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Dheysse Araújo De Lima
Bruno Costa Silva
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Kaline Silva Meneses
Luara Da Silva Rego

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Todos os manuscritos foram previamente submetidos à avaliação cega pelos pares, membros
do Corpo Editorial deste Evento, tendo sido aprovados para a publicação.

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APRESENTAÇÃO

O presente livro trata-se de uma coletânea dos artigos científicos submetidos e aprovados no
Congresso Nacional Multidisciplinar em Ciência (COMCIÊNCIA) na área científica das Ciências da
Saúde e Biológicas.

O Congresso Nacional Multidisciplinar em Ciência (COMCIÊNCIA) foi um evento científico para


acadêmicos e profissionais realizado de forma online nos dias 13, 14 e 15 de janeiro de 2022,
com o intuito de promover a produção e divulgação científica das mais diversas áreas
acadêmicas para todo o país. O evento contou com mais de 800 submissões de trabalhos nas
categorias Resumo Simples e Resumos Expandidos e Capítulos de Livro, incluindo artigos de
todas as grandes áreas Científicas (Ciências da Saúde, Ciências Biológicas, Ciências Agrárias,
Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias e
Linguagens, Letras e Artes) que foram apresentados em exposição durante os três dias do
evento, em concomitância com as palestras ministradas, para as quais tivemos mais de 5000
inscrições. Agradecemos imensamente a participação de todos aqueles que acreditam na
produção científica e embarcaram nessa jornada conosco!

DOI: 10.55232/237921

ISBN 978-65-997239-3-3

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - A ANÁLISE DA DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS PARA


TRATAR GESTANTE COM TOXOPLASMOSE EVITANDO A TRANSMISSÃO
VERTICAL E SUAS SEQUELAS - PÁGINA

CAPÍTULO 2 - QUIMIOTERAPIA DA AMEBÍASE, GIARDÍASE, TRICOMONÍASE,


TRIPANOSSOMÍASE, LEISHMANIOSE E OUTRAS INFECÇÕES POR
PROTOZOÁRIOS - PÁGINA 17

CAPÍTULO 3 - O PROCESSO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM


ODONTOLOGIA: REVISÃO DO PANORAMA DO ENSINO NO BRASIL E NA
BAHIA - PÁGINA 43

CAPÍTULO 4 - ASPECTOS HISTÓRICOS DA ODONTOLOGIA: BREVE REVISÃO


DA HISTÓRIA DA ODONTOLOGIA NO MUNDO E NO BRASIL - PÁGINA 57

CAPÍTULO 5 - ALTERAÇÕES VESTIBULARES ASSOCIADAS À COVID-19: UMA


REVISÃO DA LITERATURA - PÁGINA 67

CAPÍTULO 6 - A EFICÁCIA DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA NA REDUÇÃO DA


DOR EM MULHERES ADULTAS PORTADORAS DE FIBROMIALGIA - UMA
REVISÃO INTEGRATIVA - PÁGINA 75

CAPÍTULO 7 - USO DA OCITOCINA PARA PROFILAXIA DA HEMORRAGIA


PÓS-PARTO - PÁGINA 85

CAPÍTULO 8 - DINÂMICA INTERATIVA SOBRE O BURNOUT: RELATO DE


EXPERIÊNCIA DE EXTENSIONISTAS DURANTE AÇÃO COM PROFISSIONAIS
DE SAÚDE - PÁGINA 93

CAPÍTULO 9 - IMPACTOS DA OSTEOPOROSE NA SAÚDE DO IDOSO - PÁGINA


99

CAPÍTULO 10 - O PAPEL DO ANESTESIOLOGISTA NA OTIMIZAÇÃO DO


PERIOPERATÓRIO COM BASE NOS PROTOCOLOS ERAS - PÁGINA 106

CAPÍTULO 11 - MATRICIAMENTO E SEUS DESAFIO PARA O CUIDADO EM


SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA - PÁGINA 119

CAPÍTULO 12 - SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE OS PROFISSIONAIS DE


SAÚDE DE UM SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA DOMICILIAR: DIÁLOGO E AÇÃO -
PÁGINA 134

CAPÍTULO 13 - REFLETIR SOBRE A VIDA, A MORTE E O LUTO PARA


PROFISSIONAIS DA SAUDE - PÁGINA 141

CAPÍTULO 14 - INTERVENÇÃO E CUIDADO DE UMA EQUIPE


MULTIPROFISSIONAL NA VISITA DOMICILIAR: RELATO DE EXPERIÊCIA -
PÁGINA 162
CAPÍTULO 15 - HIPERTENSÃO ARTERIAL E ASSISTÊNCIA
INTERDISCIPLINAR: UMA REVISÃO INTEGRATIVA. - PÁGINA 169

CAPÍTULO 16 - PROPRIEDADES CARDIOPROTETORAS DE FRUTAS TÍPICAS


DA REGIÃO AMAZÔNICA: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA -
PÁGINA 180

CAPÍTULO 17 - ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA OSTEOARTRITE DE


JOELHO EM IDOSOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA - PÁGINA 191

CAPÍTULO 18 - BENEFÍCIOS DOS MÉTODOS NÃO-FARMACOLÓGICOS NO


ALÍVIO DA DOR DURANTE O TRABALHO DE PARTO: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA - PÁGINA 206

CAPÍTULO 19 - ESTRATÉGIAS PARA A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA DO


PACIENTE NO AMBIENTE CIRÚRGICO: REVISÃO INTEGRATIVA - PÁGINA
215

CAPÍTULO 20 - FOTOBIOMULAÇÃO OU TERAPIA A LASER DE BAIXA


POTÊNCIA NO TRATAMENTO DE MUCOSITE ORAL - PÁGINA 226

CAPÍTULO 21 - ANÁLISE SOBRE OS FATORES DE RISCOS MODIFICÁVEIS E


NÃO MODIFICÁVEIS DA ENDOCARDITE INFECCIOSA - PÁGINA 235

CAPÍTULO 22 - A EFICÁCIA DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NOS


PROCESSOS DE CICATRIZAÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA - PÁGINA 249

CAPÍTULO 23 - INTERNAÇÕES POR FRATURA DE FÊMUR EM IDOSOS NO


MUNICÍPIO DE BOTUCATU, SÃO PAULO: UMA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA -
PÁGINA 264

CAPÍTULO 24 - PROMOÇÃO DA SAÚDE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM


RELATO DE EXPERIÊNCIA ACADÊMICA - PÁGINA 275

CAPÍTULO 25 - VIOLÊNCIA CONTRA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM -


ABORDAGEM CENCIOMÉTRICA - PÁGINA 284

CAPÍTULO 26 - ANÁLISE DA POLÍTICA NACIONAL PARA A POPULAÇÃO EM


SITUAÇÃO DE RUA EM UMA ABORDAGEM CIENCIOMÉTRICA - PÁGINA 293

CAPÍTULO 27 - REPERCUSSÕES DA PANDEMIA PELA COVID-19 EM


PACIENTES COM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS: REVISÃO INTEGRATIVA -
PÁGINA 302

CAPÍTULO 28 - A EFICÁCIA DO TREINO DE DUPLA TAREFA NA


RECUPERAÇÃO DA MARCHA EM INDIVÍDUOS APÓS ACIDENTE VASCULAR
CEREBRAL: REVISÃO DE LITERATURA - PÁGINA 314

CAPÍTULO 29 - HISTÓRIA DO CÂNCER DE MAMA: DA DESCOBERTA À


EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO E DIAGNÓSTICO - PÁGINA 320
CAPÍTULO 30 - ANÁLISE DO CONSUMO DE ALIMENTOS
ULTRAPROCESSADOS E OS IMPACTOS NA SAÚDE CARDIOVASCULAR EM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA REVISÃO INTEGRATIVA - PÁGINA 332

CAPÍTULO 31 - INSERÇÃO DO PROFISSIONAL ODONTÓLOGO NO MERCADO


DE TRABALHO EM SAÚDE: UM BREVE PANORAMA ACERCA DESSE
CENÁRIO NO BRASIL - PÁGINA 345

CAPÍTULO 32 - A UTILIZAÇÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA PRÁTICA CLÍNICA


ODONTOLÓGICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA - PÁGINA
354

CAPÍTULO 33 - DESAFIOS E IMPASSES DA PRÁTICA PROFISSIONAL NA


SEGURANÇA DO PACIENTE EM AMBIENTE HOSPITALAR - PÁGINA 363

CAPÍTULO 34 - EXERCÍCIO FÍSICO RESISTIDO PARA CONTROLE DA


HIPERTENSÃO EM ADULTOS DO SEXO FEMININO: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA - PÁGINA 371

CAPÍTULO 35 - A ACESSIBILIDADE E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: UMA


PERSPECTIVA DA TERAPIA OCUPACIONAL - PÁGINA 384

CAPÍTULO 36 - ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA READEQUAÇÃO VOCAL


DE MULHERES TRANSGÊNERO E TRAVESTIS - PÁGINA 394

CAPÍTULO 37 - CONHECIMENTO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM


SOBRE AS PRÁTICAS DE BIOSSEGURANÇA ADOTADAS DURANTE O
MANUSEIO DE QUIMIOTERÁPICOS ANTINEOPLÁSICOS: REVISÃO DE
LITERATURA - PÁGINA 402

CAPÍTULO 38 - (RE)PENSANDO A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NA


ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: RELEVÂNCIA E DESAFIOS - PÁGINA 413

CAPÍTULO 39 - SÍNDROME DE BURNOUT EM ACADÊMICOS DA SAÚDE: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA - PÁGINA 424

CAPÍTULO 40 - OS TRATAMENTOS DA FISIOTERAPIA EM PACIENTES PÓS


COVID-19: REVISÃO DE LITERATURA - PÁGINA 432

CAPÍTULO 41 - CUIDADOS DA ENFERMAGEM A PACIENTE COM CÂNCER DE


MAMA E QUALIDADE DE VIDA - PÁGINA 444

CAPÍTULO 42 - RODAS DE CONVERSA COM ADOLESCENTES:


PROTAGONISMO E CUIDADO NA ENFERMAGEM - PÁGINA 455

CAPÍTULO 43 - FIBROMA CEMENTO-OSSIFICANTE: REVISÃO DE


LITERATURA - PÁGINA 458

CAPÍTULO 44 - DESCRIÇÃO ANATOMO-TOPOGRÁFICA DO CORPO ADIPOSO


BUCAL - PÁGINA 464
CAPÍTULO 45 - A PROMOÇÃO DA SAÚDE NO ENSINO SUPERIOR E O
MOVIMENTO DE UNIVERSIDADES PROMOTORAS DA SAÚDE: CONCEITOS,
CONSTRUÇÃO E DESAFIOS - PÁGINA 469

CAPÍTULO 46 - O USO DAS REDES MIDIÁTICAS COMO FONTE DO


ROMPIMENTO DA CONFIDENCIALIDADE MÉDICA E SUAS ILAÇÕES -
PÁGINA 495

CAPÍTULO 47 - PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS NO SISTEMA


CARDIOVASCULAR CAUSADAS PELO DIABETES MELLITUS - PÁGINA 503

CAPÍTULO 48 - EFEITOS DA MUSICOTERAPIA NO CONTROLE DA


ANSIEDADE DE PACIENTES FRENTE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA - PÁGINA 513

CAPÍTULO 49 - ENTRE A FÉ E A CIÊNCIA: A RELIGIOSIDADE COMO


FERRAMENTA DE DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE - PÁGINA 524

CAPÍTULO 50 - LIGA ACADÊMICA DE SAÚDE COLETIVA NO PROCESSO DE


FORMAÇÃO DE ESTUDANTES: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA - PÁGINA 531

CAPÍTULO 51 - CONDUTAS DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO


CONTROLE DE INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA EM SAÚDE -
PÁGINA 536

CAPÍTULO 52 - FATORES RELACIONADOS AO USO DE CIGARROS


ELETRÔNICOS: UMA ANÁLISE ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR
- PÁGINA 546

CAPÍTULO 53 - USO DE CUIDADOS PALIATIVOS EM PACIENTES


HOSPITALIZADOS DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA - PÁGINA 554

CAPÍTULO 54 - FITOTERAPIA APLICADA AO TRATAMENTO DA ACNE: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA - PÁGINA 573

CAPÍTULO 55 - ANÁLISE DE ESPAÇOS PÚBLICOS: A ORLA DE PETROLINA-PE


COMO ESPAÇOS DE LAZER PARA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - PÁGINA
585

CAPÍTULO 56 - A PANDEMIA DE COVID-19 E O DISTANCIAMENTO SOCIAL:


CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE MENTAL - PÁGINA 596

CAPÍTULO 57 - A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR EM


TEMPOS DE OBESIDADE INFANTIL - PÁGINA 605

CAPÍTULO 58 - ASSISTÊNCIA AO ENVELHECIMENTO FEMININO E


CLIMATÉRIO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE - PÁGINA 614

CAPÍTULO 59 - IMPLICAÇÕES DA PANDEMIA PELA COVID-19 NO PROCESSO


DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS: REVISÃO INTEGRATIVA - PÁGINA 626
CAPÍTULO 60 - AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA NA IDENTIFICAÇÃO DO
RISCO DE QUEDAS EM IDOSOS - PÁGINA 634

CAPÍTULO 61 - TRAUMATOLOGIA E ODONTOLOGIA LEGAL: ESTUDO


EPIDEMIOLÓGICO RETROSPECTIVO DE LESÕES DO COMPLEXO
ESTOMATOGNÁTICO NOS LAUDOS DE EXAMES NO INSTITUTO DE
MEDICINA LEGAL DE PALMAS, TOCANTINS. - PÁGINA 647

CAPÍTULO 62 - O ESTILO DE VIDA E NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA DOS


POLICIAIS MILITARES DA CIDADE DE SANTA RITA - PB - PÁGINA 669

CAPÍTULO 63 - O IDOSO NO CONTEXTO DA PANDEMIA EM RELAÇÃO À


TECNOLOGIA E A SOLIDÃO - PÁGINA 682

CAPÍTULO 64 - SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL: UMA REVISÃO


SISTEMÁTICA - PÁGINA 692

CAPÍTULO 65 - SAÚDE E ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS NO TRABALHO DE


MAQUEIROS EM RELAÇÃO À COVID-19 - PÁGINA 728

CAPÍTULO 66 - OS BENEFÍCIOS DA REALIDADE VIRTUAL PARA O


TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DO PORTADOR DE ENCEFALOPATIA:
REVISÃO INTEGRATIVA - PÁGINA 736

CAPÍTULO 67 - PROTOZOÁRIOS COCCÍDIOS (SAUROCYTOZOON MABUYI E


GARNIA MÓRULA): UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA - PÁGINA
749

CAPÍTULO 68 - SOFRIMENTO MENTAL DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS


APÓS PERÍODO DE DISTANCIAMENTO SOCIAL: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA - PÁGINA 757

CAPÍTULO 69 - SINDROME DE SJOGREN ASSOCIADO Á SINDROME


ANTISSINTETASE COM ACOMETIMENTO PULMONAR - PÁGINA 766

CAPÍTULO 70 - FIBROMIALGIA - UMA HISTERIA CONTEMPORÂNEA -


PÁGINA 776
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 1

A ANÁLISE DA DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS


PARA TRATAR GESTANTE COM TOXOPLASMOSE
EVITANDO A TRANSMISSÃO VERTICAL E SUAS
SEQUELAS

RAFAELA CASSIANO ZAMBONI

RESUMO: Introdução: A Assistência Farmacêutica trata da seleção,


programação e distribuição de medicamentos visando o acesso e seu
uso racional, sendo necessários os recursos humanos, logísticos,
tecnológicos, estruturais e ambientais favorável à execução dessas
atividades. Muitos são os desafios relacionados ao desempenho da
Assistência Farmacêutica para que a medicação chegue ao seu destino
final, a fim de suprir as necessidades da população, sendo esta uma
das preocupações dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS).
Objetivo: Analisar o protocolo de dispensação de medicamentos para
tratar os casos de gestante com toxoplasmose conforme preconiza o
Ministério da Saúde, bem como avaliar os benefícios do tratamento
quando ofertado precocemente. Metodologia: trata-se de uma revisão
integrativa de literatura, que propõe abreviar os estudos de forma
sistemática e organizada sobre a análise da dispensação de
medicamentos para tratar gestantes infectadas pelo Toxoplasma
gondii atendidas pelos serviços da Atenção Primária à Saúde.
Resultados e Discussão: Apesar da infecção não ter cura, a ação dos
fármacos tem sido eficaz se introduzida precocemente, atuando na
redução dos riscos da transmissão vertical. Conclusão: Observou-se
nos estudos analisados que a dispensação dos insumos em tempo
oportuno às gestantes infetadas pelo Toxoplasma gondii evitará danos
à saúde do feto ou do bebê, além de contribuir na redução de custos
com os tratamentos de crianças com sequelas causadas pela doença.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A Toxoplasmose é uma zoonose de ocorrência mundial, causada por um protozoário
intracelular capaz de infectar os seres humanos. Apresenta um quadro clínico diversificado que
vai desde as infecções assintomáticas a manifestações clínicas significativas (OLIVEIRA,
2018).

Nos humanos a infecção pode ocorrer quando em contato com oocistos presente nos alimentos
e na água, eliminação ocasionada pelas fezes dos gatos contaminandos, bem como pela ingestão
de carne crua ou mal cozida infectada com cistos, transmissão transplacentária de taquizoítos
da gestante para o feto e a partir de produtos sanguíneos nos transplantes de orgãos (REZENDE,
2015; FERREIRA et.al, 2016; SILVA et. al, 2016; WALCHER et.al, 2017).

A ação do Toxoplasma gondii tende a não trazer repercussões em paciente imunocompetente,


mas em indivíduos com a defesa imunológica baixa pode proporcionar sequelas significativas
pelo fato do hospedeiro não encontrar barreiras para se replicar (WALCHER et.al, 2017).

De acordo com Oliveira, 2018, mais de 40% das gestantes brasileiras correm o risco de contrair
a doença e de transmiti-lo ao feto, sendo sua gravidade maior no primeiro trimestre devido a
imaturidade do feto. Por este motivo, o Ministério da Saúde preconiza desde as primeiras
consultas como rotina, o rastreamento sorológico das gestantes, exame este solicitado no pré-
natal nas Unidades de Saúde.

Contudo, o diagnóstico imediato permitirá o início do tratamento em tempo oportuno, ajudando


a evitar a transmissão da doença ao bebê, como também, o aborto, o retardo no crescimento
intrauterino, a pramaturidade, bem como danos neurológicos e crises convulsivas após o
nascimento (BRASIL, 2018; BRASIL, 2020). O objetivo deste trabalho é analisar a dispensação
de medicamentos para tratar gestante com toxoplasmose evitando a transmissão vertical e suas
sequelas.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, que propõe abreviar os estudos de forma
sistemática e organizada através de materiais e métodos pontuais sobre a análise da dispensação

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de medicamentos para tratar gestantes infectadas pelo T. gondii atendidas Atenção Primária à
Saúde.

A princípio buscou-se encontrar artigos que estivesse intimamente relacionado com a temática
em questão como tratamento da toxoplasmose gestacional, oferta de insumos pelos postos de
saúde e benefícios do tratamento na gestante infectada pelo T. gondii. Para alcançar o tema
proposto, foram realizadas pesquisas nas bases de dados Scielo, LILACS, Pubmed e Biblioteca
Virtual em Saúde. Para a pesquisa foram utilizados os seguintes descritores: Gestante com
toxoplasmose; Atendimento precoce; Assistência farmacêutica; Atenção à saúde; Proteção do
feto, escritos na língua portuguesa, entre os anos de 2014 a 2020.

Após esta etapa, foram encontrados inicialmente 52 documentos científicos. Para a seleção de
temas adotou-se critérios de inclusão e de exclusão. Para o de inclusão foram selecionados
artigos na íntegra que abordasse o tema, para o critério de exclusão, trabalhos repetidos e os
que não atendiam aos requisitos do estudo desejado. Para a amostra final, sobraram 15 trabalhos
que foram utilizados no presente estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atualmente existem no mercado poucas drogas cujo objetivo é impedir a transmissão da doença
da mãe para o feto e, de acordo com consenso de especialistas, em caso de infecção aguda, o
esquema terapêutico adotado é com a espiramicina de forma isolada ou através da utilização da
associação de sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico, este último conhecido como esquema
tríplice (BRASIL, 2019; BRASIL, 2020).

A espiramicina é um antibiótico com poucos efeitos colaterais cujo objetivo é impedir a


passagem do toxoplasma da mãe para o feto podendo ser utilizado até o final da gestação se, na
certeza de que, não houve a infecção fetal. Sua ação tem sido eficaz atuando em até 60% na
redução do risco de transmissão se introduzida precocemente (ANDRADE et al., 2018;
FERREIRA et.al, 2016; BRASIL, 2018; MAIA, 2019).

Já o esquema tríplice atua tanto na mãe como no feto, sendo indicado para infecção fetal
confirmada ou altamente suspeita, sendo sua ação indicada para impedir a passagem do

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

toxoplasma pela barreira transplacentária. Associada a sulfadiazina, atuam sinergicamente


potencializando, em até oito vezes, a ação contra o hospedeiro (MAIA, 2019). O ácido folínico
entra com o intuito de bloquear a ação adversa da pirimetamina sendo imprescindível para a
prevenção da aplasia medular (BRASIL, 2018).

Apesar de o protoloco ministerial determinar a captação precoce das gestantes infectadas, as


gestantes encontradas fora desse período devem também receber o mesmo cuidado. Conforme
a Nota Técnica de Nº 14 de 2020 do Ministério da Saúde a gestante que inicia seu pré-natal
após a 16ª semana, se apresentar o primeiro resultado de exame sugestivo a uma possível
infecção, inicia seu esquema com espiramicina, por ser uma droga que ocasiona pouco ou
nenhum evento adverso, e será utilizada até a liberação do segundo exame a ser realizada de 2-
3 semanas. Confirmada a infecção, o esquema terapêutico será alterado para o esquema tríplice,
caso infecção descartada, o tratamento medicamentoso é suspenso (BRASIL, 2019; BRASIL,
2020).

As pacientes com indicação para o esquema tríplice devem receber real atenção, visto que a
pirimetamina deverá ser ofertada apenas a partir da 16ª semana devido ao seu potencial poder
reatogênico, valendo ressaltar que, devem ser submetidas à avaliação frequente do hemograma,
pois a pirimetamina e sulfadiazina provocam diminuição do número de todos os elementos
figurados do sangue como as hemácias, os leucócitos e as plaquetas (BÁRTHOLO et. al., 2015).

Mediante a comprovação laboratorial a gestante infectada pelo T. gondii receberá do


profissional da saúde, responsável pelo pré-natal, as documentações necessárias onde
assegurará a retirada da medicação na farmácia do posto de saúde mediante a apresentação da
ficha de notificação compulsória, resultado de exame e prescrição médica indicando o tipo de
tratamento.

Desta forma, em cumprimento à Portaria nº 1.897 de 26 de Julho de 2017, os medicamentos


espiramicina, pirimetamina e sulfadiazina passaram a compor a Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais do Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica, Anexo II
da RENAME 2017 e o Ministério da Saúde, desde então, vendo sendo o responsável por
repassá-los aos Estados e, desde outubro de 2018, os Estados vêm distribuindo regularmente
aos Municípios. O ácido folínico fica a cargo de cada Município (VILA VELHA, 2014;
BRASIL, 2018; BRASIL, 2019).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A centralização desses fármacos pela União ocorreu mediante programação conjunta com os
Estados devido à dificuldade de compra pelos Municípios, pelo aumento da incidência dos
casos e devido ao decréscimo no quantitativo solicitado de medicamentos em relação à
expectativa de tratamento baseada em número de pacientes infectadas (BRASIL, 2019;
BRASIL, 2020).

E para que esses medicamentos chegassem à população houve a necessidade de fazer


financiamentos, onde desde então, os recursos passaram a ser transferidos, de forma regular e
automática, diretamente da União para os Municípios através do fundo municipal de saúde
garantindo o acesso aos atendimento médicos necessário (BRASIL, 2019; BRASIL, 2020).

Quando a gestante inicia seu tratamento o acompanhamento é feito no pré-natal tanto pelo
profissional médico que é o prescritor quanto pelo enfermeiro que faz parte da equipe de saúde,
com a finalidade de garantir o tratamento adequado sem interferências ou contratempos
(BRASIL, 2018; BRASIL, 2020; UCHÔA et. al., 2016; ALVES, 2017).

A vigilância em saúde no que diz respeito ao desenvolvimento de atuações que possam interpor
no processo de saúde-doença, tem se consolidado, alargando o controle social na defesa da
qualidade de vida e validando a população medicamentos essenciais (UCHÔA et. al., 2016).

Com o intuito de apoiar o mecanismo de cura e prevenção de doenças, os medicamentos


passaram a ser escolhidos conforme sua magnitude, benefício e segurança, ou seja, aqueles que
satisfazem as necessidades do cuidado (ROQUE, 2015; ALVES, 2017).

E para proporcionar uma assistência na sua totalidade, em 2004, o Ministério da Saúde instituiu
a Política Nacional de Assistência Farmacêutica com a intenção de garantir ações voltadas à
promoção, proteção e recuperação da saúde sendo as medicações consideradas insumos
essenciais (BRASIL, 2019).

CONCLUSÃO

Assim, a dispensação das medicações contempladas na RENAME para as gestantes infetadas


pelo T. gondii vem ganhando esforços pela equipes de saúde envolvidas e isso deve ser

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

preservado. As medicações descritas se ofertadas adequadamente e dispensadas em tempo


oportuno, evitará danos à saúde do feto ou do bebê, como também, evitará gastos públicos com
tratamento ou sequelas ocasionados pelas doença.

Acrescido a isso, é pertinente que todas as mulheres em idade fértil da área adscrita dos postos
de saúde sejam orientadas a respeito da toxoplasmose e sobre os cuidados primários,
corroborando assim, para a diminuição das formas de contágio desse parasito da mãe para seu
bebê.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, F. H. C. A Automedicação em Usuários da Atenção Primaria do Sistema único de
Saúde. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicamentos e
Assistência Farmacêutica da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestra em Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Belo Horizonte,
2017.
ANDRADE et. al. Recém-nascidos com risco de toxoplasmose congênita, revisão de 16 anos.
Revista Scientia Médica, Portugal, 2018.
BÁRTHOLO et. al. Toxoplasmose na gestação. Revista HUPE, v. 14, n. 2, p. 65-70, Rio de
Janeiro, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de Notificação e Investigação: toxoplasmose
gestacional e congênita. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília, p. 14, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos
Estratégicos em Saúde. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais 2020 – RENAME
2020. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Versão eletrônica:
http://editora.saude.gov.br. Ed. 1ª - Brasília, 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Fluxograma de Diretriz Nacional para Condução Clínica do
Diagnóstico e Tratamento da Toxoplasmose Gestacional e Congênira. Ofício Circular
Nº1/2020/CGAFME/DAF/SCTIE/MS. Brasília, 2020.
FERREIRA et. al. Frequência de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em cães com sinais
clínicos compatíveis com toxoplasmose. Revista de Ciência Animal Brasileira, v.17, n.4, p.
640-646, out./dez. 2016.
MAIA, A, O. Aspectos epidemiológicos da toxoplasmose em gestantes atendidas nas
unidades básicas de saúde do município de Santa Cruz – RN. Dissertação de mestrado
apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em
Ciências Biológicas (Área: Parasitologia), Natal/RN, 2019.
OLIVEIRA, W. N. Toxoplasmose congênita e a importância do diagnóstico e suas formas
clínicas na gestação no estado de Rondônia no período de 2013 a 2017. Monografia
(Especialização) - Centro Universitário São Lucas, Porto Velho, 2018.
REZENDE, H. H. A. Prevalência de parasitos intestinais em gatos errantes em Goiânia -
Goiás: ênfase no diagnóstico de Toxoplasma gondii e avaliação da acurácia de técnicas
parasitológicas. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em
Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título
de Mestre em Medicina Tropical e Saúde Pública. Área de concentração em Parasitologia.
Goiânia, 2015.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

ROQUE, Z, V, M. Promoção á saúde na Atenção Básica: estratégias para melhorar a


qualidade de vida. Monografia (Especialização) - requisito parcial para obtenção do título de
especialista em Saúde da Família, a Universidade Aberta do SUS. Rio de Janeiro, 2015.
SILVA et. al. Soroprevalência e pesquisa de oocistos de Toxoplasma gondii em felídeos
selvagens procedentes do estado do Pará, Brasil. Revista Veterinária e Zootecnia, v. 23, n. 3,
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WALCHER et. al. Toxoplasmose gestacional: uma revisão. Revista Brasileira de Análises
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 2

QUIMIOTERAPIA DA AMEBÍASE, GIARDÍASE,


TRICOMONÍASE, TRIPANOSSOMÍASE, LEISHMANIOSE E
OUTRAS INFECÇÕES POR PROTOZOÁRIOS

Gabriel Mota Nascimento, Caíque Seabra Garcia de Menezes Figueiredo,


Eduardo Macedo Sousa, Guilherme Diniz Prudente, Gustavo Elias Ferreira
Neto, João Victor Alves Xavier, Marcondes Bosso de Barros Filho, Pedro
Afonso Marques Gonçalves, Victor Hugo Arantes Sisterolli Alencar, Vitor
Rezende Albernaz

RESUMO: Objetivo: este estudo tem a finalidade de sintetizar e apresentar


uma perspectiva concisa e direcionada para a terapêutica farmacológica
relacionada aos medicamentos anti-protozoários. Metodologia: este estudo
trata-se de uma revisão de literatura composto por informações obtidas de
artigos obtidos na plataforma de dados do PUBMED. Foram usados os
seguintes descritores: “pharmacological therapy AND protozoa”. Além disso,
os seguintes filtros foram selecionados: “free full text”, “systematic review”
e “5 years”. Ao fim da pesquisa, foram encontrados 28 artigos, os quais
compuseram a base de informação para do estudo. Resultados e Discussão:
os principais frutos do artigo relacionam-se à dispersão de novas terapias
anti-protozoárias, as quais podem modificar sobremaneira a forma como as
prescrições têm sido realizadas. Além disso, são discutidos mecanismos de
resistência a fármacos e suas implicações na terapêutica atual. Por fim, a
compilação de um conhecimento médico importante faz deste artigo uma
fonte importante de conhecimento científico. Conclusão: este artigo
apresentou como principal conclusão a formação de um delineamento
terapêutico acerca de novos medicamentos e sua importância no combate
aos mecanismos de resistência. Isso pode ser observado, por exemplo, em
populações indianas, as quais são eminentemente resistentes ao
estibogliconato de sódio, o qual possui efetividade na maior parte do
planeta. Na Índia, portanto, faz-se necessária uma nova terapia capaz de
combater a infecção leishmânica para que esta enfermidade não avance
sobre a população. Dessa forma, este estudo concluiu que o estudo
epidemiológico, associado à visão clínica e farmacológica, é base para a
construção de novas terapias anti-protozoárias.

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INTRODUÇÃO

INFECÇÕES CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS

1. AMEBÍASE

É uma infecção causada pela Entamoeba histolytica, no ser humano. É um


protozoário frágil, com sensibilidade a mudanças de temperatura, tende a
ocorrer em regiões com condições socioeconômicas desfavoráveis e
saneamento deficiente. Esse está presente em todo o mundo, mas a maioria das
infecções ocorrem na América Central, oeste da América do Sul, sudeste da
África.

O ciclo biológico do parasito apresenta seus dois estágios bem definidos:


trofozoítos e cistos. Os trofozoítos (forma vegetativa) apresentam forma
amebóide, geralmente com núcleo com cariossoma central e cromatina
periférica, com grande quantidade de vesículas e vacúolos de vários tamanhos
no citoplasma. Esses se aderem a células epiteliais do cólon e leucócitos
polimorfonucleares (PNM), podem causar disenteria com sangue e muco, mas
com poucos PNM nas fezes, secretam também proteases e permitem a invasão
da parede intestinal. Sabe-se que esses podem se disseminar via circulação
portal, provocando abscessos no fígado.

Já a forma Cística, tem estrutura esférica, com parede rígida, com o


amadurecimento os corpos cromatóides e os vacúolos vão desaparecendo, esses
predominam em fezes formadas e são resistentes a sua destruição num meio
externo, podem se disseminar de indivíduo para indivíduo quanto por alimentos
ou água (de forma direta ou indireta). Além disso, a amebíase pode se transmitir
sexualmente por contato oral-anal, sendo que o homem geralmente se infecta
ingerindo a forma cística madura contida em alimentos, água ou pelo contato
fecal-oral.

A maioria dos indivíduos infectados são assintomáticos, mas transmitem cistos


nas fezes de forma crônica. Em relação aos aspectos clínicos observa-se de um
lado formas assintomáticas e do outro forma invasiva intestinal, podendo ter a
presença de disenteria, colite, apendicite, peritonite.

Caso ocorra invasão tecidual no cólon podem apresentar alternâncias entre


constipações e diarreias, flatulências e dor abdominal do tipo cólica, geralmente
surgem entre 1 e 3 semanas após ingerir cistos, ressaltando as fezes que podem
contar muco e até sangue

A disenteria amebiana, se apresenta por fezes frequentes com aspecto


semilíquido, podendo ser mucosanguinolenta com presença de trofozoítos
(vivos), podendo apresentar dor abdominal intensa, presença de febre e uma
sensibilidade que geralmente acompanha colite.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Algumas lesões de pele ocorrem, principalmente ao redor do períneo ou glúteo


ou feridas traumáticas ou pós-operatórias.

Abscesso hepático é a forma mais comum de doença hepática, surge de uma


forma extraintestinal amebiana que infecta o cólon e pode atingir outros órgãos.
Nesse caso, é geralmente único e atinge o lobo direito do fígado. Além disso, é
mais comum em homens e seus sintomas apresentados geralmente são: dor
(geralmente referida no ombro direito), febre intermitente, sudorese, quando
apresenta icterícia tende a ser um grau brando.

Já a infecção amebiana crônica do cólon pode mimetizar uma doença


inflamatória intestinal, manifesta com a presença de diarreia acompanhada de
dor, muco e perda ponderal. De fato, numa infecção crônica pode ter a presença
de massas palpáveis

Diagnóstico da colite amebiana pode ser feito pela microscopia de amostras de


fezes e da mucosa do cólon, com a presença de diarreia. Mas recentemente,
criaram testes ELISA baseados em anticorpos monoclonais contra a lectina para
galactose e N-acetil galactosamina, que estão presentes no trofozoíto, sendo
esses mais sensíveis e específicos que microscopia que depende bastante da
habilidade do profissional. PCR apresenta uma boa sensibilidade também. Além
disso, caso o paciente apresente colite aguda, mas não detectável nas fezes,
pode-se realizar colonoscopia ou retosigmoidoscopia flexível. Os abscessos
mencionados são feitos diagnósticos por ultrassom ou sorologia

No tratamento, usa-se o composto nitroimidazólico metronidazol ou seus


análogos, como tinidazol e ornidazol, os 2 primeiros são mais usados para tratar
colite, abscesso hepático e qualquer outra forma extraintestinal de amebíase.

2. GIARDÍASE

O protozoário Giardia lamblia é um parasita que infecta humanos, bem como


outros mamíferos, por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados. O
ciclo de vida desse protozoário engloba duas fases, sendo uma na forma de
trofozoíto vegetativo e um cisto, que é infeccioso, transmitido via fecal-oral. O
cisto, uma vez no estômago, sofre excistação e cada excizoíto gerado a partir do
cisto pode formar até quatro trofozoítos, após duas divisões. Os trofozoítos irão
colonizar especialmente o duodeno e se replicam por meio da fissão binária. Vale
ressaltar que os cistos são resistentes a condições ambientais adversas.

Por se tratar de uma doença cuja contaminação é pela via fecal-oral, a


prevalência da giardíase em países de baixa e média renda pode ser alta devido
ao saneamento básico geralmente ser deficiente nessas regiões. Um exemplo
disso é a prevalência de giardíase maior que 30% em alguns estados brasileiros:
Amapá, Maranhão, Minas Gerais, Sergipe, São Paulo e Paraná. No geral, os
países em desenvolvimento apresentam prevalência da giardíase variando em
torno de 20% a 30%. Entretanto, em países desenvolvidos, a prevalência pode
variar de 3% a 7%.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O período de incubação da Giardia é em torno de 1 a 3 semanas. As


manifestações clínicas são observadas mais nas crianças do que nos adultos e
incluem diarreia aguda ou crônica, com fezes inicialmente aguadas se tornando
gordurosas e fétidas posteriormente. É importante ressaltar que a maioria dos
pacientes infectados são assintomáticos (cerca de 50% a 75%). Outros sintomas
podem ser observados, como mal-estar, anorexia, náusea, vômitos, gases, dor
abdominal e astenia. Além desses, mas menos comuns, pode haver febre baixa,
calafrios e cefaléia. Geralmente, a diarreia causada pela Giardia não é
acompanhada por muco, sangue ou leucócitos.

O diagnóstico de giardíase leva em conta a identificação microscópica (padrão-


ouro) de cistos e trofozoítos em amostras fecais, sendo a sensibilidade do exame
dependente do tipo de método a ser empregado. O diagnóstico na maioria dos
casos é confirmado principalmente pelo exame de fezes (método de exame
direto), com diagnóstico correto da infecção em 90% dos casos se três amostras
de fezes forem examinadas, em dias consecutivos. Para preparar montagens
úmidas para a observação de trofozoítos da Giardia em amostras soltas ou no
conteúdo fecal, pode-se utilizar suspensão fecal em solução salina fisiológica
(NaCl 0,85) ou fixação em acetato de sódio-ácido acético-formalina (SAF); o
esfregaço das amostras úmidas pode ser examinado sem corar ou com iodo,
solução de lugol a 2-5%.

3. TRICOMONÍASE

A Tricomoníase é uma infecção que acomete o trato genital masculino ou a


vagina, causada pelo Trichomonas vaginalis. Ela pode cursar de forma
assintomática ou apresentar quadros de uretrite, vaginite, cistite, epididimite e
prostatite. Seu diagnóstico é feito basicamente de três maneiras: microscopia,
testes de tira reagente ou PCR. Além disso, metronidazol ou tinidazol são os
fármacos mais utilizados no tratamento da infecção. O T. vaginalis é transmitido
através da relação sexual e pode sobreviver por mais de uma semana sob o
prepúcio, após relação sexual com a mulher infectada.

Dentre as principais complicações causadas pelo T.vaginalis, podem ser citadas


a facilitação da transmissão do vírus da imunodeficiência humana; baixo peso e
nascimento prematuro em crianças; doença inflamatória pélvica atípica, câncer
cervical e infertilidade.

Os aspectos clínicos da infecção são variados e apresentam diferenças no


homem e na mulher. Na mulher, varia de forma assintomática à forma aguda. A
ectocérvice é bem mais acometida do que a endocérvice, a qual raramente é
infectada e, por isso, corrimento endocervical purulento não é observado (pode
haver secreção endocervical mucopurulenta quando há coinfecções com outras
ist). O corrimento vaginal característico da tricomoníase é fluido, abundante,
amarelo-esverdeado, bolhoso, fétido e mais presente no período pós-menstrual.
Os principais sintomas na mulher são pruridos, dores no baixo ventre,
dispareunia, disúria e poliúria. O aspecto visual mais importante é o colpitis
macularis, mais conhecido como cérvice com aspecto de morango.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Já no homem, a tricomoníase é eminentemente assintomática, podendo


apresentar uretrite com fluxo leitoso e sensação de prurido na uretra, o qual é
observado pela manhã, antes da passagem da urina. Durante o dia, a secreção é
escassa. O T. vaginalis sobrevive melhor no trato urogenital masculino, no qual
o glicogênio é mais abundante. As principais complicações da tricomoníase no
homem são prostatite, balanopostite e cistite.

4. TOXOPLASMOSE

A toxoplasmose é uma infecção zoonótica cosmopolita causada pelo parasito


intracelular obrigatório Toxoplasma gondii.

O parasito apresenta uma morfologia múltipla, dependendo do habitat e do


estágio evolutivo. As formas infectantes que o parasito apresenta durante o ciclo
biológico são:
Taquizoíto (forma proliferativa, forma livre ou trofozoíto): encontrada durante a
fase aguda da infecção. É uma forma móvel e de rápida multiplicação (por um
processo chamado de endodiogenia). São pouco resistentes ao suco gástrico,
sendo rapidamente destruídos, mas possuem a capacidade de invadir a mucosa
do estômago antes que isso aconteça.
Bradizoítos (cistozoíto): encontrada em vários tecidos (musculares esqueléticos
e cardíacos, nervoso, retina) geralmente durante a fase crônica da infecção (mas
podem estar presentes na fase aguda, em alguns casos). Se multiplicam
lentamente por endodiogenia ou endopoligenia. São muito mais resistentes à
tripsina e à pepsina do que os taquizoítos e podem permanecer viáveis nos
tecidos por vários anos.
Oocisto: é a forma de resistência, possuindo uma parede dupla bastante
resistente às condições do meio ambiente. Os oocistos são produzidos nas
células intestinais de felídeos não-imunes e eliminados, ainda imaturos, junto
com as fezes.

O T. gondii apresenta um ciclo heteroxeno, no qual os gatos são considerados


hospedeiros completos ou definitivos por possuírem um ciclo coccidiano,
enquanto o homem, outros mamíferos, e as aves, são considerados os
hospedeiros incompletos ou intermediários, pois possuem apenas o ciclo
assexuado. A fase assexuada ocorre nos linfonodos e nos tecidos de vários
hospedeiros (inclusive gatos e outros felídeos). Já a fase coccidiana (ou sexuada),
ocorre nas células do epitélio intestinal de felídeos jovens não-imunes.

As principais vias de transmissão são: ingestão de carne mal-cozida contendo


cistos teciduais; de matéria vegetal contaminada com solo contendo oocistos
infectantes; contato oral direto com fezes de gatos que eliminam oocistos;
infecção fetal transplacentária com taquizoítos provenientes de mães com
infecção aguda.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O diagnóstico da toxoplasmose pode ser clínico ou laboratorial através de


pesquisa do protozoário (em geral, na fase aguda, em líquido amniótico, sangue,
cuja forma encontrada é o taquizoíto e, na fase crônica, a biópsia de diversos
tecidos poderá acusar a presença de cistos com bradizoítos) ou por avaliações
dos resultados dos exames imunológicos da gestante.

A infecção primária por T. gondii produz sintomas clínicos em 10% dos indivíduos
imunocompetentes, sendo a fase aguda geralmente autolimitada e sem
necessidade de tratamento. Entretanto, em indivíduos imunocomprometidos, a
infecção adquire caráter importante e deve ser tratada. Uma infecção reativada
tem maior chance de ocorrer no cérebro, mas pode ocorrer em outras regiões
do organismo. Encefalite toxoplasmótica é comum em indivíduos portadores de
AIDS ou com câncer.

5. CRIPTOSPORIDIOSE

A infecção é causada pelo agente etiológico Cryptosporidium parvum, um


protozoário coccídeo, parasito reconhecido como patógeno animal. A doença se
desenvolve quando as células epiteliais das vias gastrintestinais, biliares e
respiratórias do homem são atingidas. A infecção causa diarréia esporádica em
todas as idades, diarreia aguda em crianças e a diarreia dos viajantes. Em
indivíduos imunodeprimidos, particularmente com infecção por HIV, causa
enterite grave, a qual se caracteriza por uma diarreia aquosa, acompanhada de
dor abdominal, mal-estar, anorexia, náuseas, vômitos e febre. Nesses pacientes,
podem desenvolver uma diarreia crônica e severa, acompanhada de
desidratação, desnutrição e morte fulminante. Em imunocompetentes, o quadro
diarréico é autolimitado, entre 1 e 20 dias, com uma duração média de
aproximadamente 10 dias.

O reservatório se restringe ao homem, ao gado e aos animais domésticos. O


modo de transmissão é fecal-oral, de animais para a pessoa ou entre pessoas,
isto é, pela ingestão de oocistos, que são formas infecciosas e esporuladas do
protozoário.

O período de incubação varia de 2 a 14 dias. O período de transmissibilidade


pode durar várias semanas, ou seja, desde o início dos sintomas até a eliminação
de oocisto nas fezes. O oocisto pode permanecer infectante por até seis meses,
uma vez que ele esteja fora do organismo humano e em ambientes úmidos.

As principais complicações que envolvem a criptosporidiose é a enterite, seguida


de desnutrição, desidratação e morte fulminante. Comprometimento do trato
biliar e dos pulmões.

O diagnóstico para infecção é a identificação do oocisto através do exame de


fezes. Biópsia intestinal, se necessária. O diagnóstico pode ser realizado também
através do ensaio imunoenzimático (ELISA) para detectar o antígeno nas fezes e,
por fim, através de anticorpo monoclonal marcado com fluoresceína.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Em pacientes com infecção por HIV, deve realizar o diagnóstico diferencial com
outros agentes causadores de enterites, como: Entamoeba histolytica,
Salmonella, Shigella, Giardia lamblia, Campylobacter jejuni, Yersinia, Cyclospora
cayetanensis e microsporídeos.

A criptosporidiose acomete todos os continentes. Em países em


desenvolvimento, pode atingir até 30%. Nos países desenvolvidos, a prevalência
estimada é de 1 a 4,5%. Os grupos mais atingidos são os menores de 2 anos,
viajantes, pessoas que manipulam animais, homossexuais e contatos íntimos de
infectados. Há relatos de epidemia a partir de água potável contaminada, banhos
de piscina e de lagoas contaminadas

6. TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA

A tripassonomíase americana, também conhecida como Doença de Chagas, é


uma protozoose causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. A doença crônica
carrega grande importância epidemiológica, dado por sua alta frequência no
Brasil. Apesar de vários avanços recentes para controlar o avanço da doença,
ainda hoje ela é transmitida por vetores intradomicilares em mais de 15 países
da América Latina.

A doença é transmitida pelas fezes dos triatomíneos infectados, popularmente


conhecidos como barbeiros, ao alcançar a corrente sanguínea. A transmissão
ocorre quando as fezes estiverem infectadas com a forma tripomastigota
metacíclica com as mucosas ou pele. Elas irão atingir células do organismo e
iniciarão novo ciclo ou serão destruídas. Caso sobrevivam, elas irão se
transformar em amastigotas nas células humanas, as quais irão multiplicar,
evoluir para o estágio de tripomastigotas, romperão as células e cairão na
corrente sanguínea. O ciclo retorna ao triatomíneo se ele receber o sangue do
hospedeiro humano infectado e, assim, completa-se.

A transmissão da doença é principalmente pelo vetor triatomíneo, contudo, há


outras formas que possuem relevância. A transmissão sanguínea é o segundo
principal mecanismo de transmissão e é principalmente evitado com o controle
criterioso das transfusões sanguíneas, tanto pela triagem, quanto pelos testes
aplicados. Além disso, caso haja amastigotas na placenta, estas podem liberar
tripomastigotas que alcançarão a circulação fetal, transmitindo verticalmente a
doença. Acidentes em laboratórios que trabalham e estudam com o parasito
podem ser um sítio de contaminação se houver contato com pele lesada, ocular
ou mucosas. A transmissão oral vem ganhando importância devido
principalmente a hábitos alimentares, como a ingestão de açaí e derivados da
cana, os quais, sem o devido preparo e vigilância sanitária, podem ser sítios de
infecção se estiverem infectados com fezes ou urina de triatomíneos infectados.
Além disso, ainda tratando-se de gravidez e puerpério, a amamentação pode ser
também um sítio. Por fim e menos frequente, pode ocorrer a transmissão em
situações de transplantes mal triados.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A fase aguda da doença é a primeira e pode ser sintomática ou não a depender


do estado imunológico do hospedeiro, sendo a falta de sintomas mais frequente.
Esta fase inicia-se com manifestações locais, como o sinal de Romanã, quando
há penetração da conjutiva ou o chagoma de inoculação, quando há penetração
da pele. As lesões aparecem em até 50% dos casos agudos num período de 4 a
10 dias após picada e com regressão em 1 a 2 meses. Pode haver linfadenite
satélite proximal ao sítio de infecção. As manifestações gerais incluem, além do
que foi supracitado, febre, edema localizado e/ou generalizado, poliadenia e,
menos frequentemente, hepatomegalia, esplenomegalia e insuficiência
cardíaca.

A fase crônica pode ser dividida em assintomática e sintomática. A assintomática


ou indeterminada ou latente ocorre nos sobreviventes e pode durar de 10 a 30
anos. Ela é caracterizada pelos parâmetros:

a) Teste sorológico ou parasitológico positivo


b) Ausência de sintomas ou sinais da doença
c) Eletrocardiograma inalterado
d) Coração, esôfago e cólon normais aos exames radiológicos

Mesmo que assintomática e com lesões discretas, pode haver morte súbita em
pacientes com esta forma da doença

Já a fase crônica sintomática irá atingir principalmente o sistema


cardiocirculatório, digestivo ou ambos, sendo divididos, respectivamente, em
forma cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva/mista.

A forma cardíaca irá atingir até 40% dos pacientes e a principal preocupação é a
insuficiência cardíaca congestiva (ICC). A massa muscular estriada cardíaca irá
reduzir devido à sua substituição por área fibrótica, bem como o sistema nervoso
autônomo. Além disso, preocupa-se com eventos tromboembólicos, podendo
atingir o coração ou os membros inferiores, podendo originar infartos múltiplos
e morte súbita. A perturbação do sistema nervoso autônomo pode levar a
alterações sinusais, atrioventriculares ou no feixe de Hiss e, consequentemente,
arritmias, extrassístoles e bloqueios.

A forma digestiva está presente em até 11% dos casos e é representada


principalmente por megaesôfago e megacólon. O megaesôfago pode surgir em
qualquer idade, sendo mais frequente no sexo masculino. Suspeita-se desta
condição quando há história positiva, disfagia, odinofagia, dor retroesternal,
regurgitação, pirose e soluços. Já o megacólon, geralmente de diagnóstico mais
tardio, é mais frequente entre 30 e 60 anos e, novamente, prevalece nos
homens. A maior preocupação com o megacólon é a obstrução intestinal e a
possível perfuração, a qual pode acarretar uma peritonite. Frequentemente,
temos os dois associados, gerando desnutrição pela dificuldade digestiva e
absortiva.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Há ainda uma forma denominada nervosa, a qual atingiria o Sistema Nervoso,


porém esta ainda não está bem elucidada cientificamente.

O diagnóstico do paciente iniciará com a suspeita clínica, considerando sua


origem epidemiológica, os sinais de entrada (Romanã e/ou Chagoma de
inoculação), febre irregular, adenopatia satélite ou generalizada,
hepatoesplenomegalia, taquicardia e edemas. Além disso, alterações cardíacas
e digestivas, confirmadas por eletrocardiograma e exames radiológicos podem
levar à suspeita de fase crônica.

Laboratorialmente, temos diferentes condutas a depender da suspeita de fase


aguda ou crônica.

Na fase aguda, podemos realizar:

1) Exames Parasitológicos

a) Exame de sangue a fresco


b) Exame de sangue em gota espessa
c) Esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa
d) Cultura de sangue ou material de biópsia, como linfonodos
e) Métodos de concentração
f) Inoculação do sangue em camundongos
g) Xenodiagnóstico e hemocultura, não sendo normalmente indicadas
pela necessidade de 30 dias ou mais para resultados
2) Exames Sorológicos

a) Reação de precipitação, com alta sensibilidade


b) Reação de imunofluorescência indireta
c) ELISA

Na fase crônica, quando há menor parasitemia, podemos realizar:

1) Exames Parasitológicos

a) Xenodiagnóstico
b) Hemocultura
c) Inoculação em camundongos jovens
d) PCR

2) Exames Sorológicos

a) Reação de fixação de complemento ou de Guerreiro e Machado


b) Reações de imunofluorescência indireta
c) Reação de hemaglutinação indireta
d) ELISA

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Considera-se um paciente curado quando há parâmetros clínicos e laboratoriais


compatíveis com a cura. São utilizados a maioria dos exames supracitados, além
dos exames também não convencionais, geralmente utilizados na realização de
estudos. Considera-se curado o paciente que possui negativação parasitológica,
sorológica convencional e não convencional (pesquisa do anticorpo
antitripomastigota vivo por citometria de fluxo).

A profilaxia para a doença consiste em combater seus principais fatores de risco.


Primeiramente, urge a melhoria das habitações rurais, havendo necessidade da
construção de casas de alvenaria ou substituição por estas, principalmente nos
locais de alta incidência epidemiológica. Além disso, deve-se combater o vetor
triatomíneo com o uso de inseticidas. O controle do doador de sangue e da
transmissão congênita é essencial, dado serem estas formas de transmissão.

O tratamento para a doença de Chagas é parcialmente eficaz e consiste


principalmente no uso de Nifurtimox e Benzonidazol.

7. TRIPANOSSOMÍASE AFRICANA

A tripanossomíase africana, menos frequente que a americana no cenário


epidemiológico brasileiro, é uma infecção causada pelo protozoário
Trypanossoma brucei. Ela é transmitida pela picada da mosca tsé-tsé, endêmica
do continente africano. Possui o estágio cutâneo, hemolinfático e do sistema
nervoso central (SNC). Cursa inicialmente com lesões de pele, febre
intermitente, cefaléia, calafrios, edema transitório, linfadenopatia e
meningoencefalite. O diagnóstico é realizado pela identificação do
microorganismo no sangue, linfonodo ou líquor ou por testes sorológicos. A
profilaxia consiste em evitar áreas endêmicas, proteção pessoal com roupas e
inseticidas. O tratamento é feito com Pentamidina, Eflortamitina e Melarsoprol.

8. LEISHMANIOSE

A Leishmaniose é uma zoonose causada pelos protozoários do gênero


Leishmania. Pode se apresentar como promastigota (encontrada no tubo
digestivo do vetor) ou na forma amastigota (intracelular obrigatória,
encontradas nas células do sistema fagocitário dos hospedeiros vertebrados). A
transmissão habitual se dá pela picada do vetor, insetos da espécie de
flebotomíneos. A leishmaniose pode ser tegumentar (cutânea, mucocutânea e
cutânea difusa), causada pelos protozoários L. mexicana, L. braziliensis e L.
tropica. Ou pode apresentar-se na forma visceral, causada pela L. donovani e L.
chagasi.

O período médio de incubação é de 2 meses, apresenta alta incidência e


letalidade, mormente em pacientes não tratados, desnutridos e
imunodeficientes. Geralmente, em regiões endêmicas, os casos de leishmaniose
canina antecedem os casos humanos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Nos cães, os sinais clínicos são de evolução vagarosa e início insidioso, quando
afetado pela forma visceral a doença é sistêmica e suas manifestações
sintomatológicas são dependentes do tipo de resposta imunológica
desencadeada. O quadro pode variar de um estado aparentemente sadio a um
terminal. Classicamente, o cão pode apresentar piodermite periorbital,
descamação e eczema localizados na região nasal e auricular, acompanhadas de
úlceras rasas. Em fase avançada da doença o animal pode apresentar
onicogrifose, esplenomegalia, linfadenopatia, alopecia, dermatites,
hiperqueratose e até óbito.

No homem, a enfermidade pode manter-se assintomática até a eclosão de um


quadro de imunossupressão, a sintomatologia baseia-se em: febre irregular e
prolongada, perda ponderal, anemia, tosse, distensão abdominal, diarreia,
vômitos, hemorragias, visceromegalias. Os sintomas relacionados à desnutrição
são desencadeados ao longo do curso da doença, e incluem edema periférico,
alopecia e alteração da pele e seus anexos.

O diagnóstico molecular através da utilização da reação em cadeia da polimerase


(PCR) possui ótima sensibilidade e especificidade. Logo, possui usabilidade para
diagnóstico e monitoramento de pacientes humanos durante e após o
tratamento. Além disso, é uma ferramenta indispensável para a identificação da
espécie do parasito. Entretanto, sua utilização em massa esbarra no empecilho
de seu custo elevado.

O tratamento da Leishmaniose humana é realizado mormente através da


administração diária de drogas antimoniais pentavalentes, com ótima eficácia
terapêutica. O Sistema Único de Saúde (SUS) fornece o medicamento que deve
ser administrado com controle rigoroso devido seus herméticos efeitos
adversos.

9. OUTRAS INFECÇÕES POR PROTOZOÁRIOS

A babesiose é uma zoonose transmitida por carrapatos, causada por Babesia


microcoti ou B. divergens. Os humanos se infectam ao serem picados pelos
carrapatos infectados ou por meio de transfusões sanguíneas. A maioria das
infecções é assintomática e os sintomas surgem depois de 1-4 semanas de
incubação. A doença em humanos é febril aguda, com mialgias, fadiga, anemia
hemolítica, icterícia e hemoglobinúria. Assim, o quadro clínico confunde-se com
o da malária. O diagnóstico na fase aguda é feito pelo encontro de parasitos em
esfregaços sanguíneos pelo método de Giemsa ou de Wright; na fase subaguda,
pode ser diagnosticada por pesquisa de anticorpos por imunofluorescência
indireta e ELISA e por pesquisa do parasito por PCR. Trata-se casos agudos com
a combinação de quinina/clindamicina ou atovaquona/azitromicina em casos
moderados. Casos mais graves estão sujeitos à diálise e à transfusão sanguínea.

Balantidiose ou Balantidíase é uma doença causada pelo protozoário ciliado


Balantidium coli, encontrada principalmente em países em desenvolvimento, em
áreas rurais, com saneamento precário, falta de tratamento de água e esgoto,

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irrigação de plantações com água contaminada e coleta de lixo inadequada. São


considerados fatores de risco para o seu desenvolvimento: contato com os
suínos e suas excretas; desnutrição; coprofagia; alcoolismo; e condições de
imunocomprometimento, podendo ser considerada uma doença oportunista. O
cisto passa pelo ambiente estomacal ileso, chegando até o ambiente colônico.
Nessa região, haverá o processo de desencistamento e a forma trofozoítica será
liberada. O trofozoíto se desenvolve e coloniza o intestino grosso do hospedeiro.
Pode se apresentar sob quatro principais formas: portadores assintomáticos;
pacientes com infecção crônica, com disenteria, náuseas, vômitos e cólicas;
pacientes com infecção fulminante, com úlceras e invasão da submucosa; e
pacientes com diarreias mucossanguinolentas, febre, náuseas, vômitos, astenia
e até hemorragia e perfuração intestinal. O diagnóstico é laboratorial para
encontro de cistos ou trofozoítos. Metronidazol e tetraciclinas constituem as
terapêuticas de escolha.

A ciclosporose é causada pelo Cyclospora cayetanensis, e está geralmente


associada ao consumo de água e de alimentos contaminados com oocistos. 30%
dos casos têm início súbito dos sintomas, os quais envolvem diarréia cíclica
(infecção de duodeno e jejuno), que pode persistir até 52 dias na ausência de
tratamento, fadiga, mal-estar, anorexia, náuseas, perda de peso e dores
abdominais. Em pacientes HIV positivo, a doença pode cronificar. Algumas
complicações apresentadas são doença biliar, colecistite, polineurite febril
aguda, síndrome da artrite reativa, e infecção pulmonar. A detecção laboratorial
deve ser realizada para confirmar diagnóstico, como a realização de esfregaços
e colorações. Casos clínicos devem ser tratados com antibióticos. Crianças e
imunocomprometidos devem usar a associação trimetoprima e sulfametoxazol,
e, em casos de alergia, recomenda-se uso de ciprofloxacina.

A cistoisosporose humana (C. belli) é mais frequente em regiões quentes onde


condições higiênicas são precárias, e é adquirida pela ingestão de água e/ou
alimentos contaminados. A doença envolve alterações na mucosa do intestino
delgado (atrofia das vilosidades e hiperplasia das criptas) com má absorção. Em
geral, as infecções são benignas e com resolução espontânea. Em casos muito
raros, os sintomas podem envolver febre, diarreia, cólicas, esteatorreia, vômitos,
náuseas, perda de peso, desidratação e astenia, além de eosinofilia. A doença é
mais grave em crianças e imunodeficientes. Em imunodeprimidos, há diarreia
secretória, aquosa e prolongada. Em pacientes com AIDS, há diarreia crônica,
persistente ou aguda, e síndrome de má absorção intestinal. O diagnóstico é
feito pelo encontro de oocistos nas fezes. O tratamento é realizado por
sulfametoxazol-trimetoprima, tendo metronidazol, sulfadiazina e pirimetamina
como outras opções.

Microsporídios são parasitos intracelulares obrigatórios, como Enterocytozoon


bieneusi (afeta intestino delgado, bexiga, fígado e pulmão), Encephalitozoon
intestinalis e hellem (disseminado), Nosema connori (disseminado), Nosema
ocularum e Vittaforma cornea (afetam córnea), Pleistophora sp. (afeta músculo
esquelético), e Trachipleistophora hominis (afeta músculo esquelético e tecido
nasal). A microsporidiose é uma doença emergente por causar infecções em

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pacientes com AIDS, transplantados, crianças, idosos, e viajantes, por exemplo.


As síndromes podem incluir enteropatia, conjuntivite, sinusite,
traqueobronquite, encefalite, nefrite intersticial, hepatite, osteomielite e
miosite, com diarréia crônica, má absorção e perda de peso sendo os principais
sintomas. O diagnóstico de rotina é feito por encontro dos organismos em
exames de microscopia óptica. O tratamento é limitado e são utilizados
albendazol e fumagilin. Vale ressaltar que, atualmente, esses microrganismos
antes eram conhecidos como protozoários, mas foram reclassificados como
fungos.

FÁRMACOS ANTIPROTOZOÁRIOS

1. ANFOTERICINA B

É um Antifúngico eficaz, embora tenha certa toxicidade, pertence a classe dos


polienos e tem amplo espectro de ação e eficácia entre candidíase, criptococose,
aspergilose, histoplasmose, blastomicose, coccidiomicose, mucormicose,
esporotricose, fusariose e outras feohifomicoses, além de ser fundamental para
o tratamento das infecções fúngicas, além da leishmaniose visceral e cutânea
também.

Seu mecanismo de ação não é totalmente conhecido, divide-se entre efeitos


sobre a membrana celular diretos e os intracelulares de indução de estresse
oxidativo. O 1º age sobre o ergosterol, causando formação de poros na
membrana que retiram dela a sua integridade, isso resulta também num efeito
tóxico para as células do patógeno, pois o ergosterol é essencial nos processos
celulares. Já o 2º, associado com formação de radicais livres e expressão dos
genes de estresse celular são mecanismos relatados, mas não completamente
elucidados. É um medicamento com ação pró-inflamação e apresenta também
um efeito imunomodulador, estimula ação de citocinas inflamatórias através do
receptor toll-like-2, promovendo resposta TH1

Os principais efeitos adversos conhecidos são a nefrotoxicidade (o mais comum),


hipopotassemia e supressão da medula óssea. Essa nefrotoxicidade é mediada
principalmente pela apoptose, considerado o principal risco dessa terapia. Já a
supressão é manifesta principalmente pela anemia.

Existem 2 apresentações para a anfotericina: na forma padrão(desoxicolato) ou


a base de lipídios, sendo esse segundo usado para reduzir a nefrotoxicidade.
Então vários “veículos lipídicos” são usados, ressaltando complexo lipídico de
anfotericina B e Anfotericina B lipossomal, tendo esses preferência em relação a
anfotericina b convencional, por causar poucos sintomas relações a toxicidade
mencionada e com a infusão. A redução dessa toxicidade pode ser por vários
mecanismos, por exemplo no caso da lipossomal, a captação preferencial de L-
Ambpelos macrófagos do fígado e baço do sistema reticuloendotelial e a baixa
concentração, relacionada também com a alta expressão de receptores HDL é
uma forma de reduzir essa toxicidade.

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2. EFLORNITINA

A eflornitina (α-D, L difluorometilornitina, DFMO) tem efeito anti-tripanossoma


ao inibir irreversivelmente a ornitina descarboxilase, enzima limitante na
produção de poliaminas. Com isso, impede-se a síntese de putrescina, um
precursor das poliaminas necessário para a divisão celular. A eflornitina é usada
no tratamento do estágio final da tripanossomíase africana ocidental causada
pelo T. brucei gambiense. O regime terapêutico normalmente empregado é 100
mg/kg administrados por via intravenosa a cada 6 h, como uma infusão de 2 h
durante 14 dias. Dor abdominal, branda ou moderada e cefaleia são as queixas
predominantes seguidas por reações nos locais da injeção. Infecções teciduais e
pneumonia também já foram relatadas em pacientes tratados com eflornitina.
Apesar disso, geralmente os efeitos adversos desaparecem quando retirado o
medicamento.

Os regimes terapêuticos de melarsoprol, comparados com a eflornitina, foram


associados a maior mortalidade e maior recidiva (inaceitavelmente alta) entre os
pacientes tratados para tripanossomíase gambiana em estágio avançado. Com
isso, confirmou-se que a eflornitina é mais segura do que o melarsoprol, mesmo
quando usada na prática rotineira. Em particular, o regime de curto prazo teve
um desempenho ruim. Outro achado positivo sobre a eflornitina foram as taxas
de cura em 2 anos de 97% utilizando eflornitina, enquanto a taxa de cura foi de
86-95% para melarsoprol no tratamento da tripanossomíase africana, além de
que a eflornitina demonstrou-se mais segura e menos associada a mortes e
eventos adversos durante o tratamento. Entretanto, não foi encontrada
diferença estatística em 1 ano após o tratamento, sugerindo que a eflornitina é
mais adequada do que o melarsoprol para tratar novos casos de tripanossomíase
gambiana em estágio avançado.

Outro aspecto importante no tratamento da tripanossomíase africana é a


possibilidade de combinar a eflornitina a Nifurtimox (NECT). Constata-se que a
eficácia do NECT não é inferior à monoterapia com eflornitina padrão, além de
que a administração de NECT é mais fácil e requer menos recursos hospitalares
do que a monoterapia com eflornitina. O regime desta última requer quatro
infusões lentas diárias por 14 dias, contabilizando um total de 56 infusões,
tornando-se desgastante para os pacientes. Já o NECT requer apenas 14 infusões
lentas administradas a cada 12 horas por uma semana e tratamento oral com
nifurtimox por 10 dias. Além disso, os efeitos adversos relatados pelos pacientes
foram leves e sem complicações, quando comparado com a monoterapia com
eflornitina e melarsoprol.

3. ESTIBOGLICONATO DE SÓDIO

O estibogliconato de sódio é um composto antimonial pentavalente que possui


ação antileishmaniótica. Essa substância comporta-se como pró-fármaco, que é
reduzido a um composto tóxico capaz de destruir formas amastigotas dos
macrófagos do hospedeiro humano. Seu mecanismo de ação é desconhecido,
contudo há indícios que seja mediado pela indução a um vigoroso efluxo de

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tripanotiona e glutationa, além de inibição da tripanotiona redutase,


ocasionando perda do potencial de redução por tióis nas células.
A farmacocinética do estibogliconato de sódio mostra equivalência entre a
administração intramuscular ou intravenosa e ineficiência via oral. Sua
distribuição é rápida e a eliminação ocorre em duas etapas, das quais a segunda,
muito mais demorada, representa a conversão à forma tóxica do antimonial

A aplicação clínica principal do estibogliconato de sódio é para o combate da


infecção leishmaniótica. Para a doença cutânea, são administrados 20 mg/kg/dia
durante 21 dias. Já para a leishmaniose visceral, são administrados 20 mg/kg/dia
por um período de 28 dias. Devido aos mecanismos de resistência ao fármaco,
em algumas localidades, doses maiores podem ser necessárias. As crianças
toleram bem o estibogliconato de sódio e, por isso, recebem as mesmas doses
dos adultos

Os efeitos colaterais do medicamento aumentam com o tempo da terapia.


Dentre esses efeitos, podem ser citados sintomas gastrintestinais, febre,
cefaléia, mialgias, artralgias e exantemas. As injeções intramusculares costumam
ser muito dolorosas, além de causarem abscessos estéreis com frequência.
Também podem ser encontradas alterações eletrocardiográficas, que costumam
ser reversíveis, como alterações de onda T e QT longo. Por isso, a terapia com
estibogliconato de sódio deve ser acompanhada de exames eletrocardiográficos
periódicos. Efeitos graves, como anemia hemolítica, efeitos hepáticos, renais e
cardíacos não são comuns.
4. 8-HIDROXIQUINOLINAS

O grupo das 8-hidroxiquinoleínas halogenadas é composto pelo iodoquinol


(diiodoidroxiquina) e pelo clioquinol (iodocloridroxiquina).

Em 1983, o uso do clioquinol como agente luminal foi retirado devido à sua alta
neurotoxicidade. Já o iodoquinol, por ser mais seguro, é o único entre ambos que
está disponível para uso oral nos EUA. Trata-se de um amebicida luminal eficaz,
mas com dados farmacocinéticos incompletos. Ao que se sabe, 90% do fármaco
fica retido no intestino, sendo excretado nas fezes, enquanto o restante é
absorvido para a circulação sanguínea (meia-vida de 11 a 14 horas), sendo
excretado na urina como glicuronídeos.

Atualmente, como agente luminal no tratamento de amebíase, o iodoquinol é


visto como uma alternativa razoável à paromomicina, que apresenta um perfil
superior em se tratando de eventos adversos. Ademais, esse fármaco é utilizado
juntamente com o metronidazol no tratamento de colite amebiana ou abscesso
hepático amebiano, mas pode ser usado como um agente isolado em indivíduos
assintomáticos com infecção por E. histolytica. O medicamento é eficaz contra os
organismos no lúmen intestinal, mas não contra trofozoítos na parede intestinal
ou em tecidos extraintestinais.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A posologia recomendada para adultos é de 650 mg, por via oral (VO), 3
vezes/dia, durante 20 dias, ao passo que crianças devem receber a dosagem de
10 mg/kg de peso corporal, VO, 3 vezes/dia durante 20 dias. Sua administração
deve ser realizada com as refeições para limitar a toxicidade gastrintestinal. É
importante ressaltar que a dosagem nunca pode exceder 2 g/dia e nunca por
mais de 20 dias, a fim de evitar, efeitos adversos importantes.

Os efeitos adversos são raros quando a posologia recomendada é respeitada,


incluindo: diarreia (geralmente cessa após alguns dias), anorexia, náuseas,
vômitos, dor abdominal, cefaleia, exantema e prurido. Entretanto, a
administração de altas doses representa um importante risco para a saúde do
paciente. A reação tóxica mais importante (relacionada com o clioquinol,
principalmente) se trata da neuropatia mielóptica subaguda. Outra importante
afecção, porém, de menor gravidade, relacionada à neurotoxicidade desse
fármaco é a neuropatia periférica. Além dessas reações, foi relatado que altas
doses de iodoquinol em crianças com diarréia crônica foram associadas a atrofia
óptica e cegueira permanente. Por esse motivo, as 8-hidroxiquinoleínas devem
ser usadas com cautela em pacientes com neuropatia óptica, doença renal e
tireoidiana, ou doença hepática não amebiana. O iodoquinol pode ainda
aumentar o iodo sérico ligado à proteína, causando redução na captação medida
de 131I, persistindo por meses, sendo contraindicado nos pacientes com
intolerância ao iodo.

O medicamento deve ser suspenso quando produzir diarreia persistente ou sinais


de intoxicação por iodo (dermatite, urticária, prurido, febre). Recomenda-se não
usar em mulheres grávidas a menos que o benefício para a mãe supere o risco
potencial para o feto. No caso de amamentação, esta deve ser suspensa.

5. MELARSOPROL

O melarsoprol é um arsenical trivalente bastante usado na primeira linha do


processo terapêutico da tripanossomíase da África Oriental de estágio avançado
no sistema nervoso central, sendo também a terapia de segunda linha para a
tripanossomíase avançada da África Ocidental.

Após o fármaco ser administrado de forma intravenosa, o melarsoprol é


excretado rapidamente, porém as concentrações com maiores relevâncias
clínicas são acumuladas no sistema nervoso central em um prazo de quatro dias.
O fármaco é administrado por infusão venosa lenta em uma dosagem de
3,6mg/kg/dia durante 3 a 4 dias, seriado repetidamente em intervalos semanais,
se for necessário. Uma nossa forma de 2,2 mg/kg/dia durante 10 dias teve uma
eficácia e uma toxicidade próximas às percebidas com três séries durante 26
dias.

O melarsoprol é bastante tóxico. O emprego deste fármaco devido a toxicidade


é justificado pela gravidade da tripanossomíase avançada e pela falta de
disponibilidade de alternativa, apenas. Os efeitos colaterais imediatos incluem
febre, dor abdominal, febre e artralgias. A toxicidade que retrata maior

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

importância é uma encefalopatia reativa presente nas primeiras semanas de


tratamento, sendo presente em 5 a 10% nos pacientes, causada, provavelmente,
pela ruptura dos tripanossomos no sistema nervoso central. As consequências
mais comuns da encefalopatia incluem edema cerebral, convulsões, coma e
morte. Outras toxicidades graves são: doença renal e cardíaca e reações de
hipersensibilidade.

6. METRONIDAZOL E TINIDAZOL

O metronidazol é um fármaco inativo que será reduzido e ativado nos parasitos


intestinais, sendo seletivo para amebas e microorganismos anaeróbios.

Seu mecanismo de ação consiste na inibição da síntese de ergosterol, substância


essencial na formação de membranas de fungos e protozoários, e na lesão direta
ao DNA dos anaeróbios (exemplos: Bacterioides fragilis).

Não se deve ingerir bebida alcoólica durante o tratamento devido ao risco de


ocorrência do efeito sulfiram, na qual o aumento do acetaldeído no sangue pode
causar mal-estar, náuseas e vômitos.

A posologia do medicamento irá variar de acordo com o parasito suspeito, sendo


principalmente receitado para atuar contra Entamoeba histolytica, Giardia
lamblia e Tricomonas vaginalis.

O tinidazol é relacionado ao metronidazol quimicamente e possui efeito contra


diversas protozooses. O mecanismo de ação deste fármaco ainda não está bem
esclarecido, porém tudo indica que seja semelhante ao do Metronidazol. A
principal diferença é no melhor perfil de toxicidade deste em relação àquele.
Além disso, seus regimes de doses são mais simples, com ciclo terapêutico mais
curto. No entanto, sua desvantagem é a ineficácia como luminicida intestinal
contra infecções por amebas neste sítio. Suas principais contra-recomendações
são a utilização no primeiro trimestre da gravidez, aleitamento materno e
crianças menores de 3 anos. Suas principais indicações clínicas de uso são as
mesmas que as do Metronidazol.

7. MILTEFOSINA

A miltefosina é um alquilfosfocolina mormente desenvolvida para o tratamento


antitumoral, entretanto, o fármaco tem sido utilizado para a terapêutica da
leishmaniose por conta de sua possível administração oral, o que não é uma
possibilidade em quimioterapias baseadas em qualquer outros fármacos
leishmanicida. Estudos experimentais in vitro e in vivo demonstraram que a
miltefosina possui eficácia no combate das infecções por L. donovani,
protozoário causador da leishmaniose visceral, ou calazar, como é popularmente
conhecida a doença;
O mecanismo de ação do medicamento é hermético e não está inteiramente
elucidado. Projeta-se que a síntese de lipofosfoglicono (LPG) e glicoproteína 63

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(gp63) está inibida em parasitas tratados com a miltefosina. O que poderia


ocorrer pela inibição da enzima 1-acil-2-liso-glicero-3-fosfocolina aciltransferase
em promastigotas expostas a variadas concentrações do fármaco em questão.
Entretanto há outras hipóteses sobre sua ação sobre o parasita: é possível que
assim como funciona em sua usabilidade original, o fármaco induza as células do
protozoário à apoptose e altere as vias de sinalização celular mediada por
lipídeos. Como em camundongos imunodeficientes o fármaco apresentou
atividade antitumoral e leishmanicida, acredita-se que sua atividade não esteja
relacionada à imunomodulação, como já foi sugerido na literatura.

Geralmente a miltefosina é administrada associada a outros medicamentos,


como a Pentamidina. WYREPKOWSKI et al. (2020) evidenciou a eficácia do
medicamento na terapêutica da leishmaniose, inclusive do tipo cutânea causada
pelo L. braziliensis, entretanto o medicamento não é a quimioterapia de escolha
para leishmaniose cutânea. Já em BRAGA et al. (2016) o tratamento com
miltefosina possui eficácia contra a Leishmaniose Tegumentar, causada pela L.
amazonensis, principalmente quando o fármaco está associado a outras drogas,
inclusive, a susceptibilidade de outras espécies à ação do fármaco foi elucidada;
A associação de miltefosina e tamoxifeno, pentoxifilina ou fototerapia trouxe
uma maior eficácia do que a monoterapia química, entretanto, o tratamento
com miltefosina não afetou significativamente a parasitemia e o tamanho das
lesões cutâneas em ratos. Segundo ARAÚJO et al. (2018) o tratamento com
Miltefosina em associação com alopurinol e domperidona possui eficácia no
controle da apresentação clínica, depressão da parasitemia, demonstrando uma
boa alternativa para o tratamento da leishmaniose visceral canina.

A miltefosina é absorvida de maneira lenta pelo trato gastrintestinal dos


indivíduos, e possui uma biodisponibilidade de 82% em ratos e 94% em cães, é
metabolizada principalmente por fosfolipase D sendo completamente eliminada
por essa via, porém de maneira lentificada, com uma meia vida de 7,05 dias. Os
efeitos adversos do fármaco estão relacionados ao sistema gastrintestinal,
levando a vômitos e diarréias, ademais, também podem causar alterações nos
níveis sanguíneos de transaminases e elevar a uremia e creatinemia.

8. NIFURTIMOX E BENZNIDAZOL

O nifurtimox e o benzonidazol atuam contra formas tripomastigotas e


amastigotas de T.cruzi, sendo que o nifurtimox apresenta atividade também
contra T.brucei. Esses fármacos são ativados por uma nitrorredutase
mitocondrial dependente de NADH, o que resulta em geração intracelular de
radicais nitroaniônicos, os quais são responsáveis por efeitos tripanocidas. A
transferência de elétrons feita a partir do fármaco ativado regenera o
nitrofurano nativo e forma radicais aniônicos superóxidos e espécies reativas de
oxigênio, a exemplo do peróxido de hidrogênio e do radical hidroxila,
intracelulares, tóxicos ao parasita. A reação dos radicais livres com
macromoléculas celulares gera lesões celulares, como a peroxidação dos
lipídeos, a lesão da membrana, a inativação enzimática e a lesão do DNA. Os

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

tripanossomos carecem de catalase e outras enzimas capazes de degradar essas


espécies reativas de oxigênio.

O nifurtimox é bem absorvido após a administração oral, com pico de seus níveis
plasmáticos após aproximadamente 3,5 horas. Mesmo assim, há somente baixas
concentrações do fármaco no plasma e menos de 0,5% da dose é excretada na
urina. Já a meia-vida de eliminação é de cerca de 3 horas, apenas. Contudo,
relatam-se altas concentrações de vários metabólitos não identificados e o
nifurtimox sofre uma rápida biotransformação, possivelmente por meio de um
efeito de primeira passagem pré-sistêmico.

O nifurtimox e o benzonidazol são empregados no tratamento da


tripanossomíase americana (doença de Chagas), causada pelo T.cruzi. Por
questões de toxicidade, o benzonidazol é o tratamento preferido. Ambos os
fármacos reduzem de forma significativa a parasitemia, a gravidade e a
letalidade da doença de Chagas aguda, com curas parasitológicas em até 80%
desses casos. A cura parasitológica é obtida com um resultado de PCR negativo
e com testes sorológicos para o parasito. Na forma crônica da doença, as curas
parasitológicas são ainda possíveis em até 50% dos pacientes, sendo o fármaco
menos eficaz do que no estágio agudo.

Recomenda-se que os pacientes com menos de 50 anos de idade com doença de


fase aguda ou de fase crônica recente, sem cardiomiopatia avançada, sejam
tratados. Em pacientes com mais de 50 anos de idade, o tratamento é opcional
por causa da menor tolerabilidade ao fármaco por esse grupo, com dosagem de
5 mg/kg/dia durante 60 dias. A terapia é fortemente recomendada para
pacientes que receberão tratamento imunossupressor ou que são HIV positivos.
No caso de pacientes com doença de fase crônica tardia (duração maior que 10
anos) com cardiomiopatia avançada, a cura parasitológica é menos provável e o
consenso é de não tratar estes pacientes. Contudo, a decisão de tratá-los deverá
ser tomada com base em cada indivíduo. O tratamento com nifurtimox ou
benzonidazol deverá ter início prontamente após a exposição ao risco de
infecção por T.cruzi em acidentes de laboratório ou por transfusões sanguíneas.
Ambos os fármacos são administrados por via oral.

Os esquemas de tratamento são os seguintes:

Para o nifurtimox, os adultos (mais de 17 anos de idade) com infecção aguda


devem receber 8-10 mg/kg/dia, em 3-4 doses durante 90-120 dias; crianças de
1-10 anos de idade devem receber 15-20 mg/kg/dia, em 3-4 doses durante 90
dias; jovens entre 11-16 anos de idade recebem a dose diária de 12,5-15 mg/kg,
administrados de acordo com o mesmo esquema.

Quanto ao benzonidazol, o tratamento recomendado para maiores de 13 anos é


de 5-7 mg/kg/dia, em duas doses durante 60 dias, e as crianças de até 12 anos
recebem 10 mg/kg/dia. Pode haver irritação gástrica e perda ponderal durante
o tratamento. Se houver perda ponderal, a dose deve ser reduzida. A ingestão

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de álcool deve ser evitada durante o tratamento, visto que a incidência de efeitos
adversos pode aumentar.

As crianças são mais tolerantes que os adultos, e os efeitos adversos


relacionados ao fármaco são comuns. Eles variam de reações de
hipersensibilidade (dermatite, febre, icterícia, infiltrados pulmonares e
anafilaxia) a complicações dependentes da dose e da idade relacionadas
principalmente ao trato gastrointestinal e aos sistemas nervosos periférico e
central. Náuseas e vômitos são comuns, além de mialgias e de fraqueza. A
neuropatia periférica e os sintomas gastrintestinais são especialmente comuns
após tratamentos prolongados. Dores de cabeça, distúrbios psíquicos,
parestesias, polineurites e excitabilidade do SNC são menos frequentes.
Também são relatados leucopenia e redução da contagem de espermatozoides.
Por causa da gravidade da doença de Chagas e da falta de medicamentos
melhores, há mínimas contraindicações absolutas ao uso desses fármacos.

9. NITAZOXANIDA

A nitazoxanida (N-[nitrotiazolil] salicilamida) é um agente antiparasitário oral de


amplo espectro desenvolvida, inicialmente, para o combate à teníase
verificando-se, após estudos, que possuía, similarmente, eficácia contra certos
helmintos e protozoários intestinais.
Seu mecanismo de ação consiste na inibição da transferência de elétrons,
dependentes da enzima piruvato oxidoredutase (PFOR), enzima essa, que é
essencial para o metabolismo anaeróbico de protozoários e bactérias.
A nitazoxanida apresenta efeito amplo contra diversos patógenos, dentre eles os
protozoários citando, por exemplo, a G.intestinalis e E.histolytica, entre outros.
Possui também ação contra os helmintos, como o Ascaris lumbricoides,
Enterobius vermicularis e Ancylostoma duodenale, podendo também ser
utilizada no combate de algumas bactérias anaeróbicas, como o Clostridium.spp
e H.pylori.

Além disso, possui excelente biodisponibilidade após a dose oral, atingindo


concentrações plasmáticas máximas entre 1 e 4h após administração. Seu
metabólito ativo é a tizoxanida, que se encontra ligada às proteínas plasmáticas,
sendo excretada na urina, bile e fezes.

A administração da nitazoxanida é feita pela via oral, e sua indicação é dirigida


ao combate de helmintíases, amebíases, giardíases e gastroenterites causadas
por rotavírus. Sua dosagem é de 500 mg a cada 12 horas, durante 3 dias
consecutivos. Para crianças, de idade entre 12-47 meses, indica-se a utilização
de 100 mg a cada 12 horas, durante 3 dias consecutivos. Crianças de 4-11 anos
devem utilizar 200mg a cada 12 horas durante 3 dias consecutivos.

Os efeitos colaterais adversos são raros, tal como dor abdominal, diarréia,
vômitos e cefaléia.

10. PAROMOMICINA

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A paromomicina é um antibiótico da classe dos aminoglicosídeos, recomendado


comumente para o combate da E.Histolytica. Atua diretamente na subunidade
ribossômica 30S do patógeno, inibindo sua síntese proteica.

A administração típica é a oral e a indicação restrita ao combate de infecções do


trato gastrointestinal, uma vez que esse fármaco não é absorvido, sendo
excretado, em sua totalidade, nas fezes. Pode também ser empregada na forma
tópica, no combate à tricomoníase e, na apresentação parenteral, contra a
leishmaniose visceral.

Para a remissão da colonização intestinal por E.Histolytica é o fármaco de


escolha, devendo ser associado ao Metronidazol, nos casos de colite amebiana
e abcesso amebiano hepático.

A posologia indicada para adultos e crianças consiste em 25-35mg/kg/dia,


fracionadas em 3 doses, durante 5 a 10 dias.

Seus efeitos adversos são raros, consistindo em dores e cólicas abdominais,


epigastralgia e vômitos.

Devido à contraindicação do uso de metronidazol, nos primeiros três meses de


gestação, a paromomicina pode ser prescrita para o combate da giardíase em
gestantes.
11. PENTAMIDINA

A pentamidina é uma diamina aromática de carga positiva. O medicamento


contou com grande utilidade clínica, por causa da sua relativa estabilidade,
toxicidade mais baixa e facilidade de administração. É um agente de amplo
espectro com atividade contra diversas espécies de protozoários patogênicos e
alguns fungos. É ativa contra uma variedade de infecções causadas por
protozoários, como a tripanossomíase africana que conta como agente
etiológico o Trypanosoma brucei gambiense, para qual o medicamento deve ser
usado no primeiro estágio da doença, ainda sem comprometimento do sistema
nervoso central, e deve administrado por injeção intramuscular em doses únicas
de 4 mg/kg/dia durante sete dias. A pentamidina é também uma escolha
alternativa para o tratamento e conduta profilática de Pneumocystis jirovecii,
fungo semelhante à levedura. Pode ser utilizada também na terapêutica da
leishmaniose.

Do ponto de vista farmacodinâmico, não há na literatura esclarecimento pleno


sobre o mecanismo de ação da pentamidina. Sabe-se que o protozoário T. brucei
concentra o fármaco através de um sistema de captação por alta afinidade de
energia. Há evidências de que esse interfira na síntese do material genético do
parasita (RNA e DNA), além de comprometer a formação de fosfolipídios e
proteínas.

Página 37
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Já, a farmacocinética do fármaco é bem conhecida e estudada. Ao ser


administrada por via intramuscular ou intravenosa como estratégia terapêutica
da pneumonia causada pelo P. jirovecii e da tripanossomíase, a medicação é
distribuída amplamente e concentra-se no fígado, nos rins, nas suprarrenais, no
baço e nos pulmões. Uma vez que o fármaco é incapaz de atravessar a barreira
hematoencefálica, esse mostra-se ineficaz para uma proposta terapêutica do
segundo estágio da tripanossomíase. Esse, tampouco, sofre processo de
biotransformação endógena e sua excreção é feita de forma lenta através do
trato urinário.

Como toda substância biologicamente ativa, a pentamidina apresenta efeitos


adversos quando administrada. Dentre as condições observadas, algumas das
que merecem observação são: disfunção renal (reversível com a descontinuação
do fármaco como escolha terapêutica), hiperpotassemia, hipotensão,
pancreatite, diabetes e hipo/hiperglicemia.

12. SURAMINA

A suramina é um fármaco utilizado majoritariamente no tratamento da


tripanossomíase africana, uma vez que esse não apresenta utilidade terapêutica
contra a forma americana da doença. Além de contar um efeito antiparasitário,
a droga também apresenta efeitos antineoplásicos, sendo, portanto, alvo de
estudos e revisões.

Quanto ao mecanismo de ação do fármaco, a etiologia da ação tripanocida não


é conhecida. Sabe-se que provavelmente a toxicidade seletiva gerada pela droga
é gerada pela capacidade do parasito em captar o fármaco na sua forma
conjugada a proteínas, evento o qual é dinamizado pelas lipoproteínas de baixa
densidade. Após ser fagocitado, o medicamento compromete uma série de
reações endógenas do parasito. Há a inibição da serina oligopeptidase do citosol
do hospedeiro, ocorre também a inibição da da diidrofolato redutase, timidina
cinase e várias enzimas glicolíticas.

Do ponto de vista farmacocinético, a suramina deve ser administrada no


paciente pela via intravenosa, uma vez que essa não é absorvida pela
administração oral e para evitar comprometimento tecidual com injeções
intramusculares e subcutâneas. O fármaco não conta com significativos
processos de biotransformação e o processo de depuração é majoritariamente
renal, cerca de 80%. A natureza molecular da suramina compromete a passagem
dessa pela barreira hematoencefálica, dessa forma, quase não assume o
conteúdo liquórico, sendo, portanto, ineficaz para o tratamento de estágios
avançados da tripanossomíase.

Em relação ao esquema terapêutico, a suramina é administrada por injeção


intravenosa lenta em solução aquosa a 10%. Já, a dose única normalmente
utilizada em adultos com infecção por T. brucei rhodesiense é de 1 g. A dose
pediátrica é de 20 mg/kg, administrados de acordo com o mesmo esquema.
Pacientes os quais não se mostrarem em bom estado devem ser tratados com

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

doses mais baixas durante a primeira semana. Os pacientes que apresentam


recaídas após o tratamento com suramina deverão ser tratados com
melarsoprol.

O fármaco apresenta efeitos adversos, os quais variam de intensidade e


frequência de apresentação nos pacientes. Vômitos, choque e perda da
consciência são considerados efeitos adversos raros, todavia, devem ser
avaliados conforme a condição clínica do paciente. Já, mal-estar, náuseas e
fadiga são condições mais frequentemente observadas, contudo, ainda devem
ser tratadas de forma individualizada para assegurar uma boa escolha
terapêutica para o paciente.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão de literatura com base em artigos de língua inglesa
da base de dados PUBMED. Para os critérios de inclusão foram utilizadas as seguintes
palavras-chave: “pharmacological therapy AND protozoa”. Além disso, os seguintes
filtros foram selecionados: “free full text”, “systematic review” e “5 years”. Ao fim da
pesquisa, foram encontrados 28 artigos, os quais compuseram a base de informação do
estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A anfotericina B tem ação contra candidíase, criptococose, aspergilose, histoplasmose,


blastomicose, coccidiomicose, mucormicose, esporotricose, fusariose e outras
feohifomicoses, além da leishmaniose visceral e cutânea, enquanto a eflornitina tem
efeito anti-tripanossoma. Já o estibogliconato de sódio tem ação antileishmânica e o
melarsoprol é a primeira linha do processo terapêutico da tripanossomíase da África
Oriental de estágio avançado no sistema nervoso central.
O metronidazol e o tinidazol são fármacos polivalentes que possuem ação contra
diversas protozooses, enquanto a miltefosina possui ação antileishmânica. Já o
nifurtimox e o benznidazol agem contra a tripanossomíase. A nitazoxanida possui amplo
espectro e atua em diversas protozooses e a paromomicina pode fazer parte da terapia
contra a amebíase. A pentamidina também possui ação antitripanossômica, bem como
a suramina. Esses fármacos contituem a linha de frente no combate às protozooses mais
comuns na população em geral.

CONCLUSÃO

Este estudo apresentou caminhos e soluções para a terapia farmacológica das


protozooses. Ao longo da pesquisa, foi observado que uma análise aprofundada das
doenças causadas por protozoários requer não somente os estudos farmacológicos, mas
uma compreensão ampliada da epidemiologia de certa região e os fatores sociais ligados
à população estudada. Dessa forma, é indubitável que o combate a moléstias como o
mal de Chagas e a leishmaniose carecem de estudos multiprofissionais a fim de erradicar
o problema e garantir qualidade de vida à população.

Página 39
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 3

O PROCESSO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM


ODONTOLOGIA: REVISÃO DO PANORAMA DO
ENSINO NO BRASIL E NA BAHIA

Matheus Rocha Peregrino, Taís Mendes Araujo dos Santos, Ana Thaís
Motta dos Santos Fiuza, Matheus Santos Azevedo, Ritieli Mallagutti
Corrêa, Catarina Borges Gonçalves, Yasmim de Jesus Oliveira, Ivanessa
Ramos de Souza e Rafael dos Santos Souza

RESUMO: O processo de formação profissional reflete no aprendizado,


na forma de ensino, na estrutura curricular e habilidades que
constituem o futuro profissional. No Brasil, a Odontologia esteve
intimamente vinculada à Medicina, desde as sanções que buscaram
regulamentar a prática até o início desta como formação profissional
nas faculdades, se consolidando no decorrer de sua trajetória como
uma profissão liberal. O presente capítulo trata-se de um estudo do
tipo descritivo analítico, com uma abordagem quali-quantitativa. Os
resultados apresentam um processo de formação com constantes
transformações, que culminaram na melhoria da qualidade da matriz
curricular. Desse modo, o presente capítulo propõe analisar de forma
macro para microscópica o percurso do processo de formação
profissional no cenário brasileiro associado a dimensão dessa profissão
no estado da Bahia e sua articulação dentro da Universidade Federal
da Bahia.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

1. INTRODUÇÃO

O processo de formação profissional reflete no aprendizado, na forma de ensino, na


estrutura curricular e habilidades que constituem o futuro profissional. Esse processo no âmbito
da saúde é permeado por particularidades e características que culminam num modelo de
formação e consequentemente de atuação desse profissional. Segundo Campos et. al (2008),
este processo tem raízes no paradigma positivista, que influenciou o desenvolvimento científico
da saúde, tendo destaque para o modelo flexneriano que embasou o ensino médico e também
para outras profissões da área da saúde, como o da Odontologia, estabelecendo o ciclo básico
de disciplinas com enfoque teórico voltados para biologia e o ciclo profissional voltado para a
prática.
No Brasil, a Odontologia esteve intimamente vinculada à Medicina, desde as sanções
que buscaram regulamentar a prática até o início desta como formação profissional nas
faculdades. Então, nesse percurso, o termo dentista só tem registros a partir de 1800 e muitas
dificuldades foram encontradas para desfazer a ideia de que essa prática era rudimentar e
imprópria, mas que apenas carecia de formação e reconhecimento (MARTINS et al, 2013;
MAGALHÃES, 2016).
O processo de desvinculação da Odontologia da Medicina foi longo. Inicialmente, os
médicos não tinham interesse no ofício da arte dentária, mas, depois, surgiu a necessidade de
regularizar tais procedimentos, visto que aconteciam de forma grosseira e inadequada. Nesse
ínterim, o ensino odontológico é reconhecido como uma profissão e um curso de formação
superior, mas ainda vinculado às escolas médicas do Brasil. A formação profissional está
associada à consolidação dos cursos de Odontologia, permeada pelos mesmos contextos
históricos, sociais-culturais e econômicos (FERNANDES NETO, 2002).
Dentro desse contexto da trajetória da formação odontológica, o surgimento do
capitalismo foi ponto importante de transição, da odontologia ser considerado um trabalho
mecânico para um trabalho liberal. Essa constatação partiu de ser um ofício realizado por grupos
sociais superiores, e depois uma profissão que requisitava o nível universitário e exercida por
conta própria. É nesse âmbito, que as profissões liberais têm como característica em comum ser
um ofício que é prestigiado socialmente e valorizado, no sentido da necessidade/demanda
crescente que alimenta o mercado capitalista (NOGUEIRA, 2007).
Diante disso, a Odontologia detém particularidades no que tange ao seu
desenvolvimento, que, por meio da retrospectiva histórica de sua formação, integram uma
ferramenta importante para a compreensão acerca do papel que exerce na sociedade hodierna.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Desse modo, o presente capítulo propõe analisar de forma macro para microscópica o percurso
do processo de formação profissional no cenário brasileiro associado a dimensão dessa
profissão no estado da Bahia e sua articulação dentro da Universidade Federal da Bahia.

2. METODOLOGIA

Para a elaboração deste capítulo, tem como proposta metodológica um estudo do tipo
descritivo analítico, que segundo Fontelles e colaboradores (2010), envolve uma avaliação
aprofundada das informações coletadas em um estudo, com o objetivo de explicar um fenômeno
específico, realizando uma abordagem quali-quantitativa.
Inicialmente, foi feito um levantamento de fontes bibliográficas, no dia 30 de julho de
2021, na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) relacionadas à formação profissional na
Odontologia por meio das palavras-chaves selecionadas conforme os Descritores em Saúde
(DeCS): formação profissional, odontologia, cirurgião-dentista, currículo; utilizando o
operador booleano “AND”. Para a seleção dos artigos foi utilizado como critério de inclusão o
filtro “idioma-português”.
Durante o levantamento foram encontrados 90 artigos. A análise dos documentos
encontrados estruturou-se na leitura de seus resumos e na avaliação crítica pautada no
adequamento ou não desses aos objetivos propostos por este estudo, resultando na seleção de
20 produções. Além disso, a esses artigos, somaram-se outros documentos como leis, decretos
e manuais, necessários para o entendimento do tema proposto, selecionados para compor a
revisão de literatura.
A análise e tratamento dos dados é fundamentada na abordagem de categorização do
conteúdo proposta por Bogdon e Taylor (1975) por meio da identificação de temas, tópicos e
padrões relevantes (apud ANDRÉ, 1983). A apresentação dos dados consiste num construto de
interpretação dos dados quantitativos associado ao aporte do referencial teórico.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL:


PANORAMA GERAL

A princípio, o processo da formação profissional do dentista era regulado pela Medicina.


O título de dentista, durante o regime imperial, era concedido mediante aprovação de uma banca
àqueles que recebiam uma aprendizagem informal (fora da faculdade) e que exerciam a prática

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

artesanal. As bancas eram compostas por médicos que não tinham domínio da área e exigiam
requisitos sobre conhecimento de anatomia, fisiologia, patologia, anomalias dos dentes,
gengivas e arsenal instrumental, como consta no decreto nº 1.764 de 14 de maio de 1856. Diante
desse primeiro decreto, por mais que houvesse um controle por parte da Medicina, tal processo
criava um empecilho para o charlatanismo e ao livre exercício da Odontologia (FERNANDES
NETO, 2002).
Em 1884, por meio do decreto nº 9.311 de 25 de outubro, foram criados os primeiros
cursos de Odontologia anexos às faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia. A grade
curricular inaugural de Odontologia era formada pelas disciplinas de química, física, anatomia,
histologia, fisiologia, higiene da boca, clínica, prótese dentária, patologia, terapêutica dentária,
jurisprudência e deontologia dentária, sendo ministrada em três anos. (MOTT et al., 2008). Por
esse currículo-base estruturado, que permaneceu por seis anos, a prática do cirurgião-dentista,
segundo Samico (1992) apud QUEIROZ (2006), restringia o exercício do profissional a
extração e reposição dentária, contudo demonstra um cenário de evolução visto a exigência de
matrícula de candidatos aprovados em processo seletivo anterior associado à classe social que
detinha capital. Nesse sentido, o pontapé inicial de legitimação da Odontologia é caracterizado
pela exclusão de candidatos que anteriormente a exerciam, como pardos e analfabetos.
Nesse processo, segundo o acadêmico patrono da Academia de Odontologia do Estado
do Rio de Janeiro, Thales Magalhães (2016), os avanços tecnológicos chegaram ao Brasil pouco
a pouco e foram transformando também a prática odontológica: motores elétricos, anestesia
injetável, novos materiais restauradores, incrustações de ouro fundido, aparelhos removíveis de
grampo, antibióticos e resinas acrílicas. Além disso, livros foram traduzidos, a higiene passou
a ser aliada da prevenção e os serviços médicos expandiram com a presença de consultórios
dentários com mais autonomia.
Sucessivamente, após a abertura dos primeiros cursos de Odontologia, outros foram
criados, sendo, até o ano de 1917, 14 cursos da área, mesmo diante dos altos custos de instalação
de gabinetes dentários ou de locais adequados para o exercício clínico. Já em 1910, é criada a
Associação Central Brasileira de Cirurgiões Dentistas que, aliada ao reconhecimento das
faculdades, à defesa da profissão e à unificação das normas, atitudes e valores de conduta
profissional, contribuiu com a propagação da Odontologia e seu prestígio, além de auxiliar na
sustentação, junto às autoridades, de melhorias para a classe dos dentistas e para os cursos de
Odontologia (MOTT et al., 2008). O movimento pela emancipação da profissão, por sua vez,
desencadeou a independência do curso de Odontologia, que desvincularam-se da tutela das
escolas médicas em 1933 pelo decreto 23.512 de 28 de novembro (OLIVEIRA, 2014).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Anterior ao processo de federalização do ensino superior na década de 1950, tiveram


mais cursos, bem como alguns foram encerrados. Os cursos não encerrados foram incorporados
às universidades federais dos seus respectivos estados (Figura 1).

A regulamentação profissional, pela Lei nº 1.314 de 17 de janeiro de 1951, determinou


o exercício da profissão, permitindo somente habilitados por título em escolas de Odontologia
e sendo exigido o registro do diploma na Diretoria de Ensino Superior e anotação no Serviço
Nacional de Fiscalização da Medicina. Esse fato marca o reconhecimento oficial do Cirurgião
Dentista, passando a figurar como uma profissão de prestígio, aumentando, consequentemente,
a sua procura e propiciando a expansão tanto dos cursos como dos odontólogos (DE PAULA E
BEZERRA, 2003; OLIVEIRA, 2014).
Concomitante a esse processo de expansão, delineava-se as primeiras políticas de ensino
para a Odontologia, suscitada pela fundação da Associação Brasileira de Ensino Odontológico
(ABENO) em 1956 e incentivada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). Somado a isso, é destaque, no processo de formação, o estabelecimento do
currículo mínimo e a duração dos cursos superiores através do Conselho Federal de Educação,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

instituída em 1961, com a implementação do ciclo básico e o ciclo profissionalizante, traçando


um novo perfil do cirurgião-dentista (DIAS, 2011; QUEIROZ, 2006).
O curso da Faculdade Nacional de Odontologia, que era dado em 3 anos, passou para 4
anos a partir de 1948 (OLIVEIRA, 2016) e, em 1962, pela competência do Conselho Federal
de Educação (CFE), ficou estabelecido o novo currículo do cirurgião dentista em dois ciclos de
2 anos cada: o básico, formado pelas disciplinas de anatomia, histologia-embriologia,
microbiologia, patologia geral e buco-dental, farmacologia e terapêutica, materiais dentários e
dentística operatória, e o ciclo profissionalizante, contemplando a clínica odontológica, cirurgia
odontológica, prótese dentária, prótese buco-maxilo-facial, ortodontia, odontopediatria, higiene
e odontologia preventiva e odontologia legal (NETO, 2002).
Nesse ínterim, segundo Cruvinel e colaboradores (2010), a necessidade da formação
teórica do cirurgião-dentista deu origem a um ciclo de disciplinas básicas focadas na teoria “das
doenças”, sendo, na maior parte das vezes, reducionistas, mecanicistas e individualistas; e um
ciclo de “disciplinas curriculares” profissionalizantes que tinham como base as teorias de
aplicação dos conhecimentos, deixando a prática para as disciplinas laboratoriais.
Em contraponto, em 1982, a estrutura curricular visava a formação de um profissional
generalista nos cursos de Odontologia. Essa nova base curricular do ensino superior é suscitada
pela promulgação da Resolução nº4 de 3/9/1982, que, além de determinar a carga horária
mínima de 3.600 horas e de oito semestres de duração de curso, introduziu ao currículo matérias
das ciências sociais como antropologia, sociologia, psicologia e metodologia científica. Tal
contexto revela para uma direção divergente do modelo hegemônico do processo de saúde-
doença, o modelo biomédico, muito predominante à época. Diante desse princípio de ruptura
de modelo, o ensino de Odontologia, assim como de outros cursos da área da saúde, tem como
compreensão que o processo saúde-doença é socialmente determinado e não apenas aos
aspectos biológicos, cujas as discussões fomentadas pelas clínicas integradas, nos anos de 1970,
culminou na inserção do campo social ao novo currículo, tendo vigorado por vinte anos (LIMA,
2007; HADDAD & MORITA, 2006).
Novos parâmetros curriculares passaram a ser regulamentados a partir da Lei nº 9.394,
de 29/2/1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, apresentando como
pontos a destacar a extinção do currículo mínimo e a proposta de diretrizes curriculares. No
caso da área da saúde, as Diretrizes Curriculares Nacionais são determinadas em 2002, é
resultado também de transformações no Sistema de Saúde, dentro do contexto da Reforma
Sanitária. Nesse âmbito, a influência dessa conjuntura permitiu a flexibilização dos currículos
pelas Instituições de Ensino Superior, adequado à realidade local e regional, compartilhando

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

uma base comum para os cursos da saúde, bem como apresentando a necessidade na articulação
entre ensino, serviço e comunidade (DIAS, 2011).
As instituições públicas de ensino foram as principais responsáveis pelo crescimento da
formação em Odontologia até metade do século XX. Contudo, tal cenário passou a ser
modificado a partir da instalação dos cursos em entidades privadas. A ampliação da rede privada
substitui o protagonismo dos cursos de ensino superior público mediante a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (1961), cujo subsídios legais e financeiros foram alocados para
rede privada visando o processo de interiorização das faculdades. Segundo Lima (2000), no
período de 1996 a 2000, o número de cursos de Odontologia cresceu de 90 para 130, formando
mais de 11 mil profissionais por ano (DE PAULA E BEZERRA, 2003; WARMLING, 2009).
O aumento no número de cursos de Odontologia no Brasil seguiu crescendo, segundo
Martin e colaboradores (2018), e em 2015 apresentou 220 cursos de graduação, sendo 75%
destes em entidades privadas, ou seja, em quinze anos surgiram mais 90 cursos no país e a rede
privada passa a ter o monopólio da formação odontológica no Brasil. Nesse contexto, ainda é
fulcral a visualização dos dados por regiões tendo destaque para as regiões Sul e Sudeste do
país que concentram mais de 60% dos cursos, com 40 e 96 cursos respectivamente, em seguida
a região Nordeste com 43, a Norte com 22 e por último o Centro-Oeste com 19 (MARTIN et
al., 2018).

Página 49
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: MARTIN et. al., 2018.

3.2 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM ODONTOLOGIA NA BAHIA

Diante dos pontos supracitados, assim como no Brasil o primeiro curso de Odontologia
da Bahia foi criado em 1884 por decreto imperial, e funcionou anexo à Faculdade de Medicina
pelo período de 60 anos, de modo que, a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da
Bahia (FOUFBA) só veio a constituir-se em unidade autônoma em 1949. Nesse ínterim, no que
tange a formação profissional em Odontologia, na região do Nordeste, a Bahia é o estado com
maior número de cursos dessa área com 25% do total (Tabela 1), cujos 3 em universidades
públicas e 8 em faculdades/universidades privadas (MARTIN et al., 2018).
Na Bahia, a trajetória da formação profissional em Odontologia é adjacente às
transformações curriculares que aconteciam na Faculdade de Odontologia da UFBA,
principalmente nos períodos anteriores à regulamentação das Diretrizes Curriculares Nacionais.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A conjuntura da Reforma Sanitária foi um dos expoentes na sinergia entre os atores


institucionais, Universidade e Secretária de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), em que era
debatido sobre a modernização na área de recursos humanos em saúde. Isso se materializou no
estado pela criação do Centro de Desenvolvimento de Recursos Humanos (CENDRHU) da
SESAB em conjunto com a UFBA, cuja presença de atores institucionais da Universidade
compunha instâncias decisórias da SESAB, estabelecendo convênios entre a Secretaria e a
UFBA (DIAS, 2011).
No caso da Faculdade de Odontologia, nas décadas de 1970 a 1990, o processo de
reorientação na formação foi impulsionado pelo projeto nacional CAPES/ABENO/Kellog,
tendo como ponto principal mudanças do perfil do cirurgião-dentista. Nesse aspecto, o projeto
preconizava a valorização da Odontologia Social, que a partir desses preceitos a FOUFBA fez
alterações no currículo com a inserção da disciplina Odontologia Sanitária, ampliando a
discussão para a criação de clínicas extramurais, de modo a promover maior cobertura de
serviço, tendo nesse processo princípios da atenção primária à saúde que vinha sendo abordado
pela Odontologia Simplificada em oposição a Odontologia Flexneriana ou Científica na década
de 1970. Outra mudança notável na estrutura curricular é a inclusão do campo da Saúde
Coletiva, com ensino sobre políticas de saúde, planejamento, gestão e epidemiologia, e que
favoreceu na constituição da relação dos estudantes com os serviços de saúde, com visitas e
práticas sendo executadas dentro de distritos de saúde (DIAS, 2011).
Atualmente, a estrutura curricular da Faculdade de Odontologia da UFBA (Tabela 2)
tem como base as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2002, e desde esse período constituiu
uma comissão de caráter permanente para reestruturação do Projeto Político Pedagógico do
curso de graduação. A Faculdade de Odontologia vem planejando uma reestruturação de matriz
curricular ao passo que a Universidade participa de projetos da política nacional, como o
Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde II (PRÓ-SAÚDE II)
de 2008, no qual são desenvolvidas ações em comum com os cursos de Farmácia,
Fonoaudiologia, Nutrição, Odontologia e Psicologia. Somada a isso, a adesão ao Programa de
Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÙDE) em 2009, além do processo de reforma
que se almeja o projeto “Universidade Nova” (DIAS, 2011).
No contexto do curso de Odontologia, a discussão geradas pela implementação desses
projetos tem como pontos chaves da reestruturação a ampliação dos campos de prática na rede
pública municipal, visto que a expansão da rede privada passou a ocupar esses campos dentro
da rede pública na atenção básica; aproximação do ensino universitário com a comunidade, a
inserção do campo interdisciplinar e multidisciplinar, bem como motivar discussões

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

aprofundadas no âmbito do SUS, como a atenção básica e a integralidade da atenção à saúde e


fomentar a constituição do Sistema de Informação em Saúde Bucal da FO-UFBA. Nesse
sentido, destaca-se até então, a criação de seminários para discussões relacionadas ao campo
prático e pedagógico; a elaboração de Atividades Curriculares em Comunidade (ACCs -
atualmente Atividade Curricular em Comunidade e Sociedade - ACCS), desenvolvendo
trabalhos de pesquisas com estudantes do Programa Permanecer com foco na atenção básica.
Apesar de progressos, tais pontos ainda são empecilhos para a concretização da reformulação
curricular, devido a resistência interna de determinados departamentos, em vista respaldado por
um modelo de profissionalização liberal (DIAS, 2011).

Tabela 2: - Grade Curricular por Semestre do Curso de Odontologia da


Universidade Federal da Bahia

Fonte: Faculdade de Odontologia - FOUFBA.

Da mesma forma que o exercício da profissão odontológica passou por intensas


transformações no que tange seu reconhecimento e formação acadêmica, também podem ser

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

verificadas mudanças no perfil profissional e mercadológico, sobretudo como corolário das


demandas da sociedade (JÚNIOR et al., 2019). A exemplo disso, um estudo realizado com uma
turma da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em 2013, traçou então um perfil dos
alunos desse curso, sendo mais de 70% do sexo feminino, quase 70% desse grupo estudou todo
o ensino médio em escola privada, quase 80% dos discentes com computador em casa e no que
tange o início das atividades profissionais mais de 75% disseram que almejam trabalhar no setor
público e quase 70% deles pretendem fazer especialização (OLIVEIRA et al., 2013).
Nesse sentido, cabe recordar o massivo aumento do número de cursos de Odontologia
no Brasil nas últimas décadas principalmente pelas instituições privadas, que produziram um
quantitativo de cirurgiões-dentistas superior ao preconizado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) por habitantes, tendo ainda disparidades na distribuição desses profissionais entre
as regiões do Brasil e entre capitais e interiores (JÚNIOR et al., 2019). Somando isso ao
exemplo supracitado, fica evidente que o perfil dos estudantes de odontologia almeja, quando
profissionais, utilizar o trabalho desenvolvido na Atenção Primária como escada para alcançar
seu objetivo a longo prazo (consultório), deixando de lado as reais necessidades da sociedade e
buscando apenas o lucro e os direcionamentos do mercado (MATOS, 2006).

4. CONCLUSÃO

Diante dos fatos apresentados acerca dos aspectos relacionados à formação profissional
da Odontologia no Brasil, torna-se evidente que essa profissão passou por diversas e profundas
transformações no decorrer dos anos. A partir do estabelecimento do ensino superior em
Odontologia no ano de 1884, esse ofício passou por processo de elitização, haja vista que o
requerimento de exames, a duração de dois anos de curso e o pagamento de taxas e
mensalidades limitaram, em grande medida, o alcance dessa prática por parte das camadas mais
populares. De início, esse processo de formação profissional odontólogo era regulado pela
Medicina, mas o movimento pela emancipação da profissão desencadeou a independência do
curso de Odontologia da tutela das escolas médicas em 1933.
Concomitante a isso, é perceptível, no decorrer do processo de formação, uma melhoria
na qualidade da matriz curricular do curso, com a inserção maior de aspectos sociais e práticos.
Desde então, a Odontologia passou a figurar como uma profissão de prestígio, aumentando,
consequentemente, a procura para realização e propiciando a expansão tanto dos cursos como
de odontólogos. Nesse viés, cabe frisar o crescimento massivo do número de cursos de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Odontologia nas últimas décadas, sobretudo em instituições privadas, gerando um quantitativo


de cirurgiões-dentistas por habitantes superior ao preconizado pela OMS e desigualmente
distribuído pelo território nacional, em que se percebe uma nítida concentração desses
profissionais nas regiões Sul e Sudeste e nos centros urbanos das capitais.
Com isso, a prática odontológica está vinculada ao tipo de organização social em um
determinado período, sendo assim, consolidando-se como uma prática liberal durante o
processo do capitalismo no século XX na América Latina. Em suma, o elevado número de
cirurgiões-dentistas no Brasil, faz com que estes busquem nas especializações um espaço de
diferencial para o mercado de trabalho e iniciem suas carreiras no setor público, prospectando
apenas fregueses para serem liberais no futuro e fazendo da odontologia, nos termos de
Nogueira (2007), uma profissão liberal.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 4

ASPECTOS HISTÓRICOS DA ODONTOLOGIA:


BREVE REVISÃO DA HISTÓRIA DA ODONTOLOGIA
NO MUNDO E NO BRASIL

Taís Mendes Araujo dos Santos, Matheus Rocha Peregrino, Ana Thaís
Motta dos Santos Fiuza, Matheus Santos Azevedo, Ritieli Mallagutti
Corrêa, Catarina Borges Gonçalves, Yasmim de Jesus Oliveira, Ivanessa
Ramos de Souza e Rafael dos Santos Souza

RESUMO: A Odontologia surge junto com as primeiras dores do ser


humano e seu processo histórico no mundo e, mais especificamente no
Brasil, trilhou-se para o desvínculo desse conhecimento para com o da
medicina. Muitas foram as dificuldades para que a arte dentária fosse
reconhecida como profissão e ensina como tal em uma faculdade
independente. Nesse contexto, este capítulo trata-se de uma revisão
bibliográfica da literatura sobre os aspectos históricos da Odontologia
no mundo e no Brasil. E, diante disso, os resultados apresentam
diversos aspectos do desenvolvimento e crescimento, no decorrer da
história da humanidade, no que tange a odontologia que culminam no
seu cenário atual. Desse modo, o presente capítulo propõe analisar da
forma macro - no mundo - para microscópica - no Brasil - aspectos
históricos da Odontologia.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

O surgimento da Odontologia, assim como das demais profissões da área da saúde, está
intimamente associado às demandas sociais, apresentando como objeto de intervenção o
cuidado à saúde bucal e atuando na prevenção, diagnóstico e tratamento relacionados à mordida,
aos dentes e à gengiva. Assim como demais profissões regulamentadas, a Odontologia perpassa
por aspectos históricos, socioeconômicos desde do ensino até a atuação mediante a constituição
de um mercado de trabalho, que a consolidou nos tempos hodiernos como uma profissão de
prestígio (BOTAZZO, 2000; RAMOS, 2007).
A princípio, em sua trajetória histórica, evidencia-se que a prática era executada sem
nenhuma formação educacional, sendo feita pelos chamados “barbeiros” e pelas pessoas de
outras profissões, com o exercício restrito à remoção de dentes. Esta forma de prática vigorou
por muito tempo até a emergência de demandas por cuidados mais efetivos que solucionassem
os problemas dentários, principalmente os associados às complicações com à cárie. Nesse
escopo, destaca-se a evolução da Odontologia com o aprofundamento do conhecimento da
anatomia bucal, inserção de novas técnicas e uso de equipamentos, novo cenário revolucionado
pelo francês Pierre Fauchard (CARVALHO, 2003).
No Brasil, o vínculo da Odontologia com a Medicina se aprofundava, desde as sanções
que buscavam regulamentar a arte dentária até o início desta como ensino acadêmico. Nesse
percurso, o termo dentista só tem registros a partir de 1800 e a primeira escola de Odontologia
foi criada apenas em 1900 e muitas dificuldades foram encontradas para desfazer a noção da
odontologia como prática era rudimentar e imprópria, mas que apenas carecia de formação e
reconhecimento (MARTINS et al., 2013; MAGALHÃES, 2016).
Em suma, por meio da retrospectiva histórica da sua consolidação, integram uma
ferramenta importante para a compreensão acerca do papel que exerce na sociedade hodierna,
a partir de suas particularidades percebidas ao longo do seu desenvolvimento histórico. Desse
modo, o presente capítulo propõe analisar da forma macro - no mundo - para microscópica - no
Brasil - aspectos históricos da Odontologia.

1. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão sistemática de literatura, realizada no período de agosto a


novembro de 2021. A consulta das terminologias em saúde ocorreu através da ferramenta dos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), sendo eles: “História da Odontologia”;


“Odontologia”; “Dentista”; “Papel do Dentista” e “Brasil”. Inicialmente, buscou-se os
descritores de forma isolada, encontrando inúmeros artigos; posteriormente, agrupou-se os
descritores fazendo uso do Operador Booleano AND, para a filtragem das publicações. Destarte,
as bases de dados utilizadas foram: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Scientific Electronic Library
Online (SciELO) e Psicologia-Periódicos Científicos (INDEX). Somado ao portal de busca de
artigos científicos da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS).
Os critérios de inclusão utilizados para a seleção dos materiais foram: publicações na
íntegra; nos idiomas português, inglês e espanhol; e que abordassem como tema central aspectos
históricos da Odontologia no mundo e no Brasil independente do ano de publicação tendo como
critério de exclusão apenas produções que tangenciem a temática relacionada. Além da
utilização de outros documentos como leis, decretos e manuais, necessários para o
entendimento do tema proposto, selecionados para compor a revisão de literatura. Então,
durante o levantamento bibliográfico foram encontrados 40 artigos. A análise dos documentos
encontrados estruturou-se na leitura de seus títulos e resumos, bem como na avaliação crítica
pautada no adequamento ou não desses aos objetivos propostos por este estudo, resultando na
seleção de 15 produções.
A análise dos materiais selecionados ocorreu por meio de leituras repetitivas para
captura dos principais pontos trazidos em cada produção, de forma sistematizada e sintetizada,
refletindo no objetivo do capítulo proposto para, posteriormente, uma discussão crítica e
analítica das informações coletadas. Assim, após a leitura exploratória dos estudos
selecionados, foram elencados aspectos históricos da odontologia no mundo e no Brasil.

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ODONTOLOGIA NO MUNDO

A gênese da Odontologia ou Arte Dentária, como era referida em seus primórdios, data
registros de 3.500 a.C. na Mesopotâmia, com menções às dores de dente, às feridas gengivais e
ao verme causador da destruição dentária, o gusano dentário. Nesse contexto, estudos
antropológicos apontam que tanto a Medicina como a Odontologia dividem uma raiz histórica
convergente, surgindo quando o ser humano primitivo teve suas primeiras dores (BOTAZZO,
2000). Segundo Rosenthal (2001), essa fase é marcada pelo conceito mágico-religioso da saúde,
sendo empregado nas práticas relacionadas às enfermidades e dores que acometiam a sociedade

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

antiga. Por esse aspecto, pontua uma prática do cuidado dentário respaldado em crenças e
exercida por curandeiros e outros indivíduos da comunidade, a partir do uso de ervas, chás,
orações, entre outros (apud SILVA e SALES-PIRES, 2007).
Como afirma Gonçalves (1992, apud LIMA, 2007), neste período e até o início do século
XVIII, a intervenção pelo trabalho em saúde tinha como característica o tratamento de
associação a uma dada entidade, o que era respaldado pela concepção de doença dada pelo
Cristianismo. Na Grécia, por sua vez, a área odontológica é referida por Hipócrates, grande
representante da origem da Medicina, com registros de seus estudos sobre a doença da cárie,
abscessos e má oclusão, tendo descobertas na escritura romana acerca do emprego do ouro para
trabalhos dentários, partindo de estudos observacionais (LUCIETTO et. al, 2007).
É no Ocidente que a Odontologia irá se consolidar como um serviço e,
consequentemente, uma profissão regulamentada. Essa trajetória perpassa pelas transformações
econômicas, sociais e culturais que vinham acontecendo na Europa do século XVII-XVIII, cujo
modelo mercantilista é sucedido pelo capitalismo. Neste período, as evidências históricas
apresentam o desenvolvimento da Odontologia com maior conhecimento sobre a anatomia
bucal, criação de técnicas e cunho de termos como dentista e cirurgião-dentista. A publicação
"Traité des Dents”, em 1728, é a primeira obra que reúne um conhecimento especializado sobre
o tratamento das doenças dos dentes e da boca e as técnicas de reposição, do francês Pierre
Fauchard, considerado o “Pai da Odontologia” (CARVALHO, 2003).
Apesar do progresso no conhecimento na área, os serviços odontológicos ainda não
detinham de prestígio social como no caso da Medicina e Farmácia, que já tinham cursos de
ensino criados. A baixa estima da sociedade pela Odontologia se revela por uma percepção da
época, atribuindo o tratamento odontológico a um serviço artesanal e manual, de caráter
mecânico (SILVA e SALES-PIRES, 2007). Tal noção é reflexo da racionalidade científica que
se desenvolveu na época, principalmente pelo avanço da Medicina articulado por um modelo
mecanicista, e se estendeu desde os meios de produção e trabalho até a área da saúde (LIMA,
2007).
Outros aspectos relacionados à baixa procura eram a própria ausência de cuidado dos
indivíduos. De acordo com Woodforde (1968), a destruição dental precoce era naturalmente
aceita pela sociedade, sendo as buscas pelo serviço voltadas apenas para dar fim à dor
interminável causada por doenças e infecções. Nesse sentido, a demanda restrita culmina na
precarização dos serviços e também no desenvolvimento na área (apud CARVALHO, 2003).
Os serviços odontológicos tiveram uma demanda maior quando os problemas dentários
passaram a acometer todos os estratos sociais. As transformações na esfera social dos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

indivíduos, em especial dos hábitos alimentares, foram fatores determinantes nesse processo.
Nessa perspectiva, o avanço técnico, industrial e urbano propiciou a expansão da fabricação e
do consumo de produtos manufaturados, principalmente dos que continham sacarose, como o
açúcar (LUCIETTO et. al, 2007).
O consumo em massa do açúcar, segundo Carvalho (2003), foi um dos principais
responsáveis pela demanda crescente dos serviços odontológicos. A expansão dos cuidados
bucais coincide com a manifestação pandêmica da cárie no início do século XIX, atingindo a
população de forma mais severa, com a sintomatologia típica de dores fortes e deterioração dos
dentes mais rápidos. Dessa forma, a população passou a buscar serviços e profissionais mais
ágeis e qualificados para resolver a situação, impulsionando o desenvolvimento técnico e
científico da prática.
Concomitante a essa expansão de mercado consumidor, surge a proliferação de grupos
distintos de praticantes de odontologia, com ou sem qualificação. Dentre esses praticantes
estavam barbeiros, relojoeiros, ourives, ferreiros, boticários, cirurgiões, médicos, evidenciando
que o serviço odontológico participava de forma complementar à atividade original dos
prestadores. Ademais, é também registrado a presença de ambulantes e charlatões que vendiam
esse tipo de serviço. Esse cenário demonstra a disputa do monopólio profissional por qualquer
pessoa, visto a ausência de regulamentação da prática, seja por ordem legal, seja por
treinamento formal. É dessa conjuntura que começa, no final do século XIX, a formação de
organizações de profissionais privadas na Inglaterra e nos Estados Unidos, almejando o
reconhecimento profissional e implementação de ensino de carreira (CARVALHO, 2003;
LUCIETTO et. al, 2007).
Nos Estados Unidos, é evidenciado um desenvolvimento relevante da Odontologia para
o reconhecimento profissional. Nesse ínterim, destaca-se a criação da primeira escola de
Odontologia do mundo, a “Baltimore College of Dental Surgery” na cidade de Baltimore, a
fundação da “Society of Dental Surgeons” em Nova York e a primeira publicação do jornal
especializado pelo “The American Journal of Dental Science” (SILVA e SALES-PIRES, 2007).
A criação de instituições de ensino foi oriunda do intenso movimento das organizações na
defesa da alta qualificação para prática odontológica, a partir da substituição da percepção como
arte dentária para ciência dental. Além disso, os grupos disputavam, no campo acadêmico, a
independência de ensino e profissional, uma vez que grupos opositores propunham a formação
médica para exercer serviços odontológicos (LUCIETTO et. al, 2007). Desse modo, as bases
da formação profissional na Odontologia foram estabelecidas, expandindo sua influência para
outros países do continente americano.

Página 61
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

No Brasil, o processo histórico da Odontologia resultou na desvinculação dessa prática


do dever médico, apesar de passear por ele durante todo o percurso. No período pré-colonial,
quase nada pode ser dito, segundo Silva e Sales-Peres (2007), devido ao estado rudimentar de
civilização que tinham e ao grau primitivo dos primeiros habitantes. Já no período de
colonização, com a criação das capitanias hereditárias por volta de 1530, vieram pessoas
capacitadas e mestres de ofício de diversas profissões para atender aos colonizadores
(MARTINS et al., 2018; SILVA, SALES-PERES, 2007).
Nesse tempo, as técnicas eram grosseiras, com instrumentos considerados hoje como
inadequados e não havia nenhuma forma de higiene, sendo feitas apenas extrações dentárias
(MARTINS et al., 2018; ROSENTHAL, 1995). Não existia um especialista para tratar dos
dentes, eram os barbeiros e sangradores que realizavam tal labor, pois os médicos (mestres -
cirurgiões) evitavam por receio e desconhecimento. Essas pessoas que realizavam
procedimentos na boca precisavam ser “fortes, impiedosos, impassíveis e rápidos” (MARTINS
et al., 2018), além disso deviam ser ignorantes e aprendiam essa prática com alguém mais
experiente; não havia anestesia e esse ofício não tinha nenhum prestígio social (PEREIRA,
2012; MARTINS et al., 2018). Dessa forma, tal realidade revela como o trabalho estava
relacionado ao conhecimento, a passagem desse aprendizado de geração em geração e o quanto
esse fenômeno constituiu o novo, no caso uma nova profissão. Mas ainda é possível perceber o
quanto uma necessidade (a dor de dente) faz uma pessoa se tornar útil (barbeiro/sangrador) para
resolvê-la, buscando manter assim sua existência física como dizia Ramos (2007), mediante
uma vida produtiva.
No século XVII, para que Portugal pudesse fiscalizar melhor sua colônia, criou-se a
Real Junta de Proto-Medicato que era composta por deputados, médicos e cirurgiões que
deveriam realizar exames e cartas de licenciamento das pessoas que tiravam dentes
(FERNANDES, 1999), o que se tornou a primeira legislação brasileira frente ao ofício da arte
dentária. Naquele tempo, as próteses e dentaduras eram esculpidas em ossos humanos ou
marfim e as obturações eram feitas de chumbo sobre o tecido cariado e polpas afetadas, o que
traria consequências desastrosas. É importante salientar, no entanto, que, nesse caminho, os
acometidos por doenças dentárias buscavam seus próprios mecanismos de “cura” para tratar a
dor de dente: benzeduras, rezas e uso de medicamentos à guisa de óleo de cravo, láudano,
cânfora, pólvora, teias de aranha entre outros, procurando o “tira-dentes” apenas como último
recurso (PEREIRA, 2012).

Página 62
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Nesse contexto, agitando o cenário político nacional, surge um herói chamado por
Tiradentes nas últimas décadas do século XVIII, Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como
mártir da independência, como de costume aprendeu a arte de tirar dentes com seu padrinho,
que era cirurgião, e é considerado como o Patrono da Odontologia por não se limitar apenas a
sua grande habilidade como operador, mas também esculpida em marfim ou osso de canela de
boi, coroas artificiais para repor dentes ausentes (FERNANDES, 1999).
Ainda ao final desse século, em maio de 1800, cria-se o "plano de exames" com vistas
a aperfeiçoar as formalidades e os exames já realizados pela Real Junta do Proto-Medicato, que
seria abolida nos anos seguintes. Além disso, é nessa época que se verifica o primeiro registro
do vocábulo “dentista”, que, a partir de então, torna-se apto para exercer a profissão
(FERNANDES, 1999; ROSENTHAL, 1995). Esse foi o início da arte dentária como profissão
no Brasil, trabalho que passou a ter estima somente após regras, leis, uma autoridade e
sobretudo um valor, no qual se alude tal valoração a discussão de um “trabalho abstrato ou
concreto” em Ramos (2007).
Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil no início do século XIX, e este tornando-
se sede do reino, houve grande surto de progressos: nasce a Escola de Cirurgia da Bahia quando
foram concedidas cartas de licença para 11 barbeiros de Salvador, todos negros, de baixa classe
social e até alguns escravos para o exercício de “dentista” que os médicos evitavam. E, na
tentativa de minimizar as queixas sobre problemas nesses procedimentos, o cirurgião-mór, Dr.
José Corrêa, determinava nas cartas expedidas que os barbeiros não podiam tirar dentes sem
exame prévio e sangrar sem ordem de médico ou cirurgião, sem fazer alusões a outras operações
cirúrgicas e protéticas (SILVA e SALES-PERES, 2007; FERNANDES, 1999; ROSENTHAL,
1995).
Diante desse cenário, é possível perceber que os dentistas estavam ‘abandonados’, com
conhecimentos rudimentares e sem escolas, cursos ou mesmo a exigência de saber ler para
exercer a profissão, o que desvalorizava a prática odontológica em detrimento do grande
desenvolvimento da cirurgia com suas escolas e regulamentações específicas (MARTINS et al.,
2018; FERNANDES, 1999). De fato, apenas no século XX, ocorreu um avanço da ciência
odontológica no Brasil, mediante a criação das primeiras faculdades, com legislações
específicas para regularizar a profissão da Odontologia e impedir o surgimento de novos
práticos (MARTINS et al., 2018). A partir disso, iniciou-se uma luta pela conquista do
monopólio da intervenção na área bucal pelos diplomados, fomentada pela institucionalização
dos cursos de Odontologia, Farmácia e Obstetrícia e Ginecologia anexos às faculdades de
Medicina, pelo Decreto nº 9.311, de 25 de outubro de 1884, denominada Reforma Sabóia,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

sendo, por este motivo, utilizada a data de 25 de outubro como comemoração do Dia do
Cirurgião-Dentista no Brasil.
Outros pontos notórios da história da odontologia no Brasil foram que se formou em
1889 a primeira mulher dentista, Isabela Von Sidow, pela Faculdade de Odontologia do Rio de
Janeiro que só em 1934 se torna independente do curso de medicina e que a primeira Escola de
Odontologia de São Paulo é criada em 1900 - a antiga Escola de Farmácia, Odontologia e
Obstetrícia de São Paulo. Além disso, foi fulcral neste processo a instituição do Conselho
Federal de Odontologia e dos Conselhos Regionais junto a regulamentação do exercício da
profissão em lei, pois conferem um teor de atividade especializada e a partir de então a profissão
vem crescendo, muitos cursos de graduação e pós-graduação nascem e a Odontologia adquire
um amplo salto científico e tecnológico independente.

3. CONCLUSÃO

A Odontologia surgiu junto com as primeiras dores do ser humano, tendo registros já na
Mesopotâmia em 3500 a.C. assim como a Medicina. A partir daí, a arte dentária começa a
buscar uma separação do exercício da Medicina, pois apesar de muitas semelhanças e mesma
raiz, seu ensino e prática são distintas. No mundo, a Odontologia só começa a ter prestígio
depois da manifestação pandêmica da cárie no início do século XIX, que surgiu mediante
bruscas transformações na esfera social com o avanço das fábricas e as mudanças de hábitos
alimentares principalmente com a inserção do açúcar na dieta. A partir desse processo, surgem
as faculdades de odontologia e, portanto, uma ciência dental mais estabelecida.
No Brasil não foi diferente, o processo de desvinculação da prática odontológica da
Medicina permeia grande parte do desenvolvimento desse curso no país que só foi ter sua
primeira faculdade em 1900 em São Paulo. Nos primórdios de seu surgimento em solo
brasileiro, a Odontologia era exercida por pessoas sem educação especializada na área, como
os barbeiros e sangradores que realizavam pequenas cirurgias, sangravam, aplicavam ventosas,
sanguessugas e extraíam dentes com técnicas grosseiras, sem anestesia, instrumentos
rudimentares e quase nenhuma forma de higiene, sendo buscado, portanto, como última opção
às dores de dente.
Diante disso, o Brasil passa por uma série de regulações vindas inicialmente de Portugal
na tentativa de fiscalizar e ordenar o ofício da arte dentária na colônia, especialmente quando a
busca por esses procedimentos começara a vir de todas as esferas sociais. Até que, mediante o
avanço da ciência odontológica no Brasil e a desvalorização crítica dessa prática, só no século

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

XX finalmente se inicia no país, o ensino acadêmico da odontologia e essa área dá um amplo


salto científico e tecnológico independente e ao longo dos anos seguintes cresce
exponencialmente.

4. REFERÊNCIAS

BOTAZZO, C. Da arte dentária. São Paulo: Hucitec, Fapesp, 2000.

CARVALHO, Cristiana Leite et al. Dentistas práticos no Brasil: história de exclusão e


resistência na profissionalização da odontologia brasileira. Tese (Doutorado em Saúde
Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, 2003.

FERNANDES, Ana Helena. A história da Odontologia nos 500 anos Brasil. Portal Online
da Associação dos Cirurgiões Dentistas da Baixada Santista. Setembro, 1999. Disponível
em:https://www.acdbs.com.br/museu/historia-da-odontologia-nos-500-anos-brasil/ Acesso
em: 30 de agosto de 2021.

LIMA, Júlio César França. Bases histórico-conceituais para a compreensão do trabalho em


saúde. In: FONSECA, Angélica Ferreira; STAUFFER, Anakeila de Barros (Org.). O
processo histórico do trabalho em saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2007. p. 57-96.
(Coleção Educação Profissional e Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente
comunitário de saúde, 5).

LUCIETTO, Deison Alencar et al. Revisitando as Origens da ‘Arte Dentária’: O Processo


Histórico e o Modelo Hegemônico de Prática Odontológica em Análise. Revista da
Faculdade de Odontologia de Porto Alegre, v. 48, n. 1/3, 2007.

MARTINS, Y.V.M. et al. A evolução da prática odontológica brasileira: revisão de literatura.


Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança. V.16, N°3, Dez. 2013. Disponível em:
http://www.facene.com.br/wp-content/uploads/2018/12/CAP-10_N3.pdf Acesso em: 29 de
agosto de 2021.

PEREIRA, Wander. Uma história da Odontologia no Brasil. História e Perspectivas,


Uberlândia (47): 147-173, jul./dez. 2012. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/historiaperspectivas/article/view/21268 Acesso em: 01 de
setembro de 2021.

RAMOS, Marise Nogueira. Conceitos Básicos sobre o Trabalho. In: FONSECA, Angélica
Ferreira; STAUFFER, Anakeila de Barros (Org.). O processo histórico do trabalho em
saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2007. p. 27-56. (Coleção Educação Profissional e
Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente comunitário de saúde, 5).

ROSENTHAL, Elias. História da Odontologia no Brasil. Jornal APCD. Outubro de 1995.


Disponível em:
http://www.soergs.com.br/index.php?cd=217&descricao=historia_da_odontologia_no_brasil
&tag= Acesso em: 30 de agosto de 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

ROSENTHAL, Elias. A odontologia no Brasil no século XX: história ilustrada. Santos


Livraria Editora, 2001.

SILVA, Ricardo Henriques Alves da; SALES-PERES, Arsenio. Odontologia: um breve


histórico. Odontol. clín.-cient, p. 7-11, 2007.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 5

Alterações vestibulares associadas à COVID-19:


uma revisão da literatura

Nicolly Karolyne Almeida da Costa Bezerril, Leônia Maria Batista e


Fabiana de Andrade Cavalcante

RESUMO: A COVID-19 é uma doença viral altamente transmissível


que perdura atualmente. Evidências crescentes apontam para uma
possível associação entre COVID-19 e distúrbios do equilíbrio.
Considerando a influência do sistema vestibular na manutenção do
equilíbrio corporal e sua alta suscetibilidade a agentes infecciosos, o
presente trabalho objetivou revisar o que a literatura traz a respeito
das alterações vestibulares associadas à COVID-19. A busca foi
realizada nas bases de dados PubMed e Scopus, e resultou em 118
manuscritos, que foram reduzidos para 8 mediante aplicação dos
critérios de inclusão e exclusão. Dentre os 8 estudos selecionados, 7
relataram alterações vestibulares associadas à COVID-19, sendo a
tontura e a vertigem identificadas por 5 e 4 deles, respectivamente.
Portanto, é possível concluir que as evidências incluídas nesta revisão
atestam que a COVID‑19 está associada a alterações vestibulares.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A COVID-19 é uma doença infectocontagiosa provocada pelo vírus SARS-CoV-2,


cujos primeiros relatos foram registrados na cidade de Wuhan, China, e remontam ao período
de dezembro de 2019. Devido ao alto potencial de transmissibilidade do vírus, a doença
rapidamente se disseminou pelo mundo, sendo oficialmente reconhecida como pandemia no
dia 11 de março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (ALMUFARRIJ;
MUNRO, 2021; NAROZNY; TRETIAKOW; SKOREK, 2021). De acordo com a OMS, a
pandemia da COVID-19 ainda perdura nos dias atuais, com um total de 281.808.270 de casos
e 5.411.759 de óbitos confirmados até o dia 29 de dezembro de 2021 (WHO, 2021).
Em termos clínicos, essa doença é caracterizada pela ocorrência de manifestações que
variam amplamente, cujos sintomas principais incluem febre, tosse seca, fadiga e dificuldade
respiratória. Adicionalmente, a literatura aponta para uma possível associação entre COVID-19
e distúrbios do equilíbrio, conforme documentado por relatos crescentes (FANCELLO et al.,
2021).
O equilíbrio compreende um estado de estabilidade física, de natureza estática e
dinâmica, mantida por meio do funcionamento do sistema vestibular, proprioceptivo, muscular
e óptico. O sistema vestibular é um órgão sensorial localizado no interior da orelha interna, que
é constituído por três canais semicirculares e pelos órgãos otolíticos, o utrículo e o sáculo. Esses
componentes são potencialmente suscetíveis a fatores nocivos, como agentes infecciosos e
drogas ototóxicas (SILVA, 2021).
Frente ao exposto, o presente trabalho objetivou revisar o que a literatura traz a respeito
das alterações vestibulares associadas à COVID-19, com o intuito de fornecer subsídios para a
tomada de decisões que influenciam a conduta clínica adotada diante desse cenário.

METODOLOGIA

Foi feita uma revisão da literatura, que buscou responder a seguinte questão norteadora:
“O que a literatura traz a respeito das alterações vestibulares associadas à COVID-19?”. Para
tanto, as bases de dados PubMed e Scopus foram consultadas, mediante o emprego da
combinação das seguintes palavras-chave: “COVID-19” e “vestibular”.
De acordo com os critérios de inclusão, os artigos deveriam ser voltados ao objeto de
estudo, escritos no idioma inglês ou português, publicados entre janeiro de 2020 e outubro de
2021, com o resumo disponível nas bases de dados consultadas e realizados com seres humanos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Por outro lado, foram excluídas revisões de literatura e relatos de casos, bem como publicações
duplicadas, indisponíveis na íntegra ou escritas em outra língua que não a inglesa ou portuguesa.
Na busca realizada, foram encontradas um total de 118 publicações, a saber: PubMed
(n = 58) e Scopus (n = 60). Destas, 18 pareciam se enquadrar nos critérios de inclusão adotados,
sendo selecionadas para leitura na íntegra. Após a leitura na íntegra, 10 artigos foram excluídos
(7 duplicatas, 1 relato de caso, 1 indisponível na íntegra e 1 escrito em outro idioma), restando,
portanto, 8 estudos para compor a amostra final da presente revisão. Um fluxograma do
processo de seleção é mostrado na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma da seleção dos estudos da revisão.

Fonte: Autores, 2021.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Página 69
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Dos 8 estudos incluídos, 4 (50%) apresentaram nível de evidência 2B e 2 (25%) nível


3B, denotando estudos de coorte e caso-controle, respectivamente. Os demais estudos incluídos
(n = 2, 25%) foram de natureza transversal. No Quadro 1 são apresentadas informações
referentes ao(s) autor(es), ano de publicação, delineamento, objetivo, número de participantes
e resultados dos estudos selecionados.

Quadro 1. Descrição dos estudos selecionados segundo autor(es), ano de publicação, delineamento, objetivo,
número de participantes (n) e resultados.
Autor(es), Delineamento Objetivo n Resultados
ano
17,7% dos pacientes
relataram ter sentido
instabilidade ou tontura em
algum ponto desde o
Investigar sintomas diagnóstico de COVID-19.
audiovestibulares Ter COVID-19 foi
ALJASSER et Estudo autorreferidos em associado a maior
300
al., 2021 transversal indivíduos com teste probabilidade (5,61x) de
positivo para COVID- relatar vertigem. Além
19 disso, a maioria dos
pacientes (93,3%) que
relataram vertigem não
apresentavam sintomas
vestibulares pré-existentes
10,4% dos pacientes
relataram um ou mais
sintomas vestibulares, a
saber: tontura (8,3%),
Investigar sintomas e vertigem rotatória (2%),
sequelas gerais e desequilíbrio dinâmico
audiovestibulares em (2%) e desequilíbrio
GALLUS et Coorte pacientes curados e estático (6,3%). A maioria
45
al., 2021 retrospectiva buscar qualquer sinal dos sintomas teve um início
de perda auditiva ou tardio (pelo menos 1
vestibular residual ou semana após o diagnóstico
permanente de COVID-19), exceto para
o desequilíbrio dinâmico e
estático, que foram
principalmente relatados
como sintomas iniciais
Quantificar o déficit Os resultados mostraram
de equilíbrio e que, independente da
propriocepção em gravidade da doença
GERVASONI Coorte
pacientes com 66 vivenciada, a síndrome pós-
et al., 2021 prospectiva
diagnóstico de COVID faz com que os
síndrome pós- desempenhos no teste de
COVID, utilizando o equilíbrio elástico obtidos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

inovador dispositivo com os olhos abertos


robótico hunova fiquem mais distantes da
realidade do que o mesmo
teste realizado com os olhos
fechados
Avaliar a incidência e Considerando a distribuição
as características dos dos sintomas vestibulares
KORKMAZ Coorte sintomas nos pacientes com COVID-
116
et al., 2020 prospectiva otorrinolaringológicos 19, as taxas foram as
em pacientes com seguintes: tontura (31,8%) e
COVID 19 vertigem verdadeira (6,1%)
Avaliar o impacto do
surto de COVID-19 A incidência de distúrbios
na incidência de audiovestibulares agudos
PARRINO et doenças não foi significativamente
Caso-controle 42
al., 2021 audiovestibulares diferente entre o período
agudas em um período pandêmico e os períodos
de um ano da anteriores
pandemia
50% dos pacientes
apresentaram tontura. Além
disso, a pontuação média do
European Evaluation of
Vertigo Scale (EEV) no
grupo COVID-19 foi de 4,5,
com uma diferença
estaticamente significativa
em relação ao grupo
controle. Os valores médios
de assimetria do Potencial
Investigar os efeitos
Evocado Miogênico
da infecção por
TAN et al., Coorte Vestibular Ocular
COVID-19 na audição 26
2021 prospectiva (oVEMP) e do Potencial
e no sistema
Evocado Miogênico
vestibular
Vestibular Cervical
(cVEMP) foram maiores no
grupo COVID-19 em
comparação com o grupo
controle. No Video-Head
Impuse Test (v-HIT), o
ganho foi menor em todos
os canais semicirculares no
grupo COVID-19 em
comparação com o grupo
controle
Estudar a prevalência 34 pacientes (18,4%)
de zumbido subjetivo relataram distúrbios de
VIOLA et al., Estudo
e tontura em uma 185 equilíbrio após o
2020 transversal
amostra de pacientes diagnóstico de COVID-19.
com COVID-19 Destes, 32 (94,1%)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

usando um relataram tontura e 2 (5,9%)


questionário online de relataram ataques agudos de
10 itens vertigem. A média da
pontuação da Escala Visual
Analógica (VAS) para
distúrbios de equilíbrio foi
5
8 dos 37 pacientes (21,6%)
declararam presença de
desequilíbrio em seu dia a
dia, enquanto não houve
queixa de desequilíbrio no
grupo controle. De acordo
com o Dizziness Handicap
Inventory (DHI), a
pontuação média dos
pacientes foi de 16,1,
enquanto os controles
pontuaram 0. Na
Posturografia Dinâmica
Computadorizada (CDP),
os escores compostos e
gerais visuais dos pacientes
Avaliar se os sistemas
foram significativamente
relacionados ao
menores do que os dos
YILMAZ et equilíbrio foram
Caso-controle 37 controles. No v-HIT, uma
al., 2021 afetados em adultos
diminuição nos ganhos dos
que se recuperaram da
canais semicirculares
COVID-19
verticais foi encontrada nos
pacientes em comparação
aos controles. Os pacientes
foram significativamente
mais propensos a apresentar
ausência de oVEMP e
cVEMP em relação aos
controles, enquanto as
amplitudes e latências
foram semelhantes entre os
grupos. Porém, houve uma
diminuição significativa
nas amplitudes P1/N1 de o-
VEMPs e c-VEMPs nos
pacientes em comparação
com os controles
Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Alterações vestibulares associadas à COVID-19 foram relatadas por 7 dos 8 artigos


incluídos, conforme descrito no Quadro 1. Dentre elas, a tontura e a vertigem constituíram as
principais manifestações, sendo observadas por 5 e 4 estudos cada, respectivamente. Todavia,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

convém salientar que o levantamento desses distúrbios ocorreu mediante o relato dos
participantes, embora diante de uma comparação entre casos e controles para a maioria deles,
apresentando diferença significativa estatística.
Adicionalmente, três dos estudos que detectaram alterações vestibulares associadas à
COVID-19 empregaram testes padronizados para avaliação da função vestibular, o que implica
uma maior precisão dos resultados obtidos.
Em consonância com os resultados da presente revisão, uma revisão sistemática recente,
elaborada por Almufarrij e Munro (2021), identificou 11 estudos transversais que relataram
vertigem nos pacientes com COVID-19, dos quais 4 combinaram a prevalência da vertigem
com a tontura, e 9 relatos de casos que mencionaram vertigem rotatória nesses pacientes.
Contudo, a ausência de estudos que comparavam casos e controles se configurou como uma
das principais limitações desta revisão.
Por outro lado, Narozny, Tretiakow e Skorek (2021) realizaram uma revisão de
literatura e não encontraram nenhuma associação entre a COVID-19 e o sistema de equilíbrio,
diante de uma amostra constituída por 4 estudos.
Dentre os mecanismos pelos quais a COVID-19 pode desencadear alterações
vestibulares, foi postulado que a resposta imune ao vírus seja responsável por promover a
inflamação da orelha interna e/ou do nervo vestibulococlear, ocasionando, portanto, a vertigem.
Outrossim, reações cruzadas e respostas imunomediadas têm sido apontadas como fatores
adicionais associados a esse cenário (ALMUFARRIJ; MUNRO, 2021).
Além disso, a literatura sugere que o vírus SARS-CoV-2 seja potencialmente capaz de
ocasionar isquemia na orelha interna, dada a sua capacidade de desencadear distúrbios da
coagulação e, consequentemente, trombose e/ou hipóxia nos vasos que garantem o suprimento
desse tecido (ALMUFARRIJ; MUNRO, 2021).
Sob outra ótica, Prayuenyong; Kasbekar e Baguley (2020) indicam que drogas como a
cloroquina e a hidroxicloroquina, aprovadas para uso off-label no tratamento da COVID-19
moderada à grave em alguns países, podem causar ototoxicidade, propiciando o aparecimento
de distúrbios de equilíbrio nos usuários.

CONCLUSÕES

As evidências inseridas nesta revisão atestam que a COVID-19 está associada a


alterações vestibulares, das quais se destacam a tontura e a vertigem. Adicionalmente, a maioria
dos estudos incluídos relataram esse fenômeno diante de uma comparação entre o aparecimento

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

dos casos e os pacientes controles, o que designa um caráter inovador para o presente trabalho
frente à literatura existente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ALMUFARRIJ; MUNRO. One year on: an updated systematic review of SARS-CoV-2,
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FANCELLO, V. et al. SARS-CoV-2 (COVID-19) and audio-vestibular
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NAROZNY; TRETIAKOW; ANDRZEJ. Can the SARS-CoV-2 virus damage human hearing
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auditiva neurossensorial: revisão de escopo. 2021. Trabalho de conclusão de curso
(Graduação em Fonoaudiologia) – Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2021.
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WHO, World Health Organization. Coronavirus disease (COVID-19) Situation dashboard.
2021. Disponível em: < https://covid19.who.int///>. Acesso em: 30 de dezembro de 2021.
YILMAZ et al. Assessment of balance after recovery from Covid-19 disease. Auris Nasus
Larynx, in press. 2021.

Página 74
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 6

A EFICÁCIA DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA NA


REDUÇÃO DA DOR EM MULHERES ADULTAS
PORTADORAS DE FIBROMIALGIA - UMA REVISÃO
INTEGRATIVA

Leiliane Cristina Bento Miranda

RESUMO: INTRODUÇÃO: A fibromialgia é uma doença reumatológica


caracterizada pela presença de 11 ou mais pontos dolorosos, doença de
origem desconhecida, acredita-se estar ligada a níveis de estresse. Sua
principal sintomatologia é a dor intensa e a tensão muscular. A fisioterapia
aquática é uma modalidade de tratamento da fisioterapia que utiliza o meio
aquático com fins terapêuticos, com objetivo de alívio da dor, redução de
espasmos muscular, redução da tensão muscular entre outros. OBJETIVO:
Compreender a eficácia da fisioterapia aquática na redução da dor em
mulheres adultas portadoras da fibromialgia. METODOLOGIA: Foi realizada
uma revisão integrativa em dezembro de 2020, nas seguintes bases de dados:
PubMed, SciELO e EBSCO com a delimitação de busca no ano de 2010-2020
e selecionados artigos em língua inglesa e portuguesa, como critérios de
inclusão mulheres de 18-60 anos e estudos do tipo ensaio clinico controlados
e não controlados e como critérios de exclusão abordagens com homens ou
população mista. RESULTADOS: A hidrocinesioterapia e o Watsu que são
técnicas da fisioterapia aquática, demonstraram desfecho favorável na
redução do nível de dor em pacientes com fibromialgia, tanto efeitos
imediatos quanto de longo prazo, tendo esses resultados avaliados através
da EVA (escala visual analógica) e do algômetro digital. CONCLUSÃO: A
fisioterapia aquática é um recurso de tratamento eficaz no tratamento da dor
em pacientes portadoras de fibromialgia, desde as técnicas de
hidrocinesioterapia até mesmo a métodos específicos como o Watsu,
mostraram resultados na diminuição da dor pós intervenção e
consequentemente melhora na qualidade de vida.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A fibromialgia (FM) é uma doença reumatológica definida como uma síndrome


dolorosa de etiologia desconhecida, caracterizada por sinais e sintomas dolorosos
principalmente no sistema musculoesquelético podendo ainda afetar outros sistemas. Acredita
se ainda que a dor presente nessa síndrome é derivada de um mecanismo de sensibilização do
sistema nervoso central à dor (PROVENZA et al., 2004).
A FM ocorre em qualquer idade, porém é prevalente em indivíduos do sexo feminino, a
fisiopatogenia da fibromialgia ainda é pouco conhecida, porém acredita-se que o inicio do sinal
doloroso se dar devido a uma alteração do mecanismo central de controle da dor e ainda
podendo resultar de uma disfunção de neurotransmissores. Essas disfunções podem ser
desencadeadas mediante algum estresse, seja ele um trauma, uma infecção ou até mesmo um
estresse psicológico (HELFENSTEIN JUNIOR; GOLDENFUM; SIENA, 2012).
O diagnóstico clínico da fibromialgia é realizado através da sintomatologia dolorosa
presente, além dos pontos sensíveis, caracterizado a doença na presença de 11 pontos ou mais,
além de outros sintomas como: fadiga, dor nas atividades de vida diária ou atividades laborais,
ansiedade, depressão, rigidez muscular e diversos outros sintomas que podem ou não estar
relacionados ao aparelho locomotor. Porém a dor crônica é o principal sinal da fibromialgia,
além dos distúrbios do sono que é presente em quase todos os pacientes com FM (WOLF et al.,
2010).
A qualidade de vida de portadores da FM é um dos principais problemas observados
nesses doentes, visto que a doença reduz essa qualidade de forma significativa, através do
impacto na capacidade funcional para efetuar as atividades de vida diária, impondo maiores
limitações no ambiente de trabalho, levando a quadros de depressão e ansiedade que vai impor
ao indivíduo um quadro de isolamento social (LORENA et al., 2016).
A fisioterapia aquática compreende um recurso terapêutico de tratamento que utiliza de
exercícios aquáticos em imersão com objetivo de recuperar, prevenir e tratar funções dos
sistemas. A resposta do tratamento utilizando o meio aquático se dar pelas propriedades físicas
da água, onde o terapeuta vai utilizar das mesmas com o objetivo de tratar o paciente,
propriedades essas como: o empuxo, pressão hidrostática, flutuação entre outros. A temperatura
também é grande aliada ao tratamento, temperatura essa que varia entre 30ºC a 34ºC de modo
a promover relaxamento muscular e alívio da dor (MANNERKORPI; IVERSEN, 2003).
A utilização da fisioterapia aquática no tratamento de doenças reumáticas é observada
desde os tempos remotos, na atualidade tem ganhando grande destaque no tratamento da FM

Página 76
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

devido a frequência dos pacientes com essa sintomatologia a ser relatada, além do que o método
de tratamento é seguro e eficaz e apresenta benefícios já enumerados, devido as propriedades
físicas da água. Além do que o quadro clínico imposto pela síndrome da FM muitas vezes impõe
barreiras para o tratamento em solo o que em meio aquático é facilitado devido ao empuxo e a
força da gravidade (HECKER et al., 2011). O objetivo desse trabalho é compreender a eficácia
da fisioterapia aquática na redução da dor em mulheres adultas portadoras da fibromialgia.

METODOLOGIA

Este trabalho foi elaborado por meio de uma revisão de literatura do tipo integrativa. A
coleta de dados foi realizada através de uma consulta nas seguintes bases de dados: EBSCO,
PubMed e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Após a busca foi realizada leitura
crítica e minuciosa dos resumos e textos.
Como critérios de inclusão das referências bibliográficas utilizadas neste estudo, foram
utilizados trabalhos publicados nos idiomas, inglês e português, publicados no período de 2010
-2020, estudo das seguintes metodologia: ensaios clínicos controlados e randomizados, estudo
de caso, estudo analíticos observacional com resumos disponíveis nos bancos de dados e que
fossem disponíveis na íntegra, mulheres dos 18 aos 60 anos, estudos que utilizasse a fisioterapia
aquática no tratamento da fibromialgia. Como critérios de exclusão desse estudo: estudos que
abordem a utilização da fisioterapia aquática associada a outro tipo de intervenção, que sejam
compostas de amostra de apenas homens ou homens e mulheres.
A pergunta norteadora foi formada através da estratégia de PICO onde P: mulheres
adultas com fibromialgia, I: fisioterapia aquática, C: não se aplica O: alívio da dor. Dessa
maneira a pergunta norteadora foi: a fisioterapia aquática é capaz de produzir efeitos benéficos
no alívio da dor em mulheres adultas com fibromialgia?
Os descritores foram consultados nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) e no
Medical Subject Headings (MeSH), foram definidos os seguintes descritores em português para
busca bibliográfica: hidroterapia, fibromialgia, mulher e dor. E na língua inglesa: hydrotherapy,
fibromyalgia, woman e pain. Na estratégia de busca foi utilizado o operador booleano AND.
Após selecionados os estudos, os mesmos foram avaliados acerca da qualidade metodológica
através da utilização da escala de Oxford de nível de evidência. A avaliação do nível de
evidência de Oxford é realizada a partir da classificação do estudo de acordo com seu desenho
metodológico, que é classificado de acordo com o grau de recomendação que vai de A a D e de
acordo com o nível de evidência que vai de 1A a 5.

RESULTADOS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Foi realizado a busca bibliográfica nas bases de dados com os descritores mencionados
e o operador booleano, sendo aplicado filtros de tipo de estudo e tempo de publicação conforme
disposto na tabela 1:
Tabela 1: Resultado da busca na base de dados

BASE DE DADOS COMBINAÇÃO DE PESQUISA ESTUDOS ENCONTRADOS


PubMed Hydrotherapy AND Fibromyalgia AND Pain
15
AND Woman
EBSCO Hydrotherapy AND Fibromyalgia AND Pain
34
AND Woman
SciELO Hydrotherapy AND Fibromyalgia AND Pain 03 TOTAL DE
ESTUDOS 52
Fonte: Autor (2020)
Quadro 1: Fluxograma do resultado amostral

Registros identificados após a busca nas base de dados

PubMed – n= 15
EBSCO: n=34
SciELO: n= 03

Registros após exclusão de


duplicatas n= 32
Artigos excluídos após
análise de títulos e resumos
n=21

Textos completos avaliados n= 11

Registros excluídos n= 5
- Revisão de literatura n= 4
- Outras populações n=2
Estudos incluídos n= 5
Fonte: Autor (2020)

Durante a busca foi encontrada na plataforma SciELO 03 estudos, na PubMed 15 e na


EBSCO 34, constituindo 52 estudos, após observar os critérios de inclusão a amostra passou a
8 artigos. Feita a leitura minuciosa, 05 estudos passarem a ser a amostra deste estudo por

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

abordarem diretamente o assunto e estar disponível na integra, quadro 01.


Para avaliação da qualidade metodológica dos estudos utilizou-se da escala de Oxford
para classificar os níveis de evidência, conforme tabela 2.
Tabela 2: Classificação de evidência através da escala de Oxford.
AUTOR TIPO DE ESTUDO NÍVEL DE EVIDÊNCIA
Hecker et al. (2011) Ensaio clínico controlado e
1B
randomizado
Letiere et al. (2013) Ensaio clínico controlado e
1B
randomizado
Segura-Jiménez et al. (2013) Ensaio clínico não
2C
controlado
Avila et al. (2017) Ensaio clínico não
2C
controlado
Antunes et al. (2016) Estudo de coorte 2B
Fonte: Autor (2020)

Após a análise dos títulos e resumos, e leitura minuciosa dos artigos a amostra final
desse estudo foi composta por 5 estudos, dentre eles, ensaios clínicos controlados e
randomizados, não controlados e estudo de coorte. A descrição e o estudo estão descritos na
tabela 3.
17

Tabela 3: Descrição dos estudos


AUTOR OBJETIVO DO ESTUDO MÉTODO ACHADOS
Hecker et al. (2011) Letiere et al. (2013) Segura
Jiménez et al. (2013)
Verificar e comparar os efeitos da hidrocinesioterapia e da cinesioterapia na qualidade de
vida de pacientes portadores da FM.

Analisar os efeitos do tratamento


hidrocinesioterapêutico na qualidade de vida, percepção de dor e gravidade de episódios
depressivos em um grupo de pacientes com fibromialgia.

Determinar as mudanças imediatas na dor em pacientes do sexo feminino com FM por meio
de um protocolo de fisioterapia aquática.
Foi realizado o estudo com 24 pacientes do sexo feminino com idade entre 30-50 anos, com
diagnóstico clinico de FM, sendo divididas aleatoriamente em dois grupos: grupo
Hidrocinesioterapia composto por 12 participantes e o grupo cinesioterapia composto por 12
participantes. Foram realizadas 23 sessões de 60 minutos. Foi utilizado questionário genérico
SF-36 para avaliar a qualidade de vida.
A amostra do estudo foi composta por 64 mulheres com diagnóstico clínico de FM, e com
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

idade igual ou superior a 50 anos, as pacientes foram separadas de forma randômicas, sendo
34 participantes do grupo hidrocinesioterapia e 31 participantes do grupo controle sem
exercícios. As pacientes foram avaliadas através da escala EVA (escala visual analógica da
dor) e a qualidade de vida foi avaliada através da FIQ (Fibromyalgia Impact Questionnaire).
A amostra do estudo foi composta por 33 mulheres com diagnóstico confirmado de FM, todas
participantes fizeram parte do grupo de intervenção. A intervenção era realizada 2 vezes por
semana por 12 semanas cada com duração de 45min. A dor foi avaliada através da escala EVA.
No aspecto dor, a melhora foi significativa nos dois grupos tanto no grupo hidrocinesioterapia
quanto no cinesioterapia. No grupo hidrocinesioterapia temos 20,58 (± 15,42) no pré
tratamento e 34,25 (± 11,05) pós tratamento. E no grupo cinesioterapia 22,75 (± 16,26) no pré
tratamento e 40,58 (± 16,09) pós tratamento com diferença estaticamente significante de (p
<0,05).

Após o período de intervenção houve uma melhoria estatisticamente significativa (P < 0,05)
na análise intragrupos para as variáveis: cervical, trocânter e EVA total. Tendo como EVA
total pré-teste de 60 e pós teste de 43. Além disso a FIQ também mostrou uma queda no seu
resultado pré e pós teste, sendo pré 78 e pós 46.

Observou-se que os pacientes apresentam resultado imediato na redução da dor ao final da


sessão de hidroterapia. A dor pré tratamento e pós tratamento apresentou uma redução média
de 15% imediato ao tratamento (p>0,05).

Avila et al. (2017)

Antunes et al. (2016)


Avaliar a eficácia de um programa de hidroterapia na cinemática escapular, dor e qualidade
de vida em mulheres com fibromialgia.

Analisar a influência do watsu na qualidade de vidae na dor de idosas com


fibromialgia.
Participaram do estudo 20 mulheres com diagnóstico de FM, foram realizadas três avaliações
antes do tratamento, e duas outras após. As participantes responderam um questionário sobre
qualidade de vida e a dor foi avaliada com um algômetro digital. O tratamento consistiu em
02 sessões na semana por 16 semanas com duração de 45min cada.

O estudo foi realizado com 17 idosas, onde foram avaliadas a qualidade de vida por meio do
questionário SF-36 e a dor avaliada através da escala EVA. Como protocolo de tratamento foi
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

realizado 10 sessões de Watsu, sendo duas por semana, com duração de 40 minutos cada.
18

O PPT foi avaliado ao longo de 18 pontos sensíveis da fibromialgia. No lado direito, trapézio
superior, occipital e supraespinhal mostraram um aumento no PPT após 8 semanas de
hidroterapia ( P < 0,01). PPT para segunda costela, epicôndilo lateral, joelho, glúteo e grande
trocanter mostrou um aumento apenas após 16 semanas de programa de hidroterapia ( P <
0,01). O que evidência a eficácia da hidroterapia no tratamento da FM.
A EVA foi estatisticamente menor na segunda avaliação
(p=0,00059), sendo pré uma média de 7,9 e pós 4,2. Além do mais o estudo avaliou desfecho
positivo na qualidade de vida das mulheres. Desta forma este estudo conclui o benefício do
Watsu na redução do nível de dor e na melhora da qualidade de vida em mulheres com
fibromialgia.
Legenda: FM: Fibromialgia / EVA: Escala Visual Analógica/ FIQ: Fibromyalgia Impact
Questionnaire/ PPT: Limiar de dor a pressão/ SF-36: Short Form Health Survey 36.
19

DISCUSSÃO

A EVA é uma escala simples e eficiente não invasiva que é utilizada como um parâmetro
imediato para mensurar a dor e obter um valor numérico (CANTAS; SCHÜTZ; ROCHA, 2008)
Letiere at al. (2020) realizaram um estudo controlado e randomizado com mulheres adultas com
diagnóstico de FM e observou redução significativa da EVA após a terapia com uma piscina
terapêutica com água aquecida a 33º, com 1,30m de profundidade. As participantes realizaram
30 sessões de tratamento onde eram realizados cinco minutos de exercícios de aquecimento e
movimentos preparatórios para alguns exercícios; 35 minutos de exercícios para o
desenvolvimento de força, mobilidade, equilíbrio, coordenação e por fim, cinco minutos de
alongamento e relaxamento.
Hecker et al. (2011) realizaram um estudo controlado randomizado em uma piscina
aquecida entre 32 °C e 34 °C. O protocolo de hidrocinesioterapia consistiu em: exercícios de
alongamento muscular em membros inferiores, membros superiores, tronco e pescoço;
exercícios aeróbios de baixa intensidade, exercícios ativos membros inferiores, membros
superiores, tronco e pescoço. E o protocolo de cinesioterapia para o grupo controle seguiu dos
mesmos exercícios em solo. Ao final desse estudo observou melhoras significativas para o
grupo com intervenção da hidrocinesioterapia no desfecho de alívio da dor sendo 20,58 (±
15,42) no pré tratamento e 34,25 (± 11,05) pós tratamento.
A diferença do exercício em ambiente aquático ao exercício em solo, se dar pela
flutuação que reduz o peso corporal de modo a contrapor-se com a gravidade de forma a reduzir
forças de pressão e compressão, de modo a promover melhor mobilidade articular reduzindo a
sintomatologia dolorosa e melhorando a qualidade de vida (SALVADOR; SILVA; ZIRBES,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

2005) além dos efeitos fisiológicos e cinesiológicos obtidos com a imersão que vão auxiliar na
reeducação musculoesquelética resultando em alívio dos sintomas e melhora da qualidade de
vida (MARQUES; FURTADO; COSSERMELI, 1994).
Segura-Jiménez et al. (2013) realizaram um ensaio clinico não controlado com
intervenção realizada em uma piscina aquecida a 34ºC com água na altura do processo xifoide.
O protocolo de intervenção se dava da seguinte maneira aquecimento de 10 minutos com
caminhada lenta, exercícios de mobilidade e alongamento, seguidos por 25 minutos de exercício
e finalizados com um período de resfriamento de 10 minutos com exercícios de alongamento e
relaxamento. A dor foi avaliada através da escala de EVA onde observou-se uma redução média
de 15% imediato ao tratamento.
20

O efeito imediato na redução da dor após a sessão de hidroterapia observado nos estudos,
se dá pelos benefícios do exercício em ambiente aquático, uma vez que a água aquecida
promove melhora na circulação sanguínea, beneficia o retorno venoso, e proporciona um efeito
relaxante e massageador que vai culminar em melhora no nível da dor além de reduzir o estresse
e ansiedade. (ALTAN et al., 2004).
Avila et al. (2017) realizaram um ensaio clinico não controlado em uma piscina aquecida
(30 ° C ± 2 ° C) em um ambiente fechado, foram realizadas duas sessões semanais de
hidroterapia convencional (alongamento, exercícios ativos, exercícios aeróbicos,
fortalecimento) durante 16 semanas, as intensidades dos exercícios variavam de acordo com o
limiar de dor de cada paciente. Na avaliação observou-se o PPT que é o mínimo de pressão para
sentir reação dolorosa no ponto, como resultado desse estudo observou um aumento no PPT
após 8 semanas de hidroterapia ( P < 0,01) e um aumento apenas após 16 semanas de programa
de hidroterapia ( P < 0,01).
Os pontos dolorosos são extremamente importantes na avaliação da dor em pacientes
com fibromialgia, no estudo de Avila et al., avaliaram a sintomatologia através do algômetro
digital onde se observava um valor PPT que é a pressão mínima para despertar a sintomatologia
da FM, vale ressaltar que a média de pontos em pacientes com FM é em média de três a quatro
vezes maiores do que em pacientes saudáveis. Ao utilizar o algômetro para o limiar de dor cada
ponto oferece boa especificidade para observar resultado terapêutico naquele ponto
(TASTEKIN et al., 2010).
Antunes et al. (2016) realizaram um estudo de coorte, a intervenção foi realizada através
de um protocolo de Watsu, composto por 10 sessões da seguinte maneira: antes de começar,
abertura, entregue a água, dança da respiração na água, balanço da respiração e para finalizar
liberando a coluna. A intervenção foi realizada em uma piscina terapêutica com variação da

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

temperatura, entre trinta e dois e trinta e nove graus Celsius e com pH igual a 2,8. Como
resultado desse estudo observou-se que a EVA foi estatisticamente menor na segunda avaliação
(p=0,00059), sendo pré uma média de 7,9 e pós 4,2.
Os exercícios físicos em ambiente aquático são capazes de promover vários benefícios
no corpo humano, benefícios esses perceptíveis a curto e longo prazo, como: redução da dor,
rigidez e fadiga muscular, melhora do sono, que vai refletir em melhorar da qualidade de vida
(SILVA et al., 2012). O tratamento da FM com a utilização da fisioterapia aquática é eficaz
devido proporcionar relaxamento muscular advindo da propriedade térmica da água,
promovendo aos portadores da FM melhora da autoestima e da autoconfiança (SALVADOR;
SILVA; ZIRBES, 2005).
21

CONCLUSÃO

Assim sendo, a partir desse estudo, conclui-se que a fisioterapia aquática é um recurso
de tratamento eficaz no desfecho do alívio da dor em pacientes portadoras de fibromialgia,
desde as técnicas de hidrocinesioterapia até mesmo a métodos específicos como o Watsu
mostraram resultados na diminuição da dor pós intervenção e consequentemente melhora na
qualidade de vida.
22

REFERÊNCIAS

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dimensional scapular motion and pain of women with fibromyalgia: a single-arm
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pacientes com doenças crônicas. Revista Pensamento Biocêntrico v. 9, p.70-83, 2008.
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Página 84
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 7

USO DA OCITOCINA PARA PROFILAXIA DA


HEMORRAGIA PÓS-PARTO
Cicera Eduarda Almeida de Souza; Maria Dhescyca Ingrid Silva Arruda; Ana Paula
Moura Manzini; Maria de Fátima Iêda Barroso de Oliveira; Gabrielle Márcia Lessa
Martins; Sâmara Garcia de Barros Ferreira; Lainny Coelho Rodrigues; Antônio Marcos
Anjos da Cunha; Yasmim Xavier Arruda Costa; Tiara Lange Felipe Oliveira Camilo;
Vanine Arieta Krebs; Cícera Alyne Caldas de Figueiredo; Ewerton Douglas Soares de
Albuquerque; Fábio José Antônio da Silva; Mikael de Figueiredo Gonçalves

RESUMO: O pós-parto ou puerpério é o momento de vida da mulher no qual ocorrem


manifestações involutivas e recuperativas do organismo materno após o parto, em
que os profissionais de saúde devem fornecer informações e realizar avaliações
específicas, uma vez que está sujeito a complicações. A HPP afeta aproximadamente
2,0% a 7,0% de todas as mulheres no período puerperal e é a causa de
aproximadamente 25% de todas as mortes de gestantes no mundo, principalmente
em países de baixa e média renda, com cerca de 140.000 mortes anuais e frequência
de uma morte a cada quatro minutos, A maioria dessas mortes poderiam ser
evitáveis, embora ainda exista muita precariedade nos serviços de saúde mais
escassos de recursos. A hemorragia pós-parto é uma questão de saúde pública, onde
diversas mortes poderiam ser evitadas. Após a análise deste estudo, pode-se apontar
que a ocitocina é o fármaco mais eficiente para o tratamento da HPP. Contudo, no
período intraparto, deve-se ter cuidados em relação ao uso da Ocitocina. Isso não
significa não utilizar Ocitocina, mas sim utilizá-la de forma racional. Ela é uma droga
muito importante durante a assistência ao trabalho de parto, mas seu uso excessivo
traz malefícios, sendo um deles o aumento do risco da hemorragia puerperal. o
objetivo deste trabalho foi identificar na literatura a eficácia do fármaco ocitocina na
profilaxia da hemorragia pós-parto. Este estudo trata-se de uma revisão integrativa
de literatura, de cunho descritivo- exploratório. O presente trabalho foi realizado
entre os meses de novembro e dezembro de 2021, com o intuito de unir e analisar
informações de diferentes estudos sobre a ocitocina para o tratamento da hemorragia
pós-parto. As pesquisas para o levantamento bibliográfico foram realizadas a partir
de estudos nas bases de dados científicas das bibliotecas virtuais: Scientific Eletronic
Online Library (ScieElo), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS) e BDENF. A importância da ocitocina na profilaxia da HPP é
universalmente reconhecida. Porém, nos LRL, a escassez de recursos, a inexistência
de indicadores de saúde materna e de sistemas de monitorização nacionais têm
dificultado a implementação ou ampliação de intervenções. As normas de orientação
clínica disponíveis estão frequentemente incompletas ou desatualizadas, sendo
essencial mudar este paradigma. É necessário atender às diferenças entre os vários
contextos e analisar a visão da parturiente e familiares.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

O pós- parto ou puerpério é o momento de vida da mulher no qual ocorrem manifestações


involutivas e recuperativas do organismo materno após o parto, em que os profissionais de
saúde devem fornecer informações e realizar avaliações específicas, uma vez que está
sujeito a complicações. Para (ALVES et al., 2020) e (BARATIERI, 2019), essa fase divide-
se em dois momentos: puerpério imediato (1º ao 10º dia pós- parto), tardio (11º ao 45º dia)
e remoto (após o 45º dia).
A hemorragia pós parto (HPP) corresponde à perda excessiva de sangue após o parto devido
à falta de contração do útero após a saída do bebê. É considerada HPP quando a mulher perde
mais de 500 mL de sangue após o parto normal ou mais de 1000 mL após a cesárea (SILVA et
al, 2021).
A HPP afeta aproximadamente 2,0% a 7,0% de todas as mulheres no período
puerperal e é a causa de aproximadamente 25% de todas as mortes de gestantes no
mundo, principalmente em países de baixa e média renda, com cerca de 140.000 mortes anuais
e frequência de uma morte a cada quatro minutos (ALVES et al., 2020).
A maioria dessas mortes poderiam ser evitáveis, embora ainda exista muita precariedade nos
serviços de saúde mais escassos de recursos (SILVA et al, 2021). Esta problemática é
responsável por grande parte das morbidades maternas graves, como internações
hospitalares prolongadas, necessidade de transfusões sanguíneas, inclusive com evolução para
choque e disfunção orgânica, e procedimentos cirúrgicos que podem levar à perda da função
reprodutiva, sequelas físicas e/ou emocionais (ALVES, 2020);(ANDRADE et al., 2019);
(KOCH & RATTMANN, 2019).
Para o controle hemorrágico existem alguns tratamentos profiláticos como fármacos usados
para a reversão. A ocitocina promove a contração uterina e assim previne o sangramento
excessivo após o parto. Esse fármaco deve ser ministrado à mulher, pela via intramuscular ou
endovenosa, pouco antes ou logo depois do bebê nascer (CARLOS; MACÊDO, 2020).
Deduz-se que as etiologias mais comuns da HPP são a atonia uterina, que surge como
complicação a cada 20 partos, e os fatores de risco como gestação múltipla, polidrâmnios,
macrossomia fetal, trabalho de parto precipitado ou prolongado, corioamnionite ou
incapacidade da contração muscular pelo uso de tocolíticos ou anestesia geral. (SILVA, et al
2021)

Página 86
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A hemorragia pós-parto é uma questão de saúde pública, onde diversas mortes poderiam ser
evitadas. Após a análise deste estudo, pode-se apontar que a ocitocina é o fármaco mais
eficiente para o tratamento da HPP (MONTAÑO MEDRANO, 2019). Contudo, no período
intraparto, deve-se ter cuidados em relação ao uso da Ocitocina. Isso não significa não utilizar
Ocitocina, mas sim utilizá-la de forma racional. Ela é uma droga muito importante durante a
assistência ao trabalho de parto, mas seu uso excessivo traz malefícios, sendo um deles o
aumento do risco da hemorragia puerperal (ARENCIO HEREDIA, 2019).

OBJETIVO

Identificar na literatura a eficácia do fármaco ocitocina na profilaxia da hemorragia pós-parto

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa de literatura, de cunho descritivo-


exploratório. O presente trabalho foi realizado entre os meses de novembro e dezembro de
2021, com o intuito de unir e analisar informações de diferentes estudos sobre a ocitocina para
o tratamento da hemorragia pós-parto.

As pesquisas para o levantamento bibliográfico foram realizadas a partir de estudos nas bases
de dados científicas das bibliotecas virtuais: Scientific Eletronic Online Library (ScieElo),
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e BDENF sob a
aplicação dos descritores: “Saúde Materna”, “Ocitocina”, “Hemorragia pós-parto”,
“Tratamento” e “Hemorragia”. Selecionados pelos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)
sob aplicabilidade do operador booleano AND e OR.

Por conseguinte pelo levantamento bibliográfico foram encontrados 740 resultados


distribuídos entre as bases mencionadas. Como critérios de inclusão foram considerados:
estudos disponíveis de forma gratuita, nos idiomas português e espanhol, dentro do recorte
temporal dos últimos cinco anos, indexados nas bases de dados referenciadas e que atendessem
ao objetivo proposto. Os critérios de exclusão foram limitados a artigos pagos e que não
atenderam ao objetivo proposto. Mediante a delimitação foram selecionados 8 artigos que
respondiam aos objetivos do estudo para compor a amostra final.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Página 87
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Os artigos selecionados para compor a amostra deste estudo foram organizados na tabela 1,
do mais atual para o mais antigo, contendo os títulos, autores, ano de publicação e objetivos.

Tabela 1 - Artigos selecionados para análise do estudo.


TÍTULO AUTOR/ANO OBJETIVOS

Rever o uso da ocitocina na


O papel da ocitocina na
profilaxia da hemorragia pós-
prevenção da hemorragia
FERREIRA, REYNOLDS parto em locais com recursos
pós-parto em
2021 limitados.
configurações de baixo
recurso.

Avaliar e sintetizar as últimas


publicações acerca do
Manejo clínico da tratamento clínico para a
hemorragia pós-parto: uma SILVA, et al HPP, tendo em vista a
revisão integrativa. 2021 detecção, o diagnóstico e,
sobretudo, o manejo clínico
precoce.

Apresentar os métodos
Métodos para minimizar CARLOS; MACÊDO profiláticos para evitar
hemorragia uterina pós-parto 2020 sangramento significativo
pós-parto.

Diferença entre ocitocina vs Comparar os efeitos da


duratocin, determinar qual MONTAÑO MEDRANO carbetocina e ocitocina em
tem o maior efeito no manejo 2019 hemorragias pós-parto.
da hemorragia pós-parto.

Avaliar os benefícios do uso


de ocitócicos na profilaxia de
O uso de ocitócitos na MARINHO et al, hemorragia pós-parto, assim
profilaxia da hemorragia pós- 2019 como melhor droga de
parto primária. escolha, período e via de
administração.

Determinar a eficácia do
Eficácia da ocitocina no manejo preventivo mais
momento da entrega e ARENCIO HEREDIA, 2019 ocitócico versus manejo
prevenção da hemorragia fisiológico na redução do

Página 88
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

pós-parto. tempo de parto e do volume


de sangramento pós-parto.

Identificar as evidências
Prevenção e tratamento da OLIVEIRA E DAVIM sobre a prevenção e o
hemorragia pós-parto. 2019 tratamento da hemorragia
pós-parto em cuidados no
campo da saúde.

Descrever os efeitos da
carbetocina e sua
Uso de Carbetocina versus comparação com a ocitocina
Ocitocina em cesarianas com SUAREZ GONZALEZ et al, como a primeira opção para
alto risco de Atonia Uterina 2017 prevenir hemorragia
obstétrica em pacientes
cesáreos em risco de atonia
uterina.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

A partir da análise dos estudos, evidenciou-se que as mortes maternas decorrentes de


hemorragia são comuns, principalmente no Brasil. A Ocitocina é o agente uterotônico
escolhido para a profilaxia desta complicação (FERREIRA E REYNOLDS, 2021). A ocitocina
é um hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise posterior, atuando no
processo de estímulos das contrações musculares uterinas, reduzindo o sangramento durante o
parto (OLIVEIRA E DAVIM, 2019).

Pela verificação dos trabalhos selecionados foram observadas as intervenções utilizadas na


prevenção e controle da hemorragia pós-parto e como manejo profilático evidenciou-se a
utilização da ocitocina injetável como o fármaco mais eficaz e do misoprostol nos casos mais
graves de HPP (OLIVEIRA E DAVIM, 2019); (ARENCIO HEREDIA, 2019); (SUAREZ
GONZALEZ et al, 2017); (CARLOS; MACÊDO, 2020).

De acordo com (FERREIRA E REYNOLDS, 2021), torna-se imprescindível a necessidade


de melhorar as aptidões da assistência ao parto, sobretudo os profissionais de saúde que
trabalham em centros de saúde mais isolados e com escassos recursos. Para diminuir a
mortalidade materna, o Ministério da Saúde tem criado políticas que aumentam o atendimento
complexo e humanizado às gestantes, desde o acompanhamento no pré-natal, parto e pós-parto,
e também a qualificar os profissionais de saúde (CARLOS E MACÊDO, 2020).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A qualidade da ocitocina disponível nos LRL é outro desafio. A fraca qualidade deve-se à
labilidade térmica do fármaco, à produção de má qualidade e à contrafação, levando
comumente à administração de doses superiores às recomendadas para se obter o mesmo
efeito.22-24 A situação agrava-se pelo desconhecimento generalizado e incapacidade no
cumprimento das condições de armazenamento e transporte. A necessidade de formação e
discussão deste assunto com profissionais de saúde, decisores políticos e membros da cadeia
de distribuição é fulcral para se criarem normas de atuação relativas ao uso da ocitocina.
(FERREIRA E REYNOLDS, 2021).

