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Revista GeSec

São Paulo, SP, Brasil v. 14,


n. 2, p. 1808-1831,2023

ISSN: 2178-9010

DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i2.1663

As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de


dificuldades para o cumprimento dos ODS da agenda 2030 brasileira?

The urban experiences of the black woman with her hair: indications of
difficulties in meeting the brazilian agenda 2030 SDGs?

Vanessa Suellen Arcoverde Moreira1


Iris Fideliz da Silva2
Alexandre Magno Bezerra da Silva3
Pedro Felipe de Sá Queiroz4
Bianca Gabriely Ferreira Silva 5
Marcone José Silva6
Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa7

1
Mestranda em Gestão, Inovação e Consumo, Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do
Agreste (UFPE-CAA), Av. Marielle Franco, s/n, Nova Caruaru, Caruaru - PE, CEP: 55014-900.
E-mail: vanessa.arcoverde@ufpe.br Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3372-4788
2
Graduada em Design, Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste (UFPE-CAA),
Av. Marielle Franco , s/n, Nova Caruaru, Caruaru - PE, CEP: 55014-900. E-mail: iris.deliz@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2746-3569
3
Mestrando em Gestão, Inovação e Consumo, Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do
Agreste (UFPE-CAA), Av. Marielle Franco, s/n, Nova Caruaru, Caruaru - PE, CEP: 55014-900.
E-mail: alexandre.ambs@ufpe.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2166-2594
4
Mestrando em Gestão, Inovação e Consumo, Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do
Agreste (UFPE-CAA), Av. Marielle Franco, s/n, Nova Caruaru, Caruaru - PE, CEP: 55014-900.
E-mail: pedro.felipe@ufpe.br Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1272-5677
5
Doutoranda em Administração, Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciências Sociais Aplicadas
(UFPE-CCSA), Av. dos Economistas, s/n, Cidade Universitária, Recife - PE, CEP: 50670-901.
E-mail: biianca_ferreira@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7881-398X
6
Mestrando em Gestão, Inovação e Consumo, Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do
Agreste (UFPE-CAA), Av. Marielle Franco, s/n, Nova Caruaru, Caruaru - PE, CEP: 55014-900.
E-mail: marcone.silva@ufpe.br Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0909-8844
7
Doutora em Administração, Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciências Sociais Aplicadas
(UFPE-CCSA), Av. dos Economistas, s/n, Cidade Universitária, Recife - PE, CEP: 50670-901.
E-mail: flavia.zimmerle@ufpe.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9210-7889
As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1809
ODS da agenda 2030 brasileira?

Resumo
A vida urbana, por sua relevância para a sustentabilidade do planeta, é alvo dos ambiciosos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organizações das Nações Unidas
(ONU), participando também da Agenda 2030 brasileira. Nesse trabalho, propomos refletir
acerca desse intento, uma vez que vivenciamos um cenário de racismo estrutural e sistêmico.
Olhamos para a mulher negra, pois sua condição envolve três variáveis que agem em
interseção definindo sua existência: o gênero, a raça e a classe social; nos ocupamos de uma
prática: a vivência capilar nos espaços cotidianos, por sua importância para a constituição
identitária. Nos questionamos: Como as vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo
sinalizam dificuldades para o cumprimento dos ODS da Agenda 2030 brasileira? Apoiados
na pesquisa qualitativa, nosso corpus formado por 60 documentos coletados em redes sociais
e por entrevistas em grupo focal com 4 mulheres negras. Baseados em uma análise de discurso,
procedemos as três principais etapas da análise qualitativa: a) o agrupamento em categorias;
b) análise das funções dos atos de fala; c) a triangulação e chegada às linhas de significação.
Nossos resultados indicaram que os espaços urbanos evidenciam uma face ameaçadora e que
espaços compartilhados se prestam para a construção da representatividade. Concluímos que
para reduzir a desigualdade, empoderando e promovendo a inclusão social, econômica e
política de todos, políticas públicas devem se ocupar, especificamente, do racismo.
Palavras-chave: Vivências Capilares da Negra. Racismo Estrutural. Desigualdade. Agenda
2030 brasileira.

Abstract
Urban life, due to its relevance to the sustainability of the planet, is the target of the ambitious
Sustainable Development Goals (SDGs) of the United Nations (UN), also participating in the
Brazilian 2030 Agenda. In this work, we propose to reflect on this intent, since we are
experiencing a scenario of structural and systemic racism. We look at the black woman,
because her condition involves three variables that act in intersection defining her existence:
gender, race and social class; we deal with a practice: the capillary experience in everyday
spaces, due to its importance for the constitution of identity. We ask ourselves: How do the
urban experiences of the black woman with her hair indicate difficulties in meeting the SDGs
of the Brazilian 2030 Agenda? Supported by qualitative research, our corpus is made up of 60
documents collected from social media and focus group interviews with 4 black women.
Supported by a discourse analysis, we proceeded with the three main stages of qualitative
analysis: a) grouping into categories; b) analysis of the functions of speech acts; c) the

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ODS da agenda 2030 brasileira?

triangulation and arrival at the lines of meaning. Our results indicated that urban spaces show
a threatening face and that shared spaces lend themselves to the construction of
representativeness. We conclude that to reduce inequality, empowering and promoting the
social, economic and political inclusion of all, public policies must deal specifically with
racism.
Keywords: Black Women's Capillary Experiences. Structural Racism. Inequality. Brazilian
2030 Agenda.

Introdução

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações


Unidas (ONU), encampam ações com vistas a proteção do meio ambiente, do clima e das
pessoas - Agenda 2030 em que está inscrita o Brasil (Nações Unidas no Brasil, 2023). Assim,
segundo a ONU, por sua relevância para a sustentabilidade do próprio planeta, a vida urbana
passou a ser considerada nos ambiciosos ODS (Habitability, 2022). Em seu Objetivo 10:
Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles, prevê “até 2030, empoderar e promover
a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero,
deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra”.
Nesse trabalho, propomos refletir acerca do intento de tornar a vida urbana nacional
mais justa, portanto, os espaços urbanos que a compõem, especificamente, no que tange aos
objetivos de diminuir a pobreza, conquistar a igualdade de gênero e reduzir as desigualdades
étnicas. Olharemos para a mulher negra, pois ser negra no Brasil é algo complexo.
Comumente envolve três variáveis que agem em interseção definindo sua existência: o gênero,
a raça e a classe social; tal condição direcionou toda uma construção da mulher negra no
contexto histórico, político, econômico, social e jurídico nacional (Almeida, 2018). A
condição é, portanto, o resultado do longo processo de desvalorização da classe, do gênero e
das características raciais, tidas como desonrosas (Sansone, 2003), um processo que foi e é
sofrido no corpo, analisado Berth (2019) como sendo de desumanização. Olhar para esse
cenário pode ser um fragmento do panorama, evidenciando a dimensão do enfrentamento
necessário para cumprir, especialmente, a ODS 10 da Agenda 2030 brasileira.
Para tanto, trazemos para o centro das reflexões as vivencias urbanas da mulher negra
com o seu cabelo em vários espaços urbanos, pois ele é um elemento relevante para a
identidade negra. De acordo com Ndichu & Upadhyaya (2018) o cabelo é, em si, um símbolo

