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REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NACIONAL, ENSINO SUPERIOR E
INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO – UNIDADE TCHICO TÉ

Trabalho de grupo
ASSUNTO: análise d´Os Lusíadas de Camões – Episódio Inês de
Castro.
CADEIRA: Literatura e Cultura Portuguesa.
NIVEL: 2º ano
TURMA: única
DOCENTE: Paulo Vasco Salvador Correia.
DISCENTES:
Alberto Santis
Dabana Américo Imbali
Gil Fernando Gomes
Lumísia Moreira Indi

Janeiro de 2022
Introdução

Realiza-se o presente trabalho em cumprimento do programa anual da cadeira


de Literatura e Cultura Portuguesa.
O trabalho visa analisar os aspectos interno e externo do episódio Inês de Castro
de Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, uma narrativa épica publicada em 1572,
em Portugal.
Na epopeia, Camões narra a viagem de Vasco da Gama às Índias. E no meio às
peripécias de viagem, relata episódios importantes de história de Portugal. Inês
de Castro é um destes episódios.

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Análise externa

O episódio encontra-se no Canto III, a partir das estâncias 118 a 135, constituído
de 18 estrofes em oitavas, com versos decassílabos heroicos e sáficos, tendo a
predominância de heroicos. O esquema rimático segue a estrutura ABABABCC e
distribuídas em duas cruzadas e uma emparelhada.
Pa / ssa / da͜ es / ta / tão / prós / pe / ra / vi /tó / ria, (heróico; ocorreu elisão)
Tor / na / do͜ A / fon / so͜ à / Lu / si / ta / na / te / rra, (sáfico; duas sinalefas)
A / se / lo / grar / da / paz / com / tan / ta / gló / ria (heróico)

Categorias da narrativa
As categorias da narrativa são elementos essenciais que aparecem em qualquer
narrativa, sendo ela, ficcional ou factual.
Neste episódio, identificamos as seguintes categorias:
A narrativa tem apenas ação central, que é todo o percurso de Inês até à sua
morte, e a história do episódio foi contada de forma linear, isto é, seguindo a
ordem cronológica.
Quanto a delimitação, é uma narrativa fechada, porque a ação é narrada até aos
pormenores.
O narrador é ausente quanto a presença, porque a narração é feita na terceira
pessoa. “Estava, linda Inês, posta em sossego”(est.120, V.1). “Traziam-na os
horríficos algozes” (est. 124, V1)
Em relação à ciência, o narrador é omnisciente, pois tem acesso ao pensamento
das personagens e aos acontecimentos passados e futuros. “Naquele engano da
alma, ledo e cego”. (Est. 120, V.3). “De noite, em doces sonhos que mentiam”/
“De dia, em pensamentos que voavam”. (est. 121, VV.5 e 6).

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Quanto a posição, o narrador é subjetivo, porque emitiu a sua opinião, julgando
os executores de Inês. “No futuro castigo não cuidosos”. (est. 132, V.8).
Identifica-se Coimbra, concretamente o Mondego, como espaço geográfico, onde
decorreu a ação,por ser um lugar amplo e definido em termo geografico.
O tempo histórico corresponde ao período do reinado de D. Afonso IV – Época
Medieval. “Passada esta tão próspera vitória” / “Tornado Afonso a Lusitana
terra”. (est. 118, VV.1 e 2). Quanto ao tempo cronológico, destacam-se alguns
traços: “De dia…”/ “De noite” (est. 121. VV. 5 e 6). Na narrativa, o narrador
avançou no tempo, antecipando os acontecimentos futuros, neste caso, estamos
perante Prolepse. “No futuro castigo não cuidosos”. (est. 132, V.8).
Inês de Castro é a personagem principal, D. Afonso e os algozes são secundárias.
Os filhos de Inês e as filhas de Mondego são figurantes.
D. Afonso é uma personagem modelada quanto a composição, visto que evoluiu
psicologicamente ao longo da narrativa. “Tirar Inês ao mundo determina” /
“Queria perdoar-lhe o rei benino”. Inês de Castro e algozes são planas, pois, ao
longo da narrativa, não alteraram os seus comportamentos.
Quando o narrador caracteriza D. Afonso de “benigno, prudente” e Inês de “linda,
dos teus olhos fermosos”, está-se perante a caracterização direta.

