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º ano
(Para)Textos
Grupo II – Texto A
Há coisas contraditórias que sinto. Por um lado, algum alívio por chegar ao fim. Mas, na
maior parte dos casos, um vazio enorme. Aquela gente viveu de maneira obsessiva dentro de
mim e, de repente, desvanece-se. Tenho mesmo de fazer uma morte simbólica porque senão
os personagens nunca mais saem de dentro de mim e fico sempre a contar a mesma história.
Neste caso, não. Como é uma trilogia, há personagens que vão prevalecer.
É um tempo em que sou dono exclusivo, proprietário. Mas depois há outro tempo, que é um
tempo mais criativo, em que estou junto com os outros, em que tenho de ler muito, de
escutar muita música. É um processo mais aprazível, a parte mais gostosa.
Volta atrás para ler o que já escreveu à medida que vai avançando na história?
Sou mais um reescritor do que um escritor. Num conto é mais fácil. E um poema, quando
sai, é de uma forma quase definitiva, porque foi trabalhado ao nível inconsciente. Mas, na
prosa ficcional, é muito difícil que saia bem. E acho que cada vez é mais complicado.
Admiravam-me as confissões de alguns colegas, que já estão há mais tempo neste
exercício, que diziam que um dia em que escrevessem cinco páginas era um grande dia – e
são escritores a tempo inteiro, coisa que eu não sou. Eu achava extraordinário, porque
escrevo mais. Mas, à medida que vou ganhando idade, que vou tendo mais experiencia
neste trabalho, cada vez escrevo menos páginas por dia. Há uma contenção. A grande
virtude de se fazer uma coisa há mais tempo pode ser resumida nessa capacidade de
contenção. No princípio é meio adolescente, a gente quer dizer tudo e quer que tudo seja
bonito. Depois, percebemos que o exercício não é esse. [...]
erro meu. Havia, provavelmente – e volto à palavra adolescente –, uma forma excessiva,
não contida, de trabalhar sobre a própria linguagem. Agora, apetece-me trabalhar mais
sobre a história, a linguagem está ao serviço da história. E também não queria – como a
coisa correu bem desse ponto de vista do inventor de palavras – ficar preso nesse
estereótipo. Apetece-me fazer outras coisas, embora possa voltar à recriação. Tenho, aliás,
pequenos textos, mas contenho-me mais. A marca principal que quero ter nos meus livros é
uma relação poética com o mundo. Não consigo escrever doutra maneira, sem essa
aproximação pela poesia.
Alguém que gosta de brincriar com a língua como olha para a tentativa de
uniformização através do acordo ortográfico?
Não dou importância nenhuma, não faço guerra. Não mexe com a língua portuguesa. Mexe
apenas com o que está à superfície, que é a grafia. Às vezes, nem sei se estou a escrever
de acordo com o acordo ou à velha maneira. Não me atrapalha nada.
não percebesse que é muito mais do que isso, é uma maneira de o tempo se revelar, é
residência de espíritos,
é uma igreja… A poesia começa aqui.
A poesia é a essência?
A poesia é mais enigmática, vulcânica, surge de mim mesmo, sou tomado por esta, sem
querer já está lá, como se me estivesse a fazer a mim e não fosse eu que quisesse fazer
poesia. Quando quero avançar para um romance, um livro novo de ficção, aparece-me
poesia. E, de repente, tenho um novo livro de poesia sem querer…. É uma espécie de
iluminação, uma luz que me está a conduzir. Digo sempre que estou escritor, mas sou
poeta. Sou filho de poeta, sou filho da poesia. É quase genético.
1. Seleciona, em cada item (1.1. a 1.4.), a opção correta relativamente ao sentido do texto.
2. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do
texto.
A. A língua oferece potencialidades de brincriar.
B. A poesia é a essência da criação em Mia Couto.
C. Em Mia Couto, a genética não interfere com a sua arte.
D. Os mestres do escritor são poetas.
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Grupo IV – Escrita
“Pais e filhos não foram feitos para ser amigos. Foram feitos para ser pais e filhos.”
