquicas do ouvinte foram todas manipuladas,destorcidas terapêutica. Vimos isso claramente na recusa as fe ividad. d
e relaxadas. Todas^asjmrrativas de trickster são ob^_àçJIÍ!i^ fim de ano. A satu,pllja,da es—
nesse sentido. Não são, como às ve2~es~sê"afirma, simples narrati
vas profiráticas destinadas a mostrar a transgressão para
uma tnve_r^^tBpleiajua^^^ ^
pessoas a evitem; são experiências revigorantes de transgressa^j senhores podiam de fato Douglass descobriu:
embri^uezes sdutares de ambivalência. Se a articulação flexi^^^ u mesa, mas os efeitos eram si v j^j-nava com autoridade
é uma necessidade, assim tambéííT^essas histórias; se uo fim da licença, a velha,
suprimidas, se não houver lugar para encenar a contradição,^ tcnoitada.3' TendopatnaEadpiü|^^
próprios deuses ficarão zangados e briguemos,ou melhor,sonha u tensão, Douglã^onteve_^—irr^idãrqúrünTf^^
rão com bebes furtivos e ladrões passando sorrateiramente .'°tica. TÇqrnnõwménfrTmm u terremotos, e
guardas de fronteira adormecidos. PoisU^lTlutas do Loki conti ° animavam Asgard,
Pmr: havia um Loki anterior cuja Douglass.
«>as aquele não era o deus
f ^-íüquestão é um senhorJeeSCÍ^' . hía verdade, a recusa juvenil a^ temperamen-
re ^ Um claro sinal precoce de que nao e p j^ternas, que beiram
ilutar. Eu
salutar. F.ir me
m» delongueif^^líptico do que qualquer
qíõãlqüér oc
beb àqueles tricksters que J voltaLâ-aíguMÇQm
des entre a Narraími"71~-n ®™P'^n>ente sobre p Palhaço, Na América,^£jmBS^-—
6arnum_BÍH3êlSÈíLÊSsa-h^^^ 3 vltiita ao niüseu
OS
■^«KTãjlíaãin a marcar as diferençaS'

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A
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

se tornou de fato livre, uma vez que se reconciliou consigo mesmo


Barnum ainda tem esse efeito hoje.^^ Pouca coisa^emPourfASg,^^ no que diz respeito à divisão de cor, uma vez, enfim, que ele não
isso. Há sabedoria em sua obra, mas ela é sen^re mais opositiya mais se situava entre aquelas múltiplas encruzilhadas, a potção—
do que jovíaí. Nenhum momento de humor comunal marca a trickster de seu espírito retrocede^
Narrativa como faz com o HmQ._^ou^las.s_njAnca tendeu para a RetíòcèdTTTramfasêm^í^^ pois dessas encruzilhadas
brincadeira amoral, nem, como o trickster mítico, praticou o veio aquela duradoura obra de artus, a Narratwe^of^^
bem e o mal sem saber a diferença entre eles". Sua obra sempre ofFrp.dp.rickJ2nmlass^ American Slave [Narrativa da vida de
teve intenções claras; jamais cortejou a fertilidade do acaso. Frederick Douglass, um escravo norte-americano]. Assim conm
Em questões de igualdade sempre foi a mosca na sopa pela vida os contos de trickster fazem obras de trickster,
inteira, mas em outros sentidos era notavelmente convencional, Douglass age naaiunias-daxuJüimjads^^
operando por dentro do cristianismo e do capitalismo demoÇ£^' trit^-Gonrlíso, as velhas divisões formais (preto e branco,tempo
tico, participando de corpo e alma no miro norte-americano do do calendário e tempo das estações do ano --UesS^e
self-made man e assumindo hõçao de masculinidade dos opresso
res. Para Dõuglass,um "homem" era sempre definido em term^^
de força física, nunca, por exemplo^ em termos de intimidads»- ao fala
£ I miíag^njo^e d
Hp uma comunidade torna-se suoi
termma^QU_extjavagâncdâ,..l;Íe não era um profeta do amor entre tamenteaialaaHOHÍâdâXCQffi^^ Além do mais,como
camaradas e certamente não era o transformista que encontramos marc_a_^^n^rM3££9£M^»-^^
no Coiote ou em Duchamp. Houve alguns homens limiares po^^ todas as narrativas de «cravos,
toda vida no século XIX, aqueles que perenemente procurava^ simplesmente por articulada. Dessas várias
rachaduras nas boas maneiras norte-americanas, mas Doug^^ com uma anomalia&
não foi um deles,,. toaneiras, a Narrativa e a como
Dizer tudo isso é na verdade sustentar de maneira mais completa I^ougl^ Como-^viscrcl^o > iro
os limites implicados no início do capítulo anterior. MinhaanâliS? o crinchador Prometeu ou o p^^ões para
não é aJ^aueDouglas^ trickster, mas queTáT^dências e 'orna
*^orna aa se^cionar^uniy^
seccionar o universíLâuiii - - pendurada
momentos de consciêndTuIEkiíirim-süa vida Eles aparecei"' ■

"m mun"ao novo; como o


et/

je fronteira em cuja
como podíamos esperar, quando a história o coloca em múltipl"^ para que o mundo veja, jg^em ser interpretados
limiares - entre a escravidão e a liberdade, entre o sul e o norte,
entre o preto e o branco. O cruzador de fronteirasdesgertaf" toferência os negros norte- escravos, como Hermes
^omo agentes livres e seguro > ilegítima criança
Dougla^^E.rin£LP£!iMnte aqueles anos poucojní^^
denois de sua fucrpi
caverna. Se o
d«p...ndo Porque o dramad^^^^g„^^^ mas
ser natural p nnr . cultura escravista ainda aleg ^4o^NuncãToí umr§E»-_ - gjjbstanciais sobre os vivos e
"toa obra que levanta questões ma
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ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

f-í '
'iwU' -americanos conserva uma história sobrejimJxaOi um Elefante
OS mortos, dizendo, de fato, que a "Amérj^ca" não podejer uma
coletivid^e \dtaj-sem-au&-possà inrnrp.Qjcar (sem qu^seu corpo e um Macaco trickster que é o mestre da "significação", ou seja,
possa conter) obras de ^rf^como ela própria.
de todosl)S"TnilhaTês3£-truques tiguranvos que podêrnsirfeitos
com a linghagérnrNo enredo típico, esse Macaco Significante,
m ou Signifying Monkey, induzo Leão a uma fúria cega^conm o
Um corredor de humor
Elefante,,contandocomdeleitecÕlsasqnrSssésúpostamente isse
sobre a família do Leão.

Quando afirmei ainda há pouco que Douglass assumiu a noção de


masculinidade dos opressores, estava pensando especialmente na "Ele falou sobre a sua família até meu cabelo ficar branco.
descrição de uma briga que teve com um cruel capataz chama Ele diz que o seu pai é uma bicha e a sua mãe e uma puta
Ed-war5~^\íe como sentiu um orgulho considerável por ref Diz que viu seujT!anaatravessa^re.sta vendendoorafea
(Íèiííado-erhómem branco ensangüentado.("Ele não tirou^sa^!?^ de porta em pQiXa.
de mim, mas tirei dele").^^ Na Narrativa, antes' de contar essa £rcercm.OLeãoacabaficandotão^^
briga, DòügTáss ^z dó sangue a marca da própria escravidão: sua
tia Hester havia sido açoitada com "um couro de vaca cheio para atacar o Elefante,ao passoji— ""■"""^TrfTMácaco sub-
sangue coagulado",e a visão do espancamento foi, para Dougl^^®' entun^_ol^ng,inoknm^-
"o portão manchado de sangue,a entrada para o inferno da escra sequentemente fica tao arrebata ^
vidão'V° Justapor ambos os momentos é ver que quando Douglas^ que escorrega e cai da arvore. rapidamente sugere
tira sangue de Covey ele reverte o sistema, mas não escapa a^^' prestes a rasgá-lo em tiras quan
Torna-se~um homem nos t^ermos que a escravídãõ^terrhino^* que deveriam começar de nov nue o Macaco
Fazendo isso, compromete-se com uma espécie de contradiÇ^^' escorregou e caiu). 0^jjao_ÇogpL£^ inaTTéhbertado. Às
na verdade, mas nesse caso podemos ver que a contradiçãr^í
quanto simples negação de um imperativo, é apenas o começo ^zes o Leão espancado fere
rearticulação. Não remodela--as-^oisas-^uêeierttemente-a'fando- fica sentado em segurança sobre g
Se apenas espelha a coisa a que se opõe, não descobre passage""
secreta para novos mundos. De longe se podia ouvir o
Se nos voltarmos, neste ponto, a uma história sobre Enquanto essas ervas "42

das verdadeiras representações populares de trickster negro Estarei por aqui significa
■ Wyv
América,nao apenas encontraremos um modelo de libertação ào
\t ' V de
M história se constrói uma espe antagonistas insultam
otlÍoT
humanc^histor^^ e voltar-oao-esmo tempoa inte
modo como uma espécie de duelo verbal em fi ,^ rimados. O
ura. Ate os dias atuais, a cultura vernácula dos negros norte f'^'icamente um aoqueoutro
''P^edoré o jogador com mais rap ijamente, que retruca
improvisa
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A ASTÚCIA CRIA O MUNDO ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS

com mais habilídadg^s rimas do outro, que sempre j:e_spQDcl^ ^ que as regras algumas vezes enfraquecem e constrangem, em vez
sagacidade com mais sagacidade e que em tudo isso supera o outro de capacitar e alentar. OndeíJ_aJçapãci,de tal constrangimento é
e deleita mais a platéia ^^cunida^^ois o jogo é sempre disputado para sentido, as micagens do Si^iifying Monkey apontam para uma
um ajuntamento."O deri;Q.tadp J o jogador que .pGtde..â..çã^Jíà-p saída: acorde, dizem elas, para a porção simbólica de todos os
começajima briga. O objetivo do jogo é brincar com a linguagens» mandados culturais e, com essa consciência, pare de levar tudo tão
não a levar a sério, ou melhor, manter-se em equilíbrio sobre a a sério. O Macaco da Mente desperta-nos para a rede de signos
linha entre o jocoso e o sério enquanto se tenta fazer com qtie o mutáveis que nos modela e brinca conosco até que tenhamos a
oponente perca e§se-equiiíbri^o, confundindo-o com um turbilhão perspicácia para moldá-la e brincar com ela. Subir na árvore do
de palavras. A palavra doze^Jdj^a] de fato nada tem a ver Macaco é se destacar das categorias rasteiras da própria cultura e
o núniero_l_^ é uma~sofe moderna de uni i^rbcTu^es - "significar" com elas, e isso implica reconhecer que são sérias (não
to dozen - que remonta,,no mínimo, ao século XÍV e sigi^^^ há insulto se não for sério), mas que seriedade pode ser infundida
atordoar, estupefazer, pasmar" ou "tornar insensível,eotorpc^*^ de humor (o jogo exige esperteza e mais esperteza, não a resposta
oti onipotente O objetivo do jogo^é estupefazer'e pasmar com muscular do Leão).
uma a a rápida e habilidosa. O perdedor que começa a brigmi^ Os antagonistas em uma partida de dozens jogam com as
[posto em estupor],"atraído" paia'üína"espécie diferenças entre querer dizer algo e apenas dize-lo, entre fato e
de inconsciencia em que ela ensurdece para a parcela figurativa da ficção, entre amor15miliar e dêipíezo, entre sagrado e profan^
Imgua e toma tudo pelo valor literal. O vencedor é um Signtfy^''^ entre sua mamãezinha de fato e sua mamãezinha em uma rm^
Monkey, um mestre da lindem politrópica cujo métodoJ?m jogo requer equilíbrio no campo de força coisas
se iunram.-n^íí^da estabilidad^ã^inSSiiZigL^^
m
u ífumua ao ituuu, r
é sM balançíl^^Tfim^rÕ^^íd^dw estabdidadTíracassa
e qíe se entregi ao lado culturalmente aprovado dessa cadeia de
«eiÍ"7"' u™a pe,d. d. 1Í»S"» dualidades, escorrega para fora da mente significante, cotn velo
ir,,"'h " p.,a « »r»« »" cidade e leveza, e cai corpo adentro. O perdedor e superado por
mZlir 7 »■» ■ »i»« "«'O á meio da gravidade; fica sério, imobilizado, em posição defensiva
de sua mamãe de fato; seu senso de humor evapora, enquanto o
Um jogo de L . . r ília vencedor, com sua leveza corpor^m^.^enipoleiradq na
pecialmente às mães Ahiii-' ■ j ^'^bre insultos a fana ' en:ao, onde é P-fe'verdade.
então, de um n,„nd„'„ °™ * ** e»
,ne „„ã eti.„„ ã
tar sua mamãe" e ond» »c • «ua família , a r
raniente dizer '-P-^^r/peTirTa^ela^P
portancia aà miiu.
^Dortãnria minhâ mâmâc , o P o' «ntoma dessa obstinação
e segurança ao mundn d ainda que deem ° Escolhe um só çnrriso
modo. Por que jogar o ' ^ confiná-la de a ê Io .»... d' «'"'""T " r.
ele brinca.^Tsimni^í' ambivalência nas
pies fato de o jogo existir
Aqui pode ... W »»>.»' » "'k" "8"'""'° ' '
393

392
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTU5
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

palavra um dia referiu-se ^fluidos (daí os "humores" corpóreos) jogar xadrez; o papa do surreaji^smo não queria q^artistas total-
e vem originalmente de um^Faiz.iaijna-íí£?«õrV~reT[da"5've^com mente polirrnpicos^se liberta^m do^etrmuTtdo^sonhos, mas
orvalho. líquidou-u-Hudade.'^^ Tratar a ambivalência comTiumor e
Duchamp era um homem sempre à^r^uradapoha.
mantê-la livre; o humoç^ lubrifica as juntas onde as contradições Um toque de humor ou frivolidade,ehtãSçÉUfí^as marcas pelas
se encont^gjm Se o humor e\^õFa^Tntão a ambigüidade sé torna
quais sabemos que um espírito criativo agindo no campo de força das
polarizada e segue-se o conflito. Vin^s isso na história de Exu e contradições manteve a estabilidade,sem cair do galho,e portanto
os do_is_a_migos; esse^levam seus lados a sério e brigam, a menos
pode realmente ir além das oposições encarcerantes.P^aá^tro
que reconheçam Exu,a menos que honrem e deem as boas-vindas exemplo,considere um verso çomo aquele com que A en ms g
à figura leve e sorridente na estrada que ao mesmo tempo divide teriíim^u poema precocéAmertó:^América,esto^^ando
e náo divide seus campos.
meu delicado ornbmimfldH«í^â voz não se opoe a Amenca
Uma observação de Mareei Duchamp proporciona uma imag^^ =e..»
nem.a -deNcdo-, masmir.
"delicado', mas mua «^.2":,.
' 1 „
maravilhosa para o equíííBfm qüè estou tentando descrever^^sua
consequênciaj^riativa. Uma vez, falando sobre a história dos mo
.p.nh.do em nenhum doe pote-E-ggSSSqgggg
vimentos artísticos em que ele e seu amigolpintor Francis Picabia talento,^oapeloe_d^ar^^ política,conseguiu ^ ser

estiveram envolvidos, Duchamp observou que o riso acrescenta um dos poucos artistas niSaSHId" ^ vastos
algo de útil à contradição; "Enquanto o dadaísmo era um mo^ e capitalistas da ™esmaforma^_^^
mento de_negação e, pelo próprio fato dessa negação, tornava-se eT ° contra
um apêndice da mesmíssima coisa que estava negando, Picabia e e da Tch-êc5iI5^I^«>íl^!í!L^^^ i„,estida
eu quisemos abrir um corredor de humor que conduzisse Federal de TTifoSficos uma vez
n^me a imagens de sonho e,consequentemente, ao surrealismo" Ginsberg tomando emprestad , nue.Ginsherg-tinha
<^1^^310,6 que o dadaísmo agia contra a burguesia cultura^ "a Tchecoslováquia normal - lamento dizer
francesa, mas,assim como Douglass deriva sua "masculinid^^^
de seus opressores e desse modo não escapa deles, o dada^rt^" cospe''), um raro caso de coiaDor v
mais podeíia ser mais do que
que uma resnost;,.
uma resposta tPrJnc estabgj
a termos estabelecidos Fria unidos no temor à Duchamp falar de seu "cor-
A questão é que ouvimos
^ da mer^op^ão é uma terceira
it(
de humor" equilibrado sobre a
coisa^ ladj lê^^as, o comedor de ^íiuavcrcs/,
cadáveres), ^4"*
aqui chama
de Ê^redord^l^r", um poro através do qual o fluido pod®
\ —"
® voz do ágil Macá^que espera permanecer
se deslocar para novas áreas. E deveria se acrescentar que ■ Arcrrito por Francis Ncumann;"Quase
jK
'1'.
•>
vez que Duchamp se viu nesse corredor de humor e penetrou nO : nhantevc seu estilo"
até o t ham I esdutoat.dotinham o hâb^^
surrealismo,ele logo começou a procurar o corredor que dá P^^.^ >^ noites, antes
antes de
de se
se para o outro. aA brincade.ra
brincadeira faz.a
ra... com que
fora. O proprio sur^l^p tornou-se programático muito-^^'' r
^^hoshistória
ris.rLengraçadas
wLe dormir. Na noite de 2 d ou bro de 1968,era a exuberância
histórias enaracadas em voz alta um pa vez de ele"
ler
damente. André Breton ficou muitosTT^Síom Duchat^P ""sa uotte em
nessa noite part.cular, enquanto na, U
em par
pelo
y fato,de
... essèliawr
esse haver íC.''''!—r
abandonado o surrealismocom
e comeÇ^^^ ^ Pirou*'/9

395
394

J
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

junção, sem cair na negação solene e assim acabar contido na Em outro gênero de histórias, a dedicação do Leão ao seu
própria coisa a que se opõe. Não que não seja possível haver con "jeito" seria uma virtude, é claro, assim como tal dedicação era
tradição, mas essa nada pode nutrir sem as águas do riso^—A a virtude de Douglass. Quando esse não era o agil mestre da re
contradição é uma alavanca da transcendência",^" escreveuj^^ tórica significante (mudando de sobrenome três ou quatro vezes
chamando a si mesmo de índio, desencantando o
vez Sirnone"Weil, mas essa alavanca não funcionará a não ser do, broo»), o ™,colo» Leio "1""
que esteja acompanhada de um óÍeo que conserve sua libef^de Igreja cristã fosse honrado e
de movimento, um fluido que homéámòs "Kumór", o" sorriso
prim^eiTo-surrealismo, o riso de Apoio ouvindo Hermes mentir, "preta" era bela como uma rainha d g
Ele se tornou um
o sorriso de Yasoda ao ouvir Krishna, o de Atena encontran o
Odisseu na praia, o daquele naturalista citado anteriormente qri^
diz "é difícil escapar à conclusão de que os coiotes (...) têm senso
poderia mítoWííítoDouS^
de humor"^^ quando o caçador descobre que sua armadilha na estou fora
apanhou além do fedorento cartão de visitas do animal daninho- da históriaWi££}L -
O rapper qne aperleiçffa_aÍLÍstórja do Sisnifyin^onkey^^^' ter unsã^n^níC®'®
tor de Blues que sejntitula o Sétimo Filho, Duchamp^ãbríndo nm pa'Se faminta ali dentro
corredor de hum^õ^^íKibií^e esgueirando através dos corredores
da sua jaula.
sem humor da burocracia policial - esses não são os leões às.
tória, são osjnacacos criadores de artus que,no mínim^n2£2Í|^ estqupm^HíH^
da histórja,j;la e |T
vívido^mun^^ marc ^ mais faminta do que eu
o truque mais complicado de roubar os marcos de fronteira (b!'l
que novos mundos possam surgir da plenitude que aqueles mund pensei."
particulares necessariamente escondem ."Frederiçk,,voçênãoxaUcreditá
E como se dissessem ao homem. prederick, você não
Na pnmeira parte deste livro interpretei uma história em "o que a América andô ^'^f^,3!^i.;q^f^;Slõh'fê1ua mamãezinha!
tros ammais repetidamente diziam "este'é o meu jíkb,Cqiot^Ç imagina as história que an e bateu-se com ela. A
o seu como tratando de uma inteligência despida, ou fug>d^'
' isso o dei-xouhirioso; ele fm AnSisnifying
qualquer modo de vida instintivo no mundo e deixada livre < históriaodevM^
tecer o proprio "jeito" imitando outros e elaborando rnent^'' Douglassl"volt3[lto!I£!ÍS_g^^^^ encontrou
ficçoes criativas Na Kíci-a • j ciuuu capítulos atrás; üma vez que o a vo-
um "jeito" eissolp^^í^--]^ caminho até o centro ^ gie agora está dentro a
pelo qual lutl^váíldÍr '"de ^'tado, mas incorporado, de je brincar
a respeito da família - e a um código "América". Tem seu retrato ^ retórica própria com
vom a retórica dos brancos, pt
397

396
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

a qual se identificar,e com essa identificação o Macaco se transfor Poderia facilmente haver um debate interno na comunidade
ma no Leão, uma besta disposta-aagir-e-sofrer-ne-mufldG^rnaÍ. negro norte-americana sobre até que ponto levar a sério tal conse
Mas seguir o enredo em que um humano real desloca-se do lho, uma discussão entre aqueles que tra^lhanyjara desco^r e
limiar para a ação distancia-nos do Macaco em questão e sua recuperar a tradição e aqueiêsqüêcõnsiaerajnfru^^
crítica aos Leões da História. Para o Signifying Monkey o Leão menteconí^ãrecHtã negrasobreaJjabÜidadejiqr_^amer^^
deixa-se tolamente enredar no próprio código cultural^
de prosperar no contexto da ausêaciaÍ£comem Em qualquer
Leão provavelmentejT^ãoJiá "código" algum, mas sim O Modo debate corío ess"e, â história do Signifying Monkey tende para o
Como as Coisas São. E o Macaco7pãFa quem não é esse o caso,
lado do jogo livre. Ela impiic_ai5íLP£Íííl!lí£hl^^
pode, portanto, zombar dele brincando com palavras. O Leão e cammh^d_q.iMln^
como o peixe que não enxerga as camadas de significado em um e mulheres negros em um J rac^.^ embutida neles,em
de vida disponíveis tem «desem-
anzol com isca e por isso acaba se tornando o jantar de alguém-
O Macaco pode fazê-lo sair em disparada rumo a uma briga com que 'VrmlEodeJitemln^^ ^ fifhos
meras figuras de linguagem, assim como o Coiote pode faz^^^ pregado", as pessoas de cor p
a liberdade do sentido figura o. a e r
^nueles que^usaiiLa
com que os búfalos fujam em debanda'da rumo a um penhasco
usando espantalhos, pegando-os na armadilha das próprias defesas linguagem de maneiraiitera Pf ^ Signifying
instintivas, das maneiras enraizadas. artifícios, eles podem muito ^ didático para
Melhor operar com desprendimento, então; melhor ter um Mo..., como um manual
mas infundi-lo de um certo humor; melhor,talvez, não ter jeito, mas ^desobstruir o terceiro ouvido,qu
ter em vez disso a sabedoria de criar constantemente uma mano'^^ cada afirmação. _ v^mpnte sobre raças é cair
nova a partir dos materiais à mão. Tal sabedoria é, de fato, a Mas ler isso como uma história um ^ histótiaja-
que os negros nprte-an^c^s atribueiTàs suas Eguras tricksteri^ *^a própria armadilha contra a qua /jtílJSp importa a cor
um talento incomum para^ár-uina-t^maneira da ausência de manei l^re a leitura do f^^^ninvo contra o qual o Leão
ra", como diz o ditado. O Coelho Quincas, diz Robert Hemen^^^^' 'Ia Peie. O Elefante inexorável e pu também
é "o representante entre os espinheiros de um povo que vive de Investe pode ser as pessoas brancas, ^
capacidade^ar uma maneira.da ausênda^de mãneiras"-^^ a violência de qualquer um 1" situação racial. As_
trickster negro norte-americano,High John de Conquer,faz o mesiti^' ^nficiente profundidade, não '®P°"Li,,nos,irnçer^n9a«f'
de acordo com Zora Neale Hurston: "Old Massa Old Miss e seu^ •nstórias de tricksters "°S^---jirordo a ser marginalizado,
frrrcom^doCoelhoQuinc 'natam da recusa de um P^^dade da mente humana atenta,
,„h„ d.Co„,„„ P j.(.IB Ou„o CO...K»,São sobre ltod.de
de ,e.t« . Um.... "rn. Iiberd.de qoe os q«e
leste de SaintLouis dizer n„«
dos pelo mundo e cujas trld'
. "u, poeta
aquelesfisp
^''quiriram. O Macacoi^O®®-^ Leão
filhos: "Vocês têm de criar um caminho da ausênciaensinam a, ,55
de camiu P^^a uiostriFi^nT^^^'
399
398
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Vivemos em uma era de ordem selvagem. Vimos a sutileza buro-


O restringem. Essa é uma história didática, então, destinada a fazer crática"usrdfpárãcmIsãrê"ao mêsíno tempo justificar extremos
com que sua os ouvintes recorde que o mundo simbólico no qua inimagináveis de sofrimento humano. E somos diariamente des-
cada um de nós nasceu e que, em certo sentido, nos criou e, em pertados para o fato de que a cada vez que ^lógio^tecngojiéo
outro sentido, nossa própria criação. Assimj^omo^qsJing^ dá mais uma-^olta a p-dsíibiíidade da no^a^otaj destrui^ se
dizem que palavras individuais derivam seu significado^do^c^ arrasta parí mals prríSnESSnSlía-adSÍ, embora especialmente
texto dirtriiguagenrgõmo um todo^ mas que a linguagem como aterrorTi^ntesnalorma qnc assumem no século XX tem pro un-
um to'dó'de~riva seu significado das palavras que contém, também das raízes na história e são tão endêmicas na sociedade india
os seres humanos são criados por sua cultura e no entanto essa
cultura é também criação deles. A maneira como vivemos existe '"rsTexperiência máis duradoura da índi^a^^^o
independentemente de nós, mas não existe a não ser que a vivamos. estruturardãWfehideTrotte^^
" 'r u- - 'íí^^PprceTer Deus como uma especie de ser que
Sempre haFítãmos uma história que outros compuseram,
também sempre participamos da composição. Grandes
"tlSSÍ ora dos nossos mu_ros iexa.zéào.questionar
perambuladolado e_disçniâo,o
vieram antes de nós, mas ainda podemos ser os poetas das vi ^ à proGuraÍLumac^.^^^^^^_^^^^^^^ em tão
individuais. Os deuses estão acima de-nós, mas ^recisâü^-^^-^ sentido último e a auto máquinas da mente, essas
para protegê-los da fome. gloriosos e orgulhosos ^ ^^3 eustam caro; por isso
Qirandemes-esquercemos da seguoda porção desses paradoxos, fronteiras e perímetros, desagregarem na
quando a maneira como vivemos se fecha à nossa volta, parecen
ãn Vi'
uma teia tecida por estrangeiros, um padrão mortífero e nao
vificador, então, se tivermos sorte, o Macaco da Mente cg^
^— r Pat^ Ntsse modeirq»»»''» '
seu íftirde nosso torpor-
aqueles que são particularmente obtusps,"começará corivofJíSS- ^ próprios seres humanos, o participamos da Jílí '
rotineiro£,moyrandp;jh^^ levaV^o^é^go^itõjJ-é"^^ de salvador. Quando nos aos moldes que nos
rrioldagem deste mundo e no astuto^íâáSLáL^lS:'^
conduz,repetidamenreau^eiéae:a&tura foram deixados pelos mortos,
dor passaiájão logo percebam que o ptróprio códiéQ
paraqogar^cqmoj^eiram). \ Pode apacg,cer^s vezes e a criação
Em um ensaio, sobre o similarmente disruptivo jovem Krishn®' «o completa outras vezes, apenas
John Stratton HaWley pergunta em dado momento por que Pode recomeçar como se pa para que possam
quer comunidade pode afinakornar,esses personagens,desiegf-®^° afrouxa as velhas divisões, eng abrindo-as para
deuses e heróis cultumi^a encontrar a resposta, sugeriu q*^ mover em consonância umas co ^ proíbem. Em resumo,
iV ■' viremos a pergunta ^ avess^talvez não seja o trickster qugí? o comércio floresça onde as r oespíritodojnck-
'■] " Iji
ti
desregrado; talvez no^óprias regras e necessidade de or^'^ ^Uando o perfil da cultura se to—-■ per
se,am os verdadeiros autores da arbitrariedade e da crueldade- nos conduzi^JU®®^'''^'^^
«'OccffisSind;,deco»sod.®oS serve
401
400
ARTE TRICKSTER £ AS OBRAS DE AfíTUS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

trata inteiramente do visco; ver especialmente pp.229-35 da edição


mais, então o Macaco impudico (esse chamado Sun Wu-K'ung, listada na bibliografia.
"Desperto Para o Não Caminho") aparecerá aos filhos dos imi 6. Na América do Norte, grupos kwakiutl do sul atribuem a criaçao
grantes c os ajudará a articular seu novo mundo. Se a hist^a de estações alternadas ao Corvo(R.cketts,"The Structure»,p. 143).
bíblica de Cam foi usada parajustificar a posse de humanos Há um tema semelhante no Japão, onde Susa-nõ-o traz o inverno
escravos,então um Douglass surgirá com a sagaz inversão que nos e as tempestades priraaveris, como é discutido no capitulo sobre a
mostra como, por sua lógica interna, a própria escravidão "deve sujeira. Comumente,então, o trickster reverte o clima, o que po
logo se tornar contrária às Escrituras".^^ Se, por algum motivo,
ser uma das razões pelas quais suas histórias sao con"das no i ^
em outros casos a venerável injunção à honra materna começa a
verno na América do Norte,e não no verão. Invocar o tr^k^^
insensibilizar em vez de fortalecer,o Si^nifyim Monkey aparecera
verão provoca o seu fim,e ninguém quer isso;invoca-lo no inverno.
porém, apressa a primavera. rii;
para transmutar Sua Mamãe, a Pura, em "sua mamãe", a parte 7. A da P.I..» G,«í- i:i
li
do código, enTcüjã^resença você não'^ecisa mais reagir com OiforJ E,gl,lh O''"»"™ ,scolf t J< ""
'
um reflexo inconsciente como se fosse o tolo Coiote mergulhando -English Lexicon, de Liddell e Scott,
atrás de frutos em um riacho. O Macaco da Mente está ciente de Pükorny.
que a mão dos seres humanos está no mundo que habitam^c pot 8. Aristóteles, Hfsíor/^
isso sabe^5ue^denfM-efazê-lo-quãndo necessário. Despertar esse Oxford English DicUonary, s-v. ^ ^ citação vem
Macaco é despertar a possibilidade de brincar com as 10- Aristóteles, Historia Animo tum 'ibrary, mas alterei a última
criação, as possibilidades da arte. da tradução de Peck,da Loe assi ^
frase, "não há articulação da voz , para seg
literalmente.
Notas ^1- Detienne, Cuisine ofSacrifice, p- sacrifício grego vêm de
U. D,..,da d, "r pp. 1«.
1. Makarius in Hynes e Doty, p. yg. Detienne, Cuisine ofSacrip ?
2. Barthes, p. 132. Farnell V, p. 30. (^^^ando Platão, Phaedrus
3. Duchamp in Cabanne, p. 16. Detienne, Cmsine oi" pensamento comparando-o
4. Dumézil, Gods ofthe Andem Norsemen, p. 65;e Dumézil,Lok', [Pedro], p. 265c). Quando descrev e
pp. 166-72, especialmente 170, 172. Os ossetas do Cáucaso sa" ao ato de entalhar,Sócrates esta p^^^eedimentos de pensa-
descendentes dos nômades iranianos variavelmente conhecido^ a diferenciação entre des- ® ^ ^ o procedimento"pM
como citas, sármatas e alanos. Os nurts são os heróis foldór"^" ^ento envolvem coletar e ivi seguindo a articu açao
da Ossetia e suas lendas são as histórias desse povo. Não exis^ meio do qual podemos dividrr ^ um açou-
muita coisa dessa tradição disponível em inglês, mas fontes e^ objetiva; não devemos tentar arrancar p^ .. .^^^^idas
Zki,pTZT" ' Bueiro descuidado", mas . de um só corpo natural
"mas das outras, "segundo a
clássica de sir James Prazer, The Golden Bough[O ramo de oufol' (Platão, Collected Dialogues, p.
:
403
ARTE TRICKSTER E AS OBRAS DE ARTUS
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