A importância da ocitocina na profilaxia da HPP é universalmente reconhecida. Porém, nos


LRL, a escassez de recursos, a inexistência de indicadores de saúde materna e de sistemas de
monitorização nacionais têm dificultado a implementação ou ampliação de intervenções.
As normas de orientação clínica disponíveis estão frequentemente incompletas ou
desatualizadas, sendo essencial mudar este paradigma. É necessário atender às diferenças entre
os vários contextos e analisar a visão da parturiente e familiares (ARENCIO HEREDIA, 2019).

CONCLUSÃO

Através dos artigos revisados, foi evidenciado na literatura os efeitos e os benefícios da


ocitocina na profilaxia da hemorragia pós-parto e que as consequências estão relacionadas
diretamente com implicações à saúde como foi relatado nos resultados. Para tanto, a ocitocina
injetável é um método de tratamento utilizado nessa deficiência.

O fármaco teestimula a contração uterina auxiliando na diminuição do sangramento uterino.


Os consultórios e hospitais têm muito a oferecer em formas de prevenção e promoção em saúde
com os manejos de prevenção da hemorragia pós-parto, já que é menos arriscado e agressivo a
prevenção do que durante os tratamentos de hemorragias puerperais.

Nesse contexto foi fundamental o tratamento com o fármaco ocitocina durante o 3º estágio
de trabalho de parto a fim de diminuição de hemorragia pós-parto que levam a mortalidade
materna, portanto são necessários novos estudos e pesquisas sobre o tema visando à diminuição
da mortalidade materna que se tornou um problema de saúde pública.

REFERÊNCIAS

Página 90
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Lombardo, Márcia, Kalleian Eserian, Jaqueline O controle da hemorragia pós-parto e a


avaliação da qualidade da ocitocina injetável. Perspectivas Médicas . 2016, 27(1), 26-31[fecha
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Oxford: Update Software Ltd. Disponible en: http://www.update-software.com. (Traducida de
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hemorragia posparto. La Biblioteca Cochrane Plus, n. 2, 2008.

Lombardo, Márcia, Kalleian Eserian, Jaqueline O controle da hemorragia pós-parto e a


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31[fecha de Consulta 29 de Diciembre de 2021]. ISSN: 0100-2929. Disponível em:
https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=243246722004.

FERREIRA, Inês; REYNOLDS, Ana. O Papel da Ocitocina na Prevenção da Hemorragia Pós-


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857-863, dez. ISSN 1646-0758. Disponível em:
<https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/14258>. Data de
acesso: 29 de dezembro de 2021. doi: http://dx.doi.org/10.20344/amp.14258.

SUAREZ GONZALEZ, Juan Antonio et al . Uso de carbetocina frente al uso de oxitocina en


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Ginecol, Ciudad de la Habana , v. 43, n. 2, p. 1-10, jun. 2017 . Disponible en
<http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0138600X2017000200010&lng=es
&nrm=iso>. accedido en 29 dic. 2021.

CARLOS, Yasmim Oliveira¹; MACEDO, Daniela Cristina. MÉTODOS PARA MINIMIZAR


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MONTAÑO MEDRANO, Rocio. Diferencia entre oxitocina vs duratocin, determinar cual


posee mayor efecto en el manejo de la hemorragia postparto. 2019.

ARENCIO HEREDIA, Lourdes. Eficácia da ocitocina no momento da entrega e prevenção da


hemorragia pós-parto. Veritas, [S.l.], v. 13, n. 1, p. 188-193, Jun. 2019. ISSN 1684-7822.
Disponível em: <https://revistas.ucsm.edu.pe/ojs/index.php/veritas/article/view/197>. Data de
acesso: 29 de dezembro. 2021.

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subgrupo do ensaio da MULHER. BMC Gravidez Parto 18, 215 (2018).
https://doi.org/10.1186/s12884-018-1855-5.

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materna. Brasil, 2018. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5741:folh a-
informativa-mortalidade-materna&Itemid=820. Acesso em: 20 de setembro de 2020.

OLIVEIRA, Rita de Cássia de; DAVIM, Rejane Marie Barbosa. Prevenção e tratamento da
hemorragia pós-parto. Revista de Enfermagem UFPE Online, Recife, v. 13, n. 1, p. 236-48,
jan.2019. Disponível em:
http://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaemenfermagem/article/view/238415/31165. Acesso
em: 25 de dez de 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 8

DINÂMICA INTERATIVA SOBRE O BURNOUT:


RELATO DE EXPERIÊNCIA DE EXTENSIONISTAS
DURANTE AÇÃO COM PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Bruno Daniel Rodrigues França, Bruna Sampaio Lopes Costa, Júlia Amélia
Silva Melo, Nathália Myllene Soares Francelino, Deborah Neves Guerra, Ana
Paula Sales de Araújo, Vitoria Torrinha Victorino, Elayne Mágda Andrade do
Nascimento, Juliete Pereira de Souza, Manuela Cavalcanti Magalhães,
Betynna Grazianne Batista Queiroga, Mariana de Sousa Dantas Rodrigues,
Elizanete de Magalhães Melo e Carla Braz Evangelista

RESUMO: A Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional ou


Síndrome do Esgotamento Emocional é uma resposta física, mental e emocional a um
processo de estresse crônico relacionado ao trabalho, comum aos trabalhadores que
lidam diretamente com pessoas, com pressão emocional e que têm grandes
responsabilidades, como os profissionais de saúde. Desse modo, o trabalho visa
relatar a experiência de extensionistas das mais diversas áreas da saúde, que
compõem o projeto de extensão “Burnout entre os trabalhadores de saúde: conhecer,
prevenir e dialogar”, acerca de uma abordagem educativa com dinâmicas interativas
sobre a Síndrome de Burnout voltada para os colaboradores da área da saúde de um
hospital público, localizado em Santa Rita, Paraíba, Brasil. Trata-se de um relato de
experiência de extensionistas acerca de ação realizada em setembro de 2021. Para a
dinâmica foram utilizados: computador, acesso à internet disponível no hospital, slide
para uma breve explanação sobre a Síndrome e sobre o projeto de extensão, placas
coloridas, balões de assoprar com palavras relacionadas ao tema, e um quiz realizado
no site Kahoot com 2 perguntas de múltipla escolha e 1 de verdadeiro ou falso. A
dinâmica contou com a participação de 11 profissionais de saúde do referido local.
Estes apresentavam um sucinto conhecimento sobre o conceito da síndrome, porém
não sabiam suas características, sinais, sintomas e como reconhecê-la em si e nos
colegas de trabalho. Dessa maneira, percebe-se a importância e a necessidade de
que novas ações semelhantes a essa sejam realizadas tanto em outros níveis de
atenção em saúde como novamente nesse hospital para possibilitar trocas de
conhecimentos e experiências entre os extensionistas e os profissionais acerca do
tema, proporcionar informações mais atualizadas sobre a síndrome e promover
cuidado e saúde aos profissionais de saúde.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A saúde mental dos trabalhadores emerge em diferentes campos onde vão ser
destacadas as relações dos sujeitos com o trabalho, o que inclui dimensões afetivas e
envolvimento subjetivo, vínculos simbólicos entre sujeitos e instituições, comportamentos nas
organizações, sofrimentos e prazer no trabalho, desgastes mentais, da autoimagem e identidade,
estressores do ambiente laboral, violências organizacionais, entre outros (CASTRO; LEÃO,
2020). Em que alguns desses fatores podem levar os profissionais ao acometimento pela
Síndrome de Burnout.
O esgotamento emocional (Burnout) foi incluído na lista de doenças relacionadas ao
trabalho (LDRT), registrado com o código Z73.0, na 10ª Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10) (BRASIL, 2020).
A Síndrome de Burnout pode ser definida como algo que parou de funcionar, exaustão
de energia que o trabalhador venha apresentar em decorrência de estressores crônicos da prática
laboral. Desse modo, os profissionais são acometidos por agravos da Síndrome de Burnout
(DORNELAS; DALMOLIN; FACIN, 2021).
Esse estresse crônico relacionado ao trabalho apresenta três principais componentes os
quais são: a exaustão física e emocional, o cinismo e a falta de realização profissional. A
exaustão é relativa ao sentimento de esgotamento emocional e físico descrevendo sentimentos
de cansaço e de falta de energia no trabalho. O cinismo, por sua vez, é um mecanismo de
proteção inicial que evolui para distanciamento, indiferença e falta de humanização. A falta de
realização profissional ocorre quando o trabalhador se sente fracassado e com baixa
produtividade no trabalho (MASLACH; LEITER, 2016).
Desse modo, muitos dos reflexos da condição da Síndrome de Burnout podem ser
observados na deterioração das relações interpessoais, atrasos, diminuição da produtividade e,
pode incluir também a falta de motivação. Por outro lado, problemas relacionados ao excesso
de trabalho incluem absenteísmo relacionado a doença, acidentes de trabalho, erros de
medicação, riscos ocupacionais, falta de reconhecimento e de plano de carreira, sobrecarga e
exaustão, ausência de lazer e de convívio familiar e social (LATORRACA et. al., 2019).
Preservar-se, fazer a distinção de pessoal e profissional, realizar atividades prazerosas,
praticar exercício físico regular, diminuir o horário de trabalho, fazer o que gosta e trabalhar
com o que ama são algumas das maneiras de não ser acometido por essa doença, além de buscar
ajuda quando observado alguns dos sintomas descritos. Convém lembrar que a implementação
de dinâmicas interativas no ambiente de trabalho podem ajudar na distração do dia a dia e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

prevenir tal Síndrome a qual vem acometendo diversos profissionais de várias áreas de trabalho
(BUENO, 2017).

METODOLOGIA

Este é um estudo descritivo e qualitativo do tipo relato de experiência de uma ação


realizada no dia 27 de setembro de 2021, no Hospital e Maternidade Flávio Ribeiro Coutinho
localizado no município de Santa Rita, Paraíba, Brasil. Os participantes foram os discentes de
graduação e docente da equipe conhecer, integrantes do projeto de extensão intitulado “Burnout
entre os trabalhadores de saúde: conhecer, prevenir e dialogar” vinculado ao Centro
Universitário de João Pessoa – Unipê.
Foi realizada uma palestra sobre a Síndrome de Burnout e dinâmica interativa com os
profissionais de diversos setores do hospital. Para tanto, foram utilizados materiais e recursos
didáticos como balões, computadores, slides, projetor, placas coloridas, internet, Kahoot e
celulares para melhor interação dos participantes durante a dinâmica.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Utilizou-se o meio lúdico com auxílio de placas coloridas com nomes como: conceito,
fatores de risco, diagnóstico, prevenção e tratamento. Essas foram respondidas pelos
profissionais conforme o nome da placa que era apresentada a eles. Notou-se que os
profissionais tinham um breve conhecimento sobre o conceito da Síndrome de Burnout, porém,
tiveram dificuldade para responder sobre os fatores de risco, diagnóstico, prevenção e
tratamento. Logo em seguida, as informações eram complementadas e dúvidas sanadas através
da exposição da apresentação e, ao final da exposição interativa e dialogada.
Em seguida, houve a aplicação do jogo Kahoot, que contemplou perguntas de
alternativas de múltiplas escolhas e de verdadeiro ou falso de respostas sobre o tema e os
participantes, de forma ativa, com uso do aparelho celular e acesso à rede de internet
institucional, responderam aos questionamentos com 2 perguntas de múltipla escolha e 1 de
verdadeiro ou falso. Ao final da pontuação geral, foram utilizados balões coloridos com
palavras referentes à Síndrome e que, após estourados por cada profissional, houve uma
exposição de depoimentos e reflexões sobre contextos ocupacionais acerca do problema.
A ação foi realizada em uma sala reservada para a ocasião no referido hospital.

Figura 1. Dinâmica com jogo Kahoot

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2021.

Figura 3. Dinâmica com jogo Kahoot e balões com termos relacionados ao tema

Fonte: Autores, 2021.

Figura 4. Dinâmica com reflexão acerca do tem

a
Fonte: Autores, 2021

Página 96
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Figura 5. Dinâmica com discussão acerca do tema

Fonte: Autores, 2021.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O público-alvo composto por 11 profissionais da saúde do referido local, aprenderam


como identificar os sinais e sintomas de Burnout e os meios preventivos e terapêuticos. Os
colaboradores apresentaram interesse sobre o tema abordado, constataram semelhanças entre
as manifestações clínicas da síndrome e sua condição de saúde atual, compartilharam
experiências vivenciadas e interagiram de forma satisfatória com a dinâmica através de placas
coloridas com os nomes conceito, fatores de risco, diagnóstico, prevenção e tratamento, cujo os
alunos explicavam cada placa; jogo de perguntas Kahoot e balões que continham sintomas da
síndrome, cada profissional estourava um balão e explanava sobre o sintoma extraído.
Foi possível observar que alguns desses profissionais possuíam um conhecimento breve
sobre a síndrome, porém não sabiam suas características, sinais, sintomas e como reconhecê-la
em si e nos colegas de trabalho. Com isso, verificou-se a necessidade de novas ações educativas,
cujo conhecimento sobre a síndrome e identificação precoce possibilita o tratamento e a
promoção da qualidade de vida dos trabalhadores e do ambiente de trabalho.
Segundo JARRUCHE; MUCCI (2021), é imprescindível que os gestores articulem
atividades preventivas e interventivas, também a intervenção no ambiente de trabalho visto que
a organização deste é um dos meios de tratamento e prevenção de Burnout, uma vez que é
necessário o diagnóstico precoce da síndrome, pois vários colaboradores possuem alto risco em
desenvolvê-la.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CONCLUSÃO

O uso de dinâmicas interativas associada a tecnologias educacionais, como o Kahoot, no


contexto da ação realizada proporcionou a aprendizagem ativa e uma interação relevante entre
os participantes e os extensionistas, que apresentaram interesse e participação nos jogos
propostos, além de uma importante discussão e esclarecimento acerca do tema e das dúvidas
que os colaboradores do hospital possuíam.
Sugere-se, dessa forma, a implementação de atividades extensionistas que envolvam a
temática proposta em diversos cenários de atenção à saúde, no intuito de potencializar ações
voltadas para a promoção da saúde do trabalhador e para prevenir, diminuir ou até mesmo
eliminar o acometimento pela Síndrome de Burnout no público.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.309, de 28 de agosto de 2020. Altera a Portaria de


Consolidação nº 5/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, e atualiza a Lista de Doenças
Relacionadas ao Trabalho (LDRT). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ed.168, p.
40, 1 set. 2020.
BUENO, F.A.R. Síndrome de Burnout: seus sintomas e consequências no âmbito profissional
e pessoal. XV JORNADA CIENTÍFICA DOS CAMPOS GERAIS. v. 15, Disponível em:
https://iessa.edu.br/revista/index.php/jornada/article/view/121. Acesso em: 29 de dez. 2021.
CASTRO, C.A; LEÃO, C.H.L. A metamorfose e o campo da saúde mental de trabalhadores:
uma análise bakthiniana. Ciênc. saúde coletiva, v. 25, n. 9, p. 3615-3624, 2020. Disponível
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DORNELES, A.J.A.; DALMOLIN, G. de L.; FACIN, M.B. Burnout em trabalhadores de
enfermagem hospitalar: estudo de tendência. Research, Society and Development , v. 10, n.
11, p. 1-12, 2021. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i4.13935. Acesso: 29 de
dez. 2021.
JARRUCHE, L.T; MUCCI, S. Síndrome de burnout em profissionais da saúde: revisão
integrativa. Revista Bioética, v. 29, n. 1, 2021. Disponível em:
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LATORRACA, C.O.C et al. O que as revisões sistemáticas Cochrane dizem sobre prevenção
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of Stress Series. v.1, p.351-357, 2016.

Página 98
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 9

IMPACTOS DA OSTEOPOROSE NA SAÚDE DO


IDOSO
Cicera Eduarda Almeida de Souza, Maria Dhescyca Ingrid Silva Arruda,
Fernanda Barbosa Gomes dos Santos, Valéria Pereira Barbosa da Silva
Araújo, Cícero Denilson Aurélio Soares, Victoria Freitas de Souza Moura,
Elmara de Sousa Almeida, Fábio José Antônio da Silva, Alexiane Carvalho
Silva, Gustavo Baroni Araújo, Emily da Silva Eberhardt, Laura Guerra Lopes,
Eliana Luz Lopes, Bianca Marçal Kós e José Henrique de Sousa Ribeiro.

RESUMO: A osteoporose é caracterizada por ser uma doença sistêmica que resulta
na diminuição da massa óssea em decorrência da diminuição de cálcio e por fatores
fisiológicos que são comuns devido a idade. Essas alterações interferem
significativamente na redução da qualidade de vida dos idosos, de modo que deixam
mais suscetíveis a queda devido à fragilidade óssea. Essa patologia é responsável
por grandes taxas de óbitos em decorrência de quedas fatais entre esse público e
trata-se de uma questão de saúde pública. O presente estudo teve como objetivo
identificar na literatura os efeitos da osteoporose no organismo, bem como seus
impactos na saúde da pessoa idosa. Este trabalho trata-se de uma revisão integrativa
de literatura de cunho descritivo-exploratório, na qual inclui a análise de pesquisas
relevantes sobre a osteoporose em idosos, para atingir os objetivos propostos.as
buscas foram realizadas no mês de dezembro de 2021, cuja finalidade foi reunir
informações de diferentes estudos de maneira objetiva, completa e imparcial sobre a
temática. A pesquisa foi realizada pelo levantamento bibliográfico nas bases de
dados: Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Scientific
Eletronic Online Library (ScieElo) Google Acadêmico e Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), sob a aplicação dos descritores
selecionados pelo Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Idoso”; “Osteoporose”;
“Prevenção de Doenças”; “Envelhecimento” por intermédio do operador booleano
AND e OR. A partir dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 6 artigos
que abordassem discussões sobre os objetivos do estudo para compor a amostra
final. Como resultado evidenciou-se que a idade é apenas um dos fatores
contribuintes do desenvolvimento da osteoporose. Assim como, muitos outros
fatores de risco podem estar associados a componentes genéticos, pico de massa
óssea, ao estilo de vida, desse modo, a existência desses fatores contribui para o
desenvolvimento da osteoporose nas pessoas em fase de envelhecimento. A nutrição
do idoso está interligada diretamente com a osteoporose, o déficit de vitaminas do
complexo B, principalmente a B12, e o aumento de homocisteína, aumentam o risco
de evolução da osteoporose. Portanto, sugere-se como uma das medidas preventivas
da osteoporose a execução de exercícios físicos , a ingestão de cálcio, vitamina D e
vitamina B12. As medidas de precaução devem ser realizadas pela família como
forma de prevenir a queda e fraturas, aliado ao princípio da compreensão de fatores
de riscos à osteoporose, podendo ajudar em uma melhor qualidade de vida na
população idosa.

Página 99
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A osteoporose caracteriza-se por ser uma doença sistêmica que resulta na diminuição da
massa óssea em decorrência da diminuição de cálcio e por fatores fisiológicos que são comuns
devido a idade. Para (SANTOS et al., 2012) essas alterações interferem significativamente na
redução da qualidade de vida dos idosos, de modo que deixam mais suscetíveis a queda devido
à fragilidade óssea.
Com o envelhecimento da população brasileira há um aumento relacionado a predominância
de doenças crônicas não transmissíveis, tratando-se para muitos com uma nova preocupação
na sociedade. Dentre as doenças crônicas não transmissíveis destaca-se a osteoporose que se
caracteriza como um desafio de saúde para população idosa, visto que a existência dessa
enfermidade é maior para a população em processo de envelhecimento ( CAMAGOS et al.,
2017).
Para (MOTA et al., 2012) esta patologia é muito comum em idosos devido terem uma idade
avançada, a osteoporose é responsável por grandes taxas de óbitos em decorrência de quedas
fatais entre esse público e trata-se de uma questão de saúde pública. Os impactos causados pela
doença resultam na limitação para realização de algumas atividades físicas, locomoção que são
decorrentes da falta de estímulo por parte da família que não trabalha a autonomia do idoso e
que pode comprometer ainda mais a qualidade e bem-estar.
Cerca de 50% dos idosos com osteoporose são hospitalizados em virtude de quedas com
uma frequência elevada, o que evidencia a necessidade da participação ativa dos familiares
durante o dia-a-dia para garantir a segurança do paciente no ambiente domiciliar para que não
haja comprometimento e agravamento no seu quadro clínico (HIPÓLITO, 2019).

OBJETIVO
Identificar na literatura os efeitos da osteoporose no organismo, bem como seus impactos na
saúde da pessoa idosa.

METODOLOGIA

A sistematização metodológica trata-se de uma revisão integrativa de literatura de cunho


descritivo-exploratório, na qual inclui a análise de pesquisas relevantes sobre a osteoporose em
idosos, para atingir os objetivos propostos.as buscas foram realizadas no mês de dezembro de
2021, cuja finalidade foi reunir informações de diferentes estudos de maneira objetiva,
completa e imparcial sobre a temática.

Página 100
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A presente pesquisa foi realizada por meio do levantamento bibliográfico nas bases de dados
científicas das bibliotecas virtuais: Literature Analysis and Retrieval System Online
(MEDLINE), Scientific Eletronic Online Library (ScieElo) Google Acadêmico e Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), sob a aplicação dos
descritores selecionados pelo Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Idoso”;
“Osteoporose”; “Prevenção de Doenças”; “Envelhecimento” por intermédio do operador
booleano AND e OR.

Após o levantamento bibliográfico, foram encontrados 60 resultados, Destes foram


escolhidos os artigos mais recentes e representativos acerca da problemática, determinou-se
como critérios de inclusão: estudos disponíveis de forma gratuita, nos idiomas português dentro
do recorte temporal de 5 anos, referenciados nas bases de dados pesquisadas e que atendessem
à temática. Já os critérios de exclusão definidos correspondem a artigos pagos e que não
atenderam ao objetivo proposto. Com isso, foram selecionados 6 artigos que abordassem
discussões sobre os objetivos do estudo para compor a amostra final.

RESULTADOS E DISCUSSÕES:
As informações dos artigos que compuseram a amostra deste estudo foram distribuídos na
tabela 1 contendo os títulos, autores, ano de publicação, país e objetivos. Organizados no
recorte temporal do mais atual para o mais antigo.

Tabela 1 - Artigos selecionados para análise do estudo.


TÍTULO AUTOR /ANO OBJETIVOS

O Exercício Resistido Para a Investigar segundo a


Prevenção da Osteoporose literatura, o efeito da
em Idosos intervenção com treinamento
SANTOS, WAGNER contra resistido em idosos
2021 para prevenção da
osteoporose e entender quais
os mecanismos biológicos e
fisiológicos, são acionados a
partir do exercício de força, a
fim de traçar uma melhor
proposta de intervenção para
pessoas acometidas, por esta
doença.

Análise dos Principais Analisar os fatores de risco


Fatores de Risco para o para o desenvolvimento da
Desenvolvimento da CONCEIÇÃO, 2019 osteoporose em idosos, visto
Osteoporose em Idosos. que, essa população, tem

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

maior probabilidade de
adquirir esse distúrbio que os
demais.

Impactos na Qualidade de CARVALHO et al, 2020 Descrever a importância da


Vida dos Idosos Portadores osteoporose como fator
de Osteoporose agravante na qualidade de
vida de pacientes idosos

Riscos Para o FERREIRA HIPÓLITO et Conhecer os riscos para o


Desencadeamento da al, 2019 desencadeamento da
Osteoporose Nos Idosos osteoporose nos idosos

A osteoporose: um dos Verificar as precauções e a


principais fatores influência do exercício físico
responsável de fraturas em no tratamento da osteoporose
idosos e sua relevância em idosos e com intuito de
SOARES GFC; Andrade contribuir para o
EG , 2019 desenvolvimento de técnicas,
assim levando em conta a
atividade física ou a prática
regular de exercícios
influenciam a manutenção
das atividades normais
ósseas e por este motivo a
atividade física tem sido
indicada no tratamento da
osteoporose.

verificar na literatura
Atuação do profissional de científica a influência do
educação física para a OLIVEIRA et al, 2019 profissional de Educação
prevenção e tratamento da Física na prevenção e no
osteoporose em idosos tratamento da osteoporose
em idosos.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2021

Como resultado evidenciou-se que a idade é apenas um dos fatores contribuintes do


desenvolvimento da osteoporose. Assim como, muitos outros fatores de risco podem estar
associados a componentes genéticos, pico de massa óssea, ao estilo de vida, desse modo, a
existência desses fatores contribui para o desenvolvimento da osteoporose nas pessoas idosas
(CONCEIÇÃO, 2019).
A densidade mineral óssea é preponderantemente estabelecida por condições genéticas e de
idade, De acordo com (OLIVEIRA et al, 2019) a osteoporose é considerada, uma enfermidade
poligénica, caracterizada pela perda progressiva de massa óssea, tornando os ossos do
indivíduo enfraquecidos e predispostos a fraturas.

Página 102
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A grande maioria das quedas em idosos ocasiona fraturas. Assim, medidas preventivas
necessitam ser adotadas para que sua ocorrência seja reduzida. A prática de exercícios físicos
regulares é defendida por vários autores com o objetivo de combater o sedentarismo, fortalecer
e aumentar a massa muscular, além de melhorar a postura e o equilíbrio corporal desses
indivíduos. As alterações no ambiente domiciliar também devem fazer parte das orientações
aos idosos, para que se evitem escorregões, tropeções e quedas. Neste sentido, a eliminação de
pisos escorregadios, retirada de tapetes e instalação de corrimãos nas rampas, escadas e
banheiros são medidas preventivas simples e eficientes (SOARES GFC; Andrade EG , 2019).
A partir da análise dos estudos, (CONCEIÇÃO, 2019) e (FERREIRA HIPÓLITO et al,
2019) evidenciou-se que durante o processo de envelhecimento, a pessoa idosa passa maioria
das vezes por modificações físicas e psíquicas no organismo, gerando uma diminuição
acentuada da capacidade de reprodução da unidade celular, impactando diretamente na
qualidade da densidade mineral óssea.
De acordo com (CONCEIÇÃO, 2019), a perda de células resulta em vários graus de
ineficácia e do retardo da função orgânica dos nossos tecidos,esses efeitos por sua vez, ocorrem
durante o ciclo de vida, e é resultado da diminuição da capacidade que o organismo tem de
responder tanto no meio externo quanto no externo.
Dentre os problemas de saúde que ocorrem na fase da terceira idade e que impactam
negativamente o bem estar físico do idoso é a osteoporose, é importante destacar que muitos
destes, não apresentam sintomas ou não sabem que têm osteoporose até que tenham uma fratura
óssea (CARVALHO et al, 2020). De acordo com (SANTOS E WAGNER , 2021) a osteoporose
é silenciosa e geralmente não apresenta sintomas, embora quando aparecem os sintomas mais
comuns são dores crônicas, a redução das papilas gustativas, da secreção salivar que leva à
consequente sensação de boca seca, perda dos dentes e a deformação de ossos.
A nutrição do idoso está interligada diretamente com a osteoporose, o déficit de vitaminas
do complexo B, principalmente a B12, e o aumento de homocisteína, aumentam o risco de
evolução da osteoporose. Além do mais, a homocisteína impossibilita a lisiloxidase, o que leva
à alteração da síntese de colágeno (CONCEIÇÃO, 2019).
As proteínas são consideradas um nutriente de relevo para a dinâmica do osso, portanto, é
imprescindível um acompanhamento nutricional a essa população, para que seja incentivada
uma alimentação balanceada e rica em nutrientes capazes de prevenir a osteoporose e
problemas de saúde decorrentes de uma má alimentação (ARES GFC; Andrade EG, 2019).
Com todo o exposto verifica-se que a osteoporose é um problema universal que possui
diversas etiologias e pode sofrer diversas interferências ao longo da vida dos indivíduos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

afetados. Desde fatores genéticos intrínsecos até os fatores ambientais mais diversos como
alimentação e metabolismo diferenciado (CONCEIÇÃO, 2019).

CONCLUSÃO
Em virtude dos resultados mencionados, a osteoporose é vista como um grave problema de
saúde pública por ser uma doença silenciosa e ser motivo das causas de morbimortalidade em
pessoas idosas. Priorizou-se esse campo de investigação, por conta de existirem limitações
acerca do conhecimento sobre a doença.
O objetivo proposto fora alcançado permitindo demonstrar os impactos que a osteoporose
pode causar à saúde do idoso. Na trajetória da análise deste estudo, foi possível perceber
também que a doença está relacionada principalmente à hereditariedade e à deficiência
nutricional e que essa população necessita de uma alimentação voltada para o fortalecimento
dos ossos.
Portanto, sugere-se como uma das medidas preventivas da osteoporose a execução de
exercícios físicos , a ingestão de cálcio, vitamina D e vitamina B12. As medidas de precaução
devem ser realizadas pela família como forma de prevenir a queda e fraturas, aliado ao princípio
da compreensão de fatores de riscos à osteoporose, o que pode ajudar em uma melhor
qualidade de vida na população idosa.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Pedro Dias et al. IMPACTOS NA QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS


PORTADORES DE OSTEOPOROSE: REVISÃO DE LITERATURA. In: Anais do
Congresso de Geriatria e Gerontologia do UNIFACIG. 2020.
CAMARGOS, M. C. S. Osteoporose e Expectativa de Vida Saudável. Revista Cadernos Saúde
Coletiva, v.25, n.1, p.106 -112, 2017.
CONCEIÇÃO MURILO, Beatriz Maria et al. ANÁLISE DOS PRINCIPAIS FATORES DE
RISCOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA OSTEOPOROSE EM IDOSOS. Disponível
em: EV136_MD1_SA12_ID1098_15072020124822.pdf 2019.
FERREIRA HIPÓLITO, Vívian Roselany et al. Riscos para o desencadeamento da osteoporose
em idosos. Revista de Enfermagem UFPE on line, [S.l.], v. 13, n. 1, p. 148-154, jan. 2019.
ISSN 1981-8963. Disponível em
<https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/236881/31143>. Acesso
em: 15 dez. 2021. doi:https://doi.org/10.5205/1981-8963-v13i1a236881p148-154-2019.
HIPÓLITO VRF, et al. Riscos para o desencadeamento da osteoporose em idosos.
Rev enferm UFPE on line. Recife, 13(1):148-54, jan., 2019
MOTA LS, et al. Intercorrências da osteoporose na qualidade de vida dos idosos. Revista
Interdisciplinar Novafipi, Teresina. v.5, n.2, p.44-49, Abr-Mai-Jun. 2012.
OLIVEIRA, José Igor Vasconcelos et al. Atuação do profissional de educação física para a
prevenção e tratamento da osteoporose em idosos. Brazilian Journal of Health Review, v. 2, n.
2, p. 809-819, 2019.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

SOARES, G. F. C.; ANDRADE, E. G. da S. A osteoporose: um dos principais fatores


responsável de fraturas em idosos e sua relevância. Revista de Iniciação Científica e Extensão,
[S. l.], v. 2, n. 1, p. 24–29, 2019. Disponível em:
https://revistasfacesa.senaaires.com.br/index.php/iniciacao-cientifica/article/view/138. Acesso
em: 20 dez. 2021.
SANTOS, WAGNER. EXERCÍCIO RESISTIDO PARA A PREVENÇÃO DA
OSTEOPOROSE EM IDOSOS PREDISPOSTOS. 2021, Disponível em:
https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/handle/123456789/1915
SANTOS NMF, et al.Qualidade de vida e capacidade funcional de idosos com
osteoporose. Rev. Min. Enferm.;16(3): 330-338, jul./set.,2012

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 10

O PAPEL DO ANESTESIOLOGISTA NA OTIMIZAÇÃO


DO PERIOPERATÓRIO COM BASE NOS
PROTOCOLOS ERAS

Gabriela Oliveira do Nascimento, Bruno Valerio Camargo Ortiz, Iago


Cespede Villar, Matheus Augusto Nepomuceno Fernandes e Paulo
Guilherme Molica Rocha

RESUMO: Diante do procedimento cirúrgico o anestesiologista


responsabiliza-se por encontrar as técnicas que de forma, mais
otimizada, tenham a capacidade de manter o paciente em equilíbrio
homeostático. Nesse sentido, o protocolo ERAS iniciou-se sua
implementação em cirurgias colorretais e, posteriormente, estendeu-
se para diversas especialidades. Tendo como base a medicina baseada
em evidências e as abordagens multidisciplinares e colaborativas,
ERAS objetiva minimizar a dor do paciente, reduzir a utilização de
anestésicos opioides, acelerar a recuperação e diminuir as
complicações perioperatórias e o tempo de internação. Com o objetivo
de que a utilização desses protocolos tenha o seu máximo
aproveitamento, corroborando uma melhor recuperação dos pacientes,
é imprescindível a ação conjunta multidisciplinar com a participação e
colaboração de cirurgiões, anestesiologistas, equipe de enfermagem,
assistência social e assistência hospitalar. O presente estudo é de uma
revisão de literatura baseada no site ERAS e em artigos similares.
Tendo em vista os benefícios trazidos pela utilização do protocolo
ERAS em ambientes hospitalares, com procedimentos pré-operatórios,
intra-operatórios e pós-operatórios, evidenciados com base em em
estudos abrangentes, sua implementação é indicada.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

O anestesiologista tem papel essencial no que diz respeito ao perioperatório, cabendo


ao mesmo individualizar a técnica e condutas anestésicas de acordo com a cirurgia e o paciente.
Dessa forma, cabe ao anestesiologista a avaliação dinâmica e otimizada do paciente no pré-
operatório, intra-operatório e no pós-operatório (Figura 1). Além disso, o cuidado clínico-
cirúrgico, atrelado as condutas baseandas em evidências, reduz a resposta endócrino-metabólica
e imunológica ao estresse perioperatório e as consequências do mesmo. Com isso reduz-se o
tempo de internação e acelera a recuperação no pós-operatório.

Com base nisso, existem protocolos de Otimização da Recuperação Pós-Operatória -


Enhanced Recovery After Surgery (ERAS), que surgiram em 2001 com a formação do Grupo
Europeu Multicêntrico - ERAS Study Group.

Diante da cirurgia a que o paciente é submetido, o anestesiologista responsabiliza-se


por encontrar os procedimentos que de forma mais otimizada tenham a capacidade de manter
o paciente em equilíbrio homeostático. Nesse sentido, o protocolo ERAS iniciou-se sua
implementação em cirurgias colorretais e, posteriormente, estendeu-se para diversas
especialidades.

Figura 1. Componentes de um Programa de Otimização da Recuperação

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Blumenthal, 2019.

Figura 2. Aspectos básicos do protocolo


ERAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Adaptada de Donat e colaboradores, 2019. (DONAT, SM.et al.,1999).

Tendo como base a medicina baseada em evidências e as abordagens multidisciplinares


e colaborativas, ERAS objetiva minimizar a dor do paciente, reduzir a utilização de anestésicos
opioides, acelerar a recuperação e diminuir as complicações perioperatórias e o tempo de
internação. É importante que cada instituição hospitalar desenvolva seus protocolos ERAS de
acordo com o seu contexto próprio, procurando vencer as limitações que possam surgir para
que o estabelecimento de tais protocolos possa ser uma realidade (BLUMENTHAL, 2019).

Figura 3. Elementos básicos do protocolo ERAS

Fonte: Scott e Miller, 2015 (SCOTT, MJ; MILLER, TE, 2015).

Com o objetivo de que a utilização desses protocolos tenha o seu máximo


aproveitamento, corroborando uma melhor recuperação dos pacientes, é imprescindível a ação

Página 109
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

conjunta multidisciplinar com a participação e colaboração de cirurgiões, anestesiologistas,


equipe de enfermagem, assistência social e assistência hospitalar.

A sociedade ERAS, criada em 2011, apresenta um levantamento de grandes revisões,


considerações e recomendações clínicas para o cuidado anestésico em pacientes que serão
submetidos a cirurgias gastrintestinais, ortopédicas, entre outras, demonstrando que alguns
protocolos podem influir em menor tempo de recuperação pós-operatória, tendo como base a
atenuação do estresse cirúrgico e da manutenção da homeostase, fisiologicamente, após a
cirurgia.

Baseado no ERAS surgiu o protocolo multimodal educativo ACERTO (Aceleração da


Recuperação Total Pós-operatória), que visa diminuir o tempo necessário à recuperação pós-
operatória dos pacientes (Figura 4).

Figura 4. Principais condutas abordadas no projeto ACERTO

Fonte: www.periop.com.br

METODOLOGIA

O presente estudo se trata de uma Revisão de Literatura Narrativa, realizada nas bases
de dados nacionais e internacionais, por meio da associação dos Descritores em Ciências da
Sáude: Recuperação Pós-Cirurgia Melhorada; Período perioperatório; Anestesiologia;
Homeostase; Período pós-operatório. Que foram associados por meio do operador booleano

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

“AND”. Foram utilizados artigos científicos, livros, guidelines e newsletters na composição


bibliográfica. Foram selecionados estudos que tratavam a respeito dos protocolos ERAS e a
consequência do seu uso em hospitais, com base em evidências científicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

2. PERÍODO PRÉ-OPERATÓRIO

Primeiramente, o protocolo adverte sobre a relevância da informação, educação,


aconselhamento e medidas de aprimoramento do pré-operatório, sendo necessário uma boa
avaliação pré-anestésica. Sob essa perspectiva, faz-se uma entrevista para a correta avaliação e
escolha da técnica anestésica que deve ser indicada para o quadro em questão, visando acelerar
a recuperação no pós-operatório e diminuir o medo e ansiedade do paciente, melhorando o bem-
estar do paciente (NASCIMENTO, JE et al., 2014). Ainda nesse momento é imperioso que haja
uma avaliação das comorbidades do indivíduo e uma otimização para preparo do corpo para a
cirurgia. Além disso, deve-se descontinuar o uso de álcool e tabaco pelo menos a quatro
semanas antes do procedimento cirúrgico, com o fito de redução da morbidade no pós-
operatório. (TONNESEN, H. et al., 2009). Ademais, o paciente deve ter conhecimento, e,
idealmente, essa informação também deve ser entregue por escrito, sobre o que pode ingerir.
As recomendações atualizadas sobre jejum orientam duas horas para líquidos claros e seis a 8
horas para sólidos, porém, para pacientes com retardo no esvaziamento gástrico essas
recomendações não são viáveis (GUSTAFSSON, et al., 2013).

3. PERÍODO INTRAOPERATÓRIO

3.1 ANTIBIOTICOPROFILAXIA

O tipo de cirurgia deve orientar a escolha do antibiótico a ser utilizado de acordo com a
flora local, além de ser preciso que seu espectro alcance tanto microorganismos aeróbios quanto
anaeróbios. Sua administração deve-se dar 30 a 60 minutos anteriormente à incisão e sua
infusão finalizada antes da incisão. O anestesiologista é o responsável pela administração e pela

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

readmnistração, quando indicada, do antibiótico de escolha. A antibioticoprofilaxia é prescrita


por até 24 horas (BRATZLER,DW et al., 2013).

3.2 MANEJO ANESTESICO

A finalidade da anestesia é preservar a homeostase do paciente no período


intraoperatório, no qual estará sendo submetido a um trauma cirúrgico. A manutenção do
equilíbrio fisiológico durante esse momento é de suma importância, objetivando proteger
órgãos e sistemas. Assim, de acordo com os conhecimentos fisiopatológicos e farmacológicos,
o anestesiologista adequa o manejo do paciente evitando complicações pós-operatórias.
De modo geral, usa-se indutores de curta duração, tal como propofol, além de
substâncias inalatórias, como desflurano e sevoflurano. É indicado o uso de anestesia venosa
total com propofol, ainda, em pacientes que possuem alto risco de náuseas e vômitos no pós-
operatório (NVPO). Deve-se evitar uso de óxido nitroso devido ao seu potencial poder de
provocar distensão abdominal e NVPO ainda que sejam utilizados antieméticos. A
monitorização cerebral é fundamental para diminuir a memória intraoperatória e otimizar a
recuperação pós-anestésica. (KEHLET, H; WILMORE, DW, 2008- SCHEININ et al., 1990-
PUNJASAWADWONG, Y. et al., 2007)

3.3 ANALGESIA MULTIMODAL

A analgesia multimodal no intraoperatório tem por finalidade o conforto do paciente em


aspectos como a minimização da dor intra e pós-operatória e de efeitos colaterais, facilitar a
realimentação e a mobilização de modo precoce. É preferível a analgesia regional com
anestésico local, quando possível, do que a infusão de opioides. Essa alternativa diminui a
necessidade de opioides sistêmicos e bloqueadores neuromusculares (CARLI, F. et al., 2011)
Opioides de curta duração são indicados, tais como fentanil, remifentanil, afentanil.
Entretanto, tem sido relatado hiperalgesia, em especial na infusão de remifentanil, sendo
necessário a administração de fármacos adjuvantes com ação bloqueadora de receptores
NMDA, diminuindo assim a chance desse evento. Ainda, a lidocaína intravenosa tem
capacidade de promover analgesia, diminuir a demanda de opioides em procedimentos
laparoscópicos. Dentre outras alternativas para reduzir o uso de opioides tem-se os alfa2-
agonistas e a cetamina (LIU, Y. et al., 2012- KABA, A. et al., 2007).

Página 112
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

3.4 ANESTESIA OPIOIDE-FREE

Opióides têm importante capacidade anestésica, porém com grande potencial de


dependência. Pacientes que recebem infusão de opioides em sua terapia primária da dor no
perioperatório comumente precisam de doses maiores para obtenção de efeitos analgésicos
semelhantes (CHIA Y-Y. et al., 1999). Isso se dá em virtude do desenvolvimento de uma
tolerância aguda aos anestésicos opioides. Essa perda gradual da eficácia analgésica pode
contribuir para o resultado da hiperalgesia induzida por opioides, a qual é definida como um
estado de sensibilização nociceptiva causada pela exposição desse composto químico (CHU,
L. et al., 2008).
A hiperalgesia e a tolerância são fenômenos farmacológicos capazes elevar o número
de eventos ruins no pós-operatório, tal como o uso excessivo de opioides a longo tempo. Não
obstante, a quantidade de opioides necessárias no pós-operatório é diretamente proporcional à
quantidade utilizada no intra-operatório. Esse paradoxo foi analisado em pacientes cirúrgicos
até 2 dias de pós-operatório (JOLY, V. et al., 2005).

3.4 ANESTESIA REGIONAL

A anestesia geral e sedação, quando possível, deve ser associado a um bloqueio


anestésico. Seja o bloqueio local ou regional, eles permitem a incisão cirúrgica do território
anestesiado de modo confortável ao paciente, sem percepção de dor, e contribui com a analgesia
pós-operatória.
O ultrassom tem sido amplamente utilizado por anestesiologistas durante o bloqueio de
plexos nervosos. Essa prática tornou possível uma otimização da analgesia multimodal
intraoperatória, além de tornar o procedimento mais seguro para o paciente devido a
visualização do agulhamento, evitando assim a dissecção de estruturas nobres como vasos e
nervos. Outra vantagem é possibilidade de visualização da infusão de anestésicos locais na
região de escolhida, tornando o bloqueio mais eficiente (HELAYEL,P,E et al., 2007)

Figura 5. Paciente posicionado para o bloqueio supraclavicular guiado por ultrassom

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Brown’s atlas of Regional Anesthesia, 5ª edição.

Figura 6. Bloqueio do Plexo Braquial por Via Supraclavicular. Observa-se a agulha com sua ponta na
proximidade das divisões do plexo braquial, que se apresenta com nódulos hipoecóicos (pretos) com bordas
hiperecóicas (brancas) atrás da artéria subclávia, em corte transversal. Observa-se a primeira costela
(hiperecóica) e sua sombra acústica posterior.

Fonte: Revista Brasileira de Aanestesiologia. Vol. 57, n. 1, janeiro-fevereiro, 2007.

3.5 TROMBOPROFILAXIA

A principal causa de morte no hospital passível de prevenção é o tromboembolismo


venoso. Nesse ínterim, é preciso se ater à prevenção de tromboembolismo em pacientes
hospitalizados. Segundo evidências é efetiva a profilaxia farmacológica com heparina de baixo
peso molecular ou heparina não fracionada. O uso de meias de compressão elástica e
compressão pneumática são outras ferramentas que auxiliam na tromboprofilaxia (BALDINI,
G; FAWCETT,WJ, 2015- GEERTS, WH. et al.,2008).

Página 114
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

3.6 PREVENÇÃO DA HIPOTERMIA

A hipotermia corrobora um maior risco de complicações pós-operatórias e dificulta a


recuperação do paciente nesse período. Laparoscopia não é fator de redução do risco de
hipotermia tendo em vista que os maiores contribuintes para a hipotermia são os anestésicos,
em virtude dos seus efeitos no organismo prejudiciais à termorregulação. As cirurgias em que
o paciente tem maior risco a desenvolver hipotermia são aquelas nas quais a duração ultrapassa
duas horas ou o paciente é debilitado. A temperatura ideal no intraoperatório é acima 36 graus
celsius. A normotermia mantida, com o auxílio de aquecimento ativo e passivo e com
tratamento de tremores e hipotermia residual na sala de recuperação reduz risco de infecções,
perda sanguínea, transfusão e isquemia miocárdica (GEERTS, WH. et al.,2008-LENHARDT,R
et al.,1997).
No paciente com hipotermia ocorre aumento da vasoconstrição e da pressão arterial
sistêmica, colaborando para um maior risco de sangramento. Sob essa ótica, para que o paciente
se mantenha estável utilizam-se fluidos aquecidos para hidratação e manta térmica para regular
a temperatura próxima ou equivalente à temperatura ideal de 36 graus celsius.

3.7 MANEJO HEMODINÂMICO INTRAOPERATÓRIO

Com o objetivo de reduzir a sobrecarga hídrica para acelerar a recuperação e diminuir


risco de complicações, então foi estabelecido o tempo o tempo de jejum para compensar com
os fluidos intraoperatórios. Transfusão sanguínea é necessário quantificar os níveis séricos de
lactato, saturação venosa central e as comorbidades do paciente.

3.8 PREVENÇÃO DE NÁUSEAS E VÔMITOS NO PÓS-OPERATÓRIO

Ocorrem em 1/3 dos pacientes e são motivos de aumento do tempo de internação.


Medidas como tempo de jejum pré-operatório adequado, uso de maltodextrina 2 h antes da
cirurgia, hidratação adequada com cristalóides (ex: ringer com lactato), uso de antiemético
profilático e anestesia venosa total são exemplos de boa prática para se evitar a NVPO.
Para quantificar o risco do paciente, é preciso realizar o escore de Apfel.

3.9 MINIMIZAÇÃO DO USO DE TUBOS E CATETERES

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O pouco uso de tubos e cateteres é o ideal para o paciente pelo risco e complicações. A
sonda deve ser restrita ao período intraoperatório, e o cateter ao máximo de 2 dias pelo risco de
infecção urinária.

4. PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO

4.1 NUTRIÇÃO PRÉVIA E MOBILIZAÇÃO PRECOCE

Dependendo do procedimento realizado no paciente, a dieta líquida pode ser introduzida


logo após a cirurgia (em torno de 4 horas), acompanhada ainda de soluções proteicas. É segura,
e reduz complicações no pós-operatório por danos de jejum prolongado.
A mobilização precoce é importante para o paciente visto que evita a resistência de
insulina, a piora da função respiratória e da força muscular, além de risco de tromboembolismo.

4.2 ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA

O ideal do manejo da dor no pós-operatório é o uso de analgésicos não-opióides, com


uma conduta multimodal que tem como objetivo de ter controle mais eficaz da dor pela redução
do uso de opióides e dos efeitos colaterais.

5. O PAPEL DO ANESTESISTA

Para que os protocolos obtenham sucesso, o anestesista tem um papel fundamental na


segurança do paciente. Poderá otimizar o paciente no pré-operatório, aplicar os protocolos no
intraoperatório e contribuir na conduta para um adequado pós-operatório. Somado a uma
anestesia em que o paciente desperte sem reações como excesso de dor, náuseas e vômitos e
homeostase preservada para melhor pós-operatório. Além de que tem como objetivo reduzir
todo o estresse e trauma cirúrgico que ocorre com o paciente, seguindo o protocolo ERAS para
ter sucesso na conduta.

CONCLUSÃO

Tendo em vista os benefícios trazidos pela utilização do protocolo ERAS em ambientes


hospitalares, com procedimentos pré-operatórios, intra-operatórios e pós-operatórios,
evidenciados com base em em estudos abrangentes, sua implementação é indicada. Foi
observado que, à medida em que esse protocolo é utilizado os pacientes apresentam melhora
no quadro de recuperação pós-operatória, evoluindo melhor e em menor tempo.

Página 116
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 11

MATRICIAMENTO E SEUS DESAFIO PARA O


CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO
BÁSICA
Warllon de Souza Barcellos; Vinícius Rodrigues Mendonça; Renata
Gonçalves Domingues Caveari Souza; Normanda Carvalho Gomes
Barcellos.

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo apresentar a relação existente entre
a atenção básica e a saúde mental, reforçando que se faz necessário para a
realização de cuidado integral em saúde a realização de ações de
matriciamento, pois este é um apoio fundamental aos trabalhadores da
saúde. desenvolvendo um processo de construção compartilhada,
desenvolve uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica, sendo um
modelo de cuidado norteador no processo de integração da saúde mental à
atenção primária. Introdução A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB),
revisada pela Portaria do Ministério da Saúde (MS) nº. 2.436, de 21 de
setembro de 2017, é resultante das experiências advindas do
desenvolvimento e da consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). A
atenção básica funciona de forma descentralizada, tendo autonomia
necessária para desempenhar suas funções e oferecendo serviços de
assistência à saúde o mais próximo possível das residências. Nesse sentido,
a atenção básica se configura como a porta de entrada do sistema de saúde,
constituindo-se no contato prioritário do usuário com os serviços de saúde.
Além disso, a atenção básica representa a base de comunicação de toda a
Rede de Atenção à Saúde (RAS). O Brasil é o único país do mundo com mais
de 100 milhões de habitantes que dispõe de um sistema de saúde público,
gratuito, universal, igualitário e integral a toda população. Para que esse
sistema funcione de modo eficiente e eficaz, ele precisa ser organizado de
modo que seja possível estruturar os diferentes níveis de atenção para
prestar os serviços de saúde necessários e adequados às diferentes
realidades de um país com um território tão vasto (BRASIL, 2012). A PNAB é
pautada por princípios e diretrizes que são a base fundamental de todo o seu
funcionamento. As determinações expressas na PNAB regulam e organizam
todas as ações desenvolvidas pela atenção básica. Desta forma, o presente
texto busca reforçar a importancia da atenção básica e sua relação com a
saúde mental. Para isso, foi utilizado de apoio metodológico pesquisa
bibliográfica qualitativa, onde se buscou renomado autores que discutem o
tema para substanciar o debate aqui feito.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

O matriciamento ou apoio matricial pode ser entendido como uma forma de produzir
saúde em que duas ou mais equipes, desenvolvendo um processo de construção compartilhada,
desenvolve uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica, sendo um modelo de cuidado
norteador no processo de integração da saúde mental à atenção primária. Esse modelo objetiva
integrar profissionais da equipe de saúde da família com profissionais especialistas e, assim,
gerar a discussão de casos e intervenções terapêuticas (CHIAVERINI, 2011).
Quando se fala em saúde mental no Brasil é importante destacar as alterações advindas
da Reforma Psiquiátrica iniciada na década de 1970. Essa reforma trouxe um conjunto de
transformações nos campos teóricos, socioculturais e jurídicos, marcado por desafios ao retirar
pacientes dos hospitais psiquiátricos e lhes oferecer cuidados na própria comunidade (DELFINI
et al, 2009; GAZIGNATO; SILVA, 2014).
No contexto de Reforma Psiquiátrica os Centros de Atenção Psicossocial (Caps)
representam um serviço estratégico para a desospitalização e a reinserção social. Entretanto, os
Caps e outros dispositivos encontram desafios para suprir as demandas de saúde mental no
Brasil, o qual é um país de realidades diversas (GAZIGNATO; SILVA, 2014).
A atenção básica surge como uma forma de estruturar o sistema de saúde, pois
representa uma porta de entrada, além de realizar o trabalho de gerenciar encaminhamentos,
coordenar e integrar o trabalho realizado por outros níveis de cuidados. Assim, a atenção básica
acompanha, de forma longitudinal, a saúde do paciente. Nesse contexto, a inserção de práticas
de saúde na atenção básica coloca em evidência os esforços em regionalizar e redirecionar o
cuidado, com o objetivo de desenvolver uma atenção de forma integral e humanizada, em
conjunto com profissionais e serviços existentes nos territórios de convívio do paciente
(GAZIGNATO; SILVA, 2014).
A questão do matriciamento na saúde mental no contexto de atenção básica é algo que
requer esforços para que o seu trabalho seja efetivo, pois existem diversos desafios que devem
ser transpostos para que essa poderosa ferramenta de intervenção pedagógico-terapêutica possa
ter êxito.
A PNAB reorganizou a atenção básica no Brasil, estabelecendo um eixo norteador para
o desenvolvimento de estratégias e políticas de saúde no contexto da atenção básica. Nesse
sentido, foram implementadas políticas públicas voltadas para o atendimento das necessidades
da população, a promoção da saúde e a prevenção de doenças que são de competência das
UBSs. A ESF tem papel central no planejamento e na execução das ações e intervenções

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

relacionadas às políticas de saúde desenvolvidas na atenção básica. Serão descritas, a seguir, as


políticas desenvolvidas na estratégia Saúde Mais Perto de Você, cujo objetivo é oferecer a
prestação de serviços de saúde à população o mais próximo possível do local onde essas pessoas
residem.
A PNAB estabeleceu a ESF como norteadora da assistência de saúde oferecida pela
atenção primária no Brasil. Ao mesmo tempo, determinou que a atenção básica se configura
como a porta de entrada da RAS, atuando ainda como centro de comunicação e ordenação da
rede (BRASIL, 2017).

METODOLOGIA

A orientação metodológica inicial é muito mais uma sugestão para a realização do


trabalho, uma vez que a interação com os sujeitos ou grupos, na realização de uma pesquisa
social, nem sempre transcorre como idealizado, sendo necessários ajustes na execução.
O método qualitativo aqui escolhido é permeado de subjetividade em função das
escolhas que os pesquisadores são obrigados a fazer para alcançar seus objetivos. Por outro
lado, a própria ação humana é portadora de significados. Minayo e Sanches (1970) argumentam
que a abordagem qualitativa se sustenta no simbolismo e subjetividade. Do ponto de vista
qualitativo, a abordagem dialética atua em nível dos significados e das estruturas, vistas pela
perspectiva da ação humana.
O método de uma pesquisa consubstancia-se no próprio movimento de aproximação
com o objeto de estudo, indicando a forma adotada para se aproximar do objeto em questão.
Visando aprofundar o conhecimento sobre a problemática apresentada neste trabalho, iremos
utilizar como caminho metodológico para a investigação pesquisa bibliográfica, haja vista que
muitas ideias são recorrentes, como nos afirma Teixeira (2002, p. 10) “as novas ideias se
afirmam negando as anteriores, que são condenadas ao esquecimento. Tempos depois, quando
as novas ideias já se tornaram velhas, as anteriores são reinventadas”. Ao que nos acrescenta
Iamamoto discorrendo sobre a importância de retornarmos às fontes “para iluminar questões
particulares da cena contemporânea e dirimir equívocos analíticos sobre as relações entre
trabalho, sociabilidade e reprodução social (2008, p. 54)”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pensar o trabalho em saúde requer o exercício de compreender processos de cuidado

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

que desafiam o cotidiano de qualquer profissional desta área. Nesta perspectiva, não seria
diferente pensar a relação entre o matriciamento e o cuidado em saúde mental na atenção básica.
Há neste sentido, a necessidade de construção de uma nova práxis para o profissional de saúde,
pautada na concepção da ampliação do cuidado, estruturando novos espaços e possibilidades
de atuação. Sair do consultório, circular, ir ao encontro daquilo que pode surpreender e
impactar as relações com os sujeitos. Esta é a proposta que impulsiona ao deslocamento da
centralidade de especialista para a articulação do cuidado em saúde de modo compartilhado
com profissionais em rede, inspirado pelo viés da estrutura de trabalho delineada pelo
matriciamento ou apoio matricial. O modo de produção de cuidado em saúde na lógica do apoio
matricial rompe com a estrutura hierarquizada dos encaminhamentos, ou seja, quem encaminha
e quem recebe o encaminhamento, permitindo a co-responsabilização dos atores envolvidos
neste processo (CAMPOS; DOMITTI, 2007). O diálogo com a temática parte do conceito da
integralidade enquanto o olhar que se amplia para o sujeito em todas as suas demandas e
necessidades, não apenas enquanto aquele que adoece e precisa ser tratado. Neste sentido
Pinheiro (2009) nos fala de uma produção de cuidado de caráter ético-político na medida em
que considera as pessoas enquanto sujeitos do desejo, capazes de serem responsáveis por suas
escolhas, atos e histórias. O olhar sobre a saúde ganha contornos que não apenas a ausência da
doença, mas constitui-se em uma prática do cuidado no cotidiano, no jeito de conversar com o
sujeito, no toque, no amparo à queixa com uma escuta atenta.
No contexto da saúde o apoio matricial vai articular maior integração com a equipe ou
profissional de referência, que são aqueles que devem conduzir os casos ao longo do tempo, de
modo amplo, fortalecendo a relação entre os profissionais da saúde e seus usuários. “[...] são
arranjos organizacionais e uma metodologia para a gestão do trabalho em saúde, objetivando
ampliar as possibilidades de realizar-se a clínica ampliada e integração dialógica entre distintas
especialidades e profissões” (CAMPOS; DOMITTI, 2007, p. 400). Há um arranjo coletivo e
modos de intervenção compartilhados que se estruturam através de equipes interdisciplinares.
Em analogia, configura-se o profissional ou equipe da atenção básica enquanto referência, e a
figura do profissional de saúde mental como um possível apoiador, permitindo a mudança na
relação entre estes dois campos, não mais a partir de uma relação vertical e de certa forma
isolada, mas buscando a partir do apoio criar possibilidades e estratégias que viabilizem a
interação com as diferenças na perspectiva de possibilitar maior autonomia para pessoa em
sofrimento psíquico junto ao seu território. Tal perspectiva contempla o cuidado em liberdade
destes sujeitos, que até pouco tempo eram “tratados” sob a lógica do encarceramento.
Em um sentido profuso é o que se refere a chamada clínica ampliada e compartilhada.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Ampliar e compartilhar saberes e práticas que ultrapassam um corpo e seu sentido biológico e
clínico, pensando em sua composição enquanto multiplicidade de atravessamentos de vida, de
história, de tempo e espaço, de sentimentos e expectativas e de outras coisas que o impactam.
É praticar o desapego à própria clínica por assim dizer, desconstruindo-a, sabendo olhar para o
sujeito e sua experiência não se restringindo ao sintoma. O maior objetivo se torna a invenção
da vida e de novas sociabilidades e subjetividades. “Se a relação continua a se dar sempre por
meio da clínica, mesmo que “ressignificada” ou “ampliada”, a relação será sempre com a
doença, e não com os sujeitos” (AMARANTE, 2007, p. 169).
O cuidado é artesanal e se opõe aos princípios arquitetados pela lógica taylorista de
compartimentalização, seriação e padronização do trabalho, despersonificando as relações,
embora este paradigma ainda se faça presente nas práticas médicas, psicológicas, de
enfermagem, dentre outras mais. Não se pretende desconsiderar o que cada especialidade tende
a contribuir no processo de cuidar, mas de traçar um plano comum, entendido justamente como
o rompimento com esta lógica homogeneizante e totalizante (PASSOS; KASTRUP, 2013).
Comum por se tratar de um processo de construção no coletivo e buscando o caráter
heterogêneo das relações. Cada caso que é atendido em um serviço de saúde requer a percepção
de que estamos lidando com um sujeito e sua singularidade. Em um plano comum o que
prevalece é o que naquele sujeito vai se manifestar através de características específicas e
singulares para ele. Pensar na ampliação de uma clínica implica considerar as diferentes
abordagens de conhecimento, a transdisciplinaridade e concepção multiprofissional. “A
intenção é possibilitar a troca de saberes e de práticas em ato, gerando experiências para ambos
os profissionais envolvidos” (BRASIL, 2009, p. 33). Questionar a fragmentação que permeia
as práticas profissionais em todas as áreas, permitindo a ampliação do olhar para seu objeto, ou
seja, a doença, superando seu caráter mórbido, pensando na construção da autonomia e
produção de cuidado que valorize a escuta do outro, o apoio e a educação em saúde (CAMPOS;
AMARAL, 2007). Compreende-se que é a partir da construção de uma nova prática em saúde
que se possa ajudar o sujeito em seu projeto de transformação, acreditando que mesmo diante
de um diagnóstico a vida se faz potente e precisa ser experimentada.
Pensar a relação matriciamento, atenção básica e saúde mental nos remete ao referencial
da saúde coletiva enquanto campo que abrange um cuidado pautado na tecitura do cuidado em
rede. Neste sentido, define-se como:

[...] campo de produção de conhecimentos voltados para a compreensão da


saúde e a explicação de seus determinantes sociais, bem como o âmbito de
práticas direcionadas prioritariamente para sua promoção, além de voltadas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

para a prevenção e o cuidado a agravos e doenças, tomando por objeto não


apenas os indivíduos mas, sobretudo, os grupos sociais, portanto a
coletividade (PAIM 1982; DONNANGELO 1983 apud SILVA; PAIM;
SCHRAIBER, 2014, p. 3).

A saúde coletiva ganha intensidade no país principalmente a partir dos anos 70,
constituída por vários saberes, configurando-se como uma área ainda em construção, sendo de
certa maneira diferenciada em relação ao que é conhecido como saúde pública. Numa
perspectiva histórica, duas concepções em torno da saúde surgem a partir do século XVII na
Europa, sendo a Aritmética Política e a Polícia Médica. A primeira tem sua origem na
Inglaterra, tendo como um dos principais objetivos a sistematização da natalidade e da
mortalidade, surgindo um Conselho de Saúde em Londres e um hospital para isolamento de
pacientes com peste. A concepção de Polícia Médica traz em sua essência a supervisão da saúde
das populações, com regulamentações e normas de controle, prevenção e esclarecimento ao
público em geral (ROSEN, 1994 apud SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014, p. 4). Foi a partir
do século XIX na Europa que a medicina se institui enquanto disciplina, passando dos manuais
de higiene a um conjunto de conhecimentos mais específicos. Foi na França que a medicina em
sua relação intrínseca com a higiene pública supera seu único fim de estudar e curar as doenças,
revelando seu caráter social, ajudando na elaboração de leis e cuidando da saúde do público. O
termo medicina social apresentado por Jules Guerim em 1948 em Paris, traz consigo a relação
com o processo de industrialização da época, a situação de saúde dos operários e mudanças
sociais na resolução de problemas de saúde (ROSEN, 1983 apud SILVA; PAIM; SCHRAIBER,
2014, p. 4). Para Foucault (1979), a medicina moderna é considerada como uma medicina social
sob o viés de intervenção que faz sobre a sociedade e também por sofrer suas intervenções ao
atuar sobre indivíduos. Toma o corpo em seu aspecto biológico e do poder, sendo o controle da
sociedade exercido através do corpo (SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014).
O termo saúde pública emerge a partir do século XIX na Inglaterra em função do
movimento desencadeado pelo processo de industrialização que trouxe como reflexo intensas
modificações no modo de vida das pessoas. Sua definição se configura como:

[...] a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida, promover a saúde


física e a eficiência através dos esforços da comunidade organizada para o
saneamento do meio ambiente, o controle das infecções comunitárias, a
educação dos indivíduos nos princípios de higiene pessoal, a organização dos
serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e tratamento
preventivo da doença e o desenvolvimento da máquina social que assegurará
a cada indivíduo na comunidade um padrão de vida adequado para a
manutenção da saúde (WINSLOW, 1920 apud SILVA; PAIM; SCHRAIBER,
2014, p.5).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Começa a haver uma grande preocupação com as condições de saúde que afetam um
enorme contingente de assalariados que agora transitam pelas cidades inglesas. Autoridades da
época começam a se preocupar com o impacto que a população pobre e suas condições
sanitárias traziam para o desenvolvimento de modo geral, propondo desta maneira intervenções
no saneamento das cidades e uma organização do Estado em função das novas demandas em
saúde. Assim sendo, em 1848 ocorre o Primeiro Ato de Saúde Pública, com a criação do
Conselho Geral de Saúde (ROSEN, 1994 apud SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014, p.4). A
industrialização e suas conseqüências no que se refere à saúde também impactaram outros
países como os Estados Unidos gerando medidas de controle e intervenção por parte do Estado.
Seguindo os modelos europeus o Brasil realiza ações diversificadas voltadas para saúde
e saneamento nas cidades, buscando o controle de endemias, realizando campanhas como a do
controle da febre amarela, ficando este período conhecido como “sanitarismo campanhista”
(SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014, p. 5). Todavia, no decorrer dos anos de 1930 a 1964
ocorre o período de institucionalização das campanhas sanitárias, que envolvem órgãos
governamentais como por exemplo o Ministério da Saúde. Destaque neste período para o
surgimento do “sanitarismo dependente” (SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014, p. 5), por se
tratar da importação de um modelo americano pela Fundação Serviço Especial de Saúde
Pública e do “sanitarismo desenvolvimentista” (SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014, p. 5), que
partia da premissa de que quanto melhor o desenvolvimento econômico, melhor seria o estado
de saúde das pessoas. Surgem no decorrer instituições que se propõem ao fornecimento de uma
assistência médica individual, através dos fundos de pensão dos sindicatos, mas que
posteriormente passa a ter a participação do Estado através dos Institutos de Aposentadoria e
Pensão (IAP), mas contemplando categorias de trabalhadores formais, sendo em seguida
estendido essa assistência aos familiares, apoiado pela Previdência Social, que era também
responsável por aposentadorias e outros benefícios trabalhistas, sendo assim denominada
“medicina previdenciária” (SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014, p.5 ). Paim (2003) vai
ressaltar a participação do setor privado através da atuação dos planos de saúde que fixou um
modelo de assistência médica pautado numa assistência de caráter hospitalar, tecnificado e
voltado para ações de cura individuais.
Assim sendo, há um processo de reformulação do ensino da medicina, no intuito de
repensar a prática médica pautada em um modelo individualista, descolado da realidade daquele
que é assistido. Surgem os movimentos da Medicina Integral, que vai conceber a Medicina

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Preventiva no currículo médico, e o da Medicina Comunitária, oriundos nos EUA a partir da


década de 40/60 (SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014). Contemplar a reestruturação do ensino
em medicina permite a maior compreensão do pensamento que norteia este trabalho ao enfatizar
o cuidado compartilhado em saúde, admitindo que para além de um paciente existem condições
de existência que impactam diretamente a sua saúde. Os movimentos acima citados trouxeram
a ampliação da perspectiva de tratamento para o paciente, ampliando a concepção de saúde
pensando não apenas em seu caráter curativo, mas também na reabilitação do paciente em seu
contexto social, na retomada de suas atividades e na prevenção de possíveis agravos. A
Medicina Comunitária partia do princípio de uma integração com diversas disciplinas para
contemplar o cuidado global do paciente, acreditando ser necessário se deslocar dos espaços
comuns ao ensino médico, como o hospital, para se inserir em situações que contemplem a
família e a comunidade a qual pertence o paciente. “A reforma então sugerida foi a de
acrescentar à formação médica a experiência do aluno em práticas assistenciais extramuros do
hospital-escola, localizando-se diretamente nas comunidades e de preferência entre as
populações mais carentes” (SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014, p. 6).
A Medicina Preventiva e Comunitária contemplam uma abordagem processual da
saúde-doença, apontando que existem fatores que vão influenciá-lo que escapam ao paradigma
individual e biomédico. O sujeito que adoece deve ser contemplado em seu espaço, em seu
tempo histórico, tomado pelas questões que atravessam a sociedade, em seus aspectos
econômicos, políticos e culturais.
No Brasil, a influência desses movimentos tornou-se mais evidente a partir de 1968 com
a Reforma Universitária, embora tivesse de enfrentar problemáticas diferenciadas,
principalmente no que se refere à compreensão da questão do coletivo e sua relação com a saúde
enquanto um campo produtivo, de construção de saberes e práticas. Mas é a partir da ampliação
dessa visão que vai se desenvolver a perspectiva da Medicina Social no Brasil.

[...] no plano acadêmico, era alimentada por movimentos sociais que


colocavam em debate a questão saúde e propostas de redefinição das políticas
de saúde no Brasil que resultariam na Reforma Sanitária Brasileira e no
Sistema Único de Saúde (SUS) (SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014, p. 7).

A saúde coletiva é construída desta maneira a partir do referencial democrático de lutas


preconizadas pelo movimento da Reforma Sanitária (2014), reconhecendo o direito à saúde
como conquista da cidadania, assim como preconizando a criação de um Sistema Único de
Saúde público, descentralizado, na perspectiva da integralidade e da gestão participativa

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(SILVA; PAIM; SCHRAIBER, 2014). É um movimento questionador e se define enquanto


processual, ampliando-se e reinventando-se como campo, repensando práticas e saberes já
instituídos.
A saúde que se faz no coletivo leva em conta a produção da subjetividade que impacta
o adoecer e suas conseqüências para o sujeito. Não há apenas um corpo biologicamente afetado
por sintomas, mas existem circunstâncias de vida que o transformam, que o levam a
convalescer. E no embalo de movimentos de lutas que buscam o repensar de práticas em saúde,
não há como não se referir ao Movimento da Reforma Psiquiátrica brasileira e sua importância
para o pensamento em torno do sujeito em sofrimento psíquico. Ao romper com a lógica do
enclausuramento dos considerados “anormais” em instituições especializadas como os hospitais
psiquiátricos, a Reforma Psiquiátrica amplia horizontes na desconstrução do paradigma da
segregação, corroborando com um cuidado que se faz e se produz no coletivo, partindo do
território habitado, nas relações e suas referências.
Não há como fazer referência ao movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil sem
resgatar a experiência de Franco Basaglia, por volta da década de 60, na Itália. Em suas ideias
transitava a percepção de que para além da doença existiam sujeitos, revolucionando não apenas
a forma de tratamento proposta para estes, mas fomentando o repensar de práticas instituídas
como sendo plenas em suas verdades no que se refere ao sujeito que não se enquadra a normas
e padrões previamente estabelecidos. De acordo com Amarante (1994), o pensamento a respeito
da desinstitucionalização que Basaglia apresenta ao cenário mundial não se refere a simples
desospitalização, mas aponta uma ruptura com a psiquiatria tradicional que categoriza o louco
como aquele que não possui autonomia, incapaz, sem razão, ou seja, um sujeito alienado.

No entendimento da Reforma Psiquiátrica, o louco passa a ser considerado um


sujeito. Assim, para a atenção psicossocial, a psiquiatria é apenas uma
disciplina, dentre tantas outras, que pode contribuir parcialmente para explicar
e intervir sobre o fenômeno da loucura. De acordo com este modelo, a doença
mental deixa de ser o foco central, consequentemente a internação no hospital
psiquiátrico deixa ser uma possibilidade terapêutica, e a cura não se torna o
único fim a ser atingido com o tratamento (AMARANTE, 2003, p. 61).

Este movimento por uma nova forma de tratar os pacientes psiquiátricos embora
estivesse ganhando forças, foi sistematicamente criticado, uma vez que o sentido da
desinstitucionalização fôra deturpado, sendo veiculado como desassistência e desamparo
daqueles que não mais seriam acolhidos pelos hospitais psiquiátricos. A indústria farmacêutica
e os empresários donos de hospitais foram os que mais apontaram o descabimento que o modelo
de ruptura com a proposta asilar poderia trazer para os pacientes e seus familiares

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(AMARANTE, 1994).
As ideias de Basaglia ganham intensidade no Brasil a partir da década de 70. Suas visitas
ao país reforçavam a concepção de que era necessário uma nova maneira de se conceber o
conceito de saúde e doença. Sua maneira de pensar em torno da Saúde Mental e de sua
complexidade ganha reforço com o movimento que se consolidava no país, a Reforma Sanitária.
Paiva e Teixeira (2014) apontam que de forte cunho social, o movimento se estruturava a partir
da perspectiva de que a saúde estava para além do bem estar físico ou biológico do ser humano.
Na realidade, a saúde passaria a ser pensada como a valorização da qualidade de vida das
pessoas. Um dos maiores representantes deste movimento, o médico Sérgio Arouca (PAIVA;
TEIXEIRA, 2014), considerava que o Movimento da Reforma Sanitária brasileira instituía-se
como um movimento transgressor, num momento histórico de intensa repressão no país por
conta da ditadura militar. Através do viés marxista o movimento lança luzes em torno da
concepção da doença como sendo socialmente determinada e também garante a universalização
da saúde como um direito de todos e a ampliação dos princípios do Sistema Único de Saúde.
Neste cenário de intensas reivindicações e lutas, tanto a Reforma Sanitária quanto a Reforma
Psiquiátrica se destacam por tentar subverter a lógica do biopoder, pautado no referencial
clínico de cuidado. Nesta perspectiva Foucault (1984) nos remete ao poder político da medicina
que nos torna corpos intimamente vigiados e inspecionados, controlados rigidamente,
provocando assim a divisão entre aqueles que gozam do estado de saúde ou não.
Basaglia inspira uma nova lógica no que se refere ao pensamento a respeito da doença
mental, admitindo a possibilidade de novas formas de existência, de que é possível conceber
singularidades diversas e potentes, mesmo para aqueles sujeitos que percebem o mundo de
modo tão peculiar e próprio.
Embora contemporâneo ao movimento da Reforma Sanitária brasileira, o movimento
da Reforma Psiquiátrica no Brasil seguiu um percurso próprio de lutas intensas. De acordo com
BRASIL (2005, p.6):

[... ] é processo político e social complexo, composto de atores, instituições e


forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos
federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de
saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com
transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos
territórios do imaginário social e da opinião pública.

Neste contexto, é a partir de 1978, com o Movimento dos Trabalhadores em Saúde


Mental que de fato a luta pelos direitos dos pacientes psiquiátricos se intensifica no Brasil. Este

Página 128
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

movimento é fortalecido pela participação de diversos atores que direta ou indiretamente estão
implicados em romper com a lógica da violência e segregação daqueles que se encontram em
sofrimento mental. Além disso, também é importante ressaltar a crítica ao caráter
mercadológico que envolve a loucura, uma vez que o hospital psiquiátrico é uma instituição
que gera lucros e reforça o saber/poder psiquiátrico instituído, priorizando a doença e não o
sujeito que sofre. Nesta trajetória, vale a pena destacar importantes marcos da influência do
movimento. Segundo Brasil (2005) são eles: Proposta de reorientação da assistência e início do
rompimento com a lógica hospitalocêntrica na Colônia Juliano Moreira (asilo situado no Rio
de Janeiro com cerca de 2600 internos) nos anos 80; II Congresso Nacional do Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), em 1987; I Conferência Nacional em Saúde Mental-
RJ; Surgimento do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em São Paulo, em 1987.
Além destes marcos, considera-se também de grande relevância a entrada no Congresso
Nacional do projeto de lei do Deputado Paulo Delgado, em 1989, que foi sancionado em 2001,
ficando conhecido como a Lei 10.216, que dispõe sobre os direitos das pessoas com transtornos
mentais e o redirecionamento do modelo assistencial em saúde mental. Sem dúvida, a lei 10.216
foi um marco considerável para o Movimento da Reforma Psiquiátrica, proporcionando maior
visibilidade e consolidação das propostas apresentadas. Ao se destacar os movimentos de luta
pela Reforma Psiquiátrica revelam-se práticas obscuras de exclusão, de violência e de
segregação dos sujeitos considerados “anormais”, um modelo de tratamento que aniquila a
potência de vida daqueles que se colocam no mundo sob uma condição de existência destoante
do que se considera o padrão esperado.
A luta contra a institucionalização preconizada por Basaglia, diz respeito ao
aniquilamento do aparato manicomial enquanto práticas que permeiam múltiplas disciplinas e
instituições, num movimento intenso que se estende e se pratica nos mais variados espaços
sociais (AMARANTE, 1994). Assim, a ampliação do cuidado em rede requer a artesania diária
para que prevaleça sempre uma abordagem de cuidado não medicalizante, privilegiando todos
os saberes e práticas, tanto dos profissionais de saúde, quanto dos usuários.

CONCLUSÃO

Nesse contexto, fica evidenciada a importância da atenção básica no funcionamento do


SUS. As atribuições dos gestores da atenção básica foram expressas na Portaria nº. 2.436/2017,
que revisou a PNAB, de modo que não existam dúvidas em relação à competência destes no
desenvolvimento das atividades das unidades de saúde que compõem a atenção primária. A

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

gestão deve atuar de forma integrada à ESF, inserida como parte do processo de trabalho em
saúde, contribuindo para a transformação da assistência rumo ao modelo assistencial centrado
no usuário. Além disso, o gestor deve atuar como protagonista de mudanças, comprometido
com a qualidade, a defesa da vida e os princípios e diretrizes da PNAB (AARESTRUP;
TAVARES, 2008).
Nesse sentido, o perfil gerencial a ser aplicado na atenção básica não condiz com a
subordinação burocrática da equipe de saúde, por meio de métodos administrativos nos quais
predomina a burocracia. A gestão da atenção básica deve se dar de forma dinâmica, tendo a
equipe multiprofissional como articuladora ativa dos processos de planejamento,
implementação, acompanhamento e avaliação de ações, intervenções e serviços de saúde
oferecidos pelas unidades assistenciais (SANTOS, 2014)
O modelo de gestão do sistema de saúde está, atualmente, em um período de
transformação, haja vista que o enfermeiro tem contribuído de forma significativa para o
desenvolvimento das políticas de saúde na direção ao funcionamento satisfatório do sistema
nos termos da PNAB. Nesse sentido, faz-se necessário que esses profissionais sejam
capacitados para exercer a assistência direta ao paciente e a gestão plena da unidade de saúde
em que atuam. O processo de trabalho na atenção básica não pode ser delimitado entre dois
polos: aqueles que prestam o serviço (profissionais de saúde) e aqueles que utilizam os serviços
(usuários). Trata-se de um processo complexo, na medida em que envolve diferentes agentes
que se inter-relacionam com o meio social em que estão inseridos, sendo influenciados por
diferentes culturas, valores, hábitos, costumes, razões e sentimentos que estão em constante
transformação.
A PNAB expressa, em seu capítulo referente às atribuições dos profissionais da atenção
básica, as competências comuns a todos os integrantes da equipe multiprofissional que
compõem a ESF, além de definir as atribuições assistenciais e de gestão do enfermeiro e da
gerência da atenção básica. A PNAB estabelece a inclusão de um gerente de atenção básica,
determinando que esse cargo seja exercido por um profissional qualificado, de nível superior,
que irá desempenhar suas funções de modo a garantir o planejamento de ações e serviços em
consonância com o perfil e as demandas da população adstrita, organizando o processo de
trabalho, bem como coordenando e integrando a equipe. Nesse sentido, a PNAB ressalta que o
gestor não deve ser um profissional integrante da equipe multiprofissional, devendo ter
experiência na atenção básica (BRASIL, 2017). De acordo com a PNAB, o objetivo do trabalho
gerente da atenção básica deve consistir na contribuição para o aprimoramento e a qualificação
do trabalho nas UBSs, de modo a consolidar a assistência prestada pela equipe multiprofissional

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

aos usuários por intermédio da função técnico-gerencial. O gestor do município deverá avaliar
a necessidade de inclusão desse profissional de acordo com o território e a cobertura da atenção
básica municipal.
A PNAB buscou estabelecer diretrizes para o funcionamento dos serviços de saúde,
oferecendo meios para a implementação de políticas públicas e programas e ações de saúde que
possam ampliar o acesso universal aos serviços assistenciais, garantindo a equidade, a
integralidade e a resolubilidade no cuidado. Além disso, determinou as competências de cada
membro da equipe multiprofissional de saúde, bem como as competências de gestão da atenção
básica, aumentando a corresponsabilização da equipe no desenvolvimento dos processos de
trabalho, de forma a qualificar os serviços, tornando-os cada vez mais eficientes e eficazes.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 12

SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE OS


PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE UM SERVIÇO DE
ASSISTÊNCIA DOMICILIAR: DIÁLOGO E AÇÃO

Betynna Grazianne Batista Queiroga, Bruna Sampaio Lopes Costa, Deborah


Neves Guerra, Nathália Myllene Soares Francelino, Júlia Amélia Silva Melo,
Elayne Mágda Andrade do Nascimento, Juliete Pereira de Souza, Manuela
Cavalcanti Magalhães, Ana Paula Sales de Araújo, Vitoria Torrinha Victorino,
Bruno Daniel Rodrigues França, Mariana de Sousa Dantas Rodrigues, Carla
Braz Evangelista e Elizanete de Magalhães Melo

RESUMO: A Síndrome de Burnout é caracterizada por uma disfunção


emocional, identificada principalmente por meio do esgotamento físico e da
exaustão laboral. Tais sinais resultam de uma exposição crônica aos
estressores interpessoais no ambiente laboral, o que torna a doença comum
em profissionais que atuam sob pressão no trabalho, incluindo os
profissionais de saúde. O objetivo deste estudo é descrever a experiência de
extensionistas durante uma ação norteada pelas interfaces da Síndrome de
Burnout entre os profissionais de saúde do Serviço de Assistência Domiciliar.
Trata-se de um estudo descritivo, de natureza qualitativa do tipo relato de
experiência, realizado em outubro de 2021. A ação se deu através de um jogo
terapêutico denominado como “Luz, diálogo e ação!”. O instrumento foi
desenvolvido por um grupo de extensionistas do projeto “Síndrome de
Burnout entre profissionais da saúde: conhecer, prevenir e dialogar”. A ação
foi previamente planejada, foram confeccionados 16 cards que apresentavam
os principais sinais e sintomas acerca da Síndrome de Burnout. Esta
estratégia estimulou o diálogo, bem como a troca de experiências sobre a
temática entre os profissionais e estudantes envolvidos. Verificou-se que
esse momento proporcionou desenvolvimento pessoal e acadêmico,
caracterizado pela problematização e comunicação que intervém na realidade
profissional com vistas a transformá-la, no caso, a reduzir ou despertar para
os sinais de alerta da Síndrome de Burnout.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Atualmente vivenciamos uma rápida expansão de informações, desencadeando o


aumento da exigência dos empregadores, como também despertando o aumento na
concorrência pela procura de emprego. Na área da saúde, o incremento das novas
tecnologias, a inovação dos protocolos de assistência, assim como a desvalorização
profissional, o aumento da carga de trabalho, têm desencadeado o aparecimento da
Síndrome de Burnout (SB).
A Síndrome Burnout configura-se como uma série de sintomas físicos e
psicossociais, entre os quais estão a fadiga, dificuldade nas relações interpessoais, mau
humor, irritabilidade, baixa produtividade e absenteísmo (PAIVA, 2017). O estresse
ocupacional, embora seja desencadeado por fatores multicausais, está intimamente
associado ao estresse crônico no ambiente de trabalho e apresenta três dimensões:
exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional (CRUZ, 2015).
A SB apresenta caráter psicossocial e atinge distintas categorias profissionais
(PÊGO e PÊGO, 2016; VIDOTTI et al, 2019). Entre os profissionais de saúde, os
enfermeiros foram os mais acometidos pela SB, o que se deve, em parte, ao ambiente de
trabalho extremamente estressante e à exposição frequente a situações de morte ou
sofrimento (OLIVEIRA et al, 2019). Além disso, os trabalhadores enfrentam longas
jornadas de trabalho, desempenham múltiplas tarefas e se relacionam com diversas
pessoas, o que também são fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome
(BRANCO et al., 2020).
Os fatores desencadeantes da síndrome burnout entre os profissionais de
enfermagem podem estar associados ao processo de trabalho, como o turno, o
relacionamento entre profissional-paciente, profissional-família e profissional-
profissional, a sobrecarga de trabalho, o desgaste, o suporte social, o conflito de interesses
e as estratégias de enfrentamento desenvolvidas (NASCIMENTO FILHO, 2021).
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo descrever a experiência de
extensionistas durante uma ação norteada pelas interfaces da Síndrome de Burnout entre
os profissionais de saúde do Serviço de Assistência Domiciliar.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, de natureza qualitativa, do tipo relato de


experiência, de uma ação educativa realizada por 4 (quatro) acadêmicos dos cursos de
Enfermagem, Medicina, Odontologia e Psicologia do Centro Universitário de João Pessoa
- UNIPÊ sob a supervisão dos docentes vinculados ao Projeto de Extensão da referida
instituição, denominado “Síndrome de Burnout entre trabalhadores da saúde: conhecer,
prevenir e dialogar” da instituição, com 22 (vinte e dois) profissionais da equipe
multidisciplinar de um serviço de atendimento domiciliar, localizado no município de
João Pessoa, Paraíba, no mês de outubro de 2021. A vivência foi desenvolvida como
atividade do Projeto de Extensão da referida instituição.
A equipe foi escolhida pela característica do serviço, pois o serviço de
atendimento domiciliar possui uma equipe multiprofissional de saúde, que complementa
os cuidados realizados na Atenção Básica e nos serviços de urgência, substituindo e/ou
complementando a internação hospitalar, e que são os profissionais mais afetados pela
Síndrome de Burnout.
Durante a ação, foram propostas rodas de conversa com os profissionais da equipe
multidisciplinar, utilizando 16 cards, elaborados pelos extensionistas e intitulado de
“Luz, diálogo e ação!”, contendo informações acerca dos sinais e sintomas da Síndrome
de Burnout. Na ocasião, os participantes fizeram relatos de identificação com o sintoma,
manifestação de sentimentos e exposição de vivências. Além disso, os acadêmicos
compartilharam com os profissionais formas de prevenção e cuidados.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Em um serviço de atenção domiciliar, realizou-se uma dinâmica, através de um


jogo terapêutico denominado “Luz, diálogo e ação!”, na qual se utilizou 16 cards, e nelas
estavam expostas as manifestações clínicas da Síndrome de Burnout. Cada membro
escolheu seu card, levantou-se questionamentos acerca do tema, troca de experiências,
como também diálogos, visão e concepção sobre o assunto.
Para o desenvolvimento da atividade optou-se por cards com imagens florais para
suavizar a ideia de falar sobre um assunto ainda tão pouco explorado e de difícil
entendimento. Posteriormente foi falado sobre o motivo da escolha, mas a grande maioria
relatou se identificar com o termo descrito. A atividade foi desenvolvida no turno da tarde,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

às 17h, em uma sala organizada em formato de círculo para permitir maior interação,
como também promover momentos de reflexão e de questionamentos.
O momento foi acolhedor e agradável, com duração de aproximadamente 1h
30min. Esse encontro permitiu compartilhar relatos, experiências, pontos de vista e
questionamentos inerentes a cada um, de acordo com o seu contexto de vida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os profissionais afetados pela SB geralmente possuem uma rotina de trabalho


exaustiva e, por se esforçarem demais, esquecem de se permitirem momentos de descanso
e relaxamento essenciais para um bom desempenho laboral e cuidado com a Saúde Mental
(SILVA, 2020). Nesse sentido é evidenciada a importância da dinâmica, ao incitar um
novo olhar do profissional sobre si e suas atitudes em relação ao trabalho.
SANTOS et al., 2021, vem ressaltar que as orientações sobre Síndrome de
Burnout podem ser consideradas como uma atividade eficaz. Sendo importante salientar
que essas medidas adotadas pelos profissionais de saúde, se tornam importantes por
proporcionarem informações fundamentais para prevenção do SB. Sendo assim, adotada
nas ações realizadas em ambiente laboral, assim como, na proposta realizada pelo
projeto.
Levando em consideração a experiência vivenciada durante a ação, houve muita
disposição dos profissionais em falar sobre sua realidade relacionada a SB e bastante
interesse em participar da atividade ofertada pela equipe. Os trabalhadores, por várias
vezes, descreveram, a partir da sugestão dos cards mostrados, as maiores dificuldades
encontradas para realização do trabalho, que são sobrecarga e falta de empatia por parte
dos colegas, sugerindo que os cuidados com práticas integrativas são as principais
interferências de superação, encontradas no ambiente de trabalho.

Figura I: Cards que foram utilizados para a realização da dinâmica.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Produzida pelos autores, 2021.

A equipe alvo demonstrou interesse em participar de outros momentos


relacionados ao tema. Desse modo, a coordenadora do serviço solicitou junto ao projeto
um novo momento para realização de atividades que possam ajudar a prevenir o
aparecimento da Síndrome de Burnout.
De acordo com Perniciotti (2020), ao propiciar momentos de interação e lazer em
ambiente de trabalho, pode-se agir de forma efetiva na prevenção de SB. O indivíduo que
consegue interagir e sentir-se seguro em ambiente laboral, terá segurança para falar sobre
suas dificuldades e consequentemente, sentir-se mais confortável e acolhido. Evitando
assim, acúmulo de estresse e situações que podem acometê-lo ao desenvolvimento do SB.
Essa teoria pode ser aplicada durante a atividade proposta, onde os profissionais tiveram
a oportunidade de participar de forma ativa e mostrar total interesse no desenvolvimento
no desenvolvimento de estratégias que possam prevenir a SB.
Assim, a atividade recreativa reflexiva trouxe os próprios trabalhadores em saúde
como agentes de mudança, ao sugerirem estratégias de enfrentamento a partir da
percepção assertiva da realidade contemplada por ele e demais participantes presentes na
dinâmica. Sendo perceptível a importância da capacitação dos mesmos, tendo em vista a
gama de métodos em autocuidado, a exemplo meditação, férias, diálogo com colegas de
trabalho, e envolvimento em outras tarefas como terapia (DOLABELA; DE LIMA,
2021).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CONCLUSÃO

A estratégia de prevenção da Síndrome de Burnout utilizada por meio da


verbalização deu-se por intermédio de uma intervenção educativa que estimulou o
diálogo e a participação de todos. De modo que, foi alcançado o objetivo proposto por
meio do uso estratégico do jogo dos cards terapêuticos “Luz, Diálogo e Ação!”,
permitindo descrever a experiência de extensionistas durante uma ação norteada pelas
interfaces da Síndrome de Burnout entre os profissionais de saúde.
Mediante ação realizada, obteve-se respostas positivas acerca dos tópicos
levantados por meio dos cards, possibilitando a construção de um momento de troca de
experiências coletivas e individuais entre os presentes durante o momento de partilha. Tal
experiência, possibilitou um momento ímpar e bastante enriquecedor para os envolvidos,
uma vez que permitiu a reflexão sobre a Síndrome de Burnout, seus sinais e sintomas,
bem como as experiências particularizadas dos participantes, através do estímulo e
acessibilidade a comunicação com diálogo aberto e guiado por meio dos cards.
Dessa forma, a construção desse ambiente de problematização e escuta, tornou
capaz à realização de uma intervenção transformadora da realidade, com vistas a reduzir
ou alertar os profissionais de saúde sobre os sinais de alerta da Síndrome de Burnout,
contribuindo para a formação de uma nova visão sobre a problemática que deve ser
enfrentada, trazendo, portanto, o desafio mental e prático para o encontro da descoberta
de estratégias de enfrentamento de situações adversas referentes à prática laboral,
fortalecendo comunicação entre toda a equipe, auxiliando na compreensão das
necessidades individuais e nível de estresse enfrentado por cada indivíduo.

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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151608582020000100005
&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 28 de dez. 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 13

REFLETIR SOBRE A VIDA, A MORTE E O LUTO


PARA PROFISSIONAIS DA SAUDE

Cinthia Nardy Paula Razuck e Ana Laura Schliemann

RESUMO: A partir da metodologia ativa, busca-se analisar o processo

de aprendizagem dos alunos do quarto ano do curso de medicina na

disciplina de Reflexões, cujo objetivo é a formação ética e humana dos

alunos. O artigo apresenta as implicações do método para a formação

do médico humanizado, destacando-se a teoria hermenêutica

associada as experiências habituais de tais profissionais com o intuito

de desenvolver a empatia, a relação médico paciente, o poder da escuta

e reflexão dos estudantes. Este estudo oferece um panorama da

disciplina em questão, podendo servir para fundamentar a melhora do

ensino nas diversas universidades.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Esse trabalho é um relato de experiência sobre o processo de aprendizagem da monitoria


do módulo de Reflexões de um curso de medicina em uma faculdade no interior de São Paulo.
Nesta disciplina são abordados temas ligados a morte e o morrer com o intuito de compreender
questões existenciais do indivíduo e da sociedade contemporânea em associação a situações
presenciadas no cotidiano dos profissionais da saúde para a formação do médico.
Os avanços científicos e tecnológicos proporcionados pela democratização da
informação tiveram grande impacto na prática médica brasileira. O modo impositivo e
desprovido de diálogo que segmenta o paciente, focado, apenas, na doença tornou-se obsoleto
à medida que se observaram as limitações deste modelo para o tratamento da doença e
compreensão da dimensão da complexidade humana.
Por conseguinte, a medicina humanizada emergiu para suprir as lacunas deixadas no
saber médico e nos aspectos subjetivos referentes à saúde e ao seu cuidado. Neste modelo, o
paciente, integralmente, torna-se o foco do atendimento, onde vontades e desejos, quando
possível, são respeitados. Já o papel do médico deve ser auxiliar o paciente no processo saúde-
doença, priorizar o vínculo, a comunicação e a escuta.
Dessa forma, a relevância da formação humanística do médico se instala na formação
médica. A faculdade de medicina em questão incluiu esse conceito no currículo acadêmico na
busca de capacitar o profissional na competência ética, relacional e emocional. Além disso, a
disciplina em questão aplicou os principais fundamentos da medicina humanizada na
metodologia das aulas, ou seja, priorizando a autonomia, reflexão, comunicação e trabalho em
equipe através do uso de metodologias ativas.
O curso de Medicina do estudo é dividido em dois grandes grupos do primeiro ao
terceiro ano para o ensino básico e o internato que vai do quarto ao sexto ano.
No quarto ano são oferecidas as disciplinas de Cirúrgica I (urgências); clínica médica I
(neurologia/reumatologia/fisiatria); clinica/cardiologia; moléstias infeciosas; dermatologia;
clínica medica II (procedimentos em medicina; diagnostico/terapêutica).

Considerou-se para a efetividade do desenvolvimento deste projeto, a Metodologia


Ativa de Aprendizagem por Projetos.

O principal objetivo deste modelo de ensino é incentivar os alunos para que aprendam
de forma autônoma e participativa, a partir de problemas e situações reais. A proposta é que o
estudante esteja no centro do processo de aprendizagem, participando ativamente e sendo
responsável pela construção de conhecimento.
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Para uma aprendizagem efetiva, irá depender de elementos para que seja eficiente, tais
como: contexto, interatividade, prazer, ambiente, curiosidade, critica, autonomia,
discernimento, praticar, enfrentamento, trabalho em equipe, lidar com as diferenças,
coletividade, descobrir o outro, diversidade, inclusão de tecnologias, valores éticos,
responsabilidade, comunicação, entre outros. Se é assim que se aprende e sabendo que
aprendizagem, também, se estabelece em relação, cabe aos denominados professores criarem
condições para que a aprendizagem aconteça. Outro ponto importante para aquele que facilita
a aprendizagem, e quiçá essa seja a maior das tarefas, é ajudar o aluno a descobrir seus valores,
opiniões e critérios favorecendo desenvolvimento pessoal e profissional. Com isso, observa-se
que a aprendizagem é um processo rico e que precisa estar atento às mudanças culturais e sociais
(SCHLIEMANN e ANTONIO, 2016).

Segundo Vieira (2016, p. 10) pode-se afirmar que aprendizagem por projetos é:
Uma estratégia de ensino-aprendizagem que tem por finalidade, por meio da
investigação de um tema ou problema, vincular teoria e prática. Na educação
superior pode proporcionar aprendizagem diversificada e em tempo real, inserida
em novo contexto pedagógico, no qual o aluno é sujeito ativo no processo de
produção do conhecimento. Rompe com a imposição de conteúdos de forma rígida
e pré-estabelecida, incorporando-os na medida em que se constituem como parte
fundamental para o desenvolvimento do projeto.

Segundo Schliemann e Antônio (2016, p.37):

Essa forma de entender a aprendizagem indica um olhar atual para o ensino


superior, pois envolve a prática e a teoria. Outras habilidades e competências que
essa aprendizagem favorece são a capacidade de reflexão, de crítica, de autonomia
e com condições para avaliar e decidir sobre os problemas da vida e da realidade.
O aluno é visto como protagonista da aprendizagem, o professor é visto como
aquele que mediará o conhecimento, o processo de aprendizagem tem tempo e
colocações diferentes por parte dos envolvidos, mas o enfoque é no processo.

Essa disciplina foi feita utilizando os recursos de mídia, criatividade, busca de soluções
para os problemas que foram surgindo a partir da realidade dos alunos e de sua vivência com
pessoas em condição de fim de vida.

A autoavaliação foi considerada importante nessa disciplina porque como se descreve


abaixo o processo de entendimento do percurso de cada um dos alunos.

Bedito e Almeida (2003) apresentam a teoria de Glasser (1993) propõe seis condições
fundamentais para os ambientes de ensino com Qualidade:

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Condição 1: Que os estudantes sejam tratados com afetividade, apoio e confiança.


Este é um ponto relativamente fácil de obter, dependendo da boa vontade e
determinação de quem lidera o processo ensino-aprendizagem. É fundamental que as
pessoas envolvidas se conheçam, sobretudo conheçam o professor. Para confiar e
gostar de alguém, é necessário saber o que esta pessoa pensa, do que gosta, do que não
gosta, no que acredita, no que não acredita. É mais fácil estudar com um professor em
que se confia e gosta, ao contrário do que se costuma fazer nos sistemas tradicionais de
gerenciamento, baseados na teoria do estímulo-resposta, onde o patrão escolhe ser
distante para ter autoridade. Ele poderá descobrir, se tiver coragem de tentar, que
poderá ter muito mais autoridade caso deixar-se conhecer e gostar.
Condição2: Que os estudantes conheçam a relevância do estudo que lhes é solicitado.
Só se consegue fazer um trabalho de Qualidade quando se sabe a importância, a
utilidade social, a relevância do que se está fazendo para as nossas necessidades básicas.
Acreditamos que esta ideia de relevância esteja na base do construtivismo de Paulo
Freire ou nas ideias de Piaget. Muitos exemplos se ouvem sobre isso. O operário que
há anos, numa indústria, faz um furo numa chapa de metal pode mudar radicalmente
seu comportamento com relação à tarefa, caso for informado que a chapa será colocada
posteriormente na fuselagem de um avião e que será um elemento vital para outras
pessoas. É o que leva a assumir responsabilidades conscientes sobre as escolhas feitas,
fator este que realça e reforça nossa necessidade de poder, interferindo positivamente
na qualidade de vida das outras pessoas.
Condição3: Que os estudantes sejam incentivados a fazerem o melhor que podem. Isso
necessita tempo e esforço, portanto paciência, uma das virtudes humanas. O professor
deve solicitar que aquilo que deve ser feito deverá ser o melhor que os estudantes
puderem fazer naquele momento, mas isso terá que ser feito com base no
convencimento, nunca na coerção. Este comportamento, no entanto, não significa
desleixo, “é o que eu posso fazer de melhor no momento”, mas uma busca continuada,
consciente e efetiva em tomar as decisões mais acertadas, não apenas em benefício
próprio, mas para o bem geral.
Condição 4: Que os estudantes sejam solicitados a avaliar o próprio trabalho. O
processo de auto-avaliação deverá ser ensinado a eles. A avaliação externa deve ser
utilizada apenas como orientação para quem está se auto-avaliando, porém a crítica
deve ser abolida dessa avaliação. Deve se ter em mente que a auto-avaliação, por
coerência com o fato de acreditar-se em motivação interna, é a única avaliação que
pode levar à verdadeira Qualidade. Isto requer a consciência do professor
em dividir o poder, fortalecendo o grupo na procura da cooperação mútua entre seus
membros. Este é o caminho para se alcançar o respeito, tanto do professor pelos seus
estudantes, como entre os próprios estudantes.
Condição 5: Que os estudantes sintam-se bem e divirtam-se em um ambiente favorável
e acolhedor. Este deve ser um indicador de Qualidade para o professor. Quando as
necessidades básicas dos estudantes estão satisfeitas, eles se sentem bem e expressam
essa satisfação com alegria, prazer e diversão. A diversão é a recompensa da
aprendizagem. Divertimo-nos quando aprendemos, pois, aprender é prazeroso, a
descoberta da novidade é algo que nos ilumina a mente, o que só faz fortalecer nosso
sistema de defesa imunológica.
Condição 6: Que os estudantes tenham comportamentos construtivos. Um trabalho de
Qualidade nunca é destrutivo, seja para a organização, para a própria pessoa ou para o
meio ambiente. Esta recomendação é necessária para esclarecer que as drogas
psicotrópicas, apesar de causarem prazer e darem uma sensação de bem-estar, não
podem ser consideradas como um comportamento de Qualidade, bem como qualquer
outro comportamento que, causando danos a outras pessoas ou ao meio ambiente, não
produzem trabalho de Qualidade, porque são comportamentos destrutivos, (s/p)

Esses fundamentos nos apresentam aspectos humanísticos importantes para que


possamos entender a autoavaliação e a avaliação da disciplina.

OBJETIVOS
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O objetivo do trabalho foi analisar através dos princípios de Glasser (1993) de que forma os
alunos do curso de uma faculdade no interior de São Paulo, focado na disciplina de REFLEXÔES
identificam como lidam com o estudo humanístico para discutir a vida, a morte, o luto no contexto de
pandemia.

METODOLOGIA

A disciplina REFLEXÕES é dividida por três docentes sendo um psiquiatra, um


ginecologista e uma psicóloga. Aqui serão apresentadas as atividades da professora psicóloga
que adota a estratégia de Seminários, definida pelo Projeto de Curso, no formato de
aprendizagem por projeto e a teoria da Escolha de Glasser, como, anteriormente, discutido. O
tema geral da disciplina é Reflexões sobre o fim de vida e suas considerações em relação a
família, a morte, tomada de decisão.
Cabe lembrar que essa disciplina aconteceu totalmente no modelo online através da
plataforma TEAMS seguindo as orientações do Ministério da Saúde.
O papel do monitor é definido pela faculdade em questão como uma prática importante
para o desenvolvimento de papel de educador no aluno.
Entende-se por monitoria uma modalidade de ensino e aprendizagem, que
fomenta a formação integrada do aluno nas atividades de ensino, pesquisa e extensão
dos cursos de graduação. É compreendida como instrumento para a melhoria do ensino
de graduação, através do estabelecimento de novas práticas e experiências pedagógicas,
que visem a fortalecer a articulação entre teoria e prática e à integração curricular em
seus diferentes aspectos e saberes, tendo por finalidade promover a cooperação mútua
entre discente e docente e a vivência com o professor e com as suas atividades técnicas
e didáticas. O aluno-monitor, ou simplesmente monitor, é o estudante que, interessado
em se desenvolver, aproxima-se de uma disciplina ou área de conhecimento e, junto a
ela, realiza pequenas tarefas ou trabalhos, que contribuem para o ensino, a pesquisa ou
o serviço de extensão à comunidade dessa disciplina.

Como se pode observar, o processo de tornar-se monitor é uma experiência humanista


que irá ajudar o futuro médico a desenvolver seu papel de educador.
Antes do semestre começar, docente e monitora se reuniram e analisaram o Projeto
Pedagógico do Curso, as experiências da monitora como aluna no ano anterior a monitoria e da
professora como docente. Foram apontados pontos positivos e negativos dessas experiências
no intuito de retomar o trabalho com mais maestria.
Os grupos eram formados por 20 pessoas, com aulas de 2 horas de duração durante sete
semanas.
A cada semana quatro grupos, previamente definidos, e divididos em subgrupos de 5
pessoas, era motivado com dois vídeos sobre comunicação em saúde e depois sobre morte e
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

luto. A partir dessa motivação, os subgrupos escolhiam algum dos temas vistos e escolhiam um
subtema e apresentavam para o restante da turma. A partir da escolha, os alunos discutiam com
a monitora e a professora como o tema deveria ser vivenciado. A autonomia desses alunos era
estimulada, assim como a discussão do grupo todo. Entre as formas utilizadas tem-se como
exemplo: apresentação de casos, filmes, músicas, exercícios dinâmicos, entre outros.
Monitora e docente eram responsáveis por proporcionar as seis condições fundamentais
para o ensino de qualidade de William Glasser: comportamentos construtivos, relação
interpessoal positiva, ambiente favorável, relevância do assunto, incentivo, e ao final do ano a
autoavaliação que será aqui apresentada.
Os alunos foram divididos em seus grupos de origem no internato e tinham que escolher
dois subtemas para preparar o seu projeto a ser apresentado para todo o grupo. Os alunos
assistiam o vídeo na aula em conjunto e depois eram divididos nos subgrupos para apontar os
temas relevantes que apareceram no vídeo e o que desses temas gostaria de ser aprofundado.
Os alunos, em grupo, recebiam orientação ao final da aula pela docente e mantinham
contato posterior com a monitora para a finalização do seu projeto. Buscava-se, constantemente,
orientar e incentivar os alunos para realizarem atividades que mobilizassem aspectos pessoais,
emocionais e da subjetividade diante do exercício profissional, mas nem sempre isso foi
possível.
Os projetos foram apresentados e ao final de cada aula havia uma discussão do material
apresentado e do tema elucidado pelo grupo apresentador.
Como exemplo das atividades realizadas pode-se apresentar:

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Figura 1: fonte dos autores.


Nessa atividade foram trabalhados os temas das diferentes reações e comportamentos
nas diversas fases da vida; questões de género; receber notícias ruins, entre outros. Foi
interessante porque os alunos discutiram e representaram conversações sobre o material.
Outro exemplo foi o trabalho:

Figura 2: fonte dos autores.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Esse trabalho foi apresentado via power-point e apontou como o médico deve se portar
diante das emoções difíceis que o paciente pode gerar ou provocar nos profissionais da saúde.
Os apresentadores estimularam os colegas a pensarem como se sentiram em situações vividas
no internato e que podem gerar problemas de empatia, comunicação e convivência na área da
saúde.
Outros recursos utilizados foram Quizz; músicas; vídeos de atendimento; pesquisa com
os alunos, entre outros que ajudaram na elaboração dos temas propostos. A participação nem
sempre foi efetiva porque o modelo online possibilita a participação mais indireta ou menos
ativa.
Um ponto importante nesse tipo de aprendizagem é a percepção do aluno sobre o que
ele sabe ou não sabe. Por isso, para lidar com a autopercepção a autoavaliação foi aplicada, ao
final do ano, um questionário online através do Google Forms
O Google Forms, sistema do Google, é um serviço gratuito para criar formulários
online. Nele, o usuário pode produzir pesquisas de múltipla escolha, fazer questões discursivas,
solicitar avaliações em escala numérica, entre outras opções. O funcionamento do serviço é
totalmente online, ou seja, a ferramenta é compatível com qualquer navegador e sistema
operacional. Os dados ficam salvos na sua conta do Google. O formulário construído pode ser
disponibilizado através de um endereço eletrônico e quando preenchido pelos respondentes, as
respostas aparecem imediatamente na página do Google Forms do usuário que o criou.
Ao mesmo tempo, foi criado um texto no início do questionário para informar o participante
sobre o desenvolvimento da autoavaliação, com o intuito de esclarecer os alunos sobre as demandas da
avaliação
Para essa avaliação online foram criadas 9 perguntas baseadas na Ficha de Avaliação de
Aulas (FAA), criada por Almeida (1999). As questões versaram sobre: a primeira era a escolha de
se identificar ou não, a segunda pergunta era sobre o estado de espírito antes de se iniciar a aula,
a terceira abordava o sentimento do aluno durante a aula, a quarta a relevância do assunto, a
quinta avaliava a contribuição do aluno, a sexta o resultado do aluno após a aula, na sétima a
atuação do professor, já a oitava a atuação do grupo. Essas perguntas eram quantificadas em
uma escala de 0-5, sendo 0 o mais negativo e 5 o mais positivo.
Ao final da autoavaliação havia um espaço para críticas e sugestões das aulas com o
intuito de melhorar as próximas edições da disciplina e que foram analisadas a partir da teoria
de Bardin de análise de conteúdo. O trabalho não foi de pesquisa, forma tradicionalmente usada
para analisar pesquisas, mas entendeu-se que a opinião das pessoas precisa de um trabalho
cuidadoso e delicado e por isso a opção por esse olhar interpretativo.
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Para a análise qualitativa das questões abertas bem como de múltipla escolha, foi
utilizado o recurso da análise de conteúdo a qual para Bardin (2011, p.48) relaciona-se a:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter,
por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Essa técnica de análise qualitativa foi escolhida pois, segundo Godoy (1995), para se
compreender o comportamento humano, é preciso conhecer o contexto a partir do qual as
pessoas interpretam a realidade em diferentes dimensões, de modo que resultados numéricos
não sejam suficientes para a compreensão do que se busca com o presente trabalho.
Ainda segundo Bardin (2011), a prática da análise de conteúdo requer realizar três fases
sequenciais que foram utilizadas para desenvolver a parte qualitativa desta pesquisa:
1) Pré-análise
2) Exploração do material
3) Tratamento, interferência e interpretação dos resultados
A pré-análise compreende a fase de organização inicial do material de forma a
sistematizá-lo. Nesse sentido, essa tarefa é realizada por meio de 4 subfases:

“(a) leitura flutuante, que é o estabelecimento de contato com os


documentos da coleta de dados, momento em que se começa a conhecer
o texto; (b) escolha dos documentos, que consiste na demarcação do que
será analisado; (c) formulação das hipóteses e dos objetivos; (d)
referenciação dos índices e elaboração de indicadores, que envolve a
determinação de indicadores por meio de recortes de texto nos
documentos de análise” (MOZZATO; GRZYBOVSKI, p.735)

Já a segunda fase, a exploração do material, corresponde a necessidade de codificar,


classificar e categorizar o conteúdo analisando, assim, sistematicamente o material de acordo
com regras já pré-estabelecidas. Nessa etapa optou-se pelos gráficos produzidos pelo programa
Google Forms.
Por fim, na terceira fase, os resultados passam por um tratamento de forma a se tornarem
significativos e válidos. Nesse sentido, esses são condensados e sofrem uma análise crítica e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

reflexiva.
Bardin (2011), ainda destaca os processos de codificação e categorização dentro do
método na análise de conteúdo que foram utilizadas para a criação das tabelas referentes às
respostas das questões abertas. A codificação, portanto, corresponde a:
“uma transformação - efetuada segundo regras precisas - dos dados
brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e
enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua
expressão” (BARDIN, 2011, p.133)

Em seguida, segue-se para a categorização a qual o autor descreve como:

“A categorização é uma operação de classificação de elementos


constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por
reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios
previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais
reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise
de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em
razão das características comuns destes elementos” (BARDIN, 2011,
p.147).

Entretanto, Bardin (2011) defende que a análise de conteúdo é uma técnica que tende a
oscilar entre duas tendências opostas: a do desejo do rigor (cientificidade) e a necessidade de
se descobrir para além das aparências (subjetividade). Nesse aspecto, por mais que existam
regras e padrões a serem seguidos a análise de conteúdo não deve ser trabalhada de modo
extremamente rígido e inflexível.
Optou-se pela apresentação dos dados conjuntamente por isso os gráficos comentados
foram sempre os primeiros. Os demais gráficos são específicos de cada curso para que os dados
brutos fossem demonstrados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados avaliados correspondem às respostas de 76 estudantes de medicina, número

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de participantes considerado bom, que preencheram o questionário via Google Forms, que
foram avaliados por meio da planilha gerada pelo programa.
O primeiro ponto discutido entre a docente e a monitora foi permitir que os alunos se
identificassem ou não para responder ao questionário.

Gráfico 1- Identificação do aluno

Como se pode observar, 19% dos alunos se apresentaram o que demonstra, a priori, uma
postura de partilha e responsabilidade pela sua aprendizagem e com o grupo de colegas.
Tradicionalmente, a disciplina sempre foi presencial e com a pandemia todo a grade de
matérias teórica, ou de possibilidade teórica de execução foi para o modelo remoto.
O primeiro obstáculo na realização da disciplina foi à alteração do curso para o formato
de ensino a distância devido à pandemia de COVID-19. Essa condição teve influência direta na
elaboração de um ambiente agradável para o desenvolvimento das aulas, visto que não havia
como garantir que o aluno estava em um local silencioso, confortável, sem distrações e com
acesso a internet e produtos eletrônicos eficientes.
A metodologia a distância também interferiu na construção da relação do grupo, uma
vez que a maioria dos alunos mantinha as câmeras desligadas durante a aula, logo os demais
colegas não tinham conhecimento da opinião de seus colegas. Por conseguinte, a prática de
comportamentos construtivos foi diminuída. Com o intuito de compensar a situação, utilizou-
se o princípio teórico mais significativo de Paulo Freire, isto é a autonomia, no qual foi cedido
aos alunos o direito para a escolha dos integrantes do grupo que iria realizar a apresentação e a
liberdade para a seleção do tema. Deve-se destacar, também, que os alunos já tinham contato
com os integrantes dos grupos há quatro anos por cursarem o mesmo curso de medina no mesmo

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

período, por essa razão o questionário apresentou resultados tão satisfatórios como apresentado
no gráfico 2.

Gráfico 2- Atuação da turma para o aprendizado

Além disso, essa situação foi corrigida por meio da participação da professora, que
mantendo sua câmera aberta, expunha sua opinião para o grupo, além intensificar o incentivo a
participação e compartilhamento de visões dos demais alunos durante a aula. Seguindo os
princípios de Berbel (2011), o professor nessa disciplina agia como intermediador, facilitador
e orientador da disciplina, posicionando o aluno como centro do processo de aprendizagem.
É necessário salientar a importância das aulas serem realizadas por docente com
formação na área capaz de explorar os temas e reações do grupo profissionalmente com a
garantia que os assuntos abordados serão impactados, corretamente, pelos estudantes e com
suporte adequado se preciso. Essa condição é retratada no gráfico 3, no qual a relação positiva
com a docente é contemplada.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Gráfico 3- Atuação do professor para o aprendizado

O segundo empecilho observado neste estudo foi a implementação da metodologia ativa


em alunos acostumados com metodologia passiva. Este último modo de ensino está em
decadência devido a sua abordagem impositiva, no qual o estudante não é estimulado a refletir
sobre o tema, portanto o estudante apenas replica o que foi ouvido e decorado, sendo
cientificamente provado que o processo de aprendizagem significativa não ocorre. Entretanto,
partes dos alunos ainda almejam essa estrutura devido à segurança de ter todo o conteúdo
ministrado durante a aula e ser mais fácil, justamente por não exigir o raciocínio.
Para Freire (2015), o processo de aprendizado não pode ser realizado pior outrem de
forma passiva. Torna-se fundamental a interação entre os indivíduos ou pelo próprio sujeito
de modo a criar curiosidades, reflexões e discussões sobre o tema. No estudo em questão os
alunos foram os agentes do seu conhecimento e no questionário disponibilizado foi possível
correlacionar o esforço pessoal do aluno com o resultado alcançado no gráfico 4 e 5.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Gráfico 4- Empenho do aluno

Gráfico 5- empenho do aluno

A pedagogia de Dewey (1978) vai de direto acordo com a disciplina em questão, visto
que o conteúdo abordado apresenta ligação direta com a vida dos alunos. Isto é, os temas em
questão devem ter sentido para os estudantes, caso contrário perde-se o sentido e o valor.
Quando questionado a relevância do tema aos alunos quase 60,5% afirmou que foi o fator de
maior influência para o seu aprendizado, seguido de 20% a sua relação com o professor e 13%
a participação dos colegas. No gráfico 6 abaixo é possível observar a escala que os alunos
classificaram a importância do tema.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Gráfico 6- Relevância do tema para o aluno

Os alunos do estudo em questão apontaram que o principal fator que prejudicou o


aprendizado foi a falta de motivação que foi apontada foi descrita com 31% dos alunos culpando
o método. Nessa atribuição ao método houve um grande paradoxo, no qual 45% sugeriram que
a professora desse aulas expositivas para a turma e 55% solicitaram metodologias ativas de
formas diversas. Além disso, quase 5% dos alunos solicitaram o retorno das aulas presenciais.
Já 20% dos alunos atrelaram ao tema, acreditando que comunicação de más notícias, morte e
luto forma temas trabalhados por muito tempo e gostariam de ter a oportunidade de estudar
temas variados. Os outros 14% do grupo correlacionaram a sua desmotivação com o grupo,
solicitando maior divisão dos grupos e participação de seus colegas. No entanto, 30% dos
alunos não tinham críticas ou sugestões quanto a disciplina.
Outra dificuldade da metodologia ativa é o processo de autoavaliação do aluno, devido
ao despreparo em assumir responsabilidade pessoal sobre seu desemprenho. Este processo
provoca a reflexão do aluno desenvolvendo seu conceito sobre si, seu esforço pessoal e suas
limitações, possibilitando a melhora. No estudo em questão percebemos a dificuldade dos
alunos em se autoavaliar com a nota mais alta, sendo que 10 alunos se acreditavam ter se
esforçado ao máximo e 11 alunos acreditam que atingiram o melhor resultado possível, no qual
apenas três alunos responderam a nota máxima para as duas perguntas.
Mesmo com todas as adversidades apresentadas a disciplina teve resultado tão positivo
em virtude dos alunos compreenderem a importância do conhecimento e aplicação dos
princípios da medicina humanizada para a sua formação como médico. Para Glasser (2001), o
processo de aprendizagem está vinculado com o nosso humor. Quando estamos motivados em
um ambiente agradável e estamos cercados por comportamentos construtivos e aprendendo,
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

adquirimos sentimento de prazer e bem-estar. No estudo em questão podemos observar que à


alteração do humor dos alunos antes de começar a aula e depois que terminava. Houve um
aumento de 11% no estado de espírito dos alunos, como pode ser observado no gráfico 7.

Gráfico7- Variação de Humor

Deste modo, diferente da metodologia passiva, no qual apenas o professor compartilha


seu conhecimento, as aulas do curso de reflexões são o ambiente ideal para o debate,
compartilhamento de diferentes experiências, culminando no aprimoramento do grupo como
todo, incluindo principalmente a monitora em questão.
Sobre a pergunta O que mais influenciou o meu aprendizado foi, o aluno poderia
escolher entre: O contato com o professor; A relevância do assunto tratado; Os incentivos que
recebi; O clima da sala; A participação dos meus colegas;

Gráfico 8- Influência positiva sob o aprendizado

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Observa-se que o aspecto teórico continua sendo valorizado pelos estudantes mantendo
o aspecto cognitivo em detrimento do aspecto relacional do espaço da aula.
Sobre a pergunta O que mais prejudicou o meu aprendizado foi: o aluno poderia
escolher entre: O professor; O tema da aula; Não me senti motivado; Não me senti confortável;
A presença de meus colegas

Gráfico 9- Fatores que prejudicaram o aprendizado

Observa-se que na hora que há uma questão sobre o prejuízo os alunos se tornam
autoreferentes e apontam, mais da metade deles, a falta de motivação para um prejuízo desse
aprendizado. Se o estudo online e metodologias ativas não são o que eu desejo, por coerência,
não me sinto motivado.
Como exemplo das sugestões e críticas pode-se citar:
1)Acredito que aulas presenciais teria maior interação e participação dos alunos, com
melhor aproveitamento.
2) Outra abordagem
3) Professora é excelente então acho que ela poderia atuar de maneira mais ativa dando
algumas aulas teóricas. Mesmo que alguns alunos não fosse prestar atenção e deixassem de
lado o celular, quem realmente tem interesse iria ver a aula. É um momento que temos pra
ter contato com uma grande profissional da psicologia e seria interessante aprender coisas
da área para podermos compreender melhor os tipos de psicoterapia e podermos indicar que
os pacientes procurem.
4) Temas mais práticos conforme nossa prática cotidiana acadêmica e médica
5) Pessoalmente o que mais gostei da aula foi a possibilidade de compartilhar experiências
pessoais de acordo com os temas abordados e como os grupos eram grandes a maioria eu
não tinha contato/não conheço muito bem em alguns momentos senti que talvez
trabalhando em grupos menores pudesse melhorar ainda mais o rendimento

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

6) Falta de participação geral desmotiva e repetição de temas torna-se mais reincidente com
alocação de turmas diferentes. Minha turma assistiu ao mesmo vídeo duas vezes por ter
sido praticamente o mesmo tema apresentado pelos dois grupos que convivemos .

Observa-se que as críticas são coerentes com as dificuldades acima já discutidas. O


papel mais passivo aparece como preferência e o papel ativo ficaria com a docente. A falta de
engajamento do grupo, também, dificulta a participação do aluno na sala de aula e no
envolvimento com os temas.
Quantos pensamos na Teoria da Escolha e seus princípios podemos pensar que:

Condição 1: Que os estudantes sejam tratados com afetividade, apoio e confiança.


Observa-se que esse ponto foi bem vivenciado com pelo grupo todo. As respostas dadas
ao trabalho da docente junto aos alunos e seus colegas. O clima em sala de aula era,
basicamente, cordial e colaborativo.

Condição2: Que os estudantes conheçam a relevância do estudo que lhes é solicitado.


O processo de cada sala online começava com a explicação da docente sobre o que seria
feito e como seria feito ao longo da aula. Quanto ao questionário de autoavaliação ele foi
enviado por e-mail, grupo de WhatsApp e continua uma explicação sobre a importância desse
processo.

Condição3: Que os estudantes sejam incentivados a fazerem o melhor que podem. Isso necessita
tempo e esforço, portanto, a paciência, uma das virtudes humanas.
O tempo todo das orientações foram acolhidas as necessidades, dúvidas e necessidades
dos alunos. Eles retornavam nas avaliações essa posição. Entretanto, observa-se que os alunos
com aparente dificuldade afetiva e de envolvimento com os aspectos emocionais da relação
médico/paciente se afasta e se isola das relações, inclusive daquelas com os colegas e a docente.
Condição 4: Que os estudantes sejam solicitados a avaliar o próprio trabalho. O processo de
autoavaliação deverá ser ensinado a eles.
Esse processo é fundamental e podemos observar que há uma resistência de realizar essa
avaliação. Vivemos num mundo em que avaliar significa crítica e coisas ruins e, por isso, os
alunos apresentam uma grande resistência. Observa-se, também, que algumas das críticas foram
feitas de forma radical e polarizada, o que demonstra, a priori, imaturidade para lidar com o
processo da autoavaliação.
17

Página 158
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Condição 5: Que os estudantes se sintam bem e divirtam-se em um ambiente favorável e


acolhedor
Em grande parte das aulas e dos alunos, especialmente os que se identificaram, nota-se
esse ambiente como favorecedor da aprendizagem. Pela docente, pelo tema, pela percepção da
dificuldade dos colegas, eles vão se deparando com as diferenças de postura humana e médica.

Condição 6: Que os estudantes tenham comportamentos construtivos.


Aqui a observação vem da prática. De forma geral, os trabalhos foram muito bons e os
alunos, mesmo com a resistência em mostrarem-se afetivos e construtivos, apresentaram temas
que os favoreceram para entender as relações humanas entre médicos e pacientes.
Ao final dessa reflexão pode-se ver que ainda temos muito para discutir no processo de
humanização do futuro médico. Há resistência, há negação, há dificuldade de se expressar
porque não temos essa prática ligada a educação nem em tempos remotos. Desde pequenos,
somos estimulados a não pensar o que queremos, a não sentir e não expressar e daí quando na
faculdade somos solicitados a fazê-lo não se sabe.

CONCLUSÃO

Não podemos assumir uma conclusão sobre um trabalho feito de forma academica como
avaliação do processo dos alunos, por isso falar-se-á em considerações finais.
O estilo de aprendizagem ele é baseado na história de vida, nas experiências
pedagógicas, nas expectativas de aprendizagem e de forma de aprendizagem.
A metodologia ativa baseada na prática pedagógica democrática, estimula a autonomia,
a igualdade, a reflexão, a habilidade de comunicação e de trabalho em equipe tornam o aluno
protagonista e transformador da sua realidade. Essas características são fundamentais para a
formação do profissional crítico e humanizado que a medicina tanto almeja. Ao final dessa
reflexão, entende-se que adequar há uma necessidade de inclusão na grade curricular de temas
humanistas reflexivos, assim como repensar sobre a forma de ensino em que este é aplicado,
pois a metodologia de ensino influencia a percepção e a formação do médico o que causará
impacto no seu desempenho profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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20

Página 161
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 14

INTERVENÇÃO E CUIDADO DE UMA EQUIPE


MULTIPROFISSIONAL NA VISITA DOMICILIAR:
RELATO DE EXPERIÊCIA

Camilla Yala Pinheiro Fernandes, Aline Muniz Cruz Tavares,

Amanda Cordeiro de Oliveira, Ana Paula Pinheiro da Silva, Agna

Retyelly Sampaio de Souza, Fernanda Ribeiro da Silva, Rosana

Cabral Pinheiro, Maria Anelice de Lima, Karisia Monteiro Maia, Lis

Maria Machado Ribeiro Bezerra

RESUMO: O trabalho multiprofissional no ambiente domiciliar

possibilita a interferência sobre os vários fatores condicionantes

e determinantes do processo saúde-doença, permitindo assim a

procura de soluções paralelas que articulam os conhecimentos e

as práticas profissionais para sugerir planos de ações efetivas e

eficazes.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A Visita Domiciliar (VD) é de suma importância para a saúde pública, consiste em uma
ação de vigilância utilizada pelas equipes das Unidades Básicas de Saúdes (UBS), com o intuito
de avaliar as condições de habitação, saneamento, condições ambientais e físicas que o
indivíduo e seus familiares vivem, identificando os riscos de vulnerabilidade social, facilitando
assim a assistência e promoção de ações em saúde que propiciem uma melhora na qualidade de
vida.
De acordo com o pensamento de Ceccim e Machado (2015), a visita domiciliar é
identificada como uma forma de atenção em Saúde Coletiva voltada para o atendimento
individual e à família/coletividade que é acometida ao domicílio, junto aos diversos recursos
sociais locais, tendo em vista maior equidade da assistência em saúde.

A VD é um momento excepcional uma ferramenta de grande importância, pois trata-se


de uma intervenção que possibilita aproximação com determinantes do processo saúde doença
no recinto familiar (GOMES; FRACOLLI; MACHADO, 2015).
A importância do trabalho multiprofissional nos cuidados com a saúde vem sendo
enfatizado progressivamente nas práticas de cuidado no âmbito das UBS, acredita-se que a
atuação e olhar de diversos profissionais de forma integrada, possui grande impacto no processo
saúde-doença.
Neste contexto, o trabalho multiprofissional no ambiente domiciliar possibilita a
interferência sobre os vários fatores condicionantes e determinantes do processo saúde-doença,
permitindo assim a procura de soluções paralelas que articulam os conhecimentos e as práticas
profissionais para sugerir planos de ações efetivas e eficazes.
O cuidado exercido no domicílio, realizado por meio da interação, de conversação entre
profissionais, sujeito e sua família, possibilita reverter o modelo hegemônico e realizar uma
atenção integral, consequentemente equilibrado, ofertando uma melhor qualidade de vida a
população (CHIMBIDA; MEDEIROS, 2016).
Dessa forma, esse estudo objetivou relatar a experiência de intervenção e cuidado de
uma equipe multiprofissional durante visitas domiciliares na Atenção Primária à Saúde no
município de Crato - Ceará.

MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência (MINAYO, 2012), fruto
da vivência de residentes em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri do município
do Crato-Ceará, durante as visitas domiciliares realizadas no período de abril a outubro de 2021,
com periodicidade de agendamento conforme a necessidade dos familiares.
O município do Crato possui uma área de 1.157,9 km² e contava com 121. 428
habitantes no último censo realizado no ano 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística e densidade demográfica de 103,21 habitantes por km².
A equipe de saúde era composta por um técnico de enfermagem, dois enfermeiros, uma
nutricionista, um médico, um profissional de educação física e um agente comunitário de saúde.
A seleção das famílias a serem visitadas foi realizada por meio diálogo entre equipe
envolvida, as quais observaram-se critérios de vulnerabilidade e fatores de risco, dentre eles:
indivíduos que estavam acometidos por doenças que demandam por cuidados mais complexos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de saúde; indivíduos acamados e/ou idosos com comorbidade que afetem a mobilidade. Ainda,
observaram-se os critérios de estar na área territorial de cobertura da UBS e possuir prontuário
familiar cadastrado na mesma.
A identificação das famílias era realizada pelo Agente Comunitário de Saúde, o qual
durante sua prática diária de trabalho dentro de campo, utilizou-se das visitas peridomicílios
para identificar as famílias que se enquadraram nos critérios supracitados
A Visita Domiciliar era antecedida por reuniões de planejamento de ações e
intervenções estratégicas e individualizadas para cada família, onde todos os profissionais
envolvidos no cuidado buscavam discutir e traçar os planos de abordagem e tratamento.
As visitas domiciliares foram realizadas sob a orientação e o acompanhamento da
preceptora responsáveis pela Residência, ainda equipe de saúde atuante na UBS. Para a
elaboração do relato de experiência foram utilizadas as anotações do diário de campo e um
roteiro de observações estruturadas.
A locomoção da equipe ocorreu por meio de transporte cedido pela Secretaria Municipal
de Saúde, os dias destinados a VD foram as quartas-feiras no período diurno, cada VD possui
uma duração aproximada de 30 minutos e todos os profissionais respeitaram as normas e
protocolos de proteção individual e familiar, através do uso de gorro, máscara, avental, propé,
luvas e álcool em gel e líquido, bem como distanciamento social de no mínimo 1,5 metros entre
indivíduos, exceto nos momentos de exame físico individual.

RESULTADOS E DISCUSÃO

A VD tem como plano de ação a reestruturação do processo de trabalho pela equipe


multiprofissional de saúde, onde espera-se que os profissionais sejam capacitados de atuar de
forma singular e senso crítico, por meio de uma prática humanizada, qualificada e resolutiva,
envolvendo ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação (BRASIL, 2012a).
As visitas domiciliares possibilitam aos profissionais compreender a forma de cuidar
desenvolvida pelos familiares e nela intervir.
A continuidade do cuidar por meio das VD possibilitou a criação e fortalecimento de
vínculo e parceria com a família.
A visita domiciliar são ações em saúde voltadas para o atendimento, de forma
assistencial e/ou educativa. É uma prática utilizada na unidade básica de saúde, visto que
acontecem no domicílio da família (MATTOS, 1995).
De acordo com a portaria nº 2029, de 24 de agosto de 2011, a Atenção Domiciliar tem
como propósito a reestruturação do processo de trabalho das equipes multidisciplinar que
desempenham cuidado domiciliar na atenção básica, ambulatorial e hospitalar, pretendendo à
humanização da atenção, a desinstitucionalização e a ampliação da autonomia dos usuários
(BRASIL, 2011).
A abordagem familiar durante a VD se deu de maneira respeitosa e com preservação
de autonomia dos indivíduos, em que suas escolhas foram respeitadas e valorizadas, buscando
exercer a co-responsabilidade do cuidar e reconhecimento das práticas, culturas e saberes das
famílias.

Página 164
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A VD é um instrumento que permite conhecer a família, visando à promoção da saúde


da comunidade, caracterizando se por fortalecimento das ações desenvolvidas, utilização de
tecnologia leve, permitindo o cuidado à saúde de forma humanizada, acolhedora, estabelecendo
laços de confiança entre os profissionais e os usuários, a família e a comunidade, no domicílio,
possibilitando assim identificar situações de vulnerabilidade familiar (ANDRADE et al.,
2014).
Após identificação de uma família que necessitava de acompanhamento domiciliar, o
primeiro contato entre equipe multiprofissional e familiares tinham como finalidade o
acolhimento, apresentação dos integrantes da equipe, reconhecimento e escuta sobre as
necessidades de saúde dos indivíduos, bem como um olhar ampliado para o contexto social e
ambiental que aquela família se encontrava, enfatiza-se que todos os profissionais estavam
envolvidos nesse processo de observação e reconhecimento.
Por conseguinte, através da escuta qualificada e individualizada, buscou-se realizar
investigação do histórico de saúde, bem como da estrutura e relações familiares, sejam
conflituosas ou potencializadoras de saúde, nestes momentos, como estratégia utilizou-se as
rodas de conversas como método de grupal, os profissionais enfermeiro e médico atuavam
como mediadores nesta etapa, as observações e achados eram registrados por todos os demais
profissionais no prontuário familiar.
Um instrumento de coleta e registro dos achados durante o exame físico foi adotado
(PORTO; PORTO, 2017) que por sua vez era desenvolvido em cada familiar, pelo profissional
técnico em enfermagem e médico. Ainda, buscava-se realizar análises de exames de saúde
datados dos últimos seis meses, com intuito de melhor compreender a história do processo
saúde - doença.
Com todos os dados familiares coletados, a equipe multiprofissional realiza reunião de
planejamento para discutir a melhor abordagem familiar, contendo uma proposta de plano de
intervenções e tratamento em saúde. O plano era apresentado e validado com todos os familiares
nas visitas domiciliares subsequentes, com vista à implementação da irresponsabilidade da
tomada de decisão e cuidado. Sempre que necessário, o profissional médico realiza
encaminhamentos para Serviço Especializado.
A atuação da equipe multidisciplinar nas visitas domiciliares possibilitou a integração
de saberes e práticas, proporcionou o reconhecimento e ampliação do olhar para o indivíduo e
família em sua complexidade.
No processo de trabalho das equipes multiprofissionais cada caso deve ser analisado e
planejado pela equipe, considerando suas especificidades, aspectos socioculturais e ações entre
equipe, família e comunidade. Para que as atividades da atenção domiciliar atendam às
necessidades do usuário/família, faz-se necessário um planejamento de ações integrado,
dinâmico, flexível e adaptável ao sujeito assistido. (BRASIL, 2012).
A intervenção nutricional deu-se a partir de uma avaliação e roda de conversa com os
membros da família procurando conhecer melhor seus hábitos, levando em consideração seus
gostos, preferências, condições fisiológicas e econômicas. Sendo assim, o plano alimentar é
personalizado, variado e flexível.
Complementando a orientação nutricional, o profissional de educação física informou
sobre os benefícios que a prática regular de atividade física pode trazer para a saúde física e
mental dos indivíduos. Em seguida foi orientado a manter um estilo de vida ativo, dando início
à prática de exercícios de alongamento e caminhadas dentro de casa, por conta do contexto
pandêmico; orientando também quanto à intensidade e duração das atividades.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Percebe-se a importância da VD como forma de intervenção para melhorias nas condições


de vida e saúde da população, proporcionando a vivência de valores que contribuam para
mudanças de ordem social e cultural, além disso auxilia transformações psicossociais e
consolidação e formação dos consumos alimentares, destaca-se assim a importância da
realização de ações e/ou intervenções visando a prática de atividade física e alimentação
saudável (Priore, 1998; Leal & Silva, 2001).
No decorrer da visita e das intervenções a equipe multiprofissional possui um papel
importante na educação em saúde, orientando a família quanto às ações a serem realizadas por
ele, reforçando a ideia de corresponsabilidade.
Todas as intervenções são de forma horizontal centrada no paciente. Assim o
acompanhamento das intervenções, são flexíveis, mutáveis a depender da evolução do paciente
ou da família.

CONCLUSÃO

Fundamenta-se que a prática de visitas domiciliares é importante para a equipe e para


as pessoas assistidas. É possível observar e compreender o quanto essa intervenção é essencial,
uma forma de zelo pela vida do outro, acreditamos que é um artifício de grande valia para
prevenção, promoção e manutenção do bem-estar e da saúde do paciente ou da comunidade
assistida.
Sendo assim, evidenciou-se que a visita domiciliar é uma prática de atenção,
aproximação e fortalecimento de vínculo entre profissionais e pacientes apresentando
potencialidades que sobrepõem suas limitações.
Pode-se concluir que a atuação da equipe multiprofissional através da visita domiciliar
promove um atendimento diferenciado fortalecendo vínculos familiares e profissionais,
buscando por meio da reflexão a mudança de hábitos e concepções, a fim de provocar melhoria
na qualidade de vida dos assistidos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 15

HIPERTENSÃO ARTERIAL E ASSISTÊNCIA


INTERDISCIPLINAR: UMA REVISÃO INTEGRATIVA.

Geovane Menezes Lourenço; Maria Alina Lurdes Oliveira; Sabrina


Stefanello

RESUMO: Esse estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura


acerca da assistência interdisciplinar aos hipertensos. Estudos
realizados acerca da assistência interdisciplinar aos hipertensos na
atenção primária, apontam mudanças substanciais, na qualidade de
vida dos pacientes crônicos quando assistidos por meio de uma equipe
que promova cuidado interdisciplinar. Diante disso: a pergunta
norteadora para a elaboração da desse estudo foi, qual é a importância
do cuidado interdisciplinar aos pacientes portadores de hipertensão
(HAS)? E, como objetivo, delineou-se buscar estudos nas bases de
dados que abordem a importância do cuidado interdisciplinar aos
pacientes hipertensos. Para isso, foi realizada uma revisão integrativa
de literatura. Apesar, de um considerável número de publicações,
terem sido listadas a partir da busca com os cruzamentos de termos
elencados para o estudo, apenas, dois atenderam aos critérios de
inclusão definidos para esta revisão. Foram incluídos os estudos
apresentados, levando em consideração: O objetivo, a metodologia
empregada e os principais resultados encontrados. As evidências
mostraram que há eficácia no controle da doença e de seus agravos,
quando o tratamento das pessoas com HAS é realizado por equipe
multidisciplinar e interprofissional. Esse estudo mostrou escassez de
produção científica com abordagem interdisciplinar nos cuidados a
HAS, o que poderia evidenciar a baixa adesão ao emprego desse
recurso como estratégia de cuidado de pessoas com hipertensão.

Página 169
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é considerada uma condição clínica


multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de (PA ≥140 x 90mmHg), sendo
que, a associação desses níveis está ligada diretamente às alterações funcionais e/ou
estruturais dos órgãos-alvo: Coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos e às alterações
metabólicas, com aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais, e não fatais. São
considerados fatores de risco: Idade, gênero masculino, etnia, excesso de peso, obesidade,
ingestão de sal, Ingestão de álcool, sedentarismo, fatores socioeconômicos e fatores genéticos.
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010).
A HAS consiste em uma das doenças crônicas que caracteriza significativas causas de
morbimortalidade e incapacidades produtiva sendo ponderado alto custo para o sistema de
saúde, bem como para a coletividade, grupos familiares e individualidade.
Sendo responsável por cerca de 40% das mortes por acidente vascular cerebral, por
25% das mortes por doença arterial coronariana e, em combinação com o diabetes, 50% dos
casos de insuficiência renal terminal, se tornado assim um grave problema de saúde pública
no Brasil (BRASIL, 2018).
No Paraná, em 2016, a taxa de mortalidade por hipertensão foi de 24,5/ 100.000
habitantes, A hipertensão arterial contribui direta ou indiretamente para 50% das mortes por
doença cardiovascular, ocupando o primeiro lugar nas causas de óbito no estado (SESA,
2018)
Neste contexto, o processo educacional assume importante papel na terapêutica
através do trabalho interdisciplinar desenvolvidos pelos profissionais que cuidam desses
pacientes sendo possível realizar a abordagem por meio de grupos, essa interação entre
profissionais e usuários faz com que estes possam refletir e expor a sua realidade, observar os
problemas mais comuns entre eles, trocando experiências e propondo mudanças de hábitos
(ALMEIDA et al., 2011).
O trabalho interdisciplinar tem como objetivo principal a obtenção de impactos sobre
os diversos fatores que interferem no processo saúde doença, por meio de uma abordagem
integral aos indivíduos e famílias, direcionando as ações para a realidade a qual são inseridos
(ARAUJO; ROCHA, 2007).
As equipes da Atenção Básica têm importância primordial nas táticas de prevenção,
diagnóstico, monitorização e controle da hipertensão arterial. Além da prática centrada no

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

indivíduo, tanto individuais quanto coletivas, envolvendo cuidadores e usuários com


finalidade de definir e implementar estratégias no controle da hipertensão (BRASIL, 2013)
Para isso deve-se pensar sobre a formação continuada, nos espaços de trabalho, além
do desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe romper os saberes formais,
constituídos pelos currículos muitas vezes engessados, visando a construção de saberes
articulados, em que se explicite a subjetividade, é o alvo da interdisciplinaridade (GELBCKE
et.al., 2012).
GELBCKE et al. (2012), relataram que existem inúmeras dificuldades encontradas
para o desenvolvimento do trabalho multiprofissional e interdisciplinar, pelos diversos
profissionais que atuam na saúde pública, pois o modelo tradicional de formação ensina a
prática fragmentada e a valorização das especializações. No entanto, se faz necessária a busca
pela integração, visando a compreensão do melhor cuidado em saúde, tendo em vista que a
integralidade é um dos pilares da atenção à saúde.
Diante desse contexto, a saúde pública deve priorizar o cuidado preventivo das
doenças crônicas e de suas complicações, com enfoque para o cuidado compartilhado, entre
equipe de multiprofissionais, o objetivo desta pesquisa foi realizar uma revisão integrativa da
literatura para verificar as evidências relacionadas às ações interdisciplinares de saúde no
cuidado ao paciente que sofre com HAS. (SES-DF, 2017).

METODOLOGIA

Esse estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura acerca da assistência


interdisciplinar aos hipertensos. A revisão integrativa “é um método que proporciona a síntese
de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na
prática” (LUNA,2011, p.1).
A seleção dos artigos ocorreu a partir das seguintes etapas: busca de trabalhos
apresentados nas bases de dados por meio da leitura individual dos títulos, resumos e
trabalhos completos encontrados. Empregou-se os descritores hypertension “AND” care
“AND” interdisciplinary e hypertension “AND” interdisciplinary. Após busca foram
encontrados dois artigos que fizeram parte da inclusão conforme abaixo:
Quadro1 – Descrição do fluxo da busca dos artigos nas bases de dados.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Recursos Artigos Encontrados


Artigos Selecionados
Informacionais
para leitura Artigos Incluídos

Pubmed 361 8 1

Scopus 15 5 0

Bireme 104 5 1

Isi 15 0 0

Fonte: autores 2018.


Teve-se como critérios de inclusão: a) trabalhos publicados no formato de artigos
científicos, publicados no período 2013 a 2018 (últimos 05 anos); trabalhos nos idiomas:
inglês, português, b) trabalhos on-line disponíveis na forma completa e gratuito na base de
dados Bireme, Scopus, Pubmed e ISI. Como critérios de exclusão compreendeu-se: a)
resumos, b) artigos em outros idiomas que não fossem em inglês ou português.
A pergunta norteadora para a elaboração da revisão foi: Qual é a importância do
cuidado interdisciplinar aos pacientes portadores de HAS?
Esta revisão integrativa foi realizada seguindo as etapas recomendadas pela literatura:
identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa; estabelecimento de
critérios para inclusão e exclusão de estudos/amostragem ou busca na literatura; definição das
informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; avaliação
dos estudos incluídos na revisão integrativa; interpretação dos resultados e apresentação da
revisão/síntese do conhecimento (MENDES; SILVEIRA E GALVÃO, 2007).
Após a pesquisa ser realizada na base de dados, os artigos incluídos, foram registrados,
em documento adaptado, para organização e análise dos dados. Os dados registrados para
análise foram: o tema de estudo, título, ano de publicação, objetivos, metodologia, referência
completa, país, natureza da pesquisa, cenário da pesquisa, características do estudo e
resultados. O presente artigo foi construído com base nos principais aspectos dos trabalhos
selecionados, focando no objetivo dessa revisão.

RESULTADOS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Foram localizados quatrocentos e noventa e cinco estudos, distribuídos nas quatro


bases de dados utilizadas. Desse total, foram excluídos quatrocentos e noventa e três em razão
de incongruência com a temática da revisão “hipertensão arterial cuidados interdisciplinar”.
Assim, foram potencialmente relevantes para ser analisados dezoito estudos advindos da
leitura e análise dos títulos e resumos, mas não atendiam os critérios de inclusão e não fizeram
parte do estudo final. Assim fizeram parte da revisão, dois artigos:
Quadro- 2 Descrição das características dos artigos estudados.
Autor e ano Local Tipo de estudo Programa Principais
desenvolvido achados
Alterações no
estilo de vida,
Gerenciamento de
impacto percebido
risco
SYLVIE Montréal- Canadá Randomizado nos pacientes que
cardiometabólico
et.al.(2017) concluíram
12meses de
participação no
programa.
Inquérito Exercício físico
Ensaio clínico populacional orientações; teve
Radovanovic et al. Paiçandu, Pr,
Randomizado sobre a efeito anti-
(2016) Brasil.
prevalência de hipertensivo,
fatores de risco redução da
cardiovascular obesidade e
mudanças do perfil
metabólico.

Fonte: autores 2018.

Os principais dados obtidos que surgiram da análise dos dois artigos selecionados, são
apresentados a seguir.
SYLVIE et.al. (2017) desenvolveram um estudo em parceria com a Agência de Saúde
e Serviços Sociais de Montréal- Canadá, onde foi implementado um programa de gestão de
risco cardio metabólico na atenção primária para pacientes com diabetes ou hipertensão, tendo
como objetivo ocasionar mudanças no estilo de vida, controle da doença, prevenindo
complicações e apoiando o autocuidado. O Programa foi desenvolvido por um centro de
educação que ofereceu aos pacientes intervenções clínicas realizadas por uma equipe
interdisciplinar que desenvolvia atividades voltadas para o conhecimento, motivação,
autocuidado e mudanças no estilo de vida dos pacientes hipertensos e diabéticos. Foram
realizados encontros individuais de acompanhamento com uma enfermeira e um nutricionista
durante um período de dois anos, bem como reuniões de grupo com a equipe interdisciplinar
(enfermeiro, nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico e assistente social). Foram extraídos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

dados dos prontuários dos pacientes no momento da entrada no programa (T0) e aos 12 meses
de acompanhamento (T12).
O objetivo do estudo foi avaliar a implementação do programa, avaliando os efeitos do
cuidado interdisciplinar nos indicadores de saúde dos pacientes. Para avaliação do programa
utilizou-se os dados clínicos dos pacientes que foram registrados nos prontuários eletrônicos
pelos membros de equipes interdisciplinares.
As variáveis utilizadas nos estudados foram: controle da doença por meio da
realização de exames laboratoriais de hemoglobina glicada (A1c) e pressão arterial (PA);
estilo de vida avaliado pela realização de atividade física e da ingestão de carboidratos), bem
como o impacto da doença na qualidade do paciente vida. Os resultados da A1c foram
classificados em: < ou igual a 7% ou > 7%. Os valores da PA foram mensurados em: <
140/90 ou > 140/90. Os dados referentes a realização das atividades físicas foram
documentados por meio de um breve questionário, considerando o número de dias por semana
em que o paciente fez pelo menos 30 minutos de atividade física onde utilizou-se uma escala
de 1 a 4, ponderado pela intensidade da atividade física. A variável de meta de atividade física
obtida foi dicotomizada (3 ou 4 na escala de quatro pontos versus menos de 3). O consumo
de carboidratos baseou-se na distribuição diária da ingestão de carboidratos explicados no
documento Coup d'oeil sur l'alimentation de la personne diabétique divididos em duas
categorias: distribuição equilibrada, sim ou não.
Resultados: O estudo avaliou cerca de 1689 pacientes, sendo que mais da metade (56,9%)
eram mulheres e a idade média era de 58,5 anos. Na avaliação foram utilizados os valores
através da porcentagem do início nas intervenções das equipes interdisciplinares e a
porcentagem atingida após os 12 primeiros meses de participação dos pacientes, pode-se
perceber um aumento significativo na proporção de pacientes que atingiram as metas de
distribuição equilibrada da ingestão de carboidratos (n=35,9%), A1c de 7% (n= 72,9%) e PA
abaixo de 140/90 (<130 / 80 para pacientes com diabetes). Além disso, houve uma diminuição
significativa no impacto da doença na qualidade de vida (a pontuação média passou de 4,56
para 4,04 de 10) conforme tabela.

Página 174
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: SYLVIE P. et.al. 2017. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28402799


O estudo conclui que a implementação do programa de prevenção e gestão de risco
cardiometabólico exemplifica a integração de serviços entre equipes interdisciplinares, onde
os resultados mostram que uma maior coordenação e integração de serviços aos pacientes
entre equipes interdisciplinares demonstra efeitos benéficos para pacientes com diabetes e
hipertensão, onde a maior proximidade entre as equipes interdisciplinares pode representar
uma via preferencial no tratamento de doenças crônicas.
O programa de gerenciamento de risco cardiometabólico melhorou as condições de saúde
dos pacientes crônicos, e a prestação de cuidados através das equipes interdisciplinares teve
impacto significativo na melhoria de qualidade de vida, fazendo com que o cuidado
interdisciplinar seja incentivado como novos modelos para o tratamento das doenças crônicas.
O segundo estudo incluído, trata de um ensaio clínico randomizado, no qual os autores,
Radovanovic et al. (2016), avaliaram a influência de uma intervenção, constituída por
orientações relacionadas a saúde e treinamento físico aeróbio, na diminuição dos valores
pressóricos, dos indicadores antropométricos e na adequação dos parâmetros bioquímicos de
indivíduos com hipertensão. O estudo envolveu uma amostra composta por indivíduos de 20 a
60 anos, residentes no município de Paiçandu, Paraná, Brasil, identificados na pesquisa
“Inquérito populacional sobre a prevalência de fatores de risco cardiovascular”, no qual foram
entrevistados 415 pacientes, onde 94 se declararam hipertensos e foram considerados
ilegíveis.
Foi feito a divisão em dois grupos de forma aleatória, sendo um grupo de intervenção
(GI) e um grupo controle (GC), para participar do grupo de intervenção teve-se como critérios
de inclusão: estado médico da aptidão para a prática de exercícios físicos e interesse e
disponibilidade para frequentar regularmente as atividades da intervenção, três vezes por
semana durante quatro meses. Das 49 pessoas sorteadas, 21 (17 mulheres e quatro homens)
atenderam a esses critérios. Para o grupo controle (GC), teve-se como critério de inclusão

Página 175
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

aceitar realizar todas as avaliações físicas e bioquímicas em dois momentos. Dos 45


indivíduos sorteados, 21 (16 mulheres e cinco homens) aceitaram participar da pesquisa.
Todos os participantes realizaram as avaliações antropométricas e bioquímicas, além de ter
sido aferida a pressão arterial.
Para a realização do estudo o grupo intervenção foi dividido em dois grupos, sendo o
grupo (Gla) que tiveram uma frequência de 16 semanas (n = 9) e o grupo (Glb) que
frequentaram 8 semanas (n = 6) para realização das atividades no grupo (GI),
Dessa forma para realização das intervenções pela equipe de
multiprofissionais(enfermeira, educador físico e convidados), adotou-se o seguinte protocolo:
Orientações nutricionais uma vez por mês, totalizando quatro encontros com a nutricionista;
Orientações em saúde Atividade coordenada por uma enfermeira, com participação de outros
profissionais de saúde convidados, uma vez na semana, totalizando 12 encontros de 60
minutos cada; realização de exercícios físicos aeróbicos; durante 16 semanas, totalizando 48
encontros, com duração de 60 minutos; verificação da pressão pelo enfermeiro em todas os
encontros no início e no término das atividades, após 15 minutos de repouso.
Todos os indivíduos foram orientados a fazer jejum de 12 horas, para coleta de
material biológico para análise dos níveis sanguíneos de colesterol total (CT), lipoproteína de
alta densidade (HDL-C), lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), triglicerídeos (TG) e de
glicose. Durante a intervenção.
A média de idade dos participantes do GIa foi 51,2 ± 10,0 anos, com variação de 27 a
60 anos, do GIb foi 54,6 ± 6,3 anos, com variação de 41 a 60 anos e do GC foi 52,6 ± 8,1
anos, variando de 27 a 60 anos. A maioria dos participantes de cada grupo era do sexo
feminino, pertencentes à classe econômica C, da cor branca. Quanto ao estado civil, no GIb, a
metade dos participantes vivia sem companheiro; e nos outros dois grupos, a maioria vivia
com companheiro. Todos tinham, pelo menos, uma comorbidade: diabetes mellitus,
obesidade, hipotireoidismo, dislipidemias e doenças osteoarticulares. Somente um
participante não fazia uso contínuo de medicação.
A comparação da pressão arterial antes e após a intervenção, mostrou que o GIb foi o
que iniciou com a PAS mais elevada e que apresentou maior diminuição em seus valores,
diferença estatisticamente significativa (143,3 ± 11,0 para 121,7 ± 14,6, p = 0,024). O GIa
apresentou diminuição significativa da PAS e da PAD (132,2 ± 13,9 para 118,9 ± 8,7, p =
0,036 e 86,7 ± 9,4 para 77,8 ± 6,3, p = 0,041, respectivamente). Já o GC apresentou
diminuição não significativa dos valores de PAS e PAD. Nos 3 primeiros meses.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Em relação às análises bioquímicas, apenas o GIa apresentou alterações significativas


para as vaiáveis HDL. Dessa forma, os resultados mostram que exercício físico e orientações
em diferentes períodos teve efeito anti-hipertensivo, bem como redução da obesidade e
mudanças do perfil metabólico. Esses achados indicam que o exercício físico associado com a
orientação em saúde é um processo recomendável no tratamento de hipertensos e ainda reduz
os riscos de doenças cardiovasculares.
De acordo com os autores mostrou-se efetiva a intervenção, destacando-se que o
treinamento físico aeróbico e as orientações em saúde e nutricionais com uma equipe
multiprofissional revelaram-se adequados/eficientes em relação à diminuição e/ou controle
dos valores pressóricos, antropométricos e bioquímicos, principalmente para aqueles que
participaram do estudo durante as 16 semanas conforme previsto no protocolo de intervenção.

DISCUSSÃO

A presente revisão integrativa mostrou que há poucos artigos escritos ou, pelo menos,
publicados em revistas científicas nas bases de dados utilizados para a pesquisa, o que sugere
a baixa adesão ao emprego desse recurso como estratégia de cuidado por meio da equipe
interdisciplinar, podendo estar relacionada a diversos fatores tais como: deficiência na
formação acadêmica, dificuldade em trabalhar em grupos e realizar troca de saberes, em prol
do cuidado aos pacientes hipertensos.
Observou-se nos estudos descritos nesse artigo, o impacto que o trabalho da equipe
interdisciplinar teve no tratamento de pacientes portadores de HAS. No entanto, Gelbcke et.al.
(2012) relatam sobre a necessidade de os profissionais ultrapassarem o modelo atual de
formação, focando em um trabalho efetivamente multiprofissional e interdisciplinar, que
atenda às necessidades da população, construindo profissionais mais críticos, criativos e
aberto para o novo, que busquem um caminho para a integração interdisciplinar.
Os cuidados interdisciplinares prestados aos pacientes hipertensos por meio de grupos
promovem discussões referentes a questões de saúde. O enfrentamento das condições crônicas
exige uma ação multiprofissional e interdisciplinar com ênfase na prevenção tratamento e
controle dos grupos de risco.
No primeiro estudo observou-se que os autores apontaram haver limitações no que diz
respeito a adesão dos pacientes ao objeto de estudo. No entanto, foi observado que o cuidado
interdisciplinar ao hipertenso tem impacto significativo no tratamento da doença, melhorando
assim a qualidade de vida desses pacientes. (SYLVIE, et al., 2017).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Corroborando com os estudos supracitados a Secretaria de Saúde do Paraná (SESA),


destaca a importância do trabalho interdisciplinar.
Quanto ao cuidado interdisciplinar aos pacientes crônicos, a SESA infere que traz
benefícios tais como: melhorias nas condições de saúde, contribui para a educação em saúde
centrada no paciente, melhora o estilo de vida. As tecnologias de cuidado, sugeridas na linha
guia de hipertensão, do estado do Paraná, envolvem as práticas participativas, assim: “A
ênfase em estratégias participativas, a valorização dos saberes populares e a atuação de equipe
multiprofissional nos grupos tendem a impactar positivamente, tornando a educação em saúde
mais eficaz. (SESA, 2018, p. 28)”.
O cuidado continuado é mantido por meio da equipe multiprofissional, mantendo a
interdisciplinaridade destinada aos usuários não agudizados estratificados com o mesmo risco.
No primeiro atendimento, após a estratificação de risco, é pactuado com cada usuário o
atendimento individual e ocorre de forma sequenciada pela equipe multiprofissional na
elaboração de um plano de cuidado.
Pode-se destacar a importância da participação do paciente hipertenso nas atividades em grupo
para melhoria do estilo de vida. “A participação das pessoas com hipertensão e diabetes em atividades
de educação em saúde, tanto individuais como coletivas, é um fator motivador para o autocuidado,
para instituição de mudanças no estilo de vida e para adesão ao tratamento (SESA, 2018, p. 28).”
A experiência nas instituições formais a concepção de educação retoma a consciência
de um sujeito imerso em um mundo complexo e sem destino preestabelecido, quando se tem
uma educação por meio do formativo do qual todo ser humano participa, contribuindo no
processo de ensino aprendizagem e reconhecimento do sujeito com capacidades de reflexão
sobre si mesmo tornando-se um processo educativo de grande importância, visto que é essa
condição ontológica que faz de nós sujeitos de conhecimento. Quando todos participam de
forma igual acreditamos que melhora a adesão dos hipertensos quanto a educação em saúde
com efeito no estilo de vida por meio das mudanças dos hábitos que são prejudiciais à saúde
pelos hábitos saudáveis. (CAETANO e SOUZA, 2015).
No estudo realizado observa-se, que o objetivo dos trabalhos interdisciplinares,
relacionado ao paciente hipertensos, estavam voltados para a redução da pressão sistólica,
contribuindo para melhoria no estilo de vida e controle da doença, sendo um desses a
mudança do hábito alimentar, por meio da educação em saúde.

CONCLUSÃO

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

As evidências mostraram, quando o tratamento das pessoas com HAS é realizado por
equipe interdisciplinar há eficácia no controle da doença e de seus agravos. Percebeu-se que
há poucos trabalhos sobre o tema, o que poderia evidenciar a baixa adesão ao emprego desse
recurso como estratégia de cuidado ao paciente hipertenso. Fatores como formação
acadêmica, dificuldade dos profissionais em trabalhar dentro do contexto, podem contribuir
para a baixa produção sobre interdisciplinaridade e HAS. Sendo assim, a formação e
qualificação dos profissionais da saúde podem favorecer o cuidado integral e
compartilhamento de saberes e ações em prol da melhoria da qualidade da atenção em HAS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, B.S, Marize; ROCHA, M, Paulo. Trabalho em equipe: um desafio para a


consolidação da estratégia de saúde da família. Ciênc. Saúde Coletiva. 2007; 12(2):455- 64.
ALMEIDA, A. B. et al. Significado dos grupos educativos de hipertensão arterial na
perspectiva do usuário de uma unidade de atenção primária à saúde. Revista APS. v. 14, n.3,
p. 319-326, jul./set. 2011.
BRASIL, Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Superintendência de Atenção à Saúde.
Linha guia de hipertensão arterial / SAS. 2. ed. Curitiba: SESA, 2018.
______. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o
cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da
Saúde, 2013.
______. Secretaria de Estado de Saúde. Manejo da Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes
Mellitus na Atenção Primária à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde,2017
CAETANO, S, Hugo. SOUZA, Sueli R.M. Educar pela experiência: aprender para existir no
mundo. em:http://www.seer.ufu.br/index.php/reveducpop/article/view/28955/. Acesso em:
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GELBCKE, F. L. Lima; MATOS, M, Eliane; SALLUM, C, Nádia. Desafios para a integração
multiprofissional e interdisciplinar. Tempus Actas de Saúde Coletiva, v. 6, n. 4, p. 31-39,
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LUNA I.T. et al. Obesidade juvenil com Enfoque na Promoção da saúde: revisão integrativa.
Rev Gaúcha Enferm. Porto Alegre (RS) 2011 jun;32(2):394-401.
MENDES; S; Karina. CAMPOS; P; S; Cristina. MARIA; G; Cristina Revisão Integrativa:
método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v17n4/18.pdf. Acesso em: 19/08/18.
RADOVANOVIC, C, A, T, et al; Intervenção multiprofissional em adultos com hipertensão
arterial. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034.Acesso em:18/08/18
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA E HIPERTENSÃO. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2010001700001, acesso
em: 17/08/08.
SYLVIE P. et.al. Integrated Primary Care Cardiometabolic Risk Prevention and Management
Network: Does Greater Coordination of Care with Primary Care physicians have an impact on
health outcomes. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28402799.Acesso
em: 14/07/18.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 16

PROPRIEDADES CARDIOPROTETORAS DE
FRUTAS TÍPICAS DA REGIÃO AMAZÔNICA:
REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Jade Vitória Duarte de Carvalho 1; Ana Paula da Silva Costa, Jairisson


Augusto Santa Brígida Vasconcelos, Joyce Ferreira Martins, Pablo
Eduardo Reis Moreira e Silvia Maria Fonseca da Silva

RESUMO: As doenças cardiovasculares possuem etiologia


multifatorial, entretanto dietas inadequadas contribuem para o
desenvolvimento dessa condição. O consumo de uma dieta rica em
frutas e vegetais está associada a impactos positivos na saúde,
principalmente sobre doenças que atingem o coração. Trata-se de uma
Revisão Integrativa da Literatura, de caráter descritivo, desenvolvido a
partir de consultas bibliográficas online, nas plataformas de dados
Pubmed e Scientific Electronic Library Online (Scielo), na qual utilizou-
se as seguintes combinações de palavras “Frutas amazônicas com
potencial cardioprotetor”, “Propriedades cardioprotetoras de frutas da
região amazônica", “Fruits from the Amazon region that help in the
prevention of cardiovascular diseases” e “amazonia fruits that prevent
or prevent cardiovascular events”. Foram selecionados 6 artigos para
análise do conteúdo. Frutas como o açaí, buriti, tucumã, cacau, manga
e bacaba possuem compostos bioativos que contribuem para a
melhoria da saúde cardiovascular, pois atuam em mecanismos que
retardam ou inibem a oxidação lipídica em artérias, inflamação (como
a que ocorre no processo de aterosclerose) e redução de níveis
acentuados de colesterol plasmático. Conclui-se que uma alimentação
adequada, composta por frutas com propriedades cardioprotetoras, é
importante para a saúde do coração.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares (DCVs), consistem em um grupo de patologias não
transmissíveis, que incluem a cardiopatia congênita e a doença cardíaca coronariana, sendo
derivadas de distúrbios no coração e vasos sanguíneos. Segundo a Organização Mundial de
Saúde, em 2016 aconteceram 17,9 milhões de óbitos decorrentes das DCVs, correspondendo a
31% das mortes a nível mundial. (OMS, 2021). As DVCs possuem etiologia multifatorial,
entretanto dentre seus principais fatores de risco destacam-se o tabagismo, uso abusivo de
álcool e o sedentarismo. Além disso, dietas inadequadas baseadas em alimentos com alto teor
de sal, açúcar e gorduras também contribuem para o desenvolvimento dessa condição.
(DANTAS, 2021).

Dessa maneira, estudos relatam que um padrão dietético apropriado consiste em um


importante fator comportamental na prevenção do risco cardiovascular, sendo denominado
como alimentação cardioprotetora, a qual apresenta o intuito de abranger todas as
recomendações nutricionais, a fim de que os indivíduos desenvolvam hábitos alimentares
adequado, baseados em alimentos que promovam a homeostase cardiovascular. (BEPPU, et al
2019). O consumo de uma dieta rica em frutas e vegetais estão associadas com impactos
positivos na saúde, principalmente sobre as DCVs (I DIRETRIZ BRASILEIRA DE
PREVENÇÃO CARDIOVASCULAR, 2013). Uma dieta pobre em frutas é o terceiro fator de
risco para DCVs após a hipertensão arterial e tabagismo, sendo as DCVs responsáveis por 30%
das mortes no Brasil (TORREGLOSA et al., 2020).

A legislação Brasileira relativa a alimentos e bebidas, define fruta como “produto


advindos de frutificação de plantas, destinado ao consumo in natura, que devem ser procedentes
de espécies vegetais genuínas e sãos”. Ressalta-se que as frutas nativas são um dos componentes
da biodiversidade amazônica, com grande aceitação para consumo in natura ou dos seus mais
variados produtos (EMBRAPA, 2016). O Brasil é um país com maior biodiversidade mundial,
com uma rica diversidade em espécies de árvores frutíferas nativas de alto valor e potencial
biológico, social e econômico (BRASIL, 2019).

Dentre as demais regiões do país, a região amazônica se destaca por concentrar 44% das
500 espécies de frutas nativas do país, com frutas fontes de compostos bioativos como compostos
fenólicos, flavonóides, carotenóides e outros agentes antioxidantes (NEGRI et al., 2016;
EMBRAPA, 2016). Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

literatura acerca das propriedades cardioprotetoras das frutas típicas da região amazônica.

METODOLOGIA

Para a construção do presente estudo, realizou-se uma Revisão Integrativa da Literatura


(RIL), de caráter descritivo, durante o mês de dezembro de 2021. Foi desenvolvido a partir de
consultas bibliográficas, realizadas de forma online, nas plataformas de dados Pubmed e
Scientific Electronic Library Online (Scielo), utilizando-se as seguintes combinações de
palavras “Frutas amazônicas com potencial cardioprotetor”, “Propriedades cardioprotetoras de
frutas da região amazônica", “Fruits from the Amazon region that help in the prevention of
cardiovascular diseases” e “amazonia fruits that prevent or prevent cardiovascular events”.

Foram selecionados considerados os seguintes critérios de inclusão: artigos científicos


publicados entre o período 2014 a 2021, nos idiomas português e inglês, pertinentes e
correspondentes ao objetivo do trabalho. Em relação aos critérios de exclusão, foram excluídos
artigos publicados fora do período citado anteriormente, documentos encontrados duplicados
nas bases de dados, estudos classificados como de publicação de literatura cinza e que não
correspondem aos objetivos da pesquisa ou que foram publicados anteriormente ao ano de 2014.
Após análise do título e do resumo, a amostra deste artigo contempla seis artigos que foram
lidos na íntegra e extraídos os resultados mais importantes a fim de constar nesta revisão de
literatura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se que existem poucos estudos que avaliam as propriedades cardioprotetoras


de frutas nativas da Amazônia, mas suas excelentes propriedades antioxidantes e eliminadores
de radicais livres são consideradas principais (SANTOS et al, 2015). A tabela 1 caracteriza
estudos relacionados acerca do tema, objetivos, metodologias utilizadas, principais resultados
encontrados/observados e conclusão, respectivamente.

Tabela 1: Artigos encontrados após os critérios de exclusão

Autor Título Objetivo Resultados Conclusão


OLIVEIRA, et al. , Os efeitos da dieta Avaliar os efeitos As antocianinas A complementação
2018. hipoenergética da dieta podem atenuar o da DH com açaí
associada ao hipoenergética estresse oxidativo parece melhorar o
consumo de açaí (DH) associada ao envolvido no estado antioxidante
(euterpe oleracea consumo de açaí processo em indivíduos com

Página 182
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

martius) no estado (Euterpe oleracea aterosclerótico. excesso de MC e


antioxidante de Mart.) em Sendo que vários dislipidemia. Mais
individuos com biomarcadores do mecanismos podem estudos precisam
excesso de massa estado antioxidante estar envolvidos ser feitos para
corporal e em indivíduos com nesse processo, embasar sua
dislipidemia excesso de MC e como a capacidade complementação na
dislipidemia das antocianinas de dieta.
inibir a oxidação do
LDL e reduzir a
injúria oxidativa
das células
endoteliais
vasculares
LAGE et al., 2018 Potencial Esta pesquisa O buriti apresentou A suplementação
antioxidante da fornecerá muitos compostos da dieta com polpa
farinha de polpa de evidências que podem reduzir de buriti
buriti (Mauritia científicas de que a o estresse promoveram uma
flexuosa) em ratos polpa de buriti pode oxidativo, tais redução no dano
diabéticos. ser uma opção como carotenóides oxidativo às
Archivos alimentar segura e polifenóis. Na proteínas do fígado
Latinoamericanos para diabéticos, fração lipídica e do coração.
de Nutrición). como parte de uma consta-se mais
alimentação tocoferóis e óleos
saudável. (oleico e palmítico)
que são valiosos na
prevenção de
doenças
cardiovasculares.
ROCHA et al. , Benefícios Investigar os Observou-se que o O elevado poder
2015 funcionais do açaí benefícios açaí tem elevada funcional do açaí o
na prevenção das funcionais do açaí quantidade de torna um potente
doenças para a saúde vitamina E sendo, alimento contra
cardiovasculares humana, portanto um várias morbidades e
especificamente antioxidante mortalidades
para o natural, importante associadas a
sistema na eliminação dos doenças que
cardiovascular radicais livres. Tem acometem o
grande quantidade sistema circulatório
de fibras, o que
favorece o trânsito
intestinal. Os teores
de potássio e cálcio
são elevados, o que
faz do açaí um
alimento
nutricionalmente
completo. Contém
ainda vitamina B1
ou Tiamina e
elevado teor de
pigmentos
antocianinas que
são antioxidantes
potentes,
favorecendo a
melhor circulação
do sangue.
MATTOS et al., Ingestão do fruto Avaliar a Os resultados Pode-se concluir
2020 tucumã-do- administração da mostraram que o que os compostos
amazonas polpa do fruto do colesterol total do bioativos presentes

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(Astrocaryum tucumã- do grupo TU na polpa do


aculeatum G. Mey) amazonas em ratos (45,64±4,11) Tucumã-do-
promove a Wistar para apresentou uma Amazonas possuem
modulação dos avaliação do perfil redução efeitos funcionais e
níveis de colesterol lipídico (colesterol significativa em podem auxiliar na
plasmático em e triglicéridos) e do relação ao grupo redução de risco de
ratos. perfil glicêmico. CO (62,7±7,86) doenças
(p<0,05), o que cardiovasculares,
pode estar de modo que seu
relacionado aos consumo pode
fitoquímicos e contribuir para a
ácidos graxos promoção da saúde
insaturados na população
presentes no fruto. amazônica de modo
No entanto, para os sustentável.
níveis de glicose e
triglicerídeos não
foram detectadas
alterações
significativas entre
os grupos
experimentais.
GIGLIO et al., Polyphenols: Enfocar alguns Os compostos Evidências
2018 potential use in the grupos de fenólicos têm rigorosas são
prevention and polifenóis e seus muitas funções necessárias para
treatment of efeitos em diversos cardioprotetoras: demonstrar se os
cardiovascular riscos alteram a absorção polifenóis têm um
diseases cardiovasculares. hepática do impacto benéfico
fatores como colesterol, a na prevenção e no
hipertensão, biossíntese de tratamento das
estresse oxidativo, triglicerídeos e a DCV.
aterogênese, secreção de
disfunção lipoproteínas, o
endotelial, íntima- processamento de
média da artéria lipoproteínas no
carótida espessura, plasma e a
diabetes e inflamação.
distúrbios lipídicos.

ZHAO, C.N.; Fruits for Resumir os efeitos Um estudo As doenças


MENG, X.; LI, Y. prevention and dos frutos nos DCV demonstrou que cardiovasculares
et al, 2017 treatment of com base em duas doses (1% e estão muito
carvasculat evidências de 10%) da polpa de relacionadas a
diseases estudos manga congelada dietas
epidemiológico, foram eficazes na desequilibradas.As
experimentais e melhoria da frutas pesquisadas
clínicos, e é dada tolerância à glicose demonstraram
especial atenção e perfil lipídico e na relação com a
aos mecanismos de redução da proteção contra
ação. adiposidade em doenças
camundongos cardiovasculares,
alimentados com visto que suas
uma dieta rica em propriedades atuam
gordura. Além nos mecanismos de
disso, vários ação, tais quais na
estudos revelaram modulação de
que o açaí (Euterpe eventos de
oleracea Mart.) têm disfunção
efeitos endotelial, redução
cardioprotetores de efeitos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

significativos e têm metabólicos de


mostrado lipídios, reduzindo
desempenhar um o estresse oxidativo
papel benéfico na e inibindo as
melhoria do infarto respostas a
do miocárdio inflamação.
induzido pelo I/R
via atividades
antioxidantes e
anti-apoptóticas.
No entanto, os
dados sobre essas
frutas individuais
ainda são limitados.
Além disso, os
mecanismos
subjacentes à
proteção do sistema
cardiovascular
continuam a ser
investigados.
SANTOS, M.F.G.; Amazonian native Avaliar os níveis de O açaí apresentou o Os frutos das
MAMEDE, R.V.S.; palm fruits as compostos maior teor de palmeiras
ALVES, E.A. et al, sources of bioativos e a vitamina C estudadas
2015 antioxidant capacidade (carotenóide), destacaram-se
bioactive antioxidante total entre as outras como fontes
compounds dos frutos das frutas das outras 5 consideráveis de
palmeiras s da espécies de carotenóides e
floresta amazônica palmeiras. O inajá e polifenóis totais,
com o objetivo de o tucumã além de fonte
identificar seus apresentam relevantes de
componentes capacidade flavonoides,
funcionais e, assim, antioxidante de apresentando
valorizar seu 80% e 92%, grande potencial
consumo. respectivamente. cardioprotetor e
Bacaba, tucumã e anti-inflamatório.
buriti apresentaram
os maiores teores
de antocianinas e
flavonoides.

O açaí (Euterpe oleracea) tem ganhado grande visibilidade na nutrição, uma vez que é
fonte de diversas vitaminas, ferro, lipídios, fibras, fósforo, minerais e antioxidantes. Logo,
Moraes (2021) referiu que a atividade antioxidante encontrada no fruto, na polpa e no óleo se
deve às antocianinas, na qual estão relacionadas a cor roxa intensa desta fruta e pelos seus
efeitos protetores contra doenças, principalmente as cardiovasculares. Tal fato, portanto, é
corroborado pelos estudos de Oliveira et al. (2021) no qual constatou que as antocianinas
podem atenuar o estresse oxidativo envolvido no processo aterosclerótico, contribuindo, desse
modo, para a melhoria da saúde cardiovascular.

Para Rocha (2015), o consumo frequentemente do açaí assegura inúmeros benefícios


sob o ponto de vista nutricional para atenuar possíveis complicações coronarianas e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

neurodegenerativas, tal fato pode ser ratificado pois existe uma quantidade significativa das
vitaminas E e B1, além de alguns micronutrientes que apresentam quantidades significativas de
antioxidantes capazes de classificá-lo como um dos frutos mais ricos em vitaminas e minerais
deste composto.

De acordo com Phaniendra; Jestadi e Periyasamy (2015) a ingestão de carotenoides


possuiu um efeito cardioprotetor ao manter relação inversa com a lipoproteína de baixa
densidade (LDL) oxidada, e consequentemente contra o desenvolvimento da aterosclerose;
protege o miocárdio de eventos isquêmicos; acidente vascular cerebral e dentre outras, sendo,
portanto, o buriti (Mauritia flexuosa) uma fonte destes constituintes. Somado a isto, Darnet et
al. (2011) e Aquino et al. (2015) demonstraram que o buriti, assim como, o óleo extraído do
mesmo é rico em lipídios principalmente ácidos graxos insaturados, e em precursores das
vitaminas A e E, sendo, portanto, uma ótima fonte de antioxidantes, no qual relacionam-se
também a saúde do coração. Esses estudos, portanto, assemelham-se ao proposto por Lage et
al. (2018) no qual identificou a presença de carotenóides, polifenóis, vitamina E dentre outras
propriedades neste fruto e sua correlação cardioprotetora.

Os compostos bioativos presentes no tucumã (Astrocaryum aculeatum Meyer), podem


ser subdivididos em vitamina A, carotenóides, catequinas e ômega 3, 6 e 9, os quais de acordo
com a literatura é o que garante os efeitos favoráveis ao coração (FILHO et al., 2013). O estudo
experimental de Mattos et al. (2020), possibilitou identificar a potencialidade da polpa do
Tucumã, em que se verificou a redução significativa do colesterol, em decorrência disso, a
quantidade de compostos bioativos presentes no fruto além de assegurar benefícios à saúde,
também foi correlacionada com a diminuição dos potenciais riscos ao desenvolvimento de
doenças cardiovasculares.

A partir dos estudos realizados pelo Giglio et al. (2018), observou-se que o cacau
(Theobroma cacao) é um fruto amazônico que apresenta a potencialidade de reduzir a pressão
arterial sistêmica, uma vez que apresenta compostos bioativos capazes de reduzir os radicais
livres das células. Tal fato pode ser possibilitado pelo fato de o cacau ser fonte de potássio e
magnésio, tendo, portanto, uma capacidade cardioprotetora.

Consoante aos estudos de Zhao et al. (2017), a manga (Mangifera indica L) possui altos
teores de compostos fenólico e carotenóides os quais atuam como antiinflamatórios e
antioxidantes. Diversas pesquisas têm destacado e associado os efeitos dos carotenóides a uma
modulação positiva na expressão gênica e à indução da comunicação celular, através das gap

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

junctions (partículas cilíndricas que fazem com que as células entrem em contato umas com as
outras, facilitando a passagem de substâncias de uma para outra, para que elas funcionem de
modo coordenado e harmônico) sobretudo como mecanismos redutores do risco de
aterosclerose (inflamação crônica da camada interna das artérias de grande e médio calibre em
contato direto com o sangue que se deve basicamente pela acumulação e oxidação de
lipoproteinas na parede arterial) e coronariopatias. Já os compostos fenólicos vêm sendo
relacionados à prevenção de variadas enfermidades cardiovasculares, entre elas a aterosclerose,
por sua ação antiesclerótica e antitrombótica que impede a oxidação de moléculas de LDL e
assim evitam a formação de placas de ateroma (BARBOSA, 2014).

Ademais, na análise bromatológica realizada por Santos et al. (2015) a bacaba


(Oenocarpus bacaba) demonstrou ser uma fonte promissora de compostos fenólicos e
flavonóides, principalmente de antocianinas pois apresentou conteúdo de 111 e 93 mg • g -1 ,
indicando que a bacaba possui alto percentual de inibição da oxidação lipídica (40%-70%), fato
que apresenta a forte capacidade antioxidante dessa fruta em comparação às demais frutas
estudadas (pupunha, inajá, buriti, tucumã e açaí). Os flavonóides agem como antioxidantes na
inativação de radicais livres em ambos os compartimentos de células hidrofílicas e lipofílicas,
sendo benéficos para a saúde humana, por atuarem como antiinflamatórios e anti-
ateroscleróticos.

CONCLUSÃO

Concluiu-se, com a presente revisão, que algumas frutas típicas amazônicas, como o
açaí, buriti, tucumã, cacau, manga e bacaba possuem compostos bioativos com propriedades
consideradas cardioprotetoras. Desse modo, percebe-se, além disso, a grande relevância para a
sociedade e para o esclarecimento da população no que diz respeito à importância do consumo
de uma dieta adequada composta por alimentos, como as frutas, que previnem doenças
metabólicas e DVCs. Logo, infere-se a necessidade de expansão dos estudos acerca dessa
temática, uma vez que, são encontrados poucos estudos que correlacionam benefícios
cardioprotetores às frutas da região amazônica.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 17

ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA OSTEOARTRITE


DE JOELHO EM IDOSOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA

Emanuelle Campos Nunes; Ana Karla Teles de Oliveira Moreira; Marcos


do Carmo Leitão de Souza Wachtmeister;Thalia Portela de Aguiar;
Edfranck de Sousa Oliveira Vanderlei

RESUMO: A osteoartrite é uma doença que afeta as articulações da maioria


das pessoas acima de 50 anos. Ocorre uma progressiva degeneração da
cartilagem articular que reveste as estruturas ósseas e o osso subcondral. Tal
doença não causa comprometimento sistêmico, acometendo, com maior
frequência, as articulações que sustentam maior peso do corpo, como os
joelhos. O aumento da população idosa mundial resulta na necessidade de
atualização dos profissionais de saúde e em intervenções voltadas para a
otimização da capacidade funcional e promoção de um envelhecimento
saudável. A fisioterapia está entre os tipos de tratamento, atuando na
melhoria da mobilidade articular, da força articular e do trofismo muscular,
otimizando a função e a qualidade de vida dos pacientes. Este trabalho teve
como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre os efeitos do
tratamento fisioterapêutico na osteoartrite de joelho em idosos. Neste
capítulo, foi realizado uma revisão de literatura durante os meses de fevereiro
e dezembro de 2020. Os critérios de inclusão trataram-se de artigos
publicados nos últimos 5 anos, em inglês ou português. As bases de dados
utilizadas foram: PEDro, Scielo e Pubmed, através dos descritores:
osteoartrite, idoso, joelho e fisioterapia. Os desfechos a serem analisados
foram sobre melhora do quadro álgico, amplitude de movimento,
funcionalidade e qualidade de vida. Foram selecionados 13 artigos. Os
resultados mostraram que o tratamento consiste em orientação a exercícios
terapêuticos supervisionados, estes, por sua vez, podem ser potencializados
quando associados ao laser, ultrassom, TENS ou ondas de choque. Podemos
concluir que a Fisioterapia é eficaz no tratamento da osteoartrite de joelho
em idosos, reduzindo dor e aumentando amplitude de movimento, o que
promove diminuição das incapacidades e melhor qualidade de vida.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A osteoartrite é um processo progressivo degenerativo que acomete a cartilagem
articular a qual reveste as estruturas ósseas e o osso subcondral. Não há comprometimento
sistêmico, sendo mais incidente nas articulações quesustentam mais peso do corpo, como a
coluna, quadril e, principalmente, o joelho, devido à sua função mecânica desempenhada no
membro inferior (LIMA, 2016).
O joelho é mais suscetível a lesões e à sobrecarga articular devido à obesidade, às
atividades ocupacionais às repetitivas, aos períodos prolongados em posição agachada e
ajoelhada, além de lesões de meniscos e ligamentos ouatividades esportivas de alto impacto
(PANCOTTE, 2017).
A osteoartrite é uma doença que afeta as articulações da maioria das pessoas acima de
50 anos de idade. Não faz muito tempo, no meio médico essadoença poderia ser chamada de
artrose, osteoartrite ou osteoartrose.Atualmente, o nome técnico para essa doença, padronizado
mundialmente, é osteoartrite e uma das razões disso é o fato de não ser uma doença causada
apenas pelo envelhecimento, apesar dele ser o motivo principal (SBR, 2020).
Os principais sintomas relatados pelos portadores são dor articular, rigidezmatinal, crepitação,
diminuição da amplitude de movimento articular (ADM), bem como redução do trofismo
muscular e a sobrecarga ligamentar, apresentando dificuldades em realizar atividades
funcionais, especialmente aquelas que envolvem mobilidades e transferências (SILVA,
GAMA, 2018).
Apesar de acometer ambos os sexos, a maior prevalência se encontra em mulheres na
faixa etária acima de 60 anos, com Índice de Massa Corporal (IMC)elevado e sedentárias (DE
ALMEIDA, 2020). Alguns estudos apontam que em função da maior largura do quadril (uma
vantagem obstétrica), onde as diáfises femurais fazem um ângulo maior que no homem, podem
propiciar ao aparecimento da patologia. Além disso, o período da menopausa potencializa essa
incidência (PANCOTTE, 2017).
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde - OMS (2015) no Brasil, a
população de indivíduos maiores de 60 anos (hoje com cerca de 19milhões) irá aumentar, em
2050, para mais de 64 milhões. Isso significa que a quantidade de pacientes que apresentará
problemas osteoarticulares tende a crescer no futuro (RÊGO, 2018).
Ainda não existe uma cura para a osteoartrite, mas existe tratamento, cujo objetivo é
aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Essas formas de tratamento incluem desde
o convencional (medicamentoso e/ou cirurgias) e o não medicamentoso, como, por exemplo, a
Fisioterapia (DOS SANTOS, 2020). O tratamento medicamentoso se dá através de uso de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

condroprotetores, analgésicos e anti-inflamatórios, que ajudam a reduzir e aliviar os sintomas,


melhorar a realização de atividades funcionais, prevenir a perda de força muscular e retardar a
progressão da doença (SIMÃO, et al.,2018; DE JESUS, 2020).
Dentre os recursos fisioterapêuticos utilizados destacam-se técnicas de cinesioterapia,
eletroterapia, mecanoterapia, termoterapia e hidroterapia, asquais são adotadas como medidas
de intervenção, potencializando a melhoria da mobilidade articular, da força articular e do
trofismo muscular, além de otimizar a função e a qualidade de vida dos pacientes (MORENO,
2018).
A prevalência da osteoartrite na população idosa, relatos de parentes e entes queridos
acometidos pela doença motivaram os pesquisadores a buscar estudos na literatura sobre a
importância do uso de recursos fisioterapêuticos em pacientes com osteoartrite. Esta pesquisa
se torna relevante, uma vez que aosteoartrite é uma patologia de alta incidência e prevalência
em idosos.
Nesse sentido, acredita-se que esta revisão seja relevante para a comunidade científica
e para profissionais fisioterapeutas, especialmente da área reumatológica, no sentido de
apresentar os principais recursos fisioterapêuticos, com os melhores resultados para o alívio de
sinais e sintomas,e melhora na qualidade de vida. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho
foi reailzar uma revisão de literatura sobre os efeitos do tratamento fisioterapêutico na
osteoartrite de joelhoem idosos.

