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Os Lusíadas – Episódio de Inês de Castro

1. Inserção na obra:
- estrutura externa: o episódio faz parte do Canto III;
- estrutura interna: “Narração”, inserindo-se no Plano da História de Portugal, cujo narrador é Vasco da
Gama e o narratário, o rei de Melinde.
Classifica-se como um episódio lírico porque nele se demarca o mundo do sentimento, da
sensibilidade e ou subjetividade, tendo o autor efetuado a poetização da morte de Inês, pondo de lado a
razão fria do Estado.

2. Delimitação (divisão da sua estrutura interna)


2.1. Introdução (estâncias 118 – 119):
 localização espacio – temporal: Após a vitória do Salado, “na lusitana terra”
 apresentação do episódio que irá ser narrado: “Caso triste e dino de memória…”
 identificação do responsável pela morte de Inês: “Tu, só tu, puro amor (…) deste causa à molesta
morte sua”.

2.2. Desenvolvimento (estâncias 120-132)


 Inês antes da tragédia (estâncias 120 – 122, versos1- 4):
*vida feliz e despreocupada (“engano de alma, ledo e cego”).
 Causas da morte de Inês (estâncias 122 –vv.5-8 – 125):
*motivos da morte (“ as namoradas estranhezas”, “o murmurar do povo” e “a fantasia do filho que
casar-se não queria”).
 Inês perante o rei D. Afonso IV, trazida pelos “horríficos algozes”, assume uma atitude suplicante e
prepara-se para implorar o perdão do Rei e avô dos seus filhos (estâncias 124-125).
 Discurso de Inês (estâncias 126 – 129):
*relação crueldade/humanidade dos animais;
*fragilidade e inocência de Inês;
*referência ao triste destino dos filhos (orfandade);
*a condição de cavaleiro do próprio D. Afonso IV que, sabendo dar a morte, nas batalhas, também
saberá “dar a vida com clemência”;
*pedido de clemência e de exílio.
 Hesitação do Rei e cedência aos clamores do povo e à força do Destino trágico que a persegue
(estância 130- vv.1-4)
 Desfecho trágico: morte de Inês e condenação do poeta (“…ó peitos carniceiros,/ Feros vos
amostrais e cavaleiros?” e comparação com o cruel assassino de Polycena (estâncias 130 – vv.5-8
– 132);

3. Conclusão (estâncias 133-135)


 Considerações do Poeta:
*referência a outros horrores conhecidos (horror de Tiestes);
*inconformismo perante a morte de Inês;
*alusão à Fonte dos Amores, onde se julga que terão decorrido os amores de Pedro e Inês, na
Quinta das Lágrimas, em Coimbra.

Características da tragédia clássica presentes no episódio de Inês de Castro


 O desenvolvimento de uma acção funesta que culmina com a morte da protagonista, apresentada
pelo poeta como vítima inocente;
 a observação da chamada “lei das três unidades”: acção (morte de Inês); tempo (duração
aproximada de um dia); e espaço (Coimbra);
 a inspiração dos sentimentos de terror e piedade, sobretudo através de contrastes:
1. a alegria e o sossego (120-121)/a súbita desgraça (124-125);
2. a simplicidade frágil e despreocupada de Inês inocente/a brutalidade dos “horríficos
algozes”;
3. a súplica/o castigo às mãos dos “algozes”;
4. a humanização das feras e da natureza/a desumanidade dos homens;
5. a dor da condenada Inês que implora perdão, rodeada dos filhos, perante D. Afonso IV.
 a intervenção da Fatalidade, do Destino (“Naquele engano de alma ledo e cego/Que a Fortuna não
deixa durar muito” (120);/Mas o pertinaz povo e seu destino…” (130);
 a presença do coro, que se faz sentir nas emotivas considerações do poeta que acompanham o
desenvolvimento da ação: est. 119; últimos quatro versos da est. 123; e desde os dois últimos
versos da est. 130 até ao fim do episódio;
 a existência da peripécia (súbita mudança de situação), em vários momentos da ação;
 a catástrofe, constituída pela morte da protagonista.

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