(pp 119-26). Esses dois pontos de vista juntos somam-se a mais uma
15. Aristóteles, Postenor Analytics, 83=32-34, citado por Nussbaum, maneira pela qual o Hmo funde o hinodo e Hermes. Segundo a linha
p. 256. Nussbaum mantém "blá-blá-biá em demasia" no origina , de pensamento de Clay, vemos Hermes cantar sua tecgonia depois
teritismata, explicando que "teritismata são sons sem sentido que de um banquete, exatamente como o próprio hinodo teria feito.
fazemos quando estamos cantarolando para nós mesmos; po em 32 Barlow, p. 49.
exprimidos como 'dum-de-dum-duns'" (Nussbaum, p- 256). 33, Hino a Hermes, versos 447-49.
16. Clay, p. 98. 34 López-Pedraza, p. 85.
17. Clay, p. 98. Ênfase acrescentada. 35, Lévi-Strauss I, p. 224.
'■i'
18. Frobenius I, pp. 229-32. 175-34 36 - Marvin Harris, pp. 200-1; Carroll, pp. 302-4.
19 Pelton, pp. 72-78; Herskovits, Dahomean Narrative, pp-
37. Prazer, p. 189. posteriores ele se
e 149-50.
■f■^1 • 20. Cosentino,pp. 261-62. Em uma comunidade haitiana no Broo
38. Especialmente da primeira edição, na
recatado. ,1,. noção de Douglass de
-1' dizem: ''Papa Legba, ouvri bàryè" [Papa Legba, abra o portão]-
Cosentino, pp. 261-62; K. Brown, Mama Lola^ p. 46.
torna mais
39. Douglass, Narratwe, p. H • .verenz, Manhood and the
21. Clay, pp. 101-2.
masculinidade em geral, ver a" (jnjversity Press, 1989),
22. Pelton, p- 88.
American Renaissance (Ithaca: or
23. Detienne, Cuisine ofSacrifice, p. 165. pp. 108-34. ucrvacão de Valerie Smith pela
24. Clay, p. 101.
40 Douglass, Harrative, p. 51. Uma o . os termos da
25. Pelton, p. 75. p„™í„ - 6. l"»"" "» *■ V"/í
26. Pelton, p. 78. cultura escravista, mas . .^,-canNflrr<jnVe,p.22.Sin«
27. Pendlesonn, p. 24.
-Discovery and Autbority in J Douglass "está preso na^s ![• .

28. Detienne, Cuisine ofSacrifice, p. 7. cita Houston Baker no sentido que ele procura solapar . O I

29. A observação de Walcott está no prefácio a O Babylon, uma p^^^ mesmas estruturas retóncasei e histórias do Signé'"
sobre jamaicanos e rastafáris; devo a citação, e o jogo de palavra 41
Dance, p. 198. Há muitas /juekson e Abrahams.
em italiano, a um ensaio de Edward Chamberlin. Monfeey. Ver especialmente '
30. Hino a Hermes, versos 57-59.
31. Hino a Hermes, verso 426; Nagy, Greek Mythology and Poet"^'^
42. Ab,.h.L, D«p «t'; Orfori "TZ a
43. l-T, „ „fee. do tem.0 do»"." Mo.ta r
pp. 53-55. Nagy e outros supõem que os Hinos homéricos 44.
Kimberley Benston, citada po
cantados como prelúdios a performances mais longas, mas eu de 45.
Barnhart, pp. 496-97.
acrescentar que Jenny Sttauss Clay tem uma opinião um tanto di 46.
Citado por Paz, p- .q «cn^nal-
rente sobre como situá-los: ela crê que os Hinos "eram upeese""" 47.
c.»»»d pp.
ao fim de um banquete [dais) ou do que foi mais tarde chamado 48.
Hyde, On the Poetry of AHe
symposion" (p. 7). Em sua leitura do Hino a Hermes, Clay tamb^" mente pp. 244-45. Heasares
argumenta que a história de Hermes trinchando o gado é um m>t 49,
^aumann, p. 67. rwenttet
de origem do festim, e não do sacrifício (considero a argument^^í 50.
persuas.va, embora não ache que exclua a outra interpretai^^' Stmone Weil, citada por K
W (Nova York: Ecco Press,

405
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

51. Leydet, p. 65.


52. Reed, p. 50.
53. Hemenway, p. 9.
54. Hurston m Dundes, Mother Wit, p. 543.
55. Ouvi Eugene Redmond falando no rádio. Seu livro sobre poesia
afro-americana é Drumvoxces(Garden City; Anchor Books,1976).
56. Hawley, Parabola, p. 12-13.
57. Douglass, Narrative, pp. 50.

Conclusão
í

406
V.' I ■

12. Profecia^

"Não sou profeta. Me^aballio-é^ir


janelas onde aHtesJ^aj^a^s:^
Michel Foucault^

"Uma cultura poetizada {...) não ^


encontrássemos a paredwealjEoyxasuks^mtada^
os verdadeiros critério^a,Yaltaraveri^^
culturklSruma cultura que, prec.samente por
■Stoque todos os critérios são artefatos dessa
: assumiria como seu objetivo a cr.açao
de
^z mais variados e multicoloridos."
Richard Rorty^

V •
^'ajando da China para a Inf A\ci o Rei Macaco e on^onstros
bom peregrino
malig-
"P..kaad.„,,.m^
«Pi»k. cidad.
^eram para devorajgg- ^^QÍsi-as, e o bom
^'^taka sempre se deixa enganar.
""^Pítaka ouvindo^ade
ouvindo a verdade
monstros mentem, Tnpita^a creténsênTÕdSeu),
■^Ar, ns mentiras cicuwxo;^:^^
-E.,

409
PROFECIA
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

<^^cacoJVelho,consigo com este par de olhos flamejantes e pupilas Há o tema do insight profético, portanto, mas é um tema
ck diamiíW€-4is€emi■^-e-beín~e_a-mal."^ O Macaco é "aquele que
aparentemente em discordância consigo mesmo. Se associair^
tem a percepção".^ Tem a visão especial que consegue dissipar o
profecia com probidade, moralidade econhecimento nãoi^ado,
então é
miasma demoníaco"^ e distinguir o perverso do real.
Há um tema recorrente ao longo deste livro, a sugestão dé que os
ladrão e"media^'Algumas distinções precisam ser feitas, o
tricksters podem ajudar alguém a enxergar o coração dá^coiiâS ^ Hinohõmérico, Hermes quer uma parcela do_sdons^toiH£^
que, pomnia,J£ixuun toque de profetãsTTVõlincerrar, quero puxar Apoiei, mas Apoio se recusa a TlzZ
especial, SaTsriTimproféfa, não
esse único fio da minha narrativa, assim como os fabricantes de velas
E>e maneira semelhante,
puxam um só filamento do pavio para que ele se dobre ao queimar e
conduza melhor a chama. No fim da Parte I, por exemplo, argumen . .adji. p,ol...s g.r.ioe... op.«m de.» m.-»
tei que os tricksters oferecem um insight especial com "mentíra^ií- invertida. Isso é profecia com uma di
As histórias do jovem o
contam uma verdade mais elevada". A Parte II menciona várias vezes
a ideiã^e que ETuma especíTde "contingência profética". Tanto um bom lugarpam^fomeçar^^i^^
com Hermes quanto com Exu, por exemplo, eventos casuais sao
portadores de mensagens, oportunidades de enxergar os desígnios side^ífê^nçg. Comõménci quando a mãe esta fora e
ocultos das coisas. Mesmo a falta de vergonha pode ter seu menino é famoso por^rarjia_^e^ Quando Yasoda mais tarde
profético. O Evangelho de Tomé conta de Jesus o seguinte: ^nebrar os comeu manteiga nenhuma,
discípulos perguntaram: quando você será revelado a nós e quando ^ confronta, o ladrão me
''^T^punta: "Como eu pode^bá"
o veremos? Jesus respondeu^quando vocps_je despirem ser^e^^ slgumas vezes acrescentando a pe g
vergonha.. Esse é um tema bem desenvolvido nas histórias sdbr "'a - tudo na casa não -^^ra cresce, os seios das
São Francisco (que pediu^^a^er despido das vestes quando que^ainda não mencionei: quando e ^^n^eiga
morando), a implicação sendo q";í^dMÍi?Íií^^ amas de leite fazem cora que se lem perdido de amor,
distinção entre pudor e despudor, de forma que um desnudamento ^ seus ardis se tornam sexuais. AP ^ j^^ando sua
aparentemente impudico é precondição para a entrada no para^^o^ »io.e™ deu, ..g. peto
Assim, todas as histórias narqúálTSs^ksters "roubama^^^{^ a«"ta para ato»
turas d^ergonhas" on^aisJtleralflATou^ ,
pesso_^pud^^^^^^ podem
hdas comolnstonas da falta de vergonha pr"Sfédca.-
õTSttSèSf
Enredar, atrair e caça^
distinta com o tLpo^maVprTver ° ^ tradicional tem
bolsa de valores vaUarno " ^ dela. O profeta nao d>z q ^ ^sc
casar em breve. Na verdade, o profeta ^aía d' "'"'"o lO t"
que sao verdadeiras todo o tempo O n f verdadeiras n
tempo. O profeta perturba o mundano para revelar o "««ta coiírsESrÉíaJS-®'®^
411
410
PROFECIA iV
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

OU porta,e quando,em outras situações, as castas e fiéis mulheres da cultura hindu, em especial, a umãó não
de Braj a ouvem, abandonam a limpeza e a coleta de água, dão particular, mas um contexto
as costas rudemente para as sogras, levantam-se do leito conjugai miharesTpropriedade, terra e he/ança. Na verdade, malgu
(algumas deixando até os abraços do marido) e vão dançar com partes da índia,conta-nos Johp^Stratton Hawley,°
Krishna à luz da lua. A noite culmina em uma dança circular du deveria ser a base^o_casanie^^
rante a qual Krishna multiplica-se dezesseis mil vezes de forma a mínios da p:;mftõrâ condui^íãTúmãcOT^]^^^
enfraquecendo-a^éitTbói^pmMn
aparecer por inteiro para todas as mulheres, satisfazendo o desejo
de cada uma delas de se tornar sua amante. Então, ao amanhecer, ^ontrafcer oque_a_estru^^ —-"jas" DiSinções'simitares
desaparece.^^ cruzanrfronteira£jmj(£LÇ'l-^^ tratados interpretam a
Nem no roubo da manteiga nem no amor, a propósito, a dis- ■ refletem-ssja^aneira pela qua a g^u q je espera
rupção de Krishna é motivada pela escassez. Ele tem fome e e imagem de Krishna como um ladrao ^
concupiscente, é verdade, mas seus apetites sugerem outra coisa que entendamos, segundo eles, e q"® pensar_9uejeu
que não a carência. Não há histórias de Krishna com problenias de qualquer uma que for tola osu_^^^^^^
para atrairjnulheres,_ejqHanJí)iÍDme,ria,história típica do ladrão ooração pertence a olfiiJHS-^-^^^^arranjado -eles podem ter
da-manteiga, sua mãe tentara fazê-lo comer a manhã inteira. So Arcomidá-^répãrãdãrõcasam gomida roubada,o amor
quando ela desiste e sai o menino se anima e entra escondido na «ua plenitude, porém ainda mais p e mas além de
despensa.'^ ■roubado. A convenção pode P'®?" g^igimos em tão glonoso^e
Se comida e amor estão prontamente disponíveis, por que todos ^eus muros, além "das
esses embustes,essa ruptura de lares estabelecidos, esse arroniba- ^Itivo^etalhes", residell»"' " ,g,dade, é justamente
mento e essa invasão? Porque a abundância que Krishna quer (ou '»dííi^íí^?lSariamente obscu jg^ig^ado que a
simboliza) só está disponível quando a estrutura é remo<dda. Os Potque a essa plenitude reside a ^jg^^g de qualquer
alimentos com os quais Yasoda queria alimentar o filho são pre
parados e, portanto,contênuima boa porção de regras e costumes
locais, e também da idéia materna de como aVíoisas devem
(comemos isto, e não aquilo; comemos agora e não mais tarde;
esses temperos são especiais,aqueles são inferiores; pod^et5íner-<
doce, mas so depois de terminar as lentilhas). Comida^eP^^^Ã
- '-i"^»^e>oauiiuenores: ,-v
(embora de seu ponto ^i^aiiuarancam^^ '
cor»
são olimpntnc
'^drão;
Os
os verdadeirosladrõep-^-^
Hüe.^.uafíla-ni-seuS-fornÇÕ£
'Or
alimenta confi^n lado, então,
Quanto aõ
Í^IÍ^ikpodenamosJizer
é a refeição DrenarõHirâ ^"^^'^^^^^-diíeratiui que o casam
^ erótica. Nos casamentos arranja'' roubos apontam pntn
413
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
PROFECIA

cotidiana. Mas é claro que tricksters não são profetas tradicionais,


que se perdeu (não "Krishna", mas "Krishna ausente") pertence a
e um dos detalhes das hisfõrias^qucacabéi de mencionar ajudará a
assinalar a diferença. No fim da dança na floresta com as dezesseis uma estranha classe de símbolos. Não podemos ler seu significado
mil leiteiras, Krishna^desaparece, deixando suas amantes desolfljt- "através dele", pois o que representa está ausente. Opera não como
darsv'iludidas,-saudc)sas.^^ O último roubo do ladrão é furtar a si
um ponto de entrada para o significado, mas paradoxalmente
próprio. Mas que tipo de revelação é essa que se segue á perda? como gerador de múltiplos significados. Isso eqüivale a dizer que,
quando tentamos encontrar o sentido de um desses "símbolos da
áusencia.^"Há uma tendência negadora nas
ações do trickster; ele extingue a lei e a propriedade mundanas, perda", descobrimos apenas sentidos„qüUlQâ-£SggIS^^
mas não para substituí-las por outra coisa. Assim,se dizemos que buímos e podemos facilmente atribuir significados novos arcada
as disrupções de Krishna oferecem uma compreensão da plenitude vez^qiirõs abordamos.(Um famoso exemplo é a observação de
do divino, deveríamos pelo menos salientar que a interpretação é Thoreau erkwãld^'^"M^tempo atrás perdi um cão,um cavalo
nossa, pois o mensageiro partiu sem deixar mensagem nenhuma. baio e um^Sba-roIaxainda-^
A única coisa que fez foi quebrar os potes de manteiga, lançar as Cento e cinqüenta anos depois de essa frase ter sido escrita, o que
notas da flauta por sobre o muro do jardim, roubar algumas rou nota não é que seus leitores tenham lentamente determmado
pas,arrancar algumas plantas de arjuna -ele nunca diz o que tudo ^eu verdadeiro significado, mas que os sigm cados tem protórad
isso significa. Nãpé^falante declarativo da profecia tradicional, a cada vez que alguém a analisa.)" Simbol^iec^—
mas um anjo anulador que canceja o que os hurnanosT^ruíraffl atraem memes interpretativasJoinesmamQ^C-ó^^
com tanto cuidado, depois suprime a si próprio. ~ ^^t^ta^atraTas^^ Se Smlnplo^^ Ho oue qualquer totó
Se KrisHhã tem um lado profético,"então seu desaparecimento ani cão perdido é uma melhor fonte de es ^ ^
deixa claro que não se trata de uma profecia como é normalmente "■eal. Krishna apaga o mundano, f o território
descrita. Em geral,o profeta pode falar declarativamente porque o remoções - precisamente porque ._|jneiite.suasidêias
divino interveio diretamente na ordem humana."O próprio deus é para que os seres humaoüsde^uu^,--!!®^^^™^^
quem fala quando o profeta abre a boca, diz Platão "Na Israel ®'^bre o que aconteceu.
anterior ao Exílio ,diz um estudioso da Bíbliâ,"oprofeta era um ^ declarativo (e
diretamente^^D^ ^">3 bela imagem moderna desse asp ^
Portanto multiplicador de sigm ca f^j^gsa parábola que
Ta fS^seÍL í'r '"ãTnife"drum Nome divino e descrever pode ser ,^3 finais
Helenistica, hebraica,islâmica - há uma vasta tradiçã" J'anz_Ka£ka.qferjceemum^^
segundo a qual a profecia í,
manifestando como presença
, - . . ., ce
"^^H^da, o divin f"agênese
seu livrodo sobre
sigilo],a arte
FrankKermode
da interp fome -figrs boa si^ nopse,
Mas Krishna nunca se ri i' ausência. ,
extrair um sentido n ' ■ ^j forma e, portanto,é dii"^
U» ho„„ Ckeg. .
pedras^bre uma sepdt'^" anulações. Como o monte e
'sepultura, o símbolo que representa üma co.sa de porteiros, cada um com aspec
414
415
PROFECIA

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO


do fogo que supomos ser sua fonte, vemosporqu^fe^o
manterão o homem do lado de fora caso o primeiro fracasse em patrono H.ranros outros ofícios além^mtgíÉáiisIF"' ha
fazê-lo. O homem,que imaginara que a Lei estivesse aberta para ver trlpaça.EinKrpret^mos sei^reeomosçres^ (•••)
todos, surpreende-se ao descobrir a existência de tal arranio.
Mas espera do lado de fora da porta, sentado ano após ano em Kermode fala em "texto" aqui, mas sua
seu banquinho, e conversando com o porteiro, a quem suborna, não se confina à linguagem.
embora sem sucesso. Por fim, quando está velho e proximo a ,e
morte,o homem observa uma radiância imortal fluindo da porta. Lemos livros, e verdade, mas tam gfjagmento de sonho
Enquanto está morrendo, pergunta ao porteiro por que apenas e
fora ter àquela entrada para tentar sua admissão perante a Lei. do pinheiro,a tartaruga nadan o so t) de código
A resposta é: "Esta^porta era destinada-somente-a^o^^^- evocado pelo odor das folhas ® ^ bamboleio no voe do
vou fechá-la."^^ genético não usados nas cadeias > radiância a oferecer, a
frisbee -e cada uma dessas revelar,se ao menos
Kermode está interessado no problema de como conhecemos o idéia de que certamente há de Kafka eles
significado de uma parábola,e particularmente na divisão comum os portões se abrirem livremen • ^ oq^ há,eela
entre os "iniciados",u^ueo conhecem, e os "não iniciados", nunca se abrirão de todo; uma luz dtsta_
o ignoram;.e.está esjpeci2r^_rrTO ínicíad^o é vist^penas brevemente.
hermeneuta a quem Herrnes guia através da porta para
a compreender o sentido oculto das coisas. Embora Kermode sefa Deixe-me retomar o fio
cético a respeito da sorte quê~^ Molmcíãdos possam ter, abr^ ^ando que alguma especie ^
uma exceção no que se refere à impressionante narrativa de Kafk^ atribuída aos tricksters, o que fornecem um bom exemp o,
.tf e declara seu significado: Kafka está^dUendo que o significaria profetas em si. As histórias e ^.yg os profetas fazem,que
^ verdade, a Lei, o sentido unívoco) é como a breve radiâricia q^^ pois nelas encontramos alguém q ^ convenciona
^ ^-jff^tila do q^ojãdõ]^^ que não se oode atrav^af- 'Omp.,„os.a Jcs ass..»= coa»».»»"2'
coisas que tentamos entender atualmente- têm
• j. ,
apenas "radiâncí.^^
- - - « JíAnr.i
Pata revelar verdades oa«
'
intermitentes ee^las
elas são "impossíveis de interpretar
interpretar".^^ •^'storias, as ações de K „os
Note-se que não e necessarTament"e casõ^ de qüb não haja
oomplicatiO' P°^Vjiçana
verdade, nem que nunca tenhamos uma insinuação dela, apenas
que não podenjos-em^^nhum sentido chegar definitivamente a Esse verniz Krishnadesapareçeno^^
etivermos no modo coro —íiHãnõ^"
ela. Podemo^Ts orienta^ mas não chegar ao destino.
Abordar
Entrevemos o segredo através da urdidura de um texto; ®
divinação, mas o que se adivinha é o que é visível do nosso aU ^°nvencional não parece,ÇomE.
guio. É uma radiância momentânea,ilusória ou não (...) O
mIsTnTes aienitude ^ ^""Íde algoau^^!^^^^^
passamos a relacionar essa parte ao todo,o vislumbre adivinh^^^ Problema de cornoleraim!g£íí^
417

I
, ) ■ f-''' -' ■ '
PROFECIA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

atribuir_significado ao nosso ^nsjemjpor coisas_jiu^^ revela- precisamente porque quer uma parcela dos poderes proféticos dele.
-se um modcTcle expandir esse argumento sobre a plenitude: no Mas Apoio dará ao recém-chegado apenas um oráculo menor,
caso de Krishna, ou de Thoreau, ou de Kafka, a ausência de uma conhecido como as Donzelas-Abelhas,cujos poderes evocam u
verdade revelada produz uma pluralidade de leituras. Su£rimiXO tempo em que os videntes bebiam mel fermentad^mduz.r
mundano e depois abandonar as coisas abre os livros. Quando seu transe divinatório. Apoio as descreve.
Krishna TÍesaparece, e cõmÕ"se"ãsgopis tivessem visto uma bre
ve radiância, mas já não tivessem nenhum modo de obter o seu "Há certas irmãs sagradas, crês
"verdadeiro" significado, ou como se tivessem despertado de um zes (...) Elas^naiilseu_Erop^
impressionante sonho de desejo alcançado cuja presença noturna As irm^oam^arjjentro,^^ quandoj^
de favos cerosos {■■■)
evapora à luz do dia. E o que esse sonho,essa radiância significa. alimentaram de mel e estão ^ elasjuimbí?a^-?S19_S-
Há taiitasxespQStas^qiianto há anseiosi^manos. O trickster revela remídíT^as dessa doçura d.vma,
a plenitude deste mundo:sc ele,então, desaparece, vemos a mesma c "28
resrnimgajnjnentiraSi.
revelação repetida nas múltiplas maneiras como os seres humanos Heres de Apoio sãomaioreido.que
entendem a plenitude das coisas uma vez que o entendim^*^
convencional é retirado.
O Hino deixa claro qH£^!^^^---j----^;pr're"der essa diferença.
Os daiDDjizelasrAbelhas. Como e .g-^.g.^assicista Gregory
A idéia de que tricksters proféticos oferecem uma revelação às- capítulo 3, falei em bnbas um
plenitude está no cerne do que quero dizer aqui, mas não é a his ^ugy distingue dois tipos de po ^~-j-~-j^'j^^entiras Jou p o
tória toda. Há um^ad^LQ_dÊ^êverU(^ue conduz à revelação repertório enquanto s£.4S5_,i...-_ e outrò cujas
mer^.^,erdadesjo.cais'TpataJ-n--^^^^^^^^^^ ele viaja de cidade em
^ queroTecuar e descrever a ma
neira como vejo esse padrão desde o início. No caso de Krishna, 'Canções permanecem__constantes jy^mente comj^..P!°P"°
a pnmeiraj)artc_da-ação não é-a revelação, é d desejo- O ladrao C este último ® jipo de ver
da manteiga tem fome de comida não mediada, e é por isso ®^tómago e,^ortSÍ5:^ve aces modelo,
contraria as regras locais. As gopiFdeseJam-Krishna, e é por isso
que desprezam por completo o decoro. A fome e a luxúria, » P..,a<ií£<io>v.do -- Sagy e„»íe °
suas coibições,são os pnmehoraconte^mentos nessa jornada pro P^Uhas, segTjro-segundP-
fética. O Macaco tem ^^upilas de diamaníé" que podem enxerg^f •««ca„en.d.»s«o: li' ^
através das superfícies, mas, antes'de a história revelar esse fato.
há o Macaco se banqueteando com os pêssegos proibidos. Ante^
que Hermes se torne um hermeneuta,ele "anseia por comer carne - Desse modo, Apoio j • nrofeta como
Na verdade, posso expandir essa declaja^ão sobre o apetite pan-helenísticojlès^rp^;^^^ primitiva
voltando-me novamente o Hjn^homérTc^com a "verdade" quej-nduzid^P^
tao a profecia em mente. No Hino, HermTs-"día lira a expoente local de uin.HP. - ^ -
-i^mentãdo.^^

419
PROFECIA
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

Devemos chamar a atenção para o fato de que,D.JIieLQMÊ-®® para fora. Se não acredita nisso, tente manter Hermes afastado
Donzelas-Abelhas comem é um alimento especial, o alim^^^^ do seu gado; tente manter o Macaco fora do pomar quando os
frutos estiverem maduros.
dos deuses7ct^fcnmra~qiie não estaTUoréxatamente nos domínios
dos estômagos humanos, que comem carn^ e padecem de uma
Esta eé aa primeira
primeira pparte da profecia
morte precoce.^" E ainda assim não estamos exatamente livres
desses estômagos, pois o restante dos detalhes condiz com o
tsta
""doos^poro^oa^ ^
, do trickster- o apj^c^
diretamente a segunda
Krishna.^ão
parte, a revelaçioWénituae^
velho padrão: é umajauta doce que Hermes toca agorajcoj^ da mantdga^edoicpraçpes, ppT^^ãó abun-
'Ú Hesíodo^awíe^d^sua transformação.) e não importa quao ^ ^ desejos são intrinsecan^— circulação. Há amor
vada seja sua dieta, as Donzelas-Abelhàs mentem se estiverem
com fome.
no casamento, restringida
Não temos uma história extensa sobre as Donzelas-AbelhaS^ Há fartura de comida na ca^ e nuandoesobquecon-
mas o que temos oferece o suficiente para o argumento qu^ P ^ por regras locais sobre é um alimento vedado,
A^tofecia pura pertence a Apoio,e algum tipo dições. A manteiga deposita disponível em
dos menfurosò^u impura pertence a Hermes. Esta última,a uma força contida pela c—^^^
do mais, não é livre de apetite. O próprio Hermes pode ter _^ todo lugar depois que K ^.^pf^rados, pois a crian_
recusado a comer carne, mas seu oráculo preserva a conexa Ele se assemelh^
entre um estômago cheio e o ato de dizer a verdade. Iss" ça ainda não disciplina em Braj, cidade
diz algo sobre as alegações de verdade em um mundo no mulheres nativas com as quais jçrjshna, disseram-lhe que
Hermes esta presente. As Donzelas-AbeihasjCpntana_i[ne!íE considerada o local de nascime rriana.4UeJiuSPAraü-
coma
.as_3ue_^rmes conta? Mentem da mesma maneira qU^ nto
ficariam.píe<3çuEadascoí^
Legba e Krisííria?"~Sê um basse ou contasse uma.nieuUJ:^
j ^ ussim, deveríamos voltar a ^
tratado Çeriòrm^nte no livro, compreendendo a afirma?^"
que meV^,3,.dizem mentiras por oposição: qu^^, Qualquer mãe,
, , j ficaria altamente desapontada se
ne3!niíft.elemento.de.traves-
o em-a imemados falam a verdade, estL fazendo o artt^^ ^ sua jovem criança nao Esse sentimento e par
cie sua situaçao se níiQcar
as mentiras que vêm dor
vTí>c<;e ^
I despi^" cuíarmente forte em relaçao «"""i
^ando "tise
g^alnieaie
"eterno" da "verdade", expondo-o
"^^tomagos vazios servem para ^
uma cr ^
a meninas, pelo menos
iiumaiia sujeita a mudanças f pensa jue uma criançMtex&xe-^
O apetite, um criador de 'frágeis , . E.u.conhecidoporq.ebr^^^^^
supostas essências e as ;.h ■ - ^ ap^JÍ' • Um tema similar aparece em ,„ebraado-as e
t contextos da África Ocidental, a j„osos medicam „as de
í- te é-um^Kider b A 'Jq cabaças são dausadas
um sLbolo paracambolica.
energia n"" je poder contido .
dos apetk^/ATrf^V^*^^ Po^os, e assim também o v^
mantêm um mundo cTeTo'^^'' "cond^'^"^ Potencialidade liberada •