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de identidade e, quando se trata das mulheres negras, esse símbolo representa um contexto
histórico marcado por preconceitos e pela busca de representatividade social. Mesmo sendo
socialmente tratado com inferioridade e a ele sendo atribuídos nomes pejorativos, o cabelo
cacheado e crespo passou a ser considerado um símbolo da identidade negra (Gomes, 2019).
Para alguns autores, sendo o lócus privilegiado da diferenciação, inversamente, o significado
assumido pelo cabelo resultou em um maior fortalecimento da autoaceitação das mulheres
negras e, assumir a suas características, se tornou uma forma de resistência (Campestrini,
2016; Gomes & Arrazola, 2019). Segundo Fanon (1968, p.176):

O negro, que nunca foi tão negro como desde que está dominado pelo branco, quando decide provar a
sua cultura, fazer cultura, compreende que a história lhe impõe um terreno preciso, que a história lhe
indica uma perspectiva exata e tem de manifestar uma cultura negra.

Assim, buscamos essas vivências em documentos na Internet, numa primeira fase,


coletando dados secundários; posteriormente procedemos uma coleta primária em um espaço
comercial de bairro – um salão de beleza étnico8, objetivando coletar as experiências de
consumo das mulheres negras em torno de seu cabelo. Assim, nossa proposta visa, ao
problematizar as vivências da mulher negra com seu cabelo, elucidar a função social adquirida
pelos espaços, inclusive um comercial ofertante de serviços, já que ele integra a vida urbana,
é frequentado pela vizinhança, tal como uma praça ou os templos religiosos. O espaço é
reconhecido como um dos elementos envolvidos nos fluxos que produzem continuamente a
cultura e a vida cotidiana. Eles são as bases para se instaurar a sociabilidade, a solidariedade,
as articulações políticas e os ativismos, pois é onde se desenvolvem as experiências sociais
(Mormul, 2013; Serpa, 2013), podendo revelá-las. Contudo, propomos enxergar a experiência
de consumo como condutora de projetos significativos para a sociabilidade cotidiana
(Askegaard & Linnet, 2011; Vargo & Lusch, 2016), por entendermos que uma concepção mais
ampla dessa deva considerar o seu processo e envolver o contexto em que se dá, ou seja, o
mundo ordinário do consumidor (Becker, 2018).
Os salões étnicos são estudados como ambientes de acolhimento, de aprendizados,
portanto de sociabilidades, pois são detentores de um relevante capital simbólico para os seus
consumidores (Rezende, Mafra & Pereira, 2018). Sendo espaços de consumo, Miles (2010)
entende que esses lugares são a base para se concretizar as experiências de consumo, já que
são ambientes projetados para comunicar, construir imagens e constituir identidades. Dessa

8
Seguimos Cruz e Figueiredo (2015) e adotamos o termo “salão étnico” para definir os salões de beleza
especializados em cabelos cacheados e crespos.

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forma, as experiências ocorrem envolvendo o consumo físico e os variados fatores simbólicos


envolvidos. Quando se trata das consumidoras negras e desse tipo de serviço, essas
expectativas envolvem e sinalizam seus complexos contextos pautados na busca histórica e
política por representatividade (Ndichu & Upadhyaya, 2018).
Ao trazer um espaço de consumo, reconhecemos que é por meio das práticas de
consumo que os indivíduos contemporâneos constroem suas identidades (Arnould &
Thompson, 2005). Ao nos voltar para as vivências com seus cabelos, indicamos que, para as
mulheres negras, cuidar dos cabelos assumiu o sentido de cuidar da própria identidade sendo,
portanto, uma espécie de ativismo (Ndichu & Upadhyaya, 2018). Como tal investimento gera
vivências e experiências de consumo, acreditamos que também promova a conscientização
em torno da questão do pertencimento étnico/racial, tal como analisado por Oliveira (2012)
em relação à religiosidade. Defendemos que a condição do racismo precisa ser observada para
traçar um panorama das reais dificuldades brasileiras em tornar seus espaços urbanos mais
justos e inclusivos.
Diante do que foi apresentado, surge a nossa questão de pesquisa: Como as vivências
urbanas da mulher negra com o seu cabelo sinalizam dificuldades para o cumprimento
dos ODS da Agenda 2030 brasileira?
Sendo os espaços urbanos lócus de vivências sociais, entendemos que analisar
experiências capilares das mulheres negras se presta como termômetro para avaliarmos o
cenário das desigualdades de uma grande parte da população brasileira. Os contextos urbanos
são formados por teias continuamente produzidas por seus ocupantes (Ferreira, 2017),
portanto, capazes de evidenciar a situação da vida das populações. Esperamos que nossos
resultados possam gerar insights para estudos voltados para as reflexões socioambientais,
especificamente, para os que se voltem para tratar do cumprimento da Agenda 2030 brasileira,
em sua especificidade.

