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A R BE L S CONFRATERNIDADE N.º 379


Jurisdicionada ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul

Liberdade! Igualdade!
Fraternidade!
A Sala dos Passos Perdidos lembra a todos nossos misterios.

Peça de Arquitetura

Ir Marcio Rama de Vargas

Or de Farroupilha, 21 de Fevereiro de 2022 EV.


Querias ser livre. Para essa liberdade, só há um caminho: o desprezo das coisas que não
dependem de nós.
Epicteto

Por ocasião da Instalação de nosso Irmão Lucio Mauro Turcatti no Trono de Salomão
de nossa Augusta Oficina volta a minha memoria uma passagem com este Venerável irmão,
ocorrida em uma de nossas formações de Cortejo, na Sala dos Passos Perdidos.

Ao ingressarmos na Sala dos Passos Perdidos da Augusta, Benemérita, Respeitável


e Excelsa Loja Simbólica Confraternidade imediatamente nos deparamos com três quadros
que trazem ao Maçom os grandes mistérios de nossa sublime Ordem. A Liberdade, a
Igualdade e a Fraternidade.

Mas o que, exatamente, significam aqueles três quadros e estas três pequenas
palavras? Quais as simbologias ocultas em cada um deles?

Essa foi justamente a provocação feita por nosso então Orador a um grupo de
Companheiros que aguardavam a ordem para entrada no Templo, este que escreve entre
eles.

Para começarmos a refletir sobre o significado destas três palavras que encontramos
toda Sexta Feira, ao entrar em nosso templo, devemos voltar um pouco no tempo.

Antes de 1789, com o iluminismo representado por Jean-Jacques Rousseau,


Beethoven, Mozart, Voltaire, Goethe, Montesquieu entre outros, o homem não despertara
para a ideia de onde veio, para onde vai e principalmente qual é o seu verdadeiro papel no
contexto geral do mundo em que vive. Foram as ideias destes homens, literalmente
iluminadas, que proporcionaram a ascensão de outros pensadores, libertando-os das
amarras que os impediam de refletir também sobre a possibilidade de se encontrar a tal
Felicidade.

Esta ascensão começa a ressurgir entre as chamadas classes inferiores nas


camadas sociais com a descoberta de que a felicidade poderia ser concreta e possível,
individualmente.

Inaugura-se também o romper do imperialismo religioso, no qual toda a obediência


emanava de dogmas impositivos que condicionavam inclusive a obscura Felicidade, à
rigorosa obediência. Sem entrarmos na polémica paternidade da trilogia Liberdade,
Igualdade e Fraternidade: se foi a Revolução Francesa que a tirou da Maçonaria, ou se a
Maçonaria a teria pego dos pensadores iluminados, o certo é que esta tríade sempre foi
Lema implícito e natural para a conduta daqueles que se iniciam em nossa Ordem, muito
antes do século XVIII.

A LIBERDADE, na sua concepção mais pura e como definida por vários filósofos
contemporâneos é a mais radical definição de autonomia ou de não submissão; é a força
que dá ao ser humano o pleno discernimento e a sublime independência. Na concepção
Maçónica, a sua aplicação não foge às suas características filosóficas.

A IGUALDADE, no seio maçónico, traduz-nos a ideia de uma relação direta com os


direitos fundamentais do cidadão e com a dignidade da pessoa humana, tendo como
âmbito, o sentido de justiça, em estreita cumplicidade com os cânones do humanismo.

A FRATERNIDADE ao mesmo tempo em que fecha a trilogia, destaca-se como a


mais pura das concepções. Ainda que muitos a confundam com caridade, a sua relação
com estes gestos são infinitamente superiores, sim porque a caridade invariavelmente é
praticada visando alguma contrapartida e a fraternidade, entendida no contexto Maçônico
exige espontaneidade e deve refletir um estado espiritual sem qualquer expectativa de
recompensa, imediata ou futura.

Agora que relembramos rapidamente o significado de nossas três palavras, podemos


lançar um olhar mais atento aos quadros que adornam nossa Sala dos Passos Perdidos.

Este olhar mais demorado vai mostrando a cada momento novas nuances e novos
símbolos que para um leigo ou para um Irmão mais apressado podem ser vistos como
simples decoração da obra.

Quão bom e quão instigante é termos Irmãos que nos estimulam a olhar e ver, e não
apenas olhar.

A Liberdade

O que a primeira vista parece ser uma imagem figurativa, já nos apresenta três fortes
símbolos históricos de liberdade. Marianne, o Galo e o Barrete Frígio.

Marianne é a figura alegórica de uma mulher que representa a República Francesa.


Sob a aparência de uma mulher usando um barrete frígio, Marianne encarna a República
Francesa e representa a permanência dos valores da república e dos cidadãos
franceses: Liberté, Égalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade e Fraternidade). Marianne é a
representação simbólica da mãe pátria, simultaneamente enérgica, guerreira, pacífica,
protetora e maternal.

O Galo. Nos textos da Maçonaria não encontramos muita referência a esta figura
que, sem dúvida, no esoterismo tem um significado muito grande; é-nos dito que o Galo nos
indica “O despertar interior do homem, o triunfo da Luz sobre as trevas, assinalando ainda a
necessidade da vigilância que temos de ter sobre os nossos atos, não permitindo que nada
nos afaste do caminho da Verdade, da Justiça e da Honra”.