METODOLOGIA

Desenho do estudo
Foi realizada uma revisão bibliográfica durante os meses de fevereiro a outubrode 2020,
nas bases de dados PEDro, Scielo e Lilacs/Bireme. A pesquisa executada relacionou-se com a
temática: efeitos da Fisioterapia no tratamento da osteoartrite dejoelho em idosos. Os descritores
e combinações foram “Osteoartrite”/”Osteoarthritis”, “Joelho”/”Knee Joint” e
“Fisioterapia”/”Physical Therapy” e “Reabilitação”/ “Rehabilitation”.

Critérios de elegibilidade
Como critérios de inclusão, foram considerados apenas ensaios clínicos publicados nos
últimos 5 anos, em inglês ou português e disponíveis na íntegra.O tema abordado teria de
abranger as técnicas e os recursos fisioterapêuticosutilizados no tratamento da osteoartrite de
joelho em idosos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Os excluídos tratavam-se de artigos duplicados nas bases de dados. Também foram


eliminados aqueles em que a Fisioterapia foi comparada com um tratamento medicamentoso.

Análise dos dados


Os dados foram extraídos e alocados em uma tabela do Microsoft Excel 2010. Os
autores foram dividindo os estudos de acordo com a técnica utilizada. Assim, pôde-se avaliar
os desfechos inerentes a cada recurso.
Dados relacionados aos resultados foram mesclados entre as diversasintervenções,
discutidos e analisados pelos autores. Os filtros aplicados foramrelacionados aos artigos
publicados nos últimos 5 anos e ensaios clínicos.Inicialmente, encontraram-se 138 artigos.
Após a leitura do título e resumo, 19 foram selecionados para leitura na íntegra. Após a
leitura completa dos trabalhos selecionados, 13 foram eleitos para compor esta revisão.

RESULTADOS
Foram encontrados na literatura diversos tipos de intervenções em idosos comosteoartrite de
joelho, desde técnicas manuais, modalidades de exercícios, até mesmo aparelhos que estão no
uso cotidiano dos Fisioterapeutas. Os resultados dos artigos encontrados estão apresentados na
tabela 1:

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Tabela 1 : Resultados dos artigos selecionados

Autores/ano Título Intervenção Principais resultados


SARDIM; Efeito da fotobiomodulação Fotobiomodulação Os dados obitidos
A.C. et al., associada a exercícios na dor e na indicaram melhoras na
2020 funcionalidade de pacientes com marcha no grupo que
osteoartrite de joelho: estudo piloto realizou a intervenção,
entretanto, não teve
diferença estatística em
comparação ao placebo a
longo prazo
Os resultados mostraram
EDIZ;L., Eficácia da Terapia por ondas de Terapia por ondas de que ambos os grupos que
OZGOKCE; choque extracorpórea para tratar a choque usaram as ondas de
M., 2018 osteoartrite medial primária do choque apresentaram
joelho com e sem edema damedula valores positivos no follow
óssea em pacientes idosos up de um ano, sendo que a
melhora foi maior nos
pacientes que possuiam
edema de medula óssea
As mobilizações (ativas e
Uma comparação de duas Mobilização ativa passivas) provaram ser
KAYA; M. et abordagens de fisioterapia manual versus mobilização mais eficazes na
al., 2018 e modalidades de eletroterapia passiva versus diminuição da dor em
para pacientes com osteoartrite de eletroterapia repouso, durante as AVDs
joelho: um ensaio clínico e dor durante a noite,
randomizado de três braços comparados ao grupo que
recebeu eletroterapia
A comparação do grupo
KIM G. J, et Os efeitos da terapia de laser de Laserterapia intervenção e placebo
al., 2018 alta intensidade na dor e função de mostraram que o laser
pacientes com osteoartrite de apresentou-se eficaz na
joelho diminuição da dor e
melhora da função
O grupo que realizou os
SUZUKI; Y., Terapia de exercícios em casa Exercícios exercícios domiciliares
et al., 2018. para melhorar a força muscular e domiciliares apresentou melhores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

flexibilidade articular trata a orientados resultados: desempenho


osteoartrite pré-radiográfica em das atividades de vida
idosos residentes da comunidade: diária (p=0,01); condições
um ensaio clínico randomizado gerais de saúde (p=0,03)
Ambos os grupos
ADDED; M. Efeitos de uma joelheira com Utilização de órteses apresentaram redução
et al., 2017 orifício patelar versus sem orifício (joelheira) significativa na dor e ganho
patelar em pacientes com de mobilidade. Os
osteoartrite de joelho: um estudo indivíduos que utilizaram a
duplo-cego, randomizado e joelheira sem orifício
controlado patelar apresentaram
melhores resultados

GONDIM; Efeitos de um programa de Exercícios O grupo intervenção


I.T.G.O. et exercícios terapêuticos associado terapêuticos e apresentou melhores
al., 2017 à técnica de pompage sobre dor, pompage (terapia resultados para os
equilíbrio e força muscular em manual) desfechos de dor,equilíbrio
idosas com osteoartrite de joelho (oscilação
ântero-posterior e global e
força muscular após 12
semanas

A curto prazo, melhorias


YEGIN; T., et O efeito do ultrassom terapêutico Ultrassom foram observadas em
al., 2017 na dor e função física em ambos os grupos (placebo
pacientes com osteoartrite de e ultrassom), com melhoria
joelho da dor e função mais
referidas no grupo
intervenção. Porém, após
um mês, nenhuma
diferença significativa
entre o grupo intervenção
e placebo foi observada

AGUIAR; Efeitos de um treinamento de Treinamento As reduções nas


G.C., et al., resistência muscular em indivíduos sistematizado de pontuações de testes
2016 com osteoartrite de joelho resistência muscular globais, função física do
no desempenho WOMAC e SF-36 indicam

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

funcional e na melhora significativa do


qualidade de vida desempenho funcional e
da velocidade da marcha

ALMEIDA; Aplicação da cinesioterapia e Dois protocolos Ambos os tratamentos


F.J.F. , et al., eletrotermofototerapia no terapêuticos: reduziram a dor nas
2016 tratamento de idosas com cinesioterapia e pacientes. Entretanto, o
osteoartrose de joelho: estudo eletrotermofototerapia grupo que realizou
comparativo cinesioterapia, apresentou
melhoras mais evidentes
na amplitude de
movimento

SOUSA Ultrassom terapêutico associado Ultrassom e óleo de Os dois grupos que


FILHO; ao óleo de Copaíba reduz a dor e Copaíba utilizaram o ultrassom, ou
L.F.S., et melhora amplitude de movimento de forma isolada ou com
al.,2016 de pacientes com osteoartrite de óleo de copaiba,
joelho apresentaram melhorias
na dor e amplitude de
movimento

YOUSSEF; Efeito da terapia a laser na Laserterapia Dos grupos que


E.F., et al., osteoartrite crônica do joelho em apresentaram os melhores
2016 indivíduos idosos efeitos de tratamento
foram observados no
grupo que utilizou o laser
com dose total de 48J

ALLEN; K.D. Fisioterapia em grupo versus Intervenção em Em 12 semanas, não


et al.,2015 individual para idosos com grupo: seis sessões houve diferenças entre os
osteoartrite de joelho: resultados de uma hora, 8 grupos
de um ensaio clínico randomizado participantes
Intervenção Em 24 semanas, também
individual: 2 sessões não havia diferenças entre
de uma hora. eles (p=0,44)
Realizados exercícios
domiciliares e
orientações para AVD
Fonte: Dados da pesquisa (2020)

Página 197
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O estudo conduzido por Added et al. (2017) analisou os efeitos imediatos sobrea dor,
através da utilização de dois tipos diferentes de órteses. A amostra era de 108pacientes, o grupo
A utilizou uma joelheira com orifício patelar. O grupo B colocou uma sem a presença do orifício
na altura da patela. Como medidas de avaliação, foram utilizadas a escala Visual Analógica da
Dor (EVA), o teste Timed Up and Go (TUG) e o teste de caminhada de 6 minutos. Ambos os
grupos evoluíram com redução significativa da dor, melhora da função e mobilidade. No
entanto, os pacientes que utilizaram a joelheira sem orifício patelar apresentaram resultados mais
favoráveis nasescalas e testes.
A eletroterapia e a terapia manual a longo prazo foram investigadas em uma amostra de
73 indivíduos. Havia 3 grupos: os componentes do grupo A, foram instruídos a realizar
mobilização articular ativa e exercícios. Os do grupo B, receberammobilização articular passiva
e exercícios. Já os do grupo C, foram tratados através da eletroterapia, com o uso do TENS -
Estimulação Elétrica Transcutânea – e o ultrassom associado aos exercícios (KAYA et al.,
2018).
Todos os integrantes receberam 12 sessões de Fisioterapia, com duração de 50 minutos,
3 vezes por semana. Os pacientes foram orientados a não fazer uso de analgésicos ou anti-
inflamatórios não esteroidais, para evitar viés sob os parâmetros analisados. Estes eram: o
índice de Osteoartrite Western Ontario and McMaster Universities (WOMAC) ; a escala visual
analógica de dor (EVA), pontos do teste de Função Locomotora Agregada (ALF); Goniometria;
e mensuração de força muscular,através de um dinamômetro portátil (KAYA et al., 2018).
Após 1 ano de intervenção, os que receberam como tratamento mobilizações,obtiveram
melhora funcional, aumento da amplitude de movimento (ADM) e aumentode força muscular,
em comparação com os que foram tratados apenas com aeletroterapia. Isso evidencia que a
terapia manual, combinada com exercícios terapêuticos, pode ser mais efetiva que o TENS e os
exercícios; nos desfechos sobrea melhora da dor, ADM e força muscular (KAYA et al., 2018).
Outra modalidade de terapia manual, a pompage, foi utilizada em 22 idosas, em um
ensaio clínico randomizado. O grupo intervenção recebeu exercícios de fortalecimento e
equilíbrio associado à pompage, por 12 semanas, durante duas sessões semanais. O grupo
controle recebeu palestras educativas. Os desfechos foram avaliados através do WOMAC,
Biodex Balance SD e força muscular através do dinamômetro isocinético. O Grupo intervenção
comparado ao controle apresentou melhores resultados para os desfechos dor, equilíbrio e força
muscular após as 12 semanas (GONDIM et al., 2017).
A proposta de realização de exercícios em casa e sua taxa de adesão foram avaliados
em uma amostra com 100 participantes. O protocolo do grupo da intervenção incluía múltiplos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

exercícios de alongamentos, resistidos para quadríceps, e de flexibilidade. Todos foram


instruídos por um Fisioterapeuta e tinham acesso a umlivreto explicativo. O Grupo controle foi
treinado para executar apenas um exercício isotônico para o músculo quadríceps. Os
programas duraram cerca de 4 semanas e os desfechos mensurados através da Medida de
Osteoartrite de Joelho Japonesa (JKOM), força muscular através de um dinamômetro e
radiografia de joelho. Foi perceptível que a utilização de protocolos com múltiplos exercícios
melhorou a dor, pontuações na JKOM, aumento da força para extensão de joelho, além da
qualidade de vida (SUZUKI et al., 2018).
Dentro desse contexto, Allen et al. (2015) avaliaram os efeitos da Fisioterapia quando
realizada em grupo ou de maneira individual, a respeito de possíveis prejuízosna recuperação do
paciente, quando há uma atenção exclusiva ou quando esta é compartilhada simultaneamente.
Um número de 320 pessoas foram alocadas em dois grupos que praticaram asmesmas
intervenções. A diferença consistia apenas na modalidade, em grupo ou oferecimento de um
atendimento individual. Foram oferecidas instruções e orientações em exercícios domiciliares,
técnicas de proteção das articulações e orientações quanto ao uso de aparelhos ortopédicos, se
necessário. O tratamento foirealizado durante 12 semanas, com desfechos mensurados através
do WOMAC, escala Likert e o Short Physical Performance Battery (SPPB) (ALLEN et al.,
2015).
Ao final da intervenção não houve diferenças significativas entre os grupos. Concluiu-
se que as distintas formas de execução (individual ou em grupo) da mesmaterapêutica, neste
estudo, não foi relevante para os efeitos de tratamento (ALLEN et al., 2015).
A utilização da Terapia Extracorpórea por Ondas de Choque em idosos com
osteoartrose, com edema ósseo ou não, foi conduzida em um ensaio clínico com um 120
participantes. O tratamento foi realizado 2 vezes por semana, durante 10 sessões. Foram
separados em 3 grupos (EDIZ, OZGOKCE, 2018).
Os grupos A e B receberam as ondas de choque, enquanto o grupo C,placebo. As
medidas de efeito foram avaliadas através da EVA, WOMAC e os escores de Lequesne. O
acompanhamento foi de 6 meses e 1 ano (EDIZ, OZGOKCE, 2018).Após 1 ano, foi observado
que este recurso promoveu redução da dor, complicações e proteção da largura articular medial.
Os que tinham edema obtiveramos melhores índices de resultados positivos. As evidências
apontaram que a terapiapôde ser um fator modificador da patologia, trazendo melhorias na
qualidade de vida do doente (EDIZ, OZGOKCE, 2018).
Cerca de 27 voluntários com artrose de joelho foram submetidos à aplicação de um
treinamento sistematizado de resistência muscular, onde procurava-se avaliaras melhorias no

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

desempenho funcional e qualidade de vida. Foram aplicados os questionários WOMAC de


qualidade de vida (SF-36), EVA, teste de 10 Repetições Máximas (10 RM) e o teste de
caminhada de 10 minutos. O treinamento foi realizadopor 12 semanas, sendo dividido em
3 sessões semanais. Houve aumentoda velocidade da marcha, melhora do desempenho
funcional e da dor (AGUIAR et al., 2016).
A cinesioterapia e eletrotermoterapia foram avaliadas em 30 idosas. Elas foram
subdivididas em dois grupos. O grupo I foi tratado com a cinesioterapia, enquanto o IIcontou
com a eletrotermoterapia. Realizaram 36 atendimentos durante 12 semanas (ALMEIDA et al.,
2016).
Os resultados avaliados foram Índice de Massa Corporal (IMC), escala visual analógica
(EVA) e ADM. Ambos os grupos demonstraram respostas terapêuticas eficientes na redução
da dor e melhora da ADM, entretanto, o grupo que realizou a cinesioterapia obteve melhores
valores (ALMEIDA et al., 2016).
A laserterapia foi analisada por Youssef et al. (2016). Usaram como medidas de
avaliação a EVA, WOMAC, ADM e força muscular através do dinamômetro. Cerca de 60

pacientes foram alocados em 3 grupos. O grupo I recebeu uma dose de6J/cm2, em 8 pontos ao
redor da articulação. O paciente foi posicionado em posição supinada, com o joelho levemente

fletido. O grupo II recebeu uma dose de 3J/cm2 com o joelho estendido, em 5 pontos ao redor
da articulação. O grupo III recebeu tratamento placebo. O tratamento foi administrado 2 vezes
por semana, durante 8 semanas. Foi associado um programa de exercícios para praticar em casa.
Através desta intervenção, os autores concluíram que adicionar o laser a um programa de
exercícios foi mais eficaz do que orientar aos exercícios de forma isolada. As melhorias

podem ser dependentes da dose, sendo observada que a dose de 3J/cm2 obteve os melhores
resultados.
A Fotobiomodulação foi associada aos exercícios com o intuito de diminuir a dor, em
um ensaio clínico com 20 participantes. Foram subidividos em dois grupos: intervenção e
placebo. O grupo intervenção recebeu sessões de Fotobiomodulação e treino de marcha. A
evolução foi avaliada através das escalas EVA, SF-36, Questionário Algofuncional de
Lequesne para osteoartrite de joelhos e quadris –LEQUESNE e Teste de Tinetti. Inicialmente,
os dados apontaram uma melhora significativa no grupo que recebeu a intervenção. Após a
conclusão, não pode-se observar diferenças significativas entre eles. A Fotobiomodulação foi
eficaz apenas acurto prazo (SARDIM et al., 2020).
O ultrassom foi investigado com o intuito de analisar sua eficácia na redução da dor,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

funcionalidade e qualidade de vida em um ensaio clínico randomizado, com 62 pacientes.


Foram alocados em grupo intervenção e controle, onde, no controle utilizava-se do placebo. O
US foi aplicado por 8 minutos em cada joelho, 5 dias por semana, durante 10 atendimentos. O
follow up foi de um mês, onde utilizaram para mensurações a EVA, dor noturna, ADM, teste
de caminhada de 6 minutos, rigidez matinal, WOMAC, Lequesne e SF-36. Os pacientes do

grupo intervenção receberam 1W/cm2. Os pacientes foram avaliados imediatamente após o


tratamento e após passar um mês. Em ambos os grupos, todas as medidas avaliativas sofreram
melhorias. Entretanto, as escalas relacionadas à dor obtiveram uma ligeira vantagem para o
grupo intervenção. Um mês após a intervenção, foi visto que não havia diferenças significantes
dos parâmetros avaliados entre os grupos, apenas na dor noturna, que foi aliviada nos que
fizeram a intervenção. Os autores concluíram que, alongo prazo, o ultrassom não foi eficaz para
o tratamento de artrose de joelho em idosos (YEGIN et al., 2017). Outro estudo investigou a
utilização deste aparelho associado ao óleo de Copaíba. Houve 3 grupos de intervenção: o grupo
I recebeu apenas o ultrassom; o grupo II recebeu ultrassom e óleo de Copaíba; enquanto que o
grupo III recebeu apenas a aplicação de óleo de Copaíba. Utilizaram para medidas deavaliação a
EVA, goniometria e Medical Research Council - MRC. O óleo de Copaíba associado ao
ultrassom demonstrou ser mais eficaz, apresentando melhorias na dor,na ADM e força muscular
(SOUSA FILHO et al., 2016). Também foi visto , no estudoconduzido por Kim et al. (2018)
que a aplicação do ultrassom resultou em um declíniosignificativo das escalas EVA e WOMAC.

DISCUSSÃO
Presente em grande parte da população idosa, a osteoartrite pode trazer incapacidades
substanciais. O tratamento fisioterapêutico torna-se indispensável em vários aspectos,
principalmente no que diz respeito à diminuição ou à prevenção de limitações físicas. A maioria
dos artigos selecionados para esta revisão abordaram problemas como dor, rigidez articular,
diminuição de força muscular, funcionalidade, equilíbrio e qualidade de vida Os recursos
testados nos ensaios clínicos mostraram os efeitos destas modalidades sob os desfechos
supracitados (DA SILVA, 2018).
Os exercícios terapêuticos (cinesioterapia) foram empregados com a finalidade de
realizar uma melhora funcional do paciente. O objetivo era atingir maior flexibilidade,
equilíbrio, força e otimização da propiocepção. Quando associado à terapia manual, no caso, a
técnica de Pompage, além de todos os benefícios exercidos pela cinesioterapia, poderia gerar
uma melhora da lubrificação articular dasestruturas envolvidas. Outra modalidade de terapia
manual, encontrada na literatura, são as mobilizações ativas e passivas. Os pesquisadores a

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

empregaram na tentativade ganho de amplitude de movimento. Seus efeitos foram comparados


entre elas, ouseja, modalidades ativa e/ou passiva e ainda em comparação com o TENS e o
ultrassom. Ambos os estudos apresentaram desfechos positivos sobre a dor, equilíbrio,
facilitação na realização nas atividades de vida diária e qualidade de vida. Os resultados
apresentaram-se mais efetivos quando tratou-se de cinesioterapia e terapia manual em relação
aos recursos eletrotermofoterápicos (KAYA et al., 2018; GONDIM et al., 2017).
A Cinesioterapia foi empregada também de forma isolada. As evidênciasapontam que
um protocolo composto por exercícios multiarticulares de força, equililíbrio e flexibilidade são
eficazes para pacientes idosos com osteoartrite de joelho. Ademais, os pacientes foram alocados
em grupo, sozinhos ou instruídos paraa realização em domicílio. Não houve diferenças nessas
formas de realização,contanto que o protocolo fosse seguido de forma efetiva. É importante
ressaltar a importância da prática de atividade física por esses idosos, sendo que ainda há a
possibilidade de agregar outros recursos (SUZUKI et al., 2018; AGUIAR; et al., 2016;ALLEN
et al., 2015). Outro aspecto a ser discutido é a utilização de órteses por essespacientes. Pode-se
perceber que a joelheira sem orifício patelar diminuiu a dor (ADDED et al., 2017).
O ultrassom terapêutico é comumente encontrado na prática clínica dos profissionais,
principalmente pelo fato de promover reparação tecidual. Possui efeitostérmicos e mecânicos,
além da possibilidade de uso com associação de fármacos.As pesquisas encontradas testaram
sua aplicação de forma isolada e associada ao óleo de Copaíba. Embora esse aparelho seja
utilizado com frequência, não há muitas evidências relacionadas aos seus benefícios na
osteoartrite de joelho. O óleo de Copaíba é um poderoso anti-inflamatório, antimicrobiano,
antisséptico e age sobre os receptores da dor em animais. Em humanos, há poucos testes a
respeito. Quando osautores associaram ambos, acreditaram que poderia ser eficaz na redução do
quadroálgico, melhora da amplitude de movimento e aumento da força muscular. Os estudos
mostraram que o ultrassom apresentou diferenças significativas estatisticamente, especialmente
sob o desfecho dor e amplitude de movimento. A utilização do óleo deCopaíba mostrou um
maior efeito, mostrando que a associação de substâncias a esse aparelho evidenciam bons
resultados, no entanto, há a necessidade de maiores pesquisas a respeito (YEGIN et al., 2017;
ALMEIDA et al., 2016; SOUSA FILHO et al., 2016).
Inúmeros estudos apontam os efeitos do laser na redução da dor e diminuiçãodo quadro
inflamatório, em diversas patologias musculoesqueléticas. Quando associado a exercícios, os
ensaios clínicos mostraram benefícios sob a diminuição da sensação dolorosa, ganho de
equilíbrio, força muscular e qualidade de vida. Seus efeitos foram potencializados quando
associados aos exercícios terapêuticos, olaser foi muito mais potente nesses estudos. Ainda não

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

há um consenso na literaturaa respeito da dose a ser utilizada nos pacientes com osteoartrite de
joelho, entretanto,segundo os autores dos estudos, a dose total de 48J foi mais benéfica em
relação a outras testadas pelos grupos (KIM et al., 2018; YOUSSEF et al., 2016).
Outras modalidades de recursos eletrotermofoterápicos foram encontradas, como a
terapia por ondas de choque extracorpórea e a fotobiomodulação. Todos estes buscaram um
desfecho principal em comum, que foi a redução da dor. A terapia por ondas extracorpóreas
apresentou efeitos estatisticamente significantes. A fotobiomodulação, apesar de associada
a exercicios, diferente das outras duas modalidades, somente teve bons resultados a curto prazo.
São necessários mais estudos para se avaliar os reais efeitos deles antes de aplicá-los à condição
de artrose(SARDIM et al., 2020; EDIZ, OZGOKCE, 2018).

CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo mostraram que o recurso mais utilizado no tratamento da
artrose de joelho em idosos trata-se da cinesioterapia, sendo eficaz na diminuição da dor,
melhora da ADM, otimização da funcionalidade e melhora da qualidade de vida. Quando
associado a recursos eletrotermofoterápicos, como o laser, ultrassom, TENS ou
Fotobiomodulação, os efeitos são potencializados. Em contrapartida, quando os recursos
eletrotermofoterápicos são utilizados de maneira isolada, os benefícios, a longo prazo, não são
sustentados em sua maioria. São necessários mais estudos para se avaliar os efeitos a médio e
longo prazo.
A reabilitação é um grande desafio, visto que, muitas vezes, há uma série de patologias
coexistindo ao mesmo tempo, podendo implicar em um prognóstico mais complicado. Antes
de escolher, a partir dos resultados desta revisão, qual a melhor técnica a ser utilizada para
determinado paciente, é indispensável uma avaliação minuciosa, que englobe os fatores
supracitados relacionados ao envelhecimento.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 18

BENEFÍCIOS DOS MÉTODOS NÃO-FARMACOLÓGICOS


NO ALÍVIO DA DOR DURANTE O TRABALHO DE PARTO:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Maria Dhescyca Ingrid Silva Arruda¹; Cicera Eduarda Almeida de Souza2 ;


Elenice de Fatima Souza Capelario3 ; Izabelle Barreto Silva⁴; Letícia Olyntho
Barreto Alves⁵; Joyce Cléa de Oliveira Medeiros⁶; Sandra Helena Brito
Rodrigues⁷; Claudia Nascimento Soares⁸; Ana Milena de Sousa Santos⁹;
Leslley dos Santos Silva¹⁰; Isadora Barreto Silva¹¹; Bárbara Valinhas
Oliveira¹²; Yasmim Xavier Arruda Costa¹³; Gessica Bandeira Pereira¹⁴; Samara
Dantas de Medeiros Diniz¹⁵.

RESUMO: Durante o trabalho de parto há a estimulação da liberação de hormônios, que


favorecem o surgimento de alterações físicas e emocionais, durante este processo, a mulher
sente fortes dores devido às contrações que impactam diretamente no bem-estar mental da
parturiente. As práticas integrativas durante o parto favorecem a descida do bebê e
relaxamento, que consequentemente resulta na redução das dores e possibilita desfechos
positivos na vida da mulher e do neonato. O objetivo deste estudo é identificar quais os
benefícios dos métodos não-farmacológicos durante o alívio das dores do parto e como isso
contribui para a qualidade de vida da parturiente e do neonato. Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura. A pesquisa foi realizada através da consulta de artigos científicos
publicados no período de 2016 a 2021 com o auxílio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
veiculados nas bases de dados Literatura Latina-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Bases de
Dados em Enfermagem (BDENF) utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS):
“Dor”, “Terapias Complementares”, e “Trabalho de Parto” com o auxílio do operador booleano
“AND”. Utilizou-se como pergunta norteadora: Quais os benefícios dos métodos não-
farmacológicos para alívio das dores durante o trabalho de parto? Como critérios de inclusão
artigos que abordassem a temática, disponíveis online, na íntegra, em português e inglês
publicados entre 2016 e 2021 e de exclusão estudos repetidos nas bases de dados. Para
seleção foi realizado uma leitura superficial do material obtido, para selecionar o que era de
interesse da pesquisa, em seguida realizou-se uma leitura minuciosa, a fim de não serem
perdidos aspectos importantes para o enriquecimento do estudo e confecção da redação final
da pesquisa. Os métodos não-farmacológicos possuem diversos benefícios para a saúde da
mulher durante o trabalho de parto, proporcionando alívio das dores, relaxamento e
contribuindo na dilatação para facilitar a passagem do neonato. Estes métodos possibilita que
haja uma boa experiência para a parturiente em decorrência do ambiente aconchegante e
ausência de procedimentos medicamentosos que causam desconforto. A dor durante o
trabalho de parto, influencia a percepção da parturiente acerca do parto que resulta-se na
resistência da adesão ao parto normal e favorece o surgimento de pensamentos e experiências
negativas acerca da parturição, de modo que dificulta a inserção dos métodos não-
farmacológicos, sendo assim, percebe-se que ao inserir os MNF durante o parto, contribui para
redução da dor.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Durante o trabalho de parto há a estimulação da liberação de hormônios, que favorecem


o surgimento de alterações físicas e emocionais, durante este processo, a mulher sente fortes
dores devido às contrações que impactam diretamente no bem-estar mental da parturiente. As
práticas integrativas durante o parto favorecem a descida do bebê e relaxamento, que
consequentemente resulta na redução das dores e possibilita desfechos positivos na vida da
mulher e do neonato (DIAS et al., 2020).
A Organização Mundial de Saúde (1996), enfatiza no guia prático que a gestação possui
direito de ter um acompanhante durante e após o parto para que possa fornecer acolhimento
neste processo, reduzindo as taxas de intervenções medicamentosas sem necessidade.
O parto deve ser baseado em evidências científicas através de boas práticas assistenciais
durante a parturição, de modo que possibilite a inclusão dos métodos não-farmacológicos para
fornecer uma bem-estar e garantir a segurança da paciente. O processo da parturição favorece
o surgimento de estresse e ansiedade onde as práticas integrativas atuam diretamente na redução
desses sentimentos, onde estes métodos são utilizados justamente para amenizar as dores das
contrações através do uso da aromaterapia, musicoterapia e substâncias aromáticas para
proporcionar relaxamento (POSSATI et al., 2017).
As práticas integrativas são utilizadas para redução dos impactos causados pelas dores,
que em muitos casos podem gerar sentimentos de insegurança e medo devido a vivência do
parto, ou seja, é indispensável a utilização desses métodos pois servem como amparo emocional
durante este momento ímpar na vida da mulher. Os MNF possibilita a participação ativa dos
profissionais e da parturiente sem haver negligência dos cuidados e melhora da escuta
qualificada e assistência (MAFFEI et al., 2021).
Por fim, o objetivo deste estudo é identificar quais os benefícios dos métodos não-
farmacológicos durante o alívio das dores do parto e como isso contribui para a qualidade de
vida da parturiente e do neonato.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. A pesquisa foi realizada através da
consulta de artigos científicos publicados no período de 2016 a 2021 com o auxílio da
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), veiculados nas bases de dados Literatura Latina-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online (MEDLINE) e Bases de Dados em Enfermagem (BDENF) utilizando

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Dor”, “Terapias Complementares”, e “Trabalho


de Parto” com o auxílio do operador booleano “AND”. Utilizou-se como pergunta norteadora:
Quais os benefícios dos métodos não-farmacológicos para alívio das dores durante o trabalho
de parto?
Como critérios de inclusão artigos que abordassem a temática, disponíveis online, na
íntegra, em português e inglês publicados entre 2016 e 2021 e de exclusão estudos repetidos
nas bases de dados. Para seleção foi realizado uma leitura superficial do material obtido, para
selecionar o que era de interesse da pesquisa, em seguida realizou-se uma leitura minuciosa, a
fim de não serem perdidos aspectos importantes para o enriquecimento do estudo e confecção
da redação final da pesquisa. Após essa análise dos títulos e conteúdo dos respectivos resumos
foram selecionados 10 artigos para compor a revisão.
Para a seleção dos artigos, leu-se o título e o resumo dos estudos encontrados, de acordo
com os critérios de elegibilidade. Em seguida, realizou-se uma leitura criteriosa de todos os
artigos e iniciou-se a coleta dos dados. Para tanto, foi elaborado um quadro contendo os autores,
ano de publicação, local, tipo de estudo, amostra e resultados encontrados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Mediante os 10 artigos que compuseram a amostra, o quadro 1 abaixo demonstra a
distribuição dos manuscritos de acordo com o autor, ano de publicação e base de dados.
A pergunta que norteia esta revisão foi respondida a partir das informações dispostas
no quadro 1, no qual estão inseridos os posicionamentos dos autores de cada artigo selecionado
para a amostra final deste trabalho.

Quadro 1 - quadro de distribuição da amostra de acordo com o autor, ano de publicação,


objetivo e principais resultados.

TÍTULO AUTOR/ANO OBJETIVO RESULTADOS


Uso de métodos não SOUZA et al., 2021 Verificar a utilização Os estudos apontam
farmacológicos de dos métodos não- que os métodos não-
alívio da dor no parto farmacológicos farmacológicos
normal / Uso de durante o trabalho de necessitam ser mais
métodos não- parto. valorizados pelos
farmacológicos de profissionais
alívio del dolor en el envolvidos na
parto normal / Use of assistência às gestantes
non-pharmacological e consequentemente
methods of pain relief que favoreça a sua

Página 208
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

in normal birth. utilização com mais


frequência para
oferecer uma boa
experiência durante o
trabalho de parto.
Tecnologias não PIMENTEL et al., Analisar como é Observou-se a
invasivas para o alívio 2021 utilizado as tecnologias utilização da
da dor na parturição / não invasivas para aromaterapia isolada
Non-invasive alívio das dores para fornecimento de
technologies for pain durante o trabalho de uma boa experiência à
relief in parturition / parto. parturiente e outros
Tecnologías no métodos como bola
invasivas para el alivio Suíça para auxiliar na
del dolor durante en el dilatação.
parto.
Enfermeiras LIMA et al., 2020 Identificar como é a A atuação das
obstétricas no processo atuação das enfermeiras obstétricas
de parturição: enfermeiras obstétricas durante o processo de
percepção das durante o trabalho de parturição é de suma
mulheres / Obstetric parto. importância para que
nurses in the childbirth haja um parto
process: the women's humanizado e garantia
perception / dos direitos da mulher
Enfermeras obstétricas durante o parto e
en el proceso del parto: inserção de métodos
percepción de las não-farmacológicos
mujeres. durante esse processo.
Conhecimento e CAMACHO et al., Identificar o Evidenciou-se que o
aplicabilidade dos 2019 conhecimento e conhecimento acerca
métodos não aplicabilidade dos dos métodos não-
farmacológicos métodos não- farmacológicos não são
utilizados pelos farmacológicos pelos do conhecimento da
enfermeiros obstetras enfermeiros obstetras. maioria dos
para alívio da dor no profissionais devido a
trabalho de parto / falta de estrutura e
Knowledge and recursos que impedem
applicability of the de inseri-los durante o
non-pharmacological parto.
methods used by
obstetrical nurses for
pain relief in labor /
Conocimiento y
aplicabilidad de los
métodos no
farmacológicos
utilizados por los
enfermeros obstetras
para aliviar el dolor en
el trabajo de parto.
Evidências científicas MASCARENHAS et Mostrar através de As evidências
sobre métodos não al., 2019 evidências científicas científicas apontam
farmacológicos para os benefícios da diversos benefícios
alívio a dor do parto / utilização dos métodos acerca da utilização de
Evidencias científicas não-farmacológicos métodos não-
sobre métodos no para alívio das dores do farmacológicos, tais

Página 209
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

farmacológicos para parto. como, alívio das dores,


aliviar el dolor de parto relaxamento e auxílio
/ Scientific evidence on da dilatação para
non-pharmacological facilitar a passagem do
methods for relief of bebê.
labor pain.
A prática de métodos MIELKE et al., 2019 Identificar a O banho é o método
não farmacológicos implementação dos não-farmacológico
para o alívio da dor de métodos não- mais conhecido entre as
parto em um hospital farmacológicos para mulheres e o estudo
universitário no Brasil alívio das dores em um evidenciou que 79,9%
/ The practical of non- hospital universitário destas mulheres
pharmacological no Brasil. relataram os benefícios
methods for relieving desse métodos para
the pain of childbirth in alívio das dores.
a universitary hospital
in Brazil.
Aromaterapia para SILVA et al., 2019 Analisar a utilização da Estudos mostraram que
alívio da dor durante o aromaterapia para a aromaterapia
trabalho de parto / alívio da dor durante o favorece a diminuição
Aromatherapy for pain trabalho de parto. da ansiedade e estresse
relief during labor. durante o trabalho de
parto e
consequentemente
favorece o bem-estar da
mulher.
Contribuições da ALVES et al., 2019 Identificar as Os partos assistidos por
Enfermagem obstétrica contribuições da enfermeiros obstetras
para as boas práticas no enfermagem obstétrica apresentam benefícios
trabalho de parto e nas boas práticas no significativos para a
parto vaginal / trabalho de parto. saúde da mulher, de
Contributions of the modo que, os seus
obstetrical Nursing for direitos são garantidos
the good practices in e respeitados.
labor and vaginal
delivery.
Eficiência de métodos DIAS et al., 2018 Verificar a eficiência Os métodos não-
não farmacológicos de métodos não- farmacológicos mais
para alívio da dor no farmacológicos para utilizados durante o
trabalho de parto aliviar a dor durante o trabalho de parto
normal / Efficacy of trabalho de parto normal foi o banho de
non-pharmacological normal. aspersão, que
methods for pain relief proporciona
in labor normal of relaxamento e
parturition. tranquiliza a
parturiente.
Estratégias não HANUM et al., 2017 Identificar a eficácia As estratégias
farmacológicas para o dos métodos não- utilizadas foram as
alívio da dor no farmacológicos para inserção do banho
trabalho de parto: alívio da dor no morno e utilização da
efetividade sob a ótica trabalho de parto. aromaterapia para
da parturiente / Non- auxiliar na diminuição
pharmacological da dor no trabalho de
strategies for pain parto.
relief in labor:

Página 210
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

effectiveness in the
perspective of the
parturient.

FONTE: Autores, 2021.

Segundo SOUZA (2021), os métodos não-farmacológicos utilizados durante o trabalho


de parto para alívio das dores não é conhecido por todos os profissionais, o que
consequentemente impede a sua utilização durante este processo e muitas vezes a ausência do
uso desses métodos é em virtude da falta de estrutura e recursos. A implementação dos MNF
possibilita que haja um parto normal humanizado e garantia dos direitos das parturientes,
visando melhores na qualidade assistencial e valorização acerca dos MNF.
Os métodos não-farmacológicos possuem diversos benefícios para a saúde da mulher
durante o trabalho de parto, proporcionando alívio das dores, relaxamento e contribuindo na
dilatação para facilitar a passagem do neonato. Estes métodos possibilitam que haja uma boa
experiência para a parturiente em decorrência do ambiente aconchegante e ausência de
procedimentos medicamentosos que causam desconforto (PIMENTEL et al., 2021).
A utilização das práticas integrativas durante o trabalho de parto requer a participação
ativa dos profissionais envolvidos na assistência às gestantes, auxiliando durante o parto,
respeitando os direitos da parturiente, ofertando uma escuta qualificada e humanizada, essas
práticas assegura a vivência do parto de uma forma mais humana e resulta-se no acolhimento
para que a mesma sinta-se segura, que irá fortalecer o vínculo entre paciente e profissional
contribuindo para uma boa comunicação durante este processo (LIMA et al, 2020).
A falta de recursos e estruturas em alguns hospitais não dispõe de capacitações para os
profissionais acerca de atualizações a respeito das práticas integrativas durante o trabalho de
parto e seus benefícios para o bem-estar materno, que impossibilita a inserção durante a
assistência prestada às mulheres e impossibilita o conhecimento sobre essas práticas que reduz
a sua utilização nesses casos. O profissional necessita ter uma olhar holístico para que possa
prestar uma assistência qualificada e ver a parturiente como um todo, englobando suas
necessidades físicas e psicológicas para prestação de um cuidado integral (CAMACHO et al.,
2019).
Em seu estudo, MASCARENHAS (2019), apontou através de evidências científicas os
benefícios das práticas integrativas durante o trabalho de parto, onde os mesmos possibilitam
relaxamento que proporciona a redução das dores, diminuição significativa da ansiedade que
muitas vezes dificulta o trabalho de parto devido aumento da pressão arterial e nervosismo,
auxílio durante o processo de dilatação que beneficia a passagem do bebê e consequentemente

Página 211
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

reduz as taxas de cesarianas, essas práticas são utilizadas de acordo com as recomendações de
boas práticas para uma assistência humanizada durante o trabalho de parto.
A dor durante o trabalho de parto, influencia a percepção da parturiente acerca do parto
que resulta-se na resistência da adesão ao parto normal e favorece o surgimento de pensamentos
e experiências negativas acerca da parturição, de modo que dificulta a inserção dos métodos
não-farmacológicos, sendo assim, percebe-se que ao inserir os MNF durante o parto, contribui
para a redução da dor através da utilização da aromaterapia. A aromaterapia utilização
fragrância e óleos essenciais que contribuem para a regulação da frequência cardíaca e reduz
intercorrências durante o parto e favorece as contrações no primeiro período do parto que
substitui a analgesia farmacológica e contribui para uma melhor qualidade de vida da mulher
durante a gestação e parturição através de uma nova percepção acerca do parto, em decorrência
de acontecimentos agradáveis no parto de forma menos dolorosa. O banho morno também têm
a sua contribuição durante esse processo, onde a mulher sente menos dor e desconforto, e
sensação de relaxamento (MIELKE; SILVA, 2019).
Os enfermeiros obstetras durante o trabalho de parto garante que os direitos das
parturientes sejam respeitados e que haja a garantia de um parto humanizado através de práticas
holísticas que possibilite o empoderamento feminino durante o parturição, trabalhando sua
autonomia durante toda a gestação através de palestras e repasse de informações acerca de
métodos não-farmacológicos, violência obstétrica e como reconhecê-las, posições durante o
trabalho de parto e escolha da via de parto (ALVES et al., 2019).
O banho de aspersão é conhecido popularmente como "banho de chuveiro" que é muito
utilizado durante o parto para proporcionar relaxamento e tranquiliza a mulher, contribuindo
também na redução do estresse e sem colocá-la em risco em decorrência da realização de outros
procedimentos (DIAS et al., 2018).
HANUM (2017), aponta em seu estudos algumas estratégias acerca da inserção dos
MNF para auxiliar no trabalho de parto, tais como, a aromaterapia, banho morno, escalda pés,
musicoterapia entre outros. Estas estratégias possuem a finalidade de ofertar uma assistência
holística e humanizada de acordo com as boas práticas para assegurar a segurança da paciente
e do recém-nascido.

CONCLUSÃO
Os dados obtidos neste artigo afirmam que a utilização dos métodos não-
farmacológicos possuem diversos benefícios durante a parturição, que podem ajudar
significativamente na redução de dores durante o parto, relaxamento, alívio das contrações,

Página 212
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

redução de estresse e ansiedade, controle da frequência cardíaca que diminui as chances de


intercorrências obstétricas que possam comprometer o bem-estar da mulher e do neonato. Os
enfermeiros obstetras durante o parto são indispensáveis para a garantia da segurança e respeito
dos seus direitos, contribuindo para a redução de taxas de violência obstétrica através do
fortalecimento da autonomia da mulher.
Estes profissionais também desenvolvem um papel importante para que haja a
implementação das práticas integrativas e que seja do conhecimento das gestantes e sobre seus
benefícios.
O estudo tornou evidente a necessidade de haver a inserção dessas práticas para
beneficiar as gestantes durante o trabalho de parto, através da explanação acerca do que são
essas práticas integrativas e como podem beneficiá-las durante o parto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Página 214
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 19

ESTRATÉGIAS PARA A PROMOÇÃO DA


SEGURANÇA DO PACIENTE NO AMBIENTE
CIRÚRGICO: REVISÃO INTEGRATIVA

Kaline Silva Meneses, Cicera Eduarda Almeida de Souza, Maria Taís da Silva
Santos, Layanne Kelly Estrela Lima, Francisca Mayara Gabriel da Silva,
Giordana do Nascimento Nunes, José Guilherme Melo Silva, Letícia Freitas de
Castro Silva, Vinicia Rangel Pontes, Hellen Cristina Alves da Silva Lima,
Cícero Denilson Aurélio Soares e Mikael de Figueiredo Gonçalves

RESUMO: O presente estudo objetivou identificar, na literatura científica, as


estratégias utilizadas para a promoção da segurança do paciente no ambiente
cirúrgico. Esta é uma revisão integrativa de literatura de cunho descritivo-
exploratório, a qual foi realizada uma pesquisa eletrônica na Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), Banco de Dados Regional de Relatórios de
Avaliação de Tecnologias em Saúde das Américas (BRISA) Base de Dados de
Enfermagem (BDENF), e Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud
(IBECS), entrecruzando as palavras-chaves cadastradas no Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS) por intermédio do operador booleano AND:
“Centro Cirúrgico”, “Check List de Segurança do Paciente”, “Biossegurança”
e “Segurança do paciente cirúrgico”. As publicações analisadas neste estudo
se concentraram em 19 artigos dos últimos 7 anos (2015 a 2021), a partir da
análise de dados foram observadas as principais ações para a melhoria da
segurança do paciente no pré-operatório, operatório e pós-operatório. Além
disso, foi identificado o checklist como principal estratégia utilizada por
profissionais de saúde para reduzir falhas e alcançar eficiência nos serviços
prestados. Para tal prática é imprescindível o trabalho em equipe aliado a um
bom gerenciamento. Foi possível evidenciar por meio da literatura científica,
a importância da incorporação de práticas seguras. Entretanto, sugere-se que
para tal realização, a adesão do checklist aliado ao conhecimento são
essenciais, e para isso é fundamental o treinamento da equipe.

Página 215
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
O centro cirúrgico é o local onde são realizados procedimentos anestésico-cirúrgicos,
tanto de caráter eletivo, ou seja, quando o tempo pode ser realizado com data prefixada pelo
paciente, ou de caráter emergencial, onde há risco de vida para o paciente (GUTIERRES, 2018;
SENA, 2013).
O trabalho no centro cirúrgico é marcado pelo desenvolvimento de práticas de
pequeno, médio e grande porte, além da atuação interdisciplinar de médicos, enfermeiros,
técnicos de enfermagem e auxiliares. Esse trabalho possui forte dependência da atuação
individual de alguns profissionais, mas também da necessidade do trabalho em equipe. Esse
cenário apresenta uma dinâmica peculiar de assistência em saúde, em função do atendimento a
uma variedade de situações e realização de intervenções invasivas (GUTIERRES, 2018).
De acordo com o Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), o Brasil
possui uma estimativa de 227.225 mortes por ano relacionadas a Eventos Adversos (EAs)
evitáveis, representando a segunda maior causa de óbitos no país. Nos hospitais brasileiros, os
EAs mais prevalentes estão relacionados a cirurgias (33,2%); seguidos de eventos associados a
procedimentos médicos (30,5%); diagnósticos (9,5%); obstétricos (8,6%) e medicamentosos
(5,7%) (CASTRO, 2018).
Pela segurança do paciente, busca-se a redução e/ou atenuação de atos considerados
inseguros, além do emprego de melhores práticas, a fim de obter os resultados esperados
(HENRIQUES, 2016). No contexto das organizações de saúde, uma boa prática é aquela que,
por meio da correta aplicação de conceitos, técnicas ou procedimentos metodológicos, possui
uma fiabilidade comprovada para conduzir a um resultado positivo para o paciente. Para isso,
o desenvolvimento de boas práticas em saúde requer, além de evidências científicas e
fundamentos teóricos, a compreensão do ambiente e o contexto em que a assistência é
desenvolvida (GUTIERRES, 2018).
Desde a publicação do relatório do Institute of Medicine (IOM) com o título: To
err is Human: building a safer health system, ficou evidente a preocupação com a segurança
do paciente e o incentivo dos autores para uma atenção especial nessa área (KOHN,
CORRIGAN e DONALDSON, 2000).
E pensando nisso em 2004 a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a Aliança
Mundial para a Segurança do Paciente que tem como objetivo de melhorar a segurança do
paciente por meio do fortalecimento de bases científicas incentivo a pesquisas com essa
temática, desenvolvendo normas e padrões internacionais, entre outras providências (WHO,
2004).

Página 216
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Em 2008, a OMS lançou o segundo desafio global para a segurança do paciente:


Cirurgias Seguras Salvam Vidas. Esse desafio tem como objetivo proporcionar um ambiente
cirúrgico seguro com um conjunto de ações padrões baseadas na revisão de literatura e
experiências médicas. Dessa forma foi evidenciado 4 áreas que exigem mais atenção, sendo
elas prevenção de infecção de sítio cirúrgico, anestesia segura, equipes cirúrgicas eficientes e
mensuração da assistência cirúrgica (WHO, 2008).
A Portaria nº 529, que institui o Programa Nacional de Segurança ao Paciente,
define como segurança do paciente a diminuição do risco ao dano decorrente do cuidado em
saúde, e tem como estratégia a implementação de pelo menos 7 intervenções que são: elaborar
e apoiar a implementação de protocolos guias e manuais de segurança do paciente; promoção
da capacitação de profissionais em segurança ao paciente; incluir nos processos de
contratualização metas, indicadores e padrões relativos às segurança do paciente; implementar
campanhas de comunicação social sobre segurança do paciente; implementar um sistema de
vigilância e monitoramento de incidentes na área de saúde; promover a cultura de segurança
com ênfase no aprendizado e aprimoramento organizacional, evitando processos de
responsabilização individual; articulação com o Ministério da Educação e Conselho Nacional
de Educação para incluir o tema segurança do paciente nos currículos de formação em saúde
(BRASIL, 2013).
Em 2013, foi criada a RDC n°36 que institui ações para promover a segurança do
paciente e qualidade nos serviços de saúde e como providência criou o Núcleo de Segurança do
Paciente, que deve melhorar, incentivar e garantir boas práticas de saúde por meio do Plano de
Segurança do Paciente com estratégias e ações de gestão de risco em vários âmbitos da saúde,
como por exemplo a área cirúrgica (BRASIL, 2013).
É notável a preocupação da comunidade internacional com a segurança do paciente e
o incentivo brasileiro para proporcionar melhorias sobre o tema. Os dados estatísticos ajudam
a corroborar essa ideia, mostrando a relevância do assunto em questão. Diante disso, o presente
estudo objetivou identificar, na literatura científica, as estratégias utilizadas para a promoção
da segurança do paciente no ambiente cirúrgico.

METODOLOGIA

O estudo trata de uma revisão integrativa de literatura de cunho descritivo-


exploratório, cujo propósito foi reunir informações de diferentes estudos de maneira objetiva,
completa e imparcial, proporcionando a síntese do conhecimento, bem como facilitar a

Página 217
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

compreensão acerca da problemática abordada com base na Prática Baseada em Evidências


(BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011).
A elaboração deste artigo de revisão foi pautada nas etapas distintas e sequenciais
propostas na literatura científica para o levantamento das informações, sendo elas: 1) escolha
do tema e questão de pesquisa; 2) delimitação dos critérios de inclusão e exclusão; 3) extração
e limitação das informações dos estudos selecionados; 4) análise dos estudos incluídos na
revisão; 5) análise e interpretação dos resultados e 6) apresentação da revisão ou síntese do
conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A pergunta que mobilizou a pesquisa foi: Quais as estratégias para a promoção da
segurança do paciente no ambiente cirúrgico presente na literatura científica?
A fim de alcançar o objetivo definido foi realizada uma pesquisa eletrônica na
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), Banco de Dados Regional de Relatórios de Avaliação de Tecnologias em
Saúde das Américas (BRISA) Base de Dados de Enfermagem (BDENF), e Índice Bibliográfico
Español en Ciencias de la Salud (IBECS), entrecruzando as palavras-chaves cadastradas no
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) por intermédio do operador booleano AND: “Centro
Cirúrgico”, “Check List de Segurança do Paciente”, “Biossegurança” e “Segurança do paciente
cirúrgico”.
Determinou-se como critérios de inclusão: estudos disponíveis de forma gratuita e na
íntegra, nos idiomas português, inglês e espanhol, indexados nas bases de dados supracitadas e
artigos publicados entre janeiro de 2011 a agosto de 2021. Já os critérios de exclusão definidos
incluíram: trabalhos duplicados em mais de uma base de dados, estudos de revisões e aqueles
que não correspondiam ao objetivo proposto.
Após as buscas, 4226 artigos foram encontrados, sendo distribuídos 3531 na
MEDLINE, 418 na LILACS, 264 na BDENF, 4 na BRISA e 9 na IBECS. Destes, após a
aplicação dos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos, esse número reduziu para 2 245,
ficando 1 934 artigos na MEDLINE, 159 na LILACS, 148 na BDENF, 0 na BRISA e 4 na
IBECS. Com a realização da leitura dos títulos e resumos selecionou-se 186 estudos que, com
a leitura na íntegra, ficaram 18 trabalhos para compor a amostra final.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para apresentação dos artigos de amostra deste estudo, foi elaborado um quadro
contendo as principais informações: títulos, autores, país, ano de publicação e principais

Página 218
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

desfechos, organizado de acordo com a ordem cronológica de classificação, do mais atual ao


mais antigo.
Quadro 1. Informações dos artigos.

TÍTULO AUTOR PAÍS/ PRINCIPAIS DESFECHOS


(S) ANO
Cultura de segurança do
paciente em centro FAGUNDE Brasil Os resultados mostram que o trabalho harmonioso em
cirúrgico na perspectiva da S et al. /2021 equipe nas unidades cirúrgicas influenciam
equipe de enfermagem positivamente nas ações de segurança ao paciente.
Percepções dos Evidenciou-se que o preenchimento do checklist,
profissionais de TOTI, et al Brasil somando as responsabilidades atribuídas a cada
enfermagem na aplicação /2020 profissional, é uma estratégia importante para que a
do checklist de cirurgia verificação contemple os dez objetivos essenciais da
segura OMS para uma cirurgia segura.

Segurança do Paciente no Os resultados mostram que a comunicação entre a equipe,


Transoperatório: Análise PEREIRA Brasil o conhecimento e a aplicação do que dispõe no setor é
do Protocolo de Cirurgia OLIVEIRA /2020 imprescindível para que a segurança do paciente aconteça
Segura , GOMES de maneira eficaz.

Segurança do paciente e A adesão ao checklist, conforme as etapas da cirurgia


cirurgia segura: taxa de NETA, et Brasil segura, é importante para a prevenção da ocorrência de
adesão ao checklist de al. /2019 erros e eventos adversos antes, durante e após o
cirurgia segura em um procedimento cirúrgico.
hospital escola
Lista de verificação de Evidenciou-se que a implementação do checklist
segurança cirúrgica: TOSTES Brasil acarretou benefícios para o paciente, equipe cirúrgica e
benefícios, facilitadores e & /2019 hospitais.
barreiras na perspectiva da GALVÃO
enfermagem

Segurança cirúrgica em A aplicação/documentação do checklist possibilita o


laboratório de cateterismo REICH, Brasil monitoramento dos processos no atendimento em LC,
REJANE et /2019 portanto, associou-se a diminuição da exposição à
al. radiação e menos complicações. A conferência focada
nas necessidades de cada área/procedimento e a interação
entre as equipes geram melhores resultados.

Uso do checklist de Evidenciou-se que um checklist bem elaborado com a


cirurgia segura da Brasil participação da equipe multiprofissional, sem excesso de
organização mundial da /2019 itens a serem verificados, eleva a segurança na prevenção
saúde como estratégia de GAMA de erros e omissões.
redução de complicações e
mortalidade em cirurgias
colorretais: uma análise de
duas realidades, Brasil x
Canadá
Programa Cirurgias Observou-se que a paramentação da equipe cirúrgica,
Seguras Salvam Vidas Brasil seguindo a técnica correta é uma medida de segurança
como desafio global da /2019 para prevenção de infecção no sítio cirúrgico.
Organização Mundial de
Saúde: panorama das ARAÚJO.
medidas de prevenção de
infecção do sítio cirúrgico
adotadas em hospitais de

Página 219
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

grande porte de Minas


Gerais
Avaliação de fatores de A avaliação das características do paciente, incluindo
risco para complicações no Brasil suas comorbidades, queixa de saúde, exames
perioperatório relacionadas PONTE, /2019 laboratoriais e/ou diagnósticos são responsabilidades da
à segurança do paciente et al equipe de saúde do qual o enfermeiro do centro cirúrgico
é membro, esta avaliação é imprescindível para a
condução do procedimento cirúrgico mais seguro.
Segurança do paciente: A estruturação de uma rotina de segurança do paciente
como estruturar uma rotina Brasil cirúrgico pode gerar impactos significativos na redução
de cirurgia segura BASTOS. /2018 do número de complicações pós-operatórias, da
morbimortalidades, e do tempo de hospitalização. o
checklist é um instrumento essencial para a redução de
danos e eventos adversos.
Adesão do checklist A utilização de checklist está sendo implementada na
cirúrgico à luz da cultura BORGES, Brasil prática cirúrgica por diversas instituições de saúde,
de segurança do paciente et al /2018 conforme seu valor e sua cultura organizacional,
verificando e analisando todas as etapas dos processos
que devem ser feitos pela equipe profissional.
Preenchimento da lista de Destaca-se a importância da educação para disseminar
verificação de segurança ALMEIDA, Brasil práticas de segurança ao paciente no CC.
cirúrgica em hospitais RODRIGU /2018
brasileiros ES
Índice autorreferido pela Evidenciou-se que o uso do checklist é fundamental para
equipe de cirurgia GARCIA, Brasil efetivar a comunicação entre os profissionais e na
ortopédica sobre o OLIVEIRA /2017 identificação precoce de falhas nos diferentes momentos
protocolo e checklist de da assistência ao paciente cirúrgico, apresentando
cirurgia segura impacto direto na redução de eventos adversos.
Construção de manual
sobre cirurgia segura para SILVA, Brasil A análise do checklist pela equipe multiprofissional
profissionais de saúde REGINA; /2016 garante uma segurança eficiente ao paciente.
Processo de enfermagem: O checklist deve ser aplicado com qualidade e em sua
implicações para a RIEGEL; Brasil totalidade, estando alinhado com os objetivos
segurança do paciente em JOSÉ. /2016 institucionais para assim promover a segurança do
centro cirúrgico paciente.
Análise do registro e Evidenciou-se que a alta adesão ao preenchimento do
conteúdo de checklists AMAYA, Brasil checklist permitiu identificar potenciais riscos cirúrgicos
para cirurgia segura et al /2015 decorrentes de ações de segurança não confirmadas,
exigindo ações em busca da qualificação da assistência.
Quais mudanças poderão A utilização do checklist, mostra na prática que dobrou a
ocorrer na assistência Brasil chance de os pacientes receberem o
cirúrgica após implantação ARAÚJO; /2015 tratamento cirúrgico com padrões de cuidado
dos núcleos de segurança OLIVEIRA adequados.
do paciente?
Efeitos e desafios da Os desafios para o sistema de verificação de segurança
implantação de um sistema GUZZO; Brasil cirúrgica parecem estar principalmente nas barreiras
de verificação de GUIMARÃ /2015 culturais entre os diferentes profissionais que atuam no
segurança cirúrgica: ES; centro cirúrgico.
revisão integrativa MAGALH
ÃES.

Fonte: Autores, 2021.

As publicações analisadas neste estudo se concentraram em 18 artigos dentro do


recorte temporal dos últimos 7 anos (2015 a 2021), a partir da análise de dados foram
observadas as principais ações para a melhoria da segurança do paciente no pré-operatório,

Página 220
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

operatório e pós-operatório. Além disso, foi identificado o checklist como principal estratégia
utilizada por profissionais de saúde para reduzir falhas e alcançar eficiência nos serviços
prestados (RIEGEL; JOSÉ, 2016).
A incorporação de práticas seguras, reflete diretamente na qualidade assistencial ao
paciente, observadas pelos pesquisadores, em 63,1% da amostra, evidencia que o uso do
checklist melhora a organização do CC, bem como, identifica precocemente falhas nos
diferentes momentos da assistência ao paciente cirúrgico, apresentando impacto direto na
redução de eventos adversos. O checklist deve ser aplicado com qualidade dentro das
conformidades institucionais (AMAYA et al., 2015).
Desta forma aumentando as chances de os pacientes receberem o tratamento com
padrões de cuidado efetivos. A lista de verificações traz um incremento positivo na
comunicação entre os profissionais do bloco cirúrgico, somando as responsabilidades atribuídas
a cada profissional, que realiza o checklist, portanto, deve-se atentar aos dez objetivos essenciais
da OMS para uma cirurgia segura. Os estudos ainda apresentam as estratégias desenvolvidas
pela equipe multiprofissional antes da incisão cirúrgica, segundo os estudos destacam-se: a
identificação do paciente, o sítio cirúrgico e o procedimento que será realizado é importante
dividir a verificação respectivamente pelas fases de operação. É importante ressaltar que uma
pessoa da equipe multiprofissional seja designada a liderar a lista de verificação (ARAÚJO e
OLIVEIRA, 2015).
Além disso, para que a lista de verificação seja bem sucedida destaca-se a
comunicação, visto que, um trabalho bem composto em equipe, nas unidades cirúrgicas
influenciam positivamente nas ações de segurança ao paciente, em (26) 3% dos estudos da
amostra, fato este, que concretiza sobre a importância da impessoalidade no trabalho coletivo
que fazem com que a segurança do paciente aconteça de maneira eficaz. Torna-se
imprescindível para o paciente cirúrgico que a assistência para a sua proteção seja satisfatória
na fase pré-operatória, transoperatória, durante a fase operatória e no pós-operatório
(FAGUNDES et al., 2021; CRISTINA et al., 2020; PEREIRA et al., 2020; GARCIA e
OLIVEIRA, 2017; GUZZO et al., 2015).
Ainda assim, evidenciou-se que para a redução de danos ao paciente é essencial a
cooperação da equipe na monitorização do ambiente cirúrgico em que deve-se atentar à limpeza
do ambiente e organização dos materiais estéreis. A cultura da equipe multiprofissional e seus
padrões de comunicação é o que define a qualidade das habilidades dos profissionais. (GUZZO
et al., 2015).

Página 221
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Foram encontrados fatores organizacionais, como atrasos, diagnóstico incorreto e


falhas na continuidade do cuidado; atributos relacionados aos profissionais, como sobrecarga
de trabalho e pouca escuta ao paciente e relacionado ao ambiente e estrutura dos serviços,
denotando que a percepção dos pacientes sobre segurança vai além da referida pelos
profissionais (CRISTINA et al., 2020).
Os pacientes são capazes de identificar incidentes e eventos adversos no cuidado, sua
participação e contribuição em iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade e da segurança
do cuidado devem ser encorajadas e crescentemente valorizado o seu protagonismo (BASTOS,
2018).
O uso da lista de checagem tem papel fundamental na comunicação entre os profissionais
e na identificação precoce de falhas durante a assistência ao paciente cirúrgico, o que acarreta
diretamente em redução de eventos adversos (GARCIA; OLIVEIRA, 2017).
Os estudos evidenciaram que com o uso do checklist de segurança cirúrgica houve
redução significativa das porcentagens de infecção do sítio cirúrgico, retorno não planejado
para a sala operatória, lesões temporárias e reoperações (GUZZO; GUIMARÃES;
MAGALHÃES, 2015).
É importante ressaltar que 62,21% da equipe de enfermagem apontou a resistência da
equipe cirúrgica como uma das maiores dificuldades para implementação efetiva do checklist,
porém 53,3% dos médicos não apontaram dificuldades para cumprir o protocolo, conforme o
estudo de (GARCIA, OLIVEIRA, 2017).

CONCLUSÃO
O percurso desta pesquisa teve como objetivo geral identificar na literatura científica, as
estratégias utilizadas para a promoção da segurança do paciente no ambiente cirúrgico.
Priorizou-se esse campo de investigação, pelo fato de existirem dificuldades e lacunas no
conhecimento sobre as doenças e na adesão dessas medidas de segurança pelos profissionais de
saúde desse cenário.
Tal objetivo delineado fora alcançado permitindo demonstrar que a existe a lista de
verificação para a segurança do paciente, e que o checklist é o caminho para uma cirurgia
segura. Na trajetória da análise deste estudo, foi possível perceber também que fatores
organizacionais e o trabalho em equipe são imprescindíveis para a segurança do paciente no
CC.
Todavia, foi possível evidenciar por meio da literatura científica, a importância da
incorporação de práticas seguras. Entretanto, sugere-se que para tal realização, a adesão do

Página 222
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

checklist aliado ao conhecimento são essenciais, e para isso é fundamental o treinamento da


equipe.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Página 225
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 20

FOTOBIOMULAÇÃO OU TERAPIA A LASER DE


BAIXA POTÊNCIA NO TRATAMENTO DE MUCOSITE
ORAL

MARINA ROSA BARBOSA, ADA CAROLINE SOARES FERREIRA,


AMANDA THAYS FEITOSA VITURINO, JÚLIA VANESSA BEZERRA
LIMA, DAYANNE KARLA DE CARVALHO, LUIZA FERNANDA
CORREIA MOLINA CABRAL, VANESSA SOUZA DA SILVA, AMINA
KADJA MARTINS CAHÚ, CACIANA FARIAS DA SILVA GHENO,
SÉRGIO BARTOLOMEU DE FARIAS MARTORELLI, DEMÓSTENES
ALVES DINIZ

RESUMO: A terapia a laser de baixo potência, também conhecida como


fotobiomodulação (PBM-T), é utilizada na prevenção e / ou tratamento da
mucosite oral em pacientes submetidos à radioterapia de câncer de cabeça e
pescoço, ou quimioterapia de alta dosagem.O objetivo deste estudo busca
revisar acerca da utilização da laserterapia de baixa intensidade como uma
alternativa profilática e terapêutica viável na prevenção e/ou redução da
severidade da mucosite oral, bem como na diminuição da dor a ela associada.
Foi realizada uma análise quantitativa bibliográfica no Pubmed/MEDLINE,
Portal Periódico CAPES, Scielo e Lilacs sobre o tema: Fotobiomodulação no
tratamento da mucosite oral, nos últimos 05 anos. A utilização da laserterapia
de baixa intensidade como forma de tratamento da mucosite oral tem obtido
respostas positivas do ponto de vista clínico e funcional. O laser age
estimulando a atividade celular, conduzindo à liberação de fatores de
crescimento por macrófagos, proliferação de queratinócitos, de granulação
de mastócitos e angiogênese. Esses efeitos aceleram o processo de
cicatrização, proporcionando alívio da dor, controle da inflamação,
manutenção da integridade da mucosa, melhor reparação tecidual e maior
conforto ao paciente. A fotobiomodulação apresentou resultados eficazes
quando utilizada como forma de prevenção e tratamento da mucosite oral.
Essa terapia mostra-se eficiente na diminuição do tempo de permanência das
lesões, por meio da aceleração do processo de cicatrização, e redução da
sintomatologia dolorosa. Dessa forma, a fotobiomodulação melhora
significativamente a qualidade de vida dos pacientes acometidos por essa
afecção, restabelecendo suas funções orais básicas.

Página 226
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A mucosite oral (MO) é um dos efeitos adversos mais comuns em pacientes


submetidos a quimioterapia e radioterapia, especialmente para os casos de câncer de cabeça e
pescoço (CCP), que prejudicam a qualidade de vida do paciente e podem não apenas causar
dores fortes, mas também disfagia e desnutrição. A prevalência dessas lesões iatrogênicas na
mucosa depende dos fatores de risco e tratamentos, em consequência de abordagens mais
agressivas. A etiologia é desconhecida, porém trata-se de um efeito colateral significativo para
pacientes oncológicos, onde seu desenvolvimento pode estar associado ao tipo de dosagem e
esquema de radiação ou quimioterapia entre outros fatores relacionados à condição sistêmica
do paciente. A mucosite oral é considerada uma inflamação da cavidade bucal, que afeta as
membranas da mucosa, causando atrofia, eritema, edema, ulceração e sangramento na
cavidade oral, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) (LEGOUTÉ et al., 2019;
KUSIAK et al., 2020; MENEZES et al., 2021).

O processo de desenvolvimento da mucosite oral (MO) é complexo e inclui cinco


fases: desde a iniciação, resposta primária, ampliação dos sintomas, ulceração e cicatrização.
O início da lesão requer dano ao DNA que afeta a capacidade de proliferação nas células basais
do epitélio. No dano primário, a ativação de fatores de transcrição resulta na supra regulação
de citocinas pró-inflamatórias, moduladores de citocinas, moléculas de adesão, respondedores
ao estresse e metaloproteinases de matriz, levando ao desgaste do tecido epitelial por lesão do
tecido e morte celular. A amplificação dos sintomas é a capacidade das moléculas potencializar
e fortalecer a lesão tecidual, onde o desenvolvimento da ulceração é o estágio significativo da
mucosite devido a ser sintoma clínico mais evidente para o paciente. As úlceras são
colonizadas por bactérias gram-positivas e gram-negativas presentes na cavidade oral. A
cicatrização das lesões ulcerativas na mucosite oral, na maioria dos casos é espontânea
(LEGOUTÉ et al., 2019; KUSIAK et al., 2020; MENEZES et al., 2021).

Afeta mais pacientes com idade avançada, anoréxicos, com predisposições genéticas,
pacientes do gênero feminino, pacientes pediátricos menores de 10 anos. A manifestação
clínica da mucosite oral apresenta eritema da mucosa, pequenas lesões, ardência e ulcerações.
Podendo evoluir para lesões ulcerativas profundas e dolorosas em toda a mucosa oral, que

Página 227
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

impossibilita a nutrição e deglutição dos pacientes oncológicos (KUSIAK et al., 2020;


MENEZES et al., 2021).

Existem diferenças significativas entre a mucosite oral induzida pela quimioterapia


versus a radioterapia de câncer de cabeça e pescoço. Os pacientes submetidos à quimioterapia
apresentam sintomas uma semana após o tratamento e cura em média duas semanas após.
Enquanto, a mucosite induzida por radioterapia requer mais tempo para se desenvolver,
evoluir e cicatrizar. As úlceras aparecem com cerca de duas semanas após o início da
radioterapia e desaparecem em torno de um mês após o final da radioterapia. Neste caso a
mucosite resulta das terapias-alvo diferente da mucosite induzida por quimio, a manifestação
clínica das úlceras são semelhantes à estomatite aftosa recorrente (GOBBO et al., 2018;
KUSIAK et al., 2020; MENEZES et al., 2021).

O manejo adequado da mucosite oral é essencial para melhorar a qualidade de vida dos
pacientes, reduzindo o tempo de hospitalização ou tratamento ambulatorial. A laserterapia de
baixo intensidade, também chamada de terapia de fotobiomodulação, é um tratamento não
invasivo para prevenção e tratamento da mucosite, ao qual corresponde a uma aplicação
simples na mucosa de uma fonte de luz monocromática de alta densidade de banda estreita
com comprimentos de onda (630- 830 nm), que apresenta um efeito citoprotetor. A
fotobiomodulação é eficaz na prevenção e tratamento da mucosite. Os efeitos analgésicos e
antiinflamatórios da fotobiomodulação aceleram o tratamento de feridas (GOBBO et al.,
2018;de PAULI PAGLIONI et al, 2019;. LEGOUTÉ et al., 2019; KUSIAK et al., 2020).
A mucosite oral ocasiona incômodo e dor ao paciente, reduzindo fortemente a sua
qualidade de vida, pois gera um efeito negativo no conforto físico, emocional e social dos
pacientes, com o aumento dos sintomas da mucosite. Pacientes que sofrem de mucosite oral
geralmente requerem mais hidratação, nutrição, controle da dor e hospitalização, em
comparação aos pacientes sem sintomas de mucosite oral grave, que podem ser tratados em
ambulatório (GOBBO et al., 2018; KUSIAK et al., 2020; MENEZES et al., 2021).

A terapia a laser é realizada com o aparelho Laser DMC Therapy EC, equipamento de
Laser Terapêutico sem fio, desenvolvido para biomodulação a respostas inflamatórias, ação
analgésica, aceleração de processos de cicatrização e combate aos radicais livres de oxigênio.
Seus dois diodos lasers emitem luz no comprimento de onda Vermelho (660 nm) e
Infravermelho (808 nm) na potência de 100 mW. O dispositivo produz laser infravermelho

Página 228
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

pulsado GaAs com comprimento de onda de 904 nm, potência de pico de 25 W, duração de
pulso de 200 ns e densidade de energia de 1 J / cm 2 . A calibração do dispositivo a laser é
realizada de acordo com as especificações delineadas pelo manual de serviço do fabricante
antes de cada sessão. O tratamento com laserterapia é realizado em média 6 dias / semana
desde o início da mucosite até o final da quimioterapia. A laserterapia é aplicada em cada
ponto por 1 minuto com densidade de energia de 3 J / cm 2 (de PAULI PAGLIONI et al.,
2019; KUSIAK et al., 2020).

Este estudo busca realizar uma análise bibliográfica, em artigos científicos publicados
nos últimos 05 anos, referente a estudos sobre a avaliação da eficácia do PBM-T, ou associado
com a terapia fotodinâmica (TFD), para o tratamento da mucosite oral em pacientes
oncológicos, levando em consideração o custo e benefícios ao paciente durante o período de
tratamento ambulatorial ou hospitalar.

METODOLOGIA

Foi realizada uma busca nos bancos de dados Pubmed/Medline, Scielo e Portal
Periódico Capes, foram pesquisadas as palavras-chave: “Photobiomodulation”; “Cancer”;
“Stomatitis”; “Chemotherapy”; “Radiotherapy”; “Oral mucositis” em um período que vai
de 2016 a 2021, selecionando 10 artigos na íntegra para esta revisão bibliográfica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As neoplasias malignas são uma das principais causas de mortes mundialmente,


caracterizada pelo crescimento celular atípico e desordenado com próprio mecanismo de ação
e alto poder de invasão tecidual. A estimativa mundial, em 2012, foi de cerca de 14,1 milhões
de casos novos notificados e 8,2 milhões de óbitos. No Brasil no biênio 2018-2019, estima-se
cerca de 600 mil casos novos por ano. Estima-se que ocorra 11.200 novos casos de câncer na
cavidade oral em homens, devido ao uso de fumo e álcool, exposição solar sem proteção,
ocupando a quinta posição de maior incidência de novos casos entre todos os tipos de cânceres

Página 229
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(GOBBO et al., 2018; PEREIRA, 2020).


O tratamento para os tipos de câncer é a cirurgia (remoção total da lesão),
quimioterapia, radioterapia, ou tratamentos associados. No entanto, os efeitos da terapia
antineoplásica não se limitam apenas às células tumorais, afeta também tecidos normais,
gerando efeitos adversos que incluem a mucosite oral e a mucosite gastrointestinal, a
hepatotoxicidade, e nefrotoxicidade, a cardiotoxicidade e a neurotoxicidade (GOBBO et al.,
2018; PEREIRA, 2020).
As drogas quimioterápicas podem causar alguma toxicidade nas mucosas orais como
exemplos: 5-Fluorouracil e metotrexato, ciclofosfamida e cisplatina e antraciclinas e taxanos.
A radioterapia e quimioterapia de cabeça e pescoço também estão associadas a uma maior
probabilidade de desenvolver algum grau de mucosite (ZADIK et al., 2019; PEREIRA, 2020).
A gravidade da Mucosite Oral é avaliada de acordo com a escala de classificação de
mucosite da Organização Mundial da Saúde (OMS) da seguinte forma:

Pontuação 0: sem sinais ou sintomas.

Pontuação 1: Dor e eritema


oral.

Pontuação 2: Eritema e úlceras orais, tolerados


tanto por dieta sólida quanto por dieta líquida.

Pontuação 3: úlceras orais, dieta líquida apenas.

Pontuação 4: Alimentação oral impossível.

(OMS, 1979)

Outra forma de avaliação da Mucosite Oral, menos utilizada, é baseada nos critérios
preconizados pelo National Cancer Institute (NCI) (Tabela 01.). A classificação nesta escala
ocorre conforme a avaliação da funcionalidade e sintomas ou avaliação do exame clínico:

Grau NCI - Exame clínico NCI - Função/ Sintomas

0 Sem alteração Sem alteração

Página 230
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

1 Eritema Dor e dieta modificada

2 Ulcerações Sintomas iniciais, dieta


pseudomembranosas normal

3 Úlceras confluentes ou Nutrição enteral


pseudomembranas e
sangramento

4 Necrose, sangramento Sintomas avançados a


espontâneo, risco de complicações de risco
hemorragia e óbito

5 Óbito Óbito por complicações

Tabela 1. Classificação da mucosite oral segundo escala da NCI, 1999.


Fonte: (PEREIRA, 2020)

O tratamento da MO envolve, uso de medicamentos para o controle da dor, com


prescrição de enxaguantes bucais com anestésico tópico ou analgésicos sistêmicos, opióides
para alívio da dor. A eficácia da laserterapia na redução da gravidade da MO induzida tanto
por quimioterápicos quanto por radiação, é comprovada cientificamente, pois a terapia pode
reduzir os níveis de EROs e /ou citocinas pró-inflamatórias que contribuem para a patogênese
da mucosite. A fotobiomodulação, inclui uma gama de fontes de luz não ionizantes, como
diodos emissores de luz (LEDs), e lasers, estimulando e promovendo os processos de
cicatrização e regeneração, intermediando os processos negativos do tecido, como inflamação,
dor e respostas auto-imunes (PEREIRA, 2020).
A intervenção de tratamento mais recomendada pela Associação Multinacional de
Cuidados de Suporte em Câncer / Sociedade Internacional de Oncologia Oral (MASCC /
ISOO), e o Ministério da Saúde na portaria n° 516/2015 estabelece o tratamento precoce da
mucosite:
● 30 minutos de crioterapia na prevenção da MO.
● Utilização do KGF-1/Palifermina, na prevenção
da MO em doentes com neoplasia hematológica
maligna.

Página 231
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

● Laserterapia (comprimento de onda até 650nm,


potência de 40mW e uma energia tecidual de
2J/cm2) na prevenção da mucosite oral em
doentes após quimioterapia de altas doses, com
ou sem irradiação corporal.
● Analgesia com morfina controlada pelo doente
no tratamento da dor.
● Bochechos com solução de benzidamina na
prevenção da MO.

(PEREIRA, 2020)

Somos concordes que a fotobiomodulação leva a uma rápida melhora da mucosite oral,
devido a desinfecção bacteriana e cicatrizante da cavidade oral conseguida com o TFD,
desempenhando um papel adjuvante no tratamento da mucosite. A remissão dessas lesões reduz
a dor e auxilia no retorno de uma nutrição adequada ao paciente. A associação da TFD + PBM-
T pode ter uma influência positiva na sobrevivência e manutenção da qualidade de vida dos
pacientes durante o tratamento oncológico. Segundo o estudo de PINHEIRO et al., 2019, de
PAULI PAGLIONI et al., 2019 e GOBBO et al., 2018, houve uma redução significativa no
tempo de cura e diâmetro da lesão de mucosite oral, com a utilização da TFD, em comparação
com o TFD associado ao PBM-T. Ambos PBM-T e TFD associado com PBM-T demonstraram
ser eficazes no tratamento da MO, beneficiando os pacientes com alívio da dor e menos
disfagia, resultantes da radioterapia e/ou quimioterapia. O TFD associado com PBM-T resultou
numa diminuição do tempo de cicatrização da MO em até 05 dias comparado com PBM-T.
Estudos atuais confirmam a eficácia científica do uso do TFD e PBM-T no controle da mucosite
oral, possuindo ação profilática, aliviando dos sintomas e reduzindo a incidência e grau de
severidade da mucosite, por meio da aceleração dos processos de reparação e regeneração
tecidual, reduzindo a sintomatologia dolorosa (LEGOUTÉ et al., 2019; OLIVEIRA et al.,
2020).

CONCLUSÃO

Por meio desta revisão integrativa, corroboramos que tem sido frequentemente
demonstrado na literatura: a laserterapia de baixa potência e a fotobiomodulação. Estes, são
eficazes no manejo clínico da mucosite oral, como forma preventiva e terapêutica. A
diminuição dos efeitos colaterais na cavidade bucal advindos do tratamento antineoplásico,

Página 232
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

melhoram a qualidade de vida dos pacientes oncológicos acometidos pela mucosite oral.
Contudo, a individualidade de cada paciente deve ser considerada, em busca de prognósticos
favoráveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO et al. Locally advanced oral squamous cell carcinoma patients treated with
photobiomodulation for prevention of oral mucositis: retrospective outcomes and safety
analyses. Support Care Cancer, v.26, n.7, p.2417-2423, 2018.

de PAULI PAGLIONI, et al. Is photobiomodulation therapy effective in reducing pain caused


by toxicities related to head and neck cancer treatment? A systematic review. Support Care
Cancer, v.27, n.11, p.4043-4054, 2019.

GOBBO et al. Multicenter randomized, double-blind controlled trial to evaluate the efficacy
of laser therapy for the treatment of severe oral mucositis induced by chemotherapy in
children: laMPO RCT. Pediatr Blood Cancer, v.65, n.8, p. 1-8, 2018.

KUSIAK et al. “Oncological-Therapy Related Oral Mucositis as an Interdisciplinary Problem-


Literature Review.” International journal of environmental research and public health vol.
17, n.7, p 2464. 3. 2020.

LEGOUTÉ et al. Low-level laser therapy in treatment of chemoradiotherapy-induced


mucositis in head and neck cancer: results of a randomised, triple blind, multicentre phase III
trial. Radiation oncology (London, England) vol. 14, n.1, p 83. 2019.

MENEZES et al. Laser Therapy as a Preventive Approach for Oral Mucositis in Cancer
Patients Undergoing Chemotherapy: The Potential Role of Superoxide Dismutase. Asian
Pacific journal of cancer prevention : APJCP vol. 22, n. 10 p 3211-3217. 1. 2021.

OLIVEIRA et al. Eficácia da terapia de fotobiomodulação na prevenção e tratamento da


mucosite oral em pacientes oncológicos. SALUSVITA, v. 39, n. 2, p. 479-491, 2020.

PEREIRA, AMANDA MUNIZ. Impacto da fotobiomodulação no tratamento da mucosite em


pacientes internados com câncer de cabeça e pescoço no HUB. 2020. 54 p. MESTRADO —

Página 233
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, BRASÍLIA, 2020.

PINHEIRO et al. Photobiomodulation Therapy in Cancer Patients with Mucositis: A Clinical


Evaluation. Photobiomodul Photomed Laser Surg, v.37,n.3, p.142-150, 2019.

ZADIK et al. Revisão sistemática da fotobiomodulação para o manejo da mucosite oral em


pacientes com câncer e diretrizes de prática clínica. Support Care Cancer, v.27, n.10, p. 3969-
3983, 2019.

Página 234
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 21

ANÁLISE SOBRE OS FATORES DE RISCOS


MODIFICÁVEIS E NÃO MODIFICÁVEIS DA ENDOCARDITE
INFECCIOSA

Alexia Simas Varela Leão, Aline do Nascimento Brandão, Ana Beatriz da Silva Santos
e Kelly Soares Farias

RESUMO: A endocardite é uma inflamação oriunda da proliferação de


microrganismos no endocárdio valvar, resultante de sua disseminação pela corrente
sanguínea, ocasionando o acúmulo de detritos celulares, material trombótico e
formação de vegetações, que produzem êmbolos sépticos, abscessos e destruição do
endotélio cardíaco. Apesar dos avanços da medicina nos métodos de diagnósticos e
tratamento, continua sendo uma condição clínica de elevada morbimortalidade. A
endocardite pode ser classificada em endocardite infecciosa (EI) e endocardite não
infecciosa (NIE), baseado no fato de ter como causa um agente infeccioso ou não. O
objetivo deste trabalho foi revisar a literatura sobre a EI para caracterizar a população
quanto às suas características demográficas, apresentação clínica, comorbilidades e
fatores de risco. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada entre
março e julho de 2021, nas bases de dados: LILACS, MEDLINE, PubMed, UpToDate
e ScieLo, utilizando os descritores “Endocardite”, “Endocardite Bacteriana” e
“Endocardite infecciosa" nos idiomas inglês e português. Os critérios de elegibilidade
foram artigos relacionados ao tema, publicados em inglês e/ou português entre 2015
e 2021, gratuitos, disponíveis na íntegra, estudos observacionais retrospectivos,
prospectivos ou ensaios clínicos controlados. Foram encontrados 1034 artigos
relevantes para leitura do resumo. Destes, 25 artigos cumpriram os critérios de
elegibilidade e foram selecionados para a extração dos dados. Um total de 11.146
indivíduos compuseram esta revisão. Os resultados mostraram que a EI tem maior
prevalência no sexo masculino, compondo 64,46% da amostra, com média de idade
de 54,6 (±10,23) anos, com comorbidades relacionadas ao sistema cardiovascular:
hipertensão arterial sistêmica, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca,
arritmias e estenose aórtica. Os fatores de risco não modificáveis foram idade, o sexo,
a cardiopatia congênita (40,9%), o uso de válvulas protésica (36,3%), uso de cateter
de hemodiálise (18,1%), doença reumática no coração (18,1%). Em relação aos
fatores de risco modificáveis, a hiperlipidemia, o tabagismo, o etilismo, o uso de
drogas injetáveis, o histórico de extração dentária, a presença de marcapasso e o uso
de dispositivos intracardíacos ou intravenosos foram os mais citados. Onze artigos
descreveram o patógeno responsável pela EI. Destes, 81,81% mencionaram o
Staphylococcus sp. como o agente principal. Os fatores de risco da EI estão
intimamente relacionados entre si e a coexistência de cardiopatias prévias aumenta
a sua chance de ocorrência. É imprescindível buscar formas de promoção e prevenção
de saúde, por meio de medidas higieno-dietéticas, mudanças no estilo devida para
reduzir a incidência desta enfermidade e, consequentemente, ajudar na redução da
morbimortalidade.

Página 235
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A endocardite é uma inflamação que acomete a superfície do endotélio cardíaco,
afetando, principalmente, os folhetos das valvas cardíacas, como as valvas mitral, aórtica,
tricúspide e pulmonar, além de em menor proporção, as estruturas de suporte em qualquer parte
do endocárdio (AHA, 2015). Apesar dos avanços da medicina nos métodos de diagnósticos e
de tratamento, a endocardite continua sendo uma condição clínica de elevada morbimortalidade
(WANG ET AL ET AL, 2020). A endocardite pode ser classificada em endocardite infecciosa
(EI) e endocardite não infecciosa (NIE), baseado no fato de ter como causa um agente
infeccioso ou não (AHA,2015).
A NIE refere-se à formação de trombos estéreis de plaqueta e fibrina nas valvas
cardíacas e no endocárdio adjacente, em resposta aos traumas, imunocomplexos circulantes,
vasculite, fatores químicos, imunológicos (Libman-Sacks, doença pós-reumática, síndrome
hipereosinofílica ou lúpus eritematoso sistêmico) ou ocasionado diretamente por fluxo
sanguíneo turbulento que pode danificar mecanicamente o endocárdio (endocardite trombótica
não bacteriana). Ademais, é observada em estados hipercoaguláveis ou malignidades
(endocardite trombótica/marântica não bacteriana) (UMEOJIAKO,2019).
A EI, por sua vez, acontece quando há a proliferação de microrganismos no endotélio
cardíaco a qual ocasiona o acúmulo de detritos celulares, material trombótico e a formação de
vegetações, que tendem a produzir êmbolos sépticos, abscessos e destruição do endotélio
cardíaco (JS et al,2000). O agente infeccioso pode vir mediante a implantação de dispositivos
intracardíacos ou intravenosos, condições imunossupressoras como diabetes, hemodiálise e uso
de drogas intravenosas, tendo como principais agentes etiológicos espécies de Staphylococcus,
como Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis, e espécies de Streptococcus, sendo
as principais Enterococcus faecalis, Viridans streptococcus, Group B-beta hemolytic
streptococcus e Streptococcus pneumoniae (MILLAR E MOORE,2004).
A EI é o tipo mais prevalente das endocardites (SUNIL et al, 2019). Nas últimas duas
décadas, com a melhora da expectativa de vida, com o aumento do uso de dispositivos de
implante cardíaco e a frequência em procedimentos invasivos, a epidemiologia da EI em países
desenvolvidos como a Europa e os Estados Unidos mudou significativamente: cresceu o
número de pacientes mais velhos com EI, a endocardite relacionada ao dispositivo cardíaco e a
endocardite da válvula protética (EVP) aumentaram consideravelmente, e os estafilococos
tornaram-se o patógeno mais predominante em países desenvolvidos, em decorrência do uso
indiscriminado de antibióticos (SANTOS et al, 2019). No Brasil, por sua vez, a principal causa

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

é a doença valvar reumática, a qual tem como principal agente etiológico o streptococcus
viridans. Atualmente, a incidência anual de 3-10 casos/ 100.000 habitantes e a alta mortalidade
são acompanhadas de graves complicações (SANTOS, et al, 2019). Estudos realizados entre
2016-2021, mostraram que a EI é mais comum nos homens, com média de idade de 55,1 anos
(±10,25), e a NIE é mais prevalente entre as mulheres, sendo a idade média de 76 anos
(METAXA,2019).
Clinicamente, a NIE e a EI apresentam sinais e sintomas semelhantes e por isto é difícil
diferenciá-las. Em muitos casos, a hipótese diagnóstica de EI associada à assistência à saúde é
negligenciada entre pacientes idosos com múltiplas comorbidades devido à baixa
especificidade da apresentação clínica usual (BUSSANI et al, 2019). O diagnóstico, quando
negligenciado, pode gerar complicações cardíacas e extra cardíacas de EI ou NIE, sendo
responsáveis por uma morte súbita. Devido a essa dificuldade de diagnóstico, a endocardite
geralmente só é descoberta durante a autópsia (AHA, 2015).
O diagnóstico de EI dá-se por meio dos critérios de Duke, estabelecidos no ano 2000 e
que abrange critérios ecocardiográficos, biológicos, achados clínicos, hemocultura e sorologia,
os quais são divididos em critérios maiores e menores. Caso o paciente apresente 2 critérios
maiores ou 1 critério maior e 3 menores ou 5 critérios menores, é feito o diagnóstico positivo
para a EI. Apesar da sensibilidade e especificidade dos critérios de Duke estarem próximo de
80%, eles não devem substituir o julgamento clínico (JS et al, 2000). O quadro abaixo expõe
os critérios maiores e menores da classificação de Duke. (SANTOS et al, 2019)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Quadro 1. QUADRO COM OS CRITÉRIOS MAIORES E MENORES DE DUKE

Fonte: Santos et al, 2019.

De acordo com os dados da literatura, há fatores de risco não modificáveis e


modificáveis relacionados com a endocardite, o que evidencia a necessidade de programas de
educação e conscientização em saúde para a população. Quantos aos fatores de risco de acordo
com a classificação da endocardite, destaca-se, na EI, o uso de drogas injetáveis, diabetes
mellitus, hipertensão arterial sistêmica, uso de válvulas protéticas, arritmias, predisposição à
regurgitação valvar não relacionada à cardiopatia reumática e dispositivos intracardíacos (LIN
et al, 2019). Lin e colaboradores realizaram um estudo retrospectivo entre os anos de 2009 e
20115 para a EI e, encontraram como fatores de risco não modificáveis, há a cardiopatia
congênita (40,9%), o uso de válvulas protésica (36,3%), uso de cateter de hemodiálise (18,1%),
doença reumática no coração (18,1%). Em relação aos fatores de risco modificáveis, há a
hiperlipidemia, diabetes mellitus, o tabagismo, o etilismo, uso de drogas injetáveis, o histórico
de extração dentária, a presença de marcapasso e o uso de dispositivos intracardíacos ou
intravenosos (DUVAL et al, 2015; FALCES e MIRÓ, 2012; FERREIRA, 2013;). No caso da
NIE, os fatores de risco são pacientes submetidos à cirurgia cardíaca prévia, cirurgia valvar,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

exposição passiva ao cigarro, doença cardíaca isquêmica, hipertensão arterial sistêmica, câncer
de pulmão avançado, de ovário, de pâncreas, de cólon, de próstata e no sistema biliar
(UMEOJIAKO,2019).
Com o aumento da expectativa de vida, há um consequente aumento da incidência da
endocardite, visto que o público mais atingido são os idosos. Dessa forma, aumenta-se o risco
de morbimortalidade dessa população. Neste sentido, atentar-se, precocemente, para esta
hipótese diagnóstica é um dos temas em constante debate na prática clínica diária. Um dos
caminhos que podem ser percorridos é promover a educação da população frente a EI,
incentivando a propagação de informações sobre as características epidemiológicas, dos fatores
de risco modificáveis e não modificáveis, das comorbidades clínicas associadas e da busca de
atendimento multidisciplinar especializado.
No que concerne ao tratamento da EI, o farmacológico normalmente varia de quatro a
seis semanas e consiste em antibioticoterapia. Entretanto, em alguns casos, o tratamento é
cirúrgico (WANG et al,2020). A cirurgia cardíaca é um componente importante no tratamento
de 40 a 50% dos pacientes com EVP. A indicação para cirurgia tem como base as complicações
relacionadas à patologia intracardíaca e na incapacidade de sanar a infecção com tratamento
antimicrobiano (KIM et al, 2016). Segundo a American Heart Association (2015), a cirurgia
precoce é recomendada para pacientes com EVP com sinais ou sintomas de insuficiência
cardíaca (IC), EI complicada por bloqueio cardíaco, abscesso anular ou aórtico ou lesão
penetrante destrutiva, EVP causada por fungos ou outro organismo altamente resistente,
bacteremia persistente apesar da antibioticoterapia apropriada por cinco a sete dias e/ou
exclusão de outros locais de infecção.
Além disso, existem protocolos específicos para cada perfil de pacientes (WANG et al,
2020). Os pacientes com EI devido a microrganismos bucais comuns devem ser submetidos a
uma avaliação odontológica completa. Já para pacientes com EI devido a estreptococos do
grupo D, a colonoscopia deve ser feita devido à associação entre esses organismos e a neoplasia
do cólon. Já em indivíduos com cateter intravascular que desenvolvem EI, a remoção do cateter
é justificada. E, por fim, os pacientes que usam drogas injetáveis devem ser oferecidos e
inscritos em programas de tratamento e aconselhamento anti-dependência.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi revisar a literatura sobre a endocardite
infecciosa para caracterizar a população quanto às suas características demográficas,
apresentação clínica, comorbidades e fatores de risco. Nossa perspectiva é contribuir com uma
melhor abordagem da endocardite infecciosa, na tentativa de auxiliar a comunidade para o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

diagnóstico precoce, a estratificação dos fatores de risco e a tomada de decisões de proteção,


prevenção e promoção de saúde.

METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. A pesquisa teve início
em março de 2021 e foi concluída em julho de 2021, onde foram definidos, inicialmente, os
descritores consultados no Medical Subject Headings (MeSH) e no Descritores em Ciências da
Saúde (DECs). Os termos definidos através dos descritores foram “Endocardite”, “Endocardite
Bacteriana” e “Endocardite infecciosa", acrescidos dos operadores booleanos AND ou OR para
formar a estratégia de busca. Sendo utilizados os descritores em inglês e em português.
Conseguinte, foram estabelecidos os critérios de elegibilidade, divididos em critérios de
inclusão e exclusão. Foram incluídos artigos nos idiomas inglês e português, publicados entre
os anos de 2015 e 2021 e que fossem estudos observacionais retrospectivos, prospectivos e
ensaios clínicos associados ao tema em questão. Quanto aos critérios de exclusão, foram
excluídos artigos de revisão literária, relatos de caso, artigos não disponíveis na íntegra,
duplicatas ou estudos que tivessem resultados inconclusivos em suas pesquisas.
Em seguida à escolha da estratégia de busca, buscou-se artigos publicados em revistas
indexadas sobre a temática escolhida nas seguintes bases de dados: Literatura Científica e
Técnica da América Latina e Caribe (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online (MEDLINE), Serviço da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos
para acesso gratuito ao Medline (PubMed), The Scientific Electronic Library Online (ScieLo)
e UpToDate.
Durante a seleção dos artigos, no processo de leitura dos títulos e ainda na fase de
triagem dos artigos satisfatórios, foram analisados os resumos e os artigos disponíveis na íntegra
para compor a revisão. Por conseguinte, realizou-se a constituição de um banco de dados único.
Como método de extração dos dados dos artigos que compõem o estudo, utilizou-se o
software de planilhas do Google Docs. Por meio de uma tabela, todas as informações relevantes
para a pesquisa foram extraídas. Dessa forma, foi descrita as características relacionadas aos
participantes (faixa etária, sexo), tipo de endocardite (infecciosa, que englobam os agentes
etiológicos bacterianos e fúngicos), fatores de risco, comorbidades, intervenções médicas
(cirúrgicas e/ou medicamentosas) e localidade do estudo em questão.
Quanto à exposição dos resultados, a média e o desvio padrão das características
extraídas foram feitas.

Página 240
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultado da busca detalhada nas bases de dados LILACS, MEDLINE/ PubMed,
SciELO, UpToDate, foram encontrados e selecionados 1034 artigos relevantes para leitura
completa do título e resumo. Destes, 25 artigos cumpriram os critérios de elegibilidade e foram
selecionados para a extração dos dados, como detalhados no Fluxograma abaixo (Figura 1).
Assim, os 25 estudos eleitos para compor esta revisão foram extraídos da base de dados
Scielo (n=13) e Medline (n=12) e 72% (n=18) dos artigos foram do tipo retrospectivo, 16% (n=
4) foram do tipo observacional e 12% (n=3) foram do tipo prospectivo. Em termos de ordem
cronológica, 2 artigos foram publicados no ano 2021, 9 no ano de 2020, 8 no ano de 2019, 2 no
ano de 2018, 1 no ano de 2017 e 3 no ano de 2016.
Os estudos analisados contemplaram um total de 11.146 participantes com a EI (média
de 398 participantes). Dentro desta amostra, 64,46% (n=7.185) eram do sexo masculino e
35,54% (n=3.961) do sexo feminino. A idade dos participantes variou de mais de 18 anos até
83 anos, o que mostra grande variabilidade no que concerne às características etárias entre os
trabalhos. Alguns trabalhos (n=4) não foram específicos quanto à idade dos indivíduos. Dos
trabalhos que reportaram as médias de idade, encontramos uma idade média de 54,6 (±10,23)
anos dos indivíduos aqui inclusos. Este perfil dos indivíduos (idade e sexo) está de acordo com
o que está na literatura: homens com a faixa etária dos 47 aos 69 anos (CABELL et al, 2002;
HOEN et al, 2002; ROCHA et al., 2009; MELO et al, 2017; METAXA,2019; WANG et
al,2020).
Onze artigos descreveram o patógeno responsável pela EI. Destes, 81,81%
mencionaram o Staphylococcus sp. como o agente principal. Outras espécies citadas foram a
Pseudomonas aeruginosa e o Enterococcus spp em 18,1% dos artigos e, apenas 9%, mencionou
a E. Coli. Os agentes menos frequentes foram a Klebsiella e a Serratia. (GURSUL et al, 2016;
REN et al, 2019; SUNIL et al, 2019; PAZDERNIK et al, 2021; ZHENZHU et al, 2020; LIN et
al, 2019; BURGOS et al, 2019; DAMASCO et al, 2019; MACIEL et al, 2021; BLANCHARD
et al, 2020)

Página 241
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Figura 1. FLUXOGRAMA DA SELEÇÃO DO ARTIGOS.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: DADOS DA PESQUISA, 2021.

No que concerne às comorbidades associadas com a EI, encontramos uma diversidade


de condições. Dentre elas, as complicações cardíacas foram predominantes, estando presentes
em 70% (n= 20) dos estudos incluídos. Tais complicações cardíacas foram: hipertensão arterial
sistêmica, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, arritmias e estenose aórtica.
Adicionalmente, 45% dos indivíduos analisados eram portadores de diabetes mellitus e 40%
possuíam doença renal crônica. Dos 11.146 indivíduos da amostra foi constatado Hepatite B
em 37 pacientes (0,331%), vírus da imunodeficiência humana (HIV) em sete pacientes
(0,062%) e neoplasia em seis pacientes (0,053%). A presença deste grupo de indivíduos na
nossa pesquisa enfatiza a necessidade do estabelecimento de protocolos de identificação e
encaminhamento precoce para centros médicos e cirúrgicos e transferência para unidades de
cuidados intensivos para monitorização de complicações, com o objetivo de redução da
mortalidade global.
Analisando os trabalhos que mencionaram os fatores de risco presentes para a EI,
encontramos a cardiopatia congênita em 40,9% dos participantes, o uso de válvulas protésica
em 36,3%, o uso de drogas injetáveis em 22,7%, o uso de cateter para hemodiálise em 18,1% e
a doença reumática no coração em 18,1% dos indivíduos da pesquisa. Outros fatores de risco
citados, isoladamente, foram o tabagismo, o alcoolismo, o histórico de extração dentária, o uso
de marcapasso, a hiperlipidemia e o uso de dispositivos intracardíacos ou intravenosos. O tempo
e/ou a duração não foram mencionados (LIN et al, 2019; SUNIL et al, 2019; PAZDERNIK et
al, 2021). Tais fatores de risco foram divididos em modificáveis e não modificáveis, ou seja, os
quais podem ser evitados, revertidos ou controlados para que se tenha uma menor probabilidade
em desenvolver endocardite. Os fatores de risco não modificáveis foram a idade, o sexo, as
cardiopatias congênitas (40,9%), o uso de válvulas protésica (36,3%), o uso de cateter de
hemodiálise (18,1%) e a doença reumática no coração (18,1%). Os fatores de risco modificáveis
foram a hiperlipidemia, o tabagismo, o etilismo, o uso de drogas injetáveis, o histórico de
extração dentária, a presença de marcapasso e o uso de dispositivos intracardíacos ou
intravenosos.
Melo e colaboradores, em 2017, ao caracterizar 40 casos de endocardite infecciosa nos
serviços de Medicina Interna de um hospital da região de Lisboa, num período de seis anos
encontrou que, dentre os fatores de risco, predominaram os de risco clássicos: 12,5% dos
doentes com válvula protésica, 10,0% com cardiopatia congênita e 7,5% com endocardite
prévia. Sete doentes apresentavam um fator de risco “não-clássico”: imunossupressão e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

utilização de drogas endovenosas (MELO et al, 2017). A literatura da área é concordante com
tais resultados (BRASIL et al, 2020; LIN et al, 2019; SUNIL et al, 2017)
Dessa forma, o médico generalista precisa ter conhecimento dos principais fatores que
interferem e aumentam a chance do surgimento da EI, os quais englobam valvopatias, doenças
reumáticas, alterações degenerativas e prolapso mitral com insuficiência valvar, prótese valvar,
cardiopatia congênita cianótica e o uso de dispositivos implantados (MARQUES et al, 2019).
Este grupo de indivíduos apresenta um maior risco de complicações, maior mortalidade e
necessidade cirúrgica mais frequente, bem como maior monitoramento (THUNY e HABIB,
2010; MURDOCH et al, 2009).
Em relação aos fatores de risco modificáveis, o médico generalista pode compor uma
equipe multidisciplinar com nutricionistas, educadores físicos, psicólogos, assistentes sociais a
fim de educar a população e modificar os hábitos prejudiciais à saúde da população. Para isso,
deve se montar um plano de ação, principalmente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), as
quais, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020,
53,8% dos usuários não têm um trabalho e 64,7% apresentam renda domiciliar per capita
inferior a um salário-mínimo, além de 32,3%, inseriam-se na faixa de 1 a 3 salários mínimos,
demonstrando que grande parte da população atendida tem baixo poder econômico e
informacional que influenciam no adequado e saudável estilo de vida.
Nesse contexto, com a finalidade de reduzir a incidência de hiperlipidemia, o tabagismo
e o etilismo, é preciso buscar medidas educacionais, informacionais, de promoção, proteção e
prevenção em saúde. Como se sabe, a hiperlipidemia é uma doença multifatorial, que depende
tanto de fatores genéticos, quanto de fatores ambientais, em especial, do estilo de vida
(obesidade, alimentação, sedentarismo, etilismo), além de poder ser secundário a outras
condições, como diabetes mellitus e doenças cardíacas. O aumento do nível de colesterol no
sangue está diretamente associado aos eventos cardiovasculares, entre elas a EI, e,
consequentemente, com a elevação do risco de morte, como já observado na literatura. A
modificação dessa variável deve-se expandir para além das orientações higiene-dietéticas
(“faça caminhadas”, “se exercite”, “se alimente bem”, “coma mais frutas e verduras”, “beba
moderadamente”) feitas pelo profissional de saúde, deve-se buscar mudanças no estilo de vida
por meio de programas de promoção de saúde, rodas de conversa com a comunidade sobre
saúde e alimentação, suporte psicológico, atividades físicas em locais abertos próximo a UBS
com usuários com dislipidemia, obesidade, diabetes mellitus, tabagistas, etilistas e hipertensos,
executadas pela equipe multidisciplinar da Atenção Primária à Saúde (FALUDI, 2017). A
presença de um educador físico nas Unidades de Saúde, para orientação quanto à prática

Página 244
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

atividades físicas, tanto em grupo como respeitando as limitações individuais é imprescindível.


Outros hábitos inadequados são o tabagismo e o etilismo. O primeiro deve ser estimulado a
cessação. Assim, sempre perguntar ao paciente se ele pensa em parar de fumar, se já tentou, e,
se for da vontade do paciente, encaminhar ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para
atendimento multidisciplinar com médico generalista e/ou psiquiatra e psicólogo para
realização de acolhimento e planejamento medicamentoso e comportamental para cessação do
tabagismo. O etilismo, por sua vez, deve ser desencorajado, sempre orientando reduzir a
ingestão de álcool, e, caso paciente necessite de auxílio, encaminhar ao CAPS para
acompanhamento com um psicólogo, encaminhamento psiquiátrico para amenizar crises de
abstinência e fazer grupos de apoio para os etilistas, com número de participantes limitados na
comunidade. Com essas medidas, promove-se a saúde e a prevenção da hiperlipidemia e do
tabagismo e a ingesta consciente do álcool, e assim, como consequência, há a prevenção da
endocardite infecciosa na população.
Com a finalidade de prevenir a EI, em extração dentária, o protocolo brasileiro permite
e orienta o uso de antibiótico em um período de até 7 dias nos usuários pré-cirúrgico ou pós-
cirúrgico para se evitar o desenvolvimento de infecções, abcessos e sepse com a capacidade de
atingir a superfície do endocárdio. Essa ação depende tanto da conduta do cirurgião-dentista
quanto da adesão da população ao tratamento, sendo necessário o repasse de informação, a
orientação e o recebimento de um feedback do paciente para saber se houve o entendimento
necessário para ser colocado em prática.
Os fatores de risco, como o uso de marcapasso, dispositivos intracardiácos ou
intravenosos são prevenidos pela promoção de saúde das doenças crônicas não transmissíveis,
tais quais dislipidemia, diabetes mellitus e doenças cardiovasculares. Sendo realizado rodas de
conversas entre pacientes e profissionais sobre saúde, atividade física e alimentação. A
educação alimentar com nutricionista, baseando se nas condições socioeconômicas dos
pacientes e auxiliando na saúde e controle de doenças desses indivíduos. Portanto, a orientação,
a educação, a transferência de informações e a estratégia bem estruturada de uma promoção de
saúde para a comunidade podem ser variáveis decisivas para a redução de fatores de risco
relacionados a EI na população. Ademais, a visibilidade da endocardite como hipótese
diagnóstica, apesar dos sintomas clínicos em diversos casos serem inespecíficos, permite um
maior número de diagnósticos da doença, possibilitando seu tratamento e, dessa forma,
aumentar as chances de vida, reduzindo a alta morbimortalidade característica dessa
enfermidade.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CONCLUSÃO
Na atualidade, a endocardite infecciosa encontra-se entre as condições clínicas que
apresentam uma alta taxa de morbimortalidade no mundo. Neste sentido, faz-se necessário
acelerar o processo de diagnóstico, o entendimento dos fatores de risco modificáveis e não
modificáveis determinantes para etiologia e evolução da EI, bem como dos fármacos, das
recomendações cirúrgicas e das suas técnicas. Assim, a comunidade científica, a comunidade
médica e a população ficarão mais cientes e conscientes sobre a elaboração de estratégias de
prevenção da patologia e com isso, reduzir o impacto da EI na qualidade de vida das populações
atingidas.
A EI é o tipo mais prevalente das endocardites e os seus fatores de risco se relacionam
com cardiopatias prévias, sendo a maior parte dos fatores de risco os não modificáveis e não
preveníveis. Entretanto, os fatores de risco modificáveis apresentam-se como agravantes da EI
e é imprescindível buscar formas de proteção, promoção e prevenção de saúde, por meio de
medidas educativas higieno-dietéticas, mudanças no estilo de vida por meio de rodas de
conversa com a comunidade sobre saúde e alimentação, suporte psicológico, atividades físicas,
cessação do tabagismo, etilismo e controle de dislipidemia para reduzir a incidência desta
enfermidade.
As limitações encontradas nesta revisão integrativa da literatura incluíram,
principalmente, questões metodológicas como a falta do detalhamento das características
sociodemográficas dos indivíduos, falta de padronização quanto à exposição dos dados
referentes à condição clínica da EI, fatores de risco (modificáveis e não modificáveis),
comorbidades e intervenções.
Apesar dessas limitações, esta revisão integrativa serviu para mostrar a sensibilidade
que os profissionais de saúde que atuam neste segmento e da população em geral têm que ter
sobre EI, tendo em vista a complexidade de se realizar seu diagnóstico. Além disso, essa revisão
ratificou a importância de se identificar, clinicamente e precocemente, os fatores de risco
modificáveis a fim de melhorar os desfechos, apesar da gravidade da doença. Outrossim, torna-
se necessário o aprimoramento de trabalhos como este para a avaliação das notificações em
saúde pública e elaboração de medidas preventivas que combatam a evolução da endocardite
infecciosa

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 22

A EFICÁCIA DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS


NOS PROCESSOS DE CICATRIZAÇÃO: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA

Pâmela Tayná Matias Bezerra, Sandryelle de Andrade Rodrigues,

Raimundo Azevedo Vilarouca Neto, Renata Hellen Morais, Maria

Izadora da Silva Rodrigues, Raisse de Araújo Carvalho, José Walber

Gonçalves Castro e Raíra Justino Oliveira Costa

RESUMO: A cicatrização é um mecanismo complexo de neoformação

tecidual para reparar injúrias causadas aos tecidos. A dinâmica

biológica envolvida é diversificada, uma vez que esse processo é

dependente da intensidade, tamanho e forma do fator causal, e requer

tempo e condições para a sua concretização. Nesse cenário, a procura

de maneiras para induzir ou acelerar a atividade cicatricial é crescente,

e os fitoterápicos surgem como um meio alternativo com grande

potencial terapêutico.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

1. INTRODUÇÃO
A funcionalidade das diversas plantas medicinais é muito explorada pela humanidade.
Desde os primatas às sociedades atuais, a botânica vem ganhando cada vez mais espaço,
tornando-se necessária. A extensa aplicabilidade da fitoterapia tornou-se objeto de estudo da
ciência, graças aos seus potenciais terapêuticos, características que a tornaram marco da
medicina primária. As plantas medicinais são usadas de diversas formas e a sua atuação em
processos de cicatrização é algo ainda considerado novo e promissor (BRUNING et al., 2012;
SARANDY et al., 2018).
A cicatrização é um processo de reparo tecidual biológico e complexo que apresenta
quatro fases: hemostasia, inflamação controlada, formação de tecido novo e remodelação,
existindo vários medicamentos capazes de acelerar ou induzir esse processo - por vezes
delicado e demorado, a depender de como ocorreu a injúria tecidual e o tipo de tecido lesionado.
Inúmeros mecanismos bioquímicos acontecem e a formação da cicatriz é o ponto principal de
todo esse processo. A mudança tecidual é percebida pela ação celular, visto que há atuação de
diversos fatores, como renovação celular, ganho e perda de colágeno, revascularização,
recrutamento de células de defesa, liberação de citocinas e a formação da cicatriz (SARANDY
et al., 2018).
Por apresentarem benefícios nas fases de cicatrização e serem de fácil acesso à
população, os fitoterápicos são uma alternativa aos medicamentos convencionais. Portanto,
houveram avanços no reconhecimento do método fitoterápico em decorrência dos diversos
estudos realizados até os dias atuais, os quais, analisaram seu real efeito anti-inflamatório,
antioxidante e cicatrizante, o que contribuiu de forma científica com a população e enriqueceu
ainda mais as possibilidades de tratamento (LEITE et al., 2015).
Apesar do uso entre gerações com base no conhecimento popular, a utilização de plantas
com propriedades cicatrizantes vem sendo testada com mais cautela, uma vez que torna-se
imprescindível o conhecimento e preparo para manuseio pelos profissionais da saúde. Além
disso, é importante a análise do possível poder de toxicidade que elas podem trazer quando
usadas de forma leiga e indiscriminada (BRUNING et al., 2012; SARANDY et al., 2017).
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar diferentes pesquisas realizadas com plantas
que demonstram efeitos cicatrizantes, sob a perspectiva de estudos distintos.

2. METODOLOGIA

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Trata-se de um estudo bibliográfico, classificado como revisão sistemática da literatura


- desenvolvida por meio de abordagem metodológica qualitativa e descritiva. Consoante Souza,
Silva e Carvalho (2010), a revisão da literatura possibilita combinar, analisar, definir e revisar
dados teóricos e empíricos, por intermédio da síntese de estudos pré-existentes. Galvão (2008)
estabelece seis etapas para realização da revisão, seguidas sequencialmente neste trabalho:
formulação da pergunta norteadora; escolha dos critérios de inclusão, exclusão e busca nos
bancos de dados; coleta das informações encontradas na pesquisa; análise precisa dos estudos
incluídos; discussão e organização dos resultados; apresentação da revisão de literatura.

A estratégia P.V.O. foi utilizada para formulação da pergunta norteadora da pesquisa e


direcionamento do estudo. P corresponde à população, V às variáveis do estudo e O ao
desfecho. Dessa forma, o primeiro elemento da estratégia (P), representa indivíduos com
feridas; (V), uso de plantas medicinais; e, por fim, (O), efeito terapêutico que potencializa os
processos de cicatrização tecidual, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1. Estratégia P.V.O. para formulação da pergunta da pesquisa.

Etapa Definição Descrição

P População Indivíduos com feridas

V Variáveis Uso de plantas medicinais

Efeito terapêutico que potencializa os


O Desfecho
processos de cicatrização tecidual

Fonte: Autores, 2021.

Com base na estratégia P.V.O. supracitada, tornou-se possível definir a pergunta


norteadora: “Qual a eficácia terapêutica promovida pelo uso de plantas medicinais nos
processos de cicatrização?”
Foram incluídos estudos publicados entre os anos 2016 e 2021, em português e/ou
inglês, disponíveis na íntegra e nos bancos de dados analisados, que atendessem à pergunta

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

norteadora. Consequentemente, foram excluídos estudos fora do recorte temporal de publicação


entre os últimos 5 anos, que não se encontram disponíveis na íntegra e/ou não respondem à
pergunta norteadora, além de artigos duplicados e estudos de revisão.
Pubmed, Scielo e LILACS constituíram os bancos de dados utilizados para a busca. A
pesquisa foi realizada a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Plantas
Medicinais (Medical Plant); Cicatrização (Cicatrization); Fitoterapia (Phytoterapy);
Farmacologia (Pharmacology); Terapias Complementares (Complementary Pratices),
combinados pelo booleano AND.
A busca avançada identificou 303 artigos a partir da aplicação do filtro, utilizando os
critérios de inclusão e exclusão estabelecidos. Após a leitura do título e resumo, foram
selecionados 35 artigos. Em seguida, posteriormente à leitura completa, 23 estudos encaixaram
nos critérios de inclusão estabelecidos, sendo utilizados para análise de resultados e discussão,
conforme descrito na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma do processo de busca e seleção dos artigos.

Busca nas bases de dados (n= 303).


Pubmed (n= 66), Scielo (n= 56) e LILACS
(n= 181).

Leitura de títulos e resumos

Estudos selecionados (n= 35)

Leitura completa

Estudos incluídos (n= 23)

Fonte: Autores, 2021¹.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

¹Adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses – PRISMA.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A cicatrização como processo para a cura é trifásica, permeada pela inflamação,


proliferação e remodelação. Esse mecanismo pode ser acelerado a partir de medicamentos
fitoterápicos nos mais diversos tipos de soluções extrativas, como: derivados de folhas, caules,
flores, sementes e raízes. Ademais, os métodos de obtenção são variados e incluem: maceração,
decocção, infusão, turbólise, percolação em aparelho tipo Soxhlet, refluxo e extração em banho
ultrassom (PACHLA et al., 2017).

As feridas por cortes cirúrgicos são classificadas em diferentes estágios e seu processo
de cicatrização varia de uma para outra, sendo que fatores como, por exemplo, histórico clínico
do paciente, podem retardar a sua ocorrência. A forma de manejo dessas feridas pode acarretar
mudanças psicossociais na vida do indivíduo e causar um impacto indesejado. Assim, a
importância do cuidado com cicatrizes mais delicadas se destaca pela possibilidade dessas
evoluírem para um quadro de lesão cutânea grave ou até mesmo pela cicatrização natural não
se desenvolver de forma esperada, gerando uma cicatriz de tecido frágil e pouco resistente
(SOUZA, 2016; SARANDY et al.,2018).

3.1. QUINA (Strychnos pseudoquina)


Estudos desenvolvidos in vitro e testes em animais, puderam mostrar que alguns
componentes presentes em plantas, quando isolados, possuem grandes potenciais
antibacterianos, cicatrizantes e anti-inflamatórios. Nesse cenário, a pesquisa de Sarandy et al.
(2017), corrobora com a afirmação supracitada, uma vez que, ao avaliar a pomada do extrato
da Strychnos pseudoquina em concentração de 5-10%, evidenciou a eficiência no reparo de
feridas, a partir da promoção da síntese da matriz em modelos de animais diabéticos. Os
resultados mostraram que o tratamento com S. pseudoquina foi mais eficiente do que com a
Sulfadiazina de prata.

3.2. BABAÇU (Orbignya phalerata) E JUÇARA (Euterpe edules)


Segundo Torres et al. (2018), o uso das plantas medicinais como alternativa à
farmacologia alopática é crescente e representa um meio para reduzir os efeitos adversos das
terapias convencionais. Esses autores, ao avaliarem a atividade antiulcerogênica dos extratos
de Orbignya phalerata (babaçu) e Euterpe edules (juçara) em ratos Wistar, após indução de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

úlcera péptica e comparação com omeprazol, evidenciaram o poder terapêutico dessas


substâncias; uma vez que os extratos se comportaram como o medicamento padrão já utilizado
para o tratamento de úlceras pépticas em seres humanos. A obtenção desse resultado
estatisticamente significativo impulsiona futuras pesquisas fitoquímicas para reconhecimento
de princípios ativos.

3.3. BARBATIMÃO (Stryphnodendron adstringens)


A espécie S. adstringes (Martius) Coville é a única, dentre as cinco existentes,
considerada barbatimão verdadeiro. A ação medicinal do fitoterápico está relacionada ao nível
elevado de taninos – compostos fenólicos - existentes em sua composição, variando, em média,
de 20% a 30%, sendo necessário o nível mínimo de 80% para viabilidade do efeito terapêutico
(FAGUNDES et al., 2020).
O barbatimão trata-se de um fitoterápico com potencial terapêutico, ação cicatrizante e
propriedades anti-inflamatória, hemostática, adstringente, antidiarréica, antisséptica,
antimicrobiana e antiofídica. Seu mecanismo de ação cicatrizante estimula o processo de
reparação tecidual reduzindo o espaço de tempo e proporcionando segurança. Comumente
utilizado em animais, não há registros que indiquem toxicidades (FAGUNDES et al., 2020).
Ainda no estudo desenvolvido por Fagundes et al. (2020), observou-se os efeitos da
pomada manipulada à base de barbatimão após a realização de ovariohisterectomia em nove
gatas, com peso corpóreo médio de 3kg, hígidas e escolhidas aleatoriamente. A pesquisa
concluiu que a utilização da pomada contribuiu para a formação de barreira de proteção contra
agentes patógenos, além de manter o local da ferida sem presença de conteúdo purulento. Por
fim, notou-se ação cicatrizante de maior eficácia na porcentagem de 10%, quando comparada
à porcentagem de 2,5%.

3.4. BOLDO-GAMBÁ (Plectranthus neochilus S.) E FAVELA (Cnidoscolus quercifolius)

As Plectranthus neochilus Schlechter e o Cnidoscolus quercifolius têm várias


utilizações na medicina, como no tratamento de dores de cabeça, feridas e inflamações gerais,
ou a partir da exploração do seu poder antioxidante. No estudo realizado por Rêgo et al. (2021),
com o intuito de verificar a ação reparadora do gel fitoterápico, uma associação de Plectranthus
neochilus (boldo-gambá) e Cnidoscolus quercifolius (Favela) em concentrações de 2,5%, 5% e
10%, foi observado que no oitavo dia de tratamento dos grupos controles, o grupo que utilizou
a concentração de 2,5%, apresentou um aumento significativo na cicatrização comparado a

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

outros géis fitoterápicos disponíveis no mercado. Em contrapartida, a reepitelização nos grupos


tratados com a associação de Plectranthus neochilus (boldo-gambá) e Cnidoscolus quercifolius
(Favela) nas concentrações de 2,5%, 5% e 10%, mostraram resultados 87,72%, 87,72% e
57,15%, respectivamente, após 14 dias; enquanto que o grupo tratado sem veículo ou tratado
com géis disponíveis no mercado, obteve 100%. Dessa forma, não houve diferença significativa
quanto a diminuição no tempo de cicatrização.

3.5. COPAÍBA (Copaifera multijuga Hayne e Copaifera langsdorffii Desf)


Em outro estudo, realizado por Lucas et al. (2017), verificou-se a eficiência do óleo de
copaíba, extraído da planta de mesmo nome, também conhecida como bálsamo-de-copaíba,
bastante utilizada para aliviar sintomas de inflamação e feridas. Nessa investigação, foram
criadas feridas cirurgicamente em cavalos mestiços, onde foi observada a formação de tecido,
com proliferação de fibroblastos e formação de poucos vasos sanguíneos por volta do sétimo
dia de observação, sugerindo assim, que o uso do óleo acelerou o processo de cicatrização,
resultando ainda, em um aspecto cicatricial maior nas feridas que foram tratadas com o óleo de
copaíba a 10%.
Já na pesquisa de Martini et al. (2016), que analisou os efeitos do óleo-resina de
Copaifera multijuga e da Nitrofurazona de forma comparativa, foi comprovado que após vinte
e um dias do experimento, usando tanto o óleo quanto a Nitrofurazona, poderia-se obter bons
níveis de fibras elásticas e resistência do tecido. Obtiveram esses resultados através da
utilização de 36 ratos na pesquisa, dividindo em três grupos de doze, sendo que um grupo
controle usou soro fisiológico, o outro, o óleo da planta, e por fim, o terceiro, a Nitrofurazona.
Dos animais que foram tratados com o soro, constatou-se que não houve produção de colágeno
comparado aos demais grupos, já os que foram tratados com o óleo de copaíba, observou-se
que conseguiram transformar o colágeno tipo 3 em colágeno do tipo 1, e nos que foi usado a
Nitrofurazona, pode-se notar que apresentaram bons níveis de fibras elásticas.
Quanto à planta Copaifera langsdorffii Desf (Leguminosae), esta pode ser localizada
nas regiões Norte e Sudeste do Brasil, sendo popularizada na cultura do país, principalmente
entre os povos indígenas. Originária das regiões tropicais da América Latina e do Oeste da
África, tem propriedades medicinais relacionadas à sua atividade de cicatrização,
antimicrobiana, antidermatogênica e antinociceptiva, por exemplo. O estudo clínico
randomizado desenvolvido por Kauer et al. (2020), realizou quatro feridas cutâneas em cada
lado de seis cavalos adultos saudáveis, para análise do tratamento com solução fisiológica 0,9%,
com creme base (Lanette), com creme base de extrato hidroalcoólico das folhas de copaíba 10%

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

e com creme base do óleo-resina extraído da casca da copaíba 10%. O exame microscópico e o
acompanhamento das lesões, demonstrou um aspecto clínico sem redução no período de
cicatrização. Dessa forma, a pesquisa não evidenciou impactos que demonstrem ação
cicatrizante superior com o uso da planta.

3.6. CAVALINHA (Equisetum pyramidale Goldm)


Seguindo o mesmo modelo, Carmignan et al. (2019), estudaram a eficácia da aplicação
de Equisetum pyramidale Goldm. hidrogel, para a restauração tecidual de lesões, também
fazendo o uso de ratos, e os analisando por 21 dias. Entretanto, nesse estudo, foram utilizados
60 ratos, divididos em quatro grupos, usando respectivamente, a solução salina, hidrogel,
colagenase e o extrato etanólico de E. pyramidale a 2% incorporado ao hidrogel -
extrato/hidrogel. Todos os grupos apresentaram cura sem necrose. Quanto aos grupos da
colagenase e do extrato/hidrogel, pode-se observar uma histologia mais organizada e uma maior
porcentagem na espessura das fibras, quando comparado aos outros grupos da pesquisa. O
extrato em hidrogel também apresentou potencial nas feridas de segunda intenção, podendo ser
atribuído pela presença dos compostos fenólicos e flavonóides.

3.7. PLANTA-CARICATA (Graptophyllum pictum)


No que concerne à Graptophyllum pictum (GP), essa trata-se de um arbusto, membro
da família Acanthaceae, originário da Nova Guiné e presente em países de clima tropical. Em
um estudo experimental realizado por Prasetyo et al. (2020), a partir do uso do extrato de etanol
100 mg, observou-se a aceleração da cicatrização de úlceras anais induzidas por óleo de croton,
em ratos Wistar. Assim, destaca-se o potencial anti-inflamatório e antioxidante dessa planta, ao
mesmo tempo em que cita-se a importância de novos estudos na área, tendo em vista o
desconhecimento dos mecanismos que induzem tais propriedades.

3.8. GOIABEIRA (Psidium guajava) E JABUTICABEIRA (Myrciaria cauliflora)


Por outro lado, na pesquisa realizada por Faria et al. (2019), com 20 ratas da espécie
Rattus norvegicus, produziram-se feridas cutâneas nesses animais e compararam o potencial
terapêutico de quatro soluções: solução aquosa de Dexpantenol 5%, água bidestilada estéril,
extrato aquoso da casca do caule da goiabeira 10% (Psidium guajava) e extrato aquoso da folha
da jabuticabeira 10% (Myrciaria cauliflora). A análise microscópica das feridas avaliou o
processo cicatricial, o infiltrado inflamatório, a presença de leucócitos, os fibroblastos e o tecido
conjuntivo. Concluiu-se, que o processo de reparo das feridas ocorreu 05 dias após a lesão e,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

que em 10 dias, houve o fechamento completo. Dessa forma, com o processo similar, utilizando
as quatro soluções, não há evidências que comprovem vantagens superiores na utilização das
plantas Psidium guajava e Myrciaria cauliflora.

3.9. SEBASTIANA (Sebastiania hispida)


Sebastiania hispida (Mart) Pax (Euphorbiaceae) é uma planta encontrada no estado do
Mato Grosso do Sul, Brasil; conhecida por sua ação cicatrizante e presença de componentes
químicos, como taninos, saponinas, triterpenóides e flavonóides, que contribuem para as suas
propriedades farmacêuticas. A planta é utilizada comumente em aplicações médicas em
algumas regiões do país, a fim de promover regeneração tecidual, diminuição da dor e redução
da inflamação (RIZZI et al., 2016).
Rizzi et al. (2016), realizaram uma pesquisa com oitenta ratos machos adultos e
compararam o potencial terapêutico na cicatrização de feridas, utilizando o tratamento tópico
com S. hispida e laser de baixa potência - fosfeto de alumínio-gálio-índio (InGan AIP) 660nm.
Os resultados da pesquisa concluíram que o tratamento tópico com S. hispida mostrou-se mais
eficaz, potencializando a síntese de colágeno tipo I, além de possibilitar maior eficiência no
processo de angiogênese.

3.10. AMEIXA DO MATO (Ximenia Americana)


Ximenia americana é uma espécie de planta medicinal pertencente à família Olacacea,
encontrada facilmente em regiões tropicais do Nordeste Brasileiro. A quantidade significativa
de compostos bioativos, bem como a presença de flavonóides, alcalóides, taninos e enzimas
antioxidantes, contribuem para o seu efeito cicatrizante. Popularmente utilizada, é conhecida
por suas propriedades anti-inflamatória, antipirética, antitumoral e antiviral (JÚNIOR NETO et
al., 2017).
Um estudo de delineamento experimental casual desenvolvido por Júnior Neto et al.
(2017), foi realizado em três grupos – cada um com vinte ratos machos adultos. Efetuou-se uma
comparação entre animais com feridas imediatamente tratadas com 10% de extrato de ramo de
X. americana, feridas tratadas com veículo e feridas não tratadas. O grupo tratado com X.
americana apresentou uma camada mais espessa de fibrina-leucócitos, fibras de colágeno mais
densas e organizadas, além de elevação na deposição de colágeno extracelular, o que contribuiu
para o processo de cicatrização.

3.11. PINHÃO-ROXO (Jatropha gossypiifolia L.)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O pinhão-roxo ou pião-roxo (Jatropha gossypiifolia L.) pertence à família


Euphorbiaceae, é nativo da América tropical e integra a Relação Nacional de Plantas Medicinais
de Interesse ao Sistema Único de Saúde - RENISUS. Apesar do poder de envenenamento
trazido em suas folhas e seiva, tem uso popular amplo, desde purgativo até no tratamento da
gota. Um trabalho de Menezes et al. (2020) demonstrou que mesmo não tratando-se de uma
planta nativa do Pantanal, tal espécie é bastante encontrada nos quintais dos moradores da
região, em decorrência do seu uso medicinal, especialmente, para o controle de sangramentos
e a cicatrização de feridas.

3.12. CAJÁ (Spondias mombin L.)


Os achados de Dantas et al. (2020), em um estudo para avaliação da eficiência da
decocção das folhas de cajá (Spondias mombin L.) à concentração de 100 mg/mL, como
antisséptico no pós-operatório da castração de gatos, confirmaram as já popularizadas,
propriedades de cicatrização e regeneração dos tecidos conferidas a essa planta. Os efeitos
curativos e anti-inflamatórios foram observados nas feridas cirúrgicas dos felinos do grupo
teste, além da capacidade antimicrobiana – objeto de investigação; permitindo, portanto,
relacionar tal resultado à ação farmacológica dos taninos (adstringência) e à estimulação de
células fagocíticas, bem como às atividades anti-infecciosas.

3.13. TANCHAGEM (Plantago tomentosa Lam.)


No que tange ao ensaio clínico com o uso do extrato etanólico de Plantago tomentosa
Lam., realizado no Hospital Veterinário da Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, na cidade de Ijuí/RS, Pachla et al. (2017), comprovaram a partir
do acompanhamento do processo cicatricial em 12 cadelas pós-ovariohisterectomia, um melhor
fechamento das lesões cutâneas na presença da solução fitoterápica. Logo, a Plantago, cujo
nome popular é Tanchagem, pertencente à família Plantaginaceae, apresentou influência
positiva na epitelização; para os autores, a existência de flavonóides na composição, pode
justificar a atividade farmacológica significativa nas feridas.

3.14. MIL-FOLHAS (Achillea)


A Achillea, é pertencente à família Arterales, uma dentre as diversas espécies dessa
família que possui compostos com propriedades antibacterianas, anti-inflamatórias e
antioxidantes importantes para tratar feridas; agindo no processo cicatricial, a partir dos
flavonóides, conseguindo inibir enzimas atuantes na formação de radicais livres e influenciando

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

no metabolismo do ácido araquidônico. Além disso, possui outros compostos, como: terpenos
e saponinas, que trabalham contra agentes oxidantes prejudiciais ao processo de cicatrização; e
hidroxicamptotecina, que é altamente eficaz contra o surgimento da cicatriz, por inibir a
formação desordenada de fibroblastos. Acerca dessa planta, Hormozi e Baharvand (2019),
realizaram uma pesquisa, concluindo que o extrato da mesma causa mudanças no padrão de
TGF-beta1 e bFGF em fibroblastos, induzindo o fechamento de feridas e reduzindo o
surgimento de cicatriz.

3.15. FLOR-DE-CORAL (Jatropha multifida)


Em alusão ao trabalho de Vieira et al. (2021), tem-se a utilização da planta Jatropha
multifida com o objetivo de investigar sua atividade biológica, visto que é uma planta utilizada
empiricamente para diversas finalidades. De acordo com os dados levantados para compor a
obra, 02 estudos demonstraram que a planta possui atividade bactericida contra Staphylococcus
aureus e Pseudomonas aeruginosa, outros 02 que possui compostos com atividade
anticancerígena, 05 estudos evidenciaram a atividade antioxidante, 01 estudo a atividade
antimicrobiana contra Candida albicans, 01 estudo a atividade anti-inflamatória, 01 estudo a
atividade purgativa, 01 a atividade antiofídica, 01 a atividade cicatrizante, 01 a ação anti-
deposição de melanina contra a linhagem de melanoma de camundongos e, por fim, outro, a
atividade anti-influenza contra o vírus H1N1. Apesar de a planta Jatropha multifida apresentar
tantas ações comprovadas por estudos, as ações cicatrizantes e citotóxicas ainda não foram
totalmente comprovadas, necessitando de mais buscas sobre essas últimas.

3.16. ROMÃ (Punica granatum L.)


Para o estudo de Nascimento Júnior et al. (2016), foram utilizados 24 ratos machos,
entre 60 e 65 dias, com pesos entre 250 e 300 g para a realização de testes com a romã, Punica
granatum, visto que é utilizada popularmente para diversas finalidades no cotidiano popular,
especialmente para o tratamento de alguns tipos de infecções. Os animais foram divididos em
4 grupos (G), com 6 animais cada: G1 (polpa da romã, por gavagem, 02 vezes ao dia), G2 (polpa
da romã, por gavagem, 02 vezes ao dia mais decocção da casca desidratada do fruto aplicadas
sobre a lesão, 02 vezes ao dia), G3 (decocção da casca desidratada do fruto aplicada sobre a
lesão, 02 vezes ao dia) e G4 (água destilada por gavagem, mais água destilada sobre as lesões).
Com 07 dias de experimentação, os animais do grupo 02 apresentaram melhoras clínicas
visíveis, sendo que a região da lesão sofreu hiperplasia com queratinização e infiltrado
inflamatório mononuclear. Nesse mesmo período, os animais do G4 apresentaram ulcerações

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

com bordas afastadas, não atingindo a camada muscular, discreto edema, células inflamatórias
e tecido de granulação. O G1 apresentou persistência da ulceração, não atingindo a camada
muscular, com alta atividade fibroblástica e rede vascular. No G3, as lâminas dos animais
apresentaram ulcerações na mucosa que não atingiram a camada muscular (NASCIMENTO
JÚNIOR et al., 2016).
Com 14 dias de experimentação, o G4 apresentou úlceras profundas com infiltrado
inflamatório crônico. O G1 apresentou reepitelização com queratinização e áreas com
degeneração hidrópica. O G2 apresentou pequena fibrose e reepitelização com epitélio bem
diferenciado. O G3 apresentou epitélio bem diferenciado, hiperplasia e área sugestiva com
acantose. Somente o G2 apresentou papilas (NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2016).
Diante disso, os produtos da romã apresentaram efeito sinérgico local e sistêmico, o que
contribuiu para a cicatrização completa das úlceras de língua no G2. Além disso, o bochecho
do chá da casca e a ingestão da polpa foram eficazes no tratamento de afecções nas línguas dos
animais, comprovando o efeito anti-inflamatório, bem como sua utilização em úlceras bucais
(NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2016).

3.17. DANSHEN (Saliva miltiorrhiza)


O estudo conduzido por Raisi et al. (2021) com testes de experimentação animal,
dividido em 5 grupos, cada um com um total de oito animais, determinou o efeito do extrato
hidroalcoólico de Saliva miltiorrhiza na prevenção de aderências no pós-operatório em ratos,
sendo avaliado a diminuição de biomarcadores de estresse oxidativo, células inflamatórias e
bandas de aderências peritoneais. O grupo de animais tratados com o extrato hidroalcoólico de
Saliva miltiorrhiza 1% (SME) apresentou redução do tecido de granulação quando comparado
ao grupo de controle, mesmo com diferença insignificante. Em contrapartida, o grupo de
animais tratados com SME 5%, apresentou notável diminuição do tecido de granulação quando
comparado ao grupo de controle. Já o grupo de animais tratados com água destilada (AD) não
obteve resultado protetivo contra a formação de adesões peritoneais. Dessa forma, a SME
previne aderências pós-operatórias em ratos, aliviando aderências peritoneais, biomarcadores
de estresse oxidativo e células inflamatórias.

3.18. CEBOLA (Allium cepa) E BABOSA (Aloe vera)


Pangkanon et al. (2021), utilizaram 40 pacientes entre 18 e 60 anos, com diversas
doenças, no pós-operatório do Centro de Pele da Universidade Srinakharinwirot e
Departamento de Cirurgia do Hospital Rajavithi, que não tinham queloide (17 mulheres e 03

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

homens tratados com folhas de gel de silicone; 19 mulheres e 01 homem com extrato de cebola
e Aloe vera). A dor e a coceira diminuíram nos grupos dos dois extratos, sem relatos de efeitos
adversos. Os pacientes que foram tratados com extrato de cebola e Aloe vera tiveram
pigmentação diminuída, podendo ser benéfico para pacientes que têm preocupações cosméticas
de pigmentação. Dessa forma, torna-se evidente que o uso do extrato de cebola e Aloe vera ou
folhas de gel de silicone previnem a formação de queloides e a hipertrofia de cicatrizes.

3.19. JUAZEIRO (Ziziphus joazeiro)


Um estudo realizado por Brito et al. (2020), através de testes experimentais em ambos
os sexos, com camundongos da cepa Swiss (Mus musculos) e ratos (Wistar albino), separados
em grupos (salina, omeprazol e extrato hidroetanólico de Ziziphus joazeiro - EHFZJ), mostrou
que a planta Ziziphus joazeiro (juazeiro), na concentração de 400 mg/kg de EHFZJ, possui
atividade gastroprotetora em modelos de úlcera gástrica induzida por indometacina, etanol
absoluto e ácido etanólico. Entretanto, diferentes concentrações de EHFZJ não interferem no
processo de cicatrização de feridas. Dessa forma, pode-se considerar o EHFZJ como possível
nova ferramenta terapêutica.

4. CONCLUSÃO
O reparo de feridas possui um significado importante no contexto da saúde
populacional, sendo que a aceleração desse processo de restauração da integridade funcional e
anatômica tecidual tem sido alvo de buscas crescentes a fim de estabelecer novos tratamentos
e aumentar a qualidade de vida dos lesionados. Dado o exposto, o uso de fitoterápicos
representa uma alternativa promissora e democrática para esse tipo de cura, uma vez que o rol
de plantas é amplo e as possibilidades de investigação, igualmente proporcionais.
Diante dos achados nesta pesquisa bibliográfica, conclui-se que o uso das plantas
medicinais com fins cicatrizantes, se apresentou, na maior parte da literatura estudada, com
algum efeito favorável, manifestando, majoritariamente, potenciais anti-inflamatórios e
antioxidantes. Logo, visando contribuir com a cicatrização de lesões a partir de terapias naturais
seguras, e considerando que a maioria dos trabalhos são experimentais - por meio de animais
em laboratório, sugere-se mais explorações acerca do tema, com novas metodologias e
evidências, que cooperem para a utilização racional da atividade farmacológica botânica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Página 263
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 23

INTERNAÇÕES POR FRATURA DE FÊMUR EM


IDOSOS NO MUNICÍPIO DE BOTUCATU, SÃO
PAULO: UMA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA

Suzana Cássia Feltrin Alves, André Vieira, Camila Melo de Freitas, Camilla
Leite Fernandes de Andrade, Carla Larissa Cunha Sottomaior, Fernanda Jorge
Martins, Fernando de Paiva Melo Neto, Frederico Augusto Oliveira Teixeira,
Gabriele Rânia Garcia Martins, Giovanna Alves de Souza, Gláucia Maria
Senhorinha, Letícia Lacerda Burity, Luiza Telles de Andrade Alvares, Victor
Barbosa Assis e Vinícius Vieira Leandro dá Silva

RESUMO: Analisar os indicadores de internações hospitalares por fratura de


fêmur em idosos de 80 anos ou mais no município de Botucatu-SP no período
de outubro de 2016 a outubro de 2021. Estudo ecológico de corte transversal
através da análise dos índices de internações hospitalares por fratura do
fêmur em indivíduos com 80 anos ou mais registrados no período de out/2016
a out/2021, residentes no município de Botucatu-SP. Os dados foram
coletados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de
Saúde (SIH/SUS), disponibilizados pelo Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram incluídas todas as notificações
realizadas no período e faixa etária estabelecidos, à exceção dos dados não
computados pelo DATASUS. As variáveis analisadas foram ano de
atendimento, raça e sexo. Os resultados, seguidos de gráficos referentes ao
período de 2016 a 2021, comprovam que há prevalência consoante o sexo,
raça e informam o ano em que mais houve incidências. Assim, observa-se que
existem razões para as predominâncias, como, a falta de exposição solar, a
pandemia de COVID e a incidência de casos de osteoporose e osteopenia,
sendo apurados conforme dados de outros países. Portanto, a partir da
análise dos fatores de risco e suas predominâncias - etnias e gêneros -, urge
a necessidade de se promulgar orientações para prevenção da osteoporose e
de quedas no município, com o propósito de diminuir a ocorrência de fraturas
femorais na população idosa.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define idoso como todo indivíduo que tenha
60 anos ou mais. Esta classe populacional apresenta acentuada velocidade de crescimento e
gera um aumento da prevalência de doenças crônico-degenerativas (FRANCO et al., 2016).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em modelos de
projeção, estimou que 13% da população brasileira apresentava 60 anos ou mais em 2018, o
que correspondia a 19,2 milhões. Contudo, projeta-se que, em 2060, o país terá mais pessoas
mais idosas do que jovens, aumentando ainda mais a incidência de patologias que possuem
relação direta com a idade, como a osteoporose (PETERLE et al., 2020).
Neste escopo, a fratura do fêmur vem se tornando um dos principais problemas de saúde
no Brasil e no mundo, reflexo do envelhecimento populacional mundial em curso ao longo das
últimas décadas. Evidências apontam que a incidência das fraturas do fêmur proximal sofreu
aumento significativo nos últimos anos, podendo ser duplicada nos próximos 25 anos
(PETROS, FERREIRA e PETROS, 2017; MADEIRAS et al., 2019).
Este tipo de fratura em idosos representa uma condição de alta morbidade e mortalidade,
além de comprometer a qualidade de vida, ao afetar o equilíbrio físico, mental, funcional e
social (OLIVEIRA e BORBA, 2017; PETROS, FERREIRA e PETROS, 2017).
Nesse sentido, fatores inerentes à senilidade que corroboram para o aumento das quedas,
e que predizem quedas futuras quando frequentes, são a função muscular insuficiente e o baixo
desempenho físico (PETERLE et al., 2020). Os principais fatores associados à mortalidade após
a fratura são a idade, as comorbidades, o estado cognitivo, o tempo de espera entre a fratura e
a cirurgia e o tipo de anestesia usada. No entanto, é controverso o tempo de espera para cirurgia
como risco para o óbito (FRANCO et al., 2016).
As fraturas ósseas são definidas como a alteração da estrutura morfológica do osso de
forma que haja perda de continuidade. Geralmente, origina-se por um trauma único, de grande
impacto sobre o osso previamente hígido, com energia acima da capacidade de sua resistência
e dos mecanismos de absorção de energia ou por trauma repetido com pouca energia. O perfil
dos pacientes com estes eventos são indivíduos idosos, mulheres pós menopausa ou pacientes
que apresentam osteoporose, além de fatores de risco conhecidos, como sexo feminino,
menopausa precoce e estilo de vida sedentário (MOTTA FILHO; BARROS FILHO, 2018;
OLIVEIRA e BORBA, 2017).
Outros fatores de risco para osteoporose e fraturas de fêmur são dados antropométricos,
fratura prévia, história familiar, tabagismo, alcoolismo, uso prolongado de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

glicocorticosteroides e artrite reumatoide (NEVES; CAROLO; MOREIRA, 2016).


Dentre as fraturas do fêmur proximal, as transtrocantéricas representam um importante
grupo, já que são comuns e incidem geralmente em pacientes debilitados e com idade avançada.
Este tipo de fratura é conceituado como aquelas que acometem a área que vai da região
extracapsular da base do colo femoral até uma região proximal ao longo do trocânter menor. É
mais comum nos idosos devido à osteoporose e está relacionado, especialmente aos traumas de
baixa energia, como a queda da própria altura. Estima-se que 9 em cada 10 fraturas trocantéricas
ocorram em indivíduos com mais de 65 anos (PETROS, FERREIRA e PETROS, 2017).
No Censo Demográfico de 2010, observou-se que o estado de São Paulo apresentou a
maior proporção de idosos na população, sendo 11,6% de seus habitantes, enquanto a média
nacional foi de 10,8%. Além disso, notou-se que a proporção de pessoas com mais de 60 anos
do sexo feminino foi maior do que as do sexo masculino, em todo o país e tal diferença aumenta
com a idade (IBGE, 2010).
O município de Botucatu localiza-se no Centro-Sul do estado de São Paulo. Possui área
de 1.482,642 km² de unidade territorial, com população estimada de 149.718 pessoas (IBGE,
2021). É válido frisar que, na cidade paulista de Botucatu, a proporção de idosos é de 9,35% da
população geral, com maior proporção de mulheres, conforme encontrado nas demais
localidades (SEADE, 2021).
Ademais, de acordo com o Censo Demográfico de 2010, a população com 80 anos ou
mais representava, então, 2,01% dos indivíduos, o equivalente a 2.558 idosos. Entre eles 1.347
estavam na faixa etária de 80 a 84 anos e 781 entre 85 a 89 anos, constituindo o perfil da área
delimitada. Por fim, acrescenta-se que, dividindo os estudados por gênero, tem-se 900 homens
e 1.658 mulheres. (IBGE, 2010).
Em relação à cor/raça da população de idosos de 80 anos ou mais residente no município
de Botucatu, 76.97% se declararam brancos, 3,78% pretos, 0,68% amarelos, 18,5% pardos e,
por fim, 0,07% indígenas (IBGE, 2010).
Dessa forma, este estudo teve como objetivo analisar os indicadores de internações
hospitalares por fratura de fêmur em idosos de 80 anos ou mais no município de Botucatu-SP
durante o período de 5 anos entre outubro de 2016 e outubro de 2021.

METODOLOGIA
Estudo epidemiológico de corte transversal através de análise quantitativa e qualitativa
das notificações de internações por fraturas de fêmur em idosos na faixa etária de 80 anos ou
mais residentes do município de Botucatu-SP do período de outubro de 2016 a outubro de 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Os dados foram coletados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde


(SIH/SUS), disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
(DATASUS). Informações sociodemográficas foram obtidas através do endereço eletrônico do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O SIH é o sistema do Ministério da Saúde responsável pela transcrição das internações
hospitalares financiadas pelo SUS. O IBGE analisa e armazena estatísticas sociodemográficas
atuais e informações cartográficas de todo o território nacional. O DATASUS é o departamento
destinado à coleta, processamento e divulgação de informações em saúde, contribuindo para a
divulgação do conhecimento epidemiológico no Brasil.
As variáveis analisadas foram ano de atendimento, cor/raça e sexo. Foram incluídas
todas as notificações realizadas no período supracitado, em exceção dos dados não computados
pelo DATASUS.
Os valores absolutos de internações em cada variável foram reunidos em tabelas na
ferramenta Microsoft Excel versão 2019 e submetidos à análise estatística descritiva. Foi
calculada a distribuição percentual das notificações em cada variável. O presente estudo buscou
verificar em quais condições foram notificados maiores números de internações por fraturas de
fêmur em idosos na faixa etária em questão.
A fim de compreender e interpretar os dados obtidos, foi realizada pesquisa
bibliográfica no portal PubMed e na base de dados SciELO de 2016 a 2021, por meio dos
descritores em saúde (DeCS) relacionados pelo operador booleano “AND”: (Fraturas femorais)
AND (Idosos) e seus respectivos correspondentes em na língua inglesa, (Femoral fractures)
AND (Aged). Foram selecionados 24 artigos de acesso aberto em português, inglês e espanhol
que abordavam os aspectos investigados.
Os dados armazenados pelo DATASUS estão disponíveis para acesso público, assim
sendo, esta pesquisa não necessitou de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS
No período analisado, foi notificado pelo SIH/SUS o total de 222 internações por fratura
do fêmur em idosos pertencentes à faixa etária de 80 anos ou mais, em ambos os sexos, no
município de Botucatu-SP (Tabela 1).
Deste total, o ano de 2019 apresentou o maior número de internações, com 50 (22,52%),
seguido do ano de 2020, com 46 (20,72). O ano de 2016 obteve o menor número de internações,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

com 17 (7,66%) (Tabela 1, Figura 1).

Tabela 1. Internações por fratura de fêmur em idosos com 80 anos ou mais por ano de atendimento no município
de Botucatu-SP entre out/2016 e out/2021.
Variável N %

Ano de atendimento

2016 17 7.66

2017 40 18

2018 43 19.37

2019 50 22.52

2020 46 20.72

2021 26 11.71

Total 222 -

Fonte: Adaptado do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2021.

No tocante à variável cor/raça, observou-se que a cor/raça branca teve predomínio nas
internações por fratura de fêmur em relação às demais, com 205 (92,34%) do total de
notificações. A segunda maior foi a parda, representando 4,95% das internações. Por fim, a
cor/raça amarela foi aquela com menor número de atendimentos no período, com 0,45%,
seguida da preta, 0,9% (Tabela 2, Figura 2).

Tabela 2. Internações por fratura de fêmur em idosos com 80 anos ou mais por cor/raça no município
de Botucatu-SP entre out/2016 e out/2021.
Variável N %

Cor/raça

Branca 205 92.34

Preta 3 1.35

Parda 11 4.95

Amarela 1 0.45

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Sem informação 2 0.9

Total 222 -

Fonte: Adaptado do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2021.

Além disso, através da análise quantitativa dos dados obtidos, pode-se observar que as
internações em decorrência de fratura de fêmur na população acima de 80 anos ou mais foi
maior no sexo feminino, com 81,08%, contra 18.92% do sexo masculino (Tabela 3).

Tabela 3. Internações por fratura de fêmur em idosos com 80 anos ou mais por sexo no município de Botucatu-
SP entre out/2016 e out/2021.
Variável N %

Sexo

Masculino 42 18.92

Feminino 180 81.08

Total 222 -

Fonte: Adaptado do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2021.

Nesse ínterim, constatou-se que, de outubro de 2016 a dezembro de 2019, o número de


atendimentos sofreu constante crescimento em munícipes do sexo feminino, posteriormente,
decrescimento em 2020. Em relação ao sexo masculino, entretanto, as internações mantiveram-
se relativamente baixas, com maior número no ano de 2020 (Figura 3).

Figura 1. Internações por fratura de fêmur em idosos com 80 anos ou mais por ano de atendimento no município
de Botucatu-SP entre out/2016 e out/2021.

Página 269
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: ALVES, S.C. F. et al, 2021.

Figura 2. Internações por fratura de fêmur em idosos com 80 anos ou mais por cor/raça e ano de atendimento no
município de Botucatu-SP entre out/2016 e out/2021.

Fonte: ALVES, S.C. F. et al, 2021.

Figura 3. Internações por fratura de fêmur em idosos com 80 anos ou mais por sexo e ano de atendimento no
município de Botucatu-SP entre out/2016 e out/2021.

Página 270
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: ALVES, S.C. F. et al, 2021.

DISCUSSÃO
De acordo com os dados obtidos, é notável que houve um aumento progressivo no
número de internações por fratura de fêmur entre 2016 e 2019. Entretanto, observou-se uma
redução nos anos de 2020 e 2021. Tal declínio deveu-se, possivelmente, ao distanciamento
social devido à pandemia de COVID-19, uma vez que a população idosa diminuiu seu acesso
aos serviços de saúde, procurando-o apenas em situações de alta gravidade e complexidade
(SILVA et al., 2020).
Essa diminuição é controversa ao que sugere a literatura, pois, dentre as repercussões
do isolamento social, a diminuição das atividades pode levar a um processo de atrofia muscular
por desuso e/ou redução de mobilidade das articulações, ocasionando quedas, sendo este um
dos principais fatores de risco para fraturas (SOUZA et al., 2020). Além disso, há também
menor exposição solar, fator diretamente associado à diminuição da síntese de vitamina D, que
está envolvida no metabolismo do cálcio ósseo (SILVA et. al., 2020).
Ao mesmo tempo que o cenário pandêmico de COVID-19 exigiu isolamento, é de suma
importância compreender a diferença entre distanciamento social e solidão. A solidão aparece
devido a emoções, tais como a tristeza, que é o sentimento que mais favorece seu aparecimento.
Independente do idoso residir sozinho ou acompanhado, se houver alguma desordem psíquica,
episódios depressivos podem ser desencadeados. Entretanto, estudos recentes apontam que os
idosos estão sendo melhor observados pelos familiares e cuidadores no contexto da pandemia
de COVID-19, de maneira que seus cuidados estão sendo realizados com mais qualidade
(ROMERO et al., 2020).
No que se refere à variável sexo, os resultados do presente estudo demonstraram que o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

sexo feminino é o detentor expressivo do número de internações decorrentes de fratura de fêmur


na população com 80 anos ou mais, correspondendo a 81,08% do total.
Este fato se mostrou compatível com o encontrado na literatura no Brasil, como aponta
um estudo realizado no país entre os anos de 2008 a 2018, que evidenciou uma prevalência da
fratura de fêmur nas mulheres de 68,05%, maior em relação aos homens (VASCONCELOS et
al., 2020).
Ademais, este resultado é pertinente com o encontrado em estudos de outros lugares do
mundo. Um estudo realizado na França em 2016 relatou um predomínio na prevalência deste
tipo de fratura no sexo feminino de 56,9% (BOUYER et al., 2020). Outro estudo realizado no
Norte da Dinamarca de 2005 a 2010 também mostrou esse predomínio feminino, que
correspondeu a 66,6% das fraturas distais de fêmur (ELSOE, CECCOTTI e LARSEN, 2017).
Dessa forma, tal desigualdade deve-se ao fato da incidência da osteopenia e osteoporose
serem maiores na população idosa feminina, explicado principalmente pela cessação da
produção de estrogênio ovariano após a menopausa, hormônio o qual está diretamente
relacionado ao processo de remodelamento ósseo (LI e WANG, 2018; (OLIVEIRA e BORBA,
2017).
Por este motivo, recomenda-se o rastreamento de mulheres com osteoporose a partir dos
65 anos, a fim de evitar possíveis desfechos desfavoráveis, como a fratura em questão
(JOHNSTON e DAGAR, 2020).
Também, deve-se destacar que, no Censo Demográfico de 2010, a população de idosas
com 80 anos ou mais superava a de idosos, dado que pode estar relacionado ao maior número
de internações por fratura de fêmur no sexo feminino (IBGE, 2010).
Em relação à cor/raça, o número de internações foi maior em idosos brancos, seguida
da população parda. Esta informação, associada à variável sexo, explica-se pela maior
prevalência de osteoporose em idosas brancas. Em outras palavras, um terço desta população
possui osteoporose, enquanto 30% desta sofre pelo menos uma queda anualmente (SOARES,
et al, 2015).
Por outro lado, os resultados encontrados podem estar relacionados à estrutura
sociodemográfica de Botucatu-SP; a população branca de 80 anos ou mais residente no
município, no Censo Demográfico de 2010, predominava em relação às demais cores/raças,
enquanto a parda representava a segunda maior população (IBGE, 2010).
É importante ressaltar que, apesar da fragilidade óssea por osteoporose pós menopausa
ser maior em mulheres brancas, um estudo acerca das disparidades raciais nesse tipo de fratura
apontou que o prognóstico após o evento traumático é pior em mulheres negras (WRIGHT et

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

al, 2020).

CONCLUSÃO
Pode-se concluir, de acordo com o presente estudo, que idosos do sexo feminino e de
cor/raça branca, estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de osteoporose, e
consequentemente, fratura de fêmur. Avaliou-se, também, um aumento progressivo no número
de internações por fratura de fêmur nos últimos anos entre a população idosa de 80 anos ou
mais residente no município de Botucatu-SP. Entretanto, este padrão tem se alterado desde
2020, onde verificou-se diminuição de internações, fato que pode estar diretamente relacionado
ao isolamento social dos idosos devido a pandemia do COVID-19. Ainda, com o emergente
envelhecimento populacional no Brasil, são de extrema importância medidas preventivas para
evitar que o número de casos venha a crescer, tais quais estimular a prática de atividade física,
a alimentação rica em cálcio e vitamina D e aumentar a exposição ao sol. Essas deverão ser
orientadas individualmente aos pacientes, como também disseminadas na forma de ações de
educação em saúde direcionadas à população idosa pelos profissionais da saúde e gestores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 24

PROMOÇÃO DA SAÚDE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ACADÊMICA

Camila De Souza Gomes, Valquíria Fernandes Marques

RESUMO: As escolas são ambientes chave para o desenvolvimento de


ações de promoção de saúde que visem a construção de novos hábitos
de vida, uma vez que muitos dos comportamentos desenvolvidos na
infância, continuam até a idade adulta. Neste período, a educação
escolar torna-se uma das protagonistas da formação de bons
costumes, ademais os cuidados com a saúde (TIDWELL, et al. 2020).
Neste sentido, o objetivo desse estudo foi relatar a experiência de
acadêmicos de enfermagem quanto a realização de intervenções
educativas sobre Dengue e Lavagem das Mãos em parceria com uma
Escola Municipal de Educação Infantil de Belo Horizonte, Minas Gerais.
As duas intervenções educativas foram realizadas em momentos
distintos, sendo divididas em três etapas. A saber: Etapa I: Observação
in loco; Etapa II: Implementação das atividades; Etapa III: Reflexões e
avaliações. A dinâmica promoveu interatividade entre os acadêmicos e
as crianças, além de estimular o raciocínio e facilitar o entendimento.
Como resultado as crianças demostraram grande compreensão sobre
a dengue e observou-se uma mudança coletiva na rotina diária de
lavagem das mãos das crianças extensivo aos professores.
Concomitante aos resultados, foram promovidas dinâmicas e novas
atividades educativas com o intuito de fortalecer a mudança de hábitos.
Conclui-se que as intevenções realizadas atinginram seus objetivos
expecíficos e complementaram o desenvolvimento profissional dos
acadêmicos de enfermagem envolvidos, através da exploração da
criatividade, e do uso de habilidades gerências como organização e
planejamento.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Na infância, é comum o desenvolvimento uma personalidade ativa, curiosa e


exploratória. Essas características são muito importantes para o desenvolvimento da criança,
proporcionando um grande conhecimento e familiaridade com o ambiente, porém, se os devidos
cuidados não forem tomados, ficam muito suscetíveis a infecções por microrganismos e
também a disseminação dos mesmos.

Segundo Lablem e Jesus (2019), durante seus primeiros cinco anos de vida, a criança
deve ser estimulada com jogos e brincadeiras incessantes, pois é uma faixa etária muito
importante na formação humana. Quanto mais estimulada, pode-se diminuir as dificuldades,
cognitivas, sociais, emocionais e afetivas da criança, além de melhorar sua qualidade de vida e
de aprendizagem.

A criança é considerada um indivíduo em desenvolvimento, que frequentemente está


interagindo com o ambiente ao seu redor e consequentemente com os organismos ali presentes,
expondo-se à situações de risco de infecção (VIEIRA, et al., 2018). Por isso, é comum o
surgimento de problemas de saúde que refletem o contexto de vida da criança. Assim, confirma-
se a necessidade da prática de ações educativas, sob a perspectiva do processo saúde/doença,
principalmente em escolas, o cuidar de si e dos outros, reconhecendo a realidade social do
coletivo, respeitando o meio ambiente, construindo conhecimento, valores e experiência social
entre as crianças (TIDWELL, et al., 2020).

Para que sejam estabelecidas estratégias assertivas de educação em saúde deve-se


estabelecer suas prioridades, levando em consideração o contexto onde a escola está inserida,
visando estabelecer ações condizentes com a realidade do ambiente e que visem evitar o
aparecimento de problemáticas de saúde. Nessa ótica, foi definido como prioridade a
concientização sobre as medidas de combate à dengue e a importância de lavagem das mãos na
prevenção e disseminação de infecções e agravos.

A dengue é um vírus transmitido para humanos por meio da picada da fêmea do


mosquito Aedes egypti. O artrópode é o principal vetor da dengue urbana e tem hábitos diurnos,
podendo se reproduzir em ambientes artificiais (OPAS, 2019). Os sinais de alerta aparecem
entre 3 -7 dias após os primeiros sintomas juntamente com temperatura corporal abaixo de 38º
C e incluem: intensa dor abdominal, sangramento na gengiva, vômito persistente com ou sem
sangue, fadiga, respiração rápida e inquietação (OPAS, 2019).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Ao que tange a lavagem das mãos, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), o hábito é a medida individual mais simples e menos dispendiosa para
prevenir a propagação das infecções. Normalmente, a limpeza com sabonete líquido remove a
microbiota transitória, limpa as mãos e é suficiente para se manter contatos sociais em geral.

Investir e propiciar melhoria dos hábitos de higiene, principalmente, na idade escolar, é


uma estratégia eficiente no controle de doenças infectocontagiosas e a a ausência de sabão
próximo às torneiras de casa demonstrou associação significativa com a ocorrência de diarreia
em crianças (JOVENTINO et al., 2019).

Assim, o objetivo desse estudo foi relatar a experiência de acadêmicos de Enfermagem


quanto a realização de intervenções educativas sobre Dengue e Lavagem das Mãos em parceria
com uma Escola Municipal de Educação Infantil de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Visando estimular a troca de informação das crianças com aqueles fora da escola,
realizou-se duas ações educativas com foco na prevenção da dengue e também sobre a
importância da lavagem das mãos. Estas foram feitas de forma lúdica e divertida, para que as
crianças se interessassem pelo conteúdo e tivessem vontade de compartilhar o aprendizado.

METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência vivenciada por acadêmicos de enfermagem quanto


a realização de intervenções educativas sobre Dengue e Lavagem das Mãos em parceria com
uma Escola Municipal de Educação Infantil de Belo Horizonte, Minas Gerais.

As duas intervenções educativas foram realizadas em momentos distintos, sendo


divididas em três etapas. A saber: Etapa I: Observação in loco; Etapa II: Implementação das
atividades; Etapa III: Reflexões e avaliações .

a) Intervenção educativa “Combate contra a dengue”

A intervenção teve como objetivo conscientizar as crianças sobre os sinais e sintomas


da dengue e quais as medidas tomadas para prevenir a disseminação da doença. Para tal, foram
desenvolvidos pelos próprios acadêmicos de enfermagem, recursos que auxiliassem no
processo, sendo eles: História para ser discutida em roda de conversa; Fantoches feitos de papel
e palito de picolé, Apresentação de teatro, contendo história e cenário.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A primeira intervenção teve como ponto central a educação e prevenção da dengue.


Inicialmente foi possível a familiarização com os aspectos estruturais da escola e o nível de
conhecimento individual dos alunos acerca do assunto proposto, auxiliando no
desenvolvimento das demais etapas. A seguir, foi contada uma história fantasiosa para as
crianças e fez-se uma roda de conversa, com o objetivo de complementar o conteúdo
apresentado com o conhecimento prévio das crianças. Por fim, a última interveção sobre o tema
foi executada através de um teatro encenado pelos acadêmicos de enfermagem, que visava
reforçar a doença e os meios de transmissão, por pedido das crianças, a apresentação foi
realizada duas vezes.

1ª atividade: História em roda de conversa

A primeira atividade, contou com um teatro, seguido de roda de conversa e jogo


interativo. A história contada , abordava o cotidiano de um menino, que ao brincar próximo à
um foco de dengue acabou contraindo a infecção e apresentou sintomas de adoencimeto. O
conto foi ilustrado através de figuras dos personagens impressas em papel e coladas em palitos
de picolé, e teve como objetivo introduzir o assunto e falar sobre os sinais e sintomas clássicos
da doença.

Após a roda de conversa, foi realizada uma dinâmica que visava reforçar as informações
discutidas. Cada criança recebeu três imagens coladas em palitos de picolé, sendo elas: um
desenho do mosquito Aedes egypti, um desenho de uma criança apresentando febre e manchas
avermelhadas no corpo, um desenho de um pneu e uma garrafa de plástico. A dinâmica consistia
em um acadêmico de enfermagem fazer uma pergunta referente ao tema e as crianças
responderiam levantando a imagem que estivesse de acordo.

2ª atividade: Teatro

A última intervenção com foco na dengue foi realizada na presença de toda a escola,
incluindo os discentes, através de um teatro encenado pelos próprios acadêmicos de
enfermagem. A apresentação deve como objetivo relembrar as informações discutidas
previamente com os alunos de maneira divertida e educativa.

A história contada por um narrador, relata o caso de um mosquito Aedes egypti que
encontra o local ideal para sua proliferação e infecta uma criança que estava brincando na
região. A menina aparenta doente alguns dias depois e é levada ao hospital pela mãe. Após o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

diagnóstico de dengue é encenada uma ação dos agentes comunitários de saúde contra o
mosquito, que fica enraivecido e é derrotado.

b) Intervenção educativa “Vamos lavar as mãos”

A intervenção teve como objetivo ensinar as crianças sobre o papel das mãos na
disseminação de doenças e agravos, conscietizar sobre as medidas preventivas, bem como
demostrar a forma correta de lavagem das mãos.

Na primeira etapa, foram observados os hábitos diários dos alunos com relação a
lavagem das mãos e aspectos estruturais da escola, como por exemplo, se os alunos tinham fácil
acesso ao sabonete no banheiro. Na etapa seguinte, o tema foi abordado em sala, mediante a
diálogo e discussões, afim de reconhecer o nível de entendimento dos alunos. Neste momento
notou-se uma escassez de conhecimento a respeito do assunto, o que auxiliou no planejamento
da intervenção. A etapa final foi executada a partir da realização de atividades práticas, onde
foram utilizados métodos que proporcionaram forte adesão e participação dos alunos, como
tintas coloridas e glitter.

1ª atividade: Aprendendo sobre a mão

Na primeira intervenção abordando o tema, foi realizada uma discussão a respeito das
várias utilidades das mãos a importância de uma higienização correta. Para realização da
dinâmica, utilizou-se de um desenho de duas mãos, impresso em papel A4 e tinta guache
vermelha.

A atividade consistia em aprender o nome dos dedos da mão e em seguida carimba-los


com tinta no local correspondente no desenho. Após o carimbo dos dedos, foi feito o mesmo
com toda a mão. O intuito era discutir com as crianças se seria ideal progredir com suas
atividades normais e interações com os colegas mantendo as mãos sujas. Ao final da atividade,
os alunos foram conduzidos aos banheiros e aprenderam a lavagem das mãos com a supervisão
de um acadêmico de enfermagem.

Para ensinar aos alunos o passo a passo correto da lavagem das mãos, utilizou-se como
base o método de lavagem simples das mãos promovido pela Anvisa, que consiste em: (1)Abrir
a torneira e molhar as mãos, evitando encostar-se a pia.; (2) Aplicar na palma da mão quantidade
suficiente de sabonete líquido para cobrir todas as superfícies das mãos; (3) Ensaboar as palmas

Página 279
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

das mãos, friccionando-as entre si; (4) Esfregar a palma da mão direita contra o dorso da mão
esquerda entrelaçando os dedos e vice-versa; (5) Entrelaçar os dedos e friccionar os espaços
interdigitais; (6) Esfregar o dorso dos dedos de uma mão com a palma da mão oposta, segurando
os dedos, com movimento de vai-e-vem e vice-versa (7) Esfregar o polegar direito, com o
auxílio da palma da mão esquerda, utilizando-se movimento circular e vice-versa; (8) Friccionar
as polpas digitais e unhas da mão esquerda contra a palma da mão direita, fechada em concha,
fazendo movimento circular e vice-versa; (9) Esfregar o punho esquerdo, com o auxílio da
palma da mão direita, utilizando movimento circular e vice-versa; (10) Enxaguar as mãos,
retirando os resíduos de sabonete.

2ª atividade: Aprendendo sobre os microrganismos

Para Lablem e Jesus (2019), com os jogos e brincadeiras as crianças conseguem criar
identidade e desenvolver sua autonomia, o raciocínio logico e a linguagem. Visando estimular
este raciocínio, a segunda intervenção teve como objetivo ensinar ás crianças sobre a microbiota
transitória das mãos. Essa, se instala na camada superficial da pele e pode sobreviver por um
certo tempo, podendo ser removida por simples lavagem das mãos e fricção mecânica com água
e sabão (ANVISA, 2007).

Para a dinâmica, foi utilizado glitter e objetos comuns de fácil manuseio, como caixinha
de fósforo, revestidos por uma cartolina colorida. A atividade consistia em sujar as mãos dos
alunos com o glitter e relacionar o resultado obtido com os microrganismos presentes na pele,
educando-os sobre os possíveis patógenos presentes nas mãos e que não são visíveis a olho nu.

Em seguida, foi pedido que as crianças tocassem os objetos com a cartolina dispostos
em suas mesas. O resultado foi a transferência parcial do glitter presente nas mãos para a
cartolina dos objetos. Desta forma, criou-se uma analogia entre o glitter e o comportamento
normal da microbiota transitória da pele.

Por fim foi discutido com as crianças como possíveis doenças podem ser transmitidas
por esse meio e a importância de lavar as mãos frequentemente. Os alunos foram encaminhados
aos banheiros, e com a supervisão de um acadêmico, realizaram novamente o método de
lavagem das mãos ensinado na intervenção anterior, afim de avaliar e reforçar o hábito.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Página 280
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Antes de ocorrer as ações educativas, foi realizado uma observação in loco da rotina das
crianças dentro da escola, afim de compreender a estrutura e o funcionamento da instituição e
propor uma intervenção de acordo com as necessidades apresentadas. Após o momento
diagnóstico, foi possível identificar os temas mais pertinentes para serem abordados, bem como,
a seleção das metodologias de ensino, materiais didáticos e estratégias de ensino aprendizagem.

Durante o período de observação, foi possível notar que as crianças são muito
comunicativas e tendem a contar muito sobre suas vidas fora do ambiente escolar para os
amigos e professores. Além disso, notou-se o que é mencionado por Lablem e Jesus (2019),
“quando a criança entra nessa fase ela quer sempre estar imitando alguém, sempre fazendo as
mesmas brincadeiras, gestos ou imitando a fala. ”

a) Intervenção educativa “Combate contra a dengue”

Nas intervenções sobre a dengue, notou-se grande adesão da turma às atividades,


evidenciada pela colaboração e participação ativa de todos os alunos presentes. Durante o teatro
e a roda de conversa as crianças tiveram a oportunidade de falar sobre seus conhecimentos sobre
o tema e discutir a história apresentada. Foi possível notar um grande entendimento prévio do
assunto, elas compreendiam os sinais e sintomas, meio de transmissão e sabiam o nome do
mosquito transmissor.

b) Intervenção educativa “Vamos lavar as mãos”

A falta de lavagem das mãos foi notada rapidamente durante a observação, uma vez que
as crianças não possuíam esse costume quando saiam do banheiro ou antes das refeições. No
banheiro, o sabão líquido não era acessível para os alunos, devido à altura em que se encontrava,
algo que comprometia o desenvolvimento de um hábito de higienização adequada.

Como resultado das intervenções sobre o tema, as crianças demostraram uma mudança
coletiva na rotina diária de lavagem das mãos, extensivo aos professores, observado durante o
período de avaliação dos resultados das intervenções. A escola também disponibilizou
dispensers de sabonete líquido em altura acessível para os alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da realização das ações educativas, foi possível observar abaixa adesão a
educação em saúde nas escolas, e relacionar, através de dados advindos de organizações de

Página 281
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Saúde, a transmissão de doenças infecciosas e a falta de uma higiene das mãos adequada. Dessa
forma, evidencia-se a importância da educação em saúde nas escolas, do estimulo ao
autocuidado dos alunos a fim de promover bons hábitos de saúde.

Para Lablem e Jesus (2019), o professor bem informado sabe como lidar com as
situações dentro da sala, fazendo com que o aluno entenda as ações educativas e sua
individualidade, o que torna a responsabilidade do professor de influenciar a criança muito
grande e necessária. Assim, torna-se claro que a escola e a educação familiar são pilares para o
desenvolvimento de bons hábitos e propagação de conhecimento relacionado à saúde individual
e coletiva.

Conclui-se que as intevenções realizadas atinginram seus objetivos expecíficos e


complementaram o desenvolvimento profissional dos acadêmicos de enfermagem envolvidos,
através da exploração da criatividade, e do uso de habilidades gerências, como organização e
planejamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANVISA. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Segurança do Paciente em Serviços de


Saúde: Higienização das Mãos. Brasília, 2009.

JOVENTINO, E. S.; OLIVEIRA, B. S. B.; OLIVEIRA, R. K. L.; et al. Influência de condições


socioeconômicas e de saúde em crianças na ocorrência de diarreia infantil. Revista de
Enfermagem e Atenção à Saúde, v. 8, n. 1, 2019. Disponível em:
http://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/enfer/article/view/3139. Acesso em:
27 maio 2021.

LAMBLEM, S. G. dos S.; JESUS, A. de. A importância do jogo no processo de


aprendizagem na educação infantil. Revista Gestão Universitária. Disponível em:
http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/a-importancia-do-jogo-no-processo-de-
aprendizagem-na-educacao-infantil. Acesso em: 27 maio 2021.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes Nacionais para a Prevenção e Controle de


Epidemias de Dengue. Brasília, 2009. 162

OPAS/OMS Brasil. 15 de Outubro: Dia Mundial da Lavagem das Mãos. Pan American
Health Organization / World Health Organization. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=1567:15-de-
outubro-dia-mundial-da-lavagem-das-maos-2&Itemid=839. Acesso em: 14 nov. 2020.

OPAS/OMS Brasil. Folha Informativa- Dengue e dengue grave. Pan American Health
Organization / World Health Organization. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5963:folha-

Página 282
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

informativa-dengue-e-dengue-
grave&Itemid=812#:~:text=O%20ano%20de%202016%20foi,mortes%20por%20dengue%20
na%20regi%C3%A3o. Acesso em: 02 dez. 2020

UNICEF. Soap, toilets and taps; a Foundation for Health Children-How UNICEF
Supports Water, Sanitation and Hygiene. 2009.

TIDWELL, J. B.; Gopalakrishnan A.; Unni A. et al. Impact of a teacher-led school


handwashing program on children’s handwashing with soap at school and home in Bihar,
India. PLOS ONE, v. 15, n. 2, p. e0229655, 2020. Disponível em:
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0229655. Acesso em 27 mai.
2021

VIEIRA, M.; VANIN, A. C.; SOUZA, D.; et al. INFÂNCIA SAUDÁVEL: Educação em Saúde
nas Escolas. Expressa Extensão, v. 22, n. 1, p. 138, 2017. Disponível em:
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/expressaextensao/article/view/10808#:~:text=O
%20conceito%20de%20educa%C3%A7%C3%A3o%20em,a%20escolares%20da%20educa%
C3%A7%C3%A3o%20infantil. Acesso em: 27 mai. 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 25

VIOLÊNCIA CONTRA OS PROFISSIONAIS DE


ENFERMAGEM - ABORDAGEM CENCIOMÉTRICA

Leandro Felipe Antunes da Silva, Sárvia Maria Santos Rocha Silva, Joice
Fernanda Costa Quadros, Flabiane Carvalho Cordeiro, Ana Paula de Oliveira
Nascimento, Bruno de Pinho Amaral, Nadine Antunes Teixeira, Ana Maria
Alencar, Júlia de Oliveira e Silva, Andreia Correia, Tatiane Pereira Horta,
Bruna Lira Santos Ribeiro, Karla Talita Santos Silva, Joana Carolina Rodrigues
dos Santos Schramm e Jaqueline D`Paula Ribeiro Vieira Torres

RESUMO: Objetivo: Verificar o nível do conhecimento e sistematização da


produção científica acerca da violência sofrida pelos profissionais de
enfermagem. Método: Estudo cienciométrico realizado em bases de dados
secundários com uso dos descritores violência, profissionais de enfermagem
e equipe de enfermagem, foram avaliados todos os artigos nacionais e
internacionais publicados sobre violência contra profissionais de
enfermagem, sendo critério para amostragem final, os critérios de
elegibilidade para seleção dos artigos foram artigos publicados sobre a
violência contra profissionais de enfermagem, compreendidos no corte
temporal dos últimos cinco anos, disponíveis na íntegra e nos idiomas inglês
e português, foram excluídos os artigos com temáticas diversas ao objeto de
estudo, foi elaborado um instrumento para extração das informações, a
seleção dos artigos foi realizada de forma independente pelos pesquisadores,
as divergências foram resolvidas com o uso do instrumento validado
elaborado, os artigos selecionados foram selecionados e classificados por
meio da análise dos títulos e resumo, os dados foram tabulados e organizados
em planilhas do programa Microsoft Excel 2010. Resultados: O destaque em
publicações foi para o biênio de 2016/2018, a maioria das pesquisas foram
publicadas em periódicos nacionais, tendo ênfase nos estratos qualis A2, a
região sudeste, o nível de evidências que obteve mais publicações foi o nível
4. Conclusão: houve avanço nas produções cientificas acerca do assunto, no
entanto é uma temática pouco discutida, dificultando assim a elaboração de
políticas públicas voltadas para prevenção e cuidado aos profissionais de
enfermagem que sofrem violência.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A violência em sua forma múltipla tem sua origem latina com a palavra Vis com
significado de força e se referência às noções de constrangimento ou de uso da superioridade
física sobre o próximo, no sentido material seu contexto aparenta-se neutro, ao analisar os
eventos de violência descobre-se que eles se representam como conflitos com teor de
superioridade e batalhas por poder, domínio de posse e extermínio de outros e de seus
pertences (PEDRO et al., 2017).
A violência nas relações e nos ambientes de trabalho faz parte da dinâmica da
violência social brasileira, constituindo, em suas mais diversas expressões, um problema que
ultrapassa as fronteiras do setor. A violência envolve diferentes classes sociais, homens e
mulheres, grupos étnicos e grupos de idade. Ela atinge, também, em grau de riscos peculiares,
as mais variadas ocupações, como lembra a Organização Mundial da Saúde (MINAYO;
SOUZA, 2005).
A violência contra os profissionais de enfermagem teve um crescimento
acentuado e já atinge todo o sistema de saúde brasileiro. Dados da Pesquisa Perfil da
Enfermagem no Brasil (Cofen/Fiocruz – 2015) mostram que, dos 1,8 milhão de profissionais
do país, 19,7% já sofreram violência no ambiente de trabalho, sendo: 66,5% violência
psicológica, 26,3% racial e 15,6% violência física. Os mais acometidos por essa violência são
os auxiliares e técnicos de enfermagem (COFEN, 2017).
As razões pelas quais a violência contra os trabalhadores de enfermagem acontece
foram diversas, mas todas estiveram relacionadas ao processo de trabalho, seja pela demora
na prestação de serviços, disputa de poder ou pela condição patológica dos pacientes
(SCARAMAL et al., 2017).
Cerca de 64,9% dos profissionais da Enfermagem que sofreram algum tipo de
agressão não fizeram nenhum tipo de denúncia justificando a falta de políticas de proteção às
vítimas, medo da perda do emprego e medo de represália (COREN, 2017).
Esse problema é identificado na prática, quando constata-se que os profissionais
estão expostos a risco de todos os tipos de violência no seu cotidiano além que, muitas vezes
o convívio com esse problema parece algo natural ou irrelevante. Porém, esses acontecimentos
podem trazer sérias consequências para o profissional na instituição, assim como para a
assistência aos pacientes (FERRANTE; SANTOS; VIEIRA, 2009). Assim, o objetivo do
estudo foi verificar o nível do conhecimento e sistematização da produção científica acerca
da violência sofrida pelos profissionais de enfermagem.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo cienciométrico. A utilização de técnicas cenciométricas pode
ajudar na avaliação de importância de um assunto, autor ou artigo e também enfatizar as
tendências de crescimento de um determinado estudo, avanços científicos e tecnológicos
(CARNEIRO et al., 2008).
O cenário do estudo foram as bases de dados secundários United States National
Library of Medicine (PubMed), acessada pelo site http://www.ncbi.nlm.nhi.gov/pubmed, e
também no Scientific Eletronic Library Online (SciELO), disponível na Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) pelo site http://www.bireme.br.
Foram avaliados todos os artigos nacionais e internacionais publicados sobre violência
contra profissionais de enfermagem, sendo critério para amostragem final. Os critérios de
elegibilidade para seleção dos artigos foram artigos publicados sobre a violência contra
profissionais de enfermagem, compreendidos no corte temporal dos últimos cinco anos,
disponíveis na íntegra e nos idiomas inglês e português. Foram excluídos os artigos com tema
central relacionado à epidemiologia de doenças, estudos de caso, pesquisas nas áreas das
ciências básicas, entre outros que não se enquadraram na temática.
Foi utilizado um instrumento elaborado pelos autores com as seguintes informações:
dados de identificação do artigo (título, autores, nome do periódico, ano de publicação,
volume e número), tipo de estudo, local de estudo, objetivo do estudo, eixo temático,
classificação Qualis/Capes, periódico de publicação, nível de evidência, desfechos, dentre
outros.
A seleção dos artigos foi realizada de forma independente pelos pesquisadores, as
divergências foram resolvidas com o uso do instrumento validado elaborado. Os artigos
identificados foram selecionados e classificados por meio da análise dos títulos e resumo.
Após a seleção final e extraídas as informações por meio do instrumento citado, que guiou na
elaboração das figuras e análise dos dados. Os dados foram tabulados e organizados em
planilhas do programa Microsoft Excel 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente encontrou-se 201 publicações científicas, sendo 30 na base de dados
PubMed e outras 171 na SciELO. Após a avaliação dos títulos e resumos foram excluídos os
artigos duplicados e aqueles que não atenderam aos critérios de inclusão, resultando em 26
artigos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A Figura 1 apresenta os artigos publicados nas bases de dados PubMed e SciELO. A


primeira análise dos artigos identificou aumento da produção científica a partir do ano de 2010,
nota-se que entre 2010 e 2012 houve um total de 5 publicações (19%), enquanto no biênio de
2013/2015 houve apenas 2(8%) produções relacionadas ao tema, o destaque em publicações foi
para o biênio de 2016/2018 nos quais houve maior número de publicações relacionadas à
violência sofrida pelos profissionais, totalizando 16 publicações (61%), até o presente momento
houve 3(12%) publicações no ano de 2019 relacionada ao tema.
A Figura 2 apresenta o resultado da classificação quanto ao qualis dos artigos analisados
que evidenciou que a maioria das pesquisas estão publicadas em periódicos nacionais, tendo
ênfase os estratos qualis A2 com um total de 12 (46%) publicações, seguido de Qualis B1 com
um total de 8 (31%) publicações, em terceiro aparece o Qualis B2 com 4 (15%) publicações e
em último lugar segue empatado entre o Qualis A1 e B4 cada um com um total de 1 (%) artigo
publicado.
A Figura 3 representa a classificação dos artigos quanto a região de origem das
pesquisas. Observa-se que a região Sudeste foi a que mais teve publicações relacionada ao tema
durante o período de estudo com um total de 11 publicações (42%), seguida da região Sul com
um total de 9 (35%) publicações, em terceiro aparece a região Centro- Oeste com 4 (15%)
publicações e em último lugar ficou a região Nordeste com apenas 1 (4%) publicação, vale
ressaltar que região Norte não teve nenhuma publicação. Em referência às publicações
originárias de outros países foi encontrada 1 (4%) publicação advinda de Portugal.
A Figura 4 traz a representação dos níveis de evidências, o nível mais abrangente é o
nível 4 com 16 (64%) publicações, o nível 1 aparece em seguida com 5 (20%) publicações,
nível 5 tem 3 (12%) publicações e nível 2 com apenas 1(4%) publicação.