Referencial Teórico

2.1 As dificuldades em cumprir a Agenda 2030 brasileira

Desde 2015, a Agenda 2030 dos ODS foi assumida por cento e noventa e três Estados
vinculados a ONU e, do processo, participaram colaborativamente representações da
sociedade civil, dos governos, da iniciativa privada e de instituições de pesquisa. A Agenda
2030 possui dezessete ODS, cento e sessenta e nove metas, duzentos e trinta e dois indicadores

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“além da Declaração (visão, princípios e compromissos compartilhados)” (Kronemberger,


2019, p.40).
Em 2016, no Brasil, foi instituída a Comissão de Desenvolvimento Sustentável e
apresentou sua Agenda 2030 ao Fórum Político de Alto Nível o Relatório Nacional Voluntário,
correspondente ao ano de 2017. Apesar dos reconhecidos avanços na educação, renda e
estratégias de inclusão, então apresentadas nos sucessivos relatórios entre 1998 e 2013, o
Brasil foi considerado um dos países ainda detentores dos maiores índices de desigualdades,
sendo esse um desafio considerado complexo e merecedor da atenção permanente (Buss,
2017).
A justiça social efetiva e igualitária é, em si, um tema complexo, pois envolve aspectos
sociais, políticos e econômicos. A Agenda 2030 propõe refletir e encontrar alternativas ao
modelo excludente existente (Zeifert, Cenci & Manchini, 2020). Contudo, De Castro (2022)
evidencia como o racismo estrutural brasileiro causa um desequilíbrio social quase impeditivo
de efetivar o ideário especialmente tratado pelo ODS 10. A autora trata de como a política
brasileira de cotas nas Universidades aumentou significativamente o número de negros com
formação superior - o que potencialmente promove condição de inserção no mercado de
trabalho, mas reconhece que isso é insuficiente. Ela indica como necessário se dissolver a
normalização social da não representatividade negra, pois, como o racismo é algo
estruturalmente enraizado, para ela, a igualdade ainda é uma difícil conquista. Zeifert, Cenci
& Manchini (2020) complementam o quadro ao tratar que, nos últimos anos, a política
neoliberal relegou a pauta dos direitos sociais para o atendimento de demandas econômicas
diversas, construindo uma política voltada à economia de mercado que aumentou
significativamente a pobreza, classe social formada, em sua maioria, por mulheres negras.

2.2 O racismo estrutural, as mulheres negras e a importância identitária de seus cabelos

O racismo se prestou como uma estratégia para qualificar o desenvolvimento de


populações no século XIX. Uma biologia racista fundou-se na ideia de degenerescência da
raça humana, uma ideologia científica, de ordem médica, usada politicamente, defendia a
“pardificação” (fruto da miscigenação) como uma estratégia de branqueamento voltada para
o devir do arranjo civilizatório (Foucault, 2009). A avaliação social atribuída ao corpo negro,
desde então, o condenou à vulnerabilidade e o ameaçou de desaparecimento (Weschenfelder
& Silva, 2018).
O racismo brasileiro intimida a existência negra. Sendo o racismo, no Brasil, estrutural

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e sistêmico, apesar de a população negra representar mais da metade da população do país,


ela é pouco representada nos espaços de poder das mais variadas estruturas sociais (Santos &
Santos, 2018). As desigualdades raciais existentes no Brasil são longevas. De acordo com
Munanga e Gomes (2006) elas se fazem presentes desde a colonização, quando os negros
foram trazidos para o Brasil no século XVI, para serem escravizados, e fornecerem a força de
trabalho que os portugueses não detinham. Pinsky (2010) relata que a característica da
escravidão é a sujeição de uma pessoa a outra, ou seja, o indivíduo escravizado além de ser
uma propriedade, têm as suas vontades monitoradas e subjugadas aos seus donos.
A longa história de discriminação racial, por vezes, determinou como homens,
mulheres e crianças negras brasileiras vivenciassem experiências nos espaços cotidianos,
afetando a forma como eles constroem sua autoimagem e se reconhecem sujeitos na
sociedade. Isso porque, a identidade negra foi socialmente construída embasada em discursos
que definiam os modos como a sociedade deveria lidar com os negros escravizados ou libertos
e, de modo ainda mais complexo, definiu como o indivíduo negro deveria lidar consigo
mesmo nesse modelo social (Fanon, 2008). Parte desses discursos difundidos socialmente foi
introjetados pelos próprios negros. Porém, a sujeição socialmente imputada nunca foi total e
docilmente aceita e, há muitos anos, os negros e as mulheres negras travam lutas contra o
racismo. Ao mesmo tempo, precisam produzir sua própria auto aceitação, o que perpassa pela
ressignificação da autoimagem, da cor de sua pele e das características fenotípicas,
especificamente, a dos seus cabelos.
Nesse contexto histórico, como as mulheres negras detiveram uma longa vivência com
os alisamentos capilares, os cuidados com o cabelo crespo/cacheado são retratados por Ndichu
& Upadhyaya (2018) como uma prática de consumo não normativa, que passou a ser um
símbolo de resistência e enaltecimento da identidade negra. Com isso, tais práticas de
consumo passaram a ser consideradas como uma forma de aceitação e, ao mesmo tempo, de
protesto e busca de visibilidade, simbolizando a luta pela valorização da cultura negra. Assim,
assumir os seus cabelos naturais é, de acordo com os autores, uma passagem do consumo
normativo para o consumo não normativo. Para os autores, tais práticas retroalimentam um
contexto social e simbólico de representação. Assim, assumir os cabelos naturais e cuidar
deles constitui a própria experiência de vida da mulher negra brasileira.
Dessa forma, sendo as identidades constituídas por meio do consumo (Arnould &
Thompson, 2005), os ativismos nele se localizam e, como até recentemente não existiam
produtos de beleza para as características do corpo negro (Rocha & Casotti, 2017), muitas
mulheres negras utilizaram produtos agressivos e tóxicos, visando atender às imposições dos

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padrões de beleza e dos discursos da moda (Quintão, 2013; Gomes, 2019). Com a melhoria
das condições de vida da população brasileira de baixa renda ocasionada pelos investimentos
dos últimos governos de esquerda, a procura por produtos gerou oferta e um mercado se abriu.
A mulher negra, no papel de consumidora, deseja vivenciar experiências de consumo
satisfatórias, sejam elas adquiridas na forma de produtos, serviços ou mesmo nos espaços em
que as práticas de consumo são empreendidas (Ndichu & Upadhyaya, 2018; Askegaard &
Linnet, 2011).