MILLÔR FERNANDES
Escreve um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 150 e um máximo de 240
palavras, em que apresentes e defendas o teu ponto de vista sobre a relação entre os pais e
os filhos.
O teu texto deve integrar:
– a tua posição sobre a questão colocada;
– a apresentação de, pelo menos, duas razões que te permitam justificar essa mesma
posição;
– uma breve conclusão.
ITENS DE RESPOSTA
COTAÇÕ
ES
1.1. C
1.2. A
1.3. B
1.4. B 1×4
…………………………………………………………………………………
…………………… .................
3
2. C ....................
3
3. “um certo tipo de pensamento”
Grupo II – Texto B
Como explica o Verão atípico que se está a viver na Europa com países como o
Reino Unido e a Suécia com temperaturas recorde?
Isso tem a ver com a variabilidade climática. O planeta não tem a mesma temperatura
por todo o lado.
O Japão recentemente teve cheias que provocaram mais de 200 mortos e depois
temperaturas acima dos 40.ºC. Em Montreal, no Canadá, registaram-se este mês as
temperaturas mais altas em 147 anos. Isto está tudo ligado?
Está. Faz tudo parte do facto de termos um planeta com uma atmosfera para onde
estamos a lançar grandes quantidades de gases com efeito de estufa, em particular o
dióxido de carbono, que resulta em grande medida da combustão dos combustíveis
fósseis. É um gás que é natural na atmosfera, mas ao aumentar a sua concentração na
atmosfera intensifica-se o efeito de estufa, ou seja, a atmosfera aquece. Isso sabe-se
desde meados do século XIX. Se não cumprirmos o Acordo de Paris e formos para além
dos dois graus Celsius então teremos um mundo muito mais inóspito. As pessoas
sobrevivem, mas sobrevivem em condições de muito menor bem-estar e de qualidade
de vida.
provável que a humanidade não vá cumprir o Acordo de Paris. Que se ultrapasse os tais
dois graus Celsius. É preciso investimento. É preciso haver melhor solidariedade entre os
países, que os mais ricos ajudem os menos ricos, como a Índia ou o Brasil, a fazer a
transição para as renováveis.
4.1. Os procedimentos passam por reduzir o lançamento da quantidade de gases com efeito de 4
estufa, em particular o dióxido de carbono, que resulta da combustão dos combustíveis
fósseis. A concentração deste gás faz aumentar o efeito de estufa, ou seja, a atmosfera aquece.
Assim, torna-se urgente a transição para energias renováveis.
5. Em relação a Portugal, Filipe Santos apresenta uma situação otimista, dado que existe uma
estratégia de adaptação às alterações climáticas e um plano de transição para as energias
renováveis, anunciado desde 2016.
Esforça-te por:
– elaborar um discurso claro e organizado.
– utilizar uma linguagem correta e cuidada. Bom trabalho!
GRUPO II
Texto A
As noites de luar são sempre especiais para o velejador e surfista Manuel Dantas,
30 anos, atual chefe de equipa do Porto de Recreio de Oeiras, empresa que é também o
seu patrocinador oficial. É durante as longas horas das madrugadas claras que ele cuida
do vai e vem de embarcações que demandam o porto de Oeiras em busca de serviços,
combustível ou um pouco de descanso por entre a faina da pesca, ou o transporte de
algum veleiro pela costa europeia, ou mesmo vindo de uma travessia oceânica.
“É o único porto em Portugal a ter serviços 24 horas por dia. É o único sítio em que
se pode encontrar um bom banho de água quente depois de dias no mar”, declara Manuel
Dantas, que já soma mais de dez anos de andanças marítimas, seja como surfista ou
como velejador profissional – proa de um dos melhores iates portugueses, o Bigamist,
veterano em circuitos náuticos nacionais e europeus.
Foi também nas noites de luar no estado do Maranhão, no Brasil, que Manuel
Dantas ficou a apreciar um dos maiores fenómenos naturais do planeta – a “pororoca”
amazónica, este poderoso encontro das correntes fluviais com as marés oceânicas, que
acontece nos principais rios amazónicos e também na foz do rio Mearim, no Maranhão.
