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Os Lusíadas - Luís de Camões Português - 9.

º ano (22-23)

Episódio do Consílio dos Deuses (canto I, est. 19 a 41)


A- Estrutura:
Chegada dos deuses ao Olimpo: est.20-21
Descrição de Júpiter e dos restantes deuses: est.22-23
Discurso de Júpiter: est.24-29
Discussão dos deuses a propósito do discurso de Júpiter (Baco vs Vénus): est.30-35
Intervenção de Marte: est.36-40
Decisão final de Júpiter e encerramento do consílio: est.41

B- Síntese:
Quando a armada de Vasco da Gama já se encontrava no Oceano Índico, navegando com ventos favoráveis, tem lugar o
Consílio dos Deuses. Para isso, Júpiter, senhor do Olimpo, enviara Mercúrio, deus mensageiro, convocar todos os deuses
para uma reunião, na qual se irá discutir o destino do oriente, ou seja, se irá decidir se os portugueses deverão descobrir
o caminho marítimo para a Índia. (ESTÂNCIA 20)

É Júpiter que abre o consílio, sentado no seu trono, com a coroa na cabeça e o cetro na mão, estando todos os deuses
posicionados de acordo com a sua importância. (ESTÂNCIAS 21 A 23)

Num tom forte e seguro, Júpiter saúda os presentes e expõe o assunto: está escrito no destino que a fama dos corajosos
portugueses “forte gente de Luso” se sobreponha à dos heroicos povos da Antiguidade. Os portugueses têm um passado
de vitórias - contra os romanos, os mouros e os castelhanos - e estão agora prestes a chegar ao Oriente, onde dominarão
o Índico, depois de terem enfrentado todos os perigos. (ESTÂNCIAS 24 A 28)

Parece, pois, justo que cheguem à terra desejada, defende Júpiter, terminando o discurso com o reforço da coragem dos
portugueses, que ultrapassaram todos os obstáculos (“climas e céus experimentados”; “tantos perigos”; “ventos inimigos”)
e assim, ele determina que sejam bem recebidos na costa africana para que, depois de restabelecidos, possam seguir “sua
longa rota”. (ESTÂNCIA 29 e 30)

Terminado o discurso de Júpiter, os deuses pronunciam-se. Realçam-se dois deuses com opiniões contrárias: Baco e Vénus.

Baco, deus do vinho, discorda de Júpiter: sabia estar determinada pelo destino a chegada ao Oriente de “uma gente
fortíssima (dos lados) de Espanha”(= os portugueses)que fará esquecer qualquer fama anterior e ele, a dominar a Índia,
receia ser esquecido e perder a sua glória, se aí chegarem os portugueses. (ESTÂNCIAS 31 e 32)

Vénus, deusa do amor e da beleza, defende uma posição contrária à de Baco, estando a favor dos portugueses: mostra-
se muito afeiçoada aos portugueses porque vê neles as qualidades dos seus amados romanos: a coragem guerreira e a
língua semelhante ao latim. Por outro lado, Vénus sabe, pelos Fados, que será celebrada por onde os portugueses
chegarem, por ser um povo de sangue quente, inclinado para o amor. Por estes motivos, ela deseja que os portugueses
alcancem a terra desejada. (ESTÂNCIAS 33 e 34)

Vénus e Baco discutem, cada um defende a sua posição e os outros deuses participam da discussão de forma acesa.
(ESTÂNCIA 35) Existe uma comparação entre o “tumulto levantado entre os deuses”, fruto da discussão, e a força que a
Natureza assume na floresta (“mata”) e na “montanha”. (“Qual” = como ; “tal andava” = assim andava..) (força da
Natureza: “rompendo os ramos / com ímpito e braveza desmedida/ Brama a montanha.”

Marte, deus da guerra, toma a posição mais determinante de apoio aos portugueses, ou porque se sente apaixonado por
Vénus, ou porque os portugueses, pela sua coragem na guerra, o merecem. Ele pede ainda a Júpiter que não volte atrás
numa decisão inicial que ele defendeu na abertura do consílio., ou seja, a de ajudar os portugueses na sua missão. Marte
sublinha ainda o ódio e a cobardia que Baco revela nos seus argumentos e que se Júpiter voltar atrás na sua decisão, isso
poderá ser entendido como um sinal de fraqueza. (ESTÂNCIAS 36 A 40)

O discurso de Marte é de tal modo eficiente que Júpiter acaba por decidir a favor dos portugueses e encerrar o consílio,
convencido da sua decisão. Lança néctar sobre os deuses e todos partem do Olimpo para os seus destinos. (ESTÂNCIA 41)

C- ESTÂNCIA 19: início da narração da viagem da armada de Vasco da Gama à Índia: Camões, inspirando-se nas
epopeias da Antiguidade Clássica, começa essa narração numa fase já adiantada, quando a viagem vai a meio (técnica
narrativa “in medias res”). A parte da narração inicia-se no Canto I, estância 19, e vai até ao fim da obra, Canto X, est.
1102.
D- Recursos expressivos:
Personificação (da Natureza) : “Os ventos brandamente respiravam” (est.19, v.3)

Perífrase / Metáfora: “do gado de Próteo” = peixes (Próteo: deus dos peixes do oceano) (est.19, v.8)

Outras perífrases: “A ver os berços onde nasce o dia” (est.27, v.8) = Oriente
“neto gentil do velho Atlante” = Mercúrio (est.20, v.8)

Enumerações: “governa o Céu, a Terra e o Mar irado” ”(est.21, v.4) / “De Assírios, Persas, Gregos e Romanos”( est.24, v.8)

Apóstrofe / Perífrase: “Eternos moradores do luzente” (= deuses do Olimpo): início do discurso de Júpiter » reparar nas
aspas e no travessão que iniciam o discurso (est.24, v.1)

Perífrase: “Da forte gente / De Luso” (est.24, v.4 /5)

(Luso é o suposto filho ou companheiro de Baco, o deus romano do vinho e do furor, a quem a mitologia romana terá
atribuído a fundação da Lusitânia, as atuais terras de Portugal e da Estremadura espanhola.)

Adjetivação: est. 36 e 37 na descrição de Marte: “merencório”; medonho e irado”; “armado, forte e duro”

Hipérbole: est.37, v.7: “ o céu tremeu, e Apolo, de torvado, / Um pouco a luz perdeu, como infiado (intimidado) : perante
Marte, até Apolo, deus do Sol, perdeu um pouco da sua luz. (= exagero que realça a imponência da figura de Marte)

Perífrase: “esta gente que busca outro hemisfério” = os portugueses (est.38, v.3)

Perífrase: “Razões de quem parece que é suspeito” ( est.38, v.8) = Baco. Este apresenta razões que não parecem ser de
boa intenção, movido pela inveja e cobiça do domínio do Oriente.

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