' poros escondidos qti^ ^ 421

420
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
profecia
r r> w I w ^ •
Cl
pode^ém de sua personifi^
Uma mãe^-enio^ras'palavras, ficaria ^^ppntada_S£-0--fiÜK)'-^^^*^ od^^c^ecidocomrgoe sentem-se
tivesse um t^ielíè KrisHMrpoi^ãLcriança é puro potência [uma] experiência dTR^Sdad
lumaj expenencid u. •
engatinhànd^^e^^MderlTcrescer para se tornar qua quer como seres autossuficientes
autossuficieutes para o gerem ignorados,
uma das coisas que um ser humano tem a possibilidade de ser. são poderes
Doderes não para sérérTrãíora
sérénrãdbra os, «36
,,3, o„ j^amã-entra
xamã-entra
Essa é-a criança que come q^J^ue^cojsa, qut superados ou, em última aná ise, trickster^é
chão pondo na boca por reflexo tudo o que encontra. Eni u no mundo espiritual.etraba^âJ:^^^ outrolnündoT---)3*^
■..r, 'J
das histórias mais famosas, os companheiros de Krishna (.:.) Ele não tem
correndo para contar à mãe que o menino peralta estava come ^ que os humanos
A i

terra.^^ Quando ela o confronta, primeiro ele nega a peixes, jogo, água fresca e assim p 37foiAoobtidÕTpQ^
obter essesneces-
bens,
mas por fim abre a boca para que ela veja. Imediatamente, ^ ^ sidade, por meio de trapaça «u ,,^bém poderes l.
desfalecida, pois dentroila-boca-de Krishna vê o universo^n^g^ o trickster, ao contrário ox ■ ^ ^ p^ç^ã^nec^^^^
emmrbilhão, A criança comendo ^ra ainda nã^sofreu o enq^^ sobre-humanos ou parceria própria . ,
dramento na estrutura que começa depois dos cinco unos^^" amigos: vira-se
não refinou" os~gostas-e''des"gostõs^ué Vsta& as frontei ^ Par;e7pVrareSide^
do ego. Seu bocado de terra é, portantof^anagógico^para o o ^ número íê^^^ístorSr^i^
de qualquer que o ame, embora o que o olho vá ver não seja xamanismo.
...r:—
Na nor exemplo-_que
^
pureza celestial, mas a plenitude deste mundo antes que a or
determinasse a exclusão da sujeira.^ do corpo ressuscitado^- , deatm dq se „Hpres
o Ka„â pode m.«
Então, agora temos duas coisas que o trickster profético
os
os poros
puius ocultos que conrln^pm
Irns nne conduzem
wvn*au£,ciii parãTora^HcTrhUndo
para rora ao munuu ^ você pode '"51," sonhc^e
. 1.
plenitudep nne
que reside alérh délés. PIa~urna terceira /-nisá»
coisa, a
^9-iote, quanSo^r^ maneira ^q
chegarei a uma pequena distância. dos) seu próprio ^''^^'"^gjnonições^ía
Em 1964, Mac T;Ur^ttjjcketts
T- _ 1 n/T/t i-v - 1
concluiu
. .
umajesg^dC-doil^

^00 são considemdo^B.- yoar par _ mente, é
rado_gue é um le;^aineMÍtíi^tavelmente exten^das ^amã^ranse pode Com do
de trickster norte-americanas. Nela eTíTensaios poster'"'^®^^ ".«nEr;-,» » „,s
Ricketts argumentou que os contos localizam o trickster enn oP. difícil não ouvir o tom P^r pássaros, apen?®-^-—^ ^gg^g
sição à prática e às crenças do xamanismo. Segundo ã
de pensar d^cketts, a humanidade teve duas respostas quan» ®.»io.,™íSS?ew- O ftiajw
confrontadrcom tddo-rtoue engendra assombro e temor neS
mundo: o caminho do x^ã (e dos sacerdotes), que supõe u f'^etensões xamânicas s _ ®
5mbus.es,.. pi.'-
e o cam,„h„ d„ „a.,„ „ d„, „ã„ reconfí "^^clcster, como os seres
423

i
PROFECIA

A ASTÚCIA CRIA O MWNDO r rz-^v"^


n 1ideal é o real, estaremos seriamente
trickster, se pensarmos que o
seu desejo de voar (e de escapar à coddição humana) é (...) uma enganados e não veremos meta e , cristais de quartzo,
fantasia frívola.""^ j lj» Podemos desejar que nossos corpos
De maneira semelhante,as hist^nas dó "anfitrião atra^l^do mas as vísceras em geral nos contam ou ^j^-uma-diferen^a
podem não sepapenas sobre os métodos instintívõrdÕi^i^^^^' Nesse sentido, ver o Coiote como um
como argurííentei em um capital^anterior, mas sobre a alegação pode nos levar de volta ao ponto prev
do xamtíe que é^paz_de arlgnirir os poderes de outros_seres. O revelação da plenitude de outro ° ° Ricketts para elaborar
trickster fracassa em adquirir g/oderes porque isso simplesmente convencional. Não apresentei a - que acontece depois
não pode ser fei^-^-t-riçkster, ao tentar conseguir sua comida esse ponto, mas para intro uzir a q ^
à maneira do ^artim-Pesca^r, por exemplo,(...) esíajenL^H^^^ que essa plenitude,esse "Todocaót^o apa ^ ja resposta
de habilidades ^oBrè^^humar^^stá, na verdade, tentando trans
cender^a condição humana é viver^deum modo diferente daquele
que é próprio dos humanosj Esfí^rços despeitados de fazer o q^.^ t^also xamã para categorias mi^
os animais fazem", conclu'i Rícke^s, '^ode^m ser vistos como
impISiTdiçlo de" Zi.,.,pieieoça Je""«Z""
zomHãírá'c5rffra xamãs^-todos^os^ otitros.que.acreditarn adquic^^ nhoc. verdadeira- =J5nÍJ!k<£ír»^J„„„ro d.a e-pta"
poderes mai^elevados dos _espíritos animais."''^
Se o xamã em contato com espíritos mais elevados é o profeta dade. d. próprio ree.nl;ea«»» «iaffiTii» po.» re»
da América nativa, então o trickster, sua sombra risonha, é ter,.,Ido melhor ajreiiteag^lS^ *
profeiaJiiom-'mTrar"dTferença. Kepetídasl/ezês as histórias cham^^ O elemento final do pa isente. ..wHan-
a atenção para as reais restrições da vida humana: humanos nao Plennude exige"-J^Íceroquepreten^
podem voar como os pássaros; os mortos não voltam. Essas sa Talvez eu con.g
espécies de verdades eternas", mas apontá-las conduz o olhar p^^ doo oo argumento-n pa ^^ . gy,'ím)
argumentoo-a r-- .p pode tet-d
este mundo, não para outro. É uma revelação de corpos feitor a palavra parn^P^o^í^;'
para(^T^°^^^t^- ^
carne,_^não de corpos celes^s. Aim"disso", quando a paródia e feferir àqueles
^ aeles é um
capaz de despir as coisas, ela zomba de seus encantos,abre espaÇ*^ , ^ P'°1T hebraica,todas
PrenrõroirraueJélq^^!:!;^
onde algo novo pode acontecer, É verdade que quando o trickster erudito-Áiai.
quebra as regras, nós as vemos comi mais clareza, mas CasoProfecias_nãoinosmc__
especial; Moises e p n "ima^^lT^^^própria^ ^
temos um vislumbre de tudo o que excluem. Comentando hisl^^
rias dos navajos. Barre Toelken escreve: "O Coiote funcion^^^ desse_mõdo podein
literatura ^ral como.um-símbolo-daqueleJbd^"ca naçao pode cnar tan
os rituais-^iimanos eriarammma Grdem^.paj:a a sobrevivência- "daginação quem é quem-
Zombar dos rituais abre a pprja para o retorno daquele Todo ca- ® de ^uvem pode pergunta
ot^o ponto de vista dq xaJnOs regras que o trickster viJ as pessoas qu ^ responder
articulam o mundo ideal, mas do ponto debita privilegiaao ^ ^ *^uestão por enqu^^^^
425

IV' ">i-'A 424


PROFECIA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

, f r u
difícil, mas o que ela pressupõe.^e a possibilidade da OS crédulos quanto os céticos, pois cada um julgaria erroneamente
falsa profecia significa que a profecia é,mediada pela imaginação uma parte do material em exibição.0sxétiuo«~'2'^^°
e que_jim ouvinte precisa ao menos esfÍT~ãjfíícienre da própria
imaginação se não pretende ser-engànâdo. Dó mesmo modo, na percebiam o que era de fato a S ■ - como saber o
divinação iorubá,a amizade entre Exu e Ifá nos mostra que aquele um problema da vida urbana
insight das coisas celestiais nunca é desprovido de mediação, de que estlacontecendo—
forma que é necessário ter igualmente um insight dos veículos do forma de entretenimento. Aq ^ cidade.
insight(linguagem,imaginação,consciência simbólica etc.) e esses tem sua represente, porém,deve ser mui-
veículoSj como^fírmei no capítulo sobre Exu,não são exatamente Seja lá o que a vida na ci ^desses cenários,
instrumentos àe-^ka-fidelidatlc; assemelham-se mais à atmosfera, to antigo, pois o essencial o em uma tradição
mutáveis, nebulosos, cheios de estática. O trickster entre os xamas, q ^ estranhos: cada situação
De forma semelhante, Gary Lindberg,em um belo livro sqbre profética, o trapaceiro em um ^ irnaginajÇ|2J£2A§^
contos do.vigário como unTíemáriiterário norte-americano, ofe requer que a esperteza aguce ^ ^ ^ rapnte. Nem toda mente po e
receu uma definição útil de um trapaceiro: é alguém no ramo-da si própria, a mentedespeag--P^^^^^
cnagâo^dejÇTêdça.'^^ Isso equivale-a-dizejLq.ue_qj:ra£aceirojíâO^ fazer essas coisas, é claro. A tein^uma mente astuta.
necessariamente um vigarista, e é essa a razão por que ele é pro chamariz tem um truquLêííP-f^^^^^i gye vai se sentar sobre um
blemático. Alguns^cria.dores de crenças são verdadeiros: proíÇ-í?^' A jovem garota em uma busca esp ^ para azer
idealisms,carismá^cos, poirticos irispiradnrcSj e assim por diante* ^erto cogumelo cor-de-rosa por q gg deu conta de
Especuladores de terras no século XÍX estavam'no ramo da criação
de crença ("Venha para Nova Jerusalém, em Minnesota, onde
i^so -esL garota tem uma mentj, ,forte ctenç^
complexidades. O xama p espíritos, mas a
a praça central logo estará em burburinho, as fontes fluirão, aS
crianças sorrirão nos amplos partjues!"). Alguns eram verdadeiros
« p™L ,ue ele opere.» "*k„,l.e..br.ros»»to;
(P.T. Barnum criou tóst Bridgeport,em Connecticut,dessa fornia) 'dela fixa e não pode fazer o qu brinque consigo m
do humor que permitem qne pigfotude, porta ,
c outros eram vigaristas no senfiao criminal,criando apenas rudes com suas criaçóes. d^
despertares/^ O despmar é o ponto-ch_aye^e háuma falsa crença
entre nós, pr^cis^ainSstsrcmscréHEra^^ como a fé é c7iada; neces
^ revelação de uma conste encontrar es «
sitamos estar atentos àquilo que faz com que a ffiénte se'aesloqne rria consciência
»-uiibcieiit.ia que
4^'*po u,Mer-Cfi20®dO' Hade
je,rlp comas
">«»», ,„e b„neacp«»-5:^o,
, i^upr-coii^'^^'-^' comas

da desconfaança para a credulidade;--^


Uma coisa interessante sobr^arnum>aj,ropósito,_iaH&-^--®" ele pareça
■'O ele nareca (briC£iC°^.ç5^
íbrifica com o "'f' ansar de'ardeslocar.
necessário,c
^^Çãs da Imortalidadêirs^ quando ca
rífernci '°S0 Eúblicojtom base no ploMaP^ f ■ . jar a. resumir
«omi. a argu-
mut? mmí u ^ Muitas das maravilhas do
lar ^ fazer de bobos tant
quaiá As exposições podiam l-a analogia „m tanto aio.pl«
"bntasàoquefiaaobteeaT"»"»
* """""
427
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO PROFECIA
^ \;V 'li , V /' "
que esta última exige. Estrut^^sempre se constróem a £ar^c.CÍ^ Apoio, mas a luz que penetra pela entrada da caverna onde sonhos
exclusão. Pensemos, por exerúplo^,em como po^rjamos eiabqr^axx»- e razão sfijn^isturam; não a energia contida do designi ,
desenho de uma.bandeira. Neste rnundo há um sem-fim de co^s; calor^Sp que se desprende dos montes de
os rnnt; Hp verde nos campos e florestas são infinitos, assim como os
^Ãte Wo matizado não consegue
da água sob céus inconstantes. Para compor uma bandeira, sele mais abundantes da plenitude, porem. como acontece
cionamos apenas duas ou três das cores disponíveis e entre as infi pode ser chamado de
nitas maneiras como podemos arranjá-las nos decidimos por uma
só. Apenas por meio dessa delimitação a bandeira pode adqja^^^^
com o polvo errante que pode °^ dessa pele
identidade. Então ela significa algo. Então podemos reconhece- se adaptar ao fundo sej^re^am ^ uma ima-
.i.e algo .,nd.
-larsaudá-la, ser os seus heróis, protegê-la da sujeira. Ainda que
a insultemos, estamos respondendo a ela como um receptáculo
gem de sua próprC:SÉ!!f!^^
de significado, como uma particularidade extraída da vastidão. Homero representa a mente e gii;uação que encontra neste
O oposto dessa estrutura é variegado - o multicor, o sarapin-^ viajada que pode adaptar-se a qua q Q^gucial constante para
tado, o rnaculado,^^ as cravinas matizadas,'*'^ o real se exibindo mundo em expansão. A paisagem presente está sempre
como "trapos variáveis . Uma vez que uma superfície mosqueada essa inteligência viajante, j^onte uma vez obscureceu se
surge, ela tem uma estrutura particular, é claro, mas a sensação e ern dissolução e as coisas que
sempre de que ficou dessa forma por acaso, a partir de fragmentos, tornam visíveis. andarilho que ouviuj) m^mo
e que pode ser que isso não dure. O variegado indica ausência^ Essa,.n^eligênci^íg|^^
identidade. A pele multicoiorida às vezes representa a carne es objeto_^ser châmãJo por ^^^;i,ança imigrante em"
'farrapada dos mortos em decomposição, aqueles cuja identidade Pertence^aTmiante doV^' era '
se dissolve rapidamente. Entre os vivos, o personagem que veste de nós. Quando Maxine Ho" „^eu freio da Imgu^o
roupa multicoiorida nunca é o herói, jamais o rei, embora tenha costumava dizer que a mae tm
uma liberdade de movimentos de qde^estes carecem. tecido que a conecta ao assoalho demonstrar o efeito
A im/gem da força deses^uturadom^^oa^àrlLegado percorre as lí^g^em freio (.••)"/" de diversas formas,imagma-
histána^deiiickster. Está nos pôneis malhados que Susa-nõ-o solta ^a^^o^gue lendo a histc^. "^^ela
nos arrozais; no não delineamento da Via Láctea que o Coiot^
coloca no céu; nas pegadas indecifráveis que Hermes deixa com
do em dado imaginando^
filha calada,- e em pudesse fa a ,P
as sandahasd^^e junco; cortauu K'»— ^ chinês P"*- ^ mnifíb iciaaoe
Exu;jias>£heçhas^e«^^^^ ^^nteiga- pudesse
^nao as"rnstlf '- fixas, mas o borrão
cens elaçoes possibilidades'mais
de estrelas dasamplas
qua.s a^- ^nciashaviampqstoK_f^^ jaaÍti^-j hermenêu^a.
constelações podem ser feitas; não os arrozais ordenados, ^as
a chuva transbordante que nutre toda a vida; não a luz solar
, história de viaja. '- qnese
^^ca língua verdadeii^^'
428
429

f
JÉL Ir
PROFECIA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

que encontremos estranhos i^om bens desconhecidos e, dotados


mas sobre ser forçada a mediar situações incomensuráveis que se da inteligência das encruzilhadas, sejamos forçados a articular
apresentam incessantemente."É só você traduzir",a mãe lhe dizia» de marieira nova. . /
como se fosse tão simples. "Mjnha boca ficou permanentem^^ Além disso, ojnercadd'e os cruzamentos podem semim^e-
arqueada-pekuesforço
Aqui posso trazer à tona algo que jaz implícito em tudo isso,
táfora para a própria n^mfora, ou para qualquer fala origina,
as flSíiTTmguTslErcas qnp brotam nas encruzilhadas da mente. A
que se há uma revelação de plenitude ela vai incluir uma plenitude mente articula de mariÇira_noya.ondeJ^^
de linguagens. O ma^zado-em-movimento pode ser representado estradã??iHiaii^ÍíSd^sí^iií^^^ convergem.
como ^'■BabeJ^dasJ.mg e.seu reflexo mental como a Este mundo está cobeiio de tempo e espaço e, portanto, a fala re
poliglota. Ouvimos com regularidade sobre tricksters envolvidos novada está sempre...siygindo, sempre sendo inventada.
nas origens da multiplicidade lingüística. Na América do Norte, . J f.io Man há fim para a contingência, tam-
fervilha, a.ssim como a laia^iNau——r— ^ra^ngi'm
QS bella coola acreditam que "o criador pensou que um pouc-^rbiTl^Sí^^c^^ poesia como seres em transito.
serfa suficiente, mas o Corvo pensou diferente e criou muitos ■ C a morte para^-^Tcaso
Sena noj çaso alguma
g Real,„„3„,,ores
Academia um dia tivesse
de nações que
Os paiute acreditam que quando o Coiote teve fome de carne, os sucesso em codificar ^ Heterminados a atar o
outros animais aprenderam a desconfiar uns dos outros e cada u® insistem em uma sodingu
adotou uma língua distinta: "A Jinguagem comum se perdem-- tricksternoyam^^ ncancassem a utopia da linguagm, o
Tanto Legba quanto Exu parecem ter causado as brigas q"® da estrada, S r') ^ Se houvesse
significam que os deuses não mais falavam os idiomas uns dos ansiado espfanto^e w g os governos
outros e por isso precisavam que o trickster se deslocasse entre uma Tinguaiera única, poeta viajante que
eles, traduzindo. seriam duros
De fato, a historia He..£j^jJ^zendo com que o5-doiS-tP- nos contasse awllwhiy__^^ carne,
amigos^oguenundica que pnr "Imguagem" não deveríamos en o conselfer^f^Sd^^"'^^^ „ata da perda de uma
tender apenas coisas tão amplas quando inglês, francês, A história hebraica . de fundo para muitas
paiute. Os am^o^que Exu engana acham oue falam cada língua original unitaria e Alguns dizem que tanto o
Imgpa do outro a discussões sobre tradução e p „r,efar aquela língua ori-
as de fato. Exu inventa uma situação que cria uma elocuÇ^ tradutor quanto o das coisas por trás do ruído
ginal
ginale assim chegar ao re gspecie de
S
cada r™
«0.5 mcapaz'r™' - «■» I™'
de compreende, e™ do"qne o onTdíí
o semido M corrente." A^ tradição profética
protetic f , ^ e^ falar sem ag
Isso acontece na estraHa r: ' -—rrTênP^ bardo que é capaz de rcingressa , verdades essenciais
>\ I •
do novo se manifesta de' ®."""^''hadas, onde a - interferência do ruído profético está relacionado a
fala deve também se manT""'^ contingente, e por isso em uma língua essencial, tri distintos. Ou existe uma
Hermes havia inventado Eensaya não a^" linguagem
essa situaçãomaiimaginária
s elevada mas
em nosso unico acesso a ela é esse sujeito
em relação à "barganha» o
da inv^ção lingüística '' que um lugar pn
I ^ Efíucrcado^futro local onde é pr"^^
profecia
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

propósito, na linguagem e na temática


indigno de confiança, de modo que as mensagens que recebemos do mal e A. Jerusalém! Os sí-
sáo turvas e ambíguas. Ou então "a_^r^de..mais elevada é ela literatüra profética. Ai. . vocês devem fazer tais
própria uma desafortunada fantasia que só serve para obscurecer rios estão prestes a cair ou ,a cau ^ ^ ^
o que acontece de fato. e tais coisas, e dpvem ^ ^^ito
O tricks^erprofético aponta para o que está realmente aconte (...) as quatro partes de I ^ifiridades sucessivamente,
■I'
cendoi^mrvãçao^ a amBiguidã^ej o ruído. Eles são parte do rea , espécífica. Assi—
não algo a ser filtrado. Muitas mensagens chegam simultaneamen uma após outra (—) Tr;,,n" í .) é bíblico em sua refe-
te, cada uma em uma língua diferente. Significado inexauriv »
linguage^m inexaurível, mundo inexaurível, é tudo a mesma
rência. Areferénciaéàbénção,q«ed^-^^
«Notas de pe de página para ^ ^as vezes: ^
,i'i'
Hermeneutas cristãos e judeus acreditam que há quatro nive^^^ é o fogo, benjita está dizendojue_:^u^o
.'^'v
significado em um texto;^® na tráciição cabalístíca, há 49 nívei® isto e bendlFo sela aquilo , ^ ^ possibilidade de
Mas essessão números pequenos para leitarcs"que usam o o que é human^éjagrado^^ „eio do
o chapéu dos viajantes. A complexidade está conosco desde o salva-çãdTíSií situação terri , homem.
dos tempos e uma mente tão dúctil quanto a pele de um p, -o .«i. o
surgiu para trabalhar com ela. Na última parte de sua profecia» Por esse motivo dina Q ,
o trickster revela-se, pois ele é essa mente. Quando uma da típica poesia profétic
humana reconhece o que foi revelado, reconhece a si própria-
. ação era aquele carnaval da
caçador encontra duas coisas ao mesmo tempo quando finalui^, - Mas é claro que o contexto obscenid^5.e a maioria
enx^a,p_polvq^£dto sobre a rocha. liturgia democrática, um até esses tribunais
dos escrit™£étic^_"^°'J também édi^"^« f dos").^
pé^rtence à motocic]Lsk^5san ^ 3-—
Beleza frágil
üipo pode pSÍe- »
Quando <^v(^outrosJoèmas, de Allen Ginsberg, foi ttias esta não acrescenta. correto quan
do, em 1956, os dHciais_^costumes dos Estados Unidos sa^.-i Rexroth certamente t podemos refina
iníci^aumjulgament^ o"b;^idda;7;;;r5^1^ascõ^Mu» o o«».
luminares literários falaram em defelId^Ü^ii^cluindo KenÇê/ a descrição. .losbetg sobre
, pinsberg
Rexroth, que disse ao promotor público: laula pa£^v^-0 ^na palestra e ^^^^ çj^betg,
O^mo mais simples para a escrita [de Ginsberg] é ifétic»/ Um amigo uma ve perguntou, ^
cil chamá-la disso do que de qualquer outra c
referencia. Ha os profetas da Bíblia, aos quais se assemelha í\0

433
PROFECIA
A ASTÚCIA CRiA O MUNDO

simi^s^ía-caiz grega signjfira "líma rPVf^laçãn"). Ne^se-^caso, abertos à articulação. O artista que não está sempre guardando
suaT^í^ft^ais material disponível do que aquele que tem
levanta as coberturas da vergonha. Permité que a articulação de alimentar uma tropa de oficiais de costumes. P-semos,^
entre on"3F^siTênaó"um "dia vigorou. "Conte seus segredos exemplo, em An^lTBTüyá-^ que, durante q"- ^
é uma prática para relaxar as delimitações do eu, para abriç^ adulta, manteveVáscrn-derciT^m.S5ÍE^2J^
i ego. "A luta pelo direito de ter segredos dos quais os pais
excluídos é um dos fatores mãís^ppderosos na formação do
até dos_^lmsj;£Íai?SÍO^®5S plenitude
venfLAlgumas estruturas do ego " q^e a obra
^^Otiizmos a psicanáji^ "aas uma vez que esse direito é adquiti,^' criativa e
lá está você no interior.do .egOs-que pode muito bem levat-s^ possa prosseguir. O je materiais à mao. A fala
trabalho a sério demais, provando com antecedência todos o^ o segredo
seus alimentos e dizendo aos amigos que telefonam que nao brota cànib aig^i-SÃutoa ' , //t.
ninguém em casa. Aquele que conta os segredos que estou tentan do que tem a professar. \ p ^ '^
descrever espera criar um continente mais poroso no interior . rncF^õe? Se a mente
do qual habitar. Para escrever seu registro de poesia QqC^po de nas junções ou de um alterador
Ginsber^foi para a costa oeste7rbons~cíhc6"mn"quilômetro^ aguç^í^Tã dealguem que aguçada? Se é rfgularm^te
distância dos pais, e conveliceu-'sV d'e'^é'e7tava escrevendo e da forma, pode sua arte ser ta j^^j.j^oniasT5napossibilidade
segreHcT^ra alguns amigos seletos. Esse é um bom e geralme"^® arrastadaparao^ruído^?^^ 'Hnradoura sendo tão dedicada à
necessário começo, mas no fim produz apenas uma gaiola de oTEíSSTPÍdTaiar beleza ; ^^iadores^de^éuma
espaçosa ("nós'; temos.uni..segredo), e não liberdade. Pubbca^ transgressão? Em qae senti o ^
os seus segredos para que estranhos nas ruas possam conh®*^® arte profética? essas^.Süflíâ.Sj-S'^®'^'®
-los (sem mencionar aqueles pais)- isso é o que torna a obra Para esboçar umarespo—-r-fj^^ygnnes
Ginsberg profética no sentido que procuro.
Como vioiQsa]gunj_çapítuiqs_atrás,os primeiros "segre^í^^. recordaíldo a^üSísSS^-^giro que um tipo de trickster
Gmsberg tinham a ver com sua sexualidade e a loucura ' e desenliSrpSÍ^"° ^50 sendojlêniJíçnn®"!^
enquanto amadurecia, suas revelações se tornaram mais a^P tentapermanecer sempre no ^y^^^^^^_q_2euLdotGonz^
de forma que o homem mais velho parecia o analisando freud>«J Luz nem Hermes^iÊ^âS-S^^ contudo,-
Ideal levantando-se do divã para caminhar entre nós,articula^ Isso nãoT-SSÍÍÍ^° 'Zteogonia para encantar o irmao
h^emente o que lhe vinha à cabeça. A maior parte dessas^^ pois nele Hermes canta uma
ntais velho. Deixa. tipo anima a prática daque es
nao e poesia, claro r, - r - ^^ '
p"articularménfe se fMof 7° década® ^ntgga-seà be^a. ^^jor de fro.nteira.s..Ea-»-eo^e«^^
oara trabalha r poeta que treinou durante ou atravessá-las seguindo
"se a mente é aguçada o . r^risP^^
L>everiam'iermanecer nas como g que
de Gmsberg).
- Se é esse
esse o caso, então esse método apocadP^ .e Ia direção da beleza- artista é esconderA.be.í^
uma chave nara a , ^ método apoi-^ que "o rnais.eleyado_devCT—
PM a ...e p*,. dênao
435

434
T' I

PROFECIA
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

Opunha a qualquer harmonia emergente o acaso, para que algo


fundamentalmente novo pudesse constantemente surgir? Ou deve
riam ainda ser com^Douglass(deslocar-se da artepara_aj^alíüí^''
bens condenam a si
que ajudou a destruirVcnlfura escravista, mas depois entregou-se Adquirir os_bensja!üVâ!e.âJima-^^
à estrutura de uma Constituição com emendas; que conseguui-^^
as regras mudassem, mas depois tornou-asmovas a serio?
seguidaÍLari£P,!EáÍ51SSÍ0- / ug^temos que((vidrà da
Situarei brevemente Ginsberg nesse âmbito de possibilidades Para deslindar isso um poucj j ,naslwaê^-
antes de concluir, mas, antes de poder fazê-lo, será útil reforçar vitrine da loja separa o visualemenjal apisesmo
a substância dessas escolhas com observações sobre dois outros neira ambivalente, permitm^ a é umamemtewa
tempo em que
artistas modernos que já menciohéi, Mareei Duchamp e Maxine permeável,^conectando/naomoM ^
Hong Kingston. Um deles permanece nas articulações^a_oi^ vidrbehPossar-sedosben^sacaten^^
segue rumo à beleza.
Duchan^ Tfamoso por ser um artista complicado e eju^'
mas acontece que alguns momentos representativos podem nos se arrepender -
levar com bastante rapidez até o cerne de suas preocupações. Em menor e mais restrS^Sd? ®--^^ —
parrbíhi^aTo-etemseudb^ [inutado^
1913, Duchamp escreveu para si uma curta meditação tratando
das vitrines nos subúrbios de Paris. O historiador da cultura Jerroln iiteralizado é, i"'■:s"carne é só cL'l'í.3"-
Seigel situa o contexto: «Na Frariça-anterior à. PrirneiraLfi^^ Obtém-se a carne^!!j%f;;^adilha se leva o) g
arcunscreve ^
MundiaUavian^ d ^ maneira como o corner^^
moderno procumva os^êres do desejo e da fantasia a sério, a consumação equilibra^-^d "a^'^
ao pmpósito Bairbaixõ-HTvender hen".'An.mrin. de todo tip^ vimento e mudança. ^ Jq jogo.
(...) envolviam as^o^em_busca de compradores em uma aura estar simultaneamente
dem^^ismo e sugestão sexuaT"^'^ nnrhamp toca nesse pont^^ de Montecarlo, Duchamp,--®^-^ ^ ^ilíbrio oper^) 'l, ■