Figura 1. Número de artigos publicados nas bases de dados PubMed, BVS e SciELO no período de 2010 a 2019
sobre a violência sofrida pelos profissionais de enfermagem.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

18

16

14
Número de artigos pubicados

12

10

0
2010-2012 2013-2015 2016-2018 2019-2020
Anos que foram publicados

Fonte: Autores, 2021.

Figura 2. Levantamento do estrato Qualis/Capes dos periódicos científicos com publicações no período de 2010
a 2019 sobre a violência sofrida pelos profissionais de enfermagem.

B4
Classificação Qualis-Caps

B2

B1

A2

A1

0 2 4 6 8 10 12 14
Número de artigos publicados

Fonte: Autores, 2021.

Figura 3. Número de artigos publicados no período de 2010 a 2019 sobre a violência sofrida pelos profissionais
de enfermagem, classificados quanto a região de origem das publicações.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

12
10
10 9
Número de publicações

6 5

2 1 1

0
SUL SUDESTE CENTRO NORDESTE ESTRANGEIRO
OESTE
Região das publicações

Fonte: Autores, 2021.

Figura 4. Número de artigos publicados no período de 2010 a 2019 sobre a violência sofrida pelos profissionais
de enfermagem, classificados quanto ao nível de evidências das publicações.
18

16

14
Número de artigos publicados

12

10

0
Nivel 01 Nivel 03 Nivel 04 Nivel 05
Nível de evidencias

Fonte: Autores, 2021.

Em sua origem e manifestações, a violência é um fenômeno sociohistórico e acompanha


toda a experiência da humanidade. Com isso, ela não corresponde a uma questão de Saúde
pública, mas essa questão se transforma em um problema de saúde pelo fato de afetar a saúde

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

individual e a coletiva, exigindo sua prevenção e tratamento e formulação de políticas


específicas e organizacionais (PEDRO et al., 2017).
A maior parte das dificuldades para conceituar a violência vem do fato dela ser um
fenômeno da ordem do vivido e cujas manifestações provocam ou são provocados por uma
forte carga emocional de quem a comete, de quem a sofre e de quem a presencia. Por isso, para
entender sua dinâmica na realidade brasileira é importante compreender a visão que a sociedade
projeta sobre o tema, recorrendo se à filosofia popular e ao ponto de vista erudito. Os eventos
violentos sempre passam pelo julgamento moral da sociedade (PEDRO et al., 2017).
A enorme responsabilidade de ajudar pessoas, ter cuidado pela vida dos pacientes muitas
vezes não é valorizada como função primordial de uma sociedade saudável, e muitas vezes
também, no sufoco do momento de uma doença, os familiares, acompanhantes, e o próprio
paciente, agride verbalmente, fisicamente, aquele profissional que está à frente do atendimento
(SCARAMAL et al., 2017).
A violência no trabalho pode ser relacionada a agressões verbais e físicas, mas também
as agressões psicológicas advindas da organização do trabalho, tais como: a falta de material, a
superlotação das unidades e a falta de recursos humanos que acarreta a sobrecarga laboral
(SILVEIRA et al., 2016).
Esse problema é identificado na prática, quando observa-se que os profissionais estão
expostos a risco de todos os tipos de violência no seu cotidiano, muitas vezes o convívio com
esse problema parece algo natural ou irrelevante. Porém, esses acontecimentos podem trazer
sérias consequências para o profissional, a instituição e para a assistência aos pacientes
(FERRANTE; SANTOS; VIEIRA, 2009).
A falta de denúncia pelos profissionais se relaciona por acreditarem ser algo sem
importância ou por medo de represálias, além de falta de tempo, em uma minoria que denuncia,
obtiveram sucesso, uma vez que muitos aceitam a prática de violência como algo normal, os
ataques acabam se multiplicando e se repetindo causando mais impactos para a vida dos
profissionais (SILVA; ROCHA; ASSIS, 2018).
Devem ser implementadas medidas visando a prevenção da violência contra os
profissionais de enfermagem tais como: capacitação dos trabalhadores para o enfrentamento de
situações críticas e prevenção de atos violentos, melhorar as condições de trabalho, instalações
de dispositivos de segurança, impedir a entrada de pessoas armadas no interior do serviços e
implementar programas de prevenção de violência com bases nas diretrizes da Organização
internacional do Trabalho e Organização Mundial de Saúde (CEZAR; MARZIALE, 2006).

Página 290
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CONCLUSÃO
A exploração acerca da temática mostra que o tema não é muito discutido, tanto que o
número de artigos coletados foi menor que o esperado, foi possível verificar que nos últimos
10 anos as produções científicas voltadas para o tema não foram satisfatórias, considerando
que a violência contra os profissionais de enfermagem teve um crescimento acentuado e já
atinge todo o sistema de saúde brasileiro.
Considerando, que a violência contra os profissionais de enfermagem é um tema pouco
discutido nas organizações, é importante divulgar mais sobre o assunto, e implementar ações
de segurança e proteção para os profissionais, proporcionando assim segurança para os
profissionais prestarem assistência de qualidade, sem receio de ser vítima de quaisquer tipos de
violência no trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARNEIRO, F.M.; NABOUT, J.C.; BINI, LM. Trends in the scientific literature on
phytoplankton. Limnology, v. 9, n. 2, p. 153-158, 2008..

CEZAR, E.L.; MARZIALE, M.HP. Problemas de violência ocupacional em um serviço de


urgência hospitalar da Cidade de Londrina, Paraná, Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 22, n.1, p.
217-221, 2006.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Disponível em:


http://www.cofen.gov.br/respeitonaveia-e-a-nova campanha-digital-do- cofen_52238.html .
Acesso em 14 abril. 2021.

COFEN/SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo). Perfil da Enfermagem em


São Paulo. Rev Enferm, v.11, n. 1, p.30-39, 2015.

FERRANTE, F.G.; SANTOS, M.A.; VIEIRA, E.M. Violência contra a mulher:


percepção dos médicos das unidades básicas de saúde da cidade de Ribeirão Preto, São
Paulo. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, v. 13, n. 31, p. 287-99, 2009.

MINAYO, M.C.S.; SOUZA, E.R. Impacto da violência na saúde dos brasileiros.


In: Série B. Textos Básicos de Saúde. Brasil. Ministério da Saúde, 2005.

PEDRO, D. et al. Violência ocupacional na equipe de enfermagem: análise à luz do


conhecimento produzido. Saúde debate, v. 41, n. 113, p. 618-629, 2017.

Página 291
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

ROCHA, M.A.S; SILVA, A.C.A,; ASSIS, M.A. A prática da violência voltada aos
profissionais da enfermagem. Revista Diálogos Interdisciplinares, v.7, n. 2, p. 100-108,
2018.

SCARAMAL, D.A et al. Occupational physical violence in urgency and emergency


hospital services: perceptions of nursing workers. Revista Mineira de Enfermagem, v. 21,
n.1, p. 1-8, 2017.

SILVEIRA, J et al. Violência no trabalho e medidas de autoproteção: concepção de uma equipe


de enfermagem. J Nurs Health, v. 6, n.3, p. 436-446, 2017.

Página 292
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 26

ANÁLISE DA POLÍTICA NACIONAL PARA A


POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM UMA
ABORDAGEM CIENCIOMÉTRICA

Ricardo Otávio Mais Gusmão, Bryan Rocha de Oliveira, Lívia Alves Lacerda,
Maria Esméria Neta, Fernando Lucas Freitas Rocha, Maria Clara Lélis Ramos
Cardoso, Juliana Andrade Pereira, Icaro Kelvin Botelho Dias, Larissa Cristiny
Mendes Viana, Letícia Gabryella Viana, Alcina Mendes Brito, Jessica Najara
Aguiar de Oliveira, Manuela Gomes Campos Borel, Cinara Ferreira Coutinho
e Álvaro Ataide Landulfo Teixeira

RESUMO: Objetivo: Verificar o nível do conhecimento e sistematização da


produção científica vinculada à Política Nacional de Saúde das Pessoas em
situação de rua após dez anos de sua implementação. Método: Estudo
cienciométrico realizado em bases de dados secundários tendo com descritor
de busca “Política Nacional de para População em Situação de Rua, os
critérios de elegibilidade para seleção dos artigos foram os artigos publicados
após a publicação da política compreendidos no corte temporal dos últimos
10 anos, disponíveis na íntegra e nos idiomas inglês e português, excluiu-se
os artigos com tema central relacionado à epidemiologia de doenças, estudos
de caso, pesquisas nas áreas das ciências básicas, entre outros que não se
enquadram nas temáticas da política, foi elaborado um instrumento que
guiou a extração dos dados e a elaboração das figuras, os dados foram
tabulados e organizados em planilhas do programa Microsoft Excel 2010.
Resultados: Houve predominância do tema saúde pública e saúde mental, em
relação a localidade das publicações Rio de Janeiro e São Paulo obtiveram os
maiores números, o qualis predominou entre os estratos B1 e A2,
respectivamente, os anos de 2016 a 2019 foram obtiveram os maiores
números de publicações, o nível 4 de evidências foi o que predominou.
Conclusão: O número de publicações acerca da temática se mostrou
insipiente, o que dificultaria a discussão e reflexão para cuidado a população
em situação de rua, além do enfrentamento desse grande problema social.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
Pessoas em situação de rua pertencem a um grupo populacional que faz uso dos
logradouros públicos como espaço de moradia e sustento de modo temporário ou permanente.
Tais pessoas são excluídas socialmente, não conseguem satisfazer as necessidades básicas, e
vivem na linha da indigência ou pobreza absoluta (MOTA; MARINHO; SILVEIRA, 2014).
Com o tempo, alguma fatalidade atingiu suas vidas, seja a perda do emprego, seja
o rompimento de algum laço afetivo, fazendo com que aos poucos fossem perdendo a visão do
projeto de vida, passando a fazer o uso da rua como sobrevivência e moradia. Essa realidade é
característica da atividade de exclusão social que existe no Brasil neste início de milênio
(SCHERVINSKI et al., 2017).
A pouca longevidade, fragilidade dos vínculos sociais, violências, preconceitos,
discriminações, falta de privacidade, carências de educação e de infraestrutura para os cuidados
corporais são fatores que colaboram ao aparecimento e agravamento de transtornos mentais a
população em situação de rua, o que colabora para que uma pessoa viva em situação de rua
(SANTANA, 2014).
A presença de pessoas em situação de rua é uma condição comum de muitas cidades
no território nacional e internacional. A capital paulista concentra a maior população em
situação de rua do Brasil. Em 2015 o último censo trouxe uma estimativa de 15.905 pessoas
que se encontram em situação de rua, sendo 7.335 sem abrigos e 8.670 em centros acolhedores
da capital (FIPE, 2015).
É frequente nas ruas das capitais ou de outras cidades brasileiras deparar com um
crescente número de pessoas que habitam ou que vivem delas, seja trabalhando, perambulando,
mendigando em percursos errantes, e também definidos por rotinas, locais e horários
determinados. Catadores de material reciclável, vendedores ambulantes, guardadores de carros,
profissionais do sexo, biscateiros, pessoas que “carregam a casa nas costas”, muitos homens e
mulheres são personagens cada vez mais ingressados a população em situação de rua no Brasil.
Perigosos, preguiçosos, coitados, sujos, manipuladores e vagabundos, são alguns dos
estereótipos e, produzem e reproduzem invisibilidade e opressão (NOBRE et al., 2018).
O massacre de um grupo de moradores de rua realizado por agentes policiais em
2004 trouxe visibilidade à marginalização e exclusão desta população na Praça da Sé, em São
Paulo, trouxe em cena a situação de homens, mulheres, crianças, adultos e idosos que vivem
em situação de rua, marcada por graves violações dos direitos humanos, com ênfase no direito
à vida baseado no alto índice de homicídios e execuções policiais e da sociedade contra essa
população. O acontecimento nessa praça colabora com a tese “onde há poder há resistência”.

Página 294
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O fato foi à alavanca ao causar comoção, revolta e indignação, para a criação do Movimento
Nacional da População de Rua (MNPR), que ao pressionar o estado por garantia de direitos
fundamentais, contribuiu a criação de uma política pública específica para a população em
situação de rua (NOBRE et al., 2018).
Em consequência da reivindicação do MNPR, essa problemática se tornou parte da
agenda do Governo Federal e em 2005, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS) e em diálogo com o MNPR e com setores da sociedade civil inicia a elaboração
de política pública específica para este segmento. Em 2009 foi instituída a Política Nacional
para População em Situação de Rua (PNPR), por meio do Decreto nº 7.053/2009 (NOBRE et
al., 2018). Assim, o objetivo desse estudo foi verificar o nível do conhecimento e
sistematização da produção científica vinculada à Política Nacional de Saúde das Pessoas em
situação de rua após dez anos de sua implementação.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo cienciométrico. A cienciometria realiza a análise dos campos
científicos, verificando as informações contidas nas publicações disponíveis nas bases de dados,
ou seja, verifica a quantidade de vezes que um assunto ou fenômeno se repete (OLIVEIRA;
GRACIO, 2011).
Permite entender melhor a extensão e a natureza das atividades de pesquisas
desenvolvidas nas áreas do conhecimento, de inúmeros países, instituições e pesquisadores.
Bem como mede a ampliação do conhecimento científico e o fluxo de informação sob diversas
perspectivas (CESAR, 1998).
O cenário do estudo foram as bases de dados secundários United States National
Library of Medicine (PubMed), e também no Scientific Eletronic Library Onlaine (Scielo),
disponível na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram avaliados todos os artigos nacionais
e internacionais publicados após a publicação da Política Nacional da População em Situação
de Rua (PNPSR) sendo critério para amostragem final.
Os critérios de elegibilidade para seleção foram os artigos publicados após a criação
da Política Nacional em Situação de Rua, compreendidos no corte temporal dos últimos 10
anos, disponíveis na íntegra e nos idiomas inglês e português. Como critérios de exclusão,
foram os artigos com tema central relacionados à epidemiologia de doenças, estudos de caso,
pesquisas nas áreas das ciências básicas, dentre outros que não se enquadravam as temáticas da
PNPSR.

Página 295
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Foi elaborado um instrumento com as seguintes informações: dados de


identificação do artigo (título, autores, nome do periódico, ano de publicação, volume e
número), tipo de estudo, local de estudo, objetivo do estudo, eixo temático, classificação
Qualis/Capes, periódico de publicação, nível de evidências, desfechos, dentre outros.
A seleção dos artigos foi realizada de forma independente pelos pesquisadores, as
divergências foram resolvidas com o uso do instrumento elaborado. Os artigos identificados
foram selecionados e classificados por meio da análise dos títulos e resumo. Após a seleção
final, foram extraídas as informações por meio do instrumento citado que guiou a elaboração
das figuras e análises dos dados. Os dados foram tabulados e organizados em planilhas do
programa Microsoft Excel 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na etapa inicial do processo de busca foram encontradas 52 publicações cientificas,
sendo 42 na Scielo e 10 na BVS. Após a avaliação dos títulos e resumos foram excluídos os
artigos duplicados e aqueles que não atenderam aos critérios de inclusão.
A primeira figura apresenta os temas mais abordados dentre os artigos selecionados. A
primeira análise da figura é possível observar que saúde pública e saúde mental foram
predominantes.
A segunda figura demonstra a quantidade de artigos publicados por localidades
específicas como estados e países nas bases de dados sobre a PNPSR, São Paulo e Rio de
Janeiro apresentam maior número de publicações.
Na terceira figura que representa a qualificação dos periódicos, o estrato mais comum
foi o B1 com 25 artigos, seguido do estrato A2 com 20 publicações.
A quarta figura apresenta a quantidade de artigos publicados nas bases de dados sobre
a PNPSR, os anos 2016 a 2019 obtiveram o maior número de publicações. A última figura
representa a quantidade de publicações relacionadas ao nível de evidências dos artigos.

Figura 1. Quantidade de artigos classificados por termas publicados nas bases de dados PubMed e SciELO no
período de 2009 a 2019 sobre a PNPSR.

Página 296
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CLASSIFICAÇÃO TEMÁTICA
14
12
QUANTIDADE
10
8
6
4
Série1
2
0

Fonte: Autores, 2021.

Figura 2. Quantidade de artigos publicados por localidades específicas como estados e outros países nas bases de
dados PubMed e SciELO no período de 2009 a 2019 sobre a PNPSR.

Local de Publicação

18
16
14
QUANTIDADE

12
10
8 Série1
6
4
2
0

LOCALIDADES
.
Fonte: Autores, 2021.

Figura 3. Quantidade de artigos classificados pelo QUALIS, publicados nas bases de dados PubMed e SciELO
no período de 2009 a 2019 sobre a PNPSR.

Página 297
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Classificação QUALIS
30

25
QUANTIDADE

20

15 Série1

10

0
A1 A2 B1 B2 B4 B5
QUALIS

Fonte: Autores, 2021.

Figura 4. Quantidade de artigos publicados nas bases de dados PubMed e SciELO no período de 2009 a 2019
sobre a PNPSR.

Ano de Publicação
14

12

10
QUANTIDADE

8
Série1
6

0
ANO ANO ANO ANO ANO ANO ANO ANO ANO ANO ANO
2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009

Fonte: Autores, 2021.

Página 298
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Figura 5. Níveis de evidencias dos artigos selecionados publicados nas bases de dados PubMed e SciELO no
período de 2009 a 2019 sobre a PNPSR.

Nivel de Evidências
25

20
Quantidade

15

10

0
N1 N2 N3 N4 N5 N6 N7
Niveis de evidências

Fonte: Autores, 2021.

Em 2008 foi publicado o resultado do I Censo e Pesquisa Nacional sobre a População


em Situação de Rua (PSR) nas capitais brasileiras, para orientar a elaboração da Política
Nacional para População em Situação de Rua (PNPR), em vigor pelo Decreto nº 7.053 de 23
de dezembro de 2009. O censo revelou a época que pelo menos 31.992 pessoas viviam em
situação de rua em todo o país. Sem dúvida um número expressivo de pessoas e que reunia
características variadas: majoritariamente masculina (82%), com menor número entre as
mulheres (18%), de cor parda (39,1%) e negra (27,9%); destacavam-se aqueles com idade entre
25 e 44 anos (53%); realizam trabalho informal (70,9%), com renda variando entre R$20,00 a
R$80,00 semanais, como: catador de materiais recicláveis (27,5%), flanelinha (14,1%),
construção civil (6,3%), limpeza (4,2%) e carregador/estivador (3,1%). Percebe-se, portanto,
um perfil que contrariava o rótulo de mendigos, vagabundos e desocupados, já que uma minoria
(15%) declarou pedir esmolas em espaços públicos como principal forma de sobrevivência
(BRASIL, 2008)
A implantação de estratégias de saúde deve dizer respeito a “esta” população, não
à higienização de sua condição com medidas corretivas ou compensatórias. O pressuposto é de
que uma prática de saúde não opera em discriminação, opera em inclusão da diversidade, seja
ela qual for; que a vida não é uma regra das ciências da saúde, é a invenção de tantas saúdes,
quantas forem necessárias à vazão do viver; que ofertas terapêuticas devem ser condizentes

Página 299
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

com os pedidos de mais vida provenientes de cada lugar onde a vida pede passagem
(LONDERO; CECCIN; BILIBIO, 2014).
Considerando que há um desvio significativo entre as propostas desta política e seus
resultados obtidos com os serviços socioassistenciais, na afirmativa que o processo pelo qual
os usuários destes serviços trocam a condição de “exclusão” para a de “inclusão” - uma vez que
agora são objeto de gestão e ação política que mobilizam inúmeros agentes sociais, pois se dá
pela elaboração de ferramentas para regular as ações desta população dentro e fora das
instituições (NOBRE et al., 2018).
Por fim, pode ser apontado nesse estudo, como limitação, o possível viés de seleção,
pois à busca foi realizada em duas bases de dados, além de que poderia ser possível nas sessões
título e resumo não constarem informações acerca da temática, o que inviabilizaria a seleção do
artigo para análise.

CONCLUSÃO
Conclui-se que o número de publicações acerca da temática se mostrou insipiente, o que
dificultaria a discussão e reflexão para cuidado a população em situação de rua e do
enfrentamento desse grande problema social.
O crescimento científico sobre a temática poderia contribuir para a manutenção e
melhoria da saúde da população em situação de rua, sensibilizando para um perceber diferente
do habitual, algo que justifica o termo população em situação de rua, que traduz condição atual,
não permanente, ou seja, passível de mudança pela sociedade civil e governantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Pesquisa nacional sobre a população em situação de rua. Brasília: Ministério da


Saúde, 2008.

CÉSAR, A.M.C. O papel da informetria e da cienciometria e sua perspectiva nacional e


internacional. Ciência da Informação, v. 27, n. 2, p. 134-140, 1998.

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS (FIPE). Censo dos moradores


de rua. São Paulo, 2015.

LONDERO, M.F.P.; CECCIM, R.B.; BILIBIO, L.F.S. Consultório de/na rua: desafio para um
cuidado em verso na saúde. Interface: Comunicação, saúde e educação, v. 18, n. 49, p. 251-
260, 2014.

Página 300
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

MOTA, A.; MARINHO, M.G.S.M.C.; SILVEIRA, C. Saúde e história de migrantes e


imigrantes. direitos, instituições e Circularidades. 1. ed. São Paulo: CD.G Casa de Soluções
e Editora, 2014, p. 175-198.

NOBRE, M.T. et al. Narrativas de modos de vida na rua: histórias e percursos. Psicologia &
Sociedade, v. 30, n.1, p. 1-10, 2018.

OLIVEIRA, E.F.T.; GRACIO, M.C.C. Indicadores bibliométricos em ciência da informação:


análise dos pesquisadores mais produtivos no tema estudos métricos na base Scopus.
Perspectivas em Ciência da Informação, v. 16, n. 4, p. 16-28, 2011.

SANTANA, C. Consultórios de rua ou na rua? Reflexões sobre políticas de abordagem à saúde


da população de rua. Cad. Saúde Pública, v. 30, n. 8, p. 1798-1800, 2014.

SCHERVINSKI, A.C. et al. Atenção à saúde da população em situação de rua. Revista


eletrônica de extensão. v. 14, n. 26, p. 55-64, 2017.

Página 301
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 27

REPERCUSSÕES DA PANDEMIA PELA COVID-19 EM


PACIENTES COM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS:
REVISÃO INTEGRATIVA

Lara Beatriz de Sousa Araújo, Ana Luísa Mendes Ribeiro, Ingrid Régia Maria Oliveira,
Lívia Karen Barbosa de Brito, Angélica Jesus Rodrigues Campos, Taynara Soriano
Sales, Viviane Cardoso Neves, Francisca Victória Vasconcelos Sousa, Maria Inês
Martins de Araújo, Yuri de Oliveira Nascimento, Monalisa Batatinha de Castro Silva,
Lucas Sousa Penha, Maria Gabriela Moreira Alves, Maria Aparecida Fernandes da Paz
e Vitória Vilas Boas da Silva Bomfim

RESUMO: Objetivo: Identificar através da literatura científica as principais


repercussões da pandemia pela Covid-19 nos pacientes com cardiopatias congênitas.
Método: Trata-se de uma revisão integrativa, realizada através das bases de dados
SciELO, LILACS, MEDLINE e BDENF, por meio dos descritores: “COVID-19”,
“Cardiopatias Congênitas” e “Diagnóstico”, combinadas pelo booleano AND. Como
critérios de inclusão, foram utilizados artigos gratuitos, disponíveis online, na íntegra,
nos idiomas de português, espanhol e inglês, entre os anos de 2020 e 2021. Como
critérios de exclusão, foram utilizados artigos que não contemplavam o tema ou o
objetivo proposto. Dessa forma, foram encontrados 37 estudos, dos quais 17 foram
selecionados. Resultados: No atual cenário pandêmico ocasionado pela Covid-19,
grupos de risco necessitam de maior atenção, como os pacientes com Doenças
Cardíacas Congênitas (DCC). Nessa perspectiva, a alteração nos procedimentos
cirúrgicos eletivos desse grupo populacional e os efeitos cardiovasculares das
terapias utilizadas contra a Covid-19 devem ser consideradas. Além disso, apesar
das poucas evidências, sabe-se que os indivíduos cardiopatas com idade mais
avançada estão em maior risco do que aqueles mais jovens. Diante do contexto,
evidencia-se que pacientes com comorbidades têm maior risco de adquirir Covid,
apresentando um desfecho clínico negativo. Sabendo que um dos órgãos cruciais
afetados pelo vírus é o coração, pessoas com defeitos cardíacos congênitos estão em
maior risco conforme aumento da idade, devido a mudanças fisiológicas ocorridas ao
longo da vida, tornando-as mais suscetíveis a possíveis complicações. Sob esse viés,
nota-se que a Covid-19 associada a pessoas cardiopatas, as tornam mais suscetíveis
a complicações. Conclusão: O impacto da Covid-19 em pacientes com cardiopatias
congênitas apresenta variações em grau de risco de suscetibilidade ao vírus em
relação aos pacientes adultos e aos mais jovens e também ao estado clínico dos
indivíduos. Ademais, ressalta-se a necessidade de novos estudos que visem detalhar
as implicações da Covid-19 neste grupo.

Página 302
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A nova infecção por coronavírus (conhecida como Covid-19), que iniciou no final de
dezembro e causou uma pandemia mundial, representa uma séria ameaça à saúde de toda a
população do planeta. Este novo microrganismo foi identificado como síndrome respiratória
aguda grave – SARS-CoV-2 (ATALAY et al., 2020). Segundo Lastinger (2020), essa doença
é caracterizada predominantemente pelo comprometimento respiratório e que, em alguns casos,
evoluem para síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), onde os sintomas típicos
são febre, dor de garganta, fadiga, tosse ou dispneia. Nesse viés, pacientes com doença
cardiovascular subjacente, diabetes mellitus, hipertensão e doença pulmonar crônica possuem
maior risco de desenvolvimento da forma grave da doença.
Sob essa perspectiva, medidas foram desenvolvidas para minimizar a transmissão do
vírus e reduzir a morbimortalidade relacionada à doença, incluindo proteção preferencial de
pacientes com condições médicas subjacentes (RUPERTI-EPILADO et al., 2020). Isso porque
a Covid-19 pode ser fatal, principalmente em pacientes idosos e com comorbidades. Nesse
contexto, a Doença Cardíaca Congênita (DCC) é o defeito congênito mais comum e global, mas
é necessário fazer uma distinção entre a população pediátrica e a população adulta, pois
enquanto a maioria dos pacientes teve intervenções cirúrgicas na infância, muitos sofrem de
problemas cardíacos residuais. Com uma expectativa de vida crescente entre eles, pacientes
adultos com doença cardíaca congênita são suscetíveis a doenças cardiovasculares adquiridas e
outras comorbidades (GIORDANO, CANTINOTII; 2020).
Segundo Giordano e Cantinotii (2020), quando um paciente com doença cardíaca
congênita é diagnosticado com Covid-19, o manejo da infecção é semelhante da população em
geral, porém, muitas terapias contra o novo coronavírus têm efeitos colaterais cardiovasculares
e isso deve ser levado em consideração ao serem aplicadas em pacientes com DCC. Dessa
forma, estratégias de diagnóstico, estratificação de risco, prevenção e gerenciamento devem ser
efetuadas para esses casos. No caso dessa parcela populacional, Ugurlucan et al (2020) aponta
que sociedades médicas de cardiologia, nacionais e internacionais, indicaram a necessidade de
postergar procedimentos cardiovasculares eletivos, com o objetivo de minimizar os riscos de
transmissão da doença durante a pandemia.
Nesse mesmo cenário, autoridades de saúde pública aconselharam fortemente o
distanciamento social, o auto-isolamento e a quarentena como medidas preventivas em todo o
mundo contra o SARS-CoV-2 (UGURLUCAN et al., 2020). Ugurlucan et al (2020) ressalta
que, embora seja ético postergar procedimentos eletivos que precisam ser decididos por uma
equipe, os procedimentos cardiovasculares em adultos e crianças devem ser considerados de

Página 303
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

forma individualizada por uma equipe cardíaca, uma vez que não apenas os próprios pacientes
estão em risco da Covid-19, mas também os membros da família correm risco substancial.
Nesse sentido, embora muitos grupos da sociedade possam fazer uma pausa durante este
período de crise de saúde pública, a doença cardíaca congênita requer cuidados contínuos,
especialmente entre os mais novos – recém-nascidos e bebês – os quais muitas vezes precisam
de cirurgia durante um período estreito de tempo para evitar a morte e fornecer resultados ideais
(GIORDANO, CANTINOTII; 2020). Mas na realidade, como indicou Ugurlucan et al (2020),
com a pandemia o número de UTIs e leitos de enfermaria ficou extremamente escasso, como
também ventiladores e outros equipamentos médicos, medicamentos, sangue e produtos
sanguíneos. Além disso, ocorreu uma evidente diminuição na quantidade de profissionais de
saúde em todo o mundo voltados para outras necessidades que não fossem aquelas destinadas
para o tratamento dos casos Covid-19-positivos.
Como ressaltado por Atalay et al (2020), com a pandemia da Covid-19, a infraestrutura
da saúde pública enfrenta desafios consideráveis. O planejamento do manejo da pandemia, o
desenvolvimento de políticas de prevenção de infecções e uma gestão eficiente e criativa para
o tratamento são componentes importantes desse processo dinâmico. Além disso, as
regulamentações das normas de uso de equipamentos de proteção individual, gestão de recursos
humanos e sanguíneos são outros desafios importantes. Nesse âmbito, é primordial avaliar o
impacto das medidas de saúde pública nas populações vulneráveis, como as crianças com DCC.
Os dados sobre os impactos colaterais na saúde são necessários para ajudar a informar os
gestores de políticas sobre os prós e os contras de tais medidas, conforme a epidemiologia
evolui (HEMPHILL et al., 2020).
Uma das dificuldades encontradas no período, foi o preparo de hemoderivados para as
cirurgias, tendo em vista que com as mudanças nos critérios de doação de sangue após o surto,
o número de doações diminuíram e, com isso, as quantidades de doações foram insuficientes
para atender às necessidades, repercutindo no adiamento das operações. Ademais, a equipe de
anestesia que lida com cirurgia cardíaca congênita foi designada para unidades de terapia
intensiva Covid-19, a fim de mitigar os impasses existentes naquele contexto (ATALAY et al,
2020). Como esclarecido por Ugurlucan et al (2020), os pacientes com DCC precisam de um
suporte adequado e devido ao atual status de pandemia desafiadora das instalações de saúde, os
processos hospitalares precisam ser ajustados com sabedoria.
Crianças com DCC sofrem significativamente com o comprometimento das atividades
médicas devido às restrições dos recursos, incluindo leitos, ventiladores ou prestadores de
cuidados de saúde disponíveis para esse grupo, uma vez que até mesmo cirurgiões cardíacos

Página 304
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

pediátricos são realocados para o enfrentamento da pandemia (UGURLUCAN et al., 2020).


Além desse aspecto, crianças com condições médicas subjacentes apresentam risco aumentado
para Covid-19, e aquelas com defeitos cardíacos congênitos apresentam maior risco de
desfechos cardiovasculares secundários em longo prazo. Nesse processo, o cirurgião, o
enfermeiro e os demais membros da equipe precisam encontrar um caminho de segurança que
possa continuar a assistência do cuidado (ATALAY et al., 2020). Diante dos aspectos
apresentados, o presente trabalho tem como objetivo avaliar as repercussões da pandemia pela
Covid-19 no diagnóstico e tratamento de cardiopatias congênitas.

METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de um estudo descritivo, do tipo revisão integrativa da
literatura, de caráter qualitativo. Foi seguida as seguintes etapas: definição do tema e elaboração
da questão de pesquisa; elaboração dos critérios de elegibilidade, inclusão e exclusão dos
estudos; definição dos descritores, busca na literatura e coleta de dados; análise crítica dos
estudos incluídos e discussão dos resultados; e apresentação da síntese de revisão.
Para direcionar a presente revisão delineou-se como questão norteadora: O que a
literatura aborda sobre as repercussões da pandemia pela Covid-19 em pacientes com
cardiopatias congênitas?
Para a construção deste trabalho, a busca dos artigos foi realizada na Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS), com o auxílio das bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Eletrônica Científica Online (SciELO), Base de
Dados de Enfermagem (BDENF) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(MEDLINE).
Os artigos foram coletados no período de junho a dezembro de 2021. Foram utilizados
os Descritores em Ciências da Saúde (DECs): “COVID-19”, “Cardiopatias Congênitas”,
“Diagnóstico” cruzados através do operador booleano “AND”.
Foram selecionados como critérios de inclusão os artigos publicados nas referidas bases
de dados nos últimos dois anos, de forma online e gratuita, nos idiomas português, inglês e
espanhol e que contemplassem o tema e o objetivo proposto para esta pesquisa.
Os critérios de exclusão estabelecidos foram os artigos duplicados, debates, resenhas,
editoriais, resumos ou artigos publicados em anais de eventos, indisponíveis na íntegra e de
acesso pago.
Ressalta-se que, quanto aos aspectos éticos, por se tratar de um estudo de revisão, não

Página 305
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

foi necessário o encaminhamento e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. No entanto,


foram respeitados os preceitos éticos e a garantia dos direitos autorais das obras utilizadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir, o fluxograma embasado no Preferred reporting items for systematic reviews
and meta-analyses (PRISMA) sintetiza a busca dos artigos que compuseram a amostra final da
revisão (Figura 1).

Figura 1: Fluxograma com o processo de seleção dos artigos que compuseram a síntese final.

Fonte: Dados coletados pelos autores (2021).

Na figura 1 observa-se que a partir da coleta de dados, localizaram-se 206 estudos, dos
quais 27 foram excluídos por duplicidade, restando 179 estudos. A seguir, foram selecionados
48 estudos após a leitura do título dos trabalhos. Em seguida, após analisados foram
contemplados 19 estudos. Ao final foram incluídos 17 estudos que se adequam ao objetivo
proposto pela pesquisa, sendo estes, incluídos na revisão.

Página 306
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Perfil do paciente cardiopata


Segundo Lastinger et al (2020), os pacientes adultos com doenças cardíacas congênitas
apresentam uma prevalência mais alta de doença cardiovascular adquirida, doença pulmonar
restritiva e outras comorbidades médicas gerais. Nesse sentido, apesar da Covid-19 ser uma
doença essencialmente pulmonar, pelo menos 15% dos pacientes enfrentam comorbidades
cardiovasculares, variando entre miocardite e trombose venosa (UGURLUCAN et al., 2020).
Os pacientes adultos com DCC constituem uma população relativamente jovem e,
devido a isso, pode ser esperado um curso mais brando no caso da Covid-19 quando comparado
com a população geral mais velha (RUPERTI-REPILADO et al., 2020). Nesse contexto, de
acordo com Ferrero et al (2020), para o subgrupo específico dos pacientes com cardiopatia
congênita, os fatores de risco gerais como excesso de peso, comorbidades extracardíacas e idade
podem afetar o desfecho da infecção por SARS-CoV-2.
Vale ressaltar ainda que os pacientes com doença arterial coronariana, por apresentarem
maior tolerância à dispneia e à dessaturação, podem ter sintomas mais tardios e mais graves da
síndrome respiratória em questão (FERRERO et al., 2020). Em crianças e recém-nascidos, por
sua vez, a cirurgia cardíaca prévia está relacionada à forma mais grave da doença, havendo a
necessidade de internação em unidade de terapia intensiva com ventilação mecânica e intubação
(GIORDANO, CANTINOTTI; 2020).

Fisiopatologia da cardiopatia congênita


A cardiopatia congênita é uma malformação grave que pode comprometer a
sobrevivência e a qualidade de vida do paciente, sendo também uma das patologias mais
frequentes e que contribui significativamente para a mortalidade infantil. Nesse sentido, o
diagnóstico não é simples, uma vez que a apresentação clínica depende tanto do tipo como da
gravidade da cardiopatia. Sendo assim, sua prevalência é consideravelmente alta diante da
gravidade (NORDON, PRIGENZI; 2012).
As cardiopatias são divididas em acianóticas (existem as comunicações interatrial,
interventricular, persistência do canal arterial – PCA e as estenoses de valvas pulmonar, aórtica)
e as cianóticas (existem a tetralogia de Fallot – TF, a transposição das grandes artérias – TGA,
e a drenagem anômala de veias pulmonares – DAVP), entre outras (GRASSI et al., 2021).
O diagnóstico é realizado de forma conjunta pelo obstetra (na realização da
ultrassonografia), e do pediatra (ao examinar detalhadamente o recém-nascido – RN),
auscultando seu coração e buscando possíveis alterações que possam apontar malformações
internas, síndromes, sequências ou outras alterações genéticas relacionadas a cardiopatias.

Página 307
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Além disso, os demais membros da equipe multiprofissional podem auxiliar na identificação


dos sinais, a fim de ajudar na identificação precoce da condição, bem como na mitigação das
comorbidades provenientes da DCC (COBO et al., 2021).

Epidemiologia dos pacientes


Em 2009, para uma população brasileira de 191.795.000, dividida em 56.809.000
menores de 18 anos e 134.986.000 adultos, estimou-se uma prevalência de 675.495 crianças e
adolescentes e 552.092 adultos com Cardiopatia Congênita (CC), com taxa de crescimento
anual esperada de 1% a 5%, dependendo da idade e da distribuição de lesões (JUNIOR et al.,
2015).
Nesse viés, quando se fala de CC, deve-se fazer uma distinção entre a população
pediátrica e a população adulta. Enquanto a maioria dos pacientes teve intervenções cirúrgicas
e/ou cateterismo bastante eficazes na infância, muitos sofrem de problemas cardíacos residuais.
Com uma expectativa de vida crescente entre eles, pacientes adultos com CC são suscetíveis a
doenças cardiovasculares adquiridas e outras comorbidades (GIORDANO, CANTINOTTI;
2021).
A gravidade dessas cardiopatias varia, ocorrendo desde comunicações entre cavidades
que regridem espontaneamente até malformações maiores que requerem até mesmo
procedimentos diversos, cirúrgicos ou cateterismo. Podendo resultar em morte intrauterina, na
infância ou na fase adulta. As mais prevalentes no ano de 2010, dos oito subtipos mais
frequentes de CC foram em ordem decrescente: comunicação interventricular, defeito do septo
atrial, persistência do canal arterial, estenose pulmonar, tetralogia de Fallot, coarctação da aorta,
transposição das grandes artérias e estenose aórtica (JUNIOR et al., 2015).

Terapias
A disfunção cardíaca relacionada a cardiopatia congênita é uma condição comum entre
os pacientes hospitalizados com Covid-19 e está associada a um risco maior de mortalidade
hospitalar. Nesse sentido, embora o mecanismo exato da lesão cardíaca precise ser mais
explorado, trata-se de uma doença grave e características clínicas de inflamação sistêmica,
meta-hemoglobinemia, instabilidade hemodinâmica e disfunção múltipla de sistemas que acaba
por agravar o quadro clínico de pacientes portadores. Em estudos recentes, a disfunção cardíaca
aguda ocorreu em 19,7% dos acometidos com Covid-19 internados, sendo que 25% e 58% dos
pacientes apresentavam doenças cardíacas preexistentes e hipertensão arterial sistêmica
respectivamente (RUPERTI-REPILADO et al., 2020).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Dessa forma, para a execução terapêutica de forma plena, é válido ressaltar que a
compreensão dos mecanismos fisiopatológicos, com modelos que classificam a evolução da
doença causada pelo SARS-CoV-2 em diferentes estágios, com subsequente progressão para
fase de tempestade imunológica em um subgrupo de pacientes que apresenta formas graves da
Covid-19, tem aberto janelas de oportunidades para a avaliação de eficácia de terapias com
atividade antiviral na fase de replicação viral e imunomoduladora, em pacientes com resposta
inflamatória exacerbada (UGURLUCAN et al., 2020).
Assim, o uso do corticosteroide sistêmico deve ser cauteloso e excepcional. Vale
ressaltar, que dada à falta de eficácia comprovada na Covid-19 e os possíveis danos (atraso no
clearance do vírus da via respiratória), os corticosteroides devem ser evitados de rotina e
utilizados a menos que outras situações clínicas se imponham, como exacerbação de asma ou
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e choque séptico. Entretanto, se utilizados a
monitorização dos eletrólitos deve ser realizada (GAUTRET et al., 2021).
Pode ser considerado ainda o uso de corticoide com indicações específicas na Síndrome
Respiratória Aguda (SDRA), choque séptico, encefalite, síndrome hemofagocitica ou na
ocorrência de broncoespasmo com sibilos. Quando indicado: metilprednisolona 1-2 mg/kg/dia
endovenosa por 3-5 dias 4,5; tem sido empregado imunoglobulina endovenosa nos quadros
graves, mas sua indicação e eficácia deve ser avaliada individualmente, na dose 1g/kg/dia por
2 dias ou 400 mg/kg/dia por 5 dias (GAUTRET et al., 2021).
Da mesma maneira, para a realização de procedimentos intervencionistas, como o
cateterismo cardíaco, a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
(SBHCI) recomenda adiar procedimentos eletivos, testar os pacientes com indicação expressa,
além de providenciar equipamentos de proteção individual (EPI) adequados para cada caso.
Nessa perspectiva, a Sociedade Interamericana de Cardiologia (SIAC) recomenda que a
realização da ecocardiografia deva focar em determinar a presença ou não de doença cardíaca
e aconselha não obter parâmetros obstétricos regulares até a resolução da situação de saúde
atual (GIORDANO, CANTINOTTI; 2021).
Ademais, propõe alguns cuidados frente à realização do exame como avaliação inicial
para deter-se apenas na avaliação cardíaca, eco de acompanhamento para avaliar os principais
pontos de regressão ou de evolução da doença, eco de acompanhamento do desenvolvimento
fetal tendo em vista que sempre que possível, devem ser remarcados. Todavia, frente a
diagnósticos, como Transposição dos Grandes Vasos de Base (TGVB), Via Dupla de Saída de
Ventrículo Direito (DVSVD), atresia pulmonar, dentre outras cardiopatias cianóticas, o
acompanhamento deve ser mantido, reconhecendo que os ajustes nessas decisões devem ser

Página 309
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

avaliados por cada instituição, individualmente (RUPERTI-REPILADO et al., 2020).

Adiamento de procedimentos cardiovasculares


A precariedade infraestrutural dos serviços de saúde precede a pandemia da Covid-19
em muitos países, predominando nos subdesenvolvidos ou nos países que se encontram em
desenvolvimento. Nesse sentido, o grande número de infecções por SARS-CoV-2 demandou
uma remodelação dos sistemas de saúde para acomodar os pacientes infectados, favorecendo a
instauração de uma crise pública fomentadora de empecilhos para o tratamento dos usuários
portadores de doenças cardíacas congênitas (GIORDANO, CANTINOTTI; 2021).
Desse modo, a introdução de mudanças abruptas aliada à crescente escassez de recursos
de equipamentos e de profissionais contribuiu para a instalação de medo em muitos pacientes
com DCC por possuírem alto risco de infecção pelo novo coronavírus. A incerteza das diretrizes
de distanciamento social, o redirecionamento dos atendimentos, a insegurança quanto ao
ambiente de atendimento devido à contaminação, a carência de insumos, a falta de retorno dos
hospitais e a preocupação com a disponibilidade de serviços de saúde impactaram
negativamente a continuidade dos cuidados do público supramencionado (HAIDUC et al.,
2020).
Conforme Stephens et al (2020), tal impacto culminou no adiamento de procedimentos
cardiovasculares a partir da redução de consultas ambulatoriais e da suspensão de cirurgias
eletivas, por exemplo, configurando um potencial agravo à mortalidade de pessoas com
cardiopatias congênitas, haja vista o comprometimento do acompanhamento periódico do
quadro clínico do paciente.
Assim, o represamento de cirurgias e de procedimentos, afetados pela mencionada crise,
contribuiu para a sobrecarga pós-pandêmica dos sistemas de saúde, elucidando a necessidade
de planejar novas estratégias que possibilitem a retomada efetiva dos acompanhamentos e das
intervenções adiadas (CASTALDI et al., 2021).

Fatores de risco
Pacientes portadores de doença cardíaca congênita, seja o público adulto ou pediátrico,
tendem a ser uma parcela potencialmente vulnerável quando diagnosticadas com Covid-19, em
sua maioria, estando associado a um desfecho fatal. As doenças respiratórias se mostram como
a causa mais comum de morte prematura em pacientes cardiopatas, nesse sentido, devido o
principal sistema a ser afetado pela Covid-19 ser o sistema respiratório, tornam o paciente mais

Página 310
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

suscetíveis a infecções respiratórias (SHWERZMANN et al., 2021; YUAN, OECHSLIN,


2021).
Ademais, outros fatores como idade, obesidade, diabetes dentre outras comorbidades,
estão associadas a um risco aumentado de complicações da Covid-19, uma vez que essas
doenças de forma isolada por si só já trazem um elevado grau de severidade. Nesse sentido, a
obesidade destaca-se como fator de risco mais agravante, uma vez que esse acúmulo de gordura
corporal tende a predispor o surgimento de outras doenças. Além disso, predisposições
genéticas ligadas a uma má alimentação e ao sedentarismo, acabam por ocasionar em um
quadro clínico mais grave da Covid-19 (GIORDANO, CANTINOTTI, 2020).
Outrossim, deve se levar em consideração a idade dos pacientes com histórico de
cardiopatia congênita acometidos pelo SarsCov2, tendo em vista que pacientes com idade
avançada possuem suas funções fisiológicas comprometidas decorrente de uma desaceleração
metabólica, dessa forma, dificultando o processo de cura do mesmo, apresentando-se de forma
grave devido a criticidade com a qual a Covid-19 atinge pacientes idosos (MEMER et al.,
2021).

Papel da equipe multiprofissional na assistência ao paciente cardiopata


A assistência realizada por uma equipe multiprofissional em pacientes cardiopatas é de
fundamental importância, sendo esta ainda mais enfatizada durante o período de pandemia da
Covid-19, uma vez que, o portador da doença cardíaca congênita se enquadra no grupo de risco
devido a efeitos colaterais cardiovasculares provenientes do tratamento da infecção pelo vírus.
Assim, torna-se imprescindível a discussão multidisciplinar do quadro do paciente, uma vez
que a cooperação contínua e estreita, a comunicação clara entre a equipe envolvida e a tomada
de decisão compartilhada são essenciais para definir um diagnóstico correto, uma melhor
estratificação do risco, um planejamento cirúrgico preciso e a garantia de estratégias de
tratamento eficazes com riscos diminuídos (STEPHENS et al., 2020).
Como referido no estudo de Giordano e Cantinotti (2021), a definição dos
procedimentos e cirurgias a serem realizados no paciente portador de DCC devem ser mediante
indicações de uma equipe multidisciplinar de especialistas, incluindo cardiopatia, cirurgia
cardíaca e doenças infecciosas. Entretanto, devido a grande demanda do sistema de saúde
proveniente da pandemia da Covid-19 e a disseminação facilitada do vírus, ocorreu uma
diminuição dos recursos e dos profissionais envolvidos, uma vez que houve uma realocação da
equipe para outros setores e a proximidade dos membros da equipe em trabalharem juntos
corresponde ao risco de contaminação dos demais se um dos profissionais contrair o vírus

Página 311
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(STEPHENS et al., 2020).


Nesse viés, assim como referido por Atalay et al (2020), é indispensável a vigilância
dos sintomas entre os membros da equipe e a continuidade das práticas de proteção individual
por parte do cirurgião, anestesiologista, enfermeiro, perfusionista e toda a equipe
multiprofissional de apoio na assistência, a fim de mitigar o risco de infecção dos profissionais,
bem como dos pacientes.

CONCLUSÃO
Diante do exposto, observou-se que a pandemia da Covid-19 afetou diretamente os
pacientes com doença cardíaca congênita, visto que além de necessitarem de cuidados regulares
e específicos, representam um grupo de risco com suscetibilidade ao vírus, o qual apresenta
variações em relação aos pacientes adultos e aos mais jovens e também ao estado clínico dos
indivíduos. Nesse sentido, os aspectos relacionados às repercussões da pandemia pontuados nas
publicações dispõem como amostra as alterações nas dinâmicas de realização de cirurgias e das
doações de sangue, instabilidade pública no setor de saúde, marcada por serviços de saúde com
uma deficiência estrutural, insuficiência de equipamentos e escassez de profissionais, devido à
alta demanda para o tratamento dos casos de pessoas infectadas pelo coronavírus SARS-CoV-
2.
Ademais, foi preconizado que procedimentos e cirurgias eletivas fossem adiados,
representando um forte agravo à mortalidade de indivíduos com cardiopatias congênitas, posto
que o acompanhamento regular do cenário clínico do paciente é prejudicado. Nesse viés, a
pandemia de Covid-19, trouxe, sem dúvidas, diversas dificuldades para a construção do
diagnóstico de cardiopatias, uma vez que houve uma queda de consultas eletivas, dentre estas
a de pré-natal que possibilita a descoberta, ainda na gestação, de problemas que o bebê tenha.
Desse modo, conclui-se que foram atingidos os objetivos do artigo, tendo em vista que foi
possível observar as repercussões geradas pelo vírus aos pacientes com DCC.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 28

A EFICÁCIA DO TREINO DE DUPLA TAREFA NA


RECUPERAÇÃO DA MARCHA EM INDIVÍDUOS APÓS
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: REVISÃO DE
LITERATURA

José de Sousa Ferreira

RESUMO: Introdução:O acidente vascular cerebral (AVC) é definido por perda


de função neurológica, causada por danos nos vasos sanguíneos, podendo
ser do tipo isquêmico que é caracterizado pela obstrução da passagem do
sangue ou hemorrágico quando há um rompimento de um vaso sanguíneo na
região cerebral, suas alterações mais comuns apresentadas nos pacientes são
motoras ou cognitivas. A dupla tarefa é o envolvimento de duas atividades
realizadas ao mesmo tempo. Objetivos: Investigar a eficácia do treino de
dupla tarefa na recuperação da marcha em indivíduos após AVC. Métodos:
Trata-se de um estudo de revisão de literatura com abordagem exploratória,
foi feito um levatamento bibliográfico através das bases de dados PubMed,
PEDro, Medline e Scielo com os seguintes descritores em língua portuguesa:
Dupla tarefa, marcha, treinamento, fisioterapia, acidente vascular
cerebral/encefálico e língua inglesa: Dual task, march, training,
physiotherapy, stroke. Durante as buscas houve o cruzamento dessas
palavras. Resultados: Na presente pesquisa foram selecionados 7 artigos que
atenderam os critérios de inclusão e exclusão publicados entre os anos 2017
a 2020, ressalta-se ainda que todos os artigos obtiveram resultados positivos
em parâmetros da recupereção da marcha; além disso, 3 artigos apontaram
resultados significantes de forma geral na recuperação de outras
funcionalidades. Conclusão: Dos artigos selecionados para esta pesquisa,
todos os 7 mostram evidências satisfatórias no treinamento de dupla tarefa
na recuperação da marcha de pacientes após AVC. Desta forma, destaca-se
que o treinamento de dupla tarefa na recuperação da marcha de pacientes
após AVE é de grande relevância e eficiência satisfatória, além disso, é uma
intervenção de baixo custo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um problema de saúde global com altas taxas
de mortalidade; é considerada uma das doenças com maior risco de óbito do mundo e no Brasil
é a segunda causa de morte. Quando a consequência da doença não é o óbito, o AVC pode ser
responsável por gerar comprometimentos funcionais nas atividades de vida diária e na
participação do indivíduo na sociedade, devido as alterações cognitivas e motoras, restringindo
o indivíduo do convívio social e do retorno às suas atividades prévias (RIBEIRO et al., 2020).
O AVC pode ser de dois tipos: isquêmico que é caracterizado pela obstrução da
passagem do sangue, desta forma as células neuronais ficam privadas de nutrientes e oxigênio,
responsável por cerca de 85% de todos os casos (TELLES, SFALCINI e JÚNIOR, 2021).
Segundo Zucchetti et al. (2019) o AVC hemorrágico é definido por rompimento de um vaso
sanguíneo cerebral que corresponde a 15% dos casos e pode se manifestar como hemorragia
intracerebral ou subaracnóide. Tem um pior prognóstico e maior mortalidade em relação ao
isquêmico e conforme a extensão do sangramento pode ocorrer até morte cerebral.
Apesar de haver um grau de retorno da motricidade e funcionalidade após um AVC,
muitos indivíduos apresentam consequências crônicas que podem resultar em vários problemas.
E a reabilitação muitas vezes detêm-se somente naquilo que é visível de forma imediata, com
uma breve observação do paciente o fisioterapeuta é capaz de identificar a posição de seu braço
espástico, a incapacidade de mover os dedos, verificar a funcionalidade de seus membros
inferiores. Porém essas sequelas são bem mais complexas (PEREIRA et al.,2020).
De acordo com Boumer et al. (2019) as alterações sensoriais e motoras presentes após
AVC comprometem a marcha e o controle do equilíbrio dos indivíduos e esses
comprometimentos podem levar a limitações nas atividades da vida diária, na mobilidade, além
de aumentar o risco de quedas durante atividades funcionais.
Segundo Pires (2020) o treino de dupla tarefa é uma intervenção terapêutica que tem
demonstrado grande efeitos. Este tipo de intervenção consiste na capacidade de um indivíduo
desempenhar duas tarefas simultaneamente: uma tarefa principal que é foco primordial da sua
atenção e uma tarefa cognitiva ou motora secundária. São exemplos de dupla tarefa: caminhar
enquanto conversa ao celular, caminhar enquanto se dribla uma bola, caminhar enquanto segura
um copo com água, entre outras. Deste modo, o objetivo dessa pesquisa é investigar a eficácia
do treino de dupla tarefa na recuperação da marcha em indivíduos após AVC.

METODOLOGIA

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Trata-se de um estudo de revisão de literatura com abordagem exploratória que de


acordo com Gil (2019) tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
portanto possibilitando considerações variadas sobre os aspectos estudados que envolve
levantamentos bibliográficos. Os procedimentos para elaboração deste estudo foram levantados
através de pesquisa bibliográfica usando as bases de dados: PubMed, PEDro, Medline e Scielo,
no período de junho a outubro de 2021, com os seguintes descritores em língua portuguesa:
Dupla tarefa, marcha, treinamento, fisioterapia, acidente vascular cerebral/encefálico; e língua
inglesa: Dual task, march, training, physiotherapy, stroke, etc. Durante as buscas houve o
cruzamento dessas palavras.
Primeiramente foram feitas buscas para apuração relacionada a temática AVC e dupla
tarefa, o levantamento foi feito com relação ao objetivo deste estudo, e, em seguida, foram lidos
resumos e artigos completos. Posteriormente, realizou-se uma análise e seleção dos artigos,
seguindo os critérios de inclusão: ensaios clínicos que usaram treinamento de dupla tarefa na
recuperação da marcha em pacientes após AVC, estudos que usaram dupla tarefa com forma
de tratamento nas sequelas motoras e/ou cognitivasb, enefícios da dupla tarefa com forma de
tratamento após AVC; e de exclusão: estudo que tiveram outro tipo de intervenção, ensaios
clínicos que não tinham comparação entre grupos e estudos que não eram ensaios clínicos.
Os artigos encontrados foram analisados e apresentados afim de investigar a eficácia
do treino de dupla tarefa na recuperação em indivíduos após AVC. Foram seguidos aspectos de
interesse quanto ao objetivo, sendo dupla tarefa a intervenção ou tratamento na recuperação da
marcha dos indivíduos após AVC, método utilizado, ensaios clínicos randomizado, grupos de
participantes e composição (idade e sexo dos pacientes), tipo de intervenção e duração,
frequência e período de tratamento, resultados obtidos e melhorias motoras e/ou cognitivas.
Todos esses dados foram publicados entre os anos 2017 a 2020.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta investigação teve como base artigos selecionados que passaram por uma seleção
criteriosa, onde restaram apenas 7 artigos que atenderam aos requisitos de inclusão e de
exclusão. Neste sentido, todos os artigos obtiveram resultados positivos somente em parâmetros
da marcha, entretanto 3 estudos apontaram resultados significantes de forma geral no equilíbrio,
marcha, atenção, audição, memória, função executiva, atividades de vida diária, mobilidade da
dupla tarefa, na diminuição de quedas e equilíbrio dinâmico sentado. É importante ressaltar que
as pesquisas obtidas mostraram eficácia do treino de dupla tarefa na recuperação da marcha em
indivíduos após AVC.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

De acordo Iqbal et al. (2020) no ensaio clínico randomizado compararam a eficácia do


treinamento específico de dupla tarefa e da fisioterapia convencional na deambulação de
pacientes após AVC. No seus estudos os pacientes foram divididos em dois grupos
experimental e convencional, com 32 participantes em cada, a idade variou entre 40 a 65 anos.
Em ambos os grupos melhoraram a capacidade da marcha, mas não houve diferença
significativa. O grupo de dupla tarefa mostrou melhores resultados em parâmetros da marcha
em comparação com o grupo de fisioterapia convencional.
Segundo Kim e Kim (2018) no estudos que investigaram os efeitos do treinamento
cognitivo de tarefa dupla progressiva em esteira houve desempenho da marcha em indivíduos
com pacientes com AVC. Em seus métodos participaram 26 indivíduos, divididos em dois
grupos: tratamento dupla tarefa e tratamento convencional com 14 participantes cada. Em
ambos os grupos realizaram intervenções 5 vezes por semana, em um período de 4 semanas. O
estudo concluiu que o treino de marcha de dupla tarefa foi satisfatório na maioria dos
parâmetros da marcha e mais eficiente em comparação com o grupo convencional.
Liu et al. (2017) no seu ensaio piloto controlado randomizado, foram investigados os
efeitos do treinamento de marcha em dupla tarefa cognitiva e motora no desempenho de marcha
em dupla tarefa no AVC. Eles selecionaram 28 participantes que foram divididos em três
grupos: atividade dupla tarefa com demanda motora, cognitiva e treino convencional. A duração
foi de 30 minutos cada intervenção, 3 vezes por semana, durante 4 semanas. Foram realizados
na dupla tarefa cognitiva subtrações em séries, na dupla tarefa motora foram utilizados o
carregamento de bandeja e grupo de caminhada única. O treinamento de dupla tarefa motora e
cognitiva resultou em melhoria na velocidade da marcha, comprimento da passada e custo da
dupla tarefa na marcha. O treinamento com demanda motora também melhorou a velocidade
da marcha. Ambos os grupos de dupla tarefa tiveram resultados positivos, mas não houve
diferença significativa entre os grupos.
Meester et al. (2019) em suas pesquisas com ensaios clínicos tiveram como objetivo
avaliar a tolerabilidade, adesão e eficácia de um programa de treinamento de caminhada
comunitário com dupla tarefa em comparação a um programa de treinamento de caminhada de
controle sem distração cognitiva. Os indivíduos receberam treinamento em esteira, 30 minutos
com intensidade de atividade aeróbica, vinte intervenções, durante 10 semanas. O estudo
concluiu que na avaliação houve diferença na pontuação, melhorando mais o grupo de dupla
tarefa, já nas outras avaliações não houve diferença nos resultados, havendo melhora em ambas.
Park e Lee (2019) investigaram a eficácia do treinamento de dupla tarefa usando várias
tarefas cognitivas para a avaliação da atenção, função executiva e função motora em pacientes

Página 317
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

com AVC. Participaram 30 pacientes com AVE crônico, divididos em duas quantidades. O
grupo dupla tarefa realizou diferentes tarefas cognitivas e o grupo controle executaram tarefas
convencionais; foram conduzidas 3 vezes por semanas, por 6 semanas, com duração de 30
minutos, no total de 18 intervenções. Ao final, notaram que o grupo de dupla tarefa foi mais
eficaz comparado ao grupo controle, melhorando o equilíbrio, audição, memória e função
executiva.
Pang et al. (2018) examinaram os efeitos do exercício de dupla tarefa em pacientes com
AVC crônico. no seu ensaio clinico rodamizado contou 84 pacientes que realizaram os testes,
sendo 34 mulheres, divididos de forma aleatória em grupo dupla tarefa mobilidade/equilíbrio e
grupo controle mobilidade/equilíbrio. Foram feitas 3 intervenções por semana, com duração de
uma hora, no decorrer de 8 semanas. O estudo observou que o treinamento de dupla tarefa
melhorou a mobilidade da dupla tarefa, diminuiu quedas, consequentemente houve diminuição
de lesões provocadas por quedas, já na participação e qualidade de vida não houve melhora
significativa.
Sengar et al. (2019) nas suas pesquisas compararam a eficácia do treinamento de dupla
tarefa usando dois conjuntos de instrução de prioridade diferentes na melhoria dos parâmetros
de marcha em pacientes com acidente vascular cerebral crônico. Selecionaram 30 indivíduos
com AVE crônico que foram divididos igualmente em 2 grupos com intuitos diferentes, um
deles analisaram os efeitos do treino de dupla tarefa associadas a várias instruções feita de
formas variadas, envolvendo atividades posturais e de equilíbrio. Ambos mensuraram os
parâmetros da marcha; a idade dos grupos era entre 48 a 65 anos, as intervenções duraram 45
minutos, 3 vezes ao dia, no período de 4 semanas. Tiveram resultados significativos em ambos
os grupos. O grupo de dupla tarefa instruções de prioridades variadas tiveram um resultado
melhor em comparação com o outro grupo, nos parâmetros da marcha quanto ao comprimento
do passo e passada, e velocidade da marcha.

CONCLUSÃO
Conclui-se que os artigos selecionados para esta pesquisa mostram evidências
satisfatórias no treinamento de dupla tarefa na recuperação da marcha de pacientes após AVC.
Os resultados apontaram melhoras significantes de forma geral na recuperação de outras
funcionalidades como: nos parâmetros da marcha, no equilíbrio, na atenção, na audição, na
memória, na função executiva, mobilidade da dupla tarefa, e na diminuição do risco de quedas.
Desta forma, vale ressaltar que o treinamento de dupla tarefa na recuperação da marcha de
pacientes após AVE é de grande relevância e eficiência comprovada, além disso é uma

Página 318
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

intervenção de baixo custo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 29

HISTÓRIA DO CÂNCER DE MAMA: DA


DESCOBERTA À EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO E
DIAGNÓSTICO

Melissa Suhett Franco; Luiz Fernando Leite da Silva Neto; Victória Ellen
de Almeida Morais; Karol Arias Fernandes; Eric Pasqualotto; Kathlen
Oliveira Martins; Maria Carolina Marques de Sousa Araújo; Enzzo
Barrozo Marrazzo; Lucas Fornari Laurindo; Thaiane Maisa Sousa; Sofia
Wagemaker Viana e Bruna Guido do Nascimento Barros

RESUMO: É fato notório que o câncer de mama é um problema de


saúde pública que tem acometido mulheres em todo o mundo ao longo
dos anos. A história demonstra mudanças dramáticas no tratamento e
prognóstico das pacientes com câncer de mama, o que tem influência
direta na qualidade de vida das mesmas. As estratégias para a
detecção precoce vêm sendo otimizadas com a evolução dos
diagnósticos e com isso proporcionam a redução do estágio de
apresentação do câncer de mama. Em acréscimo, as cirurgias
oncológicas de câncer de mama vêm sendo cada vez menos invasivas
e com menos efeitos indesejáveis, porém, ainda há muito a ser
pesquisado para otimizar as mesmas a fim de garantir o pleno
restabelecimento da pessoa submetida às intervenções. Assim, dentro
deste tema tratamos sobre a Era Pré-Halsted, Era Halsted, terapia de
radiação para câncer de mama e biópsia de linfonodos
axilares/sentinelas, com vista a contextualizar a evolução dos
procedimentos para diagnosticar e tratar pacientes com câncer de
mama. Para tanto, foi realizada uma revisão integrativa da literatura de
aspecto qualitativo.

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INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos, o mundo assistiu a significativa ampliação da incidência do câncer
de mama, portanto, a taxa de mortalidade associada ao câncer também aumentou
significativamente em todo o mundo. Ao que se pode observar, o câncer de mama é o resultado
da interrelação de fatores genéticos com idade, hábitos reprodutivos, meio ambiente e estilo de
vida.
Os métodos diagnósticos do câncer de mama são feitos através de exame clínico das
mamas e exames de imagem podem ser recomendados, como mamografia, ultrassonografia ou
ressonância magnética, dentre outros. Além disso, é importante ressaltar as estratégias para a
detecção precoce, com a abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença e
o rastreamento, que proporciona a redução do estágio de apresentação do câncer de mama. O
método diagnóstico padrão ouro utilizado é a mamografia.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no ano de 2020 foram diagnosticadas
mais de 66 mil mulheres com câncer de mama. Enquanto que no ano de 2019 ocorreram 18.068
mortes devido a esse mesmo câncer (INCA, 2021). Esses dados em conjunto demonstram como
essa neoplasia é problema de saúde pública, devido a sua elevada incidência, acompanhado de
alta morbidade e mortalidade (AYALA et al, 2019).
Esses dados encontrados podem variar de acordo com alguns fatores de riscos, entre
eles se nota principalmente, os ligados à reprodução e as mutações nos genes BRCA1 e
BRCA2 (GONZALEZ; VERGARA; TREJO, 2019). A partir dos anos 2000 com uso de análise
genômica, pode-se perceber que cada câncer de mama é único e possui padrão genético
exclusivo. Essa descoberta foi essencial para compreender a neoplasia e assim utilizar um
manejo e tratamento mais específico para cada paciente (HORVATH, 2021).
Contudo, antes desse avanço, ocorreu um longo período na história do tratamento do
câncer de mama. É possível encontrar relatos com mais de 3.000 anos retratando casos de
tumores mamários, Hipócrates caracterizou como um tumor maligno de mau prognóstico,
sendo caracterizado como uma lesão pequena que evolui em tamanho, chegando a provocar a
morte da paciente. Já na Roma Antiga, ocorreram as primeiras remoções cirúrgicas desses
tumores com excisão e ainda promoção de margens limpas. Ocorreu uma pausa durante a Idade
Média, com respeito ao tratamento, pois segundo os preceitos da época, a terapia interferia na
ação divina (COTLAR; DUBOSE; ROSE, 2003).
No final do século XIX, um médico chamado William Stewart Halsted, conseguiu
extinguir cânceres mamários no Hospital John Hopkins, nos Estados Unidos. O seu trabalho se
baseava em retirar grande parte da região em torno do seio, dando melhores possibilidades até

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o momento. No contexto brasileiro, a chegada dessa técnica chegou por volta da década de 20,
chegando a promover uma sobrevida de 3 a 5 anos, um número promissor para época
(TEIXEIRA; NETO, 2020).
Na década de 80, ocorreu no Brasil a reforma sanitária, no qual originou o Sistema
Único de Saúde. Nessa reforma a medicina foi estabelecida baseada em evidências, o que
permitiu a regulação das práticas terapêuticas, aprovando dessa forma, o uso de diferentes
modalidades de tratamento para o câncer de mama, sendo possível assim a associação de
mastectomia, quimioterapia e radioterapia, no intuito de minimizar o sofrimento, tanto pela
doença, quanto pelo próprio tratamento e aumentado a sobrevida das mulheres. Além do
rastreio com objetivo de detecção precoce do câncer de mama, dando oportunidade de
tratamento menos invasivo, tal qual era com a técnica de Halsted (TEIXEIRA; NETO, 2020).

METODOLOGIA

Características da pesquisa

O estudo é definido por uma revisão integrativa da literatura de aspecto qualitativo,


fundamentada na pergunta “Qual a história da evolução da cirurgia para o câncer de mama?”.

Estratégia de busca

Para a busca dos artigos, foram utilizadas as seguintes bases de dados: Literatura
Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS), National Library of Medicine
National Institutes of Health (PubMed) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Quanto
à estratégia de pesquisa, usou-se os termos “história”, “câncer de mama”, “mastectomia
segmentar" e “procedimentos cirúrgicos" presentes nos Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS), os quais foram correlacionados por meio da seguinte forma: ("History"[Mesh]) AND
("Breast Neoplasms"[Mesh]) AND ("Segmental Mastectomy"[Mesh] OR "Surgical
Procedures"[Mesh]). Ademais, foram coletados os estudos publicados até o dia 02 de dezembro
de 2021 e a pesquisa foi feita de forma desassociada entre os autores.

Seleção dos estudos

Os artigos selecionados envolvem temáticas sobre a evolução da cirurgia de mama em


pacientes com processos neoplásicos nessa região, os quais estão indexados com os descritores
utilizados e explicitados anteriormente. Além disso, as pesquisas foram publicadas nos últimos
10 anos e estão disponíveis na íntegra em português, inglês ou espanhol com resumos

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disponíveis. Ademais, o processo de seleção seguiu as orientações da Preferred Reporting Items


for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA).

Critérios de exclusão

Os estudos excluídos da presente pesquisa foram aqueles que foram encontrados


duplicados, que estavam incompletos, ou seja, indisponibilizados na íntegra e os artigos em que
o conteúdo do texto não seguia a temática proposta pelo trabalho.

Aspectos éticos
O artigo segue o Código de Nuremberg, na Declaração de Helsinque e na resolução nº
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), dispensando a necessidade de submeter ao
Comitê de Ética por ser uma revisão integrativa que não aplica a pesquisa diretamente em
indivíduos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Era Pré-Halsted
O trabalho de arqueologistas ao examinarem múmias egípcias foi negativo quanto à
presença de cânceres de mama. Entretanto, registros contidos no papiro Edwin Smith (3000
a.C.) apresentaram relatos de casos de oito pacientes nas quais era possível a distinção entre
infecção e tumor, tendo em vista seus aspectos descritos. Além disso, o prognóstico detalhado
pelos egípcios acerca dos tumores era de morte, não havendo cura para esses pacientes. Em
partes desses papiros têm-se a descrição do médico Inhotep sobre a enfermidade que assolava
a população, contendo seus ensinamentos sobre “massas salientes no peito (...) que se
espalham” (COTLAR; DUBOSE; ROSE, 2003).
Heródoto descreve uma doença curiosa que acometeu a rainha da Pérsia, Atossa, que
teve em uma de suas mamas o surgimento de um caroço que sangrava e era extremamente
dolorido. Após todo o martírio da rainha, ela pediu a um de seus escravos que extirpasse a
mama doente. Após isso, tem-se o relato que a rainha viveu por mais 3 anos.
Hipócrates foi o primeiro a cunhar a palavra câncer na medicina, referindo-se a uma
massa em formato de caranguejo sob a pele. Em achados escritos de Hipócrates, há a descrição
da patologia como de prognóstico ruim, iniciando com pequenas lesões e ocasionando
posteriormente a morte do indivíduo.
O médico romano Claudius Galeno, aprendiz das teorias hipocráticas, descreve o câncer
como um acúmulo de bile negra, um resultado de uma hiperprodução do corpo. Ainda, propôs

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em seu tratamento uma mudança dietética associada a purgação, sendo a remoção cirúrgica
avaliada caso a caso de acordo com a localização do tumor.
Andreas Vesalius, considerado o pai da anatomia moderna, iniciou pesquisas a fim de
realizar um mapa anatômico e localizar a bile negra, porém não obteve sucesso e optou em não
publicar suas pesquisas, haja vista a adesão negativa da teoria galênica pela comunidade
científica. Sua contribuição se deu pelo mapeamento detalhado da anatomia da mama, o que
possibilitou, posteriormente, a inserção de ligaduras pelos cirurgiões, com o intuito de
minimizarem os sangramentos durante a ressecção.
Por sua vez e entre os anos 1650-1750, o médico cirurgião e anatomista francês Jean
Louis Petit foi um pioneiro importante na dissecção de tumores de mama. Petit e sua equipe
desenvolveram a metodologia de dissecção em continuidade de tumores primários na mama.
Dessa forma, durante as cirurgias preservava o máximo possível dos tecidos, conservando
estruturas mamilares e pele. Além disso, Petit foi o responsável em sua época pela dissecção de
nódulos axilares aumentados em pacientes com cânceres mamários. Nessas pacientes e caso
fosse necessário, havia também a dissecção de regiões aumentadas da musculatura peitoral e de
suas fáscias.

Era Halsted

Ao final do século XIX William Stewart Halsted, idealizou uma nova técnica cirúrgica
para o tratamento do câncer de mama antes considerado fatal devido a dor e a sepse, a
mastectomia radical (NEWMARK, 2016). Halsted vivenciou um momento em que existiu
avanços na anestesia e assepsia, promovendo a possibilidade de cirurgias mais complexas e
demoradas. A mastectomia radical descrita por Halsted seria um procedimento demorado e
delicado, sendo praticamente sem perda sanguínea considerável (HALSTED; BENSON;
JANTOI, 2014).

O tratamento proposto por Halsted abrangia a ressecção da mama, dos músculos do


peitoral, vasos linfáticos e linfonodos axilares ipsilaterais. Ao contrário de seus antecessores,
Halsted defendia a retirada de todos os componentes em um bloco único, a fim de evitar a cisão
de células cancerosas que poderiam vir a promover futuras recidivas do quadro (HALSTED;
BENSON; JANTOI, 2014). A retirada dos músculos peitorais em todos os casos, foi uma nova
consideração promovida por Halsted, pois este acreditava que estes músculos eram os
responsáveis pela metastatização por meio de cadeias linfonodais (JULIAN; VENDITTI;
DUGGAL, 2015). Assim, Halsted defendia que mesmo sendo um procedimento

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desconfigurante e agressivo, esta seria a melhor chance de cura da enfermidade na época


(NEWMARK, 2016).

Ao longo da história da mastectomia radical, outras técnicas e procedimentos mais


agressivos foram incorporados ao original desenvolvido por Halsted, ocasionando na
mastectomia radical estendida por Jerome Urban, na qual este trouxe a acrescentar na técnica
original a ressecção em bloco da parede torácica e dos nódulos mamários internos,
posteriormente surgiu a mastectomia superradical, abordando também nódulos cervicais e
mediastinais, abrangendo uma esternotomia mediana adjunto ao procedimento original descrito
por Halsted. Por fim, uma forma mais agressiva foi desenvolvida por Antonio Prudente, na qual
era realizado o procedimento padrão em adjunto a desarticulações transescapulotorácicas com
amputação das extremidades superiores em blocos. Sendo estes procedimentos abandonados
imediatamente por não demonstrar nenhum benefício, adicionado a um aumento da mortalidade
perioperatória (ELLIS, 2019; HALSTED; BENSON; JANTOI, 2014).

A mastectomia radical, então, foi modificada novamente, uma vez que JH Gray
identificou que a fáscia do peitoral maior é desprovida de cadeia linfonodal. Posterior a este
David Patey interpreta estes achados como a possibilidade da não necessidade de retirada do
músculo peitoral maior o que fez com que o procedimento seja menos desconfigurante, além
de apresentar taxas de recidiva e sobrevida semelhantes a mastectomia padrão, sendo nomeada
de mastectomia radical modificada ou mastectomia de Patey e ganhando grande espaço na
comunidade cirúrgica europeia, enquanto a americana ainda defendia o uso da prática
halstediana (ELLIS, 2020; HALSTED; BENSON; JANTOI, 2014).

Durante muitos anos a mastectomia halstediana permaneceu como um tratamento


padrão-ouro para o tratamento do câncer de mama, visto o controle locorregional da doença e
melhora na qualidade de vida das mulheres (JULIAN; VENDITTI; DUGGAL, 2015).
Entretanto tal procedimento promovia diversas sequelas na mulher, tanto físicas quanto
psicológicas, como: a perda de função do braço ipsilateral, inchaço linfedematoso crônico do
braço ipsilateral, desfiguração cirúrgica corporal e influência na sexualidade e imagem corporal
feminina (HALSTED; BENSON; JANTOI, 2014). Atualmente a mastectomia radical não é
mais realizada, devido a novos procedimentos promoverem a conservação da mama,
ocasionando em um melhor acatamento pelo paciente e médico (COTLAR; DUBOSE; ROSE,
2003).
Terapia de radiação para câncer de mama

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O câncer de mama continua sendo a causa de morte mais comum em países


subdesenvolvidos e a segunda principal em países desenvolvidos, apesar dos mecanismos de
detecção precoce e das terapias sistêmicas eficientes. O potencial de cura desta doença depende
do tempo de doença, do não surgimento de metástases e do manejo das técnicas utilizadas para
o tratamento por uma equipe multidisciplinar (HARBECK; GNANT, 2017).
O diagnóstico e tratamento do câncer de mama invasivo requer um esforço colaborativo
entre várias especialidades, exames de diagnóstico por imagem e a biópsia desempenha um
papel fundamental no estabelecimento do diagnóstico e na informação das decisões cirúrgicas
sobre o manejo do tumor primário, estadiamento da axila, e a sequência da terapia (MOO et al,
2018).
Relembrando que os múltiplos tratamentos utilizados para a remissão do câncer de mama
estão presentes desde 2000 a.C. e vêm evoluindo continuamente para métodos mais modernos
como as cirurgias, quimioterapias, terapias de hormônios, sistêmicas e de radiação (AKRAM;
SIDDIQUI, 2012). A radioterapia é considerada uma terapêutica conservadora para o câncer de
mama e tem demonstrado a sua eficácia desde o início do século XX, aumentando as chances
de cura dos pacientes. O primeiro relato do uso de radiação no tratamento do CM é datado de
1930 com o uso de agulhas de rádio bem como radioterapia de feixe externo com raios X de
ortovoltagem. A radiação nessa fase foi utilizada como auxiliar em mastectomias para erradicar
doenças subclínicas residuais presumidas bem como na substituição dos tratamentos invasivos,
nos casos em que a cirurgia seria em áreas de difícil acesso ou afetaria a função (BRADLEY;
MENDENHALL, 2018).
O médico François Baclesse, em 1940, destacou em seus estudos a notável sensibilidade
dos cânceres de mama à radiação, e também a relação do tamanho com a probabilidade de
controle local do tumor, sendo este um fator crítico (BACLESSE, 2021). A observação de
Baclesse e a relação destacada foi contemplada, décadas mais tarde, pela modernização da
radioterapia, a qual guiou o Dr. Fisher até a realização do primeiro estudo randomizado
controlado de cirurgia conservadora e radioterapia versus mastectomia radical. O resultado de
Fisher foi um marco para a comprovação de que o tratamento conservador das mamas é
igualmente eficaz à cirurgia radical de mama. Fisher e seus colegas em um grande estudo
randomizado, provou a eficácia de menos do que a completa remoção do tecido mamário e dos
gânglios linfáticos axilares. A publicação desses dados em 1989 estabeleceu a mudança para
uma cirurgia menos radical e forneceu a justificativa de que muitos pacientes podem ser tratados
cirurgicamente com a preservação de um tecido essencialmente normal. Hoje em dia, o manejo

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cirúrgico de pacientes com câncer de mama operável aborda ambos os principais tumores
linfáticos regionais (AKRAM; SIDDIQUI, 2012).
Existem três modalidades principais de eficácia para terapia médica para câncer de
mama. O mais velho é terapia endócrina (TE) para pacientes cujos tumores expressam
receptores de estrogênio e / ou progesterona, que representam cerca de dois terços dos pacientes
com câncer de mama; a segunda é a quimioterapia (CT) e, finalmente, biológica terapia (BT),
que inclui uma lista crescente de novos agentes dirigidos contra alvos moleculares no câncer
célula e seu ambiente, cujo papel é atualmente avaliado (AKRAM; SIDDIQUI, 2012).
O campo da oncologia agora entrou em uma era de “Medicina personalizada” em que o
objetivo principal é individualizar a terapia para que o benefício máximo possa ser alcançado e
a toxicidade desnecessária minimizada. O câncer de mama é uma doença heterogênea, e crítica
para selecionar os pacientes que irão se beneficiar do adjuvante quimioterapia para reduzir o
risco de recorrência enquanto identifica aqueles que não o fariam, poupando-os de toxicidades
potenciais. O desenvolvimento do Oncotype DX 21-Gene Recurrence Score (RS) é um exemplo
da oncologia personalizada. O Oncotype DX 21-Gene Recurrence Score (RS) foi desenvolvido
como uma ferramenta de prognóstico e preditiva em mulheres com hormônio doença positiva
do receptor (HR) (AKRAM; SIDDIQUI, 2012).
Biópsia de linfonodos axilares/sentinelas

Em países desenvolvidos, o câncer de mama é a principal causa de mortes relacionadas


ao câncer em mulheres com 40 anos ou menos. No estágio inicial, as células do câncer de mama
se espalham principalmente pelo sistema linfático (ZHANG et al, 2016). A pele, a aréola, o
tecido subcutâneo e o parênquima mamário são drenados por vasos linfáticos, assim as células
cancerígenas invadem os linfonodos.

O envolvimento dos linfonodos axilares demonstrou ser um fator prognóstico mais


significativo e, portanto, é avaliado rotineiramente durante o tratamento primário
(PAPATHEMELIS et al, 2018). O número de metástases em linfonodos axilares (ALN) é um
indicador essencial para avaliar a gravidade e sobrevida de pacientes com câncer de mama
(ZENG et al, 2020).

De acordo com as diretrizes, o linfonodo sentinela (SLN) é o primeiro linfonodo, ou


grupo de linfonodos, encontrado na drenagem linfática da mama (PARMAR et al, 2013). Ele é
de vital importância por ser o primeiro linfonodo a drenar o tumor primário em uma bacia nodal
e, em tese, caso não haja metástase de SLN, as demais partes da bacia nodal também não estarão
comprometidas.

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Ao longo dos anos, têm sido gradualmente otimizadas as estratégias na definição de


tratamentos sistêmicos e radioterápicos, e vêm surgindo ferramentas de tratamento do câncer
de mama cada vez mais sofisticadas, efetivas e com menos danos.

Por mais de 100 anos, a extensão da cirurgia de câncer de mama foi baseada no conceito
Halstediano de câncer de mama como uma doença locorregional que se propagava pelo sistema
linfático e era curada por ressecção (GIULIANO et al, 2017).

Vale destacar que em 1757, o médico francês Henri F. Le Dran foi um dos primeiros
cirurgiões a apoiar o conceito de dissecção axilar como parte integrante do tratamento cirúrgico
do câncer de mama. E, em 1866, o patologista alemão Rudolph Virchow, apoiado por estudos
robustos de autópsia, postulou que os gânglios linfáticos axilares representavam o ponto de
disseminação através dos vasos linfáticos para locais distantes (MAGNONI et al, 2020).
No início da década de 1990, foi introduzida a biópsia do linfonodo sentinela por Krag
et al. e Giuliano et al. que substituiu a dissecção do linfonodo axilar como o método padrão
para avaliação do status do linfonodo axilar no câncer de mama com linfonodo clinicamente
negativo. Quando os resultados são positivos, a dissecção completa dos linfonodos axilares
(ALND) permanece o padrão de tratamento (CYR et al, 2016).
Em 1994, Giuliano et al. realizou biópsia do linfonodo sentinela (SLNB) injetando
corante azul de isossulfano ao redor do tumor. Paralelamente, Krag et al. e Veronesi et al.
introduziram o uso de um marcador radioativo, nanocolóide marcado com tecnécio-99m e uma
sonda gama portátil para detecção de SLN. Até o momento, o “padrão ouro” para detectar o
SLN é o radiotraçador sozinho ou em combinação com o corante azul (THILL et al, 2014).
Atualmente, o atendimento padrão em casos de diagnóstico de câncer de mama T1-T2
N0 clínico, continua sendo por meio de SLNB. Trata-se de um procedimento invasivo e
cirúrgico, onde se utiliza colóide de enxofre radiomarcado e/ou corante azul na mama próximo
ao câncer primário, que através da via linfática chegam aos SLNs que são removidos
cirurgicamente por uma incisão na axila, visando um mapeamento linfático.
Em caso de resultado negativo para metástase de SLN o paciente não será submetido a
ALND.
A SLNB está associada a uma melhor precisão do estadiamento e redução da morbidade
do braço em comparação com a ALND, e pode ser usada para adaptar terapias adjuvantes
individualizadas.
A técnica de combinação de colóide de enxofre radiomarcado e corante azul pode
acarretar desvantagens, como: exposição à radiação de pacientes e profissionais de saúde, forte

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controle legislativo, limitações na disponibilidade do radiotraçador, dependência de unidades


de medicina nuclear e reações alérgicas ao corante azul.
Embora ALND tenha algum valor terapêutico em pacientes com linfonodo positivo, ele
se mostra um tratamento excessivo em pacientes com linfonodo negativo, razão pela qual em
relação à estes, se utiliza a SLNB.

CONCLUSÃO
O câncer esteve relacionado por muitos anos a um prognóstico ruim e que poderia
acarretar na morte do indivíduo. Nas Eras mais antigas, o diagnóstico e o prognóstico das
pacientes acometidas eram precários e o tratamento, ainda não era conhecido.
Ao longos dos anos, o conhecimento sobre o câncer de mama foi se adquirindo e
levando a uma nova era: a Era Hasteld, onde foi possível idealizar novas técnicas cirúrgicas
para o tratamento do câncer de mama, e apesar de ser sem perda sanguínea, havia uma retirada
de todos os componentes em um bloco único, a fim de evitar uma metástase, o que era
desconfigurante e agressivo, entretanto, a melhor chance de cura na época.
Com isso, algumas técnicas surgiram e por serem mais agressivas foram abandonadas.
As técnicas então, foram aperfeiçoadas e se tornaram cada vez mais seguras e com
menos ressecções. Mas ainda assim, a mastectomia Halstediana permaneceu por muito tempo
como padrão-ouro, porém promovia diversas sequelas físicas e psicológicas.
Atualmente a mastectomia radical não é mais realizada, e novos procedimentos
objetivam promover a conservação da mama.
Diagnósticos mais eficazes permitiram um conhecimento mais aprimorado da situação
de cada paciente, com isso procedimentos menos invasivos foram possíveis.
Em acréscimo, surgiram também tratamentos menos invasivos, a título de exemplo: a
radioterapia.
Atualmente, se reconhece que o tratamento conservador das mamas é tão eficaz quanto
a cirurgia radical de mama, e com isso, as cirurgias se tornaram menos radicais. O manejo
cirúrgico hoje aborda os principais tumores linfáticos regionais com o auxílio da biópsia de
linfonodos axilares/sentinelas, o que gera um melhor prognóstico, menor risco de metástase e
aumento da sobrevida dos pacientes, sendo este o procedimento padrão para linfonodos
negativos para metástase nos dias atuais, ainda que haja efeitos adversos.
O câncer de mama ainda é um tema de suma importância para pesquisas e atualizações
de práticas de intervenções, visto que houve uma ampliação da incidência e como consequência

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um aumento da mortalidade e morbidade. Apesar de ser uma patologia antiga, o diagnóstico e


o tratamento ainda são invasivos e cirúrgicos e continuam gerando sequelas a longo prazo.
Diante do exposto, ressalta-se a importância de práticas seguras, menos invasivas e com
menos efeitos colaterais a curto e longo prazo, de modo a visar uma melhor qualidade de vida
a estas pacientes.

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Página 331
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 30

ANÁLISE DO CONSUMO DE ALIMENTOS


ULTRAPROCESSADOS E OS IMPACTOS NA SAÚDE
CARDIOVASCULAR EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Jairisson Augusto Santa Brigida Vasconcelos, Ana Paula da Silva Costa, Ana
Júlia Melo da Silva, Georgea Viana Ferreira, Lorenna Vidal Rodrigues da Silva,
Bárbara Vitória Monteiro Reis Augusto, Natasha Assunção Oliveira, Lediane
Nunes Camara, Rayzza Marcelly Jesus da Silva, Jamille de Araujo Matos, Livia
Martins de Miranda, Natália Pinto Assunção, Josiane Medeiros Pompeu e
Rosilene Reis Della Noce

RESUMO: Introdução: Durante a infância e a adolescência é comum a


alteração de hábitos alimentares, principalmente no que diz respeito à
alimentação inadequada. Nesse contexto, o aumento do consumo de
alimentos ultraprocessados fomenta a busca na literatura sobre a ingestão
desses produtos alimentícios e o risco para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares. Objetivo: Analisar por meio de uma Revisão Integrativa de
Literatura (RIL), os impactos do consumo de alimentos ultraprocessados em
adolescentes e crianças e a sua relação com a saúde cardiovascular.
Metodologia: Trata-se de uma RIL, sendo consultadas as seguintes bases de
dados: Google Acadêmico, Pubmed e Scientific Electronic Library Online
(Scielo), com intuito de identificar artigos publicados nos últimos cinco anos.
Resultados e Discussão: Observou-se a alta prevalência dos produtos
industrializados nos públicos em questão, com elevadas concentrações de
gordura saturada, adição de açúcar, sódio e alta densidade energética, os
quais possibilitaram alto risco aterogênico, uma vez que, são capazes de
alterar os parâmetros antropométricos , hábitos alimentares e exames
laboratoriais no público alvo, viabilizando o risco cardiometabólico.
Conclusão: houve uma associação direta entre o hábitos alimentares
inadequados, como é o caso da alimentação rica em produtos com alto
processamento e as relações para a saúde cardiovascular em crianças e
adolescentes. Entretanto, há a necessidade de novos estudos que relacionem
os fatores supracitados entre as faixas etárias analisadas.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
As Doenças Cardiovasculares (DCV) relacionam-se às alterações funcionais e
morfológicas, como por exemplo, a Insuficiência Cardíaca (IC), Infarto Agudo do Miocárdio
(IAM), Doenças Cerebrovasculares, Acidente Vascular Encefálico (AVE), Doença Arterial
Coronariana (DAC), Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) dentre outras, as quais podem
acarretar em prejuízos significativos à saúde humana e são consideradas um problema de saúde
pública em âmbito mundial (ROSSI; POLTRONIERI, 2019).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima-se que em 2030 quase 23,6
milhões de pessoas morrerão de DCV ( WHO, 2016). Estas são uma das principais causas de
mortalidade nas sociedades ocidentais, sendo as Doenças Cardíacas Coronárias (DCC)
responsáveis por mais de 50% dos casos (PSALTOPOULOU et al., 2017). No Brasil, de acordo
com a Sociedade Brasileira de Cardiologia em 2017, as DCV destacaram-se como sendo as
principais causas de mortes, em que a prevalência correspondeu a 383.961 óbitos (FALUDI et
al, 2017).

As DCV não têm o fator causal idade, mas são resultantes de escolhas e estilo de vida
considerados não saudáveis durante as diversas fases da vida do indivíduo,consequentemente,
a manutenção e adoção de práticas saudáveis devem ser feitas ao longo davida da população
(MAHAN; RAYMOND, 2018). Em detrimento disso, o avanço tecnológico da indústria
alimentícia influenciou na transição dos hábitos alimentares de uma dieta baseada em alimentos
in natura ou minimamente processados para o alto consumo de alimentos processados e com
alto nível de processamento (BESERRA et al., 2020).
O Guia Alimentar para a População Brasileira, classifica os ultraprocessados como
aqueles derivados de constituintes alimentares ou produzidos em laboratórios (corantes,
aromatizantes, realçadores de sabor e variados tipos de aditivos para tornar o produto mais
atraente), tornando-os pobres nutricionalmente já que são retirados destes alimentos as frações
consideradas benéficas dos macronutrientes (gorduras, carboidratos e proteínas) (BRASIL,
2014). O aumento expressivo de produtos ultraprocessados no Brasil, ganhou grande
relevância nas últimas décadas principalmente para o público infantojuvenil (LOUZADA et
al., 2015).
A construção de hábitos alimentares durante a infância é essencial para o crescimento,
desenvolvimento infantil e diminuição de incidências de doenças no futuro (PERES et al.,
2020). No entanto, sabe-se que introdução alimentar inadequada implica em prejuízos futuros,
principalmente durante a fase da adolescência, na qual é marcada por alterações no

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

estilo de vida, por modificações importantes na forma de acesso e composição do próprio


alimento (QUINONES et. al., 2019). Portanto, é importante destacar que a substituição das
refeições tradicionais por ultraprocessados é cada vez mais comum, tanto no ambiente
domiciliar quanto fora do domicílio dentre estes públicos (CORNWELL et al., 2018; COSTA
et al, 2018).
O risco para o desenvolvimento de DCV pode ser exacerbado tanto na infância como
na adolescência (GUEDES et al., 2021). Posto isso, os impactos na saúde gerados pelo
consumo deste grupo de alimentos na dieta ainda permanece incerto, principalmente no que
diz respeito os públicos em questão e as consequências para a saúde cardiovascular, uma vez
que não foram realizados trabalhos epidemiológicos e de intervenção suficientes para este fim
(JUL, 2015).
Mediante a esse contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar os impactos do
consumo de ultraprocessados entre o público infantil e adolescente e a sua relação com o risco
de DCV.

METODOLOGIA

Para o presente estudo realizou-se uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), de


caráter descritivo, desenvolvida a partir de consulta bibliográfica realizada de forma online nas
plataformas de dados Google Acadêmico, Pubmed e Scientific Electronic Library Online
(Scielo), utilizou-se terminologias do DeCs- Descritores em Ciências da Saúde. O processo
inicial de busca na literatura científica consistiu na determinação de palavras chaves tais como:
“risco cardiovascular”, “ alimentos industrializados ",'' doenças cardiovasculares”, ‘’ criança”
e “adolescente", durante o mês de novembro de 2021. A combinação de tais expressões foi
realizada por meio dos operadores booleanos OR e AND.

Foram considerados como critérios de inclusão: artigos publicados durante o período


2015 a 2021, nos idiomas português, inglês e espanhol, pertinentes e correspondentes ao
objetivo do trabalho, totalizando ao final 7 artigos científicos, os quais foram lidos na íntegra
e organizados em planilhas que permitiram uma melhor análise.

Como critérios de exclusão, destaca-se artigos encontrados duplicados nas bases de


dados, que não corresponderam aos objetivos da pesquisa ou que foram publicados
anteriormente ao ano de 2015. Além disso, foram excluídos aqueles cujo idioma fosse

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

diferente do inglês , português e espanhol, bem como, estudos que não abordassem os
públicos de interesse.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A incorporação de novos hábitos alimentares e o crescente marketing digital dos


produtos ultraprocessados tanto na infância como na adolescência, influenciaram no aumento
no consumo de alimentos prontos para consumo, de alta densidade energética e de baixo
valor nutritivo, bem como consumo reduzido de alimentos saudáveis, como hortaliças e frutas,
tornando maior a susceptibilidade para a incidência precoce de eventos cardiovasculares
(BARUFALDI et al., 2016).
Em vista disso, o quadro 1 caracteriza estudos relacionados a cerca do tema, objetivos,
principais resultados encontrados e conclusão respectivamente.

Quadro 1: Artigos selecionados após os critérios de exclusão.

Autor Título Objetivo Resultados Conclusão

A influência da Analisar a Observou-se uma A maioria das crianças


mídia no consumo influência da maior prevalência de pesquisadas
MELO et al., de alimentos mídia no consumo excesso de peso, apresentaram excesso
2019 ultraprocessados e de ultraprocessados sendo 22,7% (17) de de peso, aumentando o
no estado por escolares e sobrepeso; 14,7 % risco de desenvolverem
nutricional de sua relação com o (11) obesidade e doenças crônicas não
escolares. estado nutricional. 10,7%(8) obesidade transmissíveis.
grave. Quanto à
circunferência da
cintura, 36% (27) dos
escolares apresentou
risco para doenças
cardiovasculares.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

OLIVEIRA et al., Consumo de Avaliar a presença 221 adolescentes Adolescentes com


2019 alimentos de obesidade participaram do estudo obesidade abdominal
ultraprocessados e abdominal e o e tinham idade média consumiram mais AU
obesidade consumo de (DP) de 18,3 0,7 anos com um maior
abdominal em alimentos e 18,2 0,7 para o sexo percentual de
adolescentes ultraprocessados masculino e feminino. contribuição
universitários. (AU) em O excesso de peso proveniente das
adolescentes esteve presente em gorduras totais e
universitários. 19% e 11% dos saturadas. É importante
meninos e meninas que outros estudos
. enquanto a obesidade sejam realizados para
abdominal em 18% dos investigar a obesidade
adolescentes do sexo abdominal e sua
masculino e 8% do relação com o
sexo feminino. O consumo de AU para
percentual de favorecer a elaboração
contribuição dos AU de estratégias
foi maior na ingestão específicas e eficazes.
energética,
carboidratos, sódio,
gorduras totais e
saturada.

BORSATO Relação entre Avaliar a relação Os adolescentes que Diante das evidências
FASSINA, 2020 estado nutricional, entre o estado apresentaram risco do presente estudo,
consumo alimentar nutricional, o cardiovascular pela conclui-se que houve
e risco consumo alimentar RCEst, constatou-se associação significativa
cardiovascular em e o risco que este esteve de casos de sobrepeso e
adolescentes de um cardiovascular de associado àqueles com obesidade com o risco
município do Rio adolescentes sobrepeso e obesidade cardiovascular e com a
Grande do Sul. matriculados nas (p≤0,001). Ainda, ingestão elevada de
escolas municipais quanto ao consumo lipídios.
e estaduais de um alimentar, verificou-se
município do Rio que o consumo de
Grande do Sul. lipídios tanto em
quilocalorias como em
percentual diário foi
significativamente
superior para aqueles
que apresentaram risco
cardiovascular.
(p=0,026; p=0,029,
respectivamente).

LIMA et al., 2020 Associação entre o Analisar a Os resultados mostram Os alimentos


consumo de associação entre o que o consumo de ultraprocessados
alimentos consumo de ultraprocessados foi influenciam
ultraprocessados e alimentos mais frequente nas negativamente a
parâmetros lipídios ultraprocessados e adolescentes do sexo alimentação de
em adolescentes . parâmetros feminino, entre a faixa adolescentes, estando
lipídicos em etária 17 a 19 anos, associados a uma piora
adolescentes. com renda familiar no perfil nutricional da
superior a dois salários dieta e, ainda,
mínimos e de escolas contribuem para

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

particulares. Nota-se alterações nos níveis


que os indivíduos no lipídicos dessa
maior tercil de população. Sugere-se
consumo de maior acompanhamento
ultraprocessados e planejamento no
apresentaram maior programa alimentar do
ingestão energética, de público adolescente,
carboidratos e de sódio, especialmente na rede
com menor ingestão de de ensino particular,
proteínas e de fibras. com redução do
Observou-se, ainda, consumo de alimentos
que o maior consumo ultraprocessados e
de ultraprocessados foi maior de frutas,
associado verduras e cereais
negativamente aos integrais.
níveis de HDL-c e
positivamente aos
níveis de triglicerídeos
e dislipidemia.

CORDEIRO et al ., Hábito alimentar, Avaliar o hábito Destacou-se a Os dados obtidos


2020 consumo de alimentar, o ocorrência de 24,4% de mostraram uma taxa
ultraprocessados e consumo de crianças (n=20) com de sobrepeso/obesidade
sua correlação com alimentos sobrepeso/obesidade; preocupante,
o estado nutricional ultraprocessados e 12,2% dos escolares juntamente com um
de escolares da sua correlação (n=10) com excesso alto percentual de
rede privada. com o estado de adiposidade excesso de adiposidade
nutricional de abdominal, fator que abdominal, fator
escolares da rede indica risco para extremamente
privada em doenças importante uma vez que
Teresina-PI. cardiovasculares. Os indica risco de doenças
escolares apresentaram cardiovasculares,
uma maior frequência associado a um
no consumo de sucos consumo de alimentos
industrializados, leite ultraprocessados
em pó, seguido dos relevante.
bolos e biscoitos
doces, achocolatado
em pó e embutidos.

KÖNCKE et al., El consumo de Estimar a ingestão Foi possível observar Os dados encontrados
2021 productos calórica e de que em média, a permitem afirmar que o
ultraprocesados y nutrientes adequação calórica consumo de PUPs é
su impacto en el associada às atingiu 113% da generalizado, acontece
perfil alimentario doenças não necessidade do grupo e a partir de idade
de los escolares transmissíveis, 54% dos escolares precoce e que seu maior
uruguayos. segundo o nível de consomem calorias em consumo está associado
processamento de excesso. 28% das a um perfil alimentar
alimentos em calorias vêm de desfavorável.
escolares de 4 a 12 Produtos
anos na cidade de Ultraprocessados
Montevidéu. (PUP) e 18,9% vêm de
açúcares livres, o que
equivale a praticamente
100 gramas de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

consumo diário. O
consumo de PUPs foi
encontrado em
praticamente todos os
escolares estudados e
esteve associado a um
perfil alimentar mais
desfavorável, que
aumenta à medida que
aumenta o consumo.

NASCIMENTO et The influence of Verificar a Adolescentes com As associações entre os


al., 2021 ultra-processed influência do valores alterados para o índices aterogênicos
food consumption consumo de Índice Castelli I e II e com os índices
in anthropometric alimentos para o Índice antropométricos e com
and atherogenic ultraprocessados Aterogênico do Plasma o consumo de
indices of em índices apresentaram valores alimentos
adolescents antropométricos e de peso, Circunferência ultraprocessados
de aterogenicidade. da Cintura, ressaltam a influência
Circunferência da negativa desses
Cintura/Altura e Índice alimentos na saúde
de Massa cardiovascular de
Corporal/Idade adolescentes.
significantemente
superiores.
Fonte: Elaborada pelos autores, 2021.

Rocha et al. (2017) por intermédio de uma revisão de literatura investigou a relação
entre os padrões alimentares e o risco cardiovascular em crianças e adolescentes. Portanto, o
estudo mostrou que padrões alimentares pouco saudáveis caracterizados pela ingestão de
alimentos ultraprocessados, os quais correlacionaram-se positivamente com as alterações
cardiometabólicas. Mediante isto, os hábitos alimentares observados foram marcados pelo
consumo excessivo de refrigerantes, alimentos ricos em carboidratos simples, fast food,redução
do consumo de frutas e vegetais, adoção de dietas monótonas, e a ausência de algumas refeições
por parte destes indivíduos.
Sapunar et al. (2018) avaliou o risco de aterogênese em uma amostra de escolares, onde
autores mostraram que 54,3% dos alunos apresentavam alto risco aterogênico, além da
associação com o consumo de ultraprocessados. Ademais, as médias antropométricos: peso,
Circunferência da Cintura (CC) e Índice de Massa Corporal (IMC) foram significativamente
maiores quando os adolescentes estavam em categorias alteradas para o índice Castelli I
(Colesterol Total / Colesterol de Lipoproteína de Alta Densidade) e II (Colesterol de
Lipoproteína de Baixa Densidade / Alto Densidade de Colesterol de Lipoproteína),
corroborando, portanto, com os resultados apresentados nesta pesquisa.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Ramírez-Vélez et al. (2017) ao analisarem o risco cardiovascular pela razão cintura para
estatura (RCEst) em adolescentes colombianos, notaram que os valores obtidos estavamacima
do preconizado. Além disto, notou-se uma alimentação marcada pelo consumo habitual de
alimentos ultraprocessados, em que se assemelharam aos resultados proposto por Borsato e
Fassina (2020), onde o público adolescente avaliado apresentou um elevado risco
cardiovascular segundo a avaliação da RCEst ligado a uma ingestão elevada de lipídios.
Ademais, a RCEst também, associa-se a maior produção de citocinas como IL-6 e
TNF-a no organismo, no qual consoante Sijtsma et al. (2014) quando em excesso podem
correlacionar-se com o risco de desenvolvimento de condições clínicas ligadas à síndrome
metabólica, que inclui a aterosclerose, hipertensão arterial, hiperlipidemia e a diabetesmellitus.
Os resultados encontrados por Miranda et al. (2015) demonstraram uma prevalênciade
sobrepeso, obesidade e de elevado percentual de gordura corporal em escolares da rede privada
de ensino, em que pode ser considerada como fator de risco para o desenvolvimento de doenças
crônicas.
Já para Guse, Busnello e Frantz (2017) evidenciou em seu trabalho que 87,86% dos
alunos no turno da manhã e tarde consumiam alimentos com alto teor de processamento.
Portanto, o estudo supracitado, assemelhava-se ao trabalho proposto por Melo et al. (2019)
em que foi identificado a relação entre o excesso de peso, risco para doenças cardiovasculares
e uma forte inserção do consumo de ultraprocessados por parte de escolares na rede privada no
município de Teresina, no estado do Piauí.
Karnopp et al. (2017) por meio de seus resultados identificou uma elevada
participação energética de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de
6 anos em detrimento do menor consumo de alimentos in natura e minimamente processados,
tanto entre a populacão com menor renda quanto aquela com renda superior, principlamnete
relacionado ao consumo de doces. Assim, percebeu-se que a ingestão destes produtos além de
não se limitar à renda, tornou esses indivíduos mais vulneráveis a doenças crônicas não
transmissíveis.
Além disso, segundo o estudo de Vitolo et al. (2013), ao avaliar crianças de baixa renda
em uma cidade da região metropolitana do Rio Grande do Sul, constatou-se que os alimentos
ultraprocessados eram implementados com frequência na sua rotina alimentar. Posto isso,
dentre os mais consumidos, eram os pães (78,8%), bebidas açucaradas (75,6%), snacks doces
(63,2%), biscoitos (52,5%), embutidos (42,9%), chips (17,7%) e macarrão

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

instantâneo (11,0%). Isto, portanto, relacionou-se ao maior risco destes indivíduos


desenvolverem DCV, mediante a carência de alimentos cardioprotetores na sua dieta.
De modo semelhante, ao analisar a rotina alimentar de escolares de uma rede privada
em Teresina-PI, Cordeiro et al. (2020), identificou uma elevada implementação de alimentos
com alto nível de processamento associado a um quadro de excesso de adiposidade abdominal,
as quais relacionam-se a um maior risco para doenças cardiometabólicas.
A adiposidade na região abdominal também, pode ser um dos fatores favoráveis para
o risco cardiovascular (WANNMACHER, 2016). De acordo com os estudos realizados por
Oliveira et al. (2019), observou-se que dos 221 adolescentes participantes do estudo, dos
quais 18% dos adolescentes eram do sexo masculino e 8% do sexo feminino, apresentaram
alterações na região abdominal, em que essa relação foi diretamente associada ao consumo de
carboidratos, sódio, gorduras totais e saturada presente nos produtos ultraprocessados.
A associação entre a ingestão de alimentos ultraprocessados e as alterações nasfrações
lipídicas também são fatores que corroboram para risco à saúde. Nesse contexto, na análise da
pesquisa de Lima et al.(2020) foi notado que a procura pelo consumo destes produtos na idade
pré-escolar aumentou consideravelmente, onde está intimamente ligada ao aumento das
concentrações de parâmetros lipídicos durante a infância. Além disto, os resultados do estudo
demonstraram a diminuição da qualidade da alimentação, sendo fortemente ligado com
aumento das chances do desenvolvimento de dislipidemias, obesidade,síndrome metabólica e
doenças cardiovasculares (LIMA et al,, 2020; BATAL et al., 2021).
No trabalho com escolares desenvolvido por Bordon et al. (2016), pôde-se identificar
uma elevada ingestão de alimentos hipercalóricos, ricos em sódio e gordura, provenientes de
alimentos industrializados, como bolachas/biscoitos doces ou recheados, doces, balas e
chocolates, batata frita, batata de pacote, salgadinhos fritos, e dentre outros, no qual destaca-
se que maior parte eram consumidos no horário dos lanches e nos fins de semana, onde a sua
implantação era fomentada pelos pais responsáveis, mediante a praticidade e a facilidade de
acesso a estes produtos. Posto isso, a sua ingestão regular pode tornar esses indivíduos mais
vulneráveis à condições cardiovasculares desfavoráveis (BRASIL, 2014).
De acordo com a análise feita por Köncke et al. (2021), obteve-se que cerca de 98%
dos alunos presentes no estudo apresentaram elevada ingestão de ultraprocessados, em que
dentre estes, 54% consumiam calorias em excesso, resultando no consumo precoce nesta
população. Tal relação aumenta o risco tanto obesidade como para doenças cardiometabólicas
, já que, os produtos com alto processamento contêm gordura saturada, adição de açúcar, e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

elevada densidade energética, no qual facilitam o aumento do balanço energético,convertendo-


se em gordura corporal (STANHOPE et al., 2018).

CONCLUSÃO

Posto isso, pode-se averiguar por intermédio da análise dos estudos selecionados que
é prevalente entre crianças e adolescentes uma elevada ingestão de alimentos ultraprocessados,
onde são marcados por um acentuado conteúdo de gordura saturada, adição de açúcar, sódio e
alta densidade energética, que quando consumidos com regularidadeacabam tornando-os mais
vulneráveis a complicações cardiometabólicas, além de outras condições como obesidade,
síndrome metabólica, dislipidemias e dentre outras.
Além do mais, as alterações nos parâmetros antropométricos: peso, CC, IMC, RCEst
e exames laboratoriais estiveram correlacionados às situações agravantes para a maior
probabilidade de eventos cardiovasculares.
Entretanto, ainda é necessário haver mais pesquisas que façam a relação entre o
consumo de alimentos ultraprocessados dentre os públicos analisados, uma vez que ainda é
uma temática pouco explorada no campo da literatura científica.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Página 344
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 31

INSERÇÃO DO PROFISSIONAL ODONTÓLOGO NO


MERCADO DE TRABALHO EM SAÚDE: UM BREVE
PANORAMA ACERCA DESSE CENÁRIO NO BRASIL

Ana Thaís Motta dos Santos Fiuza, Taís Mendes Araujo dos Santos,
Matheus Rocha Peregrino, Matheus Santos Azevedo, Ritieli Mallagutti
Corrêa, Catarina Borges Gonçalves, Yasmim de Jesus Oliveira,
Ivanessa Ramos de Souza e Rafael dos Santos Souza

RESUMO: Nas últimas décadas, o mercado de trabalho da


Odontologia passou por muitas mudanças que resultaram num
complexo campo de atuação. O presente capítulo trata-se de uma
revisão narrativa de cunho descritivo a partir da análise de produções
científicas que se alinhassem ao objetivo deste. Nesse sentido, os
resultados mostraram que a prática odontológica no mercado de
trabalho brasileiro abarca diferentes modalidades de inserção, ainda
que a forma autônoma não tenha deixado de ser modelo hegemônico
e almejado de exercício da profissão. Além disso, notou-se que há
uma distribuição desigual dos cirurgiões-dentistas pelo território
brasileiro. Por isso, este capítulo busca traçar um breve panorama
acerca dos aspectos relacionados à inserção do profissional
odontólogo no mercado de trabalho em saúde no Brasil, bem como
explicar sua atual conjuntura, dinâmica e seus reflexos na saúde bucal
e dentária da população brasileira.

Página 345
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o campo da Odontologia passou por uma série de mudanças no
que diz respeito à opinião da sociedade sobre essa profissão, à formação e atuação dos
profissionais e ao mercado de trabalho (FERREIRA et al., 2013). Com relação a esse último
aspecto, as transformações transcendem o mero aumento do quantitativo de dentistas,
caracterizando-se pela complexificação desse mercado, mediante o aparecimento de uma
diversidade de modalidades de inserção (BLEICHER, 2016).
A análise da conjuntura desse mercado de atuação profissional, por sua vez, relaciona-
se à construção social em que se desenvolve. Isso porque as modalidades de inserção do
profissional odontólogo no mercado de trabalho acompanham o contexto político, econômico
e social, suscitando diversas modificações em aspectos relacionados, por exemplo, à força de
trabalho, à satisfação profissional e às tendências sociais do exercício da Odontologia
(FERREIRA et al., 2013).
Nesse sentido, no Brasil em especial, essa temática merece destaque, visto que, mesmo
com a crescente ramificação da prática, ainda há uma concentração de profissionais
odontólogos em determinadas áreas de atuação. Soma-se a esse fato a desregular distribuição
destes profissionais no território brasileiro, com a concentração destes no setor privado, nas
regiões Sul e Sudeste e nos centros urbanos (FERREIRA et al., 2013; GARBIN et al., 2013;
MATHIAS et al., 2015; BLEICHER, 2016).
Ademais, é possível constatar que a atenção odontológica no Brasil, sobretudo nos
serviços públicos, ainda enfrenta desafios, já que, mesmo com a expansão desenfreada de cursos
de Odontologia, parte considerável da população brasileira não desfruta da assistência em saúde
dentária (FERREIRA et al., 2013). Nessa perspectiva, o presente capítulo buscou traçar um
panorama acerca dos aspectos relacionados à inserção e prática do profissional odontólogo no
mercado de saúde no Brasil, bem como explicar sua atual conjuntura, dinâmica e seus reflexos
na saúde bucal e dentária da população brasileira.

2. METODOLOGIA

Este estudo consiste em uma uma revisão narrativa de cunho descritivo referente a
inserção do profissional odontólogo no mercado de trabalho em saúde. A coleta dos dados foi
feita no período de agosto à novembro de 2021, a partir da busca online de artigos científicos
indexados na base de dados Scientific Library Online (SciELO).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Os critérios utilizados para a inclusão dos artigos foram: (1) estarem dentro do eixo
temático do mercado de trabalho da Odontologia no Brasil; (2) serem artigos produzidos em
língua portuguesa; (3) serem artigos científicos publicados na íntegra. Por outro lado, no que se
refere aos trabalhos não incluídos, os seguintes critérios foram aplicados: (1) não terem como
eixo temático o mercado de trabalho da Odontologia no Brasil; (2) serem artigos produzidos
em língua estrangeira.
Dada a seleção dos artigos conforme os critérios de inclusão anteriormente definidos,
foi realizada uma leitura exploratória do material encontrado, com posterior leitura seletiva e
escolha dos artigos condizentes com os objetivos do presente estudo. Por último, os textos
foram analisados e interpretados para a redação deste capítulo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A consolidação da Odontologia como ciência no século XIX e a legalização da profissão


no período de desenvolvimento capitalista permitiram a ampliação da oferta e do consumo de
serviços de saúde, o que favoreceu a formação de um sólido mercado de trabalho e a valorização
dessa profissão como prática social (FERREIRA et al., 2013). A inserção do profissional
odontólogo nesse mercado pode ser caracterizada com base em critérios que tipificam tanto
modalidades fundamentais quanto variações dessas formas. Nesse sentido, fundamentando-se
na obra “Medicina e sociedade: o médico e seu mercado de trabalho”, escrita por Cecília
Donnangelo em 1975, Bleicher (2016) aborda e discute essa inserção a partir dos três grandes
critérios descritos por Donnangelo: controle sobre a clientela; posse dos meios de trabalho e
liberdade na fixação do preço do trabalho.
O controle sobre a clientela se refere a quem atrai e mantém os pacientes. O segundo,
posse dos meios de trabalho, compreende a situação em que o trabalhador pode ser ou
proprietário dos equipamentos, dos insumos e do espaço de trabalho ou contratado por quem
detém o monopólio desses meios. Por último, o terceiro critério abrange a possibilidade do
profissional determinar e fixar o preço do seu trabalho, estabelecendo o valor de seus honorários
a partir da negociação direta com o sujeito que irá realizar o pagamento, ou, quando na condição
de empregado, da empresa estipular o preço a ser pago por cada atendimento feito pelo dentista
(BLEICHER, 2016). Nessa perspectiva, considerando esses aspectos, a inserção no mercado de
trabalho pode se dar de forma autônoma, assalariada ou empresarial.

Página 347
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A autonomia se constitui quando o profissional tem controle sobre os três critérios


supracitados e, por isso, vende o serviço diretamente ao paciente, sendo considerada a forma
tradicional de inserção dos dentistas no mercado de trabalho (BLEICHER, 2016). Essa
modalidade apresenta uma grande relevância simbólica, visto que se constitui na forma geral
como os indivíduos se vêem enquanto profissionais. A esse respeito, Ferreira e colaboradores
(2013) explicam que essa representação está associada à concepção segmentada que o estudante
de Odontologia possui do mercado de trabalho, o que fomenta a vontade e a idealização
primeiras de montar o próprio consultório e trabalhar no setor privado. Esse desejo, por sua vez,
encontra raízes na abordagem tecnicista e organiscista que prevalece no ensino dessa profissão
e valoriza o aspecto individual, a especialização e a mercantilização do ato odontológico
(FERREIRA et al., 2013).
Nesse sentido, no assalariamento, o dentista vende a sua força de trabalho ao
proprietário da clínica, dos equipamentos e dos insumos em troca de uma remuneração, o
salário. Nesse sentido, dado que não dispõe do controle sobre os meios de trabalho, esse
profissional também não possui controle nem da clientela, recrutada pelo dono dos meios de
trabalho, nem da definição do valor a ser pago pelo paciente por cada atendimento. Com efeito,
ainda que o profissional mantenha uma considerável autonomia clínica no que diz respeito ao
diagnóstico e tratamento, é o comprador da força de trabalho que determina as condições nas
quais o atendimento se consuma (BLEICHER, 2016).
Outrossim, ainda segundo Bleicher (2016), a terceira modalidade fundamental de
inserção no mercado compreende o profissional proprietário ou empresário que, assim como o
autônomo, controla a clientela, os meios de trabalho e a autonomia de fixação dos preços para
o serviço prestado. A distinção entre essas duas categorias reside no fato de que o primeiro tem
sua renda composta essencialmente pela diferença entre os gastos de remuneração com
trabalhador assalariado e o valor arrecadado com o pagamento dos pacientes (BLEICHER,
2016).
A crise do modelo liberal, decorrente do crescimento no quantitativo de profissionais e
da redução no desembolso direto dos pacientes para custear os tratamentos, fez com que os
odontologistas procurassem outros modos de permanência no mercado por meio de modelos
associativos ou empresariais, causando mudanças profundas no exercício profissional da
Odontologia no Brasil, embora a autonomia não tenha deixado de ser o modelo hegemônico e
almejado de inserção (GARBIN et al., 2013). Essas mudanças no mercado de trabalho da
Odontologia são marcadas por uma complexificação suscitada pelo aparecimento de diversas
outras formas de inserção (BLEICHER, 2016). Nesse sentido, às supramencionadas

Página 348
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

modalidades fundamentais, se somam algumas variações que bem caracterizam as alterações


desse mercado.
A princípio, tem-se o chamado “aluguel de turno”, em que o dentista usufrui das
instalações e/ou dos serviços de auxiliares de uma clínica odontológica mediante o firmamento
de um contrato com esse estabelecimento pela quantidade de horas desse uso. Nessa
modalidade, o profissional dispõe dos equipamentos e das demais condições necessárias para
realizar os atendimentos, sendo responsável por captar a clientela, definir o método de trabalho
e fixar o preço de seus serviços. O credenciamento de planos odontológicos é outra modalidade
comum no mercado hodierno e se refere ao trabalhador que possui controle sobre o consultório,
os equipamentos e os materiais necessários para a sua prática, mas atende uma clientela que foi
captada por uma operadora de plano de saúde. Desse modo, verifica-se uma sobreposição das
formas autônoma e assalariada, uma vez que, mesmo com consultório próprio, o profissional
odontólogo não tem liberdade para fixar o preço de seu trabalho, recebendo uma remuneração
definida pela operadora (BLEICHER, 2016). Ademais, ainda de acordo com Bleicher (2016),
existem os trabalhadores pejotizados, uma forma de assalariamento disfarçado e habitual, na
qual os profissionais são contratados enquanto pessoas jurídicas e, nessa condição, vendem a
sua força de trabalho. Com efeito, no entanto, ao se configurar como uma “empresa” aos olhos
da lei, o dentista é destituído de todos os direitos trabalhistas previstos na Constituição Federal
de 1988.
No que tange a modalidade proprietário, é importante destacar duas grandes variações
nas empresas que contratam dentistas: a prestadora de serviço odontológico e a odontologia
suplementar. A primeira se refere a um tipo de empresa que vende, de forma direta, o serviço
odontológico ao usuário. A odontologia suplementar, por outro lado, indica a relação que se
estabelece entre profissionais odontólogos e operadoras de planos odontológicos (BLEICHER,
2016). A esse respeito, Vieira e Costa (2008) elucidam que o ramo dos planos de saúde
odontológicos é, de um modo geral, consideravelmente rentável para os empresários, na medida
em que expressam um grande potencial de geração de receitas que favorecem o crescimento e
a permanência dessas empresas no mercado. Contudo, relata-se um aumento no
descontentamento dos trabalhadores que se inserem nesse nicho, sobretudo no que diz respeito
à remuneração obtida, ao prazo de pagamento e à supressão da autonomia, uma vez que os
convênios estão convertendo o credenciado ex-profissional liberal em assalariado e prestador
de serviço (GARBIN et al., 2013). Por fim, é viável, ainda, a inserção do profissional da
Odontologia no ensino e na pesquisa ligados às instituições de ensino (MATHIAS et al., 2015).

Página 349
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A atuação desse trabalhador no mercado, por sua vez, engloba múltiplas possibilidades.
Nessa perspectiva, hodiernamente, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) reconhece
dezenove áreas de atuação para o profissional odontólogo, a saber: Cirurgia e Traumatologia
Buco Maxilo Facial, Dentística, Disfunção Têmporo Mandibular e Dor Orofacial, Endodontia,
Estomatologia, Imaginologia e Radiologia Odontológica, Implantodontia, Odontologia Legal,
Odontologia do Trabalho, Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais,
Odontogeriatria, Odontopediatria, Ortodontia, Ortopedia Funcional dos Maxilares, Patologia
Bucal, Periodontia, Prótese Buco Maxilo Facial, Prótese Dentária e Saúde Coletiva. Dentre
essas, ainda conforme dados do CFO, Ortodontia, Endodontia, Prótese Dentária e Periodontia
estão entre as especialidades mais procuradas pelos estudantes.
Essas possibilidades de atuação profissional dos odontólogos podem ser analisadas à luz
da construção social em que se desenvolvem. Isso porque, conforme Ferreira e colaboradores
(2013), toda prática profissional é fruto não apenas do que se pratica ou do que se ensina nas
universidades, mas também da diversidade e dinamicidade dos processos que ocorrem na
sociedade. Nesse viés, entende-se que as modalidades de inserção do profissional odontólogo
no mercado de trabalho descritas anteriormente acompanham o contexto político, econômico e
social, suscitando diversas modificações em aspectos relacionados, por exemplo, à força de
trabalho, à satisfação profissional e às tendências sociais do exercício da Odontologia
(FERREIRA et al., 2013).
Desse modo, considerando os locais em que o profissional odontólogo pode vir a atuar,
essa força de trabalho da saúde pode ser dividida em dois grandes grupos, os que atendem no
Sistema Único de Saúde e os que não atendem, de acordo com o registro realizado no Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), uma base de dados utilizada para analisar a
força de trabalho no setor da saúde (CASCAES et al., 2018).
A esse respeito, tem-se que, ao longo do século XX, a Odontologia compreendeu uma
prática fundamentalmente privada e voltada às demandas de estética e de reposição dentária
dos mais ricos, sendo a atuação no setor público incipiente e direcionada à prestação de serviços
contidos em programas assistenciais, que eram limitados a alguns grupos populacionais ou
disponibilizados ao contribuintes do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência
Social (INAMPS), mediante convênios entre o Estado e o setor privado (CASCAES et al.,
2018).
Atualmente, um fato interessante a ser observado é que, dentro dessa esfera privada, os
profissionais de Odontologia têm prestado não apenas cuidados relacionados à saúde bucal, mas
também tratamentos estéticos, que exigem um dentista especializado na área. Nesse contexto,

Página 350
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

existem algumas técnicas utilizadas para corrigir estética e funcionalmente os dentes, gengiva,
lábios, expressão facial, função muscular facial, marcas de expressão, maxila, mandíbula, entre
outros. O uso da toxina botulínica, popularmente conhecida como “botox”, e do preenchimento
facial com ácido hialurônico, por exemplo, provocaram avanços importantes na área
odontológica, atendendo aos crescentes anseios estéticos da população (PORTAL UOL, 2021).
Por outro lado, Ferreira e colaboradores (2013) observaram que uma parcela dos novos
profissionais também almeja o trabalho no setor público, apontando uma mudança no espaço
de atuação antes priorizado na esfera privada, a despeito de ainda haver um grande interesse
pelo consultório particular. Esse aspecto pode ser visualizado, ainda, a partir da constatação do
fortalecimento de políticas públicas que elevam a saúde bucal a uma importante questão na
agenda de prioridades em saúde. Sob essa perspectiva, resgata-se que, no âmbito público, a
incorporação dos cirurgiões-dentistas na Estratégia de Saúde da Família (ESF), por intermédio
da Portaria nº 1.444 de dezembro de 2000, e a Política Nacional de Saúde Bucal, publicada em
2004, resultaram na expansão do número de equipes de saúde bucal na ESF, no aumento do
acesso aos serviços especializados e no crescimento dos subsídios federais para a área
odontológica. Com efeito, a inserção e atuação do odontólogo no setor público, outrora vistas
com ressalvas, conforma-se como resultado da vontade de se obter uma estabilidade financeira,
amenizando a incerteza do exercício profissional no campo privado (CASCAES et al., 2018).
Entretanto, não se pode perder de vista que, embora o setor público tenha se tornado um
grande empregador dos odontólogos, a Odontologia de mercado ainda concentra o maior
número de profissionais, na qual se observa uma estagnação do setor privado autônomo e uma
expansão gradativa das modalidades odontológicas na saúde suplementar (GARBIN et al.,
2013). Nesse sentido, cabe, ainda, apontar a problemática da distribuição desigual dos
odontólogos entre as regiões brasileiras. Com relação a esse aspecto, a despeito da grande
quantidade de profissionais odontólogos brasileiros que é evidenciada, a título de
exemplificação, pelo estrangulamento do mercado privado, uma grande parte da população
continua sem assistência necessária. No que tange a esse fato, de acordo com Ferreira e
colaboradores (2013), já no ano de 2010, existia um panorama de saúde bucal preocupante no
país, no qual coexistiam mais de 20 milhões de desdentados e cerca de 240 mil cirurgiões-
dentistas.
Esse quadro é explicado pela distribuição desigual dos odontologistas no contexto
brasileiro, a partir da qual se verifica uma concentração desses profissionais nas regiões Sul e
Sudeste e nos centros urbanos (GARBIN et al., 2013; MATHIAS et al., 2015; BLEICHER,
2016). Ademais, tem-se que, permeando esse cenário, no setor público, há muitos habitantes

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

para poucos cirurgiões-dentistas, enquanto na esfera privada, existem poucos habitantes para
muitos profissionais (CASCAES et al., 2018).
Um fator que pode explicar essas situações é que o quantitativo de cursos de graduação
e especialização também se localizam, majoritariamente, nos estados do Sul e Sudeste.
Outrossim, ainda que a políticas públicas de saúde bucal estimulem o deslocamento de
profissionais para os municípios do interior, a fim de melhorar o acesso aos serviços
odontológicos e minimizar a vulnerabilidade dos habitantes dessas localidades, não garantem,
por si só, uma redistribuição significativa desses aspectos. Por último, cabe citar que os pólos
formadores e a população de maior poder aquisitivo se situam nos grandes centros urbanos,
fazendo com que muitos cirurgiões-dentistas permaneçam nesses espaços e procurando aliar a
atuação no setor público com a atividade em consultórios ou clínicas privadas (CASCAES et
al., 2018).

4. CONCLUSÃO

Diante das considerações feitas acerca dos aspectos mercadológicos e de atuação


profissional, é possível observar que o mercado de trabalho para o dentista passou por
transformações que transcendem o substancial aumento do número de profissionais. Dessa
forma, destaca-se a complexificação desse mercado, mediante o surgimento de diferentes
modalidades de inserção, ainda que a forma autônoma não tenha deixado de ser modelo
hegemônico e almejado de exercício da profissão. Ademais, aponta-se que, embora o setor
público tenha se tornado um grande empregador dos odontólogos, a Odontologia de mercado
ainda concentra o maior número de profissionais, na qual a busca e a escolha das
especializações são orientadas pelo favorecimento dessa lógica.
Dessa maneira, os achados deste trabalho revelam a necessidade de reorganização e
ordenamento da formação dos profissionais odontólogos no Brasil, de modo a oportunizar
cursos de Odontologia cujas grades acadêmicas articulem os setores da educação e da saúde
para a valorização da responsabilidade pública e das necessidades sanitária da população
brasileira. Em um país heterogêneo como o Brasil, essa proposta ganha uma relevância ainda
maior, sendo capaz de mitigar os efeitos decorrentes da orientação mercadológica que ainda
marca a profissão e da distribuição desigual dos cirurgiões-dentistas pelo país.
Destarte, percebe-se que a dinâmica do mercado de trabalho interfere diretamente nas
escolhas que permeiam a formação profissional. Nesse viés, em uma conjuntura social orientada

Página 352
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

pela valorização do acúmulo de capital monetário, os profissionais da Odontologia tendem a


procurar por especializações que favoreçam essa lógica. Com efeito, ressalta-se a necessidade
de superação de velhos paradigmas para que o ensino e a prática da Odontologia estejam em
consonância com as reais necessidades do país, a partir de uma formação acadêmica que
privilegie uma compreensão de mundo holística e um olhar crítico e atento às necessidades da
sociedade em que se irá desempenhar as funções profissionais.

5. REFERÊNCIAS

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MATHIAS, M. P. et al. Cirurgiões-dentistas e faculdades no Brasil: repercussões sobre a
prática odontológica. Journal of Oral Investigations, v. 4, n. 2, p. 25-31, 2016. Disponível
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2021.

PORTAL UOL. Dr. Alexandre Morita fala sobre crescimento da Odontologia Estética e
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<http://www.foconosnegocios.com.br/dr-alexandre-morita-fala-sobre-crescimento-da-
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VIEIRA, C.; COSTA, N. do R. Estratégia profissional e mimetismo empresarial: os planos de
saúde odontológicos no Brasil. Ciência & saúde coletiva, v. 13, p. 1579-1588, 2008.
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Acesso em: 22 de outubro de 2021.

Página 353
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 32

A UTILIZAÇÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA PRÁTICA


CLÍNICA ODONTOLÓGICA: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA DE LITERATURA

Amanda Thalya Soares da Silva, Ana Beatriz Lima de Oliveira, Bárbara


Catariny Santos Mourelhe, Bruna de Carvalho da Costa Pereira, Bruna
Gusmão Cabral de Mello, Elyka Milena Furtado Nascimento, Glauciele
Souza de Santana, Hellen Kevillyn Brito de Souza, Larissa Jennifer
Nascimento Andrade ,Melissa Lessa Kabbaz Asfora, Olímpio Francisco
da Costa Neto, Mariana Alves Lemos e Héberte de Santana Arruda

RESUMO: Os óleos essenciais podem ser utilizados como


medicamentos naturais, dentre suas várias propriedades, a
antimicrobiana é uma das que vem sendo aproveitada pela odontologia
clínica. Portanto, essa revisão integrativa tem como objetivo analisar a
eficácia dos óleos essenciais como agentes bactericidas e/ou
bacteriostáticos na prática clínica odontológica. A busca foi feita
através das bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e
PubMed/MEDLINE utilizando os descritores “Oils Volatile’’,
“Therapeutic Uses”, “Dentistry”. Os critérios de inclusão adotados
foram artigos publicados nos idiomas português ou inglês; artigos
publicados de forma completa e no período entre 2011 e 2021. Foram
excluídos estudos do tipo teses, dissertações, monografias, cartas ao
editor, índices incomuns, revisões e que não abordaram o tema. Foram
encontrados 25 artigos, destes, 13 foram selecionados mas apenas 5
compuseram a amostra para o trabalho. Observou-se que os óleos
essenciais possuem ações antimicrobianas e com potencial para
reduzir as colônias bacterianas presentes no biofilme dental. Contudo,
seu uso clínico na odontologia necessita de mais pesquisas para
comprovar as suas vantagens sob as demais substâncias existentes.

Página 354
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A importância do correto manuseamento dos recursos naturais ocupa importante


área de debate em diversos âmbitos científicos, pois o uso consciente, associado a um
descarte adequado contribui para a longevidade da sobrevivência humana no planeta.
Concomitantemente, a redução de produtos químicos no meio ambiente implica em maior
precaução com relação às futuras gerações e seu bem estar. Nesse sentido, o emprego de
produtos naturais constitui uma prática vanguardista na construção de uma odontologia
sustentável. Assim, atualmente, vem crescendo o número de estudos baseados na
biotecnologia e/ou biomimetismo no meio odontológico, visando insumos com atividade
terapêutica, pouca toxicidade e melhor biocompatibilidade em diversas afecções bucais
(FRANCISCO, 2010; ANTÔNIO, 2019).

As propriedades antifúngicas, antibacterianas, antioxidantes e antivirais dos


óleos essenciais, são cada vez mais estudadas e aproveitadas através do seu uso como
medicamentos naturais. Portanto vêm-se analisando a aplicabilidade dessas substância
durante a prática clínica odontológica, e para isso, estudos foram desenvolvidos,
adicionando os óleos essenciais em enxaguatórios bucais, substâncias refrigeradoras
durante o debridamento ultrassônico, dentifrícios, entre outras formulações, com o intuito
de observar sua eficácia, em diferentes situações (COSYN, 2012; SANTAMARIA, 2014;
CAGETTI, 2015; JÜNGER, 2020).

Os óleos essenciais de produtos naturais, forma de apresentação que reúne enorme


quantidade de fitoconstituintes com atributos biológicos ativos, vêm ganhando destaque
nas pesquisas quanto às suas características antimicrobianas com efeito bactericida e
bacteriostático contra variadas espécies de bactérias, por se tratar de um produto de fácil
acesso e passível de aplicações na rotina clínica (FREIRE, 2014; MIRANDA, 2020).
Vislumbra-se ainda o uso destes substratos naturais, através da aromaterapia, no combate
à ansiedade odontológica, especialmente por conta das suas propriedades sedativas, que
representam uma excelente alternativa à utilização de medicamentos, como os da classe
dos benzodiazepínicos. A tomar como exemplo, o óleo essencial de lavanda que, além de
propriedades anti-sépticas e anti-inflamatórias, consegue aliviar transtornos de ansiedade,
agindo como fator calmante (KARAN, 2019).

Sabe-se que o controle do padrão ouro da placa supragengival e subgengival é,


majoritariamente, dado com tratamento mecânico oral adequado. No entanto, os
dentifrícios servem de grande auxílio na remoção do biofilme e são excelentes veículos
para a liberação de substâncias terapêuticas, como agentes antimicrobianos. Os óleos
essenciais, por sua vez, estão sendo propostos e testados em enxaguatórios bucais, sendo
agentes promissores no tratamento de doenças bucais, mostrando uma ampla ação
antimicrobiana de bactérias presentes na cavidade oral (SANTAMARIA, 2014;
CAGETTI, 2015; SPULDARO, 2021).

Página 355
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Dessa forma, devido às contribuições analisadas, suas propriedades


antibacterianas vêm demonstrando resultados satisfatórios quanto ao controle da placa
bacteriana quando inseridos nos enxaguatórios bucais. Além disso, apresentam menos
efeitos adversos quando comparados com a Clorexidina, de uso bastante difundido na
prática clínica, e ainda apresentam efeitos calmante, que podem ajudar aos pacientes mais
ansiosos às consultas (SPULDARO, 2021). Portanto, o objetivo do referido trabalho
consiste em analisar a eficácia dos óleos essenciais como agentes bactericidas e/ou
bacteriostáticos na prática clínica odontológica.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa, devendo seguir de maneira criteriosa o
procedimento preconizado, pretendendo identificar e selecionar as principais
características das publicações: A produção deste estudo foi realizada através de seis
passos: 1ª Fase: elaboração da pergunta norteadora; 2ª Fase: busca ou amostragem na
literatura; 3ª Fase: coleta de dados; 4ª Fase: análise crítica dos estudos incluídos; 5ª Fase:
discussão dos resultados; 6ª Fase: apresentação da revisão integrativa.

Para o presente estudo, foi proposta a seguinte pergunta norteadora: Os óleos


essenciais possuem atividade bactericida e/ou bacteriostática? O recorte temporal
consistiu em revisar as publicações dos últimos 10 anos, de Janeiro/2011 a Janeiro/2021.
Os critérios de inclusão definidos para selecionar os estudos foram: estudos publicados
em português ou inglês; publicações disponíveis em formato de artigos completos
(originais), no período de janeiro/2011 a janeiro/2021. Foram excluídas teses,
dissertações, monografias, cartas ao editor, índices incomuns, revisões e artigos que
embora apresentassem os descritores selecionados, não abordaram diretamente a
temática.

A coleta de dados aconteceu no mês de novembro de 2021 obedecendo a


estratégia PRISMA para seleção de artigos. Essa metodologia Prisma – Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses (MOHER, 2009) - para
avaliação do nível de evidência dos estudos incluídos na revisão foi utilizado a pirâmide
de níveis de evidência.

Os estudos são classificados de forma hierárquica, de acordo com o nível de


evidência, em seis níveis: o nível 1, de maior grau, corresponde a uma revisão sistemática
ou metanálise de múltiplos estudos controlados; nível 2, evidências derivadas ensaio
clínico randomizado; nível 3, ensaios clínicos sem randomização; nível 4, evidências com
delineamento não-experimental de forma descritiva e qualitativa ou estudos de caso; nível
5, estudos de casos; nível 6, envolvendo opiniões de experts. Além disso, os níveis ainda
são subdivididos em categorias, indo de A-D, sendo o “A”, evidências com delineamento
apropriados, e “D”, em estudos que podem apresentar falhas e a confiança dos resultados
é questionável (STETLER, 1998). Dessa forma, todos os artigos selecionados têm como
nível de evidência 1B, consequentemente, o grau de recomendação dessa Revisão
Integrativa é A, segundo o Nível de Evidência Científica por tipo de Estudo, do Centro
de Oxford (2009).

Para determinação das publicações que integraram a amostra deste estudo,


executou-se uma busca online, mediante levantamento na Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), e no PubMed/Medline, que permitiu obter artigos originais de alto impacto. A

Página 356
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

busca foi realizada por dois autores que revisaram a literatura para seleção dos artigos
que compuseram a amostra. Posteriormente, as listas foram comparadas e, no caso de
divergências, um terceiro autor, com experiência no tema investigado, tomou a decisão
com base nos critérios determinados de inclusão e exclusão, como forma de garantir rigor
ao processo de seleção dos artigos. Foram utilizados os seguintes descritores
padronizados e disponíveis em Medical SubjectHeadings: “Oils Volatile’’ “Therapeutic
Uses” "Dentistry" os quais foram combinados através do operador booleano “AND” de
forma a restringir a amplitude da pesquisa e os termos.

Além do mais, os dados alcançados através da coleta estão apresentados por meio
de figuras, de forma que possibilite um melhor entendimento dos estudos da revisão
integrativa, e se encontram expostos de forma descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De início, a pesquisa bibliográfica mostrou 184 artigos. Destes, 184 na


Medline/PubMed e 0 na Lilacs/BVS. Após a realização da primeira triagem, aplicando os
filtros: “Full text”, “Clinical Trial”, “Meta-Analysis”, “Randomized Controlled Trial'' e
“10 years”, além dos critérios exclusão, restaram 25 artigos. Após a leitura dos títulos e
resumos, 13 artigos foram selecionados. Ao analisar esses remanescentes, 8 foram
excluídos por não atenderem os objetivos da pesquisa. Por fim, os artigos que se
adequaram aos critérios previamente determinados seguiram para leitura integral. Desta
maneira, 05 artigos compuseram a amostra.

Figura 1. Processo de seleção do fluxograma para os estudos incluídos nesta revisão integrativa

Fonte: Autores, 2021.

A Figura 2 apresenta a distribuição dos estudos, cruzando periódico, autoria e ano,


título e base de dados, objetivo e tipo de estudo, de acordo com os descritores utilizados

Página 357
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

nas bases de dados. Assim, as publicações foram classificadas em A1 até A5, para dar
característica a cada estudo selecionado na revisão. Os estudos foram publicados no
período de 2014 a 2021, seguindo os critérios dos últimos dez anos. Seguindo os critérios
de busca, foram utilizados estudos no idioma português e inglês. A amostra é composta
por 5 estudos que apresentam os seguintes delineamentos metodológicos: 1 Estudo de
Ensaio Clínico Randomizado controlado, 1 Estudo clínico piloto randomizado, 2 Ensaios
Clínicos Randomizado e Estudo Duplo-cego Controlado e 1 Ensaio Clínico
Randomizado, crossover, Estudo duplo- cego. Os objetivos do estudo são claros e de fácil
compreensão.

Figura 2. Distribuição dos estudos conforme métodos, resultados e conclusão.

Página 358
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Figura 3. Distribuição dos estudos segundo código, métodos, resultados e conclusão.

Fonte: Autores, 2021.

Página 359
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Entende-se que os microrganismos, sobretudo as bactérias, presentes no biofilme


oral estão ligadas à etiopatogenia das doenças bucais mais comuns em humanos: a cárie
e as doenças periodontais. Logo, o adequado controle mecânico e químico do biofilme
dentário, pressupõe um estado de homeostase na cavidade bucal. A utilização de
formulações químicas como enxaguatórios bucais e dentifrícios associados a óleos
essenciais, por exemplo, indicam uma ação antimicrobiana (LINDHE, 2010).

No que diz respeito a etiologia, óleos essenciais podem ser extraídos de flores,
folhas, ramos, cascas, sementes, frutos, raízes e rizomas e botões de plantas. Além disso,
possuem compostos aromáticos voláteis, que apresentam potencial ação antimicrobiana,
já que podem atuar como mecanismos antimicrobianos nas funções das células
bacterianas. Ainda nesse contexto, afirma-se que bactérias gram-positivas como a
Staphylococcus aureus e Bacillus Cereus encontram-se mais vulneráveis aos óleos
essenciais, quando contrastadas com as gram-negativas (LOBO, 2014; POMBO, 2018),
possuindo a S. aureus maior relevância clínica, já que é a espécie mais rotineiramente
isolada em humanos, além de mais virulenta, sendo o principal agente patogênico
envolvido na causa de infecções no ambiente clínico/hospitalar. Com isso, é possível
inferir que este produto de origem natural possui um amplo espectro de ação
antibacteriana (SANTOS, 2021).

A incorporação dessas formulações a dentifrícios é uma alternativa no controle


químico do biofilme. O estudo de Santamaria et al., (2014), comparou a eficácia
antimicrobiana, na redução de colônias bacterianas de Streptococcus mutans, entre o
creme dental com óleo essencial de Melaleuca (Petite Marie / All Chemistry, São Paulo,
Brasil) e um creme dental convencional - Colgate Total 12 (SB Campo, São Paulo,
Brasil). Em linhas gerais, o gel desenvolvido com óleo essencial teve um melhor resultado
na redução da contagem bacteriana, contudo, houveram queixas em relação ao sabor e à
primeira sensação. Outro estudo também observou que pastas de dentes contendo flúor,
triclosan, cloreto de cetilpiridínio e óleos essenciais, obtiveram uma maior redução da
placa bacteriana, quando comparado a pastas de dentes fluoretadas sem adição de outros
ingredientes, contudo, afirmou a necessidade de novos estudos para confirmar esses
achados (CAGETTI, 2015).

Segundo Spuldaro et al., (2021), os óleos essenciais quando utilizados na forma


de enxaguante bucal, apresentaram efeito antiplaca, por meio da destruição da parede
celular e inibição da atividade enzimática, além de uma ação antibacteriana, no qual os
permitem penetrar na placa dentária, e agir como um componente fenólico, que interferem
no processo inflamatório. Lobo et al., (2014), também observou essa característica
antimicrobiana, no estudo da Lippia sidoides, pela presença de constituintes voláteis.

Contudo, de acordo com os autores, ainda não foi possível determinar a real
eficácia dos óleos essenciais, pois a adição do álcool nos enxaguantes foi responsável por
apresentar melhores resultados no retardo da formação de placa supra e subgengival, no
entanto, mesmo sem a adição do componente alcoólico, ainda foi possível observar um
bom resultado nesse retardo (SPULDARO, 2021). Ademais, Charugundla et al., (2015)
afirma que, bochechos com clorexidina e flúor possuem uma eficácia maior do que os
óleos essenciais, em indivíduos que possuem cárie. Porém, ainda são necessários mais
estudos comparando diferentes combinações de enxaguantes bucais, em amostras
maiores.

Página 360
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Portanto, os diferentes resultados analisados, demonstram uma potencial ação


antimicrobiana dos óleos essenciais nos enxaguantes bucais e sua eficácia em reduzir as
colônias bacterianas. Porém divergências sobre a sua vantagem em relação às demais
substâncias são encontradas, sendo necessários mais estudos que abranjam outras
preparações testadas de maneira isolada e/ou sinérgica aos enxaguatórios
bucais/dentifrícios a fim de elucidar tanto o mecanismo de ação de suas propriedades
antimicrobianas bem como seu espectro de ação.

CONCLUSÃO

Os óleos essenciais possuem potencial aplicabilidade no exercício clínico da


prática odontológica, especialmente quando utilizados como agentes antimicrobianos. A
sua aplicabilidade, para além das vantagens das suas características biológicas também
apontam benefícios por compor um uso alternativo de produtos naturais na clínica
odontológica com o intuito de reduzir os resíduos gerados por materiais artificiais,
amenizando assim os impactos climáticos. Além de descrever as propriedades
antimicrobianas, tem-se o objetivo de estimular o desenvolvimento de mais pesquisas que
envolvam óleos essenciais e odontologia, como a prática da aromaterapia e potenciais
anti-inflamatórios e de regeneração tecidual, por exemplo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTÔNIO, R. C. A odontologia e a sustentabilidade: benefícios, limitações e desafios


na interface saúde/meioambiente. Faculdade Maria Milza, 2019.
CAGETTI, M. G. et al. Effect of a toothpaste containing triclosan, cetylpyridinium
chloride, and essential oils on gingival status in schoolchildren: A randomized clinical
pilot study. Quintessence Int, v. 46, n. 5, p. 437-445, 2015.
CHARUGUNDLA, B. R., ANJUM, S., MOCHERLA, M. Comparative effect of fluoride,
essential oil and chlorhexidine mouth rinses on dental plaque and gingivitis in patients
with and without dental caries: a randomized controlled trial. International journal of
dental hygiene, v. 13, n. 2, p. 104–109, 2015.
COSYN, J. et al. Clinical effects of an essential oil solution used as a coolant during
ultrasonic root debridement. Int J Dent Hygiene, v. 11, n. 1, p. 62-68, 2013.
FRANCISCO, K. S. F. et al. Fitoterapia: uma opção para o tratamento odontológico.
Revista saúde, v. 4, n. 1, p. 18-24, 2010.
FREIRE, I. C. M. et al. Atividade antibacteriana de Óleos Essenciais sobre Streptococcus
mutans e Staphylococcus aureus. Revista brasileira de plantas medicinais, v. 16, p. 372-
377, 2014.
JÜNGER, H. et al. Anti-inflammatory potential of an essential oil-containing mouthwash
in elderly subjects enrolled in supportive periodontal therapy: a 6-week randomised
controlled clinical trial. Clin Oral Investig, v. 24, n. 9, p. 3203-3211, 2020.
KARAN, N. B. Influence of lavender oil inhalation on vital signs and anxiety: A
randomized clinical trial. Physiol Behav, v. 211, p. 1-5, 2019.
LINDHE, J. Tratado de Periodontia Clínica e Implantodontia Oral: 5° edição. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.
LOBO, P. L. D. et al. The efficacy of three formulations of Lippia sidoides Cham.
essential oil in the reduction of salivary Streptococcus mutans in children with caries: A

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

randomized, double-blind, controlled study. Phytomedicine, v. 21, n. 8-9, p. 1043-1047,


2014.
MIRANDA, L. H. Potencial terapêutico dos óleos essenciais em Medicina Dentária –
revisão narrativa. 2020. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina Dentária) -
Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2020.
MOHER, D. et al. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses:
The PRISMA statement. PLoS Medicine, v. 6, n. 7, p. 1–6, 2009.
POMBO, J. C. P. et al. Efeito antimicrobiano e sinergístico de óleos essenciais sobre
bactérias contaminantes de alimentos. Segur. Aliment. Nutr. [Internet]. 2º de agosto de
2018.
SANTAMARIA, M. et al. Antimicrobial effect of Melaleuca alternifolia dental gel in
orthodontic patients. Am J Orthod Dentofacial Orthop, v. 145, n. 2, p. 198-202, 2014.
SANTOS, T. et al. Avaliação da presença de Staphylococcus coagulase-positiva em
diferentes superfícies do ambiente clínico odontológico. Research, Society and
Development, v. 10, n. 2, pp. 1-8, 2021.
SPULDARO, T. R. et al. Efficacy of Essential Oil Mouthwashes With and Without
Alcohol on the Plaque Formation: A Randomized, Crossover, Double-Blinded, Clinical
Trial. Journal of Evidence Based Dental Practice, v. 21, n. 1, p. 1-7, 2021.
STETLER, C. B. et al. Utilization-Focused Integrative Reviews in a Nursing Service.
Applied Nursing Research, v. 11, n. 4, p. 195-206, 1998.

Página 362
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 33

DESAFIOS E IMPASSES DA PRÁTICA PROFISSIONAL


NA SEGURANÇA DO PACIENTE EM AMBIENTE
HOSPITALAR
Samara Dantas de Medeiros Diniz, Maria Eduarda Lopes de Macedo Bezerra, Mizia
Juscimara Silva dos Santos, Walisson da Silva Vieira, Maria Dhescyca Ingrid Silva
Arruda, Paulo César Oliveira Barros Silva, Maria Isabelly Leite Figueiredo, Yasmim
Xavier Arruda Costa, Ticianne Martins Tavares, Danilo Rocha Fonseca, Thaiz Helena
Vicente Ramos, Andriellen Rabelo Carvalho, Tércia Maria Soares, Thiemmy de Souza
Almeida e Ana Beatriz Ferreira Vitorino

RESUMO: A segurança do paciente requer diversos tipos de meios organizacionais e


instrísecos à assistência. Refere-se a um processo sistematizado o qual oferta
seguridade. Esta segurança é vital na redução de riscos e impactos que afetam o
paciente, ambiente hospitalar e os demais setores administrativos. Com isso, é de
suma importância que todos os riscos sejam solucionados para garantir a segurança
ao paciente e toda equipe envolvida. O estudo objetiva identificar na literatura
científica, quais as causas dos Eventos Adversos frequentes e os problemas e
impasses dos quais impedem a prática profissional segura. Neste contexto, posterior
à análise, explicitou-se que embora existam protocolos respaldando a segurança do
paciente, muitos hospitais ainda não os aderiram e colocaram em prática. São
incontáveis as quantidades de problemas que interferem na prática segura da
segurança ao paciente como a falta de recursos materiais: ausência de equipamentos
para procedimentos, infraesturura inadequadas, tecnologias desatualizadas, falta de
grades, cadeiras e diversos outros materiais necessários para uma assistência de
qualidade e que se interligam diretamente à segurança do paciente. A sobrecarga de
trabalho, estresse e outros recursos humanos, podem oferecer riscos à seguridade,
deixando os profissionais de saúde suceptíveis a desenvolverem cansaço e até
mesmo transtornos dos quais atrapalharão na realização das práticas em saúde. No
âmbito organizacional, fica notório que os níveis de hospitais interferem na
segurança, como os hospitais privados que investem mais em equipamentos
atualizados, infraesturura qualificada, maior quantidade de profissionais, tecnologias
atualizadas que facilitam na assistência, entre outros. Já nos hospitais estaduais,
encontra-se a maior margem de riscos à segurança do paciente, devido ao seu estado
defasado, investimento inadequado e a má organização administrativa. Portanto,
transfigura-se evidente que a realização da prática segura da segurança do paciente
depende de vários aspectos extrínsecos. Logo, fazem-se necessários investimentos
em estruturas físicas e materiais, intervenções organizacionais, como também a
aplicação de protocolos voltados á segurança. Assim, propiciando segurança não
somente ao paciente, mas aos acompanhantes, profissionais de saúde e a todos os
trabalhadores do ambiente hospitalar.

Página 363
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A assistência qualificada e segura ao paciente requer meios organizacionais. Com isso,
a cultura da Segurança do Paciente é primordial para amenizar os possíveis riscos e danos
causados aos pacientes. Refere-se a um processo permanente embasado em várias ações,
como atividades educativas, formas sistematizadas para analisar e detectar eventos adversos
(EA) – quaisquer danos ou lesão causado ao paciente em decorrência de intervenção da
equipe de saúde – e as inúmeras situações das quais propiciam risco (ANDRADE et al.,
2018).
Consoante a Andrade et al. (2018), mundialmente, incidentes que ferem a Segurança
do Paciente acontecem comumente. Entretanto, no Brasil a frequência de Eventos Adversos
(EA) é maior. E visando amenizar os EA, a Cultura de Segurança do Paciente (CSP) foi
instituída com a finalidade de favorecer a implantação de práticas seguras e diminuição de
incidentes de segurança. A CSP é definida como o produto de valores, atitudes, percepções,
competências e padrões de comportamento de grupos e de indivíduos. Sendo assim,
determinando que o compromisso, estilo e proficiência façam parte no manejo e organização
da segurança em saúde.
Neste contexto, avaliar a cultura de segurança é de suma importância e de variáveis
utilidades como: diagnosticar o nível de cultura de segurança, possíveis riscos de dano,
benchmarking interno e externo, evolução das intervenções de SP e acompanhar evolução da
CSP com o tempo, bem como a notificação de incidentes. Além disso, para uma avaliação
correta, precisará selecionar ferramentas adequadas, métodos de coletas de dados válidos,
aplicar o plano de ação e iniciar as transformações. Dentre as ferramentas utilizadas para
mensurar a CSP, pode-se citar: listas de verificação, avaliação de risco ambiental, entrevistas
estruturadas, análise de causa-efeito, todavia, o método mais usado é a avaliação via
questionário de autopreenchimento (ANDRADE et al., 2018).

Almejando reduzir os elevados índices de morte por falhas e erros hospitalar, em


2013, no Brasil, foi instituído o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) e
publicado pela Resolução da Diretoria Colegiada nº 36 (RDC 36/2013), garantindo melhorias
aos serviços de saúde com a promoção da Segurança do Paciente. Neste contexto, ressalta-se
a importância de análise de gestão, envolvendo um processo de planejamento multidisciplinar,
incorporando práticas seguras de Saúde e identificando as principais problemáticas as quais
atingem os pacientes. Assim, objetivando uma assistência de qualidade e segurança
(CAVALCANTE et al., 2019).

Página 364
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Em âmbito internacional, inúmeras pesquisas foram criadas objetivando analisar a


segurança do paciente na perspectiva de unidades hospitalares ou por categorias profissionais,
almejando identificar quais as causas dos Eventos Adversos frequentes nessa nação e os
problemas dos quais impedem a prática profissional segura. Assim, identificando, avaliando e
instituindo implementações que garantam seguridade na assistência profissional.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa (RI) de literatura que é um meio científico de
pesquisa a qual proporciona a análise de estudos científicos através da síntese de saberes e
junção dos resultados de estudos. Sendo assim, facilitando a compreensão do tema
selecionado e a propagação dos conhecimentos elaborados pelos autoes (SOUZA et al.,
2017).
Este estudo científico foi executado no período de dezembro de 2021, realizado nas
bases: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura
Médica (MEDLINE) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Para a busca foram
empregues os descritores indexados em Ciências da Saúde (DeCS): “Administração em
Saúde”, “Fatores de Risco”, “Qualidade da Assistência à Saúde”, “Prática Profissional” e
“Segurança do Paciente”, utilizando para o cruzamento o operador Booleando AND,
resultando na seguinte estratégia de busca: “Administração em Saúde” AND “Fatores de
Risco” AND “Qualidade da Assistência à Saúde” AND “Prática Profissional” AND
“Segurança do Paciente”.
Teve como recorte temporal de 2016 a 2021, além de ser fundamentado no protocolo de
busca elaborado previamente para o levantamento e leitura minuciosa dos artigos. Foram
adotados como critérios de inclusão: artigos nos idiomas português, inglês e espanhol,
publicados nos últimos cinco anos, textos completos gratuitos e que respondessem ao objetivo
do estudo. Os critérios de exclusão foram: artigos duplicados nas bases, publicações fora do
recorte temporal definido e que não se relacionaram ao objetivo proposto. Desta busca, foram
recuperados 38 artigos e posteriormente submetidos aos critérios de seleção, resultando em 07
artigos elegíveis ao estudo (Quadro 1).
Quadro 1. Caracterização dos artigos elegíveis ao estudo quanto ao título, autores, ano de publicação, base de
dados e objetivos. Brasil, 2021.
CÓDIGO TÍTULO DO AUTORES ANO REVISTA OBJETIVOS
ARTIGO
A.1 A metodologia de DE SOUSA, Luís 2017 Revista Apresentar os

Página 365
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

revisão Manuel Mota et Investigação em conceitos gerais e as


integrativa da al. Enfermagem etapas para a
literatura em elaboração de uma
enfermagem revisão integrativa da
literatura, com base
na mais recente
evidência científica.
A.2 Aplicabilidade de CESTARI, Virna 2017 Revista Cogitare Identificar as
inovações Ribeiro Feitosa et Enfermagem tecnologias utilizadas
tecnológicas al. pelo enfermeiro para
assistenciais para promoção da
a segurança do segurança do
paciente: revisão paciente no contexto
integrativa hospitalar.
A.3 Cultura de ANDRADE, Luiz 2018 SciELO Avaliar a cultura de
segurança do Eduardo Lima et segurança do
paciente em três al. paciente e fatores
hospitais associados em
brasileiros com hospitais brasileiros
diferentes tipos com diferentes tipos
de gestão de gestão: federal,
estadual e privado.
A.4 Desafios da SIMAN, Andréia 2019 SciELO Compreender os
prática na Guerra et al. desafios da prática
segurança do profissional para o
paciente alcance das metas e
objetivos do
Programa Nacional
de Segurança do
Paciente.
A.5 Estratégias de MOREIRA, 2019 Revista Gaúcha Descrever e analisar
comunicação Felice Teles Lira de Enfermagem estratégias de
efetiva no dos Santos et al. comunicação
gerenciamento de interprofissional
comportamentos efetiva no
destrutivos e gerenciamento de
promoção da comportamentos
segurança do destrutivos no
paciente trabalho hospitalar e
promoção da
segurança do
paciente.
A.6 Clima de MAGALHÃES, 2019 Revista Gaúcha Avaliar a percepção
segurança do Felipe Henrique de Enfermagem do clima de
paciente em um de Lima et al. segurança do
hospital de paciente pelos
ensino profissionais de
saúde a partir do
Questionário de
Atitudes de
Segurança e
investigar a
associação entre os
escores e variáveis
sociodemográficas e
profissionais.
A.7 Implementação CAVALCANTE, 2019 Revista Gaúcha Verificar a
dos núcleos de Elisângela Franco de Enfermagem implementação do
segurança do de Oliveira et al. Núcleo de Segurança
paciente e as do Paciente e sua

Página 366
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

infecções relação com o


relacionadas à controle das
assistência à Infecções
saúde Relacionadas à
Assistência à Saúde
nos hospitais de
Natal.
Fonte: Autores, 2021.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após serem submetidos aos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 32
artigos, dos quais 07 permaneceram como amostra. Para a análise, foram escolhidos artigos
que respondessem ao objetivo da pesquisa, fornecendo aos autores conhecimentos fidedignos
acerca do tema em estudo.
Consoante a Cestari et al. (2017), anualmente, os Estados Unidos da América (EUA)
sofrem 98 mil mortes por erros que poderiam ser evitados no ambiente hospitalar, tornando-se
um fato preocupante ao setor hospitalar e a todos os trabalhadores de saúde. Estas falhas –
ação que ocorre fora do planejado ou aplicação incorreta do plano – podem ser originadas por
erros médicos, negligências e realização incorreta de procedimentos. Ademais, diversos
outros estudos explanam que as práticas dos profissionais de saúde demonstram um aumento
nas taxa de EA, destacando-se: procedimentos cirúrgicos, infecções hospitalares,
administração de medicamentos, falhas no setor de acolhimento, dentre outros danos e
práticas inadequadas que chegam a ocasionar mortes.
A falta de recursos materiais gera impactos na assistência e oferece risco aos
pacientes. Destacando-se como principais dificuldades infraestruturais: falta de grades nas
camas, faltam de cadeiras e macas, ausência de campainhas de comunicação e sinalização no
leito, cadeiras de banho e camas em condições inadequadas e recursos materiais escassos. Foi
possível identificar casos de EA graves devido à falta de investimentos em equipamentos
médicos e dispositivos utilizados na assistência, um exemplo simples é a desregulação de
monitores na Unidade de Terapia Intensiva. Quanto aos recursos humanos fica explícito que
alguns aspectos de recursos humanos no ambiente de trabalho, influenciam diretamente na
Segurança do Paciente: número reduzido de trabalhadores, sobrecarga de trabalho, estresse,
atrasos nos salários, baixa remuneração e alta rotatividade dos profissionais. Esses impactos
dificultam a realização de uma prática segura (CESTARI et al., 2017).
Andrade et al. (2018) realizou uma pesquisa em um determinado hospital, onde afirma
que a maioria das pessoas com cargo de coordenação desconheciam todos os aspectos
relacionados à segurança do paciente até ingressar no hospital em estudo. Ademais,

Página 367
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

identificou-se que no hospital, não havia protocolo de administração de medicamentos seguro,


o que pode ser explicado o exacerbado nível de erros de medicação por profissionais de
saúde. Além disso, observou-se que os únicos protocolos que estavam disponíveis se
encontravam em outro setor. As ferramentas de avaliação que facilitam na assistência dos
profissionais não eram utilizadas, assim como as ações traçadas para diminuir os EA’s não
eram aplicadas. As ferramentas desenvolvidas para facilitar a assistência deve ser valorizada,
como também devem ser implementadas por toda equipe multiprofissional, considerando o
paciente de forma holística e não somente por sua enfermidade.
Para Magalhães et al. (2019) as ferramentas são de suma importância para a
assistência correta e segura, como exemplo o Manuel de Procedimento Operacional Padrão
(POP). Uma vez aplicadas e seguidas corretamente, os procedimentos serão realizados de
forma segura e não apresentaram riscos ao paciente. Sendo assim, o risco de falhas será
mínimo.
Os recursos materiais e seus impactos no cuidado, e a realidade relacionada aos
recursos humanos influenciam na tomada de decisões e consequentemente, na prática de
segurança de paciente. A falta de recursos materiais acarreta uma série de problemas
hospitalares, como exemplo comum a falta de grades nas camas ocasionando uma queda do
paciente e gerando um possível Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), podendo levar a
morte. Os recursos materiais serão vitais na infraestrutura e oferece segurança não somente
nos procedimentos, mas em todo o processo de assistência e internação. Além disso, oferta
seguridade aos pacientes, familiares e a todos os profissionais que ali se encontram (SIMAN
et al. 2019).
Os recursos humanos devem ser considerados e valorizados no ambiente de trabalho.
A sobrecarga de trabalho, estresse, gerará uma alteração psíquica nos profissionais e
consequentemente, a realização incorreta dos procedimentos e tomadas de decisões
inadequadas, ocasionando um EA, erros e falhas em gerais. Portanto, a valorização dos
profissionais de enfermagem e toda a equipe multiprofissional devem ser praticadas, visto que
eles estão vulneráveis mentalmente e profissionalmente, facilitando não somente a ação de
Segurança de Paciente, mas a segurança individual e coletiva (MOREIRA et al., 2019).
Conforme o estudo de Andrade et al. (2018) realizado em hospitais de diversos níveis,
evidenciou-se que os hospitais privados apresentam melhorias nos níveis de segurança ao
paciente, pois as dimensões classificadas como fortalezas foram encontradas com apoio no
processo de adequação e melhorias da segurança do paciente. Esta vertente é justificada pelo
melhor investimento na infraestrutura e equipamentos adequados para a prática de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

procedimentos em saúde. Quanto ao hospital estadual que apresentou um resultado negativo


em comparação ao federal e privado, pode ser explicado pelo fato de financiamento
insuficiente em nível de gestores e baixa aquisição de insumos, equipamentos e medicamentos
em gerais. Também são percebidas maiores dimensões de fragilidades que dificultam no
processo do assistir o paciente e ofertar seguridade.
Assim, o cenário organizacional contribui para a eficácia da segurança do paciente, no
Brasil, sendo de extrema importância ações imediatas que minimizem os incidentes e
promovam um melhor alcance no percentual de resposta adequado. As tecnologias devem ser
implementadas, assim como uma nova avaliação organizacional e de gestores, resultando num
investimento adequado e que irá suscitar benefícios à segurança do paciente.

CONCLUSÃO
Logo, torna-se notório que os protocolos de Segurança do Paciente devem ser
implementados nos serviços de saúde. Outrossim, é imprescindível que as práticas instituídas
sejam transfiguradas para o real e não continuem como apenas prescritas. Igualmente, fazem-
se necessários investimentos na estrutura física e de materiais, almejando uma assistência de
seguridade e qualidade. Os desafios impostos pelos recursos morais e humanos
negligenciados devem ser superados, alcançando uma prática segura nos cuidados da saúde.
Destarte, é inescusável que a segurança do paciente ainda é mal assistida em vários
hospitais no Brasil e no mundo. Também se fazem imprescindíveis intervenções
organizacionais no âmbito governamental e gestão, tendo em vista de que somente o hospital
privado apresentou escores elevados na cultura de segurança do paciente. São imprescindíveis
estudos inéditos dos quais identifiquem novas fragilidades e fortalezas de segurança. Sendo
assim, é preciso o investimento em equipamentos e infraestrutura em geral, visando melhorar
a assistência e ofertando seguridade a todos os pacientes e a todos que se encontram no
ambiente hospitalar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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brasileiros com diferentes tipos de gestão. Ciencia & saude coletiva, v. 23, p. 161-172, 2018.

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Página 370
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 34

Exercício físico resistido para controle da


Hipertensão em adultos do sexo feminino: uma
revisão sistemática

Darlã de Alves; Alessandra Pessi

RESUMO: A hipertensão arterial (HA) é uma condição mórbida, com


alta associação com doenças cardiovasculares. Diversos estudos
afirmam que a atividade física regular pode ser uma excelente aliada
no tratamento da PA e na busca por qualidade de vida. Este estudo
visa analisar de forma sistemática artigos que contemplem esta
temática, em especial em indivíduos do sexo feminino. Serão oito
artigos que realizam revisão da literatura publicada e testes físicos
comparativos. Conclui-se que o treinamento resistido é importante na
vida de mulheres hipertensas, pois nos estudos analisados mais
profundamente nessa pesquisa, concluiu-se que o treinamento
resistido ocasionou quedas nos valores da pressão arterial, portanto,
podemos usá-lo como alternativa para a prevenção a Hipertensão, e
até mesmo como tratamento não farmacológico.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma patologia de natureza


multifatorial com alta prevalência na população de idosos (CANUTO et al,
2011). De acordo com Guyton e Hall (2011), a hipertensão arterial é
caracterizada por uma pressão arterial elevada, com valores acima dos níveis
definidos como normais, ou seja, quando o sangue que percorre a circulação
sistêmica exerce uma pressão superior a habitual contra as paredes arteriais.

Já a hipertensão arterial (HA) é um dos mais importantes problemas


para saúde pública com grande prevalência na população, é o principal fator de
risco de morte entre as doenças não transmissíveis, que consideram como
hipertensa, cerca de 70% da população idosa, com maior prevalência no sexo
feminino, na faixa etária de 70 a 90 anos (REGO et al.2011). Em seus estudos
de Canuto et. Al. (2011) concluíram que o exercício físico é uma possível forma
de tratamento ou prevenção não farmacológica da Hipertensão e também
destaca benefícios como a melhora na qualidade de vida.

Diversos são os fatores de risco para a hipertensão, tais como a idade, o


gênero, o grupo étnico, obesidade, tabagismo, entre outros. Segundo Zaitune
et al. (2006) através da identificação destes fatores de risco, houveram
avanços para medidas de prevenção e tratamento nos altos índices
pressóricos, sendo com a utilização de fármacos ou não.

A prática de exercícios físicos é fundamental para qualquer pessoa, e


ainda mais importante para os idosos com hipertensão, pois, além de estarem
sujeitos aos efeitos da HA, como a diminuição da capacidade funcional,
também estão sujeitos às limitações físicas inerentes ao avanço da idade.
Sendo valido ressaltar que idosos hipertensos apresentam 4,2 vezes mais
chances de desenvolverem limitações funcionais, ou 39% mais chances de
serem dependentes nas atividades da vida diária que normotensos (ARAUJO,
2006).

Estudos evidenciam que a prática de um estilo de vida mais ativo, com


hábitos saudáveis e exercícios físicos regulares, está ligada à prevenção ou à
atenuação das limitações funcionais. Podem também auxiliar reduzindo efeitos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

da PA, na prevenção de complicações cardiovasculares, entre outros. Melhorar


o desempenho em atividades diárias, melhorando a qualidade de vida mesmo
na presença de patologias crônicas (MORAIS et al., 2011).

Esta revisão tem como objetivo descrever os efeitos do exercício físico


regular sobre a hipertensão arterial em mulheres adultas. A escolha por este
tema vem ao encontro do campo de atuação do pesquisador. Atuando a alguns
anos com exercício físico para mulheres, percebo a incidência da hipertensão
na maioria dos casos. E assim busquei aprofundar o conhecimento deste
assunto através desta pesquisa.

TREINAMENTO RESISTIDO PARA MULHERES ADULTAS

Atualmente conhecida como treinamento resistido, a musculação, teve


sua origem na Grécia Antiga. Segundo Bittencourt (1984) foi Milon de Crotona,
atleta multicampeão campeão dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, que deu
base às primeiras práticas da musculação. O exemplo veio pelo fato deste
atleta carregar um bezerro às costas. E assim, à medida que o bezerro crescia,
o atleta era favorecido com relação à força Bittencourt (1984). Ramos (1982. p.
94) afirma que os primeiros locais propícios às práticas da “musculação”, estes
eram os ginásios, que se constituíam como “Estabelecimento Público destinado
ao treinamento atlético, constituído de salas cobertas e locais ao ar livre” na
Antiga Grécia.
Evoluindo para o século XIX, os médicos higienistas, com seus ideais de
eugenia de raça e higienização, pregam a importância de o indivíduo realizar
atividades físicas para manter o indivíduo forte e saudável, porém, com o intuito
de preparar os homens para o trabalho e as mulheres para as linhas de
produção e serviços domésticos (CASTELLANI, 1994. p. 43).
Musculação, os chamados exercícios resistidos, é o termo mais utilizado
para designar o treinamento com pesos, fazendo referência ao seu efeito mais
evidente, que é o aumento da massa muscular, segundo Santarém (1999). O
autor também ressalta que exercícios contra resistência, geralmente são
realizados com pesos, embora existam outras formas de oferecer resistência à
contração muscular. Assim sendo, musculação não é uma modalidade
esportiva, mas uma forma de treinamento físico Santarém (1999).

Página 373
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Hoje em dia o treinamento resistido é recomendado para a manutenção


do nosso organismo e pode trazer ganhos para saúde e melhoria da qualidade
de vida. A prática da musculação na atualidade cresce em popularidade,
principalmente pela preocupação com uma aparência saudável, pelo culto ao
corpo de forma estética ou a competição, e pela grande divulgação desta
modalidade através da mídia.
A procura por um corpo bonito, saudável e em forma fez com que, a
partir da década de 1970, as academias de ginástica expandissem e aderissem
cada vez mais praticantes (MARINHO; GULIELMO, 1997), ou por aptidão às
atividades da Educação Física Escolar, ou por recomendações médicas
(MARCELLINO, 2003). A prática regular de atividade física está ligada à
imagem de pessoas com o corpo em forma, tanto para homens quanto para
mulheres, porém hoje já se sabe que outros benefícios do fitness se
manifestam em todos os aspectos do organismo, desde a parte psicológica até
o fortalecimento dos ossos e das articulações, em especial para as mulheres.
Já faz tempo que musculação deixou de ser apenas atividade de
homens. Diversas pessoas que querem aumentar massa muscular ou até
mesmo condicionar para a promoção da saúde aderem a esta modalidade.
Mulheres que praticam musculação pelo menos uma vez na semana, quando
comparadas as que não praticam tem um ganho significativo muito alto na
melhora da sua imagem corporal (VIDAL, 2006).
Em seus estudos sobre imagem corporal (ALMEIDA; LOUREIRO;
SANTOS, 2002) referem-se à experiência corporal que as pessoas têm sobre
sua própria aparência e funcionamento de seu corpo e ao reconhecimento que
o indivíduo faz de si mesmo, considerando seus sentimentos, potencialidades,
atitudes e ideias (PINQUART; SÖRENSEN, 2001). Para Magalhães et al.
(2008), a imagem corporal apresenta-se como um dos componentes envolvidos
no conceito de autoestima, sendo interligadas e dependentes uma da outra.
É considerado um treinamento resistido muito importante na prevenção
tanto de doenças crônicas quanto no fortalecimento corporal. A comparação
em relação ao homem é o desenvolvimento da resistência muscular e da força
relativa. Estudos mostraram que as mulheres possuem mais força nos
membros inferiores, enquanto os homens possuem mais força nos membros
superiores (SANTOS, 2010).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O EXERCÍCIO FÍSICO NO CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL


Estudos evidenciam que a prática de um estilo de vida mais ativo, com
hábitos saudáveis e exercícios físicos regulares, está ligada à prevenção ou à
atenuação das limitações funcionais. Podem também auxiliar reduzindo efeitos
da PA, na prevenção de complicações cardiovasculares, entre outros. Melhorar
o desempenho em atividades diárias, melhorando a qualidade de vida mesmo
na presença de patologias crônicas (MORAIS et al., 2011).

Segundo Barbanti (2003) a definição de exercício físico se dá como uma


sequência planejada de movimentos repetitivos sistematicamente com o
objetivo de melhorar o rendimento, ou seja, consiste em uma sequência
sistematizada de movimentos de diferentes segmentos corporais, executados
de forma planejada e com um determinado objetivo a ser atingido. Atividades
do dia a dia como caminhar, sentar, levantar, podem ser consideradas
atividade física, porém sob orientação de um profissional se caracterizam como
exercício físico, pois possuem objetivo, intensidade e variações.

A baixa e também manutenção da pressão arterial é evidenciada em


diversos estudos pela influência da prática de exercício físico regular,
ocasionando o que conhecemos por efeito hipotensivo após o exercício físico,
o que representa valores reduzidos da pressão arterial (OLIVEIRA et al. 2011).

Alguns estudos realizados por Monteiro e Sobral Filho (2004) identificam


o exercício físico com efeito benéfico sobre uma série de respostas fisiológicas,
em todo sistema corporal, em especial, no sistema cardiovascular, uma vez
que promove a homeostasia celular em face do aumento das demandas
metabólicas.

MATERIAIS E MÉTODO

Para a coleta dos dados foram acessados bancos de dados como


Scielo, Lilacs e publicações de revistas e periódicos da área de saúde que
abordassem sobre a temática: Hipertensão, Exercício Físico Mulheres Adultas.

Na seleção de artigos no estudo foram estabelecidos os seguintes


critérios: a) focalizar o tema da pesquisa (HAS) e abordar o conceito a ser

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

analisado; b) estar escrito nos idiomas português ou inglês; c) estar publicado,


entre os anos de 2008 a 2019. Realizou-se a identificação de 20 artigos nas
fontes descritas, mas após leitura criteriosa, foram novamente selecionados 8
trabalhos para a análise.

A seguir, o quadro 1 apresentará os estudos relacionados, o ano de


publicação e o método utilizado na pesquisa.

Quadro 1
Autores Ano Título Método

BATTAGIN et al. 2010 Resposta Pressórica após Exercício Testes


Resistido de Diferentes Segmentos comparativos
Corporais em Hipertensos
CANUTO et al. 2011 Influência do Treinamento Resistido Testes
Realizado em Intensidades Diferentes comparativos
e Mesmo Volume de Trabalho sobre a
Pressão Arterial de Idosas
Hipertensas
CARVALHO et al. 2019 Exercício aeróbico e resistido em Testes
pacientes com hipertensão arterial comparativos
resistente
MEDEIROS e 2014 O treinamento resistido em idosos Revisão da
NASCIMENTO hipertensos Literatura
PÓVOA et al. 2014 Treinamento aeróbio e resistido, Testes
qualidade de Vida e capacidade comparativos
funcional de hipertensas
SCHER; NOBRE e 2008 O papel do exercício físico na pressão Testes
LIMA arterial em idosos comparativos
SILVA E BONA 2014 Exercício físico aeróbio, resistido e Estudo de caso
combinado: efeitos
na pressão arterial em indivíduos
hipertensos
TERRA et al. 2008 Redução da Pressão Arterial e do Testes
Duplo Produto de Repouso após comparativos
Treinamento Resistido em Idosas
Hipertensas
Fonte: Os Autores.

Podemos perceber que dos oito estudos relacionados acima apenas


uma pesquisa abordava somente revisão bibliográfica baseada na consulta a
obras já publicadas, uma pesquisa foi realizado um estudo de caso, pois testes
foram aplicados em uma pequena amostra de participantes, e os demais
estudos analisados, realizaram, além de pesquisa bibliográfica, testes
comparativos com amostra significativa de humanos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Outro fator que chama a atenção é o ano de publicação dos trabalhos.


Relacionamos para este estudo trabalhos de 2008 a 2019, a fim de
identificarmos a evolução das pesquisas nesta área dentro deste período.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sabe-se que a discussão é o local da pesquisa que abriga os


comentários sobre o significado dos resultados, a comparação com outros
achados de pesquisas e a posição do autor sobre o assunto abordado,
conforme Pereira (2013). Neste capítulo veremos os resultados gerados nos
estudos relacionados.

Verificar os efeitos do treinamento resistido progressivo sobre a pressão


arterial de repouso (PA), a frequência cardíaca (FC) e o duplo produto (DP) em
vinte idosas hipertensas controladas foi o objetivo do estudo de Terra et al.
(2008). Vinte e seis idosas hipertensas controladas não realizaram exercícios
físicos durante a pesquisa, constituindo o grupo-controle. Houve redução
significativa nos valores de repouso da pressão arterial sistólica (PAS), da
pressão arterial média (PAM) e do DP após o TR. Não foram encontradas
reduções significativas na pressão arterial diastólica (PAD) e na FC de repouso
após o TR em ambos os grupos. A magnitude da queda no GTR foi de 10,5
mmHg, 6,2 mmHg e 2.218,6 mmHg x bpm para a PAS, PAM e o DP,
respectivamente.

No estudo citado acima o treinamento resistido reduziu a pressão arterial


sistólica e a pressão arterial média de repouso de idosas hipertensas,
controladas com medicação anti-hipertensiva. Essa redução pode diminuir o
risco de infarto agudo do miocárdio e de doenças coronarianas. Dessa forma,
Terra et al. (2008) acredita que o treinamento pode ser utilizado como terapia
não-medicamentosa não só para a prevenção, mas também como tratamento e
controle da hipertensão arterial sistêmica.

Já Scher, Nobre e Lima (2008) evidenciam em seus estudos que os


betabloqueadores não são recomendados para a primeira linha de tratamento
em pacientes hipertensos idosos, particularmente naqueles que se exercitam,

Página 377
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

por causa da redução do desempenho durante atividade física programada. A


capacidade adaptativa ao exercício físico encontra-se reduzida no idoso por
alterações decorrentes do processo de envelhecimento, sedentarismo ou
doenças associadas.