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Análise interna
Nas duas primeiras estrofes, o poeta faz uma exposição do assunto,
começando por referir à vitória do Rei Afonso IV conquistada na batalha contra os
mouros. Quando regressou à terra lusitana, ele estava a gozar da paz, porém
aconteceu um caso triste, que é a morte de Inês de Castro, que depois de ser
assassinada foi proclamada rainha. “Que despois de ser morta foi Rainha - est.
118. V. 8”. O eu lírico interpela ainda o amor, acusando-o de ser responsável pela
morte de Inês “Tu, só tu, puro Amor…” “[…] fero Amor…” – est. 119. V.1” aqui, o
poeta recorreu a adjetivação para demonstrar a força que o amor tem nos
corações humanos. Ele (o amor) não se satisfaz com as lagrimas, só com o
sacrifício humano.
“Estavas, linda Inês, posta em sossego… ” “colhendo doce fruito - est. 120.
VV.1 e 2” O poeta fala-nos do momento da felicidade de Inês de Castro, os seus
anos de mocidade nos campos do Mondego, gozando do amor do seu amado. No
segundo verso citado, o eu poético usou metáfora para comparar a juventude de
Inês com a qualidade de uma fruta nova e aproveitável. Afinal era um engano da
alma e que o destino não deixou durar. Ela não sabia o que lhe iria acontecer mais
tarde “ Naquele engano da alma, ledo e cego – est. 120. V.3”, ela falava sozinha
tanto do amado na ausência deste. O narrador continua a dar-nos a conhecer os
pensamentos da personagem, e as suas lembranças correspondiam-se, isto é,
lembravam-se de um ao outro mesmo não estando juntos.
O amor verdadeiro que D. Pedro tinha para Inês fê-lo desprezar as outras lindas
senhoras que ali estavam. Nesse verso, o amor é personificado, dando-lhe o
comportamento humano “Que tudo, enfim, tu, puro Amor, desprezas” – est. 122,
V.3. O pai aceitou o murmurar do povo e a fantasia do filho que não se queria
casar com uma daquelas senhoras e princesas. Provavelmente, o rei estava entre
espada e parede, porque, por um lado, queria respeitar a liberdade da escolha do
filho; e por outro, o povo estava teimoso.
Então, o rei decidiu determinar a morte de Inês, por ser a única forma de libertar
o filho do amor em que estava preso “Tirar Inês ao mundo determina”. (est. 123
V.1). Neste verso, o narrador empregou o eufemismo para diminuir o grau de

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negatividade desse ato, substituindo a expressão “matar Inês”, pela “tirar Inês ao
mundo”. Ela foi levada junto do rei pelos soldados, que o narrador caracteriza
como ferozes. Inês levantou os olhos, carregados de tristeza, para o céu, quando
estava a ser amarada as mãos por um dos ministros do rei, talvez para suplicar a
Deus por ser cristã. Depois, olhou para os filhos com os mesmos olhos de
piedade. Sentindo o medo que as crianças, que amava tanto, ficassem sem a mãe.
É provável que ela se tenha sentido mais preocupada com a mágoa que deixaria
nos filhos e no príncipe do que a mágoa que a própria morte lhe causaria “ Ela
com tristes e piedosas vozes”/ “Saídas só da mágoa e saudade”/ “Do seu príncipe
e filhos…”/ “Que mais que a própria morte a magoava” (est. 124, VVVV. 5,6,7 e 8).
Na situação difícil, Inês começa a dirigir a voz a D. Afonso. Dizendo-lhe que até os
animais que, naturalmente, nascem insensíveis têm piedade para com as crianças.
Ela recorre, assim, às histórias de Semíramis, rainha de Assíria, que foi
abandonada no monte pela mãe e alimentada pelas aves, e de irmãos fundadores
de Roma, que foram resgatados no rio e amamentados por uma loba. Inês
lembrou das caraterísticas humanas do rei, e questionou se é humano tirar a vida
a uma pessoa indefesa, só porque entregou o seu coração a quem sabe contentá-
lo. O poeta empregou, nesse discurso, o pleonasmo para dar ênfase à fragilidade
feminina “[…] fraca e sem força…” (est 127 V.3). Depois, disse (Inês) ao rei para
ter a piedade das crianças que ali estavam, mesmo que não se sinta pela morte
crua da mãe inocente.
Se D. Afonso IV soube matar os mouros que estavam tão resistentes, também
devia saber perdoar quem não apresenta nenhuma resistência, sobretudo que
não cometeu nenhum crime. Mas se o rei não a quer perdoar, que a mande para
um lugar de sofrimento eterno, mencionando Cítia, uma região de Sibéria, de
clima frio, ou para Líbia ardente; pede ainda que a mande entre os animas
ferozes, onde, talvez, possa encontrar a piedade que não encontrou entre os
humanos. Nestas estrofes, o poeta usou anáfora para evidenciar a situação difícil
em que se encontrava Inês. “Põe-me em perpétuo e mísero desterro” / “Põe-me
onde se use toda a feridade” (est. 128,V.6 –est. 129,V.1).