IT'
dizendo (de maneira um tanto enigmática): ganhar nem perder. , corno esse criações I-!1'

Quando alguém se põe.a interrogar as vitrines das consideremos O intitulada


alguém sempre pro.n«^y,^, Na verdade, sua de Duchamp. Na ve anotações e
escolha euma-^viagem circular". Com base no apelo das vitrina®' celibatários, do nectador a imaginar
na inevitável resposta às vitrines das lojasra-fixação da escolha ^idro"põsícíonados representam uma
Ío toZ obstinação, ad absurdum^yie oculta'° o,que-aspinturas
.oyL,t,«r<i^'^í
abstra
o represen"
p.i«i "C-i-""'-"
jcionada nos
da vire"!'" O" (noiva^equeopaino " ^finatiradevi
sell o o vidro e roer as unha'
[sentindo arrependimento] tão logo a posse é consumada.'^ uVhüfízonte" entre elosi
437

436
PROFECIA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

í"
ângulos certos;e eles s^omunicam,essa noiva e esses celitoHi^
,. tomá-lo como um "mp° „ara
P ^n ioeo simbólico desinteressado,^
desse balanço^Mal^
importante nao ignm^r ;rí^rnar seus cõ^itos estão
intelectual^cj^^ aesejo
"Noiva*^ é um termo-chave na obra de Duchamp e pode ser sernprêTõnêStãdõíaqmu jp Rose Sélavy, fiVos
mais bem entendido como parte da seqüência virg^nwiâi^^ (chamava seu dker ego feminino
-mulher.* Uma mulher conheceu o coito; uma vírge^^n^Q^^ ^ er.si.^a),Ele q^em
noiva? Ela é a categoria entre categorias. Para continuar com "ajgodajnatuTMallSpara a em ^ equilítóododesejo
a ãnâlogiá "sexual da observação sobre ó ato de olhar a vitrine,^ é importante notar como, pa
noiva representa uma espécie de excitação sem consumação, dissociado desperta ojogg,. íXrTcome, uma imagem mítica
estado escolhido localiza-se entre a cerimônia de casamento e
consumação, um estado mais bem definido por um dos termos queanteriotmente interpretei como um
favoritos de Duchamp: "adiamento".'
vidro ção do «óo£:,uma descrição de mo o p obra
A noiva despida, diz Duchamp, é um "adiamento em ga^v-íd-a. Interpretar essa image^^^ ^..^atarios
Um "adiamento" que tanto suspende quanto não suspende a ati de Duchamp sugere qu çobre^^íllfifií®* , de
vidade.(Se você se demora em uma viagem, não par^_e^_mfíSSy e noivas; e é em
de viajar - ainda está em uma íinã^m - mas tampouco con^l^^* Devolver^jnemeiPi---^^
O observador da vitrine que responde ao ãpelõT dós bens )uchamp. Ele oQiav-^jL^^j^e aigo nav.a... ^
Duchamp. ^
não age sobre a resposta sabe como se demorar no vidro, oon^o s tupKfô''cÕníd'5^ 'ãSeleite em beijar superbc^es
estupid^cõíndí:^^ superftó _
ficar suspenso entre a fanta^i^e_o fato. O grande vidro artigo a sensualidade
um estado de similar. Çc5mo diz Seigtl, os celibatários, as fig^ os olhos. "DeideCom--^^-^^^
masculinas que ocupam^ o-qjdnermferior, "permanecem retina. Esse fm,°ií£2.^Í^^sóficaiiQ2al^^^^^
sempre na condição de observadores de vitrine, cujo estado
ser é expandido e animado pelo desejo, sem jamais experiment:^^
funções^_^5i|í-— contém e como
pôr a pinti^niai intelectua religiosa não tra-
o arrependimento e a desilusão que^j^.egue à posse Je Ua, -SrSp» ""
Nunca têm de completar a Viagem circul^' que é a P£!^2!Í^e descrever melhor ^ g dont^i^^' ^ - gj-a didática;
por quebrar c
r ii»ii III .'
o vidro."68 A figura feminina permanece para se^P
.■ > I.
pi...... - •"
uma "noiva de Duchamp nao obra et determinar seu
Tanto O grande vidro quanto a observação sobre daq" ele não tinha lições a en^
que olha a vitrine apontam para uma espécie de equilíbr'" ^ alguém pode sen ptec-aí®-®*^'.
balanço entre desejo e fantasia, entre agir no mundo "assunto", a „„-dah£adisa.-àa.fe-
oum, se duas metades
crever-.Q,^m«de mdro,
no ™ndo de
grande parte da vida, A energia
energm eróti/"'^'^
erótica cresce™quando
qu«taoos écelibatários
um homem.considcrait'^ a no'" 439

438
\v.ivíri (Kl'
pp-OFECIA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

■ neta

d^-^inturà estivessem unidas por uma dobradiça invisível {.••) a frente e paraJ.rásj£^^o^rj2^L__-^^^^ imediatamente o
Na versão original, as duas metades não eram mantidas rigida pivotante entre'^enhor^e co • 30 Senhor,estaremos
mente no lugar"7^ Essa dobradiça invisível é um símbolo-chave seu oposto.Se P®"®®''™°®?"^''"„rnDrietários desse cemitério; se
e relaciona-se ao que já descrevi - "noiva" é a dobradiç^enjf^ errados, pois os corvos estaremos errados, pois
virgem e a esposa; a vitrine é a dobradiça entre a coisa à venda pensarmos que tudo pertenc mortos estão conosc ,
e a fantasia. Mas as dobradiças não eram sempre invisíveis. Em oO mundo material esconde
mundo matenai — o pássaros. Entre essas a r-
^.kíhIos pássaros,

1927,Duchamp tinha um estúdio na rue Larrey n° 11,em Pans,e são cadáveres para os mais"Ç^Jopmfeta irônico esperando
contratou um carpinteiro para fazer uma curiosa porta no canto mações é onde encontramos-G^i^J
encontramos-Crnsberg, P '^merll
a ele
de uma sala, uma porta que, nas palavras de Seigel, "giravamas. que o próprio verdades mundanas os o
caso se je D-^-P
dobradiças de tal for.ma^üe quando bÍQqueava.a^_entrada--p-a-r^
um cômodo,abria o acesso para outro (...) Muitas pessoas viram A contradiça arrependi-
nisso um modo de desafiar o lugar-comum do provérbio acaso, o vício para evi ^j^iento
'uma^orta deve estar aberta ou fechada'".^'^ ^ mento do consumidor mun linguagem, u
Nada atraía mais Duchamp do que uma oportunidade de de viver uma vida '^«'^t/indiyíduosj^^
fazer um furo nas platitudes do senso comum - o seu próprio ou
o de sua cultura. "Eu me obrigo a me contraJizer" é um famoso fdVsrhèrança
dito seu, "de formaj. eYÍtar cõhfòrmar-me ao meu próprio go^
.i tòT^^Como vimos no capítulo anterior, ele não era apenas u^ e idefás recebidas, to perpetuam- ^algoSH.®
contraditor; era um cofitraditor divertido^ alguém à procura
meio dos quais as
"um corredor de humor" que pudesse levá-lo além da polaridade vez afirmou, —^T^Quando a
estabelecida entre portas abertas e portas fechadas. Na entrada do fazemos com Ac;e ^
estúdio na rue Larrey, um corredor está sempre aberto porqu® ^
porta volteia em vaivém. O.humor está nas dobradiças. Enquaj?!"
os pinos estiverem ,lubrificados, a obra sempre se esquivará mies

jaulas do senso comum.


se uma dessas
(Aqui é também onde eu posicioparia-einsberg, na vizinhanÇ®
da dobradiça bem lubrificada. Coímhancliamprele prefere se es melhor ainda '^^^^gssura ®^®^g\bertas
dos Gpnzos^^'^ j^^.nis P°^°V jo uotór'^
a a
tabelecer nas juntas. Um único exemplo: Kaddish,a longa ejeg'» rodeiam as for^^
de Ginsberg à mãe,acaba com uma cena tio c'emÍtério onde Nao^'
Ginsberg foi sepultada, uiia^ç^m que uma voz que Duchamp u cultural,
muitas coisas -
Deus se mistura aos gritos dos corvos que de fato vivem no luga*"-
O último verso do poen,í-di^. "Senhor Senhor Senhor có có co
algo prometia a ^
Sen^orje^enhor^4.Smf^7^^^^ oscila aAI

440

i í
profecia
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

que pode escapar de si mesma, de forma que haja ao menos a André Breton
possibilidade de real descoberta e mudança. Falando d^j^e^em lismo; DBChãmppHfHnã^» para os
que projetou um moedor de café como.presente para o irmão e vende"ab'r (sua boíte en vahse)fei , pudesse
descobriu que o desenho "mecânico" o libertâya,-afirmou: Estados Unidos, a América o , ^ [^gica que
se libertar dos
Sem saber, havia abertqjjma janela para outra coisa (..•) estivesse mais eni voga —
uma espécie de fuga."V^cês^bé,sempre senti essa necessidade de
escapar de mim mesmo

Comecei a pensar que podia evitar todo contato com a pintura binar -ptura
ruptura cpy
cqm-JP -f,,, asco-.ed^
^ .nisas,
s e de volta para
artística tradicional (...) Fundamentalmente, tinha uma mania direções - novamenK
de mudança ''"'"■ioTfiíi novamei^. A
iaharm..^^
Duchamp gostava de John^ge p.orque-ele^pen&^-effi-i-i^-^^^^'^ música. No nTm com uma Embota ela
o silênciq"nãlnu^ havia pens^Q. nisso", disse somos deixados no i ' jimndo novo e sim América,
Gostava de Francís"Pícàbiá porque o homem "tinha o dom do
1 Tl-^* -• * A 1 À

te, mas carregados pinto do NÍ^-^^/.t^aído seus


total esquecimento, o que o capacitava para lançax-se ena-novas respeite o chinês que tron ^^„ha ""^^g^ssimmma
pinturas sem se influenciar pela lembrança das anteriores".^' Sobre e embora imbuída ^us^ ?
os artistas que conseguiram produzir algo que ninguém havia vist^ ancestrai s e -n^do --/^..res
ardedüÊidealistaJem se P ("Ade pes^ um romanc
antes,Duchamp diz: Essa é a única coisa que provoca adrnj£^^
no rnais íntimo do meu ser - algo completamente independente
nada a ver com grandes nomes ou influências."^^
Uma mania , o mais íntimo do meu ser" parecerão pal-
ilavras
fortes para um artista que certa vez supostamente traga ordern^^ .. do ^pcte)
coroa para dec^r se mudava-se ou não para os EstaÍ)S Em sua arte ipitâka (ou '^'7'.„,nada pata o oeste)-
Parecem palavras f5ÍMntéTds^armos conta de que são exatamen^
o que motiva o cara ou coroa, uma constante busca por moaos de
abrir rotas de fuga para que ele e seus amigos possam sair de qualq"^^
r: SndS
Quindo era
gaiola na qual estejam (embora sem nenhum objetivo em mente)- ":f„£. ■»' lípop si- '"stí
Em resumo,a pratica artística de Duchamp é dedicada a conse as rejeitar ' a famíb» ^^^ístico-
adiante sem pto
«apressei anteriormente,
^laç^s outros que arrumem os salões de^ encontro^ ^

442
I ■ profecia
■tÁ
/
A ASTUCIA CRIA O MUNDO
situação, disse
No começo de [The^Woman W^rnòr], escrevi (...) sobre uma
comunidade desfeita por uma mulher que quebra tabus (..■) 1^^®
pensei: "Não vou publicar isto; estou.cpntando meus segredos íle local. Em vez de abandonar seu so q j
família." Disse isso a mim mesma porque então esse pensamento uiíTí/elodia crioula tao cativa ^ da
me deu liberdade para escrever. Mas quando terminei de eSCí^^^*^ cientemente adotem seus ritmo . ^ hvro,
- talvez dez,_doze rascunhos - e polir o texto, vi que havia parábola^ue Kingston ^ je uma mulher chinesa
uma resolução. Tinha uma bela história e, o mais importante The a '
tudo, dei^àjoda^essa. mulher um significado. Então me senti bem. do
ser^Eülo-H-qae "viveu e""va
por fim resgatada P a sua g
retornar
"A^ra posso publicar isso/'"" ,r tim resgos. che-

Há duas estratégias aqui, privacidade e aprimoramento. Privacidade


significa seguir adiante sem tornar público. No caso de Kingston, uma canção que os cn
essa é a temporada do Rei Macaco, que vai quebrar todos os tabus
que precisem ser quebrados, não importa quais. "Mestre, por bem traduzida. «yerd^"
ponha, sua compaixão de lado só por hoje!"^^ Mas a privacida I cru T.
que permite essãHÍTbeifdã^e pode tornar-se solitária e, por fiu^» Aqui, porém,
téril. "É u-raar^gria se esconder", diz o psicólogo inf^fd^^^^^^ ou "belezãTe-a '^^°-ao
nia4e.He®ÊS,..Tendo P pe p^„es par eus própr'"^ por
Winnícott, "mas uma desgraça não ser ençontradqf'®^
liberdade ao seTrabãThapem segredo, mas é uma liberdadeiíhP^ velho mundo e ^ " ospeitar que uma ^ . ,,jeita
tente se o destro nunca se rompe. À segunda parte do process o cantor deve pelo ser, é um a pri^ei-
de kingston, entaò, érivoive "cantar uma nova teogonia". mais bela e verdadf|^ra , ,c,rn<^r
ter rompido com a forma de vida na aldeia, Kingston traba ^ ao mesmo tipo de ob,
os fragmentos (os chineses e alguns novos norte-americanos) ro lugar. Itnagm° ^'^.ggféfl«mes enca
que encontra nova forma e novo significado, até chegar à belez^-
Sabendo que as circunstâncias exigem impudor para quc ^
nada a\:aneerTTrarresistindo à idéia de ignorar seu senso de
(ver^oídiajrÊjíêiê.acia.-'a:5somBfo), Kingston se decide por um
cesso que permite o duplo movimento outrora representado pstdd. ■"» « i, -Síwsde. um.
■ ' ■'i companheinsmo entre o M^co e Tripitalca. mas nao po^^ ® Áo\i , orópti^ ^ , ..ma vez
Uma pratica artística como essã^crlTuma beleza crioula-
herói do romance de O livrQMpócrSfQ.Jo.mac^^^^^^^ evezqueasbat
deve ^as da vV"
\ V An
n^j muito ligado ao jazz e ao Wues norte-americariôs, e qua^
Kingston foi indagada sobre música semelhante em sua P^P^»^ 445

444
profecia
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO f r\ w I f »•• •

que os muros em volta do paraíso tenham sido rompidos, nunca [reaúymades^èstão por.todJo nnrte)
p e quecomplexidade
aponta para um tipo
revelada,
mais poderá haver novamente a beleza do jardim de pessegueiros d. SíBa^capan d..r.bnlh.t cnm
taoista, do pomar de maçãs nórdico, dos pastos nãq_ceifados ,na aa poda eh.B.r, n.s«>
pasta o gado de Apoio. Hermes canfá tão docemente que mente tradutora^_ mentes trabalham
ApoicTpirdoa o roubo, mas aquele gado depois não caminha de i. 7°; ani. pr.»;
volta para o velho curral. Hermes é um encantador, mas se seus com os padrões cotarais '„',.s- con» »■ criadores'"
encantamentos puxassem os arreios da eternidade, ele levaria simplesmente situá-las nas rac sim-
seus ouvintes de volta ao limiar em que os eternos encontram os artus interiores do ° ?'^^^QVimento entre as esferas e e
acidentes do tempo. pias, criam a possibilidade d, T " a. saldai-
Na ilha de Calipso^ Odis.seu_é_autQrizado-a-£scolhei^^e^ movimento da salda (não P'» ' desdaadat ao n.i^
voltar pará^ãTTrallíef mortal ou continuar vivendo com a dfusa dasarrlcnian, «.ilo P"* '"'"trdS
imorxal, uma escolha entre dois tipos de beleza, na verdade, e ele mas depois Mesmo ness
escolhe o tipo humano,o tipo que é sem dúvida o mais belo para
nós mortais, porque vai findar, assim como nós findaremos-^^ o-caso, porém, a novah rifrorrra ItaTirÍq
Quando Kingston continua a tradição da história oral chinesa imutável das esferas. A
em uma nova língua, quando toca a sua flauta de junço^bárbara, sua seriedad£mao.&-ain ^ feita por um ^
deve saber, depois de ter quebrado uma velha "circularidade%^ trifckster. A harmonia d definitiva, quc> ^^va
que não há maneira de a bela harmonia da sua obra consegúií' sabe ,„o nio há o». intarmlaa-ol^iarco.
protegê-la do ruído futuro. Verdadeira e bela ela pode ser, mas língua tenha 7.aõKMnipl«asos"«o"giçaOÍÍ!!^
fala, novas articu Ç ^oessa^í^—
nenhuma criança imigrante alegaria que ela reside fora do tempo-
Esse entendimen^^^^^^ ^ Kingston uma autora o cenário cambiante.
norte-americana, a "América» significando aqui a terra fabulosa uma beleza f''^il.!,^-r5^iagens,
dos imigrantes,4a traição da gera^aant^ráor,..da oportunidade,
do blues nas encruzilhadas e dos:í;;^ntos do vigário; a terra cujo remo no
governo surgm no curso dói eventós-humanas-e"cuja bandeira
mudou de desenho uma dúzia de vezes.
Obviamente inte recorri a esses exemplos de prática artística porfl"®

qu^ponm "r
pos tncksters --brepõem-.Lpadrões
p^ofétmos. Há um Ler de revelarão
artístico que cO'
meç.co„.b„c.pel„ p„,„
encon,», a e,c.p„a,i., ,„P
..V.I. a„ plantada d„ „a,ari,l ® J""s ãon,..cio.««
446

- a .L
profecia
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

Hawley, Parabola, pp- 8-9, e


são complicados os marcos sobre as sepulturas! Representam a 9. Para Krishna 122-24. Tanto o Macaco engajam-se em
perda e a memóxia. São demarcações da fronteira entre os vivos e
Dimmitt,pp.
os mortorAs vezes nos recordam que não há passagem de volta um iogo semelhante com a tensão n^^
do outro mundo e outras vezes sugerem„que há um portão, desde elevadas. Exu rouba as ^p.67). Sobre o Macaco
que se consiga encontrar o pOrreíro que o abre (seu nome esta ela aprende a arte div—^ journey III, PP-
escondido nas pilhas de pedras que os viajantes deixam sobre os roubando cobertura rhiefy P- ^66-
túmulos). O remo que assinala a tumba de Odisseu não está lá 10.

para que ele o interprete; está plantado para os futuros viajantes, 11. Hawley, At Play^' p,,abola,PP. «-7-
12. Dimmitt, pp. 124-2' of Love, pass""-
para que possam se lembrar daquele que foi roubado. Çpmgjmi'
síntjbolo do qu^_de^jarêc.eu^.ele ofereeeFá--novo.s_,significas 14. Hawley, gatterTbief,?-'^'^^-
enquanto Houver alguém para vê-lo. É, portanto, um portão de 15. Hawley, Krish"a. t p. 43.
volta à plenitudé^íielte mundo. A beleza que criamos perecerá, 16. Hawley, Ktis/mf' nisas interessantes a
mas não o mundo a partir do qual a criamos, nem a inteligência 17. Dimmitt, p. 103- '
para realizar a criação. 0_ Coelho pulou sobre p Coiote qn^^' 18. Platão í" Kng^l'P;'j, profecia Ste^f;^^-ãJí^vidente.
vezes. Esse voltou à vida e seguiu seu caminho."

Notas rplarSoa^iÇ:.^^^ -.«5n'inferini° _ Jp fala as pa^^

1. Diversos livros fundamentaram o capítulo sobre profecia demaneira


mais completa do que as notas poderiam indicar. Estou em débito
com After Babel,de Steiner; Contingency,Irony, and SoUdarity,de
Rorty,e.Loritó.fipd:,, de Brown.Em Aspects ofthe Novel,de E- M-
Forster também ha um capítulo esclarecedor sòíre a voz profética.
2. Foocault fez essa observação para Hubert Dreyfus, professor de
filosofia da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Dreyfus e trai

mencionou isso em uma de 19. Kugel, p. 14. 14,0. Bto^^"' York:


março de 1995. 20. Corbin, cita ^ jqorton, 2
3. Rorty, pp. 53-54.
4. JourneyW,^, 238. 21. rhtau,
5. Journey II, p. 242.
6. Journey II, p. 236. 22. Johnson,^
7. Journey II, p. 199^ 23. Kermode,P-
8. J.Z. Smith,p. 1. 24. Kermode^P*
449

448

.X
profecia
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

25. Kermode, p. 128.


26. Kermode, pp. 144-45.
27. Kermode, p. 145.
28. Hino a Hermes, versos 552-63.
29. Nagy in Kugcl, p. 58. Raposa e o Polvo, e e i60-61- de inverno,àe
30. Scheinberg, p. 5. and Danger, especia m em " jj^ssos
31. Wescott, p. 346. 48. A cravrna é uma das muuas« ,taçao
32. Hawlcy, Krishna, the Butter Thief p. 269. William Shakespea^-
cravos e
33. Hawley, Krishna, the Butter Thief, p. 269.
34. Mary Douglas fornece outro exemplo de como "comer sujeira 49. Aristóteles in p. 197.
torna o mundo fértil. Na África, os lele dos kasai comem o pango- 50. Kingston,'^omn ^ ^^2.
lim, um animal que não se encaixa cm nenhuma das classificaço^® 51. Kingston, Wo>na 164.
locais e, portanto, costuma ser considerado perigoso e sujo. Mas 52. Kingston, p. 170.
ele pode ser comido ritualmente. "Em vez de causar repugnância 53. Kingston, Wom p. 171.
(...) o pangolim é comido em cerimônias solenes por seus iniciados,
55. Ricketts,
que se tornam assim capazes de ministrar a fertilidade ao seu grupo
(...) Por isso o culto do pangolim é capaz de inspirar uma profunda 56. Leydet,p.78- ^cap.2.
meditação sobre a natureza do puro e do impuro e sobre a limitação 57. Ver Steiner, A/
da contemplação humana da existência" (pp. 169-70). Mais uma 58. Steiner, p- 66-
59.Re.rath<>iHyd.O« foetry of
vez, o ritual oferta sua sujeira ao grupo, o que deixa claro que este 60. Ginsberg, P- roveSBo^y'?''^ '
mundo é sempre maior do que as categorias humanas podem conter*
"Comer imundície no culto do pangolim é profético no sentitlo 61. Ginsberg, P- ^M.O.Btown-
do qual venho tratando: ele suspende o mundano a fim de revelar 62. Tausk,ciwdo P pp. 74-
Á 63. Gates,
como o mundo é de fato pleno. Douglas, pp. 166-70. 64.VerKosteUne , 5,/fcr, P-74-
35. Ricketts,The Shaman and the Trickster, p.88;Ricketts,"The Notth 65. Seigei,P-29-^_30.pucha®P'
American Indian Trickster", p. 344.
66. SeigehPP- ç P-
36. Ricketts,"The Shaman", p. 87. 67. Duchamp'^
37. Ricketts,"The Shaman", pp. 91-92. 68. SeigehP'^ • 73. 3.26.
38. Ricketts,"The Shaman", p. 92. 69. Nauman"'P' pp-
39. Ricketts,"The Shaman", p. 89. ■70.DuchamP>5'j;
40. Ricketts, The Shaman", pp. 89, 94 71. Cabanne.P ^j5j//ír,P-
41. Ricketts, The Shaman", pp. 94.95 72. Duchatnp.
42. Ricketts, The Shaman" p 95 73. Seigel, P-
43.
44. Todken,
Cooper "The'Pretty
Kugel.PoetryLanguages-", p. 154
and Prophíy, p.37.40. 74. SeigebP*

450
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

74. Duchamp, Salt Sellery p. 5.


76. Ginsberg, p. 227.
77. Citado por Copeland, p. 38.
78. Duchamp in Cabanne, p. 31.
79. Duchamp in Cabanne, p. 37.
Ofertório
80. Duchamp m Cabanne, p. 99.
81. Duchamp, Sí3/í Se//er, p. 167.
82. Duchamp, Salt Seller, p. 126.
83. Kingston in Moyers (videoteipe).
84. Kingston in Moyers (videoteipe).
85. Journey 11, p. 235.
86. Philips, Winnicotty p. 167. Phillips retirou a observação de Winnicott
sobre se esconder e ser achado do ensaio de 1963, Communicattng Chuang'''^'''
and Not Communicating.
87. Kingston in Moyers (videoteipe).
88. Kingston, "^oman Warrior, p. 209. jesuíta
89. Quando falo de Odisseu preferindo a mulher mortal à imortal, e
^roissionár'"^Yukon.
fragilidade dessa beleza, estou trabalhando com idéias desenvolvi ten-anobai^ío
auge
No fim do século .m meio aos ntig^s no
das no primeiro capítulo de A fragilidade da bondade, dc Marcha
Nussbaum. entre os

90. Nagy, GreekMytholqgy and Poetics, pp. 213-15. N.,-,...


inverno, entre o . pprolavaín'® naretle-^
misfério norte). Ouma
gr pu mais par^ o
ao-c-airdã Hoite, u-- cabeÇ^^^^^^^^pro,
no meio
deitar
tpagava a lu^-rfenda
(caúa e
úl timo a se •scuri dão sacos inui^°

1 í
!■ I de evir®"^ histor_ £««i:i--^-phavia
í r para que ^os oU^i^isa t-n au^ ^aever-^
! f nha . ^^ríi nos^
diziarse que "Üma escuri'^^^'^^1 jg volm P
na
fie"" trara
desaparecido \\iâS- ^
perguntaram a®
453

452
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Risos ressoavam quandq^o Corvo era atraído de seu isolamento


com a promessa dc receber carne de cachorro.
O padre Jetté quèriamuito fazej uma coletânea de histórias,
mas enfrentou muitas diíículdadS. Por exemplo, os ten'a reluta
vam em permitir que as histórias do Corvo fossem registradas
por.€scritG (embora outro grupo de histórias - "as histórias sem
importância ,como Jetté as chamava -fosse mais acessível). Jetté
tentou transcrever as histórias enquanto eram contadas, mas a
escuridão completa frustrou seu intento. Ninguém repetia as
istórias à luz do dia. E à noite, sempre que riscava um fósforo
para acender uma veia e escrever, o contador de histórias ficava apêndice I O hino
homérico a Hermes
imediatamente em silêncio.3

Notas

1. Chuang Tzu in Keys, p. 64.


2. Jetté, p. 304.
3. Jetté, pp. 298-99.

454
Traduzido para o inglês por Lewis Hyde
Para Danielle Arnold

Hermes nasce

, rrÍT^mes filho de Zeus el^,senhor de

sorte, Sua mãe foi Maiajljliâraialhosos


facrsT^ttori^zadas, que residia^"^
cabelo^,mngjImídL^Ê-^— abençoa^.
caverna sombria^ —
No mais escuro da com a
Hera de osleuses,
ninfa de fabujo^^ca^los. mgu ^ padecem,
que nurica morrem, nem os '^ ^ jg
Assim,depois de ter cone^ ^^^.^.seu^ietÓF^
dez terem surgido ' ,^pnino.* iisonjeiro e habilidoso,
Maia-deu-idda.ajinj.áSíuí^^ ^^nhos, notívago, vigi-
usurpador e ladrão de f/°^Pj^_Hermej,Jue lofoj^^
lante junto aos portoes . jgcm^nJfljapríSni-

— ■ "nolitrópico": poútropon (literalmente,


T-ví»rsátir, ,.' ,,ra freea três personagens sao poli-
*o-que-toma-rnui»
""'""litos- aminhos). Em toda a literatura greg
^ Akibíades.
tropicos: Hermes,^

457
o hino HOMÉRICO a HERMES
A ASTÚCIA CRIA O MUNOO

Quando
Hermes inventa a lira cada corda sucessivam^^ cantou lindamente,
maravITFõsãmentrão^coque e . ' modo como os ado-
De fato,ele não ficou deitado em seu berço sagrado, não,no minuto .mprov.sando alguns Cantou a
em que .deslizou para fora dos braços imortais da mãe, deu um lescentes
salto e partiu para encontrar os rebanhos de Apoio. Ao atravessar o filho'Te companheirismo amoroso. hi'
o limiar da ampla caverna,encontrou casualmente uma tartaruga E cantou em louvor
e obteve para si uma interminável fonte de riqueza. Pois devemo? Cantou a ^ ^eus aposentos grandiosos, a to os o
saber q.ueÍoiJje_rmesj3 primeiro a fazer da tartaruga algo cap^^
de^produzir som. Seus caminhos se cruzaram no portão do patio,
S:::SaÍílelapossniaemsennome..
por onde a tartaruga passava com seu andar gingado, mastigando
o capim espesso diante da morada. Hermes, o portador da^^^^^'
olhou.mais^at^ntamente, riu e disse: Hermes rouba o gado de Ap ^^
"Eis um mlpe-de~&orte que não posso ignorar! Olá, coisínha ntava pporém,sua mente começo^^^_^^^n^
formosa, ga^ota^ançari^, alma da festa. Quanto prazer em Enquanto cantava,
vê-la. Para onde iria tão alegremente uma jovem montanhesa assuntos.