No estudo realizado por Battagin et al. (2010) realizados em quatorze


mulheres com idades entre 65 e 70 anos, imediatamente após o exercício
resistido agudo, houve significante aumento das pressões sistólicas, sem
modificações significantes das pressões diastólicas, quando comparadas aos
níveis pressóricos de repouso, para todos os grupos musculares e para todas
as intensidades avaliadas. Adicionalmente, observou-se maior tendência à
elevação da pressão sistólica quando o quadríceps femoral foi exercitado em
alta intensidade. O exercício resistido de diferentes segmentos corporais
promoveu aumentos similares e seguros dos níveis de pressão arterial
sistólica, embora com tendência a maior resposta desta quando exercitados
grandes grupos musculares em cargas elevadas. Assim os autores concluem
que o exercício resistido progressivo de diferentes segmentos corporais
promove aumentos modestos na pressão arterial sistólica e parece ser seguro,
sem repercussão na pressão arterial diastólica Battagin et al. (2010).

Comparar o efeito da hipotensão pós-exercício (HPE) durante 60


minutos entre duas sessões de exercícios resistidos realizados com
intensidades diferentes, mas com igual relação carga-repetição em 32
mulheres idosas hipertensas foi o objetivo do estudo comparativo de Canuto et
al. (2011). Após o programa de exercícios os dados coletados neste estudo
sugerem que a sequência de exercícios resistidos com duração de três
sessões de treinamento não resultou em hipotensão pós-exercício em idosas
hipertensas, não havendo diferenças significativas quanto às pressões sistólica
e diastólica dos grupos com intensidades leve e alta.

Alguns estudos indicam que o treinamento aeróbio é o que causa maior


efeito hipotensor em comparativo ao treinamento resistido. Porém nos testes
realizados no estudo de Silva e Bona (2013) o treinamento resistido teve
grande sucesso em seus efeitos hipotensores. Neste estudo três indivíduos
hipertensos controlados, com idade entre 55 e 65 anos, pouco praticantes de
atividade física, foram submetidos a 3 tipos de treino de força combinados com

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

aeróbio. A aferição da pressão arterial era realizada a cada série de


treinamento resistido e no exercício aeróbio a cada 10 minutos. Os autores
ressaltam que foi analisada a pressão arterial de todos os treinamentos,
realizando uma análise estatística pelo teste de análise de variância (ANOVA)
dos diferentes momentos do treinamento. Para estes indivíduos participantes
do estudo, o melhor treinamento e os melhores resultados foram alcançados
pelo treinamento resistido.

Em consonância Medeiros e Nascimento (2014) relacionando os


achados em seus estudos de revisão sistemática afirmam que o treinamento
resistido pode ser grande diferencial na vida de hipertensos para o controle
desta patologia. Acreditam também que o exercício físico é de muita
importância para qualquer idade, mas, principalmente para pessoas idosas que
procuram uma melhor qualidade de vida.

Uma amostra total de 41 mulheres hipertensas foi analisada por Póvoa


et al. (2014). A adesão às sessões no grupo resistido foi de 97% e 96% no
grupo aeróbio, considerando-se o total de 18 sessões de exercícios. Os dois
tipos de treinamento, aeróbio e resistido, promoveram melhoria em aspectos
importantes da qualidade de vida e qualidade de vida relacionada à saúde e na
capacidade funcional na população de mulheres hipertensas avaliadas neste
estudo.

Em seus estudos comparativos Carvalho et al. (2019) 12 pacientes,


separados em dois grupos aleatoriamente, foram submetidos a treinamento
resistido e treinamento aeróbio com o objetivo de avaliar o efeito, em 12
semanas, sobre parâmetros pressóricos, antropométricos e bioquímicos de
pacientes com hipertensão arterial resistente. No grupo que realizou o
treinamento aeróbico, os valores médios de pressão sistólica e diastólica e sua
média foram significativamente mais baixos no total das 24 horas analisadas,
com quedas de 14 mmHg, 7 mmHg e 10 mmHg, respectivamente, e no período
de vigília. O grupo de treinamento resistido não apresentou alteração
significativa da pressão arterial, apesar da melhora significativa dos níveis de
HDL. Doze semanas de exercícios aeróbicos resultaram em redução da
pressão arterial de forma significativa em hipertensos resistentes, enquanto
que os exercícios resistidos se mostraram mais eficazes no aumento do HDL.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado nos achados deste estudo de revisão, é possível identificar que


o exercício físico resistido é uma ferramenta eficaz no tratamento da população
de mulheres hipertensas em qualquer faixa etária. Aliado a modificações no
estilo de vida, o exercício físico tem sido apontado como uma opção não
medicamentosa eficiente na prevenção, controle e tratamento da hipertensão
arterial. O treinamento supervisionado, com frequência semanal de três vezes
por semana, e com intensidade moderada parece gerar mais benefícios do que
os de alta intensidade, para tais reduções na pressão arterial.

Com os artigos encontrados, podemos encontrar que mulheres


hipertensas submetidas a diferentes programas de exercício apresentaram
redução significativa nos valores da pressão arterial. Apesar de muitos estudos
apresentarem o treinamento aeróbio como mais eficaz para o controle da
hipertensão, a maioria dos estudos aqui apresentados apoiam o treinamento
resistido como melhor hipotensor.

A variação de método de pesquisa, assim como a amostra e estudos de


caso relacionados, podem ter influenciado nos resultados dos comparativos. E
mais uma vez percebemos que o corpo humano é único em suas
especificidades. Evidenciando a necessidade de contexto, testes e adaptações
para a prescrição de programa de exercício físico como alternativa para o
controle da hipertensão em mulheres.

Através dos estudos apresentados nesta revisão sistemática podemos


contemplar a evolução da temática nos últimos doze anos. Ainda assim, são
necessárias mais pesquisas para melhor comparação quanto a aplicabilidade
dos treinamentos, seja resistido ou aeróbio.

Página 380
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Página 383
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 35

A ACESSIBILIDADE E A PESSOA COM


DEFICIÊNCIA: UMA PERSPECTIVA DA TERAPIA
OCUPACIONAL

Gabriela do Monte Oliveira, Ana Carolina Rodrigues Barra, Laryssa da


Silva Alves e Daniella Ramos Nunes4

RESUMO: A garantia de acessibilidade à pessoa com deficiência


possibilita a equidade, a redução de barreiras entre as pessoas da
sociedade e a qualidade de vida para esses sujeitos. O presente
trabalho tem como objetivos compreender como as ocupações
desempenhadas pela pessoa com deficiência são influenciadas pela
ausência de acessibilidade; de que forma a acessibilidade pode ser
identificada como privação ocupacional e qual a perspectiva do
Terapeuta Ocupacional na promoção de acessibilidade. O estudo se
configura em revisão bibliográfica, com buscas realizadas no período
de novembro a dezembro de 2021. Os resultados revelaram que a
acessibilidade à pessoa com deficiência é uma enorme barreira para
que ele possa constituir sua vida social e profissional, portanto, o
terapeuta ocupacional adequa esta realidade adaptando ambientes e
contextos, buscando tratar e prevenir possíveis agravos que esse
ambiente pode acarretar, além de realizar adaptações a nível
atitudinal, organizacional e ambiental, visando otimizar o desempenho
funcional mantendo a autonomia e independência. Conclui-se,
portanto, que a acessibilidade à pessoa com deficiência enfrenta
barreiras históricas dificultando suas ocupações diárias.

Página 384
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Considera-se pessoa com deficiência (PcD) aquela que apresenta dificuldades a longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou
mais barreiras, pode influenciar em sua participação plena na comunidade e em igualdade de
condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015). As principais causas da deficiência
podem ser decorrentes de transtornos congênitos e perinatais, causadas por assistência
insuficiente ou inadequada a mulheres na fase reprodutiva; doenças infecciosas e crônicas não
transmissíveis; doença mental; uso de álcool e drogas; desnutrição, trauma e lesões,
especialmente nos centros urbanos mais desenvolvidos, onde a incidência de violência e
acidentes de trânsito tem aumentado. (BRASIL, 2008).

Historicamente, a PcD constitui um grupo marcado por segregação social, desemprego


e analfabetismo. Além disso, esses indivíduos, durante muitos anos, têm reivindicado sua
participação social na sociedade através da inclusão em espaços, principalmente por meio do
acesso à educação e trabalho. (AOKI et. al., 2018). O Estado, a sociedade e a família têm a
responsabilidade de garantir que as pessoas com deficiência sejam priorizadas com a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à
alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social,
dentre outros direitos fundamentais que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico.
(BRASIL, 2015).

A prática da inclusão social vem sendo substituída gradativamente pela prática da


integração social, e pressupõe que, para ser inclusiva de todos, a sociedade deve ser
transformada, para que atenda às necessidades de todos os membros. Uma sociedade inclusiva
não reconhece preconceito, discriminação, barreiras sociais, de cultura ou pessoais. Nesse
sentido, a inclusão social das pessoas com deficiência significa empoderá-las e respeitar suas
necessidades, suas condições, seu acesso a serviços públicos, bens, a cultura e aos produtos
produzidos pelo progresso social, político, econômico e tecnológico. (BRASIL, 2008).

À vista disso, ao associarmos a garantia de acessibilidade à dignidade da pessoa com


deficiência, possibilitamos a equidade, a redução de barreiras entre as pessoas da sociedade e a
qualidade de vida para esses sujeitos. Portanto, acredita-se que uma sociedade não acessível é
aquela que não pode garantir o direito das pessoas com deficiência a uma vida plena, pois sua

Página 385
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

dignidade de cidadão não pode ser assegurada. Logo, tem-se a acessibilidade como uma forma
de complementar o direito à vida. (PIMENTEL; PIMENTEL, 2010).

Deve-se destacar que as ações de saúde voltadas para a pessoa com deficiência devem
ser constituídas de uma combinação de diferentes necessidades. Uma vez diagnosticada
qualquer lesão que possa causar incapacidade, os cuidados e o acompanhamento para com esse
segmento devem ser iniciados o mais rápido possível. Caso contrário, o desenvolvimento e a
qualidade de vida serão irremediavelmente prejudicados, afetando sua participação social no
mercado de trabalho ou na vida em comunidade. (BERNARDES et al., 2009).

Os seres humanos são essencialmente ocupacionais, ou seja, sempre estão envolvidos


em ocupações. Para a Associação Americana de Terapia Ocupacional (2020), ocupar-se
significa se envolver nas atividades diárias que possuem significado ao indivíduo, ou seja, a
ocupação influencia o indivíduo e o contexto no qual ele se encontra. Dessa forma, tem-se como
ocupação tudo aquilo que as pessoas precisam, gostam, ou são submetidas a fazer. (WILCOCK
& TOWNSEND, 2011).
Nessa perspectiva, entende-se que as necessidades e vivências ocupacionais são
particulares para cada pessoa e elas devem ter a autonomia de decidir como elas desejam
organizar e realizar as suas ocupações sem que nenhum fator externo interfira (CHICHAYA;
JOUBERT; MCCOLL, 2018). Quando um indivíduo é privado de exercer aquilo que deseja,
ou seja, quando ele se encontra em um estado no qual é impedido de realizar suas ocupações
significativas, devido a fatores que estão fora do seu controle, chamamos de privação
ocupacional. A privação ocupacional tem grande impacto a longo prazo, visto que impossibilita
o indivíduo de se envolver em ocupações significativas e gera barreiras com repertórios e
funções ocupacionais limitadas, fazendo com que este tenha que se adaptar ao ambiente
ocupacional inacessível. (WHITEFORD, 2000).
Diante disso, os profissionais de terapia ocupacional reconhecem que, para que o sujeito
alcance a existência plena de participação, significado e propósito, este não deve apenas ter
funções, mas também deve integrar-se confortavelmente em seu mundo, que é composto por
uma fusão única de contexto e ambiente. (AOTA, 2020).
Entrelaçado em todos os contextos e ambientes está o conceito de justiça ocupacional,
que considera uma análise crítica da sociedade. Neste caso, os recursos e as oportunidades para
o envolvimento em ocupações significativas são os mesmos, independentemente de quem as
pessoas sejam, quais são as suas características físicas, questões socioeconômicas ou o contexto
em que se insere. (WILCOCK & TOWNSEND, 2011). A Justiça Ocupacional preconiza que

Página 386
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

as políticas estabelecidas sejam determinantes e que devem facilitar o desenvolvimento


ocupacional das pessoas. Em outras palavras, ela nada mais é do que um cumprimento do direito
que as pessoas têm de se envolver em ocupações que contribuam para sua participação e bem-
estar social (HAMMELL, 2016).
Sendo assim, essa revisão tem como objetivos: compreender como as ocupações
desempenhadas pela pessoa com deficiência são influenciadas pela ausência de acessibilidade;
de que forma a acessibilidade pode ser identificada como privação ocupacional e qual a
perspectiva do Terapeuta Ocupacional na promoção de acessibilidade.

METODOLOGIA

O presente estudo se configura em revisão bibliográfica. Para essa pesquisa foram


utilizadas somente três palavras - chaves presentes nos Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS): acessibilidade, pessoa com deficiência e terapia ocupacional, para não restringir o
âmbito da pesquisa e obter o maior número de artigos disponíveis. As buscas foram realizadas
no período de novembro a dezembro de 2021. As plataformas científicas utilizadas foram Portal
Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Portal de periódicos da CAPES e Revista
Institucional Brasileira de Terapia Ocupacional (Revisbrato). Os procedimentos de buscas
foram realizados igualmente em todas as bases de dados selecionadas para a pesquisa,
utilizando os filtros de idioma português e com janela temporal de 2016 a 2021.

Outros referenciais foram selecionados, desde que atendessem aos seguintes critérios
de inclusão: estudos que apresentassem em seus títulos, resumos e/ou palavras-chaves a
acessibilidade à pessoa com deficiência, ocupações significativas desse público, as possíveis
privações experimentadas pelo PcD e a atuação do terapeuta ocupacional nesse contexto;
estudos que contivessem em seu assunto central a acessibilidade da pessoa com deficiência e
atuação terapêutica ocupacional nesse âmbito; idioma português e publicados nos últimos 5
anos. Entre os critérios de exclusão foram aplicados: literatura marrom, artigos que estavam
fora do formato original e qualquer publicação em formato de revisão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As buscas nas bases de dados eletrônicas identificaram 66 títulos, sendo 2 pertencentes


ao Portal Regional BVS, 2 à Revista Brasileira de Terapia Ocupacional e 62 ao Portal de
Periódicos da CAPES. Após a aplicação de todos os critérios de inclusão e exclusão e leitura

Página 387
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

dos textos na íntegra, foram selecionados 12 artigos que estavam em conformidade com os
objetivos da pesquisa, sendo 1 deles excluído por estar repetido entre as bases de dados.
Tabela 1: Artigos selecionados nas bases de dados eletrônicas dispostos em: 1º autor,
ano de publicação e revista correspondente.

Título 1° Autor Ano de Revista


Publicação

Estrutura e funcionamento dos Márcia Denise Pletsch 2017 Revista Ibero-Americana


núcleos de acessibilidade nas de Estudos em Educação
Universidades Federais da Região
Sudeste

A deficiência em foco nos Érico Gurgel Amorim 2016 HOLOS


currículos de graduação da UFRN:
uma abordagem histórica (1960-
2015)

Terapia Ocupacional na Rayanny Lira do 2020 REVISBRATO


adaptação de posto de trabalho Nascimento
para pessoa com deficiência física:
relato de experiência sob a
abordagem da ergonomia

Barreiras arquitetônicas e suas Victor Matheus 2021 REVISBRATO


implicações no contexto escolar Marinho Dutra
para pessoas com deficiência física
e visual em um projeto educacional

Acessibilidade nas corridas de rua: Jéssica Dias Feliciano 2019 Movimento


barreiras percebidas pelas pessoas
com deficiência visual

Análise da acessibilidade no centro Laura Bianchetti 2019 Cadernos Brasileiros de


de tratamento da criança com Galvan Terapia Ocupacional
câncer de um hospital
universitário

Análise prática de mediação Desirée Nobre Salasar 2018 REVISBRATO


acessível com um grupo de pessoas
com deficiência intelectual em um
museu português

Análise dos conteúdos sobre Luciene Gomes 2020 Cadernos Brasileiros de


acessibilidade e desenho universal Terapia Ocupacional
nos cursos de graduação em
Arquitetura e Terapia
Ocupacional no Brasil

Núcleos de acessibilidade em Lilian de Fátima 2018 Cadernos Brasileiros de


instituições federais brasileiras e as Zanoni Nogueira Terapia Ocupacional
contribuições de terapeutas
ocupacionais para a inclusão de
pessoas com deficiência no ensino
superior.

Página 388
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Oportunidades no mercado de Fabiana Caetano 2020 Cadernos Brasileiros de


trabalho: análise das vagas de Martins Silva e Dutra Terapia Ocupacional
emprego disponíveis para pessoas
com deficiência

Passageiros com deficiência visual Talita Naiara Rossi da 2019 Cadernos Brasileiros de
no transporte aéreo: avaliação da Silva Terapia Ocupacional
acessibilidade em aeroportos

Em concordância com os apontamentos dos achados, a questão da pessoa com


deficiência no Brasil é amplamente amparada por Leis, no entanto, ainda se percebe a
prevalência das ideias do modelo biomédico, levando em consideração apenas o corpo físico
sem analisar o contexto social que aquela pessoa se insere (AMORIM; MMEDEIROS;
GUIMARÃES, 2016). Sendo assim, autores afirmam que um dos maiores obstáculos
encontradas no processo educacional e profissional da PCD são as barreiras atitudinais e
comunicacionais, haja vista que elas vão além das construções físicas e perpassam o estereótipo
capacitista que busca compará-los aos demais ao invés de acolher e tentar amenizar as suas
limitações, sendo assim o desconhecimento dos dispositivos de Tecnologia Assistiva (TA), a
ausência de adaptações organizacionais e ambientais nas escolas e nas empresas contribuem
para a dificuldade no acesso à educação, à qualificação profissional e ao mercado de trabalho
(PLETSCH; DE MELO, 2017; NASCIMENTO, 2020; DUTRA, et al, 2020).

Dando continuidade à série de desafios enfrentados por essa população, Dutra (2021)
aponta que existem barreiras à livre circulação de pessoas com limitações físicas, cognitivas,
sensoriais e/ou funcionais, temporárias ou permanentes. Entre elas, encontram-se os obstáculos
arquitetônicos relacionados à infraestrutura e ao espaço físico, dificultando a locomoção e
deslocamento das pessoas nesses espaços, como é o caso também dos aeroportos, conforme
analisa Silva et al. (2019). Como forma de reduzir as barreiras existentes, Galvan et al. (2019)
e Gomes (2020) afirmam que deve-se pensar em meios para melhorar a acessibilidade dos
locais, visto que a condição física pode ser enfatizada na desigualdade por barreiras ambientais,
para isso, devem ser aplicados projetos que visem suprir as demandas da maioria dos
indivíduos, a fim de que as barreiras que desfavorecem o desempenho ocupacional de
determinada população sejam extinguidas

Além dessas barreiras no cenário educacional e profissional, a PCD tem poucas


oportunidades ou quase nenhuma de se engajar em atividades físicas. Um estudo realizado por
Feliciano et al. (2019), trouxe reflexões a respeito da prática de esportes para a população de

Página 389
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

deficientes visuais e um dos pontos levantados foram as barreiras urbanísticas para a realização
dos esportes, como calçadas desniveladas, desgastadas, estreitas ou com muitos obstáculos,
ausência de sinalização sonora, entre outros. Além disso, também foi pontuado que o próprio
esporte -a corrida de rua- tem algumas limitações específicas como é o caso da confiabilidade
de um corredor guia ou das estruturas disponibilizadas durante as competições que, por muitas
vezes não seguem a proposta da Norma Brasileira de Acessibilidade, fatos esses que prejudicam
a plena participação das pessoas com deficiência nos esportes (FELICIANO et al., 2019).

Apesar das grandes barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência, alguns achados
já apresentam um olhar mais inclusivo em algumas práticas para estimular a participação social
desse público, como é o exemplo do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha. Embora não
esteja localizado no Brasil é um belo exemplo a ser seguido. É um espaço que foi construído
sob as bases do desenho universal e busca amplamente ser um museu acessível a todos,
possuindo estratégias que atendem as necessidades específicas de cada visitante como o braille,
fonte ampliada, vídeo guia, entre outros. No estudo o museu realizou uma visita guiada,
interativa e com mediação acessível que promoveu, principalmente, para a pessoa com
deficiência, a ideia de pertencer àquele espaço e àquela história, proporcionando também uma
igualdade de direitos ao acesso a sua própria cultura (SALASAR; MICHELON, 2018).

Muitos profissionais têm se dedicado e aprimorado suas técnicas para lidar com a
realidade das pessoas com deficiência, e o terapeuta ocupacional é um deles. Historicamente, a
terapia ocupacional tem baseado sua intervenção na compreensão acerca do modo de vida que
reflete no cotidiano e de que forma ele, como profissional, pode contribuir para favorecer
processos emancipatórios de vida e autonomia, seja para possibilitar acesso a um direito e
participação na vida social ou para fornecer uma tecnologia assistiva, por exemplo.
(NOGUEIRA; OLIVER, 2018).

Sob este viés, o terapeuta ocupacional é o profissional que atua nos ambientes e
contextos, buscando tratar e prevenir possíveis agravos que esse ambiente pode acarretar, além
de realizar adaptações a nível atitudinal, organizacional e ambiental, visando sempre otimizar
o desempenho funcional mantendo a autonomia e independência dos indivíduos, entendendo
que a inclusão vai além de contratar ou matricular uma pessoa com deficiência, ela precisa ter
oportunidades de ocupar e permanecer nesses lugares (NASCIMENTO, 2020).

Página 390
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CONCLUSÃO

Por meio desse estudo foi possível identificar que a acessibilidade à pessoa com
deficiência enfrenta barreiras históricas e, muitas vezes, impossibilita as ocupações diárias de
muitos indivíduos. Os resultados identificaram que a PcD enfrenta obstáculos quanto à
comunicação, estrutura arquitetônica e limitações sensoriais, ocasionando a segregação do meio
social. Diante disso, é importante ressaltar o papel do terapeuta ocupacional frente às demandas
de acessibilidade, visto que sua intervenção é crucial para que as pessoas com deficiência
possam desempenhar suas ocupações de forma plena e eficaz no contexto em que estão
inseridos.

Algumas limitações foram identificadas nos achados durante a pesquisa bibliográfica.


Ainda existem poucos resultados sobre a atuação do terapeuta ocupacional no âmbito da
acessibilidade, tendo como foco, principalmente, o âmbito educacional e universitário.

Em síntese, pode-se concluir que a terapia ocupacional visa promover a qualidade de


vida e o bem-estar da pessoa com deficiência em todos os contextos, tornando-se indispensável
o conhecimento acerca da promoção de direitos à acessibilidade. Dessa forma, é necessário que
mais pesquisas possam ser realizadas acerca desse assunto para ampliar a compreensão desse
direito tão essencial a vida da PcD.

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Página 393
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 36

Atuação Fonoaudiológica na Readequação Vocal


de Mulheres Transgênero e Travestis

João Gabriel Oliveira da Silva, Waleria Tomaz Pacífico, Kessya Raquel


Araújo Moura Teixeira, Deyse Cardoso de Oliveira Braga e Verônica
Melo da Silva Lira

RESUMO: A voz é um dos principais veículos para a comunicação e


expressividade humana. Transmitindo muito mais que apenas palavras, a voz
carrega em si toda a carga emocional de um discurso, além de traços
importantes acerca de um sujeito, como sua personalidade, gênero, e até
mesmo seu tipo físico. Mulheres transgênero e travestis são pessoas que
foram designadas como homens ao nascer, porém ao longo da vida se
identificam enquanto identidades de gênero femininas, e muitas procuram
adequar seus corpos ao gênero com o qual se identificam. Dentre os objetos
alvos do desejo de mudança está a voz, visto que muitos destes indivíduos
não se identificam com a voz e o padrão comunicativo que possuem, buscando
readequá-los por conta própria, através de procedimentos cirúrgicos, ou
fonoterapia. Este estudo tem o objetivo de realizar uma revisão da literatura
existente a respeito da atuação fonoaudiológica na readequação vocal de
mulheres transgênero e travestis. Os resultados dos trabalhos científicos
selecionados para esta pesquisa revelam a importância da atuação
fonoaudiológica por meio da terapia de readequação vocal no processo
transsexualizador do público transfeminino, fazendo uso da análise acústica
e avaliação perceptivo auditiva como aliados importantes para mensurar os
resultados dos efeitos da terapia. O profissional fonoaudiólogo deve atuar
juntamente às equipes multiprofissionais de saúde do Sus, desde a atenção
básica, até os ambulatórios especializados no processo transsexualizador no
Brasil, tendo também o papel colaborar para a ruptura de estigmas e
preconceitos com relação a população transgênero na área da saúde.

Página 394
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A voz é um dos principais meios de expressão humana. Manifesta-se desde o nascimento,


no início de forma involuntária e instintiva, como no choro do recém nascido, tornando-se
posteriormente um dos mais importantes instrumentos para a comunicação e expressividade das
linguagens humanas (BEHLAU; MADAZIO; FEIJÓ, 2019). Como um instrumento utilizado
para transmitir muito mais do que apenas palavras, a voz é um indispensável veículo para toda
a carga emocional e subjetividades importantes na compreensão plena de um discurso,
constituindo-se um recurso essencial para o enriquecimento das interações interpessoais
(COSTA, 2013).
Para Camozzato (2020), a voz não é apenas um meio pelo qual a linguagem é expressa,
mas constitui-se também enquanto um componente desta. De acordo com a autora, a voz, ao
expressar ideias utilizando-se da linguagem, também diz algo sobre si mesma, atuando como
um instrumento performativo do ser humano enquanto ser social e generificado em uma
sociedade baseada no binarismo (homem, mulher). O gênero seria, assim, um papel performado
socialmente por um sujeito, ao qual uma identidade de gênero foi designada logo ao nascimento,
tendo como base seu sexo biológico. (JESUS, 2012).
Segundo Jesus (2012), Mulheres transgênero e travestis são pessoas que, ao nascer,
foram designadas como homens, mas que no decorrer da vida, se identificam como pertencentes
ao gênero oposto, e se entendem enquanto mulheres, no caso de mulheres trans. Quanto às
travestis, segundo a mesma autora, apesar de apresentarem expressão de gênero feminina, não
necessariamente se identificam como mulheres.
Estes indivíduos muitas vezes sofrem com a chamada disforia de gênero. A disforia
pode ser descrita como um sentimento de inquietação e desconforto constantes, que causa
ansiedade (FERREIRA, 2009). No caso de pessoas transgênero, essa disforia é causada pela
sensação de inadequação do corpo com o gênero no qual o indivíduo se identifica (SEGER,
2019). Muitos indivíduos do grupo transfeminino (que engloba mulheres transgênero e
travestis) procuram adequar seu corpo à sua identidade de gênero, por meio de vestimentas,
hormonização e cirurgias de feminização. Dentre os objetos alvos do desejo de mudança, está
também a voz, visto que muitas relatam não se identificarem com o padrão vocal que
apresentam. (BARRA, GUSMÃO, ARAÚJO, 2021).
Por fugirem do padrão de gênero imposto pela sociedade, pessoas transgênero são
diariamente alvos de preconceito, tendo suas identidades e suas vozes deslegitimadas e
invisibilizadas constantemente no meio em que vivem, ficando à margem da sociedade no

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Brasil, que é o país que mais mata pessoas trans no mundo (Trans Murder Monitoring, 2020).
Por se sentirem desconfortáveis com a própria voz, muitas mulheres trans e travestis buscam
meios para readequar seus aspectos vocais e de fala a um padrão comunicativo com o qual se
identifiquem e se sintam representadas (SEGER, 2019). Esta readequação não pode ser
alcançada por meio da terapia hormonal, já que esta não tem efeito sobre a massa das pregas
vocais, que já sofreram a ação da testosterona (BARBOSA, 2019; COSTA, 2020), fazendo com
que algumas pacientes optem por cirurgias laríngeas para feminização vocal ou fonoterapia
(CIELO, 2021). A maioria, no entanto, acaba por tentar adequar suas vozes da maneira que
conseguem, fazendo assim, ajustes laríngeos sem técnica e que podem acabar por trazer
problemas vocais. (LOPES , 2019).
O fonoaudiólogo é o profissional da comunicação humana como um todo, sendo
habilitado a realizar a readequação dos aspectos vocais, de fala e expressão comunicativa de
mulheres transgênero e travestis, fazendo parte da equipe multiprofissional de atenção à pessoa
trans, no SUS (PORTARIA Nº 2.803, DE 19 DE NOVEMBRO DE 2013) . Além da terapia, o
fonoaudiólogo também possui um papel importante no processo de transformação social e
ruptura de estigmas e preconceitos na área da saúde a respeito deste público, contribuindo
assim, para sua saúde vocal e psíquica (SEGER, 2019).
Tendo em vista os fatores citados acima, o presente estudo traz uma revisão sistemática
de literatura, com o objetivo de descrever e sintetizar os conhecimentos existentes a respeito da
atuação fonoaudiológica no processo de readequação vocal de mulheres transgênero e travestis.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão sistemática de literatura. A pesquisa foi feita na plataforma
Google Acadêmico, utilizando-se dos seguintes descritores: “mulher transgênero”, “voz”,
“fonoaudiologia”, “transgênero” e “readequação vocal”. Foram considerados estudos de todos
os tipos, incluindo revisões de literatura, publicadas no período de 2017 a 2021. Os trabalhos
deveriam apresentar temáticas relevantes relacionadas à transsexualidade e atuação
fonoaudiológica no processo transsexualizador de mulheres transgênero e travestis. Foram
incluídos trabalhos que apresentassem descrição e resultados de terapias fonoaudiológicas para
readequação vocal, análise acústica e perceptivo auditiva, e dados sobre autoavaliação vocal do
público estudado. Também foram considerados trabalhos que abordassem temática relacionada
à discussão sobre voz e gênero na sociedade. Os materiais deveriam estar disponíveis online na
íntegra, de forma gratuita. Como critérios de exclusão: duplicidade, falta de relação com os

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

temas voz, fonoaudiologia ou pessoas transgênero, pesquisas que falassem especificamente


apenas de homens transgênero, materiais incompletos ou indisponíveis gratuitamente na
internet.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a pesquisa inicial, foram encontrados 150 resultados. Dentre eles, 9 trabalhos foram
selecionados, sendo eles 3 estudos transversais, 2 dissertações de mestrado, 2 revisões de
literatura, 1 estudo quantitativo, 1 relato de caso e 1 ensaio científico, todos em português.
Três trabalhos apresentam achados sobre a autopercepção vocal de pessoas trans (VIEIRA,
2018; BARRA et al, 2020; MENEZES, 2021). Para as pesquisas, foram utilizados um
questionário sobre queixas vocais e de fala, e uma adaptação em português do protocolo Trans
Women Voice Quality (TWVQ), utilizado para avaliar a qualidade e o nível de satisfação vocal
do público transfeminino. Para esse último protocolo, quanto mais elevados os valores das
respostas às perguntas, maior o nível de insatisfação vocal. Os resultados apontam que 50% das
mulheres trans entrevistadas relataram possuir problemas vocais e 50%, problemas na fala, no
estudo realizado por Vieira (2018). Na pesquisa conduzida por Barra et al (2020), 67,7% das
mulheres trans avaliadas responderam que sentem desconforto ao falar durante muito tempo,
aparecendo sempre (3,2%) ou às vezes (64,5%). O estudo transversal de Meneses (2021)
utilizou-se de análise acústica e perceptivo auditiva, comparando as diferenças entre os
parâmetros prosódicos de mulheres trans e mulheres cisgênero (indivíduos que, ao nascerem,
foram designados como mulheres e se identificam como tal). Os resultados mostram que
mulheres transgênero possuem média de frequência fundamental (f0) mais baixa, bem como
menores valores nas frequências dos formantes 1 2 e 3, além de uma correlação entre os valores
de f0 e o nível de insatisfação vocal obtido pelas respostas ao questionário TWVQ. Mulheres
transgênero que possuíam f0 abaixo da faixa esperada para vozes femininas apresentaram
maiores resultados no questionário, demonstrando assim, maior insatisfação com relação à
própria voz.
Dois estudos buscaram avaliar os resultados da hormonioterapia sobre os aspectos vocais
do público transfeminino (BARBOSA, 2019; COSTA, 2020). De acordo com os resultados
apresentados por Barbosa (2019), 67% das mulheres trans e travestis avaliadas relataram não
perceber nenhuma alteração vocal em decorrência do uso de hormônios femininos,
demonstrando, assim, a ineficácia da terapia hormonal para a feminização vocal. Isto se deve
ao fato de que as estruturas laríngeas de mulheres transgênero e travestis já sofreram influência

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

da testosterona, que propicia o crescimento laríngeo e o aumento da massa de pregas vocais,


gerando uma voz mais grave, e não podem mais reduzir seu tamanho por ação hormonal
(COSTA, 2020).
Dos achados a respeito da atuação fonoaudiológica na readequação vocal e de fala, o
relato de casos de 2 pacientes, ambas mulheres transgênero, realizado por Ferro (2020), aponta
para a eficácia da terapia fonoaudiológica para a readequação dos padrões de voz e oratória do
público transfeminino. No primeiro caso, a paciente 1 realizou um exercício isolado de fonação
em tubo finlandês. Ao fim do exercício, constatou-se, por meio de análise acústica e perceptivo-
auditiva, que houve elevação do pitch, frequência fundamental e intensidade vocal, aumento de
harmônicos no espectrograma e maior estabilidade vocal. No segundo caso, a paciente 2 foi
submetida à terapia fonoaudiológica por cerca de 8 meses. A terapia procurou elevar a
frequencia fundamental por meio de exercícios como emissão de fonema /i/, partindo do tom
habitual ao tom agudo alcançado, emissão de fonema /u/ em tom agudo, vibração de língua em
tom agudo, e emissão de fonema /u/ em tom agudo com dedo indicador entre os entes. A terapia
também trabalhou o equilíbrio ressonantal e projeção vocal por meio do exercício de boca
chiusa,com os lábios ocluídos e emissão de /m/ nasal, além da fonação em tubos finlandeses
imersos em água, a dois centímetros de profundidade, produzindo fonema v em tom agudo, em
tempo máximo de fonação. Também foram realizados exercícios para melhorar a capacidade
respiratória e a coordenação pneumofonoarticulatória. Por meio de análise acústica e avaliação
perceptivo auditiva, constatou-se que, após 8 meses de terapia fonoaudiológica, houve aumento
da capacidade respiratória, melhora da coordenação pneumofonoarticulatória, aumento da
frequencia fundamental e pitch, e automatização de fala espontânea com pitch mais agudo e
fala suavizada, caracterizando um padrão comunicativo mais feminilizado. Uma revisão de
literatura realizada por Cielo (2021) demonstrou achados que reiteram a importância e eficácia
da fonoterapia para a readequação vocal de mulheres transgênero. Dentre eles, o trabalho
(GELFER E TICE 2013) que contou com a participação de cinco mulheres trans, submetidas a
análise perceptivo auditiva por ouvintes leigos pré e pós terapia fonoaudiológica por dois meses.
Antes da terapia, 1,9% das vozes do grupo de estudo foi considerada masculina, número esse
que aumentou para 50,8% após o término dos dois meses de terapia. Outro material
(NEUMANN & WELZELM 2004) apresentado pela mesma revisão demonstra a relevância da
terapia de readequação vocal após a cirurgia de tireoplastia tipo IV. No pós operatório, 28% das
pacientes apresentaram mudanças significativas nos parâmetros vocais, aumentando para 91%
após a terapia fonoaudiológica como ferramenta complementar à cirurgia.
Ainda sobre a atuação fonoaudiológica no processo de afirmação de gênero, é importante

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

levar em consideração os processos envolvendo voz e performatividade de gênero. o ensaio


científico realizado por Camozzato (2020), aborda voz como não apenas como um meio para a
expressão da linguagem, mas como um componente desta, a partir do momento em que a voz,
utilizando-se desta linguagem para transmitir sua mensagem, acaba por dizer também algo
sobre si mesma. Dentro deste contexto, a voz enquanto expressão do “eu social”, em um espaço
impregnado pelas noções do binarismo, torna-se um instrumento performativo dos papéis de
gênero atribuídos aos indivíduos. Em um meio imbuído por uma ideologia pautada na
cisheteronormatividade, vozes que distoam do padrão socialmente aceito do que é considerado
uma voz “feminina”, como no caso de mulheres transgênero e travestis, são invisibilizadas e
deslegitimadas. Tal realidade é constatada nas mais diversas áreas da sociedade, inclusive na
saúde, na qual muitos profissionais ainda enxergam a transgeneridade e a voz da mulher trans
por um viés patológico, segundo a dissertação de SEGER (2019).
Os trabalhos selecionados para esta pesquisa ressaltam a relevância da atuação do
profissional fonoaudiólogo no processo de readequação vocal de mulheres transgênero e
travestis, de forma isolada ou complementar à cirurgia de tireoplastia, por meio da terapia de
readequação vocal, contribuindo para a elevação da frequência fundamental, e automatização
de parâmetros vocais e prosódicos que caracterizam uma fala tida como mais feminina, (
FERRO, 2020; CIELO, 2021). Também mostrou-se fundamental a avaliação de parâmetros
como a frequência fundamental, além de outros traços prosódicos de fala por meio da análise
acústica e perceptivo auditiva. Desta forma,é possível mensurar os parâmetros vocais e de fala,
e assim, ter um maior direcionamento para que o plano terapêutico seja traçado, além de facilitar
a avaliação dos resultados das terapias. (FERRO, 2020, MENEZES, 2021).
A portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013, redefine e amplia o processo
transsexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS), desde a atenção básica até a especializada,
com a implantação de serviços e procedimentos que tem como objetivo o alívio do sofrimento
da população transgênero, e a promoção de qualidade de vida, através de uma atuação de equipe
multiprofissional, da qual o fonoaudiólogo faz parte (LOPES, 2019).
De acordo com a tese de mestrado de Seger (2019), a atuação do profissional fonoaudiólogo
no processo transsexualizador de mulheres trans e travestis vai além da terapia, tendo um
valioso papel de contribuir com a modificação e desconstrução, a nível social, das formas de
pensar acerca dos padrões vocais impostos a cada gênero, bem como o uso de nomenclaturas
arcaicas, que ainda se baseiam em uma lógica patriarcal e cisheteronormativa da sociedade. A
terapia vocal, neste sentido, teria o objetivo de “readequar” voz e fala a um padrão com o qual
a mulher transgênero ou travesti se sinta confortável ( LOPES, 2019), trabalhando não apenas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

aspectos vocais de forma isolada, mas objetivando aperfeiçoar o processo comunicativo como
um todo, para que as pacientes expressem suas identidades por meio da comunicação,
independente de ter atingido ou não um padrão de fala próximo ao de uma mulher cisgênero,
tendo consciência de que a diversidade das formas de expressão vocal e de comunicação num
geral vão muito além do padrão cisnormativo. Tal noção de diversidade por parte dos
profissionais fonoaudiólogos é de suma importância para uma terapia efetiva, enxergando a
transexualidade e a voz da mulher trans fora do campo patológico, e gerando um maior
acolhimento da população trans nos serviços de saúde pública, uma vez que o alto índice de
preconceito por parte dos próprios profissionais de saúde é um dos fatores causadores da piora
das condições de saúde de pessoas transgênero (COSTA, 2020).

CONCLUSÃO

Conclui-se que o fonoaudiólogo é o profissional da saúde habilitado a atuar no processo


de afirmação de gênero de mulheres trans e travestis juntamente com a equipe multidisciplinar
de atenção à pessoa transgênero pelo SUS, através da terapia fonoaudiológica para a
readequação dos aspectos vocais e de fala do público transfeminino, propondo o melhor plano
terapêutico para cada indivíduo, respeitando sua individualidade e particularidade, com o
objetivo de colaborar com a melhora da autoestima e promoção do bem estar dos indivíduos
desta população, atuando também no processo de repensar antigos padrões de voz e gênero, e
contribuindo com a desconstrução do preconceito e da transfobia na área da saúde e na
sociedade como um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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5, a090, 2021. DOI: https://dx.doi.org/10.31533/pubsaude5.a090 Disponível em:
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finlandeses-e-eficacia-da-fonoterapia-na-qualidade-vocal-da-transexual-mulher.pdf. Acesso
em 10/10/2021.
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Disponível em:
https://www.dive.sc.gov.br/conteudos/agravos/publicacoes/ORIENTACOES_SOBRE_IDEN
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LOPES et al. Fundamentos e atualidades em voz clínica. Rio de Janeiro: Thiemes Reinventer
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MENEZES. Diferenças de traços prosódicos entre a voz de mulheres transgênero e cisgênero:
autopercepção vocal, características perceptivo auditivas e acústicas. 2021. Dissertação
(Mestrado em Saúde da Comunicação Humana) – Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/40027. acesso em:
15/12/2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 37

CONHECIMENTO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM


SOBRE AS PRÁTICAS DE BIOSSEGURANÇA ADOTADAS
DURANTE O MANUSEIO DE QUIMIOTERÁPICOS
ANTINEOPLÁSICOS: REVISÃO DE LITERATURA

Wanderson Rocha Oliveira; Nathaly de Lima Santos; Patrícia Junglos; Aline Lima Ribeiro; Thaís
Nascimento Pereira; Márcio Fraiberg Machado.

RESUMO: O câncer é considerado um problema de saúde pública mundial. O tratamento


oncológico engloba cirurgia, radioterapia e clínica. Os profissionais de enfermagem que
manipulam agentes antioneoplásicos também podem apresentar alterações celulares e
clínicas relacionadas à exposição ocupacional. Objetivou-se identificar o conhecimento da
equipe de enfermagem com relação às práticas de biossegurança adotadas durante o
manuseio de quimioterápicos. Trata-se de uma revisão de literatura. Foi realizado busca
eletrônica nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) utilizando os descritores do DeCS:
‘Biossegurança’, ‘Antineoplásicos’, ‘Saúde ocupacional’ e ‘Enfermagem’ associados entre si
com o operador booleano and. Os critérios de inclusão aplicados foram: artigos originais
publicados no período de 2010 a 2020 com resumos e textos completos disponíveis no idioma
português e que foram realizados no Brasil. Foram excluídas as teses, dissertações, estudos
com texto completo indisponível e publicados em outros idiomas que não fossem em língua
portuguesa, e os repetidos. Foram cumpridas as seguintes etapas: identificação do tema;
formulação de uma questão norteadora ‘Qual o conhecimento dos profissionais da
Enfermagem sobre biossegurança durante o manuseio de quimioterápicos?’. 08 artigos
responderam à questão norteadora, dessa forma, constituíram a amostra final. O profissional
de enfermagem está diretamente envolvido na prestação de cuidados ao paciente com câncer.
Estes possuem conhecimento a respeito das medidas de biossegurança que minimizam e/ou
evitam acidentes. A equipe de Enfermagem reconhece os riscos ocupacionais que enfrenta
durante a manipulação de quimioterápicos. Há fatores psicossociais e organizacionais que
contribuem para o negligenciamento da prática estabelecida: a falta de percepção do risco, a
não valorização da segurança no trabalho e o subdimensionamento da equipe. Foi ainda
apontado a presença de efeitos adversos como ciclo mentrual irregular, alteração
hematológica, alopécia, náusea, alergia, cefaléia e efeitos adversos em geral. As ações de
educação, através de oficinas educativas, palestras e momentos de discussão sobre a
importância do tema. Inferimos que as atividades relacionadas à educação continuada em
Enfermagem demonstram-se de importância suprema na modificação do cenário apresentado,
uma vez que contribui para a conscientização, renovação do conhecimento, aumento do
compromentimento do colaborador bem como para sua segurança do ambiente de trabalho.
Dessa forma, os estabelecimentos de saúde onde este serviço é ofertado, devem trabalhar no
sentido de cumprir a legislação vigente, bem como as definições dos conselhos de classe dos
profissionais, a fim de reduzir os acidentes com quimioterápicos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

O câncer é considerado um sério problema de saúde pública no mundo e já se coloca


entre as quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos de idade) na maioria
dos países. A incidência e a mortalidade por câncer vêm aumentando no mundo, em parte pelo
envelhecimento, pelo crescimento populacional, como também pela mudança na distribuição e
na prevalência dos fatores de risco, especialmente associados ao desenvolvimento
socioeconômico (BRAY et al., 2018).

O tratamento oncológico engloba múltiplas terapias: cirurgia, radioterapia e clínica, esta


última envolve a quimioterapia, hormonioterapia, imunoterapia, anticorpos monoclonais e o
uso de bloqueadores enzimáticos (ANDRADE; SILVA, 2007). Esses fármacos ‘’são
substâncias capazes de produzir todos os tipos de lesão celular e os efeitos da exposição aos
mesmos podem se manifestar imediata ou tardiamente’’ (BULHÕES, 1998).

Conforme Meyer e Skov (2010), o risco decorrente da exposição às propriedades


citóxicas dos agentes antioneoplásicos não se limita apenas aos pacientes, sendo que os
profisisonais de saúde também podem apresentar alterações celulares e clínicas relacionadas à
exposição ocupacional. A exposição pode ocorrer em qualquer momento durante o manuseio
dos quimioterápicos, seja no preparo, na administração ou no descarte. Sua manipulação, na
ausência de medidas de proteção adequadas, tem sido associada à absorção de substâncias que
afetam negativamente a saúde dos trabalhadores. As principais vias possíveis para exposição
ocupacional são inalação e o contato com a pele.

Segundo o National Institute for Occupation Safety and Health (NIOSH) e a


Occupational Health and Safety Administration (OSHA), não há definição, ainda, a cerca de
um nível aceitável de exposição a drogas citotóxicas pelos órgãos reguladores. Porém, as
organizações internacionais NIOSH e OSHA definiram medidas de segurança que visam
reduzir a exposição destes profissionais, com intuito de minimizar riscos. Essas organizações
recomendam protocolos para o manuseio das drogas, cabines de fluxo laminar para o preparo,
sistemas fechados para administração e a utilização de itens de proteção individual para todos
os profissionais expostos.
No Brasil, medidas de segurança similares foram publicadas pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) na Resolução RDC 220/200411, sendo essa a primeira e única
legislação publicada no país para regulamentar serviços de terapia antineoplásica. Os hospitais

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

são responsáveis pelo maior número de acidentes entre profissionais da saúde comparados a
outros locais de atuação para o trabalhador da saúde (NISHIDE; BENATTI, 2004).
O trabalho da equipe de enfermagem no âmbito hospitalar está voltado à reabilitação e
cura do paciente, o que a torna responsável pelos cuidados contínuos destes, fazendo parte da
sua rotina, a administração de medicamentos sendo grande parte por via endovenosa. As
condições muitas vezes precárias das instituições hospitalares e a falta de preocupação com os
trabalhadores acabam por colocar estes profissionais em circunstâncias de risco (SARQUIS;
FELLI, 2002).
Conforme Barboza, Soler (2003), e Ribeiro, Shimizu (2007), entre os profissionais da
saúde acidentados, estão os profissionais de Enfermagem, que representam o maior número dos
servidores da saúde. Na tentativa de reduzir os riscos ocupacionais, a biossegurança constitui
um campo de conhecimento e um contínuo de práticas e ações técnicas, com preocupações
sociais e ambientais, que são propostos para conhecer e controlar os riscos que o trabalho pode
propiciar ao ambiente e à vida (CARARRO et al., 2012).
Portanto, o presente estudo teve como objetivou identificar o conhecimento da equipe
de enfermagem com relação às práticas de biossegurança adotadas durante o manuseio de
quimioterápicos

METODOLOGIA
A pesquisa trata-se de uma revisão de literatura. Para Gil (2014), a pesquisa
bibliográfica é elaborada com base em material já publicado. Praticamente toda pesquisa
acadêmica requer, em algum momento, a realização de trabalho que pode ser caracterizado
como pesquisa bibliográfica. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de
permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos, muito mais ampla do que
aquela que poderia pesquisar diretamente.
Para tanto, foi realizado busca eletrônica nas bases de dados da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS)
utilizando os descritores do DeCS: ‘Biossegurança’, ‘Antineoplásicos’, ‘Saúde ocupacional’ e
‘Enfermagem’ associados entre si com o operador booleano and.
Os critérios de inclusão aplicados foram: artigos originais publicados no período de
2010 a 2020 com resumos e textos completos disponíveis no idioma português e que foram
realizados no Brasil. Selecionaram-se trabalhos pelo título, resumo e sua relevância ao trabalho.
Foram excluídas as teses, dissertações, estudos com texto completo indisponível e publicados
em outros idiomas que não fossem em língua portuguesa. Excluíram-se também as repetições

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

em bases de dados diferentes.


Foram cumpridas as seguintes etapas: identificação do tema; formulação de uma
questão norteadora; busca e seleção da literatura; categorização e avaliação dos estudos; e
apresentação da revisão. Como propósito de resposta, deu-se então a seguinte questão
norteadora: ‘’Qual o conhecimento dos profissionais da Enfermagem sobre biossegurança
durante o manuseio de quimioterápicos?’’
Na busca inicial, foram encontradas 68 publicações. Pela leitura dos títulos e resumos,
excluíram-se os estudos em duplicidade nas diferentes bases de dados, os que não atendessem
aos critérios de inclusão, aqueles que não atendiam ao tema proposto e aqueles aos quais não
foi possível ter acesso na íntegra. Desses, foram selecionados 19 artigos ao qual lidos na íntegra,
e destes, 08 responderam à questão norteadora, dessa forma, constituíram a amostra final desta
revisão.
Para análise das informações, os artigos incluídos foram lidos exaustivamente, e foi
realizada uma padronização do conteúdo encontrado de acordo com os objetivos propostos. Os
resultados foram organizados em tabelas e posteriormente foram categorizados, conforme os
resultados e as contribuições observadas.

Figura 1. Diagrama do Processo de Seleção dos Artigos

Nº de relatos identificados nos bancos de dados


Identificação

BVS (45), LILACS (23)


Total (=68)

Total de artigos encontrados nas bases de dados


pesquisadas
(n=68)
Elegibilidade
Triagem e

Artigos selecionados para leitura na Estudos Excluídos


íntegra Fora da Temática proposta
BVS (12), LILACS (06) Fora do período 2016-2020
Total (=19) Fotocópias
Estudos disponíveis incompletos
Duplicidade
Incluídos

Artigos incluídos
BVS (3), LILACS (5) Total (=60 )
Total (=8)

Fonte: Autores (2020)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a pesquisa foram selecionados 08 trabalhos científicos, que após serem lidos na
íntegra foram distribuídos em um quadro de forma resumida expondo as seguintes variáveis:
autores, ano de publicação, periódico, título do trabalho, objetivo e conclusão. Os artigos
foram enumerados de 01 a 08 para facilitar a análise de identificação das etapas, conforme
descritos no Quadro 1.

Quadro 1 - Artigos selecionados


N AUTORES TÍTULO OBJETIVO CONCLUSÃO
(ANO):
PERIÓDICO
1 Senna, et al., Segurança do Verificar as contribuições e É indispensável à atuação do
(2013): trabalhador na os desafios da segurança do enfermeiro em ações de
Revista manipulação de trabalhador da enfermagem educação permanente com os
Avances em antineoplásicos na manipulação de profissionais de enfermagem, a
Enfermería antineoplásicos identificados fim de evitar possíveis danos
na literatura científica. que interfiram em sua saúde.
2 Senna, et al., A segurança do Identificar o conhecimento Os resultados revelaram a
(2014): trabalhador de dos trabalhadores acerca do necessidade de educação
Revista enfermagem na uso correto dos EPI’s, e permanente para
Enfermagem administração de analisar o processo de conscientização do risco de
UERJ quimioterápicos administração dos agentes exposição às drogas
antineoplásicos por químicos, pelos antineoplásicas.
via endovenosa trabalhadores de
enfermagem, em unidade de
clínica médica e ambulatório
de quimioterapia de um
hospital universitário
3 Lima, et al., Equipe de Identificar o conhecimento Os acidentes aconteceram tanto
(2011): enfermagem: dos profissionais de pelo desconhecimento quanto
Revista conhecimentos enfermagem sobre as pela inobservância da
Enfermagem acerca do manuseio técnicas de manuseio de legislação que orienta o
UERJ de drogas antineoplásicos exercício profissional da
antineoplásicas enfermagem.
4 Baroni, et al., O trabalhador de Identificar o conhecimento O conhecimento dos
(2013): enfermagem frente dos trabalhadores de trabalhadores de enfermagem
Revista ao gerenciamento enfermagem sobre o mostra-se comprometido frente
Mineira de de resíduo químico gerenciamento dos resíduos ao gerenciamento do resíduo.
Enfermagem em unidade de quimioterápicos
quimioterapia antineoplásicos.
antineoplásica
5 Santos, Silva e Percepção dos Identificar a percepção dos Os profissionais percebem os
Netto (2014): trabalhadores de profissionais de riscos a que estão expostos,
Revista da enfermagem quanto Enfermagem quanto a entretanto não há adesão a
Escola de a biossegurança no biossegurança no ambiente medidas de proteção. Há
Enfermagem cuidado de cuidado quimioterápico. necessidade de conscientizar os
da UFSM quimioterápico profissionais quanto às medidas
de segurança na administração
de quimioterápicos, de forma a
garantir qualidade e segurança

Página 406
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

no cuidado prestado aos


pacientes.
6 Borges, Proposição de um Implantar um manual de Os profissionais que
Silvino e manual de boas boas práticas com a trabalhavam em CQT
Santos (2015): práticas para os finalidade de minimizar a conheciam e consideravam-se
Revista de enfermeiros da exposição ao risco químico expostos ao risco químico. São
Pesquisa central de pelos enfermeiros na central necessárias intervenções para
Cuidado é quimioterapia sobre de quimioterapia a partir do ampliar a adesão às medidas
Fundamental a exposição ao inquérito de conhecimentos, preventivas como o uso de EPI
risco químico atitudes e práticas (CAP). e subsídios com infraestrutura
estratégica para a segurança do
trabalhador. A confecção de um
manual de boas práticas
auxiliará os enfermeiros a
minimizarem a exposição ao
risco químico.
7 Borges, et al., Biossegurança na Além da identificação das O conhecimento acerca da
(2014): Central de situações de vulnerabilidade biossegurança no ambiente da
Revista Quimioterapia: o que ocorrem na vida desses quimioterapia enfatiza aspectos
Brasileira de Enfermeiro frente profissionais, entender como relacionados ao ambiente e ao
Cancerologia ao Risco Químico categorizam suas vivências, uso de ePi.
a partir da maneira como
sentem, representa e dá um
sentido a essas vivências. o
desejável é evidenciar a
percepção do indivíduo
frente ao seu relacionamento
interpessoal e com os
demais, e a sua prática como
enfermeiro
8 Ferreira, et al., Medidas de Identificar o conhecimento Os enfermeiros da instituição
(2016): Biossegurança na de enfermeiros a respeito das pesquisada apresentam
Revista Administração de medidas de biossegurança conhecimento parcialmente
Brasildeira de Quimioterapia para administração de adequado às recomendações de
Cancerologia Antineoplásica: quimioterapia biossegurança. a identificação
Conhecimento dos de lacunas no conhecimento
Enfermeiros pode orientar o
desenvolvimento de protocolos
e programas de capacitação,
aspecto fundamental
atualmente, haja vista o elevado
número de pacientes com
câncer internados em unidades
de clínica médica em hospitais
gerais
Fonte: Autores (2020).

A pesquisa foi constituída de artigos publicados majoritariamente entre os anos de 2011


e 2016, conforme mostra a Figura 01. A maior quantidade de publicações encontradas foram
nos anos de 2013 e 2014, com duas e três publicações, respectivamente.
Gráfico 1: Distribuição do número de artigos científicos encontrados quanto ao ano de publicação

Página 407
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

3,5

2,5

1,5

0,5

0
2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: Autores (2020)

De acordo com Senna et al., (2013) a saúde do trabalhador tem grande importância e é
uma temática que vem sendo estudada com maior frequência nos últimos anos. O índice de
doenças ocupacionais é maior entre os profissionais de enfermagem, já que estão em contato
direto com o paciente. Os quimioterápicos são substâncias que necessitam de extrema proteção
quando são manejadas devido ao grande risco de provocar danos ao organismo do profissional
que está em contato direto com a droga.
Conforme Santos, Silva e Netto (2014), o profissional de enfermagem está diretamente
envolvido na prestação de cuidados ao paciente com câncer e isto ocorre em qualquer momento
do processo de trabalho desde o preparo até ao descarte dos quimioterápicos. Os profissionais
apresentaram conhecimento a respeito das medidas de biossegurança que minimizam e/ou
evitam acidentes, como também preocupação a respeito do serviço se adequar a legislação.
Estavam cientes de que dependendo do tipo de quimioterapia utiliza-se certos EPI’s
(Equipamento de proteção individual). Outro aspecto muito importante levantado pelos
profissionais, foi o uso da capela de fluxo laminar vertical que garante o manuseio seguro dos
citostáticos do ponto de vista pessoal e ambiental.
Observou-se que os sujeitos entrevistados tem consciência do descarte correto dos
materiais afim de prevenir acidentes, principalmente para os profissionais da higienização. A
maioria tem conhecimento de que o maior risco ocupacional é a exposição aos fatores químicos,
biológicos, ergonômicos e psicossocias que podem ocasionar doenças ou agravos para os
profissionais (SANTOS; SILVA; NETTO; 2014).
Segundo Senna et al., (2014), acerca da compreensão todos os entrevistados

Página 408
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

responderam que tinham ciência do dever do uso dos EPI’s, porém ao analisar os dados
quantificados, observou-se que havia divergência entre a realidade vista e a realidade descrita
do uso de elementos fundamentais para a biossegurança individual, coletiva e ambiental.
Ressalta-se que a instituição oferece todos os equipamentos de proteção necessários para o uso
dos trabalhadores, o que não justifica, portanto, a não utilização dos mesmos.
Além disso, o estudo retratou o crescente uso de quimioterápicos antioneoplásicos como
tratamento do câncer. Existe evidências científicas a respeito dos efeitos colaterais sentidos
pelos pacientes durante o tratamento que também são relatados pelos profisisonais. Por isso,
faz-se necessária a segurança dos profissionais da saúde, através da compreensão dos mesmos,
respeitando os princípios éticos e direitos universais, pois em âmbito mundial existem medidas
que asseguram a saúde do trabalhador através do uso de EPI’s (SENNA et al., 2014).
A respeito do conhecimento dos profissionais quanto aos efeitos adversos dos
antioneoplásicos e os acidentes a que eles estão sujeitos, sendo preparo, administração e
descarte dos materiais utilizados, observou-se que 100% dos entrevistados reconhecem os
riscos ocupacionais que enfrentam durante sua contribuição no setor de quimioterapia (LIMA
et al., 2011).
De acordo com o COFEN (Conselho Federal de Enfermagem), o profissional que deve
administrar as drogas antioneoplásicas, na ausência de um farmacêutico, é o enfermeiro e não
o técnico ou auxiliar de enfermagem. Portanto, percebe-se que os profissionais avaliados neste
estudo, estão fora dos padrões orientados pelas bases legais que sustentam a enfermagem. Pode-
se concluir que os acidentes ocorridos na central de quimioterapia estão relacionados ao
descumprimento da lesgislação, à falta de investimento em educação ao profissional e ao déficit
de profissionais de enfermagem (LIMA et al., 2011).
A respeito da regulamentação para os serviços de quimioterapia, mais da metade dos
sujeitos desconheciam a mesma, os profissionais relataram que não haviam recebido
capacitação para manejar agentes antioneoplásicos. Em contrapartida, todos os enfermeiros
afirmaram que consideram importante a existência de protocolos para evitar acidentes e o uso
dos EPI’s foi considerada importante para 100% dos sujeitos (FERREIRA, 2016).
Segundo Ferreira et al., (2016), a manipulação de agentes antineoplásicos envolve riscos
ocupacionais, principalmente quando as recomendações de segurança não são respeitadas e as
condições de trabalho são inadequadas. Os resultados encontrados no estudo não pode ser
generalizado de modo a refletir o conhecimento de todos os enfermeiros brasileiros, mas
convergem em alguns pontos com outros estudos realizados no país.
O conhecimento dos sujeitos em relação à classificação dos resíduos mostrou-se

Página 409
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

deficiente para instituir atitudes adequadas, as ações profissionais constituem-se um grave


problema para a saúde pública, no que se pede à questão ética, ou seja, foi revelado um
descompasso com os ideais da Enfermagem. Outro fator analisado foi em relação aos resíduos
percofurantes contaminados pela quimioterapia antineoplásica. Os profissionais apresentaram
conhecimento parcial a respeito da prática havendo uma oportunidade para os acidentes
indesejáveis (BARONI et al., 2013).
Segundo Borges et al., (2014) e Rapparini e Reinhardt (2010) os fatores psicossociais e
organizacionais contribuem para o negligenciamento da prática estabelecida e nisso se incluem:
a falta de percepção para o risco, a não valorização da segurança no trabalho, o aumento do
número de pacientes que causa sobrecarga aos profissionais e que pode gerar falha na utilização
dos equipamentos.
Segundo Borges, Silvino e Santos (2015) os profissionais entrevistados que
manuseavam quimioterápicos antioneoplásicos apresentaram diversos efeitos adversos como:
ciclo mentrual irregular, alteração hematológica, alopécia, náusea, alergia, cefaléia e efeitos
adversos em geral.
Há défcit no conhecimento dos sujeitos entrevistados sobre gerenciamento de resíduos.
Houve uma atividade que se sobressaiu em relação as outras, que foi a inadequação do
conhecimento técnico-cientifíco que fundamenta à prática assistencial (BARONI et al., 2013).
Entretanto, as respostas apontam a necessidade de investir em educação profissional,
conscientização a cerca do auto cuidado que reflete no cuidado do outro. Por esse motivo, é
necessário educar incessantemente através de oficinas educativas, palestras e momentos de
discussão sobre a importância do tema (SENNA et al., 2014).
É preciso ampliar e reforçar nas universidades e escolas técnicas a formação e educação
permanente sobre o assunto, além de estimular a organização dos trabalhadores de enfermagem
a respeito do controle social em busca de um modelo seguro para a enfermagem e os usuários
assistidos (LIMA et al., 2011).
Faz-se necessária a elaboração de um plano de capacitação dos profissionais para que
sejam capazes de manejar corretamente os agentes pois os resultados apresentados são que os
profissionais avaliados conhecem parcialmente as medidas de biossegurança mesmo que
reconheçam a importância de protocolos escritos para orientar a conduta dos mesmos
(FERREIRA, 2016).
Os estudos propõem que novos estudos devem utilizar a mesma abordagem como
ferramenta de estratégia para gestão do risco químico na central de quimioterapia (BORGES et
al., 2014).

Página 410
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CONCLUSÃO
Frente aos resultados apresentados, conclui-se que os profissionais de enfermagem
conhecem parcialmente a respeito das medidas de biossegurança para administração de
antineoplásicos e valorizam a existência de protocolos escritos para orientar a conduta quanto
ao manejo desses agentes e suas intercorrências. Porém, ainda é necessário a realização de mais
estudos nesta área, principalmente na educação em saúde como contribuição para a
biossegurança, proporcionando um aprofundamento sobre o tema e facilitando a tomada de
consciência dos trabalhadores de enfermagem.
Inferimos que as atividades relacionadas à educação continuada em Enfermagem
demonstram-se de importância suprema na modificação do cenário apresentado pela literatura,
uma vez que contribui para a conscientização, renovação do conhecimento, aumento do
compromentimento do colaborador bem como para sua segurança do ambiente de trabalho.
Dessa forma, os estabelecimentos de saúde onde este serviço é oferado, devem trabalhar
no sentido de cumprir a legislação vigente, bem como as definições dos conselhos de classe dos
profissionais, a fim de reduzir os acidentes com quimioterápicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de 2004. Aprova o regulamento técnico de funcionamento dos serviços de terapia
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UERJ, v. 22, n. 5, p. 649-655, 2014.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 38

(RE)PENSANDO A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL


NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: RELEVÂNCIA
E DESAFIOS

Gabriela Santos Domiciano, Bhenise Vitória Santos Nunes, Jean Cardek


Paulino Silva, Mariana Goulart de Souza Martins, Pedro Henrique
Delfino, Ronaldi Gonçalves dos Santos e Neudson Johnson Martinho

RESUMO: A Estratégia Saúde da Família foi implantada no fim da


década de 1990 como uma substituta ao Programa Saúde da Família,
tendo como objetivo de aprimorar a Atenção Primária à Saúde (APS)
do Brasil. O presente artigo buscou explorar a importância da equipe
multiprofissional na Estratégia Saúde da Família (ESF) e quais são os
desafios ainda enfrentados para sua aplicabilidade. Para tanto, foram
utilizados as bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
Portal de Periódicos CAPES/MEC, Scientific Eletronic Library (SciELO),
tendo como descritores: Equipe Multidisciplinar, Saúde da Família,
Síndrome de Burnout na atenção primária, Sobrecarga ESF. Não houve
restrição de ano de publicação, mas um dos critérios de seleção foi a
ordem decrescente de publicação em relação ao ano, com objetivo de
abranger os estudos mais recentes da temática. A equipe
multiprofissional mostrou-se de fundamental importância para a
implementação dos princípios da ESF, entretanto ainda enfrenta
questões para sua funcionalidade, como a persistente formação
hospitalocêntrica dos profissionais de saúde e a redução da carga
horária médica mínima pelo Plano Nacional de Atenção Básica (PNAB).

Página 413
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
Em 1978, na cidade de Alma Ata, na República do Cazaquistão, ocorreu a Conferência
Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, esta que buscou alertar os países a respeito
da necessidade da atenção primária para a saúde dos povos e, para tanto, foi formulada a
Declaração de Alma Ata, a qual afirmava, a partir de dez pontos, que os cuidados primários de
saúde precisavam ser desenvolvidos e aplicados em todo o mundo com urgência,
particularmente nos países em desenvolvimento, sendo esse um marco importante para a
transformação da Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil e no mundo. As recomendações
de Alma-Ata também nortearam a discussão para implantação das Medicinas Tradicionais,
Complementares e Integrativas, denominadas no Brasil de Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PICS) (BARBOSA, 2020).
O acesso aos serviços de Atenção Primária à Saúde para a população brasileira tem
passado por mudanças e avanços importantes nas últimas duas décadas e muito disso se deve
à Estratégia Saúde da Família (ESF), surgida somente em meados dos anos 90 como uma
transformação do Programa da Saúde da Família, esta que se consolidou como o melhor
formato de organização de equipes profissionais e de reorientação das práticas assistenciais na
APS no Brasil (BARBOSA, 2020). Dessa forma, a equipe de Saúde da Família (eSF) torna o
atendimento mais completo e oportuniza a atuação de diversos profissionais de saúde na
atenção básica, proporcionando interação entre conhecimentos plurais que, assim, possibilitam
a geração de um conhecimento que não seria produzido por nenhum dos profissionais quando
isolados (BEZERRA E ALVES, 2019).
A Estratégia Saúde da Família propõe a obsolescência do modelo de atenção biomédico,
que possui como visão de saúde apenas o corpo doente. Nesse sentido, a Equipe de Referência
em Saúde da Família (EqRSF) possui papel essencial e central no processo de rompimento com
o modelo tradicional, cujo enfoque é curativista e individualista (BEZERRA, ALVES, 2019).
A atual composição da equipe multiprofissional da ESF é: um médico generalista ou
especialista em Saúde da Família ou médico de Família e Comunidade, enfermeiro generalista
ou especialista em Saúde da Família, auxiliar ou técnico de enfermagem e ao menos um agente
comunitário de saúde (ACS). Podendo fazer parte da equipe o Agente de Combate às Endemias
(ACE) e os profissionais de saúde bucal: cirurgião-dentista, preferencialmente especialista em
saúde da família, e auxiliar ou técnicoem saúde bucal. Esta composição vigora desde 2017,
uma vez que o Plano Nacional de Atenção Básica (PNAB) suprimiu de 4 para 1 ACS/eSF,
cenário o qual dificulta a cobertura populacional estipulada para a eSF (GOMES,
GUTIERREZ, SORANZ, 2019).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Por outro lado, existem alguns gargalos no processo de atuação da equipe


multiprofissional, que impedem, não raramente, a efetividade das ações da ESF. A exemplo
disso tem-se a dificuldade de romper com a hierarquia preconizada no modelo biomédico
(BEZERRA; ALVES, 2020), no qual o médico tem um caráter técnico superior aos demais
profissionais da saúde, esses que, de acordo com o modelo, devem ser subordinados ao médico.
Esse cenário é combatido pela ESF, haja vista que as profissões têm função de
complementaridade para proporcionar um cuidado holístico ao paciente.
Além disso, outro desafio para a atuação da equipe multiprofissional na estratégia de
saúde da família é a diminuição da carga horária médica pela PNAB 2017 para o mínimo de
dez horas semanais, cenário que afeta a equipe e a relação médico-paciente (JUNQUEIRA,
2008).
O objetivo do presente trabalho foi demonstrar a relevância da equipe multiprofissional
na ESF, bem como descrever os principais desafios encontrados para uma efetiva
implementação da equipe multiprofissional na Estratégia Saúde da Família.

METODOLOGIA
O presente artigo baseou-se em levantamentos bibliográficos através dos bancos de
dados específicos junto às seguintes plataformas: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Portal de
Periódicos CAPES/MEC, Scientific Eletronic Library (SciELO), devido a abrangência e
importância da temática não houve aplicação de lapso temporal, entretanto, os critérios de
seleção foram baseados sequencialmente em: maior número de citações conforme o
Scielo/Google Scholar, autores e/ou co-autores com especialização na área em nível de stricto
sensu, ordem decrescente de publicação em relação ao ano - a fim de contemplar os estudos
mais recentes da temática.
Os descritores usados foram: Equipe Multidisciplinar, Saúde da Família, Síndrome de
Burnout na atenção primária, Sobrecarga ESF. Fora implementada prioridade em relação aos
artigos cujo conteúdo baseiam-se em relatos dos profissionais pertencentes a equipes
multiprofissionais, em substituição a impossibilidade de visitação in loco em função docontexto
mundial restritivo da pandemia de Sars-Cov-2; a fim de obter um maior retrato da vivência e
convivência da equipe multiprofissional entre si e para com os usuarios do Sistema Unico de
Saude. Após a aplicação das ferramentas de seleção supracitadas obtiveram - se 23 artigos que
foram utilizados como base acadêmica para a confecção desse instrumento avaliativo em
conjunto com a teoria aplicada em sala de aula.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A formação do Ministério da Saúde, no ano 1953, e do Ministério da Previdência, no ano
de 1992, respectivamente, responsáveis pelo gerenciamento de atividades pertinentes a
prevenção de patologias e a remediação destas (POLIGNANO, 2005), destaca os ajustes
relativos às políticas de saúde nacionais. No entanto, a importância destinada a cada um dos
Ministérios é caracterizada pelo financiamento divergente a cada um deles, uma vez que,
[...] o governo federal destinou poucos recursos ao Ministério da Saúde, que dessa
forma foi incapaz de desenvolver as ações de saúde pública propostas, o que
significou na prática uma clara opção pela medicina curativa, que era mais cara
e que, no entanto, contava com recursos garantidos através da contribuição dos
trabalhadores para o INPS (POLIGNANO, 2005).

Assim, mesmo após a desativação do Ministério da Previdência, no ano de 1998, a


implantação das políticas de saúde utilizadas atualmente e a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS), a atenção voltada para o modelo curativista, centrada em tecnologias duras e, portanto,
biomédico, ainda permanece cristalizada (BERTOZZI; GREGO, 1996). A exemplo disso, tem-
se o estabelecimento da não obrigatoriedade da implantação do Núcleo Ampliado de Saúde da
Família e Atenção Básica (NASF-AB) com a configuração de profissionais conhecidas
atualmente, ficando a critério do gestor municipal a formação da equipe, e não havendo mais
a possibilidade de criação de mais equipes desta modalidade (GIOVANELLA, FRANCO,
ALMEIDA, 2020).
O NASF-AB, enquanto programa que se distancia dos polos de atuação de profissionais
de saúde das áreas básicas já conhecidas - médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem -
sendoformado, portanto, por diversos profissionais como:
Médico Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor de Educação
Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Médico
Ginecologista/Obstetra; Médico Homeopata; Nutricionista; Médico Pediatra;
Psicólogo; Médico Psiquiatra; Terapeuta Ocupacional; Médico Geriatra; Médico
Internista (clinica médica), Médico do Trabalho, Médico Veterinário, profissional
com formação em arte e educação (arte educador) e profissional de saúde
sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em
saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas conforme
normativa vigente (BRASIL, 2017).

tornar-se referência no que diz respeito à multiprofissionalidade da ESF na APS. Logo, sua
desestruturação corresponde aos fatores históricos enraizados, os quais levam à valorização
do modelo biomédico em detrimento do atendimento do cuidado multifacetado. Esse fator
dificulta a visibilidade pelos gestores municipais, estaduais e federais da importância que tal
configuração de trabalho possui e torna ainda mais difícil a retirada do modelo biomédicoe a
hierarquização instalada por ele, além da concentração de ações em tecnologias duras, diferença

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

salarial expressiva entre profissionais, instabilidade contratual, entre outros. Nesse sentido, à
medida que seja dada a devida notoriedade à equipe multiprofissional, a longo prazo, com
implantação de alternativas que capacitem os profissionais da área de saúde, estabeleçam
melhores condições contratuais, permitindo maior estabilidade e condições favoráveis de
trabalho (MOTTA; SIQUEIRA-BATISTA, 2015), também seja possível que haja efetividade
de atuação interdisciplinar na APS, de forma mais concreta.
Quanto à relação de curto prazo, se estabelece uma apresentação em que a alteração do
modelo biomédico deve ser iniciado em relações micropolíticas, ou seja, dentro das Unidades
de Saúde nas relações interpessoais da equipe multiprofissional atuante, segundo FRANCO;
MERHY, 1999, apud MOTTA; SIQUEIRA-BATISTA, 2015. Porquanto, a partir da
comunicação entre os integrantes, emerge a capacidade de resolução de conflitos, queda de
crenças limitantes e, até mesmo, a resolução do desconhecimento do papel de cada sujeito
dentro do ambiente de trabalho e incoerências quanto ao conceito de integralidade exposto pelos
princípios do SUS.
Segundo Linard, Castro e Cruz (2011), ao realizar questionamento sobre o significado
atribuído à Integralidade aos profissionais da ESF, obteve-se uma polissemia. Sendo dirigido
à integralidade, desde visões centradas no cliente - cuja definição seria pautada tanto no
biopsicossocial quanto na continuidade do serviço prestado a ele dentro dos níveis de saúde -
à interdisciplinaridade do atendimento. No entanto, apesar destas caracterizações que auxiliam
na aplicação da prática integral, ainda houve confusão do termo com o conceito ampliado de
saúde, fator que poderia prejudicar o funcionamento da transdisciplinaridade do serviço
disponibilizado e descaracterizar a importância de cada profissional dentro do ambiente da ESF.
Além disso, a falta de conhecimento das demais atribuições profissionais dentro da Unidade de
Saúde, torna esse fator ainda mais proeminente.
Para os médicos, um dos problemas era a indefinição do papel do agente na relação
médico/paciente/serviço, isto é, se deveria opinar/atuar diretamente nas
intervençõesdiagnósticas e terapêuticas ou participar no levantamento de dados e
facilitar o acesso ao serviço pela população (PEDROSA; TELES, 2001).

Desse modo, tais fatores tornam tortuosos os caminhos para integração da equipe da
ESF pois alavancam ainda mais o sentimento de que não existe a relação de responsabilidade
coletiva do cuidado, fragmentando a sua realização e prejudicando a execução do serviço
(PEDROSA; TELES, 2001), porquanto cria-se uma relação de nichos de competência
(MOTTA; SIQUEIRA-BATISTA, 2015). Logo, a comunicação entre os indivíduos da equipe
deve ser levantada como ponto-chave de resolução de problemáticas entre eles, haja vista“que
a prática comunicativa pode-se constituir como princípio organizador do trabalho em equipe e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

promover a integração da equipe e a recomposição dos trabalhos especializados” (PEDUZZI,


2007), estimulando o debate crítico entre os profissionais, possibilitando o enriquecimento e
estreitamento das relações e efetivação da atuação multiprofissional na APS.
A ESF é uma forma de orgarnização a APS do Brasil composta por diversos profissionais
que, em conjunto, realizam a promoção, prevenção e atenção à saúde (BEZERRA E ALVES,
2019). Algumas das características específicas do processo de trabalho da ESF são: o
cadastramento dos indivíduos e das famílias para uso e análise sistemática da situação de saúde,
considerando fatores sociais, econômicos, culturais e demográficos; a definição de um território
de atuação para a eSF, seu reconhecimento e mapeamento; o diagnóstico e programação de
atividades segundo critérios de riscos à saúde, uma vez que diferentes áreas possuem diferentes
necessidades; o trabalho interdisciplinar e em equipe, pois a partir desse há o fomento do
pensamento e ação holística, no qual os profissionais aprendem a pensar que um problema
que acomete um membro da família pode acarretar consequências na dinâmica de vida de todos
os outros membros; a promoção e desenvolvimento de ações entre setores, almejando sempre
integrar projetos sociais voltados para a promoção da saúde; a valorização dos saberes plurais,
fomentando a criação de vínculos de confiança com ética, compromisso e respeito
(JUNQUEIRA, 2008).
Entretanto, elencam-se inúmeros desafios para a equipe multidisciplinar que atuam junto
ao SUS, principalmente os que estão à frente atuando na atenção primária em saúde, eixo basilar
do sistema gratuito e modelo de referência para vários países afora. A complementaridade do
saber interprofissional e multidisciplinar soma-se aos princípios do sistema único em conjunto
com a carta magna de 1988 para prover a população de seu direito basilar em saúde, concedendo
um atendimento mais completo e desmistificando o fantasma ainda persistente do antigo
modelo biomédico.
Nesse sentido, tem se a dificuldade de romper com a hierarquia preconizada no modelo
biomédio. Isso se deve, em grande parte, à formação hospitalocêntrica e biomédica que ainda
vigora na maioria dos cursos na área da saúde, especialmente de medicina, o que dificulta a
construção de relações interpessoais saudáveis e comunicativas entre os profissionais da eSF.
Por consequência, não há a criação ou fortalecimentos dos vínculos de confiança entre a
equipe, situação danosa ao se pensar em um cenário no qual o profissional é incapaz de resolver
o problema do paciente, sendo necessário a solicitação de ajuda a outro colega de equipe, de
forma que isso é dificultado quando as relações de confiança estão enfraquecidas
(JUNQUEIRA, 2008).
Além disso, destaca-se que a diminuição da carga horária médica pela PNAB 2017 para

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

no mínimo dez horas semanais se torna prejudicial à medida que fomenta um cenário no qual a
atuação do profissional médico na eSF seja apenas um “bico”, de forma que o papel na eSF
passa a ser, de maneira mais contundente, somente mais uma das rendas do médico
(GIOVANELLA, FRANCO, ALMEIDA, 2020). Isso acarreta a falta de comprometimento do
médico, bem como a falta de sentimento de pertencimento e de dever com a sua equipe. Com
o intuito de exemplificar, é válido inserir um relato de depoimento de um ACS sobre o médico
de sua eSF:
O médico é bem distante. O comprometimento dele não é 100%! E isso dificulta o
nosso trabalho! Ele não se interessa muito com as coisas da equipe, se tiver reunião
bem, se não tiver amém! Às vezes, tiramos dúvidas com médico de outras equipes,
ou até mesmo com a enfermeira. Todos precisam participar! A equipe precisa dele!
(PERUZZO, 2018).

Outro desdobramento importante no que diz respeito a redução da carga horária médica
é o prejuízo à relação médico-paciente, uma vez que com a carga horária de dez horas semanais,
são poucas as chances de que o usuário do serviço seja atendido pelo mesmo profissional
médico em uma mesma unidade de saúde, o que dificulta a construção de uma relação de
confiança entre o médico e o paciente, confiança essa essencial para oatendimento holístico
proposto pela Estratégia de Saúde da Família. Para exemplificar a importância dessa relação,
tem-se o relato de experiência de um paciente que, ao passar por situações de saúde delicadas,
como a descoberta de uma doença incurável como a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
(HIV), deseja ser atendido somente por um profissional médico, pois a cada vez que ele passa
por um profissional novo ele precisa explicar toda a história por trás da infecção e isso pode
trazer a tona sentimentos de culpa, remorso earrependimento, prejudicando a sua saúde física e
mental (JUNQUEIRA, 2008).
Não obstante, outro desafio encontrado é a falta de clareza das definições sobre o trabalho
da equipe multiprofissional nos documentos oficiais, possibilitando que os profissionais
atuem de forma variável, a qual podem comprometer o trabalho em equipe. Desse modo,
surgindo a necessidade de apontar caminhos para o trabalho em equipe, em especial, a
terminologia utilizadas em documentos, como também propor mecanismos facilitadores
(CUTOLO et al, 2010). Outro problema está relacionado às relações interpessoais que ocorrem
negativamente como conflitos entre membros da equipe, com hierarquização do conhecimento
e o não compartilhamento do prognóstico com os demais profissionais; pouco interesse no
desenvolvimento do trabalho em equipe; despreparo para o trabalho em equipe; e centralização
da coordenação (SILVA et al, 2013).
Ademais, ainda há desafios a serem suplantados que persistem desde a reformulação

Página 419
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

do ensino via alteração das diretrizes curriculares junto aos cursos de medicina em 2004.
Superar o isolacionismo acadêmico é um ato ímpar e de grande cunho na iniciativa de se
(re)pensar o coletivo laboral junto as USF que carecem de uma atuação mais intrínseca e
coordenada (SPAGUOLO et al, 2013; BEZERA & ALVES, 2019) e que sofrem em muitas
partes do país com uma intensa rotatividade de certas classes. Aliado às práticas isolacionistas
na formação universitária tem-se a qualificação escassa no que tange ao sofrimento psicossocial
e problemas familiares com álcool e drogas, impactando negativamente o trabalho realizado
pela equipe. Conforme o relato trazido por Gleriano et al (2019, pg.4 ):
A equipe não tem muito esse cuidado integral porque é encaminhado para o CAPS,
eles que assumem. Eu não acompanho. Tem a senhorinha do seu Valdomiro, que é
psiquiátrica, a gente foi lá e cuidou dela? Não, eu não fui lá. A gente acompanha,
mas em partes, entendeu? (Enfermeiro). A gente só identifica e já encaminha para
o CAPS, eles que fazem o acompanhamento. Tem o tratamento do CAPS, mas
não tem na unidade. (Médico) [...]

explanando um dos grandes desafios a serem transposto pela equipe multiprofissional. Equipe
esta que muitas vezes têm adversidades que vão além da infraestrutura precária e impactam
em seu dia a dia. A necessidade de uma reorganização de trabalho é vital, pois a Síndrome de
Burnout torna-se uma infeliz realidade em muitos cotidianos nas USF, principalmente sob a
figura do enfermeiro que desde os primórdios do programa saúde da família fora incubido com
a função de coordenação. O que o sobrecarrega pois acaba por centralizar as demandas
operacionais e administrativas em apenas uma categoria (SPAGUOLO et al, 2013). Além disso,
desafios relacionados ao financiamento insuficiente, no aspecto federativo, e desigualdades
regionais, como também o crescimento do setor privado, dificultam a organização da APS como
pilar fundamental do sistema de saúde (ARANTES et al, 2016).
Aliado a tais fatores, tem-se ainda a ausência de um reconhecimento populacional
relatado pelas equipes como um importante fator desmotivador, devido a incompreensão da
comunidade sobre como funciona a eSF (GIOVANELLA, 2020; SPAGUOLO et al, 2013 ).
Isso acaba gerando conflitos devido a insatisfação aliada à desinformação, cuja equipe
muitas vezes torna-se erroneamente e equivocadamente responsável por erros em outros níveis
de atenção; sendo culpabilizados pelos usuários que desconhecem os demais procedimentos e
níveis hierárquicos no sistema único de saúde. Tais fatores também podem estar relacionados
a expansão da ESF em metrópolis, na qual não alcança com efetividade os estratos mais pobres
em todos os municípios, uma vez que cidades com menor proporção populacional de pobres
possuem menos interesse em ampliar o programa, devido ser custeada pelo município e
elevando despesas próprias municipais do serviços de saúde, o que corrobora com a
desvalorização e desconhecimento da importância da eSF e seus aspectos multiprofissionais

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(COSTA et al, 2016).

CONCLUSÃO
Reforça-se que a equipe multiprofissional é uma ferramenta imprescindível para o bom
funcionamento da ESF, bem como para o aperfeiçoamento da atenção primária no Brasil,
visando a promoção, prevenção e atenção à saúde, para assim cumprir a claúsula pétrea
constitucional de 1988. Desde a sua criação, no fim da década de 1990, a estratégia vem sendo
melhorada a fim auxiliar a promover o bem estar da população brasileira. Entretanto, ainda
existem desafios a serem enfrentados. Isso ocorre devido a uma formação ainda
hospitalocêntrica e biomédica, além da razão da diminuição da carga horária médica mínima
pela PNAB 2017, que acarreta prejuízos à relação médico-paciente e à relação interprofissional,
bem como a exígua clareza, nos documentos oficiais que delimitam a ESF, do trabalho a ser
desempenhado pela equipe multiprofissional.
Somado à isso, tem-se a infraestrutura desafada do local de trabalho e a possibilidade
de esgotamento do profissional da equipe, levando-o ao desenvolvimento da Síndrome de
Burnout, aliado a um desconhecimento populacional dos seus direitos e deveres, trazendo a
tona a necessidade de se repensar a multiprofissionalidade, a fim de que ocorra não só sua
efetiva implementação, mas também o seu permanente reconhecimento social.

REFERÊNCIAS

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Página 422
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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SETEMBRO DE 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a
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2020

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 39

SÍNDROME DE BURNOUT EM ACADÊMICOS DA


SAÚDE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Eloise Rodrigues Mota, Matheus Neres Batista, Laura Vilela Buiatte Silva,
Hamanda Almeida Souza, Ana Beatriz Amaral Pessoa, Divino de Assis Júnior,
Ellis Alves Martins Garcez, Pedro Lucas Rodrigues Araújo, Luan Almeida
Japiassu de Freitas Queiroz, Mariana Hamida Casale, Rafaela Pereira
Nascimento, Bruna Arruda Fernandes, Luan Queiroz Fernandes Pereira e
Patrícia Maria da Silva

RESUMO: Introdução: A Síndrome Burnout, é uma doença multidimensional,


constituída por exaustão emocional, desumanização e reduzida realização
pessoal do trabalho. Os acadêmicos da saúde são comprometidos em razão
do estresse provocado pelas exigências intrínsecas da graduação, como a
carga horária exaustiva de 7.200 horas, distribuídas em turnos integrais,
exigidas pelo Ministério da Educação (MEC). Objetivo: Enfatizar os conceitos
atuais da SB entre os universitários de cursos da área da saúde. Metodologia:
É uma revisão integrativa, nas bases de dados: US National Library of
Medicine (PUBMED) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Como
critério de busca utilizou-se os unitermos: “burnout syndrome", “mental
health”, “psychiatry”, “esgotamento profissional” e "estudantes'', que se
limitaram a um período de 9 anos. Foram incluídos artigos originais e
excluídos aqueles que não contemplavam o objetivo do trabalho. Resultados
e Discussão: Registrada em 1974 por Freudenberg, definida como um estado
de esgotamento físico e mental. Intrinsecamente relacionada com a vida
profissional e acadêmica. Possui taxa expressiva em países desenvolvidos, e
no Brasil acomete cerca de 12,5% dos acadêmicos (medicina, odontologia,
fisioterapia e enfermagem). Os profissionais da área da saúde são os mais
expostos aos estressores ocupacionais, sendo as mulheres mais propensas a
desenvolverem, ademais impacta de forma negativa na vida dos estudantes.
Diagnóstico é feito por um psiquiatra, é tratada com terapia e se necessário
com medicamentos. A pandemia do novo coronavírus (2019) provocou uma
constante pressão para que se mantivesse o rendimento. Conclusão: Tem a
prevalência preocupante de 12,5%, fazendo-se necessário intervenções
pedagógicas e psicológicas, assim como condutas para a identificação
precoce da SB.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
Burnout (BT) é uma palavra inglesa que pode ser traduzida como queima após desgaste.
Refere-se a algo que deixou de funcionar por exaustão. Atualmente, a definição mais utilizada
para BT é como uma síndrome multidimensional, constituída por exaustão emocional,
desumanização e reduzida realização pessoal no trabalho. (VIEIRA; et al, 2017). A síndrome
de Burnout (SB) é caracterizada pela estafa física e emocional no meio de trabalho, sobretudo
no meio acadêmico, no entanto, é em grande parte confundida com outras doenças como
depressão e ansiedade.
Os sintomas encontrados podem ser agrupados em quatro áreas: psicossomática,
comportamental, emocional e defensiva. (OLIVEIRA; et al, 2012). Os mais comuns são:
cefaleia, insônia, agressividade, irritabilidade, negação de suas emoções e dificuldade para se
concentrar. Dessa forma, o indivíduo tende a se abster do seu convívio, além de desenvolver
uma má relação com os demais colegas também não vai ter dedicação no exercício de sua
função.
Os cursos da área da saúde envolvem a parte prática, onde os estudantes têm o contato
direto com paciente, e neste momento causa uma certa aflição, em razão do vínculo criado com
os pacientes em numerosas ocasiões, ter de lidar com o sofrimento e morte, medo de se
contagiar com doenças. Além disso, os maiores receios dos alunos, configuram-se em cometer
algum erro, prejudicar o cliente e não serem reconhecidos por parte dos colegas e professores.
(OLIVEIRA; et al, 2012)
Em um estudo realizado sobre o estresse em estudantes de Medicina, foi verificado que
91% dos entrevistados haviam experimentado diferentes períodos de alta tensão, que
aumentava a sua frequência, conforme os anos de curso se passavam. (VIEIRA; et al, 2017).
Tanto em medicina, quanto os demais cursos da área da saúde, a exaustão advém em sua maioria
devido da cobrança excessiva, em tirar boas notas, a extensa carga horária e grade curricular
que se inclina para aumentar conforme avança, o medo de não se tornar um bom profissional,
a abdicação do seu tempo de lazer em prol de adquirir conhecimento.
O desenvolvimento da síndrome de BT entre graduandos de Enfermagem inicia-se antes
mesmo da formatura, sendo atribuído às expectativas geradas pelos mesmos ao ingressarem na
faculdade. (OLIVEIRA; et al, 2012). O que antes era motivo de orgulho, se torna uma dúvida
em razão das dificuldades vivenciadas, se tornando mais um fator de estresse e angústia, o que
finda com a desistência de grande parte dos universitários e até mesmo com profissionais
frustrados.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O objetivo desse capítulo tem a intenção de avaliar a SB em acadêmicos dos cursos da


área da saúde, quanto a sua epidemiologia, semiologia, fator de risco, diagnóstico diferencial e
tratamento. Ademais, busca compreender como a SB tem se comportado diante do cenário
atual, a pandemia do COVID-19, onde por si só já afetou bastante o psicológico e emocional
de grande parte da população em geral. Uma vez que a pandemia provocou o isolamento social,
impedindo momentos de lazer, os quais promoveriam uma sensação de bem-estar, somado ao
cumprimento da carga horária das atividades curriculares.
METODOLOGIA
O presente estudo é uma revisão integrativa. Foi utilizado os bancos de dados: PubMed
(US National Library of Medicine), SciELO (Scientific Electronic Library Online) e
ClinicalKey, de dados científicos até 2 de julho de 2021, sem restrição de idioma com estudos
publicados entre os anos de 2012 e 2021.
1. Abordagem Metodológica
1.1 Estratégia de pesquisa
Foi utilizado os unitermos para ir de encontro à temática, SB, com um desenho
prospectivo: “burnout syndrome", “mental health”, “psychiatry”, “burnout” e " students ''. Para
complementar as buscas nas bases de dados, revisamos todas as referências dos artigos
selecionados e dos artigos de revisão.
1.2 Critérios de inclusão e exclusão
Utilizou-se os seguintes critérios de inclusão: estudo original e não original, publicado
em periódico com corpo editorial; um estudo prospectivo investigando a SB como exposição
(variável independente) para a ocorrência de consequências depressão e ansiedade (variáveis
dependentes).
Foram excluídos, editoriais, comentários, cartas aos editores, resumos, estudos
qualitativos, estudos que relataram apenas uma análise transversal, ensaios, estudos que
relataram método de pesquisa ou validação de instrumento e estudos de acompanhamento que
não tiveram um grupo de comparação (não exposto a síndrome de burnout) ou depressão e
ansiedade tratado como desfecho (variável dependente).
1.3 Seleção e extração dos artigos
A seleção dos estudos foi realizada de forma independente pelo autor principal,
seguindo três etapas: I- análise dos títulos dos artigos, II- leitura dos resumos e III- leitura dos
textos completos. A cada fase, caso houvesse divergências, um segundo autor era solicitado a
julgar, e a decisão final era tomada por consenso ou maioria. Após a seleção dos estudos, os
dados de interesse foram registrados em planilha padronizada.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

1.4 Avaliação da qualidade metodológica dos estudos


Um autor avaliou a qualidade dos artigos selecionados em conjunto (MNB). Utilizou-
se uma ferramenta para avaliação da qualidade metodológica (FALAVIGNA, 2016) composta
por seis itens: amostragem apropriada (aleatória, probabilística ou universo); tamanho de
amostra adequado (previamente calculado); critérios adequados para avaliação do desfecho
(confirmação da SB pelo diagnóstico médico); desfechos mensurados com imparcialidade
(pacientes com e sem SB avaliados igualmente); e taxa de resposta adequada (população adulta
≥18 anos).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Histórico
No ano de 1970, o psicólogo Herbert J. Freudenberger passou a investigar casos atípicos
de comportamento físico e mental em pacientes que tinham uma sobrecarga em suas jornadas
de trabalho. Estresse, exaustão e desistência de viver o êxtase estava no pico.
Em 1974, Freudenberger registrou o que seria o início da SB, to burn out, que traduzido para a
língua portuguesa significa consumir-se. A SB foi definida como um estado de esgotamento
físico e mental cuja etiologia está relacionada à vida profissional. Esta expressão foi elaborada
para descrever uma síndrome composta por exaustão, desilusão e isolamento em trabalhadores
da saúde mental, onde os sentimentos de fracasso e exaustão são causados por um excessivo
desgaste de energia e de recursos (DEMEROUTI, 2015).
Epidemiologia
A SB está intrinsecamente relacionada com a vida profissional e acadêmica, ou seja,
não há relação entre grupos de etnias e raças.
Países desenvolvidos como Canadá, Alemanha e Estados Unidos, apresentam uma
expressiva preocupação com o BT. As empresas dos EUA, por exemplo, sofrem grandes gastos
com a saúde para o auxílio da doença, são cerca de US $150 bilhões anuais. Já no Canadá e
Alemanha, evidenciaram grandes índices de aposentadoria por invalidez, cerca de 10% dos
aposentados (ALVES, 2017).
No Brasil, estudos realizados no ano de 2019 entre acadêmicos da área da saúde, revelou
uma incidência preocupante, cerca de 12,5% dos acadêmicos (medicina, odontologia,
fisioterapia e enfermagem) que participaram dos estudos apresentaram sintomas da SB, como
exaustão, desilusão profissional e depressão. Ademais, não foram encontradas relações
estatísticas significativas entre SB e sexo, faixa etária e período da graduação dos entrevistados,
bem como com os fatores estressores analisados (FARIAS; et al, 2019).

Página 427
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Semiologia
Um estudo realizado demonstrou que indivíduos com exaustão de sofrimento mental foi
de 62,8% entre os entrevistados da área da saúde. Esse sofrimento reflete de maneira prioritária
na forma de sono comprometido (54,6%), desconforto estomacal (51,7%) e cefaleia (49,2%).
São relatados também a existência de sintomas como má digestão (36,4%), falta de apetite
(27%) e tremores nas mãos (23,3%) (TEIXEIRA; et al., 2021).
Existe uma tendência a profissionais de saúde em desenvolver a SB, ela é
frequentemente identificada em médicos nas mais diversas especialidades (25 a 60%), médicos
residentes (7 a 76%) e enfermeiros (10 a 70). É necessária uma análise dos fatores de risco da
SB profissionais de saúde que atuam em hospitais, pois as características do ambiente hospitalar
(PERNICIOTTI, et al, 2020)
Fator de Risco
A área da saúde é definida como uma profissão que exige muito do profissional e é
enxergada como um tipo de “sacerdócio”, onde devido a carga horária excessiva o ambiente
nada favorável e situações extremamente estressantes onde a pessoa é levada ao limite,
deixando sua vida pessoal de lada em prol dos pacientes (CONCEIÇÃO, 2019).
Profissionais da área da saúde são os mais expostos a diversos estressores ocupacionais,
que, se persistentes, podem levar à SB, que se caracteriza como fenômeno psicossocial comuns
em atuantes da área da saúde sendo uma base construída por três dimensões: Exaustão
Emocional, Despersonalização e Baixa Realização Profissional (CARLOTTO et al., 2012)
Foi realizado um estudo realizado pelos acadêmicos da faculdade de medicina da
Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) com 420 alunos que demonstraram que 10% dos
entrevistados apresentaram critérios positivos para a SB. Em análise de sexo as mulheres são
mais propicias, quase 2 vezes mais, a desenvolverem a síndrome. Os altos níveis de ansiedade
relacionados com a baixa qualidade de vida são fatores para a intensificação da síndrome. É
notório a necessidade de mais levantamento de dados para se estabelecer uma relação entre o
cotidiano e os impactos na qualidade de vida durante o curso de Medicina (ALBUQUERQUE,
2019)
Percebe-se que a SB impacta de forma negativa na qualidade de vida dos universitários,
a exaustão emocional e sensação de esgotamento, são fatores determinantes da SB. Em
consequências a longo prazo a SB pode desencadear o sobrepeso, devido ao descontrole
alimentício, a hipertensão arterial e taquicardia em decorrência do sobrepeso, da obesidade, da
falta de exercícios físicos e da falta de uma alimentação saudável podendo evoluir para um
infarto (LIMA et al., 2019).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Diagnóstico Diferencial
Na realização do diagnóstico da SB, são avaliadas as características individuais
associadas às do ambiente e às do trabalho, proporcionando o aparecimento de fatores
multidimensionais da síndrome: exaustão emocional, distanciamento afetivo
(despersonalização) e baixa realização profissional. Para avaliação dos fatores de risco para o
desenvolvimento da SB, se leva em consideração quatro dimensões: a organização, o indivíduo,
o trabalho e a sociedade (ALVES, 2017).
Tratamento
O tratamento da SB inicia-se logo após o diagnóstico, que é feito por um psiquiatra,
tendo ou não auxílio de um psicólogo clínico no manejo do prognóstico. A SB costuma ser
tratada com terapia e, dependendo da gravidade e natureza dos sintomas, com medicamentos
como antidepressivos e ansiolíticos. Além disso, o profissional de saúde pode sugerir mudanças
no estilo de vida, além de exercícios de relaxamento que ajudem a aliviar o estresse do trabalho
(ALVES, 2017).
Eixo simpático-adrenal-medular (SAM)
Responsável por uma resposta imediata a um agente externo. Quando ativado, ocorre o
aumento do ritmo cardíaco, da pressão sanguínea e a secreção de catecolaminas (epinefrina e
norepinefrina) (RIBEIRO; MOTTA, 2014).
Eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA)
Caracterizado por Motta e Ribeiro como o elo entre o cérebro e o sistema endócrino.
Tem como principal função a produção de uma resposta lenta do organismo a estímulos, dentre
eles os estressores psicológicos. É ativado através da secreção de corticosteroides, provocando
imunossupressão (RIBEIRO; MOTTA, 2014). A sua disfunção está correlacionada com
manifestações psicossomáticas patológicas, podendo resultar uma resistência pelo organismo
com continuidade a exposição ao estresse, neste caso a tentativa de recuperação da homeostase
é fracassada e o organismo entra em estado crônico, tendo de fato um desencadeamento crônico
da SB.

Pandemia do novo coronavírus (2019)


O cenário pandêmico causado pela COVID-19 causou a adesão de inúmeras medidas
em praticamente todos os âmbitos sociais para conter a propagação do vírus e para evitar um
colapso do sistema de saúde (DOS SANTOS, et al, 2021). Entre essas mudanças estão a
suspensão das aulas presenciais e a utilização do ensino remoto nas universidades e escolas do
Brasil e do mundo. Porém, essa nova realidade para discentes e docentes provoca inúmeros

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

desafios a serem superados, uma vez que o ensino remoto causa um empobrecimento da
comunicação, diminuição da interação e outros problemas inquestionáveis.
Ademais, foi evidente uma constante pressão por parte das instituições e da sociedade
para com os discentes acerca da preservação do rendimento, fazendo com que o acadêmico se
sinta na obrigação de manter seus padrões semelhantes ao que era na educação presencial (DOS
SANTOS, et al, 2021).

CONCLUSÃO
A prevalência da SB entre os acadêmicos da área da saúde analisados nos estudos, foi
de 12,5%. Esses achados sugerem a necessidade de intervenções direcionadas ao apoio
pedagógico e psicológico, orientando os acadêmicos sobre suas dificuldades e inseguranças.
Incentivo à convivência familiar; aumento do número de profissionais de assistência
psicossocial como forma de prevenir o estresse no estudante de saúde; grupos de apoio nas
universidades, além de condutas para identificar precocemente a síndrome ou outras patologias
psíquicas, advindas do estresse comum à vida. Sendo assim um fator importante para a
sobrevida dos acadêmicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, M. A. C et al. Avaliação da Prevalência da Síndrome de Burnout em


estudantes de medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Revista da saúde, v. 3,
n.2, p. 12-19, 2019.

ALVES, M E. Síndrome de Burnout. Edição do mês, v. 22, n. 9, p. 39-49, 2017.

CARLOTTO, M. S et al. Fatores de risco da síndrome de burnout em técnicos de enfermagem.


Rev. SBPH, v. 14, n. 2, p. 07-26, dez. 2012.

CONCEIÇÃO, L S et al. Saúde mental dos estudantes de medicina brasileiros: uma revisão
sistemática da literatura. Revista da avaliação da educação superior, v. 3, n. 5, p.14-19. 2019.

DEMEROUTI, E. Strategies used by individuals to prevent Burnout. European Journal of


Clinical Investigation. v. 45, n.4, p. 1106-1112. 2015.

DOS SANTOS, G M F et al. COVID-19: ensino remoto emergencial e saúde mental de


docentes universitários, Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 21, n.1, p. 1-10. 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

FALAVIGNA, M C A: Avaliando a Qualidade de Estudos Observacionais. Htanalyze:


Economia e Gestão em Saúde, v.4, n. 2, p. 10-15, 30, 2016.

FARIAS, I O et al. Prevalência da Síndrome de Burnout entre Acadêmicos de Medicina de uma


Universidade na cidade de Vassouras no Estado do RJ. Revista de Saúde; v.10, n.1, p. 02-08.
2019.

LIMA, R. L et al. Estresse do Estudante de Medicina e Rendimento Acadêmico. Núcleo de


Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná, v. 2, n.3, p. 10-15, fev. 2019.

OLIVEIRA, R et al. Síndrome de Burnout em acadêmicos do último ano da graduação em


enfermagem. Acta Paul Enferm, v. 12, n. 6, p. 54-60, 2012.

PERNICIOTTI, P et al. Síndrome de Burnout nos profissionais de saúde: atualização sobre


definições, fatores de risco e estratégias de prevenção. Rev. SBPH, v. 23, n. 1, p. 35-52,
jun. 2020 .

RIBEIRO, S S; MOTTA, E A P. Associação entre a síndrome de Burnout e o hormônio cortisol.


Rev. Ciênc. Saúde, v.16 n.2, p. 87-93, 2014.

TEIXEIRA, L A C et al. Saúde mental dos estudantes de Medicina do Brasil durante a pandemia
do coronavírus. Jornal brasileiro de psiquiatria, v, 10; n.2 p. 1-10. 2021.

VIEIRA, D R et al. Síndrome de Burnout em Acadêmicos do último ano do curso de graduação


de medicina. Revista Unimontes Científica, Montes Claros, v. 19, n.1, p. 19-25, 2017.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 40

OS TRATAMENTOS DA FISIOTERAPIA EM PACIENTES


PÓS COVID-19: REVISÃO DE LITERATURA

Leandro Ferreira de Moura, Maria Luana Chagas Camelo, Rauanny Castro de Oliveira,
Jamile Da Silva Freitas, Geovana da Silva Pedrosa, Antonia Fernanda Sá Pereira,
Pedro Eduardo Rodrigues Félix, Ariana Pontes da Silva, Thaynara Paula Paixão

RESUMO: Introdução: A infecção pulmonar causada pela família do vírus Sars-Cov-


2, comumente conhecida como Covid-19 ou Coronavírus, teve início no fim de 2019.
Altamente e facilmente contagiosa, apresenta-se como uma infecção respiratória,
que consequentemente leva à disfunção pulmonar, cardíaca, renal e em parte dos
pacientes disfunção hepática (JORGE et al., 2020). 80% dos que testam positivo,
apresentam manifestações clínicas leves, como dor de garganta, tosse seca, febre,
distúrbios gastrointestinais, cefaleias e dores musculares; 20% apresentam a forma
mais grave da doença evoluindo para síndrome do desconforto respiratório agudo
(GALLASCH et al., 2020). A hospitalização prolongada pode levar a efeitos deletérios
nos pulmões e no coração dos pacientes, esse comprometimento funcional pós covid,
pode prejudicar a capacidade de executar as atividades diárias e alterar também o
desempenho profissional. Nesse cenário de pandemia ocorre uma maior necessidade
dos profissionais de saúde, o fisioterapeuta se mostrou um profissional de grande
responsabilidade e destaque no enfrentamento da doença e na assistência aos
pacientes contaminados (TEIXEIRA et al., 2020). A atuação na assistência desses
pacientes desde a enfermaria passando por todo o tratamento na UTI e no pós covid
cabe ao fisioterapeuta, especialmente nos casos graves que pode vir a decorrer em
óbito. Este artigo visa através de uma revisão de literatura demonstrar os
tratamentos da fisioterapia em pacientes pós-covid-19, estabelecendo evidências
científicas que justificam. Método: Trata-se de uma revisão de literatura, realizada
por meio das bases de dados eletrônicas e bibliotecas virtuais: Pubmed, The
Cochrane, Lilacs, Google acadêmico e Bireme, usando as palavras chaves em
português e inglês “coronavírus”, “Fisioterapia”, “infecções por coronavirus”,
“tratamento” e “Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde”, no período de 2021. Resultados e discussão: Este estudo de revisão de
literatura fez uso de seis artigos, sendo intervencionista, série de casos, relato de
experiência, observacional e multicêntrico prospectivo autocontrolado. Os estudos
analisados tem como intuito enfatizar a importância dos exercícios respiratórios
associados aos membros superiores e membros inferiores na reabilitação pulmonar
de pacientes que enfrentaram a COVID-19, pois os pulmões são bastante afetados
no decorrer do processo da doença, além das contribuições que cada prática traz
diante do atual cenário que a saúde vivência. Conclusão: Com base na literatura foi
possível identificar a importância do fisioterapeuta no tratamento dos pacientes pós-
covid-19, visto que o profissional atua em amplo aspecto de tratamento com
condutas que visam uma reexpansão pulmonar, fortalecimento muscular,
desobstrução brônquica e retorno às atividades de vida diárias.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A infecção pulmonar causada pela família do vírus Sars-Cov-2, comumente conhecida


como Covid-19 ou Coronavírus, teve início no fim de 2019 na província de Wuhan na China e
ligeiramente se espalhou por todo o mundo (NIELSEN; SILVA, 2020). A Covid-19 altamente
e facilmente contagiosa, apresenta-se como uma infecção respiratória, que consequentemente
leva à disfunção pulmonar, cardíaca, renal e em parte dos pacientes disfunção hepática (JORGE
et al., 2020).

O contato com fluidos corporais, gotículas salivares, secreções e excreções do indivíduo


contaminado são as principais formas de transmissão. O período de incubação do vírus dentro
do organismo humano ocorre de 5 – 14 dias; 80% dos que testam positivo apresenta
manifestações clínicas leves, como dor de garganta, tosse seca, febre, distúrbios
gastrointestinais, cefaleias e dores musculares; 20% apresentam a forma mais grave da doença
evoluindo para síndrome do desconforto respiratório agudo e necessitam de cuidados em
unidade de terapia intensiva (GALLASCH et al., 2020). Segundo essas estatísticas os idosos
são os grandes afetados pela pandemia, muito em decorrência de patologias decorrentes da
senescência (HAMMERSCHMID; SANTANA, 2020).

A hospitalização prolongada, com ou sem o suporte ventilatório pode levar a efeitos


deletérios nos pulmões e no coração dos pacientes, comum durante a hospitalização prolongada.
Esse comprometimento funcional pós covid, pode prejudicar a capacidade de executar as
atividades diárias, alterar também o desempenho profissional. Mesmo que o mais comum seja
grandes sequelas em pacientes que tiveram a forma mais grave da doença, aqueles que
obtiveram a forma mais leve também podem desenvolver em algum grau de comprometimentos
funcionais (SANTANA; FONTANA; PITTA, 2021).

Diante do avanço da Covid-19, evidenciou-se ainda mais a importância dos


profissionais da saúde. Nesse cenário de pandemia ocorre uma maior necessidade desses
profissionais, o fisioterapeuta se mostrou um profissional de grande responsabilidade e
destaque no enfrentamento da doença e na assistência aos pacientes contaminados (TEIXEIRA
et al., 2020).

A atuação na assistência desses pacientes desde a enfermaria passando por todo o


tratamento na UTI e no pós covid cabe ao fisioterapeuta, especialmente nos casos graves que
pode vir a decorrer em óbito. O fisioterapeuta na unidade de terapia intensiva junto com sua

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

equipe deve assegurar o suporte ventilatório durante todo o período em que o paciente necessite,
e na recuperação dos pacientes que conseguiram sair da intubação (MARTINEZ; ANDRADE,
2020).

Assim, este artigo visa através de uma revisão de literatura demonstrar os tratamentos
da fisioterapia em pacientes pós-covid-19, estabelecendo evidências científicas que justificam.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura, que foi realizada por meio das bases de dados
eletrônicas e bibliotecas virtuais: Pubmed, The Cochrane, Lilacs, Google acadêmico e Bireme.
Foram encontrados 793 artigos e após os critérios de inclusão e exclusão foram
selecionados sete artigos. No período de março a abril de 2021. Usando as palavras chaves em
português e inglês de acordo com os descritores DeCS/meSH “coronavírus”, “Fisioterapia”,
“infecções por coronavirus”, “tratamento” e “Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde” intercaladas pelo operador booleano “and”.
Foram usados como critérios de inclusão artigos com disponibilidade de texto completo,
artigos de língua inglesa, espanhola e portuguesa com intervenção em adultos maiores de 18
anos que tiveram coronavírus que estavam de alta após infecção e artigos que disponibilizaram
as formas de tratamento ou plano futuro de reabilitação em pacientes pós-covid. Já os critérios
de exclusão foram: artigos que não abordassem a temática, outras revisões, metanálise, artigos
sem comprovação científica de publicação, artigos que não tiveram intervenção após covid-19
e que não descrevessem o método aplicado.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Figura 01. Fluxograma dos artigos indexados pesquisados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este estudo de revisão de literatura fez uso de seis artigos, sendo intervencionista, série
de casos, relato de experiência, observacional e multicêntrico prospectivo autocontrolado. O
recente início da pandemia covid-19, atualmente há poucas evidências científicas para orientar
a abordagem da reabilitação em pacientes pós covid-19. Essa falta de evidência de alta
qualidade publicada em periódicos revisados por partes apresenta um desafio para a formulação
de recomendações.

Tabela 1: Apresentação das evidências sobre os tratamentos da fisioterapia em pacientes pós-covid-19

AUTOR OBJETIVO TIPO DE INTERVENÇÃO SÍNTESES


ESTUDO DOS
RESULTADO
S

Zha et al. / Exercícios de Observacional Exercício de As prevalências


2020 reabilitação reabilitação basais para tosse
modificados para modificado seca, tosse
suavizar a (MRE), obtido do produtiva,
respiração e Brocade de oito dificuldade de
facilitar o seções da arte expectoração e
processo de marcial chinesa. dispneia foram
expectoração. 41,7%, 43,3%,
35,0% e 50,0%,
respectivamente
. Quatro
semanas após a
alta, notou-se
uma menor taxa
de remissão da
tosse produtiva

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

e dificuldade de
expectoração.

MAINARD Descrever um Relato de Exercícios Através do


I et al. / protocolo de experiência. respiratórios e tratamento com
2021 reabilitação exercícios exercícios
cardiorrespitaróri motores. respiratórios
a no paciente com diversos,
sequelas de associado aos
COVID-19. MMSS e MMII
e outros. Teve-
se melhora
significativa do
cansaço e da
SPo2, não
apresentando
mais
desconfortos
respiratórios.

TANG et al. Investigar os Multicêntrico Rotina de O Liuzijue


/ 2021 efeitos do prospectivo exercícios de proporcionou
exercício Liuzijue autocontrolado. Liuzijue. aumento da
na reabilitação de pressão
pacientes com inspiratória
COVID-19. máxima
(PImáx), do
fluxo
inspiratório
máximo (PIF) e
o movimento do
diafragma em
respiração
profunda, após

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

quatro semanas.
Além da
melhora na
dispneia, na
capacidade
física e o alívio
no estado de
depressão e
ansiedade.

LAPLAZA/ Evidenciar Intervencionista Fisioterapia Programa de


2021 cientificamente . respiratória pós- fisioterapia
um programa de covid 19 respiratória
reabilitação online oferece
pulmonar iniciado melhorias na
de forma altruísta qualidade de
durante o vida, dispneia e
confinamento de ansiedade para
pacientes pacientes que
portadores de sofreram
COVID-19, por COVID-19.
meio de uma
plataforma online.

SÁNCHEZ; Analisar a Intervencionista Programa de O programa de


CALVO / eficácia reabilitação física fisioterapia e
2021 preliminar na domiciliar usando educação
aptidão física de uma plataforma de terapêutica de
um programa de telereabilitação. 12 semanas por
fisioterapia e Programa de meio de
educação reabilitação física software de
terapêutica de 12 domiciliar por telereabilitação
semanas usando meio de cartilha assíncrona é
telereabilitação explicativa viável e

Página 437
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

assíncrona em preliminarmente
pacientes pós- eficaz no
COVID-19, e aumento da
comparar seus aptidão física,
efeitos com adesão ao
pacientes que se tratamento e
submeteram ao melhora dos
mesmo programa, fatores
mas em um psicossociais.
formato não
telemático.

TOZATO et Demonstrar a Série de casos Exercício aeróbio Os exercícios


al. / 2021 experiência em e Exercício físicos baseado
pacientes com resistido. em princípios da
diferentes perfis reabilitação
de gravidade que cardiovascular e
realizaram um pulmonar
programa de RCP apresentou
por 3 meses pós impacto positivo
COVID-19. nos casos
acompanhados,
com melhora da
capacidade
funcional,
mesmo com a
variabilidade da
gravidade dos
casos pós-
COVID-19

Fonte: Autores da pesquisa, 2021.


Zhan et al., 2020, mostra uma versão modificada para os exercícios de reabilitação com
base nos casos leves de covid-19. Realizou um estudo observacional com 60 pacientes
acometidos pela covid-19 que realizaram um curso completo com Exercícios de Reabilitação

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Modificados (MRE). Sendo coletados os resultados relatados pelos pacientes em quatro


momentos diferentes desde a admissão, alta hospitalar, duas semanas após a alta e quatro
semanas após a alta. Apresentando como sintomas respiratórios relatados, tosse seca, tosse
produtiva, dificuldade de expectoração e dispneia.
A Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia
Intensiva recomenda como orientação geral, os exercícios aeróbicos de baixa intensidade, inclui
também os exercícios de força muscular, equilíbrio e equilíbrio para a intervenção
fisioterapêutica, concentrando também os seus objetivos nas atividades de vida diária (AVDs),
sempre que for identificada a incapacidade da realização dessas atividades (SARAIVA et al.,
2020).
Mainardi et al. 2021 referente ao relato de experiência realizado na Clínica Escola de
Fisioterapia, do Pará, demonstrou que através do tratamento com exercícios respiratórios
associados aos membros superiores e membros inferiores, houve uma melhora significativa do
cansaço e saturação, não havendo mais desconfortos respiratórios. Contudo, a COVID-19 é
uma doença infectocontagiosa, sendo capaz de evoluir com alterações no sistema
cardiorrespiratório e consequentemente o indivíduo irá necessitar de reabilitação
fisioterapêutica.
Destaca-se na evidência os exercícios associados, com o objetivo de proporcionar que
os pacientes voltem às atividades de vida diária. As principais limitações deste relato de
experiência estão relacionadas sobretudo com a ausência de pesquisas que tenham informações
suficientes, em relação à eficácia do tratamento na reabilitação do COVID-19. Dessa forma é
possível compreender que este relato de experiência, contém contribuições científicas
considerável para o atual cenário do serviço de saúde, pois a COVID-19, traz consequências no
sistema respiratório, assim a fisioterapia destaca-se com seu tratamento (MAINARDI, 2021).
Tang et al. 2021, realizou um estudo autocontrolado prospectivo multicêntrico, com
trinta e três pacientes, a fim de explorar os efeitos do Liuzijue que é um programa de exercícios
domésticos, que tem por objetivo melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida em
pacientes com covid-19 que receberam alta hospitalar. Os exercícios foram realizados uma vez
por semana, durante 20 minutos por quatro vezes na semana. No estudo realizado por Souza et
al. (2020), a recuperação dos pacientes pós covid-19 baseia-se em exercícios que fortaleçam
músculos da respiração, membros inferiores e superiores, que visam a reintegração da
funcionalidade e a capacidade de retorno a independência no seu dia a dia. É perceptível a
importância dos exercícios funcionais para a recuperação de doenças e principalmente na
reabilitação.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Laplaza et al. 2021 relata que o programa de fisioterapia respiratória, é um projeto que
tem como objetivo evidenciar cientificamente o mesmo, no qual é intitulado de forma altruísta
ao longo de um confinamento de pacientes infectados pela COVID-19, nele os pacientes são
conectados telematicamente, 3 vezes na semana, deste modo oferece melhorias na qualidade de
vida, dispneia e ansiedade nesses pacientes. Ressalta-se que este programa derivou das
necessidades e circunstâncias apresentadas devido a pandemia, realizado em um estudo
experimental, com um grupo de intervenção e outro de controle.
As intervenções realizadas são divididas nos módulos: Ventilação abdominal-
diafragmática direcionada; Exercícios de expansão costal com auxílio de flexão e abdução de
membros superiores; Alongamento autopassivo da caixa torácica, músculos do pescoço e tem
como objetivo a flexibilidade dos músculos para melhorar a capacidade vital. Entretanto, a
avaliação pós-sessão é feita pela frequência respiratória / min e índice de dispneia de Borg e
nível de oxigênio após os exercícios. Além disso, observa-se que este estudo traz contribuições
para a área da saúde, principalmente em relação ao tratamento da fisioterapia e da sua eficácia
(LAPLAZA et al. 2021).
O programa de fisioterapia e educação terapêutica que se encontra sendo estudado
durante 12 semanas, por meio de um software de telereabilitação assíncrona é viável e
preliminarmente eficaz no aumento da aptidão física, consequentemente na adesão ao
tratamento e na melhora dos fatores psicossociais, comparando seus efeitos com pacientes que
foram submetidos a um programa similar, mas de forma não telemática. Pois a inatividade
adicional para hospitalização, influencia negativamente na perda da aptidão muscular,
cardiovascular e metabólica (SANCHEZ; CALVO, 2021).
Diante disso, recomenda-se que a reabilitação pós-aguda precoce seja continuada após
a fase hospitalar para aumentar os níveis de atividade física, o que também pode ser continuado
com a telereabilitação de longo prazo. Contudo este estudo irá contribuir de forma positiva na
reabilitação dos pacientes, acompanhado também de uma cartilha explicativa (SANCHEZ;
CALVO, 2021).
Tozato et al. 2021, realizou estudo de uma série de casos, com quatro casos com
diferentes classificações da gravidade e em relação aos achados após serem acometidos por
covid19. A reabilitação pulmonar e cardiopulmonar é abordada, com ênfase nas possíveis
sequelas pulmonares, como a queda de saturação e dispneia. De forma progressiva, os casos se
beneficiaram do treino aeróbio e resistido avaliado pelo teste de uma repetição máxima e após
3 meses foi identificado redução dos sintomas e aumento da distância percorrida no teste de
caminhada de 6 minutos (TC6M) e da força muscular periférica. Destaca-se um estudo que tem

Página 440
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

como objetivo mostrar a importância da reabilitação pulmonar no pós-covid-19. A reabilitação


pulmonar é recomendada para a melhora da função pulmonar, melhora da tolerância ao
exercício e para a redução da fadiga no pós-covid-19, especialmente para os pacientes que
necessitaram de hospitalização (NIELSEN; SILVA, 2020).
Os estudos analisados tem como intuito enfatizar a importância dos exercícios
respiratórios associados aos membros superiores e membros inferiores na reabilitação pulmonar
de pacientes que enfrentaram a COVID-19, pois os pulmões são bastante afetados no decorrer
do processo da doença, além das contribuições que cada prática traz diante do atual cenário que
a saúde vivência.

CONCLUSÃO
Com base na literatura foi possível identificar a importância do fisioterapeuta no
tratamento dos pacientes pós-covid-19, visto que o profissional atua em amplo aspecto de
tratamento com condutas que visam uma reexpansão pulmonar, fortalecimento muscular,
desobstrução brônquica e um retorno às atividades de vida diárias. É importante que o
profissional tenha condutas de acordo com a individualidade de cada paciente pois são notórias
as diferentes sintomatologias.
A maioria das evidências relataram que exercícios respiratórios associados com
exercícios motores promovem maiores benefícios para os pacientes pois há uma melhora
significativa na dispneia e na saturação. As demais evidências trouxeram relatos de novas
formas de tratamento domiciliar, como é o caso da telereabilitação que por meio de software
promoveu aos pacientes um aumento na aptidão física e em fatores psicossociais.
As intervenções fisioterápicas mais precisas acabam tornando-se mais confiáveis nas
pesquisas e por sua vez, mais utilizadas. Devido a COVID-19 ter sido descoberta recentemente,
a demanda de estudos para evidenciar seus impactos, recomendações e protocolos podem sofrer
alterações no decorrer dos anos e devem ser motivo de atualização técnica frequente pelos
pesquisadores, gestores e profissionais de saúde.

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Página 443
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 41

CUIDADOS DA ENFERMAGEM A PACIENTE COM


CÂNCER DE MAMA E QUALIDADE DE VIDA

Thiago Augusto Ferreira dos Anjos, Ana Paula Ferreira David, Bruna Renata
Silva de Almeida, Bruna Eduarda Brito Gonçalves, Daniele Nunes da Silva
Ferreira, Karen Aline Silva e Silva, Luiza Raquel Tapajós Figueira e Maria
Girlane Sousa Albuquerque Brandão ( Orientadora)

RESUMO: O câncer de mama é uma neoplasia maligna, que interfere nos


fatores biopsicossociais da mulher, tal qual, saúde física, mental e social. Este
estudo tem o objetivo de analisar por meio de evidências científicas acerca da
atuação e cuidados de enfermagem à pacientes com câncer de mama e a
qualidade de vida das mulheres após o diagnóstico. Trata-se de uma revisão
de literatura que avaliou estudos da SciELO e Biblioteca Virtual da Saúde
(BVS,) onde estão organizadas as bases de dados BDENF e LILACS. Para
estratégia de busca foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde
(DeCs): Cuidados de enfermagem; Neoplasias mamárias; Saúde da mulher;
Diagnóstico de enfermagem; Qualidade de vida, sendo utilizado o booleano
AND para fazer a junção dos mesmos. Consideraram-se elegíveis textos
completos, publicados em português e inglês, entre os anos de 2016 a 2021.
Nesse contexto, foram contabilizados 2.862 artigos e escolhidos 12
documentos científicos. Identificou-se que a equipe de enfermagem buscou
prestar o assistencialismo integral às pacientes com câncer mamário, onde o
atendimento nos fatores biopsicossociais tiveram um enfoque importante por
parte da enfermagem, além da promoção da saúde e o atendimento
humanizado, os quais foram fatores essenciais para o melhor desempenho
nos quadros clínicos das mulheres diagnosticadas com câncer de mama.
Outrossim, constatou-se que o uso e a utilização da radioterapia e
quimioterapia interfere nos aspectos sociais, físicos e mentais das pacientes.
O assistencialismo, atendimento humanizado e a atuação de enfermagem,
portanto, foram pilares fundamentais, como parte dos cuidados e
tratamentos das mesmas, como também houve uma atuação humanizada,
visando analisar e auxiliar na restauração dos fatores biopsicossociais.

Página 444
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
O câncer é atualmente um dos principais problemas de saúde pública no mundo,
ganhando proporção por causa das mudanças no padrão de vida, devido o contato com
agentes cancerígenos e o próprio processo de envelhecimento (FERREIRA et al., 2020). A
incidência será de, aproximadamente, 21,4 milhões de casos novos para o ano de 2030,
equivalente a 13,2 milhões de mortes por causa do câncer (WATERKEMPER et al., 2017).
O câncer ocorre a partir da multiplicação descontrolada de células que sofreram
estímulos genéticos ou de agentes externos, podendo atingir outras regiões do corpo,
denominada de metástase. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é essencial a
realização de exames preventivos, principalmente, devido os fatores genéticos que aumentam
as chances de desenvolver o câncer (NOGUEIRA, 2017).
Dentre os tipos de câncer, a neoplasia maligna da mama é a segunda causa de óbitos
entre as mulheres do mundo todo (OLIVEIRA et al., 2018). Conforme o INCA, foram
estimados 66.280 novos casos de câncer de mama em cada triênio de 2020-2022. No câncer
de mama é possível visualizar as alterações do tamanho das mamas, dos mamilos, na
continuidade da pele e presença de excreção sanguinolenta nos mamilos e nódulo palpável ou
não (NOGUEIRA, 2017).
Nesse sentido, buscando a detecção precoce, o Ministério da Saúde recomenda que as
mulheres façam o Exame Clínico das Mamas (ECM) e Mamografia (MMG), a cada dois anos
para mulheres com risco normal e anual para aquelas mais propensas a adquirir o câncer,
além do Autoexame das Mamas (AEM), que pode ser associado aos demais (MARQUES;
SILVA; GUTIÉRREZ, 2017).
Logo, a enfermagem apresenta um papel fundamental no diagnóstico precoce, no
acompanhamento da mulher na atenção oncológica e durante os tratamentos, seja ele
cirúrgicos, quimioterápicos ou radioterápicos (PAIVA et al., 2020). No entanto, por ser um
tratamento longo e com reações físicas e emocionais, os enfermeiros devem saber lidar com a
subjetividade de cada paciente oncológica, seja nas suas expectativas ou capacidade de
suportar ao tratamento, tendo como objetivo a promoção e recuperação da saúde de forma
integral (SALDANHA et al., 2020).
Sendo assim, este estudo tem por objetivo discutir sobre como dar a assistência de
enfermagem nos cuidados às pacientes com câncer de mama e identificar a qualidade de vida
após o diagnóstico de câncer. Para isso, o atendimento contínuo na atenção primária é

Página 445
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

fundamental para a prevenção e consequentemente, redução de casos novos, sendo necessário


a avaliação do cuidado para que medidas efetivas sejam implementadas para uma assistência
humanizada e de qualidade. Portanto, cabe à enfermagem prestar um cuidado sistematizado e
holístico, trazendo dignidade e conforto para esse momento.

MÉTODO

O estudo caracteriza-se com uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa, a partir


da pesquisa integrativa da literatura. Sendo que a descritiva “observa, registra, analisa e
correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los” (CERVO; SILVA;
BERVIAN, 2007). A Revisão Integrativa da Literatura é a análise de literaturas anteriores,
qual proporciona entendimento sobre a metodologia, assim como dos resultados de estudos de
forma sistemática e ordenada para seguintes assuntos abordado em trabalhos científicos no
futuro (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008) e os impactos da doença na qualidade de
vida.

A questão norteadora da pesquisa foi: “Quais os cuidados de enfermagem à mulher


diagnosticada com câncer de mama e os impactos da doença na qualidade de vida?”

A estratégia usada na primeira etapa da pesquisa foi a seleção dos descritores, os quais
foram estudados individualmente e verificados no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).
Sendo assim, os descritores selecionados foram: “cuidados de enfermagem”; “neoplasias
mamária”, “saúde da mulher”, “diagnóstico de enfermagem”, “qualidade de vida”, com o uso
do booleano AND. Mediante a utilização dos descritores nas bases de dados da Biblioteca
Virtual da Saúde (BVS) e SciELO, na busca inicial encontrou-se 2.862 artigos.

Por meio dos documentos encontrados, foi realizada a aplicação de filtros para
classificar os artigos relacionados com a temática, estes foram: texto completo, publicados em
português e inglês, bases de dados BDENF e LILACS, entre o ano de 2016 a 2021. Os
mesmos filtros foram utilizados para a SciELO. Por conseguinte, foi realizada a leitura dos
títulos e resumos para analisar os estudos que não se encaixariam com o estudo. Dessa forma,
selecionaram-se 12 artigos para responder à pergunta norteadora desse estudo.

1) Etapa de seleção de artigos nas bases selecionadas com a utilização de


descritores:

Página 446
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Cuidados de
320.112
Fonte: Autores, 2021.
enfermagem

Saúde da
Neoplasia 332.923
mamária

Descritores
Saúde da mulher 140.300
(DECS)

Diagnóstico de 65.090
enfermagem

Qualidade de
294.276
vida

Fonte: Autores, 2021.

2) Publicações nas bases consultadas

Resultados da pesquisa com os descritores

Cuidados de Enfermagem (AND) Neoplasia Mamária


(AND) Saúde da Mulher (AND) Diagnóstico de
Enfermagem (AND) Qualidade de Vida.

Número total de documentos encontrados

2862

Fonte: Autores, 2021.

3) Fluxograma do processo de filtragem e seleção dos trabalhos utilizados:

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

316 documentos
341 documentos
Total de 2.862 após a filtragem
após a filtragem
documentos por idioma em
por tempo de
encontrados. português e
2016- 2021
inglês.

63 documentos 12 documentos
297 documentos
para leitura de após a leitura que
completos
título e resumo. foram incluidos.

Fonte: Autores, 2021

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 2.862 documentos relacionados com a temática do estudo. Após os


critérios de seleção dos artigos com maior afinidade com o objetivo da pesquisa, foram
excluídos 2.849. Mediante a isso, classificaram-se 12 documentos para elaboração desta
revisão integrativa. Os estudos foram publicados em 2020 (n=4), 2018 (n=4), 2017 (n=3) e
2016 (n=1), em idioma português (n=10) e inglês (n=2). Todos os documentos selecionados
são artigos científicos, que estão relacionados a cuidados de enfermagem, câncer de mama,
saúde da mulher, qualidade de vida e promoção em saúde.

4) Apresentação dos resultados da seleção dos trabalhos utilizados:

AUTORES TÍTULO ANO RESULTADO


CORDEIRO et al. Mulheres com 2018 Verificaram- se, em âmbito geral, bons resultados
neoplasia mamária de qualidade de vida nos domínios e para o FACT B
em quimioterapia Total. Encontraram se menores médias de escores nos
adjuvante: avaliação domínios preocupações adicionais com o câncer de
da qualidade de vida mama.

FERRARI et al. Orientações de 2018 Foram encontradas 32 unidades de significado, as quais


cuidado do posteriormente foram agrupadas, formando duas
enfermeiro para a categorias Resposta corporal diante da quimioterapia. O
mulher em
cuidado do enfermeiro frente às queixas. Os enfermeiros
tratamento para
câncer de mama expuseram ao estudo foram pontuais, respaldadas
cientificamente e relevantes frente às queixas relatas
pelas mulheres, salientando o protagonismo desse
profissional no cuidado, e na supervisão do mesmo.

Página 448
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

FERREIRA et al. Conhecimento, 2020 No que se refere ao conhecimento dos enfermeiros, 6,4%
atitude e prática de tiveram conhecimento adequado necessitando do
enfermeiros na aprimoramento do mesmo. O estudo contribuiu para
detecção do câncer
detectar lacunas no conhecimento, atitude e prática da
de mama
enfermagem na detecção precoce e rastreio do câncer de
mama.

MARQUES et al. Ações do enfermeiro 2017 Enfermeiros capacitados alcançaram maior


na detecção precoce conformidade prática à recomendação ministerial que os
do câncer mamário demais.

NAZIAZENO et Diagnósticos de 2020 Foram identificados 24 problemas de saúde


al. enfermagem associados a 13 diagnósticos de
associados a enfermagem. Oito foram identificados,
qualidade de vida de
com índice de validade de conteúdo ≥ 0,8.
mulheres com câncer
de mama em O estudo permitiu realizar o mapeamento
quimioterapia de diagnósticos de enfermagem a partir de
problemas de saúde identificados, por meio
de instrumentos de qualidade de vida,
em mulheres com câncer de mama em
tratamento quimioterápico

NOGUEIRA et al. Câncer de mama: 2017 Houve a necessidade de enxerto para reconstrução das
relato de caso em um mamas, que necessita de cuidados de enfermagem após o
hospital particular procedimento

OLIVEIRA et al. Vivências de 2018 A análise resultou em três categorias principais:


mulheres com câncer favorecimento de crenças e manutenção da fé
de mama: uma e esperança, impressões sobre o cuidado recebido e
pesquisa-cuidado
o enfermeiro no processo do cuidado educativo.

PAIVA et al. O olhar da mulher 2016 Apontam para o reconhecimento das mulheres de um
sobre os cuidados de cuidado mais humanizado, valorizando os enfermeiros
enfermagem ao que pautam sua assistência em busca de aliviar o
vivenciar o câncer de sofrimento e não apenas desempenhar atividades
mama rotineiras com técnicas e procedimentos.
PAIVA et al. Cuidado de 2020 As mulheres mostraram-se envergonhadas e
enfermagem na chateadas com o braço sem estética. Ficam
perspectiva do deprimidas perdem a autoestima e tentam
mundo da vida da
disfarçar, mas nem sempre é possível. Cabe ao
mulher-que-vivencia-
linfedema- Enfermeiro considerar a percepção da mulher
decorrente-do- sobre si mesma em relação a sua imagem corporal
tratamento-de- para ampliar a sua prática profissional e buscar
câncer-de-mama repensar estratégias de cuidado que aumentem a
autoestima e melhorem sua qualidade de vida.

SALDANHA et al. O cuidado de 2020 As mulheres significam o cuidado de enfermagem a


enfermagem para a partir de manifestações cotidianas de zelo,
mulher que vivencia carinho, atenção, preocupação, paciência e competência
câncer de mama com
profissional.
metástase óssea

Página 449
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

SILVIA et al. Grau de 2018 Os graus de complexidade de cuidados de enfermagem


complexidade dos predominantes foram semi-intensivos (36,1%)
cuidados de e cuidados intensivos (36,1%). O grau de complexidade
enfermagem: dos pacientes readmitidos foram predominantemente
readmissões semi-intensivo e intensivo. Essa avaliação implica no
hospitalares de gerenciando do cuidado por meio do conhecimento do
pessoas com câncer perfil dos pacientes com câncer de mama em readmissão
de mama hospitalar.

WATERKEMPER Consulta de 2017 O diagnóstico mais prevalente foi Estilo de vida


et al. enfermagem para sedentário e a principal intervenção para
pacientes com câncer este diagnóstico foi a Promoção do exercício e o
em seguimento: resultado Participação no lazer
descrição do
diagnóstico,
intervenções e
resultados

Os dados e estudos coletados elucidam que o diagnóstico de câncer impactam a


qualidade de vida das mulheres, e assim, é primordial a atuação da enfermagem, onde os
profissionais da saúde, tal qual, os profissionais de enfermagem buscam atender os aspectos
biopsicossociais, mas ainda, aperfeiçoando suas habilidades e competências, buscando
proporcionar um atendimento humanizado que promova uma qualidade de vida, o que
contribui diretamente na melhora do quadro clínico das pacientes (FERREIRA et al., 2020).

Nesse contexto, as mudanças decorrentes do câncer de mama, elucidam uma nova


realidade e vivência na vida da mulher, onde o aperfeiçoamento nas práticas, no próprio
assistencialismo, atendimento baseado em evidências por parte dos profissionais da
enfermagem recorre diretamente em como entender e atender os aspectos sociais, emocionais
e físicos das mesmas (CORDEIRO et al., 2018).

O planejamento, as ações de enfermagem são fatores essenciais, tendo em vista que as


orientações, informações e os conjuntos de cuidados em prol da paciente, evidenciam um
conforto e segurança por partes das clientes, haja vista que o esclarecimento, educação em
saúde, os cuidados e a assistência de enfermagem fazem com que as mulheres diagnosticadas
com câncer se sintam mais seguras e confiantes em aderir ao tratamento (FERRARI et al.,

Página 450
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

2018).
Ferrari et al. (2018), ressaltam as orientações que os enfermeiros devem repassar mediante as
queixas relacionadas ao tratamento quimioterápico, visto que muitas mulheres tem dúvidas
referente a alopecia, sendo indicado o uso de lenços e peruca, além de explicar que o cabelo
só voltará a crescer no final de tratamento. Referente as náuseas e vômitos o enfermeiro deve
orientá-las a fracionar as refeições, não ficar em jejum prolongado e aumentar a ingestão
hídrica. Sobre a administração de medicamentos é importante explicar os possíveis efeitos
colaterais. Para alterações na pele, unhas e mucosas é indicado o uso de hidratantes, protetor
solar e não retirar as cotículas; para a mucosite é repassado o uso de sprays para tratamento,
uso de bicarbonato e sódio para bochechos e chá de camomila, malva e gelo, usados para
prevenção.
Sob essa ótica, além de todo o planejamento de enfermagem, outras questões decorrem
a favor do tratamento, tal qual, a manutenção de ambiente seguro, profissionais habilitados
em atender todas as esferas carentes das pacientes, como as psicossociais. Ademais, o enfoque
na qualidade de vida demanda ações que estejam centralizadas na mulher com neoplasia
mamária, como, o cuidado humanizado, focando em todas as necessidades das mesmas
(WATERKEMPER et al., 2017).

Nota-se que no decorrer do tempo, a paciente precisa de cuidados específicos. Assim,


o conjunto de cuidados buscam atender a mulher em sua singularidade, isto é, o cuidado
perpassa a questão física, abrangendo a questão mental, social e espiritual, buscando alicerces
que traga bem-estar, promoção da saúde, segurança e restauração dos aspectos
biopsicossociais (PAIVA et al., 2016).

Destaca-se ainda a relevância da enfermagem na detecção precoce do câncer de mama.


A detecção precoce tem por objetivo identificar o câncer em estágios iniciais, tornando o
tratamento menos agressivo e com mais chances de cura do que durante a descoberta tardia.
Ressalta-se a importância do exame clínico das mamas e a mamografia durante a atenção
primária, em que o enfermeiro pode investigar minuciosamente e promover acesso à
informação, conscientizando sobre a realização dos exames, fatores de risco e hábitos de vida
saudáveis, utilizando-se de estratégias de educação em saúde, proporcionando uma assistência
de qualidade, com diagnóstico prévio e com o objetivo de proporcionar maior qualidade de
vida às pacientes com câncer de mama (NOGUEIRA, 2017).

Página 451
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Naziazeno et al. (2020), destacam a importância do diagnóstico de enfermagem


coletado durante a realização do processo de enfermagem para a qualidade da assistência e da
terapêutica das pacientes com câncer de mama. Notou-se que a identificação dos problemas
de saúde e o mapeamento do diagnóstico trouxeram respostas positivas, havendo intervenções
adequadas e consequentemente melhoria da qualidade de vida e no prognóstico.

Para Saldanha et al. (2020), o cuidado de enfermagem não se limita apenas ao


conhecimento técnico, mas ampara o paciente no seu biopsicossocial, tornando a assistência
humanizada, evidenciando o papel da enfermagem em minimizar os impactos que o
tratamento traz ao físico e mental do paciente. Logo, é perceptível que durante o cuidado haja
empatia e zelo, com uma escuta preocupada, diálogo e confiança mutua, acolhendo a paciente
e seus familiares com o objetivo de trazer segurança e conforto.

No âmbito hospitalar, é fundamental observar o grau de complexidade das pacientes


diagnosticadas com neoplasia mamária, por meio do planejamento de assistência de
enfermagem, com elaboração de estratégias de cuidado para cada paciente, conforme a
necessidade de cuidado. O enfermeiro deve orientar a família e o paciente sobre os efeitos
colaterais da quimioterapia, assim como, repassar as possíveis complicações que podem surgir
nos primeiros dias após alta hospitalar e as medidas que são importantes para seguir no
domicílio (SILVA et al., 2018).
O cuidado humanizado do enfermeiro com a paciente é imprescindível, pois ajuda a
criar vínculos de confiança, sendo importante aceitação das etapas de tratamento, e contribui
também para promoção saúde e melhoria da assistência prestada diárias. Vale ressaltar que o
profissional elabora medidas educativas para incentivar as pacientes a conhecer a importância
dos cuidados e como segui-los com eficácia, com finalidade de melhorar o quadro clínico da
mulher (OLIVEIRA et al., 2018).

CONCLUSÃO
A partir deste estudo, compreende-se que mulheres diagnosticadas com câncer de
mama possuem necessidades diversas e específicas que necessitam ser atendidas durante o
tratamento oncológico.
Sabe-se que a equipe de enfermagem é a principal responsável por prestar cuidados
diretos aos pacientes e está sempre presente na assistência a estes. Na relação Enfermagem-
paciente com câncer de mama, destaca-se a atuação destes profissionais, que deve ser baseada

Página 452
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

na singularidade de cada paciente visando adaptar-se às suas necessidades e assim ofertar o


cuidado integral.
Considerando o impacto emocional que o câncer de mama acarreta a vida da mulher, a
equipe de enfermagem deve dar destaque a esses aspectos e buscar proporcionar apoio
emocional durante a assistência. Além dos cuidados prestados, a enfermagem também pode
atuar na educação em saúde, prestando orientações acerca do autocuidado e esclarecendo as
dúvidas dos pacientes para que estes sintam segurança durante o tratamento. Considerando a
proporção do desconforto proporcionado pelo tratamento oncológico, medidas devem ser
tomadas pelos profissionais afim de conduzir um tratamento menos doloroso e com apoio
profissional.

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Página 453
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Página 454
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 42

RODAS DE CONVERSA COM ADOLESCENTES:


PROTAGONISMO E CUIDADO NA ENFERMAGEM

Juliana de Souza Fernandes, Ana Carolina da Costa Correia, Andréia


Jorge da Costa e Inez Silva de Almeida.

SEM RESUMO

Página 455
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Este estudo teve como objeto as rodas de conversa da enfermagem com adolescentes. As rodas
de conversa se configuram como um tipo de cuidado que transcende o modelo biomédico das
técnicas e procedimentos, e é centrado na pessoa (GOMES et al, 2018).

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, recorte do projeto: “Grupos com
adolescentes em saúde e sexualidade”, que ocorre desde 2011, em um ambulatório
especializado no atendimento de adolescentes, localizado no Rio de Janeiro. Esse tipo de
metodologia deve, através de uma linguagem objetiva e texto contextualizado, traz reflexões
sobre uma determinada realidade, embasado pelos conceitos teóricos (Barros, 2000). O cenário
da pesquisa foi um ambulatório especializado em saúde do adolescente, situado em um hospital
universitário do estado do Rio de Janeiro. Os participantes foram os adolescentes que
aguardavam o atendimento na sala de espera. A estratégia pedagógica utilizada baseia-se nos
princípios de Paulo Freire e nas metodologias ativas, por meio das dinâmicas participativas. As
rodas de conversa ocorrem em espaço reservado e sem a presença dos pais/responsáveis legais,
porém com a anuência deles. Logo no início, ocorre a apresentação de todos os participantes,
incluindo os profissionais. A estratégia inicial é a dinâmica “quebra-gelo”, realizada com o
objetivo de desenvolver a descontração. Após esse momento, são discutidas temáticas
relacionadas ao período da adolescência. Além disso, é fornecido um folder relacionado ao
tema abordado com os adolescentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram atendidos nas rodas de conversa realizadas no serviço, no período delineado, um total
de 240 adolescentes. As temáticas abordadas foram específicas para conhecimentos da
adolescência: bullying, relações familiares, prevenção de IST/Aids, sexualidade, gravidez
indesejada na adolescência, distúrbios alimentares, depressão, violência, entre outros. A roda
de conversa realizada pelo profissional de enfermagem, conduz à grupalidade, à dialogicidade
e à escuta sensível, levando ao entendimento sobre as razões de adotar o comportamento
preventivo e como devem se posicionar diante das pressões externas (DIAS, 2018).

CONCLUSÃO

Página 456
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Diante das vulnerabilidades dessa fase da vida, faz-se imprescindível a disseminação de


informação através de experiências e compartilhamento de saberes a partir das rodas de
conversa, como cenário de práticas educativas. Portanto, esses espaços permitem a intercessão
e empoderamento dos adolescentes, transformando as rodas de conversa em ferramentas
necessárias para a tomada de decisão consciente, fortalecendo a promoção da saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, A. J.; P., LEHFEID, N., A., S. Projeto de Pesquisa: propostas


metodológicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

DIAS, M; SAYUMI, E. et al. Roda de conversa como estratégia de educação em saúde para a
enfermagem. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online,Rio de Janeiro, v. 10, n.
2, p. 379-384, abr-jun 2018.

GOMES, E.; T.; BRANDÃO, B.; M.; G.; M.; ABRÃO, F.; M.; S.; BEZERRA, S.; M.; M.; S.
Contribuições de Leonardo boff para a compreensão do cuidado. Rev enferm UFPE on
line., Recife, 12(2):531.

Página 457
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 43

FIBROMA CEMENTO-OSSIFICANTE: REVISÃO DE


LITERATURA

Lucas Viana Silva Ramos; André Gustavo Góes da Silva; Rennan


Antônio Barreto de Abreu; Luiz Fernando Alves de Lima; Yago Sousa
Cavalvanti; Túlio Marcos Dos Santos Silva

RESUMO: INTRODUÇÃO: As lesões não odontogênicas dos maxilares


representam um grupo heterogêneo de tumores. O fibroma cemento-
ossificante é uma verdadeira neoplasia, composta de tecido fibroso e
com repercurssões importantes nos maxilares. OBJETIVOS: Revisar a
literatura a cerca do Fibroma Cemento-ossificante dos maxilares.
METODOLOGIA: Realizou-se revisão bibliográfica nos databases
PubMed, Science Direct e BVS, utilizando-se as palavras-chave:
“Fibroma Cemento-ossificante” e “Cirurgia Bucal”. Incluíram-se
revisões da literatura dos últimos 20 anos. Excluíram-se artigos que
fugiam ao tema. RESULTADO E DISCUSSÃO: O fibroma cemento-
ossificante contém uma variável mistura de trabéculas ósseas,
esférulas semelhantes a cemento, acomete pessoas em idade
avançada, sendo mais comum no entre 30 e 40 anos. Frequentemente
restrito aos maxilares e ao complexo craniofacial, demonstra
predominância sobre o sexo feminino, mas não sobre a raça. Possui o
ritmo de crescimento é variável. O tratamento é por curetagens
agressivas, ressecções cirúrgicas localizadas e ressecções de segmento
mandibula. CONCLUSÃO: Apesar das características neoplásicas, o
Fibroma possui bom prognóstico e baixo índice de recidiva.

Página 458
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
As lesões não odontogênicas dos maxilares representam um grupo heterogêneo de tumores
que, em muitos casos, são difíceis de classificar (MILORO, GHALI, et al., 2016).
O fibroma ossificante, tendo como sinônimos o fibroma cementificante ou fibroma cemento-
ossificante, é considerado uma verdadeira neoplasia, a qual é composta de tecido fibroso, que
contém uma variável mistura de trabéculas ósseas, esférulas semelhantes a cemento ou ambas,
e ele acomete pessoas com idade mais avançada que as displasias fibrosas, sendo mais comum
no final da terceira e inicio da quarta década de vida. Parece estar restrito aos maxilares e ao
complexo craniofacial, embora lesões parecidas tenham sido relatadas em ossos longos. Há
predominância sobre o sexo feminino, mas não sobre a raça e o ritmo de crescimento é
variável. Por ser considerado uma neoplasia, o tratamento é cirúrgico através de curetagens
agressivas, ressecções cirúrgicas localizadas e ressecções de segmento mandibular (MILORO,
GHALI, et al., 2016).

OBJETIVOS
Revisar a literatura a cerca do Fibroma Cemento-ossificante dos maxilares, descrevendo os
aspectos clínicos, demográficos, radiográficos e histopatológicos. Bem como sinais e sintomas
específicos e inespecíficos, além das possíveis modalidades terapêuticas no âmbito clínico,
farmacológico e cirúrgico.

METODOLOGIA
Desenvolveu-se uma revisão integrativa da literatura, metodologia essa que propõe através de
pesquisa ímpar e específica investigar assuntos relevantes com a finalidade de sintetizar
resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada
e abrangente. A revisão integrativa da literatura foi desenvolvida de acordo com o modelo
PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) e em seis
fases: elaboração da pergunta norteadora, busca de amostragem na literatura, coleta de dados,
análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação.
A busca ocorreu no período entre outubro e novembro de 2021, considerando-se as bases de
dados e recurso de busca: Pubmed, Science Direct e BVS, com recorte temporal de 20 anos.
Na estratégia de busca foram incluídas: “Fibroma Cemento-ossificante” AND “Cirurgia
Bucal” AND “Lesão Fibro-óssea” OR “Patologia Oral”, nas versões em português, inglês e
espanhol e de acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) ou MeSH (Medical
Subject Headings).

Página 459
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A elegibilidade do trabalho ocorreu após a leitura inicial do título e do resumo dos estudos
levantados. Nos casos em que a leitura do resumo não fosse suficiente para estabelecer a sua
inclusão, o artigo foi lido na íntegra. Esse processo ocorreu por dois pesquisadores, de forma
independente e mediante a estratégia de busca previamente reportada. Foram excluídos os
trabalhos repetidos nas bases de dados, os que não responderam à pergunta-norteadora
considerada, opiniões, cartas, monografias, revisões de literatura, dissertações ou teses.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na busca através dos descritores selecionados nas bases MEDLINE e LILACS, foram
encontrados 23 artigos (nove na LILACS e dez na MEDLINE). Desses, três excluídos por
repetição, quatro pelos critérios de inclusão e de exclusão estabelecidos e um por não
responder à pergunta norteadora.
O Fibroma cemento-ossificante (FCO) é um tumor ósseo que consiste em um tecido fibroso
altamente celular que contém quantidades variadas de osso anormal ou tecido cementóide
(WHITE e PHAROAH, 2015).
Há definitivamente uma predileção pelo gênero feminino, com a mandíbula envolvida muito
mais frequentemente que a maxila. A área de pré-molares e molares inferiores é o sítio mais
afetado (NEVILLE, DAMM, et al., 2009).
As características clínicas do FCO podem variar de um comportamento indolente a um
agressivo. As características são mais parecidas com as de um tumor do que de uma displasia
óssea. Pequenas lesões quase nunca causam quaisquer sintomas e são detectadas apenas ao
exame radiográfico. Tumores maiores resultam em um aumento de volume indolor do osso
envolvido, podendo causar assimetria facial. O deslocamento dos dentes pode ser uma
característica clínica inicial, apesar de a maioria das lesões serem descobertas durante um
exame odontológico de rotina. Dor e parestesia são raramente associadas com o fibroma
ossificante (NEVILLE, DAMM, et al., 2009) (WHITE e PHAROAH, 2015).
Radiograficamente a lesão apresenta densidade mista radiolúcida-radiopaca com um padrão
que depende da quantidade e forma do material calcificado produzido, com periferias bem
definidas, apresentando linha radiolúcida delgada, representando uma cápsula fibrosa, pode
separá-la do osso circundante (figura 01). Algumas vezes o osso adjacente à lesão desenvolve
uma borda esclerótica. A lesão tende a ser concêntrico no interior da parte medular do osso,
com uma expansão de dentro para fora aproximadamente igual em todas as direções. Isto pode
resultar no deslocamento de dentes ou do canal alveolar inferior e expansão das corticais
externas do osso (WHITE e PHAROAH, 2015).

Página 460
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Figura 01 – Aspecto clínico do Fibroma Cemento-ossificante em região de corpo mandibular


direita

Fonte: Os autores (2021).

Ao exame macroscópico, o tumor é caracterizado como um aumento de volume ou como


alguns pedaços grandes (figura 02). Histologicamente o FO consiste em tecido fibroso que
exibe graus variáveis de celularidade e contêm material mineralizado. Possuem um estroma de
células conjuntivas relativamente avascularizado, com trabeculado ósseo reticular e esférulas
(estruturas esféricas semelhantes a cemento). As trabéculas ósseas variam em tamanho e
frequentemente demonstram uma mistura de padrões imaturo e lamelar, além disso,
pavimentação osteoblástica e osteoide periférico estão geralmente presentes. As esférulas
frequentemente demonstram bordas em escova periféricas que se misturam no tecido
conjuntivo adjacente (NEVILLE, DAMM, et al., 2009) (MILORO, GHALI, et al., 2016).

Figura 02 – Aspecto macróscopico in situ do Fibroma Cemento-ossficante em corpo


mandibular direito. Nota-se área de necrose, expansão óssea e perfuração da cortical
vestibular.

Página 461
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Os autores (2021).

O diagnóstico diferencial do FCO inclui lesões com uma estrutura interna mista radiolúcida-
radiopaca. A diferenciação de uma displasia fibrosa pode ser bem difícil. Os limites de uma
lesão de FCO normalmente são mais bem definidos e estas lesões ocasionalmente podem
apresentar uma cápsula fibrosa e uma cortical, enquanto a displasia fibrosa normalmente se
confunde com o osso adjacente. A displasia fibrosa raramente reabsorve dentes. Outras lesões
a serem consideradas são aquelas que podem ter calcificações internas semelhantes ao padrão
visto nos FCOs. Estes incluem o cisto odontogênico calcificante, o tumor odontogênico
calcificante (Pindborg) e o tumor odontogênico adenomatóide (WHITE e PHAROAH, 2015)
À exploração cirúrgica, a lesão é bem demarcada do osso circundante, permitindo assim
separação relativamente fácil entre o tumor e seu leito ósseo. Uns poucos fibromas
ossificantes irão mostrar macroscópica e microscopicamente uma cápsula fibrosa circundando
o tumor. Muitos não são encapsulados, mas são bem demarcados macro e microscopicamente
do osso circundante (NEVILLE, DAMM, et al., 2009)
Por ele ser considerado uma neoplasia, o tratamento é cirúrgico; as lesões são removidas
facilmente, embora haja um índice de recidiva que varia de 1 a 63%; por essa razão, alguns
especialistas recomendam um tratamento mais invasivo para as lesões mais desfavoráveis,
incluindo curetagens mais agressivas, ressecções cirúrgicas localizadas e ressecção de
segmento mandibular. No complexo craniofacial, o tratamento deve ser mais agressivo para
proteger estruturas vitais (MILORO, GHALI, et al., 2016).

CONCLUSÃO

Página 462
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Apesar do FCOs serem raros e neoplásicos, o prognóstico para a maioria dos fibromas
cemento-ossificantes é bom, apesar da tendência local de invasão e recorrência, não existem
relatos de doenças metastáticas. São necessários estudos que possam prever precocemente os
achados clínicos e radiográficos dos FCOs para agilidade no tratamento e melhora na
qualidade de vida do paciente.

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WHITE, S. C.; PHAROAH, M. J. Radiologia Oral: Fundamentos e Interpretação. 7ª. ed. St.
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Página 463
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 44

DESCRIÇÃO ANATOMO-TOPOGRÁFICA DO CORPO


ADIPOSO BUCAL

Lucas Viana Silva Ramos; André Gustavo Góes da Silva; Rennan


Antônio Barreto de Abreu; Luiz Fernando Alves de Lima; Yago Sousa
Cavalvanti; Túlio Marcos Dos Santos Silva

RESUMO: Introdução: O corpo adiposo bucal é uma massa


especializada composta por tecido adiposo. É uma estrutura profunda
ao músculo bucinador, entretanto em crianças esse órgão pode extruir
para a cavidade bucal, caracterizando uma entidade clínica chamada de
herniação do corpo adiposo bucal. Objetivo: O presente estudo objetiva
relatar a descrição anatomo-topográfica do corpo adiposo bucal.
Metodologia: Realizou-se revisão bibliográfica nos databases PubMed,
Science Direct e BVS, utilizando-se as palavras-chave: “Corpo adiposo”
e “Cirurgia Bucal”. Incluíram-se revisões da literatura dos últimos 20
anos. Excluíram-se artigos que fugiam ao tema. Resultados e
Discussão: A anatomia do corpo adiposo é complexa, composto por um
corpo principal e quatro processos. O corpo principal localiza-se sob o
periósteo que envolve o aspecto posterior da maxila, limitado pela
fossa pterigopalatina e pelos músculos bucinador e masseter. Na
borda anterior do músculo masseter, o ducto parotídeo se relaciona
intimamente com corpo adiposo, adentrando ao músculo bucinador,
antes de desembocar na cavidade oral. Conclusão: O corpo adiposo
bucal possui diversas funções nas estruturas da face, as quais
repercutem diretamente na estética facial e nos movimentos
mastigatórios. Sua relação direta com estruturas vitais da face
aumentam ainda mais sua relevância. Desse modo, o estudo anatomo-
topográfico da estrutura demonstra suma preponderância para a
atuação do cirurgião-dentista.

Página 464
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Primeiramente descrito por Heister em 1732, o corpo adiposo bucal (CAB) foi denominado de
“glandular molar”, sendo caracterizado posteriormente por Bichat em 1802, o qual denominou
essa estrutura como “Bola de Bichat”. O corpo adiposo bucal é uma massa especializada,
composta por tecido adiposo que se distingue da gordura subcutânea e pode ser classificada
como uma sissarcose. Topograficamente encontra-se no espaço mastigatório, lateralmente ao
músculo bucinador e o ramo mandibular, separando os músculos mastigadores uns dos outros,
bem como do arco zigomático e ramo mandibular. É constituído de um corpo principal e
quatro processos, sendo eles: bucal, pterigoideo, pterigopalatino e temporal. Essas estruturas
são envolvidas por uma tênue cápsula fibrosa, que nos infantes, previne o prolapso da
estrutura durante os movimentos de sucção. Em adultos o corpo adiposo bucal melhora a
motilidade intermuscular e possui importante função no contorno facial.

METODOLOGIA
Desenvolveu-se uma revisão integrativa da literatura, metodologia essa que propõe através de
pesquisa ímpar e específica investigar assuntos relevantes com a finalidade de sintetizar
resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada
e abrangente. A revisão integrativa da literatura foi desenvolvida de acordo com o modelo
PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) e em seis
fases: elaboração da pergunta norteadora, busca de amostragem na literatura, coleta de dados,
análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação.
A busca ocorreu no período entre janeiro e abril de 2021, considerando-se as bases de dados e
recurso de busca: Pubmed, Science Direct e BVS, sem recorte temporal.
Na estratégia de busca foram incluídas: “Corpo adiposo bucal” AND “Cirurgia Bucal” AND
“Bola de bichat” OR “Corpo adiposo”, nas versões em português, inglês e espanhol e de
acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) ou MeSH (Medical Subject
Headings).
A elegibilidade do trabalho ocorreu após a leitura inicial do título e do resumo dos estudos
levantados. Nos casos em que a leitura do resumo não fosse suficiente para estabelecer a sua
inclusão, o artigo foi lido na íntegra. Esse processo ocorreu por dois pesquisadores, de forma
independente e mediante a estratégia de busca previamente reportada. Foram excluídos os
trabalhos repetidos nas bases de dados, os que não responderam à pergunta-norteadora
considerada, opiniões, cartas, monografias, revisões de literatura, dissertações ou teses.

Página 465
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na busca através dos descritores selecionados nas bases MEDLINE e LILACS, foram
encontrados 24 artigos (nove na LILACS e dez na MEDLINE). Desses, doze excluídos por
repetição, seis pelos critérios de inclusão e de exclusão estabelecidos e seis por não responder
à pergunta norteadora. 12 artigos foram selecionados para revisão da literatura.
A anatomia do corpo adiposo é complexa, composto por um corpo principal e quatro
processos. O corpo principal localiza-se sob o periósteo que envolve o aspecto posterior da
maxila, limitado pela fossa pterigopalatina e pelos músculos bucinador e masseter. Na borda
anterior do músculo masseter, o ducto parotídeo se relaciona intimamente com corpo adiposo,
adentrando ao músculo bucinador, antes de desembocar na cavidade oral.
A extensão bucal do corpo adiposo bucal repousa na fáscia bucofaríngea, se estende supero-
medialmente através da fissura pterigomaxilar em direção a fossa pterigopalatina.
Já a extensão temporal, considerada a maior, perpassa superiormente abaixo do arco
zigomático e do plano temporal. É dividido em duas porções, uma mais larga e superficial,
percorrendo direção supero-posterior entre a fáscia do temporal e o músculo temporal. A
extensão temporal é o único processo do corpo adiposo bucal que não pode ser separado
facilmente dos outros planos teciduais.
Profundamente aos tendões do músculo temporal, a extensão pterigomandibular do corpo
adiposo bucal cursa posteriormente delimitada pela superfície medial do ramo mandibular,
músculo pterigoideo medial, músculo pterigoideo lateral e finalmente penetrando na porção
profunda da glândula parótida. Esse processo cerca o nervo alveolar inferior e lingual e as
veias alveolares inferiores.
A nutrição do corpo adiposo bucal é dada por três arteriais principais, sendo: ramos bucal e
temporal profundo, ramificações da artéria maxilar, artéria transversa da face, ramificação da
artéria temporal superficial e artérias menores originadas da artéria facial.
Apesar do CAB ser um órgão profundo ao músculo bucinador, em crianças e neonatos essa
estrutura pode ser prolapsada para a cavidade bucal, caracterizando uma entidade clínica
incomum, chamada de herniação do corpo adiposo bucal. É definida pelo aparecimento
abrupto de uma massa pedunculada, macia e de coloração variável após o trauma dentro da
cavidade oral. Lesões puntiformes ou contusas através do músculo e da fáscia do bucinador
podem levar a uma extrusão acentuada do corpo adiposo bucal, herniando-o para a cavidade
oral.
O corpo principal e o processo bucal podem corresponder a 50% do seu volume total, que é
em média de 10 ml, com espessura média de 6mm e peso médio de 9,3g.

Página 466
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Sua extensão bucal é a mais superficial, encontrando-se em íntimo contato com o ducto de
parotídeo e com os ramos zigomáticos e bucal do nervo facial.
Tem por função, auxiliar nos movimentos de sucção em recém-nascidos, e nos adultos atua
como lubrificante e coxim amortecedor para os músculos mastigadores e feixe
vasculonervoso facial já que exerce função entre os músculos mastigatórios.
Contribui esteticamente para os contornos faciais, participando do abaulamento das
bochechas, principalmente em infantes, que usualmente permanece nos adultos, sendo o corpo
e a extensão bucal os grandes atores pelo contorno das bochechas.
Durante o crescimento da criança, o corpo adiposo bucal decresce em volume, sendo
relativamente menor nos adultos.
A bola de bichat possui diversas aplicações cirúrgicas, tais como recomendada para
fechamento de fístulas e comunicações bucossinusais de tamanhos e localizações variadas,
reparo e fechamento defeitos palatinos em pacientes fissurados, enxertia após exérese de
tumores e reparação de defeitos dentoalveolares e na resolução de casos recidivantes,
demonstrando além de possuir boas taxas de sucesso sem co-morbidades associadas, alta
aplicabilidade, boa vascularização e ótima manutenção do retalho.

CONCLUSÃO
Desse modo, podemos caracterizar o corpo adiposo bucal como uma estrutura profundamente
localizada na face, relacionada a estruturas vitais e fundamentais para funcionamento
neuromuscular e glandular, bem como sua importância na arquitetura facial. Sendo assim, o
seu estudo é essencial para boas práticas cirúrgicas no manejo de fechamentos bucossinusais,
bem como para cirurgias com finalidades estéticas.

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Página 468
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 45

A PROMOÇÃO DA SAÚDE NO ENSINO SUPERIOR E O


MOVIMENTO DE UNIVERSIDADES PROMOTORAS DA
SAÚDE: CONCEITOS, CONSTRUÇÃO E DESAFIOS

Denys do Livramento Damasceno e Adriana Miranda Pimentel

RESUMO: Quando falamos de Instituições de Ensino Superior (IES),


falamos de ambientes considerados recursos valiosos para as
comunidades onde estão inseridas, mostrando que uma universidade é
parte essencial para estratégias de Promoção da Saúde (PS). O
movimento de Universidades Promotoras de Saúde (UPS) surge a
partir dessa concepção, sendo fortalecido através de debates sobre a
PS e seu conceito. Refletindo sobre adequação de conceitos à
realidade, torna-se ambígua a existência de uma crença no poder
descritivo destes. Apesar de ser forte o conceito de UPS, é desafiador
construir estratégias que proporcionem um ambiente criado com base
nos princípios da PS. Nesse sentido, as redes de UPS exercem
importante papel. Atualmente podemos observar a presença de
diversas redes de UPS no mundo, as quais desenvolvem documentos
importantes para o movimento. A construção de uma UPS deve
apresentar sistematização, focando no fortalecimento das redes e
caracterização deste movimento. Uma dificuldade ainda é o desalinho
pertinaz entre o conceito de PS e sua prática nas IES. Muitas ações nem
sempre possuem coesão com planos institucionais que possuam
continuidade. Deve-se focar numa perspectiva que explore o potencial
das IES em atuar como promotores da saúde, contextualizados com
esse conceito e toda sua complexidade de aplicação.

Página 469
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Segundo Mancebo et al. (2015), a educação superior passa por grandes processos
de mudanças em quase todo o mundo. Invariavelmente, essas mudanças também mostram
a necessidade de expansão e maior preparo das Instituições de Ensino Superior (IES).
Schleich (2006) menciona alguns pontos onde as Universidades e demais IES deveriam
se preparar melhor, como: meios de inovação tecnológica, novos espaços educativos e
maior conhecimento sobre o estudante universitário, trazendo assim a promoção do
desenvolvimento dessa comunidade nos aspectos cognitivo, vocacional, pessoal, social e
cultural. Tais afirmações, nos remetem ao pensamento de atender às necessidades
individuais e coletivas dos indivíduos e buscar atende-las através da ideia de promover a
saúde destes, apresentando uma perspectiva que seja capaz de enxergar as potencialidades
dos ambientes nos quais estão inseridos.
Quando falamos de universidades e IES em geral, falamos de ambientes
considerados como recursos valiosos para as comunidades onde estão inseridas, sendo
assim, o investimento em PS nesses ambientes é também um investimento para o futuro,
mostrando que uma universidade é por natureza parte essencial para estratégias de
Promoção da Saúde (PS). Desta forma, o ensino superior exerce um grande papel no
desenvolvimento de indivíduos, comunidades, sociedades e culturas, tendo a
oportunidade e a responsabilidade de oferecer uma educação que transforme, envolva a
voz do aluno, desenvolva novos conhecimentos e lidere pelo exemplo, defendendo
tomadas de decisão que venham trazer benefício à sociedade. Tais valores possuem
relação direta com a perspectiva de PS instituída durante a 1ª Conferência Internacional
de PS e todo o contexto histórico decorrido a respeito desse conceito. (OKANAGAN,
2015; TSOUROS, 1998).
Com o estabelecimento da globalização, enfatiza-se a necessidade da universidade
em sua contemporaneidade ser um espaço desenvolvedor de aprendizados diversos, para
públicos diversos. O movimento de Universidades Promotoras de Saúde (UPS) surge a
partir dessa concepção, que enxerga a universidade como influenciadora na
transformação de indivíduos e comunidades. Em esfera internacional, a proposta de
criação de ambientes saudáveis da Organização Mundial de Saúde (OMS) e a iniciativa
de Escolas Promotoras de Saúde da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS),
também exercem grande influência nesse movimento. (ALMEIDA, 2017; MORAES &
LEITE, 2014; OMS, 2009).

Página 470
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Conceituadas como “Instituições de Ensino Superior (IES) que possuem uma


cultura organizacional orientada pelos valores e princípios associados ao movimento
global de Promoção da Saúde (PS)”, as Universidades Promotoras de Saúde (UPS),
surgem com a proposta de serem IES que estão continuamente melhorando e intervindo
nos fatores que determinam seu ambiente físico e social, trazendo assim a ideia de serem
facilitadoras do acesso à saúde e bem-estar ao mesmo tempo em que fortalecem os
recursos de sua comunidade, permitindo que seus membros possam desempenhar funções
vitais nesse ambiente bem como seu autodesenvolvimento no máximo potencial, tudo
isso com apoio de uma política institucional própria para o fomento e a permanência das
ações de PS. De igual modo, as redes de UPS se apresentam como um mecanismo
operacional de uma perspectiva de apoio mútuo, que buscam reunir instituições
voluntárias que tenham como objetivo a promoção da saúde nas IES”. (OLIVEIRA, 2017;
OMS, 2009).
Todavia, como afirma Tsouros, (1998), apesar de o conceito de UPS possuir
grande força, ainda é desafiador construir estratégias e objetivos que alcancem os
princípios de saúde e sustentabilidade para todos, utilizando ferramentas que
proporcionem um ambiente criado com base nos princípios da PS. Dentro do discurso de
PS na universidade, deve-se superar tendência de entender a saúde como ausência de
doenças, onde são aplicados apenas padrões de segurança em detrimento de um
comportamento prejudicial.
Este texto tem como foco apresentar o surgimento das UPS e suas redes ao redor
do mundo, apresentando conceitos envolvidos no contexto de sua construção, bem como
as dificuldades enfrentadas na criação desses ambientes e suas ações.

DO CONCEITO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE À PROPOSTA DE AMBIENTES


SAUDÁVEIS

Elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1947 e conhecido até


os dias atuais, o conceito de saúde é definido inicialmente como: “um estado de completo
bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Todavia, pensando que umas das primeiras concepções de saúde surge ligada ao modelo
biomédico, onde os meios de atuar sobre a saúde possuem uma relação direta com a
assistência médico curativa, não levando em conta a complexidade que está envolta no
decurso saúde-doença, não é de hoje que o interesse no avanço de uma perspectiva que

Página 471
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

viesse ampliar o campo da saúde está em discussão. (OMS, 2006; ALMEIDA FILHO,
2012).
Com a Segunda Guerra Mundial e posterior criação da Organização das Nações
Unidas (ONU) e Organização Mundial de Saúde (OMS), acentua-se a perspectiva da
saúde como direito um de todos, sendo obrigação do governo protegê-la e promovê-la,
temos então um debate mais tradicional a respeito da ideia de Promoção da Saúde (PS).
O termo PS havia sido utilizado primeiramente no ano de 1945 por Henry Sigerist,
colocando a PS, a prevenção da doença, a recuperação e a reabilitação como pontos
importantes no desenvolvimento da medicina, Leavell & Clarck também impulsionam
debates em torno de uma concepção de saúde não centrada na doença. Dentro desse
contexto, podemos enxergar um resgate do pensamento médico social expresso por
autores como Virchow e Chawick no século XIX, onde foram apresentandas concepções
relacionadas com vigilância à saúde e crítica à medicalização deste setor, não estando
restringindo saúde à ausência de doenças. (ALMEIDA FILHO, 2011; BUSS, 2000;
CZERESNIA, 2003; HEIDMANN et al., 2006; SCLIAR, 2007).
Inicialmente o discurso de redirecionar as práticas de saúde em torno da ideia de
PS, se apresenta mais ligado à necessidade de controlar os custos crescentes com a
assistência médica, Lalonde apresenta então, uma ideia que transcorre a saúde entre a
biologia humana, estilo de vida, organização assistencial e meio ambiente. Para ele,
existia um equívoco em dar ênfase ao ponto de vista assistencial médico, sendo necessário
um olhar que transcorresse além do sistema tradicional de saúde, englobando biologia,
ambiente, estilo de vida e organização da assistência sanitária, o que daria espaço para
identificação de desigualdades na área sanitária. Segundo Heidmann et al. (2006), o
relatório Lalonde surge como um marco para o conceito de PS, sendo esse criado com
base no desequilíbrio observado quanto aos gastos com assistência médica curativa e a
qualidade de vida da população, buscando dar ênfase na relação entre a biologia humana,
os fatores ambientais e o estilo de vida desses indivíduos. É neste documento também,
que o termo PS é utilizado de maneira oficial pela primeira vez, proporcionando a visão
de atuar sobre os chamados Determinantes Sociais de Saúde (DSS). Tais determinantes
são caracterizados por ações que ultrapassam a prestação de serviços clínico-assistenciais,
portando em sua composição, ações intersetoriais que envolvem itens de extrema
significância para a vida e saúde de uma comunidade, como acesso à educação,
saneamento básico, habitação, boas condições de trabalho, boa alimentação, cuidados

Página 472
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

com o meio ambiente, possibilidade de lazer etc. (CZERESNIA, 2003; SÍCOLI &
NASCIMENTO, 2003).
Em 1986, na 1ª Conferência Internacional de PS no Canadá surge uma ampliação
do conceito de PS, passando a compreendê-la como “o processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, o que inclui também
uma maior participação desta comunidade no controle dessa melhoria”. Tal conceito torna
mais clara a perspectiva de alcançar saúde não apenas através de mudança nos estilos de
vida, mas buscando transformação nas condições de vida e trabalho dos indivíduos, o que
envolve habitação digna, acesso à educação, acesso à alimentação, renda favorável,
equidade, condições favoráveis do meio ambiente e até mesmo uma cultura de paz. Para
o alcance dessa proposta são sugeridas algumas estratégias que transpassam desde a
criação de ambientes saudáveis até o desenvolvimento de novas políticas públicas que
permitam a participação dos agentes envolvidos e da população como um todo. Seguindo
essa ideia, Guimarães (1999) afirma que como objetivo estratégico, deve-se motivar
governos e sociedades na melhoria das condições de vida e de saúde da população urbana,
através de metodologias e estratégias que venham a atingir ambientes como escolas,
indústria e espaço de lazer. Ademais, Furtado et al. 2016, coloca que tais políticas tendem
a formular ações que sugerem atuar na melhora da qualidade de vida e os riscos de
adoecimento, buscando assim um modelo mais amplo. (BRASIL, 2002; HEIDMANN et
al., 2006; WESTPHAL, 2013).
Podemos ver então, que desde a sua retomada, o atual conceito de Promoção da
Saúde (PS) bem como a prática desse conceito, vem em crescente desenvolvimento, o
que ocorreu de maneira mais específica nos chamados países desenvolvidos como
Estados Unidos e Canadá e desde a 1ª Conferência Internacional de PS, uma definição
sobre a mesma entra em vigor. A PS contorna assim duas dimensões, sendo uma
conceitual e outra metodológica, buscando envolver não somente princípios, mas também
a prática através de planos de ação e estratégias, o que traz complexidade para essa
abordagem. Com a percepção dos crescentes níveis dessa complexidade, manifesta-se a
necessidade de se estabelecerem divisões específicas que viessem a alcançar outros
ambientes, o que inclui escolas e universidades. (BRASIL, 2002; BUSS, 2000;
CERQUEIRA, 1997; OMS, 1997; TSOUROS, 1998).

O SURGIMENTO DAS UPS E SUAS REDES

Página 473
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O movimento de UPS têm sua origem vivenciada através do fortalecimento de


debates sobre a PS, arquitetados em uma visão transformadora dos ambientes
universitários, surgem iniciativas como o programa “Universidades pela Saúde”,
desenvolvido pela Organization for Economic Co-operation and Development (OECD)
na década de 1970, com a finalidade de outorgar às universidades os cuidados pertinentes
à saúde da comunidade inserida em seu contexto. De igual modo, outros movimentos e
iniciativas vão ganhando força e permitindo o crescimento e desenvolvimento dessa
visão, até chegarmos à Universidade de Lancaster (Figura 1), onde posteriormente, com
a sua 1ª Conferência Internacional, é oficializado o movimento de UPS no ano de 1996.
(DOORIS, 2001; OMS, 1997; TSOUROS, 1998).

Figura 1. INICIATIVAS PARA CRIAÇÃO DE AMBIENTES DE PS


ANO INICIATIVA LOCAL
Universidades pela Saúde
1977 França
OECD
1986 Carta de Ottawa Canadá
Centros de Formação de Pessoal
1994 em Educação Chile
para a Saúde e PS

1995 German Network Health Alemanha


Promoting Universities

Escolas Promotoras de Saúde


1996 (Organização Pan-americana de -
Saúde)
Consórcio Interamericano de
1996 Cuba
Universidades
1ª Conferência
1996 Reino Unido
Internacional de UPS
Fonte: Almeida, 2017

Motivado pela perspectiva da construção de ambientes saudáveis e iniciativas


como comunidades, municípios e escolas saudáveis através da OMS, são constituídas
redes acadêmicas universitárias, que tinham como objetivo impulsionar ações de
formação de recursos humanos em educação para a saúde. A exemplo disso observa-se a
criação do Consórcio Interamericano de Universidades e Centros de Formação Pessoal
em educação para a Saúde (CIUPS). Com a influência gerada através da criação dessas
redes acadêmicas universitárias, pôde-se observar também o nascimento das redes de

Página 474
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

UPS. Essas redes chegam a ocupar espaço tanto na América Latina quanto na Europa.
Podemos citar como principais redes de UPS, a Rede Mexicana (RMUPS), a Rede
Espanhola (REUPS), a Rede Colombiana (ReCUPS) e a Rede Iberoamericana (RIUPS),
essa última tendo grande destaque, pois além de abarcar universidades de países da
América Latina como Colômbia, Peru, Equador, Costa Rica, Chile, México e Porto Rico,
possui também em sua composição instituições da Espanha e de Portugal. Arroyo e
Cerqueira (1998) mencionam a RIUPS como um dos movimentos de UPS de maior
organização, o que proporcionou para algumas universidades brasileiras o ingresso nessa
rede. (MORAES & LEITE, 2014).
As redes exercem importante papel na promoção de convênios, sejam eles locais
ou federais com entidades governamentais, também auxiliam na adoção de diagnósticos
de saúde dos integrantes da comunidade universitária, atuando como agentes facilitadores
do diálogo com os mais diferentes sujeitos envolvidos com a promoção da saúde,
sensibilizando e capacitando esses grupos. Outro papel importante de uma rede se dá
através de experiências com a implementação de iniciativas de uma UPS, que podem ser
compartilhadas por várias redes em todo o mundo. Universidades mais experientes podem
também compartilhar seus sucessos e dificuldades na implementação do conceito de UPS,
servindo de exemplo para outras universidades através de uma plataforma internacional
ou mesmo de conferências. (DOORIS & DOERTY, 2010; SUÁREZ-REYES,
SERRANO & BROUCKE, 2018; MORAES & LEITE, 2014).
Atualmente podemos observar a presença de diversas redes de UPS ao redor do
mundo. Algumas possuem disponibilidade de acesso às suas informações e conteúdo,
outras ainda carecem nesse aspecto (Figura 2).

Figura 2. PRINCIPAIS REDES DE UPS NO MUNDO


NOME SIGLA ANO DE FUNDAÇÃO

German Network Health - 1995*


Promoting
University

Red Costarricense de REDCUPS 2002


Universidades
Promotoras de la Salud

Red Mexicana de RMUPS 2004


Universidades
Promotoras de Salud
UK National Healthy UCLan 2006
Universities Network

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Red Nacional de REDUPS 2006


Universidades
Promotoras de la Salud

Red Española de REUS 2008


Universidades Saludables

Red Colombiana de
Instituciones de REDECUPS 2010
Educación Superior
Promotoras de Salud

Red Peruana de RUS 2015


Universidades Saludables

Rede Brasileira de 2018


Universidades Promotoras de REBRAUPS
Saúde

Rede Iberoamericana de -
Universidades Promotoras de RIUPS
la Salud
- Informação não disponíveis/ * Ano de estabelecimento
Fonte: Elaboração própria

OS EVENTOS E SUAS MATERIALIZAÇÕES

Para exposição de suas ações, sejam elas exitosas ou não e proporcionar a


construção de novos caminhos para o movimento de UPS, os congressos nacionais e
internacionais são de grande importância. Como visto anteriormente, o Reino Unido
aparece como pioneiro com a realização do primeiro congresso internacional de UPS na
cidade de Lancashire em 1996. Já na América Latina o Chile é quem realiza o primeiro
congresso de UPS no ano de 2003, posteriormente ocorrendo vários eventos pelo mundo,
como observamos na Figura 3. (LANGE & VIO, 2006; OLIVEIRA, 2017).

Figura 3. PRINCIPAIS CONGRESSOS DE UPS


CONGRESSO TEMA LOCAL ANO
Universidad/Institución
II Congresso de
de Educación Edmonton –
Universidades Superior Promotora Canadá 2003
de Salud
Promotoras de La Salud

III Congreso de
Universidades Entornos Formativos
Juárez - México
Promotoras de la Multiplicadores 2005
Salud

IV Congreso El Compromiso Social Pamplona –


Internacional de de las Universidades Espanha 2007
Universidades

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Promotoras de la
Salud

V Congreso
Internacional de Comunidades
San José -
Universidades Universitarias 2009
Costa Rica
Promotoras de la Construvendo Salud
Salud

VI Congreso
Internacional de Encrucijada Social y
San Juan –
Universidades Universitaria por la 2011
Porto Rico
Promotoras de la Salud
Salud

Caminos
VII Congreso
Prometedores:
Internacional de
Investigación,
Univerdiades Kelowna –
prácticas y Políticas 2013
Promotoras de la Canadá
para Campus
Salud
Saludables y
Sostenibles

Promoción de la Salud
VIII Congresso
y Universidad.
Iberoamericano
Construyendo Alicante –
Universidades 2015
Entornos Sociales y Espanha
promotoras de la
Educativos
Salud
Saludables

I Encontro Nacional de
Universidades Uma construção coletiva Brasília - Brasil 2018
Promotoras de Saúde

II Encontro da Rede
Brasileira de 2020
O desenvolvimento da rede no Brasil Online - Brasil
Universidades
Promotoras de Saúde
Fonte: Elaboração própria.