[…]
A 600 km da capital do Maranhão, S. Luís, e a mais duas horas de estrada de terra e
ainda mais duas horas de viagem a bordo de um pequeno barco de alumínio, Manuel
Dantas assombrou-se com a força da “pororoca”. “Muito antes de ver a onda, já se viam
os pássaros a levantar voo e uma grande agitação na selva. Depois era o estrondoso
ruído das águas a assustar-nos. E aí, enfim, vimos a pororoca, aquela monumental
parede de água barrenta a explodir com uma força incalculável”, disse Manuel Dantas,
contando que só rezava para o pequeno barco não se virar na aproximação daquela
massa de água.
Sempre ao compasso das marés, o surfista português surfou infinitas vezes aquelas
ondas míticas, aproveitando todo o treino prévio em apneia 1 para suster a respiração por
cerca de 1min e 40 seg no meio do turbilhão de espuma daquelas águas selvagens.
“Ficámos de 6 a 8 horas na água, apanhando todos os momentos daquela onda e
surfando continuamente por cerca de 8 a 10 minutos, uma experiência extraordinária,
visto que no mar um surfista só se aguenta numa mesma onda por escassos 20-30
segundos”, descreveu Dantas, acostumado com as vagas mais ordenadas da zona da
praia de S. Pedro do Estoril […].
NOTAS
1. apneia: modalidade desportiva de mergulho livre (em piscinas, lagos, rios ou no mar), em que o atleta se submerge
durante o maior tempo possível, sem recurso a equipamentos para respirar, usando apenas a reserva de ar dos seus
pulmões.
1. Para cada item (1.1. a 1.5.), seleciona a opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto.
Escreve o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
1.1. Para Manuel Dantas, as noites de luar são especiais porque permitem que o
velejador
A. antigo combatente.
B. envelhecido.
C. experiente.
D. reformado.
1.5. As expressões “As noites de luar são sempre especiais para o velejador” (linha 1) e
“O culminar desta expedição foi o surf no Paredão da Morte” (linha 34) são
A. dois factos.
B. duas opiniões.
C. um facto e uma opinião, respetivamente.
D. uma opinião e um facto, respetivamente.
1.1. B.
1.2. C.
1.3. D.
1.4. A.
1.5. D.
GRUPO I – Parte A
Lê o texto. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado.
Num café de Lisboa onde passou muitas horas de escrita, Gonçalo M. Tavares, 43 anos, 12
de publicação, tem dois livros em cima da mesa, Animalescos, ficção publicada em junho, e
Atlas do Corpo e da Imaginação, um trabalho de fôlego, imagem e texto, que acaba de sair,
feito em conjunto com um grupo de arquitetos a que foi dado o nome de Espacialistas.
depois. Há uma leitura fundamental, silenciosa, concentrada, contínua, mas pode ser isso
tudo e por fragmentos.
mais lento e quando começo a acelerar todas as letras estão fora do lugar. É a minha
forma. Sou muito instintivo. Não gosto de pensar antes de escrever.
E a reescrita?
Aí é completamente diferente. É outra parte do cérebro, outra tarefa. Tento escrever muito
de manhã. Mas pegar no texto, cortar, esse trabalho gigantesco, faço à tarde. É como se
fosse feito com a mão esquerda e outro com a mão direita. A escrita é com a mão es-
querda, o apurar com a direita. O ato decisivo é dado com a mão esquerda, disse Walter
Benjamin. A escrita e a reescrita são dois esforços completamente diferentes, como duas
energias. A energia da reescrita é muito mais lúcida.
Vocabulário:
1
excertos; 2 enganos não propositados, mal-entendidos
Escreve a sequência de letras que corresponde à ordem pela qual essas informações
aparecem no texto.
2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1. a 2.4.), a única opção que permite obter
uma afirmação adequada ao sentido do texto.
(A) ao conjunto das duas obras que Gonçalo M. Tavares tem em cima da mesa.
(B) ao trabalho de fôlego, imagem e texto do Atlas do Corpo e da Imaginação.