de carapaça lustrosa? Deixe-me levá-la para dentro! Que do a Hta oca ^ ,ue as
í divina! FaçaHíie.4Aniiay.or,^entre, eu a respeitarei. É mais segur^ cot..dSSO°^"r;mentand^
lá dentro, aqui fora você pode se meter em encrencas. Uma taf um esquema j^dram no meio ^"j^g^-gndo para baixo
taruga viva, dizem, mantém o^iriços-causadores de problemas pessoas maliciosas e g ^ estava correndo as
bem longe. E ainda assim, áe^iver de morrèr, cantará_dají^
■ J'j(
bela das maneiras." d. " d"'»»'T.Ji»» •"
Ássim_di^ído, Hermes apanhou a.tarramga com an^^
mãos e^çarregoiTseu adorav^l brinquedo para dentro da casa. deuses ««"e í, , Mais.díSSSS^^ê
virou de barriga pára ciniã é,com uma colher de aço cinzento cumpo.nSo
pou^o,tutano da carapaça rochosa. E assim como um pensamen
veloz pode atravessar voando o coração de uma pessoa assombr^^^
por preocupações, assina como olhares inteligentes.
dessa forma, em um instante, Hermes soube o
m fazer, e o fez. Cortou hastes de junco na medida certa, ajustou^
através da carapaça e prendeu as extremidades na parte de tr^ *
Habilmente, esticou uma tira de couro, colocou as extremid^^^ mesmo tempo.E^„„,es mata AS
il uma trave através delas e amarrou sete cordas A história na q
npa de carn^o para soarem em harmonia. 459

458
oh.nohoméricoahermes
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

engenhoso, misturando suas pegadas - as dianteiras para trás e Um sacrifício aos deuses
as traseiras para a frente -enquanto ele caminhava em linha reta. t u Kprranteeacomodado-ono
E bem à frente na praia arenosa teceu para si fabulosas san Então, tendo alimentado o .j^^7ó'dõ^ngib^ réúmu uma
dálias, tais como ninguém jamais tinha pensado ou ouvido falar. estábulo^ma^^^
Trançando os ramos recém-brotados de murta e tamargueira, pilha dêlnãdéíraTsepos a yaretasje^âÊÊíL^íJ^-'"^
atou-as,com folhas e tudo,firmemente aos pés, um par de calçados de..™,.aber, é o
para aqueles que viajam sem bagagem.(O glorioso assassino de
Argos havia apanhado galhos desses arbustos em PÍéría quando
se preparava para a viagem, improvisando na hora como alguém
quando arruma os pertences às pressas para viajar.)
Mas enquanto acelerava o passo através dos campos gramíneos fardos de gravetos sec
de Onquesto, foi visto por um velho que podava seus vinhedos e se espalharam
florescentes.'' O notório filho de Maia falou primeiro: Enquantoo_E2dÊ-_-^-^^ • „to das chamas-
"Ei, velho curvado sobre a enxada,c-bm certezTterá barris de Hermes, e para )u
vinho quando todas essas parreiras derem frutos. Se, quero dizer,
me der atenção e puser na sua cabeça que não viu o que viu, não
longoIW7íí^^°fos lombos,fa^^^
Eleí os
os atirou
atirou ofegante .you sua ^^(,eça pa
ouviu o que ouviu e, de maneira geral, mantiver sua boca fechada de barriga para cima,c sucessivamES^
contanto que ninguém o incomode diretamente." a medula espinhal- sPasjncum^^^í^^
^.,35 incumben^_^^^^^^ou-a com
-Depois de dizer tudo isso, Hermes reuniu o excelente rebanho Hermes ti
degado e conduziu-o através de numerosas montanhas umbrosas, Primeiro cottnu toda el^ ^ 'ri"
desfiladeiros ecoantes e campos em flor. espetos de barria de sangue cscum ^ ,„je,
E então a divina noite,sua sombria ajudante, havia quase che- apitíciado e a ^ porvid-
gado ao fim e o alvorecer^ijue óbr.ga os mortais a trabalhar, sobre o solo. ..nre uma
y sobre u peti-frerasap-r:':
jurante er g
chegava rapidamente,^brilhante Sele>e - filha de
da^enhor^lsgamedes- havia acahado de suhir pa7a''^u posto depois, esse ^ni fosse
de observação quando o vigoroso filho de Zeus tangeu o gado de seimidíL££ÍÍ£2^í^^ ^!com
largas testas de Apoio até o rio Alfeu. Chegaram infatigáveis a
um celeiro de teto alto, com um cocho de água defronte de uma
bela pastagem. °
• , um , ÂrteniiS'^
- o fogo''"""otes". AP"'"'
'Hermes não mve poseid""'
••
dozeAsdo.epo«';-p„,Z=u.H-
deuses do ^ fggto e"
•Por«iodeouuasv„sôesdahistória.sabenios<,.eo„oniedessehonieniéB.i"^- Hermes, Atena,

460
AMÉRICO A HERMES
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO O hino homèRu-"
homer.--
u He falta de vergonha?* Acho
E O glorioso Hermes ansiou por comer aquela carne sacri^ esteve até esta para fora ^^r^scer para
ciai.^0^oce aroma o enfraquecia, divino que era; e, no entanto,
por mais que a boca saJiyasse, seu coração orgulhoso não o^^i'
xaria comê-la. Mais tarde ele pegou a gordura e tõdã a carne e
armazenou-as no amplo celeiro, pendurando-as no alto como um
perturbar as ^ oai pretendia quando pa^
troféu*""" de seu roubo juvenil. Feito isso, reuniu gravetos secos e transtorno, tanto par g,-« _ incrar:** "Mamae»
deixou que o fogo devorasse, inteiramente, os cascos das reses e
também as cabeças.
os homens,iestinados_^^^pquepodertó
E quando o deus terminou, lançou suas sandálias no Alfeu de por que está tenrando rn^,,ida crtançat
poços profundos. Extinguiu as brasas e espalhou areia sobre as
palavrasilojefflEi^ ' «r o
cinzas enegrecidas. E assim a noite transcorreu sob a brilhm^
luz da lua. '
da "Mas,jeriâniÊ—
ira da ®^.®'^e^estouÍÍ!E2Í^^^^^
porqnedeve
para quevocê_eeu.2i-^ ^^.^,.05 dos j^jos
Hermes volta para casa ao amanhecer
sistir que v.vamos e ^

Assim que o sol nasceu, o deus partiu para casa, nos picos reluzen Guaosiroortais- parasemp
tes de Cilene. Nenhum deus abençoado, nenhum homem mortal de grãos - do qu^ ^ ^^a
o viu naquela longa jornada, e nenhum cão latiu à sua passageni
apressada.**
E na casa da m$^, Hermés,.portador da sor^filho de Zeus,
meteu-se obliquamente^pefó1)uraco da fechadura,como a névoa em
uma brisa de outono. Sem fazer nenhum dos ruídos que eram de se
esperar,caminhou diretamente p^ra o suntuoso coração da caverna.
Então o glorioso Hermes saltou para dentro do_^rco, envolveu os rnaravnhosos,se^ vai filho de ^
ombros com as roupas de bebê, como se fosse um frágil infante, e e suas roupas v'^;J^,o„game"^'
ficou deitado ali, puxando o cobertor em volta dos joelhos e agar
rando a adorável lira com a mão esquerda para mantê-la segura. ^ égide, e a
Mas o deus não passou despercebido pela deusa, sua mãe
estájm£Í..Sêu3_ganador furtivo!", disse-lhe ela."Onde exatamente

* Sêma ou "signo".
,,„to ao '
•• Há outra versão da história na qual cães guardavam o gado de Apoio.Hermes s.lenciomos
mergulhando-os em um estupor.
nho","lucro • 463

462
tf"

i
\

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO


o hino HOMÉRICO a HERMES
o ladrão era um filho de Zeus, filho
Apoio procura pelo ladrão e soube imediatamente que próprio filho de Zeus,
de Cone, En.» o ti«.»,«8»"
A Manhã,filha da Aurora, erguia-se das profundas correntes do cobrindo os largos ombros c extraviado.
Oceano, trazendo a luz aos homens, quando Apoio atravessou para a sagrada Püos decifrou as pegadas dos am-
Onquesto, o lindo bosque, sagrado ao deus que faz a terra tre E quando o Grande Arque.™j-. ^ ^s
mer.* Lá encontrou un^velíxo,pastoreando seus anirmis ao longo mais, gritou:"Ora, ora! Isto „,as todos
do caminl^Jiue„passava ao lado da cerca do jardim. O glorioso
u claramente são jj^eção do campo de natasM sj v
filho de Leto falou primeiro, dizendo: apontam para tras, de um homem _
"Velho, você que passou a vida arrancando cardos do grami- E e,.es ont«,.5» 'f ..i' Q.c
neo Onquesto, vim desde Piéria até aqui à procura" do gado do
meu rebanho - vacas, todas elas, com chifres recurvos. O touro
negro como ardósia estava sozinho, pastando longe dos outros.
Qu^ffo^os meus cães de olhos aguçados,espertos como homens,
perseguiram asj^ças, mas todos ficaram para trás - o touro e os estranhas aindaí
cães o que é bastante estranho. As vaca? deixaram os pastos
tenros e doces logo depois que o sol se pôs. Então conte-me, velho
homem nascido tanto tempo atrás, viu passar alguém conduzindo A confrontas» aw, chegar

essas vacas?"
Então o velho respondeu-lhe, dizendo: "Bem, meu filho, oS nim
olhos veem tantas coisas que é difícil saber por onde começar- a mo
rochas, .^^^breasaadoráveis esí elo umbral de
Tantas pessoas pa^ajn j^_e3.ta_es.traj^^^^ boas, sombria entre as ndop
jná^ Não dá para saber quem é quem. Zeus.Um — cravam
"No entanto,eu estava ontem no meu pequeno vinhedo, traba ovelhas pct^^^^^^j-j^reriordac' yerna Apoio
lhando com a minha enxada,da alvorada ao ocaso, e quando o sol pedra e indo Mai^^" o arqueif",
.«pceu^c—
de^í?
se punha tive a impressão,caro senhor,embora seja difícil dizer com Apoio em ^ gf-ho^de f5eseü,íí^®'fSz^Tes^^^5ob es-

certeza, de ter visto uma criança-não pude realmente identificá-la Então,'1"®" ha ira ppiSS-^jrn corno , lizoupM
- seguindo um rebanho de vacas de longos chifres, um bebê com
um cajado que ziguezagueava de um lado para o outro e fazia oS dos cobertor^
animais caminharem para trás,com as cabeças voltadas para ele-" condem as ^
Tão logo ouviu o que o velho disse, Apoio partiu apressado- a proteção das^ pC, como plename
Nao demorou muito para que notasse um pássaro de amplas asaS, cabeça, mao ^^rdadc
sono, embota"
• Poscidon.
lira enfiadu so
465

464
Aoirn A HERMES
o hino HOMÉRICOA
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

O filho de Leto viu tudo isso. Imediatamente, avistou a bela que 'vacas' possam serj-p ' entendo
ninfa da montanha eTeiTquerídQ filho, uma pequenina criança
pcHiajqvirjalar^ / enquanto ele ®jurindo
envolta em um engenhoso subterfúgio. Olhou cada canto da gran c ■ Os olhos de Hermes cm , de lado a lado P ^
casa; com uma chave reluzente abriu os três santuários internos,
as sobrancelhas arquea as, íp^as palavras ®
cheios de néctar e doce ambrosia. Os armários estavam cheios de longos silvos enqqanto
ouro e das vestes prateadas da ninfa, como é de hábito nos lares convencido de
dos deuses abençoados. Então, tendo-vasculhado cada canto da e diáHüSXfltes: fala,estou bas ^^p^nando
residência, o fillíãd£Lefi3l^igiu-se ao glorioso Herrpes: astuto você é! Pelo modo „o.te P sem
"Pequeno garoto deitado.nõSf^;^elneJhõfnie contar rapida^ que invadiu muitas belas re „,uttas P ^
mente o que aconteceu com o meu gado,ou nós dois logo estárefííos
silenciosamente todos os ben. sem" do
em uma briga feia. Estou disposto a pegá-lo e atirá-lo na escuridão nem mesmo uma cade.m^ ...ques mon^^^^ .arneuos
horrível e sem esperanças do lúgubre Tártaro. Nem sua mãe nem vo para os pastores so' depam'^"^ ^ quejam^^"iviâs
seu pai serão capazes de libertá-lo e traze-lo de volta à terra. V^ce ficar sequioso de o--;,,pos
passará seus.dias sob a terra, um líder de bebês mortos."
lanudos. Ate O fí"^ jprãoo
Hermes respondeu-lhe, de olho no que poderia lucrar: Filho certamente l^e ja noitc sa'»
de Leto, por que grita como um tirano? Veio até aqui à procura agora vamos, o, a um
das vacas de seu pasto? Não as vi. Não ouvi uma pálavra-sebre seu último °
elas. Ninguém me contou absolutamente nada. Não posso lhe dar
Dizendo ISSO, d
nenhuma informação, nem poderia reclamar a recompensa po -Ia. A essa altura o de atfj^otudo
tal informação. Erguido no alto pela^
liw A— - C5«-^ um^^eApol^^^ a
"Pareço-me com um condutor de gadp^.Um-homem gr^l^^ ^ um exausto escravo
iim escrav ...„mpoesp^^^úsIõ50T^
,^p^^e-;^^^ |^do-
forte? Esse não é o meu tipo de trabalho. Estou interessado em estava por vir. A ^
outras coisas: trato de dormir acima de tudo,e de.sugar. o.leit^eji^
seios.da minha mãe,e de ter um cobertor sobre os meus^onibí—' caminhorat«da^^nho,« jo me ou,-
e de tomar banhos quentes. "Nada terna, b
Acojiselho-o a não falar assim em público; os deuses imo^^ que esses
achariam isso realmente estranho, uma criança com um ài^ ^ Po,,ue nio id.»•
vida levando animais do campo para dentro do seu quinmh ^ nlmes de CJ'»^„ ..f«
bros e as inãos cO
fala sem pensar. Nasci ontem meus pés estão sensíveis e o chu
que pisam é áspero. TtabaJtodStiU^S^0.» „do o^
8 do«»ioi" ^,i,á4as.
"Amda assim,se você insiste,estou disposto a fazer um ■Escá-SÍ-^ais.»'"' nío"" *
juramento-pçla cabeça do meu pai e declarar solenemente que n»
roubei suas vacas,e que não vi outra pessoa roubá-las - seja morto! Não

466
! 'J'

i
i:?

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO


o HINO HOMÉRICO A HERMES

tampouco, seja lá o que possam^r-vaeas, pois ouvi apenas falar "Roubou minhas vacas do pasto e levou-pi^^^gTf^^ em I
delas. Não, faça a coisa certa. Ley^to a Z^s, o filho de Cronos. noite ao longo da margem do mar estrondoso, seguindo dire^
E entã£, com os^cQraçnpj; prp_jHpgarnrHnj Hcrmcs^ O pastor, e tamente para Pilos. Os rastros eram__dúbios ç de_ fato
o glorioso filho de Leto.,debaterani„o,inofivõ da discórdia, ponto obra intrincada de um espírito astucioso. Preservadas na areia
por ponto. Apoio, atendo-se aos fatos, tentou enredar o glorioso escura, as pegadas das vacas conduziam de volta aos campos de
Hermes (que de fato era um ladrão de gado), enquanto Hermes narcisos, enquanto essa estranha criatura cruzava o solo arenoso,
d^^lene tentava induzirjd deus do arco de prata ao erro com não com' os pés nem com as mãos, mas como se - pode acreditar
retoric£e argumentos lisonjeiros. nisso! - estivesse caminhando sobre pequenos carvalhos,.auand9
conduziu o gado através dqsqlo.are.npi£>.£L«stros sobressaíram
comTíiííííírclareza, mas quando deixou a larga faixa de areia
A discussão perante Zeus e atingiu o chão duro, todas as pegadas desapareceram, tanto as
dele quanto as do gado. Ainda assim, um homem mortal o viu
Mas quando descobriu que. Apoio era páreo j)ara todqsj^..seus conduzindo as bestas_de largas testãs-diretamente _
ardis, Hermes começou a caminhar rapidamente pela areia, con "Em silêncíõãFocuItõu, dipois se esgueirou para P
duzindo o filho de Zeus e Leto. Logo esses belos filhos de ma rota tortuosa para deitar-se - tão sereno quanto
chegaram ao pico do fragrante Olimpo, junto ao seu pai, o filho das noites - em um berço em meio à escuridão de uma cave
de Crmíõs.~La, pàfã ambos, os pratos da balança da justiça fo sombria. Nem mesmo uma águia de olhos pul os
ram dispostos. E lá, no nevado Olimpo, depois de a Aurora ter-se tê-lo visto ah. Esfregando constantemente os os
sentado no seu trono dourado, os^uses,_que nunca morrem» ele teceu falsidades e falou com au NãTpdssõTS
reuniram-se para conversar. ' ouvi Jalar delas>nguém^^ fazê-lo.'"
Então Hermes e Apoio do Arco de Prata se posicionaram diante contar sobre elp nem falar e sentou-se,
dos joelhos de Zeus e este, cujos trovões fazem os céus tremerem» Quando o je Cronos, senhor de todos os
dirigiu-se ao glorioso filho, perguntando: "Raio de sol, onde cap Hermes se .czeus^ meu pai, é clar^vou
turou prêmio tão fabuloso, 'üm-bebi recém-nascido comJLÍ^S^ deuses - e mspondeu d.zen
de um arautp? Este é um assunto sério que você traz perante o dizer a verdad casa hoje ao ama-
conselho dos deuses!" con^r_umunentyj>p
:'in o senhor que trabalha ao longe respondeu: "Pai, você pod^ nhecer, procurando por s g abençoados
!' íf;
■I*
zombar do meu amor por espólios, mas não é uma história tola com ele nenhuma ,,3,, «ntou^a.an-
o que eu tenho para contar. Eismma criança, um ladrão talen que tivesse ® 3^Q_„,„ha. AriieaídüTnsistentemek
toso, que encontrei depois de uma longa busca peíasíalinas de car ,3,^ na poderosa flor da
Çilene. No que me diz respeito, por apanhar o povo da terra
desprevemdo, jamais vi alguém, deus ou mortal, tão imprudente
atirar-me nas profundezas dojar ra P^
, 'Lf5

quanto ele.
luventude, enquanto eu - como ele esta mu
apenas ontem.

469
468
o HINO HOMÉRICO A HERMES
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

assQ^b^l Você não precisa de muito tempo para crescer,garoto


"Não sou ladrão de gado,^nejn um homem cilênio, filho de Maia!
diz às pessoas qu^meu querido pai, então, por davor,^^ Enquanto falava, Apoio trançavaJorte^baail&-saIgue^^
em mim. Não tive.o„prazer de conduzir o ga^o ate_ tendendo prendexlJermes. Mas os cabos não conseguiriam deter
Nemmesmoíki^çasa.Estou dizendo a verdade.Ten g o gar^rcahaiti a alguma distância e do chão onde pousaram
reverência por.Hélio e pelas outras divindades; a voce imediatamente.começaram a brotar,crescendo entrelaçados como
Apólo me enche dptemor. Você sabe que nao sou , rnhrindo o gado errante,como Hermes,o
mesmo estedecoradas
ricamente grande juramento: Verdade^ente,
dos deuses, SOU'moceniety pelas .te rr"' °"'STirSo
ladrao, preten . P ' fimatador
"" de Argos olhou
"Algum dia darei o troco a este valentão, por mais o
Com fogo ardendo nos olhos,o fort^e^
furtivamente à sua volta, na ^ aolacar aquele inflexível
seja, por seiuiaterrogarprio impiedoso. Mas por ora, por a de Leto. Sutilmente, entaOyComj .
ajude seu filho maisJovem." arqueixadeionga.dist^ia. «snuerdo, tocou cada corda
Enquanto falava, Herníes de Cilene, o assassino . ^çqs. Com a hra ^n^^ada so o ^ ^ je maneira
piscava e apertava o cíjHertor de bebê com força sucessivamente com a p deleite quando odoce
Zeus deu uma alta ri^WdTãntrdiTvisãrírdãquelax impressionante. O lum^io^o ^nto^sê infiltrou em seu co-
nadora n^^ndo'com tanta facilidade sua culpa quanto palpitaxiaquelcmaravilh^^^^^^
E ordenou que"ambos entrassem em acordo e fossern ração e uma temajioita^ coragem e
o gadoM)isse rHermésTo^giãiãrp ir na frente e, deixan Tocando clemente a^,o deiiítânaõqíJ®4 ^i^a o
ladõTtravessura em seu coração, mostrax-a-ApoJ^
estava escondid^ntão o filho de Cronos fez um aceno g
parou de pé àíiTeitff^trr^ante po ^^'^'^^-^^orável.
acompanhasse,ergueu sua voz e can , ^^^em, e dajerra
e o~bom hfermes obedeceu, pois a vontade de Zeus, cpiQ Cantou^ajustória^^ dos
égide, persuade sem esforço. em trevas,e de como cada ^ lhe pertencia,
tempos, e como caH ^ pjimeira.,enHe.,ps.deus5S
Mnemósine, a giho de^Mai^^
Hermes e Apoio trocam presentes que ele^íQnrõuj^'^?^ ^.eus louvou os outros
a,a£^' seus^^gui^tes. JJ^ordo com a idade; contou como
Então os^dois belos filhos deZeus seguiram apressâdQ^-P^^"" imortais, todos ordena ^ enquanto tangia a
nosa Pilos; no vau de Alfeu chegaram aos campos e ao ampl^ ^ cada um tinha nascido,
qüFabrí^lircrgado durante a noite. E enquat^ lira aninhada sob o braço.
vacas robustas para fora do recesso^dregoso em djrçç .g-
iMio com uma voz adorável .
do tCa,^Ihõ déEefo,olhando de lado,notou o couro das .^es
tendido sobre ás rochas.Irnedlatamente inquiriu o glorioso -q,
"E como conseguiu<^olar d^vacas,seu tratante creve Hermes como ele p P
seu feebezinho recém-nasadõ?Tensando bem, seus pod^^^
471

470
O HINO HOMÉRICO A HERMES

A astücia cria o mundo Zçus_oaina_^ accim O deveria,e concedeu-lhe


honrasdádivas formidáveis.
que virão para os
Dizem que v oráculos,ó, Arqueiro,e sabe das suas
E Apoio foi deuses; voce conhe« osj^^
Lu gad5:í«EP,inenmo labor.<.^rmgo^^^
podia leis. Por tudo i ,!
"E,claramente,
aprender o que quer que deseje.
j^j.id,do a tocar a lira, vá em frente -
coisas p-e&quai^JllSter^^^^^^^ agora venha Uma-vez que parec ^ ^if.çrria.Dê-me a honra, meu amigo,
toque-aecante,entregue-seaalg
creio qTíí^i^iS^cificar
aqLf^me:iip-elío mhonos^a desavença.
de M^a: Mas
esse °bieto^^j de aceitá-la como um presen pegue
estava com você ao nascer ou algum deus ou .^p'pois "Você tem e cante. Carregue-a
deu esse n^óbre presente e ensmou-lhe essa cançao minha amigT^E-^Srhmp^a banquete, uma
esse é um som hõvoTuma maravilha para os meus livremente consigo Dia.£J10it^êl^-ííâZ-^--
nem os homens nem os deuses olímpicos limais o
pareci^.^xceto-Vpcê, oh,filho ladrão de Zeus e . ^e- d,„ç, «"» 17
tocar despreocup^ ^ el. ~1»»p„í,,a,
»•!»"»os
É fácil se você a
"Qii;Que
niédio! perícia
estilo!vocêHonestamente,
íeTn! Que curatrês
para as parec^^^^^^^^^^^ar-se
coisas pesado e enfadonho. Se um home^^^ ^ mejits-^-««-^^
nessa música: humor, libido e doce torpor. S°^^^^^i„oso sons '°^^^'LLLcia,porém,ela matraqueara to
ignoranteagolpemfo^^ , .,.0 de
Musas olímpicas - aquelas que amam a dança e so
da poesia, canções a plena voz e o adoravel chamado d
_ e no entanto nada jamais comoveu meu espirito como
mesmo as mais deslumbrantes canções dos ,ovens nos que o gado que er
.r/ico»
acasalar sos
L resumo, estou maravilhado, filho de Zeus, ao ver pb„!de,8»»'»"'^''."po,„„novilho..bo»-
você toca ajira. _ „tável sente touros e povoarão '
"MaTagora, uma vez que tem um talento tao nota ,
-se, garotinho, e mostre algum respeito pela sabedoria
velhos. Saiba que agora você será famoso entre os deuses
você e sua mãe:Estas palavras são verdadeiras: pelo me
de abrunheiro juro que farei de você o gui,a.renQma_do ü
imorredouros. A sorte o seguirá. Nunca o enganmeij! a
presentes maravilhosos. «yocê Leto,o noto ,ada corda com ^^^^gíL^íí^ura.
Então Hermes respondeu de olho no que teria a lucra • ço esquerdo e ^ ^ ^^^^^^0 o fazia conduziram as va-
tem uma mente inquiridora. Atirador de Longa som.«aeavA°\ fascinantes filhos de Ze
me oponho a que você aprenda essa arte. Hoje você vai Mais tarde, ê ^ apressara
com maestria! Pois quero ser seu amigo em pensamento e pa cas de volta ao pa
"Você tem conhecimento intrínseco de todas as
senta-se diante dos deuses imortais, que são bons e fortes. _

472
O hino HOMÉRICO a HERMES
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO
"tvl^
ivias, nobre
1 filho de Zeus, quanto
T^-^^ocê nemànenhum
outra coisa que voce me
dos_oj^s_deusçs
divertindo-se com a lira no caminho.O^bio Zeus pediu,a arte da prôfecia nep ^
e aprovou a amizade deles. Hermes^emao passou a am^^ ^ r".!Í^Í^^S^votos e um grande
de Letodacom Fizqmia promes^^ imortais, possojuramento, de que
conhecer seus somente'
intrincados
dádiva liraconstante afeição, assimamcK
foi um símboloUeleu como ainda ^
^^^"f^^Vermes, euT^ívtre^edosms eus ' j.j^^Qj^jio.bastãa-daurado, não
que a tocava com perícia,apoiando-a no braço. planos. E assina,
estava ávido por conhecer outra arte e fez para si a flaut me peça profundamente a nãj,Jiiy.ejável
cuia música cobre grandes distâncias. menino "Quanto a nt.m,_confundire. ELotuq^^^
Então o filho de Leto disse a Hermes:"Filho de Mai , ^ raça dqs bomens^^^°±I^^^ de pássaros
e guia astuto, ainda temo que você roube meu arco homem^Hêr ate mim guiado pe - enganarei. Mas—
nha lira, pois Zeusconced^
mercantis entre oTESSiSTaTtodo o prolifiçomundo. O homem que acredita em^a^s— pretende saber
apazii^í^íSFcõfãç-ãõrfa-çi-um dos grandes juramentos do minha^Tirprofénc^^ será infrutífera, eu
acenando a catSéçToL-mvocando as águas do poderoso ^ mais do^qüFõTHéuses imortai , j-eceber suas oferendas,
Então ofahodeMaig fez um aceno com a cabeça e p lhe juro. Ainda assim,ficaria satis filho da glmipsgLMaia,
que não roubaria nenhuma das posses do Grande "Eu lhe direi uma
jamais se aproximaria de sua bela moradaTETVpõIc),filho filKrA Aíi 7pii<\ ^ ^ t A r' t-vr\r VcloZCS^
juroiTiiFiíí^o e cõmpifiheirfi deHerrfies.Dê todos Há certas irmãs sagratias, rres sob uri} .
sejam eles deuses ou filhos humanos de Zeus- jurou não ...s cabeças «oram òfo ãe pregi|o
a ninguém mais amor do que dedicava a Hermes. rodigdo no Parnaso. ^'•''''''^não'^ apenas um meni
dofi;;;^tiquei com elas qu ndo a^P^^^
mínhando atrás do gado; meu de favos cerosos e
Apoio concede a Hermes seus ofícios para dentro e para fora o ar, Qpgjam de contaiJJÍÊl^^
faaenrlo com ,«= coisa, acomeça- Gm^ „p„„«
Apoio,então,fez um importante juramento:"Para mortais ^
tais da mesma^erma,faço deste instrumento o^inâ-Usd mas se tiverem sido priva a
e.sincero da nbssa umãbí ^ ríLtrês e resmungam mentiras. pue-as bem e satisfaça seu c
«Além disso, agora lhe concedo o maravilhoso bastão co^- .Doo-a...ocí,en.S<.->»^ .;„acm„boa forra». » »
ramos de ouro. Ele traz boa fortuna e rique^zãT^aí protege E se irrsrruir bome^mgSi"'. "
ameaçãs~ênqu^ntQ.TOcê executar as boas palavras e intenções tornar devotos a voce.
Hp a Hermes umf.arte profética
quais tomei conheciineíito por intermédio da mente de
Tl;;;n^ha.rradas DorrEelas-Abdhas. Apoio conce
menor.
* Note-se que Apoio supõe que alguém envolvido com o mercado também será um
O mundo desse Hino não faz uma distinção clara entre roubar e lucrar. 475

474
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

"E,filho de Maia,zele também pelo gado de chifres recurvos,


os cavalos e as mulas trabalhadeiras. Que o gloriosoJtornesjeja
senhor dos leões de olhosch^mejantesejdQsiav-alis^e-pfesas-bran-
cas, eTãMrénr dõs caés; que seja o senhor de todos os rebanhos e
*de todos os carneiros que a vasta terra alimenta. E apenas Hermes
será nomeado o mensageiro do submundo,onde Hades concede a
dádiva definitiva e nada toma em troca."
Desse modo,com a bênção do filho de Cronos, o nobre Apoio
demonstrou amizade e boa vontade para com^"®!© de Maia.
Assim é que Hermes circula entre os deuses, que nunca mor
rem,e os seres humanos,que dela devem padecer. E embora sirva APÊNDICE
Trickster e gênero
a alguns, na maior parte das vezes, quando a noite cai, engana a
raça cujo tempo se esgota.
E assim adeus, filho de Zeus e Maia; pensarei em você com
freqüência enquanto prossigo para outras canções.

I-) ■

'■"r, 't.