Além de Chile, Costa Rica, México e Espanha, como já citado na lista de


congressos, é possível localizar redes de UPS em outros países como Colômbia, Reino
Unido, Cuba, Peru, Alemanha e Brasil. (BERTOLINI, 2018; OLIVEIRA, 2017).
Através da troca de conhecimento potencializada pelas redes, seus encontros e
também eventos, muitos materiais têm sido desenvolvidos, como cartas, cartilhas e guias,
apresentando ideias e caminhos desenvolvidos nas mais diversas UPS e suas redes pelo
mundo. Documentos formulados através das redes também exercem grande influência
neste movimento, por exemplo, a Carta de Edmonton baliza o papel de uma UPS. Essa
Carta permanece em constante evolução através dos diálogos nas instituições, suas metas
para a criação de uma cultura favorável à PS envolvem a transformação para um ambiente
de trabalho saudável e sustentável, adoção de autocuidado, preparo dos estudantes na PS
em comunidades, apoio à PS regional etc. É salientado também, que o público alvo dessas
ações não devem estar centrados apenas nos estudantes, mas devem envolver desde o
corpo discente, grupo de funcionários, ex-alunos, outras IES ou até mesmo organizações

Página 477
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

governamentais que não estejam diretamente ligadas à instituição. Ademais, a obra de


Tsouros torna-se referência para a operacionalização do movimento de UPS. (OPAS,
2005; MELLO; MOYSÉS; MOYSÉS, 2010; OLIVEIRA, 2017).
Posteriormente, alguns guias foram desenvolvidos, como o “Guía para la
autoevaluación y reconocimiento de instituciones de educación superior promotoras de
la salud” desenvolvido pela Rede Chilena de UPS no ano de 2013, o qual constitui-se
como um material adequado para avaliação dentro da realidade latino-americana visando
a autoavaliação da promoção de saúde nas instituições (REDUPS, 2013). Também, o
“Guía para Universidades Saludables y Otras Instituiciones de Educación Superior”,
onde os autores Lange e Vio (2006), dentre as mais diversas orientações, dividem as
prioridades para promoção da saúde nas universidades em cinco áreas, sendo elas:
Alimentação; Atividade física; Fatores psicossociais; Fatores ambientais e Consumo de
tabaco e outras drogas.
Como um importante estudo sobre a promoção da saúde na universidade, a
American College Health Association (ACHA) publicou no ano de 2012 o que chamou
de “padrões de práticas para promoção da saúde no ensino superior” (tradução nossa),
caracterizando as práticas de promoção da saúde na universidade em: Integração com a
missão de ensino superior; Prática de abordagem socioecológica; Prática colaborativa;
Competência cultural; Prática baseada na teoria; Prática baseada na evidência e
Aperfeiçoamento profissional (AMERICAN, 2012 p. 3-4).
Outro importante documento apresentado é a Carta de Okanagan. Editada no
Canadá em 2015, é um material que proporciona mostras tangíveis sobre a funcionalidade
de uma UPS, destacando a necessidade de incorporar a saúde em todos os aspectos da
cultura no campus, em toda a administração, operações e mandatos acadêmicos, além de
atuarem as instituições como líderes de ações de PS e colaboração em níveis local e
global, por meio de desenvolvimento do ensino, da investigação e compartilhamento de
conhecimento, as UPS apresentam campos privilegiados para a PS, contribuindo para o
bem-estar e sustentabilidade da comunidade em geral. (INTERNATIONAL, 2015).
Até o ano de 2017 não existia uma rede sólida ou sistematizada de UPS no Brasil,
fato que em abril de 2018 tornou-se realidade através do 1º Encontro da Rede Brasileira
de Universidades Promotoras de Saúde (ReBraUPS), realizado em Brasília – DF. Este
evento contou com o apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Inicialmente cinco IES, sendo elas a Universidade de Brasília (UnB), Universidade de
Fortaleza (UNIFOR), Universidade de Franca (UNIFRAN), Universidade Federal do Rio

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Grande do Sul (UFRGS) e o Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR) se


uniram com intuito de estabelecer uma rede oficial em nível nacional, definindo e
propondo estratégias, ações, programas e compartilhando processos de mudança como
UPS, materializando também a carta de Brasília. (BRASILIA, 2018).
Seguem abaixo, os principais documentos identificados nesta pesquisa,
organizados por descrição, tópicos, componentes e considerações (Figura 4).

Figura 4: PRINCIPAIS DOCUMENTOS PRODUZIDOS PELAS UPS AO REDOR DO MUNDO


TÍTULO DESCRIÇÃO TÓPICOS COMPONENTES CONSIDERAÇÕES
Sugeriu-se que os
princípios orientadores
O Escritório Regional prestassem especial
da OMS para a Europa atenção à equidade,
Eles também
realizou uma reunião responsabilidade e
debateram três
para determinar o sustentabilidade e,
estratégias de
escopo, a finalidade, para convencer os
Health Promoting networking,
os objetivos e os membros em potencial
universities Project: favorecendo uma rede
produtos de um do valor da rede, ela Finalmente, uma
criteria and comprometida com a
projeto para deveria ser baseada em estratégia de quatro
strategies for a new filosofia, os produtos e
universidades evidências. Para etapas para o
WHO European a infraestrutura do
promotoras de saúde. facilitar o lançamento do projeto,
Network: report on a projeto, em detrimento
Os tópicos de gerenciamento do incluindo produtos
WHO round de afiliações mais
discussão incluíram o projeto, os futuros, foi resumida.
table meeting, frouxas que
conceito do projeto, participantes
Lancaster. resultariam em maior
seu desenvolvimento e concordaram que as
número de membros,
gerenciamento diretrizes para os
mas níveis mais baixos
organizacional e gerentes fossem
de comprometimento.
critérios e mecanismos reunidas, incluindo
para associação à rede. uma explicação do
desenvolvimento
organizacional.
Identificar o que
significa ser uma
universidade/
instituição de
“promoção da saúde”; As Universidades/
Criar um diálogo que Instituições de Ensino
promova o Superior que
PRINCÍPIOS DE
entendimento sobre os promovem a saúde
PROMOÇÃO DA
Edmonton Charter conceitos de promoção buscam; Objetivos das
Tópicos: Definições SAÚDE; AUDIÊNCIA
for Health da saúde no ambiente Universidades /
Promoção da Saúde; E PARTES
Promoting da universidade/ Instituições de Ensino
Instituições INTERESSADAS;
Universities and ensino superior; Superior que se
promotoras de saúde CARACTERÍSTICAS;
institutions of Higher Fornecer uma esforçam para;
do ensino superior. COMPROMISSO
Education. ferramenta para criar Crenças para As
COM AÇÃO;
uma universidade/ universidades/ no que
PRÓXIMOS PASSOS.
instituição de instituições de ensino
“promoção da saúde”/ superior saudáveis
instituição de ensino acreditam.
superior para aqueles
que desejam
influenciar os
tomadores de decisão.
Tópicos do Componentes: O papel Foi constituído o novo
documento: Carta único da educação; Conselho de
Internacional de Um quadro de ação Administração da Rede
Okanagan para a para a educação Espanhola de
Boletim informativo
Promoção da Saúde superior; Universidad Universidades
da Rede
RIUPS. Boletín nas Universidades e Santa Paula - Bases Saudáveis (REUS);
Iberoamericana de
Informativo. 2015. Instituições de Ensino para o Rede Mexicana de
Universidades
Superior; Avanços; desenvolvimento de Universidades
Promotoras da Saúde
Notícias; Próximos uma política Promotoras de Saúde e
Eventos de Promoção institucional específica Organização Pan-
da Saúde; Membros da para promoção da Americana da Saúde
Rede Ibero-Americana saúde; Formulação de reconhecem obras da

Página 479
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de Universidades políticas; Formação de Universidade


Promotoras de Saúde. uma rede de Veracruzana;
universidades Atividades da Rede
promotoras de saúde Espanhola de
no estado de Tabasco, Universidades
México; Treinamento Promotoras de Saúde
em gerenciamento de em torno de
redes sociais da Alimentação Saudável;
Pontificia Universidad Atividades da Rede
Javeriana, Colômbia. Mexicana de
Universidades
Promotoras de Saúde;
Membros da Rede
Ibero-Americana de
Universidades
Promotoras de Saúde.
Este documento
compila a experiência
Existem diferentes
da Rede Costa
questões relacionadas
Riqueniha de
à saúde integral das
Universidades Com base no
pessoas que estudam
Promotoras de Saúde diagnóstico realizado,
ou trabalham em uma
A REDCUPS (REDCUPS) formada são considerados
instituição de ensino
preparou este desde 2002 pelas fatores relacionados ao
superior. No entanto,
documento unificado Universidades tipo de alimentação,
existem alguns que
que visa orientar o Públicas: Universidade atividade física e
influenciam sua vida
trabalho das quatro da Costa Rica, recreação, consumo de
acadêmica e
universidades Universidade Nacional álcool, drogas e tabaco,
profissional mais
Guia para estaduais nas ações da Costa Rica, a experiência da
significativamente.
Universidades substantivas do Instituto Tecnológico sexualidade humana, o
Cada comissão
Costarricenses trabalho universitário da Costa Rica e desenvolvimento
trabalha com o tema
Promotoras de la na promoção da saúde, Universidade Estadual humano e a saúde
designado, mas, ao
Salud. 2014. com o objetivo de à Distância. O mental. Isso levou ao
mesmo tempo,
divulgar sua documento apresenta: estabelecimento de
mantém relações
conformação, 1 Contexto histórico; uma metodologia de
periódicas com outras
trajetória, 1.1 Ações tomadas; 2. trabalho das
comissões para
fundamentos Identificação e comissões, cada uma
estabelecer sinergias
norteadores e desafios. definição de com uma matéria
de trabalho, tendo
problemas; 3. relacionada à saúde e
sempre em mente que
Princípios orientadores relevante para os
a recreação e a arte são
das universidades alunos.
eixos transversais no
costa-riquenhas
trabalho que
promotoras de saúde;
desenvolvem.
4. Abordagens
substantivas
Entre os mais
significativos, são
propostos os seguintes
tópicos: Mobilização
de vontades no campo
acadêmico;
Compromisso
institucional; Recursos
Com base no que
humanos e financeiros;
aconteceu até o
Traz algumas Infraestrutura
Um resumo da história momento, propõe-se
diretrizes que nos institucional;
da Estratégia de fazer uma reflexão e
permite refletir sobre Responsabilidade
Promoção da Saúde, a discussão de desafios
Declaracion de trabalhos futuros, que social da UPS; Local
gênese e imediatos e assumir
Pamplona. IV é nosso grande e de trabalho saudável e
desenvolvimento do um compromisso
Congreso de imediato desafio seguro; Plano
conceito Promoção individual e,
universidades profissional para o estratégico;
das Universidades de especialmente,
promotoras de la desenvolvimento Treinamento e
Saúde e Redes Institucional para o
salud. sustentável das treinamento com uma
Universidades Latino- avanço do
Universidades abordagem abrangente
Americanas de desenvolvimento das
Promotoras da Saúde. / Promoção da Saúde;
Promoção da Saúde. Universidades
Avaliações de processo
Promotoras de Saúde.
e impacto; pesquisa,
produção e
disseminação de
conhecimento;
Constituição e trabalho
em rede; Comitê
intersetorial e
multidisciplinar;
Alianças

Página 480
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

multissetoriais e
multidisciplinares vs -
dependências ”.

Para o Chile, nesse


Origem e justificativa
contexto, é urgente o
deste guia:
desenvolvimento de
No Chile, 84% da
Este Guia tem políticas públicas que
carga de doenças é
natureza formativa e promovam mudanças
devido a doenças não
orientadora, que visa no estilo de vida das
transmissíveis; O guia permite que a
ajudar as instituições a pessoas e nos
Associação a fatores IES Promotora da
tomar decisões em ambientes em que elas
como tabagismo, Saúde identifique os
relação ao programa se desenvolvem. É
Guía para obesidade, baixa aspectos mais
de promoção do vital, igualmente, o
autoevaluación y atividade física, má deficientes e que
desenvolvimento e apoio dos serviços de
reconocimiento de alimentação; Todos os exigem a elaboração de
incentivar o desenho saúde para fazer um
instituciones de comportamentos planos de melhoria.
de um plano de diagnóstico precoce e
educación superior relacionados ao estilo Também facilita a
melhoria para o bem- estabelecer um
promotoras de vida; 35% da identificação de áreas
estar de suas tratamento imediato.
de salud. mortalidade prematura de trabalho que estão
comunidades. É um Não basta educar as
e 20% da carga de sendo bem-sucedidas e
guia que orienta a pessoas sobre práticas
incapacidade estão eficazes, fornecendo
auto-avaliação das saudáveis, é necessário
associados ao uso de reforço positivo.
instituições de ensino também modificar o
tabaco, álcool, drogas
superior. ambiente em que
psicoativas, obesidade,
estudam, trabalham e
estilo de vida
desenvolvem suas
sedentário e sexo
atividades diárias.
inseguro.
Este Guia está Este documento é
direcionado a complementado com
estabelecer os referências
primeiros registros de bibliográficas, sites na
introdução ao tema da web e direções
Promoção de Saúde eletrônicas de
nos estabelecimentos instituições que estão
Os conteúdos deste
de Educação Superior, trabalhando neste Ante a complexidade
Guia puderam ser
aprovando a tema, para que os do tema, esse guia trata
Guía para construídos a partir da
experiência setores tenham de simplificar as
Universidades revisão de bibliografia
internacional e profundidade sobre o estratégias, com final
Saludables y otras internacional e
nacional existente, assunto. de indução às
Instituciones de experiências nacionais
conjugando o Por fim, incorpora os autoridades de
Educación no assunto, de
aprendizado com a seguintes anexos: um Educação Superior,
Superior. entrevistas a pessoas
experiência prévia no Teste de avaliação dirigentes estudantis e
chaves, grupos focais
estabelecimento de automática de Estilo agremiações.
e trabalho com grupos.
disciplina escolar e de Vida, versão nº 4 da
lugares de trabalho, Carta de Edmonton
quer seja nas para Universidades
Universidades ou Promotoras de saúde e
Instituições de um Modelo de Adesão
Educação Superior. à Carta de Edmonton.

Carta internacional A seguir, estão os


para promoção da princípios orientadores
saúde desenvolvida a de como mobilizar
partir da Conferência sistemas sistêmicos e
A Carta tem dois
Internacional de Saúde ação no campus:
apelos à ação para
de 2015 (Promoção de Use configurações e
instituições de ensino
Universidades e A estrutura a seguir abordagens de todo o
superior:
Faculdades – VII fornece duas chamadas sistema; Garantir
1. Incorporar a saúde
Congresso à ação com as abordagens
Okanagan Charter: em todos os aspectos
Internacional principais ações áreas abrangentes e em todo
an International da cultura do campus,
Kelowna, Colúmbia e princípios gerais que, o campus; Use
Charter for Health em toda a
Britânica, Canadá). O juntos, orientam o abordagens
Promoting administração,
objetivo da Carta é desenvolvimento da participativas e
Universities and operações e mandatos
triplo: Saúde Promoção de envolva a voz dos
Colleges. acadêmicos.
1. Orientar e inspirar universidades e estudantes e Outras;
2. Liderar ações de
ações, fornecendo uma faculdades. Desenvolver
promoção da saúde e
estrutura que reflita os colaborações
colaboração local e
últimos conceitos, transdisciplinares e
globalmente.
processos e princípios parcerias intersetoriais;
relevantes para a Promover pesquisa,
Promoção da Saúde inovação e ação
Universidades e informada por
Faculdades, com base evidências; Construa

Página 481
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

nos avanços desde a pontos fortes;


Carta de Edmonton Valorizar os contextos
2005.2; e prioridades das
2. Gerar diálogo e comunidades locais e
pesquisa que amplie indígenas; Agir sobre
os níveis local, uma responsabilidade
regional e nacional e universal existente.
redes internacionais 3
e acelera a ação
dentro, fora e entre
campus.
3. Mobilizar ações
internacionais
intersetoriais para a
integração da saúde
nos todas as políticas e
práticas, promovendo
assim o
desenvolvimento
contínuo de
universidades e
faculdades promotoras
de saúde.
As seguintes áreas de
colaboração e
cooperação são
estabelecidas no Tabela de conteúdo:
Amostra de
Una Nueva Mirada Documento de documento antecedentes, marco
Experiências Nacionais
al Movimiento de trabalho desenvolvido constitutivo: conceitual,
de Promoção da Saúde
Universidades para o IV Congresso informação, critérios e desenvolvimento de
em Instituições
Promotoras Internacional de guias, formação, trabalho em grupo,
Universidade e
de la Salud en las Universidades materiais didáticos, metodologia de
Expressões de Adesão
Américas. Promotoras de Saúde. projetos de trabalho e
à Iniciativa.
investigação e recomendações.
capacitação,
documentação e
divulgação.
- a necessidade de se
promover a cultura
organizacional
baseada nos valores e
princípios do
movimento global A Carta de Brasília
para Promoção da afirma o compromisso
Saúde; da Rede Brasileira de
- o papel social das Universidades
A Carta de Brasília
instituições de ensino Promotoras de Saúde
registra o lançamento
superior na inclusão (ReBraUPS) em
da Rede Brasileira de Ser uma rede de
social e no processo defender, propor e
Universidades referência local,
educativo e instrutivo desenvolver princípios
Promotoras de Saúde regional e
da sociedade, em e
(ReBraUPS) e internacional na
especial para a estratégias alinhadas
identifica as ações e os promoção da saúde
promoção da saúde; aos documentos
compromissos que fomente políticas,
Carta de Brasília - a necessidade de se norteadores nacionais
necessários para a ações e espaços na
defender a saúde e e internacionais para a
promoção da saúde universidade a fim de
educação de qualidade promoção da saúde,
das pessoas, no favorecer o
como direitos sociais como meios para o
ambiente em que desenvolvimento pleno
universais, fortalecimento do
estudam, do ser humano em sua
assegurados pela Estado Democrático
trabalham e convivem relação com o planeta.
Constituição Federal de
e no planeta que
de 1988, como bens Direito na luta pela
ocupam
públicos justiça social, pelos
conquistados pela direitos humanos, pela
sociedade brasileira. equidade e pela
- a indissociabilidade participação social.
entre ensino, pesquisa,
extensão e gestão para
aprimoramento
das ações que
promovem saúde.
Fonte: Elaboração própria

O ENSINO SUPERIOR, A SAÚDE E O MOVIMENTO DE UNIVERSIDADES

Página 482
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

PROMOTORAS DE SAÚDE: DESAFIOS

Em sua contemporaneidade, a universidade é um lugar que possui o privilégio de


conhecer a cultura universal e as várias ciências, para criar e divulgar o saber. Pelo fato
de ser um ambiente que proporciona um crescimento integral, a mesma deve fazer parte
do processo de desenvolvimento da sociedade, apresentando espaço para os mais diversos
aprendizados e orientando uma visão crítica que proporcione mudanças sociais. Por
situar-se dentro da sociedade civil, mantém vínculos com a sociedade política e com a
base econômica, ademais, lhe cabe o dever de exercer tarefas urgentes de mudança social.
(SEVERINO, 2002; WANDERLEY, 2003).
Mesmo com esse pensamento abrangente para o exercício de transformações
sociais através do ambiente educacional superior, a universidade enfrenta desde o final
do século XX crises em sua hegemonia, legitimidade e questões institucionais. Segundo
Santos (2010), a incapacidade no desempenho de funções diferentes das tradicionais, a
não satisfação da aspiração das classes populares pelo acesso ao conhecimento e a perda
de prioridade da universidade entre os bens públicos, levaram os estados e agentes
econômicos a procurarem alternativas para a produção de conhecimentos instrumentais
fora da universidade, convertendo através do estado, a educação em um bem público não
assegurado pelo mesmo. Além disso, a perda de prioridade da universidade no seu âmbito
público é subsequente a uma perda de prioridade nas políticas sociais de uma maneira
geral, o que atinge dentre outros setores a educação e também a saúde.
No início da década de 1980, com a mercantilização da universidade como uma
opção a atender as determinações neoliberais, observa-se não apenas o crescimento, mas
também um caminho aberto para o estabelecimento de um mercado universitário
nacional, onde a educação torna-se produto. Tal mercadorização tende a ocorrer através
de uma expansão do ensino superior privado-mercantil, privatização direta,
desresponsabilização do estado ou até mesmo parcerias público privadas, que vêm a
estimular competição, rankings, indicadores etc., seguindo assim, um modelo de
liberalização da oferta de ensino. Concomitante a isso, há um despontamento do mercado
transnacional da educação superior, onde a mudança do paradigma institucional e
político-pedagógico são convertidos em um modelo empresarial que atende a
transnacionalização do mercado universitário, oferecendo de maneira abrangente um
ensino presencial ou à distância, que por vezes visa o lucro através de organizações de
serviços educacionais. O grande problema é que ao invés de serem solucionadas questões

Página 483
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

referentes ao suprimento de um bem público estratégico, há uma sujeição da educação às


tensões que são próprias do mundo das mercadorias. (AZEVEDO, 2015; SANTOS,
2010).
Esse processo de globalização neoliberal, de acordo com Santos, 2010, estabelece
desafios epistemológicos para a educação superior, obrigando a universidade a passar
para um modelo firmado sob o conhecimento mercantil, o qual atende a um projeto
neoliberal universitário. Para o autor, a perda de hegemonia universitária se mostra
irremediável, tendo a mesma que estar concentrada na manutenção de sua legitimidade e
lutar pela democratização do seu acesso ao mesmo tempo em que realiza atividades de
extensão que enfrentem problemas de exclusão e discriminação social, trazendo para
dentro da universidade o diálogo entre os saberes científico e não-científico, através de
pesquisa-ação que envolva e beneficie as comunidades e organizações sociais.
Já no início da década de 1990, analistas financeiros chamavam a atenção para o
potencial que a educação apresentava em tornar-se um mercado pulsante até o século
XXI. Relatórios da empresa de serviços financeiros Merril Lynch afirmam que na
atualidade, a educação superior possui características semelhantes às que apresentava a
saúde nos anos 1970, sendo muito fragmentada e pouco produtiva, todavia apresentando
um mercado gigantesco, com grande busca tecnológica e déficit de gestão profissional.
Mas com relação a saúde? O que podemos notar nesse contexto? Assim como a educação,
está sujeita a contínua necessidade de subordinar-se à valorização capitalista, que tende a
transformar utilidades em mercadorias. Todavia, tal pensamento torna-se derrotável
na medida em que atores sociais exploram suas contradições e fazem frente a isso.
(ALMEIDA FILHO & SANTOS, 2008, p.21 grifo nosso).
A última década traz um impacto muito grande no controle sobre as agendas de
pesquisa nas universidades, devido ao grande apelo à privatização. Na saúde por exemplo,
doenças como malária, tuberculose e HIV perdem espaço nas prioridades de pesquisa,
lembrando que em 1978 a OMS, através da I Conferência Internacional Sobre Cuidados
Primários de Saúde de Alma-Ata, trazia a recomendação para que o enfoque no campo
da saúde envolvesse o cuidado com esses tipos de problemas.

(...) a adoção de um conjunto de oito elementos essenciais: educação


dirigida aos problemas de saúde prevalentes e métodos para sua prevenção
e controle; promoção do suprimento de alimentos e nutrição adequada;
abastecimento de água e saneamento básico apropriados; atenção materno-
infantil, incluindo o planejamento familiar; imunização contra as
principais doenças infecciosas; prevenção e controle de doenças

Página 484
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

endêmicas; tratamento apropriado de doenças comuns e acidentes; e


distribuição de medicamentos básicos. (BUSS, 2000 p.167-168, grifo
nosso).

De acordo com Almeida Filho & Santos (2008), um mecanismo que regula a
comunidade científica, passa a torna-la dependente dos centros de poder econômico, e
apenas uma grande pressão externa e democrática auxiliarão no acréscimo de temas que
na teoria não apresentam interesse comercial, mas revelam grande impacto social.
Ao vivenciar mudanças do papel do estado com relação ao público e privado, são
acentuadas funcionalidades ao capitalismo monopolista. Dentro de uma perspectiva
médico assistencial, a transformação da saúde num capital se dá através da sua venda
como se fosse uma mercadoria. Desta maneira, a saúde acaba por ser constituída como
um dos setores de disputa no mercado, mercado esse que apresenta dentre as suas mais
diversas organizações empresariais, os hospitais-empresa e as cooperativas de trabalho
médico, que por sua vez apresentam tendências à privatização da saúde pública,
mercantilização e até mesmo desmonte do Sistema Único de Saúde. (CORREIA &
OMENA, 2013; MARTINS et al. 2012).
Ao partir de uma ampla concepção do processo saúde-doença, dos seus
determinantes e analisar o discurso vigorante da PS, é possível constatar em sua proposta
não somente o alinhamento de saberes técnicos e populares, mas também a mobilização
de recursos comunitários para o seu enfrentamento. Ainda que passados tantos anos da
Carta de Ottawa e sua definição para a PS, se faz necessário permitir a associação a esse
termo bem como manter a sua prática ligada a um conjunto de valores citados por
Czeresnia (2003), como vida, saúde, solidariedade, equidade, democracia, cidadania,
desenvolvimento, participação, parceria etc. Mesmo em um mundo globalizado, é
possível observar na PS através de seus documentos, cartas, declarações etc., a presença
de um componente internacionalista, no qual a participação social juntamente com a
valorização do conhecimento popular se fazem presentes na base de sua formulação
conceitual. Nos campos da educação e da saúde, o estado possui o papel de garantir
serviços públicos de qualidade e ao não assumir essa responsabilidade, o mesmo acaba
por se tornar promotor de iniquidades sociais (ALMEIDA FILHO, 2018; BUSS, 2000;
CZERESNIA, 2003).
Um cuidado a ser tomado deve ser o de não permitir que o fator financeiro seja o
principal impulsionador das iniciativas que sugerem a PS, evitando a aproximação do seu
conceito com questões que envolvem a qualidade de vida dentro de uma perspectiva de

Página 485
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

exclusiva diminuição de gastos com os investimentos de políticas públicas. É possível


dentro do discurso de PS, observar estratégias que envolvem desde ações conservadoras
até as mais progressistas, o que pode corresponder a interesses divergentes.
(CZERESNIA, 2003; MARCONDES, 2004).
Na tentativa de escapar da constante oscilação do próprio capital, os modos de
produção se expandem e alcançam setores outrora não subordinados à lucratividade, um
desses é o da saúde. Todavia, a saúde é citada como fator essencial para o
desenvolvimento humano e a criação de ambientes favoráveis é um dos campos que
compõe a promoção da mesma. Tal abordagem é para as universidades um caminho que
propõe planejamento e constituição de padrões, que auxiliem no gerenciamento da PS e
permitam que de maneira tangente, outras IES possam se utilizar desses métodos (BUSS,
2003; MARTINS et al. 2012; TSOUROS, 1998).

REFLEXÕES SOBRE CONCEITOS

Como visto anteriormente, em 1947, a OMS elabora um conceito de saúde que a


define como: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de doença ou enfermidade”. Mas será que de alguma maneira esse conceito
impulsiona a discussão sobre que é saúde? Ou devemos analisar com o pensamento de
Almeida Filho (2012) que diz: “esses conceitos acabam criando a falsa ideia de que a
saúde pode ser explicada por uma definição, o que pode atrapalhar ou até desencorajar o
processo reflexivo”. Ademais, o autor nos diz que cabe refletir se a saúde é de fato um
objeto de estudo científico, ou se sua amplitude vai além dos olhos da própria ciência. Tal
pensamento nos leva a crer que o conceito de saúde representa um grande desafio
epistemológico a ser teorizado (OMS, 2006; ALMEIDA FILHO, 2012).
Dentro de uma perspectiva que leva a reflexão sobre adequação de conceitos a
realidade, torna-se ambígua a existência de uma crença no poder descritivo dos conceitos,
ao mesmo tempo em que se admite que a linguagem científica com a qual se classifica a
realidade, não pode alcançá-la em sua total complexidade e pluralidade. Por fim, há ainda
uma carência científica na abordagem desta temática, o que leva muitos autores ao
modelo cultural de saúde-doença construído no decorrer dos anos, diminuindo assim o
debate em torno disso. (ALMEIDA FILHO & JUCÁ, 2002).

Página 486
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Segundo Czeresnia (2012), “conceito é uma definição que vai expressar


características de um acontecimento, possibilitando uma utilização operativa em cima
disso”. Tal afirmação nos leva a refletir sobre o poder que é gerado através da criação de
definições, podendo influenciar na maneira como os indivíduos atuam sobre o que é
conceituado. No que diz respeito à saúde, Castiel (2012) nos diz que “devemos ter
cuidado com conceitos finalizados, para que eles não roubem a mobilidade do
conhecimento”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ingressar em uma IES gera novas relações para muitos estudantes, influenciando
desde sua vida afetiva, tempo, responsabilidades ou até mesmo autonomia ainda que
prematura. Questões organizacionais da vida são afetadas, incluindo não apenas os
estudantes, mas toda a comunidade acadêmica, o que pode representar vivências
negativas com relação à saúde. Dessa maneira, as IES se apresentam como ambientes
favoráveis para o desenvolvimento de ações de PS. Deve a universidade contribuir na
capacitação de seus indivíduos para uma futura difusão da PS nos espaços sociais, sendo
necessário que esta assuma a responsabilidade de um papel que não se restringe ao setor
da saúde, desafiando seus dirigentes, reitores e conselheiros também. (OLIVEIRA, 2017).
A constituição de uma UPS deve ser apresentada de maneira mais sistematizada,
focando esforços no fortalecimento das redes e caracterização deste movimento. Para a
constituição de padrões e configurações que permitam gerenciamento na PS, a abordagem
nos ambientes universitários deve focar previsão e planejamento. (DOORIS, 2001;
GRASER et al, 2010; TSOUROS, 1998).
Universidades que se envolvem com a promoção da saúde podem obter muitos
benefícios como:
Valorização de sua imagem pública; Ser importante para a
saúde local, regional e nacional; Melhorar projetos
institucionais e pedagógicos; Melhorar a qualidade de vida dos
envolvidos; e Melhorar condições de atividade e de
permanência das pessoas que ali trabalham, estudam, vivem e
socializam (TSOUROS, 1998 p. 123 tradução nossa).

Tais características, dão suporte para um mapeamento de ações e programas de


promoção da saúde realizados em uma IES. Almeida (2017) refere que a iniciativa de
alguma Instituição de Ensino Superior (IES) em adotar esses princípios na universidade,

Página 487
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

passando a mapear sua realidade, o desenvolvimento de ações, manutenção de registros


e avaliações dos processos para a produção de material científico na perspectiva nacional
é o que irá favorecer o movimento de UPS.
Sabe-se, porém, que alguns pontos ainda restringem a materialidade da promoção
da saúde nas instituições formadoras, com relação a isso destaca-se que:

Muitas experiências tradicionais, autodenominadas como


“promotoras de saúde”, ainda são realizadas de modo tópico,
isolado, microdisciplinar, com baixa sustentabilidade
institucional, sendo extremamente dependentes do voluntarismo
de poucos docentes com poder de vocalização e influência quase
marginal no âmbito da política pedagógica das instituições de
ensino superior (TEIXEIRA et al. 2005 apud MELLO et al., 2010,
p. 687).

Com esse pensamento confirma-se a necessidade de políticas e estratégias que


possam ir além de ações isoladas que não fazem parte de um planejamento institucional.
Segundo Lange e Vio (2006), é indispensável que as UPS não somente assumam o papel
principal na criação de uma cultura favorecedora da saúde e do bem-estar dentro da
universidade, mas que este objetivo esteja ligado ao plano estratégico da instituição.
Todavia, como afirma Oliveira (2017), é importante ressaltar a não existência de
receitas que se apliquem a todas as universidades, porém o compartilhamento de
experiências vivenciadas pode nos mostrar caminhos metodológicos possíveis e, tais
possibilidades estão entre os benefícios alcançados pelos encontros das redes de UPS.
Não há como negar a dificuldade oriunda das diferentes realidades encontradas em cada
região ou mesmo particularidades observadas nas IES, sejam elas autodeclaradas
promotoras de saúde ou não, porém essas diferenças mostram um caminho amplo para
estudos e pesquisas que proporcionem um compartilhamento do que é experimentado em
cada instituição, mostrando novas ideias para esses lugares.
Apesar disso, uma grande dificuldade ainda é o desalinho pertinaz no conceito de
PS no que diz respeito à prevenção e promoção, bem como seus limites conceituais, o que
tem levado muitos autores a tentar desenvolver e tornar claro esse discurso. Como afirma
Almeida (2017), é importante diferenciar ações preventivistas que evidenciam a redução
de danos e comportamentos de risco de ações efetivamente promotoras de saúde. A
inserção das IES em um contexto onde existe esse desalinho conceitual, somada a
incompreensão por parte dos envolvidos, sejam eles professores, gestores ou

Página 488
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

pesquisadores, a dificuldade na aplicação desse conceito, a ênfase nos lucros e a


concorrência por parte das instituições, acaba sendo obstáculo para o êxito nas ações de
PS saúde de maneira homogênea. (MELLO; MOYSÉS; MOYSÉS, 2010; SICOLI &
NASCIMENTO, 2003).
Deve-se ter em mente, que quando referida por ações que não estão
necessariamente dirigidas a algum tipo de desordem patológica, mas sim para exercerem
influência na saúde e bem-estar de modo geral, a PS acaba sendo definida com mais
amplitude que prevenção. Todavia, mesmo com princípios de PS desenvolvidos ainda
que de modo razoável, se faz presente a dificuldade de estes princípios serem convertidos
em práticas coerentes que evidenciem o real conceito de PS, sendo escassas as práticas
que realmente a representam. Desta forma, as estratégias que se propõem a promover a
saúde devem estar ligadas a uma transformação nas condições gerais de vida e trabalho
dos indivíduos, o que traz a necessidade de uma abordagem intersetorial. (CZERESNIA,
2003; SÍCOLI & NASCIMENTO, 2003; TSOUROS, 1998).
Tsouros (1998) afirma que promover saúde na universidade vai além de sua
condução para estudantes e funcionários da instituição, deve-se agregar a saúde como
cultura nos seus processos e políticas, trazendo entendimento e capacitação para lidar com
a mesma de modo a desenvolver uma estrutura de ação com diálogo, escolha,
participação, sustentabilidade, metas de equidade etc. Projetos que propõem atuar com a
PS nas universidades podem também se basear nas estratégias e experiências de projetos
de cidades saudáveis, através da definição de objetivo e declaração de missão; filosofia e
princípios; processos de mudança e desenvolvimento; resultados esperados;
monitoramento e avaliação etc., sendo de vital importância a evidência da eficácia de uma
UPS. Definir critérios para o sucesso na aplicação desse processo também pode auxiliar
na mensuração do impacto que a mesma irá causar. O movimento de UPS abraça assim a
ideia de uma abordagem para PS baseada inclusive em configurações expressas nas
cidades promotoras de saúde. (OMS, 1997; TSOUROS, 1998).
Ainda temos visto, que muitas estratégias de PS nas IES nem sempre possuem
coesão com ações planejadas que envolvem desde a educação até a política no apoio aos
hábitos de vida e fomento às condições favoráveis de saúde dos indivíduos, grupos ou
comunidades, tendo pouca relação com os requisitos que contextualizam a PS.
(FERREIRA; BRITO; SANTOS, 2018).
Ademais, tudo isso deve servir de incentivo para que as IES estejam cada vez mais
engajadas em evoluir nos conceitos e práticas, compartilhando experiências e dando

Página 489
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

seguimento a esse movimento em todas as suas esferas, sejam elas institucionais ou até
mesmo de ordem política, compreendendo a realidade e especificidade de cada IES em
seus mais diversos contextos culturais e socioeconômicos, permitindo assim a mobilidade
do conhecimento. Com os passar dos anos e o crescimento do movimento de UPS através
de suas redes e produções, têm-se construído um cenário possibilitador de estratégias de
PS nas IES. Porém, devem ser mantidos os cuidados necessários para que ações e projetos
de PS no ensino superior, não sucumbam à um contexto de mercantilização tanto da saúde
quanto do ensino, onde talvez possa parecer lucrativo e interessante para determinadores
setores manterem a perspectiva de serem “promotores da saúde”, porém, sem de fato
estarem contextualizados com esse conceito e toda sua complexidade de aplicação. Como
o movimento de UPS propõe atuar em locais acadêmicos onde as pessoas se desenvolvem
diariamente, seguindo o modelo de PS, cabe refletir sobre: que tipo de programas estão
sendo estabelecidos nas IES que se propõem a seguir esse modelo?
Deve-se ter como foco, uma perspectiva que explore o potencial das IES em atuar
como protetores da vida. Que sejam sim, promotores da saúde de sua população, mas que
essas iniciativas envolvam tanto os funcionários, quanto docentes e discentes, sem excluir
as comunidades na qual estão inseridas essas IES. Por fim, que exista um plano
institucional para isso, permitindo continuidade dessas ações e que elas possuam também,
construir um processo sistemático de auto avaliação.

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Página 494
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 46

O USO DAS REDES MIDIÁTICAS COMO FONTE DO


ROMPIMENTO DA CONFIDENCIALIDADE MÉDICA E
SUAS ILAÇÕES

Gabriela Ferreira Kozlowski, Ana Paula Müller Penachio, Giovanna


Braz Junkes, Isys Brodersen Moreira Dos Santos, Julia Petry, Maria
Eduarda Mendes Hibarino, Rafaella Nascimento Petty, Ermelino
Becker

RESUMO: A relação médico-paciente é marcada por inúmeros


princípios e diretrizes, tanto morais, quanto éticos, fato o qual,
assegura uma proteção aos envolvidos nessa conjuntura, evitando
futuros problemas e complicações a ambos. Dentro dessa premissa há
o sigilo médico, o qual promete a segurança das informações do
paciente fornecidas em consultas, sendo de suma importância, visto
que, esse garante integridade e liberdade do enfermo, diminuindo a
resistência desse à tratamentos e consultas novas. No entanto, apesar
de essencial na área médica, há fatores que permitem a quebra desse
segredo, que é o caso do dever legal, justa causa e consentimento por
escrito. Sendo assim, por ser demandado pelo Código Ético de
Medicina, a identificação do paciente, bem como suas informações
privadas são confidenciais, e o rompimento desses dados por
profissionais, fora de circunstâncias legais, pode gerar processos civis
e criminais.

Página 495
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

“Aquilo que no serviço ou fora do serviço da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver


visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto”. Eis o
juramento de Hipócrates, conhecido como “pai da medicina”, proclamado por todos os médicos
ao iniciarem sua carreira profissional, o qual serviu e ainda serve como base para uma das
normas elencadas no Código de Ética Médica. Atualmente, contrariando os princípios
hipocráticos a utilização da mídia acaba por romper inúmeros protocolos e condutas éticas,
visto que há um excessivo compartilhamento de informações que muitas vezes são maléficas
para o paciente e também para a própria comunidade de cuidado, causando assim demasiadas
ilações. O termo sigilo médico é caracterizado por ser uma garantia na relação entre médico e
paciente, na qual todas as informações fornecidas serão de único e total conhecimento dos
participantes do vínculo. A partir do respeito dessa confidencialidade é possível obter uma
melhor conexão entre a equipe médica, garantindo assim, uma efetiva adesão por parte do
paciente nos quesitos: diagnóstico, tratamento, cooperação, tempo disponibilizado e outros de
suma importância para propiciar não só a saúde individual como também a coletiva para todos
os brasileiros. É necessário destacar o cuidado integrado assegurado ao paciente, permitindo
que este se sinta à vontade para expressar sua vida pessoal, emocional e social. Desse modo, é
cabível a violação dessas informações somente em casos previstos por leis e normas, ou seja,
justa causa, dever legal ou sob autorização do paciente.

METODOLOGIA

A metodologia do artigo consistiu em pesquisas embasadas em notícias de casos reais e


recentes da quebra de sigilo entre médico e paciente por meio da internet, que foram publicadas
em jornais e sites online. Foi realizada uma leitura do código de ética médica, principalmente
do artigo 73, e das partes referentes ao uso da internet e mídias sociais por parte desses
profissionais da saúde. O artigo 154 do código penal, foi mencionado mais de uma vez no que
diz respeito à exposição de alguém sem justa causa em razão da profissão. Juntamente a isso,
a pesquisa buscou se manter de acordo com os direitos humanos proclamados na assembleia
geral das nações unidas (ONU) em 1948. Além de artigos publicados no site “Pubmed” no
período entre 2004 e 2018 em língua inglesa e em português, baseados nas palavras-chaves
“Medical confidentiality; Ethic; Secrecy; Patient’s rights; Ethical obligations”. Ademais, foi
citada pesquisa feita por uma das principais instituições de ensino superior de medicina no

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Brasil, a Unifesp, sobre médicos residentes que divulgam informações pessoais acerca de seus
pacientes nas redes sociais. Para garantir mais embasamento no artigo, foram utilizados trechos
do livro de “bioética clínica” de Cícero de Andrade Urban.

OBJETIVOS

Esclarecer a definição da expressão “Sigilo médico” e os determinantes que caracterizam o


termo, juntamente, a relação desse segredo com o respeito aos Direitos Humanos proclamados
pela Resolução nº217 da Assembléia Geral Das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.
Estimular a conservação do sigilo entre médico e paciente, a partir de análises das ilações
negativas da quebra dessa conduta, e nas consequências positivas da mesma, com enfoque na
associação entre essa confidencialidade e a utilização das redes sociais e internet em um total.
Esclarecer e relacionar a situação contemporânea da mídia e a postagem de notícias e
informações alheias, sem documentação e permissão, quebrando assim protocolos e
desrespeitando pacientes. Avisar sobre certas intercorrências ao ferir o sigilo, além de danos
pessoais, mas também alterações na bolsa, opiniões políticas e casos de violência, roubo e
perigo para com o paciente. Realçar a necessidade de garantir esse direito a todos os pacientes,
citando casos e exemplos correspondentes com o tema, buscando ilustrar de uma melhor forma
todas as partes que envolvem a confidencialidade entre o médico e o paciente, em uma busca
de sempre aprimorar e facilitar a busca pela saúde pública no país.

EXEMPLOS

O sigilo médico é um tema amplamente discutido no âmbito jurídico, ético e social, e segundo
o artigo 154 do Código Penal, é "crime revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem
ciência em razão da função, ministério, ofício ou profissão e cuja revelação possa produzir
dano a outrem". Na atualidade, o uso da internet tem sido um dos principais meios de
comunicação, interação e também tem sido um dos principais palcos para a quebra da
confidencialidade entre médico e paciente, podendo ser encontrado em diversos casos.

De início, podemos citar o caso de uma ex-primeira-dama, a qual havia sofrido um acidente
vascular hemorrágico (AVC) de nível quatro na escala Fischer e apresentava um caso muito
delicado. Foi atendida no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, onde realizou diversos exames,
entre eles uma tomografia. Infelizmente, foi surpreendida com um vídeo liberado nas redes
sociais por um jornalista, no qual ele está vangloriando-se por tocar nos exames da ex-primeira-
dama. Logo em seguida, o caso tomou maiores proporções quando uma médica reumatologista,

Página 497
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

que não fazia parte do caso, vazou a informação na rede social "WhatsApp" de que a paciente
seria internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mesmo não tendo acesso ao seu
prontuário médico. Além dessa violação do artigo 154 do Código penal citado anteriormente,
também foi noticiada mais uma falha médica, em que o neurocirurgião da paciente opinou de
maneira antiética acerca do tratamento, comentando com seus colegas frases inadequadas e
ofensivas. Como resultado de tais atitudes não profissionais, a Doutora que expôs a informação
foi demitida do Hospital e o médico que comentou as ofensas perdeu seu contrato com o plano
de saúde Unimed.

Outro acontecimento que foi de grande importância e envolve o compartilhamento inadequado


de informacoes, é o caso da menina de 10 anos que engravidou por estupro realizado por
familiar no Espirito Santo. A jovem realizaria procedimento de aborto em hospital e sua
localização foi vazada por componentes da equipe médica, causando grande movimentação em
frente ao hospital e podendo gerar possível desconforto e perigo para a menina. Notícias
mostraram também o caso de um funcionário do Hospital Albert Einstein que divulgou na
internet as senhas da plataforma de acesso aos dados (cpf, telefone, endereço, doenças pré-
existentes, diagnóstico suspeito ou confirmação de covid-19) de pelo menos 16 milhões de
cidadãos brasileiros, entre elas o atual presidente Jair Messias Bolsonaro. Evidenciando mais
uma vez a gravidade de uma falha no exercicio do artigo 73 do Código de Ética Médica, no
qual ``é vedado ao médico revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de
sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente``,
abrangendo o ambiente virtual como meio de disseminação de informações de caráter sigiloso.

DISCUSSÃO

Com o advento da Internet e sua rápida evolução, cada vez mais as pessoas estão conectadas
compartilhando suas vidas pessoais e profissionais. Isso se aplica à prática médica que,
atualmente, está sendo muito disseminada nas mídias sociais. Dentre os profissionais, aquele
que tem maior dever quanto ao sigilo é o médico, pois conhece na intimidade (subjetivamente
e objetivamente) seu paciente. Nesse sentido, o compartilhamento excessivo entra em
dissonância com o Código de Ética Médica, podendo infringir o direito do paciente de sigilo,
o que enfraquece a relação médico-paciente e tem potencial de causar constrangimento, bem
como problemas judiciais.

Página 498
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O Código de Ética Médica (CEM) aborda o tema do uso das redes sociais pelos profissionais,
porém, ao observar alguns perfis nas redes sociais, é possível perceber a banalização do uso da
internet e falta de conhecimento sobre o Código. Segundo um estudo realizado pela Unifesp
mais de 80% dos médicos residentes divulgam informações sigilosas nas redes sociais, sendo
possível perceber que nem sempre há a intenção de causar algum prejuízo, e sim o fazem pelo
desconhecimento acerca das regras. Para exemplificar a quebra de sigilo, o caso de uma ex-
primeira dama ocorrido em 2017 foi um divisor de águas no que tange às regras do
compartilhamento do prontuário do paciente. Nesse caso, houve a divulgação irrestrita do seu
estado de saúde, do seu local de internamento, bem como da emissão de juízo de valor por
parte dos profissionais que afetam a moral pessoal da paciente de forma negativa. Tudo isso
ocorreu via compartilhamento no WhatsApp que, em pouco tempo, virou notícia nacional.
Nesse sentido, constatamos que houve quebra de mais de uma premissa do CEM, como
divulgação de informações sigilosas e constrangimento público do paciente.

Outro exemplo que impactou pela exposição de pacientes, foi o caso da menina de 10 anos que
engravidou por estupro e iria passar por um aborto, mas antes que isso pudesse ser feito, sua
localização foi divulgada pela equipe. Isso acarretou em manifestações na frente do hospital.
Essa situação expôs uma vítima vulnerável e menor de idade a um constrangimento de nível
nacional, além de ameaças ao médico e à menina por parte de manifestantes que eram contra o
procedimento. Com isso, também houve perturbação da paz e do silêncio no perímetro do
hospital, o que poderia acarretar em incômodo e danos aos outros pacientes ali presentes.

Uma outra questão que permeia o uso indevido de redes sociais por parte dos médicos, está
descrito numa importante premissa do CEM: “a publicidade médica deve obedecer
exclusivamente a princípios éticos de orientação educativa, não sendo comparável à
publicidade de produtos e práticas meramente comerciais”, sendo vedado a divulgação de
preços oferecidos, bem como de descontos, pois isso seria considerado prática comercial e
estimularia a concorrência desleal. Um exemplo seriam médicos que fazem parceria com
influenciadores digitais, que não são do ramo médico, promovendo sorteios de procedimentos
cirúrgicos. Essa conduta irresponsável pode influenciar as pessoas a fazerem cirurgias, apenas
por ser de graça e por um famoso estar envolvido na publicidade, sem de fato fazerem uma
reflexão sobre riscos, e se realmente querem essa mudança permanente em suas vidas. Além
disso, o artigo 13 da Resolução 2.126/2015 veta a publicação de fotos de “Antes X Depois”
como publicidade nas redes sociais. Mesmo que o paciente autorize, essa prática não pode ser

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

feita pois pode ser encarada como concorrência desleal. Embora seja uma conduta
relativamente comum, esta prática pode provocar danos psicológicos a quem procura esse
serviço, pois, o paciente é influenciado pelas fotos ali postadas que não, necessariamente, terão
o mesmo resultado. Outro perigo seria a simulação de resultados feito por médicos e divulgado
por eles, no qual o uso do Photoshop pode distorcer um possível resultado, incutindo
expectativas irreais na mente dos pacientes. Este comportamento é muito evidenciado no meio
dos cirurgiões plásticos, que utilizam deste artifício para se autopromover e conquistar mais
pacientes.

Com o surgimento da pandemia do Covid-19, a pauta da telemedicina esteve muito presente,


havendo a necessidade de normatizar esse exercício. A prática médica virtual, não pode ser via
comentários ou chats sem a devida informação sobre histórico, avaliação clínica e exames
conforme o anexo I da Resolução 1.974/2011. O profissional, que utiliza deste meio, deve
sempre orientar que os internautas busquem atendimento especializado. Outra situação que
deve ser evitada nos bate papos é o uso de sensacionalismo prometendo curas e resultados,
sendo que muitas vezes não pode ser garantido. Tais constatações evidenciam um problema
sistêmico que já se inicia na graduação médica, em que os jovens – criados no ambiente digital
– tem mais dificuldade em resistir ao compartilhamento excessivo nas redes sociais. Ademais,
o ensino de bioética está restrito a uma pequena carga horária da grade dos estudantes, o que
pode culminar na defasagem da construção de profissionais íntegros e éticos. O Cremesp criou
um Código de Ética do Estudante de Medicina com regras que o aluno deve cumprir, como o
“respeito absoluto à vida humana” e vetos como “ter atitude preconceituosa em relação à
qualquer pessoa”, quiçá futuramente, quando este código de ética dos estudantes for mais
disseminado, haja maior respeito e mudança no cenário do sigilo médico no Brasil.

CONCLUSÃO

Com esse estudo, pode-se concluir que são algumas as causas da exposição de pacientes e
quebra do sigilo médico, sendo atualmente a internet uma das principais, visto que cada vez
mais o digital e o real se entrelaçam, já que as mídias sociais passaram a ser um meio
indispensável na comunicação. Certos profissionais utilizam das plataformas online para
divulgar e promover seu trabalho e assim conseguir mais pacientes, nesse caso ofertando o
serviço como uma mercadoria, enquanto outros, como residentes e médicos recém-formados
divulgam informações pessoais dos pacientes por falta de conhecimento do Código de Ética
Médica (CEM). Contudo, algumas vezes o CEM é violado e o sigilo quebrado com

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

consentimento do paciente, as informações sobre ele se tornam públicas com autorização, mas
ainda assim a ação é antiética. À vista disso, é de extrema importância a discussão acerca do
tema para que ele não seja negligenciado e cada vez menos ocorram casos de exposição de
pacientes, para assim evitar o constrangimento dos envolvidos. Vale ressaltar que é dever legal
do médico a manutenção do sigilo com seu paciente, e que a relação entre eles seja de completa
confiança. Quando as informações a respeito do paciente são mantidas confidenciais, o
atendimento se torna de maior qualidade, sem mencionar que o paciente se tornaria mais adepto
a aderir o tratamento proposto pelo profissional. “O segredo é o principal esteio de Ética
Médica. Vamos mantê-lo o mais e o melhor que nos seja permitido” – Prof. Flamínio Fávero,
outubro de 1959.

REFERÊNCIA

https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/medicos-responsaveis-por-quebra-de-
sigilo-e-comentarios-sobre-estado-de-saude-de-marisa-leticia-sao-demitidos/

https://epoca.oglobo.globo.com/saude/noticia/2017/02/o-caso-marisa-leticia-e-so-ponta-do-
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https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/11/26/vazamento-de-senhas-do-
ministerio-da-saude-expoe-informacoes-de-pessoas-que-fizeram-testes-de-covid-19-diz-
jornal.ghtml

https://jus.com.br/artigos/55669/sigilo-profissional-medico

https://residenciapediatrica.com.br/detalhes/194/o-juramento-de-hipocrates-e-o-codigo-de

https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,vazamento-de-senha-do-ministerio-da-saude-
expoe-dados-de-16-milhoes-de-pacientes-de-covid,70003528583

https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2020/08/4868935-video--hospital-onde-menina-
passara-por-aborto-vira-palco-de-confusao.html

https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Imprensa&acao=crm_midia&id=794

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

https://www.crmmg.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Publicidade-medica-O-que-pode-e-
nao-pode-nas-redes-sociais.pdf

https://www.meuconsultorio.com/blog/entenda-a-importancia-do-sigilo-medico-na-relacao-
com-o-paciente/

Livro “Bioética Clínica” Cícero de Andrade Urban

CITAÇÕES

Código de ética médica.

Hipócrates: “Aquilo que no serviço ou fora do serviço da profissão e no convívio da sociedade,


eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto”.

Professor Flamínio Fávero: “O segredo é o principal esteio de Ética Médica. Vamos mantê-lo
o mais e o melhor que nos seja permitido”.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 47

Principais alterações fisiológicas no sistema


cardiovascular causadas pelo diabetes mellitus

Gabriel Louredo Costa Rodrigues, Alan Queiroz de Sene, Bruno Aurélio Vieira
Castro, João Pedro Lopes Martire, Luanna de Moraes Attard, Marco Aurélio
Pereira da Silva, Maria Eduarda Fantacholi Voigt e Thayssa Soares de Souza

RESUMO: As complicações patológicas do diabetes mellitus podem se relacionar


com hiperglicemia, hiperinsulinemia e dislipidemia e, baseado nisso, este estudo
busca abordar os principais acometimentos destas sobre o sistema cardiovascular. A
hiperglicemia é responsável por promover acúmulo de produtos finais de glicação
avançada, além de aumentar a produção de espécies reativas de oxigênio,
comprometendo o funcionamento tanto do coração, estimulando a atuação
exacerbada de fibroblastos, quanto dos vasos sanguíneos, por meio da lesão do
endotélio, facilitando a deposição de lipídios e, consequentemente, a formação de
placas de ateroma. A hiperinsulinemia consegue desregular vias pró-inflamatórias,
bem como causar a disfunção de transportadores de glicose dos cardiomiócitos, ao
mesmo tempo que atua como um forte predecessor de aterosclerose em razão de
aumentar a atividade de coagulação no sangue. Já o excesso de colesterol e
triglicerídeos no plasma sanguíneo promovido pela dislipidemia, acarreta na
diminuição do fluxo sanguíneo coronário, levando à perda de função contrátil do
ventrículo esquerdo, além de modificar a composição da camada bilipídica das células
e alterar negativamente o metabolismo intracelular. Apesar de possuírem
mecanismos diferentes, as três induzem alterações fisiológicas, sendo que a principal
delas é a indução desregulada e exacerbada das respostas inflamatórias, as quais se
somam e desencadeiam doenças cardiovasculares, como cardiomiopatia diabética,
aterosclerose, neuropatia cardíaca autonômica, fibrose cardíaca, entre outras. Com
relação ao tratamento, o uso de inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 vem
sinalizando como a melhor opção de tratamento farmacêutico para casos que
envolvam complicações cardiovasculares associadas a diabetes, uma vez que atua de
forma efetiva sobre as duas patologias sem que haja eventuais efeitos adversos. Para
essa revisão foram utilizadas publicações científicas encontradas nas bases de dados
PubMed, SciELO e Google Acadêmico.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A prevalência do diabetes mellitus (DM), sobretudo do tipo 2 em conjunto com a
obesidade, cresce em números alarmantes, mundialmente, em virtude do estilo de vida
associado ao baixo gasto energético e ao alto consumo calórico (PETRIE; GUZIK; TOUYZ,
2018). De 34.5 milhões de mortes não-comunicáveis em 2010, 1.3 milhões foram atribuídas ao
diabetes e a mortalidade dessa doença dobrou entre os anos de 1990 e 2010 (LAAKSO;
KUUSISTO, 2014), provando o aumento progressivo e problemático do diabetes ao longo dos
anos (RITCHIE; ABEL, 2020). Estudos confirmam que a perspectiva para 2045 é que 693
milhões de adultos possuam DM no mundo, colaborando, assim, para o aumento de 2,5 vezes
o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares (RITCHIE; ABEL, 2020). Nesse
sentido, as doenças cardíacas provenientes do diabetes são um risco crescente e importante para
a saúde pública, visto que possuem um índice de mortalidade de 65% (LEE; KIM, 2017), sendo
que em diabéticos do sexo feminino o risco é maior quando comparado ao sexo masculino
(RUSSO; FRANGOGIANNIS, 2015).
Estudos revelaram alterações micro e macrovasculares, como hipertrofia do coração
diabético, sendo consequência da deposição de triglicerídeos no miocárdio e de um aumento da
deposição de colágeno e fibrose, danificando a microcirculação (LEHRKE; MARX, 2017).
Essas alterações colaboram para a existência de problemas cardiovasculares, como a neuropatia
autonômica cardíaca (NAC), a cardiomiopatia diabética (CMD), que pode levar à insuficiência
cardíaca (LEE; KIM, 2017), bem como a aterosclerose (LOW WANG; et al, 2016). Essas
patologias ocorrem, em virtude de distúrbios ocasionados pelo diabetes, a exemplo da
resistência à insulina, a hiperglicemia, incluindo também doenças associadas à dislipidemia, às
inflamações crônicas e à hipertensão arterial. (GAJOS, 2018; HAAS; MCDONNELL, 2018;
WALLNER; et al, 2018).
Dado o exposto, compreende-se que o diabetes é uma doença crônica que pode causar
complicações cardiovasculares graves aos indivíduos, além de se configurar como uma
problemática crescente no mundo. Devido ao interesse pelo tema, o presente estudo busca
auxiliar a prática de clínica médica voltada para complicações do sistema cardiovascular
decorrentes do DM. Logo, o objetivo geral é apresentar as alterações fisiológicas do sistema
cardiovascular decorrentes do diabetes mellitus e o objetivo específico é compreender as ações
e consequências da hiperglicemia, da hiperinsulinemia e da dislipidemia no sistema
cardiovascular em indivíduos diabéticos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

METODOLOGIA
Para a elaboração desse estudo foi realizado um levantamento bibliográfico os quais
correlacionaram o diabetes mellitus e as principais alterações fisiológicas que este desencadeia
sobre o sistema cardiovascular. Com esta finalidade, foram utilizadas as bases de dados
Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed) e
Google Acadêmico. Os descritores em Ciência da Saúde utilizados no processo de busca foram
“Cardiopatias”; “Diabetes Mellitus”; “Insuficiência Cardíaca” e seus respectivos
correspondentes em inglês. Como resultado foi obtido um grande número de artigos e, desse
modo, a fim de se obter um melhor direcionamento para a temática desejada, foram utilizados
alguns filtros durante a busca. Inicialmente, utilizou-se uma janela temporal de 8 anos entre os
anos de 2014 a 2021, com o objetivo de elaborar um artigo atualizado, sendo que foram
escolhidas literaturas apenas em inglês e em português. Posteriormente, foi realizada uma
leitura crítica dos resumos e das conclusões dos artigos obtidos com o propósito de identificar
a correspondência de seus conteúdos com o objetivo da pesquisa. Por fim, foram identificados
e utilizados 32 trabalhos científicos os quais contemplaram todas as exigências atribuídas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à doença, o DM se caracteriza por um estado crônico de hiperglicemia e
pode ser diagnosticado por um elevado nível de hemoglobina glicada. Existem dois principais
subtipos de DM: o tipo 1 (DM1) e o tipo 2 (DM2). O primeiro se refere à uma destruição
autoimune das células beta-pancreáticas, enquanto o segundo está associado com a resistência
à insulina (LAAKSO; KUUSISTO, 2014). Os diabéticos tipo 2 que possuem hipertensão têm
um maior risco de morte decorrente de doenças cardiovasculares. Esse risco aumentado advém
do efeito sinérgico de anomalias nos vasos sanguíneos, retirando a sua capacidade
compensatória de proteção contra danos nos leitos vasculares (STRAIN; PALDÁNIUS, 2018).
Nesse sentido, as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no diabetes e
decorrem de problemas em grandes e pequenos vasos sanguíneos (PETRIE; GUZIK; TOUYZ,
2018).
Os mecanismos fisiológicos pelos quais o diabetes pode agir provocando tais doenças
é, principalmente, através da hiperglicemia, da resistência à insulina e dislipidemia, além da
NAC e da aterosclerose acelerada (QUINAGLIA; et al, 2019) que também podem ser
decorrentes do diabetes, levando à remodelagem vascular (PETRIE; GUZIK; TOUYZ, 2018).
Um exemplo dessas doenças cardiovasculares é a aterosclerose, a qual é influenciada por

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

diversos fatores sendo um deles a hiperglicemia, que promove o aumento do estresse oxidativo,
da glicoxidação e da inflamação sistêmica. Esses fatores atuam danificando as células
endoteliais e, por conseguinte, causam a inflamação da camada íntima das artérias coronárias,
resultando na deposição de lipídios e lipoproteínas oxidadas na parede dos vasos, o que induz
uma resposta imune dirigida por macrófagos e linfócitos T, provocando a formação de placas
de ateroma prejudicando o fluxo sanguíneo. (HAAS; MCDONNELL, 2018).
Além da aterosclerose, em um estudo observacional, feito com 20.985 indivíduos com
DM1, foi indicado que o aumento de 1% na hemoglobina glicada (HbA1c), provocada pela
hiperglicemia, influencia diretamente no aumento de 30% no risco de insuficiência cardíaca
(HAAS; MCDONNELL, 2018; WALLNER; et al, 2018). Nesse contexto, há o surgimento de
lesão celular e aumento na produção de espécies de O2 reativo, o que compromete a
disponibilidade de óxido nítrico (NO), assim como a produção de monofosfato de guanosina
cíclico intracelular e quinase G intracelular, as quais prejudicam a distensibilidade miocárdica
mediada por hiperfosforilação da proteína sarcomérica titina. Além disso, a hiperglicemia
favorece a formação de tecido fibrótico e afeta a autofagia seletiva das células, ocasionando
problemas arteriais e cerebrovasculares (QUINAGLIA; et al, 2019).
A DM também afeta o funcionamento do coração a partir da regulação positiva de
citocinas pró-inflamatórias que afetam células endoteliais, cardiomiócitos, fibroblastos e
células musculares lisas, além de promover o acúmulo de produtos de glicação avançada
(AGEs) (TAN; et al, 2020; WALLNER; et al, 2018), os quais induzem a inflamação e a retirada
de NO na microcirculação miocárdica, além de estimular a produção de O2 reativo.
Consequentemente, encontramos disfunção sistólica e diastólica, causada por redução da
perfusão da microcirculação, rarefação dos capilares, reticulação do tecido conjuntivo, fibrose
e apoptose celular (HAAS; MCDONNELL, 2018; QUINAGLIA; et al, 2019; WALLNER; et
al, 2018).
Outros fatores que agravam as cardiomiopatias são os metabólitos da glicose, pois a sua
interação com diversas proteínas prejudica o processo de fosforilação. Como exemplos,
encontramos a acetilglucosamina, a qual modifica proteínas quinase II dependentes de cálcio,
calmodulina, fosfolambam, miofilamentos e proteínas mitocondriais. Consequentemente, pode-
se observar o prejuízo nas ações de contração e relaxamento do miocárdio (QUINAGLIA; et
al, 2019).
Pacientes portadores de DM1 que sofreram infarto do miocárdio apresentam mecanismo
auto imune desencadeado por anticorpos anti miosina e pela exposição à troponina plasmática
cardíaca relacionada à falência cardíaca (QUINAGLIA; et al, 2019; WALLNER; et al, 2018).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Essa produção indesejada, também relacionada com a hiperglicemia, é responsável pela


produção exagerada de macrófagos pró-inflamatórios alterando a resposta imunológica
(HAAS; MCDONNELL, 2018). Ademais, estudos destacam o aumento nas concentrações de
leucócitos e na expressão do fator nuclear kappa-light-chain-enhancer das células B ativadas,
que se relacionam à desregulação da resposta inflamatória e podem alterar a sensibilidade da
insulina (LOW WANG; et al, 2016; PETRIE; GUZIK; TOUYZ, 2018).
Apesar de não haver um entendimento completo sobre NAC, muitos estudos apontam
uma relação com a hiperglicemia devido a formação de AGEs e radicais livres, que promovem
lesão neural. Na maioria dos casos, o nervo vago é o primeiro a ser afetado e seu dano pode
levar a perda do tônus parassimpático e no aumento compensatório do tônus simpático
(AGASHE; PETAK, 2018). Tais alterações favorecem o uso de ácidos graxos livres ao invés
da glicose no metabolismo energético, gerando um alto consumo de oxigênio do miocárdio e a
produção de espécies reativas de oxigênio que promovem a redução da eficácia da musculatura
cardíaca, tendo a fibrose como consequência secundária (HAAS; MCDONNELL, 2018).
Além da hiperglicemia, a resistência à insulina também pode ser encontrada em
pacientes diabéticos e é documentada na literatura como um forte preditor de aterosclerose (DI
PINO; DEFRONZO, 2019; LAAKSO; KUUSISTO, 2014), uma vez que, juntas, podem elevar
a atividade pró-coagulante mais facilmente devido às altas concentrações de antígeno inibidor
do ativador do plasminogênio-1, antígeno do fator de von Willebrand e fibrinogênio,
aumentando os processos pró-trombóticos (HAAS; MCDONNELL, 2018; LOW WANG; et al,
2016). Isso também ocorre devido a um prejuízo na via de sinalização da insulina, uma vez que
ela tem um papel fundamental na ativação do NO, o qual participa da homeostase da parede
dos vasos sanguíneos por meio da inibição da agregação plaquetária e adesão de leucócitos (DI
PINO; DEFRONZO, 2019; LUCERO; et al, 2015; ORMAZABAL; et al, 2018).
Em estados de resistência à insulina, a célula beta-pancreática aumenta a secreção de
insulina na tentativa de compensar esse defeito. Em níveis elevados, a insulina atua por meio
da via Mitogen Activated Protein Kinase (MAPK), que catalisa fatores de transcrição que
estimulam a desregulação das vias pró-inflamatórias as quais elevam os níveis de angiotensina
II. Por consequência, há uma elevação da pressão sanguínea, vasoconstrição e aumento da
contração cardíaca e outros fatores inflamatórios (DI PINO; DEFRONZO, 2019), por exemplo,
os macrófagos que liberam substâncias como tumor necrosis factor, o qual induz a hipertrofia
do cardiomiócito, desequilíbrio metabólico, disfunção contrátil e a aterosclerose (TAN; et al,
2020).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A insuficiência cardíaca também é um dos riscos cardiovasculares presente em


indivíduos com diabetes (BRAUNWALD, 2019; LOW WANG; et al, 2016). Tanto a
hiperglicemia quanto a resistência à insulina são responsáveis pela disfunção de transportadores
de glicose do miocárdio (como o GLUT4), causando um aumento dos níveis de ácidos graxos
e de sua oxidação (JIA; HILL; SOWERS, 2018; LEE; KIM, 2017; LOW WANG; et al, 2016).
Por consequência, devido à maior demanda por oxigênio na oxidação de ácidos graxos em
relação ao metabolismo de glicose, há uma isquemia cardíaca relativa resultando no acúmulo
de lactato e na diminuição da homeostase do cálcio (LOW WANG; et al, 2016). Ademais, altos
níveis de ácido graxo contribuem para o acúmulo de lipídios nos cardiomiócitos gerando uma
lipotoxicidade (QUINAGLIA; et al, 2019) e facilitando o processo de glicação, o qual sinaliza
uma reação inflamatória e propaga a apoptose, remodelação fibrótica e infiltração de células
imunológicas, provocando a rigidez dos cardiomiócitos e, consequentemente, uma disfunção
diastólica que pode gerar fibrilação atrial em pacientes com diabetes, contribuindo para o caso
de insuficiência cardíaca (BRAUNWALD, 2019; LEE; KIM, 2017; LEHRKE; MARX, 2017;
LOW WANG; et al, 2016).
Outra alteração fisiológica presente em pacientes diabéticos é a dislipidemia,
reconhecida como alteração nos níveis de lipídios na corrente sanguínea, sendo um dos
principais fatores de risco para o desenvolvimento e progressão de patologias cardiovasculares
(D’ADAMO; et al, 2015) com a probabilidade duas vezes maior de desenvolvê-las em
comparação com indivíduos com concentrações lipídicas típicas (YAO; DI; ZENG, 2020), além
de estar associada não apenas com o estilo de vida, mas também com desordens genéticas
(STEIN; FERRARI; SCOLARI, 2019). Frequentemente, a dislipidemia diabética precede a
DM2 por vários anos, sugerindo que um metabolismo lipídico anormal é um evento anterior ao
desenvolvimento de doenças cardiovasculares e DM2. Tal desordem metabólica pode ser
induzida pela resistência à insulina na DM2, sendo caracterizada pela tríade lipídica: elevados
níveis de triglicerídeos no plasma sanguíneo, baixa concentração de HDL, o aumento no
gradiente de LDL, além de uma excessiva lipidemia pós-prandial (ORMAZABAL; et al, 2018).
As partículas pequenas e densas de LDL, por exemplo, são encontradas em processos de
aterosclerose devido a sua fácil captação por receptores varredores. Os triglicerídeos, por outro
lado, se relacionam de forma mais indireta, pois são transportados por lipoproteínas que, em
quantidades excessivas, podem induzir processos inflamatórios levando à aterosclerose (WU;
PARHOFER, 2014).
A obesidade está intimamente associada ao desenvolvimento do DM2 e doenças
cardiovasculares, tendo a adiposidade visceral e epicardial como principais impulsionadores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

desse processo (ORMAZABAL; et al, 2018). Esse distúrbio também interfere na captação
cardíaca de ácidos graxos livres, que em excesso, também geram a lipotoxicidade a qual
apresentou uma relação com a infiltração de células imunológicas de tecidos-alvo em casos de
DM2 e dislipidemia. Essa interferência promove danos a órgãos e complicações
cardiovasculares, incluindo o desenvolvimento de cardiomiopatia metabólica (PETRIE;
GUZIK; TOUYZ, 2018).
A hipercolesterolemia, excesso de colesterol no plasma sanguíneo, diminui o fluxo
sanguíneo coronário e a densidade capilar, induz a apoptose das células do endotélio capilar e,
consequentemente, leva ao prejuízo da função contrátil do ventrículo esquerdo. É possível que
a hiperlipidemia tenha um impacto na mudança da camada bilipídica das células, na regulação
intracelular dos íons cálcio e nos padrões de isoforma da cadeia pesada de miosina, fazendo,
assim, com que o miocárdio seja mais sensitivo ao dano exógeno, tal como sobrecarga
hemodinâmica e isquemia miocárdica (YAO; DI; ZENG, 2020).
Além disso, a dislipidemia pode resultar em alterações na ultraestrutura do miocárdio
por intermédio de vários mecanismos que enfraquecem a ação dos impulsos elétricos e reduzem
a eficácia dos movimentos cardíacos (LEE; KIM, 2017; RUSSO; FRANGOGIANNIS, 2015).
Primeiramente, dietas ricas em gorduras e colesterol podem aumentar os níveis de ácidos graxos
e colesterol na corrente sanguínea, o que acarretará em estado de estresse oxidativo sistêmico e
pró-inflamatório (HAN; et al, 2018). Em segundo lugar, hipercolesterolemia perturba o sistema
imune e induz a produção de anticorpos para receptores acoplados à proteína G, o que leva a
um aumento da vulnerabilidade miocárdica e agrava o dano ao coração (YAO; DI; ZENG,
2020). Por fim, a ineficiência autofágica que resulta em apoptose e a lesão cardíaca, isso ocorre
por meio do decréscimo da expressão de marcadores de autofagia, porém com um aumento dos
marcadores e apoptose no coração (HSU; et al, 2015). No âmbito da microcirculação a
dislipidemia promove a geração de intermediários lipídicos, como o diácido-glicerol, que
reduzem a distensibilidade dos miócitos (QUINAGLIA; et al, 2019).
O tratamento a longo prazo do diabetes e de suas doenças cardiovasculares é um desafio,
devido às alterações fisiológicas e os possíveis riscos micro e macrovasculares (LOW WANG;
et al, 2016). O estilo de vida é um dos fatores que influencia no sistema cardiovascular,
sobretudo em indivíduos diabéticos, sendo fundamental o controle de peso, da glicemia e a
prática de exercícios físicos, para evitar possíveis problemas cardiovasculares. De forma geral,
a mudança comportamental deve ser pautada na diminuição da ingestão de gordura saturada e
de sódio e um aumento da ingestão de fibra alimentar, a fim de evitar a formação da placa
aterosclerótica, bem como na prática de atividade física regular, a qual é responsável por reduzir

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

a mortalidade cardiovascular em pacientes diabéticos e pré-diabéticos (LOW WANG; et al,


2016).
Ademais, estudos recentes comprovam os benefícios no tratamento de doenças
cardiovasculares, mediante o uso de inibidores de SGLT2, responsáveis por aumentar a
quantidade de sódio e glicose na urina, promovendo uma vasoconstrição arteriolar aferente com
reduções na hipertensão intraglomerular, permitindo, assim, uma preservação renal a longo
prazo. Esses inibidores também atuam em indivíduos com insuficiência cardíaca, reduzindo
seletivamente o fluido intersticial com poucas alterações do volume sanguíneo, ao contrário dos
diuréticos tradicionais que podem causar uma redução no volume intersticial e intravascular.
Desse modo, estudos recentes demonstraram que esses inibidores podem diminuir a pressão
arterial sistólica e diastólica, melhorar a pressão endotelial e, também, induzir a vasodilatação,
por meio da ativação dos canais de potássio dependentes de voltagem e da proteína G (PETRIE;
GUZIK; TOUYZ, 2018; STRAIN; PALDÁNIUS, 2018; VERMA; MCMURRAY, 2018)
Dessa maneira, os medicamentos dessa classe, os quais englobam a dapagliflozina (Forxiga®,
EMS, Brasil), canagliflozina (Invokana®,CMS Científica, Brasil) e empagliflozina
(Jardiance®, Eli Lilly and Company, Estados Unidos), são fármacos responsáveis por reduzir
a HbA 1c, sem induzir uma hipoglicemia, como também por reduzir a frequência arterial, o
estresse oxidativo e induzir a uma possível perda de peso (LOW WANG; et al, 2016),
compartilhando características de contraindicação referentes a não serem usados em pacientes
com diabetes mellitus tipo 1 e nos indivíduos que possuem insuficiência renal.

CONCLUSÃO
O DM, além de provocar alterações metabólicas, também está intimamente relacionado
ao desenvolvimento de alterações fisiológicas cardiovasculares, destacando-se a hiperglicemia,
a qual aumenta a taxa de trabalho cardíaco devido à diminuição da disponibilidade de oxigênio
nos vasos, provocando a distensibilidade miocárdica e um acúmulo de tecido fibroso; a
resistência à insulina, o que aumenta as taxas de insulina na corrente sanguínea, induzindo a
formação de coágulos e alterando os níveis de angiotensina II, o que desregula a função contrátil
do coração; e a dislipidemia, que provoca o aumento das taxas de LDL no sangue, facilitando
a formação de placas de gordura e consequentemente o desenvolvimento de aterosclerose,
isquemia cardíaca e sobrecarga hemodinâmica. Nesse sentido, apesar de não possuir uma cura,
o uso de inibidores de SGLT2 associados a um estilo de vida saudável tornam-se uma
alternativa de tratamento do DM, uma doença crônica que precisa de atenção e de maiores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

estudos para a compreensão dos seus mecanismos, uma vez que é cada vez mais frequente no
âmbito hospitalar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Página 512
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 48

EFEITOS DA MUSICOTERAPIA NO CONTROLE DA


ANSIEDADE DE PACIENTES FRENTE AO TRATAMENTO
ODONTOLÓGICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Lucas Andeilson dos Santos Matos, Leonardo Tomazin Gama, Mauro Wilker Cruz de
Azevedo, Wesley de Souza Pereira, Gustavo Emanuel Lima Vasconcelos Lemes,
Lucas Marques Pinheiro, Paulo Henrique Araujo de Paula, Natália D’avila Rodrigues
Pereira e Karllos Matheus Gonçalves de Campos

RESUMO: Introdução: A ansiedade associada ao ambiente odontológico é um estado


emocional comum e muito recorrente, podendo ser apresentada antes ou durante o
procedimento clínico. Portanto, a fim de superar esses desafios e controlar as
emoções negativas sentidas pelos pacientes no consultório odontológico, protocolos
clínicos tem sindo empregados, dentre eles, a utilização da musicoterapia como uma
prática integrativa e complementar, capaz de reduzir ansiedade e estresse. Objetivo:
Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo compreender os efeitos da
musicoterapia no controle da ansiedade de pacientes no consultório odontológico.
Metodologia: O levantamento bibliográfico ocorreu mediante acesso virtual às bases
de dados MEDLINE via PubMed, BVS, ScienceDirect e EMBASE, onde os resultados
obtidos foram avaliados utilizando a plataforma online Rayyan QCRI, possuindo
como critérios de inclusão artigos primários, que abordassem os efeitos da
musicoterapia para controle da ansiedade de pacientes no consultório odontológico,
publicados no período de 2015 a 2020, com texto na íntegra disponível
eletronicamente na base de dados, sem restrição de idioma. Resultados: Após
realização das buscas, identificaram-se um total de 118 publicações, das quais, após
aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados dez artigos.
Discussão: A música tocada em tom baixo e em andamento lento reduz a capacidade
de transição nervosa que normalmente regula as emoções que causam desconforto
e ansiedade. O paciente ansioso e aflito antes e durante o atendimento, pode ter um
forte impacto na clínica odontológica, levando ao aumento da sensação de dor ou
complicar o tratamento, como também, inibir ou atrasar uma recuperação ideal ou
aumentar a dor pós-operatória. A redução dos níveis de ansiedade por meio da
musicoterapia é alcançada devido ao seu efeito sobre as respostas nervosas
autônomas que regulam as funções corporais, assim, músicas em ritmos e melodias
lentas podem produzir relaxamento físico e emocional nos ouvintes, podendo até
mesmo influenciar a pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e frequência
cardíaca. Conclusão: A partir dos resultados encontrados, percebe-se que a
musicoterapia é um método não farmacológico barato, indolor e não adverso que
pode ser usado para aliviar a ansiedade causada por procedimentos odontológicos.
Contudo, existem muitos fatores individuais que afetam as respostas dos pacientes
à música, portanto são necessários mais estudos que explorem melhor a utilização
da musicoterapia no controle da ansiedade associada ao tratamento odontológico.

Página 513
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A ansiedade associada ao ambiente odontológico é um estado emocional comum e


muito recorrente, podendo ser apresentada antes ou durante o procedimento clínico, onde o
indivíduo demonstra sinais de apreensão, nervosismo, tensão ou preocupação. Essa condição
pode ter níveis diferentes em determinadas pessoas, em casos mais brandos, é caracterizado
pelo aumento dos batimentos cardíacos e sudorese, já em casos mais extremos, a visita ao
cirurgião-dentista pode ser tão estressante emocionalmente, a ponto de ser evitada
(GOETTEMS et al., 2014; ABREU et al., 2011).

Flores e Flores (2016), explanam que o medo é um estado emocional primário e


intenso, despertado pela detecção de uma ameaça iminente, envolvendo uma reação de alarme
imediata que mobiliza o organismo ao desencadear um conjunto de mudanças fisiológicas. O
medo, diferente da ansiedade é considerado uma resposta de curto prazo apropriada a uma
ameaça presente e claramente identificável, enquanto a ansiedade é uma resposta de longo
prazo, voltada para o futuro, focada em uma ameaça difusa.

O transtorno de ansiedade frente ao tratamento odontológico é uma psicopatologia


presente em muitos pacientes e atinge em média 10 a 15% da população brasileira, podendo
causar até mesmo prejuízos para o estado de saúde bucal, gerando dor e desconforto, isto se
dá, principalmente, pois o indivíduo tende a afastar-se de qualquer possível contato com
odontólogo, culminando no agravamento de condições pré-existentes, como a evolução de
uma gengivite para uma periodontite, ou desencadeando condições, como a cárie dentária
(CARVALHO et al., 2012).

Portanto, a fim de superar esses desafios e controlar as emoções negativas sentidas


pelos pacientes no consultório odontológico, protocolos clínicos farmacológicos, como o uso
de ansiolíticos e benzodiazepícos tem sindo empregados. Além disso, o uso de métodos não
farmacológicos também é uma alternativa viável, no controle das situações clínicas de
ansiedade e dentre estes, a utilização da música como uma prática integrativa e complementar.
No campo da saúde, as terapias complementares são compreendidas como uma série de
cuidados e práticas adjuvantes às técnicas tradicionais, a musicoterapia têm crescido seu
escopo de atuação na odontologia, sendo um recuso terapêutico com importantes efeitos
(LARNIA et al., 2021).

A musicoterapia é o campo da medicina que tem como princial objetivo, promover o


bem-estar físico, psicológico e social, podendo ser aplicada em todas as faixas etárias e no
tratamento de diferentes entidades patológicas, auxiliando e melhorando a resposta ao
tratamento de doenças. A música sempre esteve presente na vida da humanidade, em
diferentes ritmos e com instrumentos diversos, porém sempre despertando emoções. Um dos
primeiros relatos do uso da música como terapia foi em 1859, quando a enfermeira Florence
Nighgale observou que a utilização de instrumentos de sopro e corda foi capaz de promover
qualidade de vida ao paciente e amenizar a dor (GONÇALEZ; NOGUEIRA; PUGGINA,
2008).

Página 514
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Deste modo, quando associado à odontologia, a música torna-se uma psicoterapia


importante, reduzindo o estado de ansiedade e estresse, com intuito de promover não apenas o
relaxamento do indivíduo, como também, desenvolver uma interelação entre o cirurgião-
dentista e paciente, garatindo maior segurança e menos tensão durante o atendimento clínico.
Esta terapia pode ser aplicada em diferentes etapas do procedimento, sendo determinado pelo
profissional qual momento ideal para mediar a intervenção terapêutica (JUNQUEIRA, 2013).

Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo compreender os efeitos da


musicoterapia no controle da ansiedade de pacientes no consultório odontológico.

METODOLOGIA

O estudo trata-se de revisão integrativa da literatura, estruturada em seis etapas


distintas: 1) identificação da temática do estudo e elaboração da pergunta norteadora; 2) busca
bibliográfica e estabelecimento dos critérios para inclusão e exclusão; 3) definição das
informações a serem extraídas dos estudos selecionados e caracterização; 4) análise crítica
dos estudos incluídos; 5) interpretação e discussão dos resultados; 6) apresentação da
revisão/síntese do conhecimento (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

A questão norteadora da pesquisa foi desenvolvida com base na estratégia População,


Interesse e Contexto (PICo) (LOCKWOOD et al., 2017), para a qual se consideraram: P –
pacientes ansiosos; I – musicoterapia; Co – ansiedade odontológica. Assim, elaborou-se a
seguinte questão: “Quais efeitos da musicoterapia no controle da ansiedade de pacientes no
consultório odontológico?”.

O levantamento bibliográfico ocorreu em dezembro de 2021, mediante acesso virtual


às bases de dados Medical Literature Analysis and Retrival System Online (MEDLINE) via
PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), ScienceDirect e Excerpta Medica dataBASE
(EMBASE).

Para as buscas, utilizou-se os descritores controlados no idioma inglês, presentes no


Medical Subject Headings (MeSH) e palavras-chaves, mediante cruzamento entre os
descritores, associados ao operador booleano AND, apresentando a seguinte estratégia:
“music therapy” AND “dentistry” AND “anxiety” AND “dental care” AND “dental
treatment”. Com intuito de ampliar os resultados da pesquisa, os artigos científicos, em sua
totalidade, foram acessados por meio da Comunidade Acadêmica Federada (CAFe), via portal
de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

O rastreamento às bases de dados foi operacionalizado por dois pesquisadores


independentes, os quais determinaram a sequência de utilização dos descritores e cruzamentos
em cada base de dados e, posteriormente, correlacionaram os resultados obtidos utilizando a
plataforma online Rayyan Qatar Computing Research Institute (Rayyan QCRI), onde foi
realizada a exclusão de duplicatas e elegebilidade dos estudos, por meio da leitura de títulos e
resumos, com o cegamento dos pesquisadores, o que permite a confiabilidade para inclusão
das publicações, como também, rigor e precisão metodológica. Posteriormente, um terceiro

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

pesquisador avaliou e selecionou os estudos divergentes (OUZZANI et al., 2016).

Adotaram-se como critérios de inclusão: artigos primários, que abordassem os efeitos


da musicoterapia para controle da ansiedade de pacientes no consultório odontológico,
publicados no período de 2015 a 2020, com texto na íntegra disponível eletronicamente na
base de dados, sem restrição de idioma. Já os critérios de exclusão foram: artigos de revisão,
editoriais, teses, dissertações, monografias, resenhas, resumos publicados em anais de
eventos, artigos duplicados e que não que não possuíssem relação com a questão norteadora
estabelecida para o estudo.

Além disso, para o estabelecido o nível de evidência científica, considerou-se: nível 1


- meta-análise e estudo controlado e randomizado; nível 2 - estudo experimental; nível 3 -
estudo quase-experimental; nível 4 - estudo descritivo, não experimental ou qualitativo; nível
5 - relato de caso ou experiência; nível 6 - consensos e opiniões de especialistas (MELNYK;
FINEOUT-OVERHOLT, 2005).

O processo de seleção e elegibilidade dos artigos foi seguido conforme instruções do


Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (PAGE et
al., 2021), conforme descrito na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma da busca e seleção dos artigos encontrados nas bases de dados, de acordo com as
recomendações do PRISMA.

Identificação de novos estudos por meio de bancos de dados e registros

Estudos identificados em bases de dados: n = 116


Identificação

MEDLINE 10
Estudos duplicados excluídos: n
BVS 10
= 56
Science Direct 87
EMBASE 9

Estudos selecionados para leitura de Estudos excluídos: n = 13


títulos e resumos: n = 31
- Não responder a questão de pesquisa: n = 4
- Não ser a população de interesse: n = 3
Triagem

- Não ser estudo primário: n = 6

Estudos selecionados para leitura na Estudos excluídos: n = 8


íntegra e avaliação de elegibilidade: n =
18 - Não responder a questão de pesquisa: n = 3
- Não ser estudo primário: n = 5
Inclusão

Estudos incluídos na revisão: n = 10

Fonte: Page et al. (2021).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

RESULTADOS

Após buscas bibliográficas, identificaram-se um total de 118 publicações, das quais,


após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados dez artigos para
compor essa revisão, sendo distribuídos: quatro (40,00%) na MEDLINE/PubMed, três
(30,00%) na BVS, dois (20,00%) na ScienceDirect e um (10,00%) na EMBASE.
No que tange o desenho dos estudos, cinco (50,00%) eram ensaios clínicos
randomizados, dois (20,00%) estudos prospectivos, um (10,00%) estudo multicêntrico, um
(10,00%) estudo piloto e um (10,00%) estudo transversal, publicados entre 2015 a 2020, com
maior concentração de estudos no ano de 2015 (30,00%).
A tabela 1 apresenta as dez publicações selecionadas de acordo com o autor principal,
ano de publicação, revista ou periódico da publicação, objetivo e desfecho dos estudos.

Tabela 1. Síntese dos estudos encontrados nas bases de dados.


AUTOR
REVISTA/
PRINCIPAL/ OBJETIVO DESFECHO
PERÍODICO
ANO
Estudar a resposta do paciente à
música durante a cirurgia oral
A música pode ser útil para fazer os
British dental menor, medida
GUPTA, 2020 pacientes se sentirem mais à vontade
journal quantitativamente e por meio do
durante o tratamento odontológico.
registro de parâmetros
fisiológicos.
Este estudo descobriu que a música
clássica ocidental, iniciada no
Journal of Oral Determinar o gênero musical período pré-operatório e continuada
KUPELI, and que reduz melhor a ansiedade até o final da operação, reduziu
2020 Maxillofacial em pacientes cujos terceiros significativamente a ansiedade
Surgery molares foram extraídos. associada à extração do terceiro
molar em pacientes com idade entre
18 e 30 anos.
Pode-se concluir que a música é uma
Avaliar o impacto da música na alternativa não farmacológica que
TSHISWAKA RGO-Revista
Gaúcha de ansiedade de crianças durante o reduz os níveis de ansiedade em
, 2020
Odontologia atendimento odontológico. crianças durante o tratamento
odontológico.
A musicoterapia realizada antes da
Investigar os efeitos da cirurgia periodontal foi considerada
KOCAMAN, Konuralp musicoterapia nos sinais vitais e um sedativo não farmacológico e
2019 Medical Journal na ansiedade odontológica antes ansiolítico de baixo custo, indolor,
da cirurgia periodontal. não adverso nos sinais vitais e na
abertura da boca

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A música parece ser uma forma


Avaliar o efeito da
Journal of psicológica e espiritual de se acalmar.
musicoterapia nos níveis de
PACKYANA family medicine Portanto, a musicoterapia pode ser
ansiedade odontológica de
THAN, 2019 and primary usada como um agente ansiolítico
pacientes submetidos a
care para procedimentos odontológicos
extrações.
estressantes.
A ansiedade dentária não é prevalente
na amostra e não é reduzida de forma
Determinar o efeito da distração
Internacional benéfica pela distração musical. As
ROJAS- musical na ansiedade
Journal ações educativas do programa de
ALCAYAGA, odontológica e na adesão ao
OdontoStomatol assistência odontológica não são
2018 tratamento em crianças de 6
ogy suficientes para alcançar mudanças
anos de idade.
permanentes e de longo prazo no
comportamento em saúde bucal.
Testar as influências da música, Música e medicina sempre trabalham
como um adjuvante não juntas; os efeitos calmantes dos sons
farmacológico, em termos de e das frequências musicais tornam
alterações significativas para a essa união uma ferramenta
DINASSO, Journal of
pressão arterial sistólica (PAS), extraordinária de cuidado sinérgico,
2016 endodontics
pressão arterial diastólica (PAD) assim a musicoterapia é um adjuvante
e frequência cardíaca (FC) não farmacológico válido para a
antes, durante e após a percepção da ansiedade em terapias
endodontia. endodônticas
Ouvir música ou fornecer isolamento
acústico durante as intervenções
odontológicas pediátricas não alterou
significativamente o nível de
Investigar os efeitos de ouvir sedação, a quantidade da medicação e
música ou fornecer isolamento as variáveis hemodinâmicas. Esse
Journal of
OZKALAYCI acústico sobre a profundidade resultado pode ser devido aos níveis
clinical
, 2016 da sedação e a necessidade de de sedação profunda atingidos
anesthesia
sedativos em pacientes durante os procedimentos. No
odontológicos pediátricos. entanto, ouvir música e fornecer
isolamento acústico podem ter
contribuído para encurtar o tempo de
recuperação pós-operatória dos
pacientes.
MEJÍA- Complementary Determinar o efeito da A musicoterapia tem um efeito
RUBALCAV therapies in musicoterapia em pacientes que positivo no controle da ansiedade
A, 2015 clinical practice sofrem de ansiedade odontológica.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

odontológica. Além disso,


determinar a correlação entre o
cortisol salivar e outros
parâmetros fisiológicos.
Examinar o efeito da música na
International Ouvir uma música antes do
ansiedade pré-tratamento em
THOMA, journal of tratamento de higiene dental diminui
uma amostra de pacientes
2015 behavioral os níveis de ansiedade em maior
saudáveis à espera de um
medicine extensão do que esperar em silêncio.
tratamento odontológico
Fonte: Autores. Brasil, 2021.

DISCUSSÃO

O som e a música têm sido objetos de estudos pertinentes, devido seus efeitos no
humor e nas funções vitais. A musicoterapia é uma intervenção eficaz, não invasiva e
econômica, seus efeitos podem diminuir a ansiedade, contribuindo para o resultado positivo
de intervenções. A música tocada em tom baixo e em andamento lento reduz a capacidade de
transição nervosa que normalmente regula as emoções que causam desconforto e ansiedade.
Na literatura foi percebido que ouvir música diminui a ansiedade e estresse associados à
intervenção em pacientes hospitalares e ambientes clínicos (KOCAMAN; BENLI, 2019).
O paciente ansioso e aflito antes e durante o atendimento, pode ter um forte impacto
na clínica odontológica, bem como, todos os fatores que são desencadeados a partir deste
estado de emoção repercutem diretamente na saúde. A ansiedade leva à ativação de vários
sistemas de estresse, como o eixo hipotálamo-hipófise adrenal ou o sistema nervoso
simpático, que por sua vez, controlam o sistema imunológico. Altos níveis de ansiedade antes
do atendimento, juntamente com a resposta ao estresse sentido pelo paciente, podem levar ao
aumento da sensação de dor ou complicar o tratamento, como também, inibir ou atrasar uma
recuperação ideal ou aumentar a dor pós-operatória. Tais sintomas são manifestações da
secreção de hormônios do estresse, como cortisol, denominado como o hormônio do estresse,
que é liberado em resposta ao grande estado de ansiedade em longo prazo, e as catecolaminas,
que são hormônios do estresse liberados durante a ansiedade de curto prazo
(PACKYANATHAN; LAKSHMANAN; JAYASHRI, 2019).
A redução dos níveis de ansiedade por meio da musicoterapia é alcançada por meio do
seu efeito sobre as respostas nervosas autônomas que regulam as funções corporais, pois, de
acordo com muitos músicos e musicólogos, 432 Hz é a frequência mais próxima das

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

frequências humanas naturais, assim, músicas em ritmos e melodias lentas podem produzir
relaxamento físico e emocional nos ouvintes, podendo até mesmo influenciar a pressão
arterial sistólica, pressão arterial diastólica e frequência cardíaca. Além disso, durante o
tratamento odontológico, os pacientes são continuamente expostos a estímulos auditivos,
como os sons de instrumentos metálicos e ruídos dos motores de alta rotação, que podem ser
amenizados com a intervenção da música durante o atendimento (DINASSO et al., 2016).
No estudo de clínico randomizado de Mejía-Rubalcava et al. (2015), com 34 pacientes
ansiosos que compareceram ao consultório odontológico, obsevou-se que a musicoterapia
contribuiu para diminuição dos níveis de cortisol. Para isso, o material de análise do estudo
foi a saliva, que pode rapidamente apresentar alterações nos níveis de cortisol plasmático e
salivar em momentos de estresse e ansiedade. Desta forma, este biomarcador permitiu
investigar que houve diminuições significativas nas concentrações de cortisol salivar no grupo
experimental após a aplicação da musicoterapia antes do tratamento odontológico.
Somando-se ainda, a literatura menciona que a terapia com a música pode auxiliar no
aumento da abertura da boca, já que esta limitação também pode ser uma resposta dos
músculos da mastigação ao estresse e ansiedade. A visualização do campo de trabalho do
cirurgião-dentista é muito importante, assim, quando o paciente possui uma abertura bucal
reduzida, pode dificultar a realização de muitos procedimentos em regiões posteriores. Com
isso, após aplicação da musicoterapia foi encontrada uma diferença estatisticamente maior na
média de abertura bucal (KOCAMAN; BENLI, 2019).
Portanto, os resultados apresentados nesta revisão integrativa apresentam
contribuições importantes para a prática clínica, sobre o uso da musicoterapia no controle da
ansiedade em ambiente odontológico, destacando suas principais vantagens e benefícios.
Ademais, desperta em cirurgiões-dentistas, estudantes de odontologia e outros profissionais
da saúde, o interesse em desenvolver mais pesquisas sobre o potencial terapêutico da música e
suas possíveis aplicações clínicas.
As principais limitações encontradas no estudo foram em relação ao idioma das
publicações selecionadas, onde, apesar de ser realizada uma busca ampla e minuciosa, a
maioria dos estudos incluídos pertence ao idioma inglês, este fato se deve ao uso de
descritores apenas nesta língua, de forma que, artigos indexados nas bases utilizadas e que
não estejam no referido idioma, possam não ter sido encontrados na busca. Todavia, é
necessário ressaltar que o inglês é o idioma padrão e mais utilizado no meio científico, desta
forma, os periódicos, objetivando uma maior divulgação, tendem a disponibilizar seus artigos,
em sua grande maioria, nesse idioma.

Página 520
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CONCLUSÃO

Em suma, percebe-se que a musicoterapia é um método não farmacológico barato,


indolor e não adverso que pode ser usado para aliviar a ansiedade causada por procedimentos
odontológicos, podendo proporcionar ao paciente diminuição do estado de ansiedade, sem os
possíveis efeitos negativos causados pelo manejo farmacológico.

Contudo, existem muitos fatores individuais que afetam as respostas dos pacientes à
música, dentre eles: idade, sexo, função cognitiva, gravidade da ansiedade, trauma
psicológico devido atendimentos odontológicos anteriores, familiaridade e preferência com a
música, bem como, relações pessoais com a cultura e a música.

Não obstante, alguns estudos sofrem de deficiências metodológicas, como a falta de


randomização, tamanhos de amostra muito pequenos, tratamento diferentes entre grupo
controle e experimental. Portanto, são necessárias mais pesquisas que explorem melhor a
utilização da musicoterapia no controle da ansiedade associada ao tratamento odontológico.

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Página 522
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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during dental treatment. RGO-Revista Gaúcha de Odontologia, v. 68, 2020.

Página 523
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 49

Entre a fé e a ciência: a religiosidade como


ferramenta de de atenção integral à saúde

Marilia Botelho Soares Dutra Fernandes, Gabriele Silva Caroli; Giovana


Marini Jordão, Hélem Machado de Almeida, Giovana de Souza Lobo e
Thaynara Batista de Paula Soares

RESUMO: O artigo investiga o papel da espiritualidade dentro do


conceito de atenção integral à saúde, focando principalmente em
pacientes crônicos, pacientes com doenças mentais e aqueles em
tratamento paliativo por doenças terminais. O conceito de
espiritualidade é desdobrado para a compreensão do termo como algo
além da tradicional concepção de religiosidade e fé, considerando
também outras práticas espiritualistas que trazem conforto e bem
estar às pessoas. Desde a perspectiva da promoção da saúde, a
espiritualidade desempenha uma função importante dentro das
práticas de humanização, tratando o ser humano como um ser holístico
e subjetivo que transcende a lógica do modelo biomédico.

Página 524
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Entre os sintomas físicos que levam um paciente a buscar ajuda médica, a dor é,
frequentemente, um dos mais relatados. Seja uma dor aguda ou crônica, este tipo de
padecimento pode causar, além de outras manifestações indesejadas, uma importante redução
na qualidade de vida do indivíduo (Nickel e Raspe, 2001; Phillips, 2003).

A definição dada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) em 1979
traz o conceito de dor como uma experiência desagradável, sensitiva e emocional, associada
com lesão real ou potencial dos tecidos, podendo ir desde um leve incômodo até uma
sensação de intensa agonia. Essa definição é amplamente aceita pela OMS e outras
organizações de profissionais da saúde.

A definição de dor foi atualizada ao longo dos anos desde a definição de 1979, isso
porque diversas mudanças ocorreram na compreensão do conceito. Atualmente, leva-se em
conta questões que envolvem a concepção pessoal de cada indivíduo, ou seja, cada um encara
a dor de uma maneira própria e os limiares suportáveis são distintos. Essa percepção envolve
diferentes fenômenos para além das atividades dos neurônios sensoriais nociceptores, levando
em consideração também as experiências de vida e as relações que cada pessoa desenvolve
com a dor, sendo ela aguda ou crônica.

A dor crônica é definida como toda aquela que possuí duração superior a seis meses,
persistente ou intermitente (Breen, 2002). No Brasil, estima-se que cerca de 50 milhões de
pessoas padeçam de algum tipo de dor (Silva et al., 2004). Esse tipo de padecimento é o
principal motivo de procura por assistência de saúde, sendo considerado hoje um grave
problema de saúde pública que requer uma atenção integral.

Um aspecto da integralidade que vem ganhando enfoque diz respeito à espiritualidade,


prática que se mostra como uma interessante aliada para a assistência aos que padecem de
algum tipo de mal. A discussão sobre a influência da espiritualidade na saúde humana não é
algo recente e, cada vez mais as escolas de formação de profissionais de saúde têm dado
atenção a esse tema, trazendo à tona discussões fundamentais que transcendem a lógica
biomédica.

Página 525
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Para a definição mais clara do termo espiritualidade, citamos um artigo publicado em


1996 pelo neurocirurgião pediátrico Todd Maugans em que ele define o termo espiritualidade:

“[...] como um sistema de crenças que enfoca elementos intangíveis, que transmite vitalidade e significado a
eventos da vida.” p 11 (MAUGANS)

Há um consenso sociológico sobre a importância da espiritualidade na dimensão do


ser humano. Desde os primórdios, o humano buscou explicar a própria vivência através de
figuras divinas. Antes da existência das religiões, o homem via a própria natureza como algo
divino, havendo desde então a existência da espiritualidade na vida humana.

É inerente ao homem buscar encontrar significados e dar explicações aos fenômenos e


ciclos da vida. No passado, aquilo que não podia ser compreendido, era inserido na categoria
de sobrenatural e divino, sendo assim, podemos dizer que a demanda dos seres humanos pela
significação da própria vivência se confunde com a história da humanidade.

A transcendência da existência humana torna-se a essência da vida à medida que esta


aproxima-se do seu fim, sendo a morte um ato sublime e inexplicável da condição humana.

METODOLOGIA
A metodologia do artigo configura-se como uma abordagem qualitativa, uma vez que
o tema abordado não pode ser quantificado em dados estatísticos e equações matemáticas já
que o tema enfoca-se em aspectos subjetivos dos fenômenos sociais da espiritualidade e sua
influência na conduta humana.
Para o presente trabalho foram coletadas informações bibliográficas sobre papel da
religiosidade na integralidade da atenção à saúde e sobre como essa interação pode contribuir
para o tratamento dos enfermos.

Buscamos estender a discussão do artigo apresentando o relato de um caso de uma


estudante que vivenciou a experiência de lidar com um familiar que, em fase terminal, buscou
na própria fé alento para lidar com a situação e confortar a si mesma e a família.

DISCUSSÃO
Foi durante a primeira Conferência Internacional Sobre Promoção da Saúde, realizada
em Ottawa, em 1986, que se iniciou a reorientação dos serviços de saúde, principalmente
através da formação dos profissionais da área para que estes busquem mudanças no modelo

Página 526
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

biomédico de atenção, focalizando as necessidades globais dos indivíduos e considerando


cada ser em sua totalidade.
As mudanças propostas pela Carta de Ottawa enfocavam-se na promoção da saúde e
um dos conceitos destacados para atingir os objetivos propostos pelos participantes da
conferência era o da atenção integral aos indivíduos. Com a criação do SUS em 1986, a
integralidade foi instituída como um dos três princípios doutrinários do Sistema, juntamente
com a universalidade e a equidade.

A integralidade na atenção à saúde busca garantir às pessoas o acesso a todos os níveis


de complexidade dos atos de promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde; além de
proporcionar a defesa dos indivíduos e da comunidade.

As práticas de acolhimento, cuidado e humanização são a base da integralidade e


buscam oferecer acesso universal aos serviços de saúde, proporcionando atenção de qualidade
e focando, principalmente, na resolutividade dos problemas apresentados.

Quando se fala em integralidade na saúde, fala-se também sobre oferecer acesso a


diversas práticas curativas que transcendam a lógica biomédica e busquem enfoque holístico e
totalizante das pessoas.

Pode-se afirmar, ainda, que a integralidade é uma ferramenta que nos permite entender
a magnitude do processo saúde-doença e visualizar como sua amplitude extrapola o campo
biológico. (SOUZA, 2012) Nesse sentido, faz-se necessário a formação de equipes
multiprofissionais, compostas por fisioterapeutas, naturopatas, assistentes sociais e outros
profissionais que contribuam para os cuidados de promoção da saúde e bem estar.

Ao estender a dimensão da noção de integralidade na saúde, nos deparamos com o


conceito da espiritualidade como um fator que contribui para a saúde e a qualidade de vida de
muitas pessoas. Esse conceito é encontrado em todas as culturas e sociedades. É expressa
como uma busca individual mediante a participação de grupos religiosos que possuem algo
em comum, como fé em Deus, naturalismo, humanismo, família e arte (PUCHALSKI, 1999).

A importância da espiritualidade é evidenciada fortemente quando tratamos pacientes


que estão no estágio final da vida. Quando não há mais intervenções terapêuticas que possam
curar a pessoa, a assistência paliativa se faz necessária, não só para o paciente, como também
para a família para que ambos possam viver essa fase com a maior qualidade possível.

Página 527
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O cuidado paliativo é a modalidade de assistência que abrange as dimensões do ser


humano além das dimensões física e emocional como prioridades dos cuidados oferecidos,
reconhecendo a espiritualidade como fonte de grande bem-estar e de qualidade de vida ao se
aproximar a morte (Wachholtz e Keefe, 2006). O acolhimento dos pacientes que passam por
estes momentos delicados e únicos da experiência humana é um dos principais pilares dos
tratamentos paliativos. Nesse contexto, a espiritualidade pode servir como uma importante
ferramenta que proporcione conforto emocional aos que sofrem, levando aos envolvidos –
pacientes, familiares e equipe de cuidado à profundas reflexões e questionamentos sobre o
quão efêmera pode ser a vida.

Indo além na discussão sobre a utilidade da espiritualidade como ferramenta para


prover conforto aos pacientes terminais, estendemos essa função para o tratamento dos
distúrbios mentais. A saúde mental é um componente essencial para a integridade da saúde
geral, sendo a doença mental uma das condições mais incapacitantes da atualidade. Há um
notável aumento das publicações que relacionam saúde e religiosidade/espiritualidade com a
busca por bem estar psíquico; a literatura mostra que muitos indivíduos buscam impulso na
religião para lidar com suas crises e enfrentamentos. (GOBATTO; ARAUJO, 2013).

A busca pela religiosidade pode influenciar psiquicamente as pessoas na manutenção


da saúde mental, isso porque essas práticas podem auxiliar os indivíduos a lidar com
problemas comuns da atualidade como a depressão, ansiedade, frustrações, prevenção ao
suicídio, desânimo e, atualmente, o isolamento social, fruto da pandemia do COVID-19.

Existem milhares de histórias de pessoas que vivenciaram a importância da


espiritualidade como ferramenta de sustentação da saúde mental de indivíduos em situações,
adversas, sejam elas ligadas à saúde mental ou ao enfrentamento de doenças terminais.
Visando ilustrar este fato, selecionamos um relato pessoal que demonstra de forma clara a
importância e o impacto da espiritualidade na atenção à saúde.

Minha avó sentia fortes dores no estômago e assim foi por alguns anos. Inúmeros
médicos realizaram uma infinidade de exames e nunca chegava-se a um
diagnóstico. Um ano antes da descoberta da doença as dores se intensificaram. Foi
um oncologista que lhe apresentou temido diagnóstico: ela estava com um tumor no
estômago. Durante a cirurgia de retirada do tumor, o médico descobriu que estava
em metástase. Não havia o que fazer, ela se deteriorando aos poucos, mas uma
única coisa durante todo esse processo a manteve firme, convicta de que a qualquer

Página 528
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

momento ela teria uma evolução: a fé! Minha avó sempre foi uma mulher de fé.
Bondosa e doce, abdicava de si mesmo para doar-se às pessoas. Os médicos sempre
foram muito solícitos e transmitiam a mensagem da melhor maneira possível; isso
influenciou positivamente a nossa família que passava por essa situação delicada.
Em seus últimos momentos de vida ela foi internada, pois sentia muitas dores. O
médico sabia que aquela seria a ultima noite dela e avisou à família para nos
despedirmos; tudo isso feito de maneira sublime, sempre muito empático. A fé da
minha avó e a maneira a qual os médicos conduziram o caso, sempre com zelo e
empatia, foi essencial para passarmos por esse processo doloroso nos mantendo
firmes e unidos. (Gabriele; estudante de medicina)

RESULTADOS
O relato feito pela estudante, selecionado como forma de reafirmação da importância
da fé para lidar com situações que fogem do controle humano, demonstra que,
especificamente, quando o indivíduo utiliza a religião ou a fé como estratégia de manejo de
situações de conflito, as consequências são, geralmente, positivas. Ainda que, como no caso
mencionado, a fé que a avó mantinha não lhe trouxe a cura, pois sua condição de saúde era
extremamente grave.
Por fim, é preciso pontuar a questão da religiosidade para além das religiões em si,
pois espiritualidade e religião, ainda que tenham uma íntima relação, não são termos
sinônimos. Práticas espiritualistas como a meditação, yoga, reiki, entoação de mantras ou o
simples contato com a natureza, podem trazer o mesmo impacto positivo que a fé religiosa.

Portanto, o que se observa é que práticas como integrativas como meditação, cantos e
orações, são práticas que ajudam estabilizar o humor, reduzir a tensão, ansiedade, medo,
sentimento de inferioridade e desalento (HENNING-GERONASSO; MORE, 2015)

Seja qual for a religião, do catolicismo ao candomblé, do judaísmo ao budismo, existe


consenso entre os que creem e praticam a sua fé que a crença tem o poder de estimular
energias que atuam em polos positivos tão intensos na melhoria da qualidade de vida dos
indivíduos que podem ser comparados a verdadeiros “milagres” (SAAD, 2001). Esses
milagres se manifestam não somente como “cura”, senão também como melhorias dos
aspectos psicológicos e mentais de pacientes que enfrentam os mais variados tipos de
doenças.

CONCLUSÃO

Página 529
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A espiritualidade pode proporcionar à pessoa maior aceitação e adaptação a situações


difíceis de vida, gerando tranquilidade, autoconfiança e uma imagem positiva de si mesmo.
As práticas espirituais, sejam relacionadas à religiões ou não, encorajam a busca por
um estilo de vida sadio, fomentando assim, a promoção, proteção e prevenção de saúde.
É muito importante para a melhora na qualidade de vida de pacientes que sofrem de
dores, doenças mentais, ou em cuidados paliativos integrar aspectos da espiritualidade, fé e
religiosidade na abordagem do atendimento integral. Futuras pesquisas na área são
necessárias para se definir o exato papel da religiosidade e/ou espiritualidade na prevalência,
impacto e tratamento dos pacientes, bem como na melhoria das condições de saúde coletiva.

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Página 530
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 50

LIGA ACADÊMICA DE SAÚDE COLETIVA NO


PROCESSO DE FORMAÇÃO DE ESTUDANTES: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
José Humberto Alves, Joyce Aparecida Souza Abél, Ingrid Fidelix de Souza,
João Mário Pires da Costa, Lara do Nascimento Olímpio, Thalya de Cássia
Martini Bettini, Thaísa Carneiro Silva Gutierrez, Karen Alves Rodrigues, Júlio
César do Carmo Ferreira, Felipe Ferreira Dias e Taíssa Cássia de Souza
Furtado

RESUMO: As Ligas Acadêmicas são consideradas atividades extracurriculares que


visam promover o conhecimento teórico e prático de um determinado assunto.
Sabendo disso, a Liga Acadêmica de Saúde Coletiva (LASC) é uma ação de extensão
comunitária que tem como finalidade construir e disseminar conhecimentos sobre
Saúde Coletiva, visando às transformações individuais e coletivas, como mudanças
de atitudes, comportamentos e valores para a ampliação do exercício da cidadania e
do acesso à saúde integral, que ocorrem mediante formação consciente e
responsável de profissionais para uma abordagem integrada do sujeito e de seu
contexto. Desse modo, este estudo teve como objetivo, analisar, a vivência de
discentes em uma Liga Acadêmica de Saúde Coletiva. Trata-se de um estudo
descritivo, qualitativo do tipo relato de experiência, realizado a partir da vivência de
discentes dos cursos de Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição,
Psicologia, Odontologia e Terapia Ocupacional em uma liga acadêmica de saúde
coletiva multiprofissional, realizado no mês de novembro de 2021.A análise dos
materiais revela a evidência do desenvolvimento de competências e habilidades
adquiridos ao longo das atividades propostas na liga, o que colaborou na formação
dos estudantes, em relação às experiências e conhecimentos adquiridos, as
transformações pessoais que se destacaram foram, amadurecimento,
desenvolvimento de habilidades em comunicação oral e responsabilidade para
executar as atividades propostas na liga. Constatou-se que, a oportunidade de
participar de uma liga acadêmica permite aos envolvidos o protagonismo na
construção do seu processo de formação, além da valorização dos conhecimentos
sobre a saúde coletiva. Desse modo, colocar os discentes como foco central se mostra
eficaz na aderência durante sua permanência na liga, o que colabora para seu
desempenho acadêmico-profissional, através de aulas específicas, desenvolvimentos
de estudos, pesquisas e, ações extensionistas para a comunidade, em conjunto com
estudantes de outros cursos, reconhecendo seu espaço, as diferentes perspectivas
sobre a área da saúde coletiva e atuação dos profissionais.

Página 531
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

As Ligas Acadêmicas são consideradas atividades extracurriculares que visam


promover o conhecimento teórico e prático de um determinado assunto (CAVALCANTE et al.,
2021). Sabendo disso, a Liga Acadêmica de Saúde Coletiva (LASC) é uma ação de extensão
comunitária cuja finalidade é construir e disseminar conhecimentos sobre Saúde Coletiva,
visando às transformações individuais e coletivas, como mudanças de atitudes,
comportamentos e valores para a ampliação do exercício da cidadania e do acesso à saúde
integral, que ocorrem mediante formação consciente e responsável de profissionais para uma
abordagem integrada do sujeito e de seu contexto (MACHADO, PINHEIRO, GUIZARDI,
2004; LIMA et al., 2020). Dentro dessa perspectiva multiprofissional, a LASC baseia-se na
organização e promoção de atividades que possibilitem o desenvolvimento do pensamento
sobre as temáticas da Saúde Coletiva, utilizando principalmente metodologias ativas, tais como:
rodas de conversa, aprendizagem entre pares e seminários (ASSUNÇÃO, 2021). Os temas das
atividades apresentam relação com a saúde pública, saúde da comunidade, além de emergirem
situações específicas conforme o contexto, ou contribuições, dos ligantes. Ainda, é importante
destacar a intenção de promoção das atividades propostas pela liga fora dos muros
universitários, indo em locais específicos quando convidada e na disponibilidade de
participação dos membros ligantes as instituições de promoção e prevenção da saúde. Assim, a
contribuição dos acadêmicos de diversos cursos da área da saúde na da liga se pautou na
intervenção de atividades em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), o que
justifica a importância de estudantes e profissionais da área para realizar um trabalho
multidisciplinar com um propósito em comum, a melhora da qualidade de vida e o vínculo
institucional não apenas para esse público, mas para outras populações. Desse modo, este estudo
teve como objetivo, analisar, a vivência de discentes em uma Liga Acadêmica de Saúde
Coletiva.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo do tipo relato de experiência, realizado a


partir da vivência de discentes dos cursos de Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia,
Nutrição, Psicologia, Odontologia e Terapia Ocupacional em uma liga acadêmica de saúde
coletiva multiprofissional, realizado no mês de novembro de 2021. Os dados aqui descritos
emergiram de relatos, cadernos de campo, observações, das fontes de materiais, estudos e

Página 532
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

discussões realizados entre os membros do grupo através de aulas, cursos de aperfeiçoamento


e palestras da instituição de ensino superior (IES) onde eram desenvolvidas as atividades de
ensino, pesquisa e extensão. Desse modo, para a análise dos dados e desenvolvimento deste
relato de experiência foi planejado e desenvolvido um levantamento de todas as ações e
atividades da liga, em um primeiro momento foi construída uma tabela no software Excel®,
para melhor estruturação e delimitação das atividades desenvolvidas na liga. Essa tabela
continha nomes dos integrantes, curso, período, data de início na liga, qual categoria de
atividade que o aluno desenvolvia na coordenação. Após o levantamento e identificação dos
membros, foi necessária uma listagem através de todas as atas e documentos da liga, registros
comprobatórios do grupo de quais atividades foram desenvolvidas desde a criação da mesma.
Na terceira e última etapa foi utilizada uma segunda tabela, listando todos os eventos
desenvolvidos, como simpósios, cursos de aperfeiçoamento e um ciclo de palestras.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos materiais revela a evidência do desenvolvimento de competências e


habilidades, adquiridos ao longo das atividades propostas na LASC, o que colaborou na
formação dos estudantes, em relação às experiências e conhecimentos adquiridos, as
transformações pessoais que se destacaram foram, amadurecimento, desenvolvimento de
habilidades em comunicação oral e responsabilidade para executar as atividades propostas na
liga. As ações de ensino se pautavam em encontros semanais, às quartas-feiras, onde foram
proporcionados espaços para diálogos e fortalecimento de vínculo coletivo, desenvolvendo as
capacidades de comunicação. Existe o reconhecimento da importância da liga na forma como
ela colaborou para evolução das habilidades dos membros, em relação ao que tange o tripé de
uma instituição de ensino superior, quando, conseguiram apresentar trabalhos em eventos
científicos no pilar da pesquisa, se sentindo mais desinibidos e melhoraram sua forma de escrita
e interpretação de artigos, conseguindo realizar uma análise mais crítica de estudos e artigos
disponíveis em periódicos. Mas não só isso, como o grupo conseguiu unir o ensino e a pesquisa
para elaborarem projetos de extensão para a comunidade foi bastante evidenciado, em especial
um levantamento de protocolos de propostas de atividades para realizar com idosos durante
uma aula com profissional convidado, que gerou artigos de revisões da literatura, publicados
na íntegra em periódicos e anais de eventos e, posteriormente, o anseio de criar uma ação no
pilar de extensão para idosos em uma ILPI. Atualmente, a LASC conta com acadêmicos de
diversos cursos da graduação, ao qual possibilita o contato com profissionais de outras áreas e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

instituições de ensino superior. Além disso, foi possível realizar dois simpósios e um minicurso
de aperfeiçoamento, ao qual alcançou mais de 600 estudantes de todo o Brasil, e, com isso,
ganhando espaço e notoriedade no meio acadêmico, principalmente na instituição ao qual é
vinculada. O processo para aquisição de um novo corpo de discentes na qualidade de ligante
acontece, anualmente, por um processo seletivo composto e analisado diante dos seguintes
itens: participação no simpósio, prova objetiva com questões relacionadas ao evento e perguntas
abertas para conhecer melhor os candidatos, contendo, nome, período, curso, motivação para
participar da liga e entrevista. A prova é desenvolvida através de perguntas elaboradas pelos
convidados, onde passa pelo crivo da coordenação docente e discente, por itens
preestabelecidos no edital que buscam o conhecimento básico da saúde coletiva, incentivando
a produção dissertativo-argumentativa crítica como elemento presente, extraindo informações
principalmente sobre a disponibilidade, o interesse e de que forma o candidato pode contribuir
diante das perspectivas vivenciadas em seu curso de graduação. Os encontros da LASC
acontecem em assembleia para os estudos, na Universidade Federal do Triângulo Mineiro -
UFTM, uma vez por semana, às quartas-feiras no horário fixo de 18 às 19 (h). A organização
da mesma, é de responsabilidade dos ligantes e divididos em dez grandes coordenações:
presidente, vice-presidente, coordenador geral, coordenador de ensino, pesquisa, extensão,
coordenador de assuntos estudantis e comunitários, comunicação e marketing.

CONCLUSÃO

Constatou-se que, a oportunidade de participar de uma liga acadêmica permite aos


envolvidos o protagonismo na construção do seu processo de formação, além da valorização
dos conhecimentos sobre diversas temáticas relacionadas a saúde coletiva. Desse modo, colocar
os discentes como foco central se mostra eficaz na aderência durante sua permanência na liga,
o que colabora para seu desempenho acadêmico-profissional, através de aulas específicas,
desenvolvimentos de estudos, pesquisas e, ações extensionistas para a comunidade, em
conjunto com estudantes de outros cursos, reconhecendo seu espaço, as diferentes perspectivas
sobre a área da saúde coletiva e atuação dos profissionais. Com isso, é notório a relevância da
liga no âmbito complementar na formação de discentes dos cursos de Educação Física,
Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Odontologia e Terapia Ocupacional, ademais,
ela contribui socialmente ao realizar atividades de extensão que visam a melhoria da qualidade
de vida da população. Nesta perspectiva, ainda é necessário a discussão de assuntos que
envolvam a saúde coletiva, principalmente em relação à atuação do estudante e os profissionais

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

da área da saúde, para que, mais espaços como as ligas acadêmicas cresçam com uma boa base
de fontes de informação e inspiração, tendo em vistas que as instituições de ensino superior
pensem na possibilidade de adicionar eletivas sobre saúde coletiva em sua grade curricular, para
maior profundidade e abrangência sobre o assunto. Dessa forma, a LASC cumpre a missão de
promover uma formação crítica e socialmente responsável aos discentes da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro, ampliando a compreensão da saúde coletiva como campo de
conhecimentos e práticas essenciais para a atuação acadêmica e profissional, que em breve
ocuparão espaços de transformação, visando a importância do trabalho multidisciplinar nos
diferentes contextos e populações, para uma sociedade mais justa e solidária.

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Página 535
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 51

CONDUTAS DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO


CONTROLE DE INFECÇÕES RELACIONADAS À
ASSISTÊNCIA EM SAÚDE

Evelin de Oliveira Pantoja, Ana Paula Ferreira David, Bruna Eduarda Brito Gonçalves,
Bruna Larissa Gama de Oliveira, Bruna Renata Silva de Almeida, Inara Raissa
Monteiro Cardeal, Jaqueline Alves Ferreira, Joana Wanderley Corrêa, Karina de Jesus
Cruz do Carmo, Laiz Caldas dos Santos, Letícia Neves Amaral de Oliveira, Suziane
Costa Alexandrino, Thiago Augusto ferreira dos Anjos, Wendy Jamile da Silva do
Nascimento e Maria Girlane Sousa Albuquerque Brandão

RESUMO: Introdução: As infecções hospitalares, são um dos problemas de saúde


mais recorrentes no meio hospitalar, onde as mesmas ocasionam sérios problemas e
interferências na assistência de enfermagem, além de aumentar os gastos públicos e
tempo de internação. Objetivo: Analisar por meio de evidências científicas, condutas
de profissionais de saúde no controle de infecções relacionadas à saúde.
Metodologia: Estudo de natureza qualitativa e descritiva, realizado a partir de revisão
integrativa da literatura na Scielo, Portal de Periódicos da CAPES e na Biblioteca
Virtual da Saúde, onde estão organizados as bases de dados da BDENF, LILACS e
MEDLINE. Considerou-se elegíveis textos completos, publicados em português e
inglês, entre os anos de 2016 a 2021. Utilizaram-se os Descritores em Ciências da
Saúde:“Infeção hospitalar”; “Controle de infeção”; “Cuidados de enfermagem”;
“Infecção hospitalar” e “Assistência de enfermagem”; “Sistematização da Assistência
de Enfermagem” e “Infecção Hospitalar”, com utilização do operador booleano AND
e OR. Resultados e discussão: Foram contabilizados 170 artigos e escolhidos 11
documentos científicos. Identificou-se que as estratégias de segurança e educação
em saúde, higienização das mãos e uso de técnicas assépticas, foram pilares
essenciais no combate aos contágios hospitalares, como também, terapia adequada
dos antimicrobianos, treinos e capacitações foram alicerces de prevenção a mesma.
Ademais, os protocolos de segurança e a atuação de Enfermagem conciliados com a
biossegurança transparecem uma reorganização, fiscalização e uma inspeção de
suma importância na segurança do paciente. Conclusão: A enfermagem tem papel
fundamental frente às contaminações hospitalares, tendo em vista que a atuação e
sistematização dos profissionais de enfermagem são fatores que levam a prevenção
e entendimento das infecções hospitalares, bem como, auxiliam nas etapas de
cuidados aos pacientes.Destaca-se então, que os protocolos, medidas de segurança,
higiene e fiscalização, são tópicos importantes na prevenção e no controle de
infecções relacionadas à saúde.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

As infecções são causadas por microorganismos, como as bactérias, que ao entrar em


contato com o organismo de uma pessoa, são necessários cuidados e tratamentos, para que o
quadro clínico não sofra agravos (BATISTA et al., 2017). Existem diversos fatores que
colaboram para as Infecções Relacionadas à Assistência em Saúde (IRAS), que podem ser
adquiridos durante a permanência no hospital ou após a alta. As IRAS se configuram como uma
das principais causas de complicações, sendo esta uma problemática dentro dos serviços de
saúde, pois corresponde a um número significativo de taxas de morbimortalidade entre os
pacientes (LEAL; VILELA, 2021).
As IRAS encontram-se com maior incidência no âmbito hospitalar, e ocasionam graves
riscos para o paciente e profissional. Dessa maneira, as cirurgias, acessos venosos e outros
dispositivos invasivos são as principais portas de entrada para esses microorganismos. Destaca-
se que as IRAS podem ser evitadas com a Higienização das Mãos (HM) correta antes e após o
toque no paciente (SILVA et al., 2021), visto que, além das bactérias adquirirem resistência, há
falhas em etapas básicas do cuidado e segurança do paciente, como a HM (OLIVEIRA et al.,
2016).
Diante disso, é preciso seguir com os protocolos de segurança ao paciente, para
promover reduções significativas no número de morbimortalidade por IRAS, e
consequentemente, minimizar os custos empregados durante o período de internação
(BELELA-ANACLETO; PETERLINI; PEDREIRA, 2017).
Mediante a isso, a equipe multidisciplinar trabalha em conjunto para colocar em prática
a Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), que proporciona medidas com foco
em estratégias de prevenção, promoção, boas práticas na assistência do profissional, assim
como, capacitação dos profissionais, para que consigam identificar fatores que possam provocar
a multiplicação de infecções (CAVALCANTE et al., 2019).
Destarte, é válido salientar a importância da atuação da enfermagem no controle e
prevenção de IRAS, devido o enfermeiro ter maior contato com o paciente durante a sua
assistência. Sendo assim, a enfermagem deve ter conhecimento técnico-científico para evitar a
propagação de infecção, compreendendo os mecanismos de transmissão e elaborar medidas
eficientes para manter a segurança do paciente, os quais são: uso de Equipamento de Proteção
Individual (EPI), higienização das mãos, antissepsia e assepsia. Além disso, o enfermeiro faz
orientações socioeducativas para o paciente ter conhecimento sobre as IRAS e suas estratégias
de prevenção (SILVA; ANDREANI, 2020).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Assim, a pesquisa poderá mostrar quais as condutas que devem ser realizadas
rotineiramente por esses profissionais, visto que se encontram em assistência direta e em
período integral aos pacientes, contribuindo com a prática baseada em evidências.
Este estudo tem o objetivo de analisar por meio de evidências científicas, condutas de
profissionais de saúde no controle de infecções relacionadas à saúde.

METODOLOGIA

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura, a qual caracteriza-se como um


método que agrupa e sintetiza os resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão,
de maneira sistemática e ordenada, o que contribui para o aprofundamento e elaboração de uma
nova abordagem do tema em estudo. O trabalho tem uma abordagem qualitativa que consiste
na caracterização dos fenômenos ou relações entre grupos, em que expressa a qualidade e
características do mesmo, na qual o presente método não pode ser quantificado (SOUZA et al.,
2018).
Para nortear a condução desta revisão integrativa utilizou-se a seguinte pesquisa: “o que
as bases de dados afirmam no período de 2016 a 2021, acerca das condutas de profissionais de
enfermagem no controle de infecções relacionadas à assistência em saúde”?
Os critérios de inclusão foram: artigos publicados no período de 2016 a 2021, completos
e na íntegra, nos idiomas inglês e português. Os critérios de exclusão foram TCC, dissertações,
ou publicações duplicadas.
Para selecionar os artigos pertinentes à temática de investigação, foram realizadas as
buscas nas bases de dados da Biblioteca Virtual da saúde (BVS), onde estão indexada a Base
de Dados de Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS) e Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), no
portal de periódicos da CAPES e Biblioteca Eletrônica Científica Online (SciELO).
Foram utilizados descritores controlados para montar as estratégias de buscas para
aplicação nas bases de dados, os quais foram extraídos do Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS): infecção hospitalar, controle de infecção, cuidados de enfermagem, Infecção hospitalar
e Assistência de enfermagem, Sistematização da Assistência de enfermagem e Infecção
hospitalar. As estratégias de buscas definitivas foram planejadas e aplicadas nas bases de dados
elegidas, com auxílio dos operadores booleanos “AND” e “OR”.
Primariamente, após a identificação dos artigos de acordo com descritores em ciências
da saúde, realizou-se a exclusão de duplicatas e de artigos que não se enquadravam na questão

Página 538
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

norteadora. Em seguida, prosseguiu-se com a análise da temática e tipo de estudo, por meio da
leitura dos títulos e resumos dos artigos. Em seguida, avaliou-se a elegibilidade dos artigos por
meio da leitura completa na íntegra. A amostragem final foi constituída de 11 artigos, que
correspondem ao objetivo do trabalho e respondiam a questão de pesquisa supracitada.
Os principais achados relacionados aos artigos incluídos na amostra foram analisados
e sintetizados, com posterior organização em quadros, para facilitar a compreensão e disposição
dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca nas bases de dados resultou em 170 artigos científicos e utilizaram-se 11
artigos que melhor se enquadravam no objeto de estudo do trabalho. No quadro 1, apresenta-
se a síntese das publicações selecionadas no estudo acerca da conduta dos profissionais de
enfermagem no controle de IRAS.
Quadro 1 – Distribuição dos artigos por autor, ano, título, a conduta dos profissionais de enfermagem no controle
de infecções relacionadas à assistência de enfermagem. Ananindeua, PA, 2021.

Nº AUTORES - TÍTULO CONTROLE DE INFECÇÕES


ANO RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM.
Leal; Vilela Custo das infecções Atuar na identificação microbiológica do agente
A1 (2021) relacionadas à assistência em causador da doença para garantir o controle da
saúde em uma Unidade de disseminação das bactérias causadoras de
Terapia Intensiva. infecções, avaliar a efetividade das ações de
saúde pública, a capacidade e a qualidade dos
laboratórios de microbiologia para a segurança
dos serviços. Além de atuar na educação
continuada para a formação de uma equipe mais
qualificada para a prestação de serviços.
Silva; Infecções relacionadas à Aplicar programas educativos para os
A2 Andreani assistência à saúde: profissionais e pacientes voltados à prevenção das
(2020) conhecimento, atitude e infecções, abordando sobre adoção de práticas
prática da equipe. seguras de cuidado.
Alvim; Couto; Perfil epidemiológico das Buscar as notificações de IRAS para a aplicação
A3 Gazzinelli infecções relacionadas à dos programas de prevenção e controle de
(2019) assistência à saúde causadas infecção para segurança dos profissionais e do
por Enterobactérias paciente.
produtoras de Carbapenemase.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A4 Cavalcante et Implementação dos núcleos de Direcionar medidas de promoção e prevenção,


al., (2019) segurança do paciente e as implantar e divulgar o Plano de Segurança do
infecções relacionadas à Paciente que visa também a capacitação dos
assistência à saúde. profissionais frente ao controle de infecção.
A5 Belela- Higienização das mãos como Explicar a importância de aderir às boas práticas
Anacleto; prática do cuidar: reflexão de higienização, por meio de treinamentos da
Peterline; acerca da responsabilidade equipe para o controle de infecção e prevenção de
Pedreira profissional. complicações.
(2017)
Gomes; O programa de controle de Aplicar programas de infecção hospitalar, com
A6 Moraes (2017) infecção relacionada à criação de estratégias de educação voltadas para
assistência à saúde em meio os profissionais de saúde e pacientes, para que
ambiente hospitalar e o dever estes possam adotar medidas de prevenção para o
de fiscalização da agência controle de infecção no ambiente hospitalar.
nacional de vigilância
sanitária.
Motta et al., Prevenção da infecção de sítio Capacitação da instituição, uso de epi, assepsia,
A7 (2017) cirúrgico em hospital higienização das mãos, profissional paramentado,
universitário: avaliação por supervisão para ver se os profissionais estão
indicadores. fazendo a paramentação adequada.
Oliveira; Políticas de controle e Orientar sobre as diversas ações que devem ser
A8 Silva; Lacerda prevenção de infecções realizadas, dando ênfase na higiene das mãos,
(2016) relacionadas à assistência à limpeza do ambiente e esterilização de
saúde no Brasil: análise instrumentos. Além de contribuir para a formação
conceitual. do conhecimento dos profissionais sobre as
constantes mudanças, com foco na prestação de
um serviço de qualidade para o controle de
infecção no ambiente hospitalar, por meio de
instruções, manuais, normas e diretrizes.
A9 Faria; Fatores de risco no uso de Ressaltar a importância da adesão de medidas de
antimicrobianos em uma
Pessalacia; prevenção por meio da educação continuada, com
instituição hospitalar: reflexões
Silva (2016) Bioéticas. treinamento para o controle de infecção e orientar
sobre uso racional dos antimicrobianos para
diminuição da resistência dos agentes.
A10 Loureiro et O uso de antibióticos e as Criar um mapa microbiológico das residências e
al., (2016) resistências bacterianas: disseminar informações para os pacientes sobre a
breves notas sobre a sua importância do uso adequado de antibióticos de
evolução. acordo com a patologia. Pois a promoção da
comunicação e do fluxo de informação visa
melhorias no combate de infecções.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A11 Alencar; Percepção de profissionais de Implementar medidas de prevenção para a equipe


enfermagem sobre infecção
Araújo, de enfermagem, como lavagens das mãos,
Hospitalar.
Alencar utilização de máscaras e luvas para a realização
(2016) dos serviços. O enfermeiro é o responsável pela
detecção e controle de infecção.

Fonte: Autores, 2021.

Diante dos achados nos estudos A1, A2, A4, A5, A6, A7 e A8, o fator mais evidenciado
foi a respeito de estratégias de educação em saúde no meio hospitalar. A capacitação e
treinamentos contínuos são medidas que possibilitam uma prática mais segura, na qual os
hospitais devem propiciar, no intuito de divulgar de forma mais ampla as práticas de cuidado
que subsidiam o controle para aumentar a segurança do paciente no momento que é assistido,
estabelecendo assim, a importância da educação continuada nesse meio (OLIVEIRA; SILVA;
LACERDA, 2016).
Outra abordagem que teve relevância nas pesquisas A1, A2, A4, A5, A6, A7, A8 e A11
foi o comportamento dos profissionais de saúde frente às atitudes de prevenção. Vale ressaltar
que há diversas formas de combater as IRAS, entre elas estão: conhecimento, capacitação,
responsabilidade, infraestrutura e outros. Além disso, destaca-se também que o hospital é um
ambiente contaminado, e portanto, a equipe de enfermagem precisa deter o conhecimento a
respeito do manuseio de materiais, técnicas de esterilização, desinfecção, assepsia e outras
técnicas e procedimentos que minimizam a disseminação de IRAS (SILVA; ANDREANI,
2020).
Infere-se que atualmente os conhecimentos sobre temáticas diversas na área da saúde
apresentam maior disseminação nos meios virtuais, e assim, os profissionais de saúde também
podem de forma proativa buscar novos conhecimentos que possam subsidiar a Prática Baseadas
em Evidências, por meio de artigos científicos confiáveis, tecnologias leve-duras validadas por
especialistas e documentos de órgãos oficiais de saúde.
No que tange as condutas do profissionais de enfermagem, evidenciou nos artigos A5,
A8, A7 e A11, o destaque para a execução adequada da HM antes e depois do contato com o
paciente, que é uma das medidas mais eficientes para conter a transmissão cruzada de
microrganismos. A implementação dessa medida ocorre por meio de treinamentos que
enfatizem a essencialidade da aplicação da prática apropriada durante a atenção à saúde. A
responsabilidade do enfermeiro na correta lavagem das mãos constitui-se como atividade de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

precaução importante para evitar potenciais eventos adversos (BELELA-ANACLETO;


PETERLINE; PEDREIRA, 2017).
Isso reporta a necessidade de frisar continuamente sobre essa e outras medidas de
proteção, podendo inclusive, associar as capacitações com folhetos educativos, álbuns seriados,
vídeos educativos e outras tecnologias leve-duras validadas por especialistas, que favorecem a
retenção dos conhecimentos adquiridos.
Nos artigos A7 e A11 infere-se que o enfermeiro tem como atribuição o uso de EPI,
como luvas e máscaras para atuação nas ações e serviços de saúde. Essa atividade visa fornecer
segurança para realização de procedimentos, contemplando o paciente, o profissional e o
cuidado contra a propagação de microorganismos. Durante a assistência, essa conduta prestada
pelo profissional de enfermagem, contribui para os níveis de prevenção e controle de infecções
(ALENCAR; ARAÚJO, ALENCAR, 2016). Vale ressaltar a necessidade de gerenciamento dos
insumos por parte da gestão de saúde, como forma de garantir EPI de qualidade para atuação
da enfermagem.
Nos estudos A2, A3, A4, A6 e A8 ressalta-se a importância da fiscalização pelo CCIH,
mas também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que realiza
fiscalizações pelo país inteiro, na qual os profissionais devem seguir as recomendações e
protocolos estabelecidos pela ANVISA, estar aptos, habilitados e com o conhecimento
atualizado sobre os protocolos e sistemas operacionais que atuam no ambiente hospitalar, para
assim, efetivar a segurança ao paciente e diminuir possíveis infecções hospitalares. Nesse
contexto, a biossegurança se faz presente junto com normas sanitárias e inspeções capazes de
detectar qualquer risco à saúde do paciente (GOMES; MORAES, 2018).
Nos artigos A6, A9 e A10 é possível evidenciar que o uso inadequado de
antimicrobianos resulta em resistência bacteriana, o que dificulta no tratamento das infecções,
pois esses pacientes se tornam resistentes aos medicamentos, não havendo assim, a melhora do
quadro clínico. Dessa forma, a falta de práticas que orientem esse paciente do uso de
antimicrobianos fora do ambiente hospitalar, resultam na falha da continuidade do seu
tratamento, fazendo com que o mesmo volte mais vezes ao hospital, aumentando os riscos de
infecção (LOUREIRO et al., 2016). Esse achado reforça a relevância de capacitar e prover
educação em saúde não só aos profissionais de saúde, mas também aos pacientes, familiares e
cuidadores.
Os artigos supracitados corroboram que o fornecimento de informações e
conscientização do paciente, quanto a qualificação dos profissionais de enfermagem, constitui-
se como forma de combate a resistência a infecções. Destaca-se que o enfermeiro tem um papel

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

importante como educador, sendo fundamental no controle de infecções desde sua atividade
assistencial, de vigilância e de produção dos indicadores, até a gestão, supervisão e verificação
se as normas exigidas estão sendo seguidas corretamente, assistindo o paciente em todas as suas
complexidades reduzindo significativamente o tempo de internação e danos (LAMBLET;
PADOVEZE, 2018).
Apesar de o estudo apresentar limitações, como a restrição de bases de dados brasileiras,
o que pode ter excluídos estudos relevantes, o mesmo apresenta um compilado de condutas que
podem ser efetuadas para contribuir com a redução da incidência de IRAS e coadjuvar a Prática
Baseada em Evidências.

CONCLUSÃO
Mediante o exposto, a assistência de enfermagem é fundamental para que haja
prevenção e controle das IRAS, visto que o enfermeiro é o profissional que está presente desde
a admissão do paciente até a alta hospitalar, sendo uma via de transmissão, caso não haja
atuação correta na sua assistência. Logo, a conduta dos profissionais de enfermagem é essencial
para que ocorra o manejo correto com medidas preventivas e o devido cumprimento dos
protocolos, fazendo o controle de infecções, com foco na garantia da segurança do paciente.
Medidas simples de HM, a utilização correta dos EPI´s e esterilização de instrumentos,
são estratégias para controle das IRAS. Em vista disso, é necessário que ocorra treinamentos
para que durante o cuidado de enfermagem ocorra prática segura e de qualidade.
Constata-se que é primordial que durante a conduta o enfermeiro tenha conhecimento
sobre as IRAS, utilizando-se de práticas baseadas em evidências para evitar e conter ameaças
no ambiente hospitalar reduzindo o tempo de internação e as ocorrências de infecções. Além
de seu papel como educador em saúde orientando os clientes, os familiares e até mesmo a equipe
multiprofissional sobre condutas de prevenção e controle das IRAS, tornando-se comprometido
em manter o ambiente um lugar seguro e livre de infecções

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Página 545
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 52

FATORES RELACIONADOS AO USO DE CIGARROS


ELETRÔNICOS: UMA ANÁLISE ENTRE ESTUDANTES
DO ENSINO SUPERIOR
Lucas de Sousa Macedo, Matheus Antonio Braga Bezerra, Jeronimo Azevedo
Telles de Menezes, Natalia Versieux de Souza e Rossana Vanessa Dantas de
Almeida Marques

RESUMO: Com as estratégias efetivas de combate ao tabaco, o uso de


cigarros convencionais vem diminuindo nos últimos anos. Contudo, outras
formas de consumo de nicotina foram implementadas pela indústria
tabagista, sendo a principal delas os sistemas eletrônicos de entrega de
nicotina. Esses dispositivos produzem aerossol, uma suspensão de partículas
sólidas. Essa produção pode conter nicotina e saborização e é composta,
principalmente, por propilenoglicol, glicerol e aromatizantes. Neste trabalho,
buscou-se conhecer os principais aspectos do uso de cigarros eletrônicos por
estudantes do ensino superior. Trata-se de um estudo descritivo
observacional, transversal e de abordagem quantitativa realizado com 139
estudantes de ensino superior, selecionados por conveniência, mediante a
aplicação de um questionário eletrônico com 23 questões, sendo 4 para
identificação e seccionamento dos entrevistados e 19 sobre a percepção
acerca dos CE e, dentre essas, 5 exclusivas para usuários de cigarros
eletrônicos. A amostra analisada apresentou 33 estudantes que se
identificaram como usuários de cigarros eletrônicos e 106 como não usuários,
com idade média de 21,82 anos, pouca discrepância entre gêneros, sendo
51,5% do sexo feminino e 48,5% do sexo masculino e de diferentes cidades
do Brasil. De acordo com os dados obtidos, observou-se uma associação
estatística relevante entre a identificação quanto ao uso de CE e a quantidade
de pessoas que fazem uso de CE no ciclo social, em que p<1%. Além disso, o
local de maior uso de cigarros eletrônicos é em encontros sociais, com
prevalência de uma frequência de 1 a 3 vezes por semana. Por fim, também
identificou-se associação estatística entre percepção de grau de malefícios
dos CE em comparação ao cigarro convencional e identificação quanto ao uso
desses, com p<1%. Espera-se com esse estudo contribuir com informações
relacionadas às condições de uso desses dispositivos eletrônicos e o grau de
malefícios associados em comparação com o cigarro convencional.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
O transtorno por uso de tabaco é conhecido como uma doença crônica em que ocorre a
dependência pela nicotina, o principal componente viciante de sua estrutura (BAUMEISTER,
2017). Essa dependência normalmente atua em um nível sistêmico, trazendo efeitos adversos
para o sistema circulatório, respiratório e reprodutor devido ao seu alto potencial carcinogênico
(MISHRA et al, 2015).
Por conta disso, diversas estratégias de combate ao tabaco foram implementadas
(DROPE et al, 2018), causando um decréscimo no número de fumantes de cigarros
convencionais nos últimos anos (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND
PREVENTION, 2020). No entanto, a nicotina encontrou novas formas de introdução nas novas
gerações, principalmente por meio de Sistemas Eletrônicos de Entrega de Nicotina (ENDS),
que são cada vez mais frequentes entre jovens adultos (CULLEN et al, 2018), onde estão
relacionados com o aumento de lesões pulmonares e mortes entre essa população
(VILLARROEL, CHA, VAHRATIAN, 2020).
Sistemas eletrônicos de entrega de nicotina, conhecidos popularmente como cigarros
eletrônicos ou vapes, são dispositivos que aquecem um líquido e produzem aerossol, que é uma
suspensão de partículas sólidas. Essa produção pode conter nicotina e saborização e é composta,
principalmente, por propilenoglicol, glicerol e aromatizantes (CENTERS FOR DISEASE
CONTROL AND PREVENTION, 2021). Além disso, diversas outras substâncias nocivas
podem estar presentes, como metais pesados (níquel, estanho e chumbo), compostos orgânicos
voláteis e outros (WHO, 2020).
Desde que passaram a ser comercializados, em 2004, na China, a utilização de ENDS
tem tido um crescimento exponencial, quando analisado o cenário mundial (TORRE, 2019).
Isso é comprovado, por exemplo, por dois recentes estudos que observaram que esse uso dobrou
entre os adultos entre 2010 e 2011 (de 3,3% para 6,2%) e entre os jovens de 2011 a 2012 (3,3%
para 6,8%) (HUANG et al, 2014). Além disso, em 2010, 1,8% dos adultos norte-americanos
relataram ter usado cigarro eletrônico, porcentagem essa que aumentou para 13% em 2013
(DINAKAR; O’CONNOR, 2016). Porém, estudos nacionais acerca do tema ainda são escassos,
não possibilitando uma interpretação das estatísticas do Brasil.
Além do fator viciante da nicotina, o fator social tem um papel vital nessa crescente
aderência às drogas por parte de jovens, visto que a mídia, investindo nas vulnerabilidades dos
adolescentes, como a necessidade de alcançar a popularidade, a aceitação social e uma
autoimagem positiva, consegue influenciar na percepção desses jovens acerca do fumo,

Página 547
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

tornando-os mais suscetíveis ao vício do que jovens que não são expostos a esse tipo de
conteúdo (NATIONAL CANCER INSTITUTE, 2020).
No âmbito exclusivo dos cigarros eletrônicos, a influência da mídia se torna ainda mais
incisiva, uma vez que os eletrônicos não estão sujeitos às mesmas legislações que os cigarros
convencionais, havendo a permissividade de uma disseminação maior de propagandas entre os
jovens, principalmente nas mídias sociais (HUANG et al, 2014).
De forma geral, os jovens estão mais abertos ao uso de cigarros eletrônicos e não a
cigarros convencionais por falsas percepções de que os primeiros são mais seguros (entre os
usuários atuais de cigarros eletrônicos, quase metade acreditava que esses não faziam mal à
saúde) e que há uma maior aceitação da sociedade em geral, relacionada principalmente com
expectativas positivas geradas com o uso, sobretudo entre os jovens, como ganhar respeito de
amigos, melhora de status social e popularidade (FADUS, SMITH, SQUEGLIA, 2019).
Dessa forma, em uma análise sobre perspectivas futuras do uso de cigarros eletrônicos,
conforme Barrington-Trimis et al (2016), indivíduos jovens que nunca fumaram cigarros
convencionais ficam até 6 vezes mais suscetíveis a realizarem esse uso após a utilização dos
ENDS. De tal maneira, isso sugere que o uso de vapes pode promover o tabagismo durante a
transição para a idade adulta, principalmente devido à dependência relacionada à nicotina já
presente nos dispositivos eletrônicos.
Além dessa possível transição para o consumo de tabaco tradicional na idade adulta, de
acordo com Groner et al (2018), em virtude das soluções e emissões dos ENDS serem
semelhantes às dos cigarros convencionais, os riscos associados também são semelhantes, a
médio e longo prazo. Envenenamentos, lesões não intencionais, dependência da nicotina e
problemas pulmonares são as associações mais corriqueiras relacionadas ao uso de cigarro
eletrônico.
Destarte, nota-se que com o aumento dos usuários de ENDS e com a escassez de
informações acerca desse uso no Brasil, esse estudo torna-se necessário pois procura investigar
os hábitos relacionados ao consumo de ENDS entre universitários. Visto que, fatores como
exposição à mídia, influência de círculos sociais e conhecimento sobre os mecanismos
biológicos tendem a influenciar na frequência desse uso, esse estudo secciona a população
universitária, visando conhecer os padrões de uso e a percepção em relação a cigarros
eletrônicos por parte desses estudantes.
Portanto, esse trabalho visa conhecer os principais aspectos do uso de cigarros
eletrônicos por estudantes do ensino superior, de modo a entender os motivadores, investigar a

Página 548
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

frequência e identificar a percepção acerca dos malefícios em comparação com o cigarro


convencional.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo observacional, transversal e de abordagem
quantitativa, cujos pesquisadores estão vinculados ao curso de medicina da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA).

Aplicou-se um questionário eletrônico a 139 estudantes de ensino superior – anônimos


- separados em dois grupos, A (cursos da área da saúde, com 117 estudantes) e B (cursos que
não são da área da saúde, com 22), para identificar os principais aspectos do uso de cigarros
eletrônicos como os motivadores, os principais locais de uso, a percepção acerca dos malefícios
e outros. O questionário possui 23 questões, em que 4 são para a identificação e seccionamento
dos entrevistados, 19 são sobre a percepção acerca de cigarros eletrônicos, e destas 5 são
exclusivas para entrevistados usuários de cigarros eletrônicos e 7 são sobre a percepção acerca
de cigarros eletrônicos, se repetindo tanto na seção para usuários como para não usuários de
cigarros eletrônicos. Foi aplicado por intermédio do Google Forms (aplicativo de formulários
online) e encaminhado por meio de grupos de mensagens online aos acadêmicos. Além disso,
os participantes consentiram eletronicamente mediante um TCLE (termo de consentimento
livre e esclarecido).

A partir dos dados coletados com as respostas do questionário, construiu-se um banco


de dados. Esses dados estatísticos foram tabulados em Excel e posteriormente analisados
através de estatística descritiva inferencial com auxílio do Software IBM SPSS 25.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos estudantes entrevistados, 33 se identificaram como usuários de cigarros eletrônicos
(23,7%) e 106 não usuários (76,3%). Dentre a amostra, a idade média foi 21,82 anos (±4,16),
sendo a idade mínima 17 anos e a máxima, 42 anos. Entre os usuários de cigarros eletrônicos
entrevistados, conforme indica a tabela 1, a prevalência foi do sexo feminino (51,5% dos
usuários), na faixa etária de 21 a 28 anos (51,5%), o que corrobora com a premissa de Fadus
(2019) de que os jovens estão mais abertos ao uso de cigarros eletrônicos. Além disso, essa
parcela era majoritariamente composta de alunos do grupo A (81,8%) de universidades públicas
(57,6%), que também afirmaram ter uma renda per capita de mais de 1,5 salário mínimo
(51,5%).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Tabela 1. Caracterização do perfil dos usuários de cigarros eletrônicos

Variáveis
Sexo n %
Feminino 17 51,5
Masculino 16 48,5
Faixa etária n %
Entre 17 e 20 anos 16 48,5
Entre 21 e 28 anos 17 51,5
Área do conhecimento n %
Área da saúde 27 81,8
Não área da saúde 6 18,2
Tipo de universidade n %
Pública 19 57,6
Privada 14 42,4
Renda per capita n %
Até 1,5 salário mínimo 16 48,5
Mais de 1,5 salário mínimo 17 51,5
Fonte: os autores, 2021. Dados obtidos por formulário eletrônico.
Segundo os dados coletados e expostos na tabela 2, o número de pessoas que fazem uso
de cigarros eletrônicos no ciclo social é relevante para o uso desses (p<1%). A maior parte dos
entrevistados dizem ter no seu ciclo social de 0 a 4 pessoas que fazem uso recorrente do CE
(52,5%), onde se nota a influência da socialização no uso desses dispositivos. A maioria dos
usuários afirmam ter 5 ou mais pessoas em seu ciclo social que também são usuários (75,8%
dos usuários), o que reforça a informação de que esse uso muitas vezes é correlacionado com
uma necessidade de aceitação do ciclo social, confirmando a sua influência (FADUS, SMITH,
SQUEGLIA, 2019).
Tabela 2. Cruzamento entre identificação quanto ao uso de cigarros eletrônicos e a quantidade de pessoas que
fazem uso recorrente de cigarros eletrônicos no seu ciclo social

Variáveis Quantidade de pessoas usuárias de CE


5 ou mais Total
0 a 4 pessoas p-valor
pessoas
Identificação quanto ao uso de CE n % n % n %

Não usuário de cigarros eletrônicos 65 46,8 41 29,5 106 76,3


Usuário de cigarros eletrônicos 8 5,8 25 18 33 23,7 <1%
Total 73 52,5 66 47,5 139 100
Fonte: os autores, 2021. Dados obtidos por formulário eletrônico.
Em contrapartida, dos não usuários, a maioria afirma ter 4 ou menos pessoas em seu
ciclo social que usam cigarros eletrônicos (61,3%). Já quando se estuda a percepção dos
usuários em relação à influência da midiatização no uso de cigarros eletrônicos, essa variável

Página 550
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

não revelou associação estatística (p>1%), onde a maior parte dos entrevistados acredita que
existe uma elevada influência midiática no uso dos dispositivos eletrônicos entre estudantes do
ensino superior (74,1%), em que os tanto os usuários (69,7%) quanto os não usuários (75,5%)
percebem essa influência de uma maneira elevada.
De acordo com os usuários, o local de maior uso de cigarros eletrônicos é em encontros
sociais (69,7%), fortalecendo a ideia da influência do ciclo social no aumento da frequência de
uso desses cigarros. Logo em seguida, nota-se uma relação entre o uso em encontros com o uso
em residências domiciliares (12,1%), despontando como a principal relação entre os locais
pesquisados.

Segundo os estudantes, conforme indica a tabela 3, a maioria dos usuários tem uma
frequência média de uso dos cigarros eletrônicos de 1 a 3 vezes na semana (84,8%), o que nega
o uso diário desses dispositivos. Em contrapartida, somente 1 usuário afirmou utilizar 11 vezes
ou mais na semana (3%).

Tabela 3. Frequência de uso semanal dos cigarros eletrônicos.

Frequência de uso semanal n %


1 a 3 vezes na semana 28 84,8
4 a 7 vezes na semana 2 6,1
8 a 10 vezes na semana 2 6,1
11 vezes ou mais na semana 1 3
Total 33 100
Fonte: os autores, 2021. Dados obtidos por formulário eletrônicos.
Em relação a percepção acerca dos malefícios do cigarro eletrônico em comparação
com o cigarro convencional, houve associação estatística (p<1%). Como observado na tabela
4, percebeu-se que a maioria dos não usuários acredita que o grau de malefício do cigarro
eletrônico em comparação aos cigarros convencionais é elevado (81,1%), já em usuários desses
dispositivos eletrônicos, o grau de malefício também é dito elevado (57,6%), embora em um
percentual significativamente menor, o que reafirma o que apregoou Barrington-Trimis et al
(2016) de que o uso de cigarros convencionais é mais aceito por usuários de cigarros eletrônicos
do que por não usuários desses produtos.

Tabela 4. Cruzamento entre o grau de malefícios do cigarro eletrônico em comparação ao cigarro convencional e
a identificação quanto ao uso de cigarros eletrônicos

Grau de malefícios do CE comparado


Variáveis Total
com cigarro convencional
Baixo Elevado p-valor
Identificação quanto ao uso de
n % n % n %
CE

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Não usuário de cigarros eletrônicos 20 14,4 86 61,9 106 76,3


Usuário de cigarros eletrônicos 14 10,1 19 13,7 33 23,7 <1%
Total 34 24,5 105 75,5 139 100
Fonte: os autores, 2021. Dados obtidos por formulário eletrônico.
De modo geral, a maior parte dos entrevistados acredita que existe um risco elevado
(75,5%) quando se compara os malefícios do CE com os dos cigarros convencionais, o que vai
ao encontro do que é apregoado por Groner et al (2018) de que devido às soluções e emissões
dos cigarros eletrônicos serem semelhantes às dos convencionais, os riscos associados também
são parecidos a médio e longo prazo.

CONCLUSÃO
Esse estudo possibilitou analisar os hábitos de uso de cigarros eletrônicos entre
estudantes do ensino superior, observar a influência da midiatização de tais dispositivos, dos
círculos sociais nesse uso e associação com as áreas de ensino dos cursos de graduação no ano
de 2021. Notou-se que o uso de CE é predominante em usuários que têm 5 ou mais pessoas em
seus ciclos sociais que também fazem o uso. De forma similar, percebeu-se que o principal
local do consumo de CE é em encontros sociais. Além disso, considerando a área de ensino, o
uso desses dispositivos teve prevalência em universitários que cursam alguma graduação da
área da saúde. Destarte, nota-se que tanto o ciclo social do estudante, quanto a área de ensino
do curso de graduação estão relacionadas com o uso de CE.
Com o presente estudo, espera-se contribuir com uma maior visibilidade acerca de
informações relacionadas ao uso de CE entre estudantes da área da saúde e não área da saúde
que utilizam ou não os sistemas eletrônicos de entrega de nicotina. No entanto, nota-se uma
carência de estudos relacionados ao tema, sobretudo em âmbito nacional, havendo a
necessidade da realização de mais pesquisas que possibilitem a disponibilização de novos
achados acerca da temática e de dados correlacionados. Ademais, evidencia-se a importância
da exposição e discussão desse assunto, uma vez que induzem à não banalização do uso dos
cigarros eletrônicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Jennifer B.; CRUZ, Tess Boley.; PENTZ, Mary Ann.; SAMET, Jonathan M.; LEVENTHAL,
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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https://www.cdc.gov/tobacco/data_statistics/fact_sheets/adult_data/cig_smoking/index.htm.
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2020. Disponível em: https://www.cdc.gov/tobacco/basic_information/e-cigarettes/index.htm.
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MISHRA, Aseem. CHATURVEDI, Pankaj. DATTA, Sourav. SINUKUMAR, Snita.
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THE ROLE OF THE MEDIA IN PROMOTING AND REDUCING TOBACCO. National
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WALLEY, Susan C.; WILSON, Karen M.; WINICKOFF, Jonathan P.; GRONER, Judith. A
Public Health Crisis: Electronic Cigarettes, Vape, and JUUL. Pediatrics, n. 143, n. 6, p. 1-11,
maio 2019.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 53

Uso de Cuidados Paliativos em Pacientes


Hospitalizados Durante a Pandemia da Covid-19:
Uma Revisão Integrativa
Bruno Varela Fernandes;Vanessa de Oliveira e Silva, Ana Vitória Romualdo
França, Luiza da Silva Ferreira, Maria Vitória Moreira Dantas, Maria Isabel
Bezerra Monteiro, Juliana Andreia Fernandes Noronha e Cristina Ruan
Ferreira de Araújo

RESUMO: Introdução: Cuidados Paliativos são técnicas desenvolvidas


visando a valorização do ser humano frente a doenças terminais. Na
pandemia, esses métodos passaram a ser amplamente requeridos. Assim, o
objetivo desta revisão foi verificar de que maneiras a pandemia de COVID-19
gerou impacto e modificações nas abordagens e tratamentos utilizados nos
Cuidados Paliativos de pacientes internados. Metodologia: Trata-se de uma
revisão integrativa de artigos indexados nas bases de dados PubMed, BVS,
ScienceDirect e SpringerLink, no período de junho a outubro de 2021. Os
critérios de inclusão e filtros para esse trabalho foram: artigos relacionados
ao tema, trabalhos em humanos, realizados nos últimos 5 anos, nas línguas
Português, Inglês e Espanhol e com texto completo disponível. Os
parâmetros de exclusão foram: duplicata, fuga ao tema, artigos de revisão e
trabalhos não disponíveis. Ademais, a seleção foi realizada em duplo-cego
com kappa igual a 0,680. Resultados: Ao realizar a busca nas bases de dados
com os descritores foram encontrados 191 artigos, desses, após a utilização
de filtros e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 13 trabalhos
foram selecionados. Todos os artigos ressaltam a importância da aplicação
das técnicas utilizadas destacando a necessidade de inovação no setor de
telessaúde e a importância de capacitar a equipe multiprofissional para lidar
com essas tecnologias. Discussão: No cenário pandêmico, o contato virtual
tornou-se realidade e as técnicas que antes eram de detenção de
profissionais passaram a contar com a maior participação dos familiares.
Nesse cenário, além das técnicas, fez-se necessário capacitar os profissionais
quanto ao uso das novas metodologias. Diante disso, a saúde mental dos
pacientes, dos familiares e dos especialistas nessa modalidade de tratamento
passaram a compor a lista de prioridades tanto quanto a saúde física desses.
Considerações Finais: Portanto, a pandemia é um cenário desafiador quanto
à promoção de cuidados humanizados. Mas, o uso de telessaúde se mostrou
eficiente para esse fim. Ademais, a utilização de uma equipe multiprofissional
em saúde pode ajudar a oferecer cuidados em diversas instâncias da saúde,
como a saúde mental.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Introdução

De acordo com a OMS (2013), cuidados paliativos (CP) são abordagens que tem o
objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e dos seus familiares, os quais enfrentam
complicações relacionadas a problemas de saúde, em sua grande maioria fatais. Desta maneira,
busca prevenir e aliviar o sofrimento por meio da identificação dos problemas apresentados por
este paciente, e realizar um tratamento adequado para amenizar os seus sintomas, sejam eles
físicos, psicossociais e espirituais .

A síndrome respiratória aguda grave, conhecida como Coronavírus-Disease-19


(COVID-19), foi identificada pela primeira vez em humanos no ano de 2019, na cidade de
Wuhan, na China, e em março de 2020, foi declarada pela OMS como uma nova pandemia. O
vírus da COVID-19 se reproduz principalmente no trato respiratório e tem como principal forma
de transmissão gotículas respiratórias e aerossóis, e pode ser transmitido por pacientes
assintomáticos, o que agrava ainda mais a situação, uma vez que, indivíduos infectados não-
sintomáticos, podem conviver em ambientes públicos, e por não ter conhecimento de da sua
carga viral infectar outras pessoas ( YESUDAS,2021 ; SALZBERGER, 2020).

Com isso, dada a importância dos CP, na atual fase da pandemia, encontra-se certa
dificuldade na continuidade dos tratamentos de pacientes terminais internados, posto que, é de
grande importância o auxílio de familiares e amigos, além de uma equipe multiprofissional.
Essa problemática ocorre devido a necessidade de controlar infecções pelo novo coronavírus, o
que direciona as instituições a criarem diretrizes que atrasam os tratamentos, prioriza casos mais
urgentes, além de limitar o acesso da família aos enfermos. Assim, houve uma redução na
ocupação de leitos, de acordo com os protocolos de segurança adotados pelas clínicas, e
estabelecimento de novas medidas de CP para atender o máximo de pacientes possíveis (
CHOU,2020 ; ZHENG , 2020 ; YERRAMILLI, 2020).

Em consonância com as informações acima, o objetivo desta revisão é verificar de que


maneiras a pandemia de COVID-19 gerou impacto e modificações nas abordagens e
tratamentos utilizados nos CP de pacientes internados, uma vez que, indivíduos portadores da
síndrome respiratória aguda grave passaram a necessitar também desses tratamentos. Salienta-
se que tais fatores são agravados pelo despreparo das equipes multiprofissionais, pois há uma
escassez de profissionais preparados para lidar com esse tipo de situação. Dessa forma, o
objetivo desta revisão é analisar os impactos trazidos pela pandemia de COVID-19 e

Página 555
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

modificações nas abordagens e tratamentos utilizados nos Cuidados Paliativos de pacientes


internados.

Metodologia

O presente estudo é uma Revisão Integrativa da Literatura, a qual baseia-se em um


método de pesquisa pautado na síntese de variados estudos e permite o estabelecimento de
conclusões gerais acerca de um tema determinado. Diante disso, foram seguidas as seis etapas
essenciais para a sua elaboração: delimitação da questão de pesquisa; busca nas bases literárias
mediante o estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; categorização das informações;
análise crítica dos estudos selecionados; interpretação e discussão dos resultados e apresentação
da síntese (MENDES, 2008). Sendo assim, foi estabelecida a seguinte questão norteadora: “Os
cuidados paliativos estão sendo aplicados em pacientes hospitalizados durante a pandemia do
COVID-19?”.
A partir disso, a pesquisa eletrônica foi realizada durante os meses de junho a outubro
de 2021 e para a busca, as seguintes bases de dados foram consultadas: National Library of
Medicine and National Institute of Health (PubMed), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
Sciencedirect e SpringerLink. Para a prospecção dos artigos foram utilizados, em inglês e nessa
ordem, os seguintes descritores, todos consultados em língua inglesa nos Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH): “Palliative care”,
“Inpatientes” e “Coronavirus infections”. Além disso, foram separados através do operador
booleano AND, o qual proporcionou uma busca mais refinada. Em todas as bases, a seguinte
combinação foi aplicada: “Palliative care AND inpatients AND Coronavirus infections”.
Os critérios de inclusão foram artigos relacionados ao tema e que estavam disponíveis.
Os filtros utilizados na PubMed foram: artigos com texto completo disponível e trabalhos
publicados nos últimos cinco anos nas línguas Inglês, Português e Espanhol; Na BVS foram:
Estudos com texto completo, dos últimos cinco anos, nas línguas Inglês e Espanhol; Na
Sciencedirect foram: últimos 5 anos; E na SpringerLink foram: texto completo disponível,
últimos cinco anos e inglês.
Outrossim, os parâmetros de exclusão foram: artigos duplicados, trabalhos que fugiam
ao tema, artigos não disponíveis e artigos de revisão. Dessa forma, dos artigos identificados, os
que preencheram todos os critérios de inclusão, foram escolhidos considerando seus títulos e

Página 556
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

resumos. Para concluir, a busca foi realizada por dois revisores independentes e a análise da
concordância entre os observadores foi realizada utilizando o teste Kappa usando o aplicativo
BioEstatística V.1.1.0, o qual avalia a afinidade no processo seletivo entre os dois revisores
independentes (LANDIS, 1977). O valor encontrado foi K = 0.680 (concordância substancial).

Resultados

Primeiramente, ao realizar a busca com os descritores, foram encontrados um total de


196 artigos, sendo 44 da Pubmed, 11 da BVS, 5 da ScienceDirect e 136 da SpringerLink.
Dentre estes, títulos da SpringerLink (n = 42) e da Pubmed (n = 3) foram excluídos após a
aplicação dos filtros, reduzindo a quantidade de artigos para 151. Em seguida, a partir da
aplicação dos critérios de exclusão e inclusão detalhados anteriormente, encontraram-se 13
artigos válidos para compor esta revisão: 11 da Pubmed, 1 da ScienceDirect e 1 da SpringerLink
(figura 1).

Figura 1: Fluxograma da Seleção de Artigos de acordo com as Recomendações PRISMA (Preferred Reporting
Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses).

Página 557
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autor

Finalmente, após a seleção de artigos, foi realizada uma análise integral dos 13 estudos
selecionados, a qual possibilitou a construção da tabela 1 abaixo, na qual há uma observação
qualitativa a respeito da eficiência do uso dos cuidados paliativos atualizados e o tipo de
estratégia defendida foram destacados.

Tabela 1: Tabela de Análise Qualitativa dos 13 Artigos Selecionados de acordo com Título, Autor, Ano de
Publicação, Base Bibliográfica e Assunto Principal.

Ano de Base
Título Autor Assunto principal
publicação bibliográfica

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Aborda a necessidade imperativa de fornecer


cuidados paliativos aos pacientes COVID-19.
Além disso, declara, em geral, a importância de
respeitar e documentar as preferências do
COVID-19: decision
paciente, mas, diante do contexto pandêmico, a
making and palliative DOMENICO,
2020 PUBMED indicação médica deve ter um peso maior na
care B. G. et al
avaliação. A partir disso, o cuidado
psicossocial e espiritual de pacientes,
familiares e profissionais de saúde são de suma
importância para evitar sentimento de
abandono, luto complicado e bornout.

Enfatiza a realidade altamente desafiadora de


prestar atendimento holístico em um período
pandêmico, ressaltando as condições de mortes
desassistidas entre os internados com COVID-
Response and role of 19. Para tanto, o uso de ferramentas
palliative care during tecnológicas, como chamadas telefônicas
the COVID-19 COSTANTIN diárias, associado a uma intervenção com
2020 PUBMED
pandemic: A national I, M. et al medicamentos e equipamentos terapêuticos,
telephone survey of ajudaram no alívio de sintomas dos pacientes.
hospices in Italy Para a família e os profissionais envolvidos,
cabe oferecer, respectivamente, apoio psíquico
e treinamentos especializados a fim de lidar, da
melhor forma possível, com a situação e com a
adaptação aos encontros virtuais.

Aponta, principalmente, os benefícios da


telemedicina para os cuidados paliativos, a qual
trouxe maior confiança na equipe médica entre
os familiares a partir da promoção de conforto
Feasibility and
para expressão de sentimentos e do
Acceptability of
entendimento dos procedimentos realizados.
Inpatient Palliative Care
KUNTZ, J. G. Das respostas da família, obteve-se uma taxa
E-Family Meetings 2020 PUBMED
et al de sucesso de 97% das reuniões agendadas.
During COVID-19
Além disso, a implementação de um plano de
Pandemic
resposta COVID-19, incluindo identificação
precoce dos possíveis pacientes paliativos,
tornou-se imprescindível para a otimização da
administração dos CPs em um cenário de
recursos humanos e instrumentais limitados.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Mostra, inicialmente, preocupação no tocante


ao uso de ferramentas tecnológicas, pois
Reinventing Palliative aspectos essenciais dos CPs, como a intimidade
Care Delivery in the Era e a comunicação, poderiam ser perdidos.
of COVID-19: How Porém, afirma que a inovação e o engajamento
RITCHEY, K.
Telemedicine Can 2020 PUBMED respondem pela qualidade dos serviços
C. et al
Support End of Life paliativos no contexto pandêmico. Por isso,
Care deve-se optar por um tratamento virtual, mas,
sobretudo, humanizado, mediante integração e
apoio da família, além de melhor treinamento
das equipes.

Afirma a necessidade de construção de novas


habilidades para mediar as consultas paliativas
de modo virtual, uma vez que os aspectos
intimistas não mais poderão ser colocados em
Rapid Implementation
prática. Para isso, além de treinar as equipes de
of Inpatient HUMPHREY
SCIENCEDIR CPs, deve-se também prezar por sua saúde
Telepalliative Medicine S, M. D. J. et 2020
ECT mental, evitando o altruísmo patológico e
Consultations During al
coordenando maior bem-estar para a tríade
COVID-19 Pandemic
família-paciente-equipes provedoras. Além
disso, aspectos de infraestrutura hospitalar para
a otimização da telemedicina devem ser
considerados da mesma forma.

Destaca o alto nível de sofrimento psíquico dos


pacientes paliativos, especialmente, os com
Characteristics, COVID-19, em tempos de pandemia, dadas a
Symptom Management, rápida deterioração e a sua piora devido às
and Outcomes of 101 LOVELL, N. restrições de visitantes. Além disso, corrobora
2020 PUBMED
Patients With COVID- et al a necessidade da telemedicina para mitigação
19 Referred for Hospital desse sofrimento. Por último, comenta sobre
Palliative Care possíveis impactos negativos no tratamento
paliativo de pacientes sem COVID-19, muitos
dos quais receberão menos CPs.

Destaca-se que os pacientes COVID-19


COVID-19 and Hospital
representaram 43,6% dos encaminhamentos
Palliative Care – A
para um hospital de cuidados paliativos. Para a
service evaluation
terapêutica, podem ser utilizados
exploring the symptoms
HETHERING medicamentos por infusão subcutânea
and outcomes of 186 2020 PUBMED
TON, L. et al contínua, como opióides e benzodiazepínicos,
patients and the impact
em doses baixas. Além disso, verificou-se que
of the pandemic on
o número total de pacientes com CP não
specialist Hospital
aumentou, sugerindo uma substituição dos CP
Palliative Care
"típicos" pelos protocolos COVID-19 em

Página 560
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

comparação com o mesmo recorte temporal do


ano anterior (2019).

Considera o cuidado paliativo como uma


importante resposta à pandemia. Para isso,
define estratégias de gerenciamento, a título de
exemplo, foco nas áreas de maior necessidade
Creating a Palliative imediata, como pronto-socorro, UTIs e serviço
Care Inpatient Response de atenção aguda. Defende também a criação
FAUSTO, J.
Plan for COVID-19— 2020 PUBMED de unidades de CP exclusivas aos pacientes
et al
The UW Medicine COVID-19, compostas por médicos e
Experience especialistas de CP em prestadores de práticas
avançadas treinados no uso de EPI. Informar-se
das preferências dos familiares e pacientes
torna-se essencial, bem como oferecer suporte
tecnológico 24h, tornam-se imprescindíveis.

Mostra a adaptação de um centro de cuidados


paliativos para pacientes com câncer durante a
pandemia. Neste sentido, um cenário quase
integral de consultas presenciais tornou-se 90%
online em meses, com pretensão de continuar
com a telessaúde em até 30%. Além disso, a
triagem dos pacientes definiu grupos
Palliative care provision prioritários de acordo com a criticidade das
at a tertiary cancer HANNON, B. SPRINGERLI necessidades, dos sintomas e do prognóstico,
2020
center during a global et al NK sendo indicado a CPs virtuais, principalmente,
pandemic os com sintomas mais estáveis. De outra parte,
as equipes de internação foram divididas entre
as unidades de cuidados paliativos agudos e o
serviço de consulta para reduzir riscos de
infecção. Por fim, sistematização das testagens,
musicoterapia online, sedação paliativa e
visitas familiares para pacientes em estado
crítico de vida foram implementados.

Página 561
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Destaca a necessidade de uma ação flexível e


responsável por parte dos médicos visando a
The pervasive relevance
manutenção da saúde física e mental. A
of COVID-19 within
reconfiguração do sistema para que os cuidados
routine paediatric
com a saúde dos profissionais e a aplicação dos
palliative care EKBERG, K.
2020 PUBMED cuidados paliativos fossem mantidos foi
consultations during the et al
fundamental para assegurar um cuidado efetivo
pandemic: A
para os pacientes pediátricos do estudo. Além
conversation analytic
do crescimento das consultas virtuais, as
study
diretrizes foram alteradas e desenvolvidas
especialmente para o cenário exposto.

Os serviços especializados de cuidados


paliativos têm sido flexíveis, altamente
‘Necessity is the mother
adaptáveis e adotaram soluções de baixo custo,
of invention’: Specialist
também chamadas de ‘inovações econômicas’,
palliative care service
em resposta ao COVID-19. Com as restrições
innovation and practice DUNLEAVY,
2021 PUBMED de visitas e a necessidade de distanciamento e
change in response to L. et al
isolamento, o uso da tecnologia ( destaque para
COVID-19. Results
a pratica de visitas onlines) facilitou e
from a multinational
propiciou um processo menos doloroso e mais
survey (CovPall)
humano para os pacientes, familiares e
membros das equipes.

Destaca a necessidade do serviço chegar ao


paciente de maneira rápida e responsiva, além
Australian specialist
de defender que a promoção rápida do serviço
palliative care’s
paliativo. Além disso, identifica a possibilidade
response to COVID-19: LUCKETT, T.
2021 PUBMED de um serviço de telessaúde como positivo,
an anonymous online et al
porém, os avanços para torná-los ainda mais
survey of service
eficazes e mais simples para os pacientes e
providers
profissionais da saúde são tão fundamentais
quanto sua implantação.

Mostrou que pacientes de etnia negra, asiática e


de minorias étnicas, especialmente mulheres,
tendem a ser encaminhados posteriormente
The need for early
para cuidados paliativos em comparação com
referral to palliative
pacientes de etnia branca, antes e durante a
care especially for
CHIDIAC, C. COVID-19. Além disso, o número de infusões
Black, Asian and 2020 PUBMED
et al subcutâneas necessárias foi maior em pacientes
minority ethnic groups
com COVID-19, e a maioria foi eficaz no
in a COVID-19
controle dos sintomas. Portanto, é vital que os
pandemic
serviços estoque quantidades suficientes de
bombas de infusão subcutânea para garantir o
controle adequado dos sintomas.

Fonte: Autor

Página 562
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Os artigos analisados procuraram reconhecer como as clínicas de cuidados paliativos


(CP) lidaram com a pandemia, sobretudo coletando posicionamentos dos profissionais
especializados e das famílias por meio de questionários. Nesse sentido, encontramos
perspectivas diretas da Europa, da América do Norte e da Oceania, distribuídas na Suíça (n =1),
Itália (n = 1), Escócia (n = 1), Canadá (n = 1), Austrália (n = 2), Reino Unido (n = 2) e Estados
Unidos (n = 4). Além disso, apenas um estudo apresentou resultados conjuntos de diferentes
países, as quais somadas são responsáveis por 79% das respostas dos questionários.
A maioria dos autores dos artigos selecionados consideram, explicitamente, a pandemia
como um cenário desafiador no tocante à promoção dos cuidados paliativos, sendo apontada
diretamente a necessidade de inovação e pesquisa na prática clínica. (CONSTANTINI et al.,
2020; RITCHEY et al., 2020; HUMPHERYS et al., 2020; LOVELL et al., 2020;
HETHERINGTON et al., 2020; DUNLEAVY et al., 2021; LUCKETT et al., 2021; CHIDIAC
et al., 2020). Concernente às estratégias desenvolvidas, mesmo cercado de incertezas relativas
à eficácia de consultas a distância, o uso da telessaúde tornou-se a principal ferramenta citada
nos artigos da tabela 1.

Tabela 2: Tabela de Análise dos 13 Artigos Selecionados com Base em Autor, Número da Amostra, Tipo de
Estudo, Assunto Principal e Medidas Adotadas. N - nº da amostra de pacientes de cada artigo. Observação 1: Os
artigos abaixo em que o “N” não se aplica, são artigos que não usaram uma população bem definida para obter os
resultados do estudo, porque estavam apenas testando medidas de promoção de CPs.

Autor N Tipo de Estudo Os Cuidados Estratégias


Paliativos mostraram- Defendidas
se eficientes?

DOMENICO, B. G. Não se aplica Artigo de Opinião Sim Multifatorial


et al

KUNTZ, J. G. et al 63 Relato de Caso Sim Telemedicina

Página 563
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

RITCHEY, K. C. et Não se aplica Artigo Seccional Sim Telemedicina


al

LOVELL, N. et al 101 Relato de Caso Sim Multifatorial

HETHERINGTON, 186 Coorte retrospectivo Sim Medicamentosa


L. et al

FAUSTO, J. et al Não se aplica Artigo Seccional Sim Multifatorial

EKBERG, K. et al 25 Subestudo de um Sim Multifatorial


estudo de Coorte
Prospectivo

CONSTANTINI, M, Não se aplica Artigo Seccional Sim Multifatorial


et al

HUMPHREYS, J. et Não se aplica Artigo Seccional Sim Telemedicina


al

HANNON, B. et al Não se aplica Artigo Seccional Sim Multifatorial

DUNLEAVY, L. et Não se aplica Análise Estatística Sim Multifatorial


al

LUCKETT, T. et al 28 Estudo Transversal Sim Telemedicina

CHIDIAC, C. et al 60 Coorte Retrospectivo Sim Multifatorial

Fonte: Autor

De acordo com a tabela 2 acima, pode-se inferir que o uso de cuidados paliativos se
mostraram eficientes em todos os casos. Além disso, estratégias diversas foram descritas como
medida para aplicação de CPs em pacientes durante o período de pandemia, as quais se
concentravam principalmente no uso de telessaúde.