2.3 Vivências capilares da mulher negra comportam suas experiências de consumo

Considerando a importância do consumo para nossas sociedades, entendemos que as


experiências de consumo são um tipo de vivência do espaço urbano. Com o avanço das
pesquisas relacionadas à cultura do consumo, o consumo se tornou um termo que perpassa as
relações existentes entre os indivíduos e a sociedade; é tanto um identificador social - como
nos processos de constituições de identidades, como é um meio de diálogo e interação com os
outros, se revelando um recurso para conectar objetivos individuais ou coletivos, se tornando
uma possibilidade para vivências de experiências significativas e memoráveis (Askegaard &
Linnet, 2011).
Compreender as experiências de consumo ainda é considerado um dos grandes
desafios dos estudos de comportamento do consumidor (Becker, 2018; Cova et al., 2011;
Schau & Akaka, 2021). Ainda, sob o foco cultural, as experiências foram pouco exploradas
(Rokka, 2021). O autor analisa que a ampliação dessa compreensão pode estar no consumo
cotidiano, em experiências ordinárias cujo foco deve-se voltar para a jornada do consumidor.
O processo mais amplo envolve os objetivos de vida do consumidor e uma concepção mais
ampla da experiência de consumo, então constituída por fluxos processuais, o que condiz com
a visão holística e sistêmica da experiência nos estudos recentes que afirmam que elas
envolvem uma rede de respostas que são afetivas, cognitivas, sensoriais, relacionais e
comportamentais (Becker, 2018).
Nesse cenário, o marketing experiencial tem sido considerado um dos pilares da pós-
modernidade na cultura do consumo (Arnould & Thompson, 2005). Askegaard e Linnet
(2011) evidenciaram como os recentes estudos da pesquisa em Culture Consumer Theory
(CCT) vem buscando considerar tanto as forças pertinentes as estruturas macrossociais, como
sua atuação dada junto aos projetos significativos oriundos da sociabilidade cotidiana, pois
são nelas que as normas sociais são definidas e assumidas como verdades. Como o

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consumidor faz suas escolhas fortemente pautado em suas interações sociais e, nessa prática,
influencia outros consumidores, em sua ação coletiva e cotidiana os valores de produtos e
serviços são recorrentemente coproduzidos. É na instauração de uma dinâmica intersubjetiva
que a prática de consumidores promove vários tipos de valor para os produtos e serviços com
os quais se envolvem (Catulli, Cook & Potter, 2017), o que se presta para organizar e definir
seus próprios espaços sociais a partir das práticas de consumo.
Miles (2010) discorre sobre os espaços de consumo como o lugar primordial para a
concretização de experiências de consumo, pois esses espaços oferecem para os consumidores
um espelho de si próprios, o que os ajudam a construir as suas próprias imagens, e a se
comunicar no meio social. As experiências vão desde o ato da compra até a questão simbólica
envolvida, como por exemplo, a sensação de liberdade de escolha e até mesmo a ideia de fuga
ou de escape da realidade.
Por sua vez, os ambientes de consumo passam a ser projetados em torno dos
conceitos/resultados do consumo cultural, pois eles objetivam estabelecer identificações,
gerar significados e proporcionar experiências relevantes tanto no meio coletivo como no
individual. Esse cenário é possível porque o espaço tanto adquire significados para
comunidades ou movimentos, como também proporciona experiências únicas para cada
consumidor, podendo ser assumido como a afirmação mais concreta de um processo de
experiências (Miles, 2010).
Assim, o espaço de consumo alcança uma grande relevância para os consumidores,
pois se associa aos seus projetos, ao próprio produto consumido, caracterizando-se como uma
“manifestação física de uma ideologia vivida” (Miles, 2010, p. 07). Os consumidores se
identificam e vão em busca desses espaços com objetivos próprios - alguns estreitamente
vinculados às suas ideologias de vida, objetivam constituir identidades e socialidade,
evidenciar o seu lugar no mundo e encontrar as respostas para as suas questões. Logo, o
consumo e suas experiências como um meio de auto realização, se revela uma prática social
que possui um caráter estritamente cultural (Miles, 2010; Slater, 2002).

Procedimentos Metodológicos

O trabalho adotou uma abordagem qualitativa, trazendo a imersão do próprio


pesquisador. Por meio dessa abordagem buscamos analisar as práticas sociais e assim,
desvelar como são produzidas as verdades em um contexto sócio histórico (Creswell, 2010).
Como nosso intuito foi o de revelar como as mulheres negras vivenciam experiências com

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seus cabelos no espaço urbano, o corpus dessa pesquisa foi formado por corpora diferentes
para comparação (Bauer & Aarts, 2002). Procedemos a dois tipos de coleta: entrevista em
grupo focal e documentos contendo depoimentos coletados em postagens do Instagram e
Facebook.
Para coleta documental, estabelecemos por critério que o sujeito deveria ser: mulher,
negra, moradora de Caruaru, praticar ativismo em seu perfil nas redes sociais e se afirmar
consumidora de serviços de salões étnicos. Quanto ao conteúdo da postagem, ele deveria
conter depoimentos acerca de experiências cotidianas em espaços urbanos dadas com cabelos.
Sessenta documentos foram coletados entre abril de 2021 e junho de 2022.
Para a coleta do dado primário, o grupo focal foi escolhido por ser uma técnica
considerada privilegiada para coletar experiências (Freitas & Oliveira, 2006). No grupo focal
o pesquisador interage com os integrantes, de modo que eles possam fornecer informações
históricas, sociais, culturais de seus cotidianos sobre o tema. O processo permite que o
pesquisador possa moderar a linha de questionamento abordada (Creswell, 2010).
Nessa etapa, o corpus foi formado por 4 entrevistadas moradoras da cidade de Caruaru-
PE. Optamos por um grupo pequeno e um tempo mais longo em cada encontro visando
aprofundar a partilha de percepções acerca do tema (Freitas & Oliveira, 2006). As entrevistas
em profundidade foram conduzidas por 3 pesquisadores e realizadas em 2 dias. As
respondentes foram escolhidas por serem ativistas e frequentadoras dos salões étnicos. Elas
foram localizadas através da rede social Instagram, no qual explicitaram sua relação com os
mesmos três salões de beleza étnicos localizados na cidade. Porém, ainda sob efeitos da
pandemia da COVID-19, pela dificuldade de efetivar encontros presencialmente, optamos por
realizar o grupo focal por meio de videoconferências.
O roteiro da entrevista foi montado de modo a fazê-las contar livremente suas
experiências de consumo com os três salões de beleza étnicos em questão, bem como
incentivando-as a narrar sua vivência em relação as características de seu cabelo e como se
deu sua relação e cuidados com ele durante sua trajetória de vida em contextos cotidianos. As
entrevistas foram transcritas em sua integralidade.
Para realizar a interpretação dos dados utilizamos a análise de discurso classificada
por Gill (2002, p.246) como sendo pertencente a uma ampla tradição analítica “influenciada
pela teoria do ato de fala, etnometodologia e análise da conversação. [...] estas perspectivas
acentuam a orientação funcional, ou a orientação da ação que o discurso possui” no contexto
em que são pronunciadas, ou seja, se interessa pela finalidade do que é dito nas interações.
Para Gill (2002), como os processos analíticos de estruturação de dados e da

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construção interpretativa são voltadas a buscar respostas para o problema de pesquisa, eles
devem estar correlacionados. Portanto, nos apoiamos nas três principais etapas da análise
qualitativa (Gil, 2008): a) agrupamento, organização e categorização dos dados obtidos em
cada corpora; b) análise das funções dos atos de fala existentes no interior de todas as
categorias; c) Por fim, como os corpora têm o mesmo tema e fim específicos, consideramos
a sua conformidade, por meio da comparação (Bauer & Aarts, 2002), realização da
triangulação e chegada às linhas de significação decorrentes dos padrões encontrados.