(C) a Gonçalo M. Tavares e ao grupo de arquitetos que trabalhou com ele.
(D) ao grupo de arquitetos que trabalhou com Gonçalo M. Tavares.
2.3. Ao afirmar “O Animalescos é de outro mundo de movimentos” (linha 17), o autor indica
que o livro referido
(A) antagónicos.
(B) semelhantes.
(C) gigantescos.
(D) lúcidos.
3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido
do texto.
(D) A expressão “É a minha forma” (linhas 27-28) refere-se ao seu processo de escrita.
2.1. (B)
2.2. (D)
2.3. (C)
2.4. (A)
3. (A)
GRUPO I
PARTE A
Nestas Conversas com Saramago, reúnem-se seis entrevistas com o prémio Nobel da
Literatura: três publicadas no JL, Jornal de Letras, artes e ideias, e outras três na Visão.
Foram todas realizadas em Lisboa, Madrid e Lanzarote num período de 17 anos, e nelas
José Saramago (1922-2010) fala dos seus livros, com especial profundidade do que estava
para sair na altura de cada conversa – e de muito mais. Lidas em conjunto, estas
entrevistas permitem «compreender melhor o caminho e a evolução do ficcionista, do
homem e do cidadão, desde o seu processo de criação e de escrita, até à relação com
Portugal, o percurso de vida e a visão do mundo».
5 Não estava escrito, tinha notas e apontamentos. Vamos lá ver. Agora primeiro
tenho de cumprir o compromisso que já há três ou quatro anos tomei com a minha
editora brasileira, a Companhia das Letras, de escrever um livro para uma coleção
chamada Literatura e Morte. É uma coleção em que a personagem central de cada
livro tem de ser um escritor, à volta do qual se inventa uma história. Eu escolhi
1
Lanzarote – Ilha no arquipélago das Canárias (Espanha)
História obrigatoriamente fundada na realidade da vida ou da obra do
escritor?
Não; uma pura ficção policial, em que há um crime, ou alguém é morto… Vai
chamar-se O Mistério do dente perdido (risos), Mistério ou Caso, ainda não sei bem.
15 Será um romance aí para umas cem páginas. Depois de o escrever, quero terminar os
Cadernos relativos a 1998 e publicá-los. Até se pode dizer que parece mal não o fazer
no ano em que recebi o Nobel, não falar disso.
40 traz tudo isso e o integras no teu dia a dia de agora… Não podemos viver sem
infância.
1. Classifica cada uma das afirmações seguintes (1.1. a 1.8.) como verdadeira ou falsa,
apresentando uma alternativa verdadeira para as frases falsas. (8 pontos)
1.5. Saramago não completou o sexto volume dos Cadernos de Lanzarote devido a um
compromisso com uma editora.
1.6. O livro no qual o escritor estava a trabalhar no momento da entrevista centra-se na
história verídica de um escritor real.
1.7. O entrevistado foi galardoado com o prémio Nobel na segunda metade da década
de 90.
2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1. a 2.3.), a única opção que permite obter
uma afirmação adequada ao sentido do texto. (4,5 pontos)
2.1. Segundo o entrevistado, O Livro das Tentações centrar-se-á no período da sua vida
a) entre os 10 e os 80 anos.
b) até aos 17 anos.
c) a partir dos 80 anos.
d) até aos 14 anos.
2.2. As formas verbais no infinitivo, usadas para definir memória na última resposta, são:
TESTE 4
GRUPO I
11
Conto Contigo8
Parte A
1.2. Verdadeira.
1.3. Falsa. As diversas entrevistas centraram-se nos seus livros, em especial no que
estava para sair na altura da realização da entrevista.
1.5. Verdadeira.
1.6. Falsa. O livro no qual o escritor está a trabalhar no momento é uma história
ficcional sobre um escritor real.
1.7. Verdadeira.
1.8. Verdadeira.
2.
2.1. a)
2.2. b)
2.3. c)
3. «Esse canto estava partido há uma data de anos: estou a vê-lo, estou a ver o chão de
barro, estou a ver o sítio onde a água empoçava, quando se regava no verão.»
12