Discussão

Página 564
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A partir da emergência da pandemia, a gestão dos sistemas de saúde foi abalada


consideravelmente. O manejo de recursos e de profissionais, somado à intensificação dos
protocolos de segurança à vida, transformaram os cotidianos hospitalares em centros potenciais
de colapso (DOMENICO et al., 2020; CONSTANTINI et al., 2020; LOVELL et al., 2020;
FAUSTO et al., 2020; MERKUR et al., 2020). Esta realidade impactou, nos serviços de
cuidados paliativos em decorrência não apenas do perfil vulnerável dos pacientes e da
capacidade limitada de oferta, mas também do crescimento exponencial dos necessitados de CP
devido às consequências das infecções pelo novo coronavírus, como encontrado nos trabalhos
de Kuntz (2020) , Humphreys (2020) e Powell (2020). Embora desafiante, os estudos de
Constantini (2020), Radbruch (2020) e Bajwah (2020) defendem como imperativo o reforço da
assistência paliativa na pandemia pelos governos e órgãos de saúde.
Em um primeiro plano, os trabalhos de ordem paliativa, fragilizaram-se de modo intenso
com as medidas de distanciamento social, haja vista os possíveis desvios na comunicação por
parte dos profissionais e na centralização do cuidado com o paciente. Neste âmbito, nota-se a
impossibilidade de aplicar as principais técnicas para o tratamento usual, como a identificação
de sinais verbais ou comportamentais, além dos estímulos sensoriais pelo toque (RITCHEY et
al., 2020; HUMPHREYS et al., 2020; LOVELL et al., 2020; FEDER et al., 2020).
As clínicas, então, segundo destacado por Kuntz (2020), Ritchey (2020), Humphreys
(2020), Lovell (2020) , Fausto (2020), Hannon (2020), Ekberg (2020) , Dunleavy ( 2021) e
Luckett (2021), precisaram se adaptar à nova realidade mesmo sob a pressão do tempo limitado,
voltando-se ao uso de ferramentas tecnológicas. A título de exemplo, em um centro de cuidados
paliativos para pacientes oncológicos no Canadá, as consultas passaram de quase
exclusivamente presencial para próximas de 90% online em meses. (HANNON et al., 2021).
Todavia, FUSI-SCHMIDHAUSER (2020) não incentivou o uso de teleconferência entre os
parentes e os pacientes, especificamente, na etapa final de vida, pois o nível de angústia familiar
poderia aumentar consideravelmente.
De outra parte, observou-se uma modificação significativa no perfil clínico dos
pacientes indicados para CP. Antes da pandemia, segundo Baggio (2017), diagnósticos
oncológicos em estado avançado correspondiam a maior parte dos pacientes nos centros
paliativos, chegando a 97,4% na Unidade de Cuidados Paliativos (UCP) do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Brasil. Com a pandemia, estudos mostram a considerável
presença de pacientes testados positivos para COVID-19, cujos sintomas indicam,
principalmente, dispneia e agitação progressivas. (DOMENICO et al., 2020; HETHERING et

Página 565
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

al., 2020). Nesse contexto, a necessidade de clínicas que ofereçam cuidados paliativos para
essas pessoas aumentou.
Em um hospital especializado em CP da Escócia, embora o número total de pacientes
não tenha aumentado em relação ao ano anterior (2019), 43,6% dos encaminhamentos eram
relativos às consequências da nova infecção viral. Essas estatísticas sugerem uma substituição
do diagnóstico paliativo “típico” pelo protocolo COVID, que, por sua vez, pode indicar, como
apontado no trabalho de Hetherington (2020), a diminuição da procura ou o aumento de falhas
na identificação e continuação dos tratamentos regulares.
Diante desse cenário de mudanças abruptas, tornam-se legítimas, como desdobramento,
as dúvidas quanto à proposta prática dos CP na pandemia. Se, por um lado, o uso das
ferramentas tecnológicas suscita possíveis lacunas no relacionamento afetivo entre a tríade
paciente-família-provedores e, em consequência, na eficácia da modalidade virtual, por outro,
o acréscimo dos pacientes positivos para COVID-19 exige um gerenciamento mais cuidadoso
e metódico por parte das clínicas (DOMENICO et al., 2020; KUNTZ et al., 2020; RITCHEY
et al., 2020; HUMPHREY et al., 2020; LOVELL et al., 2020; EKBERG et al., 2020; POWELL,
2020; RADBRUCH et al., 2020). Para esse contexto de crise, os autores Kuntz (2020), Ritchey
(2020), Fausto (2020) e Hannon (2020) sugerem a insustentabilidade de um modelo de gestão
ausente de inovação, priorizando alternativas que possam oferecer, mediante uso significativo
da telemedicina, segurança e bem-estar máximos, em detrimento de riscos de infecção e
desgastes emocionais mínimos.
Sob essa análise, tem-se como um imperativo ético o fornecimento de CP para todos os
pacientes com probabilidade de morrer por COVID-19, havendo a necessidade da admissão
desses pacientes em clínicas e hospitais, bem como a adaptação desses locais para receber esses
indivíduos. (KUNTZ et al., 2020; RITCHEY et al., 2020; FAUSTO et al., 2020; HANNON et
al., 2020). Uma análise realizada em clínicas especializadas mostrou que o número de
internações se manteve constante entre os anos de 2019 e 2020, não havendo aumento nas
admissões em CP, porém, grande parte dos indivíduos encaminhados para esses locais possuíam
a síndrome respiratória aguda grave, como destacado no trabalho de Fausto (2020) e Hannon
(2020).
Além disso, ainda analisando os trabalhos de Fausto (2020) e Hannon (2020), percebe-
se que houve alterações no perfil dos pacientes, ocasionando em diminuição de 3 dias do tempo
médio gasto com CP, sendo a média geral de 5 dias, sugerindo uma alta mortalidade entre os
enfermos. Entretanto, verificou-se em Taiwan, que ocorreu redução na taxa de ocupação de
leitos entre os anos de 2019 e 2020, contudo, esses números foram substituídos por

Página 566
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

acompanhamento domiciliar. Ademais, assim como foi encontrado nos resultados, houve
redução nos dias de internação, refletindo em aumento na mortalidade dos pacientes (CHOU
et al., 2020).
Devido a gravidade da pandemia e o alto risco de contaminação pelo novo coronavírus, as
políticas de visitação foram adaptadas, seguindo as diretrizes indicadas pelas organizações de
saúde. Com isso, as instituições passaram a permitir a visita de apenas um familiar por paciente,
enquanto outras restringem totalmente a entrada de visitantes no setor de CP. Segundo dados
levantados por Ritchey (2020), Lovell (2020), Dunleavy (2021) e Chidiac (2020), houveram
também casos de clínicas que flexibilizaram tais medidas em situações de pacientes terminais, ou
em casos especiais de pacientes que exigiam atendimento de um membro da família (com base em
práticas culturais ou religiosas) e aqueles que não tinham a capacidade de tomar decisões relativas
ao seu cuidado.
Sob essa perspectiva, foi relatado que foram impostas sérias restrições sobre os parentes
de pacientes, limitando ou até mesmo proibindo visitas, o que dificultou os CP, visto que a
presença da família é imprescindível para o tratamento. Entretanto, evidenciou-se a utilização
de visitas virtuais, por meio de aplicativos de videoconferência, reduzindo parte dos impactos
sofridos pelos pacientes. Sendo assim, pôde-se observar a eficácia do uso de tecnologia para
substituir as visitas presenciais de familiares e amigos, diminuindo o sentimento de solidão e
abandono por parte dos enfermos (FAUSTO et al., 2020; CHIDIAC et al., 2020;
MERCADANTE et al., 2020).
Para Ritchey (2020) outro fator considerável é o impacto sofrido pelas equipes de CP,
uma vez que a falta de preparação adequada para atuar durante a pandemia dificultou o
atendimento de pacientes, tanto positivados para COVID-19, como outros, expondo os
profissionais a alto risco de contaminação. Além disso, segundo destacado por Hetherington
(2020) e Münch (2020), devido às restrições impostas como medidas para conter a
disseminação viral e garantir a segurança dos trabalhadores de saúde, as equipes foram
divididas, para diminuir o fluxo de pessoas nos ambientes, e os membros mais velhos e que
possuíam comorbidades foram afastados, trabalhando apenas por home office.
Esses fatores, juntamente com o estresse do trabalho e a preocupação com a sua saúde
e de seus familiares impactaram negativamente os profissionais da saúde (HETHERINGTON
et al., 2020). Em conformidade com os resultados, foi visto também que, segundo Mercadante
(2020), os funcionários de CP são expostos a tensões específicas durante a pandemia, além de
estarem expostos a grande estresse físico e psicológico, também correm risco de infecção pelo
novo coronavírus.

Página 567
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Outrossim, há a indicação de que as equipes de CP utilizem meios virtuais para se


comunicar entre si e com os pacientes, fazendo uso de aplicativos como o Zoom, WhatsApp e
Skype para a realização de reuniões, consultas e visitas virtuais (MERCADANTE et al., 2020).
Em analogia a tal estudo, os resultados desta revisão também apontam tais métodos como
alternativas a serem aplicadas entre os profissionais de CP. Destacando assim , de acordo com
Humphreys (2020) e Chidiac (2020), a necessidade da realização de cursos que instruam os
trabalhadores a manusear essas ferramentas tecnológicas e também a importância do
fornecimento de equipamentos básicos de tecnologia de informação para implementar essa
alternativa.
De acordo com com o art. 12 da Portaria 2.546/11, do Ministério da Saúde, a telessaúde
seria o uso de tecnologias de informação e comunicação para realizar assistência e educação
em saúde através de longas distâncias. Nesse sentido, percebeu-se que a telessaúde foi uma
estratégia bastante citada nos artigos selecionados para esta revisão no que concerne à aplicação
dos CPs durante a pandemia. Além disso, estratégias multifatoriais também foram
mencionadas, as quais se concentram em: telemonitoramento, teleatendimento, administração
de medicamentos e uso de equipamentos específicos para o tratamento do paciente.
Nessa perspectiva, foram adotadas diretrizes pelas clínicas de CP, com objetivo de
diminuir a disseminação do SARS-CoV-2. Entre essas medidas, pode-se citar as destacadas por
Ritchey (2020), como o uso de EPIs por parte da equipe de CP, e a adoção de serviços
domiciliares, de modo que as profissionais atendam os pacientes em sua residência,
presencialmente, ou por meio da telemedicina. Também foi realizada análise sobre a
emergência das consultas, priorizando os casos mais urgentes e as agendando, quando possível
( EKBERG et al., 2020).
Além disso, Dunleavy (2021) indica que os trabalhadores da saúde realizassem um
automonitoramento quanto a sintomatologia característica da infecção pelo novo coronavírus,
bem como a montagem de centros de testagem para realizar testes nos indivíduos sintomáticos.
Em harmonia com os achados, foi visto a importância da implementação de medidas que
mitiguem a disseminação do COVID-19 em relação aos CP, tais como o uso da telemedicina,
diminuindo o contato interpessoal, o uso de EPIs tanto pelos pacientes quanto pelos
profissionais e a mudança da internação em clínicas para o atendimento domiciliar (BAGGIO,
2017; MERCADANTE, 2020).
Para tanto, Silva (2021) salienta que tornaram-se essenciais o reajuste e a integração
das equipes provedoras de cuidados paliativos, mediante, por exemplo, a aplicação de cursos
especializados, como o de adaptação aos recursos tecnológicos. A fim de decidir pelo plano de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

saúde mais adequado, observa-se concordância entre Ritchey (2020), Humphreys (2020) e Silva
(2021), no sentido de que as diretrizes dispostas pela relação paciente-família, a indicação
médica e a consideração de equipes especializadas em CP devam ser respeitadas e analisadas
conjuntamente. Por último, cabe uma atenção especial à saúde mental não somente dos
pacientes, mas também da família e da equipe profissional para que agravantes não raros, como
o sentimento de abandono, o luto complicado e o altruísmo patológico, possam ser evitados
(DOMINICO el al., 2020).

Considerações Finais

A pandemia é um cenário desafiador no que se refere à promoção de cuidados


humanizados aos pacientes. Alguns desafios mais citados na aplicação dos cuidados paliativos
foram a despreparação da equipe e a diminuição do número dos casos paliativos tradicionais
devido à pessoas positivas para COVID-19. Nesse contexto, a telessaúde se mostrou como a
principal ferramenta para prover esse tipo de terapia aos pacientes em consultas à distância, mas
torna-se necessário o uso de inovação e pesquisa na prática clínica. Ademais, a saúde mental
dos pacientes e da família também deve ser levada em consideração na aplicação dos cuidados
humanizados para que agravantes em uma situação pandêmica possam ser evitados. Para isso,
a utilização de uma equipe multiprofissional em saúde torna-se indispensável nesse contexto
para promoção de todos os tipos de cuidados necessários aos pacientes em situação hospitalar.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 54

FITOTERAPIA APLICADA AO TRATAMENTO DA


ACNE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE
LITERATURA

Ananda Leticia Silva Cabral, Bárbara Vitória Monteiro Reis Augusto,


Douglas Monteiro de Sousa, Graziela Maria Benevenuto Bezerra,
Georgea Viana Ferreira, Kethleen Paula Monteiro Rodrigues

RESUMO: O presente estudo tem como objetivo compreender a


influência de diferentes fitoterápicos para o tratamento da acne.
Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, cujo
levantamento dos estudos ocorreu a partir das bases de dados
PubMed, Portal regional da BVS, Science Direct e Google acadêmico.
Os descritores foram utilizados juntos na seguinte ordem: fitoterapia,
acne, e tratamento, em português e inglês. Resultados: Mediante
revisão de literatura, obteve-se 14 estudos, sendo destes 3 para
entender a etiopatogenia da acne, e 11 estudos os quais constataram
que alguns fitoterápicos utilizados para o tratamento desta condição
são eficazes. Os fitoterápicos encontrados que podem ser utilizados no
tratamento da acne são Matricaria chamomilla, Camelia sinensis,
Berberis vulgaris, Garcinia mangostana, polifenóis, Morella Rubra,
óleos essenciais, Thymus vulgaris, Melaleuca alternifolia,
Chamaecyparis obtusa fermentada por lactobacillus, nutri cosméticos
e Phellodendron amurense. os quais possuem propriedades que atuam
contra a acne de maneira semelhante. Conclusão: Portanto, é notório
que a fitoterapia pode ser utilizada no tratamento da acne. Contudo,
são necessários mais estudos científicos para comprovar a eficácia de
alguns fitoterápicos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A acne é uma alteração na pele que se caracteriza pela dermatose inflamatória que
acomete o aparelho pilossebáceo (inflamação do pelo e glândula sebácea), sendo essa
manifestação de inflamação na pele o resultado de diferentes fatores patogênicos que interagem
levando a formação de comedões abertos e fechados, a hipersecreção sebácea, alterações na
condição hormonal e na flora microbiana; além de fatores imunológicos e processos
inflamatórios. Diante dessas alterações na pele, têm-se buscado tratamento por meio de
fitoterápicos, que são uma forma natural do uso de plantas medicinais para combater problemas
de saúde sem uso de medicamentos químicos. É uma alternativa que oferece benefícios em
relação aos tratamentos sintéticos que por sua vez podem provocar efeitos colaterais que
prejudicam a saúde do paciente (MEDEIROS et al., 2015).
Os fitoterápicos têm a função de prevenir, atenuar ou curar certas patologias; são
formulados a base de plantas medicinais que possuem princípios ativos em sua composição,
que são utilizados em diversos tratamentos. Perante todos os ativos naturais, os óleos essenciais
destacam-se como um dos principais materiais na produção de cosméticos. O tratamento de
acne encontrado nos artigos de fitoterápicos abordam o uso dos óleos essenciais e suas
propriedades medicinais que os tornam possíveis terapêuticos para tal problema atuando
diretamente na autodefesa vegetal, proteção contra perda de água e aumento de temperatura e
possuem ações antissépticas, adstringentes, antioxidantes e bacterianas, que são importantes
propriedades para o desenvolvimento de tratamentos efetivos contra a acne (PASIN; PASIN,
2020).
Entre os principais óleos essenciais encontra-se o tea- tree conhecido como melaleuca
(Melaleuca alternifólia) que tem como princípio ativo ação bactericida, fungicidas,
antioxidante, cicatrizante. São essas propriedades que tornam o óleo um componente atrativo
para protocolos de tratamentos faciais e em demais áreas da saúde. O Thymus vulgaris
conhecido como tomilho, consiste em ação a antissépticas, com feitos adstringentes,
antissépticos, antioxidantes e bacterianos e a Matricaria chamomilla popularmente camomila
tem efeito anti-inflamatório, calmante, cicatrizante, analgésico, bactericida. (FRANÇA, 2021;
SIQUEIRA; BRITO; SILVA, 2015; CORAZZA, 2010). Então, objetiva-se compreender a
influência de diferentes fitoterápicos para o tratamento da acne.

METODOLOGIA

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura cujo levantamento dos estudos ocorreu
a partir das bases de dados PubMed, Portal regional da BVS, Science Direct e Google
acadêmico. Os descritores foram utilizados juntos na seguinte ordem: fitoterapia, acne, e
tratamento, em português e inglês. Foram incluídos estudos disponíveis na íntegra publicados
entre os anos de 2010 e 2021, sendo eles ensaios clínicos e artigos de revisão. Foram excluídos
estudos que não atendiam esses critérios. A busca na base Pubmed resultou em 18 publicações,
todas em língua inglesa. Por sua vez, na plataforma BVS, foram encontrados 35 estudos. Na
Science Direct foram encontrados 74 artigos. Já no google acadêmico, encontrou-se 7 artigos.
Após a leitura e seleção, restaram 14 artigos que estavam dentro do objetivo do trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fitoterapia tem se mostrado promissora na prevenção e tratamento da acne. No


presente trabalho, mediante revisão de literatura, obteve-se 14 estudos, sendo destes 3 para
entender a etiopatogenia da acne, e 11 estudos os quais constataram que alguns fitoterápicos
utilizados para o tratamento desta condição são eficazes. Apesar disso, ainda é necessário mais
estudos clínicos para melhores resultados, especialmente relacionado com casos graves de acne.
O tomilho, o óleo de melaleuca, o chá verde, a camomila, o mangostão, a Berberis vulgaris, e
a Chamaecyparis obtusa fermentada por lactobacillus, e polifenóis foram os principais
fitoterápicos encontrados nos artigos selecionados, os quais apresentaram maior eficácia no
tratamento. A relação de artigos selecionados para compor o estudo e seus principais
fitoterápicos estão expostos no quadro a seguir.

Quadro 1. Relação de artigos selecionados para compor o estudo e os principais fitoterápicos utilizados no
tratamento da acne.
Referência/ ano Fitoterápico estudado
SOLEYMANI, 2020 Garcinia mangostan, Berberis vulgaris,
Camelia sinensis.
PROENÇA, 2020. Aloe vera, Garcinia mangostana, Berberis
vulgaris, Chamaecyparis obtusa,
Camelia sinensi.
PASIN; PASIN 2020. Thymus vulgaris, Melaleuca alternifólia,
Matricaria chamomilla.
SARIC et al., 2017. Polifenóis
CHEN et al., 2019. Morella Rubra

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

WINKELMAN, 2018 Óleos essenciais


SALVADOR, CECHINE 2019. Nutri cosméticos
ZHANG et al., 2018. Phellodendron amurense
SIQUEIRA; BRITO; SILVA, 2015. Thymus vulgaris
FRANÇA, 2021. Melaleuca alternifólia
MALHI, 2017. Melaleuca alternifólia
Fonte: Autores, 2021.

Matricaria chamomilla e Camelia sinensis

Chás verde e de camomila possuem eficácia contra a acne. O chá verde é produzido a
partir de folhas frescas da Camelia sinensis processadas para evitar a oxidação dos seus
compostos fenólicos principalmente as catequinas como a de epigalocatequina galato (EGCG),
a qual apresenta propriedades antioxidantes, antimicrobianas, anticancerígenas, anti-
inflamatória, reduz o estresse oxidativo e a produção de sebo (PROENÇA, 2020;
SOLEYMANI, 2020).
A camomila (Matricaria chamomilla), além de possuir propriedades anti-inflamatória e
bactericida - semelhante ao chá verde - também possui efeito calmante, cicatrizante e
analgésico. Contudo, é mais eficaz utilizado em conjunto com outros tratamentos como máscara
de argila e banho de vapor facial (PASIN; PASIN, 2020).

Berberis vulgaris

Em relação aos frutos, a Berberis vulgaris possui em sua composição a berberina, a qual
atua como bactericida, anti-inflamatório, atenua o estresse oxidativo, além de diminuir a
produção de sebo suprimindo a lipogênese de glândulas sebáceas (SOLEYMANI, 2020).
O sucesso do tratamento resultou da ação anti-inflamatória, exercida sobretudo pela
fração alcaloide de B. vulgaris, da ação antioxidante, através da eliminação de radicais livres,
inibição de peroxidação lipídica, e da ação ansiolítica, uma vez que as exacerbações da acne
estão frequentemente relacionadas com crises de ansiedade e stress (PROENÇA, 2020).

Garcinia mangostana

O mangostão, fruto da árvore Garcinia mangostana, é rico em xantonas, em especial a


alfa-mangostina, no qual exerce forte atividade antimicrobiana sobre a Cutibacterium acnes

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

e Staphylococcus epidermidis, bactérias envolvidas na patogênese da acne. Por conseguinte,


há redução das lesões inflamatórias ou não inflamatórias, e a severidade da acne, com poucos
efeitos adversos associados. A atuação da alfa-mangostina como anti-inflamatório, antioxidante
e modulador, consequentemente na inibição do crescimento de patógenos causadores da acne
(PROENÇA, 2020; SOLEYMANI, 2020).

Polifenóis
Os polifenóis são compostos derivados de plantas que possuem propriedades
antioxidantes e inflamatórias. Estão presentes em frutas e bebidas de origem vegetal, como,
chá, suco, café e vinho tinto. Tais propriedades encontradas na dieta humana, conferem aos
polifenóis, potenciais terapias contra a rosácea, que é uma condição clínica que acomete a face,
caracterizada pela inflamação crônica da pele, com pústulas e pápulas inflamatórias (SARIC et
al., 2017).
Alguns estudos epidemiológicos apontam o uso de polifenóis contra uma ampla
variedade de doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, as propriedades anti-
inflamatórias, antiparasitárias e fotoprotetoras são evidenciadas como importante para manter
a saúde celular normal, tornando os produtos à base de polifenóis cada vez mais populares para
doenças que acometem a pele, como a rosácea (SARIC et al., 2017).
Diante disso, o estudo resultou na análise de estudos que utilizaram algumas plantas
medicinais no tratamento da rosácea, sendo os polifenóis estudados: silimarina da planta
Silybum marianum, licochalcona da planta de alcaçuz Glycyrrhiza inflata, extrato de Quassia
amara da planta Q. amara e flavonóides de Chrysanthellum indicum extrato (SARIC et al.,
2017).
Em relação ao eritema facial usando Licochalcona A., um ensaio clínico avaliou o uso
da licochalcona A. em pacientes com eritemato-telangiectásica (TE) rosácea, no qual
apresentavam vermelhidão facial, e foi comparado a um grupo que não apresentavam rosácea.
Ambos os grupos usaram produtos à base de licochalcona A., uma vez ao dia, por um período
de 4 a 8 semanas, e após esse período foi possível observar no grupo com rosácea uma melhora
significativa no eritema facial, demonstrando efeitos positivos do uso deste polifenol (SARIC
et al., 2017).
Em outro estudo, um ensaio em grupo, no qual avaliou o uso de extrato de Quassia
amara L. 4%, no tratamento da rosácea, em pacientes com rosácea tipo I-IV, avaliados em
períodos de 15, 30 e 45 dias, observou-se diminuição contínua, até o último dia de tratamento,
evidenciando a efetividade do uso deste polifenol (SARIC et al., 2017).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Em outro estudo, foi avaliado o uso de Silimarina (Silybum marianum), no tratamento


facial de pacientes com eritema facial por um período de 6 a 12 semanas; observou-se que após
as 12 semanas de tratamento, houve baixa diminuição da vermelhidão, demonstrando baixa
efetividade no uso desse polifenol, indicando um período maior de tratamento (SARIC et al.,
2017).
Em outro estudo, multicêntrico randomizado, que avaliou o uso de C. Indicum por um
período de 12 semanas, em pacientes com rosácea grau 2 a 4, observou-se que após o período
de tratamento, cerca de 73% dos indivíduos tiveram melhoras significativas, demonstrando que
o uso de C.indicum é eficaz na redução da vermelhidão facial. Em outro estudo duplo-cego,
que avaliou o uso de extrato de Quassia Amara L., em pacientes com pápulas e pústulas rosácea,
por um período de 45 dias, observou-se uma redução significativa em torno de 84% (p <0,0001),
em comparação com o grupo controle que utilizou placebo (SARIC et al., 2017).
Desta forma, há evidências que o uso de alguns polifenóis, podem ser benéficos para o
tratamento de pele em pacientes com rosácea; os dados relatados no estudo demonstram que os
polifenóis podem ser usados como complementares ao tratamento medicamentoso, e que
podem ser uma alternativa às opções de tratamento atuais, especialmente em pacientes sensíveis
a outros medicamentos (SARIC et al., 2017).

Morella Rubra

Myrica rubra (Morella Rubra), é uma árvore frutífera, nativa de países asiáticos e seu
fruto, folha, raiz e casca são muito utilizados no tratamento de algumas patologias,
principalmente em doenças de pele na medicina popular chinesa e japonesa. Seu fruto, a
bayberry, é conhecido por ter um sabor agridoce e agradável, e é muito utilizado no
processamento de alimentos (CHEN et al., 2019).
Bayberry é rico em antioxidantes, flavonoides e ácidos fenólicos e, por esse motivo,
possui bioatividade no que se refere a esses compostos. Um dos ativos encontrados, devido ao
alto teor de compostos fenólicos presentes na bayberry é a Miricitina, também conhecida como
hidroxiquertina, que é reconhecida por eliminar radicais livres. Ademais, os extratos de
bayberry possuem ações antioxidantes, antibacterianos, anticancerígenas, antidiabética,
antidiarreico e anti-melanogênico. Nesse contexto, a atividade dos compostos fenólicos
presentes na bayberry parecem exercer um papel importante no tratamento de acne vulgar
(CHEN et al., 2019).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Os compostos ativos de bayberry chinesa, foram utilizados para determinar a atividade


antioxidante química e os efeitos na Propionibacterium Acnes. Dessa forma, alguns ativos
isolados presentes nos compostos fenólicos como a Miricitina foram utilizados com objetivo de
inibir as células de P. acnes. Após as análises realizadas observou-se que o composto ativo
Miricitina possui atividade antioxidante. A liberação de IL-8 e IL-6 aumentada pela bactéria
P.Acnes, foi suprimida por Miricitina, resultando na diminuição da inflamação e apresentando
papel significativo para o tratamento de acne vulgar. Apesar do estudo apresentar efeitos
positivos em células humanas in vitro, é necessário que mais estudos sejam realizados para
evidenciar o efeito anti-inflamatório dos compostos da bayberry (CHEN et al., 2019).

Óleos essenciais

A copaíba é uma oleorresina estimulante de qualidades anti-inflamatórias, cicatrizantes


e anti-sépticas, com ações terapêuticas relacionadas ao diterpeno (WINKELMAN, 2018).
Óleo de sândalo é usado como agente terapêutico em muitos países para tratar doenças
inflamatórias e erupções cutâneas. Ele possui efeitos anti-inflamatórios com COX-1 e -2 e 12-
lipoxigenase, bem como em lipo-polissacarídeo fibroblastos dérmicos estimulados e modelos
de queratinócitos (WINKELMAN, 2018).
Extrato de Alecrim contém os compostos: ácido rosmarínico, carnosol e ácido
carnósico, que possuem efeitos modulatórios na produção de citocinas. O óleo essencial de jeju
vem da planta Thymus, onde pode conter efeitos antibacterianos contra a P. acnes. Além do
mais, estudos realizados em óleos cítricos de Citrus obovoides e Citrus natsudaidai foram
testados para propriedades antibacterianas e sua atividade contra P. acnes e S. epidermidis que
demonstrou sua redução (WINKELMAN, 2018).

Thymus vulgaris (tomilho)

O óleo extraído do Thymus vulgaris (tomilho) é importante no tratamento da acne vulgar


devido aos seus efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, bactericida e antifúngicos (PASIN;
PASIN, 2020).

Melaleuca alternifolia

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O óleo de Melaleuca alternifolia, é um óleo essencial provindo da planta


Melaleuca alternifolia onde possui 100 terpenos. Um estudo com 124 pessoas que possuíam
acne leves e moderadas, utilizaram esse óleo como tratamento apresentaram reduções
significativas nas acnes (WINKELMAN, 2018).
A elevada concentração de terpenos e a presença de histamina, dão a ele características
antimicrobiana, antioxidante, anti-inflamatória, fungistática e cicatrizante que são essenciais
para o sucesso do tratamento (MALHI, 2017).
Desta forma, inibe a proliferação de bactérias associadas à acne. Os efeitos do óleo de
melaleuca contra a acne foram constatados em estudos que afirmam sua eficácia na redução de
lesões inflamatórias, não inflamatórias e na severidade da acne devido às ações já citadas.
Porém, apesar da segurança relatada na literatura para a aplicação tópica do óleo de
melaleuca. Em altas concentrações, este pode causar irritação da pele, e, em pessoas sensíveis,
dermatite de contato, sendo indicada a diluição do óleo para que não ocorra irritações. No
entanto, segundo o resultado de estudos envolvendo a aplicação do óleo da árvore do chá de
melaleuca, nenhum episódio adverso sério ocorreu com os participantes, e outros eventos
menores de tolerabilidade foram limitados a descamação e ressecamento na pele, e essas
ocorrências foram resolvidas sem precisar de qualquer tipo de intervenção (MALHI, 2017;
GONELLI; PILON; CHIARI, 2018).

Chamaecyparis obtusa

A eficácia da Chamaecyparis obtusa fermentada por lactobacillus, assemelha-se ao óleo


de melaleuca no tratamento da acne devido ao óleo essencial extraído das suas folhas conterem
propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Somado a isso, a fermentação aumenta essas
propriedades (PROENÇA, 2020).
Com isso, apresenta efeitos inibitórios sobre Propionibacterium acnes. Em um estudo
de 2014 realizado em um período de 8 semanas com 34 indivíduos que possuíam acnes, os
resultados obtidos foram que houve redução do efeito da acne em 65%. Além do mais, os
lactobacillus apresentaram associações relacionadas à redução das glândulas sebáceas
(SALVADOR; CECHINE, 2019).

Nutricosméticos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Estudos comprovam que nutricosméticos, como ômega 3 e os probióticos quando


utilizados em tratamento da acne diminuíram potencialmente as lesões graves de acne. Além
do mais, o ômega 3 em seus estudos comprovaram seus efeitos anti-inflamatórios, alterando os
níveis de TLR-2 e TLR-4, proteínas transmembranas altamente conservadas que desempenham
papel importante na detecção e reconhecimento de patógenos microbiano (SALVADOR;
CECHINE 2019).
Assim como também comprovaram a diminuição dos níveis de IGF-1, que produz
proliferação do queratinócito basal, produção de sebo e síntese de andrógenos nos ovários e
testículos e, assim, aumenta a produção de sebo, induzindo efeitos na circulação (SALVADOR;
CECHINE 2019).
Nutricosméticos como o Camellia sinensis Kuntze (chá verde) e o resveratrol presente
na uva se destacaram no tratamento tópico ou consumo oral de polifenóis do chá verde, tendo
efeitos significativos na carcinogênese cutânea induzida por UVR (SALVADOR; CECHINE
2019).
Além do mais, os probióticos moldam o desenvolvimento do sistema imunológico,
transformando a resposta imune para condições de regulação e anti-inflamatória, sendo eles
essenciais no tratamento contra a acne rosácea, dermatite atópica, e fotoenvelhecimento
(SALVADOR; CECHINE 2019).

Phellodendron amurense

Um estudo realizado concluiu que o uso da máscara de phellodedron amurense no


entorno de 8 semanas ocasionou a diminuição da acne. Além do mais, a máscara é um
tratamento alternativo quando são contraindicados medicamentos tópicos ou não tolerados. Por
fim, os autores deixam claro que o tratamento em conjunto com outros meios pode ocasionar a
melhor eficácia do nutricosmético (ZHANG et al., 2018).
Notou-se que embora alguns fitoterápicos não estejam entre os mais promissores, eles
também são bastante utilizados. No entanto, necessitam de mais ensaios clínicos a fim de
comprovar sua eficácia. É o caso do Aloe vera, Panax ginseng e Arctium lappa, entre outros.
O gel de Aloe vera é composto por antraquinonas, responsáveis por propriedades adstringentes,
antibacterianas, anti-inflamatórias, antioxidantes, cicatrizantes e potencializador de outros
fitoterápicos - por não ser suficiente na monoterapia. O Panax ginseng pode atuar como
antimicrobiano, anti-inflamatório e seboregulador. E a Arctium lappa é composta por
lignanos e flavonóides, responsáveis pelas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes,

Página 581
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

antimicrobianas e antivirais, consequentemente, anti-quimiostática sobre a Propionibacterium


acnes (PROENÇA, 2020).
Observou-se, desta maneira, que apesar dos fitoterápicos serem diferentes, eles se
assemelham às propriedades utilizadas para o tratamento da acne.

Conclusão

A partir da análise de revisão de literatura em relação a influência da fitoterapia para o


tratamento de acne, pode-se inferir que os fitoterápicos analisados no presente trabalho
demonstraram alguma eficácia como recurso terapêutico no que tange a melhoria da acne.
Entretanto, é necessário que sejam realizadas mais pesquisas em relação a esses fitoterápicos
como interventores no tratamento de acne para comprovar a sua efetividade, visto que em
virtude dos fatos mencionados, a fitoterapia tem um grande potencial para ser referência nessa
temática e, dessa forma, poder trabalhar como mais uma alternativa para combater problemas
de saúde sem o uso de medicamentos químicos e facilitar o acesso à população por se tratar de
um procedimento de baixo custo.

Página 582
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 55

ANÁLISE DE ESPAÇOS PÚBLICOS: A ORLA DE


PETROLINA-PE COMO ESPAÇOS DE LAZER PARA
AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

VINICIUS WALLACE SANTOS BRITO, JEFERSON CARVALHO


COELHO DE GOIS, GUILHERME PEREIRA DOS SANTOS, DANILO DE
LIMA GONZAGA CAVALCANTI, ANA PAULA ANDRADE RAMOS
FEITOSA

RESUMO: Poucos estudos têm abordado o lazer da pessoa com


deficiência, especialmente no que toca ao seu direito em usufruir de
equipamentos e espaços públicos adequados, que possam ser
usufruídos com autonomia e segurança. Nosso objetivo é analisar os
espaços públicos da orla do Município de Petrolina-PE verificando o
nível de acessibilidade. Trata-se de um estudo qualitativo descritivo, a
qual analisou a orla de Petrolina-PE como local acessível para a prática
de atividade física para pessoas com deficiência, verificando as
estruturas e comparando com o descrito na ABNT 9050/2015. Os
resultados apontam que os locais atendem parcialmente os quesitos
de acessibilidade, o que mostra que ainda é preciso atenção e
melhorias.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

O francês, Joffre Dumazedier (2004) define o lazer como:

“Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode


entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para
divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, (...) sua
participação social voluntária ou sua livre capacidade
criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das
obrigações profissionais, familiares e sociais(...) “

Partindo disso, o lazer é uma forma de livrar-se das obrigações individuais, onde muitas
vezes as pessoas procuram uma prática esportiva de lazer para desprender-se dessas obrigações
profissionais, familiares e sociais. Assim, o lazer, é uma ferramenta essencial para diminuir
estresse e sentir-se mais livre.
O lazer está presente na humanidade, sendo o homem, de concepção ludens (Almeida;
Nunes; Zoboli, 2011). Posteriormente, o lazer é visto como um fenômeno histórico-social, com
o advento da industrialização e perpassando por reinvindicações sociais como forma de gozo
do ócio (Almeida; Nunes; Zoboli, 2011). No decorrer das discussões acerca do lazer, foram
criadas várias ferramentas legais para regulamentar seu direito de acesso pela população e dever
do estado de propiciar investimentos em tal área, mas mesmo com essas leis sendo criadas ainda
existem obstáculos que impedem as PcD de aproveitarem desse direito, tornando-as excluídas
desse processo.
O Lazer está elencado na Constituição do povo brasileiro como um dos principais
direitos do cidadão, Na Constituição Federal, o lazer aparece no mesmo patamar de importância
da educação, saúde, trabalho, moradia e segurança e o assegura como um direito pertencente a
todas as pessoas (Santos et. al., 2017). No entanto, percebe-se ainda que para algumas minorias,
como as pessoas com deficiência (PcD), idosos e pessoas de classes menos favorecidas, o
acesso a esse direito torna-se difícil e distante do gozo de pleno direito (Almeida; Nunes;
Zoboli, 2011).
Os parques, praças, quadras e demais espaços públicos de lazer, de forma recorrente não
apresentam estruturas adequadas para as PcD, ou até apresentam algumas estruturas de
acessibilidade porém com suas medidas erradas, como a inclinação e tamanho da rampa, portas
das quadras com batente impossibilitando a entrada de pessoas usuárias de cadeira de rodas,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

arquibancadas sem um espaços para as pessoas com cadeiras de rodas (Almeida, et. al., 2011).
Porém, o que vemos é que, a inatividade física é um agravo para a qualidade de vida da
população em geral, ocasionando um estilo de vida cada vez mais sedentário e com riscos à
saúde com a incidência de doenças secundárias, principalmente as coronarianas (NAHAS,
2016). Esses dados se agravam ainda mais quando os estudos são relação as PcD, pois estas
muitas vezes estão afastadas das práticas de atividade física, devido à variedade de barreiras
ambientais, pessoais e sociais encontradas.
Samulski e Noce (2002) atribuem uma série de benefícios que são aliados a prática de
atividades de lazer esportivos por PcD, tais como: redução dos níveis de estresse e ansiedade,
redução de possibilidade de evolução de quadros depressivos, melhora do estado de humor.
Samulski (2009) atribui não somente a prática de lazer esportivo mais outros fatores
responsáveis para alcance dessa condição positiva tais como: O ambiente em que a pessoa
realiza essa atividade, a socialização de indivíduos entre si e com a natureza e, acima de tudo,
a percepção melhora de suas capacidades cognitivas e sensoriais, com isso surge a necessidade
de adequação de suas cidades para o atendimento eficaz desse segmento.
Partindo das evidências notáveis de benefício da prática de lazer e atividade ao
indivíduo, faz-se necessário a criação de políticas públicas de investimento em espaços públicos
adequados para a população bem como esses locais serem acessíveis para as PcD. Rosadas
(2002) traz em seu estudo que a prática de atividade física através do esporte para esta
população torna-se uma maneira de inseri-las em um ambiente de socialização, promovendo
uma melhora na qualidade de vida, convívio social e melhora de sua autoestima.
Conforme a Lei Nº 10.098 de 19 de Dezembro de 2000 (BRASIL, 2000) a promoção da
acessibilidade é entendida como,

Possibilidade e condição de alcance para a utilização, com


segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários, e
equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos
sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de
deficiência ou com mobilidade reduzida.

Este lei ainda traz o referindo-se a toda e qualquer entrave e/ou obstáculo que impeça
ou limite o livre acesso das PcD em qualquer local ou espaço (MANTA, 2011). De maneira a
melhor entender, é preciso resgatar os princípios ontológicos que foram responsáveis pela
evolução do direito ao lazer e ao esporte no Brasil como direitos sociais. (PEREIRA, 2019)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Ao final de três conferências Nacionais do Esporte e Lazer, realizados no Brasil, através


do Ministério do Esporte, nos anos de 2004, 2006 e 2010; foram confeccionados e divulgados
documentos norteadores que apresentavam a necessidade de democratização e universalização
do acesso ao esporte e lazer a todos os indivíduos que compõem a sociedade, incluindo nesse
contexto as PcD.
No meio legal temos outros diversos documentos que trazem essa perspectiva tais como:
A carta Magna nos artigos 6º e 217º; o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) no artigo 52,
alínea II do artigo 29 do Estatuto da juventude, a resolução nº 05/2005 do Ministério do Esporte,
o Decreto 7.037/2009, que assegura a participação das PcD na vida cultural das cidades em
condições de igualdade com as demais pessoas, a Lei nº 9.615/1998 (política Nacional de
Esportes), chamada de Lei Pelé, que regulamenta a gestão de eventos esportivos e também o
Decreto nº 3.298/1999 (Política Nacional para Integração da Pessoas com Deficiência), que traz
entre seus objetivos e diretrizes a inclusão e integração dessa população aos direitos básicos,
dentre eles o lazer, o desporto, o turismo e a cultura (Art. 6º, III; Art. 7º II). Destaca-se também
no seu Artigo 2º, que versa sobre a competência dos órgãos e das entidade públicas para
assegurarem tais direitos (BRASIL, 1999).
Conforme disposto nos diversos meios legais que dispõem sobre as leis e decretos acerca
do lazer e esporte pelas pessoas com deficiência, o presente estudo tem como finalidade,
analisar a orla de Petrolina-PE, como um espaço acessível para a prática de atividade física e
de lazer pelas pessoas com deficiência.

METODOLOGIA

A cidade de Petrolina-PE encontra-se geograficamente no sertão pernambucano, a


cidade é banhada pelo Rio São Francisco, possuindo uma orla construída com 3km de extensão,
contendo: bares, restaurantes, prédios e condomínios, além de alguns espaços de lazer, conta
também como uma ótimo local para se fazer caminhada e prática de corrida ao ar livre.
O presente estudo é baseado metodologicamente no artigo Almeida; Nunes; Zoboli
(2011), onde foram avaliados os níveis de acessibilidade a qual a orla do município se encontra,
apontando como os espaços se encontravam e quais as melhorias que poderiam ser feitas para
se adequar de acordo com a norma 9050/2015.
Dentre os espaços de lazer disponíveis na cidade este estudo selecionou a Orla do
Município de Petrolina-PE, para analisar os espaços de lazer presente por sua extensão. O
presente estudo enquadra-se em uma pesquisa descritiva do tipo qualitativa, conforme Godoy

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(1995):

A palavra escrita ocupa lugar de destaque nessa abordagem,


desempenhando um papel fundamental tanto no processo de
obtenção dos dados quanto na disseminação dos resultados.
Rejeitando a. expressão quantitativa, numérica, os dados
coleta dos aparecem sob a forma de transcrições de
entrevistas, anotações de campo, fotografias, videoteipes,
desenhos e vários tipos de documentos. Visando à
compreensão ampla do fenômeno que está sendo estudado,
considera que todos os dados da realidade são importantes e
devem ser examinados. O ambiente e as pessoas nele
inseridas devem ser olhados holisticamente: não são
reduzidos a variáveis.

Para desenvolvimento e análise dos espaços foram realizadas duas visitas ao local
escolhido, onde foram feitas anotações, registros fotográficos e realizadas medidas de
determinados espaços. Após realizar essas visitas, para analisar os dados encontrados,
comparamos com o descrito na NBR 9050/2015, esta norma estabelece critérios e parâmetros
técnicos a serem observados quanto ao projeto, construção, instalação e adaptação do meio
urbano e rural, e de edificações às condições de acessibilidade.
Os registros fotográficos foram importantes para apresentar as condições em que os
espaços se encontram, e para sinalizar o que está de acordo ou o que se deve ser implementado
para esta conforme a norma exige. Foram realizados medidas de das rampas, piso tátil e
direcional, será anotados as medidas encontradas e comparadas com descrito na norma e
posteriormente fazer a análise sobre as questões de acessibilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após as visitas que foram realizadas para observação, anotação e retirada de medidas
dos espaços públicos que são existentes na extensão da orla de Petrolina-PE, podemos verificar
que, após a reforma que houve recentemente, existiu uma preocupação por parte da prefeitura
municipal para poder tornar os ambientes mais inclusivos as pessoas com deficiência da região.
Dessa forma, foram instaladas 7 rampas para pessoas usuárias de cadeira de rodas, piso táteis
(de alerta e os direcionais) que auxiliam no deslocamento de pessoas com deficiência visual.

Página 589
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Ressaltamos que apesar dos investimentos realizados por parte da prefeitura de


Petrolina-PE, ainda foram encontrados espaços aos quais não continham acessibilidade da
forma que é exigida pela ABNT 9050/2015, onde não apresentavam os pisos táteis e a
quantidade de rampas também eram em menor quantidade quando comparado com outras partes
mais centrais da orla do município.
A orla se localiza no centro da cidade, possuindo cerca de 3km de extensão, sendo uma
alternativa de prática de lazer para as pessoas que moram na região central da cidade, neste
local foi observado as rampas de acesso, piso tátil e equipamentos. Passando por reforma em
2020, onde foram feitas algumas modificações quanto a construção de novas rampas e
instalação de alguns escorregadores e equipamentos para realizar exercícios físicos. Após essa
reforma tornou-se um espaço mais acessível pois foram observado um maior número de rampas
na extensão da orla bem como a presença do piso tátil por uma grande parcela de sua extensão,
porém ainda encontra-se alguns trechos que necessitam da presença do piso tátil. Em relação
aos equipamentos, concluí-se que estão dispostos em um local acessível e apresentam uma
segurança para quem utiliza-o; já os escorregas, estão instalados em um local com piso em areia
fina impossibilitando o acesso de crianças usuárias de cadeira de rodas. As fotos trazem
resultados aqui descritos.

Fonte: Próprio autor.

Em relação aos equipamentos de musculação que estão distribuídos em dois locais da


orla, apresentam estruturas adequadas para a prática de atividade física, sem apresentar
ferrugem e objetos perfuro cortantes, o que está de acordo com o que é solicitado pela ABNT

Página 590
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

9050/2015, nas quais as pessoas podem praticar com autonomia e segurança.


Podemos verificar que os espaços voltados para crianças, estão inseridos em um local
onde a acessibilidade para crianças com deficiência física pode limitar o acesso ao brinquedo,
bem como crianças que são usuárias de cadeira de rodas, não conseguem usufruir do espaço de
forma autônoma, pois o piso de onde o brinquedo está inserido, é um local arenoso, o que
dificulta o acesso da pessoa com a sua cadeira de rodas.
Na orla também podemos verificar que os espaços na orla não possuem mapas táteis,
para orientação destas pessoas para se situarem, para onde vai e onde está, com isso podemos
verificar que para as acessibilidades para as pessoas com deficiência visual são atendidas de
formas parciais, pois apresentam apenas os pisos táteis (direcional e de alerta) mas não por toda
extensão da orla do município e não apresenta mapa tátil.
Os espaços de lazer e as estruturas físicas disponíveis para tal, são dinâmicos e
apresentam transformações nas cidades que estão em desenvolvimento, e as políticas públicas
de lazer são necessárias para a implementação desses espaços, bem como a sua utilização
consciente, Como evidenciado em Marcellino et al. (2008), o lazer para acontecer também
precisa de um espaço; e não se pode negar que o espaço para o lazer contemporâneo é o espaço
das cidades. Marcellino (2006), afirma que os espaços públicos e equipamentos de lazer podem
ser específicos ou não específicos, quando são criados com a finalidade do lazer e os que não
foram criados com tal finalidade mas acabaram se desenvolvendo atividades que gere a prática
do lazer, respectivamente. Ainda segundo Lima (2015, p.23) “os espaços podem ser pensados
partindo dos próprios bairros, o que proporcionariam, aos moradores, uma vida pública no seu
entorno, estimulando, assim, o convívio com os vizinhos”; assim podemos observar que a
criação de espaços de lazer para a população está associada com o desenvolvimento de uma
melhora no aspecto social e também no aspecto de saúde. Para Salvador (2017), a infraestrutura
de uma cidade é peça-chave para que tenhamos uma sociedade que possa fazer das atividades
físicas esportivas uma prática constante em nosso cotidiano.
Para a vivência do esporte centrada no desenvolvimento humano torna-se necessário
adequar espaços e equipamentos. Para Marcellino et al. (2007, p.15-16) o “[...] espaço é
entendido como o suporte para os equipamentos. E os equipamentos são compreendidos como
os objetos que organizam o espaço em função de determinada atividade”. Tomando por base a
Lei Nº 10.098/2000 (BRASIL, 2000), que trata das acessibilidade e da ABNT 9050/2015, os
espaços públicos eles devem se adequar para poder ser acessíveis e que tragam a segurança para
que as pessoas com deficiência possam usufruir desses espaços e equipamentos urbanos; desta
forma os órgãos públicos devem não só oferecer tais espaços mas também realizar sua

Página 591
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

manutenção para que todos possam estar utilizando-os com segurança.

CONCLUSÃO

Após realizadas as análises das estruturas físicas e equipamentos que foram encontrados
pela extensão da orla do município de Petrolina-PE, podemos verificar que a gestão municipal
busca realizar reformas dos espaços tornando-os mais acessíveis para as pessoas com
deficiência, que contribui com os aspectos sociais e de saúde das pessoas, principalmente as
pessoas com deficiência, na redução dos níveis de estresse e ansiedade, redução de
possibilidade de evolução de quadros depressivos, melhora do estado de humor (SAMULSKI;
NOCE, 2002).
Corroborando com estudo de BRITO (2021), o local busca uma integração entre pessoas
com e sem deficiência, onde foi possível observar locais com acessibilidade mas que de forma
que pode ser melhorada, ressaltamos que já existir um espaço em que as pessoas com
deficiência possam estar tendo o mínimo de acessibilidade para a sua prática de lazer cotidiana
é importante para seu melhor desenvolvimento social e de aspectos de saúde. Destacamos ainda
que, a forma em que o processo de urbanização da cidade é conduzido tem uma relação forte
como a qualidade e estilo de vida de sua população, criando interfaces, ou seja, a estruturação
da cidade vai influenciar na expectativa da população em relação ao usufruto do seu tempo de
lazer, tempo livre; caracterizando assim, a necessidade de construção e adaptações dos espaços
para que as pessoas com e sem deficiência possam ter seu direito garantido e estar usufruindo
dele.

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SANTOS, R. S.; ZOBOLI, F.; RODRIGUES, C.; FELISBERTO, S. B. Acessibilidade de


Cadeirantes em um Equipamento Específico de Lazer: O Estádio de Futebol Batistão na Cidade
de Aracaju/SE. LICERE - Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos
do Lazer, [S. l.], v. 20, n. 3, p. 289–312, 2017. DOI: 10.35699/1981-3171.2017.1694.
Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/licere/article/view/1694. Acesso em: 28
fev. 2021.

Página 595
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 56

A PANDEMIA DE COVID-19 E O DISTANCIAMENTO


SOCIAL: CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE MENTAL

Willyane Larissa Lopes de Lima, Maria Eduarda Lopes de Macedo Bezerra,


Williane Pereira Cruz, Luana Pereira Cardoso, Daiane de Matos Silva, Lenira
da Silva Justino Nogueira, Teresinha Oliveira Lima de Araújo, Tais da Silva
Araújo, Ana Beatriz Ferreira do Amaral Antunes, Izadora Ribeiro de Moraes e
Emily da Silva Eberhardt

RESUMO: Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde elevou


a COVID-19 como pandemia, ou seja, uma situação em que uma doença
ameaça de modo simultâneo todos os continentes do mundo. Dentre as
medidas preventivas preconizadas, está o distanciamento social, que apesar
do benefício que traz, desencadeia diversos agentes estressores nas pessoas.
Sendo assim, o estudo objetiva identificar fatores estressantes devido ao
distanciamento social e o impacto que a pandemia traz para a saúde mental
do ser humano. Trata-se de uma revisão narrativa desenvolvida a partir de
materiais já elaborados. Foram lidos os títulos e resumos para que fossem
selecionados estudos que atendessem ao objetivo e aos critérios de inclusão,
sendo selecionados nessa etapa 27 artigos, dentre os quais, 10 artigos foram
selecionados para extrair os subsídios de interesse. O número de pessoas
afetadas psicologicamente supera os índices de indivíduos infectados,
podendo apresentar danos psicológicos. Pacientes com suspeita ou já
diagnosticados podem ter experiências com emoções e reações intensas,
como sentir ansiedade, raiva, solidão e insônia. Podendo evoluir para
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), ataques de pânico e
sintomas psicóticos. Ao mesmo tempo em que as orientações têm o objetivo
de proteção da nossa integridade fisiológica, por outro lado, ficamos
vulneráveis com relação à saúde mental, pois sabemos que o ser humano tem
a necessidade de contato, e de forma repentina, tivemos que nos adaptar a
essa nova realidade.

Página 596
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A COVID-19 (Coronavirus Disease 2019) é o nome da síndrome respiratória


ocasionada pelo novo coronavírus; a doença foi relatada em dezembro de 2019 na cidade de
Wuhan, na China. Dentre os primeiros diagnósticos, um fator em comum, era o contato que os
indivíduos tinham com vísceras e fluidos de animais de um Mercado Atacadista (CHAVES et
al., 2020).
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elevou a COVID-
19 como pandemia, ou seja, uma situação em que a doença ameaça de modo simultâneo as
pessoas do mundo (SENHORAS, 2020). A transmissão ocorre de uma pessoa infectada para outra
sadia, através de gotículas de saliva, espirro, contato com a boca, nariz ou olhos, podendo
também ser por meio de objetos e superfícies contaminadas (AQUINO et al., 2020).
Nesse contexto, dentre as medidas preventivas adotadas a nível mundial estão:
higienização das mãos, o uso de máscaras, distanciamento social, monitoramento de pessoas
com suspeita de infecção e isolamento das pessoas infectadas (SOUTO, 2020). No entanto, adotar
apenas uma dessas medidas pode ser considerado insuficiente para controlar a doença
(OLIVEIRA et al., 2019).
Quanto ao distanciamento social, seu objetivo é manter as pessoas afastadas, buscando
assim, diminuir as chances de contaminação; porém, apesar do benefício que traz, pode vir a
desencadear diversos agentes estressores nas pessoas, dentre os quais estão: tristeza, incerteza
quanto ao futuro, medo e necessidade de se afastar de amigos e familiares (FARO et al., 2020).
Todos esses fatores podem levar o indivíduo ao excesso no consumo de álcool e drogas
ilícitas, alterações de apetite e de sono (LIMA, 2020). Dessa forma, este estudo busca responder
a seguinte questão de pesquisa: Quais as consequências do distanciamento social para a saúde
mental?
Apesar de ser uma ação de saúde pública para a proteção individual, é essencial também
pensar na saúde mental da população nesse período; cabe salientar que por causa do avanço da
doença e o excesso de notícias, o cenário atual se torna um ambiente favorável para mudanças
comportamentais impulsionadoras de adoecimento psíquico (PEREIRA et al., 2020). Com isso,
o estudo justifica-se pela necessidade de reconhecimento dos fatores estressantes e como os
níveis de saúde mental da população influenciam no comportamento frente ao distanciamento
social devido à pandemia.

METODOLOGIA

Página 597
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, desenvolvida a partir de materiais já


elaborados. A pesquisa ocorreu no período de dezembro de 2021, onde foram coletados através
do levantamento das produções científicas sobre consequências para a saúde mental da
pandemia de COVID-19 e o distanciamento social.
Com isso, utilizou-se de etapas para construção do estudo: Definição da temática e
problemática através da estratégia PIco, elaboração dos critérios de inclusão e exclusão para a
pesquisa, definição das bases de dados e descritores a serem utilizados, realização das buscas
de materiais para a construção do estudo e análise crítica e discussão dos resultados obtidos.
Para direcionar a pesquisa, adotou-se como pergunta norteadora: "Quais as consequências do
distanciamento social para a saúde mental?"
Para construção da pesquisa, a coleta e análise de dados foram realizadas através das
bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrievel System
Online (MEDLINE) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), através dos seguintes Descritores
em Ciências da Saúde (DeCS): Pandemia”; “COVID-19”; “Saúde Mental”; “Adaptação” e
“Distanciamento físico”, através do operador booleano AND.
Foram selecionados como critérios de inclusão: artigos disponíveis na íntegra, nos
idiomas português, inglês e espanhol que abordassem a temática, no último ano. Como critérios
de exclusão: revisões de literatura, teses, dissertações, monografias, artigos que não
contemplavam o tema e estudos repetidos nas bases de dados.
Foram lidos os títulos e resumos para que assim fossem selecionados aqueles que
atendessem ao objetivo proposto e aos critérios de inclusão, sendo selecionados nessa etapa 27
artigos. Após isso, foram capturados 10 artigos para extrair os subsídios de interesse, pois
apresentava o real objetivo do trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após serem submetidos aos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 27


artigos, dos quais 10 permaneceram como amostra. Para a análise, foram escolhidos artigos que
respondessem ao objetivo da pesquisa, fornecendo aos autores conhecimentos fidedignos
acerca do tema em estudo (Quadro 1).

Página 598
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Quadro 1. Publicações elegíveis para análise

TÍTULO AUTORES OBJETIVOS

CORONAVÍRUS E O PAPEL DAS SENHORAS, Analisar o surto internacional do


PANDEMIAS NA HISTÓRIA 2020 coronavírus, com epicentro difusor na
HUMANA China no ano de 2020, à luz de uma
discussão contextualizada pelo papel
histórico das pandemias no
desenvolvimento involutivo da
humanidade, bem como pela
construção de agendas de
securitização da saúde pública.

MEDIDAS DE AQUINO et Analisar o impacto das políticas de


DISTANCIAMENTO SOCIAL NO al., 2020 distanciamento social na pandemia de
CONTROLE DA PANDEMIA DE COVID-19 e os desafios para sua
COVID-19: POTENCIAIS implementação no Brasil, de forma a
IMPACTOS E DESAFIOS NO ampliar a compreensão da sua
BRASIL necessidade, por parte da população, e
propiciar subsídios à tomada de
decisão por gestores.

COVID - 19: ASPECTOS GERAIS E SOUTO, 2020 Apresentação das principais


IMPLICAÇÕES GLOBAIS características da COVID - 19 como a
epidemiologia, as características do
agente etiológico, o diagnóstico e o
tratamento da doença, bem como as
suas implicações nos países em que se
encontra.

Página 599
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O QUE A PANDEMIA DA COVID- OLIVEIRA et Analisar a pandemia da Covid-19 e o


19 TEM NOS ENSINADO SOBRE al., 2019 que temos (re)aprendido com a
ADOÇÃO DE MEDIDAS DE experiência mundial para adoção das
PRECAUÇÃO? medidas de prevenção preconizadas
pela Organização Mundial de Saúde
bem como o panorama
epidemiológico no mundo, na
América Latina e no Brasil.

COVID-19 E SAÚDE MENTAL: A FARO et al., Apresenta questões relacionadas à


EMERGÊNCIA DO CUIDADO 2020 emergência do cuidado em saúde
mental, tanto aquele prestado pela
Psicologia, como aquele que pode ser
desenvolvido pelos demais
profissionais de saúde, de modo a
minimizar os impactos negativos da
crise e atuar de modo preventivo.

A PANDEMIA DE COVID- 19, O PEREIRA et Realizar uma análise sobre as


ISOLAMENTO SOCIAL, al., 2020 consequências na saúde mental
CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE advindas do período de isolamento
MENTAL E social durante a pandemia de COVID-
ESTRATÉGIAS DE 19 e de prenunciar estratégias de
ENFRENTAMENTO: UMA enfrentamento para minimizá-las.
REVISÃO INTEGRATIVA

MEDIDAS DESENVOLVIDAS REIS et al., Realizar uma revisão sobre a


PARA AVALIAR OS IMPACTOS 2020 psicometria. Instrumentos
PSICOLÓGICOS DA PANDEMIA desenvolvidos e adaptados para medir
DE COVID- 19: UMA REVISÃO construtos psicológicos no contexto do
SISTEMÁTICA DA LITERATURA COVID-19 pandemia.

Página 600
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTERAÇÕES PSICO- RAONY et Destacar a hipótese de que as


NEUROENDÓCRINA-IMUNE NO al., 2020 interações neuroendócrina-imune
COVID-19: POTENCIAIS podem estar envolvidas em impactos
IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL negativos da infecção pelo SARS-
CoV-2 e isolamento social em
questões psiquiátricas.

EFEITOS DA PANDEMIA DO SILVA et al., Desenvolver reflexões críticas sobre


NOVO CORONAVÍRUS NA 2020 os efeitos da pandemia do novo
SAÚDE MENTAL DE coronavírus na saúde mental de
INDIVÍDUOS E COLETIVIDADES indivíduos e coletividades

IMPACTOS NO LIMA et al., Realizar uma revisão narrativa das


COMPORTAMENTO E NA 2020 repercussões no comportamento e na
SAÚDE MENTAL DE GRUPOS saúde mental da população vulnerável
VULNERÁVEIS EM ÉPOCA DE e de medidas adotadas, no
ENFRENTAMENTO DA enfrentamento da pandemia do
INFECÇÃO COVID- 19: REVISÃO COVID- 19.
NARRATIVA

Fonte: Autores, 2021.

É possível que todo indivíduo apresente algum desconforto relacionado ao seu contexto
de vida que traga repercussões para a sua saúde mental, sem que seja ainda classificado como
tal. Entretanto, com a pandemia de COVID-19, implicou casos de desequilíbrio psicossocial
capaz de ultrapassar a capacidade de enfrentamento da população atingida (REIS et al., 2020).
Os sintomas psicossociais são considerados, em sua maioria, como uma resposta
sintomatológica de reação normal frente uma situação anormal. Diante do nível de exposição
da população, medidas como o distanciamento e isolamento social são tomadas com o objetivo
de proteger a integridade fisiológica das pessoas (FARO et al., 2020).
Apesar de contribuírem para atenuar a infecção, essas medidas provocam um estresse
social que pode levar a alterações imunológicas responsáveis pelo aumento na produção de

Página 601
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

substâncias inflamatórias mesmo em indivíduos que não foram infectados, assim como, elevar
e intensificar os níveis de ansiedade (RAONY et al., 2020).
Quase todos os estudos selecionados confirmaram que pacientes que estão com suspeita
ou confirmação de infecção pelo COVID-19 apresentam reações e emoções intensas, de modo
que podem vir a sentir ansiedade, culpa, raiva, solidão e insônia; nesse sentido, pode haver
evolução dessas reações para transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), ataques de pânico,
sintomas psicóticos, depressão e suicídio (SILVA et al., 2020).
Um grupo com maior vulnerabilidade ao sofrimento mental são as pessoas que já
apresentam transtornos mentais, podendo sofrer com a intensificação das características do
transtorno apresentando (FARO et al., 2020). Além disso, pacientes esquizofrênicos possuem
mais dificuldade de acesso a serviços de saúde adequados, podendo reduzir a adesão dos
medicamentos terapêuticos necessários, acarretando episódios de surtos psicóticos (LIMA et
al., 2020).
Em momentos de pandemia, o número de pessoas afetadas psicologicamente supera os
índices de indivíduos infectados, estimando que de um terço a metade da população está
suscetível a apresentar danos psicológicos e psiquiátricos na ausência de cuidados devidos
(PEREIRA et al., 2020).
Por ser uma doença que se espalha rapidamente entre indivíduos, famílias tiveram que
ser separadas de entes queridos contaminados com o intuito de evitar o contágio; quando em
casos graves no qual o membro da família vem a óbito, familiares manifestam sentimentos de
frustração e incapacidade (GARRIDO et al., 2020).
Devido à aderência do distanciamento social, para milhões de pessoas ao mesmo tempo,
é considerada a possibilidade de uma futura pandemia, que pode ser intitulada como a
“Pandemia de medo e estresse”. É importante destacar que ao discutir sobre pandemia de
COVID-19 e saúde mental, é fundamental levar em consideração fatores como a saúde física,
mental e o contexto em que a pessoa está inserida (ORNELL et al., 2020).
Apesar da existência de avanços tecnológicos, estão os algoritmos que são
impulsionadores para disseminação da desinformação. Sob uma ótica de prevenção à saúde
mental, fazem-se recomendações práticas, como: evitar a desinformação e o excesso delas e, de
forma clara, propagar apenas informações verídicas sobre a pandemia (GANDOLFI et al.,
2020).

CONCLUSÃO

Página 602
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

De forma repentina, a população mundial precisou se adaptar a uma nova realidade, é


um desafio que afeta uma das principais necessidades básicas do ser humano. Vivencia-se uma
ameaça real na qual há reações diferentes, se tornando todas elas legítimas; os efeitos da
pandemia vêm atingindo diretamente a saúde mental, implicando em uma condição de saúde
pública. Uma pandemia dessa magnitude traz uma perturbação psicossocial, podendo
ultrapassar a capacidade de enfrentamento.
Tendo o padrão de comportamento social alterado de forma brusca, o estado pandêmico
causa diversas alterações comportamentais, principalmente alterações negativas causadas pelo
distanciamento social; embora essa medida de prevenção colabore para redução da propagação
do vírus. Ao mesmo tempo em que as orientações têm o objetivo de proteção da nossa
integridade fisiológica, há outro aspecto que precisa de uma maior investigação, pois o ser
humano tem a necessidade de contato e interação social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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a Saúde Única e a importância da medicina de viagem na emergência de novos patógenos”.
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LIMA, R. C. “Distanciamento e isolamento sociais pela Covid-19 no Brasil: impactos na saúde
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Disponível em: https://www.scielosp.org/article/physis/2020.v30n2/e300214/

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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época de enfrentamento da infecção COVID-19: revisão narrativa”. Revista Eletrônica Acervo
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OLIVEIRA, A. C.; LUCAS, T. C.; IQUIAPAZA, R. A. “O que a pandemia da covid-19 tem


nos ensinado sobre adoção de medidas de precaução?” Texto & amp; Contexto - Enfermagem
, vol. 29, 2020. SciELO. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?%20pid=S0104-
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REIS, L. M. et al. “Medidas desenvolvidas para avaliar os impactos psicológicos da pandemia


de COVID-19: uma revisão sistemática da literatura”. Salud e Sociedad , vol. 11, dezembro de
2020, p. e4565 – e4565. Disponível em:
https://revistaderecho.ucn.cl/index.php/saludysociedad/article/view/4565/3645

SENHORAS, E M. “Coronavírus e o papel das pandemias na história humana”. Boletim de


Conjuntura (BOCA), vol. 1, n 1, janeiro de 2020, p. 31–34. Disponível em:
https://revista.ufrr.br/boca/article/view/Eloi/2899

SILVA, H. G. N.; SANTOS, L. E. S. DOS; OLIVEIRA, A. K. S. DE. “Efeitos da pandemia do


novo Coronavírus na saúde mental de pertencer e coletividades / Efeitos da nova pandemia de
Coronavírus na saúde mental de indivíduos e comunidades”. Revista de Enfermagem e Saúde,
vol. 10, n 4, maio de 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/18677/11414

SOUTO, X.M. “COVID-19: aspectos gerais e regras globais”. Recital - Revista de Educação,
Ciência e Tecnologia de Almenara / MG , vol. 2, n 1, junho de 2020, p. 12–36. Disponível em:
https://recital.almenara.ifnmg.edu.br/index.php/recital/article/view/90

Página 604
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 57

A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR


EM TEMPOS DE OBESIDADE INFANTIL

Andreza Scheffer Sanches e Anderson Madrid de Oliveira

RESUMO: Este estudo teve por objetivo verificar a importância da educação

física escolar em nossa sociedade, devido ao grande número de crianças e

adolescentes obesos. Para a realização dele foi utilizada uma pesquisa

exploratória, com o objetivo de transmitir uma boa compreensão e precisão

sobre o tema abordado. Na pesquisa, foi possível perceber que a obesidade

infantil é um grande problema de saúde pública, e que os fatores como

sedentarismo e má alimentação são determinantes para a manutenção da

obesidade. Para isso, organizou-se previamente uma pesquisa com diferentes

autores, buscando entender a importância das aulas de Educação Física

serem proporcionada à criança o contato com variadas de atividades.

Página 605
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Com o presente trabalho, pretende-se ampliar o conhecimento e a discussão sobre a


importância da Educação Física escolar como fator de prevenção contra a obesidade infantil.
Crianças obesas têm chances de virar adultos também obesos, e crianças obesas levam para a
fase adulta riscos para sua saúde.
A obesidade é uma doença grave e um importante problema de saúde pública, que se
caracteriza pelo aumento da massa gorda corporal.
Sobre a obesidade infantil, dois pontos são fundamentais, a alimentação e a atividade
física. E hoje cada vez mais as crianças estão menos expostas as atividades físicas, ficando mais
tempo em frente aos computadores, televisão e celular. Se tornando sedentários cada vez mais
cedo.
Hábitos alimentares incluindo alimentos industrializados ou fast food como lanches
escolares, contribuem para a elevação do número de indivíduos obesos no mundo, atingindo
todos os níveis socioeconômicos.
O objetivo desse estudo é mostrar quais são as principais causas do número de crianças
se tornarem obesas vem crescendo, e quais são os fatores que influenciam. Além de verificar
como a educação física pode contribui na redução da prevalência da obesidade infantil no
Brasil.
Desta forma, este trabalho tem o intuito discutir importância de escolas trabalhem mais
sobre a obesidade, seus ricos e como prevenir, também é importante encorajar os jovens a
praticar exercícios físicos, lembrando que apesar da prática regular de atividades físicas
contribuírem significativamente para o estado de saúde das crianças, elas também podem
predispor à ocorrência de lesões musculoesqueléticas. Para isso, a pesquisa buscou um
levantamento bibliográfico que permitiu discutir a temática. Como método para a realização
deste trabalho, foi realizado pesquisas exploratória, com o objetivo de transmitir uma boa
compreensão e precisão sobre o tema abordado.

SOBREPESO E OBESIDADE

Anteriormente o que mais preocupava o Brasil era a desnutrição, mas hoje o número de
crianças e adolescentes obesos vem crescendo cada vez mais, e isto é muito preocupante já que
está relacionada ao maior consumo de produtos industrializados. De acordo com Guimarães
(2017) se não haver mudanças nem menos de uma década a obesidade pode atingir 11,3 milhões

Página 606
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de crianças no Brasil.
Sobrepeso e obesidade estão relacionados ao excesso de peso no ser humano. O termo
Sobrepeso é usado quando alguém possui o peso além do estabelecido de acordo com a estatura,
e a obesidade é um excesso de gordura no corpo, na qual diminui a expectativa de vida e assim
tornar o indivíduo vulnerável a aparições de doenças. E ambas doenças são influenciados pelos
fatores biológicos, psicológicos e sócio econômicos, como afirma Castro et al (2018, p.84):

O sobrepeso e a obesidade tem sido um problema mundial, causado por fatores


genéticos, hábitos alimentares e ausência de atividade física, que influencia nas
mudanças físicas, psicológicas e sociais, elevando cada vez mais o nível de
prevalência de obesidade em crianças e adolescentes.

A obesidade ocorre devido a fatores genéticos, culturais e familiares, o ganho de peso


pode vir devido a hábitos alimentares inadequados, sedentarismo e distúrbios psicológicos.
Alimento de alto valor calórico, mesmo em pouca quantidade, leva ao aumento de peso. A falta
de exercícios físicos também é um fator para a obesidade, pois o indivíduo não realiza um
grande gasto energético. A prevenção da obesidade infantil é muito importante, como afirma a
Sociedade de Pediatria de São Paulo:

A prevenção da obesidade deve ser realizada pelo pediatra, pois o tratamento


dietético e medicamentoso não atinge eficácia na resolução desse distúrbio
nutricional. A causa da obesidade é multifatorial, necessitando de equipe
interdisciplinar para acompanhar essas crianças e esses adolescentes. As
repercussões clínicas e o aumento da morbimortalidade dos obesos justificam
a necessidade primordial da prevenção. A ausência de familiar colabora de
forma importante em horários do lazer infantil, portanto, torna-se prudente
melhorar, favorecer e oportunizar as inter-relações sociais materno-infantis
(SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, 2019, P. 5).

A prática regular de atividade física melhora a tolerância à glicose e a sensibilidade à


insulina, mesmo quando não há uma grande perda de peso corporal. Ou seja, a atividade física
além de auxiliar na perda de peso, ela auxilia na melhora na qualidade de vida do indivíduo,
mas, é necessário também uma dieta balanceada onde se reduz o número de calorias diárias.
Para Guimarães (2017), é importante incentivar o aleitamento materno e limitar o
consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, como refrigerantes, biscoitos e fast food é
essencial para evitar que crianças se tornem obesas e para reduzir os níveis atuais da doença,
estudos apontam que em 2025, em torno de 150 mil crianças e jovens no Brasil desenvolverão
diabetes tipo 2, um milhão terão pressão arterial elevada e cerca de 1,4 milhão terão gordura no
fígado. É importante reduzir a presença da obesidade na população e para isso é necessário

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

mudar hábitos, já que a principal razão para a alta de peso na população é a alimentação
inadequada e o sedentarismo, por isso é importante encorajar os jovens a praticar exercícios
físicos.
De acordo com a Sociedade de Pediatria de São Paulo a alimentação saudável começa
desde a gestação:

De acordo com a “teoria do flavor”, a formação dos hábitos alimentares se


inicia desde a gestação, época em que a variedade de ingestão dos alimentos
pela gestante expõe o feto a moléculas palatáveis provenientes dos alimentos,
que ficam em suspensão no líquido amniótico, permitindo ao feto a associação
da sensação desses paladares à segurança e ao prazer inerente da vida
intrauterina. A amamentação também promove sensação semelhante, pois as
mesmas moléculas estão presentes no leite materno. Portanto, o incentivo a uma
boa nutrição da gestante, com orientações de escolhas saudáveis desde a
gestação, passando pela amamentação, influenciam a aceitação de alimentos
mais saudáveis pela criança no momento da introdução alimentar, o que traz
impacto de longo prazo na saúde e, consequentemente, diminui o risco de
obesidade futura. (SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, 2019, P.
8).

É notório que o aumento do gasto energético com redução de hábitos sedentários e


aumento de exercícios físicos é determinante para perda de peso. Quando o adolescente prática
atividade física há uma grande chance de se tornar um adulto ativo fisicamente, e com um estilo
de vida mais saudável e com melhorias na saúde, intervindo assim na prevenção de doenças
crônicas não transmissíveis.
As doenças crônicas, são aquelas que tem uma progressão lenta e uma longa duração,
que podemos carregar por toda vida. Portanto, a melhor forma de evitar é simples, hábitos
saudáveis, uma boa alimentação, praticar exercícios regularmente e sempre procurar levar a
vida de uma forma tranquila, pois o estresse também pode nos trazer doenças.
E doenças degenerativas como o próprio nome já diz, são doenças que alteram o
funcionamento normal de uma célula e provocam a degeneração de todo um organismo. As
causas do surgimento de doenças degenerativas são relacionadas com aspectos genéticos,
fatores ambientais, má alimentação e sedentarismo. Atualmente, não há cura e nem tratamento
específico para essas doenças, porém o uso de medicamentos alivia os sintomas destas doenças
e proporciona melhores condições de vida aos doentes.
Doenças crônico degenerativas são aquelas que aliadas a um conjunto de fatores, levam
à deterioração progressiva da saúde. A sua etiologia é multifatorial e sabe-se que existe uma
interação entre comportamento, meio ambiente e perfil genético. Logo podemos adquirir
diversas doenças crônico-degenerativas da obesidade, mas temos como as mais comuns o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

diabetes mellitus e a hipertensão, sem controle ou tratamento as duas podem levar ao óbito, não
existe cura até hoje, somente o tratamento e o tratamento para as duas hoje é medicamentoso,
para a diabetes varia de administração de insulina ou comprimidos e para hipertensão a maioria
dos tratamentos é através de comprimidos.
Diabetes Mellitus é uma doença caracterizada pela elevação da glicose no sangue,
também conhecida por hiperglicemia. A doença se desenvolve devido a defeitos na secreção ou
na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas. A função principal da insulina é
promover a entrada de glicose para as células do organismo de forma que ela possa ser
aproveitada para as diversas atividades celulares. De acordo com o caderno de atenção básica
caracteriza a Diabetes da seguinte forma:

O termo “diabetes mellitus” (DM) refere-se a um transtorno metabólico de


etiologias heterogêneas, caracterizado por hiperglicemia e distúrbios no
metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, resultantes de defeitos da
secreção e/ou da ação da insulina. O DM vem aumentando sua importância pela
sua crescente prevalência e habitualmente está associado à dislipidemia, à
hipertensão arterial e à disfunção endotelial. É um problema de saúde
considerado Condição Sensível à Atenção Primária, ou seja, evidências
demonstram que o bom manejo deste problema ainda na Atenção Básica evita
hospitalizações e mortes por complicações cardiovasculares e cérebro
vasculares. (BRASIL, 2013, p.19)

A diabetes mellitus quando não tratada pode elevar o grau de glicose no sangue,
causando a cetoacidose que pode resultar em uma parada cardíaca e da mesma forma o não
tratamento da hipertensão pode ocasionar em um infarto, parada cardiorrespiratória ou derrame,
entre outras comorbidades.
A hipertensão também conhecida como pressão alta, tem relação com os níveis tensão
do sangue durante a circulação. Artérias estreitas aumentam a necessidade de o coração
bombear com mais força para fazer o sangue circular. Segundo Malachias et al (2016, p.1)
conceitua hipertensão da seguinte forma:

Hipertensão arterial é condição clínica multifatorial caracterizada por elevação


sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. Frequentemente se
associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de
órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco, como
dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito.
Mantém associação independente com eventos como morte súbita, acidente
vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, doença
arterial periférica e doença renal crônica, fatal e não fatal.

A hipertensão normalmente vem acompanhada por outras enfermidades, como

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

obesidade e colesterol elevado. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), é


hoje a principal causa de mortes no mundo, por estar associada ao desenvolvimento de diversas
doenças, principalmente cardiovasculares.

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO COMBATE AO SEDENTARISMO

A diminuição nas práticas físicas e a má alimentação, associada com o uso contínuo de


smartphones, computadores e automóveis, trazem inúmeros riscos à saúde. Para
muitas crianças, a educação física escolar é o primeiro contato com a atividade física. O mundo
tecnológico trouxe inúmeros benefícios para a humanidade, porém isso aumentou o número de
pessoas sedentárias. O indivíduo que anteriormente se mantinha ativo, hoje é sedentário.
O sedentarismo infantil hoje está ligado ao passar muito na frente do computador, vídeo-
game, televisão e outros eletrônicos podem levar ao sedentarismo e obesidade infantil. A
natação é uma atividade física recomendada para crianças a partir de seis meses de idade, uma
ótima alternativa para as crianças já crescerem ativas. O conhecimento da importância da
prática de atividade física na infância e na adolescência faz-se necessário, pois muitas crianças
e adolescentes deixam de brincar, de correr, pular e jogar bola, preferindo ficar horas em frente
a telas como televisão, computador e celular o que reforça o aumento do índice de inatividade
física na infância e juventude (MACHADO, 2011).
O sedentarismo está intimamente relacionado à inatividade física, por isso é necessário
mudar alguns hábitos de vida, uma solução plausível para se combater essa disposição mórbida.
No Brasil, apesar da mídia explanar sobre as consequências do sedentarismo, ainda é tímida a
mobilização contra tal morbidade por parte de órgãos governamentais.
A escola juntamente com a disciplina de Educação Física são importantes para a
prevenção do sobre peso e obesidade nas crianças e adolescentes. A Educação Física se
caracteriza por promover a saúde, os professores devem atuar como incentivadores de seus
alunos, para que adotem um estilo de vida ativo. A prática regular de exercícios físicos durante
a fase escolar incentiva a adoção de hábitos saudáveis durante toda vida (ARAÚJO, BRITO E
SILVA, 2010).
A escola é protagonista na prevenção e no tratamento da obesidade infantil, uma vez
que as crianças passam a maior parte de seu dia na escola. Dessa forma, na grade curricular
deve constar assuntos sobres a educação alimentar, como também a oferta de lanches saudáveis
e o incentivo à prática de exercícios físicos (ABREU, 2010).
Para muitas crianças, a Educação Física escolar é um dos poucos lugares onde as

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

crianças praticarem atividades físicas, tendo a oportunidade de se beneficiar dos ganhos de ter
uma atividade direcionada para sua faixa etária e elaborada por um profissional apto
(BENEDITO, 2014).
Uma prescrição correta é importante, pois o índice de lesões na infância é elevado, visto
que elas são mais vulnerais a lesões devido a menor capacidade de avaliação dos perigos e
menor destreza motora. Então é necessário desenvolver atividades que garantam a segurança,
adaptação e a viabilidade dos movimentos corporais.
Hoje em dia a Educação Física escolar encontra-se negligenciada. Os alunos, por vezes,
não possuem interesse em realizar as atividades propostas, aprendendo pouco ou nada sobre
seu corpo e os cuidados que deve ter com ele. Ou em alguns casos o desinteresse parte do
professor, que somente dá uma bola para os alunos se divertirem, como sendo um momento
livre.
Uma opção é aproveitar jogos que estimulem a prática de exercícios físicos e aplicativos
que marquem o desempenho em atividades para fazer com que os jovens se mantenham mais
saudáveis e ativos, mesmo diante das telas. A melhor atividade física é aquela que proporciona
ludicidade, trazendo prazer e satisfação. Então, gostar da atividade física é importante para que
o praticante se sinta motivado a fazer regularmente. E o profissional precisa lembrar que a
Educação Física Escolar vai além da atividade física, e que diversas unidades de conhecimentos
e habilidades devem ser trabalhadas com a crianças e adolescente durante toda a Educação
Básica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este estudo foi possível concluir que cada vez mais as crianças estão sedentárias e
consumindo principalmente alimentos industrializados, acarretando em sobrepeso e obesidade
e consequentemente desenvolvimento de doenças crônicas. O professor de educação física é
fundamental para estimular as crianças a se exercitarem desde cedo e se tornarem adultos ativos
fisicamente.
Com a pesquisa possível compreender que o professor de educação física é muito
importante para a construção de uma sociedade mais ativa fisicamente. Conscientizar as
crianças sobre as vantagens de um estilo de vida saudável é papel dos pais e também da escola.
As escolas devem proporcionar para as crianças prática de atividades físicas,
devidamente monitorada por um profissional da área, e, caso possível, diversificada para que
se tenha toda a amplitude de movimento, desenvolvendo várias áreas psicomotoras. Além da

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

parte prática, é importante que a escola desenvolva atividades voltadas para uma alimentação
saudável, de forma que eles aprendam a escolher bem seus alimentos, pautando-se pelo seu
valor nutricional.
A criança ao entender os valores de uma vida saudável torna-se um adulto também
preocupado em preservar sua saúde. A obesidade é um mal que deve ser combatido, em
conjunto com toda sociedade. Já que a obesidade é a principal doença que o século XX trouxe
à humanidade, acometendo não somente a população adulta, como a faixa etária pediátrica
também.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Joana Carolina Rochinha. Obesidade infantil: abordagem em contexto familiar.


56p. Monografia. Faculdade de ciências da Nutrição e Alimentação, Universidade do Porto.
Funchal, 2010. Disponível em: <https://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/54610/3/136640_1002TCD02.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2021.
ARAÚJO, Rafael André; BRITO, Ahécio Araújo; SILVA, Francisco Martins. O papel da
educação Física escolar diante da epidemia da obesidade em crianças e adolescentes. Educação
Física em Revista, v. 4, n.2, maio/ago. 2010. Disponível em:
<https://portalrevistas.ucb.br/index.php/efr/article/viewFile/1651/1159>. Acesso em: 15 fev.
2021.
BENEDITO, Leandro de Souza; et al. Educação Física escolar: no combate à obesidade
infantil. 12p. 2014. Disponível em: <https://www.inesul.edu.br/revista/arquivos/arq-
idvol_31_1412631799.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus.
Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 160 p.: il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36).
CASTRO, Jéssica Marliere de. et al. Prevalência de sobrepeso e obesidade e os fatores de risco
associados em adolescentes. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento,
São Paulo, v. 12, n. 69, p. 84-93, Jan./Fev. 2018. Disponível em:
http://www.rbone.com.br/index.php/rbone/article/view/657/511. Acesso em: 09 fev. 2021.
GUIMARÃES, Keila. Brasil terá 11,3 milhões de crianças obesas em 2025, estima
organização. BBC, 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-41588686.
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MACHADO, Yara Lúcia. Sedentarismo e suas Consequências em Crianças e
Adolescentes. Monografia. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso da
graduação em Educação Física do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia
Sul de Minas Gerais Cecaes de Muzambinho, 2011.
MALACHIAS, M.V.B. et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial: Capítulo 1 -
Conceito, Epidemiologia e Prevenção Primária. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São
Paulo, v. 107, n. 3, supl. 3, p. 1-6, set. 2016. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/abc/v107n3s3/pt_0066-782X-abc-107-03-s3-0001.pdf. Acesso em:

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

10 fev. 2021.
SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO. Enfrentando a obesidade infantil. Atualize-
se, Paraíso, n. 2, p. 5-14, nov. 2019. Disponível em:
https://www.spsp.org.br/site/asp/boletins/AtualizeA4N2.pdf. Acesso em: 16 fev. 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 58

ASSISTÊNCIA AO ENVELHECIMENTO FEMININO E


CLIMATÉRIO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Tamara Pereira da Silva, Geane do Espírito Santos de Souza,


Neurislaine Maria de Souza, Bruna Letícia Santos Cruz

RESUMO: A população feminina possui um percentual considerável no


total de habitantes brasileiros e dominam em termos númericos os
usuários no Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, o envelhecimento
feminino, muitas vezes marcado pelo climatério fica a margem da
assistência, ao apresentar a falha na aplicabilidade das políticas
públicas com relação a essa demanda. A presente pesquisa objetivou-
se descrever o impacto do envelhecimento e climatério na vida das
mulheres brasileiras. Trata-se de uma pesquisa caracterizada como
revisão integrativa de literatura. A busca dos artigos foi realizada nas
bases de dados: SCIELO, BVS, LILACS e BDENF, sendo critérios para
inclusão artigos disponíveis, publicados entre os anos de 2015 a 2021,
artigos originais e em idioma português. Ao passo que os critérios de
exclusão considerados foram: estarem em idiomas diferentes do
português e publicados anteriormente a 2015, resultando em 08
estudos que compõem a amostra total. Os resultados desta pesquisa
indicam a necessidade de implantação e implementação nas UBS de
estratégias específicas para as mulheres no período do climatério, pois
tal período tem as suas peculiaridades, que são assistidas e
acompanhadas, assim, como os outros períodos da fase da vida das
mulheres. Por fim, conclui-se a importância da assistência e
orientações direcionadas ao envelhecimento feminino e climatério com
o fito de oferecer uma assistência direcionada, integral, singular e de
qualidade de modo universal e pontual.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A Atenção Primária à Saúde (APS) configura-se a porta de entrada para o Sistema


Único de Saúde (SUS) por essa razão ocupa um importante papel na vida e saúde dos
brasileiros. Em decorrência da Constituição Federal de 1988, que dispõe à saúde como direito
universal e de responsabilidade do Estado, o aumento da expectativa de vida passou a ser uma
realidade da população brasileira com índices de 72,2 anos para homens e 79,4 anos para
mulheres, no ano de 2016 de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (IBGE,
2017; SOARES et al., 2018).
Dado os avanços nas politicas de saúde, e melhoria nos índices de expectativa de vida,
o aumento gradativo no número de pessoas idosas que já era esperado, passou a compor o
cenário de demandas da saúde pública, com vistas a assistir as especificidades desse grupo
populacional, de forma a assegurar e garantir uma assistência de qualidade, e, integral a velhice
(MARIN; PANES, 2015).
Nesse sentido o envelhecimento, um evento fisiológico e irreversível, ocorre de
diferente maneira para os indivíduos. Para as mulheres, o envelhecimento pode apresentar
sintomas fisiológicos do processo, o qual o climatério é um deles. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) define o climatério como período de transição entre a fase reprodutiva e a fase
não reprodutiva no sexo feminino. Uma vez que, ocorre a cessação dos folículos ovarianos e a
diminuição da produção de hormônios, principalmente, o estrógeno. Por essa razão, esse
período, geralmente, acontece entre os 40 e 65 anos de idade (ALVES et al., 2015).
A integralidade do cuidado, um princípio do SUS, caracteriza-se como um pilar a ser
seguido a fim de garantir o acesso das mulheres a ações resolutivas construídas segundo as
especificidades do ciclo vital feminino e do contexto em que as necessidades são geradas, sem
deixar de levar em conta os aspectos particulares de como a usuária encara suas próprias
questões, ao possibilitar o uso de sua autonomia para, junto do trabalhador da saúde, intervir
em seu modo de viver e tratar da saúde (PIRES; RODRIGUES; NASCIMENTO, 2010).
A fase climatérica e menopausal da vida da feminina resulta em inúmeras
transformações biológicas e psicológicas ao ter influências culturais e sociais, além de alterar o
estilo de vida e as relações interpessoais existentes (SOARES et al., 2018).
vbvbA falta de conhecimento e despreparo para vivenciar o climatério e a menopausa
acarretam dificuldades no enfrentamento das várias alterações decorrentes desse processo, por
afetar o estado mental e reduzir a qualidade de vida da mulher, em alguns casos. Ao passo que,
seu empoderamento contribui para uma melhor compreensão e superação por esses períodos,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

condição primordial para o envelhecimento saudável (SOARES et al., 2018).


Apesar da existência de princípios voltados à integralidade da saúde da mulher, é-se
raras as ações de promoção da saúde no climatério e/ou menopausa. Nesse sentido, o enfermeiro
pode atuar eficazmente em educação em saúde, fornecendo a essas mulheres informações e
orientações necessárias para melhor condução desse evento (ALVES et al., 2015).
Toda mulher passa pelo envelhecimento de maneira particular e ancorada em
questões sociais, culturais e socioeconômicas, que em grande maioria das vezes não é
assistido pelos profissionais de saúde, os quais precisam ter uma atenção holística sobre a
saúde da mulher, não fundamentado somente nas questões de medicalização do corpo, mas
sim na sua totalidade e complexidade. Acredita-se que a mulher durante o climatério precisa
de informações detalhadas sobre as variadas interfaces dessa nova etapa da vida. Dessa
maneira, é relevante o encorajamento do público feminino a encarar o processo de
envelhecimento com maior entendimento, e, desta forma, envolver as transformações
que ocorrem durante esse período. Nota-se que os profissionais de saúde têm um papel
importante nesse primeiro momento, pois os serviços de saúde precisam adotar
estratégias que evitem ocasiões em que as mulheres saem dos serviços de saúde sem
orientações ou ações de promoção, prevenção e/ou recuperação de saúde.
Dessa maneira, torna-se relevante a realização deste estudo, por debater a
necessidade de assistência da APS na fase climatérica e estimular os profissionais de saúde
refletirem sobre sua prática profissional. Nesse sentido, faz-se necessário que os serviços
de saúde voltados à mulher sejam feitos de forma integral, e não destinados somente ao
período gravídico-puerperal, a fim de que a assistência à mulher contemple todos os
ciclos de vida.
Diante disso a preocupação deste trabalho é em descrever a assistencia ao
envelhecimento feminino durante o climatério na vida das mulheres usuárias da atenção básica
à saúde, para fomentar debates sobre a temática.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, de abordagem qualitativa, do tipo


descritivo-exploratório,
A presente revisão foi elaborada através do desenvolvimento de seis etapas, iniciando-
se pela formulação da questão norteadora que deu origem este estudo: Como a equipe

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

multidisciplinar, principalmente na figura do enfermeiro, atuante na APS pode contribuir para


assistência durante o envelhecimento feminino e período climatérico? A seleção artigos online
realiza-se na segunda etapa. A pesquisa foi conduzida na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
Scientific Eletronic Library Online (Scielo) Banco de dados em Enfermagem (BDENF). Na
busca, valeu-se dos seguintes termos/descritores Ciências da Saúde, na língua portuguesa:
“Envelhecimento”, “Climatério”, “Menopausa”, “Assistência” e “Atenção Primária a Saúde.
Na terceira etapa, coletou-se os dados as plataformas de dados disponíveis, para tal,
foram empregados os seguintes critérios de inclusão: artigos disponíveis, publicados entre os
anos de 2015 a 2021, com a linha de pesquisa similar a proposta desta pesquisa, artigos originais
e em idioma português. Ao passo que os critérios de exclusão considerados foram: estarem em
idiomas diferentes do português, não serem artigos originais e publicados anteriormente a 2015.
Foram analisados por meio da leitura de seus resumos na íntegra, ao constituir a quarta etapa
desta revisão. Foram excluídos os estudos duplicados e que não condiziam com o tema
abordado, resultando em 08 estudos que compõem a amostra total. A quinta etapa compôs-se
pela interpretação e agrupamento dos dados encontrados. Por fim, a sexta e última etapa
constituiu-se de uma síntese dos dados encontrados nos artigos selecionados.
Os dados foram coletados, levantamento bibliográfico foi realizado, no período de
março a novembro de 2021, sendo a última pesquisa realizada em 20 de novembro do
mesmo ano, utilizando a Internet para acessar a bases de dados. Os resultados foram
categorizados em três eixos temáticos: Aspectos clínicos do envelhecimento feminino e
climatério; Dificuldades encontradas pelas mulheres durante o envelhecimento e climatério;
Assistência ao envelhecimento feminino e climatério e atenção primária à saúde.
Por se tratar de uma revisão integrativa, o estudo não será submetido à avaliação do
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional
de Saúde (CNS).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao final do percurso metodológico foram considerados os artigos que tratavam


diretamente do tema proposto. Foram encontrados 312 artigos relacionados à temática
abordada neste estudo, publicados no período de 2015 a 2021, 8 (oito) artigos foram incluídos
nesta revisão. A Figura 1 esquematiza o percurso metodológico para determinação da amostra
utilizada desta pesquisa.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Figura 1 - Demonstrativo de busca nas bases de dados, com aplicação de critérios de


inclusão e exclusão.
1ª FASE → 312 artigos encontrados utilizando
os Decs:“Envelhecimento”, “Climatério”,
“Menopausa”, “Assistência” e “Atenção
Primária a Saúde.

2ª FASE → 148 artigos por apresentarem vieses


divergentes dos propostos na pesquisa.

3ª FASE → 52 artigos excluídos após leitura de


títulos e verificação de periódicos.

4ª FASE → 49 artigos excluídos após leitura de


resumos, 13 artigos excluídos por não se
apresentarem em texto completos e 4 artigos
excluídos por estarem duplicados.

5ª FASE → 35 artigos lidos na íntegra.

6ª FASE →8 artigos selecionados para esta


pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Para melhor apresentação dos artigos selecionados, elaborou-se um quadro sinóptico


com a distribuição de artigos de acordo com a temática abordada, apresentando: título, ano de
publicação, citação dos autores, sujeitos e cenário de pesquisa, tipo de estudo e resultados
(Quadro 1).

Quadro 1- Distribuição dos artigos encontrados sobre a temática, publicados entre 2010 e
2020.

População e
Artigos Desenho de
Autores Cenário de Resultados
selecionados estudo
estudo
Como resultado o projeto tornou
Educação em evidente a falta de contato que
saúde com muitas mulheres ainda apresentam
Mulheres
mulheres da com tal assunto, o que trouxe uma
entre 35 3 65 Trata-se de um
atenção básica aproximação entre o público
que estudo
em vivência VINCENSI feminino e suas dificuldades diárias
estivessem na transversal.
sexual et al., 2020. vivenciadas, assim como, uma
UBSF
durante o melhora de seu conhecimento em
climatério saúde.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

As alterações fisiológicas mais


Pesquisa relatadas foram: ondas de calor,
Mulher e
SOUZA et realizada com Abordagem dores de cabeça, insônia, enjoo e
climatério:
al., 2017 17 mulheres qualitativa por fadiga. A maioria das mulheres não
concepções de
usuárias de meio de conhecia o significado da palavra
usuárias de uma
UBS do entrevista climatério, que correlacionava com
unidade básica de
município de semiestruturada a menopausa. Percebeu‐se que boa
saúde
Crato – CE parte delas também não procurou
assistência profissional.
Vivenciando o
16 mulheres
climatério: Os resultados demostraram a
de uma UBS Trata-se de um
percepções e influência dos sintomas na
VIEIRA et em um estudo
vivências de qualidade de vida das mulheres que
al., 2018 município do transversal,
mulheres não procuram tratamento por falta
estado do quantitativo.
atendidas na de conhecimento.
Paraná
atenção básica.
Os resultados apontaram que o
climatério, marcado por intensas
mudanças corporais e emocionais,
influencia e desencadeia o
Influências do
envelhecimento gerando medo,
climatério para o Estudo
especialmente por sua associação
envelhecimento 31 mulheres qualitativo,
SILVA, et al com proximidade da morte. A
na percepção de do Rio de descrito, por
2015 participação em grupos para idosos
mulheres idosas: Janeiro. inquérito
traz benefícios às participantes,
subsídios para a domiciliar.
especialmente pelo convívio, novas
enfermagem
amizades, prática de atividades
físicas, lazer, entretenimento e
ânimo para melhor vivenciar esta
fase da vida
Pesquisa quase
experimental
com 14
mulheres entre
40 e 65 anos.
Educação em
A amostra foi Sete
saúde para
composta de compuseram o Verificou‐se diferença significativa
mulheres no FREITAS et
14 mulheres grupo controle entre os grupos no domínio relações
climatério: al., 2016
entre 40 a 65 (GC) e as sociais, ocorreu aumento desse
impactos na
anos. restantes fator no GE e diminuição no GC.
qualidade de vida
formaram o
grupo
experimental
(GE),
submetidas à ES.
Este estudo
randomizado
Reduzindo os
controlado foi
sintomas da
realizado na
menopausa para
APS e teve
mulheres durante
A amostra foi como objetivo O grupo de intervenção
a transição da
composta por avaliar um experimentou uma ligeira redução
menopausa RINDNER
131 mulheres programa de nos sintomas, enquanto o grupo de
usando educação et al. 2017
entre 45 e 55 educação em controle experimentou
em grupo em um
anos. grupo para principalmente o oposto
ambiente de
mulheres de 45 a
atenção primária
55 anos, em
à saúde - um
torno da
ensaio clínico
transição da
randomizado
menopausa.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A média de idade foi 51,73 anos,


maioria parda (72,0%), casada
(49,8%), com renda per capta de até
999,00 reais (62,4%) e ensino médio
324 mulheres
Climatério: a Estudo incompleto/ completo (40%). O
entre 40 e 65
atuação do descritivo, percentual de risco para disfunção
CHAGAS et anos do
enfermeiro na analítico, sexual foi 67,6%. A sintomatologia
al., 2020 município de
atenção às transversal, climatérica mostrou-se leve em
Pirapora –
mulheres quantitativo. 69,4%, e moderada em 30,6%, e as
MG.
mulheres com sintomatologia
moderada tiveram escore de
qualidade de vida pior do que as que
apresentaram sintomatologia leve.
Os elementos emergidos das
compreensões das mulheres acerca
18 mulheres
Pesquisa do climatério demonstram
Percepções de que vivenciam
PIECHA et descritiva, percepções voltadas à negatividade,
mulheres acerca da Estratégia
al.,2018. exploratória e ao envelhecimento do corpo, ao
do climatério. de Saúde da
com abordagem desequilíbrio emocional e à
Família.
qualitativa. sintomatologia manifestada nesse
período.
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Ao discorrer sobre os resultados deste compilado de artigos, em primeiro momento


preocupa-se em traçar os aspectos clínicos do envelhecimento feminino e climatério que
relaciona-se diretamente com o eixo temático dificuldades encontradas pelas mulheres durante
o envelhecimento e climatério. Assim, com bases nos achados dessa pesquisa na fase
climatérica ocorrem muitas mudanças fisiológicas e psíquicas em mulheres que se não bem
conhecidas e conduzidas com intervenções adequadas resultaria em danos na qualidade de vida.
Em conformidade com Piecha et al. (2018), O período do climatério caracteriza-se por
variadas alterações na vida da mulher. Essas alterações, de ordem biológica, social e psíquica
afetam a saúde da mulher, e, por isso é importante à abordagem integral da mulher no
climatério. Quando a sintomatologia ocorre de modo intenso surgirão transtornos emocionais
e/ou físicos ao afetar a qualidade de vida das mulheres. Ao levá-las ao sentimento de
inferioridade, perda da beleza e juventude (SOUZA et al., 2017).
Um dos fatores primordiais para as condições clínicas de mulheres refere-se aos hábitos
que possuem, a atividade física é um dos pilares para a manutenção da saúde e são estimuladas
pelos profissionais de saúde a essas mulheres. Assim, a condição de inatividade na mulher
climatérica poderá favorecer o surgimento ou agravamento de certas doenças como a
osteoporose, artrite, diabetes, hipertensão arterial e doença arterial coronariana, entre outras
(VIEIRA et al., 2018).
Vincensi et al. (2020), os sintomas mencionados pelas mulheres foram, principalmente,
alterações menstruais, ondas de calor, dores de cabeça, insônia, alterações ósseas, musculares

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

e as relacionadas ao processo senil de memória, de localização e espaço. O desconforto


ocasionado por esses sintomas criaram condições de mal-estar. Assim, esses sintomas, como:
alterações menstruais, sintomas vasomotores (ondas de calor), labilidade emocional, ansiedade,
nervosismo, insônia, irritabilidade, melancolia, baixa autoestima, disfunções sexuais, entre
outros, são descritos como próprios do período climatéricos
As manifestações clínicas desse período podem multissistêmicas que vão desde
distúrbios menstruais recorrentes, a alterações metabólicas, cardiovasculares, ósseas, do
sistema nervoso central (SNC), sexuais, urogenitais, comportamentais, sensoriais,
gastrointestinais, alterações de mamas e endométrio, que são impactantes para a mulher. Sendo
assim, nessa etapa da vida, ocorrem alterações emocionais, psicológicas e físicas, que se não
forem assistidas, torna-se potencialmente danosas (PIECHA et al., 2018).
De modo que as manifestações corporais e emocionais, são na maioria das situações
de caráter transitório como os distúrbios menstruais em relação a intervalo, fluxo, dias de
permanência de menstruação. As neurogênicas caracterizadas por ondas de calor (fogachos),
sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, parestesias (formigamentos), insônia, perda
da memória e fadiga. E, psicogênicas que é a diminuição da autoestima, irritabilidade,
labilidade afetiva, sintomas depressivos, dificuldade de concentração e memória, dificuldades
sexuais e insônia. Tais queixas devem ser muito bem analisadas, bem como a diminuição da
libido, aversão ao parceiro e outras relacionadas à sexualidade são comuns nesse período, não
devendo ser compreendidas e abordadas somente como produto das mudanças biológicas
(hormonais) na fase climatérica; deve-se realizar abordagem holística da mulher, seio âmbito
familiar e rede social, abordando as esferas biopsicossociais (SILVA et al., 2015; SOUZA et
al. 2017; VINCENSI et al., 2020).
Corrobora com o autor supracitado, Chagas et al. (2020),em que afirma que a
sexualidade da mulher sofre alterações durante o climatério, entre os fatores que contribui para
isso estão: incompreensão do parceiro ao momento vivido; mudanças corporais, como os
fogachos e o ressecamento vaginal, mas, concomitantemente, as questões compartilhadas ao
processo de envelhecimento, como: flacidez da pele, perda da massa muscular e dores
generalizadas. Ainda salienta-se que a função sexual não só sofre alterações biológicas com a
idade, mas também pelas questões emocionais, sociais e culturais que interferem,
significativamente, na intensidade e qualidade do desejo e da resposta sexual.
Os resultados obtidos pela dimensão do envelhecimento feminino evidencia o
sentimento de medo, desânimo, insegurança, fatores que desencadeia na sociedade que o
climatério origina uma fase que antecede o envelhecimento, faz com que a gere um pensamento

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

que a mulher vai se tornar improdutiva, que está próximo do ciclo da vida gerando uma
insatisfação. Dessa forma, é essencial a visão ampla do processo de envelhecimento, pois
envelhecer representa a transição biológica sob a influência das experiências de vida (SILVA
et al., 2015).
Diante disso, a vivência negativa do climatério produz consequências para a saúde
mental de idosas, levando um teor de depressão em mulheres climatéricas. Nesse viés, a
promoção e prevenção da saúde é um caminho para mudança de estilo de vida das idosas. Desse
modo, uma estratégia é a educação em saúde, com o uso de diversas formas de propagar o
conhecimento acerca do climatério, pode-se ilustrar grupos de convivência, que estimula a
socialização e melhora a qualidade de vida (SILVA et al., 2015).
Com vistas nesta perspectiva, o climatério torna-se uma etapa difícil de ser enfrentada.
Nesse sentido, enfatiza-se à importância de um atendimento adequado e centralizado e da
assistência ao envelhecimento feminino e climatério e atenção primária à saúde. Além disso,
a assistência é integral e feita por uma equipe multiprofissional, na qual a partir da
individualidade, das necessidades e da disponibilidade traçar-se-ão intervenções e medidas de
promoção à saúde, manutenção e reabilitação, consequentemente, proporcionar-se-ão uma
melhor qualidade de vida. Dessa forma, é-se importante destacar a participação ativa das
mulheres em seu acompanhamento, porque elas têm autoridades sobre as tomadas de decisões
no manejo de sua própria saúde (SOUZA et al., 2017).
Nesse sentido, relevante metodologias utilizadas na abordagem multiprofissional no
processo de educação em saúde para mulheres climatéricas promove a aplicação de vários
temas que contribuem para a compreensão dessa fase e melhora da qualidade de vida. Indica-
se a estratégia de formar encontros com temas específicos sobre nutrição, atividade física, vida
sexual, envelhecimento, lazer, direitos, humor, vitalidade, conceitos, e assim dinamizar esses
assuntos com discussões, em que ocorre a troca de informações entre os participantes e
profissionais, além de fazer algo lúdico por meio do teatro para representar a fase do climatério
aos participantes ( FREITAS et al., 2016).
Por outro lado, atenção primaria a saúde deixa de ser discutido as relação sobre a saúde
da mulher juntamente o contexto do climatério, durante as consultas, é visto que, não tem um
grupo especifico para abordar as informações da determinada temática. A ocorrência de
atividades sobre o tema, as vezes, é associada a parceira externa e a formação de grupos de
hipertensão e diabetes, com isso as questões relacionadas a menopausa são inseridas dentro
desses grupos e assim as mulheres buscam a terapia de reposição hormonal como alternativa de
promoção da saúde, sob orientação médica e da enfermagem (SILVA et al., 2015)

Página 622
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Percebe-se, que as atividades em grupos podem utilizar estratégias organizadas em


sessões como possibilidade de intervenção de educação em saúde. Segundo Rindner et al.
(2017), é possível organizar discussões sobre a menopausa para grupos de mulheres, sob a
supervisão da enfermagem, profissionais a frente da APS, e assim criar uma roda de conversa
sobre as experiências das mulheres, com direcionamento por meio de tópicos que se relacionam
com a definição da menopausa, hormônios, osteoporose, riscos cardiovasculares, sintomas
depressivos, relacionamento, alteração do sono, estresse. A informação torna-se, portanto,
relevante na vida do público feminino (VINCENSI et al., 2020).
Os debates sobre climatério, menopausa e envelhecimento feminino e as mudanças
provocadas por estes processos são pouco abordados, tal que o conhecimento das mulheres
acerca desta temática é bastante restrito a frases curtas e explicações rasas e errôneas. A
dificuldade das mulheres em explanar o significado da palavra climatério pode ser percebida
em alguns estudos, onde classificam climatério como sendo equivalente à menopausa (SOUZA
et al., 2017; FREITAS et al., 2016).
Nesse crivo, a maior preocupação deste manucristo está no fato das mulheres desconhecerem
os reais eventos oriundos do envelhecimentos e os fenômenos associados, por essa razão não procuram
atendimento de saúde, pois consideram que suas queixas, embora incomodá-las, não requerem atenção
por serem naturais do próprio período do climatério. A maioria das mulheres vivencia o climatério em
silêncio, desinformadas e desamparadas para este momento. Nesta direção, em função do pouco
conhecimento e informação acerca do climatério torna-se difícil identificá-lo, assim como, procurar
atendimento, quando necessário, sendo que, por vezes, as mulheres evitam procurar informações por
vergonha ou por acharem que suas queixas são ocorrências sem alguma causa definida (PIECHA et al.,
2018; CHAGAS et al., 2020)
A compreensão dos fenomenos ocorridos, bem como a identificação as manifestações e
sintomas não tão agradáveis que o climatério produz, as quais foram relatadas neste estudo, são desafios
que se apresentam durante a vivência de muitas mulheres. Para algumas, essa fase não provoca
significativas alterações na sua qualidade de vida. No entanto, outras necessitam procurar meios de
aliviar seus desconfortos por meio das especialidades médicas ou em saberes construídos no seu
contexto sociocultural. Quanto a isso, nos últimos anos, muitas pesquisas têm voltado seu foco na busca
por terapias capazes de aliviar as queixas associadas às mudanças hormonais, comuns no climatério
(VINCENSI et al., 2020; RINDNER et al., 2017).

CONCLUSÃO

A realização desta pesquisa proporcionou subsídios para compreensão sobre o período

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

climatérico e menopausal, que as mulheres vivenciam no processo de envelhecimento, bem


como, a enfermagem pode assistir as pacientes que prouram o serviço de APS com essa
demanda.
Com isso, evidencia-se a necessidade de capacitar e qualificar profissionais de
saúde, pois estão mais próximos da população em destaque, como também sensibilizá-
los para as particularidades inerentes a este grupo populacional.
Ao decorrer da pesquisa é notório as lacunas referentes à saúde da mulher, ainda mais
no que compreende a mulher na fase geriátrica. Com base na literatura estudada observou-se
que fatores individuais, como o perfil socioeconômico e cultural influenciam no conhecimento
e na procura de serviços. A clínica observada relaciona-se com os sintomas leves e moderados,
que muitas vezes entusiasmam na qualidade de vida da mulher. Sendo assim, percebeu-se
acometimento psicoemocional durante o climatério, como: a diminuição de autoestima,
sensação de perda de juventude, perda da libido e disfunções sexuais, além de
descontentamento em relação aos sintomas.
Ainda, foi observado o desconhecimento a respeito do climatério e o receio das
mulheres em procurarem ajuda, por considerarem comum e sem importância as alterações
decorrentes desse evento. Essa resistência ao auxílio de um profissional de saúde se dá
principlamente em decorrência das raízes culturais e crenças postuladas, que impedem debates
sobre o assunto por parte das mulheres.
Os resultados desta pesquisa indicam a necessidade de implantação e implementação
nas UBS de estratégias específicas para as mulheres no período do climatério, pois tal período
tem as suas peculiaridades, que são assistidas e acompanhadas, assim, como os outros períodos
da fase da vida das mulheres. Notou-se ainda que é relevante o desenvolvimento de maiores
investigações que abordem a temática no âmbito da gestão, a fim de mostrar aos poderes
públicos à importância de criação de programas e capacitação dos profissionais de saúde para
atuar no contexto das orientações direcionadas às mulheres que vivenciam o climatério, para
assim, oferecer à população feminina uma assistência direcionada, integral, singular e de
qualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Contexto Enferm, v. 24, n. 1, p: 64-71, 2015. Disponível em:
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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2020.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 59

IMPLICAÇÕES DA PANDEMIA PELA COVID-19


NO PROCESSO DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS:
REVISÃO INTEGRATIVA
Lara Beatriz de Sousa Araújo, Ingrid Régia Maria Oliveira, Taynara Soriano
Sales, Amanda Andrade de Paiva, Emanuele Silva Gomes, Ágatha Barbosa
Rocha, Giovanni Rodrigues Moraes, Layanne Cavalcante de Moura, Emanuel
Osvaldo de Sousa, Crislayde Maria de Sousa, Yasmin Emanuelly Leal Araújo,
Cristian Dornelles, Joycianne Ramos Vasconcelos de Aguiar, Maria de Padua
Martins Mendes, João Felipe Tinto da Silva

RESUMO: Objetivo: Identificar através da literatura científica os principais impactos


da pandemia pela Covid-19 no processo de doação de órgãos. Método: Trata-se de
uma revisão integrativa da literatura, realizada através das bases de dados SciELO,
LILACS, MEDLINE e BDENF, por meio dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS):
“Transplante de Órgãos”, “Obtenção de Tecidos e Órgãos”, “Infecções por
Coronavírus”, “Doadores de Tecidos” e “COVID-19”, combinados pelo operador
booleano AND. Como critérios de inclusão, foram utilizados artigos disponíveis na
íntegra, online, nos idiomas de português, espanhol e inglês, dos últimos dois anos.
Como critérios de exclusão, foram utilizados artigos que não contemplavam o tema
ou o objetivo proposto. Dessa forma, foram encontrados 38 estudos, dos quais 15
foram selecionados. Resultados: Diante do atual cenário pandêmico ocasionado pelo
SARS-CoV-2, diversos impactos foram gerados, dentre eles – na saúde – implicações
no processo de doação de órgãos, onde a disponibilidade de órgãos e tecidos
sofreram uma queda devido à pandemia, ao medo de infecção e a ausência de
protocolos e estruturas hospitalares direcionadas à situação em questão, por se
tratar de um evento atípico. Ademais, pacientes transplantados ou em fila de espera
para a cirurgia são pessoas mais vulneráveis, devido à imunossupressão que muitas
vezes se faz presente nesse grupo, facilitando a infecção pelo Covid-19. Conclusão:
Diante dos achados, se faz necessário discutir as formas que a pandemia da Covid-
19 influencia nesse processo e o que pode ser feito para mudar esse cenário, com
formas mais eficazes e humanizadas de abordar às famílias enlutadas, além da
implementação de protocolos e estruturas necessárias para atender esse público
mais vulneráveis, de forma a evitar infecções pelo novo Coronavírus, bem como
seleções cuidadosas de doadores para redução de riscos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A Covid-19 é uma infecção, ocorrida pela primeira vez em dezembro de 2019, na cidade
de Wuhan, na China e espalhou-se rapidamente pelo país e, consequentemente, pelo mundo,
gerando assim uma pandemia (YANG et al., 2020). Desde então, são diversos os desafios
causados por esse novo cenário no processo de doação de órgãos, que estão associados às
alterações no contato presencial e à dificuldade de comunicar empatia por meio de máscaras
faciais e distanciamento ou através de telas de smartphones, culminando na diminuição na
autorização de doação de órgãos (BUCUVALAS; LAI, 2020).
O Brasil foi um dos países mais afetados pela pandemia da Covid-19, onde de acordo
com as estimativas baseadas nos dados de dois dos maiores centros de transplante renal do país,
os pacientes transplantados de órgãos – em torno de 80.000 – foram muito mais afetados,
considerando que, aproximadamente, 10% dos pacientes foram infectados pelo vírus (RBT,
2020). Nesse sentido, a disseminação do Covid-19 é irrestrita e afeta também os sistemas de
recuperação e transplante de órgãos, tendo em vista que a pandemia ameaça a capacidade dos
serviços de saúde de fornecer cuidados não-covid, sendo este cenário ocasionado pelas altas
taxas de infecção de forma grave (PRUETT, 2020).
De acordo com estudo realizado por ISAKOV et al (2020), nos Estados Unidos,
pacientes transplantados são mais vulneráveis à infecção devido às comorbidades e, em
comparação aos pacientes sem transplante, apresentam taxas bem maiores de mortalidade e
doença grave, tendo como sintomas mais comuns apresentados no coorte a diarreia, febre, tosse
e dispneia, sendo estes intensificados pela vulnerabilidade dos pacientes transplantados ou a
espera de transplante. Nesse viés, vários relatos de casos de receptores de transplante com
Covid-19 já foram publicados e a mortalidade varia de 18% a 30%, contando também relatos
que sugerem que os receptores de transplantes apresentam maior risco de complicações do
Covid -19 devido à imunossupressão, aliado às comorbidades (AARON et al., 2020).
O transplante de órgãos trata-se de um procedimento complexo e de grande porte,
especialmente por se tratar de pacientes imunossuprimidos, que lidam com a escassez constante
de órgãos que supram suas necessidades. Nesse viés, é preciso considerar o impacto a longo
prazo da pandemia sobre as doações, visto que a atual situação afetou a quantidade de doadores,
a disponibilidade de órgãos, bem como a organização das atividades de serviço (IACOBUCCI,
2020; VRIES et al., 2020). Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo identificar através
da literatura científica os principais impactos da pandemia pela Covid-19 no processo de doação
de órgãos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura científica, tendo em
vista que contém uma abordagem ampla, com rigor metodológico, combinando dados da
literatura, sintetizando resultados obtidos em pesquisas sobre a temática (SOUZA; SILVA;
CARVALHO, 2010). Possui natureza exploratória e descritiva e foi realizada através da busca
online de artigos científicos nacionais e internacionais, no período de maio a dezembro de 2021.
Esta revisão foi elaborada a partir das etapas: escolha do tema, construção da pergunta
de pesquisa, escolha dos Descritores em Ciências da Saúde, definição dos critérios de inclusão
e exclusão dos artigos; coleta, análise e discussão dos dados dos estudos, exposição da síntese
das evidências encontradas.
A população estudada foram os doadores de órgãos e profissionais envolvidos nesse
contexto, com interesse no impacto causado pela pandemia da Covid-19. Dessa forma,
questionou-se quais as implicações da pandemia pela Covid-19 no processo de doação de
órgãos?
Após esta etapa foi realizada a busca nas bases de dados Scientific Electronic Library
Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE),
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de
Enfermagem (BDENF), via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), através dos Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS) “Transplante de Órgãos”, “Obtenção de Tecidos e Órgãos”,
“Infecções por Coronavírus”, “Doadores de tecidos” e “COVID-19”, combinadas entre si
através do operador booleano AND.
Foram definidos como critérios de inclusão os estudos que abordaram a temática,
publicados na íntegra, de forma online, nos idiomas de português, inglês e espanhol, dos
últimos treze anos, como critérios de exclusão, artigos que não contemplavam o tema ou o
objetivo proposto. Dessa forma, foram selecionados quinze trabalhos científicos. Para a seleção
dos artigos, leu-se o título e o resumo dos estudos encontrados, observando os critérios de
elegibilidade. Em seguida, foi realizada uma leitura criteriosa de todos os artigos e dessa forma
iniciou-se a coleta dos dados.
Como este estudo é uma revisão integrativa da literatura, não houve a necessidade de
submissão ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), sendo respeitados os aspectos éticos no que
se refere à fidelidade às fontes citadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A doação de órgãos é um processo delicado e trabalhoso, que depende da confiança da

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

população no sistema de saúde, além do comprometimento dos profissionais no diagnóstico de


morte encefálica (AARON, 2020). No ano de 2015, a taxa média mundial de doações por
milhão da população foi de 16,96, com 126.760 transplantes realizados no total, sendo 84.437
de rim, 27.759 de fígado, 7.023 de coração e 5.046 de pulmão. Já no ano de 2014, foram 119.873
órgãos transplantados. Tais números, apesar de muitos, são insuficientes e correspondem a
menos de 10% da necessidade mundial de órgãos, sofrendo uma significativa queda com o atual
contexto pandêmico (COELHO; BONELLA, 2019).
O Brasil, por sua vez, é o segundo país do mundo com maior número de transplantes,
sendo de suma importância a atuação do Ministério da Saúde, governos estaduais, entidades e
profissionais de saúde no processo de doação e transplantes. Dentre os órgãos com maior
necessidade estimada de transplantes no Brasil em 2020, está a córnea e o rim, sendo os
transplantes realizados não suficientes para suprir essa carência (KULKARNI et al., 2020).
Segundo a evolução anual dos doadores efetivos no Brasil, por milhão de população
(pmp), é perceptível uma queda entre os anos de 2019 e 2020. A taxa de doadores efetivos, que
em 2019 era de 18,1 pmp, e estava projetada para ultrapassar os 20 pmp em 2020, caiu 12,7%,
voltando ao patamar obtido em julho de 2017, sendo maior nas regiões nordeste (28,3%) e norte
(43%). Houve também uma redução de 24,5% na taxa de transplantes renais, sendo de 17,2%
nos transplantes com doador falecido e de 59,6% com doador vivo. Tal queda foi de 80% na
região norte, representando de forma significativamente intensa na vida de quem necessita de
doação nessa região (RBT, 2020).
Hodiernamente, o Brasil tem o maior programa público de transplantes de órgãos,
tecidos e células do mundo. No entanto, ainda há mais de 30 mil brasileiros na lista de espera
por um transplante, sendo este dado intensificado na pandemia. Um dos principais fatores que
dificultam o aumento das doações é a recusa por parte das famílias, chegando a ser de 43% no
Brasil (BRASIL, 2021). Entretanto, o contato com as famílias enlutadas foi restrito e dificultado
devido ao risco de infecção pelo SARS-CoV-2, representando grandes implicações em todo o
processo (KUMAR et al., 2020).
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é referência mundial na área de
transplantes e possui o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de
96% dos procedimentos de todo o país são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do mundo – atrás apenas dos EUA
– onde os pacientes recebem assistência integral e gratuita pelo SUS, incluindo exames
preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante, pela rede pública de
saúde (BRASIL, 2021).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Segundo o estudo realizado por AVERSA et al (2020), as principais causas de morte


em pacientes com Covid-19 que haviam feito transplante, incluíam choque, parada cardíaca,
falência de múltiplos órgãos e retirada de atendimento, todas secundárias ao Covid-19,
mostrando prevalência da doença na população de transplantados. A Sociedade Americana de
Transplantes (AST), por sua vez, recomenda pelo menos 28 dias de resolução dos sintomas
antes de obter um órgão de um doador com diagnóstico de Covid-19. Entretanto, é difícil adiar
a cirurgia, pois deve-se considerar a disponibilidade do órgão e a preocupação ética de
transplantar aqueles que podem sucumbir se não forem transplantados em tempo (KULKARNI
et al., 2021).
A mortalidade no transplantado é mais elevada no período inicial do transplante
comparada a períodos mais longos, sendo relacionado ao fato de estes estarem
imunossupressores. Devido a isso, esse momento pós-transplante foi considerado de alto risco
para aquisição de SARS-CoV-2, tendo em vista que a imunossupressão está diretamente ligada
a doenças infecciosas graves, onde devido a isso, acredita-se que receptores de órgãos sólidos
são mais propensos a Covid-19 grave (PEREIRA et al., 2020).
Nesse contexto, além das comorbidades e imunossupressores, tem-se o risco de infecção
durante a cirurgia de transplante vinda do doador, sendo ainda mais provável ocorrer em
receptores de transplante de pulmão, tendo em vista a viabilidade de vírus nesse órgão
(PEREIRA et al., 2020). Ademais, receptores de órgãos hospitalizados por Covid-19
apresentam mais complicações do que os indivíduos não transplantados, bem como pessoas
assintomáticas que se submetem a procedimentos cirúrgicos gerais e apresentam morbidade e
mortalidade muito altas (PRUETT, 2020).
Nesse viés, apesar de toda a complexidade, a sistematização de realização dos
transplantes salva vidas e depende da doação de órgãos dos doadores e de seus familiares, bem
como da atuação da equipe envolvida nesse processo, de modo a garantir segurança a todos os
indivíduos envolvidos (BUCUVALAS; LAI, 2020). Dessa forma, são necessários mecanismos
de prevenção, protocolos e seleções cuidadosas de doadores para redução de riscos,
considerando o grande número de recursos e profissionais envolvidos no processo de
transplante e o baixo número de doadores (GALVAN et al., 2020).
Além disso, durante a pandemia, muitas jurisdições facilitaram a utilização de
plataformas de atendimento virtual, permitindo que o adiamento de consultas de
acompanhamento de longo prazo de rotina e a mudança para essas plataformas virtuais se
tornassem estratégias para evitar visitas ambulatoriais presenciais (AARON et al., 2020). Desse
modo, os pacientes transplantados e candidatos à lista de espera durante a pandemia da Covid‐

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

19, optam por não frequentar as consultas de rotina ou por adiá-las, consequentemente, há uma
redução do contato dos pacientes ao sistema de saúde, optando por utilizar os meios digitais,
como vídeos e telefones, para realizar a telessaúde (REUKEN et al., 2020).
O risco de que o órgão do doador esteja contaminado com o vírus da Covid,
possibilitando a transmissão ao receptor e à equipe, gera também a necessidade de avaliar se a
equipe, a estrutura e as instalações da sala de cirurgia são eficientes para a situação
(BUCUVALAS; LAI, 2020). Diante da atual situação, os serviços de saúde necessitam analisar
o modo como os cuidados são prestados aos pacientes, além de reconfigurar os serviços
cirúrgicos durante o surto atual e na era “pós-pandemia” (MASSEY et al., 2020; YEO et al.,
2020).
Os programas de transplantes foram afetados diretamente pela Covid-19, apresentando
significativa redução, conforme os sistemas de saúde, em uma escala global, estão se adaptando
e tentando atender as demandas ocasionadas pela síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-
CoV-2). Nesse contexto, o atendimento nos centros de transplante está sendo direcionado aos
urgentes ou super urgentes. Mediante o desconhecimento do risco de desenvolver a
contaminação da Covid-19 a partir de um doador de órgão infectado, é fundamental ter
precaução em relação à consideração do transplante. Nesse sentido, em decorrência do contexto
de pandemia, a doação de órgão de pessoas vivas ou não vivas está sofrendo uma interrupção
de forma seletiva ou está sendo efetivada sob critérios minuciosos (SHARMA; LAWRENCE;
GIOVINAZZO, 2020).
Em virtude da manifestação da Covid-19, a sociedade teve que lidar com um novo modo
de vida, que impactou diversos setores em todo o mundo, incluindo a doação de órgãos. Nesse
sentido, a recomendação para que ocorra a doação de órgãos de forma segura, no contexto atual,
é que seja realizado uma triagem clínica e laboratorial de forma rápida, em locais com forte
transmissão do vírus. Essa conduta pode sofrer alterações de acordo com o país, bem como com
o grau de transmissão presente (KUMAR et al., 2020). Ademais, as medidas de prevenção
destinadas à contenção de Covid-19 devem ser continuadas mesmo após a pandemia, a fim de
mitigar os impasses existentes e impedir que a pandemia perdure por um longo período (WEE
et al., 2021).

CONCLUSÃO
É notório que a pandemia pelo Covid-19 representou impactos significativos em
diversos setores, dentre eles, o da saúde e no processo de doação e transplante de órgãos,
representando assim em preocupações nas repercussões a longo prazo (AARON, 2020). Nesse

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

viés, se faz necessário discutir acerca de que formas a pandemia da Covid-19 está influenciando
nesse processo e o que pode ser feito para mudar esse cenário, com formas mais eficazes e
humanizadas de abordar às famílias enlutadas (IACOBUCCI, 2020).
Portanto, são necessários mecanismos de prevenção, protocolos e seleções cuidadosas
de doadores para redução de riscos (GALVAN et al., 2020), além de melhorias e adaptações na
estrutura e as instalações da sala de cirurgia são eficientes para a situação (BUCUVALAS; LAI,
2020). Ademais, os serviços de saúde necessitam reconfigurar o modo como os cuidados são
prestados aos pacientes, mesmo após o fim da pandemia (MASSEY et al., 2020; YEO et al.,
2020).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 60

AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA NA


IDENTIFICAÇÃO DO RISCO DE QUEDAS EM
IDOSOS

Raul Konrad Gonzaga, Bhenise Vitória Santos Nunes, Drieli Leite


Amaral , Humberto Gessinger Nascimento dos Santos, Mariana
Goulart de Souza Martins, Milleny Duarte de Freitas, Ronaldi
Gonçalves dos Santos, Sérgio Augusto Rodrigues Tortato e João
Felix Dias

RESUMO: Espera-se que o número de idosos cresça mundialmente.


Nesse sentido, a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) busca o
envelhecimento saudável, englobando também prevenção de quedas.
O objetivo do artigo é demonstrar a influência da avaliação geriátrica
ampla sobre a prevenção de quedas em idosos. Foram utilizados 50
estudos nas línguas inglesa e portuguesa, escritos entre 1985-2021
das bases de dados PubMed, Scielo, Google Acadêmico e Organização
Panamericana da Saúde (OPAS). A AGA analisa aspectos locomotores,
cognitivos e socioambientais. Quanto às quedas, a AGA avalia
mudanças físicas da senescência que combinadas com diminuição
cognitiva e ambiente inadequado favorecem a sua ocorrência,
direcionando medidas preventivas como exercícios articulares,
adaptação do domicílio e reavaliação do tipo e dosagem
medicamentosa. No idoso quedas têm alta incidência e morbidade e a
AGA possibilita a prevenção e ampliação do cuidado.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

1 - INTRODUÇÃO
A crescente expectativa do envelhecimento da população mundial é um assunto pautado
constantemente, tanto no meio social, quanto no ambiente acadêmico - cuja discussão principal
respalda-se nos efeitos provenientes da alteração da pirâmide etária. No Brasil, o crescimento
da população idosa é bastante intensificado diante do cenário global: diminuição da mortalidade
na primeira infância e decrescimento das taxas de natalidade (CARDOSO; DIETRICH;
SOUZA, 2021). As projeções para o ano de 2100, de acordo com a Organização das Nações
Unidas (ONU), revela um percentual absoluto de crescimento aproximado em 4,3 vezes em
relação ao ano de 1950, em que o número total de brasileiros com 60 anos ou mais ultrapassava
a marca de 2,5 milhões(DINIZ ALVES et al., 2018).
Nesse sentido, a senescência vinculada com um processo fisiológico de alteração da
capacidade da homeostase afeta globalmente o funcionamento sistêmico(MACENA;
HERMANO; COSTA, 2018). Assim, observa-se um conjunto de alterações que auxiliam o
decréscimo das capacidades cardiovascular e pulmonar, envelhecimento muscular e renal,
comprometimento do sistema nervoso central e imunológico, entre outros. Esse contexto
possibilita que o indivíduo na terceira idade esteja mais vulnerável a processos patológicos, se
em comparação com um indivíduo jovem-adulto(MACENA; HERMANO; COSTA, 2018) (
MORAES et al., 2020).
Diante disso, a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) torna-se uma importante ferramenta
de melhoria da vitalidade durante os períodos gerontológicos, os quais vinculam-se às
síndromes clínicas geriátricas advindas da senescência fisiológica. Todavia, a AGA não tem
impacto significativo sobre a expectativa de vida (QUINTANA; ARAÚJO; EVANGELISTA,
2018)(JEKLIN, 2016).Além disso, a AGA complementa o exame clínico, sendo por vezes
considerada parte dele. Nessa etapa, o paciente é avaliado em diversos contextos (tais como
físico, social e ambiental), o que fornece dados para o planejamento e o seguimento do cuidado
(PORTO, 2019)(FREITAS et al, 2016).
O exame clínico, dessa forma, necessita que o médico esteja atento às peculiaridades do
paciente idoso, as quais, em negligência, podem prejudicar a prática clínica. Assim, em relação
à anamnese, é importante que o médico esteja ciente que ela pode ser dificultada no idoso por
diversos motivos: o paciente pode informar pouco sobre a doença, as doenças podem se
apresentar de forma atípica, a história atual da doença normalmente é extensa e as queixas são
mal caracterizadas, o paciente pode utilizar um grande número de remédios, entre outros. É

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

essencial que o profissional tenha em mente também os aspectos fisiológicos do


envelhecimento, evitando erros na avaliação do paciente (PORTO, 2019). Dentre os diversos
sintomas que o paciente pode apresentar, deve-se dar atenção especial às quedas, uma vez que
elas apresentam alta incidência, mortalidade e morbilidade (DE PINHO et al., 2012) É apontado
também que os principais fatores de risco associados às quedas são o sexo feminino, idade
avançada, ambiente físico inadequado, função neuromuscular prejudicada, doenças
osteoarticulares, prejuízo psicocognitivo e histórico prévio de quedas (DE PINHO et al., 2012)
(SOUZA et al., 2017). Além disso, cerca de 12,5% dos idosos que sofrem fratura de quadril
morrem menos de seis meses após a fratura, demonstrando o perigo representado pelas quedas
nos idosos (DE PINHO et al., 2012).
Diante disso, o objetivo desse estudo foi demonstrar a influência da AGA sobre a
prevenção de quedas em idosos, identificar as etapas da AGA, compreender como é feita a
análise do equilíbrio, mobilidade e risco de quedas e entender como a AGA influencia o
estabelecimento de condutas para prevenção de quedas.

2 - MÉTODOS
A produção dessa revisão de literatura teve como base o levantamento bibliográfico de artigos
e livros de áreas médicas específicas que correlacionam a avaliação geriátrica ampla com a
identificação do risco de quedas em idosos. Foram utilizadas para a pesquisa as plataformas:
Google Acadêmico, Scientific Electronic Library Online (Scielo), PubMed e Organização
Panamericana da Saúde (OPAS) e os descritores utilizados durante a busca foram:
Comprehensive geriatric assessment primary care, Comprehensive geriatric assessment fall
risk, fall risk. O estudo abrangeu artigos científicos cuja publicação se deu no espaço temporal
de 1985 até 2021, e foram escolhidas publicações em língua portuguesa e inglesa.

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 - Etapas da Avaliação Geriátrica Ampla
A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) é um processo diagnóstico multidimensional,
interdisciplinar, que busca determinar deficiências, incapacidades e desvantagens do idoso, bem
como planejar o seu cuidado e assistência a médio e longo prazos. Essa avaliação apresenta
diversos benefícios, tais como: maior precisão diagnóstica; melhora do estado funcional e
mental; melhora do humor; redução da mortalidade; diminuição de internação hospitalar e de
institucionalização; diminuição da necessidade de assistência domiciliar; redução do uso de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

medicamentos e da iatrogenia; diminuição do uso e dos custos do sistema de saúde; além de


maior satisfação com o atendimento (LUK; OR; WOO, 2000).
As etapas da avaliação do aparelho locomotor consistem em verificar a mobilidade e
equilíbrio do paciente (PAIXÃO JR.; REICHENHEIM, 2005) e se baseiam em inspeção geral
e exame físico. Assim, utiliza-se o teste de marcha cujo propósito é avaliar o tipo e velocidade
de marcha (FIDELIS; PATRIZZI; DE WALSH, 2013). Outra etapa importante na AGA é a
avaliação de risco de queda do paciente, que consiste em analisar a mobilidade, o equilíbrio e a
força muscular (MENEZES et al., 2011).
Além disso, avalia-se a função cognitiva e as condições emocionais, que tem como
objetivo qualificar o raciocínio lógico, a memória e a linguagem (DOMICIANO et al., 2016).
Nessa etapa, utiliza-se o exame de estado mental que é feito com perguntas do cotidiano
(PEREIRA, 2019). Na avaliação de depressão, são feitas perguntas dicotômicas com o teor de
avaliar a vontade do paciente de fazer atividade física e a qualidade do sono (CASTRO-COSTA
et al., 2019).
A avaliação de autonomia tem o papel de verificar a independência do paciente. Essa
etapa pode ser feita através de questionários, como a Escala de Lawton que avalia a capacidade
do idoso de realizar essas funções da vida diária (FLORES et al., 2010). É necessário analisar
também as condições socioambientais, como moradia, vícios em alcoolismo, condições
familiares e econômicas (FLORES et al., 2010). Ademais, na etapa de verificação de doenças
pré-existentes, é necessário avaliar todos os aspectos patológicos do paciente através de uma
análise semiológica e laboratorial (TAVARES et al., 2017).

3.2 - Análise do equilíbrio, mobilidade e risco de quedas.


A análise de equilíbrio, mobilidade e risco de quedas é uma parte essencial da AGA,
visto que as quedas são as maiores causas de lesões e morte entre idosos (TINETTI, 2003). As
quedas afetam um a cada três indivíduos acima de 65 anos e 50% dos idosos com mais de 80
anos. (HAUSDORFF et al., 2001) (INOUYE et al., 2009). Entre 20% e 30% desses pacientes
sofrem lesões moderadas a graves, o que interfere na habilidade de continuar vivendo em
comunidade, requer hospitalização e aumenta o risco de morte (ALEXANDER et al., 1992).
As quedas são uma grande ameaça à qualidade de vida do paciente geriátrico, causando, com
frequência, um comprometimento da habilidade de autocuidado e de participação em atividades
físicas e sociais (SCHEFFER et al., 2008).
Essa avaliação inicia-se na entrevista médica. Um guia prático para a clínica médica foi
publicado pela American Geriatrics Society (AGS) e British Geriatrics Society (BGS) com o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

intuito de orientar a avaliação e manejo de risco de quedas. A recomendação é que todo paciente
com 65 anos ou mais passe por uma triagem anualmente para verificar o risco de quedas
(PAINEL DE PREVENÇÃO DE QUEDAS EM IDOSOS, AMERICAN GERIATRICS
SOCIETY E BRITISH GERIATRICS SOCIETY, 2011) Assim, deve-se perguntar ao paciente
se ele caiu 2 ou mais vezes no último ano ou, se ele não caiu, se ele se sentiu instável ao
caminhar. Os pacientes que respondem positivamente para alguma pergunta apresentam um
risco elevado para quedas e deve receber a avaliação posterior. Aqueles que apresentam
anormalidades na maneira de andar ou no equilíbrio devem receber uma avaliação adicional
(PAINEL DE PREVENÇÃO DE QUEDAS EM IDOSOS, AMERICAN GERIATRICS
SOCIETY E BRITISH GERIATRICS SOCIETY, 2011)
Além da avaliação do histórico de quedas, deve-se investigar o uso de medicações, uma
vez que diversas classes de medicamentos aumentam o risco de queda, especialmente os
psicoativos, os quais tendem a ser sedativos, gerar alterações sensoriais e prejudicar o equilíbrio
e a marcha. (PHELAN et al., 2015), (GANZ et al., 2007), (POON, 2005). Outros fármacos
como anti-hipertensivos, antiinflamatórios não esteroidais e diuréticos possuem uma correlação
mais fraca com as quedas (WOOLCOTT et al., 2009).
Posteriormente, devem ser realizados exames físicos focados no equilíbrio e queda
(PHELAN et al., 2015). Para que o indivíduo seja independente, ele deve ser capaz de realizar
as “habilidades de mobilidade básica”, como sentar, deitar e levantar, bem como andar
pequenas distâncias (ISAACS,1985). Dentre os testes utilizados para avaliar o equilíbrio e a
mobilidade e mensurar o risco de quedas, destacam-se a seguir:
Get up and go (teste de levantar e andar): solicita-se ao paciente para que se levante de
uma cadeira reta e com encosto, ande três metros, faça um giro de 180º, retorne e se sente
novamente. Assim, é possível avaliar o equilíbrio do paciente sentado e seu equilíbrio durante
a marcha e a transferência. O equilíbrio do paciente é avaliado em uma escala de 5 pontos: (1)
normalidade; (2) anormalidade leve; (3) anormalidade média; (4) anormalidade moderada; (5)
anormalidade grave. Se o paciente fizer 3 ou mais pontos, o teste indica risco aumentado para
quedas (MATHIAS et al.,1986). Embora seja um teste rápido e prático, o sistema de pontuação
é impreciso, pois depende da percepção do examinador.
Timed Get up and Go (teste de levantar e andar cronometrado): esse teste é uma variação
do anterior e foi proposto por Podsiadlo e Richardson em 1991 como uma forma de corrigir a
imprecisão da escala de pontuação. O paciente deve utilizar seus calçados de uso regular e
dispositivos auxiliares de mobilidade, como bengala e andador, se necessário. Assim, repetem-
se as etapas do teste anterior e o examinador deve medir o tempo de realização da tarefa

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(PODSIADLO et al., 1991). Se o paciente completar o teste em tempo menor ou igual a 10s,
ele é independente; entre 11 e 20s, é independente em transferências básicas e apresenta baixo
risco de quedas; maior ou igual a 20s, o paciente é dependente em várias atividades de vida
diária e apresenta alto risco de quedas (BISCHOFF et al.,2003).
Teste de equilíbrio e marcha: esse teste foi proposto por Tinetti e adaptado para o Brasil
por Gomes. Assim, também é chamado de POMA (Performance Oriented Mobility Assessment)
e avalia os seguintes aspectos do paciente em relação ao equilíbrio: equilíbrio sentado;
comportamento ao levantar da cadeira; tentativas para levantar; equilíbrio assim que levanta
(primeiros 5s); equilíbrio em pé; equilíbrio em pé com olhos fechados e pés juntos; giro de
360°; manobra dos três tempos (paciente em posição ortostática com os pés juntos, o
examinador empurra levemente o esterno do paciente três vezes para avaliar a capacidade de
resistir ao deslocamento); habilidade para sentar-se. Essa etapa é avaliada em uma escala de 0
a 16 pontos, sendo que quanto maior a pontuação, melhor é o desempenho do paciente
(TINETTI,1986) (GOMES et al.,2003).
Em relação à marcha, o teste avalia os seguintes aspectos: início da marcha,
comprimento e altura dos passos, simetria dos passos, continuidade dos passos, direção, tronco
e distância dos tornozelos. Essa etapa é avaliada em uma escala de 0 a 12 pontos. O escore total
das duas fases varia de 0 a 28 pontos. Abaixo de 19 pontos, o paciente apresenta alto risco de
quedas (TINETTI,1986) (GOMES et al.,2003).
Avaliação de sarcopenia: a sarcopenia é a perda de massa muscular relacionada ao
envelhecimento (ROSENBERG,1997). Por interferir no equilíbrio e na mobilidade e, assim,
predispor o idoso a quedas, a sua avaliação deve ser incluída na AGA (FREITAS et al.,2016).
Para fazer a mensuração de massa muscular, pode-se utilizar métodos antropométricos,
bioimpedância ou densitometria corporal total (FREITAS et al.,2016). O desempenho muscular
é avaliado pela velocidade da marcha e pelo teste do levantar e andar cronometrado (Timed Get
up ad Go) e a força muscular é avaliada principalmente pela força de preensão palmar
(FREITAS et al.,2016) (CRUZ-JENTOFT, 2010). O Consenso Europeu elaborado pelo
European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) define que o diagnóstico
de sarcopenia é feito com a presença de diminuição da massa muscular associada à baixa função
muscular (CRUZ-JENTOFT, 2010).
Velocidade de marcha: é medida pelo tempo que o indivíduo leva para percorrer 4
metros. O cálculo é feito pela média de três tentativas, sendo que o normal é que a velocidade
seja maior que 0,8 m/s e avalia o desempenho muscular (FREITAS et al.,2016).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Força de preensão palmar: esse fator está relacionado a força muscular dos membros
inferiores, extensão de joelhos e diâmetro das panturrilhas (LAURETANI, 2003). Para realizar
o teste, utiliza-se o dinamômetro Jamar® e o paciente deve estar sentado com ombro aduzido e
neutramente rodado, com cotovelo flexionado a 90°, antebraço em posição neutra e o punho
entre 0° e 30° de extensão e 0° a 15° de desvio ulnar. O resultado é a média de três medidas
realizadas no membro dominante com intervalo de 60s entre cada medida (MOREIRA,2003).
Os escores normais não apresentam consenso na literatura, porém, segundo o Foundation for
the National Institutes of Health (FNIH), pode-se utilizar como parâmetro de força normal
acima de 16kg para mulheres e acima de 26 kg para homens (DAM,2014).

3.3 - A influência da Avaliação Geriátrica Ampla sobre o estabelecimento de condutas


para prevenção de quedas.
As ferramentas adequadas para avaliar o risco de queda em idosos devem ser
identificadas e sua validade preditiva investigada A triagem para quedas começa com a
obtenção de informações históricas ou autorrelatadas sobre equilíbrio, força dos membros
inferiores e marcha(MOYER, 2012).
A partir da análise de risco de queda, as intervenções para a prevenção de quedas e suas
classificações de evidências são: exercícios de força e equilíbrio, modificação da moradia,
alterações na medicação, controle da hipotensão postural, suplementação de vitamina D,
intervenções multifatoriais e educação(BUNN et al., 2008).
As intervenções de exercícios concentradas no aprimoramento da força e do equilíbrio
são as intervenções isoladas mais eficazes para reduzir quedas e lesões relacionadas, devido à
baixa adesão ao exercício físico rotineiro e ao sedentarismo(MOYER, 2012) (MEROM et al.,
2012). Os exercícios, primordialmente, devem enfocar na melhoria do equilíbrio, adequar-se às
condições do idoso e possuir uma carga horária mínima de 2h semanais por 25 semanas
(SHERRINGTON et al., 2008). Consistem em caminhadas em superfície plana; abdução dos
membros superiores; flexão e extensão dos cotovelos direito e esquerdo; flexão dos ombros;
flexão plantar; flexão de joelho; flexão e extensão de quadril; abdução do quadril; levantar e
sentar da cadeira sem a utilização das mãos; e alongamentos para aumentar a flexibilidade.
Atividades recreativas também podem ser utilizadas, como dança e yoga (SÁ; BACHION;
MENEZES, 2012).
A modificação da casa também é eficaz, embora faltem evidências da redução de lesões
relacionadas a quedas quando ela é a única intervenção (TRICCO et al., 2017).Essa medida é
mais eficaz em pessoas com maior risco de queda, incluindo aquelas com deficiência visual

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

severa, e quando realizada por um terapeuta ocupacional (MOYER, 2012). As principais


modificações encontradas na literatura são: evitar cadeiras baixas, cama muito alta e uso de
chinelos, retirar tapetes, guardar ao nível do olhar os objetos pessoais mais usados, instalar
corrimãos em escadas e barras de apoio próximo ao chuveiro e vaso sanitário, e priorizar o uso
de sapatos apropriados e dispositivos para auxiliar marcha(BHASIN et al., 2020).
Outro fator a destacar é a revisão da medicação. Uma estratégia importante é reduzir a
dose de medicamentos que contribuam para o risco de queda e diminuir ou interromper todos
os medicamentos que não são mais indicados, os quais devem ser avaliados pelo médico
especialista, tendo em vista a continuidade de tratamentos necessários à saúde do idoso. Dessa
forma, a revisão objetiva reduzir o uso de medicamentos desnecessários, evitando os efeitos
colaterais e fatores iatrogênicos relacionados (WOOLCOTT et al., 2009).
A intervenção também está relacionada à hipotensão postural, a qual afeta
aproximadamente 30% dos idosos residentes na comunidade e é um fator de risco de queda
(PHELAN et al., 2015). Os pacientes podem sentir tontura, visão turva, cefaleia, fadiga,
fraqueza ou síncope dentro de um a vários minutos após se levantarem, ou podem ficar
assintomáticos. A hipotensão postural é definida como uma redução na pressão arterial sistólica
de pelo menos 20 mmHg ou na pressão arterial diastólica de pelo menos 10 mmHg dentro de 3
minutos após ficar em pé. A hipotensão postural muitas vezes pode ser aliviada com a redução
da dosagem de medicamentos para controle da pressão arterial que tenham hipotensão
ortostática como efeito colateral. A orientação de dormir com a cabeceira da cama elevada
também pode minimizar as reduções posturais na pressão arterial (PAINEL DE PREVENÇÃO
DE QUEDAS EM IDOSOS, AMERICAN GERIATRICS SOCIETY E BRITISH
GERIATRICS SOCIETY,2011) (WOOLCOTT et al., 2009).
Além disso, para reduzir as chances de uma lesão por queda, a otimização óssea é
recomendada, a qual será realizada com a suplementação de vitamina D, como também
avaliação visual e auditiva regular, atenção à segurança ambiental e tratamento da osteoporose
para ajudar a prevenir fraturas. O ensino de técnicas a idosos para se levantar após uma queda
pode evitar a sua permanência no solo involuntariamente e complicações médicas associadas,
por causa da incapacidade de se levantar sem ajuda. (PHELAN et al., 2015) (POON, 2005).
As intervenções multifatoriais identificam e abordam os fatores de risco de queda com
base em uma avaliação individualizada e fornecem uma combinação padronizada. Os três
fatores de risco principais (equilíbrio, medicamentos e segurança doméstica) devem ser
considerados em todas as pessoas sob alto risco.48 Para esses pacientes com múltiplos fatores
de risco modificáveis, pode ser necessário abordar cada fator individualmente ao longo do

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

tempo para não confundir ou sobrecarregar o paciente. Esses indivíduos geralmente têm vários
problemas de saúde e podem consultar vários especialistas, os quais fazem sugestões, ajustam
medicamentos e agendam o paciente para consultas de acompanhamento (PHELAN et al.,
2015) (WOOLCOTT et al., 2009).
Os profissionais de saúde devem explorar as percepções dos idosos sobre as causas de
suas quedas e propor mudanças para reduzir o risco de novos episódios. As abordagens
facilitadoras incluem a apresentação das informações sobre a possibilidade de evitar quedas,
oferecendo escolhas, personalizando opções e focando em estratégias na melhoria da qualidade
de vida(MOYER, 2012). A educação em saúde é um instrumento importante dessa forma de
intervenção, a qual deve ser utilizada em todas as outras, esclarecendo a importância da
atividade física, do controle nutricional, dos fatores de risco para queda, das alterações na sua
residência e das mudanças de hábitos (SHERRINGTON et al., 2008).A validade preditiva das
ferramentas de avaliação de risco de queda atualmente utilizadas para idosos não é suficiente,
uma vez que as evidências mostram que o uso de uma grande variedade de ferramentas de
avaliação de risco de queda em idosos não prevê quedas precoces com precisão suficiente
(PARK, 2018).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

4 - CONCLUSÃO

Com base no que foi exposto, a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) está relacionada,
normalmente, com a melhoria da vitalidade durante os períodos gerontológicos, os quais
agregam-se às síndromes clínicas geriátricas advindas da senescência. Além disso, notou-se que
dentre os diversos sintomas que o paciente senescente pode apresentar, deve-se dar atenção
especial às quedas, isso porque elas apresentam alta incidência, mortalidade e morbidade.
Ademais, ferramentas adequadas para avaliar o risco de queda em idosos devem ser
identificadas e sua validade preditiva investigada, visto que a triagem para quedas começa na
anamnese, com a obtenção de informações históricas ou autorrelatadas sobre equilíbrio, forças
dos membros inferiores e marcha. É de extrema importância, a realização de novos estudos para
promover uma compreensão mais adequada da AGA, visto que ela e outras ferramentas de
avaliação de risco de queda não são suficientes para prever com precisão as quedas senescentes,
o que representa um grande desafio para os profissionais da saúde.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 61

Traumatologia e Odontologia Legal: Estudo


epidemiológico retrospectivo de lesões do
complexo estomatognático nos laudos de exames
no Instituto de Medicina Legal de Palmas,
Tocantins.

Steffany Daffila Moreira Silva, Fábio Henrique Julião dos Santos, Caroline
Oliveira de Andrade, Camila Coelho Andrade, Adelino de Sousa Parente,
William Pedretti e Juliana Tomaz Sganzerla

RESUMO: Devido a criação do Estado e do vigoroso fluxo de imigrantes,


Palmas se transformou em expansor regional e pilar econômico no Tocantins.
O grande crescimento populacional é devido a centralização da capital que
atrai muitas pessoas de outros estados e municípios. No entanto, essa
expansão demográfica trouxe problemas para a segurança e saúde pública
agravando a incidência de acidentes de trânsito, violência e agressão. Logo,
esses problemas repercutem na integridade física da pessoa na sociedade,
ocasionando aumento de morbidades e mortalidade. O estudo analisou a
ocorrência e distribuição de lesões que acometeram o sistema
estomatognático de vítimas nos laudos de lesão corporal do Instituto Médico
Legal de Palmas – TO, no ano de 2020. Dos 2837 laudos avaliados, 686
(24%) apresentava lesões que envolveram cabeça e pescoço. Os laudos
foram examinados de acordo com a sua distribuição mensal, turno de
ocorrência: manhã, tarde, noite, e madrugada. A quantidade de instrumentos
utilizados, a frequência de utilização por tipo de instrumento. Dividiu-se a
localização das lesões em tecido mole 75,3% e tecido ósseo 24,6% sendo em
tecido mole o terço médio 37% e em órbita 15,7%. O papel do odontolegista
é de extrema importância, pois ele é o profissional mais competente para
avaliar lesões e examinar todos os outros procedimentos que integram
elementos da cavidade oral. Os resultados auxiliam na compreensão desta
importante questão de saúde pública e fornecem embasamento científico
para a implementação de políticas preventivas e de apoio ao atendimento às
vítimas.

Página 647
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A Odontologia Legal se insere como um ramo dentro da Medicina Legal ao qual deve
auxiliar em exames e identificar eventos lesivos a seres humanos através de características
dentárias e ou anatômicas da vítima1. Por conseguinte, a odontologia legal e suas relações com
o direito vem da regulação do exercício da prática da Perícia Oficial e é garantida pela Lei n°
12.030, onde relata que o profissional pode periciar em foro civil, criminal, trabalhista e em
sede administrativa assim como exercer a função de perito-odontólogo, quando se tratar de vias
de competência do Odontólogo2.

Segundo a Resolução 063/05 do Conselho Federal de Odontologia (CFO), entidade


responsável por normatizar a profissão no Brasil, na Seção VIII reconhece a Odontologia Legal
como uma das especialidades do cirurgião-dentista e tem como objetivo: “Art..63. [...] a
pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir ou ter
atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões
parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis”3. De acordo com os dados oficiais do CFO, em
2021 há um total de 815 especialistas em odontologia legal no brasil, cerca de 0,7% do total
das outras especialidades existentes4.

“Toda e qualquer ofensa ocasionada à normalidade funcional do corpo ou organismo


humano, sendo elas físicas, anatômicas ou psíquicas” são determinados como lesão corporal5.
Historicamente as lesões são consideradas, inevitáveis, acidentes ou aleatórias. Porém,
atualmente lesão não intencionais e intencionais são vistas como eventos que podem ser
evitados6.
Nos últimos dez anos houve uma melhor compreensão sobre a sua causa o que mudou
esse antigo pensamento6. Em consequência dessa mudança de entendimento, a política de lesões
foi colocada firmemente no campo da saúde pública pois as implicações que a lesão tem dentro
da saúde tem exigido um certo cuidado pelos tomares de decisão no mundo6.

Em decorrência ao crescente aumento no número de violência doméstica, interpessoal,


infantil, contra o idoso, acidentes automobilísticos, traumas decorrentes em acidentes de
trabalho e esportes de riscos na última década houve uma necessidade de uma análise precisa
das lesões situadas em face8. Visto que, em alguns casos esses traumas podem gerar sequelas
temporárias ou permanentes na vítima da injúria8. De modo frequente, a cabeça é a região do

Página 648
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

corpo acometida pelas lesões corporais e possuindo um percentual de até 40%6. Desde uma
periodontite causada por trauma até a avulsão dentária as lesões do sistema mastigatório são
frequentes, e podem ter baixa ou alta gravidade7.

É necessário enfatizar que o sistema estomatognático do corpo humano constitui de


articulação, vascularização, músculos, ossos da cabeça e pescoço que junto com o Sistema
Nervoso Central atuam no desenvolvimento de atividades essenciais para a vitalidade humana
como mastigar, deglutir e aspirar8. Além do mais, é assegurado pelos Código Civil e Código
Penal brasileiro a integridade da unidade anatômica e funcional do ser humano que é um bem
jurídico penalmente protegido pelo Estado não sendo de interesse somente do indivíduo, mas
da sociedade9-10.

O IML Palmas, presta serviços à sociedade de Palmas e a todas as regiões do Tocantins


possui em seu quadro de colaboradores atualmente, 25 (vinte e cinco) servidores do setor
administrativo, 23 (vinte e três) agentes de necrotomia, 20 (vinte) médicos legistas, 11 (onze)
odontolegistas sendo 2 (dois) concursados como perito oficial e 9 (nove) ad hoc, 8 (oito)
assistentes sociais, 7 (sete) psicólogas, 8 (oito) auxiliares de serviços gerais e 5 (cinco)
motoristas, onde são responsáveis pela elaboração de laudos “médico-odonto-legais”,
instrumentos importantes para o esclarecimento e como meio de prova11.

É de extrema importância o papel de um perito odontólogo para a correta perícia nos


laudos de exames de lesão corporal e investigação dos casos de traumas e lesões na região do
sistema estomatognático e identificação humana, pois o profissional consegue apresentar um
completo perfil da lesão, além do fato de que o mesmo está preparado para estabelecer tanto no
seu diagnóstico, como também na classificação, nexo causal e enquadramento legal, sendo que
quaisquer falhas podem prejudicar tanto o processo como as partes envolvidas. Além de
considerarmos o valor de importância dos prontuários, aos exames complementares como as
radiografias e fotografias para uma correta identificação12. Diversos estudos têm realizado a
análise da incidência e etiologia dos traumas de face sendo os mais frequentes acidente
automobilístico, violência e acidentes de trabalho com porcentagens variadas dependendo do
município ou estado onde a pesquisa foi realizada13.

Diante disso, o objetivo desse trabalho foi verificar a incidência e a distribuição das
injúrias do sistema estomatognático relatadas nos laudos do Instituto Médico Legal de Palmas,
Tocantins no período de 1 janeiro de 2020 a 31 de dezembro 2020.

Página 649
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

MATERIAL E MÉTODOS
Delineamento do Estudo

O estudo foi desenvolvido a partir de um delineamento longitudinal, transversal


retrospectivo, elaborado por meio da investigação nos laudos de lesões corporais do Instituto
de Medicina Legal de Palmas – TO de 1 janeiro de 2020 a 31 de dezembro 2020.
.

Considerações Éticas

A presente pesquisa possui a devida aprovação do diretor do Instituto Médico Legal


Palmas – TO e foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Luterano
de Palmas (CEULP-ULBRA), aprovado sob parecer consubstanciado nº
52706421.7.0000.5516 (Anexo 1), e segue todas as exigências da resolução CNS 466/12.
Foram entregue os Termos de Fiel Depositário (TFD) em que os pesquisadores assinaram,
isentando a Instituição de qualquer vazamento de informações, também foi solicitada dispensa
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por tratar-se de um estudo
retrospectivo com uso de dados arquivados. Cada laudo foi identificado por números em ordem
crescente para manter a identidade das vítimas sob sigilo.

Os dados foram coletados por cinco pesquisadores do curso de Odontologia e um da


área de informática onde foram calibrados previamente. Uma Perita Oficial odontóloga
acompanhou todo o processo de coleta de dados no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro
de 2020. Foram analisados 2837 laudos de lesão corporal onde 686 (24%) desses laudos
continham injúrias na região de cabeça e pescoço.

Local, População do Estudo e Critérios de Elegibilidade

O estudo foi realizado no Instituto Médico Legal, localizado no município de Palmas,


TO. As coletas foram feitas nos laudos de indivíduos vivos que sofreram alguma injúria de
lesão corporal. Foram analisadas ocorrências como agressões, violência física, assalto, brigas,
acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, arma de fogo.

Página 650
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O IML possui 10 (dez) núcleos no Estado do Tocantins. Os núcleos estão localizados


nas cidades de Tocantinópolis, Araguatins, Araguaína, Colinas, Guaraí, Paraíso, Palmas, Porto
Nacional, Natividade, Gurupi.

A amostra foi composta por laudos das vítimas de traumas na região do sistema
estomatognático, região de cabeça e pescoço, registrados no Instituto de Medicina Legal de
Palmas, TO 01 janeiro de 2020 a 31 de dezembro 2020.

COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Para a coleta dos dados demográficos (sexo, idade, cor da pele), etiológicos (lesão em
tecidos moles, fraturas, lesões dentárias, lesões por arma de fogo ou outras lesões), tipo de lesão
(contusa, punctória, incisa) instrumento (contundente, perfurante, cortante) objeto e localização
(mandíbula, maxila, zigomático, nasal, orbita, outros locais) e data de ocorrência (mês e ano)
foi utilizada uma ficha de coleta conforme o Apêndice 1.

As informações foram coletadas por seis pesquisadores independentes treinados e


calibrados, compiladas para um banco de dados preparado no programa Microsoft Office Excel
for Windows, versão 2010 e exportados para o programa BioEstat v.5.0 para análise estatística.
Os resultados foram analisados por estatística descritiva dos dados por meio de frequências
absolutas e relativas.

RESULTADOS

Dos 2.837 laudos de lesão corporal analisados, 686 envolveram a região de cabeça e
pescoço, correspondendo a 24% do total de laudos emitidos pelo IML - Palmas no ano de 2020.
As lesões foram analisadas de acordo com a sua distribuição mensal tendo início no dia primeiro
de janeiro e término em trinta e um de dezembro.

Figura 1. Distribuição Mensal das Lesões Corporais registradas no Instituto Médico Legal do Município de
Palmas/TO no Ano 2020.

Página 651
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2021.

Conforme a Figura 1, em Janeiro a frequência relativa percentual foi de 7,87% (N=53),


em Fevereiro 10.35% (N= 71), Março 13.41% (N= 91), Abril 7.14% (N= 48), Maio 9,18% (N=
62), Junho 8.45% (N= 57), Julho 7.58% (N= 51), Agosto 8,75% (N= 60), Setembro 6,56%
(N=45), Outubro 7.58% (N=51), Novembro 7.87% (N= 53) e em Dezembro caiu para 5,25%
(N= 36). Nota-se que o mês de março possuiu o maior índice de Lesões Corporais que
acometeram a região de cabeça e pescoço no ano de 2020.

A distribuição das lesões corporais por turno de ocorrência também foi avaliada (Figura 2). No
turno da manhã das 06:00h às 11:59h as ocorrências totalizaram um percentual de 24% (N=
168), no turno da tarde das 12h às 17:59h cerca de 25% (N=172), o da noite das 18h às 23:59h
um total de 27% (185), e da madrugada 00:00h às 05:59h o valor de 18% (N=121).

Figura 2. Distribuição das Lesões Corporais por Turno de Ocorrência registradas no Instituto Médico Legal do
Município de Palmas/TO no Ano 2020.

Página 652
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2021.

Dos 686 laudos periciados 351 eram homens (51,09%) e 335 eram mulheres (48,76%).
A faixa etária mais afetada compreende o adulto de meia idade (31-64 anos) com cerca de
45.8% dos casos e em seguida o adulto jovem (21-30 anos) com 34.8 %. A faixa etária de menor
incidência foi a de idosos da 4a idade (> 81 anos) apresentando 0,1%. A cor da pele com maior
carga de lesão corporal foi a pardos 69.1% (N=474), seguido de brancos 15.7% (N=108) e
pretos 12,8% (N=88) (Tabela 1).

Tabela 1. Características Sociodemográficos das Vítimas de Lesão Corporal nos Laudos do Instituto Médico Legal
de Palmas/TO no ano 2020.

Página 653
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Variável Frequência Frequência Feminino Masculino


Absoluta (N) Relativa (%) N=335 (48.8%) N=351 (51.2%)
Faixa Etária N % N %
Bebê (0-2 anos) 6 0.9 2 25.0 6 75
Infância (3-11 anos) 13 1.9 3 25.0 9 75
Adolescência (12-20 anos) 105 15.3 59 56.2 46 43.8
Adulto Jovem (21-30 anos) 239 34.8 120 50.4 118 49.6
Adulto Meia Idade (31-64 anos) 314 45.8 149 48.1 161 51.9
Idoso 3ª Idade (65-80 anos) 8 1.2 2 16.7 10 83.3
Idoso 4ª Idade (>81 anos) 1 0.1 0 0.0 1 100.0
Cor da Pele N % N %
Branco 108 15.7 52 14.8 56 16.7
Pardo 474 69.1 229 65.2 245 73.1
Preto 88 12.8 46 13.1 42 12.5
Amarelo 1 0.1 1 0.3 0 0.0
Indígena 0 0 0 0.0 0 0.0
Não Informado 15 2.2 7 2.0 8 2.4
Estado Civil N % N %
Solteiro 519 75.7 263 78.5 256 72.9
Casado 103 15 51 15.2 52 14.8
Separado 3 0.4 1 0.3 2 0.6
Divorciado 21 3.1 7 2.1 14 4.0
Viúvo 6 0.9 4 1.2 2 0.6
Não informado 34 5 9 2.7 25 7.1
Escolaridade N % N %
Fundamental incompleto 120 17.5 56 16.7 64 18.2
Fundamental completo 31 4.5 17 5.1 14 4.0
Médio incompleto 88 12.8 41 12.2 47 13.4
Médio completo 144 21 72 21.5 72 20.5
Superior incompleto 51 7.4 32 9.6 19 5.4
Superior completo 45 6.6 18 5.4 27 7.7
Pós graduação incompleto 0 0 0 0.0 0 0.0
Pós graduação completo 2 0.3 2 0.6 0 0.0
Não Informado 205 29.9 97 29.0 108 30.8

Fonte: Autores, 2021.

O estado civil de maior propensão à lesões na região bucomaxilofacial foram os solteiros


com 75.7% (N=519) e o nível de escolaridade com maior ocorrência foi ensino médio completo
com 144 casos (21%).

Em relação a quantidade de instrumentos utilizados pelos periciados, foram divididas


em 4 (quatro) grupos de; 1(um) instrumento 96%, 2 (dois) instrumentos 3%, 3 (três)
instrumentos e não informado (Figura 3).

Figura 3. Quantidade de Instrumentos Utilizados nas Lesões Corporais registradas no Instituto Médico Legal do
Município de Palmas/TO no Ano 2020.

Página 654
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2021.

A frequência de utilização por tipo de instrumento distribuiu-se em instrumento


contundente na maioria dos casos (84,3%), seguidos pelos instrumentos cortantes (8,8%), corto-
contundente (3,7%) e perfurocortantes (2%).

Figura 4. Frequência de Utilização por Tipo de Instrumento nas Lesões Corporais registradas no Instituto Médico
Legal do Município de Palmas/TO no Ano 2020.

Fonte: Autores, 2021.

Página 655
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A localização mais acometida em tecido mole na região da face foi o terço superior
24,4% (N=224), seguida o terço médio 37% (N=340), e por último o terço inferior 21,9 %
(N=201). Na região do pescoço, o trígono anterior do pescoço apresenta 9,7% (N= 89), o
trígono posterior do pescoço 6.6% (N=61).

Figura 5. Distribuição da Localização das Lesões Corporais envolvendo Tecido Mole registradas no Instituto
Médico Legal do Município de Palmas/TO no Ano 2020.

Fonte: Autores, 2021.

As regiões em tecido ósseo mais acometidas foram a frontal 15,4% (N=24), órbita
15,7% (N=55), nasal 11,1 % (N=39) e mandíbula 6,8% (N=24).

Figura 6. Distribuição da Localização das Lesões Corporais envolvendo Tecido Ósseo registradas no Instituto
Médico Legal do Município de Palmas/TO no Ano 2020.

Página 656
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2021.

Como consequências às lesões corporais, 27 laudos apresentaram lesões que representaram


perigo à vida, configurando 3,9% dos casos, enquanto 13 (1,8%) apresentaram perda de
função, 11 (1,6%) deformidade permanente e 10 (1,4%) incapacidade permanente.

Figura 7. Consequências das Lesões Corporais registradas no Instituto Médico Legal do Município de
Palmas/TO no Ano 2020.

Fonte: Autores, 2021.

A tabela 2 descreve os tipos e localizações mais acometidas pelas lesões corporais na


região de cabeça e pescoço. Cabe destacar que os tecidos moles são os mais acometidos (75%),
apresentando lesões únicas (67,5%) localizadas no terço médio da face (37%). Das lesões em

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

tecido ósseo (N=219), a região mais acometida foi a órbita (15,7%), seguida da frontal (15,4%)
e nasal (11,1%).

Tabela 2. Tipo e Localização das Lesões Corporais nos Laudos do Instituto Médico Legal de Palmas/TO no ano
2020.

Variável Frequência Absoluta Frequência Relativa


(N) (%)
Tipo de Lesão
Tecido Mole 669 75,3
Tecido Ósseo 219 24,6
Lesões em Tecido Mole
Lesão Única 464 67.6
Duas Lesões 161 23.5
Três Lesões ou Mais 44 6.4
Localização das Lesões em Tecido Mole
Terço Superior da Face 224 24.4
Terço Médio da Face 340 37.0
Terço Inferior da face 201 21.9
Trígono Anterior do Pescoço 89 9.7
Trígono Posterior do Pescoço 61 6.6
Não Informado 4 0.4
Lesões em Tecido Ósseo
Lesão Única 156 22.7
Duas Lesões 48 7.0
Três Lesões ou Mais 15 2.2
Localização das Lesões em Tecido Ósseo
Mandíbula 24 6.8
Maxila 14 4.0
Zigomático 18 5.1
Órbita 55 15.7
Nasal 39 11.1
Parietal 23 6.6
Mentoniana 8 2.3
Frontal 54 15.4
Outro Local 58 16.5
Não Informado 58 16.5

Fonte: Autores, 2021.

No que diz respeito a características das lesões, os tipos de lesões foram divididos em 8
(oito) grupos, sendo contuso/lacerocontuso 83.4% (N= 572) a mais frequentemente descrita nos
laudos analisados, seguidas de cortocontuso 10.6% (N= 73), perfurocontuso 2,3% (N= 16),
inciso 1% (N= 7) e perfuroinciso 0.9% (N= 6) (Tabela 3).

A análise da etiologia das lesões demonstrou que a agressão física é a causa mais
comum, correspondendo por 85.6% (N= 587), seguida dos acidentes 7.6% (N= 52). Além disso,
as lesões envolvendo violência em 79,2% (N= 596) dos laudos analisados, sendo que 11.2%

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

(N= 84) envolveram lesão por arma branca, 1,6% (N=12) lesão por arma de fogo 1,6% (N= 12)
e 0,4% (N=3) lesão por queimadura. Em apenas 1 caso houve característica de tortura (0,1%).

Tabela 3. Características e Etiologia das Lesões Corporais nos Laudos do Instituto Médico Legal de
Palmas/TO no ano 2020.

Variável Frequência Absoluta Frequência Relativa


(N) (%)
Tipo de Lesão
Punctório 0 0.0
Inciso 7 1.0
Contuso/lacerocontuso 572 83.4
Perfuroinciso 6 0.9
Perfurocontuso 16 2.3
Cortocontuso 73 10.6
Laceração 0 0.0
Não Informado 12 1.7
Tipo de Instrumento
Perfurante 9 1.3
Contundente 202 29.4
Cortantes 344 50.1
Perfurocortantes 21 3.1
Corto-Contundente 14 2.0
Não Informado 96 14.0
Etiologia
Trauma 7 1.0
Agressão 587 85.6
Acidente 52 7.6
Outro 26 3.8
Não Informado 14 2.0
Características Etiológicas
Lesão por Arma de Fogo 12 1.6
Lesão por Queimadura 3 0.4
Lesão por Arma Branca 84 11.2
Lesões envolvendo Violência 596 79.2
Lesão por Acidente de Trânsito 57 7.6
Lesão característica de Tortura 1 0.1

Fonte: Autores, 2021.

DISCUSSÃO

Lesões e trauma que envolvem a integridade humana são problemas de saúde pública
que devem ser tratados e prevenidos. Estudos epidemiológicos são de grande importância e
relevância social, pois permite o desenvolvimento de estratégias de saúde e segurança pública.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Ao total de 2.837 laudos de lesão corporal foram analisados nesse estudo 686
envolveram a região de cabeça e pescoço, tal fato corresponde a 24% do total de laudos emitidos
pelo IML- Palmas no ano de 2020. O que é compatível com outro estudo realizado no IML da
cidade de Taubaté-SP em janeiro de 2005 a dezembro 2007, com base em 12.184 laudos onde
23,81% apresentavam envolvimento com a região da cabeça e pescoço14.

É importante notar que março é o mês com a maior incidência de lesões corporais
afetando a região da cabeça e pescoço em 2020. No mesmo mês, as Nações Unidas anunciaram
a pandemia de COVID-19, que mudou e sensibilizou significativamente a vida das pessoas15.
De acordo com às evidências científicas, as autoridades estaduais insistiram na mudança de
hábitos, especialmente o distanciamento social e o isolamento16,17. Esse fato pode ter sido
crucial para a redução de casos nos meses seguintes.

A distribuição das lesões corporais ao longo do dia permaneceu de maneira constante


entre todos os turnos, prevalecendo o turno noturno com 27%, que se somados às ocorrências
da madrugada (18%) demonstram resultados semelhantes a outros estudos, como o realizado
na região de Cascavel-PR onde o período noturno apresentou 68% das ocorrências18 e o do
Hospital de Urgências de Sergipe que analisaram 106 pacientes com lesões bucomaxilofaciais,
onde 54,7% também aconteceram no período da noite19.

A quantidade de instrumentos mais utilizados foi 1 instrumento com 96% e 2


instrumentos com 3%.

As lesões em tecido mole foram divididas em terços segundo a classificação de Arnett


Bergman (1993) e ocupam um total de 669 laudos analisados cerca de 75,3%, onde verificou-
se que o terço médio da face é o mais acometido pelas lesões em tecido mole (37%), fato esse
que se justifica pela região ocupar uma posição central na face tornando essas estruturas com
maior facilidade de serem lesadas20-21.

Além do prejuízo em tecido mole, a intensidade do trauma pode levar a fraturas em


tecido ósseo e as mais acometidas foram a órbita 15,7% (N=55), frontal 15,4% (N=24) e nasal
11,1 % (N=39). Isso corrobora com as análise de lesões orofaciais no IML de Aracaju – SE,
onde a localização em tecido ósseo mais frequente foram órbita (20,3%) com 300 casos
registrados, frontal 123 (8,3%) e nasal 110 (7,4%)22.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Quando acometiam a região de pescoço, as lesões em tecido mole estavam localizadas


com maior frequência no trígono anterior (9,7%, N=89), indo de encontro com a análise de
lesão situadas em pescoço no IML de Maceió – AL em 2015 (9%) e 2016 (10%), sendo essas
lesões sugestivas de esganadura ou enforcamento23. Na nossa amostra, não foi possível
determinar tal etiologia.

A traumatologia ou lesonologia Médico-Legal examina as lesões e condições


patológicas, imediatos ou tardios, gerados por violência sobre o corpo humano, nos seus
aspectos do diagnóstico, do prognóstico e das suas implicações legais e socioeconômicas. Trata
também das modalidades que causam esses danos1.

As lesões segundo a traumatologia forense podem ser classificadas em lesões simples


ou mistas. As lesões simples são elas: contusas, incisas/cortantes, punctórias/puntiformes. As
lesões mistas são elas: perfuroincisas/perfurocortantes, cortocontusas, perfurocontusas,
lacerocontusas33. Analisando também a frequência de utilização por tipo de instrumento que
teve maior carga os instrumentos contundente 84,3% e cortante 8,8 %, indo de encontro com
as análises dos instrumentos feitos no IML Maceió-AL onde os instrumentos contundente
continham 95% e o cortante 1,19% dos exames em 2016 23.

Relacionando ao Art. 129 do Código Penal Brasileiro, 27 (3,9%) laudos apresentam


descrição compatível com “perigo à vida”, 11 (1,6%) “deformidade permanente”, 10 (1,4%)
“incapacidade permanente” e 13 (1,8%) “perda de função”. Já é sabido que a injúria traz efeitos
negativos à saúde a médio e longo prazo, reduzindo a qualidade de vida das vítimas e
intensificando as necessidades especiais. Esse impacto não se restringe apenas a mudanças
anatômicas ou fisiológicas, mas aos aspectos sociais e psicológicos, no atendimento e na
reabilitação. Uma variedade de fatores pode influenciar na qualidade de vida após o evento
traumático como: como a condição socioeconômica, acesso à reabilitação, qualidade do serviço
fornecido pelo sistema de saúde, tipo e magnitude, quantidade de intervenções cirúrgicas, grau
de sequelas, dor, e assim por diante24-25.

Das ocorrências de lesões na região de cabeça e pescoço nessa pesquisa o sexo


masculino foi o mais acometido, sendo 51,02% (N=351) indicando maior contato desse grupo
a agentes traumáticos, como brigas, esportes e acidentes de trânsitos. Esse achado está acordo
com a análise dos 2.891 laudos de lesões orofaciais no IML- São Luís em que 55,4% dos
periciados eram homens (N=1.603)26. E com outro levantamento de lesões na região

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

bucomaxilofacial em vítimas de violência periciadas do IML no município de Feira de Santana


na Bahia-BA, o sexo masculino portou também o maior número dos indivíduos que se submeteu
a perícia do odontolegista equivalendo à 54,7% da amostra27.

Quando analisada a faixa etária, a mais afetada é a dos adultos de meia idade (31-64
anos) com cerca de 45.8%, isso pode se justificar por estarem em uma fase de maior atividade
produtiva, consumo de maior quantidade de bebida alcoólica e exposição a ambientes de
maiores riscos28. Nosso estudo divergiu de outros que analisaram essa mesma variável, onde
notou-se que a idade mais acometida no IML de Cascavel - PR foi entre 15 a 29 anos18, no IML
de Taubaté – SP de 16 – 24 anos14, no IML São Luís – MA de 20 a 29 anos24, no IML Maceió
– AL dos 18 a 45 anos22, no IML Belo Horizonte – MG de 20 a 39 anos29 e no IML Aracaju -
SE de 21 a 30 anos19. Essa disparidade possivelmente está associada a forma de categorização
da variável analisada. Optamos por dividir as faixas etárias pelos ciclos de vida classificados
pela Organização Mundial da Saúde.

É importante observar, que o presente estudo mostrou a cor parda 69.1% (478) com a
maior prevalência nos laudos analisados no IML Palmas - TO e em seguida a branca 15,7%
(N=108), o que reflete a cor autodeclarada no estado, segundo dados do IBGE30.

As vítimas com o nível de escolaridade com maior prevalência de eventos lesivos são
as que possuem o ensino médio completo com taxa de 21% (N= 144), e ensino fundamental
incompleto 17,5%. Essa taxa está diretamente relacionada à evasão escolar, onde quanto menor
evasão escolar e maior a escolaridade do indivíduo, menor a chance da pessoa cometer, receber
atos violentos e ir para a cadeia. De acordo com dados estatísticos, a educação permite a redução
de 20% das taxas de homicídios e de prisões por lesões corporais31.

A agressão física é a causa mais comum, respondendo por 85.6% (N= 587), que
confirma os resultados de Campos e colaboradores (2016), no IML de São Luís – MA, onde
73,4% dos casos registrados também tinham como fator etiológico a agressão26 e no IML
Aracaju – SE, onde 87,9% das lesões também decorreram de agressão19.

É de grande valor o exame odonto legal para a vítima pois a tipificação é muito
importante, pois se o dano for corretamente classificado, a vítima pode ter direito à justa
indenização e fazer com que o agressor responda adequadamente pelo crime cometido. O laudo
de exame de lesão corporal é geralmente o ponto de partida para uma ação civil de reparação
de dano. Ressalta-se que é necessário ter em mente que os dentes desempenham inúmeras

Página 662
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

funções, sendo estas, mastigatória, estética, fonética e social, para que se possa qualificá-las
corretamente, sendo também de suma importância analisar corretamente as fraturas e
disjunções crânio-faciais que podem causar um dano direto, indireto, mediato ou imediato e
descrever os danos que serão temporários e os que serão permanentes32. Mesmo que seja feita
uma reabilitação protética, é importante que se fique claro, que um dente artificial ou mesmo
desvitalizado nunca será igual a um dente natural, isso faz com que o dano não seja totalmente
reparado e dependendo do laudo do odontolegista a classificação da traumatologia pode alterar
de leve para gravíssima.8,32.

Uma outra observação importante a ser feita dos 686 laudos que continham traumas na
região estomatognática, é o fato de que nenhum desses laudos terem sido encaminhados ao
odontolegista. Isso demonstra que há muita demanda para essa seção da odontologia legal e
apesar de ser nossa área de competência legal os laudos não foram requisitados para o
odontolegista e aponta o quanto esse serviço está sendo subutilizado e os laudos estão sendo
subjugados. Sendo que a equipe deveria agir de forma multiprofissional, visto que essas lesões
corporais que envolvem a região da cabeça e do pescoço devem passar pela avaliação médica
e pela avaliação do odontologelista por que é o profissional mais capacitado para avaliar os
danos mastigatórios, fonéticos e estéticos que podem acometer as vítimas e avaliar a gravidade
das lesões. O que pode estar acontecendo é que o serviço está sendo desfavorecido por falta de
informação dos delegados que não estão requisitando os exames para a sessão ou internamente
no próprio Instituto Médico Legal de Palmas – TO os laudos não estão sendo encaminhado para
a seção.

CONCLUSÃO

Nosso estudo demonstrou um alto índice de lesões no sistema estomatognático nos


laudos de lesão corporal no ano de 2020, com prevalência em homens adultos de meia idade,
com cor da pele autodeclarada parda, solteiros e com ensino fundamental incompleto. As lesões
se caracterizaram como lesões únicas localizadas em tecido mole no terço médio da face,
relacionadas à violência e agressão. A partir dos dados analisados, nossos resultados auxiliam
na compreensão desta importante questão de saúde pública e oferecem embasamento científico
para a implementação de políticas preventivas e de apoio ao atendimento às vítimas.

Página 663
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Além do mais, conclui-se que apesar de 24% (N=686) dos laudos apresentarem lesões
no sistema estamotagnático que é a região de competência legal do odontolegista, nenhum
foram requisitados para esse exame específico com o odontolegista e isso demonstra que o
serviço está sendo subutilizado no IML de Palmas - TO.

Página 664
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 62

O ESTILO DE VIDA E NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA


DOS POLICIAIS MILITARES DA CIDADE DE SANTA
RITA - PB

Mateus David Finco; Jefferson Manoel Albuquerque da Silva

RESUMO: Este estudo buscou caracterizar o estilo de vida e nível de


atividade física em uma amostra com 50 policiais militares do sexo
masculino da cidade de Santa Rita, na Paraíba. Foi utilizado como
instrumento de pesquisa um questionário semiestruturado e adaptado
para o contexto da amostra e utilizada a análise de conteúdo para
apresentação dos resultados na discussão sobre as atividades
praticadas e as possíveis barreiras ou dificuldades que impossibilitam
os mesmos de ter e/ou manter a prática de atividades físicas
regularmente. Verificou-se uma grande adesão por parte desses
profissionais de segurança, tendo em vista que as diversas práticas de
atividades físicas e uma razoável periodicidade das mesmas são
importantes para a manutenção da saúde e das atividades laborais que
os participantes do estudo desempenham. É de suma importância a
adesão dessas práticas por partes dos policiais, pois, considerando a
peculiaridade do serviço policial, tais como caminhar ou ficar parado
por bastante tempo, correr em determinadas ações, carregar
diariamente muitos equipamentos pesados e ficar muito tempo
sentado dentro de uma viatura, para que possam desempenhar sem
impedimentos físicos suas atividades e não potencializar o desgaste
físico, assim como o sedentarismo entre os profissionais.