Análise e descrição dos resultados

A primeira etapa da análise gerou seis categorias, conforme Quadro 1. As categorias


foram agrupadas tendo por base os espaços sociais em que as vivências das mulheres negras
ocorreram, segundo seus relatos.

Quadro 1 – Categorias e suas descrições.


Categorias Descrição
Diz respeito ao compartilhamento de conhecimentos de uma ancestralidade continua e
Espaço de memória coletivamente produzida, que serve de base para valorar penteados e modos de cuidado com
o cabelo natural, sendo pautados em elementos de ordem genética e sociocultural originárias.
Envolve todos os espaços cotidianos públicos de convivência narrados pelas mulheres negras
Espaço público
como tendo sido lugares de trocas e vivências em relação aos seus cabelos.
Engloba os espaços de redes sociais digitais narrados pelas mulheres negras como tendo sido
Espaço virtual
lugares de trocas e vivências em relação aos seus cabelos.
Espaço doméstico Refere-se ao que foi vivenciado em relação aos cabelos na intimidade familiar.
Trata dos depoimentos de questões racistas e/ou de gênero sofridas no corpo, que deixaram
Espaço corporal
marcas, mas que não são narradas como vinculadas a espaços específicos.
Refere-se especificamente ao que foi vivenciado como experiência de consumo em três salões
Espaço comercial
de beleza étnicos na cidade de caruaru.
Quadro 2 – Categorias e suas descrições.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

Para segunda etapa da análise buscamos evidenciar a função ou intuito de cada ato de
fala no contexto interativo, por considerar que todo discurso é político, portanto, sempre
exerce uma ação no campo discursivo. Identificamos nessa fase analítica cinco funções
existentes nos depoimentos proferidos em cada categoria (vide o Quadro 2).

Função Descrição
Depor Refere-se a uma prática de incentivo/apoio comum à comunidade das mulheres
negras: elas narram suas experiências com intuito de demonstrar a possibilidade de
superação (em suas palavras: cicatrização) das feridas ou dores que lhe foram
abertas.
Apoiar-se mutuamente Envolve a ação efetuada com intento de fortalecer pessoas negras, seja financeira,
jurídica ou moralmente. Nessa função surgem ações de cunho pedagógico voltadas
para a vida e/ou para aspectos profissionais.
Confiar Envolve a crença nas pessoas, em seu conhecimento e/ou na sua prática profissional

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 2, 2023, p. 1808-1831.
As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1819
ODS da agenda 2030 brasileira?

pelo estabelecimento de uma relação empática.


Sentir-se acolhida Refere-se ao sentimento de identificação, refúgio, proteção ou cuidado estabelecido
pela mulher negra com o espaço.
Envolve tanto os modelos de beleza capilar impostos pela mídia, como a insistência
Sentir-se pressionada
de amigos familiares efetuada para que a mulher negra cuide de seu cabelo, algo
muito comum em momentos da transição capilar.
Envolve a não aceitação estética do cabelo natural durante a transição capilar pela
Desestimular
própria negra e/ou por amigos e familiares.
Diz respeito as decisões e ações assumidas no intuito de evitar comentários ou
Precaver-se
comportamentos negativos sobre as características raciais do seu corpo.
Quadro 3 – Funções e suas descrições
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

Na terceira etapa analítica, buscamos as relações entre as categorias e as funções


apresentadas por meio da triangulação, e assim elucidamos os sentidos envolvidos e
negociados na experiência de consumo e nas experiências dadas com os cabelos em salões de
beleza étnicos. As relações entre categorias e funções estabeleceram um padrão que nos levou
a duas linhas de sentido, que puderam responder a nossa pergunta de pesquisa.
Apresentamos a seguir a Figura 1 com a triangulação dos dados e, a seguir, nossos
resultados, a partir das linhas de sentido a que chegamos e que respondem nossa pergunta de
pesquisa.

Figura 1- Triangulação dos dados


Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

4.1 Espaços urbanos evidenciam sua face ameaçadora

As mulheres negras sofrem, desde cedo, menosprezo social e/ou assédio por causa suas

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 2, 2023, p. 1808-1831.
As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1820
ODS da agenda 2030 brasileira?

características corporais, sendo o seu cabelo um dos alvos mais frequentes de ataque. O espaço
público, o virtual e, por vezes, o espaço doméstico se revelam um desafio constante em termos
da pressão exercida sobre tais características, no sentido de uma plena construção de sua
representatividade.
A seguir ilustramos como o espaço público é citado com as funções: sentir-se
pressionada e precaver-se. Os trechos são numerados, localizando a respondente.

Sobre tirar e botar de novo as tranças. É muito real, porque assim, a gente sabe que não é barato, a gente
fica feliz, a autoestima muda. Mas, não é barato. Eu lembro da primeira vez eu gostei tanto que eu não
queria voltar a receber aqueles comentários negativos sobre o meu cabelo natural, sem as tranças (E1).

Num primeiro momento, a respondente evidência a dificuldade em manter o custo com


os cuidados capilares. Contudo, ela reconhece o peso dos comentários negativos a que fica
exposta quando não o faz. As tranças lhe empoderam, de certo modo, ao representar seu
vínculo com os movimentos negros ativistas, mas ao mesmo tempo, domesticam o volume
natural dos seus cabelos, que parecem incomodar - inclusive a própria negra - e demonstrar
desleixo. Sendo o consumo o lugar de construção identitária (Arnould & Thompson, 2005) e
o cabelo um elemento fundamental dessa representação, cuidar dele é sinônimo de ativismo e
autoaceitação, sendo essa uma prática de consumo não normativa (Ndichu & Upadhyaya,
2018).
O precaver-se em espaços públicos também diz respeito às violências experenciadas
ao longo da existência. Os trechos ilustram a questão:

Questão da identidade. Essa questão eu acho meio nebulosa, porque assim: eu me intitulo como mulher
não branca, mas eu acho forçado eu dizer que sou uma mulher negra; eu acho forçado eu ocupar lugares
que são extremamente estigmatizados e eu dizer simplesmente assim: a aqui ó, sou negra também,
também quero, também vou entrar numa cota, vou fazer um lugar de fala aqui. Eu sei que obviamente
aqui no Brasil eu não sou uma mulher branca, mas eu me sinto um pouco desconfortável em entrar
nessas pautas (E3).

