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Ariano Suassuna
*i.
coletividade. Mas o discurso das minorias não está só. Ele não é
verdadeiramente a fonte da ameaça que nos assombra. Há uma
força global que tende a transformar tudo e todos à sua maneira,
do seu gosto. Não seria isso alienação? Reificação de consciências?
A hegemonia político-econômica, assim como a
dominação intelectual ou discursiva, passa, como nunca
havia feito, nem a tal grau, nem sob essas formas
anteriormente, pelo poder tecno-midiático – ou seja, por
um poder que ao mesmo tempo, de modo diferenciado e
contraditório, condiciona e põe em perigo toda democracia.
Ora, trata-se de um poder, um conjunto diferenciado de
poderes, que não se pode analisar, e eventualmente
combater, apoiar aqui, atacar ali, sem levar em conta
tantos efeitos espectrais, da nova velocidade da aparição
(entendamos essa palavra no sentido fantasmático) do
simulacro, da imagem sintética ou protética, da realidade
virtual do ciberespaço e do arrazoamento, das apropriações
ou especulações que manifestam, nos dias de hoje,
poderes inauditos10.
MARCUSE, Herbert. Eros e civilização. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar
18
19BENSAÏD, Daniel; LÖWY, Michael. Marxismo, modernidade e utopia. São Paulo, Xamã,
2000, p. 127.
20 CORREIA, Fábio Caires. O ainda-não é o aqui e agora: Bloch e Adorno, um
consenso necessário. In: SOUZA, Ricardo Timm de.; RODRIGUES, Ubiratane de
Morais (Orgs.). Ernst Bloch: utopias concretas e suas interfaces: vol. 2. [recurso
eletrônico], Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2016, p. 265-266.
21 BLANCHOT, Maurice. L’amitié. Paris, Gallimard, 1971, p. 115-117.
102 | DERRIDA E O PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO: ESTUDOS INTERDISCIPLINARES
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Ainda há esperança, e com elas as (boas) vozes
emudecidas pelas intempéries ideologizantes da racionalidade
estatuída. Dar (sua) voz aos espectros. Aos bons espectros, à
crítica. A crítica resiste e sempre resistirá na esperança, na utopia
concreta. A utopia é um protesto contra a situação presente. Uma
recusa de se adaptar ao sistema estabelecido. Ela nasce da
insatisfação perante as condições atuais da vida e se constitui em
uma porta aberta contra o predomínio da consciência
presentificante. O conteúdo da esperança se manifesta nas
imagens e na cultura humana referida em seu horizonte
histórico23.
Referências bibliográficas