Página 669
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Devido às grandes modificações na sociedade e consequentemente no modo de vida


das pessoas, principalmente após a industrialização e globalização, o dia a dia das está cada
vez mais corrido e com o tempo parecendo mínimo para resolver as demandas e
principalmente nas grandes cidades tem-se observado mudanças representativas no estilo de
vida da população, repercutindo de modo negativo principalmente na saúde.
As novas tendências de consumo, avanço tecnológico, insuficientes políticas públicas,
novos padrões de produção e a busca do desenvolvimento, caracterizado pelas desenfreadas
competitividade e concentração de renda, tem acarretado os grandes males na sociedade
como: desigualdade social, desemprego, a pobreza, a falência da família e sobretudo a
violência. O que se observa é um estilo de vida determinando o viver das pessoas, tanto social
como cultural, e são essas condutas que mostram como as pessoas estão vivendo mau em
relação à saúde, contribuindo para uma série de problemas como aumento de peso corporal,
comorbidades e mortalidade precoce, consequências principalmente do sedentarismo, má
alimentação, consumo de álcool e de fumo.
O estilo de vida das pessoas vem sendo cada vez mais modificado principalmente por
causa dos avanços tecnológicos, fazendo com que a organização e os ambientes de trabalho
fossem afetados, uma das consequências foi a diminuição do tempo reservado para o lazer e a
atividade física. A atividade física (AF) em particular é imprescindível para a saúde no
mundo moderno, tendo em vista que sua prática regular ajuda efetivamente na redução de
várias doenças crônicas não transmissíveis e, ainda, melhorar a autoestima, a resistência física
e a disposição para as atividades do dia a dia.
Torna-se primordial o conhecimento da realidade que os diferentes grupos vulneráveis
da população se encontram, para poder só assim elaborar estratégias e/ou medidas de
promoção, proteção à saúde e principalmente a prevenção de situações de riscos. Os
trabalhadores têm sofrido cargas e desgastes adicionais diante das profundas modificações nos
processos de trabalho e produtivo (FERREIRA; BONFIM; AUGUSTO, 2011). Sendo o
trabalho um fator de produção e portanto, um determinante da eficiência e da expressão da
atividade humana, ele põe em jogo as capacidades físicas, cognitivas, psicológicas, os
reflexos sensório-motores, as competências e a experiência das pessoas (TRAPÉ, 2017).
Há uma certa preocupação em relação a trabalhadores, por causa da grande influência
do estilo de vida e da atividade física na saúde das pessoas, pois baixos níveis de saúde e bem-
estar no trabalho podem provocar consequências tanto para o indivíduo quanto para a

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

empresa. Trabalhadores com baixa saúde podem ser menos produtivos, apresentar menor
capacidade de decisão e estão mais predispostos ao absenteísmo (DANNA; GRIFFIN, 1999).
Por sua vez o policiai militar representa uma classe de trabalhador diferenciado, por conta de
vários fatores que influenciam o exercício da sua profissão, dentre os quais podem ser
destacados a convivência com a violência e o risco de morte, a carga e condições de trabalho
e o estresse (GOMES et al., 2016). Por tudo isso, bons níveis de aptidão física são necessários
para o desempenho do serviço policial militar, no cumprimento do dever constitucional de
preservar a ordem pública e executar o policiamento ostensivo.
Tendo em vista, o policial militar desempenhar funções muito importantes na área de
segurança pública de acordo com a nossa constituição federal. A manutenção da ordem
pública através do policiamento ostensivo é a principal delas. Para tanto, faz necessário a
atuação diurna de modo preventivo para manter a ordem e também de modo repressivo na
restauração da mesma, nas ruas de todo o país (BRASIL, 1988).
Por ser um tipo de trabalho dinâmico e de diferentes processos para executar esse,
como: a pé, a cavalo, em bicicleta, motorizado (carro, moto, van, ônibus), em embarcação,
aéreo etc, e por muitas vezes durante a jornada de trabalho o PM tem que sentar e levantar do
banco da viatura, caminhar, correr e sempre com aumento da sobrecarga que são as armas,
colete e acessórios (algemas, bastão policial etc.) sem contar com a grande jornada de
trabalho de 24h por dia, fazendo com que precise fazer uso exaustivo da força (ARAÚJO;
SANCHEZ, 2017).
Tudo isso faz com que exista uma grande atenção para baixos níveis de aptidão física,
pois acontecendo isso, o exercício da sua função pode ficar limitado, porque além de
aumentar o estresse, diminuir a sensação de bem-estar e pode influenciar de maneira
significativa na sua capacidade de decisão (DANNA; GRIFFIN, 1999). Sendo assim, é
primordial a pesquisa desse tema para poder conhecer e avaliar o nível de atividade física dos
policiais militares, para poder promover e transformar um estilo de vida sedentário em
saudável.
O presente estudo busca descrever através de questionário sociodemográfico e de
atividade física quais as características e/ou estilo de vida dos policiais militares na cidade de
Santa Rita, Paraíba e verificar se eles possuem um estilo de vida ativo e se não, quais são as
barreiras ou dificuldades que impossibilitam a realização de atividades físicas (AF) e a partir
do conhecimento dessas, construir alternativas com programas de atividades físicas que possa
mudar o estilo de vida e consequentemente aumentar o nível de aptidão física desses
profissionais de segurança pública.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Com isso contribuiremos com um saudável estilo de vida para esses profissionais que
por suas características de trabalho necessitam se manter com uma boa aptidão física para
realizar as suas atividades diárias.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Tratou-se de um estudo de natureza qualitativa, do tipo de campo e descritivo com


abordagem temporal transversal e utilizando a técnica de análise do discurso na abordagem
dos dados coletados (MINAYO, 2012). Foi utilizado o Questionário Internacional de
Atividade Física (International Physical Activity Questionnaire – IPAQ), com algumas
questões adaptadas para o contexto de pesquisa (MATSUDO et al., 2001). Fizeram parte da
pesquisa policiais militares do VII Batalhão da Polícia Militar (BPM) do Comando de
Policiamento da Região Metropolitana (CPRM) na cidade de Santa Rita - Paraíba. A pesquisa
foi realizada com 50 policiais de maneira aleatória das companhias operacionais que estavam
em serviço, pois são esses que lidam diretamente nas ruas com diversos problemas de
segurança pública e consequentemente o tipo de serviço é mais dinâmico do que os que
operam no serviço administrativo.
Primeiramente foi realizada uma exposição do projeto de pesquisa aos oficiais
responsáveis do Batalhão, com intuito de apresentar os benefícios que a citada pesquisa traria
para os policiais militares e consequentemente para a instituição. A participação dos policiais
na pesquisa foi de maneira voluntária e mediante assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido.
Considerando o efetivo total das companhias (1ª CIA, 2ª CIA e CPE) do VII BPM
que são de 140 policiais, na amostra participaram 35,71% dos policiais, sendo assim, a
amostra final ficou com apenas 50 policiais do sexo masculino. O número da amostra foi
composto proporcionalmente de acordo com o total de cada companhia, ficando assim: 1ª
CIA (n=20); 2ª CIA (N=20) e CPE (N=10).
Inicialmente foi feito um esclarecimento ao comando sobre a importância de conhecer
o estilo de vida e o nível de atividade física em relação com o trabalho dos policiais. Devido a
adoção recente por parte do batalhão, no tocante a pratica de educação física na própria área
do batalhão para os policiais que entram de serviço, está tendo uma certa motivação por parte
desses, e fazendo com que eles se interessem e contribuam de maneira significativa para esse
estudo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Para a coleta de dados, foi aplicado o questionário semiestruturado IPAQ, com


questões padronizadas e complementado com a inclusão e adaptação de outras questões
importantes para com os objetivos do estudo. A coleta foi realizada minutos antes dos
policiais começarem a jornada de trabalho, após uma explanação do que se tratava a pesquisa.
Como este estudo envolveu seres humanos, foi reverenciado nas diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas, contida na Resolução de nº 466/2012 do Conselho Nacional
de Saúde. Desta maneira o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa,
encaminhado de forma on-line à Plataforma Brasil. Aprovado sobre o número de protocolo
2.870.398 de pesquisa e CCAE 96482618.9.0000.8069 junto a instituição proponente, UFPB
– Centro de Ciências Médicas, deu-se início a coleta de dados. Todo e qualquer participante
esteve garantido e isento de prejuízos para o caso de desistência do estudo a qualquer
momento, assim como preservado sigilo de seus dados pessoais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos achados na pesquisa, nesta seção apresentaremos e discutiremos


primeiramente no formato de gráficos, quadros e tabelas: os dados sociodemográficos dos
participantes da pesquisa como: sexo, idade, estado civil, escolaridade, e em qual tipo de
veículo os policiais trabalham. Além da caracterização dos sujeitos quanto a sua satisfação no
trabalho, tempo de serviço na corporação e tempo de serviço operacional (na rua).

Quadro 1. Caracterização por gênero e faixa etária dos participantes da pesquisa.

Faixa etária /Sexo (n) (%)

Masculino 50 100

Entre 23 e 30 anos 07 14
Entre 31 e 40 anos 29 58
Entre 41 e 50 anos 11 22
Entre 51 a 55 anos 3 6
Total 50 100
Fonte: Autores, 2021.

Na tabela acima é demonstrada a classificação dos sujeitos de acordo com o sexo e


idade, os quais 50 sujeitos são todos do sexo masculino, correspondente a 100% da amostra.
Quanto à faixa etária observa-se que a grande maioria ficou entre 31 e 40 anos, o que

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

corresponde a 29 dos participantes, obtendo o percentual de (58%). Foi visto também que,
respectivamente, 7 dos sujeitos estava entre os 23 e 30 anos (14%), 11 sujeitos estava entre 41
e 50 anos (22%) e 3 sujeitos entre 51 a 55 anos, que equivale a (6%).

Gráfico 1. Demonstrativo dos sujeitos conforme o estado civil.

Estado Civil

2%
10%
22%

66%

Solteiro Casado Divorciado União Estável

Fonte: Autores, 2021.

O gráfico 1 apresenta o estado civil, onde o maior percentual é dos sujeitos casados
(n=33) obtendo 66%, seguido dos solteiros (n=11) que é de 22%, com união estável (n=5)
10% e divorciado (n=1) apenas 2% dos entrevistados.

Tabela 1. Caracterização quanto à escolaridade dos participantes da pesquisa.

Escolaridade (n) (%)

Fundamental completo 02 04
Ensino médio completo 26 52
Ensino superior incompleto 10 20
Ensino superior completo 11 22
Pós-Graduação 01 02

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Total 50 100
Fonte: Autores, 2021.

A tabela 1 nos revela que a maioria dos entrevistados (96% dos participantes) possuem
ensino médio completo até o nível de pós-graduação, apresentando um bom índice de
escolaridade. Entre estes, 52% dos participantes possuem ensino médio completo (n=26),
quanto aos que possuem ensino superior incompleto 20% (n=10), e aos que possuem ensino
superior completo correspondem a 22% dos sujeitos (n=11) e por último os sujeitos que
possuem pós-graduação o total foi de 2% (n=1). Apenas 4% dos participantes (n=02) possuem
apenas o ensino fundamental completo.

Tabela 2. Demonstrativo quanto ao tempo na corporação e quanto tempo de serviço operacional (nas ruas).

(n) (%)

Tempo de corporação 2-10 anos 24 48

11-20 anos 14 28

21-30 anos 10 20

Mais de 30 anos 02 04

Tempo de serviço 01-10 anos 31 62


Operacional
11-20 anos 13 26

21-30 anos 06 12

Total 50 100
Fonte: Autores, 2021.

Os dados da tabela acima, retratam que o maior percentual dos sujeitos pesquisados
está entre 2 a 10 anos de tempo de corporação, que é de 48% o total. Seguindo de 28% que
estão entre 11 a 20 anos, depois vem os sujeitos entre 21 a 30 anos que são responsáveis por
20% dos pesquisados e por fim 4% que estão há mais de 30 anos. Já em relação ao tempo de
serviço operacional, que diz respeito ao pessoal que está no combate diretamente da
criminalidade, ou seja, nas ruas, os números são os seguintes: 62% dos pesquisados estão
entre 1 a 10 anos, 26% estão entre 11 a 20 e por último, 12% estão entre 21 a 30 anos de
serviço operacional.
Em relação ao tipo de transporte que os policiais pesquisados usam para trabalhar, a
grande maioria usa viatura do tipo carro que são 96% e 4% usam motocicleta. Sobre a carga

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

horária de trabalho dos mesmos, foi visto que a maior parte dos participantes, ou seja 86%
trabalham 24h (1 dia) e folgam 72h (3 dias), 3 (6%) trabalham 6h por 18h de folga, 2 (4%)
trabalham 12h por 12h de folga e por último 2 (4%) trabalham 12h por 36h de folga.
A categoria satisfação no trabalho e/ou função policial mostra se existe entre os
pesquisados algum insatisfeito com o trabalho e/ou função que o mesmo desenvolve em suas
rotinas laborais, conforme o quadro 2.

Quadro 2. Satisfação no trabalho policial.

CATEGORIA
CÓDIGOS N %

Satisfeito 47 94
SATISFAÇÃO OU NÃO NO
TRABALHO POLICIAL Não satisfeito 1 2

Em parte 2 4

Fonte: Autores, 2021.

Já em relação a satisfação do trabalho ou função que exercem, a grande maioria está


satisfeito com o trabalho e/ou função, cerca de 47 (94%) dos pesquisados, 2 (4%) está em
parte satisfeito e 1 (2%) não está satisfeito.
A resposta da maioria que disse estar satisfeito com o trabalho e/ou função, relata que
dentre vários fatores, a questão do comando do VII BPM ter recentemente melhorado os
espaços físicos para a prática de atividade física e implamentado o setor de educação física
(SEFT) no quartel contribuiu para essa satisfação do trabalho. Dentre os relatos respondidos
no estudo, podemos observar os que apresentam estar “satisfeitos em parte”:
[...] falta de preocupação por parte do comando ou dos comandantes, para saber como anda
a saúde, não apenas física como também mental dos policiais[...] (Suj. 18).
[...] a carga horária de trabalho longa[...] (Suj. 05).

E também uma resposta que apresenta insatisfação com as atividades laborais

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

desempenhadas:
[...]Principalmente por causa do regimento interno da corporação (leis especificas), que
oprime o militar[...] (Suj. 38 ).

Dentre os pesquisados sobre o aspecto acima, 38 sujeitos que equivale a 76% dos
participantes, disseram “não ter nenhum problema ou barreira que dificulte a prática de
atividade física”, já 12 sujeitos (o equivalente a 24%) disseram que apresentam algum
problema que dificulte e/ou impossibilite a prática das atividades. O quadro 3 apresenta as
possíveis barreiras relatadas pelos 12 sujeitos que citaram alguma barreira.

Quadro 3. Dificuldade para a prática de atividade física.

CATEGORIA CÓDIGO
N %

Trabalho extra 3 25
Horário de trabalho 1 8,3
Possíveis Barreiras que
venha dificultar ou Cuidar dos filhos e/ou tarefas 3 25
impossibilitar a prática de
atividade física por parte dos domésticas
policiais militares Problemas físicos (dores joelhos, 4 33,4
coluna)
Falta de confiança nas academias 1 8,3

Total 12 100
Fonte: Autores, 2021.

Das diversas barreiras relatadas pelos 12 sujeitos, as mais recorrentes foram: em


primeiro lugar ficaram os problemas físicos (dores nos joelhos e na coluna principalmente),
seguido de cuidar dos filhos e/ou tarefas domésticas e por último ficaram os trabalhos extras.

Tabela 3. Demonstrativo dos sujeitos quanto à prática de pelo menos 30 minutos de atividade física e a
periodicidade.
(n) (%)

Praticam AF 46 92

Não praticam AF 04 08

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Total 50 100
Fonte: Autores, 2021.

Podemos observar que a grande maioria dos sujeitos (92%) realiza algum tipo de
atividade física. Dentre as diversas atividades relatadas, as que tiveram maior adesão foram:
corrida, musculação, futebol, caminhada e exercícios funcionais. Outras práticas também
foram citadas, porém, com menos recorrência, são elas: bicicleta, natação, artes marciais
(boxe, boxe chinês, muai thay), basquete, remo e trabalhos domésticos. Em relação à
periodicidade dessas práticas observamos que a maior recorrência foi de 1-2 vezes por semana
com 36% dos pesquisados, seguido por 3 vezes por semana com 26%, depois 4 vezes por
semana com 14%, menos de 1 vez por semana com 12%, 5 vezes por semana ficou 6% e por
último com também 6% ficaram quem não faz nenhum exercício, esses dados são mostrados
no gráfico 2.

Gráfico 2. Periodicidade de práticas de atividades físicas.

6%
12%
6%

14%

36%

26%

menos de 1 vez por semana 1-2 vezes por semana 3 vezes por semana
4 vezes por semana 5 vezes por semana 9 não faz exercicio

Fonte: Autores, 2021.

Em relação à questão da autoavaliação dos mesmos relatarem se eram fisicamente


ativos, o maior percentual foi dos que achavam ser razoavelmente ativos, com 52% que
(n=26), em seguida ficaram os que se achavam muito ativo, com 26% (n=13), depois ficaram
os que se achavam pouco ativos, com 20% (n=10) e por último os que se achavam
sedentários, com 2% (n=1).
Já em relação à satisfação dos espaços físicos para a prática de atividade física no local

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de trabalho (Quartel de Polícia Militar do VII BPM), os resultados foram os seguintes: a


grande maioria 58% está satisfeito com os espaços (n=29); 28% se diz nem satisfeito/ nem
insatisfeito (n=14); 8% estão muito satisfeitos (n=4); 4% se diz insatisfeito (n=2) e por último
2% se diz muito insatisfeito (n=1).
Nos achados do estudo, foi possível observar que uma grande adesão por parte dos
policiais pesquisados, 92% (n=46) praticam alguma atividade física, das mais variadas
modalidades como: futebol, corrida, musculação, caminhada, natação, artes marciais entre
outras.
A partir dos resultados também foi possível constatar que a maior parte dos sujeitos
pesquisados que praticam alguma AF 72%, tem idade compreendida entre os 20 e 40 anos,
faixa etária onde os níveis de AF são mais altos segundo resultados tirados do observatório
nacional da AF e do Desporto em Portugal (BAPTISTA et al., 2011). Vários fatores
contribuíram para essa aceitação desses profissionais, mas o ponto principal a ser destacado é
a visão da própria polícia sobre o assunto.
Nos últimos anos a corporação está dando a devida importância ao assunto. O próprio
Batalhão através do comandante implantou recentemente o departamento e/ou Setor de
educação física (SEFIT), este setor é responsável para realizar o seguinte trabalho: todos os
dias da semana (de segunda-feira a sexta-feira), os policiais militares antes de assumirem o
serviço, obrigatoriamente participam de atividades físicas, ministradas por policiais formados
na área de educação física. Fazendo com que os policiais pratiquem regularmente atividades
físicas, isso é confirmado também na aceitação e satisfação da maioria dos pesquisados 58%
(n=29), que relata sobre a harmonia do uso dos espaços físicos destinados para a prática de
AF no ambiente de trabalho (quartel).
Outro aspecto observado foi a escala de serviço, pois a grande maioria 86% que
equivale a 43 sujeitos, trabalha 24h por 72h de folga, ou seja, eles tem 3 dias de folga, tendo
assim, um maior tempo para a prática de AF, esse fator favorece também a questão da
periodicidade em realizar essas AF, pois 62% dos pesquisados fazem de 1 a 3 vezes por
semana, tornando esses sujeitos, conforme o resultado que indica que 52% dos sujeitos
pesquisados são razoavelmente ativos.
Em relação às barreiras que por ventura pudessem dificultar ou impossibilitar essas
atividades, aparecem com recorrência problemas como: serviços extras, trabalhos domésticos
como cuidar dos filhos e problemas físicos (dores nos joelhos e coluna), dos 12 (24%) dos
sujeitos que relataram alguma barreira que dificulte ou impossibilite, apenas 2 (4%) estão
impossibilitado realmente de praticar alguma AF.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Entretanto, apesar de observarmos números bastante satisfatórios em relação à prática


de AF, será de suma importância atingir os 100% dos policiais, pois 8% não praticam
nenhuma atividade (n=4), por terem problemas físicos como dores na coluna e joelhos. Nesse
caso a intervenção por parte do comando para tentar reabilitar esses policiais é de grande
importância, por que esses problemas podem ter sidos acarretados pela falta de prática regular
de atividade física.
Observamos também que o índice de satisfação do trabalho é muito grande entre os
pesquisados, que foi 94% dos pesquisados. Sendo assim, destaca-se neste estudo uma certa
relação da atividade física com satisfação ao trabalho, pois quando associados, pode-se
priorizar a saúde dos policiais e também a altos níveis de aptidão física, que são esses entre
outros os fatores determinantes para um serviço de excelência, consequentemente a satisfação
quanto tarefa funcional (BARATA, 2014).

CONCLUSÃO

Através da realização deste estudo foi possível constatar que a maioria dos sujeitos
pesquisados realizam e/ou mantem algum tipo de atividade física, contribuindo assim para um
estilo de vida saudável, consequentemente ajudando a prestar um melhor serviço de segurança
púbica para a sociedade. Portanto, para que a missão policial seja exitosa, é crucial uma boa
aptidão física, tendo em vista, várias situações do dia a dia policial como: abordagem em
pessoas, em veículos, em edificações, levantar; carregar; correr; empurrar, perseguir suspeitos
em pequenas ou grandes distancias, deter suspeitos; controlar suspeito; conduzir; imobilizar
pessoas.
É importante que estejam sempre bem condicionados fisicamente para resolver as
mais diversas situações de para a manutenção da segurança social, porque caso contrário
deixam de cumprir o papel reservado a eles, na constituição federal, que é a preservação da
ordem pública e da garantia da integridade física das pessoas, como salvar vidas de outrem,
mesmo com o risco da sua própria.
Para futuros estudos, seria relevante incluir diferentes regimentos e batalhões e
também a inclusão de comparativos entre os sexos masculino e feminino, assim como
diferentes instrumentos de coletas de dado como outros questionários e também o uso de
entrevistas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Página 680
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

ARAÚJO, L. G. M.; SANCHES, M. Aptidão física e lesões: 54 semanas de treinamento


Físico com Policiais Militares. Rev Bras Med Esporte, v. 23, No 2 – Mar/Abr, 2017.
BAPTISTA, F. et al. Observatório Nacional da Actividade Física e do Desporto: Livro
verde da actividade física. Instituto do Desporto de Portugal ed.: Lisboa, 2011.
BARATA, C. S. A Atividade Física, o Stress e o Estilo de Vida na Polícia de Segurança
Pública. Dissertação (Mestrado em Integrado em Ciências Policiais) – Instituto Superior de
Ciências Policiais e Segurança Interna. Lisboa, p. 137. 2014.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 nov. 2021.
DANNA, K.; GRIFFIN, R. W. Health and well-being in the workplace: A review and
synthesis of the literature. Journal of Management, v. 25, n. 3, p. 357–384, 1999.
FERREIRA, D. K. S.; BONFIM, C.; AUGUSTO, L. G. S. Fatores associados ao estilo de
vida de policiais militares. Ciênc. Saúde Coletiva, v. 16, n. 8, p. 10 - 19, 2011.
GOMES, J.R.D. et al. Comparação da aptidão física relacionada à saúde e sua associação com
o tempo de serviço entre policiais militares de operações especiais e de trânsito. J. Phys.
Educ. v. 27, n. 2743, 2016.
MATSUDO, S. et al. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estudo de
validade e reprodutibilidade no Brasil. Rev. Bras. de Ativ. Fís. e Saúde. São Paulo, v. 6 , n.
2, p. 5-18, 2001.
MINAYO, M. C. S. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciênc. Saúde
Coletiva, v. 17, n. 3, p. 1 - 9, 2012.
TRAPÉ, A. A. et al. Associação entre condições demográficas e socioeconômicas com a
prática de exercícios e aptidão física em participantes de projetos comunitários com idade
acima de 50 anos em Ribeirão Preto, São Paulo. Rev. Bras. Epidemiol. v. 20, n. 2, p. 355-
367, 2017.
.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 63

O IDOSO NO CONTEXTO DA PANDEMIA EM


RELAÇÃO À TECNOLOGIA E A SOLIDÃO

Carla Graciete Lima dos Santos; Alessandra Haddad Delfini; Danielly Silva de
Souza; Rafaella Rios Monteiro Colombo; Suely Nazareth Almeida Ferreira
Duarte; Thaicy Bruning Vieira.

RESUMO: Esta pesquisa tem como propósito enfatizar os efeitos da


pandemia na vida dos idosos, foi imprescindível as adaptações e mudanças
na sociedade em geral com relação à utilização da tecnologia e a adaptação
ao novo normal, tendo em vista que as atividades escolares, empresariais e
comerciais se estabeleceram de maneira remota, devido ao isolamento social.
O questionamento central da pesquisa foram os idosos, estes passaram pelo
processo de ajustamento à uma nova rotina e, esse processo de adequações
foi identificado devido a necessidade de buscar novas maneiras de
comunicação e relacionamento entre familiares, amigos e clientes para
aqueles que ainda estão ativos no mercado de trabalho, e para aqueles que
estavam em casa e/ou aposentados, trouxe novos conhecimentos, novas
habilidades e aprendizagens para a terceira idade. Para tanto utilizou-se de
referências bibliográficas que trouxessem diferentes conjecturas e autores,
corroborando assim para embasar teoricamente estar pesquisa. Foram
realizadas pesquisas bibliográficas nas plataformas Google Acadêmico e
Scielo, na busca qualitativa de artigos sobre o idoso, pandemia, saúde mental,
isolamento social; outras ferramentas utilizadas foram livros teóricos, jornais,
blogs, site da FIOCRUZ e da Organização Mundial da Saúde (OMS). A revisão
de literatura permitiu a adesão de conhecimentos que possibilitaram a
construção desse trabalho. A pandemia ocasionou a consolidação de um
mundo híbrido, com forte tendência no aumento das conexões virtuais em
todas as faixas etárias e segmentos sociais. Um ponto fundamental foi a
questão sobre a neuroplasticidade com referência ao idoso se moldar ao novo
momento, e adquirir novas habilidades para lidar com os desafios ligados a
comunicação e utilização da internet nesse período.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem início com as considerações do médico infectologista Estevão Portela
Nunes1 da Fundação Fiocruz, “[...] a respeito do vírus chamado de 2019-n-CoV, que provocou
uma infecção pelo novo coronavírus recebendo o nome oficial de Covid-19, em 11 de fevereiro:
um acrônimo do termo “doença por coronavírus" em inglês (coronavírus deceased 2019).
Os coronavírus são uma grande família de vírus que podem causar doenças respiratórias
em humanos, variando de resfriados comuns a condições mais graves, como a Síndrome
Respiratória Aguda Grave (SARS) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS).
O 'novo coronavírus' é uma cepa dessa família de vírus que até então não tinha sido
identificada. Ele foi recentemente nomeado de SARS-CoV-2 pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). A doença que ele causa foi denominada "doença de coronavírus 2019" (ou
"covid-19").
As palavras de Estevão Portela Nunes foram: “Estamos assistindo à ciência em
formação. As coisas mudam a cada dia: não só os números da epidemia, mas todos os aspectos.
Tudo é muito novo para todos nós” (FIOCRUZ, 2020).
Este coronavírus pode se espalhar de pessoa para pessoa por meio do contato direto com
pacientes infectados ou por gotículas respiratórias dispersas no ar quando alguém com o vírus
tosse ou espirra no mesmo ambiente em que outras pessoas se encontram. Também é possível
se infectar tocando superfícies ou objetos contaminados com o vírus e, logo em seguida, levar
as mãos aos olhos, boca ou nariz (FIOCRUZ, 2020).
Foi necessário adaptação da sociedade em geral com relação à tecnologia, tendo em
vista que as maiores partes das atividades escolares, empresariais e comerciais se estabeleceram
de maneira remota, devido ao isolamento social. Com os idosos, não foi diferente, aqueles que
ainda estão ativos no mercado de trabalho, passaram pelo processo de adaptação de uma nova
rotina e, esse processo adaptativo foi identificado devido a necessidade de buscar novas
maneiras de se comunicar e se relacionar com clientes, familiares e amigos, trazendo novas
aprendizagens para a terceira idade (FIOCRUZ, 2020).
Para Menezes (2020), a pandemia reforçou isso, ou seja, estamos no chamado mundo
híbrido, com forte tendência de aumento das conexões virtuais em todas as faixas etárias e em
todos os segmentos possíveis e imagináveis pelos próximos anos. O autor acredita que

1
Possui graduação em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993), mestrado em Medicina (Doenças
Infecciosas e Parasitárias) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e doutorado em Medicina (Doenças Infecciosas
e Parasitárias) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009). Atualmente é tecnologista da Fundação Oswaldo Cruz.,
atuando principalmente nos seguintes temas: hiv, lopinavir/ritonavir, monotherapy, ARV resistance, aids, hivtreatment, IRIS,
hepatitis.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

precisamos e precisaremos estar conectados, seja para o transporte, o relacionamento, a


segurança, a educação, o turismo ou a saúde.
Abordamos o tema sobre a neuroplasticidade com referência ao idoso bem como os
golpes sofridos por meio da internet nesse período de pandemia.
Na busca de um aprofundamento teórico para esse trabalho, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica na plataforma do Google Acadêmico, com autores renomados nos temas: idoso,
pandemia, saúde mental, isolamento social, como palavras-chave. Obtivemos 10200 resultados,
com filtro para o ano de 2016 a 2021, obtivemos o resultado referente a 7700 resultados,
somente 3 artigos apresentavam assuntos ligados à nossa pesquisa, pois os demais não se
referiam a saúde mental.
Na plataforma do Scielo foram pesquisados artigos com as mesmas palavras-chave, no
mesmo período, no entanto nenhum artigo se referia ao isolamento social e nem à saúde mental
do idoso. Foi selecionado um artigo que falava sobre o uso das tecnologias pelo idoso, ao se
referir a pandemia.
Utilizou-se livros teóricos como suporte bibliográfico. Outras ferramentas que deram
suporte a pesquisa foram: jornais, blogs, site da FIOCRUZ e da Organização Mundial da Saúde
(OMS). A revisão de literatura permitiu a adesão de conhecimentos que possibilitaram a
construção desse trabalho.

Discriminação/preconceito sobre o idoso


Antes mesmo da pandemia, a solidão já era considerada um problema relacionado ao
envelhecimento. Freitas, Barbosa e Neufeld (2021), relatam que o envelhecimento, por si só,
traz a vivência de vários eventos, que se não forem levados de forma saudável podem contribuir
para o desenvolvimento de sintomas psicológicos e sofrimento emocional.
Exemplificamos como: as perdas de pessoas queridas (falecimento do cônjuge, amigos
ou familiares), perda de redes de apoio, diminuição da saúde e da independência, e ainda,
situação de transições, tais como, aposentadoria, perda de autonomia, alteração dos papéis
familiares (cuidador/ser cuidado) e não raro a mudança de residência.
Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 1999, já chamava a atenção
quando do Ano Internacional das Pessoas Idosas. Apontou que o preconceito de idade, em nível
mundial, era um dos maiores problemas em termos de discriminação. A discriminação por

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

idade, também chamada como ageísmo2 ou idadismo3, desde 1969, se refere à discriminação
sofrida por uma pessoa devido à sua idade avançada.
O termo foi batizado por Butler4 (1969), temos o preconceito em função da idade, como
crença que o idoso não contribui para a sociedade, que é inútil, desnecessário ou invisível; estes
são comparados a crianças (infantilização) ou considerados como ranzinzas, ousados ou sábios
(generalização e simplificação que trazem estigmas, preconceitos e violência social.
Em relação aos idosos existe dois momentos distintos para considerar, sendo assim
vamos expor essas situações. No primeiro momento, vamos nos referir a solidão que foi
evidenciada dentro da terceira idade. Em 2020, se desencadeou a pandemia como efeito e o
isolamento social como medida de proteção. Este isolamento gerou outros problemas de saúde,
não previstos, como na saúde mental dos idosos.
Como medida de proteção, foi recomendado que as famílias protegessem seus idosos,
isolando-os de possíveis pessoas que pudessem contaminá-los, o que incluiu a família, amigos,
deixando-os mais propensos à solidão.
O excesso de informações retratado pela mídia, ao se referir às altas taxas de
mortalidade, principalmente em idosos, causou o aumento de situações de estresse, ansiedade,
o medo de contrair a doença, alterações do sono, alimentação, alterações na saúde mental e as
condições gerais de saúde.
A solidão do idoso como tema, pouco foi estudado, faz-se necessários mais pesquisas
sobre esta temática, pois percebemos o impacto que esse isolamento ocasionou a saúde mental,
bem como a independência e autonomia desses idosos.
Hammerschmidt e Santana (2020), observam que o distanciamento social, determinado
como medida para evitar a propagação da COVID-19, poderia ter sido discutido em âmbito
político-ministerial com apoio da gerontologia, visando minimizar seus efeitos nos hábitos
rotineiros dos idosos; evitando o isolamento social considerado como síndrome geriátrica; e os
medos que envolvem o morrer.
Segundo Canali e Scortagagna (2021) as medidas de proteção ao Covid devem
considerar que a rotina e tarefas regulares dos idosos sejam mantidas, sempre que possível, e
que novas rotinas possam ser criadas. Sempre pensando em demonstrar empatia e reduzir o
estigma desta população, proporcionando melhor qualidade de vida para enfrentar a pandemia
e o período pós-pandemia.

2 Ageísmo - é o processo de criar estereótipos ou discriminar uma pessoa ou grupos de pessoas pela idade.
3 Idadismo - é o mesmo que Ageísmo.
4 Robert Neil Butler, médico, gerontologista e psiquiatra norte-americano.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

No segundo momento, dentro do mesmo contexto, foi necessário adaptação da


sociedade em geral com relação à tecnologia, tendo em vista que a maior parte das atividades
escolares, empresariais e comerciais se estabeleceram de maneira remota, devido ao isolamento
social.
Com a população idosa não foi diferente, vários idosos ainda ativos no mercado de
trabalho precisam se atualizar, havendo a necessidade de buscar novas maneiras de se
comunicar e se relacionar com clientes, familiares e amigos, isso trouxe novas aprendizagens
para a terceira idade.
Existem diversos pontos positivos em relação a essa temática, pois muitos idosos
perceberam os benefícios ao adaptar-se a essa nova realidade, que irá continuar após o retorno
das atividades presenciais e/ou normais.
Podemos citar alguns exemplos: Em primeiro lugar a utilização de ferramentas
bancárias digitais (como pagamentos, transferências e consultas de saldo), evitando possíveis
assaltos, que antes, eram comuns as pessoas da terceira idade. Em segundo, a utilização de
smartphones, o que parece uma atividade simples para o público mais jovem, porém para os
idosos é um tanto complexo, exigindo grande dedicação em aprender.
Esse fato pode ocorrer devido a neuroplasticidade, que consiste na capacidade de
mudanças de conexões entre neurônios, possibilitando a aprendizagem em qualquer fase da
vida, isso inclui os idosos. Para que a neuroplasticidade aconteça de maneira totalmente
satisfatória, é indispensável o incentivo ao idoso, desse modo o contexto familiar foi, é e
continua sendo bastante importante nesse período.
Em terceiro, uma pesquisa realizada por Guilherme Menezes5, fundador da Integrar
Gerações6, focado na população com mais de 60 anos, constatou que a participação em aulas
on-line passou de 22% para 53%, no público da terceira idade. E que no pós-pandemia, 45%
deles vão seguir realizando essas atividades de forma digital.
Essa nova realidade ao mesmo tempo oportunizou a facilidade de aplicação de golpes
online tendo como foco o público da terceira e quarta idade, muito mais vulneráveis em tais
situações, o que reforça a necessidade da assistência familiar e a adaptação a tecnologia como
novo meio de comunicação ou ferramenta de trabalho; mesmo com dificuldade, mediante o
novo desafio, o isolamento social incentivou aprendizagem de novas atividades.

5Guilherme Menezes - Professor e palestrante a respeito do assunto.


6 Integrar Gerações - Espaço de aprendizado de tecnologia para o público sênior e mentorias para empreendedores
desenvolverem negócios direcionados a Economia Prateada. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Mudança de comportamento do idoso


Em 2020, no período do isolamento em meio à epidemia do coronavírus, o
comportamento das pessoas com 60 ou mais anos teve modificações. No isolamento, dados de
uma pesquisa feita pela escola Integrar7 mostram o aumento muito grande do número de pessoas
dessa faixa etária assistindo a lives e cursos on-line, o que antes deste ambiente pandêmico era
praticamente inexistente.
Para Menezes (2020), a pandemia reforçou isso, ou seja, estamos no chamado mundo
híbrido, com forte tendência de aumento das conexões virtuais em todas as faixas etárias nos
próximos anos. Ele acredita que precisamos e precisaremos estar conectados, seja para o
transporte, o relacionamento, a segurança, a educação, o turismo ou a saúde.
Atualmente, o idoso não tem a importância merecida, pelo serviço que prestou a
sociedade (idade e tempo), Marcos Castrioto de Azambuja8 (2020) faz a seguinte observação:
“Como chegamos a essa perda de sensibilidade social?”. A resposta não é difícil, e sim, fácil
de ser entendida. Os mais velhos deixaram de ser exemplo com sua sabedoria e experiências,
foram abandonados e/ou deixados de lado, como narradores de saberes e em seus lugares
colocaram a tecnologia como campo de saber das gerações mais novas, responsabilizando o
indivíduo por seu envelhecer. Marcos dita como preconceito e aponta tais razões para descrever
esse pensamento:
“1 – Antigamente, a velhice era uma raridade, tinha certo valor por escassez. Com o número
de idosos crescendo cada vez mais, há perda de prestígio;
2 – Pela primeira vez, não são os velhos que ensinam aos moços. Em ciência, tecnologia,
informática, ferramentas do nosso tempo, o velho é por definição menos competente. Perdeu status;
3 – Pela longevidade, os velhos pressionaram o sistema previdenciário, bancado pelo mais
novos. Em vez de raridade a ser preservada, a velhice é apenas um peso, um fardo, sem a antiga
compreensão de ser também repositório de experiência.”
Esse preconceito, que em última instância afeta a todos que envelhecem, ainda é pouco
discutido e pode ser encontrado nas atitudes, práticas e pensamentos discriminatórios, bem
como nas políticas institucionais que excluem ou limitam a participação dos idosos (JORNAL
DA USP9, 2019).

7
Integrar Gerações - Espaço de aprendizado de tecnologia para o público sênior e mentorias para empreendedores
desenvolverem negócios direcionados a Economia Prateada. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
8
Marcos Castrioto de Azambuja - embaixador do Brasil na França e na Argentina, Secretário-Geral do Itamaraty, Coordenador
da Conferência Rio 92 e Chefe da Delegação do Brasil para Assuntos de Desarmamento e Direitos Humanos.
9 USP – Universidade de São Paulo. Número Internacional Normalizado para USP – Universidade de São Paulo. Número

Internacional Normalizado para Publicações Seriadas: ISSN - 2525-6009.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Esse fenômeno sociológico do preconceito de idade tem repercussões na psique da


pessoa afetada, há uma série de estereótipos negativos ligados à idade madura, como identificar
a idade cronológica com grande comprometimento cognitivo, inúmeras doenças físicas, maior
comprometimento mental etc. Segundo José María Manzano Callejo10 (2012), foram
encontrados altos níveis de sofrimento psíquico, entendidos como um conjunto de variáveis:
baixa autoestima, moderados níveis de ansiedade e sensação de vazio existencial nesta
população madura com elevados níveis de discriminação etária. Outros estudos associam o
preconceito de idade com uma maior presença de ansiedade e ideias suicidas. Para o autor,
como o ageísmo também está dentro de nós, os mais velhos, precisamos urgentemente combater
os autos preconceitos que temos ainda em relação às nossas idades, assumindo-as com orgulho,
sem vergonha, a fim de mostrar aos mais jovens que há um mundo a ser vivido e experienciado
além da tecnologia, como bem está mostrando a pandemia.

Neuroplasticidade do idoso
A Plasticidade neural é a capacidade de mudanças de conexões entre os neurônios. Isso
ocorre durante toda a vida do ser humano, o que permite a aprendizagem em todas as etapas da
vida, inclusive para os idosos. Segundo Ferreira et al (2019), indica também a possibilidade de
reestruturação e modificação de comportamentos e atitudes por meio das vivências de
atividades psicomotoras.
A neuroplasticidade entre suas diversas definições pode ser a capacidade de adaptação
do sistema nervoso, especialmente a dos neurônios, às mudanças nas condições do ambiente
que ocorrem na vida dos indivíduos. Essa reorganização neural pode ser influenciada pela
experiência, comportamento, prática de tarefas e em resposta a lesões cerebrais (FERREIRA et
al, 2019).
De acordo com Ferreira et al (2019) ocorre um consenso na literatura sobre a
plasticidade cerebral que o aprendizado de determinada atividade ou a somente prática dela,
desde que não seja a simples repetição de movimentos, induz mudanças plásticas e dinâmicas
no sistema nervoso central (SNC).
Os neurônios são células que por meio de estímulos múltiplos fazem comunicações com
outros neurônios – transmitindo pela sinapse a troca de informações. A plasticidade neural pode
ser definida como novas maneiras e novas ligações que os neurônios passam a possuir por meio
das atividades aprendidas e realizadas no cotidiano (FERREIRA et al, 2019).

10 Director Del Hospital de dia Psiquiátrico De Adultos de Villaverde. CAM/SJD. Madrid.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Na terceira idade, a não estimulação do cérebro pode fazer com que as conexões neurais
se enfraqueçam, porém, alguns estudos apontam que o cérebro de um indivíduo idoso, mesmo
após algum trauma, retém a capacidade de plasticidade neural. Por isso, o estímulo neural com
os idosos é fundamental, pois com atividades que motivam o cognitivo, é possível criar novas
aprendizagens, novos desafios e momentos de lazer, podendo até aumentar a plasticidade neural
compensatória (BORELLA e SACCHELLI, 2008).
Percebe-se, assim, a necessidade de que sejam feitos estímulos para que as conexões
neurais já estabelecidas permaneçam e para que novas conexões possam ser feitas. Pessoas que
estão na terceira idade são acometidas de perdas significativas de suas competências neurais,
contudo, considerando o fenômeno da plasticidade neural, quando exposto a determinados
estímulos, o cérebro se torna capaz de regenerar, ou ainda, criar determinadas conexões
sinápticas previamente perdidas. Para tanto, as atividades voltadas a esse propósito podem
estabelecer condições para que haja melhora na qualidade de vida dos idosos (BORELLA e
SACCHELLI, 2008).

CONCLUSÃO
Concluímos que antes da pandemia os idosos tinham liberdade de ir e vir, tinham
autonomia para realizar seus planejamentos e traçar suas metas diárias; no entanto a pandemia
ocasionou um grande impacto, bastante significativo para a terceira e quarta idade, fazendo com
que eles ficassem em casa, provocando o afastamento do meio social e da própria família.
É compreensível que o afastamento social e a perda da autonomia dos idosos,
comprometeu em muito, suas vidas. Esse fato veio contribuir para o aumento de doenças nessa
faixa etária (acidentes vasculares, a depressão, as doenças crônicas e cardíacas). Devido a idade
e as dificuldades apresentadas pelos idosos, vieram as implicações da submissão e os cuidados
exacerbados da família, colocando-os em situações de infantilização.
A quantidade de informações difundidas pelas mídias, acarretaram o aumento de
situações de estresse, ansiedade, o medo de contrair o vírus; gerando alterações do sono, na
alimentação, na saúde mental e nas condições gerais de saúde. Além disso, observou-se um
impacto negativo devido às oportunidades produzidas pelos golpistas em todo o país, tornando
os idosos vítimas vulneráveis em situações adversas. Sendo assim, as famílias e responsáveis
passaram a ter mais prudência com os idosos e seus benefícios, houve a necessidade de
prevenção para futuros golpes, que nesta ocasião se tornaram ainda mais proeminentes.

Página 689
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O cuidado durante o isolamento foi indispensável para a saúde mental do idoso, a família
e\ou responsáveis estiveram atentos aos exames de rotina e cuidado na prática de atividades
físicas de maneira segura e saudável.
Em contrapartida, um aspecto positivo foi o fenômeno da neuroplasticidade que auferiu
um novo olhar para o período pandêmico, perante as dificuldades os idosos precisaram se
adaptar ao momento, se organizarem para instruir-se com as novas tecnologias, novas
aprendizagens para reorganizarem seus pensamentos e ações.
A utilização de aparelhos eletrônicos, tabletes e celulares proporcionaram ajuda e acesso
a novas informações on-line, trouxeram muitos benefícios positivos como trabalho em home-
office para aqueles que estavam na ativa e como forma de aliviar a solidão, para que não se
sentissem tão sozinhos ou abandonados, dessa forma houve uma grande contribuição para
elevar a autoestima de muitos idosos, muitos deles não se achavam capazes de aprender com as
tecnologias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, P. R., ABREU. J. H. S. S. Transtornos psicológicos: terapias baseadas em


evidências. Santana do Parnaíba, SP: Ed. Manoele, 2021.
BORELLA, M., SACCHELLI, T. Os Efeitos da Prática de Atividades Motoras sobre a
Neuroplasticidade. Universidade Metodista de São Paulo. Sãp Bernardo do Campo, SP. 2008.
Os efeitos da prática de atividades motoras sobre a neuroplasticidade (yumpu.com) - Acesso
em 29.10.21
Ferreira, E. V., Medeiros de Mello, J., de Lima, L. L., & de Mello Gonçalves Sant’ana, D.
(2019). Plasticidade Neural em Indivíduos da Terceira Idade. Arquivos Do Mudi, 23(3),
120-129. https://doi.org/10.4025/arqmudi.v23i3.51518 - Acesso em 29.10.21
HAMMERSCHMIDT, K. S. de A., SANTANA R. F. Saúde do idoso em tempos de pandemia
Covid-1. http:// dx.doi.org/10.5380/ce.v25i0.72849. Versão impressa ISSN 1414-8536 (para
edições publicadas até 2014). Versão eletrônica ISSN 2176-9133. - Acesso em 28/08/2021.
SANTOS, S. S., BRANDÃO, G. C. G., ARAUJO, K. M. F. A. Isolamento social: um olhar
para a saúde mental de idosos durante a pandemia do COVID-19. Research, Society and
Development, 2002. v. 9, n. 7, e392974244. ISSN 2525-3409. DOI:
http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i7.4244e392974244 - Acesso em 29.10.21

SITES PESQUISADOS

A plasticidade neural e a aprendizagem dos idosos (luizaannaresidencial.com.br) - Acesso em


29.10.21
Gerontologia: conheça o curso e o mercado de trabalho (guiadacarreira.com.br) - Acesso em
29.10.21
https://jornal.usp.br/universidade/acoes-para-comunidade/voce-sabe-o-que-e-ageismo-
campanha-debate-preconceito-por-idade/ - Acesso em 28.08.2021
https://luizaannaresidencial.com.br/blog/plasticidade-neural-idosos/ - Acesso em 26.08.2021
https://news.un.org/pt/tags/organiza%C3%A7%C3%A3o-mundial-da-saude - 04.08.2021

Página 690
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

https://portal.fiocruz.br/noticia/covid-19-que-virus-e-esse - Acesso em 28.08.2021


https://www.linkedin.com/in/guilherme-menezes-9885958a/ - Acesso em 04.08.2021
https://www.linkedin.com/in/integrar-gera%C3%A7%C3%B5es-0bba80172/ - Acesso em
04.08.2021
https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/ge2/noticias/2020/07/746368-muda-a-relacao-
dos-60-com-a-tecnologia.html - Acesso em 26.08.2021
https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/ageismo-o-mal-do-seculo-repercussoes-
psicologicas/ - Acesso em 04.09.2021
https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-saude/7182951- Acesso em 04.08.2021
O que saber sobre coronavírus - Covid-19 explicado | Pfizer Brasil - Acesso em 29.10.21

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 64

SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL: UMA REVISÃO


SISTEMÁTICA

Leila Maués Oliveira Hanna, Andreza Burcãos, Gleyse Tayana Moraes


de O. Rocha, Liane lea C. Melo da Silveira, Rayssa Nayra de
Albuquerque Lima, Zuleni Alexandre da Silva

RESUMO: Objetivo: O objetivo desta revisão sistemática foi a de buscar


todas as melhores evidencias científicas relacionadas à SAB, na
intenção de auxiliar o Cirurgião Dentista quanto a características
clinicas, etiologia e condutas terapêuticas frente a essa síndrome.
Método: Foi realizada uma pesquisa criteriosa totalizando 122 estudos
no período de janeiro de 2009 à agosto de 2013, para tabular os
aspectos clínicos, etiológicos e terapêuticos da SAB nos estudos
científicos, foram aplicados métodos estatísticos descritivos e
inferenciais. As citações foram codificadas sob a forma de variáveis
dicotômicas, as quais foram apresentadas por distribuições de
frequências absolutas e relativas e tiveram sua distribuição avaliada
pelo teste do Qui-quadrado. Foi previamente fixado o nível de
significância alfa = 0.05 para rejeição da hipótese de nulidade. Todo o
processamento estatístico foi realizado no software Bio-Estat versão
5.3. Resultados: A faixa etária de maior prevalência foi a de 60 a 69
anos com 42,6%, das 3.111 pessoas analisadas; destas 2.431 eram do
sexo feminino apresentando (78,1%). As caracteristicas clinicas gerais
apontaram tendencia significativa para quatro condições. Na etiologia
as tendencias foram apontadas para seis condiçies. A conduta clínica
e/ou tratamento apontou tendências para cinco condições.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A Síndrome de Ardência Bucal (SAB) é definida como uma dor do tipo queimação, de
intensidade moderada a severa, localizada bilateralmente e que envolve a parte anterior da
língua. Na maioria dos casos acomete os lábios, palato e faringe (Associação Nacional para
Estudos da Dor).

O paciente pode queixar-se de queimação, formigamento, picada e desconforto, que


persiste por um período mínimo de quatro meses. (SCARABELOT et al., 2011), entretanto pode
perdurar por muitos anos em alguns indivíduos (NASRI et al., 2010). Por essa razão CROW &
GONZALEZ (2013) consideram como sendo uma doença crônica para a qual não há critérios
de diagnóstico validados padronizados.

A SAB é classificada como primária (idiopática), quando não há lesões associadas; ou


secundária, quando provocada por alterações locais ou sistêmicas havendo também uma
classificação para os fatores etiológicos sendo eles fatores locais, sistêmicos, psicogênicos e
neurogênicos (MUBEEN & NEERA OHRI 2011).

O grande desafio está em diagnosticar a doença, visto que não há evidências de lesões
nas mucosas, sinais clínicos de doença ou anormalidades laboratoriais que justifique sua
sintomatologia. Estes desafios levam a frustração para os pacientes e dificuldades para dentistas.
As intervenções são muitas vezes realizadas sem um diagnóstico, conhecimento prático da
condição subjacente ou conhecimento das melhores estratégias de gestão para este tipo de
sindrome (MUBEEN & NEERA OHRI 2011; KLASSER et al., 2011).

A prevalência na população em geral varia entre 0,7% a 4,6%, sendo sete vezes mais
comum em mulheres do que em homens (RODRIGUES et al., 2011; SCARDINA et al., 2010).
Essa síndrome pode afetar qualquer faixa etária, entretanto a faixa etária mais prevalente é a de
pacientes entre 27 a 87 anos de idade (GURVITS & TAN 2013). A média ocorre na idade de
61 anos, representando até um terço das mulheres na pós-menopausa (BUCHANAN &
ZAKRZEWSKA 2010). Poucos estudos têm mencionado a presença de SAB em pessoas mais
jovens, o que indica o aumento da prevalência com a idade (NAKAZONE et al., 2009).
A demanda por qualidade máxima do cuidado em saúde, combinada com a necessidade
de habilidade e conhecimentos exatos do cirurgião Dentista, tem contribuído para aumentar a
pressão sobre os profissionais da área, no sentido de assegurar a implementação de uma prática
baseada em evidencias cientificas. A SAB é uma doença complexa e permanece largamente

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

enigmática (MALIK et al, 2012), apresenta um difícil diagnostico para os dentistas pela
inconsistência e etiologia indefinida e mal compreendida (ABETZ & SAVAGE 2009).
Os critérios de diagnóstico não são suficientemente definidos, fazer um diagnóstico e
propor um tratamento é um desafio na pratica clinica pela falta de domínio do assunto. Partindo
desse pressuposto, essa revisão sistemática da literatura pretende propor, um auxílio ao
Cirurgião Dentista quanto as melhores evidencias científicas das características clinicas,
etiológicas e de condutas terapêuticas frente à SAB.

METODOLOGIA
Para conduzir a Revisão Sistemática da Literatura, foi realizada uma pesquisa criteriosa
nas bases de dados LILACS (29), BIREME (25), PUB MED (117), aplicando os seguintes
termos de busca: Burning mouth syndrome, Sindrome de boca ardiente, Síndrome da boca
ardente, síndrome da boca em queimação, Sindrome da ardência bucal e patologia bucal.
Foram incluídos artigos que apresentavam qualidade metodológica, que possuíam
validade externa e apresentavam pouco ou nenhum viés. Foram excluídos os artigos que
apresentavam ‘’Overlypem’’ ou seja, quando o mesmo autor publicou a mesma pesquisa em
mais de uma base de dados. Trabalhos encontrados foram categorizados em: estudos
transversais, de caso controle, de Coorte, revisão de literatura, revisão sistemática da literatura,
estudos de casos e série de casos, para melhor tabulação dos achados científicos
Devido a heterogenicidade dos artigos publicados na literatura não foi possível realizar
metanálise, entretanto para tabular os aspectos clínicos, etiológicos e terapêuticos da SAB nos
122 estudos científicos foram aplicados métodos estatísticos descritivos e inferenciais. As
citações foram codificadas sob a forma de variáveis dicotômicas, as quais foram apresentadas
por distribuições de frequências absolutas e relativas e tiveram sua distribuição avaliada pelo
teste do Qui-quadrado. Foi previamente fixado o nível de significância alfa = 0.05 para rejeição
da hipótese de nulidade. Todo o processamento estatístico foi realizado no software Bio-Estat
versão 5.3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O diagnóstico da SAB tem sido um desafio por não serem suficientemente definidos ou
universalmente aceitos, havendo quadros clínicos variáveis, sendo necessário um diagnostico
de exclusão, baseado em características clinicas, iniciando com historia de queixas de sensação

Página 694
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de queimação oral, saber se os sintomas ocorrem continuamente durante meses ou anos, sem
período de suspensão ou remissão.

A partir das investigações notou-se divergências entre autores quanto a diferenciação


entre aspectos clínicos e etiologia, o que para uns é características da síndrome, para outros é
causa da síndrome, como no caso de xerostomia, infecções por cândida, reações alérgicas,
fatores psicológicos, diabetes, alteração hormonal e baixa qualidade de vida. Por este motivo,
e visando propor resultados de maior evidência, foram realizadas análises estatísticas de duas
formas, a primeira sendo: Aspectos clínicos subdivididos em condições locais, problemas
psicológicos e condições sistêmicas, a Etiologia também subdividido em: Condições locais,
problemas psicológicos, condições hormonais, e condições sistêmicas, assim como a Conduta
clínica e/ou tratamento subdividido em: Conduta clínica não medicamentosa e
medicamentosa. A segunda forma a ser analisada foi apresentar os resultados de cada condição
(aspectos clínicos, etiologia e conduta clinica e/ou tratamento) sem subdivisão.

4.1 FAIXA ETÁRIA


Com relação a faixa etária observou-se que a de maior prevalência foi a de 60 a 69 anos
com 42,6%, seguido de 70 a 79 anos com 23,7%, 50 a 59 anos com 17,3%; 40 a 49 anos com
18,7%; < 80 (4,2%) > 40 anos com 3,5% (Gráfico 1).
A prevalência de sintomas da SAB em adultos tem agravado com o aumento da idade,
mais precisamente acima dos 60 anos, já que correspondeu à um percentual de 70,5%,
significativamente alto, sendo raro abaixo dos 40 anos.

Gráfico 1. Faixa etária de pacientes com Sindrome da Ardencia Bucal.

Página 695
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.

4.2 GÊNERO
Dos 122 artigos pesquisados foram observados um total de 3.111 pessoas analisadas;
destas 2.431 eram do sexo feminino e 680 do sexo masculino O teste Qui-quadrado (p-valor
<0.0001*), altamente significante, apontou tendência para o sexo feminino apresentando
(78,1%), com uma proporção de aproximadamente de 3,5 vezes maior em mulheres (gráfico 2).
Grande parte dos autores defendem que a SAB afeta principalmente mulheres por estar
associada aos hormônios sexuais feminino.

Gráfico 2. Prevalência de gênero dos pacientes com Síndrome da ardência Bucal.

Página 696
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.

4.3 ASPECTOS CLÍNICOS


4.3.1 Condições locais

A ocorrência de condições locais em 58 estudos que apresentavam aspectos clínicos foi


avaliada pelo teste do Qui-quadrado (p-valor<0.0001*, altamente significante) o qual apontou
tendência para quatro condições: Sensação de queimação/formigamento/ardor (26,7%), dor na
cavidade oral (21,7%), disgeusia/hipogeusia/alteração de paladar (18%) e xerostomia (17,4%).
As outras condições locais citadas pelos autores não estão fortemente referenciadas nos 58
artigos com a síndrome da ardência bucal, tais como: infecções orais por cândida (2,5%), alergia
oral, hipersensibilidade a material dentário e dor de cabeça 1,9% cada, prótese dental antiga
(1,2%). Tendo ainda como condições citadas em menores proporções: Desconforto, bateria nos
ouvidos, disfagia (dificuldade de deglutição), dor nos ramos oftálmico e maxilar, limiares
olfativos elevados, dormência oral, halitose, limitação funcional, higienização oral precária e
hábitos parafuncionais representam 0,6% cada (gráfico 3).
A sensação de queimação aparece de forma súbita, sem incidentes precipitante
conhecido, e é constante, sendo um pouco melhor ao despertar e piorando ao longo do dia
(TORGERSON, 2010), ocorre na maioria das vezes, em mais de uma área, sendo os dois terços
anteriores da língua, a metade anterior do palato duro e a mucosa do lábio superior os locais

Página 697
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

mais afetados (LÓPEZ-JORNET et al., apud MONTANDON et al., 2011). Sendo menos
frequente no assoalho da boca e orofaringe.
A disgeusia, que significa uma alteração do paladar, é percebida pelos pacientes com
SAB como gosto amargo ou metálico (TORGERSON, 2010) ou pela diminuição da função
gustativa (JUST et al. 2010; PASTANA et al., 2013).
São inúmeros os fatores que podem estar relacionados à secura bucal, bem como lesão
do nervos que inervam as glândulas salivares, e a utilização de medicamentos para tratamento
de doenças sistêmicas, e que podem justificar a xerostomia nesses indivíduos (MONTANDON
et al., 2011), considerando que a síndrome é de causa multifatorial.

Gráfico 3. Ocorrências das Condições locais em pacientes com SAB citados entre 58 estudos que apresentavam
aspectos clínicos.

Página 698
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.

4.3.2 Problemas psicológicos

A ocorrência de Problemas Psicológicos em 58 estudos que apresentavam aspectos


clínicos foi avaliada pelo teste do Qui-quadrado (p-valor<0.0001*, altamente significante) o
qual apontou tendência para dois fatores: Ansiedade (25,5%) e Depressão (25,5%). Os outros
problemas psicológicos citados não foram significativamente referidos, entretanto, devem ser
mencionados: Irritabilidade (11,8%), alteração de humor (11,8%), fatores psicológicos não
identificados pelos autores (5,9%), câncerofobia (5,9%), fadiga (3,9%), estresse (3,9%), astenia
(3,9%) e fobia (2%), (Gráfico 4).

Gráfico 4. Ocorrências de problemas psicológicos em pacientes com SAB citados entre 58 estudos que
apresentavam aspectos clínicos.

Página 699
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.

4.3.3 Condições sistêmicas

A ocorrência de Condições sistêmicas em 58 estudos que apresentavam aspectos clínicos


foi avaliada pelo teste do Qui-quadrado (p-valor<0.0001*, altamente significante) apontou
tendência para a condição sistêmica dificuldade do sono (Insônia) representando 27,3%. O
conjunto formado pelas outras condições sistêmicas citadas totalizaram 72,7%, entretanto,
ocorreram (individualmente) em menores proporções: Deficiências nutricionais, diabetes,
fatores relacionados a idade representam 13,6% cada, a condição relacionada ao gênero
feminino representou 9,1%, as outras condições como: Uso crônico de medicamentos disestesia,
alteração hormonal, baixa qualidade de vida e condição relacionada a cor da pele representaram
4,5% cada (Gráfico 5).

Página 700
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Gráfico 5. Ocorrência de condiçoes sistemicas de pacientes com SAB citados entre 58 estudos que apresentaram
aspectos clínicos.

Fonte: Autores, 2014.

A dificuldade do sono pode ser associada a manifestações dolorosas, como no caso dos
pacientes com dor crônica, pelo aumento no número de despertares durante a noite.

4.3.4 Aspectos clínicos sem subdivisão

De maneira geral, os Aspectos Clínicos incluindo condições locais, problemas


psicológicos e condições sistêmicas, também apontaram as mesmas condições quando
realizados de formas individuais porem com percentuais diferentes: sensação de
queimação/formigamento/ardor (18,3%), dor na cavidade oral (15%), Disgeusia (12,4%) e
xerostomia (12%). Não apontando resultados estatisticamente significantes para problemas
psicológicos e condições sistêmicas incluídos nos aspectos clínicos totais (Gráficos 6).

Gráfico 6. Ocorrência de Aspectos clínicos sem subdivisao em pacientes com SAB citados em 58 estudos

Página 701
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.


4.4 ETIOLOGIA
4.4.1 Condições locais

A ocorrência de Condições locais em 67 estudos que apresentavam Etiologia foi avaliada


pelo teste do Qui-quadrado (p-valor<0.0001*, altamente significante) apontou tendência para
quatro condições: Xerostomia representando 20,8%, reações alérgicas/hipersensibilidade à
material dental com 20,8%, hábitos parafuncionais com 16,7% e infecções locais com 16,7%.
As outras condições citadas pelos autores totalizando 66,6% que são: Prótese mau adaptada com
8,3%. As condições de anormalidades locais, atrofia da língua, atrofia da mucosa e dor oral

Página 702
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

representam 4,2% cada, essas condições locais merecem destaque apesar de serem apresentadas
nos estudos com menos ênfase (Gráfico 7).

Gráfico 7. Ocorrências das Condições locais em pacientes com SAB citados entre 67 estudos que apresentavam
etiologia.

Fonte: Autores, 2014.

Alguns estudos apontam que as reações hipersensibilidade ao material dentário na


cavidade oral esta relacionada ao uso de prótese e de substâncias utilizadas para realização de
restaurações dentárias podendo causar lesões teciduais pela sua alta toxidade, e agravamento
dos sintomas (GLEBER NETTO et al. 2010)
Estudos referem que os hábitos parafuncionais ou deletérios podem ser fatores
desencadeantes da SAB ou agravantes do sintoma de ardência. Dentre os vários hábitos citados,
os de empurrar a língua contra os dentes e o bruxismo ou “apertamento dental” são
constantemente mencionados estando fortemente associado aos fatores emocionais, situações

Página 703
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

de estresse e a diversos fatores causais como, dentre outros, a ansiedade, raiva, medo,
frustrações, depressão, distúrbios do sono e dor cônica (NASRI et al., apud SCARABELOT et
al. 2011).

4.4.2 Problemas Psicológicos


A ocorrência de Problemas Psicológicos em 67 estudos que apresentavam etiologia foi
avaliada pelo teste do Qui-quadrado (p-valor<0.0001*, altamente significante) apontou
tendência para dois problemas: Ansiedade com 22% e Depressão com 20%. Os outros
problemas psicológicos, citados em menor frequência são: Fatores psicológicos não citados
pelos autores com 18%, o estresse representando 14%, os distúrbios psiquiátricos com 10%, os
casos de câncerofobia também representaram 10%, transtorno de personalidade com 4%.
Portanto os problemas psicológicos que não foram fortemente significantes no teste
representaram um total de 58% (Gráfico 8).
Os problemas psicológicos são atribuídos ao estilo de vida, cultura e sociedade em que
a pessoa vive. No entanto, os pacientes com sindrome são submetidos a elevado estresse
psicológico que não está necessariamente associada com eventos de vida estressante (CROW
& GONZALES 2013).
Distúrbios psicológicos, como depressão e ansiedade desempenham um papel
importante na modulação da percepção de dor, sendo capaz de aumentar ou diminuir o nervo
transmissor a partir dos receptores de dor periféricos, e modificar a percepção da dor do
indivíduo a redução do limiar de dor e causando assim estímulos normais para serem
percebidos como dolorosos (LOW & DOTSON , apud SANZ et al., 2011).
Há uma série de evidências sobre a depressão que mostram alterações químicas no
cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores
(serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem
impulsos nervosos entre as células.

Gráfico 8. Ocorrências de problemas psicológicos em pacientes com SAB citados entre 67 estudos que
apresentaram etiologia.

Página 704
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.

4.4.3 Condições hormonais

A ocorrência de Condições hormonais em 67 estudos que apresentavam Etiologia foi


avaliada pelo teste do Qui-quadrado (p-valor<0.0001*, altamente significante) apontou
tendência para alteração hormonal não especificada pelos autores. No entanto, há algumas
condições hormonais identificadas pelos autores que apesar de não serem as mais evidentes
merecem destaque: Hipotireoidismo (26,1%), menopausa (21,7%) e distúrbios na tireóide
(4,3%) não foram significantes para o teste estatístico (Gráfico 9).

Grafico 9. Ocorrências de condições hormonais em pacientes com SAB citados entre 67 estudos que
apresentaram etiologia.

Página 705
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.

Para Dahiya et al. (2013), a alta taxa de incidência em mulheres de meia idade indica
claramente a sua associação com os hormônios sexuais femininos. Sanz et al (2011) afirmam
em estudo que a redução relacionada com a idade nos níveis de estrogênio e progesterona
favorece a secura das membranas das mucosas e que a menopausa é associada a um aumento
no risco de desenvolver BMS.

4.4.4 Condições sistêmicas

A ocorrência Condições sistêmicas em 67 estudos que apresentavam Etiologia foi


avaliada pelo teste do Qui-quadrado (p-valor<0.0001*, altamente significante) apontou
tendência para quatro condições: Doença neurológica com 13,6%, distúrbio do sistema nervoso
central com 12,1%, pacientes diabéticos apontam 10,6% e baixa qualidade de vida com 9,1%
de acordo com o teste aplicado. As outras condições sistêmicas mencionadas nos trabalhos não
estão entre as mais citadas, conforme determinou a análise de resíduos do teste Qui-quadrado,
todavia foram referenciados com alguma importância entre os 67 estudos analisados: Distúrbio
do sistema nervoso periférico e dor neuropática que representam 6,1% cada, as condições
sistêmicas como doença de parkson e fumantes representam 4,5% cada, já as condições de
degeneração do nervo trigêmeo, alterações metabólicas, doenças imunológicas e idosas
representaram 3% cada, e as condições sistêmicas tais como traumatismo parafuncional da
língua, doença de alteração dos mastócitos, distúrbios no trato digestivo, dificuldade do sono,

Página 706
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

lúpus eritematoso, alcoolismo, doença cardiovascular, doença do músculo esquelético, paciente


em tratamento de quimioterapia e pacientes em tratamento de radioterapia apresentam 1,5%
cada (Gráfico 10).
Em estudos realizados a partir de biopsia da língua e estudo imunoistoquimico,
demostraram que pacientes com SAB persistente possuem uma neuropatia sensórial das
pequenas fibras trigeminais, caracterizada pela perda significante das fibras nervosas epiteliais
e subpapilares e uma diminuição da densidade das fibras nervosas amielínicas no epitélio, Essas
fibras nervosas epiteliais possuem interações sinápticas com botões gustativos das papilas
fungiformes, e assim, sua estimulação pode induzir uma sensação de queimação dolorosa e
afetar a percepção gustativa. Isso poderia explicar porque a queimação, dor e disgeusia são
sintomas frequentes na SAB (LAURIA et al., apud GLEBER NETTO et al., 2010). Tais
sintomas são característicos de perturbações nervosas trigeminais (alterações na percepção da
dor e transmissão neurônio, e aumento da excitabilidade da trigeminovascular do sistema), o
que sugere a possibilidade de que, enquanto SAB apresenta uma etiologia multifatorial, a base
subjacente da síndrome é neuropática (SANZ et al., 2011).
O paciente diabético descompensado, com exposição prolongada a glicose pode causar
deterioração das terminações nervosas devido a má circulação podendo facilmente danificar
funções nas extremidades dos ramos do nervo trigêmeo (MUBEEN & NEERA OHRI, 2011).
Esta neuropatia denominada polineuropatia simétrica distal, foi considerada a causa da SAB
nesses pacientes (MOORE et al., apud GLEBER NETTO et al., 2010).
A condição “qualidade de vida” é definida como a percepção do indivíduo de sua
posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (ORLEY & KUYKEN apud
SPANEMBERG et al., 2012). Com a associação de sintomas variados e que trazem impacto
negativo no dia a dia desses indivíduos, faz com que se sintam psicologicamente afetados,
causando interferência e proporcionando uma baixa qualidade de vida (PASTANA et al., 2013).

Página 707
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Gráfico 10. Ocorrências de condições sistêmicas em pacientes com SAB citados entre 67 estudos que
apresentaram etiologia.

Fonte: Autores, 2014.

4.4.5 Etiologia sem subdivisão


De maneira geral, a Etiologia da SAB incluindo condições locais, problemas
psicológicos, condições hormonais e condições sistêmicas, apontaram em sua totalidade
tendência para oito condições: Ansiedade (5,6%) alteração hormonal (5,6%), depressão (5,1%),
fatores psicológicos não identificados (4,6%) doença neurológica (4,6%), distúrbio no sistema
nervoso central (4,1%) estresse (3,6%) e diabetes (3,6%), (Gráfico 11).

Página 708
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Gráfico 11. Ocorrências da etiologia sem subdivisão em pacientes com SAB citados em 67 estudos.

Fonte: Autores, 2014.

4.5 CONDUTA CLÍNICA E/OU TRATAMENTENTO


4.5.1 Não medicamentoso

Página 709
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Entre os 83 estudos que citam tratamento a conduta clínica “Terapia cognitivo


comportamental” apresenta tendência estatisticamente significante (p-valor <0.0001*),
representando 58,3%. As outras condutas não medicamentosas citadas nos trabalhos não
mencionadas com ênfase: Laser de baixa intensidade com 19,4%, protetor lingual 8,3%, a
terapia de estimulação salivar como também uso de sucralose tópico representam 5,6% cada. A
conduta de modificar hábitos parafuncionais apresentou 2,8% (Gráfico 12).

Gráfico 12. Ocorrências de conduta clínica não medicamentosa em pacientes com SAB citados entre 83 estudos
que apresentaram conduta clinica e/ou tratamento.

Fonte: Autores, 2014.

A terapia cognitivo-comportamental, uma forma de psicoterapia que se baseia no


conhecimento empírico da psicologia, que incide sobre como as crenças e pensamentos podem
influenciar comportamento (CROW & GONZALES 2013), destina-se a substituir padrões de
emoções e comportamentos negativos com os realistas e positivos ( SARDELLA apud GAO et
al., 2009). Com sessões semanais de uma hora de terapia cognitivo-comportamental com
duração de 12 a 15 semanas reduzio significativamente os sintomas em todos os pacientes com
a sindrome (GRIGORIY & TAN 2013). Devendo ser realizada em associação a outras terapias
(CROW & GONZALES 2013).
4.5.2 Medicamentoso
A ocorrência de conduta clínica/tratamento em 83 estudos que apresentaram condições
medicamentosas foi avaliada pelo teste Qui-quadrado (p-valor<0,0001*), altamente significante

Página 710
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

apontou tendência para seis condutas: Ansiolíticos (24,8%), antidepressivos (23,6%).


analgésicos (15,7%), antioxidante (11,8%). Os demais medicamentos citados pelos autores não
foram relevantes para o teste, representados por um total de 24,10% sendo: Anticonvulsivantes
(4,6%), terapia de reposição hormonal (3,9%), antiepilético (3,3%), suplementos vitamínicos
(2,6%), antipsicóticos (2%), antifúngicos (2%), enxaguante bucal (1,3%), antiinflamatórios
(1,3%). As medicações lafutidine, sucralfato, dopamina, anti-histêmico e bochechos com
lactoperoxidase apresentaram 0,7% cada (Gráfico 13).
Os ansioliticos possuem como principais propriedades inibição leve das funções do
sistema nervoso central permitindo assim uma ação anticonvulsivante, sedação leve,
relaxamento muscular e efeito tranquilizante. Quando utilizado por via tópica, esta droga não
mostra os efeitos adversos da sua utilização sistémica (GREMEAU-RICHARD et al. apud
SPANEMBERG et al. 2012).
Os analgésicos são utilizados nas desordens neuropáticas, com atuação de intensos
efeitos terapêuticos sobre o SNC e periféricos. Sua ação é sobre as fibras nervosas do tipo C
(neurônios aferentes primários), onde a longo prazo esgotaria os níveis circulantes da substância
P, considerada a principal responsável pela transmissão dos impulsos dolorosos periféricos para
o SNC (PETRUZZI et al. apud MONTEIRO et al. 2011)
O antioxidante é uma opção terapeutica devidos suas propriedades neuro-proteção. Há
aumento do fluxo sanguíneo para os nervos e melhora a condução dos impulsos nervosos e
ajuda na eliminação de radicais livre (MUBEEN & NEERA OHRI, 2011).
A remissão espontânea completa da SAB ocorre apenas em uma pequena porcentagem
de pessoas, e até 30% vai notar melhora moderada com ou sem tratamento (BUCHANAN &
ZAKRZEWSKA 2010), os sintomas podem desaparecer espontaneamente, dentro de 5 anos
após o início da BMS (CAMPILLO & LÓPEZ 2013).

Gráfico 13. Ocorrências de conduta clínica medicamentosa em pacientes com SAB citados entre 83 estudos que
apresentaram conduta clinica e/ou tratamento.

Página 711
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.

4.5.3 Conduta clínica e/ou tratamento sem subdivisão

De maneira geral, a Conduta clinica e/ou tratamento da SAB incluindo, condições não
medicamentosas e medicamentosas apontaram as mesmas condições quando realizados de
formas individuais porem com percentuais diferentes: Ansiolíticos (20,1%), antidepressivos
(19%) analgésicos (12,7%), terapia cognitiva comportamental (11,1%), antioxidante (9,5%)
(Gráfico 14).

Gráfico 14. Ocorrências de conduta clinica e/ou tratamento sem subdivisão em pacientes com SAB citados em
83 estudos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2014.

CONCLUSÃO
As evidências apresentadas nesta revisão sistemática, relacionadas a SAB concluem que
o perfil dos pacientes correspondem principalmente a mulheres com proporção de 3,5 vezes
mais frequentes que em homens. A média de idade aproximada é de 64,5 anos, entre a faixa
etária de 60 a 69 anos, sendo raro abaixo dos 40 anos. Os aspectos clinicos de forte associação
presentes, são característicos de perturbações nervosas trigeminais (dor na cavidade oral,
sensação de queimação, disgeusia e xerostomia) as causas associadas a esta síndrome
apontaram as condições de ansiedade, alteração hormonal, depressão, fatores psicológicos não

Página 713
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

identificados, doença neurológica, distúrbio no sistema nervoso central, estresse e diabetes


como fatores de mais significância relacionados, o que sugere a possibilidade de que, enquanto
a SAB apresenta uma etiologia multifatorial, a base subjacente da síndrome é psicológica e
neuropática. Já referindo-se as propostas atuais de tratamento, os resultados mostraram que as
terapêuticas empregadas estão voltadas essencialmente para o controle dos sintomas
(ansiolíticos, analgésicos, terapia cognitiva comportamental, antioxidante, antidepressivos),
sendo estes, métodos terapêuticos destinados para eliminar fatores locais que podem agravar os
sintomas desta síndrome.
Com este conjunto de informaçoes e resultados onde se buscou as melhores evidencias
centificas comprovadamente comuns a pessoas com síndrome de ardência bucal, o Cirurgião
dentista será capaz de reconhecer e desenvolver um diagnostico de trabalho, no entanto, a SAB
não é apenas um problema de odontologia, onde o especialista estomatologista podera estar
proporcionando o diagnostico precoce e exclarecendo o manejo geral da doença ao paciente,
mais sim requerem consultas e tratamentos de neurologistas, psicólogos, as vezes terapeuta e
endocrinologistas. Este complexo melhora significativamente as condiçoes gerais do paciente
para reduzir manifestaçoes clinicas da síndrome, melhora da qualidade de vida e por fim manter
o desaparecimento dos sintomas.

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Página 727
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 65

SAÚDE E ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS NO


TRABALHO DE MAQUEIROS EM RELAÇÃO À
COVID-19

Vitória Elias Torres Xavier; Francinaldo do Monte Pinto.

RESUMO: Nesta pesquisa investiga-se as estratégias defensivas


elaboradas por maqueiros para dar conta do trabalho em tempos de
pandemia da Covid-19. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com uso
dos seguintes dispositivos metodológicos: entrevistas com roteiro
semiestruturado, questionário sociodemográfico e laboral e diário de
campo. O estudo de campo contou com a participação de seis
profissionais maqueiros de um hospital público, referência no
atendimento da Covid-19. Os dados obtidos em campo, analisados à
luz da abordagem Psicodinâmica do Trabalho, demonstram que a
obediência irrestrita ao cumprimento do trabalho, o uso de
equipamentos individuais (EPI’s), apelo religioso, enfrentamento aos
riscos da Covid-19, a relação com a morte e o (não) reconhecimento no
trabalho foram as categorizações dos achados de pesquisa. Concluiu-
se que, mediante a fala dos maqueiros, foram utilizadas diferentes
estratégias para conduzir o trabalho e enfrentar momentos difíceis e
complexos; comportando-se, na verdade, como expressões da
subjetividade de cada sujeito e não havendo uma forma ou um conceito
único de como elas irão se manifestar no ambiente de trabalho.
Portanto, esta pesquisa pode contribuir para a discussão das questões
de saúde/doença no trabalho na medida em que dá visibilidade ao
sofrimento psíquico dessa categoria.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

Conforme Silva (2020, p.2), pode-se considerar a Covid-19 como “a primeira nova
doença relacionada ao trabalho a ser descrita nesta década, mostrando a importância prática do
controle das infecções nos ambientes de trabalho” para proteção de todos os grupos, em
especial, dos envolvidos no cuidado e assistência à população usuária dos serviços de saúde.
Dentre tantos profissionais empenhados nessa função, esta pesquisa voltou-se à atividade de
maqueiros, em especial os trabalhadores do Hospital Municipal Pedro I, considerado o atual
centro de tratamento e assistência aos infectados pela Covid-19 da cidade de Campina Grande.
Os maqueiros - objeto de estudo desta investigação - são trabalhadores da área de saúde que
têm a função primordial de atender a pacientes em situação de emergência/urgência no serviço
hospitalar. Na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, 2002), o maqueiro hospitalar ou
maqueiro de hospital insere-se no eixo de trabalhadores em serviços de promoção e de apoio à
saúde (BRASIL, 1990).
Assim, o objetivo desse estudo consistiu em investigar as estratégias defensivas
elaboradas por maqueiros para dar conta do seu trabalho em um Hospital Público em face da
pandemia da Covid-19. Como referencial teórico, adotou-se a abordagem Psicodinâmica do
Trabalho, desenvolvida na França, pelo psiquiatra francês, Christophe Dejours. Esta abordagem
evidencia a necessidade de apreender os afetos (sofrimento e prazer) e as defesas mobilizadas
pelo trabalho, além de se definir como análise psicodinâmica dos processos intersubjetivos
mobilizados pelas situações de trabalho (DEJOURS, 2011), no contexto da saúde mental e
trabalho.
Nessa perspectiva, entende-se que o trabalho como constituinte da identidade do sujeito,
também implica no enfrentamento de constrangimentos e situações que podem prejudicar a
saúde física e mental. Todavia, nem todos os riscos são visivelmente apresentados na situação
de trabalho de fato, ou seja, objetivamente inerentes à função. Porém, em dadas situações
macroestruturais e no encontro com o outro, há aspectos que são ocasionadores de malefícios
que permeiam o âmbito subjetivo e incidem diretamente no corpo e indiretamente sobre o
funcionamento psíquico. Logo, o trabalhador, no caso deste estudo, os maqueiros, lidam com
esse sofrimento utilizando-se de alguns recursos chamados de estratégias defensivas, que
podem ser tanto individuais, caracterizados pelos mecanismos operantes, interiorizados sem a
presença do outro; quanto coletivos, construídos mediante consenso entre, para e por um grupo
que depende de condições externas ao sujeito para atuar, além se constituir como meio de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

resistir aos efeitos desestabilizadores e para lidar com as contradições advindas do trabalho,
somado a contribuírem para a coesão do coletivo de trabalho (DEJOURS, 2012).

MATERIAL E MÉTODO

O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq - Conselho Nacional de


Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil. Projeto desenvolvido no Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)/CNPq-UEPB.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com uso dos seguintes dispositivos
metodológicos: entrevistas com roteiro semiestruturado, questionário sociodemográfico e
laboral e diário de campo. O estudo de campo contou com a participação de seis profissionais
maqueiros do Hospital Municipal Pedro I, então selecionados por critérios de saturação,
conveniência e acessibilidade. Incluiu-se na pesquisa, maqueiros com atuação mínima de 06
meses na função. Não se incluiu maqueiros que não estivessem em atividade de trabalho no
período de coleta de dados, de férias ou afastados (licença médica ou interesse particular) ou os
que não aceitassem participar livremente da pesquisa. O projeto de pesquisa foi submetido à
apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e
aprovado sob parecer consubstanciado 4.480.069. Após aprovação no referido Comitê, o estudo
de campo cumpriu todas as exigências éticas requeridas à execução do projeto.
Concernente à caracterização dos participantes, identificou-se que todos os 6
participantes eram do sexo masculino, possuíam idade entre 45 e 49 anos, com tempo de
atuação mínima como maqueiros de 4 anos e máximo de 15 anos. Constatou-se também que o
horário de jornada de trabalho de cada profissional é de 12 horas de trabalho por 36 horas de
folga, os quais correspondem a entrada na instituição às 7 horas da manhã e fim de plantão às
19 horas.
O plano de categorização dos achados de pesquisa, angariados no estudo de campo,
resultaram nos seguintes núcleos temáticos: Obediência irrestrita ao cumprimento do trabalho,
o uso de equipamentos individuais (EPI’s), apelo religioso, enfrentamento aos riscos da Covid-
19, a relação com a morte e o (não) reconhecimento no trabalho. A análise desses materiais foi
realizada à luz da Psicodinâmica do Trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Partindo das observações e das entrevistas realizadas com maqueiros, circunscrevemos


uma análise do trabalho pautada nas estratégias defensivas mobilizadas por estes profissionais
em um contexto de pandemia da Covid-19. Estas estratégias Defensivas são definidas como
uma série de processos psicológicos que contribuem na luta contra a ameaça do desequilíbrio
psíquico (SCHIRMANN VASCONCELOS, 2020). Elas são elaboradas frente a situações de
sofrimento ou angústia experienciados no ambiente laboral. Na perspectiva de blindar as
próprias emoções, os maqueiros se valem de mecanismos como a obediência irrestrita ao
cumprimento do trabalho, o uso de equipamentos individuais (EPI’s), apelo religioso,
enfrentamento aos riscos da Covid-19, a relação com a morte e o (não) reconhecimento no
trabalho.
Inicialmente, percebeu-se uma relutância dos maqueiros em falar das estratégias
defensivas utilizadas na atividade de trabalho. Com o decorrer das observações e entrevistas,
possivelmente com mais confiança no pesquisador, passaram a expor a existência de estratégias
de enfrentamento no trabalho, ainda não percebidas por eles. Isso porque os trabalhadores
abstraem o cansaço e sobrecarga advindos das demandas laborais em detrimento da sensação
de felicidade, identificação e proatividade ao desempenharem as atribuições propícias no
ambiente do trabalho. Logo, há indícios de que esta resistência à realidade de trabalho (uma
espécie de negação) também pode ser considerada uma estratégia defensiva. Ademais, há uma
confusão sobre a própria definição de defesa que os fazem remeter apenas ao uso de
equipamentos individuais de proteção contra a COVID-19 como mecanismo de se proteger das
implicações do trabalho.
“Não, fazemos só a função da gente. As funções de maqueiro. Pegar paciente, transferir
paciente para outra ala, pegar paciente que chegar da ambulância aí leva para o posto de
observação e depois lá para baixo no posto I. Tem as enfermarias que a gente pega o paciente
quando ta entubado leva para a tomografia, tem vez que vai para a UTI”.
“A gente faz outra função que não é de maqueiro, que é pegar roupa infectada e repor
água, isso não é função nossa”.
Ao analisar a fala dos trabalhadores supracitados, é possível reconhecer a obediência
irrestrita ao cumprimento do trabalho quando relatam a execução de outras funções que não são
de responsabilidade deles, com a premissa de atender as ordens dos seus superiores, pelo temor
da perda do emprego. Segundo Dejours (2012), há uma nítida diferença entre o trabalho
prescrito - exigido e imposto pela organização; e o trabalho efetivo ou real – referente às
situações e condições concretas da realização do trabalho. Dessa maneira, a forma prescrita
pressupõe a execução das diretrizes propostas pelos gestores de produtividade e exige a

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

coordenação entre os profissionais. Contudo, o real que os convoca e as situações


socioeconômicas e estruturais, fazem os trabalhadores desenvolverem outras formas de atuação
mediante acordos entre os membros e equipes dos compromissos firmados entre os estilos e as
formas de trabalho. Isso acontece na forma de adequar e reajustar as prescrições da organização
aos modos de saber-fazer, experiências e modos operatórios de cada profissional, revestindo-se
de caráter cooperativo em detrimento do coordenativo.
“Porque nós maqueiros não somos muito reconhecidos como deveria ser no meu ponto
de vista. Eu acho que o hospital só funciona a partir de nós. Claro, tem os outros e nem tudo é
maqueiro, mas a gente releva, porque a gente faz o máximo possível. Eu não me sinto
valorizado e nem minha profissão, porque eu trabalho aqui faz oito anos e eu vejo, e esse tempo
todinho eu só vi uma doutora reconhecer o valor de nós”.
“Eu trabalho aqui esse tempo todinho e só vi uma doutora reconhecer, teve um dia que
ela falou: olha, o hospital só funciona através de vocês. Doutora obrigado pelo elogio, foi a
única até hoje que eu vi dando valor a nós. A gente é pouco reconhecido”.
Concernente ao reconhecimento no trabalho, não apenas no sentido de retribuição
material, como o salário, por exemplo, mas especialmente como uma retribuição simbólica, ou
mesmo “moral”, mobilizada pela inteligência prática investida no corpo, no saber-fazer
(Dejours (2012), verificou-se a presença da gratidão como meio de recompensa simbólica no
trabalho. Destarte, a gratidão, como uma forma de reconhecimento, e a admissão do esforço
prestado ainda que não obviamente visível, mas realizado e de inigualável importância para
constituição, manutenção e funcionamento da instituição baseado no julgamento de que cada
trabalhador é útil e psicologicamente crucial. Logo, o elogio e agradecimento pela prestação de
um benefício, ainda que relacionado a sua função, gera sentimentos de avaliação positiva e
prazer em realizar o serviço hospitalar.
Desse modo, a ausência de valorização profissional ou de reconhecimento no trabalho,
expressa pela indignação e insatisfação, na fala do participante remete a uma insatisfação com
a organização (hospital). No decorrer do tempo, essa sensação de desvalia pode acarretar
problemas de identificação com o trabalho, perda de sentido e até adoecimento. Nesse sentido,
Dejours (2012) aponta que o trabalho deve permitir o sentimento de pertença e participação de
todos no processo produtivo sendo estruturante da identidade do sujeito, além da instituição ou
organização valorizar e reconhecer o papel e sentido da atividade do trabalhador. Em
contrapartida, quando isto não ocorre, o trabalho se transforma em fonte de angústia e
sofrimento e deixa de ser uma atividade significativa para o indivíduo, a organização e para a
sociedade.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Dito isto, destaca-se que o profissional maqueiro carrega consigo suas contrariedades e
necessita da cooperação de seus colegas de trabalho para manter suas defesas em estado de
funcionamento, no momento de ingresso e regresso ao trabalho. Assim, os maqueiros relatam
encontrar de maneira coletiva sentimentos de apoio, amparo e suporte oferecidos pelos colegas
de trabalho frente aos momentos difíceis mediante conversas e brincadeiras para distração. É
válido ressaltar, nas falas dos trabalhadores, a prática da mediação de conflitos construída de
maneira corresponsável às soluções para enfrentar discordâncias e desentendimentos
ocasionados nas situações de trabalho.
“Sempre conversar, distrair a mente como outras coisas, mas sempre estar ligado no
serviço, mas a gente sempre é muito ativo em termos disso”.
“A gente vai compartilhar o que está passando com o outro, isso nos dá força”
“Os desafios foi eu ter me afastado, tive a crise, esses anos todos que trabalhei nunca
tive isso, nunca. Só tive isso quando estourou a pandemia. Trabalhei aqui no sábado e no
domingo passei mal em casa. Fiz uns exames particular a médica descobriu esse problema que
é a Síndrome de pânico e nervosismo”.
Apesar dessa sensação positiva em relação ao trabalho, os impactos da pandemia estão
bastante presentes nas falas dos maqueiros. Os profissionais de saúde envolvidos direta e
indiretamente no enfrentamento da pandemia estão expostos cotidianamente ao risco de adoecer
pelo coronavírus, além de levarem a infecção aos membros da família, em especial, os idosos,
algo muito presente na fala dos entrevistados. Essa questão se configura como uma preocupação
para os maqueiros, somado a ansiedade e medo constantes que agravam ou desencadeiam outros
problemas pré-existentes ou em processo de instauração, como a depressão, ansiedade
generalizada, ataques de pânico e sofrimentos diversos. A pandemia mudou a rotina e dinâmica
do trabalho exigindo do profissional maqueiro um maior cuidado, atenção e adoção de medidas
cada vez mais protetivas e preventivas, , já que eles são responsáveis pelo recolhimento de
roupas sujas do centro cirúrgico e recolher equipamentos contaminados.
Somado a tudo isso, os maqueiros convivem diretamente e, mesmo acompanham, o
sofrimento dos pacientes, inclusive a morte destes. Vivenciam sentimentos de alegria por vêem
os pacientes recuperados; de tristeza e angústia quando acompanham os pacientes submetidos
a quadros clínicos graves, às vezes irreversíveis, em face do desespero da família. Nestas
ocasiões, os maqueiros relatam a sensação de impotência diante da dor dos familiares. Tais
sentimentos reverberam sobre a saúde mental e podem contribuir para o adoecimento mental e
dificuldades em trabalhar que, futuramente, podem desencadear um embotamento emocional

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

devido a necessidade de usar outras estratégias defensivas para continuar sua jornada de
trabalho.
“A morte é algo mais difícil de se lidar, porém a gente sabe que uma hora vem, que
chega, mas nunca estamos preparados para lidar naquele momento com a morte. O difícil é
porque a gente se apega muito aos pacientes, aí quando um paciente falece a gente fica
emocionalmente abalados também, aí é nesse momento que eu busco forças para lutar e saber
que poderia ser um parente meu”.
Da mesma forma, é possível refletir acerca das estratégias individuais utilizadas pelos
maqueiros, mediante o sentimento de impotência frente aos casos de contaminação e mortes.
Nesse sentido, umas das estratégias defensivas utilizadas pelos maqueiros é o afastamento físico
e psíquico da situação de óbito, então frequente no seu ambiente de trabalho. Este afastamento
ou momento de reflexão, como apontado pelos maqueiros, revela a capacidade de auto
distanciar-se de si e do contexto como um mecanismo de escape da realidade que os faz sofrer,
de modo a viabilizar o processo de ressignificação da morte e atenuar o sofrimento.
“A gente procura não fixar naquilo ali. Olha aconteceu isso, acalma, respira e vamos
continuar, porque os demais precisam da gente, para que isso não venha atrapalhar. Não é
que aquele ali não teve importância, teve sim, mas se a gente se apegar aquele ali os demais
podem padecer, sofrer, porque a gente só vai ficar fixado naquele. Então, tem muita gente que
ainda depende”.
Outra estratégia defensiva, identificada no trabalho de maqueiros, refere-se à questão
religiosa no trabalho. Percebeu-se que a própria organização hospitalar institui o credo religioso
como ritual de início à jornada de trabalho. O apelo religioso, como foi aqui designado, ampara-
se pela crença do conforto espiritual para a minimização da angústia, da ansiedade e da aflição.
Uma ação que demarca bastante isso são as orações diárias que os maqueiros relatam que
acontecem no próprio hospital e de maneira isolada quando estão em tempo livre.
“A mensagem que a religião passa é amor, carinho com o próximo e a esperança de
que um dia tudo isso vai passar. O sentido de tudo isso é o encorajamento. Tem momentos que
pessoas e a turma ficam entristecidos e, no momento que a gente faz a oração e levanta nossas
petições, isso nos encoraja a cada dia, é o momento para nos dar força a caminhar, a não
parar”.
CONCLUSÃO

Esta pesquisa contribui para a discussão das questões de saúde no trabalho dos
maqueiros na medida em que dá visibilidade ao sofrimento psíquico dessa categoria à luz da

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

teoria da Psicodinâmica do Trabalho, bem como as formas utilizadas por estes para minimizar
o sofrimento. Assim, as estratégias defensivas desenvolvidas e utilizadas, tanto de forma
individual, quanto coletiva, permitiram realizar um recorte das situações e vivências dos
maqueiros do atual centro e referência no tratamento da contaminação pela Covid-19, o
Hospital Municipal Pedro I. Logo, não como um produto acabado e completo, mas como um
ponta pé para pesquisas e estudos futuros acerca da relação entre os maqueiros e sua atuação
frente aos efeitos da pandemia do Covid-19, este pode ser útil à difusão do trabalho dessa
categoria que não é visibilizada nem valorizada no contexto profissional e social. Salienta-se a
importância de redimensionar/oficializar o lugar desses trabalhadores à categoria de
profissionais de saúde.

REFERÊNCIAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 66

OS BENEFÍCIOS DA REALIDADE VIRTUAL PARA O


TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DO PORTADOR
DE ENCEFALOPATIA: REVISÃO INTEGRATIVA

Marcos Antonio Campelo Lopes e Marcio Rogério de Oliveira

RESUMO: O objetivo deste estudo foi analisar os benefícios do uso de


realidade virtual na reabilitação do portador de paralisia cerebral. Para
tanto, procedeu-se a uma revisão integrativa de literatura, com busca
de artigos nos idiomas inglês, espanhol e português, no período de
2015 a 2021. As bases de dados consultadas foram: Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS), Biblioteca Nacional de Medicina (Pubmed), Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e
Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Foi utilizada a estratégia
PICO. Durante a consulta, foram utilizados os seguintes descritores:
“reabilitação”, “realidade virtual”, “benefícios da realidade virtual”,
“paralisia cerebral”. Empregou-se o operador booleano AND. Dos 71
artigos identificados, 12 foram incluídos, com base nos critérios de
inclusão adotados. Por meio da análise crítica da amostra, observou-se
um aumento de publicações no ano de 2018 (50%) e diminuição nos
anos seguintes. Notou-se também que as plataformas de jogos virtuais
mais usadas são Nintendo Wii, Xbox 360º com sensor kinect, GRAIL e
IREX, nessa ordem. Todos os artigos analisados apresentaram ao
menos um benefício relacionado com o uso da realidade virtual. Dentre
os benefícios, os que mais se destacaram foram: controle motor,
consciência corporal e melhora nos equilíbrios estático e dinâmico, no
padrão de marcha, nas interações sociais e na autoimagem. Apesar de
evidentes benefícios terapêuticos, ainda faltam estudos para
sistematizar a intervenção de forma eficaz.

Página 736
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral ou encefalopatia crônica não progressiva da infância refere-se às


desordens do desenvolvimento motor advindas de uma lesão inicial na fase de
desenvolvimento, sendo de caráter crônico e mutável. A lesão pode ocorrer nos períodos pré,
peri e pós-natal, sendo sua etiologia variada. Além disso, afeta o sistema nervoso central em
fase de maturação estrutural e funcional (TANNUS; RIBAS, 2016; KIRSTEN, V. et al.2020).
Portadores de encefalopatia apresentam complexas disfunções motoras, como tônus
muscular alterado, que reflete em uma postura disfuncional, déficit de equilíbrio e
coordenação motora, diminuição da força muscular, perda do controle motor seletivo,
alteração de sensibilidade, além de complicações secundárias, como deformidade óssea e
disfunções autonômicas (GULATI, S.; SONDHI, V.; LOPES et al., 2017).
A tecnologia está integrada a todas as atividades realizadas no dia a dia, o que auxilia a
criança a aprender de maneira mais rápida e a encarar com naturalidade o mundo virtual. A
fisioterapia tem buscado auxílio nessas possibilidades, principalmente para a recuperação
funcional de pacientes com alteração neurológica, envolvendo força, equilíbrio e controle
motor (NOGUEIRA, 2016; LOPES et al., 2017; SANTOS JÚNIOR et al., 2018;
POVEDANO et al., 2020).
Durante a experiência da realidade virtual, o usuário não tem apenas a impressão de
estar imerso em outro mundo, como também se sente habilitado a interagir com esse mundo,
relacionando-se de forma natural com a interface (OLIVEIRA et al., 2016).
Um dos benefícios de usar a realidade virtual como meio de reabilitação é o de
diminuir as barreiras que separam a criança portadora de encefalopatia das outras crianças,
ampliando as possibilidades daquela. Uma das variáveis na recuperação funcional é a
crescente desmotivação do paciente pediátrico com relação à terapia. Segundo um estudo
realizado por Jung et al. (2018), a evolução no tratamento da criança está diretamente
vinculado à motivação e ao interesse em evoluir na terapia.Um estudo sobre a usabilidade do
sistema Engajamento Funcional em Terapia Assistida por Exercício Robótico (FEATHERS)
demonstrou que a maioria dos participantes se sente mais motivada e confortável com
streamings rastreadores de movimento, como o sensor Kinect e o Nintendo Wii (VALDÉS et
al., 2014).
Apesar de amplamente aceita, a terapia com realidade virtual está em construção; suas
eficácia e aplicabilidade ainda são incógnitas no mundo científico (LAZZARI et al., 2017;
AYED et al., 2019). Com o surgimento de dispositivos imersivos de realidade virtual

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

disponíveis comercialmente, como o Oculus Rift e o IREX, entende-se que se faz necessária
uma maior exploração da realidade virtual em jogos ativos. Diante disso, este estudo tem por
objetivo levantar os benefícios do uso da realidade virtual na reabilitação do portador de
encefalopatia crônica não progressiva da infância.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa de literatura. Portanto, levantou


referências com base em artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, nos
últimos cinco anos. As bases de dados consultadas foram: Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), Biblioteca Nacional de Medicina (Pubmed), Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO).
Os descritores de ciências da saúde (DeCs) empregados na consulta foram estes:
“reabilitação”, “realidade virtual”, “paralisia cerebral” e “benefícios da realidade virtual”,
com o emprego do operador booleano AND. Como critérios de inclusão, os artigos deveriam
abordar a reabilitação fisioterapêutica do portador de encefalopatia mediante o uso de
realidade virtual, descrever de forma clara os benefícios da reabilitação e descrever a
realidade virtual utilizada, bem como o método empregado. Por sua vez, os critérios de
exclusão adotados foram: população de pesquisa diferente de crianças com paralisia cerebral;
não descrição da realidade virtual aplicada e do método de intervenção; e não menção aos
benefícios ou aos malefícios da intervenção.
A proposta do estudo foi o de analisar os métodos de tratamento mais aplicados e os
principais tipos de pesquisas desenvolvidas nos últimos cinco anos sobre o uso de realidade
virtual no tratamento do portador de encefalopatia. Ressalta-se que os artigos foram obtidos
na íntegra, para categorização, leitura crítica e síntese dos estudos, conforme disposto no
diagrama de deleção (Fluxograma 1).

Fluxograma 1. Seleção de Artigos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Autores, 2021.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a revisão, foram selecionados 12 estudos, como exposto no Fluxograma 1. Dentro


da busca, não foram encontrados artigos publicados no ano de 2020 que suprissem os critérios
de inclusão. Ainda assim, notou-se uma progressão nos anos de publicação, com aumento no
ano de 2018 (50%) e queda no ano de 2019 (29%), como mostram as Tabelas 1 e 2. Salienta-
se que a maior parte dos artigos publicados no ano de 2020 tratava-se de revisões ou estudos
de caso com populações mistas.
Apesar da diminuição na produção de estudos científicos, 45% da amostra possuem
nível de estudo 1, ou seja, apresentam efeitos clínicos relevantes e respondem à hipótese
principal em tese, com mínima possibilidade de erro (FINAL et al., 2014). Dentro da amostra,
existem inúmeros objetivos, o que ratificou a escolha de revisão do tipo integrativa. Dentro
dos objetivos, 31% dos autores propuseram um tratamento, e 68% avaliaram o efeito da
realidade virtual em determinada área. E mais, observou-se a predominância de estudos sobre
as funções dos membros superiores.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Tabela 1. Categorização dos ensaios clínicos que compõem a amostra


AUTOR AMOSTRAS RESULTADOS
EL-SHAMY; 40 crianças entre 8 e 12 anos No G2, foram observadas diminuição da
EL-BANNA, diagnosticadas com hemiplegia. espasticidade e melhora da força de
2020 G1: cuidados habituais. G2: treino preensão e da função manual.
da função motora por meio do
console Nintendo Wii, envolvendo
quatro tipos de jogos.
LEVAC et al., 11 crianças diagnosticadas com Não houve alterações nas habilidades
2018 hemiparesia e diplegia. G1: terapia motoras grossas ou na mobilidade
domiciliar, nos dispositivos Xbox funcional. Porém, foi observada
360° Kinect e Nintendo Wii. G2: diminuição significativa na distância do
terapia domiciliar e ambulatorial TC6, no G2, após uma intervenção de 6
nos dispositivos Xbox 360° Kinect, semanas. Menciona-se que a melhora no
Nintendo Wii e IREX. TC6 não se manteve após 3 meses de
intervenção.
GAGLIARDI et 16 crianças entre 7 e 16 anos Foram constatados: melhora na
al., 2018 diagnosticadas com diplegia foram resistência da marcha e diminuição no
submetidas ao treino de marcha no gasto energético; melhora na ADM do
dispositivo GRAIL. quadril em flexão, abdução e adução; e
controle postural e equilíbrio. Além
disso, foram verificados aumento
significativo do pico de potência no nível
ao tornozelo e evolução no comprimento
da passada e da velocidade de
caminhada, bem como redução da
largura do passo e do tempo de apoio.
JUNG et al., 4 crianças diagnosticadas com Houve melhora no equilíbrio, na
2018 diplegia espástica foram submetidas resistência muscular, na funcionalidade e
à intervenção no console Xbox 360º no controle motor seletivo após o
Kinect. treinamento. Mesmo sendo submetidas à
mesma intervenção, verificou-se, por
meio da aferição do SMC, que algumas
crianças desenvolveram mais alguns
grupos musculares do que outras.
NASCIMENT O 3 crianças entre 9 e 12 anos Foram observadas alterações nas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

et al., 2018 diagnosticadas com hemiparesia variáveis analisadas do membro superior


espástica foram submetidas a um parético após ambos os treinos,
protocolo de intervenção com RV sobretudo depois do treino com RV,
(Nintendo Wii) e terapia melhorando, assim, a força de preensão
convencional. palmar e a consciência corporal.
SANTOS Criança de 8 anos de idade, sexo O estudo demonstrou que a intervenção
JÚNIOR et al., masculino, com PC. Após com RV pode alterar as ondas cerebrais,
2018 avaliações e exame de incentivando áreas do controle motor e
eletroencefalografia, o paciente acelerando as respostas musculares,
realizou treinamentos de resultando em melhora da consciência
coordenação motora e equilíbrio no corporal e do controle motor seletivo de
dispositivo de realidade virtual forma geral.
Nintendo Wii.
TANNUS; 5 crianças entre 2 e 7 Todos os indivíduos apresentaram
RIBAS, 2016 diagnosticadas com diplegia melhora nas dimensões avaliadas após a
espástica (2), hemiparesia espástica aplicação da realidade virtual. As
(1) e ataxia (2) foram submetidas a dimensões em pé e caminhando,
intervenção de três tipos de jogos correndo e saltando foram as que
do Nintendo Wii Fit plus evidenciaram os maiores índices de
(hulahoop, slide pinguim e soccer melhora. Os resultados obtidos sugerem,
heading). portanto, que a RV promove benefícios
na motricidade grossa de indivíduos com
PC.
Legenda: Teste de caminhada de seis minutos (TC6); Amplitude de Movimento (ADM); Sistema de
Classificação Manual (SMC); Realidade virtual (RV); Paralisia cerebral (PC);

Fonte: Autores, 2021.

Tabela 2. Categorização das revisões sistemáticas que compõem a amostra


AUTOR AMOSTRA PRINCIPAIS RESULTADOS
WU; LOPRINZI; REN, 2019 11 estudos foram incluídos por Os jogos de RV
meio de busca nas bases de desempenharam papel positivo
dados chinesas CNKI e na melhora do equilíbrio de
Wanfang Data e em bancos de crianças com PC. Porém, esses
dados em outras línguas (Web resultados devem ser vistos com
of Science, Pubmed, cautela, devido aos defeitos
EBSCOhost, Informit, Scopus, metodológicos atuais (diferença
Science Direct e ProQuest). na medição, heterogeneidade

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

dos grupos de controle,


intervenção combinada com
outros tratamentos, entre
outros).
REN; WU, 2019 7 ensaios clínicos randomizados O programa de intervenção com
foram incluídos por meio de RV pode melhorar as
análise nas bases de dados habilidades motoras grossas de
chinesas CNKI e Wanfang crianças com PC até certo
Data, bem como em bases de ponto. Dessa forma, mais
dados de outros países (Web of ensaios clínicos randomizados e
Science, PubMed, EBSCOhost, controlados de qualidade são
Informit, Scopus, Science necessários para que se chegue
Direct e ProQuest). a conclusões convincentes
acerca dos efeitos da
intervenção no
desenvolvimento da habilidade
motora grossa.
AYED et al., 2019 86 ensaios clínicos Geralmente, o desempenho do
randomizados foram incluídos usuário melhorava com a
mediante busca em bases de prática do jogo, mas não estava
dados. claro se isso era resultado do
efeito do jogo ou do
aprendizado. No âmbito dos
estudos analisados, o ambiente
motivacional consistiu em
condição para a obtenção de um
bom resultado clínico
CHEN; FANCHIANG ; 20 estudos foram incluídos por No que tange à função motora,
HOWARD, 2018 meio da busca sistemática da observou-se que quanto maior a
literatura nas bases de dados, dosagem diária, maior o efeito
CINAHL, Cochrane Central terapêutico; diferentemente da
Register of Controlled Trials, deambulação, pois, nesta,
ERIC, PsycINFO e Web of quanto menor a idade, maior o
Science, PubMed. efeito terapêutico. Estudos que
incluem crianças com diplegia
ou tipo misto apresentam

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

resultados melhores em relação


à hemiplegia na macha.
Legenda: Realidade virtual (RV); Paralisia cerebral (PC).
Fonte: Autores, 2021.

Tendo como base a literatura pesquisada, apenas 50% dos artigos eram ensaios
clínicos experimentais. Com relação a esses estudos, os ambientes de intervenção
predominantes foram o clínico e o laboratorial (83%). El-Shamy e El-Banna(2020)
verificaram que a população que recebeu intervenção clínica e domiciliar apresentou, ao fim
da intervenção,melhora na espasticidade, com aumento da força de preensão e ganho de
funcionalidade; diferentemente da população que só recebeu intervenção domiciliar. Essa
população não manteve os escores após 12 semanas de intervenção.
Dentro dos ensaios clínicos e dos estudos de caso, verificou-se uma grande variação
nas idades das amostras (média de 11 e12 anos), no tempo de intervenção (média de 21,5
intervenções) e nas plataformas virtuais utilizadas (Nintendo Wii, Xbox 360° Kinect,
GRAIL).

Tabela 3. Evidenciando as plataformas, o tempo de intervenção e a avaliação


AUTOR PLATAFORMA TEMPO AVALIAÇÃO
TANNUS; RIBAS, Nintendo Wii 24 sessões, 12 min por GMFG, Escala de Ashworth
2016 dia. Modificada.
SANTOS Nintendo Wii 1 sessão, 60min. Estabilométria,
JÚNIOR et al., eletroencefalografia.
2018
NASCIMENTO et Nintendo Wii 3 sessões, 45min por dia. Escala de Ashworth
al., 2018 Modificada, Dinamômetro,
Goniometria, SCM, PEDI.
LEVAC et al., Xbox Kinect; 7 semanas. TC6 e GMFG.
2018 Nintendo Wii
eIREX
JUNG et al., 2018 Xbox Kinect 12 sessões, 40min por dia. SCM, PBS, TUG, escala de
Ashworth modificada e TC6.
GAGLIARDI et GRAIL 18 sessões, 30min por dia. GMFG, FAQ, TC6,
al., 2018 avaliação do gasto de
energia por meio do
dispositivo vestível

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Sensewear Armband.
EL-SHAMY; EL- Nintendo Wii 36 sessões, 40min por dia. Escala de Ashworth
BANNA, 2020 modificada, dinamômetro
manual e hidráulico, MACS
e escala de desenvolvimento
motor Peabody.
Legenda: Medida da Função Motora Grossa (GMFM); Sistema de Classificação Manual (SMC); Inventário de
Avaliação Pediátrica de incapacidade (PEDI); Teste de caminhada de seis minutos (TC6); Escala de Equilíbrio
Pediátrica (PBS); Timed Up and Go (TUG); Questionário de Atividades Funcionais (FAQ); Classificação de
capacidade manual (MACS).
Fonte: Autores, 2021.

A crescente motivação e o interesse por parte dos pacientes na terapia com realidade
virtual corroboram a teoria do fluxo, de Csikszentmihalyi (1975). Conforme essa teoria,
indivíduos que gostam de determinada atividade provavelmente irão querer repeti-la. A
persistência do paciente pediátrico influencia de forma direta os resultados da terapia, como
comprovado por Luna-Oliva et al. (2013), em que os maiores valores avaliados de força
muscular estavam acompanhados dos maiores escores de motivação.
Certamente, a independência da terapia consiste em um diferencial da reabilitação por
meio da realidade virtual, visto que esta pode ser realizada tanto na clínica quanto em
domicílio. Estudos comprovam a eficácia da reabilitação até mesmo no ambiente escolar da
zona rural (ROSIE e tal., 2015). Uma de suas principais vantagens é o livre acesso, sem a
necessidade da supervisão de um profissional ou estar inserida em um ambiente específico.
Mesmo os estudos comparativos, nos quais o lar apresentou-se inferior ao ambiente clínico, a
avaliação da qualidade de vida do paciente foi equivalente (CHIU; ADA; LEE, 2014). Neste
sentido, pode-se afirmar que, dentre os benefícios da terapia com a realidade virtual,
destacam-se a acessibilidade e a crescente motivação do paciente.
Nos estudos analisados, os resultados mais favoráveis foram observados nas
intervenções que utilizaram mais de um tipo de jogo ativo (CHEN; FANCHIANG;
HOWARD,2018). Estabelecendo uma comparação entre o estudo de Park et al.(2017) e o de
Pavão et al.(2014), que analisaram a mesmas variáveis e população, nota-se que o primeiro,
ao utilizar o triplo de jogos ativos, obteve os mesmos resultados positivos que o segundo, mas
em um tempo menor (metade do tempo) de intervenção. Sendo assim, é importante ressaltar
que os jogos escolhidos devem compartilhar a ativação do mesmo grupo muscular ou o
mesmo objetivo de tratamento.
Apesar dos muitos benefícios do console Nintendo Wii, este não é indicado em

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

pacientes com hipertonia de flexores de punho, pois o manuseio do controle para captação dos
movimentos pode reforçar o padrão patológico. Em casos específicos como esse, alguns
autores recomendam o uso do sensor Kinect (WU; LOPRINZI; REN, 2019).
A plataforma japonesa Nintendo Wii foi a mais utilizada para o treino de equilíbrio. A
despeito do pouco tempo de intervenção (média de 4,5 sessões), houve melhoras nos valores
do Escala de Equilíbrio Pediátrica (PBS), como demonstrados pelos estudos de Santos Júnior
et al. (2018) e Nascimento et al.(2018). A intervenção por meio da plataforma Xbox 360°
Kinect foi a segunda mais utilizada na amostra (Tabela 3). Mesmo apresentando variações no
tempo de intervenção, todos os estudos obtiveram bons resultados no tocante ao equilíbrio, à
consciência corporal e à coordenação motora.
Importa mencionar que a realidade virtual tem como propriedade o biofeedback visual,
que promove estímulo de autocorreção postural, além de condutas terapêuticas relacionadas
com o jogo escolhido. Todo esse processo favorece a evolução do equilíbrio e da coordenação
motora, o que justifica a melhora dos escores, independentemente do tempo de intervenção.
É consensual na literatura que o objeto estudado tem uma boa adaptação e aceitação,
principalmente por seus benefícios físicos e sociais (KASSEEet al., 2017; ARNONI et al.,
2018). A parte recreativa e lúdica faz com que o dispositivo tenha maior adesão pelo paciente.
Entretanto, é perceptível a limitação dos protocolos, das intervenções dos dispositivos e de
seus respectivos resultados, devido à sua variabilidade (LOPES et al., 2017), o que inviabiliza
a padronização de um protocolo.

CONCLUSÃO

A terapia de realidade virtual é atrativa e bem aceita pelos pacientes, sendo acessível e
de fácil manuseio. Além disso, não possui restrições para o uso doméstico. Os benefícios da
intervenção são inúmeros, a saber: melhora no equilíbrio, no controle motor, na motricidade,
na funcionalidade, na força muscular e na coordenação motora, além de promover a evolução
nas interações sociais, a autoimagem e a motivação. Ressalta-se, todavia, que, para se
alcançar os objetivos propostos, é preciso traçar um plano de intervenção, determinando o
tempo, o tipo de jogo, o ambiente, bem como se haverá ou não terapia convencional
combinada.
Como limitação do estudo, importa mencionar a falta de consenso na literatura sobre a
implementação da terapia. A despeito disso, os autores pesquisados concordam que o treino
de realidade virtual é mais eficaz quando se emprega mais de um tipo de jogo e que os

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

benefícios para o equilíbrio e o controle motor são inerentes aos dispositivos.


Na literatura, ainda é possível encontrar muitas imprecisões sobre a relação das
plataformas de jogos virtuais. Contudo, pontua-se que a plataforma Nintendo Wii tem sido
amplamente utilizada para fins terapêuticos de equilíbrio e que a utilização de mais de um tipo
de jogo durante a reabilitação traz mais benefícios em um menor intervalo de tempo.
Ademais, observou-se que a ausência de uma padronização de protocolos não limita o
tratamento, uma vez que cada indivíduo é um ser único com necessidades exclusivas.

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Página 748
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 67

PROTOZOÁRIOS COCCÍDIOS (SAUROCYTOZOON


MABUYI E GARNIA MÓRULA): UMA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA

Brenda Santarém Fachetti e Juciene Galvão Santarém

RESUMO: As famílias Leucocytozoidae e Garniidae (Apicomplexa:


Haemosporina) compreendem protozoários que infectam mamíferos,
pássaros, anfíbios, peixes e répteis. Os membros deste filo
caracterizam-se por apresentar um Complexo Apical, o qual origina o
nome do filo, constituído por um conjunto de estruturas: conóide;
róptrias; micronemas; grânulos densos e anel polar. O estudo dos
aspectos estruturais reside na importância de conhecer a diversidade
de protozoários parasitos que incidem na região amazônica e de uma
melhor compreensão dos mecanismos que permitem que eritrócitos,
leucócitos e trombócitos, sejam parasitados de forma tão peculiar. O
presente trabalho expõe uma revisão sobre o ciclo biológico e
características estruturais dos protozoários coccídios (Saurocytozoon
Mabuyi e Garnia Mórula).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO

A parasitologia compreende um extenso número de espécies com um panorama biológico


de grande interesse na relação entre parasitas e seus hospedeiros. Em especial, os protozoários
constituídos de um grupo zoológico de grande diversidade, no qual o número de espécies
descritas hoje não reflete o que realmente existe na natureza. Quando se observa os protozoários
do filo Apicomplexa, classe Sporozoea, distintos gêneros e espécies vêm sendo descritos ao
longo dos últimos anos em diferentes animais existentes na região Amazônica (Lainson et al.,
1971, 1974; Paperna e Lainson, 1995) e a ultra-estrutura de diferentes espécies recentemente
estudadas (Diniz et al., 2000; Silva et al., 2004; 2005; 2006).
O Filo Apicomplexa é constituído por grande número de espécies de protozoários
parasitos intracelulares obrigatórios, que necessitam de uma célula hospedeira para multiplicar
e escapar da defesa imunológica do hospedeiro. Os constituintes deste filo caracterizam-se por
apresentar um complexo apical, o qual origina o nome do filo, constituído por um conjunto de
estruturas: conóide; roptrias; micronemas; grânulos densos e anel polar (Morrissette & Sibley,
2002). Alguns protozoários desse filo são conhecidos por causar importantes doenças que
afetam a espécie humana (ex. Plasmodium sp. e Toxoplasma gondii) e animais de importância
econômica (ex. Eimeria sp.). Além destas espécies, existem membros deste filo que parasitam
uma grande variedade de animais, como répteis, peixes e aves (Davies et al., 2004).
O estudo de protozoários do filo Apicomplexa, ordem Haemosporida, é de fundamental
importância para o esclarecimento de aspectos básicos do ciclo biológico de alguns parasitos,
bem como, as descrições de novas estruturas celulares (Pfefferkorn, 1990; Muller, 1993;
Parsons, 1995; De Souza, 1995; Benchimol et al., 1996). O conhecimento desses protozoários
reside na importância da melhor compreensão dos mecanismos que permitem que leucócitos e
trombócitos, que normalmente não são alvos desse tipo de inter-relação, sejam parasitados de
forma tão peculiar.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre Protozoários coccídios (saurocytozoon


mabuyi e garnia mórula), utilizando as bases de dados Biblioteca virtual da saúde (BVS),
SciELO, Medline, PubMed e Lilacs, nos quais os artigos científicos consultados são
publicações nos idiomas inglês e português. Os descritores utilizados na busca dos artigos
foram, Apicomplexa, Protozoários Coccídios, Saurocytozoon Mabuyi, Garnia Mórula e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Estrutura Celular. Os critérios de exclusão adotados foram quaisquer artigos publicados que
não estivessem na língua portuguesa ou inglesa e que não correspondessem ao objetivo do tema
proposto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O FILO APICOMPLEXA

O Filo Apicomplexa é constituído por protozoários parasitos intracelulares obrigatórios,


alguns dos quais são conhecidos por causar importantes doenças que afetam a espécie humana,
além de uma ampla variedade de animais, como répteis e aves (Schmidt e Roberts, 1996; Davies
et al., 2004). Esses protozoários têm como característica principal a presença de um complexo
apical, o qual origina o nome do filo, constituído por um conjunto de estruturas: conóide;
róptrias; micronemas; grânulos densos e anel polar (Morrissette & Sibley, 2002), localizadas
na extremidade anterior do corpo do parasito, estas estruturas parecem estar envolvidas no
processo de reconhecimento, adesão, formação do vacúolo parasitóforo e na manutenção dos
parasitas no interior da célula hospedeira (Blackman e Bannister, 2001; Soldati et al., 2001).
As róptrias, micronemas e grânulos densos são organelas que compreendem uma mistura
complexa de proteínas, as quais apresentam homologia e diferenças na estrutura molecular entre
gêneros e espécies (Blackman e Bannister, 2001). Algumas das proteínas interagem com a
membrana da célula hospedeira e podem favorecer a adesão ou modificá-la durante a invasão
celular (Tomley et al., 2001). As proteínas das róptrias parecem estar envolvidas na formação
do vacúolo parasitóforo, já os micronemas apresentam proteínas que participam do processo
inicial de invasão, enquanto os grânulos densos parecem estar envolvidos na modificação da
célula hospedeira após a invasão do parasito (Soldati et al., 2001; Paredes-Santos et al., 2012).
Além de compreender organelas citoplasmáticas comuns em células de organismos eucariotos,
tais como mitocôndrias, complexo de Golgi, retículo endoplasmático liso e rugoso etc., os
membros deste filo apresentam uma organela constituída por quatro membranas denominadas
apicoplasto, que acredita-se ter origem a partir da endossimbiose secundária de algas verdes
contendo cloroplasto (Köhler et al, 1997; Janouskovec et al., 2010; Van Dooren & Striepen,
2013).

CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O Filo Apicomplexa compreende duas classes, sendo a classe Sporozoea, importante por
compreender espécies de importância médica e veterinária. Esta classe apresenta três
subclasses, sendo a mais importante a Coccidia (Tenter et al., 2002).
O grupo dos Coccídios caracteriza-se por apresentar o oocisto, uma forma de resistência,
contendo ou não esporocistos e um número variável de esporozoítos que migram para a
glândula salivar do inseto vetor e são inoculados, através da picada, em um novo hospedeiro
vertebrado (Schmidt e Roberts, 1996). Os insetos hematófagos, por exemplo, anofelinos,
culicídeos, culicoides, simulídeos e tabanídeos são responsáveis por disseminar esses parasitos.
Os coccídios vivem no epitélio do trato digestivo, fígado, rins, células sanguíneas, e outros
tecidos de vertebrados e invertebrados. Logo, os coccídios desenvolvem o ciclo de vida em um
hospedeiro (ciclo monoxeno) ou em mais de um (ciclo heteroxeno facultativo ou obrigatório),
apresentando reprodução assexuada (esquizogonia) e sexuada (gametogonia) dentro das células
do hospedeiro (fase endógena) e esporogonia no meio externo, com a formação de esporozoítos
infectantes (fase exógena) (Ruppert et al., 2005).
Os esporozoítos podem penetrar nas células do hospedeiro vertebrado, transformando-se
em uma forma denominada trofozoíto, que se multiplica por merogonia (esquizogonia),
originando merontes. Após a divisão nuclear ocorre a formação de merozoítos, os quais
escapam da célula hospedeira e penetram em uma nova célula. Estas formas podem iniciar novo
processo esquizogônico ou transformar-se em gametócitos (gametogonia). Os gamontes
produzem microgametócitos (gamonte macho) ou macrogametócito (gamonte fêmea). Assim
que o hospedeiro vertebrado é sugado por um inseto vetor, o microgametócito (macho) produz
um pequeno número de microgametas flagelados, onde um destes fertiliza o macrogametócito
(fêmea). Os macrogametocitos fertilizados formam o zigoto móvel (oocineto), desenvolvendo-
se no interior do esporo (oocisto), o qual funciona como proteção durante a transferência para
novos hospedeiros.
Dentre o grupo Coccidia há três ordens, sendo a ordem Eucoccidia considerada a mais
importante. Esta ordem apresenta três subordens: Adeleina, Emeriina e Haemosporida. A
subordem Haemosporina compreende quatro famílias: Plasmodiidae; Leucocytozoidae;
Haemoproteidae e Garniidae. As famílias leucocytozoidae e garniidae são objetos de estudo
deste trabalho.

FAMÍLIA LEUCOCYTOZOIDAE E O PROTOZOÁRIO SAUROCYTOZOON MABUYI

Página 752
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

A família de hemosporídeos compreende gametócitos que circulam no sangue


periférico, dentro dos leucócitos, com um ciclo de esquizogonia que ocorre nos órgãos internos,
onde megaloesquizontes produzem centenas de merozoítos. Em 1969, gametócitos foram
encontrados em lagartos Tupinambi teguixin (Squamata: Teiidae) e em Crocodilurus
amazonicus (Teiidae), sendo que o parasito foi nomeado Saurocytozoon tupinambi (Lainson e
Shaw, 1969). O ciclo esporogônico experimentalmente no mosquito Culex pipiense, alimentado
do lagarto T. teguixin com esse parasito, apresentou diferenças significativas em relação a
Leucocytozoon e Akiba (Landau et al, 1973). O parasito Saurocytozoon mabuyi, uma das
espécies objeto de nosso estudo, foi descrito no lagarto Mabuya nigropunctata (na época
identificado como Mabuya mabouya), no entanto, a maioria das infecções são crônicas,
apresentando baixa parasitemia, aparentemente sem efeitos patogênicos. O microgametócito
normalmente se apresenta com uma cor rosa claro, e o macrogametócito na cor azul clara
quando corados por Giemsa. No entanto, os gametócitos da espécie Saurocytozoon não
produzem pigmento, mas um grande número de grânulos azurófilos no citoplasma, que se
apresentam na cor vermelho-púrpura, em tonalidade muito escura quando coradas com Giemsa.

FAMÍLIA GARNIIDAE E O PROTOZOÁRIO GARNIA MÓRULA

O gênero Garnia apresenta dez espécies, destas a Garnia morula, uma das espécies
objeto de nosso estudo, que infecta eritrócitos, trombócitos e linfócitos do lagarto Mabuya
nigropunctata (Scincidae). A família Garniidae (Lainson et al., 1971) foi definida na subordem
Haemosporida para abrigar parasitos de lagartos que sofrem esquizogonia e gametogonia
dimórfica nos eritrócitos, sem a produção de pigmento malárico. Por estas características, as
espécies do novo gênero Garnia foram diferenciadas daquelas pertencentes às três famílias
então existentes na subordem Haemosporina: Plasmodiidae e Haemoproteidae pela ausência
de pigmentos maláricos, e Leucocytozoidae e Haemoproteidae pelo ciclo assexuado no sangue.
Os protozoários do gênero Garnia caracterizam-se por apresentar merogonia e gametogonia
nos eritrócitos do sangue periférico de alguns répteis. Estes protozoários diferem da família
Plasmodiidae por não apresentarem pigmento malárico (Lainson et al., 1971; Boulard et al.,
1987; Diniz et al., 2000).

CONCLUSÃO

Página 753
Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Deste modo, foi possível constatar que os protozoários das famílias Leucocytozoidae e
Garniidae possuem um ponto de vista biológico interessante, por realizarem parte do seu ciclo
evolutivo em linfócitos, monócitos, trombócitos e neutrófilos, os quais normalmente não são
alvos desse tipo de inter-relação (Diniz et al., 2000; Silva et al., 2005 e 2006). No caso da
espécie Saurocytozoon mabuyi existe a particularidade, onde parte do ciclo evolutivo ocorre no
interior de monócitos e em linfócitos, células normalmente eficazes na defesa do organismo.
Enquanto a espécie Garnia morula, tem parte de seu ciclo evolutivo no interior de eritrócitos,
linfócitos e curiosamente em trombócitos, fragmentos de megacariócitos que estão relacionados
com a cicatrização de lesões. Esses sistemas são de grande interesse para o estudo de aspectos
básicos, ao nível celular, do processo de interação entre microorganismos e células hospedeiras.
O estudo da biologia celular é de grande interesse para o esclarecimento dos aspectos
ultraestruturais básicos do ciclo biológico destes parasitos, assim como para descrições de
novas estruturas celulares, como por exemplo, o cinetoplasto e o glicossomas de
tripanosomatídeos (Parsons, 1995; De Souza, 1995), hidrogenossomas em microorganismos
anaeróbicos (Muller, 1993; Benchimol et al., 1996), roptrias, micronemas e corpos densos em
Apicomplexa (Pfefferkorn, 1990). No caso específico de protozoários encontrados na
Amazônia, o conhecimento dos aspectos ultraestruturais e da interação com a célula hospedeira
permitirá uma melhor compreensão dos aspectos estruturais de interação com as células
hospedeiras.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 68

SOFRIMENTO MENTAL DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS


APÓS PERÍODO DE DISTANCIAMENTO SOCIAL: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA

João Victor Alves Oliveira; Rafaela da Costa Rodrigues; Bruna Wendy


Capistrano Pinto; Eduarda Lorrane de Sousa Abreu; Letícia Marcelle Reis
Santos Alves; Phillip Heron Sousa e Silva Nolêto; Virgínia Moreira Sousa

RESUMO: A pandemia da Covid-19 se tornou um dos grandes problemas de


saúde pública nas últimas décadas, causando milhões de mortes. Nesse
período, tudo passou por modificações e houve necessidade de adaptação ao
“novo normal”. O ensino se modificou, implicando em efeitos significativos a
curto e a longo prazo. A rotina dos estudantes sofreu uma grande alteração
de ritmo ao passar para a modalidade on-line. Nessa perspectiva, a presença
de sofrimento psicológico nesses estudantes é um fator a ser analisado.
Objetivo: Analisar a relação entre sofrimento mental e estudantes
universitários após período de distanciamento social em publicações
científicas entre 2015 e 2021. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa
de literatura de abordagem quantitativa, realizada em três bases de dados
(PubMed, SciElo e Lilacs), onde foram utilizados os descritores “Sofrimento
mental” AND “Estudante universitário”. Foi realizado uma leitura e análise
crítica dos estudos selecionados. Os estudos foram divididos em 3 grupos
temáticos, que permitiu avaliar os níveis de evidências, bem como identificar
a necessidade de investigações futuras acerca da temática. Resultados e
discussão: Foram obtidos 17 estudos que compuseram a amostra final. A
partir das análises realizadas, tornou-se evidente que, por mais que o
distanciamento social traga bonificações para a melhoria do estado de
calamidade, esse período também traz alguns impactos maléficos devido a
sua característica estressante, o que se busca demonstrar principalmente a
presença desse efeito na categoria dos estudantes universitários. Conclusão:
Nota-se o grande impacto negativo do distanciamento social causado pela
Covid-19 no ensino superior, uma vez que essa alteração de rotina vem sendo
um grande fator estressor nos estudantes universitários. Logo, foi percebida
a necessidade de estudos esclarecedores desse fato para que se possa
diagnosticar precocemente os danos instalados nesses indivíduos e, assim,
angariar conhecimentos necessários para a mudança desse cenário.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

INTRODUÇÃO
A pandemia da Covid-19 se tornou um dos grandes problemas de saúde pública nas
últimas décadas, causando mais de quatro milhões de mortes segundo dados da Organização
Mundial da Saúde - OMS (OMS, 2021). A partir de seu primeiro caso em dezembro de 2019,
em menos de três meses o diretor-geral da OMS declarou que o mundo começou a vivenciar
uma pandemia (OMS, 2020). Diante da alta transmissibilidade do vírus e de poucas
informações científicas a respeito dessa nova doença, efeitos adversos principalmente na
saúde mental da população tornaram-se cada vez mais evidentes, a exemplo de respostas
emocionais associadas ao medo e a incertezas (SHIGEMURA et al, 2020).
No que diz respeito à educação, segundo a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a pandemia do coronavírus mudou a forma
como o ensino é repassado, implicando em efeitos significativos a curto e a longo prazo
(UNESCO, 2020). Nesse contexto, é válido ressaltar as preocupações que o ensino à distância
causou e, atrelado a isso, a falta de convívio social, o que favoreceu o aumento de quadros de
ansiedade e de outros distúrbios psicológicos (RODRIGUES et al, 2020).
Com o aumento da vacinação e a flexibilização das normas de segurança, o ensino à
distância começou a dar o lugar de volta ao ensino presencial, o que tem gerado inúmeras
preocupações acerca da absorção do aprendizado nas atividades remotas, do futuro
profissional e de uma possível contaminação pelo coronavírus. Desse modo, no que tange ao
estudante universitário, o período de confinamento trouxe uma carga emocional repleta de
instabilidades (GARVEY et al, 2021).
O isolamento social, a perda da rotina pré-pandemia e o medo de ser infectado pelo
novo coronavírus, além de seus possíveis agravamentos, levaram parte da população a
desenvolver sintomas relacionados a quadros de depressão e ansiedade (ROSSI, 2021). Como
visto, a quebra do modo de vida das pessoas no momento de distanciamento levou ao
aumento de casos de quadros de distúrbios psicológicos. A rotina dos estudantes também
sofreu uma grande alteração de ritmo - passando em vários casos para a modalidade on-line.
Em pesquisa realizada com estudantes de Medicina 81,4% dos participantes relatam ter
percebido em si alguma mudança psicológica ou comportamental durante o período de
distanciamento (TEIXEIRA, et al 2021).
Nessa perspectiva, a presença de sofrimento psicológico nesses estudantes é um fator a
ser analisado ocasionado pelo período de distanciamento social durante a pandemia Covid-19,
visto que tais perturbações à saúde mental podem interferir negativamente nos âmbitos
pessoal e profissional da vida dos universitários.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

MÉTODOS
O estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa. Este método possibilita
sumarizar as pesquisas publicadas e obter conclusões a partir da pergunta norteadora. Uma
revisão integrativa bem realizada exige os mesmos padrões de rigor, clareza e replicação
utilizada nos estudos primários (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A revisão integrativa da literatura é a mais ampla abordagem metodológica dentre as
revisões, visto que permite a utilização de estudos experimentais e não-experimentais para
uma compreensão mais completa do fenômeno analisado (TEIXEIRA et al., 2013).
Este estudo foi operacionalizado por meio de seis etapas as quais estão estreitamente
interligadas: elaboração da pergunta norteadora, busca na literatura, coleta de dados, análise
crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa
(SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A questão norteadora dessa pesquisa é: Qual a relação entre sofrimento mental,
estudante universitário e as consequências do período de distanciamento?
A busca na literatura foi realizada entre os meses de agosto e novembro de 2021 nas
bases de dados PubMed, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO); utilizando-se a combinação de
descritores controlados, aqueles estruturados e organizados para facilitar o acesso à
informação cadastrados nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) (SILVEIRA, 2008):
“Sofrimento mental” AND “Estudantes universitários”. Estabeleceram-se como critérios de
inclusão: artigos científicos que contemplassem a temática, publicados no período de 2015 a
2021.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da combinação dos descritores foram obtidos 17 estudos que compuseram a
amostra final desta revisão integrativa da literatura. Os estudos foram reunidos em 3 grupos
temáticos, que permitiu avaliar os níveis de evidências, bem como identificar a necessidade de
investigações futuras acerca da temática.

A DEFINIÇÃO E O CONTEXTO DE SOFRIMENTO MENTAL


A saúde mental é considerada uma das áreas da saúde mais importantes do momento,
visto que segundo a OMS, a maioria das pessoas já desenvolveu ou ainda desenvolverá algum
tipo de transtorno psíquico. Os transtornos mentais, em especial o sofrimento mental pode ser

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

relacionado como uma das principais causas de incapacitação no mundo do trabalho, sendo
associado à depressão, ao transtorno bipolar, à esquizofrenia, ao alcoolismo e ao transtorno
obsessivo-compulsivo (ALBUQUERQUE et al. 2018).
O sofrimento mental é definido por um conjunto de males que acometem as pessoas,
incluindo dores que se apresentam por meio de angústias, de lutos mal resolvidos, da
violência cotidiana em suas várias formas, das ansiedades e do sofrimento social, podendo
evoluir para condições crônicas e agravando-a, sendo responsável pelo início de patologias a
esquizofrenia. O tratamento dessa patologia pode ser medicamentoso, e associado a outras
terapias, cabe ao médico avaliar qual será a assistência mais eficaz para o paciente (SILVA;
TULESKI, 2015).
A saúde mental por muito tempo foi considerada precária, uma vez que antes da
reforma psiquiátrica as pessoas associavam tudo aos hospitais psiquiátricos e à medicalização.
Atualmente a saúde mental conta com uma boa estruturação de uma rede de saúde psíquica
ordenada a partir dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que é em base territorial e
atuação transversal com outras políticas específicas (SILVA et al., 2017).
É muito importante que as pessoas com sofrimento mental sejam acolhidas pela
sociedade, em especial pela família, sendo inseridas em ações no contexto social. Tornando-
se, então, imprescindível a realização de trabalhos com a finalidade de auxiliar a sociedade na
compreensão mais realista e menos estigmatizada das pessoas em sofrimento psíquico
(SOUSA; MACIEL e MEDEIROS, 2018). Cabe ressaltar o importante papel transformador
das escolas e universidades, é crucial que abordem de maneira crítica e ativa temáticas sobre a
saúde mental (TOSTES et al., 2018).

O PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E SAÚDE MENTAL DE ALUNOS


UNIVERSITÁRIOS
Considera-se estudante universitário todo aquele que é matriculado em um ensino
superior, proposto pelas universidades ou escolas de curso com 3 grau. O ensino pode ser
realizado presencialmente ou a distância, de rede pública ou privada. De acordo com o
Ministério da Educação (MEC) o ensino superior pode ser divido em quatro classes: cursos
sequenciais, extensão, graduação, que por sua vez, é subdividido em bacharelado, licenciatura
e tecnológico e pós-graduação (MEC, 2021).
No Brasil, cerca de 8.450.755 milhões são jovens universitários, 67,32% optaram pelo
bacharelado, enquanto 19,27% fazem licenciatura e 12,99% são tecnólogos. Estudam em
universidades privadas 6.373.274 (75,42%) e em públicas 2.077.481 (24,58%). Analisando a

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

faixa etária, há 23.343 jovens com menos de 18 anos (0,27%). Entre 18 e 24 anos são
4.323.580 (51,16%), de 25 a 29 anos são 1.614.821 (19,1%), de 30 a 39 anos são 1.664.336
(19,69%) e de 40 a 64 anos, 815.805 (9,65%) (ABRES, 2021).
Uma nova pesquisa realizada pela Secretaria de Modalidades Especializadas de
Educação (SEMESP) em 2020, obteve que somente 18,1% dos jovens entre 18 e 24 anos
estão matriculados no ensino superior, ou seja, uma queda com mais de 50% em relação aos
anos anteriores (CNN BRASIL, 2021). Isso aconteceu, pois de acordo com esse mesmo
Instituto, mais 70% dos jovens cursavam em universidades privadas e não tinham condições
de bancar com o financeiro, consequentemente, ocorreu aumento da evasão dos alunos nas
faculdades, visto que os estudantes não conseguiam conciliar a rotina entre trabalho e estudos.
Giusti et al. (2021) confirmam a necessidade emergente de monitoramento e trabalho
sobre fatores de risco “modificáveis” para baixo desempenho acadêmico relacionado à EAD,
que ocorreu durante o ano letivo 2019/2020 e continuará nos próximos meses, para atender às
necessidades dos alunos universitários. Os objetivos são garantir a continuidade da relação
educacional entre professores e alunos, o bem-estar psicológico dos alunos, mesmo durante a
pandemia do COVID-19, e seu sucesso nos estudos.
Devido ao impacto avassalador da COVID-19 no estado psicológico em estudantes
universitários, intervenções simples a multidimensionais e em vários níveis podem ser
necessárias. É o momento de cada indivíduo, estudante, comunidade e nação pensar em
estratégias diferentes para um estado psicológico sólido dos estudantes universitários durante
tempos de incertezas trazidos pela pandemia (BHANDARI e BHATTA, 2020).

A COVID E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO PERÍODO DE DISTANCIAMENTO SOCIAL


O período de isolamento social é um método não medicamentoso que envolve o
isolamento de casos positivados de alguma doença contagiosa, a quarentena de contatos
interpessoais e a não frequência de ambientes aglomerados. Atualmente, devido à pandemia
do vírus SARS-Cov-2, os estados e municípios brasileiros decretaram o distanciamento social,
baseados em outros países que já haviam realizado essa prática, com o intuito de diminuir o
contato das pessoas e evitar a rápida disseminação do vírus (NATIVIDADE et al, 2020).
Esse afastamento serve para prevenir que os sistemas de saúde entrem em colapso com
o número de casos superior ao que realmente é ofertado para tratá-los, principalmente na área
de terapia intensiva. O rigoroso retiramento inclui encerrar todos os serviços não essenciais,
ficando apenas supermercados, farmácias e serviço de saúde, considerados como essenciais, e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

a população em suas casas, saindo apenas se necessário (ALMEIDA et al, 2021;


NATIVIDADE et al, 2020).
Uma pesquisa de opinião sobre o período de distanciamento social como medida de
amenização dos casos, realizada por Bezerra et al. (2020), com uma amostra de 16.440
respondentes, evidenciou que a percepção das pessoas sobre este assunto altera de acordo com
o nível de escolaridade, renda, idade e sexo. Entretanto, a maioria destas pessoas entende que
é o necessário para o combate da doença. 45,8% das respostas mostraram que para as pessoas
com mais escolaridade e renda, o convívio social foi o mais afetado pelo distanciamento
social, já para pessoas com menos escolaridade e renda (35% das respostas), problemas
financeiros foi o que mais impactou.
Nesse sentido, é evidente que, por mais que o distanciamento social traga bonificações
para a melhoria do estado de calamidade, também traz alguns impactos maléficos para a
população. Dentro desses efeitos, além do convívio social e impactos financeiros, a maioria
das respostas afirmaram que sentiam pelo menos um pouco ou muito estresse, alteração no
sono e zero prática de atividade física. Observou-se também que dentro do quadro de
indivíduos com baixa renda, 35% afirmaram não ter mais renda, 34,8% ganham até um
salário-mínimo e 24,76% de 1 a 2 salários-mínimos (BEZERRA et al, 2020).
Espera-se que encontre um nível alarmante de estudantes em sofrimento mental, tendo
em vista que o cenário dos últimos meses tem se caracterizado como um estressor psicológico
significativo, pois além do impacto na vida das pessoas, nos aspectos sociais e econômicos, o
medo de ser contaminado e as incertezas sobre o futuro, precipitam distúrbios psicológicos
(TROYER, KOHN e HONG, 2020). A atual pandemia é considerada uma fonte potencial de
traumatização direta e indireta para todos e o estudante de ensino superior foi especialmente
afetado (WATHELET, 2020).

CONCLUSÃO
Este trabalho possibilitou compreender o grande impacto negativo da pandemia da
COVID-19 nos estudantes universitários. Afinal, esta foi responsável por gerar modificações
bruscas nas rotinas desses alunos. Assim, em meio às instabilidades vividas e diminuição do
contato social, problemas de origem mental se tornaram frequentes. Para entender veemente
esse fato, houve um avançado estudo de artigos que abordam a saúde mental desse público-
alvo, bem como foi percebida, em vivência, a grande incidência de danos psicológicos nesse
grupo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Espera-se, assim, contribuir cientificamente para identificação precoce desses agravos


e a partir daí, poder proporcionar uma ação resolutiva desse cenário de frequente sofrimento
mental dos estudantes. Foi notada, ainda, a baixa publicação de estudos que abrangem esse
tema especificamente no grupo em estudo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 69

Sindrome de Sjogren Associado Á Sindrome


Antissintetase Com Acometimento Pulmonar

Dionísio José Rodrigues Neto, Flávia Carolina da Silva Xavier, Yasmin


Gomes Sathler e Laila Poubel Boechat de Castro

RESUMO: A Síndrome de Overlap é caracterizada pela presença


simultânea de duas doenças autoimunes. Apresenta-se o caso de um
paciente do sexo masculino de 72 anos, encaminhado pelo
pneumologista ao serviço de reumatologia devido à queixas de
dispneia aos pequenos esforços associado à tosse, xerostomia,
xeroftalmia, perda de peso e dificuldade para realizar deglutição. Em
história clínica, nega patologias reumatológicas prévias e evolução
progressiva do quadro no último ano. O paciente foi diagnosticado com
Síndrome de Sjogren associada à Síndrome Antissintetase com
acometimento pulmonar. Foi encaminhado para tratamento clínico,
com melhora evidente após um ano no início do manejo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

1 INTRODUÇÃO

As doenças reumatológicas constituem um desafio frequente de


diagnóstico e classificação. Em grande parte dos pacientes portadores de
doenças autoimunes, os sinais e sintomas apresentados, assim como os
achados em exames complementares, não são específicos de uma única
entidade. Além disso, também é possível observar a presença simultânea de
duas ou mais doenças reumatológicas em um único indivíduo. Logo, quando
são preenchidos os critérios de classificação para cada doença individualmente
é diagnosticada uma síndrome de overlap. Uma gama de associações é descrita
na literatura, como por exemplo, a coexistência entre esclerodermia sistêmica
com miosite e lúpus eritematoso sistêmico com a artrite reumatóide, que são os
dois tipos de síndromes de overlap mais comuns (LOPES & MARTINS, 2014).

Na literatura existem poucos casos relatados de síndrome de overlap


correlacionando a síndrome antissintetase com a síndrome de Sjögren.
Entretanto é possível notar uma relação entre determinados genótipos destas
doenças.

A síndrome de Sjögren (SS) é uma doença autoimune de acometimento


sistêmico, caráter crônico, evolução lenta e progressiva. A SS pode ocorrer em
todas as idades, mas afeta principalmente mulheres durante a quinta e sextas
décadas de vida. A sua etiologia ainda não é completamente esclarecida e essa
síndrome é descrita como um infiltrado linfocitário que afeta o epitélio das
glândulas exócrinas, principalmente salivar e lacrimal, e leva a uma diminuição
da produção de lágrima e saliva. Outras glândulas exócrinas também podem
ser acometidas como o pâncreas, glândulas sudoríparas, glândulas mucosas
dos tratos respiratório, gastrointestinal e urogenital (PEREIRA, 2017; MATOS &
MARTINS, 2009).

A síndrome antissintetase (SAS) é uma doença rara autoimune e crônica,


de etiologia desconhecida. Essa síndrome é considerada como um subgrupo
das doenças musculares inflamatórias idiopáticas. A característica fundamental
desta doença é a presença de anticorpos anti-ARS, miosite, doença intersticial
pulmonar (DIP), ou ambas. Trata-se de uma síndrome rara que vem sendo
¹ Acadêmica de Medicina da Universidade Iguaçu, Itaperuna-RJ/BR.
² Médica Reumatologista e Professora do curso de Medicina da Universidade Iguaçu,
Itaperuna-RJ/BR.
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

descrita com apresentações incompletas o que dificulta seu diagnóstico


(PINHEIRO et al., 2017; SOUZA et al., 2013).

Entre outras características clínicas da SAS, podemos destacar: febre,


perda de apetite, perda de peso, artrite geralmente simétrica, artralgia,
tenossinovite, fenômeno de Raynaud, erupção cutânea heliotrófica,
dismotilidade esofágica distal e “mãos do mecânico”, caracterizado por
fissura e descamação dos aspectos laterais e distais das mãos. (SOLOMON
et al., 2011).

De acordo com o exposto acima, este artigo tem o objetivo de relatar um


caso raro de Síndrome de Sjögren associada um quadro de Síndrome
Antissintetase com acometimento pulmonar em um paciente do sexo masculino
de 72 anos, que foi encaminhado ao serviço de reumatologia pelo
pneumologista para seguimento clínico e correlação diagnóstica de uma doença
intersticial pulmonar em progresso.

2 RELATO DE CASO

Paciente J.C.M.S., 72 anos, sexo masculino, residente de Itaperuna/RJ.


É encaminhado pelo pneumologista ao serviço de reumatologia, referindo
dispneias aos médios e pequenos esforços, com início a cerca de 2 anos,
associada a tosse com secreção incolor, perda de peso (15 kg em um ano),
artralgias, xerostomia, xeroftalmia e relata desconforto ao deglutir. O mesmo
nega artrite, fraqueza e faz uso de prednisona 20mg há mais de um ano,
foraseq® (umarato de formoterol di-hidratado + budesonida) e zirvit multi®
(polivitamínico e poliminerais). Nega tabagismo, etilismo, fenômeno de Raynaud
e artrite.

Ao Exame Físico, na ectoscopia (figura 1) apresentava “mãos de


mecânico”, lesões hipocrômicas em membro superior e dorso sugestivas de
infecção fúngica, boca hidratada e língua papilada, sem espessamento cutâneo.
À ausculta do aparelho respiratório, apresentava estertores bi basais finos.

(FIGURA 1)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

O paciente apresentava exames complementares realizados nos últimos


anos. Dentre eles: Densitomeria (2018) apresentando osteoporose;
Espirometria (2017) com distúrbio ventilatório leve; Sorologias virais negativas;
Eco Doppler cardíaco (2018) apresentando leve dilatação de Aorta Torácica
Ascendente; Cintilografia Esofágica (2018) apresentando discreto retardo da
passagem em terço médio e inferior; escarro BAAR negativo.

À Tomografia Computadorizada de Tórax de fevereiro/2017 (figura 2),


apresentava sinais de enfisema parasseptal em ápices, nódulos subpleurais e
subcisurais a direita, espessamento reticular dos septos inter e intralobulares
nos lobos inferiores com bronquiectasias de tração. Mediastino sem alterações,
linfonodos mediastinais e axilares, o maior com 12mm (paratraqueal direito).

(FIGURA 2)

À Tomografia Computadorizada de Tórax de fevereiro/2018 (figura 3),


apresentava espessamento pleuro apical bilateral, enfisema parasseptal
ápices, opacidades reticalrescentrolobulares na corticalidade ambos pulmões,
espessamento septos intralobulares, com bronquiectasia e
bronquioloectasias, e atenuação em vidro fosco nos lobos inferiores, nódulo
cálcico residual esquerdo, AO torácica aumentada, linfonodos mediastinais
aumentados de volume, maior com 1.6 mm (subaórtico).

(FIGURA 3)

Ao Laboratório: Creatinina 0,9; TGO 21; TGP 19; VHS 120; PCR ++++;
Anti CCP negativo; Fator Reumatóide látex positivo; EFP aumento de alfa 2,
beta 2 e gama; FAN positivo 1/160, com padrão citoplasmático pontilhado fino
denso; Anti-Ro positivo; Anti PL12 positivo; Anti Jo1 negativo; Anti PMSCL
negativo.

O paciente apresenta avaliação oftalmológica atual constatando


xeroftalmia grave.

Considerando a clínica e os resultados de exames complementares,


critérios diagnósticos são fechados para que confirmássemos a presença de
Síndrome de Sjögren associada um quadro de Síndrome Antissintetase com
acometimento pulmonar.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Durante o seguimento clínico, o paciente foi manejado com administração


medicamentosa de Risendronato Sódico, Cálcio, Vitamina D, Ivermectina e
Ciclofosfamida em pulsoterapia com uma dose mensal de 800mg e dose total
acumulada de 4800mg. Para manutenção foi prescrito Azatioprina 100mg,
apresentando melhora evidente após um ano de seguimento. Na última
consulta, paciente apresenta distúrbio ventilatório restritivo em piora e atual
acompanhamento com pneumologista.

3 DISCUSSÃO
O caso discutido neste estudo chama atenção por se tratar de um paciente
do sexo masculino apresentando quadro pulmonar sem melhora associado à
xeroftalmia, xerostomia, artralgia e achados típicos ao exame físico.

A SS pode ser classificada em primária ou secundária. A forma primária


consiste em uma doença das glândulas exócrinas como manifestação inicial,
podendo ou não ter manifestações extraglandulares. A forma secundária é dita
quando existe uma associação da SS com uma doença reumatológica
preexistente, tais como artrite reumatoide, esclerodermia,
polimiosite/dermatomiosite, lúpus sistêmicos, doença de Graves, entre outras.
(RETAMOZO et al., 2019; LADINO et al., 2015).

A SS frequentemente afeta inicialmente a boca e os olhos. As


manifestações glandulares correspondem à chamada “síndrome seca”, sendo
xeroftalmia e xerostomia as mais encontradas. Olhos secos podem causar uma
sensação de prurido. Em casos avançados, a córnea é muito lesada podendo
gerar ceratoconjuntivite seca e a visão pode ser prejudicada. A diminuição da
saliva (xerostomia) resulta em dificuldade para mastigar, engolir e,
secundariamente, infecção por Candida sp., cáries dentárias e cálculo nos
ductos salivares. Outras manifestações passiveis de acometimento incluem:
diminuição de paladar e olfato; secura de pele e mucosas do nariz, garganta,
laringe, brônquios, vulva e vagina; tosse e alopecia. Um fator importante da SS
é a afecção das glândulas parótidas, que podem se apresentar aumentadas
em 33% dos pacientes, encontrando-se firmes, lisas e levemente dolorosas.
O aumento pode ser assimétrico, mas um aumento muito
desproporcional e persistente de uma glândula pode indicar a presença de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

tumor e deve ser avaliado. O aumento crônico das glândulas salivares


raramente é doloroso, a não ser que haja obstrução ou infecção (FELBERG &
DANTAS, 2006).

As manifestações extraglandulares se apresentam de forma sistêmica e


pode afetar o sistema muscular esquelético gerando dores osteoarticulares,
fadiga e deformidades articulares; o sistema tegumentar com
despigmentações, eritema, prurido e eczemas; o sistema articular com artrite e
artralgia; e os sistemas nervoso, respiratório e o sistema linfático.
Manifestações extraglandulares comuns são linfadenopatia generalizada,
fenômeno de Raynaud, comprometimento pulmonar intersticial e vasculite. A
vasculite pode às vezes afetar os nervos periféricos causando
polineuropatia periférica ou mononeurite múltipla; o SNC; causar exantemas
incluindo púrpura e glomerulonefrite. O envolvimento renal pode produzir
acidose tubular renal, alteração da capacidade de concentração, cálculos renais
e nefrite intersticial. Pode ocorrer pseudolinfoma, linfoma de células B ou
macroglobulinemia de Waldenström. Nesta patologia, os pacientes apresentam
linfoma não Hodgkin cerca de 40 vezes a mais que a taxa normal. Doença
hepatobiliar crônica e pancreatite também podem ocorrer (RETAMOZO et al.,
2019; SHIBOSKI et al., 2017).

Segundo Felberg & Dantas (2006, p.960): Anticorpos órgãos-específicos


descritos na SS incluem anticorpos contra antígenos presentes nos ductos
glandulares, tireóide, mucosa gástrica, eritrócitos, pâncreas, próstata e células
nervosas. Auto-anticorpos não específicos também podem ser encontrados
como fator reumatóide (FR), fator antinúcleo (FAN), anticorpo anti-mitocondrial,
anticorpo anticentrômero, dentre outros. Anticorpos contra ribonucleoproteínas:
anti- Ro (SS-A) e anti-La (SS-B) são muito freqüentes nos pacientes com SS
primária e menos freqüentes na SS secundária. Já o FR e FAN são mais
freqüentes na SS secundária que na primária. Também estão circulantes no
sangue periférico auto-anticorpos contra receptores muscarínicos (anti- MUC3)
e contra proteínas do citoesqueleto das células acinares.

A SS deve ser cogitada em pacientes com olhos secos e que cocem, com
boca seca, glândulas salivares aumentadas, neuropatia periférica, púrpura ou
acidose tubular renal. Tais pacientes devem receber testes diagnósticos que

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

incluam avaliação de olhos e glândulas salivares e testes sorológicos. (GOMES


et al., 2010).

O paciente em estudo apresentou positividade para FR, FAN (1:60) com


padrão citoplasmático pontilhado fino denso e SS-A. De acordo com a clínica,
apresentava xerostomia e xeroftalmia grave confirmada à realização de teste de
Shirmer (?), corroborando para o diagnóstico de SS. O quadro se confirmaria
com a positividade de SS-A ou SS-B ou biópsia de lábio inferior ou exames
complementares para confirmação de xerostomia (cintilografia salivar) ou
xeroftalmia (teste de Shirmer ou Rosa-Bengala). (GOMES et al., 2010).

Se tratando da SAS, a hipótese surge a partir da manifestação pulmonar


apresentada pelo paciente. De acordo com Koreeda et al. (2010), o
comprometimento pulmonar na SAS pode ocorrer sem a presença de alterações
musculares e esta miosite pode surgir após o diagnóstico da síndrome. Sabe-
se que a miosite bioquímica precede a DPI em 12% dos pacientes com SAS, ao
passo que a DPI precede a miosite em 37% desses pacientes; em 50%, as duas
surgem simultaneamente.

Em alguns casos, a doença intersticial pulmonar (DIP) é predominante


na SAS, podendo ser de início rápido levando à insuficiência respiratória aguda,
ou de início insidioso, evoluindo gradualmente com dispneia, tosse, dor torácica
e intolerância a exercícios físicos. Anticorpos antissintetases, particularmente
anti-PL-7 e anti-PL-12, estão fortemente associados com doença pulmonar
intersticial, cuja associação chega a 90-100% dos casos. O envolvimento
articular afeta 50% dos casos, como artralgia e/ou artrite, com ou sem erosões
ósseas (PIRES et al., 2014; SOLOMON et al., 2011; HASHISH et al., 2005).

Anticorpos anti-ARS direcionam-se contra enzimas citoplásmicas que


catalisam a formação do complexo aminoacil-RNAt a partir de um aminoácido e
seu RNAt cognato. Até agora, foram descritos oito anticorpos anti-ARS:
anti-PL-7 (antitreonil); anti-PL-12 (antialanil); anti-OJ (anti-isoleucil); anti-EJ
(antiglicil); anti-KS (antiasparaginil); anti-ZO (antifenilalanil); antitirosil; e anti-
Jo-1 (anti-histidil) associadas à síndrome antissintetase. A presença desses
anticorpos é encontrada em aproximadamente 20-40% dos adultos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

polimiosite e 5% com dermatomiosite, sendo o mais frequente o anticorpo


anti-Jo-1 (BETTERIDGE et al., 2007).

J.C.M.S. apresentou-se com um quadro pulmonar compatível com a


evolução gradual, com artralgia considerável e positivando o anticorpo antiPL-
12. O anticorpo anti-Jo1 se apresentou negativo à investigação. À tomografia,
apresentaram-se características típicas do acometimento pulmonar da SAS,
como o vidro fosco. O diagnóstico de SAS foi considerado fechado a partir da
doença pulmonar intersticial associada à presença de mãos de mecânico no
exame físico. (SOLOMON et al., 2011)

De acordo com a terapêutica indicada, é necessário atingir a SS e a SAS


individualmente.

A primeira tem como objetivo aliviar a sintomatologia e melhora de


qualidade de vida dos pacientes. A terapia medicamentosa pode ser dividida em
quatro grupos de acordo com o seu princípio: repositores, tópicos ou orais,
imunomoduladores, imunossupressores e biológicos. O objetivo é a modificação
do curso da doença a fim de evitar ou minimizar sequelas. (GOMES et al., 2010).

A segunda patologia tem a corticoterapia como tratamento de primeira


linha para a miosite para a pneumopatia intersticial. Em pacientes com
pneumonia intersticial aguda e insuficiência respiratória aguda são conduzidos
com metilprednisolona 1 g/dia por três dias, seguido por corticoide oral. Nesses
casos, um segundo agente imunossupressor, usualmente ciclofosfamida, é
tipicamente adicionado (SOUZA et al., 2013).

O caso foi conduzido de acordo com a literatura demonstrada e


apresentou melhora evidente no quadro, que ainda se apresenta em
seguimento clínico.

4 CONCLUSÃO
A Síndrome de Overlap como uma associação rara de determinadas
doenças autoimunes evidencia a necessidade de uma boa interdisciplinaridade
entre especialidades clínicas. Ressaltamos a importância de valorizar a
sintomatologia do paciente com um olhar holístico e a necessidade da realização
de protocolos específicos para uma melhor abordagem diagnóstica e terapêutica

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

desses tipos de casos, uma vez que existem poucos estudos abordando a
correlação incomum da síndrome antissintetase com a síndrome de sjogren. A
vigilância permanente no seguimento destes doentes é fundamental, em termos
de reavaliação do seu diagnóstico e de eventuais intervenções terapêuticas.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

CAPÍTULO 70

FIBROMIALGIA - UMA HISTERIA CONTEMPORÂNEA

Maria Amélia de Carvalho Bezerra, Allyne Evellyn Freitas Gomes

RESUMO: Este artigo aborda a doença da Síndrome da Fibromialgia (FM)

como uma forma de histeria contemporânea, realizando um comparativo

entre o quadro clínico da FM e das manifestações histéricas sob a ótica

psicanalítica. A fibromialgia se apresenta por meio de dores crônicas, em no

mínimo 11 partes do corpo de 18 estabelecidas para o diagnóstico pelo

período de 3 meses ou mais, com ausência de causas orgânicas identificadas.

Sua maior incidência ocorre em mulheres adultas dos 35 aos 44 anos de

idade, porém existem casos em crianças, idosos e homens. A confirmação do

diagnóstico é de difícil confirmação devido seu caráter subjetivo por não

existir exames clínicos que corroborem o resultado das queixas dolorosas.

Objetivamos explanar sobre a enfermidade utilizando o modelo médico,

conceituar a histeria conforme descrito por Sigmund Freud no século XIX em

relação a sua sintomatologia e causalidade, evidenciando a importância da

psicanálise no tratamento para diminuição dos sintomas. O estudo, apresenta

um levantamento de publicações cientificas que abordam a fibromialgia a luz

da psicanálise, por meio de uma revisão de literatura. Desse modo foram

realizadas pesquisas nas bases de dados Scielo-Brasil, Pepsic e na literatura

das obras Freudianas. Nesse contexto concluímos que os sintomas

apresentados na Síndrome da Fibromialgia se assemelham ao quadro clínico

da histeria contribuindo assim para uma melhor compreensão desta síndrome

e assim auxiliando no seu tratamento.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome da Fibromialgia é assim considerada pela diversidade de


sintomas apresentados, mas expressivamente, pela dor crônica em determinadas
partes do corpo sem causas orgânicas aparentes.
Ainda hoje, em 2021, apesar dos avanços da medicina, a Síndrome da
Fibromialgia se apresenta com difícil diagnóstico e tratamento para a classe médica
devido sua condição sintomatológica sem causas orgânicas. Neste cenário a
aproximação do quadro clínico desta síndrome com a histeria proporciona uma
melhor compreensão da situação do paciente, ressaltando a importância de estudos
mais aprofundados sobre a temática.
Na histeria, conceito bastante estudado e difundido por Freud na elaboração
da psicanálise, bem como, na fibromialgia, a sintomatologia se mostra em alguns
aspectos de forma similar, principalmente, ao que se refere a inexistência de uma
causa orgânica para apresentação da dor crônica e sua maior predominância em
mulheres.
A psicoterapia revela-se, neste contexto, como um suporte muito importante
para o tratamento da enfermidade junto a medicações específicas. Ao trabalhar os
aspectos psíquicos que interferem diretamente no quadro doloroso da fibromialgia,
proporcionando um lugar de fala para o sujeito efetuar sua catarse, o mesmo irá
trabalhar suas questões emocionais e com isso, como observado em muitos casos,
diminuir os sintomas dolorosos que tanto interfere no dia-a-dia do sujeito.
Estudar este tema e entender suas causas para desenvolver tratamentos
contra esta enfermidade, se faz cada vez mais necessário, pois a Síndrome da
Fibromialgia é uma doença que debilita o sujeito interferindo significativamente em
sua vida, além do grande aumento no número de casos descobertos nos últimos
anos.
A partir da falta de mais estudos sobre a fibromialgia, fica evidente a
necessidade no aumento do número de pesquisas sobre o tema, como por exemplo,
suas possíveis causas e fatores gatilhos para início da doença. O objetivo deste
trabalho é suscitar o aumento das pesquisas sobre a doença, bem como esclarecer
baseando-se nos pressupostos da teoria psicanalítica, a luz da teoria Freudiana, no

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

que concerne ao estudo e tratamento da Histeria, estimular o desenvolvimento na


criação de uma prática do cuidado mais eficiente, devolvendo aos pacientes uma
melhor condição de vida, por meio da psicoterapia de base psicanalítica pela
associação livre, que vem demonstrando sucesso no tratamento de pacientes com
Fibromialgia.

2 MÉTODO

O método de pesquisa realizado neste trabalho é de natureza qualitativa,


alicerçando-se na pesquisa bibliográfica como técnica de coleta de dados de cunho
analítico e interdisciplinar, nas dependências do Centro Universitário Maurício de
Nassau, campus Graças, na cidade de Recife, no estado de Pernambuco, e por
meio de pesquisas on-line.
O início da pesquisa ocorreu no mês de março no ano eletivo de 2020 e se
estenderá até outubro com a redação do artigo.
A população deste estudo foi constituída pela literatura pertinente ao tema
estudado por meio da coleta de dados em obras publicadas pelo autor de referência
da Psicanálise, Sigmund Freud, além de literatura relacionada a Fibromialgia e
Histeria, indexadas nos bancos de dados das plataformas Scientific Eletronic Library
Online (SCIELO), Google Acadêmico e Periódicos Eletrônicos de Psicologia
(PePSIC).
Os critérios utilizados para inclusão das referências bibliográficas contemplam
as literaturas no idioma português e publicadas nas bases de dados citadas no
tamanho da amostra. Empregando os seguintes descritores para busca bibliográfica:
Fibromialgia, Histeria, Psicanálise e Psicossomática. Além da literatura das obras
Freudianas. Para este trabalho foram desconsiderados artigos publicados antes de
2006, com exceção de um artigo considerado relevante para a pesquisa, e revistas
com classificação superior a B2 para psicologia na Plataforma Sucupira.
Após a leitura crítica da literatura acerca do tema, a análise dos dados da
pesquisa foi realizada a separação dos tópicos considerados relevantes que
supostamente responderiam as questões da pesquisa.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Os aspectos éticos por se tratar de uma revisão bibliográfica, não será


submetido à avaliação do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário
Maurício de Nassau e de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional
de Saúde (CNS). E não oferece riscos a população, porém seus benefícios em
divulgar estudos sobre uma doença que se estuda há pouco tempo e de cunho
subjetivo são muito importantes no entendimento das formas de cuidado que
poderão ser despendidas aos pacientes da Síndrome da Fibromialgia.
Contudo o artigo apresentado respeita todos preceitos éticos estabelecidos no
que se refere a prezar pela legitimidade das informações, referenciando e citando
todos os autores dos trabalhos utilizados, e o respeito à dignidade humana na
publicação dos dados coletados.

3.1 O QUE É A FIBROMIALGIA

A denominação fibromialgia, palavra derivada do latim fibro (tecido fibroso,


presente em ligamentos, tendões e fáscias), e do grego mio (tecido muscular), algos
(dor) e ia (condição), foi proposta inicialmente por Yunus e cols. em 1981, com o
intuito de substituir o termo fibrosite, até então utilizado para denominar um tipo
particular de reumatismo caracterizado pela presença de pontos endurados
musculares dolorosos à palpação, a partir do entendimento de que não havia, nestes
adoecimentos, inflamação tecidual. (HELFENSTEIN JUNIOR; GOLDENFUN; SIENA,
2012).
Os autores acrescentam, ainda, que só em 1990, um comitê do Colégio
Americano de Reumatologia (ACR) definiu como critérios classificatórios da FM a
presença na história clínica de dor generalizada, afetando o esqueleto axial e
periférico, acima e abaixo da cintura, com duração superior a três meses; e do
exame físico com dor à palpação com força aplicada de 4kg/cm² em pelo menos 11
dos seguintes 18 tender points (9 pares ver figura 1). Helfenstein Junior, Goldenfun e
Siena (2012, p. 359) esclarecem que atualmente os critérios diagnósticos atuais não
contemplam os tender points, entretanto, englobam os sintomas não relacionados ao
aparelho locomotor. Além da dor musculoesquelética, avaliam a gravidade da
síndrome e são mais úteis para estabelecer o diagnóstico.
Figura 1 – Tender points

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fonte: Site Abrafibro1 - Associação Brasileira dos Fibromiálgicos

Estudos mais recentes apontam que a origem dos sintomas parece ser devida
às alterações do Sistema Nervoso Central (SNC), em especial dos mecanismos de
percepção e modulação da dor, tendo como causa o desequilíbrio de substâncias
analgésicas do cérebro (serotonina) e as substâncias que promovem a dor
(substância P) (KOTAKA,2017, p. 201). Estas alterações percebidas servem como
um ponto de partida para um tratamento mais assertivo e direcionado.
No Brasil, os dados, mais recentes, e que servem de base a estudos médicos,
referem-se a levantamento realizado na cidade de Montes Claros, Minas Gerais. (..)
A prevalência observada na população é de 2,5%, a maioria sendo do sexo
feminino, das quais 40,8% com 35 a 44 anos de idade. (SENNA et.al, 2004 apud
BESSET et.al., 2010, p. 1249).

O caráter eminentemente subjetivo dos transtornos ligados à fibromialgia


(dor, fadiga, mal-estar, transtornos do sono) sugere a adequação de uma
avaliação e de uma terapêutica de tipo multidisciplinar. Com efeito,
quaisquer que sejam as modalidades de tratamento escolhidas, os
elementos psíquicos não podem ser negligenciados por muito tempo.
(BESSET et. al., 2010, p. 1251).

1 Disponível em: https://www.abrafibro.com/2014/02/fibromialgia-e-uma-doenca-comum.html. Acesso


em: 26 mar. 2020.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Para Kotaka (2017, p. 205) a síndrome ocorre após algum fato traumático
marcante ou de fatos traumáticos repetidos menos intenso, ou, ainda, após um
quadro infeccioso. [...] os traumas podem ser devidos a causas físicas, tais como
acidentes e agressões, mas podem ser emocionais [...], após perda de posições
ocupadas profissionalmente, [...] doenças causadas por vírus, especialmente,
Hemophilus influenza, o Parvovírus, o Coxsackie B e o Epstein-Barr.
Nesse contexto, o peso dos códigos e das limitações socioculturais, mas
também psicológicas, para todo paciente convidado a relatar sua experiência de dor,
deveria ser levado em consideração. (BESSET et.al.,2010, p. 1254). Se objetivamos
saber o sentido do sofrimento dos nossos pacientes, bem como, o sentido de nosso
próprio sofrimento, a lente da teoria freudiana é certamente uma ferramenta
indispensável para desvendarmos a psicogênese da dor. (GUIMARÃES, 2011, p.
13).

3.2 A HISTERIA PSICANALÍTICA

Segundo Laplanche e Pontalis (1991, p. 211) a noção de uma doença


histérica e muito antiga, visto que remonta a Hipócrates. Sua delimitação
acompanhou as metamorfoses da história da medicina. [...] considera a histeria
como uma doença psíquica bem definida, que exige uma etiologia específica. Por
outro lado, procurando estabelecer o “mecanismo psíquico”, ligou-se a toda uma
corrente que considera a histeria uma “doença por representação”. Como sabemos,
o esclarecimento da etiologia psíquica da histeria e paralelo as descobertas
principais da psicanalise (inconsciente, fantasia, conflito defensivo e recalque,
identificação, transferência, etc.).
Designamos como traumas psíquicos as vivências que desencadearam o
afeto original e cuja excitação foi depois convertida em fenômeno somático,
e como sintomas histéricos de origem traumática as manifestações
patológicas assim produzidas. (A designação “histeria traumática” já é dada
aos fenômenos que, como consequência de ferimentos corporais – traumas
em sentido estrito – constituem uma parte da “neurose
traumática”.)(FREUD, 1893-1895, p. 296).

Segundo Freud (1926-1929, p. 122), na dor física há um forte investimento no


local dolorido do corpo, investimento esse que podemos chamar narcísico, que
aumenta cada vez mais e age sobre o EU de modo, digamos, ”esvaziador”. O autor

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

cita em sua obra sobre o narcisismo que o mesmo se refere a um complemento


libidinal do egoísmo do instinto de auto conservação, do qual justificadamente
atribuímos uma porção a cada ser vivo. [...] A libido retirada do mundo externo foi
dirigido ao EU, de modo a surgir uma conduta que podemos chamar de narcisismo.
(FREUD, 1914-1916, p. 14-15,16).

O único fato de que há certeza é que a dor – inicialmente e por via de regra
– nasce quando um estímulo que ataca na periferia rompe os dispositivos
que protegem contra estímulos e passa a agir como um estímulo instintal
constante, diante do qual são impotentes as ações musculares normalmente
eficazes, que subtraem ao estimulo o local estimulado. (FREUD, 1926-1929,
p. 121).

Leite e Pereira (2003, p. 100) consideram a fibromialgia como um fenômeno


que pode inscrever-se em uma organização de personalidade psicossomática ou
histérica2. Com efeito, tudo que atinge o corpo mobiliza o campo do imaginário –
fantasias, identidades e identificações -, mas também as modalidades de inscrição
do sujeito no laço social e sua relação ao Outro (LACAN, 1978 apud BESSET, 2010,
p. 1255).

A dor é um recurso, uma possibilidade de manter a unidade corporal,


evitando a vivência do esfacelamento. A histérica, por meio da fantasia e do
barulho que produz, protege-se da dor da ausência do objeto precocemente
perdido. A fantasia liga a libido, que desligada e em excesso, poderia
produzir um “furo melancólico” no psiquismo. (LEITE e PEREIRA, 2003, p.
103).

Se o afeto original não foi descarregado no reflexo normal, mas sim num
“reflexo anormal”, também esse volta a ser desencadeado pela lembrança; a
excitação proveniente da ideia afetiva é “convertida” num fenômeno corporal.
(FREUD, 1893-1895, p. 292).
Com isso Angerami-Camon (2012, p. 171), evidencia que após observações e
estudos de Freud que nos casos de histeria, o que existia de fato era uma

2 Na personalidade psicossomática - seu sentido primordial é econômico; é uma energia libidinal que
se transforma, se converte, em inervação somática. A conversão é correlativa do desligar-se da libido
da representação no processo do recalcamento; a energia libidinal desligada é então “... transposta
para o corporal”. (LAPLANCHE E PONTALIS, 1991). Na personalidade histérica - apresentam
quadros clínicos muito variados. As duas formas sintomáticas mais bem identificadas são a histeria
de conversão, em que o conflito psíquico vem simbolizar-se nos sintomas corporais mais diversos,
paroxísticos (exemplo: crise emocional com teatralidade) ou mais duradouros (exemplo: anestesias,
paralisias histéricas, sensação de “bola ” faríngica, etc.), e a histeria de angústia, em que a angústia é
fixada de modo mais ou menos estável neste ou naquele objeto exterior. (LAPLANCHE E PONTALIS,
1991).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

representação psíquica de uma ideia não consciente e intensamente carregada de


afeto, entendendo que o trauma não seria um acontecimento externo , mas um
violento desarranjo interno alojado no eu; o trauma sofrido pela criança não seria
uma agressão externa real, mas o vestígio psíquico deixado pela agressão; não é a
natureza do impacto que importa, mas a marca que resulta dele.
Com os estudos estabelecidos por Freud durante os anos e suas
observações de pacientes, ele estabelece em sua obra de 1893-1895 (p. 290) como
critério para identificação de histéricos que só podemos qualificar de histéricos tais
fenômenos quando surgem não como consequência de um afeto extremo (porém de
fundamento objetivo), mas, de forma aparentemente espontânea, como
manifestações mórbidas. Quanto a estas muitas observações, incluindo as nossas,
demonstraram que se baseiam em lembranças que renovam o afeto original. Ou
melhor: renovariam, se precisamente aquelas reações já não tivessem de produzido.
Entretanto, Freud (1893-1895, p. 294), complementa em sua teoria que o
fenômeno histérico (reflexo anormal) não se afigura ideogênico mesmo aos doentes
inteligentes e bons observadores, porque a ideia motivadora não é mais realçada de
afeto, nem distinguida de outras ideias e lembranças; ele se apresenta como
fenômeno puramente somático, sem raiz psicológica na aparência. O que no caso
da Fibromialgia pode dificultar ainda mais a identificação da doença e sua condução
no tratamento psicoterápico.
O termo histeria tem origem nos primórdios da medicina e resultou do
preconceito, que vinculava as neuroses das doenças do aparelho reprodutor
feminino. (SLOMPO e BERNARDINO, 2006, p. 268).
Freud (1893-1895, p. 264-266) afirma que “histéricas são todas aquelas
manifestações mórbidas provocadas por ideias”. (...) considero a histeria um quadro
clínico encontrado empiricamente, a partir da observação. (...) um fenômeno que é
certamente uma unidade seria um componente da histeria em certas ocasiões, e em
outras, não.
O mesmo ocorre com as algias histéricas, tão importantes na prática. Por
certo, elas são com frequência causadas diretamente por ideias; são
“alucinações de dor”. Se as examinamos com maior cuidado, verificamos
que não basta uma grande vivacidade da ideia para que se produzam; é
necessário um estado anormal particular do aparelho receptor e condutor da
dor (...). Se alucinações de dor aparecem com tal facilidade na histeria,
devemos admitir uma excitabilidade anômala do aparelho receptor da dor.
(FREUD, 1893-1895, p. 266-267, 268).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Quando, após o leve trauma de uma articulação, desenvolve-se


gradativamente uma grave neurose articular, há nesse processo, sem dúvida, um
elemento psíquico: a concentração da atenção na parte lesada, o que aumenta a
excitabilidade das vias nervosas implicadas; mas dificilmente poder-se-ia dizer que a
hiperalgia é determinada por ideias. (FREUD, 1893-1895, p. 269).
As dores e essa maior sensibilidade para a dor sem uma causa orgânica
plausível já eram estudadas há muito tempo, porém sem muito sucesso com os
resultados obtidos, a medicina tradicional, ao não encontrar a causa orgânica da dor
apenas marginalizavam essas pessoas da sociedade ou as submetiam a
tratamentos degradantes em sanatórios, também sem muito sucesso. A partir de
uma nova visão de Freud para o estudo da histeria e uma visão empática com este
sofrimento que acometia muitas mulheres na época se iniciou um processo de
regressão dos sintomas e muitas vezes até de cura com o avanço dos estudos.
Freud (1914-1916, p. 87) afirma que influenciados pelo estudo das
psiconeuroses, que nos faz ver o significativo efeito da repressão, somos inclinados
a superestimar o seu conteúdo psicológico, e esquecemos com facilidade que a
repressão não impede a representante do instinto de prosseguir existindo no
inconsciente, de continuar se organizando, formando derivados e estabelecendo
conexões. Na realidade, a repressão perturba apenas a relação com um sistema
psíquico, o do consciente. Diante do exposto vemos, que o afeto que fora reprimido
como mecanismo de defesa do Ego, para não causar a sensação de desprazer por
não, satisfazer o desejo libidinal encontrará por meio do sintoma chegar ao
consciente.
Contudo, por tratar-se de traumas que estão recalcados no inconsciente e
causam sintomas, muitas vezes, sem uma causa orgânica específica, Freud (1901-
1905, p. 196), após analisar vários casos de histeria, conclui que o trauma psíquico,
o conflito dos afetos e, como acrescentei em trabalhos posteriores, o abalo da esfera
sexual. Tratando-se de coisas que se tornaram patogênicas pelo afã de ocultar-se,
não se deve esperar que os pacientes as entreguem espontaneamente ao médico,
nem satisfazer-se com o primeiro “não” contraposto à investigação.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

3.3 UMA HISTERIA CONTEMPORÂNEA

Na prática da clínica psicanalítica, Freud (1914-1916, p. 88) enaltece o


paciente a produzir tais derivados do reprimido, que devido a sua distância ou
deformação podem passar pela censura do consciente. Não são outra coisa os
pensamentos espontâneos que dele solicitamos, através da renúncia a todas as
ideias intencionais conscientes e a toda crítica, e a partir dos quais reconstituímos
uma tradução consciente da representante reprimida.
O quadro clínico apresentado pelos pacientes com fibromialgia pode revelar,
que os efeitos mostrados no corpo pelos desarranjos subjetivo, devido
especialmente à perdas e fracassos vivenciados ou da onipotência do sujeito.
(KOTAKA, 2017, p. 221).

...quando a realidade se mantém intransigente, a libido sentindo-se


impossibilitada de assumir outro objeto em substituição àquele que lhe havia
sido recusado, seria compelida a tomar o caminho de regressão. A pulsão
retomaria em sentido inverso ao ponto em se encontrava e o id buscaria a
satisfação dos seus desejos em uma das organizações deixada para trás ou
a um objeto anteriormente abandonado. [...] As pulsões, mesmo
apresentando-se irreconhecíveis, buscam a satisfação, ressurgindo como
sonhos, atos falhos ou sintomas. (KOTAKA, 2017, p. 219)

Após entrevistas realizadas por Slompo e Bernardino (2006, p. 272)


constatou-se que os sintomas físicos descritos por pacientes acometidos pela
fibromialgia eram geralmente os mesmos, diferenciando-se apenas de membro ou
intensidade; (...) Traços recorrentes: pessoas que cuidam de tudo e todos; que se
sentem responsáveis pela felicidade do outro; que sofreram perdas financeiras ou de
saúde; situações de pai, marido violento; gravidez precoce; alcoolismo; abusos
físicos, verbais.
Kotaka (2017, p. 196) corrobora com a ideia de Slompo e Bernardino ao
descobrir na fala dos pacientes subsídios que permitem encontrar a origem
inconsciente da dor manifestada por um corpo em sofrimento. [...] As pessoas que
apresentam dificuldades em lidar com perdas, especialmente a perda do amor e de
poder, além das alterações quanto à organização da vida pessoal, parecem mais
propícias a desenvolver um quadro de sintomas e sinais correspondentes ao da
fibromialgia.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

Fernandes (2003) apud Kotaka (2017, p. 214) salientou, ainda, que fatores
socioculturais, biológicos e psicológicos podem se apresentar interligados e se
retroalimentarem, levando ao surgimento e à manutenção das dores crônicas. Outro
aspecto, que deve ser considerado como fato importante aventado por CALDEIRA
(2001) apud Kotaka (2017, p. 214), seria o de que o alcoolismo paterno parece
apresentar casuística significativa, ao sugerir maior probabilidade da ocorre
ocorrência do quadro de fibromialgia, mas, consideramos o fato de que, em muitos
casos, há relatos de maus-tratos sofridos na infância por causa do alcoolismo
paterno, trazendo decepções na história de vida do sujeito.
As questões psicológicas do sujeito acometido pela Fibromialgia se destacam
pelo seu discurso onde encontramos traumas que não foram trabalhados para que
não causassem sofrimento. Assim como escutamos nas pacientes diagnosticadas
com a Síndrome da Fibromialgia, a dor localiza-se ao lado dos fenômenos
psicossomáticos ou, retomando a classificação freudiana, ao lado das neuroses
atuais. (LEITE e PEREIRA, 2003).

O corpo do histérico é um corpo representado, subjetivo, as alterações não


são explicadas pelo real, objetivo, orgânico. As condições orgânicas
recuam, mudam, assim como um passe de mágica, ao serem interpretadas,
ao fazer o caminho de volta da simbologia do órgão a cena recalcada. [...] O
corpo biológico não é afetado de fato, há uma integridade deste, o que não
ocorre nas doenças psicossomáticas. [...] As manifestações que os
histéricos sofrem não resultam de nenhuma causa orgânica, não obedecem
a nenhuma lei da anatomia ou fisiologia. (ANGERAMI-CALMON, 2012, p.
281).

Diante desse cenário, expressar a importância da psicoterapia psicanalítica é


primordial no tratamento dos pacientes com fibromialgia, conforme enaltece Kotaka
(2017, p. 222), a associação livre, uma das principais regras do tratamento analítico
[...] permite o afloramento do inconsciente e a instalação da situação analítica. [...] o
sujeito expressa as formas como lida com a ‘falta-a-ser’ e a sua modalização de
gozo, para construir um novo significado para o seu existir.
Angerami-Calmon (2012, p. 286) declara que são urgentes estudos que
permitam compreender a plasticidade dos sintomas que antes eram denominados
“histeria” (e hoje recebem, principalmente, o rótulo de “somatização”), bem como
investigações que proponham manejos mais adequados a essa ampla gama de
pacientes, tanto por psiquiatras e psicólogos quanto pelos clínicos e pelos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

especialistas em aparelhos e sistemas orgânicos que podem ser sintomatizados


“psicossomaticamente”.
Diante do exposto e da dificuldade em encontrar uma causa específica para a
Fibromialgia devemos nos atentar principalmente as técnicas ensinadas por Freud
em seu texto sobre as recomendações ao médico que pratica a psicanálise com o
intuito de auxiliar no tratamento do paciente: no entanto, essa técnica é bem
simples. Ela rejeita qualquer expediente, como veremos, mesmo o de tomar notas, e
consiste apenas em não querer notar nada em especial, e oferecer a tudo o que se
ouve a mesma “atenção flutuante”. (FREUD, 1911-1913, p. 149).

4 CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Síndrome da Fibromialgia está cada vez mais presente em nosso dia a dia,
por meio de divulgação de campanhas ou por conhecer uma pessoa que sofra com
as dores crônicas, porém os estudos desta doença ainda são poucos, principalmente
na investigação de um diagnóstico mais eficaz e eficiente, auxiliando em uma melhor
qualidade de vida para o sujeito.
Apesar de algumas pessoas da área médica considerem a Fibromialgia como
uma somatização ela apresenta-se com muitos componentes da antiga histeria e
porque não denominar de uma histeria contemporânea fazendo uma atualização ao
correlacionar a teoria psicanalítica da época a qual foi desenvolvida com a
atualidade no que diz respeito à constituição social, ambiental e histórica dos
sujeitos.
Este artigo teve como propósito esclarecer alguns critérios atuais para o
diagnóstico da Síndrome da Fibromialgia e assim estimular mais estudos tanto na
área da psicologia como da medicina sobre a doença, principalmente de forma
multidisciplinar vendo o sujeito em seu contexto familiar, social e cultural como um
ser único e atuante. E destacar como psicoterapia de cunho psicanalítico pode ser
efetiva no tratamento desta doença que impossibilita muitas pessoas de realizar
suas tarefas diárias por causa das dores fortes e debilitantes.
A importância para sociedade e para a psicologia em dialogar sobre a dor
crônica, da síndrome da fibromialgia, além dos seus sintomas com a psicanálise e
as condições de “cura” pela fala ou alívio do sintoma, se faz importante para todos e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Ciências da Saúde e Biológicas

ressalta a necessidade da psicoterapia mais acessível a todos indivíduos os quais


desejem se submeter ao processo.

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______. Obras completas, vol. 10: observações psicanalíticas sobre um caso


de paranoia relatado em autobiografia (“o caso Schereber”). Artigos sobre
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