Como vemos, ter direito a política de cotas para entrada na Universidade exige uma
declaração de que se é negra, o que parece ainda constranger a respondente. No contexto de
fala ela demonstra que isso se deve as suas vivências com a violência racista. O direito é
garantido por lei, mas ela optou por não utilizar. Apesar De Castro (2022) ter identificado que
essa política aumentou significativamente o número de negros com formação superior no pais,
aqui indicamos que muitos podem ter se colocado à margem desse direito.
O espaço público também se coloca como lugar de vivências de desestímulo. Os
trechos a seguir ilustram como isso se dá:

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 2, 2023, p. 1808-1831.
As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1821
ODS da agenda 2030 brasileira?

A minha transição durou 1 ano e 2 meses, porque era o tempo todo piadinha dentro e fora de casa... Eu
nunca pensei que uma pessoa com cabelo grande pudesse passar por isso ... mas não era o cabelo grande,
era o de ser cabelo grande CRESPO, tem esse adjetivo que estava ali, e que fazia toda diferença (E2).

Eu só queria alguma coisa que resolvesse, se alguém chegasse para mim e dissesse assim: é R$ 1.000,00
(mil reais), mas a gente vai resolver o seu problema, você não vai sofrer na transição. Eu pagaria, assim
eu vendia, a geladeira, mas eu pagaria (E3).

Apesar do cabelo ser central para uma construção de representatividade política


(Ndichu & Upadhyaya, 2018), a transição capilar é muito sofrida para a mulher negra.
Entendemos que empoderar e promover especialmente a inclusão política da negra como trata
o ODS10, depende primeiramente de uma plena a autoaceitação, o que ainda sinaliza estar em
construção em relação ao espaço público.
Por sua vez, o espaço virtual também foi citado como lugar em que se sofre pressão:

Uma coisa que me incomodou bastante, é... Essa coisa do... de também existir o cabelo correto. Sabe?
Eu vejo muito isso no discurso das blogueiras, apesar de elas não dizerem claramente, mas existe sim
um cabelo correto, um cabelo assim: que é sem frizz, um cabelo que tem uma onda perfeita (E3).

De fato, a mídia e a moda, são lugares de influência/imposição de padrões de beleza


(Quintão, 2013; Gomes, 2019), e sua pressão recaí sobre todas as pessoas; o meio digital é
cada vez mais comum para as interações sociais cotidianas.
O espaço doméstico se revelou tanto como lugar de pressão como desestímulo. Os
exemplos a seguir ilustram essas duas funções:

Eu coloquei Lace, e durou assim - um dia, para mim foi terrível. Essa experiência de colocar um negócio
artificial no meu cabelo e achar bonito. Assim, artificial não, porque trança não é artificial, vocês
entenderam o que eu quis dizer, botar um negócio diferente, fazer um penteado e tal. Porque eu fiquei
horrorosa, parecia uma peruca, ficou muito artificial ... meu marido me chamou de Luis XIV, eu fiquei
muito constrangida, minha mãe olhava para mim e ria. Então durou 1 dia (E1)

Essa é a segunda vez que eu estou fazendo transição, no começo da pandemia, eu comecei, por questões
práticas mesmo, porque eu passei acho que mais de um ano em casa. Assim, total em casa, então eu não
ia... eu achava uma hipocrisia eu ir para o salão fazer um negócio no cabelo. Mas eu desisti da transição
por alguns comentários de mainha e do meu marido. Por incrível que pareça as piores coisas que eu
lembro, assim, em relação a cabelo, são de dentro de casa mesmo. Isso é horrível! (E3)

Embora saibamos que a casa é um lugar de acolhimento, especialmente entre mães e


filhos, em nossa pesquisa essa questão apareceu nos dados documentais, nos levando para
outra linha de sentido, explorada a seguir. Atribuímos a isso o recorte por nós explorado:
vivências com o cabelo.

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 2, 2023, p. 1808-1831.
As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1822
ODS da agenda 2030 brasileira?

4.2 Espaços compartilhados se prestam para a construção da representatividade

O dado documental evidenciou o cuidado maternal de acolhimento: o espaço


doméstico funcionou para sentir-se acolhida. Ocultamos parte do trecho de fala, para deixar
mais evidente a relação. O exemplo (figura 2) é também parte de outra categoria e ilustrará
outra relação nessa linha de sentidos.

Figura 2 – E o cabelo?
Fonte: Arquivo de pesquisa, 2023.

O espaço de memória também se prestou ao acolhimento. Salientamos que a memória


é sempre a reconstrução feita do passado no tempo presente, ou seja, vivências posteriores
participam dessa narração que, portanto, é uma produção (Storey, 2018). A identidade negra
vem sendo construída em torno do conceito de ancestralidade. Seguindo Guillem (2016), a
noção de ancestralidade é fruto de uma construção e utilizada pelos militantes negros como
sendo uma categoria estruturadora da identidade negra, sendo capaz de fundamentar as
estratégias de ação adotadas nos movimentos ativistas. Oliveira (2012) reitera que essa
“ancestralidade difusa” ocupa um papel central na identidade negro-africana produzida pelo
movimento negro; segundo a autora, ela se abastece de expressões canônicas (as consideradas
tradicionais ou puras) da religiosidade e da cultura de matriz africana. Aqui ela surge como
conhecimento fundante ou como uma estética a ser adotada. O trecho ilustra a relação entre
espaço de memória e sentir-se acolhida, quando a respondente lembra de conversas entre a
avó e sua mãe, sendo elas novamente retomadas nos salões de beleza.

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 2, 2023, p. 1808-1831.
As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1823
ODS da agenda 2030 brasileira?