O galo tem papel importante no simbolismo da França de 1879; graças à Revolução


Francesa e as Lojas de então que este animal como símbolo e emblema nacional na
França, berço da Franco maçonaria moderna, mas também a algumas características que
lhes deviam recordar na direção dos franceses do porque da verdadeira Revolução; o galo
devia-lhes recordar de:

 Sempre estar de Pé e erguido, símbolo de Orgulho;


 Sempre estar atento, símbolo de Vigilância;
 Lutar até morrer, símbolo de Nunca se deixar Vencer.

O terceiro símbolo que nos lembra da Liberdade é o Barrete Frígio, este presente
também no Brasão de Armas da Republica Rio-grandense (fundada por Maçons), O barrete
frígio ou barrete da liberdade é uma espécie de touca ou carapuça, originariamente utilizada
pelos moradores da Frígia (onde hoje está situada a Turquia). Foi adotado, na cor vermelha,
pelos republicanos franceses que lutaram pela tomada da Bastilha em 1789, que culminou
com a instalação da primeira república francesa em 1792. Hoje pode ser visto nas mais
diversas representações de liberdade pelo mundo.

A Igualdade

Em nosso quadro que retrata os princípios da Igualdade o que primeiramente chama


atenção é uma pessoa sentada, com um nível em uma mão e uma tabua com alguns
dizeres escritos na outra. Como isso pode ser a representação gráfica da Igualdade?

O nível, que para o Maçom é o símbolo da igualdade, não somente entre os


membros da Fraternidade, mas de toda a humanidade. O Nível lembra ao Maçom que todas
as coisas devem ser consideradas com serenidade igual, e o seu simbolismo tem como
corolário noções de medida, imparcialidade, tolerância e igualdade, como também o correto
emprego dos conhecimentos (Ragon).

Ainda, aquela tabua com os dizeres é apenas a Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão, um documento culminante da Revolução Francesa, que define os direitos
individuais e coletivos dos homens como universais, é a declaração que torna todos os
Homens Iguais frente a sociedade, em direitos e obrigações. Na imagem original da
Declaração, o "Olho da Providência" brilhando no topo representa uma homologação divina
às normas ali presentes, mas também alimenta especulações no sentido de que a
Revolução Francesa teve a influencia da Maçonaria.
A Fraternidade.

Este é o quadro que considero apresentar o Simbolismo mais subjetivo dos três
presentes em nossa Sala dos Passos Perdidos. Enquanto a Liberdade e a Igualdade
traziam explícitos elementos simbólicos já consolidados em seus significados, aqui vemos
imagens que nos remetem aos seus significados, deixando a cargo de cada irmão, e sua
bagagem cultural, espiritual e maçônica a interpretação.

Inicialmente chama atenção à figura de duas crianças em um abraço, que por


associação ao nome do quadro imaginamos serem irmãos, em um segundo momento
vemos que uma criança é Negra e uma Branca, adicionando mais uma camada de
simbolismo. Essa nova camada mostra que independentemente de qualquer diferença
física (e quem sabe diferenças espirituais, politicas...), somos sim irmãos.

A Fraternidade resume todos os deveres do homem, para com os semelhantes,


como: a tolerância, a benevolência, a abnegação, o devotamento à indulgência, a
sinceridade, a fidelidade, a lealdade, a franqueza...

Outra simbologia, esta puramente especulativa deste Irmão, é a figura feminina, que
poderia ser interpretada como Marianne, a Liberdade, agindo como Guardiã da
Fraternidade.

Por ultimo, neste segmento interpretativo, vemos uma Anfisbena aos pés das
crianças. A serpente se tornou um símbolo representativo das diferentes civilizações, pelas
quais desempenhou um papel de liderança nas concepções teogônicas, cosmogônicas e até
morais. Na antiguidade, esse réptil tinha diferentes significados: sabedoria, eternidade,
reencarnação (devido à troca de pele), sol espiritual, paixões humanas, fertilidade, cura e
morte, entre outros.
A Anfisbena era considerada a mais venenosa de todas as cobras, porque podia
morder simultaneamente duas partes do corpo. Foi tão agressiva que em muitas ocasiões
uma cabeça atacou a outra, simbolizando também o começo e o fim. Assim, o autor ao
trazer este perigo mortal ao pé das crianças pode ter buscado simbolizar a importância do
sentimento Fraterno para a superação dos perigos e dificuldades do mundo.

Considerações Finais

A presente peça de arquitetura não busca em absoluto servir como instrumento de


interpretação definitiva sobre o simbolismo dos quadros que serviram de inspiração ao
autor.

Trata-se de um exercício particular de interpretação e pesquisa dos símbolos e um


incentivo para que mais e mais Irmãos se sintam motivados a pesquisar sobre a infinidade
de possibilidades simbólicas que há em nosso Templo, inclusive como complementação e
expansão a este mesmo trabalho.

O Maçom se faz com a busca pela verdade e esta busca apresenta-se sob diversas
formas, uma delas é o estudo e pesquisa dos mistérios de nossa ordem e o
compartilhamento dos resultados destes estudos, para então, todos crescermos um pouco
mais.

O simbolismo presente nos quadros da sala dos passos perdidos ganhou


importância quando, um dia, um querido irmão questionou porque havia um galo ali, e por
mais que eu cruze desde 2018 toda sexta feira em frente, nunca havia prestado atenção
neste galo. Neste momento percebi que olhamos muito, mas vemos pouco.

Acredito que a intenção do Irmão foi esta mesmo, instigar a curiosidade e a ação,
colocar o Maço e o Cinzel a serviço da edificação de nosso Templo.

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