475
cipais, e ate ^^hlemacomoprop^^^^t^ ,
lugar, pode ser que haja um probl ma ^ igno adas^
have; rrmksters articule^^
Por fim, pode
seria masculma^^
um cenário matriar pcrlarecimento antes q snciaJlue
É necessário fazer
estender em cada j ^ão são ^
os trkksters
andróginas, "A
pólogo Turn i':„perta: ern
tem 7hermaftodkal)>
e Wakdíun^a^ cláss.co
era frequentemen ram-questao^ O
Parece-me que isso ^ dmeiS-
nasce da uniao .^ijò-a-AifSáíkê- . Wak^iffl^âSa^

otricksterwmnebago-emum
479

líí
TRICKSTER E GÊNERO
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

sementes dos cereais não germinavam. Quem conseguisse inter


-se com o filho de um chefe e gera três filhos.^ Lold_certa-f^'^^ romper seu-luto^scna-tambem—portanto, põSãdor-áô-priíiaajvpj-a
transformou-se ^jjrna-égua noxio.,Rara di^mr o garanhãojque e daJertihdade^E como Bai^fez Deméter^ir? Erguendo^jâs
estava^juHãndo a construir o muro em torno de Asgard. Não saias e expondo suas parles pudfeqdas, um ato desavergonhado e
apenas Issõ; mas esse garanhão e a égua cruzaram e Loki assim i mpndpT^^f^t"^^^nçãõX^baubo^ra.^também associada às pia-
deu à luz um potro, o cavalo de oito pãtás, Sleipnir.^ Há também dassujasTôTiracejos obscenosj^ue as rnumeres faziam^díirante
uma referência obscura a uma ocasião em que Loki teria comido os ri_t.o^'e-femlidade'drDemét^rD¥^^^
o coração semicozido de uma mulher,tornando-se assim suficien Demétè7OTmentários indecentes eram gritados sobre "a ponte da
temente feminino para gerar monstros.^ zombaril", entre Atenas e El-sis- (Essas brincadeiras são uma
Esses são os melhores, e creio serem os únicos, exemplos de característica comum dos festivais de fertilidade e destinam-se a
tricksters sendo tanto masculinos quanto femininos. Não me excitar a terra, assim como os human , • • jg grande an
parecem, porém, indicar "cpndição sej^Lincerta". Em ambos En,.odo .,ui
os casos, uma figura masculina torna-se brevemente feminina, tiguidade, uma femea exi icmn , mortos,ambas
depois reverte a transformação. O masculino é a base, o ponto de vergonha está ligada a fertilidade e ao retorn
partida. No caso winnebago,j^ verdade,_p_e£ÍSQdÍQjÍ^didâ-"' parte do território mitológico u ® Baubo.O primei-
ça de sexo termina com Wakdjunkaga perdendo o^disfa^ ^ M.S».»d.d.■—
Hiy.endoj^TmFsmõ: "Por que estou fazendo tudo isso? Já ro registro data do século inrpracão crítica entre ela
mais do que na hora de voltar para a mulher com quem soU no qual Baubo é chamada de am ® ® ^ solícita lambe (...)
realmente casado. [Meu-fiiho].deve ser um belo rapagão a esta elevou a damaé descrita
Deméter sagrada,decommaneira
muitos gracejos e pilhe , sorrir e
altura,"^ Conío^observa Radin, e^sa é a única menção ao fatt>
de Wakdjunkaga tèf üma'família; o narrador está salientando gargalhar e animou seu ^«^gsse hino, ao mesmo tempo que
a constituição masculina do trickster, no âmbito da qual houve O comentatre-p^drao .g^^^bo, exjmndozsejs?
um episódio de feminilidade.
O melhor que podemos fazer, acredito, é modificar mn^^^
afirmação inicial: os tricksters-padrão são masculinos, e aig^ns
deles em raras ocasiões se tornam femininos por um breve período-
Quanto aos tricksters serem parte de uma mitologia patriarcal' fie Susa-nõ-o, a deusa do sol,
gostaria de abordar o tópico por outro lado, por meio de Amaierasu, esconde-se em ^ deusa b" ^ ,
possível figuraonçkster feminina, Baubp.^ Na religião grega doS deixam de existir. Para t.ra-U da^c ^ Os outro deuses^^^^^_^^ ,„escentam
mistérios de Elêusis, Baubo"^era uma ír^dfer (às vezes uma rainb^' dança na entrada, expon começa a emergir- s j.gyjvcrem aviltando-os. Se
curiosidade da deusa do ^ fazem os altos deu feminina para fazer
f J
às vezesj^ ama)que consêgubi^^^r^o|^^ um corolário à tdeia de
a figura suprema é uma deusa, p necessár.o uma trtcks
!'• ;
" I meiQ^dQLei^rmva^e^ejdai^ A amarga triste^^ esse trabalho.
^ter Ezcra com que a fertilidade abandonasse o mundo;^ 481

480
trickster e gênero
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

duas ou três, mas ant..c rie falar sobredemanda


elas devourFTfigura
d^er que fintíET
mi^
épica" exatamente desse tipo de supressão.^ Conhecemos a concepção da cate^rja ,-^^ pjaxque não é
órficaüxompleta por intermédio de Clemente de Alexandria, um
padre da Igreja que cita as linhas cruciais de um antig^o poen^ difícil pensar em mui p^rtamento desavergmíKãdtníão sao
órfico ("Ela pôs seus mantos de lado e exibiu uma visão vergo mentir, roubar e ter um compo
nhosa"), mas não sem uma justificativa prefaciai: [Os] atenien ações essencialmente masculinas. M
e o restante da Grécia — coro só em falar — têm aquela hi fazem um trickster. sugeriu que a mulher
vergonhosa sobre Deméter."^^ Maxine Hon^g ^^gnue o pai não tenha de ir
Assim, tanto com o poeta do Hino a Deméter quanto chine-sSTue finge ser um Sou cético; seu am
Clemente de Alexandria, não apenas ouvimos uma velha para a guerra,Fa Mu Lan, é como o
na qual há uma fêmea desavergonhada revertendo uma _ fido é «..»»»
moribunda, mas podemos testemunhar a antiga história per e^^ Rei Macaco,cujos engo o P ,entanvas de
do seus detalhes. Casos como esse (ou o de Sheela-na-gig, ou De maneira
fêmea exibicionista cuja imagem aparecia nas igrejas da - j n/hUaTíêbrããca como__^__.^^
até a Idade Média)sugerem que pode ter havido uma tradiçao^^^ enganaj^abao^^^^,.^ que
tricksters fêmeas que desapareceram ao longo dos séculos dele. Eles vao embora -.-jjõlõs domésticos. --- -^s
os quais os adoradores de Zeus e os padres cristãos consolidara ^ Raiei rouba os
sua dignidade.Tem havido,é claro, muita especulação em deca Labão-a^révgm Com base^
recentes sobre as rela^erés dê^gênecQ^a pré-história da regras „ickster de papéis"''
Uma observação devÇharlene Spretnàk a respeito da historia um crítico conclu . por meio da i verdade, mas
Deméter é típica:"É proVáv^-que^a história do estupro da deusa no poder! Ela convenado. El^ femininas,
[Perséfone]seja uma referência histórica à invasão dos adoradore Novamente,
de Zeus vindos do norte, assim como é a história do casamento não há antecedentes. ^ sentarei em se-• rn

tempestuoso de Hera, a rainha nativa que não se rendeu ao con emininas.


- A i-rirUsters femininas. .
js comentarei e
miais come
naoderrrckrd ^
c há várias, uma das ^ ^_^ameti3n
quistador Zeus."" Spretnàk considera o Hino a Deméter Quanto a essas, TiaJáanP^^^f^^se a trickster arai
nova^ersão de histórias muito mais antigas sobréTsis e fe pequeno. Há Inana,a
uma versão em um novo contexto no qual Zeus é o deus supm^ embora v
mbora seja na vera-- uistórias spbje ^e ^ e figura das ^on-
mon
e Baubo se tornou "a solícita lambe",,.e no qualüca cada vez m^^^ .shauri,e
ashanti, e ocorP-í^g.
o corpus^ ^ntiga Sumétia- ^ [^oibuatl (também
i difícil recordar como exatamente eía fez Deméter ^ii:.- "deusa enganadora ^^éxiWT^bámada^^^^^ goredadeira).Tem
tanhas de ^ g no fim contas
^ O caso^de.B-auhQ,su£^e queulvez a literatura tradiçipaai^S.^^^ -k-' "trÍ^homem..^ sed 1S >■
tricksters não tenha lançado um^Fede sufíaentemente.amP^®^ O que parece '
que haja figuras femininas por aí; precisamos apenas aumcutat é uma vagma-
alcance do nosso olhar para encontrá-las. Minha pesquisa reve o 483

482

á
TRICKSTER E GÊNERO
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

E finalmente - o caso que quero explorar melhor - no sudoeste Quanto ao porquê de as histórias de Colores fêmeas aparecerem
norte-americano há urn írickster Coiote fêniea. nesses contextos,Ballinger sugere que é uma conseqüência de como
Depois de ler centenas de histórias de trickster de nativos poder e gênero estão^nectados najodahopietewa.
norte-americanos, Franchot Ballinger descobriu cerca de vinte ■ 'u ntip deveríamos apontar sobre histórias com
nas quais havia um Coiote fêmea, quase todas de dois grupos O fato mais o v q
trickstefs fêmeas e que sao to das tribos que citei,
de índios pueblos, os hopi e os tewa. Nesses contextos, o Coiote matrilineares e/ou significativa autoridade ou
fêmea existe junto com o Coiote macho,e a maioria das histo talvez em todas, as mulheres «"h « ^
rias ainda é sobre o segundo. Não obstante, ela existe de o .to», «o-
difere da sua contraparte masculina em vários sentidos. £ hopi, as mulheres "^d.cona me
faminta quanto ele, mas não é movida pelo insaciável dese)0 nômico e o l,t, que éO cultivados por
sexual do macho. O Coiote macho ocasionalmente tem íilh*^®' proprietárias das casas, dos P ^ ^^estões
mas geral são sec'unc[arIos"líÍTiistória.~Os filHo^ seus clãs, com as maes do cia te .rtães-filhas-irmas
Coiote fêrneà~~desênTpeTdTaTnrum~papelTnã1 significativo, como de distribuição. que por sua vez carrega mui-
explica Ballinger: \ criam uma solidar.edade-de P
ta autoridade. Entre os tew ,^ . tradicionalmente
cuida das posses rttuais da família...
Às vezes [a história] começa com uma referência à sua procur
comida ou água para os filhos. Às vezes, quando ela decide qn^ trickster fêmea no contexto d
quer alguma coisa que não é dela por direito (por exemplo, pint^® Em resumo, encontramos a idéia de que o
bonitas, uma canção, um esquema de caça mais eficiente), ela o pode, f.«.nino, h.» to» P""'=""
quer (pelo menos de maneira ostensiva) para os filhos. Em outras
entos
.,icl<.,e,.c..6ni=.».«"
; — _ 1, S
histórias, seus filhos participam ativamente dos acontecim mitologia patriarcal
que demonstram ou revelam a tolice, a falta de autocontrole e oS Nesse ponto pod
desejos inaturais da mãe trickster...'^
são disruptivos „„ae ser
Por fim, Ballinger não encontrou nenhuma história na qt^^ ^
no patriarcado.
' « (eiaborad^ííeBíi^^aiquer
rch j boradojmsjwtm^c sistema í
Coiote-^fêniea-seia um herói cultural. Ela não é conhecida com^ de Sâcymi-Eeí£2i^
tdeoiogias lí^ngénTõ^ísSí^
emQtermos das^ção
próprias
tam-
uma^dra do fo^ uma professora de danças ou uma invento^^ como as

beneficia ao «presentar ^eus^P ,^eteor que a^o^^


de armàidÜhas^ pesca.* presunções. Se opo « hiitóriada^ísys.^^^ lá.seioi-a
bém seja masculina-
• Aqui devemos reconhecer como as anormalidades da coleta podem afetar a uma.4eusa ^ tQina.^u..seü^
A ausência de historias publicadas não significa que elas não existam. Alguém
narrativas
-o. deve
«... suspeitar
ou.pv.tai que algo exista
HUC aigo exista ee interessar-se
interessar-se por
por isso
isso antes
antes que
que seja
scj«. , oposição.rejme"1 ^ji^senso nao
acha-lo, e mesmo então, se as histórias são sagradas, podem ser vedadas,ou ser ^^ 4,
a determinadas pessoas. Quando mulheres antropólogas foram para as Ilhas Trobr»^
ouviram muitas histórias que Malinowski nunca ouviu. fiéj-infiei nao
485

484
TRICKSTER E GÊNERO

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO


adotar a figura feminina). Em segundo lugar, essas podem ser
pertence, em si, ao patriarcado; certamente em um matriarcado histórias sobre criatividade não procriativa que, portanto, ficam
aconteceria a mesma coisa. O fato de haver
associadas ao sexo que não dá à luz. De_ye:seJ~i^M
tradição hopi pode ser uma boa maneira dè pfòteger^pQ ^ o lendário apetite sexuaUojricksKi^^^
rebeS5.Jiicksters1fiI?gí^íí^ nova vida, eles rearranjam o
das mulherès^è~iJma^u^nç.a.fuadamentaL
que iá está à mão. .
Seja como for, depois de analisar as histórias dos Coiotes Por fim, essa mitologia pode apresen^majiarra^ao
meas, deve-se registrar que elas não são exatamente uma entra edipiana)"^lDÍêWmõdTmenin^^
para um território ignorado, mas uma exceção que prova a regra vaçoes de John btratton naw y r„lrnra hindu
A não ser que o problema resida em histórias não registr > pensar nesse sentido. Hawley argumenta
mesmo entre os hopi e os tewa^^ÍQte._macho é o que deu origem às histórias do ladrão de mante ga, a cnaç o d
mário. Além disso, se na-América do Nort^á menos de filhos do sexo masculino envolve uma
dúzias de histórias de tricksters fêmeas, então os tricksters
nativos norte-americanos são primariamente masculinos. Por
que tende a anular a polaridade sexual; essa-u^ esulta em
essas histórias vêm de grupos nos quais formas
um problema para os rapazes «m^ar^e, umaf^te
de reivindicar sua identidade sexua . , inabalável
poder pertencem às mulheres, mas nesse caso, também, elas ligação entre Kfisiina é sua maej__as ^ HfrDMmãã5ã~ãma
uma exceção. Há muitos grupos matrilineares de nativos n é o de K,.hn. pe.«
-americanos-os tsimshian e os tlingit na costa do Pacífico
exemplo -e em todos eles o trickster é masculino.^" De fato ^ ele quer se libertar dela. Como
dois casos claros nos quais uma trickster fêmea está associa do ladrão da manteiga representam a "£nibora_^
uma descendência matrilinear, mas o segundo caso não e n dessa dependência e indepen encia dependente
sariamente uma causa do primeiro. Na América apetite_seja.grande^^b^
formas;significativas de poder pertencem às mulheres,o tric^^ de todas as restringir pela obrigação."^'
ainda é geralmente masculino. Em nenhum momento e e se Krishna com Shiva,
:í!i
O que nos traz à última linha de investigação das raízes deidade^asculina quêe^ ^ poTaínEos
questão de gênero. Talvez alguma parte desse mito seja^^^ cia e doTutocontrole.
mens,como os mitos de ísis, Gaia ou Deméter tratam de mui e o"rcammfiSS, o que requer t«PUÇn-
Talvez o gênero do tnctcsTèrdgnve-tte-drfereiTÇas sexuais- . uma redução radic^ajiwdade ^k^r^—nte,flexível, ate
Há várias maneiras pelas quais esse pode ser o caso- jg Krishnlé um ^j^elde cor^íTüíSSr
meiro lugar, pelo menos antes do surgimento da tecnoluê tnesmo tortuoso. E essa at-tdad^ ^ e
contracepção, as conseqüências do tipo de sexualidade oP
nista e errante que o trickster demonstra eram claramente
-j m.i,d.,ue "X:r,"e^
sérias para o sexo quedeve gestar, parir e amamentar g
às pretensões das mulheres qu g
(faz sentido que os hopi silenciem a sexualidade do trickstet 487

486
TRICKSTER E GÊNERO
A A5TÚCIA CRIA O MUNDO

uma história sobre homens negociando sua ligação com mulheres


Invulnerável, mas não distanciado. Sua astúcia permite que ele
será uma história com um protagonista masculino. Dito isso, não
esteja conectado/não conectado à esfera feminina.
está claro por que o oposto não se verifica também: as mulheres
Essa parte do miro de fato parece tratar da psicologia mascu
podem ter o mesmo sexo das mães, mas, por tudo o que vimos,
lina, daquele cativante tipo masculino que pode enlouquecedora- relacionamentos mãe-filha são igualmente carregados de ambigüi
mente estar e não estar presente para as mulheres.* É um tigojia?
dade e tensões a respeito de conexão e não conexão. O fato de que
restrito á índia, também. A formulação de Hawley é ainda mais
impressionante porque algo similar aparece em outros contextos.
essa tensão não tenha encontrado elaboração mítica nos contos de
trickster provavelmente nos leva de volta ao argumento anterior
Lembremo-nos de que um dos primeiros problemas de Leg^ de que a maioria dessas histórias pertence a religiões patriarcais.
é maiuer g mãe, Mawu, a distância, Í^IêTáz~i^õ"cnãh3o uma
sepa/afão para a quaFdepois passa a servir de ponte. A historia
I■•á do S/g«//y/%7WònleyVtambrm,"especialmente a parte na qual o
macaco joga íiorens, envolve atingir um entendimento equiübm-
Notas

do ou balanceado sobre a "mamãezinha", um entendimento qu^ 1. Turner, Myth and Symboh P- 580.
ao mesmo tempo a leve a sério e não a leve. a sério. Hermes^*^^ 2. Radin, pp. 21-24.
roubai.Q,gado dej^olo^ é a mãç', Maia'; quem^nmêlrõ^ff' 3. Young, pp. 66-68; Hollander, p. 62.
cobre o que ele fez e tenta discipIin"â-lo^^Eré% récusâ' a dFmqnstr^^ 4. Bellows, p. 231; Hollander, p. 139.
qualquer necessidade dela, mas promete levá-la junto quando se 5. Radin, p. 24.
tornar o Príncipe dós Ladrões. (Um dos objetivos do "Interlú^ 6. Lubell, pussím. ... 4Uvorexemp\o,Hesiod.TheHomeric
entre as partes I e II, a propósito, era descrever um aspecto d 7. Hino uDeméíer, linhas 200-41 (por exemp ,
histórias de trickster que me toca pessoalmente, um aspecto q"^ Hymns and Homerica, p. 303).
reside exatamente nessa área da dependência e da independência 8. Chan.pp. 232-33; Stone II, p. 129.
maternas.) 9. Allen; Halliday; Sykes, pp. 150-51. ^ ^ Butterwor-
Resumindo, há pelo menos um lugar onde o material trickst^ 10. Clement of Alexandria, tradução para o University Press,
trata de questões particulares aos4íomens jove^, e nesse caso th, Loeb Classical Library (Cambridge. Harvard
não deveria haver mistério no fato de o protagonista ser homen^" 1919), P- 41- , p christ (orgs.), Weaaing the
Mesmo em situações nas quais mulheres detêm poder significati^^' 11. Spretnak í« Judith Paskow e Cam
Visions: New Patterns m Femmst v
Harper & Row, 1989), pp- 72-73-
12. Gênese 29:31.
a propósito. Se por "herói" queremos nos
a alguém que abWamrnho-rforça através das fileiras de seus in.migos, alS"""" ' e, 13. Gênese 31:35.
res.stencia e cu,a coragem superam todas as desvantagens, que persevera, sofre e ven 14. Steinberg in Exum, p. 7.
então o r.ckster nao e um macho hero.co. Tampouco é ;quele macho ascético, d 15. Levine, p. HO*
desenvolve os musculos do autocontrole, tornando-se senhor de si, e não dos oU^
Escap.sta (lex.vel e de tamanho pequeno, não vence do mesmo modo que os 16. Fontaine in Exum.
™a;rar ^ P""-
489

488
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

17. Sullivan, p. 51,citando Eva Hunt,The Transformation ofthe


mingbird: Cultural Roots ofa Zinacantecan Myíhical Voem (ít
/, .11 Corneil University Press, 1977).
18. Ballinger.
19. Ballinger.
20. WiUiamC.Sturtevant(org.), n
7(Washington: Smithsonian Institution, 1978), pp. 212,274.
21. Hawley, Krishna, the Butter Thief, cap. 9.
22. Hawley, Krishna, the Butter Thief, p. 128.
23. Hawley, Krishna, the Butter Thief, p. 295.
O Macaco e os
Pêssegos da Imortalidade
24. Hawley, Krishna, the Butter Thief, p. 296. APÊNDICE 111

490
* K/íahâtmâ Gândhi con-
Em suas meditações sobre a .grícolas,'
sidera várias vezes o problema e
É certo dizimarjnsems_que_jvg^i!l^^—
não dalídiTÊ
um problema part5iill£íB£Bíl-5£i.-gt375ííbn^^^^
quase lií-ossiveTímpedir que priudpios ge-
Gandhi abre com
raise admite relutancm
que os u possam ata
fazenderros
proteger a colheita macacojama^respeto
A compreensaode^qii Tcí^^isírõSTé^^
as fronteiras q"535íS^^^^^"r"a;^narrít^^^ trickster
pomarèTsraf^^ãjsto^E-íí®^^ da
chinesT^KToR?^ rSsfeSsi^^^devem
Imortalidajs, os frutos sagra Essa história e
consumir se quiserem ^ um imenso - são
contada em detalhes na Jorna língua inglesa-romance
qu,s.du»mapÍB""*"''""°'

* No Brasil,a editora Ody Kherdian. Entre 2 . ^ titulo


uma ioruada para o o««,
edttoraConraddoisvo umefdaadap jo em quadrinhos do texto
Jornada ao oeste- ^

493
O MACACO E OS PÊSSEGOS DA IMORTALIDADE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

quando a luz solar incide sobre ele, brilham como cinábrio; quando
popular chinês do séç\^VL* Livremente baseado na verdadeira estão completamente maduros, ficam corados como faces rubori
I história da peregrinação de um monge, no século VII, da China zadas pelo vinho."* Os melhores dentre esses pêssegos amadurecem_
até a índia (daí a jornada "para o oeste") em busca de textos a cada nove mil anos,e ãquele que os corneu:h^rá,t_^to_^an^^ o
sagrados budistas, o romance em si é um grande misto de contos céu e a terra, o sol e lua. Periodicamente, a Rainha Mãe, a quem
populares, poemas e matéria religiosa, misturaado^budisn^-' pertencè^BsêTõmãr de pêssegos, realiza um Grande Festival dos
con-íucionismo, taoismo e tradição alquímica, sem um Pêssegos Imortais no Palácio da Piscina de Jaspe, e é então que
muito consistente. O principal fator de coesão é a persona i os imortais se reúnem para consumir o alimento que mantém a
do Rei Macaco, cuja história é contada nos primeiros capi ^ velhice e a morte afastadas. r, ■ xí
e que acaba acompanhando o peregrino dos textos sagrados e Aconteceu que um dia, porém,enquanto o Rei Macaco mspe-
cionava as arvores
- que era su j., notou
sua incumbência vigiar, Arr^iava nor
que mais
sua jornada de quatorze anos para a índia.
O que me interessa na história é o episódio do roubo da metade dos melhores pêssegos haviaDispensando
cecreto. amadurecida.A_s_^_Eor
seus ajudantes
Como pano de fundo,eliecessãnõTaber, antes de mais nada, comêdos,conhecer seu —-^,ma árvore e banqueteou-se,
.
muitas centenas de , • .
anos depois pi Macaco
do seu nascimento o ivci no pomar, tirou o gorro, su estômago. Esse, então,
"ficou subitamente triste", tendo por alguma razão se dado para deleite do coraçao - ou .„„pos se alimentava no
. íj
da própria mortalidade. "Embora esteja muito feliz no m tornou-se seu hábito: de tempos e
to, estou um pouco preocupado quanto ao futuro (.••) ^ pomar, depois do quê, encolhido,e^onçha-se emre,as_^
e a decadência física (...) revelaTão-a-soberania-.&ei:reta-^— pesse^ueiro^irava-u^^^^^ oferecerá d^?^!
Refdo Submundo."^ Assim começa sua busca pela imortah Pouco tempo depoi^a^_— ^^ihpr os pêsVégos, encon-
no decorrer da qual se mete em um bom número de encre ^ bajiq^s_.X)üanío os Restavam apenas
roubando armas de dragões no fundo do oceano e invadi traram as folhas dispers ^ cascas verdes, pois o
submundo para apagar seu nome do Livro dos Mortos- ^
Ouei^^ alguns pêssegos com peduncu os^ Sem seenvergon^
sobre essas disrupções acabam chegando aos ouvidos do |o Macaco havia comido t''^serviçais e assim descobriu, para
de Jade, que convoca o Macaco ao céu e, na esperança de O Macaco enfrentou os pe p convidado para o
se acalmar,incumbe-o de uma série de tarefas, a última da sua consternação, que nem . dirigiu-se ao Palác^a
é guardar o Jardim dos Pêssegos Imortais. banquete. Em um arroubo de desp estava
Esse bosqu£_Sâgmdo_lembra^s pastos não ceifados onde^^^^^ Piscmad^,ruas ,p,p,egados para dormir,
o gado_.de _Apolo. Não há estações nèsse'pomãf; as
send^iTÍ^da. Depois de olocar
fartou-se de vinho e iguarias(tutano d ^ ,,,,
sempre em flor c sempre gerando frufõsrQuandÕ bs pêssego^ ^
quase maduros, suas peles verdes parecem envoltas em espécie de coisas). ^-vpRse completamente bêbada a^
Não demoro. p',.do rimüliiJÍ.'!"
('
^ A tradução de Arthur Waley^Me»^ey[Macaco],é uma versão reduzida d^ss^
ico- Tr.A,«,l..doim«.alL.oT«.l
Uma versão completa fo,recentemente traduzida por Anthony Yu. Não se sabe ^
veu o ongmal,mas e muito provável que tenha sido Wu Cheng'en,que morreU 495

494
O MACACO E OS PÊSSEGOS DA IMORTALIDADE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

tesouro do grande taoista, o Elixir das Nove Voltas^ um destilado Porco e^tá sempre com ele, co™se^tQmaga.e.Meiitejjy^sem
alquímico tão poderoso que aqueies que o ingerem podem se tornar se diferenciadõTTnTrnlFse desligado un^^do outro. Além do
imortais em um fim de semana.^ Despejando as pílulas para fora mais, para fazer a diferenciação, seja lá quem tenha escrito esse
das cabaças, o Macaco engoliu-as como se fossem feijões fritos. romance, esse autor participou da subjugação do ^'lacaco. Como
Quando o Imperador de Jade soube-dexodas essas tran^^s aponta um crítico, o Macaco encontrado em narrativas chinesas
sões, ordenou a prisão do Macaco, o primeiro de uma longa anteriores é "governado pela concupiscência carnal, que transcen
seqüência de eventos durante os quais os imortais taoistas ten de unicamente pelas mãos melindrosas do romancista do século
taram capturar e confinar a peste. Não conseguiram. Tiveram XVI" ^ Mesmo na Jornada, ele é conhecido como o Macaco da
de recorrer a Buda, que prendeu o Macaco sob uma montanha Mente, um epteto que-Tcõá-ITmáTmigí iiiíag-em BudSmpãíF-a
e selou a armadilha com uma oração budista. Quinhentos anos meníe inquieta (saltando de pensamento em pensamento como
depois, o Buda libertou o Macaco para que ele (e outro,sjrês-=^ um macaco saltando de galho em galho), mas mmbem ecoa a
- coloquial
expressão 1 :.l «rer
ter aa mente
men de um macaco",
^ que, na época
nplo
Porco, o Cavalo, e .una monge) pudesse acompanhar o peregrino
Tripitaka na viagem até a índia em busca dos textos sagrados do em que a Jornada foi escrita, designava ^1^--
budismo mahayanas.
desejo sexual.'" No romance encontramos princip
lidando com o problema do velha besta
,ítulos
Toda essa ação ocupa apenas os primeiros sete dos cem capit Macaco, e o \ .jróprio Gandhi a çomprar
que compõem a Jornada para o oeste. O restante do livro é nm luxunosa cuja fome poaenaj.„_—
romance de viagem picaresco; os peregrinos passam por oitenta uma arma.

provações antes de chegar à índia. Nas últimas páginas, re,toimam A história contada no —""^"^^T^nríais nGxdic©s-"fi-
à China com os textos sagrados, e o Buda os eleva à condi^ção
budas. O Macaco se torna "ò Buda Vitorioso nas Contendas Imormlig^,
Apenas o Porco permanece em uma posição inferior. O Fú'da cam velhoi e fora do jardim. Na presente
dele o Zelador dos Altares, explicando que ele ainda é tagar ela> ter a'trãídcndBíin ê suas maç ^ . daramente anunciada,
preguiçoso e tem "um enorme apetite"."
história, essa possível consequen veremos que a amea-
Algumas palavras soh^e o Porco são oportunas. Depois mas, se analisarmos o china, há uma uadj£ãjLíle.aue
Macaco, ele é o níãis píen^nientèfeenvolvido entre os ajudan'®® ça está presente ainda 'ronvivep.e
o budismo, o incorpora esse espirito
de Tripitaka. Ele e o Macaco geralmente agem juntos, um asp ecto
di gno de nota, pois caso contrário o Macaco parece muito meO°® SSSa o pr6p"0
perturbado pelo apetite do que outros tricksters. O Macaco ®
fato come os Pêssegos Imortais, bebe o vinho, engole o ® . «pidade d.. Trê>
assim por diante, mas uma vez que essas transgressões do ape^ij
põem o enredo em andamento, e depois que Buda o subjuga- ^ obse^síS™ "iV ■» """
se torna um personagem muito mais cerebral. E no entanto
497
N i ■!
!