E elas falaram um pouco, muito assim também de história, sabe? De história mesmo, além de empoderar
muito, dessa questão da história, da importância que tem os penteados para a gente (E2)

Por sua vez, os salões de beleza se mostraram um lugar de acolhimento. A forma como
os salões de beleza étnicos promove a beleza e se pautam em conhecimentos da ancestralidade
negra ao realizarem serviços de cuidado para cabelos crespos/cacheados que não é encontrada
em outros salões. As consumidoras se identificam com o serviço personalizado. A experiência
de consumir serviços no salão étnico assume caráter pedagógico, pois revela um envolvimento
com a cultura ancestral africana que esteve muito presente nos discursos durante a feitura de
uma trança, por exemplo, histórias que são comuns e parte do espaço de memória da mulher
negra em suas relações com familiares. A prática de buscar ensinar sobre a historicidade dos
cuidados e penteados pautadas na ancestralidade, evidenciou-se como uma estratégica
importante nos espaços de consumo. Essa foi uma constante no cenário discursivo,
desenvolveu novos entendimentos acerca da relevância de assumir as características naturais
dos cabelos, demonstrando esse como um exercício de resistência a ser assumido pelo negro,
sendo essas funções de acolhimento e apoio mútuo.
Apesar de, muitas vezes, ao longo da vida dos negros, o cabelo natural não ter sido
socialmente considerado um cabelo bonito ou recebedor de cuidados, ele descobre no espaço
comercial um lugar de pertencimento, um grupo acolhedor que entende suas dificuldades e
sabe aconselhar acerca do como e porque fazer, além dos cuidados que se deve ter na
manutenção de seus cabelos. Essa importância do espaço comercial para o sentir-se acolhida
pode ser vista no depoimento a seguir:

Assim, oh... Também é uma questão de cultura, sabe? Porque você não vai para o salão só para fazer
um penteado. Tem história, minha gente. Aí, eu aprendi que as tranças elas também eram usadas pelas
negras para guardar sementes para os negros que tinham fugido. Então, elas tiravam as sementes que
estavam nas tranças enroladas, para que eles pudessem plantar e se alimentar. Não é só mostrar que é o
cabelo a estética, é a cultura, isso traz uma mensagem de sobrevivência sobre isso, sabe? Não só estética.
Isso eu aprendi lá. (E2).

O espaço comercial se relaciona ao acolhimento também pelo sentimento de


identificação:

Prioridade!! Tratamento, acolhimento que você tem no salão crespo especializado é outra coisa. Porque
são pessoas que tem a mesma, é…, você se identifica né? São pessoas que você se identifica, que tem
basicamente assim, passou por experiências parecidas com as que você passou (E1)

O comentário evidencia uma experiência de consumo. Essa experiência de consumo


se prestou para aflorar uma consciência histórica de raça e estabelecer a empatia e laços sociais

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As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1824
ODS da agenda 2030 brasileira?

importantes (Kozinets & Handelman, 2004).

A ancestralidade, sendo um espaço de memória, foi produzida pelos viventes, sendo


constantemente ensinada, portanto, revivida, servindo de base política para a construção
identitária e para o fortalecimento argumentativo de mulheres negras, dados em outros espaços
sociais (Guillem, 2016; Oliveira, 2012). Nesse sentido, evidenciamos porque uma experiência
de consumo, vista de modo mais amplo, precisa considerar o mundo vivido do consumidor,
pois ela é estabelecida como um processo, sendo orientada pelos objetivos de vida dele
(Becker, 2018). O comentário demonstrou que o salão é um espaço de experiências ordinárias
(Skandalis, Byrom & Banister, 2019), um lugar interativo e pedagógico em que se trocam
informações.
A relação do espaço comercial com a função confiar, ilustrada pelo dado que se segue:

Porque lá eles são negros, eles sabem como é a luta do cabelo crespo. Eles têm muitas dicas. Então, isso
foi muito importante (...) então, o legal, eu não fui no salão só para botar uma trança, eu fui também
aprender e criar estratégia e me preparar para o que estava por vir (E1).

O espaço comercial se revelou também um lugar de apoio mútuo. Já que os salões se


apresentam como um espaço privilegiado para troca de conhecimento acerca do cabelo e da
vida, sendo esse apoio de ordem jurídica - envolvendo aconselhamentos, moral e financeira.
Os exemplos ilustram as relações:

Aí ela me deu algumas dicas que foram bem… que ficaram marcadas para mim, sabe? Eu enxugava o
cabelo muito para poder fazer uma finalização e ela disse que é sempre fazer a finalização com o cabelo
molhado, ensopado para poder ficar, aquele uma pegada mais nos cachos. E isso ajudou muito, porque,
as vezes a gente só usa amarrado para sair, porque não sabe fazer a finalização, para deixar bonito...
Porque é bonito! (E3)

Claro que o serviço lá é mais caro, não é a mesma coisa que uma escova, a gente passa o dia as vezes...
aí é caro, mais vale a pena. E eu prefiro fazer o serviço com mulher negra, assim... pagar para outra
mulher negra, vê o negócio dela dá certo, porque as oportunidades não são muitas pra gente né, e é bom
demais ajudar as manas! (E4)

Como vemos, espaços de consumo são lugares privilegiados para a efetivação de


experiências também de vida pois, como diz Miles (2010), a partir desses lugares os
consumidores reconhecem a si mesmos e constroem identidades e imagens próprias.
O espaço corporal também se presta para o apoio mútuo. A Figura 3 demonstra como
isso se dá em relação ao apoio financeiro.

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As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1825
ODS da agenda 2030 brasileira?

Figura 3: Negro compra de negro


Fonte: Arquivo de pesquisa, 2023.

O movimento Black Money nasceu nos Estados Unidos e vem sendo ressignificado
por afrodescendentes brasileiros. Ele objetiva incentivar a circulação mais consciente do
capital, gerando oportunidades para os negros e diminuindo as desigualdades financeiras. Suas
campanhas pregam a ideia de pretos comprarem de pretos e, em seus perfis em redes sociais
divulgam produtos e serviços de empresários negros.
A Figura 4 revela como o espaço corporal teve por função apoiar-se mutuamente por
meio da narração de histórias, parte da ancestralidade já mencionada:

Figura 4 – A trança confina a dor


Fonte: Arquivo de pesquisa, 2023.

