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GESTÃO DO REGIME MEDICAMENTOSO NA PESSOA

TRANSPLANTADA NO PÓS-ENSINO
Sara Esperança, Vanessa Pereira, Leila Sales, Fernanda Moreno

INTRODUÇÃO
No pós-transplante o ensino à pessoa sobre a gestão da terapêutica imunossupressora, torna-se um dos focos mais importantes de intervenção do enfermeiro, pois a sua toma diminuiu o risco de
rejeição do órgão transplantado. No pós-operatório é realizado o ensino a pessoa/ família sobre o seu regime medicamentoso, efeitos secundários e cuidados específicos a ter, promovendo a sua
autonomia na gestão do mesmo, é também fornecido um livro de ensinos para a preparação da alta . A pessoa transplantada esta sujeita a um regime medicamentoso complexo e continuo ao
longo da sua vida, tendo que se adaptar a esta nova realidade. A não adesão a terapêutica surge como um facto de ameaça ao sucesso do transplante, manifesta-se num grande numero de
doentes, coloca em causa o sucesso do plano terapêutico (1) e constitui um fator preditivo de mortalidade e morbilidade (2). A não adesão esta associada a um aumento de incidência de rejeição,
a diminuição de sobrevida do enxerto ( 3).

Intervenções dos profissionais para aumentar a adesão terapêutica (4): Factores que contribuem para a adesão a terapêutica imunossupressora (5):
- Cognitivas ou educacionais; - Socioeconómicos e culturais ( idade, género, escolaridade, situação profissional);
- Comportamentais ou de aconselhamento; - Relacionados com a pessoa ( esquecimento, rotinas diárias);
- Afetivas ou psicológicas. - Relacionados com a doença ( tempo de transplante, depressão);
- Relacionado com o tratamento ( complexidade do regime terapêutico).

OBJECTIVOS
- Sensibilizar a pessoa para a importância da adesão a terapêutica
- Avaliar o conhecimento da pessoa sobre o regime medicamentoso, depois de efetuado o plano de ensino de enfermagem

MÉTODO
Foi desenvolvido um estudo exploratório com recurso à observação participativa com utilização de uma grelha de observação. Onde constam itens como: Reconhecimento do medicamento; Nome
farmacológico/ comerciar e dosagem; Efeito farmacológico; Efeitos secundários; Gestão e preparação da medicação; Sabe o que fazer quando omite uma toma ou tem um episódio de vómito;
Pesquisa de glicemia e sinais de hipoglicemia e hiperglicemia; Administração de insulina; Consequências da automedicação e interacções da medicação com álcool, drogas e tabaco;
A aplicação da grelha foi realizada no momento de validação dos ensinos de enfermagem integrada na dinâmica do serviço, durante o período de internamento.
A amostra deste estudo foi constituída por 31 utentes transplantados hepáticos, renais e reno-pancreáticos, tendo estes participado de forma voluntaria.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Relativamente:
- Ao reconhecimento dos medicamentos 81% inquiridos conheciam os seus medicamentos, os restantes 19% não conheciam.
- Nome farmacológico/comercial e dosagem cerca de 87% dos inquiridos reconheciam o fármaco pelo nome comercial ou farmacológico e dosagem, 10% não conheciam e 3% sabia apenas o
nome e dosagem de alguns fármacos.
- Ao efeito farmacológico, 87% dos inquiridos reconheciam o efeito farmacológico da sua terapêutica.
- Efeitos secundários, 29% sabiam os principais efeitos secundários da terapêutica imunossupressora, 68% não tinham conhecimento destes e 3% referiram um possível efeito secundário.
- Gestão medicamentosa e toma a hora certa, 84% preparavam, geriam e tomavam a medicação na hora certa, enquanto 16% por vezes não tomavam a medicação na hora certa.
-Omissão de uma toma ou episódio de vómito 81% não sabia o que fazer.
- As consequências da auto-medicação/ medicamento sem receita médica e interações com álcool, drogas e tabaco, 13% dos utentes sabiam possíveis consequências e 7% souberam enumerar
pelo menos uma consequência.
Dos inquiridos 58% eram diabéticos, 72% destes sabiam pesquisar glicemia e sinais de hipoglicemia e hiperglicemia, 69% eram insulinodependentes e 74% administravam insulina
autonomamente.
Ações que promovem a adesão terapêutica: facultar informação escrita, treinar o doente a tomar a sua medicação durante o internamento e estabelecer uma relação de parceria com o doente e
pessoa significativa (4). É importante que a pessoa consiga distinguir os diferentes fármacos, para evitar tomas incorrectas, omissões ou sobredosagem de fármacos. A adesão terapêutica pode
resultar da combinação de vários fatores, como: o grau de satisfação do doente em relação as consultas, da compreensão da causa e extensão da sua doença e da capacidade de recordar as
orientações dos profissionais de saúde (6) (7).

Sabe o efeito farmacológico: Efeitos secundários: Sabe o que faz numa omissão ou episódio de Sabe as consequências da auto-medicação,
vómito: interacções com álcool, tabaco, drogas:
SABE UM SABE UMA
NÃO SIM
3% SIM
13% 7%
19% 13%
SIM
29%

NÃO
NÃO
SIM 68%
81% NÃO
87% 81%

CONCLUSÃO
É importante que a pessoa consiga distinguir os diferentes fármacos para evitar tomas incorreras, omissões ou sobredosagens , a terapêutica imunossupressora é ajustada através de análises
clínicas regulares, daí a importância do utente compreender quais os diferentes fármacos que toma e qual o seu efeito farmacológico para evitar falsos resultados e alterações de dosagem que a
curto tempo podem ter repercussões graves.Tendo em conta os resultados deste estudo, é importante que os profissionais de saúde criem estratégias de ensino de forma a promover a autonomia e
conhecimento da pessoa transplantada e os vários factores que podem levar ao insucesso da adesão terapêutica. Em suma é de extrema importância que os profissionais de saúde, em especial os
enfermeiros informem sobre estratégias de gestão do seu regime medicamentoso e de intervenção em situações de excepção, alertando também para os sinais de alerta e possíveis complicações
e os riscos de automedicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.Haynes, R. Et al. Helping patients follow prescribed treatment. The journal of the american medical association. 2002. Disponível em: http://jama.ama-assn.org/content/288/22/2880.full
2. Machado, M. Manuela P. Adesão ao regime terapêutico: representações das pessoas com irc sobre o contributo dos enfermeiros. Universidade do minho. 2009. Dissertação de tese de mestrado no âmbito do mestrado em educação (especialização em educação para a saúde). Disponível
em:http://hdl.handle.net/1822/9372.)
3. Moreno, Maria. Adesão terapêutica em doentes submetidos a transplante hepático e renal”. Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa. 2012.
4. Berben, Lut .taking a broader perspetive on medication adherence: the importance of system factors. Faculdade de medicina da universidade de basel. 2011. Disponível em: http://edoc.unibas.ch/1388/
5. Gonçalves, P. Et al. A adesão à terapêutica imunossupressora na pessoa transplantada renal: revisão integrativa da literatura. 2016.
6. Telles-Correia, D. Et al. – abordagem psiquiátrica do transplante hepático. Ata médica portuguesa. Nº19 2006.
7.Telles-Correia, D. Et al. – adesão nos doentes transplantados. Ata médica portuguesa. Nº20. 2007.

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