496
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO O MACACO E OS PÊSSEGOS DA IMORTALIDADE

é o portão dó Zen",ações que refletem de maneira mais adequada velha história e, ao fazer isso, representa o roubo^ísrupnyo^^que
o tema do eflibate^éntre budismo e taoismo que permeia^qjiyro. descreve. No momento em que os peregrinos dos textos sagrados
Quem,afinai, o Macaco perturba desde o princípio? Os imor são beatificados, no fim do livro, os imortais taoistas perderam
tais taoistas.'^ Os Pêssegos da Imortalidade pertencem à Rainha os Pêssegos da Imortalidade.
Mãe do Oeste,e ela se revela a deusa suprema do taoismo popular. Essas mudanças não são uma questão de capricho artístico;
O outro alimento que o Macaco rouba,o El-ixir das Nove Yoltas, elas refletem ou incorporam circunstâncias históricas instáveis.
pertence-aa.PJínar(^a taoista_La_o_Tsé. Os imortais taoístas, além O pouco enredo existente na Jornada registra uma contingência
disso, são incapazes de controlar o Macaco e acabam tendo de cultural real, a coincidência das religiões chinesas com um novo
recorrer ao Buda, que não apenas consegue prender o importuno, darma vindo do oeste. Uma vez que o Macaco viaja para a índia,
mas que mais tarde também o liberta a fim de levar o budistno as velhas verdades taoistas parecem um pouco menos essenciais,
para a China. Ademais, depois que a peregrinação para a índia um pouco maisj com• ficções locais e contmgentes,Pa_m
começa, há um desmesurado número de episódios antitaoistas. 1 1- j • pprri depoÍs que ele come
Ao longo da jornada, as ações do Macaco reforçam a maneira S°pêssegos o que parecia substancial no céu taoista subitamente
como ele se autodescreve no início do romance: "É o Macaco parece m^ar^ad^eb vazio. O nome espiritual do Macaco no-
Velho, que abandonou o errado pelo certo, que-deixou..os taoi^^! m.„c. é feswe.1" Tauetd"
para seguir os budistas."^^ \ .reter.-» à ür.". b.d.r
O autor da Jornada se vale de uma longa tradição folclórica a, caregorras de pens.meao, quando I
sobre o Rei Macaco e, ao fazê-lo, introduz algumas mudanças
estratégica no conteúdo.Já mencionei, por exemplo,que o Macaco
» revelL ticções e se d^ol.em."I»»"''7rsr,Ôr.I o eu
Perscrutado na meditação, menos su e^^n ^ pomar e
da Jornada não é tão concupiscente quanto seus antecessores. é vaaioj Quando P"''™
Mais importante mencionar aqui, a Jornada aumenta o poder do come os pêssegos, as formas culturas ou eus recebam
Buda.^" Em versões anteriores (particularmente a versão Kõzan)» substância. Não que lança mão de todos os
do século XIII), a divindade cuja disciplina é capaz de controla^ bem uma invasao como ■ contingências, de
o Macaco é a Rainha Taoista do Oeste. Ao substituir a Rainha recursos para preservar suas "■ mn ladrão faminto deve
do Oeste pelo Buda, e ao tornar o4a"fdi-m-do-s pessegueiros tao forma que, para que haja uma mu ^ andamento,
claramente um domínio taoista, o autor da Jornac^ age com^ se infiltrar vindo das sombras para por
Snorri Sturluson rebaixando os deu7es^nordícõs'"em favor doS , ^ ^ , -^/-.rfAlidade é um tema
I? cristãos. Corrio a Edda em prosad a Jornada dá nova forma a^^ o routo dos pêssego^" àas a uma mudança
Poríánh-Sempretafa de mudança m^ ^^e na
'{li
.( I
Nos capítulos 24-26, o Macaco destrói uma árvore taoista ao roubar seus fruto ; diferente a cada vez que e contad^ ^ j^^amento das atenções do
capitu o 33, os peregrinos derrotam um demônio que finge ser um taoista; no caP'
37, salvam um remo cujo soberano foi assassinado por um taoista; nos capitulo^
Chi na dopara
racismo séculoobudismo,
XVI ele «Aet-^
mas ^^g^ava alg,^a,ou
o diferenpara
46 libertam uma comunidade de budistas que haviam sido escravizados por tao-^
malignos; e por ai vai. no século XIII, e em época
499
498
o MACACO E OS PÊSSEGOS DA IMORTALIDADE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

observação de ^lieusche,^de que a verdade é "um exército móvel de


a América, significava novamente outra coisa. Por muitos anos a metáforas, metonímias e ancropomorfismos (-Lgue^L..-) depois
ForeignXanguagesJ^essjda-Pequim-exportou para crianças sino- de longo us'óV parecem.i,,,lJ.xas, canônicas e vincuiativas (...)
-americanas uma série em 3-4 volumes de uma história em qua Verdades são ilusões sobre as quais se esqueceu que são ilusões'V^
drinhos baseada com bastante fidelidade na Jornada,e em 1989, Há aqueles para õV qüais'a rede norte-americana de milhares
uma leitora que conhecia bem essa série, Maxine Hong Kíngston, de nós de significantes raciais é mais ou menos invisível, apenas
publicou Tripmaster Monkey[O livro apócrifo do macaco chinês], parte do cenário, parte do modo como as coisas são. Esses são os
um romance cujo herói, Wittman A^h Sing, imagina-se "a atual anfitriõesudaJ3anqiiem.uiefrístadosJJjiidüsule hoje, os imortais
encarnação norte-americana do Rei dos Macacos". comedores de pêssegos norte-americanos,'» e quando contam a
O herói de Kingston é um erudito graduado em Berkeley.ciue piada que termina com "o china também nao curte essa merda ,
«n Rpí dos Macacos por meio
quer ser dramaturgq_e.S£-apaixonar. A história de Wittman e, na Wittman pensa consigo mesmo. U Kei aos i f
verdade, mais episódica do que a Jornada. Ele consegue empt^ê® ,o„ e„.»»»»
em uma loja de brinquedos, depois o perde(por ter arrumado um que essas piadas forem contada ...
macaco de brinquedo como se estivesse copulando com uma bo Consciência do VjzioJ,..|Comm todo,ue ho„,e. no bufe. Vnar.
neca Barbie);faz a viagem obrigatória dos anos 1960 até a agêt^^^ as niesãsTMÍÍãrá no vinho. Míiraco está
1960
de emprego; comparece-a-uma interminável festa dos anos Não apenas das piadas da festa que o "ov°
(música,drogas,luzes estroboscópicas);tem um romance com uma atrás, tampouco. O
garota branca chamada Tana; e próximo do fim, na Socieda velhomw^^m^^^^ racismo norte-americano
Beneficente de Chinatown,encena a peça quase interminável qu^ none-americ5H55nJm d P misturam,como
ha^ia escrito. é a proibiçã^a .jf^^^mes' Na verdade, se as raças se
\Wittman é obcecado pela raça. Ou talvez''obcecado'' não^seja podem ser «sencalmen ^ pode se pey.elan.vazia. Portanto,
o termo correto: o racismo norte-americano está por toda-p^'^^^' misturam, a seus frutos sagrados
e ele se descobre incapaz-de-naoLQj;>erceber. Como, pergun^^' é em torno do pomar on inter-raciais foi erigida.
são cHãmidos os bebês "mongoloides" na MongoIía? Como que a regra contra os ciente dessa proibição no que
chamados os gêmeos "síãmêse^T^ podem ven Wittman, pelo menos,esta hipe ^ apartamento dela
loção pós-barba Jade East-efrManufrasco no formato de um Bu^ di2 respeito a Tana. Quando amb
cuja cabeça é uma támpa de rosqu^r-? Como pode alguém
descolado quanto Jack Kêfõüãc escrever sobre "chinesinhos
pela prLeira vez, não í-f '.f^aco:"A cortina se abre
mergulha em uma de suas a platéia (...) As
lhantes" sem aparentar constrangimento?"Por que um comedi^^^^
sempre pode contar com uma risada quando conta uma piada q^^ correntes se partem (...) Com ^ teto da
termina com "o china também não curte essa merda"? ^ braço, ele e ela se balançam América.^
de Kingston é repleto de centenas desses detalhes, o murmúrio ^
fundo subliminar por meio do qual os noftê-ameriçáhos AÓpera de San
bravata Francisco
exagerada nos(...)
mostra Wittman é inseguro
vem e mantêm a "verdade" sobre as raçasJ^ Aqui recordem^^
501

500
O MACACO E OS PÊSSEGOS DA IMORTALIDADE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

ou então a fazer com que ela lhe custe caro."" Para Baldwin, o
Atraído por Tana, ele se sente como o macaco de brinquedo com "branco" (ou qualquer um que não tenha consciência da história
a boneca Barbie, e em sua imaginação o orgulhoso Rei Macaco e dos artifícios humanos) toma o local e o contingente por uni
■ií ' chinês se torna o acossado King Kong^a^csta for^da l^c^nema versal e essencial, "fixo, canônico e vinculativo" (para recordar as
norte^amcncano. Estamos em um romance moderno, não em uma palavras de N.etzsche no fim da Parte I). Quak^uenmaquemnha
velha lenda chinesa; o que Wittman quer chega-lhe de maneira esperança
lenta e imperfeita. Por mais que queira, não consegue escapar terá Jw^ioubar a jok--^i*^g^^^dade^ane-stgnífica.£nga^
rapidamente das ilusões de raça. (Para começar, não apenas estao emVansgressões suficienmmen«jspjnwjas_deiorm^^^
sãoíSTiiSrrih do mcon^iente^^^^^^^
I n • -,

por toda a sua volta, elas estão dentro dele - quando beija Tana
pela primeira vez, deixa escapar a pergunta: "Você é uma garota moí>"o7;;;boproíete modificar a meme e a
1: branca promíscua?"^^ conscrência. Se o Macaco/W.ttman pujsse pegar o P^^ego
E no entanto, por mais imperfeita que seja a concretização ômãTpãr^na
deles, Wittman ainda preserva os antigos objetivos: entrar
festa sem ter sido convidado, roubar os pêssegos. A encarm^Ç,^
norti:ik^om raízes ^^inesas - o
moderna do Macaco nos Estados Unidos gner que a "Arner^^
tornar parte áo ideal, então a América ressurgiria
perfeita sinta o gosto do que acontece no seu fuso horário. Se o
verde", um Nd^vo Mundo renovado.
filmes evocam uma "América pura", Wittman quer fazer um teste
para representar o papel. Não quer ser um acidental exàniào e Notas
ressentido. Seu objetivo, porém, não é ser norte-americano
termos da América, mas mudar esses termos. Quer juntar-se
 1" e
. T. r-Gandhi,
1. MohandasK. Hhi A/A//Me« Are Broífcerí,
■\qo2)organização
nn 33,91. de Krish-
festa e ser ele mesmo, o que significa que a festa tem de muda , na Knpalani (Nova York: Continuam, 1982), pp.
não o convidado. Espera, por exemplo, escrever uma peça diferent 2. Journey I, pp- 72-73. jnurney h P- 21-
de todas as peças norte-americanas anteriores. No teatro chid
noite-
3. Ver a introdução de Anthony Yu a Journey P
tradicional, uma peça não começa e termina em uma única
^ i i — w viii ^ p 4. Journey I, PP-131-49. p, 145.
'Vou trazer de volta ao teatro as longas e contínuas peça® 1 ^ 5. ]ourneyh PP- 135-36,
duram uma semana, sem se repetir", declara Wittman, 6. ]ourney I, p- 510-
vida é longa e contínua..."" Se Wittman conseguir o que preteii_ 7. Journey I, P- NI-
um novo e original teatro norte-americano logo surgirá. Nas
• • 1 . . -k. r. m2 8. Journey IV, p- 425.
desse Macaco, a arte norte-americana terá todo um novo senti 9. Dudbridge,p.l26.
de representação do tempo.
10. Dudbridge, pp- 1^8,170,
Wittman cita James Baldwin em dado momento: 11. Journey Oh P_^^Aienhauser, p. 145-
12. Journey , P- 3 ' i, p. 56. e H, P- •
estão presa^na^istória e a história está presa nelas (.-) e ® 13. Journey l,P-
motivo todo negro tem para com todo branco uma atitude q"® 14. Dudbridge, PP-
destina, na verdade, a roubar do branco a joia de sua ingenfid^
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520
Agradecimentos

flJ

Sou g,.» à comunidade do Kengo. Co«cg. p« ».co.v.d.c•


ledo... e „= apoia, n.condição d. profaso,d. ^
Luce d.a™ e PolMca dur.n» a ma.o, p.cc do.
p.,a e.c,c.., «c .ivco.
que custeia o Programa de vi^r^rnes sobre muitos
h ";i d.Scmindcio a
capítulos do trabalho em an am esteve
Je„'ndfer Clarvoe,Lor.Lefkov.z e
sempre disposto a fazer anotações" ajudou
até muito depois do horário o exp Kenyon Review.
.preparar vdrias sele.- ^ ,,g,ry
Também sou grato a Harry
Spaid. Diversos estu antes Clausen, Justin Richland e
':i i;
longo dos anos, en"e e g atenção à biblio-
Michael 0'Leary. Jerry Reliy
grafia e às notas. ^ v^nvnn o Departamento de Língua
An.e.de me mud.r pM '^^5,^Hm^érico
Inglesa <ÍPjl!t"5Í „„du!Íu lentamente
ít.) a classicista Da ^ ^ literatura secundária.
através do texto grego e m sempre prontos a ajudar.
Outros colegas em Harvar

í -l i
agradecimentos
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

especialmente Michacl Martone, Michael Blumenthal, Lucie Marc Shell, Gary Snyder, Lee Swenson e Gioia Timpanelli. Nos
Brock-Broido, Susan Dodd, Monroe Engel e Sacvan Bercovitch. meses finais Kim Cooper releu todo o manuscrito com um cuidado
Uma bolsa para escritores do Fundo Nacional para as Artes espantoso. Na editora Farrar,Straus and Giroux,eu sempre pude
possibilitou-me, pela primeira vez, parar de lecionar por um contar com a paciência e o entusiasmo de Jonathan Galassi,Ethan
tempo, reunir minhas anotações e escrever um projeto de livro. Nosowsky conduziu o manuscrito até a impressão.
Depois disso, foram-me concedidos locais maravilhosamente Devo minha mais profunda gratidão a Patsy Vigderman.
hospitaleiros para trabalhar. A Fundação Centrum em Port
Townsend, Washington, me acomodou na casa 255 por seis sema
nas durante um verão. Em outro verão, o Centro Headlands para
as Artes, no condado de Marin, na Califórnia, disponibilizou
para mim uma sala amarela com pé-direito de quatro metros em
um antigo quartel. Por diversas vezes a Colônia McDowell me
alimentou e me abrigou. Escrevi o rascunho inicial da primei
ra seção do livro no Centro de Estudos Bellagio, da Fundação
Rockefeller. Escrevi a quarta seção durante um ano, no Instituto
de Pesquisas Getty,em Santa Monica, na Califórnia.(No Getty,
tive a sorte de contar com a assistência de pesquisa de Melissa
Schons.) Finalmente, agradeço por uma bolsa da Fundação
MacArthur.
Um livro como este é mais bem escrito em meio a conversas,e
muitos amigos merecem ser mencionados nesse aspecto. Norm^u
Fischer e eu fizemos várias caminhadas pelos promontórios de
Marin, durante as quais as obscuridades do meu projeto sempre
pareciam se dispersar conforme a neblina costeira se dissipava-
Taylor Stoehr levou o livro a sério durante muitos almoços à
base de anchovas. Max Gimblett dava sua opinião enquanto eu
lia em voz alta no estúdio de pintura. Steve Krugman ouviu com
destreza e apontou padrões que eu não conseguia ver. Depois de
examinar o livro inteiro, Mona Simpson sugeriu vários ajustes
perspicazes.
Obrigado também a Linda Bamber,Robert Bly, Graeme Gibson,
Tom Hart,Jack Hawley,Michael Ortiz Hill,Jane Hirshfieid, W^s
Jackson,Barry Lopez,Winnie Lubell,Tom Reese,Wendy Salinge^'
525

524
[

índice

feminina dos,483;humor dos,


35 Up (Apted), 158 390, 398; histórias improvi
4'33" (Cage),2l4 sadas dos, 117; categorias ra-
abolicionistas,298,347,348, » ciais e, 142,143; ver também
352,356,357 escravidão
acaso e a necessidade, o {Monod),
Afrodite, 461n,479
Aeamêmnon,249n ^
ac^ll%7, 137, 140, 142, 154, Agência Federal de Narcóticos,
183n, 193n, 194, 198, 199,
201,202,204,205,206,207, 395

209,211,212,213,214,215,
217n, 283, 296, 309, 310, 176, 178,186
316, 388, 428, 436, 441; na alanos, 402n
arte, 143,175,176,177,179, Alcibíades, 80, 81,87,
181, 196; divinaçao e, 1 . algonquins,28,103
159,160,168,169,170,171, Allen, T. W.,54n, 505b
172, 173, 174; destino em, alquimia, 263, 264,265,267
157, 158, 159; AmaNoUzume,481n
185,186,187,188,190, 91, Amaterasu,258,/:'^ >
proteção
Juro, contra o 153 ^
170,175,211,212.213 «América" (Ginsberg), 39:)
americanos de origem mexicana,
acidente, fer acaso 232
Adão,20n,243, 24 , Amish, l94
Addison, Joseph, 347 •5.,327,
Aegir, 151, 318 ^42 I62n, Ananse, 28, '
''T2rS7!r06n,483;mcfe.l<^'- 483

527
índice

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Barnum,P. T., 327,328,387,388,


314,315,319, 320,321,380, 474, 502; acaso na, 175, 176, 426,427,451n,512b
anatomia da melancolia, A (Bur-
177; mentira e, 117,118;como
ton), 194 381, 435; faz as pazes com profecia,295,315,475; vergo Barthes, Roland,365,402n,506b
André, Carl, 441 Hermes, 109, 172, 266, 316, nha e,238,239,240,241,242; Bascom,William,158,168,182n,
Anrhony, Aaron, 298, 345, 360 353,377,378,472,473,474; 183n,184n,216n,217n,361n,
transgressiva, 276
Antínoo, 109 voz zombeteira de, 130, 132; 506b
dons proféticos de, 411, 419 Artemis, 250n,461n Bashô, 33,60n
antropemia, 322, 355
ârthron, 368
apache, 36 Aporia, 75, 77, 108 Batus, 460n
Apted, Michael, 158
articulações, vulnerabilidade nas, Baubo,480,481,482,515b
apetite, 18, 33, 35, 39,40,44,46,
51, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 70, Aquiles, 249, 302,319
365, 366, 367,368,369, 370, Beethoven, Ludwig van,235
Aranha, 36
371, uer também obra-artus bella coola, 430
72, 83, 87, 93, 99, 100, 111,
Ares, 461n
articulus, 367, 368 Bercovitch, Sacvan, 325n,
113, 117, 119, 139, 161, 163,
Ashanti, 483 506b,524
412, 418, 420, 421,487,496, Argos, 156n, 234, 239, 240, 241,
497; gênese do imaginação e, 258,301,308,320,459,460, Assembléia dos deuses (Luciano), Berkeley Zen Center, 208
47, 48, 49; indulgência diante 467, 470, 471
151n
atabascas, índios, 46,453 Bibha, 20", 150, 330, 345 346,
do, 95, 96; para apaziguar o Aristófanes, 306n Atena,81,l08,l09, 396,461n 356, 414, 425, 432, 483; ver
dissenso, 338, 339, 340, 341; Aristóteles, 33, 61n, 117, I22n, também Novo Testamento;
mentira e, 101,104,112,114; 142, 171, 172, 183, 187, 368, Audubon,John James, 236,25in Velho Testamento

profecia e, 411,413,414;con 369, 371n, 403n, 404n, 429, Auld, Hugh,298,331,334 Bingham, Caleb, 329, 3 n,
Auld, Sophia,298, 329, 331
tenção do,90,319,341; sacri 451n,505b
armadilhas, 33, 34, 35, 36, 37, Auld, Thomas, 358, 359 Black Molmain College,212
fício e, 60; armadilhas e, 33,
41,60, 94,437 38, 39, 41, 297; da perplexi
Austin, James, 201
Autólico, 33,61n
S:5;^SS241.387,396,
Apoio, 24, 97, 98, 107,110,112,
115, 116, 119, 120n, 130,,
dade, 75; da cultura, fuga
328, 365, 367, 390, 394; (i^er
Azur, Hananias ben,423 Boas'mVn 83",507b
132, 134, 168, 200, 201, também obra-aríMs), como Baas, Jacquelynn, 282 Boca de Cada Udo,41,43,
258n, 295, 299, 300, 301, frustração da oportunid®'^^' Babylon, O (Walcott), ®°''"''^S«(Duchamp).443
304, 307, 308, 313, 323n, 74, 75, 76 Ba.ley,Harriet,345 34404" Boíte enValtse [i^
376, 382, 383, 384, 386, arquétipos, 25, 26, 268 Baker, Housron, 3 , Botticelli, Sandro,
396, 411,418,419,420,429, arte, 16, 19, 25, 26, 33, 54, 60, brâmane,256
Bakhtin, Mikhail,
445,446,457,458,459,460, 95, 119, 132, 133, 136, 143, 291". 506b
Breton, André,
461n, 462n, 463, 464, 465, 151, 153, 160, 161, 163, 16^' Balder, 147, 148, 160.163.
152,154,156". ' igg Brmton,D^"f'f"''
467, 471, 475n, 476, 488, 166,178, 181, 192, 195, 196. Brook, Peter. 210
494; discussão perante Zeus, 206, 207, 209, 211, 212, 214, Brown,Earle,^A 61n, 62n,
259, 366, 367 Brown, Norm 3^3^
468, 469, 470; gado de, rou 215,224,236,243,248,27/, Baldwin, q;.'
bado por Hermes,25,52,76, 279,280,281,282,283,284, 503,504"'f,270 484,485, I20n, I55n> 3^4^^
77, 78, 89, 91, 92,95; encan 285, 320, 365,368,372,37 , Ballmger,Franchot.27". £,44Í%^^^
tado pela mentira de Hermes, 379, 380, 382, 385, 395, 399, 490",506b
105, 106,114,117,380,381, 402,415,434,435,436,^^9, Balzac, Honore de.
469; Hermes canta para,200, 441,442,443,449,461,4/' 529

528
NDICE

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO


tentativa de supressão da,140,
Centro de Arte Contemporânea de domesticação ou exílio do ati 141, 142; como profecia, 410
Broyard, AnatolCi 435 rador de olhos, 318; historia contos populares russos, 316
Cincinnati, 281
budismo,204,494,496,497,498, Chamberlin, Edward,404n,508b do, 11, 12,18,19; femea,18, contradição, 17,75,163,164,196,
499
cheyenne,índios,23,27n,30n,514b 484, 485, 486; na Terra dos 309, 327, 328, 334, 335, 336,
Búfalo, 12,47, 70, 120n Mortos, 125, 126, 127, 128, 386,
Burkert, Walter, 54n, 62n, 156n, chineses,224,231; racismo ameri 129, 133, 135, 188; mennras mor e,390, 393, 396,
394,395; 441;341
inconnda, hu
cano contra os, 501; budismo contadas pelo, 106; a
tea criada pelo,428; xamams- Cooper, Alan,425,450n,508b
507b
Burton, Robert, 194 dos,497,498,499;sistema di
vinatório dos, 159, 160; imi Corbin, Henry,414,449n,508
grantes, 231, 234, 444, 445, mo parodiado pelo,423 «' ^ '\7V inscrição da vergonha
cabala (tradição), 432 425, 427; na "bana do ,
Cabeça de touro (Picasso), 186, teatro dos,20,502;socieda e
nas vilas, 226, 233, 401; ver 223, 228; e armadilhas, 3 ,
210, 216n 36,^ 38,39,41
Cabrera, Lydia, 2l8n, 344, 361n, também Rei Macaco
Christy, James, 145 Coleridge, Samuel Taylor, S
S,72,;4.;S3.275.2.7,3W
'i »i."Z.
507b Collodi, Cario, 317
Chuang Tzu, 453,454n Colombo, Cristovao, 1 ,
caça, 20, 34, 36,37, 39;comedo 385, 403n, 430,
res de corpos em putrefação CIA (Central Intelligence Agency),
395 ''"""m c;iada°'pelo.'l21"^
e, 47
Cage, John, 25, 143, 144, 156n, Cícero, 347 meS contadas pelo 15;
203,204,205,206, 207, 208, Címon, 323n roubo da luz pelo,72, .
209, 210, 211, 212,213,214, Circe, 202, 302 mudança de pele do 83. J
215, 2l8n, 2l9n, 435, 442, Citas, 402n 94; earmaddhas 38,39,^^^
507b, 514b, 518b Clay, Jenny Strauss, 54n, 306n,
372,404n, 508b
Ta'st lííSd^o^bodaãgua
Cairns, Douglas, 217n, 225n,
249n,250n, 508b, 517b
Cálicles, 193
Clemente de Alexandria, 482
Coelho Quincas,72,290n, 398
Co!"
Cou7betptave,439
Calipso, 446 Coelho, 28,29,102,119,448 (Cage), 186,206 Covey,Edward,39U
Calvino, ítalo, 14, 27n Coffin, William C., 333, 352 Cráttlo (Platao). 112.
Cam, 330,402 coincidência, ver acaso
conflito de c Criador da Terra. 71^^^
confuciomsmo, ' ^ g5^67 cristianismo,"'388,389;odla-
267,
caminhada a esmo, 63, 64, 65; Coiote, 13, 15, 23, 24, 25, 2 ? conhecimento da^^ (Boé- 286,322,356.38«, 5
acaso e, 140 ; estrutura nar 30n, 34, 52, 54, 56, 60, 63, consolação 20- de Douglass, 355,
rativa e, 275 64,65,66,67,68,70,71,73,
87,102,103,119,120n,l22n, cio), 27n, Unidos,
bo Vlung sobre o, 262,
canibalismo, 322, 355 Constituição do 436 356, 397, Ju g nordi-
Carlisle Indian Institute, 360 130,139,223,227n,228,24 , 108n,287, 356,33 4^48,322;d'=
Carnaval,269,271,272,273,276, 168n, 290n, 317, 319, 33 , contingência, 1 ' ^79, 180, Serrano, /Í7S,
'279, 280;pto-
Católica; ver
382,384,385,386,388,39 ,
279, 280, 284,290n,433 398,402,428,433,445,44 . 171. 17J 203,215, também ^
Castor, 306n 181,188,194.1 311, testantismo
Catão, 347 ,, apetite do,46,47,48,59;vo t ^ 216.243,245, 503,518b;
Categorias (Aristóteles), 142 à vida, 119; e a criação 312,355,431.4^^'
guagem,121n,430,431,
categorias raciais, 142 531

530
Índice
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

402n,436,437,438,439 440, Exu,181,186,187,188,193n,


28, 30n, 169,172, 175, 177,
194,
Cronos, 457, 459, 465, 468, 469, Dodds, E. R., 217n, 225n, 249n,
470,476 251n,509b 441, 442, 443, 451n, 452n, 195, 197,198, 203, 266, 318,
crow, índios, 35 doença do sono, 79, 131 507b,510b,516b,^l^b,51^ 327,352,359,372,377n,380,
culpa, vergonha distinguida da, Dom Quixote (Cervantes), 117 Dumézil, Georges, 154, 156n, 394, 410,, 426, 428; como
225n,244 Domesticação, 3l8n, 323, 336, 366,402n,510b agente da sorte, 174, 191;
Durand,Jean-Louis, 371n como o diabo cristão,20n;e a
358

dadaísmo, 175, 394 donzelas-abelhas, 381, 419, 420, divinação,160,161,162,163,


Eckhart, Mestre, 205 164, 165, 166, 167, 168, 374,
dádiva, A (Hyde), 193n, 199n 475n
Eco,Umberto,91,97,51 449n; no umbral entre o
Dostoiévski, Fiódor, 117, I22n,
dádivas: do acaso, 328, 329, 330, Edda,140,149,150,15U52^ J domesticação de,318;e d,sco -
331,332, 333,334,335, 336,
337, 338, 339, 340; troca de,
506b, 509b
Douglas, Mary, 256, 269, 275,
155n, 498,506b 507^^'
316; oposição entre roubo e, 450n,451n 510b,512b,517b,518b,5l9b dias entre amigos, 342, 34J,
Douglass, Frederick,25,298,307, Édipo, 202, 303 344, 354, 355, 421n,-omo
296, 297, 305, 309 309,310,312,324n, 327,333, Elefante, 391, 399 ponto focai da coincidência,
Dali, Salvador, 253
334, 335, 345, 346, 355, 358, Ellison, Ralph, 25,72510b
122n,324n,3 , ' 170; e a linguagetn, 381,43 ,
dama do lago, A (Scott), 347
359, 360, 361n, 362n, 363n, Emerson, Ralph Waldo,13,207 «l'; no Novo Mundo 20,
Dárdano, 306n 365,366,380,386,390,394, I82n, 345; sacrifício e,
Davis, Natalie Zemon,273,508b
397, 402, 405n, 406n, 436, Epimeteu, 29n 3^3^ eyak,índios, 103
Dawkins, Richard, 172n, 183n,
184n,219n, 508b
509b, 518b; análise da viola FaMuLan,483 392,393,
ção periódica das regras poJ"»
Defoe, Daniel, 117
336, 337, 338, 339, 340, 341, ^36 339, 340, 352, » faia:394;
humor na, 39R^^^^
articulada,
Deméter,24,52n,103,226,250n,
342; obra-£3rí«s de, 387, 388, -artus contra a, ' 2,345, silêncio: regra > ^idão,
320, 324n, 4éln, 480, 481,
482, 486,489n,513b
389;cristianismo de,356,357, 369,370;contra ^ 335,
389; educação de, 311, 328, 331,332,333,ii'».
democracia: americana, 357; ate
329,330,331; Garrison e, 347,
niense, 298, 299, 300, 311
348, 349,350, 351, 352, 353, FBI
Demócriro, 181
354; ancestralidade nativo 331,332,333 tion), 236, .371n,^g3jj
Detienne, Mareei, 61n, 62n, 84n, -americana de, 359; paterni
(Sócra«s
120n,121n,379,403n,404n, dade de, 306, 336, 342, 345; Ésquilo, 29"'6 Festa dos Bobos,270,
451n,509b discursos aos brancos, 331,
diabo cristão, 20, 82, 151 332; roubos de 304, 329, 33
Dioniso, 52n dozens (jogo), 151n, 391, 392, Eumeu, 10^ Fiint, 28,103
divinação, 158, 160, 161, 163, 393,488,505b, 509b Eurídice, 133 fome,"«f 374,376
164, 166, 167, 178, 181, 194,
Eurípides,250n
Dreyfus, Hubert, 448n
195,198,168n,374,375,377, Drumvoices (Redmond), 406n Eva, 20n,2 ,
379,380,381,416,426;como Duchamp, Mareei, 25, 143, 17 , Evangelho de Mt./- 508b
ohra-artus, 379, 380 176,177,178,184n,206,253, £^°!""°7(Ienson),37,5l3b
ligeTicB (J
DNA,215,417 328,365,388,394, 395, 396,
533