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Ouvindo as palavras de Inês, o rei sentiu-se comovido e queria perdoar-lhe,
entretanto os assassinos, que estavam tão persistentes e o destino que a quis
assim, não lhe perdoavam, o rei autorizou a sua execução. Depois da autorização
da morte, o poeta começa a caraterizar os algozes “[…] ó peitos carniceiros, Feros
vos amostrais e cavaleiros”? (est. 130, VV 7,8) uma questão retórica usada pelo
narrador para atribuir toda a responsabilidade aos algozes pela morte cruel de
Inês.
Camões traz exemplo de uma história que aconteceu na Ilíada de Homero.
Quando Aquiles foi morto, a sombra dele estava a pedir que a sua esposa fosse
sacrificada. Sob a orientação do pai, o filho, Pirro, matou Policena sobre o túmulo
do herói. Para Camões, Inês foi decapitada e o sangue dela fluiu pelo rosto, tal
como aconteceu com Policena. O narrador chamou atenção aos assassinos de
Inês em como não estavam a levar em conta as futuras consequências que este
ato bárbaro poderia lhes trazer. “No futuro castigo não cuidosos” (est. 132, V.8).
Na estância 133, o poeta interpelou o Sol, provavelmente o Hélio, deus do sol,
dizendo-lhe que não devia ter brilhado no dia da morte de Inês como fez na
morte dos filhos de Tiestes. Tiestes comeu os próprios filhos, depois de o irmão
ter convencido a esposa para matar as crianças, cozinhando-as e fazer um
banquete grande ao irmão. “Quando os filhos por mão de Atreu comia!” (est. 133,
V.4).
A última palavra que saiu da boca de Inês foi o nome do seu amado. Foi a ultima
oportunidade que ela teve para pronunciar o nome de D. Pedro. O poeta volta a
lamentar a morte de Inês, comparando-a com uma flor que foi cortada antes de
amadurecer, isto é, ela foi morta tão jovem. Isto se pode comprovar com base nos
seguintes versos. “Assi como a bonina, que cortada”/ “Antes de tempo…” “Tal
está, morta, a pálida donzela”. (est. 134, VVV.1, 2, 6). A morte de Inês foi
lembrada por muito tempo pelas filhas de Mondego. As lágrimas, daquelas que a
choravam, transformaram-se numa fonte chamada Dos Amores de Inês.

Em cada episódio, é notavel o objetivo épico da obra. Neste episódio, o poeta


quer enaltecer o modelo de amor português, que é de estar disponivel em amar

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até ao extremo, isto é, até a morte. Mostrando que, se as obras da antiguidade
classica falam de amor puro, também existe este tipo de amor em Portugal que,
se calhar é ainda mais puro. Este é o objetivo épico do episódio Inês de Castro.

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