A última relação entre categorias e funções dessa linha de sentidos, trata como o espaço
corporal tem por função depor. A prática de depor com relação a proferir depoimentos acerca

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As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1826
ODS da agenda 2030 brasileira?

de vivências difíceis é bem comum, especialmente, nas redes sociais digitais. Por meio de
depoimentos sobre feridas abertas pelo racismo e como conseguiu superá-las, os negros se
apoiam, se consolam e constroem esperança de mudanças. O exemplo, em parte já
apresentado, ilustra a relação (figura 5).
Como vemos, a promoção de uma beleza antes negligenciada (Gomes, 2019), passa
por processos de auto aceitação, envolve a transição capilar e os espaços de convívio urbano
da mulher negra; a complexidade contextual participa do processo de ressignificação de
identidade cultural, pois a construção envolve diversas questões histórico sociais, o gênero, a
raça e a situação econômica.

Figura 5: E o cabelo?
Fonte: Arquivo de pesquisa, 2023.

Registramos a importância das práticas coletivas que instruem, fortalecem, apoiam e


consolam. De modo muito específico, a experiência de consumo nos salões evidencia a
relevância desse espaço para o conhecimento compartilhado acerca do cabelo e da vida,
provendo a construção identitária da mulher negra (Ndichu & Upadhyaya, 2018). A transição
capilar nos parece ser sofrida, mas é uma etapa importante para o pertencimento e a auto
aceitação (Gomes 2019; Sansone, 2003; Quintão 2013). O salão representa nesse contexto um
espaço de constituição de identidades sociais e individuais, questão que corrobora com
transformações efetivadas na cultura do consumo (Kozinets & Handelman, 2004; Thompson,
2004; Thompson & Troester, 2002), pois as mulheres negras valoraram os serviços que
fortificam a causa coletiva (Kozinets & Handelman, 2004). A campanha de cunho político
intitulada “se não me vejo, não compro”, praticada por consumidores negros, exige da

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As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1827
ODS da agenda 2030 brasileira?

indústria de consumo uma representação em seus serviços de uma forma genuína e satisfatória
(Soares, 2021).
Se por um lado, partindo do pressuposto que o consumo se dá por desejos distintos que
envolvem questões culturais coletivas (Woodward, 2000), os dados indicam que em espaços
compartilhados estamos caminhando para uma consciência étnica mais politizada, que
respeita e valoriza as diferenças, ao menos no interior do grupo racial; por outro lado, os
espaços urbanos inclusive com algumas práticas domésticas, ainda ameaçam a existência das
mulheres negras, dificultando a auto aceitação, fase inicial de qualquer mudança efetiva em
uma realidade opressora.

Considerações Finais

Nesse artigo buscamos identificar como a experiência de consumo nos salões étnicos
caracteriza o cenário da exclusão racista e como isso afeta os ODS da Agenda 2030 brasileira.
Diante dos discursos analisados e resultados obtidos, identificamos duas linhas de sentidos a
partir dos espaços de vivências das mulheres negras com seus cabelos: uma favorável a
construção da representatividade e outra desfavorável, portanto, dificultadora de uma vida
urbana mais justa e inclusiva. Se a vida urbana é alvo dos ODS na agenda brasileira para 2030,
um trabalho de base ainda precisa ser feito em relação ao racismo estrutural de modo
específico, para além de contemplar as questões de gênero e de classe social.
De um total de 254 Indicadores, grande parte não apresenta dados no site oficial9. No
Objetivo 5- Igualdade de gênero, O Indicador 5.5.2 - Proporção de mulheres em posições
gerenciais, ainda revela que até 2019 os homens ainda eram maioria e, entre as mulheres, as
pretas ou pardas representam praticamente a metade delas. Vinte e um são os indicadores
brasileiros para o Objetivo 10 – redução das desigualdades. O indicador 10.1.1 - Taxa de
crescimento das despesas domiciliares ou rendimento per capita, aponta que em 2020 e 2021
tivemos um percentual negativo, uma queda para -2 pontos percentuais. Especificamente, os
dados do Indicador 10.21, apresenta que, entre os anos 2012 e 2019, tivemos um aumento na
proporção de homens e mulheres vivendo abaixo de 50% do rendimento mediano. Por fim, o
Indicador de igualdade, que revela os dados de práticas discriminatórias, não está disponível.
O Objetivo 16 – Paz, justiça e Instituições eficazes possui 10 Indicadores. O Indicador
16.13 – proporção da população sujeita à violência física, psicológica ou sexual no último

9
Disponível em: https://odsbrasil.gov.br/objetivo10/indicador1021

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 2, 2023, p. 1808-1831.
As vivências urbanas da mulher negra com o seu cabelo: indícios de dificuldades para o cumprimento dos 1828
ODS da agenda 2030 brasileira?

ano, revela que, na totalidade brasileira, os pretos e pardos adultos são a esmagadora maioria
vitimada; que os negros lideram a formação percentual da população com menor rendimento
mensal domiciliar per capta, e que a maioria, são do sexo feminino.
Como consumidoras, as mulheres negras agem e se apoiam coletivamente,
compartilham dos mesmos sentimentos, objetivos e lutam em busca de representatividade. Tal
como analisa Ferreira (2017), o espaço comercial instalado nos bairros da cidade, se revelaram
importantes espaços de vivências e de trocas interativas. Segundo Gomes (2019), esses são
espaços socioculturais, corpóreos, voltados para a estética e identidade negra, no qual o seu
maior objetivo é valorizar a beleza negra, compartilhando conhecimento acerca dos cuidados
e consequentemente da manutenção do cabelo cacheado/crespo. Tais espaços, na visão da
autora, contribuem para a construção de uma consciência racial, uma vez que produzem os
sentidos da negritude por meio da relevância que o cabelo adquiriu nesse contexto. Assim, as
mulheres negras se ajudam no fortalecimento da autoestima. Contudo, se o ideário é reduzir a
desigualdade, empoderando e promovendo a inclusão social, econômica e política de todos,
isso é insuficiente. Concordamos com Buss (2007): políticas públicas devem se ocupar
especificamente do racismo para promover espaços urbanos mais justos, portanto, uma vida
urbana socialmente sustentável. Assim, corroboramos que os salões de cabelo afro são espaços
importantes de construção de vivência coletiva na diminuição dos estigmas para mulheres
negras de que elas têm cabelos feios ou difíceis de serem cuidados, como também na própria
construção da sua consciência racial e da negritude.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio das seguintes instituições: Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento
001, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação
de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE).

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Submetido em: 17.01.2023


Aceito em: 14.02.2023

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 2, 2023, p. 1808-1831.

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