532
ÍNDICE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

HawIey,JohnStratton,121n,400, 53, 54,93,94, 337, 338, 339;


Foreign Language Press(Pequim), 436, 440, 441, 451n, 452n, discussão perante Zeus, 468,
406n, 413, 421, 449n, 450n, 469, 470; Argos abatido por,
500,50éb 511b,513b 487,488,490n,512b
Foster, George, 190, 191, 192, Glooscap, 28,103 239, 240; nascimento de, 52;
Hefesto, 461 Calvino sobre, 14; gado rou
193n, 217n,511b gnósticos, 410
Foucault, Michel,409, 448n Górgias (Platão), 193, 2l7n
Hegel, Georg Wilhelm Fnedrich, bado por, 24, 52, 60, 76, 77,
330,331 92, 93, 95, 97, 98, 99, 105,
Fox, Charles, 347 Gõtterdãmmerung[O crepúsculo Heimdall, 148,156n
fragilidade da bondade, A (Nuss- dos deuses](Wagner), 148n 106, 109, 110, 115, 116, 119,
baum), 153,216n,452n,516b
Heitor, 319 200,295,301,303,308,315,
Govinda, A., 139,155n Helena, 306n 328,334, 376,421,446,457,
Francisco, São, 157, 410 grande vidro, O (Duchamp),
Franklin, Benjamín, 347 Hélio, 301,459,470 459 460,461,462,464,465,
176,437,438,439 Helms,Jesse,279,280 466,467,468,469,470,472,
Frazier, George, 154 473; Jung sobre, 2^4; lingua
gregos,58,59,75,102,192,19^, Hemenway, Robert, 398, 40én,
Freeland, William, 338, 339
339,347,368,377,419,509b; gem inventada por, 113,
Freud, Sigmund, 193, 195, 196,
197, 217n, 218n, 268n, 289n,
democracia dos, 298, 299, Hera!239, 240, 320, 457, 461n, 430; mentiras contadas por,
303,508b,511b
311; alimentação dos deuses 482 113,114;lira feita de uma ca-
Frigga, 147, 152, 153, 154, 155 pelos, 161, 180; história da Héracles, 306n raoaça de tartaruga por, 3U/,
Frobenius, Leo, 29n, 182n, 183n, trapaça entre os, 34; Islân Hércules, 199
Hermes, 78, e^n, 88,
g.
o , 89, 9U, yh
mVj». 3U,Apoio,
as pazes com 331.109,1 ,
dia e a religião dos, 152; -7Q 84n
361n,404n,511b
Fundo Nacional para as Artes(Es ligião de mistérios dos, 481» 266,316,320,353,377,378
tados Unidos), 277,524 482, 483; filosofia dos, 10^; 472 473,474;Odisseu e,201,
profecia entre os, 193, 4l4, 172 176, I80n, l84n,
;S:i87!'l88,189,195,m 202- Ordenado Guardiao os
ascensão do pan-helenismo
Rebanhos,110,111;"®"^
poUtrópicade,80;epro cta
Gaia, 482,486
gaio-azul, 28, 102 entre os, 101; sacrifício pt^'
Gandhi, Mohandas K., 503n ticado pelos, 44, 53, 54, 55,
Garfieid, James A., 358 56, 57, 58, 59, 295; cultura sacrifício,5 , 200,314,
Garrison, William Lloyd, 347, da vergonha dos, 225n, 22é,
348,350,352,353,355,361n, 237, 331; troca de pele e os,
362n, 516b 79, 80; riqueza dos, 309; 435; uniao enu
garrisonianos, 347, 348, 349, 350 também Hermes; Hinos ho 366,370, ' 384,386,
Gares Jr., Henry Louis, 162n, méricos; Odisseu; Prometeu
182n, 183n, 324n, 330, 331, gros ventre, índios, 83n
334, 335, 336, 360n, 361n, Grundberg, Andy, 285
362n,405n,451n,511b Gyífaninning (Sturluson), 150 512b g2n, 99, «O'
Genesis of Secrecy, The (Ker-
mode),415,514b haitianos, 20, 375 '"''m 186, 191, 192,
da sorte, yb g. contenção 102,103'10' ^20,445
Ginsberg, Allen,25,236,237,238, Hampton,227n,250n,512b 193,194,197,19^ 52, 306, 324n,419,
239,241,242,248,252n,328, happening, 212, 213 do apetite por
395,396,405n,432,433,434, harmós, 368, 369 535

534
NDICE
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

como artista imigrante, 236,


Héstia, 461n / Ching,159,160,182n, 195,205, japoneses, 16,235,237,258,2 , 345; e o espírito do Macaco,
High John de Conquer, 398,513b 210,217n, 513b, 514b 403n,481n 924 443:e a regra do silêncio
Hillman,James, 198,217n,218n, lambe,481,482 Jefferson, Thomas,330 materna,224,225,226,227,
512b Iddun, 140, 141, 147, 151, I55n, Jeremias, 425 228,231;suicídio da tia,225,
hindus, 20, 413, 487, 509b; ver 497 Jerison, Harry, 37,61n,513b 237, 246
também Krishna Ifá, 159, 160, 165, 166, 167, 168, jesuítas, 453 Kojiki (texto xintoísta), 288n,
Hinos homéricos,52n,372,404n, 169,182n,194,197,266,318, Jesus, 277,410 514b,517b
471n; a Deméter,250n,324n, 377n,426,505b, 506b Jetté, padre J.,453,454,513 Kõzanji,498
482, 489n ; a Hermes, 27n, Igreja Católica, 270, 276, 279 Johns,Jasper, 207
JornadaparaooesteUor,^c.P^- Krishna, 20, 28, 106, 107 108,
110,112,121n,135,384,386,
52n, 59, 62n, 78, 84n, 88, llíada (Homero),52n, 249n, 303,
pular chinês), 223, 396 400,401,410,411,412,
105, 109, 120n, 121n, 130,
135, 216n, 217n, 218n, 249n,
319, 324n
Iluminismo, 347
493,496,497 ;S4,4;.15,417 4«42.
288n,323n,324n,372,404n, imaginação: criação da, 87, 88, Joyce,James,202,218n, 421, 422, 428, 449n, 450n,
405n,450n 95, 97; profecia e, 425, 426, judaísmo,289n,432, ver tambe 487,490n,503n,512b,
histórias de origem, 174,255 ; na ver também mentira Velho Testamento Kuan Yin,443 V -
tivos americanos, 18, 19, 20, imigrantes, 22, 224, 231, 232, Jung Cult, The(NoU),289n Kundera, Milan, 15 ,
21,22,28n, 34, 35,47,63 236,248,251n,402,446;lín I rcA 49n, 61n, 67n, 8ün, 2l6n,514b
Hitler, Adolf, 289n gua e,429,430; relação com a uín, 1!7. kwakiutl,403n
Holbein, Hans, 118 vergonha,231,232,233,234, 195'l97,2l7n,262,263,264,
Homem invisível (Ellison), 26, 235,236,237,238,239,240 Labão,483
117, 324n, 510b Inana,483 289n,290n,358,513b,
Homer, Hesiod, and the Hymns Indonésia, 234
(Janko), 323n ingalik, índios, 103 Kaddish (Ginsberg), 238, 242, 398, 399
Homero, 33, 61n, 103, 109, 117, Kafk"Fratl'!415,416,4l7,4l8, Legba, Lebre, 385 i07, I21n,
inteligência, evolução da, 37, 59 5^"5; 266,
119, 302, 429 lorubá,20,40,55, 158,159, l^O» ^'^«7 376 37^78,382,
Homossexualidade,236,286 449n,514b
162n,163,166,168,169, kairós, 192
275,287,37 ,
hopi, índios, 18, 226, 270, 276, 172, 174, 179, 186, 194, 19A
484,485,486,515b Kant,Immanuel,35U 404n, 430, 48». 517b, :> >
342,374,375,377n,380,426, Kardon,Janet, 282 como o diabo ws a. ,
Horácio, 191, 199 430 Keats,John,241 ^37^198,
Hume,David, 330
Humor, 390, 391, 392, 393, 394,
iorubás cubanos, 158, 159, l6 > Kerényi,Carl,1 . ^2.4n,
^SõnS
""o estratégicoPO. 420;
da suieira
163, 166, 168, 169, 171, 199, 2l6n,21on, J
395, 396, 397, 398, 399,400, 186,194,374, 380
401,402 514b 27n, 415,
iroqueses, índios, 28, 103
Hunger of Nlemory (Rodriguez), • 257
Isis, 482,486 leis dietéticas, 25/
232, 518b
Hurston, Zora Neale, 398,406n,
Islã, 414
Kerouac,Jack, . Leonardo
25,423. lele, 281» da Vma, 175
. .lyç

513b Jacó,483
Hyman,Stanley Edgar, 324n Janko, Richard, 323n,5l3b
537

536
ÍNDICE
A ASTUCIA CRIA O MUNDO

271; ver também Coiote; Cor


Lévi-Strauss, Claude, 322, 325n, 465,467,471,472, 473,474, mitologia nórdica, 140, 141, 151,
217n;cristianismo e,20n,149, vo; tribos específicas
385, 397,405n,508b, 515b 475, 476, 488 Naumann, Francis, 405n, 451n,
Leydet, François, 61n, 68, 84n, maidu, índios, 71
150, 151, 152, 322; tam
516b
121n,406n,451n, 515b bém Loki
Makarius,Laura,365,402n,515b navajos, índios, 11, 23,30n,424
Liberator, 347 Mnemósine,471
Malinowski, Bronislaw, 484 neotenia, 68
libertação contida, ritual de, 271, Moisés, 303,425
272, 336, 337, 338, 339
Manabozho, 27n, 28, 103, I21n Monod, Jacques, 170, 171, 172, New251n,284,
York Times, The,84n,219n,
289n,291n
Mandelbrot, Benoit, 210
Lincoln, Abraham, 340 173, 174, 183n, 184n, 210, nez percé, 35, 125, 188, 217n,
Mantor, George, 144 211,212,215,2l9n,516b
Lincoln, Bruce, 314n,515b 517b,521b
Mapplethorpe, Robert, 281, 282, Montanha Dourada, 235, 236, Nietzsche, Friedrich, 115, 116,
Lindberg, Gary, 30n, 426, 451n,
283,284, 285, 286
515b
Mardi Gras, 271
238 122n,501,503,504n,516b
linguagem, 429, 430, 431, 432; Moral Choices (Walker),
361n,362n,363n,520b
347, NihoTt shoki (texto xintoísta),
Marta, 28, 102
invenção da, 114, 139; arti 288n
culações na, 369; ver também
Martim-pescador, 65,66, 67, 70, Mozart,Wolfgang Amadeus,186, Noé,330
fala; tradução
424 2l6n noiva despida por seus cehbata-
livro apócrifo do macaco chinês, marxismo, 300 Musas,
104,99, 100, 101,
130,134, 102,
471,4p - rios mesmo. A, ver grande
O (Kingston), 444,500 Masson,Jeffrey Moussaieff, 268 vidro, O
Matisse, Henri, 210 Museu de Arte da ^ Noll, Richatd 289n
Lloyd, Edward, 298, 304, 308,
327, 336, 345 Matlacihuatl, 483 Myths of the New World, Tbe nóos(mente),90,9J,
Lokasenna(poema nórdico), 151, Maui, 28, 365,515b (Brinton), 27n,507b nornas, 141,217n
Mawu,253,254,255,257,488 Novo Testamento,266
518b
Loki, 20n, 28, 34, 36, 141, 152, Melville, Herman, 82, 83, 84n, Nabokov, Vladimir, . Nussbaum,
216n,217n,404n,452n,516b
153,154,155,160,163,198, 327, 328, 346, 515b Nagy, Gregory, 62n, 84n 101,
102 103, 120n, 121n, 122n, Nyame,288n
215,223,249,259,303,322,
356,369, 372,378, 387, 389,
mentira, 33, 96, 97, 98, 99, lOO;
por animais,69,70; apetite e>
S.3k404n,«M««.
450n,452n,5l6b O Sábio, 319
402n,510b,517b;e as Maçãs 99, 100, 104, 111, 113, 11"^' 0'Connor,Flannery,132,2/b
da Imortalidade, 140, 146, 117; arte e, 117, 118, ' Nancy,Tia,483
narrativa picaresca, Obatalá, 197,198
497, 499; imobilização de, fronteiras entre verdade e,105, narts, 402 _ 28,35,
148, 156n, 318,319;e o cris 106,107,109,118, 308
tianismo, 20n; e a morte de Mercier,Paul, 168n "^';r4n3?ét'l03,2Í6,270,
382;e'a chegada dos eurjeus,
Balder, 147, 148, 149, 150, Mercúrio (Mercurius), 14,15,28,
151, 366, 367; transforma 80n,121n,199,263,264,265, ,3. histórias de origem dos,
ções femininas de, 479, 480; 266,267,268,275,189n íq' 20 34; Douglass como 384; humor como, »
mudança de pele de, 81 metis,485 ' I 360; trtckS'
descendente do , 394•j395,396; profecia e,435
A 999 271,281,283,
Luciano, 151n Milosz, Czeslaw, 117,122n, 243, Obscenidade,2 ,
ters femio'*'®® ' 423- 285,286,287,336,432,453
Maia,52,258,295,306,307,308,
252n,516b AU- xamanismo dos, 423,
Milton,John, 347
321, 381, 457, 459,460,463, Minos,306n
539

538
NDICE
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

politropismo, 80, 81, 83, 94, 95, Pureza e perigo (Douglas), 256,
Odin, 148 patriarcado, 18, 320,485,486 98, 353, 367, 384, 395,457n; 509b
Odisséia (Homero), 52n, 56,61n, Pausânias, 195
"Peasant Society and the Image o humor e, 391, 392
62n, 80, 84n, 97, 100, 101,
Pollock, Jackson, 206 Quaresma, 271,272
120n, 121n, 150, 320, 324n Limited Good" (Foster), 190,
Pólux, 306n
Odisseu, 28n,56,94,97, 98, 100, 511b Radin,Paul, 11,20n,21,27n,29n,
101, 102, 108, 109, 119, 278, Peirce, C. S., 186
Porco, 496,497 4Sn,61n,83n,84n,86, 120n,
Porta-garrafas (Duchamp), 177 227, 230, 250n, 251n, 270,
330, 409,419, 429, 446,447, Pelton, Robert,27n,28,29n, 121 n, Poseidon, 461n, 464n
448, 452n; Hermes e, 202, 122n, 183n, 184n, 288n, 327, 290n, 317, 324n, 480, 489n,
302; mentiras contadas por, Pound, Ezra, 21, 29n 509b,518b
360n, 361n, 376, 377, 404n, Príamo, 150, 319
33, 82, 95, 396; natureza po- Rainha Mãe do Oeste,498
litrópica de, 80, 81, 457n
517b
processo ritual, O (Turner), 188, Raposa, 36,451n
Péricles, 306n 520b
Ogunda-Iwori, 165 processo, O (Kafka), 415, Raquel,483
Perséfone,302,320,373,480,4 rastros,eliminando,76,77
Ogundipe,Ayodele,29n, 158,168, Perseu, 306n
Proclamação de Emancipação,340
182n,183n,184n,217n,218n, Raiischenberg, Robert, 212
361n,517b
Petrel, 274 profano: distinção entre sagrado e, razão cérebro-corpo, 37
okanagon, índios, 27n, 40,65
Philippi, Donald, 288n, 514 » 227, 228; contato ritual com readymade, 176, 177,447
Oklahoma, atentado a bomba na
517b o, 269 - Redmond, Eugene,
Reed,lshmael, 398, 518b
397,406n, "
cidade de, 143 Phillips, Adam,425n, 510b, profecia, 148,149,194,295,315,
Onians, Richard, 62n, 71, 84n, Phinney, Archie, 125, I36n, 51 409, 410n, 411,
217n,517b
Picabia, Francis, 394, 442 426, 431, 432, 433, 44 n, Rei Macaco, 28, '
Picasso,Pablo,25,118, l22n, 1 ' 449n, 475; ape»te e, 412, 494,I • 495, 498, 501, 502,
oportunidade, exploração e frus xM 318; c os Pcs
tração da, 71, 72,73, 74,106 186, 188, 189, 196, 413; arte como, 441, 442, budismo, 317, .
Oran, 165 211, 213, 2l6n, 2l7n, 21 » 443; múltiplos significados segos493,
da imortalidade
498, 499 a I49n
2l9n, 283, 303,517b,5180 4o 414 415;revelação da pie-
Orfeu, 133 l na,
nitude a 413
4lJ,414,417,421,
Origins of European Thought, Pinóquio (Collodi), 317
The (Onians), 71, 517b Piss Christ (Serrano), 277, 2 » 422 425;xamanismoe,4/z,
Grungan, 162 279, 280
424, 425; n.r também
Osíris, 21 Pitt, William, 347
Platão, 112, 113, 116, I21n,l .
. pJZZrrentado (És^uLo), 226,281,480
ossetas, 366,402n Renascimento,28 3 45^
192, 193, 216n, 217, 37 Rexroth,Kenne*,432^4^^,^^
Otto, Walter, 54n, 62n, 517b
Prometeu, 16, 4», 29, 55, 56,379^
57,
Ovídio, 239, 240, 252n, 517b 198, 403n, 414, 430, 449 . 58,59,62n,164,3J:',J' Richardson, Joh > .g
Ricketts, Mac Unsco^
414 3^9 , 324n,518b
Pã, 240
Page, R. I., 148n, 517b
plenitude, revelação da,413,
417,418,421,422,425
Propp,Vlad.mir
protestantismo^ 238,251n
S,S,'S;
paiute, índios, 430 Plutarco, 80 ^ psicopatas, 22 ,
Pandora, 56
polaridade, confusão da, 28, Pucc.,Pietro,82'\^4 rituais de cura, 23,
Parmênides, 108
Pasteur, Louis, 201, 202
polinésios, 365 pueblos, índios, 18,
politeísmo, 20,21,24

. r.,' /'I. ,1
índice

A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Sigyn, 148 surrealismo, 175, 394, 395, 396,


Silence (Cage), 144, 156n, 218n, 443
Rodriguez, Richard, 232, 245, salish, 223
219n, 5ü7b,5l8b Susa-nõ-o,28,258,259,260,262,
246, 247, 248, 251n, 252n, Sapling, 28, 103
silêncio, regra do, 223, 224, 225, 265, 266, 274, 275, 279, 287,
518b sármatas, 402n
226,227,228,231,232,233, 403n,428,481n,510b, 517b
Roethke, Theodore, 112 sarurnália,272,337,338,341,387
romanos, 72, 279, 347 Saturno, 14, 337
236,237,241,242,243,244, Suzuki, D. T., 203
Rorty, Richard, 121n,409,448n, Schòenberg, Arnold, 211n 245; escravidão e, 332, 333, Syrdon, 366, 367, 369, 372, 380,
387
518b Scott, Walter, 347, 348 342
roubo,29n,380; apetite e, 53, 54, Sears, Thomas, 358 Silko, Leslie Marmon, 145, 156n
taoismo, 494,497, 498,499
119, 139; obra-artus do, 375, Segundos analíticos (Aristóteles), símbolos, domínio dos, 91
Smith, Valerie, 405n, 519b Teit, James,27n, 507b
376; da isca, 38, 39, 40, 60, 371n Temenos,227, 244,282
112, 385; eliminando rastros Seigel,Jerrold,436,438,439,440, Sobieszek, Robert, 282
Temístocles, 323n
do, 76, 77; como desencan- 451n,519b Sócrates, 191, 192, 193, 347,
371n,403n
ten'a, índios, 453,454, 513b
tamento, 303; golpe de sorte Selene, 460 Teógnis, 80, 84n
e, 188; mentira e, 95, 96, 97, Sem destino(Dennis Hopper),31 Soslan, 366
Teogonia (Hesíodo),62n,99,102
98, 99, 100, 101, 104, 105; semiótica, 91 Spretnak, Charlene,482,489n teoria evolucionista, 37, 172
sentido modificado pelo, 90, Serrano, Andres, 277, 278, 27 , Stallybrass, Peter, 290n,519b teto todo seu, Unt (Woolf), 117,
91,92,94; na estrutura narra 280, 281,285, 286, 291n Stradivari, Antonio, 186 I22n
tiva, 317; oportunista, 71, 72; Serres, Michel, 198, 2l8n, Strathern, Andrew,250n, 519b tewa, índios, 18, 484, 485, 486,
oposição entre dádiva e, 297, sexualidade, 18, 249, 284, 43^ ^ Stravinsky, Igor, 206 517b
309, 315; resposta paterna ao, 479,486; apetite e, 51; comér Sturluson, Snorri, 140, 341, 13 , Themis,299
133,295; profecia e,410,411, cio e, 438; vergonha e, 225, 151, 152, 156n, 188, 498, Thlókunyana, 38, 39, 74, 75,
413, 414, 415; falta de pudor 510b,519b, 521b Thor, 148 _
226, 233, 234; roubo
e, 303,316;escravidão e, 308, homossexualid^ c sujara, 18, 255, 263, 268 274, Thoreau, Henry David, 13, 20/,
309, 310, 312, 329; status ei Shakespeare, William, 105, 121^»' 275, 276, 288n, 336-jlMn, 415,418
313; troféu do,462 451n
428, 450n; arte e, 277, 2/», Three Standard StoppagesiVuch^
Rubempré, Lucien de, 118
Sheela-na-gig, 482
279 280,281,282,283,284, amp), 17-5
Shelley, Percy Bysshe, 241
285, 286, 287; crianças co tlingit, índios, 38,486,519b
sacrifício,44,53,54,55,56,57,58, Sheridan, Richard, 347 264,265,266,267 27 ilimime, Tobey, Mark,207
mendo, 422; cristianismo
59,60,62n,88,89, 90,91,93, Shiva, 487 Toelken, Barre, 23, 30n, 424,
101, 104, 108, 112, 114, 162Í significação, redes de, lH' ^ ' entre pureza e, 257, .
revivificaçãopormeioda,25 , 450n,520b
163, 164, 165, 166, 169, 179, Torre de Babel, 431
114,115,297
180,182n,191,295,314n,315, significados: multiplicidade '
319, 320, 370, 372, 375, 376,
^^^'^l20ln:27íeSÍ
rv.".enta'da,269,270,271,
Toupeira, 65,66
TradmonsoftheThompsonR.ver
121n, 429, 430; mudança Indians (Teit),27n, 507b
379, 403n, 404n, 461, 463; e tradução, 379, 380,431
nos,91,92, 97, 98 272,273
artus, acaso e, 377, 378, 380; Signifying Monkey, I82n, Jl' transcendentaUsmo, 13
sumérios, 483
ordens de articulação no, 370 361n,391,392,393,396,3y'
sagrado, distinção entre profano 398,399,402,405n,437,48 > Sun Wu-K'ung,402
e, 227
511b 543

542
Índice
A ASTÚCIA CRIA O MUNDO

Wescott,Joan, 182n, I83n,421n, zen budismo,204


Tratado geral de semiótica (Eco), verdade,fronteira entre mentira e, 450n,52Üb
Zeus, 29, 57, 164, 239, 240, 301,
91,510b 105, 106, 107, 108, 109, HO White, Aílen, 290n,519b 311n, 319, 325n, 353, 357,
travessura, 378 vergonha, 18, 229,231,232,233, Wilde, Oscar, 118, I22n,521b
378,411,459,460,461n,462,
463,467,468,469, 470,471,
tribos matrilineares e matrilocais, 242,243, 245,246, 247, 248, winnebago, índios, I6n, 20n, 28,
18,485,486 249; inscrita no corpo, 24 , 472,473,474,475, 476,482,
48, 51, 64, 85, 86, 227, 270, 485; e os poderes proféticos
tricksters femininas, 18,479,480, 245,246, 247, 248, 249, 340; 317,479,480
481n,483 profecia e, 410; dcslocamen de Apoio, 78,411;eDeméter,
Winnicott, D. W.,444,452n 103, 482; Hermes concebido
Tripitaka, 223, 224, 243, 409, to das barreiras da, 234, 2 > Wiskajak,28, 103 por,'52, 110, 306, 313, 320,
443,444,496 236,237,238,239,240, 30 1 Woife, Bernard, 290n
silêncio e,223,224,225,^ Wolff, Tobias, 95, I20n 321, 322,347,381,457,465;
Trobriand, ilhas, 484n casos amorosos de 55,56;Pro
troca de pele, 79, 80, 81, 83, 94 227, 228, 241; escravidão e, Woman Warrior, The (Kmgston), meteu e, 55
tropismo, 80 308,331,333 224, 249n, 250n, 25In, 444, zulu,38,39,74,508b
Trow, George W. S., 63 Vernant, Jean-Pierre, 54n, 445,451n,452n, 514b
zuni, índios,270
Trungpa, Chugyam, 209 92,451n,509b Woolf, Virginia, 112, 122n
Trypanosoma brucei^ 79, 83 vigarista, 22, 30n, 37, 73, > Wu Ch'êng-ên, 494n
tsimshian, índios, 40, 44, 61 n, 72, 327, 328,426
73, 89n, 84n, 111,486,507b vigarista, O (Melville), 82, Xamanismo,422,423,427
Turner, Victor, 27n, 188, 217n, vikings, ver mitologia ' Xangô, 197
479, 489n, 520b, 542b 140, 141, 151, 2l7n, 517b xintoísmo, 258, 288n
Twain, Marlc, 214n vodu, 20, 375
Voluspá (poema nórdico), Yama, Rei do Submundo,494
Vivo e outros poemas (Ginsberg), 156n -^5^ Yasoda, 107, 108, 109, 112, 384,
396,411,412,421,487
432 von Franz, Marie Louise, Young,Jeanl., 518b, 519b,521b
Universidade Columbia,48n,203, 520b
236,312, 505b, 506b, 517b Yu, Anthony, 494n, 503 , >
521b
Universidade de Harvard, 27n, Wagner, Richard, I48n,
84n, 214, 489n, 505b, 507b, Wakdjunkaga, 16n,20n,2
512b,513b,514b,516b,517b, 479,480
518b,519b;Conferências Nor- Walcott, Derek, 380,
ton, 207 Walden, ou a vida no^
(Thoreau), 13, 415,44 b
vagina dentata, representação da, Waley, Arthur, 494n
50 Walker, Peter F., 342, ^ '
Valéry, Paul, 185, 203 349, 352, 354, 355, 520
Vargas Llosa, Mario, 117, 122n Wall Street]ournal, Thej
Variegado, 428,451n Washington, George,
Velho Testamento, 227, 243, 256, Wayílatpu, 125
257;Gênese,330,489n;Jó,266 Weil, Simone, 396,405n 545

544
9-ic. ^
. ^ \}

- e depois as compara à vida e às obras de


criadores mais recentes, como Pablo Picasso,
Mareei Duchamp e Allen Ginsberg. Hyde
argumenta que nosso mundo - complexo,
ambíguo,belo e sujo - foi uma criação ainda não
concluída do trickster.

Notável em sua erudição,fluente e dinâmico em


seu estilo, A astúda cria o mundo flgura entre as
O texto deste livro foi cortjposto em Sabon,
grandes obras da moderna crítica cultural.
desenho tipográfico de Jan Tschichold de i 964
baseado nos estudos de Claude Caramond e
Jacques Sabon no século XVI,em corpo 11/15.
Para títulos e destaques, foi utilizada a tipografia
Frutiger, desenhada por Adrian Frutiger em 1975.

A impressão se deu sobre papel off-white


pelo Sistema Cameron da Divisão Gráfica
da Distribuidora Record.

é membro d cAativa emíiarva


' u ^I=undaçãoMcArtláta4«-uy-'
do Departamento . criativa no Kenyon

transforma o mundo. \
vT —m
%■

"A obra-prima de Hyde trata do tríclcstertriitológico. O


' trickster é o ladrão do fogo, o inventor da trapaça, o contador
i '

de mentiras, aquele que causa encrencas, estorvos e, a.cima


de tudo, mudariças aleatórias. Ele é ao mesmo témpo herói e \
vilãp, flagelo e benfeitor. O trickster vai,aonde á.ação está, e u: -
ela está na fronteira entre as coisas." . * .

MICHAEL' CHABON

"O trickster é a corporificação mítica da ambigüidade e da ambivalência,


■ da dubiedade e da duplicidade, da contradição e do paradoxo.
Qualquer discussão sobre essa velha mitologia levanta a questão sobre
onde os tricksters surgem no mundo moderno. .Uma primeira
resposta é que eles aparecem onde sempre o fizeram; nas narrativas
invemais dos nativos norte-americanos, no teatro de rua chinês, nos
festivais hindus que celebram Krishna, no ladrão de manteiga, nas
cerimônias divinatórias da África Ocidental. Tricksters africanos
viajaram para o Ocidente com o tráfico de escravos e ainda podem ser
encontrados nas histórias dos afro-americanos, no blues, no vodu
haitiano e assim por diante. ^

"Neste livro, eu me volto principalmente para as expresso


trickster na arte, na esperança de descobrir onde essa imaginaç
disruptiva sobrevive entre nós.. Um punhado de artistas desempenha
papéis centrais
também MareeinaDuchamp,JohnCage,AllenGinsberg,Maxme
minha narrativa- Picasso é um deles, mas ^
Kingston e muitos outros."

ISBN 978-85-2 o 943-7

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